Severino Galvao Prea_11Net

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Pedro VelhoNatal, RN - N 11, Maro/Abril, 2005

Cultura ressurge sobre as cinzas do passado

Pau dos FerrosCidade preserva tradies bem nordestinas

EntrevistaPoeta Antnio Francisco

A fotografia, segundo

Giovanni Srgio

A artista plstica Zaira Caldas fala sobre a criao do transgurativismo

Centro de Teatro passa por reforma e anuncia novos projetos cnicos

Carnaval de Natal cou mais pobre sem a irreverncia de Severino Galvo

Pesquisadora escreve sobre a Histria da capoeira no Brasil e no Rio Grande do Norte

Antnio Francisco diz que o mundo duro, mas tambm muito inspirador

Expediente/Cartas A palavra da casa Giovanni Srgio, o poeta da imagem Transfigurativismo - Em busca da conscincia mais profunda M8M homenageia Zaira Centro de Teatro est de cara nova Um velho caso amoroso Foco Potiguar O rock do Cumade Cristina invade o serto Um peixe pronto para voar Projeto Seis e Meia - Um marco na cultura contempornea potiguar Severino Galvo - O eterno rei momo de Natal Porto Filho - O poeta popular Poesia Potiguar A ginga da capoeira Recebendo boas-novas Modernos dois cajus maduros Spok Frevo Orquestra A narrativa performtica de A obscena senhora D Uma histria do lao entre mestre e discpulo, iluminada pelo dipo Uma alma resignada O que houve com Spengler e Toynbee Omagro Bienal do Livro de Natal Pedro Velho - Cultura ressurge sobre as runas do passado Entrevista - Poeta Antnio Francisco Pau dos Ferros - Cidade preserva tradies bem nordestinas Livros/Lanamentos 13 por 1 PSMar/Abr 2005

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FUNDAO JOS AUGUSTO Rua Jundia, 641 - Tirol - CEP 59020-120 Fone/fax: (84) 232.5327/232.5304 Governadora Wilma Maria de Faria Presidente Franois Silvestre de Alencar Diretor Jos Antnio Pinheiro da Cmara Filho PRE - REVISTA DE CULTURA DO RIO GRANDE DO NORTE ISSN 1679-4176 ANO III N 11 MARO/ABRIL/2005 DISTRIBUIO GRATUITA

C A R TA SSenhores Sou catarinense, residente em VitriaES h 71 anos. Hoje estou com 73. Gosto muito de poesia, tanto que tenho um site www.poetas.capixabas.nom.br que divulga os talentos que este Estado possui. Dois grandes amigos que fiz, atravs da Internet, os poetas Fernando Antnio de S Leito Morais e Angelina Luiza de Souza Neta, ambos auenses, me enviaram um exemplar da Pre. Fiquei encantada. Quero parabeniz-los pelo excelente trabalho de divulgao da cultura norte-rio-grandense. Que 2005 oferea a todos da equipe oportunidades para realizarem seus projetos culturais (sei bem o quanto difcil e rdua a trajetria de quem quer divulgar a cultura em nosso pas) e pessoais.(Vitria-ES)

Sr. editor A Pre 8 foi como todas as outras revistas, muito bem elaborada, com bons artigos e lindas fotos, e ilustraes de fazer inveja s redaes de outras revistas do mesmo gnero. Mas esta tem um gostinho e sabor diferente das demais para os filhos de Acari, e que residem em outras cidades ou Estados. um passeio precioso no tempo pelas 15 pginas dedicadas museologia, etnografia e historiografia de sua gente e de sua terra. Parabns a toda equipe que encara com seriedade e com o fino trato a coisa pblica.

A P r e e s t n a I n t e r n e t : w w w. f j a . r n . g o v. b r

PERIODICIDADE BIMESTRAL EDITOR TCITO COSTA [email protected] EDITOR ASSISTENTE GUSTAVO PORPINO DE ARAJO [email protected] ESTAGIRIO DAVID CLEMENTE

Hortncio Pereira de Brito Sobrinho(Goinia-GO)

******************** Paraibano de nascimento e potiguar de corao, estou passando uma chuva aqui no Distrito Federal. Todos os anos, porm, fao um grande esforo para visitar meus familiares e amigos que deixei em Natal. Nesse incio de 2005, num contato com a livraria da FJA, do Praia Shopping, recebi da Sra. Adna Barreto a Pre 9. Fiquei encantado e ainda mais orgulhoso do nosso RN, pelo tratamento que est sendo oferecido a nossa cultura! Publicao primorosa em todos os aspectos, de uma profundidade e leveza sem par. Parabns ao Franois Silvestre, extensivo a toda a equipe da FJA, pela feliz e brilhante iniciativa!

Thelma Maria Azevedo Sr. editor******************** Prezados senhores Quero parabeniz-los pela excelente Pre, pela qualidade das matrias publicadas, pelas Casas da Cultura que vm sendo interiorizadas no Estado, no aproveitamento de prdios antigos, que fazem parte no s do cenrio como tambm da histria de cada municpio, como no caso das velhas estaes de trem. Um abrao aos companheiros Franois, Toyota, Jernimo e Silvestre. Os outros, permitiu o tempo a minha desmemorizao.

PROJETO GRFICO E DIAGRAMAO LUCIO MASAAKI [email protected] ASSISTENTE DE DIAGRAMAO VIRGINIA HELENA LINS MAIA REVISOR JOS ALBANO DA SILVEIRA CAPA FOTO: GIOVANNI SRGIO

Reginaldo Ferreira Dias(Carolina-MA)

Joo Vianey de Farias(Funcionrio dos Correios - Distrito Federal)

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r e v i s t a p r e a @ r n . g o v . b r

Sr. editor Recentemente visitei Natal, ocasio em que tive oportunidade de conhecer a Pre. A revista estava na casa de minha irm, Jolda Pinto. Fiquei surpreendido com a qualidade grfica e de contedo. Ficaria muito satisfeito se a nossa Patrulha Ecolgica-Goinia fosse contemplada com uma assinatura da revista.

Sr. editor

Sr. editor

Tive o privilgio de conhecer a Pre atravs de meus filhos, alunos da Escola Nossa Senhora das Graas, que fizeram um trabalho escolar sobre a cultura potiguar. Parabenizo a revista pelo alto nvel de informao, divulgao e resgate de nossa cultura. Aproveito a oportunidade para solicitar a doao da publicao Vicente de Paula Pinto para as bibliotecas de nossas duas escolas (Escritor - Goinia-GO) de Ensino Fundamental. ********************

Sr. editor A Pre 9 est um primor, casamento perfeito (se que existe...) entre a qualidade grfica e os textos fascinantes. como uma chuva de perfume nestas paragens insalubres em que vivo, rodeado de processos interminavelmente tristes uns, chatos outros. Corro agora pra casa, rede, leitura de capa a capa. Parabns!

Magnus A C Delgado(Juiz Federal -1 Vara - Natal-RN)

******************** Sr. editor Conheci a revista Pre durante uma aula da faculdade e, imediatamente, percebi que no poderia mais viver sem ela. Essa revista desperta em ns o orgulho de sermos potiguares e, acima de tudo, nordestinos. Estou terminando o curso de licenciatura em Letras e Artes na UERN e adoraria compartilhar esse tesouro com os meus alunos. Seria eternamente grata se pudessem me enviar os exemplares futuros. Vida longa Pre. Longussima!

Gilvnia Holanda(Professora - Apodi-RN)

O artigo Meu convvio com Emmanuel (Pre 9) remeteu-me ao velho casaro da Casa do Estudante, onde fui residente de 1970 a 1973 e de 1976 a 1977. Na foto, h cones que a minha semiologia saudosista identifica como semideuses de minha gerao-cidad. Emanuel a minha saudade j em musgos, mas to presente, vez que sua humildade, por resistir, era um presente dado aos que se incorporavam resistnJoarimar Tavares de Medeiros cia naquela poca. Franois (est na mes(Prefeito - Flornia-RN) ma foto) era nosso Diretor de Cultura. Resistiu no tempo em que a Ptria mais ******************** precisava. Agora, vejo-o escritor - consSr. editor trutor de metforas. Contemplo-o a um s tempo - gramtico e filsofo (basta ler Sou gegrafa e trabalho com as discipli- A palavra da casa, na Pre 9). nas de Geografia, Cultura e Economia Sales Felipe do Rio Grande do Norte. Gostaria de (Advogado - Natal-RN) passar a receber a revista, pois ela ir me servir como timo instrumento de trabalho, enriquecendo o meu dia-a-dia na sala de aula, alm de aumentar os meus CORREO conhecimentos pessoais. A autora do poema Preservao da Betnia Rodrigues lagoa do Apodi. Essa luta nossa!, (Professora - Caic-RN). reproduzido em parte na pgina 65, ******************** da Pre 10, a professora Maria LuiSr. editor za Marinho Gurgel. A poetisa j ps o ponto final em Vozes de um coUma bela edio, a Pre 10, e um belo rao, livro a espera de apoio para texto de Mrio Ivo. Tem a leveza, o sabor lanamento. A professora Maria e o aroma da cachaa que a famlia dele fabrica. Parabns a todos, e um especial Mnica Freitas, citada erroneamenao designer da revista. te como autora do poema, tambm Norton Ferreira pretende publicar um livro.(Redator-publicitrio - Natal-RN)

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A palavra da casaFranois Silvestre

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ultura popular muito maior que folclore. O folclore encontra-se contido nela. A cultura popular abrange a produo, divulgao, consumo e estudo de tudo que originrio da ao humana. Portanto, a arte erudita tambm cultura popular. No existe cultura do prncipe. Se o prncipe for artista, ele produz cultura popular. Os ditos sofisticados que arrotam a pavonice da cultura como elemento de elite so apenas habitantes de um castelo que inexiste. como algum que senta nobremente mesa de um restaurante fino, come lentamente, pondo pequenas pores na boca, passa suavemente o guardanapo nos lbios, levanta-se quase flutuando, mas quando chega ao banheiro a finura some. Assim a cultura. Quem a produz o faz como representante do seu povo. Seja nobre ou plebeu. Toda cultura popular. O verso de Patativa do Assar ou de Fernando Pessoa. A toada de Catulo ou a ria de Verdi. Essa conversa fiada de arte fina ou cultura erudita mero complexo de inferioridade. Papo furado. Erudio de meia-tigela. Quando o poder pblico resolver tratar a cultura com o respeito que ela merece e no como marac de diverso, talvez a comecemos a caminhar na trilha do desenvolvimento e da paz. Assim como no h harmonia sem comrcio, tambm no h paz sem cultura. Porque a cultura o primeiro elemento de sublimao humana, sem cuja tessitura desfibra-se o carter. E sem carter no h compromisso coletivo com a paz. Como exigir de um garoto sem escola, sem instruo, mesmo que tenha lar e famlia, algum sentimento de repulsa ao delito? S a cultura cria esse elo que permite a distino do bem. Sem os malefcios do sentimento mrbido da culpa, que criado pela fornalha das religies. Ta a nova Pre. Cace uma, enquanto ainda h perspectiva de inverno.

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Giovanni Srgio, o poeta da imagemPor Gustavo PorpinoFoto: Anchieta Xavier e acervo do entrevistado

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erta vez, o fotgrafo francs Henri Cartier-Bresson, falecido em 2004, disse que a cmera era a extenso de seus olhos. Tmido, Cartier-Bresson parecia observar o mundo atravs das lentes de sua inseparvel Leica. O potiguar Giovanni Srgio, fotgrafo por opo e provinciano incurvel, a exemplo de Cmara Cascudo, tambm lana um olhar criativo para retratar a sua terra e confessa que gostaria de dedicar mais tempo fotografia documental. Cartier-Bresson retratou personalidades como o pintor Henri Matisse, a cantora Edith Piaf, o filsofo Jean-Paul Sartre e outras personalidades do seu tempo. Giovanni Srgio parece se inspirar no fotgrafo legendrio quando diz que pretende fazer a fotografia ligada literatura. Quero retratar os intelectuais do meu tempo. Fotografar como eu, leitor, os vejo. S os da terra. Ou me volto para c, ou no fao nada. As quatro margens do rio, primeiro livro com fotos suas em parceria com a fotgrafa Angeles Laporta, j mostrava a preocupao de retratar as coisas genuinamente potiguares. O livro, publicado em 1997, com apresentao do poeta Lus Carlos Guimares e poemas de diversos autores potiguares, traz uma srie de fotografias sobre o rio Potengi desde a sua nascente em Cerro Cor, at o encontro com o mar em Natal. Em 1999, veio o premiado Natal 400 anos - uma viagem potica, livro com textos do poeta Nei Leandro de Castro, editado pela FIERN. Por ltimo, fotografou a Economia no tempo, publicao tambm da FIERN lanada em 2003 mostrando a evoluo econmica do estado e escrita pela professora Denise Mattos Monteiro. Arquitetura no tempo, outro trabalho com temtica potiguar j concludo, aguarda lanamento. Giovanni Srgio do Rgo, 49 anos, sabe como poucos valorizar o Rio Grande do Norte. Lembrando a antiga corrente que demarcava o final da cidade do Natal at a dcada de 60, o fotgrafo salienta a importncia de prestigiar as coisas da terra. Sou um fotgrafo que tem o olhar para o RN, no interessa o que passa da corrente. A minha provncia o centro do universo. A vontade, ainda no completamente preenchida, de retratar sua terra e sua gente traz descontentamento para o fotgrafo potiguar. Giovanni dedica quase todo seu tempo fotografia publicitria e teme o sentimento de fracasso. Gasto meu tempo com publicidade. Devo terminar como Willy Loman, personagem de A morte do caixeiro viajante. No final percebe que no registrou o seu tempo. Isso duro. Mar/Abr 2005 7

Giovanni Srgio, o poeta da imagem

Fazenda Saquinho do Padre, municpio de Jucurutu-RN

Passagem pela grande escolaO fotgrafo potiguar cresceu num ambiente familiar propcio ao conhecimento das tcnicas e linguagem da fotografia. O pai, o professor universitrio aposentado Joanilo de Paula Rgo, possui uma biblioteca com livros de literatura clssica e tambm artes visuais. A me, Lolita do Nascimento Rgo, h 40 anos uma das mais conceituadas fotgrafas sociais de Natal. Giovanni Srgio fotografa desde os 16 anos. Curiosamente, os pais no desejavam ver o filho seguindo carreira de fotgrafo. No incio era por curiosida8 Mar/Abr 2005 de e interesse, no tinha perspectiva de profissionalizao. Fui instigado a gostar de fotografia. Tive sorte porque em casa havia muitas cmeras 6x6 Rolleiflex, e tambm Nikon, Canon... Bem comportado, Giovanni terminou seguindo a orientao dos pais e fez Odontologia. Meu pai adquiria informao. Tem muitos livros e revistas. Minha me era o talento fotogrfico nato. Eles queriam que eu me vocacionasse para a sade ou direito. Virei dentista para atend-los. A carreira como dentista no fez Giovanni perder o interesse pela fotografia. Pelo contrrio, o tempo mostrou que ele s seria um profissional realizado se virasse fotgrafo de fato. Em 1985, quando j fazia mestrado em Odontologia, pensou em seguir carreira no fotojornalismo.Pedi um emprego na Tribuna do Norte. Dorian Jorge Freire era o editor, recorda. Quatro meses depois, j era editor de fotografia do jornal com sede na Ribeira. A grande escola para o fotgrafo e o jornalista a redao, destaca.

Rede de dormir

Passou dois anos e meio na Tribuna at aceitar o convite da Dumbo, agncia de publicidade que reunia na poca o designer Marcelo Mariz, o publicitrio Cassiano Arruda, o redator Nei Leandro de Castro e outros nomes que seguiram carreira prpria. A experincia no jornal foi suficiente para apresentar a Natal um fotgrafo que tinha cuidado no trato com a informao da imagem. Prefiro a fotografia que leve compreenso, a um entendimento melhor das coisas, que justifique o ditado que uma foto vale mais do que mil palavras. O

fotgrafo no esconde que a troca do jornalismo pela publicidade foi motivada por circunstncias financeiras. Giovanni levou para a propaganda a sensibilidade do retratista acostumado com as ruas. A busca pelo flagrante, pelo inusitado, foi substituda pela necessidade de incentivar o consumo. No jornalismo tinha toda oportunidade de documentar o meu tempo, fazer o jornalismo com a perspectiva da histria. Troquei pela publicidade para fazer a fico do real, o imaginrio...

Das fbulas aos livros de arteO convvio com os livros do pai fez de Giovanni Srgio um leitor vido. Ainda criana, gostava de ler as fbulas de La Fountaine e as histrias de Monteiro Lobato. O gosto pela literatura pode explicar o seu sucesso como fotgrafo. Giovanni aprendeu a ler o mundo a seu redor. Lanando olhos de leitor apurado, encontra os melhores ngulos, os enquadramentos mais poticos e faz fotos que casam perfeitamente com poemas de Nei Leandro de Castro, Lus Carlos Guimares, Newton Navarro, Defilo Gurgel e Mar/Abr 2005 9

Giovanni Srgio, o poeta da imagem

Meninos no Rio Potengi

outros autores que emprestaram seus es- talizar a Ribeira, na primeira metade da critos para seus livros de fotografia. dcada de 90. O abandono da rua Chile O estdio do fotgrafo, instalado num e arredores incomoda o fotgrafo. Esses prdio de 1920 na histrica rua Chile, programas de revitalizao so impratipossui onze prateleiras de livros no salo cveis. Deveria ser uma rua de fotgrafos de entrada. Os livros vo at o teto do e artistas, mas s tem eu. casaro que serviu de sede para a antiga Wharton e Pedrosa, empresa exportadora de algodo que pertenceu famlia do ex- As paixes e a inveja governador Sylvio Pedrosa. A maioria dos livros so clssicos da literatura nacional Sentado na sala de entrada de seu este estrangeira, mas tambm h lugar para dio, Giovanni Srgio comea a conversar alguns ttulos sobre fotografia e artes. sobre o que mais gosta. Incitado a coA opo de montar o estdio na rua mentar sobre a obra de alguns fotgrafos Chile veio logo aps a iniciativa de revi- que marcaram sua vida, ele primeiro faz 10 Mar/Abr 2005

uma observao bastante peculiar para quem parece perder tempo fotografando o imaginrio - Gosto de retratos. Fotografar pessoas que compem o meu tempo. A timidez do fotgrafo vai se dissipando medida que so citados alguns nomes. Primeiro, Cartier-Bresson, o mais clssico, considerado uma espcie de renascentista da fotografia. Giovanni Srgio compara a sensibilidade e perfeio de Bresson ao tambm francs Gustave Flaubert (1821 - 1880), autor de Mada-

Menino e peixes

me Bovary, romance realista de lingua- O sentimento de fazer valer a brasilidade, faz Giovanni Srgio destacar o nome gem extremamente trabalhada. do fotgrafo carioca Walter Firmo, nove Cartier-Bresson era um estilista. vezes vencedor do Prmio Internacional como um Flaubert de Madame Bova- de Fotografia Nikon. Gosto de Salgado ry. Esteve presente no perodo da efer- (Sebastio Salgado), mas destaco Walter vescncia cultural da Frana. O ameri- Firmo pela espontaneidade e alegria do cano Ansel Adams, cone da fotografia trabalho fotogrfico dele. Me d uma grande inveja no saber ser um Walter paisagstica, falecido em 1984, tambm Firmo. merece a lembrana de Giovanni Srgio. Pretendia fazer o que Ansel Adams fez Fazendo uma ponte entre fotografia e literatura, Giovanni compara as fotos de para os americanos. Mostrou a Amrica Firmo aos textos recheados de brasilidade para os americanos - ta o pas em que dos escritores Jorge Amado e Joo Ubalvocs vivem. do Ribeiro. Walter Firmo trata o povo

brasileiro com amor, o mesmo amor que Jorge Amado e Ubaldo Ribeiro. Firmo no trata da dor. No faz a esttica da pobreza. Os chamados fotgrafos da misria, definidos por ele como profissionais que querem ser artistas com o uso da misria humana, conseguem alcanar o sucesso graas ao interesse estrangeiro de ver o Brasil extico. Fazem isto como mero exerccio de ego, no tem bagagem literria e humanstica. No sou contra fotografar a misria, mas fotografar a misria como razo de um discurso pessoal. Mar/Abr 2005 11

Giovanni Srgio, o poeta da imagem

Trabalhador em olaria, no interior do RN

O legado de Manoel

Pensativo e olhando para a rua, como se estivesse imaginando o dia em que a Ribeira ser tratada com o respeito que merece, Giovanni Srgio resgata o nome do jornalista e professor Manoel Dantas, retratista pioneiro na Natal do final do sculo XIX e incio do sculo XX. O fotgrafo mais importante do RN talvez tenha sido Manoel Dantas, um literato e homem frente do seu tempo. Escreveu em 1909 Natal daqui a 50 anos, um manifesto futurista se antecipando ao Para Giovanni, as fotos feitas por Manomodernismo. Dentre a multiplicida- el Dantas comprovam que ele sabia da de de Manois que ele era, era fotgra- importncia histrica da fotografia e do 12 Mar/Abr 2005

fo. No foi um grande fotgrafo apesar de ter sido o mais importante. Manoel Dantas, no incio do sculo XX, documentava timidamente, distncia. No se expunha como fotgrafo. O melhor registro de nossa histria dele, mais por ele ser nico. Deixou um acervo enorme e que precisa urgentemente ser tratado, destaca. O acervo a que Giovanni se refere guardado por Dona Slvia, viva de Osrio Dantas. Foi ela quem catalogou e tem memria para organizar.

registro do seu tempo. Jaeci (Jaeci Emerenciano, fotgrafo natalense), um grande paisagista, no teve a percepo da importncia histrica, compara.

O olhar o grande diferencialO fotgrafo potiguar est rendido aos encantos da fotografia digital desde o ano 2000. Fui um dos primeiros a migrar. No h nada como a digital, mas interessante ter vivido e saber fazer, comenta sobre o uso das cmeras analgicas.

Matador de gado no Serto

Giovanni Srgio acredita que o advento das digitais cria mais naturalidade nas imagens. No se sabe mais quem est sendo fotografado, comenta, apontando para a mquina digital do fotgrafo Anchieta Xavier. A digital tira a obrigao do fotgrafo olhar atravs da janelinha. mais natural. H cumplicidade entre o fotografado e o fotgrafo. Os trs filhos de Giovanni (Giovanna, 17, Renan, 16, e Georgia, 14) j fazem fotografias e lanam na Internet. O fotgrafo lembra o fato da juventude absorver informao cada vez mais atravs de

imagens. Eles fotografam a si e aos seus grafia e fazer valer seu olhar diferenciado. como se ele, fotgrafo por opo, e jogam na rede, diz sobre os filhos. Giovanni concorda que fotografar ser deixasse que suas fotos falassem por si. cada vez mais fcil e corriqueiro, mas o E dissessem, que quem est por trs das avano tecnolgico no tira a necessida- fotos dos meninos brincando nas guas do Potengi, um adepto do uso da linde da sensibilidade do fotgrafo. Tudo guagem atravs das imagens to bem vai fotografar. Caneta, relgio, celular... captadas por ele. Todo mundo tem acesso ao retangulozinho, mas o olhar por trs o grande Eu sou a antipropaganda. Nunca tive um carto de visita, no tenho pgina diferencial. na Internet e nem placa na fachada do Giovanni Srgio aparenta despreocupa- estdio. O fotgrafo antes de tudo um o quando o assunto autopromoo. tmido. O desenvolto, extrovertido, norAvesso ao marketing pessoal, uma prti- malmente no um grande fotgrafo. ca que parece to em moda, o fotgrafo prefere acompanhar os avanos da fotoMar/Abr 2005 13

Tr a n s f i g u r a t i v i s m oEm busca da conscincia mais profunda

Por David ClementeFotos: Anchieta Xavier

efinitivamente a artista plstica potiguar Zaira Caldas nasceu para pintar. Ou foi para esculpir? Ou foi para montar? Autora de um novo conceito em artes plsticas, ela volta de Portugal para o Brasil, para Natal, sua terra de origem, a fim de apresentar o transfigurativismo. O nome transfigurativismo foi dado pelo poeta, jornalista e crtico de arte, Walmir Ayala, em 1992, durante a Conferncia das Naes Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, a ECO 92, quando Zaira j tinha a experincia de 58 anos de arte. Ayala explicou que o estilo deveria chamar-se assim porque transcende a tudo que j se viu na arte. Para definir, a autora diz que a transformao de uma imagem em outra com o poder de atingir a conscincia mais profunda. Vai alm da transfigurao porque transcende do artista por uma nova autonomia plstica, possibilitando ao espectador criar mltiplas formas metamorfoseadas em diversas dimenses, dependendo de como so vistas e sentidas. Seu irmo Dorian Gray Caldas, tambm artista plstico, elogia Zaira pela sua inventiva plstica, tensa e redescoberta na autonomia plstica de sua pintura. O

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escritor Jorge Amado quando vivo registrou: sua obra vem somar, no complexo cultural nordestino, a realidade de uma conscincia sensvel a chamados aparentemente dspares. Apenas aparentemente, pois existe uma real unidade na obra da artista: seu profundo sentimento de amor vida. Seu conterrneo Cmara Cascudo escreveu: um temperamento que se expressa em arte forte, leal e ntida, documental e direita, antiga e contempornea, sabendo comunicar os valores da motivao. A verdade que descrever com palavras a arte de Zaira difcil at para grandes nomes da cultura porque o transfigurativismo s pode ser entendido quando observado de perto. De frente para um quadro ou escultura de Zaira, ponha sua imaginao para trabalhar livremente. Os galhos, razes e cores presas tela ganharo formas novas a cada nova pessoa que se propuser a interpretar a obra. Ora se v muitas pessoas num ambiente, ora, nenhuma. Ora uma floresta em decomposio, ora um bosque colorido. Cada obra ganha um significado que varia de acordo com a cultura de quem o admira. A ligao com a arte comeou inocentemente aos sete anos de idade quando ela e o irmo Dorian Gray brincavam de fazer construes de barro. Fazamos cidades inteiras, conta Zaira. Entre brin-

car com o barro e desenhar com carvo no cimento, ela ocupou o perodo de 10 anos. At que chegou 1944, 2 Guerra Mundial, Natal era chamada de Trampolim da Vitria porque servia como ponto de apoio para os Estados Unidos. Nessa poca, Zaira, ento com 17 anos, era assustada com o cotidiano tenso da cidade. No saamos de casa, no tnhamos luz, a sirene tocava... descreve ela, para mostrar o propsito que a fez mudar-se para o Rio de Janeiro. Na capital carioca, j casada, ela fez curso de cermica e tapearia. Foi a oportunidade de conhecer tecnicamente o que j fazia h tempos. E ento se consagrar recebendo seu primeiro prmio no Salo Nacional de Belas Artes.

Autodidata e sem influnciasNo campo da pintura, exatamente, Zaira foi sua prpria professora. Admiradora do surrealista Salvador Dali, do renascentista Michelangelo e do ps-impressionista Vincent Van Gogh, ela conta que adquiriu muitos livros sobre arte para estudar e que comeou a criar seus prprios quadros quando percebeu que produzia com perfeio obras de autores famosos. Mesmo assim assume-se como uma autodidata que no sofreu influncias. Na primeira fornada ela refletiu sua infncia sertaneja com muita poeira e fi-

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Tr a n s f i g u r a t i v i s m o - E m b u s c a d a c o n s c i n c i a m a i s p r o f u n d a

guras humanas dramticas. Minha vida no foi fcil, eu no tinha como pintar coisas bonitas, explica Zaira, dizendo que exprimia seus medos nas telas. At hoje pinto muita gua porque tenho medo dela.

nasceu Pedro lvares Cabral, Zaira fez mais exposies que no Brasil, ganhou reconhecimento e prestgio suficientes para receber o apoio necessrio para fundar a escola transfigurativista. Optou por recusar a oferta porque queria que o mundo soubesse que esse tipo E Zaira continuou a testar, misturar e de arte nasceu em Natal, Rio Grande produzir muitas telas at descobrir que do Norte, sua terra de origem. sua capacidade infinita e poderia atinEla pretende juntar pessoas interessagir pblico inimaginvel. Um dia desses das em aprender as tcnicas usadas por vi uma reportagem pela televiso sobre a ela para darem continuidade ao estilo. Itlia. Em um momento passou um ga- Vamos fundar a escola transfiguratibinete poltico e eu identifiquei um qua- vista. Assim como foi com o renascidro meu de raiz na parede. bom saber mento, arte moderna, barroco..., diz que meu trabalho est andando. a artista. At o Papa Joo Paulo II apegou-se ao trabalho de Zaira. A pintora conta que numa exposio coletiva de artistas de Natal, em 1991, o Papa ficou encantado com uma de suas telas e o arcebispo que o acompanhava pediu para comprar. Claro que eu no ia vender um quadro para o Papa. Eu dei de presente. Em janeiro do ano seguinte, Zaira recebeu uma carta do Vaticano agradecendo a bela composio artstica elaborada com elementos naturais. Mas lacnico interesse no basta, tambm ser necessria disposio, pois as principais matrias-primas usadas nos trabalhos tm que ser previamente preparadas para que a obra seja eterna. Primeiro uma visita ao mato para colher galhos, pedaos de pau e raiz que sero mergulhados em cido ntrico, depois tomaro banho de sal, assaro numa grelha ou sol quente e, por ltimo, cobertos por resina. Terminadas as preliminares, o criador decide se vai montar, esculpir ou criar um quadro. Zaira diz que s decide at esse ponto. Depois ela vai deixando a criao ganhar espontaneidade e forma. Confessa que algumas vezes pensou em obter um resultado e deparou-se com outro bastante diferente. A interpretao a derradeira e no so todas as obras que recebem nome.

A escola transfigurativistaDepois de 19 anos no Rio de Janeiro, ela foi morar no Distrito Federal, onde permaneceu por mais quatro anos e voltou capital potiguar. De Natal para Portugal, que foi o ponto de partida para visitar toda a Europa como artista plstica autnoma e professora de artes. No pas onde

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M8M homenageia Zaira

artistas de todo o segmento, sendo em sua maioria artistas visuais, vem refle(Artista visual) tindo a vida, promovendo discusses, incentivando a produo e catalogando as artes visuais do Rio Grande do Norte, que culminar na edio de um livro/caonge de uma imagem romntica tlogo e uma exposio itinerante pelo de artista, nossa gerao tem uma prointerior do Estado. ximidade com a vida cotidiana. O artista contemporneo vive numa espcie de O dia 8 de maio tornou-se um dia sigassentamento permanente no prprio nificativo para a arte visual potiguar, por habitat, reativa e recria formas de artes iniciativa e persistncia do artista plsj realizadas, inventa maneiras de vidas tico Pedro Pereira, que em 1999 e 2000 no campo dos signos e da produo. O organizou um movimento com oficinas artista contemporneo um inventor de e exposies na Fundao Hlio Galvo trajetrias na semi-esfera da sociedade e em 2001 o Projeto Nao Potiguar realizou a I Mostra de Arte Contemporatual. nea, da qual fui curadora. Na ocasio, a Acreditar na percepo cultural do espa- historiadora de arte e artista pernambuo e ter uma orientao em direo ao cana Maria Ducarmo Nino realizou uma interior da narrativa biogrfica pode ser comunicao. o papel no primeiro tempo da arte hoje, j que a chave do discurso no est na Em 8 de maio de 2004, o M8M reaobra de arte, mas sim no intervalo/lugar lizou o Panorama 0.8-RN BRASIL, coentre o espectador e a obra. Perceber e letiva que teve a curadoria da jornalista captar o lugar uma maneira de surfar e crtica de arte Leonor Amarante e da sobre uma estrutura cultural flutuante pesquisadora do GRECOM (Grupo de e existente ao mesmo tempo em que se Estudo para o Pensamento Complexo) Snzia Pinheiro Barbosa, onde foi posvive dentro dela. svel diagnosticar a produo local, eviCom esse pensamento, o M8M (Movi- denciando-se a necessidade de informamento Oito de Maio), constitudo de es e intercmbios.

Sayonara Pinheiro

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Este ano, em comemorao ao dia 8 de maio, o M8M realizar um assentamento de artistas de 1 a 8 de maio no ANDAIME, que contar com a presena de artistas da Paraba, Pernambuco e Cear; palestra de bis Hernndez, curadora da IX Bienal da Havana no Brasil, no dia 6 de maio no Solar Bela Vista. O tema abordado ser a organizao da Bienal de Havana. bis ter uma conversa com artista na Fundao Capitania das Artes. O tema abordado por Leonor Amarante no dia 7 ser curadoria e Walter Wagner, artista paraibano, ministrar uma oficina de montagem de exposio de 3 a 5. Haver tambm, um dilogo com Xico Chaves, coordenador do setor de artes visuais da FUNARTE no dia 8. Ivens Machado, artista visual e representante oficial do Brasil na ltima Bienal de So Paulo, ministrar uma oficina e far uma instalao. A comemorao prev exposio coletiva na Fundao Capitania das Artes, na Pinacoteca do Estado e intervenes no corredor cultural. Tudo isso com artistas convidados do Rio Grande do Norte. Em 2004, o 8 de maio homenageou Marcelus Bob, que fazia 25 anos de arte. Este ano, a homenagem para Zaira Caldas e seu universo criativo conduzindo o eu transfigurativista. Mar/Abr 2005 17

Centro de teatroPor David ClementeFotos: acervo do CEFPT ngana-se quem imaginar que salas com paredes negras so sombrias. As paredes das salas em que os alunos do Centro Experimental de Formao e Pesquisa Teatral (CEFPT), da Fundao Jos Augusto, tm aulas so negras como a noite e poticas como a lua cheia. O CEFPT, mais conhecido como Centro Experimental de Teatro, est localizado na avenida Hermes da Fonseca, colado ao Aeroclube, em Natal.

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A cor das paredes das salas foi um dos itens que a recente reforma do Centro contemplou. A fachada tambm ganhou nova cara, agora tem mais cores e melhor identificao, o que trouxe para o Centro mais alunos e mais pblico. O interior parece ter recebido vida prpria e sorri para os visitantes de to acolhedor que ficou. A parte administrativa tambm deve ganhar uma mudana em breve. Uma delas a criao de um banco de textos do Estado do Rio Grande do Norte, com produes individuais e de grupos potiguares.

Por semestre so oferecidas 160 vagas para o aprendizado da interpretao. Os futuros atores ficam espalhados por quatro turmas de 40 alunos, cada. E se revezam por oficinas permanentes que tm perodos letivos de trs meses, lecionadas pelos professores Marcos Martins, Fernando Yamamoto, Lenilton Teixeira e Mariana Guimares, todos com formao em Artes. Ao final do curso, os alunos podem mostrar a eficincia das suas caras e bocas e eloqncia, montam o espetculo que ser o exerccio final. Formados, todos recebem certificado de concluso.

est de cara novaComo pblico alvo para o Centro, o coordenador Joo Marcelino claro: Qualquer pessoa que queira aprender teatro. No h idade mnima, nem mxima. O que vale o interesse pela arte. At a taxa mensal de R$ 20,00 pode ser flexibilizada de acordo com as condies financeiras do aluno. Das ltimas turmas, algumas foram cobaias da idia de estudar teatro como se os atores fossem uma famlia, ou seja, com atores de todas as idades. Joo Marcelino explica que h espetculos em que existem personagens de todas as idades, ento, por que no os trabalhar desde as aulas de interpretao?

Espao aberto para os espetculosSendo o Centro Experimental de Formao e Pesquisa Teatral (CEFPT) sustentado pela Fundao Jos Augusto, do Governo do Estado, ento dos potiguares. Assim, o Centro toma a liberdade de abrir suas portas para os artistas conterrneos. As salas, com suas paredes escuras e todos os espelhos, esto disposio para servir a grupos teatrais que no tenham lugar para ensaiar. Quem quiser montar, ensaiar ou apresentar um espetculo, venha para c, convida Joo Marcelino. At novembro do ano passa-

do, mais de 20 grupos j montaram seus espetculos nas salas da casa. O CEFPT uma opo nova para a cidade, um espao alternativo para quem quer se experimentar e no tem onde, diz Joo Marcelino. O filme Fabio das Queimadas - O poeta da liberdade apresentado na mostra DOCTV - Brasil Imaginrio, em setembro de 2004, um exemplo disso. A escolha e preparao do elenco foram feitas inteiramente no Centro. E se os grupos produzem, montam, ensaiam no Centro e no tm onde apresentar? Voltam ao Centro para isso, oras. O projeto Teatro Alternativo uma parceria com o Departamento de Artes

C e n t r o d e Te a t r o e s t d e c a r a n o v a

po em que estava impresso o programa de um dos projetos que mais levou aplausos para o Centro, o Caf Teatro. Em 2002, quando o projeto teve incio, foram realizadas cinco leituras dramticas; em 2003, mais cinco, sempre aos sbados. Em cada sesso, que era dividida entre o Prato de Entrada e o Prato Principal, uma mdia de 100 espectadores prestigiavam os atores locais que interpretavam textos de autores potiguares e nacionais. O projeto ficou to bem conhecido na cidade que o pblico passou a pedir por ele. Em razo disso, em 2005 o projeto Caf Teatro ser nosso carro chefe, adianta o coordenador.

da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), com o Teatro Municipal Sandoval Wanderley e com a Casa da Ribeira. Atores e estudantes oriundos dos trs locais j utilizaram o Centro Experimental para apresentarem-se. Especialmente alunos formandos da UFRN com seus projetos de final de curso.

quebrar a mxima de Cmara Cascudo em que ele diz que Natal no consagra, nem desconsagra ningum. Eu digo que consagra sim.

Sagrados so os poetas, que to bem traduzem a vida. Sagrados, todos os atores so por tornarem seus, os filhos dos outros, ao representarem, com a alma tanPara Joo Marcelino, os espetculos exi- tas personagens. Fragmento de poema bidos no Centro movimentam o mundo de Joo Marcelino, escrito no inverno de artstico e formam atores. Eu brigo para 2002 e publicado no mesmo papel de 20 Mar/Abr 2005

as funes de figurinista, cengrafo, diretor, ator e ainda produtor de adereos. Atualmente ele assina os espetculos Chuva de Bala no Pas de Mossor, que ocorre anualmente em julho, e Oratrio de Santa Luzia, que exibido em dezembro. A entrada no CEFPT aconteceu em julho de 2002 graas a trs indicaes: dos artistas, do deputado estadual Cludio Porpino e do presidente da Fundao Jos Augusto Franois Silvestre. Para ele,

Ator por naturezaO ser humano tem a necessidade nata de falar de suas paixes, falar da sua dor, das suas angstias, de todos os sentimentos. assim que Joo Marcelino, coordenador do Centro Experimental de Formao e Pesquisa Teatral (CEFPT), explica por que as pessoas envolvem-se na arte de representar. Ele, que tem 45 anos de idade e 24 de teatro, divididos entre a produo, o palco e as coxias, sabe bem o quanto o teatro mudou a sua vida. Sua me queria que ele fosse mdico, mas ele queria mesmo era ser artista. Driblei todos, brinca. Todos os gestos com as mos que ele faz como se fossem provas de que ele nasceu para a interpretao. Sou obsessivo. Se gosto, vai ser agora. Tenho que me apaixonar por alguma coisa. A primeira manifestao artstica chegou em forma de pintura, depois estudou, paralelamente ao teatro, dana clssica e canto. Como no seu tempo no existiam escolas de interpretao em Natal, Joo Marcelino teve que passar anos comendo livros para aprender teatro e po com mortadela para vencer na vida. Eu era autodidata. Fazia, estudava, experimentava..., conta. Depois de anos de dedicao, hoje em dia ele divide seu apertado tempo entre coordenar o CEFPT e administrar alguns convites que recebe para trabalhar em espetculos. No seu currculo esto

o convite foi conseqncia de toda a dedicao que ele investiu em si. Tanta que ficou entranhada no seu dia-a-dia. Para suprir sua necessidade de encenar ele faz teatro na prpria residncia, no seu cotidiano. No sobra muito tempo para trabalhar como artista. Precisamos apenas de alma para fazer arte, considera Joo Marcelino, que inclui a arte entre suas poucas ambies. Dem-me uma sala escura para criar fantasias e eu serei um homem feliz.

Rubens Lemos Filho(Jornalista) sperava com a angstia dos noivos, a pacincia dos vingativos e a resignao das mes. No tinha a sabedoria dos orientais mas um amor transbordante e universal. Que explicava a ansiedade da espera pelo domingo do reencontro. H algum tempo no via o objeto de adorao e queria estar inteiro, de corpo e de alma, para no perder um segundo sequer. Lembrou, semana comeando, dos gozos e contratempos daquela relao de vinte, trinta anos. Sentiu que amava ainda criana, passou venerao adolescente e temperou o sentimento quando os cabelos brancos comeavam a brotar. Nos dias de glria, sempre adjetivou como os apaixonados patetas. E, finalmente, concordou com aquele amigo que dizia, falso dissimulado: Todo apaixonado ridculo. Foi repassando os episdios do seu velho caso e concordou: fez promessas, de joelhos jurou fidelidade (diga-se, mantida militarmente), quis abraar a cidade, danou na rua, meteu-se a poeta, brigou em mesa de bar. No velrio dos fracassos que tambm foram muitos, o desabafo do palavro, a blasfmia contra a maior razo da sua vida, a promessa de nunca mais v-la, a desgraa de preferir estar morto do que sofrer tanto. A hora vai se aproximando e a pulsao frentica. Nada merece tanta ateno, nunca uma expectativa machucou tanto. O domingo vai chegando e antes dele, para injetar coragem e anestesiar o medo, a entrega bebida como blsamo intil. Apaixonado e bbado, mais deplorvel ainda. E vai se perguntando, na solido do quarto escuro, breu do tamanho das suas interrogaes: Ser que vai ser como na primeira vez?, Ou decepcionante como a ltima?. Sente-se um toureiro numa arena desconhecida. Um policial se esgueirando pelas vielas de um morro, inimigo oculto e armado, pronto para o bote. Um doente recebendo o exame fechado que pode sepultar sua vida. Ou o aluno que aguarda ansioso o resultado do vestibular. angstia demais, ele reclama. Mas no se foge de desafio, se enfrenta. Est faltando uma hora para o reencontro da sua vida. O corao se dilata, taquicardia, suspeita o perturbado cidado. Finalmente acaba o suspense, abre a gaveta, tira a sua camisa e vai rever, vestido de ternura, aflio e desejo, o jogo de futebol mais importante do mundo. O do seu time. Assim como foram os de ontem e sero os de eternamente.

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Um velho caso amoroso

Sobre Luzes, Sombras e Magias

P o t i g u a rMarco A. Felipe

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livro Luzes, Sombras e Magias - Os filmes que fazem a histria do cinema (Sebo Vermelho Edies, 2005), do escritor potiguar Moacy Cirne, foi lanado em maro como mais uma homenagem a Stima Arte. Como toda produo cinfila, este livro o resultado de uma paixo que remonta a dcada de 50, mais precisamente ao Cinema Pax (Caic-RN) e a revista manuscrita Cinematic, cujo editor, redator e nico leitor se confundiam. Em sua trajetria, Moacy destaca dez momentos, dentre eles, Luzes da Cidade (1931, de Charles Chaplin), que preencheu sua existncia de menino calado; A Aventura (1960, de Michelangelo Antonioni), que o comoveu a ponto de deix-lo apaixonado pela obra como concepo cinematogrfica; e Assuntina das Amrikas (1976, de Luiz Rosenberg Filho), que o arrebatou pelo desespero e grandeza de sua narrativa anti-romanesca. Aps comentar alguns filmes, nos brinda com o sempre possvel futuro cinematogrfico a partir de um conto-argumento de sua autoria. Sendo a produo de um cinfilo, Luzes, Sombras e Magias... tm seus cnones, suas escolhas e selees particulares. No entanto, o estabelecimento dos melhores filmes no emana da particularidade sem critrios. Ao contrrio, tem no uso orgnico

da linguagem do cinema o seu elemento definidor. Alm de seus filmes preferidos, como Cabra Marcado para Morrer (1984, de Eduardo Coutinho), Moacy Cirne analisa livros necessrios queles que fazem da Stima Arte o caminho do futuro. quando comenta Cine Lembranas (Sebo Vermelho Edies, 2004), que resgata a crnica e a crtica cinematogrfica de Berilo Wanderley, um potiguar que escrevia sobre cinema entre as dcadas de 50-70, em Natal-RN. Como auxlio luxuoso aos cinfilos, indispensveis aos momentos que se dirigirem s locadoras, Moacy tem suas listas interminveis: 440 filmes ao todo (de O Encouraado Potemkin, passando por Deus e o Diabo na Terra do Sol, a Dogville), listados e comentados sem o academicismo enfadonho que esquece o objeto e prende-se a teorias mirabolantes e circulatrias. Seu livro tem, ao mesmo tempo, a marca da cinefilia e da memria, relacionando cinema e vida sob a perspectiva da anlise e crtica vivenciais. Portanto, atravs dos filmes, surge um cenrio do mundo: o Rio Grande do Norte. Mais especificamente, as cidades de Caic e Natal, a partir, respectivamente, do Cinema Pax e do Cinema Rex. Outro momento importante a fundao do Cine Clube Tirol, desenvolvido com os amigos Anchieta Fernandes, Francisco Sobreira, Jarbas Martins e outros. Assim, Moacy Cirne no fica preso ao objeto como a semiologia mais banal fez em vrios momentos. Ao contrrio, relaciona cinema, espao e tempo para, atravs de sua escrita, adentrarmos no passado dos cineclubes e sesses de arte locais, dos cronistas e crticos potiguares e, principalmente, no esprito de uma poca que para ser cinfilo era preciso muito mais do que ver filmes. Era necessrio, antes de tudo, imagin-los,

j que no havia possibilidade de assistir grande parte do cinema no-comercial na cidade de Natal dos anos 50-60 que, ainda hoje, permanece uma provncia, uma aldeia.

Livros e blogs de potiguares sobre cinema:Jazz, Cinema e Educao (Plaquete, 1961, de Alvamar Furtado). cran Natalense (1992, de Anchieta Fernandes - Sebo Vermelho Edies). Sobre a histria do cinema no Rio Grande do Norte, as primeiras salas exibidoras e os primeiros filmes produzidos no Estado. Cinema, Cinema - Os filmes dos meus sonhos (2003, de Moacy Cirne - Sebo Vermelho Edies). Sobre o destaque que o cinema teve na sua infncia e adolescncia, alm de listas com os 100 melhores filmes da histria. Cine Lembranas (2004, de Berilo Wanderley - Sebo Vermelho Edies). Organizado por Maria Emlia Wanderley, esse livro traz crnicas e crticas de cinema escritas por Berilo Wanderley entre as dcadas de 50-70. Os Cinemas de Currais Novos (2004, de Manoel Jaime Xavier Filho). Sobre os vrios cinemas que j existiram na cidade de Currais Novos-RN, destacando o ano de 1920 como a data inaugural da primeira sala exibidora. Blog Stima Arte (Blog de Marcos A. Felipe - http://7arte.zip.net/). Luzes da Cidade (Blog de Francisco Sobreira - http://luzesdacidade.blogspot. com/). Mar/Abr 2005 23

artes cnicas. Aos 14 anos, j tocava violo e bateria. A primeira apresentao Foto: Anchieta Xavier aconteceu nesta mesma poca, no palco do teatro do Sobradinho. Pouco tempo cantor Gustavo Costa, 31 anos, depois, veio o curso profissionalizante na cresceu ao som das baladas de rock da Escola de Msica de Braslia. Legio Urbana e outras bandas de suces- O cantor guarda muitas lembranas dos so dos anos 80. Tudo muito natural para anos vividos em Braslia. A mais viva dequem nasceu e morou em Braslia at os las talvez seja um show da Legio Urbana 23 anos. O estilo de vida na capital feem 1989. A apresentao, marcada pela deral, celeiro das bandas Capital Inicial, histeria do pblico e tumulto, diminuiu Plebe Rude, Paralamas do Sucesso, Ledrasticamente a quantidade de shows gio Urbana e outras, influencia o cantor do grupo e separou, temporariamente, brasiliense at hoje. A msica entrou na Renato Russo da banda. Foi bastante vida de Gustavo para nunca mais sair e tumultuada e eu estava l. Renato Russo ajudou o artista a enfrentar o glaucoma guardava mgoas de Braslia, lembra. congnito. Apesar dos obstculos, nunca desanimei. Tem gente que no tem A mudana da capital federal para o alto problema nenhum e quer morrer. oeste potiguar, ocorrida quando Gustavo estava se profissionalizando na msica, Gustavo Costa mora em Umarizal, regio oeste do Rio Grande do Norte, terra no chegou a ser um choque. Apaixonanatal dos seus pais, desde 1996. Nestes do pela receptividade do povo potiguar, quase dez anos, tem conseguido acu- o cantor diz ter sido recebido com tanto mular diversos prmios em concursos carinho que no pensou em voltar. O de interpretao pelo interior potiguar e que me cativou no Rio Grande do Norte tambm no Cear. A TV Dirio de For- foi a amizade do povo. Gosto muito do taleza e o cantor Ra, vocalista da banda povo nordestino, no quero sair daqui.

Por Gustavo Porpino

sor j receberam a Cumade Cristina em diversas ocasies. O repertrio da banda tem forte influncia das bandas nacionais surgidas nos anos 80. Os clssicos do rock dos anos 60 e 70 das bandas Led Zepellin, Creedence, Deep Purple e The Doors tambm tm espao. Gustavo Costa contribui tambm fazendo arranjos de composies de Renato Russo, Djavan, e at mesmo de Tom Jobim e Vincius de Morais. Sou meio camaleo, me adapto bem a qualquer estilo, pop ou rock, conta. A carreira solo de Gustavo Costa segue paralela participao na banda. Incentivado pelo amigo Ra, cantor da banda Saia Rodada, lanou A voz em canto, CD gravado em Apodi, com interpretaes de sucessos de diversos artistas e a composio prpria Ainda te espero, uma balada romntica de rock. Enaltecendo o apoio recebido, o cantor lembra que Ra est patrocinando a gravao de outro CD em maro. Motivado, Gustavo faz planos de cantar tambm em Natal, e no nega o desejo de passar uma temporada curtindo o pblico e o sol da capital do estado. Inspirado nas canes de Renato Russo desde o incio da carreira, o cantor deixa uma lio como se tivesse escolhido a msica Quando o sol bater na janela do teu quarto para ser o fundo musical de sua vida - A humanidade desumana / mas ainda temos chance / o sol nasce para todos / s no sabe quem no quer.

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de forr Saia Rodada, tm sido grandes incentivadores de sua carreira. Gustavo j participou de diversos programas da emissora cearense, incluindo uma participao de seis semanas no programa do apresentador nio Carlos. A formao musical de Gustavo comeou na infncia. Ainda menino, gostava de freqentar o teatro do Sobradinho, no Distrito Federal, e participava do Jogo de Cena, projeto educacional de

As amizades que fez em Umarizal resultaram na criao da banda Cumade Cristina, idealizada pelo professor Valmir Lopes. A banda formada por Gustavo Costa (voz e violo); Jnior Sidnelson (voz); Rafael (contrabaixo); Joelson (guitarra) e Jimmy Hendrix (bateria) bastante conhecida no interior potiguar, levando a crer que o rock tambm tem espao no cenrio dominado pelo forr. Pau dos Ferros, Martins, Lucrcia e Mos-

O rock da Cumade24 Mar/Abr 2005

Gustavo Costa d lio de vida aos msicos potiguares

Cristina

invade o sertoMar/Abr 2005 25

Um peixe pronto para voarPor David Clementeuma praia paraibana, guardados pela sombra de um coqueiro, prximos a um chuveiro em forma de peixe, alguns amigos bebiam e conversavam sobre a possibilidade de montarem uma estrutura em que pudessem divertir a si prprios e a terceiros. Algo que tivesse relao com aquele momento e que simbolizasse confraternizao de amigos. Que tal uma banda?, sugeriu um deles. Os demais concordaram empolgados. Pronto. J sabiam que seria mais um motivo para se encontrarem. Mas qual nome adotar? Acima deles havia cocos. Ao lado, um chuveiro em forma de peixe. Assim sur- Depois de algumas tiradas de som giu a banda Peixe Coco, em 1997, sem como membro interino, Leo HC, 32 nenhuma pretenso profissional. anos, chegou para ser o vocalista oficial O nome da banda foi o primeiro passo da Banda Peixe Coco. Alm da voz, lepara a caminhada que j dura oito anos, vou consigo algumas idias que mais se contados at hoje. A divulgao foi tarde ocupariam 11 das 12 faixas do seo segundo. Quando o nome da banda gundo CD do grupo, que ser lanado j estava espalhado pelos corredores da oficialmente em agosto deste ano. 26 Mar/Abr 2005

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Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN -, surge o primeiro convite: apresentar-se no Fantalismo, uma festa fantasia do curso de Jornalismo. Teramos que tocar e tocamos. At ento ns s simulvamos algumas batidas e brincvamos de fazer um som, conta Caio Vitoriano, 26 anos, guitarrista.

O ltimo a compor o quadro da banda foi o baixista Jeff Soares, 28 anos. Ele conta que j era f da Banda antes de ser membro. Comprava CD e participava dos shows fervorosamente, at surgir o convite em julho de 2004. Quando perguntado se aceitaria assumir o baixo da Banda Peixe Coco, ele recusou-se a ter um tempo para pensar e respondeu J que a inteno primeira dos amigos imediatamente com um estou indo era diverso, quase que exclusivamente, com o baixo at a agora. as msicas primognitas foram compostas em ritmo de brincadeira. Algumas em ocasies to pouco formais que nem Em estdio como uma todos os membros lembram, mesmo Caio e Lus Antnio, que esto na banda banda de verdade desde seu princpio. Observar os integrantes da banda fora do palco faz imaginar o quanto eles tm um bom clima de relacionamento. No dia em que a Pre esteve com a Peixe Coco, a banda estava no estdio do fotgrafo Lus Morais, produzindo fotos para a divulgao do seu segundo trabalho. Para quebrar a pouca inibio que os msicos diziam estar enfrentando, uma

msica ambiente. Entra no aparelho de som um CD amarelo em seu anverso e com algumas listras pretas. Era o primeiro CD da Banda Peixe Coco, que eles sequer possuam. Enquanto o fotgrafo preparava as luzes e lentes do estdio, o guitarrista Caio sugeria fotos estouradas, o vocalista Leo acompanhava as msicas com a boca como se dublasse para si mesmo, enquanto danava movimentando apenas a cabea e os demais msicos mimicavam seus instrumentos. Provavelmente eles no perceberam, mas at mesmo naquele momento estavam em sincronia.

conseguir espao para tocar em boates, bares, ganhar pblico e ter a chance de fideliz-lo. E s assim a banda conseguiu comear a perceber entrada de dinheiro. At ento, eles encaravam o trabalho musical como um hobby de luxo.

A Banda Peixe Coco compe o grupo de bandas independentes que formam o selo DoSol. Com a unio dos msicos, todas as bandas afiliadas so beneficiadas. Em vez de concorrentes, os msicos de diferentes grupos dividem seus conhecimentos e todos se ajudam. H os que entendem de diagramao, outros de desenho, E seguiram com as fotos do ensaio. Mui- alguns mais apuradamente, de msica e tos bolsos nas calas, algumas trocas de todos se divulgam juntamente. camisa, luzes coloridas, flashes, flashes, A divulgao o principal objetivo das poses e mugangas. Mugangas principal- bandas independentes. Por no terem mente do vocalista que tenta instigar os nenhum vnculo empregatcio com grademais a acompanh-lo nos gestos com vadora, elas podem disponibilizar suas os braos, pernas e cabea, enquanto de- msicas em sites com tal finalidade e, asclara discretamente que apenas dispe-se sim, ganham o gosto de internautas em a ser fotografado porque necessrio. todo o mundo, com a vantagem de atinMas minutos depois, contradiz-se comegir diretamente o pblico que gosta, esmorando que um ensaio em estdio o pecialmente, de bandas independentes. deixa sentindo-se como se fosse de uma banda de verdade. Sua autenticidade j permite que a banda Mas o que dizer de uma banda que se conte com um pblico fiel, que cantou, prepara para lanar o segundo disco; j danou e vibrou durante sua apresentaparticipou de quatro coletneas; ensaia o no festival MADA - Msica Alimensemanalmente por duas horas; j apare- to Da Alma. A desenvoltura no palco j ceu na Revista MTV e Revista Dinami- os levou a Pernambuco, Paraba, Cear te; esteve por uma quinzena como uma e prev apresentaes em Minas Gerais, das bandas mais baixadas em sites de Rio de Janeiro, Curitiba, So Paulo e msicos independentes na Internet? Ser Bahia at o final do ano. Quando viaque essa no uma banda de verdade? jamos, vemos o quanto o pessoal daqui Claro que . Depois Leo explicou sua co- bom em todas as vertentes, diz Leo locao dizendo que adoraria se dedicar HC, elogiando o intercmbio cultural msica sete dias por semana, ou seja, proporcionado pelos trabalhos fora do ser, exclusivamente, msico. seu Estado. Em terras potiguares ele laPara isso os membros tiveram que aceitar menta o pouco incentivo que recebe dos seguir o caminho inverso ao que costu- conterrneos. Infelizmente Natal s vai mavam fazer nas apresentaes. Apenas ver o que tem de bom daqui a 30 anos. h oito meses passaram a tocar msicas O que o artista quer ser visto, exposto. de outras bandas j conhecidas. Segundo Do jeito que est d para mudar em seis Caio, essa foi a estratgia adotada para meses, mas falta incentivo.

Projeto Seis e Meia seis meia

Um marco da culturaPor David ClementeFotos: Evaldo Gomes onsiderado um marco na cultura do Rio Grande do Norte, o Projeto Seis e Meia est fazendo este ano dez anos de atividades ininterruptas. Poucos projetos artsticos conseguiram permanecer por tanto tempo em cartaz. Ainda mais sem sofrer alterao no local de exibio (Teatro Alberto Maranho), no horrio e, at mesmo, no preo da entrada (desde o primeiro show, cobrado o valor de R$ 10,00). O coordenador do Seis e Meia, William Collier, explica que o sucesso do projeto exatamente pelas regras definidas desde o incio, sempre tendo como atraes um artista local e um nacional. A inteno era atrair as pessoas que estivessem saindo do trabalho e quisessem voltar cedo para casa, explica. Sem a inteno de selecionar a platia. Nosso pblico alvo qualquer pessoa que goste de boa msica. E no elitista. Veja o preo da entrada, diz William. O projeto comeou exatamente em maro de 1995, sempre apoiado pela Fundao Jos Augusto, e recebe aplausos exata e semanalmente s 18 horas e 30 minutos das teras-feiras. Na noite de estria, h dez anos, subiram no palco Pedrinho Mendes e Nico Resende como atraes local e nacional, respectivamente. De l pra c j foram 370 shows para mais de 18 mil pessoas. O Projeto Seis e Meia tambm um excelente canal para lanar os artistas locais e divulgar ainda mais os nacionais. Pelo projeto, j passaram grandes nomes da MPB, como Nana Caymmi, Paulinho da Viola, Leila Pinheiro, Chico Csar, Altamiro Carrilho e ngela Maria, e da msica potiguar, como Glorinha Oliveira, Babal, Cleudo Freire, Galvo Filho, Elino Julio, Valria Oliveira, Mad Dog Blues, entre tantos outros. Alm das duas apresentaes da noite, o pblico ainda pode surpreender-se com um dueto inesperado entre as duas atraes. Assim foi com Marina Elali e Agnaldo Rayol e Oswaldo Montenegro e Diogo Guanabara.

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Collier comemora tambm porque so 10 anos de msicas de difcil insero nas rdios e, mesmo assim, a casa est cheia em quase todas as sesses. Nosso grande mote a MPB sem compromissos comerciais. Do seu comeo at o oitavo ano, o projeto dependia de patrocnio direto da iniciativa privada e da Fundao Jos Augusto. A partir do oitavo ano, o Seis e Meia foi enquadrado na Lei Cmara Cascudo de Incentivo Cultura. Para toda a produo dos espetculos, o Seis e Meia conta com a empresa Super Star, que formada por uma equipe de 20 pessoas. O fotgrafo Evaldo Gomes o encarregado de registrar as imagens que formam a histria deste projeto bem sucedido. Para o artista, subir ao palco, apresentar-se, receber seu cach e ir embora satisfeito. Para o pblico, adentrar o teatro, acomodar-se numa poltrona, deliciar-se com o show e sair satisfeito. Mas para a produo nem tudo to simples assim. William conta que os primeiros shows ainda no haviam firmado o projeto, o que deixou o caixa da produo no vermelho. Mas nada que persistncia e uma boa crena no viessem a provar que os produtores estavam certos. Em 1999, doze shows foram realizados com a maior lotao que o teatro pde suportar. Com essa garra toda o Seis e Meia quer buscar mais espao. Est em estudo a viabilizao do projeto nas cidades de Parnamirim, Currais Novos e Caic, todas no RN. Mossor recebe os artistas desde o 7 ano.

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Mar/Abr 2005

contempornea potiguarUma vitrine para os artistasO sol sequer se ps e j comea a movimentao na calada do teatro. Os vendedores de bala, os flanelinhas, dispemse nos seus postos de trabalho da mesma forma que os funcionrios do Teatro Alberto Maranho. Os primeiros espectadores que chegam precisam aguardar at o acesso ser liberado. No interior do teatro, o iluminador Castelo Casado recebe os mapas de palco das atraes e repassa as orientaes para o operador da mesa de luz. Os msicos afinam seus instrumentos j posicionados no palco, enquanto no camarim, os cantores preparam-se para a hora mais esperada pelo pblico. povo caloroso. Se pudssemos viramos todos os anos, relata o cantor. Para Kledir, que j se apresentou em muitos lugares do Brasil, difcil encontrar outro projeto como o Seis e Meia e que tenha conseguido uma durabilidade to grande. At no Rio de Janeiro onde, segundo ele, existiu o projeto pioneiro, no durou esse tempo todo. E quando perguntado o que acha de participar do Seis e Meia, ele responde que bom fazer parte porque projetos assim tm que ser alimentados. A cantora Lucinha Lira teve que parar para contar quantas vezes j esteve no palco do Projeto Seis e Meia. Acho que seis vezes, responde ela. A cantora que j representou o RN em outros lugares do pas comemora a existncia do projeto e usa vrias vezes a palavra bairrista para defender a cultura local. O projeto Seis e Meia uma vitrine para o artista local mostrar o trabalho. Sobretudo porque o teatro um lugar nobre. Assim, nos apresentamos com trato e cuidado especial. Ela elogia o projeto tambm pelo pblico, fala que os espectadores do teatro comparecem para assistirem ao show e que cantar para quem est atento muito gratificante.

A Pre esteve na sesso do Projeto Seis e Meia de 5 de abril deste ano. As atraes da noite eram a cearense radicada em Natal Lucinha Lira (local) e os gachos Kleiton e Kledir (nacional). Lucinha Lira chegou ao teatro pouco tempo antes de entrar no palco. Trazia consigo sua cabeleireira, pompa no figurino, um vozeiro e muito bom humor. Kledir chegou casa de espetculos antes de Kleiton, concedeu algumas entrevistas e fez um pedido aos organizadores: queria beber gua-de-coco, com o detalhe que deveria ser servida no coco mesmo, j que estava Enquanto fala para a entrevista, a camna Cidade do Sol. painha anuncia que est chegando a hora Os gachos participaram do Projeto pela para as cortinas serem abertas. Numa quarta vez. E em todas, eles tm a mesma fina calma, ela continua falando enquanboa lembrana de casa cheia, pblico ani- to caminha para o palco e sua cabeleimado e participativo. Para aquela noite reira enxuga um pouco de suor de sua eles no queriam ter outra expectativa se testa. Mal toma o microfone em punho, no repetir o bom desempenho das vezes entoa sua voz com a primeira msica. O anteriores. Para quem vem de uma terra repertorio daquela noite era um tributo fria onde as praias no so as mesmas, a Elis Regina que completaria 60 anos se como diz Kledir, o que mais fascina o estivesse viva.

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SeverinoO eterno rei momo de Natal

Por David ClementeFotos: Acervo da famlia

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conquistador. No namore ele. Foi quando Elvira cumpriu a tradio do dia em que estava e mentiu dizendo s hoje. Comearam a namorar. A prpria Elvira admite que no tinha grandes expectativas para um casamento com Severino. Ele era muito turbulento. Gostava de um movimento!, explica ela. Mas para sua surpresa, veio um pedido formal de casamento. Apesar de sua famlia no ser favorvel unio, depois de uma semana o pai da noiva resolveu conceder sua mo. Em 27 de dezembro do ano seguinte, 1939, ele militar e ela professora, oficializaram o matrimnio. Uma semana depois do casamento Severino Galvo foi preso porque fazia soldo (emprestava dinheiro para os colegas pagarem com

or incrvel que parea a histria do amor verdadeiro entre Elvira Nascimento e Severino Galvo comeou no Dia da Mentira, 1 de abril de 1938, numa festa danante. Segundo ela, Severino era um rapaz do tipo bonito, que danava com todas as moas do baile e namorava muitas delas. Enquanto a msica tocava seus olhares se entranharam, ele deixou suas parceiras de dana e segurou a cintura de Elvira para a prxima msica. Danaram, danaram e danaram. Preocupadas, suas amigas a aconselhavam: Esse rapaz Mar/Abr 2005

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Galvojuros quando recebessem o salrio). Sem o esposo, ela voltou para a casa dos pais. Mas l permaneceu por mais uma semana apenas, o tempo do marido ser solto e continuarem a morar juntos no bairro do Alecrim, em Natal. Em 1940 nasceu o primeiro filho, que foi chamado de Elvirino. Seu nome a mistura dos nomes dos pais: Elvira e Severino. Viveu apenas at os 10 meses. A me conta que ele teve uma crise de febre e no agentou. O segundo filho sequer saiu vivo do seu ventre, foi aborto espontneo. No quinto ano do casamento, veio o terceiro filho, Erivaldo Galvo. Esse esperou para conhecer Erinalda, Erineide, Erivanaldo e Joo Galvo, respectivamente o quarto, o quinto, o sexto e o stimo a nascer, mas Erivaldo faleceu aos 11 anos de uma doena que dona Elvira chamou de Pielite e descreveu que ele sentia muita dor de cabea e urinava p. Como forma de homenagear o filho falecido, dona Elvira e seu Severino puseram o mesmo nome no oitavo filho, mas, at hoje em dia, o segundo Erivaldo mais conhecido como Babal. O nono e ltimo filho de dona Elvira recebeu o nome do pai, Severino Galvo, que artisticamente apresenta-se como o msico Galvo Filho e assina Z D Garva nas telas que pinta. O patriarca da famlia nasceu em Pedro Velho em 12 de dezembro de 1914. Dona Elvira e os filhos nasceram em Natal. Os filhos nasceram mais precisamente no bairro do Alecrim, na Avenida 10, na casa onde o casal morou pelos primeiros 25 anos de matrimnio. Hoje com 87 anos, a matriarca da famlia comemora: No bonito demais uma me rodeada de filhos. barracas. Ele tambm participava da Festa da Primavera, que acontecia na AveDona Elvira toda alegria quando est nida Coronel Estevo, no Alecrim, nos reunida com seus filhos. Enquanto Eri- mesmos moldes da de So Sebastio. neide pe a mesa do jantar, Erinalda prepara a cadeira para que ela se sente, Os filhos de Severino Galvo contam Galvo Filho a ajuda a andar segurando que ele era afilhado de batismo de exsua mo e entoando uma marchinha de prefeito de Natal Djalma Maranho e carnaval como se danassem em pleno que seu padrinho adorava a cultura posbado de folia. Tambm pudera, essa a pular e no fazia charme. Gostava tanto famlia de Severino Galvo, um pai, um que se prontificava a subir em todos os carnavalesco, um marido, um publicit- palcos armados nas pocas de festa. Prinrio irreverente que viveu intensamente cipalmente no carnaval. tudo o que pde, como destaca sua es- Festa, cultura e poltica eram irms leposa. gtimas de Severino Galvo e, portanto,

Um agitador cultural nato

Se Severino Galvo fosse vivo hoje em dia e organizasse os eventos que ele realizava h dcadas, ele seria considerado um promoter ou um produtor cultural. Na poca no existiam tais nomenclaturas, mas ainda bem que os participantes das festas no precisavam dar uma terminologia para o seu organizador para aproveitarem a festana. Sua sina comeou com a Festa de So Sebastio. Era uma quermesse realizada no Alecrim, em janeiro. Para saber como tudo acontecia, basta remeter a imaginao para as festas de padroeiros ainda realizadas em pequenas cidades do interior do Estado, aquelas em que sempre se encontra ma do amor. Primeiro as meninas dividem-se em dois grupos: os cordes azul e encarnado. Cada grupo vai tentar buscar o maior nmero de clientes para consumir nas barracas do seu cordo. As arrecadaes dos dois cordes vo para a igreja, mas vence a disputa quem conseguir mais contribuio. Severino Galvo, alm de participar da prvia produo do evento, ainda convidava polticos amigos para consumir nas

inseparveis. Sempre que tinha festa, havia cultura e era um campo livre para fazer poltica. Se houvesse poltica, suas promessas envolviam cultura e, portanto, haveria festa. Como publicitrio que era, Severino aproveitava as festas para apresentar-se como candidato a vereador, cargo que exerceu apenas duas vezes, apesar de candidatar-se a cada quatro anos. E se para ser lembrado, ele deveria ser visto, apareceria sempre que possvel. Todo evento com ligao cultural papai estava envolvido, conta Joo Galvo relembrando as Batalhas de Carnaval, que, no perodo do pai dele, eram ensaios do carnaval ocorridos dois ou trs meses antes da folia oficial. As escolas desfilavam com as fantasias do ano anterior, era uma festa que servia tanto para eles ensaiarem, quanto para divulgar a escola e o carnaval. Com isso, as pessoas aprendiam as histrias, a tradio e todos se divertiam, conta Joo Galvo com um certo ar de lamento porque considera os ensaios de carnaval da atualidade uma propaganda dos carnavais baiano e pernambucano. Mar/Abr 2005 31

Severino Galvo - O eterno rei momo de Natal

E por falar em Pernambuco, at l Severino Galvo candidatou-se a vereador. Sua estratgia para conquistar eleitores contava com a ajuda de moradores de Natal que tivessem parentes na capital pernambucana. O ento candidato bolou uma carta, fez muitas cpias e pediu que seus amigos potiguares enviassem por correio para seus parentes em Recife, onde montou residncia. Depois, com o endereo dos destinatrios em mos, Severino visitou cada eleitor para tentar garantir a conquista do voto. O resultado da apurao das urnas no foi o que ele queria, mas os filhos admitem que ficaram surpresos porque seu pai ainda conseguiu votos para ficar na segunda suplncia. Ns no acreditvamos em muitas chances, afinal, ele no tinha razes, nem conhecimento de pessoas por l, explica Erinalda. Seus filhos contam que nos dois mandatos em que se elegeu, ele trabalhou principalmente pelo bairro do Alecrim. Uma das suas realizaes foi a instalao do Relgio do Alecrim que hoje ponto de referncia na cidade do Natal e est tombado como patrimnio histrico. Outro projeto seu abasteceu com gua os moradores do bairro. Como poucas casas tinham gua encanada, ele props a instalao de chafarizes pelo bairro. L, todos poderiam comprar a gua por um preo mais barato.

mostrou seu lado publicitrio. Seu pai tinha uma padaria que fabricava biscoitos, a venda desse produto serviria como renda familiar. Ento, para ajudar a divulgao, Severino montou em sua bicicleta uma armao de arame e madeira que ele usava para colocar propaganda de estabelecimentos comerciais, ps-se sobre o veculo e saa de porta em porta a vender os biscoitos. Numa de suas viagens foi alertado sobre um grupo de estudantes que o aguardava na subida da Avenida Rio Branco para vai-lo. Resolveu enfrentar. Ao se aproximar dos alunos, comeou a oferecer os biscoitos num misto de oferta e elogios aos potenciais compradores. Recebeu aplausos imediatos e ainda vendeu toda a produo do dia. Da bicicleta evoluiu para um zepelim num caminho com propaganda.

um excelente terreno que serve para plantar urtiga para arder a mo de menino arteiro. Quando se props a vender um hotel que era localizado ao lado do Caf So Luiz, onde hoje uma agncia bancria, escreveu que havia uma botija escondida na construo. Ainda houve anncios publicados propositalmente de ponta-cabea. Mesmo com tantas profisses diferentes, ele dizia nunca ter juntado fortuna financeira. Pregava que toda sua riqueza resumia-se mulher e aos filhos.

Amigo de todos os polticosErinalda orgulha-se em dizer que mesmo com tanto envolvimento em poltica, seu pai no teve inimigos polticos. Era, assumidamente, dinartista, mas mantinha laos de amizade com Garibaldi, Jos Agripino e gostava muito de Wilma de Faria. Da ltima ele gostava tanto que fazia questo de andar com um santinho dela no bolso da camisa. Com a fotografia virada para fora porque quando a camisa era um pouco transparente dava pra outras pessoas verem. Quando gostava, ele fazia declaradamente, destaca a filha.

O publicitrio excntricoApesar de farrista, Severino Galvo no era malandro. Quando o mandato acabava e/ou ele perdia a eleio, tinha de usar a criatividade para levar comida para dentro de casa. Numa dessas vezes ele

Num perodo diferente notou um terreno baldio na Cidade Alta (onde hoje em dia funciona a Caixa Econmica Federal) e percebeu tambm que muitos motoristas tinham dificuldade para conseguir um lugar para estacionar. Alugou a rea, at ento inutilizada, organizou-a e fez um estacionamento privativo. Passou um tempo trabalhando no local, mas a quantidade de idias que fervia em sua cabea no o deixava ser perseverante para permanecer muito tempo numa Algumas relaes polticas tornaram-se to prximas que parte dos seus filhos mesma rotina. so afilhados de batismo dos amigos Severino Galvo era muito conhecido no polticos. Mesmo assim, todos tiveram bairro onde morava e em boa parte da peliberdade para fazer suas opes por parquena Natal da poca. Ficou ainda mais tido e candidatos. conhecido pelos anncios que publicava nos jornais impressos. Para vender imveis ele descrevia o prdio, a localizao e De rei momo a rei do protesto colocava se quiser falar com o vendedor, procure no Edifcio Leopoldo, sala 101, J que Severino Galvo gostava tanto ou no meio da rua. Uma vez anunciou de poltica, at no carnaval ele se candi-

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datava. Foi Rei Momo por tantas vezes que seus filhos nem conseguem contar. Participou at de um encontro nacional de Reis Momos, ocorrido em So Paulo, na dcada de 70. E se ele no fosse eleito como Rei Momo, vestia-se de Rei do Protesto. Ele no se enquadrava no padro esttico esperado de um Rei Momo, mas tinha argumentos para se defender. Dizia que o eleito deveria ser magro mesmo porque, afinal, teria que danar muito. Alm disso, se ele era da terra dos Reis Magros, por que teria que ser gordo? Galvo Filho conta que numa das eleies de Rei Momo na Praia do Meio, Severino fez uma brejeira para ganhar. Para Severino, ter o ttulo de Rei Momo era uma forma de conseguir uma oportunidade de subir ao palanque, segurar o microfone e, mais uma vez, fazer-se lembrado. Para ser percebido nas festas, seus filhos contam que ele costumava entrar e olhar imediatamente para o fundo do salo e acenar mesmo que no houvesse nenhum conhecido. Era s pra chamar a ateno dos presentes, diz Babal. O ttulo de Rei do Protesto ele adotou quando no pde mais ser Rei Momo. Nesse caso no havia eleio, ele vestia-se de rei e respondia a todos que lhe perguntavam que naquela ocasio ele era o Rei do Protesto. E assim saa de casa s 10 da manh, calando botas e segurando uma bomba de borrifar veneno (mas com perfume). Severino Galvo no fumava, mas bebia muita cerveja. Mesmo assim no costumava chegar bbado em casa. Ele s comeou a chegar tonto quando passou dos 70 anos de idade, conta o filho Ba-

bal. O problema que ele era diabtico e no seguia regras cautelosas com sua alimentao. J com a idade avanada sofreu uma paralisia do lado direito do corpo, aos poucos perdeu a viso e como conseqncia ganhou uma depresso porque no podia mais ler nem escrever. Erinalda e Dona Elvira contam que costumavam ler o jornal para ele, principalmente as colunas polticas. Em 1993, aos 79 anos de idade, Severino Galvo faleceu. Seu gosto como folio de carnaval foi completamente herdado pela filha mais velha, Erinalda. Seu filho Erivanaldo tambm tem carnaval no sangue, h anos ele jurado das escolas de samba do Rio de Janeiro e trabalha no SESC com o desenvolvimento de projetos de cultura. Seu prazer por eventos culturais influenciou os msicos Galvo Filho, Erineide e o compositor Babal. Dona Elvira acha que ningum soube aproveitar a vida to bem quanto seu marido.

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Luiz Cludio Penha da Silva(Estudante de Comunicao Social da UFRN [email protected])

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os quintais das casas dos pescadores, ouvindo a voz da minha me, Neide Penha (in memoriam), e de tantos outros cidados tourenses, acompanhados ao violo por Quinca Du, Jos Maria ou Raimundo de Artur, pode-se dizer que Porto Filho o poeta popular da cidade de Touros. Foi l que aprendi to valorosa e inesquecvel lio. Lendo as breves notas sobre Porto Filho escritas pelo seu filho, Jos Erasmo Porto (in memoriam), para a segunda edio do livro Emoes Rimadas, editado pela Fundao Cultural Tourense, que leva o nome do seu pai, passamos a conhecer um pouco da histria desse valoroso poeta.

modinhas Galo de Campina e Parracho Seco. Em Antologia da Cano Brasileira, 1963, do mesmo autor, pg.75, encontramos a modinha Galo de Campina; no livro A Modinha norte-rio-grandense, de Cludio Galvo, 2000, pg. 204, encontramos registradas as modinhas Galo de Campina, Luar de Touros, Parracho Seco e Praieira de Touros. Sua poesia brota da boca do povo, como aquele canto de exaltao ao cho primeiro em que nasceu. ... Touros meu bero querido, terra santa de meus pais....

Porto Filhoo poeta popular34 Mar/Abr 2005

No somente os tourenses mais antigos, dos distritos como Carnaubinha e Perobas, solfejam os versos do poeta. Na prpria sede do Jos Porto Filho nasceu em Touros no dia 31 municpio, qualquer jovem que tenha ouvido de agosto de 1887. Morou em Belm do Par e as violas em noites enluaradas, quando crianRecife. Em 1932, por ato do Interventor Fede- a, capaz de cantar os seus versos: ral no Rio Grande do Norte, foi nomeado prefeito de Touros, tendo permanecido no cargo at fins de 1935, quando a Aliana Liberal dos Quando em noites de luar em minha vila seus amigos Mrio Cmara e Caf Filho perdeu At a prpria natureza se retrata as eleies. E o claro do luar que ento cintila Vem convidando o meu amor serenata... Transferiu-se novamente para Recife em janeiro de 1936, sendo confundido como simpatizante da Aliana Nacional Libertadora. Nessa poca foi colaborador dirio do Garanhuns Dirio e Porto Filho retratou em seus versos a vida do teve a oportunidade de editar o seu livro Emo- povo simples, o dia-a-dia do pescador e as belezas naturais da sua praia querida: es Rimadas. No final dos anos 50 foi morar junto famlia no Rio de Janeiro. Ao passar umas frias em So Escuta linda praieira Loureno foi acometido de um problema abdoPor ti morrerei de amor minal, vindo a falecer de um ataque de uremia Confia que verdadeira no Hospital de Ipanema, em 03 de maro de A paixo do Pescador... 1958. Foi sepultado no Cemitrio de So Joo Batista com a presena de um grande nmero de amigos e de uma Guarda de Honra de Atle- Os seus poemas ou modinhas mais conhecitas do Clube de Regatas Vasco da Gama, do das so Ode a Touros, Adeus a Touros, Praieira qual era diretor. de Touros, Galo de Campina, Luar de Touros A maioria dos seus poemas est registrada no e Parracho Seco, alm de outras que no esseu livro. Em Trovadores Potiguares, 1962, de to registradas no seu livro, mas so cantadas Gumercindo Saraiva, pg. 208, encontramos as pelo povo simples do seu lugar.

POESIA POTIGUARRaimundo Leontino Leite Gondim Filho (R. Leontino Filho) nasceu em Aracati/CE, em 1961. poeta e professor de literatura brasileira, na Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (em Mossor). Editou os alternativos Flerte e i-kara-kati. Faz parte do Conselho Editorial da Revista Literatura. Publicou os seguintes livros de poemas: Amor Uma Palavra de Consolo (Fortaleza: Ed. do Autor, 1982); Imagens (Mossor: Ed. do Autor, 1984); Cidade ntima (1. ed. Mossor: Queima-Bucha, 1987/ 2 ed. Mossor: Queima- Bucha, 1991 e 3. ed. So Paulo: Editora do Escritor, 1999); Entressafras (parceria com o poeta Gustavo Luz Mossor: Queima-Bucha, 1988) e Sagraes ao Meio (Pau dos Ferros/RN: Edies i-kara-kati, 1993). autor do ensaio de crtica literria indito em livro, Sob o Signo de Lumiar Uma Leitura da Trilogia de Srgio Campos (Natal:UFRN/Programa de PsGraduao em Estudos da Linguagem, 1997).

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Poesia Potiguar - R. Leontino Filho

Partida inteira Minha alma cega enxerga o teu corpo rasgando os sis nus da madrugada Minha alma louca persegue os teus olhos incendiando as luas tortas da noite Minha alma v colhe o teu cheiro mergulhando nos ventos dodos da tarde Minha alma vai sem pressa ao encontro da perdio: um corpo s corpo sem alma a minha

Dentro da noite, penso em ti Volta e meia sigo rumo ilha do amor coisas antigas que ficaram nau perdida no porto abandonado barco sem vela que persiste no desenho formado pelas guas dos rios. Volta e meia o fluxo de imagens paira sobre as guas e sigo devorando a cauda dos sonhos retornando ao cho descontnuo da ilusria estrada do bem querer: uma outra histria. Volta e meia o amor perturba o sono descontente das estrelas e o luar embaraado por tantos murmrios arma a provisria tenda da paixo: o meu olhar de neblina costurado na memria tece a infncia medieval do teu corpo. Fio o delrio da cano parte em revoada nada nasce do nada sempre o sonho em mim fez morada regao de noite caminho e espao poros da mesma tarde sozinho o verso-flor por nascer anuncia o paraso ali onde o perto sombra vagando cus sem fim ali onde o longe calor arremessando lgrimas sem fim paro o delrio da cano descansa leito manso de rio punhado de sono consumido sigo

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Tristeza as sombras ressecadas da noite com a gil viso do corpo ou o aflito caminho inscrito na pedra lembram este exlio: pergaminhos da alma ao sol nos loucos ofcios da vida a palavra vence e a morte do tempo transborda neste azul feito de saudade: o retrato da despedida mais um corao sem versos vencido pelo cansao do silncio exlios do nico corpo desossado na taciturna neblina da alma: mos que no suportam a claridade dos cus pensamentos dos amantes enfurecidos

De esguelha Ao Ascendino Leite trs copos de chuva danam o peito alegre do tempo j no mais sorri dois pingos de sol cantam o olho mareado do dia j no mais sorri um suspiro de vento baila o brao cansado da noite j no mais sorri trs braos de cansao duas mars de olhos uma alegria do peito na chuva sorridente no sol sorridente no vento sorridente chega um tempo de no mais sorrir hora de danar na chuva hora de cantar ao sol hora de bailar com o vento chega um tempo de esquecer o tempo de penetrar o tempo e de vis ser o tempo por vir como o sol enamorado da chuva como o vento apaixonado pela noite ser quem sabe s como de vis a vida sabe serMar/Abr 2005 37

Folha falha estas folhas to murchas sombreando o frescor dos lbios estas folhas to verdes apagando o sabor dos beijos estas folhas to brilhantes sonegando o prazer dos olhos estas folhas to soltas fermentando o desejo das lnguas estas folhas to minhas desvirginando teu cho estas folhas to minhas negando tuas carcias estas folhas to nossas desencontrando veredas folhas e falhas to nossas na beira dos corpos no abismo das almas na distncia do nunca na descida da dor to sim to no falhas e folhas do tempo

Poesia Potiguar - R. Leontino Filho

Grafite 1. arestas de luz ramagens radiosas tangidas pelo silncio o cristal dos signos tinge o ser de esmalte dgitos versteis na ltima tentativa da dvida sonora apreenso do lugar partculas de tempo quando as passagens do verbo recobrem a cidade leitura de vspera no click do texto entre o salto e a queda a presa devora a si mesma caos aprendiz mero abandono neste desacerto vazio rascunho de alguma madrugada ptala insone no cais

2. as projees do pssaro na escrita da delirante lmina a palavra pode tudo fere nada condena tudo salva nada pupilas precipitadas na harmonia dos sinuosos gestos a palavra objeto-mundo neblina margens desertas planta o silncio espreita conversas muda rotas emana do signo nu a palavra tempo naquele xtase contra-vcuo o cotidiano cdigo migra para o olho crislida no alfabeto final do corpo entreaberto do amor

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A ginga da capoeira

Ilnete Porpino de Paiva(Doutoranda em Cincias Sociais - UFRN - [email protected])

O mesmo p que dana o samba se preciso vai a luta, capoeira.(Marcos Vale)

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screver sobre capoeira instigante. So mais de trs sculos de histria, em diferentes contextos: de coisa de malandro, de homem, de preto passa a ser coisa de profissional - mestres e professores - de mulher e tambm de branco, de estudante e trabalhador. Antes praticada nas ruas, nos largos e nas praas; passa a ser amplamente exercida em recintos fechados: academias, clubes, escolas, universidades. No Brasil do sculo XIX tinha apenas quatro grandes pontos de capoeira: Bahia, Rio de Janeiro, Recife e So Lus; hoje, possvel encontr-la em todo o territrio brasileiro e em muitos pases. O aumento significativo do nmero de capoeiras passou a ser percebido a partir dos anos 70. Negros, brancos, mulatos, homens, mulheres e crianas tocam, cantam e movimentam as rodas, sejam elas de Angola, de Regional ou simplesmente de capoeira. Para saber o que capoeira, no h informante melhor que os capoeiristas, e eles, de acordo com o seu grupo, com o seu mestre, com a sua linhagem, com o estilo da capoeira, elaboram noes e representaes vinculando a capoeira a uma manifestao da cultura afro-brasileira; arte; dana; ao esporte; ao folclore; cultura popular; arte marcial e histria. Muitos a compreendem como uma filosofia de vida. A capoeira, diz Mestre Pennati: uma brincadeira, um passatempo, uma modalidade. No d para tematizar sobre a capoeira deixando de fora a origem. Sobre esta questo h controvrsias. Uma corrente de praticantes e estudiosos concorda com a hiptese de que ela foi criada no Brasil, pelos negros bantos, naturais de Angola. Os defensores dessa tese se apiam no argumento de no existir formas de lutas semelhantes capoeira em outras ex-colnias do continente americano, o que sabemos que em Cuba, Martinica, Venezuela e em outras partes das Amricas algumas danas foram identificadas com caractersticas de luta. Mas, essa no uma posio unnime no campo da capoeira. H aqueles que afirmam ser a capoeira africana, isso porque na frica existem danas rituais com caractersticas semelhantes capoeira, como o nagolo - dana das zebras. Antigos mestres, discpulos do Mestre Pastinha, como os Mestres Joo Grande e Joo Pequeno defendem essa possibilidade. J os mestres mais novos pensam o contrrio dessa verso. Para o Mestre Luiz Renato, a capoeira surgiu no Brasil e deve ser considerada como parte da dinmica da cultura afro-brasileira. Sua histria tem relao com luta e resistncia de uma comunidade que, diante da situao que vivia precisou criar tcnicas de ataque e defesa para se proteger. Foram muitas as mudanas ocorridas com a capoeira. Inicialmente, praticada pelos negros escravizados. Ela era a arma do escravo em busca de liberdade. Durante o sculo XIX era praticada, especialmente, nas ruas dos centros urbanos do Rio de Janeiro, Salvador, Recife e So Mar/Abr 2005 39

A ginga da capoeira

A Capoeira Regional foi criada por Mestre Bimba, a partir da capoeira que existia. Um dos objetivos, segundo o seu criador, era procurar desenvolver uma capoeira mais rpida e direcionada, principalmente para o combate, para a luta. Outras tcnicas de lutas como o jiu-jitsu, por exemplo, foram incorporadas a ela. Quando se pensa em capoeira nesse pe- As inovaes no se limitaram apenas rodo de perseguio, imediatamente, tcnica dos movimentos. a cidade de Recife merece ateno pela A partir da dcada de 70, o momento relao entre as bandas de msica, as da institucionalizao da capoeira como maltas de capoeiras e o nascimento do esporte oficial (1972), o perodo em frevo - um detalhe significativo. No fique ela se expande de forma considernal do sculo XIX e incio do seguinte, vel por todo o pas e pelo estrangeiro. durante o carnaval, frente das bandas Comeam a se formar as federaes. A que desfilavam nas ruas de Recife - a do primeira foi a Federao Paulista de CaQuarto (4 Batalho) e a do Espanha poeira. Tambm a poca da formao - saam os capoeiras, conhecidos como dos grupos. Os praticantes, na sua granuma rapaziada de valentes, malandros de maioria, se identificam pelo pertenciou desordeiros. Da movimentao exemento a um grupo, antes era a academia cutada pelos capoeiras, perseguida pelo do Mestre. Hoje comum ouvirmos os cdigo penal, nasceu o passo do frevo, capoeiristas se identificarem dessa maum legado da ginga e dos saracoteios da neira: eu sou do Grupo Abad-Capocapoeira como sinalizou Edison Carneiro eira, perteno ao Grupo de Capoeira ao escrever sobre capoeira em 1971. Boa Vontade, sou Capoeira Beribazu, Nos anos de 1930, a capoeira passou por fao parte do Cordo de Ouro, sou do mudanas significativas. Dois nomes Grupo de Capoeira Corpo Livre, do passaram a ser notabilizados: Vicente Grupo de Capoeira Nacional, Grupo Ferreira Pastinha (1889-1981), o Mestre de Capoeira Angola Pelourinho. Uma Pastinha, e Manoel dos Reis Machado outra mudana importante na capoeira (1900-1974), o Mestre Bimba. A capo- foi a presena forte da mulher, que tameira d lugar capoeira Angola e capo- bm acontece a partir dos anos 70. eira Regional. Duas modalidades, talvez Presente em todos os Estados do Brasil, possamos falar em estilos, modelos, subno Rio Grande do Norte, verifica-se a campo da capoeira. A primeira vista sua prtica na maioria dos municpios. como a capoeira-me, a capoeira antiSegundo o Mestre Alexandre Marcos ga, primitiva, voltada s razes, tem Brito, a capoeira chegou a Natal no inum discurso afirmador da tradio. Cacio da dcada de 60, quando um prapoeira mandingueira, de improvisao e ticante de luta livre e aluno do mestre criatividade, de movimentao lenta e Caiara, conhecido na capoeira como rasteira, e de luta, seu nome est ligado Touro Novo, veio residir em Natal. Reao Mestre Pastinha. Considerado um cm-chegado de Salvador, ele passou a dos grandes mestres da cultura popular, dar aulas de luta livre e de capoeira. Esse homenageado por capoeiristas, escrito, provavelmente, um dos primeiros nres, artistas e msicos. No por outro cleos de capoeira na terra potiguar. motivo que os versos Eu louvo os Mestres das danas, lhes dou todo meu carinho. O Mestre Alexandre conta que em meaPastinha e Z Alfaiate capoeira e cabocli- dos dos anos 60, marinheiros vindos do 40 Mar/Abr 2005

Lus. A capoeira no se restringia apenas a negros e pobres, estendendo-se tambm aos brancos, uma presena menos significativa. Nesse perodo marcada pela represso. O cdigo penal de 1890 associa a capoeira criminalidade. Capoeiras pegos em flagrante eram presos. Deixa de se constituir crime na dcada de 1930, quando por interesses conjunturais, Getlio Vargas decide tirar a capoeira da ilegalidade, concedendo a ela uma liberdade vigiada.

nho. Eu louvo Mateus Guariba, do meu Cavalo-marinho, de Antnio Nbrega e Wilson Freire expressam tamanha dedicao.

Rio de Janeiro e de Salvador, e praticantes de capoeira, comearam a divulgar e ampliar a capoeira em Natal. Nessa poca era praticada nas ruas e em praas pblicas. A movimentao da roda de capoeira na Praa Gentil Ferreira atrai a ateno do Sr. Severino Guedes, na poca, presidente da Escola de Samba Asa Branca. Encantado com o que viu, convidou os capoeiristas para praticar capoeira no espao onde acontecia os ensaios da sua Escola. L, eles passaram a dar aulas e formaram a primeira gerao de capoeiristas. Nela, estava Fernando Guedes, que mais tarde, se tornaria o primeiro instrutor de capoeira do Rio Grande do Norte.

expresso popular de muita fora. Muita gente com expectativas e necessidades diferentes pode se beneficiar atravs da sua prtica.

brincando, criando, gingando, lutando e jogando que a dupla de capoeirista, seja homem, menino e mulher, como nos diz a msica,