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Universidade Federal do Rio de Janeiro Escola Politécnica Departamento de Eletrônica e de Computação Simulação de Efeitos Eletromagnéticos Autor: _________________________________________________ José Vitor Delgado Leite Orientador: _________________________________________________ Prof. Ricardo Rhomberg Martins, DSc. Examinador: _________________________________________________ Leonardo Alvim Muricy Examinador: _________________________________________________ Prof. Felipe Maia Galvão França, PhD. DEL Fevereiro de 2014

SIMULAÇÕES DE EFEITOS ELETROMAGNÉTICOS

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Page 1: SIMULAÇÕES DE EFEITOS ELETROMAGNÉTICOS

Universidade Federal do Rio de Janeiro

Escola Politécnica

Departamento de Eletrônica e de Computação

Simulação de Efeitos Eletromagnéticos

Autor:

_________________________________________________

José Vitor Delgado Leite

Orientador:

_________________________________________________

Prof. Ricardo Rhomberg Martins, DSc.

Examinador:

_________________________________________________

Leonardo Alvim Muricy

Examinador:

_________________________________________________

Prof. Felipe Maia Galvão França, PhD.

DEL

Fevereiro de 2014

Page 2: SIMULAÇÕES DE EFEITOS ELETROMAGNÉTICOS

ii

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

Escola Politécnica – Departamento de Eletrônica e de Computação

Centro de Tecnologia, bloco H, sala H-217, Cidade Universitária

Rio de Janeiro – RJ CEP 21949-900

Este exemplar é de propriedade da Universidade Federal do Rio de Janeiro, que

poderá incluí-lo em base de dados, armazenar em computador, microfilmar ou adotar

qualquer forma de arquivamento.

É permitida a menção, reprodução parcial ou integral e a transmissão entre

bibliotecas deste trabalho, sem modificação de seu texto, em qualquer meio que esteja

ou venha a ser fixado, para pesquisa acadêmica, comentários e citações, desde que sem

finalidade comercial e que seja feita a referência bibliográfica completa.

Os conceitos expressos neste trabalho são de responsabilidade do(s) autor(es) e

do(s) orientador(es).

Page 3: SIMULAÇÕES DE EFEITOS ELETROMAGNÉTICOS

iii

DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho a minha família, que esteve sempre ao meu lado ao longo de

todos os anos da minha vida.

A meus pais, José Luiz e Maria Esther, que sempre me deram muito amor e

carinho, apoiaram minhas escolhas e serviram como exemplos, além de me

proporcionarem uma excelente educação e diversas oportunidades de crescimento.

A minha irmã Mariana, minha amiga e a quem admiro muito.

A Helena, minha companheira, meu amor e minha melhor amiga, que sempre

esteve comigo nos melhores momentos e também nas situações mais adversas.

E a minhas avós, Suzette e Carlinda, que contribuíram diretamente na minha

formação como pessoa, sempre com um amor incondicional, e que sempre torceram pela

realização das minhas conquistas. Vocês estão no meu coração.

Page 4: SIMULAÇÕES DE EFEITOS ELETROMAGNÉTICOS

iv

AGRADECIMENTO

Registro meus agradecimentos a todos os que compartilharam comigo mais esse

percurso de minha vida, contribuindo, direta e indiretamente, para que eu realizasse a

minha graduação no ensino superior.

Agradeço ao meu orientador, o professor Ricardo Rhomberg, cujos ensinamentos

serviram como inspiração para este trabalho e que me incentivou e guiou ao longo de

todo o desenvolvimento desse projeto, cedendo também seu tempo e material.

A toda equipe da Inovax, em especial ao meu chefe João Carlos Ribeiro, pelo

apoio e toda estrutura proporcionada para execução do projeto, e ao meu colega

Leonardo Muricy, pela amizade e a ajuda prestada para o trabalho.

A equipe da ESSS, Juliano e Jefferson, que transmitiram seus conhecimentos

sobre modelagem eletromagnética e me deram todo o treinamento e suporte necessário

para realizar as simulações presentes no trabalho.

Aos meus colegas da universidade, que ao longo de todos esses anos de

graduação foram como uma família, nas horas de estudo, nas conversas pelo campus e

nos momentos de diversão. Em especial, aos amigos Eduardo, Felipe, Guilherme, Héron,

João, Leon, Leonardo, Rafael, Silvino, Tiago e Vitor.

A todos, muito obrigado.

Page 5: SIMULAÇÕES DE EFEITOS ELETROMAGNÉTICOS

v

RESUMO

O presente trabalho visa elucidar as vantagens das simulações computacionais

de modelos eletromagnéticos, revisando a teoria por trás dos métodos de resolução de

problemas da área e demonstrando casos aplicados de simulações de efeitos

eletromagnéticos.

O primeiro problema proposto é a resolução da equação integral de Hallen, a

qual descreve a distribuição de corrente ao longo de um dipolo. O Método dos

Momentos é, então, apresentado como uma poderosa ferramenta matemática de solução

da equação. Sob a perspectiva de modelagem computacional, o Método dos Elementos

de Contorno é introduzido como o modelo que se utiliza do Método dos Momentos para

resolver questões eletromagnéticas.

Em seguida, o mesmo problema é tratado por outra técnica, o Método dos

Elementos Finitos, modelo matemático muito utilizado também na área de engenharia

de estruturas e mecânica dos fluídos.

Por fim, o trabalho contempla a solução a partir de um método híbrido, o qual

reúne as vantagens de cada modelo. São apresentados exemplos de simulações

eletromagnéticas realizadas com o software HFSS, da Ansys. Os primeiros modelos são

de ensaios básicos, como a irradiação de uma antena dipolo e uma microstip.

Posteriormente, são ilustrados exemplos práticos de situações mais complexas.

Palavras-Chave: Método dos Momentos, Método dos Elementos Finitos, Simulação

Eletromagnética.

Page 6: SIMULAÇÕES DE EFEITOS ELETROMAGNÉTICOS

vi

ABSTRACT

The present work aims to elucidate the advantages of computer simulations of

electromagnetic modeling, reviewing the theory behind the methods for solving

problems for this area and demonstrating applied cases of simulations of

electromagnetic effects.

The first problem is proposed solving the integral Hallen equation, which

describes the current distribution along a dipole. The Method of Moments is then

presented as a powerful mathematical tool for solving the equation. From the

perspective of computational modeling, the Boundary Element Method is introduced as

the model that uses the Method of Moments to solve electromagnetic issues.

Then, the same problem is dealt by another technique, the Finite Element

Method, mathematical model widely used also in structural engineering and fluid

mechanics area.

Finally, the work describes the solution from a hybrid method, which combines

the advantages of each model. Examples of electromagnetic simulations with HFSS

software from ANSYS are presented. The first models are basic, such as irradiation of a

dipole antenna and a microstip. Afterwards, practical examples for more complex

situations are illustrated.

Key-words: Method of Moments, Finite Element Method, Electromagnetic Simulation.

Page 7: SIMULAÇÕES DE EFEITOS ELETROMAGNÉTICOS

vii

SIGLAS

MEC – Método dos Elementos de Contorno

MEF – Método dos Elementos Finitos

ANATEL – Agência Nacional de Telecomunicações

HFSS – High Frequency Structural Simulator

Page 8: SIMULAÇÕES DE EFEITOS ELETROMAGNÉTICOS

viii

Índice

Capítulo 1 ......................................................................................................................... 1

Introdução ......................................................................................................................... 1

1.1 – Tema .................................................................................................................... 1

1.2 – Delimitação .......................................................................................................... 1

1.3 – Justificativa .......................................................................................................... 1

1.4 – Objetivos .............................................................................................................. 2

1.5 – Metodologia ......................................................................................................... 2

1.6 – Descrição ............................................................................................................. 2

Capítulo 2 ......................................................................................................................... 4

Equação de Hallen ............................................................................................................ 4

2.1 – Base Teórica ........................................................................................................ 4

2.2 – Análise do Modelo da Antena Dipolo ................................................................. 5

2.3 – Formulação da Equação de Hallen ...................................................................... 8

Capítulo 3 ....................................................................................................................... 15

Solução da equação de Hallen pelo Método dos Momentos .......................................... 15

3.1 – Conceito ............................................................................................................. 15

3.2 – Método da Colocação ........................................................................................ 17

3.3 – Método dos Elementos de Contorno (MEC) ..................................................... 20

Capítulo 4 ....................................................................................................................... 22

Solução da Equação de Hallen pelo Método dos Elementos Finitos ............................. 22

4.1 – Conceito ............................................................................................................. 22

4.2 – Base Matemática da Solução ............................................................................. 24

4.3 – Discretização do Problema ................................................................................ 26

4.4 – Um Caso Particular: Partição Regular do Intervalo .......................................... 30

Capítulo 5 ....................................................................................................................... 32

Modelo Computacional de Simulações e Exemplos Básicos ......................................... 32

5.1 – O Modelo Híbrido MEF/MEC .......................................................................... 32

5.2 – Simulações de uma Antena Dipolo ................................................................... 33

5.3 – Simulações de uma Antena Microstrip .............................................................. 36

Capítulo 6 ....................................................................................................................... 39

Exemplos de Simulações Aplicadas ............................................................................... 39

Page 9: SIMULAÇÕES DE EFEITOS ELETROMAGNÉTICOS

ix

6.1 – Efeitos de uma Peça de Grafite na Irradiação de uma Antena Microstrip ........ 39

6.2 – Compatibilidade Eletromagnética e Segurança Elétrica de uma Unidade

Retificadora ................................................................................................................ 42

Capítulo 7 ....................................................................................................................... 49

Conclusão ....................................................................................................................... 49

Capítulo 8 ....................................................................................................................... 50

Bibliografia ..................................................................................................................... 50

Page 10: SIMULAÇÕES DE EFEITOS ELETROMAGNÉTICOS

x

Lista de Figuras

Figura 2. 1: Modelo do Dipolo ......................................................................................... 6

Figura 2. 2: (a) Dipolo de Meia Onda (b) Dipolo de Onda Completa .............................. 9

Figura 2. 3: Função simétrica em relação à origem ........................................................ 10

Figura 2. 4: Representação da derivada das funções inicialmente propostas ................. 10

Figura 2. 5: Representação da função - sen|z| ................................................................. 11

Figura 2. 6: Função simétrica em relação à origem reposicionada horizontalmente para

melhor visualização ........................................................................................................ 12

Figura 2. 7: Primeira derivada da função anterior .......................................................... 13

Figura 2. 8: Segunda derivada da função inicial ............................................................ 13 Figura 3. 1: Pulsos de amplitude constante .................................................................... 17

Figura 3. 2: Pulsos aproximando uma distribuição senoidal de corrente ....................... 17

Figura 3. 3: Pontos de aplicação ..................................................................................... 18

Figura 3. 4: Teorema da Equivalência ............................................................................ 21 Figura 4. 1: Modelo 3D discretizado em tetraedros de uma antena microstrip com

pedaço de grafite acoplado a sua lateral ......................................................................... 23

Figura 4. 2: Aproximação de uma função suave por outra linear por partes. Quanto

menor a norma da partição, melhor a aproximação........................................................ 27

Figura 4. 3: Gráfico da função φj da base B ................................................................... 28 Figura 5. 1: Modelo da antena dipolo ............................................................................. 33

Figura 5. 2: Blocos inseridos no modelo que definem as regiões de solução para cada

método ............................................................................................................................ 34

Figura 5. 3: Diagrama de irradiação da antena dipolo .................................................... 35

Figura 5. 4: Diagrama 3D da irradiação da antena dipolo .............................................. 36

Figura 5. 5: Modelo da antena microstrip ...................................................................... 36

Figura 5. 6: Blocos que definem as regiões de solução para cada método..................... 37

Figura 5. 7: Diagrama de irradiação da antena microstrip ............................................. 38

Figura 5. 8: Diagrama 3D de irradiação da antena microstrip........................................ 38 Figura 6. 1: Modelos da antena com a peça de grafite lateral, a 50mm acima e a 350mm.

........................................................................................................................................ 39

Figura 6. 2: Diagramas de irradiação para os três casos de localização do grafite. Cada

traço descreve o resultado para um determinado tamanho da peça. ............................... 40

Page 11: SIMULAÇÕES DE EFEITOS ELETROMAGNÉTICOS

xi

Figura 6. 3: Visualização dos campos elétricos para cada caso ..................................... 41

Figura 6. 4: Modelo 3D da placa de circuito impresso ................................................... 42

Figura 6. 5: (a) Modelo da placa com o gabinete do produto; (b) Modelo com a antena

bicônica a 1 metro de distância; (c) Modelo com a ponta de aplicação de sinal

diretamente no gabinete. ................................................................................................. 43

Figura 6. 6: Campos eletromagnéticos ao longo da placa .............................................. 44

Figura 6. 7: Análise de emissões conduzidas ................................................................. 44

Figura 6. 8: Emissões irradiadas pela placa .................................................................... 45

Figura 6. 9: Análise de emissões radiadas com ruído de 1MHz..................................... 45

Figura 6. 10: Análise de emissões radiadas com ruído de 1GHz ................................... 46

Figura 6. 11: Irradiações emitidas pela antena em direção à placa ................................ 46

Figura 6. 12: Análise de imunidade a emissões radiadas na porta de shutdown ............ 47

Figura 6. 13: Análise de imunidade a surtos. ................................................................. 47

Figura 6. 14: Análise de imunidade a descargas eletroestáticas ..................................... 48

Page 12: SIMULAÇÕES DE EFEITOS ELETROMAGNÉTICOS

xii

Lista de Tabelas

Tabela 5. 1: Projeto da antena dipolo ............................................................................. 33

Tabela 5. 2: Projeto da antena microstrip ....................................................................... 37

Page 13: SIMULAÇÕES DE EFEITOS ELETROMAGNÉTICOS

1

Capítulo 1

Introdução

1.1 – Tema

Este trabalho visa demonstrar simulações de efeitos eletromagnéticos em geral,

seja a propagação de ondas eletromagnéticas irradiadas por uma antena ou as

perturbações que uma placa de circuito impresso pode sofrer na presença de um campo

eletromagnético induzido por ações externas. Para fundamentação dos modelos de

simulação, serão revisados dois métodos de resolução de problemas eletromagnéticos: o

método dos momentos e o método dos elementos finitos. Para comprovar a

aplicabilidade das análises, ambos serão utilizados para solucionar a equação integral de

Hallen, a qual descreve a distribuição de corrente ao longo de um dipolo. Com auxílio

de recursos computacionais que utilizam os métodos citados, serão apresentados os

resultados de simulações de irradiações e interferências eletromagnéticas.

1.2 – Delimitação

O estudo se limita a apresentar, por meio de simulações computacionais, a

propagação de ondas eletromagnéticas pelo ar e a interferência causada em circuitos

eletrônicos. As propagações através de outros meios de condução e os efeitos sobre

objetos de modo geral não serão contempladas pelo estudo.

1.3 – Justificativa

No contexto atual, a simulação computacional é fundamental em qualquer

projeto eletrônico, seja um produto empresarial, seja um estudo acadêmico. Ela é capaz

de otimizar todo o processo de desenvolvimento, uma vez que permite testar o projeto

antes da montagem em si, o que reflete em uma economia de custo, tempo e recursos. O

presente trabalho busca demonstrar as vantagens de realizar simulações de efeitos

Page 14: SIMULAÇÕES DE EFEITOS ELETROMAGNÉTICOS

2

eletromagnéticos em produtos cujo desempenho pode ser afetado por interferências

externas. Por exemplo, para uma empresa que desenvolve um produto eletrônico é

importante garantir que o projeto é imune a perturbações eletromagnéticas, bem como

não seja um causador de interferências prejudiciais. Além disso, o projeto é uma

complementação dos estudos a cerca da modelagem de propagações e interferências

eletromagnéticas, uma área de extrema importância no campo de telecomunicações.

1.4 – Objetivos

O objetivo geral é, então, mostrar a importância de simulações eletromagnéticas,

a partir de suas bases teóricas, e os benefícios que ela pode trazer para um projeto

eletrônico. Desta forma, tem-se como objetivos específicos: (1) apresentar e rever a

teoria por trás dos métodos matemáticos de solução de equações eletromagnéticas,

como a de Hallen, e; (2) apresentar exemplos de casos simulados demonstrando a

importância dos métodos e a eficácia computacional dos recursos de simulação.

1.5 – Metodologia

A metodologia do projeto se baseia na fundamentação teórica dos modelos

utilizados por simuladores eletromagnéticos e na aplicação de simuladores profissionais

para apresentar exemplos empregados na prática.

1.6 – Descrição

Este trabalho contempla no capítulo 2 a definição da equação de Hallen, a qual

permite descobrir a distribuição de corrente num dipolo em função da tensão ligada nos

seus terminais. Ela é de extrema importância para comprovar a funcionalidade dos

métodos matemáticos utilizados para resolução das equações de propagações

eletromagnéticas. Um pouco da base da Teoria Eletromagnética é mostrada no capítulo

para podermos alcançar a equação de Hallen.

No capítulo 3 é demonstrada a resolução da equação de Hallen utilizado um

modelo matemático denominado de Método dos Momentos. Ao final do capítulo é

Page 15: SIMULAÇÕES DE EFEITOS ELETROMAGNÉTICOS

3

apresentado o conceito do Método dos Elementos de Contorno, capaz de modelar uma

superfície eletromagnética para resolvê-la.

A mesma demonstração da resolução da equação de Hallen é apresentada no

capítulo 4, porém com a aplicação do Método dos Elementos Finitos.

O capítulo 5 introduz o conceito do método híbrido, o qual reúne as vantagens

dos métodos descritos nos capítulos anteriores em busca de uma resolução mais

eficiente. Além disso, o capítulo contém exemplos de simulações básicas de uma antena

dipolo e de uma antena microstrip, ambas realizadas com uma ferramenta

computacional de modelagem eletromagnética que utiliza justamente a técnica híbrida

de resolução.

Exemplos de simulações aplicadas são, então, exibidos no capítulo 6, o qual

contém dois casos mais complexos: (1) a exploração dos efeitos de um pedaço de

grafite em torno do campo eletromagnético gerado por uma antena microstrip, e; (2) a

verificação da compatibilidade eletromagnética e da segurança elétrica de uma unidade

retificadora.

Por fim, o capítulo 7 encerra o trabalho com a conclusão do projeto.

Page 16: SIMULAÇÕES DE EFEITOS ELETROMAGNÉTICOS

4

Capítulo 2

Equação de Hallen

2.1 – Base Teórica

A Teoria Eletromagnética clássica é baseada nas equações de Maxwell (2.1), um

conjunto de equações diferenciais parciais que determinam os campos produzidos por

fontes de carga e corrente. A partir de tal conjunto de equações podemos encontrar a

denominada equação de onda (2.2), a qual descreve a propagação das ondas

eletromagnéticas em um meio linear [1]. O presente trabalho não visa se aprofundar

nesta parte da Teoria Eletromagnética, uma vez que tal conteúdo encontra-se em uma

vasta literatura.

{

(2.1)

(2.2)

Considerando a equação de onda citada acima e incluindo as fontes dos campos

é possível obter uma solução para a equação e determinar os campos produzidos. O

procedimento mais usual para resolver o problema é através da definição de um

Potencial Vetor A, que seria um o campo cujo rotacional é o campo magnético. Trata-se

de um modelo puramente matemático, porém que é aplicável para este problema. Da

mesma forma, o tipo de fonte de campo utilizada para se obter a solução é usualmente

uma antena dipolo infinitesimal.

Realizando manipulações algébricas das equações básicas de eletromagnetismo,

chegamos a uma equação que expressa a equação de onda para o potencial vetor A,

descrita a seguir em (2.3).

Page 17: SIMULAÇÕES DE EFEITOS ELETROMAGNÉTICOS

5

(2.3)

Mais uma vez fazendo cálculos e substituições matemáticas, é possível encontrar

uma equação que calcula o Potencial Vetor A irradiado pelo dipolo.

(

) (2.4)

Ao estendermos o caso do dipolo infinitesimal para um caso de dipolo longo e

fino e, também, admitindo uma distribuição de corrente ao longo do mesmo, podemos

calcular os campos por ele irradiados a partir da equação a seguir.

(2.5)

O problema para resolver esta fórmula é conhecer a distribuição real de corrente

ao longo do dipolo. Existem metodologias que aproximam esta distribuição para uma

função conhecida (senoidal, por exemplo) e são capazes de calcular de forma eficiente

os efeitos do dipolo em regiões distantes, sendo possível gerar um diagrama de

irradiação bastante próximo do que é encontrado experimentalmente.

Porém, também é de extrema importância saber com mais precisão a

distribuição de corrente ao longo do comprimento do dipolo. Com essa informação

podemos definir os campos irradiados pelo dipolo em regiões próximas a ele ou até

mesmo sobre sua superfície. Dessa maneira somos capazes de encontrar características

importantes de uma antena, como sua impedância de entrada. Para tal, bastaria dividir a

tensão aplicada no ponto de entrada pela corrente encontrada no mesmo ponto.

2.2 – Análise do Modelo da Antena Dipolo

Para chegarmos até a equação de Hallen, precisamos primeiramente escrever

uma equação diferencial cuja incógnita seja a distribuição de corrente no dipolo. A

corrente será definida em função da tensão de entrada da antena, a qual chamaremos de

Vg, como se houvesse um gerador aplicando este valor de tensão nesta região sem o uso

de uma linha de transmissão.

Page 18: SIMULAÇÕES DE EFEITOS ELETROMAGNÉTICOS

6

O modelo do dipolo representado na figura a seguir será utilizado para

desenvolver o raciocínio até a definição da equação final. Trata-se de um tubo inteiriço

de condutor perfeito cujo comprimento varia de –l0 a +l0. Mesmo sabendo pelos

conceitos da Teoria Eletromagnética que não pode haver campo elétrico em um

condutor perfeito, podemos dizer que a fonte Vg tenta gerar um campo na região em que

a antena é alimentada. Caso fosse considerado uniforme, o campo teria valor Vg/b,

sendo b a distância entre os dois pontos no quais é aplicada a tensão.

Figura 2. 1: Modelo do Dipolo

Como a fonte tenta gerar um campo elétrico em uma região na qual ele não pode

existir, podemos afirmar que o condutor perfeito irá criar um campo de mesmo modulo

e sentido contrário, ou seja, -Vg/b. Logo, este campo elétrico contrário será gerado entre

os pontos –b/2 e +b/2 justamente pela corrente que buscamos. Isso significa que a

equação (2.6) pode ser determinada.

∫ (2.6)

Vale ressaltar que nos demais pontos da antena a corrente não cria qualquer tipo

de campo elétrico, uma vez que não há uma tensão sobre tais pontos tentando gerar um

campo. Portanto, as condições de contorno que utilizaremos são estas definidas pelos

pontos onde a tensão do gerador é aplicada, ou seja, entre os pontos –b/2 e +b/2.

O objetivo agora é reduzir a distância b de modo que ela tenda a zero, o que

significa que a tensão Vg estaria sendo aplicada a um ponto apenas. Mas para que o

campo elétrico permaneça com valor igual a Eg, seria necessário transformar Vg em um

Page 19: SIMULAÇÕES DE EFEITOS ELETROMAGNÉTICOS

7

impulso com amplitude equivalente a Eg = Vg δ(z) 1. Portanto, no ponto onde é aplicada

a tensão de entrada Vg, que seria entre 0- e 0+, há um campo elétrico igual a Vg δ(z).

Podemos, então, concluir que o campo elétrico contrário criado como resposta pela

corrente no dipolo equivale a equação (2.7).

(2.7)

A resolução da equação de onda também se utiliza do conceito de Potencial

Escalar , da mesma forma como foi definido o Potencial Vetor A. A partir dessa

definição, os conceitos da Teoria Eletromagnética determinam as seguintes expressões.

(2.8)

(2.9)

Uma vez que a corrente circula apenas na direção z, podemos afirmar que o

potencial vetor A existe apenas para esta mesma direção. Logo, a equação (2.8) pode ser

escrita da seguinte forma, considerando apenas a direção z.

(2.10)

Isolando o potencial escalar na equação (2.9), obtemos (2.11).

(2.11)

Manipulando as expressões (2.10) e (2.11), teremos a seguinte.

(2.12)

1 Um impulso espacial possui as mesmas características que o impulso no tempo δ(t):

existe apenas para z = 0 e sua integral entre 0 – e 0 + vale 1.

Page 20: SIMULAÇÕES DE EFEITOS ELETROMAGNÉTICOS

8

Como não existe a possibilidade de haver uma variação do campo Az que não

seja na direção z, tanto o divergente quanto o gradiente de Az se reduzem a sua derivada

em relação a z, nos restando uma derivada de segunda ordem.

(2.13)

Aplicando, então, a equação (2.7) sobre a (2.13), obtemos (2.14).

(2.14)

Multiplicando ambos os lados da expressão acima pelo denominador )( o oj ,

encontramos a equação (2.15), onde K2 = ω

2 μ0 ε0 (como na equação de onda).

(2.15)

Tal expressão é válida apenas em z igual a zero, enquanto que para outros

pontos do espaço essa relação é diferente. Nos demais pontos da antena, o campo

elétrico é nulo uma vez que se trata de um condutor perfeito.

As equações (2.4) e (2.5) descritas no início deste capítulo são encontradas a

partir da suposição de uma solução exponencial. Como citado, ambas expressões

solucionam a equação de onda para A, porém não definem a distribuição de corrente de

forma tão precisa. A solução que será apresentada a seguir para chegarmos até a

equação de Hallen admitirá uma solução senoidal.

2.3 – Formulação da Equação de Hallen

A solução a partir de uma função senoidal parece natural ao considerarmos que a

distribuição de corrente num dipolo se dá a partir da distribuição de corrente na linha

que o alimenta, no caso senoidal. Consequentemente, a distribuição do potencial vetor

A segue a corrente do dipolo. A Figura 2.2 representa dois casos de dipolos nos quais a

Page 21: SIMULAÇÕES DE EFEITOS ELETROMAGNÉTICOS

9

solução mais provável para a distribuição de corrente é admitir uma soma de senoides

que se aproximem das formas apresentadas.

(a) (b)

Figura 2. 2: (a) Dipolo de Meia Onda (b) Dipolo de Onda Completa

Como estamos considerando o caso de um dipolo colocado simetricamente no

sistema de coordenadas, a corrente que passa por ele também será necessariamente

simétrica. Como consequência, o potencial vetor A também é simétrico em relação à

origem do sistema. Logo, a solução deve ser necessariamente simétrica. Como a função

seno não o é, inicialmente escreveremos uma solução para z < 0 e outra para z > 0.

para z < 0

e (2.16)

para z > 0

A antena dipolo é um objeto contínuo, logo, a função Az deve ser contínua para

todo z entre +l0 e –l0. Isso significa que deve haver continuidade da função na origem do

sistema de coordenadas, como ilustra a Figura 2.3. Na origem, onde z = 0, temos que

sen(Kz) = 0 e cos(Kz) = 1. Portanto, em torno da origem, podemos simplificar as

expressões e chegar a conclusão abaixo.

para z -

e logo, (2.17)

para z +

Page 22: SIMULAÇÕES DE EFEITOS ELETROMAGNÉTICOS

10

Figura 2. 3: Função simétrica em relação à origem

O próximo passo é encontrar uma relação semelhante entre C2 e C4. Se

derivarmos ambas as funções propostas e, em seguida, avaliarmos em torno da origem

mais uma vez, obtemos (2.18).

para z < 0

e

para z > 0

Portanto,

para z = 0 -

e (2.18)

para z = 0+

Lembrando que a função é simétrica em relação à origem, podemos afirmar que

as derivadas devem possuir sinais opostos, como mostra a figura abaixo. Assim

encontramos uma relação entre C2 e C4, a qual seria C4 = - C2.

Figura 2. 4: Representação da derivada das funções inicialmente propostas

Page 23: SIMULAÇÕES DE EFEITOS ELETROMAGNÉTICOS

11

Definimos, então, importantes relações entre as constantes das funções que

expressam Az como uma soma de senoides. Isso nos permite escrever as expressões da

seguinte maneira.

para z < 0

e (2.19)

para z > 0

Podemos fazer a seguinte simplificação, ilustrada na Figura 2.5, a qual resulta na

equação (2.20). Temos a representação de Az em apenas uma expressão.

{

para todo z (2.20)

Figura 2. 5: Representação da função - sen|z|

Page 24: SIMULAÇÕES DE EFEITOS ELETROMAGNÉTICOS

12

Em seguida, vamos encontrar o valor da constante C2 integrando ambos os lados

da equação (2.15), sendo 0- e 0+ os limites de integração, ou seja, a região onde está

sendo aplicada a tensão de entrada.

Que pode ser reduzido para:

|

|

, pois K e Az(0) são finitos (2.21)

Como determinado anteriormente na equação (2.18) {

.

Logo, substituindo em (2.21) conseguimos achar a constante C2.

Lembrando que √ , obtemos a equação (2.22).

√ √

(2.22)

Figura 2. 6: Função simétrica em relação à origem reposicionada horizontalmente para melhor

visualização

Page 25: SIMULAÇÕES DE EFEITOS ELETROMAGNÉTICOS

13

Figura 2. 7: Primeira derivada da função anterior

Figura 2. 8: Segunda derivada da função inicial

Com esse valor obtido para C2, somos capazes de escrever a equação que nos

permite encontrar o potencial vetor criado por um dipolo alimentado por uma fonte de

tensão Vg.

, para todo z (2.23)

Resgatando a expressão (2.5) e observando que o parâmetro l que representa o

comprimento do dipolo está disposto ao longo do eixo z, podemos substituí-lo por um

parâmetro z’2.

Portanto, igualando (2.5) com (2.23), obtemos a expressão (2.24).

(2.24)

Ainda podemos melhorar o formato da expressão alcançada. Primeiramente,

dividimos ambos os lados por µ0 e ao lembrarmos que, segundo a Teoria

2 A linha ‘ é utilizada neste caso para distinguir a região em que há fontes de campo como é usual do

estudo de Antenas.

Page 26: SIMULAÇÕES DE EFEITOS ELETROMAGNÉTICOS

14

Eletromagnética, a impedância no espaço livre é igual a η = √

, reescrevemos a função

da seguinte maneira. Note que a constante C1 foi substituída pela constante C, a qual

equivale a C = C1/µ0.

Equação de Hallen

Esta é a equação que vínhamos buscando, a qual nos permite descobrir a

distribuição de corrente num dipolo em função da tensão ligada nos seus terminais. Se

multiplicarmos os dois lados por 4 e em seguida considerarmos que é igual a 120,

podemos escrever a Equação de Hallen como na equação (2.25).

(2.25)

Essa expressão não pode ser solucionada analiticamente, o que nos obriga a

encontrar uma solução numérica para o problema. A constante C será determinada pelo

método numérico a ser empregado na solução da equação. Os próximos capítulos são

acerca da resolução dessa equação a partir de métodos matemáticos conhecidos como

Método dos Momentos e Métodos dos Elementos Finitos.

Page 27: SIMULAÇÕES DE EFEITOS ELETROMAGNÉTICOS

15

Capítulo 3

Solução da equação de Hallen pelo

Método dos Momentos

3.1 – Conceito

O Método dos Momentos é na realidade uma família de métodos utilizados para

resolver diversos tipos de equações que envolvem operações lineares, incluindo

equações integrais e diferenciais. Na década de 60, R.F. Harrington [2] e outros

aplicaram esta técnica para solucionar problemas de campos eletromagnéticos.

Este modelo numérico possui várias aplicações além dos modelos

eletromagnéticos, porém é visto com grande frequência na resolução de fórmulas

derivadas das equações de Maxwell, como é o caso da equação de Hallen, cuja solução

numérica é extremamente complexa.

A seguir, vamos nos restringir a uma análise conhecida como método da

colocação, o qual faz parte da família do Método dos Momentos. Esta técnica permite a

resolução de equações lineares da seguinte forma.

{ } (3.1)

Onde L{ } é um operador linear conhecido, h é uma função de entrada também

conhecida e g(z’) é a resposta a ser encontrada. No caso da equação de Hallen descrita

no capítulo anterior, o operador L{ } é a integral, a função h representa toda a expressão

do lado direito da equação e g(z’) é a corrente procurada (I(z’)).

O primeiro passo proposto pelo Método dos Momentos é substituir a função

incógnita (g(z’)) por um somatório de funções conhecidas, uma vez que a linearidade do

operador permite fazê-lo. Assim, obtemos a expressão (3.2).

Page 28: SIMULAÇÕES DE EFEITOS ELETROMAGNÉTICOS

16

(3.2)

Cada constante Cn expressa no somatório de funções acima é uma incógnita, a

qual descreve a amplitude de um determinado termo da série. Sob este aspecto, apenas

mudamos a natureza do problema. Agora, ao invés de buscarmos por uma função g(z’),

temos que encontrar o valor de N escalares desconhecidos.

A quantidade N de incógnitas determinará o esforço computacional exigido para

solucionar o problema. Note que quanto maior este valor, mais termos teremos no

somatório, o que implica numa descrição mais precisa da função original g(z’).

Por outro lado, as funções gn(z’) que compõem o somatório são um conjunto de

funções conhecidas, podendo ser senos, cossenos, entre outras. Elas são denominadas

como funções de base e são escolhidas de modo que seja possível calcular todos os

L{gn(z’)}, assim restando determinar apenas as constantes Cn. O domínio compreendido

por elas é o mesmo de g(z’), o que no caso da equação de Hallen seria o comprimento

do dipolo, de –l0 a +l0.

Aplicando (3.2) em (3.1) e lembrando que o operador é linear, podemos escrever

a expressão (3.3).

∑ { }

(3.3)

Existem infinitas possibilidades para a escolha das funções de base. Para

facilitar o entendimento do método, podemos optar por pulsos unitários como as

funções bases a serem aplicadas na solução do problema.

Portanto, dividimos o domínio do problema em N partes iguais e para cada uma

delas atribuímos uma função do tipo pulso unitário. A Figura 3.1 mostra uma

representação gráfica de dois destes pulsos.

Page 29: SIMULAÇÕES DE EFEITOS ELETROMAGNÉTICOS

17

Figura 3. 1: Pulsos de amplitude constante

Segundo a teoria de antenas, a distribuição de corrente num dipolo de meia onda

alimentado por uma fonte senoidal deve ter também um formato de senóide. Assim,

esperamos que o resultado encontrado para a distribuição de corrente no dipolo após os

cálculos seja como representado na Figura 3.2. Isto é, teríamos uma série de pulsos cuja

amplitude varia ao longo do domínio de forma a se aproximar da distribuição senoidal.

Obviamente, quanto mais pulsos utilizados, mais a função se aproxima da forma real.

Figura 3. 2: Pulsos aproximando uma distribuição senoidal de corrente

Vale a pena lembrar que a equação de Hallen apresenta uma exponencial e-jKr

, o

que significa que estamos lidando com números complexos. Portanto, a Figura 3.2

apresenta apenas os módulos dos pulsos. Para cada um deles existe também um valor

de fase que determina o atraso do pulso em relação à referência de tempo do sistema.

Tal referência foi estabelecida quando assumimos um número puramente real para a

tensão Vg de alimentação do dipolo, ou seja, o atraso dos pulsos aumenta a medida que

nos afastamos da entrada da antena.

3.2 – Método da Colocação

Como visto anteriormente, o objetivo nesse momento é determinar as N

incógnitas do problema. Isso significa que precisamos montar um sistema composto por

N equações e resolvê-lo. O valor do campo elétrico ao longo da superfície do condutor

perfeito que constitui a antena é conhecido, portanto, podemos escolher N pontos e

Page 30: SIMULAÇÕES DE EFEITOS ELETROMAGNÉTICOS

18

determinar suas equações correspondentes. O sistema de equações para a resolução do

problema teria, então, a seguinte forma.

∫ ∫ ∫ ∫

∫ ∫

∫ ∫

∫ ∫ ∫ ∫

.

.

.

∫ ∫ ∫ ∫

A equação de Hallen obtida no capítulo anterior apresenta ainda uma constante,

denominada de C, a qual precisa também ser determinada. Para tal, é necessário

adicionar mais uma equação ao final do sistema, como mostra a expressão abaixo.

∫ ∫ ∫ ∫

A figura abaixo representa os (N + 1) pontos da superfície do dipolo necessários

para encontrar todas as constantes do sistema. Cada ponto ao longo do eixo z é um

ponto de aplicação.

Figura 3. 3: Somatório de pulsos nos pontos de aplicação

A Figura 3.3 também nos mostra que cada uma das equações do sistema é na

verdade o somatório dos efeitos de todos os pulsos em um mesmo ponto de aplicação,

onde Pi e Pj são exemplos de pulsos que se somam em um ponto comum ao longo de z.

Page 31: SIMULAÇÕES DE EFEITOS ELETROMAGNÉTICOS

19

A distância entre o pulso de cada parcela do somatório e o ponto em questão é dada pela

equação (3.4), sendo o ponto fonte definido por z‘.

√ (3.4)

O próximo passo para resolução da equação de Hallen é introduzir os seus

termos em cada uma das equações do sistema montado. Lembrando que a função h

representa todo o lado direito da expressão e que a constante C deve ser também

determinada, podemos passar o termo no qual a constante se encontra para o lado

esquerdo de cada equação.

.

.

( )

( | |)

Finalmente, podemos representar o sistema em uma forma matricial, sendo que

cada uma das funções gN é um pulso unitário de ZN-1 até ZN.

[ { }] [ ] [ ] (3.5)

Sendo,

[ { }]

[ ∫

]

[ ] [ ]

[ ] [

( | |)]

Page 32: SIMULAÇÕES DE EFEITOS ELETROMAGNÉTICOS

20

Para resolver o sistema encontrando os valores das constantes, basta aplicar a

seguinte expressão (3.6).

[ ] [ { }] [ ] (3.6)

A estrutura matricial desse método indica que a solução do problema pode ser

encontrada com mais facilidade através de modelos computacionais. Em geral, os

algoritmos de resolução do Método dos Momentos geram e resolvem grandes matrizes

de equações e a maior parte dos recursos computacionais requisitados é direcionada a

preencher e solucionar tal matriz.

A escolha do formato das equações a serem resolvidas e das funções de base

deve ser feita com bastante critério, pois ela terá um grande impacto no tamanho da

matriz. Uma vez que a solução é representada como a soma das funções de base, é de

extrema importância que tais expressões descrevam com exatidão a solução com o

menor número possível de termos. Isso consequentemente afetará o tamanho do código

e o processamento computacional para resolver o modelo de uma dada geometria.

3.3 – Método dos Elementos de Contorno (MEC)

Muitos simuladores utilizam uma técnica de modelagem eletromagnética

conhecida como Método dos Elementos de Contorno (MEC), a qual se utiliza do

Método dos Momentos como modelo matemático para resolver problemas de correntes

eletromagnéticas na superfície de um objeto. A análise é feita a partir da representação

da geometria do problema como uma distribuição da corrente equivalente ao longo da

superfície.

Como mostra a Figura 3.4, o campo externo consiste de campos elétricos e

magnéticos que incidem, refletem e emanam do objeto limitado por uma determinada

superfície S. O Teorema da Equivalência [3] garante que podemos substituir o objeto

pelas correntes elétrica e magnética na fronteira e seu interior torna-se espaço livre,

assim como o exterior.

Page 33: SIMULAÇÕES DE EFEITOS ELETROMAGNÉTICOS

21

Figura 3. 4: Teorema da Equivalência

Page 34: SIMULAÇÕES DE EFEITOS ELETROMAGNÉTICOS

22

Capítulo 4

Solução da Equação de Hallen pelo

Método dos Elementos Finitos

4.1 – Conceito

O Método dos Elementos Finitos (MEF) é uma técnica matemática muito

utilizada em áreas das engenharias civil e mecânica para analisar problemas de materiais

e estruturas desde a década de 40. Apenas a partir da década de 60 é que tal modelo

passou a ser utilizado em problemas de eletromagnetismo. Inicialmente, o método era

aplicado somente na resolução de questões de eletroestática, porém mais tarde foram

exploradas soluções de problemas de alta-frequência em duas dimensões. Apenas na

década de 80 que apareceram os primeiros modelos de resolução de sistemas em três

dimensões [4].

Assim como o Método dos Elementos de Contorno, o Método dos Elementos

Finitos pode se utilizar de diferentes formulações matemáticas. No entanto, o primeiro

sempre lida com equações integrais, enquanto o segundo é empregado quase sempre na

resolução de equações diferenciais.

O conceito básico deste método é a divisão de todo o domínio do problema em

pequenos elementos (discretização espacial), ou seja, toda a região a ser analisada é

particionada em pequenas partes que serão resolvidas separadamente. Por exemplo, para

um problema em duas dimensões, toda a área que deve ser analisada é quebrada em

áreas menores, geralmente utilizando triângulos ou retângulos como base. Já para os

casos em três dimensões, as formas mais usuais são os tetraedros e paralelepípedos.

A Figura 4.1 apresenta um modelo de antena microstrip com um pedaço de

grafite acoplado a sua lateral – as simulações desse projeto serão abordadas num

próximo capítulo. A imagem ilustra todo o sistema particionado em tetraedros de

diferentes tamanhos, de acordo com a adaptação que o próprio simulador define.

Quanto menores as partes, mais os resultados se aproximam da solução real, porém isso

requer mais recursos computacionais.

Page 35: SIMULAÇÕES DE EFEITOS ELETROMAGNÉTICOS

23

Figura 4. 1: Modelo 3D discretizado em tetraedros de uma antena microstrip com pedaço de

grafite acoplado a sua lateral

Logicamente, o domínio deve ser finito e limitado. Solucionar modelos não

limitados, como em problemas de radiação, requer que seja definida uma região

composta por elementos especiais responsáveis por absorver toda a energia proveniente

do sistema. Tais elementos formam uma superfície denominada Superfície de Absorção.

Existem duas maneiras de aplicação do método. Na primeira, conhecida como

modelo escalar, as incógnitas a serem encontras são as três componentes ortogonais do

campo nos vértices de cada pequeno elemento, como o tetraedro por exemplo. Já o

modelo vetorial considera como incógnitas os campos das arestas dos elementos. Os

códigos utilizados no modelo escalar são mais simples, porém não aplicáveis para

modelos de onda completa, uma vez que podem apresentar muito mais erros

significantes e imprevisíveis ao resultado, diferente do modelo vetorial [4].

No caso da equação de Hallen, nossa função incógnita é aproximada mais uma

vez pela soma de funções lineares associadas com cada um dos pequenos elementos

finitos. Agora, ao invés de procurarmos a corrente ao longo do dipolo como um todo,

buscaremos seu valor em cada um dos elementos nos quais a antena foi particionada.

De um modo geral, as matrizes geradas pelos códigos do MEF são bem maiores

que as matrizes geradas pelo MEC considerando uma mesma geometria. Isso se dá pelo

fato de que discretizar todo o volume de uma região requer mais elementos do que

apenas uma superfície. Porém, as matrizes do MEF possuem muitos elementos simples,

como valores nulos ou apenas algarismos, ao invés de equações complexas. Isso

Page 36: SIMULAÇÕES DE EFEITOS ELETROMAGNÉTICOS

24

significa que, apesar de maiores, suas matrizes não necessariamente precisam de mais

recursos computacionais para resolver problemas do que as pequenas, mas densas,

matrizes geradas por códigos do MEC.

Os elementos que compõem as superfícies absorventes mencionadas

anteriormente foram formulados de diversas maneiras diferentes ao longo dos anos.

Eles foram desenvolvidos de forma bastante satisfatória no que se diz respeito à

formulação de problemas em 2D. Porém, para problemas em 3D, os elementos

absorventes funcionam bem apenas para determinados ângulos de incidência,

identificando a necessidade de posicionar os limites de contorno distantes de outras

estruturas [4].

Devido a esse problema foram criados códigos híbridos entre MEF e MEC, nos

quais o volume da região resolvida pelo MEF é limitado por superfícies solucionadas

pelo MEC, não sendo necessária a utilização de superfícies absorventes. Infelizmente, a

porção equivalente ao MEC pode gerar matrizes grandes e complexas, aumentando a

necessidade de melhores recursos computacionais. Falaremos mais a respeito do método

híbrido no próximo capítulo.

A grande vantagem que o Método dos Elementos Finitos traz para simulações

eletromagnéticas é a possibilidade de modelar geometrias mais complicadas e que são

formadas por diferentes materiais. As propriedades elétricas de cada elemento finito

podem ser definidas independentemente de outros, além do que eles podem ser maiores

ou menores de acordo com a necessidade da análise.

É oportuno lembrar que a equação de Hallen só é válida para estruturas

unidimensionais, como o dipolo. Vamos, portanto, limitar-nos a elas.

4.2 – Base Matemática da Solução

Para encontrarmos a solução do problema, vamos começar a formulação

considerando que a equação a ser resolvida nesse caso é diferencial, como descrito na

equação (4.1). Mais a frente, veremos que o método também se adequa a resolução de

uma equação integral como a de Hallen.

{

[ ]

(4.1)

Page 37: SIMULAÇÕES DE EFEITOS ELETROMAGNÉTICOS

25

A uma questão assim enunciada dá-se o nome “problema de Dirichlet”

homogêneo, o qual se baseia na equação de Poisson para o caso unidimensional e com

condições de contorno nulas.

Assumiremos que a função f : [0;1] R é limitada e contínua por partes, sendo

que o domínio da solução é o intervalo [0;1]. Isso é necessário porque o MEF supõe que

f é integrável, como veremos a seguir.

Ao invés de resolver o problema original na forma como está escrito, o MEF se

propõe a solucionar um problema equivalente, chamado formulação fraca do original.

Para escrever a equação nessa forma, principiamos definindo um espaço de funções V

formado pelas funções v, tais que:

v é função contínua em [0,1],

é limitada e contínua por partes, e

v(0) = v(1) = 0.

O próximo passo é multiplicar a equação original por uma função qualquer de V

e integrar a equação resultante em [0,1].

(4.2)

Utilizando o método de integração por partes, encontramos a expressão (4.3).

(

)|

(4.3)

Como foi definido a pouco, temos que v = 0 tanto em 0 quanto em 1, o que

configura a condição de Dirchlet homogênea. Logo, para toda função v pertencente a V

obtemos a equação a seguir.

(4.4)

Page 38: SIMULAÇÕES DE EFEITOS ELETROMAGNÉTICOS

26

A equação anterior, juntamente com a condição de Dirichlet homogênea,

caracteriza a formulação fraca do problema, a qual é resolvida pelo Método dos

Elementos Finitos.

4.3 – Discretização do Problema

No problema original temos um domínio contínuo, uma vez que o domínio da

função incógnita também o é. No entanto, aproximaremos o problema contínuo para

outro discreto, cuja solução está em um espaço de dimensão finita.

Para tal, dividimos o domínio, o intervalo [0;1], em um número finito (N) de

subintervalos (I) da seguinte maneira:

{ [ ]

A análise que segue contemplará apenas o caso em que todos os subintervalos

têm o mesmo comprimento, apesar de ser possível uma opção mais genérica.

O termo “discretização” é usado justamente porque passamos de um caso

contínuo – a função original está definida num domínio representado pela reunião não

enumerável de pontos, todos os pontos do intervalo cuja quantidade é infinita – para um

conjunto discreto, visto que o domínio passa a ser uma reunião de um número finito de

intervalos 3.

Em cada intervalo Ij , aproximamos a função original u por um segmento de reta

(do tipo ax+b) cujos extremos são os pontos u(xj -1) e u(xj), como mostra a figura a

seguir. A união destes segmentos forma uma função discretizada ud. Evidentemente,

quanto menor o comprimento dos subintervalos, mais a função ud se aproximará da

equação incógnita original u. Notemos ainda que ud, tal como aqui definida, é contínua

dentro do subintervalo correspondente.

3 Uma reunião finita de intervalos ainda é um conjunto não enumerável de pontos. Porém, ao invés de

buscarmos u com definição ponto a ponto, vamos aproximá-la por uma função que é definida subintervalo por subintervalo e, nesse sentido, ela será definida discretamente.

Page 39: SIMULAÇÕES DE EFEITOS ELETROMAGNÉTICOS

27

Figura 4. 2: Aproximação de uma função suave por outra linear por partes. Quanto menor a

norma da partição, melhor a aproximação.

Vale ressaltar que o espaço de soluções do problema original pode ter dimensão

infinita, tal como uma solução dada por uma série infinita de funções de Fourier.

Para permitir a solução do problema na forma fraca, devemos também limitar o

espaço de funções V, a princípio infinito, por um de dimensão finita Vd composto pelas

funções v, tais que:

v é contínua em [0; 1],

v é linear em cada Ij e

v(0) = v(1) = 0.

Lembrando que V, ao qual pertence v, foi criado para fazer a integração por

partes, chegar à forma fraca da equação de Poisson e permitir sua solução pelo MEF.

A limitação no número de funções em V é algo parecido com uma discretização. A

diferença é que neste caso lidamos com uma determinação puramente matemática,

enquanto que discretização espacial pode ser representada graficamente, tornando-se

mais visível.

Basicamente, temos que v Vd e Vd V, o que significa que não ferimos a

condição v V da formulação fraca. Nosso problema discretizado (ou aproximado) é,

então, encontrar ud Vd de acordo como especificado na expressão abaixo.

(4.5)

Cabe neste momento fazermos duas observações:

1. A condição de fronteira u(0) = u(1) = 0 está contida no enunciado do problema

discretizado (4.5) já que ud Vd implica na condição de Dirichlet homogênea.

Page 40: SIMULAÇÕES DE EFEITOS ELETROMAGNÉTICOS

28

2. Podemos assumir que a solução aproximada ud que buscamos está contida em Vd

de acordo com três condições. A primeira condição que ud deve satisfazer para

pertencer a Vd é ser contínua. Já vimos que tal como foi definida ud u é

contínua. A segunda condição – linearidade em cada subintervalo – vem também

da discretização do problema e está relacionada com a qualidade dessa

aproximação, no caso trocamos uma curva suave por outra poligonal. Ao

assumirmos que buscamos uma solução com essa aproximação, ud satisfaz, por

conseguinte, a segunda condição. Por fim, a terceira é justamente a condição de

Dirichlet, a qual é satisfeita por hipótese tanto por u quanto por ud. Concluímos

assim que udVd.

Ao discretizarmos o espaço de funções V, o aproximamos por um de dimensão

finita. Como v Vd é linear em cada Ij , as funções (4.6) formam uma base (B) de Vd.

{

[ ]

[ ]

(4.6)

Figura 4. 3: Gráfico da função φj da base B

Mostramos na Figura 4.2 um gráfico de uma dessas funções-base de Vd. É fácil

ver que se i j, as funções i e j são linearmente independentes. Ou seja, qualquer

função de Vd se escreve em termos das j acima definidas. Posto que udVd, ela

também será da forma abaixo.

∑ [ ] (4.7)

Page 41: SIMULAÇÕES DE EFEITOS ELETROMAGNÉTICOS

29

Adicionando a expressão (4.7) no problema enunciado anteriormente em (4.5),

obtemos a equação (4.8).

(∑ )

(4.8)

O próximo passo é escolher v como sendo uma das funções da base, ou seja, v =

i para algum i N. Para esse determinado i, a expressão descrita em (4.8) implica na

equação abaixo.

∫ (∑

)

Portanto,

∑ ( ∫

)

(4.9)

Variando i e j de 1 a N, em (4.9) obtém-se um sistema de N equações e N

incógnitas αj , como descrito abaixo.

[ ∫

]

[

]

[ ∫

]

(4.10)

Chamaremos a matriz do sistema acima de M e seus elementos denotaremos por

m i,j. M é chamada de matriz de rigidez, enquanto que o vetor que aparece no membro

direito de (4.10) é denominado vetor de carga.

Portanto, o problema de achar a função ud Vd que satisfaz (4.5) se reduz à

resolução de um sistema linear. Resolvendo-o, determinamos os coeficientes j e

podemos construir, usando (4.7) e (4.6), a função ud u.

Page 42: SIMULAÇÕES DE EFEITOS ELETROMAGNÉTICOS

30

4.4 – Um Caso Particular: Partição Regular do Intervalo

Para finalizarmos o estudo do caso unidimensional descrito pelo sistema (4.10),

podemos reduzi-lo num caso particular de partição do intervalo: considerando que todos

os subintervalos Ij têm mesmo comprimento h. A uma partição deste tipo dá-se o nome

de regular.

Uma consequência interessante da partição regular do domínio analisado – o

comprimento do dipolo no caso da solução da equação de Hallen na busca da

distribuição de corrente ao longo do mesmo – é que a matriz M goza das seguintes

propriedades:

1. Ela é simétrica em consequência da comutatividade do produto de funções, de

acordo com a definição em (4.11).

(4.11)

2. Ela é tri diagonal. Para demostrarmos isso, calcularemos os elementos mij

utilizando as derivadas das funções ϕj definidas por (4.12) e (4.13).

Se i=j,

(4.12)

Se i≠j por apenas 1 unidade,

(4.13)

Se i e j diferem por mais de 1 unidade, mij = 0 pois as funções são nulas fora dos

intervalos [xi-1, xi] e [xi, xi+1] sendo nulas também suas derivadas.

Conclui-se, pois, que apenas os termos da forma mi-1;i, mi;i e mi;i+1 são não-nulos

com valores distribuídos conforme a matriz de rigidez a seguir.

Page 43: SIMULAÇÕES DE EFEITOS ELETROMAGNÉTICOS

31

[

]

Dessa maneira, o sistema encontrado para o caso unidimensional descrito em

(4.10) pode ser escrito como em (4.14).

[

]

[

]

[ ∫

]

(4.14)

Da matriz do lado esquerdo do sistema (4.14) pode-se concluir que o MEF

resolve uma equação integral como a de Hallen, unidimensional por natureza, porque,

qualquer que seja o lado esquerdo da equação original, ele se tornará tri diagonal com

os valores vistos nesta equação.

Como já foi dito no início deste capítulo, a equação de Hallen só se aplica a

situações unidimensionais. Para solucionar problemas bi ou tri dimensionais teremos de

lançar mão de outras equações.

Encerram-se aqui, portanto, as formulações matemáticas de alguns dos métodos

mais utilizados para a modelagem eletromagnética. No início do próximo capítulo

veremos, então, o conceito do chamado método híbrido, o qual combina as técnicas já

apresentadas.

Page 44: SIMULAÇÕES DE EFEITOS ELETROMAGNÉTICOS

32

Capítulo 5

Modelo Computacional de Simulações e

Exemplos Básicos

5.1 – O Modelo Híbrido MEF/MEC

Há muitos problemas práticos encontrados que são complicados para serem

resolvidos corretamente por apenas um único método, pois são difíceis de serem

descritos com acurácia. Logo, é comumente vantajoso combinar dois métodos de

modelagem, os quais não são capazes de resolver o problema por conta própria, em

apenas um campo de solução com a intenção de aproveitar os pontos fortes de cada

técnica. À combinação de dois modelos dá-se o nome de Método Híbrido.

O Método Híbrido não é formado simplesmente por dois códigos de modelagem

que utilizam a mesma interface. O problema é dividido em duas partes e para cada uma

é aplicada a técnica que mais convém, sendo que, na fronteira entre elas, os campos e

correntes são constantemente combinados de forma a assegurar uma única solução.

O MEF é uma técnica excelente para modelar estruturas volumétricas

complexas, porém não é um dos melhores modelos para solucionar cabos espessos ou

problemas de radiação sem fronteiras. Por outro lado, o MEC se mostra eficiente na

modelagem de cabos e geometrias não limitadas, em compensação não é capaz de

resolver estruturas complexas que combinam uma variedade de materiais. Portanto,

esses métodos possuem pontos fortes complementares, ideais para um modelo híbrido.

Essa técnica é extensivamente utilizada, como no software HFSS, e mostra-se eficiente

na resolução de inúmeros problemas que não são solucionados corretamente utilizando

apenas um método.

O modelo híbrido MEF/MEC mais utilizado pelos programas de modelagem

eletromagnética introduz uma superfície fictícia, a qual pode ou não coincidir com uma

superfície material real, que separa um volume interior de outro exterior. A região

interna é analisada pelo MEF, enquanto a região externa é realizada pelo MEC. A partir

das análises separadas, dois conjuntos de matrizes são definidos e compartilham as

Page 45: SIMULAÇÕES DE EFEITOS ELETROMAGNÉTICOS

33

mesmas soluções de contorno. Forçando o campo nos dois lados, interno e externo, da

superfície definida para que haja consistência entre eles, os dois conjuntos de matrizes

podem ser combinados em uma única equação de solução [4].

5.2 – Simulações de uma Antena Dipolo

Até o momento, todo o estudo feito nos primeiros capítulos sobre os métodos de

resolução de equações de eletromagnetismo se baseou no exemplo da antena dipolo.

Portanto, o primeiro exemplo básico de simulações computacionais que pode ser

apresentado para ilustrar a eficiência de tais técnicas aplicadas é o caso do dipolo.

O modelo a seguir foi projetado e desenhado no software HFSS, da Ansys, uma

das principais referencias atuais em simulações eletromagnéticas. A antena se localiza

exatamente ao longo do eixo z, como nos estudos realizados nos capítulos anteriores.

Figura 5. 1: Modelo da antena dipolo

As dimensões da geometria foram projetadas para uma frequência equivalente a

0,9GHz, como pode ser visto na Tabela 5.1.

Tabela 5. 1: Projeto da antena dipolo

Projeto Antena Dipolo (0,9 GHz) (cm)

Comprimento do Dipolo 15

Raio do Dipolo 0,25

Gap de Alimentação 0,25

Page 46: SIMULAÇÕES DE EFEITOS ELETROMAGNÉTICOS

34

A Figura 5.2 apresenta o campo em volta da antena limitado por dois blocos. O

bloco interno determina a superfície fictícia mencionada no item anterior, a qual divide

a solução entre os dois modelos de resolução. Na região definida entre a superfície da

antena e o bloco é aplicado o Método dos Elementos Finitos. Já o bloco externo

determina a superfície de contorno do Método dos Elementos de Contorno.

Figura 5. 2: Blocos inseridos no modelo que definem as regiões de solução para cada método

No estudo de antenas é importante mapear a distribuição da energia irradiada,

sendo o Diagrama de Irradiação a ferramenta utilizada para tal. Portanto, uma das

simulações mais frequentes realizadas com antenas visa traçar o diagrama. A Figura 5.3

nos mostra o gráfico contendo o ganho total da antena em todas as direções do plano

YZ, gerado a partir da simulação.

Page 47: SIMULAÇÕES DE EFEITOS ELETROMAGNÉTICOS

35

Figura 5. 3: Diagrama de irradiação da antena dipolo

A análise do diagrama nos permite constatar que o dipolo irradia com maior

intensidade na direção do eixo y, enquanto no eixo z a emissão é quase nula. Esse

comportamento era esperado, uma vez que a antena foi localizada ao longo do eixo z.

Um dos recursos mais interessantes que os métodos de modelagem

eletromagnética computacional oferecem é a resolução de problemas em três

dimensões. Não apenas o modelo é desenhado em 3D, mas também as soluções podem

ser visualizadas sob a mesma perspectiva. O diagrama traçado para demonstrar o ganho

total da antena em um determinado plano pode ser expandido para todas as dimensões.

O resultado pode ser visto na Figura 5.4.

Page 48: SIMULAÇÕES DE EFEITOS ELETROMAGNÉTICOS

36

Figura 5. 4: Diagrama 3D da irradiação da antena dipolo

5.3 – Simulações de uma Antena Microstrip

As mesmas simulações realizadas para antena dipolo podem ser estendidas para

outras formas de antena ou até mesmo qualquer tipo de geometria. O caso a seguir

retrata as simulações de uma antena mais complexa que o dipolo, a chamada microstrip.

Figura 5. 5: Modelo da antena microstrip

Page 49: SIMULAÇÕES DE EFEITOS ELETROMAGNÉTICOS

37

O projeto foi realizado visando uma frequência de 2.4 GHz, de acordo com as

dimensões descritas na Tabela 5.2.

Tabela 5. 2: Projeto da antena microstrip

Projeto Microstrip (2,4 GHz) (cm)

Comprimento da Patch (eixo X) 4,94

Comprimento da Patch (eixo Y) 4,14

Espessura do Substrato 0,62

Comprimento do Substrato (eixo X) 8,4

Comprimento do Substrato (eixo Y) 7,1

Localização da Alimentação (coord. eixo X) 0

Localização da Alimentação (coord. eixo Y) 0,8

Raio Interno do Cabo Coaxial 0,104

Raio Externo do Cabo Coaxial 0,354

Comprimento do Cabo Coaxial 2,08

As técnicas de simulação aplicadas no primeiro exemplo do dipolo são as

mesmas utilizadas nesse caso, como podemos ver na figura abaixo, na qual o campo em

volta da microstrip é limitado por dois blocos.

Figura 5. 6: Blocos que definem as regiões de solução para cada método

Como pode ser visto no diagrama de irradiação da Figura 5.7, o resultado da

simulação da distribuição de energia irradiada é característico desse tipo de antena.

Basicamente a emissão e recepção de ondas eletromagnéticas são realizadas apenas para

a região acima da microstrip.

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38

Figura 5. 7: Diagrama de irradiação da antena microstrip

A perspectiva em 3D apresentada na Figura 5.8 permite confirmar que o mesmo

comportamento ocorre em outros planos. A região em vermelho indica maior

intensidade de irradiação, localizada justamente acima da antena. Por outro lado, a zona

amarela e verde indica menor intensidade, onde coincide com a antena e a área abaixo

dela.

Figura 5. 8: Diagrama 3D de irradiação da antena microstrip

No próximo capítulo serão apresentados exemplos de simulações mais

aplicadas, os quais demonstram a alta capacidade que os modelos expostos

anteriormente têm de resolver problemas eletromagnéticos complexos.

Page 51: SIMULAÇÕES DE EFEITOS ELETROMAGNÉTICOS

39

Capítulo 6

Exemplos de Simulações Aplicadas

6.1 – Efeitos de uma Peça de Grafite na Irradiação de uma Antena Microstrip

O modelo da antena microstrip projetada no capítulo anterior foi utilizado para a

realização de um experimento que visava analisar os efeitos que o posicionamento de

uma peça de grafite gera na irradiação dos campos eletromagnéticos. Duas

considerações importantes foram feitas para esse estudo: a variação da localização do

grafite e do tamanho do mesmo.

Em relação à colocação da peça foram estabelecidas três posições, como mostra

a figura a seguir: a primeira encostada à superfície lateral da antena; a segunda

colocando a peça 50mm acima do centro da antena; e a terceira a 350mm do centro.

Figura 6. 1: Modelos da antena com a peça de grafite lateral, a 50mm acima e a 350mm.

Para projetar a peça de grafite foi considerada uma altura inicial equivalente a

0,1λ, sendo λ (lambda) o comprimento de onda equivalente à frequência para a qual a

antena foi desenhada, no caso 2,4GHz. A altura foi incrementada para cada simulação,

assumindo valores iguais a 0,5λ, λ, 1,5λ e 2λ. As dimensões da peça foram ampliadas de

forma proporcional ao aumento da altura.

Os resultados da distribuição de energia são apresentados na Figura 6.2. Cada

diagrama de irradiação representa a análise de acordo com a localização da peça. Já os

Page 52: SIMULAÇÕES DE EFEITOS ELETROMAGNÉTICOS

40

traços em cada um deles denomina a simulação para um determinado tamanho do

grafite.

Figura 6. 2: Diagramas de irradiação para os três casos de localização do grafite. Cada traço descreve o

resultado para um determinado tamanho da peça.

Observamos pelos gráficos que a colocação do grafite sobre a antena tem uma

influência muito maior no sistema, visto que é nesta direção que ela irradia com maior

intensidade. Inclusive, quando o objeto de grafite é grande o suficiente, a emissão é

quase que totalmente refletida no sentido oposto, para baixo, especialmente no caso em

que o grafite está mais próximo da microstrip.

O simulador também nos permite gerar uma visualização do campo elétrico

formado na região. O resultado confirma que na região lateral da antena há pouco

campo elétrico, portanto, a inserção do grafite nessa região tem pouca influência,

Page 53: SIMULAÇÕES DE EFEITOS ELETROMAGNÉTICOS

41

limitando-se a empurrar levemente o diagrama de irradiação para o lado, como pode ser

visto a seguir no primeiro quadro.

Figura 6. 3: Visualização dos campos elétricos para cada caso

O efeito de reflexão do campo eletromagnético verificado anteriormente com os

diagramas de irradiação é mais uma vez confirmado por essa análise do campo elétrico,

de acordo com os quadros que representam o grafite acima da antena. Em campo

distante há espaço para maior dispersão da radiação, porém em campo próximo a

reflexão é mais intensa.

Page 54: SIMULAÇÕES DE EFEITOS ELETROMAGNÉTICOS

42

6.2 – Compatibilidade Eletromagnética e Segurança Elétrica de uma Unidade Retificadora

A empresa INOVAX Engenharia de Sistemas Ltda. recentemente projetou uma

Unidade Retificadora Chaveada 48V@10A. Para certificar que o produto não gere ou

tenha suas funcionalidades afetadas por interferências eletromagnéticas, foi preciso

garantir que a placa de circuito impresso estivesse de acordo com certas normas de

compatibilidade eletromagnética estipuladas para o tipo e ambiente de atuação do

produto.

Da mesma forma, a segurança elétrica do sistema também é de suma

importância para a comercialização do produto. Logo, também são aplicadas normas

para garantir que o produto seja imune a possíveis anormalidades elétricas advindas da

rede de energia, como surtos e descargas eletroestáticas.

Assim, o desenho esquemático da placa de circuito impresso da Unidade

Retificadora foi utilizado para uma série de simulações de verificação de

compatibilidade eletromagnética e segurança elétrica.

Figura 6. 4: Modelo 3D da placa de circuito impresso

As portas do circuito foram configuradas e os componentes presentes na placa

foram adicionados. Para a realização de todos os ensaios pertinentes foi necessário

adicionar geometrias externas à placa, como: o gabinete do produto; uma antena,

utilizada para captar e irradiar perturbações; e uma ponta de aplicação de sinal, utilizada

para aplicar os sinais de surto e descarga eletroestática no gabinete.

Page 55: SIMULAÇÕES DE EFEITOS ELETROMAGNÉTICOS

43

(a) (b)

(c)

Figura 6. 5: (a) Modelo da placa com o gabinete do produto; (b) Modelo com a antena bicônica a 1 metro de

distância; (c) Modelo com a ponta de aplicação de sinal diretamente no gabinete.

O primeiro ensaio executado diz respeito a possíveis emissões que o produto

pode conduzir através da linha de entrada. Na Figura 6.6 podemos visualizar os campos

eletromagnéticos ao longo da placa de circuito impresso da unidade retificadora.

Page 56: SIMULAÇÕES DE EFEITOS ELETROMAGNÉTICOS

44

Figura 6. 6: Campos eletromagnéticos ao longo da placa

As simulações efetuadas neste caso mostram que a UR possui um bom filtro de

entrada, uma vez que o nível de emissões conduzidas é baixo. A figura abaixo apresenta

os níveis de emissão eletromagnética que a UR envia para a linha de entrada.

Figura 6. 7: Análise de emissões conduzidas

O segundo teste visava verificar as emissões irradiadas pela placa. Neste caso foi

inserido um ruído artificial nas trilhas de alta corrente do produto para medir as

possíveis emissões. Primeiramente, simulou-se com um ruído na faixa de 1MHz e, em

seguida, o teste foi repetido com o ruído na faixa de 1GHz. A antena bicônica

adicionada ao modelo foi utilizada para capturar o campo eletromagnético irradiado

pela UR, de acordo com a Figura 6.8.

Page 57: SIMULAÇÕES DE EFEITOS ELETROMAGNÉTICOS

45

Figura 6. 8: Emissões irradiadas pela placa

Os resultados apresentados a seguir mostram a tensão captada pela antena nos

dois casos, sendo que ambos foram satisfatórios atendendo às normas.

Figura 6. 9: Análise de emissões radiadas com ruído de 1MHz

Page 58: SIMULAÇÕES DE EFEITOS ELETROMAGNÉTICOS

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Figura 6. 10: Análise de emissões radiadas com ruído de 1GHz

Além da possibilidade de emitir radiações indevidas, o produto pode ser

danificado por irradiações advindas de outros aparelhos eletromagnéticos. Para testar a

imunidade da UR a emissões radiadas, a mesma antena do modelo foi utilizada para

irradiar uma perturbação eletromagnética. A placa está localizada a 1m de distância da

antena, onde a tensão induzida é aproximadamente 3,7V.

Figura 6. 11: Irradiações emitidas pela antena em direção à placa

Uma das portas do circuito foi medida para verificar a imunidade do sistema, a

qual se confirmou, uma vez que a tensão induzida nesse ponto apresentou valores

baixos, como pode ser visto na Figura 6.12.

Page 59: SIMULAÇÕES DE EFEITOS ELETROMAGNÉTICOS

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Figura 6. 12: Análise de imunidade a emissões radiadas na porta de shutdown

Em relação aos testes de segurança elétrica do produto, foi realizado um

primeiro ensaio de imunidade a surtos elétricos. A ponta de aplicação de sinal incluída

no modelo foi utilizada para induzir um sinal equivalente a um surto elétrico sobre o

gabinete do produto. A Figura 6.13 representa as tensões nas trilhas do circuito após a

aplicação do sinal. Os níveis de tensão apresentados são compatíveis com o estabelecido

pelas normas da ANATEL para esse tipo de produto.

Figura 6. 13: Análise de imunidade a surtos.

Page 60: SIMULAÇÕES DE EFEITOS ELETROMAGNÉTICOS

48

O último teste aplicado visava verificar a imunidade a descargas eletroestáticas.

Um sinal equivalente a uma descarga eletroestática foi aplicado no gabinete também

com o auxílio da ponta de aplicação de sinal e a tensão induzida nas trilhas do circuito

foi medida. O sinal recomendado pela norma da ANATEL (curva vermelha) e a trilha

que apresentou os valores mais altos de tensão (curva roxa) podem ser vistos na figura a

seguir. Mesmo o pior caso encontra-se dentro dos limites estabelecidos pela norma.

Figura 6. 14: Análise de imunidade a descargas eletroestáticas

Page 61: SIMULAÇÕES DE EFEITOS ELETROMAGNÉTICOS

49

Capítulo 7

Conclusão

Como esperado, tanto o Método dos Momentos quanto o Método dos Elementos

Finitos são capazes de solucionar problemas baseados na teoria eletromagnética, como é

o caso da distribuição de corrente ao longo de um dipolo descrita pela equação de

Hallen. Não apenas são aptos, mas também eficientes métodos de modelagem de casos

eletromagnéticos.

A resolução em forma matricial que tais técnicas apresentam é excelente para a

utilização em ambiente computacional, pois tornam o problema complexo em um

conjunto de operações mais simples de se solucionar através de algoritmos. De acordo

com a complexidade do caso, basta possuir a capacidade de processamento necessária.

Muitos estudos ainda são realizados em busca de algoritmos otimizados para

resolução de questões da área do eletromagnetismo. O objetivo é sempre a diminuição

de tempo e recursos computacionais. Como foi visto, o caminho mais utilizado

atualmente para se atingir essas metas é a combinação de diferentes modelos

matemáticos em um único método híbrido. Os principais investimentos hoje estão nessa

linha, visto que se concentram na construção de algoritmos que contemplam as

vantagens de diferentes técnicas.

A partir dos exemplos demonstrados neste trabalho, podemos perceber que os

simuladores profissionais atualmente são extremamente capazes de solucionar os mais

variados e complexos problemas eletromagnéticos.

Tal eficiência pode ser fundamental para um projeto eletrônico, seja empresarial

ou acadêmico. Com o auxílio dessas ferramentas computacionais é possível prever o

desempenho do circuito projetado, tanto para características funcionais quanto para não

funcionais. Isso pode refletir numa economia considerável de tempo e recursos

financeiros, uma vez que, sem as simulações, possíveis erros de projeto só serão

verificados após a montagem de um protótipo de testes.

As possibilidades trazidas pelos softwares de simulação mais avançados do

mercado são inúmeras, contribuindo para o sucesso de diversos projetos de engenharia.

Page 62: SIMULAÇÕES DE EFEITOS ELETROMAGNÉTICOS

50

Capítulo 8

Bibliografia

[1] REITZ, J.R., MILFORD, F.J., CHRISTY, R.W., Foundations of Electromagnetic

Theory. Chicago, Addison-Wesley, 1979, Cap. 16.

[2] HARRINGTON, R. F., Field Computation by Moment Methods. New York,

Macmillan Publishing Company, 1968.

[3] HARRINGTON, R. F., Time Harmonic Electromagnetic Fields. New York,

McGraw Hill, 1961, Cap. 3.

[4] THE CLEMSON UNIVERSITY VEHICULAR ELETRONICS

LABORATORY, “Electromagnetic Modeling”,

http://www.cvel.clemson.edu/modeling/, 2013 (Acesso em Novembro de 2013).