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723 Estudo da relação de confiança em programa de fomento … R. Árvore, Viçosa-MG, v.33, n.4, p.723-732, 2009 ESTUDO DA RELAÇÃO DE CONFIANÇA EM PROGRAMA DE FOMENTO FLORESTAL DE INDÚSTRIA DE CELULOSE NA VISÃO DOS PRODUTORES RURAIS 1 Fabiano Luiz da Silva 2 , James Jackson Griffith 3 , Laércio Antônio Gonçalves Jacovine 3 , José Horta Valadares 4 , Marília Aparecida Silva Fernandes 5 e Elaine Cristina Gomes da Silva 2 1 Recebido em 25.09.2007 e aceito para publicação em 29.05.2009. 2 Programa de Pós-Graduação em Ciência Florestal da Universidade Federal de Viçosa (UFV). E-mail: <[email protected]>. 3 Departamento de Engenharia Florestal da UFV. E-mail: <[email protected]>. 4 Departamento de Economia Rural da UFV. E-mail: <[email protected]>. 5 Graduação em Gestão de Cooperativas da UFV. E-mail: <[email protected]>. RESUMO – Este estudo analisou os fatores que contribuem para a relação de confiança no Programa de Fomento Florestal de indústria de celulose e produtores rurais fomentados em Minas Gerais. Foram aplicados 141 questionários a produtores rurais fomentados, em 32 municípios de sete microrregiões mineiras. A amostragem foi aleatória estratificada, sendo os critérios: a) Produtor Fomentado com Contrato Finalizado (PFCF) composto por produtores que possuíam pelo menos um contrato encerrado com a indústria de celulose; e b) Produtor Fomentado com Contrato em Andamento (PFCA) composto por produtores que não haviam finalizado nenhum contrato de fomento com a indústria de celulose. Os produtores fomentados realizam contrato de fomento florestal para apenas a primeira rotação. Assim, legalmente possuem a obrigatoriedade de entrega de 97% da madeira do primeiro ciclo da floresta. Entretanto, referente ao segundo ciclo não contratado da floresta, 18% dos produtores fomentados disseram ter interesse na comercialização dessa madeira com a empresa, indiferente de variações em preços de produtos concorrentes, como o carvão vegetal. Acredita-se que, não havendo oscilações significativas nesses mercados concorrentes, 50% dos fomentados devem comercializar o segundo corte com a empresa fomentadora. Atualmente, em 98,4% dos contratos realizados com produtores rurais fomentados há cumprimento de ambas as partes nos acordos firmados. A confiança e confiabilidade no relacionamento entre indústria de celulose e fomentados foram confirmadas, mas existem alguns fatores que contribuem para a possível desconfiança no fomento florestal, como: o sistema de medida da madeira, o custo de transporte e a ausência de política de preços que favorecem o entendimento dos produtores fomentados. Palavras-chave: Fomento florestal, confiança e indústria de celulose. STUDY OF TRUST RELATIONSHIPS IN PRIVATE WOODLOT PRODUCTION FOR A CELLULOSE INDUSTRY FROM THE POINT OF VIEW OF RURAL PRODUCERS ABSTRACT – This study analyzed factors that contribute to relations of trust within a private woodlot producer program managed by a cellulose industry in Minas Gerais state. One hundred and forty one questionnaires were completed by interviewing small woodlot rural producers that participate in 32 municipalities within 7 of the state’s microregions. The sampling was performed by random stratification according to the following criteria: a) Woodlot Producers with Completed Contract (PFCF) who have finished at least one contract with the cellulose firm and b) Woodlot Producers with Contract in Progress (PFCA) who have not yet completed a contract. In general, the program’s woodlot producers will sign contracts only for the first forest cut. This

SILVA Et Al 2009 -Confiança - Fomento - Produtores

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Os autores trabalham a confiança dos agricultores em relação ao fomento florestal.

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723 EstudodarelaodeconfianaemprogramadefomentoR.rvore,Viosa-MG,v.33,n.4,p.723-732,2009ESTUDO DA RELAO DE CONFIANA EM PROGRAMA DE FOMENTOFLORESTAL DE INDSTRIA DE CELULOSE NA VISO DOS PRODUTORESRURAIS1Fabiano Luiz da Silva2, James Jackson Griffith3, Larcio Antnio Gonalves Jacovine3, Jos HortaValadares4, Marlia Aparecida Silva Fernandes5 e Elaine Cristina Gomes da Silva21 Recebido em 25.09.2007 e aceito para publicao em 29.05.2009.2 Programa de Ps-Graduao em Cincia Florestal da Universidade Federal de Viosa (UFV). E-mail: .3 Departamento de Engenharia Florestal da UFV. E-mail: .4 Departamento de Economia Rural da UFV. E-mail: .5 Graduao em Gesto de Cooperativas da UFV. E-mail: .RESUMO Este estudo analisou os fatores que contribuem para a relao de confiana no Programa de FomentoFlorestal de indstria de celulose e produtores rurais fomentados em Minas Gerais. Foram aplicados 141 questionriosa produtores rurais fomentados, em 32 municpios de sete microrregies mineiras. A amostragem foi aleatriaestratificada, sendo os critrios: a) Produtor Fomentado com Contrato Finalizado (PFCF) composto por produtoresque possuam pelo menos um contrato encerrado com a indstria de celulose; e b) Produtor Fomentado comContrato em Andamento (PFCA) composto por produtores que no haviam finalizado nenhum contrato defomento com a indstria de celulose. Os produtores fomentados realizam contrato de fomento florestal paraapenas a primeira rotao. Assim, legalmente possuem a obrigatoriedade de entrega de 97% da madeira doprimeiro ciclo da floresta. Entretanto, referente ao segundo ciclo no contratado da floresta, 18% dos produtoresfomentados disseram ter interesse na comercializao dessa madeira com a empresa, indiferente de variaesem preos de produtos concorrentes, como o carvo vegetal. Acredita-se que, no havendo oscilaes significativasnesses mercados concorrentes, 50% dos fomentados devem comercializar o segundo corte com a empresa fomentadora.Atualmente, em 98,4% dos contratos realizados com produtores rurais fomentados h cumprimento de ambasas partes nos acordos firmados. A confiana e confiabilidade no relacionamento entre indstria de celulosee fomentados foram confirmadas, mas existem alguns fatores que contribuem para a possvel desconfianano fomento florestal, como: o sistema de medida da madeira, o custo de transporte e a ausncia de polticade preos que favorecem o entendimento dos produtores fomentados.Palavras-chave: Fomento florestal, confiana e indstria de celulose.STUDYOFTRUSTRELATIONSHIPSINPRIVATEWOODLOTPRODUCTIONFORACELLULOSEINDUSTRYFROMTHEPOINTOFVIEWOFRURALPRODUCERSABSTRACT This study analyzed factors that contribute to relations of trust within a private woodlot producerprogram managed by a cellulose industry in Minas Gerais state. One hundred and forty one questionnaireswere completed by interviewing small woodlot rural producers that participate in 32 municipalities within7 of the states microregions. The sampling was performed by random stratification according to the followingcriteria: a) Woodlot Producers with Completed Contract (PFCF) who have finished at least one contract withthe cellulose firm and b) Woodlot Producers with Contract in Progress (PFCA) who have not yet completeda contract. In general, the programs woodlot producers will sign contracts only for the first forest cut. This724SILVA,F.L.etal.R.rvore, Viosa-MG,v.33,n.4,p.723-732,20091. INTRODUOO Brasil tem sido um dos pases onde investimentossignificativos no setor florestal esto acontecendo.Porm, um dos grandes gargalos do desenvolvimentodas indstrias de base florestal, seja para celulose,serraria ou carvo vegetal, est no seu suprimentode matria-prima, ou seja, a madeira.De acordo com Soares (2006), o fomento florestal uma das estratgias das empresas para garantir seusuprimento de matria-prima. O interesse das indstrias reduzir a imobilizao de recursos em terras e capital.Assim, o fomento florestal importante para o setor,alm de estar contribuindo para o desenvolvimentolocal (VALVERDE, 2003).Nos contratos de fomento das empresas florestais,especificamente celulose e papel, so repassados aosprodutores de mudas, fertilizantes, defensivos, recursosfinanceiros e assistncia tcnica (OLIVEIRA, 2003).A principal dvida sobre investimentos em programasde fomento florestal : Podemos confiar a produtoresfomentadososuprimentodemadeira?Entreasalternativas para responder a essa questo,uma estem uma abordagem que possa refletir sobre os elementosque contribuem para a relao de confiana entreprodutores e empresas fomentadoras.A corrente terica denominada Nova EconomiaInstitucional (NEI) possui como um dos seus elementosde anlise a confiana. A NEI prope uma discussoa respeito da anlise do ambiente econmico, colocandoo papel da estrutura e da organizao poltica e socialna determinao dos acontecimentos econmicos(ZYLBERSZTAJN, 2005).Os custos antes e depois da formulao e execuodos contratos so abordados na NEI. Tambm, realizam-se reflexes sobre o papel das instituies econmicase sociais como uma forma de resolver o problema dacooperao entre os indivduos. A confiana umadas variveis que integram a Nova Economia Institucional,por contribuir na anlise e discusso sobre as relaescontratuais.Este estudo visa identificar elementos bsicospara anlise da relao de confiana, via contratosde fomento florestal para produo de eucaliptopara celulose. O programa foco dessa pesquisa o fomento da Celulose Nipo-Brasileira (CENIBRA)localizada na Mesorregio do Vale do Rio Doce,em Minas Gerais, Brasil.2. MATERIAL E MTODOS2.1. Descrio da rea de estudoA Mesorregio do Vale do Rio Doce compostapor 102 municpios e sete microrregies, definidas comoAimors, Caratinga, Governador Valadares, Guanhes,Ipatinga, Mantena e Peanha.O fomento florestal dessa indstria de celulosese divide em seis grandes regies localizadas nasmicrorregies de Guanhes, Ipatinga, Caratinga,Governador Valadares e Peanha.Os critrios de definio das regionais do fomentoso estabelecidos segundo a rea plantada por municpio.Atualmente, so 68 municpios abrangidos pelo programade fomento florestal da CENIBRA.No momento da pesquisa, eram 733 produtoresfomentados em todas as regionais de abrangncia doprograma da empresa de base florestal.means that they are obligated to deliver to the company 97% of the wood from the first cycle of production.However, for the second cycle, 18% of those interviewed showed interest in selling their wood to the cellulosefirm regardless of whatever price variations might occur for competing forest markets such as for charcoal.If no significant fluctuations occur in these competing markets it is possible that as many as 50% of woodlotproducers might sell their second cut to the cellulose firm. Once rural producers sign on to the program,98.4% of them complete their contractual obligations. Trust and trustworthiness were confirmed as existingin relationships between the cellulose firm and woodlot producers. However, there are some factors in thewoodlot program that contribute to mistrust, including the wood measurement system, transport costs andthe absence of a pricing policy easily understood by woodlot producers.Keywords: Private woodlot programs, trust and cellulose industry.725 EstudodarelaodeconfianaemprogramadefomentoR.rvore,Viosa-MG,v.33,n.4,p.723-732,20092.2. Fases metodolgicas2.2.1. Conhecimento da realidade do fomentoDurante o incio de 2006, nos meses de fevereiroe maro foram realizadas cinco reunies com tcnicosda empresa de base florestal, a fim de conhecer o programade fomento na viso da empresa. Por meio dessasreunies, foram identificados os anseios e dificuldadesda empresa sobre o programa de fomento e as respectivasestratgias, adotadas para estabelecimento da relaode confiana entre os atores (empresa e produtores).2.2.2. Entrevista pr-elaborao de questionrioNo ms de abril de 2006 foram realizadas entrevistasde pr-elaborao do questionrio com o objetivo deidentificar elementos para construo da pesquisa decampo. Para tanto, foram entrevistados produtores detrs das regionais do fomento florestal da empresa.Nessa etapa, o objetivo foi conhecer a viso dosprodutores florestais sobre o programa de fomento,suas principais dificuldades, seu histrico profissional,impacto da renda com o fomento, a capacidade deorganizao dos produtores e quais eram as perspectivasno relacionamento com a indstria de celulose.2.2.3. Elaborao e discusso de questeslevantadas na pesquisaRealizaram-se duas reunies com professores dasreas de engenharia florestal e economia/extenso ruralda Universidade Federal de Viosa, usando informaeslevantadas nas entrevistas pr-elaborao. Foi propostoum modelo de questionrio aplicado aos fomentadosda indstria de celulose.O questionrio foi elaborado com questes abertas,fechadas e semiabertas. Estas foram utilizadas para melhorajuizar a confiana entre o produtor e a empresa florestal.Para validao e fechamento das informaescoletadas no campo, foi realizada uma reunio da equipede pesquisa com tcnicos coordenadores da rea defomento e meio ambiente da indstria de celulose. Nessareunio foram incorporadas novas questes para aanlise da relao de confiana entre indstria de celulosee produtores rurais fomentados.2.2.4. Aplicao de pr-testeDurante os dias 23, 24 e 25 de abril de 2006,foram realizadas oito entrevistas com produtoresfomentados da indstria de celulose, no intuito de verificara aplicabilidade do questionrio, o entendimento dasquestes pelos entrevistados e possveis correespara facilitar a coleta das informaes.2.2.5. Amostragem e estratificaoPormeiodobancodedados,osprodutoresfomentados pela empresa foram agrupados em duasclasses, a saber:Classe 1: Produtor Fomentado com ContratoFinalizado (PFCF) composto por produtores quepossuam pelo menos um contrato encerrado com aempresa. Por meio dessa classificao, foi possvelselecionar os produtores que tiveram experincia coma empresa (em pelos menos um contrato) desde aassinatura, significando que houve recebimento dosinsumos, plantio, manuteno, corte, colheita, transporte,entrega da madeira e seu recebimento.Classe 2: Produtor Fomentado com Contrato emAndamento (PFCA) Constituda por produtores queno finalizaram nenhum contrato com a empresafomentadora. Por meio dessa classificao, foi possvelselecionar os produtores que ainda no tinham experinciacom a empresa em todas as etapas acordadas no contratode fomento florestal.2.2.6. Processamento dos dadosOs dados foram tabulados na planilha eletrnicadoExcel,e,posteriormente,realizou-seoprocessamento das informaes.3. RESULTADOS E DISCUSSES3.1. Os contratos de fomento florestal para celuloseOs modelos de contratos de fomento praticadospela empresa assumem duas modalidades: contratodefomentocomercialeocontratodefomentoconvencional. No contrato de fomento comercial, aindstria de celulose responsvel pelo plantio e oprodutor arca com todos os custos de implantao.J no contrato de fomento convencional a empresaforneceosinsumossubsidiados,eoprodutorresponsvel pela realizao das atividades silviculturais.A distribuio por regional dos PFCA e PFCF representada na Figura 1. Pode-se afirmar que existedistribuio prxima nos percentuais das regies entreasduascategoriasdeprodutores,demonstrandouniformidade na situao contratual entre os fomentados.726SILVA,F.L.etal.R.rvore, Viosa-MG,v.33,n.4,p.723-732,20093.4. Expectativas, vantagens e estmulos para adesoao fomento florestalNaTabela1soapresentadasasprincipaisexpectativas dos produtores ao participar do programade fomento, so elas: retorno financeiro (receita edespesas), renda no longo prazo (poupana), diversificaode renda (outra renda), recuperao de reas degradadas,aprendizagem das tcnicas para silvicultura e outras.O retorno financeiro (Tabela 1) teve o maior nmerode citaes entre os produtores (71% mdia geral),no havendo variao significativa nos grupos PFCAe PFCF.Nos Produtores Fomentados com ContratoFinalizado, a renda de longo prazo toma dimenso maiorem relao classe dos PFCA, devido percepodo produtor de que o plantio florestal garante rendano longo prazo, caracterizando-se como uma poupana.Os itens referentes renda (retorno financeiroe renda de longo prazo) so as expectativas maisdestacadas pelos produtores fomentados, ou seja, olucro com a produo da floresta tem significativo pesona expectativa e, consequentemente, na deciso deassinatura de um contrato de fomento florestal.Para os PFCA, era de se esperar que houvesseexpectativa para aprender as tcnicas para a silvicultura,porquesonovosnoramodoreflorestamento.Entretanto, o valor baixo (4%) atribudo a esse itemparece indicar que outras expectativas ao plantar eucaliptoso mais importantes para eles.A Tabela 2 contm as principais vantagens doprograma de fomento na viso dos produtores florestaisfomentados.Para 23% dos PFCF, os insumos oferecidos peloprograma de fomento representam a principal vantagemdo programa de fomento florestal. Tal fato acontecedevido falta de capitalizao do produtor rural paraaumentar ou iniciar um negcio florestal em suapropriedade.Figura 1 Contratos finalizados e em andamento por regional.Figure 1 Completed contracts and contracts in progress by region.Item PFCA PFCF Mdia GeralNo. % No. % No. %Retorno financeiro (receita e despesas) 60 71 40 70 100 71Rendaalongoprazo(poupana) 6 7 9 16 15 11Recuperao reas degradadas 6 7 5 9 11 8Diversificao da renda 7 8 2 3 9 6Aprendizagem das tcnicas para silvicultura 3 4 1 2 4 3Outrasexpectativas 2 3 0 0 2 1Total 84 100 57 100 141 100PFCA = Produtor Fomentado com Contrato em Andamento.PFCF = Produtor Fomentado com Contrato FinalizadoTabela 1 Expectativa dos produtores ao participar do fomento florestalTable 1 Producer expectations upon joining the private woodlot program727 EstudodarelaodeconfianaemprogramadefomentoR.rvore,Viosa-MG,v.33,n.4,p.723-732,2009A sustentabilidade do agronegcio florestal foio segundo destaque (21%) entre os PFCF, pois osprodutores buscam alternativas de negcios que sejamviveis economicamente e que demonstrem seguranano investimento.Essa segurana de investimento proporcionadopelo fomento florestal contribui para reduo da aversoao risco vindo de produtores, o que comum ematividades de longo prazo, sujeitas tambm a influnciasclimticas e outras.Quanto aos principais estmulos para adeso aofomento (Tabela 3), o item retorno financeiro obteveo percentual de 43% entre os PFCA. J na classe PFCFfoi de 34%, pois o ganho financeiro do fomento baixocomparado, na viso dos produtores, com outrosnegcios de madeira, a exemplo da produo de carvovegetal ou da venda de madeira para escoramento.O ganho financeiro no foi o nico fator geradorde expectativa, vantagem e estmulo dos produtoresfomentados para adeso ao programa. Os insumosoferecidos (mdia geral 18%) e recuperao de reasdegradadas (mdia geral 11%), com consequentevalorizao da propriedade, influenciam tambm a decisodos produtos na relao de confiana com a empresae a assinatura de um contrato de fomento florestal.Alm de a capacidade do programa de fomentocontribuir com a propriedade e desenvolvimento local,buscou-seidentificarosseusprincipaispontosnegativos na viso dos produtores (Tabela 4).Dos pontos negativos relacionados na Tabela 4,em mdia geral, 77% dos produtores concordam comeles, sendo 76% para PFCA e 78% para PFCF.Na mdia geral, 33% dos produtores fomentadosdesconhecem pontos negativos do programa, pormos 67% restantes citaram: preo da madeira, custo detransporte e o sistema de medida da madeira.Esses pontos negativos so fatores que influenciamos produtores a desconfiarem do programa de fomentoflorestal, e os principais questionamentos expostospelos produtores foram: Relativo ao preo J que a celulose um produtopara exportao, e os ganhos nessa transao econmicaso significativos, porque a madeira de fomento noacompanha a variao dos preos de exportao dacelulose?Item PFCA PFCF Mdia GeralNo. % No. % No. %Insumos e financiamento oferecidos pelo 29 35 13 23 42 30programadefomentoRetornofinanceiro 20 24 9 16 29 21Sustentabilidade do agronegcio florestal 11 13 12 21 23 16Assistncia tcnica da empresa 7 8 3 5 10 7Baixo custo de mo de obra na atividade 2 2 1 2 3 2Outras vantagens (comercializar a madeira 9 11 12 21 21 15em outros mercados e recuperar reas degradadas)Noopinou 6 7 7 12 13 10Total 84 100 57 100 141 100Tabela 2 Principal vantagem do programa de fomento na viso dos fomentadosTable 2 Principal advantage of the woodlot program as viewed by its membersItem PFCA PFCF Mdia GeralNo. % No. % No. %Retorno financeiro (receita e despesas) 36 43 19 34 55 39Insumos e financiamento oferecidos pelo programa 13 15 12 21 25 18Recuperao de reas degradadas. 9 11 7 12 16 11Amigos proprietrios 9 11 7 12 16 11Outros estmulos 17 20 12 21 29 21Total 84 100 57 100 141 100Tabela 3 Pincipais estmulos aos produtores para adeso ao programa de fomentoTable 3 Principal incentives for producers who join the woodlot program728SILVA,F.L.etal.R.rvore, Viosa-MG,v.33,n.4,p.723-732,2009 Relativo ao custo de transporte Porque osprodutores mais distantes so beneficiados com elevaodo preo da madeira para custeio do transporte? Comessa poltica, os produtores mais prximos no sopenalizados? Relativo a produtores que no participam dofomento Porque a empresa no constri uma estratgiapara erradicar de vez as dvidas relativas aos impactosdos plantios florestais e agregao de novos produtoresna atividade florestal? Relativo ao sistema de medida Para no gerardvidas sobre sua eficcia, porque a empresa no definiuum padro de medida de madeira que seja de fcilentendimento pelos produtores?3.7. A confiana dos produtores fomentadosDiversosnveisdedesenvolvimentoestoassociadosadiferentesnveisdeconfiana,eadesconfiana tambm exerce influncia sobre os grupossociais (PUTNAM, 1993).De acordo com Hardin (2001), a confiana (trust)pode ser entendida como expectativa de comportamento(confiabilidade), ou seja, conhecimento, aes ecomportamentos so bases para o estabelecimentode uma relao de confiana, de pessoa para pessoa,organizaoparapessoaseorganizaoparaorganizao.O sentimento de confiana outra forma deentendimento na viso de Hardin (2001), pois nesteo trust se inicia desde a relao de filho com a me,por exemplo. Pode tambm ser um sentimento em relaoa outras pessoas.Segundo esse mesmo autor, as pessoas possuemmotivaes para confiar e cooperar, e tais aes podemtrazer a confiana.Tambm existem riscos, pois, medida que ocorremas transaes entre atores, vo sendo gerados fatoresque podem reduzir as relaes, sejam essas sociaisou econmicas (HARDIN, 2001).Por meio do banco de dados da indstria de celulose,foi identificado o ndice de 98,4% de produtores ruraisfomentados que cumpriram, ou esto cumprindo, comtodos os direitos e deveres acordados no contrato.A respeito da confiabilidade no cumprimento docontrato por parte da indstria de celulose, foi solicitadoaos produtores que opinassem sobre as etapas da relaocontratual. O resultado est expresso na Tabela 5.Todos os itens abordados (Tabela 5) demonstramndicesfavorveisrelaoentreosprodutoresfomentados e a indstria de celulose.O sistema de recebimento da madeira (23%) e ovalor pago pela madeira proposto no contrato (21%)se destacam como pouco confivel, o que pode serexplicado pela falta de entendimento do sistema demedida da madeira e pelos preos ditados pelo mercado.Um destaque da afirmao pouco confivel,referente ao recebimento da madeira (23%), teve comocomentrio central a dificuldade no entendimento dosistema adotado para medir a madeira e a utilizaode dois mtodos diferentes (ptio e fbrica). Isso geradesconfiana sobre a eficcia dos sistemas.Os produtores relataram como ponto positivo ofato de no haver oscilaes bruscas no preo pagopela madeira (70%) para celulose dentro da mesorregiodo Vale do Rio Doce.Item PFCA PFCF Mdia GeralNo. % No. % No. %Desconhecempontosnegativosdofomento 28 33 19 33 47 33Discordam do preo da madeira 22 26 14 25 36 26Insatisfeitoscomocustodetransporte 11 13 8 14 19 13Citaram pessoas que pensam que eucalipto seca 11 13 7 12 18 13aguaeestragaoterrenoDiscordam do sistema de medida da madeira 9 11 8 14 17 12Outrospontosnegativos 3 4 1 2 4 3Total 84 100 57 100 141 100Tabela 4 Pontos negativos do programa de fomento na opinio dos fomentadosTable 4 Negative points about the woodlot program according to program members729 EstudodarelaodeconfianaemprogramadefomentoR.rvore,Viosa-MG,v.33,n.4,p.723-732,2009O pagamento da madeira por parte da empresaapresentou ndice de alta confiabilidade (59%), sendoapontado como grande vantagem no contrato defomento florestal. Essa percepo influenciada pelocontraste de experincias negativas na comercializaode outros produtos da propriedade do fomentado daregio em estudo.A entrega na propriedade dos insumos acordadosno programa de fomento obteve ndice confivel (54%)e muito confivel (43%), demonstrando confiabilidadeno cumprimento por parte da empresa.Aoseremquestionados,osfomentadosdemonstraram sua confiana em relao indstriade celulose, baseando sua resposta em experinciasde vida, nmero de vezes que relacionou com pessoasda empresa, pontualidade na entrega dos insumosacordados e nvel de assistncia oferecida para conduodo plantio. Desses, 96% disseram confiar, e 4% apenasdemonstram no confiar. Esses dados esto apresentadosna Figura 2.Procurou-se, neste trabalho, levantar quais motivospoderiam contribuir para que os produtores florestaisfomentados no confiassem na empresa fomentadora(Tabela 6).A porcentagem dos que no opinou foi de 40%,ndice que se manteve prximo nas classes de PFCAe PFCF. Tambm se destacou o item no cumprir opreo combinado (33%) e no pagar (16%). Essasrespostas se fundamentam na expectativa de o preoa ser recebido no futuro pela madeira ser realmenteo praticado pelo mercado de madeira para celulose.Apesar de a questo econmica ser predominante,os produtores levam tambm em considerao ossubsdios firmados pelo contrato, argumentando queeles contribuem para aumentar a confiana na relaocom a empresa fomentadora.De acordo com Williamson (1985), o nmero equalidade das transaes influenciam a deciso doprodutor de continuar ou diminuir sua participaonas relaes contratuais.Item Poucoconfivel Confivel MuitoconfivelNo. % No. % No. %Pagamento da madeira 2 2 45 39 69 59Fornecimentodeinsumosdoprogramadefomento 4 3 73 54 57 43Assistncia tcnica da empresa 10 7 84 63 39 30Financiamentodentrodoprogramadefomento 12 12 62 64 23 24Entrega da madeira na empresa (ptio ou fbrica) 25 23 69 63 15 14TrabalhodoInstitutoEstadualdeFlorestas-IEF 16 12 98 74 18 14Valorpagopelamadeirapropostonocontrato 29 21 96 70 13 9Tabela 5 A confiabilidade atribuda pelo fomentado s etapas do contratoTable 5 Trustworthiness rating by program members for each phase of the contractFigura 2 A confiana dos produtores em relao empresa.Figure 2 Producer trust in relation to the cellulose firm.730SILVA,F.L.etal.R.rvore, Viosa-MG,v.33,n.4,p.723-732,2009O ndice de 6% foi relativo ao problema de entregada madeira empresa, sempre acompanhado da dvidados produtores sobre o atual sistema de medida adotadopara a mensurao da madeira dos fomentados.Atualmente, o modelo de contrato adotado noprograma de fomento define a obrigatoriedade da entregada madeira somente na primeira rotao, ficando, apartir de ento, o produtor livre para comercializar eutilizar para outros usos a sua floresta.O interesse dos fomentados em entregar osegundo corte (livre do contrato) est expressona Tabela 7.Na mdia geral, 61% dos pesquisados disseramque os produtores no possuam no momento interesseem entregar a madeira da brotao para a empresafomentadora, e 33% afirmaram que sim.Os produtores se interessam pelo programa defomento, principalmente, como meio de capitalizaona atividade florestal, pois possuem interesse em utilizara madeira para outros fins. Dessa forma, desejandoter liberdade de negociao de sua madeira no mercadoaps a finalizao do contrato.Nas questes abordadas, procurou-se indagar osprodutores sobre as razes que os levariam a entregarou no o segundo corte da madeira para a empresa fomentadora.As respostas so apresentadas na Tabela 8.Dos produtores que disseram depender do preoda madeira para vender para a indstria de celulose,alguns compararam os outros fins dados madeirapara servirem de parmetro de deciso de venda. Ouseja, o interesse em comercializar o segundo corte coma indstria de celulose ser influenciado pela rentabilidadede outros mercados.Item PFCA PFCF Mdia GeralNo. % No. % No. %Noopinou 31 37 25 44 56 40No cumprir o preo combinado 30 36 16 28 46 33No pagar 13 16 9 16 22 16Terproblemasaoentregaramadeira 6 7 3 5 9 6Atrasaropagamento 2 2 3 5 5 3Tomarprejuzo 2 2 1 2 3 2Total 84 100 57 100 141 100Tabela 6 Razes citadas pelos produtores como motivos que podem levar falta de confiabilidade na empresaTable 6 Reasons cited by producers as possible motives for future mistrust in the companyItem PFCA PFCF Mdia GeralNo. % No. % No. %Sim 28 33 18 31 46 33No 52 62 34 60 86 61Noopinou 4 5 5 9 9 6Total 84 100 57 100 141 100Tabela 7 Interesse dos produtores na comercializao do segundo corte da floresta com a empresa de celuloseTable 7 Producer interest in selling the second forest cut to the cellulose firmItem PFCA PFCF Mdia GeralNo. % No. % No. %Vender dependendo do preo da madeira 29 34 17 30 46 32Vender para escoramento 4 5 1 2 5 3Vender para cermica, padaria, etc. 3 4 7 12 10 7Vender para a empresa 14 17 11 19 25 18Produzir carvo 28 33 18 32 46 32Noopinou 6 7 3 5 9 8Total 84 100 57 100 141 100Tabela 8 Razes dos produtores para entregar ou no o segundo corte da madeira para a empresaTable 8 Reasons given by producers for selling or not selling the second forest cut to the cellulose firm731 EstudodarelaodeconfianaemprogramadefomentoR.rvore,Viosa-MG,v.33,n.4,p.723-732,2009Em mdia, 18% dos produtores, com base no mercadoatual, afirmaram estarem dispostos a vender sua madeirade segundo corte para a empresa fomentadora.Analisando o perfil desses produtores, identifica-se que o tamanho mdio de suas reas plantadascorresponde a 31,6 ha, o nmero mdio de contratosso prximos a 3 e a rea de maior concentrao dessesprodutores est nas regies de Belo Oriente, Caratingae Coronel Fabriciano.Considera-se que o ndice de 18% um bompercentual, pois na regio existe forte concorrnciapela compra de madeira pelas empresas consumidorasdecarvovegetal.Entretanto,osprodutoresdemonstraram interesse em vender o segundo cortede sua plantao florestal para a indstria de celulose.Caso no haja diferena de preo significativaentreamadeiraparaceluloseeseusmercadosconcorrentes, acredita-se que no mnimo 50% dosprodutores devem comercializar a madeira de segundocorte com a indstria de celulose. Esse valor contemplaos 32% que vendero para a indstria de celulose,dependendo do preo da madeira, e os 18% que jdisseram ter interesse em vender para a empresa. Foramdesconsiderados produtores que no opinaram e osfomentados que apontaram mercados alternativos, comoescoramento, cermica e carvo.Encontrando opes mais atrativas, a maioria dosprodutores se dispunha a vender sua madeira paraoutros fins, como: escoramento, lenha e carvo. Osinteresses por outros mercados madeireiros estocontidos na Tabela 9.O uso da madeira onde os produtores pretendemvender sua brotao (Tabela 9) representa seu interessepelo mercado, mas no necessariamente onde sercomercializado de fato, devido a oscilaes de preosnesses mercados.O carvo vegetal com 60% est em primeiro lugarcomo mercado alternativo para venda da madeira apso trmino do contrato de fomento florestalA venda de madeira principalmente para construocivil (escoramento) ficou em segundo lugar (21%) comomercado de interesse dos produtores fomentados ea venda para cermicas, em terceiro (8%).Na opinio dos produtores, os custos de transportepara os mercados apontados na Tabela 9 so menores,sendo para a indstria de celulose valores maiores.Os produtores fomentados foram unnimes ao dizerque os custos de transporte chegavam a 50% do valortotal da venda da madeira. Estratgias como reduodos custos de transporte tero significativo impactono estmulo e vantagens do programa de fomento florestal.Essa reduo pode ser via organizao de umacooperativa de transporte florestal dos produtoresfomentados, negociao com uma empresa de transportepara atendimento aos fomentados ou outras aes decarter coletivo. A empresa pode tambm estabelecerptios de recebimento de madeira mais prximos s reas.Item PFCA PFCF Mdia GeralNo. % No. % No. %Escoramento 20 24 10 18 30 21Carvo 49 58 35 61 84 60Cermicas 8 9 4 7 12 8Outros fins 3 4 0 0 3 3Noopinou 4 5 8 14 12 8Total 84 100 57 100 141 100Tabela 9 Mercados de interesse dos produtores para a venda futura da madeira aps o trmino do contratoTable 9 Markets that producers might consider for possible future wood sales after finishing the first contract4. CONCLUSESOs seguintes fatores contribuem para a confiana,confiabilidadeedesconfianaentreprodutoresfomentados e empresa de base florestal: A confiabilidade no comportamento dos produtoresem honrar o contrato de fomento florestal foi confirmada. Aempresafomentadoranoapresentouestratgiasparaestmulodosprodutoresacomercializarem o segundo corte com a indstria. Essefator reduz a confiabilidade na compra da madeira viafomento. Dos fomentados entrevistados, 18% afirmaramque iriam vender, mesmo tendo outros mercados mais732SILVA,F.L.etal.R.rvore, Viosa-MG,v.33,n.4,p.723-732,2009atrativos, a madeira do segundo ciclo para a empresafomentadora. Acredita-se que no havendo oscilaesgrandes no mercado concorrente pela compra da madeira,aproximadamente 50% dos produtores venderiam paraa indstria de celulose. A perspectiva de crescimento do setor florestalgera credibilidade para investimentos por parte dosprodutores, gerando, assim, confiabilidade no mercadode madeira para produo de celulose. Os produtores almejam ganhos futuros com oprograma de fomento, e, assim, variaes ocasionaisno curto prazo nos preos de produtos concorrentesno proporcionam quebra de contrato de uma grandemaioria de produtores fomentados. Osprodutoresnasuagrandemaiorianoentendem o atual sistema de medida da madeira. A determinao do preo da madeira de acordocomadistnciagerainsatisfaesporpartedosprodutores com propriedades prximas aos locais deentrega da madeira. O custo de transporte para o produtor o principaldesmotivador para o investimento em plantao florestalpara produo de celulose.5. AGRADECIMENTOSAoConselhoNacionaldeDesenvolvimentoCientfico e Tecnolgico (CNPq), Fundao de Amparo Pesquisa de Minas Gerais (FAPEMIG), aos produtoresrurais participantes da pesquisa e Celulose Nipo-Brasileira (CENIBRA), pelo indispensvel apoio.6. REFERNCIASHARDIN, R. Conceptions and explanations oftrust.In:COOK,K.S.Trustinsociety.NewYork: Russell Sage Foundation, 2001. p.403.OLIVEIRA, P. R.; VALVERDE, S. 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