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SIM II VICENTE CECIM Série DIÁLOGOS:COM e-mail
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O Olho do Poder
LEGENDA Max Ernst: “Os homens nunca saberão”
O Panóptico deu aos médicos, industriais,
educadores e juristas o que eles buscavam:
uma tecnologia de poder para exercer vigilância.
FOUCAULT
Em fins do século XVIII, o jurista inglês Jeremy Bentham concebeu uma atroz
forma de controle sobre as pessoas: o Panóptico - trazidas à tona do fundo das sombras
das masmorras elas passaram a ser expostas, dia e noite, a uma cruel e permanente
claridade. Parece ou não com a privacidade individual violada pelos mecanismos de
manipulação e controle dos rebanhos humanos pelas novas tecnologias? O antigo Olho
do Panóptico é ou não é um precursor do atual Olho Virtual do Facebook? A Bbc fez
recentes descobertas e revelações sobre como o Facebook – e os outros olhos virtuais –
vigiam, controlam e governam a sua, a minha, as nossas vidas: O Facebook reúne dados
detalhados sobre quase 1,5 bilhão de pessoas, cerca de 96 milhões delas no Brasil.
Com esses dados, vende anúncios segmentados para outras empresas. O alto preço
desses anúncios se baseia nisso: os anunciantes sabem perfeitamente quem e como
atingir seus alvos. Para isso, o Facebook não só usa as informações sobre tudo o que
você faz na rede – do que gosta e não gosta, o que quer e não quer ver, de onde você se
conecta, onde faz check-in, etc – e, além disso , sabe tudo o que você faz em outros sites
e aplicativos, nos quais optou por se cadastrar via seu perfil de Facebook. Por isso -
mesmo ajustando configurações de privacidade, é impossível você evitar que o
Facebook armazene e saiba tudo sobre você. O que agora acontece no chamado mundo
global já havia sido antevisto – e denunciado – pela ficção: pelo Cinema, no filme mudo
expressionista Metrópolis, de Fritz Lang, na Literatura, por George Orwell, em seu livro
1984, e por Aldous Huxley, em Admirável Mundo Novo, e o Panóptico e o Facebook
estão nas origens dos filmes Matrix, que os mostra excedendo seu controle até a
realidade por sua miragem. Michel Foucault estudou as evoluções desse vigiar e punir,
segundo seus rastros desde o século XVIII. É com ele este Diálogo:com.
Do Panóptico ao Facebook
Foucault: Quanto à punição no século XIX, vi que todos os grandes projetos
tinham a ver quase sempre com o Panóptico, de Jeremy Bantham. O princípio era: ao
redor uma construção circular, no centro uma torre com amplas janelas abrindo para o
interior do círculo. A construção circular é dividida em celas, cada uma atravessando
de um lado a outro a construção. As celas têm duas janelas, uma aberta para o interior
diante das janelas da torre central e outra aberta para o exterior, por onde passa
permanentemente a luz de um lado a outro da cela. Basta, pois, por um guarda na
torre central e trancar em cada cela um prisioneiro – no caso de hospícios – um louco,
ou – no caso de hospitais – um doente – ou – no caso de indústrias – um operário – ou
– no caso de instituições de ensino – um estudante. Através de suas silhuetas vistas pelo
guarda entre a luz e a contra luz, as pessoas estão sob vigilância dia e noite.
- Em vez da sombra das masmorras, nenhuma privacidade, até dormir tinha que
ser feito exposto à luz?
Foucault: Havia ainda um mecanismo muito complicado para que o barbeiro
pudesse cortar os cabelos sem tocar nelas pessoas fisicamente: o corpo ficava preso na
cela e só a cabeça – do prisioneiro, louco, doente, operário, aluno – passava através de
uma claraboia para o lado de fora.
Fazendo uma pausa em Foucault: o barbeiro do Panóptico parece ou não parece
o computador que não nos permite ter nenhum contato humano com os seres humanos
que administram o Facebook, e ocupam sua torre central de vigia? Alguma vez, você já
consegui falar com algum deles?
Foucault prossegue: Bentham proclamava como um verdadeiro Ovo de Colombo
o seu Panóptico. Dizia que havia dado aos médicos, industriais, educadores e jurista o
que eles buscavam: uma tecnologia de poder para exercer vigilância. Agora, os
procedimentos de controle postos em prática pelos controladores das massas modernos
são muito mais complexos e eficientes. Dizem que o princípio do total controle pela
exposição das pessoas à – visibilidade - já era uma tecnologia de poder desde o século,
XXIX seria falso.