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História das Religiões 31 SIKHISMO Aspectos históricos. O sikhismo é uma religião quase desconhecida na cultura das civilizações ocidentais. Seus seguidores se encontram, na sua maioria, na região indiana de Punjabe, e a história de sua fundação se observa em períodos recentes. O corpo doutrinário se prende a propósitos que, aos olhos dos mulçumanos, mais buscam uma utopia do que uma fusão de conceitos, já que o principal objetivo foi unir duas das maiores correntes religiosas do planeta: o hinduísmo e o islamismo. Depois do jainismo e do budismo, o sikhismo se constitui na terceira maior ramificação do hinduísmo. Sua implantação entre os homens é conferida a Nanaque, que, para esse processo de fundição doutrinária, importou uma série de elementos da cultura mulçumana. Nanaque, o precursor, nasceu em Talwandi, uma aldeia indiana que distava de Lahore, cinqüenta quilômetros, a Sudeste da capital, Punjabe. Seu nascimento é datado em 1469 d.C. Seus pais estavam inseridos na sociedade local como cidadãos comuns, compondo o quadro de seguidores do hinduísmo. O folclore da época cita Nanaque mais precisamente em seu estágio juvenil, quando aparece dirigindo exortações aos mestres hindus. Acredita-se que Nanaque, ainda em sua juventude, teria discursado a dois sacerdotes brâmanes do hinduísmo acerca do sacramento material. Independente da veracidade histórica sobre essa demonstração de sabedoria, certo é que Nanaque preferia se prender às práticas religiosas, como a meditação e os rituais, do que ao trabalho temporal. Indisposto a seguir o caminho profissional escolhido por seus pais, tornou-se malvisto no seio familiar, todavia, aceitou um cargo governamental oferecido por seu cunhado, em outra cidade. Sua preocupação, porém, continuaria sendo a busca incansável pela verdade religiosa, admitindo para si a crença de que, ao ter alcançado trinta e três anos de idade, recebera o divino chamamento. Conta à tradição que, em dada oportunidade, Nanaque teria desaparecido na floresta enquanto se banhava, tendo sido supostamente tomado para a presença de Deus, segundo explicou posteriormente em sua própria visão. Após lhe oferecer uma taça de néctar, Deus teria dito a Nanaque que estava com ele e com aqueles que tomassem seu nome, e acrescentou: “Vai e repete meu nome, ensinando a todos a que procedam da mesma forma, praticando a repetição do meu nome, a caridade, as abluções e a meditação [...] meu nome é Deus, o Brahma primeiro, e tu, o guru divino”. Decorridos três dias desse fato, Nanaque ressurgiu na floresta e bradou sobre a inexistência de hindus ou islâmicos. Acompanhado do amigo Mardana, poeta e trovador, iniciou a propagação de sua experiência e de seus conceitos, não alcançando, entretanto, maciça simpatia entre seus ouvintes, optando ambos pelo retorno a Punjabe, onde a adesão de futuros

Sikhism o

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O Sikhismo na História das Religiões

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  • Histria das Religies 31

    SIKHISMO

    Aspectos histricos.

    O sikhismo uma religio quase desconhecida na cultura das civilizaes

    ocidentais. Seus seguidores se encontram, na sua maioria, na regio indiana de

    Punjabe, e a histria de sua fundao se observa em perodos recentes.

    O corpo doutrinrio se prende a propsitos que, aos olhos dos mulumanos,

    mais buscam uma utopia do que uma fuso de conceitos, j que o principal objetivo foi

    unir duas das maiores correntes religiosas do planeta: o hindusmo e o islamismo.

    Depois do jainismo e do budismo, o sikhismo se constitui na terceira maior

    ramificao do hindusmo. Sua implantao entre os homens conferida a Nanaque,

    que, para esse processo de fundio doutrinria, importou uma srie de elementos da

    cultura mulumana.

    Nanaque, o precursor, nasceu em Talwandi, uma aldeia indiana que distava de

    Lahore, cinqenta quilmetros, a Sudeste da capital, Punjabe. Seu nascimento datado

    em 1469 d.C.

    Seus pais estavam inseridos na sociedade local como cidados comuns,

    compondo o quadro de seguidores do hindusmo. O folclore da poca cita Nanaque

    mais precisamente em seu estgio juvenil, quando aparece dirigindo exortaes aos

    mestres hindus.

    Acredita-se que Nanaque, ainda em sua juventude, teria discursado a dois

    sacerdotes brmanes do hindusmo acerca do sacramento material. Independente da

    veracidade histrica sobre essa demonstrao de sabedoria, certo que Nanaque

    preferia se prender s prticas religiosas, como a meditao e os rituais, do que ao

    trabalho temporal.

    Indisposto a seguir o caminho profissional escolhido por seus pais, tornou-se

    malvisto no seio familiar, todavia, aceitou um cargo governamental oferecido por seu

    cunhado, em outra cidade.

    Sua preocupao, porm, continuaria sendo a busca incansvel pela verdade

    religiosa, admitindo para si a crena de que, ao ter alcanado trinta e trs anos de

    idade, recebera o divino chamamento.

    Conta tradio que, em dada oportunidade, Nanaque teria desaparecido na

    floresta enquanto se banhava, tendo sido supostamente tomado para a presena de

    Deus, segundo explicou posteriormente em sua prpria viso.

    Aps lhe oferecer uma taa de nctar, Deus teria dito a Nanaque que estava com

    ele e com aqueles que tomassem seu nome, e acrescentou: Vai e repete meu nome, ensinando a todos a que procedam da mesma forma, praticando a repetio do meu

    nome, a caridade, as ablues e a meditao [...] meu nome Deus, o Brahma

    primeiro, e tu, o guru divino. Decorridos trs dias desse fato, Nanaque ressurgiu na floresta e bradou sobre a

    inexistncia de hindus ou islmicos.

    Acompanhado do amigo Mardana, poeta e trovador, iniciou a propagao de

    sua experincia e de seus conceitos, no alcanando, entretanto, macia simpatia entre

    seus ouvintes, optando ambos pelo retorno a Punjabe, onde a adeso de futuros

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    discpulos se tornaria mais acentuada. Assim, tem incio religio sikhi, que, a partir

    da, no pra de crescer, fenmeno que Nanaque observou durante toda a sua vida.

    Nanaque faleceu com aproximados setenta anos de idade, mas no sem antes

    tomar o cuidado de nomear um sucessor, para que continuasse a difundir suas idias.

    Essa tarefa ficou a cargo de Angade, um digno e fiel discpulo, que manteve a rejeio

    e o combate ao hindusmo e ao islamismo.

    O nome desse sucessor de Nanaque era originalmente Lahina, o qual,

    posteriormente, mudou para Angade (guarda-costas). Tambm foi ele quem propagou

    a doutrina que aponta Nanaque como sendo igual a Deus.

    Diferentes gurus se tornam seguidores do guru Angade. Aps a morte do

    dcimo guru na linhagem de sucesso, em 1708, a lealdade dos sikhis foi transferida

    da autoridade pessoal dos gurus para o Granth Sahib, livro sagrado do sikhismo,

    compilado por um dos seguidores de Angade chamado Arjan.

    Corpo doutrinrio.

    Em linhas gerais, os sikhis aprendizes so seguidores do guru Nanaque e de

    seus sucessores (gurus). A autoridade sikhista Rahit Maryada define o sikhi como

    algum que acredita nos dez gurus, nos seus ensinamentos e na iniciao (amrit)

    instituda pelo dcimo guru, acrescentando que no lhe permitido acreditar em

    quaisquer outras religies.

    Os ensinamentos dos sikhis so uma unificao de idias extradas do

    islamismo e do hindusmo, o que no significa que tenham empregado a literatura

    religiosa de qualquer dessas crenas. Os sikhistas preferiram compor seus prprios

    escritos sacros, que so baseados em interpretaes particulares derivadas de idias

    difundidas nessas religies, o que acaba resultando numa miscelnea teolgica.

    Guru Nanaque destacou algumas coisas consideradas importantes e as

    denominou de Trs Pilares: buscar conquistas atravs do trabalho de suas mos,

    permanecer com Deus em mente todo o tempo e dividir tudo o que se tem com os

    necessitados. Tambm destacou os considerados ladres que separam os homens de Deus: a soberba, apego a bens materiais, luxria, raiva e ganncia.

    Escritos sagrados.

    Os escritos sagrados do sikhismo so conhecidos como Granth Sahib, ou o

    livro do senhor. Essa literatura foi desenvolvida por inmeros autores e, curiosamente, alguns deles viveram num perodo que antecede a existncia do prprio

    Nanaque, cuja relao com o sikhismo no excedeu o superficial.

    A obra contm uma coletnea de poemas de vrias dimenses, perfazendo um

    total aproximado de 29.500 versos, todos em rima, com um teor que enfoca a ateno

    sobre a exaltao do nome divino, alm de advertncias pertinentes conduta diria de

    seus seguidores.

    H uma peculiaridade bastante distintiva nesses versos, ou seja, a explorao da

    filologia em seis idiomas diferentes e diversos dialetos, tornando-a praticamente

    impossvel de ser estudada pelos prprios sikhis com profundidade. Isso acaba

    excluindo qualquer possibilidade de aprofundamento por parte dos adeptos iletrados.

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    Essa realidade determinou a existncia de um seletssimo grupo entre os sikhis

    que estivesse habilitado a interpretar o Granth Sahib em sua integralidade, o que,

    obviamente, impediu a instituio de escolas especializadas na interpretao e estudos

    referentes a essa sagrada literatura.

    Os que conseguem atingir um grau de sabedoria moderado dentro do sikhismo,

    por certo conhecem muito pouco sobre essa complexa obra, dificuldade perfeitamente

    previsvel se considerarmos o emaranhado filolgico em questo.

    Eivado de dificuldades, o livro passou a ser classificado como elemento de

    segunda grandeza dentro da religio, chegando a ser considerado dispensvel quanto

    ao seu emprego para aperfeioamento dos membros sikhistas.

    Esse aspecto, todavia, no promoveu a rejeio ou o desdm de seus seguidores

    para com a sua literatura. Pelo contrario, eles observam uma exigente reverncia

    obra, quase que a ponto da idolatria.

    Deus e a salvao.

    Deus. Os sikhis tem uma crena quanto a divindade que se assemelha ao islamismo. A

    primeira declarao de Nanaque a esse respeito, lavrada logo aps ter ele recebido a

    chamada divina, faz parte do conjunto de sentenas iniciais do Granth Sahib.

    Ele declarou: H somente um Deus, cujo nome verdadeiro criador, isento de temor e inimizade, imortal, no-nascido, auto-existente, grande e generoso. O

    verdadeiro que estava no comeo; Ele a suprema verdade. Ele, o Criador, existe sem medo e sem dio. Ele, o onipresente, imbui o Universo. No nasceu nem ter de

    morrer novamente para renascer. Por sua graa deveis ador-lo. O nome usualmente adotado pelos sikhis para se referirem deidade Sat Nam,

    significando nome verdadeiro. Mas, apesar disso, possvel tambm observar uma variedade de nomes que so atribudos a Deus, todos distintos, o que esta de acordo

    com a crena sikhi de que Deus se apresenta em diversas manifestaes. Sobre isso,

    assim ensina o Granth Sahib: Tu, senhor, s um, mas muitas so as suas manifestaes.

    Uma distino sikhi quanto a Deus versa sobre a crena de que, embora ele seja

    basicamente uma unidade, no considerado um ser pessoal, antes, filosoficamente,

    assemelhado verdade e realidade.

    A Salvao.

    Ensinam que a salvao consiste em conhecer Deus, em obter Deus e em ser

    absorvido por ele. Esse mtodo parece estar de acordo com a supremacia de um Deus

    incompreensvel alm das doutrinas relacionadas indignidade da humanidade e do

    desamparo humano.

    O mtodo sikhi, na forma em que se amostra, fala sobre se obter a salvao por

    meio de uma assimilao introspectiva de Deus que alcance o esprito, do eu de cada indivduo em relao alma do mundo mstico. Esse conceito atinge uma forte

    semelhana idia que se refere salvao propagada entre os upanishads, seguidores

    do hindusmo.

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    Distines do sikhismo.

    EM RELAO AO HINDUSMO Teoricamente, o sikhismo concorda com o hindusmo quanto crena em uma Unidade Suprema mstica, uma aplicao testa

    que se observa no pantesmo, na forma como ocorre com os upanishads e no Bagavad

    Gita.

    Cr na mesma forma de salvao pela f na graa de Deus, na doutrina do

    carma e na transmigrao da alma. Discorda, porm, do politesmo hindu, das

    peregrinaes ditadas pela norma, da ritualstica e do modo de vida asceta, embora

    aplique a adorao ao que puro.

    Rejeita tambm os escritos hindus e a degradao que as comunidades hindus

    infligem s suas mulheres, por acreditar que elas meream considerao mais elevada.

    Prefere um aumento na taxa de natalidade ao infanticdio, que prtica hindu comum,

    desobrigando, ainda, a suposta necessidade de um vegetarianismo total,

    proporcionando a todos uma dieta que inclui carnes.

    EM RELAO AO ISLAMISMO Dessa religio o sikhismo extraiu a crena da unidade do Supremo Ser, bem como a soberania de ser absoluto e sua divindade

    incompreensvel.

    comum tambm a esperana que se baseia na sujeio a Deus e a adorao

    que se efetua na repetio do nome da divindade. Concorda com a constante repetio

    das oraes prescritas e com a devoo que dirige ao fundador, como sendo legtimo

    emissrio divino.

    Assim como os mulumanos, os sikhis so reverentes aos escritos sagrados,

    entendendo ser correta a linhagem de sucessor es que se forma aps a morte de seu

    fundador (Nanaque para os sikhis e Maom para os mulumanos), alm de adotar uma

    estrutura de governo que esteja intimamente ligada religio.

    A unidade entre os seguidores e a definio de um santurio principal muito

    reverenciado por todos (Amritsar para os sikhis e Meca para os islmicos) so pontos

    concordes em ambas, assim como a abominao idolatria.

    Em divergncia aos mulumanos, os sikhis destacam a natureza colrica de

    Maom enquanto Nanaque era um lder gentil. Dessa mesma forma, a divindade sikhi

    no rude e severa como aquela do Isl. Apiam a formao literria que aconteceu

    pelas mos de pelo menos trinta e cinco mestres, enquanto o Coro atribudo a

    apenas um autor.

    A prtica do jejum no perodo do Ramadan, parte indivisvel na cerimnia

    islmica, no possui equivalente no sikhismo, da mesma forma que no se prega um

    dia de julgamento especfico no qual Deus operar a justia sobre os homens.

    BIBLIOGRAFIA SOBRE SIKHISMO:

    STANGROOM, Dr. Jeremy. Pequeno Livro das Grandes Idias Religio. Ciranda Cultural Editora. SP/SP. 2008.

    http://evangelistamariano.blogspot.com/2009/12/sikhismo.html.