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SETE DIAS, SETE PALAVRAS A semana que mudou a História e as palavras que transformaram vidas B I S P O ROBERTO M CALISTER

Sete Dias, Sete Palavras

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A Coleção 3 Gerações chega com uma missão importante: apresentar às novas gerações os livros do Bispo Roberto McAlister, com uma visão contextualizada para a Igreja do século XXI. A proposta da editora Anno Domini com essa iniciativa é mostrar como os escritos desse grande líder cristão, produzidos anos atrás, continuam mais atuais do que nunca e ainda têm muito a nos falar e ensinar. Cada livro da Coleção 3 Gerações vem com uma introdução do Bispo Walter McAlister, filho do Bispo Roberto e seu sucessor como Primaz da Igreja Cristã Nova Vida (ICNV), que analisa o texto do pai no contexto dos dias atuais. E, ao final de cada obra, o Pastor John McAlister, neto do fundador da ICNV, traz uma visão da obra aplicada às gerações futuras.

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SETE DIAS, SETE PALAVRASA semana que mudou a História

e as palavras que transformaram vidas

B I S P O

ROBERTOMCALISTER

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Direitos desta edição estão reservados. Vedada, nos termos da lei, a reprodução total ou parcial deste livro.

Coleção 3 Gerações

Roberto McAlister, Walter McAlister e John McAlister

Editora Anno Domini Av. das Américas, 3.500 / sala 216 - Barra da Tijuca

Rio de Janeiro - RJ - CEP 22790-972 Tel.: 0800-701-3490 www.annod.com.br

Editor Maurício Zágari Tupinambá

Editor Assistente Andrew McAlister

Capa, projeto gráfico e diagramação Monte Design

Impressão Prol Editora Gráfica

1ª Edição

SETE DIAS, SETE PALAVRAS

McAlister, Roberto, 1931-1993.

Sete Dias, Sete Palavras / A obra do pregador contextualizada para os dias de hoje pelo filho, Bispo Walter McAlister, e o neto, Pastor John McAlister.

-- Rio de janeiro, RJ : Anno Domini, 2010. -- (Coleção 3 Gerações)

ISBN 978-85-62957-05-5

1. Igreja Cristã Nova Vida - Teologia

2. Liderança Cristã 3. Líderes Cristãos 4. McAlister, Roberto, 1931-1993 5. Pregação 6. Vida Cristã 7. Vida Espiritual

I. McAlister, Walter. II. McAlister, John. III. Título. IV. Série.

10-00788 CDD-255

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Muitos integrantes das novas gerações não tiveram o privi-légio de conhecer o fundador da Igreja Cristã Nova Vida, Bispo Roberto McAlister. Ele foi um indivíduo extraordinário. Foi também um homem difícil de ignorar, tanto por seus lide-rados quanto por seus críticos. Um pensador, líder, estadista, provocador e, acima de tudo, um pregador: vivia sua vida por trás de um púlpito. Poucas foram as semanas nas quais ele deixava de pregar. Naquelas ocasiões, eu o via murchar por não fazer aquilo que mais motivava sua mente e seu coração; ficava quieto e recluso - condição que logo se revertia ao subir nova-mente ao púlpito. Os que tiveram o privilégio de ouvi-lo lem-bram-se das horas elétricas proporcionadas pela sua oratória, que, embora composta por frases simples e acessíveis a todos, nunca deixaram de fascinar até os mais eruditos.

A P R E S E N T A Ç Ã O D A

COLEÇÃO 3 GERAÇÕES

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Além de tudo isso, eu conheci o Bispo Roberto McAlister como filho. Essa condição me permitiu enxergá-lo com olhos diferentes de todas as demais pessoas e compartilhar de sua intimidade, seu pensamento e seu olhar crítico como ninguém mais. Desde a sua morte, confesso ter guardado os seus livros e deixado de ouvir suas mensagens gravadas. Talvez pela cobrança de outros

- e até de mim mesmo - de ser uma nova versão dele, procurei me isolar e achar a minha voz e identidade. Nunca deixei de ser o seu filho. Nunca deixei de honrar a sua memória. Mas por algum tempo preferi distanciar-me um pouco de sua voz – voz que cresci ouvindo desde os primeiros dias da Cruzada de Nova Vida, nos anos 1960.

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Mas esse período sabático acabou. Quão grande está sendo o meu deleite e a minha surpresa ao reler seus livros. Para mim, um resgate e um reencontro com aquele que conheci tanto no púlpito quanto na intimidade da nossa família. Lembro-me especialmente das segundas-feiras. Pois, após entregar a sua mensagem aos domingos, ele logo se dedicava a sentar e escrever à sua máquina Selectric, não se limitando a transcrever a men-sagem gravada, mas traduzindo para as páginas o que tinha pregado no dia anterior direto do esboço que usou no púlpito.

A “simplicidade” da sua oratória fez com que todos fossem alcançados pela mensagem. Mas, ao ler os livros desta série, o leitor perspicaz verá que trata-se de um homem que pode ser descrito de muitas maneiras, menos como “simples”. Foi uma pessoa complexa, densa nas suas frases e nos seus conceitos e de uma habilidade ímpar para traduzir, em poucas palavras e com clareza, verdades profundas.

A Igreja evangélica no Brasil certamente é diferente hoje daquela que meu pai conheceu, com características próprias e aspectos muito peculiares. Por isso, a leitura das obras escritas pelo Bispo Roberto McAlister quase meio século atrás convida a uma reflexão atual de suas palavras, numa saudável contextu-alização. Pois não é somente para a minha geração que a Anno Domini lança esta série, mas para a seguinte, a dos nossos filhos. Por isso, cada livro desta coleção abre espaço para que a próxima geração possa dialogar com o que meu pai dei-xou por escrito. Nada mais natural, então, do que convidar o neto, o Pastor John McAlister, para representar sua geração.

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Creio que por muitas décadas, se Jesus demorar a voltar, ainda haverá muitos que certamente levarão preciosas verdades destas páginas para sua vida pessoal e, no caso de lideres cristãos, para sua vida ministerial.

Por isso, com uma clara noção missional, a Anno Domini lança a Coleção 3 Gerações. Para os filhos e filhos dos filhos, que ainda têm muito o que aprender com o líder, pregador, pai e avô Bispo Roberto McAlister.

Walter McAlisterBispo Primaz da Aliança das Igrejas Cristãs Nova Vida

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A editora Anno Domini adota em todos os seus livros a nova gramática da língua portuguesa, que não estava em vigor quando Sete Dias, Sete Palavras foi lançado. Por isso os termos foram atualizados, sem qualquer perda para o texto original. Também promovemos correções em erros gramaticais presentes na primeira edição, acertos em referências bíblicas que estavam inexatas e pequenos ajustes no texto, esses a fim de tornar a leitura mais agradável e fluida ao leitor dos dias de hoje.

Por tudo isso, o leitor não deve estranhar se encontrar pequenas diferenças entre os livros da Coleção 3 Gerações e as edições anteriores dos livros do Bispo Roberto McAlister. É importante ressaltar que o conteúdo da obra em nada foi afetado.

Fazemos isso na certeza de entregar ao leitor uma obra com a qua-lidade que merece, respeitando o trabalho e a memória do autor.

Boa leitura!

O editor

COLEÇÃO 3 GERAÇÕESN O T A D O E D I T O R D A

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A GERAÇÃO DO FILHO BP. WALTER MCALISTER

Capítulo 1A QUARESMA

Capítulo 2A SEMANA SANTA

Capítulo 3DOMINGO DE RAMOS

Capítulo 4SEGUNDA-FEIRA

Capítulo 5TERÇA-FEIRA

Capítulo 6QUARTA-FEIRA

Capítulo 7QUINTA-FEIRA

Capítulo 8SEXTA-FEIRA

Capítulo 9SÁBADO

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Capítulo 10DOMINGO DE ALELUIA

Capítulo 11UM OUTRO DOMINGO

Capítulo 12CRONOLOGIA BÍBLICA DA SEMANA SANTA

Capítulo 13A PRIMEIRA PALAVRA

Capítulo 14A SEGUNDA PALAVRA

Capítulo 15A TERCEIRA PALAVRA

Capítulo 16A QUARTA PALAVRA

Capítulo 17A QUINTA PALAVRA

Capítulo 18A SEXTA PALAVRA

Capítulo 19A SÉTIMA PALAVRA

A GERAÇÃO DO NETO PR. JOHN MCALISTER

SUMÁRIO

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A imperiosa necessidade de trazer à memória eventos funda-mentais da nossa fé foi uma das muitas preocupações do meu pai, Bispo Roberto McAlister. Muitas foram as vezes em que o vi angustiado ao constatar que havia membros da igreja que aproveitavam a Semana Santa como uma oportunidade voltada exclusivamente para o lazer. Pois “afinal, ninguém é de ferro” e

“a gente merece”. Muitos iam para lugares de veraneio. Meu pai nunca entendeu como pessoas redimidas pelo sangue de Jesus decidiam “pegar uma corzinha” na praia nos dias em que a Igreja sempre buscou lembrar, com tristeza e gratidão, a morte e a ressurreição do nosso redentor.

Certa vez um monge beneditino me disse: “Vocês, evangélicos, celebram a Semana Santa de um modo muito frouxo”. Achei ofensivo. Achei exagerado. Algo que um recluso diria. Afinal, já havia escolhido cantar o hino Cristo já ressuscitou no domingo da Páscoa – um enlevo que honraria o dia. E mais, por que nos perder em memória mórbida de algo que passou?

Anos depois, me envergonho ao pensar nas palavras daquele religioso. Ele tinha razão. Minha devoção, embora sincera, não tinha raízes, não tinha fibra e não honrava o Deus-homem Jesus de Nazaré. Trazer à memória é fundamental. É vital para que mantenhamos uma vida espiritual vigorosa e viva. Quem se esquece acaba banalizando o resto. Quem faz pouco dessa

A G E R A Ç Ã O D O F I L H O

BISPO WALTER McALISTER 17

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Semana não cultiva uma vida de devoção ao Rei dos Reis. Na Catedral da Igreja Cristã Nova Vida começamos a dizer:

“Crente que é crente não passa a Páscoa na praia”. Virou uma verdade inegociável para nós. Assim como eu, espero que o leitor de Sete Dias, Sete Palavras possa descobrir um caminho melhor. Espero que possa honrar Deus durante a Semana Santa, após Ele ter feito tanto por nós.

Pense bem: quando estamos às vésperas de um grande aconte-cimento, o tempo parece mudar de cadência. Algumas coisas se aceleram, outras se tornam intoleravelmente lentas. Podemos ouvir o coração disparar ou ficar quase parado simplesmente por contemplar o que está por vir – uma cirurgia, uma batalha, uma prova da qual depende o nosso futuro, um encontro com alguém que há muito tempo está longe. Cada ato nos aproxima do momento. Cada pensamento volta, repetidamente, como um ensaio dos passos que daremos ou das palavras que fala-remos, como também as que ansiamos por ouvir: “vencemos”,

“a cirurgia foi um sucesso”, “passou”, “eu te amo”. A pele se torna mais sensível, as palavras se tornam mais preciosas – tudo, tudo muda. Pois Sete Dias, Sete Palavras nos lembra que os dias que antecederam a morte de Jesus Cristo na cruz foram como acabei de descrever: mais intensos, mais severos, totalmente densos.

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Bispo Roberto começa sua narrativa sobre esses dias com algumas considerações vitais sobre a observação da Quaresma. Depois, o resto do livro se divide em duas partes. A primeira trata dos dias que antecederam a crucificação, como também dos dois que se seguiram até a ressurreição. Na segunda par-te do livro, Bispo Roberto fala dos sete pronunciamentos feitos pelo Nosso Senhor na Cruz. Muito mais do que uma descrição de cada palavra, ouvimos o pregador trazer cada uma dessas frases a uma aplicação pessoal – pois, no fundo, este livro é essencialmente a obra de um pregador.

Ao reler esta obra, senti sua urgência, paixão e gravidade. E verifiquei sua total relevância para os dias de hoje, pois, mais do que nunca, o cristão do século XXI parece se distanciar do verdadeiro sentido da cruz e, por conseguinte, dos dias que antecederam o Calvário.

Jesus sabia que o fim daquela semana culminaria no dia da sua morte. Jesus sabia mais, Ele sabia que não seria o fim. Mas, antes que viesse o grande e glorioso dia da sua ressur-reição, Ele teria de passar pela maior e mais traumática série de sofrimentos que qualquer ser humano jamais sofrera, não somente até então, mas em todos os tempos. Jesus viveu os seus dias à sombra da cruz. E, mesmo sabendo o que encontraria após a morte, seu lado humano tinha plena certeza de que seu

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papel na redenção de todas as coisas seria uma trágica vitória, uma carnificina, um mergulho angustiante num pesadelo de brutalidade e abuso inimagináveis. Mas foi uma graça severa e uma via-crúcis que mudaria para sempre o mundo e o destino dos que Ele veio para salvar.

Cada passo, cada história, cada gesto relatados em Sete Dias, Sete Palavras constroem um sentimento e uma certeza que jamais podem ser esquecidos pelos redimidos do Senhor. Meu Deus, que preço foi pago! Meu Deus, que misericórdia severa! Quão insondáveis são os caminhos do Criador, quão profundo é o seu amor por nós, os filhos da desobediência – descendentes dos primeiros que viraram as suas costas para o Paraíso e escolheram as trevas e a morte! E ainda ousamos “aproveitar” a Semana Santa exclusivamente para o lazer, deixando a morte e a ressurreição do nosso redentor em segundo plano.

O desenrolar do texto do Bispo Roberto acompanha o sofri-mento de Jesus. A cada página virada sentimos como se estivés-semos andando junto aos passos do Cordeiro. Logo no início do livro meu pai faz comentários importantes sobre a observação da Quaresma. Os avisos são vitais: não podemos angariar favor do Senhor pela observação das privações que muitos praticam ao longo dos dias que antecedem a morte e a ressurreição do Senhor. O autor nos lembra que devoção é uma questão diária,

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que tem de existir o ano todo. Assim como também nos lembra que abstinência de alimentos e outros prazeres sem as devidas leituras e orações apenas constitui uma prática vazia e pro forma.

Ao continuar a leitura, percebemos que, embora a lembran-ça dos sete dias seja dramática, ao chegar ao quinto dia há uma transição. No meio da extrema violência das cenas rela-tadas, começamos a sentir o suor, o cheiro de sangue, o fedor da miserável brutalidade lançada contra o homem inocente que não levantou sua voz para impedir um só ato que lhe foi imposto. Em silêncio, como um cordeiro no matadouro, Ele seguiu, sabendo que deste cálice da ira de Deus Ele teria de beber até a última gota. Cálice amargo, ainda mais por ter que bebê-lo em silêncio. Se bem que o silêncio foi rom-pido no momento mais improvável. Com as costas em carne viva; o rosto desfigurado; pedaços de carne ar-rancados junto com a sua barba; a fronte ensanguenta-da e mutilada por uma coroa de espinhos; os pés e as mãos transpassados por pregos enormes que faziam gritar cada nervo, cada músculo; e ainda a extrema dificuldade de respirar sob o peso do corpo preso entre o céu e a terra... Ele falou:

“Pai, perdoa-os, pois não sabem o que fazem.”

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Suas palavras nos mostram algo que vai muito além da nossa imaginação humana. Uma vez tendo bebido da narrativa e entendido que essas palavras saíram da boca seca de um homem torturado e à beira da morte, elas entram na alma como pregos da graça, ferindo o coração com a sua divindade. Mal posso ler essas palavras sem me ajoelhar – sem ouvi-las com a devoção não de um admirador, mas de um cuja alma foi transformada pela sua luz. Pobre e miserável que sou. Eu que reclamo de uma pequena injustiça, que resmungo a respeito do calor do dia ou da intensidade do trânsito... ouço o Nazareno falar da cruz e vejo como sou pequeno e necessitado de perdão.

A primeira palavra seria um delírio? Seria um grito de angústia? Seria uma série de sílabas sem sentido? Não. Jesus pede a Deus que perdoe quem fez aquilo com Ele, aliás, quem estava fazendo aquilo com Ele. Mal consigo andar uma segunda milha, levar um desaforo para casa ou perdoar um troco mal dado. Sou miserável pecador. Então ouço de novo, da cruz, um homem desfigurado, desprezado, traído, abandonado, humilhado e nu dizer:

“Pai, perdoa-os.”

Algo quebra dentro de mim. Meu coração se volta para Ele, pois só um Deus infinitamente misericordioso poderia ter mostrado tamanho amor para com os filhos da ira, como eu. O meu pai,

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com maestria, faz a aplicação. E nós? É claro que os perdoa-dos também precisam perdoar. Mais do que autor, o pregador Roberto McAlister volta a pregar nas páginas do livro e precisa-mos ouvi-lo bem. Pois a lição é de vida ou morte.

Mas o Servo Sofredor, prometido pelo profeta Isaías, ainda não terminou suas falas. A confissão do seu senhorio o leva a fazer uma promessa ao ladrão que merecidamente sangrava ao seu lado. O Filho do Homem ainda se lembra de sua mãe e cuida dela, confiando-a aos cuidados do discípulo amado. E então... um momento de angústia. A obra ainda por se completar é interrom-pida por um momento não de delírio, mas de humilde clamor:

“Meu Deus, Meu Deus...”

Para aquele a quem conhecia como Pai Jesus se dirige a Ele, pela primeira vez, como Deus. Numa só frase testemunhamos uma distância sentida e simultaneamente uma aproximação de um sofredor clamando pelo seu Deus. Teria sido o sofrimento maior? Teria sido o que mais o feriu? Sentiu-se abandonado pelo próprio Pai. Não há palavras e em silêncio trazemos isso também à memória. Trememos. Mas o Bispo Roberto nos lem-bra que Deus não abandona, por mais que nos sintamos assim. Nem tampouco abandonou seu filho unigênito. Da dor, uma dor que já sentimos em parte, tiramos uma lição do amor de

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Deus, que não pode ser esquecido, jamais.

Bispo Roberto segue adiante na via-crúcis do Mestre e nos lembra, na quinta palavra, que Jesus cumpriu cabalmente todos os detalhes que previam a sua morte nas Escrituras. Uma união de lucidez profética aliada a uma agonia inenarrá-vel. Ao contemplarmos a simetria da cruz, ficamos maravilha-dos, sem palavras, e voltamos à plena convicção de que Deus faz tudo com absoluta perfeição. Preciso chamar a atenção do leitor para este capítulo, que enumera, com referências, as profecias que se cumpriram naquele dia terrível. Tanto para o aluno quanto para o devoto, este livro representa um teste-munho valiosíssimo de memória confessional. Ao dizer que tinha sede, somos lembrados da humanidade de Jesus. Foi um homem, de fato, que morreu por nós. Sim, pois, como somos lembrados, Jesus “se esvaziou” da sua glória. Ele se fez homem e andou entre nós como servo de Deus. E, embora fosse voluntá-rio, o sofrimento de Jesus foi real.

Mas Sete Dias, Sete Palavras não termina no momento da dor de Cristo. É um livro que nos leva até o momento da vitória declarada de Jesus:

“Está consumado.“

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Ninguém impediu Jesus de realizar tudo o que Ele se propôs a fazer. O Diabo não pôde tentá-lo a se desviar. Os fariseus falharam em desacreditá-lo. Os próprios discípulos, preocupa-dos com sua segurança, não conseguiram dissuadi-lo da cruz. As provocações dos escarnecedores não fizeram com que cha-masse legiões de anjos para tirá-lo da cruz. Jesus foi o Cordeiro soberano em todo o seu sofrimento. E no fim pôde declarar a sua vitória – momentos antes de entregar o seu espírito ao Pai. Pronto, estava consumado.

Priorizar o lazer na Semana em que a Igreja sempre buscou lem-brar, com tristeza e gratidão, a morte e a ressurreição do nosso redentor é um alerta de que algo na nossa vida espiritual não está como deveria. Se você se identifica com isso, peço a Deus que esta obra lhe traga de volta não somente a um momento de devoção e arrependimento pessoal. Mas que este livro seja um marco em sua vida para não mais seguir Deus de modo super-ficial, algo tão comum em nossos dias. Espero que as palavras daquele monge beneditino causem a mesma ferida em você que causaram em mim. E que este livro, Sete Dias, Sete Palavras, seja o manual para um resgate de vida espiritual vigorosa, con-sequente e profundamente cristã.

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Que Deus abençoe a todos nós em todas as quaresmas que ainda teremos, até o nosso encontro face a face com o Cordeiro na Sua gloriosa majestade, no último dia. Maranata, vem, Senhor Jesus!

Walter McAlisterBispo Primaz da Aliança das Igrejas Cristãs Nova Vida

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Cada dia, cada hora, cada minuto é importante para quem está para morrer.

Quando um homem sabe que morrerá logo, ele cuida unicamente de coisas essenciais.

Se ele tem certeza de que lhe resta apenas uma semana de vida, os valores da eternidade passam a ocupar seus pensamentos e suas palavras.

Quanto mais próximo do fim, mais importantes se tornam as palavras desse homem.

É por essas razões que examinaremos os últimos dias e as últimas palavras do Filho de Deus, nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.

R.M.

Quaresma, 1981 Rio de Janeiro

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A QUARESMA

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A Q ua re sma

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A Q ua re sma

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A Semana Santa é a última semana da Quaresma. Desde o século V, a Igreja Cristã tem observado esses 401 dias entre a quarta-feira de cinzas e o domingo

da Páscoa com especial devoção. Esse período tem significado abstinência, jejum, meditação e oração. Enfim, uma estação de ênfase espiritual.

O Novo Testamento é silencioso quanto à Quaresma, ignorando totalmente as observâncias especiais desses dias considerados importantes no calendário da Igreja. Ela foi, pois, desenvolvida pela tradição.

No século II, um homem santo, Irineu, escreveu sobre seu jejum de 40 horas, correspondente ao período compreendido entre a crucificação e a ressurreição de Jesus. Já no século IV, jejuns foram recomendados pela Igreja durante os 36 dias antes da Páscoa. Em 487 a.D., o Papa Félix III acrescentou a esse período mais quatro dias, tornando a Quaresma correspondente aos 40 dias de jejum de Moisés, Elias e Jesus.

Embora tendo aspectos muito positivos, a Quaresma deve ser considerada em termos bastante claros, para não perpetuar uma prática que nada tem a ver com o Cristianismo autêntico.

Diga-se, sem faltar ao respeito, que o desenvolvimento da Quaresma no decorrer dos séculos tem muito a ver com puro

1 N. do E.: A contagem dos 40 dias da Quaresma não inclui os domin-gos, considerados dias de celebração.

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paganismo, em face de ênfases estranhas ao Evangelho de Jesus Cristo. Vejamos alguns exemplos:

w A concepção da Quaresma como aquele período em que, por meio de exercícios espirituais, se alcança mérito perante Deus deve ser abolida da mentalidade cristã. A Bíblia ensina clara-mente que somos salvos mediante a fé, jamais por jejuns, ora-ções ou abstinências de qualquer tipo. A vida eterna é um dom de Deus, nunca prêmio por atos devocionais.

w Quando o cristão reserva a sua devoção, bem como a lembrançada morte de Jesus na cruz, somente aos 40 dias da Quaresma, passando os restantes 325 dias do ano esquecido dessas “obri-gações”, ele é enfraquecido em sua vida espiritual.

w Durante a Quaresma, muitos “cristãos” se privam esponta-neamente de certos hábitos de sua predileção, sem, contudo, se entregarem ao Senhor, pela confissão e pelo perdão de seus pecados, voltando, logo após, aos costumes de autoindulgência. Tal “sacrifício” significa apenas uma caricatura sem a menor relevância, a não ser aquele sentimento de dever cumprido.

Por outra parte, assim como o Natal comercializado pode ser de grande proveito para o povo de Deus comemorar o nascimento do Salvador, também a Quaresma significará algo especial para o seguidor de Jesus Cristo. O verdadeiro cristão aproveitará os 40 dias da Quaresma para:

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33w Reconhecer sua total incapacidade de merecer o dom gratui-to da salvação eterna por meio de atos de penitência, jejuns ou votos de santidade.

w Suplicar a graça do perdão de seus pecados, concedido pela fé na obra de Jesus Cristo na cruz do Calvário.

w Confessar pecados que obstinadamente e facilmente invadem a sua vida por meio de pensamentos e de atos, e abandoná-los.

w Renovar sua vida devocional de reflexão, meditação e contem-plação da pessoa de Jesus Cristo, prática que conservará por todos os dias de todos os anos.

w Usar o período da Quaresma para voltar a ler as passagens bí-blicas que falam da paixão, do sacrifício e da vitória de Jesus, en-contradas nas profecias, nos salmos e nas narrativas evangélicas.

A Quaresma, desta maneira, terá para aquele que é salvo pela graça do Senhor um importante significado, bem como um real valor em sua vida. Esses 40 dias serão assim integrados a uma vida de devoção e serviço perpétuo ao Senhor. Bem observada, ela induzirá a uma consciência viva do sacrifício vicário de nosso Senhor Jesus Cristo.

Sim, sem dúvida alguma, a Quaresma pode significar 40 dias de ricas bênçãos espirituais. n