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Hugo João Pires de Almeida Licenciado em Ciências de Engenharia Mecânica Simulação numérica de um sistema de transmissão com embraiagem num aerogerador Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Engenharia Mecânica Orientador: António Manuel Flores Romão de Azevedo Gonçalves Coelho, Professor Doutor, FCT-UNL Júri: Presidente: Professor Doutor António Manuel Flores Romão de Azevedo Gonçalves Coelho Arguente: Professor Doutor Alberto José Antunes Marques Martinho Vogal: Professor Doutor António Paulo Vale Urgueira Julho, 2014

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Hugo João Pires de Almeida

Licenciado em Ciências de Engenharia Mecânica

Simulação numérica de um sistema de transmissão com embraiagem

num aerogerador

Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Engenharia Mecânica

Orientador: António Manuel Flores Romão de Azevedo Gonçalves Coelho, Professor Doutor, FCT-UNL

Júri:

Presidente: Professor Doutor António Manuel Flores Romão de Azevedo Gonçalves Coelho Arguente: Professor Doutor Alberto José Antunes Marques Martinho

Vogal: Professor Doutor António Paulo Vale Urgueira

Julho, 2014

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Simulação numérica de um sistema de transmissão com embraiagem num aerogerador

Copyright © Hugo João Pires de Almeida, Faculdade de Ciências e Tecnologia, Universidade Nova de

Lisboa. A Faculdade de Ciências e Tecnologia e a Universidade Nova de Lisboa têm o direito, perpétuo e

sem limites geográficos, de arquivar e publicar esta dissertação através de exemplares impressos

reproduzidos em papel ou de forma digital, ou por qualquer outro meio conhecido ou que venha a ser

inventado, e de a divulgar através de repositórios científicos e de admitir a sua cópia e distribuição com

objectivos educacionais ou de investigação, não comerciais, desde que seja dado crédito ao autor e editor.

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Aos meus filhos, Miguel e Salvador

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AGRADECIMENTOS

Ao Professor António Gonçalves Coelho, meu orientador, por me ter dado a oportunidade de trabalhar

neste tema e por me ter disponibilizado todo o seu conhecimento e experiência de forma próxima,

constante e acessível. Pela forma como me incentivou e pela paciência que sempre demonstrou;

À Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa, casa que me acolheu, pela

instituição que é e pelo contributo que deu para a minha formação como engenheiro;

Aos meus filhos Miguel e Salvador pelo tempo que lhes tirei, pela motivação extra e alegria que

representam para mim;

Aos meus pais, que sempre acreditaram em mim, que sempre me incentivaram e que com o seu

esforço permitiram que chegasse até aqui;

À Mariana, minha mulher e apoio de sempre, pela confiança, carinho, incentivo, paciência, exemplo e

dedicação;

Aos meus sogros, Paulo e Maria João, pelo apoio determinante que representaram;

Ao meu tio Eurico, pelo exemplo e pessoa que é;

Aos meus padrinhos, que estiveram sempre na porta ao lado, nos bons e nos maus momentos;

À tia Ana, pelo tempo que disponibilizou durante parte do percurso;

Ao Filipe, companheiro de uma vida, pelo seu apoio e conselhos sensatos;

Ao Duarte, que incansavelmente me ajudou em alturas determinantes;

Ao Bruno, amigo e antigo colega, pela companhia no “Comboio das 6:30”;

Ao meu colega e amigo Afonso, que costas com costas, partilhou todo este percurso comigo;

Aos meus irmãos de armas Salvador, Rui, Diogo, Pedro e Miguel que me acompanharam nesta

jornada sempre com boa disposição;

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A todos os restantes familiares, amigos e colegas que de uma forma ou de outra fizeram parte do meu

percurso académico.

Por fim, queria agradecer a todos os professores do Departamento de Engenharia Mecânica e

Industrial que todos os dias, com paciência, colocam o seu conhecimento à disposição dos estudantes.

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RESUMO

As caixas multiplicadoras dos sistemas de transmissão dos aerogeradores são sujeitas a sobrecargas

muito elevadas durante as operações de travagem. Este componente é o elemento mais dispendioso no

interior da “nacelle” e é o responsável pela maior parte das avarias registadas nos aerogeradores, pelo

que existe uma necessidade urgente de encontrar soluções capazes de prevenir esse tipo de avarias. No

presente estudo propõe-se a inclusão de um sistema de embraiagem e de um freio, no veio de baixa

velocidade, para protecção da caixa multiplicadora dos aerogeradores comuns com passo variável.

Construiu-se um modelo dinâmico completamente rígido do aerogerador de referência NREL-5 MW,

que permitiu simular numericamente uma situação de travagem utilizando como ferramenta o

Simulink. Fez-se uma segunda simulação do NREL-5 MW com a modificação proposta. As duas

simulações permitiram obter resultados suficientes para estabelecer uma comparação entre um sistema

de transmissão típico com o freio no veio de alta velocidade, outro com o freio no veio principal e o

último com freio e embraiagem no veio de baixa velocidade. Os resultados obtidos foram de encontro

às espectativas, verificando-se que a embraiagem é capaz de proteger totalmente a caixa

multiplicadora dos momentos de torsão que ocorrem durante a frenagem. Verificou-se também que

somente a mudança de localização do freio, do veio de alta para o de baixa velocidade, permite reduzir

os esforços na caixa multiplicadora em aproximadamente 85%.

Palavras-chave: aerogerador, embraiagem, caixa multiplicadora, momento de travagem, modelo

dinâmico, regimes transitórios.

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ABSTRACT

The shafts of the gearboxes of the wind turbines suffer high torsional loads due to transient events that

occur during emergency shutdown procedures. The gearbox represents the most expensive component

in the nacelle and it is responsible for most of the overall maintenance operations, thus protection for

its mechanical elements needs to be provided. In this thesis a clutch-brake system located in the low

speed shaft is proposed for the gearbox protection of a typical variable pitch wind turbine. An entirely

rigid model of the offshore reference wind turbine NREL-5 MW was numerically simulated, during an

emergency shutdown using Simulink. Another simulation was carried out including the proposed

modification in the NREL-5 MW drive train. Both simulations provided a comparison between three

different drive train configurations. The first was the commonly used, which has its mechanical brake

between the gearbox and the generator; in the second the brake is transferred from high speed to the

low speed shaft and the third was the proposed drive train which includes a clutch-brake system in the

low speed shaft. The obtained results were optimistic and showed that the clutch system could

completely protect the gearbox from the mechanical torque that occurs during shutdowns. It was also

found that only the change in the brake location, from the high speed to low speed shaft would reduce

gearbox torsional loads in approximately 85%.

Keywords: wind turbine, clutch, gearbox, breaking torque, dynamic modeling, transient events.

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ÍNDICE DE MATÉRIAS

AGRADECIMENTOS ........................................................................................................................ V

RESUMO .......................................................................................................................................... VII

ABSTRACT ....................................................................................................................................... IX

1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................................. 1

1.1 ENERGIA EÓLICA E AEROGERADORES ...................................................................................... 1

1.1.1 Revisão histórica .............................................................................................................. 1

1.1.2 Aerogeradores: princípio de funcionamento básico ......................................................... 4

1.2 MOTIVAÇÃO E DESCRIÇÃO DO PROBLEMA ............................................................................... 5

1.3 OBJECTIVOS DA DISSERTAÇÃO ................................................................................................. 8

1.4 METODOLOGIAS ....................................................................................................................... 8

1.5 ESTRUTURA .............................................................................................................................. 9

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ................................................................................................... 11

2.1 AEROGERADORES .................................................................................................................. 11

2.1.1 Principais componentes .................................................................................................. 11

2.1.2 Modo e condições de operação ....................................................................................... 14

2.1.3 Caixas multiplicadoras ................................................................................................... 15

2.1.4 Esforços nas caixas multiplicadoras ............................................................................... 17

2.2 ESTADO DE ARTE.................................................................................................................... 18

2.3 MODELAÇÃO DINÂMICA......................................................................................................... 20

2.4 EMBRAIAGENS E FREIOS MECÂNICOS ..................................................................................... 23

3. DESCRIÇÃO DO MODELO ..................................................................................................... 25

3.1 MODELO DE INÉRCIA .............................................................................................................. 25

3.1.1 Momento de inércia equivalente: modelo simulado ........................................................ 26

3.1.2 Momento de inércia equivalente: modelo exemplificativo .............................................. 27

3.2 MODELO DE TRAVAGEM AERODINÂMICA .............................................................................. 30

3.2.1 Momentos e forças aerodinâmicos .................................................................................. 30

3.2.2 Coeficiente de arrasto, área e velocidade das pás .......................................................... 32

3.2.3 Momento de travagem aerodinâmico: equação simplificada .......................................... 34

3.3 MODELO DE TRAVAGEM MECÂNICA....................................................................................... 35

3.4 MODELO COM EMBRAIAGEM .................................................................................................. 35

4. SIMULAÇÃO .............................................................................................................................. 37

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4.1 EQUAÇÃO DIFERENCIAL DO SISTEMA E MÉTODO NUMÉRICO SELECCIONADO ........................ 37

4.2 CARACTERIZAÇÃO DO MODELO DE AEROGERADOR SIMULADO ............................................. 38

4.3 TRAVAGEM AERODINÂMICA DO AEROGERADOR DE REFERÊNCIA NREL-5 MW .................... 40

4.4 TRAVAGEM TOTAL DO AEROGERADOR DE REFERÊNCIA NREL-5 MW .................................. 41

4.5 TRAVAGEM TOTAL DO SISTEMA PROPOSTO ............................................................................ 42

4.6 VALIDAÇÃO DO MODELO ....................................................................................................... 44

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS...................................................................................................... 47

5.1 ANÁLISE FINAL DOS RESULTADOS.......................................................................................... 47

5.2 PRINCIPAIS CONCLUSÕES ....................................................................................................... 50

5.3 SUGESTÃO PARA TRABALHOS FUTUROS ................................................................................. 51

REFERÊNCIAS ................................................................................................................................. 52

ANEXOS ............................................................................................................................................. 55

ANEXO A – DIAGRAMA DE BLOCOS CONSTRUÍDO NO INTERFACE DO SIMULINK. .............................. 56

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ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 1.1: Primeiro moinho de vento a produzir energia eléctrica. Fonte:[4]........................................ 2

Figura 1.2: Cota percentual de energia eólica no consumo eléctrico total [6]......................................... 3

Figura 1.3: Windfloat - Projecto pioneiro implementado em Portugal. Fonte:[7]................................... 4

Figura 1.4: Representação esquemática - turbina, caixa multiplicadora e gerador. ................................ 5

Figura 1.5: Emissões de CO2 ao longo do ciclo de vida. Fonte:[6] ......................................................... 6

Figura 1.6: Distribuição dos custos de manutenção e operação em aerogeradores. Fonte:[2] ................ 6

Figura 1.7: Incêndio num aerogerador. Fonte: [8] .................................................................................. 7

Figura 1.8: Alteração brusca do momento electromagnético do gerador devido a uma situação de

instabilidade na rede. Fonte: [10] ........................................................................................................... 7

Figura 2.1: Aerogerador Vestas ............................................................................................................ 11

Figura 2.2: Interior da "nacelle" ........................................................................................................... 13

Figura 2.3: Curva de potência típica de um aerogerador de 1 MW. Fonte: [16] ................................... 14

Figura 2.4: Caixas multiplicadora multiestágio, a) de eixos paralelos, b) planetária. ........................... 15

Figura 2.5: Caixa multiplicadora de eixos paralelos multiestágio (vista do seu interior) ...................... 16

Figura 2.6: Esquema ilustrativo de um sistema planetário. ................................................................... 17

Figura 2.7: Ilustração dos carregamentos aplicados no sistema de transmissão durante o seu

funcionamento que provocam desgaste nos seus componentes. ........................................................... 18

Figura 2.8: Aerogerador Mod-0: a) vista exterior, b) esquema do interior da “nacelle”. Fonte: [25] .. 20

Figura 2.9: Sistema elástico amortecido com um grau de liberdade - a) sistema, b) diagrama de corpo

livre. Fonte: [29]................................................................................................................................... 22

Figura 2.10: Sistema torsional elástico amortecido com um grau de liberdade. Fonte: [29] ................. 22

Figura 2.11: Máquina ferramenta com sistema de embraiagem e freio [30]. ........................................ 24

Figura 3.1: Esquema constituído pelo rotor, relação de transmissão e gerador. .................................... 26

Figura 3.2: Esquema constituído pelo rotor, caixa multiplicadora e gerador. ....................................... 27

Figura 3.3: Esquema representativo do interior da caixa de velocidades. ............................................. 28

Figura 3.4: Distribuição do campo de velocidades nas pás e representação da localização da linha de

aplicação da carga concentrada da força de arrasto .............................................................................. 31

Figura 3.5: Representação do perfil admitido para as pás do rotor através da sua secção e de uma vista

em perspectiva. ..................................................................................................................................... 32

Figura 3.6: Valores de coeficientes de arrasto, coeficientes de sustentação e binário de alteração do

ângulo de passo em função dos ângulos de ataque [31]. ....................................................................... 33

Figura 3.7: Triângulos de velocidades nas pás: a) posição que precede o início da travagem, b) posição

de perda máxima. ................................................................................................................................. 34

Figura 3.8: Ilustração dos sistemas independentes obtidos após o accionamento da embraiagem. ....... 35

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Figura 4.1: Diagrama de corpo livre do sistema equivalente reduzido ao veio de baixa de velocidade.

............................................................................................................................................................. 38

Figura 4.2: Resposta da velocidade angular do rotor (em cima) e do respectivo momento de

aerodinâmico de travagem. ................................................................................................................... 40

Figura 4.3: Gráfico do momento mecânico de travagem em função do tempo. .................................... 41

Figura 4.4: Gráficos da velocidade angular do rotor (em cima) e do momento de travagem no sistema

(em baixo). ........................................................................................................................................... 42

Figura 4.5: Gráficos da velocidade angular do rotor (em cima) e do momento de travagem no sistema

com embraiagem (em baixo). ............................................................................................................... 43

Figura 4.6: Comparação dos momentos nas simulações com e sem embraiagem................................. 44

Figura 4.7: Gráficos do momento de travagem mecânica (à esquerda) e da velocidade angular do rotor

(à direita) obtidos por Pedersen e Steiniche [33]. ................................................................................. 46

Figura 5.1: Esquema ilustrativo da transmissão modular e dos momentos transmitidos através do

mecanismo. .......................................................................................................................................... 47

Figura 5.2: Esquema ilustrativo de uma transmissão com o travão no veio de baixa velocidade. ........ 48

Figura 5.3: Esquema ilustrativo da solução proposta composta pelo freio e embraiagem no veio de

baixa velocidade. .................................................................................................................................. 49

Figura 5.4: Solução proposta. ............................................................................................................... 51

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ÍNDICE DE TABELAS

Tabela 3.1: Valores de referência do aerogerador NREL-5MW ........................................................... 27

Tabela 3.2: Valores de configuração do sistema de transmissão. ......................................................... 28

Tabela 4.1: Caracterização do aerogerador de referência ..................................................................... 39

Tabela 4.2: Momentos de travagem mecânica no veio de alta velocidade. ........................................... 45

Tabela 4.3: Momentos de inércia do rotor aerodinâmico. ..................................................................... 46

Tabela 5.1: Momentos de travagem suportados pela caixa multiplicadora nas duas configurações

mencionadas. ........................................................................................................................................ 49

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Simbologia

Romana

𝐴𝑃 Área projectada da pá na direcção do plano de rotação do rotor

𝑐 Constante de amortecimento

C Comprimento da linha de corda da pá

[𝑐] Matriz amortecimento

𝐶𝐴 Coeficiente de arrasto

𝑑𝐶.𝐷. Distância entre raiz da pá e ponto de aplicação da carga concentrada

𝐸𝑐 Energia cinética

𝐸𝑝 Energia potencial

�⃗� Força

𝐹𝐴 Força de arrasto

𝑖 Relação de transmissão

𝑗 Momento de inércia

[𝑗] Matriz momento de inércia

𝐽1 Momento de inércia da engrenagem intermédia

𝐽2 Momento de inércia do pinhão intermédio

𝐽3 Momento de inércia da engrenagem de alta velocidade

𝐽4 Momento de inércia do pinhão de alta velocidade

𝐽𝑒𝑞,𝑝𝑙𝑎𝑛𝑒𝑡á𝑟𝑖𝑜 Momento de inércia equivalente do andar planetário

𝐽𝑒𝑞,𝑔𝑒𝑟𝑎𝑑𝑜𝑟 Momento de inércia equivalente reduzido ao gerador

𝐽𝑒𝑞,𝑟𝑜𝑡𝑜𝑟 Momento de inércia equivalente reduzido ao rotor

𝐽𝐺 Momento de inércia do gerador

𝐽𝑆 Momento de inércia de um satélite

𝐽𝑅 Momento de inércia do rotor

𝐽𝑃 Momento de inércia do planeta

𝐽𝑃𝑆 Momento de inércia do porta-satélites

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𝑘 Constante de elasticidade

[𝑘] Matriz constante de elasticidade

𝑚 Massa

[𝑚] Matriz massa

𝑀𝐴𝑒𝑟𝑜 Momento aerodinâmico de sustentação

𝑀𝐴𝑒𝑟𝑜.𝑁𝑜𝑚𝑖𝑛𝑎𝑙 Momento aerodinâmico de sustentação nominal

𝑚𝑆 Massa de um satélite

𝑀𝐶 Momento suportado pela caixa multiplicadora

𝑀𝐽𝑐 Momento necessário para travar a caixa multiplicadora

𝑀𝐽𝑔 Momento necessário para travar o gerador

𝑀𝐽𝑟 Momento de travagem mecânica aplicado ao rotor

𝑀𝑇,𝐴𝑒𝑟𝑜 Momento de travagem aerodinâmico

𝑀𝑇,𝑔𝑒𝑟𝑎𝑑𝑜𝑟 Momento de travagem mecânica reduzido ao gerador

𝑀𝑇,𝑟𝑜𝑡𝑜𝑟 Momento de travagem mecânica reduzido ao rotor

𝑁𝑝á𝑠 Número de pás

𝑃𝑁𝑜𝑚𝑖𝑛𝑎𝑙 Potência nominal do aerogerador

𝑅1 Raio da engrenagem intermédia

𝑅2 Raio do pinhão intermédio

𝑅3 Raio da engrenagem de alta velocidade

𝑅4 Raio do pinhão de alta velocidade

𝑅𝑃 Raio dos planetas

𝑅𝑃 Raio do planeta

𝑅𝑃𝑆 Raio do porta-satélites

𝑉 Velocidade de arrasto

𝑥(𝑡) Posição linear em função do tempo

�̇�(𝑡) Velocidade linear em função do tempo

�̈�(𝑡) Aceleração linear em função do tempo

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𝑥(𝑡)⃗⃗ ⃗⃗⃗⃗ ⃗⃗⃗ Vector posição em função do tempo

�̇�(𝑡)⃗⃗ ⃗⃗⃗⃗ ⃗⃗⃗ Vector velocidade em função do tempo

�̈�(𝑡)⃗⃗ ⃗⃗⃗⃗ ⃗⃗⃗ Vector aceleração em função do tempo

Grega

𝜃(𝑡) Posição angular em função do tempo

�̇�(𝑡) Velocidade angular em função do tempo

�̈�(𝑡) Aceleração angular em função do tempo

𝜃(𝑡)⃗⃗ ⃗⃗ ⃗⃗ ⃗⃗ ⃗ Vector posição angular em função do tempo

�̇�(𝑡)⃗⃗ ⃗⃗ ⃗⃗ ⃗⃗ ⃗ Vector velocidade angular em função do tempo

�̈�(𝑡)⃗⃗ ⃗⃗ ⃗⃗ ⃗⃗ ⃗ Vector aceleração angular em função do tempo

�̇�1 Velocidade angular engrenagem intermédia

�̇�2 Velocidade angular pinhão intermédio

�̇�3 Velocidade angular engrenagem de alta velocidade

�̇�4 Velocidade angular do pinhão de alta velocidade

�̇�𝐺 Velocidade angular do gerador

�̇�𝑁𝑜𝑚𝑖𝑛𝑎𝑙 Velocidade angular nominal

�̇�𝑅 Velocidade angular do rotor

�̈�𝑅 Aceleração angular do rotor

�̇�𝑅(𝑡) Velocidade angular do rotor em função do tempo

�̈�𝑅(𝑡) Aceleração angular do rotor em função do tempo

�̇�𝑃 Velocidade angular do planeta

�̇�𝑃𝑆 Velocidade angular do porta-satélites

𝜌𝑎𝑟

Densidade do ar atmosférico

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1. INTRODUÇÃO

1.1 Energia eólica e aerogeradores

1.1.1 Revisão histórica

A energia eólica ou energia do vento tem origem num outro tipo de energia, a energia solar. O Sol, por

sua vez, aquece a massa de ar atmosférico de diferentes formas, devido ao movimento de rotação

terrestre em conjunto com as irregularidades da superfície da terra [1]. As diferentes temperaturas

impostas no ar por este processo, originam gradientes de pressão no mesmo, fazendo assim com que

este adquira energia cinética. É esta energia que é aproveitada para diversos fins que vão desde a

produção de energia mecânica, unicamente, até à produção de energia eléctrica. O início da utilização

deste tipo de energia data de há milhares de anos e consistia no fornecimento de energia de propulsão

em navios, por intermédio de velas [1]. Posteriormente, na Pérsia antiga, na China e muito mais tarde

na Europa, a energia cinética do vento começou a ser aproveitada com recurso à construção de

moinhos [2]. Estes dispositivos eram utilizados essencialmente na agricultura, para elevação de água

em poços e para realizar a moagem de cereais. Os moinhos de vento utilizavam pás que quando em

contacto com o vento, faziam rodar um veio posicionado horizontalmente ou na vertical que através de

um mecanismo permitia realizar o trabalho pretendido. Este tipo de conversão de energia foi sofrendo

várias alterações ao longo do tempo, de modo a ser aperfeiçoado, pelo que, ainda existem vestígios de

algumas aplicações deste tipo, como são os casos do chamado “moinho americano” e do moinho de

vento tradicional. O primeiro, ainda pode ser encontrado em zonas rurais, em utilização, tendo como

função a bombagem de água para fins de rega. O segundo, devido ao progresso tecnológico e ao

aparecimento de soluções mais sofisticadas caiu completamente em desuso. No entanto, ainda é

possível avistar exemplares, uns em ruínas (muitas vezes situados mesmo ao lado de aerogeradores) e

outros recuperados que se encontram em funcionamento apenas para fins históricos e turísticos.

Actualmente, a principal aplicação da energia eólica é na produção de energia eléctrica. A junção entre

estes dois tipos de energia teve início nos Estados Unidos da América, em 1888, onde um moinho de

vento de grandes dimensões foi pela primeira vez ligado a um gerador, para produzir corrente eléctrica

[2] e [3]. Este moinho inventado por Charles F. Brush tinha um rotor com um diâmetro de 17 metros e

produzia uma potência de 12 kW (ver Figura 1.1).

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2

Figura 1.1: Primeiro moinho de vento a produzir energia eléctrica. Fonte:[4].

Posteriormente, este tipo de máquinas, aos quais chamamos aerogeradores, começou a ser

desenvolvido e melhorado, quer nos Estados Unidos, quer na Europa, mais precisamente na

Dinamarca, Alemanha, Reino Unido e França. Tal acontecimento foi essencialmente impulsionado

pela crise de petróleo que ocorreu em 1973 [2]. Por fim, nos últimos 20 anos tem sido feita uma

grande aposta neste tipo de aproveitamento de energia, principalmente na Europa, devido aos bons

recursos eólicos, à crescente preocupação com o chamado “efeito de estufa” e ao aumento do custo do

petróleo. Tal como é referido em [2] a potência dos aerogeradores está intimamente relacionada com o

diâmetro do seu rotor, desta forma, ao longo dos anos tem sido verificado um aumento desta

dimensão, com vista a permitir valores de potência cada vez mais elevados. Actualmente, o mercado já

desenvolveu modelos com potências superiores a 3 MW (sendo estes os mais usados) para aplicações

de energia eólica em terra (“onshore”), no entanto, o interesse neste aumento para implementação em

terra começou a diminuir. Por outro lado, um aumento de potência dos aerogeradores tem vindo a

revelar-se indispensável devido ao interesse nas aplicações em alto mar (“offshore”) [2].Tal facto

deve-se aos recursos eólicos no alto mar permitirem produzir bastante mais energia (velocidade do

vento é mais estável e maior) permitindo assim, a construção de máquinas mais potentes (na ordem

das dezenas de megawatt) e consequentemente maiores. Os desafios tecnológicos deste tipo de fonte

energética renovável centram-se agora essencialmente nos seguintes objectivos:

Melhorar os métodos de previsão da quantidade de energia que irá ser produzida num

determinado local e em determinada altura, resolvendo assim o problema da

imprevisibilidade;

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3

Minimizar os custos de manutenção e operação (prolongando o tempo de vida útil dos seus

componentes e aumentando assim a sua fiabilidade);

Encontrar soluções economicamente mais atractivas para a implementação de

aerogeradores “onshore” e “offshore” (questão que está associada a factores como o

elevado custo de construção das fundações e estruturas de suporte, custo e complexidade

das operações de montagem, etc.).

Relativamente ao caso português, foi desde 1996 que a energia eólica começou a ter uma importância

significativa [5], sendo que, actualmente a nível europeu, o nosso país se encontra na linha da frente

no que toca ao uso da energia cinética do vento para produção de energia eléctrica (Figura 1.2).

Figura 1.2: Cota percentual de energia eólica no consumo eléctrico total [6].

Para além de Portugal ser o segundo país da União Europeia com maior percentagem de electricidade

produzida com recurso à energia eólica (gráfico em cima), existem também no nosso país, projectos na

fase de desenvolvimento, de sistemas inovadores no âmbito da energia eólica “offshore” como é o

caso do Windfloat (ver Figura 1.3).

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4

Figura 1.3: Windfloat - Projecto pioneiro implementado em Portugal. Fonte:[7]

Quer em Portugal quer na Europa está previsto que a energia eólica continue a ser uma aposta e que

um aumento de potência de geração de energia eléctrica por esta via venha a ser verificado sendo este

acompanhado por um progresso tecnológico que providencie soluções mais económicas e

competitivas.

1.1.2 Aerogeradores: princípio de funcionamento básico

Em primeiro lugar, a nível introdutório e com o objectivo de tornar mais fácil a compreensão daquilo

que será exposto posteriormente, revela-se oportuno fazer uma apresentação esquemática e muito

simplificada do princípio de funcionamento dos aerogeradores. Contudo, mais à frente neste trabalho

será realizada uma descrição, essa sim, mais aprofundada e pormenorizada dos componentes que

constituem as máquinas actualmente utilizadas. De uma forma muito abreviada, os modelos mais

comuns deste tipo de máquinas contêm três elementos principais: um rotor, uma caixa multiplicadora

e um gerador eléctrico. O primeiro elemento mencionado, o rotor, é normalmente constituído por três

pás que têm a função de interactuar com o vento atmosférico de forma a fazerem rodar o veio ao qual

estão ligadas. Tal efeito ocorre devido ao princípio aerodinâmico da sustentação que se encontra

também presente, quer nas asas dos aviões, quer nas pás de bombas hidráulicas, ventiladores ou

compressores. O rotor tem uma velocidade angular de rotação baixa, estando por isso conectado a uma

caixa multiplicadora que permita efectuar o aumento de velocidade necessário para o gerador eléctrico

iniciar a produção de energia. As caixas multiplicadoras contêm um veio de entrada ou veio de baixa

velocidade (o que está ligado ao rotor) e um veio de saída ou veio de alta velocidade (o qual está

ligado ao gerador). São constituídas por engrenagens, rolamentos e veios de transmissão. Finalmente,

o terceiro elemento principal é o gerador eléctrico que transforma a energia mecânica em energia

eléctrica para posteriormente a colocar na rede. Em baixo (Figura 1.4) encontra-se uma ilustração do

sistema simplificado.

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5

Figura 1.4: Representação esquemática - turbina, caixa multiplicadora e gerador.

Deve acrescentar-se ainda que existem outros tipos de aerogeradores que apresentam uma

configuração diferente da que acaba de ser descrita. No entanto, esta configuração é a mais

comumente utilizada e é sobre ela que o presente estudo se debruça. Por esta razão, para já, apenas se

refere este tipo de aerogerador.

1.2 Motivação e descrição do problema

O presente estudo insere-se num tema actual e de grande interesse, pois quer a nível nacional, quer

internacional, tem havido uma preocupação crescente no que toca à descarbonização das fontes

energéticas. Tal objectivo tem sido impulsionado por um conjunto de factores ambientais e

económicos. Do ponto de vista ambiental, o chamado “efeito de estufa” tem sido constantemente

agravado pelo recurso a combustíveis fósseis para produção de electricidade. Por outro lado, a cada

vez maior escassez do petróleo (fonte energética não renovável) tem conduzido à subida do seu preço,

afectando gravemente a economia de muitos países. Posto isto, à semelhança do que já foi referido

neste documento, tem havido um grande investimento e uma grande preocupação na procura de novas

soluções, que permitam produzir energia eléctrica de forma mais limpa, a partir de fontes renováveis e

a um custo cada vez mais baixo. Apesar de as fontes de energia limpas serem designadas como tal,

estas não são totalmente isentas de emissões de dióxido de carbono. Aquando da construção,

montagem e manutenção deste tipo de máquinas é gasta energia, a qual, em grande parte é proveniente

de combustíveis fósseis. No entanto, se forem tidas em conta as emissões de dióxido de carbono

libertadas ao longo da vida útil dos aerogeradores, verifica-se que estes apresentam um nível de

emissões dos mais baixos, quando comparados às outras fontes energéticas (ver Figura 1.5). Deve

acrescentar-se que apesar de no gráfico da Figura 1.5 não se encontrarem as emissões provenientes de

fontes de energia nuclear, este recurso energético tem um índice de emissões de dióxido de carbono

ligeiramente mais baixo do que as fontes de energia eólica.

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6

Figura 1.5: Emissões de CO2 ao longo do ciclo de vida. Fonte:[6]

Como já mencionado anteriormente neste trabalho, para além dos incentivos ambientais, existem

também incentivos económicos para que se invista neste tipo de aproveitamento energético e no seu

aperfeiçoamento, tornando-o cada vez mais rentável e tentando diminuir os custos que lhe estão

associados. Como é possível verificar no gráfico que se segue (ver Figura 1.6), as despesas de

manutenção e operação provêm, maioritariamente, da substituição de componentes e serviço nos

aerogeradores (26%), o que indica que prevenir o dano de tais elementos é uma excelente forma de

diminuir as despesas associadas à manutenção e operação desta tecnologia (evitando assim uma

substituição precoce das peças) e de prolongar o seu tempo de vida útil.

Figura 1.6: Distribuição dos custos de manutenção e operação em aerogeradores. Fonte:[2]

Para além dos factores económicos e ambientais já referidos, quando se verificam avarias nos

aerogeradores existe uma outra grande preocupação, a segurança. Os aerogeradores são estruturas de

grande dimensão e são constituídos por elementos bastante pesados, o que em caso de avaria e

consequente rotura, pode originar situações de grande perigo para as áreas circundantes (ver Figura

1.7).

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7

Figura 1.7: Incêndio num aerogerador. Fonte: [8]

As caixas multiplicadoras presentes nos aerogeradores têm sido objecto de diversos estudos devido a

serem o principal componente responsável pela maioria das avarias registadas [9]. Sendo estas o

elemento mais caro num aerogerador e considerando que o seu tempo útil de vida previsto

(aproximadamente 20 anos) raramente chega a ser atingido, tem havido nas últimas décadas, um

esforço grande, no sentido de fazer face a este problema [9,12]. Durante os períodos de transição

causados pelas paragens de emergência, instabilidade do vento e instabilidade na rede eléctrica os

componentes constituintes das caixas multiplicadoras estão sujeitos a cargas mecânicas extremamente

elevadas [10]. As situações transitórias são bastante frequentes nas turbinas eólicas e ocorrem devido a

factores como alterações bruscas da velocidade do vento (que podem obrigar à paragem imediata do

sistema), aumentos de momento por parte do gerador (Figura 1.8) e paragens para efeitos de

manutenção. Sendo sujeitas a este tipo de esforços ao longo do seu ciclo de vida as caixas

multiplicadoras começam a apresentar avarias nos seus componentes tendo por vezes que ser

substituídas.

Figura 1.8: Alteração brusca do momento electromagnético do gerador devido a uma situação de

instabilidade na rede. Fonte: [10]

O presente estudo visa dar um contributo para o desenvolvimento da tecnologia associada à conversão

de energia eólica em energia eléctrica, tentando assim solucionar o problema que acaba de ser

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8

descrito. Neste trabalho é apresentada uma solução que consiste em colocar uma embraiagem, na

ligação entre a caixa multiplicadora e o rotor aerodinâmico, de modo a que haja uma diminuição nos

esforços suportados pela caixa, durante a travagem. Considerando que o gerador é o segundo

componente do sistema com maior momento de inércia (sendo precedido apenas pelo rotor) [10], [13]

e [14] e que em situações de transição os momentos de inércia representam um papel importante, a

alteração proposta poderá eventualmente ser capaz de, além de proteger a caixa multiplicadora,

permitir também uma poupança de energia de travagem (visto que apenas é necessário travar o rotor).

Esta modificação poderá permitir ainda uma maior poupança de energia nas situações de arranque, que

ocorram logo após uma travagem. Tendo em conta que os sistemas de embraiagem têm já um historial

de grande dimensão, sendo por isso uma tecnologia bem dominada pelos seus fabricantes, esta

alteração de projecto aparenta ser adequada. De uma forma mais concisa pode dizer-se que a energia

eólica é um tipo de aproveitamento energético bastante aliciante, quando comparado com os outros

recursos disponíveis, podendo assim ocupar um lugar importante na resposta à necessidade de

descarbonizar as fontes energéticas. Contudo, existe ainda uma margem de progressão deste recurso

para que, baixando os custos que lhe estão associados, se torne mais competitivo. Para isso, é

necessária uma aposta no melhoramento tecnológico de modo a diminuir o número de avarias e a

aumentar a sua eficiência. Encontra-se assim demonstrada a motivação e a importância que o presente

estudo pode ter para o progresso das tecnologias actualmente existentes neste mercado.

1.3 Objectivos da dissertação

À semelhança daquilo que já foi dito, esta dissertação tem como objectivo principal contribuir para o

desenvolvimento tecnológico no âmbito das energias renováveis, mais precisamente da energia eólica.

De uma forma mais concreta, o presente estudo visa propor uma solução que dê resposta a um

problema de avarias nos aerogeradores, evitando-se assim, os elevados custos nas suas reparações e os

tempos de paragem/inactividade a que estas obrigam. Na prática, pretende-se simular o sistema de

transmissão de um aerogerador típico com e sem um sistema de embraiagem, durante uma situação de

travagem. Desta maneira será possível verificar os esforços aplicados na caixa multiplicadora que

podem ser evitados com a alteração proposta. Para que tal se concretize, será elaborado um modelo

cinetoestático que permita calcular a resposta do sistema mecânico durante uma travagem (paragem de

emergência). Serão feitas duas simulações, sendo que, em primeiro lugar, será simulado um sistema

idêntico aos que já existem (e portanto sem embraiagem) e em segundo lugar será feita uma simulação

do sistema proposto (com embraiagem). Ao que se seguirá uma comparação entre ambos os resultados

das simulações sendo deste modo possível averiguar se a solução proposta é ou não adequada.

1.4 Metodologias

Para a realização do presente estudo serão realizadas as cinco grandes etapas que se seguem.

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9

A primeira etapa, permitirá ao autor:

Realizar uma primeira abordagem ao tema “energia eólica”;

Aprofundar o conhecimento do problema para identificação do mesmo;

Identificar ferramentas necessárias para a realização do estudo;

Conhecer o estado da arte.

Posteriormente à revisão bibliográfica será elaborado um modelo dinâmico aproximado e

fundamentado na dinâmica de corpos que seja capaz de representar o comportamento do mecanismo

durante a travagem. Para resolver o problema numericamente será utilizado o software Matlab

Simulink. Este programa consiste na utilização de códigos numéricos para resolução de equações

diferenciais. Esta ferramenta utiliza um interface baseado em diagramas de blocos e permite gerar

gráficos com os valores provenientes da simulação. Os valores de entrada que serão introduzidos na

simulação serão valores típicos definidos para este tipo de estudos. Por fim, será estabelecida uma

comparação entre os valores dos momentos de travagem necessários para as duas simulações

realizadas de modo a que se possa fazer uma discussão dos resultados obtidos.

1.5 Estrutura

A presente dissertação encontra-se organizada em cinco capítulos. Os conteúdos presentes em cada

capítulo serão identificados de seguida.

Capítulo 1 - No presente capítulo, em primeiro lugar, é realizada uma breve introdução ao tema da

energia eólica sendo feita uma revisão da sua história e uma apresentação do princípio de

funcionamento da tecnologia que lhe está associada. Ainda no mesmo capítulo é apresentada a

motivação do tema em estudo, bem como os objectivos pretendidos e as metodologias utilizadas para a

sua realização.

Capítulo 2 – Neste capítulo é feita uma apresentação mais pormenorizada sobre a tecnologia de

conversão da energia do vento em energia eléctrica. São descritos os componentes existentes no

interior de um aerogerador típico, o modo e condições nas quais o tipo de aerogerador em estudo

opera. Posteriormente é feito um levantamento do estado da arte e são também referidos alguns

conceitos teóricos de dinâmica de corpos, sistemas mecânicos, freios e embraiagens.

Capítulo 3 – Nesta secção é apresentado o modelo dinâmico construído para a simulação bem como

os fundamentos teóricos em que este se baseia. São também apresentadas as simplificações assumidas

na elaboração do modelo.

Revisão de Literatura

Elaboração Modelo

Dinâmico

Escolha do Método

Númerico

Cálculo das Respostas Dinâmicas

Comparação/Discussão Resultados

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Capítulo 4 – É realizada uma descrição do modelo de aerogerador escolhido, dos valores introduzidos

nas simulações e do método numérico seleccionado. São ainda apresentados os resultados

provenientes das simulações.

Capítulo 5 – Contém uma discussão dos resultados apresentados no capítulo anterior à qual se seguirá

uma apresentação das conclusões obtidas através do trabalho desenvolvido. Por fim são apresentadas

algumas sugestões para trabalhos futuros.

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11

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 Aerogeradores

2.1.1 Principais componentes

No capítulo anterior, foi feita apenas uma apresentação do princípio de funcionamento dos

aerogeradores. Revela-se agora oportuno fazer uma exposição mais pormenorizada dos principais

elementos presentes neste tipo de equipamentos. Existem vários tipos de aerogeradores no mercado,

com diferentes gamas de potência, diferentes “layouts” e diferentes sistemas de transmissão mecânica.

No entanto, existem características que são comuns a todos os tipos de máquinas existentes. Qualquer

aerogerador é constituído pelos seguintes elementos: fundação, torre, pás, cubo e “nacelle” (ver Figura

2.1).

Figura 2.1: Aerogerador Vestas

As fundações e a torre são responsáveis por suster a turbina à altura pretendida. Para além disso, a

torre possibilita também o acesso de técnicos à zona superior do aerogerador. Pode acrescentar-se

ainda que, do ponto de vista aerodinâmico, a altura é uma característica de grande importância, pois

até um valor máximo (valor que corresponde à espessura/altura da camada limite terrestre) a

velocidade do vento vai sendo cada vez maior, permitindo assim elevar a potência produzida pelo

aerogerador. No topo da torre, pode observar-se a “nacelle”, é aqui onde se encontra a maior parte dos

componentes eléctricos e mecânicos do aerogerador. A “nacelle” tem como principal objectivo

proteger das condições climatéricas (sol, chuva, etc.) os equipamentos que nela estão contidos. Pode

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observar-se ainda o conjunto constituído pelo cubo e pelo rotor, situado na parte frontal da “nacelle”.

Estes são responsáveis por captar a energia do vento (“input”) fornecendo assim movimento a todo o

sistema. As principais diferenças que podem existir entre modelos de aerogeradores são ao nível da

transmissão e ao nível das condições em que operam, podendo estes funcionar com velocidade de

vento constante ou variável. Entende-se por transmissão, o modo como é transferido o movimento

(energia mecânica) captado pelas pás da turbina, ao gerador. Existem três tipos de transmissão que

assumem principal destaque na área da energia eólica: a transmissão directa, a transmissão indirecta e

a transmissão hidrostática. A transmissão directa é um sistema no qual não existe caixa multiplicadora

entre o rotor e o gerador, sendo necessário um gerador capaz de produzir energia a velocidades de

rotação baixas. No caso da transmissão indirecta é a caixa de engrenagens que realiza o aumento do

número de rotações por minuto. Tal como é citado em [15], dentro destes dois tipos de transmissão

existem mais algumas variantes, quer seja a nível da caixa multiplicadora (transmissão indirecta), que

pode conter um ou mais andares, quer seja a nível do tipo de gerador e de transformador que incluem

(transmissão directa). Contudo, o mais utilizado é o modelo de transmissão por caixa multiplicadora.

Por este motivo, será este o modelo descrito e utilizado no presente estudo. Recentemente foi também

idealizado um novo sistema de transmissão, como alternativa às caixas multiplicadoras e à transmissão

directa. Este tipo de transmissão é denominado por transmissão hidrostática, sendo que, tal como o

nome indica, a transmissão é feita conectando o rotor a uma bomba volumétrica de baixa velocidade.

O aumento de velocidade angular é posteriormente conseguido ligando a bomba a dois ou mais

motores de alta velocidade, cada um com um gerador independente. Tal como já foi mencionado, é no

interior da “nacelle” onde se encontram os principais componentes dos aerogeradores, atendendo ao

tema desta dissertação é a este elemento que será dado particular interesse. Assim sendo, seguir-se-á

uma apresentação/descrição dos principais componentes tipicamente existentes no interior de uma

“nacelle”. Na figura seguinte pode ser observado o interior de um aerogerador de passo variável, com

transmissão por caixa multiplicadora.

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13

Figura 2.2: Interior da "nacelle"

Sistema de variação do passo – mecanismo accionado hidraulicamente que se encontra localizado no

interior do cubo e que permite rodar as pás ao longo do seu eixo longitudinal. A rotação das pás

permite limitar a velocidade de rotação do rotor, aumentando a perda aerodinâmica. Este mecanismo

apenas está presente em alguns tipos de geradores.

Sistema de orientação – mecanismo que tem como função orientar o aerogerador na direcção do

vento. A direcção e velocidade do vento são detectadas pelo anemómetro que se encontra localizado

no exterior da “nacelle”, tal como é possível observar pela figura.

Veio de baixa velocidade – é o veio de transmissão que faz a ligação entre o cubo da turbina e a caixa

multiplicadora. Pode também ser denominado veio principal, caracteriza-se por ser o veio de maior

diâmetro e opera a velocidades angulares baixas.

Caixa multiplicadora – à semelhança do que já foi dito anteriormente, este elemento é o responsável

pelo aumento da velocidade angular à entrada do gerador. Normalmente é constituída por três estágios

sendo o primeiro denominado o de baixa velocidade, o segundo de velocidade intermédia e o terceiro

de alta velocidade.

Travão de disco – é um dos elementos responsáveis por realizar a travagem de todo o sistema.

Accionado hidraulicamente ou através de sistemas de molas, este mecanismo serve de auxílio à

travagem aerodinâmica proporcionada pelo sistema de variação de passo. Este tipo de travão é

também utilizado em outro tipo de aplicações como por exemplo a indústria automóvel. A acção do

travão é realizada por dissipação de energia através de atrito seco entre punções que apertam um disco

que se encontra acoplado ao veio. O travão localiza-se entre a caixa multiplicadora e o gerador (ver

Figura 2.2), ou seja, no veio de alta velocidade.

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14

Gerador – o gerador é o elemento que realiza a conversão de energia mecânica em energia eléctrica.

No caso dos aerogeradores que contêm caixa multiplicadora, o tipo de gerador utilizado é um gerador

de indução com dupla alimentação.

2.1.2 Modo e condições de operação

Serve o presente subcapítulo para apresentar algumas questões importantes, que ainda não foram

expostas, relativamente ao modo como as turbinas eólicas operam e em que condições. Os

aerogeradores, como todas as máquinas, têm um dado rendimento e uma gama de valores na qual

conseguem operar. Um aerogerador apenas consegue começar a produzir energia a partir de um valor

mínimo da velocidade do vento (normalmente entre 3 a 5 m/s), chamada a velocidade de “cut-in”. Por

outro lado existe um valor de velocidade óptimo/nominal para o qual o aerogerador foi projectado

(condição de rendimento máximo). A partir desse valor é necessário manter a turbina a velocidade de

rotação constante (através da variação do ângulo de passo das pás e do aumento de momento

electromagnético do gerador). No caso de a velocidade do vento aumentar ainda mais, existe também

um valor limite da velocidade do vento, para o qual a turbina tem de ser colocada em repouso por

questões de segurança. A esse valor de velocidade é chamado “cut-off” (tipicamente de 25 m/s). É

importante notar que o ponto de velocidade nominal corresponde ao ponto de potência máxima ou

potência nominal (ver Figura 2.3). No caso de a velocidade do vento ser superior à velocidade de ”cut-

off” é iniciada a paragem de emergência da turbina, recorrendo ao sistema de variação de ângulo de

passo (impondo uma variação de aproximadamente 90º) e accionando o travão de disco

simultaneamente. No início desta operação é também anulado o momento electromagnético do

gerador.

Figura 2.3: Curva de potência típica de um aerogerador de 1 MW. Fonte: [16]

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15

Tal como é possível observar no gráfico da Figura 2.3 existem duas regiões distintas de operação, a

região de carga parcial e a de carga total. A primeira localiza-se entre a velocidade de “cut-in” e a

velocidade nominal e caracteriza-se como sendo uma zona em que o rendimento do aerogerador é

mais baixo. Na região de carga total a turbina está a funcionar à potência nominal e constante, para a

qual foi projectada, estando portanto numa condição de potência máxima. Esta região termina quando

a velocidade de “cut-off” for atingida. A curva de potência é de extrema importância para o projecto

de um parque eólico, pois permite ao projectista escolher qual a máquina mais adequada (em termos

de potência) para um dado sítio, tendo em conta o recurso eólico da zona.

2.1.3 Caixas multiplicadoras

Uma caixa de engrenagens é um equipamento utilizado em sistemas mecânicos de rotação e tem como

função aumentar ou diminuir a velocidade de rotação dos mesmos. As caixas de engrenagens são

constituídas por um veio de entrada e um veio de saída sendo que, um roda a uma velocidade baixa e

outro a uma velocidade alta. Nas aplicações em que o veio de entrada é o de alta velocidade designa-se

caixa redutora, naquelas em que é o veio de saída que roda a altas velocidades designa-se caixa

multiplicadora. Nos aerogeradores, são utilizadas caixas multiplicadoras, pois é necessário um

aumento da velocidade de entrada (rotor) de modo colocar o gerador em funcionamento. As caixas

multiplicadoras dos aerogeradores funcionam normalmente com velocidades angulares de saída 1500

rpm ou 1800 rpm [17]. Existem dois principais tipos de caixas multiplicadoras: as de eixo paralelo e as

planetárias (ver Figura 2.4). As caixas podem ainda conter mais do que um andar, isto é, o aumento de

velocidade pode ser feito gradualmente, sendo que, o valor total corresponde à multiplicação dos

incrementos de velocidade em cada andar. Em situações nas quais sejam desejadas grandes relações de

transmissão é necessário aumentar o número de andares pois cada um está limitado a um valor

máximo de relação de transmissão. Deve acrescentar-se ainda que em caixas multiplicadoras com mais

do que um andar pode existir uma mistura dos dois tipos mencionados anteriormente (planetário e de

eixos paralelos). Seguidamente será feita uma descrição destes dois tipos de caixas multiplicadoras.

Figura 2.4: Caixas multiplicadora multiestágio, a) de eixos paralelos, b) planetária.

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16

Caixas multiplicadoras de eixos paralelos

Um andar de uma caixa multiplicadora de eixos paralelos é constituído por uma engrenagem e um

pinhão, cada um suportado por um veio, sendo os dois veios colocados paralelamente (ver Figura 2.5).

A engrenagem localiza-se no veio de baixa velocidade e o pinhão no de alta velocidade. Este tipo de

caixas é utilizado em aplicações com relações de transmissão e momentos mais reduzidos

(comparativamente ao sistema planetário), por razões de economia de espaço e de robustez. Pode

ainda acrescentar-se que as engrenagens de elevada dimensão são mais difíceis de fabricar, existindo

por isso essa preocupação.

Figura 2.5: Caixa multiplicadora de eixos paralelos multiestágio (vista do seu interior)

Caixas multiplicadoras planetárias

O sistema planetário ou sistema epicíclico das caixas multiplicadoras é constituído por um planeta

(pinhão associado ao veio de saída), satélites (engrenagens), porta satélites e anel. Esta configuração

permite realizar relações de transmissão por andar, mais elevadas e é também capaz de suportar

momentos mais elevados devido a que os esforços são distribuídos por um maior número de dentes

(dentes dos satélites). Os mecanismos planetários podem ter aplicações distintas devido à sua

flexibilidade. Estes podem ser usados como caixa redutora ou multiplicadora de velocidades mas

também em aplicações como é o caso de mecanismos de orientação. Esta capacidade de adaptação a

vários tipos de funções depende dos elementos que são mantidos fixos, ou a rodar. É também possível

alterar a relação de transmissão realizando a substituição apenas do planeta e dos satélites. No caso

dos aerogeradores, o rotor transmite movimento ao porta-satélites fazendo-os deslocar-se no interior

do anel (que é mantido fixo). Os satélites, por sua vez, transmitem movimento ao planeta que está

associado ao veio de saída (ver Figura 2.6).

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17

Figura 2.6: Esquema ilustrativo de um sistema planetário.

Para além das vantagens já referidas, em comparação com o sistema de eixos paralelos, este

mecanismo é também mais compacto e apresenta uma boa relação entre o momento que suporta e o

peso do equipamento. No entanto, as caixas multiplicadoras deste tipo apresentam uma complexidade

maior que torna mais difícil a sua modelação e caracterizam-se também por provocarem esforços

bastante elevados nos rolamentos.

2.1.4 Esforços nas caixas multiplicadoras

As avarias mecânicas verificadas nos sistemas de transmissão dos aerogeradores encontram-se

sobretudo nas caixas multiplicadoras [9]. Durante o seu funcionamento, os esforços suportados pela

caixa multiplicadora de um aerogerador, são provenientes da diferença entre os momentos aplicados

nos veios de alta (momento electromagnético) e de baixa velocidade (momento aerodinâmico). Na

Figura 2.7 encontram-se ilustrados os momentos aplicados em ambos os veios durante o

funcionamento do sistema. A diferença entre o momento electromagnético do gerador e o momento

aerodinâmico representa a carga suportada pela caixa multiplicadora nestas condições. No caso de

uma paragem de emergência, o momento electromagnético do gerador é anulado não existindo esse

problema. No entanto, os momentos de travagem mecânica necessários para parar o rotor, no intervalo

de tempo pretendido, são extremamente elevados. No estudo realizado por Sequeira [9] verificou-se

que a partir de um número de paragens de emergência superior a 25 eram necessárias operações de

manutenção para substituição do rolamento de alta velocidade. Constatou-se também que após um

número elevado de paragens sucessivas era necessária uma substituição da caixa.

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18

Figura 2.7: Ilustração dos carregamentos aplicados no sistema de transmissão durante o seu

funcionamento que provocam desgaste nos seus componentes.

2.2 Estado de arte

À semelhança daquilo que já foi dito anteriormente neste documento, as caixas multiplicadoras têm

sido responsáveis por grande parte do tempo de paragem dos aerogeradores devido a avarias. Desde

então, têm sido levados a cabo estudos, quer por parte da indústria, quer por parte da comunidade

científica, que visam solucionar este problema. De entre os trabalhos que têm sido realizados, uns

tentam arranjar soluções encontrando sistemas alternativos às caixas multiplicadoras, outros propõem

uma observação mais atenta ao interior das caixas (realizando análises de vibrações, usando novos

modelos de cálculo de esforços, etc.) de modo a que se consiga, do ponto de vista do projecto das

mesmas, prepara-las para resistirem a tais condições. Tal como é referido em [15] onde é feita uma

comparação entre cinco tipos de aerogeradores, dois de transmissão directa (sem caixa de velocidades)

e três de transmissão indirecta (um de três estágios e dois de apenas um), a substituição da caixa de

engrenagens requer geradores bastante mais dispendiosos e pesados, sendo esta a provável razão de

uma preferência, da parte dos fabricantes, pela transmissão indirecta. De entre as soluções sem caixa

multiplicadora já existentes, conta-se ainda com o sistema de transmissão hidrostática (referido

anteriormente neste documento), que foi recentemente patenteado [18], e sobre o qual também já

começam a ser feitos alguns estudos que visam avaliar a sua performance [19,22]. Este tipo de

transmissão pensa-se poder vir a ser uma solução alternativa devido à robustez que a tecnologia

hidráulica apresenta. Outros estudos têm sido realizados para tentar resolver o problema, elaborando e

propondo modelos dinâmicos capazes de determinar com maior precisão as cargas no sistema de

transmissão durante o funcionamento dos aerogeradores. Exemplos desses estudos são [17], [23], [14],

[24] e [25]. Os trabalhos que acabam de ser citados propõem vários modelos dinâmicos diferentes que

consideram diferentes tipos de elasticidade. Os resultados destes trabalhos foram positivos, revelando

que a elasticidade dos componentes é uma variável determinante, quer no cálculo das frequências

naturais, quer na determinação dos esforços no interior do sistema. Foi também concluído que as

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19

vibrações dos vários componentes provocam desalinhamentos nos elementos do sistema, com especial

ênfase para o andar planetário, no qual as trajectórias dos satélites e do planeta sofrem alterações

significativas. Contudo, estes estudos referem-se apenas ao regime de funcionamento estacionário, não

abrangendo assim as condições ainda mais críticas, que se verificam durante os regimes de transição.

Tal como é referido em [10], [12] e [13], uma análise estática não consegue representar fielmente as

cargas presentes em regimes transitórios, pois as forças de inércia não são equacionadas. Zhang et al.

[13] e Xing et al. [12] propõem dois modelos dinâmicos capazes de representar as situações

transitórias. No trabalho de Zhang et al. [13] é apenas simulada uma situação de curto-circuito na rede.

Já em [12] é feita uma comparação entre os resultados previstos através do modelo dinâmico proposto

e resultados medidos experimentalmente durante as situações de arranque e de travagem de um

aerogerador de 750 kW. A comparação entre os dois conjuntos de resultados validou um modelo

completamente elástico para ambas as situações de arranque e de travagem, verificando-se um erro de

3,2 % e 2,0 %, respectivamente. No entanto, é também referido que um modelo completamente rígido

preveria esforços 20 % superiores aos experimentais. Foi ainda verificado que nos estágios de alta

velocidade seria necessário um modelo com maior precisão. Sequeira [9], por sua vez, realizou um

estudo no qual sugere uma abordagem diferente ao problema. Neste trabalho é sugerida uma alteração

dos planos de manutenção de forma a diagnosticar avarias mecânicas e estruturais a tempo de serem

realizadas intervenções que evitem danos de dimensão superior. Foi também encontrado um estudo

levado a cabo por Molinas et al. [11], no qual é proposto um modo de limitar o momento

electromagnético do gerador para turbinas de velocidade constante recorrendo a um compensador

síncrono estático. Neste mesmo trabalho é também referido que tal já é possível também para as

turbinas de velocidade variável. No presente estudo é analisada uma proposta de solução um pouco

diferente das que foram citadas até aqui. Na solução em análise o objectivo é tentar proteger a caixa

multiplicadora, desacoplando o rotor durante a paragem e impedindo assim que o momento de

travagem seja transmitido à caixa. O desacoplamento poderá ser conseguido recorrendo a um sistema

de embraiagem. Na pesquisa bibliográfica realizada pelo autor apenas foram encontradas três

referências que sugerem soluções semelhantes à solução em estudo. Em 1981, Seidel e Pfanner [25]

realizaram testes experimentais numa turbina eólica de 100 kW de potência que incluía uma

embraiagem industrial de sentido único no veio de alta velocidade (ver Figura 2.8). O principal

objectivo deste estudo não estava relacionado com a protecção da caixa multiplicadora, mas sim com a

possibilidade de conseguir produzir uma maior quantidade de energia na região de funcionamento de

carga parcial (velocidades de vento baixas). Os resultados dos testes foram bastante satisfatórios

tendo-se concluído que esta seria uma boa solução, não só para melhorar a eficiência dos

aerogeradores, mas também porque é um modo de simplificar o sistema de controlo e de aumentar o

ciclo de vida de alguns componentes, visto que o número de operações de arranque e de travagem

seria diminuído. Deve ainda acrescentar-se que a embraiagem utilizada apenas desacoplava o gerador

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20

quando a velocidade angular diminuísse até um dado valor, o que levaria a que o mecanismo não

estivesse protegido até esse instante. Desde então, não foram encontrados pelo autor quaisquer estudos

que dessem seguimento ao trabalho que acaba de se referir. É apenas possível encontrar um registo de

uma patente relativa a um sistema de embraiagem para aerogeradores [26], também colocada no veio

de alta velocidade, que visa proteger a caixa multiplicadora. Este sistema funciona como limitador de

binário protegendo o mecanismo de momentos superiores a um dado valor estabelecido. Contudo, à

semelhança do estudo de Seidel e Pfanner, o facto de o sistema ser um elemento passivo e de

principalmente, estar colocado no veio de alta velocidade não permite proteger a caixa multiplicadora

do momento de travagem mecânico necessário para travar o rotor. Para além de [26] podem encontrar-

se ainda algumas referências feitas por produtores de sistemas de acoplamentos mecânicos [27] e [28],

à aplicação, no ramo da energia eólica, de embraiagens como a que se acaba de referir. Qualquer uma

destas referências servem para proteger a caixa multiplicadora durante o seu funcionamento, pois

nesse período as sobrecargas são provenientes do gerador (momento electromagnético). No entanto,

não oferecem protecção nas situações de arranque e de paragem e é esta lacuna que o presente estudo

pretende preencher.

Figura 2.8: Aerogerador Mod-0: a) vista exterior, b) esquema do interior da “nacelle”. Fonte: [25]

2.3 Modelação dinâmica

A presente dissertação tem como objectivo realizar um modelo dinâmico capaz de representar o

comportamento do sistema de transmissão tipicamente utilizado em aerogeradores. Para que o modelo

seja credível e para que seja bem fundamentado, é necessário recorrer a ferramentas matemáticas e às

leis da dinâmica de corpos. Revela-se então oportuno, apresentar alguns conceitos gerais relacionados

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21

com a modelação de sistemas mecânicos. Os sistemas mecânicos podem ser classificados em três tipos

distintos: sistemas de translação, sistemas de rotação e sistemas mistos (translação e de rotação). Esta

distinção é feita considerando o tipo de movimento predominante nos elementos constituintes do

sistema. Do ponto de vista da modelação, em primeiro lugar é necessário fazer uma representação

simplificada do sistema, identificando quais os elementos que correspondem a massas, molas ou

amortecedores de modo a caracterizar as propriedades inerciais, elásticas e de amortecimento. A

inércia de um sistema é descrita pela sua massa total ou momento de inércia total consoante seja um

sistema de translação ou rotativo. Uma outra propriedade de um sistema mecânico é a sua elasticidade.

A elasticidade pode ser representada por uma mola, quer o sistema contenha realmente molas ou quer

existam componentes sujeitos a deformações que não possam ser desprezadas. Esta característica é

representada por uma constante, a constante de rigidez que se representa normalmente por k sendo a

unidade o N m⁄ . Em último lugar, o amortecimento de um sistema existe e é considerado sempre que

se queira representar uma dissipação de energia, normalmente por atrito seco ou viscoso. O

amortecimento é representado por uma constante, chamada constante de amortecimento, normalmente

representada por c, na qual a unidade é o N.s m⁄ . As constantes que acabam de ser referidas são

características do sistema podendo apenas ser alteradas por substituição dos seus elementos ou

colocação de outros com esse objectivo (por exemplo a colocação de um rolamento para diminuir

amortecimento por atrito). Por fim, para realizar a análise dinâmica é necessário também definir os

regimes em que o sistema irá funcionar. Para tal é essencial conhecer posições, velocidade ou

acelerações. Seguidamente será apresentada a 2ª lei de Newton que inclui todos estes parâmetros e que

descreve o comportamento de um mecanismo.

Para um sistema livre tem-se:

𝑚 �̈�(𝑡) + 𝑐 �̇�(𝑡) + 𝑘 𝑥(𝑡) = 0 (1)

Em que 𝑥(𝑡) é a função que descreve a posição em função do tempo sendo �̈�(𝑡) e �̇�(𝑡)

respectivamente as suas segunda e primeira derivadas.

Para um sistema torsional tem-se:

𝑗 �̈�(𝑡) + 𝑐 �̇�(𝑡) + 𝑘 𝜃(𝑡) = 0 (2)

Na qual a função 𝜃(𝑡) é a posição angular em função do tempo sendo �̈�(𝑡) e �̇�(𝑡), respectivamente as

suas segunda e primeira derivadas. Abaixo, são também apresentados os diagramas de corpo livre

simplificados para ambas as situações.

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22

Figura 2.9: Sistema elástico amortecido com um grau de liberdade - a) sistema, b) diagrama de corpo

livre. Fonte: [29]

Figura 2.10: Sistema torsional elástico amortecido com um grau de liberdade. Fonte: [29]

As duas situações aqui apresentadas são os casos mais simples que podem existir. Na realidade, os

sistemas mecânicos normalmente têm mais do que um grau de liberdade e podem também estar

sujeitos a respostas forçadas. No caso de o número de graus de liberdade ser superior a 1 as constantes

apresentam-se na forma matricial: uma matriz de massa, uma matriz de rigidez e uma matriz de

amortecimento. A função posição e as suas derivadas apresentam-se sob a forma de vectores.

Para um sistema livre a equação vem:

[𝑚] �̈�(𝑡)⃗⃗ ⃗⃗ ⃗⃗ ⃗⃗⃗ + [𝑐] �̇�(𝑡)⃗⃗ ⃗⃗⃗⃗ ⃗⃗⃗ + [𝑘] 𝑥(𝑡)⃗⃗ ⃗⃗⃗⃗ ⃗⃗⃗ = 0 (3)

E para um sistema torsional vem:

[𝑗]�̈�(𝑡)⃗⃗ ⃗⃗ ⃗⃗ ⃗⃗ ⃗ + [𝑐] �̇�(𝑡)⃗⃗ ⃗⃗ ⃗⃗ ⃗⃗ ⃗ + [𝑘] 𝜃(𝑡)⃗⃗ ⃗⃗ ⃗⃗ ⃗⃗ ⃗ = 0 (4)

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23

Em situações de respostas forçadas para um grau de liberdade, as equações (1) e (2) mantêm-se iguais

no 1º membro. No entanto, no segundo membro aparece uma função que depende do tempo e que

representa a excitação. Se for um sistema com mais do que um grau de liberdade, as equações (3) e (4)

apresentam também essa modificação só que em forma de vector. Existem ainda mais alguns

conceitos utilizados na modelação de sistemas mecânicos que se revelam úteis na análise de sistemas.

Sendo estes o conceito de trabalho, W [J] e o conceito de energia, E [J]. O trabalho realizado por um

sistema mecânico é o produto da força F⃗⃗ [N] pelo deslocamento 𝑥 [m]. Então:

𝑊 = �⃗�. 𝑥 [J] (5)

Relativamente à energia, existem numerosas formas de energia pois que esta se define pela capacidade

de realizar trabalho. Tipicamente, em sistemas mecânicos existem três formas de energia que são

normalmente consideradas: energia potencial elástica, 𝐸𝑝 energia cinética dos elementos em

movimento, 𝐸𝑐 e energia dissipada por amortecimento, 𝐸𝑑 . Seguem-se as expressões para o cálculo de

cada um destes tipos de energia para sistemas lineares e torsionais, respectivamente.

Para a energia cinética, m é a massa, �̇� a velocidade linear, J o momento de inércia e �̇� a velocidade

angular:

𝐸𝑐 =1

2𝑚�̇�2 (6) 𝐸𝑐 =

1

2𝐽�̇�2 (7)

Para a energia potencial, 𝑥 é o deslocamento linear e 𝜃 o deslocamento angular:

𝐸𝑝 =1

2𝑘𝑥2 (8) 𝐸𝑝 =

1

2𝑘𝜃2 (9)

Para a energia de dissipação poderão ser utilizadas várias expressões dependendo do tipo de

amortecimento que estiver em causa (atrito seco, atrito viscoso, etc.). Por esta razão, e porque não se

revela oportuno no presente caso em estudo, não se citará nenhuma expressão para a energia dissipada.

No presente trabalho não serão tidas em conta as propriedades elásticas do sistema, sendo apenas

consideradas as forças externas que lhe são aplicadas (momentos de travagem) e a inércia dos seus

elementos.

2.4 Embraiagens e freios mecânicos

As embraiagens e os freios mecânicos são dispositivos com funções distintas, no entanto, ambos

funcionam segundo o princípio físico do atrito e por vezes, em algumas aplicações, são utilizados em

conjunto. Uma embraiagem é um dispositivo mecânico que permite conectar ou desconectar por atrito

entre superfícies, duas massas consoante se pretenda que estas rodem de forma independente. Existe

sempre uma massa que é a motora e outra que é a movida, sendo que a primeira está associada à fonte

de potência/motor, enquanto a outra é colocada em movimento ou à velocidade da massa motora.

Existem embraiagens de vários tipos que podem ser classificadas consoante a sua geometria (p. ex.

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24

embraiagem de disco, cónica ou de calços), tipo de atrito (seco, húmido ou misto), tipo de actuador

(hidráulico, de ar comprimido, axial ou radial) e função para a qual se destinam (protecção do

equipamento, mudanças de relações de transmissão ou economia de energia). Este tipo de

equipamentos é já uma tecnologia bastante evoluída quer a nível do seu desempenho, quer a nível do

seu tempo de vida útil. Um freio é um dispositivo que tem como função diminuir a velocidade, ou

mesmo travar uma massa excitada com uma determinada quantidade de movimento, dissipando a

energia que nela está contida através de atrito. Existem também vários tipos de freios de acordo com a

geometria das superfícies de contacto (freios de disco, freios de calços ou freios de cinta) ou tipo de

actuador (hidráulico, pneumático ou manual). À semelhança daquilo que é proposto nesta dissertação

existe também um elevado número de aplicações onde se usam acoplamentos constituídos por uma

embraiagem e um freio. Este tipo de acoplamentos revela-se interessante pois permite diminuir o

momento de travagem/frenagem necessário para parar um mecanismo e também parar o mecanismo

sem ter de desligar o motor. Na Figura 2.11 encontra-se uma máquina ferramenta accionada por um

motor eléctrico, constituída por um mecanismo manivela-biela e que admite um sistema de

embraiagem com freio. A embraiagem é axial e é constituída por dois discos, o freio é também axial e

de disco único.

Figura 2.11: Máquina ferramenta com sistema de embraiagem e freio [30].

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25

3. DESCRIÇÃO DO MODELO

Nesta dissertação construiu-se um modelo capaz de descrever uma situação típica de travagem de

emergência num aerogerador. Para isso foi necessário modelar as características dinâmicas que

ocorrem numa situação deste tipo. Identificou-se o sistema de transmissão como sendo equivalente a

um disco em rotação com uma determinada quantidade de movimento, 𝐽𝑒𝑞. �̈� ao qual é aplicado um

momento de travagem total. Esse momento de travagem total é repartido por um momento de

travagem aerodinâmico (através do rotor) e um momento de travagem mecânica (através do travão de

disco). Fazendo o balanço de momentos relativamente ao veio de baixa velocidade obtém-se a

seguinte equação diferencial.

∑ �⃗⃗⃗�𝑅 = �⃗⃗⃗�𝑇,𝐴𝑒𝑟𝑜 + �⃗⃗⃗�𝑇,𝑟𝑜𝑡𝑜𝑟 = �⃗⃗⃗�𝐴𝑒𝑟𝑜 + 𝐽𝑒𝑞,𝑟𝑜𝑡𝑜𝑟. �̈�𝑅(𝑡) (10)

𝑀𝑇,𝐴𝑒𝑟𝑜, 𝑀𝑇,𝑟𝑜𝑡𝑜𝑟, 𝑀𝐴𝑒𝑟𝑜, 𝐽𝑒𝑞,𝑟𝑜𝑡𝑜𝑟 e �̈�𝑅(𝑡) são, respectivamente, os momentos de travagem

aerodinâmica e mecânica, o momento aerodinâmico de sustentação, o momento de inércia equivalente

do sistema e a aceleração angular em função do tempo. Através da equação (10), para já apresentada

de forma compacta e simplificada, foi possível descrever o comportamento do sistema simulado

durante uma travagem. Serve o presente capítulo para realizar uma exposição do modo como foram

caracterizados os momentos e as propriedades inerciais do mecanismo presentes na equação (10).

3.1 Modelo de inércia

Construiu-se um modelo de inércia capaz de representar as características do sistema mecânico. O

modelo criado é um modelo completamente rígido, não amortecido. Estas duas simplificações foram

consideradas devido ao facto de que a sua inclusão aumentaria o grau de complexidade dos cálculos,

sem grande benefício, visto que o que se pretende realizar é uma comparação entre os resultados de

duas simulações (simulação com e sem embraiagem). Fez-se uma outra simplificação relativamente ao

cálculo do momento de inércia equivalente do sistema. Deve referir-se que para o cálculo deste valor

apenas foram contabilizados os momentos de inércia do rotor e do gerador, tendo-se assim desprezado

os valores dos momentos de inércia dos restantes componentes do mecanismo (veios de alta e baixa

velocidade, caixa multiplicadora, etc.). Esta simplificação deve-se ao facto de se ter verificado que

estes valores tinham uma importância suficientemente pequena em comparação com os do rotor e do

gerador. Seguidamente serão apresentados os cálculos realizados para os momentos de inércia

equivalentes de dois tipos de aerogeradores, sendo que em primeiro lugar se encontrará o modelo de

referência utilizado posteriormente na simulação e em segundo lugar um outro modelo que apenas

servirá para demonstrar que apenas a inércia do gerador e do rotor têm importância para a simulação.

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26

3.1.1 Momento de inércia equivalente: modelo simulado

O sistema mecânico em estudo pode representar-se de forma esquemática pela Figura 3.1.

Figura 3.1: Esquema constituído pelo rotor, relação de transmissão e gerador.

Para um sistema mecânico de rotação, completamente rígido, não amortecido, e contabilizando apenas

a inércia do rotor e do gerador, o momento de inércia equivalente do sistema relativo ao veio de baixa

velocidade decorre do seguinte balanço energético:

1

2𝐽𝑒𝑞. �̇�𝑅

2 =1

2𝐽𝑅�̇�𝑅

2 +1

2𝐽𝐺 . �̇�𝐺

2 (11)

Simplificando a equação (11), vem:

𝐽𝑒𝑞,𝑟𝑜𝑡𝑜𝑟 = 𝐽𝑅 + 𝐽𝐺 . 𝑖2 (12)

Sendo 𝑖 a relação de transmissão da caixa multiplicadora. Da mesma forma, pode calcular-se também

o valor do momento de inércia equivalente relativamente ao veio de alta velocidade.

1

2𝐽𝑒𝑞. �̇�𝐺

2 =1

2𝐽𝐺�̇�𝐺

2 +1

2𝐽𝑅 . �̇�𝑅

2 (13)

Simplificando, a equação (13) resulta:

𝐽𝑒𝑞,𝑔𝑒𝑟𝑎𝑑𝑜𝑟 = 𝐽𝐺 +𝐽𝑅

𝑖2 (14)

Os valores utilizados na simulação serão os do modelo do aerogerador de referência para aplicação

“offshore” NREL 5-MW [31]. Na tabela que se segue encontram-se identificados os valores dos

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27

momentos de inércia e da relação de transmissão relativamente ao modelo que se acaba de referir.

Posteriormente, far-se-á uma descrição dos parâmetros do modelo utilizado na simulação que se

revelem importantes. Contudo, e para já, apenas serão mencionados os valores presentes na Tabela

3.1.

Tabela 3.1: Valores de referência do aerogerador NREL-5MW

Momento de inércia do rotor, 𝐽𝑅 (𝑘𝑔. 𝑚2) 3,53 . 107

Momento de inércia do gerador, 𝐽𝐺 (𝑘𝑔. 𝑚2) 534,116

Relação de transmissão, 𝑖 97:1

Substituindo os valores nas equações (12) e (14) obtêm-se os seguintes resultados para os momentos

de inércia equivalentes relativamente ao rotor e ao gerador.

𝐽𝑒𝑞,𝑟𝑜𝑡𝑜𝑟 = 4,0364 . 107 𝑘𝑔. 𝑚2

𝐽𝑒𝑞,𝑔𝑒𝑟𝑎𝑑𝑜𝑟 = 4,2888 . 103 𝑘𝑔. 𝑚2

Deve salientar-se que a diferença entre ambos os resultados resulta do aumento de velocidade

realizado pela caixa multiplicadora, quando se transita do veio do rotor para o do gerador. Assim

sendo, o momento de inércia relativamente ao veio de altas velocidades assume um valor menor

(devido ao aumento da velocidade) e relativamente ao veio de baixa velocidade acontece o contrário.

3.1.2 Momento de inércia equivalente: modelo exemplificativo

Para comprovar a pouca relevância da inércia dos elementos no interior da caixa multiplicadora foram

utilizados valores típicos de um aerogerador [32] com uma caixa multiplicadora de três andares, sendo

o andar de baixa velocidade do tipo planetário (com três planetas) e os restantes dois de eixos

paralelos. Pode visualizar-se uma representação esquemática do mecanismo na Figura 3.2.

Figura 3.2: Esquema constituído pelo rotor, caixa multiplicadora e gerador.

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28

Na Figura 3.3 far-se-á uma identificação dos componentes no interior da caixa multiplicadora,

acompanhados pela simbologia adoptada para a representação dos momentos de inércia e das

velocidades angulares de cada componente.

Figura 3.3: Esquema representativo do interior da caixa de velocidades.

Na Tabela 3.2 apresentam-se os valores utilizados para os cálculos.

Tabela 3.2: Valores de configuração do sistema de transmissão.

Raio do porta-satélites, 𝑅𝑃𝑆 (𝑚𝑚) 270

Raio dos satélites, 𝑅𝑆 (𝑚𝑚) 160

Raio do planeta, 𝑅𝑃 (𝑚𝑚) 110

Raio da engrenagem intermédia, 𝑅1(𝑚𝑚) 290

Raio do pinhão intermédio, 𝑅2(𝑚𝑚) 95

Raio da engrenagem de alta velocidade, 𝑅3(𝑚𝑚) 185

Raio do pinhão de alta velocidade, 𝑅4(𝑚𝑚) 80

Momento de inércia do rotor, 𝐽𝑅 (𝑘𝑔. 𝑚2) 4,18.106

Momento de inércia do suporte de planetas, 𝐽𝑃𝑆 (𝑘𝑔. 𝑚2) 57,72

Momento de inércia de um satélite, 𝐽𝑆 (𝑘𝑔. 𝑚2) 1,12

Massa de um satélite, 𝑚𝑆 (𝑘𝑔) 57,79

Momento de inércia do planeta, 𝐽𝑃 (𝑘𝑔. 𝑚2) 0,86

Momento de inércia da engrenagem intermédia, 𝐽1 (𝑘𝑔. 𝑚2) 14,32

Momento de inércia do pinhão intermédio e da engrenagem de alta velocidade, 𝐽2 e 𝐽3

(𝑘𝑔. 𝑚2) 1,62

Momento de inércia do pinhão de alta velocidade, 𝐽4 (𝑘𝑔. 𝑚2) 0,2

Momento de inércia do gerador, 𝐽𝐺 (𝑘𝑔. 𝑚2) 93,22

O momento de inércia equivalente em relação ao veio de alta velocidade decorre do balanço

energético seguinte:

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29

1

2𝐽𝑒𝑞. �̇�𝐺

2 =1

2𝐽𝐺�̇�𝐺

2 +1

2𝐽4. �̇�𝐺

2 +1

2𝐽3. �̇�2

2 +1

2𝐽2. �̇�2

2 +1

2𝐽1. �̇�𝑃

2 +1

2𝐽𝑒𝑞,𝑝𝑙𝑎𝑛𝑒𝑡á𝑟𝑖𝑜. �̇�𝑃

2 +1

2𝐽𝑅 . �̇�𝑃𝑆

2 (15)

A equação (16) é a expressão geral que permite obter o valor de momento de inércia equivalente num

sistema de transmissão do tipo planetário. Este valor representa o momento inércia equivalente do

sistema planetário (𝐽𝑒𝑞,𝑝𝑙𝑎𝑛𝑒𝑡á𝑟𝑖𝑜), relativamente à velocidade de saída do planeta. 𝑁𝑆 representa o

número de satélites e 𝑚𝑆 a sua massa.

𝐽𝑒𝑞,𝑝𝑙𝑎𝑛𝑒𝑡á𝑟𝑖𝑜 . �̇�𝑃2 = [𝐽𝑃 + 𝑁𝑆 .

𝑅𝑃2

4(

𝐽𝑆

𝑅𝑆2 + 𝑚𝑆) + (

𝑅𝑃

2(𝑅𝑃𝑆))

2

. 𝐽𝑃𝑆] �̇�𝑃2 (16)

As equações (17), (18) e (19) relacionam a velocidade do veio de saída (gerador) com as velocidades

dos restantes componentes:

�̇�2 =𝑅4

𝑅3. �̇�𝐺 (17)

�̇�𝑃 =𝑅4. 𝑅2

𝑅3. 𝑅1. �̇�𝐺 (18)

�̇�𝑃𝑆 =𝑅𝑃.𝑅4. 𝑅2

2.𝑅𝑃𝑆.𝑅3. 𝑅1. �̇�𝐺 (19)

Finalmente, substituindo as equações (16) a (19) em (15) e simplificando obtém-se a expressão que

permite calcular o momento de inércia equivalente do sistema relativamente ao veio de alta

velocidade.

𝐽𝑒𝑞,𝑔𝑒𝑟𝑎𝑑𝑜𝑟 = 𝐽𝐺 + 𝐽4 + (𝐽3 + 𝐽2). (𝑅4

𝑅3)

2

+ (𝐽1 + 𝐽𝑒𝑞,𝑝𝑙𝑎𝑛𝑒𝑡á𝑟𝑖𝑜). (𝑅2 . 𝑅4

𝑅3 . 𝑅1)

2

+ 𝐽𝑅 . (𝑅𝑃 . 𝑅2. 𝑅4

2. 𝑅𝑃𝑆. 𝑅3 . 𝑅1)

2

(20)

Se se desprezar o valor dos momentos de inércia de todos os componentes entre o rotor e o gerador, a

expressão anterior reduz-se a:

𝐽𝑒𝑞,𝑔𝑒𝑟𝑎𝑑𝑜𝑟 = 𝐽𝐺 + 𝐽𝑅. 𝑖2 (21)

Por fim, substituindo os valores apresentados na Tabela 3.2 nas fórmulas (20) e (21) obtêm-se os

seguintes resultados para os valores do momento de inércia equivalente real (incluindo caixa

multiplicadora, veios de baixa e alta velocidade) e do momento de inércia equivalente aproximado

(contabilizando apenas a inércia do gerador e do rotor), respectivamente.

𝐽𝑒𝑞,𝑔𝑒𝑟𝑎𝑑𝑜𝑟 = 3574,76 𝑘𝑔 . 𝑚2

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30

𝐽𝑒𝑞,𝑔𝑒𝑟𝑎𝑑𝑜𝑟 = 3573.88 𝑘𝑔 . 𝑚2

Desta forma fica demonstrado que o erro é de aproximadamente 1 % relativamente às duas expressões,

sendo possível realizar a simplificação referida.

3.2 Modelo de travagem aerodinâmica

Com o objectivo de construir o modelo pretendido foi necessário caracterizar o papel da componente

aerodinâmica durante o processo de travagem. No modelo elaborado admite-se que as pás têm uma

geometria rectangular, quer em corte seccional, quer em corte longitudinal (linha de corda constante

ao longo do comprimento da pá). Admite-se também que o ângulo de passo é sujeito a uma variação

entre 0º e 90º. Segue-se a caracterização das variáveis utilizadas para a construção do modelo. De

modo a não sobrevalorizar a componente aerodinâmica de travagem, quer devido às considerações

efectuadas (secção das pás rectangular e constante), quer devido ao efeito de sustentação que existe

durante parte da travagem far-se-á uma correcção do raio do rotor aerodinâmico utilizado.

3.2.1 Momentos e forças aerodinâmicos

Entenda-se por momento aerodinâmico de travagem o momento que se tem de introduzir no sistema

em funcionamento para o travar, recorrendo ao sistema de regulação do passo. A equação (22) permite

calcular o valor do momento aerodinâmico de travagem.

𝑀𝑇,𝐴𝑒𝑟𝑜 = 𝑁𝑝á𝑠 . 𝐹𝐴. 𝑑𝐶.𝐷. (22)

𝑁𝑝á𝑠 é o número de pás do rotor, 𝐹𝐴 a força de arrasto na direcção do plano de rotação (que no

presente caso é a força de travagem aerodinâmica) exercida sobre cada pá e 𝑑𝐶.𝐷. a distância desde a

raiz da pá até ao centro aerodinâmico da mesma. O valor da força de arrasto provocada num corpo por

um escoamento de ar, a uma velocidade 𝑉 é dado por:

𝐹𝐴 = 𝐶𝐴. 𝐴𝑃. 𝜌𝑎𝑟 . 𝑉2

2 (23)

Sendo 𝜌𝑎𝑟, 𝐶𝐴 e 𝐴𝑃 respectivamente a densidade do ar, o coeficiente de arrasto e a área do corpo

projectada na direcção da velocidade do escoamento (𝑉). Devido à rotação das pás, a velocidade 𝑉

será aproximadamente nula junto à raiz e máxima na extremidade das mesmas. Pode assim dizer-se

que o valor da velocidade que conta para o arrasto na pá, cresce radialmente e de forma proporcional

ao raio do rotor (ver Figura 3.4). A distribuição de velocidade que se acaba de referir faz com que a

força incidente nas pás seja uma carga distribuída triangular que pode ser representada sob a forma de

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31

uma carga concentrada que é aplicada a uma distância 𝑑𝐶.𝐷. da raiz da pá. Essa distância é dada pela

equação (24) na qual 𝑅𝑃𝑎 representa o raio do rotor.

𝑑𝐶.𝐷. = 2 . 𝑅𝑃𝑎

3 (24)

Substituindo a equação anterior em (22), a equação do momento de travagem aerodinâmico fica:

𝑀𝑇,𝐴𝑒𝑟𝑜 =2

3. 𝑁𝑝á𝑠 . 𝐹𝐴. 𝑅𝑃𝑎 (25)

Figura 3.4: Distribuição do campo de velocidades nas pás e representação da localização da linha de

aplicação da carga concentrada da força de arrasto

A força de arrasto pode ser calculada recorrendo à equação (23), onde a densidade do ar atmosférico e

o coeficiente de arrasto se admitem constantes. Por outro lado, a velocidade e a área caracterizaram-se

como sendo funções que variam com o tempo. A velocidade varia com o tempo devido à travagem por

si só. Quanto à área, admitiu-se a sua variação com o objectivo de representar a variação do ângulo de

passo de pá. A equação (23) pode então agora particularizar-se para a situação em estudo.

𝐹𝐴 = 𝐶𝐴. 𝐴𝑃(𝑡). 𝜌𝑎𝑟 . 𝑉(𝑡)2

2 (26)

Substituindo (26) em (25) obtém-se a equação que caracteriza o momento de travagem aerodinâmico,

em função do tempo.

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32

𝑀𝑇,𝐴𝑒𝑟𝑜 = 𝑁𝑝á𝑠 . 𝜌𝑎𝑟. 𝑅𝑃𝑎 . 𝐶𝐴. 𝐴𝑃(𝑡). 𝑉(𝑡)2

3 (27)

De modo a caracterizar o momento aerodinâmico provocado pela sustentação das pás, que permite a

produção de energia poder-se-ia utilizar uma equação semelhante à anterior mas de sinal contrário e

relativa a um coeficiente de sustentação, 𝐶𝑆 (equação (28)).

𝑀𝐴𝑒𝑟𝑜 = 𝑁𝑝á𝑠 . 𝜌𝑎𝑟 . 𝑅𝑃𝑎 . 𝐶𝑆. 𝐴𝑃(𝑡). 𝑉(𝑡)2

3 (28)

Contudo, de modo a simplificar o modelo não será usada a expressão (28). Assim sendo, o efeito da

sustentação durante a fase inicial da travagem é representado através da correcção do momento de

travagem aerodinâmico disponível que, por sua vez, não poderá exceder o valor do momento

aerodinâmico na condição de potência nominal determinado pela equação (29).

𝑀𝐴𝑒𝑟𝑜.𝑁𝑜𝑚𝑖𝑛𝑎𝑙 =𝑃𝑁𝑜𝑚𝑖𝑛𝑎𝑙

�̇�𝑁𝑜𝑚𝑖𝑛𝑎𝑙

(29)

A potência nominal do aerogerador, 𝑃𝑁𝑜𝑚𝑖𝑛𝑎𝑙 e a velocidade angular nominal, �̇�𝑁𝑜𝑚𝑖𝑛𝑎𝑙 são

conhecidas, podendo-se assim determinar um valor de referência para o momento aerodinâmico

nominal.

3.2.2 Coeficiente de arrasto, área e velocidade das pás

As características aerodinâmicas dos perfis alares são normalmente descritas em gráficos,

relacionando o valor do coeficiente de arrasto com o ângulo de ataque. Contudo, no modelo que se

pretende simular admitiu-se um valor de coeficiente de arrasto constante para qualquer ângulo de

passo, sendo a variação na força de arrasto levada a cabo por alteração da área da pá projectada na

direcção do arrasto. Desta forma não se considerou a variação do ângulo de ataque. O valor utilizado

para o coeficiente é o valor estabelecido para uma placa plana rectangular perpendicular ao

escoamento (Figura 3.5).

Figura 3.5: Representação do perfil admitido para as pás do rotor através da sua secção e de uma vista em

perspectiva.

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33

A Figura 3.6 mostra um gráfico que caracteriza o valor do coeficiente de arrasto associado a perfis

alares utilizados neste tipo de aerogeradores. Como é possível notar pelo gráfico, os valores para as

condições em que o coeficiente de arrasto assume o maior valor encontram-se próximos do que foi

escolhido (placa plana rectangular, 𝐶𝐴 = 2).

Figura 3.6: Valores de coeficientes de arrasto, coeficientes de sustentação e binário de alteração do ângulo

de passo em função dos ângulos de ataque [31].

Para caracterizar a influência da variação de ângulo de passo definiu-se a seguinte função em ordem

ao tempo.

𝐴𝑃(𝑡) = {𝐴 . sin

𝜋

40𝑡 , 0 < 𝑡 < 20

𝐴, 𝑡 ≥ 20 (30) 𝐴 = 𝑅𝑃𝑎. 𝐶 (31)

Sendo 𝐴𝑃 a área projectada na direcção do plano de rotação do rotor, 𝐴 a área total da pá e 𝐶 o

comprimento da linha de corda da pá representado na Figura 3.5. Em [32] considerou-se que o sistema

de regulação do passo está limitado a uma velocidade de 8º por segundo, o que corresponde a um

intervalo de 10 segundos até a rotação estar completa. No presente estudo admitiu-se que a velocidade

de variação do ângulo da pá é aproximadamente 4,5º por segundo, o que representa um intervalo de

aproximadamente 20 segundos até a pá estar na posição desejada. A função (30) é do tipo sinusoidal.

À medida que o ângulo aumenta, o arrasto aerodinâmico também aumenta. No instante em que a

rotação atingir 90º, considera-se que a pá se encontra na posição de arrasto máximo podendo assim

fornecer o maior momento de travagem possível. A sobreposição destes dois fenómenos (decréscimo

da velocidade e aumento do arrasto) irá caracterizar, em função do tempo, o momento de travagem

aerodinâmico. Sendo a velocidade linear de rotação do rotor a que contribui para o arrasto, então:

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34

𝑉 = �̇�𝑅(𝑡). 𝑅𝑃𝑎 (32)

Onde �̇�𝑅(𝑡) é a velocidade angular do rotor em função do tempo.

Figura 3.7: Triângulos de velocidades nas pás: a) posição que precede o início da travagem, b) posição de

perda máxima.

Na Figura 3.7 estão representados os triângulos de velocidades no bordo de ataque das pás nos

instantes imediatamente antes do início da travagem e naquele em que o arrasto aerodinâmico atinge o

seu valor máximo. Como já se disse, no modelo adoptado admite-se uma variação do passo da pá que

vai desde 0º a 90º. No entanto, o ângulo do passo real das pás para a condição nominal do aerogerador

não é nulo mas é relativamente baixo, tendo-se por isso admitido o valor zero. Uma caracterização da

variação do ângulo de passo feita da forma que se acaba de descrever torna esta variável independente

da velocidade angular. Contudo, com vista a optimizar a eficiência do perfil alar, seria necessário

dimensionar um controlador que regulasse este parâmetro em função da velocidade angular. Tal deve-

se à consequente alteração do ângulo de ataque, 𝛾 (que é um ângulo dinâmico) provocada pela

diminuição da velocidade angular.

3.2.3 Momento de travagem aerodinâmico: equação simplificada

Depois de se fazer a caracterização dos parâmetros que constituem o modelo de travagem

aerodinâmico, pode apresentar-se a fórmula final que permite descrevê-lo. Substituindo as equações

(32) e (30) em (27) obtém-se o seguinte resultado:

𝑀𝑇,𝐴𝑒𝑟𝑜 = 𝑓(𝑎𝑝, �̇�𝑅) =𝑁𝑝á𝑠 . 𝐶𝐴. 𝜌𝑎𝑟 . 𝑅𝑃𝑎

4 . 𝐶. 𝑎𝑝(𝑡). �̇�𝑅(𝑡)2

3 (33)

onde 𝑎𝑝(𝑡) é a função 𝐴𝑃(𝑡) dividida pela área total da pá:

𝑎𝑝(𝑡) = sin𝜋

40𝑡 (34)

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35

A substituição que acaba de se fazer serve para simplificar a equação (33). Fica assim definido o

modelo do momento de travagem aerodinâmico.

3.3 Modelo de travagem mecânica

A travagem mecânica realizada por um travão de disco típico de um aerogerador pode representar-se

pela aplicação de um momento angular constante e contrário ao seu movimento. Dependendo das

características (inércia, amortecimento e elasticidade) do sistema que se quer travar, do regime de

funcionamento, e também do tempo desejável para a imobilização, a intensidade do momento de

travagem pode tomar um valor maior ou menor. No caso do aerogerador utilizado como referência na

simulação, o tempo de paragem máximo tem ser igual ou inferior a 20 segundos [32]. Admitindo este

intervalo de tempo como referência, encontrou-se um valor (por experimentação numérica) para o

momento de travagem mecânico que é necessário. Admitiu-se também um intervalo de tempo de 1

segundo até que o travão estivesse totalmente atracado.

3.4 Modelo com embraiagem

Até aqui apresentou-se o modelo construído para realizar a simulação de um aerogerador

convencional. Apresentar-se-ão agora as alterações feitas neste modelo de modo a que seja possível

determinar a resposta do sistema com a introdução do sistema de embraiagem. A modificação do

projecto proposta consiste em colocar no veio de baixa velocidade uma embraiagem acompanhada de

um freio. A embraiagem será accionada no início da operação de travagem separando o sistema de

transmissão em dois subsistemas independentes (Figura 3.8). Utilizando a nomenclatura definida na

figura, o subsistema 1 é constituído apenas pelo rotor e pelo freio mecânico (de forma a que seja

possível travar a turbina) e o subsistema 2 é constituído pela caixa multiplicadora e pelo gerador.

Desta maneira é possível travar o rotor e manter a caixa multiplicadora protegida do elevado momento

de travagem aplicado ao rotor.

Figura 3.8: Ilustração dos sistemas independentes obtidos após o accionamento da embraiagem.

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36

No que toca a resultados, apenas interessa saber aquilo que ocorre no subsistema 1, pois o subsistema

2 é apenas um mecanismo em movimento que pode ser controlado pelo gerador se se desejar. No

modelo relativo ao sistema com embraiagem assumiu-se que a sua acção se dá de forma instantânea,

sendo que por essa razão a alteração feita no modelo consiste em contabilizar apenas o momento de

inércia do rotor na travagem. Deve recordar-se que o momento de inércia da caixa multiplicadora se

desprezou no modelo sem embraiagem. Considerando a equação (12) que permite calcular o momento

de inércia equivalente do sistema reduzido ao veio de baixa velocidade, ao anular o momento de

inércia do gerador verifica-se que o momento de inércia equivalente do sistema se reduz ao do rotor.

Fazendo agora a substituição tem-se:

𝐽𝑒𝑞,𝑟𝑜𝑡𝑜𝑟 = 𝐽𝑅 + 𝐽𝐺 . 𝑖2 (12)

Desacoplando o gerador,

𝐽𝐺 . 𝑖2 = 0

Ficando então:

𝐽𝑒𝑞,𝑟𝑜𝑡𝑜𝑟 = 𝐽𝑅 (35)

No capítulo seguinte serão apresentadas as duas simulações relativas a uma travagem do modelo de

aerogerador actual (sem embraiagem) e do modelo de aerogerador proposto de maneira a que seja

possível observar as diferenças entre ambos.

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37

4. SIMULAÇÃO

Na secção anterior fez-se uma apresentação, por partes, do modelo construído para o presente estudo.

Neste capítulo apresentar-se-á a equação diferencial constituída pelos parâmetros descritos

anteriormente (modelo inercial e modelos de travagem mecânica e aerodinâmica). Será também

referido o método numérico utilizado na simulação. Posteriormente far-se-á uma apresentação e

caracterização do modelo de aerogerador de referência simulado. Por fim, apresentar-se-ão, sob a

forma de gráficos, os resultados numéricos obtidos acompanhados de comentários que se revelem

oportunos. Deve dizer-se que as condições iniciais de operação do aerogerador nas simulações

correspondem à região de potência nominal, com velocidade de vento constante e igual à velocidade

de “cut-off”.

4.1 Equação diferencial do sistema e método numérico seleccionado

Recordando a equação (10) que representa, de forma compacta, o balanço de momentos no sistema de

transmissão e convertendo-a na forma que a seguir se apresenta, vem:

∑ �⃗⃗⃗�𝑅 = �⃗⃗⃗�𝑇,𝐴𝑒𝑟𝑜 + �⃗⃗⃗�𝑇,𝑟𝑜𝑡𝑜𝑟 = �⃗⃗⃗�𝐴𝑒𝑟𝑜 + 𝐽𝑒𝑞,𝑟𝑜𝑡𝑜𝑟. �̈�𝑅(𝑡)

⇔ 𝐽𝑒𝑞,𝑟𝑜𝑡𝑜𝑟. �̈�𝑅(𝑡) + 𝑀𝐴𝑒𝑟𝑜 − 𝑀𝑇,𝐴𝑒𝑟𝑜 = 𝑀𝑇,𝑟𝑜𝑡𝑜𝑟

substituindo-se as equações (33) e (12) na equação anterior obtém-se a equação diferencial completa

que descreve a operação de travagem em ordem ao tempo:

𝐽𝑒𝑞,𝑟𝑜𝑡𝑜𝑟 . �̈�𝑅(𝑡) − 𝑁𝑝á𝑠 . 𝐶𝐴. 𝜌𝑎𝑟 . 𝑅𝑃𝑎

4 . 𝐶. 𝑎𝑝(𝑡)

3 . �̇�𝑅(𝑡)2 = 𝑀𝑇,𝑟𝑜𝑡𝑜𝑟 (36)

A Figura 4.1 apresenta o diagrama de corpo livre do sistema equivalente associado à equação (10).

Modelo de inércia Modelo aerodinâmico Modelo de travagem

mecânica

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38

Figura 4.1: Diagrama de corpo livre do sistema equivalente reduzido ao veio de baixa de velocidade.

Para a resolução da equação (36) utilizou-se o “software” comercial Matlab Simulink. O Matlab

Simulink baseia-se em códigos numéricos iterativos para a resolução de problemas de equações

diferenciais. Este programa de simulação utiliza um interface baseado em diagramas de blocos

associados a funções ou a operadores matemáticos. De entre os métodos numéricos disponibilizados

pelo programa seleccionou-se um método multi-passo baseado em fórmulas numéricas de

diferenciação e adequado para sistemas rígidos. Foram também testados outros códigos numéricos

existentes, contudo, o que acaba de se referir revelou-se o mais preciso sem alteração no tempo de

cálculo necessário. Em anexo encontra-se o diagrama de blocos construído no interface Simulink

(anexo A).

4.2 Caracterização do modelo de aerogerador simulado

À semelhança do que se disse anteriormente, na simulação utilizaram-se os parâmetros definidos para

o aerogerador de referência NREL-5 MW [31]. Os parâmetros gerais que o caracterizam bem como os

valores necessários à simulação encontram-se apresentados na Tabela 4.1. Tendo em conta que o

regime que se pretende estudar é uma travagem, a condição inicial admitida diz respeito à condição

nominal de funcionamento do aerogerador que corresponde à velocidade angular nominal de rotação

do rotor indicada também na Tabela 4.1.

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39

Tabela 4.1: Caracterização do aerogerador de referência

Características Gerais NREL - 5MW

Tipo de aplicação Offshore

Potência (𝑀𝑊) 5

Diâmetro do rotor (𝑚) 126

Controlador de Velocidade Ângulo de passo

Velocidade de Cut-in (𝑚/𝑠) 3

Velocidade de Cut-out (𝑚/𝑠) 25

Velocidade nominal (𝑚/𝑠) 11,4

Caixa multiplicadora 3 Andares

Relação de transmissão da caixa, 𝑖 97:1

Velocidade de rotação nominal rotor (𝑟𝑝𝑚) 12,1

Velocidade de rotação nominal gerador (𝑟𝑝𝑚) 1173,7

Modelo de Inércia

Momento de inércia do rotor, 𝐽𝑅 (𝑘𝑔. 𝑚2) 3,5328141. 107

Momento de inércia do gerador, 𝐽𝐺 (𝑘𝑔. 𝑚2) 534,116

Modelo Aerodinâmico

Número de pás, 𝑁𝑝á𝑠 3

Comprimento da pá, 𝑅𝑃𝑎 (𝑚) 61,5

Coeficiente de arrasto, 𝐶𝐴 2

Comprimento da linha de corda, 𝐶 (𝑚) 3

Velocidade variação angulo passo, (o/𝑠) 4,5

Densidade do ar, 𝜌𝑎𝑟 (𝑘𝑔/𝑚3) 1,294

A razão pela qual se optou por este modelo prende-se com o facto de ser um modelo de referência

definido para este tipo de estudos, baseado em modelos reais de fabricantes de aerogeradores. À

semelhança do que já se disse, o momento aerodinâmico resultante da diferença entre a sustentação e o

arrasto é todo ele representado pela equação (33) e por uma correcção do valor do raio de pá, 𝑅𝑃𝑎. A

correcção que acaba de se referir será feita da seguinte forma.

Considerando-se a equação (29):

𝑀𝐴𝑒𝑟𝑜.𝑁𝑜𝑚𝑖𝑛𝑎𝑙 =𝑃𝑁𝑜𝑚𝑖𝑛𝑎𝑙

�̇�𝑁𝑜𝑚𝑖𝑛𝑎𝑙

(29)

Substituindo os valores da tabela 4.1. obtém-se o valor nominal do momento aerodinâmico.

𝑀𝐴𝑒𝑟𝑜.𝑁𝑜𝑚𝑖𝑛𝑎𝑙 = 3,96 𝑀𝑁. 𝑚

Considere-se também que o valor máximo do momento de travagem aerodinâmico nunca será superior

a este valor. Desta forma, substituindo o valor que se acaba de apresentar na equação (33) e

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40

resolvendo-a em ordem a 𝑅𝑃𝑎 obtém-se o valor corrigido para o raio do rotor aerodinâmico que será

utilizado na simulação.

𝑅𝑃𝑎 = 23,73 𝑚

4.3 Travagem aerodinâmica do aerogerador de referência NREL-5 MW

O momento de travagem de um aerogerador tem uma componente aerodinâmica significativa. Por esta

razão e para caracterizar adequadamente este parâmetro, realizou-se a simulação de uma travagem

contando apenas com o momento aerodinâmico produzido pelo arrasto das pás. A operação de

travagem iniciou-se após 10 segundos de funcionamento do aerogerador que se encontra inicialmente

com velocidade constante de valor igual a 12,1 rpm (≈ 1,27 rad/s). É possível observar através da

Figura 4.2 as variações dos valores do momento aerodinâmico e da velocidade do rotor durante esta

operação.

Figura 4.2: Resposta da velocidade angular do rotor (em cima) e do respectivo momento de aerodinâmico

de travagem.

Relativamente ao valor do momento produzido pelo rotor, verifica-se um aumento bastante

significativo durante um certo intervalo de tempo (desde o início da travagem até ao seu valor

máximo) seguido de um decréscimo, embora um pouco mais lento, que tende para um valor próximo

de zero. Este comportamento provém da junção de dois parâmetros determinantes na equação (36).

Em primeiro lugar, o aumento do arrasto das pás provocado pelo controlador de variação do passo é

preponderante face ao decréscimo da velocidade angular. Seguidamente, a diminuição da velocidade

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41

proveniente da travagem começa a fazer-se sentir com maior relevância, diminuindo assim o valor do

momento, o qual se anula apenas quando o rotor está imobilizado. Por esta razão, verifica-se também

uma diminuição no gradiente da velocidade angular (desaceleração), após o valor máximo de

momento de travagem ser alcançado. No gráfico onde se encontra representada a resposta da

velocidade verifica-se também a presença desse efeito. No instante t = 30 s a velocidade é

aproximadamente metade da velocidade inicial, motivo pelo qual existe necessidade da travagem

aerodinâmica ser acompanhada por uma travagem mecânica, de modo a respeitar a restrição de tempo

máximo de travagem (20 segundos).

4.4 Travagem total do aerogerador de referência NREL-5 MW

Após a caracterização do momento aerodinâmico de travagem, introduziu-se na simulação a

componente mecânica realizada pelo freio. Desta forma, a simulação da operação de travagem do

aerogerador de referência encontra-se completa ao introduzir-se um momento de travagem constante

que origina a energia dissipada pelo freio mecânico de modo a parar completamente o rotor ao fim de

30 segundos de simulação. O valor que se introduziu no simulador foi 2,15 𝑀𝑁. 𝑚. Na Figura 4.3

apresenta-se o sinal recebido pelo simulador para representar o travão.

Figura 4.3: Gráfico do momento mecânico de travagem em função do tempo.

Os gráficos que representam o equilíbrio de momentos no mecanismo e a velocidade do rotor durante

a travagem apresentam-se de seguida.

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42

Figura 4.4: Gráficos da velocidade angular do rotor (em cima) e do momento de travagem no sistema (em

baixo).

As diferenças mais visíveis entre os gráficos dos momentos com e sem travão mecânico encontram-se

no início e no fim da travagem. Nos primeiros instantes da travagem existe um aumento mais rápido

do momento de travagem (devido à acção do freio) do que no gráfico da Figura 4.2, aumento esse que

se vai traduzir numa maior desaceleração do rotor. Na fase final da travagem que corresponde à

proximidade do instante t = 30 segundos o valor do momento é mais alto do que o do gráfico da Figura

4.2 pois a componente aerodinâmica é muito mais baixa do que a componente mecânica devido ao

decréscimo da velocidade de rotação. No instante final t = 30 segundos em que a velocidade é nula o

travão deixa de ser actuado anulando-se assim o valor do momento de travagem.

4.5 Travagem total do sistema proposto

Realizou-se outra simulação da travagem do mesmo modelo de referência mas com a alteração

proposta. A simulação permitiu obter os gráficos do momento de travagem e da velocidade, para o

subsistema constituído pelo rotor e pelo freio (ver Figura 3.8). A energia que o travão tem de dissipar

para travar o rotor no mesmo intervalo de tempo que na simulação anterior é de 1,85 𝑀𝑁. 𝑚. Este

valor foi mais uma vez obtido por experimentação numérica. Foi-se diminuindo o valor obtido na

simulação anterior (ver secção 4.4) até que o rotor tivesse uma velocidade nula ao fim de 20 segundos

de travagem. Em seguida apresentam-se os gráficos das respostas, em função do tempo, relativos aos

momentos resultantes e à velocidade obtidos nesta simulação (Figura 4.5).

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43

Figura 4.5: Gráficos da velocidade angular do rotor (em cima) e do momento de travagem no sistema com

embraiagem (em baixo).

Estes resultados ilustram o modo como se comportaria o sistema caso fosse colocada uma

embraiagem, que actuasse de forma instantânea, no início da operação de travagem. Apesar das

semelhanças, é possível observar as diferenças existentes e expectáveis entre os gráficos que acabam

de se apresentar e os que foram obtidos para o sistema com travagem sem o desacoplamento do

gerador (Figura 4.4). No gráfico que contém o balanço de momentos é possível verificar um

decréscimo no valor máximo, que demonstra a redução do momento de travagem necessário visto que

apenas o rotor é travado. Na Figura 4.6 é possível observar de uma forma mais acessível a diferença

entre os momentos dos dois sistemas. O momento de travagem máximo é de 3 𝑀𝑁. 𝑚 para o caso em

que o gerador é travado em conjunto com o sistema, enquanto que com a embraiagem o momento de

travagem máximo é de aproximadamente 2,7 𝑀𝑁. 𝑚.

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44

Figura 4.6: Comparação dos momentos nas simulações com e sem embraiagem.

4.6 Validação do modelo

Com o objectivo de validar a simulação e o modelo realizados é necessário fazer uma análise crítica

dos resultados obtidos. Para tal, fazem-se nesta secção, alguns comentários acerca do comportamento

do sistema usado na simulação. Realiza-se também a comparação de alguns valores obtidos na

simulação com outros já existentes na literatura. Conforme se pode observar através dos gráficos

apresentados nas Figuras 4.2, 4.4 e 4.5, todos os modelos utilizados permitem obter respostas de

velocidade e de momentos em função do tempo, que se encontram próximas daquilo que se esperava.

Uma travagem exclusivamente aerodinâmica por si só é suficiente para realizar um decréscimo de

velocidade angular de 1,29 rad/s para aproximadamente 0,2 rad/s, o que corresponde a uma

diminuição de cerca de 85 %. Contudo, verificou-se também pelos gráficos de velocidade angular que

para imobilizar completamente o rotor ao fim de 20 segundos de travagem é necessário o auxílio do

travão mecânico. Apesar de existirem na literatura poucas fontes de comparação possíveis, recorrendo

a [31] é possível considerar o valor do momento de travagem mecânica nominal do freio definido para

o aerogerador de referência e compará-lo com o valor obtido. Os valores que até agora se

apresentaram são relativos ao veio de baixa velocidade. Por essa razão é necessário considerar o valor

de momento relativamente ao veio de alta velocidade de modo a que seja possível fazer essa

comparação. Para tal basta dividir o valor referido na secção 4.4 pela relação de transmissão da caixa

multiplicadora, tal como se demonstra na equação (37).

𝑀𝑇,𝑔𝑒𝑟𝑎𝑑𝑜𝑟 = 𝑀𝑇,𝑟𝑜𝑡𝑜𝑟

𝑖 (37)

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Substituindo os valores obtém-se então o momento de travagem que o travão tem de fornecer no veio

de alta velocidade para que o sistema seja imobilizado no tempo pretendido.

𝑀𝑇,𝑔𝑒𝑟𝑎𝑑𝑜𝑟 = 22165 𝑁. 𝑚 ≈ 22 𝑘𝑁. 𝑚

Na tabela seguinte apresenta-se o valor que acaba de ser referido e o valor nominal do momento de

travagem definido para o aerogerador NREL-5 MW.

Tabela 4.2: Momentos de travagem mecânica no veio de alta velocidade.

Momentos de travagem mecânica

Momento nominal definido (𝑘𝑁. 𝑚) 28

Momento necessário calculado (𝑘𝑁. 𝑚) 22

À semelhança do que é possível observar, o valor nominal é aproximadamente 1,3 vezes superior ao

necessário que foi encontrado com recurso ao simulador. Os valores nominais dos componentes

utilizados neste tipo de aplicações são tipicamente sobredimensionados, o que justifica esta diferença.

Contudo, deve dizer-se que o valor encontrado é sempre um resultado proveniente de um método

numérico e de um modelo aproximado onde foram consideradas simplificações, não sendo portanto

um valor real. Considerando agora o estudo realizado por Pedersen e Steiniche [33] e observando os

gráficos da velocidade angular do rotor e do momento de travagem mecânica produzido pelo freio

(Figura 4.7), verifica-se que existem algumas diferenças entre estes e os que se obtiveram na

simulação do presente estudo (Figura 4.3 e 4.4). Relativamente ao gráfico da velocidade angular, para

além das oscilações características de um modelo elástico, que não se consideram no modelo rígido

adoptado, verifica-se também que a desaceleração do rotor é superior à que se verificou na nossa

simulação. Por outro lado, o modo como é feita a travagem mecânica é totalmente diferente daquele

que foi adoptado no nosso estudo.

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Figura 4.7: Gráficos do momento de travagem mecânica (à esquerda) e da velocidade angular do rotor (à

direita) obtidos por Pedersen e Steiniche [33].

Ao contrário da nossa simulação, na realizada por Pedersen e Steiniche (Figura 4.7) o momento

aplicado pelo freio mecânico não é constante e dura apenas metade do tempo de travagem (20

segundos). Para além disso, em [33] é também apresentado o comportamento da velocidade angular

para uma travagem exclusivamente aerodinâmica onde se verifica que é possível travar o mecanismo

no intervalo de tempo desejado sem o auxílio do freio, ao contrário daquilo que se tem vindo a

verificar na presente dissertação. Deve ainda chamar-se a atenção para o facto de que o momento de

inércia do rotor aerodinâmico utilizado por Pedersen e Steiniche na simulação é diferente daquele que

é definido em [31] para o NREL-5 MW e que foi utilizado no presente estudo (Tabela 4.3).

Tabela 4.3: Momentos de inércia do rotor aerodinâmico.

Momentos de inércia do rotor aerodinâmico

Momento de inércia utilizado por Pedersen e Steiniche [33] (𝑘𝑔. 𝑚2) 1,938 . 107

Momento de inércia definido (𝑘𝑔. 𝑚2) 3,5328141 . 107

Desta forma, não é possível estabelecer uma comparação entre os resultados que se obtiveram e os

obtidos em [33]. No entanto, segundo o estudo realizado por Guo et al. [12] onde se conclui que um

modelo completamente rígido prevê esforços nas caixas multiplicadoras aproximadamente 20%

superiores aos efectivamente verificados, é possível que os resultados obtidos com o nosso modelo

rígido sejam mais elevados do que os previstos por um modelo elástico e do que os que ocorrem na

prática.

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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste capítulo estabelecer-se-á uma comparação entre três configurações diferentes de aerogeradores,

utilizando por base os resultados obtidos na simulação. Posteriormente far-se-á um levantamento das

principais conclusões retiradas e apresentar-se-ão algumas sugestões para estudos futuros.

5.1 Análise final dos resultados

Tal como se disse anteriormente, os sistemas de transmissão de aerogeradores com caixa

multiplicadora podem ter diferentes configurações. Contudo, a configuração mais comum é aquela que

se descreveu no capítulo 2 e que dá pelo nome de transmissão modular [17]. Este tipo de transmissão,

por razões económicas, é o mais utilizado mas no que diz respeito à protecção das caixas

multiplicadoras poderá não ser o melhor. Na Figura 5.1 encontra-se uma representação esquemática do

sistema de transmissão que acaba de se referir. O momento de travagem mecânica produzido pelo

freio, 𝑀𝑇,𝑟𝑜𝑡𝑜𝑟 caracteriza-se por ser o somatório dos momentos necessários para travar a caixa

multiplicadora, 𝑀𝐽𝑐, o gerador, 𝑀𝐽𝑔 e assistir a travagem aerodinâmica do rotor, 𝑀𝐽𝑟.

Figura 5.1: Esquema ilustrativo da transmissão modular e dos momentos transmitidos através do

mecanismo.

Tal como é possível verificar pela figura anterior, o facto de o travão estar posicionado no veio de alta

velocidade leva a que através da caixa multiplicadora seja transmitido o momento de travagem

mecânico para assistir a travagem aerodinâmica do rotor. Desta forma, a equação (38) permite calcular

os momentos suportados pela caixa multiplicadora, 𝑀𝐶.

𝑀𝐶 = 𝑀𝐽𝑐 + 𝑀𝐽𝑟 (38)

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Anteriormente, na secção 3.1.2 demonstrou-se que o valor do momento de inércia da caixa

multiplicadora era substancialmente mais pequeno comparativamente com os momentos de inércia do

rotor e do gerador, podendo assim ser desprezado. Assim sendo a equação (38) reduz-se a:

𝑀𝐶 = 𝑀𝐽𝑟 (39)

O momento de travagem mecânica que o travão necessita de produzir para travar exclusivamente o

rotor, no intervalo de tempo pretendido, determinou-se na simulação da travagem do sistema proposto

apresentada na secção 4.5. O momento que a caixa multiplicadora suporta nesta configuração é:

𝑀𝐶 = 1,85 𝑀𝑁. 𝑚

Na configuração que acaba de se referir verifica-se que devido ao facto de o travão se encontrar no

veio de alta velocidade a caixa multiplicadora é obrigada a suportar o momento de travagem mecânica

necessário para travar o rotor. Se por outro lado se optar por colocar o travão no veio de baixa

velocidade, a caixa multiplicadora estará sujeita aos momentos de travagem necessários para travar o

gerador e para se travar a si mesma (ver Figura 5.2).

Figura 5.2: Esquema ilustrativo de uma transmissão com o travão no veio de baixa velocidade.

Para este tipo de configuração, os momentos suportados pela caixa multiplicadora calculam-se através

da equação (40).

𝑀𝐶 = 𝑀𝐽𝑔 + 𝑀𝐽𝑐 (40)

Desprezando novamente o momento de inércia da caixa de engrenagens obtém-se:

𝑀𝐶 = 𝑀𝐽𝑔 (41)

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O valor do momento de travagem do gerador pode calcular-se, recorrendo aos resultados obtidos na

simulação do aerogerador de referência NREL-5 MW apresentada na secção 4.4, da seguinte forma. O

momento fornecido pelo travão foi de 1,85 𝑀𝑁. 𝑚 e é dado pela expressão (42).

𝑀𝑇,𝑟𝑜𝑡𝑜𝑟 = 𝑀𝐽𝑟 + 𝑀𝐽𝑔 (42)

Substituindo os valores de 𝑀𝑇,𝑟𝑜𝑡𝑜𝑟 e 𝑀𝐽𝑟 e resolvendo a equação em ordem ao momento do gerador

eléctrico determina-se o valor do momento suportado pela caixa multiplicadora:

𝑀𝐽𝑔 = 0,3 𝑀𝑁. 𝑚 = 𝑀𝐶

Na Tabela 5.1 apresentam-se os valores dos momentos suportados pela caixa de engrenagens para

ambas configurações. Tal como é possível observar a colocação do freio no veio de baixa velocidade

permite reduzir o momento suportado pela caixa multiplicadora em aproximadamente 84 %.

Tabela 5.1: Momentos de travagem suportados pela caixa multiplicadora nas duas configurações

mencionadas.

Momentos na caixa multiplicadora

Travão colocado no veio de alta velocidade (𝑀𝑁. 𝑚) 1,85

Travão colocado no veio de baixa velocidade (𝑀𝑁. 𝑚) 0,3

Redução relativamente ao valor do veio de alta velocidade (%) 84

No entanto, para proteger totalmente a caixa multiplicadora é necessário realizar a alteração proposta

nesta dissertação que consiste na colocação de uma embraiagem no veio de baixa velocidade. Desta

forma a caixa multiplicadora não suportaria quaisquer momentos provocados pelo freio (Figura 5.3).

Figura 5.3: Esquema ilustrativo da solução proposta composta pelo freio e embraiagem no veio de baixa

velocidade.

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50

5.2 Principais conclusões

Em primeiro lugar pode dizer-se que o objectivo principal estabelecido foi alcançado pois o presente

estudo representa um contributo para a melhoria da tecnologia associada ao aproveitamento da energia

eólica. Propôs-se uma solução, do ponto de vista de projecto, que permite proteger as caixas

multiplicadoras dos esforços a que, de outra forma estariam sujeitas durante os regimes transitórios de

travagem que costumam levar à sua ruína antes de atingirem o tempo de vida útil previsto. A solução

proposta consiste na colocação de um sistema de embraiagem com freio colocado no veio de baixa

velocidade. Analisou-se também a hipótese de colocar o travão (sem embraiagem) no veio de baixa

velocidade, em detrimento da posição escolhida na maioria dos aerogeradores com caixa

multiplicadora. Esta hipótese revelou-se mais adequada no que toca à protecção da caixa

multiplicadora visto que os momentos presentes neste componente seriam reduzidos em

aproximadamente 85 %. No entanto, esta alteração exige um esforço maior por parte do travão, tal

como se demonstrou na secção 4.6 através da equação (37), do que a solução mais comum (freio no

veio de alta velocidade). Posteriormente apresentou-se a solução proposta na qual se demonstrou que a

caixa multiplicadora ficaria isenta de momentos por parte do travão mecânico. Os resultados que

permitiram alcançar as conclusões que acabam de se apresentar foram obtidos utilizando um programa

de simulação numérica que resolveu uma equação diferencial encontrada com base na construção de

um modelo cinetoestático. Este modelo foi validado recorrendo a estudos anteriores existentes na

literatura e através de uma análise cuidada dos gráficos de velocidade do rotor e momento de

travagem, quer do que caracteriza uma travagem exclusivamente aerodinâmica, quer o de uma

travagem com assistência de um freio mecânico do aerogerador de referência NREL-5 MW.

Concluindo, pode afirmar-se que a proposta apresentada (Figura 5.4) é adequada no que toca à

protecção da caixa multiplicadora durante as operações de paragem. Por fim, pode acrescentar-se

também que as metodologias utilizadas neste trabalho foram adequadas, tendo não só permitido o

sucesso do estudo como também evidenciado a utilidade e o contributo que os métodos numéricos

representam como ferramenta na área de projecto em engenharia.

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Figura 5.4: Solução proposta.

5.3 Sugestão para trabalhos futuros

A alteração proposta foi alvo de uma análise focada na protecção da caixa multiplicadora, na qual se

concluiu que a solução apresentada era adequada para esse efeito. No entanto, as seguintes questões

deverão ainda ser analisadas.

Dimensionar o sistema proposto, de modo a verificar a possibilidade de implementação em

aerogeradores já existentes, visto que, o elevado diâmetro do veio de baixa velocidade obriga

a que, quer o freio, quer a embraiagem necessitem de ter dimensões compatíveis com esta

zona do mecanismo. Caso se verifique que não é possível colocar este sistema em modelos já

existentes terá de se realizar uma reformulação da configuração da “nacelle”;

Balanço económico entre o investimento adicional que a alteração provoca no preço final do

aerogerador e o montante poupado nas operações de manutenção e substituição de

componentes a que este tipo de avarias obriga;

Elaborar um sistema de controlo para o gerador durante a operação de travagem. Esta

sugestão baseia-se no facto de, nos sistemas actuais, se desligar o gerador no início da

travagem. No entanto, tendo em conta que a solução apresentada permite que o gerador

continue em rotação e considerando os testes experimentais realizados por Seidel e Pfanner

[25] poderá ser desejável mantê-lo ligado à rede eléctrica de modo a que seja possível

aumentar a quantidade de energia produzida durante as situações de arranque.

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Anexos

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Anexo A – Diagrama de blocos construído no interface do Simulink.