28
1 Fascina, L.P.; Guimarães, C.P.A; Karen Sayuri Hidaka; Mekler, P.L.; Rezende, F. “Avaliação do nível da Síndrome de Burnout na equipe de enfermagem da UTI-adultoSão Paulo 2007

Sindrome Burnout

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Sindrome Burnout

1

Fascina, L.P.; Guimarães, C.P.A; Karen Sayuri Hidaka; Mekler, P.L.; Rezende, F.

“Avaliação do nível da Síndrome de Burnout na equipe de enfermagem

da UTI-adulto”

São Paulo

2007

Page 2: Sindrome Burnout

2

Fascina, L.P.; Guimarães, C.P.A; Karen Sayuri Hidaka; Mekler, P.L.; Rezende, F.

“Avaliação do nível da Síndrome de Burnout na equipe de enfermagem

da UTI-adulto”

Orientação: Carina Pirró Alves Guimarães

Patricia Lebensold Mekler

Fernanda Rezende

São Paulo

2007

Pesquisa realizada no

Hospital Sepaco como

parte da programação

científica

Page 3: Sindrome Burnout

3

Resumo

O trabalho ocupa um papel central na vida das pessoas e é um fator relevante na

formação da identidade e na inserção social das mesmas. Neste contexto, considera-se

que o bem-estar adquirido pelo equilíbrio entre as expectativas em relação à atividade

profissional e à concretização das mesmas é um dos fatores que constituem a qualidade

de vida. (Wilheim & Déak, aud Cardoso, 1999).

A Síndrome de Burnout é considerada uma das principais conseqüências do

estresse profissional, e é definida por Maslach e Jackson (apud Dias, 2003) como “uma

reação à tensão emocional crônica gerada a partir do contato direto excessivo com outros

seres humanos, particularmente quando estes estão preocupados ou com problemas”.

Os enfermeiros são os profissionais de saúde que têm merecido maior atenção para esta

síndrome tanto por causa de sua função profissional quanto ao tipo de organização que

estão inseridos, sujeitos a diversos agentes estressores. Objetivo Avaliar

quantitativamente o nível da Síndrome de Burnout na equipe de enfermagem da UTI

adulto do Hospital do Sepaco. E verificar se há relação entre a Síndrome de Burnout e a

rotina apresentada pelo profissional estudado. Método A pesquisa contou com a

participação de 29 profissionais da equipe de enfermagem, dos diferentes turnos de

trabalho, que atuam na UTI adulto do Hospital do Sepaco Instrumentos Roteiro de

entrevista contendo dados demográficos e rotina do profissional; MBI-HSS (Maslach

Burnout Inventory – Human Services Survey) Resultados Os resultados apontam que

65,5% dos participantes apresentam alto índice de Exaustão Emocional (EE), porém,

apresentam 10,34% alto para Despersonalização (DE) e 17,25% alto para reduzida

Realização Profissional (rRP), demonstrando que mesmo tendo uma boa realização

profissional e com as pessoas no trabalho apresentam-se exaustas emocionalmente,

sugerindo a importância de intervenções à minimização do sofrimento destes

profissionais.

Palavras-chaves: equipe de enfermagem, Burnout.

Page 4: Sindrome Burnout

4

O trabalho ocupa um papel central na vida das pessoas e é um fator relevante na formação da

identidade e na inserção social das mesmas. Neste contexto, considera-se que o bem-estar adquirido pelo

equilíbrio entre as expectativas em relação à atividade profissional e à concretização das mesmas é um dos

fatores que constituem a qualidade de vida. (Wilheim & Déak, apud Cardoso, 1999).

Uma relação satisfatória com a atividade de trabalho é fundamental para o

desenvolvimento nas diferentes áreas da vida humana e esta relação depende dos suportes

afetivos e sociais que os indivíduos recebem durante seu percurso profissional. E como

salienta Dejours (1992), o trabalho nem sempre possibilita crescimento, reconhecimento

e independência profissional, pois muitas vezes causa problemas de insatisfação,

desinteresse, irritação e exaustão.

Para Gazzotti e Vasques-Menezes (1999), a fragilidade emocional provocada pela

falta dos suportes afetivo e social traz grande sofrimento, uma vez que o reflexo dessa

situação não fica restrito à vida privada, ampliando-se para o campo das relações de

trabalho. O trabalhador, a sentir-se sem alternativa para compartilhar suas dificuldades,

anseios e preocupações, tem aumentado sua tensão emocional, o que pode levar ao

surgimento da Síndrome de Burnout.

Segundo França & Rodrigues (1997) o estresse está relacionado ao trabalho

quando o ambiente de trabalho se torna ameaçador em questões de realização pessoal,

profissional, saúde física ou mental ao trabalhador, prejudicando assim a sua interação

com o ambiente de trabalho já que a pessoa não possui recursos de enfrentamento para as

situações. E segundo eles a Síndrome de Burnout é considerada uma das principais

conseqüências do estresse profissional.

Burnout é um termo em inglês que significa “queimar-se por completo” e apesar

de a maioria dos autores indicarem que foi Herbert J. Freudenberger o primeiro a utilizar

esta denominação em seu artigo Staff Burn-out de 1974. Schaufeli &Ezmann (apud

Benevides-Pereira, 2002ª) aponta que em 1969, Bradley já havia publicado um artigo em

que se utilizava da expressão staff burn-out, referindo-se ao desgaste de profissionais e

propondo medidas organizacionais de enfrentamento.

Page 5: Sindrome Burnout

5

Entretanto, Freudenberger e posteriormente Cristina Maslach e Susan Jackson que

propagaram no meio científico o interesse e a importância deste assunto. E apesar dos

artigos datarem da década de 70 e o número dos artigos cresceram muito, até hoje essa

síndrome é desconhecida em boa parte dos profissionais.

No Brasil, a primeira publicação data de 1987, em que França (1987), na Revista

Brasileira de Medicina, discorre sobre “A Síndrome de Burnout”. Na década de 90 as

primeiras teses e outras publicações começam a aparecer, alertando alguns profissionais

sobre este assunto a ponto de em 6 de maio de 1996, quando da Regulamentação da

Previdência Social, a síndrome de Burnout ter sido incluída no Anexo II no que se refere

aos Agentes Patogênicos causadores de Doenças Profissionais, grupo V do CID-10

(Benevides-Pereira, 2002b). Porém, mesmo assim, ainda é desconhecida por maior parte

dos profissionais mesmo naqueles que dão o diagnóstico e necessitariam conhecer melhor

para orientar ou encaminhar, ou mesmo é desconhecida naqueles profissionais que mais

sofrem desta síndrome, aqueles que lidam diretamente com relações interpessoais. Por

muitas vezes, a pessoa em Burnout é tratada como em estresse, ou depressão,

prejudicando-a no tratamento, pois a causa principal não é combatida.

A seguir serão caracterizados as peculariedades do estresse e da depressão e como

estes estão ligados e/ou diferenciados da síndrome de Burnout.

ESTRESSE

Em 1936, o endocrinologista Hans Selye introduziu o termo stress na área da

saúde. Sua ênfase era na resposta não específica do organismo a situações que o

enfraquecessem ou fizessem-no adoecer, a qual ele chamou de “síndrome geral de

adaptação” ou “síndrome do estresse biológico”, comumente conhecida também como a

“síndrome do simplesmente estar doente” (Lipp, 1996).

Page 6: Sindrome Burnout

6

Atualmente o estresse é definido como uma reação do organismo, com

componentes físicos e/ou psicológicos, causada pelas alterações psicofisiológicas que

ocorrem quando a pessoa se confronta com uma situação que, de um modo ou de outro, a

irrite, amedronte, excite ou confunda, ou mesmo que a faça imensamente feliz (Lipp,

1996).

O estresse é um processo ao qual estão associados ao aparecimento de

taquicardia, sudorese excessiva, tensão muscular, boca seca e a sensação de estar alerta.

Passada a situação de risco o organismo tende a voltar ao seu equilíbrio original. Quando

experienciado como crônico, o estresse pode levar a sérios problemas de saúde física e

mental, acidentes, pouca eficiência e baixa produtividade no trabalho, todos estes

aspectos têm sérias repercussões para os indivíduos, famílias, organizações e sociedades

como um todo. (Dias, 2003).

De acordo com Hans Selye o processo de estresse desencadeia-se em três fases. A

primeira fase é a Fase de Alerta em que prepara o indivíduo para as situações

ameaçadoras e/ou dificeis, nesta fase o estresse é positivo pois acaba motivando a pessoa

para encarar a situação. A segunda fase é a Fase de Resistência, o que seria o estresse

moderado, em que o individuo se acostuma com o agente estressor tentando se adaptar e

restabelecer o equilíbrio interno para retornar ao equilíbrio anterior. E a última fase é a

Fase de Exaustão em que o indivíduo já não consegue manter e se adaptar naquele

equilíbrio anterior frente a uma situação muito estressante, vive constantemente em

estado de excitação nervosa.

Para alguns autores, baseado neste modelo, é no último estágio que pode ocorrer o

Burnout. Pois se a pessoa permanece exposta durante um período prolongado a uma

situação fortemente estressora no trabalho e entra em estágio de exaustão, o momento

posterior é o Burnout.

Page 7: Sindrome Burnout

7

A diferença entre estresse e Burnout é que este é uma resposta a um estado

prolongado de estresse ocupacional, ocorre pela sua cronificação, quando os métodos de

enfrentamento falharam, ou foram insuficientes. Enquanto o estresse se apresenta como

eustresse (bom estresse) e distresse (mal estresse), o Burnout sempre tem um caráter

negativo (distresse), estando relacionado com o mundo do trabalho, com o tipo de

atividades laborais do indivíduo. (Gil Monte & Pieró, 1977; Moreno, Garrosa &

Gonzáles, 2001; apud Donice, 2007).

DEPRESSÃO

Rodrigues (1998) cita Diáz Gonzáles dizendo que existe uma certa semelhança

entre a Síndrome de Burnout e a Síndrome de depressão, porém na síndrome de Burnout

não tem a sintomatologia depressiva manifesta, o indivíduo continua fazendo as suas

atividades diárias, mas a sua relação com o seu ambiente profissional e social fica

prejudicada, pois a pessoa passa a ter um relacionamento mais frio, distante e sem grande

envolvimento afetivo por não obter prazer nestas relações. Já a Síndrome da depressão é

uma desordem afetiva que afeta vários aspectos da vida das pessoas.

Segundo Baptista (apud Baptista et al. 2004) a depressão pode ser desencadeada

pela síndrome de Burnout, por isto não se pode confundir que o indivíduo está apenas

depressivo, pois há outros sintomas específicos do Burnout envolvidos.

Garcés de Los Fayos (2000) e Gil Monte e Peiró (1997, 1999) assinalam que o

Burnout é essencialmente um constructo social que se desenvolve a partir das relações

laborais e organizacionais, ao contrário, a depressão é um conjunto de emoções e

cognições que repercute nestas relações. (Guimarães & Cardoso, 2005)

Por suas peculiaridades e especificidades a Síndrome de Burnout deve ser

diagnosticada e tratada diferente do estresse e depressão.

BURNOUT

Page 8: Sindrome Burnout

8

Estudos iniciais foram elaborados por Cristina Maslach com profissionais de

serviços de saúde, em razão da natureza do trabalho desenvolvido, no qual são

necessários os contatos diretos e constantes com outras pessoas. Esses seriam os mais

afetados, em razão de possuírem uma filosofia humanística em seu trabalho e,

constantemente, vêem-se compelidos a se adaptar ao sistema de saúde, geralmente

desumanizado e despersonalizado. (Filgueiras & Hippert, 2002)

Segundo Maslach (apud Dias, 2003: 24), “Burnout é uma síndrome de exaustão

emocional, despersonalização e reduzido envolvimento pessoal que pode ocorrer entre

indivíduos que por profissão se ocupam de pessoas”.

E para Codo (1999: 237) “... trata-se de um problema, uma síndrome que afeta

principalmente os trabalhadores encarregados de cuidar (caregivers)”. E acrescenta que

“é uma síndrome através da qual o trabalhador perde o sentido de sua

relação com o trabalho, de forma que as coisas já não o importam mais

e qualquer esforço lhe parece ser inútil. Esta síndrome afeta,

principalmente, profissionais da área de serviços quando em contato

direto com seus usuários”.

A Síndrome de Burnout é definida por Maslach e Jackson (apud Dias, 2003)

como “uma reação à tensão emocional crônica gerada a partir do contato direto excessivo

com outros seres humanos, particularmente quando estes estão preocupados ou com

problemas”.

O Burnout é uma síndrome característica do meio laboral e esta é um processo

que se dá em resposta à cronificação do estresse ocupacional, trazendo consigo

conseqüências negativas tanto em nível individual, como profissional, familiar e social

(Benevides-Pereira, 2002b).

Segundo Benevides-Pereira (2002a) Burnout é uma síndrome que tem alertado

tanto o meio científico como o organizacional. Seus efeitos interferem negativamente

Page 9: Sindrome Burnout

9

tanto em nível individual (físico, mental, profissional, social), como profissional

(atendimento negligente, lentidão, contato impessoal, cinismo), organizacional (conflito

com os demais membros da equipe, rotatividade, absenteísmo, diminuição da qualidade

dos serviços).

Os facilitadores e/ou desencadeantes do Burnout serão apresentado a seguir

(Quadro 1), desenvolvido por Benevides-Pereira (2002a: 69).

Quadro 1: Resumo esquemático dos facilitadores e/ou desencadeantes do Burnout

Características Pessoais Características do Trabalho

Idade Tipo de ocupação

Sexo Tempo de profissão

Nível educacional Tempo na instituição

Filhos Trabalhos por turnos ou noturnos

Personalidade: Sobrecarga

-hardness, a personalidade

resistente ao estresse

Relacionamento entre os colegas de

trabalho

Page 10: Sindrome Burnout

10

-locus de controle; Relação profissional-cliente

-padrão de personalidade Tipo A; Tipo de cliente

-variáveis do "self"; Conflito de papel

-estratégias de enfrentamento; Ambigüidade de papel

-neuroticismo; Suporte organizacional

-perfeccionismo Satisfação

-tipo emocional; Controle

-otimismo X pessimismo. Responsabilidade

Sentido de Coerência Pressão

Motivação Possibilidade de progresso

Idealismo Percepção de ineqüidade

Conflito com os valores pessoais

Características Organizacionais Falta de feedback

Ambiente Físico

Mudanças Organizacionais Características Sociais

Normas Institucionais Suporte social

Clima Suporte familiar

Burocracia Cultura

Comunicação Prestígio

Autonomia

Recompensas

Segurança

Maslach (apud Donice, 2007) salienta que as causas do Burnout não estão

localizadas em traços permanentes das pessoas, mas em certos fatores situacionais e

sociais específicos que podem ser influenciados e modificados.

De acordo com Benevides-Pereira (2002a:44), na literatura pode-se encontrar uma

lista bastante extensa de diversos sintomas associados ao Burnout, subdivididos em

sintomas físicos, psíquicos, comportamentais e defensivos (Quadro 2).

Quadro 2: Resumo esquemático da sintomatologia do Burnout

Sintomas Físicos Sintomas Comportamentais

Fadiga constante e progressiva Negligência ou excesso de escrúpulos

Distúrbios do sono Irritabilidade

Dores musculares ou osteomusculares Incremento da agressividade

Page 11: Sindrome Burnout

11

Cefaléias, enxaquecas Incapacidade para relaxar

Perturbações gastrointestinais Dificuldade na aceitação de mudanças

Imunodeficiência Perda de iniciativa

Transtornos cardiovasculares Aumento do consumo de substâncias

Distúrbios do sistema respiratório Comportamento de alto risco

Disfunções sexuais Suicídio

Alterações menstruais nas mulheres

Sintomas Defensivos

Sintomas Psíquicos Tendência ao isolamento

Falta de atenção, de concentração Sentimento de onipotência

Alterações de memória Perda do interesse pelo trabalho (ou até

Lentificação do pensamento pelo lazer)

Sentimento de alienação Absenteísmo

Sentimento de solidão Ironia, cinismo

Impaciência

Sentimento de insuficiência

Baixa auto-estima

Labilidade emocional

Dificuldade de auto-aceitação

Astenia, desânimo, disforia, depressão

Desconfiança, paranóia

Em trabalho quase que paralelo ao de Freudenberger, Maslach & Jackson (apud

Benevides-Pereira 2002a) evidenciaram as variáveis sócio-ambientais como coadjuvantes

do processo de desenvolvimento do Burnout. Desta forma, aspectos individuais

associados às condições e relações do trabalho formam uma constelação que propiciaria o

aparecimento dos fatores multidimensionais da síndrome: a Exaustão Emocional, a

Despersonalização e a Reduzida Satisfação Pessoal no Trabalho ou simplesmente

Reduzida Realização Profissional (Benevides-Pereira, 2002a).

Page 12: Sindrome Burnout

12

“A Exaustão Emocional (EE) se refere à sensação de esgotamento tanto

físico como mental, ao sentimento de não dispor mais de energia para

absolutamente nada, de haver chegado ao limite das possibilidades.

A Despersonalização (DE) não significa que o indivíduo deixou de ter

sua personalidade, mas que esta sofreu ou vem sofrendo alterações,

levando o profissional a um contato frio e impessoal com os usuários de

seus serviços (alunos, pacientes, clientes, etc.), passando a denotar

atitudes de cinismo e ironia em relação às pessoas e indiferença ao que

pode vir a acontecer aos demais.

A reduzida Realização Profissional (rRP) evidencia o sentimento de

insatisfação com as atividades laborais que vem realizando, sentimento

de insuficiência, baixa auto-estima, fracasso profissional, desmotivação,

revelando baixa eficiência no trabalho. Por vezes, o profissional

apresenta ímpetos de abandonar o emprego”. (p.35)

De acordo com Garcés de Los Fayos (2000) na atualidade existe consenso entre

os autores ao assumir o modelo de Síndrome de Burnout com base nas três dimensões

descritas por Maslach & Jackson (1981), e Pines (1981). Portanto, a síndrome seria uma

conseqüência de eventos estressantes que predispõem o indivíduo a vivenciá-la, e

também seria necessária a presença de uma “interação” trabalhador-cliente intensa e/ou

prolongada para que o sintoma se produza. (Guimarães & Cardoso, 2005)

BURNOUT E O PROFISSIONAL DE ENFERMAGEM

HOSPITAL GERAL

Page 13: Sindrome Burnout

13

Atualmente existe uma maior preocupação com a saúde dos indivíduos que

exercem suas atividades em organizações de saúde. A instituição hospitalar é um destes

contextos de risco à saúde ocupacional, pois possui uma estrutura organizacional

complexa quanto aos profissionais, papéis, estrutura, divisão de trabalho, metas

hierarquia e normas que a regulam. Há uma prática profissional voltada, quase que

exclusivamente para a eficácia do atendimento ao paciente, e muitas vezes, percebe-se

uma menor valorização das condições de trabalho essenciais para a saúde do trabalhador,

que permanecem expostos por um período prolongado a situações que exigem alta

demanda emocional. (Maslach & Jackson, apud Carlotto & Rosa, 2003)

O trabalho desenvolvido em hospitais requer que todos os profissionais tenham

que enfrentar tomadas de decisões difíceis, geralmente com implicações éticas e morais.

Segundo Benvides-Pereira (2002a), o desempenho destes profissionais envolve uma série

de atividades que necessitam forçadamente de um controle mental e emocional muito

maior que outras profissões.

Além disto, os conflitos do indivíduo que trabalha no hospital podem estar sendo

gerado pelo rápido desenvolvimento tecnológico, as divisões de trabalho com o

estabelecimento de elevada hierarquia de autoridade, com canais formais de comunicação

e um grande conjunto de regras e normas para seu funcionamento, que determina este

complexo sistema que é uma instituição hospitalar. (Lautert, 1997). O meio hospitalar e

mais especificamente a UTI, na qual os recursos disponibilizados pelas novas tecnologias

são amplamente utilizados, significando inclusive, a diferença entre a vida e a morte, faz

com que os indivíduos que trabalham nesse local busquem uma apropriação maior acerca

do domínio destes recursos.

U.T.I.

As unidades de terapia intensiva (U.T.I.) são aquelas que se destinam “a receber

pacientes em estado grave, com possibilidades de recuperação, exigindo

Page 14: Sindrome Burnout

14

permanentemente assistência médica e de enfermagem, além da utilização eventual de

equipamento especializado” (Romano, 1999)

Ainda segundo Romano (1999), na UTI acolhe-se pacientes clínicos ou cirúrgicos

(recuperação pós-operatória) de diversas especialidades. As ações desempenhadas são

rápidas e precisas, exigindo o máximo de eficiência da equipe, contendo o limite entre a

vida e a morte.

Na maioria das vezes, são áreas restritas à circulação, principalmente de pessoas

estranhas à equipe, onde os familiares tem pouco ou nenhum acesso.

EQUIPE DE ENFERMAGEM

A enfermagem, em cuja essência encontra-se o cuidado, teve no Brasil seu marco

enquanto profissão, na década de 20, quando enfermeiras norte-americanas criaram a

Escola de Enfermagem Ana Nery, no Rio de Janeiro.

Os profissionais de enfermagem são os que possuem contato mais direto e

freqüente com os pacientes e seus familiares. Eles têm que manejar com pacientes em

estado grave, devem compartilhar com seus familiares a angústia, a dor e o medo de

padecerem. (Murofuse, Abranches, Napoleão, 2005).

Neste contato não há possibilidades de esquivas, pois sua rotina se baseia em

trabalhar com este público que tem este tipo de demanda, e o envolvimento ou

expressividade emocional geralmente é percebido como aversivo sendo o autocontrole

extremamente valorizado. (Menegatti, 2001).

A medida que o profissional vê sua capacidade de atenção e concentração

diminuídas, o trabalhador passa a ter medo de acidentes, de errar uma medicação ou uma

dose e por em risco a vida do paciente. A possibilidade de prejudicar o paciente pode

provocar um alto nível de exaustão ao profissional.

Page 15: Sindrome Burnout

15

Segundo Pitta (1994), existem alguns aspectos no regime de turnos,

principalmente o noturno, que trazem desordens na esfera biológica, psicológica e social

desses trabalhadores e seus familiares, havendo prejuízo dos ritmos circadianos e um

descompasso entre sincronizadores individuais e sociais. Além disso, o regime de turnos

e plantões abre a possibilidade de uma dupla jornada de trabalho em diferentes empregos,

o que é uma prática comum entre a equipe de enfermagem.

O trabalho em turnos é uma característica do exercício da enfermagem, sendo

obrigatório uma vez que a assistência é prestada durante as 24 horas do dia, nos 7 dias da

semana, ininterruptamente. Essa condição obriga que a assistência ocorra à noite, nos

finais de semana, nos feriados, períodos estes utilizados por outros trabalhadores para

dormir, descansar, usufruir do lazer e do convívio social e familiar.

Ainda segundo o autor, o aprendizado prático de uma profissão como a

enfermagem, que lida com uma das mais explicitas demonstrações do limite do homem, a

doença e a morte, é também viver o próprio limite: encontro de fragilidades entre o

racional e o emocional.

O enfermeiro é responsável, cada vez mais, por sua educação, seja em cursos de

pós-graduação como em reciclagem e ele deve mostrar o seu potencial e interesse para a

instituição. Alguns investigadores têm verificado maior vulnerabilidade ao Burnout em

profissionais de nível de escolaridade mais elevada, assim como também quando

envolvem questões relativas à maior responsabilidade, em especial quando também

agregado a uma menor autonomia nas decisões. (Maslach, Shcaufeli & Leiter, 2001)

Segundo Benevides-Pereira (2002a), além disto, vários são os agentes estressores

no trabalho de enfermagem, que podem ser agrupados em:

- quanto à organização no trabalho: conflito e ambigüidade de papéis, falta de

participação nas decisões, plantões (principalmente os noturnos), longas jornadas de

Page 16: Sindrome Burnout

16

trabalho, rodízio de horários, número insuficiente de pessoal, recursos escassos,

sobrecarga de trabalho, falta de treinamento notadamente às novas tecnologias, mudança

constante de regras, excesso de burocracia, excesso de horas extras, clima tenso de

trabalho;

- quanto ao convívio profissional: relacionamento muitas vezes conflituoso com a equipe

médica, falta de apoio e/ou suporte social, falta de reconhecimento profissional, alta

competitividade, pressão por maior produtividade, falta de confiança e companheirismo,

pouco contato com os demais integrantes da equipe;

- quanto a agentes físicos: ambiente propício a riscos químicos (produto para desinfecção

hospitalar, medicamentos, produtos de manutenção de equipamentos), biológicos

(bactérias, fungos, vírus, etc.), físicos (ruídos, radiações, etc.), mecânicos (transporte e/ou

movimentação e posicionamento de pacientes, acondicionamento e preparo de materiais e

equipamentos), psicossociais (contato com pacientes agitados, descontrolados,

agressivos);

- quanto à vida pessoal: turnos rotativos que dificultam a convivência social e familiar,

dificuldade em conciliar o trabalho com atividades extra profissionais, inclusive de

aperfeiçoamento e crescimento pessoal, conflito entre os valores pessoais e os laborais;

- quanto à atividade profissional: interação próxima com o paciente, atenção constante

(quanto à administração de medicamentos, horário de procedimentos, etc.), contato

constante com o sofrimento, a dor e muitas vezes a morte, complexidade de alguns

procedimentos, responsabilidade muitas vezes implicando manutenção da vida de

outrem.

Como resultado, o profissional de enfermagem pode sofrer da Síndrome de

Burnout.

Objetivo

Avaliar quantitativamente o nível da Síndrome de Burnout na equipe de

enfermagem da UTI adulto do Hospital do Sepaco. E verificar se há relação entre a

Síndrome de Burnout e a rotina apresentada pelo profissional estudado.

Page 17: Sindrome Burnout

17

Justificativa

Os enfermeiros são os profissionais de saúde que têm merecido maior atenção

para esta síndrome tanto por causa de sua função profissional quanto ao tipo de

organização que estão inseridos, sujeitos a diversos agentes estressores. Ainda mais

dentro de uma UTI onde alguns agentes estressores são mais freqüentes. Portanto, esta

pesquisa tem por objetivo verificar se estes profissionais estão em Burnout e o que

sentem ser o mais estressor para futuramente fornecer-lhes o melhor suporte.

Método

Participantes

A pesquisa contou com a participação de 29 pessoas, sendo 10 do turno da manhã,

09 da tarde e 10 do turno da noite, que atuam na UTI adulto do Hospital do Sepaco, e que

apresentaram o seguinte perfil:

média de idade de 31 anos (de 24 a 45 anos e DP = 6,207);

65,5% do sexo feminino e 34,5% do sexo masculino;

44,8% são casado/amigado, 6,9% separado/divorciado, 3,5% viúvo e 44,8%

solteiro;

48,3% dos participantes que possuem filhos tem em média 1,5 filhos e 51,7% não

tem filhos.

Instrumentos

A seguir estão relacionados os instrumentos que foram utilizados na coleta de

dados, na seqüência e ordem de apresentação aos sujeitos.

Page 18: Sindrome Burnout

18

1. Roteiro de entrevista contendo dados demográficos e rotina do profissional (Anexo I)

Para a coleta de dados do perfil do psicólogo foi utilizado um questionário de

identificação pessoal: idade, gênero, estado civil e filhos. Os dados de rotina do

profissional: tempo de exercício de profissão, turno realizado no hospital do Sepaco,

número de horas do plantão diário, realização de hora extra, se presta serviço em outro

hospital e o número de horas, periodicidade de descanso semanal, nível de instrução,

periodicidade das férias e qual a maior fonte de dificuldade encontrada no trabalho.

2. MBI-HSS (Maslach Burnout Inventory – Human Services Survey) (Anexo II)

O MBI elaborado por Maslach e Jackson é um instrumento auto-informe,

empregando as três dimensões propostas por Maslach e Jackson (1981; 1986) para a

avaliação de Burnout, desenvolvido para ser utilizado naqueles que por profissão tem

relação direta com seres humanos. Consta de 22 questões para serem respondidas por

uma escala do tipo Likert com uma extensão de 7 possibilidades, indo do nunca como “0”

e o Todos os dias como “6”. A Realização Profissional se pontua inversamente as demais

dimensões.

Procedimento

Foram selecionados aleatoriamente 10 profissionais, da equipe de enfermagem da

UTI adulto do Hospital do Sepaco, de cada turno (manhã, tarde, noite), totalizando 30

participantes.

Para todos, após a explicação sobre a pesquisa e a aceitação voluntária de cada

um, foi dada pela própria pesquisadora o termo de consentimento (Anexo III), o roteiro

de entrevista e o MBI.

Apenas um participante não preencheu por completo o roteiro de entrevista e o

MBI, totalizando, então, 29 participantes na pesquisa.

Page 19: Sindrome Burnout

19

Para análise da incidência da Síndrome de Burnout na equipe de enfermagem

deve se considerar o seguinte: o Burnout varia de baixo a moderado a altos níveis de

sentimentos experimentados. Não se trata de uma variável dicotômica, a qual é presente

ou ausente. Um alto grau de Burnout é refletido em altos escores nas dimensões de

Exaustão Emocional (EE) e Despersonalização (DE) e baixos escores na escala de

Realização Profissional (RP). Um grau médio de Burnout é refletido em um escore médio

nas três dimensões. Um baixo grau de Burnout é refletido em baixos escores nas

dimensões de Exaustão Emocional e Despersonalização e altos escores na dimensão de

Realização Profissional. Os escores são considerados altos se eles estão no terço superior

da distribuição normativa, médios se eles estão no terço médio e baixo se eles estão no

terço mais baixo (menor). Os escores para cada dimensão são considerados

separadamente e não estão combinados num único e total escore. Assim, três escores são

computados para cada respondentes.

Na análise dos dados, estes foram submetidos a uma análise descritiva (média e

desvio-padrão) e estatístico, através do SPSS (qui-quadrado de Pearson ou Fisher e teste

t).

Na análise estatística da relação entre Burnout e variáveis da rotina do

profissional os dados foram divididos e cruzados da seguinte forma:

1) Síndrome de burnout: dividida em baixo e alto&médio, pois considerou-se que

uma pessoa em médio nível de burnout já haja algum tipo de sofrimento

considerável.

2) Variáveis da rotina do profissional divididos e subdivididos em categorias:

Tempo de atuação como enfermeiro/técnico de enfermagem

1 – 5 anos

6 – 10 anos

>11 anos

Page 20: Sindrome Burnout

20

Turno realizado no Hospital do Sepaco

Número de horas por plantão

Hora extra

Prestação de serviço em outro Hospital

Periodicidade de descanso na semana

Nível de instrução

Periodicidade das férias

manhã

tarde

noite

6 horas

12 horas

Não

Sim

Não

Sim

Uma vez

Duas vezes

Três vezes

Resposta em branco

Técnico

Graduação

Especialização

Mestrado

Doutorado

Uma vez ao ano

Faz mais de um ano que não tira férias

Page 21: Sindrome Burnout

21

Fonte de dificuldade

3) Considerou-se estatisticamente relevante se p < 0,05 ou t < 5.

Resultados e Discussão

1. Dados gerais e avaliação da Síndrome de Burnout na equipe de enfermagem

Sobre a formação e a rotina apresentada pela equipe de enfermagem estudada deu

como resultado o seguinte:

Baixo reconhecimento pelos outros profissionais da saúde

Baixo retorno financeiro

Higienização do paciente

Lidar com a morte freqüentemente

Lidar com o sofrimento do paciente e/ou dos familiares

Necessidade de constante atualização

Relacionamento entre os colegas de trabalho

Responsabilidade pelo paciente

Sobrecarga de trabalho

Outros

Assinalou mais que uma opção

Page 22: Sindrome Burnout

22

em sua maioria (79,3%) a equipe de enfermagem atua há menos de 10 anos

(média de 8,28 anos com DP = 6,059). E o nível de instrução fica ilustrado na

Figura 1:

65,50%

10,40%

24,10%

0%

0%

Técnico

Graduação

Especialização

Mestrado

Doutorado

Figura 1: Porcentagem de participantes em cada nível de instrução

Apesar de parte desta população ter iniciado a carreira de técnico ou enfermeiro a

pouco tempo, muitos são considerados experientes e maduros na profissão que exercem,

tanto que dos 35,5% que se graduaram em enfermagem, 24,1% realizaram

Especialização, porém nenhum deles fizeram Mestrado e/ou Doutorado.

o plantão diário de 6 horas exercido por 37,9% contra 62,1%, da população

estudada, exercendo 12 horas

Sendo que todos que trabalham no turno da noite fazem 12 horas e tanto o turno

da manhã quanto o da tarde o número de horas trabalhadas é mesclada.

a grande maioria (82,8%) não realiza hora extra, e aqueles que realizam (17,2%),

trabalham em média 2 vezes por semana a mais

Estes dados mostram que a maior parte das pessoas não fazem hora extra dentro

do Hospital do Sepaco, mas não pode-se afirmar que isto ocorra pelo fato das pessoas

Page 23: Sindrome Burnout

23

ficarem cansadas no seu tempo regular de jornada de trabalho, pois há muitas outras

variáveis que podem estar influenciando para isto.

62,1% trabalham apenas no Hospital do Sepaco e dos 37,9% que trabalham em

outro serviço, 54,5% trabalham 12horas e 45,5% trabalham 6 horas

Segue a Figura 2 para melhor visualização deste último item:

62,10%

20,65%

17,25%

Somente no Sepaco

Sepaco mais outro Hospital - 12 horas

Sepaco mais outro Hospital - 6 horas

Figura 2: Porcentagem dos participantes que trabalham apenas no Hospital do Sepaco e

dos que trabalham em outro serviço com as horas de plantão neste

Ou seja, 11 pessoas trabalham em outro Hospital fazendo jornadas de 6 ou 12

horas, sendo que a maioria deles são do turno da noite, o que pode estar sobrecarregando

o trabalho desses profissionais, já que segundo Benevides-Pereira (2002a) jornada de

trabalho noturno e longo é um gerador de estressor para as pessoas.

a maioria das pessoas descansam uma vez por semana (58,6%), 3,5% descansa

duas vezes na semana e 31% descansa três vezes na semana (6,9% das pessoas

deixaram a resposta em branco)

a maior parte dos participantes (89,7%) tiram férias uma vez ao ano, enquanto

10,3% não tira férias a mais de um ano

Page 24: Sindrome Burnout

24

a fonte de dificuldade assinalada pelos participantes é mostrada na Figura 3 a

seguir:

10,70%

0%

0%

0%

7,10%

7,10%

10,70%

3,60%

39,30%

3,60%

17,90%

Baixo reconhecimento pelos outros

profissionais da saúde Baixo retorno financeiro

Higienização do paciente

Lidar com a morte freqüentemente

Lidar com o sofrimento do paciente

e/ou dos familiares Necessidade de constante atualização

Relacionamento entre os colegas de

trabalho Responsabilidade pelo paciente

Sobrecarga de trabalho

Outros

Assinalou mais que uma opção

Figura 3: Porcentagem dos participantes sobre a fonte de dificuldade

Destaca-se destes dados que 39,3% da equipe, o que equivale a 11 pessoas do

total, percebem que a maior fonte de dificuldade enfrentada por eles é a sobrecarga de

trabalho, um gerador de estressor apontada por Benevides-Pereira (2002a), e dessa

população 6 pessoas trabalham no turno da manhã.

Outro dado relevante que a Figura 3 mostra é de 17,9% dos participantes

assinalarem mais de uma opção, mesmo que no questionário estar escrito para “assinalar

apenas uma opção”. E pela freqüência deste resultado ser bem mais alta no turno da

noite, pode-se levantar algumas hipóteses, de ser um período que está alterando o ciclo

biológico de cada um, ou de falta de tempo para estar preenchendo um questionário, ou

também de ser a população quem mais trabalha em outro serviço além deste Hospital, o

que pode acarretar em mais cansaço.

Page 25: Sindrome Burnout

25

A seguir mostra-se a categorização das dimensões da síndrome de Burnout

(Exaustão Emocional, Despersonalização, reduzida Realização Profissional) para cada

nível (alta, média, baixa). Lembrando que a Realização Profissional tem a sua pontuação

invertida, já que para esta síndrome a Realização Profissional é reduzida (rRP). (Tabela

1)

Tabela 1: Categorização das dimensões em nível

Exaustão Emocional Despersonalização reduzida Realização

Profissional

Alta ≥27 ≥13 ≤31

Média 17 – 26 7 – 12 38 – 32

Baixa ≤16 ≤6 ≥39

A pontuação é obtida através da soma das respostas fornecidas para as perguntas

referentes a cada uma das dimensões e transformada em porcentagem e dividida em cada

nível. (Tabela 2)

Tabela 2: Porcentagem de participantes em cada nível e dimensões

Distribuição dos participantes (%) em cada dimensão (n=29)

Exaustão Emocional Despersonalização reduzida Realização

Profissional

Alta 65,5 10,34 17,25

Média 17,25 41,38 24,13

Baixa 17,25 48,28 58,62

Total 100,00 100,00 100,00

Os resultados apontam que 65,5% dos participantes apresentam alto índice de

Exaustão Emocional (EE), porém, apresentam 10,34% alto para Despersonalização (DE)

e 17,25% alto para reduzida Realização Profissional (rRP). Então, não podemos

considerar que esta população estudada apresenta alto índice da síndrome de Burnout, já

que combinando as três dimensões do nível alto, apenas a EE está acima da metade

dentre os pesquisados.

Entretanto, esta pesquisa destaca-se pelo alto índice de EE, principalmente pelo

turno da noite, dos quais 10 avaliados apenas 2 apresentaram índice médio de EE, os

Page 26: Sindrome Burnout

26

demais todos apresentaram índice alto. O alto índice apresentado por este turno é

alarmante.

2. Relação entre Síndrome de Burnout e a rotina do profissional

A Tabela 3 mostra a distribuição dos participantes em porcentagem em cada

dimensão com os níveis alta&média juntos.

Tabela 3: Porcentagem de participantes em cada dimensão, com os níveis alta e

média juntos

Distribuição dos participantes (%) em cada dimensão (n=29)

Exaustão Emocional Despersonalização reduzida Realização

Profissional

Alta + Média 82,75 51,72 41,38

Baixa 17,25 48,28 58,62

Total 100,00 100,00 100,00

Como dito anteriormente, foi considerado que uma pessoa em médio nível de

Burnout já tenha algum tipo de sofrimento considerável, por este motivo o cruzamento

entre dados e a análise foi feita baseada nisto.

Pode-se fazer uma observação que na exaustão emocional tem uma porcentagem

mais alta em relação a outras dimensões. Os técnicos de enfermagem e/ou enfermeiros

sentem na sua profissão uma exaustão mesmo tendo uma boa realização profissional e

terem uma boa relação com as pessoas no trabalho.

Para responder ao objetivo de verificar se há relação entre a Síndrome de Burnout

e a rotina apresentada pelo profissional estudado, utilizou-se o programa SPSS para o

cruzamento entre a porcentagem de participantes em cada dimensão (com o uso da

Tabela 3) e as variáveis da rotina profissional.

Page 27: Sindrome Burnout

27

Referências

BENEVIDES-PEREIRA, A. M. Burnout: quando o trabalho ameaça o bem-estar do

trabalhador. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2002a.

BENEVIDES-PEREIRA, A. M. O estado da arte do Burnout no Brasil (online). Agosto,

2002b. [acessado 12 Setembro 2006]. Disponível na web:

<http://www.dpi.uem.br/Interacao/Numero%201/PDF/Artigos/Artigo1.pdf>

CARDOSO, W. L. C. D. & GUIMARÃES, L. A. M. Atualizações sobre a Síndrome de

Burnout (online). 2005. [acessado 31 Maio 2007]. Disponível na web:

< http://www.debas.faenquil.br/~wilcar/BURNOUT-editado.doc>

CARLOTTO, M. S.; ROSA, C. Síndrome de Burnout e satisfação no trabalho em

profissionais de uma instituição hospitalar (online). 2003. [acessado 21 Outubro 2007].

Disponível na web: <http://pepsic.bvs-psi.org.br/pdf/rsbph/v8n2/v8n2a02.pdf>

CODO, Wanderley (Coord.) Educação: Carinho e Trabalho – Burnout a síndrome da

desistência do educador que pode levar à falência da educação. Petrópolis, RJ: Vozes,

2000.

DIAS, J. T. Burnout: um indicador sem uma teoria um estudo exploratório das possíveis

contribuições psicossociais para a compreensão do esgotamento emocional no trabalho.

Tese de Mestrado pela PUC-SP, 2003.

FILGUEIRAS, J. C.; HIPPERT, M. I. Estresse. In: JACQUES, M. G.; CODO, W. org.

Saúde mental & trabalho. Petrópolis, RJ: Vozes, 2002.

LAUTERT, L. O desgaste profissional: estudo empírico com enfermeiras que trabalham

em hospitais. Revista Gaúcha Enfermagem, 18, 2, 133-144. 1997.

Page 28: Sindrome Burnout

28

MASLACH, C.; SCHAUFELI, W. B. & LEITER, M. P., Job Burnout. In: Annu. Rev.

Psychol. 52, 397 – 422, 2001.

MENEGATTI, C. L. Prática psicológica em UTI – uma análise contextual. In:

GUILHARDI, H. J., et al. Sobre comportamento e cognição: expondo a variabilidade.

1ªed. v.7. Santo André,SP: ESETec Editores Associados, 2001.

MUROFUSE, N. T.; ABRANCHES, S. S.; NAPOLEÃO, A. A. Reflexões sobre estresse

e Burnout e a relação com a enfermagem. In: Revista Latino-Americana de Enfermagem.

v.13, n.02. Ribeirão Preto. Mar./Apr. 2005.

PITTA, A. Hospital: dor e morte como ofício. São Paulo: Hucitec, 1994.

ROMANO, B. W. Princípios para a prática da psicologia clínica em hospitais. São

Paulo: Casa do Psicólogo, 1999.