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Apresentação Busco-me em você, caro leitor, esperando que em mim, você encontre alguma afinidade. Tenho aprendido, ao longo da minha existência, que a nossa vida é um constante somatório: em nós estão contidos o bebê, a criança, o adolescente que fomos e o adulto que somos; que todas as pessoas – boas ou más – que passaram e passam por nós são nossos mestres; que as dores, erros, sofrimentos e mágoas que se alternaram às alegrias e tristezas, êxitos e fracassos, vivenciados em cada etapa da nossa jornada, representam o fole, a bigorna e o martelo ... Utilizados pelo Artífice da Vida, foram forjando a nossa personalidade e o nosso caráter, fazendo-nos despertar para a necessidade de tomarmos consciência de que o nosso eu, castrado por crenças atávicas e limitativas, pode ser trabalhado para que venham à luz as nossas reais possibilidades que jazem adormecidas nos porões da descrença ou da desilusão, aguardando o seu despertamento para alcançar a sua plenitude. Reconhecendo que a linguagem de Deus é a poesia expressa na perfeição do Universo, tenho procurado estar atenta ao mundo à minha volta e descobri que um simples livro pode ser tanto um farol a nortear rumos, quanto uma estrela a nos alertar sobre a necessidade de nos voltarmos para o Divino que existe em nós... ou, quiçá, uma simples abelhinha ou um multicolorido colibri, a sugar o néctar das flores para, em se alimentando, contribuir através da polinização com a perenização da vida ... Acredito, pois, que não importa em que estágio da nossa jornada estejamos, o nosso futuro está sendo escrito agora. Assim, cada momento da nossa vida pode ser um novo ponto de partida, na nossa incansável trajetória em busca do Amor e da Paz! Salvador, 29 de março de 2001 Eliza Teixeira de Andrade 15

Sinfonia Da Vida

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Page 1: Sinfonia Da Vida

ApresentaçãoBusco-me em você, caro leitor, esperando que em mim, você

encontre alguma afinidade. Tenho aprendido, ao longo da minha existência, que a nossa

vida é um constante somatório: em nós estão contidos o bebê, a criança, o adolescente que fomos e o adulto que somos; que todas as pessoas – boas ou más – que passaram e passam por nós são nossos mestres; que as dores, erros, sofrimentos e mágoas que se alternaram às alegrias e tristezas, êxitos e fracassos, vivenciados em cada etapa da nossa jornada, representam o fole, a bigorna e o martelo ...

Utilizados pelo Artífice da Vida, foram forjando a nossa personalidade e o nosso caráter, fazendo-nos despertar para a necessidade de tomarmos consciência de que o nosso eu, castrado por crenças atávicas e limitativas, pode ser trabalhado para que venham à luz as nossas reais possibilidades que jazem adormecidas nos porões da descrença ou da desilusão, aguardando o seu despertamento para alcançar a sua plenitude.

Reconhecendo que a linguagem de Deus é a poesia expressa na perfeição do Universo, tenho procurado estar atenta ao mundo à minha volta e descobri que um simples livro pode ser tanto um farol a nortear rumos, quanto uma estrela a nos alertar sobre a necessidade de nos voltarmos para o Divino que existe em nós... ou, quiçá, uma simples abelhinha ou um multicolorido colibri, a sugar o néctar das flores para, em se alimentando, contribuir através da polinização com a perenização da vida ...

Acredito, pois, que não importa em que estágio da nossa jornada estejamos, o nosso futuro está sendo escrito agora. Assim, cada momento da nossa vida pode ser um novo ponto de partida, na nossa incansável trajetória em busca do Amor e da Paz!

Salvador, 29 de março de 2001 Eliza Teixeira de Andrade

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Sinfonia da VidaAçoitado pelo temporal

Range o flamboyantEngrinaldado de flores.

Ribombam trovõesDisseminando perdões E seus ecos repercutem distante ...

Os raios, quais punhais flamejantes,Cortam os céus de ponta a ponta,Preludiando emoçõesQue em cada ser desponta.

Subitamente, acalmam-se os ventosE o arco-íris resplandece;É a natureza em festaQue feérica manifesta

A Sinfonia da Vida,Que balsamizando tristezasVeste os prados de esmeraldaE de brotos viridentes.

Choram as floresExplodindo sementesDo seu ventre ...

Revoam-lhe em redorPássaros trilentesE no ar ecoaDa Vida, a sinfonia,

Sagração mais alta da harmoniaHino ao Amor, à alegria,

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Poesia, divina poesia!

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O anjo que um dia fomos na infância permanece vivo em nossa memória, acompanhando a nossa trajetória do berço até o último suspiro.

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Aspiração

Sentir a vida

Limpa, renascida,É o que anseioPois dor eu não pranteio;

Pensar e amarDe forma transparenteE expressar o que minh’alma sente;

Querer viverCom fé, com esperança,Voltar a terAlma de criança.

NascerCrescerAmarE ser feliz,

MorrerNascerEm cada cicatriz.

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Ontem e Hoje

Ontem, completaste quinze anos

E a vida te sorria em flor;Transcendeste os sutis arcanosQue só se revelariam na dor.

Eras mais do que flor – eras rosaEras mais que paixão – eras amor.

Imitando os ciclos da natureza,Cresceste na cadência da vida,Passo a passo, bem construída,Pelo teu inexaurível labor.

Eras mais do que flor – eras rosaEras mais que paixão – eras amor.

Trilhaste insólitos caminhos,Cuidando em afastar espinhosPra não ferir a quem deste amor ...

Eras mais do que flor – eras rosaEras mais que paixão – eras amor.

Hoje, tanto tempo já passadoE alguns botões desabrochados,Na hástea, ainda jaz a flor,Mercê de um coração que muito amou...

E, assim, pela vida aforaConstataste, cada hora,Que se a primavera flores tem,É d’outono que o fruto provém !

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SonhoUm dia sonhamos que éramosdois estranhos, e despertamospara descobrir que nos amávamos.

R. Tagore

A h! Quero e espero

Que o brando pranto,Que agora afloraDesses olhos teus,

Desça no leitoDas tuas róseas facesE se evaporeNesses lábios meus;

Quero a estrelaQue a noite vela,Eu quero a lua,Branca e tão singela,

Eu quero a fonteSob uma firme ponte,Eu quero a calmaDa tu’alma bela;

Eu quero todas as precesE o encanto,Do suave cantoEm afinada voz,

Eu quero, ainda,Os sonhos risonhosQue um dia juntos...Sonharemos nós!

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Reflorescer

A flor

Que você me deu,Murchou.Mas foi a florQue secou,Que desistiu de viver,Não eu ...

Continuo vivaPara viverO reflorescerDas alegriasAdvindas

Do amorDa lidaDo perdãoDa vidaE das flores...Que ainda virão.

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Page 12: Sinfonia Da Vida

Sementeira de AmorUm sorriso é a rosa que cresce sobre o espinho de um suspiro.

Sathya Sai Baba

É preciso semear

Em cada canto da terra, A semente do amorPara exilar a guerra.

Semeie, pois, seu sorrisoPara a tristeza afastarE no momento preciso,Sorria pra se alegrar;

E para ajudar a quem trabalha,A vencer da vida, a batalhaE as dificuldades superar,

Semeie sua energiaSemeie sua coragemSemeie sua alegria!

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Flagrante

A bela donzela

De tímido olharBanha-se despidaSob a luz do luar...

E a lua lívidaAo ver tanta belezaCom o manto dos seus raiosEmpresta-lhe realeza.

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A Lua e o Poeta

O h ! branca lua

De luz suave que flutua,Tão singela, lá do alto

Sobre a serra;És a rainha da noiteÉs o exílio da terra.

Quanto canto solitárioQuanta queixa em rosárioQuanto suspiro e delírio

De casais apaixonadosQue pensando estar isolados,Quase esqueceram de ti!

E hoje, de alma leve e lavadaLá no riacho da dor,Volto aqui à minha janela

Esperando o teu retornoPra dizer-te, ó minha bela!Que ouviste os meus ais

Que já se foramE não voltam mais,Que agora livre e feliz

Por te olharE ser esteta,Não choro mais...Virei poeta!

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Essas frases cruéis, que mordem como dentes,Só mostram, Arlequim, que somos diferentes,Mas minh´alma, afinal, é compassiva e boa:Não compreendes Pierrot. E Pierrot te perdoa...

Menotti Del Picchia

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Contrastes

A vida é o contraste...

Entre a noite e o dia,O sol e a lua,A tristeza, a alegria,O rio e a rua,

O caos, a harmonia,O velho, a criança,O repouso, a luta,O luto, a dança,

A festa e a labuta,A sombra, a luz,A saúde, a doença,A fuga, a cruz,

A fé, a descrença,O espelho, o reflexo,O prazer e a dor,Em pé, genuflexo,O ódio, o amor ...

A vida apresentaConstante contrasteE o que nos alentaÉ a esperança da Paz!

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O Fio da Vida

Teci fios, como mantos teceram

As pacientes mulheres de Atenas;Aguardando do retorno da guerra,Os seus maridos: heróis... ou mecenas?

Teci fios, como rendas teceramAs sofridas mulheres nordestinas;Esperando no labor – quais aranhas,Que a boa sorte lhes mude as sinas.

E no vaivém de agulhas de tricot Apaziguei-me e corpos nus, vestiCompreendendo que o fio da vida,

Se origina de um novelo divinoQue trabalhado por mão invisível,Tece luz... de beleza indescritível!

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Soneto do TempoComo se pudéssemos matar o tempo sem ferir a eternidade!

Henry Thoreau

Como brisa que passa ligeira,

Também o tempo, ligeiro, se vaiE a nossa lembrança fagueiraDoutros tempos, com o tempo se esvai;

É que a roda do tempo é constanteE o relógio do tempo, não pára,Traz para uns, momentos vibrantesE pra outros, lamentos cortantes.

Que estás a fazer do teu tempo?Já pensaste em fazê-lo render?Pois se ficas parado no tempo,

Muito tempo estás a perder.Usa, pois, o teu tempo, buscandoDar amor, para amor receber.

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Migração

Bem-vinda, criança,

Da vida, o crisol,Fruto do conúbioDa lua com o sol.

Bem-vindo, moleque,Belo e serelepe,Que mostra o rosto

Limpo, sem desgostoE chora um choroLeve e sem rancor.

Bem-vinda, menina,Faceira, traquina,Com ar de mocinhaÀ espera do amor...

Não importa se vindasDe plagas distantes:Do sul ou do norte,De qualquer nação.

Não importa se louras,Se negras, morenas,Saudáveis, doentes,

As nossas criançasSão todas ... sementesDo amor, da união.

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Cuidado criança

Cuidado, criança!

Que está a brincar...Com os belos cachos

Bailando no ar.

Cuidado, criança!Com a bola a jogar...Não perca a inocência

E o brilho do olhar.

Cuidado, criança!De gesto gentil...

Cultive a esperança

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No nosso Brasil!

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Berceuse

U ma estrela distante

Brilhou pra avisarQue um anjo,Desceu neste lar...

O Sol já raiouFestejando a vida,E os pássarosCantam felizes:– Boas-vindas!

(Ricardo Teixeira Andrade)

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O Ser ... Down (*)

Logo ao nascer

Trouxe uma surpresaMisto de alegria e tristeza.

Sua vida aparentemente limitadaPor um erro genéticoDe intrínseca natureza,Foi indelevelmente marcadaNo cromossomo 21. Científica certeza.

Mas apesarDa aparência singularE de ter o organismoUm ritmo mais lento,

Nada impediráQue ele se desenvolvaE conquiste um espaçoQue lhe será reservado

Por aqueles que sabendo amarE a vida respeitar,Vencem o fascínio de Narciso (Que só valoriza a aparência).

Assim, quem se permitirSer conquistado,Será, de assalto, cativadoJá no seu primeiro sorriso!

Abençoado ser!Bem-vindo seja entre nós,Ensinando-nos a amar a essência(Quando o ser excede o parecer)E a ver em Deus, o Pai por excelência!

_________________(*) À Associação Baiana de Síndrome de Down – Ser Down

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O Grilo(*)

A verdade é sempre estranha,Mais estranha que a ficção.

Lord Byron

Aos poucos ele foi chegando

E no meu dia-a-diaFoi-se instalando,Sem que eu desse permissão.

Quando mudava a estação,Ele se destacavaDo coro das cigarrasQue nas árvores mais próximas cantava, (E me deixava grilada).

Um dia, um “insight” atrasado...Aquele grilo cricrilavaDentro do meu ouvido – que atrevido!

Com o tempo a decorrer,Percebi que ele não matava, (Só incomodava),E aprendi com o mesmo, conviver...

De um Pinóquio encanecidoSou hoje uma versão transmutante,Já que, como ele, tenhoMeu próprio grilo falante,

Que está sempre a me dizer: – Calma... silêncio...

Pra que eu possa adormecer...Só assim encontro paz...De grilo dormindo!

_________________ (*)Dedico esse poema a todas as pessoas que, como eu, têm problema auditivo.

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ImortalidadeSem que eu o soubesse, meu Rei,Tu imprimiste o sinal da eternidadeem muitos momentos fugazes.

Rabindranath Tagore

Estou viva!

E a vida que me querBem viva,Sempre está a me dizer:

–Vem viver!

Fecha de vezA torneira do prantoQue dá quebrantoE tira o encanto de viver...

E, assim, vivendo,Vivo o tempo todo,Vivendo a vidaCom muito prazer;

Tiro da vidaLembranças vívidas,Ponho na vidaMeu jeito de ser.

Transcorre o tempoE eu reconheço,Que ele passaMas eu permaneço:

Viva no ar que respirei,Viva na flor que meu olhar tocou,Viva nas lágrimas que derramei,Viva no Amor que me imortalizou.

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Poema do AdeusA vida é tua embarcação,não é tua morada !

Lamartine/Teresa de Lisieux

Mergulhada nas suas lembranças,

Ela fita o porvir– Local do reencontro –;

Atrás, fazendo-se distante,O barco da vidaDesaparece na linha do horizonte ...

Seus olhos refletemSuave nostalgiaQue embaçaO brilho da alegria,

Companheira, outrora, tão constante;No seu corpo ainda tépido,As marcas indeléveisDaquele toque de amorSutil ... Gentil ... Sedutor !No seu interior,A firme certeza(Sua maior riqueza),

De que aquele barco ancorouEm tranqüilo cais,Lugar de muita paz,– Local do reencontro –.

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Certeza

Com uma lágrima a correr

Na sua face – sem disfarce,Ela parte qual ave itinerante...

No cais do desencanto afloraraO ontem esquecido no agora:Um belo sonho anelado outrora,Lembrança, ainda, tão constante...

À frente a lhe desafiar,O turbilhão do marDos sentimentos malogradosPor um desenlace não desejado.

Aos poucos, no porto,A silhueta querida diminuíaE todo seu corpo, de emoção, fremia...

Num último impulso, generoso, de amor,Seu braço levantouE, nostálgica, tentou

Traduzir seu sentimento,No agitar do lenço ao sabor do vento,Tendo como cenárioAs cores afogueadas do arrebol.

No seu coração a imperar,A certeza de um dia encontrarAs aves de arribação

Para, com elas, voarAté a próxima estação:O país do Sol.

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A Arena da Vida

Com porte soberbo

O jovem manceboAdentra na arenaRoubando a cena;

Ostenta, impecáveis,A negra montera (1)

E o traje de luces.(2)

Seus olhos vagueiam pela platéiaBuscando a jovencita (3)

Que lhe retribuindo o olhar,Sorrindo, o felicita...

O touro é liberado...Três banderilleros (4)

Dele se aproximam

E, cada qual,Duas banderillas (5)

Crava-lhe, na região nucal.

Com fúria, o animalContra o toureiro investeSeus pontiagudos cornos;

O guapo moço as regras impõe(E a vida expõe),Com gestos provocantes;

A rubra capa no ar agita,Em delírio, a platéia aplaude, gritaE o incita com altos brados: - Olé!

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E a mão adestradaCoroa a faena (6)

Com um só golpe de espada!

O silêncio imperanteAmortalha a cenaOnde o sangue estuanteSai em borbotões...

Num relance,Seus olhos procuram, novamente,A bela donzela

E dedica-lhe, gentilmente,O touro abatidoNo duelo mortal.

Cheio de orgulho triunfal,Seu peito expandeE dando a vuelta al rueda (7)

Sai carregado através da porta grande...

_________________

(1) Montera – chapéu

(2) Traje de luces – Indumentária de gala

(3) Jovencita - senhorita

(4) Banderilleros – Toureiros que banderilham touros

(5) Banderilla – farpa enfeitada que se crava no cachaço dos touros.

(6) Faena – faina, luta.

(7) Vuelta al rueda – volta na arena.

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Desafio

Ser calmo...

Quando o mundo é inquieto

Ser lúcido...Quando o mundo é confuso

Ser verdade...Quando o mundo é mentira

Ser otimista...Quando o mundo é pessimista

Ser perdão...Quando o mundo é vingança

Ser altruísta...Quando o mundo é desencanto.

Perder a ilusão do nada,Saindo das trevas...

Ganhar a certeza do Tudo,Indo ao encontro da Luz!

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EternidadeA Alberto e Júlia (in memoriam)

Nunca as neblinas do valeSouberam dizer-se - adeus -Se unidas partem da terra,Perdem-se unidas nos céus.

Castro Alves

O ano escoara

Novembro chegara,No ar, já se ouve,Os sons do Natal!

E o jovem casalSonhando silênciosBusca no marA dimensão de um ideal...

Transgredindo as Leis:Dos homens e a Divina,

A violência espreitaCom olhos perspicazesE o terreno rapinaCom gestos audazes.

Perplexos,Os olhos se fitam,Sons... não escutam...Mãos se procuram,

Sem rumo... ao léu...E as almas ruflamBuscando o Céu!

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Violência x dor

Quantas tramas

Ocultamente urdidas,Quantos dramasE abertas feridas

Pela invigilânciaQue reduzA certeza da imortalidade(Que nem sempre seduz),

A um punhadoDe areia jogadaSobre sonhos soterradosPela avalanche da dor...

E o tempo massacradoPela angustiante espera,Traz lamento e clamorQue a alma dilacera...

E o equilíbrio se quebraPela insegurançaE pelo terror!

É preciso chorar...Mas é preciso lembrarQue a centelha da vida

Retorna ao CriadorE, ali, abastecida,Irradiará amor!

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Page 39: Sinfonia Da Vida

RejeiçãoComo é possível impedir os homens de se matarem uns aos outros se uma mãe pode matar seu próprio filho?

Madre Teresa de Calcutá

A terra estava gretada

Mas recebeu irrigaçãoDa semente ali plantadaNasceu um fruto temporão.

O fruto veio verdosoParecia sem sabor,Logo, fez-se viçoso,Quando recebeu luz e calor;

Mas como não foi desejado,Tirado, caiu ao chão,Feneceu, ali, desprezado,

Em lenta dissolução...Sem cova e sem lápide,Sob o signo da rejeição!

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Page 41: Sinfonia Da Vida

IanomâmisA perfeição da pedranão vem com os golpesdo martelo, mas com a dançaE a canção da água.

R. Tagore

Densas florestas

Pontiagudas setasCompridas lançasRituais e danças;

Renomados nomesPrimitivos homens,Hipócrita aliançaDizimando a raça.

Por quê?

Semente de cizâniaNa tribo lançadaColhendo conflitosE vidas ceifadas.

Pra que?

Densas florestasPontiagudas setasCompridas lançasRituais e danças...

Cadê?

_________________ Fonte: Gazeta Mercantil: “ A insistente polêmica da ciência selvagem ” – Ricardo Calil de N.Y. 14 e 15/10/2000 – pág. 3

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Page 42: Sinfonia Da Vida

Unidade

Somos filhos de um só Pai...

Mesmo em nossa ignorância,Manifesta em forma de ânsiaDe viver sem ter limites ...

E, assim, freqüentemente,Nosso ego jaz imaturoSem passado e sem futuroPor não viver o presente.

Desenvolvendo a arrogância,Julga-se senhor de tudoFaz do orgulho seu escudoPara se esquecer de Deus...

E querendo muito ter,Inconsciente, elimina,A natureza divinaQue permeia o seu ser.

E, vivendo assim, separa(Quando deveria unir),Deus de si e das criaturasE vê seu mundo ruir... Do universo, então, se isolaE só a dor lhe consolaE lhe ensina uma lição:

Somente quando conscientesQue temos a mesma origem divina,É que nossa fé sublimaE vemos no próximo... um irmão!

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Page 43: Sinfonia Da Vida

ElegiaA graça de Deus é infinita.O homem é quem a limita,Ao tamanho da sua fé.

Eliza Teixeira

Batendo na rocha

O mar bramia,Chorando saudadesSe compungia,

E as vagas gigantesQue o cobria,Batendo na areiaSe desfazia...

No corpo, o desejoO consumia,E a fagulha do amorSe extinguia,

Qual tarde, onde o solSe escondia,No negrume da noiteQue surgia,

No céu,Nos seus olhos,Na alma vazia...

Sem fé,Sem ilusão,Sem alegria!

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Page 44: Sinfonia Da Vida

O Intangível e o Precário

Na angustiosa busca de um Deus

Que possa ser visualizado,O homem desvia o olhar dos CéusPara o plano materializado.

Projeta, então, em frágeis criaturas,Toda a sua esperançaDe um mundo, onde as venturasFazem perfeita aliança!

E, assim, tendente a ligarO intangível ao precário,Constrói o seu santuário

Fadado a pouco durar...E onde o Amor não permeiaO fracasso acarreta, o abalo da fé alheia.

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Page 45: Sinfonia Da Vida

O que é a Vida ?

A vida é ...

Nascente cíclica

De cíclicas andanças;Um porto cíclico,

Que sonhando asas,Ancora tardanças;

Corrida sem causa ...Para chegar à pausa!

Duelo eternalEntre o real

E a ilusão,Dueto perfeito

S e a fé se alia à razão.

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Page 46: Sinfonia Da Vida

So...li...dão

H á coração que triste, solitário,

Sem ter um lume para lhe aquecer,Pensa que é ave, presa na gaiola,Pra libertar-se... deixa de bater!

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Page 47: Sinfonia Da Vida

Você Precisa

Você precisa,

Ir mais alémNa busca de quem Esqueceu o que é amar.

Você precisa, Impedir que a cizâniaDa cúmplice crítica Faça duetoCom a pérfida infâmia.

Você precisa, Ser bandeira brancaSimples, desfraldada, Ruflando as asasDa esperança e da paz.

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Page 48: Sinfonia Da Vida

O Nascer e o Pôr-do-Sol

Em um parque

Eu vi uma criançaSorrindo, correndo,Feliz a brincar.

Parecia o diaQuando nasceE desperta a natureza,Que se espreguiça,Boceja e se agita,

Abrindo-seNum festivalDe luz e cores...

No mesmo parqueEu vi um anciãoDe andar trôpego,Trazendo na fronteEncanecida,O registro das experiênciasDe uma vida.

Lembrei-me do OcasoQuando o Sol se põeBelo e nostálgicoE, apesar de cansadoPelo labor do dia,Vai ressurgir noutra freguesia...

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Page 49: Sinfonia Da Vida

Ao meu Pai

– De onde virá minha atração

Pela abóbada celeste? Retroagindo no tempoPosso ver-me, pequenina,

No colo do meu pai, sentada,E ele, a lua a apontarAmoroso a me ensinarUma singela canção:

– “Bênção dindinha luaMe dá pão com farinhaPra eu dar à minha gatinhaQue está presa na cozinha.”

Já mais crescida,Ele me indicavaOnde se encontravaAVia Láctea e várias constelações;

E apontando para a cruzDe estrelas formadaAssociava-a ao RedentorQue noutra cruz morreu, por amor!

Quando doente eu ficava,Toda a noite me velavaCom o coração em prece...

Dos meus devaneios acordoE dou graças ao CriadorPelo seu paternal amor.

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Page 50: Sinfonia Da Vida

Lembrando doutro Pedro,O apóstolo pescador,Que segundo uma lendaÉ da porta do Céu, guardador,

Vejo o meu pai na terraCom semelhante missão:A de meu Anjo da GuardaQue até hoje, ainda guarda,

A porta do meu coração.Obrigada, meu pai!

Conselho Paterno

Minha filha! por que está a chorar?

Eis que já amanheceE no horizonte apareceO Sol, sempre a brilhar ...

Procura com os olhos d’alma (Por certo, há de enxergar!)É o mutirão que chegaPressuroso, pra lhe ajudar.

Mas depois da ajuda acolhida,Limpa sua casa, põe flores,Eleva ao Céu seus louvores...

E nessa feliz mutuação,Dá uma festa de mil coresNo templo do seu coração!

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Page 51: Sinfonia Da Vida

Consubstanciação

O pão que fermenta,

A massa aumentaE em dobro alimenta.

O mutirão que levanta,Reduz o cansaçoE a massa agiganta,Num tempo escasso...

Do poeta, a voz ecoaProfética, distante,E em tom sussurrante,O refrão entoa:

– “Levedado pelo amorOu na força do braçoConstrua o seu traçoCom união e labor.”

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Page 53: Sinfonia Da Vida

A Missionária sem Sari

Um dia, quase da busca a desistir,

Soube da obra de Madre TeresaE encantou-se com a paradoxal riquezaDe muito ter sem nada possuir...

Desde então, não mais parouMas o seu coração, sossegou.Quem não conheceOu ainda não ouviu falar,

De uma senhora de nome EuniceConhecida na OrdemDas “Missionárias de Calcutá”, Simplesmente como: Vovó?

Desconheço quem na sua idadeTenha tanta vitalidadePara servir como sua, a alheia causa.

Sendo rica, tornou-se pedinteVisitando voluntáriosPra que sejam solidáriosEm ajudar os pobres mais pobres!

E, assim, abrindo trincheirasNas humanas resistências,Juntamente com a Irmandade,

Consegue dar assistênciaÀs duas casas existentes:Em Coutos e no Uruguai.

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Page 54: Sinfonia Da Vida

Para ela não existem aisQue a demova da fé;Pois segundo o seu genro, (Por ela chamado “Seu Pedro”),

Ela é também missionária,Só que em grau superlativo,Já que é a “Irmã Maçaranduba”Que nem temporal derruba:“Amorzinho... você é demais!”

A Verdadeira Riqueza (*)

Meu Deus, aqueles quePossuem tudo menos a Ti riem-se daqueles queNada possuem além de Ti.

R. Tagore

Ao nascer,

Nada trouxeSenão o corpo;

Ao crescer,Fui amealhandoO terEsquecendo-meDo ser;

Um dia descobriQue o melhor de mimEstava impregnado de Ti ...

Despojei-me, então,Do que amealheiE fiz-me ricaApesar de nada possuir... além de Ti.

_________________(*)Humildemente dedico esses versos à memória de Madre Teresa de Calcutá

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Page 55: Sinfonia Da Vida

Maternidade

Compartilhei da alegria pujante

Daquela primavera especialQuando, ao compasso do meu coração,

Senti outro coração bater...À minha volta, em tempo integral,A convivência dulcificante

De Ricardo e Ivana que com as pérolasDos seus sorrisos adornavamO meu feliz semblante.

E no outono do ano seguinteNasce em maio, mês das rosas,Lindo bebê cor-de-rosa!

E vendo-a, assim, tão bela,Com as outras flores competindo,Não tive a menor dúvida

Em chamá-la... Isabela.Enviados pelo Criador,Meus filhos representam

Minha maior vitória,Minha coroa de glóriaQue um dia, com muita alegria,

Depositarei aos pés doutra mãe:Maria!

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Page 57: Sinfonia Da Vida

Ave-Maria

Na tarde dolente

Que aos poucos se esvai,O Sol se escondeE o dia retrai;

A noite que vesteUm véu róseo, vivaz,Sugere uma preceDe amor e de paz:

Ave-Maria!Por Deus foste eleitaA mãe mais perfeitaDe toda uma Nação;

Ave-Maria!Doce proteção,Entre o céu e a terraÉs traço-de-união;

Ave-Maria!De graça plenaDoce e serenaMãe de Jesus;

Ave-Maria!Na dor e n’alegria,Enlaçou o MessiasDo seu ventre nascidoE descido da Cruz!

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Page 58: Sinfonia Da Vida

Minha Fé

Senhor da Vida!

Muito tenho Vos buscadoE Convosco, sonhado,Desde a minha juventude.

E a minha fé emergenteQue tão frágil aparentava,Muitas vezes se apresentavaTal qual estrela cadente.

E, hoje, desperta, perceboQue a minha fé aumentou,Não é mais estrela cadente,

É Sol nascente e poenteSempre estrelaE sempre Sol!

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InvitationA Elza S. Teixeira Silveira ( tia Elzinha)

La terre se change en une grande voliére

Et les hommes ressemblent à des oiseaux,Ils sont habitués à la captivité.

Dieu, dans cette volière ouvre une petite porteEt les appelle à la liberté:– “Viens, fils, libère-toi de la vanité,

De l’égoisme, des ostentations,Qui sont les grilles qui t’emprisonnentDans cette volière.

Ici de hors, l’air est pur, la rosée est fraîche,Elle refraìchit ton âme.Il y a des branches, où tu peux te reposer,

Pour ensuite prendre ton envol jusqu’ à I’infinit;Ton gazouillement rencontrera l’echoEt sera un hymne de louange au Seigneur.”

Cette porte, elle est ouvertePour tous ceux qui veulent se libérer.Nambreux sont ceux qui connaissent

Cette porte, mais peux sont ceux qui la franchissent.Cette porte s’appelle: charité, humilité et foi.

João Pessoa, maio de 1978.

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Convite (*)

A terra tornou-se um grande viveiro

E os homens à semelhança dos pássaros,Habituaram-se ao cativeiro.

Deus, nesta gaiola abre uma portinholaE os exorta à liberdade:– “Vem, filho, liberta-te da vaidade,

Do egoísmo, das ostentações,Que são as grades que te aprisionamNesta gaiola.

Cá fora, o ar é puro, o orvalho é fresco,Refrigera tua alma.Há galhos, onde podes repousar,

Para em seguida alçar vôo até o infinito;Teu gorjeio encontrará ecoE será um hino de louvor ao Senhor”.

Esta porta está abertaPara todos aqueles que querem se libertar.Muitos são os que a conhecem,

Mas poucos são os que a transpõem.Esta porta se chama: caridade, humildade e fé.

_________________ (*)Tradução do poema “Invitation”

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Luz e Reflexo

Acercando-se do mestre,

Indaga o discípulo:– Dizei-me, ó mestre,A diferença que existeEntre a lua e o sol.

Reflexivo o mestre responde:– É a mesma existenteEntre ser transcendenteE ser imanente.

E exemplificando,Singela poesia recita:– “A lua em sua tibiezaTem como labor,

Espargir sobre a terraSua claridade argênteaDe transcendente beleza,Reflexo do Sol!

Centro do planetárioSistema, o Sol, ao contrário,Doando-se no labor,Envia a todos, os seus raiosDe imanente resplendor... ”

E fitando o discípulo com amor,Com voz doce e pausada, falou:“A lua, amado,És tu... reflexo de mim...

Eu sou o Sol ...A luz está em mim contidaIndependente de ação exterior”.

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Os Três Montes

Sobre um monte,

Soberbo pedestal,Sua voz ecoa ...distanteSoberana, triunfal!

Ensina graves e profundas lições,Captando nas almasAs mais íntimas angústiasE as mais secretas aspirações.

Vivifica pela Misericórdia, a Justiça,Transmuda a Lei, em Humanidade,Conclama ao Perdão, o espírito de LiçaE libertando o homem pela fraternidade,Revela Deus... na Paternidade!

Sobre um monte,O mergulho dentro de siE o olhar para o céu,Como se já tivesse o porvir,Rompido o seu véu:

Como areia que o vento do deserto levanta,É volúvel a alma das multidões;Num momento, O escuta e louvores canta,Noutro, se deixa enredar pelas superstições.

Mas sob uma aparência misteriosa,A verdade é simples e singular,Não a compreende a alma preconceituosa,Pois só o coração ... sói alcançar.

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Sobre um monte,O altar do sacrifício;No chão, o vício,Disputava seu manto.

É a covardia gerando um crimeHediondo, já que leva ao calvárioUm Ser sublime que redimeO homem, seu algoz e sicário.

Enquanto no firmamentoEntrechocam-se a treva e a luz,Um terrível grito se faz ouvir – é o Rabi:– Eli ! Eli ! Lama Sabachtani! (1)

Inclinando a cabeça, ainda exclama, Jesus:Consumatum est ! (2)

O corpo esvai-se na cruz ...E o espírito vivificado, em êxtase profundoFaz-se, desde então, eterna “Luz do Mundo”.

_________________(1) Mateus, cap.27, V.26 (Meu Deus ! Meu Deus ! por que me abandonaste ?)(2) João, cap.19, V.30 ( Está consumado ! )

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Ecos do livro Estação do Amor

“Parabenizamo-la pela excelente Obra, rica de lições delicadas e profundas, que enobrecem o leitor, convidando-o a reflexões libertadoras nestes dias tumultuosos.”

Divaldo Franco

“Poesias belas na forma e na essência, numa apresentação de colorido rico e primoroso artisticamente emoldurado e salpicado, que me enlevaram e elevaram ao mundo dos sonhos belamente sonhados e coloridos.”

Lourdes Burgos

“Estação do Amor é um livro expressivo; é um cântico de amor e harmonia com mensagens da poetisa Eliza, que se manifestam através da sua sensibilidade, inspirada na sua própria vivência e principalmente fé em Deus.

Os seus desenhos, com traços firmes, conferem nitidez às formas e imagens representativas de pessoas e lugares bucólicos e paradisíacos em a natureza.

O seu estilo é natural, vivo e simples. Emerson disse: “É prova de alta cultura dizer as coisas mais profundas de modo mais simples.”

Receba prezada Eliza, os meus aplausos.”Renato Gazar Miguel

“Estação do Amor, li e reli.Os seus versos, todos eles trazem na sua essência, a filosofia da

humildade, da caridade, do altruísmo, da renúncia , da fé e do amor.Os títulos, muito coerentes.As ilustrações de cada página, um primor de arte; enfim, realmente,

uma “estação de amor”, na qual podemos e devemos embarcar para uma viagem de sentimental cultura poética.”

Laudilio Mello

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