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ngocong
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UNIVERSIDADE TECNOLGICA FEDERAL DO PARANPR
UNIVERSIDADE TECNOLGICA FEDERAL DO PARAN
CAMPUS DE CURITIBA
DEPARTAMENTO DE PESQUISA E PS-GRADUAO
PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM ENGENHARIA MECNICA
E DE MATERIAIS - PPGEM
LORENA DAMBISKI
SNTESE DE BIODIESEL DE LEO DE NABO
FORRAGEIRO EMPREGANDO METANOL
SUPERCRTICO
CURITIBA
14/12/2007
LORENA DAMBISKI
SNTESE DE BIODIESEL DE LEO DE NABO
FORRAGEIRO EMPREGANDO METANOL
SUPERCRTICO
Dissertao apresentada como requisito parcial
obteno do ttulo de Mestre em Engenharia
de Materiais, do Programa de Ps-Graduao
em Engenharia Mecnica e de Materiais, rea
de Concentrao: Engenharia de Materiais, do
Departamento de Pesquisa e Ps-Graduao,
do Campus de Curitiba, da UTFPR.
Orientadora: Profa. Livia Mari Assis, Dra.
CURITIBA
14/12/2007
TERMO DE APROVAO
LORENA DAMBISKI
SNTESE DE BIODIESEL DE LEO DE NABO FORRAGEIRO
EMPREGANDO METANOL SUPERCRTICO
Esta Dissertao foi julgada para a obteno do ttulo de mestre em engenharia,
rea de concentrao em engenharia de materiais, e aprovada em sua forma final
pelo Programa de Ps-graduao em Engenharia Mecnica e de Materiais.
_________________________________
Prof. Neri Volpato, Ph.D. Coordenador de Curso
Banca Examinadora
Profa. Livia Mari Assis, Dra.
(UTFPR/PPGEM/DAQBI)
Bill Jorge Costa, Dr.
(TECPAR/CERBIO)
Profa. Cssia Maria Lie Ugaya, Dra.
(UTFPR/PPGEM/DAMEC)
Prof. Paulo Roberto de Oliveira, Dr.
(UTFPR/DAQBI)
Prof. Pedro R. da Costa Neto, Dr.
(UTFPR/DAQBI)
Curitiba, 14 de dezembro de 2007.
iii
Dedico este trabalho aos meus pais
Iliane Valquria do Rocio Dambiski
e Altevir Dambiski.
iv
AGRADECIMENTOS
Universidade Tecnolgica Federal do Paran - UTFPR, principalmente ao
Programa de Ps-Graduao em Engenharia Mecnica e de Materiais -
PPGEM, pelo acolhimento e suporte s atividades desenvolvidas no curso, e
ao Departamento Acadmico de Qumica e Biologia DAQBI, pela infra-
estrutura laboratorial cedida;
orientadora Dra. Livia Mari Assis, pelo auxlio no direcionamento tcnico do
projeto, bem como pelo apoio, dedicao, incentivo e constante contribuio
para a minha formao, tanto profissional quanto pessoal;
s alunas de Tecnologia em Qumica Ambiental Marianne Bernardes e Tssia
Viol Moretti, pelo auxlio na realizao de anlises e interpretao de
resultados;
Aos funcionrios e estagirios do DAQBI, especialmente queles que
trabalham no Almoxarifado de Qumica, pelo pronto atendimento s
necessidades relacionadas a materiais de laboratrio e reagentes qumicos;
Ao Dr. Fernando Mauro Lanas do Instituto de Qumica da Universidade de
So Paulo - USP, So Carlos, pela doao do reator utilizado;
Ao Instituto de Tecnologia do Paran - TECPAR, pelo suporte tcnico e
contribuio na realizao de anlises e interpretao de resultados, por
intermdio dos seguintes funcionrios: Alexandre Akira Takamatsu e
Anderson Cardoso Sakuma, da Diviso de Tecnologias Sociais; ao Bill Jorge
Costa e Wellington Wagner Dias Vechiatto, do Centro Brasileiro de
Referncia em Biocombustveis; Claudine Labiak e Maria Luiza Marques
Halila, do Laboratrio de Anlises Qumicas de Medicamentos; ao Sandro
Pinheiro de Souza e Maria Lenita de Rosso, do Laboratrio de Alimentos; ao
Marco Antonio Netzel e Guilherme Wiegand Zemke, do Laboratrio de
Qumica Industrial; ao Natalcio Ferreira Leite do Laboratrio de Pesticidas; ao
der Jos dos Santos e Ronei da Paixo do Laboratrio de Qumica
Ambiental.
v
No olhar curioso do aprendiz, o potencial
da semente. Na habilidade do mestre que
ensina, a esperana do semeador.
Edival Perrini
vi
DAMBISKI, Lorena, Sntese de Biodiesel de leo de Nabo Forrageiro
Empregando Metanol Supercrtico, 2007, Dissertao (Mestrado em Engenharia) -
Programa de Ps-graduao em Engenharia Mecnica e de Materiais, Universidade
Tecnolgica Federal do Paran, Curitiba, 14 de dezembro de 2007.
RESUMO
Neste trabalho, o biodiesel foi produzido a partir do leo de nabo forrageiro
empregando o mtodo de transesterificao em metanol supercrtico no-cataltico
e, tambm, com a adio de 5% em massa de um catalisador heterogneo, no caso,
a zelita. A partir da purificao dos produtos obtidos por cromatografia de adsoro
em coluna, baseada na norma AOCS Cd 11c-93, observou-se que o processo de
transesterificao em metanol supercrtico no-cataltico trouxe bons resultados,
alcanando rendimentos de at 86,3%, em 75min, sob presso e temperatura de
15MPa (148atm) e 430C. Porm, o emprego da zelita influenciou negativamente a
taxa de converso de biodiesel, pois o maior rendimento alcanado foi de apenas
50,4%, sob essas mesmas condies de reao. As amostras de biodiesel
purificadas foram posteriormente caracterizadas por espectroscopia no
infravermelho (FTIR) e por cromatografia gasosa de alta resoluo (HRGC). Os
resultados obtidos por estas tcnicas mostraram que grande parte das insaturaes
das cadeias carbnicas dos steres metlicos foram quebradas durante as reaes
de transesterificao em metanol supercrtico, produzindo um biodiesel com maior
quantidade de steres saturados, os quais so menos sujeitos a oxidao.
palavras-chave: steres metlicos, metanol supercrtico, zelita.
vii
DAMBISKI, Lorena, Sntese de Biodiesel de leo de Nabo Forrageiro
Empregando Metanol Supercrtico, 2007, Dissertao (Mestrado em Engenharia) -
Programa de Ps-graduao em Engenharia Mecnica e de Materiais, Universidade
Tecnolgica Federal do Paran, Curitiba, 14 de dezembro de 2007.
ABSTRACT
The biodiesel produced in this experiment was obtained from radish oil. We used two
methods, one with catalyst-free supercritical methanol and the other with 5% zeolite
heterogeneous catalyst (based on its total mass). To obtain biodiesel purification we
used column adsorption chromatography (AOCS Cd 11c-93) from which was
observed that the catalyst-free supercritical methanol process gave good results
demonstrated by conversion rates of up to 86.3% (75 minutes, 15MPa, 430C).
However, the zeolite addition had negative effects in the biodiesel production
demonstrated by the conversion rate of 50.4%, under these same conditions stated
above. The purified biodiesel samples had been characterized later by infrared
spectroscopy (FTIR) and by high resolution gas chromatography (HRGC). The
results obtained from these techniques had shown that the major percentage of
unsaturated carbonic chains of methyl esters had been broken during the
supercritical methanol reactions, producing biodiesel with higher percentage of
saturated esters that are more stable.
keywords: methyl esters, supercritical alcohol, zeolite.
viii
SUMRIO
RESUMO ___________________________________________________________________ vi ABSTRACT __________________________________________________________________ vii LISTA DE FIGURAS _____________________________________________________________ x LISTA DE TABELAS ___________________________________________________________ xiix LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS _______________________________________________ xiii LISTA DE SMBOLOS __________________________________________________________ xiv
1 INTRODUO ________________________________________________________ 1
2 OBJETIVOS __________________________________________________________ 3
2.1 Objetivo Geral ___________________________________________________________ 3
2.2 Objetivos Especficos ______________________________________________________ 3
3 REVISO BIBLIOGRFICA ____________________________________________ 4
3.1 O Biodiesel ______________________________________________________________ 4
3.2 Matrias-Primas __________________________________________________________ 6 leo de Nabo Forrageiro (Raphanus sativus L.) _______________________________________ 7
3.3.1 Aspectos que Influenciam a Reao de Transesterificao ______________________________ 13 3.3.2 Catalisadores __________________________________________________________________ 15 3.3.3 Catalisadores Heterogneos ______________________________________________________ 18
Zelitas _______________________________________________________________________ 19
3.4 Produo de Biodiesel sem Catalisadores _____________________________________ 22 3.4.1 Os Fludos Supercrticos _________________________________________________________ 24 3.4.2 Reao de Transesterificao com Metanol Supercrtico _______________________________ 26
4 MATERIAIS E MTODOS _____________________________________________ 33
4.1 Materiais e Reagentes ____________________________________________________ 34 4.1.1 Reagentes ____________________________________________________________________ 34 4.1.2 Equipamentos _________________________________________________________________ 35
4.2 Procedimentos __________________________________________________________ 37 4.2.1 Caracterizao do leo de Nabo Forrageiro _________________________________________ 37 4.2.2 Produo de Biodiesel com Metanol Supercrtico _____________________________________ 38
Procedimento para a Sntese do Biodiesel em Metanol Supercrtico ______________________ 39 4.2.3 Monitoramento da Reao de Transesterificao _____________________________________ 40
Cromatografia em Camada Delgada ________________________________________________ 40 4.2.4 Purificao do Biodiesel _________________________________________________________ 41
Cromatografia de Adsoro em Coluna _____________________________________________ 41 Determinao do Porcentual de Converso de Biodiesel _______________________________ 41
4.2.5 Caracterizao do Biodiesel ______________________________________________________ 42 Espectroscopia no Infravermelho (FTIR) _____________________________________________ 43 Cromatografia Gasosa de Alta Resoluo (HRGC-FID) __________________________________ 43
ix
5 RESULTADOS E DISCUSSO ________________________________________ 45
5.1 Caracterizao do leo de Nabo Forrageiro ___________________________________ 45
5.2 Monitoramento da Reao de Transesterificao ______________________________ 46
5.3 Distribuio do Biodiesel entre as Fases do Produto ____________________________ 48
5.4 Determinao dos Porcentuais de Converso _________________________________ 49 5.4.1 Efeito das Variveis e suas Interaes ______________________________________________ 51
5.5 Caracterizao do Biodiesel ________________________________________________ 54 5.5.1 Espectroscopia no Infravermelho (FTIR) _____________________________________________ 54 5.5.2 Cromatografia Gasosa de Alta Resoluo (HRGC-FID) __________________________________ 56
6 CONCLUSES ______________________________________________________ 64
7 SUGESTES PARA TRABALHOS FUTUROS __________________________ 66 REFERNCIAS _______________________________________________________________ 67
APNDICE A PROCEDIMENTO PARA ESTERIFICAO DE LEO VEGETAL (AOAC 969.33) __________________________________________________________ 76
ANEXO A ESPECIFICAO DO BIODIESEL B100 ________________________ 77
ANEXO B - PRODUO CIENTFICA NO PERODO _________________________ 79
x
LISTA DE FIGURAS
Figura 3.1 Diagrama esquemtico mostrado o ciclo de vida de produtos obtidos
atravs de fontes renovveis....................................................................................
05
Figura 3.2 Fotografia mostrando as flores e folhas do nabo forrageiro................. 07
Figura 3.3 - Equao geral para uma reao de transesterificao......................... 10
Figura 3.4 - Reao de transesterificao de triglicerdeos por via metlica............ 11
Figura 3.5 - Reaes envolvidas na reao de transesterificao de triglicerdeos. 11
Figura 3.6 Frmulas moleculares das espcies geralmente presentes no
biodiesel....................................................................................................................
12
Figura 3.7 Mecanismo da reao de transesterificao alcalina de triglicerdeos 16
Figura 3.8 Mecanismo da reao de transesterificao de triglicerdeos em
meio cido................................................................................................................
17
Figura 3.9 - Estrutura de uma zelita A.................................................................... 20
Figura 3.10 - Frmula qumica por clula unitria das zelitas mais comuns.......... 21
Figura 3.11 - Diagrama de Fases (gs/slido/lquido/fludo supercrtico)................ 24
Figura 3.12 - Proposta de mecanismo da reao de transesterificao de leos
vegetais/triglicerdeos em metanol supercrtico........................................................
28
Figura 3.13 Diagrama esquemtico de um sistema de transesterificao em
condies supercrticas............................................................................................
29
Figura 4.1 Diagrama esquemtico mostrando todas as etapas empregadas
para a produo do biodiesel, bem como para a caracterizao da matria-prima
e quantificao do produto.......................................................................................
33
Figura 4.2 Diagrama esquemtico mostrando as anlises empregadas para a
caracterizao do biodiesel obtido, bem como das amostras de referncia, tais
como: leo de nabo forrageiro e leo de nabo forrageiro esterificado.....................
34
Figura 4.3 Ilustrao da cela de reao de ao utilizada nos experimentos de
sntese do biodiesel..................................................................................................
36
Figura 4.4 Ilustrao do sistema utilizado nos experimentos de sntese do
biodiesel....................................................................................................................
36
Figura 4.5 - Ilustrao de um cromatograma obtido por CCD.................................. 40
Figura 4.6 - Determinao do porcentual de converso em biodiesel..................... 42
xi
Figura 5.1 - Clculo da massa molar (MM) do leo de nabo forrageiro de acordo
com a reao de saponificao................................................................................
46
Figura 5.2 - Cromatoplaca usada no monitoramento da reao de
transesterificao......................................................................................................
47
Figura 5.3 Grficos da distribuio do biodiesel entre as fases resultantes da
reao de transesterificao do leo de nabo forrageiro em metanol supercrtico
no-cataltico e na presena de catalisador heterogneo........................................
49
Figura 5.4 Grfico comparativo entre o porcentual de converso das reaes
de transesterificao em metanol supercrtico sem catalisador e na presena de
catalisador heterogneo sob tempo e temperatura variveis...................................
51
Figura 5.5 Anlise visual dos efeitos, em porcentagem, da temperatura (T), do
tempo (t) e das suas interaes (Txt) sobre o rendimento das reaes de
transesterificao em metanol supercrtico..............................................................
52
Figura 5.6 Anlise visual dos efeitos, em porcentagem, da temperatura (T), do
tempo (t), da presena de catalisador (CAT) e suas interaes sobre o
rendimento das reaes de transesterificao em metanol supercrtico..................
53
Figura 5.7 - Espectros de FTIR: leo de nabo forrageiro; leo de nabo forrageiro
esterificado; biodiesel produzido em meio supercrtico no cataltico e cataltico....
55
Figura 5.8 - Perfis cromatogrficos dos padres de steres metlicos de cidos
graxos e do biodiesel obtido por esterificao..........................................................
57
Figura 5.9 - Perfis cromatogrficos das amostras de biodiesel obtidas com
metanol supercrtico sem catalisador e com catalisador heterogneo.....................
59
Figura 5.10 Resultados da distribuio porcentual de steres metlicos nas
amostras de biodiesel produzidas com pela reao de esterificao e com
metanol supercrtico.................................................................................................
60
Tabela 5.11 Resultados da distribuio porcentual de steres saturados e
insaturados nas amostras de biodiesel obtidas pela reao de esterificao e
com metanol supercrtico sem catalisador e na presena de catalisador
heterogneo..............................................................................................................
61
xii
LISTA DE TABELAS
Tabela 3.1 - Vantagens e desvantagens do biodiesel em relao ao leo diesel.... 04
Tabela 3.2 - Composio dos leos de soja, girassol e nabo forrageiro.................. 06
Tabela 3.3 - Caractersticas do nabo forrageiro....................................................... 08
Tabela 3.4 - Caractersticas dos leos de soja, girassol e nabo forrageiro.............. 09
Tabela 3.5 - Caractersticas do metanol e do etanol anidro..................................... 14
Tabela 3.6 Comparao entre as principais caractersticas dos catalisadores
heterogneos e homogneos................................................................................... 19
Tabela 3.7 - Caractersticas gerais dos gases, lquidos e fludos supercrticos....... 25
Tabela 3.8 - Propriedades fsico-qumicas do metanol em condies normais e
em condies supercrticas...................................................................................... 26
Tabela 3.9 - Comparao entre a transesterificao supercrtica e a convencional 30
Tabela 3.10 Condies normalmente empregadas na reao de
transesterificao com metanol supercrtico............................................................
32
Tabela 4.1 - Composio qumica da zelita A........................................................ 35
Tabela 4.2 - Planejamento Fatorial 23 (trs variveis com dois nveis) empregado
na sntese de biodiesel em metanol supercrtico sob presso fixa de 15MPa e
razo molar leo: metanol de 1:45........................................................................... 38
Tabela 4.3 - Condies empregadas na determinao dos steres metlicos por
HRGC-FID................................................................................................................ 44
Tabela 4.4 - Composio qumica do padro de steres metlicos de cidos
graxos (C14-C22)..................................................................................................... 44
Tabela 5.1 Resultados obtidos pela caracterizao fsico-qumica do leo de
nabo forrageiro......................................................................................................... 45
Tabela 5.2 - Converso em biodiesel (%) dos experimentos de transesterificao
do leo de nabo forrageiro com metanol supercrtico (Planejamento
Fatorial)..................................................................................................................... 50
Tabela 5.3 - Composio qumica mdia (%) de steres de cidos graxos
(biodiesel) dos leos de soja, girassol e canola e das amostras de biodiesel de
leo de nabo forrageiro produzidas neste trabalho.................................................. 63
xiii
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ANP Agncia Nacional do Petrleo, Gs Natural e Biocombustveis.
AOAC Association of Official Analytical Chemists
AOCS American Oil Chemists Society
ASTM American Society for Testing and Materials
CAS Chemical Abstracts Service
CCD Cromatografia em camada delgada
CERBIO Centro Brasileiro de Referncia em Biocombustveis
CFPP Ponto de Entupimento de Filtro a Frio
HRGC Cromatografia gasosa de alta resoluo
DIN EN Deutsches Institut fr Normung e. V.
FID Detector de ionizao de chama
IA ndice de acidez
II ndice de iodo
IS ndice de saponificao
IUPAC Unio Internacional de Qumica Pura e Aplicada
FTIR Espectroscopia no infravermelho por transformada de Fourier
MDL Mecanismo de Desenvolvimento Limpo
MM Massa Molar
MSD Detector de espectrometria de massas
Rf Fator de reteno
TECPAR Instituto de Tecnologia do Paran
TMCS Trimetilclorosilano
TSIM N-trimetilsililimidazole
xiv
LISTA DE SMBOLOS
Ha Alqueire
Cx:y Cadeia carbnica de steres onde x representa o nmero de
carbonos e y representa o nmero de ligaes duplas.
mm2.s-1 Milmetro quadrado por segundo
kg.m-3 quilograma por metro cbico
MJ.kg-1 Mega Joules por kilogramo
B100 Biodiesel puro
m2.g-1 Metro quadrado por grama
Angstrons
TO4 Unidade tetradrica primria na estrutura das zelitas
ETS-10 Titanosilicato-10
ZnO xido de zinco
g.mL-1 Grama por mililitro
cm2.seg-1 Centmetro quadrado por segundo
MPa Megapascal
cal.g-1 Caloria por grama
NOx xidos de nitrognio
atm Atmosfera
L Microlitro
C14 ster constitudo por 14 tomos de carbono
C22 ster constitudo por 22 tomos de carbono
mL.min-1 Mililitro por minuto
mg.g-1 Miligrama por grama
CaO xido de clcio
MeOH Metanol
Captulo 1 Introduo
1
1 INTRODUO
A demanda mundial por combustveis alternativos tem se expandido
rapidamente, devido, principalmente, necessidade de diminuir a dependncia
de combustveis no-renovveis derivados de petrleo, e crescente
preocupao ambiental, visto que o uso do petrleo como fonte energtica
representa uma das maiores causas da poluio atmosfrica, e sua combusto
causa o aumento da concentrao de dixido de carbono na atmosfera,
contribuindo assim para o indesejvel efeito estufa.
Os combustveis provenientes de fontes renovveis, como a biomassa,
constituem uma das alternativas mais promissoras, principalmente nos pases
com grandes extenses territoriais e com clima propcio para a atividade
agrcola, como o caso do Brasil.
O Programa Nacional do lcool (Pr-lcool), adotado em 1975 para
abastecer os veculos com o etanol, de forma extensiva, um exemplo da
viabilidade de experincias deste tipo. Quanto utilizao de leos vegetais,
um grande impulso foi dado pelas crises do petrleo ocorridas na dcada de
70, quando surgiram diversas iniciativas, principalmente utilizando biodiesel
(MIRAGAYA, 2005).
Em 2002, foi lanado no Brasil o Programa Brasileiro de
Biocombustveis, com o objetivo de viabilizar a utilizao do biodiesel, em
virtude da contribuio ao equacionamento de questes fundamentais para o
Pas, como gerao de emprego e renda, incluso social, reduo das
emisses de poluentes e da dependncia de importaes de petrleo,
envolvendo, portanto, aspectos de natureza social, estratgica, econmica e
ambiental (MIRAGAYA et al., 2005).
O biodiesel um combustvel constitudo da mistura de steres metlicos
ou etlicos de cidos graxos, de origem animal ou vegetal, que pode ser
utilizado como combustvel, puro ou misturado ao leo diesel, em motores ciclo
diesel sem que sejam requeridas alteraes nas estruturas do motor
(CANAKCI et al., 1999). Este combustvel vem sendo produzido principalmente
pela reao de transesterificao de leos vegetais por catlise bsica
Captulo 1 Introduo
2
homognea, que consiste na reao do leo vegetal com um lcool de cadeia
curta, normalmente usando metanol ou etanol, na presena de catalisadores,
tais como o hidrxido de sdio ou potssio, onde obtido biodiesel e glicerina.
O processo simples e rpido, e permite a utilizao de baixas temperaturas,
em torno de 40 a 70C, alcanando converses prximas a 100%.
Apesar do processo de transesterificao empregando catlise alcalina
estar consolidado, ainda existem alguns problemas que devem ser
solucionados. Dentre eles, a dificuldade de separao do catalisador, o qual
pode causar a contaminao do combustvel. Usualmente a separao deste
contaminante realizada por meio da lavagem do biodiesel com gua
contendo neutralizantes cidos, o que resulta na gerao de guas residurias
e na introduo de umidade no combustvel, o que exige uma etapa posterior
de secagem.
O processo de transesterificao com lcool supercrtico considerado
uma tecnologia alternativa promissora para a produo de biodiesel. A principal
vantagem deste processo a simplificao das etapas de produo em
comparao com o processo de transesterificao tradicional, em virtude da
eliminao das etapas de pr-tratamento do leo-vegetal a ser utilizado como
matria-prima e separao do catalisador aps a reao de transesterificao,
o que contribui para a obteno de um combustvel de qualidade, menos
sujeito contaminaes.
Captulo 2 Objetivos
3
2 OBJETIVOS
2.1 Objetivo Geral
Sintetizar biodiesel de leo de nabo forrageiro empregando metanol
supercrtico.
2.2 Objetivos Especficos
Produzir biodiesel de leo de nabo forrageiro empregando metanol no
estado supercrtico, na ausncia de catalisador e na presena de
catalisador heterogneo, sob condies variadas de tempo e
temperatura;
Purificar as amostras de biodiesel e determinar os porcentuais de
converso, usando Cromatografia de Adsoro em Coluna;
Caracterizar as amostras de biodiesel atravs de Espectroscopia no
Infravermelho (FTIR) e Cromatografia Gasosa de Alta Resoluo
(HRGC);
Verificar a possibilidade de produo de biodiesel com menor ndice de
iodo, ou seja, menor quantidade de insaturaes na sua cadeia
carbnica;
Comparar e avaliar a eficincia dos diferentes experimentos de
transesterificao em metanol supercrtico empregados para a produo
de biodiesel.
Captulo 3 Reviso Bibliogrfica
4
3 REVISO BIBLIOGRFICA
3.1 O Biodiesel
O biodiesel definido pela Resoluo 42 de 24/11/2004 da Agncia
Nacional do Petrleo, Gs Natural e Biocombustveis - ANP como um
combustvel composto de alquilsteres de cidos graxos de cadeia longa,
derivados de leos vegetais ou de gorduras animais. Por ser renovvel e
apresentar grandes quantidades de carbono, o biodiesel considerado um
combustvel alternativo potencial, apresentando propriedades similares ou at
superiores s do leo diesel convencional. Tabela 3.1 apresenta as principais
vantagens e desvantagens do biodiesel em relao ao leo diesel.
Tabela 3.1 Vantagens e desvantagens do biodiesel em relao ao leo diesel. Ambientais - livre de enxofre e aromticos;
- carter renovvel e biodegradvel; - reduz as emisses de material particulado, monxido de carbono, xidos sulfricos, hidrocarbonetos policclicos e aromticos, porm, apresenta maiores emisses de gases nitrogenados quando comparado com o leo diesel; - possibilita o aproveitamento de leos j utilizados em frituras.
Tcnicas - tem alto nmero de cetanas, o que torna melhor a combusto; - apresenta boa lubricidade; - possui ponto de fulgor mais elevado quando comparado ao leo diesel, portanto mais seguro; - mistura-se prontamente com o leo diesel em qualquer proporo e a mistura permanece estvel.
Econmicas - reduz a dependncia do leo diesel importado; - possibilita o fortalecimento do agronegcio; - induz um desenvolvimento regional sustentado; - gera crditos de carbono via Projetos de MDL.
Sociais - gera empregos diretos e indiretos em reas rurais; - contribui para a fixao do homem no campo.
Fonte: COSTA NETO et al., 2000 e PARENTE et al., 2003.
Captulo 3 Reviso Bibliogrfica
5
Com relao aos aspectos ambientais, o biodiesel uma alternativa
interessante no intuito de reduzir as emisses causadas pelo uso de
combustveis fsseis. Comparado ao leo diesel derivado de petrleo, o
biodiesel pode reduzir em 78% as emisses de gs carbnico, considerando a
reabsoro pelas plantas (LIMA et al., 2004), o que possibilita o acesso ao
mercado de crditos de carbono vinculado a Projetos de Mecanismo de
Desenvolvimento Limpo (MDL).
importante ressaltar que esta anlise deve considerar todo o ciclo de
vida, no se restringindo somente ao uso final do produto, ou seja, devem ser
considerados aspectos relativos a todas as etapas do processo produtivo,
iniciando-se pelo cultivo da oleaginosa at a produo e comercializao do
combustvel (MIRAGAYA et al., 2005). O biodiesel, sendo um produto
proveniente de fontes renovveis, permite que se estabelea um ciclo fechado
de carbono, no qual o dixido de carbono (CO2) absorvido quando a planta
cresce e liberado quando o biodiesel queimado na combusto do motor
(LIMA et al., 2004). A Figura 3.1 apresenta um esquema do ciclo de vida dos
produtos provenientes de fontes renovveis (CORDEIRO et al., 2003).
Figura 3.1 Diagrama esquemtico mostrando o ciclo de vida de produtos obtidos atravs de fontes renovveis (CORDEIRO et al., 2003)1. 1 WAGNER, H.; LUTHER, R. MANG T. Lubrificant Base Fluids Based on Renewable Raw Materials Their Catalytic Manufacture and Modification. Applied Catalysis. V. 221, p. 429-442, 2001.
Captulo 3 Reviso Bibliogrfica
6
3.2 Matrias-Primas
As principais matrias-primas utilizadas para a produo de biodiesel
so os leos vegetais, as gorduras animais e os leos e gorduras residuais
provenientes de frituras. Os leos vegetais e as gorduras so basicamente
compostos de triglicerdeos, steres de glicerina e cidos graxos, sendo que o
termo monoglicerdeo ou diglicerdeo refere-se ao nmero de cidos graxos na
cadeia. Conforme a espcie de oleaginosa, variaes na composio qumica
do leo vegetal so expressas por variaes na relao molar entre os
diferentes cidos graxos presentes na estrutura (COSTA NETO et al., 2000).
A Tabela 3.2 apresenta uma comparao entre a composio dos cidos
graxos dos leos de soja, girassol, que so os leos vegetais mais utilizados
para a produo de biodiesel no Brasil, e do leo de nabo forrageiro, que foi
utilizado como matria-prima para a produo de biodiesel neste trabalho.
Tabela 3.2 Composio dos leos de soja, girassol e nabo forrageiro*.
cido Graxo (%) leo de Soja
leo de girassol
leo de nabo forrageiro
Mirstico (C14:0) - 0,1 6,0
Palmtico (C16:0) 10,8 6,2 7,9
Esterico (C18:0) 3,2 4,1 3,1
Vacnico (C18:1 cis9) - - 1,4
Olico (C18:1) 23,7 23,5 29,1
Linoleico (C18:2) 55,3 63,0 16,3
Linolnico (C18:3) 7,0 0,5 12,7
Araqudico (C20:0) - - 8,2
Behnico (C22:0) - - 14,1
Ercico (C22:1) - - 1,2
Fonte: CERBIO, 2007.
Captulo 3 Reviso Bibliogrfica
7
Observa-se que o leo de nabo forrageiro apresenta uma quantidade
bem menor de cidos graxos insaturados. O cido graxo predominante na
composio do leo de nabo forrageiro o olico (C18:1), que contm somente
uma ligao dupla em sua cadeia carbnica, j o cido graxo predominante na
composio do leo de soja e do leo de girassol o linoleico (C18:2), que
contm duas ligaes duplas em sua cadeia carbnica. Logo, em comparao
com o leo de soja e girassol, o leo de nabo forrageiro vantajoso no que diz
respeito estabilidade qumica, pois um elevado nmero de insaturaes pode
provocar inconvenientes no motor devido a oxidaes, degradaes e
polimerizaes do combustvel, ocasionando um menor nmero de cetano ou
formao de resduos slidos, se inadequadamente armazenado ou
transportado.
leo de Nabo Forrageiro (Raphanus sativus L.)
O nabo forrageiro (Raphanus sativus L.) uma planta bastante resistente
a doenas e pragas e no requer muito preparo do solo para seu cultivo,
podendo ser cultivado em climas temperado, continental e tropical, sendo
tambm resistente geadas (ZANELLA et al., 2005). A Figura 3.2 mostra uma
fotografia desta espcie.
Figura 3.2 Fotografia mostrando as flores e folhas do nabo forrageiro.
Captulo 3 Reviso Bibliogrfica
8
O nabo forrageiro apresenta crescimento inicial extremamente rpido,
sendo que aos 60 dias promove a cobertura de 70 % do solo (CALEGARI et al.,
1990).
A massa foliar do nabo forrageiro geralmente utilizada para adubao
verde, pois apresenta elevada capacidade de reciclagem de nutrientes no solo,
como o nitrognio e o fsforo. indicada para a rotao de culturas, como
cobertura do solo durante o inverno e, eventualmente, para a alimentao
animal. Embora o teor de leo extrado registre uma mdia de 35% em relao
ao peso da semente, inferior ao de outras culturas, esse leo ganha pontos por
ser uma alternativa aos leos vegetais considerados commodities da indstria
alimentcia.
A Tabela 3.3 apresenta um resumo das principais caractersticas do
nabo forrageiro.
Tabela 3.3 Caractersticas do nabo forrageiro.
Extrao de leo 35% (mdia por semente)
Ciclo de produo Curto, o que facilita associao com a soja
Clima de cultivo indicado Frio e mido
Altura Mdia (menor que 1m), o que facilita a mecanizao
Viscosidade Baixa, o que melhora o desempenho do motor
Rendimento de biodiesel 284L/ha
Desvantagem Baixa produtividade (volume colhido por hectare)
Fonte: ZANELLA et al., 2005.
Captulo 3 Reviso Bibliogrfica
9
A Tabela 3.4 apresenta uma comparao entre as caractersticas fsico-
qumicas dos leos de nabo forrageiro, soja e girassol.
O valor do ndice de iodo, que representa a quantidade de insaturaes
das cadeias carbnicas dos triglicerdeos, mais baixo para o leo de nabo
forrageiro em comparao com os outros leos. Outra vantagem apresentada
pelo leo de nabo forrageiro o ponto de fulgor mais alto em comparao com
os leos de soja e girassol, o que indica que este leo se torna inflamvel sob
uma temperatura mais elevada e, portanto, mais seguro no transporte,
armazenamento e manuseio.
Tabela 3.4 Caractersticas dos leos de soja, girassol e nabo forrageiro*.
Parmetros leo de soja
leo de Girassol
leo de nabo forrageiro
Ponto de fulgor (oC) 254,0 274,0 288,0
Viscosidade cinemtica a 40oC (mm2/s) 32,6 37,1 38,1
Massa especfica a 20oC (kg.m-3) 919,0 918,0 918,0
Enxofre total (% massa) ND* ND* ND*
ndice de iodo 129,2 130,0 104,0
Estabilidade oxidao (h) 5,5 4,5 5,2
Poder calorfico superior (MJ.kg-1) 39,5 39,4 39,9
Ponto de nvoa (oC) -3,9 7,2 0
Ponto de fluidez (oC) -12,2 -15,0 -15,0
* ND- no detectado. Fonte: CERBIO, 2007.
Captulo 3 Reviso Bibliogrfica
10
3.3 Produo de Biodiesel
A transesterificao ou alcolise tem sido o mtodo mais adequado para
a produo de biodiesel, pois a partir dele possvel diminuir
consideravelmente os problemas associados combusto de leos vegetais in
natura, tais como a baixa qualidade de ignio, ponto de fluidez elevado e altos
ndices de viscosidade e massa especfica, gerando um biocombustvel
bastante semelhante ao leo diesel convencional.
A transesterificao uma reao orgnica onde um ster
transformado em outro pela mudana na poro alcxi, podendo ser
representada pela equao mostrada na Figura 3.3.
Figura 3.3 - Equao geral para uma reao de transesterificao (CORDEIRO, 2003).
Na reao de transesterificao de leos vegetais, os triglicerdeos
reagem com um lcool, geralmente na presena de catalisador, produzindo uma
mistura de steres e glicerina (co-produto da reao), como demonstrado na
Figura 3.4, onde o metanol o agente transesterificante. Dois tipos de reaes
ocorrem neste mtodo para formao de steres: a transesterificao de
triglicerdeos e a esterificao de cidos graxos (WARABI et al., 2004).
Como demonstrado na Figura 3.5, a reao de transesterificao
composta de trs reaes consecutivas e reversveis (i a iii), nas quais so
formados diglicerdeos e monoglicerdeos como intermedirios (SUAREZ et al.,
2007).
Captulo 3 Reviso Bibliogrfica
11
Figura 3.4 Reao de transesterificao de triglicerdeos por via metlica (adaptada de KASTEREN, 2007).
Figura 3.5 Reaes envolvidas na reao de transesterificao de triglicerdeos (SUAREZ, 2007).
A separao de fases uma etapa importante no processo de produo
de biodiesel. Se a reao atingir um alto nvel de converso, o produto formar
duas fases lquidas e uma fase slida se for usado um catalisador slido. A
fase inferior ser a glicerina e a fase superior ser uma mistura de lcool e
steres (LIMA et al., 2004).
Captulo 3 Reviso Bibliogrfica
12
A mistura tpica do produto da reao de transesterificao contm
steres, monoglicerdeos, diglicerdeos, glicerina, lcool e catalisador, em
vrias concentraes. Uma quantidade alta de glicerina no combustvel pode
causar problemas durante o armazenamento ou no motor, devido separao
da glicerina, ou pode criar problemas no sistema de injeo e aumentar a
emisso de aldedos. Uma alta quantidade de triglicerdeos, pode causar a
formao de depsitos no motor. Logo, a separao de fases um
procedimento indispensvel (MITTELBACH et al., 1996).
O biodiesel apresenta duas fontes principais de contaminao: (a)
glicerina livre, em virtude da separao insuficiente da glicerina do produto da
reao transesterificao; (b) glicerina combinada, decorrente da reao de
transesterificao incompleta dos triglicerdeos que compe os leos vegetais,
o que forma compostos intermedirios, tais como diglicerdeos e
monoglicerdeos, que ainda esto ligados s molculas de glicerina.
A Figura 3.6 ilustra as frmulas moleculares das espcies que
geralmente esto presentes no biodiesel.
*Me (metanol) e Et (etanol)
Figura 3.6 Frmulas moleculares das espcies geralmente presentes no biodiesel (MENEZES et al., 2005).
Captulo 3 Reviso Bibliogrfica
13
3.3.1 Aspectos que Influenciam a Reao de Transesterificao
Embora sendo reversvel, o equilbrio geralmente tende a favorecer a
formao do ster. A reao acontece essencialmente por mistura de
reagentes, porm, o deslocamento do equilbrio da reao de transesterificao
pode ser influenciado por uma srie de aspectos que podem atuar
isoladamente ou em conjunto (MA et al., 1999), sendo eles:
(a) pureza dos reagentes;
(b) tempo e temperatura de reao;
(c) razo molar lcool:leo;
(d) tipo de catalisador.
A pureza dos reagentes um fator importante que afeta
significativamente o rendimento da converso de biodiesel. O meio reacional
deve estar isento de gua para evitar a ocorrncia de reaes de hidrlise dos
triglicerdeos e a formao de sabes que acabam consumindo o catalisador,
levando a um aumento na viscosidade, formando emulses e dificultando a
separao da glicerina (SRIVASTAVA et al., 2000).
A composio qumica do lcool tambm interfere na reao de
transesterificao, o processo ocorre preferencialmente com lcoois de baixo
peso molecular ou constitudos por cadeias alqulicas menores (FREEDMAN et
al., 1986), tais como metanol e etanol.
A tecnologia convencional de produo de biodiesel por via metlica est
consolidada em virtude das caractersticas fsico-qumicas do metanol, como
cadeia curta e polaridade, e pela menor dificuldade na separao das fases do
produto da reao de transesterificao (LIMA et al., 2004). Contudo, vm
sendo desenvolvidas vrias pesquisas para a produo de biodiesel
empregando o etanol como agente transesterificante, em virtude,
principalmente, das suas vantagens ambientais, pois, ao contrrio do metanol,
o etanol derivado da biomassa e biodegradvel (SCHUCHARDT et al.,
1998).
Captulo 3 Reviso Bibliogrfica
14
No Brasil, vantajoso usar o etanol, j que este produzido em larga
escala, enquanto que o metanol tem que ser importado. A Tabela 3.5
apresenta uma comparao entre as principais caractersticas do metanol e do
etanol anidro.
Tabela 3.5 Caractersticas do metanol e do etanol anidro.
Metanol Etanol
Teor alcolico 99,99% (0,01%) Min. 99,4% (0,6%)
Separao de fases steres-glicerina Rpida* Mais lenta*
Para 100kg de leo utilizando-se razo molar 6:1 lcool:leo
18,3kg = +/- 23L 24,4kg = +/- 31L
Desidratao Destilao simples Destilao azeotrpica
Origem Predominantemente fssil
Renovvel
Periculosidade Maior Menor * depende da razo molar. Fonte: DOMINGOS, 2007.
A taxa de converso da reao de transesterificao aumenta com o
tempo de reao. Freedman et al. (1984) verificaram que o aumento do tempo
de reao fez com que a taxa de converso em biodiesel aumentasse
consideravelmente, alcanando valores de at 98%, sob relao molar
metanol:leo de 6:1, 0,5% do catalisador metxido de sdio 60C, usando os
leos de soja e girassol como matria-prima.
A temperatura uma das variveis que mais influencia a velocidade e o
rendimento da reao de transesterificao. Normalmente a reao
conduzida a baixas temperaturas, em torno de 40 a 70C, tendo como limite
superior a temperatura do ponto de ebulio do lcool utilizado presso
atmosfrica. Contudo, um aumento na temperatura de reao, especialmente a
temperatura supercrtica do lcool, traz uma influencia favorvel na converso
dos steres (KUSDIANA et al., 2001).
Outra importante varivel que afeta o rendimento de steres a razo
molar. Estequiometricamente, a reao de transesterificao de leos vegetais
exige 3 mols do agente transesterificante para cada mol de triglicerdeo, de
Captulo 3 Reviso Bibliogrfica
15
onde se formam 3 mols de ster e 1 mol de glicerina. Apesar de estarem
associadas ao tipo de catalisador utilizado, em geral, quanto maior o excesso
de lcool, maiores sero as taxas de converso e menor o tempo de reao,
devido ao aumento da superfcie de contato entre o lcool e os triglicerdeos
(KUSDIANA et al., 2001).
Reaes de transesterificao metlica catalisadas por lcali requerem
razes molares lcool:leo que variam entre 3,3:1 a 6:1, enquanto que em
reaes catalisadas por cidos, a razo molar pode chegar a valores como
30:1 (FREEDMAN et al., 1984).
3.3.2 Catalisadores
Dentre os vrios tipos de catalisadores estudados para a reao de
transesterificao, os mais tradicionais so as bases e os cidos, sendo os
principais exemplos os hidrxidos e alcxidos de metais alcalinos e os cidos
sulfrico, fosfrico, clordrico e organossulfnicos (SUAREZ et al., 2007).
A catlise bsica apresenta problemas operacionais quando o leo
vegetal apresenta altos teores de cido graxo livre, pois so formados sabes
que, alm de consumirem parte do catalisador durante sua formao, acabam
gerando emulses e dificultando a separao dos produtos (steres e glicerina)
no final da reao2. O mesmo ocorre quando existe quantidade considervel de
gua no meio reacional, pois, como discutido anteriormente, este contaminante
leva formao de cidos graxos pela hidrlise dos steres
presentes2,3(SUAREZ et al., 2007).
No entanto, os catalisadores bsicos tradicionais so largamente
utilizados na indstria para a produo de biodiesel, pois, alm da reao de
transesterificao ocorrer mais rapidamente (COSTA NETO et al., 2000) estes
catalisadores so menos corrosivos quando comparado aos catalisadores
cidos e so eliminados com mais facilidade do meio reacional por
neutralizao com cidos orgnicos com a conseqente formao de sais
insolveis (SCHUCHARDT et al., 1998).
2 MA, F.; CLEMENTS, L. D.; HANNA, M. A.; Ind. Eng. Chem. Res. 1998, 37, 3768. 3 LIU, K. S.; J. Am. Oil Chem. Soc. 1994, 71, 1179.
Captulo 3 Reviso Bibliogrfica
16
Os compostos mais usados como catalisadores bsicos so os
alcxidos e os hidrxidos. Os alcxidos de metais alcalinos so catalisadores
mais efetivos, porm, a baixa sensibilidade umidade e o menor custo dos
hidrxidos correspondentes faz destes os preferidos em transesterificaes em
larga escala (SCHUCHARDT et al., 1998).
Na Figura 3.7 mostrado o mecanismo da reao de transesterificao
de triglicerdeos em meio alcalino. A espcie ativa um alcxido, o qual
formado pela reao do lcool com a base, conforme a reao (i). No caso dos
catalisadores bsicos mais utilizados industrialmente, os hidrxidos de sdio e
potssio, a espcie formada juntamente com o alcxido a gua, que, como j
discutido, levar a reaes secundrias de hidrlise e saponificao. Por esta
razo, melhores rendimentos so sempre encontrados quando so usados
alcxidos de sdio e potssio diretamente4,5. Ento, uma carbonila sofre um
ataque nucleoflico do alcxido, conforme a reao (ii), formando um
intermedirio tetradrico. A partir de um rearranjo deste intermedirio formam-
se o ster e o nion, o qual, aps a desprotonao do cido conjugado da base
formado na reao (i), regenera a base de partida e produz, neste caso, um
diglicerdeo. Reaes similares iro ocorrer com os diglicerdeos formados,
produzindo monoglicerdeos, os quais, em processos similares, formaro
finalmente a glicerina (SUAREZ et al., 2007).
Figura 3.7 Mecanismo da reao de transesterificao alcalina de triglicerdeos, onde B uma base (SUAREZ et al., 2007).
4 MENEGHETTI, S. M. P.; MENEGHETTI, M. R.; WOLF C. R.; SILVA, E. C.; LIMA, G. E. S.; COIMBRA, M. A.; SOLETTI, J. I.; CARVALHO, S. H. V.; J. Am. Oil Chem. Soc. 2006, 83, 810. 5 VICENTE, G.; MARTNEZ, M.; ARACIL, J.; Bioresour. Technol. 2004, 92, 297.
Captulo 3 Reviso Bibliogrfica
17
Na Figura 3.8 mostrado o mecanismo da reao de transesterificao
de triglicerdeos em meio cido. Uma carbonila sofre um ataque eletroflico do
H+, conforme a reao (i), formando um carboction. A seguir, este carboction
sofre um ataque nucleoflico de uma molcula do lcool, formando um
intermedirio tetradrico, conforme a reao (ii). Ento, ocorre a eliminao de,
neste caso, um diglicerdeo e um ster, juntamente com a regenerao da
espcie H+. Por processos semelhantes sero formados os monoglicerdeos e
a glicerina (SUAREZ et al., 2007).
Figura 3.8 Mecanismo da reao de transesterificao de triglicerdeos em meio cido (SUAREZ et al., 2007).
As reaes catalisadas por cido, apesar de apresentarem bons
rendimentos, tm sido abandonadas, pois so muito lentas e requerem
temperaturas acima de 100C e tempos maiores do que 3horas. Alm disso, na
produo industrial os catalisadores cidos so evitados, pois corroem os
equipamentos. A catlise cida eficiente para leos que possuem teor de
cidos graxos livres superior a 1%, por como o caso dos leos de frituras, os
quais no podem ser transformados em biodiesel por catlise alcalina, visto
que os cidos graxos livres reagem com o catalisador produzindo sabes que
inibem a separao do ster da glicerina na lavagem com gua (CANAKCI et
al., 1999).
Captulo 3 Reviso Bibliogrfica
18
Como alternativa aos catalisadores bsicos e cidos tradicionais, novas
classes foram propostas nas ltimas dcadas, tais como enzimas, bases
orgnicas, complexos metlicos, aluminossilicatos e xidos metlicos. Estes
estudos visam otimizar os processos industriais de alcolise de triglicerdeos,
melhorando a atividade, diminuindo a sensibilidade das espcies ativas
presena de cidos graxos livres e gua, facilitando a separao dos produtos,
no final da reao, e possibilitando a recuperao e reutilizao dos
catalisadores (SUAREZ et al., 2007).
3.3.3 Catalisadores Heterogneos
Os catalisadores heterogneos, tais como aluminossilicatos, xidos,
carbonatos e resinas, apesar de apresentarem baixas atividades quando
comparados com os catalisadores tradicionais, vem sendo largamente
estudados como catalisadores da reao de transesterificao de triglicerdeos
(SUAREZ et al., 2007), principalmente em virtude da facilidade de separao
do catalisador do meio reacional e da possibilidade de reutilizao deste
catalisador, o que resulta em benefcios tcnicos, econmicos e ambientais. A
Tabela 3.6 apresenta uma comparao entre as principais caractersticas dos
catalisadores heterogneos em relao aos catalisadores homogneos.
Outro ponto importante a ser considerado que alguns leos e gorduras
que podem ser utilizados como matrias-primas para a produo de biodiesel,
como os leos residuais de frituras e a gordura animal, tm altos teores de
cidos graxos livres, o que dificulta a sntese do biodiesel via catlise bsica
homognea, pois estes cidos precisam, primeiramente, serem neutralizados.
Nesse sentido, os catalisadores heterogneos cidos, que promovam
simultaneamente reaes de alcolise de triglicerdeos e de esterificao dos
cidos graxos livres, apresentam-se como substitutos promissores dos
catalisadores bsicos (SCHUCHARDT et al., 2006).
Captulo 3 Reviso Bibliogrfica
19
Tabela 3.6 Comparao entre as principais caractersticas dos catalisadores heterogneos e homogneos.
Homogneos Heterogneos
Catalisadores alcalinos so facilmente manipulveis.
Podem ser utilizados na reao de transesterificao de leos vegetais que possuem altos teores de cidos graxos livres.
Maior nmero de etapas na produo do biodiesel.
Reduo significativa do nmero de etapas de purificao.
No podem ser reutilizados Podem ser reutilizados. Maior produo de resduos
provenientes da neutralizao do catalisador, da purificao do produto e recuperao da glicerina
Evita a corroso da planta.
Facilita a purificao do biodiesel.
Requer maior tempo de reao, temperaturas mais elevadas e plantas industriais mais sofisticadas.
Fonte: SCHUCHARDT et al., 2006.
Por outro lado, os sistemas de catlise heterognea podem apresentar
problemas de transferncia de massa, sobretudo em reaes envolvendo
molculas de alto peso molecular. Catalisadores mesoporosos, com
propriedades cidas ou bsicas, vm sendo largamente estudados e
empregados com sucesso em reaes envolvendo molculas de alto peso
molecular. Esses catalisadores heterogneos apresentam-se como potenciais
candidatos a esse tipo de processo (CORMA et al., 1995).
Zelitas
As zelitas, ou peneiras moleculares, so slidos porosos com uma
superfcie interna muito grande, capazes de adsorver seletivamente molculas
cujo tamanho permite sua entrada dentro dos canais, como ilustrado na Figura
3.9. Dessa forma, s podem ingressar ou sair do espao intracristalino aquelas
molculas cujas dimenses so inferiores a um certo valor crtico, que varia de
uma zelita outra (LUNA et al., 2001).
Captulo 3 Reviso Bibliogrfica
20
As zelitas so catalisadores eficientes porque a aproximao forada
entre molculas reagentes sob a influncia dos fortes potenciais eletrostticos
existentes no interior dos canais e cavidades provoca o abaixamento da
energia de ativao necessrio ao fenmeno da catlise6(LUNA et al., 2001).
As zelitas podem ser modificadas segundo estratgias variadas de
forma melhorar substancialmente sua atividade e seletividade cataltica. A
modificao de zelitas pela introduo de metais de transio d origem s
chamadas peneiras redox (LUNA et al., 2001).
Figura 3.9 - Estrutura de uma zelita A, na qual (a) molculas lineares so adsorvidas, mas o volume excessivo da molcula ramificada impede a penetrao nos poros em (b) (LUNA et al., 2001).
As zelitas englobam um grande nmero de minerais naturais e
sintticos que apresentam caractersticas comuns. So aluminossilicatos
hidratados de metais alcalinos ou alcalino-terrosos (principalmente sdio,
potssio, magnsio e clcio), estruturados em redes cristalinas tridimensionais,
compostas de tetraedros do tipo TO4 (T = Si, Al, B, Ge, Fe, P, Co) unidos nos
vrtices atravs de tomo de oxignio. Nas zelitas mais comuns, na frmula
TO4, o T representa o Si ou o Al. A frmula qumica por clula unitria est
apresentada na Figura 3.10 (BAPTISTA et al., 2003).
6 BOND, G. C.; Heterogeneous Catalysis: Principles and Applications, 2nd ed, Clarendon, Oxford, 1987.
Captulo 3 Reviso Bibliogrfica
21
Mx/n [(AlO2) (SiO2)y.]mH2O
onde: M = ction de valncia n;
m = nmero de molculas de gua;
x + y = nmero de tetraedros por clula unitria.
Figura 3.10 - Frmula qumica por clula unitria das zelitas mais comuns (BAPTISTA et al., 2003).
A eficincia das zelitas em catlise se deve a algumas caractersticas
peculiares desses materiais, tais como as relacionadas seguir:
(a) grande rea superficial e capacidade de adsoro7;
(b) propriedades de adsoro que variam num amplo espectro desde
altamente hidrofbicas a altamente hidroflicas8;
(c) uma estrutura que permite a criao de stios ativos, tais como stios
cidos, cuja fora e concentrao podem ser controladas de acordo com
a aplicao desejada9;
(d) tamanho de canais e cavidades compatveis com a maioria das
molculas das matrias-primas usadas na indstria10;
(e) uma complexa rede de canais que lhes confere diferentes tipos de
seletividade, tais como seletividade de reagente, de produto e de estado
de transio (LUNA et al., 2001)11. Esta seletividade pode ser usada
para conduzir uma reao cataltica na direo do produto desejado,
evitando reaes paralelas indesejadas.
A literatura apresenta vrias pesquisas relacionadas aplicao das
zelitas como catalisadores de reaes de transesterificao. A seguir, so
apresentados alguns exemplos.
As zelitas produzidas com faujasita (NaX) e com estrutura titanosilicato-
10 (ETS-10), foram usadas no estudo de Suppes et al. (2004) como
catalisadores da reao de transesterificao do leo de soja com metanol
(120-150C, 24h), obtendo-se converses em steres metlicos maiores de
7 FIGUEIREDO, J. L.; RIBEIRO, F. R.; Catlise Heterognea, Fund. Calouste Gulbenkian, Lisboa, 1987. 8 OLSON, D. H.; HAAG, W.O.; Lago, R.M.; J. Catal. 1980, 61, 390. 9 CORMA, A. [in] Zeolite Microporous Solids: Synthesis Structure and Reactivity, NATO ASI Series, 352, Kluwer Academic, Holanda, 1992. 10 GIANETTO, G; Zeolitas: Caracteristicas, Propriedades y Aplicaciones Industriales, Ed. Caracas, 1990. 11 SMART, L.; MOORE, E.; Solid State Chemistry, An Introduction, Chapman & Hall, Londres, 1992.
Captulo 3 Reviso Bibliogrfica
22
90%. Observou-se que o catalisador ETS-10, quando ativado 500C, durante
4h, tem sua atividade cataltica aumentada. Para reaes em fases lquidas,
esse pr-tratamento um passo crtico do processo, j que remove toda a
umidade da estrutura porosa do catalisador. Os catalisadores de zelita foram
reutilizados sem nenhuma perda observada de sua atividade, isso mostra que
esses catalisadores apresentam vantagens competitivas em comparao aos
processos convencionais, baseados na catlise homognea (SUPPES et al.,
2004).
Karmee et al. (2005) produziram biodiesel metlico de leo de Pongamia
pinnata na presena de catalisadores heterogneos slidos cidos, como a H-
zelita, a montmorillonita (K-10) e o xido de zinco (ZnO). A converso mxima
em biodiesel foi de 83%, usando o ZnO 120C, durante 24h de reao.
Kim et al. (2004) empregaram diferentes catalisadores heterogneos na
reao de transesterificao de leo de soja com metanol, usando razo molar
1:9, respectivamente, 10mL de n-hexano, como co-solvente e 1g do
catalisador. A temperatura da reao foi de 60C e o tempo de residncia de
2h. Observou-se que o catalisador mais ativo foi o Na/NaOH/-Al2O3, com
rendimento de 94% na produo de biodiesel.
3.4 Produo de Biodiesel sem Catalisadores
Como mencionado anteriormente, a reao de transesterificao
utilizando catalisadores, principalmente os convencionais, como bases ou
cidos, apresenta algumas desvantagens, tais como: tempo de reao
relativamente alto; impossibilidade de reutilizao do catalisador; dificuldade na
separao do catalisador (KUSDIANA et al., 2001); e, sensibilidade a gua e
aos cidos graxos livres, os quais, no caso de catlise bsica, podem reagir
com o catalisador causando a saponificao dos steres e consumindo o
catalisador, fazendo com que a eficincia da reao de transesterificao
diminua (KASTEREN et al., 2007).
Por estes motivos, para a obteno de um biodiesel de qualidade, isento
de contaminantes, a maioria das indstrias necessitam executar, alm da
reao de transesterificao propriamente dita, etapas de pr-tratamento do
leo vegetal para eliminao de gua e cidos graxos livres (KASTEREN et al.,
Captulo 3 Reviso Bibliogrfica
23
2007) e purificao do biodiesel para separao do catalisador e de produtos
saponificados. Logo, este processo convencional ainda requer um alto custo de
produo e energia (KUSDIANA et al., 2001).
Uma alternativa a estes problemas a reao de transesterificao no-
cataltica de leos vegetais com lcool supercrtico, ou seja, lcool submetido a
extremas presses e temperaturas (CAO et al., 2005).
A principal vantagem deste mtodo em relao ao mtodo convencional
a ausncia de procedimentos de remoo do catalisador e produtos
saponificados aps a reao, bem como a ausncia do pr-tratamento do leo
vegetal para eliminao de gua e cidos graxos livres, pois este mtodo no
sensvel a estes contaminantes (KASTEREN et al., 2007). A eliminao destes
procedimentos reduz consideralvelmente os custos de uma planta de biodiesel,
fazendo com que, do ponto de vista econmico, o processo de
transesterificao supercrtica possa competir com os processos tradicionais de
transesterificao que usam catalisadores homogneos cidos ou bsicos
(KASTEREN et al., 2007).
Apesar de contraditrio, Medeiros et al. (2006) afirmam que a reao de
transesterificao com lcool supercrtico necessita de menos energia no
processo global, visto que o custo do equipamento mais elevado
compensado pela rapidez da reao, melhor rendimento e menor custo de
purificao12.
Estima-se que o custo da energia necessria para produo do biodiesel
no mtodo convencional seja 17,9 MJ/L de biodiesel. O processo de
transesterificao sozinho (convencional) consume 4,3 MJ/L, enquanto que o
mtodo supercrtico o consumo de 3,3 MJ/L (reduo de 1 MJ/L por cada litro
de biodiesel produzido). Em relao aos custos do processo (utilizando leo de
canola com metanol), o processo supercrtico apresenta um custo de
US$0,59/L, enquanto que o convencional apresenta um custo de cerca de
US$0,63/L (MEDEIROS et al., 2006).
Em virtude das vantagens citadas, vrias pesquisas sobre a reao de
transesterificao de leos vegetais com lcool supercrtico vm sendo
desenvolvidas. No Brasil, o primeiro pedido de patente industrial para o 12 KUSDIANA, D. e SAKA, S. Kinetics of transesterication in rapeseed oil to biodiesel fuel as treated in supercritical methanol. Fuel, v 80, 693-698, 2001.
Captulo 3 Reviso Bibliogrfica
24
processo de obteno de biodiesel atravs da reao de transesterificao de
triglicerdeos utilizando lcoois em estado supercrtico foi depositado por
Ronaldo Farias Castigloni (RJ), em 20/04/2005, um ano aps o incio deste
trabalho.
3.4.1 Os Fludos Supercrticos
Os fludos supercrticos so produzidos pelo aquecimento de um gs,
acima de sua temperatura crtica ou compresso de um lquido acima de sua
presso crtica. A temperatura crtica de uma substncia a temperatura acima
da qual a fase lquida no pode existir, independente da presso. A presso de
vapor de uma substncia em sua temperatura crtica sua presso crtica. Sob
presses e temperaturas superiores, porm prximas de sua temperatura e
presso crticas, ou seja, o ponto crtico, uma substncia conhecida como
fludo supercrtico (ASSIS, 2006). A Figura 3.11 apresenta um diagrama de
fases, o qual ilustra a relao entre presso e temperatura e as fases de
determinada substncia.
Figura 3.11 Diagrama de Fases (gs/slido/lquido/fludo supercrtico); onde PT= ponto triplo, PC= ponto crtico, Pc= presso crtica e Tc= temperatura crtica (adaptada de CARRILHO et al., 2001).
FLUDO
SUPECRTICO
Captulo 3 Reviso Bibliogrfica
25
Os fludos supercrticos exibem vrias propriedades incomuns, sendo
elas de gases e lquidos, tais como difusividade e solvatao, respectivamente.
Estas substncias no so gases nem lquidos, porm so compressveis e
comportam-se como um gs (ASSIS, 2006). Sob tais condies, o volume
molar o mesmo, quer a forma original tenha sido lquido ou gs. Na Tabela
3.7 mostrada uma comparao entre algumas propriedades fsico-qumicas
de gs, lquido e fludo supercrtico.
Tabela 3.7 Caractersticas gerais dos gases, lquidos e fludos supercrticos.
Propriedade Gs Fludo supercrtico
Lquido
Densidade (g/mL) 10-4/10-3 0,2/0,9 1
Difusibilidade (cm2/seg) 10-2/1 10-4/10-3
Captulo 3 Reviso Bibliogrfica
26
3.4.2 Reao de Transesterificao com Metanol Supercrtico
O princpio do tratamento com fludo supercrtico est no efeito da
relao entre a presso e a temperatura sobre as propriedades termofsicas do
solvente, no caso, o metanol, tais como a constante dieltrica, a viscosidade, a
densidade especfica e a polaridade (KUSDIANA et al., 2004). Por exemplo, o
produto inico, que um parmetro importante para as reaes qumicas, pode
ser melhorado consideravelmente aumentando a presso13(KUSDIANA et al.,
2004). Conseqentemente, na reao de transesterificao do leo vegetal
empregando metanol no estado supercrtico, alm do metanol atuar como um
reagente, ele atua tambm como um catalisador cido.
Alm disso, a constante dieltrica altera drasticamente, chegando a um
valor muito prximo a do leo vegetal, permitindo que ocorra uma mistura
homognea metanol/leo vegetal em condies supercrticas14,15(KUSDIANA et
al., 2004). A Tabela 3.8 apresenta uma comparao entre algumas
propriedades fsico-qumicas do metanol em condies normais e em
condies supercrticas.
Tabela 3.8 Propriedades fsico-qumicas do metanol em condies normais e em condies supercrticas16,17,18.
Propriedades
Condies normais (25C, presso
atmosfrica)
Condies supercrticas
(250C, 20MPa)
Densidade, kg/L 0,7915 0,2720
Viscosidade, Pa s 5,4 x 10-4 0,58 x 10-4
Ligaes de hidrognio, nmero 1,93
Captulo 3 Reviso Bibliogrfica
27
Segundo Cao et al. (2005), o metanol lquido, por ser um solvente polar,
tem sua solubilidade aumentada sob condies supercrticas, podendo
solubilizar mais facilmente um leo vegetal se forem empregadas temperatura
e presso apropriadas19. A solubilidade de leos vegetais em metanol
aumentada numa taxa de 2-3% a cada 10C aumentados na temperatura da
reao20. Como resultado, o tempo de reao pode ser diminudo
consideravelmente (CAO et al., 2005).
O mecanismo da reao de transesterificao do leo vegetal com
metanol supercrtico, apresentado na Figura 3.12, foi proposto baseado no
mecanismo desenvolvido por Krammer e por Vogel (2000)21 para a hidrlise de
steres em gua no estado sub/supercrtico (KUSDIANA et al., 2004). Na
reao de transesterificao em metanol supercrtico no-cataltico, supe-se
que uma molcula do lcool ataca diretamente o a carbonila do triglicerdeo
devido elevada presso. No estado supercrtico, dependendo da presso e
da temperatura, a ligao do hidrognio significativamente mais fraca,
permitindo que o metanol se torne um monmero livre. Como mostrado na
Tabela 3.8, a ligao do hidrognio enfraquecida de 1,9 em condies
normais a 0,7 no estado supercrtico. A reao de transesterificao
completada atravs da transferncia do metxido, formando ster metlico e
diglicerdeo. De maneira similar, o diglicerdeo transesterificado formando
ster metlico e monoglicerdeo que convertido em mais uma molcula de
ster metlico e glicerina na ltima etapa (KUSDIANA et al., 2004).
19 DESLANDES, N.; BELLENGER, V; JAFFIOL, F; VERDU, J. Solubility parameters of a polyester composite material. J Appl Polym Sci 1998;69:266371. 20 MA, F.; CLEMENTS, L.D.; HANNA, M.A. Biodiesel fuel from animal fat. Ancillary studies on transesterification of beef tallow. Ind Eng Chem Res 1998;37:376871. 21 KRAMMER, P., VOGEL, H., 2000. Hydrolysis of esters in subcritical and supercritical water. Supercrit. Fuids 16, 189206.
Captulo 3 Reviso Bibliogrfica
28
Figura 3.12 Proposta de mecanismo da reao de transesterificao de leos vegetais/triglicerdeos em metanol supercrtico (KUSDIANA et al., 2004).
Na maioria das reaes de transesterificao com lcool supercrtico
empregada uma alta relao molar de metanol para leo vegetal, normalmente
em torno de 42:1. Segundo He et al. (2007), o elevado ndice de metanol em
relao ao leo vegetal faz com que o equilbrio da reao se desloque para o
sentido da produo de biodiesel, aumentando a taxa de converso da reao.
Alm disso, esta condio possibilita que o leo se dissolva completamente no
lcool, formando uma mistura homognea, o que traz um elevado rendimento
em um curto espao de tempo. Porm, aps a dissoluo completa do leo
vegetal no metanol, um aumento desta relao molar lcool:leo no
contribuir mais para o aumento do rendimento, e a reao contida pelo seu
equilbrio reacional (HE et al., 2007).
Sob condies supercrticas, afirma-se que a reao est completa em
aproximadamente 4 minutos. Normalmente, a reao extinta rapidamente,
por meio de resfriamento, de forma que os produtos no se decomponham, j
que a reao reversvel (GERPEN et al., 2004-b). A Figura 3.13 apresenta o
esquema de um sistema de transesterificao em condies supercrticas.
Captulo 3 Reviso Bibliogrfica
29
Figura 3.13 Diagrama esquemtico de um sistema de transesterificao em condies supercrticas (adaptada de DEMIRBAS et al., 2002).
Comparando com os processos catalticos, alm da purificao do
biodiesel ser bem mais simples e ambientalmente correta, os steres
produzidos por este processo so basicamente iguais aos obtidos pelo mtodo
convencional, com o uso de um catalisador bsico, sendo que o mtodo do
metanol supercrtico, geralmente, alcana um maior rendimento. O maior
rendimento neste processo pode estar relacionado converso de cidos
graxos livres em steres metlicos a partir da reao de esterificao, j no
processo comum, estes compostos so saponificados pelo catalisador alcalino
(SAKA et al., 2001).
Outra vantagem a possibilidade da utilizao de uma grande variedade
de reagentes na reao de transesterificao supercrtica, pois esta no
apresenta sensibilidade acidez e ao ndice de gua dos insumos. Por
exemplo, o leo residual de fritura, o qual possui uma composio complexa e
elevado ndice de acidez e de gua, pode facilmente ser transformado em
biodiesel pela reao de transesterificao em metanol supercrtico sem que a
reao seja prejudicada por estes contaminantes (HE et al., 2007).
A Tabela 3.9 mostra uma comparao entre a transesterificao
supercrtica e a convencional. Saka et al. (2001) afirma que apesar da reao
requerer elevadas temperaturas e presses, o tratamento com metanol
supercrtico um processo promissor para a converso de leo vegetal em
biodiesel.
Captulo 3 Reviso Bibliogrfica
30
Tabela 3.9 - Comparao entre a transesterificao supercrtica e a convencional.
Propriedades Supercrtico Convencional
Necessidade de catalisador No Sim
Tempo de reao Segundos-minutos Minutos horas
Temperatura (C) 200-300 50-80
Presso (MPa) 10-20* 0,1**
Sensibilidade cidos graxos livres No Sim
Sensibilidade gua No Sim
Pr-tratamento No Sim
Remoo de catalisador No Sim
Remoo de produtos saponificados No Sim * 10-20MPa = 98,69-197,38atm; ** 0,1MPa = 0,98atm. Fonte: adaptada de Kasteren et al., 2007.
Kusdiana e Saka (2001) realizaram o estudo cintico da reao de
transesterificao no-cataltica de leos vegetais em metanol supercrtico sob
diferentes condies de tempo e temperatura, bem como diferentes razes
molar metanol:leo. As observaes mais importantes deste estudo esto
relacionadas a seguir:
(a) a reao de transesterificao em metanol supercrtico 350C,
empregando uma relao molar metanol:leo de 42:1, trouxe uma
converso quase completa em 30min, com um rendimento de 95%
de steres metlicos. Porm, quando foram empregadas relaes
molares mais baixas foi obtido um baixo rendimento de steres
metlicos. Logo, as relaes molar lcool/leo mais altas favorecem o
curso da reao, devido, provavelmente, ao aumento da superfcie
de contato entre o metanol e os triglicerdeos;
(b) a reao de transesterificao com metanol no estado subcrtico
(200 e 230C), empregando uma alta relao molar lcool:leo
(42:1), no trouxe bons resultados. Nestas condies, as converses
de steres metlicos foram de no mximo 68 e 70%, 200 e 230C,
respectivamente, durante 1 hora de reao;
Captulo 3 Reviso Bibliogrfica
31
(c) 300C ocorreu uma mudana considervel na taxa de converso
da reao de transesterificao. Foram produzidos aproximadamente
80% de steres metlicos em apenas 240 segundos;
(d) a partir de 400C a reao de transesterificao se completou em
120 segundos e quase todo o leo residual foi convertido a steres
metlicos. Entretanto foi observado o aparecimento de novos
compostos, indicando decomposio trmica dos steres produzidos
(SAKA et al., 2001).
Madras et al. (2004) e Demirbas et al. (2002) tambm constataram que
o rendimento da reao de transesterificao empregando metanol supercrtico
aumenta significativamente com o aumento da temperatura. De acordo com
Madras et al. (2004), a taxa de converso de leo de girassol em biodiesel
aumentou de 78 para 96% elevando-se a temperatura de 200 a 400C,
20MPa e relao molar lcool:leo de 40:1. Por outro lado, Demirbas et al.
(2002) alcanaram uma taxa de converso de biodiesel de quase 100%,
250C, sob 100MPa, em apenas 300 segundos.
Warabi et al. (2004) utilizaram diversos tipos de lcoois, 300C,
empregando uma relao molar lcool:leo de 42:1, sob diferentes presses
crticas, dependendo do tipo de lcool utilizado. Observou-se que maiores
tempos de reao favorecem a converso de biodiesel, e que, num mesmo
tempo de reao os lcoois constitudos de cadeias alqulicas menores
apresentaram uma melhor converso, de quase 100%, em 15 minutos.
A Tabela 3.10 apresenta uma reviso bibliogrfica suscinta das
condies normalmente empregadas na reao de transesterificao com
metanol supercrtico. Observa-se que possvel alcanar altos rendimentos a
partir de 4 minutos de tempo de reao.
Captulo 3 Reviso Bibliogrfica
32
Tabela 3.10 Condies normalmente empregadas na reao de transesterificao com metanol supercrtico.
Fonte Tempo (min)
Temperatura (C)
Presso (MPa)
Razo molar (MeOH:leo)
Converso em biodiesel (%)
Cao, 2005 10 280 12,8 24:1 98
Madras, 2004 - 400 20 40:1 96
Warabi, 2004 15 300 - 42:1 100
Demirbas, 2002 5 250 100 41:1 100
Kusdiana, 2001 4 350 14 42:1 95
Catulo 4 Materias e Mtodos
33
4 MATERIAIS E MTODOS
A Figura 4.1 apresenta um diagrama esquemtico das etapas
empregadas para a produo do biodiesel com metanol supercrtico, atravs de
processos no-catalticos e catalticos, bem como para a caracterizao da
matria-prima utilizada e quantificao do produto obtido. A Figura 4.2
apresenta um diagrama detalhado das anlises empregadas para a
caracterizao do biodiesel obtido, j purificado por Cromatografia de Adsoro
em Coluna, sendo elas: Espectroscopia no Infravermelho por Transformada de
Fourier (FTIR) e Cromatografia Gasosa de Alta Resoluo (HRGC). Os
resultados obtidos foram comparados com amostras de referncia, tais como:
leo de nabo forrageiro (utilizado como matria-prima) e leo de nabo
forrageiro esterificado (Norma AOAC 969.33).
Figura 4.1 Diagrama esquemtico mostrando todas as etapas empregadas para a produo do biodiesel, bem como para a caracterizao da matria-prima e quantificao do produto obtido.
Catulo 4 Materias e Mtodos
34
Figura 4.2 Diagrama esquemtico mostrando as anlises empregadas para a caracterizao do biodiesel obtido, bem como das amostras de referncia, tais como: leo de nabo forrageiro e leo de nabo forrageiro esterificado (Norma AOAC 969.33).
4.1 Materiais e Reagentes
4.1.1 Reagentes
Para a produo de biodiesel foi escolhido o leo de nabo forrageiro
como matria-prima por este ser uma alternativa interessante aos leos
vegetais considerados commodities da indstria alimentcia, tais como o leo
de soja e girassol. Alm disso, na literatura cientfica existe uma quantidade
muito limitada de estudos referentes ao leo de nabo forrageiro.
Para as reaes de sntese de biodiesel em metanol supercrtico foi
utilizado basicamente metanol e leo de nabo forrageiro. Sendo que, o
metanol (CAS n 67-56-1) da marca Biotec foi utilizado como agente
transesterificante e a amostra de leo de nabo forrageiro foi gentilmente
fornecida pelo Centro Brasileiro de Referncia em Biocombustveis - CERBIO,
do Instituto de Tecnologia do Paran - TECPAR.
Catulo 4 Materias e Mtodos
35
O catalisador heterogneo empregado nas reaes de
transesterificao, em metanol supercrtico, catalticas foi a zelita A. Sendo
que este catalisador foi pr-tratado a partir da secagem em mufla 500C
durante 30min, para ativao de seus stios ativos (SUPPES et al., 2004). A
Tabela 4.1 apresenta a composio qumica da zelita utilizada, determinada
por fluorescncia de raios-x.
Tabela 4.1 Composio qumica da zelita A.
Constituintes % SiO2 59,13 Al2O3 36,67 P2O5 1,41 La 1,13
SO3 0,58 Fe2O3 0,52 Na2O 0,44
Ce 0,10 Sr 0,05
CaO 0,02 K2O 0,02 TiO2 0,21 Cu 0,01
Fonte: BORGES et al., 2005.
4.1.2 Equipamentos
As reaes de transesterificao ocorreram numa cela de reao de
ao, de 100mL, acoplada a um sistema de agitao home made, doada pelo
Instituto de Qumica da Universidade de So Paulo. Neste trabalho, a cela de
reao era carregada com leo vegetal, metanol e, em alguns experimentos,
com catalisador heterogneo, pressurizada 15MPa com nitrognio, lacrada e
levada ao forno pr-aquecido sob temperatura controlada. As Figuras 4.3 e 4.4
apresentam ilustraes da cela de reao e do sistema completo,
respectivamente.
Catulo 4 Materias e Mtodos
36
Figura 4.3 Ilustrao da cela de reao de ao utilizada nos experimentos de sntese
do biodiesel (ASSIS, 2000).
Figura 4.4 Ilustrao do sistema utilizado nos experimentos de sntese do biodiesel
(ASSIS, 2000).
Catulo 4 Materias e Mtodos
37
4.2 Procedimentos
4.2.1 Caracterizao do leo de Nabo Forrageiro
A caracterizao fsico-qumica do leo de nabo forrageiro, utilizado
como matria-prima nas reaes de transesterificao, foi realizada
empregando mtodos normatizados, conforme descrito a seguir:
(a) ndice de Iodo (II), pelo mtodo AOCS Cd-1-25, similar ao ASTM
D5554-95 (2006), o qual permite a determinao do grau de insaturao
de um leo pela porcentagem de iodo absorvido pela amostra;
(b) ndice de acidez (IA), pelo mtodo AOCS Cd-3d-63, similar ao
ASTM D664-06a, que est associado ao nmero de miligramas de
hidrxido de potssio necessrio para neutralizar os cidos livres em um
grama de amostra;
(c) ndice de Saponificao (IS), pelo mtodo AOCS Cd-3-25, similar
ao ASTM D5558-95 (2006), o qual pode ser definido como a quantidade
de hidrxido de potssio necessria para saponificar uma quantidade
definida de amostra. O IS foi usado para calcular a massa molar mdia
(MM) da amostra de leo de nabo forrageiro que, posteriormente, foi
empregada para o clculo da quantidade de regentes e quantificao
dos produtos das reaes de transesterificao.
Catulo 4 Materias e Mtodos
38
4.2.2 Produo de Biodiesel com Metanol Supercrtico
As condies experimentais empregadas na produo do biodiesel com
metanol supercrtico esto apresentadas no planejamento fatorial mostrado na
Tabela 4.2. Estas condies foram definidas aps a execuo de uma srie de
experimentos preliminares de transesterificao em metanol supercrtico,
variando-se a temperatura e o tempo de residncia.
Em todas as reaes de transesterificao foram mantidas a razo molar
lcool:leo vegetal de 45:1 (12,01g de metanol e 7,52g de leo de nabo
forrageiro) e a presso interna do reator de 15MPa (aproximadamente 148atm),
obtida por pressurizao com Nitrognio 5.0. Os parmetros tempo de
residncia, temperatura e presena de catalisador foram variados visando a
determinao da influncia destes sobre o rendimento do processo.
Tabela 4.2 - Planejamento Fatorial 23 (trs variveis com dois nveis) empregado na sntese de biodiesel em metanol supercrtico sob presso fixa de 15MPa e razo molar leo:metanol de 1:45.
Parmetros Nveis
(-) (+)
T - Temperatura (C) 380 430
t - Tempo de residncia (min) 45 75
CAT - Catalisador/zelita (%)
0 5*
Experimento T t CAT
1 - - -
2 - + -
3 + - -
4 + + -
5 - - +
6 - + +
7 + - +
8 + + + Metanol (P crtica = 8,09 MPa e T crtica = 239C), (Kusdiana et al., 2001). * Equivalente 0,98g de zelita.
Catulo 4 Materias e Mtodos
39
Procedimento para a Sntese do Biodiesel em Metanol Supercrtico
Os experimentos de sntese do biodiesel de leo de nabo forrageiro
empregando metanol supercrtico foram realizados conforme o procedimento
disposto a seguir:
(a) adicionou-se os reagentes no interior da cela de reao;
(b) a cela de reao contendo os reagentes foi tampada e parafusada,
sendo que entre a tampa e a cela foi colocado um anel de vedao de
cobre, o qual possui um maior coeficiente de dilatao do que o ao,
promovendo uma melhor vedao;
(c) conectou-se a cnula de pressurizao do cilindro de nitrognio na
cnula da cela de reao;
(d) abriu-se o registro do cilindro at a presso desejada;
(e) a vlvula de controle de presso da cela de reao foi fechada, e em
seguida o registro do cilindro de gs foi fechado e desconectado das
cnulas de pressurizao;
(f) verificou-se a existncia de possveis vazamentos;
(g) a cela de reao foi ento conectada no forno pr-aquecido
temperatura desejada, ento o forno foi tampado e o sistema de agitao foi
acionado;
(h) transcorrido o tempo pr-determinado, a reao de transesterificao
foi cessada levando-se a cela de reao sob gua corrente, e, aps o
resfriamento, a cela de reao foi despressurizada lentamente com o auxlio
da vlvula de controle de presso;
(i) aps despressurizada completamente, abriu-se a tampa da cela de
reao e, com o auxlio de uma pipeta Pasteur, o produto obtido foi
transferido para um funil de separao, deixando decantar por 24h para a
separao de fases. No caso das reaes catalisadas pela zelita, o
produto obtido foi primeiramente filtrado para remoo do catalisador;
(j) aps o perodo de decantao, transferiu-se cada fase do produto para
bquers tarados e deixou-se evaporar em capela at peso constante. O
peso obtido foi posteriormente anotado.
Catulo 4 Materias e Mtodos
40
4.2.3 Monitoramento da Reao de Transesterificao
Cromatografia em Camada Delgada
Por ser simples, rpida, visual e econmica, a cromatografia em camada
delgada (CCD) a tcnica predominantemente escolhida para o
acompanhamento de reaes orgnicas (DEGANI et al., 1998), tais como as
reaes de transesterificao.
A CCD foi utilizada no monitoramento da converso de leo de nabo
forrageiro em biodiesel. Como fase estacionria utilizou-se placas de slica-gel
60F254 da Merck, com espessura de 0,25mm, na qual foram aplicados os
padres (leo de nabo forrageiro e biodiesel) e as amostras obtidas pelos
experimentos de transesterificao em metanol supercrtico. A fase mvel
utilizada foi uma mistura de hexano, acetato de etila e cido actico, na
proporo de 90:10:1, respectivamente. Aps a corrida cromatogrfica, o
cromatograma foi revelado em cmara contendo vapor de iodo, pois o iodo
complexa-se com compostos insaturados formando pontos escuros nas placas
de slica-gel. Ento, os Rfs (fatores de reteno) das manchas dos padres e
dos componentes da amostra foram determinados e comparados para
identificao, conforme ilustrado na Figura 4.5. Para o biodiesel, o Rf
geralmente est em torno de 0,75.
Figura 4.5 Ilustrao de um cromatograma obtido por CCD.
Catulo 4 Materias e Mtodos
41
4.2.4 Purificao do Biodiesel
Cromatografia de Adsoro em Coluna
A purificao do biodiesel foi realizada por cromatografia de adsoro
em coluna baseada na metodologia AOCS Cd 11c-93. Como colunas
cromatogrficas, foram utilizadas colunas de vidro com dimenses de
aproximadamente 40x1,5cm, com controlador de fluxo, as quais foram
empacotadas com 10g de slica-gel 60 (70-230mesh) da marca Vetec Qumica
Fina, com aproximadamente 5% de umidade, suspensa em ter de petrleo.
Como fase mvel foi utilizado 70mL da mistura de ter etlico em ter de
petrleo (1:9 em volume). O biodiesel eludo foi coletado e deixado evaporando
at peso constante.
Determinao do Porcentual de Converso de Biodiesel
A purificao do biodiesel por cromatografia de adsoro em coluna
possibilitou calcular o porcentual de converso de biodiesel de todos os
experimentos de transesterificao em metanol supercrtico, bem como a
distribuio do biodiesel entre as fases do produto.
A Figura 4.6 apresenta de forma detalhada o clculo do porcentual de
converso de biodiesel, no qual foi considerado, no somente a massa obtida
pela reao de transesterificao, mas tambm a pureza do produto obtido e
os valores referentes ao clculo da simulao de uma converso completa do
leo de nabo forrageiro em biodiesel.
Catulo 4 Materias e Mtodos
42
Figura 4.6 Determinao do porcentual de converso em biodiesel.
4.2.5 Caracterizao do Biodiesel
O biodiesel produzido foi caracterizado usando espectroscopia no
infravermelho com transformada de Fourier (FTIR) e cromatografia gasosa de
alta resoluo (HRGC) com deteco por ionizao de chama (FID). Para estas
anlises, as amostras de biodiesel foram divididas em dois grupos, sendo o
primeiro composto pela mistura de todas as amostras de biodiesel provenientes
dos experimentos de transesterificao em metanol supercrtico no-cataltico,
e o segundo composto pela mistura de todas as amostras de biodiesel
provenientes dos experimentos de transesterificao em metanol supercrtico
na presena de catalisador heterogneo. Lembrando que todas as amostras
foram previamente purificadas por cromatografia de adsoro em coluna.
Catulo 4 Materias e Mtodos
43
Em ambos os ensaios, as amostras de biodiesel foram comparadas com
uma amostra de biodiesel de leo de nabo forrageiro obtida pela reao de
esterificao, segundo a norma AOAC 969.33, o qual consiste na saponificao
dos glicerdeos e fosfolipdeos e posterior liberao e esterificao dos cidos
graxos na presena de trifluoreto de boro (BF3). O procedimento empregado
para esta reao encontra-se descrito no Apndice A. No caso da
espectroscopia no infravermelho, foi analisado, tambm, o leo de nabo
forrageiro utilizado como matria-prima nas reaes de transesterificao.
Espectroscopia no Infravermelho (FTIR)
As amostras de biodiesel e leo de nabo forrageiro foram analisadas no
espectrofotmetro de infravermelho por transformada de Fourier da marca
Jarca, equipado com um detector TGS, utilizando o mtodo ASTM E 1252-98.
Os espectros foram obtidos na faixa de 4000 a 400cm1, com resoluo de
4cm1, usando uma mdia de 64 varreduras por espectro. Foram obtidos os
espectros de IV das seguintes amostras: (a) leo de nabo forrageiro; (b)
biodiesel obtido pela reao de esterificao; (c) biodiesel obtido pela reao
de transesterificao em metanol supercrtico, na ausncia de catalisador; (d)
biodiesel obtido pela reao de transesterificao em metanol supercrtico, na
presena de catalisador heterogneo.
Cromatografia Gasosa de Alta Resoluo (HRGC-FID)
A cromatografia gasosa de alta resoluo foi empregada para a
determinao do perfil crom