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SILVA, Vagner G. Religião e Etnicidade Religião e Relações Raciais Na Formação Da Antropologia No Brasil

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SILVA, Vagner G. Religião e Etnicidade Religião e Relações Raciais Na Formação Da Antropologia No Brasil

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    Religio e etnicidadeReligio e relaes raciais na formao daantropologia do Brasil

    Vagner Gonalves da Silva Professor doDepartamento Antropologia da Universidade de SoPaulo.

    Introduo1

    Duas tradies inauguraram a antropologia brasileira: a dos estudos daspopulaes indgenas e a das populaes afro-brasileiras, sendo esta posteriormenteampliada para os estudos da sociedade nacional por incluir outros segmentosmarginalizados: brancos, pobres, camponeses etc. (OLIVEIRA, 1988, p. 111).A primeira tradio desenvolveu-se a partir da contribuio dos viajantes e darealizao, no sculo XIX, das expedies cientficas cujo objetivo era contatar eregistrar aspectos das sociedades indgenas. A segunda teve incio tardiamenteem relao primeira. Seu principal fundador, Raimundo Nina Rodrigues, s naltima dcada do sculo XIX publicou suas investigaes nas quais o negro eravisto tanto do ponto de vista racial como de sua religiosidade. Com a decadnciado paradigma racial evolucionista e a substituio do conceito de raa pelo decultura, essa tradio acabou por se desdobrar em duas vertentes: a dos estudos dareligiosidade afro-brasileira e a das relaes entre brancos e negros. Dois nomesforam ento os grandes incentivadores dessa primeira vertente: Arthur Ramosque procurou garantir um campo especfico para o estudo do negro quando asprimeiras universidades foram criadas, nos anos de 1930, e suas disciplinas oficiaisinstitudas, e Roger Bastide que consolidou esse campo abrindo as portas para aspesquisas institucionalizadas pelas universidades a partir dos anos de 1960.

    Partindo dessas indicaes, esse trabalho pretende refletir sobre o processode construo e legitimao do campo de estudos sobre as religies afro-brasileiras

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    e sua interlocuo com os estudos das relaes raciais indicando as principaistrajetrias e espaos acadmicos que o constituram.

    Hierarquia das raas e das religies

    uma vergonha para a cincia do Brasil que nada tenhamos consagradode nossos trabalhos ao estudo das lnguas e das religies africanas. Quandovemos homens, como Bleek, refugiarem se dezenas e dezenas de anos noscentros da frica, somente para estudar uma lngua e coligir uns mitos, nsque temos o material em casa, que temos a frica em nossas cozinhas,como a Amrica em nossas selvas, e a Europa em nossos sales, nadahavemos produzido neste sentido! [...] O negro no s uma mquinaeconmica; ele antes de tudo, e malgrado sua ignorncia, um objeto decincia (ROMERO, 1879, p. 99).

    Esta citao de Silvio Romero exemplar dos primeiros movimentosocorridos em fins do no sculo XIX no sentido de juntar esforos para interpretaros significados da presena do negro na formao da sociedade brasileira e naconstruo de uma cincia prpria desta sociedade. Ter em casa o materialpara o desenvolvimento desta cincia deveria ser visto como uma grande vantagembrasileira em relao aos cientistas estrangeiros. Ao indicar metaforicamente olugar deste material na sociedade nacional (a frica em nossas cozinhas, comoa Amrica em nossas selvas, e a Europa em nossos sales) Romero revelou tambmo carter hierrquico presente nos lugares e nas relaes entre os sujeitos e osobjetos desta cincia nacional em formao. Sem dvida que os primeirospertenciam ao mundo dos sales e era deste lugar que falariam sobre os ndiosem nossas selvas e os negros em nossas cozinhas.2

    Foi, inicialmente, no mbito da medicina e do direito que o apelo deSlvio Romero se fez ouvir, resultando nas etnografias pioneiras do mdicomaranhense Raimundo Nina Rodrigues sobre as lnguas e as religies africanas,as quais contriburam para uma primeira transformao do status das representaessobre os negros.

    Nina Rodrigues, atuando num dos principais centros cientficos de suapoca, a Faculdade de Medicina da Bahia,3 interessou-se pelo estudo do negrolevado princpio pelo interesse num campo praticamente inexistente no Brasil,o da medicina legal e da antropologia criminal.4 No perodo em que escreveu,a sociedade brasileira passava por importantes mudanas decorrentes da Abolio

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    e da proclamao da Repblica. Os conflitos e inseguranas gerados por essasmudanas valorizavam ainda mais as explicaes e pareceres dos cientistas quedesfrutavam de grande legitimidade como portadores de um conhecimento tilpara balizar as polticas de interveno social. Nina Rodrigues empenhou-seinicialmente em interpretar os condicionantes biolgicos dos comportamentossociais considerados desviantes (crimes, estupros, pederastia, fanatismo religiosoetc.) que identificou principalmente entre a populao negra e mestia. Para elea inferioridade racial dos negros e a miscigenao fator de degenerao das raas eram os principais desafios que a medicina (como um saber dedicado profilaxiae higienizao) e a nova ordem jurdica, poltica e econmica do Brasil deveriamenfrentar.5

    Por outro lado, pensar o pas segundo as mais avanadas teorias cientficasdo perodo, como o evolucionismo social, trazendo o negro e o mestio para ointerior deste discurso, representava inserir nossa elite intelectual e seus centrosde divulgao cientfica num debate internacional (com a vantagem de se ter smos os objetos empricos de observao a frica em nossas cozinhas) aomesmo tempo em que se diagnosticavam os problemas particulares de acordocom um sistema de pensamento produzido l fora, mas retraduzido em termoslocais (LIMA, 1984).6

    Assim, interessado em identificar e comprovar patologias e desajustespsquicos ocorridos entre os negros e mestios, o mdico acabou interessando-sepelo universo mstico desses grupos que lhe pareceu oferecer referncias positivasda incapacidade intelectual dos devotos.

    As descries feitas a partir de suas incurses cientficas pioneiras aosterreiros baianos e outros lugares de culto foram reunidas em dois livros. Noprimeiro deles, L animisme ftichiste des ngres de Bahia,7 Nina Rodrigues pretendeudemonstrar com descries da teologia, liturgia, orculo e possesso presentes nareligiosidade afro-brasileira, a incapacidade psquica do negro de adotar umareligio baseada em conceitos abstratos tais como os do cristianismo. No segundo,Os africanos no Brasil - para o qual o apelo de Silvio Romero citado acima serviude epgrafe -, Nina Rodrigues ampliou a rea de estudos abrangendo assuntosdiversificados como a procedncia dos grupos africanos vindos para o Brasil, asrevoltas dos negros maometanos, a formao do quilombo de Palmares, alm dosaspectos religiosos e lingsticos dos grupos negros.

    Por meio dos textos de Nina Rodrigues a religiosidade de origem africanafoi vista como um dado psicolgico positivo, num contexto em que no se

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    pensava que essa religiosidade fosse sequer passvel de ser observada seriamente,muito menos pela cincia.

    Como objetos do discurso, os poucos relatos produzidos at ento sobreas religies dos negros e seus descendentes, consistiam nas descries dos cronistase viajantes ou nos autos do Santo Ofcio relatando casos de negros acusados depraticar feitiaria. No sculo XIX por meio da imprensa, outra forma descritivadestes cultos ganhou evidncia. Tratava-se da reproduo na seo policial derelatos dos rgos comprometidos com a represso aos cultos de origem africanaidentificados como prticas de curandeirismo, charlatanismo etc. Nesses discursos,as prticas religiosas afro-brasileiras eram vistas ora como exticas ou folclricas,ora como delituosas ou farsas, e no havia lugar neles para o surgimento de umaoutra compreenso alm daquela imposta pela prpria ideologia que motivou otexto. A etnografia de Nina Rodrigues abriu, desta forma, um campo discursivoindito no apenas porque interpretou os cultos de origem africana com um novoolhar, mas tambm porque procurou demarcar a especificidade desta interpretaocomo resultado de uma observao documentada, to minuciosa e severa comopedia a natureza delicada do assunto; insistindo sempre no seu carter cientfico(RODRIGUES, 1935, p. 14). Neste sentido, pela primeira vez, realizada, noBrasil, uma pesquisa de campo no mbito dos cultos de origem africana, quelevou em considerao a convivncia cotidiana e a freqncia s festas e aos rituaisrealizados pelos fiis.

    Da raa cultura, passando pela religio

    As principais tarefas empreendidas pela gerao que resolveu darcontinuidade etnografia do negro, de certa forma colocada em suspenso atos anos de 1930, foram as de redefinir posies, inventariar totens e estabelecerlegitimidades. Do mesmo modo que o negro foi descoberto para a cincia pelatica de Nina Rodrigues, este autor teve de ser reinventado por seus sucessorespara se tornar pai de uma gerao que buscava uma identidade para si, atravs doestudo do negro, dentro do novo campo institucional-acadmico.

    Artur Ramos foi quem mais assumiu esta tarefa afirmando semelhanas(mas tambm buscando rupturas) que aproximassem (e distanciassem quandoconveniente) o mestre do discpulo.

    Nos anos 1920, Artur Ramos, tambm mdico por formao, exercendosuas atividades cientficas e profissionais na Faculdade de Medicina da Bahia,

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    entrou em contato com a obra etnogrfica de Nina Rodrigues. Seu interesse peloestudo da religiosidade do negro, levou-o posteriormente a publicar uma srie delivros sobre o tema: O negro brasileiro (publicado em 1934 e revisto e ampliadoem 1940), O folclore negro do Brasil (1935), As culturas negras no novo mundo (1935)e a Aculturao negra no Brasil (1942).

    Uma caracterstica principal marcou a nova abordagem proposta nesteslivros: a religiosidade afro-brasileira deixou de ser entendida como manifestaoda inferioridade dos negros, e por meio dela se criticou o prprio conceito de raasubstituindo-o pelo de cultura. Mas, para que essa nova abordagem no postulasseuma ruptura com o que havia sido produzido sob o signo da explicao biolgica(tudo est no sangue), Artur Ramos identificou seu trabalho e o de seus seguidorescomo pertencentes a uma fase post-Nina Rodrigues na qual se operoua interpretao metodolgica e os acrscimos a obra que o grande mestre deixouinacabada.8

    Um exemplo do que significou essa fase na tradio dos estudosetnogrficos sobre o negro, que se queria consolidar nos anos 30 localizando,porm, o seu incio em Nina Rodrigues, foi a publicao em 1935 de O animismofetichista dos negros bahianos, com Prefcio e Notas de Artur Ramos. Neste prefcio enotas, Artur Ramos procurou minimizar a importncia das interpretaes racistaspresentes na obra e ressaltar a parte documentria inatacvel, isto , a descriodos terreiros considerada ponto de partida imprescindvel ao ethnografo de nossosdias, interessado no problema da raa negra no Brasil (RAMOS apudRODRIGUES, 1935, p. 11).

    Esses livros foram, tambm, os dois primeiros volumes da coleoBibliotheca de Divulgao Scientfica, editada pela Editora Civilizao Brasileira,sob a direo de Artur Ramos, que nos anos 1930 tornou-se um dos principaisveculos de divulgao dos estudos etnogrficos sobre o negro que ressurgiramcom grande fora em vrias partes do Brasil. Entre 1934 e 1940, dos 20 ttulospublicados nessa coleo, 13 deles abordavam quase que diretamente esse tema.9

    Artur Ramos, ao retirar a explicao racial da base dos fenmenos culturais,mais do que se desviar do pensamento de Nina Rodrigues procurou deslocar osestudos sobre o a religiosidade de origem africana da fronteira com as cinciasmdicas e, posteriormente, da psicanlise. A mudana do subttulo de seu livroinaugural O negro brasileiro que na edio de 1934 aparece como Ethnografiareligiosa e psicanlise e na de 1940 apenas como Etnografia religiosa indicativadessa postura.

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    De qualquer modo, a indicao do nome de Artur Ramos, em 1939, paraocupar a ctedra de antropologia e etnografia da recm-criada Faculdade Nacionalde Filosofia, foi decisiva no s no encaminhamento de sua carreira em direo antropologia, mas tambm na localizao do seu tema predileto de pesquisa, onegro e sua religiosidade, como parte do curriculum oficial de ensino desta disciplina(FARIA, 1993, p. 7). O programa desta ctedra em 1944, por exemplo, estavadividido em trs partes: antropologia, etnologia e etnologia brasileira.10 Na primeiraparte enfatizava-se a antropologia fsica ou biolgica. Na segunda, as doutrinasevolucionistas, aspectos da cultura material e descrio dos povos (mostrandoinclusive a pouca distino existente entre os nomes etnologia e etnografia). Ena terceira parte, os estudos etnogrficos no Brasil (retomando o nome da ctedra).Nestes estudos destacavam-se o amerndio e o negro sendo este, inclusive, iniciadopelo estudo da Escola Nina Rodrigues (AZEREDO, 1986, p. 264).

    Artur Ramos tambm se empenhou na formao de uma bibliografiaabrangente para o ensino destas disciplinas, com especial nfase na etnologia (ouetnografia) brasileira. Em decorrncia de sua ctedra escreveu um amplo compndioem dois volumes: Introduo a antropologia brasileira. No primeiro volume,publicado em 1943, procurou sistematizar o conhecimento sobre as culturasindgenas e negras do Brasil, e no segundo, publicado em 1947, dedicou-se sculturas europias, mestiagem e aos contatos culturais ocorridos no Brasil.A utilizao de termos como aculturao e assimilao nos ttulos de vrioscaptulos do segundo volume revela as influncias das abordagens provenientesdo culturalismo norte-americano que nortearam a compilao dos temas e oentendimento do que era a antropologia, a etnografia e a etnologia.

    Com as publicaes da Bibliotheca de Divulgao Scientifica, a etnografiado Brasil, principalmente a do negro passou a contar com uma abundantebibliografia em portugus, de fcil acesso e utilizada no ensino superior.A atividade editorial e acadmica de Artur Ramos contribuiu, portanto, paraevidenciar este tema facilitando o seu trnsito na academia.11

    Outra decorrncia de atuao acadmica de Artur Ramos foi a criao em1941 da Sociedade Brasileira de Antropologia e Etnologia que recebeu o mesmonome de sua ctedra na Faculdade Nacional de Filosofia. Essa associao,a primeira sociedade cientfica, de mbito nacional, dedicada ao tratamento detemas antropolgicos (AZEREDO, 1986, p. 21) embora tenha tido uma curtaexistncia (at 1949, ano da morte de Artur Ramos), teve um significativo papel,no tanto por suas atividades cientficas restritas, alis, gesto da ctedra daqual era uma espcie de subsidiria mas por indicar o crescente fortalecimento

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    da antropologia que buscava um foro prprio para agrupar seus praticantes eafirmar a sua especificidade no panorama das cincias sociais brasileiras.12

    Em torno das representaes sobre o negro tambm se atrelaram outrasconcepes de antropologia e o estabelecimento de competncias nas universidadesdos anos de 1930.

    Paralelamente s atividades de Artur Ramos que se afirmou nessa reacomo o principal articulador da Escola Nina Rodrigues, outro intelectual emascenso, Gilberto Freire, procurou definir esferas de atuao da disciplinarefazendo linhagens13 e atacando abordagens estranhas ao metier antropolgicoas quais poderiam confundir as fronteiras desta com outras cincias, como amedicina.

    Freire tornou-se um cientista social de grande projeo depois dapublicao de Casa-Grande & Senzala, e costumava ressaltar sua formao emestudos graduados e ps-graduados em cincias sociais realizados no exterior,uma credencial que poucos intelectuais podiam exibir nos anos de 1930 quandoos primeiros cursos nessa rea foram criados no Brasil.

    A ao de Gilberto Freire na redefinio das linhagens que vinham sendoestabelecidas por Artur Ramos, encontrou na formao mdica deste um pontoestratgico para marcar diferenas. Freire, na poca em que Ramos ocupava actedra de Psicologia Social na Universidade do Distrito Federal, era o Diretor doDepartamento de Cincias Sociais e como tal criticou o programa que este lheapresentou por consider-lo excessivamente psicanaltico. Esta atitude teriadistanciado os dois autores.

    Nessa tentativa de definir o ofcio do antroplogo distanciando-o de outrascincias, Freire procurou rever os totens reverenciados como patronos daantropologia. Para ele, o pioneirismo de Nina Rodrigues, grande cone da EscolaBaiana, deveria ser substitudo por outros nomes que teriam inaugurado clsverdadeiramente antropolgicos, como a Nova Escola do Recife (assim batizadapor Roquete-Pinto) da qual ele prprio se tornaria o principal representante.Segundo Freire, a justa linhagem desses estudos fora iniciada por intelectuaiscomo Jos Bonifcio, Slvio Romero, Alberto Torres, entre outros, sendo seuscontinuadores, na antropologia fsica e social, autores como Roquete-Pinto, JooBatista Lacerda, Froes da Fonseca e Fernando de Azevedo. Na subrea recifense,deveria ser considerada, ainda, a atuao de Ulysses Pernambucano e de seusdiscpulos: Ren Ribeiro, Gonalves Fernandes e Waldemar Valente.14

    As crticas de Freire aos excessos psicanalticos de Artur Ramos e da EscolaBaiana foram, contudo, muito atenuadas quando aplicadas a essa Nova Escola

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    do Recife cujos integrantes, a comear por Ulysses Pernambucano, eram quasetodos de formao mdica com especialidade em psiquiatria. Mas nesse caso,Freire salientou sua ao no sentido de corrigir no Recife a orientao erradade Nina Rodrigues. Desta forma, caberia a ele, Freire, que se considerava discpulobrasileiro de Boas a primazia da renovao dos estudos antropolgicos no Brasil,segundo sua prpria opinio.

    Essa primazia tambm encontrou respaldo no I Congresso Afro-Brasileiro,realizado em Recife, em 1934 e organizado por Gilberto Freire. Este encontropioneiro de estudiosos e praticantes das religies afro-brasileiras buscou de certaforma, expandir a influncia do grupo do Recife numa rea em que Artur Ramose sua escola cada vez mais se projetavam: a dos estudos etnogrficos sobre onegro tendo como ponto de partida seu universo religioso.15 A Escola Baianaestava, contudo, de tal forma consolidada que o prprio Congresso do Recife tevede reverenci-la na resoluo votada pelos participantes de se publicar o retratode Nina Rodrigues nos seus anais. Outra demonstrao de reconhecimento daposio de prestgio de Artur Ramos foi o convite que lhe fez Gilberto Freirepara prefaciar o segundo volume dos anais do Congresso.

    A disputa continuou, ainda em 1937, no II Congresso Afro-Brasileiro,desta vez ocorrido na Bahia e organizado por um dos principais discpulos deArtur Ramos, dison Carneiro. Este encontro que parece ter tido maior visibilidadee maiores conseqncias ao menos em termos de legitimao das religies afro-brasileiras dentro e fora do campo acadmico,16 serviu para consolidar a memriade Nina Rodrigues. A publicao dos trabalhos apresentados neste Congresso eno do Recife ficou a cargo da Bibliotheca de Divulgao Scientifica de Artur Ramos.

    Nesse perodo as disputas por uma definio terica e profissional entrelideranas representativas de instituies acadmicas de perfis e regies diferentestambm se expressaram na corrida por publicar obras genricas que fizessemuma espcie de etat d art da antropologia brasileira da poca, definindo questes,colocando problemas e produzindo algumas verses de sua histria oficial. Algumasdestas obras ainda tentavam manter sob o termo antropologia a biologiacomparativa dos grupos humanos, como Ensaios de antropologia brasiliana, deRoquete-Pinto (1978) e Questes de antropologia brasileira, de vila (1935), amboscom atuao no Museu Nacional do Rio de Janeiro. Outras, como Problemasbrasileiros de antropologia, de Freire (1959) e Introduo a Antropologia Brasileira,de Ramos (1947), anunciavam uma viso mais abrangente da disciplina seguindo,porm, as especializaes ensinadas por estes professores nas suas ctedrasuniversitrias. De qualquer forma, esses livros, entre outros, no foram escritos e

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    nem tiveram ttulos assim to parecidos por acaso. Sob a aparente semelhanaentre os substantivos e adjetivos dos ttulos, possvel reconhecer diferenasmarcantes logo no ndice dos temas tratados em cada um deles.

    Negros, negroes e ngres

    Quando comparadas entre si as concepes que Freire e Ramos tinhamdo que era a antropologia, v-se que seus atritos resultaram menos de divergnciasconcretas do que da busca pela legitimidade de instaurar essa disciplina no campoacadmico brasileiro. Tanto um autor como o outro entendiam que a antropologiadeveria ser uma cincia dedicada ao estudo do homem total erigida na pocasob a perspectiva terica do culturalismo norte-americano. Artur Ramos, por tercentrado seu esforo na constituio de uma etnografia da religiosidade do negro,diferiu neste sentido de Gilberto Freire que conduziu seus temas preferencialmentepara fronteiras mais amplas entre a sociologia, antropologia e histria. De qualquerforma, foi no contexto das influncias exercidas por estes autores que os estudosafro-brasileiros tiveram outros desdobramentos entre as dcadas de 1940 e 1960.

    Um desses desdobramentos foi empreendido por autores que, ao criticaremas abordagens de Nina Rodrigues, no tiveram receio de ampliar os limitestradicionais do objeto de sua etnografia. Gilberto Freire anunciou esseencaminhamento ao apontar o equvoco de Nina Rodrigues em ver o africanono Brasil esquecendo-se de sua condio de escravo que constrangia a expressolivre de sua cultura de origem (FREIRE, 1959, p. 68). Esta postura consideradamais histrica ou sociolgica (NOGUEIRA, 1985), permitiu a formao deuma linhagem de estudos na qual a religio no foi eleita como um aspecto centralde interesse, figurando como um dado, entre outros, para se entender orelacionamento cultural e racial entre brancos e negros na sociedade brasileira.

    Outro desdobramento foi conduzido por pesquisadores que, mesmoressaltando as crticas ao trabalho de Nina Rodrigues, buscaram manter comoponto de atrao o lugar especial que ocuparam as prticas religiosas de origemafricana. Estas prticas foram compreendidas, ento, no mais em termos deconceitos desqualificantes como animismo, fetichismo, histeria etc., mas comofenmenos singulares, nacionais e importantes para o conhecimento da realidadecultural brasileira. Um exemplo desta perspectiva valorativa foi a transformaona nomenclatura destas prticas que passaram a ser designadas por cultos oureligies negras ou afro-brasileiras. Artur Ramos foi um dos principais

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    representantes desta vertente seguido por dison Carneiro, um jornalista baianoque embora tenha encontrado srias dificuldades de insero acadmica produziuinmeros trabalhos sobre o tema, alm das atividades j referidas junto ao IICongresso Afro-Brasileiro.

    Nesse sentido, o legado cientfico de Nina Rodrigues, que propunhavnculos explicativos entre raa e religio, foi refeito pela gerao posterior. Oestudo das relaes raciais entre negros e brancos se consolidou como uma reaquase que autnoma para a qual convergiram enfoques sociolgicos, antropolgicose histricos. J os estudos sobre a herana cultural religiosa africana no Brasil, nosquais o candombl e outras expresses ocuparam um papel central, acabaram seconsolidando como antropolgicos ou etnogrficos.

    Esses desdobramentos no foram, entretanto, conseqncia da aoexclusiva dos intelectuais e acadmicos brasileiros. Resultaram tambm da atuaocrescente dos pesquisadores profissionais estrangeiros, principalmente norte-americanos e franceses, que a partir dos anos 1930 e 1940 descobriram o Brasilcomo rea de estudos sobre o negro e de conformao de suas carreiras universitrias.

    Entre os primeiros cientistas que desembarcaram no Brasil tendo emvista desenvolver aqui suas pesquisas sobre os negros estavam Donald Pierson eRuth Landes.17 Pierson, muito mais do que Landes, exemplificou oenquadramento do problema da etnografia religiosa afro-brasileira em termos deconexes mais amplas. Em seu livro, Negroes in Brazil, A study of race contact atBahia, Pierson (1942), escrito a partir de suas pesquisas de campo neste estadoentre 1935 e 1937, procurou fornecer uma interpretao do carter harmoniosode nossas relaes raciais seguindo de perto os alicerces de Gilberto Freire emCasa-Grande & Senzala - nome, alis, que deu a um dos captulos do livro. Dosoutros dez captulos, apenas um deles dedicado ao Candombl. Esta obra dePierson teve um papel muito importante por fazer trafegar representaes sobreo problema negro no Brasil num circuito acadmico altamente prestigiado dosEstados Unidos: o da Universidade de Chicago.18

    Depois deste trabalho, Pierson voltou ao Brasil em 1939 para integrar oquadro de professores da Escola Livre de Sociologia e Poltica fundada em SoPaulo em 1933, um ano antes da criao da Faculdade de Filosofia, Cincias eLetras da Universidade de So Paulo. Nessa cidade ficou por cerca de dezoitoanos implementando uma postura profissionalizante na prtica das cincias sociais,segundo o modelo da Escola de Chicago.

    Ruth Landes pesquisou no Brasil entre 1938 e 1939. Vinda de outroimportante centro acadmico, a Universidade Colmbia,19 onde atuavam Franz

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    Boas e seus discpulos, tinha como interesse original tambm a rea dos contatosraciais. Contudo, acabou centrando suas pesquisas em aspectos rituais e sociaisdo candombl, com especial nfase no status feminino na estrutura destes cultosem Salvador. Produziu alguns artigos sobre o tema, mas sua obra mais conhecidafoi The City of Women (1947) em que narrou numa linguagem quase confessionalsuas experincias dessa poca.

    Outra presena, menos duradoura se comparada com a de Pierson ou deLandes, porm to importante como essas na consolidao do Brasil como regioetnogrfica no estudo do negro e na legitimao das linhagens acadmicasnacionais, foi a de Melville Herskovits que no incio dos anos 1940 realizou,durante alguns meses, uma pesquisa sobre a aculturao negra no Brasil. Nestapoca, quando o pensamento de Boas assumia novas direes nos trabalhos deseus discpulos, Herskovits, da Northwestern University, era um dos principaisdivulgadores da tradio boasiana dos estudos culturalistas, principalmente emsua vertente econmica. Como africanista, havia revelado este continente para aantropologia cultural norte-americana (STOCKING JNIOR, 1992, p. 132) esua vinda ao Brasil em busca de sobrevivncias africanas no Novo Mundo significouno apenas a continuidade de seus estudos nessa rea, mas o estabelecimento doBrasil na rota dos interesses acadmicos do seu Pas.

    A presena de Herskovits no Brasil significou o apogeu dos enfoquessocio-culturais nos estudos afro-brasileiros seguidos por duas das principaislideranas intelectuais nacionais: Gilberto Freire e Artur Ramos.20 Esta presenafoi, no entanto, mais benfica para Freire cujo trabalho foi elogiado por Herskovitsque no estendeu o mesmo tratamento s obras de Artur Ramos.21 Na confernciade abertura da Faculdade de Filosofia da Bahia, em 1942, Herskovits ressaltouque, se a censura de Silvio Romero sobre a falta de estudos sobre o negro foi bemrespondida com a obra de Nina Rodrigues e de seus seguidores, por outro lado,com exceo para as anlises etno-histricas de Gilberto Freire e para os estudossociolgicos de Pierson, toda essa obra acha-se orientada com especialidade parauma compreenso das prticas e crenas religiosas dos afro-baianos(HERSKOVITS, 1967, p. 93). Para Herskovits, essa abordagem, ainda que fosserelevante e necessria, deveria ser redirecionada por um programa de pesquisasabrangentes considerando a totalidade do rico material que a Bahia, e por extensoo Brasil, poderia oferecer com as inmeras instituies e modos de condutasafricanas que se conservaram devido tradicional tolerncia da sociedadebrasileira. Herskovits tambm influenciou a especializao acadmica de algunsscholars brasileiros como Octvio da Costa Eduardo e Ren Ribeiro que fizeram a

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    rota inversa dos pesquisadores estrangeiros: saram do Brasil para escrever sobre oPas com o olhar desde fora. Pelos ttulos dos trabalhos produzidos por eles Thenegro in Northern Brazil: A study in acculturation (EDUARDO, 1948) e Cultosafrobrasileiros do Recife: Um estudo de ajustamento social (RIBEIRO, 1952) v-seo significativo papel que as teorias sobre aculturao e relaes entre cultura epersonalidade assumiram na anlise do material afro-brasileiro. Esta perspectivafoi muito importante na sedimentao dessa rea na antropologia, alm de terpermitido a transferncia para esta disciplina do capital terico de certospesquisadores formado em outros campos como a medicina ou psiquiatria.22

    A disseminao desta postura terica, com a legitimidade advinda doscentros acadmicos estrangeiros, logo se tornou passaporte valorizado para essesscholars ps-graduados no exterior que passaram a integrar os quadros aindaprecrios das instituies cientficas e de ensino superior emergentes. CostaEduardo passou a lecionar com Donald Pierson na Escola Livre de Sociologia ePoltica de So Paulo e Ren Ribeiro ocupou a ctedra de Etnografia do Brasil daFaculdade de Filosofia da Universidade Federal de Pernambuco, alm de integrarcomo antroplogo a primeira equipe de pesquisadores do Instituto JoaquimNabuco, fundado em Recife, por Gilberto Freire em 1949.23

    Nesse perodo, o crescente fluxo de pesquisadores estrangeiros ao Brasil ea publicao em lngua inglesa dos trabalhos dos brasilianistas e de autoresbrasileiros24 promoveram a divulgao internacional das especificidades presentesnos contatos raciais e culturais do Pas. Esses contatos acabaram sendo objeto deuma ampla investigao patrocinada pela Unesco com o objetivo de divulgar aomundo o exemplo brasileiro de convivncia harmoniosa entre as raas. Esteprojeto, idealizado por Artur Ramos25 e levado adiante pelo antroplogo AlfredMtraux, consistiu numa srie de pesquisas realizadas em vrios pontos do Brasil,aproveitando em muitos casos as pesquisas que j estavam em andamento.Abrangeu desde estudos em comunidades rurais que vinham sendo feitosprincipalmente na Bahia por antroplogos norte-americanos como CharlesWagley e Marvin Harris, at em reas urbanas, como Recife, Rio de Janeiro e SoPaulo, onde participaram principalmente pesquisadores brasileiros.

    O tema das religies afro-brasileiras no parece ter sido inicialmentevalorizado na proposta do projeto da Unesco, embora seu primeiro incentivadorArtur Ramos tenha se especializado muito mais nessa rea do que na de relaesraciais. A presena deste tema, ao que tudo indica, foi resultado da interveno e doprestgio de Gilberto Freire que protestou contra a excluso no projeto da regiode Pernambuco e do Instituto Joaquim Nabuco (FREIRE, 1959, p. 192). Com

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    isso coube a Ren Ribeiro desenvolver uma pesquisa em Recife sobre Religio erelaes raciais (1956). Afinal de contas, religio evidentemente deve ter algumacoisa com o preconceito.26

    Apesar desta evidncia, a constituio de vnculos entre o campoetnogrfico das religies afro-brasileiras e outros mais abrangentes, como o dasrelaes raciais, no se consolidou nos circuitos acadmicos nacionais. significativoque numa resenha ao livro Candombl da Bahia, de Pierson (1964) (o captulosobre o candombl de Negroes transformado em livro), Hlio Vianna tenhaafirmado: No h dvida que o material apresentado pelo professor DonaldPierson seja dos mais interessantes at agora a respeito reunidos, embora passvelda observao de levar a srio cultos que na verdade no passam de simplesmanifestaes de magia negra e, como tais, justamente perseguidos pela polcia.

    Para que a etnografia da magia negra atingisse sua maioridade comocampo legtimo de interesse etnogrfico foi preciso esperar pelo olhar francsque primeiro insistiu no elevado significado desta magia em termos de comporum sofisticado complexo religioso e depois lhe imputou uma valorizao desdedentro revelando as sutis metafsicas que o compunham.

    Um dos primeiros contrastes que os novos estudos afro-brasileiros, deinfluncia francesa, estabeleceram em relao aos estudos raciais e culturalistasnorte-americanos foi o de substituir a busca pelas formas com que a frica sedissolveu no Brasil pelos pedaos indissolveis da frica que teriam permanecidosno Brasil. A frente desta jornada se colocou Roger Bastide, professor francs quechegou ao Brasil em 1938 fazendo parte da delegao de professores estrangeirosque integrava o quadro docente do Departamento de Cincias Sociais da recm-criada Faculdade de Filosofia Cincias e Letras da Universidade de So Paulo.

    Bastide viera substituir Claude Lvi-Strauss, contratado como professorda cadeira de sociologia da Universidade de So Paulo entre 1935 e 1938. Cadaum destes dois pesquisadores desenvolveu sua carreira acadmica a partir dosestudos dos dois principais objetos formadores da antropologia brasileira: ndiose negros. Como disse outro integrante dessa delegao de professores estrangeiros:

    A maior parte dos meus colegas soube extrair do Brasil riquezas aindamais decisivas. A etnografia francesa, excetuando o Museu do Homem,com Rivet e Soustelle, no conhecia os ndios seno de ouvido. Ela jamaishavia ido a campo para observ-los, muito menos para viver um tempocom eles. Lvi-Strauss atribuiu a si a misso de encontr-los e lev-los Frana [...] Quando Roger Bastide obteve a cadeira de sociologia, eleencontrava seu futuro em uma nova voga, no mais a dos ndios, mas a dosnegros. E pelo mesmo clculo que Lvi-Strauss, ele tornou-se o revelador

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    diante dos franceses, da negritude, quer dizer, da sobrevivncia no NovoMundo de velhas prticas africanas (ARBOUSSE-BASTIDE apudMASSI, 1989, p. 433).

    A descoberta ou revelao dos ndios e dos negros a partir das poucasviagens etnogrficas que Lvi-Strauss e Roger Bastide empreenderam pelo Brasilajudou a redimensionar o valor dos estudos etnogrficos sobre estes grupos. Lvi-Strauss descreveu seu contato com os ndios do Brasil Central no livro TristesTrpicos (1957). Roger Bastide comeou a pesquisar a contribuio dos negrospara a cultura brasileira por meio da relao entre arte e sociedade. Da mesmaforma que Silvio Romero apontara a importncia dos contos populares de origemafricana para o folclore nacional, Roger Bastide se interessou pela poesia afro-brasileira como parte relevante na constituio da literatura brasileira. E tendoconstatado no perodo em que chegou ao Brasil a grande influncia de Casa-Grande & Senzala, buscou compreender o sentido desta obra (que traduziu parao francs) na interpretao da realidade brasileira. O interesse pela cultura afro-brasileira levou-o a uma viagem em 1944 pelo nordeste do Brasil na qual seencantou com o universo das religies de origem africana. A partir dessa viagemescreveu Imagens do nordeste mstico em branco e preto (1945), misturando as crnicasde suas andanas pela Bahia e Recife com uma anlise do barroco brasileiro e adescrio do mundo dos candombls. Imagens pode ser lido como uma espciede Tristes Trpicos s avessas j que no primeiro prevaleceu um tom otimista emrelao a preservao da cultura africana no Brasil, ao contrrio do livro de Lvi-Strauss, que constatou uma triste realidade de abandono e destruio das culturasindgenas.

    O encanto despertado pela mstica dessas imagens religiosas, descritasinicialmente de modo impressionista, levou Roger Bastide a propor anlises maisrefinadas. Escreveu uma srie de artigos publicados em trs volumes do Boletimda Faculdade de Filosofia, Cincias e Letras da USP (1946, 1951 e 1953)intitulados Estudos afro-brasileiros. Mas foi aps o retorno de Bastide Frana em1954 que escreveu e publicou suas principais obras sintetizando o resultado daspesquisas realizadas no Brasil: Le candombl de Bahia - rite nag (1958) e Lesrligions africaines au Brsil (1960).27 Posteriormente, ainda publicou Les Amriquesnoires (1967) no qual ampliou o campo de anlise para os africanismos presentesem outros locais da Amrica.

    Apesar de influenciado pela formao intelectual europia, Roger Bastidefoi um defensor da necessidade da criao de uma sociologia brasileira para

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    entender a realidade sui generis do pas. No estudo do sincretismo, fenmeno queo instigava desde suas primeiras incurses a campo expressou essa insatisfaocom os estudos anteriores (de Nina Rodrigues a Herskovits) que lhe pareceramadotar uma perspectiva mecnica (aquela que mais tarde seria denunciada sob afrmula de aculturao en bottes de foin, de elementos de natureza diversa,considerados em conjunto) (BASTIDE, 1983, p 10). Para Bastide os estudosafro-brasileiros anteriores deixavam de lado a caracterstica que o seu olhar, treinadopor uma forte tradio filosfica francesa, no poderia deixar de perceber:a presena no mundo dos candombls de uma metafsica sutil cujo entendimentodeveria ser o principal objetivo da investigao antropolgica.

    A identificao que Bastide estabeleceu posteriormente entre o seutrabalho no Brasil e o de Marcel Griaule na frica ambos dedicados a descobrira lgica das filosofias nativas , permite avaliar a transformao que a suaetnografia religiosa do negro props a partir do contexto acadmico paulista e naredistribuio da atribuio de competncia entre os centros produtores de cinciae particularmente das representaes cientficas sobre o negro.

    Desdobramentos

    Com a criao e consolidao dos programas de ps-graduao nasprincipais universidades do pas, a partir dos anos dos 1960, e com o crescenteaumento no nmero das investigaes neles realizadas (condio necessria para atitulao acadmica) as representaes sobre o negro assumiram novos e complexosrumos diversificando os enfoques dificultando assim sua classificao em categoriasmuito estanques. Muitos estudos que poderiam ser identificados sob essa rubrica(estudos sobre o negro) ampliaram o seu referencial, como no caso dos estudosdos movimentos sociais urbanos e rurais que mesmo sem aludir diretamente aquesto do negro, acabam por revelar condies sociais que lhe so peculiares. Narea dos estudos sobre o universo religioso afro-brasileiro tambm houvetransformaes significativas, seja pela incluso destes estudos em campos maisabrangentes como o dos estudos de religiosidade popular (o que de um certomodo dissolveu o carter tnico desse universo),28 ou ainda pela nfase no estudode expresses religiosas de conformao mais recente como a umbanda queproliferou muito nos grandes centros urbanos do sudeste e chamou a ateno dosestudiosos acadmicos.29

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    Alm disso, vrios institutos, ncleos ou centros de pesquisa surgiramconveniados s universidades ou integrados aos seus programas de ps-graduao,o que promoveu um adensamento das discusses sob certos enfoques maisespecficos ou compondo reas de investigao mais abrangentes.30

    A relao entre objetos teoricamente construdos e objetos empricos,referida por Cardoso de Oliveira, neste contexto parece que se tornou maiscomplexa seguindo de perto os interesses das polticas estabelecidas pelospesquisadores organizados em instituies universitrias e associaes acadmicas.Nessas esferas, as linhas de pesquisas ou temas de investigao que congregamos pesquisadores a partir dos seus interesses acadmicos fornecem pistassignificativas sobre os modos pelos quais os objetos so referendados pelos gruposda academia.

    Considerando, por exemplo, as linhas de pesquisa praticadas em dezinstituies acadmicas em 1977, segundo o Conselho Nacional de Pesquisas(VELHO, 1980, p. 81): Sociedades Indgenas; Relaes Intertnicas (GruposIndgenas); Frentes de Expanso (Moving Frontiers); Campesinato; MovimentosSociais Urbanos; Trabalhadores Urbanos; Relaes Intertnicas (outras); Rituaise Smbolos Nacionais; Grupos e Rituais Religiosos; Papis Sociais eRepresentaes; Camadas Mdias (Comportamento Desviante); EtnodemografiaHistrica; Antropologia da Produo Intelectual; Antropologia da Sade;Antropologia da Educao e finalmente Teoria Antropolgica, v-se uma grandevariao nos critrios de definio que no distinguem objetos empricos (sociedadesindgenas, campesinato, trabalhadores urbanos etc.), problemticas e categoriasda explicao cientfica (relaes intertnicas, rituais, smbolos, papis sociais,representaes etc.) e especializaes disciplinares (antropologia da sade, daeducao etc.) Curiosamente, o negro, mesmo como objeto emprico no constituiunessa lista uma linha de pesquisa autnoma, como acontece com sociedadesindgenas. Supe-se que possa ser analisado na linha relaes intertnicas, nacategoria outras, que se apresenta diferenciada inclusive da linha relaesintertnicas especfica para grupos indgenas. O universo religioso afro-brasileirotambm no institudo nominalmente como uma linha especfica podendo serenquadrado em grupos e rituais religiosos.

    Pela forma como as representaes sobre o negro aparecem enunciadasnestas linhas de pesquisas possvel perceber como o saber acadmico oscilouentre incorpor-lo ou no como o outro da descrio etnogrfica. Enquantomembro da mesma sociedade nacional do antroplogo, o negro no podia serdefinido em termos das especificidades que o separavam do sujeito do

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    conhecimento, a no ser no perodo inicial da formao da antropologia quandoo negro era sinnimo de africano, estrangeiro. As formas de sua insero nasociedade nacional passaram, ento, a ser alvo do interesse cientfico, primeirotomando-o na sua condio biolgica (racial), depois na de escravo e finalmentecomo elemento subjugado nas relaes de classe. Em relao ao ndio parece tersido mais fcil defini-lo como o outro em contraposio a um sujeito do saberacadmico. Nesse sentido, at mesmo o relacionamento do ndio com o brancofoi diferenciado das outras relaes entre grupos. Relaes raciais para negros ebrancos e relaes intertnicas para ndios e brancos. Como bem percebeu MarizaPeirano, os ttulos de dois importantes livros sobre essas relaes, O negro no mundodos brancos, de Fernandes (1972) e O ndio e o mundo dos brancos de Oliveira(1964), servem como metforas para as diferentes percepes cientficas em relaoa essas populaes. Enquanto o primeiro ttulo alude a incluso do negro natotalidade da nao, no segundo prevalece a excluso do ndio como um outsiderda nao definida por ns (PEIRANO, 1991, p. 168).

    Outro exemplo pode ser dado pela classificao das reas deconhecimento proposta pelo Conselho Nacional de Pesquisa nos anos 80. Estaclassificao abrange trs nveis, do mais geral ao mais especfico. A rea daantropologia foi localizada na grande rea das Cincias Humanas, passando ater cinco sub-reas: Teoria Antropolgica; Etnologia Indgena; AntropologiaUrbana; Antropologia Rural e Antropologia das Populaes Afro-Brasileiras. Essaclassificao demonstra inicialmente a hegemonia do termo antropologia como omais apropriado para denominar a disciplina em relao a outros como etnologiaou etnografia (esta inclusive nem aparece na lista). Por outro lado, no caso daspopulaes indgenas a especificidade do objeto continuou marcando suadistino no nome dessa sub-rea que identificada como etnologia, em contrastecom a sub-rea das populaes afro-brasileiras, considerada como antropologia.De qualquer modo, nesta lista, ao contrrio da anterior, as representaes sobre onegro ganharam uma linha prpria mesmo que sob um adjetivo de difcil consenso:afro-brasileiro. Nesta classificao persistiu, tambm, ainda que de modo menosvisvel do que na classificao anterior, a tenso entre os critrios adequados paradenominar o saber acadmico antropolgico. O que (ndios/negros) e onde (rural/urbano) estudamos parece prevalecer nesta classificao dicotmica e reveladoradas contradies presentes no olhar e no lugar de quem classifica. Se a antropologiano termina onde comea o asfalto31, no resta dvida que mais difcil caminharsem a legitimidade que os povos da selva (os primeiros objetos) lhe outorgaramcomo parte do prprio mito antropolgico de origem.

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    Concluso

    Na relao entre as representaes sobre o universo cultural religioso donegro e a formao da antropologia brasileira, percebe-se que impossvelidentificar objetos sem identificar minimamente os sujeitos, as disciplinas e ocampo acadmico no qual essas representaes trafegam como bens cientficos.

    O saber mdico-etnogrfico do final do sculo XIX, sinalizando o fimdas viagens e de suas crnicas marcou uma transformao significativa do statusdas representaes sobre o negro, que passaram de uma posio perifrica para ocentro da ateno cientfica, principalmente da medicina. Isso se deu atravs dasprimeiras incurses etnogrficas que tomando os africanos e seus descendentescomo portadores de uma alteridade que os distinguia na sociedade brasileira(conforme demonstravam as sobrevivncias religiosas africanas), definiu um objetoobservvel ao mesmo tempo em que criava a figura do observador (um investigadoremprico largamente devedor da viso de cincia aprendida nas Faculdades deMedicina e das prticas e rotinas desenvolvidas nos consultrios).

    Com o saber institucional-acadmico praticado nas primeiras faculdadesde filosofia, cincias e letras criadas no Brasil, as cincias sociais ganharam nosanos 1930 um espao prprio e a antropologia, procurou marcar sua especificidadeno conjunto destas cincias. Nesse processo, os objetos preferenciais daantropologia (como as populaes indgenas e negras) desempenharam umimportante papel. No caso dos estudos sobre os negros, a formao nesse perodode uma literatura cientfica especializada sobre o tema garantiu, juntamente comoutros fatores, o estabelecimento de uma linhagem de pesquisadores que teve oseu ponto de origem demarcado com a reedio dos primeiros trabalhos de NinaRodrigues. Ao mesmo tempo, a gerao que patrocinou e apoiou essas reedies eproduziu suas prprias investigaes promoveu a ruptura com o vis mdico quecaracterizava os escritos etnogrficos deste autor. Assim, esta gerao procuroudemarcar linhas ntidas de distino entre o negro da medicina do final dosculo XIX e negro dos estudos antropolgicos e etnogrficos dos anos 1930 e1940. Posteriormente estas linhas de distino foram estendidas tambm aofolclore negro, objeto do saber popular ou folclorista que nos anos 1950 detinhaum grande prestgio. As inmeras sutilezas sobre as quais se afirmou essa distinoem favor do saber acadmico demonstrara, sobretudo, o poder que este j desfrutavaenquanto instncia autorizada na produo de um saber etnogrfico legitimadodentro e fora da academia.

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    O saber especializado que a partir dos anos 1960 foi sendo implementandoatravs dos programas de ps-graduao das principais universidades brasileirasveio, portanto, confirmar e consolidar a autoridade do discurso cientficoproveniente desta esfera. Desde ento os programas de ps-graduao vm setornando os principais canais para o desenvolvimento das pesquisas e a organizaoinstitucional dos seus investigadores. Tambm a partir desse perodo os estudossobre o negro consolidaram-se como um dos principais objetos da antropologiano Brasil encontrando seu lugar legtimo entre as linhas de pesquisa com as quaisse pode classificar os discursos cientficos.

    Nesse sentido, construir representaes sobre o outro significa construirlugares (disciplinares, institucionais, regionais etc.) dos quais se pode falarlegitimamente atravs de um consenso interpares que continuamente objeto,ele prprio, de negociaes e consenso. O lugar e os significados atribudos atividade de representar no devem ser vistos, portanto, como dimenses menorespara o entendimento do processo de construo das representaes, principalmentenuma cincia da alteridade como a antropologia, na qual representar sempreum verbo intransitivo. A transformao do negro em objeto da antropologia,por meio dos estudos das religies afro-brasileiras, privilegiadas neste ensaio, podeser vista, assim, como um exemplo deste jogo de espelhos no qual no se pode verum termo sem ser visto pelo outro. Sujeitos, verbos e objetos comunicam-semutuamente.

    Notas

    1 Este texto sintetiza idias apresentadas em artigo publicado na Revista USP(SILVA, 2002).2 Da mesma forma, alguns crticos, para ironizar o que consideram o carterconservador de um dos maiores clssicos sobre a formao da sociedade patriarcalbrasileira, Casa-Grande & Senzala, dizem que o seu autor, Gilberto Freire,o escrevera sentado na varanda da Casa-Grande olhando para a Senzala.3 Nas ltimas dcadas do sculo XIX, os principais centros institucionais deproduo cientfica eram as faculdades de Medicina e de Direito, os museus deetnografia e histria natural e os institutos histricos e geogrficos (CORRA,1982; SCHWARCZ, 1993).4 Os principais veculos de divulgao dos trabalhos de Nina Rodrigues foram asrevistas mdicas, sendo algumas especializadas em medicina legal eantropologia e em antropologia criminal (CORRA, 1982).

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    5 Levado por essas preocupaes, Nina Rodrigues passou a defender a criao deuma legislao penal que diferenciasse os grupos raciais em funo de suasdiferentes capacidades intelectivas, unindo o saber mdico ao saber jurdico nadeterminao das formas de relacionamento entre as raas e posicionamento doEstado diante delas (RODRIGUES, 1933).6 O valor do trabalho de Nina Rodrigues foi reconhecido por alguns famososintelectuais europeus da rea da medicina legal, como Csare Lombroso queconsiderou Nina Rodrigues o apstolo da medicina legal no Novo Mundo.O primeiro livro de Nina Rodrigues dedicado descrio da religio dos negrosbaianos, LAnimisme ftichiste des ngres de Bahia, foi resenhado e elogiado porMarcel Mauss no LAnne Sociologique (1900-1901, p. 224).7 Este livro reuniu uma srie de artigos publicados entre 1896 e 1897 na RevistaBrazileira. Editado em 1900 no Brasil em francs pela Reis & Cia, somente em1935 teve uma edio em portugus na forma de livro: O animismo fetichista dosnegros bahianos. Recentemente foi editado pela Editora da UFRJ o fac-smile dosartigos publicados na Revista Brazileira (RODRIGUES, 2007).8 Um totemismo muito significativo do modo como em geral se estabelecem aslinhagens intelectuais: sacrifica-se o mestre em nome da continuidade de suaobra inacabada.9 So eles: I- O negro brasileiro, de Artur Ramos (1940); II- O animismo fetichistados negros bahianos, de Nina Rodrigues (1935); IV- O folclore negro do Brasil, deArtur Ramos (1954); VII- Religies negras, de dison Carneiro (1936);IX- Novos estudos afro-brasileiros, de Gilberto Freire (1937); XII- As culturasnegras no novo mundo, de Artur Ramos (1937); XIII- Xangs do Nordeste, deGonalves Fernandes (1937); XIV- Negros bantus, de dison Carneiro (1937);XV- Costumes africanos no Brasil, de Manuel Querino (1938); XVII- Aescravido no Brasil, de Joo Dornas Filho (1939); XVIII- O folclore mgico doNordeste, de Gonalves Fernandes (1938) XIX- As collectividades anormais, deNina Rodrigues (1939); XIX- O negro no Brasil, de vrios autores (1940). Caberessaltar que a Biblioteca de Divulgao Scientfica da Editora CivilizaoBrasileira surgiu nos anos 1930 em meio ao grande boom do mercado editorialbrasileiro com a publicao de colees com temas relativos realidade nacional.Na anlise feita por Pontes (1989) dos gneros editados em trs destas colees:a Brasiliana, da Companhia Editora Nacional, a Documentos Brasileiros, daLivraria Jos Olympio Editora e a Biblioteca Histrica Brasileira, da LivrariaMartins Fontes Editora, o gnero antropologia e etnologia figura na primeiracoleo em sexto lugar com 7,1% e 6,7% dos ttulos publicados entre 1931-1940e 1941-1950, respectivamente (Nessa coleo, em primeiro lugar est o gnerohistria com 25% e 37% dos ttulos nos mesmos perodos, respectivamente). Nasegunda coleo antropologia e etnologia aparecem em quarto lugar com 7,6%dos ttulos publicados no perodo de 1941-50 (Em primeiro lugar est o gnerobiografia e memria, com 38,1% dos ttulos no mesmo perodo). Considerandoque nessa poca a antropologia e a etnologia eram disciplinas recm incorporadasao campo acadmico, sua visibilidade nessas publicaes em relao aos outros

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    gneros mais antigos e legtimos no nada desprezvel, principalmente seconsiderarmos que na classificao destes gneros estas disciplinas aparecemseparadas de outras que lhes so muito prximas como a arqueologia, lnguasindgenas, folclore etc.10 Embora o nome oficial da ctedra fosse antropologia e etnografia, Artur Ramossubstituu o ltimo termo por etnologia conforme se v no Programa da Cadeirade Antropologia e Etnologia feito por ele (AZEREDO, 1986, p. 264). Essamesma substituio tambm apareceu publicada em um edital do Dirio Oficial,de 1949, para provimento do cargo de professor catedrtico da cadeira deantropologia e etnografia. A matria para a argio era: antropologia, etnologia eetnologia brasileira (FARIA, 1993, p. 15). Como se v parece que a substituiodos nomes, feita por Artur Ramos, acabou prevalecendo.11 Sobre a passagem do perodo em que no se havia caracterizado ainda umaetnografia do negro para o de uma abundante bibliografia, ver as informaesde (FARIA, 1993, p. 17): A [disciplina] etnografia do Brasil [...] abria espaopara a apresentao dos chamados estudos afro-brasileiros, com abundantebibliografia de autores brasileiros. Como todos sabem, grande parte da literaturasobre o negro era de autoria de Artur Ramos, catedrtico de antropologia daNacional, que tambm dirigia uma coleo que acolhia, de preferncia, estudos domesmo gnero. Foi essa uma rea sem problemas de bibliografia para osestudantes.12 Depois de extinta a Sociedade Brasileira de Antropologia e Etnologia somenteem 1955 foi fundada outra entidade cientfica com objetivos de reunir em mbitonacional os antroplogos: a Associao Brasileira de Antropologia.13 Uso o termo linhagem para designar um conjunto de pesquisadores quepossuem laos de reciprocidade entre si formados a partir de relaes especficascomo a de professor-aluno (ou orientador-orientando), de filiao terica ouinstitucional etc. Sobre as linhagens na antropologia, ver Peirano (1995).14 Sobre essa disputa entre a Escola do Recife e da Bahia, ver a anlise de Corra(1982, p. 215).15 Gilberto Freire, embora tenha se tornado um dos mais conhecidos estudiososda formao socio-cultural brasileira no se dedicou com maior mpeto ao estudoem particular da religiosidade afro-brasileira como demonstra Casa-Grande &Senzala. Na nota 42 do quarto captulo desta obra, Freire menciona o trabalho deNina Rodrigues remetendo o leitor aos continuadores deste: um grupo notvelde estudiosos brasileiros, encabeados por Artur Ramos (FREIRE, 1981, p.388). Uma posio contrria quela assumida por ele no prefcio segundaedio de Problemas Brasileiros de Antropologia (FREIRE, 1959, p. 67).16 Foi neste encontro que se deliberou pela criao da Unio de Seitas Afro-Brasileiras da Bahia, um rgo que visava a reunir os terreiros de candombl emtorno dos seus interesses comuns.

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    17 Sobre o significado da presena dos pesquisadores estrangeiros na formao dacomunidade cientfica brasileira ver, entre outros, Schwartzman (1984), Massi(1989) e Meihy (1990).18 Segundo Donald Pierson, partiu de seus professores a sugesto e o incentivopara que ele pesquisasse os contatos raciais no Brasil. Entre estes professoresestavam Herbert Blumer, Robert Redfield, Louis Wirth e Robert Park, sendoeste inclusive o prefaciador de Negroes (PIERSON, 1942, p. 12.)19 A vinda de antroplogos norte-americanos para o Brasil fez parte da Poltica deBoa Vizinhana estabelecida nos Estados Unidos em 1936 quando foi assinadaa Convention for the Promotion of Inter-America Cultural Relation. SegundoCharles Wagley: Em meio a esta poltica de aproximao, o Museu Nacional doRio de Janeiro promoveu a ida de quatro antroplogos de Colmbia para o Brasil.Esse grupo foi composto por Buell Quain, que estudou os ndios truma, WilliamLipkind, que se dedicou aos carajs, Ruth Landes, que fez um trabalhointeressante sobre os cultos afro-brasileiros na Bahia e eu, que me dediquei aostapirap (WAGLEY apud MEIHY,1990, p. 71).20 Gilberto Freire referia-se a Herskovits como um dos maiores antroplogosmodernos (FREIRE, 1959, p. 191) e Artur Ramos era reconhecidamente umadmirador deste autor tendo participado em 1941 de um seminrio sobreaculturao dirigido por Herskovits na Northwestern University.21 Nas palavras de Ribeiro: Aqui no sul ele [Herskovits] teve uma rivalidadeaberta com Artur Ramos. Artur Ramos enciumou-se. Era uma pessoa muitovaidosa, era muito lido, a o Herskovits o criticou; [Ramos] sabotou at umaconferncia que [Herskovits] fez l no Recife e repetiu no Rio (RIBEIRO,1984, p. 23).22 A adeso do mdico Ren Ribeiro a essa perspectiva culturalista e antropologia um exemplo desse processo: Quando da visita do professor deantropologia cultural da Universidade de Nortwestern ao Recife, MelvilleHerskovits, este discordou perante Ulysses Pernambucano da nfase emprestadapor sua escola, ao psicopatolgico nos estudos afro-brasileiros. [...] Da por diantepassei a considerar o distrbio mental muito mais como social do que comopsicopatolgico. Outra coisa, tambm, que a corrente a que me filiei emantropologia cultural (Boas, Herskovits etc.) uma corrente que leva em muitaconsiderao o indivduo o indivduo na cultura, o racional e o irracional nohomem depoimento (RIBEIRO, 1984, p. 3-21). Projeto Historia daAntropologia no Brasil, coord. Mariza Corra, UNICAMP, mimeo).23 Sobre a histria do Instituto Joaquim Nabuco ver Freston (1989).24 A edio em ingls de O Negro Brasileiro, de Ramos (1939) e a de Casa-Grande & Senzala, de Freire (1946.) Este livro, principalmente, fez muito sucessotambm no exterior e atraiu o interesse de estudiosos estrangeiros.25 Artur Ramos ocupou em 1949 o cargo de diretor do Departamento deCincias Sociais da Unesco, vindo a falecer no final deste mesmo ano.

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    26 Depoimento de (RIBEIRO, 1984, p. 9-10), Projeto Histria da Antropologia noBrasil, coordenado por Mariza Corra (UNICAMP). Alm do livro Religio erelaes raciais de Ren Ribeiro, outros trabalhos resultantes das pesquisas daUnesco foram publicados: Race and class in rural Brasil, organizado por CharlesWagley (1952) com estudos na rea da Bahia; Les Elites de coleur dans une villebresilienne, de Thales de Azevedo (1953) com estudos na rea de Salvador; Onegro no Rio de Janeiro, de L. A. Costa Pinto (1953) e Brancos e Negros em SoPaulo, de Roger Bastide e Florestan Fernandes (1955). Os resultadoscontraditrios em relao ao preconceito racial ao qual chegaram tanto ospesquisadores da Unesco como outros pesquisadores podem ser entendidos devrias formas. No caso de algumas pesquisas conduzidas por norte-americanos, omodelo de discriminao racial existente em seu pas de origem pode ter atuadoem suas percepes sobre as relaes raciais no Brasil. A viso de Donald Piersone Ruth Landes, por exemplo, sobre a ausncia ou a pouca discriminao nasrelaes raciais entre brancos e negros no Brasil talvez encontre explicao nomodelo comparativo que ambos tinham em mente: o do deep southsegregacionista dos Estados Unidos onde fizeram estgios antes deembarcarem para o Brasil.27 Estes trabalhos foram apresentados por Roger Bastide na Universidade deParis para obteno do ttulo de Doctorat dtat.28 Sobre os significados da classificao religies populares, consultar a resenhabibliogrfica de Fernandes (1984).29 Outra caracterstica importante presente nas anlises do universo religiosoafro-brasileiro o crescente abandono das grandes sistematizaes como aspropostas por Roger Bastide. As novas investigaes em geral se encaminhampara anlises de aspectos regionais das religies, de componentes de suaestrutura organizacional ou ainda de outras dimenses como identidade religiosa,sistema simblico, aspectos da liturgia (dana, msica, transe etc.).30 Alguns exemplos: na Bahia o Centro de Estudos Afro-Asiticos (CEAO) apartir dos anos 1960 deu um novo impulso s investigaes sobre odesenvolvimento das religies afro-brasileiras. O Instituto Superior de Estudosda Religio (ISER) fundado em 1969 em So Paulo e depois transferido para oRio de Janeiro se constituiu num dos mais atuantes centros de produo cientficae divulgao nessa rea. Tambm o Centro de Estudos da Religio DuglasTeixeira Monteiro (CER) em So Paulo fez confluir para si vrias discusses dotema da religiosidade afro-brasileira.31 Inverso da expresso a antropologia termina onde comea o asfalto utilizadaArizpe citado por Corra (1995, p. 98).

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