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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ ELAINE APARECIDA REINALDIN AFONSO SÍNDROME DA ALIENAÇÃO PARENTAL CURITIBA 2014

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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ

ELAINE APARECIDA REINALDIN AFONSO

SÍNDROME DA ALIENAÇÃO PARENTAL

CURITIBA

2014

ELAINE APARECIDA REINALDIN AFONSO

SÍNDROME DA ALIENAÇÃO PARENTAL

Monografia apresentada como requisito parcialpara obtenção do título de Bacharel em Direitodo Curso de Direito da Faculdade de CiênciasJurídicas da Universidade Tuiuti do Paraná.

Orientadora: Prof.a Dr.a Thais Goveia PascoalotoVenturi

CURITIBA

2014

TERMO DE APROVAÇÃO

ELAINE APARECIDA REINALDIN AFONSO

SÍNDROME DA ALIENAÇÃO PARENTAL

Esta monografia foi julgada e aprovada como requisito parcial para obtenção do título

de Bacharel em Direito do Curso de Direito da Universidade Tuiuti do Paraná.

Curitiba, __ de _________ de 2014.

________________________________________

Coordenador Prof. Dr. Eduardo de Oliveira LeiteCurso de Direito da Faculdade de Ciências Jurídicas

Universidade Tuiuti do Paraná

Orientadora: Prof.a Dr.a Thais Goveia Pascoaloto VenturiCurso de Direito da Faculdade de Ciências JurídicasUniversidade Tuiuti do Paraná

Prof.(a)Curso de Direito da Faculdade de Ciências JurídicasUniversidade Tuiuti do Paraná

Prof.(a)Curso de Direito da Faculdade de Ciências JurídicasUniversidade Tuiuti do Paraná

Dedico esse trabalho primeiramente a Deus, poriluminar sempre o meu caminho e ser minha fontede força para alcançar meus objetivos.

Ao meu marido e companheiro Luiz Roberto pelacompreensão, carinho e incentivo em todos osmomentos desta etapa, os quais foram fundamentaispara esta conquista.

Aos meus filhos Nathalia, Naihara e Nicolas pelocarinho que dedicaram todos os dias.

Aos meus pais Angelo e Suely que me ensinaram overdadeiro sentido da palavra família e foramimportantíssimos para conclusão deste curso.

AGRADECIMENTOS

Agradeço especialmente à Prof.a Thais Goveia Pascoaloto Venturi, por

me orientar de forma tão especial tornando-se fundamental para concretização

deste estudo.

Agradeço a todos os professores desta Instituição, pois sem eles não seria

possível trilhar esta caminhada.

E por fim agradeço a todos os meus colegas que colaboraram significati-

vamente para que eu chegasse até aqui.

"Que os vossos esforços desafiem asimpossibilidades, lembrai-vos de queas grandes coisas do homem foram

conquistadas do que parecia impossível".

Charles Chaplin

RESUMO

O presente trabalho tem como objetivo conceituar a Síndrome da AlienaçãoParental, bem como demonstrar quando acontece, como podemos identificá-la, asformas de prevenção como os tipos de guarda e suas diferenças ou o seutratamento com um trabalho conjunto entre os profissionais e o judiciário. Analisa asmudanças sociais com a Constituição Federal de 1988 que reflete as mudanças noscostumes e valores. Também a diferença entre a Síndrome da Alienação Parental ea Alienação Parental bem como as conseqüências de cada uma e seureconhecimento nos casos concretos. Pois esta Síndrome é uma das mais gravesformas de violência psicológica contra o menor e o adolescente que ocorreprincipalmente na ruptura da sociedade conjugal. Aborda-se a Lei de AlienaçãoParental de número 12.318/2010 sua estrutura e objetivos como informações emeios de punição ou prevenção de um problema tão constante nas famílias e aindacom muitas dificuldades para ser identificado e tratado. Um dos objetivos dapromulgação da Lei que além de regulamentar a Alienação Parental é proteger omenor e a sua dignidade.

Palavras-chave: Síndrome da Alienação Parental. Ruptura Conjugal. Disputa deGuarda. Melhor Interesse do Menor.

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................. 9

2 TRANSFORMAÇÕES JURÍDICAS DO DIREITO DE FILIAÇÃO ................ 11

2.1 MUDANÇAS NAS RELAÇÕES ENTRE PAIS E FILHOS............................. 11

2.2 A FAMÍLIA APÓS A CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988.......................... 12

2.3 A IMPORTÂNCIA SOCIAL DA FAMÍLIA....................................................... 13

2.4 PRINCÍPIOS ESSENCIAIS REFERENTES AO DIREITO DE FILIAÇÃO..... 14

2.4.1 Princípio da dignidade humana .................................................................... 14

2.4.2 Princípio da igualdade jurídica dos cônjuges................................................ 15

2.4.3 Princípio da solidariedade familiar ................................................................ 15

2.4.4 Princípio da liberdade na constituição familiar.............................................. 15

2.4.5 Princípio do melhor interesse da criança...................................................... 16

2.5 AS ENTIDADES FAMILIARES E AS RELAÇÕES AFETIVAS ..................... 17

3 OS EFEITOS DA DISSOLUÇÃO DO VÍNCULO CONJUGAL EM

RELAÇÃO AOS FILHOS ............................................................................. 20

3.1 A RUPTURA CONJUGAL E O PODER FAMILIAR ...................................... 20

3.2 DA GUARDA ................................................................................................ 22

3.2 A GUARDA UNILATERAL............................................................................ 25

3.3 A GUARDA COMPARTILHADA ................................................................... 25

4 A SÍNDROME DA ALIENAÇÃO PARENTAL .............................................. 29

4.1 NOÇÕES INTRODUTÓRIAS........................................................................ 29

4.2 O CONCEITO DA SÍNDROME DA ALIENAÇÃO PARENTAL...................... 30

4.3 A ESTRUTURA DA LEI ALIENAÇÃO PARENTAL....................................... 32

4.4 A LEI E O TRABALHO DOS PROFISSIONAIS ............................................ 34

4.5 O ALIENADOR ............................................................................................. 36

4.6 AS CONSEQUÊNCIAS DA SÍNDROME DA ALIENAÇÃO PARENTAL ....... 37

4.7 O TRATAMENTO DA SÍNDROME DA ALIENAÇÃO PARENTAL................ 38

4.8 A DIFERENÇA ENTRE SAP E ALIENAÇAO PARENTAL............................ 40

4.9 IMPLATAÇÃO DE FALSAS MEMÓRIAS...................................................... 42

4.10 A INTERVENÇÃO JURÍDICA ....................................................................... 43

CONCLUSÃO ......................................................................................................... 46

REFERÊNCIAS....................................................................................................... 47

ANEXO - LEI N.O 12.318, DE 26 DE AGOSTO DE 2010 ....................................... 50

9

1 INTRODUÇÃO

O tema abordado nesta monografia trata da Síndrome da Alienação Parental

que é uma consequência da ruptura conjugal e esta traz para um dos cônjuges um

sentimento de traição, raiva ou até mesmo vingança devido ao término do casamento

onde a criança é o instrumento utilizado para atingir o outro.

No primeiro capítulo as mudanças na sociedade, que vivia em um patriar-

calismo, com o qual após as transformações na sociedade e a Constituição Federal

de 1988 que reconhece estas mudanças nos costumes e valores das famílias.

Passam então as famílias consideradas a base da sociedade pelo Direito de Família

a exercer o poder familiar onde os pais têm os mesmos direitos e deveres sobre os

filhos passando a exercê-los igualmente e valorizando mais a afetividade. Esta

também valoriza o ser humano e sua dignidade bem como a criança que deixa de

ser analisada como incapaz pessoa incompleta para ser sujeito de plenos direitos.

Já no segundo capítulo analisamos que após o rompimento da união

conjugal o problema surge com a disputa da guarda, pois, os cônjuges participam

ativamente da vida dos filhos que estão ligados mais por vínculo afetivo.

Surge então muitas vezes após o fenômeno da dissolução da sociedade

conjugal a Síndrome da Alienação Parental que traz consequências nefastas para a

criança ou adolescente. Temos então a guarda compartilhada como preferência por

poder ser exercida conjuntamente pelos pais separados assegurando aos filhos a

convivência e acesso livre a ambos que mesmo separados exercem o poder familiar.

No terceiro capítulo temos a definição da alienação parental, a diferença

entre a síndrome da alienação parental com a alienação parental bem como a

estrutura da Lei 12.318/2010 que veio como uma tentativa de coibir familiares a

restringir o convívio adequado entre a criança e algum ente familiar mediante

interesses pessoais geralmente um dos ex cônjuges que ao sentir-se traído ou

abandonado e com este sentimento usa a criança para atingir o outro, como forma

de vingança em uma campanha de desmoralização do outro, não analisando os

sérios problemas e consequências.

Torna-se necessário nos casos em concreto a prevenção ou a identificação

o quanto antes para que os transtornos psicológicos possam ser solucionados e

estes causem o menor dano possível.

10

Por ser de difícil constatação o problema nas separações entre casais, em

2010 foi promulgado a Lei da Alienação Parental, com o objetivo de ajudar os

profissionais com medidas de prevenção, intervenção e sanção.

11

2 TRANSFORMAÇÕES JURÍDICAS DO DIREITO DE FILIAÇÃO

A origem da palavra família é romana, que significa escravo, pois se originou

da palavra oscafamel (servus) que quer dizer escravo.1 Ou seja, não se referia ao

casal e seus filhos, mas aos que trabalhavam para subsistência e de parentes que

se encontravam sob a autoridade do pater família.

Na família patriarcal de Roma o pater famílias era exercido não somente

com aqueles com que existiam laços de afinidade ou consanguíneos, mas também

com os servos e escravos que viviam sob o mesmo teto.

E no Brasil a família colonial fundada no direito canônico e hierarquizada

pelo poder do patriarca era considerada um sacramento ao qual não se poderia

dissolver, pois fora este determinado por Deus. O pater exercia a sua autoridade

sobre todos os seus descendentes não emancipados, sobre a sua esposa e com os

seus descendentes. Sendo a família então, simultaneamente, uma unidade econômica,

religiosa, politica e jurisdicional.2

2.1 MUDANÇAS NAS RELAÇÕES ENTRE PAIS E FILHOS

No Direito de Família diversas são as significações jurídicas atribuídas à

palavra como em sentido lato sensu ao qual abrange todas as pessoas ligadas por

vínculo de sangue e que procedem de um tronco ancestral comum. Em sentido

restrito (stricto sensu) reduz a família em os pais e sua prole, ou seja, pequena

família. E por fim em um sentido mais limitado a família abrange apenas em linha

reta e os colaterais até o quarto grau.3

Orlando Gomes na ótica do Código Civil de 1916, conceitua o Direito de

família como "o conjunto de regras aplicáveis às relações entre as pessoas ligadas

pelo casamento, pelo parentesco, pela afinidade e pela adoção".4

1 LEITE, Eduardo de Oliveira. Direito civil aplicado: famílias. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005.

p.23. v.5.2 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro: direito de família. 6.ed. São Paulo: Saraiva,

2009. p.15.3 GONÇALVES, op. cit., p.2.4 GOMES, Orlando. Direito de família. 7.ed. Rio de Janeiro: Forense, 2002. p.1.

12

Onde a proteção dos filhos que estavam subordinados à autoridade paterna

que constituía o dever decorrente do poder familiar, definido na época como pátrio

poder, expressão utilizada no Código Civil de 1916.

Entende-se atualmente que o poder atribuído ao pai deve ser exercido no

interesse do filho, abrandando-se, nos costumes e na lei, o jugo paterno. Os poderes

outorgados aos pais têm como medida o cumprimento dos deveres de proteção do

filho menor. O instituto perdeu sua organização despótica inspirada no direito romano,

deixando de ser um conjunto de direitos do pai sobre os filhos, amplos e ilimitados,

para se tornar um complexo de dever. A evolução orientou-se, fundamentalmente,

para três finalidades como a limitação temporal do poder, a limitação dos direitos do

pai e do seu uso e a colaboração do Estado na proteção do filho menor e intervenção

no exercício do pátrio poder para orientá-lo e controlar.5

2.2 A FAMÍLIA APÓS A CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988

Com a Constituição Federal de 1988 à expressão "pátrio poder" foi substituída

por "poder familiar", pois esta após diversas transformações sociais volta-se a valori-

zação da afetividade e a respeitar os diversos tipos de reconhecimento de entidades.

Esses direitos e deveres do exercício do poder familiar também estão previstos

no Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei n.o 8.069/1990, que visam assegurar o

melhor interesse, retirando assim o fato da prevalência de superioridade e hierarquia

do homem em detrimento da mulher, que vem paulatinamente se enfraquecendo.

O artigo 226 da CF/88 em seu caput diz: "a família, base da sociedade, tem

especial proteção do Estado". E nos parágrafos deste artigo defende a igualdade

entre homem e mulher, os diversos tipos de união, os direitos e deveres destes e o

princípio da dignidade humana.

A família, na sociedade de massas contemporâneas, sofreu as vicissitudes

da urbanização acelerada ao longo do século XX, como ocorreu no Brasil. Também

a emancipação feminina, principalmente econômica e profissional, modificou substan-

cialmente o papel que era destinado à mulher no âmbito doméstico e remodelou a

família. São esses os dois principais fatores do desaparecimento da família patriarcal.6

5 GOMES, Orlando. Direito de família. 14.ed. Rio de Janeiro: Forence, 2002. p.389.6 LÔBO, Paulo. Direito civil: famílias. 4.ed. São Paulo: Saraiva, 2012. p.15.

13

2.3 A IMPORTÂNCIA SOCIAL DA FAMÍLIA

No ramo do direito, a família que constitui a base do Estado, se torna

necessário para a organização social. Na medida em que a família deixou de ser

concebida como base do Estado para ser espaço de realizações existenciais,

manifestou-se a uma tendência incoercível do indivíduo moderno de privatizar suas

relações amorosas, afetivas, de rejeitar que sua esfera de intimidade esteja sob a

tutela da sociedade, do Estado e, portanto o direito.7

O Direito de Família é o conjunto de regras aplicáveis às relações entre

pessoas ligadas pelo casamento, pelo parentesco, pela afinidade e pela adoção.8 As

demandas são, pois, de mais autonomia e liberdade e menos intervenção estatal na

vida privada, pois a legislação sobre família foi, historicamente, mais cristalizadora

de desigualdades e menos emancipadora.

A atual família não tem mais um uma significação política e econômica, ela é

reconhecida pela importância social o qual o Estado intervém para protegê-la

assistindo e intervindo, sendo o mais humano de todos os ramos do direito.Com a

evolução do conhecimento científico, os movimentos políticos e sociais do século XX

e o fenômeno da globalização provocaram mudanças profundas na estrutura da

família e nos ordenamentos jurídicos de todo o mundo.9

A repersonalização contemporânea das relações de família retoma o itinerário

da afirmação da pessoa humana como objetivo central do direito. A restauração da

primazia da pessoa, nas relações de família, na garantia da realização da afetividade, é

a condição primeira de adequação do direito à realidade.10

Rodrigo da Cunha Pereira enfatiza que:

Todas essas mudanças trouxeram novos ideais, provocaram um declínio dopatriarcalismo e lançaram as bases de sustentação e compreensão dosDireitos Humanos, a partir da noção da dignidade da pessoa humana, hojeinsculpida em quase todas as constituições democráticas.

7 LÔBO, 2012, p. 20.8 GOMES, op. cit., 14.ed., p.1.9 GONÇALVES, op. cit., p.6.10 LÔBO, op. cit., p.25.

14

Na convenção internacional sobre os direitos da criança, de 1989, adotada

pela Assembleia das Nações Unidas, e internalizada no direito brasileiro, com força

de lei em 1990, preconiza a proteção especial da criança mediante o princípio do

melhor interesse, em suas dimensões pessoais. Para cumprir o princípio do melhor

interesse, a criança deve ser posta no centro das relações familiares, devendo ser

considerada segundo o espírito de paz e dignidade. As crianças são agora definidas

de maneira afirmativa, como sujeitos de plenos direitos; já não se tratam de menores,

incapazes, pessoas incompletas, mas de pessoas cuja única particularidade é a de

estarem crescendo.11

2.4 PRINCÍPIOS ESSENCIAIS REFERENTES AO DIREITO DE FILIAÇÃO

Com a evolução social muitas foram às mudanças não só nos costumes

como também nas legislações ao longo destas décadas. Então o direito de família

atendendo às necessidades da prole e afeição entre os cônjuges ou companheiros e

aos interesses da realidade social rege-se pelos seguintes princípios:12

2.4.1 Princípio da dignidade humana

Princípio do respeito à dignidade da pessoa humana que constitui, assim, a

base da comunidade familiar, garantindo o pleno desenvolvimento e a realização de

todos os seus membros, principalmente da criança e do adolescente. Este princípio

é o núcleo existencial a todas as pessoas humanas impondo-se um dever geral de

respeito, proteção e intocabilidade.13 Passou então a proteger-se o desenvolvimento

da personalidade dos filhos, tutelando a dignidade dos membros da família.

A família, tutelada pela Constituição, está funcionalizada ao desenvolvimento

da dignidade das pessoas que o integram. A Convenção sobre os Direitos da Criança

de 1990 declara que a criança deve ser preparada para uma vida individual em

sociedade, respeitada sua dignidade. O Estatuto da Criança e do Adolescente assegura

todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, dessas pessoas em desen-

volvimento e a absoluta prioridade dos direitos referentes às suas dignidades.

11 LÔBO, 2012, p.27.12 GONÇALVES, op. cit., p.6.13 LÔBO, op. cit., p.60.

15

2.4.2 Princípio da igualdade jurídica dos cônjuges

O Princípio da igualdade jurídica dos cônjuges e dos companheiros, no que

tange aos seus direitos e deveres consagrados na Constituição Federal de 1988 em

seu artigo 226, & 5.o que diz: "os direitos e deveres referentes à sociedade conjugal são

exercidos igualmente pelo homem e pela mulher". Não cabe mais o patriarcalismo

com a época atual uma grande revolução no campo social. Deixou de ser encargo

do marido, o casal exerce os direitos e quando entre estes ocorrer divergências o

Código Civil de 2002, em seu artigo 1.567, parágrafo único, diz que deverão ser

solucionadas pelo juiz.14 Os cuidados com a casa, com os filhos torna-se um dever

de cuidado e de promover a manutenção deste exercida pelo casal.

2.4.3 Princípio da solidariedade familiar

O princípio da solidariedade familiar, significa um vínculo de sentimento

racionalmente guiado, limitado e auto determinado que compile a oferta de ajuda,

operando-se em uma mínima similitude de certos interesses e objetivos, de forma a

manter a diferença entre os parceiros na solidariedade.15

A solidariedade em relação aos filhos responde à exigência da pessoa de

ser cuidada até atingir a idade adulta, isto é, de ser mantida, instruída e educada

para sua plena formação social.16 A Convenção Internacional sobre os direitos da

Criança inclui a solidariedade entre os princípios a serem observados, o que se

reproduz no Estatuto da Criança e Adolescente em seu artigo 4.o.

2.4.4 Princípio da liberdade na constituição familiar

O Princípio da Liberdade define que ao constituir uma comunhão de vida

familiar seja pelo casamento ou pela união estável o casal será livre para escolha. O

estado deverá intervir apenas para propiciar recursos educacionais e científicos não

devendo intervir nas decisões como planejamento familiar devendo respeitar sempre

14 GONÇALVES, op. cit., p.7.15 LÔBO, 2012, p.60.16 LÔBO, op. cit., p.65.

16

a integridade físico-psíquica e moral dos componentes da família.17 A família tem

autonomia de constituição, realização e extinção de entidade familiar desde que

respeitadas suas dignidades como pessoas humanas, a liberdade de agir, assentada

no respeito à integridade física, mental e moral.18

O artigo 3.o da Constituição traz o princípio da solidariedade do núcleo

familiar deve entender-se como solidariedade recíproca dos cônjuges e companheiros,

principalmente quanto à existência moral e material. A solidariedade em relação aos

filhos responde à existência da pessoa de ser cuidada até atingir a idade adulta, isto

é, de ser mantida, instruída e educada para sua plena formação social.

O direito à convivência familiar tutelado pelo princípio e por regras jurídicas

específica, particularmente no que diz respeito à criança e ao adolescente, é dirigido

à família e a cada membro dela, além de ao Estado e à sociedade como um todo.

Mesmo com os pais separados, o filho menor tem direito à convivência familiar com

cada um, não podendo o guardião impedir o acesso ao outro, com restrições

individuais. Pois a convivência com o filho era tida como objeto de disputa dos pais e

com a Convenção de 1990 a criança tem o direito de manter regularmente as

relações pessoais e contato direto com ambos, a menos que isso seja contrário ao

interesse maior da criança.19

2.4.5 Princípio do melhor interesse da criança

O princípio do melhor interesse da criança significa, incluído o adolescente,

segundo a Convenção Internacional dos Direitos da Criança, deve ter seus interesses

tratados com prioridade, pelo Estado, pela sociedade e pela família, tanto na elabo-

ração quanto na aplicação dos direitos que lhe digam respeito, notadamente nas

relações familiares, como pessoa em desenvolvimento e dotada de dignidade.

Este princípio parte da concepção de ser a criança e o adolescente como

sujeito de direitos, como pessoas, em condições peculiares de desenvolvimento, e

não como mero objeto de intervenção jurídica social quando em situação irregular,

como ocorria com a legislação anterior sobre os menores.20

17 GONÇALVES, op. cit., p.09.18 LÔBO, 2012, p.68.19 LÔBO, op. cit., p.74.20 LÔBO, op. cit., p.75.

17

O princípio é de prioridade e não de exclusão de outros direitos ou interesses.

Além de servir de regra de interpretação e de resolução de conflitos entre direitos, deve-

se ressaltar que nem o interesse dos pais, nem o do Estado pode ser considerado o

único interesse relevante para a satisfação dos direitos da criança. A aplicação da Lei

deve sempre realizar o princípio consagrado, como critério significativo na decisão e na

aplicação da lei, tutelando-se os filhos como seres prioritários.21

2.5 AS ENTIDADES FAMILIARES E AS RELAÇÕES AFETIVAS

Por muito tempo, no direito brasileiro, o casamento foi considerado como

única forma de constituição de família legítima, mas tal situação foi alterada pela

Constituição Federal de 1988, permitindo o reconhecimento de outras entidades

familiares, tratando expressamente do casamento civil, união estável e da família

monoparental, como afirma Elizabeth Lapa Wanderley Cavalcanti.22

O reconhecimento explícito da união estável na Constituição Federal de

1988 foi um progresso na medida em que promoveu segurança jurídica as mulheres

e homens pautados em relações de afeto um para com o outro. Também a família

monoparental como entidade familiar formada por um homem ou uma mulher e que

vive com uma ou mais crianças, as uniões homoafetivas admitindo a analogia com a

união estável e a família recomposta entre um cônjuge ou companheiro e os filhos

do outro vindo de relacionamento anterior.

Muitos são os estilos familiares explícitos pela Carta Magna, mas são três as

caraterísticas necessárias para que possam produzir efeitos jurídicos e sem os quais

não configurariam uma entidade. Seria a estabilidade não considerando os relacio-

namentos ocasionais, descompromissados; a afetividade como interesse principal da

família e a ostentabilidade em que se apresente como uma unidade familiar publica.

Todos edificados em critérios de amor e afetividade.23

21 LÔBO, 2012, p.83.22 CRUZ, Edna Regina Calixto. Alienação Parental. 56 f. Monografia (Direito) – Universidade de

Mato Grosso do Sul. Naviraí, 2010. Disponível em: <Universidadehttp://www.uems.br/portal/biblioteca/repositorio/2011-07-14_10-59-24.pdf>. Acesso em: 6 abr. 2014.

23 BUOSI, Caroline de Cássia Francisco. Alienação parental: uma Interface do direito e da psicologia.Curitiba: Juruá, 2012. p.35.

18

Paulo Lobo diz que:

A constituição de família é o objeto da entidade familiar, para diferençá-la deoutros relacionamentos afetivos, como a amizade, a camaradagem entrecolegas de trabalho, as relações religiosas. É aferido objetivamente e não apartir da intenção das pessoas que as integram.24

No passado, somente o casamento merecia proteção constitucional. Com as

diversas transformações sociais, os operadores do direito passaram a considerar as

novas demandas e a valorizar a conquista da afetividade como papel central no

reconhecimento das diversas formas familiares que se percebe na contempo-

raneidade, resguardando e elevando o princípio constitucional da dignidade da

pessoa humana, da igualdade e da afetividade, de forma a promover o bem-estar e

a segurança jurídica aos indivíduos a que lhe serve.25

Na apreciação de casos concretos o Superior Tribunal de Justiça tem

afirmado o conceito ampliado e incluso de entidade familiar, notadamente no que

concerne à aplicação de determinadas leis que tutelem interesses pessoais

decorrentes de relações familiares. Como outros tipos de entidade familiar tutelada

no artigo 226 da Constituição.26

A Constituição Federal em seu artigo 226 parágrafos 4.o e 8.o operou-se a mais

radical transformação não se referindo a um determinado tipo de família interpretando-a

de uma norma mais ampla e não excluindo assim qualquer entidade que preencha os

requisitos de afetividade, estabilidade e ostensibilidade. Sendo assim os tipos de

entidades familiares explícitos na Constituição são meramente exemplificativos.

Cada entidade familiar submete-se a estatuto jurídico próprio, em virtude dos

requisitos de constituição e efeitos específicos, não estando uma equiparada ou

condicionada aos requisitos da outra. Quando a legislação infraconstitucional não

cuida de determinada entidade familiar, ela será regida pelos princípios e regras

constitucionais, pelas regras e princípios gerais do direito de família aplicáveis e pela

contemplação de suas especificidades. Não pode haver, portanto, regras únicas,

segundo modelos únicos ou preferenciais. O que as unifica é a função de espaço de

afetividade e da tutela da realização da personalidade das pessoas que as integram;

24 LÔBO, 2012, p.80.25 LÔBO, op. cit., p.87.26 LÔBO, op. cit., p.87.

19

em outras palavras, o lugar dos afetos, da formação social onde se pode nascer, ser,

amadurecer e desenvolver os valores da pessoa.27

A família na atualidade deve ser regida com base no afeto, respeitando a

possibilidade de diversos tipos de reconhecimento de entidades, não gerando

nenhum tipo de exclusão preconceituosa com base numa interpretação restrita da

Constituição. É somente por meio desse conceito que atingiremos um direito

igualitário, e por isso, mesmo não expressamente contidos na Constituição Federal,

devem ser resguardados seus direitos sendo eles pautados no que atualmente é o

primado da família.28

27 LÔBO, 2012, p.82.28 BUOSI, op. cit., p.31.

20

3 OS EFEITOS DA DISSOLUÇÃO DO VÍNCULO CONJUGAL EM RELAÇÃO

AOS FILHOS

3.1 A RUPTURA CONJUGAL E O PODER FAMILIAR

É fato que o relacionamento conjugal, mesmo alicerçado na afetividade,

ultrapassa o viés emocional, compondo-se de elementos que vão além do sentimento,

e sendo alguns fatores, indispensáveis para que haja harmonia no lar comum,

como, por exemplo, respeito, afinidades, situação e nível econômico, nível cultural,

expectativas em relação ao outro, sexualidade do casal, aceitação e compreensão

da personalidade.

Quando o vínculo conjugal se desfaz, os membros da família precisarão se

adaptar a uma nova situação. O rompimento gera perdas, mudanças ao qual o ser

humano conforme estudos tem maior dificuldade desde o seu nascimento até à sua

morte que é exatamente com a perda.29

O poder familiar conferido aos pais de forma igualitária valida o papel

parental "permanente" de forma individual, ao tempo em que, incentiva ambos a um

envolvimento conjunto, ativo e contínuo na vida dos filhos. Na pós-ruptura do vínculo

conjugal, este encargo comum daqueles que até então eram cônjuges, passa a ser

alvo de discussão, na medida em que, separados, surge à necessidade de se

aquilatar a responsabilidade de cada um quanto aos filhos comuns.30

O artigo 144 da Constituição de 1934 trazia o Princípio da indissolubidade do

casamento com previsão de que: "A família, constituída pelo casamento indissolúvel,

está sob a proteção especial do Estado." Esse princípio foi repetido nas Constituições

de 1937, 1946 e por último na de 1967.

O ordenamento jurídico, então regulamentou o divórcio com a Emenda

Constitucional número 9 de 28/12/1977 alterando a redação no artigo 167: "o

casamento somente poderá ser dissolvido, nos casos expressos em lei, desde que

haja prévia separação judicial por mais de três anos." Abolindo o princípio da

indissolubilidade do casamento. Logo veio a Lei 6.515/77 que regulamentou o

29 DIAS, Maria Berenice. Incesto e alienação parental. 3.ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2013.

p.186.30 DUARTE, Marcos. Alienação parental: a morte inventada por mentes perigosas. Disponível em:

<http://www.ibdfam.org.br/?artigos&artigo=516>. Acesso em: 22 mar. 2014.

21

divórcio e revogou os artigos 315 aos 318 do Código Civil de 1916 regulando os

casos de dissolução da sociedade conjugal e do casamento.

No texto da Constituição de 1988 vigorava o seguinte texto: "o casamento civil

pode ser dissolvido pelo divórcio, após prévia separação judicial por mais de um ano

nos casos expressos em lei, ou comprovada separação de fato por mais de dois anos".

A Emenda Constitucional n.o 66/2010 alterou o artigo 6° da Constituição

Federal e facilitou o divórcio ao eliminar seus requisitos temporais, sem, contudo,

eliminar os institutos da separação e da conversão da separação em divórcio. O

parágrafo 6.o do artigo 226 da Constituição Federal, então, passa a vigorar da seguinte

forma: "o casamento civil pode ser dissolvido pelo divórcio". E preserva a liberdade de

escolha na espécie dissolutiva do casamento (CF/88 art. 5.o caput), dissolvida pela

separação, que pode ser reestabelecido o mesmo conforme artigo 1.577 do Código

Civil de 2002, o que não ocorre no divórcio, que dissolve o vínculo conjugal.

Temos duas realidades, uma em que na separação dissolve-se a sociedade

conjugal, mas não o vínculo matrimonial, enquanto que o divórcio dissolve o vínculo

matrimonial, permitindo uma nova união.

Com a ruptura jurídica do relacionamento especialmente quando há filhos, o

fim do vínculo do ex-casal torna-se ainda mais complicado, pois há uma necessidade

constante de manter contato com o ex-companheiro para resolver situações relativas

a eles, fazendo com que as emoções sejam relembradas ou novamente despertadas.

Assim, a dissolução jurídica não exclui problemas, podendo até mesmo aumentá-los

ou criar novas dificuldades para os indivíduos separados.31

Maria Berenice Dias fala dos sentimentos quando ocorre a ruptura conjugal:

Na maioria das vezes aquele que foi surpreendido com a separação restacom sentimentos de abandono, de rejeição sente-se este traído e com umdesejo muito grande de vingança. Quando não é elaborado adequadamenteo luto conjugal inicia-se um processo de destruição, de desmoralizaçãodaquele que é considerado o responsável pela separação.32

Com a ruptura da relação conjugal, quando os pais começam a disputar a

guarda dos filhos e para consegui-la fazem uma campanha de desmoralização do

outro cônjuge é que se inicia a alienação parental.

31 BUOSI, op. cit., p.45.32 DIAS, 2013, p.15.

22

Os filhos são levados a rejeitar e a odiar quem provocou tanta dor e sofrimento.

Com a dissolução da união, os filhos ficam fragilizados, com sentimentos de orfandade

psicológica propício para plantar a ideia de terem sido abandonados pelo genitor.33

Paulo Lobo diz que "a separação dos cônjuges não pode significar separação

dos filhos, pois se separam os pais, mas não estes em relação aos filhos menores

de 18 anos". O princípio do melhor interesse da criança trouxe-a ao centro da tutela

jurídica, prevalecendo sobre os interesses dos pais em conflito.34

Toda esta desunião pode provocar graves consequências para as crianças.

Ela altera seu quadro referencial em relação aos pais, muda seus esquemas de vida,

as separa de um dos seus pais, ou de uma parte de sua família, altera as relações

com outros membros da família e, quase sempre, concentra a autoridade nas mãos

de um só.

Maria Berenice Dias que "o que é mais grave, é que podem transformar

a criança num objeto de disputa, nos quais os pais, nem sempre tentam garan-

tira presença e a afeição, mas a prepotência da autoridade e da imposição de

suas convicções".35

3.2 DA GUARDA

A partir da ruptura do vínculo que unia o casal, é natural a decorrente

desestruturação, pelo menos momentânea, do núcleo familiar, haja vista que a

família de então deixa de existir como existia. Gerando insegurança e sofrimento a

todos os membros, todavia quando surge a Síndrome de Alienação Parental, o

sofrimento das crianças se torna ainda mais agudo.

Maria Berenice Dias fala que:

Quando o genitor alienador passa a destruir a imagem do outro perante osfilhos, seja em comentários sutis, que acabam, muitas vezes, precisando secalar sufocando suas emoções e sentimentos com relação ao outro genitoramado, que para não desagradar ou menos ferir o genitor com o qualresidem e que os mantém sob seu controle.36

33 DIAS, 2013, p.15.34 LÔBO, 2012, p.189.35 DIAS, op. cit., p.16.36 DIAS, op. cit., p.33.

23

Antes do artigo 227 da Constituição Federal que prioriza a dignidade e o

respeito à proteção da criança resumia-se a quem ficaria com sua guarda, como

aspecto secundário e derivado da separação.

Atualmente com a tutela jurídica na pessoa da criança quando os pais após

a separação não chegarem a um acordo mutuo, deverá o juiz assegurar a estes o

direito de contato permanente com aqueles. Pois, à proteção dos filhos é mais ampla

que a regulação de guarda e a fixação da obrigação alimentar ao pai não guardião.37

Quando os pais vivem juntos e harmonicamente, ambos exercem conjun-

tamente, a guarda. Mas quando a ruptura interfere na vida conjugal surge de imediato,

um dos mais complexos problemas do Direito de Família: a atribuição da guarda dos

filhos, já que a ruptura implica, necessariamente, na saída de um dos cônjuges, do

lar conjugal.38

Com a existência de conflitos devido à dissolução familiar ao perceber a

prejudicialidade para o menor, o Estado para minorar este problema, passou a

legislar sobre a matéria.

Eduardo Leite diz que "a ruptura do casal, não tem o condão de provocar a

ruptura dos laços jurídicos e afetivos da filiação, que persistem imutáveis, indepen-

dentemente dos acontecimentos".39

Paulo Lôbo define assim a guarda:

Na atribuição a um dos pais separados ou a ambos dos encargos decuidado, proteção, zelo e custódia do filho. Quando esta é exercida por umdos pais, diz-se unilateral ou exclusiva; quando por ambos, compartilhada.Hoje a mãe exerce poder apenas unilateral, em igualdade de condiçõescom o pai e qualquer interpretação diferente afronta o princípioconstitucional da igualdade.40

O artigo 1.583 do código civil de 2002, na abertura do capítulo relativo à

proteção da pessoa dos filhos, vem imantado de significações: a decisão compete,

primeiramente, ao casal. Reconhece-se, na medida, a nítida intenção do legislador,

de preservar o privado, em detrimento do público; de resgatar o intimismo das

relações familiares à intervenção fria do poder público.

37 LÔBO, 2012, p.190.38 LEITE, op. cit., p.166.39 LEITE, op. cit., p.167.40 LÔBO, op. cit., p.169.

24

O poder familiar é um instituto protetivo derivado de o antigo pátrio poder,

que consiste em um conjunto de atribuições que os pais detém em relação aos

filhos, com o objetivo de dar-lhes uma formação pessoal. A guarda, por sua vez, é

considerada um dos atributos do poder familiar. Com efeito, estes institutos primam

pelo enraizamento da doutrina da proteção integral das crianças e adolescentes. O

que se observa atualmente é que o cônjuge guardião exerce o poder familiar à

revelia do outro, dando ensejo a diversos tipos de traumas e implicações.41

A suspensão da guarda ou até a inversão em guarda compartilhada poderá

ser uma saída determinada pelo magistrado, de maneira a contribuir para a sanidade

física e psicológica da criança ou do adolescente. Porém, essa inversão também

deverá ser monitorada e acompanhada por equipe de profissionais habilitados, o que

já vem ocorrendo alguns anos nos Tribunais, em consonância com a jurisprudência

mais abalizada na matéria.

Como a guarda é uma decorrência natural do poder familiar, cabe aos pais,

na figura de autoridade, zelar pelos seus filhos visando criá-los da melhor forma,

sendo que cabe ao Estado intervir somente se houver desrespeito ao princípio da

proteção do melhor interesse do menor, que, em regra, é dever principal inerente de

quem possui a guarda.42

Esta pode ser consensual ou litigiosa, dependendo da capacidade de

decisão em acordo dos genitores. Pode ser classificada, em outro aspecto, como

unilateral ou compartilhada, sendo que, a guarda unilateral ainda é utilizada atualmente

no Brasil que ocorre quando atribuída a somente um dos cônjuges.

Como ambos os cônjuges, após a dissolução conjugal, continuam no exercício

da autoridade parental, o Estado tem um entendimento de que, a priori, a decisão de

quem ficará com a guarda é resguardada ao acordo dos genitores. Haja vista que na

qualidade de genitores, devem, em tese, saber qual a melhor maneira de se estabe-

lecer a guarda, visando minorar os prejuízos causados ao filho com a dissolução do

vinculo conjugal.43

41 LIMA, Aline Nunes de Castro. Síndrome da alienação parental: Lei n.o 12.318/10 - Influenciar

negativamente filhos contra genitor. Revista Âmbito Jurídico. Disponível em:<http://www.ambitojuridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=11055&revista_caderno=14>. Acesso em: 24 mar. 2014.

42 LÔBO, 2012, p.169.43 LEITE, op. cit., p.165.

25

O ideal é que o casal decida o destino dos filhos, porque, na qualidade de

pais, são as pessoas mais indicadas a indicar a solução menos conflituosa,

minorando os inevitáveis traumas e sofrimentos que, inevitavelmente, advêm de uma

separação. Por isto o artigo 1.583 faz referência à decisão da guarda preferen-

cialmente ao casal.

3.2 A GUARDA UNILATERAL

O parágrafo 1.o do artigo 1.583 dom Código Civil relaciona a guarda

unilateral quando é atribuída a um só dos genitores ou a alguém que o substitua, ou

seja, poderá ser atribuída a um terceiro quando o juiz se convencer que nenhum dos

pais preenchem as condições necessárias para tal. O filho ficará sob a guarda de

quem revelar melhores condições para exercê-la, afastando a odiosa regra da culpa

do pai ou da mãe.44

A instituição da guarda unilateral traz sofrimento, angústia e prejuízos

emocionais para as crianças/adolescentes, quando um dos pais, geralmente o

"guardião", dificulta ou proíbe os filhos de conviverem com o genitor "visitante",

impedindo e bloqueando, de diversas formas, o acesso entre esse e os filhos.45

Na realidade o juiz deve levar em conta a melhor solução para o interesse

global da criança ou adolescente, não se olvidando de outros fatores igualmente

relevantes como a dignidade, respeito, lazer, esporte, profissionalização, alimentação

e cultura.46

3.3 A GUARDA COMPARTILHADA

A Lei 11.698/2008 promoveu alteração radical no modelo de guarda dos

filhos, até então dominante no direito brasileiro, ou seja, da guarda unilateral

conjugada com direito de visita. A lei institui a preferência pela guarda compartilhada,

44 LÔBO, 2012, p.171.45 DIAS, 2013, p.147.46 BRASIL. ECA. Lei n.o 8.069/90 de 13 de julho de 1990. Art. 4.o do Estatuto da Criança e do

Adolescente. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá outras providências.Disponível em: < http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10619550/artigo-4-da-lei-n-8069-de-13-de-julho-de-1990>. Acesso em: 10/02/2014.

26

que somente deve ser afastada quando o melhor interesse dos filhos recomendar a

guarda unilateral.47

Guarda compartilhada é exercida em conjunto pelos pais separados, de

modo a assegurar aos filhos a convivência e o acesso livre a ambos que mesmo

separados exercem o poder familiar. Torna-se assim desnecessária a guarda

exclusiva e o direito de visita. Pois a guarda unilateral estimula o que a doutrina tem

denominado de alienação Parental, quando o genitor que não a detém termina por

se distanciar do filho.48

A guarda compartilhada é um sistema em que os filhos de pais separados

permanecem sob a autoridade equivalente de ambos os genitores, que vêm a tomar

em conjunto decisões importantes quanto ao seu bem-estar; educação e criação.

Esse é um dos meios de exercício da autoridade familiar, que busca harmonizar as

relações pai/filho e mãe/filho, que espontaneamente tendem a modificar-se depois

da dissolução da convivência.49

Concedendo assim ao filho o direito de usufruir tanto do contato com a mãe

quanto com o pai por um período, maior ou que admite um pouco mais flexibilidade

para esse convívio.

A determinação da guarda compartilhada é alternativa eficaz facultada ao

juiz por meio do inciso V do artigo 6.o da lei 11.698/08l, que pode inverter a guarda

unilateral se entender pertinente.

Pois a guarda compartilhada permite uma maior aproximação dos filhos com

ambos os cônjuges, sem que nenhum deles tenha seu vínculo afetivo prejudicado e

detenha sobre a criança a conotação de posse dela, prevenindo, portanto, a alienação

parental, uma vez que há o convívio mais próximo da criança com o pai e a mãe. Se

devido ao grau de rejeição da criança pela alienação for momentaneamente

dificultosa a alteração da guarda, pode-se inicialmente encaminhar para guarda

provisória dos avós para, sucessivamente, e sem maiores traumas, inserir o genitor

alienado novamente no convívio e afeto do menor vitimado.50

A Ministra Nancy Andrighi afirma que:

47 LÔBO, 2012, p.198.48 LÔBO, op. cit., p.178.49 FREITAS, Douglas Phillips; PELLIZZARO, Graciela. Alienação parental: comentários à Lei

12.318/2010. Rio de Janeiro: Forense, 2011. p. 87.50 BUOSI, op. cit., p.136.

27

A guarda compartilhada é o ideal a ser buscado no exercício do PoderFamiliar entre pais separados, mesmo que demandem delesreestruturações, concessões e adequações diversas, para que seus filhospossam usufruir, durante sua formação, do ideal psicológico de duploreferencial. Ainda, a custódia física conjunta é o ideal a ser buscado nafixação da guarda compartilhada, porque a sua implementação quebra amonoparentalidade na criação dos filhos, fato corriqueiro na guardaunilateral, que é substituída pela implementação de condições propícias àcontinuidade da existência de fontes bifrontais de exercício do PoderFamiliar. E conclui a Ementa: a guarda compartilhada deve ser tida comoregra, e a custódia física conjunta – sempre que possível – como sua efetivaexpressão. Assim, a guarda compartilhada deve ser incentivada pelosoperadores de direito, para alcançar o ideal da plena proteção dos direitosfundamentais da criança e do adolescente, o de conviver em família e sercriado por seus pais.51

A determinação da guarda compartilhada que permite maior aproximação

dos filhos com ambos os cônjuges é uma alternativa eficaz facultada ao juiz que

pode inverter a guarda unilateral se entender pertinente. O magistrado pode também

determinar a fixação cautelar de domicílio da criança e adolescente para resguardar

maior efetividade e para os casos mais graves até mesmo a perda da autoridade

parental. Muitos doutrinadores defendem esta como última instância .

Com a lei temos medidas suficientemente possíveis de controlar a intensidade

dos atos de alienação parental devem ser tomadas, para que diante das condutas de

readequação do comportamento inapto do alienador, este volte a agir saudavelmente

para com seu filho e com seu ex-companheiro.

A Lei da Alienação Parental dispõe, sobre algumas particularidades do

procedimento judicialpara a apuração dos atos de alienação, consignando a impor-

tância de que o bem estar da criança ou do adolescente seja prioridade. Como a

necessidade de tramitação prioritária do processo, como verdadeira medida efetiva

dos direitos menores, a fim de que a sua violação não seja agravada com a demora

do procedimento.

Encontramos na lei reafirmado o princípio da proteção integral à criança

estabelece mecanismos para punir quem dificulta o acesso físico ou emocional ao

filho, prevendo sanções que vão desde a advertência até a revisão da guarda. Pois

mesmo estando tipificada em lei a situação de fato é uma questão muito delicada.

Nos casos de alienação parental, estamos lidando não só com o conflito existente

entre marido e mulher, mas com sentimentos de afeto e amor entre pais e filhos.

51 IBDFAM. Instituto Brasileiro de direito de Família. A origem da Síndrome de Alienação Parental.

Disponível em: <www.ibdfam.org.br/artigos&artigos>. Acesso em: 16 mar. 2014.

28

A família espera-se ser o meio pelo qual o ser humano alcança tal dignidade,

pois a família é o solo apropriado para florescer a dignidade da pessoa humana.

Justifica-se então a necessidade do judiciário interferir e coibir a alienação parental

com medidas prevenindo o problema, pois deve a parentalidade ser exercida de

forma saudável.

29

4 A SÍNDROME DA ALIENAÇÃO PARENTAL

4.1 NOÇÕES INTRODUTÓRIAS

A primeira manifestação ocorre com um dos pais fazendo campanha para

difamar o outro genitor, é uma combinação de ensinamentos sistemáticos com

intervenções na vida da criança e do adolescente e no seu modo de agir e pensar.

Nos Estados Unidos e no Canadá, cada vez mais os tribunais reconhecem a existência

de danos causados aos filhos vítimas da Síndrome da Alienação Parental.

Com as separações há décadas atrás não se tinha informações sobre o

fenômeno da Síndrome da Alienação Parental, pois se vivia em uma sociedade

extremamente conservadora onde a mulher era educada para cuidar do lar e dos

filhos e quando ocorria uma separação a guarda era da mulher.52

Os anos passaram e as transformações na sociedade como as estruturas

econômicas, políticas, familiares sofreram grandes transformações. Nas famílias a

redefinição dos papéis parentais, como a possibilidade de dissoluções, a possibilidades

de outros tipos de uniões e o vínculo afetivo com a criança ao qual se valoriza pelo

afeto. A consequência seria a guarda dos filhos que passou a ser motivo de disputa

pelos pais, gerando muitas brigas entre os ex-companheiros.53

Maria Berenice diz que:

Com a nova formação dos laços familiares, os pais tornaram-se maisparticipativos e estão muito mais próximos dos filhos. E quando daseparação, desejam manter de forma mais estreita o convívio com eles. Nãomais se contentam com visitas esporádicas e fixadas de forma rígida. Abusca da mantença do vínculo parental mais estreito provoca reações dequem se sentiu preterido.54

Começa então um processo de ressentimentos e destruição, onde aquele

inconformado com a separação, insatisfeito com as condições econômicas, com um

sentimento de traição, abandono, rejeição deseja uma vingança. Com esta situação

os filhos tornam-se um instrumento de vingança, pois é a maneira mais forte que

possuem para atingir o outro e iniciar a sua desmoralização.55

52 BUOSI, op. cit., p.53.53 BUOSI, op. cit., p.53.54 DIAS, 2013, p.15.55 DIAS, op. cit., p.15.

30

Maria Berenice Dias fala que "como o momento é delicado com a dissolução

da união, os filhos ficam fragilizados, com sentimentos de orfandade psicológica".

Este é um terreno fértil para plantar a ideia de terem sido abandonados pelo genitor.

Acaba o guardião convencendo o filho de que o outro genitor não lhe ama. Faz com

que acredite em fatos que não ocorreram com o só instituído de levá-lo a afastar-se

de seu pai.56

O psiquiatra americano Richard Gardener, na década de 1980, denominou

esta manipulação de "síndrome de alienação parental". Onde a síndrome é definida

como distúrbio e alienação os atos que desencadeiam a campanha de desmoralização

do outro genitor. Como muitas vezes não é o guardião que aliena, usa-se a expressão

alienação parental.57

E muitas são as atitudes que o guardião faz para afastar o filho, como

dificultar as visitas, viajar para longe, alega compromissos, doenças, impede o acesso à

escola e o mais grave implantar falsas memórias. A criança é levada a odiar o pai e

acreditar que este lhe faz mal. Uma forma de maus tratos e abuso, pois as conse-

quências são graves no desenvolvimento da criança e do ex- parceiro afastado.58

4.2 O CONCEITO DA SÍNDROME DA ALIENAÇÃO PARENTAL

Maria Berenice Dias fala que:

A Síndrome de Alienação Parental foi definida pela primeira vez nosEstados Unidos e está, teoricamente, associada ao nome de RichardGardner (1987). Um pouco depois, foi difundida na Europa, a partir dascontribuições de F. Podevyn (2001), e despertou muito interesse nas áreasda psicologia e do direito, por se tratar de uma entidade ou condição que seconstrói na intersecção desses dois ramos do saber, ou seja, a PsicologiaJurídica, um novo território epistemológico que, consagrando amultidisciplinariedade, revela a necessidade do Direito e da Psicologia seunirem para a melhor compreensão dos fenômenos emocionais queenvolvem os atores processuais, no caso, aqueles que se encontram numprocesso de separação ou divórcio, incluindo os filhos.59

Richard Alan Gardner conceitua a SAP da seguinte forma:

É um distúrbio da infância que aparece quase exclusivamente no contextodas disputas de custódia de crianças. Sua manifestação preliminar é a

56 DIAS, 2013, p.15.57 DIAS, op. cit., p.16.58 DIAS, op. cit., p.16.59 DIAS, op. cit., p.22.

31

campanha denegritória contra um dos genitores, uma campanha feita pelaprópria criança e que não tenha nenhuma justificação. Resulta dacombinação das instruções de um genitor (o que faz a "lavagem cerebral,programação, doutrinação") e contribuições da própria criança para caluniaro genitor-alvo. Quando o abuso e/ou a negligência parentais verdadeirasestão presentes, a animosidade da criança pode ser justificada, e assim aexplicação de Síndrome de Alienação Parental para a hostilidade da criançanão é aplicável.60

Síndrome configura-se como um conjunto sistemático de procedimentos que

alienam o outro cônjuge, num manifesto prejuízo aos filhos. O interesse dos filhos

não é respeitado e, para o alienador, se for preciso desatendê-lo em detrimento do

próprio bem-estar dos filhos, essa condição à ele pouco importa, desde que seja útil

para danificar a cônjuge que se deseja alienar.61

Jorge Trindade define a Síndrome de Alienação Parental:

Como um transtorno psicológico que se caracteriza por um conjunto desintomas pelos quais um genitor, denominado cônjuge alienador, transformaa consciência de seus filhos, mediante diferentes formas e estratégias deatuação, com o objetivo de impedir, obstaculizar ou destruir seus vínculoscom o outro genitor, denominado cônjuge alienado, sem que existammotivos reais que justifiquem essa condição.62

Após a dissolução da sociedade conjugal é que se inicia este fenômeno da

Síndrome de Alienação Parental onde quem sofre é a criança em função dos problemas

do casal. É a consequência quando os adultos não separaram os problemas relacio-

nados à conjugalidade e parentalidade para resguardar os filhos.63

Silva acredita que:

A Síndrome da Alienação Parental advém de um sentimento doentio, naqual o indivíduo alienador tem dificuldade de ver o filho separadamente dapessoa dele própria, e cria maneiras de manter essa criança numa simbioseentre eles, dominando, oprimindo, superprotegendo e deixando a criançadependente de seus conselhos, ideais e atos.64

60 BUOSI, op. cit., p.59.61 TRINDADE, Jorge. Manual de psicologia jurídica para operadores do direito. Porto Alegre: Livraria

do Advogado 2004. p.179.62 DIAS, 2013, p.22.63 BUOSI, op. cit., p.52.64 SILVA, Denise Maria Perissinida. Guarda compartilhada e síndrome de alienação parental.

Campinas, SP: Armazém do Ipê, 2009. p.44.

32

Maria Berenice Dias fala que "a alienação traz consequências nefastas,

tanto em relação ao cônjuge como para o próprio alienador, mas seus efeitos mais

dramáticos recaem sobre os filhos".65

4.3 A ESTRUTURA DA LEI ALIENAÇÃO PARENTAL

A lei 12.318/10119, promulgada em 26 de agosto de 2010, dispõe sobre a

alienação parental, fenômeno este que tem interferido na formação psicológica da

criança ou do adolescente promovida ou induzida por um dos genitores ou por quem

detenha a guarda ou vigilância, para que este repudie o genitor prejudicando o

vínculo entre estes.

Ela vem para, assim como a Constituição Federal, o Estatuto da Criança e

do Adolescente e o Código Civil, proteger a criança e seus Direitos fundamentais,

preservando dentre vários direitos o seu convívio com a família, e a preservação

moral desta criança diante de um fato que por si só os atinge, a separação.

O Estado Brasileiro como signatário da Convenção Internacional sobre os

direitos da criança e preocupado em zelar para que a criança não seja afastada do

convívio dos pais, exceto em casos especiais, traz o conflito entre os genitores ao

Poder Judiciário como algo nocivo e em busca do melhor interesse da criança

procura soluções e condições para estas questões que envolvem as famílias.

A síndrome da alienação parental não é um fato novo, tanto na conjuntura

médica, como no universo jurídico. Mas infelizmente, muitos profissionais não

sabiam como proceder ao se depararem com casos os quais ela era causa de litígio,

muitas vezes, pelo simples fato de não conseguir identificá-la.

Sabe-se que a família é responsável pela formação, pelo desenvolvimento e

pelas relações dos indivíduos sendo ela de suma importância para a estruturação de

sua personalidade, tornado o direito de família uma área mais humana.66

A Lei da Alienação Parental torna-se uma tentativa formal de coibir familiares

a restringir o convívio adequado entre a criança e algum ente querido, mediante

interesses pessoais desse adulto, fazendo assim vigorar com mais efetividade o

65 DIAS, 2013, p.23.66 BUOSI, op. cit., p.113.

33

direito fundamental dos indivíduos envolvidos e buscando limitar autoridades parentais

inadequadas dos pais para na criação com seus filhos.67

A Lei 12.318/10 é resultado de um projeto de lei proposto pelo Deputado

Regis Fernandes de Oliveira, em 2008, tendo como auxílio o anteprojeto do juiz

Elizio Luiz Peres, sendo promulgado em 27/08/2010 pelo presidente da República, à

época Luiz Inácio Lula da Silva.68

Maria Berenice Dias dispõe que:

A aprovação da lei sobre a alienação parental ocorre em contexto dedemanda social por maior equilíbrio na participação de pais e mães naformação de seus filhos, deixando a família de ser uma mera unidade deprocriação e produção.69

O artigo 2.o desta lei conceitua a alienação parental como a interferência na

formação psicológica da criança ou do adolescente promovida ou induzida por um

dos genitores, pelos avós ou pelos que tenham a criança ou adolescente sob a sua

autoridade, guarda ou vigilância para que repudie genitor ou que cause prejuízo ao

estabelecimento ou à manutenção de vínculo com este.

O parágrafo único da lei elenca um rol exemplificativo de condutas que

podem ser constatadas pelo juiz por meio de perícia ou provas. Ajudando assim nas

soluções e poder viabilizar maior precisão nas decisões.

No artigo 3.o da lei fica resguardado o princípio constitucional da dignidade

humana, pois afasta o genitor, ou de qualquer outro parente importante para

formação psicológica da criança e adolescente, fere a dignidade do menor por estar

em processo de desenvolvimento e passa a ser manipulado pelas condutas de

alienação parental.70

Este artigo também trata da convivência familiar saudável que se encontrará

ferida diante de atos de alienação. Ao ofender a moral do indivíduo alienado, o

genitor alienante ofende os sentimentos da criança, vindo depois a influenciar em

seus comportamentos.

67 BUOSI, op. cit., p.116.68 BUOSI, op. cit. p.116.69 DIAS, 2013, p.41.70 BUOSI, op. cit., p.123.

34

O artigo 4.o faz menção a normas processuais nas quais a ação de

julgamento de alienação parental pode ser uma ação ordinária autônoma, em vias

próprias ou pode ser requerida a averiguação dessa prática quando algum outro

processo interligado já esteja em curso, dizendo-se incidental, tais como uma ação

de guarda, regulamentação de visitação ou separação.71

O rol de medidas do artigo 6.o é para eliminar ou diminuir os efeitos da

alienação parental, providências elencadas e previstas no ordenamento jurídico

podendo estas serem utilizadas em prática e assim tentar preservar o equilíbrio e a

qualidade de vida do psicológico da criança e do adolescente. Por fim, o parágrafo

único do artigo 6.o da Lei 12.318 alude às mudanças abusivas de residência, com o

intuito de obstruir ou tornar inviável o convívio familiar com o genitor alienado.

Nesses casos, conforme disposto, o juiz poderá "inverter a obrigação de levar

ou retirar a criança ou o adolescente da residência do genitor, por ocasião das

alternâncias dos períodos de convivência familiar.72 Os demais artigos da Lei, o 7.o e o

8.o, "vêm para dar arremate às medidas previstas", conforme Hugo, Pires e Coelho.73

A Lei 12.318/2010 veio para "alentar as famílias" que sofrem com a

Alienação Parental e também para "conferir ao Poder Judiciário maior credibilidade

na aplicação da Lei, haja vista que as demandas envolvendo casos com esta

problemática crescem expressivamente e necessitam de instrumento legal".74 Após

o exame da nova legislação e das suas medidas para sancionar os casos de

Alienação Parental, cabe analisar sua efetividade nos casos concretos através da

apreciação das decisões judiciais.

4.4 A LEI E O TRABALHO DOS PROFISSIONAIS

Os casos de alienação parental são de difícil aferição, principalmente pelo

magistrado, haja vista que sua área de formação não é especializada nesse ramo de

perícia. Assim o artigo 6.o da lei de alienação parental prevê os requisitos objetivos e

subjetivos para os procedimentos de perícia psicológica ou biopsicossocial, que

71 BUOSI, op. cit., p.125.72 BUOSI, op. cit., p.136.73 HUGO, Pamela Silveira; PIRES, Daniela de Oliveira; COELHO, Elizabete Rodrigues. Síndrome da

Alienação Parental: impactos no âmbito judicial e psicológico. In: Temas críticos em direitos. v.1.Guaíba, RS : Editora Sob Medida, 2011. p.192.

74 BUOSI, op. cit., p.139.

35

podem ser realizadas por profissionais ou equipe multidisciplinares habilitadas para

o diagnostico, sendo que a legitimidade para requerer tal perícia cabe ao juiz de

ofício ou a pedido do ministério público.75

Nos casos de indício de Alienação Parental, Teixeira diz que "o trabalho do

psicólogo perito consiste na realização de entrevistas individuais e conjuntas, com

possibilidade de aplicação de testes quando necessário, com todas as partes

envolvidas". Isso é feito com o intuito de "avaliar a existência e/ou a extensão do

dano causado, bem como a estrutura da personalidade dos mesmos".76 O examinador

deve investigar a verdade do contexto exposto a ele, pois cada caso é único e deve

ser analisado de maneira criteriosa.

O trabalho dos profissionais especializados torna-se importante neste

momento para colher dados importantes e dar entendimento ao caso concreto para

que o juiz tenha um respaldo em sua decisão mesmo que esta não esteja vinculada

a perícia realizada.

A lei estabelece requisitos mínimos para assegurar razoável consistência ao

laudo, no qual com o trabalho do profissional diferencie-se nos casos concretos

quando forem hipóteses de negligência ou de real abuso de falsas acusações. A

perícia psicológica no processo é feita através de um conjunto de procedimentos

técnicos com a finalidade de esclarecer um fato para a justiça.77

Maria Berenice Dias comenta que:

Torna-se importante para que o judiciário possa intervir de imediato,aplicando medidas para atenuar ou inibir os efeitos dos atos da alienaçãoparental. A perícia seria o meio "tradutor" da realidade infantil para oprocesso judicial, de modo que o aplicador possa, a partir dessaidentificação interdisciplinar, verificar a alternativa que efetivamente protejaa criança. A intervenção de um profissional da área psíquica é de grandeauxílio para resolver litígios de forma menos danosa às partes envolvidas.78

Porém, mesmo que o juiz não siga a sequência necessariamente fixa na lei

ou no trabalho dos profissionais este analisará o caso concreto que determinará a

75 BUOSI, op. cit., p.128.76 TEIXEIRA, Ana Carolina Brochado; BENTZEEN, Ana Luiza Capanema Bahia Von. Síndrome da

alienação parental. In: ZIMERMAN, David; COLTRO, Antônio Carlos Mathias (Org.). Aspectospsicológicos na prática júridica. 3.ed. Campinas, SP: Milennium, 2006. p.412-3.

77 BUOSI, op. cit., p.129.78 DIAS, 2013, p.50.

36

medida e adaptação que se acredite ser necessária em determinada situação,

mesmo que possa aplicá-la cumulativamente.79

4.5 O ALIENADOR

O discurso do alienador sempre é no sentido de que está pensando no

melhor para a criança, com um discurso para continuar manipulando a situação e

com verbalizações que levam a crer que realmente está preocupado em manter seu

filho próximo ao genitor.

Podevyn elenca algumas características que ajudam a identificar o alienador

como:

o esquecimento, não passar recados, ficar ao telefone quando a criançaestá com a outra parte, dizer que sente-se sozinho quando a criança sai decasa, fazer o passeio preferido da criança no dia em que esta irá visitar ooutro genitor, apresentar o namorado(a) ao filho como novo pai ou novamãe, ridicularizar os presentes que a criança ganha do outro.80

E outros estudiosos ainda trazem outras situações como não passar um

recado ou ligação telefônica, interceptar mensagens ou redes sociais, desvalorizar o

outro genitor, impedir as visitas, culpar o outro genitor pelo mau comportamento da

criança, entre outros.81

O genitor alienante não se intimida pelas determinações judiciais, pois pensa

que os seus conceitos a respeito do melhor para seus filhos estão acima de qualquer

opinião profissional sobre o assunto.

Este comportamento do alienador geralmente não advém apenas da

separação conjugal, mas de uma estrutura psíquica controladora, ansiosa, instável

que se tornam mais visíveis no momento de instabilidade emocional. Tendo em vista

que os humanos são seres individuais e únicos no mundo, encontram cada um a

seu jeito as mais variadas facetas para sobreviver diante das dificuldades que

encontram no percurso de suas vidas.82

79 BUOSI, op. cit., p.136.80 BUOSI, op. cit., p.80.81 BUOSI, op. cit., p.85.82 BUOSI, op. cit., p.86.

37

Maria Berenice Dias diz que "por isto a Síndrome de Alienação Parental

exige uma abordagem terapêutica específica para cada uma das pessoas envolvidas,

havendo a necessidade de atendimento da criança, do alienador e do alienado".83

4.6 AS CONSEQUÊNCIAS DA SÍNDROME DA ALIENAÇÃO PARENTAL

Segundo a sistematização de Gardner,

uma criança vítima de Alienação Parental, à primeira vista, pode nãoapresentar nenhum sintoma psicopatológico, estando bem adaptada àescola e integrada socialmente. Geralmente, ela apresenta dificuldades nomomento da visita do genitor alienado, recusando-se a sair com ele, semnenhuma razão ou por razões inteiramente fantasiosas, como o medoinfundado de ser maltratada pelogenitor. Quando concorda com a visita,costuma apresentar justificativas que sabe que agradarão ao genitoralienador, como a obtenção de dinheiro, que coloca como único motivo parao "sacrifício"; e, na volta, relata apenas o que não lhe foi aprazível.

A personalidade do indivíduo forma-se no decorrer para seu desenvolvimento

composto por fatores emanados de muitas fontes, porém no decorrer da vida os

riscos e ameaças a sua integridade, fatores psíquicos principalmente na infância ou

adolescência fragilizam a estrutura para uma boa formação da subjetividade.84

O afeto torna-se indispensável para construção da psíquica pessoal.

Groeninga diz que "o amor não é uma qualidade instintiva, mas que depende da

aprendizagem de pautas relacionais, da convivência e dos exemplos que fazem sua

inscrição no psiquismo".85

Quando a criança é envolvida em situações de Síndrome da Alienação

Parental apresenta vários comportamentos e sentimentos que geram prejuízos ao

desenvolvimento de sua personalidade, como baixa estima, culpa, insegurança,

depressão, medo, entre outros. Toda esta situação gera transtornos de personalidade

e de condutas graves na fase adulta. A SAP pode ser graduada em estágios, a

saber, leve, moderado e grave.

Richard Gardner, o psiquiatra que primeiro nomeou e sistematizou a Alienação

Parental, apresentou uma descrição detalhada dos comportamentos das crianças e

genitores alienadores, a fim de orientar os profissionais das diversas áreas nesta

83 DIAS, 2013, p.25.84 BUOSI, op. cit., p.87.85 GROENINGA, Giselle Câmara. O direito à integridade psíquica e o livre desenvolvimento da

personalidade. V Congresso Brasileiro de Direito de Família. São Paulo: IOB Thomson, 2006. p.447.

38

tarefa. Estabeleceu então os três estágios de desenvolvimento da alienação, de

acordo com o êxito que os esforços do alienador tiveram sobre o filho, sugerindo a

forma de tratamento adequada para cada um deles.86

No estágio leve, a criança se sente constrangida somente no momento em

que os pais se encontram, afastado do guardião, a criança mantém um relacionamento

normal com o outro genitor.Já no estágio moderado, a criança apresenta-se indecisa

e conflituosa nas suas atitudes, sendo que em certos momentos já mostra sensi-

velmente o desapego ao não guardião. E no estágio grave, a criança apresenta-se

doente, perturbada ao ponto de compartilhar todos os sentimentos do guardião, não

só escutando as agressividades dirigidas ao não guardião como passa a contribuir

com a desmoralização do mesmo, as visitas nesse estágio são impossíveis.87

Em idade de zero a cinco anos os principais sintomas são o choro excessivo,

irritabilidade extrema, regride nos seus comportamentos superados, apresenta

alterações no sono e alimentação e tem apego excessivo em quem confia. Quando a

criança tem entre seis e doze anos os sintomas mais frequentes é o baixo rendimento

escolar, dificuldade em relacionar-se com outros colegas, agressividade e vergonha

em falar de questões relacionadas ao corpo. Após os doze anos, já na adolescência os

sintomas são a timidez, baixa autoestima, uso de drogas e álcool, distúrbios no sono,

dificuldades escolares e até mesmo contatos sexuais excessivos ou inadequados.88

Como se nota, são muitos os problemas causados às vítimas de Alienação

Parental. Por isso, o ideal é que se faça de tudo para evitá-la e, caso isso não seja

possível, devem ser tomadas as medidas judiciais necessárias para que ela cesse e

que se retome o vínculo com o genitor alienado.

4.7 O TRATAMENTO DA SÍNDROME DA ALIENAÇÃO PARENTAL

Torna-se necessário identificar a Síndrome de Alienação Parental o quanto

antes com informações identificadas conforme cada caso, para depois reconhecer

que ela demanda um tratamento especial e uma intervenção imediata. Pois, a

Síndrome de Alienação Parental exige uma abordagem terapêutica específica para

86 BUOSI, op. cit., p.89.87 GUILHERMANO, Juliana Ferla. Alienação parental: aspectos jurídicos e psíquicos. Disponível em:

<http://www3.pucrs.br/pucrs/files/uni/poa/direito/graduacao/tcc/tcc2/trabalhos2012_1/juliana_guilhermano>. Acesso em: 5 abr. 2014.

88 BUOSI, op. cit., p.88.

39

cada uma das pessoas envolvidas, havendo a necessidade de atendimento da

criança, do alienador e do alienado.89

Silva defende que:

a única maneira eficiente de realizar o tratamento para SAP é o afastamentotemporário do alienador com a criança e o tratamento deste, paragradativamente, com o progresso do tratamento, o alienador ser reiteradona vida dos envolvidos.90

Mas avalia-se como um posicionamento extremista, pois estaria então

prejudicando o melhor interesse da criança, que romperia os laços afetiva sendo

uma ruptura abrupta do menor e do alienador.91

Nos casos em que o estágio alienatório seja leve, o mais recomendável é a

mediação, meio extrajudicial de resolução de conflitos em que as partes buscam o

diálogo com instrumento eficaz para se chegar a um senso comum, no caso em tela,

como se chegar ao melhor interesse da criança. Entretanto, flagrada a presença da

SAP e o menor apresentando-se num quadro clínico mais grave, é indispensável à

intervenção judicial para que, além de tentar reestruturar a relação do filho com o

não guardião, imponha ao genitor guardião a responsabilização pelas atitudes de

violência emocional contra o filho e contra o outro genitor.92

O tratamento se dá basicamente por meio da psicoterapia, porque uma

intervenção na criança pode com o tempo fazer com que ela possa ir superando

fatos que lhe fazem mal e continuar numa construção saudável de sua identidade,

afastando do risco da mesma vir a desenvolver alguma patologia. Nãos deixando de

lado a tentativa de uma reaproximação do genitor vítima junto a seu filho. Também

deve ser aplicada psicoterapia ao genitor alienante, isto se dá através de mandado

judicial e funciona como parte da pena daquele que utiliza de má fé os sentimentos

de seus filhos.93

Por isso a Lei da Alienação Parental aparece como uma tentativa de

prevenção dessa síndrome, discutindo e encontrando formas de inibir essa prática

89 DIAS, 2013, p.25.90 SILVA, op. cit., p.89.91 BUOSI, op. cit., p.95.92 FONSECA, Priscila Maria Pereira Corrêa da. Síndrome de alienação parental. 2006. Disponível

em: <http://pediatriasaopaulo.usp.br/upload/html/1174/body/03.htm> Acesso em: 5 abr. 2014.93 FONSECA, op. cit.

40

tão grave e infelizmente comum, além de buscar soluções adequadas a cada caso

familiar em concreto.94

A lei dirige-se desde os atos abusivos mais leves, passíveis de ser inibidos

por advertência judicial, até os mais graves, que recomendariam a suspensão da

autoridade parental e acompanhamento psicológico.95

4.8 A DIFERENÇA ENTRE SAP E ALIENAÇAO PARENTAL

A Síndrome de Alienação Parental não se confunde com a mera alienação

parental, assim destaca Fonseca:

A alienação parental é o afastamento do filho de uns dos genitores,provocado pelo outro, via de regra, o titular da custodia. E a síndrome daalienação parental, diz ‘respeito às seqüelas emocionais e comportamentaisde que vem a padecer a criança vítima daquele alijamento.96

A Lei número 12.318/2010 da Alienação Parental prevê medidas que vão

desde o acompanhamento psicológico, até a aplicação de multa, ou mesmo a perda

da guarda da criança a pais que estiverem alienando os filhos a qual define assim a

alienação parental:

Art. 2.o Considera-se ato de alienação parental a interferência na formaçãopsicológica da criança ou do adolescente promovida ou induzida por um dosgenitores, pelos avós ou pelos que tenham a criança ou adolescente sob asua autoridade, guarda ou vigilância para que repudie genitor ou que causeprejuízo ao estabelecimento ou à manutenção de vínculos com este.

Entende-se então a síndrome de alienação parental (SAP), ao contrário da

AP, só se faz presente quando a criança passa a nutrir sentimento de repulsa ao

genitor alienado, a recusar-se a vê-lo e, ainda por cima, a contribuir na campanha

difamatória contra ele. Portanto, a SAP nada mais é do que resultado de AP severa,

sendo considerado um subtipo de alienação parental.97

94 BUOSI, op. cit., p.58.95 DIAS, 2013, p.58.96 FONSECA, op. cit.97 BARROS, Gabriela dos Santos. Revista Ãmbito Jurídico. Disponível em: <http://www.

ambitojuridico.com.br/site/index.php/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=12243&revista_caderno=14>. Acesso em: 26 mar. 2014.

41

De acordo com Ullmann a "Síndrome da Alienação Parental é uma arma de

tortura psicológica usada para satisfazer o desejo de vingança do guardião em

relação ao ente alienado".98

Assim, a síndrome refere-se à conduta do filho, enquanto a alienação parental

relaciona-se com o processo desencadeado pelo progenitor. Quando o abuso ou

negligência parental por parte do suposto genitor alienado, de fato, estão presentes,

a explicação de síndrome de alienação parental para a hostilidade da criança não

é aplicável.

Marlina Cunha Tosta diz que:

A Síndrome resulta das técnicas e procedimentos (involuntários ou não)utilizados pelo guardião para atingir o resultado final, qual seja oafastamento completo entre ambos. Identificando-se com seu guardião eacreditando em tudo o que lhe é contado, a criança alienada passa então arejeitar e repelir todo e qualquer tipo de contato com o outro genitor, semqualquer justificativa.99

Se esse processo patológico, ainda não tiver dado lugar à instalação da

síndrome, será possível a reversão com o concurso de terapia e auxílio do Poder

Judiciário, e o restabelecimento das relações com o genitor alienado. Já a síndrome,

segundo as estatísticas divulgadas por Darwall, somente cede, durante a infância

em 5% dos casos.100

Existem muitas críticas acerca da alienação parental, tanto por especialistas

na área da saúde como no judiciário pelo fato em que a SAP ainda não foi reconhecida

por nenhuma associação profissional nem científica, por não estar incluída no DSM-IV

ou no CID-10, com a argumentação de que ainda faltam bases empíricas de pesquisa e

que pode ser caracterizado um instrumento de fraude pseudocientífica, gerando

situações de risco a criança e de suas mães.101

Muitas são as críticas às quais devem ser analisadas, pois, não há negação

absoluta da síndrome, na medida em que existem muitos estudos que demonstram

serem verídicos e um problema que atingem milhares de famílias.

98 CRUZ, op. cit.99 TOSTA, Marlina Cunha. Síndrome de alienação parental: a criança, a família e a lei. Disponível

em: <www3.pucrs.br/pucrs/files/uni/.../marlina_tosta.pdf>. Acesso em: 06 abr. 2014.100 CRUZ, op. cit.101 BUOSI, op. cit., p.64.

42

No Brasil não se trata especificamente de Síndrome da Alienação Parental,

e sim, do comportamento de Alienação Parental, ação essa anterior à instalação

da síndrome.

Mas o objetivo principal é realizar um diagnóstico correto, não enquadrando

qualquer situação, mas resguardar os vínculos parentais saudáveis, que devem ser

respeitados independentemente dos interesses ou desinteressados dos ex-cônjuges.102

4.9 IMPLATAÇÃO DE FALSAS MEMÓRIAS

Maria Berenice Dias, em seu artigo Falsas Memórias, descreve como a

implantação de memórias tem início:

O filho é convencido da existência de um fato e levado a refletir o que lhe éafirmado como tendo realmente acontecido. Nem sempre conseguediscernir que está sendo manipulado e acaba acreditando naquilo que lhefoi dito de forma insistente e repetida. Com o tempo, nem o genitor distinguemais a diferença entre verdade e mentira. A sua verdade passa a serverdade para o filho, que vive com falsas personagens de uma falsaexistência, implantando-se, assim, falsas memórias.103

Quando em um estágio mais grave, a criança passa a repetir o que lhe é

afirmado pelo genitor alienador como se aquilo realmente tivesse acontecido. Ocorre

então à implantação de falsas memórias, e os próprios filhos podem ficar num

estado de ansiedade, medo e pânico tão grande que somente a possibilidade de

visitar o outro genitor alienado leva-os a gritar e agir agressivamente perante o

contato com ele, mesmo que não tenha motivo adequado.104

A corrente teórica do Behaviorismo revolucionou o estudo da memória e do

aprendizado, onde a memória não é alguma lembrança que se instala no inconsciente

e sim, é produto de uma metáfora cognitiva ou uma estrutura hipotética, de forma

que as experiências são armazenadas intencionais sobre as situações podem ser

acessadas posteriormente.105

As falsas memórias podem surgir espontaneamente, por meio de confusões

não intencionais sobre a situação vivenciada ou até mesmo as implantadas e

102 BUOSI, op. cit., p.65.103 DIAS, Maria Berenice. Falsas memórias. Disponível em: <http://revistapersona.com.ar/Persona

54/54PPEDias.htm>. Acesso em: 20 mar. 2014.104 BUOSI, op. cit., p.66.105 BUOSI, op. cit., p.66.

43

sugeridas. Entende-se então que as falsas memórias são um fenômeno no qual o

indivíduo se lembra de algo de forma distorcida do que houve na realidade ou, até

mesmo, se lembra de um evento, situações ou lugares que nunca existiram.106

Atualmente existem algumas variáveis que interferem na suscetibilidade e

essas falsas memórias como o intervalo de tempo entre a informação falsa e o

evento passado, ou seja, a época que aconteceu vai enfraquecendo dando margem

ao efeito da informação errada; o estado de consciência do indivíduo; quanto mais

nova a criança mais fácil implantar uma informação falsa.107

A neurociência cognitiva postula que existe uma relação do córtex frontal e

as falsas memórias, a partir dos estudos realizados. Pois a região central também

seria responsável pela produção de falsas memórias.108

O importante é analisar o contexto da situação de litígio judicial entre os pais

e a necessidade de examinar com cuidado os fatores alegados pela vítima, os

fatores de memória, os fatores relacionados ao terapeuta/examinador, as influências

externas e os padrões de evidência.109

4.10 A INTERVENÇÃO JURÍDICA

Uma atual questão social, muito presente no dia-a-dia da sociedade, através

de suas particularidades comuns, é a Alienação Parental. A problemática social

consiste em um distúrbio mental que está diretamente atrelado à alienação que pais,

parentes e tutores. Por força do surgimento de demandas judiciais que se encontram

no âmbito da justiça de família, já que se trata de uma relação de parentesco.110

O assunto é relevante e se dá entre os profissionais de diversas áreas, como

a psicologia jurídica, direito, e em especial, o serviço social, na defesa dos direitos

das crianças e dos adolescentes e da família.

Cabe ressaltar, também, que, além dessa tríade de direitos de suma impor-

tância à vida do infante, o Estatuto da criança e adolescente estabelece em seu

106 BUOSI, op. cit., p.67.107 BUOSI, op. cit., p.75.108 BUOSI, op. cit., p.76.109 DIAS, 2013, p.140.110.LIMA, Carmem Tassiany Alves de. Síndrome alienação parental um novo enfrentamento.

Disponível em: <http://www.ambitojuridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=11079&revista_caderno=12>. Acesso em: 20 mar. 2014.

44

art. 7.o, sobre o direito a vida e a saúde. Decorre deste fato que o direito à vida,

normatizado pelo ECA, compreende muito mais do que a sua preservação. Este

direito tem por objetivo garantir o direito à integridade física e psíquica - o que veda a

prática de torturas, maus-tratos, penas degradantes, direito à vida privada, à intimidade,

à imagem, ou seja, visualiza a conservação da existência de uma forma plena e

sustentável: o direito a uma vida digna.111

Quando um dos pais observa que o comportamento e a maneira de agir do

filho em relação a ele mudaram de forma a demonstrar sinais de alienação parental,

o progenitor alienado deve requerer a um advogado o encaminhamento ao Centro

de Apoio Psicossocial do Tribunal de Justiça, responsável por analisar as acusações.

Identificado o processo de Alienação Parental, é fundamental que o Poder

Judiciário anule seu desenvolvimento, evitando, assim, que a síndrome se estabeleça.

É de suma importância que os juízes estejam atentos aos sinais da alienação

parental e que, nesses casos, exijam, com urgência máxima, rígida perícia psicossocial

(o exame psicológico e psiquiátrico das partes envolvidas).112

O juiz pode estipular as providências imprescindíveis à proteção da criança

ou do adolescente vítima de AP, visando uma aproximação da criança com o genitor

alienado, e evitar que o alienante tenha sucesso no processo de alienação.

As providências judiciais a serem adotadas dependerão do grau em que se

encontra o estágio da alienação parental. Assim, poderá o juiz ordenar a realização

de terapia familiar, determinar o cumprimento do regime de visitas estabelecido em

favor do genitor alienado, valendo-se se necessário, da medida de busca e apreensão,

condenar o genitor alienante ao pagamento de multa diária, enquanto perdurar a

resistência às visitas ou à prática que enseja a alienação, alterar a guarda do menor,

principalmente quando o genitor alienante apresentar conduta que se possa reputar

como patológica, determinando, ainda que as visitas sejam realizadas de forma

supervisionada.113 Caberá então ao juiz fazer com que o processo tramite priorita-

riamente com as medidas para preservar a integridade psicológica da criança.

A Lei 12.318/10 é uma tentativa de combater também a morosidade judicial,

que muitas vezes afasta pais e filhos, na medida em que há uma previsão legal para

111 LIMA, op. cit.112 DIAS, 2013, p.128.113 LEÇA, Laíse Nunes Mariz. Aspectos legais, jurisprudenciais e doutrinários da alienação parental.

Disponível em: <http://www.ambitojuridico.com.br/site/index.php/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=12243&revista_caderno=14>. Acesso em: 26 mar. 2014.

45

que o processo tramite mais rapidamente do que os outros, quando comprovada a

alienação parental.

As medidas de proteção previstas no artigo 129 do Estatuto da Criança e do

Adolescente já são inseridas no ordenamento jurídico pela jurisprudência ajudando o

juiz a atuar com efetividade e adotar a solução concreta mais adequada a cada caso

de alienação parental.114

A informação talvez seja o primeiro instrumento para prevenir a ocorrência

da alienação, principalmente após o genitor potencialmente alienador saber das

sanções às quais está sujeito caso se comporte de determinada maneira.115

De acordo com o art. 4.o da Lei 12.318, constatado indício da prática

alienadora, advogados, promotores, assistentes sociais, psicólogos podem requerer

ao juiz – e este pode instaurar de ofício – procedimento para apurar a existência da

alienação parental. A finalidade desta legitimidade extensiva é preservar a integridade

psicológica do menor e o direito à convivência familiar com o genitor alienado.116

Tendo em vista a complexidade dos casos que envolvem a alienação

parental e a preciosidade do bem jurídico violado, qual sejam, a dignidade e a

integridade psicofísica de crianças e adolescentes, é fundamental que a atuação de

todos os operadores do direito, do Estado, da família e da sociedade, seja preventiva e

prospectiva. Mais do que detectar atos de alienação parental e punir tais condutas, é

imperioso que todos se conscientizem da gravidade deste comportamento, assumindo

postura no sentido de evitar estas práticas lesivas que agridem de forma tão cruel

nossa população infanto-juvenil.117

114 DIAS, 2013, p.58.115 DIAS, 2013, p.130.116 BUOSI, op. cit., p.124.117 BUOSI, op. cit., p.152.

46

CONCLUSÃO

Muitas são as transformações ocorridas na sociedade ao longo destes anos

e principalmente após a Constituição Federal de 1988, que além de valorizar o ser

humano valoriza também a criança antes um ser sem direitos definidos.

A criança e adolescente hoje no direito estão protegidas não só na Cons-

tituição Federal de 1988 e no Estatuto da Criança e adolescente como também

agora com a Lei da Alienação Parental.

Medidas importantes, pois, nota-se na sociedade que por estarem em

desenvolvimento psicológico e crescimento estão mais vulneráveis aos transtornos

psicológicos daqueles que estão a sua volta e que deveriam estes protegê-los, mas

que por interesses pessoais após a desconstituição do vínculo conjugal usam estes

para alcançarem seus objetivos.

Como estamos em uma sociedade e para o próprio bem desta torna-se

necessário à intervenção não só do Estado, mas de todos que de alguma maneira

nestas situações possam contribuir para um equilíbrio nas convivências trazendo

menos prejuízos psicológicos e emocionais para o menor.

A Lei da Alienação vem não só para informar, coibir e punir, mas, também

como um instrumento para ajudar os profissionais e o judiciário com meios legais

podendo intervir da melhor forma possível.

Muito se estuda ainda em relação ao tema, pois sabemos da sua importância e

necessidade de prevenção, informação na sociedade que não pode mais aceitar estes

comportamentos doentios, tomando as medidas necessárias para assegurar a proteção

do menor. E em meio a tantas transformações sociais os valores e costumes muitas

vezes estão sendo deixados de lado para uma cultura sem compromissos, sem

preocupações com o indivíduo acarretando muitos problemas sociais que vivemos hoje.

Torna-se necessário discutirmos tais comportamentos e ações tanto no direito

quanto em todas as profissões relacionadas ao menor para que os problemas como a

alienação parental sejam identificados e a sua prevenção seja o melhor caminho, pois

devemos respeitar e dar condições de pessoa em desenvolvimento ao menor.

47

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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ. Normas técnicas: elaboração eapresentação de trabalho acadêmico-científico. 3.ed. rev. atual. Curitiba: UTP, 2012.

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ANEXO - LEI N.o 12.318, DE 26 DE AGOSTO DE 2010

Presidência da RepúblicaCasa CivilSubchefia para Assuntos Jurídicos

LEI N.o 12.318, DE 26 DE AGOSTO DE 2010.

Mensagem de veto

Dispõe sobre a alienação parental e altera o art. 236 da Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono aseguinte Lei:

Art. 1.o Esta Lei dispõe sobre a alienação parental.

Art. 2.o Considera-se ato de alienação parental a interferência na formação psicológica da criança oudo adolescente promovida ou induzida por um dos genitores, pelos avós ou pelos que tenham acriança ou adolescente sob a sua autoridade, guarda ou vigilância para que repudie genitor ou quecause prejuízo ao estabelecimento ou à manutenção de vínculos com este.

Parágrafo único. São formas exemplificativas de alienação parental, além dos atos assim declaradospelo juiz ou constatados por perícia, praticados diretamente ou com auxílio de terceiros:

I - realizar campanha de desqualificação da conduta do genitor no exercício da paternidade oumaternidade;

II - dificultar o exercício da autoridade parental;

III - dificultar contato de criança ou adolescente com genitor;

IV - dificultar o exercício do direito regulamentado de convivência familiar;

V - omitir deliberadamente a genitor informações pessoais relevantes sobre a criança ou adolescente,inclusive escolares, médicas e alterações de endereço;

VI - apresentar falsa denúncia contra genitor, contra familiares deste ou contra avós, para obstar oudificultar a convivência deles com a criança ou adolescente;

VII - mudar o domicílio para local distante, sem justificativa, visando a dificultar a convivência dacriança ou adolescente com o outro genitor, com familiares deste ou com avós.

Art. 3.o A prática de ato de alienação parental fere direito fundamental da criança ou do adolescentede convivência familiar saudável, prejudica a realização de afeto nas relações com genitor e com ogrupo familiar, constitui abuso moral contra a criança ou o adolescente e descumprimento dosdeveres inerentes à autoridade parental ou decorrentes de tutela ou guarda.

Art. 4.o Declarado indício de ato de alienação parental, a requerimento ou de ofício, em qualquermomento processual, em ação autônoma ou incidentalmente, o processo terá tramitação prioritária, eo juiz determinará, com urgência, ouvido o Ministério Público, as medidas provisórias necessáriaspara preservação da integridade psicológica da criança ou do adolescente, inclusive para assegurarsua convivência com genitor ou viabilizar a efetiva reaproximação entre ambos, se for o caso.

Parágrafo único. Assegurar-se-á à criança ou adolescente e ao genitor garantia mínima de visitaçãoassistida, ressalvados os casos em que há iminente risco de prejuízo à integridade física oupsicológica da criança ou do adolescente, atestado por profissional eventualmente designado pelojuiz para acompanhamento das visitas.

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Art. 5.o Havendo indício da prática de ato de alienação parental, em ação autônoma ou incidental, ojuiz, se necessário, determinará perícia psicológica ou biopsicossocial.

§ 1.o O laudo pericial terá base em ampla avaliação psicológica ou biopsicossocial, conforme o caso,compreendendo, inclusive, entrevista pessoal com as partes, exame de documentos dos autos,histórico do relacionamento do casal e da separação, cronologia de incidentes, avaliação dapersonalidade dos envolvidos e exame da forma como a criança ou adolescente se manifesta acercade eventual acusação contra genitor.

§ 2.o A perícia será realizada por profissional ou equipe multidisciplinar habilitados, exigido, emqualquer caso, aptidão comprovada por histórico profissional ou acadêmico para diagnosticar atos dealienação parental.

§ 3.o O perito ou equipe multidisciplinar designada para verificar a ocorrência de alienação parentalterá prazo de 90 (noventa) dias para apresentação do laudo, prorrogável exclusivamente porautorização judicial baseada em justificativa circunstanciada.

Art. 6.o Caracterizados atos típicos de alienação parental ou qualquer conduta que dificulte a convivênciade criança ou adolescente com genitor, em ação autônoma ou incidental, o juiz poderá, cumulativamenteou não, sem prejuízo da decorrente responsabilidade civil ou criminal e da ampla utilização deinstrumentos processuais aptos a inibir ou atenuar seus efeitos, segundo a gravidade do caso:

I - declarar a ocorrência de alienação parental e advertir o alienador;

II - ampliar o regime de convivência familiar em favor do genitor alienado;

III - estipular multa ao alienador;

IV - determinar acompanhamento psicológico e/ou biopsicossocial;

V - determinar a alteração da guarda para guarda compartilhada ou sua inversão;

VI - determinar a fixação cautelar do domicílio da criança ou adolescente;

VII - declarar a suspensão da autoridade parental.

Parágrafo único. Caracterizado mudança abusiva de endereço, inviabilização ou obstrução à convivênciafamiliar, o juiz também poderá inverter a obrigação de levar para ou retirar a criança ou adolescente daresidência do genitor, por ocasião das alternâncias dos períodos de convivência familiar.

Art. 7.o A atribuição ou alteração da guarda dar-se-á por preferência ao genitor que viabiliza a efetivaconvivência da criança ou adolescente com o outro genitor nas hipóteses em que seja inviável aguarda compartilhada.

Art. 8.o A alteração de domicílio da criança ou adolescente é irrelevante para a determinação dacompetência relacionada às ações fundadas em direito de convivência familiar, salvo se decorrentede consenso entre os genitores ou de decisão judicial.

Art. 9.o (VETADO)

Art. 10. (VETADO)

Art. 11. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

Brasília, 26 de agosto de 2010; 189.o da Independência e 122.o da República.

LUIZ INÁCIO LULA DASILVA

Luiz Paulo Teles Ferreira Barreto

Paulo de Tarso Vannuchi

José Gomes Temporão

Este texto não substitui o publicado no DOU de 27.8.2010 e retificado no DOU de 31.8.2010