SIC - São Tiago

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    FBRICAS DE BISCOITOS TRADICIONAIS: DIFERENCIAO PRODUTIVA

    MUNICIPAL E DESEMPENHO EMPRESARIAL

    Paula Cristina Resende, graduanda em Engenharia de Produo

    Sulem Campos Soares, graduanda em Engenharia de Produo

    Gabriella Maris Dias, graduanda em Engenharia de Produo

    Gustavo Melo Silva, Departamento de Cincias Administrativas e Contbeis (DECAC)

    RESUMO

    O municpio de So Tiago (MG) conhecido como a terra do caf com biscoito, fato este

    que fica evidente com o registro em 2011 no cadastro econmico do municpio de 61

    fbricas de biscoitos. Este artigo analisa a especializao territorial municipal no sistema

    de produo das fbricas de biscoitos locais e as possibilidades de otimizao de seu

    desempenho, por meio da pesquisa-ao com os resultados aferidos a partir da

    identificao dos processos-chave da fabricao de biscoitos que interferem no

    desempenho empresarial e apresenta uma proposta de indicadores de desempenho para

    as organizaes do sistema produtivo. Os resultados indicam uma expressiva relevncia

    monetria deste sistema produtivo tradicional para o desenvolvimento local e que

    aspectos de gesto de pessoas que podem ser implementados em paralelo ao sistema de

    medio de desempenho, com o objetivo de proporcionar a melhoria continua dos

    processos produtivos das fbricas de biscoitos tradicionais.

    INTRODUO

    A atividade turstica incentivou a produo tradicional em cidades vizinhas no

    Campo das Vertentes. O turismo beneficiou, por exemplo, o municpio de So Joo del-

    Rei, com a produo de peas de estanho, Resende Costa com o tear manual, So Tiago

    com fbricas de biscoitos e Prados com esculturas de madeira. A realidade do mercado

    tradicional e artstico localizado territorialmente no Campo das Vertentes chama a

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    ateno, conforme Silva (2010), da sociedade local e, a partir da dcada de 1990, aUniversidade Federal de So Joo del-Rei (UFSJ), de forma sistemtica, desenvolve

    parcerias e projetos de pesquisa sobre a realidade das organizaes neste local.

    Entretanto, a especificidade desse fenmeno socioeconmico tambm chamou a ateno

    de outras instituies de ensino superiorUniversidade Federal de Minas Gerais (UFMG)

    e a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) que a partir do final da dcada de

    2000 e associadas com pesquisadores da UFSJ iniciaram estudos sobre a produo

    regional associada s atividades econmicas locais.

    So Tiago um municpio localizado no interior de Minas Gerais, a 187 km de Belo

    Horizonte, com populao de 10.533 habitantes (IBGE, 2010). Segundo a tradio oral, a

    origem do povoado, atual municpio, se deu em 1708, inserida no contexto da descoberta

    do ouro e abertura dos caminhos de Minas Gerais (VIEGAS, 1972). Sua localizao foi

    considerada (...) um ponto de parada de viajantes, no chamado Caminho Novo, por

    onde transitavam comboios, manadas de gados, caravanas e tropas vindas do Rio de

    Janeiro rumo ao Triangulo Mineiro, Gois e vice-versa (ABREU, 2002, p.123). As

    fazendas recebiam e alimentavam os viajantes e caravanas. Como essas passagens

    eram constantes, as escravas e sinhs-moas especializaram-se no preparo de

    guloseimas de forno e fogo, tornando-as famosas quitandeiras em toda a regio

    (ABREU, 2002). Esta realidade socioeconmica da ocupao deste territrio contribuiu

    para o desenvolvimento do atual cenrio econmico da cidade marcado pela expressiva

    quantidade de fbricas de biscoitos tradicionais.

    Independente de suas caractersticas de base tradicional, do seu tamanho ou at

    mesmo de sua formalizao, as organizaes econmicas necessitam de informaes

    que proporcionem correes de distores de percurso como, por exemplo, diminuio de

    custos excessivos, investimentos necessrios em pessoal, otimizao da capacidade

    instalada ou at mesmo valorizao do conhecimento dos empregados na busca por

    desempenho empresarial. Entretanto, as organizaes econmicas que operacionalizam

    as atividades do sistema produtivo tradicional de fabricao de biscoitos em So Tiago

    no possuem sistemas de medio de desempenho (SMD) que possam auxiliar seus

    processos decisrios.

    A diviso do trabalho social, como estrutura de sustentao e fonte de

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    solidariedade de mercados, foi explorado neste trabalho como uma categoria analtica daorganizao industrial microrregional de municpios do Campo das Vertentes, seja de

    setores econmicos ou de cadeia de produo, localizada em mercados produtivos

    territorializados.

    Diante desta realidade, este trabalho apresenta uma anlise socioeconmica do

    mercado e o resultado da identificao dos processos-chave da fabricao de biscoitos

    que interferem no desempenho empresarial das fbricas e apresenta uma proposta de

    indicadores para as organizaes de sistemas produtivos tradicionais dos biscoitoscaseiros de So Tiago.

    SISTEMA DE MEDIO DE DESEMPENHO: O BALANCED SCORECARD (BSC)

    COMO REFERNCIA

    Para Meyer (2000), os poucos indicadores de desempenho interfuncionais das

    organizaes so tipicamente financeiros, como receita, margem bruta e custos das

    mercadorias vendidas e so utilizados apenas pelos gerentes. A utilizao de apenas

    medidas financeiras no capaz de captar e refletir as atividades criadoras de valor das

    organizaes modernas.

    Partindo do pressuposto de que os parmetros financeiros no so nicos para as

    empresas analisarem o desempenho e viabilidade em mdio e longo prazo, foi

    desenvolvido por Kaplan e Norton (1996 e 1997) o balanced scorecard(BSC), que um

    SMD embasado em quatro perspectivas: financeira, dos clientes, dos processos

    internose do aprendizado e conhecimento. O BSC inicialmente tinha como objetivo o

    aumento da abrangncia das medidas de desempenho da empresa sem inund-la de

    indicadores. Para Kaplan e Norton (2001), esta ferramenta gerencial capaz de motivar

    melhorias em reas crticas como produtos, processos, clientes e mercados. Alm disso,

    segundo Kaplan e Norton (1996, 1997), o BSC preenche a lacuna existente em outros

    sistemas gerenciais, ou seja, a falta de um processo sistemtico para implementar e obter

    um feedbacksobre a estratgia.

    Neste sentido, os resultados financeiros indicam o posicionamento de uma

    organizao no mercado, porm a utilizao exclusiva desses resultados no suficiente.

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    Esta perspectiva serve de foco para os objetivos e medidas das outras perspectivas. apartir dela que se definem as aes necessrias em relao aos processos internos, de

    clientes, funcionrios e sistemas de produo. Alm disso, ela representa a meta em

    longo prazo, que gerar retorno sobre o capital investido.

    Kaplan e Norton (1997) acreditam que um bom scorecard deve ser uma

    combinao adequada de medidas de resultados e vetores de desempenho. A construo

    de objetivos financeiros , geralmente, baseada em melhoria do lucro, reduo de custos

    e correspondncia s expectativas dos acionistas. O BSC permite tornar esses objetivosexplcitos e ajustar os objetivos financeiros s unidades de negcios nas diferentes fases

    do ciclo de vida. Aumento da taxa de vendas por seguimento, receita por funcionrio,

    lucratividade por clientes e percentual de receita por novos produtos so exemplos de

    indicadores financeiros (KAPLAN; NORTON, 1996, 1997, 2001b).

    A perspectiva dos clientes permite que as empresas alinhem suas medidas

    essenciais de resultados relacionados a clientes como satisfao, fidelidade, reteno,

    captao e lucratividade com segmentos especficos de clientes e mercado. Essas

    medidas de resultados representam metas para as operaes, logstica, marketing e

    desenvolvimento de produtos. Por sua vez, a perspectiva dos clientes tambm revela

    ocorrncias de aes passadas. O funcionrio s saber se ocorreu algum problema em

    relao satisfao do cliente quando ele demonstrar a sua insatisfao (KAPLAN;

    NORTON, 1996, 1997, 2001b).

    Para compensar os pontos negativos das perspectivas de aes passadas, Kaplan

    e Norton (1996 e 1997) desenvolveram a perspectiva dos processos internos e a

    perspectiva do aprendizado e crescimento. A partir da primeira, os executivos identificam

    os processos mais crticos para a realizao dos objetivos dos clientes e acionistas. Essa

    sequncia permite que os processos internos focalizem os objetivos j definidos. Os

    objetivos desta medida destacam os processos, que podem no estar sendo executados

    atualmente, mas so crticos para o sucesso da estratgia da empresa. Como exemplo de

    indicadores dos processos internos pode-se citar: investimento no desenvolvimento de

    novos produtos, retorno do investimento nos novos produtos, ndice da melhoria da

    qualidade, medidas de tempo do processo, taxas de defeitos em peas por milho,

    desperdcio e taxas de retrabalho.

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    A quarta e ltima perspectiva a do aprendizado e crescimento organizacional.Os objetivos e medidas definidos por esta perspectiva oferecem a infraestrutura que

    possibilita a consecuo dos objetivos das demais. Os autores revelam trs categorias

    principais para o aprendizado e crescimento: capacidade dos funcionrios, dos sistemas

    de informao e dos procedimentos. Investimentos em qualificao de funcionrios,

    sistemas e processos que produzam as capacidades organizacionais necessrias para o

    retorno em longo prazo, portanto vetores de desempenho futuro. Medidas do nvel de

    satisfao dos funcionrios, sua reteno e produtividade, tambm so exemplos deindicadores que podem auxiliar no melhor desempenho da operao (KAPLAN; NORTON,

    1996, 1997, 2001b).

    METODOLOGIA

    Conforme Thiollent (1997), a estratgia metodolgica foi a Pesquisa-Ao que

    tem como fases, segundo Foster (1972): diagnstico, em que indicado o poder ou no

    da liderana para a ao; participao com caracterizao do comprometimento do cliente

    com a ao; pesquisa de campo, em que os aspectos essenciais das aes propostas e

    das mantidas so registrados; e os grupos de controle que utilizam e comparam os

    tratamentos e seus resultados.

    No diagnstico foi realizada reviso bibliogrfica sobre sistemas de medio de

    desempenho, desempenho empresarial e balanced scorecard, coleta de dados

    secundrios sobre o desenvolvimento da fabricao de biscoito e histria do municpio de

    So Tiago e contatos iniciais para coleta de dados secundrios na Associao

    Santiaguense dos Produtores de Biscoito (Assabiscoito) e na Prefeitura Municipal. Nestas

    organizaes foram identificadas a relao de associados da Assabiscoito (2011) e a

    relao de contribuintes do cadastro econmico (PREFEITURA MUNICIPAL DE SO

    TIAGO, 2011). Em 2011 existiam, conforme a Prefeitura Municipal de So Tiago (2011),

    61 fbricas de biscoitos registradas no cadastro econmico municipal. Entretanto, este

    cadastro pode estar desatualizado, por falta de baixa do registro da empresa, como

    tambm, por existir empresas no registradas formalmente.

    Na etapa de participao foram visitados e entrevistados, por meio de tcnicas de

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    entrevista no diretiva e semiestruturadas, proprietrios de fbricas associados daAssabiscoito. A proposta inicial foi entrevistar os 23 associados, entretanto, quatro

    proprietrios no quiseram participar e outros seis no foram encontrados aps algumas

    tentativas, portanto, participaram da pesquisa 13 pessoas. Os resultados apresentados

    correspondem a 12 entrevistados, j que uma das entrevistas foi considerada como teste

    piloto. Ela foi realizada separadamente para testar a aplicabilidade do roteiro, o

    posicionamento do entrevistado e para a realizao de uma estimativa da durao das

    entrevistas.A pesquisa de campo foi realizada por meio da elaborao do fluxograma de

    produo e pelas entrevistas aos proprietrios. O roteiro da entrevista foi estruturado em

    trs mdulos: a) Perfil dos entrevistados; b) Principais problemas que ocorrem na fbrica;

    c) Perfil das fbricas de biscoito. A construo do roteiro foi definida a partir de visitas

    feitas anteriormente em algumas padarias, que foram escolhidas por indicao da

    Assabiscoito. Seis empresas foram visitadas e o processo de produo dos principais

    biscoitos foi acompanhado desde a transformao da matria-prima at o produto final.

    Os dados foram organizados com o objetivo de caracterizar e descrever as fbricas de

    biscoito de So Tiago e com base nas informaes encontradas, os processos chaves

    foram identificados e foi proposto um sistema de indicadores de desempenho para as

    mesmas. Durante o processo de anlise de dados, foram realizadas estimativas de

    faturamento e produo anual das empresas, baseadas nas 23 fbricas associadas

    Assabiscoito e considerados 22,5 dias teis de trabalho por ms. Os resultados

    encontrados foram analisados de forma comparativa com parmetros da indstria

    nacional de biscoitos disponibilizados pela Associao Nacional da Indstria de Biscoitos

    (ANIB, 2009).

    A ltima etapa, de grupos de controle foi desenvolvida de forma coletiva com a

    discusso dos resultados obtidos com algumas pessoas envolvidas com o projeto e com a

    implementao piloto dos indicadores. O sistema de desempenho proposto foi executado

    durante um perodo de 15 dias na padaria piloto, aps o treinamento dos funcionrios e

    coleta de dados para alimentar os indicadores.

    Inicialmente, os resultados obtidos no trabalho foram apresentados aos

    proprietrios da padaria piloto. Alguns ajustes foram feitos nos indicadores para se

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    adaptar ao perfil da empresa e incluir as sugestes propostas por eles. Em seguida, foramcoletados dados para alimentar formulrios eletrnicos em planilhas do Microsoft Excel.

    Os formulrios incluam os nomes dos funcionrios, a funo de cada um, as despesas

    gerais fixas e variveis, os tipos de biscoitos produzidos e sua receita, assim como o

    preo de custo das matrias-prima e embalagens.

    Com os dados j nos formulrios eletrnicos estes foram impressos e entregues

    para cada funcionrio, conforme a sua funo. Todos tinham em comum os campos de

    horas trabalhadas por dia e o nvel de satisfao. Especificamente por funes, osformulrios foram diferenciados. Por exemplo, para a funo de enroladeira foram

    includos indicadores de disponibilidade de latas para assar biscoitos, disponibilidade dos

    equipamentos e ndice de inovao e melhorias no processo ou receitas. Para a auxiliar

    administrativa de vendas existia coleta de informaes sobre a quantidade de pacotes de

    biscoitos devolvidos e o ndice de reclamao dos clientes.

    O sistema de medio de desempenho foi apresentado aos funcionrios e estes

    foram orientados como preencher os formulrios. Durante 15 dias, estes preencheram os

    formulrios e, aps este perodo, os dados foram coletados e sistematizados por meio do

    Microsoft Excel. Como consequncia do processo, tabelas e grficos foram gerados a fim

    de reproduzir os resultados encontrados e facilitar a anlise dos mesmos. Para coleta de

    sugestes foi disponibilizada uma caixinha para que os funcionrios pudessem expressar

    suas opinies.

    MERCADO TRADICIONAL MICRORREGIONAL E DESEMPENHO DAS FBRICAS DE

    BISCOITOS

    O Campo das Vertentes, mesorregio de Minas Gerais tem hoje uma srie de

    atividades econmicas tursticas que foram viabilizadas pelo contexto histrico, polticas

    pblicas e o interesse da iniciativa privada, que esto presentes, conforme Oliveira e

    Janurio (2007), no entorno das cidades de So Joo del-Rei e Tiradentes. O cenrio

    regional socioeconmico a partir da dcada de 1980 do sculo XX caracterizado pelo

    potencial turstico, principalmente pelo turismo relacionado com o patrimnio histrico e

    cultural regional, que est relacionado com a explorao do ouro no sculo XVIII e que

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    atualmente tem como maior desafio a sustentabilidade das atividades econmicas naregio (LVARES; CARSALADE, 2005).

    As relaes histricas e econmicas so evidentes no Campo das Vertentes,

    especificamente nos municpios no entorno das cidades de So Joo del-Rei e

    Tiradentes. No entorno do municpio de So Joo del-Rei, conforme Abreu (2002), os

    municpios de Dores de Campos, Prados, Resende Costa e So Tiago podem ser

    considerados como aglomerados de empreendedores de base artesanal. Para Abreu

    (2002), os municpios de Dores de Campos e Prados formam um aglomerado da atividadeprodutiva coureira, o municpio de Resende Costa um aglomerado da tecelagem artesanal

    e So Tiago um aglomerado da produo de biscoitos (ABREU, 2002).

    A atividade coureira em Dores de Campos e Prados est associada ao fato,

    conforme Abreu (2002, p. 123), de que este territrio foi no sculo XIX [...] passagem de

    tropas e boiadas vindas principalmente do Rio de Janeiro em direo capital de Minas

    Gerais, Ouro Preto, o que criou oportunidades econmicas que estimularam a fundao,

    em 1835, de uma indstria de selas no lugar chamado de Povoado do Patusca, atual

    municpio de Dores de Campos. O mercado da produo da atividade coureira atual

    nesses municpios composto, conforme Abreu (2002, p. 87), por: selarias37 em Dores

    de Campos e 8 em Prados; curtumes 11 em Dores de Campos e 1 em Prados; outros

    artigos em couro23 em Dores de Campos e 14 em Prados.

    A produo de biscoitos em So Tiago est associada ao fato, conforme Abreu

    (2002, p. 123), de que esse territrio foi, entre os sculos XVIII e XIX, ponto de parada

    para viajantes que faziam o percurso entre o Rio de Janeiro e as atuais regies do

    Tringulo Mineiro e Gois, e nas fazendas da regio existia a tradio de as sinhs-moas

    e escravas se esmerarem na confeco de guloseimas de forno e fogo para os viajantes.

    As receitas caseiras dessa poca a partir da dcada de 1990 fomentaram o

    desenvolvimento de produtos em padarias, que se proliferaram pela sede do municpio.

    No mesmo sentido, conforme Silva (2010), a localidade que atualmente o

    municpio de Resende Costa (MG) j teve vrias atividades produtivas que fomentaram

    organizaes para atender no s a demanda de um mercado temporal, mas,

    principalmente, s necessidades da comunidade no s por mercadorias, ou seja, para o

    consumo, mas para atender s demandas sociais da comunidade de gerao de trabalho

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    e renda, que viabilizaram a subsistncia dos trabalhadores locais. Por exemplo, no sculoXVIII as organizaes locais eram elos verticais do sistema de explorao do ouro,

    abastecendo de produtos agropecurios So Joo del-Rei e Tiradentes. No sculo XX

    eram elos verticais da indstria txtil mineira, principalmente a partir da proximidade

    geogrfica com o municpio de So Joo del-Rei, o que possibilitou o reaproveitamento do

    refugo de malharia de seu parque fabril obsoleto na tecelagem tradicional local (SANTOS;

    SILVA, 1997). Esse territrio vivenciou, em seu processo histrico, organizaes sociais

    que lidaram com relaes de trabalho-escravo at a produo domiciliar e a organizaoburocrtica comercial do mercado da tecelagem tradicional do municpio neste incio do

    sculo XXI (SILVA, 2010).

    As caractersticas histricas de Dores de Campos, Prados, Resende Costa, So

    Joo del-Rei, So Tiago e Tiradentes indicam que as atividades produtivas atuais so

    consequncia de uma singularidade herdada pela tradio de seus moradores que

    ocupam esses territrios, por meio de suas geraes passadas, desde o sculo XVIII. Os

    caminhos, fazendas, colonizadores, escravos no sculo XVIII no so uma realidade de

    um nico municpio deste territrio, ou seja, os caminhos no passavam somente por So

    Joo del- Rei e Tiradentes, eles tambm passavam por Dores de Campos, Prados, So

    Tiago e Resende Costa, no entanto, conforme Silva (2010), a tradio, comum a esses

    lugares, foi a base que possibilitou sua diferenciao. Esta ocorreu principalmente,

    conforme Silva (2010), a partir da dcada de 1990, em que a expanso do consumo

    estimulou a diviso do trabalho social no s nos processos de produo de um

    municpio, mas o conjunto de aglomerados produtivos tambm pode ser compreendido

    como territrios que se especializaram em atividades com origem em processos

    produtivos caseiros e artesanais, que foram possveis, conforme lvares e Carsalade

    (2005) e Oliveira e Janurio (2007), com a expanso turstica do final do sculo XX.

    Conforme Silva (2010), esta atividade econmica propiciou novas oportunidades de

    desenvolvimento e expanso da diferenciao entre os territrios, que foram solidrios na

    explorao das oportunidades tursticas com o oferecimento de produtos que simbolizam

    a tradio da colonizao dessa regio mineira. Nesses municpios, o sucesso econmico

    de cada organizao passou a depender, de acordo com Diniz et al. (2006), de sua

    capacidade de especializao naquilo que esses grupos sociais conseguiram estabelecer

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    vantagens comparativas efetivas e dinmicas, ou seja, territrios em que foram criadasorganizaes locais de produtos em couro, biscoitos e tecidos. Uma possvel contribuio

    para continuidade deste processo de especializao e diferenciao que culminou no

    sucesso econmico destes territrios, a partir de suas atividades produtivas tradicionais,

    pode estar associadas a melhoria do desempenho organizacional, neste municpio, das

    fbricas de biscoito.

    As aes inovadoras de especializao e organizao do trabalho, promovidas

    nesse territrio pelo empreendedor fabricante de biscoitos, foram associadas s relaessociais que propiciaram a construo social do mercado tradicional e especificamente da

    especializao no municpio de So Tiago. Neste, a relao entre economia e geografia

    foi uma realidade que pde ser observada por meio de sistemas de produo

    territorializados (LEMOS, 2006), os quais tiveram nas economias externas locais, fatores

    determinantes para prpria existncia da aglomerao (SUZIGAN et al., 2005).

    Entretanto, como salienta Conti (2005), o territrio nunca cria redes diretamente, mas

    favorece a constituio de relaes entre atores socialmente prximos.

    Para Durkheim (1999), o mercado amplia-se com a existncia de mais necessidades

    a satisfazer, e um aumento da populao e densidade industrial cria as bases para uma

    nova dinmica da concorrncia, sendo necessrio haver uma eliminao ou uma nova

    diferenciao do trabalho social. Portanto, o aumento das necessidades do mercado local,

    neste caso, propiciou e fomentou a diviso do trabalho social, o que, consequentemente,

    resultou na multiplicao das organizaes fabricantes de biscoitos.

    A competio acirrada era uma realidade no s no mercado consumidor, mas

    tambm no mercado de produo, no qual os proprietrios dos estabelecimentos

    comerciais exerciam o papel de organizar e racionalizar o sistema produtivo. Ficou claro

    que a diferenciao e competio vm gerando solidariedade, como evidenciado por

    Durhkeim (1999), formando redes de pequenas empresas integradas por laos sociais,

    principalmente familiares, e que dependem da cooperao, mas tambm de competio.

    A confiana necessria para o desenvolvimento das fbricas de biscoito desse territrio foi

    proporcionada, em consonncia com Suzigan et al. (2007), por uma aglomerao de

    unidades interligadas num mix de competio e cooperao, que foi possvel graas

    expanso econmica da tecelagem tradicional, proporcionada pelo setor turstico, bem

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    como devido s relaes familiares que exerciam o papel do contrato social.Entretanto, vale ressaltar, conforme Durkheim (1999), que a vida coletiva no

    nasce da vida individual, mas, ao contrrio, a segunda que nasce da primeira. apenas

    sob essa condio que se deve explicar como a individualidade pessoal das unidades

    sociais pde formar-se e crescer sem desagregar a sociedade. Para que a diviso do

    trabalho possa nascer e crescer, no basta que existam nos indivduos germes de

    aptides especiais, nem que eles sejam estimulados a variar no sentido dessas aptides,

    mas necessrio, alm disso, que as variaes individuais sejam possveis (DURKHEIM,1999). Como pde ser identificado na realidade socioeconmica do local aqui estudado,

    as mudanas que ocorreram no cotidiano de seus moradores e, especificamente, na

    fabricao de biscoitos foram consequncias de presses de mercado que estabeleceram

    a diferenciao do trabalho social, bem como a organizao e racionalizao, por meio da

    iniciativa empreendedora local dos proprietrios das fbricas.

    FBRICAS DE BISCOITOS TRADICIONAIS, PROCESSO PRODUTIVO E

    DESEMPENHO EMPRESARIAL

    Como descrito na seo metodolgica, foram visitadas 13 fbricas de biscoitos

    tradicionais. Segundo classificao da Cartilha do Simples Nacional (CONANPI, 2008),

    existem duas classificaes para as empresas optantes pelo simples nacional:

    Microempresa (ME) e Empresa de Pequeno Porte (EPP). As Microempresas devem ter

    receita bruta anual igual ou inferior 240 mil reais, enquanto as que se enquadram no

    regime de Empresa de Pequeno Porte so aquelas que tm receita anual bruta maior de

    240 mil e inferior a 2,4 milhes de reais. Mesmo que a empresa esteja enquadrada na

    condio de ME e EPP ela pode optar por outro regime tributrio.

    Conforme Brasil (2006), a partir de janeiro de 2012, as faixas de enquadramento

    das empresas sofreram um reajuste de 50%, sendo que as Microempresas devem ter

    receita anual bruta at 360 mil reais e a receita anual bruta nas Empresas de Pequeno

    Porte deve ser superior a 360 mil e inferior a 3,6 milhes de reais. Diante destas

    classificaes podemos afirmar, a partir dos dados da pesquisa que as fbricas de

    biscoitos tradicionais de So Tiago, podem ser classificadas como Empresas de Pequeno

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    Porte, considerando que o faturamento anual das mesmas foi estimado em 386 mil reais.

    Perfil dos entrevistados e das organizaes tradicionais

    Os entrevistados eram proprietrios das fbricas, destes sete eram do sexo

    feminino e cinco do sexo masculino. Sete pessoas tm faixa etria entre 30 e 45 anos,

    trs entre 45 e 60 anos, uma pessoa entre 18 e 25 anos e uma entre 25 e 30 anos. O

    grau de escolaridade dos entrevistados era de nove com ensino mdio completo, um comensino fundamental incompleto, um com ensino mdio incompleto e um com ensino

    superior completo. A maior fonte de renda dos entrevistados provinha da fabricao de

    biscoitos, exceto para um dos proprietrios que tinha a pecuria como principal fonte de

    renda.

    Das organizaes analisadas, sete iniciaram suas atividades entre os anos de 2000

    e 2010 e cinco antes do ano de 2000. A principal motivao para ingresso dos

    proprietrios no setor de produo de biscoitos foi a tradio familiar, sucedida pela

    influncia da cultura e tradio da cidade e pela falta de opo de gerao de renda e, por

    ltimo, como forma de complementao da renda da famlia.

    Onze fbricas realizam suas atividades em imveis prprios e quitados e apenas

    um imvel era alugado. O nmero de trabalhadores variava, entre as fbricas de 11 a 20

    pessoas. A relao de trabalho informal estava presente no setor, porm, em mdia,

    71,35% funcionrios de cada fbrica eram registrados e trabalhavam com carteira

    assinada. De todos os proprietrios, nove afirmaram possuir pelo menos um membro da

    famlia trabalhando na empresa. Este dado vai de acordo com os motivos alegados pelos

    entrevistados para o incio das atividades e com a tradio familiar destes sistemas

    produtivos.

    Metade das fbricas oferecia treinamento a todos os funcionrios, em quatro

    empresas estes eram ofertados somente para funcionrios sem experincia e dois

    entrevistados informaram que no ofertavam quaisquer treinamentos. A responsabilidade

    de treinar funcionrios, em grande parte, de empresas especializadas, como uma

    empresa de consultoria em nutrio e higienizao e outra de segurana de trabalho.

    Outra forma de acrescentar contedo ao treinamento era a transmisso de

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    conhecimentos de funcionrios com mais experincia e dos proprietrios aos recm-contratados.

    A produo era destinada principalmente ao comrcio de atacado e uma pequena

    parcela da produo destinava-se ao comrcio local. A definio do volume de produtos a

    ser produzida era feita em seis das fbricas, a partir dos pedidos feitos pelos clientes e no

    restante, a produo era baseada nos pedidos e na experincia e manuteno de

    estoques. O forno turbo e a amassadeira eram equipamentos utilizados na produo de

    biscoito por todas as empresas. Equipamentos mais sofisticados como a empacotadeiraeram encontrados em apenas uma das empresas.

    A produo diria mdia no perodo de menor demanda, girava em torno de 310 kg

    e a produo diria mdia no perodo de maior demanda, por volta de 400 kg.

    Considerando as 23 empresas associadas Assabiscoito, estima-se que a produo

    mdia anual das associadas pode chegar a aproximadamente 2.204 toneladas. Esta

    produo equivale a 2,06% da produo nacional de biscoitos (ANIB, 2009). Em mdia,

    182 kg do biscoito mais vendido de cada fbrica era produzido diariamente, sendo o valor

    para cada 100 g de R$ 0,73. A produo do segundo biscoito mais vendido equivale, em

    mdia, a 19 kg ao dia e o seu valor para cada 100 g de R$ 0,54. Baseando-se nos

    dados dos dois principais produtos das fbricas visitadas, estima-se que o faturamento

    anual das fbricas associadas poderia chegar a 8.9 milhes de reais. Portanto, o

    faturamento mdio anual dos dois principais produtos por fbrica seria de,

    aproximadamente, 386 mil reais.

    Processo produtivo nas fbricas tradicionais

    As etapas do processo de fabricao identificadas foram: (1) separar os

    ingredientes, (2) misturar os ingredientes, (3) enrolar os biscoitos, (4) assar os biscoitos,

    (5) trocar os biscoitos j assados de recipiente, (6) empacotar os biscoitos, (7) conferir o

    peso dos pacotes de biscoito, (8) etiquetar os pacotes de biscoito e (9) armazenar os

    pacotes de biscoito.

    De acordo com os entrevistados, a maioria das reclamaes dos trabalhadores do

    processo produtivo se referia s condies do ambiente de trabalho, como: calor, odor,

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    espao fsico, seguido por insatisfaes quanto ao salrio e dores no corpo, sendo asmos o principal local da dor. Para os proprietrios o principal problema enfrentado no

    processo de fabricao estava relacionado falta de mo de obra. Outro aspecto que foi

    ressaltado pelos entrevistados foi a grande concorrncia do setor na cidade de So Tiago.

    Outras questes foram citadas como a falta de matria prima, de equipamentos e de

    espao fsico.

    Para a grande maioria, o processo era mais lucrativo quando existia a utilizao de

    maquinrio na produo, como amassadeiras e pingadeiras e quando se tratava debiscoitos que no exigiam cobertura, recheio ou outro acabamento. Outro aspecto que

    aumenta a lucratividade est relacionado disponibilidade de latas para o

    armazenamento dos biscoitos levados ao forno.

    Os entrevistados indicaram como problemas para o processo produtivo:

    esquecimento de algum ingrediente da massa (91,67%), geralmente, o fermento e o sal;

    quebra de biscoitos (83,33%); biscoitos queimados ou mal assados (75%); biscoitos com

    tamanhos diferentes (75%); massa no ponto inadequado (58,33%); insumos espalhados

    pelo cho, especificamente a farinha (41,67%); e, variao no peso do pacote de biscoito

    (33,33%). Estes problemas prejudicavam o desempenho da fbrica uma vez que, em sua

    maioria, indicavam desperdcios. Os entrevistados apontaram como medidas adotadas

    para reduzir a ocorrncia dos mesmos, a realizao de reunies e treinamentos dos

    funcionrios. O erro na execuo de alguma etapa no processo produtivo no era

    descontado do salrio dos funcionrios em quatro fbricas. No restante, o valor do

    prejuzo s era descontado na reincidncia do erro.

    De acordo com os entrevistados, entre os fatores que mais interferiam no aumento

    da produtividade era a motivao dos funcionrios, o acompanhamento do processo de

    produo pelo proprietrio ou gerente e a qualidade da matria prima. Outros aspectos

    tambm foram mencionados, como condies climticas, disponibilidade de

    equipamentos, disponibilidade de latas e um menor desperdcio.

    O destino dos biscoitos quebrados e de tamanhos diferentes, na maioria das vezes,

    era a venda por preos mais baixos. J os biscoitos queimados eram vendidos a preos

    mais baixos ou eram utilizados como rao para animais. Apenas sete fbricas

    contabilizavam a quantidade de biscoitos que eram descartadas durante uma semana.

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    Em todas fbricas a quantidade era inferior a 5 kg por semana. J a quantidade debiscoitos que eram vendidos a preo mais baixo varia de 5 a 30 kg por semana, obtendo

    uma mdia de 14,33 kg semanais por fbrica. O biscoito fora de padro era vendido em

    recipientes como baldes, com uma perda de 40% a 60% no valor de um produto padro.

    Estimou-se que o prejuzo poderia chegar a 17 toneladas se considerarmos a quantidade

    de biscoitos vendidos como fora de padro nas fabricas associadas Assabiscoito. Isso

    corresponde a uma perda monetria de, aproximadamente, 125 mil reais por ano, ou seja,

    um prejuzo anual de mais de 5 mil reais por fbrica.Para os entrevistados as principais caractersticas valorizadas pelos consumidores

    eram o preo e a aparncia do produto. Caractersticas como o tamanho, a cor, o sabor e

    a diferena no peso dos pacotes de biscoito tambm foram mencionados.

    Indicadores de desempenho empresarial e implementao

    Kaplan e Norton (1997) acreditam que cada uma das quatro perspectivas do BSC

    pode exigir de quatro a sete medidas distintas em seus sistemas de medio de

    desempenho. Para o caso das fbricas de biscoitos artesanais de So Tiago, sugeriu-se a

    utilizao de 18 indicadores, sendo quatro financeiros, dois para a perspectiva dos

    clientes, oito para os processos internos e dois para a perspectiva do aprendizado e

    crescimento.

    A utilizao de indicadores para analisar o desempenho foi uma inovao

    administrativa para as fbricas de biscoitos de So Tiago. A elaborao de alguns

    indicadores foi feita a partir medidas de avaliao e medio j existentes, assim como,

    dentro das possibilidades de cada fbrica, o que justificou o fato de um nmero maior de

    indicadores na perspectiva dos processos internos. Os indicadores criados foram simples

    e usuais e, podem sofrer alteraes e melhorias de acordo com cada empresa.

    Conforme Kaplan e Norton (1996; 1997), a perspectiva financeira relaciona a

    lucratividade e a produtividade com a quantidade dos biscoitos vendidos. Os indicadores

    sugeridos foram: a) lucro por tipo de biscoito busca definir qual o biscoito mais lucrativo;

    b) quantidade vendida por tipo de biscoito determina qual o biscoito mais vendido; c)

    receita por funcionrio tem o objetivo de quantificar a rentabilidade por trabalhador; d)

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    receita por mquinamedir a produo de cada mquina.

    Ainda segundo os autores, a qualidade relacionada com a satisfao do

    consumidor por meio da perspectiva dos clientes. Portanto, foi sugerido indicadores

    baseados no retorno dos clientes, como: a) Quantidade de pacotes de cada tipo de

    biscoito devolvida demonstra a insatisfao dos consumidores diante dos produtos

    comprados; b) Quantificao das reclamaes reincidentes foca qual aspecto no est

    dentro do padro de qualidade exigido pelos clientes.

    Os objetivos dos acionistas e dos clientes so alcanados a partir da realizao dosprocessos internos, de acordo com Kaplan e Norton (1996 e 1997). Portanto, os

    indicadores proposto para esta perspectiva foram: a) disponibilidade de latas para assar

    os biscoitos indica se h perda na produtividade quando no h latas disponveis no

    momento que se fazem necessrias; b) disponibilidade de equipamento quantifica o

    quanto deixou de ser produzido devido ao no funcionamento das mquinas; c)

    quantidade de matria prima no cho mede o desperdcio de matrias primas

    imprprias para o uso; d) quantidade de biscoitos descartados quantifica biscoitos que

    caram no cho ou que esto inadequados para o consumo; e) quantidade de biscoitos

    fora de padrobiscoitos que esto fora do padro de qualidade, porm ainda podem ser

    consumidos e, por isso, so vendidos a um preo mais baixo; f) quantidade de receitas

    que no alcanaram o ponto adequado identifica quantas receitas no chegaram ao

    ponto adequado, dificultando a etapa de enrolar os biscoitos; g) incidncia de receitas que

    esto faltando algum ingrediente quantifica o total de receitas que esto com algum

    ingrediente faltando, ou seja, que no pode ser reaproveitada; h) criao de novos

    produtosincentiva a inovao ou melhoria dos produtos existentes.

    Por fim, a perspectiva docrescimento e aprendizagem, conforme Kaplan e Norton

    (1996 e 1997), possibilita a concretizao dos objetivos das perspectivas anteriores.

    Investimentos em qualificao de funcionrios, sistemas e processos que geraro retorno

    em longo prazo. Os indicadores que podem ser utilizados foram: a) produtividade por

    funcionrio mostra o rendimento do funcionrio durante as horas trabalhadas; b) nvel

    de satisfao dos trabalhadores mede a qualidade de vida no trabalho sob o ponto de

    vista do funcionrio.

    O objetivo de um projeto piloto auxiliar na identificao de futuros problemas e

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    melhorias que podem ser implementadas em um determinado sistema. Ao apresentar osistema para os proprietrios da empresa piloto, eles sugeriram a criao de mais um

    indicador: quantidade de biscoitos empacotados. Dessa forma, eles poderiam comparar

    os resultados com a quantidade de biscoitos produzidos. Alm disso, sugeriu-se a diviso

    dos tipos de biscoitos em dois grupos - biscoitos produzidos nas mquinas e biscoitos

    produzidos manualmente; com o objetivo de facilitar o controle.

    O projeto piloto indicou a necessidade de treinamento dos funcionrios a fim de

    motiv-los a participar do projeto. O ndice de participao dos funcionrios chegou a33%, ou seja, apenas 16 funcionrios de um total de 49 contriburam para o processo.

    Alm disso, apenas dois funcionrios escreveram na caixinha de sugestes, sendo que

    um deles sugeriu o aumento de salrio.

    CONCLUSO

    A organizao do mercado da fabricao de biscoitos foi possvel, por meio dos

    empreendedores locais, com a utilizao de prticas como a diviso das tarefas, a

    especializao do trabalho, controle rgido da produo, mecanizao e remunerao

    baseada em produtividade. O desenvolvimento socioeconmico desse mercado pode ser

    compreendido a partir das novas combinaes desenvolvidas pelos empreendedores

    locais, proprietrios das fbricas locais, que atuaram com racionalidade empreendedora e

    burocrtica. Os proprietrios exerceram poder a partir do conhecimento sobre os canais

    de fornecimento e consumo, o que representou um elo entre a demanda e a oferta do

    mercado com a produo de biscoitos locais.

    As indstrias de biscoito de So Tiago no possuem em execuo nenhum sistema

    de medio de desempenho. Tendo como referncia o BSC e dados desta pesquisa, foi

    possvel elaborar indicadores que podem auxiliar as fbricas na melhoraria da gesto do

    desempenho organizacional.

    A fim de alcanar melhor desempenho, importante que haja melhoria nas

    condies de trabalho dos funcionrios com o objetivo de motiv-los. A motivao dos

    funcionrios foi vista pelos proprietrios como um dos fatores mais importantes para o

    aumento da produtividade. Uma maneira de contribuir para isto por meio de incentivos

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    para a melhoria, dessa forma, os funcionrios sero beneficiados com o alcance de metase melhorias na produo. Kaplan e Norton (1997), afirmam que funcionrios satisfeitos

    so precondio para o aumento da produtividade, da capacidade de resposta, da

    qualidade e da melhoria do servio ao cliente de uma organizao.

    O treinamento de trabalhadores no estava presente em todas as empresas, assim

    como no existia nenhum sistema responsvel por medir o desempenho dos mesmos.

    Dessa forma, melhorias no processo de treinamento devem ser implementadas para o

    sucesso do SMD proposto. O sistema de desempenho proposto no padronizado, vistoque cada empresa possui suas singularidades, portanto, em sua implementao, ajustes

    podem ser necessrios para adequao da realidade organizacional de cada fbrica.

    AGRADECIMENTOS

    Os autores deste trabalho agradecem ao apoio da Associao Santiaguense dos

    Produtores de Biscoito (Assabiscoito) e a todos os proprietrios das fbricas de biscoitos

    de So Tiago.

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