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Você não viu aí em cima, no título e nas citações, o Abismo aberto pelas palavras de poeta francês Arhur Rimbaud e do poeta português Mário de Sá Carneiro? Esse Abismo é o que chamamos Eu. Esse EuAbismo que levamos em nós para onde vamos, cotidianamente, com a maior naturalidade. Sem nos darmos conta de que basta um passo em falso para que ele nos trague. Cada um leva o seu – mas bem oculto em seu rosto, claro, sob a Persona de Jung. E quantos têm a coragem da Rainha Má do conto de fadas para face a face, no Espelho – se perguntar: - Quem sou eu? E, mais abissalmente ainda:- O que sou eu?
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O LIBERALBELÉM, DOMINGO, 19 DE JULHO DE 2015 MAGAZINE 11
[email protected] CECIM
Quem és tu?
Se pensar lhe dá dor de cabeça - passe longe desta Sim de hoje. Mas o convite dela não é pro-
priamente para pensar, e - sim - para refletir. E sobre o que? Vo-cê não viu aí em cima, no título e nas citações, o Abismo aberto pelas palavras de poeta francês Arhur Rimbaud e do poeta por-tuguês Mário de Sá Carneiro? Esse Abismo é o que chamamos Eu. Esse EuAbismo que levamos em nós para onde vamos, coti-dianamente, com a maior natu-ralidade. Sem nos darmos conta de que basta um passo em falso para que ele nos trague. Cada um leva o seu - mas bem oculto em seu rosto, claro, sob a Per-sona de Jung. E quantos têm a coragem da Rainha Má do con-to de fadas para face a face, no Espelho - se perguntar: - Quem sou eu? E, mais abissalmente ainda:- O que sou eu?
Em tempos de eus e rostos virtuais como os atuais - quem sabe com quem está falando? São tantos os avatares - nos tornamos todos clones de nos mesmos?
Nada contra - deixemos os homens - esses seres dos quais Rousseau disse que nascem li-vros mas estão presos por toda parte - fugirem de suas gaiolas
Eu é um outroRIMBAUDEu não sou eu nem sou o outroSÁ CARNEIRO
e se divertirem como os super-heróis de HQ - vivendo vidas paralelas, mostrando ao mun-do seus rostos mascarados enquanto se ocultam em suas identidades secretas.
E por que não?A coisa é complexa. Senão -
vejamos: por exemplo, o Fantas-ma, personagem de HQ criado por Lee Falk. Clone de si mes-mo, ele é mais feliz na solidão da sua real identidade, secreta, como Mister Walker, ou como O espírito que anda, reinando sobre pigmeus prostrados aos seus pés com veneração e reve-rência, distribuindo socos para todos os lados e imprimindo a marca da caveira do seu anel na cara dos inimigos e depois repousando na Caverna da Ca-veira na companhia do melhor amigo do homem, seu cachor-
ro Gepeto? Ah, ia esquecendo seu também devotado cavalo - mas esqueci o nome. E, afinal, quem é o namorado da bela Diana Palmer - não é o Fantas-ma? Para o misterioso Walker sobraram o pesado casado es-curo que jamais despe, o rosto sempre oculto pela sombra da aba do chapéu que jamais tira, e seus próprios olhos que nun-ca viu - pois também jamais tirou seus óculos escuros.
Já riu o suficiente por hoje? Então voltemos ao nosso sé-
rio EuAbismo.Enquanto nada sabe de si
mesmo, ele vive em seus du-plos. Na Literatura mais subs-tancial, fez sua mais marcante duplicação como Dr. Jeckyl and Mr. Hide no romance O Médico e o Monstro, de Roberto Louis Stevenson. Confronto entre
Bem & Mal. Renovação da per-gunta: - Quem, ou O que eu sou? E também a Literatura nos mostrou que quem não pode se duplicar, duplica a sua vida - caso da viagem de Alice ao País das Maravilhas, se lançando na toca do coelho - e, depois, vol-tando Através do Espelho, livro seguinte de Lewis Carroll.
- Ó ser de espanto, temos muito que conversar - eu digo a mim mesmo. - Mas é pru-dente ficarmos em silêncio - escuto meu outro responder. Tentamos lacrar nossos lábios. Não praticar a vichara/inquiri-ção recomendada por Ramana Maharshe.
Mas um de nós rompeu o pacto de silêncio e falou o po-ema-inquirição que achei sob nossas Máscaras, e mostro nesta Sim.
adormecido agora
águas escuras
alguém alvura amizade das coisas
Angelus Silesius animal anjo Aquilo
areia árvore asas aves de Kant
beber
no Bosque das paixões Bosque sem paixões brancas brisas caminho a carne casinha de terra centeio negro o céu
Chamas cílios cinzas de Serdespanto
As coisas pelas coisas os dias Compaixão Corpo crianças
daquele despertar
ouvindo palavras pântano pranto passandoperguntas pousar no leite real saber sangue das
estrelas seiva semente serpente silêncio sombra sonho
tinta Invisível
tocam túmulo Vento e passagem vindo viram vivendo
voltassem
Vicente Franz Cecim
se um Vento parte o Vaso da vozDiz-se dorsos lisos
escreve Esfera espanto estranho mundo Fábula
Falar sem boca floresta Andara fontes frutos fundo gaiola grão homem de pó homem sem ternura homens imensos
inclina inseto intuição
irmã irmã-ave de Serdespanto Kant canta lábios lágrimas leve livro invisível lua sangrando
madeira mãe de Serdespanto
montanhas murmuram
nascido negro negra nela ninguém ninho nome Novalis
osso Pai ossos Ouçam
EsquizoImagem do Autor