Sga Carcinicultura

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    CARLOS CZAR CERQUEIRA LIMA PINHA

    INCORPORAO DA PRODUO MAIS LIMPA EMCARCINICULTURA: SUBSDIOS PARA UMA GESTO ECO-

    COMPATVEL

    Dissertao apresentada ao Curso de

    Mestrado Profissional da Escola

    Politcnica, da Universidade Federal da

    Bahia, como requisito para obteno do

    grau de Mestre em Gerenciamento e

    Tecnologias Ambientais no Processo

    Produtivo.

    Orientadora: Prof. Dra. Iracema

    Andrade Nascimento

    Salvador-BA

    2006

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    P654i Pinha, Carlos Cezar Cerqueira Lima

    Incorporao da produo mais limpa em carcinicultura: subsdiospara uma gesto eco-compatvel. / Carlos Cezar Cerqueira LimaPinha. Salvador, 2006.

    185 p.; il., color.

    Orientador: Prof. Dra. Iracema Andrade NascimentoDissertao (Mestrado em Gerenciamento e TecnologiasAmbientais no Processo Produtivo. nfase em Produo Limpa) Universidade Federal da Bahia. Escola Politcnica, 2006.

    1.Camaro marinho 2.Aquicultura. 4.Meio ambiente.I.Universidade Federal da Bahia. Escola Politcnica. II.Nascimento,Iracema Andrade. III. Ttulo.

    CDD: 639.5

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    CARLOS CZAR CERQUEIRA LIMA PINHA

    INCORPORAO DA PRODUO MAIS LIMPA EM CARCINICULTURA:

    SUBSDOS PARA UMA GESTO ECO-COMPATVEL

    Dissertao para obteno do grau de Mestre em Gerenciamento e Tecnologias

    Ambientais no Processo Produtivo.

    Salvador, 21 de Maro de 2006.

    Banca Examinadora:

    Iracema Andrade Nascimento _________________________________________

    Ps-doutorada em Aqicultura e Meio Ambiente

    University of North Texas, USA

    Jorge Antnio Moreira da Silva _______________________________________

    Doutor em Biologia de gua Doce e Pesca InteriorInstituto Nacional de Pesquisas da Amaznia, INPA, Brasil

    Teresa Lcia Muricy de Abreu _________________________________________

    Doutora em Engenharia Ambiental

    Universidade de Savoie , Frana

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    RESUMO

    A criao de camaro marinho em cativeiro representa o segmento aqucola quemais expressivamente tem se desenvolvido, representando sozinha cerca de 12%do valor total gerado anualmente pela indstria aqcola no mundo. Todavia, ocrescimento vertiginoso que a atividade tem apresentado, notadamente nos pasesemergentes costeiros tropicais, entre os quais se situa o Brasil, no tem se pautadopela sustentabilidade, carecendo de planejamento e regulao adequados. Estasituao tem acarretado em inmeros problemas ambientais vinculados atividade, sobretudo os processos de degradao em ambientes costeiros, emzonas estuarinas onde se destacam os ecossistemas de manguezais. A presente

    dissertao teve como foco a discusso e anlise dos aspectos associados gesto ambiental aplicveis atividade, com nfase na preveno da poluio.Neste sentido, foram propostos subsdios para a implementao de um sistema degesto ambiental embasado na adoo de uma poltica e estratgias ambientaisvoltadas para a minimizao de resduos e a produo mais limpa, abrangendo osaspectos legal, organizacional, gerencial, operacional e tecnolgicos que permeiamtoda a cadeia produtiva do camaro marinho cultivado utilizando-se a espcieLitopenaeus vannamei. A anlise dos referidos aspectos foi feita atravs do mtodode estudo de caso, tendo como objeto um complexo de carcinicultura situado nobaixo sul do estado da Bahia, que contempla todas as etapas da cadeia produtivado camaro marinho cultivado. Foram analisados o sistema de gesto vigente, asestratgias ambientais adotadas, bem como os aspectos crticos em termos degerao de resduos em cada etapa da cadeia produtiva, propondo-se as tcnicase instrumentos de gesto ambiental e produo mais limpa mais adequadas emcada caso. Considerando o porte organizacional e abrangncia do complexo emfoco, representativo de toda a cadeia produtiva do setor, fizeram-se extrapolaes,com as devidas restries, para a atividade como um todo. Os resultados dapesquisa apontaram a existncia de um modelo de desenvolvimento da atividadedentro de um enfoque neoliberal, com nfase nos aspectos econmicos etecnolgicos, voltado para a exportao e o lucro, sem priorizao da varivelambiental. Quando esta abordada, seu tratamento se d dentro de um enfoque

    fim-de-tubo, com nfase no tratamento dos resduos aps sua gerao, ao invsde se priorizar a sua minimizao no bojo de todo o processo produtivo, embasadaem boas prticas operacionais de manejo e inovaes tecnolgicas consistentes.Enfim, concluiu-se pela necessidade da implementao de um sistema de gestoambiental focado na preveno da poluio, pro-ativo, transparente, que integretodos os atores sociais envolvidos e que seja comprometido com a sustentabilidadeambiental da atividade.

    Palavras Chave: Carcinicultura marinha; impactos ambientais; preveno dapoluio; tecnologias limpas; gesto ambiental; Litopenaeus vannamei

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    LISTA DE FIGURAS

    FIGURA 1. Produo, rea e produtividade do camaro marinho no

    mundo ----------------------------------------------------------------------- 9

    FIGURA 2. Evoluo da produo de camaro cultivado no Brasil -------- 11

    FIGURA 3. Volume e receita das exportaes de camaro brasileiro

    para o mercado externo ------------------------------------------------ 14

    FIGURA 4. As trs dimenses ambientais e suas interfaces sujeitas aos

    impactos ambientais das atividades humanas-------------------- 18FIGURA 5. Evoluo das prticas ambientais------------------------------------ 41

    FIGURA 6. Adaptao do diagrama de Lagrega--------------------------------- 43

    FIGURA 7 Localizao do Complexo de Carcinicultura do Grupo MPE --

    FIGURA 8. Organograma dos empreendimentos do Grupo MPE----------- 60

    FIGURA 9. Complexo de carcinicultura do Grupo MPE------------------------ 61

    FIGURA 10 Tanques de maturao-------------------------------------------------- 63

    FIGURA 11. Tanques de maturao-------------------------------------------------- 63FIGURA 12. Viveiro despescado------------------------------------------------------- 68

    FIGURA 13. Maquinrio de despesca------------------------------------------------ 68

    FIGURA 14. Fluxograma do processo produtivo----------------------------------- 70

    FIGURA 15. Balano de massa horrio da planta de beneficiamento-------- 90

    FIGURA 16. Organograma da unidade de beneficiamento---------------------- 114

    FIGURA 17 Centralizao organizacional em torno do HACCP --------------

    FIGURA 18. Organograma da holding MPE contemplando diretoria ecoordenao de recursos naturais------------------------------------ 120

    FIGURA 19. Proposio da criao de uma Coordenao de Recursos

    Naturais --------------------------------------------------------------------- 129

    FIGURA 20 Abordagem simtrica entre o HACCP e a varivel ambiental

    FIGURA 21. Interao entre os diversos atores envolvidos na cadeia

    produtiva do camaro marinho cultivado---------------------------- 164

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    LISTA DE TABELAS

    TABELA 1. Volumes de calcrio e fertilizantes aplicados nas fazendas

    de cultivo do Complexo de Carcinicultura do Grupo MPE ----- 74

    TABELA 2. Volumes de efluentes gerados pelos viveiros de engorda das

    unidades produtivas do Complexo de Carcinicultura do

    Grupo MPE ----------------------------------------------------------------- 76

    TABELA 3. Aporte e descarga de material em suspenso a partir da

    gua de renovao, no sistema de viveiros das unidades

    produtivas do Complexo de Carcinicultura do Grupo MPE ---- 78

    TABELA 4. Quantidade de material em suspenso drenado para o meio

    ambiente, a partir da gua de despesca --------------------------- 78

    TABELA 5. Total de material em suspenso drenado para o meio

    ambiente a partir da gua de renovao e gua de despesca 79

    TABELA 6. Clculo da MO diria na gua de despesca introduzida pelo

    alimento em cada unidade do complexo de carcinicultura do

    grupo MPE ----------------------------------------------------------------- 81

    TABELA 7. Quantidade de matria orgnica drenada a partir do aporte

    de material em suspenso nas unidades produtivas do

    Complexo de Carcinicultura do Grupo MPE ----------------------- 81

    Tabela 8 Quantidade total de matria orgnica drenada para o meio

    ambiente pelas unidades produtivas do Complexo deCarcinicultura do Grupo MPE ----------------------------------------- 82

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    Tabela 9 Clculo da quantidade de oxignio requerida para a

    decomposio da matria orgnica gerada nas unidadesprodutivas do Complexo de Carcinicultura do Grupo MPE 83

    Tabela 10 Valores de amnia produzidos diariamente na gua de

    despesca das unidades produtivas do Complexo de

    Carcinicultura do Grupo MPE ------------------------------------- 84

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    LISTA DE QUADROS

    QUADRO 1. Participao da carcinicultura brasileira por regio em 2004 10

    QUADRO 2. Perfil da carcinicultura brasileira em 2004 ----------------------- 13

    QUADRO 3. Quadro Geral da Carcinicultura Brasileira por Estado em

    2004 ------------------------------------------------------------------------

    15

    QUADRO 4. Caractersticas das Estratgias Ambientais --------------------- 36

    QUADRO 5. Composio qumica recomendada para raes

    balanceadas de camaro ---------------------------------------------

    65QUADRO 6. Parmetros Hidrobiolgicos ------------------------------------------ 66

    QUADRO 7. Gerao de Resduos Slidos do complexo de

    carcinicultura do grupo MPE -----------------------------------------

    89

    QUADRO 8. Principais produtos da unidade de beneficiamento ------------ 90

    QUADRO 9. Principais resduos e efluentes -------------------------------------- 90

    QUADRO 10. Detalhamento de entradas e sadas ------------------------------ 91

    QUADRO 11. Estratgia de gesto de resduos: critrios e indicadores ---- 93QUADRO 12. Possibilidade de Aplicao das Boas Prticas Operacionais

    ao Complexo de Carcinicultura do Grupo MPE -----------------

    95

    QUADRO 13 Aspectos tecnolgicos aplicveis ao Complexo de

    Carcinicultura do Grupo MPE --------------------------------------- 97

    QUADRO 14 Aspectos de biossegurana e sanidade aplicveis ao

    Complexo de Carcinicultura do Grupo MPE ---------------------

    98QUADRO 15 Aspectos associados mudanas nos insumos aplicveis

    ao Complexo de Carcinicultura do Grupo MPE -----------------

    98

    QUADRO 16 Aspectos associados modificaes no produto aplicveis

    ao Complexo de Carcinicultura do Grupo MPE -----------------

    98

    QUADRO 17 Aspectos associados reciclagem externa e interna

    aplicveis ao Complexo de Carcinicultura do Grupo MPE ---

    99

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    QUADRO 18 Aspectos associados ao tratamento de resduos aplicveis

    ao Complexo de Carcinicultura do Grupo MPE -----------------

    99

    QUADRO 19. Empregos Diretos Gerados nas Fazendas de Engorda ------ 101QUADRO 20. Empregos Diretos Gerados na unidade de beneficiamento - 101

    QUADRO 21. Empregos Diretos Gerados nos laboratrios de ps-larvas-- 101

    QUADRO 22. Empregos Diretos Gerados nas Fazendas de Engorda

    (incluindo frigorfico e laboratrios) -------------------------------- 102

    QUADRO 23. Anlise da Poltica ambiental do complexo de Carcinicultura

    do Grupo MPE -----------------------------------------------------------

    104

    QUADRO 24 Anlise da CTGA no Complexo MPE -----------------------------

    QUADRO 25 Situao da ALA no Grupo MPE -----------------------------------

    QUADRO 26. Estratgias de gesto do grupo MPE ----------------------------- 117

    QUADRO 27. Programas Desenvolvidos pelo Grupo MPE -------------------- 121

    QUADRO 28. Programas de gesto propostos ----------------------------------- 143

    QUADRO 29. Indicadores fsico-qumicos para guas de cultivo ------------- 146

    QUADRO 30. Indicadores fsico-qumicos e bacteriolgicos para guas

    estuarinas do corpo receptor --------------------------------------- 147

    QUADRO 31. Indicadores fsico qumicos para os Efluentes dos viveiros 147

    QUADRO 32. Indicadores associados ao manejo de solo/sedimentos dos

    viveiros ------------------------------------------------------------------- 148

    QUADRO 33. Relao Dose de calcrio X pH ----------------------------------- 148

    QUADRO 34. Parmetros relacionados fertilizao -------------------------- 149

    QUADRO 35. Parmetros associados qualidade do alimento rao

    balanceada ---------------------------------------------------------------

    149

    QUADRO 36. Empregos diretos gerados no complexo de carcinicultura

    do Grupo MPE -----------------------------------------------------------

    149

    QUADRO 37. Indicadores de qualidade e Desempenho ----------------------- 150

    QUADRO 38 Indicadores de Desempenho Global ------------------------------ 150

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    LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

    ABCC Associao Brasileira de Criadores de Camaro

    ABIQUIM Associao Brasileira de Indstrias Qumica

    ABNT Associao Brasileira de Normas Tcnicas

    AIA Avaliao de Impacto Ambiental

    ALA Auto Avaliao para o Licenciamento Ambiental

    APA rea de Proteo AmbientalBA Balano Ambiental

    BPM Boas Prticas de Manejo

    C&C Comando & Controle

    CEPRAM Conselho Estadual de Meio Ambiente

    CNTL Centro Nacional de Tecnologias Limpas

    CONAMA Conselho Nacional do Meio Ambiente

    CRA Centro de Recursos AmbientaisCTGA Comisso Tcnica de Garantia Ambiental

    DBO Demanda Bioqumica de Oxignio

    DPA Departamento de Pesca e Aqicultura

    DQO Demanda Qumica de Oxignio

    EG Efluentes Gerados

    EPA Environmental Protection Agency

    FAO Organizao para Alimentao e AgriculturaGAA Aliana Global de Aquicultura

    GERCO Gerenciamento Costeiro

    HACCP Hazardous Analises Contamination Control Points

    IBAMA Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais

    Renovveis

    MMA Ministrio do Meio Ambiente

    MPE Montagem de Projetos Especiais

    OCDE Organizao de Cooperao e Desenvolvimento Econmico

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    SUMRIO

    1. INTRODUO---------------------------------------------------------------------------- 1

    1.1. OBJETIVOS ------------------------------------------------------------------------ 2

    2.0 MTODO-------------------------------------------------------------------------- 3

    3.0 CARACTERIZAO DA ATIVIDADE E A PROBLEMTICA

    AMBIENTAL ASSOCIADA------------------------------------- 74.0 GESTO AMBIENTAL----------------------------------------------------------- 21

    4.1. CARACTERIZAO DE UMA GESTO AMBIENTAL VERDE E

    EVOLUO NAS ABORDAGENS DE GESTO AMBIENTAL-------- 21

    4.2. SISTEMAS, MODELOS, PROGRAMAS E ESTRATGIAS DE

    GESTO AMBIENTAL------------------------------------------------------------ 25

    4.2.1. Sistemas e Modelos--------------------------------------------------------------- 25

    4.2.2. Programas e estratgias de gesto:------------------------------------------ 284.3. PRODUO MAIS LIMPA: CONCEITO, VANTAGENS

    COMPARATIVAS E ABORDAGENS:---------------------------------------- 36

    4.4. OS INDICADORES DE GESTO AMBIENTAL---------------------------- 51

    5.0 COMPLEXO DE CARCINICULTURA DO GRUPO MPE--------------- 57

    5.1 CARACTERIZAO DO CONTEXTO AMBIENTAL EM QUE SE

    SITUA O COMPLEXO ----------------------------------------------------------- 57

    5.2 O COMPLEXO DE CARCINICULTURA DO GRUPO MPE:CARACTERIZAO BSICA E DESCRIO DAS ETAPAS DA

    CADEIA PRODUTIVA ------------------------------------------------------------ 60

    6.0 RESULTADOS E DISCUSSO------------------------------------------------ 72

    6.1 ANLISE TCNICO-OPERACIONAL DA CADEIA PRODUTIVA:

    PONTOS CRTICOS EM RELAO GERAO DE RESDUOS

    E AS ESTRATGIAS VIGENTES DE GESTO DOS MESMOS----- 72

    6.1.1 Produo de Ps-Larvas nos Laboratrios---------------------------------- 72

    6.1.2 Crescimento e Engorda nas Fazendas--------------------------------------- 74

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    6.1.3 Beneficiamento--------------------------------------------------------------------- 86

    6.2 ANLISE DO ESTGIO DA EMPRESA-FOCO EM RELAO

    APLICAO DE P+L: AS DIVERSAS ALTERNATIVAS DEPREVENO DA POLUIO E MINIMIZAO DE RESDUOS

    APLICVEIS AO COMPLEXO, LUZ DO DIAGRAMA DE LA

    GREGA------------------------------------------------------------------------------- 95

    6.3 EMPREGOS DIRETOS GERADOS NO COMPLEXO DE

    CARCINICULTURA DO GRUPO MPE--------------------------------------- 101

    6.4 O SGA VIGENTE: OS INSTRUMENTOS DE AUTOCONTROLE

    AMBIENTAL ESTABELECIDOS PELO CRA-------------------------------

    103

    6.4.1 Politica Ambiental------------------------------------------------------------------ 104

    6.4.2 Comisso Tcnica de Garantia Ambiental CTGA----------------------- 107

    6.4.3 Auto Avaliao para o Licenciamento Ambiental-------------------------- 110

    6.4.4 Balano Ambiental----------------------------------------------------------------- 112

    6.5. ASPECTO INSTITUCIONAL/ORGANIZACIONAL------------------------ 113

    6.5.1. Configurao Organizacional--------------------------------------------------- 113

    6.5.2. Estratgias de Gesto------------------------------------------------------------ 117

    6.5.3. A Institucionalizao da Funo Ambiental na Organizao----------- 120

    7. PR0POSTA DE SISTEMA DE GESTO AMBIENTAL(SGA)

    APLICVEL EMPREENDIMENTOS DE CULTIVO DE

    CAMARO ------------------------------------------------------------------------ 126

    7.1 FUNDAMENTOS, PRESSUPOSTOS ,PRINCPIOS, ELEMENTOS

    E ESTRATGIAS DO SGA PROPOSTO------------------------------------ 126

    7.1.1. Pressupostos------------------------------------------------------------------------ 126

    7.1.2. Princpios de Gesto-------------------------------------------------------------- 127

    7.1.3. Poltica Ambiental------------------------------------------------------------------ 129

    7.1.4. Aspectos Organizacionais e Institucionais---------------------------------- 130

    7.1.5. Estratgia de Gesto Proposta: de uma estratgia reativa para uma

    estratgia de gesto inovativa-------------------------------------------------- 135

    7.2. A AVALIAO DO SGA PROPOSTO: ASPECTOS GERAIS E O

    SISTEMA DE INDICADORES DE GESTO-------------------------------- 144

    7.2.1. Aspectos Gerais do Processo de Avaliao-------------------------------- 1447.2.2. Os Indicadores de Gesto------------------------------------------------------- 148

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    1. INTRODUO

    O desenvolvimento da atividade de cultivo do camaro marinho cultivado no Brasil

    tem se caracterizado pela expanso desordenada e conflitiva, gerando inmeros

    impactos negativos de ordem scio-ambiental.

    No bojo deste desenvolvimento, houve uma profunda preocupao com os aspectos

    econmicos e tecnolgicos, priorizando-se a lucratividade e rentabilidade do

    negcio, sem maiores preocupaes com a varivel ambiental.

    Aliado expanso desordenada, vieram os impactos negativos de ordem scio-ambiental, gerando inmeros protestos e presses por parte dos setores sociais

    diretamente atingidos pela atividade, notadamente as comunidades costeiras e

    ambientalistas, bem como aes de controle e coercitivas por parte dos rgos

    pblicos de fiscalizao e licenciamento ambiental.

    Nesta conjuntura, dentro do processo de ao-reao, a atividade vem dando

    respostas de forma extremamente reativa, limitando-se, quando muito, ao

    atendimento mnimo da legislao e determinaes dos rgos de regulaoambiental, dentro da abordagem de comando e controle que tem vigorado em

    relao atividade.

    A adoo das prticas reativas evidenciam claramente a ausncia de uma poltica e

    estratgia de gesto ambiental preventiva, que permita conciliar a preservao do

    meio ambiente com a sustentabilidade econmica da atividade, baseada nos

    princpios da transparncia de informaes e cooperao social, como mecanismos

    mais eficientes para a conciliao dos conflitos de ordem scioambiental.

    Por sua vez, as medidas que vm sendo exigidas e adotadas visando melhoria do

    desempenho ambiental da atividade, esto francamente focadas nas prticas fim-de-

    tubo, com nfase no tratamento e manejo dos resduos gerados pela atividade,

    principalmente o tratamento dos efluentes dos viveiros de engorda, lanados no

    ambiente estuarino associado aos manguezais.

    H claramente uma necessidade de mudana deste enfoque que, podemos dizer,

    centra-se jusante do processo, para uma abordagem preventiva, voltada para a

    otimizao no usos dos diversos insumos que permeiam a atividade e a minimizao

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    dos diversos resduos inerentes as diversas etapas da cadeia produtiva, atravs da

    aplicao dos instrumentos e prticas de produo mais limpa.

    1.1 OBJETIVOS DO ESTUDO

    OBJETIVO GERAL: fornecer subsdios para o delineamento e a implementao de

    um sistema de gesto ambiental para projetos de carcinicultura, sob a perspectiva

    da produo mais limpa/preveno da poluio e do desenvolvimento sustentvel.

    OBJETIVOS ESPECFICOS

    1. Analisar a cadeia produtiva do Complexo de Carcinicultura do Grupo MPE.

    2. Propor indicadores de desempenho ambiental (ou de sustentabilidade) para a

    atividade, luz dos princpios da produo mais limpa.

    3. Identificar oportunidades de minimizao dos impactos ambientais da

    atividade/proteo do ambiente costeiro, atravs da introduo de processos

    eco-compatveis na tecnologia de cultivo, tais como o reuso dos principais

    resduos e efluentes gerados pela atividade.

    4. Propor elementos para a formulao de uma poltica ambiental para a atividade,

    focada na produo mais limpa.

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    2. MTODO

    Dadas as caractersticas do tema abordado, bem como dos objetivos estabelecidos

    neste projeto, a dissertao foi construda utilizando-se a metodologia de Estudo de

    Caso aliado Reviso de Literatura/Pesquisa Exploratria . O Estudo de Caso

    teve como objeto o complexo de carcinicultura do Grupo MPE, localizado no Baixo

    Sul do Estado da Bahia, na cidade de Valena.

    Fundamentalmente, a abordagem metodolgica esteve centrada na proposio de

    um conjunto Sistmico e Integrado de Gesto Ambiental , abrangendo princpios,

    estratgias, instrumentos e indicadores de gesto ambiental. A linha metodolgica

    adotada partiu do princpio de que pode-se adotar vrios instrumentos de gesto

    ambiental desde que no sejam conflitantes. Os diversos elementos dos programas

    e abordagens de gesto ambiental utilizados foram usados em harmonia com os

    propsitos do trabalho gesto ambiental voltada para a P+L e P2 aplicados s

    especificidades da atividade. Essa abordagem permitiu a integrao das prticas,

    princpios e instrumentos de P+L com aqueles atinentes gesto ambiental.

    O estabelecimento da tcnica de estudo de caso, usando-se o complexo de

    carcinicultura do Grupo MPE, cujas atividades abrangem as trs etapas da cadeia

    produtiva do camaro marinho cultivado, permitiu ilustrar, analisar, dimensionar de

    forma concreta, num contexto ambiental definido, os diversos aspectos tcnicos,

    operacionais, gerenciais, legais-institucionais, ambientais e econmicos inerentes

    atividade. Alm do mais, considerando o porte e a complexidade organizacional da

    referida empresa, a mesma revela excelentes oportunidades para avaliao deaspectos gerenciais determinantes em termos de impactos ambientais e

    preservao do meio ambiente.

    A partir da anlise aplicada ao complexo em foco, com as devidas restries,

    indutivamente, fez-se extrapolaes que tivessem validade para a atividade como

    um todo. Isto foi possvel, tanto pelo fato do complexo em foco abranger todas as

    etapas da cadeia produtiva, como pela similaridade estrutural e funcional dos

    empreendimentos de carcinicultura, segundo o modelo vigente no pas, quase que

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    exclusivamente calcado no sistema semi-intensivo, com o cultivo da espcie

    Litopenaeus vannamei.

    Os passos da pesquisa foram basicamente:

    1. Levantamento-diagnstico do sistema de gesto ambiental vigente na

    empresa: sua poltica ambiental, seus objetivos e metas, seus princpios,

    suas estratgias e sua estrutura organizacional. Este levantamento foi feito

    de forma sincronizada com a caracterizao da empresa em si, em seus

    aspectos operacionais, produo, gerenciamento de resduos e efluentes,

    etc., bem como a caracterizao do meio ambiente sob influncia da

    mesma, de forma inter-relacionada;

    2. Aps a realizao desse diagnstico e de posse dos respectivos dados, foi

    feita a anlise crtica do sistema ambiental vigente, luz dos conceitos,

    princpios, pressupostos, etc. do marco terico balizador do trabalho e dos

    pressupostos do sistema de gesto proposto;

    3. A partir da anlise crtica do Sistema de Gesto Ambiental vigente e

    utiizando-se dos pressupostos e ferramentas conceituais dos diversos

    programa de gesto que serviram de marco terico, foram delineadas as

    proposies em termos de subsdios para a formulao e implementao de

    um sistema de gesto ambiental integrado, focado na preveno da

    poluio e na sustentabilidade ambiental.

    Foram utilizados como instrumentos de coleta de dados, a pesquisa bibliogrfica e a

    anlise documental, a entrevista semi-estruturada e a observao participante

    Atividades desenvolvidas

    1. Reviso da Literatura e o Levantamento Bibliogrfico, contemplando

    dentre outros:

    Legislao/Literatura concernente a gesto ambiental;

    Literatura referente P+L e P2;

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    3.0 CARACTERIZAO DA ATIVIDADE E A PROBLEMTICA AMBIENTAL

    ASSOCIADA

    Conforme definio da Organizao para Alimentao e Agricultura - FAO (1990),

    aquicultura o cultivo dos organismos aquticos incluindo peixes, moluscos,

    crustceos e plantas aquticas (...) Este cultivo implica a interveno do homem no

    processo de criao para aumentar a produo, em operaes como reproduo,

    estocagem, alimentao, etc. . Por sua vez, a maricultura representa um segmento

    da aquicultura no qual o cultivo de organismos aquticos ocorre num ambiente sob

    influncia marinha. no mbito da maricultura que se insere a atividade de cultivo

    de camares marinhos, tambm designada carcinicultura marinha.

    Relatrio do Banco Mundial (REVISTA POCA, 2003), apontou que o grande salto

    em produo de alimentos a partir do ano 2000 seria dado pela aqicultura.

    Enquanto se testemunha exausto no setor pesqueiro, observa-se aumento no

    consumo de pescado, recorrendo-se, com isto, aqicultura para regular o mercado

    (BOYD , 1990). Hoje, mais de um tero dos frutos do mar vendidos em todo o mundo

    so oriundos de processos de cultivo. A criao artificial de animais marinhos

    cresceu cinco vezes nos ltimos 15 anos, tendo superado qualquer outro setor da

    industria alimentar (REVISTA POCA, 2003).

    O cultivo de camares marinhos o segmento mais bem sucedido da aqicultura. O

    mercado mundial de camaro representa, sozinho, US$ 6,1 bilhes ou 12% do valor

    total gerado anualmente pela indstria aqcola no mundo (Ibid). Este mercado vem

    recebendo acentuada e crescente demanda dos centros importadores - EUA,Europa e Japo - e, com isso, vem sustentando o preo em nveis atrativo e

    remunerador.

    Nas duas ltimas dcadas, o cultivo do camaro marinho vem experimentando um

    rpido crescimento, notadamente nos pases costeiros tropicais emergentes da sia

    e das Amricas. Esse crescimento tem se baseado no aumento da demanda do

    produto no mercado internacional, na sua elevada rentabilidade e na capacidade de

    gerar emprego e renda regional, alm de possibilitar a produo de divisas para ocrescimento tecnolgico dos pases produtores. A propsito da valorizao nos

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    preos do camaro, deve-se destacar que, embora mundialmente os crustceos

    representem apenas o 4 lugar em volume de produo, ostentam o 2 lugar no que

    se refere ao valor de mercado (ARANA, 1999).

    No ano 2003, a produo mundial do camaro cultivado - em cerca de 1,7 milhes

    de hectares de viveiros, e em mais de 50 pases em desenvolvimento, chegou a

    1.630.000 toneladas (Fig.1). Esta cifra representa 43% do total de camaro

    produzido no mundo. Os pases do oriente so os responsveis pela maior parte do

    camaro cultivado, sendo o principal centro produtor o sudoeste da sia, com cerca

    de 1.400.000 toneladas, representando 82% do total produzido em todo o mundo.

    Em relao ao centros produtores do ocidente, a produo chegou a

    aproximadamente 300.000 toneladas em 2003, equivalente a 13% do mercado

    mundial.

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    No Brasil, a carcinicultura marinha , hoje, uma das atividades agroindustriais mais

    atrativas economicamente. Somente nos ltimos 4 anos este setor vem registrando

    uma taxa mdia de expanso territorial da ordem de 20% ao ano. O crescimento tem

    sido verificado nas diversas regies do pas, sobretudo na regio nordeste, que

    desponta como a grande produtora de camaro no cenrio nacional, contribuindo

    sozinha com mais de 90% tanto em termos de rea de cultivo como de volume

    produzido (Quadro 1).

    Quadro 1 - Participao da carcinicultura brasileira por regio em 2004

    N de fazendas rea ProduoRegio

    N % ha % Ton %

    Produtividad

    e (Kg/ha/ano)Norte 5 0,5 38 0,2 242 0,3 6.368

    Nordeste 883 88,6 15.039 90,6 70.694 93,1 4.701

    Sudeste 12 1,2 103 0,6 370 0,5 3.592

    Sul 97 9,7 1.418 8,5 4.598 6,1 3.243

    TOTAL 997 100,0 16.598 100,0 75.904 100,0 4.573

    Fonte Revista da ABCC - 2004

    A maior parte da produo das fazendas brasileiras destinada ao mercado

    externo, cerca de 70%. O crescimento tem sido, de fato, vertiginoso. Segundo dados

    da Associao Brasileira de Criadores de Camaro ABCC (2005a) em 1998, a

    rea de produo era de 4.320 ha, com produo anual de 7.250 toneladas,

    enquanto que para o ano de 2005 projeta-se chegar a, respectivamente, 17.000 ha e

    105.000 toneladas (Fig. 2).

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    Figura. 2 - Evoluo da produo de camaro cultivado no Brasil.

    Fonte: Modificado de ROCHA, 2003.

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    Embora, numericamente, a maior parte dos produtores nacionais seja de pequeno e

    mdio porte, representando aproximadamente 95% dos criadores de camaro, em

    termos proporcionais so responsveis por apenas 46% da produo, estando a

    maior parcela centrada nos grandes produtores que, representando apenas 5% do

    universo de criadores, detm 54% da produo nacional (Quadro 2).

    Os grandes produtores de camaro, por sua vez, destinam mais de 70% de sua

    produo para o mercado externo, principalmente Europa e Estados Unidos (Fig. 3).

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    Quadro 2 - Perfil da carcinicultura brasileira em 2004.

    Pequeno Mdio Grande

    Estado Nprodutor rea(ha) Produo(t) Nprodutor rea(ha) Produo(t) Nprodutor rea(ha) Produo(t) pRN 280 972 4.250 82 1.824 8.661 19 3.485 17.896

    CE 119 604 3.502 58 1.439 7.493 14 1.761 8.410

    PE 88 110 468 7 131 763 3 867 3.30

    PB 59 170 739 7 164 850 2 296 1.374

    BA 33 137 285 12 133 480 6 1.480 6.812

    SC 48 276 958 45 953 2.909 2 132 400

    SE 58 190 757 10 224 1.036 1 100 750

    MA 4 17 76 3 63 304 0 0 0

    ES 12 103 370 0 0 0 0 0 0

    PA 3 11 32 2 27 210 0 0 0

    PR 0 0 0 1 49 3100 0 0 0

    RS 0 0 0 1 8 20 0 0 0

    AL 1 3 10 1 13 92 0 0 0

    PI 7 42 114 4 36 202 5 623 2..225

    TOTAL 712 2.635 11.561 233 5.214 23.330 52 8.744 41.167

    Part.Relat.(%)

    71,41 15,88 15,23 23,37 31,41 30,74 5,22 52,68 54,24

    Fonte: Revista da ABCC 2004.

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    143.18058,55%

    92.05637,64%

    9.3073,81%

    Valor em Milhes = US$ 244.542

    13.153

    6,01%

    42.33919,34%

    163.37574,65%

    Valor em Milhes = US$ 218.866

    VOLUME E RECEITA DAS EXPORTAES BRASILEIRAS DE CAMARO

    SEGUNDO DESTINO 2003 / 2004 (JAN DEZ)

    2003

    2004

    Figura. 3 Volume e receita das exportaes de camaro brasileiro para o mercado

    externo.

    Comparando-se os dados de toda a produo de camaro no Brasil em 2004, cujo

    valor foi de aproximadamente 80.000 ton, com o volume exportado no mesmo ano (

    em torno de 54.000 ton.), verifica-se que aproximadamente 67% do camaro

    produzido no Brasil neste ano foi destinado ao mercado externo.

    A Bahia possui a mais extensa zona litornea do pas, com aproximadamente 1.181

    km de extenso, contando com inmeras reas com potencial para implantao de

    projetos de carcinicultura. O estado o terceiro maior produtor de camares do

    Brasil, ficando atrs apenas do Rio Grande do Norte e do Cear (Quadro 3).

    38.44763,29%

    21.27035,02%

    1.1261,85%

    Volume = 60.743 T

    43.78480,52%

    9.00116,57%

    1.5832,91%

    Volume = 54.379 T

    EUROPA EUA SIA

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    Atualmente, segundo dados da ABCC, a rea de produo na Bahia da ordem de

    1.650 ha, com produo anual de 7.577 ton., o que representa em termos

    percentuais, respectivamente, 11,1% e 10% (Revista da ABCC, 2004). Embora o

    estado no esteja na ponta em termos de produo, um dado relevante em relao

    perspectiva da carcinicultura na Bahia consiste no fato de que, ao contrrio dos

    outros estados nordestinos que j exploraram boa parte das reas disponveis, o

    estado ainda detm um vasto domnio de reas potenciais inexploradas para cultivo

    de camaro, estimadas em cerca de 100.000 ha (BAHIA , 2003).

    Quadro 3. Quadro Geral da Carcinicultura Brasileira por Estado em 2004

    N de Produtores rea ProduoEstado

    N % ha % t %

    Produtividade

    (Kg/ha/ano)RN 381 38,2 6.281 37,8 30.807 40,6 4.905CE 191 19,2 3.864 22,9 19.405 25,6 5.101BA 51 5,1 1.650 11,1 7.577 10,0 4.096PE 98 9,8 1.108 6,7 4.531 6,0 4.089PB 68 6,8 630 3,8 2.963 3,9 4.703PI 16 1,6 751 4,5 2.541 3,3 3.383SC 95 9,5 1.361 8,2 4.267 5,6 3.135SE 69 6,9 514 3,1 2.543 3,4 4.497MA 7 0,7 85 0,5 226 0,3 2.659

    PR 1 0,1 49 310 0,4 6.327ES 12 1,2 103 0,6 370 0,5 3.592PA 5 0,5 38 0,2 242 0,3 6.368AL 2 0,2 16 0,1 102 0,1 6.375RS 1 0,1 8 0,0 20 0,0 2,500

    TOTAL 997 100,00 16,.598 100,00 75.904 100,00 4.573Fonte: Revista da ABCC, 2004

    Entre os camares marinhos, estima-se haver 2.500 espcies, sendo que somente

    cerca de 343 espcies so importantes do ponto de vista comercial ( HOLTHUIS,apud KUBITZA,2003). Na famlia Penaeidae, so encontradas a maioria das

    espcies relevantes para o cultivo em cativeiro, dentre as quais os camares

    Penaeus monodon, Fenneropenaeus e Litopenaeus vannamei. Segundo Tacon

    (1995), estas espcies juntas, contabilizaram em 2000 aproximadamente 86% do

    volume total das 1.1087.111 milhes de toneladas despescadas em fazendas de

    cultivo, em todo o mundo.

    Duas espcies cultivadas de camaro predominam no mercado internacional, comcerca de 70% do volume. Por ordem de importncia so: o Penaeus monodon, no

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    oriente, com 56% da produo mundial, e o Litopenaeus vannamei, no ocidente,

    com 16%.

    Os primeiros ensaios no cultivo de camaro marinho no Brasil iniciaram-se na

    dcada de 70, utilizando-se espcies nativas como P. subtilis. Porm, a falta de

    conhecimento cientfico destas espcies nativas e condies ambientais e

    climatolgicas desfavorveis, levaram a carcinicultura brasileira a introduzir, na

    dcada de 80, o Litopenaeus vannamei, espcie tropical extremamente resistente,

    nativa do Pacfico e uma das principais espcies na contribuio da produo

    mundial. Atualmente, a carcinicultura marinha brasileira usa em escalas comercial e

    industrial, exclusivamente, esta espcie, que se adaptou bem aos nossos

    ecossistemas costeiros.Se, por um lado, a expanso da aquicultura um fato inegvel em todo o mundo, e

    mesmo irreversvel, acarretando em inmeros benefcios de ordem social e

    econmica, com a gerao de empregos, renda e divisas para inmeros pases, por

    outro lado, o crescimento acelerado da atividade deve servir de alerta para que esse

    desenvolvimento se d em bases sustentveis, com a varivel ambiental sendo

    devidamente contemplada.

    Arana (1999), adverte que a aquicultura no pode continuar com o atual modelo dedesenvolvimento, em que a racionalidade (irracionalidade) do lucro dominante. Na

    mesma linha de raciocnio, Caire (apud ARANA,1999), relata que : (...) a aquicultura

    parece estar se orientando pelos mesmos pontos de referncia que guiaram o

    processo de modernizao capitalista do setor agrcola no Brasil. Isto significa:

    dependncia das presses da expanso industrial intensiva em capital e refratria a

    princpios de sustentabilidade social e ambiental.

    Este modelo de desenvolvimento revelou-se ultrapassado, na medida que priorizouexcessivamente o aspecto econmico, em detrimento daqueles de natureza social,

    cultural e ambiental, alm de no levar em conta as peculiaridades regionais e locais

    (GUTIERREZ, apud ARANA, 1999).

    Na mesma linha de raciocnio, Vieira (1991) argumenta que os custos ecolgicos e

    sociais dos modelos de desenvolvimento que no so internalizados pelo sistema

    poltico como o caso estritamente econmico do desenvolvimento resultam na

    apropriao intensiva e super sofisticada, via tecnologia, dos recursos naturais,

    priorizando uma rentabilidade a curto prazo. Os referidos autores revelam que tm

    surgido no cenrio contemporneo novas possibilidades de inovao social em

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    Na verdade, como qualquer atividade produtiva humana, a carcinicultura pode afetar

    potencialmente as trs dimenses bsicas inerentes ao meio ambiente: os meios

    fsico, bitico e antrpico (Fig. 4).

    Figura 4. As trs dimenses ambientais e suas interfaces sujeitas aos impactos

    ambientais das atividades humanas

    Sem dvida alguma, a potencial afetao das reas de manguezais um dos

    principais fatores de pertubao ambiental da atividade e o que mais preocupa, tanto

    aos ambientalistas, como s autoridades ambientais. Nascimento (1998) relata a

    existncia de numerosos impactos decorrentes do lanamento de efluentes de

    fazendas de camaro sobre os manguezais, com significativas alteraes de sua

    dinmicaecolgica, dentre os quais pode-se destacar:

    Aumento da quantidade de material em suspenso, afetando, por exemplo, a

    capacidade de assimilao de organismos filtradores, como as ostras;

    Aumento da demanda bioqumica de oxigncio DBO e dficit de O2,

    podendo levar mortandade de organismos marinhos;

    Aumento nos teores de amnia, o que pode levar a um efeito txico agudo

    nos organismos.

    No equador, cerca de 20% das reas de mangue foram transformadas em viveiros

    de cultivo de camaro em 1987; na Tailndia, mais de 100.000 ha de mangue foram

    transformados em viveiros de camaro (ARANA, op. Cit). O mesmo autor adverte,

    Nvel Fsico

    Nvel biolgico Nvel antr ico

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    19

    citando Wilks (1995), que os efeitos scio-econmicos desta transformao foram

    muito graves, j que, com a retirada destes ecossistemas, um potencial de pesca de

    800 mil toneladas foi trocado por uma produo de apenas 120 mil toneladas de

    camaro, a qual passou a ser destinada quase que totalmente exportao .

    A consequncia da degradao de ecossistemas que do suporte atividade pe

    seriamente em risco sua sobrevivncia. Alguns autores revelam dados alarmantes

    sobre a indstria camaroneira em alguns pases produtores, com destaque no

    cenrio mundial. Tacon ( apud ARANA,1999) informa que na China, a indstria de

    camaro marinho sofreu um colapso de cerca de 150 mil toneladas. De uma

    produo anual de mais de 200 mil toneladas desde 1988 at 1992, sua produo

    caiu para 50 mil toneladas/ano em 1994. Lin (apud ARANA, 1999) revela queTaiwan, em 1987, produziu 80.000 toneladas de P. monodon, mas 01 ano depois a

    indstria entrou em colapso e a produo caiu para 20.000 toneladas/ano.

    De um modo geral, o colapso na indstria camaroneira destes pases deve-se

    basicamente a duas variveis que se entrelaam profundamente: a degradao

    ambiental e a infestao de doenas infecciosas. Deste ciclo de crescimento

    equivocado, resulta o seguinte padro:

    O sucesso econmico dos primeiros cultivos motiva a expanso da indstria, mas a falta deuma tecnologia mais sustentvel aliada a ausncia de normatizao fazem com que estaexpanso seja desordenada, superando a capacidade de auto-regulao do ecossistemanatural. O desequilbrio ambiental favorece, ento, a exploso das doenas infecciosas, asquais, por fim, provocam altssima mortalidade nas populaes do cultivo, fato que acabagerando o colapso da indstria (ARANA, 1999 ).

    As experincias equivocadas de desenvolvimento da atividade em outros pases,

    com srios danos ambientais e ameaas de colapso da prpria atividade de cultivo

    em si, devem servir de alerta para o Brasil, no sentido de que, em nosso pas, a

    atividade se desenvolva em meio a uma gesto ambiental preventiva e responsvel .

    Nascimento (1998) estabelece (...) a necessidade de adotarmos uma diretriz

    diferente de desenvolvimento para a carcinicultura. Esta diretriz aponta para

    tecnologias limpas, cujos critrios de sustentabilidade so, segundo Barbier (apud

    NASCIMENTO, 1998): 1. uso mnimo dos recursos no renovveis; 2. mxima

    eficincia de uso dos recursos no processo industrial; 3. explorao do recurso

    renovvel a uma taxa menor que a taxa natural de regenerao ecolgica segura; 4.

    reduo dos nveis de gerao de resduos, adequando-os capacidade

    assimilativa do ambiente; 5. alta prioridade nas aes preventivas ou minimizadoras

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    dos possveis efeitos de uso dos recursos e acmulo de resduos nos ecossistemas,

    em nveis local ou regional.

    H que se mudar o enfoque em relao forma como a atividade vem sendo

    gerenciada. Urge que se implemente um modelo de gesto ambiental que possa

    aliar harmonicamente os desafios inerentes rentabilidade, competitividade e

    sustentabilidade do camaro marinho cultivado no Brasil. Deve ser consolidada na

    atividade a preveno como estratgia de gesto ambiental, incorporando-se os

    princpios da produo mais limpa aos aspectos tcnicos, operacionais, gerenciais,

    ambientais, legais-institucionais e econmicos aplicveis atividade, de modo a

    possibilitar-se o estabelecimento do equilbrio entre o uso produtivo do camaro e a

    preservao do meio ambiente costeiro.

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    4 GESTO AMBIENTAL

    4.1 - CARACTERIZAO DE UMA GESTO AMBIENTAL VERDE E

    EVOLUO NAS ABORDAGENS DA GESTO AMBIENTAL

    A partir da dcada de 90, tendo como marco a realizao da conferncia Rio 92, das

    Naes Unidas, a questo ambiental passa a ser efetivamente objeto de

    preocupao e discusso por parte de toda a sociedade civil organizada. No dizer de

    Kiperstok (2002), entram em cena novos agentes e novas iniciativas em prol do

    meio ambiente. Alm das diversas organizaes representativas da sociedade civil,

    como ONGs e Ministrio Pblico, o prprio setor produtivo passa, embora muito

    lentamente, a engajar-se mais ao processo, numa postura pr-ativa, surgindo :

    (...) uma nova percepo dos setores produtivos da relao entre negcios e meio ambiente,expressa atravs de: reduo de custos de produo; otimizao do uso dos recursos naturais;minimizao da gerao de resduos e marketing de produtos e processos mais limpos. Oenfoque de gesto ambiental passou, ento, a ser para alm do controle da poluio e,passo a passo, tem incorporado os conceitos da preveno da poluio e produo mais limpa

    (Kiperstok, 2001).

    Tradicionalmente, o modelo de gesto ambiental pblica no Brasil vem se pautando

    no paradigma da chamada abordagem de Comando & controle(C&C). A lgica

    da abordagem comando e controle objetiva assegurar o atendimento legislao,

    atravs do estabelecimento de normas e padres ambientais e de fiscalizao do

    seu cumprimento, mediante a aplicao de sanes administrativas e penais, para

    as situaes de no conformidade (....) (KIPERSTOK, 2001). Para Coelho (2002),

    h uma tendncia a se condenar as abordagens convencionais de gesto ambiental:

    a primeira abordagem reativa fim de tubo adotada no controle da poluio, que

    apoiou os instrumentos de gesto, Avaliao de Impacto Ambiental e a Avaliao

    de Projetos de Grandes Investimento de Capital, tornou-se impotente para lidar com

    problemas globais e regionais de segunda e terceira gerao, resultantes de

    alteraes cumulativas. Alm do estmulo adoo de medidas fim de tubo, o

    referido modelo no estimula a cooperao setor produtivo/rgos pblicos na

    resoluo da problemtica ambiental. A prpria Constituio do Brasil estabelece

    que a defesa e preservao do meio ambiente um dever de toda a sociedade e

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    no apenas do Estado (BRASIL, 1988). Impe-se, assim, a necessidade de

    superao deste modelo, ou melhor, de sua complementao por um modelo de

    gesto ambiental focado nos princpios da Auto-Regulao, com o amplo

    envolvimento do setor produtivo na implementao de mecanismos de gesto

    voluntria. Esta, segundo Kiperstok (2001), tem como principal vantagem o

    envolvimento ativo dos setores produtivos, na identificao de novas oportunidades

    para solues dos problemas ambientais, e podem fomentar a resoluo destes

    atravs do aperfeioamento das relaes entre rgos pblicos de controle

    ambiental e demais partes interessadas com os agentes econmicos, baseados no

    princpio da governana.

    A carcinicultura, historicamente, tem sido objeto de inmeras normas e padresvisando o controle da poluio e restries ocupao de reas costeiras, alm de

    inmeros autos de infrao por parte dos rgos ambientais. uma atividade

    extremamente estigmatizada como poluidora e degradadora. Em boa parte esta

    situao se deve ao fato de que as empresas que atuam neste ramo no virem

    adotando estratgias de gesto ambiental que lhes permitam iniciativas prprias no

    sentido da preveno da poluio e preservao do meio ambiente, de forma

    articulada com os rgos ambientais. Por outro lado, contribui para este estigma afalta de transparncia de informaes em relao atividade e a seus reais

    impactos, com amplos esclarecimentos sociedade.

    A situao se agrava na medida em que os prprios instrumentos legais que

    regulamentam a questo ambiental no Brasil esto ainda fundamentalmente

    estruturados na abordagem C&C (comando e controle), sem estmulos gesto

    voluntria e implementao dos princpios da produo mais limpa e da preveno

    da poluio. Um caso emblemtico desta situao pode ser encontrado naResoluo do Conselho Nacional de Meio Ambiente CONAMA - 01/86, marco no

    processo de AIA no Brasil, atravs da exigncia de EIA/RIMA. Sobral (2002) advoga

    que a referida Resoluo induz abordagem fim-de-tubo, ao no art. 6, tem 3,

    estabelecer como uma das etapas do EIA a (...) definio das medidas mitigadoras

    dos impactos ambientais negativos, entre elas os equipamentos de controle e

    sistemas de tratamento de despejos (...).

    Embora instrumentos legais, tanto em nvel federal quanto em nvel estadual, j

    contemplem princpios e diretrizes voltados para a produo mais limpa a exemplo

    da CONAMA 237/97 ( pargrafo 3 do art. 12), da Lei Estadual 7799/01 (Captulo II),

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    do Decreto Estadual 7967/01 (Arts.130 e 133), estas iniciativas so ainda carentes

    de regulamentao mais especfica, aliada uma maior conscientizao e

    engajamento do prprio setor produtivo.

    Especificamente em relao atividade de carcinicultura, o arcabouo de regulao

    ambiental existente, de igual modo est focado nas abordagens de comando &

    controle e de fim de tubo. No entanto, verifica-se que, embora de forma tmida,

    comeam a aparecer diretrizes e princpios voltados para a produo mais limpa e

    preveno da poluio. A Resoluo CONAMA N 312, de 10 de Outubro de 2002,

    que dispe sobre o procedimento de licenciamento ambiental dos empreendimentos

    de carcinicultura na zona costeira, estabelece como seus principais fundamentos: o

    fato da zona costeira ser considerada pela Constituio Federal como PatrimnioNacional; a fragilidade dos ambientes costeiros, em especial do ecossistema

    manguezal, considerado de preservao permanente; os potenciais impactos da

    carcinicultura sobre o ambiente costeiro; os princpios da precauo e da

    preveno.

    Todavia, ainda se est longe de uma regulamentao ambiental aplicvel atividade

    centrada na preveno dos impactos que lhe so inerentes, dentro de um modelo de

    gesto ambiental sustentvel, e com slidos mecanismos de gesto voluntria.Considere-se ainda a relao normalmente tensa e conflituosa entre os rgos de

    fiscalizao/licenciamento ambiental e o setor produtivo da atividade, que

    normalmente encara a legislao como um empecilho ao crescimento do setor.

    No livro Plataforma Tecnolgica do Camaro Marinho Cultivado (MINISTRIO

    DA AGRICULTURA, PECURIA E ABASTECIMENTO, 2001), a referida plataforma

    definida como um documento que identifica, caracteriza e articula as aes

    estratgicas prioritrias para a produo competitiva e sustentvel da atividade docamaro marinho. Nele so detalhados os tens de desenvolvimento cientfico e

    tecnolgico, planejamento estratgico, sustentabilidade ambiental, gesto de

    qualidade, biossegurana, mercado e capacitao de recursos humanos. Segundo o

    mesmo documento, (...) o forte atrativo do agronegcio referente a preo e

    disponibilidade de mercado internacional, obriga, necessariamente, o seu

    desenvolvimento dentro de um cenrio ordenado e sustentvel, para evitar um

    crescimento desarticulado e, provavelmente, com caractersticas predatrias (...) .

    Embora entre os segmentos estratgicos da atividade estejam o planejamento

    estratgico, a gesto de qualidade e o desenvolvimento sustentvel, estando, no

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    bojo dos mesmos, sugestes voltadas para a minimizao/ preveno de impactos,

    no h uma proposta consistente em termos de elementos de gesto ambiental

    perfeitamente configurados em torno dos princpios da produo mais limpa e

    preveno da poluio. O prprio segmento denominado gesto de qualidade

    centra-se mais em aspectos referentes sanidade/inocuidade do produto camaro,

    visando atender padres sanitrios e aceitao em nvel internacional, do que em

    propostas que contemplem a varivel preservao ambiental como fator de

    convergncia da atividade.

    J o Cdigo de Conduta e Boas Prticas de Manejo e de fabricao para uma

    Carcinicultura Ambiental e Socialmente Responsvel, da Associao Brasileira dos

    Criadores de Camaro (ABCC, 2005 ), estabelece entre suas principais diretrizes eprticas, garantir o desenvolvimento do camaro marinho cultivado em condies

    seguras e harmnicas em relao ao meio ambiente e sociedade e permitir o uso

    mais eficiente dos recursos na fazenda. Destaque-se tambm que seu contedo,

    dentre outros aspectos, est fundamentado numa anlise das atividades ou prticas

    que, usadas com os cuidados e as especificaes tcnicas requeridas, podem evitar

    ou minimizar impactos ambientais e sociais.

    A Plataforma Tecnolgica do Camaro Marinho e o Cdigo de PrticasAmbiental e Socialmente Responsveis do Setor so documentos representativos,

    pois foram elaborados a partir dos diversos atores sociais envolvidos com a

    atividade: empreendedores, sobretudo atravs da ABCC, rgos pblicos envolvidos

    com a atividade e Centros Universitrios. Sendo assim, refletem com certa exatido

    os aspectos gerais referentes ao planejamento, aos princpios, s estratgias da

    atividade para os prximos anos.

    Embora os referidos documentos contemplem objetivos, estratgias, diretrizes eprticas voltadas para a produo mais limpa e a preveno da poluio, os mesmos

    representam apenas direcionamentos, intenes e propostas um tanto gerais, sem

    haver uma sistematizao mais slida da questo.

    Em face do exposto, urge que haja uma mudana tanto por parte do poder pblico,

    na superao da abordagem de comando & controle, com mudanas no arcabouo

    legal-institucional que deve passar a enfatizar a gesto voluntria e a preveno da

    poluio, com ampla participao da prpria sociedade civil organizada, quanto do

    setor produtivo, que deve conscientizar-se e empenhar-se na adoo de

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    mecanismos de gesto ambiental voltados para a preservao da natureza e

    sustentabilidade ambiental.

    Nesta linha de raciocnio, Andrade (1997) destaca que:

    (...) a questo de ordem que se coloca para as empresas que se deparam com as restriesambientais de mudana de postura em relao concepo e implementao deestratgias ambientais meramente defensivas, ou reativas, para um novo modelo , proativo emais inovativo. Trata-se da formulao de modelos de estratgias que contemplem alegislao ambiental como um elemento propulsor da gerao de inovaes emprodutos ou processos, alavancando o desenvolvimento de vantagens competitivas (....).

    Assim sendo, o desafio que se coloca para o setor produtivo camaroneiro a busca

    da conciliao harmnica entre o atendimento da legislao ambiental e o

    desenvolvimento da atividade produtiva, centrada na busca de inovaes

    tecnolgicas e gerenciais compatveis com a preservao dos recursos naturais e o

    crescimento econmico.

    4.2 SISTEMAS, MODELOS, PROGRAMAS E ESTRATGIAS DE GESTO

    AMBIENTAL

    4.2.1 Sistemas e Modelos

    No processo de estabelecimento de um programa de gesto ambiental, de

    fundamental importncia considerar os preceitos e estratgias estabelecidos nas

    Normas ISO 14000. Segundo a ABNT (1996, APUD Andrade, Tachizawa e

    Carvalho, 2000) estas normas especificam os requisitos relativos a um sistema de

    gesto ambiental, permitindo a uma organizao formular poltica e objetivos que

    levem em conta os requisitos legais e as informaes referentes aos aspectos

    ambientais que possam ser controlados pela organizao e sobre os quais se

    presume que elas tenham influncia (...) . Ainda segundo a referida instituio,

    estas normas se aplicam a qualquer organizao que deseje implementar, manter e

    aprimorar um sistema de gesto ambiental; se assegurar de sua conformidade com

    sua poltica ambiental definida; demonstrar tal conformidade a terceiros; buscar

    certificao/registro do seu sistema de gesto ambiental para uma organizao

    externa; realizar uma auto-avaliao e emitir autodeclarao de conformidade com

    estas normas.

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    Segundo o estabelecido na introduo da Norma ISO 14001:2000, a finalidade

    desta norma equilibrar a proteo ambiental e a preveno de poluio com as

    necessidades scio-econmicas

    Andrade, Tachizawa e Carvalho (2000), esclarecem:

    (...) as Normas da Srie ISO 14000 que tratam dos sistemas de gesto ambientalcompartilham dos princpios comuns estabelecidos para sistemas da qualidade da srie deNormas NBR ISO 9000. Enquanto os sistemas de gesto da qualidade tratam dasnecessidades dos clientes, os sistemas de gesto ambiental atendem s necessidades de umvasto conjunto de partes interessadas e s crescentes necessidades da sociedade sobreproteo ambiental.

    Dentre as diversas definies estabelecidas pela Norma ISO 14001:2000, pode-se

    destacar os conceitos de melhoria contnua, sistema de gesto ambiental, auditoria

    do sistema de gesto ambiental, objetivo ambiental, desempenho ambiental, poltica

    ambiental, meta ambiental e preveno da poluio.

    Andrade, Tachizawa e Carvalho (2000), conceituam gesto ambiental como (...)

    um processo contnuo e adaptativo, por meio do qual uma organizao define (e

    redefine) seus objetivos e metas relativos proteo do ambiente e sade e

    segurana de seus empregados, clientes e comunidades, assim como

    seleciona as estratgias e meios para atingir tais objetivos em determinado

    perodo de tempo, por meio da constante interao com o meio ambiente

    externo.Analisando o referido conceito e luz do modelo de gesto ambiental que

    prope, o autor ressalva que para efeito metodolgico, prope-se que esse conceito

    seja ampliado, com a incorporao das atividades de controle estratgico das

    variveis internas e externas organizao, com a utilizao, inclusive, de

    indicadores de gesto , de qualidade e desempenho ambiental.

    A Norma ISO 14001:2000 define sistema de gesto ambiental como: a parte do

    sistema de gesto global que inclui estrutura organizacional, atividades deplanejamento, responsabilidades, prticas, procedimentos, processos e recursos

    para desenvolver, implementar, atingir, analisar criticamente e manter a poltica

    ambiental.

    Este conceito j delineia em parte os requisitos ou os elementos bsicos do sistema

    de gesto ambiental estabelecido pela referida norma, a saber: 1. poltica ambiental;

    2. planejamento, que por sua vez inclui: aspectos ambientais, requisitos legais,

    objetivos e metas e programa de gesto ambiental; 3. implementao e operao,incluindo: estrutura e responsabilidade, treinamento, conscientizao e competncia,

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    comunicao, documentao do sistema de gesto, controle de documentos,

    controle operacional e preparao e atendimento a emergncias; 4. verificao e

    ao corretiva, abrangendo: monitoramento e medio, no-conformidade e aes

    corretiva e preventiva, registros e auditoria do sistema de gesto ambiental; 5.

    anlise crtica pela administrao.

    De um modo geral, como ser visto nos modelos de gesto adiante abordados,

    estes requisitos-etapas do sistema de gesto ambiental proposto pelas ISOs

    14.000, vo estar presentes nestes modelos com ligeiras variaes e maior ou

    menor grau de detalhamento.

    Donaire ( 1999), registra algumas propostas para o estabelecimento de um

    programa de gesto ambiental: Sistema Integrado de Gesto Ambiental (ModeloWinter), Estratgia Ecolgica da Empresa (BACKER, 1995) e o Programa de

    Atuao Responsvel, da Associao Brasileira de Indstrias Qumicas - ABIQUIM.

    O Modelo Winter estabelece que no planejamento de uma gesto ambiental

    sistemtica, devem ser considerados os aspectos econmicos, a tecnologia

    utilizada, o processo produtivo, a organizao, a cultura de empresa e seus

    recursos humanos (Ibid). O sistema integrado de gesto ambiental proposto neste

    modelo descrito atravs de 20 mdulos integrados, que definem o perfil completoda gesto ambiental da empresa . Estes mdulos se referem a diversos aspectos,

    dentre os quais pode-se citar: motivao da alta administrao; objetivos e estratgia

    da empresa; marketing; disposies internas em defesa do meio ambiente;

    motivao e formao de pessoal; condies de trabalho; economia de energia e

    gua; desenvolvimento do produto; gesto de materiais; tecnologia de produo;

    tratamento e valorizao de resduos; construo das instalaes e equipamentos;

    direito.O Modelo de Estratgia Ecolgica da Empresa, de Backer (2002) apregoa que

    os planos de gesto ambiental devem ter origem no diagnstico ecolgico da

    empresa e estar em sintonia com a estratgia ecolgica. A referida estratgia

    deve partir de um diagnstico inicial e sobretudo da anlise do fator ambiental

    dentro da estratgia global da organizao. (Idem). O referido diagnstico est

    sintetizado em 06 tabelas, que abrangem: 1. o peso ecolgico na estratgia

    empresarial; 2. a estratgia de comunicao e de marketing em relao ao meio

    ambiente; 3. a estratgia de produo em matria de meio ambiente; 4. a estratgia

    de recursos humanos em questes ambientais; 5. as estratgias jurdica e financeira

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    autoridades, quanto aos riscos sade, segurana e meio ambiente de seus

    produtos e operaces e recomendar medidas de proteo e de emergncia; 2.

    Cdigos de Prticas Gerenciais: definem prticas para a implementao dos

    princpios diretivos e abrangem todas as etapas do processo produtivo. So em

    nmero de seis: segurana de processos, sade e segurana do trabalho, proteo

    ambiental, transporte e distribuio, dilogo com a comunidade e preparao e

    atendimento emergncias, gerenciamento do produto; 3. Comisso de lideranas

    empresariais: constituda pelas comisses tcnicas e executivas, representam

    fruns de debate e troca de experincias para coordenar atuao conjunta; 4.

    Conselhos comunitrios consultivos: formados por membros da comunidade e da

    indstria; 5. Avaliao de Progresso: abrangendo auto-avaliao e por terceiros,para acompanhamento permanente e estruturado de todas as atividades sob

    controle; 6. Difuso para a cadeia produtiva: envolve implantao de programa de

    parceria, com transportadoras, distribuidoras, tratadores de resduos.

    Em 1991, por ocasio da Segunda Conferncia Mundial da Indstria sobre a

    Gesto do Ambiente, foi divulgada a Carta Empresarial para o Desenvolvimento

    Sustentvel, com 16 princpios relativos gesto ambiental. O objetivo deste

    documento auxiliar as empresas a cumprir, de forma ampla, as suas obrigaesem termos de gesto do ambiente. Esta carta estabelece que as organizaes

    versteis, dinmicas, geis e lucrativas devem ser a fora impulsora do

    desenvolvimento sustentvel, assim como a fonte da capacidade de gesto e dos

    recursos tcnicos e financeiros indispensveis resoluo dos desafios ambientais

    (...) (ANDRADE; TACHIZAWA; CARVALHO, 2000). Alguns dos princpios de gesto

    ambiental estabelecidos na referida carta so: Prioridade na Organizao: significa

    reconhecer a gesto do ambiente como uma das principais prioridades naorganizao e como fator determinante do desenvolvimento sustentvel; Gesto

    Integrada: visa integrar polticas, programas e procedimentos, como elementos

    essenciais de gesto; Instalaes e Atividades: significa estabelecer

    procedimentos para desenvolver, projetar e operar instalaes, tendo em vista a

    eficincia no consumo de energia e materiais, a utilizao sustentvel dos recursos

    renovveis, a minimizao dos impactos ambientais adversos e da produo de

    rejeitos (resduos); Pesquisas sobre os impactos ambientais das matrias primas,

    dos produtos, dos processos, das emisses, dos resduos e sobre os meios de

    minimizar tais impactos adversos; Medidas Preventivas: visam adequar a

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    fabricao, a comercializao, a utilizao de produtos ou servios ou a conduo

    de atividades em harmonia com os conhecimentos cientficos e tcnicos, a fim de

    evitar a degradao grave ou irreversvel do ambiente; Transferncia de

    Tecnologia Visa estabelecer formas para contribuir para a transferncia de

    tecnologia e mtodos de gesto que respeitem o meio ambiente; Abertura ao

    Dilogo define a forma de promover a abertura ao dilogo com o pessoal da

    empresa e com o pblico, em antecipao e em resposta s respectivas

    preocupaes quanto aos riscos e aos impactos ambientais das atividades;

    Cumprimento de Regulamentos e Informaes Visadefinir procedimentos para

    aferir o desempenho das aes sobre o meio ambiente, proceder regularmente a

    auditorias ambientais e avaliar o cumprimento das exigncias da empresa, dosrequisitos legais e desses princpios.

    O Cdigo de Conduta e Boas Prticas de Manejo e de Fabricao Para Uma

    carcinicultura Ambientalmente Sustentvel e Socialmente Justa, Da

    Associao Brasileira dos Criadores de Camaro ABCC ( 2005b), tem como

    um dos seus objetivos primordiais o direcionamento de aes que evitem ou

    minimizem os potenciais impactos ambientais e sociais da atividade. O referido

    cdigo fundamenta-se numa anlise crtica dos principais procedimentos e prticasem torno das etapas da cadeia produtiva do camaro marinho cultivado,

    expressando o compromisso da ABCC e seus associados com a sustentabilidade

    ambiental e a responsabilidade social.

    importante ressaltar que o cdigo de conduta da ABCC incorpora recomendaes

    de outros documentos que prope prticas responsveis, vinculados indstria do

    alimento, da pesca e da aqicultura, a saber: Documento Tcnico 450 da FAO (FAO

    Fisheries Technical Paper 450), Cdigo de Conduta da GAA (Codes of practice forResponsible Shrimp Hatcheries) e Codes of Practices, do Codex Alimentarius.

    O cdigo preconiza, mediante documentos distintos, princpios e procedimentos

    especficos para cada uma das principais etapas da cadeia do camaro marinho

    cultivado, a saber: produo de ps-larvas em laboratrios; criao e engorda em

    fazendas de cultivo; beneficiamento em unidades frigorficas e fabricao de rao.

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    Cdigo de Conduta e Boas Prticas de Manejo para Maturao, Reproduo e

    Larvicultura

    Seu principal objetivo garantir o desenvolvimento das atividades inerentes aos

    laboratrios de produo de ps-larvas em condies seguras e harmnicas em

    relao ao meio ambiente e sociedade, fundamentado em aspectos biolgicos,

    tecnolgicos, ticos e comerciais relevantes. Alm disto, prope-se a balizar aes

    no sentido de contribuir para uma utilizao ambientalmente responsvel dos

    recursos naturais.

    O referido cdigo estabelece como seus elementos ou temas considerados

    essenciais para o desenvolvimento responsvel dos setores de maturao elarvicultura do camaro marinho cultivado: 1. Escolha do local e layout das

    instalaes; 2. Assepsia e Desinfeco do Laboratrio; 3. Operao e Manejo; 4.

    Alimentao; 5. Sade dos animais e biossegurana; 6. Uso de agentes teraputicos

    e outras substncias qumicas; 7. Despesca, Embalagem e Transporte;8. Efluentes e

    resduos slidos. Estas prticas envolvem:

    Planejamento locacional de modo que seja evitada a ocupao de reas de

    preservao permanente; Projeto de instalaes e equipamentos que otimizem o uso de recursos

    naturais e minimizem impactos sobre o meio ambiente, a exemplo da reduo

    de processos erosivos, infiltraes e drenagens desnecessrias;

    Avaliao e monitoramento de parmetros fsico-qumico e biolgicos das

    guas aduzidas e efluentes;

    Implementao de rigorosos procedimentos de de assepsia e higiene

    Estocagem das larvas em densidades adequadas; Prticas eficiente e otimizao no uso de rao;

    Monitoramento da sade das ps-larvas;

    Aplicao de substncias teraputicas de acordo com normas e regulamentos

    nacionais e internacionais apropriados;

    Proibio do uso de antibiticos, principalmente os associados ao clorafenicol

    e nitrofuranos;

    Manejo adequado de resduos e efluentes; Integrao com a comunidade local;

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    Manejo dos sedimentos dos viveiros, controlando os processos de calagem e

    fertilizao;

    Filtragem das guas de entrada e sada dos viveiros;

    Manejo de resduos;

    Respeito s regulamentaes governamentais sobre os padres de

    lanamento de efluentes;

    Promoo das boas relaes entre dirigentes, trabalhadores e comunidades

    locais;

    Cdigo de Conduta para Indstria de Beneficiamento

    A elaborao deste cdigo teve como base os seguintes documentos:

    Normativas do Ministrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento do Brasil;

    Padres e Cdigos de Prticas da FAO/OMS (Codex Alimentarius) e da Agncia

    Norte-Americana que regula a produo de Alimentos e Drogas (FDA), e os

    regulamentos sanitrios da Comunidade Europia.

    O cdigo dirige-se s unidades beneficiadoras do camaro marinho cultivado que

    buscam a qualidade e a inocuidade do produto camaro, bem como ocumprimento de requisitos vinculados responsabilidade social e preservao

    do meio ambiente.

    Apresenta de forma clara e suscinta as principais recomendaes em relao

    aos seguintes requisitos:

    Requisitos de Gesto da Qualidade e Segurana de Alimentos,

    abrangendo: responsabilidade da alta direo, anlise crtica dosistema, requisitos de documentao, recursos humanos, controle de

    aquisio, rastreabilidade do produto e auditorias;

    Requisitos Especficos, incluindo: qualidade e segurana para indstrias

    de beneficiamento de camaro cultivado, responsabilidade social e meio

    ambiente.

    De um modo geral, os Cdigos acima apresentados estabelecem diretrizes para aimplementao de um Sistema de Documentao, visando sistematizao do

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    registro dos aspectos relativos produo, controle de qualidade e monitoramento

    ambiental.

    Andrade, Tachizawa e Carvalho (2000), propem um modelo ( estratgia) de

    gesto ambiental baseado num enfoque sistmico: (...) o que se deve procurar

    adotar em uma organizao uma viso sistmica, global, abrangente e holstica,

    que possibilitaria visualizar as relaes de causa e efeito, o incio, o meio e o fim, ou

    seja, as inter-relaes entre recursos captados e valres por ela obtidos. O mesmo

    autor ressalta ainda que a adoo do enfoque sistmico permite que a organizao

    analise o meio ambiente definindo o cenrio provvel, de longo prazo, a partir do

    qual objetivos institucionais e respectivas estratgias para ating-los so delineados

    (...) .O referido enfoque visualiza a instituio como um macrossistema aberto, em

    interao dinmica com o ambiente que o cerca, estabelecendo-se um processo que

    procura converter recursos em produtos, bens e servios, em consonncia com seu

    modelo de gesto, misso, crenas e valres corporativos. Neste modelo (enfoque),

    considera-se que a filosofia bsica da organizao influi muito mais sobre suas

    realizaes do que seus recursos econmicos e tecnolgicos.

    importante ressaltar que o enfoque sistmico contempla aspectos voltados para apreveno da poluio, ao estabelecer que (....) contrariamente abordagem

    tradicional da qualidade, que atua apenas no final do processo produtivo, ou seja, na

    sada final do produto, sugere-se que a atuao e a gesto da qualidade ocorram ao

    longo de toda a cadeia de agregao de valores da organizao.

    Andrade, Tachizawa e Carvalho (op.cit), ressalta ainda que o enfoque sistmico

    procura segregar as variveis estruturais, comuns a todas as organizaes,

    daquelas especficas e singulares a cada organizao. Nesta linha de raciocnio, oautor coloca ainda que h estratgias e instrumentos de gesto que so comuns a

    todas as instituies. No entanto, h estratgias especificas e instrumentos

    particulares que variam em funo das crenas, dos valres e do estilo de gesto

    que so singulares a cada organizao (...)

    As caractersticas e filosofia do modelo (estratgia) acima descrito partem de uma

    viso holstica do mundo, pressupondo uma mudana de valres, passando da

    expanso para a conservao, da quantidade para a qualidade, da dominao para

    a parceria, constituindo um novo paradigma, impondo a necessidade do chamado

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    gerenciamento ecolgico, envolvendo a passagem do pensamento mecanicista para

    o pensamento sistmico . (ANDRADE; TACHIZAWA; CARVALHO, 2000)

    importante frisar que o modelo (estrattgia) de gesto proposto por Andrade

    adota os mesmos requisitos estabelecidos nas normas da srie ISO 14000,

    conforme j descritos acima.

    Estratgias Ambientais Empresariais

    A administrao com conscincia ecolgica tem suas estratgias assentadas em

    trs princpios bsicos: inovao, cooperao e comunicao (ANDRADE, 1997).

    (...) a gesto ecolgica implica o reconhecimento de que o crescimento econmicoilimitado em um planeta finito s pode levar a um desastre. Dessa forma faz-se uma

    restrio ao conceito de crescimento, introduzindo-se a sustentabilidade ecolgica

    como critrio fundamental de todas as atividades de negcios. (ibid). A referida

    gesto implica, na verdade, na necessidade de um exame e reviso das operaes

    de uma empresa da perspectiva da ecologia profunda ou do novo paradigma.

    Segundo Andrade ( 1997), deve-se entender a noo de Estratgias Ambientais

    como um Padro de aplicao de recursos e competnciasempregados para oatendimento de uma meta ou objetivo ambiental definido, a partir da anlise das

    foras competitivas de um negcio (pg.80-81).

    Na verdade, o conceito acima representa uma adequao ou extrapolao para o

    universo ambiental do conceito de gerenciamento estratgico e das estratgias

    empresariais.

    Da mesma forma, a partir da hierarquizao dos diferentes nveis de Estratgias

    Empresariais (corporativa, de negcio e funcional), o referido autor estabelece um

    paralelismo e faz uma adaptao conceitual, levando em conta as diferentes formas

    como a varivel ambiental percebida pelas organizaes e como est situada no

    mbito das mesmas. Desta forma, estabelece os diferentes tipos de estratgias

    ambientais empresariais, hierarquizando-as, segundo o grau de amadurecimento no

    trato da varivel ambiental: estratgias reativa, ofensiva e Inovativa, cujas

    caractersticas esto sintetizadas no Quadro 04 :

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    A UNIDO (apud COELHO, 2002) define oficialmente P+L como a aplicao

    contnua de uma estratgia preventiva, econmica, ambiental e tecnolgica

    integrada aos processos e produtos, a fim de aumentar a eficincia no uso das

    matrias primas, gua e energia, atravs da no gerao, minimizao ou

    reciclagem de resduos gerados em todos os setores produtivos.

    Para Kiperstok (2001 ), (...) as tecnologias limpas se caracterizam por voltar-se

    para as fontes da gerao de resduos visando aproximar o processo produtivo da

    condio de emisso zero. Priorizam os esforos pela eliminao da poluio a

    montante dos processos tentando se afastar do binmio tratamento/disposio final

    (fim de tubo) como soluo para os problemas ambientais gerados pela indstria.

    Embora as diversas abordagens em torno da preveno da poluio apresentem umeixo temtico comum, segundo Coelho (2002), a proposta da produo limpa (PL)

    seria mais audaciosa, uma vez que baseia-se no princpio da precauo, o qual

    determina o no uso de matrias primas e no gerao de produtos com indcios ou

    suspeitas de provocar problemas ambientais; avalia o ciclo de vida do

    produto/processo, considerando a viso holstica; disponibiliza ao pblico em geral

    informaes sobre riscos ambientais de processos e produtos; estabelece critrios

    para tecnologia limpa, reciclagem atxica, marketing e comunicao ambiental (...).Nesta mesma linha de raciocnio, Furtado et al (1997) , adverte que os critrios da

    produo limpa vo alm, pois ultrapassam os elementos tcnicos e econmicos,

    previstos. PL incorpora componentes jurdicos, polticos e sociais, representados

    pela inter-relao de quatro princpios fundamentais precauo, preveno,

    integrao e controle democrtico.

    A Preveno da poluio, segundo o Ministrio do Meio Ambiente do Canad (Apud

    COELHO, 2002), pode ser definida como qualquer ao que reduza ou elimine agerao de poluentes ou resduos na fonte, realizada atravs de atividades que

    comprovem, encorajem ou exijam mudanas nos padres de comportamento

    industrial, comercial e geradores institucionais ou individuais.

    J a Lei Americana de Preveno da Poluio segundo Prestelo et al (Apud

    COELHO,2002), conceitua a mesma como quaisquer prticas, uso de materiais,

    processos que eliminem ou reduzam a quantidade e/ou toxicidade de poluentes,

    substncias perigosas ou contaminantes em sua fonte de gerao, prioritariamente

    reciclagem, tratamento ou disposio final (...).

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    luz da conceituao do Centro Nacional de Tecnologias Limpas - CNTL (apud

    COELHO, 2002), a preveno da poluio inclui prticas que eliminam ou reduzem

    o uso de materiais (nocivos ou inofensivos), energia, gua ou outros recursos, bem

    como privilegiam aqueles procedimentos que protegem os recursos naturais atravs

    da conservao e do uso mais eficiente.

    Segundo Kiperstok ( 2002) a P+2 representa um novo paradigma para equacionar

    o problema da poluio, pois transfere o eixo da discusso dos limites da fbrica ,

    onde se implantam as chamadas solues fim-de-tubo para o interior do processo

    produtivo (...) .

    As tcnicas de produo mais limpa consistem em medidas que podem ser

    implementadas no mbito da empresa, abrangendo desde mudanas deprocedimentos operacionais, at aquelas referentes a processos ou

    tecnologias(COELHO, 2002).

    Segundo Coelho (2002), h diversas vantagens comparativas das tecnologias

    centradas na produo mais limpa em relao s tecnologias fim de tubo: 1.

    potencial para solues econmicas na reduo da quantidade de materiais e

    energia usados; 2. induo de um processo de inovao dentro da empresa,

    devida uma intensa avaliao do processo de produo, minimizao deresduos, efluentes e emisses; 3. reduo dos riscos no campo das obrigaes

    ambientais e da disposio de resduos devido ao fato de que a responsabilidade

    pode ser assumida para o processo de produo como um todo; 4. facilitao do

    caminho em direo a um desenvolvimento econmico mais sustentado; 5. no

    requer custos adicionais com certificaes e desenvolvimento de modelos mais

    sofisticados de sistemas de informaes. Alm disso, segundo a mesma autora, a

    implementao de processos centrados na produo mais limpa (...) provoca umamudana de cultura organizacional, de forma a atender aos requisitos ambientais

    e de mercado no sentido da minimizao de resduos. Trata-se, portanto, de um

    programa que contempla os aspectos qualitativos e quantitativos de melhoria de

    produtos, servios e seus efeitos ao meio ambiente e qualidade de vida das

    pessoas.

    Em 1998, a UNEP lanou a Declarao Internacional sobre Produo Mais Limpa ,

    representando um conjunto de princpios que, quando implementados, leva ao

    aumento da conscientizao, compreenso e finalmente a uma maior demanda por

    Produo mais Limpa. (Apud COELHO, 2002). Esta declarao abrange aspectos

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    como: conscientizao, educao e treinamento em relao aos princpios e

    tcnicas da P+L dentro das organizaes e nos currculos educacionais;

    encorajamento da integrao de estratgias preventivas; pesquisa e

    desenvolvimento voltados para a P+L e comunicao s partes interessadas

    externas sobre os benefcios da P+L.

    A UNIDO/UNEP props uma metodologia de implementao de P+L numa empresa,

    que consiste na avaliao do processo produtivo, seja qual for a natureza, e na

    aplicao de tcnicas que possam envolver desde a mudana de matria-

    prima/insumo, consumo de gua e de energia, tecnologia, processo, procedimento

    operacional, at mesmo a mudana do prprio produto(...). Coelho, op.cit. afirma

    que a referida metodologia estabelece como principais elementos-etapas:1.sensibilizao P+L; 2. elaborao do diagnstico ambiental ; 3. elaborao de

    diagrama de bloco (inputs e outputs); 4. identificao das fontes geradoras de

    resduos (oportunidades de P+L); 5. levantamento quali-quantitativo dos resduos; 6.

    identificao das tcnicas de P+L; 7. implantao das tcnicas de P+L ; 8. avaliao

    dos resultados: benefcios econmicos, tecnolgicos e ambientais.

    A Minimizao de Resduos e o diagrama de La Grega

    Segundo Kiperstok (2002), resduos So matrias primas que no foram

    transformadas em produtos comercializveis ou em matrias primas a serem usadas

    como insumos em outros processos de produo. Eles incluem todos os materiais

    slidos, lquidos e gasosos que so emitidos no ar, na gua ou no solo, bem como o

    rudo e a emisso de calor.

    Na conceituao da NBR 10004, (ABNT, 1987) Resduos so materiaisdecorrentes de atividades antrpicas, gerados como sobras de processos ou

    aqueles que no possam ser utilizados com a finalidade para as quais foram

    originalmente produzidos.

    A Unio Europia (Apud DONAIRE, 1995) estabeleceu uma estratgia de gesto

    de resduos na qual props usos preferenciais dos mesmos, hierarquizados da

    seguinte maneira: 1) preveno dos resduos; 2) reciclagem e reutilizao; 3)

    otimizao da eliminao final e melhoria da monitorizao.

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    A preveno de resduos consiste basicamente na sua no gerao ou minimizao.

    Kiperstok ( op. Cit.) informa que o significado da minimizao de resduos reside

    em:

    Aumentar a eficincia ecolgica da empresa transformando toda a matria

    prima em produto;

    Beneficiar-se das vantagens comerciais aumentando a competitividade;

    Minimizar os custos de trabalho;

    Reduzir o impacto ambiental do processo produtivo.

    Para aplicao destes princpios e estratgias na carcicicultura, importante que se

    distingua ao longo de toda a cadeia produtiva do camaro marinho, as etapas

    crticas de gerao de resduos com maior potencial de impacto sobre o meio

    ambiente. Estes devem ser devidamente caracterizados e quantificados, inclusive

    quanto a aspectos de toxicidade e o efeito ecolgico dos mesmos, bem como

    avaliados os processos que determinam sua gerao, visando-se a proposio de

    mecanismos de no gerao, minimizao, reuso ou reciclagem.

    Faz-se importante tambm estabelecer indicadores ambientais em relao ao

    processo de gerao de resduos, num processo de avaliao e metas de

    desempenho ambiental a serem alcanadas.Os principais resduos gerados na cadeia produtiva do camaro consistem em:

    Resduos slidos gerados no beneficiamento do camaro, representados

    basicamente pela gerao de casca/cabeas, resultantes do processo de

    filetagem;

    Efluentes lquidos gerado no processo de beneficiamento, resultantes das

    guas de lavagens empregadas para a remoo de impurezas, conservao

    da qualidade e filetagem do camaro; guas residurias empregadas no laboratrio de produo de ps larvas;

    Efluentes lquidos resultantes do sistema de criao e engorda do camaro

    em viveiros escavados em terra.

    As referidas tipologias de resduos, sobretudo os efluentes, trazem em si um alto

    potencial de contaminao do ambiente estuarino onde so lanados, pois contm

    elevado teor de matria orgnica, nutrientes como fsforo e nitrognio, compostos

    de amnia, slidos em suspenso, que pode acarretar eutrofizao e contaminaoda qualidade de gua dos ecossistemas estuarinos.

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    Tratar a problemtica da minimizao de resduos luz da produo mais limpa,

    significa focar no apenas na ponta do processo, rendendo-se ao pressuposto da

    inevitabilidade de sua gerao, mas voltando-se para a proposio de tratamentos

    visando a sua reduo de carga, para lanamento no corpo receptor, dentro de

    padres pr-estabelecidos.

    O foco de ateno precisa ser mudado, impondo-se a necessidade de que a gesto

    de resduos se volte para o processo produtivo como um todo, que passa a ser

    analisado criticamente por dentro, isto , analisa-se o processo montante.

    (KIPERSTOK, 2002).

    No bojo do processo do cultivo de camaro preciso que se identifique claramente

    onde e como se do as prticas impactantes, os diversos resduos gerados emtermos qualitativos e quantitativos, para que se possa aplicar as ferramentas de P+L

    mais adequadas a cada um deles, visando minimizar a sua gerao, potencializar o

    uso de insumos e matrias primas, detectar as possibilidades de reuso e

    reciclagem, bem como a substituio de insumos e as mudanas e aprimoramentos

    tecnolgicos.

    Kiperstok ( 2002) desenvolveu interessante diagrama (Fig. 5) ilustrando a evoluo

    nos diversos enfoques de abordagem de resduos, no sentido de uma maiorecoeficincia.

    Disposio de resduos

    Tratamento

    Melhoria na Operao

    Modificao do processo

    Modificao do produto

    Consumo Sustentvel

    Reciclagem

    Ecologia Industrial

    Preveno

    Fim de

    Tubo

    Figura 5 Evoluo das prticas ambientais

    Fonte : Modificado de Kiperstok ( 2001)

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    Analisando-se o referido diagrama, o sentido de subida da escada representa o

    aumento progressivo na racionalidade e na produtividade no uso dos recursos

    naturais, aliando-se ganhos ambientais e econmicos . (Ibid)

    O diagrama pode ser dividido em trs nveis, conforme especificao e

    caractersticas discriminadas abaixo:

    Nveis mais baixos

    Expressam medidas fim de tubo;

    Os resduos so visualizados a partir de um prisma de inevitabilidade e

    busca-se apenas a reduo do impacto de seu lanamento no meio

    ambiente.

    Nveis Intermedirios

    Com enfoque e medidas centradas na preveno da poluio;

    Expressam prticas voltadas para a modificao do processo produtivo

    atravs da identificao de perdas e ineficincias;

    A implementao destas prticas implicam tanto na reduo do impacto nos

    pontos de lanamento como daqueles causados na extrao das matriasprimas.

    Nveis mais altos

    Representam medidas centradas na articulao com o mercado

    consumidor e com os outros setores produtivos

    Na mesma linha de abordagem e com uma sistematizao mais refinada, tem-se