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SINTESE - cortemello.com.br · RESUMO A EIRELI - Empresa Individual de Aesponsabilidade Limitada foi introduzida no ordena ... a partir da doutrina de Alberto Asquini, que entende

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2011 copy SINTESE

Uma publica~ao da SfNTESE uma linha de produtos juridicos do Grupo SAGE

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Dados Internacionais de ICIP)

Revista SfNTESE Direito Empresarial Ano 8 nO 43 MarAbr 2015

Nota Continua~ao da Revista Juridica Empresarial da Editora Notadez

Dirator Elton Jose Donato

Blmestral 1953-1962 trim8stra 1963-1965 irregular 1966-1967 anual 1968 trim8stral 1977

1982 mensal 1988

ISSN 2236-5346

Telelons para Con1aOsINTESE ~ Cobran~a S~O Paulo eGrande sao Paulo (Iii 21887900 Demaislocalidades 0800J2479001011 Informlllioes Objetvas Publica~oes Juridicas ltda

R Antonio Nagib Ibrahim 350 -lt Agua Branca SAC aSuporte Tecnico Sao Paulo eGrande Sao Paulo (l1l2188 7900 05036-060 - Sao Paulo - SP Demais localidades 08007247900 wwwiobfolhamaticcombr E-mail sacsintesesagecom

Renolf1l~ao Grande S~O Illulo (ll) 21887900 Damais IOQalidades 08007283888

FERNANDA BORGHETII CANTALI Advogada Mestre em Direito pela PUCRS Professora de Direito Empresarial ede Propriedade Inteectual da Universidade do Vale de Rio dos Sinos Unisinos e de Dileito Empresarial PO

Centro Univefsltario Metodista do IPA

JOSIANE NUNES ALVES Advogada Bacharel em Direito pelo Centro Universitario Metodista do IPA

RESUMO A EIRELI - Empresa Individual de Aesponsabilidade Limitada foi introduzida no ordenashymenta juridico brasileiro recentemente Trala-se de uma nova especie de empresario ao lado do empresario individual e da sociedade empresaria que contem caracteristicas pr6prias e alguns asshypectos controvertidos 0 objetivo do presente artigo eapresenlar tais caraeterfsticas econtroversias procurando eontribuir para uma melhor compreensao acerca do novo instituto 0 qual representa sem duvida a principal alteraQao do regime jurfdico empresarial nos (Jltimos tempos

PALAVRAS-CHAVE Empresa Individual de Responsabilidade Limitada empresario hdividuaf socieshydade unipessoal autonornia patrimo1ial limita~ao de responsabifidade

ABSTRACT LLC - the Single-member Limited Uability Company has been recently introduced in the fram~work It deals with a new kind of entr~preneur right ~eside the sole proprietor

ancfihemiddot partnership with its oWR~ellaa1~Bri$ticmiddot5an~j~ma controversialpoints article aims to present such characteristics and controversies and seeks to contribute to better

understand tne new i~stitute which undoubtediy has represented the main shift in the legal business structures over the last years

KEYWORD Single-member Limited Liability Company sale proprietor single-member society patrishymonial autonomy limit of liability

SUMARIO IntroduQ1lo 1 0 empresario e a principia da autonomia patrimonial 11 A empresa 0

empresario pessoa ffsica e 0 empresario pessoa jurldica 12 As consequllncias da personificaQao e a import~ncia do prindpio da autonomi8 patrimonial 13 EIREU as principais caracteristicas do

Importanle registrar que nos paises de lingua inglesa as sociedades limitadas unipessoais representam a que hi de meis aproximado aD novel instltuto brasilelro a EIRELI Dessa forma nilo hi uma carrespondancia exata entre as termos implieando a necessidade desta ressalva quanto atraduq~o

RIE N 43 - Mar-Abr2015 - PAlIn GERAl- DIUTRINA

novo empresario 2 Os aspectos controvertidos acerca da EIREl 21 Quem pode ser titular de uma EIRELI 22 A EIAElI e 0 capital minimo para sua constituiQ1lo (injconstitucionalidade da norma 23TIREtI empresario individual sociedade empresaria unipessoal ou um tipo sui generis de empreshysario 24 AEIAELI e0 projeto de novo C6digo Comercial extin~ao do instituto e criagao de novas

Considera~5es finais

SUMMARY Introduction 1The entrepreneur and the principle of patrimonial autonomy 11 The bushysiness structure the individual entrepreneur and the bJsiness entity 12 Consequences of the persoshynification and importance of the principle of patrimonial autonomy 13 E1REU main characteristics of the new entrepreneur 2 Controversies of the EIREU 21 lNhoever can be the sale proprietor of a EIREU 22 The EIREU and the minimum capital requirements to constitute of the norm 23 EIAELI single-member sale proprietor or a sui gSleris type of entrepreneur 24 The EIAEU and the project ofa new trade code extinction of institute and creation of new elements Final considerations

INTRODU~AO

A Lei nQ 124412011 que entrou em vigor em 9 de janeiro de 2012 introduziu t no Brasil a EIRELI - Empresa Individual de Responsabilidade Limitada Desde la alguma~ discussoes vem sendo travadas

Ineluida no rol das pessoas juridicas de direito privad02 a EIRELI deishyxa duvidas acerca da sua natureza juridica sobre a constitucionalidade de alguns dos dispositivos bem como sobre a melhor forma de suprir as lacushynas deixadas pelo legislador e 0 poder regulador do DNRC - Departamento Nacional de Registro do Comerci03 orgao executivo que vem estabelecenshydo certas determina~oes que fogem do que consta expressamente do texto legal

Nessa medida atraves deste artigo busca-se desenvolver uma comshy~~~~~4~9~t~bre a EI~ELI~ connecer suas car~cte6sticasess~nciais~ ificaraseJfsecttim6es e os pantos em comum em1~laeampamp~~rilgDils)Ja

conhecidas do empresario individual e da sociedade empresaria alem de identificar as principais controversias e as possfveis respostas aos questionashymentos existentes

-=--_----------~shy

2 Art 44 do CCB SRio pessoas Jurldicas de direito privado [ J VI-as empresas individuals de responsabilidadeIlmltada (Brasil 2002 p indeterminadal

3 oDNRC faz parte do SINREM - Sistema NaeionaJ de Ragislra Mercantil juntamente com as Juntas Comerclais dos Estados 0 DNRC ea 6rgao central do SIN REM e a ele compete fixar as diretrizes gerais para a pratica dos atos regislras pelas Juntas Comercias supervisionando e reguJamentando a atua~ao destas A estrutura do SINREM bern como a compet~ncia de seus 6rgaos vern definida no art 3deg da lei nO 893411994 a Lei dos Registros Mercantls

middot ROE I 4J ~ MarmiddotAbr2015 - PARrE

riscos do exerc~-Ia inshy

risco de

melhor

pessoa

4

GfBAl- DOBmlNA

A autonomia patrimonial atribuida em regra as pessoas jurldieas e a limita=aode responsabilidade dos socios saomecanismos eficientes de incentivo ao exercicio da empresa e por consequ~ncia de fomento da ecoshynomia e geralao de riquezas Por essa razao a discussao acerca da possishybilidade de apliear-se aqueles que desejam empresariar individualmente 0

princfpio da autonomia patrimonial e a limitarao de responsabilidade semshypre se fez relevante revelando-se tambem como um desejo do empresashydado e dos operadores do Direito

A recente cria~ao legislativa busca de fato reduzir os exercfcio da atividade empresarial aqueles que decidem dividualmente Os proprios autores dos projetos que deram origem a Lei nQ 124412011 referem que a separa~ao de patrim6nio aliada com a limishyta~ao de responsabilidade visa a possibilitar 0 acesso dos pequenos empreshyendedores ao exercicio regular da atividade empresaria evitando 0

afeta~ao da totalidade do patrim6n io do empreendedor em caso de insushycesso no empreendimento

A ElRELI sem duvida objetiva incentivar 0 exerdcio da atividade empresarial no Pais Entretanto embora festejada a nova especie de emshypresario gera controversias e ha quem diga que nao logrou alcan~ar todos os objetivos que embasaram a sua cria(ao Este e 0 propos ito do presente artigo apresentar as caracteristicas da EIRELI bem como refletir sobre as questoes controvertidas com 0 intuito de auxiliar na constru(ao de uma adequada compreensao do novo instituto

10 EMPRESliRIO EO PRINCiPIO DA AUTONOMIA PATRIMONIAL

o princfpio dcfaUtonomitpatrinidnial e semduvida um estruturante do direito societario Para a sua apliea~ao em rela(ao aqueles que desejam empresariar sozinhos concebeu-se a EIRELI Contudo antes de tratar do principio em questao fazem-se necessarios breves esclarecishymentos acerca da empresa e das especies de empresarios existentes do Dishyreito brasileiro

11 AEMPRESA 0 EMPREURIO PESSOA FfslCA E 0 EMPREURIO PESSOA JURiolCA

A EIREU Empresa Individual de Responsabilidade Limitada recenteshymente introduzida no ordenamento juridico patrio tornou posslvel que uma so pessoa exer~a uma atividade empresaria limitando sua responsabilidashyde patrimonial ao capital investido Todavia antes de mais para 0

ROE Ndeg 43 - MarmiddotAbri2115- PARTE IiERAl-nUTRINL

entendimento acerca da ElRELI e importante acompreensao de institutos basicos de diieito empresarial como a empresa e o empresario

Segundo Rubens Requiao (201 at a ideia de empresa surgiu no ambishyto do direito comercial atraves do Codigo Frances de 1807 Ele afirma que embora os comercialistas franceses tenham tentado desenvolver 0 conceito de empresa nao lograram ~xito uma vez que suas teorias estavam sempre conectadas COm a pratica dos chamados atos de comercio Para 0 autor a melhor detjni~ao de empresa foi construida no direito italiano a partir da doutrina de Alberto Asquini que entende a empresa como um fenomeno poliedrico

Ricardo Negrao (2011 p 64-81) destaca de forma objetiva os quashytro pertis da empresa que comp6em a teoria pol iedrica do autor italiano 0

perfil 5ubjetivo que remete aquele que exerce a empresa 0 empresario a flsica ou jurfdica - que exerce a atividade economica organizada

o perfil funcional que nada mais e do que a propria atividade realizada pelo empresario 0 perfil objetivo ou patrimonial entendido como 0 meio necessario para que 0 empresario exerca a atividade economica ou seja 0

estabelecimento empresarial ou complexo de bens utilizados pelo empresashyrio para 0 exercicio da atividade empresarial e por tim 0 perfil corporativo ou institucional pelo qual a empresa e 0 resultado da uniao de esforcos do proprio empresario e de seus colaboradores os quais tem um objetivo coshymum a obten(ao do melhor resultado economico passive

A partir dos diferentes perfis do fenomeno empresa fixou-se 0 entenshydimento de que a melhor defini~ao de empresa e a que a identifiea como uma atividade economica organizada ou seja define-se empresa atraves do perfil funcional (Ramos 2012 p 11)

A leoria das atas de comercio desenvalvida a partir da codificarao Napoleilnica (C6digo Comerca de 1807) era a reoria que embasava 0 direito comereiai em sua segunda fase evolutiva islo e a direto comereial destinado a regular as relar5es que envolvessem a prallea de deterrninados atos que segundo dlsposirao legal eram considerados atos de comereic Segundo dita teorie eram comerciantes aqueles que realizavam com habitualidade estes alos Assim 0 C6digo Comereial Francils reproduzido em codifica~6es posteriores inclusive ne Brasil [Cltldigo Comercial de 1850) enumerava certas atividedes que eram consideredas mereantls cabendo ao C6digo Civil a regulaltiio dos demals atos olio considerados alas de comercio (Ramos 2012) Coosiderava-se como aode camercio basicamente a atividade industrial decomercio de mercadorias propriamente dita e bancaria A delinirlio de atos de comercio apresentavamiddotse eom fundamental rslevanaia na medlda em que era a partir da defini~lio de uma determinada atlvidade como ate de comercio que se caracrerlzava 0 agente que a realizava como corneroia nte ficando esta submetida as normas especlficas previstas na legislarao comercial [lacerda 1970) Para 0 aprofundamento acerea das lases evolutivas do direito empresarial vide NEGAAO Ricardo Manua de direltn comercial e de empresa 8 ed Sao Paule Sarava 2011 p 25-33 e COElHO Fabio Ulhoa Curso de direito comercia 16 ed Slio Paulo Saraiva2012 p 19-44

1 RDpound II 4J - MarmiddotAbif2D15 - PARTE GpoundRAl- DOUmlnA

o C6digo Civil brasileiro nao trouxe 0 conceito de empresa mas apeshynas 0 de empresario que e0 sujeito que exerce a empresa conf0fme dispoe o art 966 do C6digo Civil5 bem como 0 conceito de estabelecimento emshypresariaL no art 1142 do mesmo diploma legal Da analise do conceito de estabelecimento pode-se depreender mais facilmente que empresa e uma atividade a atividade empresarial que 0 empresario desenvolve atraves de seu estabelecimento 0 legislador seguiu a tendencia doutrinaria que deshyfiniu a empresa como a atividade economica organizada de producao e circulacao de bens e servicos

A empresa e a pr6pria atividade empresarial a qual e marcada par algumas caracterfsticas extraidas do pr6prio art 966 do C6digo Civil sem as quais a atividade exercida nao sera considerada empresa e por conseguinshyte 0 sujeito que a exerce nao sera caracteriLado como empresario

A primeira dessas caracteristicas e a economicidade ou a finalidade lucrativa que e 0 objetivo do empresario Quanto ao intuito lucrativo da atividade empresarial que caracteriza 0 empresario pode-se dizer que

Ao destacarmos a expressao atividade economica por sua vez queremos enfatizar que empresa e uma atividade exercida com intuito lucrativo Afishynal conforme veremos ecaracterfstica intrfnseca das relalt5e5 empresariais a onerosidade Mas nao e 56 a ideia de lucro que a expressao atividade ecoshynomica remete Efa indica tambem que 0 empresario sobretudo em funltao do intuito lucrativo de sua atividade euro aquele que assume os riscos tecnicos e econornicos de sua atividade (Ramos 2012 p 37)

Segundo Fran Martins (2011 p 67) entende-se por comerciante a pessoa natural ou juridica que profissionahnente exercita atos de intershymedialtao ou prestacao de servicos com 0 intuito de lucro Mais adiante o d()u~~lQ~()r~~Jarlce que 0 empre~ario e a evolucao da ng(lrId()to~r dante

Com a evolu~ao da importancia das empresas no exercfcio das atividades comerciais os comerciantes sao considerados empresarios isto e os chefes das empresas (C6digo Civil italiano de 1942 art 2086) [ J ve-se que 0

campo de aao do comerciante foi ampliado com a conceito de empresario pois se no direito tradicional 0 comerciante era um simples intermediario no novo direito as atividades da empresa podem ser tambem de produ~ao

Art 965 do eeB Consldera-se empres~rio quem exerce profissionalmente atividade econ6mlca organizada para a produltao ou a circulaltao de bens ou de serviltos (Brasil 2002 p indeterminada)

5

Art 1142 do CCB Consideramiddotse estabelecimento todo 0 complexo de bens organlzado para exercfcio da empresa par empresario ou sociedade empresana (Brasil 2002 p indelerminada)

6

RDE N 43 - Mar-Abr2D15 - PARTE GERAl- MUTRINAgt

A segunda caracterfstica refere-se ao profissionalismo ou seja a hashy151fualidade noexerdcio da empresa A ativid~de economica nao pode ser exercida esporadicamente mas seu exercfcio deve prolongar-se no tempo coadunando com 0 intuito lucrativo do agente (Vercosa 2004) Em sintese o empresario e aquele que exerce a empresa de forma profissional assushymindo os riscos dela decorrentes e com 0 intuito de obter lucro (Requiao 2010)

Outra caracterfstica essencial da empresa que tambem caracteriza 0

empresario diz respeito a sua finalidade qual seja a producao eou a cirshycufacao de bens e servicos A ligacao do exerclcio da empresa ao binomio producao-circulacao de bens e servicos ampliou muito 0 ambito de incishydencia do direito especializado afinal a partir daf em regra qualquer ativishydade economica pode ser considerada empresaria desde que exercida com o intuito lucrativo de forma organizada e profissional (Ramos 2012 p 38)

A ultima caracterlstica essencial da empresa e a organizarao Ao exercer a empresa 0 empresario articula 05 fatores de producao a seu favor isto e movimenta 0 capital a mao de obra os insumos e a tecnologia com o objetivo de obter lucro (Coelho 2011 p 32) Essa organizarao e responshysavel pela impessoalidade que se exige no exercfcio da empresa Quando a atividade e exercida de forlTla pessoalizada onde a organizacao perde importimcia 0 exercente nao estara empresariando

Empresario e portanto

quem organiza exercendo uma funltao de intermedia~ao eou de transformashylt50 dentre os fatores da producao criando riquezas para 0 mercado (centro de encontro enreC0(~rtae1dlltlJBMados diversos sujeitos economicos) e equem assume 0 risco economico e a inidativa do empreendimento (Franco 2004 p 57-58)

Nessa medida sendo a empresa uma atividade economica e 0 empreshysario 0 sujeito que a exerce de forma organizada tratou a legislacao de esshytabelecer inicialmente duas formas de exerdcio da empresa duas espEkies do genero empresario 0 empresario individual (pessoa ffsica) e a sociedade empresaria (pessoa juridica)

o empresario individual ea pessoa natural que exerce uma atividade economica de producao e circulacao de bens ou de prestarao de servicos Eo empreendedor pessoa flsica que sozinho exerce atividade empresarial ao contrario da sociedade empresaria que epessoa juridica constituida sob

HOE N 43 - MarmiddotAr2015 - PAIlTE GEfiAl- DOUTRINA

a forma de sociedade cujo objeto social e a explora~ao de uma atividade econCimica organizada (Ramos 2012 p 38)

o ordenamento jurfdico brasileiro trata de maneira bastante distinta os empresarios individuais e as sociedades empresarias especialmente no que tange ao patrimCinio e ao sistema de responsabilidade de um e de outro

o empresario individual nao goza da separa~ao patrimonial da qual gozam as sociedades empresarias pelo fato de estas serem efetivas pessoas jurjdieas7

bull Assim todo 0 patrimCinio do empreendedor esteja ele ou nao afetado ao exerdcio da atividade emplesarial pode ser alcantado para 0

adimplemento das obrigat6es assumidas no exerdcio da empresa Logo 0

sistema de responsabilidade que reeal sobre 0 empresario individual e 0 da responsabilidade ilimitada responde ele com a totalidade do seu patrimCishynio pelas obriga~6es eontraidas no exercicio do neg6cio Conclui-se assim que 0 exerdcio da empresa de forma individual aearreta multo mais riscos do que a explora~ao da atividade mediante a eonstituitao de uma sociedashyde (Ramos 2012)

Nao e por outra razao que Fabio Ulhoa Coelho (2011 p 39) afirma que as atividades economicamente mais importantes sao exercidas pelas sociedades empresarias normal mente sociedades limitadas ou anonimas ja que alem da possibilidade de eompartilhar riscos permite que a atividade seja exercida com limitatao de responsabilidade restando ao empresario individual as atividades de menor envergadura que implieam menores inshyvestimentos ao mesmo tempo em que nao apresenta grande risco de perdas

Evidentemente aventurar-se no ramo empresarial para exploratao de atividade economica implica decisao mais facilmente tomada quando 0

risco assumido e menor ou pelo menos minimizado

Ern virtude daausencia de I imita~ao responsabiiidade pa ra 0 empreshysario individual pratica bastante comum e a constituirao das chamadas 50shy

ciedades de fachada sociedades constitufdas apenas formalmente nas quais urn dos sodos Figura enquanto tal titularizando percentual minimo do capital social sem que seja efetivamente s6cio Na pratica a atividade eexercida de

0 empres~rio individual embora esleja cadastrado no CNPJ 0 recebe apenas para fins tributaries 0 fate de o empresario individual ebler um CNPJ nao 0 translarma em uma pessoa jurldica continuando a ser pessoa fisica Epacifico na dautrina ena jurisprudencia tal entendimento A titulo de exempla Agravo de instrumento Ensino particular 0 palrimanio do empresario individual CQnfunde-se 0011 0 passoai correspondendo a urn 56 conjunlo de bens ouja dominic ) da pessoa Iisica Inexlsle 6biee II constri~ao de palrimanla pertcncente il empresa individual no intuito de garantlr 0 pagamento de dlJbitos contraldos paia pessoa ffsica Agravo de instrumenlo provldo em decisao monocratiea ITJRS AI 70062097407 6a CClvbull ReI Nay Wiedemann Nato J 15102014)

RDE II 43 - Mar-Akrl2015 -PARTE GERAl- nOUTRINA

forma individual mas formal mente apenas para minimizar a risco assumido pelo empreertdecfOr celebra-se contrato de sociedade fazendo surgir a pesshysoa jurldica regularmente constituida (Ramos 2012 p 40-41)

Como visto para alem do empresario individual a outra especie de empresuio e a sociedade empresaria De pronto e importante esclarecer que neste caso os socios da sociedade nao sao pelo menos tecnicamente empresarios Quando constituida uma sociedade esta e que ea empresaria a titular do exercfcio da empresa Conforme ensina Fabio Ulhoa Coelho (2011 p 38-39)

Deve-se desde logo acentuar que as s6dos da sociedade empresaria nao sao empresarios Quando pessoas (naturais) unem seus esforcos para em sociedade ganhar dinheiro com a explora~ao empresarial de uma atividade economica elas nao se tornam empresarias A sociedade par elas constitufshyda uma pessoa juridica com personalidade autonoma sujeito de direito inshydependente eque sera empresaria para todos os efeitos legais Os socios da sodedade cmpresaria sao empreendedores ou investidores de acordo com a colaboracao dada asodedade [1 As regras que se apllcam ao empresario individual nao se aplicaniaos s6dos da sociedade empresaria

A sociedade vem definida no art 981 do C6digo Civil 0 qual disp5e que celebram eontrato de sociedade as pessoas que reciproeamente se obrishygam a contribuir com bens ou servitos para 0 exercfcio de atividade ecoshynCimica e a partilha entre si dos resultados (Brasil 2002 p indeterminada)

Entretanto as primeiras manifestatoes de sociedade enquanto simshyples eomunhiio de esfortos tem sua origem mais remota ainda nos povos primitivos A historia da evolutao da humanidade mostra que desde os peshyr1odo~m~isdistants 05homens conjugavam forcas comaqu~Ies E1mQlle01 depositavan1totl(ian~a com a finalidade de alcimtar objetivos~om~ns os quais nem sempre foram luerativos t na Idade Media contudo que a sociedade tal como conhecida atualmente tem suas raizes especialmenle em virtude do desenvolvimento do comercio em algumas cidades italjanas Neste periodo 0 direito comercial nao passava de um conjunto de usos e costumes adotados pelos primeiros comerciantes chamados mercadores para atender as suas pr6prias necessidades e regulamentar as suas atividashydes Nao obstante foi na Idade Media que foram delineados os primeiros tipos societarios6 que existem ate hoje a sociedade em nome coletivo e a sodedade em comandita simples (Almeida 2011)

---~___V~_~~~~_bullbullm~~___~___

a Para aprofundamento aceres dos tipos societarios previstos no ordenaillenio patrio vide MARTINS Fran Curso de direito comerclal 34 ed Rio de Janeiro Forense 2011 ALMEIDA Amador Paes de Manual rias

7

nos essenshy

e seshy

e os

1407

middot bull RIlE N 43 - MamiddotAbrj2B15 - PARTE GERAl- DOUTlIINA

A sociedade em nome coletivo surgiu na Italia entre os grupos fashymiliares que formavam sociedades posteriormente se desenvolvendo enshytre os artesaos e comerciantes (Almeida 2011) No Brasil regulada arts 10399 e seguintes do C6digo Civil de 2002 caracteriza-se cialmente pelo fato de admitir apenas pessoas fisicas como socios e pelo sistema deresponsabilidade solidaria e ilimitada pelas obrigacoes sociais imposto aos socios Esse sistema de responsabilidade nao e muito atrativo ja que ap6s 0 esgotamento do patrimonio da pessoa juridica 0 patrimonio pessoal dos socios sera atingido para a satisfa-ao das obrigacoes da socieshydade Nesta sociedade nao ha limita-ao de responsabilidade

A sociedade em comandita simples regulada nos arts 104510

guintes do C6digo Civil de 2002 tern sua origem no desenvolvimento do comercio marltimo no chamado contrato de comenda por melo do qual os nobres interessados em comerciar e nao 0 podendo em razlio do conceito que 0 comercio tinha entre aquela casta social confiavam aos comerciantes marftimos certa quanti a em dinheiro para que estes praticando a atividashyde mercantif obtivessem luero 0 qual seria dividido entre estes ultimos e aquele que tinha investido capita Em casu de prejuizo 0 nobre investidor assumia a perda do valor investido (Martins 2011)

Atualmente a sociedade em comandita simples apresenta duas cateshygorias de socias com sistemas de responsabilidade diferentes asemelhan~a do ocorria em sua origem medieval as socios comanditad05 administram 0

negocio e assim respondem solidaria e ilimitadamente pelas obrigalt5es socia is ja os socios comanditarios apenas investem capital para 0 exerdcio da empresa nao participando de sua administraltao e por isso respondem de forma limitada ao capital investido au seja nesta sociedade esgotado o patrimonio social somente parte dos s6cios podera ter 0 seu patrimonio pessoal atingido para satisfa-ao das obrigacoes da sociedade

A sociedade ari6tiitnatamberi1conhecida comocompanhia em pese nao haja entendimento pacifico na doutrina ace rca de sua origem na uma quase unanimidadell ao afirmar que a primeira manifestaltlio definitiva

sociedades comereais 19 ed Sao Paulo Saralva 2011 COELHO Fabio Ulhoa Curse de direito eomereal 16 ed Sao Paulo Saralva 2012 e NEGRAO Ricardo Manua de direito comereial e de empresa 8 ed Sao Paulo Sara iva 201 L

9 Art 1039 do CCB Somente pessOBS Iisieas podem tomar parle na sociedade em nome coletivo respondendo lodos os s6cios salida ria e iiimitadamenle pelas obrig~Oes socials

10 Art 1045 do CeB Na socledade em comandita simples Icmam parle s6cios de duas calegorias ascQmanditados paswas lisicas responsaveis solidaria e ilimitadamente pelas obrigalt6es SOClais comanditarios obrigados somenle pelo valor de sua quola

11 Dvergem alguns autores sabre este marco hist6rioo a exemplo de Haroldo Malheiros Duclerc verltosa que afilTla qlJe a primeira sociedade anOnima teria sido 0 Banco de Sao Jorge de G~nova criado em (Velaquoosa 2006 p 290)

RDE N 43 - MarmiddotA1uI2815 - PARTE GEHAl- D8UTRINA

e mais proxima da atual sodedade anonima deu-se com a Companhia das IndiasOrientisem1602 na HolandaAtmeicla 2011 p 187)

A sociedade anonima esta regulada nos arts 10882 e 108913 do C6shydigo Civil de 2002 e na Lei nQ 64041976 Entre suas caracterfsticas essenshyciais destacam-se a divisao do capital social em altoes e 0 sistema de re5shyponsabilidade dos sOcios denominados acionistas que e limitada ao preoo de emissao das a-5es subscritas14 ou adquiridas5

A lei nil 64041976 tam bern regulamenta a sociedade em comandita por acoes a qua teve sLla origem ja na Idade Moderna com 0 C6digo Coshymercia Frances de 1807 Tal especie societaria tambem foi genericamente regulada pelo C6digo Civil nos arts 10906 e seguintes Asemelhanca das comanditas simples as comanditas por acoes tambem possuem duas modashylidades de sodos os acionistas diretores a quem incumbe aadminjstra~ao

da sodedade os quais respondem solidaria e ilimitadamente pelas obrigashyc6es socia is e os demais acionistas que sem poderes de administracao goshyzam de limita~ao de respol1sabilidade ao capital investido (Rizzardo 2009)

A sociedade limitada contudo teve origem de modo diverso Ate 0

seu surgimento 0 empreendedor que quisesse exercer uma empresa unindoshy-se a outro tinna dois caminhos possfveis a seguir ou constitufa uma socieshydade anonima cujo sistema de responsabilidade era 0 da responsabilidade limitada traduzindo-se na forma menos ariscada de exercfcio da empresa mas que por outro lado exigia muitas formalidades para sua constituicao e assim destinava-se mais aos grandes empreendimentos com vultosos investimentos ou constituia uma das modaidades de sodedade de pessoas existentes aepoca de constitui-ao e funcionamento mais simples sem a neshycessidade de grandes investimentos mas com sistema de responsabilidade

ilimitadl para todos OLi parte dos sooi6Js(Abri)o 2000)

as modelos societarios entao vigentes restringiam 0 acesso de pequeshynos e medios empreendedores ao exerdcio das atividades economicas Prishy

12 Art 1088 do CC8 Na socledade anonima ou companhia 0 capital divide-se em a90es obrigando-se cada OOcio au acionista somente palo pret) de emlssao das afies que subscrever au adqUirir

13 Art 1089 do ee8 A $Ocledade anOnima rege-se por lei especial aplicando-se-lhe nos casas omissos as disposioes deste C6digo

14 Subscriltao de capital e 0 ato pelo qual 0 socio au aclonista assume 0 compromisso de adqurir para si pagando 0 valor devido determinado numera de quotas ou altoes Integralizao do capiial social eo ato pelo qual 0 s6clo ou acionista efetivamente paga 0 pre90 das quotas ou alt6es subscMlas (Martins 2011)

15 Art 1C da LSA A companhia ou sociedade ananima tera 0 capital dividldo em aoes e a responsabilidade dos sOcios ou acionistas ser~ limitada ao pr~o de emissao das altOes subseritas au adquiridas

16 Art 1090 do CCB A soeiedade em oomandila por alOes tem a capital dividido em aBes regendo-se pelas normas relaivas II sccledade an6nima sem prejulzo das modificalt6es constantes deste Capitulo e opera sob finna OIl denomlnao

Hut N 13 -lIarmiddotAbr2015 - PARTE GERAl- DOUTRIUA

meiro porque de forma individual ou em sociedade de pessoas ainda que as formalidades para constituiltao e 0 investimento exigido fossem menores os riscos eram elevados em decorrencia do sistema de responsabilidade iIishymitada Segundo porque a unica sociedade com sistema de responsabilidashyde limitada era a anonima a qual por exigir um rigorismo formal para sua constituiltao destinava-se aos grandes empreendimentos (Verltosa 2006)

Necessitava-se entao para atender a demanda dos pequenos e meshydios empreendedores de um tipo societario capaz de atender a ambas a~ necessidades menor assunltao de riscos pela limitaltao de responsabilidade e ao mesmo tempo menor complexidade de constituiltao e funcionamenshyto (Pimenta 2006 p 67) Nesse contexto e que surge na Alemanha em 1892 a sociedade por quotas de responsabiiidade limitada (Almeida 2011 p145)

Ante a necessidade de incentivar 0 exercicio da empresa por parte de tantos quant05 por cia se interessassem por meio da separaltao entre 0

patrimonio pessoal dos s6cios e 0 da sociedade nao respondendo aqueles pelos debitos contraido5 por esta e que a sociedade por quotas de responsashybilidade limitada mostrou-se ahernativa eficaz na legislaltao alema de 1892 (Pimenta 2006 p 68)

No Brasil esse tipo societario foi consagrado em 1919 atraves do Decreto nQ 3078 cujo sistema de responsabilidade vinha estabelecido no art 290 qual previa que 0 titulo constitutivo regular-5e-a pelas disposiltoes dos arts 300 a 302 e seus numeros do C6digo Comercial devendo estipular ser limitada a responsabilidade dos socios a importancia total do capital social (Brasil 1919 p indeterminada)

A sociedade limitada17 hoje regulada pelo C6digo Civil de 2002 pode entaoser vistacomq a primeira forma deincentivqr epossibjlitaxo ac~ssode tltTlnumeromaior de pessoas ao exercicio de atiIdadesempreshysarias 1550 porque a partir dela passou a existir um tipo societario que alia a limitaltao de responsabilidade1B caracterfstlca que ate entao era exclusiva

17 Enquanto vigia 0 Decreto nO 30781919 este tipo socletario era denominado Socledade par Quotas de Responsabilidade limitada 0 art 10 do Jecreto previa que ahlm das sccledades a que se referem as arts 295 311 315 e 317 do C6digo Comecial poderao constituir-se socledades por quotas de responsabilidade limitade Oito decreta vigorou por mals de 80 anos vindo a ser parolalmente revogado pelo atual COdigo Civil em vigor deede 2003 0 CCB2002 simplifieou a nomenclatura passando a denomlnar este tipo socletMo apenas de secledade limitada regulando-a sem seus arts 1052 e seguintes

18 Como vista no sistema atual somente associedadesanonimas e limitadas possuem sOcios de responsabilidade limiteda 0 limite da responsabilldade dos socios ea capital investido por estes no neg6cio resglJanlandoshyse asslm 0 seu patrimOnio pessoaL Nao epor outra rallio que estes silo os dois tipos socletarios de maior utiliza~ao no Brasil estando os demais praticamente em desuso

ODE N 43 - MarmiddotAbrlZ315 - PARlE GEOAl- OnUIlIINA

da sociedade anonima e a contratualidade ou seja uma sociedade cujo ate constitutivo e0 cQntratosocia-OquaJpermite uma maior expressao da autonomia privada dos s6cios na conformaltao da sociedade diferentemenshyte da sociedade anonima que e uma sociedade constituida por um estatuto social muito mais conformado pela pr6pria legislaao do que pela vontade dos s6cios (Ramos 2011 p 248)

Verifica-se ainda que ao longo da hist6ria a sociedade sempre foi concebida como uma uniao de forltas pela busca de um resultado comum e as sociedades empresarias a uniao de forltas pela busca de um resultado lucrativo comum caracterizando-se pelo exercicio em conjunto de uma atividade economica organizada

Quanto anecessidade de constituiltao de uma sociedade para 0 exershycicio da empresa esclarece Fabio Ulhoa Coelho (2012 p 21) que

atividades economicas de pequeno porte podem ser exploradas por uma pesshysoa (natural) sem maiores dificuldades Na medida porem em que se avolushymam e ganham complexidade exigindo maiores investimentos ou diferentes capacitalaquooes as atividades econ6micas nao mais podem ser desenvolvidas com eficiencia par um indivfduo apenas 0 seu desenvolvimento pressupoe entao a aglutinalaquoao de esfonos de diversos agentes interessados nos lucros que elas prometem propiciar Essa articularao pode assumir variadas formas jurrdicas entre as quais a de uma sociedade

As sociedades assumiram tal importancia social que passaram a ser vistas como entes absolutamente distintos separados dos sujeitos que se uniam para forma-las acabando pOl receberem da ordem jurfdica status de sujeitos de direito tal como as pessoas naturais Eo que ensina Amador Paes de Almeida (2011 p 29)

Num cresceriaOafrmir~Veffofam~sb(jedades ganhando vulto a ponto de em pouco tempo distinguirmiddotse nitidamente das pessoas ffsicas que as comshypunham rJ Formando pois uma entidade aparte absolutamente distinta das pessoas naturais que as integram (ulrninaram as sociedades por serem reconhecidas pelo ordenamento jurfdico como sujeilos de direito equiparashydas ponanto as pessoas fisicas

A este sujeito de direito que surge a partir de uma sociedade 0 direishyto deu 0 nome de pessoa juridica Par conseguinte sociedade empresaria devidamente registrada19

sera a pessoa juridica exercente de uma empresa

19 0 registro do empresario seia eie individual au coietivo (sociedede empresiiria) Junto ao 6rgao responsavei pelo registro mercanti qual seia as Juntas Comereiais dos Estados euma das obrigalt6es impostas aquele

JUilJ fiDE It 43 -i4armiddotAIJr2Ul ~ - PARU GEllAl- OOHmlNA

o sujeito de direito que pratica os atos necessarios a realizarao da atividade economica nao se confundindo com seus sodos (Coelho 2012 p 23 e 27)

De todo 0 exposto conclui-se que para 0 direito empresarial desde suas primeiras manifestaroes ainda na Idade Media a personalidade jurishydica propria que era atributo exclusivo das pessoas fisicas foi estendida as pessoas juridicas que sao formadas pela uniao de no minimo duas pessoas em sociedade As empresas pod em ser exercidas po is tanto por pessoas fIshysicas quanta por pessoas juridicas Neste ultimo caso a pessoa jurfdica tem autonomia patrimonial em rela~ao ao patrimonio pessoal de seus socios

12 As CONSEQUENCIAS DA PERSONlflCACAO E A IMPORTANCIA DO PRINCPIO DA AUTONOMIA

PATRIMONIAL

A personalidade juridica e uma inven~ao do Direito Nao existe pesshysoa jurfdica senao sob a otica do Direito que a criou com 0 objetivo de solucionar alguns problemas decorrentes das relar6es humanas autorizanshydo a priitica de atos juridicos por outros sujeitos de direito que nao apenas pessoas naturals (Coelho 2011 p 138)

A personalidade juridica das sociedades empresarias e a criarao que possibilita conferir titularidade de direitos a um ente que nasce da uniao de outros ou seja e uma ficrao que atribui personalidade a um ente formado por uma coletividade de pessoas (Fazzio JUnior 2008 p 31)

o principal objetivo da atribuicao de personalidade jurfdica as soshyciedades e permitir que estas possam praticar todos os atos juridicos necesshysarios ao desenvolvimento da atividade para a qual foram criadas por si

lu~exce projiSSiOQ~Irente uma atividade empre~ari~ ~simse~Qo0tegistfJl DaO econdi~ao para taiacteriza~ao de uma pessoa (flsica au jurldica) como efllpresilio tratando-se na verdade de mera declarruao de regularidade do exercfcio dll empresa de acordo com as normas impostas pelo ordenaP1ento juridico patrio A inexist~ncia de registro nao descaracteriza 0 sujelto como empresario mas uma vez conligurando 0 descumprimento de uma obriga~~o a ele imposta acarreta algumas restri~es No caso da sociedade empresaria irregular uma das restri6es ea impossibilidade de realizar sua inscrirao junto aD Cadaslro Naeional de Pessoas Juridlcas com a consequente sanao pelo descumprimento das obriga~6es tributarias decorrentes deste cadastra Assim a sociedade empresiiria nao deixa de ser empresaria pela lalla de reglstro l1as naD sera uma pessaa juridice Dessa Iorma sendo sociedade oespersonificada os socioS da sociedade empresria irregular nlio gozam das benesses de Ilmitarao de respansabilidade atribuida via de regra as sociedades regulares (Coeiho 2011) Quanta if desnecessidade de reglstro marcantil para caracterizaao do empresaria ji se manitestou 0 Conselho da Justita Federal na III Jornada de Direito Civil na quallcram aprovados os Enunciados nOs 198 e 199 que disp5em respectivamente Art 967 A inscri~ao do empresArio na Junta Comercial nao Ii requisito para a sua caracteriza~ao admitiodo-se a exerclcio da empresa sem lal provid~ncia 0 empresarlo irregular reune os requisitos do art 966 suieltando-se as normas do COdigo Civil e da legislaao comerdal salvo naquilo em que Iorem incompatlveis com a sua condi~ao ou diante de expressa disposiao em contrjrio e Art 967 A inscriltiio do empresario ou sociedade empresiiria erequisito delineador de sua regulalidade e nao da sua caracteriza9iio (Conselho da Iusti~a Federal 2004 p Indeterminada)

ROE N 43 - MarJlbr2015 - PARTE GEftAl- DOUTRINL

mesmas e nao em nome dos sodos Na sodedade empresaria tal objetivo mOiVa-s~ ltliJ1rja maisreJevante na medida em que a atividade exercida exishyge assuncao de riscos os quais serao assumidos pela pessoa juridica e nao pelas pessoas fisicas (Fazzio Junior 2008 p 31)

Nesse contexto a importfmcia da atribuirao de personalidade jurishydica as sociedades empresarias e evidente sendo facil concluir que para minimizar 0 risco da atividade empresarial separando 0 patrimonio pessoal dos empreendedores os indivfduos devem - ou deveriam ate pouco tempo - constituir uma sociedade formando assim uma pessoa juridica a qual goza de autonomia patrimonial

Essa ficrao resulta em uma serie de consequendas importantes para o Direito De modo geral e possivel identificar tres consequencias advindas da atribuirao de personalidade jurfdica as sociedades empresarias a titulashyridade obrigacional a titularidade processual e a responsabilidade patrimoshynial (CoelflO 2012 p 32)

A titularidade obrigacional determina que todas as obrigacoes assushymidas no ambito do exercicio da atividade empresarial 0 serao pela socieshydade e nao pelas pessoas de seus socios Assim quem figura em um dos polos da rela~ao jurfdica estabelecida com terceiros (contratos de trabalho de prestarao ou contratarao cje servicos etc) e a sociedade e nao as pesshysoas dos socios que a comp6em Ja a titularidade processual implica que apenas a sociedade seja parte legftima para demandar ou ser demandada em processos judiciais que visem a discutir obrigar6es assumidas em seu nome Por fim a responsabilidade patrimonial que determina que a pessoa jurfdica e responsavel pelas obrigacoes que ela contrair com 0 seupr6prio patrim()Oi(jQ~qllaledistinto do patrimonio pessoal de cadaunl closs6dos que a constituem ou seja 0 conjunto de bens da sociedade forma 0 patrishymonio da pessoa jurfdica e eesse patrimonio que em regra responde pelas obrigac6es assumidas pela sociedade (Coelho 2012 p 32-33L

Arnaldo Rizzardo tambem reconhece que

tanto e pr6pria e distinta a personalidade juridica que 0 sistema juridico reconhece a sua existencia distinta da de seus s6dos e assim a titularidade pr6pria de direitos (de ordem patrimonial e moral) como a sujeirao a obrigashyr6es e deveres (como sujeito passivo na demanda de creditos existentes par terceiros) Nao se confundem os direitos e deveres da pessoa jurfdica com as de seus s6cios oem os direilos e deveres destes se transferem para a pessoa jurfdica (Rizzardo 2009 p 23)

1 11 ~ bull RDE N 43 - Mar-Abd2Dl5 - PARTE GERAl- DOUTRINA

Na mesma linha Ricardo Negrao (2011 r p 203) afirma que sao efeishytos da personificarao a assunao de capaddade para direitos e obrigar6es middota separacao entre a pessoa juridica e aspessoas dos s6dos a existenda de patrimonio proprio distinto do de seus sodos e a possibilidade de a socieshydade alterar a sua estrutura interna

Ve-se portanto que nao ha grande divergencia doutrinarla quanta aos principais efeitos da personificacao No entanto entre as tres conseshyquendas destacadas e a responsabilidade patrimonial da pessoa jurfdica a que merece maior destaque

A existenda de patrimonio pro-prio das pessoas juddicas da-se por forra da incidencia do princfpio da autonomia patrimonial segundo 0 qual os bens da sociedade empresaria formam um patrimonio autonomo que responde pelas obrigar6es contrardas por esta enquanto que os bens de cada um dos socios que a compoem permanecem via de regra imunes ao cumprimento destas obrigaroes

Trata-se na verdade de algo muito antigo decorrente da maxima aplicada desde a Lex Poetelia Papiria que data de 326 antes de Cristo por melo da qual se determinou que 0 patrimonio do devedor fosse a garantia dos credores Com tal lei a obrigarao entre 0 credor e 0 devedor deixou de estar pautada em um vinculo corporal sendo substitufda pela responsabilishydade patrimonia ou seja os bens e nao mais 0 corpo do devedor passashyram a responder por suas diviaas (Alves 201 Or p 382 e 436)

Ora se a devedora e a sociedade empresaria e justo que apenas 0

seu patrimonio responda pelas obrigaroes contrafdas e nao 0 patrimonio de seus sodos sujeitos de direito distintos A autonomia patrimonial e a responsabilidade patrimonial proprias da sociedade formam uma estrutura que incentiva a aS5Un~Q dQriscodo exerdcio de uma atividade empreshysaria Principalmente quando 0 tipo de sociedade traz tambem a regra da limitarao de responsabilidade dos s6cios 0 que ocorre nas sociedades anoshynimas e limitadas

Tal e a importancia da autonomia patrimonial das pessoas jurfdicas que Fabio Ulhoa Coelho (2012 p 34) afirma que se trata do alicerce do direito sodetario

Esse e 0 principio da autonomia patrimonial alicerce do direito societario Sua importilncia para 0 desenvolvimento de atividades economicas da proshydUlao e cireula~ao de bens e servicos e fundamental na medida em que limita a possibilidade de perdas nos investimentos mais arriseados A partir da afirmacao do postulado juridieo de que 0 patrimonio dos s6cios nao res-

RDE PI ~3 -lIhrmiddotAbr1015 - PARTE GERAl- DDlITHINA ~

ponde por dividas da sociedade motivam-se investidores e empreendedores a aplicar dinheiro emathddades oconomieas-demiddotmaior envergadura e risco 5e nao existisse 0 principio da separaCao patrimonial os insueessos na exshyploracao da empresa poderiam significar a perda de todos os bens particushylares dos s6cios amealhados ao longo do trabalho de uma vida ou mesmo de geracoes e nesse quadro menos pessoas se sentiriam estimuladas a deshysenvolver novas atividades empresariais No final 0 potencial econ6mieo do Pars nao estaria eficientemente otimizado e as pessoas em geral ficariam prejudicadasr tendo menos acesso a bens e servi~os 0 principio da autoshynomia patrimonial e importantfssimo para que 0 direito discipline de forma adequada a explora(ao da atividade economica

o principia da autonomia patrimonial e sem duvida um importante mecanismo de incentivo ao exercicio da atividade empresaria na medida em que possibilita a minimizarao dos riscos assumidos pela pessoa ffsica que decide exercer uma empresa Isso parque mesmo nas especies societashyrias em que a responsabilidade dos s6das e ilimitada (sociedade em nome coletivo por exemplo) est~ sera sempre subsidiaria por forra do princlpio de mesmo nome consagrado no ordenamento jurfdico patrio pelo art 1024 do Codigo Civil de 2002 2deg

Parece evidente que 0 princlpio da autonomia patrimonial coadunashy-se nao apenas com os fundamentos da ordem economica brasileira exshypressos no caput do art 170 da Constituirao Federal quais sejam a livre iniciativa e a valorizarao do trabalho humano bem como corn seus prindshypios norteadores como a livre concorrencia e 0 livre exerckio da atividade economica alem de toda a constru~ao hist6rica de incentivo ao exercicio da empresa como forma de fomentar a economia dos Estados possibilitanshydo a gerarao e a circularao das riquezas

Todaviacomo exposto anterio~trl1ente Os beneficios desse principio nao se aplicam ao empreendedor que exerce a empresa de forma individual nao sendo outra a razao principal para a edirao da Lei nQ 124412011 que introduziu no Brasi a EIRELI

13 EIRElI AS PRINCIPAlS CARACTERisrlCAS DO NOVO EMPRESARIO

Feitos os esclarecimentos sabre as diferentes especies de empresashyrios ate entao existentes cabe 0 enfrentamento da nova especie introduzida recentemente no ordenamento juridico brasileiro a Empresa Individual de

-middot~---middot-middot-----_~___laquo~_M

20 Art 1024 do eeB Os bens particuJares dos socios nao podem set executados por dlvldas cta saciedade senao depois de executados os bens socials (BraSil 2002 p indeterminacta)

13 It ROE N 43 - MarmiddotlbI2D15 - PARTE GERAl- DOUTRINA

Responsabilidade Umitada - EIRELI Especie de empresario que conforme refere Andre Luiz Santa Cruz Ramos (2012 p 40) surge na legislacao piitria atendendoa antigos an5eiostantoda doutrina quantodo meio empresariai

Ate a entrada em vigor da legislacao que introduziu a EIRElI como ja dito existiam apenas duas formas de exercer a empresa ou como empreshysario individual (pessoa ffsica sem autonomia patrimonial e limitacao de responsabilidade) ou como sociedade empresaria (na qual os sodos podem ou nao vir a responder pelas obrigacoes contraidas no exercfcio da atividashyde mas sempre e tao somente ap6s 0 esgotamento do patrim6nio social ja que ha no mlnimo a autonomia patrimonial da pessoa juridical

A partir da EIRElI pasSOli a ser posslvel que uma s6 pessoa exerca a empresa por meio de uma pessoa juridica 0 que permite a efetiva separacao patrimonial e limitacao de responsabilidade ao capital investido como ocorshyref mais precisamente nas sociedades limitadas Esse novo ente apresenta caracterfsticas bastante pr6prias

De plano pode-se ressaltar uma caracterfstica e esta incontroversa A EIRELI eum ente dotado de pcrsonalidade juridica pr6pria ja que inserida no rei das pessoas juridicas de direito privado do art 44 do C6digo Civil Ao contrario do empresario individual que e uma pessoa flsica a EIRELI e uma pessoa juridica constituida para 0 exerdcio de uma atividade economica Ainda pela leitura do texto legal na medida em que a EIRELI esta prevista em um inciso em separado inciso VI incluido pela Lei nQ 124412011 a priori nao se poderia concluir qLle se trata de uma sociedade empresaria as quais ja vinham previstas no inciso II

Assim da simples interpretacao da alteracao ocarrida no art 44 do C6digo Civil conclui-se que a EIRELI e pessoa juridica nao se confundindo comasect~Od~adeiJilmpouco com 0 empresario individualquenem peSsoa jurfdiCa~

Outra caracterfstica importante da EIRELI e a exigencia de urn capital mfnimo nao inferior a 100 vezes 0 salilrio-minimo vigente no Pais para a sua constitLlicao conforme dispoe 0 caput do art 980-A do C6digo Civil de 2002 22 tambem inclufdo pela Lei nQ 124412011 0 empreendedor que

21 De plano cumpre esciarecer que por ludo quanto)a exposto no decorrer do presente estudo a nomenclatura utllizada pelo legislador eatecnica na mediaa em que atribuiu personalidade jur(dica a uma etividade Como visto ernpresa nao esujelto de direilos mas sim uma atividade exercida pelo empresario este sim sujeilO de direitos

22 Art 980-A do CCB A empresa individual de responsabWdade limitada sera constiturda por uma cnica pessoa titular da Malidade do capital social devidamente integralizado que nao sera imerior a 100 (cern) vezes 0

maior saario-minimo vigente no Pais (Brasil 2002 p indeterminada)

ROE II 43 - MarmiddotAbI2D15- fART GERAl- DOUTBIRA

desejar exercer a empresa como EIRELI devera no ate da constituicao inshytegralizar a totalidtdedQ valordQ capital que naQPodera ser em valores atuais inferior a R$ 7880000 (setenta e oito mil e oitocentos reais)

Ainda a integralizacao do capital podera ser eita nao apenas em dinheiro mas tambem em bens desde que suscetfveis de avaliacao em dishynheiro nao sendo exigida a apresentacao de laudo avaliativo para tanto Este capital diferente do que ocorre nas sociedades nao sera dividido em quotas ou acoes A regra e a da unicidade do capital afinal este e totalmente titularizado par uma unica pessoa

A terceira caracterfstica marcante da EIRELI diz com 0 sujeito que pode constituf-Ia ou seja 0 titular da EIRELI Segundo dispoe 0 caput do ja mencionado art 980-A do C6digo Civil a EIRELI sera constitufda por apenas uma pessoa Ocorre que 0 dispositivo legal nao deixa claro que 0

titular precisa ser uma pessoa ffsica ou se poderia tambem ser uma pessoa jurfdica Essa falta de especificacao legal gerou discussao com argumentos favoraveis e contra nas duas direltoes No entanto 0 ONRC - Departamenshyto NacionaJ do Registro doComercio pOl meio da lnstrucao Normativa n

9 1172011 definiu (item 1210) que apenas as pessoas naturais plenashy

mente capazes podem constituir EIRELI Ainda ratjficando tal disposiao 0

item 1211 preve expressamente que nao pode ser titular de EfRELI a pesshysoa juridica bem assim a pessoa natural impedida pOl norma constitucional ou por lei especial (Brasil 2011 p indeterminada)

Outra caracterfstica semelhante ao que ocorre com as sociedades limitadas e que a EIRELI pode utilizar qualquer das especies de nome emshypresarial qual seja firma ou denominacao social acrescidas da expressao EIRELI ao final

Par tim e talvezil car~ct~rf~ti~~~5Ys importante a responsabilidade limitada ao capital investido e devidamente integralizado pelo titular da EIRELI Essa regra se depreende da leitura do sect 62 do art 980-A do C6digo Civil que determina a aplicacao a EIRELI das regras previstas para as socieshydades limitadas naquilo em que com patfve I (Brasil 2011 p indeterminashyda) Essa era a mescla qlle se desejava uma modalidade de empresario que fosse constitufda por uma (mica pessoa mas com limitacao de responsabilishydade e facilidade na forma de constituicao como ocorre com as sociedades limitadas

Em sfntese sao estas as principalS caracteristicas da Empresa Indivishydual de Responsabilidade Limitada Ocorre todavia que tais caracterfsticas estabelecidas pela nova legislacao vem causando inumeras controversias

15 ROf N 43 - MarmiddotAbr2015 - PARrE GHAl- DOUfHINA

entre os operadores do Direito e os doutrinadores e estudiosos do direito empresariai Nilo obstante a cria~ao de um instituto que possibilitasse a limitacao de responsabiHdade para 0 exercicio individual da empresa e anshyseio antigo entre os doutrinadores patrios Nesse sentido ainda que objeto de divergeuromcias 0 novo ente com certeza e muito bem-vindo

2OS ASPECTOS CONTROVERTIDOS ACERCA DA EIRElI

Apresentadas as caracteristicas fundamentais da EIRElI conforme as disposicoes legais vigentes faz-se necessario apresentar as controversias que delas surgem A doutrina jurfdica diverge ja que algumas das caracteshyrfsticas da EIRELI supostamente vao de encontro a conceitos estabelecidos e institutos consolidados ao lange de seculos

Os principais aspectos controvertidos acerca da EIRELI dizem respeito as exigencias feitas pelo legislador para sua constituicao especialmente no que tange ao capital mlnimo a ser investido quem pode ser seu titu lar equal a sua natureza jurfdica

21 QUEM PODE SER TITULAR DE UMA EIRElI

Uma das questOes mais problematicas acerca do novo instituto diz respeito aqueles que podem ser titulares de uma EIRELI

Como visto 0 art 980-A do C6digo Civil disp6e em seu caput que a EIREU sera constitufda por uma Cinica pessoa titular de todo 0 capital social o DNRC por seu turno emitiu instru~ao normativa aprovando 0 Manual de Atos de Registro de Empresa Individual de Responsabilidade limitada23

a ser adotado pelas Juntas Comercias de todos os Estados 0 qual preve expressamente que apenas as pessoas fisicas maiores capazes e livres de

q1iili~querimpedimentos legais podemsertittJlar~sde jma BREtt

Ejustamente na redacao da lei e da instrucao normativa do DNRC que reside grande parte da controversia

Hi quem defenda a possibilidade de constituicao da EIRELI por pesshysoas juridicas sob 0 argumento de que se 0 texto legal nao taz qualquer proibicao de forma expressa referindo-se apenas a pessoa ff

nao poderiam os operadores interpretar a norma de forma a excluir algum sujeito de direishyto quando a propria norma nao 0 faz

------~~ -~--~----~----bull---shyda Instru~ao Normativa n 1172011 do Departamento Nacional de Registro do Comercio

em ltllttpwwwdnrcgovbrILegislacaQIIN20117202011pdfgt

RUE N 43 - MarmiddotAbdZ015 - PAHTf GERAl- DOUrnIlIA_

Nesse sentido

C6mefeitO(Jcaput do art 980-A do C6digo Civil expressamente prescreve que a EIREU sera constitllfda par uma unica pessoa sem excluir as pessoas jurrdicas nem restringir essa passibilidade exclusivamente as pessoas ffsicas Ora pessaa jurfdica tambem e pessaa (Mela 2011 p indeterminada)

Da mesma forma defende-se a ideia de que adotar uma interpretacao que restrinja 0 direito de uma pessoa juridica constituir uma EIREU seria afrontar a princfpio constitucional da legalidade uma vez que se a proibishycao nao esta expressa a pennissao estaria subentendida

[ J naa ha impedimenta legal para que uma pes sea juridica titularize 0 cashypital social de uma EIRELI e sob 0 primado de uma ordem jurfdica liberal afirma-se que 0 que nao esta proibido ou ordenade e permitido Esta leitura decorre diretamente do principia da legalidade consagrado na art 5Q

II da Constitui~ao Federal que estabelece que ninguem sera abrigado a fazer Oll

deixar de fazer aigllma coisa senao em virtude de lei (Lupi Schlosser 2012 p indeterminadal

Fabio Ulhoa Coelho (2012 p 409) tambem entende que a EIRELI para ele uma sociedade limitada unipessoal 24

pode ser constitufda tanto por s6cio Cinico pessoa fisica como juridica

No mesmo sentido sustenta-se que a intencao do legislador com a publicacao da lei nQ 124412011 teria sido justamente permitir a constituishycao de EIRElI por pessoa juridica ja que suprimiu da redacao original dos Projetos de lei nQs 46052009 e 49532009 a restritao que era expressa (Melo 2012 p indeterminada)

QO Projeton 46052009 de autoria do Deputado Marcos MonteSi

tinhapbr objetivoaindusao noC6digo Civil de 2002 do art 98S-A 0

qual teria a seguinte redacao A empresa individual de responsabilidade limitada sera constituida por um Cinico s6cio pessoa natural que e 0 titular da totalidade do capital social e que somente podera figurar numa unica empresa dessa modalidade (Brasil 2009 p indeterminada)

Ja 0 Projeto nQ 49532009 de autoria do Deputado Eduardo Sciarra intencionava a incillsao do art 980-A no C6digo Civil de 2002 com a seshyguinte redacao Qualquer pessoa ffsica que atenda ao disposto no art 972

-----~---------=~-~--~~--~---

24 Para Fabio Ulhoa Coelho (2012 p 409) a EIRELI deve ser considerada como urna sociedade limitada umpessoa Sustenta que a interpretaao sistematica do direito positivo conduz conciusao de que nao se trata de nova esp~cie de pessoa jurldica mas do nomen juris dado ~ sociedade limitada unipessoal Tratarshy-se-a melhor cia natureza jurldica da EIRELI no item 33 deste artigo

lU ROE Ndeg 43 - MarmiddotAbifZ015 - PARTE GEML - DOUIRIVA

que exena ou deseje exercer profissionalmente a atividade de empresario podera constituir Empreendimento Individual de Responsabilidade limitashyda (Brasil 2009 p indeterminada)

Assim ja que suprimidos os termos natural e ffsica que acompashynhavam a pessoa na redacao original dos projetos de lei a intencao do legislador so poderia ser permitir que a EIRELI fosse constituida tambem por pessoas juridicas (Rivas 2012 p indeterminada)

Outro argumento apresentado por aqueles que defendem a possibishylidade de a pessoa juridica ser titular de EIRELI ea fadlitacao da instalacao e do funcionamento de sociedades ernpresarias estrangeiras no Pais como forma de aquecer a economia nacional

Fundamental mencionar que a possibilidade de constituiltao de EIRELI par pessoas jurfdicas val facilitar de sobremaneira a instalaltao de sociedades estrangeiras no Brasil Estas ao consultarem advogados brasileiros sobre os procedimentos necessarios ao infcio do desenvolvimento de suas atlvidades no pais invariavelmente surpreendem-se com a quanti dade e complexidade dos procedimentos sendo que dentre eles urn que normal mente cria bastanshyte dificuldade e justamente a necessidade de indicaltao de uma pluralidade de s6cios na sociedade brasileira 0 que muitas vezes as obriga a indicaltao de pessoa ffsica com participaltao apenas simb6lica simplesmente para atenshyder ao formalismo exigi do (Martins Fllho sd p indeterminada)

Contra tal argumento Wilges Ariana Bruscato (2012) sustenta que embora investimentos estrangeiros sejam importantes para 0 desenvolvishymento economico do PaIS a EIRELI nao pode servir como uma forma de burlar a egisla~ao vigente que regulamenta a instalacao e 0 iuncionamento de socitgtdades estrangeiras no Brasil Para a autora trata-se de materia de ordem publica antesdesermateria de~ireito empresqrill e por esla nao pode ser superadclcOni atrid~5oili EIRELI

Tambem com base nos textos dos projetos que deram origem a lei em comento a autora conclui que a omissao dos termos natural ou flshysica para definir qual 0 tipo de pessoa poderia constituir EIRELI teria sido acidentai haja vista que nao houve qualquer justificativa para a supressao da restricao que era expressa nos textos dos projetos ou seja em momenta algum durante 0 tramite do processo legislativo justificou-se tal supressao no interesse de estender as pessoas juridjcas apossibilidade de constituicao de EIRELI (Bruscato 2012)

No mesmo sentido e 0 entendimento de Jacques Maika y Negri (2012 p indeterminada)

RUE N 43 - MarJIbrl2015 - PARTE GERAl- DOUTAINL

Analisado 0 processo legislativo fica claro que houve lapso por parte do reatqrct9Jrojeto substituto DeputadoMamelo Itagiba e nao supressao deshyliberada da expressao natural caso em que 0 parlamentarteria justificado a alteraltao e a sua intenltao

Esta foj tambem a conclusao aqual chegaram os jurislas integrantes do Conselho da Justica Federal que em sua V Jornada de Direito Civil ocorshyrida em novembro de 2011 emitiram 0 Enunciado nQ 4682~ segundo 0 qual apenas as pessoas ffsicas podem constituir EIRELI

Parece evidente que antes de consolidar-se entendimento acerca da possibilidade ou nao de pessoas juridicas virem a constitu ir empresas indivishyduais de responsabilidade limitada sera no Judiciario que esta problematica sera discutida em maior escala

Recentemente 0 Jufzo da 9il Vara da Fazenda Publica do Rio de janeiroRj proferiu decisao na qual deferiu em mandado de scguranca (Proshycesso nQ 0054566-7120128190001) impetrado em face da Junta Comershycial daquele estado medida liminar para que uma pessoa jurfdica levasse a diante 0 processo de transformalt50 de sociedade empresaria em EIRELI Trata-se de sociedade limitada composta por um socio pessoa juridica e um socio pessoa ffsica e este ultimo retirou-se da sociedade A pretensao posta em juizo era de que a sociedade limitada pudesse ser transformada em EIRELI como resultado daiconcentraltao das quotas sociais em um dos s6cios no caso 0 s6cio pessoa juridica 0 pedido foi negado pela Junta Coshymercial do Estado do Rio de Janeiro sob a alegaltao de que a transformacao de uma sociedade empresaria em EIRELI no caso de inexistencia superveshyniente de pluralidade de socios e possivel desde que 0 socio sobre quem se concentre a totalidade das quotas sociais sejaumapessoa f[sica e nao illrfdGa 0 pedido liminar vertidoem sooede mandadodemiddot seguran~a foi aeferido tendo 0 juizo da 9~ Vara da Fazenda Publica do Rio de JaneiroRJ sustentado que nao existe impedimento legal para que 0 titular da EIRELI seja uma pessoa juridica

Recurso de agravo de inslrumento foj interposto pela re (0016183shy2720128190000) e este foi provido para anular a decisao agravada mas reconhecendo a incompetencia do juizo declinando da mesma para a Jusshytica Federal 0 processo que recebeu 0 nQ 0008231-2720124025101 tramitou perante a 12~ Vara Federal do Rio de Janeiro Em que pese tenha sido ratificada a decisao da justica estadual para conceder a medida limishy~---~~-- ------------- 25 Enunciado nO 468 do CJF Art 9SOmiddotA A empresa individual de responsabildade limitada sO poder~ S8r

conslitufda por pessoa nattJral (BraSil 2011 p indetemlinada)

1 ROE n 43 - MarmiddotAhrIZOI5- PARlE GERAl- DOUTBINA

nar pleiteada a sentenca denegou a seguranta sob 0 fundamento de que embora no tramite legislativo 0 termo natural tenha sido exduido do art 980-A do Codigo Civiftodomnteudo daLei nlt1 124412011 que criou a EIRELI foj engendrado para abarcar apenas a possibjljdade de que seu titular fosse pessoa natural Da decisao nao foi interposto recurs026 bull

Como se percebe embora haja discussao doutrinaria ace rca da possishybilidade de a pessoa juridica ser titular de uma EIRElI ha que se considerar que diante do posicionamento do DNRC esposado na IN 1172011 bem como do Conselho da Justica Federal atualmente ainda que na pratica prevalece 0 entendimento de que apenas pessoas fisicas podem constituir EIRElI

22 AEIHELI EO CAPITAL MiNIMO PARA SUA CONSTITUICAO IN)CONSTITUCIONAUDADE DA NORMA

A exigencia de capital minimo para a constituicao da EIRElI em valor nao inferior a 100 vezes 0 maior salario-minimo vigente no Pais tambem e controvertida

No minimol e possivel vislumbrar tal exigencia como uma forma de trazer seguranta ao instituto ja que com a constituicao da EIRElI 0 emshypreendedor goza de uma separacao entre 0 patrimonio afetado ao exercfcio da atividade e 0 seu patrimanio pessoal A exigencia de urn capital minimo pode ser vista como uma forma de garantir 0 cumprimento das obrigac5es assumidas no exercfcio da atividade Uma garantia para eventuais credores da EIRUI

Em outras palavras 0 estabelecimento de um capital minima e necesshysario para dar credibilidade ao instituto recem-criado ja que com a consshytituicao da EIRELI ha uma autonomia patrimonial ha uma separacao entre o patfifl~niHi~Rif~8qI~middotatJvidade ecooomieuroa--e-G-pattimQlli0partiS2ulill~Qrmiddot titu lar (Pessoa 2011)

Sao muitos no entanto os argumentos contrarios aexigencia imposta pelo texto legal

Inicialmente destaca-se que nao existe via de regra capital minimo estabelecido para a constituitao de sociedades ou registro de empresario individual no Brasil exigindo-se tao somente uma adequacao do capital investido ao objeto social motivo pelo qual a exigencia feita somente para a EIRElI e questionavel (Ramos 2012 p 43)

26 Integra da decisaa pode ser visuallzada em lthttpJprocwebjfrjjusbrportalconsultaresconsprocaspgt

RO N 43 - MarmiddotAbrl2815- PARlE GEnAL - DOUfRINL

Com efeito

Anenhumaoutra forma de exerc1cioempresarial no pals se faz a exigencia exceto em casas excepcionais de um minima de capital Como sustentar essa regra para a EIREU 1550 infringe a igualdade de tratamento que deve ser dada a todos genericamente A desigualdade de tratamento existe por certo sem arrostar a isonomia nos casos em que haja no entanto justificativa para tanto (Bruscato 2011 p 29)

Este e tambern 0 entendimento exposto na Atao Direta de Inconstishytucionalidade nQ 4637 proposta pelo Partido Popular Socialista perante 0

Supremo Tribunal Federal a qual ainda se encontra pendente de julgamenshyto Na aludida ADln defende-se que condicionar a constituiltao de uma EJRElI a integralizaltao de um capital minimo sem qualquer motivo evidenshyte e relevante constituiria afronta ao princfpio da isonomia bem como ao fundamento da livre iniciativa2

expresso no art 17028 caput da CF1988 (Brasil2011)

Segundo 0 partido autor da ADln ao estabelecer um capital no valor de 100 vezes 0 salario-minimo vigente no Pais 0 legislador acabou ferindo o prindpio da igualdade Sustenta-se que para a constituiltao de uma socieshydade com socios de responsabilidade limitada como por exemplo a socieshydade limilada nao existe exigencia de capital mlnimo logol nao eposslvel faze-Io em relarao a EIRElI ja que segundo exposto naacao ambas sao pessoas jurfdicas de identica feiltao no que diz respeito a responsabilidade dos proprietarios (Brasil 2011 )

Outro argumento contrario ao capital minimo exigido para a constituishycao da EJRElI diz respeito acapacidade econamica daqueles que poderiam ser beneficiados com a criacao danolafi~ura isto e os pequenos empre~ endedores que antesdacriacaoddriYovoenteou empresariavam de forma individual sem limitacao de responsabilidade e separacao de patrimonio ou necessariamente tinham de estabelecer sociedades apenas para gozar da autonomia patrimonial e assim reduzir os riscos do empreendimento Nesse

27 A livre iniciativa segundo Pedro le~7a e um dos pilares da ordem econOmica ao lado da valoriza~ao do Irabalha humano (lenza 201 p 984) Inocsectncio Martires Coelho citando Miguel Reale explica que livre iniciativa e livre concorrencla silo conceitos complementares mas essenciamente distinlos A primeira nao 0 senaa a proje~ao da liberdade individual no plano de produ~ao citula~ao e distribuii8o das riquezas assegurando nao apenas a livre esoolha des proflssoes e das atlvidades econ8mlcas mas tambem a autonoma elei~ao dos processos ou meios julgados mais adequados aconsecu~iio des fins visados liberdade de fins ede maios informa aprincipia de livre inicleliva conlerindo-Ihe um valar primordial como results da interpreta~ao conjugada dos cftados arts 1deg e [70 (Reale apud Mendes Coelho Branco 2010 p 1409)

28 Art 170 da CF11988 A ordem econOmica fundada na valoriza~~o do trabalho humano e na livre iniciativa tern por tim assegurar a todosexist~ncia digna conforme es ditames da Justia SOCial observados as seguintesprinclpies [J (6rasll 1988 p indeterminada)

liU RDE 43 - MarmiddotAbr2015 - PARTE GEllAl- OOUfOINA

caso a sociedade era constitufda normalmente com pessoas pr6ximas mas sem nenhum interesse na atividade as quais figuravam nocQotratosocial

como titulares de percentual minima das quotas sociais constituindo as chamadas sociedades de fachada ja mencionadas29 bull

Nesse ponto pode-se dizer que apesar das crfticas disparadas ao novel instituto a EIRELI mostra-5e como instrumento eficaz para coibir a praticc comumente adotada no Brasil de conslituiyJo de sociedades em que um dos s6ci05 nao tem qualquer participa)ao na gestao do empreendishymento formada com 0 dnico objetivo de limitar a responsabilidade do emshypresario que na pratica exerce a empresa individualmente (Ramos 2012 p 40-41)

Por essa razJo e que uma vez sendo 0 objetivo da criaCJo da EIRELI estimular 0 exercicio de atividade empresaria especialmente por pequenos empreendedores 0 valor de 100 (cem) vezes 0 salario-minimo mostra-se desproporcional 1550 porque grande parte dos empreendedores que podem se enquadrar na EIRELI iniciam suas atividades com capital bastante inferior Afirma-se que 0 capital minimo estabelecido pelo legislador esta longe da realidade dos pequenos empreendedores brasiieiros e caracteriza desresshypeito ao principio da livre iniciativa Assim 0 legislador patrio nao teria la5shytreado a fixayao deste valor em estudos sobre a capacidade econ6mico-fishynanceira dos provaveis interessados nesta especie societaria (Pessoa 2011 )

Estes sao tambem os argumentos que embasam a justificativa do Proshyjeto de Lei nQ 24682011 de autoria do Deputado Carlos Bezerra Segundo o parlamentar a exigencia feita pelo legislador retira dos pequenos empreshyendedores a possibilidade de coostituiyao de lima EIRELI haja vista que 0

valor exigido na Lei 0 2 124412011 supera significativamente 0 valor geshyralmente empregado para a constitlliyao dasPeqU~PilSempresas Por essa raz~(jo aludidoprojeto tem como um (feseusigtbJetivosillterar 0 art 9~O-A do Codigo Civil para reduzir de 100 para 50 salarios-mfnimos 0 capital minima exigido para a constitui~ao de lima EIREU (Brasil 2011)

Seguindo mesmo entendimento

29 A exist~ncia das chamadas sociedades de fachada Ii conhecida desde ha multo olio apenas pela dovtrina mas tam~m pela junsprud~ncia de nossos trlbunais 0 reconhecimento desta situa~ao se faz relevante tanto para que possa coibir tal praliea quanto para proteger a indivlduo que comprovadamente jamals exerceL qualqller poder de administra~ao sobre a sociedade da responsabllizagao pelos atos praticados indlvidualmente pelo s6cio detentor da quase totalidade das quotas sociais A tItulo de exemplo Execu~ao fiscal E aparente a socledade em que a imensa maioria das quotas pertenee a uma s6 pessoa flsiea Sltua~ao que mascara a atividade de urn comereiante em nome Individual Indelerlmento do pedido de penhora sobre bens do s60lo de fachada Decisao acertada potque de acordo com a realldade fatlca Agravo improvldo (TJRS AI 591020177 1 ccrv Rei Jose Velllnha de Lacenla J 21051991)

30

ROE N 43 - MarmiddotAlIr2n15 - PAUn GfRAl- OUUmINL

Deveria ser desnecessario diz~-Io mas tal materia nao poderia jamais ser objeto de decisao arbitraria sob pena de frustraiOobjetivo mesmo da norshyma e ll1alferir a Constituirao 0 numero 100 ninguem negara soa bem aos ouvidos mas isso nao deveria bastar para inseri-Io em texto legal Se de fato sua eleirao foi desacompanhada de qualquer embasamento tecnico e passrvel demonstrar-se inclusive mediante a colheita de dados estatisticos e indicacoes de direito comparado a inconstitucionalidade decorrente da violaSao aos princfpios da isonomia e da razoabllidade Por que se negar ao cidadao que dispanha de 50 salarios-minimos 0 direito de constituir uma EIREU quando em Portugal eassaz inferior 0 montante necessario para faz~shy-10 e no Chile sequer existe exigencia dessa especie (como alias previa 0

texto primitivo do PU e questao cuja resposta se desprovida de fundamenshytos s6lidos atesta a contrariedade aos supracitados principios (Nadu sd p indeterminada)

A exclusao de grande parte dos empreendedores do pafs com a exishygeurogtncia de capital mlnimo alto e tambem argumento da ADln 4637 ja que o objetivo primordial da norma recem-criada e fomentar 0 desenvolvimento ecoo6mico e social do pais Sustenta-se que tal objetivo esta sendo prejudishycado oa medida em que a legislacao retira de pequenos empreendedores a possibilidade de lanyarem-se no mercado economico de forma regular saindo portanto da informalidade (Brasil 2011 p indeterminadal

Corroborando 0 entendimento aeima Haroldo Malheiros Duclerc Vercosa (2011 p indeterminada) afirma que

rJa crftJca que se faz eque 0 capital mlnimo exigido de tal sociedade deixa a margem urna parcela substancial dos microempresarios patrios os quais continuarao dentro do regime geraf de respollsabilidade patrimonial pessoal (e do risco correspondente) sem acesso ao patrimonio ~eparadoqlleeiQ ltI

serqiad9para q EIRElI a naoser par alguma fugapararrlecanisfnocorno deg dlc6nstitui~ao de uma sociedade limitada com outro socio este detentor de

minima expressao do capital social Mas tal recurso muito utilizado apreshysenta custos que 0 microempresario dificilll1ente poderii suportar

Ainda deve-se considerar que a vinculacao do salario-mfnimo para qualquer fim e expressameote vedada pel a Constituicao Federal de 1988 em seu art 72

IV30 Nesse passo ainda que se considere posslvel Oll ate mesmo necessaria a exigencia de lim capital minimo para a constituicao de

Art lO da Cf1988 Sao direlos dos tlllbalhadores urbanos e rurais aiem de outros que visem il melhoria de sua condl~ilo social L1IV - saIMiomiddotInnlmo lixado em lei naeionalmente uniftcado capaz de arender a suas neeessidades vitais Mslcas e ~s de sua famflia com moradla alilnenta~iio eduoaao saude lazer vestuario higiene transporte e prevldencla social com reaJustes perlMieas que lhe preservem degpoder aquisitivo sendo vedada sua vineula~ilo rara qualqver 11m l (Brasil 1988 p indeterminada)

N N bullbullbullbullbullbull HOE N 43 - MarmiddotAbr2015 -AlIT GERAl- DOUTRIIfA

uma EIRELI este capital em regra nao poderia ser calculado com base no salario-minimo

5eguindo tal raciodnio e por entender que a parte final do art 980shyA do Codigo Civil de 200212 fere 0 disposto no art IV da Constituishylt030 Federal entre os argumentos utilizados na ADIn 4637 esta 0 fato de que 0 eonstituinte com 0 objetivo de evitar que os reajustes peri6dicos do salario-minimo que visam a preserva-ao de seu poder aquisitivD sofram influencias de interesses diversos daqueles previstos na Constitui-ao vedou expressamente a villculacao do salario-minimo para qualquer finalidade (Brasil 2011 p indeterminada)

Ainda eonsiderando a oscilacao que 0 reajuste do salado pode imshypliear a I Jornada de Direito Comercial do Conselho da Justi-a Federal ocorrida em outubro de 2012 no 5TJ definiu por meio do Enunciado nQ 4 que llma vez subscrito e efetivamente integralizado 0 capital da empresa individual de responsabilidade limitada nao sofrera nenhuma influencia deshycorrente de ulteriores alteracoes no salario minimo

Nao obstante os argumentos contrarios e a ADln pendente de julshygamento vige hoje a exigencia de capital minimo para a eonstituirao da EIRELI fixada com base no salario-minimo nacional vigente na epoca da constitu icao

23 EIRElI EMPRESARlO InDIVIDUAL SOCIEDADE EMPRESARIA UlflPESSOAL OU UM TlPO SUI GEMERIS

DE EMPRESARIO

o legislador batizou 0 novo instituto de Empresa Individual de Resshyponsabilidade limitada Em primeiro lugar ha que se considerar que resta eonsagrado na legisla-ao na doutrina e najurisprudencia que empresae uma atividade exerddapelo empresarilte nao uma pessoa urn sujeito de direitos (Moraes 201 0 p 40 Diante disso a primeira crltica feita ao legisshy

31 0 STF ja firmoL entendimento em divesos julgadas no sentido de que e proibida a vinculaao do sailtirio minima para qualquer finalidade Dana moral FiKa~ilo de indenizaltao com vinculaao a salario-minimo Vedaao constitucional Art 7deg IV da Carta Magna 0 Plenario desta Corte ao julgar em 01101997 a ADln 1425 firmou a entendimenro de qle ao estabelecer 0 art 7deg IV da Constitui~iio que e vedada a vincula~o ao salaria-mlnima para quaiquer fim quis evitar que interesses estranhos aos versados na norma constitucional venham a tel influencia na filCll~o do valor minima a ser observado No caso a indenizaltiio par dana moral fo fixada em 500 salarios-minimos para que inequivacamente 0 valor do salilria-mlnlmo a que essa indenizaao esta vinculado atue como fator de atualizaao desta a que IS vedada pela citarlD dispositivo canstitucional Outros precedentes desta Corte quanta 11 vedaao da vinculagao em causa ReculSo extraordinario conhecido e provida

32 Art 98QA do CCB A empresa individual de responsabilidade limitada sera constituida por uma dnica pessoa titular da totalidade do capital social devidamente integralizado que nao sera inferior a 100 (cern) vezes 0

malar salMo-mfnimo vigenre no Pars (Brasil 2002 paginaltaa indeterminada)

33

ROE N 43 - MarmiddotAbr2015 - PARlE GERAl- DOUmIIlL 1

lador infraconstitucional acerca da natureza juridica da EIRELI diz respeito asuafaLta detecnica para dar nome ao institutomiddot recem~criado chamando de empresa uma especie de empresario (Ramos 2012)

Ora se empresa e uma atividade e nao um sujeito de direitos a falha tecnica legislativa contribtli para a compreensao inadequada que cornushymente se faz da empresa ou seja confundindo-a com a propria pessoa dica ou ainda com 0 estabelecimento empresarial Por essa razao a crftica vem no sentido de que a terminologia mais adequada seria empresario e nao empresa

Nominada de forma equivocada ou nao uma figura juridica capaz de conferir a possibilidade de exercfcio da empresa por uma s6 pessoa ffsiea com separa-ao de patrimonio e limita-ao de responsabilidade e como ja dito desejo antigo da dOlltrina brasileira Como exemplo epossivel citar 0

projeto de Lei nil 201 de 194733 apresentado pelo entao Deputado Fausto

de Freitas e Castro 0 qual dispunha em seu art 12 que qualquer pessoa capaz de exereer 0 eomercio podera constituir empresa em nome individual limitando a sua responsab[lidade pelos neg6cios da mesma ao valor do capital declarado (Martins Filho 1950 p 64-66)

Antonio Martins Filho em cuja obra Umitatiio da responsabilidade do comerciante individual analisa 0 aludido projeto de lei afirmava

A empresa individual de responsabilidade limitada constituindo a ultima fase do processo evolutivo da limitaltao dos riscos e insistentemente redashymada pelos agentes da atividade econ6mica dos novos tempos Recusando-a de direito nao evitara 0 legislador a existencia de fato desse tipo de empresa que passa a funcionar sob forma de sociedade fictfcia ou unipessoal (Martins Filho 1950 p 9)

ja naquela epoca ainda sob a vigencia do Codigo Comercial de 1850 e do C6digo Civil de 1916 0 autor ressaltava a importancia da limita~ao de responsabilidade daquele que era conhecido como comerciante individual (hoje empresario individual) bem como reconhecia a existencia de socieshydades constitufdas apenas formalmente para 0 fim de aquisi=ao de personashylidade jurfdica pr6pria e separa-ao de patrimonio a partir do que concluia que apenas a cria-ao da empresa individual de responsabilidade limitada

Projeto de Lei nO 201 de 1947 anexo abra Limitarl0 de resJOflsabilidade do comerciante individual MARTINS FILHO AntOnio Anais do Congresso Jurfdico Nacional Comemorativo do Cinquenlenario da Faculdade de Direito de Porto Alegre Revisa de Fecudade de Direito de Porto Alegre Porto Alegre URGS maio 1950

middot RDE II U - MarmiddotAer201S - PARrE GER~L - DoumlNA

serla capaz de acabar com tal pratica tao comum no Brasil (Martins Filho

1950)

Em 2005 Wilges Ariana Bruscato tambem assinalava a importanshycia do exercicio individual da empresa com limita=ao de responsabilidade como forma eficaz de fomento da economia

jft que 0 modus vivendi de nossa sociedade atual baseia-se em resultados economicos e relevante acenar com contribuilt6es para 0 desenvolvimento da atividade empresarial feita de maneira singular como forma de incentivar as pequenas iniciativas que num 6istema de colmeia representam a agreshyga~ao de vaores sociais importantes como 0 emprego 0 recolhimento de tributo a disseminaltao tecnologica entre outros ou seja 0 favorecimento de pequenas iniciativas que aquecem a economia (Bruscato 2005 p 75)

No mesmo sentido Felipe Ferreira Machado Moraes (2010 p 37-38) sustenta a necessidade de limita=ao da responsabilidade do empresario inshydividual como forma de cumprir os objetivos do Estado Democratico de Direlto tais como expressos na pr6pria Constitui=ao Federal de 1988

Em um Eslado Democratico de Direilo em que a propria Constituiltao da Republica contempla dispositivos que pregam 0 desenvolvimento nacional a livre iniciativa e inclusive 0 tratamento favorecido as empresas de pequeno porte nao parece prosperar 0 entendimento de que 0 empresario individual deve ter sua responsabilidade ilimitada respondendo com a totalidade de seu patrimonio particular (civil) por eventuais insucessos de seu empreendishy

mento

o anseio pela limitarao da responsabilidade no exerdcio individual da ernpreSq~Iil~re ()s~doutrinadores patrios baseava-se frequenteniente experiencia de outros paises que regulamentaram em sua ordem interna diversas formas de possibilitar a limitarao de responsabilidade daquele que

deseja empresariar individualmente

Na Alemanha como visto surgiu 0 primeiro modelo de sociedade por quotas de responsabilidade limitada em 1892 Em 1981 quase um 56shyculo depois entra em vigor a lei que alterou a legislarao das Sociedades por Quotas de Responsabilidade limitada para introduzir no ordenamenshyto juridico alemao a Sociedade por Quotas de Responsabilidade Limitada Unipessoal Passou-se enUlo a permitir a constituirao de Sociedades por Quotas de Responsabilidade Limitada por apenas uma pessoa (ffsica ou jushy

ridica) (Abrao 2000 p 6)

ROE N 43 - M8rmiddotAb~2015 - PARr CEIlAL - DOUTRlIIAmiddotmiddotmiddotmiddot

Tambem na Fran=a ap6s a regulamenta=ao clas sociedades por quoshytas de fesponsabiJidade Itmitadaiolintroduzida a limitada unipessoal em 1985 permitindo iguafmente a constituirao de sociedades unipessoais (Abrao 2000 p 12)

Ja em Portugal existem duas possibilidades para 0 exercfcio indivishydual da empresa Em 1986 0 Decreto-Lei nQ 2481986 criou a figura do Esshytabelecimento Individual de Responsabilidade limitada EtRL Trata-se de figura na~ dotada de personalidade juridica constilufda atraves de um pashytrimonio de afetarao por meio do qual uma pessoa fisica explora uma ativishydade economica empresarial Para a constituirao de um EIRL e necessario o investimento minima de euro 5000 (cinco mil euros) Ja a segunda forma de empresariar individualmente em Portugal com separarao patrimonial e limitarao de responsabilidade foi regulamentada 10 anos ap6s 0 EIRL por meio do Decreto-Lei nil 2571996 a Sociedade Unipessoal par Quotas Tal sociedade e constitufda por uma 56 pessoa (fIsica OU juridical titular de todo o capital social e cuja responsabllidade esta limitada ao capital investido sendo este livremente fixado pelo s6cio ou seja nao ha exigencia de capital mlnimo para a SUQ ao contrario do que ocorre com 0 EIR134

bull

Na experiencia brasileira entretanto ate a ediraa da Lei nQ 124412011 nao havia possibilidade de exercer uma atividade econoshymica organizada de forma individual sem 0 camprometimento da totalidade do patrimonio do empresario A sociedade unipessoal admitida em palses europeus desde meados de 1980 somente era permitida no Brasil em duas hip6teses excepcionais quais sejam a subsidiaria integral prevista na Lei das Sociedades Anonimas (Lei nQ 64041976)35 e a unipessoalidade ternshyporaria da sociedade pelo prazo de cento e oitenta dias conforme dispoe 0

art 1033 IVJ6 do C6qigoCiv

Assim no Brasil ap6s anos de discussao doutrimiria e de entendishymento quanta a necessidade de cria=ao de um instituto que viabilizasse 0

exercfcio da empresa de forma individual sem que isso acarretasse necessashyria risco ao patrimonio pessoal do empresario 0 legislador infraconstitucioshy

34 Informa~aes dlsponiveis em lthttpwwwpot1lJgalgIObalptPTlnvestirPortugaguiadoinvestldorICriareinstalar PaginaSTipos5ociedadesComerciais aspxgt

35 Art 251 da LSA A companhia pode ser constilulda mediante escrilura publica tendo como unico acionisa sociedade brasileira sect 1deg A sociedade que subscrever em bans 0 capital de subsidiaria inlegral devera aprover o laudo de avaliaifio de que trata 0 art 8deg respondendo nos lermos do sect 6 do art 80 e do art 10 e seu panlgrafo Llnico sect 2deg A companhia pade ser converlda em subsidiara integral mediante aquiSitao por scciedade braslieira de lodes as sues ayoes ou nos lermos do art 252

36 Art 1033 do eC8 Dissolve-se a scciedade quando oeorrer 11 IV a falla de pluralidede de socios nila reconstltufda no prazo de cenro e oitenla dias L J

ROE Ndeg 43 - MarmiddotAbr2015 - PARTI GERAl- OUIRINA

nal consagrou a flgura da Empresa Individual de Responsabilidade Limitada a EIRELI

Quando inserida no ordenamento juridico a EIRElI gerou controvershysias acerca da sua natureza juridica Ha que diga tratar-se de empresario inshydividual por outro lado ha que afirme tratar-se de uma sociedade limitada unipessoal No entanto hii tambem uma terceira corrente que afirma ser a EIRELI uma nova especie de pessoa juridical um ente distinto do empresario individual e das sociedades empresarias

A corrente menos express iva considera a EIRELI uma nova modalishydade de empresario individual ou seja um empresario individual de resshyponsabilidade limitada Para tal corrente 0 empresario individual ate en tao conhecido aquele que e pessoa fisica permanece existindo passando a existir 0 empresario individual pessoa jurfdica

Nesse senti do

Apesar de ser uma pessoa jurfdica a EIRELI nao euma sociedade empresaria mas sim uma forma diferenciada de constituiyao de empresario individual (que ao contrltirio daquela e pessoa natural) (Cardoso 2012 p indetermishynada)

Outra corrente mais expressiva e a capitaneada par Fabio Ulhoa Coelho (2012 p 409) para quem a EIRELI e uma sociedade empresaria definindo-a como uma sociedade limitada unipessoal na qual apenas uma pessoa (rfsica ou jurfdica no entender do autor) sera titular da totalidade das quotas socials 0 autor salienta que 0 sect 6Q do art 980middotA do C6digo Civil pershymite concluir que a EIRELI eespecie de sociedade limitada pois se submete as regras deste tipo societario

Da mesma forma Gustavo de Alvarenga Batista (2012) defi ne Em terrnosmiddotpraticos aEIRELI possibilitaqueiumemprksaflopessoa constitua uma sociedade unipessoal na qual fica sua responsabilidade atreshylada ao valor do capital por ele integralizado

Ja Andre Luiz Santa Cruz Ramos (2012) entende que 0 legislador criou uma nova figura juridica distinta da sociedade eillpresaria e do empresario individual mas com caracteristicas semelhantes a ambos No entanto 0 aushytor entende que foi um equivoco a cria~ao de um novo tipo de pessoa jurfshydica Sustenta que 0 legislador poderia tao somente ter consagrado 0 empreshysario individual de responsabilidade limitada que continuaria sendo uma pessoa fisica mas gozando da separa~ao entre 0 seu patrimonio pessoal e aquele afetado ao exercfcio da atividade economica ou ainda consagrado

ROE N 43 - MarmiddotAbrI21115- PARrE GERAl- OUTRINL

efetivamente a sociedade empresaria unipessoal bastando para tanto inshycluirentreasEseecies de sociedades ja existentes a sociedade constitulda par um 6nico s6cio titular de todas as quotas Em qualquer dos casos a insenao feita no art 44 do C6digo Civil seria desnecessaria

Do mesmo entendimento compartilha Wilges Ariana Bruscato (2011 p 10) que afirma que acaso a EIREU fosse uma sociedade unipessoal nao haveria necessidade de inclusao do instituto no inciso VI do art 44 do C6shydigo Civil ja que as sociedades ja estao previstas no inciso II do mesmo dispositivo Da forma como posta nao existe sociedade e silll um tipo sui generis no direito patrio Ainda afirma-se que

a EIREI nao tem natureza juridica de sociedade empresaria ao contrario do que muitos ainda defendem mas trata-se de uma nova categoria de pessoa jurfdica de direito privado que tambem se destina ao exercfcio da empresa Tanto que a Lei nQ 124412011 incluiu as empresas individuais de responsashybilidade limitada no rol de pessoas jurfdicas de direito privado do art 44 do C6digo Civil (inciso Vi) Ademais a lei nQ 124412011 ao inserir no C6dishygo Civil 0 art 980-A teve 0 cuidado de topograficamente tambemcriar um novo titulo (mulo I-A Da Empresa Individual de Responsabiidade Umitashyda) situado entre os Titulos I e II que tratam respedivamente do empresario individual e das sociedades empresarias (Pinheiro 2011 p indeterminadal

Nao obstante os variados entendimentos ha Uma tendencia de que a EIRELI seja efetivaillente compreendida como uma nova especie de pessoa juridica nao se tratando de empresario indiVidual tampouco de sOliedade empresaria ainda que unipessoal Tanto e assim que na ja mencionada I Jarnada de Direito Comercial do Conselho da Justi~a Federal foi aprovado o Enunciado nil 3 com a seguinte redacao A Empresa Individual de Resshyponsabilidade Limitada - ElRELI nao e sociedade unipessoa mas um novo ente~j_stjn~q da pessoa doempresarioe da sociedade eiTlpresfiriao qual seguia ciresmmiddota Iinha do Enunciado nil 46937 da V Jornada de Direito Civil que afirma que a empresa individual de responsabilidade limitada (EIRELI) nao e sociedade mas nova ente jurfdica personificado

24 AEIRELI EO PRomo DE NOVO CUOIGO COMERCIAl EXTINCAO DO INSTITUTO [ CRI~O DE f40VAS FIGURAS1

Tramita no Congresso Nacional 0 Projeta de Lei nil 15722011 que visa a instjtui~ao de um novo C6digo Comercial com a consequente revoshy

~__~~M~~~~ __ __ ___~_____ _~

37 Enunciado n 469 do elF Arts 44 e 980middotA A empresa individual de responsabilidade Iimltada (poundIRELI) olio Ii sociedade mas novo ente jurrdico personificado

Ii r~ RDE Nmiddot 43 - MarmiddotAbrf2615 - PARTE GERAl- OnUIRIUA

gasao de diversos dispositivos do atual C6digo Civil bem como de legislashysoes esparsas

o projeto apresentado pelo Deputado Vicente Candido baseado em minuta elaborada por Fabio Ulhoa Coelho na obra 0 futuro do direito coshymercia tem como uma de suas justificativas a sistematizasao revisao aperfeiltoamento e modernizasao da disciplina jurldica do estabeledmento empresarial do comercio eletronico da concorrencia desleal das condutas parasitarias da escrituratao mercantit do exerddo individual da empresa e da sociedade unipessoal (Brasil 2011 p 118)

Dito projeto nao traz em seu texto referenda expressa ao instituto recem-criado a EIRELI No entanto consagra duas figuras que merecem especial atensao sao elas 0 empresario individual em regime fiduciario e a sociedade Iimitada unipessoajJs

o empresario individual tal como e conhecido atualmente nao deishyxa de existir na redasao do projeto de NCCom sendo disciplinado entre os arts 14 a 32 do projeto de lei No que tange as suas caracteristicas esshysenciais 0 empresario individual permanece sendo pessoa ffsica que exershyce singularmente uma empresa sem limitaltao de responsabilidade nao se submetendo ao prindpio da autonornia patrimonial

Entretanto alem do empresario individual ate 0 momenta conhecido o novo C6digo Comercial visa a instituir outras duas formas de exerdcio individual da empresa como jei dito as quais possibilitam a separaSao de patrimonio e limitaltao de responsabilidade do empreendedor 0 empresashyrio individual que exerce a empresa em regime fiduciari039 e a sociedade limitada unipessoal

Da leitura do projeto infere-se que 0 empresario individual ao reshyquerer 0 seu registro comeh~rfipfesarioquntamp ao 6rgaocompetente poderamiddot fazer uma declaratao na qual conste que 0 exercicio da empresa dar-seshy

38 Na verdadc ha que se pontuar que 0 projeto de lei esta baseado em texto do jurisla Fabio Ulhoa Coelho a entende que a EIREU euma socied8de limiteda unipessoal e n~o ume nova especie de pessoa juridica eo fato pelo qual nao esta ela prevista nesse lormato no relerido projeto

39 A fiducia tem origem no direito romano ral institwlo caraclerlzamiddotse pela contiana e boa-lEi existentes entre fidLicianle e fiduciario A propriedade fiduciira por sua vez caracteriza-se quando determinado bern ou conjento de bens e destinado II gamntia de certo(s) credor(es) ou scja os bens constltuldos como propriedade fiduciaria de destlnam a garantia do cumprimento de determlnadas obrlgaltOes do liduciaro perante 0 fiduciante nao podendo ser objeto de expropriaao Pilra a adlmplemenlo das obriga6es pessoafs do fiduciiirio (Restlffe Neto Rest1ffe 20001 Segundo a C6digo Civil de 2002 em seu art L35 considerashysa propriedade fiducjaria a proprfedade resoliNel de caisa m6vel imungfvel Que 0 devedor com escopo de garanta translere ao credor Para maior aprofundamento acarce do tema vide SILVA ltJiz Augusto Beck da Alienaliio fiducitlfia ampm garantia 4 ed RIO de Janeiro forense 1998

RDE N 43 - Mar-AbtfZ015 - PARrE GERAl- DOUTRINL

-a em regime fiduciario Com a referida dedaraltao 0 empresario devera constitJir 1m patrimbnio relaeuroionado aattvrdade empresarial que pretende exercer absolutamente separado de seu patrimonio pessoaL

Assim uma vez cumpridos os requisitos 0 empresario individual desshysa modalidade (que continuaria sendo pessoa fisica) nao poderia ter seu patrimonio pessoal expropriado para 0 cumprimento das obrigalt6es assushymidas no exercicio da atividade salvo se conforme disp6e 0 sect 29 do art 32 do NCCom se tratarem de obrigaltoes de natureza trabalhista e triblltaria relacionadas ou nao com a empresa Trata-se pois do estabelecimento de um patrimonio de afetaltao que serviria de garantia aos credares do em preshysarlo individual em vez de totalidade do seu patrimonio

A outra forma de exercfcio singular da empresa proposto pelo projeto em comento e a constituiltao de uma sociedade limitada unipessoal Ao tratar das sociedades em especie 0 projeto preve a existencia de cinco tipos societarios (sociedade anonima sociedade limitada sociedade em nome coletivo sociedade em comandita simples e sociedade em comandita par alt6est todos os tipos ja cOllhecidos e previstos no atllal C6digo Civil

A novidade e uma pequena alteraltao feita no ambito das sociedades limitadas para no art 192 dispor que a sociedade limitada sera constishytufda por um ou mais s6cios ou seja retira da definiltao de sociedade a pluralidade dos s6cios

Todavia algumas consideralt6es devem ser feitas acerca do projeto em questao no que tange a sua relaltao com 0 instituto ora estudado

Conforme ja referido a limita~ao de responsabilidade do empresario individual era esperada pela doutrina patria ha muito tempo e a EIRELI foi a

l~gislativaelJcontrada para dar res posta aosansetoSexistentes

Com crfticas ou nao fato e que a EIRELI hoje majoritariamente conshysiderada como uma nova especie de pessoa juridica concebe a limitaltao de responsabilidade no exercfcio individual da empresa e desde 0 infcio de sua vigencia as estatisticas mostram que esta nova forma de exercer a empresa vem crescendo em todo 0 Pafs S6 em Sao Paulo nos primeiros tres meses de sua existencia a EIRELI jii representava mais de 4 do total de registros realizados conforme informaltao publicada pela Junta Comercial do daquele Estad040bull

40 Para majores Inlormacentes e dados estatistlcos vide htlpwwwjucespJazendaspgovbr

RUE III 43 - MOImiddotAbr2U15 - PARTE GERAl- nOUTHINA

Nesse passo cumpre questionar qual sera 0 futuro da EIRELI se 0 Proshyjeto de Lei nQ 15722011 vier a ser aprovado 0 que fazer com as EIRELIs ja existentes ao tempCl da publicacao do novo C6digo Comerdal Sera necesshysaria a criacao de regras de transicao ou os titulares de EIRELI simplesmente serao obrigados a requerer sua transformacao perante as Juntas Comercias para uma das duas modalidades criadas pelo novo C6digo

Certo e que 0 projeto de Novo C6digo Comercial contempla de certa forma a EIRELI mas colocando-a definitivamente como uma especie de sociedade limitada a sociedade limitada unipessoal No entanto ao propor llm projeto e necessario fazer uma analise do impacto que as alteraC6es provocarao sob pena de a nova lei em vez de pacificar entendimentos e llnificar tratamento acabar acarretando um caos inicial comprometendo sua pr6pria legitimidade

CONSIDERA~OES FINAlS

A limitacao de responsabilidade no exerdcio individual da emprcsa e tema recorrente na doutrina brasileira e desejo antigo dos empreendedores Ate a consagrarao da EIRELI par meio da Lei nQ 124412011 tal limitarao nao era posslvel no exercfcio individual da empresa como ja amplamenshyte debatido e demonstrado Com a criacao da EIRELI 0 legislador patrio apresenta aos empreendedores brasileiros uma nova possibilidade para empresariar sem a necessidade de constituirao de sociedades de fachada ou eventual comprometimento da totalidade do patrimonio pessoal do emshypreendedor

Percebe-se contudo que as controversias existentes ern torno da EIRELI ainda sao muitas Mas algumas coisas podem-se dizer certas Prishym~irQjslli1fiIR~khv~i~efetivamentepara privilegiar os pequenosemiddottledioS0i(i empreendedores nao se ve razao plausivel para que ela seja constituida por titular pessoa juridica Beneficiar sociedades estrangeiras e um argumento fraco para fazer esta defesa

Segundo do ponto de vista da garantia dos credores a exigencia de um capital mfnimo tern razao de ser principalmente levando ern conta que ate entao os empresarios individuais respondiam com a totalidade do seu patrimonio Todavia considerando que nao ha exigencia nesse sentido para as demais especies de empresarios de fato fere-se 0 principio da igualdade de tratamento Ainda em rela-ao ao capital minimo se 0 objetivo do legisshylador era beneficiar pequenos e medios empreendedores 0 minima estabeshylecido em 100 vezes 0 salario-mfnimo nacional e bastante alto Talvez uma

nOf Ndeg 43 - MalmiddotAbrl2015 -PARTE GERAl- DOUTRJNL bullbull bullbullbull

adequacao do montante fosse interessante para 0 atingimento dos objetivos do novel instituto

Em relacao a natureza juridica compreender a EIRElI como uma nova especie de pessoa jurfdica e certamente 0 melhor caminho ainda que isso possa parecer estranho ja que se esta diante de uma pessoa jurfdica constituida de uma dnica pessoa Afinal partindo dessa premissa nao seria necessario relativizar 0 conceito de sociedade que exige pluralidade de s6dos tampouco seria necessario pensar um empresario individual pessoa frsica que pudesse ser titular de dois patrimonios autonomos 0 pessoal eo de afetacao

Em derradeira analise no que diz respeito ao Projeto de novo C6digo Comercial cabe apenas ressaltar que eventual aprovacao devera levar em considerarao 0 fato de que como visto desde a entrada ern vigor da Lei nQ 124412011 a procura dos empreendedores por esta modalidade de exercfcio da empresa tern sido grande Contudo 0 projeto de lei nao traz qualquer mencao ao instituto Assim dever-se-a ter uma preocupacao com a transi-ao nao se podendo ignorar a existencia destes slljeitos de direito sem estabelecer qual sera oseu destino Mal se consagram institutos no Brashysil e novamente se pretendem altera~oes legislativas Assim nao se chega a maturidade

Por hora ainda que com quest6es controvertidas ha uma unanimidashyde doutrinaria de que a EIRELI e bem-vinda nao apenas porque oriunda de pleitos antigos mas tambem porque apresenta uma nova possibilidade para quem pretende empresariar no Brasil de modo que ha grande expectativa no sentido de que 0 Poder Judiciario seja capaz de dirimir as controversias existentes causadas basicamente por falhas do legislador permitindo uma amPla utilizacao dQoolRjn~titu~9~gW~Cialmente poraqueles que aoque parece se tentou benefidar 05 pequenos e medios empreendedores brasishyleiros

Page 2: SINTESE - cortemello.com.br · RESUMO A EIRELI - Empresa Individual de Aesponsabilidade Limitada foi introduzida no ordena ... a partir da doutrina de Alberto Asquini, que entende

FERNANDA BORGHETII CANTALI Advogada Mestre em Direito pela PUCRS Professora de Direito Empresarial ede Propriedade Inteectual da Universidade do Vale de Rio dos Sinos Unisinos e de Dileito Empresarial PO

Centro Univefsltario Metodista do IPA

JOSIANE NUNES ALVES Advogada Bacharel em Direito pelo Centro Universitario Metodista do IPA

RESUMO A EIRELI - Empresa Individual de Aesponsabilidade Limitada foi introduzida no ordenashymenta juridico brasileiro recentemente Trala-se de uma nova especie de empresario ao lado do empresario individual e da sociedade empresaria que contem caracteristicas pr6prias e alguns asshypectos controvertidos 0 objetivo do presente artigo eapresenlar tais caraeterfsticas econtroversias procurando eontribuir para uma melhor compreensao acerca do novo instituto 0 qual representa sem duvida a principal alteraQao do regime jurfdico empresarial nos (Jltimos tempos

PALAVRAS-CHAVE Empresa Individual de Responsabilidade Limitada empresario hdividuaf socieshydade unipessoal autonornia patrimo1ial limita~ao de responsabifidade

ABSTRACT LLC - the Single-member Limited Uability Company has been recently introduced in the fram~work It deals with a new kind of entr~preneur right ~eside the sole proprietor

ancfihemiddot partnership with its oWR~ellaa1~Bri$ticmiddot5an~j~ma controversialpoints article aims to present such characteristics and controversies and seeks to contribute to better

understand tne new i~stitute which undoubtediy has represented the main shift in the legal business structures over the last years

KEYWORD Single-member Limited Liability Company sale proprietor single-member society patrishymonial autonomy limit of liability

SUMARIO IntroduQ1lo 1 0 empresario e a principia da autonomia patrimonial 11 A empresa 0

empresario pessoa ffsica e 0 empresario pessoa jurldica 12 As consequllncias da personificaQao e a import~ncia do prindpio da autonomi8 patrimonial 13 EIREU as principais caracteristicas do

Importanle registrar que nos paises de lingua inglesa as sociedades limitadas unipessoais representam a que hi de meis aproximado aD novel instltuto brasilelro a EIRELI Dessa forma nilo hi uma carrespondancia exata entre as termos implieando a necessidade desta ressalva quanto atraduq~o

RIE N 43 - Mar-Abr2015 - PAlIn GERAl- DIUTRINA

novo empresario 2 Os aspectos controvertidos acerca da EIREl 21 Quem pode ser titular de uma EIRELI 22 A EIAElI e 0 capital minimo para sua constituiQ1lo (injconstitucionalidade da norma 23TIREtI empresario individual sociedade empresaria unipessoal ou um tipo sui generis de empreshysario 24 AEIAELI e0 projeto de novo C6digo Comercial extin~ao do instituto e criagao de novas

Considera~5es finais

SUMMARY Introduction 1The entrepreneur and the principle of patrimonial autonomy 11 The bushysiness structure the individual entrepreneur and the bJsiness entity 12 Consequences of the persoshynification and importance of the principle of patrimonial autonomy 13 E1REU main characteristics of the new entrepreneur 2 Controversies of the EIREU 21 lNhoever can be the sale proprietor of a EIREU 22 The EIREU and the minimum capital requirements to constitute of the norm 23 EIAELI single-member sale proprietor or a sui gSleris type of entrepreneur 24 The EIAEU and the project ofa new trade code extinction of institute and creation of new elements Final considerations

INTRODU~AO

A Lei nQ 124412011 que entrou em vigor em 9 de janeiro de 2012 introduziu t no Brasil a EIRELI - Empresa Individual de Responsabilidade Limitada Desde la alguma~ discussoes vem sendo travadas

Ineluida no rol das pessoas juridicas de direito privad02 a EIRELI deishyxa duvidas acerca da sua natureza juridica sobre a constitucionalidade de alguns dos dispositivos bem como sobre a melhor forma de suprir as lacushynas deixadas pelo legislador e 0 poder regulador do DNRC - Departamento Nacional de Registro do Comerci03 orgao executivo que vem estabelecenshydo certas determina~oes que fogem do que consta expressamente do texto legal

Nessa medida atraves deste artigo busca-se desenvolver uma comshy~~~~~4~9~t~bre a EI~ELI~ connecer suas car~cte6sticasess~nciais~ ificaraseJfsecttim6es e os pantos em comum em1~laeampamp~~rilgDils)Ja

conhecidas do empresario individual e da sociedade empresaria alem de identificar as principais controversias e as possfveis respostas aos questionashymentos existentes

-=--_----------~shy

2 Art 44 do CCB SRio pessoas Jurldicas de direito privado [ J VI-as empresas individuals de responsabilidadeIlmltada (Brasil 2002 p indeterminadal

3 oDNRC faz parte do SINREM - Sistema NaeionaJ de Ragislra Mercantil juntamente com as Juntas Comerclais dos Estados 0 DNRC ea 6rgao central do SIN REM e a ele compete fixar as diretrizes gerais para a pratica dos atos regislras pelas Juntas Comercias supervisionando e reguJamentando a atua~ao destas A estrutura do SINREM bern como a compet~ncia de seus 6rgaos vern definida no art 3deg da lei nO 893411994 a Lei dos Registros Mercantls

middot ROE I 4J ~ MarmiddotAbr2015 - PARrE

riscos do exerc~-Ia inshy

risco de

melhor

pessoa

4

GfBAl- DOBmlNA

A autonomia patrimonial atribuida em regra as pessoas jurldieas e a limita=aode responsabilidade dos socios saomecanismos eficientes de incentivo ao exercicio da empresa e por consequ~ncia de fomento da ecoshynomia e geralao de riquezas Por essa razao a discussao acerca da possishybilidade de apliear-se aqueles que desejam empresariar individualmente 0

princfpio da autonomia patrimonial e a limitarao de responsabilidade semshypre se fez relevante revelando-se tambem como um desejo do empresashydado e dos operadores do Direito

A recente cria~ao legislativa busca de fato reduzir os exercfcio da atividade empresarial aqueles que decidem dividualmente Os proprios autores dos projetos que deram origem a Lei nQ 124412011 referem que a separa~ao de patrim6nio aliada com a limishyta~ao de responsabilidade visa a possibilitar 0 acesso dos pequenos empreshyendedores ao exercicio regular da atividade empresaria evitando 0

afeta~ao da totalidade do patrim6n io do empreendedor em caso de insushycesso no empreendimento

A ElRELI sem duvida objetiva incentivar 0 exerdcio da atividade empresarial no Pais Entretanto embora festejada a nova especie de emshypresario gera controversias e ha quem diga que nao logrou alcan~ar todos os objetivos que embasaram a sua cria(ao Este e 0 propos ito do presente artigo apresentar as caracteristicas da EIRELI bem como refletir sobre as questoes controvertidas com 0 intuito de auxiliar na constru(ao de uma adequada compreensao do novo instituto

10 EMPRESliRIO EO PRINCiPIO DA AUTONOMIA PATRIMONIAL

o princfpio dcfaUtonomitpatrinidnial e semduvida um estruturante do direito societario Para a sua apliea~ao em rela(ao aqueles que desejam empresariar sozinhos concebeu-se a EIRELI Contudo antes de tratar do principio em questao fazem-se necessarios breves esclarecishymentos acerca da empresa e das especies de empresarios existentes do Dishyreito brasileiro

11 AEMPRESA 0 EMPREURIO PESSOA FfslCA E 0 EMPREURIO PESSOA JURiolCA

A EIREU Empresa Individual de Responsabilidade Limitada recenteshymente introduzida no ordenamento juridico patrio tornou posslvel que uma so pessoa exer~a uma atividade empresaria limitando sua responsabilidashyde patrimonial ao capital investido Todavia antes de mais para 0

ROE Ndeg 43 - MarmiddotAbri2115- PARTE IiERAl-nUTRINL

entendimento acerca da ElRELI e importante acompreensao de institutos basicos de diieito empresarial como a empresa e o empresario

Segundo Rubens Requiao (201 at a ideia de empresa surgiu no ambishyto do direito comercial atraves do Codigo Frances de 1807 Ele afirma que embora os comercialistas franceses tenham tentado desenvolver 0 conceito de empresa nao lograram ~xito uma vez que suas teorias estavam sempre conectadas COm a pratica dos chamados atos de comercio Para 0 autor a melhor detjni~ao de empresa foi construida no direito italiano a partir da doutrina de Alberto Asquini que entende a empresa como um fenomeno poliedrico

Ricardo Negrao (2011 p 64-81) destaca de forma objetiva os quashytro pertis da empresa que comp6em a teoria pol iedrica do autor italiano 0

perfil 5ubjetivo que remete aquele que exerce a empresa 0 empresario a flsica ou jurfdica - que exerce a atividade economica organizada

o perfil funcional que nada mais e do que a propria atividade realizada pelo empresario 0 perfil objetivo ou patrimonial entendido como 0 meio necessario para que 0 empresario exerca a atividade economica ou seja 0

estabelecimento empresarial ou complexo de bens utilizados pelo empresashyrio para 0 exercicio da atividade empresarial e por tim 0 perfil corporativo ou institucional pelo qual a empresa e 0 resultado da uniao de esforcos do proprio empresario e de seus colaboradores os quais tem um objetivo coshymum a obten(ao do melhor resultado economico passive

A partir dos diferentes perfis do fenomeno empresa fixou-se 0 entenshydimento de que a melhor defini~ao de empresa e a que a identifiea como uma atividade economica organizada ou seja define-se empresa atraves do perfil funcional (Ramos 2012 p 11)

A leoria das atas de comercio desenvalvida a partir da codificarao Napoleilnica (C6digo Comerca de 1807) era a reoria que embasava 0 direito comereiai em sua segunda fase evolutiva islo e a direto comereial destinado a regular as relar5es que envolvessem a prallea de deterrninados atos que segundo dlsposirao legal eram considerados atos de comereic Segundo dita teorie eram comerciantes aqueles que realizavam com habitualidade estes alos Assim 0 C6digo Comereial Francils reproduzido em codifica~6es posteriores inclusive ne Brasil [Cltldigo Comercial de 1850) enumerava certas atividedes que eram consideredas mereantls cabendo ao C6digo Civil a regulaltiio dos demals atos olio considerados alas de comercio (Ramos 2012) Coosiderava-se como aode camercio basicamente a atividade industrial decomercio de mercadorias propriamente dita e bancaria A delinirlio de atos de comercio apresentavamiddotse eom fundamental rslevanaia na medlda em que era a partir da defini~lio de uma determinada atlvidade como ate de comercio que se caracrerlzava 0 agente que a realizava como corneroia nte ficando esta submetida as normas especlficas previstas na legislarao comercial [lacerda 1970) Para 0 aprofundamento acerea das lases evolutivas do direito empresarial vide NEGAAO Ricardo Manua de direltn comercial e de empresa 8 ed Sao Paule Sarava 2011 p 25-33 e COElHO Fabio Ulhoa Curso de direito comercia 16 ed Slio Paulo Saraiva2012 p 19-44

1 RDpound II 4J - MarmiddotAbif2D15 - PARTE GpoundRAl- DOUmlnA

o C6digo Civil brasileiro nao trouxe 0 conceito de empresa mas apeshynas 0 de empresario que e0 sujeito que exerce a empresa conf0fme dispoe o art 966 do C6digo Civil5 bem como 0 conceito de estabelecimento emshypresariaL no art 1142 do mesmo diploma legal Da analise do conceito de estabelecimento pode-se depreender mais facilmente que empresa e uma atividade a atividade empresarial que 0 empresario desenvolve atraves de seu estabelecimento 0 legislador seguiu a tendencia doutrinaria que deshyfiniu a empresa como a atividade economica organizada de producao e circulacao de bens e servicos

A empresa e a pr6pria atividade empresarial a qual e marcada par algumas caracterfsticas extraidas do pr6prio art 966 do C6digo Civil sem as quais a atividade exercida nao sera considerada empresa e por conseguinshyte 0 sujeito que a exerce nao sera caracteriLado como empresario

A primeira dessas caracteristicas e a economicidade ou a finalidade lucrativa que e 0 objetivo do empresario Quanto ao intuito lucrativo da atividade empresarial que caracteriza 0 empresario pode-se dizer que

Ao destacarmos a expressao atividade economica por sua vez queremos enfatizar que empresa e uma atividade exercida com intuito lucrativo Afishynal conforme veremos ecaracterfstica intrfnseca das relalt5e5 empresariais a onerosidade Mas nao e 56 a ideia de lucro que a expressao atividade ecoshynomica remete Efa indica tambem que 0 empresario sobretudo em funltao do intuito lucrativo de sua atividade euro aquele que assume os riscos tecnicos e econornicos de sua atividade (Ramos 2012 p 37)

Segundo Fran Martins (2011 p 67) entende-se por comerciante a pessoa natural ou juridica que profissionahnente exercita atos de intershymedialtao ou prestacao de servicos com 0 intuito de lucro Mais adiante o d()u~~lQ~()r~~Jarlce que 0 empre~ario e a evolucao da ng(lrId()to~r dante

Com a evolu~ao da importancia das empresas no exercfcio das atividades comerciais os comerciantes sao considerados empresarios isto e os chefes das empresas (C6digo Civil italiano de 1942 art 2086) [ J ve-se que 0

campo de aao do comerciante foi ampliado com a conceito de empresario pois se no direito tradicional 0 comerciante era um simples intermediario no novo direito as atividades da empresa podem ser tambem de produ~ao

Art 965 do eeB Consldera-se empres~rio quem exerce profissionalmente atividade econ6mlca organizada para a produltao ou a circulaltao de bens ou de serviltos (Brasil 2002 p indeterminada)

5

Art 1142 do CCB Consideramiddotse estabelecimento todo 0 complexo de bens organlzado para exercfcio da empresa par empresario ou sociedade empresana (Brasil 2002 p indelerminada)

6

RDE N 43 - Mar-Abr2D15 - PARTE GERAl- MUTRINAgt

A segunda caracterfstica refere-se ao profissionalismo ou seja a hashy151fualidade noexerdcio da empresa A ativid~de economica nao pode ser exercida esporadicamente mas seu exercfcio deve prolongar-se no tempo coadunando com 0 intuito lucrativo do agente (Vercosa 2004) Em sintese o empresario e aquele que exerce a empresa de forma profissional assushymindo os riscos dela decorrentes e com 0 intuito de obter lucro (Requiao 2010)

Outra caracterfstica essencial da empresa que tambem caracteriza 0

empresario diz respeito a sua finalidade qual seja a producao eou a cirshycufacao de bens e servicos A ligacao do exerclcio da empresa ao binomio producao-circulacao de bens e servicos ampliou muito 0 ambito de incishydencia do direito especializado afinal a partir daf em regra qualquer ativishydade economica pode ser considerada empresaria desde que exercida com o intuito lucrativo de forma organizada e profissional (Ramos 2012 p 38)

A ultima caracterlstica essencial da empresa e a organizarao Ao exercer a empresa 0 empresario articula 05 fatores de producao a seu favor isto e movimenta 0 capital a mao de obra os insumos e a tecnologia com o objetivo de obter lucro (Coelho 2011 p 32) Essa organizarao e responshysavel pela impessoalidade que se exige no exercfcio da empresa Quando a atividade e exercida de forlTla pessoalizada onde a organizacao perde importimcia 0 exercente nao estara empresariando

Empresario e portanto

quem organiza exercendo uma funltao de intermedia~ao eou de transformashylt50 dentre os fatores da producao criando riquezas para 0 mercado (centro de encontro enreC0(~rtae1dlltlJBMados diversos sujeitos economicos) e equem assume 0 risco economico e a inidativa do empreendimento (Franco 2004 p 57-58)

Nessa medida sendo a empresa uma atividade economica e 0 empreshysario 0 sujeito que a exerce de forma organizada tratou a legislacao de esshytabelecer inicialmente duas formas de exerdcio da empresa duas espEkies do genero empresario 0 empresario individual (pessoa ffsica) e a sociedade empresaria (pessoa juridica)

o empresario individual ea pessoa natural que exerce uma atividade economica de producao e circulacao de bens ou de prestarao de servicos Eo empreendedor pessoa flsica que sozinho exerce atividade empresarial ao contrario da sociedade empresaria que epessoa juridica constituida sob

HOE N 43 - MarmiddotAr2015 - PAIlTE GEfiAl- DOUTRINA

a forma de sociedade cujo objeto social e a explora~ao de uma atividade econCimica organizada (Ramos 2012 p 38)

o ordenamento jurfdico brasileiro trata de maneira bastante distinta os empresarios individuais e as sociedades empresarias especialmente no que tange ao patrimCinio e ao sistema de responsabilidade de um e de outro

o empresario individual nao goza da separa~ao patrimonial da qual gozam as sociedades empresarias pelo fato de estas serem efetivas pessoas jurjdieas7

bull Assim todo 0 patrimCinio do empreendedor esteja ele ou nao afetado ao exerdcio da atividade emplesarial pode ser alcantado para 0

adimplemento das obrigat6es assumidas no exerdcio da empresa Logo 0

sistema de responsabilidade que reeal sobre 0 empresario individual e 0 da responsabilidade ilimitada responde ele com a totalidade do seu patrimCishynio pelas obriga~6es eontraidas no exercicio do neg6cio Conclui-se assim que 0 exerdcio da empresa de forma individual aearreta multo mais riscos do que a explora~ao da atividade mediante a eonstituitao de uma sociedashyde (Ramos 2012)

Nao e por outra razao que Fabio Ulhoa Coelho (2011 p 39) afirma que as atividades economicamente mais importantes sao exercidas pelas sociedades empresarias normal mente sociedades limitadas ou anonimas ja que alem da possibilidade de eompartilhar riscos permite que a atividade seja exercida com limitatao de responsabilidade restando ao empresario individual as atividades de menor envergadura que implieam menores inshyvestimentos ao mesmo tempo em que nao apresenta grande risco de perdas

Evidentemente aventurar-se no ramo empresarial para exploratao de atividade economica implica decisao mais facilmente tomada quando 0

risco assumido e menor ou pelo menos minimizado

Ern virtude daausencia de I imita~ao responsabiiidade pa ra 0 empreshysario individual pratica bastante comum e a constituirao das chamadas 50shy

ciedades de fachada sociedades constitufdas apenas formalmente nas quais urn dos sodos Figura enquanto tal titularizando percentual minimo do capital social sem que seja efetivamente s6cio Na pratica a atividade eexercida de

0 empres~rio individual embora esleja cadastrado no CNPJ 0 recebe apenas para fins tributaries 0 fate de o empresario individual ebler um CNPJ nao 0 translarma em uma pessoa jurldica continuando a ser pessoa fisica Epacifico na dautrina ena jurisprudencia tal entendimento A titulo de exempla Agravo de instrumento Ensino particular 0 palrimanio do empresario individual CQnfunde-se 0011 0 passoai correspondendo a urn 56 conjunlo de bens ouja dominic ) da pessoa Iisica Inexlsle 6biee II constri~ao de palrimanla pertcncente il empresa individual no intuito de garantlr 0 pagamento de dlJbitos contraldos paia pessoa ffsica Agravo de instrumenlo provldo em decisao monocratiea ITJRS AI 70062097407 6a CClvbull ReI Nay Wiedemann Nato J 15102014)

RDE II 43 - Mar-Akrl2015 -PARTE GERAl- nOUTRINA

forma individual mas formal mente apenas para minimizar a risco assumido pelo empreertdecfOr celebra-se contrato de sociedade fazendo surgir a pesshysoa jurldica regularmente constituida (Ramos 2012 p 40-41)

Como visto para alem do empresario individual a outra especie de empresuio e a sociedade empresaria De pronto e importante esclarecer que neste caso os socios da sociedade nao sao pelo menos tecnicamente empresarios Quando constituida uma sociedade esta e que ea empresaria a titular do exercfcio da empresa Conforme ensina Fabio Ulhoa Coelho (2011 p 38-39)

Deve-se desde logo acentuar que as s6dos da sociedade empresaria nao sao empresarios Quando pessoas (naturais) unem seus esforcos para em sociedade ganhar dinheiro com a explora~ao empresarial de uma atividade economica elas nao se tornam empresarias A sociedade par elas constitufshyda uma pessoa juridica com personalidade autonoma sujeito de direito inshydependente eque sera empresaria para todos os efeitos legais Os socios da sodedade cmpresaria sao empreendedores ou investidores de acordo com a colaboracao dada asodedade [1 As regras que se apllcam ao empresario individual nao se aplicaniaos s6dos da sociedade empresaria

A sociedade vem definida no art 981 do C6digo Civil 0 qual disp5e que celebram eontrato de sociedade as pessoas que reciproeamente se obrishygam a contribuir com bens ou servitos para 0 exercfcio de atividade ecoshynCimica e a partilha entre si dos resultados (Brasil 2002 p indeterminada)

Entretanto as primeiras manifestatoes de sociedade enquanto simshyples eomunhiio de esfortos tem sua origem mais remota ainda nos povos primitivos A historia da evolutao da humanidade mostra que desde os peshyr1odo~m~isdistants 05homens conjugavam forcas comaqu~Ies E1mQlle01 depositavan1totl(ian~a com a finalidade de alcimtar objetivos~om~ns os quais nem sempre foram luerativos t na Idade Media contudo que a sociedade tal como conhecida atualmente tem suas raizes especialmenle em virtude do desenvolvimento do comercio em algumas cidades italjanas Neste periodo 0 direito comercial nao passava de um conjunto de usos e costumes adotados pelos primeiros comerciantes chamados mercadores para atender as suas pr6prias necessidades e regulamentar as suas atividashydes Nao obstante foi na Idade Media que foram delineados os primeiros tipos societarios6 que existem ate hoje a sociedade em nome coletivo e a sodedade em comandita simples (Almeida 2011)

---~___V~_~~~~_bullbullm~~___~___

a Para aprofundamento aceres dos tipos societarios previstos no ordenaillenio patrio vide MARTINS Fran Curso de direito comerclal 34 ed Rio de Janeiro Forense 2011 ALMEIDA Amador Paes de Manual rias

7

nos essenshy

e seshy

e os

1407

middot bull RIlE N 43 - MamiddotAbrj2B15 - PARTE GERAl- DOUTlIINA

A sociedade em nome coletivo surgiu na Italia entre os grupos fashymiliares que formavam sociedades posteriormente se desenvolvendo enshytre os artesaos e comerciantes (Almeida 2011) No Brasil regulada arts 10399 e seguintes do C6digo Civil de 2002 caracteriza-se cialmente pelo fato de admitir apenas pessoas fisicas como socios e pelo sistema deresponsabilidade solidaria e ilimitada pelas obrigacoes sociais imposto aos socios Esse sistema de responsabilidade nao e muito atrativo ja que ap6s 0 esgotamento do patrimonio da pessoa juridica 0 patrimonio pessoal dos socios sera atingido para a satisfa-ao das obrigacoes da socieshydade Nesta sociedade nao ha limita-ao de responsabilidade

A sociedade em comandita simples regulada nos arts 104510

guintes do C6digo Civil de 2002 tern sua origem no desenvolvimento do comercio marltimo no chamado contrato de comenda por melo do qual os nobres interessados em comerciar e nao 0 podendo em razlio do conceito que 0 comercio tinha entre aquela casta social confiavam aos comerciantes marftimos certa quanti a em dinheiro para que estes praticando a atividashyde mercantif obtivessem luero 0 qual seria dividido entre estes ultimos e aquele que tinha investido capita Em casu de prejuizo 0 nobre investidor assumia a perda do valor investido (Martins 2011)

Atualmente a sociedade em comandita simples apresenta duas cateshygorias de socias com sistemas de responsabilidade diferentes asemelhan~a do ocorria em sua origem medieval as socios comanditad05 administram 0

negocio e assim respondem solidaria e ilimitadamente pelas obrigalt5es socia is ja os socios comanditarios apenas investem capital para 0 exerdcio da empresa nao participando de sua administraltao e por isso respondem de forma limitada ao capital investido au seja nesta sociedade esgotado o patrimonio social somente parte dos s6cios podera ter 0 seu patrimonio pessoal atingido para satisfa-ao das obrigacoes da sociedade

A sociedade ari6tiitnatamberi1conhecida comocompanhia em pese nao haja entendimento pacifico na doutrina ace rca de sua origem na uma quase unanimidadell ao afirmar que a primeira manifestaltlio definitiva

sociedades comereais 19 ed Sao Paulo Saralva 2011 COELHO Fabio Ulhoa Curse de direito eomereal 16 ed Sao Paulo Saralva 2012 e NEGRAO Ricardo Manua de direito comereial e de empresa 8 ed Sao Paulo Sara iva 201 L

9 Art 1039 do CCB Somente pessOBS Iisieas podem tomar parle na sociedade em nome coletivo respondendo lodos os s6cios salida ria e iiimitadamenle pelas obrig~Oes socials

10 Art 1045 do CeB Na socledade em comandita simples Icmam parle s6cios de duas calegorias ascQmanditados paswas lisicas responsaveis solidaria e ilimitadamente pelas obrigalt6es SOClais comanditarios obrigados somenle pelo valor de sua quola

11 Dvergem alguns autores sabre este marco hist6rioo a exemplo de Haroldo Malheiros Duclerc verltosa que afilTla qlJe a primeira sociedade anOnima teria sido 0 Banco de Sao Jorge de G~nova criado em (Velaquoosa 2006 p 290)

RDE N 43 - MarmiddotA1uI2815 - PARTE GEHAl- D8UTRINA

e mais proxima da atual sodedade anonima deu-se com a Companhia das IndiasOrientisem1602 na HolandaAtmeicla 2011 p 187)

A sociedade anonima esta regulada nos arts 10882 e 108913 do C6shydigo Civil de 2002 e na Lei nQ 64041976 Entre suas caracterfsticas essenshyciais destacam-se a divisao do capital social em altoes e 0 sistema de re5shyponsabilidade dos sOcios denominados acionistas que e limitada ao preoo de emissao das a-5es subscritas14 ou adquiridas5

A lei nil 64041976 tam bern regulamenta a sociedade em comandita por acoes a qua teve sLla origem ja na Idade Moderna com 0 C6digo Coshymercia Frances de 1807 Tal especie societaria tambem foi genericamente regulada pelo C6digo Civil nos arts 10906 e seguintes Asemelhanca das comanditas simples as comanditas por acoes tambem possuem duas modashylidades de sodos os acionistas diretores a quem incumbe aadminjstra~ao

da sodedade os quais respondem solidaria e ilimitadamente pelas obrigashyc6es socia is e os demais acionistas que sem poderes de administracao goshyzam de limita~ao de respol1sabilidade ao capital investido (Rizzardo 2009)

A sociedade limitada contudo teve origem de modo diverso Ate 0

seu surgimento 0 empreendedor que quisesse exercer uma empresa unindoshy-se a outro tinna dois caminhos possfveis a seguir ou constitufa uma socieshydade anonima cujo sistema de responsabilidade era 0 da responsabilidade limitada traduzindo-se na forma menos ariscada de exercfcio da empresa mas que por outro lado exigia muitas formalidades para sua constituicao e assim destinava-se mais aos grandes empreendimentos com vultosos investimentos ou constituia uma das modaidades de sodedade de pessoas existentes aepoca de constitui-ao e funcionamento mais simples sem a neshycessidade de grandes investimentos mas com sistema de responsabilidade

ilimitadl para todos OLi parte dos sooi6Js(Abri)o 2000)

as modelos societarios entao vigentes restringiam 0 acesso de pequeshynos e medios empreendedores ao exerdcio das atividades economicas Prishy

12 Art 1088 do CC8 Na socledade anonima ou companhia 0 capital divide-se em a90es obrigando-se cada OOcio au acionista somente palo pret) de emlssao das afies que subscrever au adqUirir

13 Art 1089 do ee8 A $Ocledade anOnima rege-se por lei especial aplicando-se-lhe nos casas omissos as disposioes deste C6digo

14 Subscriltao de capital e 0 ato pelo qual 0 socio au aclonista assume 0 compromisso de adqurir para si pagando 0 valor devido determinado numera de quotas ou altoes Integralizao do capiial social eo ato pelo qual 0 s6clo ou acionista efetivamente paga 0 pre90 das quotas ou alt6es subscMlas (Martins 2011)

15 Art 1C da LSA A companhia ou sociedade ananima tera 0 capital dividldo em aoes e a responsabilidade dos sOcios ou acionistas ser~ limitada ao pr~o de emissao das altOes subseritas au adquiridas

16 Art 1090 do CCB A soeiedade em oomandila por alOes tem a capital dividido em aBes regendo-se pelas normas relaivas II sccledade an6nima sem prejulzo das modificalt6es constantes deste Capitulo e opera sob finna OIl denomlnao

Hut N 13 -lIarmiddotAbr2015 - PARTE GERAl- DOUTRIUA

meiro porque de forma individual ou em sociedade de pessoas ainda que as formalidades para constituiltao e 0 investimento exigido fossem menores os riscos eram elevados em decorrencia do sistema de responsabilidade iIishymitada Segundo porque a unica sociedade com sistema de responsabilidashyde limitada era a anonima a qual por exigir um rigorismo formal para sua constituiltao destinava-se aos grandes empreendimentos (Verltosa 2006)

Necessitava-se entao para atender a demanda dos pequenos e meshydios empreendedores de um tipo societario capaz de atender a ambas a~ necessidades menor assunltao de riscos pela limitaltao de responsabilidade e ao mesmo tempo menor complexidade de constituiltao e funcionamenshyto (Pimenta 2006 p 67) Nesse contexto e que surge na Alemanha em 1892 a sociedade por quotas de responsabiiidade limitada (Almeida 2011 p145)

Ante a necessidade de incentivar 0 exercicio da empresa por parte de tantos quant05 por cia se interessassem por meio da separaltao entre 0

patrimonio pessoal dos s6cios e 0 da sociedade nao respondendo aqueles pelos debitos contraido5 por esta e que a sociedade por quotas de responsashybilidade limitada mostrou-se ahernativa eficaz na legislaltao alema de 1892 (Pimenta 2006 p 68)

No Brasil esse tipo societario foi consagrado em 1919 atraves do Decreto nQ 3078 cujo sistema de responsabilidade vinha estabelecido no art 290 qual previa que 0 titulo constitutivo regular-5e-a pelas disposiltoes dos arts 300 a 302 e seus numeros do C6digo Comercial devendo estipular ser limitada a responsabilidade dos socios a importancia total do capital social (Brasil 1919 p indeterminada)

A sociedade limitada17 hoje regulada pelo C6digo Civil de 2002 pode entaoser vistacomq a primeira forma deincentivqr epossibjlitaxo ac~ssode tltTlnumeromaior de pessoas ao exercicio de atiIdadesempreshysarias 1550 porque a partir dela passou a existir um tipo societario que alia a limitaltao de responsabilidade1B caracterfstlca que ate entao era exclusiva

17 Enquanto vigia 0 Decreto nO 30781919 este tipo socletario era denominado Socledade par Quotas de Responsabilidade limitada 0 art 10 do Jecreto previa que ahlm das sccledades a que se referem as arts 295 311 315 e 317 do C6digo Comecial poderao constituir-se socledades por quotas de responsabilidade limitade Oito decreta vigorou por mals de 80 anos vindo a ser parolalmente revogado pelo atual COdigo Civil em vigor deede 2003 0 CCB2002 simplifieou a nomenclatura passando a denomlnar este tipo socletMo apenas de secledade limitada regulando-a sem seus arts 1052 e seguintes

18 Como vista no sistema atual somente associedadesanonimas e limitadas possuem sOcios de responsabilidade limiteda 0 limite da responsabilldade dos socios ea capital investido por estes no neg6cio resglJanlandoshyse asslm 0 seu patrimOnio pessoaL Nao epor outra rallio que estes silo os dois tipos socletarios de maior utiliza~ao no Brasil estando os demais praticamente em desuso

ODE N 43 - MarmiddotAbrlZ315 - PARlE GEOAl- OnUIlIINA

da sociedade anonima e a contratualidade ou seja uma sociedade cujo ate constitutivo e0 cQntratosocia-OquaJpermite uma maior expressao da autonomia privada dos s6cios na conformaltao da sociedade diferentemenshyte da sociedade anonima que e uma sociedade constituida por um estatuto social muito mais conformado pela pr6pria legislaao do que pela vontade dos s6cios (Ramos 2011 p 248)

Verifica-se ainda que ao longo da hist6ria a sociedade sempre foi concebida como uma uniao de forltas pela busca de um resultado comum e as sociedades empresarias a uniao de forltas pela busca de um resultado lucrativo comum caracterizando-se pelo exercicio em conjunto de uma atividade economica organizada

Quanto anecessidade de constituiltao de uma sociedade para 0 exershycicio da empresa esclarece Fabio Ulhoa Coelho (2012 p 21) que

atividades economicas de pequeno porte podem ser exploradas por uma pesshysoa (natural) sem maiores dificuldades Na medida porem em que se avolushymam e ganham complexidade exigindo maiores investimentos ou diferentes capacitalaquooes as atividades econ6micas nao mais podem ser desenvolvidas com eficiencia par um indivfduo apenas 0 seu desenvolvimento pressupoe entao a aglutinalaquoao de esfonos de diversos agentes interessados nos lucros que elas prometem propiciar Essa articularao pode assumir variadas formas jurrdicas entre as quais a de uma sociedade

As sociedades assumiram tal importancia social que passaram a ser vistas como entes absolutamente distintos separados dos sujeitos que se uniam para forma-las acabando pOl receberem da ordem jurfdica status de sujeitos de direito tal como as pessoas naturais Eo que ensina Amador Paes de Almeida (2011 p 29)

Num cresceriaOafrmir~Veffofam~sb(jedades ganhando vulto a ponto de em pouco tempo distinguirmiddotse nitidamente das pessoas ffsicas que as comshypunham rJ Formando pois uma entidade aparte absolutamente distinta das pessoas naturais que as integram (ulrninaram as sociedades por serem reconhecidas pelo ordenamento jurfdico como sujeilos de direito equiparashydas ponanto as pessoas fisicas

A este sujeito de direito que surge a partir de uma sociedade 0 direishyto deu 0 nome de pessoa juridica Par conseguinte sociedade empresaria devidamente registrada19

sera a pessoa juridica exercente de uma empresa

19 0 registro do empresario seia eie individual au coietivo (sociedede empresiiria) Junto ao 6rgao responsavei pelo registro mercanti qual seia as Juntas Comereiais dos Estados euma das obrigalt6es impostas aquele

JUilJ fiDE It 43 -i4armiddotAIJr2Ul ~ - PARU GEllAl- OOHmlNA

o sujeito de direito que pratica os atos necessarios a realizarao da atividade economica nao se confundindo com seus sodos (Coelho 2012 p 23 e 27)

De todo 0 exposto conclui-se que para 0 direito empresarial desde suas primeiras manifestaroes ainda na Idade Media a personalidade jurishydica propria que era atributo exclusivo das pessoas fisicas foi estendida as pessoas juridicas que sao formadas pela uniao de no minimo duas pessoas em sociedade As empresas pod em ser exercidas po is tanto por pessoas fIshysicas quanta por pessoas juridicas Neste ultimo caso a pessoa jurfdica tem autonomia patrimonial em rela~ao ao patrimonio pessoal de seus socios

12 As CONSEQUENCIAS DA PERSONlflCACAO E A IMPORTANCIA DO PRINCPIO DA AUTONOMIA

PATRIMONIAL

A personalidade juridica e uma inven~ao do Direito Nao existe pesshysoa jurfdica senao sob a otica do Direito que a criou com 0 objetivo de solucionar alguns problemas decorrentes das relar6es humanas autorizanshydo a priitica de atos juridicos por outros sujeitos de direito que nao apenas pessoas naturals (Coelho 2011 p 138)

A personalidade juridica das sociedades empresarias e a criarao que possibilita conferir titularidade de direitos a um ente que nasce da uniao de outros ou seja e uma ficrao que atribui personalidade a um ente formado por uma coletividade de pessoas (Fazzio JUnior 2008 p 31)

o principal objetivo da atribuicao de personalidade jurfdica as soshyciedades e permitir que estas possam praticar todos os atos juridicos necesshysarios ao desenvolvimento da atividade para a qual foram criadas por si

lu~exce projiSSiOQ~Irente uma atividade empre~ari~ ~simse~Qo0tegistfJl DaO econdi~ao para taiacteriza~ao de uma pessoa (flsica au jurldica) como efllpresilio tratando-se na verdade de mera declarruao de regularidade do exercfcio dll empresa de acordo com as normas impostas pelo ordenaP1ento juridico patrio A inexist~ncia de registro nao descaracteriza 0 sujelto como empresario mas uma vez conligurando 0 descumprimento de uma obriga~~o a ele imposta acarreta algumas restri~es No caso da sociedade empresaria irregular uma das restri6es ea impossibilidade de realizar sua inscrirao junto aD Cadaslro Naeional de Pessoas Juridlcas com a consequente sanao pelo descumprimento das obriga~6es tributarias decorrentes deste cadastra Assim a sociedade empresiiria nao deixa de ser empresaria pela lalla de reglstro l1as naD sera uma pessaa juridice Dessa Iorma sendo sociedade oespersonificada os socioS da sociedade empresria irregular nlio gozam das benesses de Ilmitarao de respansabilidade atribuida via de regra as sociedades regulares (Coeiho 2011) Quanta if desnecessidade de reglstro marcantil para caracterizaao do empresaria ji se manitestou 0 Conselho da Justita Federal na III Jornada de Direito Civil na quallcram aprovados os Enunciados nOs 198 e 199 que disp5em respectivamente Art 967 A inscri~ao do empresArio na Junta Comercial nao Ii requisito para a sua caracteriza~ao admitiodo-se a exerclcio da empresa sem lal provid~ncia 0 empresarlo irregular reune os requisitos do art 966 suieltando-se as normas do COdigo Civil e da legislaao comerdal salvo naquilo em que Iorem incompatlveis com a sua condi~ao ou diante de expressa disposiao em contrjrio e Art 967 A inscriltiio do empresario ou sociedade empresiiria erequisito delineador de sua regulalidade e nao da sua caracteriza9iio (Conselho da Iusti~a Federal 2004 p Indeterminada)

ROE N 43 - MarJlbr2015 - PARTE GEftAl- DOUTRINL

mesmas e nao em nome dos sodos Na sodedade empresaria tal objetivo mOiVa-s~ ltliJ1rja maisreJevante na medida em que a atividade exercida exishyge assuncao de riscos os quais serao assumidos pela pessoa juridica e nao pelas pessoas fisicas (Fazzio Junior 2008 p 31)

Nesse contexto a importfmcia da atribuirao de personalidade jurishydica as sociedades empresarias e evidente sendo facil concluir que para minimizar 0 risco da atividade empresarial separando 0 patrimonio pessoal dos empreendedores os indivfduos devem - ou deveriam ate pouco tempo - constituir uma sociedade formando assim uma pessoa juridica a qual goza de autonomia patrimonial

Essa ficrao resulta em uma serie de consequendas importantes para o Direito De modo geral e possivel identificar tres consequencias advindas da atribuirao de personalidade jurfdica as sociedades empresarias a titulashyridade obrigacional a titularidade processual e a responsabilidade patrimoshynial (CoelflO 2012 p 32)

A titularidade obrigacional determina que todas as obrigacoes assushymidas no ambito do exercicio da atividade empresarial 0 serao pela socieshydade e nao pelas pessoas de seus socios Assim quem figura em um dos polos da rela~ao jurfdica estabelecida com terceiros (contratos de trabalho de prestarao ou contratarao cje servicos etc) e a sociedade e nao as pesshysoas dos socios que a comp6em Ja a titularidade processual implica que apenas a sociedade seja parte legftima para demandar ou ser demandada em processos judiciais que visem a discutir obrigar6es assumidas em seu nome Por fim a responsabilidade patrimonial que determina que a pessoa jurfdica e responsavel pelas obrigacoes que ela contrair com 0 seupr6prio patrim()Oi(jQ~qllaledistinto do patrimonio pessoal de cadaunl closs6dos que a constituem ou seja 0 conjunto de bens da sociedade forma 0 patrishymonio da pessoa jurfdica e eesse patrimonio que em regra responde pelas obrigac6es assumidas pela sociedade (Coelho 2012 p 32-33L

Arnaldo Rizzardo tambem reconhece que

tanto e pr6pria e distinta a personalidade juridica que 0 sistema juridico reconhece a sua existencia distinta da de seus s6dos e assim a titularidade pr6pria de direitos (de ordem patrimonial e moral) como a sujeirao a obrigashyr6es e deveres (como sujeito passivo na demanda de creditos existentes par terceiros) Nao se confundem os direitos e deveres da pessoa jurfdica com as de seus s6cios oem os direilos e deveres destes se transferem para a pessoa jurfdica (Rizzardo 2009 p 23)

1 11 ~ bull RDE N 43 - Mar-Abd2Dl5 - PARTE GERAl- DOUTRINA

Na mesma linha Ricardo Negrao (2011 r p 203) afirma que sao efeishytos da personificarao a assunao de capaddade para direitos e obrigar6es middota separacao entre a pessoa juridica e aspessoas dos s6dos a existenda de patrimonio proprio distinto do de seus sodos e a possibilidade de a socieshydade alterar a sua estrutura interna

Ve-se portanto que nao ha grande divergencia doutrinarla quanta aos principais efeitos da personificacao No entanto entre as tres conseshyquendas destacadas e a responsabilidade patrimonial da pessoa jurfdica a que merece maior destaque

A existenda de patrimonio pro-prio das pessoas juddicas da-se por forra da incidencia do princfpio da autonomia patrimonial segundo 0 qual os bens da sociedade empresaria formam um patrimonio autonomo que responde pelas obrigar6es contrardas por esta enquanto que os bens de cada um dos socios que a compoem permanecem via de regra imunes ao cumprimento destas obrigaroes

Trata-se na verdade de algo muito antigo decorrente da maxima aplicada desde a Lex Poetelia Papiria que data de 326 antes de Cristo por melo da qual se determinou que 0 patrimonio do devedor fosse a garantia dos credores Com tal lei a obrigarao entre 0 credor e 0 devedor deixou de estar pautada em um vinculo corporal sendo substitufda pela responsabilishydade patrimonia ou seja os bens e nao mais 0 corpo do devedor passashyram a responder por suas diviaas (Alves 201 Or p 382 e 436)

Ora se a devedora e a sociedade empresaria e justo que apenas 0

seu patrimonio responda pelas obrigaroes contrafdas e nao 0 patrimonio de seus sodos sujeitos de direito distintos A autonomia patrimonial e a responsabilidade patrimonial proprias da sociedade formam uma estrutura que incentiva a aS5Un~Q dQriscodo exerdcio de uma atividade empreshysaria Principalmente quando 0 tipo de sociedade traz tambem a regra da limitarao de responsabilidade dos s6cios 0 que ocorre nas sociedades anoshynimas e limitadas

Tal e a importancia da autonomia patrimonial das pessoas jurfdicas que Fabio Ulhoa Coelho (2012 p 34) afirma que se trata do alicerce do direito sodetario

Esse e 0 principio da autonomia patrimonial alicerce do direito societario Sua importilncia para 0 desenvolvimento de atividades economicas da proshydUlao e cireula~ao de bens e servicos e fundamental na medida em que limita a possibilidade de perdas nos investimentos mais arriseados A partir da afirmacao do postulado juridieo de que 0 patrimonio dos s6cios nao res-

RDE PI ~3 -lIhrmiddotAbr1015 - PARTE GERAl- DDlITHINA ~

ponde por dividas da sociedade motivam-se investidores e empreendedores a aplicar dinheiro emathddades oconomieas-demiddotmaior envergadura e risco 5e nao existisse 0 principio da separaCao patrimonial os insueessos na exshyploracao da empresa poderiam significar a perda de todos os bens particushylares dos s6cios amealhados ao longo do trabalho de uma vida ou mesmo de geracoes e nesse quadro menos pessoas se sentiriam estimuladas a deshysenvolver novas atividades empresariais No final 0 potencial econ6mieo do Pars nao estaria eficientemente otimizado e as pessoas em geral ficariam prejudicadasr tendo menos acesso a bens e servi~os 0 principio da autoshynomia patrimonial e importantfssimo para que 0 direito discipline de forma adequada a explora(ao da atividade economica

o principia da autonomia patrimonial e sem duvida um importante mecanismo de incentivo ao exercicio da atividade empresaria na medida em que possibilita a minimizarao dos riscos assumidos pela pessoa ffsica que decide exercer uma empresa Isso parque mesmo nas especies societashyrias em que a responsabilidade dos s6das e ilimitada (sociedade em nome coletivo por exemplo) est~ sera sempre subsidiaria por forra do princlpio de mesmo nome consagrado no ordenamento jurfdico patrio pelo art 1024 do Codigo Civil de 2002 2deg

Parece evidente que 0 princlpio da autonomia patrimonial coadunashy-se nao apenas com os fundamentos da ordem economica brasileira exshypressos no caput do art 170 da Constituirao Federal quais sejam a livre iniciativa e a valorizarao do trabalho humano bem como corn seus prindshypios norteadores como a livre concorrencia e 0 livre exerckio da atividade economica alem de toda a constru~ao hist6rica de incentivo ao exercicio da empresa como forma de fomentar a economia dos Estados possibilitanshydo a gerarao e a circularao das riquezas

Todaviacomo exposto anterio~trl1ente Os beneficios desse principio nao se aplicam ao empreendedor que exerce a empresa de forma individual nao sendo outra a razao principal para a edirao da Lei nQ 124412011 que introduziu no Brasi a EIRELI

13 EIRElI AS PRINCIPAlS CARACTERisrlCAS DO NOVO EMPRESARIO

Feitos os esclarecimentos sabre as diferentes especies de empresashyrios ate entao existentes cabe 0 enfrentamento da nova especie introduzida recentemente no ordenamento juridico brasileiro a Empresa Individual de

-middot~---middot-middot-----_~___laquo~_M

20 Art 1024 do eeB Os bens particuJares dos socios nao podem set executados por dlvldas cta saciedade senao depois de executados os bens socials (BraSil 2002 p indeterminacta)

13 It ROE N 43 - MarmiddotlbI2D15 - PARTE GERAl- DOUTRINA

Responsabilidade Umitada - EIRELI Especie de empresario que conforme refere Andre Luiz Santa Cruz Ramos (2012 p 40) surge na legislacao piitria atendendoa antigos an5eiostantoda doutrina quantodo meio empresariai

Ate a entrada em vigor da legislacao que introduziu a EIRElI como ja dito existiam apenas duas formas de exercer a empresa ou como empreshysario individual (pessoa ffsica sem autonomia patrimonial e limitacao de responsabilidade) ou como sociedade empresaria (na qual os sodos podem ou nao vir a responder pelas obrigacoes contraidas no exercfcio da atividashyde mas sempre e tao somente ap6s 0 esgotamento do patrim6nio social ja que ha no mlnimo a autonomia patrimonial da pessoa juridical

A partir da EIRElI pasSOli a ser posslvel que uma s6 pessoa exerca a empresa por meio de uma pessoa juridica 0 que permite a efetiva separacao patrimonial e limitacao de responsabilidade ao capital investido como ocorshyref mais precisamente nas sociedades limitadas Esse novo ente apresenta caracterfsticas bastante pr6prias

De plano pode-se ressaltar uma caracterfstica e esta incontroversa A EIRELI eum ente dotado de pcrsonalidade juridica pr6pria ja que inserida no rei das pessoas juridicas de direito privado do art 44 do C6digo Civil Ao contrario do empresario individual que e uma pessoa flsica a EIRELI e uma pessoa juridica constituida para 0 exerdcio de uma atividade economica Ainda pela leitura do texto legal na medida em que a EIRELI esta prevista em um inciso em separado inciso VI incluido pela Lei nQ 124412011 a priori nao se poderia concluir qLle se trata de uma sociedade empresaria as quais ja vinham previstas no inciso II

Assim da simples interpretacao da alteracao ocarrida no art 44 do C6digo Civil conclui-se que a EIRELI e pessoa juridica nao se confundindo comasect~Od~adeiJilmpouco com 0 empresario individualquenem peSsoa jurfdiCa~

Outra caracterfstica importante da EIRELI e a exigencia de urn capital mfnimo nao inferior a 100 vezes 0 salilrio-minimo vigente no Pais para a sua constitLlicao conforme dispoe 0 caput do art 980-A do C6digo Civil de 2002 22 tambem inclufdo pela Lei nQ 124412011 0 empreendedor que

21 De plano cumpre esciarecer que por ludo quanto)a exposto no decorrer do presente estudo a nomenclatura utllizada pelo legislador eatecnica na mediaa em que atribuiu personalidade jur(dica a uma etividade Como visto ernpresa nao esujelto de direilos mas sim uma atividade exercida pelo empresario este sim sujeilO de direitos

22 Art 980-A do CCB A empresa individual de responsabWdade limitada sera constiturda por uma cnica pessoa titular da Malidade do capital social devidamente integralizado que nao sera imerior a 100 (cern) vezes 0

maior saario-minimo vigente no Pais (Brasil 2002 p indeterminada)

ROE II 43 - MarmiddotAbI2D15- fART GERAl- DOUTBIRA

desejar exercer a empresa como EIRELI devera no ate da constituicao inshytegralizar a totalidtdedQ valordQ capital que naQPodera ser em valores atuais inferior a R$ 7880000 (setenta e oito mil e oitocentos reais)

Ainda a integralizacao do capital podera ser eita nao apenas em dinheiro mas tambem em bens desde que suscetfveis de avaliacao em dishynheiro nao sendo exigida a apresentacao de laudo avaliativo para tanto Este capital diferente do que ocorre nas sociedades nao sera dividido em quotas ou acoes A regra e a da unicidade do capital afinal este e totalmente titularizado par uma unica pessoa

A terceira caracterfstica marcante da EIRELI diz com 0 sujeito que pode constituf-Ia ou seja 0 titular da EIRELI Segundo dispoe 0 caput do ja mencionado art 980-A do C6digo Civil a EIRELI sera constitufda por apenas uma pessoa Ocorre que 0 dispositivo legal nao deixa claro que 0

titular precisa ser uma pessoa ffsica ou se poderia tambem ser uma pessoa jurfdica Essa falta de especificacao legal gerou discussao com argumentos favoraveis e contra nas duas direltoes No entanto 0 ONRC - Departamenshyto NacionaJ do Registro doComercio pOl meio da lnstrucao Normativa n

9 1172011 definiu (item 1210) que apenas as pessoas naturais plenashy

mente capazes podem constituir EIRELI Ainda ratjficando tal disposiao 0

item 1211 preve expressamente que nao pode ser titular de EfRELI a pesshysoa juridica bem assim a pessoa natural impedida pOl norma constitucional ou por lei especial (Brasil 2011 p indeterminada)

Outra caracterfstica semelhante ao que ocorre com as sociedades limitadas e que a EIRELI pode utilizar qualquer das especies de nome emshypresarial qual seja firma ou denominacao social acrescidas da expressao EIRELI ao final

Par tim e talvezil car~ct~rf~ti~~~5Ys importante a responsabilidade limitada ao capital investido e devidamente integralizado pelo titular da EIRELI Essa regra se depreende da leitura do sect 62 do art 980-A do C6digo Civil que determina a aplicacao a EIRELI das regras previstas para as socieshydades limitadas naquilo em que com patfve I (Brasil 2011 p indeterminashyda) Essa era a mescla qlle se desejava uma modalidade de empresario que fosse constitufda por uma (mica pessoa mas com limitacao de responsabilishydade e facilidade na forma de constituicao como ocorre com as sociedades limitadas

Em sfntese sao estas as principalS caracteristicas da Empresa Indivishydual de Responsabilidade Limitada Ocorre todavia que tais caracterfsticas estabelecidas pela nova legislacao vem causando inumeras controversias

15 ROf N 43 - MarmiddotAbr2015 - PARrE GHAl- DOUfHINA

entre os operadores do Direito e os doutrinadores e estudiosos do direito empresariai Nilo obstante a cria~ao de um instituto que possibilitasse a limitacao de responsabiHdade para 0 exercicio individual da empresa e anshyseio antigo entre os doutrinadores patrios Nesse sentido ainda que objeto de divergeuromcias 0 novo ente com certeza e muito bem-vindo

2OS ASPECTOS CONTROVERTIDOS ACERCA DA EIRElI

Apresentadas as caracteristicas fundamentais da EIRElI conforme as disposicoes legais vigentes faz-se necessario apresentar as controversias que delas surgem A doutrina jurfdica diverge ja que algumas das caracteshyrfsticas da EIRELI supostamente vao de encontro a conceitos estabelecidos e institutos consolidados ao lange de seculos

Os principais aspectos controvertidos acerca da EIRELI dizem respeito as exigencias feitas pelo legislador para sua constituicao especialmente no que tange ao capital mlnimo a ser investido quem pode ser seu titu lar equal a sua natureza jurfdica

21 QUEM PODE SER TITULAR DE UMA EIRElI

Uma das questOes mais problematicas acerca do novo instituto diz respeito aqueles que podem ser titulares de uma EIRELI

Como visto 0 art 980-A do C6digo Civil disp6e em seu caput que a EIREU sera constitufda por uma Cinica pessoa titular de todo 0 capital social o DNRC por seu turno emitiu instru~ao normativa aprovando 0 Manual de Atos de Registro de Empresa Individual de Responsabilidade limitada23

a ser adotado pelas Juntas Comercias de todos os Estados 0 qual preve expressamente que apenas as pessoas fisicas maiores capazes e livres de

q1iili~querimpedimentos legais podemsertittJlar~sde jma BREtt

Ejustamente na redacao da lei e da instrucao normativa do DNRC que reside grande parte da controversia

Hi quem defenda a possibilidade de constituicao da EIRELI por pesshysoas juridicas sob 0 argumento de que se 0 texto legal nao taz qualquer proibicao de forma expressa referindo-se apenas a pessoa ff

nao poderiam os operadores interpretar a norma de forma a excluir algum sujeito de direishyto quando a propria norma nao 0 faz

------~~ -~--~----~----bull---shyda Instru~ao Normativa n 1172011 do Departamento Nacional de Registro do Comercio

em ltllttpwwwdnrcgovbrILegislacaQIIN20117202011pdfgt

RUE N 43 - MarmiddotAbdZ015 - PAHTf GERAl- DOUrnIlIA_

Nesse sentido

C6mefeitO(Jcaput do art 980-A do C6digo Civil expressamente prescreve que a EIREU sera constitllfda par uma unica pessoa sem excluir as pessoas jurrdicas nem restringir essa passibilidade exclusivamente as pessoas ffsicas Ora pessaa jurfdica tambem e pessaa (Mela 2011 p indeterminada)

Da mesma forma defende-se a ideia de que adotar uma interpretacao que restrinja 0 direito de uma pessoa juridica constituir uma EIREU seria afrontar a princfpio constitucional da legalidade uma vez que se a proibishycao nao esta expressa a pennissao estaria subentendida

[ J naa ha impedimenta legal para que uma pes sea juridica titularize 0 cashypital social de uma EIRELI e sob 0 primado de uma ordem jurfdica liberal afirma-se que 0 que nao esta proibido ou ordenade e permitido Esta leitura decorre diretamente do principia da legalidade consagrado na art 5Q

II da Constitui~ao Federal que estabelece que ninguem sera abrigado a fazer Oll

deixar de fazer aigllma coisa senao em virtude de lei (Lupi Schlosser 2012 p indeterminadal

Fabio Ulhoa Coelho (2012 p 409) tambem entende que a EIRELI para ele uma sociedade limitada unipessoal 24

pode ser constitufda tanto por s6cio Cinico pessoa fisica como juridica

No mesmo sentido sustenta-se que a intencao do legislador com a publicacao da lei nQ 124412011 teria sido justamente permitir a constituishycao de EIRElI por pessoa juridica ja que suprimiu da redacao original dos Projetos de lei nQs 46052009 e 49532009 a restritao que era expressa (Melo 2012 p indeterminada)

QO Projeton 46052009 de autoria do Deputado Marcos MonteSi

tinhapbr objetivoaindusao noC6digo Civil de 2002 do art 98S-A 0

qual teria a seguinte redacao A empresa individual de responsabilidade limitada sera constituida por um Cinico s6cio pessoa natural que e 0 titular da totalidade do capital social e que somente podera figurar numa unica empresa dessa modalidade (Brasil 2009 p indeterminada)

Ja 0 Projeto nQ 49532009 de autoria do Deputado Eduardo Sciarra intencionava a incillsao do art 980-A no C6digo Civil de 2002 com a seshyguinte redacao Qualquer pessoa ffsica que atenda ao disposto no art 972

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24 Para Fabio Ulhoa Coelho (2012 p 409) a EIRELI deve ser considerada como urna sociedade limitada umpessoa Sustenta que a interpretaao sistematica do direito positivo conduz conciusao de que nao se trata de nova esp~cie de pessoa jurldica mas do nomen juris dado ~ sociedade limitada unipessoal Tratarshy-se-a melhor cia natureza jurldica da EIRELI no item 33 deste artigo

lU ROE Ndeg 43 - MarmiddotAbifZ015 - PARTE GEML - DOUIRIVA

que exena ou deseje exercer profissionalmente a atividade de empresario podera constituir Empreendimento Individual de Responsabilidade limitashyda (Brasil 2009 p indeterminada)

Assim ja que suprimidos os termos natural e ffsica que acompashynhavam a pessoa na redacao original dos projetos de lei a intencao do legislador so poderia ser permitir que a EIRELI fosse constituida tambem por pessoas juridicas (Rivas 2012 p indeterminada)

Outro argumento apresentado por aqueles que defendem a possibishylidade de a pessoa juridica ser titular de EIRELI ea fadlitacao da instalacao e do funcionamento de sociedades ernpresarias estrangeiras no Pais como forma de aquecer a economia nacional

Fundamental mencionar que a possibilidade de constituiltao de EIRELI par pessoas jurfdicas val facilitar de sobremaneira a instalaltao de sociedades estrangeiras no Brasil Estas ao consultarem advogados brasileiros sobre os procedimentos necessarios ao infcio do desenvolvimento de suas atlvidades no pais invariavelmente surpreendem-se com a quanti dade e complexidade dos procedimentos sendo que dentre eles urn que normal mente cria bastanshyte dificuldade e justamente a necessidade de indicaltao de uma pluralidade de s6cios na sociedade brasileira 0 que muitas vezes as obriga a indicaltao de pessoa ffsica com participaltao apenas simb6lica simplesmente para atenshyder ao formalismo exigi do (Martins Fllho sd p indeterminada)

Contra tal argumento Wilges Ariana Bruscato (2012) sustenta que embora investimentos estrangeiros sejam importantes para 0 desenvolvishymento economico do PaIS a EIRELI nao pode servir como uma forma de burlar a egisla~ao vigente que regulamenta a instalacao e 0 iuncionamento de socitgtdades estrangeiras no Brasil Para a autora trata-se de materia de ordem publica antesdesermateria de~ireito empresqrill e por esla nao pode ser superadclcOni atrid~5oili EIRELI

Tambem com base nos textos dos projetos que deram origem a lei em comento a autora conclui que a omissao dos termos natural ou flshysica para definir qual 0 tipo de pessoa poderia constituir EIRELI teria sido acidentai haja vista que nao houve qualquer justificativa para a supressao da restricao que era expressa nos textos dos projetos ou seja em momenta algum durante 0 tramite do processo legislativo justificou-se tal supressao no interesse de estender as pessoas juridjcas apossibilidade de constituicao de EIRELI (Bruscato 2012)

No mesmo sentido e 0 entendimento de Jacques Maika y Negri (2012 p indeterminada)

RUE N 43 - MarJIbrl2015 - PARTE GERAl- DOUTAINL

Analisado 0 processo legislativo fica claro que houve lapso por parte do reatqrct9Jrojeto substituto DeputadoMamelo Itagiba e nao supressao deshyliberada da expressao natural caso em que 0 parlamentarteria justificado a alteraltao e a sua intenltao

Esta foj tambem a conclusao aqual chegaram os jurislas integrantes do Conselho da Justica Federal que em sua V Jornada de Direito Civil ocorshyrida em novembro de 2011 emitiram 0 Enunciado nQ 4682~ segundo 0 qual apenas as pessoas ffsicas podem constituir EIRELI

Parece evidente que antes de consolidar-se entendimento acerca da possibilidade ou nao de pessoas juridicas virem a constitu ir empresas indivishyduais de responsabilidade limitada sera no Judiciario que esta problematica sera discutida em maior escala

Recentemente 0 Jufzo da 9il Vara da Fazenda Publica do Rio de janeiroRj proferiu decisao na qual deferiu em mandado de scguranca (Proshycesso nQ 0054566-7120128190001) impetrado em face da Junta Comershycial daquele estado medida liminar para que uma pessoa jurfdica levasse a diante 0 processo de transformalt50 de sociedade empresaria em EIRELI Trata-se de sociedade limitada composta por um socio pessoa juridica e um socio pessoa ffsica e este ultimo retirou-se da sociedade A pretensao posta em juizo era de que a sociedade limitada pudesse ser transformada em EIRELI como resultado daiconcentraltao das quotas sociais em um dos s6cios no caso 0 s6cio pessoa juridica 0 pedido foi negado pela Junta Coshymercial do Estado do Rio de Janeiro sob a alegaltao de que a transformacao de uma sociedade empresaria em EIRELI no caso de inexistencia superveshyniente de pluralidade de socios e possivel desde que 0 socio sobre quem se concentre a totalidade das quotas sociais sejaumapessoa f[sica e nao illrfdGa 0 pedido liminar vertidoem sooede mandadodemiddot seguran~a foi aeferido tendo 0 juizo da 9~ Vara da Fazenda Publica do Rio de JaneiroRJ sustentado que nao existe impedimento legal para que 0 titular da EIRELI seja uma pessoa juridica

Recurso de agravo de inslrumento foj interposto pela re (0016183shy2720128190000) e este foi provido para anular a decisao agravada mas reconhecendo a incompetencia do juizo declinando da mesma para a Jusshytica Federal 0 processo que recebeu 0 nQ 0008231-2720124025101 tramitou perante a 12~ Vara Federal do Rio de Janeiro Em que pese tenha sido ratificada a decisao da justica estadual para conceder a medida limishy~---~~-- ------------- 25 Enunciado nO 468 do CJF Art 9SOmiddotA A empresa individual de responsabildade limitada sO poder~ S8r

conslitufda por pessoa nattJral (BraSil 2011 p indetemlinada)

1 ROE n 43 - MarmiddotAhrIZOI5- PARlE GERAl- DOUTBINA

nar pleiteada a sentenca denegou a seguranta sob 0 fundamento de que embora no tramite legislativo 0 termo natural tenha sido exduido do art 980-A do Codigo Civiftodomnteudo daLei nlt1 124412011 que criou a EIRELI foj engendrado para abarcar apenas a possibjljdade de que seu titular fosse pessoa natural Da decisao nao foi interposto recurs026 bull

Como se percebe embora haja discussao doutrinaria ace rca da possishybilidade de a pessoa juridica ser titular de uma EIRElI ha que se considerar que diante do posicionamento do DNRC esposado na IN 1172011 bem como do Conselho da Justica Federal atualmente ainda que na pratica prevalece 0 entendimento de que apenas pessoas fisicas podem constituir EIRElI

22 AEIHELI EO CAPITAL MiNIMO PARA SUA CONSTITUICAO IN)CONSTITUCIONAUDADE DA NORMA

A exigencia de capital minimo para a constituicao da EIRElI em valor nao inferior a 100 vezes 0 maior salario-minimo vigente no Pais tambem e controvertida

No minimol e possivel vislumbrar tal exigencia como uma forma de trazer seguranta ao instituto ja que com a constituicao da EIRElI 0 emshypreendedor goza de uma separacao entre 0 patrimonio afetado ao exercfcio da atividade e 0 seu patrimanio pessoal A exigencia de urn capital minimo pode ser vista como uma forma de garantir 0 cumprimento das obrigac5es assumidas no exercfcio da atividade Uma garantia para eventuais credores da EIRUI

Em outras palavras 0 estabelecimento de um capital minima e necesshysario para dar credibilidade ao instituto recem-criado ja que com a consshytituicao da EIRELI ha uma autonomia patrimonial ha uma separacao entre o patfifl~niHi~Rif~8qI~middotatJvidade ecooomieuroa--e-G-pattimQlli0partiS2ulill~Qrmiddot titu lar (Pessoa 2011)

Sao muitos no entanto os argumentos contrarios aexigencia imposta pelo texto legal

Inicialmente destaca-se que nao existe via de regra capital minimo estabelecido para a constituitao de sociedades ou registro de empresario individual no Brasil exigindo-se tao somente uma adequacao do capital investido ao objeto social motivo pelo qual a exigencia feita somente para a EIRElI e questionavel (Ramos 2012 p 43)

26 Integra da decisaa pode ser visuallzada em lthttpJprocwebjfrjjusbrportalconsultaresconsprocaspgt

RO N 43 - MarmiddotAbrl2815- PARlE GEnAL - DOUfRINL

Com efeito

Anenhumaoutra forma de exerc1cioempresarial no pals se faz a exigencia exceto em casas excepcionais de um minima de capital Como sustentar essa regra para a EIREU 1550 infringe a igualdade de tratamento que deve ser dada a todos genericamente A desigualdade de tratamento existe por certo sem arrostar a isonomia nos casos em que haja no entanto justificativa para tanto (Bruscato 2011 p 29)

Este e tambern 0 entendimento exposto na Atao Direta de Inconstishytucionalidade nQ 4637 proposta pelo Partido Popular Socialista perante 0

Supremo Tribunal Federal a qual ainda se encontra pendente de julgamenshyto Na aludida ADln defende-se que condicionar a constituiltao de uma EJRElI a integralizaltao de um capital minimo sem qualquer motivo evidenshyte e relevante constituiria afronta ao princfpio da isonomia bem como ao fundamento da livre iniciativa2

expresso no art 17028 caput da CF1988 (Brasil2011)

Segundo 0 partido autor da ADln ao estabelecer um capital no valor de 100 vezes 0 salario-minimo vigente no Pais 0 legislador acabou ferindo o prindpio da igualdade Sustenta-se que para a constituiltao de uma socieshydade com socios de responsabilidade limitada como por exemplo a socieshydade limilada nao existe exigencia de capital mlnimo logol nao eposslvel faze-Io em relarao a EIRElI ja que segundo exposto naacao ambas sao pessoas jurfdicas de identica feiltao no que diz respeito a responsabilidade dos proprietarios (Brasil 2011 )

Outro argumento contrario ao capital minimo exigido para a constituishycao da EJRElI diz respeito acapacidade econamica daqueles que poderiam ser beneficiados com a criacao danolafi~ura isto e os pequenos empre~ endedores que antesdacriacaoddriYovoenteou empresariavam de forma individual sem limitacao de responsabilidade e separacao de patrimonio ou necessariamente tinham de estabelecer sociedades apenas para gozar da autonomia patrimonial e assim reduzir os riscos do empreendimento Nesse

27 A livre iniciativa segundo Pedro le~7a e um dos pilares da ordem econOmica ao lado da valoriza~ao do Irabalha humano (lenza 201 p 984) Inocsectncio Martires Coelho citando Miguel Reale explica que livre iniciativa e livre concorrencla silo conceitos complementares mas essenciamente distinlos A primeira nao 0 senaa a proje~ao da liberdade individual no plano de produ~ao citula~ao e distribuii8o das riquezas assegurando nao apenas a livre esoolha des proflssoes e das atlvidades econ8mlcas mas tambem a autonoma elei~ao dos processos ou meios julgados mais adequados aconsecu~iio des fins visados liberdade de fins ede maios informa aprincipia de livre inicleliva conlerindo-Ihe um valar primordial como results da interpreta~ao conjugada dos cftados arts 1deg e [70 (Reale apud Mendes Coelho Branco 2010 p 1409)

28 Art 170 da CF11988 A ordem econOmica fundada na valoriza~~o do trabalho humano e na livre iniciativa tern por tim assegurar a todosexist~ncia digna conforme es ditames da Justia SOCial observados as seguintesprinclpies [J (6rasll 1988 p indeterminada)

liU RDE 43 - MarmiddotAbr2015 - PARTE GEllAl- OOUfOINA

caso a sociedade era constitufda normalmente com pessoas pr6ximas mas sem nenhum interesse na atividade as quais figuravam nocQotratosocial

como titulares de percentual minima das quotas sociais constituindo as chamadas sociedades de fachada ja mencionadas29 bull

Nesse ponto pode-se dizer que apesar das crfticas disparadas ao novel instituto a EIRELI mostra-5e como instrumento eficaz para coibir a praticc comumente adotada no Brasil de conslituiyJo de sociedades em que um dos s6ci05 nao tem qualquer participa)ao na gestao do empreendishymento formada com 0 dnico objetivo de limitar a responsabilidade do emshypresario que na pratica exerce a empresa individualmente (Ramos 2012 p 40-41)

Por essa razJo e que uma vez sendo 0 objetivo da criaCJo da EIRELI estimular 0 exercicio de atividade empresaria especialmente por pequenos empreendedores 0 valor de 100 (cem) vezes 0 salario-minimo mostra-se desproporcional 1550 porque grande parte dos empreendedores que podem se enquadrar na EIRELI iniciam suas atividades com capital bastante inferior Afirma-se que 0 capital minimo estabelecido pelo legislador esta longe da realidade dos pequenos empreendedores brasiieiros e caracteriza desresshypeito ao principio da livre iniciativa Assim 0 legislador patrio nao teria la5shytreado a fixayao deste valor em estudos sobre a capacidade econ6mico-fishynanceira dos provaveis interessados nesta especie societaria (Pessoa 2011 )

Estes sao tambem os argumentos que embasam a justificativa do Proshyjeto de Lei nQ 24682011 de autoria do Deputado Carlos Bezerra Segundo o parlamentar a exigencia feita pelo legislador retira dos pequenos empreshyendedores a possibilidade de coostituiyao de lima EIRELI haja vista que 0

valor exigido na Lei 0 2 124412011 supera significativamente 0 valor geshyralmente empregado para a constitlliyao dasPeqU~PilSempresas Por essa raz~(jo aludidoprojeto tem como um (feseusigtbJetivosillterar 0 art 9~O-A do Codigo Civil para reduzir de 100 para 50 salarios-mfnimos 0 capital minima exigido para a constitui~ao de lima EIREU (Brasil 2011)

Seguindo mesmo entendimento

29 A exist~ncia das chamadas sociedades de fachada Ii conhecida desde ha multo olio apenas pela dovtrina mas tam~m pela junsprud~ncia de nossos trlbunais 0 reconhecimento desta situa~ao se faz relevante tanto para que possa coibir tal praliea quanto para proteger a indivlduo que comprovadamente jamals exerceL qualqller poder de administra~ao sobre a sociedade da responsabllizagao pelos atos praticados indlvidualmente pelo s6cio detentor da quase totalidade das quotas sociais A tItulo de exemplo Execu~ao fiscal E aparente a socledade em que a imensa maioria das quotas pertenee a uma s6 pessoa flsiea Sltua~ao que mascara a atividade de urn comereiante em nome Individual Indelerlmento do pedido de penhora sobre bens do s60lo de fachada Decisao acertada potque de acordo com a realldade fatlca Agravo improvldo (TJRS AI 591020177 1 ccrv Rei Jose Velllnha de Lacenla J 21051991)

30

ROE N 43 - MarmiddotAlIr2n15 - PAUn GfRAl- OUUmINL

Deveria ser desnecessario diz~-Io mas tal materia nao poderia jamais ser objeto de decisao arbitraria sob pena de frustraiOobjetivo mesmo da norshyma e ll1alferir a Constituirao 0 numero 100 ninguem negara soa bem aos ouvidos mas isso nao deveria bastar para inseri-Io em texto legal Se de fato sua eleirao foi desacompanhada de qualquer embasamento tecnico e passrvel demonstrar-se inclusive mediante a colheita de dados estatisticos e indicacoes de direito comparado a inconstitucionalidade decorrente da violaSao aos princfpios da isonomia e da razoabllidade Por que se negar ao cidadao que dispanha de 50 salarios-minimos 0 direito de constituir uma EIREU quando em Portugal eassaz inferior 0 montante necessario para faz~shy-10 e no Chile sequer existe exigencia dessa especie (como alias previa 0

texto primitivo do PU e questao cuja resposta se desprovida de fundamenshytos s6lidos atesta a contrariedade aos supracitados principios (Nadu sd p indeterminada)

A exclusao de grande parte dos empreendedores do pafs com a exishygeurogtncia de capital mlnimo alto e tambem argumento da ADln 4637 ja que o objetivo primordial da norma recem-criada e fomentar 0 desenvolvimento ecoo6mico e social do pais Sustenta-se que tal objetivo esta sendo prejudishycado oa medida em que a legislacao retira de pequenos empreendedores a possibilidade de lanyarem-se no mercado economico de forma regular saindo portanto da informalidade (Brasil 2011 p indeterminadal

Corroborando 0 entendimento aeima Haroldo Malheiros Duclerc Vercosa (2011 p indeterminada) afirma que

rJa crftJca que se faz eque 0 capital mlnimo exigido de tal sociedade deixa a margem urna parcela substancial dos microempresarios patrios os quais continuarao dentro do regime geraf de respollsabilidade patrimonial pessoal (e do risco correspondente) sem acesso ao patrimonio ~eparadoqlleeiQ ltI

serqiad9para q EIRElI a naoser par alguma fugapararrlecanisfnocorno deg dlc6nstitui~ao de uma sociedade limitada com outro socio este detentor de

minima expressao do capital social Mas tal recurso muito utilizado apreshysenta custos que 0 microempresario dificilll1ente poderii suportar

Ainda deve-se considerar que a vinculacao do salario-mfnimo para qualquer fim e expressameote vedada pel a Constituicao Federal de 1988 em seu art 72

IV30 Nesse passo ainda que se considere posslvel Oll ate mesmo necessaria a exigencia de lim capital minimo para a constituicao de

Art lO da Cf1988 Sao direlos dos tlllbalhadores urbanos e rurais aiem de outros que visem il melhoria de sua condl~ilo social L1IV - saIMiomiddotInnlmo lixado em lei naeionalmente uniftcado capaz de arender a suas neeessidades vitais Mslcas e ~s de sua famflia com moradla alilnenta~iio eduoaao saude lazer vestuario higiene transporte e prevldencla social com reaJustes perlMieas que lhe preservem degpoder aquisitivo sendo vedada sua vineula~ilo rara qualqver 11m l (Brasil 1988 p indeterminada)

N N bullbullbullbullbullbull HOE N 43 - MarmiddotAbr2015 -AlIT GERAl- DOUTRIIfA

uma EIRELI este capital em regra nao poderia ser calculado com base no salario-minimo

5eguindo tal raciodnio e por entender que a parte final do art 980shyA do Codigo Civil de 200212 fere 0 disposto no art IV da Constituishylt030 Federal entre os argumentos utilizados na ADIn 4637 esta 0 fato de que 0 eonstituinte com 0 objetivo de evitar que os reajustes peri6dicos do salario-minimo que visam a preserva-ao de seu poder aquisitivD sofram influencias de interesses diversos daqueles previstos na Constitui-ao vedou expressamente a villculacao do salario-minimo para qualquer finalidade (Brasil 2011 p indeterminada)

Ainda eonsiderando a oscilacao que 0 reajuste do salado pode imshypliear a I Jornada de Direito Comercial do Conselho da Justi-a Federal ocorrida em outubro de 2012 no 5TJ definiu por meio do Enunciado nQ 4 que llma vez subscrito e efetivamente integralizado 0 capital da empresa individual de responsabilidade limitada nao sofrera nenhuma influencia deshycorrente de ulteriores alteracoes no salario minimo

Nao obstante os argumentos contrarios e a ADln pendente de julshygamento vige hoje a exigencia de capital minimo para a eonstituirao da EIRELI fixada com base no salario-minimo nacional vigente na epoca da constitu icao

23 EIRElI EMPRESARlO InDIVIDUAL SOCIEDADE EMPRESARIA UlflPESSOAL OU UM TlPO SUI GEMERIS

DE EMPRESARIO

o legislador batizou 0 novo instituto de Empresa Individual de Resshyponsabilidade limitada Em primeiro lugar ha que se considerar que resta eonsagrado na legisla-ao na doutrina e najurisprudencia que empresae uma atividade exerddapelo empresarilte nao uma pessoa urn sujeito de direitos (Moraes 201 0 p 40 Diante disso a primeira crltica feita ao legisshy

31 0 STF ja firmoL entendimento em divesos julgadas no sentido de que e proibida a vinculaao do sailtirio minima para qualquer finalidade Dana moral FiKa~ilo de indenizaltao com vinculaao a salario-minimo Vedaao constitucional Art 7deg IV da Carta Magna 0 Plenario desta Corte ao julgar em 01101997 a ADln 1425 firmou a entendimenro de qle ao estabelecer 0 art 7deg IV da Constitui~iio que e vedada a vincula~o ao salaria-mlnima para quaiquer fim quis evitar que interesses estranhos aos versados na norma constitucional venham a tel influencia na filCll~o do valor minima a ser observado No caso a indenizaltiio par dana moral fo fixada em 500 salarios-minimos para que inequivacamente 0 valor do salilria-mlnlmo a que essa indenizaao esta vinculado atue como fator de atualizaao desta a que IS vedada pela citarlD dispositivo canstitucional Outros precedentes desta Corte quanta 11 vedaao da vinculagao em causa ReculSo extraordinario conhecido e provida

32 Art 98QA do CCB A empresa individual de responsabilidade limitada sera constituida por uma dnica pessoa titular da totalidade do capital social devidamente integralizado que nao sera inferior a 100 (cern) vezes 0

malar salMo-mfnimo vigenre no Pars (Brasil 2002 paginaltaa indeterminada)

33

ROE N 43 - MarmiddotAbr2015 - PARlE GERAl- DOUmIIlL 1

lador infraconstitucional acerca da natureza juridica da EIRELI diz respeito asuafaLta detecnica para dar nome ao institutomiddot recem~criado chamando de empresa uma especie de empresario (Ramos 2012)

Ora se empresa e uma atividade e nao um sujeito de direitos a falha tecnica legislativa contribtli para a compreensao inadequada que cornushymente se faz da empresa ou seja confundindo-a com a propria pessoa dica ou ainda com 0 estabelecimento empresarial Por essa razao a crftica vem no sentido de que a terminologia mais adequada seria empresario e nao empresa

Nominada de forma equivocada ou nao uma figura juridica capaz de conferir a possibilidade de exercfcio da empresa por uma s6 pessoa ffsiea com separa-ao de patrimonio e limita-ao de responsabilidade e como ja dito desejo antigo da dOlltrina brasileira Como exemplo epossivel citar 0

projeto de Lei nil 201 de 194733 apresentado pelo entao Deputado Fausto

de Freitas e Castro 0 qual dispunha em seu art 12 que qualquer pessoa capaz de exereer 0 eomercio podera constituir empresa em nome individual limitando a sua responsab[lidade pelos neg6cios da mesma ao valor do capital declarado (Martins Filho 1950 p 64-66)

Antonio Martins Filho em cuja obra Umitatiio da responsabilidade do comerciante individual analisa 0 aludido projeto de lei afirmava

A empresa individual de responsabilidade limitada constituindo a ultima fase do processo evolutivo da limitaltao dos riscos e insistentemente redashymada pelos agentes da atividade econ6mica dos novos tempos Recusando-a de direito nao evitara 0 legislador a existencia de fato desse tipo de empresa que passa a funcionar sob forma de sociedade fictfcia ou unipessoal (Martins Filho 1950 p 9)

ja naquela epoca ainda sob a vigencia do Codigo Comercial de 1850 e do C6digo Civil de 1916 0 autor ressaltava a importancia da limita~ao de responsabilidade daquele que era conhecido como comerciante individual (hoje empresario individual) bem como reconhecia a existencia de socieshydades constitufdas apenas formalmente para 0 fim de aquisi=ao de personashylidade jurfdica pr6pria e separa-ao de patrimonio a partir do que concluia que apenas a cria-ao da empresa individual de responsabilidade limitada

Projeto de Lei nO 201 de 1947 anexo abra Limitarl0 de resJOflsabilidade do comerciante individual MARTINS FILHO AntOnio Anais do Congresso Jurfdico Nacional Comemorativo do Cinquenlenario da Faculdade de Direito de Porto Alegre Revisa de Fecudade de Direito de Porto Alegre Porto Alegre URGS maio 1950

middot RDE II U - MarmiddotAer201S - PARrE GER~L - DoumlNA

serla capaz de acabar com tal pratica tao comum no Brasil (Martins Filho

1950)

Em 2005 Wilges Ariana Bruscato tambem assinalava a importanshycia do exercicio individual da empresa com limita=ao de responsabilidade como forma eficaz de fomento da economia

jft que 0 modus vivendi de nossa sociedade atual baseia-se em resultados economicos e relevante acenar com contribuilt6es para 0 desenvolvimento da atividade empresarial feita de maneira singular como forma de incentivar as pequenas iniciativas que num 6istema de colmeia representam a agreshyga~ao de vaores sociais importantes como 0 emprego 0 recolhimento de tributo a disseminaltao tecnologica entre outros ou seja 0 favorecimento de pequenas iniciativas que aquecem a economia (Bruscato 2005 p 75)

No mesmo sentido Felipe Ferreira Machado Moraes (2010 p 37-38) sustenta a necessidade de limita=ao da responsabilidade do empresario inshydividual como forma de cumprir os objetivos do Estado Democratico de Direlto tais como expressos na pr6pria Constitui=ao Federal de 1988

Em um Eslado Democratico de Direilo em que a propria Constituiltao da Republica contempla dispositivos que pregam 0 desenvolvimento nacional a livre iniciativa e inclusive 0 tratamento favorecido as empresas de pequeno porte nao parece prosperar 0 entendimento de que 0 empresario individual deve ter sua responsabilidade ilimitada respondendo com a totalidade de seu patrimonio particular (civil) por eventuais insucessos de seu empreendishy

mento

o anseio pela limitarao da responsabilidade no exerdcio individual da ernpreSq~Iil~re ()s~doutrinadores patrios baseava-se frequenteniente experiencia de outros paises que regulamentaram em sua ordem interna diversas formas de possibilitar a limitarao de responsabilidade daquele que

deseja empresariar individualmente

Na Alemanha como visto surgiu 0 primeiro modelo de sociedade por quotas de responsabilidade limitada em 1892 Em 1981 quase um 56shyculo depois entra em vigor a lei que alterou a legislarao das Sociedades por Quotas de Responsabilidade limitada para introduzir no ordenamenshyto juridico alemao a Sociedade por Quotas de Responsabilidade Limitada Unipessoal Passou-se enUlo a permitir a constituirao de Sociedades por Quotas de Responsabilidade Limitada por apenas uma pessoa (ffsica ou jushy

ridica) (Abrao 2000 p 6)

ROE N 43 - M8rmiddotAb~2015 - PARr CEIlAL - DOUTRlIIAmiddotmiddotmiddotmiddot

Tambem na Fran=a ap6s a regulamenta=ao clas sociedades por quoshytas de fesponsabiJidade Itmitadaiolintroduzida a limitada unipessoal em 1985 permitindo iguafmente a constituirao de sociedades unipessoais (Abrao 2000 p 12)

Ja em Portugal existem duas possibilidades para 0 exercfcio indivishydual da empresa Em 1986 0 Decreto-Lei nQ 2481986 criou a figura do Esshytabelecimento Individual de Responsabilidade limitada EtRL Trata-se de figura na~ dotada de personalidade juridica constilufda atraves de um pashytrimonio de afetarao por meio do qual uma pessoa fisica explora uma ativishydade economica empresarial Para a constituirao de um EIRL e necessario o investimento minima de euro 5000 (cinco mil euros) Ja a segunda forma de empresariar individualmente em Portugal com separarao patrimonial e limitarao de responsabilidade foi regulamentada 10 anos ap6s 0 EIRL por meio do Decreto-Lei nil 2571996 a Sociedade Unipessoal par Quotas Tal sociedade e constitufda por uma 56 pessoa (fIsica OU juridical titular de todo o capital social e cuja responsabllidade esta limitada ao capital investido sendo este livremente fixado pelo s6cio ou seja nao ha exigencia de capital mlnimo para a SUQ ao contrario do que ocorre com 0 EIR134

bull

Na experiencia brasileira entretanto ate a ediraa da Lei nQ 124412011 nao havia possibilidade de exercer uma atividade econoshymica organizada de forma individual sem 0 camprometimento da totalidade do patrimonio do empresario A sociedade unipessoal admitida em palses europeus desde meados de 1980 somente era permitida no Brasil em duas hip6teses excepcionais quais sejam a subsidiaria integral prevista na Lei das Sociedades Anonimas (Lei nQ 64041976)35 e a unipessoalidade ternshyporaria da sociedade pelo prazo de cento e oitenta dias conforme dispoe 0

art 1033 IVJ6 do C6qigoCiv

Assim no Brasil ap6s anos de discussao doutrimiria e de entendishymento quanta a necessidade de cria=ao de um instituto que viabilizasse 0

exercfcio da empresa de forma individual sem que isso acarretasse necessashyria risco ao patrimonio pessoal do empresario 0 legislador infraconstitucioshy

34 Informa~aes dlsponiveis em lthttpwwwpot1lJgalgIObalptPTlnvestirPortugaguiadoinvestldorICriareinstalar PaginaSTipos5ociedadesComerciais aspxgt

35 Art 251 da LSA A companhia pode ser constilulda mediante escrilura publica tendo como unico acionisa sociedade brasileira sect 1deg A sociedade que subscrever em bans 0 capital de subsidiaria inlegral devera aprover o laudo de avaliaifio de que trata 0 art 8deg respondendo nos lermos do sect 6 do art 80 e do art 10 e seu panlgrafo Llnico sect 2deg A companhia pade ser converlda em subsidiara integral mediante aquiSitao por scciedade braslieira de lodes as sues ayoes ou nos lermos do art 252

36 Art 1033 do eC8 Dissolve-se a scciedade quando oeorrer 11 IV a falla de pluralidede de socios nila reconstltufda no prazo de cenro e oitenla dias L J

ROE Ndeg 43 - MarmiddotAbr2015 - PARTI GERAl- OUIRINA

nal consagrou a flgura da Empresa Individual de Responsabilidade Limitada a EIRELI

Quando inserida no ordenamento juridico a EIRElI gerou controvershysias acerca da sua natureza juridica Ha que diga tratar-se de empresario inshydividual por outro lado ha que afirme tratar-se de uma sociedade limitada unipessoal No entanto hii tambem uma terceira corrente que afirma ser a EIRELI uma nova especie de pessoa juridical um ente distinto do empresario individual e das sociedades empresarias

A corrente menos express iva considera a EIRELI uma nova modalishydade de empresario individual ou seja um empresario individual de resshyponsabilidade limitada Para tal corrente 0 empresario individual ate en tao conhecido aquele que e pessoa fisica permanece existindo passando a existir 0 empresario individual pessoa jurfdica

Nesse senti do

Apesar de ser uma pessoa jurfdica a EIRELI nao euma sociedade empresaria mas sim uma forma diferenciada de constituiyao de empresario individual (que ao contrltirio daquela e pessoa natural) (Cardoso 2012 p indetermishynada)

Outra corrente mais expressiva e a capitaneada par Fabio Ulhoa Coelho (2012 p 409) para quem a EIRELI e uma sociedade empresaria definindo-a como uma sociedade limitada unipessoal na qual apenas uma pessoa (rfsica ou jurfdica no entender do autor) sera titular da totalidade das quotas socials 0 autor salienta que 0 sect 6Q do art 980middotA do C6digo Civil pershymite concluir que a EIRELI eespecie de sociedade limitada pois se submete as regras deste tipo societario

Da mesma forma Gustavo de Alvarenga Batista (2012) defi ne Em terrnosmiddotpraticos aEIRELI possibilitaqueiumemprksaflopessoa constitua uma sociedade unipessoal na qual fica sua responsabilidade atreshylada ao valor do capital por ele integralizado

Ja Andre Luiz Santa Cruz Ramos (2012) entende que 0 legislador criou uma nova figura juridica distinta da sociedade eillpresaria e do empresario individual mas com caracteristicas semelhantes a ambos No entanto 0 aushytor entende que foi um equivoco a cria~ao de um novo tipo de pessoa jurfshydica Sustenta que 0 legislador poderia tao somente ter consagrado 0 empreshysario individual de responsabilidade limitada que continuaria sendo uma pessoa fisica mas gozando da separa~ao entre 0 seu patrimonio pessoal e aquele afetado ao exercfcio da atividade economica ou ainda consagrado

ROE N 43 - MarmiddotAbrI21115- PARrE GERAl- OUTRINL

efetivamente a sociedade empresaria unipessoal bastando para tanto inshycluirentreasEseecies de sociedades ja existentes a sociedade constitulda par um 6nico s6cio titular de todas as quotas Em qualquer dos casos a insenao feita no art 44 do C6digo Civil seria desnecessaria

Do mesmo entendimento compartilha Wilges Ariana Bruscato (2011 p 10) que afirma que acaso a EIREU fosse uma sociedade unipessoal nao haveria necessidade de inclusao do instituto no inciso VI do art 44 do C6shydigo Civil ja que as sociedades ja estao previstas no inciso II do mesmo dispositivo Da forma como posta nao existe sociedade e silll um tipo sui generis no direito patrio Ainda afirma-se que

a EIREI nao tem natureza juridica de sociedade empresaria ao contrario do que muitos ainda defendem mas trata-se de uma nova categoria de pessoa jurfdica de direito privado que tambem se destina ao exercfcio da empresa Tanto que a Lei nQ 124412011 incluiu as empresas individuais de responsashybilidade limitada no rol de pessoas jurfdicas de direito privado do art 44 do C6digo Civil (inciso Vi) Ademais a lei nQ 124412011 ao inserir no C6dishygo Civil 0 art 980-A teve 0 cuidado de topograficamente tambemcriar um novo titulo (mulo I-A Da Empresa Individual de Responsabiidade Umitashyda) situado entre os Titulos I e II que tratam respedivamente do empresario individual e das sociedades empresarias (Pinheiro 2011 p indeterminadal

Nao obstante os variados entendimentos ha Uma tendencia de que a EIRELI seja efetivaillente compreendida como uma nova especie de pessoa juridica nao se tratando de empresario indiVidual tampouco de sOliedade empresaria ainda que unipessoal Tanto e assim que na ja mencionada I Jarnada de Direito Comercial do Conselho da Justi~a Federal foi aprovado o Enunciado nil 3 com a seguinte redacao A Empresa Individual de Resshyponsabilidade Limitada - ElRELI nao e sociedade unipessoa mas um novo ente~j_stjn~q da pessoa doempresarioe da sociedade eiTlpresfiriao qual seguia ciresmmiddota Iinha do Enunciado nil 46937 da V Jornada de Direito Civil que afirma que a empresa individual de responsabilidade limitada (EIRELI) nao e sociedade mas nova ente jurfdica personificado

24 AEIRELI EO PRomo DE NOVO CUOIGO COMERCIAl EXTINCAO DO INSTITUTO [ CRI~O DE f40VAS FIGURAS1

Tramita no Congresso Nacional 0 Projeta de Lei nil 15722011 que visa a instjtui~ao de um novo C6digo Comercial com a consequente revoshy

~__~~M~~~~ __ __ ___~_____ _~

37 Enunciado n 469 do elF Arts 44 e 980middotA A empresa individual de responsabilidade Iimltada (poundIRELI) olio Ii sociedade mas novo ente jurrdico personificado

Ii r~ RDE Nmiddot 43 - MarmiddotAbrf2615 - PARTE GERAl- OnUIRIUA

gasao de diversos dispositivos do atual C6digo Civil bem como de legislashysoes esparsas

o projeto apresentado pelo Deputado Vicente Candido baseado em minuta elaborada por Fabio Ulhoa Coelho na obra 0 futuro do direito coshymercia tem como uma de suas justificativas a sistematizasao revisao aperfeiltoamento e modernizasao da disciplina jurldica do estabeledmento empresarial do comercio eletronico da concorrencia desleal das condutas parasitarias da escrituratao mercantit do exerddo individual da empresa e da sociedade unipessoal (Brasil 2011 p 118)

Dito projeto nao traz em seu texto referenda expressa ao instituto recem-criado a EIRELI No entanto consagra duas figuras que merecem especial atensao sao elas 0 empresario individual em regime fiduciario e a sociedade Iimitada unipessoajJs

o empresario individual tal como e conhecido atualmente nao deishyxa de existir na redasao do projeto de NCCom sendo disciplinado entre os arts 14 a 32 do projeto de lei No que tange as suas caracteristicas esshysenciais 0 empresario individual permanece sendo pessoa ffsica que exershyce singularmente uma empresa sem limitaltao de responsabilidade nao se submetendo ao prindpio da autonornia patrimonial

Entretanto alem do empresario individual ate 0 momenta conhecido o novo C6digo Comercial visa a instituir outras duas formas de exerdcio individual da empresa como jei dito as quais possibilitam a separaSao de patrimonio e limitaltao de responsabilidade do empreendedor 0 empresashyrio individual que exerce a empresa em regime fiduciari039 e a sociedade limitada unipessoal

Da leitura do projeto infere-se que 0 empresario individual ao reshyquerer 0 seu registro comeh~rfipfesarioquntamp ao 6rgaocompetente poderamiddot fazer uma declaratao na qual conste que 0 exercicio da empresa dar-seshy

38 Na verdadc ha que se pontuar que 0 projeto de lei esta baseado em texto do jurisla Fabio Ulhoa Coelho a entende que a EIREU euma socied8de limiteda unipessoal e n~o ume nova especie de pessoa juridica eo fato pelo qual nao esta ela prevista nesse lormato no relerido projeto

39 A fiducia tem origem no direito romano ral institwlo caraclerlzamiddotse pela contiana e boa-lEi existentes entre fidLicianle e fiduciario A propriedade fiduciira por sua vez caracteriza-se quando determinado bern ou conjento de bens e destinado II gamntia de certo(s) credor(es) ou scja os bens constltuldos como propriedade fiduciaria de destlnam a garantia do cumprimento de determlnadas obrlgaltOes do liduciaro perante 0 fiduciante nao podendo ser objeto de expropriaao Pilra a adlmplemenlo das obriga6es pessoafs do fiduciiirio (Restlffe Neto Rest1ffe 20001 Segundo a C6digo Civil de 2002 em seu art L35 considerashysa propriedade fiducjaria a proprfedade resoliNel de caisa m6vel imungfvel Que 0 devedor com escopo de garanta translere ao credor Para maior aprofundamento acarce do tema vide SILVA ltJiz Augusto Beck da Alienaliio fiducitlfia ampm garantia 4 ed RIO de Janeiro forense 1998

RDE N 43 - Mar-AbtfZ015 - PARrE GERAl- DOUTRINL

-a em regime fiduciario Com a referida dedaraltao 0 empresario devera constitJir 1m patrimbnio relaeuroionado aattvrdade empresarial que pretende exercer absolutamente separado de seu patrimonio pessoaL

Assim uma vez cumpridos os requisitos 0 empresario individual desshysa modalidade (que continuaria sendo pessoa fisica) nao poderia ter seu patrimonio pessoal expropriado para 0 cumprimento das obrigalt6es assushymidas no exercicio da atividade salvo se conforme disp6e 0 sect 29 do art 32 do NCCom se tratarem de obrigaltoes de natureza trabalhista e triblltaria relacionadas ou nao com a empresa Trata-se pois do estabelecimento de um patrimonio de afetaltao que serviria de garantia aos credares do em preshysarlo individual em vez de totalidade do seu patrimonio

A outra forma de exercfcio singular da empresa proposto pelo projeto em comento e a constituiltao de uma sociedade limitada unipessoal Ao tratar das sociedades em especie 0 projeto preve a existencia de cinco tipos societarios (sociedade anonima sociedade limitada sociedade em nome coletivo sociedade em comandita simples e sociedade em comandita par alt6est todos os tipos ja cOllhecidos e previstos no atllal C6digo Civil

A novidade e uma pequena alteraltao feita no ambito das sociedades limitadas para no art 192 dispor que a sociedade limitada sera constishytufda por um ou mais s6cios ou seja retira da definiltao de sociedade a pluralidade dos s6cios

Todavia algumas consideralt6es devem ser feitas acerca do projeto em questao no que tange a sua relaltao com 0 instituto ora estudado

Conforme ja referido a limita~ao de responsabilidade do empresario individual era esperada pela doutrina patria ha muito tempo e a EIRELI foi a

l~gislativaelJcontrada para dar res posta aosansetoSexistentes

Com crfticas ou nao fato e que a EIRELI hoje majoritariamente conshysiderada como uma nova especie de pessoa juridica concebe a limitaltao de responsabilidade no exercfcio individual da empresa e desde 0 infcio de sua vigencia as estatisticas mostram que esta nova forma de exercer a empresa vem crescendo em todo 0 Pafs S6 em Sao Paulo nos primeiros tres meses de sua existencia a EIRELI jii representava mais de 4 do total de registros realizados conforme informaltao publicada pela Junta Comercial do daquele Estad040bull

40 Para majores Inlormacentes e dados estatistlcos vide htlpwwwjucespJazendaspgovbr

RUE III 43 - MOImiddotAbr2U15 - PARTE GERAl- nOUTHINA

Nesse passo cumpre questionar qual sera 0 futuro da EIRELI se 0 Proshyjeto de Lei nQ 15722011 vier a ser aprovado 0 que fazer com as EIRELIs ja existentes ao tempCl da publicacao do novo C6digo Comerdal Sera necesshysaria a criacao de regras de transicao ou os titulares de EIRELI simplesmente serao obrigados a requerer sua transformacao perante as Juntas Comercias para uma das duas modalidades criadas pelo novo C6digo

Certo e que 0 projeto de Novo C6digo Comercial contempla de certa forma a EIRELI mas colocando-a definitivamente como uma especie de sociedade limitada a sociedade limitada unipessoal No entanto ao propor llm projeto e necessario fazer uma analise do impacto que as alteraC6es provocarao sob pena de a nova lei em vez de pacificar entendimentos e llnificar tratamento acabar acarretando um caos inicial comprometendo sua pr6pria legitimidade

CONSIDERA~OES FINAlS

A limitacao de responsabilidade no exerdcio individual da emprcsa e tema recorrente na doutrina brasileira e desejo antigo dos empreendedores Ate a consagrarao da EIRELI par meio da Lei nQ 124412011 tal limitarao nao era posslvel no exercfcio individual da empresa como ja amplamenshyte debatido e demonstrado Com a criacao da EIRELI 0 legislador patrio apresenta aos empreendedores brasileiros uma nova possibilidade para empresariar sem a necessidade de constituirao de sociedades de fachada ou eventual comprometimento da totalidade do patrimonio pessoal do emshypreendedor

Percebe-se contudo que as controversias existentes ern torno da EIRELI ainda sao muitas Mas algumas coisas podem-se dizer certas Prishym~irQjslli1fiIR~khv~i~efetivamentepara privilegiar os pequenosemiddottledioS0i(i empreendedores nao se ve razao plausivel para que ela seja constituida por titular pessoa juridica Beneficiar sociedades estrangeiras e um argumento fraco para fazer esta defesa

Segundo do ponto de vista da garantia dos credores a exigencia de um capital mfnimo tern razao de ser principalmente levando ern conta que ate entao os empresarios individuais respondiam com a totalidade do seu patrimonio Todavia considerando que nao ha exigencia nesse sentido para as demais especies de empresarios de fato fere-se 0 principio da igualdade de tratamento Ainda em rela-ao ao capital minimo se 0 objetivo do legisshylador era beneficiar pequenos e medios empreendedores 0 minima estabeshylecido em 100 vezes 0 salario-mfnimo nacional e bastante alto Talvez uma

nOf Ndeg 43 - MalmiddotAbrl2015 -PARTE GERAl- DOUTRJNL bullbull bullbullbull

adequacao do montante fosse interessante para 0 atingimento dos objetivos do novel instituto

Em relacao a natureza juridica compreender a EIRElI como uma nova especie de pessoa jurfdica e certamente 0 melhor caminho ainda que isso possa parecer estranho ja que se esta diante de uma pessoa jurfdica constituida de uma dnica pessoa Afinal partindo dessa premissa nao seria necessario relativizar 0 conceito de sociedade que exige pluralidade de s6dos tampouco seria necessario pensar um empresario individual pessoa frsica que pudesse ser titular de dois patrimonios autonomos 0 pessoal eo de afetacao

Em derradeira analise no que diz respeito ao Projeto de novo C6digo Comercial cabe apenas ressaltar que eventual aprovacao devera levar em considerarao 0 fato de que como visto desde a entrada ern vigor da Lei nQ 124412011 a procura dos empreendedores por esta modalidade de exercfcio da empresa tern sido grande Contudo 0 projeto de lei nao traz qualquer mencao ao instituto Assim dever-se-a ter uma preocupacao com a transi-ao nao se podendo ignorar a existencia destes slljeitos de direito sem estabelecer qual sera oseu destino Mal se consagram institutos no Brashysil e novamente se pretendem altera~oes legislativas Assim nao se chega a maturidade

Por hora ainda que com quest6es controvertidas ha uma unanimidashyde doutrinaria de que a EIRELI e bem-vinda nao apenas porque oriunda de pleitos antigos mas tambem porque apresenta uma nova possibilidade para quem pretende empresariar no Brasil de modo que ha grande expectativa no sentido de que 0 Poder Judiciario seja capaz de dirimir as controversias existentes causadas basicamente por falhas do legislador permitindo uma amPla utilizacao dQoolRjn~titu~9~gW~Cialmente poraqueles que aoque parece se tentou benefidar 05 pequenos e medios empreendedores brasishyleiros

Page 3: SINTESE - cortemello.com.br · RESUMO A EIRELI - Empresa Individual de Aesponsabilidade Limitada foi introduzida no ordena ... a partir da doutrina de Alberto Asquini, que entende

middot ROE I 4J ~ MarmiddotAbr2015 - PARrE

riscos do exerc~-Ia inshy

risco de

melhor

pessoa

4

GfBAl- DOBmlNA

A autonomia patrimonial atribuida em regra as pessoas jurldieas e a limita=aode responsabilidade dos socios saomecanismos eficientes de incentivo ao exercicio da empresa e por consequ~ncia de fomento da ecoshynomia e geralao de riquezas Por essa razao a discussao acerca da possishybilidade de apliear-se aqueles que desejam empresariar individualmente 0

princfpio da autonomia patrimonial e a limitarao de responsabilidade semshypre se fez relevante revelando-se tambem como um desejo do empresashydado e dos operadores do Direito

A recente cria~ao legislativa busca de fato reduzir os exercfcio da atividade empresarial aqueles que decidem dividualmente Os proprios autores dos projetos que deram origem a Lei nQ 124412011 referem que a separa~ao de patrim6nio aliada com a limishyta~ao de responsabilidade visa a possibilitar 0 acesso dos pequenos empreshyendedores ao exercicio regular da atividade empresaria evitando 0

afeta~ao da totalidade do patrim6n io do empreendedor em caso de insushycesso no empreendimento

A ElRELI sem duvida objetiva incentivar 0 exerdcio da atividade empresarial no Pais Entretanto embora festejada a nova especie de emshypresario gera controversias e ha quem diga que nao logrou alcan~ar todos os objetivos que embasaram a sua cria(ao Este e 0 propos ito do presente artigo apresentar as caracteristicas da EIRELI bem como refletir sobre as questoes controvertidas com 0 intuito de auxiliar na constru(ao de uma adequada compreensao do novo instituto

10 EMPRESliRIO EO PRINCiPIO DA AUTONOMIA PATRIMONIAL

o princfpio dcfaUtonomitpatrinidnial e semduvida um estruturante do direito societario Para a sua apliea~ao em rela(ao aqueles que desejam empresariar sozinhos concebeu-se a EIRELI Contudo antes de tratar do principio em questao fazem-se necessarios breves esclarecishymentos acerca da empresa e das especies de empresarios existentes do Dishyreito brasileiro

11 AEMPRESA 0 EMPREURIO PESSOA FfslCA E 0 EMPREURIO PESSOA JURiolCA

A EIREU Empresa Individual de Responsabilidade Limitada recenteshymente introduzida no ordenamento juridico patrio tornou posslvel que uma so pessoa exer~a uma atividade empresaria limitando sua responsabilidashyde patrimonial ao capital investido Todavia antes de mais para 0

ROE Ndeg 43 - MarmiddotAbri2115- PARTE IiERAl-nUTRINL

entendimento acerca da ElRELI e importante acompreensao de institutos basicos de diieito empresarial como a empresa e o empresario

Segundo Rubens Requiao (201 at a ideia de empresa surgiu no ambishyto do direito comercial atraves do Codigo Frances de 1807 Ele afirma que embora os comercialistas franceses tenham tentado desenvolver 0 conceito de empresa nao lograram ~xito uma vez que suas teorias estavam sempre conectadas COm a pratica dos chamados atos de comercio Para 0 autor a melhor detjni~ao de empresa foi construida no direito italiano a partir da doutrina de Alberto Asquini que entende a empresa como um fenomeno poliedrico

Ricardo Negrao (2011 p 64-81) destaca de forma objetiva os quashytro pertis da empresa que comp6em a teoria pol iedrica do autor italiano 0

perfil 5ubjetivo que remete aquele que exerce a empresa 0 empresario a flsica ou jurfdica - que exerce a atividade economica organizada

o perfil funcional que nada mais e do que a propria atividade realizada pelo empresario 0 perfil objetivo ou patrimonial entendido como 0 meio necessario para que 0 empresario exerca a atividade economica ou seja 0

estabelecimento empresarial ou complexo de bens utilizados pelo empresashyrio para 0 exercicio da atividade empresarial e por tim 0 perfil corporativo ou institucional pelo qual a empresa e 0 resultado da uniao de esforcos do proprio empresario e de seus colaboradores os quais tem um objetivo coshymum a obten(ao do melhor resultado economico passive

A partir dos diferentes perfis do fenomeno empresa fixou-se 0 entenshydimento de que a melhor defini~ao de empresa e a que a identifiea como uma atividade economica organizada ou seja define-se empresa atraves do perfil funcional (Ramos 2012 p 11)

A leoria das atas de comercio desenvalvida a partir da codificarao Napoleilnica (C6digo Comerca de 1807) era a reoria que embasava 0 direito comereiai em sua segunda fase evolutiva islo e a direto comereial destinado a regular as relar5es que envolvessem a prallea de deterrninados atos que segundo dlsposirao legal eram considerados atos de comereic Segundo dita teorie eram comerciantes aqueles que realizavam com habitualidade estes alos Assim 0 C6digo Comereial Francils reproduzido em codifica~6es posteriores inclusive ne Brasil [Cltldigo Comercial de 1850) enumerava certas atividedes que eram consideredas mereantls cabendo ao C6digo Civil a regulaltiio dos demals atos olio considerados alas de comercio (Ramos 2012) Coosiderava-se como aode camercio basicamente a atividade industrial decomercio de mercadorias propriamente dita e bancaria A delinirlio de atos de comercio apresentavamiddotse eom fundamental rslevanaia na medlda em que era a partir da defini~lio de uma determinada atlvidade como ate de comercio que se caracrerlzava 0 agente que a realizava como corneroia nte ficando esta submetida as normas especlficas previstas na legislarao comercial [lacerda 1970) Para 0 aprofundamento acerea das lases evolutivas do direito empresarial vide NEGAAO Ricardo Manua de direltn comercial e de empresa 8 ed Sao Paule Sarava 2011 p 25-33 e COElHO Fabio Ulhoa Curso de direito comercia 16 ed Slio Paulo Saraiva2012 p 19-44

1 RDpound II 4J - MarmiddotAbif2D15 - PARTE GpoundRAl- DOUmlnA

o C6digo Civil brasileiro nao trouxe 0 conceito de empresa mas apeshynas 0 de empresario que e0 sujeito que exerce a empresa conf0fme dispoe o art 966 do C6digo Civil5 bem como 0 conceito de estabelecimento emshypresariaL no art 1142 do mesmo diploma legal Da analise do conceito de estabelecimento pode-se depreender mais facilmente que empresa e uma atividade a atividade empresarial que 0 empresario desenvolve atraves de seu estabelecimento 0 legislador seguiu a tendencia doutrinaria que deshyfiniu a empresa como a atividade economica organizada de producao e circulacao de bens e servicos

A empresa e a pr6pria atividade empresarial a qual e marcada par algumas caracterfsticas extraidas do pr6prio art 966 do C6digo Civil sem as quais a atividade exercida nao sera considerada empresa e por conseguinshyte 0 sujeito que a exerce nao sera caracteriLado como empresario

A primeira dessas caracteristicas e a economicidade ou a finalidade lucrativa que e 0 objetivo do empresario Quanto ao intuito lucrativo da atividade empresarial que caracteriza 0 empresario pode-se dizer que

Ao destacarmos a expressao atividade economica por sua vez queremos enfatizar que empresa e uma atividade exercida com intuito lucrativo Afishynal conforme veremos ecaracterfstica intrfnseca das relalt5e5 empresariais a onerosidade Mas nao e 56 a ideia de lucro que a expressao atividade ecoshynomica remete Efa indica tambem que 0 empresario sobretudo em funltao do intuito lucrativo de sua atividade euro aquele que assume os riscos tecnicos e econornicos de sua atividade (Ramos 2012 p 37)

Segundo Fran Martins (2011 p 67) entende-se por comerciante a pessoa natural ou juridica que profissionahnente exercita atos de intershymedialtao ou prestacao de servicos com 0 intuito de lucro Mais adiante o d()u~~lQ~()r~~Jarlce que 0 empre~ario e a evolucao da ng(lrId()to~r dante

Com a evolu~ao da importancia das empresas no exercfcio das atividades comerciais os comerciantes sao considerados empresarios isto e os chefes das empresas (C6digo Civil italiano de 1942 art 2086) [ J ve-se que 0

campo de aao do comerciante foi ampliado com a conceito de empresario pois se no direito tradicional 0 comerciante era um simples intermediario no novo direito as atividades da empresa podem ser tambem de produ~ao

Art 965 do eeB Consldera-se empres~rio quem exerce profissionalmente atividade econ6mlca organizada para a produltao ou a circulaltao de bens ou de serviltos (Brasil 2002 p indeterminada)

5

Art 1142 do CCB Consideramiddotse estabelecimento todo 0 complexo de bens organlzado para exercfcio da empresa par empresario ou sociedade empresana (Brasil 2002 p indelerminada)

6

RDE N 43 - Mar-Abr2D15 - PARTE GERAl- MUTRINAgt

A segunda caracterfstica refere-se ao profissionalismo ou seja a hashy151fualidade noexerdcio da empresa A ativid~de economica nao pode ser exercida esporadicamente mas seu exercfcio deve prolongar-se no tempo coadunando com 0 intuito lucrativo do agente (Vercosa 2004) Em sintese o empresario e aquele que exerce a empresa de forma profissional assushymindo os riscos dela decorrentes e com 0 intuito de obter lucro (Requiao 2010)

Outra caracterfstica essencial da empresa que tambem caracteriza 0

empresario diz respeito a sua finalidade qual seja a producao eou a cirshycufacao de bens e servicos A ligacao do exerclcio da empresa ao binomio producao-circulacao de bens e servicos ampliou muito 0 ambito de incishydencia do direito especializado afinal a partir daf em regra qualquer ativishydade economica pode ser considerada empresaria desde que exercida com o intuito lucrativo de forma organizada e profissional (Ramos 2012 p 38)

A ultima caracterlstica essencial da empresa e a organizarao Ao exercer a empresa 0 empresario articula 05 fatores de producao a seu favor isto e movimenta 0 capital a mao de obra os insumos e a tecnologia com o objetivo de obter lucro (Coelho 2011 p 32) Essa organizarao e responshysavel pela impessoalidade que se exige no exercfcio da empresa Quando a atividade e exercida de forlTla pessoalizada onde a organizacao perde importimcia 0 exercente nao estara empresariando

Empresario e portanto

quem organiza exercendo uma funltao de intermedia~ao eou de transformashylt50 dentre os fatores da producao criando riquezas para 0 mercado (centro de encontro enreC0(~rtae1dlltlJBMados diversos sujeitos economicos) e equem assume 0 risco economico e a inidativa do empreendimento (Franco 2004 p 57-58)

Nessa medida sendo a empresa uma atividade economica e 0 empreshysario 0 sujeito que a exerce de forma organizada tratou a legislacao de esshytabelecer inicialmente duas formas de exerdcio da empresa duas espEkies do genero empresario 0 empresario individual (pessoa ffsica) e a sociedade empresaria (pessoa juridica)

o empresario individual ea pessoa natural que exerce uma atividade economica de producao e circulacao de bens ou de prestarao de servicos Eo empreendedor pessoa flsica que sozinho exerce atividade empresarial ao contrario da sociedade empresaria que epessoa juridica constituida sob

HOE N 43 - MarmiddotAr2015 - PAIlTE GEfiAl- DOUTRINA

a forma de sociedade cujo objeto social e a explora~ao de uma atividade econCimica organizada (Ramos 2012 p 38)

o ordenamento jurfdico brasileiro trata de maneira bastante distinta os empresarios individuais e as sociedades empresarias especialmente no que tange ao patrimCinio e ao sistema de responsabilidade de um e de outro

o empresario individual nao goza da separa~ao patrimonial da qual gozam as sociedades empresarias pelo fato de estas serem efetivas pessoas jurjdieas7

bull Assim todo 0 patrimCinio do empreendedor esteja ele ou nao afetado ao exerdcio da atividade emplesarial pode ser alcantado para 0

adimplemento das obrigat6es assumidas no exerdcio da empresa Logo 0

sistema de responsabilidade que reeal sobre 0 empresario individual e 0 da responsabilidade ilimitada responde ele com a totalidade do seu patrimCishynio pelas obriga~6es eontraidas no exercicio do neg6cio Conclui-se assim que 0 exerdcio da empresa de forma individual aearreta multo mais riscos do que a explora~ao da atividade mediante a eonstituitao de uma sociedashyde (Ramos 2012)

Nao e por outra razao que Fabio Ulhoa Coelho (2011 p 39) afirma que as atividades economicamente mais importantes sao exercidas pelas sociedades empresarias normal mente sociedades limitadas ou anonimas ja que alem da possibilidade de eompartilhar riscos permite que a atividade seja exercida com limitatao de responsabilidade restando ao empresario individual as atividades de menor envergadura que implieam menores inshyvestimentos ao mesmo tempo em que nao apresenta grande risco de perdas

Evidentemente aventurar-se no ramo empresarial para exploratao de atividade economica implica decisao mais facilmente tomada quando 0

risco assumido e menor ou pelo menos minimizado

Ern virtude daausencia de I imita~ao responsabiiidade pa ra 0 empreshysario individual pratica bastante comum e a constituirao das chamadas 50shy

ciedades de fachada sociedades constitufdas apenas formalmente nas quais urn dos sodos Figura enquanto tal titularizando percentual minimo do capital social sem que seja efetivamente s6cio Na pratica a atividade eexercida de

0 empres~rio individual embora esleja cadastrado no CNPJ 0 recebe apenas para fins tributaries 0 fate de o empresario individual ebler um CNPJ nao 0 translarma em uma pessoa jurldica continuando a ser pessoa fisica Epacifico na dautrina ena jurisprudencia tal entendimento A titulo de exempla Agravo de instrumento Ensino particular 0 palrimanio do empresario individual CQnfunde-se 0011 0 passoai correspondendo a urn 56 conjunlo de bens ouja dominic ) da pessoa Iisica Inexlsle 6biee II constri~ao de palrimanla pertcncente il empresa individual no intuito de garantlr 0 pagamento de dlJbitos contraldos paia pessoa ffsica Agravo de instrumenlo provldo em decisao monocratiea ITJRS AI 70062097407 6a CClvbull ReI Nay Wiedemann Nato J 15102014)

RDE II 43 - Mar-Akrl2015 -PARTE GERAl- nOUTRINA

forma individual mas formal mente apenas para minimizar a risco assumido pelo empreertdecfOr celebra-se contrato de sociedade fazendo surgir a pesshysoa jurldica regularmente constituida (Ramos 2012 p 40-41)

Como visto para alem do empresario individual a outra especie de empresuio e a sociedade empresaria De pronto e importante esclarecer que neste caso os socios da sociedade nao sao pelo menos tecnicamente empresarios Quando constituida uma sociedade esta e que ea empresaria a titular do exercfcio da empresa Conforme ensina Fabio Ulhoa Coelho (2011 p 38-39)

Deve-se desde logo acentuar que as s6dos da sociedade empresaria nao sao empresarios Quando pessoas (naturais) unem seus esforcos para em sociedade ganhar dinheiro com a explora~ao empresarial de uma atividade economica elas nao se tornam empresarias A sociedade par elas constitufshyda uma pessoa juridica com personalidade autonoma sujeito de direito inshydependente eque sera empresaria para todos os efeitos legais Os socios da sodedade cmpresaria sao empreendedores ou investidores de acordo com a colaboracao dada asodedade [1 As regras que se apllcam ao empresario individual nao se aplicaniaos s6dos da sociedade empresaria

A sociedade vem definida no art 981 do C6digo Civil 0 qual disp5e que celebram eontrato de sociedade as pessoas que reciproeamente se obrishygam a contribuir com bens ou servitos para 0 exercfcio de atividade ecoshynCimica e a partilha entre si dos resultados (Brasil 2002 p indeterminada)

Entretanto as primeiras manifestatoes de sociedade enquanto simshyples eomunhiio de esfortos tem sua origem mais remota ainda nos povos primitivos A historia da evolutao da humanidade mostra que desde os peshyr1odo~m~isdistants 05homens conjugavam forcas comaqu~Ies E1mQlle01 depositavan1totl(ian~a com a finalidade de alcimtar objetivos~om~ns os quais nem sempre foram luerativos t na Idade Media contudo que a sociedade tal como conhecida atualmente tem suas raizes especialmenle em virtude do desenvolvimento do comercio em algumas cidades italjanas Neste periodo 0 direito comercial nao passava de um conjunto de usos e costumes adotados pelos primeiros comerciantes chamados mercadores para atender as suas pr6prias necessidades e regulamentar as suas atividashydes Nao obstante foi na Idade Media que foram delineados os primeiros tipos societarios6 que existem ate hoje a sociedade em nome coletivo e a sodedade em comandita simples (Almeida 2011)

---~___V~_~~~~_bullbullm~~___~___

a Para aprofundamento aceres dos tipos societarios previstos no ordenaillenio patrio vide MARTINS Fran Curso de direito comerclal 34 ed Rio de Janeiro Forense 2011 ALMEIDA Amador Paes de Manual rias

7

nos essenshy

e seshy

e os

1407

middot bull RIlE N 43 - MamiddotAbrj2B15 - PARTE GERAl- DOUTlIINA

A sociedade em nome coletivo surgiu na Italia entre os grupos fashymiliares que formavam sociedades posteriormente se desenvolvendo enshytre os artesaos e comerciantes (Almeida 2011) No Brasil regulada arts 10399 e seguintes do C6digo Civil de 2002 caracteriza-se cialmente pelo fato de admitir apenas pessoas fisicas como socios e pelo sistema deresponsabilidade solidaria e ilimitada pelas obrigacoes sociais imposto aos socios Esse sistema de responsabilidade nao e muito atrativo ja que ap6s 0 esgotamento do patrimonio da pessoa juridica 0 patrimonio pessoal dos socios sera atingido para a satisfa-ao das obrigacoes da socieshydade Nesta sociedade nao ha limita-ao de responsabilidade

A sociedade em comandita simples regulada nos arts 104510

guintes do C6digo Civil de 2002 tern sua origem no desenvolvimento do comercio marltimo no chamado contrato de comenda por melo do qual os nobres interessados em comerciar e nao 0 podendo em razlio do conceito que 0 comercio tinha entre aquela casta social confiavam aos comerciantes marftimos certa quanti a em dinheiro para que estes praticando a atividashyde mercantif obtivessem luero 0 qual seria dividido entre estes ultimos e aquele que tinha investido capita Em casu de prejuizo 0 nobre investidor assumia a perda do valor investido (Martins 2011)

Atualmente a sociedade em comandita simples apresenta duas cateshygorias de socias com sistemas de responsabilidade diferentes asemelhan~a do ocorria em sua origem medieval as socios comanditad05 administram 0

negocio e assim respondem solidaria e ilimitadamente pelas obrigalt5es socia is ja os socios comanditarios apenas investem capital para 0 exerdcio da empresa nao participando de sua administraltao e por isso respondem de forma limitada ao capital investido au seja nesta sociedade esgotado o patrimonio social somente parte dos s6cios podera ter 0 seu patrimonio pessoal atingido para satisfa-ao das obrigacoes da sociedade

A sociedade ari6tiitnatamberi1conhecida comocompanhia em pese nao haja entendimento pacifico na doutrina ace rca de sua origem na uma quase unanimidadell ao afirmar que a primeira manifestaltlio definitiva

sociedades comereais 19 ed Sao Paulo Saralva 2011 COELHO Fabio Ulhoa Curse de direito eomereal 16 ed Sao Paulo Saralva 2012 e NEGRAO Ricardo Manua de direito comereial e de empresa 8 ed Sao Paulo Sara iva 201 L

9 Art 1039 do CCB Somente pessOBS Iisieas podem tomar parle na sociedade em nome coletivo respondendo lodos os s6cios salida ria e iiimitadamenle pelas obrig~Oes socials

10 Art 1045 do CeB Na socledade em comandita simples Icmam parle s6cios de duas calegorias ascQmanditados paswas lisicas responsaveis solidaria e ilimitadamente pelas obrigalt6es SOClais comanditarios obrigados somenle pelo valor de sua quola

11 Dvergem alguns autores sabre este marco hist6rioo a exemplo de Haroldo Malheiros Duclerc verltosa que afilTla qlJe a primeira sociedade anOnima teria sido 0 Banco de Sao Jorge de G~nova criado em (Velaquoosa 2006 p 290)

RDE N 43 - MarmiddotA1uI2815 - PARTE GEHAl- D8UTRINA

e mais proxima da atual sodedade anonima deu-se com a Companhia das IndiasOrientisem1602 na HolandaAtmeicla 2011 p 187)

A sociedade anonima esta regulada nos arts 10882 e 108913 do C6shydigo Civil de 2002 e na Lei nQ 64041976 Entre suas caracterfsticas essenshyciais destacam-se a divisao do capital social em altoes e 0 sistema de re5shyponsabilidade dos sOcios denominados acionistas que e limitada ao preoo de emissao das a-5es subscritas14 ou adquiridas5

A lei nil 64041976 tam bern regulamenta a sociedade em comandita por acoes a qua teve sLla origem ja na Idade Moderna com 0 C6digo Coshymercia Frances de 1807 Tal especie societaria tambem foi genericamente regulada pelo C6digo Civil nos arts 10906 e seguintes Asemelhanca das comanditas simples as comanditas por acoes tambem possuem duas modashylidades de sodos os acionistas diretores a quem incumbe aadminjstra~ao

da sodedade os quais respondem solidaria e ilimitadamente pelas obrigashyc6es socia is e os demais acionistas que sem poderes de administracao goshyzam de limita~ao de respol1sabilidade ao capital investido (Rizzardo 2009)

A sociedade limitada contudo teve origem de modo diverso Ate 0

seu surgimento 0 empreendedor que quisesse exercer uma empresa unindoshy-se a outro tinna dois caminhos possfveis a seguir ou constitufa uma socieshydade anonima cujo sistema de responsabilidade era 0 da responsabilidade limitada traduzindo-se na forma menos ariscada de exercfcio da empresa mas que por outro lado exigia muitas formalidades para sua constituicao e assim destinava-se mais aos grandes empreendimentos com vultosos investimentos ou constituia uma das modaidades de sodedade de pessoas existentes aepoca de constitui-ao e funcionamento mais simples sem a neshycessidade de grandes investimentos mas com sistema de responsabilidade

ilimitadl para todos OLi parte dos sooi6Js(Abri)o 2000)

as modelos societarios entao vigentes restringiam 0 acesso de pequeshynos e medios empreendedores ao exerdcio das atividades economicas Prishy

12 Art 1088 do CC8 Na socledade anonima ou companhia 0 capital divide-se em a90es obrigando-se cada OOcio au acionista somente palo pret) de emlssao das afies que subscrever au adqUirir

13 Art 1089 do ee8 A $Ocledade anOnima rege-se por lei especial aplicando-se-lhe nos casas omissos as disposioes deste C6digo

14 Subscriltao de capital e 0 ato pelo qual 0 socio au aclonista assume 0 compromisso de adqurir para si pagando 0 valor devido determinado numera de quotas ou altoes Integralizao do capiial social eo ato pelo qual 0 s6clo ou acionista efetivamente paga 0 pre90 das quotas ou alt6es subscMlas (Martins 2011)

15 Art 1C da LSA A companhia ou sociedade ananima tera 0 capital dividldo em aoes e a responsabilidade dos sOcios ou acionistas ser~ limitada ao pr~o de emissao das altOes subseritas au adquiridas

16 Art 1090 do CCB A soeiedade em oomandila por alOes tem a capital dividido em aBes regendo-se pelas normas relaivas II sccledade an6nima sem prejulzo das modificalt6es constantes deste Capitulo e opera sob finna OIl denomlnao

Hut N 13 -lIarmiddotAbr2015 - PARTE GERAl- DOUTRIUA

meiro porque de forma individual ou em sociedade de pessoas ainda que as formalidades para constituiltao e 0 investimento exigido fossem menores os riscos eram elevados em decorrencia do sistema de responsabilidade iIishymitada Segundo porque a unica sociedade com sistema de responsabilidashyde limitada era a anonima a qual por exigir um rigorismo formal para sua constituiltao destinava-se aos grandes empreendimentos (Verltosa 2006)

Necessitava-se entao para atender a demanda dos pequenos e meshydios empreendedores de um tipo societario capaz de atender a ambas a~ necessidades menor assunltao de riscos pela limitaltao de responsabilidade e ao mesmo tempo menor complexidade de constituiltao e funcionamenshyto (Pimenta 2006 p 67) Nesse contexto e que surge na Alemanha em 1892 a sociedade por quotas de responsabiiidade limitada (Almeida 2011 p145)

Ante a necessidade de incentivar 0 exercicio da empresa por parte de tantos quant05 por cia se interessassem por meio da separaltao entre 0

patrimonio pessoal dos s6cios e 0 da sociedade nao respondendo aqueles pelos debitos contraido5 por esta e que a sociedade por quotas de responsashybilidade limitada mostrou-se ahernativa eficaz na legislaltao alema de 1892 (Pimenta 2006 p 68)

No Brasil esse tipo societario foi consagrado em 1919 atraves do Decreto nQ 3078 cujo sistema de responsabilidade vinha estabelecido no art 290 qual previa que 0 titulo constitutivo regular-5e-a pelas disposiltoes dos arts 300 a 302 e seus numeros do C6digo Comercial devendo estipular ser limitada a responsabilidade dos socios a importancia total do capital social (Brasil 1919 p indeterminada)

A sociedade limitada17 hoje regulada pelo C6digo Civil de 2002 pode entaoser vistacomq a primeira forma deincentivqr epossibjlitaxo ac~ssode tltTlnumeromaior de pessoas ao exercicio de atiIdadesempreshysarias 1550 porque a partir dela passou a existir um tipo societario que alia a limitaltao de responsabilidade1B caracterfstlca que ate entao era exclusiva

17 Enquanto vigia 0 Decreto nO 30781919 este tipo socletario era denominado Socledade par Quotas de Responsabilidade limitada 0 art 10 do Jecreto previa que ahlm das sccledades a que se referem as arts 295 311 315 e 317 do C6digo Comecial poderao constituir-se socledades por quotas de responsabilidade limitade Oito decreta vigorou por mals de 80 anos vindo a ser parolalmente revogado pelo atual COdigo Civil em vigor deede 2003 0 CCB2002 simplifieou a nomenclatura passando a denomlnar este tipo socletMo apenas de secledade limitada regulando-a sem seus arts 1052 e seguintes

18 Como vista no sistema atual somente associedadesanonimas e limitadas possuem sOcios de responsabilidade limiteda 0 limite da responsabilldade dos socios ea capital investido por estes no neg6cio resglJanlandoshyse asslm 0 seu patrimOnio pessoaL Nao epor outra rallio que estes silo os dois tipos socletarios de maior utiliza~ao no Brasil estando os demais praticamente em desuso

ODE N 43 - MarmiddotAbrlZ315 - PARlE GEOAl- OnUIlIINA

da sociedade anonima e a contratualidade ou seja uma sociedade cujo ate constitutivo e0 cQntratosocia-OquaJpermite uma maior expressao da autonomia privada dos s6cios na conformaltao da sociedade diferentemenshyte da sociedade anonima que e uma sociedade constituida por um estatuto social muito mais conformado pela pr6pria legislaao do que pela vontade dos s6cios (Ramos 2011 p 248)

Verifica-se ainda que ao longo da hist6ria a sociedade sempre foi concebida como uma uniao de forltas pela busca de um resultado comum e as sociedades empresarias a uniao de forltas pela busca de um resultado lucrativo comum caracterizando-se pelo exercicio em conjunto de uma atividade economica organizada

Quanto anecessidade de constituiltao de uma sociedade para 0 exershycicio da empresa esclarece Fabio Ulhoa Coelho (2012 p 21) que

atividades economicas de pequeno porte podem ser exploradas por uma pesshysoa (natural) sem maiores dificuldades Na medida porem em que se avolushymam e ganham complexidade exigindo maiores investimentos ou diferentes capacitalaquooes as atividades econ6micas nao mais podem ser desenvolvidas com eficiencia par um indivfduo apenas 0 seu desenvolvimento pressupoe entao a aglutinalaquoao de esfonos de diversos agentes interessados nos lucros que elas prometem propiciar Essa articularao pode assumir variadas formas jurrdicas entre as quais a de uma sociedade

As sociedades assumiram tal importancia social que passaram a ser vistas como entes absolutamente distintos separados dos sujeitos que se uniam para forma-las acabando pOl receberem da ordem jurfdica status de sujeitos de direito tal como as pessoas naturais Eo que ensina Amador Paes de Almeida (2011 p 29)

Num cresceriaOafrmir~Veffofam~sb(jedades ganhando vulto a ponto de em pouco tempo distinguirmiddotse nitidamente das pessoas ffsicas que as comshypunham rJ Formando pois uma entidade aparte absolutamente distinta das pessoas naturais que as integram (ulrninaram as sociedades por serem reconhecidas pelo ordenamento jurfdico como sujeilos de direito equiparashydas ponanto as pessoas fisicas

A este sujeito de direito que surge a partir de uma sociedade 0 direishyto deu 0 nome de pessoa juridica Par conseguinte sociedade empresaria devidamente registrada19

sera a pessoa juridica exercente de uma empresa

19 0 registro do empresario seia eie individual au coietivo (sociedede empresiiria) Junto ao 6rgao responsavei pelo registro mercanti qual seia as Juntas Comereiais dos Estados euma das obrigalt6es impostas aquele

JUilJ fiDE It 43 -i4armiddotAIJr2Ul ~ - PARU GEllAl- OOHmlNA

o sujeito de direito que pratica os atos necessarios a realizarao da atividade economica nao se confundindo com seus sodos (Coelho 2012 p 23 e 27)

De todo 0 exposto conclui-se que para 0 direito empresarial desde suas primeiras manifestaroes ainda na Idade Media a personalidade jurishydica propria que era atributo exclusivo das pessoas fisicas foi estendida as pessoas juridicas que sao formadas pela uniao de no minimo duas pessoas em sociedade As empresas pod em ser exercidas po is tanto por pessoas fIshysicas quanta por pessoas juridicas Neste ultimo caso a pessoa jurfdica tem autonomia patrimonial em rela~ao ao patrimonio pessoal de seus socios

12 As CONSEQUENCIAS DA PERSONlflCACAO E A IMPORTANCIA DO PRINCPIO DA AUTONOMIA

PATRIMONIAL

A personalidade juridica e uma inven~ao do Direito Nao existe pesshysoa jurfdica senao sob a otica do Direito que a criou com 0 objetivo de solucionar alguns problemas decorrentes das relar6es humanas autorizanshydo a priitica de atos juridicos por outros sujeitos de direito que nao apenas pessoas naturals (Coelho 2011 p 138)

A personalidade juridica das sociedades empresarias e a criarao que possibilita conferir titularidade de direitos a um ente que nasce da uniao de outros ou seja e uma ficrao que atribui personalidade a um ente formado por uma coletividade de pessoas (Fazzio JUnior 2008 p 31)

o principal objetivo da atribuicao de personalidade jurfdica as soshyciedades e permitir que estas possam praticar todos os atos juridicos necesshysarios ao desenvolvimento da atividade para a qual foram criadas por si

lu~exce projiSSiOQ~Irente uma atividade empre~ari~ ~simse~Qo0tegistfJl DaO econdi~ao para taiacteriza~ao de uma pessoa (flsica au jurldica) como efllpresilio tratando-se na verdade de mera declarruao de regularidade do exercfcio dll empresa de acordo com as normas impostas pelo ordenaP1ento juridico patrio A inexist~ncia de registro nao descaracteriza 0 sujelto como empresario mas uma vez conligurando 0 descumprimento de uma obriga~~o a ele imposta acarreta algumas restri~es No caso da sociedade empresaria irregular uma das restri6es ea impossibilidade de realizar sua inscrirao junto aD Cadaslro Naeional de Pessoas Juridlcas com a consequente sanao pelo descumprimento das obriga~6es tributarias decorrentes deste cadastra Assim a sociedade empresiiria nao deixa de ser empresaria pela lalla de reglstro l1as naD sera uma pessaa juridice Dessa Iorma sendo sociedade oespersonificada os socioS da sociedade empresria irregular nlio gozam das benesses de Ilmitarao de respansabilidade atribuida via de regra as sociedades regulares (Coeiho 2011) Quanta if desnecessidade de reglstro marcantil para caracterizaao do empresaria ji se manitestou 0 Conselho da Justita Federal na III Jornada de Direito Civil na quallcram aprovados os Enunciados nOs 198 e 199 que disp5em respectivamente Art 967 A inscri~ao do empresArio na Junta Comercial nao Ii requisito para a sua caracteriza~ao admitiodo-se a exerclcio da empresa sem lal provid~ncia 0 empresarlo irregular reune os requisitos do art 966 suieltando-se as normas do COdigo Civil e da legislaao comerdal salvo naquilo em que Iorem incompatlveis com a sua condi~ao ou diante de expressa disposiao em contrjrio e Art 967 A inscriltiio do empresario ou sociedade empresiiria erequisito delineador de sua regulalidade e nao da sua caracteriza9iio (Conselho da Iusti~a Federal 2004 p Indeterminada)

ROE N 43 - MarJlbr2015 - PARTE GEftAl- DOUTRINL

mesmas e nao em nome dos sodos Na sodedade empresaria tal objetivo mOiVa-s~ ltliJ1rja maisreJevante na medida em que a atividade exercida exishyge assuncao de riscos os quais serao assumidos pela pessoa juridica e nao pelas pessoas fisicas (Fazzio Junior 2008 p 31)

Nesse contexto a importfmcia da atribuirao de personalidade jurishydica as sociedades empresarias e evidente sendo facil concluir que para minimizar 0 risco da atividade empresarial separando 0 patrimonio pessoal dos empreendedores os indivfduos devem - ou deveriam ate pouco tempo - constituir uma sociedade formando assim uma pessoa juridica a qual goza de autonomia patrimonial

Essa ficrao resulta em uma serie de consequendas importantes para o Direito De modo geral e possivel identificar tres consequencias advindas da atribuirao de personalidade jurfdica as sociedades empresarias a titulashyridade obrigacional a titularidade processual e a responsabilidade patrimoshynial (CoelflO 2012 p 32)

A titularidade obrigacional determina que todas as obrigacoes assushymidas no ambito do exercicio da atividade empresarial 0 serao pela socieshydade e nao pelas pessoas de seus socios Assim quem figura em um dos polos da rela~ao jurfdica estabelecida com terceiros (contratos de trabalho de prestarao ou contratarao cje servicos etc) e a sociedade e nao as pesshysoas dos socios que a comp6em Ja a titularidade processual implica que apenas a sociedade seja parte legftima para demandar ou ser demandada em processos judiciais que visem a discutir obrigar6es assumidas em seu nome Por fim a responsabilidade patrimonial que determina que a pessoa jurfdica e responsavel pelas obrigacoes que ela contrair com 0 seupr6prio patrim()Oi(jQ~qllaledistinto do patrimonio pessoal de cadaunl closs6dos que a constituem ou seja 0 conjunto de bens da sociedade forma 0 patrishymonio da pessoa jurfdica e eesse patrimonio que em regra responde pelas obrigac6es assumidas pela sociedade (Coelho 2012 p 32-33L

Arnaldo Rizzardo tambem reconhece que

tanto e pr6pria e distinta a personalidade juridica que 0 sistema juridico reconhece a sua existencia distinta da de seus s6dos e assim a titularidade pr6pria de direitos (de ordem patrimonial e moral) como a sujeirao a obrigashyr6es e deveres (como sujeito passivo na demanda de creditos existentes par terceiros) Nao se confundem os direitos e deveres da pessoa jurfdica com as de seus s6cios oem os direilos e deveres destes se transferem para a pessoa jurfdica (Rizzardo 2009 p 23)

1 11 ~ bull RDE N 43 - Mar-Abd2Dl5 - PARTE GERAl- DOUTRINA

Na mesma linha Ricardo Negrao (2011 r p 203) afirma que sao efeishytos da personificarao a assunao de capaddade para direitos e obrigar6es middota separacao entre a pessoa juridica e aspessoas dos s6dos a existenda de patrimonio proprio distinto do de seus sodos e a possibilidade de a socieshydade alterar a sua estrutura interna

Ve-se portanto que nao ha grande divergencia doutrinarla quanta aos principais efeitos da personificacao No entanto entre as tres conseshyquendas destacadas e a responsabilidade patrimonial da pessoa jurfdica a que merece maior destaque

A existenda de patrimonio pro-prio das pessoas juddicas da-se por forra da incidencia do princfpio da autonomia patrimonial segundo 0 qual os bens da sociedade empresaria formam um patrimonio autonomo que responde pelas obrigar6es contrardas por esta enquanto que os bens de cada um dos socios que a compoem permanecem via de regra imunes ao cumprimento destas obrigaroes

Trata-se na verdade de algo muito antigo decorrente da maxima aplicada desde a Lex Poetelia Papiria que data de 326 antes de Cristo por melo da qual se determinou que 0 patrimonio do devedor fosse a garantia dos credores Com tal lei a obrigarao entre 0 credor e 0 devedor deixou de estar pautada em um vinculo corporal sendo substitufda pela responsabilishydade patrimonia ou seja os bens e nao mais 0 corpo do devedor passashyram a responder por suas diviaas (Alves 201 Or p 382 e 436)

Ora se a devedora e a sociedade empresaria e justo que apenas 0

seu patrimonio responda pelas obrigaroes contrafdas e nao 0 patrimonio de seus sodos sujeitos de direito distintos A autonomia patrimonial e a responsabilidade patrimonial proprias da sociedade formam uma estrutura que incentiva a aS5Un~Q dQriscodo exerdcio de uma atividade empreshysaria Principalmente quando 0 tipo de sociedade traz tambem a regra da limitarao de responsabilidade dos s6cios 0 que ocorre nas sociedades anoshynimas e limitadas

Tal e a importancia da autonomia patrimonial das pessoas jurfdicas que Fabio Ulhoa Coelho (2012 p 34) afirma que se trata do alicerce do direito sodetario

Esse e 0 principio da autonomia patrimonial alicerce do direito societario Sua importilncia para 0 desenvolvimento de atividades economicas da proshydUlao e cireula~ao de bens e servicos e fundamental na medida em que limita a possibilidade de perdas nos investimentos mais arriseados A partir da afirmacao do postulado juridieo de que 0 patrimonio dos s6cios nao res-

RDE PI ~3 -lIhrmiddotAbr1015 - PARTE GERAl- DDlITHINA ~

ponde por dividas da sociedade motivam-se investidores e empreendedores a aplicar dinheiro emathddades oconomieas-demiddotmaior envergadura e risco 5e nao existisse 0 principio da separaCao patrimonial os insueessos na exshyploracao da empresa poderiam significar a perda de todos os bens particushylares dos s6cios amealhados ao longo do trabalho de uma vida ou mesmo de geracoes e nesse quadro menos pessoas se sentiriam estimuladas a deshysenvolver novas atividades empresariais No final 0 potencial econ6mieo do Pars nao estaria eficientemente otimizado e as pessoas em geral ficariam prejudicadasr tendo menos acesso a bens e servi~os 0 principio da autoshynomia patrimonial e importantfssimo para que 0 direito discipline de forma adequada a explora(ao da atividade economica

o principia da autonomia patrimonial e sem duvida um importante mecanismo de incentivo ao exercicio da atividade empresaria na medida em que possibilita a minimizarao dos riscos assumidos pela pessoa ffsica que decide exercer uma empresa Isso parque mesmo nas especies societashyrias em que a responsabilidade dos s6das e ilimitada (sociedade em nome coletivo por exemplo) est~ sera sempre subsidiaria por forra do princlpio de mesmo nome consagrado no ordenamento jurfdico patrio pelo art 1024 do Codigo Civil de 2002 2deg

Parece evidente que 0 princlpio da autonomia patrimonial coadunashy-se nao apenas com os fundamentos da ordem economica brasileira exshypressos no caput do art 170 da Constituirao Federal quais sejam a livre iniciativa e a valorizarao do trabalho humano bem como corn seus prindshypios norteadores como a livre concorrencia e 0 livre exerckio da atividade economica alem de toda a constru~ao hist6rica de incentivo ao exercicio da empresa como forma de fomentar a economia dos Estados possibilitanshydo a gerarao e a circularao das riquezas

Todaviacomo exposto anterio~trl1ente Os beneficios desse principio nao se aplicam ao empreendedor que exerce a empresa de forma individual nao sendo outra a razao principal para a edirao da Lei nQ 124412011 que introduziu no Brasi a EIRELI

13 EIRElI AS PRINCIPAlS CARACTERisrlCAS DO NOVO EMPRESARIO

Feitos os esclarecimentos sabre as diferentes especies de empresashyrios ate entao existentes cabe 0 enfrentamento da nova especie introduzida recentemente no ordenamento juridico brasileiro a Empresa Individual de

-middot~---middot-middot-----_~___laquo~_M

20 Art 1024 do eeB Os bens particuJares dos socios nao podem set executados por dlvldas cta saciedade senao depois de executados os bens socials (BraSil 2002 p indeterminacta)

13 It ROE N 43 - MarmiddotlbI2D15 - PARTE GERAl- DOUTRINA

Responsabilidade Umitada - EIRELI Especie de empresario que conforme refere Andre Luiz Santa Cruz Ramos (2012 p 40) surge na legislacao piitria atendendoa antigos an5eiostantoda doutrina quantodo meio empresariai

Ate a entrada em vigor da legislacao que introduziu a EIRElI como ja dito existiam apenas duas formas de exercer a empresa ou como empreshysario individual (pessoa ffsica sem autonomia patrimonial e limitacao de responsabilidade) ou como sociedade empresaria (na qual os sodos podem ou nao vir a responder pelas obrigacoes contraidas no exercfcio da atividashyde mas sempre e tao somente ap6s 0 esgotamento do patrim6nio social ja que ha no mlnimo a autonomia patrimonial da pessoa juridical

A partir da EIRElI pasSOli a ser posslvel que uma s6 pessoa exerca a empresa por meio de uma pessoa juridica 0 que permite a efetiva separacao patrimonial e limitacao de responsabilidade ao capital investido como ocorshyref mais precisamente nas sociedades limitadas Esse novo ente apresenta caracterfsticas bastante pr6prias

De plano pode-se ressaltar uma caracterfstica e esta incontroversa A EIRELI eum ente dotado de pcrsonalidade juridica pr6pria ja que inserida no rei das pessoas juridicas de direito privado do art 44 do C6digo Civil Ao contrario do empresario individual que e uma pessoa flsica a EIRELI e uma pessoa juridica constituida para 0 exerdcio de uma atividade economica Ainda pela leitura do texto legal na medida em que a EIRELI esta prevista em um inciso em separado inciso VI incluido pela Lei nQ 124412011 a priori nao se poderia concluir qLle se trata de uma sociedade empresaria as quais ja vinham previstas no inciso II

Assim da simples interpretacao da alteracao ocarrida no art 44 do C6digo Civil conclui-se que a EIRELI e pessoa juridica nao se confundindo comasect~Od~adeiJilmpouco com 0 empresario individualquenem peSsoa jurfdiCa~

Outra caracterfstica importante da EIRELI e a exigencia de urn capital mfnimo nao inferior a 100 vezes 0 salilrio-minimo vigente no Pais para a sua constitLlicao conforme dispoe 0 caput do art 980-A do C6digo Civil de 2002 22 tambem inclufdo pela Lei nQ 124412011 0 empreendedor que

21 De plano cumpre esciarecer que por ludo quanto)a exposto no decorrer do presente estudo a nomenclatura utllizada pelo legislador eatecnica na mediaa em que atribuiu personalidade jur(dica a uma etividade Como visto ernpresa nao esujelto de direilos mas sim uma atividade exercida pelo empresario este sim sujeilO de direitos

22 Art 980-A do CCB A empresa individual de responsabWdade limitada sera constiturda por uma cnica pessoa titular da Malidade do capital social devidamente integralizado que nao sera imerior a 100 (cern) vezes 0

maior saario-minimo vigente no Pais (Brasil 2002 p indeterminada)

ROE II 43 - MarmiddotAbI2D15- fART GERAl- DOUTBIRA

desejar exercer a empresa como EIRELI devera no ate da constituicao inshytegralizar a totalidtdedQ valordQ capital que naQPodera ser em valores atuais inferior a R$ 7880000 (setenta e oito mil e oitocentos reais)

Ainda a integralizacao do capital podera ser eita nao apenas em dinheiro mas tambem em bens desde que suscetfveis de avaliacao em dishynheiro nao sendo exigida a apresentacao de laudo avaliativo para tanto Este capital diferente do que ocorre nas sociedades nao sera dividido em quotas ou acoes A regra e a da unicidade do capital afinal este e totalmente titularizado par uma unica pessoa

A terceira caracterfstica marcante da EIRELI diz com 0 sujeito que pode constituf-Ia ou seja 0 titular da EIRELI Segundo dispoe 0 caput do ja mencionado art 980-A do C6digo Civil a EIRELI sera constitufda por apenas uma pessoa Ocorre que 0 dispositivo legal nao deixa claro que 0

titular precisa ser uma pessoa ffsica ou se poderia tambem ser uma pessoa jurfdica Essa falta de especificacao legal gerou discussao com argumentos favoraveis e contra nas duas direltoes No entanto 0 ONRC - Departamenshyto NacionaJ do Registro doComercio pOl meio da lnstrucao Normativa n

9 1172011 definiu (item 1210) que apenas as pessoas naturais plenashy

mente capazes podem constituir EIRELI Ainda ratjficando tal disposiao 0

item 1211 preve expressamente que nao pode ser titular de EfRELI a pesshysoa juridica bem assim a pessoa natural impedida pOl norma constitucional ou por lei especial (Brasil 2011 p indeterminada)

Outra caracterfstica semelhante ao que ocorre com as sociedades limitadas e que a EIRELI pode utilizar qualquer das especies de nome emshypresarial qual seja firma ou denominacao social acrescidas da expressao EIRELI ao final

Par tim e talvezil car~ct~rf~ti~~~5Ys importante a responsabilidade limitada ao capital investido e devidamente integralizado pelo titular da EIRELI Essa regra se depreende da leitura do sect 62 do art 980-A do C6digo Civil que determina a aplicacao a EIRELI das regras previstas para as socieshydades limitadas naquilo em que com patfve I (Brasil 2011 p indeterminashyda) Essa era a mescla qlle se desejava uma modalidade de empresario que fosse constitufda por uma (mica pessoa mas com limitacao de responsabilishydade e facilidade na forma de constituicao como ocorre com as sociedades limitadas

Em sfntese sao estas as principalS caracteristicas da Empresa Indivishydual de Responsabilidade Limitada Ocorre todavia que tais caracterfsticas estabelecidas pela nova legislacao vem causando inumeras controversias

15 ROf N 43 - MarmiddotAbr2015 - PARrE GHAl- DOUfHINA

entre os operadores do Direito e os doutrinadores e estudiosos do direito empresariai Nilo obstante a cria~ao de um instituto que possibilitasse a limitacao de responsabiHdade para 0 exercicio individual da empresa e anshyseio antigo entre os doutrinadores patrios Nesse sentido ainda que objeto de divergeuromcias 0 novo ente com certeza e muito bem-vindo

2OS ASPECTOS CONTROVERTIDOS ACERCA DA EIRElI

Apresentadas as caracteristicas fundamentais da EIRElI conforme as disposicoes legais vigentes faz-se necessario apresentar as controversias que delas surgem A doutrina jurfdica diverge ja que algumas das caracteshyrfsticas da EIRELI supostamente vao de encontro a conceitos estabelecidos e institutos consolidados ao lange de seculos

Os principais aspectos controvertidos acerca da EIRELI dizem respeito as exigencias feitas pelo legislador para sua constituicao especialmente no que tange ao capital mlnimo a ser investido quem pode ser seu titu lar equal a sua natureza jurfdica

21 QUEM PODE SER TITULAR DE UMA EIRElI

Uma das questOes mais problematicas acerca do novo instituto diz respeito aqueles que podem ser titulares de uma EIRELI

Como visto 0 art 980-A do C6digo Civil disp6e em seu caput que a EIREU sera constitufda por uma Cinica pessoa titular de todo 0 capital social o DNRC por seu turno emitiu instru~ao normativa aprovando 0 Manual de Atos de Registro de Empresa Individual de Responsabilidade limitada23

a ser adotado pelas Juntas Comercias de todos os Estados 0 qual preve expressamente que apenas as pessoas fisicas maiores capazes e livres de

q1iili~querimpedimentos legais podemsertittJlar~sde jma BREtt

Ejustamente na redacao da lei e da instrucao normativa do DNRC que reside grande parte da controversia

Hi quem defenda a possibilidade de constituicao da EIRELI por pesshysoas juridicas sob 0 argumento de que se 0 texto legal nao taz qualquer proibicao de forma expressa referindo-se apenas a pessoa ff

nao poderiam os operadores interpretar a norma de forma a excluir algum sujeito de direishyto quando a propria norma nao 0 faz

------~~ -~--~----~----bull---shyda Instru~ao Normativa n 1172011 do Departamento Nacional de Registro do Comercio

em ltllttpwwwdnrcgovbrILegislacaQIIN20117202011pdfgt

RUE N 43 - MarmiddotAbdZ015 - PAHTf GERAl- DOUrnIlIA_

Nesse sentido

C6mefeitO(Jcaput do art 980-A do C6digo Civil expressamente prescreve que a EIREU sera constitllfda par uma unica pessoa sem excluir as pessoas jurrdicas nem restringir essa passibilidade exclusivamente as pessoas ffsicas Ora pessaa jurfdica tambem e pessaa (Mela 2011 p indeterminada)

Da mesma forma defende-se a ideia de que adotar uma interpretacao que restrinja 0 direito de uma pessoa juridica constituir uma EIREU seria afrontar a princfpio constitucional da legalidade uma vez que se a proibishycao nao esta expressa a pennissao estaria subentendida

[ J naa ha impedimenta legal para que uma pes sea juridica titularize 0 cashypital social de uma EIRELI e sob 0 primado de uma ordem jurfdica liberal afirma-se que 0 que nao esta proibido ou ordenade e permitido Esta leitura decorre diretamente do principia da legalidade consagrado na art 5Q

II da Constitui~ao Federal que estabelece que ninguem sera abrigado a fazer Oll

deixar de fazer aigllma coisa senao em virtude de lei (Lupi Schlosser 2012 p indeterminadal

Fabio Ulhoa Coelho (2012 p 409) tambem entende que a EIRELI para ele uma sociedade limitada unipessoal 24

pode ser constitufda tanto por s6cio Cinico pessoa fisica como juridica

No mesmo sentido sustenta-se que a intencao do legislador com a publicacao da lei nQ 124412011 teria sido justamente permitir a constituishycao de EIRElI por pessoa juridica ja que suprimiu da redacao original dos Projetos de lei nQs 46052009 e 49532009 a restritao que era expressa (Melo 2012 p indeterminada)

QO Projeton 46052009 de autoria do Deputado Marcos MonteSi

tinhapbr objetivoaindusao noC6digo Civil de 2002 do art 98S-A 0

qual teria a seguinte redacao A empresa individual de responsabilidade limitada sera constituida por um Cinico s6cio pessoa natural que e 0 titular da totalidade do capital social e que somente podera figurar numa unica empresa dessa modalidade (Brasil 2009 p indeterminada)

Ja 0 Projeto nQ 49532009 de autoria do Deputado Eduardo Sciarra intencionava a incillsao do art 980-A no C6digo Civil de 2002 com a seshyguinte redacao Qualquer pessoa ffsica que atenda ao disposto no art 972

-----~---------=~-~--~~--~---

24 Para Fabio Ulhoa Coelho (2012 p 409) a EIRELI deve ser considerada como urna sociedade limitada umpessoa Sustenta que a interpretaao sistematica do direito positivo conduz conciusao de que nao se trata de nova esp~cie de pessoa jurldica mas do nomen juris dado ~ sociedade limitada unipessoal Tratarshy-se-a melhor cia natureza jurldica da EIRELI no item 33 deste artigo

lU ROE Ndeg 43 - MarmiddotAbifZ015 - PARTE GEML - DOUIRIVA

que exena ou deseje exercer profissionalmente a atividade de empresario podera constituir Empreendimento Individual de Responsabilidade limitashyda (Brasil 2009 p indeterminada)

Assim ja que suprimidos os termos natural e ffsica que acompashynhavam a pessoa na redacao original dos projetos de lei a intencao do legislador so poderia ser permitir que a EIRELI fosse constituida tambem por pessoas juridicas (Rivas 2012 p indeterminada)

Outro argumento apresentado por aqueles que defendem a possibishylidade de a pessoa juridica ser titular de EIRELI ea fadlitacao da instalacao e do funcionamento de sociedades ernpresarias estrangeiras no Pais como forma de aquecer a economia nacional

Fundamental mencionar que a possibilidade de constituiltao de EIRELI par pessoas jurfdicas val facilitar de sobremaneira a instalaltao de sociedades estrangeiras no Brasil Estas ao consultarem advogados brasileiros sobre os procedimentos necessarios ao infcio do desenvolvimento de suas atlvidades no pais invariavelmente surpreendem-se com a quanti dade e complexidade dos procedimentos sendo que dentre eles urn que normal mente cria bastanshyte dificuldade e justamente a necessidade de indicaltao de uma pluralidade de s6cios na sociedade brasileira 0 que muitas vezes as obriga a indicaltao de pessoa ffsica com participaltao apenas simb6lica simplesmente para atenshyder ao formalismo exigi do (Martins Fllho sd p indeterminada)

Contra tal argumento Wilges Ariana Bruscato (2012) sustenta que embora investimentos estrangeiros sejam importantes para 0 desenvolvishymento economico do PaIS a EIRELI nao pode servir como uma forma de burlar a egisla~ao vigente que regulamenta a instalacao e 0 iuncionamento de socitgtdades estrangeiras no Brasil Para a autora trata-se de materia de ordem publica antesdesermateria de~ireito empresqrill e por esla nao pode ser superadclcOni atrid~5oili EIRELI

Tambem com base nos textos dos projetos que deram origem a lei em comento a autora conclui que a omissao dos termos natural ou flshysica para definir qual 0 tipo de pessoa poderia constituir EIRELI teria sido acidentai haja vista que nao houve qualquer justificativa para a supressao da restricao que era expressa nos textos dos projetos ou seja em momenta algum durante 0 tramite do processo legislativo justificou-se tal supressao no interesse de estender as pessoas juridjcas apossibilidade de constituicao de EIRELI (Bruscato 2012)

No mesmo sentido e 0 entendimento de Jacques Maika y Negri (2012 p indeterminada)

RUE N 43 - MarJIbrl2015 - PARTE GERAl- DOUTAINL

Analisado 0 processo legislativo fica claro que houve lapso por parte do reatqrct9Jrojeto substituto DeputadoMamelo Itagiba e nao supressao deshyliberada da expressao natural caso em que 0 parlamentarteria justificado a alteraltao e a sua intenltao

Esta foj tambem a conclusao aqual chegaram os jurislas integrantes do Conselho da Justica Federal que em sua V Jornada de Direito Civil ocorshyrida em novembro de 2011 emitiram 0 Enunciado nQ 4682~ segundo 0 qual apenas as pessoas ffsicas podem constituir EIRELI

Parece evidente que antes de consolidar-se entendimento acerca da possibilidade ou nao de pessoas juridicas virem a constitu ir empresas indivishyduais de responsabilidade limitada sera no Judiciario que esta problematica sera discutida em maior escala

Recentemente 0 Jufzo da 9il Vara da Fazenda Publica do Rio de janeiroRj proferiu decisao na qual deferiu em mandado de scguranca (Proshycesso nQ 0054566-7120128190001) impetrado em face da Junta Comershycial daquele estado medida liminar para que uma pessoa jurfdica levasse a diante 0 processo de transformalt50 de sociedade empresaria em EIRELI Trata-se de sociedade limitada composta por um socio pessoa juridica e um socio pessoa ffsica e este ultimo retirou-se da sociedade A pretensao posta em juizo era de que a sociedade limitada pudesse ser transformada em EIRELI como resultado daiconcentraltao das quotas sociais em um dos s6cios no caso 0 s6cio pessoa juridica 0 pedido foi negado pela Junta Coshymercial do Estado do Rio de Janeiro sob a alegaltao de que a transformacao de uma sociedade empresaria em EIRELI no caso de inexistencia superveshyniente de pluralidade de socios e possivel desde que 0 socio sobre quem se concentre a totalidade das quotas sociais sejaumapessoa f[sica e nao illrfdGa 0 pedido liminar vertidoem sooede mandadodemiddot seguran~a foi aeferido tendo 0 juizo da 9~ Vara da Fazenda Publica do Rio de JaneiroRJ sustentado que nao existe impedimento legal para que 0 titular da EIRELI seja uma pessoa juridica

Recurso de agravo de inslrumento foj interposto pela re (0016183shy2720128190000) e este foi provido para anular a decisao agravada mas reconhecendo a incompetencia do juizo declinando da mesma para a Jusshytica Federal 0 processo que recebeu 0 nQ 0008231-2720124025101 tramitou perante a 12~ Vara Federal do Rio de Janeiro Em que pese tenha sido ratificada a decisao da justica estadual para conceder a medida limishy~---~~-- ------------- 25 Enunciado nO 468 do CJF Art 9SOmiddotA A empresa individual de responsabildade limitada sO poder~ S8r

conslitufda por pessoa nattJral (BraSil 2011 p indetemlinada)

1 ROE n 43 - MarmiddotAhrIZOI5- PARlE GERAl- DOUTBINA

nar pleiteada a sentenca denegou a seguranta sob 0 fundamento de que embora no tramite legislativo 0 termo natural tenha sido exduido do art 980-A do Codigo Civiftodomnteudo daLei nlt1 124412011 que criou a EIRELI foj engendrado para abarcar apenas a possibjljdade de que seu titular fosse pessoa natural Da decisao nao foi interposto recurs026 bull

Como se percebe embora haja discussao doutrinaria ace rca da possishybilidade de a pessoa juridica ser titular de uma EIRElI ha que se considerar que diante do posicionamento do DNRC esposado na IN 1172011 bem como do Conselho da Justica Federal atualmente ainda que na pratica prevalece 0 entendimento de que apenas pessoas fisicas podem constituir EIRElI

22 AEIHELI EO CAPITAL MiNIMO PARA SUA CONSTITUICAO IN)CONSTITUCIONAUDADE DA NORMA

A exigencia de capital minimo para a constituicao da EIRElI em valor nao inferior a 100 vezes 0 maior salario-minimo vigente no Pais tambem e controvertida

No minimol e possivel vislumbrar tal exigencia como uma forma de trazer seguranta ao instituto ja que com a constituicao da EIRElI 0 emshypreendedor goza de uma separacao entre 0 patrimonio afetado ao exercfcio da atividade e 0 seu patrimanio pessoal A exigencia de urn capital minimo pode ser vista como uma forma de garantir 0 cumprimento das obrigac5es assumidas no exercfcio da atividade Uma garantia para eventuais credores da EIRUI

Em outras palavras 0 estabelecimento de um capital minima e necesshysario para dar credibilidade ao instituto recem-criado ja que com a consshytituicao da EIRELI ha uma autonomia patrimonial ha uma separacao entre o patfifl~niHi~Rif~8qI~middotatJvidade ecooomieuroa--e-G-pattimQlli0partiS2ulill~Qrmiddot titu lar (Pessoa 2011)

Sao muitos no entanto os argumentos contrarios aexigencia imposta pelo texto legal

Inicialmente destaca-se que nao existe via de regra capital minimo estabelecido para a constituitao de sociedades ou registro de empresario individual no Brasil exigindo-se tao somente uma adequacao do capital investido ao objeto social motivo pelo qual a exigencia feita somente para a EIRElI e questionavel (Ramos 2012 p 43)

26 Integra da decisaa pode ser visuallzada em lthttpJprocwebjfrjjusbrportalconsultaresconsprocaspgt

RO N 43 - MarmiddotAbrl2815- PARlE GEnAL - DOUfRINL

Com efeito

Anenhumaoutra forma de exerc1cioempresarial no pals se faz a exigencia exceto em casas excepcionais de um minima de capital Como sustentar essa regra para a EIREU 1550 infringe a igualdade de tratamento que deve ser dada a todos genericamente A desigualdade de tratamento existe por certo sem arrostar a isonomia nos casos em que haja no entanto justificativa para tanto (Bruscato 2011 p 29)

Este e tambern 0 entendimento exposto na Atao Direta de Inconstishytucionalidade nQ 4637 proposta pelo Partido Popular Socialista perante 0

Supremo Tribunal Federal a qual ainda se encontra pendente de julgamenshyto Na aludida ADln defende-se que condicionar a constituiltao de uma EJRElI a integralizaltao de um capital minimo sem qualquer motivo evidenshyte e relevante constituiria afronta ao princfpio da isonomia bem como ao fundamento da livre iniciativa2

expresso no art 17028 caput da CF1988 (Brasil2011)

Segundo 0 partido autor da ADln ao estabelecer um capital no valor de 100 vezes 0 salario-minimo vigente no Pais 0 legislador acabou ferindo o prindpio da igualdade Sustenta-se que para a constituiltao de uma socieshydade com socios de responsabilidade limitada como por exemplo a socieshydade limilada nao existe exigencia de capital mlnimo logol nao eposslvel faze-Io em relarao a EIRElI ja que segundo exposto naacao ambas sao pessoas jurfdicas de identica feiltao no que diz respeito a responsabilidade dos proprietarios (Brasil 2011 )

Outro argumento contrario ao capital minimo exigido para a constituishycao da EJRElI diz respeito acapacidade econamica daqueles que poderiam ser beneficiados com a criacao danolafi~ura isto e os pequenos empre~ endedores que antesdacriacaoddriYovoenteou empresariavam de forma individual sem limitacao de responsabilidade e separacao de patrimonio ou necessariamente tinham de estabelecer sociedades apenas para gozar da autonomia patrimonial e assim reduzir os riscos do empreendimento Nesse

27 A livre iniciativa segundo Pedro le~7a e um dos pilares da ordem econOmica ao lado da valoriza~ao do Irabalha humano (lenza 201 p 984) Inocsectncio Martires Coelho citando Miguel Reale explica que livre iniciativa e livre concorrencla silo conceitos complementares mas essenciamente distinlos A primeira nao 0 senaa a proje~ao da liberdade individual no plano de produ~ao citula~ao e distribuii8o das riquezas assegurando nao apenas a livre esoolha des proflssoes e das atlvidades econ8mlcas mas tambem a autonoma elei~ao dos processos ou meios julgados mais adequados aconsecu~iio des fins visados liberdade de fins ede maios informa aprincipia de livre inicleliva conlerindo-Ihe um valar primordial como results da interpreta~ao conjugada dos cftados arts 1deg e [70 (Reale apud Mendes Coelho Branco 2010 p 1409)

28 Art 170 da CF11988 A ordem econOmica fundada na valoriza~~o do trabalho humano e na livre iniciativa tern por tim assegurar a todosexist~ncia digna conforme es ditames da Justia SOCial observados as seguintesprinclpies [J (6rasll 1988 p indeterminada)

liU RDE 43 - MarmiddotAbr2015 - PARTE GEllAl- OOUfOINA

caso a sociedade era constitufda normalmente com pessoas pr6ximas mas sem nenhum interesse na atividade as quais figuravam nocQotratosocial

como titulares de percentual minima das quotas sociais constituindo as chamadas sociedades de fachada ja mencionadas29 bull

Nesse ponto pode-se dizer que apesar das crfticas disparadas ao novel instituto a EIRELI mostra-5e como instrumento eficaz para coibir a praticc comumente adotada no Brasil de conslituiyJo de sociedades em que um dos s6ci05 nao tem qualquer participa)ao na gestao do empreendishymento formada com 0 dnico objetivo de limitar a responsabilidade do emshypresario que na pratica exerce a empresa individualmente (Ramos 2012 p 40-41)

Por essa razJo e que uma vez sendo 0 objetivo da criaCJo da EIRELI estimular 0 exercicio de atividade empresaria especialmente por pequenos empreendedores 0 valor de 100 (cem) vezes 0 salario-minimo mostra-se desproporcional 1550 porque grande parte dos empreendedores que podem se enquadrar na EIRELI iniciam suas atividades com capital bastante inferior Afirma-se que 0 capital minimo estabelecido pelo legislador esta longe da realidade dos pequenos empreendedores brasiieiros e caracteriza desresshypeito ao principio da livre iniciativa Assim 0 legislador patrio nao teria la5shytreado a fixayao deste valor em estudos sobre a capacidade econ6mico-fishynanceira dos provaveis interessados nesta especie societaria (Pessoa 2011 )

Estes sao tambem os argumentos que embasam a justificativa do Proshyjeto de Lei nQ 24682011 de autoria do Deputado Carlos Bezerra Segundo o parlamentar a exigencia feita pelo legislador retira dos pequenos empreshyendedores a possibilidade de coostituiyao de lima EIRELI haja vista que 0

valor exigido na Lei 0 2 124412011 supera significativamente 0 valor geshyralmente empregado para a constitlliyao dasPeqU~PilSempresas Por essa raz~(jo aludidoprojeto tem como um (feseusigtbJetivosillterar 0 art 9~O-A do Codigo Civil para reduzir de 100 para 50 salarios-mfnimos 0 capital minima exigido para a constitui~ao de lima EIREU (Brasil 2011)

Seguindo mesmo entendimento

29 A exist~ncia das chamadas sociedades de fachada Ii conhecida desde ha multo olio apenas pela dovtrina mas tam~m pela junsprud~ncia de nossos trlbunais 0 reconhecimento desta situa~ao se faz relevante tanto para que possa coibir tal praliea quanto para proteger a indivlduo que comprovadamente jamals exerceL qualqller poder de administra~ao sobre a sociedade da responsabllizagao pelos atos praticados indlvidualmente pelo s6cio detentor da quase totalidade das quotas sociais A tItulo de exemplo Execu~ao fiscal E aparente a socledade em que a imensa maioria das quotas pertenee a uma s6 pessoa flsiea Sltua~ao que mascara a atividade de urn comereiante em nome Individual Indelerlmento do pedido de penhora sobre bens do s60lo de fachada Decisao acertada potque de acordo com a realldade fatlca Agravo improvldo (TJRS AI 591020177 1 ccrv Rei Jose Velllnha de Lacenla J 21051991)

30

ROE N 43 - MarmiddotAlIr2n15 - PAUn GfRAl- OUUmINL

Deveria ser desnecessario diz~-Io mas tal materia nao poderia jamais ser objeto de decisao arbitraria sob pena de frustraiOobjetivo mesmo da norshyma e ll1alferir a Constituirao 0 numero 100 ninguem negara soa bem aos ouvidos mas isso nao deveria bastar para inseri-Io em texto legal Se de fato sua eleirao foi desacompanhada de qualquer embasamento tecnico e passrvel demonstrar-se inclusive mediante a colheita de dados estatisticos e indicacoes de direito comparado a inconstitucionalidade decorrente da violaSao aos princfpios da isonomia e da razoabllidade Por que se negar ao cidadao que dispanha de 50 salarios-minimos 0 direito de constituir uma EIREU quando em Portugal eassaz inferior 0 montante necessario para faz~shy-10 e no Chile sequer existe exigencia dessa especie (como alias previa 0

texto primitivo do PU e questao cuja resposta se desprovida de fundamenshytos s6lidos atesta a contrariedade aos supracitados principios (Nadu sd p indeterminada)

A exclusao de grande parte dos empreendedores do pafs com a exishygeurogtncia de capital mlnimo alto e tambem argumento da ADln 4637 ja que o objetivo primordial da norma recem-criada e fomentar 0 desenvolvimento ecoo6mico e social do pais Sustenta-se que tal objetivo esta sendo prejudishycado oa medida em que a legislacao retira de pequenos empreendedores a possibilidade de lanyarem-se no mercado economico de forma regular saindo portanto da informalidade (Brasil 2011 p indeterminadal

Corroborando 0 entendimento aeima Haroldo Malheiros Duclerc Vercosa (2011 p indeterminada) afirma que

rJa crftJca que se faz eque 0 capital mlnimo exigido de tal sociedade deixa a margem urna parcela substancial dos microempresarios patrios os quais continuarao dentro do regime geraf de respollsabilidade patrimonial pessoal (e do risco correspondente) sem acesso ao patrimonio ~eparadoqlleeiQ ltI

serqiad9para q EIRElI a naoser par alguma fugapararrlecanisfnocorno deg dlc6nstitui~ao de uma sociedade limitada com outro socio este detentor de

minima expressao do capital social Mas tal recurso muito utilizado apreshysenta custos que 0 microempresario dificilll1ente poderii suportar

Ainda deve-se considerar que a vinculacao do salario-mfnimo para qualquer fim e expressameote vedada pel a Constituicao Federal de 1988 em seu art 72

IV30 Nesse passo ainda que se considere posslvel Oll ate mesmo necessaria a exigencia de lim capital minimo para a constituicao de

Art lO da Cf1988 Sao direlos dos tlllbalhadores urbanos e rurais aiem de outros que visem il melhoria de sua condl~ilo social L1IV - saIMiomiddotInnlmo lixado em lei naeionalmente uniftcado capaz de arender a suas neeessidades vitais Mslcas e ~s de sua famflia com moradla alilnenta~iio eduoaao saude lazer vestuario higiene transporte e prevldencla social com reaJustes perlMieas que lhe preservem degpoder aquisitivo sendo vedada sua vineula~ilo rara qualqver 11m l (Brasil 1988 p indeterminada)

N N bullbullbullbullbullbull HOE N 43 - MarmiddotAbr2015 -AlIT GERAl- DOUTRIIfA

uma EIRELI este capital em regra nao poderia ser calculado com base no salario-minimo

5eguindo tal raciodnio e por entender que a parte final do art 980shyA do Codigo Civil de 200212 fere 0 disposto no art IV da Constituishylt030 Federal entre os argumentos utilizados na ADIn 4637 esta 0 fato de que 0 eonstituinte com 0 objetivo de evitar que os reajustes peri6dicos do salario-minimo que visam a preserva-ao de seu poder aquisitivD sofram influencias de interesses diversos daqueles previstos na Constitui-ao vedou expressamente a villculacao do salario-minimo para qualquer finalidade (Brasil 2011 p indeterminada)

Ainda eonsiderando a oscilacao que 0 reajuste do salado pode imshypliear a I Jornada de Direito Comercial do Conselho da Justi-a Federal ocorrida em outubro de 2012 no 5TJ definiu por meio do Enunciado nQ 4 que llma vez subscrito e efetivamente integralizado 0 capital da empresa individual de responsabilidade limitada nao sofrera nenhuma influencia deshycorrente de ulteriores alteracoes no salario minimo

Nao obstante os argumentos contrarios e a ADln pendente de julshygamento vige hoje a exigencia de capital minimo para a eonstituirao da EIRELI fixada com base no salario-minimo nacional vigente na epoca da constitu icao

23 EIRElI EMPRESARlO InDIVIDUAL SOCIEDADE EMPRESARIA UlflPESSOAL OU UM TlPO SUI GEMERIS

DE EMPRESARIO

o legislador batizou 0 novo instituto de Empresa Individual de Resshyponsabilidade limitada Em primeiro lugar ha que se considerar que resta eonsagrado na legisla-ao na doutrina e najurisprudencia que empresae uma atividade exerddapelo empresarilte nao uma pessoa urn sujeito de direitos (Moraes 201 0 p 40 Diante disso a primeira crltica feita ao legisshy

31 0 STF ja firmoL entendimento em divesos julgadas no sentido de que e proibida a vinculaao do sailtirio minima para qualquer finalidade Dana moral FiKa~ilo de indenizaltao com vinculaao a salario-minimo Vedaao constitucional Art 7deg IV da Carta Magna 0 Plenario desta Corte ao julgar em 01101997 a ADln 1425 firmou a entendimenro de qle ao estabelecer 0 art 7deg IV da Constitui~iio que e vedada a vincula~o ao salaria-mlnima para quaiquer fim quis evitar que interesses estranhos aos versados na norma constitucional venham a tel influencia na filCll~o do valor minima a ser observado No caso a indenizaltiio par dana moral fo fixada em 500 salarios-minimos para que inequivacamente 0 valor do salilria-mlnlmo a que essa indenizaao esta vinculado atue como fator de atualizaao desta a que IS vedada pela citarlD dispositivo canstitucional Outros precedentes desta Corte quanta 11 vedaao da vinculagao em causa ReculSo extraordinario conhecido e provida

32 Art 98QA do CCB A empresa individual de responsabilidade limitada sera constituida por uma dnica pessoa titular da totalidade do capital social devidamente integralizado que nao sera inferior a 100 (cern) vezes 0

malar salMo-mfnimo vigenre no Pars (Brasil 2002 paginaltaa indeterminada)

33

ROE N 43 - MarmiddotAbr2015 - PARlE GERAl- DOUmIIlL 1

lador infraconstitucional acerca da natureza juridica da EIRELI diz respeito asuafaLta detecnica para dar nome ao institutomiddot recem~criado chamando de empresa uma especie de empresario (Ramos 2012)

Ora se empresa e uma atividade e nao um sujeito de direitos a falha tecnica legislativa contribtli para a compreensao inadequada que cornushymente se faz da empresa ou seja confundindo-a com a propria pessoa dica ou ainda com 0 estabelecimento empresarial Por essa razao a crftica vem no sentido de que a terminologia mais adequada seria empresario e nao empresa

Nominada de forma equivocada ou nao uma figura juridica capaz de conferir a possibilidade de exercfcio da empresa por uma s6 pessoa ffsiea com separa-ao de patrimonio e limita-ao de responsabilidade e como ja dito desejo antigo da dOlltrina brasileira Como exemplo epossivel citar 0

projeto de Lei nil 201 de 194733 apresentado pelo entao Deputado Fausto

de Freitas e Castro 0 qual dispunha em seu art 12 que qualquer pessoa capaz de exereer 0 eomercio podera constituir empresa em nome individual limitando a sua responsab[lidade pelos neg6cios da mesma ao valor do capital declarado (Martins Filho 1950 p 64-66)

Antonio Martins Filho em cuja obra Umitatiio da responsabilidade do comerciante individual analisa 0 aludido projeto de lei afirmava

A empresa individual de responsabilidade limitada constituindo a ultima fase do processo evolutivo da limitaltao dos riscos e insistentemente redashymada pelos agentes da atividade econ6mica dos novos tempos Recusando-a de direito nao evitara 0 legislador a existencia de fato desse tipo de empresa que passa a funcionar sob forma de sociedade fictfcia ou unipessoal (Martins Filho 1950 p 9)

ja naquela epoca ainda sob a vigencia do Codigo Comercial de 1850 e do C6digo Civil de 1916 0 autor ressaltava a importancia da limita~ao de responsabilidade daquele que era conhecido como comerciante individual (hoje empresario individual) bem como reconhecia a existencia de socieshydades constitufdas apenas formalmente para 0 fim de aquisi=ao de personashylidade jurfdica pr6pria e separa-ao de patrimonio a partir do que concluia que apenas a cria-ao da empresa individual de responsabilidade limitada

Projeto de Lei nO 201 de 1947 anexo abra Limitarl0 de resJOflsabilidade do comerciante individual MARTINS FILHO AntOnio Anais do Congresso Jurfdico Nacional Comemorativo do Cinquenlenario da Faculdade de Direito de Porto Alegre Revisa de Fecudade de Direito de Porto Alegre Porto Alegre URGS maio 1950

middot RDE II U - MarmiddotAer201S - PARrE GER~L - DoumlNA

serla capaz de acabar com tal pratica tao comum no Brasil (Martins Filho

1950)

Em 2005 Wilges Ariana Bruscato tambem assinalava a importanshycia do exercicio individual da empresa com limita=ao de responsabilidade como forma eficaz de fomento da economia

jft que 0 modus vivendi de nossa sociedade atual baseia-se em resultados economicos e relevante acenar com contribuilt6es para 0 desenvolvimento da atividade empresarial feita de maneira singular como forma de incentivar as pequenas iniciativas que num 6istema de colmeia representam a agreshyga~ao de vaores sociais importantes como 0 emprego 0 recolhimento de tributo a disseminaltao tecnologica entre outros ou seja 0 favorecimento de pequenas iniciativas que aquecem a economia (Bruscato 2005 p 75)

No mesmo sentido Felipe Ferreira Machado Moraes (2010 p 37-38) sustenta a necessidade de limita=ao da responsabilidade do empresario inshydividual como forma de cumprir os objetivos do Estado Democratico de Direlto tais como expressos na pr6pria Constitui=ao Federal de 1988

Em um Eslado Democratico de Direilo em que a propria Constituiltao da Republica contempla dispositivos que pregam 0 desenvolvimento nacional a livre iniciativa e inclusive 0 tratamento favorecido as empresas de pequeno porte nao parece prosperar 0 entendimento de que 0 empresario individual deve ter sua responsabilidade ilimitada respondendo com a totalidade de seu patrimonio particular (civil) por eventuais insucessos de seu empreendishy

mento

o anseio pela limitarao da responsabilidade no exerdcio individual da ernpreSq~Iil~re ()s~doutrinadores patrios baseava-se frequenteniente experiencia de outros paises que regulamentaram em sua ordem interna diversas formas de possibilitar a limitarao de responsabilidade daquele que

deseja empresariar individualmente

Na Alemanha como visto surgiu 0 primeiro modelo de sociedade por quotas de responsabilidade limitada em 1892 Em 1981 quase um 56shyculo depois entra em vigor a lei que alterou a legislarao das Sociedades por Quotas de Responsabilidade limitada para introduzir no ordenamenshyto juridico alemao a Sociedade por Quotas de Responsabilidade Limitada Unipessoal Passou-se enUlo a permitir a constituirao de Sociedades por Quotas de Responsabilidade Limitada por apenas uma pessoa (ffsica ou jushy

ridica) (Abrao 2000 p 6)

ROE N 43 - M8rmiddotAb~2015 - PARr CEIlAL - DOUTRlIIAmiddotmiddotmiddotmiddot

Tambem na Fran=a ap6s a regulamenta=ao clas sociedades por quoshytas de fesponsabiJidade Itmitadaiolintroduzida a limitada unipessoal em 1985 permitindo iguafmente a constituirao de sociedades unipessoais (Abrao 2000 p 12)

Ja em Portugal existem duas possibilidades para 0 exercfcio indivishydual da empresa Em 1986 0 Decreto-Lei nQ 2481986 criou a figura do Esshytabelecimento Individual de Responsabilidade limitada EtRL Trata-se de figura na~ dotada de personalidade juridica constilufda atraves de um pashytrimonio de afetarao por meio do qual uma pessoa fisica explora uma ativishydade economica empresarial Para a constituirao de um EIRL e necessario o investimento minima de euro 5000 (cinco mil euros) Ja a segunda forma de empresariar individualmente em Portugal com separarao patrimonial e limitarao de responsabilidade foi regulamentada 10 anos ap6s 0 EIRL por meio do Decreto-Lei nil 2571996 a Sociedade Unipessoal par Quotas Tal sociedade e constitufda por uma 56 pessoa (fIsica OU juridical titular de todo o capital social e cuja responsabllidade esta limitada ao capital investido sendo este livremente fixado pelo s6cio ou seja nao ha exigencia de capital mlnimo para a SUQ ao contrario do que ocorre com 0 EIR134

bull

Na experiencia brasileira entretanto ate a ediraa da Lei nQ 124412011 nao havia possibilidade de exercer uma atividade econoshymica organizada de forma individual sem 0 camprometimento da totalidade do patrimonio do empresario A sociedade unipessoal admitida em palses europeus desde meados de 1980 somente era permitida no Brasil em duas hip6teses excepcionais quais sejam a subsidiaria integral prevista na Lei das Sociedades Anonimas (Lei nQ 64041976)35 e a unipessoalidade ternshyporaria da sociedade pelo prazo de cento e oitenta dias conforme dispoe 0

art 1033 IVJ6 do C6qigoCiv

Assim no Brasil ap6s anos de discussao doutrimiria e de entendishymento quanta a necessidade de cria=ao de um instituto que viabilizasse 0

exercfcio da empresa de forma individual sem que isso acarretasse necessashyria risco ao patrimonio pessoal do empresario 0 legislador infraconstitucioshy

34 Informa~aes dlsponiveis em lthttpwwwpot1lJgalgIObalptPTlnvestirPortugaguiadoinvestldorICriareinstalar PaginaSTipos5ociedadesComerciais aspxgt

35 Art 251 da LSA A companhia pode ser constilulda mediante escrilura publica tendo como unico acionisa sociedade brasileira sect 1deg A sociedade que subscrever em bans 0 capital de subsidiaria inlegral devera aprover o laudo de avaliaifio de que trata 0 art 8deg respondendo nos lermos do sect 6 do art 80 e do art 10 e seu panlgrafo Llnico sect 2deg A companhia pade ser converlda em subsidiara integral mediante aquiSitao por scciedade braslieira de lodes as sues ayoes ou nos lermos do art 252

36 Art 1033 do eC8 Dissolve-se a scciedade quando oeorrer 11 IV a falla de pluralidede de socios nila reconstltufda no prazo de cenro e oitenla dias L J

ROE Ndeg 43 - MarmiddotAbr2015 - PARTI GERAl- OUIRINA

nal consagrou a flgura da Empresa Individual de Responsabilidade Limitada a EIRELI

Quando inserida no ordenamento juridico a EIRElI gerou controvershysias acerca da sua natureza juridica Ha que diga tratar-se de empresario inshydividual por outro lado ha que afirme tratar-se de uma sociedade limitada unipessoal No entanto hii tambem uma terceira corrente que afirma ser a EIRELI uma nova especie de pessoa juridical um ente distinto do empresario individual e das sociedades empresarias

A corrente menos express iva considera a EIRELI uma nova modalishydade de empresario individual ou seja um empresario individual de resshyponsabilidade limitada Para tal corrente 0 empresario individual ate en tao conhecido aquele que e pessoa fisica permanece existindo passando a existir 0 empresario individual pessoa jurfdica

Nesse senti do

Apesar de ser uma pessoa jurfdica a EIRELI nao euma sociedade empresaria mas sim uma forma diferenciada de constituiyao de empresario individual (que ao contrltirio daquela e pessoa natural) (Cardoso 2012 p indetermishynada)

Outra corrente mais expressiva e a capitaneada par Fabio Ulhoa Coelho (2012 p 409) para quem a EIRELI e uma sociedade empresaria definindo-a como uma sociedade limitada unipessoal na qual apenas uma pessoa (rfsica ou jurfdica no entender do autor) sera titular da totalidade das quotas socials 0 autor salienta que 0 sect 6Q do art 980middotA do C6digo Civil pershymite concluir que a EIRELI eespecie de sociedade limitada pois se submete as regras deste tipo societario

Da mesma forma Gustavo de Alvarenga Batista (2012) defi ne Em terrnosmiddotpraticos aEIRELI possibilitaqueiumemprksaflopessoa constitua uma sociedade unipessoal na qual fica sua responsabilidade atreshylada ao valor do capital por ele integralizado

Ja Andre Luiz Santa Cruz Ramos (2012) entende que 0 legislador criou uma nova figura juridica distinta da sociedade eillpresaria e do empresario individual mas com caracteristicas semelhantes a ambos No entanto 0 aushytor entende que foi um equivoco a cria~ao de um novo tipo de pessoa jurfshydica Sustenta que 0 legislador poderia tao somente ter consagrado 0 empreshysario individual de responsabilidade limitada que continuaria sendo uma pessoa fisica mas gozando da separa~ao entre 0 seu patrimonio pessoal e aquele afetado ao exercfcio da atividade economica ou ainda consagrado

ROE N 43 - MarmiddotAbrI21115- PARrE GERAl- OUTRINL

efetivamente a sociedade empresaria unipessoal bastando para tanto inshycluirentreasEseecies de sociedades ja existentes a sociedade constitulda par um 6nico s6cio titular de todas as quotas Em qualquer dos casos a insenao feita no art 44 do C6digo Civil seria desnecessaria

Do mesmo entendimento compartilha Wilges Ariana Bruscato (2011 p 10) que afirma que acaso a EIREU fosse uma sociedade unipessoal nao haveria necessidade de inclusao do instituto no inciso VI do art 44 do C6shydigo Civil ja que as sociedades ja estao previstas no inciso II do mesmo dispositivo Da forma como posta nao existe sociedade e silll um tipo sui generis no direito patrio Ainda afirma-se que

a EIREI nao tem natureza juridica de sociedade empresaria ao contrario do que muitos ainda defendem mas trata-se de uma nova categoria de pessoa jurfdica de direito privado que tambem se destina ao exercfcio da empresa Tanto que a Lei nQ 124412011 incluiu as empresas individuais de responsashybilidade limitada no rol de pessoas jurfdicas de direito privado do art 44 do C6digo Civil (inciso Vi) Ademais a lei nQ 124412011 ao inserir no C6dishygo Civil 0 art 980-A teve 0 cuidado de topograficamente tambemcriar um novo titulo (mulo I-A Da Empresa Individual de Responsabiidade Umitashyda) situado entre os Titulos I e II que tratam respedivamente do empresario individual e das sociedades empresarias (Pinheiro 2011 p indeterminadal

Nao obstante os variados entendimentos ha Uma tendencia de que a EIRELI seja efetivaillente compreendida como uma nova especie de pessoa juridica nao se tratando de empresario indiVidual tampouco de sOliedade empresaria ainda que unipessoal Tanto e assim que na ja mencionada I Jarnada de Direito Comercial do Conselho da Justi~a Federal foi aprovado o Enunciado nil 3 com a seguinte redacao A Empresa Individual de Resshyponsabilidade Limitada - ElRELI nao e sociedade unipessoa mas um novo ente~j_stjn~q da pessoa doempresarioe da sociedade eiTlpresfiriao qual seguia ciresmmiddota Iinha do Enunciado nil 46937 da V Jornada de Direito Civil que afirma que a empresa individual de responsabilidade limitada (EIRELI) nao e sociedade mas nova ente jurfdica personificado

24 AEIRELI EO PRomo DE NOVO CUOIGO COMERCIAl EXTINCAO DO INSTITUTO [ CRI~O DE f40VAS FIGURAS1

Tramita no Congresso Nacional 0 Projeta de Lei nil 15722011 que visa a instjtui~ao de um novo C6digo Comercial com a consequente revoshy

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37 Enunciado n 469 do elF Arts 44 e 980middotA A empresa individual de responsabilidade Iimltada (poundIRELI) olio Ii sociedade mas novo ente jurrdico personificado

Ii r~ RDE Nmiddot 43 - MarmiddotAbrf2615 - PARTE GERAl- OnUIRIUA

gasao de diversos dispositivos do atual C6digo Civil bem como de legislashysoes esparsas

o projeto apresentado pelo Deputado Vicente Candido baseado em minuta elaborada por Fabio Ulhoa Coelho na obra 0 futuro do direito coshymercia tem como uma de suas justificativas a sistematizasao revisao aperfeiltoamento e modernizasao da disciplina jurldica do estabeledmento empresarial do comercio eletronico da concorrencia desleal das condutas parasitarias da escrituratao mercantit do exerddo individual da empresa e da sociedade unipessoal (Brasil 2011 p 118)

Dito projeto nao traz em seu texto referenda expressa ao instituto recem-criado a EIRELI No entanto consagra duas figuras que merecem especial atensao sao elas 0 empresario individual em regime fiduciario e a sociedade Iimitada unipessoajJs

o empresario individual tal como e conhecido atualmente nao deishyxa de existir na redasao do projeto de NCCom sendo disciplinado entre os arts 14 a 32 do projeto de lei No que tange as suas caracteristicas esshysenciais 0 empresario individual permanece sendo pessoa ffsica que exershyce singularmente uma empresa sem limitaltao de responsabilidade nao se submetendo ao prindpio da autonornia patrimonial

Entretanto alem do empresario individual ate 0 momenta conhecido o novo C6digo Comercial visa a instituir outras duas formas de exerdcio individual da empresa como jei dito as quais possibilitam a separaSao de patrimonio e limitaltao de responsabilidade do empreendedor 0 empresashyrio individual que exerce a empresa em regime fiduciari039 e a sociedade limitada unipessoal

Da leitura do projeto infere-se que 0 empresario individual ao reshyquerer 0 seu registro comeh~rfipfesarioquntamp ao 6rgaocompetente poderamiddot fazer uma declaratao na qual conste que 0 exercicio da empresa dar-seshy

38 Na verdadc ha que se pontuar que 0 projeto de lei esta baseado em texto do jurisla Fabio Ulhoa Coelho a entende que a EIREU euma socied8de limiteda unipessoal e n~o ume nova especie de pessoa juridica eo fato pelo qual nao esta ela prevista nesse lormato no relerido projeto

39 A fiducia tem origem no direito romano ral institwlo caraclerlzamiddotse pela contiana e boa-lEi existentes entre fidLicianle e fiduciario A propriedade fiduciira por sua vez caracteriza-se quando determinado bern ou conjento de bens e destinado II gamntia de certo(s) credor(es) ou scja os bens constltuldos como propriedade fiduciaria de destlnam a garantia do cumprimento de determlnadas obrlgaltOes do liduciaro perante 0 fiduciante nao podendo ser objeto de expropriaao Pilra a adlmplemenlo das obriga6es pessoafs do fiduciiirio (Restlffe Neto Rest1ffe 20001 Segundo a C6digo Civil de 2002 em seu art L35 considerashysa propriedade fiducjaria a proprfedade resoliNel de caisa m6vel imungfvel Que 0 devedor com escopo de garanta translere ao credor Para maior aprofundamento acarce do tema vide SILVA ltJiz Augusto Beck da Alienaliio fiducitlfia ampm garantia 4 ed RIO de Janeiro forense 1998

RDE N 43 - Mar-AbtfZ015 - PARrE GERAl- DOUTRINL

-a em regime fiduciario Com a referida dedaraltao 0 empresario devera constitJir 1m patrimbnio relaeuroionado aattvrdade empresarial que pretende exercer absolutamente separado de seu patrimonio pessoaL

Assim uma vez cumpridos os requisitos 0 empresario individual desshysa modalidade (que continuaria sendo pessoa fisica) nao poderia ter seu patrimonio pessoal expropriado para 0 cumprimento das obrigalt6es assushymidas no exercicio da atividade salvo se conforme disp6e 0 sect 29 do art 32 do NCCom se tratarem de obrigaltoes de natureza trabalhista e triblltaria relacionadas ou nao com a empresa Trata-se pois do estabelecimento de um patrimonio de afetaltao que serviria de garantia aos credares do em preshysarlo individual em vez de totalidade do seu patrimonio

A outra forma de exercfcio singular da empresa proposto pelo projeto em comento e a constituiltao de uma sociedade limitada unipessoal Ao tratar das sociedades em especie 0 projeto preve a existencia de cinco tipos societarios (sociedade anonima sociedade limitada sociedade em nome coletivo sociedade em comandita simples e sociedade em comandita par alt6est todos os tipos ja cOllhecidos e previstos no atllal C6digo Civil

A novidade e uma pequena alteraltao feita no ambito das sociedades limitadas para no art 192 dispor que a sociedade limitada sera constishytufda por um ou mais s6cios ou seja retira da definiltao de sociedade a pluralidade dos s6cios

Todavia algumas consideralt6es devem ser feitas acerca do projeto em questao no que tange a sua relaltao com 0 instituto ora estudado

Conforme ja referido a limita~ao de responsabilidade do empresario individual era esperada pela doutrina patria ha muito tempo e a EIRELI foi a

l~gislativaelJcontrada para dar res posta aosansetoSexistentes

Com crfticas ou nao fato e que a EIRELI hoje majoritariamente conshysiderada como uma nova especie de pessoa juridica concebe a limitaltao de responsabilidade no exercfcio individual da empresa e desde 0 infcio de sua vigencia as estatisticas mostram que esta nova forma de exercer a empresa vem crescendo em todo 0 Pafs S6 em Sao Paulo nos primeiros tres meses de sua existencia a EIRELI jii representava mais de 4 do total de registros realizados conforme informaltao publicada pela Junta Comercial do daquele Estad040bull

40 Para majores Inlormacentes e dados estatistlcos vide htlpwwwjucespJazendaspgovbr

RUE III 43 - MOImiddotAbr2U15 - PARTE GERAl- nOUTHINA

Nesse passo cumpre questionar qual sera 0 futuro da EIRELI se 0 Proshyjeto de Lei nQ 15722011 vier a ser aprovado 0 que fazer com as EIRELIs ja existentes ao tempCl da publicacao do novo C6digo Comerdal Sera necesshysaria a criacao de regras de transicao ou os titulares de EIRELI simplesmente serao obrigados a requerer sua transformacao perante as Juntas Comercias para uma das duas modalidades criadas pelo novo C6digo

Certo e que 0 projeto de Novo C6digo Comercial contempla de certa forma a EIRELI mas colocando-a definitivamente como uma especie de sociedade limitada a sociedade limitada unipessoal No entanto ao propor llm projeto e necessario fazer uma analise do impacto que as alteraC6es provocarao sob pena de a nova lei em vez de pacificar entendimentos e llnificar tratamento acabar acarretando um caos inicial comprometendo sua pr6pria legitimidade

CONSIDERA~OES FINAlS

A limitacao de responsabilidade no exerdcio individual da emprcsa e tema recorrente na doutrina brasileira e desejo antigo dos empreendedores Ate a consagrarao da EIRELI par meio da Lei nQ 124412011 tal limitarao nao era posslvel no exercfcio individual da empresa como ja amplamenshyte debatido e demonstrado Com a criacao da EIRELI 0 legislador patrio apresenta aos empreendedores brasileiros uma nova possibilidade para empresariar sem a necessidade de constituirao de sociedades de fachada ou eventual comprometimento da totalidade do patrimonio pessoal do emshypreendedor

Percebe-se contudo que as controversias existentes ern torno da EIRELI ainda sao muitas Mas algumas coisas podem-se dizer certas Prishym~irQjslli1fiIR~khv~i~efetivamentepara privilegiar os pequenosemiddottledioS0i(i empreendedores nao se ve razao plausivel para que ela seja constituida por titular pessoa juridica Beneficiar sociedades estrangeiras e um argumento fraco para fazer esta defesa

Segundo do ponto de vista da garantia dos credores a exigencia de um capital mfnimo tern razao de ser principalmente levando ern conta que ate entao os empresarios individuais respondiam com a totalidade do seu patrimonio Todavia considerando que nao ha exigencia nesse sentido para as demais especies de empresarios de fato fere-se 0 principio da igualdade de tratamento Ainda em rela-ao ao capital minimo se 0 objetivo do legisshylador era beneficiar pequenos e medios empreendedores 0 minima estabeshylecido em 100 vezes 0 salario-mfnimo nacional e bastante alto Talvez uma

nOf Ndeg 43 - MalmiddotAbrl2015 -PARTE GERAl- DOUTRJNL bullbull bullbullbull

adequacao do montante fosse interessante para 0 atingimento dos objetivos do novel instituto

Em relacao a natureza juridica compreender a EIRElI como uma nova especie de pessoa jurfdica e certamente 0 melhor caminho ainda que isso possa parecer estranho ja que se esta diante de uma pessoa jurfdica constituida de uma dnica pessoa Afinal partindo dessa premissa nao seria necessario relativizar 0 conceito de sociedade que exige pluralidade de s6dos tampouco seria necessario pensar um empresario individual pessoa frsica que pudesse ser titular de dois patrimonios autonomos 0 pessoal eo de afetacao

Em derradeira analise no que diz respeito ao Projeto de novo C6digo Comercial cabe apenas ressaltar que eventual aprovacao devera levar em considerarao 0 fato de que como visto desde a entrada ern vigor da Lei nQ 124412011 a procura dos empreendedores por esta modalidade de exercfcio da empresa tern sido grande Contudo 0 projeto de lei nao traz qualquer mencao ao instituto Assim dever-se-a ter uma preocupacao com a transi-ao nao se podendo ignorar a existencia destes slljeitos de direito sem estabelecer qual sera oseu destino Mal se consagram institutos no Brashysil e novamente se pretendem altera~oes legislativas Assim nao se chega a maturidade

Por hora ainda que com quest6es controvertidas ha uma unanimidashyde doutrinaria de que a EIRELI e bem-vinda nao apenas porque oriunda de pleitos antigos mas tambem porque apresenta uma nova possibilidade para quem pretende empresariar no Brasil de modo que ha grande expectativa no sentido de que 0 Poder Judiciario seja capaz de dirimir as controversias existentes causadas basicamente por falhas do legislador permitindo uma amPla utilizacao dQoolRjn~titu~9~gW~Cialmente poraqueles que aoque parece se tentou benefidar 05 pequenos e medios empreendedores brasishyleiros

Page 4: SINTESE - cortemello.com.br · RESUMO A EIRELI - Empresa Individual de Aesponsabilidade Limitada foi introduzida no ordena ... a partir da doutrina de Alberto Asquini, que entende

1 RDpound II 4J - MarmiddotAbif2D15 - PARTE GpoundRAl- DOUmlnA

o C6digo Civil brasileiro nao trouxe 0 conceito de empresa mas apeshynas 0 de empresario que e0 sujeito que exerce a empresa conf0fme dispoe o art 966 do C6digo Civil5 bem como 0 conceito de estabelecimento emshypresariaL no art 1142 do mesmo diploma legal Da analise do conceito de estabelecimento pode-se depreender mais facilmente que empresa e uma atividade a atividade empresarial que 0 empresario desenvolve atraves de seu estabelecimento 0 legislador seguiu a tendencia doutrinaria que deshyfiniu a empresa como a atividade economica organizada de producao e circulacao de bens e servicos

A empresa e a pr6pria atividade empresarial a qual e marcada par algumas caracterfsticas extraidas do pr6prio art 966 do C6digo Civil sem as quais a atividade exercida nao sera considerada empresa e por conseguinshyte 0 sujeito que a exerce nao sera caracteriLado como empresario

A primeira dessas caracteristicas e a economicidade ou a finalidade lucrativa que e 0 objetivo do empresario Quanto ao intuito lucrativo da atividade empresarial que caracteriza 0 empresario pode-se dizer que

Ao destacarmos a expressao atividade economica por sua vez queremos enfatizar que empresa e uma atividade exercida com intuito lucrativo Afishynal conforme veremos ecaracterfstica intrfnseca das relalt5e5 empresariais a onerosidade Mas nao e 56 a ideia de lucro que a expressao atividade ecoshynomica remete Efa indica tambem que 0 empresario sobretudo em funltao do intuito lucrativo de sua atividade euro aquele que assume os riscos tecnicos e econornicos de sua atividade (Ramos 2012 p 37)

Segundo Fran Martins (2011 p 67) entende-se por comerciante a pessoa natural ou juridica que profissionahnente exercita atos de intershymedialtao ou prestacao de servicos com 0 intuito de lucro Mais adiante o d()u~~lQ~()r~~Jarlce que 0 empre~ario e a evolucao da ng(lrId()to~r dante

Com a evolu~ao da importancia das empresas no exercfcio das atividades comerciais os comerciantes sao considerados empresarios isto e os chefes das empresas (C6digo Civil italiano de 1942 art 2086) [ J ve-se que 0

campo de aao do comerciante foi ampliado com a conceito de empresario pois se no direito tradicional 0 comerciante era um simples intermediario no novo direito as atividades da empresa podem ser tambem de produ~ao

Art 965 do eeB Consldera-se empres~rio quem exerce profissionalmente atividade econ6mlca organizada para a produltao ou a circulaltao de bens ou de serviltos (Brasil 2002 p indeterminada)

5

Art 1142 do CCB Consideramiddotse estabelecimento todo 0 complexo de bens organlzado para exercfcio da empresa par empresario ou sociedade empresana (Brasil 2002 p indelerminada)

6

RDE N 43 - Mar-Abr2D15 - PARTE GERAl- MUTRINAgt

A segunda caracterfstica refere-se ao profissionalismo ou seja a hashy151fualidade noexerdcio da empresa A ativid~de economica nao pode ser exercida esporadicamente mas seu exercfcio deve prolongar-se no tempo coadunando com 0 intuito lucrativo do agente (Vercosa 2004) Em sintese o empresario e aquele que exerce a empresa de forma profissional assushymindo os riscos dela decorrentes e com 0 intuito de obter lucro (Requiao 2010)

Outra caracterfstica essencial da empresa que tambem caracteriza 0

empresario diz respeito a sua finalidade qual seja a producao eou a cirshycufacao de bens e servicos A ligacao do exerclcio da empresa ao binomio producao-circulacao de bens e servicos ampliou muito 0 ambito de incishydencia do direito especializado afinal a partir daf em regra qualquer ativishydade economica pode ser considerada empresaria desde que exercida com o intuito lucrativo de forma organizada e profissional (Ramos 2012 p 38)

A ultima caracterlstica essencial da empresa e a organizarao Ao exercer a empresa 0 empresario articula 05 fatores de producao a seu favor isto e movimenta 0 capital a mao de obra os insumos e a tecnologia com o objetivo de obter lucro (Coelho 2011 p 32) Essa organizarao e responshysavel pela impessoalidade que se exige no exercfcio da empresa Quando a atividade e exercida de forlTla pessoalizada onde a organizacao perde importimcia 0 exercente nao estara empresariando

Empresario e portanto

quem organiza exercendo uma funltao de intermedia~ao eou de transformashylt50 dentre os fatores da producao criando riquezas para 0 mercado (centro de encontro enreC0(~rtae1dlltlJBMados diversos sujeitos economicos) e equem assume 0 risco economico e a inidativa do empreendimento (Franco 2004 p 57-58)

Nessa medida sendo a empresa uma atividade economica e 0 empreshysario 0 sujeito que a exerce de forma organizada tratou a legislacao de esshytabelecer inicialmente duas formas de exerdcio da empresa duas espEkies do genero empresario 0 empresario individual (pessoa ffsica) e a sociedade empresaria (pessoa juridica)

o empresario individual ea pessoa natural que exerce uma atividade economica de producao e circulacao de bens ou de prestarao de servicos Eo empreendedor pessoa flsica que sozinho exerce atividade empresarial ao contrario da sociedade empresaria que epessoa juridica constituida sob

HOE N 43 - MarmiddotAr2015 - PAIlTE GEfiAl- DOUTRINA

a forma de sociedade cujo objeto social e a explora~ao de uma atividade econCimica organizada (Ramos 2012 p 38)

o ordenamento jurfdico brasileiro trata de maneira bastante distinta os empresarios individuais e as sociedades empresarias especialmente no que tange ao patrimCinio e ao sistema de responsabilidade de um e de outro

o empresario individual nao goza da separa~ao patrimonial da qual gozam as sociedades empresarias pelo fato de estas serem efetivas pessoas jurjdieas7

bull Assim todo 0 patrimCinio do empreendedor esteja ele ou nao afetado ao exerdcio da atividade emplesarial pode ser alcantado para 0

adimplemento das obrigat6es assumidas no exerdcio da empresa Logo 0

sistema de responsabilidade que reeal sobre 0 empresario individual e 0 da responsabilidade ilimitada responde ele com a totalidade do seu patrimCishynio pelas obriga~6es eontraidas no exercicio do neg6cio Conclui-se assim que 0 exerdcio da empresa de forma individual aearreta multo mais riscos do que a explora~ao da atividade mediante a eonstituitao de uma sociedashyde (Ramos 2012)

Nao e por outra razao que Fabio Ulhoa Coelho (2011 p 39) afirma que as atividades economicamente mais importantes sao exercidas pelas sociedades empresarias normal mente sociedades limitadas ou anonimas ja que alem da possibilidade de eompartilhar riscos permite que a atividade seja exercida com limitatao de responsabilidade restando ao empresario individual as atividades de menor envergadura que implieam menores inshyvestimentos ao mesmo tempo em que nao apresenta grande risco de perdas

Evidentemente aventurar-se no ramo empresarial para exploratao de atividade economica implica decisao mais facilmente tomada quando 0

risco assumido e menor ou pelo menos minimizado

Ern virtude daausencia de I imita~ao responsabiiidade pa ra 0 empreshysario individual pratica bastante comum e a constituirao das chamadas 50shy

ciedades de fachada sociedades constitufdas apenas formalmente nas quais urn dos sodos Figura enquanto tal titularizando percentual minimo do capital social sem que seja efetivamente s6cio Na pratica a atividade eexercida de

0 empres~rio individual embora esleja cadastrado no CNPJ 0 recebe apenas para fins tributaries 0 fate de o empresario individual ebler um CNPJ nao 0 translarma em uma pessoa jurldica continuando a ser pessoa fisica Epacifico na dautrina ena jurisprudencia tal entendimento A titulo de exempla Agravo de instrumento Ensino particular 0 palrimanio do empresario individual CQnfunde-se 0011 0 passoai correspondendo a urn 56 conjunlo de bens ouja dominic ) da pessoa Iisica Inexlsle 6biee II constri~ao de palrimanla pertcncente il empresa individual no intuito de garantlr 0 pagamento de dlJbitos contraldos paia pessoa ffsica Agravo de instrumenlo provldo em decisao monocratiea ITJRS AI 70062097407 6a CClvbull ReI Nay Wiedemann Nato J 15102014)

RDE II 43 - Mar-Akrl2015 -PARTE GERAl- nOUTRINA

forma individual mas formal mente apenas para minimizar a risco assumido pelo empreertdecfOr celebra-se contrato de sociedade fazendo surgir a pesshysoa jurldica regularmente constituida (Ramos 2012 p 40-41)

Como visto para alem do empresario individual a outra especie de empresuio e a sociedade empresaria De pronto e importante esclarecer que neste caso os socios da sociedade nao sao pelo menos tecnicamente empresarios Quando constituida uma sociedade esta e que ea empresaria a titular do exercfcio da empresa Conforme ensina Fabio Ulhoa Coelho (2011 p 38-39)

Deve-se desde logo acentuar que as s6dos da sociedade empresaria nao sao empresarios Quando pessoas (naturais) unem seus esforcos para em sociedade ganhar dinheiro com a explora~ao empresarial de uma atividade economica elas nao se tornam empresarias A sociedade par elas constitufshyda uma pessoa juridica com personalidade autonoma sujeito de direito inshydependente eque sera empresaria para todos os efeitos legais Os socios da sodedade cmpresaria sao empreendedores ou investidores de acordo com a colaboracao dada asodedade [1 As regras que se apllcam ao empresario individual nao se aplicaniaos s6dos da sociedade empresaria

A sociedade vem definida no art 981 do C6digo Civil 0 qual disp5e que celebram eontrato de sociedade as pessoas que reciproeamente se obrishygam a contribuir com bens ou servitos para 0 exercfcio de atividade ecoshynCimica e a partilha entre si dos resultados (Brasil 2002 p indeterminada)

Entretanto as primeiras manifestatoes de sociedade enquanto simshyples eomunhiio de esfortos tem sua origem mais remota ainda nos povos primitivos A historia da evolutao da humanidade mostra que desde os peshyr1odo~m~isdistants 05homens conjugavam forcas comaqu~Ies E1mQlle01 depositavan1totl(ian~a com a finalidade de alcimtar objetivos~om~ns os quais nem sempre foram luerativos t na Idade Media contudo que a sociedade tal como conhecida atualmente tem suas raizes especialmenle em virtude do desenvolvimento do comercio em algumas cidades italjanas Neste periodo 0 direito comercial nao passava de um conjunto de usos e costumes adotados pelos primeiros comerciantes chamados mercadores para atender as suas pr6prias necessidades e regulamentar as suas atividashydes Nao obstante foi na Idade Media que foram delineados os primeiros tipos societarios6 que existem ate hoje a sociedade em nome coletivo e a sodedade em comandita simples (Almeida 2011)

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a Para aprofundamento aceres dos tipos societarios previstos no ordenaillenio patrio vide MARTINS Fran Curso de direito comerclal 34 ed Rio de Janeiro Forense 2011 ALMEIDA Amador Paes de Manual rias

7

nos essenshy

e seshy

e os

1407

middot bull RIlE N 43 - MamiddotAbrj2B15 - PARTE GERAl- DOUTlIINA

A sociedade em nome coletivo surgiu na Italia entre os grupos fashymiliares que formavam sociedades posteriormente se desenvolvendo enshytre os artesaos e comerciantes (Almeida 2011) No Brasil regulada arts 10399 e seguintes do C6digo Civil de 2002 caracteriza-se cialmente pelo fato de admitir apenas pessoas fisicas como socios e pelo sistema deresponsabilidade solidaria e ilimitada pelas obrigacoes sociais imposto aos socios Esse sistema de responsabilidade nao e muito atrativo ja que ap6s 0 esgotamento do patrimonio da pessoa juridica 0 patrimonio pessoal dos socios sera atingido para a satisfa-ao das obrigacoes da socieshydade Nesta sociedade nao ha limita-ao de responsabilidade

A sociedade em comandita simples regulada nos arts 104510

guintes do C6digo Civil de 2002 tern sua origem no desenvolvimento do comercio marltimo no chamado contrato de comenda por melo do qual os nobres interessados em comerciar e nao 0 podendo em razlio do conceito que 0 comercio tinha entre aquela casta social confiavam aos comerciantes marftimos certa quanti a em dinheiro para que estes praticando a atividashyde mercantif obtivessem luero 0 qual seria dividido entre estes ultimos e aquele que tinha investido capita Em casu de prejuizo 0 nobre investidor assumia a perda do valor investido (Martins 2011)

Atualmente a sociedade em comandita simples apresenta duas cateshygorias de socias com sistemas de responsabilidade diferentes asemelhan~a do ocorria em sua origem medieval as socios comanditad05 administram 0

negocio e assim respondem solidaria e ilimitadamente pelas obrigalt5es socia is ja os socios comanditarios apenas investem capital para 0 exerdcio da empresa nao participando de sua administraltao e por isso respondem de forma limitada ao capital investido au seja nesta sociedade esgotado o patrimonio social somente parte dos s6cios podera ter 0 seu patrimonio pessoal atingido para satisfa-ao das obrigacoes da sociedade

A sociedade ari6tiitnatamberi1conhecida comocompanhia em pese nao haja entendimento pacifico na doutrina ace rca de sua origem na uma quase unanimidadell ao afirmar que a primeira manifestaltlio definitiva

sociedades comereais 19 ed Sao Paulo Saralva 2011 COELHO Fabio Ulhoa Curse de direito eomereal 16 ed Sao Paulo Saralva 2012 e NEGRAO Ricardo Manua de direito comereial e de empresa 8 ed Sao Paulo Sara iva 201 L

9 Art 1039 do CCB Somente pessOBS Iisieas podem tomar parle na sociedade em nome coletivo respondendo lodos os s6cios salida ria e iiimitadamenle pelas obrig~Oes socials

10 Art 1045 do CeB Na socledade em comandita simples Icmam parle s6cios de duas calegorias ascQmanditados paswas lisicas responsaveis solidaria e ilimitadamente pelas obrigalt6es SOClais comanditarios obrigados somenle pelo valor de sua quola

11 Dvergem alguns autores sabre este marco hist6rioo a exemplo de Haroldo Malheiros Duclerc verltosa que afilTla qlJe a primeira sociedade anOnima teria sido 0 Banco de Sao Jorge de G~nova criado em (Velaquoosa 2006 p 290)

RDE N 43 - MarmiddotA1uI2815 - PARTE GEHAl- D8UTRINA

e mais proxima da atual sodedade anonima deu-se com a Companhia das IndiasOrientisem1602 na HolandaAtmeicla 2011 p 187)

A sociedade anonima esta regulada nos arts 10882 e 108913 do C6shydigo Civil de 2002 e na Lei nQ 64041976 Entre suas caracterfsticas essenshyciais destacam-se a divisao do capital social em altoes e 0 sistema de re5shyponsabilidade dos sOcios denominados acionistas que e limitada ao preoo de emissao das a-5es subscritas14 ou adquiridas5

A lei nil 64041976 tam bern regulamenta a sociedade em comandita por acoes a qua teve sLla origem ja na Idade Moderna com 0 C6digo Coshymercia Frances de 1807 Tal especie societaria tambem foi genericamente regulada pelo C6digo Civil nos arts 10906 e seguintes Asemelhanca das comanditas simples as comanditas por acoes tambem possuem duas modashylidades de sodos os acionistas diretores a quem incumbe aadminjstra~ao

da sodedade os quais respondem solidaria e ilimitadamente pelas obrigashyc6es socia is e os demais acionistas que sem poderes de administracao goshyzam de limita~ao de respol1sabilidade ao capital investido (Rizzardo 2009)

A sociedade limitada contudo teve origem de modo diverso Ate 0

seu surgimento 0 empreendedor que quisesse exercer uma empresa unindoshy-se a outro tinna dois caminhos possfveis a seguir ou constitufa uma socieshydade anonima cujo sistema de responsabilidade era 0 da responsabilidade limitada traduzindo-se na forma menos ariscada de exercfcio da empresa mas que por outro lado exigia muitas formalidades para sua constituicao e assim destinava-se mais aos grandes empreendimentos com vultosos investimentos ou constituia uma das modaidades de sodedade de pessoas existentes aepoca de constitui-ao e funcionamento mais simples sem a neshycessidade de grandes investimentos mas com sistema de responsabilidade

ilimitadl para todos OLi parte dos sooi6Js(Abri)o 2000)

as modelos societarios entao vigentes restringiam 0 acesso de pequeshynos e medios empreendedores ao exerdcio das atividades economicas Prishy

12 Art 1088 do CC8 Na socledade anonima ou companhia 0 capital divide-se em a90es obrigando-se cada OOcio au acionista somente palo pret) de emlssao das afies que subscrever au adqUirir

13 Art 1089 do ee8 A $Ocledade anOnima rege-se por lei especial aplicando-se-lhe nos casas omissos as disposioes deste C6digo

14 Subscriltao de capital e 0 ato pelo qual 0 socio au aclonista assume 0 compromisso de adqurir para si pagando 0 valor devido determinado numera de quotas ou altoes Integralizao do capiial social eo ato pelo qual 0 s6clo ou acionista efetivamente paga 0 pre90 das quotas ou alt6es subscMlas (Martins 2011)

15 Art 1C da LSA A companhia ou sociedade ananima tera 0 capital dividldo em aoes e a responsabilidade dos sOcios ou acionistas ser~ limitada ao pr~o de emissao das altOes subseritas au adquiridas

16 Art 1090 do CCB A soeiedade em oomandila por alOes tem a capital dividido em aBes regendo-se pelas normas relaivas II sccledade an6nima sem prejulzo das modificalt6es constantes deste Capitulo e opera sob finna OIl denomlnao

Hut N 13 -lIarmiddotAbr2015 - PARTE GERAl- DOUTRIUA

meiro porque de forma individual ou em sociedade de pessoas ainda que as formalidades para constituiltao e 0 investimento exigido fossem menores os riscos eram elevados em decorrencia do sistema de responsabilidade iIishymitada Segundo porque a unica sociedade com sistema de responsabilidashyde limitada era a anonima a qual por exigir um rigorismo formal para sua constituiltao destinava-se aos grandes empreendimentos (Verltosa 2006)

Necessitava-se entao para atender a demanda dos pequenos e meshydios empreendedores de um tipo societario capaz de atender a ambas a~ necessidades menor assunltao de riscos pela limitaltao de responsabilidade e ao mesmo tempo menor complexidade de constituiltao e funcionamenshyto (Pimenta 2006 p 67) Nesse contexto e que surge na Alemanha em 1892 a sociedade por quotas de responsabiiidade limitada (Almeida 2011 p145)

Ante a necessidade de incentivar 0 exercicio da empresa por parte de tantos quant05 por cia se interessassem por meio da separaltao entre 0

patrimonio pessoal dos s6cios e 0 da sociedade nao respondendo aqueles pelos debitos contraido5 por esta e que a sociedade por quotas de responsashybilidade limitada mostrou-se ahernativa eficaz na legislaltao alema de 1892 (Pimenta 2006 p 68)

No Brasil esse tipo societario foi consagrado em 1919 atraves do Decreto nQ 3078 cujo sistema de responsabilidade vinha estabelecido no art 290 qual previa que 0 titulo constitutivo regular-5e-a pelas disposiltoes dos arts 300 a 302 e seus numeros do C6digo Comercial devendo estipular ser limitada a responsabilidade dos socios a importancia total do capital social (Brasil 1919 p indeterminada)

A sociedade limitada17 hoje regulada pelo C6digo Civil de 2002 pode entaoser vistacomq a primeira forma deincentivqr epossibjlitaxo ac~ssode tltTlnumeromaior de pessoas ao exercicio de atiIdadesempreshysarias 1550 porque a partir dela passou a existir um tipo societario que alia a limitaltao de responsabilidade1B caracterfstlca que ate entao era exclusiva

17 Enquanto vigia 0 Decreto nO 30781919 este tipo socletario era denominado Socledade par Quotas de Responsabilidade limitada 0 art 10 do Jecreto previa que ahlm das sccledades a que se referem as arts 295 311 315 e 317 do C6digo Comecial poderao constituir-se socledades por quotas de responsabilidade limitade Oito decreta vigorou por mals de 80 anos vindo a ser parolalmente revogado pelo atual COdigo Civil em vigor deede 2003 0 CCB2002 simplifieou a nomenclatura passando a denomlnar este tipo socletMo apenas de secledade limitada regulando-a sem seus arts 1052 e seguintes

18 Como vista no sistema atual somente associedadesanonimas e limitadas possuem sOcios de responsabilidade limiteda 0 limite da responsabilldade dos socios ea capital investido por estes no neg6cio resglJanlandoshyse asslm 0 seu patrimOnio pessoaL Nao epor outra rallio que estes silo os dois tipos socletarios de maior utiliza~ao no Brasil estando os demais praticamente em desuso

ODE N 43 - MarmiddotAbrlZ315 - PARlE GEOAl- OnUIlIINA

da sociedade anonima e a contratualidade ou seja uma sociedade cujo ate constitutivo e0 cQntratosocia-OquaJpermite uma maior expressao da autonomia privada dos s6cios na conformaltao da sociedade diferentemenshyte da sociedade anonima que e uma sociedade constituida por um estatuto social muito mais conformado pela pr6pria legislaao do que pela vontade dos s6cios (Ramos 2011 p 248)

Verifica-se ainda que ao longo da hist6ria a sociedade sempre foi concebida como uma uniao de forltas pela busca de um resultado comum e as sociedades empresarias a uniao de forltas pela busca de um resultado lucrativo comum caracterizando-se pelo exercicio em conjunto de uma atividade economica organizada

Quanto anecessidade de constituiltao de uma sociedade para 0 exershycicio da empresa esclarece Fabio Ulhoa Coelho (2012 p 21) que

atividades economicas de pequeno porte podem ser exploradas por uma pesshysoa (natural) sem maiores dificuldades Na medida porem em que se avolushymam e ganham complexidade exigindo maiores investimentos ou diferentes capacitalaquooes as atividades econ6micas nao mais podem ser desenvolvidas com eficiencia par um indivfduo apenas 0 seu desenvolvimento pressupoe entao a aglutinalaquoao de esfonos de diversos agentes interessados nos lucros que elas prometem propiciar Essa articularao pode assumir variadas formas jurrdicas entre as quais a de uma sociedade

As sociedades assumiram tal importancia social que passaram a ser vistas como entes absolutamente distintos separados dos sujeitos que se uniam para forma-las acabando pOl receberem da ordem jurfdica status de sujeitos de direito tal como as pessoas naturais Eo que ensina Amador Paes de Almeida (2011 p 29)

Num cresceriaOafrmir~Veffofam~sb(jedades ganhando vulto a ponto de em pouco tempo distinguirmiddotse nitidamente das pessoas ffsicas que as comshypunham rJ Formando pois uma entidade aparte absolutamente distinta das pessoas naturais que as integram (ulrninaram as sociedades por serem reconhecidas pelo ordenamento jurfdico como sujeilos de direito equiparashydas ponanto as pessoas fisicas

A este sujeito de direito que surge a partir de uma sociedade 0 direishyto deu 0 nome de pessoa juridica Par conseguinte sociedade empresaria devidamente registrada19

sera a pessoa juridica exercente de uma empresa

19 0 registro do empresario seia eie individual au coietivo (sociedede empresiiria) Junto ao 6rgao responsavei pelo registro mercanti qual seia as Juntas Comereiais dos Estados euma das obrigalt6es impostas aquele

JUilJ fiDE It 43 -i4armiddotAIJr2Ul ~ - PARU GEllAl- OOHmlNA

o sujeito de direito que pratica os atos necessarios a realizarao da atividade economica nao se confundindo com seus sodos (Coelho 2012 p 23 e 27)

De todo 0 exposto conclui-se que para 0 direito empresarial desde suas primeiras manifestaroes ainda na Idade Media a personalidade jurishydica propria que era atributo exclusivo das pessoas fisicas foi estendida as pessoas juridicas que sao formadas pela uniao de no minimo duas pessoas em sociedade As empresas pod em ser exercidas po is tanto por pessoas fIshysicas quanta por pessoas juridicas Neste ultimo caso a pessoa jurfdica tem autonomia patrimonial em rela~ao ao patrimonio pessoal de seus socios

12 As CONSEQUENCIAS DA PERSONlflCACAO E A IMPORTANCIA DO PRINCPIO DA AUTONOMIA

PATRIMONIAL

A personalidade juridica e uma inven~ao do Direito Nao existe pesshysoa jurfdica senao sob a otica do Direito que a criou com 0 objetivo de solucionar alguns problemas decorrentes das relar6es humanas autorizanshydo a priitica de atos juridicos por outros sujeitos de direito que nao apenas pessoas naturals (Coelho 2011 p 138)

A personalidade juridica das sociedades empresarias e a criarao que possibilita conferir titularidade de direitos a um ente que nasce da uniao de outros ou seja e uma ficrao que atribui personalidade a um ente formado por uma coletividade de pessoas (Fazzio JUnior 2008 p 31)

o principal objetivo da atribuicao de personalidade jurfdica as soshyciedades e permitir que estas possam praticar todos os atos juridicos necesshysarios ao desenvolvimento da atividade para a qual foram criadas por si

lu~exce projiSSiOQ~Irente uma atividade empre~ari~ ~simse~Qo0tegistfJl DaO econdi~ao para taiacteriza~ao de uma pessoa (flsica au jurldica) como efllpresilio tratando-se na verdade de mera declarruao de regularidade do exercfcio dll empresa de acordo com as normas impostas pelo ordenaP1ento juridico patrio A inexist~ncia de registro nao descaracteriza 0 sujelto como empresario mas uma vez conligurando 0 descumprimento de uma obriga~~o a ele imposta acarreta algumas restri~es No caso da sociedade empresaria irregular uma das restri6es ea impossibilidade de realizar sua inscrirao junto aD Cadaslro Naeional de Pessoas Juridlcas com a consequente sanao pelo descumprimento das obriga~6es tributarias decorrentes deste cadastra Assim a sociedade empresiiria nao deixa de ser empresaria pela lalla de reglstro l1as naD sera uma pessaa juridice Dessa Iorma sendo sociedade oespersonificada os socioS da sociedade empresria irregular nlio gozam das benesses de Ilmitarao de respansabilidade atribuida via de regra as sociedades regulares (Coeiho 2011) Quanta if desnecessidade de reglstro marcantil para caracterizaao do empresaria ji se manitestou 0 Conselho da Justita Federal na III Jornada de Direito Civil na quallcram aprovados os Enunciados nOs 198 e 199 que disp5em respectivamente Art 967 A inscri~ao do empresArio na Junta Comercial nao Ii requisito para a sua caracteriza~ao admitiodo-se a exerclcio da empresa sem lal provid~ncia 0 empresarlo irregular reune os requisitos do art 966 suieltando-se as normas do COdigo Civil e da legislaao comerdal salvo naquilo em que Iorem incompatlveis com a sua condi~ao ou diante de expressa disposiao em contrjrio e Art 967 A inscriltiio do empresario ou sociedade empresiiria erequisito delineador de sua regulalidade e nao da sua caracteriza9iio (Conselho da Iusti~a Federal 2004 p Indeterminada)

ROE N 43 - MarJlbr2015 - PARTE GEftAl- DOUTRINL

mesmas e nao em nome dos sodos Na sodedade empresaria tal objetivo mOiVa-s~ ltliJ1rja maisreJevante na medida em que a atividade exercida exishyge assuncao de riscos os quais serao assumidos pela pessoa juridica e nao pelas pessoas fisicas (Fazzio Junior 2008 p 31)

Nesse contexto a importfmcia da atribuirao de personalidade jurishydica as sociedades empresarias e evidente sendo facil concluir que para minimizar 0 risco da atividade empresarial separando 0 patrimonio pessoal dos empreendedores os indivfduos devem - ou deveriam ate pouco tempo - constituir uma sociedade formando assim uma pessoa juridica a qual goza de autonomia patrimonial

Essa ficrao resulta em uma serie de consequendas importantes para o Direito De modo geral e possivel identificar tres consequencias advindas da atribuirao de personalidade jurfdica as sociedades empresarias a titulashyridade obrigacional a titularidade processual e a responsabilidade patrimoshynial (CoelflO 2012 p 32)

A titularidade obrigacional determina que todas as obrigacoes assushymidas no ambito do exercicio da atividade empresarial 0 serao pela socieshydade e nao pelas pessoas de seus socios Assim quem figura em um dos polos da rela~ao jurfdica estabelecida com terceiros (contratos de trabalho de prestarao ou contratarao cje servicos etc) e a sociedade e nao as pesshysoas dos socios que a comp6em Ja a titularidade processual implica que apenas a sociedade seja parte legftima para demandar ou ser demandada em processos judiciais que visem a discutir obrigar6es assumidas em seu nome Por fim a responsabilidade patrimonial que determina que a pessoa jurfdica e responsavel pelas obrigacoes que ela contrair com 0 seupr6prio patrim()Oi(jQ~qllaledistinto do patrimonio pessoal de cadaunl closs6dos que a constituem ou seja 0 conjunto de bens da sociedade forma 0 patrishymonio da pessoa jurfdica e eesse patrimonio que em regra responde pelas obrigac6es assumidas pela sociedade (Coelho 2012 p 32-33L

Arnaldo Rizzardo tambem reconhece que

tanto e pr6pria e distinta a personalidade juridica que 0 sistema juridico reconhece a sua existencia distinta da de seus s6dos e assim a titularidade pr6pria de direitos (de ordem patrimonial e moral) como a sujeirao a obrigashyr6es e deveres (como sujeito passivo na demanda de creditos existentes par terceiros) Nao se confundem os direitos e deveres da pessoa jurfdica com as de seus s6cios oem os direilos e deveres destes se transferem para a pessoa jurfdica (Rizzardo 2009 p 23)

1 11 ~ bull RDE N 43 - Mar-Abd2Dl5 - PARTE GERAl- DOUTRINA

Na mesma linha Ricardo Negrao (2011 r p 203) afirma que sao efeishytos da personificarao a assunao de capaddade para direitos e obrigar6es middota separacao entre a pessoa juridica e aspessoas dos s6dos a existenda de patrimonio proprio distinto do de seus sodos e a possibilidade de a socieshydade alterar a sua estrutura interna

Ve-se portanto que nao ha grande divergencia doutrinarla quanta aos principais efeitos da personificacao No entanto entre as tres conseshyquendas destacadas e a responsabilidade patrimonial da pessoa jurfdica a que merece maior destaque

A existenda de patrimonio pro-prio das pessoas juddicas da-se por forra da incidencia do princfpio da autonomia patrimonial segundo 0 qual os bens da sociedade empresaria formam um patrimonio autonomo que responde pelas obrigar6es contrardas por esta enquanto que os bens de cada um dos socios que a compoem permanecem via de regra imunes ao cumprimento destas obrigaroes

Trata-se na verdade de algo muito antigo decorrente da maxima aplicada desde a Lex Poetelia Papiria que data de 326 antes de Cristo por melo da qual se determinou que 0 patrimonio do devedor fosse a garantia dos credores Com tal lei a obrigarao entre 0 credor e 0 devedor deixou de estar pautada em um vinculo corporal sendo substitufda pela responsabilishydade patrimonia ou seja os bens e nao mais 0 corpo do devedor passashyram a responder por suas diviaas (Alves 201 Or p 382 e 436)

Ora se a devedora e a sociedade empresaria e justo que apenas 0

seu patrimonio responda pelas obrigaroes contrafdas e nao 0 patrimonio de seus sodos sujeitos de direito distintos A autonomia patrimonial e a responsabilidade patrimonial proprias da sociedade formam uma estrutura que incentiva a aS5Un~Q dQriscodo exerdcio de uma atividade empreshysaria Principalmente quando 0 tipo de sociedade traz tambem a regra da limitarao de responsabilidade dos s6cios 0 que ocorre nas sociedades anoshynimas e limitadas

Tal e a importancia da autonomia patrimonial das pessoas jurfdicas que Fabio Ulhoa Coelho (2012 p 34) afirma que se trata do alicerce do direito sodetario

Esse e 0 principio da autonomia patrimonial alicerce do direito societario Sua importilncia para 0 desenvolvimento de atividades economicas da proshydUlao e cireula~ao de bens e servicos e fundamental na medida em que limita a possibilidade de perdas nos investimentos mais arriseados A partir da afirmacao do postulado juridieo de que 0 patrimonio dos s6cios nao res-

RDE PI ~3 -lIhrmiddotAbr1015 - PARTE GERAl- DDlITHINA ~

ponde por dividas da sociedade motivam-se investidores e empreendedores a aplicar dinheiro emathddades oconomieas-demiddotmaior envergadura e risco 5e nao existisse 0 principio da separaCao patrimonial os insueessos na exshyploracao da empresa poderiam significar a perda de todos os bens particushylares dos s6cios amealhados ao longo do trabalho de uma vida ou mesmo de geracoes e nesse quadro menos pessoas se sentiriam estimuladas a deshysenvolver novas atividades empresariais No final 0 potencial econ6mieo do Pars nao estaria eficientemente otimizado e as pessoas em geral ficariam prejudicadasr tendo menos acesso a bens e servi~os 0 principio da autoshynomia patrimonial e importantfssimo para que 0 direito discipline de forma adequada a explora(ao da atividade economica

o principia da autonomia patrimonial e sem duvida um importante mecanismo de incentivo ao exercicio da atividade empresaria na medida em que possibilita a minimizarao dos riscos assumidos pela pessoa ffsica que decide exercer uma empresa Isso parque mesmo nas especies societashyrias em que a responsabilidade dos s6das e ilimitada (sociedade em nome coletivo por exemplo) est~ sera sempre subsidiaria por forra do princlpio de mesmo nome consagrado no ordenamento jurfdico patrio pelo art 1024 do Codigo Civil de 2002 2deg

Parece evidente que 0 princlpio da autonomia patrimonial coadunashy-se nao apenas com os fundamentos da ordem economica brasileira exshypressos no caput do art 170 da Constituirao Federal quais sejam a livre iniciativa e a valorizarao do trabalho humano bem como corn seus prindshypios norteadores como a livre concorrencia e 0 livre exerckio da atividade economica alem de toda a constru~ao hist6rica de incentivo ao exercicio da empresa como forma de fomentar a economia dos Estados possibilitanshydo a gerarao e a circularao das riquezas

Todaviacomo exposto anterio~trl1ente Os beneficios desse principio nao se aplicam ao empreendedor que exerce a empresa de forma individual nao sendo outra a razao principal para a edirao da Lei nQ 124412011 que introduziu no Brasi a EIRELI

13 EIRElI AS PRINCIPAlS CARACTERisrlCAS DO NOVO EMPRESARIO

Feitos os esclarecimentos sabre as diferentes especies de empresashyrios ate entao existentes cabe 0 enfrentamento da nova especie introduzida recentemente no ordenamento juridico brasileiro a Empresa Individual de

-middot~---middot-middot-----_~___laquo~_M

20 Art 1024 do eeB Os bens particuJares dos socios nao podem set executados por dlvldas cta saciedade senao depois de executados os bens socials (BraSil 2002 p indeterminacta)

13 It ROE N 43 - MarmiddotlbI2D15 - PARTE GERAl- DOUTRINA

Responsabilidade Umitada - EIRELI Especie de empresario que conforme refere Andre Luiz Santa Cruz Ramos (2012 p 40) surge na legislacao piitria atendendoa antigos an5eiostantoda doutrina quantodo meio empresariai

Ate a entrada em vigor da legislacao que introduziu a EIRElI como ja dito existiam apenas duas formas de exercer a empresa ou como empreshysario individual (pessoa ffsica sem autonomia patrimonial e limitacao de responsabilidade) ou como sociedade empresaria (na qual os sodos podem ou nao vir a responder pelas obrigacoes contraidas no exercfcio da atividashyde mas sempre e tao somente ap6s 0 esgotamento do patrim6nio social ja que ha no mlnimo a autonomia patrimonial da pessoa juridical

A partir da EIRElI pasSOli a ser posslvel que uma s6 pessoa exerca a empresa por meio de uma pessoa juridica 0 que permite a efetiva separacao patrimonial e limitacao de responsabilidade ao capital investido como ocorshyref mais precisamente nas sociedades limitadas Esse novo ente apresenta caracterfsticas bastante pr6prias

De plano pode-se ressaltar uma caracterfstica e esta incontroversa A EIRELI eum ente dotado de pcrsonalidade juridica pr6pria ja que inserida no rei das pessoas juridicas de direito privado do art 44 do C6digo Civil Ao contrario do empresario individual que e uma pessoa flsica a EIRELI e uma pessoa juridica constituida para 0 exerdcio de uma atividade economica Ainda pela leitura do texto legal na medida em que a EIRELI esta prevista em um inciso em separado inciso VI incluido pela Lei nQ 124412011 a priori nao se poderia concluir qLle se trata de uma sociedade empresaria as quais ja vinham previstas no inciso II

Assim da simples interpretacao da alteracao ocarrida no art 44 do C6digo Civil conclui-se que a EIRELI e pessoa juridica nao se confundindo comasect~Od~adeiJilmpouco com 0 empresario individualquenem peSsoa jurfdiCa~

Outra caracterfstica importante da EIRELI e a exigencia de urn capital mfnimo nao inferior a 100 vezes 0 salilrio-minimo vigente no Pais para a sua constitLlicao conforme dispoe 0 caput do art 980-A do C6digo Civil de 2002 22 tambem inclufdo pela Lei nQ 124412011 0 empreendedor que

21 De plano cumpre esciarecer que por ludo quanto)a exposto no decorrer do presente estudo a nomenclatura utllizada pelo legislador eatecnica na mediaa em que atribuiu personalidade jur(dica a uma etividade Como visto ernpresa nao esujelto de direilos mas sim uma atividade exercida pelo empresario este sim sujeilO de direitos

22 Art 980-A do CCB A empresa individual de responsabWdade limitada sera constiturda por uma cnica pessoa titular da Malidade do capital social devidamente integralizado que nao sera imerior a 100 (cern) vezes 0

maior saario-minimo vigente no Pais (Brasil 2002 p indeterminada)

ROE II 43 - MarmiddotAbI2D15- fART GERAl- DOUTBIRA

desejar exercer a empresa como EIRELI devera no ate da constituicao inshytegralizar a totalidtdedQ valordQ capital que naQPodera ser em valores atuais inferior a R$ 7880000 (setenta e oito mil e oitocentos reais)

Ainda a integralizacao do capital podera ser eita nao apenas em dinheiro mas tambem em bens desde que suscetfveis de avaliacao em dishynheiro nao sendo exigida a apresentacao de laudo avaliativo para tanto Este capital diferente do que ocorre nas sociedades nao sera dividido em quotas ou acoes A regra e a da unicidade do capital afinal este e totalmente titularizado par uma unica pessoa

A terceira caracterfstica marcante da EIRELI diz com 0 sujeito que pode constituf-Ia ou seja 0 titular da EIRELI Segundo dispoe 0 caput do ja mencionado art 980-A do C6digo Civil a EIRELI sera constitufda por apenas uma pessoa Ocorre que 0 dispositivo legal nao deixa claro que 0

titular precisa ser uma pessoa ffsica ou se poderia tambem ser uma pessoa jurfdica Essa falta de especificacao legal gerou discussao com argumentos favoraveis e contra nas duas direltoes No entanto 0 ONRC - Departamenshyto NacionaJ do Registro doComercio pOl meio da lnstrucao Normativa n

9 1172011 definiu (item 1210) que apenas as pessoas naturais plenashy

mente capazes podem constituir EIRELI Ainda ratjficando tal disposiao 0

item 1211 preve expressamente que nao pode ser titular de EfRELI a pesshysoa juridica bem assim a pessoa natural impedida pOl norma constitucional ou por lei especial (Brasil 2011 p indeterminada)

Outra caracterfstica semelhante ao que ocorre com as sociedades limitadas e que a EIRELI pode utilizar qualquer das especies de nome emshypresarial qual seja firma ou denominacao social acrescidas da expressao EIRELI ao final

Par tim e talvezil car~ct~rf~ti~~~5Ys importante a responsabilidade limitada ao capital investido e devidamente integralizado pelo titular da EIRELI Essa regra se depreende da leitura do sect 62 do art 980-A do C6digo Civil que determina a aplicacao a EIRELI das regras previstas para as socieshydades limitadas naquilo em que com patfve I (Brasil 2011 p indeterminashyda) Essa era a mescla qlle se desejava uma modalidade de empresario que fosse constitufda por uma (mica pessoa mas com limitacao de responsabilishydade e facilidade na forma de constituicao como ocorre com as sociedades limitadas

Em sfntese sao estas as principalS caracteristicas da Empresa Indivishydual de Responsabilidade Limitada Ocorre todavia que tais caracterfsticas estabelecidas pela nova legislacao vem causando inumeras controversias

15 ROf N 43 - MarmiddotAbr2015 - PARrE GHAl- DOUfHINA

entre os operadores do Direito e os doutrinadores e estudiosos do direito empresariai Nilo obstante a cria~ao de um instituto que possibilitasse a limitacao de responsabiHdade para 0 exercicio individual da empresa e anshyseio antigo entre os doutrinadores patrios Nesse sentido ainda que objeto de divergeuromcias 0 novo ente com certeza e muito bem-vindo

2OS ASPECTOS CONTROVERTIDOS ACERCA DA EIRElI

Apresentadas as caracteristicas fundamentais da EIRElI conforme as disposicoes legais vigentes faz-se necessario apresentar as controversias que delas surgem A doutrina jurfdica diverge ja que algumas das caracteshyrfsticas da EIRELI supostamente vao de encontro a conceitos estabelecidos e institutos consolidados ao lange de seculos

Os principais aspectos controvertidos acerca da EIRELI dizem respeito as exigencias feitas pelo legislador para sua constituicao especialmente no que tange ao capital mlnimo a ser investido quem pode ser seu titu lar equal a sua natureza jurfdica

21 QUEM PODE SER TITULAR DE UMA EIRElI

Uma das questOes mais problematicas acerca do novo instituto diz respeito aqueles que podem ser titulares de uma EIRELI

Como visto 0 art 980-A do C6digo Civil disp6e em seu caput que a EIREU sera constitufda por uma Cinica pessoa titular de todo 0 capital social o DNRC por seu turno emitiu instru~ao normativa aprovando 0 Manual de Atos de Registro de Empresa Individual de Responsabilidade limitada23

a ser adotado pelas Juntas Comercias de todos os Estados 0 qual preve expressamente que apenas as pessoas fisicas maiores capazes e livres de

q1iili~querimpedimentos legais podemsertittJlar~sde jma BREtt

Ejustamente na redacao da lei e da instrucao normativa do DNRC que reside grande parte da controversia

Hi quem defenda a possibilidade de constituicao da EIRELI por pesshysoas juridicas sob 0 argumento de que se 0 texto legal nao taz qualquer proibicao de forma expressa referindo-se apenas a pessoa ff

nao poderiam os operadores interpretar a norma de forma a excluir algum sujeito de direishyto quando a propria norma nao 0 faz

------~~ -~--~----~----bull---shyda Instru~ao Normativa n 1172011 do Departamento Nacional de Registro do Comercio

em ltllttpwwwdnrcgovbrILegislacaQIIN20117202011pdfgt

RUE N 43 - MarmiddotAbdZ015 - PAHTf GERAl- DOUrnIlIA_

Nesse sentido

C6mefeitO(Jcaput do art 980-A do C6digo Civil expressamente prescreve que a EIREU sera constitllfda par uma unica pessoa sem excluir as pessoas jurrdicas nem restringir essa passibilidade exclusivamente as pessoas ffsicas Ora pessaa jurfdica tambem e pessaa (Mela 2011 p indeterminada)

Da mesma forma defende-se a ideia de que adotar uma interpretacao que restrinja 0 direito de uma pessoa juridica constituir uma EIREU seria afrontar a princfpio constitucional da legalidade uma vez que se a proibishycao nao esta expressa a pennissao estaria subentendida

[ J naa ha impedimenta legal para que uma pes sea juridica titularize 0 cashypital social de uma EIRELI e sob 0 primado de uma ordem jurfdica liberal afirma-se que 0 que nao esta proibido ou ordenade e permitido Esta leitura decorre diretamente do principia da legalidade consagrado na art 5Q

II da Constitui~ao Federal que estabelece que ninguem sera abrigado a fazer Oll

deixar de fazer aigllma coisa senao em virtude de lei (Lupi Schlosser 2012 p indeterminadal

Fabio Ulhoa Coelho (2012 p 409) tambem entende que a EIRELI para ele uma sociedade limitada unipessoal 24

pode ser constitufda tanto por s6cio Cinico pessoa fisica como juridica

No mesmo sentido sustenta-se que a intencao do legislador com a publicacao da lei nQ 124412011 teria sido justamente permitir a constituishycao de EIRElI por pessoa juridica ja que suprimiu da redacao original dos Projetos de lei nQs 46052009 e 49532009 a restritao que era expressa (Melo 2012 p indeterminada)

QO Projeton 46052009 de autoria do Deputado Marcos MonteSi

tinhapbr objetivoaindusao noC6digo Civil de 2002 do art 98S-A 0

qual teria a seguinte redacao A empresa individual de responsabilidade limitada sera constituida por um Cinico s6cio pessoa natural que e 0 titular da totalidade do capital social e que somente podera figurar numa unica empresa dessa modalidade (Brasil 2009 p indeterminada)

Ja 0 Projeto nQ 49532009 de autoria do Deputado Eduardo Sciarra intencionava a incillsao do art 980-A no C6digo Civil de 2002 com a seshyguinte redacao Qualquer pessoa ffsica que atenda ao disposto no art 972

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24 Para Fabio Ulhoa Coelho (2012 p 409) a EIRELI deve ser considerada como urna sociedade limitada umpessoa Sustenta que a interpretaao sistematica do direito positivo conduz conciusao de que nao se trata de nova esp~cie de pessoa jurldica mas do nomen juris dado ~ sociedade limitada unipessoal Tratarshy-se-a melhor cia natureza jurldica da EIRELI no item 33 deste artigo

lU ROE Ndeg 43 - MarmiddotAbifZ015 - PARTE GEML - DOUIRIVA

que exena ou deseje exercer profissionalmente a atividade de empresario podera constituir Empreendimento Individual de Responsabilidade limitashyda (Brasil 2009 p indeterminada)

Assim ja que suprimidos os termos natural e ffsica que acompashynhavam a pessoa na redacao original dos projetos de lei a intencao do legislador so poderia ser permitir que a EIRELI fosse constituida tambem por pessoas juridicas (Rivas 2012 p indeterminada)

Outro argumento apresentado por aqueles que defendem a possibishylidade de a pessoa juridica ser titular de EIRELI ea fadlitacao da instalacao e do funcionamento de sociedades ernpresarias estrangeiras no Pais como forma de aquecer a economia nacional

Fundamental mencionar que a possibilidade de constituiltao de EIRELI par pessoas jurfdicas val facilitar de sobremaneira a instalaltao de sociedades estrangeiras no Brasil Estas ao consultarem advogados brasileiros sobre os procedimentos necessarios ao infcio do desenvolvimento de suas atlvidades no pais invariavelmente surpreendem-se com a quanti dade e complexidade dos procedimentos sendo que dentre eles urn que normal mente cria bastanshyte dificuldade e justamente a necessidade de indicaltao de uma pluralidade de s6cios na sociedade brasileira 0 que muitas vezes as obriga a indicaltao de pessoa ffsica com participaltao apenas simb6lica simplesmente para atenshyder ao formalismo exigi do (Martins Fllho sd p indeterminada)

Contra tal argumento Wilges Ariana Bruscato (2012) sustenta que embora investimentos estrangeiros sejam importantes para 0 desenvolvishymento economico do PaIS a EIRELI nao pode servir como uma forma de burlar a egisla~ao vigente que regulamenta a instalacao e 0 iuncionamento de socitgtdades estrangeiras no Brasil Para a autora trata-se de materia de ordem publica antesdesermateria de~ireito empresqrill e por esla nao pode ser superadclcOni atrid~5oili EIRELI

Tambem com base nos textos dos projetos que deram origem a lei em comento a autora conclui que a omissao dos termos natural ou flshysica para definir qual 0 tipo de pessoa poderia constituir EIRELI teria sido acidentai haja vista que nao houve qualquer justificativa para a supressao da restricao que era expressa nos textos dos projetos ou seja em momenta algum durante 0 tramite do processo legislativo justificou-se tal supressao no interesse de estender as pessoas juridjcas apossibilidade de constituicao de EIRELI (Bruscato 2012)

No mesmo sentido e 0 entendimento de Jacques Maika y Negri (2012 p indeterminada)

RUE N 43 - MarJIbrl2015 - PARTE GERAl- DOUTAINL

Analisado 0 processo legislativo fica claro que houve lapso por parte do reatqrct9Jrojeto substituto DeputadoMamelo Itagiba e nao supressao deshyliberada da expressao natural caso em que 0 parlamentarteria justificado a alteraltao e a sua intenltao

Esta foj tambem a conclusao aqual chegaram os jurislas integrantes do Conselho da Justica Federal que em sua V Jornada de Direito Civil ocorshyrida em novembro de 2011 emitiram 0 Enunciado nQ 4682~ segundo 0 qual apenas as pessoas ffsicas podem constituir EIRELI

Parece evidente que antes de consolidar-se entendimento acerca da possibilidade ou nao de pessoas juridicas virem a constitu ir empresas indivishyduais de responsabilidade limitada sera no Judiciario que esta problematica sera discutida em maior escala

Recentemente 0 Jufzo da 9il Vara da Fazenda Publica do Rio de janeiroRj proferiu decisao na qual deferiu em mandado de scguranca (Proshycesso nQ 0054566-7120128190001) impetrado em face da Junta Comershycial daquele estado medida liminar para que uma pessoa jurfdica levasse a diante 0 processo de transformalt50 de sociedade empresaria em EIRELI Trata-se de sociedade limitada composta por um socio pessoa juridica e um socio pessoa ffsica e este ultimo retirou-se da sociedade A pretensao posta em juizo era de que a sociedade limitada pudesse ser transformada em EIRELI como resultado daiconcentraltao das quotas sociais em um dos s6cios no caso 0 s6cio pessoa juridica 0 pedido foi negado pela Junta Coshymercial do Estado do Rio de Janeiro sob a alegaltao de que a transformacao de uma sociedade empresaria em EIRELI no caso de inexistencia superveshyniente de pluralidade de socios e possivel desde que 0 socio sobre quem se concentre a totalidade das quotas sociais sejaumapessoa f[sica e nao illrfdGa 0 pedido liminar vertidoem sooede mandadodemiddot seguran~a foi aeferido tendo 0 juizo da 9~ Vara da Fazenda Publica do Rio de JaneiroRJ sustentado que nao existe impedimento legal para que 0 titular da EIRELI seja uma pessoa juridica

Recurso de agravo de inslrumento foj interposto pela re (0016183shy2720128190000) e este foi provido para anular a decisao agravada mas reconhecendo a incompetencia do juizo declinando da mesma para a Jusshytica Federal 0 processo que recebeu 0 nQ 0008231-2720124025101 tramitou perante a 12~ Vara Federal do Rio de Janeiro Em que pese tenha sido ratificada a decisao da justica estadual para conceder a medida limishy~---~~-- ------------- 25 Enunciado nO 468 do CJF Art 9SOmiddotA A empresa individual de responsabildade limitada sO poder~ S8r

conslitufda por pessoa nattJral (BraSil 2011 p indetemlinada)

1 ROE n 43 - MarmiddotAhrIZOI5- PARlE GERAl- DOUTBINA

nar pleiteada a sentenca denegou a seguranta sob 0 fundamento de que embora no tramite legislativo 0 termo natural tenha sido exduido do art 980-A do Codigo Civiftodomnteudo daLei nlt1 124412011 que criou a EIRELI foj engendrado para abarcar apenas a possibjljdade de que seu titular fosse pessoa natural Da decisao nao foi interposto recurs026 bull

Como se percebe embora haja discussao doutrinaria ace rca da possishybilidade de a pessoa juridica ser titular de uma EIRElI ha que se considerar que diante do posicionamento do DNRC esposado na IN 1172011 bem como do Conselho da Justica Federal atualmente ainda que na pratica prevalece 0 entendimento de que apenas pessoas fisicas podem constituir EIRElI

22 AEIHELI EO CAPITAL MiNIMO PARA SUA CONSTITUICAO IN)CONSTITUCIONAUDADE DA NORMA

A exigencia de capital minimo para a constituicao da EIRElI em valor nao inferior a 100 vezes 0 maior salario-minimo vigente no Pais tambem e controvertida

No minimol e possivel vislumbrar tal exigencia como uma forma de trazer seguranta ao instituto ja que com a constituicao da EIRElI 0 emshypreendedor goza de uma separacao entre 0 patrimonio afetado ao exercfcio da atividade e 0 seu patrimanio pessoal A exigencia de urn capital minimo pode ser vista como uma forma de garantir 0 cumprimento das obrigac5es assumidas no exercfcio da atividade Uma garantia para eventuais credores da EIRUI

Em outras palavras 0 estabelecimento de um capital minima e necesshysario para dar credibilidade ao instituto recem-criado ja que com a consshytituicao da EIRELI ha uma autonomia patrimonial ha uma separacao entre o patfifl~niHi~Rif~8qI~middotatJvidade ecooomieuroa--e-G-pattimQlli0partiS2ulill~Qrmiddot titu lar (Pessoa 2011)

Sao muitos no entanto os argumentos contrarios aexigencia imposta pelo texto legal

Inicialmente destaca-se que nao existe via de regra capital minimo estabelecido para a constituitao de sociedades ou registro de empresario individual no Brasil exigindo-se tao somente uma adequacao do capital investido ao objeto social motivo pelo qual a exigencia feita somente para a EIRElI e questionavel (Ramos 2012 p 43)

26 Integra da decisaa pode ser visuallzada em lthttpJprocwebjfrjjusbrportalconsultaresconsprocaspgt

RO N 43 - MarmiddotAbrl2815- PARlE GEnAL - DOUfRINL

Com efeito

Anenhumaoutra forma de exerc1cioempresarial no pals se faz a exigencia exceto em casas excepcionais de um minima de capital Como sustentar essa regra para a EIREU 1550 infringe a igualdade de tratamento que deve ser dada a todos genericamente A desigualdade de tratamento existe por certo sem arrostar a isonomia nos casos em que haja no entanto justificativa para tanto (Bruscato 2011 p 29)

Este e tambern 0 entendimento exposto na Atao Direta de Inconstishytucionalidade nQ 4637 proposta pelo Partido Popular Socialista perante 0

Supremo Tribunal Federal a qual ainda se encontra pendente de julgamenshyto Na aludida ADln defende-se que condicionar a constituiltao de uma EJRElI a integralizaltao de um capital minimo sem qualquer motivo evidenshyte e relevante constituiria afronta ao princfpio da isonomia bem como ao fundamento da livre iniciativa2

expresso no art 17028 caput da CF1988 (Brasil2011)

Segundo 0 partido autor da ADln ao estabelecer um capital no valor de 100 vezes 0 salario-minimo vigente no Pais 0 legislador acabou ferindo o prindpio da igualdade Sustenta-se que para a constituiltao de uma socieshydade com socios de responsabilidade limitada como por exemplo a socieshydade limilada nao existe exigencia de capital mlnimo logol nao eposslvel faze-Io em relarao a EIRElI ja que segundo exposto naacao ambas sao pessoas jurfdicas de identica feiltao no que diz respeito a responsabilidade dos proprietarios (Brasil 2011 )

Outro argumento contrario ao capital minimo exigido para a constituishycao da EJRElI diz respeito acapacidade econamica daqueles que poderiam ser beneficiados com a criacao danolafi~ura isto e os pequenos empre~ endedores que antesdacriacaoddriYovoenteou empresariavam de forma individual sem limitacao de responsabilidade e separacao de patrimonio ou necessariamente tinham de estabelecer sociedades apenas para gozar da autonomia patrimonial e assim reduzir os riscos do empreendimento Nesse

27 A livre iniciativa segundo Pedro le~7a e um dos pilares da ordem econOmica ao lado da valoriza~ao do Irabalha humano (lenza 201 p 984) Inocsectncio Martires Coelho citando Miguel Reale explica que livre iniciativa e livre concorrencla silo conceitos complementares mas essenciamente distinlos A primeira nao 0 senaa a proje~ao da liberdade individual no plano de produ~ao citula~ao e distribuii8o das riquezas assegurando nao apenas a livre esoolha des proflssoes e das atlvidades econ8mlcas mas tambem a autonoma elei~ao dos processos ou meios julgados mais adequados aconsecu~iio des fins visados liberdade de fins ede maios informa aprincipia de livre inicleliva conlerindo-Ihe um valar primordial como results da interpreta~ao conjugada dos cftados arts 1deg e [70 (Reale apud Mendes Coelho Branco 2010 p 1409)

28 Art 170 da CF11988 A ordem econOmica fundada na valoriza~~o do trabalho humano e na livre iniciativa tern por tim assegurar a todosexist~ncia digna conforme es ditames da Justia SOCial observados as seguintesprinclpies [J (6rasll 1988 p indeterminada)

liU RDE 43 - MarmiddotAbr2015 - PARTE GEllAl- OOUfOINA

caso a sociedade era constitufda normalmente com pessoas pr6ximas mas sem nenhum interesse na atividade as quais figuravam nocQotratosocial

como titulares de percentual minima das quotas sociais constituindo as chamadas sociedades de fachada ja mencionadas29 bull

Nesse ponto pode-se dizer que apesar das crfticas disparadas ao novel instituto a EIRELI mostra-5e como instrumento eficaz para coibir a praticc comumente adotada no Brasil de conslituiyJo de sociedades em que um dos s6ci05 nao tem qualquer participa)ao na gestao do empreendishymento formada com 0 dnico objetivo de limitar a responsabilidade do emshypresario que na pratica exerce a empresa individualmente (Ramos 2012 p 40-41)

Por essa razJo e que uma vez sendo 0 objetivo da criaCJo da EIRELI estimular 0 exercicio de atividade empresaria especialmente por pequenos empreendedores 0 valor de 100 (cem) vezes 0 salario-minimo mostra-se desproporcional 1550 porque grande parte dos empreendedores que podem se enquadrar na EIRELI iniciam suas atividades com capital bastante inferior Afirma-se que 0 capital minimo estabelecido pelo legislador esta longe da realidade dos pequenos empreendedores brasiieiros e caracteriza desresshypeito ao principio da livre iniciativa Assim 0 legislador patrio nao teria la5shytreado a fixayao deste valor em estudos sobre a capacidade econ6mico-fishynanceira dos provaveis interessados nesta especie societaria (Pessoa 2011 )

Estes sao tambem os argumentos que embasam a justificativa do Proshyjeto de Lei nQ 24682011 de autoria do Deputado Carlos Bezerra Segundo o parlamentar a exigencia feita pelo legislador retira dos pequenos empreshyendedores a possibilidade de coostituiyao de lima EIRELI haja vista que 0

valor exigido na Lei 0 2 124412011 supera significativamente 0 valor geshyralmente empregado para a constitlliyao dasPeqU~PilSempresas Por essa raz~(jo aludidoprojeto tem como um (feseusigtbJetivosillterar 0 art 9~O-A do Codigo Civil para reduzir de 100 para 50 salarios-mfnimos 0 capital minima exigido para a constitui~ao de lima EIREU (Brasil 2011)

Seguindo mesmo entendimento

29 A exist~ncia das chamadas sociedades de fachada Ii conhecida desde ha multo olio apenas pela dovtrina mas tam~m pela junsprud~ncia de nossos trlbunais 0 reconhecimento desta situa~ao se faz relevante tanto para que possa coibir tal praliea quanto para proteger a indivlduo que comprovadamente jamals exerceL qualqller poder de administra~ao sobre a sociedade da responsabllizagao pelos atos praticados indlvidualmente pelo s6cio detentor da quase totalidade das quotas sociais A tItulo de exemplo Execu~ao fiscal E aparente a socledade em que a imensa maioria das quotas pertenee a uma s6 pessoa flsiea Sltua~ao que mascara a atividade de urn comereiante em nome Individual Indelerlmento do pedido de penhora sobre bens do s60lo de fachada Decisao acertada potque de acordo com a realldade fatlca Agravo improvldo (TJRS AI 591020177 1 ccrv Rei Jose Velllnha de Lacenla J 21051991)

30

ROE N 43 - MarmiddotAlIr2n15 - PAUn GfRAl- OUUmINL

Deveria ser desnecessario diz~-Io mas tal materia nao poderia jamais ser objeto de decisao arbitraria sob pena de frustraiOobjetivo mesmo da norshyma e ll1alferir a Constituirao 0 numero 100 ninguem negara soa bem aos ouvidos mas isso nao deveria bastar para inseri-Io em texto legal Se de fato sua eleirao foi desacompanhada de qualquer embasamento tecnico e passrvel demonstrar-se inclusive mediante a colheita de dados estatisticos e indicacoes de direito comparado a inconstitucionalidade decorrente da violaSao aos princfpios da isonomia e da razoabllidade Por que se negar ao cidadao que dispanha de 50 salarios-minimos 0 direito de constituir uma EIREU quando em Portugal eassaz inferior 0 montante necessario para faz~shy-10 e no Chile sequer existe exigencia dessa especie (como alias previa 0

texto primitivo do PU e questao cuja resposta se desprovida de fundamenshytos s6lidos atesta a contrariedade aos supracitados principios (Nadu sd p indeterminada)

A exclusao de grande parte dos empreendedores do pafs com a exishygeurogtncia de capital mlnimo alto e tambem argumento da ADln 4637 ja que o objetivo primordial da norma recem-criada e fomentar 0 desenvolvimento ecoo6mico e social do pais Sustenta-se que tal objetivo esta sendo prejudishycado oa medida em que a legislacao retira de pequenos empreendedores a possibilidade de lanyarem-se no mercado economico de forma regular saindo portanto da informalidade (Brasil 2011 p indeterminadal

Corroborando 0 entendimento aeima Haroldo Malheiros Duclerc Vercosa (2011 p indeterminada) afirma que

rJa crftJca que se faz eque 0 capital mlnimo exigido de tal sociedade deixa a margem urna parcela substancial dos microempresarios patrios os quais continuarao dentro do regime geraf de respollsabilidade patrimonial pessoal (e do risco correspondente) sem acesso ao patrimonio ~eparadoqlleeiQ ltI

serqiad9para q EIRElI a naoser par alguma fugapararrlecanisfnocorno deg dlc6nstitui~ao de uma sociedade limitada com outro socio este detentor de

minima expressao do capital social Mas tal recurso muito utilizado apreshysenta custos que 0 microempresario dificilll1ente poderii suportar

Ainda deve-se considerar que a vinculacao do salario-mfnimo para qualquer fim e expressameote vedada pel a Constituicao Federal de 1988 em seu art 72

IV30 Nesse passo ainda que se considere posslvel Oll ate mesmo necessaria a exigencia de lim capital minimo para a constituicao de

Art lO da Cf1988 Sao direlos dos tlllbalhadores urbanos e rurais aiem de outros que visem il melhoria de sua condl~ilo social L1IV - saIMiomiddotInnlmo lixado em lei naeionalmente uniftcado capaz de arender a suas neeessidades vitais Mslcas e ~s de sua famflia com moradla alilnenta~iio eduoaao saude lazer vestuario higiene transporte e prevldencla social com reaJustes perlMieas que lhe preservem degpoder aquisitivo sendo vedada sua vineula~ilo rara qualqver 11m l (Brasil 1988 p indeterminada)

N N bullbullbullbullbullbull HOE N 43 - MarmiddotAbr2015 -AlIT GERAl- DOUTRIIfA

uma EIRELI este capital em regra nao poderia ser calculado com base no salario-minimo

5eguindo tal raciodnio e por entender que a parte final do art 980shyA do Codigo Civil de 200212 fere 0 disposto no art IV da Constituishylt030 Federal entre os argumentos utilizados na ADIn 4637 esta 0 fato de que 0 eonstituinte com 0 objetivo de evitar que os reajustes peri6dicos do salario-minimo que visam a preserva-ao de seu poder aquisitivD sofram influencias de interesses diversos daqueles previstos na Constitui-ao vedou expressamente a villculacao do salario-minimo para qualquer finalidade (Brasil 2011 p indeterminada)

Ainda eonsiderando a oscilacao que 0 reajuste do salado pode imshypliear a I Jornada de Direito Comercial do Conselho da Justi-a Federal ocorrida em outubro de 2012 no 5TJ definiu por meio do Enunciado nQ 4 que llma vez subscrito e efetivamente integralizado 0 capital da empresa individual de responsabilidade limitada nao sofrera nenhuma influencia deshycorrente de ulteriores alteracoes no salario minimo

Nao obstante os argumentos contrarios e a ADln pendente de julshygamento vige hoje a exigencia de capital minimo para a eonstituirao da EIRELI fixada com base no salario-minimo nacional vigente na epoca da constitu icao

23 EIRElI EMPRESARlO InDIVIDUAL SOCIEDADE EMPRESARIA UlflPESSOAL OU UM TlPO SUI GEMERIS

DE EMPRESARIO

o legislador batizou 0 novo instituto de Empresa Individual de Resshyponsabilidade limitada Em primeiro lugar ha que se considerar que resta eonsagrado na legisla-ao na doutrina e najurisprudencia que empresae uma atividade exerddapelo empresarilte nao uma pessoa urn sujeito de direitos (Moraes 201 0 p 40 Diante disso a primeira crltica feita ao legisshy

31 0 STF ja firmoL entendimento em divesos julgadas no sentido de que e proibida a vinculaao do sailtirio minima para qualquer finalidade Dana moral FiKa~ilo de indenizaltao com vinculaao a salario-minimo Vedaao constitucional Art 7deg IV da Carta Magna 0 Plenario desta Corte ao julgar em 01101997 a ADln 1425 firmou a entendimenro de qle ao estabelecer 0 art 7deg IV da Constitui~iio que e vedada a vincula~o ao salaria-mlnima para quaiquer fim quis evitar que interesses estranhos aos versados na norma constitucional venham a tel influencia na filCll~o do valor minima a ser observado No caso a indenizaltiio par dana moral fo fixada em 500 salarios-minimos para que inequivacamente 0 valor do salilria-mlnlmo a que essa indenizaao esta vinculado atue como fator de atualizaao desta a que IS vedada pela citarlD dispositivo canstitucional Outros precedentes desta Corte quanta 11 vedaao da vinculagao em causa ReculSo extraordinario conhecido e provida

32 Art 98QA do CCB A empresa individual de responsabilidade limitada sera constituida por uma dnica pessoa titular da totalidade do capital social devidamente integralizado que nao sera inferior a 100 (cern) vezes 0

malar salMo-mfnimo vigenre no Pars (Brasil 2002 paginaltaa indeterminada)

33

ROE N 43 - MarmiddotAbr2015 - PARlE GERAl- DOUmIIlL 1

lador infraconstitucional acerca da natureza juridica da EIRELI diz respeito asuafaLta detecnica para dar nome ao institutomiddot recem~criado chamando de empresa uma especie de empresario (Ramos 2012)

Ora se empresa e uma atividade e nao um sujeito de direitos a falha tecnica legislativa contribtli para a compreensao inadequada que cornushymente se faz da empresa ou seja confundindo-a com a propria pessoa dica ou ainda com 0 estabelecimento empresarial Por essa razao a crftica vem no sentido de que a terminologia mais adequada seria empresario e nao empresa

Nominada de forma equivocada ou nao uma figura juridica capaz de conferir a possibilidade de exercfcio da empresa por uma s6 pessoa ffsiea com separa-ao de patrimonio e limita-ao de responsabilidade e como ja dito desejo antigo da dOlltrina brasileira Como exemplo epossivel citar 0

projeto de Lei nil 201 de 194733 apresentado pelo entao Deputado Fausto

de Freitas e Castro 0 qual dispunha em seu art 12 que qualquer pessoa capaz de exereer 0 eomercio podera constituir empresa em nome individual limitando a sua responsab[lidade pelos neg6cios da mesma ao valor do capital declarado (Martins Filho 1950 p 64-66)

Antonio Martins Filho em cuja obra Umitatiio da responsabilidade do comerciante individual analisa 0 aludido projeto de lei afirmava

A empresa individual de responsabilidade limitada constituindo a ultima fase do processo evolutivo da limitaltao dos riscos e insistentemente redashymada pelos agentes da atividade econ6mica dos novos tempos Recusando-a de direito nao evitara 0 legislador a existencia de fato desse tipo de empresa que passa a funcionar sob forma de sociedade fictfcia ou unipessoal (Martins Filho 1950 p 9)

ja naquela epoca ainda sob a vigencia do Codigo Comercial de 1850 e do C6digo Civil de 1916 0 autor ressaltava a importancia da limita~ao de responsabilidade daquele que era conhecido como comerciante individual (hoje empresario individual) bem como reconhecia a existencia de socieshydades constitufdas apenas formalmente para 0 fim de aquisi=ao de personashylidade jurfdica pr6pria e separa-ao de patrimonio a partir do que concluia que apenas a cria-ao da empresa individual de responsabilidade limitada

Projeto de Lei nO 201 de 1947 anexo abra Limitarl0 de resJOflsabilidade do comerciante individual MARTINS FILHO AntOnio Anais do Congresso Jurfdico Nacional Comemorativo do Cinquenlenario da Faculdade de Direito de Porto Alegre Revisa de Fecudade de Direito de Porto Alegre Porto Alegre URGS maio 1950

middot RDE II U - MarmiddotAer201S - PARrE GER~L - DoumlNA

serla capaz de acabar com tal pratica tao comum no Brasil (Martins Filho

1950)

Em 2005 Wilges Ariana Bruscato tambem assinalava a importanshycia do exercicio individual da empresa com limita=ao de responsabilidade como forma eficaz de fomento da economia

jft que 0 modus vivendi de nossa sociedade atual baseia-se em resultados economicos e relevante acenar com contribuilt6es para 0 desenvolvimento da atividade empresarial feita de maneira singular como forma de incentivar as pequenas iniciativas que num 6istema de colmeia representam a agreshyga~ao de vaores sociais importantes como 0 emprego 0 recolhimento de tributo a disseminaltao tecnologica entre outros ou seja 0 favorecimento de pequenas iniciativas que aquecem a economia (Bruscato 2005 p 75)

No mesmo sentido Felipe Ferreira Machado Moraes (2010 p 37-38) sustenta a necessidade de limita=ao da responsabilidade do empresario inshydividual como forma de cumprir os objetivos do Estado Democratico de Direlto tais como expressos na pr6pria Constitui=ao Federal de 1988

Em um Eslado Democratico de Direilo em que a propria Constituiltao da Republica contempla dispositivos que pregam 0 desenvolvimento nacional a livre iniciativa e inclusive 0 tratamento favorecido as empresas de pequeno porte nao parece prosperar 0 entendimento de que 0 empresario individual deve ter sua responsabilidade ilimitada respondendo com a totalidade de seu patrimonio particular (civil) por eventuais insucessos de seu empreendishy

mento

o anseio pela limitarao da responsabilidade no exerdcio individual da ernpreSq~Iil~re ()s~doutrinadores patrios baseava-se frequenteniente experiencia de outros paises que regulamentaram em sua ordem interna diversas formas de possibilitar a limitarao de responsabilidade daquele que

deseja empresariar individualmente

Na Alemanha como visto surgiu 0 primeiro modelo de sociedade por quotas de responsabilidade limitada em 1892 Em 1981 quase um 56shyculo depois entra em vigor a lei que alterou a legislarao das Sociedades por Quotas de Responsabilidade limitada para introduzir no ordenamenshyto juridico alemao a Sociedade por Quotas de Responsabilidade Limitada Unipessoal Passou-se enUlo a permitir a constituirao de Sociedades por Quotas de Responsabilidade Limitada por apenas uma pessoa (ffsica ou jushy

ridica) (Abrao 2000 p 6)

ROE N 43 - M8rmiddotAb~2015 - PARr CEIlAL - DOUTRlIIAmiddotmiddotmiddotmiddot

Tambem na Fran=a ap6s a regulamenta=ao clas sociedades por quoshytas de fesponsabiJidade Itmitadaiolintroduzida a limitada unipessoal em 1985 permitindo iguafmente a constituirao de sociedades unipessoais (Abrao 2000 p 12)

Ja em Portugal existem duas possibilidades para 0 exercfcio indivishydual da empresa Em 1986 0 Decreto-Lei nQ 2481986 criou a figura do Esshytabelecimento Individual de Responsabilidade limitada EtRL Trata-se de figura na~ dotada de personalidade juridica constilufda atraves de um pashytrimonio de afetarao por meio do qual uma pessoa fisica explora uma ativishydade economica empresarial Para a constituirao de um EIRL e necessario o investimento minima de euro 5000 (cinco mil euros) Ja a segunda forma de empresariar individualmente em Portugal com separarao patrimonial e limitarao de responsabilidade foi regulamentada 10 anos ap6s 0 EIRL por meio do Decreto-Lei nil 2571996 a Sociedade Unipessoal par Quotas Tal sociedade e constitufda por uma 56 pessoa (fIsica OU juridical titular de todo o capital social e cuja responsabllidade esta limitada ao capital investido sendo este livremente fixado pelo s6cio ou seja nao ha exigencia de capital mlnimo para a SUQ ao contrario do que ocorre com 0 EIR134

bull

Na experiencia brasileira entretanto ate a ediraa da Lei nQ 124412011 nao havia possibilidade de exercer uma atividade econoshymica organizada de forma individual sem 0 camprometimento da totalidade do patrimonio do empresario A sociedade unipessoal admitida em palses europeus desde meados de 1980 somente era permitida no Brasil em duas hip6teses excepcionais quais sejam a subsidiaria integral prevista na Lei das Sociedades Anonimas (Lei nQ 64041976)35 e a unipessoalidade ternshyporaria da sociedade pelo prazo de cento e oitenta dias conforme dispoe 0

art 1033 IVJ6 do C6qigoCiv

Assim no Brasil ap6s anos de discussao doutrimiria e de entendishymento quanta a necessidade de cria=ao de um instituto que viabilizasse 0

exercfcio da empresa de forma individual sem que isso acarretasse necessashyria risco ao patrimonio pessoal do empresario 0 legislador infraconstitucioshy

34 Informa~aes dlsponiveis em lthttpwwwpot1lJgalgIObalptPTlnvestirPortugaguiadoinvestldorICriareinstalar PaginaSTipos5ociedadesComerciais aspxgt

35 Art 251 da LSA A companhia pode ser constilulda mediante escrilura publica tendo como unico acionisa sociedade brasileira sect 1deg A sociedade que subscrever em bans 0 capital de subsidiaria inlegral devera aprover o laudo de avaliaifio de que trata 0 art 8deg respondendo nos lermos do sect 6 do art 80 e do art 10 e seu panlgrafo Llnico sect 2deg A companhia pade ser converlda em subsidiara integral mediante aquiSitao por scciedade braslieira de lodes as sues ayoes ou nos lermos do art 252

36 Art 1033 do eC8 Dissolve-se a scciedade quando oeorrer 11 IV a falla de pluralidede de socios nila reconstltufda no prazo de cenro e oitenla dias L J

ROE Ndeg 43 - MarmiddotAbr2015 - PARTI GERAl- OUIRINA

nal consagrou a flgura da Empresa Individual de Responsabilidade Limitada a EIRELI

Quando inserida no ordenamento juridico a EIRElI gerou controvershysias acerca da sua natureza juridica Ha que diga tratar-se de empresario inshydividual por outro lado ha que afirme tratar-se de uma sociedade limitada unipessoal No entanto hii tambem uma terceira corrente que afirma ser a EIRELI uma nova especie de pessoa juridical um ente distinto do empresario individual e das sociedades empresarias

A corrente menos express iva considera a EIRELI uma nova modalishydade de empresario individual ou seja um empresario individual de resshyponsabilidade limitada Para tal corrente 0 empresario individual ate en tao conhecido aquele que e pessoa fisica permanece existindo passando a existir 0 empresario individual pessoa jurfdica

Nesse senti do

Apesar de ser uma pessoa jurfdica a EIRELI nao euma sociedade empresaria mas sim uma forma diferenciada de constituiyao de empresario individual (que ao contrltirio daquela e pessoa natural) (Cardoso 2012 p indetermishynada)

Outra corrente mais expressiva e a capitaneada par Fabio Ulhoa Coelho (2012 p 409) para quem a EIRELI e uma sociedade empresaria definindo-a como uma sociedade limitada unipessoal na qual apenas uma pessoa (rfsica ou jurfdica no entender do autor) sera titular da totalidade das quotas socials 0 autor salienta que 0 sect 6Q do art 980middotA do C6digo Civil pershymite concluir que a EIRELI eespecie de sociedade limitada pois se submete as regras deste tipo societario

Da mesma forma Gustavo de Alvarenga Batista (2012) defi ne Em terrnosmiddotpraticos aEIRELI possibilitaqueiumemprksaflopessoa constitua uma sociedade unipessoal na qual fica sua responsabilidade atreshylada ao valor do capital por ele integralizado

Ja Andre Luiz Santa Cruz Ramos (2012) entende que 0 legislador criou uma nova figura juridica distinta da sociedade eillpresaria e do empresario individual mas com caracteristicas semelhantes a ambos No entanto 0 aushytor entende que foi um equivoco a cria~ao de um novo tipo de pessoa jurfshydica Sustenta que 0 legislador poderia tao somente ter consagrado 0 empreshysario individual de responsabilidade limitada que continuaria sendo uma pessoa fisica mas gozando da separa~ao entre 0 seu patrimonio pessoal e aquele afetado ao exercfcio da atividade economica ou ainda consagrado

ROE N 43 - MarmiddotAbrI21115- PARrE GERAl- OUTRINL

efetivamente a sociedade empresaria unipessoal bastando para tanto inshycluirentreasEseecies de sociedades ja existentes a sociedade constitulda par um 6nico s6cio titular de todas as quotas Em qualquer dos casos a insenao feita no art 44 do C6digo Civil seria desnecessaria

Do mesmo entendimento compartilha Wilges Ariana Bruscato (2011 p 10) que afirma que acaso a EIREU fosse uma sociedade unipessoal nao haveria necessidade de inclusao do instituto no inciso VI do art 44 do C6shydigo Civil ja que as sociedades ja estao previstas no inciso II do mesmo dispositivo Da forma como posta nao existe sociedade e silll um tipo sui generis no direito patrio Ainda afirma-se que

a EIREI nao tem natureza juridica de sociedade empresaria ao contrario do que muitos ainda defendem mas trata-se de uma nova categoria de pessoa jurfdica de direito privado que tambem se destina ao exercfcio da empresa Tanto que a Lei nQ 124412011 incluiu as empresas individuais de responsashybilidade limitada no rol de pessoas jurfdicas de direito privado do art 44 do C6digo Civil (inciso Vi) Ademais a lei nQ 124412011 ao inserir no C6dishygo Civil 0 art 980-A teve 0 cuidado de topograficamente tambemcriar um novo titulo (mulo I-A Da Empresa Individual de Responsabiidade Umitashyda) situado entre os Titulos I e II que tratam respedivamente do empresario individual e das sociedades empresarias (Pinheiro 2011 p indeterminadal

Nao obstante os variados entendimentos ha Uma tendencia de que a EIRELI seja efetivaillente compreendida como uma nova especie de pessoa juridica nao se tratando de empresario indiVidual tampouco de sOliedade empresaria ainda que unipessoal Tanto e assim que na ja mencionada I Jarnada de Direito Comercial do Conselho da Justi~a Federal foi aprovado o Enunciado nil 3 com a seguinte redacao A Empresa Individual de Resshyponsabilidade Limitada - ElRELI nao e sociedade unipessoa mas um novo ente~j_stjn~q da pessoa doempresarioe da sociedade eiTlpresfiriao qual seguia ciresmmiddota Iinha do Enunciado nil 46937 da V Jornada de Direito Civil que afirma que a empresa individual de responsabilidade limitada (EIRELI) nao e sociedade mas nova ente jurfdica personificado

24 AEIRELI EO PRomo DE NOVO CUOIGO COMERCIAl EXTINCAO DO INSTITUTO [ CRI~O DE f40VAS FIGURAS1

Tramita no Congresso Nacional 0 Projeta de Lei nil 15722011 que visa a instjtui~ao de um novo C6digo Comercial com a consequente revoshy

~__~~M~~~~ __ __ ___~_____ _~

37 Enunciado n 469 do elF Arts 44 e 980middotA A empresa individual de responsabilidade Iimltada (poundIRELI) olio Ii sociedade mas novo ente jurrdico personificado

Ii r~ RDE Nmiddot 43 - MarmiddotAbrf2615 - PARTE GERAl- OnUIRIUA

gasao de diversos dispositivos do atual C6digo Civil bem como de legislashysoes esparsas

o projeto apresentado pelo Deputado Vicente Candido baseado em minuta elaborada por Fabio Ulhoa Coelho na obra 0 futuro do direito coshymercia tem como uma de suas justificativas a sistematizasao revisao aperfeiltoamento e modernizasao da disciplina jurldica do estabeledmento empresarial do comercio eletronico da concorrencia desleal das condutas parasitarias da escrituratao mercantit do exerddo individual da empresa e da sociedade unipessoal (Brasil 2011 p 118)

Dito projeto nao traz em seu texto referenda expressa ao instituto recem-criado a EIRELI No entanto consagra duas figuras que merecem especial atensao sao elas 0 empresario individual em regime fiduciario e a sociedade Iimitada unipessoajJs

o empresario individual tal como e conhecido atualmente nao deishyxa de existir na redasao do projeto de NCCom sendo disciplinado entre os arts 14 a 32 do projeto de lei No que tange as suas caracteristicas esshysenciais 0 empresario individual permanece sendo pessoa ffsica que exershyce singularmente uma empresa sem limitaltao de responsabilidade nao se submetendo ao prindpio da autonornia patrimonial

Entretanto alem do empresario individual ate 0 momenta conhecido o novo C6digo Comercial visa a instituir outras duas formas de exerdcio individual da empresa como jei dito as quais possibilitam a separaSao de patrimonio e limitaltao de responsabilidade do empreendedor 0 empresashyrio individual que exerce a empresa em regime fiduciari039 e a sociedade limitada unipessoal

Da leitura do projeto infere-se que 0 empresario individual ao reshyquerer 0 seu registro comeh~rfipfesarioquntamp ao 6rgaocompetente poderamiddot fazer uma declaratao na qual conste que 0 exercicio da empresa dar-seshy

38 Na verdadc ha que se pontuar que 0 projeto de lei esta baseado em texto do jurisla Fabio Ulhoa Coelho a entende que a EIREU euma socied8de limiteda unipessoal e n~o ume nova especie de pessoa juridica eo fato pelo qual nao esta ela prevista nesse lormato no relerido projeto

39 A fiducia tem origem no direito romano ral institwlo caraclerlzamiddotse pela contiana e boa-lEi existentes entre fidLicianle e fiduciario A propriedade fiduciira por sua vez caracteriza-se quando determinado bern ou conjento de bens e destinado II gamntia de certo(s) credor(es) ou scja os bens constltuldos como propriedade fiduciaria de destlnam a garantia do cumprimento de determlnadas obrlgaltOes do liduciaro perante 0 fiduciante nao podendo ser objeto de expropriaao Pilra a adlmplemenlo das obriga6es pessoafs do fiduciiirio (Restlffe Neto Rest1ffe 20001 Segundo a C6digo Civil de 2002 em seu art L35 considerashysa propriedade fiducjaria a proprfedade resoliNel de caisa m6vel imungfvel Que 0 devedor com escopo de garanta translere ao credor Para maior aprofundamento acarce do tema vide SILVA ltJiz Augusto Beck da Alienaliio fiducitlfia ampm garantia 4 ed RIO de Janeiro forense 1998

RDE N 43 - Mar-AbtfZ015 - PARrE GERAl- DOUTRINL

-a em regime fiduciario Com a referida dedaraltao 0 empresario devera constitJir 1m patrimbnio relaeuroionado aattvrdade empresarial que pretende exercer absolutamente separado de seu patrimonio pessoaL

Assim uma vez cumpridos os requisitos 0 empresario individual desshysa modalidade (que continuaria sendo pessoa fisica) nao poderia ter seu patrimonio pessoal expropriado para 0 cumprimento das obrigalt6es assushymidas no exercicio da atividade salvo se conforme disp6e 0 sect 29 do art 32 do NCCom se tratarem de obrigaltoes de natureza trabalhista e triblltaria relacionadas ou nao com a empresa Trata-se pois do estabelecimento de um patrimonio de afetaltao que serviria de garantia aos credares do em preshysarlo individual em vez de totalidade do seu patrimonio

A outra forma de exercfcio singular da empresa proposto pelo projeto em comento e a constituiltao de uma sociedade limitada unipessoal Ao tratar das sociedades em especie 0 projeto preve a existencia de cinco tipos societarios (sociedade anonima sociedade limitada sociedade em nome coletivo sociedade em comandita simples e sociedade em comandita par alt6est todos os tipos ja cOllhecidos e previstos no atllal C6digo Civil

A novidade e uma pequena alteraltao feita no ambito das sociedades limitadas para no art 192 dispor que a sociedade limitada sera constishytufda por um ou mais s6cios ou seja retira da definiltao de sociedade a pluralidade dos s6cios

Todavia algumas consideralt6es devem ser feitas acerca do projeto em questao no que tange a sua relaltao com 0 instituto ora estudado

Conforme ja referido a limita~ao de responsabilidade do empresario individual era esperada pela doutrina patria ha muito tempo e a EIRELI foi a

l~gislativaelJcontrada para dar res posta aosansetoSexistentes

Com crfticas ou nao fato e que a EIRELI hoje majoritariamente conshysiderada como uma nova especie de pessoa juridica concebe a limitaltao de responsabilidade no exercfcio individual da empresa e desde 0 infcio de sua vigencia as estatisticas mostram que esta nova forma de exercer a empresa vem crescendo em todo 0 Pafs S6 em Sao Paulo nos primeiros tres meses de sua existencia a EIRELI jii representava mais de 4 do total de registros realizados conforme informaltao publicada pela Junta Comercial do daquele Estad040bull

40 Para majores Inlormacentes e dados estatistlcos vide htlpwwwjucespJazendaspgovbr

RUE III 43 - MOImiddotAbr2U15 - PARTE GERAl- nOUTHINA

Nesse passo cumpre questionar qual sera 0 futuro da EIRELI se 0 Proshyjeto de Lei nQ 15722011 vier a ser aprovado 0 que fazer com as EIRELIs ja existentes ao tempCl da publicacao do novo C6digo Comerdal Sera necesshysaria a criacao de regras de transicao ou os titulares de EIRELI simplesmente serao obrigados a requerer sua transformacao perante as Juntas Comercias para uma das duas modalidades criadas pelo novo C6digo

Certo e que 0 projeto de Novo C6digo Comercial contempla de certa forma a EIRELI mas colocando-a definitivamente como uma especie de sociedade limitada a sociedade limitada unipessoal No entanto ao propor llm projeto e necessario fazer uma analise do impacto que as alteraC6es provocarao sob pena de a nova lei em vez de pacificar entendimentos e llnificar tratamento acabar acarretando um caos inicial comprometendo sua pr6pria legitimidade

CONSIDERA~OES FINAlS

A limitacao de responsabilidade no exerdcio individual da emprcsa e tema recorrente na doutrina brasileira e desejo antigo dos empreendedores Ate a consagrarao da EIRELI par meio da Lei nQ 124412011 tal limitarao nao era posslvel no exercfcio individual da empresa como ja amplamenshyte debatido e demonstrado Com a criacao da EIRELI 0 legislador patrio apresenta aos empreendedores brasileiros uma nova possibilidade para empresariar sem a necessidade de constituirao de sociedades de fachada ou eventual comprometimento da totalidade do patrimonio pessoal do emshypreendedor

Percebe-se contudo que as controversias existentes ern torno da EIRELI ainda sao muitas Mas algumas coisas podem-se dizer certas Prishym~irQjslli1fiIR~khv~i~efetivamentepara privilegiar os pequenosemiddottledioS0i(i empreendedores nao se ve razao plausivel para que ela seja constituida por titular pessoa juridica Beneficiar sociedades estrangeiras e um argumento fraco para fazer esta defesa

Segundo do ponto de vista da garantia dos credores a exigencia de um capital mfnimo tern razao de ser principalmente levando ern conta que ate entao os empresarios individuais respondiam com a totalidade do seu patrimonio Todavia considerando que nao ha exigencia nesse sentido para as demais especies de empresarios de fato fere-se 0 principio da igualdade de tratamento Ainda em rela-ao ao capital minimo se 0 objetivo do legisshylador era beneficiar pequenos e medios empreendedores 0 minima estabeshylecido em 100 vezes 0 salario-mfnimo nacional e bastante alto Talvez uma

nOf Ndeg 43 - MalmiddotAbrl2015 -PARTE GERAl- DOUTRJNL bullbull bullbullbull

adequacao do montante fosse interessante para 0 atingimento dos objetivos do novel instituto

Em relacao a natureza juridica compreender a EIRElI como uma nova especie de pessoa jurfdica e certamente 0 melhor caminho ainda que isso possa parecer estranho ja que se esta diante de uma pessoa jurfdica constituida de uma dnica pessoa Afinal partindo dessa premissa nao seria necessario relativizar 0 conceito de sociedade que exige pluralidade de s6dos tampouco seria necessario pensar um empresario individual pessoa frsica que pudesse ser titular de dois patrimonios autonomos 0 pessoal eo de afetacao

Em derradeira analise no que diz respeito ao Projeto de novo C6digo Comercial cabe apenas ressaltar que eventual aprovacao devera levar em considerarao 0 fato de que como visto desde a entrada ern vigor da Lei nQ 124412011 a procura dos empreendedores por esta modalidade de exercfcio da empresa tern sido grande Contudo 0 projeto de lei nao traz qualquer mencao ao instituto Assim dever-se-a ter uma preocupacao com a transi-ao nao se podendo ignorar a existencia destes slljeitos de direito sem estabelecer qual sera oseu destino Mal se consagram institutos no Brashysil e novamente se pretendem altera~oes legislativas Assim nao se chega a maturidade

Por hora ainda que com quest6es controvertidas ha uma unanimidashyde doutrinaria de que a EIRELI e bem-vinda nao apenas porque oriunda de pleitos antigos mas tambem porque apresenta uma nova possibilidade para quem pretende empresariar no Brasil de modo que ha grande expectativa no sentido de que 0 Poder Judiciario seja capaz de dirimir as controversias existentes causadas basicamente por falhas do legislador permitindo uma amPla utilizacao dQoolRjn~titu~9~gW~Cialmente poraqueles que aoque parece se tentou benefidar 05 pequenos e medios empreendedores brasishyleiros

Page 5: SINTESE - cortemello.com.br · RESUMO A EIRELI - Empresa Individual de Aesponsabilidade Limitada foi introduzida no ordena ... a partir da doutrina de Alberto Asquini, que entende

HOE N 43 - MarmiddotAr2015 - PAIlTE GEfiAl- DOUTRINA

a forma de sociedade cujo objeto social e a explora~ao de uma atividade econCimica organizada (Ramos 2012 p 38)

o ordenamento jurfdico brasileiro trata de maneira bastante distinta os empresarios individuais e as sociedades empresarias especialmente no que tange ao patrimCinio e ao sistema de responsabilidade de um e de outro

o empresario individual nao goza da separa~ao patrimonial da qual gozam as sociedades empresarias pelo fato de estas serem efetivas pessoas jurjdieas7

bull Assim todo 0 patrimCinio do empreendedor esteja ele ou nao afetado ao exerdcio da atividade emplesarial pode ser alcantado para 0

adimplemento das obrigat6es assumidas no exerdcio da empresa Logo 0

sistema de responsabilidade que reeal sobre 0 empresario individual e 0 da responsabilidade ilimitada responde ele com a totalidade do seu patrimCishynio pelas obriga~6es eontraidas no exercicio do neg6cio Conclui-se assim que 0 exerdcio da empresa de forma individual aearreta multo mais riscos do que a explora~ao da atividade mediante a eonstituitao de uma sociedashyde (Ramos 2012)

Nao e por outra razao que Fabio Ulhoa Coelho (2011 p 39) afirma que as atividades economicamente mais importantes sao exercidas pelas sociedades empresarias normal mente sociedades limitadas ou anonimas ja que alem da possibilidade de eompartilhar riscos permite que a atividade seja exercida com limitatao de responsabilidade restando ao empresario individual as atividades de menor envergadura que implieam menores inshyvestimentos ao mesmo tempo em que nao apresenta grande risco de perdas

Evidentemente aventurar-se no ramo empresarial para exploratao de atividade economica implica decisao mais facilmente tomada quando 0

risco assumido e menor ou pelo menos minimizado

Ern virtude daausencia de I imita~ao responsabiiidade pa ra 0 empreshysario individual pratica bastante comum e a constituirao das chamadas 50shy

ciedades de fachada sociedades constitufdas apenas formalmente nas quais urn dos sodos Figura enquanto tal titularizando percentual minimo do capital social sem que seja efetivamente s6cio Na pratica a atividade eexercida de

0 empres~rio individual embora esleja cadastrado no CNPJ 0 recebe apenas para fins tributaries 0 fate de o empresario individual ebler um CNPJ nao 0 translarma em uma pessoa jurldica continuando a ser pessoa fisica Epacifico na dautrina ena jurisprudencia tal entendimento A titulo de exempla Agravo de instrumento Ensino particular 0 palrimanio do empresario individual CQnfunde-se 0011 0 passoai correspondendo a urn 56 conjunlo de bens ouja dominic ) da pessoa Iisica Inexlsle 6biee II constri~ao de palrimanla pertcncente il empresa individual no intuito de garantlr 0 pagamento de dlJbitos contraldos paia pessoa ffsica Agravo de instrumenlo provldo em decisao monocratiea ITJRS AI 70062097407 6a CClvbull ReI Nay Wiedemann Nato J 15102014)

RDE II 43 - Mar-Akrl2015 -PARTE GERAl- nOUTRINA

forma individual mas formal mente apenas para minimizar a risco assumido pelo empreertdecfOr celebra-se contrato de sociedade fazendo surgir a pesshysoa jurldica regularmente constituida (Ramos 2012 p 40-41)

Como visto para alem do empresario individual a outra especie de empresuio e a sociedade empresaria De pronto e importante esclarecer que neste caso os socios da sociedade nao sao pelo menos tecnicamente empresarios Quando constituida uma sociedade esta e que ea empresaria a titular do exercfcio da empresa Conforme ensina Fabio Ulhoa Coelho (2011 p 38-39)

Deve-se desde logo acentuar que as s6dos da sociedade empresaria nao sao empresarios Quando pessoas (naturais) unem seus esforcos para em sociedade ganhar dinheiro com a explora~ao empresarial de uma atividade economica elas nao se tornam empresarias A sociedade par elas constitufshyda uma pessoa juridica com personalidade autonoma sujeito de direito inshydependente eque sera empresaria para todos os efeitos legais Os socios da sodedade cmpresaria sao empreendedores ou investidores de acordo com a colaboracao dada asodedade [1 As regras que se apllcam ao empresario individual nao se aplicaniaos s6dos da sociedade empresaria

A sociedade vem definida no art 981 do C6digo Civil 0 qual disp5e que celebram eontrato de sociedade as pessoas que reciproeamente se obrishygam a contribuir com bens ou servitos para 0 exercfcio de atividade ecoshynCimica e a partilha entre si dos resultados (Brasil 2002 p indeterminada)

Entretanto as primeiras manifestatoes de sociedade enquanto simshyples eomunhiio de esfortos tem sua origem mais remota ainda nos povos primitivos A historia da evolutao da humanidade mostra que desde os peshyr1odo~m~isdistants 05homens conjugavam forcas comaqu~Ies E1mQlle01 depositavan1totl(ian~a com a finalidade de alcimtar objetivos~om~ns os quais nem sempre foram luerativos t na Idade Media contudo que a sociedade tal como conhecida atualmente tem suas raizes especialmenle em virtude do desenvolvimento do comercio em algumas cidades italjanas Neste periodo 0 direito comercial nao passava de um conjunto de usos e costumes adotados pelos primeiros comerciantes chamados mercadores para atender as suas pr6prias necessidades e regulamentar as suas atividashydes Nao obstante foi na Idade Media que foram delineados os primeiros tipos societarios6 que existem ate hoje a sociedade em nome coletivo e a sodedade em comandita simples (Almeida 2011)

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a Para aprofundamento aceres dos tipos societarios previstos no ordenaillenio patrio vide MARTINS Fran Curso de direito comerclal 34 ed Rio de Janeiro Forense 2011 ALMEIDA Amador Paes de Manual rias

7

nos essenshy

e seshy

e os

1407

middot bull RIlE N 43 - MamiddotAbrj2B15 - PARTE GERAl- DOUTlIINA

A sociedade em nome coletivo surgiu na Italia entre os grupos fashymiliares que formavam sociedades posteriormente se desenvolvendo enshytre os artesaos e comerciantes (Almeida 2011) No Brasil regulada arts 10399 e seguintes do C6digo Civil de 2002 caracteriza-se cialmente pelo fato de admitir apenas pessoas fisicas como socios e pelo sistema deresponsabilidade solidaria e ilimitada pelas obrigacoes sociais imposto aos socios Esse sistema de responsabilidade nao e muito atrativo ja que ap6s 0 esgotamento do patrimonio da pessoa juridica 0 patrimonio pessoal dos socios sera atingido para a satisfa-ao das obrigacoes da socieshydade Nesta sociedade nao ha limita-ao de responsabilidade

A sociedade em comandita simples regulada nos arts 104510

guintes do C6digo Civil de 2002 tern sua origem no desenvolvimento do comercio marltimo no chamado contrato de comenda por melo do qual os nobres interessados em comerciar e nao 0 podendo em razlio do conceito que 0 comercio tinha entre aquela casta social confiavam aos comerciantes marftimos certa quanti a em dinheiro para que estes praticando a atividashyde mercantif obtivessem luero 0 qual seria dividido entre estes ultimos e aquele que tinha investido capita Em casu de prejuizo 0 nobre investidor assumia a perda do valor investido (Martins 2011)

Atualmente a sociedade em comandita simples apresenta duas cateshygorias de socias com sistemas de responsabilidade diferentes asemelhan~a do ocorria em sua origem medieval as socios comanditad05 administram 0

negocio e assim respondem solidaria e ilimitadamente pelas obrigalt5es socia is ja os socios comanditarios apenas investem capital para 0 exerdcio da empresa nao participando de sua administraltao e por isso respondem de forma limitada ao capital investido au seja nesta sociedade esgotado o patrimonio social somente parte dos s6cios podera ter 0 seu patrimonio pessoal atingido para satisfa-ao das obrigacoes da sociedade

A sociedade ari6tiitnatamberi1conhecida comocompanhia em pese nao haja entendimento pacifico na doutrina ace rca de sua origem na uma quase unanimidadell ao afirmar que a primeira manifestaltlio definitiva

sociedades comereais 19 ed Sao Paulo Saralva 2011 COELHO Fabio Ulhoa Curse de direito eomereal 16 ed Sao Paulo Saralva 2012 e NEGRAO Ricardo Manua de direito comereial e de empresa 8 ed Sao Paulo Sara iva 201 L

9 Art 1039 do CCB Somente pessOBS Iisieas podem tomar parle na sociedade em nome coletivo respondendo lodos os s6cios salida ria e iiimitadamenle pelas obrig~Oes socials

10 Art 1045 do CeB Na socledade em comandita simples Icmam parle s6cios de duas calegorias ascQmanditados paswas lisicas responsaveis solidaria e ilimitadamente pelas obrigalt6es SOClais comanditarios obrigados somenle pelo valor de sua quola

11 Dvergem alguns autores sabre este marco hist6rioo a exemplo de Haroldo Malheiros Duclerc verltosa que afilTla qlJe a primeira sociedade anOnima teria sido 0 Banco de Sao Jorge de G~nova criado em (Velaquoosa 2006 p 290)

RDE N 43 - MarmiddotA1uI2815 - PARTE GEHAl- D8UTRINA

e mais proxima da atual sodedade anonima deu-se com a Companhia das IndiasOrientisem1602 na HolandaAtmeicla 2011 p 187)

A sociedade anonima esta regulada nos arts 10882 e 108913 do C6shydigo Civil de 2002 e na Lei nQ 64041976 Entre suas caracterfsticas essenshyciais destacam-se a divisao do capital social em altoes e 0 sistema de re5shyponsabilidade dos sOcios denominados acionistas que e limitada ao preoo de emissao das a-5es subscritas14 ou adquiridas5

A lei nil 64041976 tam bern regulamenta a sociedade em comandita por acoes a qua teve sLla origem ja na Idade Moderna com 0 C6digo Coshymercia Frances de 1807 Tal especie societaria tambem foi genericamente regulada pelo C6digo Civil nos arts 10906 e seguintes Asemelhanca das comanditas simples as comanditas por acoes tambem possuem duas modashylidades de sodos os acionistas diretores a quem incumbe aadminjstra~ao

da sodedade os quais respondem solidaria e ilimitadamente pelas obrigashyc6es socia is e os demais acionistas que sem poderes de administracao goshyzam de limita~ao de respol1sabilidade ao capital investido (Rizzardo 2009)

A sociedade limitada contudo teve origem de modo diverso Ate 0

seu surgimento 0 empreendedor que quisesse exercer uma empresa unindoshy-se a outro tinna dois caminhos possfveis a seguir ou constitufa uma socieshydade anonima cujo sistema de responsabilidade era 0 da responsabilidade limitada traduzindo-se na forma menos ariscada de exercfcio da empresa mas que por outro lado exigia muitas formalidades para sua constituicao e assim destinava-se mais aos grandes empreendimentos com vultosos investimentos ou constituia uma das modaidades de sodedade de pessoas existentes aepoca de constitui-ao e funcionamento mais simples sem a neshycessidade de grandes investimentos mas com sistema de responsabilidade

ilimitadl para todos OLi parte dos sooi6Js(Abri)o 2000)

as modelos societarios entao vigentes restringiam 0 acesso de pequeshynos e medios empreendedores ao exerdcio das atividades economicas Prishy

12 Art 1088 do CC8 Na socledade anonima ou companhia 0 capital divide-se em a90es obrigando-se cada OOcio au acionista somente palo pret) de emlssao das afies que subscrever au adqUirir

13 Art 1089 do ee8 A $Ocledade anOnima rege-se por lei especial aplicando-se-lhe nos casas omissos as disposioes deste C6digo

14 Subscriltao de capital e 0 ato pelo qual 0 socio au aclonista assume 0 compromisso de adqurir para si pagando 0 valor devido determinado numera de quotas ou altoes Integralizao do capiial social eo ato pelo qual 0 s6clo ou acionista efetivamente paga 0 pre90 das quotas ou alt6es subscMlas (Martins 2011)

15 Art 1C da LSA A companhia ou sociedade ananima tera 0 capital dividldo em aoes e a responsabilidade dos sOcios ou acionistas ser~ limitada ao pr~o de emissao das altOes subseritas au adquiridas

16 Art 1090 do CCB A soeiedade em oomandila por alOes tem a capital dividido em aBes regendo-se pelas normas relaivas II sccledade an6nima sem prejulzo das modificalt6es constantes deste Capitulo e opera sob finna OIl denomlnao

Hut N 13 -lIarmiddotAbr2015 - PARTE GERAl- DOUTRIUA

meiro porque de forma individual ou em sociedade de pessoas ainda que as formalidades para constituiltao e 0 investimento exigido fossem menores os riscos eram elevados em decorrencia do sistema de responsabilidade iIishymitada Segundo porque a unica sociedade com sistema de responsabilidashyde limitada era a anonima a qual por exigir um rigorismo formal para sua constituiltao destinava-se aos grandes empreendimentos (Verltosa 2006)

Necessitava-se entao para atender a demanda dos pequenos e meshydios empreendedores de um tipo societario capaz de atender a ambas a~ necessidades menor assunltao de riscos pela limitaltao de responsabilidade e ao mesmo tempo menor complexidade de constituiltao e funcionamenshyto (Pimenta 2006 p 67) Nesse contexto e que surge na Alemanha em 1892 a sociedade por quotas de responsabiiidade limitada (Almeida 2011 p145)

Ante a necessidade de incentivar 0 exercicio da empresa por parte de tantos quant05 por cia se interessassem por meio da separaltao entre 0

patrimonio pessoal dos s6cios e 0 da sociedade nao respondendo aqueles pelos debitos contraido5 por esta e que a sociedade por quotas de responsashybilidade limitada mostrou-se ahernativa eficaz na legislaltao alema de 1892 (Pimenta 2006 p 68)

No Brasil esse tipo societario foi consagrado em 1919 atraves do Decreto nQ 3078 cujo sistema de responsabilidade vinha estabelecido no art 290 qual previa que 0 titulo constitutivo regular-5e-a pelas disposiltoes dos arts 300 a 302 e seus numeros do C6digo Comercial devendo estipular ser limitada a responsabilidade dos socios a importancia total do capital social (Brasil 1919 p indeterminada)

A sociedade limitada17 hoje regulada pelo C6digo Civil de 2002 pode entaoser vistacomq a primeira forma deincentivqr epossibjlitaxo ac~ssode tltTlnumeromaior de pessoas ao exercicio de atiIdadesempreshysarias 1550 porque a partir dela passou a existir um tipo societario que alia a limitaltao de responsabilidade1B caracterfstlca que ate entao era exclusiva

17 Enquanto vigia 0 Decreto nO 30781919 este tipo socletario era denominado Socledade par Quotas de Responsabilidade limitada 0 art 10 do Jecreto previa que ahlm das sccledades a que se referem as arts 295 311 315 e 317 do C6digo Comecial poderao constituir-se socledades por quotas de responsabilidade limitade Oito decreta vigorou por mals de 80 anos vindo a ser parolalmente revogado pelo atual COdigo Civil em vigor deede 2003 0 CCB2002 simplifieou a nomenclatura passando a denomlnar este tipo socletMo apenas de secledade limitada regulando-a sem seus arts 1052 e seguintes

18 Como vista no sistema atual somente associedadesanonimas e limitadas possuem sOcios de responsabilidade limiteda 0 limite da responsabilldade dos socios ea capital investido por estes no neg6cio resglJanlandoshyse asslm 0 seu patrimOnio pessoaL Nao epor outra rallio que estes silo os dois tipos socletarios de maior utiliza~ao no Brasil estando os demais praticamente em desuso

ODE N 43 - MarmiddotAbrlZ315 - PARlE GEOAl- OnUIlIINA

da sociedade anonima e a contratualidade ou seja uma sociedade cujo ate constitutivo e0 cQntratosocia-OquaJpermite uma maior expressao da autonomia privada dos s6cios na conformaltao da sociedade diferentemenshyte da sociedade anonima que e uma sociedade constituida por um estatuto social muito mais conformado pela pr6pria legislaao do que pela vontade dos s6cios (Ramos 2011 p 248)

Verifica-se ainda que ao longo da hist6ria a sociedade sempre foi concebida como uma uniao de forltas pela busca de um resultado comum e as sociedades empresarias a uniao de forltas pela busca de um resultado lucrativo comum caracterizando-se pelo exercicio em conjunto de uma atividade economica organizada

Quanto anecessidade de constituiltao de uma sociedade para 0 exershycicio da empresa esclarece Fabio Ulhoa Coelho (2012 p 21) que

atividades economicas de pequeno porte podem ser exploradas por uma pesshysoa (natural) sem maiores dificuldades Na medida porem em que se avolushymam e ganham complexidade exigindo maiores investimentos ou diferentes capacitalaquooes as atividades econ6micas nao mais podem ser desenvolvidas com eficiencia par um indivfduo apenas 0 seu desenvolvimento pressupoe entao a aglutinalaquoao de esfonos de diversos agentes interessados nos lucros que elas prometem propiciar Essa articularao pode assumir variadas formas jurrdicas entre as quais a de uma sociedade

As sociedades assumiram tal importancia social que passaram a ser vistas como entes absolutamente distintos separados dos sujeitos que se uniam para forma-las acabando pOl receberem da ordem jurfdica status de sujeitos de direito tal como as pessoas naturais Eo que ensina Amador Paes de Almeida (2011 p 29)

Num cresceriaOafrmir~Veffofam~sb(jedades ganhando vulto a ponto de em pouco tempo distinguirmiddotse nitidamente das pessoas ffsicas que as comshypunham rJ Formando pois uma entidade aparte absolutamente distinta das pessoas naturais que as integram (ulrninaram as sociedades por serem reconhecidas pelo ordenamento jurfdico como sujeilos de direito equiparashydas ponanto as pessoas fisicas

A este sujeito de direito que surge a partir de uma sociedade 0 direishyto deu 0 nome de pessoa juridica Par conseguinte sociedade empresaria devidamente registrada19

sera a pessoa juridica exercente de uma empresa

19 0 registro do empresario seia eie individual au coietivo (sociedede empresiiria) Junto ao 6rgao responsavei pelo registro mercanti qual seia as Juntas Comereiais dos Estados euma das obrigalt6es impostas aquele

JUilJ fiDE It 43 -i4armiddotAIJr2Ul ~ - PARU GEllAl- OOHmlNA

o sujeito de direito que pratica os atos necessarios a realizarao da atividade economica nao se confundindo com seus sodos (Coelho 2012 p 23 e 27)

De todo 0 exposto conclui-se que para 0 direito empresarial desde suas primeiras manifestaroes ainda na Idade Media a personalidade jurishydica propria que era atributo exclusivo das pessoas fisicas foi estendida as pessoas juridicas que sao formadas pela uniao de no minimo duas pessoas em sociedade As empresas pod em ser exercidas po is tanto por pessoas fIshysicas quanta por pessoas juridicas Neste ultimo caso a pessoa jurfdica tem autonomia patrimonial em rela~ao ao patrimonio pessoal de seus socios

12 As CONSEQUENCIAS DA PERSONlflCACAO E A IMPORTANCIA DO PRINCPIO DA AUTONOMIA

PATRIMONIAL

A personalidade juridica e uma inven~ao do Direito Nao existe pesshysoa jurfdica senao sob a otica do Direito que a criou com 0 objetivo de solucionar alguns problemas decorrentes das relar6es humanas autorizanshydo a priitica de atos juridicos por outros sujeitos de direito que nao apenas pessoas naturals (Coelho 2011 p 138)

A personalidade juridica das sociedades empresarias e a criarao que possibilita conferir titularidade de direitos a um ente que nasce da uniao de outros ou seja e uma ficrao que atribui personalidade a um ente formado por uma coletividade de pessoas (Fazzio JUnior 2008 p 31)

o principal objetivo da atribuicao de personalidade jurfdica as soshyciedades e permitir que estas possam praticar todos os atos juridicos necesshysarios ao desenvolvimento da atividade para a qual foram criadas por si

lu~exce projiSSiOQ~Irente uma atividade empre~ari~ ~simse~Qo0tegistfJl DaO econdi~ao para taiacteriza~ao de uma pessoa (flsica au jurldica) como efllpresilio tratando-se na verdade de mera declarruao de regularidade do exercfcio dll empresa de acordo com as normas impostas pelo ordenaP1ento juridico patrio A inexist~ncia de registro nao descaracteriza 0 sujelto como empresario mas uma vez conligurando 0 descumprimento de uma obriga~~o a ele imposta acarreta algumas restri~es No caso da sociedade empresaria irregular uma das restri6es ea impossibilidade de realizar sua inscrirao junto aD Cadaslro Naeional de Pessoas Juridlcas com a consequente sanao pelo descumprimento das obriga~6es tributarias decorrentes deste cadastra Assim a sociedade empresiiria nao deixa de ser empresaria pela lalla de reglstro l1as naD sera uma pessaa juridice Dessa Iorma sendo sociedade oespersonificada os socioS da sociedade empresria irregular nlio gozam das benesses de Ilmitarao de respansabilidade atribuida via de regra as sociedades regulares (Coeiho 2011) Quanta if desnecessidade de reglstro marcantil para caracterizaao do empresaria ji se manitestou 0 Conselho da Justita Federal na III Jornada de Direito Civil na quallcram aprovados os Enunciados nOs 198 e 199 que disp5em respectivamente Art 967 A inscri~ao do empresArio na Junta Comercial nao Ii requisito para a sua caracteriza~ao admitiodo-se a exerclcio da empresa sem lal provid~ncia 0 empresarlo irregular reune os requisitos do art 966 suieltando-se as normas do COdigo Civil e da legislaao comerdal salvo naquilo em que Iorem incompatlveis com a sua condi~ao ou diante de expressa disposiao em contrjrio e Art 967 A inscriltiio do empresario ou sociedade empresiiria erequisito delineador de sua regulalidade e nao da sua caracteriza9iio (Conselho da Iusti~a Federal 2004 p Indeterminada)

ROE N 43 - MarJlbr2015 - PARTE GEftAl- DOUTRINL

mesmas e nao em nome dos sodos Na sodedade empresaria tal objetivo mOiVa-s~ ltliJ1rja maisreJevante na medida em que a atividade exercida exishyge assuncao de riscos os quais serao assumidos pela pessoa juridica e nao pelas pessoas fisicas (Fazzio Junior 2008 p 31)

Nesse contexto a importfmcia da atribuirao de personalidade jurishydica as sociedades empresarias e evidente sendo facil concluir que para minimizar 0 risco da atividade empresarial separando 0 patrimonio pessoal dos empreendedores os indivfduos devem - ou deveriam ate pouco tempo - constituir uma sociedade formando assim uma pessoa juridica a qual goza de autonomia patrimonial

Essa ficrao resulta em uma serie de consequendas importantes para o Direito De modo geral e possivel identificar tres consequencias advindas da atribuirao de personalidade jurfdica as sociedades empresarias a titulashyridade obrigacional a titularidade processual e a responsabilidade patrimoshynial (CoelflO 2012 p 32)

A titularidade obrigacional determina que todas as obrigacoes assushymidas no ambito do exercicio da atividade empresarial 0 serao pela socieshydade e nao pelas pessoas de seus socios Assim quem figura em um dos polos da rela~ao jurfdica estabelecida com terceiros (contratos de trabalho de prestarao ou contratarao cje servicos etc) e a sociedade e nao as pesshysoas dos socios que a comp6em Ja a titularidade processual implica que apenas a sociedade seja parte legftima para demandar ou ser demandada em processos judiciais que visem a discutir obrigar6es assumidas em seu nome Por fim a responsabilidade patrimonial que determina que a pessoa jurfdica e responsavel pelas obrigacoes que ela contrair com 0 seupr6prio patrim()Oi(jQ~qllaledistinto do patrimonio pessoal de cadaunl closs6dos que a constituem ou seja 0 conjunto de bens da sociedade forma 0 patrishymonio da pessoa jurfdica e eesse patrimonio que em regra responde pelas obrigac6es assumidas pela sociedade (Coelho 2012 p 32-33L

Arnaldo Rizzardo tambem reconhece que

tanto e pr6pria e distinta a personalidade juridica que 0 sistema juridico reconhece a sua existencia distinta da de seus s6dos e assim a titularidade pr6pria de direitos (de ordem patrimonial e moral) como a sujeirao a obrigashyr6es e deveres (como sujeito passivo na demanda de creditos existentes par terceiros) Nao se confundem os direitos e deveres da pessoa jurfdica com as de seus s6cios oem os direilos e deveres destes se transferem para a pessoa jurfdica (Rizzardo 2009 p 23)

1 11 ~ bull RDE N 43 - Mar-Abd2Dl5 - PARTE GERAl- DOUTRINA

Na mesma linha Ricardo Negrao (2011 r p 203) afirma que sao efeishytos da personificarao a assunao de capaddade para direitos e obrigar6es middota separacao entre a pessoa juridica e aspessoas dos s6dos a existenda de patrimonio proprio distinto do de seus sodos e a possibilidade de a socieshydade alterar a sua estrutura interna

Ve-se portanto que nao ha grande divergencia doutrinarla quanta aos principais efeitos da personificacao No entanto entre as tres conseshyquendas destacadas e a responsabilidade patrimonial da pessoa jurfdica a que merece maior destaque

A existenda de patrimonio pro-prio das pessoas juddicas da-se por forra da incidencia do princfpio da autonomia patrimonial segundo 0 qual os bens da sociedade empresaria formam um patrimonio autonomo que responde pelas obrigar6es contrardas por esta enquanto que os bens de cada um dos socios que a compoem permanecem via de regra imunes ao cumprimento destas obrigaroes

Trata-se na verdade de algo muito antigo decorrente da maxima aplicada desde a Lex Poetelia Papiria que data de 326 antes de Cristo por melo da qual se determinou que 0 patrimonio do devedor fosse a garantia dos credores Com tal lei a obrigarao entre 0 credor e 0 devedor deixou de estar pautada em um vinculo corporal sendo substitufda pela responsabilishydade patrimonia ou seja os bens e nao mais 0 corpo do devedor passashyram a responder por suas diviaas (Alves 201 Or p 382 e 436)

Ora se a devedora e a sociedade empresaria e justo que apenas 0

seu patrimonio responda pelas obrigaroes contrafdas e nao 0 patrimonio de seus sodos sujeitos de direito distintos A autonomia patrimonial e a responsabilidade patrimonial proprias da sociedade formam uma estrutura que incentiva a aS5Un~Q dQriscodo exerdcio de uma atividade empreshysaria Principalmente quando 0 tipo de sociedade traz tambem a regra da limitarao de responsabilidade dos s6cios 0 que ocorre nas sociedades anoshynimas e limitadas

Tal e a importancia da autonomia patrimonial das pessoas jurfdicas que Fabio Ulhoa Coelho (2012 p 34) afirma que se trata do alicerce do direito sodetario

Esse e 0 principio da autonomia patrimonial alicerce do direito societario Sua importilncia para 0 desenvolvimento de atividades economicas da proshydUlao e cireula~ao de bens e servicos e fundamental na medida em que limita a possibilidade de perdas nos investimentos mais arriseados A partir da afirmacao do postulado juridieo de que 0 patrimonio dos s6cios nao res-

RDE PI ~3 -lIhrmiddotAbr1015 - PARTE GERAl- DDlITHINA ~

ponde por dividas da sociedade motivam-se investidores e empreendedores a aplicar dinheiro emathddades oconomieas-demiddotmaior envergadura e risco 5e nao existisse 0 principio da separaCao patrimonial os insueessos na exshyploracao da empresa poderiam significar a perda de todos os bens particushylares dos s6cios amealhados ao longo do trabalho de uma vida ou mesmo de geracoes e nesse quadro menos pessoas se sentiriam estimuladas a deshysenvolver novas atividades empresariais No final 0 potencial econ6mieo do Pars nao estaria eficientemente otimizado e as pessoas em geral ficariam prejudicadasr tendo menos acesso a bens e servi~os 0 principio da autoshynomia patrimonial e importantfssimo para que 0 direito discipline de forma adequada a explora(ao da atividade economica

o principia da autonomia patrimonial e sem duvida um importante mecanismo de incentivo ao exercicio da atividade empresaria na medida em que possibilita a minimizarao dos riscos assumidos pela pessoa ffsica que decide exercer uma empresa Isso parque mesmo nas especies societashyrias em que a responsabilidade dos s6das e ilimitada (sociedade em nome coletivo por exemplo) est~ sera sempre subsidiaria por forra do princlpio de mesmo nome consagrado no ordenamento jurfdico patrio pelo art 1024 do Codigo Civil de 2002 2deg

Parece evidente que 0 princlpio da autonomia patrimonial coadunashy-se nao apenas com os fundamentos da ordem economica brasileira exshypressos no caput do art 170 da Constituirao Federal quais sejam a livre iniciativa e a valorizarao do trabalho humano bem como corn seus prindshypios norteadores como a livre concorrencia e 0 livre exerckio da atividade economica alem de toda a constru~ao hist6rica de incentivo ao exercicio da empresa como forma de fomentar a economia dos Estados possibilitanshydo a gerarao e a circularao das riquezas

Todaviacomo exposto anterio~trl1ente Os beneficios desse principio nao se aplicam ao empreendedor que exerce a empresa de forma individual nao sendo outra a razao principal para a edirao da Lei nQ 124412011 que introduziu no Brasi a EIRELI

13 EIRElI AS PRINCIPAlS CARACTERisrlCAS DO NOVO EMPRESARIO

Feitos os esclarecimentos sabre as diferentes especies de empresashyrios ate entao existentes cabe 0 enfrentamento da nova especie introduzida recentemente no ordenamento juridico brasileiro a Empresa Individual de

-middot~---middot-middot-----_~___laquo~_M

20 Art 1024 do eeB Os bens particuJares dos socios nao podem set executados por dlvldas cta saciedade senao depois de executados os bens socials (BraSil 2002 p indeterminacta)

13 It ROE N 43 - MarmiddotlbI2D15 - PARTE GERAl- DOUTRINA

Responsabilidade Umitada - EIRELI Especie de empresario que conforme refere Andre Luiz Santa Cruz Ramos (2012 p 40) surge na legislacao piitria atendendoa antigos an5eiostantoda doutrina quantodo meio empresariai

Ate a entrada em vigor da legislacao que introduziu a EIRElI como ja dito existiam apenas duas formas de exercer a empresa ou como empreshysario individual (pessoa ffsica sem autonomia patrimonial e limitacao de responsabilidade) ou como sociedade empresaria (na qual os sodos podem ou nao vir a responder pelas obrigacoes contraidas no exercfcio da atividashyde mas sempre e tao somente ap6s 0 esgotamento do patrim6nio social ja que ha no mlnimo a autonomia patrimonial da pessoa juridical

A partir da EIRElI pasSOli a ser posslvel que uma s6 pessoa exerca a empresa por meio de uma pessoa juridica 0 que permite a efetiva separacao patrimonial e limitacao de responsabilidade ao capital investido como ocorshyref mais precisamente nas sociedades limitadas Esse novo ente apresenta caracterfsticas bastante pr6prias

De plano pode-se ressaltar uma caracterfstica e esta incontroversa A EIRELI eum ente dotado de pcrsonalidade juridica pr6pria ja que inserida no rei das pessoas juridicas de direito privado do art 44 do C6digo Civil Ao contrario do empresario individual que e uma pessoa flsica a EIRELI e uma pessoa juridica constituida para 0 exerdcio de uma atividade economica Ainda pela leitura do texto legal na medida em que a EIRELI esta prevista em um inciso em separado inciso VI incluido pela Lei nQ 124412011 a priori nao se poderia concluir qLle se trata de uma sociedade empresaria as quais ja vinham previstas no inciso II

Assim da simples interpretacao da alteracao ocarrida no art 44 do C6digo Civil conclui-se que a EIRELI e pessoa juridica nao se confundindo comasect~Od~adeiJilmpouco com 0 empresario individualquenem peSsoa jurfdiCa~

Outra caracterfstica importante da EIRELI e a exigencia de urn capital mfnimo nao inferior a 100 vezes 0 salilrio-minimo vigente no Pais para a sua constitLlicao conforme dispoe 0 caput do art 980-A do C6digo Civil de 2002 22 tambem inclufdo pela Lei nQ 124412011 0 empreendedor que

21 De plano cumpre esciarecer que por ludo quanto)a exposto no decorrer do presente estudo a nomenclatura utllizada pelo legislador eatecnica na mediaa em que atribuiu personalidade jur(dica a uma etividade Como visto ernpresa nao esujelto de direilos mas sim uma atividade exercida pelo empresario este sim sujeilO de direitos

22 Art 980-A do CCB A empresa individual de responsabWdade limitada sera constiturda por uma cnica pessoa titular da Malidade do capital social devidamente integralizado que nao sera imerior a 100 (cern) vezes 0

maior saario-minimo vigente no Pais (Brasil 2002 p indeterminada)

ROE II 43 - MarmiddotAbI2D15- fART GERAl- DOUTBIRA

desejar exercer a empresa como EIRELI devera no ate da constituicao inshytegralizar a totalidtdedQ valordQ capital que naQPodera ser em valores atuais inferior a R$ 7880000 (setenta e oito mil e oitocentos reais)

Ainda a integralizacao do capital podera ser eita nao apenas em dinheiro mas tambem em bens desde que suscetfveis de avaliacao em dishynheiro nao sendo exigida a apresentacao de laudo avaliativo para tanto Este capital diferente do que ocorre nas sociedades nao sera dividido em quotas ou acoes A regra e a da unicidade do capital afinal este e totalmente titularizado par uma unica pessoa

A terceira caracterfstica marcante da EIRELI diz com 0 sujeito que pode constituf-Ia ou seja 0 titular da EIRELI Segundo dispoe 0 caput do ja mencionado art 980-A do C6digo Civil a EIRELI sera constitufda por apenas uma pessoa Ocorre que 0 dispositivo legal nao deixa claro que 0

titular precisa ser uma pessoa ffsica ou se poderia tambem ser uma pessoa jurfdica Essa falta de especificacao legal gerou discussao com argumentos favoraveis e contra nas duas direltoes No entanto 0 ONRC - Departamenshyto NacionaJ do Registro doComercio pOl meio da lnstrucao Normativa n

9 1172011 definiu (item 1210) que apenas as pessoas naturais plenashy

mente capazes podem constituir EIRELI Ainda ratjficando tal disposiao 0

item 1211 preve expressamente que nao pode ser titular de EfRELI a pesshysoa juridica bem assim a pessoa natural impedida pOl norma constitucional ou por lei especial (Brasil 2011 p indeterminada)

Outra caracterfstica semelhante ao que ocorre com as sociedades limitadas e que a EIRELI pode utilizar qualquer das especies de nome emshypresarial qual seja firma ou denominacao social acrescidas da expressao EIRELI ao final

Par tim e talvezil car~ct~rf~ti~~~5Ys importante a responsabilidade limitada ao capital investido e devidamente integralizado pelo titular da EIRELI Essa regra se depreende da leitura do sect 62 do art 980-A do C6digo Civil que determina a aplicacao a EIRELI das regras previstas para as socieshydades limitadas naquilo em que com patfve I (Brasil 2011 p indeterminashyda) Essa era a mescla qlle se desejava uma modalidade de empresario que fosse constitufda por uma (mica pessoa mas com limitacao de responsabilishydade e facilidade na forma de constituicao como ocorre com as sociedades limitadas

Em sfntese sao estas as principalS caracteristicas da Empresa Indivishydual de Responsabilidade Limitada Ocorre todavia que tais caracterfsticas estabelecidas pela nova legislacao vem causando inumeras controversias

15 ROf N 43 - MarmiddotAbr2015 - PARrE GHAl- DOUfHINA

entre os operadores do Direito e os doutrinadores e estudiosos do direito empresariai Nilo obstante a cria~ao de um instituto que possibilitasse a limitacao de responsabiHdade para 0 exercicio individual da empresa e anshyseio antigo entre os doutrinadores patrios Nesse sentido ainda que objeto de divergeuromcias 0 novo ente com certeza e muito bem-vindo

2OS ASPECTOS CONTROVERTIDOS ACERCA DA EIRElI

Apresentadas as caracteristicas fundamentais da EIRElI conforme as disposicoes legais vigentes faz-se necessario apresentar as controversias que delas surgem A doutrina jurfdica diverge ja que algumas das caracteshyrfsticas da EIRELI supostamente vao de encontro a conceitos estabelecidos e institutos consolidados ao lange de seculos

Os principais aspectos controvertidos acerca da EIRELI dizem respeito as exigencias feitas pelo legislador para sua constituicao especialmente no que tange ao capital mlnimo a ser investido quem pode ser seu titu lar equal a sua natureza jurfdica

21 QUEM PODE SER TITULAR DE UMA EIRElI

Uma das questOes mais problematicas acerca do novo instituto diz respeito aqueles que podem ser titulares de uma EIRELI

Como visto 0 art 980-A do C6digo Civil disp6e em seu caput que a EIREU sera constitufda por uma Cinica pessoa titular de todo 0 capital social o DNRC por seu turno emitiu instru~ao normativa aprovando 0 Manual de Atos de Registro de Empresa Individual de Responsabilidade limitada23

a ser adotado pelas Juntas Comercias de todos os Estados 0 qual preve expressamente que apenas as pessoas fisicas maiores capazes e livres de

q1iili~querimpedimentos legais podemsertittJlar~sde jma BREtt

Ejustamente na redacao da lei e da instrucao normativa do DNRC que reside grande parte da controversia

Hi quem defenda a possibilidade de constituicao da EIRELI por pesshysoas juridicas sob 0 argumento de que se 0 texto legal nao taz qualquer proibicao de forma expressa referindo-se apenas a pessoa ff

nao poderiam os operadores interpretar a norma de forma a excluir algum sujeito de direishyto quando a propria norma nao 0 faz

------~~ -~--~----~----bull---shyda Instru~ao Normativa n 1172011 do Departamento Nacional de Registro do Comercio

em ltllttpwwwdnrcgovbrILegislacaQIIN20117202011pdfgt

RUE N 43 - MarmiddotAbdZ015 - PAHTf GERAl- DOUrnIlIA_

Nesse sentido

C6mefeitO(Jcaput do art 980-A do C6digo Civil expressamente prescreve que a EIREU sera constitllfda par uma unica pessoa sem excluir as pessoas jurrdicas nem restringir essa passibilidade exclusivamente as pessoas ffsicas Ora pessaa jurfdica tambem e pessaa (Mela 2011 p indeterminada)

Da mesma forma defende-se a ideia de que adotar uma interpretacao que restrinja 0 direito de uma pessoa juridica constituir uma EIREU seria afrontar a princfpio constitucional da legalidade uma vez que se a proibishycao nao esta expressa a pennissao estaria subentendida

[ J naa ha impedimenta legal para que uma pes sea juridica titularize 0 cashypital social de uma EIRELI e sob 0 primado de uma ordem jurfdica liberal afirma-se que 0 que nao esta proibido ou ordenade e permitido Esta leitura decorre diretamente do principia da legalidade consagrado na art 5Q

II da Constitui~ao Federal que estabelece que ninguem sera abrigado a fazer Oll

deixar de fazer aigllma coisa senao em virtude de lei (Lupi Schlosser 2012 p indeterminadal

Fabio Ulhoa Coelho (2012 p 409) tambem entende que a EIRELI para ele uma sociedade limitada unipessoal 24

pode ser constitufda tanto por s6cio Cinico pessoa fisica como juridica

No mesmo sentido sustenta-se que a intencao do legislador com a publicacao da lei nQ 124412011 teria sido justamente permitir a constituishycao de EIRElI por pessoa juridica ja que suprimiu da redacao original dos Projetos de lei nQs 46052009 e 49532009 a restritao que era expressa (Melo 2012 p indeterminada)

QO Projeton 46052009 de autoria do Deputado Marcos MonteSi

tinhapbr objetivoaindusao noC6digo Civil de 2002 do art 98S-A 0

qual teria a seguinte redacao A empresa individual de responsabilidade limitada sera constituida por um Cinico s6cio pessoa natural que e 0 titular da totalidade do capital social e que somente podera figurar numa unica empresa dessa modalidade (Brasil 2009 p indeterminada)

Ja 0 Projeto nQ 49532009 de autoria do Deputado Eduardo Sciarra intencionava a incillsao do art 980-A no C6digo Civil de 2002 com a seshyguinte redacao Qualquer pessoa ffsica que atenda ao disposto no art 972

-----~---------=~-~--~~--~---

24 Para Fabio Ulhoa Coelho (2012 p 409) a EIRELI deve ser considerada como urna sociedade limitada umpessoa Sustenta que a interpretaao sistematica do direito positivo conduz conciusao de que nao se trata de nova esp~cie de pessoa jurldica mas do nomen juris dado ~ sociedade limitada unipessoal Tratarshy-se-a melhor cia natureza jurldica da EIRELI no item 33 deste artigo

lU ROE Ndeg 43 - MarmiddotAbifZ015 - PARTE GEML - DOUIRIVA

que exena ou deseje exercer profissionalmente a atividade de empresario podera constituir Empreendimento Individual de Responsabilidade limitashyda (Brasil 2009 p indeterminada)

Assim ja que suprimidos os termos natural e ffsica que acompashynhavam a pessoa na redacao original dos projetos de lei a intencao do legislador so poderia ser permitir que a EIRELI fosse constituida tambem por pessoas juridicas (Rivas 2012 p indeterminada)

Outro argumento apresentado por aqueles que defendem a possibishylidade de a pessoa juridica ser titular de EIRELI ea fadlitacao da instalacao e do funcionamento de sociedades ernpresarias estrangeiras no Pais como forma de aquecer a economia nacional

Fundamental mencionar que a possibilidade de constituiltao de EIRELI par pessoas jurfdicas val facilitar de sobremaneira a instalaltao de sociedades estrangeiras no Brasil Estas ao consultarem advogados brasileiros sobre os procedimentos necessarios ao infcio do desenvolvimento de suas atlvidades no pais invariavelmente surpreendem-se com a quanti dade e complexidade dos procedimentos sendo que dentre eles urn que normal mente cria bastanshyte dificuldade e justamente a necessidade de indicaltao de uma pluralidade de s6cios na sociedade brasileira 0 que muitas vezes as obriga a indicaltao de pessoa ffsica com participaltao apenas simb6lica simplesmente para atenshyder ao formalismo exigi do (Martins Fllho sd p indeterminada)

Contra tal argumento Wilges Ariana Bruscato (2012) sustenta que embora investimentos estrangeiros sejam importantes para 0 desenvolvishymento economico do PaIS a EIRELI nao pode servir como uma forma de burlar a egisla~ao vigente que regulamenta a instalacao e 0 iuncionamento de socitgtdades estrangeiras no Brasil Para a autora trata-se de materia de ordem publica antesdesermateria de~ireito empresqrill e por esla nao pode ser superadclcOni atrid~5oili EIRELI

Tambem com base nos textos dos projetos que deram origem a lei em comento a autora conclui que a omissao dos termos natural ou flshysica para definir qual 0 tipo de pessoa poderia constituir EIRELI teria sido acidentai haja vista que nao houve qualquer justificativa para a supressao da restricao que era expressa nos textos dos projetos ou seja em momenta algum durante 0 tramite do processo legislativo justificou-se tal supressao no interesse de estender as pessoas juridjcas apossibilidade de constituicao de EIRELI (Bruscato 2012)

No mesmo sentido e 0 entendimento de Jacques Maika y Negri (2012 p indeterminada)

RUE N 43 - MarJIbrl2015 - PARTE GERAl- DOUTAINL

Analisado 0 processo legislativo fica claro que houve lapso por parte do reatqrct9Jrojeto substituto DeputadoMamelo Itagiba e nao supressao deshyliberada da expressao natural caso em que 0 parlamentarteria justificado a alteraltao e a sua intenltao

Esta foj tambem a conclusao aqual chegaram os jurislas integrantes do Conselho da Justica Federal que em sua V Jornada de Direito Civil ocorshyrida em novembro de 2011 emitiram 0 Enunciado nQ 4682~ segundo 0 qual apenas as pessoas ffsicas podem constituir EIRELI

Parece evidente que antes de consolidar-se entendimento acerca da possibilidade ou nao de pessoas juridicas virem a constitu ir empresas indivishyduais de responsabilidade limitada sera no Judiciario que esta problematica sera discutida em maior escala

Recentemente 0 Jufzo da 9il Vara da Fazenda Publica do Rio de janeiroRj proferiu decisao na qual deferiu em mandado de scguranca (Proshycesso nQ 0054566-7120128190001) impetrado em face da Junta Comershycial daquele estado medida liminar para que uma pessoa jurfdica levasse a diante 0 processo de transformalt50 de sociedade empresaria em EIRELI Trata-se de sociedade limitada composta por um socio pessoa juridica e um socio pessoa ffsica e este ultimo retirou-se da sociedade A pretensao posta em juizo era de que a sociedade limitada pudesse ser transformada em EIRELI como resultado daiconcentraltao das quotas sociais em um dos s6cios no caso 0 s6cio pessoa juridica 0 pedido foi negado pela Junta Coshymercial do Estado do Rio de Janeiro sob a alegaltao de que a transformacao de uma sociedade empresaria em EIRELI no caso de inexistencia superveshyniente de pluralidade de socios e possivel desde que 0 socio sobre quem se concentre a totalidade das quotas sociais sejaumapessoa f[sica e nao illrfdGa 0 pedido liminar vertidoem sooede mandadodemiddot seguran~a foi aeferido tendo 0 juizo da 9~ Vara da Fazenda Publica do Rio de JaneiroRJ sustentado que nao existe impedimento legal para que 0 titular da EIRELI seja uma pessoa juridica

Recurso de agravo de inslrumento foj interposto pela re (0016183shy2720128190000) e este foi provido para anular a decisao agravada mas reconhecendo a incompetencia do juizo declinando da mesma para a Jusshytica Federal 0 processo que recebeu 0 nQ 0008231-2720124025101 tramitou perante a 12~ Vara Federal do Rio de Janeiro Em que pese tenha sido ratificada a decisao da justica estadual para conceder a medida limishy~---~~-- ------------- 25 Enunciado nO 468 do CJF Art 9SOmiddotA A empresa individual de responsabildade limitada sO poder~ S8r

conslitufda por pessoa nattJral (BraSil 2011 p indetemlinada)

1 ROE n 43 - MarmiddotAhrIZOI5- PARlE GERAl- DOUTBINA

nar pleiteada a sentenca denegou a seguranta sob 0 fundamento de que embora no tramite legislativo 0 termo natural tenha sido exduido do art 980-A do Codigo Civiftodomnteudo daLei nlt1 124412011 que criou a EIRELI foj engendrado para abarcar apenas a possibjljdade de que seu titular fosse pessoa natural Da decisao nao foi interposto recurs026 bull

Como se percebe embora haja discussao doutrinaria ace rca da possishybilidade de a pessoa juridica ser titular de uma EIRElI ha que se considerar que diante do posicionamento do DNRC esposado na IN 1172011 bem como do Conselho da Justica Federal atualmente ainda que na pratica prevalece 0 entendimento de que apenas pessoas fisicas podem constituir EIRElI

22 AEIHELI EO CAPITAL MiNIMO PARA SUA CONSTITUICAO IN)CONSTITUCIONAUDADE DA NORMA

A exigencia de capital minimo para a constituicao da EIRElI em valor nao inferior a 100 vezes 0 maior salario-minimo vigente no Pais tambem e controvertida

No minimol e possivel vislumbrar tal exigencia como uma forma de trazer seguranta ao instituto ja que com a constituicao da EIRElI 0 emshypreendedor goza de uma separacao entre 0 patrimonio afetado ao exercfcio da atividade e 0 seu patrimanio pessoal A exigencia de urn capital minimo pode ser vista como uma forma de garantir 0 cumprimento das obrigac5es assumidas no exercfcio da atividade Uma garantia para eventuais credores da EIRUI

Em outras palavras 0 estabelecimento de um capital minima e necesshysario para dar credibilidade ao instituto recem-criado ja que com a consshytituicao da EIRELI ha uma autonomia patrimonial ha uma separacao entre o patfifl~niHi~Rif~8qI~middotatJvidade ecooomieuroa--e-G-pattimQlli0partiS2ulill~Qrmiddot titu lar (Pessoa 2011)

Sao muitos no entanto os argumentos contrarios aexigencia imposta pelo texto legal

Inicialmente destaca-se que nao existe via de regra capital minimo estabelecido para a constituitao de sociedades ou registro de empresario individual no Brasil exigindo-se tao somente uma adequacao do capital investido ao objeto social motivo pelo qual a exigencia feita somente para a EIRElI e questionavel (Ramos 2012 p 43)

26 Integra da decisaa pode ser visuallzada em lthttpJprocwebjfrjjusbrportalconsultaresconsprocaspgt

RO N 43 - MarmiddotAbrl2815- PARlE GEnAL - DOUfRINL

Com efeito

Anenhumaoutra forma de exerc1cioempresarial no pals se faz a exigencia exceto em casas excepcionais de um minima de capital Como sustentar essa regra para a EIREU 1550 infringe a igualdade de tratamento que deve ser dada a todos genericamente A desigualdade de tratamento existe por certo sem arrostar a isonomia nos casos em que haja no entanto justificativa para tanto (Bruscato 2011 p 29)

Este e tambern 0 entendimento exposto na Atao Direta de Inconstishytucionalidade nQ 4637 proposta pelo Partido Popular Socialista perante 0

Supremo Tribunal Federal a qual ainda se encontra pendente de julgamenshyto Na aludida ADln defende-se que condicionar a constituiltao de uma EJRElI a integralizaltao de um capital minimo sem qualquer motivo evidenshyte e relevante constituiria afronta ao princfpio da isonomia bem como ao fundamento da livre iniciativa2

expresso no art 17028 caput da CF1988 (Brasil2011)

Segundo 0 partido autor da ADln ao estabelecer um capital no valor de 100 vezes 0 salario-minimo vigente no Pais 0 legislador acabou ferindo o prindpio da igualdade Sustenta-se que para a constituiltao de uma socieshydade com socios de responsabilidade limitada como por exemplo a socieshydade limilada nao existe exigencia de capital mlnimo logol nao eposslvel faze-Io em relarao a EIRElI ja que segundo exposto naacao ambas sao pessoas jurfdicas de identica feiltao no que diz respeito a responsabilidade dos proprietarios (Brasil 2011 )

Outro argumento contrario ao capital minimo exigido para a constituishycao da EJRElI diz respeito acapacidade econamica daqueles que poderiam ser beneficiados com a criacao danolafi~ura isto e os pequenos empre~ endedores que antesdacriacaoddriYovoenteou empresariavam de forma individual sem limitacao de responsabilidade e separacao de patrimonio ou necessariamente tinham de estabelecer sociedades apenas para gozar da autonomia patrimonial e assim reduzir os riscos do empreendimento Nesse

27 A livre iniciativa segundo Pedro le~7a e um dos pilares da ordem econOmica ao lado da valoriza~ao do Irabalha humano (lenza 201 p 984) Inocsectncio Martires Coelho citando Miguel Reale explica que livre iniciativa e livre concorrencla silo conceitos complementares mas essenciamente distinlos A primeira nao 0 senaa a proje~ao da liberdade individual no plano de produ~ao citula~ao e distribuii8o das riquezas assegurando nao apenas a livre esoolha des proflssoes e das atlvidades econ8mlcas mas tambem a autonoma elei~ao dos processos ou meios julgados mais adequados aconsecu~iio des fins visados liberdade de fins ede maios informa aprincipia de livre inicleliva conlerindo-Ihe um valar primordial como results da interpreta~ao conjugada dos cftados arts 1deg e [70 (Reale apud Mendes Coelho Branco 2010 p 1409)

28 Art 170 da CF11988 A ordem econOmica fundada na valoriza~~o do trabalho humano e na livre iniciativa tern por tim assegurar a todosexist~ncia digna conforme es ditames da Justia SOCial observados as seguintesprinclpies [J (6rasll 1988 p indeterminada)

liU RDE 43 - MarmiddotAbr2015 - PARTE GEllAl- OOUfOINA

caso a sociedade era constitufda normalmente com pessoas pr6ximas mas sem nenhum interesse na atividade as quais figuravam nocQotratosocial

como titulares de percentual minima das quotas sociais constituindo as chamadas sociedades de fachada ja mencionadas29 bull

Nesse ponto pode-se dizer que apesar das crfticas disparadas ao novel instituto a EIRELI mostra-5e como instrumento eficaz para coibir a praticc comumente adotada no Brasil de conslituiyJo de sociedades em que um dos s6ci05 nao tem qualquer participa)ao na gestao do empreendishymento formada com 0 dnico objetivo de limitar a responsabilidade do emshypresario que na pratica exerce a empresa individualmente (Ramos 2012 p 40-41)

Por essa razJo e que uma vez sendo 0 objetivo da criaCJo da EIRELI estimular 0 exercicio de atividade empresaria especialmente por pequenos empreendedores 0 valor de 100 (cem) vezes 0 salario-minimo mostra-se desproporcional 1550 porque grande parte dos empreendedores que podem se enquadrar na EIRELI iniciam suas atividades com capital bastante inferior Afirma-se que 0 capital minimo estabelecido pelo legislador esta longe da realidade dos pequenos empreendedores brasiieiros e caracteriza desresshypeito ao principio da livre iniciativa Assim 0 legislador patrio nao teria la5shytreado a fixayao deste valor em estudos sobre a capacidade econ6mico-fishynanceira dos provaveis interessados nesta especie societaria (Pessoa 2011 )

Estes sao tambem os argumentos que embasam a justificativa do Proshyjeto de Lei nQ 24682011 de autoria do Deputado Carlos Bezerra Segundo o parlamentar a exigencia feita pelo legislador retira dos pequenos empreshyendedores a possibilidade de coostituiyao de lima EIRELI haja vista que 0

valor exigido na Lei 0 2 124412011 supera significativamente 0 valor geshyralmente empregado para a constitlliyao dasPeqU~PilSempresas Por essa raz~(jo aludidoprojeto tem como um (feseusigtbJetivosillterar 0 art 9~O-A do Codigo Civil para reduzir de 100 para 50 salarios-mfnimos 0 capital minima exigido para a constitui~ao de lima EIREU (Brasil 2011)

Seguindo mesmo entendimento

29 A exist~ncia das chamadas sociedades de fachada Ii conhecida desde ha multo olio apenas pela dovtrina mas tam~m pela junsprud~ncia de nossos trlbunais 0 reconhecimento desta situa~ao se faz relevante tanto para que possa coibir tal praliea quanto para proteger a indivlduo que comprovadamente jamals exerceL qualqller poder de administra~ao sobre a sociedade da responsabllizagao pelos atos praticados indlvidualmente pelo s6cio detentor da quase totalidade das quotas sociais A tItulo de exemplo Execu~ao fiscal E aparente a socledade em que a imensa maioria das quotas pertenee a uma s6 pessoa flsiea Sltua~ao que mascara a atividade de urn comereiante em nome Individual Indelerlmento do pedido de penhora sobre bens do s60lo de fachada Decisao acertada potque de acordo com a realldade fatlca Agravo improvldo (TJRS AI 591020177 1 ccrv Rei Jose Velllnha de Lacenla J 21051991)

30

ROE N 43 - MarmiddotAlIr2n15 - PAUn GfRAl- OUUmINL

Deveria ser desnecessario diz~-Io mas tal materia nao poderia jamais ser objeto de decisao arbitraria sob pena de frustraiOobjetivo mesmo da norshyma e ll1alferir a Constituirao 0 numero 100 ninguem negara soa bem aos ouvidos mas isso nao deveria bastar para inseri-Io em texto legal Se de fato sua eleirao foi desacompanhada de qualquer embasamento tecnico e passrvel demonstrar-se inclusive mediante a colheita de dados estatisticos e indicacoes de direito comparado a inconstitucionalidade decorrente da violaSao aos princfpios da isonomia e da razoabllidade Por que se negar ao cidadao que dispanha de 50 salarios-minimos 0 direito de constituir uma EIREU quando em Portugal eassaz inferior 0 montante necessario para faz~shy-10 e no Chile sequer existe exigencia dessa especie (como alias previa 0

texto primitivo do PU e questao cuja resposta se desprovida de fundamenshytos s6lidos atesta a contrariedade aos supracitados principios (Nadu sd p indeterminada)

A exclusao de grande parte dos empreendedores do pafs com a exishygeurogtncia de capital mlnimo alto e tambem argumento da ADln 4637 ja que o objetivo primordial da norma recem-criada e fomentar 0 desenvolvimento ecoo6mico e social do pais Sustenta-se que tal objetivo esta sendo prejudishycado oa medida em que a legislacao retira de pequenos empreendedores a possibilidade de lanyarem-se no mercado economico de forma regular saindo portanto da informalidade (Brasil 2011 p indeterminadal

Corroborando 0 entendimento aeima Haroldo Malheiros Duclerc Vercosa (2011 p indeterminada) afirma que

rJa crftJca que se faz eque 0 capital mlnimo exigido de tal sociedade deixa a margem urna parcela substancial dos microempresarios patrios os quais continuarao dentro do regime geraf de respollsabilidade patrimonial pessoal (e do risco correspondente) sem acesso ao patrimonio ~eparadoqlleeiQ ltI

serqiad9para q EIRElI a naoser par alguma fugapararrlecanisfnocorno deg dlc6nstitui~ao de uma sociedade limitada com outro socio este detentor de

minima expressao do capital social Mas tal recurso muito utilizado apreshysenta custos que 0 microempresario dificilll1ente poderii suportar

Ainda deve-se considerar que a vinculacao do salario-mfnimo para qualquer fim e expressameote vedada pel a Constituicao Federal de 1988 em seu art 72

IV30 Nesse passo ainda que se considere posslvel Oll ate mesmo necessaria a exigencia de lim capital minimo para a constituicao de

Art lO da Cf1988 Sao direlos dos tlllbalhadores urbanos e rurais aiem de outros que visem il melhoria de sua condl~ilo social L1IV - saIMiomiddotInnlmo lixado em lei naeionalmente uniftcado capaz de arender a suas neeessidades vitais Mslcas e ~s de sua famflia com moradla alilnenta~iio eduoaao saude lazer vestuario higiene transporte e prevldencla social com reaJustes perlMieas que lhe preservem degpoder aquisitivo sendo vedada sua vineula~ilo rara qualqver 11m l (Brasil 1988 p indeterminada)

N N bullbullbullbullbullbull HOE N 43 - MarmiddotAbr2015 -AlIT GERAl- DOUTRIIfA

uma EIRELI este capital em regra nao poderia ser calculado com base no salario-minimo

5eguindo tal raciodnio e por entender que a parte final do art 980shyA do Codigo Civil de 200212 fere 0 disposto no art IV da Constituishylt030 Federal entre os argumentos utilizados na ADIn 4637 esta 0 fato de que 0 eonstituinte com 0 objetivo de evitar que os reajustes peri6dicos do salario-minimo que visam a preserva-ao de seu poder aquisitivD sofram influencias de interesses diversos daqueles previstos na Constitui-ao vedou expressamente a villculacao do salario-minimo para qualquer finalidade (Brasil 2011 p indeterminada)

Ainda eonsiderando a oscilacao que 0 reajuste do salado pode imshypliear a I Jornada de Direito Comercial do Conselho da Justi-a Federal ocorrida em outubro de 2012 no 5TJ definiu por meio do Enunciado nQ 4 que llma vez subscrito e efetivamente integralizado 0 capital da empresa individual de responsabilidade limitada nao sofrera nenhuma influencia deshycorrente de ulteriores alteracoes no salario minimo

Nao obstante os argumentos contrarios e a ADln pendente de julshygamento vige hoje a exigencia de capital minimo para a eonstituirao da EIRELI fixada com base no salario-minimo nacional vigente na epoca da constitu icao

23 EIRElI EMPRESARlO InDIVIDUAL SOCIEDADE EMPRESARIA UlflPESSOAL OU UM TlPO SUI GEMERIS

DE EMPRESARIO

o legislador batizou 0 novo instituto de Empresa Individual de Resshyponsabilidade limitada Em primeiro lugar ha que se considerar que resta eonsagrado na legisla-ao na doutrina e najurisprudencia que empresae uma atividade exerddapelo empresarilte nao uma pessoa urn sujeito de direitos (Moraes 201 0 p 40 Diante disso a primeira crltica feita ao legisshy

31 0 STF ja firmoL entendimento em divesos julgadas no sentido de que e proibida a vinculaao do sailtirio minima para qualquer finalidade Dana moral FiKa~ilo de indenizaltao com vinculaao a salario-minimo Vedaao constitucional Art 7deg IV da Carta Magna 0 Plenario desta Corte ao julgar em 01101997 a ADln 1425 firmou a entendimenro de qle ao estabelecer 0 art 7deg IV da Constitui~iio que e vedada a vincula~o ao salaria-mlnima para quaiquer fim quis evitar que interesses estranhos aos versados na norma constitucional venham a tel influencia na filCll~o do valor minima a ser observado No caso a indenizaltiio par dana moral fo fixada em 500 salarios-minimos para que inequivacamente 0 valor do salilria-mlnlmo a que essa indenizaao esta vinculado atue como fator de atualizaao desta a que IS vedada pela citarlD dispositivo canstitucional Outros precedentes desta Corte quanta 11 vedaao da vinculagao em causa ReculSo extraordinario conhecido e provida

32 Art 98QA do CCB A empresa individual de responsabilidade limitada sera constituida por uma dnica pessoa titular da totalidade do capital social devidamente integralizado que nao sera inferior a 100 (cern) vezes 0

malar salMo-mfnimo vigenre no Pars (Brasil 2002 paginaltaa indeterminada)

33

ROE N 43 - MarmiddotAbr2015 - PARlE GERAl- DOUmIIlL 1

lador infraconstitucional acerca da natureza juridica da EIRELI diz respeito asuafaLta detecnica para dar nome ao institutomiddot recem~criado chamando de empresa uma especie de empresario (Ramos 2012)

Ora se empresa e uma atividade e nao um sujeito de direitos a falha tecnica legislativa contribtli para a compreensao inadequada que cornushymente se faz da empresa ou seja confundindo-a com a propria pessoa dica ou ainda com 0 estabelecimento empresarial Por essa razao a crftica vem no sentido de que a terminologia mais adequada seria empresario e nao empresa

Nominada de forma equivocada ou nao uma figura juridica capaz de conferir a possibilidade de exercfcio da empresa por uma s6 pessoa ffsiea com separa-ao de patrimonio e limita-ao de responsabilidade e como ja dito desejo antigo da dOlltrina brasileira Como exemplo epossivel citar 0

projeto de Lei nil 201 de 194733 apresentado pelo entao Deputado Fausto

de Freitas e Castro 0 qual dispunha em seu art 12 que qualquer pessoa capaz de exereer 0 eomercio podera constituir empresa em nome individual limitando a sua responsab[lidade pelos neg6cios da mesma ao valor do capital declarado (Martins Filho 1950 p 64-66)

Antonio Martins Filho em cuja obra Umitatiio da responsabilidade do comerciante individual analisa 0 aludido projeto de lei afirmava

A empresa individual de responsabilidade limitada constituindo a ultima fase do processo evolutivo da limitaltao dos riscos e insistentemente redashymada pelos agentes da atividade econ6mica dos novos tempos Recusando-a de direito nao evitara 0 legislador a existencia de fato desse tipo de empresa que passa a funcionar sob forma de sociedade fictfcia ou unipessoal (Martins Filho 1950 p 9)

ja naquela epoca ainda sob a vigencia do Codigo Comercial de 1850 e do C6digo Civil de 1916 0 autor ressaltava a importancia da limita~ao de responsabilidade daquele que era conhecido como comerciante individual (hoje empresario individual) bem como reconhecia a existencia de socieshydades constitufdas apenas formalmente para 0 fim de aquisi=ao de personashylidade jurfdica pr6pria e separa-ao de patrimonio a partir do que concluia que apenas a cria-ao da empresa individual de responsabilidade limitada

Projeto de Lei nO 201 de 1947 anexo abra Limitarl0 de resJOflsabilidade do comerciante individual MARTINS FILHO AntOnio Anais do Congresso Jurfdico Nacional Comemorativo do Cinquenlenario da Faculdade de Direito de Porto Alegre Revisa de Fecudade de Direito de Porto Alegre Porto Alegre URGS maio 1950

middot RDE II U - MarmiddotAer201S - PARrE GER~L - DoumlNA

serla capaz de acabar com tal pratica tao comum no Brasil (Martins Filho

1950)

Em 2005 Wilges Ariana Bruscato tambem assinalava a importanshycia do exercicio individual da empresa com limita=ao de responsabilidade como forma eficaz de fomento da economia

jft que 0 modus vivendi de nossa sociedade atual baseia-se em resultados economicos e relevante acenar com contribuilt6es para 0 desenvolvimento da atividade empresarial feita de maneira singular como forma de incentivar as pequenas iniciativas que num 6istema de colmeia representam a agreshyga~ao de vaores sociais importantes como 0 emprego 0 recolhimento de tributo a disseminaltao tecnologica entre outros ou seja 0 favorecimento de pequenas iniciativas que aquecem a economia (Bruscato 2005 p 75)

No mesmo sentido Felipe Ferreira Machado Moraes (2010 p 37-38) sustenta a necessidade de limita=ao da responsabilidade do empresario inshydividual como forma de cumprir os objetivos do Estado Democratico de Direlto tais como expressos na pr6pria Constitui=ao Federal de 1988

Em um Eslado Democratico de Direilo em que a propria Constituiltao da Republica contempla dispositivos que pregam 0 desenvolvimento nacional a livre iniciativa e inclusive 0 tratamento favorecido as empresas de pequeno porte nao parece prosperar 0 entendimento de que 0 empresario individual deve ter sua responsabilidade ilimitada respondendo com a totalidade de seu patrimonio particular (civil) por eventuais insucessos de seu empreendishy

mento

o anseio pela limitarao da responsabilidade no exerdcio individual da ernpreSq~Iil~re ()s~doutrinadores patrios baseava-se frequenteniente experiencia de outros paises que regulamentaram em sua ordem interna diversas formas de possibilitar a limitarao de responsabilidade daquele que

deseja empresariar individualmente

Na Alemanha como visto surgiu 0 primeiro modelo de sociedade por quotas de responsabilidade limitada em 1892 Em 1981 quase um 56shyculo depois entra em vigor a lei que alterou a legislarao das Sociedades por Quotas de Responsabilidade limitada para introduzir no ordenamenshyto juridico alemao a Sociedade por Quotas de Responsabilidade Limitada Unipessoal Passou-se enUlo a permitir a constituirao de Sociedades por Quotas de Responsabilidade Limitada por apenas uma pessoa (ffsica ou jushy

ridica) (Abrao 2000 p 6)

ROE N 43 - M8rmiddotAb~2015 - PARr CEIlAL - DOUTRlIIAmiddotmiddotmiddotmiddot

Tambem na Fran=a ap6s a regulamenta=ao clas sociedades por quoshytas de fesponsabiJidade Itmitadaiolintroduzida a limitada unipessoal em 1985 permitindo iguafmente a constituirao de sociedades unipessoais (Abrao 2000 p 12)

Ja em Portugal existem duas possibilidades para 0 exercfcio indivishydual da empresa Em 1986 0 Decreto-Lei nQ 2481986 criou a figura do Esshytabelecimento Individual de Responsabilidade limitada EtRL Trata-se de figura na~ dotada de personalidade juridica constilufda atraves de um pashytrimonio de afetarao por meio do qual uma pessoa fisica explora uma ativishydade economica empresarial Para a constituirao de um EIRL e necessario o investimento minima de euro 5000 (cinco mil euros) Ja a segunda forma de empresariar individualmente em Portugal com separarao patrimonial e limitarao de responsabilidade foi regulamentada 10 anos ap6s 0 EIRL por meio do Decreto-Lei nil 2571996 a Sociedade Unipessoal par Quotas Tal sociedade e constitufda por uma 56 pessoa (fIsica OU juridical titular de todo o capital social e cuja responsabllidade esta limitada ao capital investido sendo este livremente fixado pelo s6cio ou seja nao ha exigencia de capital mlnimo para a SUQ ao contrario do que ocorre com 0 EIR134

bull

Na experiencia brasileira entretanto ate a ediraa da Lei nQ 124412011 nao havia possibilidade de exercer uma atividade econoshymica organizada de forma individual sem 0 camprometimento da totalidade do patrimonio do empresario A sociedade unipessoal admitida em palses europeus desde meados de 1980 somente era permitida no Brasil em duas hip6teses excepcionais quais sejam a subsidiaria integral prevista na Lei das Sociedades Anonimas (Lei nQ 64041976)35 e a unipessoalidade ternshyporaria da sociedade pelo prazo de cento e oitenta dias conforme dispoe 0

art 1033 IVJ6 do C6qigoCiv

Assim no Brasil ap6s anos de discussao doutrimiria e de entendishymento quanta a necessidade de cria=ao de um instituto que viabilizasse 0

exercfcio da empresa de forma individual sem que isso acarretasse necessashyria risco ao patrimonio pessoal do empresario 0 legislador infraconstitucioshy

34 Informa~aes dlsponiveis em lthttpwwwpot1lJgalgIObalptPTlnvestirPortugaguiadoinvestldorICriareinstalar PaginaSTipos5ociedadesComerciais aspxgt

35 Art 251 da LSA A companhia pode ser constilulda mediante escrilura publica tendo como unico acionisa sociedade brasileira sect 1deg A sociedade que subscrever em bans 0 capital de subsidiaria inlegral devera aprover o laudo de avaliaifio de que trata 0 art 8deg respondendo nos lermos do sect 6 do art 80 e do art 10 e seu panlgrafo Llnico sect 2deg A companhia pade ser converlda em subsidiara integral mediante aquiSitao por scciedade braslieira de lodes as sues ayoes ou nos lermos do art 252

36 Art 1033 do eC8 Dissolve-se a scciedade quando oeorrer 11 IV a falla de pluralidede de socios nila reconstltufda no prazo de cenro e oitenla dias L J

ROE Ndeg 43 - MarmiddotAbr2015 - PARTI GERAl- OUIRINA

nal consagrou a flgura da Empresa Individual de Responsabilidade Limitada a EIRELI

Quando inserida no ordenamento juridico a EIRElI gerou controvershysias acerca da sua natureza juridica Ha que diga tratar-se de empresario inshydividual por outro lado ha que afirme tratar-se de uma sociedade limitada unipessoal No entanto hii tambem uma terceira corrente que afirma ser a EIRELI uma nova especie de pessoa juridical um ente distinto do empresario individual e das sociedades empresarias

A corrente menos express iva considera a EIRELI uma nova modalishydade de empresario individual ou seja um empresario individual de resshyponsabilidade limitada Para tal corrente 0 empresario individual ate en tao conhecido aquele que e pessoa fisica permanece existindo passando a existir 0 empresario individual pessoa jurfdica

Nesse senti do

Apesar de ser uma pessoa jurfdica a EIRELI nao euma sociedade empresaria mas sim uma forma diferenciada de constituiyao de empresario individual (que ao contrltirio daquela e pessoa natural) (Cardoso 2012 p indetermishynada)

Outra corrente mais expressiva e a capitaneada par Fabio Ulhoa Coelho (2012 p 409) para quem a EIRELI e uma sociedade empresaria definindo-a como uma sociedade limitada unipessoal na qual apenas uma pessoa (rfsica ou jurfdica no entender do autor) sera titular da totalidade das quotas socials 0 autor salienta que 0 sect 6Q do art 980middotA do C6digo Civil pershymite concluir que a EIRELI eespecie de sociedade limitada pois se submete as regras deste tipo societario

Da mesma forma Gustavo de Alvarenga Batista (2012) defi ne Em terrnosmiddotpraticos aEIRELI possibilitaqueiumemprksaflopessoa constitua uma sociedade unipessoal na qual fica sua responsabilidade atreshylada ao valor do capital por ele integralizado

Ja Andre Luiz Santa Cruz Ramos (2012) entende que 0 legislador criou uma nova figura juridica distinta da sociedade eillpresaria e do empresario individual mas com caracteristicas semelhantes a ambos No entanto 0 aushytor entende que foi um equivoco a cria~ao de um novo tipo de pessoa jurfshydica Sustenta que 0 legislador poderia tao somente ter consagrado 0 empreshysario individual de responsabilidade limitada que continuaria sendo uma pessoa fisica mas gozando da separa~ao entre 0 seu patrimonio pessoal e aquele afetado ao exercfcio da atividade economica ou ainda consagrado

ROE N 43 - MarmiddotAbrI21115- PARrE GERAl- OUTRINL

efetivamente a sociedade empresaria unipessoal bastando para tanto inshycluirentreasEseecies de sociedades ja existentes a sociedade constitulda par um 6nico s6cio titular de todas as quotas Em qualquer dos casos a insenao feita no art 44 do C6digo Civil seria desnecessaria

Do mesmo entendimento compartilha Wilges Ariana Bruscato (2011 p 10) que afirma que acaso a EIREU fosse uma sociedade unipessoal nao haveria necessidade de inclusao do instituto no inciso VI do art 44 do C6shydigo Civil ja que as sociedades ja estao previstas no inciso II do mesmo dispositivo Da forma como posta nao existe sociedade e silll um tipo sui generis no direito patrio Ainda afirma-se que

a EIREI nao tem natureza juridica de sociedade empresaria ao contrario do que muitos ainda defendem mas trata-se de uma nova categoria de pessoa jurfdica de direito privado que tambem se destina ao exercfcio da empresa Tanto que a Lei nQ 124412011 incluiu as empresas individuais de responsashybilidade limitada no rol de pessoas jurfdicas de direito privado do art 44 do C6digo Civil (inciso Vi) Ademais a lei nQ 124412011 ao inserir no C6dishygo Civil 0 art 980-A teve 0 cuidado de topograficamente tambemcriar um novo titulo (mulo I-A Da Empresa Individual de Responsabiidade Umitashyda) situado entre os Titulos I e II que tratam respedivamente do empresario individual e das sociedades empresarias (Pinheiro 2011 p indeterminadal

Nao obstante os variados entendimentos ha Uma tendencia de que a EIRELI seja efetivaillente compreendida como uma nova especie de pessoa juridica nao se tratando de empresario indiVidual tampouco de sOliedade empresaria ainda que unipessoal Tanto e assim que na ja mencionada I Jarnada de Direito Comercial do Conselho da Justi~a Federal foi aprovado o Enunciado nil 3 com a seguinte redacao A Empresa Individual de Resshyponsabilidade Limitada - ElRELI nao e sociedade unipessoa mas um novo ente~j_stjn~q da pessoa doempresarioe da sociedade eiTlpresfiriao qual seguia ciresmmiddota Iinha do Enunciado nil 46937 da V Jornada de Direito Civil que afirma que a empresa individual de responsabilidade limitada (EIRELI) nao e sociedade mas nova ente jurfdica personificado

24 AEIRELI EO PRomo DE NOVO CUOIGO COMERCIAl EXTINCAO DO INSTITUTO [ CRI~O DE f40VAS FIGURAS1

Tramita no Congresso Nacional 0 Projeta de Lei nil 15722011 que visa a instjtui~ao de um novo C6digo Comercial com a consequente revoshy

~__~~M~~~~ __ __ ___~_____ _~

37 Enunciado n 469 do elF Arts 44 e 980middotA A empresa individual de responsabilidade Iimltada (poundIRELI) olio Ii sociedade mas novo ente jurrdico personificado

Ii r~ RDE Nmiddot 43 - MarmiddotAbrf2615 - PARTE GERAl- OnUIRIUA

gasao de diversos dispositivos do atual C6digo Civil bem como de legislashysoes esparsas

o projeto apresentado pelo Deputado Vicente Candido baseado em minuta elaborada por Fabio Ulhoa Coelho na obra 0 futuro do direito coshymercia tem como uma de suas justificativas a sistematizasao revisao aperfeiltoamento e modernizasao da disciplina jurldica do estabeledmento empresarial do comercio eletronico da concorrencia desleal das condutas parasitarias da escrituratao mercantit do exerddo individual da empresa e da sociedade unipessoal (Brasil 2011 p 118)

Dito projeto nao traz em seu texto referenda expressa ao instituto recem-criado a EIRELI No entanto consagra duas figuras que merecem especial atensao sao elas 0 empresario individual em regime fiduciario e a sociedade Iimitada unipessoajJs

o empresario individual tal como e conhecido atualmente nao deishyxa de existir na redasao do projeto de NCCom sendo disciplinado entre os arts 14 a 32 do projeto de lei No que tange as suas caracteristicas esshysenciais 0 empresario individual permanece sendo pessoa ffsica que exershyce singularmente uma empresa sem limitaltao de responsabilidade nao se submetendo ao prindpio da autonornia patrimonial

Entretanto alem do empresario individual ate 0 momenta conhecido o novo C6digo Comercial visa a instituir outras duas formas de exerdcio individual da empresa como jei dito as quais possibilitam a separaSao de patrimonio e limitaltao de responsabilidade do empreendedor 0 empresashyrio individual que exerce a empresa em regime fiduciari039 e a sociedade limitada unipessoal

Da leitura do projeto infere-se que 0 empresario individual ao reshyquerer 0 seu registro comeh~rfipfesarioquntamp ao 6rgaocompetente poderamiddot fazer uma declaratao na qual conste que 0 exercicio da empresa dar-seshy

38 Na verdadc ha que se pontuar que 0 projeto de lei esta baseado em texto do jurisla Fabio Ulhoa Coelho a entende que a EIREU euma socied8de limiteda unipessoal e n~o ume nova especie de pessoa juridica eo fato pelo qual nao esta ela prevista nesse lormato no relerido projeto

39 A fiducia tem origem no direito romano ral institwlo caraclerlzamiddotse pela contiana e boa-lEi existentes entre fidLicianle e fiduciario A propriedade fiduciira por sua vez caracteriza-se quando determinado bern ou conjento de bens e destinado II gamntia de certo(s) credor(es) ou scja os bens constltuldos como propriedade fiduciaria de destlnam a garantia do cumprimento de determlnadas obrlgaltOes do liduciaro perante 0 fiduciante nao podendo ser objeto de expropriaao Pilra a adlmplemenlo das obriga6es pessoafs do fiduciiirio (Restlffe Neto Rest1ffe 20001 Segundo a C6digo Civil de 2002 em seu art L35 considerashysa propriedade fiducjaria a proprfedade resoliNel de caisa m6vel imungfvel Que 0 devedor com escopo de garanta translere ao credor Para maior aprofundamento acarce do tema vide SILVA ltJiz Augusto Beck da Alienaliio fiducitlfia ampm garantia 4 ed RIO de Janeiro forense 1998

RDE N 43 - Mar-AbtfZ015 - PARrE GERAl- DOUTRINL

-a em regime fiduciario Com a referida dedaraltao 0 empresario devera constitJir 1m patrimbnio relaeuroionado aattvrdade empresarial que pretende exercer absolutamente separado de seu patrimonio pessoaL

Assim uma vez cumpridos os requisitos 0 empresario individual desshysa modalidade (que continuaria sendo pessoa fisica) nao poderia ter seu patrimonio pessoal expropriado para 0 cumprimento das obrigalt6es assushymidas no exercicio da atividade salvo se conforme disp6e 0 sect 29 do art 32 do NCCom se tratarem de obrigaltoes de natureza trabalhista e triblltaria relacionadas ou nao com a empresa Trata-se pois do estabelecimento de um patrimonio de afetaltao que serviria de garantia aos credares do em preshysarlo individual em vez de totalidade do seu patrimonio

A outra forma de exercfcio singular da empresa proposto pelo projeto em comento e a constituiltao de uma sociedade limitada unipessoal Ao tratar das sociedades em especie 0 projeto preve a existencia de cinco tipos societarios (sociedade anonima sociedade limitada sociedade em nome coletivo sociedade em comandita simples e sociedade em comandita par alt6est todos os tipos ja cOllhecidos e previstos no atllal C6digo Civil

A novidade e uma pequena alteraltao feita no ambito das sociedades limitadas para no art 192 dispor que a sociedade limitada sera constishytufda por um ou mais s6cios ou seja retira da definiltao de sociedade a pluralidade dos s6cios

Todavia algumas consideralt6es devem ser feitas acerca do projeto em questao no que tange a sua relaltao com 0 instituto ora estudado

Conforme ja referido a limita~ao de responsabilidade do empresario individual era esperada pela doutrina patria ha muito tempo e a EIRELI foi a

l~gislativaelJcontrada para dar res posta aosansetoSexistentes

Com crfticas ou nao fato e que a EIRELI hoje majoritariamente conshysiderada como uma nova especie de pessoa juridica concebe a limitaltao de responsabilidade no exercfcio individual da empresa e desde 0 infcio de sua vigencia as estatisticas mostram que esta nova forma de exercer a empresa vem crescendo em todo 0 Pafs S6 em Sao Paulo nos primeiros tres meses de sua existencia a EIRELI jii representava mais de 4 do total de registros realizados conforme informaltao publicada pela Junta Comercial do daquele Estad040bull

40 Para majores Inlormacentes e dados estatistlcos vide htlpwwwjucespJazendaspgovbr

RUE III 43 - MOImiddotAbr2U15 - PARTE GERAl- nOUTHINA

Nesse passo cumpre questionar qual sera 0 futuro da EIRELI se 0 Proshyjeto de Lei nQ 15722011 vier a ser aprovado 0 que fazer com as EIRELIs ja existentes ao tempCl da publicacao do novo C6digo Comerdal Sera necesshysaria a criacao de regras de transicao ou os titulares de EIRELI simplesmente serao obrigados a requerer sua transformacao perante as Juntas Comercias para uma das duas modalidades criadas pelo novo C6digo

Certo e que 0 projeto de Novo C6digo Comercial contempla de certa forma a EIRELI mas colocando-a definitivamente como uma especie de sociedade limitada a sociedade limitada unipessoal No entanto ao propor llm projeto e necessario fazer uma analise do impacto que as alteraC6es provocarao sob pena de a nova lei em vez de pacificar entendimentos e llnificar tratamento acabar acarretando um caos inicial comprometendo sua pr6pria legitimidade

CONSIDERA~OES FINAlS

A limitacao de responsabilidade no exerdcio individual da emprcsa e tema recorrente na doutrina brasileira e desejo antigo dos empreendedores Ate a consagrarao da EIRELI par meio da Lei nQ 124412011 tal limitarao nao era posslvel no exercfcio individual da empresa como ja amplamenshyte debatido e demonstrado Com a criacao da EIRELI 0 legislador patrio apresenta aos empreendedores brasileiros uma nova possibilidade para empresariar sem a necessidade de constituirao de sociedades de fachada ou eventual comprometimento da totalidade do patrimonio pessoal do emshypreendedor

Percebe-se contudo que as controversias existentes ern torno da EIRELI ainda sao muitas Mas algumas coisas podem-se dizer certas Prishym~irQjslli1fiIR~khv~i~efetivamentepara privilegiar os pequenosemiddottledioS0i(i empreendedores nao se ve razao plausivel para que ela seja constituida por titular pessoa juridica Beneficiar sociedades estrangeiras e um argumento fraco para fazer esta defesa

Segundo do ponto de vista da garantia dos credores a exigencia de um capital mfnimo tern razao de ser principalmente levando ern conta que ate entao os empresarios individuais respondiam com a totalidade do seu patrimonio Todavia considerando que nao ha exigencia nesse sentido para as demais especies de empresarios de fato fere-se 0 principio da igualdade de tratamento Ainda em rela-ao ao capital minimo se 0 objetivo do legisshylador era beneficiar pequenos e medios empreendedores 0 minima estabeshylecido em 100 vezes 0 salario-mfnimo nacional e bastante alto Talvez uma

nOf Ndeg 43 - MalmiddotAbrl2015 -PARTE GERAl- DOUTRJNL bullbull bullbullbull

adequacao do montante fosse interessante para 0 atingimento dos objetivos do novel instituto

Em relacao a natureza juridica compreender a EIRElI como uma nova especie de pessoa jurfdica e certamente 0 melhor caminho ainda que isso possa parecer estranho ja que se esta diante de uma pessoa jurfdica constituida de uma dnica pessoa Afinal partindo dessa premissa nao seria necessario relativizar 0 conceito de sociedade que exige pluralidade de s6dos tampouco seria necessario pensar um empresario individual pessoa frsica que pudesse ser titular de dois patrimonios autonomos 0 pessoal eo de afetacao

Em derradeira analise no que diz respeito ao Projeto de novo C6digo Comercial cabe apenas ressaltar que eventual aprovacao devera levar em considerarao 0 fato de que como visto desde a entrada ern vigor da Lei nQ 124412011 a procura dos empreendedores por esta modalidade de exercfcio da empresa tern sido grande Contudo 0 projeto de lei nao traz qualquer mencao ao instituto Assim dever-se-a ter uma preocupacao com a transi-ao nao se podendo ignorar a existencia destes slljeitos de direito sem estabelecer qual sera oseu destino Mal se consagram institutos no Brashysil e novamente se pretendem altera~oes legislativas Assim nao se chega a maturidade

Por hora ainda que com quest6es controvertidas ha uma unanimidashyde doutrinaria de que a EIRELI e bem-vinda nao apenas porque oriunda de pleitos antigos mas tambem porque apresenta uma nova possibilidade para quem pretende empresariar no Brasil de modo que ha grande expectativa no sentido de que 0 Poder Judiciario seja capaz de dirimir as controversias existentes causadas basicamente por falhas do legislador permitindo uma amPla utilizacao dQoolRjn~titu~9~gW~Cialmente poraqueles que aoque parece se tentou benefidar 05 pequenos e medios empreendedores brasishyleiros

Page 6: SINTESE - cortemello.com.br · RESUMO A EIRELI - Empresa Individual de Aesponsabilidade Limitada foi introduzida no ordena ... a partir da doutrina de Alberto Asquini, que entende

nos essenshy

e seshy

e os

1407

middot bull RIlE N 43 - MamiddotAbrj2B15 - PARTE GERAl- DOUTlIINA

A sociedade em nome coletivo surgiu na Italia entre os grupos fashymiliares que formavam sociedades posteriormente se desenvolvendo enshytre os artesaos e comerciantes (Almeida 2011) No Brasil regulada arts 10399 e seguintes do C6digo Civil de 2002 caracteriza-se cialmente pelo fato de admitir apenas pessoas fisicas como socios e pelo sistema deresponsabilidade solidaria e ilimitada pelas obrigacoes sociais imposto aos socios Esse sistema de responsabilidade nao e muito atrativo ja que ap6s 0 esgotamento do patrimonio da pessoa juridica 0 patrimonio pessoal dos socios sera atingido para a satisfa-ao das obrigacoes da socieshydade Nesta sociedade nao ha limita-ao de responsabilidade

A sociedade em comandita simples regulada nos arts 104510

guintes do C6digo Civil de 2002 tern sua origem no desenvolvimento do comercio marltimo no chamado contrato de comenda por melo do qual os nobres interessados em comerciar e nao 0 podendo em razlio do conceito que 0 comercio tinha entre aquela casta social confiavam aos comerciantes marftimos certa quanti a em dinheiro para que estes praticando a atividashyde mercantif obtivessem luero 0 qual seria dividido entre estes ultimos e aquele que tinha investido capita Em casu de prejuizo 0 nobre investidor assumia a perda do valor investido (Martins 2011)

Atualmente a sociedade em comandita simples apresenta duas cateshygorias de socias com sistemas de responsabilidade diferentes asemelhan~a do ocorria em sua origem medieval as socios comanditad05 administram 0

negocio e assim respondem solidaria e ilimitadamente pelas obrigalt5es socia is ja os socios comanditarios apenas investem capital para 0 exerdcio da empresa nao participando de sua administraltao e por isso respondem de forma limitada ao capital investido au seja nesta sociedade esgotado o patrimonio social somente parte dos s6cios podera ter 0 seu patrimonio pessoal atingido para satisfa-ao das obrigacoes da sociedade

A sociedade ari6tiitnatamberi1conhecida comocompanhia em pese nao haja entendimento pacifico na doutrina ace rca de sua origem na uma quase unanimidadell ao afirmar que a primeira manifestaltlio definitiva

sociedades comereais 19 ed Sao Paulo Saralva 2011 COELHO Fabio Ulhoa Curse de direito eomereal 16 ed Sao Paulo Saralva 2012 e NEGRAO Ricardo Manua de direito comereial e de empresa 8 ed Sao Paulo Sara iva 201 L

9 Art 1039 do CCB Somente pessOBS Iisieas podem tomar parle na sociedade em nome coletivo respondendo lodos os s6cios salida ria e iiimitadamenle pelas obrig~Oes socials

10 Art 1045 do CeB Na socledade em comandita simples Icmam parle s6cios de duas calegorias ascQmanditados paswas lisicas responsaveis solidaria e ilimitadamente pelas obrigalt6es SOClais comanditarios obrigados somenle pelo valor de sua quola

11 Dvergem alguns autores sabre este marco hist6rioo a exemplo de Haroldo Malheiros Duclerc verltosa que afilTla qlJe a primeira sociedade anOnima teria sido 0 Banco de Sao Jorge de G~nova criado em (Velaquoosa 2006 p 290)

RDE N 43 - MarmiddotA1uI2815 - PARTE GEHAl- D8UTRINA

e mais proxima da atual sodedade anonima deu-se com a Companhia das IndiasOrientisem1602 na HolandaAtmeicla 2011 p 187)

A sociedade anonima esta regulada nos arts 10882 e 108913 do C6shydigo Civil de 2002 e na Lei nQ 64041976 Entre suas caracterfsticas essenshyciais destacam-se a divisao do capital social em altoes e 0 sistema de re5shyponsabilidade dos sOcios denominados acionistas que e limitada ao preoo de emissao das a-5es subscritas14 ou adquiridas5

A lei nil 64041976 tam bern regulamenta a sociedade em comandita por acoes a qua teve sLla origem ja na Idade Moderna com 0 C6digo Coshymercia Frances de 1807 Tal especie societaria tambem foi genericamente regulada pelo C6digo Civil nos arts 10906 e seguintes Asemelhanca das comanditas simples as comanditas por acoes tambem possuem duas modashylidades de sodos os acionistas diretores a quem incumbe aadminjstra~ao

da sodedade os quais respondem solidaria e ilimitadamente pelas obrigashyc6es socia is e os demais acionistas que sem poderes de administracao goshyzam de limita~ao de respol1sabilidade ao capital investido (Rizzardo 2009)

A sociedade limitada contudo teve origem de modo diverso Ate 0

seu surgimento 0 empreendedor que quisesse exercer uma empresa unindoshy-se a outro tinna dois caminhos possfveis a seguir ou constitufa uma socieshydade anonima cujo sistema de responsabilidade era 0 da responsabilidade limitada traduzindo-se na forma menos ariscada de exercfcio da empresa mas que por outro lado exigia muitas formalidades para sua constituicao e assim destinava-se mais aos grandes empreendimentos com vultosos investimentos ou constituia uma das modaidades de sodedade de pessoas existentes aepoca de constitui-ao e funcionamento mais simples sem a neshycessidade de grandes investimentos mas com sistema de responsabilidade

ilimitadl para todos OLi parte dos sooi6Js(Abri)o 2000)

as modelos societarios entao vigentes restringiam 0 acesso de pequeshynos e medios empreendedores ao exerdcio das atividades economicas Prishy

12 Art 1088 do CC8 Na socledade anonima ou companhia 0 capital divide-se em a90es obrigando-se cada OOcio au acionista somente palo pret) de emlssao das afies que subscrever au adqUirir

13 Art 1089 do ee8 A $Ocledade anOnima rege-se por lei especial aplicando-se-lhe nos casas omissos as disposioes deste C6digo

14 Subscriltao de capital e 0 ato pelo qual 0 socio au aclonista assume 0 compromisso de adqurir para si pagando 0 valor devido determinado numera de quotas ou altoes Integralizao do capiial social eo ato pelo qual 0 s6clo ou acionista efetivamente paga 0 pre90 das quotas ou alt6es subscMlas (Martins 2011)

15 Art 1C da LSA A companhia ou sociedade ananima tera 0 capital dividldo em aoes e a responsabilidade dos sOcios ou acionistas ser~ limitada ao pr~o de emissao das altOes subseritas au adquiridas

16 Art 1090 do CCB A soeiedade em oomandila por alOes tem a capital dividido em aBes regendo-se pelas normas relaivas II sccledade an6nima sem prejulzo das modificalt6es constantes deste Capitulo e opera sob finna OIl denomlnao

Hut N 13 -lIarmiddotAbr2015 - PARTE GERAl- DOUTRIUA

meiro porque de forma individual ou em sociedade de pessoas ainda que as formalidades para constituiltao e 0 investimento exigido fossem menores os riscos eram elevados em decorrencia do sistema de responsabilidade iIishymitada Segundo porque a unica sociedade com sistema de responsabilidashyde limitada era a anonima a qual por exigir um rigorismo formal para sua constituiltao destinava-se aos grandes empreendimentos (Verltosa 2006)

Necessitava-se entao para atender a demanda dos pequenos e meshydios empreendedores de um tipo societario capaz de atender a ambas a~ necessidades menor assunltao de riscos pela limitaltao de responsabilidade e ao mesmo tempo menor complexidade de constituiltao e funcionamenshyto (Pimenta 2006 p 67) Nesse contexto e que surge na Alemanha em 1892 a sociedade por quotas de responsabiiidade limitada (Almeida 2011 p145)

Ante a necessidade de incentivar 0 exercicio da empresa por parte de tantos quant05 por cia se interessassem por meio da separaltao entre 0

patrimonio pessoal dos s6cios e 0 da sociedade nao respondendo aqueles pelos debitos contraido5 por esta e que a sociedade por quotas de responsashybilidade limitada mostrou-se ahernativa eficaz na legislaltao alema de 1892 (Pimenta 2006 p 68)

No Brasil esse tipo societario foi consagrado em 1919 atraves do Decreto nQ 3078 cujo sistema de responsabilidade vinha estabelecido no art 290 qual previa que 0 titulo constitutivo regular-5e-a pelas disposiltoes dos arts 300 a 302 e seus numeros do C6digo Comercial devendo estipular ser limitada a responsabilidade dos socios a importancia total do capital social (Brasil 1919 p indeterminada)

A sociedade limitada17 hoje regulada pelo C6digo Civil de 2002 pode entaoser vistacomq a primeira forma deincentivqr epossibjlitaxo ac~ssode tltTlnumeromaior de pessoas ao exercicio de atiIdadesempreshysarias 1550 porque a partir dela passou a existir um tipo societario que alia a limitaltao de responsabilidade1B caracterfstlca que ate entao era exclusiva

17 Enquanto vigia 0 Decreto nO 30781919 este tipo socletario era denominado Socledade par Quotas de Responsabilidade limitada 0 art 10 do Jecreto previa que ahlm das sccledades a que se referem as arts 295 311 315 e 317 do C6digo Comecial poderao constituir-se socledades por quotas de responsabilidade limitade Oito decreta vigorou por mals de 80 anos vindo a ser parolalmente revogado pelo atual COdigo Civil em vigor deede 2003 0 CCB2002 simplifieou a nomenclatura passando a denomlnar este tipo socletMo apenas de secledade limitada regulando-a sem seus arts 1052 e seguintes

18 Como vista no sistema atual somente associedadesanonimas e limitadas possuem sOcios de responsabilidade limiteda 0 limite da responsabilldade dos socios ea capital investido por estes no neg6cio resglJanlandoshyse asslm 0 seu patrimOnio pessoaL Nao epor outra rallio que estes silo os dois tipos socletarios de maior utiliza~ao no Brasil estando os demais praticamente em desuso

ODE N 43 - MarmiddotAbrlZ315 - PARlE GEOAl- OnUIlIINA

da sociedade anonima e a contratualidade ou seja uma sociedade cujo ate constitutivo e0 cQntratosocia-OquaJpermite uma maior expressao da autonomia privada dos s6cios na conformaltao da sociedade diferentemenshyte da sociedade anonima que e uma sociedade constituida por um estatuto social muito mais conformado pela pr6pria legislaao do que pela vontade dos s6cios (Ramos 2011 p 248)

Verifica-se ainda que ao longo da hist6ria a sociedade sempre foi concebida como uma uniao de forltas pela busca de um resultado comum e as sociedades empresarias a uniao de forltas pela busca de um resultado lucrativo comum caracterizando-se pelo exercicio em conjunto de uma atividade economica organizada

Quanto anecessidade de constituiltao de uma sociedade para 0 exershycicio da empresa esclarece Fabio Ulhoa Coelho (2012 p 21) que

atividades economicas de pequeno porte podem ser exploradas por uma pesshysoa (natural) sem maiores dificuldades Na medida porem em que se avolushymam e ganham complexidade exigindo maiores investimentos ou diferentes capacitalaquooes as atividades econ6micas nao mais podem ser desenvolvidas com eficiencia par um indivfduo apenas 0 seu desenvolvimento pressupoe entao a aglutinalaquoao de esfonos de diversos agentes interessados nos lucros que elas prometem propiciar Essa articularao pode assumir variadas formas jurrdicas entre as quais a de uma sociedade

As sociedades assumiram tal importancia social que passaram a ser vistas como entes absolutamente distintos separados dos sujeitos que se uniam para forma-las acabando pOl receberem da ordem jurfdica status de sujeitos de direito tal como as pessoas naturais Eo que ensina Amador Paes de Almeida (2011 p 29)

Num cresceriaOafrmir~Veffofam~sb(jedades ganhando vulto a ponto de em pouco tempo distinguirmiddotse nitidamente das pessoas ffsicas que as comshypunham rJ Formando pois uma entidade aparte absolutamente distinta das pessoas naturais que as integram (ulrninaram as sociedades por serem reconhecidas pelo ordenamento jurfdico como sujeilos de direito equiparashydas ponanto as pessoas fisicas

A este sujeito de direito que surge a partir de uma sociedade 0 direishyto deu 0 nome de pessoa juridica Par conseguinte sociedade empresaria devidamente registrada19

sera a pessoa juridica exercente de uma empresa

19 0 registro do empresario seia eie individual au coietivo (sociedede empresiiria) Junto ao 6rgao responsavei pelo registro mercanti qual seia as Juntas Comereiais dos Estados euma das obrigalt6es impostas aquele

JUilJ fiDE It 43 -i4armiddotAIJr2Ul ~ - PARU GEllAl- OOHmlNA

o sujeito de direito que pratica os atos necessarios a realizarao da atividade economica nao se confundindo com seus sodos (Coelho 2012 p 23 e 27)

De todo 0 exposto conclui-se que para 0 direito empresarial desde suas primeiras manifestaroes ainda na Idade Media a personalidade jurishydica propria que era atributo exclusivo das pessoas fisicas foi estendida as pessoas juridicas que sao formadas pela uniao de no minimo duas pessoas em sociedade As empresas pod em ser exercidas po is tanto por pessoas fIshysicas quanta por pessoas juridicas Neste ultimo caso a pessoa jurfdica tem autonomia patrimonial em rela~ao ao patrimonio pessoal de seus socios

12 As CONSEQUENCIAS DA PERSONlflCACAO E A IMPORTANCIA DO PRINCPIO DA AUTONOMIA

PATRIMONIAL

A personalidade juridica e uma inven~ao do Direito Nao existe pesshysoa jurfdica senao sob a otica do Direito que a criou com 0 objetivo de solucionar alguns problemas decorrentes das relar6es humanas autorizanshydo a priitica de atos juridicos por outros sujeitos de direito que nao apenas pessoas naturals (Coelho 2011 p 138)

A personalidade juridica das sociedades empresarias e a criarao que possibilita conferir titularidade de direitos a um ente que nasce da uniao de outros ou seja e uma ficrao que atribui personalidade a um ente formado por uma coletividade de pessoas (Fazzio JUnior 2008 p 31)

o principal objetivo da atribuicao de personalidade jurfdica as soshyciedades e permitir que estas possam praticar todos os atos juridicos necesshysarios ao desenvolvimento da atividade para a qual foram criadas por si

lu~exce projiSSiOQ~Irente uma atividade empre~ari~ ~simse~Qo0tegistfJl DaO econdi~ao para taiacteriza~ao de uma pessoa (flsica au jurldica) como efllpresilio tratando-se na verdade de mera declarruao de regularidade do exercfcio dll empresa de acordo com as normas impostas pelo ordenaP1ento juridico patrio A inexist~ncia de registro nao descaracteriza 0 sujelto como empresario mas uma vez conligurando 0 descumprimento de uma obriga~~o a ele imposta acarreta algumas restri~es No caso da sociedade empresaria irregular uma das restri6es ea impossibilidade de realizar sua inscrirao junto aD Cadaslro Naeional de Pessoas Juridlcas com a consequente sanao pelo descumprimento das obriga~6es tributarias decorrentes deste cadastra Assim a sociedade empresiiria nao deixa de ser empresaria pela lalla de reglstro l1as naD sera uma pessaa juridice Dessa Iorma sendo sociedade oespersonificada os socioS da sociedade empresria irregular nlio gozam das benesses de Ilmitarao de respansabilidade atribuida via de regra as sociedades regulares (Coeiho 2011) Quanta if desnecessidade de reglstro marcantil para caracterizaao do empresaria ji se manitestou 0 Conselho da Justita Federal na III Jornada de Direito Civil na quallcram aprovados os Enunciados nOs 198 e 199 que disp5em respectivamente Art 967 A inscri~ao do empresArio na Junta Comercial nao Ii requisito para a sua caracteriza~ao admitiodo-se a exerclcio da empresa sem lal provid~ncia 0 empresarlo irregular reune os requisitos do art 966 suieltando-se as normas do COdigo Civil e da legislaao comerdal salvo naquilo em que Iorem incompatlveis com a sua condi~ao ou diante de expressa disposiao em contrjrio e Art 967 A inscriltiio do empresario ou sociedade empresiiria erequisito delineador de sua regulalidade e nao da sua caracteriza9iio (Conselho da Iusti~a Federal 2004 p Indeterminada)

ROE N 43 - MarJlbr2015 - PARTE GEftAl- DOUTRINL

mesmas e nao em nome dos sodos Na sodedade empresaria tal objetivo mOiVa-s~ ltliJ1rja maisreJevante na medida em que a atividade exercida exishyge assuncao de riscos os quais serao assumidos pela pessoa juridica e nao pelas pessoas fisicas (Fazzio Junior 2008 p 31)

Nesse contexto a importfmcia da atribuirao de personalidade jurishydica as sociedades empresarias e evidente sendo facil concluir que para minimizar 0 risco da atividade empresarial separando 0 patrimonio pessoal dos empreendedores os indivfduos devem - ou deveriam ate pouco tempo - constituir uma sociedade formando assim uma pessoa juridica a qual goza de autonomia patrimonial

Essa ficrao resulta em uma serie de consequendas importantes para o Direito De modo geral e possivel identificar tres consequencias advindas da atribuirao de personalidade jurfdica as sociedades empresarias a titulashyridade obrigacional a titularidade processual e a responsabilidade patrimoshynial (CoelflO 2012 p 32)

A titularidade obrigacional determina que todas as obrigacoes assushymidas no ambito do exercicio da atividade empresarial 0 serao pela socieshydade e nao pelas pessoas de seus socios Assim quem figura em um dos polos da rela~ao jurfdica estabelecida com terceiros (contratos de trabalho de prestarao ou contratarao cje servicos etc) e a sociedade e nao as pesshysoas dos socios que a comp6em Ja a titularidade processual implica que apenas a sociedade seja parte legftima para demandar ou ser demandada em processos judiciais que visem a discutir obrigar6es assumidas em seu nome Por fim a responsabilidade patrimonial que determina que a pessoa jurfdica e responsavel pelas obrigacoes que ela contrair com 0 seupr6prio patrim()Oi(jQ~qllaledistinto do patrimonio pessoal de cadaunl closs6dos que a constituem ou seja 0 conjunto de bens da sociedade forma 0 patrishymonio da pessoa jurfdica e eesse patrimonio que em regra responde pelas obrigac6es assumidas pela sociedade (Coelho 2012 p 32-33L

Arnaldo Rizzardo tambem reconhece que

tanto e pr6pria e distinta a personalidade juridica que 0 sistema juridico reconhece a sua existencia distinta da de seus s6dos e assim a titularidade pr6pria de direitos (de ordem patrimonial e moral) como a sujeirao a obrigashyr6es e deveres (como sujeito passivo na demanda de creditos existentes par terceiros) Nao se confundem os direitos e deveres da pessoa jurfdica com as de seus s6cios oem os direilos e deveres destes se transferem para a pessoa jurfdica (Rizzardo 2009 p 23)

1 11 ~ bull RDE N 43 - Mar-Abd2Dl5 - PARTE GERAl- DOUTRINA

Na mesma linha Ricardo Negrao (2011 r p 203) afirma que sao efeishytos da personificarao a assunao de capaddade para direitos e obrigar6es middota separacao entre a pessoa juridica e aspessoas dos s6dos a existenda de patrimonio proprio distinto do de seus sodos e a possibilidade de a socieshydade alterar a sua estrutura interna

Ve-se portanto que nao ha grande divergencia doutrinarla quanta aos principais efeitos da personificacao No entanto entre as tres conseshyquendas destacadas e a responsabilidade patrimonial da pessoa jurfdica a que merece maior destaque

A existenda de patrimonio pro-prio das pessoas juddicas da-se por forra da incidencia do princfpio da autonomia patrimonial segundo 0 qual os bens da sociedade empresaria formam um patrimonio autonomo que responde pelas obrigar6es contrardas por esta enquanto que os bens de cada um dos socios que a compoem permanecem via de regra imunes ao cumprimento destas obrigaroes

Trata-se na verdade de algo muito antigo decorrente da maxima aplicada desde a Lex Poetelia Papiria que data de 326 antes de Cristo por melo da qual se determinou que 0 patrimonio do devedor fosse a garantia dos credores Com tal lei a obrigarao entre 0 credor e 0 devedor deixou de estar pautada em um vinculo corporal sendo substitufda pela responsabilishydade patrimonia ou seja os bens e nao mais 0 corpo do devedor passashyram a responder por suas diviaas (Alves 201 Or p 382 e 436)

Ora se a devedora e a sociedade empresaria e justo que apenas 0

seu patrimonio responda pelas obrigaroes contrafdas e nao 0 patrimonio de seus sodos sujeitos de direito distintos A autonomia patrimonial e a responsabilidade patrimonial proprias da sociedade formam uma estrutura que incentiva a aS5Un~Q dQriscodo exerdcio de uma atividade empreshysaria Principalmente quando 0 tipo de sociedade traz tambem a regra da limitarao de responsabilidade dos s6cios 0 que ocorre nas sociedades anoshynimas e limitadas

Tal e a importancia da autonomia patrimonial das pessoas jurfdicas que Fabio Ulhoa Coelho (2012 p 34) afirma que se trata do alicerce do direito sodetario

Esse e 0 principio da autonomia patrimonial alicerce do direito societario Sua importilncia para 0 desenvolvimento de atividades economicas da proshydUlao e cireula~ao de bens e servicos e fundamental na medida em que limita a possibilidade de perdas nos investimentos mais arriseados A partir da afirmacao do postulado juridieo de que 0 patrimonio dos s6cios nao res-

RDE PI ~3 -lIhrmiddotAbr1015 - PARTE GERAl- DDlITHINA ~

ponde por dividas da sociedade motivam-se investidores e empreendedores a aplicar dinheiro emathddades oconomieas-demiddotmaior envergadura e risco 5e nao existisse 0 principio da separaCao patrimonial os insueessos na exshyploracao da empresa poderiam significar a perda de todos os bens particushylares dos s6cios amealhados ao longo do trabalho de uma vida ou mesmo de geracoes e nesse quadro menos pessoas se sentiriam estimuladas a deshysenvolver novas atividades empresariais No final 0 potencial econ6mieo do Pars nao estaria eficientemente otimizado e as pessoas em geral ficariam prejudicadasr tendo menos acesso a bens e servi~os 0 principio da autoshynomia patrimonial e importantfssimo para que 0 direito discipline de forma adequada a explora(ao da atividade economica

o principia da autonomia patrimonial e sem duvida um importante mecanismo de incentivo ao exercicio da atividade empresaria na medida em que possibilita a minimizarao dos riscos assumidos pela pessoa ffsica que decide exercer uma empresa Isso parque mesmo nas especies societashyrias em que a responsabilidade dos s6das e ilimitada (sociedade em nome coletivo por exemplo) est~ sera sempre subsidiaria por forra do princlpio de mesmo nome consagrado no ordenamento jurfdico patrio pelo art 1024 do Codigo Civil de 2002 2deg

Parece evidente que 0 princlpio da autonomia patrimonial coadunashy-se nao apenas com os fundamentos da ordem economica brasileira exshypressos no caput do art 170 da Constituirao Federal quais sejam a livre iniciativa e a valorizarao do trabalho humano bem como corn seus prindshypios norteadores como a livre concorrencia e 0 livre exerckio da atividade economica alem de toda a constru~ao hist6rica de incentivo ao exercicio da empresa como forma de fomentar a economia dos Estados possibilitanshydo a gerarao e a circularao das riquezas

Todaviacomo exposto anterio~trl1ente Os beneficios desse principio nao se aplicam ao empreendedor que exerce a empresa de forma individual nao sendo outra a razao principal para a edirao da Lei nQ 124412011 que introduziu no Brasi a EIRELI

13 EIRElI AS PRINCIPAlS CARACTERisrlCAS DO NOVO EMPRESARIO

Feitos os esclarecimentos sabre as diferentes especies de empresashyrios ate entao existentes cabe 0 enfrentamento da nova especie introduzida recentemente no ordenamento juridico brasileiro a Empresa Individual de

-middot~---middot-middot-----_~___laquo~_M

20 Art 1024 do eeB Os bens particuJares dos socios nao podem set executados por dlvldas cta saciedade senao depois de executados os bens socials (BraSil 2002 p indeterminacta)

13 It ROE N 43 - MarmiddotlbI2D15 - PARTE GERAl- DOUTRINA

Responsabilidade Umitada - EIRELI Especie de empresario que conforme refere Andre Luiz Santa Cruz Ramos (2012 p 40) surge na legislacao piitria atendendoa antigos an5eiostantoda doutrina quantodo meio empresariai

Ate a entrada em vigor da legislacao que introduziu a EIRElI como ja dito existiam apenas duas formas de exercer a empresa ou como empreshysario individual (pessoa ffsica sem autonomia patrimonial e limitacao de responsabilidade) ou como sociedade empresaria (na qual os sodos podem ou nao vir a responder pelas obrigacoes contraidas no exercfcio da atividashyde mas sempre e tao somente ap6s 0 esgotamento do patrim6nio social ja que ha no mlnimo a autonomia patrimonial da pessoa juridical

A partir da EIRElI pasSOli a ser posslvel que uma s6 pessoa exerca a empresa por meio de uma pessoa juridica 0 que permite a efetiva separacao patrimonial e limitacao de responsabilidade ao capital investido como ocorshyref mais precisamente nas sociedades limitadas Esse novo ente apresenta caracterfsticas bastante pr6prias

De plano pode-se ressaltar uma caracterfstica e esta incontroversa A EIRELI eum ente dotado de pcrsonalidade juridica pr6pria ja que inserida no rei das pessoas juridicas de direito privado do art 44 do C6digo Civil Ao contrario do empresario individual que e uma pessoa flsica a EIRELI e uma pessoa juridica constituida para 0 exerdcio de uma atividade economica Ainda pela leitura do texto legal na medida em que a EIRELI esta prevista em um inciso em separado inciso VI incluido pela Lei nQ 124412011 a priori nao se poderia concluir qLle se trata de uma sociedade empresaria as quais ja vinham previstas no inciso II

Assim da simples interpretacao da alteracao ocarrida no art 44 do C6digo Civil conclui-se que a EIRELI e pessoa juridica nao se confundindo comasect~Od~adeiJilmpouco com 0 empresario individualquenem peSsoa jurfdiCa~

Outra caracterfstica importante da EIRELI e a exigencia de urn capital mfnimo nao inferior a 100 vezes 0 salilrio-minimo vigente no Pais para a sua constitLlicao conforme dispoe 0 caput do art 980-A do C6digo Civil de 2002 22 tambem inclufdo pela Lei nQ 124412011 0 empreendedor que

21 De plano cumpre esciarecer que por ludo quanto)a exposto no decorrer do presente estudo a nomenclatura utllizada pelo legislador eatecnica na mediaa em que atribuiu personalidade jur(dica a uma etividade Como visto ernpresa nao esujelto de direilos mas sim uma atividade exercida pelo empresario este sim sujeilO de direitos

22 Art 980-A do CCB A empresa individual de responsabWdade limitada sera constiturda por uma cnica pessoa titular da Malidade do capital social devidamente integralizado que nao sera imerior a 100 (cern) vezes 0

maior saario-minimo vigente no Pais (Brasil 2002 p indeterminada)

ROE II 43 - MarmiddotAbI2D15- fART GERAl- DOUTBIRA

desejar exercer a empresa como EIRELI devera no ate da constituicao inshytegralizar a totalidtdedQ valordQ capital que naQPodera ser em valores atuais inferior a R$ 7880000 (setenta e oito mil e oitocentos reais)

Ainda a integralizacao do capital podera ser eita nao apenas em dinheiro mas tambem em bens desde que suscetfveis de avaliacao em dishynheiro nao sendo exigida a apresentacao de laudo avaliativo para tanto Este capital diferente do que ocorre nas sociedades nao sera dividido em quotas ou acoes A regra e a da unicidade do capital afinal este e totalmente titularizado par uma unica pessoa

A terceira caracterfstica marcante da EIRELI diz com 0 sujeito que pode constituf-Ia ou seja 0 titular da EIRELI Segundo dispoe 0 caput do ja mencionado art 980-A do C6digo Civil a EIRELI sera constitufda por apenas uma pessoa Ocorre que 0 dispositivo legal nao deixa claro que 0

titular precisa ser uma pessoa ffsica ou se poderia tambem ser uma pessoa jurfdica Essa falta de especificacao legal gerou discussao com argumentos favoraveis e contra nas duas direltoes No entanto 0 ONRC - Departamenshyto NacionaJ do Registro doComercio pOl meio da lnstrucao Normativa n

9 1172011 definiu (item 1210) que apenas as pessoas naturais plenashy

mente capazes podem constituir EIRELI Ainda ratjficando tal disposiao 0

item 1211 preve expressamente que nao pode ser titular de EfRELI a pesshysoa juridica bem assim a pessoa natural impedida pOl norma constitucional ou por lei especial (Brasil 2011 p indeterminada)

Outra caracterfstica semelhante ao que ocorre com as sociedades limitadas e que a EIRELI pode utilizar qualquer das especies de nome emshypresarial qual seja firma ou denominacao social acrescidas da expressao EIRELI ao final

Par tim e talvezil car~ct~rf~ti~~~5Ys importante a responsabilidade limitada ao capital investido e devidamente integralizado pelo titular da EIRELI Essa regra se depreende da leitura do sect 62 do art 980-A do C6digo Civil que determina a aplicacao a EIRELI das regras previstas para as socieshydades limitadas naquilo em que com patfve I (Brasil 2011 p indeterminashyda) Essa era a mescla qlle se desejava uma modalidade de empresario que fosse constitufda por uma (mica pessoa mas com limitacao de responsabilishydade e facilidade na forma de constituicao como ocorre com as sociedades limitadas

Em sfntese sao estas as principalS caracteristicas da Empresa Indivishydual de Responsabilidade Limitada Ocorre todavia que tais caracterfsticas estabelecidas pela nova legislacao vem causando inumeras controversias

15 ROf N 43 - MarmiddotAbr2015 - PARrE GHAl- DOUfHINA

entre os operadores do Direito e os doutrinadores e estudiosos do direito empresariai Nilo obstante a cria~ao de um instituto que possibilitasse a limitacao de responsabiHdade para 0 exercicio individual da empresa e anshyseio antigo entre os doutrinadores patrios Nesse sentido ainda que objeto de divergeuromcias 0 novo ente com certeza e muito bem-vindo

2OS ASPECTOS CONTROVERTIDOS ACERCA DA EIRElI

Apresentadas as caracteristicas fundamentais da EIRElI conforme as disposicoes legais vigentes faz-se necessario apresentar as controversias que delas surgem A doutrina jurfdica diverge ja que algumas das caracteshyrfsticas da EIRELI supostamente vao de encontro a conceitos estabelecidos e institutos consolidados ao lange de seculos

Os principais aspectos controvertidos acerca da EIRELI dizem respeito as exigencias feitas pelo legislador para sua constituicao especialmente no que tange ao capital mlnimo a ser investido quem pode ser seu titu lar equal a sua natureza jurfdica

21 QUEM PODE SER TITULAR DE UMA EIRElI

Uma das questOes mais problematicas acerca do novo instituto diz respeito aqueles que podem ser titulares de uma EIRELI

Como visto 0 art 980-A do C6digo Civil disp6e em seu caput que a EIREU sera constitufda por uma Cinica pessoa titular de todo 0 capital social o DNRC por seu turno emitiu instru~ao normativa aprovando 0 Manual de Atos de Registro de Empresa Individual de Responsabilidade limitada23

a ser adotado pelas Juntas Comercias de todos os Estados 0 qual preve expressamente que apenas as pessoas fisicas maiores capazes e livres de

q1iili~querimpedimentos legais podemsertittJlar~sde jma BREtt

Ejustamente na redacao da lei e da instrucao normativa do DNRC que reside grande parte da controversia

Hi quem defenda a possibilidade de constituicao da EIRELI por pesshysoas juridicas sob 0 argumento de que se 0 texto legal nao taz qualquer proibicao de forma expressa referindo-se apenas a pessoa ff

nao poderiam os operadores interpretar a norma de forma a excluir algum sujeito de direishyto quando a propria norma nao 0 faz

------~~ -~--~----~----bull---shyda Instru~ao Normativa n 1172011 do Departamento Nacional de Registro do Comercio

em ltllttpwwwdnrcgovbrILegislacaQIIN20117202011pdfgt

RUE N 43 - MarmiddotAbdZ015 - PAHTf GERAl- DOUrnIlIA_

Nesse sentido

C6mefeitO(Jcaput do art 980-A do C6digo Civil expressamente prescreve que a EIREU sera constitllfda par uma unica pessoa sem excluir as pessoas jurrdicas nem restringir essa passibilidade exclusivamente as pessoas ffsicas Ora pessaa jurfdica tambem e pessaa (Mela 2011 p indeterminada)

Da mesma forma defende-se a ideia de que adotar uma interpretacao que restrinja 0 direito de uma pessoa juridica constituir uma EIREU seria afrontar a princfpio constitucional da legalidade uma vez que se a proibishycao nao esta expressa a pennissao estaria subentendida

[ J naa ha impedimenta legal para que uma pes sea juridica titularize 0 cashypital social de uma EIRELI e sob 0 primado de uma ordem jurfdica liberal afirma-se que 0 que nao esta proibido ou ordenade e permitido Esta leitura decorre diretamente do principia da legalidade consagrado na art 5Q

II da Constitui~ao Federal que estabelece que ninguem sera abrigado a fazer Oll

deixar de fazer aigllma coisa senao em virtude de lei (Lupi Schlosser 2012 p indeterminadal

Fabio Ulhoa Coelho (2012 p 409) tambem entende que a EIRELI para ele uma sociedade limitada unipessoal 24

pode ser constitufda tanto por s6cio Cinico pessoa fisica como juridica

No mesmo sentido sustenta-se que a intencao do legislador com a publicacao da lei nQ 124412011 teria sido justamente permitir a constituishycao de EIRElI por pessoa juridica ja que suprimiu da redacao original dos Projetos de lei nQs 46052009 e 49532009 a restritao que era expressa (Melo 2012 p indeterminada)

QO Projeton 46052009 de autoria do Deputado Marcos MonteSi

tinhapbr objetivoaindusao noC6digo Civil de 2002 do art 98S-A 0

qual teria a seguinte redacao A empresa individual de responsabilidade limitada sera constituida por um Cinico s6cio pessoa natural que e 0 titular da totalidade do capital social e que somente podera figurar numa unica empresa dessa modalidade (Brasil 2009 p indeterminada)

Ja 0 Projeto nQ 49532009 de autoria do Deputado Eduardo Sciarra intencionava a incillsao do art 980-A no C6digo Civil de 2002 com a seshyguinte redacao Qualquer pessoa ffsica que atenda ao disposto no art 972

-----~---------=~-~--~~--~---

24 Para Fabio Ulhoa Coelho (2012 p 409) a EIRELI deve ser considerada como urna sociedade limitada umpessoa Sustenta que a interpretaao sistematica do direito positivo conduz conciusao de que nao se trata de nova esp~cie de pessoa jurldica mas do nomen juris dado ~ sociedade limitada unipessoal Tratarshy-se-a melhor cia natureza jurldica da EIRELI no item 33 deste artigo

lU ROE Ndeg 43 - MarmiddotAbifZ015 - PARTE GEML - DOUIRIVA

que exena ou deseje exercer profissionalmente a atividade de empresario podera constituir Empreendimento Individual de Responsabilidade limitashyda (Brasil 2009 p indeterminada)

Assim ja que suprimidos os termos natural e ffsica que acompashynhavam a pessoa na redacao original dos projetos de lei a intencao do legislador so poderia ser permitir que a EIRELI fosse constituida tambem por pessoas juridicas (Rivas 2012 p indeterminada)

Outro argumento apresentado por aqueles que defendem a possibishylidade de a pessoa juridica ser titular de EIRELI ea fadlitacao da instalacao e do funcionamento de sociedades ernpresarias estrangeiras no Pais como forma de aquecer a economia nacional

Fundamental mencionar que a possibilidade de constituiltao de EIRELI par pessoas jurfdicas val facilitar de sobremaneira a instalaltao de sociedades estrangeiras no Brasil Estas ao consultarem advogados brasileiros sobre os procedimentos necessarios ao infcio do desenvolvimento de suas atlvidades no pais invariavelmente surpreendem-se com a quanti dade e complexidade dos procedimentos sendo que dentre eles urn que normal mente cria bastanshyte dificuldade e justamente a necessidade de indicaltao de uma pluralidade de s6cios na sociedade brasileira 0 que muitas vezes as obriga a indicaltao de pessoa ffsica com participaltao apenas simb6lica simplesmente para atenshyder ao formalismo exigi do (Martins Fllho sd p indeterminada)

Contra tal argumento Wilges Ariana Bruscato (2012) sustenta que embora investimentos estrangeiros sejam importantes para 0 desenvolvishymento economico do PaIS a EIRELI nao pode servir como uma forma de burlar a egisla~ao vigente que regulamenta a instalacao e 0 iuncionamento de socitgtdades estrangeiras no Brasil Para a autora trata-se de materia de ordem publica antesdesermateria de~ireito empresqrill e por esla nao pode ser superadclcOni atrid~5oili EIRELI

Tambem com base nos textos dos projetos que deram origem a lei em comento a autora conclui que a omissao dos termos natural ou flshysica para definir qual 0 tipo de pessoa poderia constituir EIRELI teria sido acidentai haja vista que nao houve qualquer justificativa para a supressao da restricao que era expressa nos textos dos projetos ou seja em momenta algum durante 0 tramite do processo legislativo justificou-se tal supressao no interesse de estender as pessoas juridjcas apossibilidade de constituicao de EIRELI (Bruscato 2012)

No mesmo sentido e 0 entendimento de Jacques Maika y Negri (2012 p indeterminada)

RUE N 43 - MarJIbrl2015 - PARTE GERAl- DOUTAINL

Analisado 0 processo legislativo fica claro que houve lapso por parte do reatqrct9Jrojeto substituto DeputadoMamelo Itagiba e nao supressao deshyliberada da expressao natural caso em que 0 parlamentarteria justificado a alteraltao e a sua intenltao

Esta foj tambem a conclusao aqual chegaram os jurislas integrantes do Conselho da Justica Federal que em sua V Jornada de Direito Civil ocorshyrida em novembro de 2011 emitiram 0 Enunciado nQ 4682~ segundo 0 qual apenas as pessoas ffsicas podem constituir EIRELI

Parece evidente que antes de consolidar-se entendimento acerca da possibilidade ou nao de pessoas juridicas virem a constitu ir empresas indivishyduais de responsabilidade limitada sera no Judiciario que esta problematica sera discutida em maior escala

Recentemente 0 Jufzo da 9il Vara da Fazenda Publica do Rio de janeiroRj proferiu decisao na qual deferiu em mandado de scguranca (Proshycesso nQ 0054566-7120128190001) impetrado em face da Junta Comershycial daquele estado medida liminar para que uma pessoa jurfdica levasse a diante 0 processo de transformalt50 de sociedade empresaria em EIRELI Trata-se de sociedade limitada composta por um socio pessoa juridica e um socio pessoa ffsica e este ultimo retirou-se da sociedade A pretensao posta em juizo era de que a sociedade limitada pudesse ser transformada em EIRELI como resultado daiconcentraltao das quotas sociais em um dos s6cios no caso 0 s6cio pessoa juridica 0 pedido foi negado pela Junta Coshymercial do Estado do Rio de Janeiro sob a alegaltao de que a transformacao de uma sociedade empresaria em EIRELI no caso de inexistencia superveshyniente de pluralidade de socios e possivel desde que 0 socio sobre quem se concentre a totalidade das quotas sociais sejaumapessoa f[sica e nao illrfdGa 0 pedido liminar vertidoem sooede mandadodemiddot seguran~a foi aeferido tendo 0 juizo da 9~ Vara da Fazenda Publica do Rio de JaneiroRJ sustentado que nao existe impedimento legal para que 0 titular da EIRELI seja uma pessoa juridica

Recurso de agravo de inslrumento foj interposto pela re (0016183shy2720128190000) e este foi provido para anular a decisao agravada mas reconhecendo a incompetencia do juizo declinando da mesma para a Jusshytica Federal 0 processo que recebeu 0 nQ 0008231-2720124025101 tramitou perante a 12~ Vara Federal do Rio de Janeiro Em que pese tenha sido ratificada a decisao da justica estadual para conceder a medida limishy~---~~-- ------------- 25 Enunciado nO 468 do CJF Art 9SOmiddotA A empresa individual de responsabildade limitada sO poder~ S8r

conslitufda por pessoa nattJral (BraSil 2011 p indetemlinada)

1 ROE n 43 - MarmiddotAhrIZOI5- PARlE GERAl- DOUTBINA

nar pleiteada a sentenca denegou a seguranta sob 0 fundamento de que embora no tramite legislativo 0 termo natural tenha sido exduido do art 980-A do Codigo Civiftodomnteudo daLei nlt1 124412011 que criou a EIRELI foj engendrado para abarcar apenas a possibjljdade de que seu titular fosse pessoa natural Da decisao nao foi interposto recurs026 bull

Como se percebe embora haja discussao doutrinaria ace rca da possishybilidade de a pessoa juridica ser titular de uma EIRElI ha que se considerar que diante do posicionamento do DNRC esposado na IN 1172011 bem como do Conselho da Justica Federal atualmente ainda que na pratica prevalece 0 entendimento de que apenas pessoas fisicas podem constituir EIRElI

22 AEIHELI EO CAPITAL MiNIMO PARA SUA CONSTITUICAO IN)CONSTITUCIONAUDADE DA NORMA

A exigencia de capital minimo para a constituicao da EIRElI em valor nao inferior a 100 vezes 0 maior salario-minimo vigente no Pais tambem e controvertida

No minimol e possivel vislumbrar tal exigencia como uma forma de trazer seguranta ao instituto ja que com a constituicao da EIRElI 0 emshypreendedor goza de uma separacao entre 0 patrimonio afetado ao exercfcio da atividade e 0 seu patrimanio pessoal A exigencia de urn capital minimo pode ser vista como uma forma de garantir 0 cumprimento das obrigac5es assumidas no exercfcio da atividade Uma garantia para eventuais credores da EIRUI

Em outras palavras 0 estabelecimento de um capital minima e necesshysario para dar credibilidade ao instituto recem-criado ja que com a consshytituicao da EIRELI ha uma autonomia patrimonial ha uma separacao entre o patfifl~niHi~Rif~8qI~middotatJvidade ecooomieuroa--e-G-pattimQlli0partiS2ulill~Qrmiddot titu lar (Pessoa 2011)

Sao muitos no entanto os argumentos contrarios aexigencia imposta pelo texto legal

Inicialmente destaca-se que nao existe via de regra capital minimo estabelecido para a constituitao de sociedades ou registro de empresario individual no Brasil exigindo-se tao somente uma adequacao do capital investido ao objeto social motivo pelo qual a exigencia feita somente para a EIRElI e questionavel (Ramos 2012 p 43)

26 Integra da decisaa pode ser visuallzada em lthttpJprocwebjfrjjusbrportalconsultaresconsprocaspgt

RO N 43 - MarmiddotAbrl2815- PARlE GEnAL - DOUfRINL

Com efeito

Anenhumaoutra forma de exerc1cioempresarial no pals se faz a exigencia exceto em casas excepcionais de um minima de capital Como sustentar essa regra para a EIREU 1550 infringe a igualdade de tratamento que deve ser dada a todos genericamente A desigualdade de tratamento existe por certo sem arrostar a isonomia nos casos em que haja no entanto justificativa para tanto (Bruscato 2011 p 29)

Este e tambern 0 entendimento exposto na Atao Direta de Inconstishytucionalidade nQ 4637 proposta pelo Partido Popular Socialista perante 0

Supremo Tribunal Federal a qual ainda se encontra pendente de julgamenshyto Na aludida ADln defende-se que condicionar a constituiltao de uma EJRElI a integralizaltao de um capital minimo sem qualquer motivo evidenshyte e relevante constituiria afronta ao princfpio da isonomia bem como ao fundamento da livre iniciativa2

expresso no art 17028 caput da CF1988 (Brasil2011)

Segundo 0 partido autor da ADln ao estabelecer um capital no valor de 100 vezes 0 salario-minimo vigente no Pais 0 legislador acabou ferindo o prindpio da igualdade Sustenta-se que para a constituiltao de uma socieshydade com socios de responsabilidade limitada como por exemplo a socieshydade limilada nao existe exigencia de capital mlnimo logol nao eposslvel faze-Io em relarao a EIRElI ja que segundo exposto naacao ambas sao pessoas jurfdicas de identica feiltao no que diz respeito a responsabilidade dos proprietarios (Brasil 2011 )

Outro argumento contrario ao capital minimo exigido para a constituishycao da EJRElI diz respeito acapacidade econamica daqueles que poderiam ser beneficiados com a criacao danolafi~ura isto e os pequenos empre~ endedores que antesdacriacaoddriYovoenteou empresariavam de forma individual sem limitacao de responsabilidade e separacao de patrimonio ou necessariamente tinham de estabelecer sociedades apenas para gozar da autonomia patrimonial e assim reduzir os riscos do empreendimento Nesse

27 A livre iniciativa segundo Pedro le~7a e um dos pilares da ordem econOmica ao lado da valoriza~ao do Irabalha humano (lenza 201 p 984) Inocsectncio Martires Coelho citando Miguel Reale explica que livre iniciativa e livre concorrencla silo conceitos complementares mas essenciamente distinlos A primeira nao 0 senaa a proje~ao da liberdade individual no plano de produ~ao citula~ao e distribuii8o das riquezas assegurando nao apenas a livre esoolha des proflssoes e das atlvidades econ8mlcas mas tambem a autonoma elei~ao dos processos ou meios julgados mais adequados aconsecu~iio des fins visados liberdade de fins ede maios informa aprincipia de livre inicleliva conlerindo-Ihe um valar primordial como results da interpreta~ao conjugada dos cftados arts 1deg e [70 (Reale apud Mendes Coelho Branco 2010 p 1409)

28 Art 170 da CF11988 A ordem econOmica fundada na valoriza~~o do trabalho humano e na livre iniciativa tern por tim assegurar a todosexist~ncia digna conforme es ditames da Justia SOCial observados as seguintesprinclpies [J (6rasll 1988 p indeterminada)

liU RDE 43 - MarmiddotAbr2015 - PARTE GEllAl- OOUfOINA

caso a sociedade era constitufda normalmente com pessoas pr6ximas mas sem nenhum interesse na atividade as quais figuravam nocQotratosocial

como titulares de percentual minima das quotas sociais constituindo as chamadas sociedades de fachada ja mencionadas29 bull

Nesse ponto pode-se dizer que apesar das crfticas disparadas ao novel instituto a EIRELI mostra-5e como instrumento eficaz para coibir a praticc comumente adotada no Brasil de conslituiyJo de sociedades em que um dos s6ci05 nao tem qualquer participa)ao na gestao do empreendishymento formada com 0 dnico objetivo de limitar a responsabilidade do emshypresario que na pratica exerce a empresa individualmente (Ramos 2012 p 40-41)

Por essa razJo e que uma vez sendo 0 objetivo da criaCJo da EIRELI estimular 0 exercicio de atividade empresaria especialmente por pequenos empreendedores 0 valor de 100 (cem) vezes 0 salario-minimo mostra-se desproporcional 1550 porque grande parte dos empreendedores que podem se enquadrar na EIRELI iniciam suas atividades com capital bastante inferior Afirma-se que 0 capital minimo estabelecido pelo legislador esta longe da realidade dos pequenos empreendedores brasiieiros e caracteriza desresshypeito ao principio da livre iniciativa Assim 0 legislador patrio nao teria la5shytreado a fixayao deste valor em estudos sobre a capacidade econ6mico-fishynanceira dos provaveis interessados nesta especie societaria (Pessoa 2011 )

Estes sao tambem os argumentos que embasam a justificativa do Proshyjeto de Lei nQ 24682011 de autoria do Deputado Carlos Bezerra Segundo o parlamentar a exigencia feita pelo legislador retira dos pequenos empreshyendedores a possibilidade de coostituiyao de lima EIRELI haja vista que 0

valor exigido na Lei 0 2 124412011 supera significativamente 0 valor geshyralmente empregado para a constitlliyao dasPeqU~PilSempresas Por essa raz~(jo aludidoprojeto tem como um (feseusigtbJetivosillterar 0 art 9~O-A do Codigo Civil para reduzir de 100 para 50 salarios-mfnimos 0 capital minima exigido para a constitui~ao de lima EIREU (Brasil 2011)

Seguindo mesmo entendimento

29 A exist~ncia das chamadas sociedades de fachada Ii conhecida desde ha multo olio apenas pela dovtrina mas tam~m pela junsprud~ncia de nossos trlbunais 0 reconhecimento desta situa~ao se faz relevante tanto para que possa coibir tal praliea quanto para proteger a indivlduo que comprovadamente jamals exerceL qualqller poder de administra~ao sobre a sociedade da responsabllizagao pelos atos praticados indlvidualmente pelo s6cio detentor da quase totalidade das quotas sociais A tItulo de exemplo Execu~ao fiscal E aparente a socledade em que a imensa maioria das quotas pertenee a uma s6 pessoa flsiea Sltua~ao que mascara a atividade de urn comereiante em nome Individual Indelerlmento do pedido de penhora sobre bens do s60lo de fachada Decisao acertada potque de acordo com a realldade fatlca Agravo improvldo (TJRS AI 591020177 1 ccrv Rei Jose Velllnha de Lacenla J 21051991)

30

ROE N 43 - MarmiddotAlIr2n15 - PAUn GfRAl- OUUmINL

Deveria ser desnecessario diz~-Io mas tal materia nao poderia jamais ser objeto de decisao arbitraria sob pena de frustraiOobjetivo mesmo da norshyma e ll1alferir a Constituirao 0 numero 100 ninguem negara soa bem aos ouvidos mas isso nao deveria bastar para inseri-Io em texto legal Se de fato sua eleirao foi desacompanhada de qualquer embasamento tecnico e passrvel demonstrar-se inclusive mediante a colheita de dados estatisticos e indicacoes de direito comparado a inconstitucionalidade decorrente da violaSao aos princfpios da isonomia e da razoabllidade Por que se negar ao cidadao que dispanha de 50 salarios-minimos 0 direito de constituir uma EIREU quando em Portugal eassaz inferior 0 montante necessario para faz~shy-10 e no Chile sequer existe exigencia dessa especie (como alias previa 0

texto primitivo do PU e questao cuja resposta se desprovida de fundamenshytos s6lidos atesta a contrariedade aos supracitados principios (Nadu sd p indeterminada)

A exclusao de grande parte dos empreendedores do pafs com a exishygeurogtncia de capital mlnimo alto e tambem argumento da ADln 4637 ja que o objetivo primordial da norma recem-criada e fomentar 0 desenvolvimento ecoo6mico e social do pais Sustenta-se que tal objetivo esta sendo prejudishycado oa medida em que a legislacao retira de pequenos empreendedores a possibilidade de lanyarem-se no mercado economico de forma regular saindo portanto da informalidade (Brasil 2011 p indeterminadal

Corroborando 0 entendimento aeima Haroldo Malheiros Duclerc Vercosa (2011 p indeterminada) afirma que

rJa crftJca que se faz eque 0 capital mlnimo exigido de tal sociedade deixa a margem urna parcela substancial dos microempresarios patrios os quais continuarao dentro do regime geraf de respollsabilidade patrimonial pessoal (e do risco correspondente) sem acesso ao patrimonio ~eparadoqlleeiQ ltI

serqiad9para q EIRElI a naoser par alguma fugapararrlecanisfnocorno deg dlc6nstitui~ao de uma sociedade limitada com outro socio este detentor de

minima expressao do capital social Mas tal recurso muito utilizado apreshysenta custos que 0 microempresario dificilll1ente poderii suportar

Ainda deve-se considerar que a vinculacao do salario-mfnimo para qualquer fim e expressameote vedada pel a Constituicao Federal de 1988 em seu art 72

IV30 Nesse passo ainda que se considere posslvel Oll ate mesmo necessaria a exigencia de lim capital minimo para a constituicao de

Art lO da Cf1988 Sao direlos dos tlllbalhadores urbanos e rurais aiem de outros que visem il melhoria de sua condl~ilo social L1IV - saIMiomiddotInnlmo lixado em lei naeionalmente uniftcado capaz de arender a suas neeessidades vitais Mslcas e ~s de sua famflia com moradla alilnenta~iio eduoaao saude lazer vestuario higiene transporte e prevldencla social com reaJustes perlMieas que lhe preservem degpoder aquisitivo sendo vedada sua vineula~ilo rara qualqver 11m l (Brasil 1988 p indeterminada)

N N bullbullbullbullbullbull HOE N 43 - MarmiddotAbr2015 -AlIT GERAl- DOUTRIIfA

uma EIRELI este capital em regra nao poderia ser calculado com base no salario-minimo

5eguindo tal raciodnio e por entender que a parte final do art 980shyA do Codigo Civil de 200212 fere 0 disposto no art IV da Constituishylt030 Federal entre os argumentos utilizados na ADIn 4637 esta 0 fato de que 0 eonstituinte com 0 objetivo de evitar que os reajustes peri6dicos do salario-minimo que visam a preserva-ao de seu poder aquisitivD sofram influencias de interesses diversos daqueles previstos na Constitui-ao vedou expressamente a villculacao do salario-minimo para qualquer finalidade (Brasil 2011 p indeterminada)

Ainda eonsiderando a oscilacao que 0 reajuste do salado pode imshypliear a I Jornada de Direito Comercial do Conselho da Justi-a Federal ocorrida em outubro de 2012 no 5TJ definiu por meio do Enunciado nQ 4 que llma vez subscrito e efetivamente integralizado 0 capital da empresa individual de responsabilidade limitada nao sofrera nenhuma influencia deshycorrente de ulteriores alteracoes no salario minimo

Nao obstante os argumentos contrarios e a ADln pendente de julshygamento vige hoje a exigencia de capital minimo para a eonstituirao da EIRELI fixada com base no salario-minimo nacional vigente na epoca da constitu icao

23 EIRElI EMPRESARlO InDIVIDUAL SOCIEDADE EMPRESARIA UlflPESSOAL OU UM TlPO SUI GEMERIS

DE EMPRESARIO

o legislador batizou 0 novo instituto de Empresa Individual de Resshyponsabilidade limitada Em primeiro lugar ha que se considerar que resta eonsagrado na legisla-ao na doutrina e najurisprudencia que empresae uma atividade exerddapelo empresarilte nao uma pessoa urn sujeito de direitos (Moraes 201 0 p 40 Diante disso a primeira crltica feita ao legisshy

31 0 STF ja firmoL entendimento em divesos julgadas no sentido de que e proibida a vinculaao do sailtirio minima para qualquer finalidade Dana moral FiKa~ilo de indenizaltao com vinculaao a salario-minimo Vedaao constitucional Art 7deg IV da Carta Magna 0 Plenario desta Corte ao julgar em 01101997 a ADln 1425 firmou a entendimenro de qle ao estabelecer 0 art 7deg IV da Constitui~iio que e vedada a vincula~o ao salaria-mlnima para quaiquer fim quis evitar que interesses estranhos aos versados na norma constitucional venham a tel influencia na filCll~o do valor minima a ser observado No caso a indenizaltiio par dana moral fo fixada em 500 salarios-minimos para que inequivacamente 0 valor do salilria-mlnlmo a que essa indenizaao esta vinculado atue como fator de atualizaao desta a que IS vedada pela citarlD dispositivo canstitucional Outros precedentes desta Corte quanta 11 vedaao da vinculagao em causa ReculSo extraordinario conhecido e provida

32 Art 98QA do CCB A empresa individual de responsabilidade limitada sera constituida por uma dnica pessoa titular da totalidade do capital social devidamente integralizado que nao sera inferior a 100 (cern) vezes 0

malar salMo-mfnimo vigenre no Pars (Brasil 2002 paginaltaa indeterminada)

33

ROE N 43 - MarmiddotAbr2015 - PARlE GERAl- DOUmIIlL 1

lador infraconstitucional acerca da natureza juridica da EIRELI diz respeito asuafaLta detecnica para dar nome ao institutomiddot recem~criado chamando de empresa uma especie de empresario (Ramos 2012)

Ora se empresa e uma atividade e nao um sujeito de direitos a falha tecnica legislativa contribtli para a compreensao inadequada que cornushymente se faz da empresa ou seja confundindo-a com a propria pessoa dica ou ainda com 0 estabelecimento empresarial Por essa razao a crftica vem no sentido de que a terminologia mais adequada seria empresario e nao empresa

Nominada de forma equivocada ou nao uma figura juridica capaz de conferir a possibilidade de exercfcio da empresa por uma s6 pessoa ffsiea com separa-ao de patrimonio e limita-ao de responsabilidade e como ja dito desejo antigo da dOlltrina brasileira Como exemplo epossivel citar 0

projeto de Lei nil 201 de 194733 apresentado pelo entao Deputado Fausto

de Freitas e Castro 0 qual dispunha em seu art 12 que qualquer pessoa capaz de exereer 0 eomercio podera constituir empresa em nome individual limitando a sua responsab[lidade pelos neg6cios da mesma ao valor do capital declarado (Martins Filho 1950 p 64-66)

Antonio Martins Filho em cuja obra Umitatiio da responsabilidade do comerciante individual analisa 0 aludido projeto de lei afirmava

A empresa individual de responsabilidade limitada constituindo a ultima fase do processo evolutivo da limitaltao dos riscos e insistentemente redashymada pelos agentes da atividade econ6mica dos novos tempos Recusando-a de direito nao evitara 0 legislador a existencia de fato desse tipo de empresa que passa a funcionar sob forma de sociedade fictfcia ou unipessoal (Martins Filho 1950 p 9)

ja naquela epoca ainda sob a vigencia do Codigo Comercial de 1850 e do C6digo Civil de 1916 0 autor ressaltava a importancia da limita~ao de responsabilidade daquele que era conhecido como comerciante individual (hoje empresario individual) bem como reconhecia a existencia de socieshydades constitufdas apenas formalmente para 0 fim de aquisi=ao de personashylidade jurfdica pr6pria e separa-ao de patrimonio a partir do que concluia que apenas a cria-ao da empresa individual de responsabilidade limitada

Projeto de Lei nO 201 de 1947 anexo abra Limitarl0 de resJOflsabilidade do comerciante individual MARTINS FILHO AntOnio Anais do Congresso Jurfdico Nacional Comemorativo do Cinquenlenario da Faculdade de Direito de Porto Alegre Revisa de Fecudade de Direito de Porto Alegre Porto Alegre URGS maio 1950

middot RDE II U - MarmiddotAer201S - PARrE GER~L - DoumlNA

serla capaz de acabar com tal pratica tao comum no Brasil (Martins Filho

1950)

Em 2005 Wilges Ariana Bruscato tambem assinalava a importanshycia do exercicio individual da empresa com limita=ao de responsabilidade como forma eficaz de fomento da economia

jft que 0 modus vivendi de nossa sociedade atual baseia-se em resultados economicos e relevante acenar com contribuilt6es para 0 desenvolvimento da atividade empresarial feita de maneira singular como forma de incentivar as pequenas iniciativas que num 6istema de colmeia representam a agreshyga~ao de vaores sociais importantes como 0 emprego 0 recolhimento de tributo a disseminaltao tecnologica entre outros ou seja 0 favorecimento de pequenas iniciativas que aquecem a economia (Bruscato 2005 p 75)

No mesmo sentido Felipe Ferreira Machado Moraes (2010 p 37-38) sustenta a necessidade de limita=ao da responsabilidade do empresario inshydividual como forma de cumprir os objetivos do Estado Democratico de Direlto tais como expressos na pr6pria Constitui=ao Federal de 1988

Em um Eslado Democratico de Direilo em que a propria Constituiltao da Republica contempla dispositivos que pregam 0 desenvolvimento nacional a livre iniciativa e inclusive 0 tratamento favorecido as empresas de pequeno porte nao parece prosperar 0 entendimento de que 0 empresario individual deve ter sua responsabilidade ilimitada respondendo com a totalidade de seu patrimonio particular (civil) por eventuais insucessos de seu empreendishy

mento

o anseio pela limitarao da responsabilidade no exerdcio individual da ernpreSq~Iil~re ()s~doutrinadores patrios baseava-se frequenteniente experiencia de outros paises que regulamentaram em sua ordem interna diversas formas de possibilitar a limitarao de responsabilidade daquele que

deseja empresariar individualmente

Na Alemanha como visto surgiu 0 primeiro modelo de sociedade por quotas de responsabilidade limitada em 1892 Em 1981 quase um 56shyculo depois entra em vigor a lei que alterou a legislarao das Sociedades por Quotas de Responsabilidade limitada para introduzir no ordenamenshyto juridico alemao a Sociedade por Quotas de Responsabilidade Limitada Unipessoal Passou-se enUlo a permitir a constituirao de Sociedades por Quotas de Responsabilidade Limitada por apenas uma pessoa (ffsica ou jushy

ridica) (Abrao 2000 p 6)

ROE N 43 - M8rmiddotAb~2015 - PARr CEIlAL - DOUTRlIIAmiddotmiddotmiddotmiddot

Tambem na Fran=a ap6s a regulamenta=ao clas sociedades por quoshytas de fesponsabiJidade Itmitadaiolintroduzida a limitada unipessoal em 1985 permitindo iguafmente a constituirao de sociedades unipessoais (Abrao 2000 p 12)

Ja em Portugal existem duas possibilidades para 0 exercfcio indivishydual da empresa Em 1986 0 Decreto-Lei nQ 2481986 criou a figura do Esshytabelecimento Individual de Responsabilidade limitada EtRL Trata-se de figura na~ dotada de personalidade juridica constilufda atraves de um pashytrimonio de afetarao por meio do qual uma pessoa fisica explora uma ativishydade economica empresarial Para a constituirao de um EIRL e necessario o investimento minima de euro 5000 (cinco mil euros) Ja a segunda forma de empresariar individualmente em Portugal com separarao patrimonial e limitarao de responsabilidade foi regulamentada 10 anos ap6s 0 EIRL por meio do Decreto-Lei nil 2571996 a Sociedade Unipessoal par Quotas Tal sociedade e constitufda por uma 56 pessoa (fIsica OU juridical titular de todo o capital social e cuja responsabllidade esta limitada ao capital investido sendo este livremente fixado pelo s6cio ou seja nao ha exigencia de capital mlnimo para a SUQ ao contrario do que ocorre com 0 EIR134

bull

Na experiencia brasileira entretanto ate a ediraa da Lei nQ 124412011 nao havia possibilidade de exercer uma atividade econoshymica organizada de forma individual sem 0 camprometimento da totalidade do patrimonio do empresario A sociedade unipessoal admitida em palses europeus desde meados de 1980 somente era permitida no Brasil em duas hip6teses excepcionais quais sejam a subsidiaria integral prevista na Lei das Sociedades Anonimas (Lei nQ 64041976)35 e a unipessoalidade ternshyporaria da sociedade pelo prazo de cento e oitenta dias conforme dispoe 0

art 1033 IVJ6 do C6qigoCiv

Assim no Brasil ap6s anos de discussao doutrimiria e de entendishymento quanta a necessidade de cria=ao de um instituto que viabilizasse 0

exercfcio da empresa de forma individual sem que isso acarretasse necessashyria risco ao patrimonio pessoal do empresario 0 legislador infraconstitucioshy

34 Informa~aes dlsponiveis em lthttpwwwpot1lJgalgIObalptPTlnvestirPortugaguiadoinvestldorICriareinstalar PaginaSTipos5ociedadesComerciais aspxgt

35 Art 251 da LSA A companhia pode ser constilulda mediante escrilura publica tendo como unico acionisa sociedade brasileira sect 1deg A sociedade que subscrever em bans 0 capital de subsidiaria inlegral devera aprover o laudo de avaliaifio de que trata 0 art 8deg respondendo nos lermos do sect 6 do art 80 e do art 10 e seu panlgrafo Llnico sect 2deg A companhia pade ser converlda em subsidiara integral mediante aquiSitao por scciedade braslieira de lodes as sues ayoes ou nos lermos do art 252

36 Art 1033 do eC8 Dissolve-se a scciedade quando oeorrer 11 IV a falla de pluralidede de socios nila reconstltufda no prazo de cenro e oitenla dias L J

ROE Ndeg 43 - MarmiddotAbr2015 - PARTI GERAl- OUIRINA

nal consagrou a flgura da Empresa Individual de Responsabilidade Limitada a EIRELI

Quando inserida no ordenamento juridico a EIRElI gerou controvershysias acerca da sua natureza juridica Ha que diga tratar-se de empresario inshydividual por outro lado ha que afirme tratar-se de uma sociedade limitada unipessoal No entanto hii tambem uma terceira corrente que afirma ser a EIRELI uma nova especie de pessoa juridical um ente distinto do empresario individual e das sociedades empresarias

A corrente menos express iva considera a EIRELI uma nova modalishydade de empresario individual ou seja um empresario individual de resshyponsabilidade limitada Para tal corrente 0 empresario individual ate en tao conhecido aquele que e pessoa fisica permanece existindo passando a existir 0 empresario individual pessoa jurfdica

Nesse senti do

Apesar de ser uma pessoa jurfdica a EIRELI nao euma sociedade empresaria mas sim uma forma diferenciada de constituiyao de empresario individual (que ao contrltirio daquela e pessoa natural) (Cardoso 2012 p indetermishynada)

Outra corrente mais expressiva e a capitaneada par Fabio Ulhoa Coelho (2012 p 409) para quem a EIRELI e uma sociedade empresaria definindo-a como uma sociedade limitada unipessoal na qual apenas uma pessoa (rfsica ou jurfdica no entender do autor) sera titular da totalidade das quotas socials 0 autor salienta que 0 sect 6Q do art 980middotA do C6digo Civil pershymite concluir que a EIRELI eespecie de sociedade limitada pois se submete as regras deste tipo societario

Da mesma forma Gustavo de Alvarenga Batista (2012) defi ne Em terrnosmiddotpraticos aEIRELI possibilitaqueiumemprksaflopessoa constitua uma sociedade unipessoal na qual fica sua responsabilidade atreshylada ao valor do capital por ele integralizado

Ja Andre Luiz Santa Cruz Ramos (2012) entende que 0 legislador criou uma nova figura juridica distinta da sociedade eillpresaria e do empresario individual mas com caracteristicas semelhantes a ambos No entanto 0 aushytor entende que foi um equivoco a cria~ao de um novo tipo de pessoa jurfshydica Sustenta que 0 legislador poderia tao somente ter consagrado 0 empreshysario individual de responsabilidade limitada que continuaria sendo uma pessoa fisica mas gozando da separa~ao entre 0 seu patrimonio pessoal e aquele afetado ao exercfcio da atividade economica ou ainda consagrado

ROE N 43 - MarmiddotAbrI21115- PARrE GERAl- OUTRINL

efetivamente a sociedade empresaria unipessoal bastando para tanto inshycluirentreasEseecies de sociedades ja existentes a sociedade constitulda par um 6nico s6cio titular de todas as quotas Em qualquer dos casos a insenao feita no art 44 do C6digo Civil seria desnecessaria

Do mesmo entendimento compartilha Wilges Ariana Bruscato (2011 p 10) que afirma que acaso a EIREU fosse uma sociedade unipessoal nao haveria necessidade de inclusao do instituto no inciso VI do art 44 do C6shydigo Civil ja que as sociedades ja estao previstas no inciso II do mesmo dispositivo Da forma como posta nao existe sociedade e silll um tipo sui generis no direito patrio Ainda afirma-se que

a EIREI nao tem natureza juridica de sociedade empresaria ao contrario do que muitos ainda defendem mas trata-se de uma nova categoria de pessoa jurfdica de direito privado que tambem se destina ao exercfcio da empresa Tanto que a Lei nQ 124412011 incluiu as empresas individuais de responsashybilidade limitada no rol de pessoas jurfdicas de direito privado do art 44 do C6digo Civil (inciso Vi) Ademais a lei nQ 124412011 ao inserir no C6dishygo Civil 0 art 980-A teve 0 cuidado de topograficamente tambemcriar um novo titulo (mulo I-A Da Empresa Individual de Responsabiidade Umitashyda) situado entre os Titulos I e II que tratam respedivamente do empresario individual e das sociedades empresarias (Pinheiro 2011 p indeterminadal

Nao obstante os variados entendimentos ha Uma tendencia de que a EIRELI seja efetivaillente compreendida como uma nova especie de pessoa juridica nao se tratando de empresario indiVidual tampouco de sOliedade empresaria ainda que unipessoal Tanto e assim que na ja mencionada I Jarnada de Direito Comercial do Conselho da Justi~a Federal foi aprovado o Enunciado nil 3 com a seguinte redacao A Empresa Individual de Resshyponsabilidade Limitada - ElRELI nao e sociedade unipessoa mas um novo ente~j_stjn~q da pessoa doempresarioe da sociedade eiTlpresfiriao qual seguia ciresmmiddota Iinha do Enunciado nil 46937 da V Jornada de Direito Civil que afirma que a empresa individual de responsabilidade limitada (EIRELI) nao e sociedade mas nova ente jurfdica personificado

24 AEIRELI EO PRomo DE NOVO CUOIGO COMERCIAl EXTINCAO DO INSTITUTO [ CRI~O DE f40VAS FIGURAS1

Tramita no Congresso Nacional 0 Projeta de Lei nil 15722011 que visa a instjtui~ao de um novo C6digo Comercial com a consequente revoshy

~__~~M~~~~ __ __ ___~_____ _~

37 Enunciado n 469 do elF Arts 44 e 980middotA A empresa individual de responsabilidade Iimltada (poundIRELI) olio Ii sociedade mas novo ente jurrdico personificado

Ii r~ RDE Nmiddot 43 - MarmiddotAbrf2615 - PARTE GERAl- OnUIRIUA

gasao de diversos dispositivos do atual C6digo Civil bem como de legislashysoes esparsas

o projeto apresentado pelo Deputado Vicente Candido baseado em minuta elaborada por Fabio Ulhoa Coelho na obra 0 futuro do direito coshymercia tem como uma de suas justificativas a sistematizasao revisao aperfeiltoamento e modernizasao da disciplina jurldica do estabeledmento empresarial do comercio eletronico da concorrencia desleal das condutas parasitarias da escrituratao mercantit do exerddo individual da empresa e da sociedade unipessoal (Brasil 2011 p 118)

Dito projeto nao traz em seu texto referenda expressa ao instituto recem-criado a EIRELI No entanto consagra duas figuras que merecem especial atensao sao elas 0 empresario individual em regime fiduciario e a sociedade Iimitada unipessoajJs

o empresario individual tal como e conhecido atualmente nao deishyxa de existir na redasao do projeto de NCCom sendo disciplinado entre os arts 14 a 32 do projeto de lei No que tange as suas caracteristicas esshysenciais 0 empresario individual permanece sendo pessoa ffsica que exershyce singularmente uma empresa sem limitaltao de responsabilidade nao se submetendo ao prindpio da autonornia patrimonial

Entretanto alem do empresario individual ate 0 momenta conhecido o novo C6digo Comercial visa a instituir outras duas formas de exerdcio individual da empresa como jei dito as quais possibilitam a separaSao de patrimonio e limitaltao de responsabilidade do empreendedor 0 empresashyrio individual que exerce a empresa em regime fiduciari039 e a sociedade limitada unipessoal

Da leitura do projeto infere-se que 0 empresario individual ao reshyquerer 0 seu registro comeh~rfipfesarioquntamp ao 6rgaocompetente poderamiddot fazer uma declaratao na qual conste que 0 exercicio da empresa dar-seshy

38 Na verdadc ha que se pontuar que 0 projeto de lei esta baseado em texto do jurisla Fabio Ulhoa Coelho a entende que a EIREU euma socied8de limiteda unipessoal e n~o ume nova especie de pessoa juridica eo fato pelo qual nao esta ela prevista nesse lormato no relerido projeto

39 A fiducia tem origem no direito romano ral institwlo caraclerlzamiddotse pela contiana e boa-lEi existentes entre fidLicianle e fiduciario A propriedade fiduciira por sua vez caracteriza-se quando determinado bern ou conjento de bens e destinado II gamntia de certo(s) credor(es) ou scja os bens constltuldos como propriedade fiduciaria de destlnam a garantia do cumprimento de determlnadas obrlgaltOes do liduciaro perante 0 fiduciante nao podendo ser objeto de expropriaao Pilra a adlmplemenlo das obriga6es pessoafs do fiduciiirio (Restlffe Neto Rest1ffe 20001 Segundo a C6digo Civil de 2002 em seu art L35 considerashysa propriedade fiducjaria a proprfedade resoliNel de caisa m6vel imungfvel Que 0 devedor com escopo de garanta translere ao credor Para maior aprofundamento acarce do tema vide SILVA ltJiz Augusto Beck da Alienaliio fiducitlfia ampm garantia 4 ed RIO de Janeiro forense 1998

RDE N 43 - Mar-AbtfZ015 - PARrE GERAl- DOUTRINL

-a em regime fiduciario Com a referida dedaraltao 0 empresario devera constitJir 1m patrimbnio relaeuroionado aattvrdade empresarial que pretende exercer absolutamente separado de seu patrimonio pessoaL

Assim uma vez cumpridos os requisitos 0 empresario individual desshysa modalidade (que continuaria sendo pessoa fisica) nao poderia ter seu patrimonio pessoal expropriado para 0 cumprimento das obrigalt6es assushymidas no exercicio da atividade salvo se conforme disp6e 0 sect 29 do art 32 do NCCom se tratarem de obrigaltoes de natureza trabalhista e triblltaria relacionadas ou nao com a empresa Trata-se pois do estabelecimento de um patrimonio de afetaltao que serviria de garantia aos credares do em preshysarlo individual em vez de totalidade do seu patrimonio

A outra forma de exercfcio singular da empresa proposto pelo projeto em comento e a constituiltao de uma sociedade limitada unipessoal Ao tratar das sociedades em especie 0 projeto preve a existencia de cinco tipos societarios (sociedade anonima sociedade limitada sociedade em nome coletivo sociedade em comandita simples e sociedade em comandita par alt6est todos os tipos ja cOllhecidos e previstos no atllal C6digo Civil

A novidade e uma pequena alteraltao feita no ambito das sociedades limitadas para no art 192 dispor que a sociedade limitada sera constishytufda por um ou mais s6cios ou seja retira da definiltao de sociedade a pluralidade dos s6cios

Todavia algumas consideralt6es devem ser feitas acerca do projeto em questao no que tange a sua relaltao com 0 instituto ora estudado

Conforme ja referido a limita~ao de responsabilidade do empresario individual era esperada pela doutrina patria ha muito tempo e a EIRELI foi a

l~gislativaelJcontrada para dar res posta aosansetoSexistentes

Com crfticas ou nao fato e que a EIRELI hoje majoritariamente conshysiderada como uma nova especie de pessoa juridica concebe a limitaltao de responsabilidade no exercfcio individual da empresa e desde 0 infcio de sua vigencia as estatisticas mostram que esta nova forma de exercer a empresa vem crescendo em todo 0 Pafs S6 em Sao Paulo nos primeiros tres meses de sua existencia a EIRELI jii representava mais de 4 do total de registros realizados conforme informaltao publicada pela Junta Comercial do daquele Estad040bull

40 Para majores Inlormacentes e dados estatistlcos vide htlpwwwjucespJazendaspgovbr

RUE III 43 - MOImiddotAbr2U15 - PARTE GERAl- nOUTHINA

Nesse passo cumpre questionar qual sera 0 futuro da EIRELI se 0 Proshyjeto de Lei nQ 15722011 vier a ser aprovado 0 que fazer com as EIRELIs ja existentes ao tempCl da publicacao do novo C6digo Comerdal Sera necesshysaria a criacao de regras de transicao ou os titulares de EIRELI simplesmente serao obrigados a requerer sua transformacao perante as Juntas Comercias para uma das duas modalidades criadas pelo novo C6digo

Certo e que 0 projeto de Novo C6digo Comercial contempla de certa forma a EIRELI mas colocando-a definitivamente como uma especie de sociedade limitada a sociedade limitada unipessoal No entanto ao propor llm projeto e necessario fazer uma analise do impacto que as alteraC6es provocarao sob pena de a nova lei em vez de pacificar entendimentos e llnificar tratamento acabar acarretando um caos inicial comprometendo sua pr6pria legitimidade

CONSIDERA~OES FINAlS

A limitacao de responsabilidade no exerdcio individual da emprcsa e tema recorrente na doutrina brasileira e desejo antigo dos empreendedores Ate a consagrarao da EIRELI par meio da Lei nQ 124412011 tal limitarao nao era posslvel no exercfcio individual da empresa como ja amplamenshyte debatido e demonstrado Com a criacao da EIRELI 0 legislador patrio apresenta aos empreendedores brasileiros uma nova possibilidade para empresariar sem a necessidade de constituirao de sociedades de fachada ou eventual comprometimento da totalidade do patrimonio pessoal do emshypreendedor

Percebe-se contudo que as controversias existentes ern torno da EIRELI ainda sao muitas Mas algumas coisas podem-se dizer certas Prishym~irQjslli1fiIR~khv~i~efetivamentepara privilegiar os pequenosemiddottledioS0i(i empreendedores nao se ve razao plausivel para que ela seja constituida por titular pessoa juridica Beneficiar sociedades estrangeiras e um argumento fraco para fazer esta defesa

Segundo do ponto de vista da garantia dos credores a exigencia de um capital mfnimo tern razao de ser principalmente levando ern conta que ate entao os empresarios individuais respondiam com a totalidade do seu patrimonio Todavia considerando que nao ha exigencia nesse sentido para as demais especies de empresarios de fato fere-se 0 principio da igualdade de tratamento Ainda em rela-ao ao capital minimo se 0 objetivo do legisshylador era beneficiar pequenos e medios empreendedores 0 minima estabeshylecido em 100 vezes 0 salario-mfnimo nacional e bastante alto Talvez uma

nOf Ndeg 43 - MalmiddotAbrl2015 -PARTE GERAl- DOUTRJNL bullbull bullbullbull

adequacao do montante fosse interessante para 0 atingimento dos objetivos do novel instituto

Em relacao a natureza juridica compreender a EIRElI como uma nova especie de pessoa jurfdica e certamente 0 melhor caminho ainda que isso possa parecer estranho ja que se esta diante de uma pessoa jurfdica constituida de uma dnica pessoa Afinal partindo dessa premissa nao seria necessario relativizar 0 conceito de sociedade que exige pluralidade de s6dos tampouco seria necessario pensar um empresario individual pessoa frsica que pudesse ser titular de dois patrimonios autonomos 0 pessoal eo de afetacao

Em derradeira analise no que diz respeito ao Projeto de novo C6digo Comercial cabe apenas ressaltar que eventual aprovacao devera levar em considerarao 0 fato de que como visto desde a entrada ern vigor da Lei nQ 124412011 a procura dos empreendedores por esta modalidade de exercfcio da empresa tern sido grande Contudo 0 projeto de lei nao traz qualquer mencao ao instituto Assim dever-se-a ter uma preocupacao com a transi-ao nao se podendo ignorar a existencia destes slljeitos de direito sem estabelecer qual sera oseu destino Mal se consagram institutos no Brashysil e novamente se pretendem altera~oes legislativas Assim nao se chega a maturidade

Por hora ainda que com quest6es controvertidas ha uma unanimidashyde doutrinaria de que a EIRELI e bem-vinda nao apenas porque oriunda de pleitos antigos mas tambem porque apresenta uma nova possibilidade para quem pretende empresariar no Brasil de modo que ha grande expectativa no sentido de que 0 Poder Judiciario seja capaz de dirimir as controversias existentes causadas basicamente por falhas do legislador permitindo uma amPla utilizacao dQoolRjn~titu~9~gW~Cialmente poraqueles que aoque parece se tentou benefidar 05 pequenos e medios empreendedores brasishyleiros

Page 7: SINTESE - cortemello.com.br · RESUMO A EIRELI - Empresa Individual de Aesponsabilidade Limitada foi introduzida no ordena ... a partir da doutrina de Alberto Asquini, que entende

Hut N 13 -lIarmiddotAbr2015 - PARTE GERAl- DOUTRIUA

meiro porque de forma individual ou em sociedade de pessoas ainda que as formalidades para constituiltao e 0 investimento exigido fossem menores os riscos eram elevados em decorrencia do sistema de responsabilidade iIishymitada Segundo porque a unica sociedade com sistema de responsabilidashyde limitada era a anonima a qual por exigir um rigorismo formal para sua constituiltao destinava-se aos grandes empreendimentos (Verltosa 2006)

Necessitava-se entao para atender a demanda dos pequenos e meshydios empreendedores de um tipo societario capaz de atender a ambas a~ necessidades menor assunltao de riscos pela limitaltao de responsabilidade e ao mesmo tempo menor complexidade de constituiltao e funcionamenshyto (Pimenta 2006 p 67) Nesse contexto e que surge na Alemanha em 1892 a sociedade por quotas de responsabiiidade limitada (Almeida 2011 p145)

Ante a necessidade de incentivar 0 exercicio da empresa por parte de tantos quant05 por cia se interessassem por meio da separaltao entre 0

patrimonio pessoal dos s6cios e 0 da sociedade nao respondendo aqueles pelos debitos contraido5 por esta e que a sociedade por quotas de responsashybilidade limitada mostrou-se ahernativa eficaz na legislaltao alema de 1892 (Pimenta 2006 p 68)

No Brasil esse tipo societario foi consagrado em 1919 atraves do Decreto nQ 3078 cujo sistema de responsabilidade vinha estabelecido no art 290 qual previa que 0 titulo constitutivo regular-5e-a pelas disposiltoes dos arts 300 a 302 e seus numeros do C6digo Comercial devendo estipular ser limitada a responsabilidade dos socios a importancia total do capital social (Brasil 1919 p indeterminada)

A sociedade limitada17 hoje regulada pelo C6digo Civil de 2002 pode entaoser vistacomq a primeira forma deincentivqr epossibjlitaxo ac~ssode tltTlnumeromaior de pessoas ao exercicio de atiIdadesempreshysarias 1550 porque a partir dela passou a existir um tipo societario que alia a limitaltao de responsabilidade1B caracterfstlca que ate entao era exclusiva

17 Enquanto vigia 0 Decreto nO 30781919 este tipo socletario era denominado Socledade par Quotas de Responsabilidade limitada 0 art 10 do Jecreto previa que ahlm das sccledades a que se referem as arts 295 311 315 e 317 do C6digo Comecial poderao constituir-se socledades por quotas de responsabilidade limitade Oito decreta vigorou por mals de 80 anos vindo a ser parolalmente revogado pelo atual COdigo Civil em vigor deede 2003 0 CCB2002 simplifieou a nomenclatura passando a denomlnar este tipo socletMo apenas de secledade limitada regulando-a sem seus arts 1052 e seguintes

18 Como vista no sistema atual somente associedadesanonimas e limitadas possuem sOcios de responsabilidade limiteda 0 limite da responsabilldade dos socios ea capital investido por estes no neg6cio resglJanlandoshyse asslm 0 seu patrimOnio pessoaL Nao epor outra rallio que estes silo os dois tipos socletarios de maior utiliza~ao no Brasil estando os demais praticamente em desuso

ODE N 43 - MarmiddotAbrlZ315 - PARlE GEOAl- OnUIlIINA

da sociedade anonima e a contratualidade ou seja uma sociedade cujo ate constitutivo e0 cQntratosocia-OquaJpermite uma maior expressao da autonomia privada dos s6cios na conformaltao da sociedade diferentemenshyte da sociedade anonima que e uma sociedade constituida por um estatuto social muito mais conformado pela pr6pria legislaao do que pela vontade dos s6cios (Ramos 2011 p 248)

Verifica-se ainda que ao longo da hist6ria a sociedade sempre foi concebida como uma uniao de forltas pela busca de um resultado comum e as sociedades empresarias a uniao de forltas pela busca de um resultado lucrativo comum caracterizando-se pelo exercicio em conjunto de uma atividade economica organizada

Quanto anecessidade de constituiltao de uma sociedade para 0 exershycicio da empresa esclarece Fabio Ulhoa Coelho (2012 p 21) que

atividades economicas de pequeno porte podem ser exploradas por uma pesshysoa (natural) sem maiores dificuldades Na medida porem em que se avolushymam e ganham complexidade exigindo maiores investimentos ou diferentes capacitalaquooes as atividades econ6micas nao mais podem ser desenvolvidas com eficiencia par um indivfduo apenas 0 seu desenvolvimento pressupoe entao a aglutinalaquoao de esfonos de diversos agentes interessados nos lucros que elas prometem propiciar Essa articularao pode assumir variadas formas jurrdicas entre as quais a de uma sociedade

As sociedades assumiram tal importancia social que passaram a ser vistas como entes absolutamente distintos separados dos sujeitos que se uniam para forma-las acabando pOl receberem da ordem jurfdica status de sujeitos de direito tal como as pessoas naturais Eo que ensina Amador Paes de Almeida (2011 p 29)

Num cresceriaOafrmir~Veffofam~sb(jedades ganhando vulto a ponto de em pouco tempo distinguirmiddotse nitidamente das pessoas ffsicas que as comshypunham rJ Formando pois uma entidade aparte absolutamente distinta das pessoas naturais que as integram (ulrninaram as sociedades por serem reconhecidas pelo ordenamento jurfdico como sujeilos de direito equiparashydas ponanto as pessoas fisicas

A este sujeito de direito que surge a partir de uma sociedade 0 direishyto deu 0 nome de pessoa juridica Par conseguinte sociedade empresaria devidamente registrada19

sera a pessoa juridica exercente de uma empresa

19 0 registro do empresario seia eie individual au coietivo (sociedede empresiiria) Junto ao 6rgao responsavei pelo registro mercanti qual seia as Juntas Comereiais dos Estados euma das obrigalt6es impostas aquele

JUilJ fiDE It 43 -i4armiddotAIJr2Ul ~ - PARU GEllAl- OOHmlNA

o sujeito de direito que pratica os atos necessarios a realizarao da atividade economica nao se confundindo com seus sodos (Coelho 2012 p 23 e 27)

De todo 0 exposto conclui-se que para 0 direito empresarial desde suas primeiras manifestaroes ainda na Idade Media a personalidade jurishydica propria que era atributo exclusivo das pessoas fisicas foi estendida as pessoas juridicas que sao formadas pela uniao de no minimo duas pessoas em sociedade As empresas pod em ser exercidas po is tanto por pessoas fIshysicas quanta por pessoas juridicas Neste ultimo caso a pessoa jurfdica tem autonomia patrimonial em rela~ao ao patrimonio pessoal de seus socios

12 As CONSEQUENCIAS DA PERSONlflCACAO E A IMPORTANCIA DO PRINCPIO DA AUTONOMIA

PATRIMONIAL

A personalidade juridica e uma inven~ao do Direito Nao existe pesshysoa jurfdica senao sob a otica do Direito que a criou com 0 objetivo de solucionar alguns problemas decorrentes das relar6es humanas autorizanshydo a priitica de atos juridicos por outros sujeitos de direito que nao apenas pessoas naturals (Coelho 2011 p 138)

A personalidade juridica das sociedades empresarias e a criarao que possibilita conferir titularidade de direitos a um ente que nasce da uniao de outros ou seja e uma ficrao que atribui personalidade a um ente formado por uma coletividade de pessoas (Fazzio JUnior 2008 p 31)

o principal objetivo da atribuicao de personalidade jurfdica as soshyciedades e permitir que estas possam praticar todos os atos juridicos necesshysarios ao desenvolvimento da atividade para a qual foram criadas por si

lu~exce projiSSiOQ~Irente uma atividade empre~ari~ ~simse~Qo0tegistfJl DaO econdi~ao para taiacteriza~ao de uma pessoa (flsica au jurldica) como efllpresilio tratando-se na verdade de mera declarruao de regularidade do exercfcio dll empresa de acordo com as normas impostas pelo ordenaP1ento juridico patrio A inexist~ncia de registro nao descaracteriza 0 sujelto como empresario mas uma vez conligurando 0 descumprimento de uma obriga~~o a ele imposta acarreta algumas restri~es No caso da sociedade empresaria irregular uma das restri6es ea impossibilidade de realizar sua inscrirao junto aD Cadaslro Naeional de Pessoas Juridlcas com a consequente sanao pelo descumprimento das obriga~6es tributarias decorrentes deste cadastra Assim a sociedade empresiiria nao deixa de ser empresaria pela lalla de reglstro l1as naD sera uma pessaa juridice Dessa Iorma sendo sociedade oespersonificada os socioS da sociedade empresria irregular nlio gozam das benesses de Ilmitarao de respansabilidade atribuida via de regra as sociedades regulares (Coeiho 2011) Quanta if desnecessidade de reglstro marcantil para caracterizaao do empresaria ji se manitestou 0 Conselho da Justita Federal na III Jornada de Direito Civil na quallcram aprovados os Enunciados nOs 198 e 199 que disp5em respectivamente Art 967 A inscri~ao do empresArio na Junta Comercial nao Ii requisito para a sua caracteriza~ao admitiodo-se a exerclcio da empresa sem lal provid~ncia 0 empresarlo irregular reune os requisitos do art 966 suieltando-se as normas do COdigo Civil e da legislaao comerdal salvo naquilo em que Iorem incompatlveis com a sua condi~ao ou diante de expressa disposiao em contrjrio e Art 967 A inscriltiio do empresario ou sociedade empresiiria erequisito delineador de sua regulalidade e nao da sua caracteriza9iio (Conselho da Iusti~a Federal 2004 p Indeterminada)

ROE N 43 - MarJlbr2015 - PARTE GEftAl- DOUTRINL

mesmas e nao em nome dos sodos Na sodedade empresaria tal objetivo mOiVa-s~ ltliJ1rja maisreJevante na medida em que a atividade exercida exishyge assuncao de riscos os quais serao assumidos pela pessoa juridica e nao pelas pessoas fisicas (Fazzio Junior 2008 p 31)

Nesse contexto a importfmcia da atribuirao de personalidade jurishydica as sociedades empresarias e evidente sendo facil concluir que para minimizar 0 risco da atividade empresarial separando 0 patrimonio pessoal dos empreendedores os indivfduos devem - ou deveriam ate pouco tempo - constituir uma sociedade formando assim uma pessoa juridica a qual goza de autonomia patrimonial

Essa ficrao resulta em uma serie de consequendas importantes para o Direito De modo geral e possivel identificar tres consequencias advindas da atribuirao de personalidade jurfdica as sociedades empresarias a titulashyridade obrigacional a titularidade processual e a responsabilidade patrimoshynial (CoelflO 2012 p 32)

A titularidade obrigacional determina que todas as obrigacoes assushymidas no ambito do exercicio da atividade empresarial 0 serao pela socieshydade e nao pelas pessoas de seus socios Assim quem figura em um dos polos da rela~ao jurfdica estabelecida com terceiros (contratos de trabalho de prestarao ou contratarao cje servicos etc) e a sociedade e nao as pesshysoas dos socios que a comp6em Ja a titularidade processual implica que apenas a sociedade seja parte legftima para demandar ou ser demandada em processos judiciais que visem a discutir obrigar6es assumidas em seu nome Por fim a responsabilidade patrimonial que determina que a pessoa jurfdica e responsavel pelas obrigacoes que ela contrair com 0 seupr6prio patrim()Oi(jQ~qllaledistinto do patrimonio pessoal de cadaunl closs6dos que a constituem ou seja 0 conjunto de bens da sociedade forma 0 patrishymonio da pessoa jurfdica e eesse patrimonio que em regra responde pelas obrigac6es assumidas pela sociedade (Coelho 2012 p 32-33L

Arnaldo Rizzardo tambem reconhece que

tanto e pr6pria e distinta a personalidade juridica que 0 sistema juridico reconhece a sua existencia distinta da de seus s6dos e assim a titularidade pr6pria de direitos (de ordem patrimonial e moral) como a sujeirao a obrigashyr6es e deveres (como sujeito passivo na demanda de creditos existentes par terceiros) Nao se confundem os direitos e deveres da pessoa jurfdica com as de seus s6cios oem os direilos e deveres destes se transferem para a pessoa jurfdica (Rizzardo 2009 p 23)

1 11 ~ bull RDE N 43 - Mar-Abd2Dl5 - PARTE GERAl- DOUTRINA

Na mesma linha Ricardo Negrao (2011 r p 203) afirma que sao efeishytos da personificarao a assunao de capaddade para direitos e obrigar6es middota separacao entre a pessoa juridica e aspessoas dos s6dos a existenda de patrimonio proprio distinto do de seus sodos e a possibilidade de a socieshydade alterar a sua estrutura interna

Ve-se portanto que nao ha grande divergencia doutrinarla quanta aos principais efeitos da personificacao No entanto entre as tres conseshyquendas destacadas e a responsabilidade patrimonial da pessoa jurfdica a que merece maior destaque

A existenda de patrimonio pro-prio das pessoas juddicas da-se por forra da incidencia do princfpio da autonomia patrimonial segundo 0 qual os bens da sociedade empresaria formam um patrimonio autonomo que responde pelas obrigar6es contrardas por esta enquanto que os bens de cada um dos socios que a compoem permanecem via de regra imunes ao cumprimento destas obrigaroes

Trata-se na verdade de algo muito antigo decorrente da maxima aplicada desde a Lex Poetelia Papiria que data de 326 antes de Cristo por melo da qual se determinou que 0 patrimonio do devedor fosse a garantia dos credores Com tal lei a obrigarao entre 0 credor e 0 devedor deixou de estar pautada em um vinculo corporal sendo substitufda pela responsabilishydade patrimonia ou seja os bens e nao mais 0 corpo do devedor passashyram a responder por suas diviaas (Alves 201 Or p 382 e 436)

Ora se a devedora e a sociedade empresaria e justo que apenas 0

seu patrimonio responda pelas obrigaroes contrafdas e nao 0 patrimonio de seus sodos sujeitos de direito distintos A autonomia patrimonial e a responsabilidade patrimonial proprias da sociedade formam uma estrutura que incentiva a aS5Un~Q dQriscodo exerdcio de uma atividade empreshysaria Principalmente quando 0 tipo de sociedade traz tambem a regra da limitarao de responsabilidade dos s6cios 0 que ocorre nas sociedades anoshynimas e limitadas

Tal e a importancia da autonomia patrimonial das pessoas jurfdicas que Fabio Ulhoa Coelho (2012 p 34) afirma que se trata do alicerce do direito sodetario

Esse e 0 principio da autonomia patrimonial alicerce do direito societario Sua importilncia para 0 desenvolvimento de atividades economicas da proshydUlao e cireula~ao de bens e servicos e fundamental na medida em que limita a possibilidade de perdas nos investimentos mais arriseados A partir da afirmacao do postulado juridieo de que 0 patrimonio dos s6cios nao res-

RDE PI ~3 -lIhrmiddotAbr1015 - PARTE GERAl- DDlITHINA ~

ponde por dividas da sociedade motivam-se investidores e empreendedores a aplicar dinheiro emathddades oconomieas-demiddotmaior envergadura e risco 5e nao existisse 0 principio da separaCao patrimonial os insueessos na exshyploracao da empresa poderiam significar a perda de todos os bens particushylares dos s6cios amealhados ao longo do trabalho de uma vida ou mesmo de geracoes e nesse quadro menos pessoas se sentiriam estimuladas a deshysenvolver novas atividades empresariais No final 0 potencial econ6mieo do Pars nao estaria eficientemente otimizado e as pessoas em geral ficariam prejudicadasr tendo menos acesso a bens e servi~os 0 principio da autoshynomia patrimonial e importantfssimo para que 0 direito discipline de forma adequada a explora(ao da atividade economica

o principia da autonomia patrimonial e sem duvida um importante mecanismo de incentivo ao exercicio da atividade empresaria na medida em que possibilita a minimizarao dos riscos assumidos pela pessoa ffsica que decide exercer uma empresa Isso parque mesmo nas especies societashyrias em que a responsabilidade dos s6das e ilimitada (sociedade em nome coletivo por exemplo) est~ sera sempre subsidiaria por forra do princlpio de mesmo nome consagrado no ordenamento jurfdico patrio pelo art 1024 do Codigo Civil de 2002 2deg

Parece evidente que 0 princlpio da autonomia patrimonial coadunashy-se nao apenas com os fundamentos da ordem economica brasileira exshypressos no caput do art 170 da Constituirao Federal quais sejam a livre iniciativa e a valorizarao do trabalho humano bem como corn seus prindshypios norteadores como a livre concorrencia e 0 livre exerckio da atividade economica alem de toda a constru~ao hist6rica de incentivo ao exercicio da empresa como forma de fomentar a economia dos Estados possibilitanshydo a gerarao e a circularao das riquezas

Todaviacomo exposto anterio~trl1ente Os beneficios desse principio nao se aplicam ao empreendedor que exerce a empresa de forma individual nao sendo outra a razao principal para a edirao da Lei nQ 124412011 que introduziu no Brasi a EIRELI

13 EIRElI AS PRINCIPAlS CARACTERisrlCAS DO NOVO EMPRESARIO

Feitos os esclarecimentos sabre as diferentes especies de empresashyrios ate entao existentes cabe 0 enfrentamento da nova especie introduzida recentemente no ordenamento juridico brasileiro a Empresa Individual de

-middot~---middot-middot-----_~___laquo~_M

20 Art 1024 do eeB Os bens particuJares dos socios nao podem set executados por dlvldas cta saciedade senao depois de executados os bens socials (BraSil 2002 p indeterminacta)

13 It ROE N 43 - MarmiddotlbI2D15 - PARTE GERAl- DOUTRINA

Responsabilidade Umitada - EIRELI Especie de empresario que conforme refere Andre Luiz Santa Cruz Ramos (2012 p 40) surge na legislacao piitria atendendoa antigos an5eiostantoda doutrina quantodo meio empresariai

Ate a entrada em vigor da legislacao que introduziu a EIRElI como ja dito existiam apenas duas formas de exercer a empresa ou como empreshysario individual (pessoa ffsica sem autonomia patrimonial e limitacao de responsabilidade) ou como sociedade empresaria (na qual os sodos podem ou nao vir a responder pelas obrigacoes contraidas no exercfcio da atividashyde mas sempre e tao somente ap6s 0 esgotamento do patrim6nio social ja que ha no mlnimo a autonomia patrimonial da pessoa juridical

A partir da EIRElI pasSOli a ser posslvel que uma s6 pessoa exerca a empresa por meio de uma pessoa juridica 0 que permite a efetiva separacao patrimonial e limitacao de responsabilidade ao capital investido como ocorshyref mais precisamente nas sociedades limitadas Esse novo ente apresenta caracterfsticas bastante pr6prias

De plano pode-se ressaltar uma caracterfstica e esta incontroversa A EIRELI eum ente dotado de pcrsonalidade juridica pr6pria ja que inserida no rei das pessoas juridicas de direito privado do art 44 do C6digo Civil Ao contrario do empresario individual que e uma pessoa flsica a EIRELI e uma pessoa juridica constituida para 0 exerdcio de uma atividade economica Ainda pela leitura do texto legal na medida em que a EIRELI esta prevista em um inciso em separado inciso VI incluido pela Lei nQ 124412011 a priori nao se poderia concluir qLle se trata de uma sociedade empresaria as quais ja vinham previstas no inciso II

Assim da simples interpretacao da alteracao ocarrida no art 44 do C6digo Civil conclui-se que a EIRELI e pessoa juridica nao se confundindo comasect~Od~adeiJilmpouco com 0 empresario individualquenem peSsoa jurfdiCa~

Outra caracterfstica importante da EIRELI e a exigencia de urn capital mfnimo nao inferior a 100 vezes 0 salilrio-minimo vigente no Pais para a sua constitLlicao conforme dispoe 0 caput do art 980-A do C6digo Civil de 2002 22 tambem inclufdo pela Lei nQ 124412011 0 empreendedor que

21 De plano cumpre esciarecer que por ludo quanto)a exposto no decorrer do presente estudo a nomenclatura utllizada pelo legislador eatecnica na mediaa em que atribuiu personalidade jur(dica a uma etividade Como visto ernpresa nao esujelto de direilos mas sim uma atividade exercida pelo empresario este sim sujeilO de direitos

22 Art 980-A do CCB A empresa individual de responsabWdade limitada sera constiturda por uma cnica pessoa titular da Malidade do capital social devidamente integralizado que nao sera imerior a 100 (cern) vezes 0

maior saario-minimo vigente no Pais (Brasil 2002 p indeterminada)

ROE II 43 - MarmiddotAbI2D15- fART GERAl- DOUTBIRA

desejar exercer a empresa como EIRELI devera no ate da constituicao inshytegralizar a totalidtdedQ valordQ capital que naQPodera ser em valores atuais inferior a R$ 7880000 (setenta e oito mil e oitocentos reais)

Ainda a integralizacao do capital podera ser eita nao apenas em dinheiro mas tambem em bens desde que suscetfveis de avaliacao em dishynheiro nao sendo exigida a apresentacao de laudo avaliativo para tanto Este capital diferente do que ocorre nas sociedades nao sera dividido em quotas ou acoes A regra e a da unicidade do capital afinal este e totalmente titularizado par uma unica pessoa

A terceira caracterfstica marcante da EIRELI diz com 0 sujeito que pode constituf-Ia ou seja 0 titular da EIRELI Segundo dispoe 0 caput do ja mencionado art 980-A do C6digo Civil a EIRELI sera constitufda por apenas uma pessoa Ocorre que 0 dispositivo legal nao deixa claro que 0

titular precisa ser uma pessoa ffsica ou se poderia tambem ser uma pessoa jurfdica Essa falta de especificacao legal gerou discussao com argumentos favoraveis e contra nas duas direltoes No entanto 0 ONRC - Departamenshyto NacionaJ do Registro doComercio pOl meio da lnstrucao Normativa n

9 1172011 definiu (item 1210) que apenas as pessoas naturais plenashy

mente capazes podem constituir EIRELI Ainda ratjficando tal disposiao 0

item 1211 preve expressamente que nao pode ser titular de EfRELI a pesshysoa juridica bem assim a pessoa natural impedida pOl norma constitucional ou por lei especial (Brasil 2011 p indeterminada)

Outra caracterfstica semelhante ao que ocorre com as sociedades limitadas e que a EIRELI pode utilizar qualquer das especies de nome emshypresarial qual seja firma ou denominacao social acrescidas da expressao EIRELI ao final

Par tim e talvezil car~ct~rf~ti~~~5Ys importante a responsabilidade limitada ao capital investido e devidamente integralizado pelo titular da EIRELI Essa regra se depreende da leitura do sect 62 do art 980-A do C6digo Civil que determina a aplicacao a EIRELI das regras previstas para as socieshydades limitadas naquilo em que com patfve I (Brasil 2011 p indeterminashyda) Essa era a mescla qlle se desejava uma modalidade de empresario que fosse constitufda por uma (mica pessoa mas com limitacao de responsabilishydade e facilidade na forma de constituicao como ocorre com as sociedades limitadas

Em sfntese sao estas as principalS caracteristicas da Empresa Indivishydual de Responsabilidade Limitada Ocorre todavia que tais caracterfsticas estabelecidas pela nova legislacao vem causando inumeras controversias

15 ROf N 43 - MarmiddotAbr2015 - PARrE GHAl- DOUfHINA

entre os operadores do Direito e os doutrinadores e estudiosos do direito empresariai Nilo obstante a cria~ao de um instituto que possibilitasse a limitacao de responsabiHdade para 0 exercicio individual da empresa e anshyseio antigo entre os doutrinadores patrios Nesse sentido ainda que objeto de divergeuromcias 0 novo ente com certeza e muito bem-vindo

2OS ASPECTOS CONTROVERTIDOS ACERCA DA EIRElI

Apresentadas as caracteristicas fundamentais da EIRElI conforme as disposicoes legais vigentes faz-se necessario apresentar as controversias que delas surgem A doutrina jurfdica diverge ja que algumas das caracteshyrfsticas da EIRELI supostamente vao de encontro a conceitos estabelecidos e institutos consolidados ao lange de seculos

Os principais aspectos controvertidos acerca da EIRELI dizem respeito as exigencias feitas pelo legislador para sua constituicao especialmente no que tange ao capital mlnimo a ser investido quem pode ser seu titu lar equal a sua natureza jurfdica

21 QUEM PODE SER TITULAR DE UMA EIRElI

Uma das questOes mais problematicas acerca do novo instituto diz respeito aqueles que podem ser titulares de uma EIRELI

Como visto 0 art 980-A do C6digo Civil disp6e em seu caput que a EIREU sera constitufda por uma Cinica pessoa titular de todo 0 capital social o DNRC por seu turno emitiu instru~ao normativa aprovando 0 Manual de Atos de Registro de Empresa Individual de Responsabilidade limitada23

a ser adotado pelas Juntas Comercias de todos os Estados 0 qual preve expressamente que apenas as pessoas fisicas maiores capazes e livres de

q1iili~querimpedimentos legais podemsertittJlar~sde jma BREtt

Ejustamente na redacao da lei e da instrucao normativa do DNRC que reside grande parte da controversia

Hi quem defenda a possibilidade de constituicao da EIRELI por pesshysoas juridicas sob 0 argumento de que se 0 texto legal nao taz qualquer proibicao de forma expressa referindo-se apenas a pessoa ff

nao poderiam os operadores interpretar a norma de forma a excluir algum sujeito de direishyto quando a propria norma nao 0 faz

------~~ -~--~----~----bull---shyda Instru~ao Normativa n 1172011 do Departamento Nacional de Registro do Comercio

em ltllttpwwwdnrcgovbrILegislacaQIIN20117202011pdfgt

RUE N 43 - MarmiddotAbdZ015 - PAHTf GERAl- DOUrnIlIA_

Nesse sentido

C6mefeitO(Jcaput do art 980-A do C6digo Civil expressamente prescreve que a EIREU sera constitllfda par uma unica pessoa sem excluir as pessoas jurrdicas nem restringir essa passibilidade exclusivamente as pessoas ffsicas Ora pessaa jurfdica tambem e pessaa (Mela 2011 p indeterminada)

Da mesma forma defende-se a ideia de que adotar uma interpretacao que restrinja 0 direito de uma pessoa juridica constituir uma EIREU seria afrontar a princfpio constitucional da legalidade uma vez que se a proibishycao nao esta expressa a pennissao estaria subentendida

[ J naa ha impedimenta legal para que uma pes sea juridica titularize 0 cashypital social de uma EIRELI e sob 0 primado de uma ordem jurfdica liberal afirma-se que 0 que nao esta proibido ou ordenade e permitido Esta leitura decorre diretamente do principia da legalidade consagrado na art 5Q

II da Constitui~ao Federal que estabelece que ninguem sera abrigado a fazer Oll

deixar de fazer aigllma coisa senao em virtude de lei (Lupi Schlosser 2012 p indeterminadal

Fabio Ulhoa Coelho (2012 p 409) tambem entende que a EIRELI para ele uma sociedade limitada unipessoal 24

pode ser constitufda tanto por s6cio Cinico pessoa fisica como juridica

No mesmo sentido sustenta-se que a intencao do legislador com a publicacao da lei nQ 124412011 teria sido justamente permitir a constituishycao de EIRElI por pessoa juridica ja que suprimiu da redacao original dos Projetos de lei nQs 46052009 e 49532009 a restritao que era expressa (Melo 2012 p indeterminada)

QO Projeton 46052009 de autoria do Deputado Marcos MonteSi

tinhapbr objetivoaindusao noC6digo Civil de 2002 do art 98S-A 0

qual teria a seguinte redacao A empresa individual de responsabilidade limitada sera constituida por um Cinico s6cio pessoa natural que e 0 titular da totalidade do capital social e que somente podera figurar numa unica empresa dessa modalidade (Brasil 2009 p indeterminada)

Ja 0 Projeto nQ 49532009 de autoria do Deputado Eduardo Sciarra intencionava a incillsao do art 980-A no C6digo Civil de 2002 com a seshyguinte redacao Qualquer pessoa ffsica que atenda ao disposto no art 972

-----~---------=~-~--~~--~---

24 Para Fabio Ulhoa Coelho (2012 p 409) a EIRELI deve ser considerada como urna sociedade limitada umpessoa Sustenta que a interpretaao sistematica do direito positivo conduz conciusao de que nao se trata de nova esp~cie de pessoa jurldica mas do nomen juris dado ~ sociedade limitada unipessoal Tratarshy-se-a melhor cia natureza jurldica da EIRELI no item 33 deste artigo

lU ROE Ndeg 43 - MarmiddotAbifZ015 - PARTE GEML - DOUIRIVA

que exena ou deseje exercer profissionalmente a atividade de empresario podera constituir Empreendimento Individual de Responsabilidade limitashyda (Brasil 2009 p indeterminada)

Assim ja que suprimidos os termos natural e ffsica que acompashynhavam a pessoa na redacao original dos projetos de lei a intencao do legislador so poderia ser permitir que a EIRELI fosse constituida tambem por pessoas juridicas (Rivas 2012 p indeterminada)

Outro argumento apresentado por aqueles que defendem a possibishylidade de a pessoa juridica ser titular de EIRELI ea fadlitacao da instalacao e do funcionamento de sociedades ernpresarias estrangeiras no Pais como forma de aquecer a economia nacional

Fundamental mencionar que a possibilidade de constituiltao de EIRELI par pessoas jurfdicas val facilitar de sobremaneira a instalaltao de sociedades estrangeiras no Brasil Estas ao consultarem advogados brasileiros sobre os procedimentos necessarios ao infcio do desenvolvimento de suas atlvidades no pais invariavelmente surpreendem-se com a quanti dade e complexidade dos procedimentos sendo que dentre eles urn que normal mente cria bastanshyte dificuldade e justamente a necessidade de indicaltao de uma pluralidade de s6cios na sociedade brasileira 0 que muitas vezes as obriga a indicaltao de pessoa ffsica com participaltao apenas simb6lica simplesmente para atenshyder ao formalismo exigi do (Martins Fllho sd p indeterminada)

Contra tal argumento Wilges Ariana Bruscato (2012) sustenta que embora investimentos estrangeiros sejam importantes para 0 desenvolvishymento economico do PaIS a EIRELI nao pode servir como uma forma de burlar a egisla~ao vigente que regulamenta a instalacao e 0 iuncionamento de socitgtdades estrangeiras no Brasil Para a autora trata-se de materia de ordem publica antesdesermateria de~ireito empresqrill e por esla nao pode ser superadclcOni atrid~5oili EIRELI

Tambem com base nos textos dos projetos que deram origem a lei em comento a autora conclui que a omissao dos termos natural ou flshysica para definir qual 0 tipo de pessoa poderia constituir EIRELI teria sido acidentai haja vista que nao houve qualquer justificativa para a supressao da restricao que era expressa nos textos dos projetos ou seja em momenta algum durante 0 tramite do processo legislativo justificou-se tal supressao no interesse de estender as pessoas juridjcas apossibilidade de constituicao de EIRELI (Bruscato 2012)

No mesmo sentido e 0 entendimento de Jacques Maika y Negri (2012 p indeterminada)

RUE N 43 - MarJIbrl2015 - PARTE GERAl- DOUTAINL

Analisado 0 processo legislativo fica claro que houve lapso por parte do reatqrct9Jrojeto substituto DeputadoMamelo Itagiba e nao supressao deshyliberada da expressao natural caso em que 0 parlamentarteria justificado a alteraltao e a sua intenltao

Esta foj tambem a conclusao aqual chegaram os jurislas integrantes do Conselho da Justica Federal que em sua V Jornada de Direito Civil ocorshyrida em novembro de 2011 emitiram 0 Enunciado nQ 4682~ segundo 0 qual apenas as pessoas ffsicas podem constituir EIRELI

Parece evidente que antes de consolidar-se entendimento acerca da possibilidade ou nao de pessoas juridicas virem a constitu ir empresas indivishyduais de responsabilidade limitada sera no Judiciario que esta problematica sera discutida em maior escala

Recentemente 0 Jufzo da 9il Vara da Fazenda Publica do Rio de janeiroRj proferiu decisao na qual deferiu em mandado de scguranca (Proshycesso nQ 0054566-7120128190001) impetrado em face da Junta Comershycial daquele estado medida liminar para que uma pessoa jurfdica levasse a diante 0 processo de transformalt50 de sociedade empresaria em EIRELI Trata-se de sociedade limitada composta por um socio pessoa juridica e um socio pessoa ffsica e este ultimo retirou-se da sociedade A pretensao posta em juizo era de que a sociedade limitada pudesse ser transformada em EIRELI como resultado daiconcentraltao das quotas sociais em um dos s6cios no caso 0 s6cio pessoa juridica 0 pedido foi negado pela Junta Coshymercial do Estado do Rio de Janeiro sob a alegaltao de que a transformacao de uma sociedade empresaria em EIRELI no caso de inexistencia superveshyniente de pluralidade de socios e possivel desde que 0 socio sobre quem se concentre a totalidade das quotas sociais sejaumapessoa f[sica e nao illrfdGa 0 pedido liminar vertidoem sooede mandadodemiddot seguran~a foi aeferido tendo 0 juizo da 9~ Vara da Fazenda Publica do Rio de JaneiroRJ sustentado que nao existe impedimento legal para que 0 titular da EIRELI seja uma pessoa juridica

Recurso de agravo de inslrumento foj interposto pela re (0016183shy2720128190000) e este foi provido para anular a decisao agravada mas reconhecendo a incompetencia do juizo declinando da mesma para a Jusshytica Federal 0 processo que recebeu 0 nQ 0008231-2720124025101 tramitou perante a 12~ Vara Federal do Rio de Janeiro Em que pese tenha sido ratificada a decisao da justica estadual para conceder a medida limishy~---~~-- ------------- 25 Enunciado nO 468 do CJF Art 9SOmiddotA A empresa individual de responsabildade limitada sO poder~ S8r

conslitufda por pessoa nattJral (BraSil 2011 p indetemlinada)

1 ROE n 43 - MarmiddotAhrIZOI5- PARlE GERAl- DOUTBINA

nar pleiteada a sentenca denegou a seguranta sob 0 fundamento de que embora no tramite legislativo 0 termo natural tenha sido exduido do art 980-A do Codigo Civiftodomnteudo daLei nlt1 124412011 que criou a EIRELI foj engendrado para abarcar apenas a possibjljdade de que seu titular fosse pessoa natural Da decisao nao foi interposto recurs026 bull

Como se percebe embora haja discussao doutrinaria ace rca da possishybilidade de a pessoa juridica ser titular de uma EIRElI ha que se considerar que diante do posicionamento do DNRC esposado na IN 1172011 bem como do Conselho da Justica Federal atualmente ainda que na pratica prevalece 0 entendimento de que apenas pessoas fisicas podem constituir EIRElI

22 AEIHELI EO CAPITAL MiNIMO PARA SUA CONSTITUICAO IN)CONSTITUCIONAUDADE DA NORMA

A exigencia de capital minimo para a constituicao da EIRElI em valor nao inferior a 100 vezes 0 maior salario-minimo vigente no Pais tambem e controvertida

No minimol e possivel vislumbrar tal exigencia como uma forma de trazer seguranta ao instituto ja que com a constituicao da EIRElI 0 emshypreendedor goza de uma separacao entre 0 patrimonio afetado ao exercfcio da atividade e 0 seu patrimanio pessoal A exigencia de urn capital minimo pode ser vista como uma forma de garantir 0 cumprimento das obrigac5es assumidas no exercfcio da atividade Uma garantia para eventuais credores da EIRUI

Em outras palavras 0 estabelecimento de um capital minima e necesshysario para dar credibilidade ao instituto recem-criado ja que com a consshytituicao da EIRELI ha uma autonomia patrimonial ha uma separacao entre o patfifl~niHi~Rif~8qI~middotatJvidade ecooomieuroa--e-G-pattimQlli0partiS2ulill~Qrmiddot titu lar (Pessoa 2011)

Sao muitos no entanto os argumentos contrarios aexigencia imposta pelo texto legal

Inicialmente destaca-se que nao existe via de regra capital minimo estabelecido para a constituitao de sociedades ou registro de empresario individual no Brasil exigindo-se tao somente uma adequacao do capital investido ao objeto social motivo pelo qual a exigencia feita somente para a EIRElI e questionavel (Ramos 2012 p 43)

26 Integra da decisaa pode ser visuallzada em lthttpJprocwebjfrjjusbrportalconsultaresconsprocaspgt

RO N 43 - MarmiddotAbrl2815- PARlE GEnAL - DOUfRINL

Com efeito

Anenhumaoutra forma de exerc1cioempresarial no pals se faz a exigencia exceto em casas excepcionais de um minima de capital Como sustentar essa regra para a EIREU 1550 infringe a igualdade de tratamento que deve ser dada a todos genericamente A desigualdade de tratamento existe por certo sem arrostar a isonomia nos casos em que haja no entanto justificativa para tanto (Bruscato 2011 p 29)

Este e tambern 0 entendimento exposto na Atao Direta de Inconstishytucionalidade nQ 4637 proposta pelo Partido Popular Socialista perante 0

Supremo Tribunal Federal a qual ainda se encontra pendente de julgamenshyto Na aludida ADln defende-se que condicionar a constituiltao de uma EJRElI a integralizaltao de um capital minimo sem qualquer motivo evidenshyte e relevante constituiria afronta ao princfpio da isonomia bem como ao fundamento da livre iniciativa2

expresso no art 17028 caput da CF1988 (Brasil2011)

Segundo 0 partido autor da ADln ao estabelecer um capital no valor de 100 vezes 0 salario-minimo vigente no Pais 0 legislador acabou ferindo o prindpio da igualdade Sustenta-se que para a constituiltao de uma socieshydade com socios de responsabilidade limitada como por exemplo a socieshydade limilada nao existe exigencia de capital mlnimo logol nao eposslvel faze-Io em relarao a EIRElI ja que segundo exposto naacao ambas sao pessoas jurfdicas de identica feiltao no que diz respeito a responsabilidade dos proprietarios (Brasil 2011 )

Outro argumento contrario ao capital minimo exigido para a constituishycao da EJRElI diz respeito acapacidade econamica daqueles que poderiam ser beneficiados com a criacao danolafi~ura isto e os pequenos empre~ endedores que antesdacriacaoddriYovoenteou empresariavam de forma individual sem limitacao de responsabilidade e separacao de patrimonio ou necessariamente tinham de estabelecer sociedades apenas para gozar da autonomia patrimonial e assim reduzir os riscos do empreendimento Nesse

27 A livre iniciativa segundo Pedro le~7a e um dos pilares da ordem econOmica ao lado da valoriza~ao do Irabalha humano (lenza 201 p 984) Inocsectncio Martires Coelho citando Miguel Reale explica que livre iniciativa e livre concorrencla silo conceitos complementares mas essenciamente distinlos A primeira nao 0 senaa a proje~ao da liberdade individual no plano de produ~ao citula~ao e distribuii8o das riquezas assegurando nao apenas a livre esoolha des proflssoes e das atlvidades econ8mlcas mas tambem a autonoma elei~ao dos processos ou meios julgados mais adequados aconsecu~iio des fins visados liberdade de fins ede maios informa aprincipia de livre inicleliva conlerindo-Ihe um valar primordial como results da interpreta~ao conjugada dos cftados arts 1deg e [70 (Reale apud Mendes Coelho Branco 2010 p 1409)

28 Art 170 da CF11988 A ordem econOmica fundada na valoriza~~o do trabalho humano e na livre iniciativa tern por tim assegurar a todosexist~ncia digna conforme es ditames da Justia SOCial observados as seguintesprinclpies [J (6rasll 1988 p indeterminada)

liU RDE 43 - MarmiddotAbr2015 - PARTE GEllAl- OOUfOINA

caso a sociedade era constitufda normalmente com pessoas pr6ximas mas sem nenhum interesse na atividade as quais figuravam nocQotratosocial

como titulares de percentual minima das quotas sociais constituindo as chamadas sociedades de fachada ja mencionadas29 bull

Nesse ponto pode-se dizer que apesar das crfticas disparadas ao novel instituto a EIRELI mostra-5e como instrumento eficaz para coibir a praticc comumente adotada no Brasil de conslituiyJo de sociedades em que um dos s6ci05 nao tem qualquer participa)ao na gestao do empreendishymento formada com 0 dnico objetivo de limitar a responsabilidade do emshypresario que na pratica exerce a empresa individualmente (Ramos 2012 p 40-41)

Por essa razJo e que uma vez sendo 0 objetivo da criaCJo da EIRELI estimular 0 exercicio de atividade empresaria especialmente por pequenos empreendedores 0 valor de 100 (cem) vezes 0 salario-minimo mostra-se desproporcional 1550 porque grande parte dos empreendedores que podem se enquadrar na EIRELI iniciam suas atividades com capital bastante inferior Afirma-se que 0 capital minimo estabelecido pelo legislador esta longe da realidade dos pequenos empreendedores brasiieiros e caracteriza desresshypeito ao principio da livre iniciativa Assim 0 legislador patrio nao teria la5shytreado a fixayao deste valor em estudos sobre a capacidade econ6mico-fishynanceira dos provaveis interessados nesta especie societaria (Pessoa 2011 )

Estes sao tambem os argumentos que embasam a justificativa do Proshyjeto de Lei nQ 24682011 de autoria do Deputado Carlos Bezerra Segundo o parlamentar a exigencia feita pelo legislador retira dos pequenos empreshyendedores a possibilidade de coostituiyao de lima EIRELI haja vista que 0

valor exigido na Lei 0 2 124412011 supera significativamente 0 valor geshyralmente empregado para a constitlliyao dasPeqU~PilSempresas Por essa raz~(jo aludidoprojeto tem como um (feseusigtbJetivosillterar 0 art 9~O-A do Codigo Civil para reduzir de 100 para 50 salarios-mfnimos 0 capital minima exigido para a constitui~ao de lima EIREU (Brasil 2011)

Seguindo mesmo entendimento

29 A exist~ncia das chamadas sociedades de fachada Ii conhecida desde ha multo olio apenas pela dovtrina mas tam~m pela junsprud~ncia de nossos trlbunais 0 reconhecimento desta situa~ao se faz relevante tanto para que possa coibir tal praliea quanto para proteger a indivlduo que comprovadamente jamals exerceL qualqller poder de administra~ao sobre a sociedade da responsabllizagao pelos atos praticados indlvidualmente pelo s6cio detentor da quase totalidade das quotas sociais A tItulo de exemplo Execu~ao fiscal E aparente a socledade em que a imensa maioria das quotas pertenee a uma s6 pessoa flsiea Sltua~ao que mascara a atividade de urn comereiante em nome Individual Indelerlmento do pedido de penhora sobre bens do s60lo de fachada Decisao acertada potque de acordo com a realldade fatlca Agravo improvldo (TJRS AI 591020177 1 ccrv Rei Jose Velllnha de Lacenla J 21051991)

30

ROE N 43 - MarmiddotAlIr2n15 - PAUn GfRAl- OUUmINL

Deveria ser desnecessario diz~-Io mas tal materia nao poderia jamais ser objeto de decisao arbitraria sob pena de frustraiOobjetivo mesmo da norshyma e ll1alferir a Constituirao 0 numero 100 ninguem negara soa bem aos ouvidos mas isso nao deveria bastar para inseri-Io em texto legal Se de fato sua eleirao foi desacompanhada de qualquer embasamento tecnico e passrvel demonstrar-se inclusive mediante a colheita de dados estatisticos e indicacoes de direito comparado a inconstitucionalidade decorrente da violaSao aos princfpios da isonomia e da razoabllidade Por que se negar ao cidadao que dispanha de 50 salarios-minimos 0 direito de constituir uma EIREU quando em Portugal eassaz inferior 0 montante necessario para faz~shy-10 e no Chile sequer existe exigencia dessa especie (como alias previa 0

texto primitivo do PU e questao cuja resposta se desprovida de fundamenshytos s6lidos atesta a contrariedade aos supracitados principios (Nadu sd p indeterminada)

A exclusao de grande parte dos empreendedores do pafs com a exishygeurogtncia de capital mlnimo alto e tambem argumento da ADln 4637 ja que o objetivo primordial da norma recem-criada e fomentar 0 desenvolvimento ecoo6mico e social do pais Sustenta-se que tal objetivo esta sendo prejudishycado oa medida em que a legislacao retira de pequenos empreendedores a possibilidade de lanyarem-se no mercado economico de forma regular saindo portanto da informalidade (Brasil 2011 p indeterminadal

Corroborando 0 entendimento aeima Haroldo Malheiros Duclerc Vercosa (2011 p indeterminada) afirma que

rJa crftJca que se faz eque 0 capital mlnimo exigido de tal sociedade deixa a margem urna parcela substancial dos microempresarios patrios os quais continuarao dentro do regime geraf de respollsabilidade patrimonial pessoal (e do risco correspondente) sem acesso ao patrimonio ~eparadoqlleeiQ ltI

serqiad9para q EIRElI a naoser par alguma fugapararrlecanisfnocorno deg dlc6nstitui~ao de uma sociedade limitada com outro socio este detentor de

minima expressao do capital social Mas tal recurso muito utilizado apreshysenta custos que 0 microempresario dificilll1ente poderii suportar

Ainda deve-se considerar que a vinculacao do salario-mfnimo para qualquer fim e expressameote vedada pel a Constituicao Federal de 1988 em seu art 72

IV30 Nesse passo ainda que se considere posslvel Oll ate mesmo necessaria a exigencia de lim capital minimo para a constituicao de

Art lO da Cf1988 Sao direlos dos tlllbalhadores urbanos e rurais aiem de outros que visem il melhoria de sua condl~ilo social L1IV - saIMiomiddotInnlmo lixado em lei naeionalmente uniftcado capaz de arender a suas neeessidades vitais Mslcas e ~s de sua famflia com moradla alilnenta~iio eduoaao saude lazer vestuario higiene transporte e prevldencla social com reaJustes perlMieas que lhe preservem degpoder aquisitivo sendo vedada sua vineula~ilo rara qualqver 11m l (Brasil 1988 p indeterminada)

N N bullbullbullbullbullbull HOE N 43 - MarmiddotAbr2015 -AlIT GERAl- DOUTRIIfA

uma EIRELI este capital em regra nao poderia ser calculado com base no salario-minimo

5eguindo tal raciodnio e por entender que a parte final do art 980shyA do Codigo Civil de 200212 fere 0 disposto no art IV da Constituishylt030 Federal entre os argumentos utilizados na ADIn 4637 esta 0 fato de que 0 eonstituinte com 0 objetivo de evitar que os reajustes peri6dicos do salario-minimo que visam a preserva-ao de seu poder aquisitivD sofram influencias de interesses diversos daqueles previstos na Constitui-ao vedou expressamente a villculacao do salario-minimo para qualquer finalidade (Brasil 2011 p indeterminada)

Ainda eonsiderando a oscilacao que 0 reajuste do salado pode imshypliear a I Jornada de Direito Comercial do Conselho da Justi-a Federal ocorrida em outubro de 2012 no 5TJ definiu por meio do Enunciado nQ 4 que llma vez subscrito e efetivamente integralizado 0 capital da empresa individual de responsabilidade limitada nao sofrera nenhuma influencia deshycorrente de ulteriores alteracoes no salario minimo

Nao obstante os argumentos contrarios e a ADln pendente de julshygamento vige hoje a exigencia de capital minimo para a eonstituirao da EIRELI fixada com base no salario-minimo nacional vigente na epoca da constitu icao

23 EIRElI EMPRESARlO InDIVIDUAL SOCIEDADE EMPRESARIA UlflPESSOAL OU UM TlPO SUI GEMERIS

DE EMPRESARIO

o legislador batizou 0 novo instituto de Empresa Individual de Resshyponsabilidade limitada Em primeiro lugar ha que se considerar que resta eonsagrado na legisla-ao na doutrina e najurisprudencia que empresae uma atividade exerddapelo empresarilte nao uma pessoa urn sujeito de direitos (Moraes 201 0 p 40 Diante disso a primeira crltica feita ao legisshy

31 0 STF ja firmoL entendimento em divesos julgadas no sentido de que e proibida a vinculaao do sailtirio minima para qualquer finalidade Dana moral FiKa~ilo de indenizaltao com vinculaao a salario-minimo Vedaao constitucional Art 7deg IV da Carta Magna 0 Plenario desta Corte ao julgar em 01101997 a ADln 1425 firmou a entendimenro de qle ao estabelecer 0 art 7deg IV da Constitui~iio que e vedada a vincula~o ao salaria-mlnima para quaiquer fim quis evitar que interesses estranhos aos versados na norma constitucional venham a tel influencia na filCll~o do valor minima a ser observado No caso a indenizaltiio par dana moral fo fixada em 500 salarios-minimos para que inequivacamente 0 valor do salilria-mlnlmo a que essa indenizaao esta vinculado atue como fator de atualizaao desta a que IS vedada pela citarlD dispositivo canstitucional Outros precedentes desta Corte quanta 11 vedaao da vinculagao em causa ReculSo extraordinario conhecido e provida

32 Art 98QA do CCB A empresa individual de responsabilidade limitada sera constituida por uma dnica pessoa titular da totalidade do capital social devidamente integralizado que nao sera inferior a 100 (cern) vezes 0

malar salMo-mfnimo vigenre no Pars (Brasil 2002 paginaltaa indeterminada)

33

ROE N 43 - MarmiddotAbr2015 - PARlE GERAl- DOUmIIlL 1

lador infraconstitucional acerca da natureza juridica da EIRELI diz respeito asuafaLta detecnica para dar nome ao institutomiddot recem~criado chamando de empresa uma especie de empresario (Ramos 2012)

Ora se empresa e uma atividade e nao um sujeito de direitos a falha tecnica legislativa contribtli para a compreensao inadequada que cornushymente se faz da empresa ou seja confundindo-a com a propria pessoa dica ou ainda com 0 estabelecimento empresarial Por essa razao a crftica vem no sentido de que a terminologia mais adequada seria empresario e nao empresa

Nominada de forma equivocada ou nao uma figura juridica capaz de conferir a possibilidade de exercfcio da empresa por uma s6 pessoa ffsiea com separa-ao de patrimonio e limita-ao de responsabilidade e como ja dito desejo antigo da dOlltrina brasileira Como exemplo epossivel citar 0

projeto de Lei nil 201 de 194733 apresentado pelo entao Deputado Fausto

de Freitas e Castro 0 qual dispunha em seu art 12 que qualquer pessoa capaz de exereer 0 eomercio podera constituir empresa em nome individual limitando a sua responsab[lidade pelos neg6cios da mesma ao valor do capital declarado (Martins Filho 1950 p 64-66)

Antonio Martins Filho em cuja obra Umitatiio da responsabilidade do comerciante individual analisa 0 aludido projeto de lei afirmava

A empresa individual de responsabilidade limitada constituindo a ultima fase do processo evolutivo da limitaltao dos riscos e insistentemente redashymada pelos agentes da atividade econ6mica dos novos tempos Recusando-a de direito nao evitara 0 legislador a existencia de fato desse tipo de empresa que passa a funcionar sob forma de sociedade fictfcia ou unipessoal (Martins Filho 1950 p 9)

ja naquela epoca ainda sob a vigencia do Codigo Comercial de 1850 e do C6digo Civil de 1916 0 autor ressaltava a importancia da limita~ao de responsabilidade daquele que era conhecido como comerciante individual (hoje empresario individual) bem como reconhecia a existencia de socieshydades constitufdas apenas formalmente para 0 fim de aquisi=ao de personashylidade jurfdica pr6pria e separa-ao de patrimonio a partir do que concluia que apenas a cria-ao da empresa individual de responsabilidade limitada

Projeto de Lei nO 201 de 1947 anexo abra Limitarl0 de resJOflsabilidade do comerciante individual MARTINS FILHO AntOnio Anais do Congresso Jurfdico Nacional Comemorativo do Cinquenlenario da Faculdade de Direito de Porto Alegre Revisa de Fecudade de Direito de Porto Alegre Porto Alegre URGS maio 1950

middot RDE II U - MarmiddotAer201S - PARrE GER~L - DoumlNA

serla capaz de acabar com tal pratica tao comum no Brasil (Martins Filho

1950)

Em 2005 Wilges Ariana Bruscato tambem assinalava a importanshycia do exercicio individual da empresa com limita=ao de responsabilidade como forma eficaz de fomento da economia

jft que 0 modus vivendi de nossa sociedade atual baseia-se em resultados economicos e relevante acenar com contribuilt6es para 0 desenvolvimento da atividade empresarial feita de maneira singular como forma de incentivar as pequenas iniciativas que num 6istema de colmeia representam a agreshyga~ao de vaores sociais importantes como 0 emprego 0 recolhimento de tributo a disseminaltao tecnologica entre outros ou seja 0 favorecimento de pequenas iniciativas que aquecem a economia (Bruscato 2005 p 75)

No mesmo sentido Felipe Ferreira Machado Moraes (2010 p 37-38) sustenta a necessidade de limita=ao da responsabilidade do empresario inshydividual como forma de cumprir os objetivos do Estado Democratico de Direlto tais como expressos na pr6pria Constitui=ao Federal de 1988

Em um Eslado Democratico de Direilo em que a propria Constituiltao da Republica contempla dispositivos que pregam 0 desenvolvimento nacional a livre iniciativa e inclusive 0 tratamento favorecido as empresas de pequeno porte nao parece prosperar 0 entendimento de que 0 empresario individual deve ter sua responsabilidade ilimitada respondendo com a totalidade de seu patrimonio particular (civil) por eventuais insucessos de seu empreendishy

mento

o anseio pela limitarao da responsabilidade no exerdcio individual da ernpreSq~Iil~re ()s~doutrinadores patrios baseava-se frequenteniente experiencia de outros paises que regulamentaram em sua ordem interna diversas formas de possibilitar a limitarao de responsabilidade daquele que

deseja empresariar individualmente

Na Alemanha como visto surgiu 0 primeiro modelo de sociedade por quotas de responsabilidade limitada em 1892 Em 1981 quase um 56shyculo depois entra em vigor a lei que alterou a legislarao das Sociedades por Quotas de Responsabilidade limitada para introduzir no ordenamenshyto juridico alemao a Sociedade por Quotas de Responsabilidade Limitada Unipessoal Passou-se enUlo a permitir a constituirao de Sociedades por Quotas de Responsabilidade Limitada por apenas uma pessoa (ffsica ou jushy

ridica) (Abrao 2000 p 6)

ROE N 43 - M8rmiddotAb~2015 - PARr CEIlAL - DOUTRlIIAmiddotmiddotmiddotmiddot

Tambem na Fran=a ap6s a regulamenta=ao clas sociedades por quoshytas de fesponsabiJidade Itmitadaiolintroduzida a limitada unipessoal em 1985 permitindo iguafmente a constituirao de sociedades unipessoais (Abrao 2000 p 12)

Ja em Portugal existem duas possibilidades para 0 exercfcio indivishydual da empresa Em 1986 0 Decreto-Lei nQ 2481986 criou a figura do Esshytabelecimento Individual de Responsabilidade limitada EtRL Trata-se de figura na~ dotada de personalidade juridica constilufda atraves de um pashytrimonio de afetarao por meio do qual uma pessoa fisica explora uma ativishydade economica empresarial Para a constituirao de um EIRL e necessario o investimento minima de euro 5000 (cinco mil euros) Ja a segunda forma de empresariar individualmente em Portugal com separarao patrimonial e limitarao de responsabilidade foi regulamentada 10 anos ap6s 0 EIRL por meio do Decreto-Lei nil 2571996 a Sociedade Unipessoal par Quotas Tal sociedade e constitufda por uma 56 pessoa (fIsica OU juridical titular de todo o capital social e cuja responsabllidade esta limitada ao capital investido sendo este livremente fixado pelo s6cio ou seja nao ha exigencia de capital mlnimo para a SUQ ao contrario do que ocorre com 0 EIR134

bull

Na experiencia brasileira entretanto ate a ediraa da Lei nQ 124412011 nao havia possibilidade de exercer uma atividade econoshymica organizada de forma individual sem 0 camprometimento da totalidade do patrimonio do empresario A sociedade unipessoal admitida em palses europeus desde meados de 1980 somente era permitida no Brasil em duas hip6teses excepcionais quais sejam a subsidiaria integral prevista na Lei das Sociedades Anonimas (Lei nQ 64041976)35 e a unipessoalidade ternshyporaria da sociedade pelo prazo de cento e oitenta dias conforme dispoe 0

art 1033 IVJ6 do C6qigoCiv

Assim no Brasil ap6s anos de discussao doutrimiria e de entendishymento quanta a necessidade de cria=ao de um instituto que viabilizasse 0

exercfcio da empresa de forma individual sem que isso acarretasse necessashyria risco ao patrimonio pessoal do empresario 0 legislador infraconstitucioshy

34 Informa~aes dlsponiveis em lthttpwwwpot1lJgalgIObalptPTlnvestirPortugaguiadoinvestldorICriareinstalar PaginaSTipos5ociedadesComerciais aspxgt

35 Art 251 da LSA A companhia pode ser constilulda mediante escrilura publica tendo como unico acionisa sociedade brasileira sect 1deg A sociedade que subscrever em bans 0 capital de subsidiaria inlegral devera aprover o laudo de avaliaifio de que trata 0 art 8deg respondendo nos lermos do sect 6 do art 80 e do art 10 e seu panlgrafo Llnico sect 2deg A companhia pade ser converlda em subsidiara integral mediante aquiSitao por scciedade braslieira de lodes as sues ayoes ou nos lermos do art 252

36 Art 1033 do eC8 Dissolve-se a scciedade quando oeorrer 11 IV a falla de pluralidede de socios nila reconstltufda no prazo de cenro e oitenla dias L J

ROE Ndeg 43 - MarmiddotAbr2015 - PARTI GERAl- OUIRINA

nal consagrou a flgura da Empresa Individual de Responsabilidade Limitada a EIRELI

Quando inserida no ordenamento juridico a EIRElI gerou controvershysias acerca da sua natureza juridica Ha que diga tratar-se de empresario inshydividual por outro lado ha que afirme tratar-se de uma sociedade limitada unipessoal No entanto hii tambem uma terceira corrente que afirma ser a EIRELI uma nova especie de pessoa juridical um ente distinto do empresario individual e das sociedades empresarias

A corrente menos express iva considera a EIRELI uma nova modalishydade de empresario individual ou seja um empresario individual de resshyponsabilidade limitada Para tal corrente 0 empresario individual ate en tao conhecido aquele que e pessoa fisica permanece existindo passando a existir 0 empresario individual pessoa jurfdica

Nesse senti do

Apesar de ser uma pessoa jurfdica a EIRELI nao euma sociedade empresaria mas sim uma forma diferenciada de constituiyao de empresario individual (que ao contrltirio daquela e pessoa natural) (Cardoso 2012 p indetermishynada)

Outra corrente mais expressiva e a capitaneada par Fabio Ulhoa Coelho (2012 p 409) para quem a EIRELI e uma sociedade empresaria definindo-a como uma sociedade limitada unipessoal na qual apenas uma pessoa (rfsica ou jurfdica no entender do autor) sera titular da totalidade das quotas socials 0 autor salienta que 0 sect 6Q do art 980middotA do C6digo Civil pershymite concluir que a EIRELI eespecie de sociedade limitada pois se submete as regras deste tipo societario

Da mesma forma Gustavo de Alvarenga Batista (2012) defi ne Em terrnosmiddotpraticos aEIRELI possibilitaqueiumemprksaflopessoa constitua uma sociedade unipessoal na qual fica sua responsabilidade atreshylada ao valor do capital por ele integralizado

Ja Andre Luiz Santa Cruz Ramos (2012) entende que 0 legislador criou uma nova figura juridica distinta da sociedade eillpresaria e do empresario individual mas com caracteristicas semelhantes a ambos No entanto 0 aushytor entende que foi um equivoco a cria~ao de um novo tipo de pessoa jurfshydica Sustenta que 0 legislador poderia tao somente ter consagrado 0 empreshysario individual de responsabilidade limitada que continuaria sendo uma pessoa fisica mas gozando da separa~ao entre 0 seu patrimonio pessoal e aquele afetado ao exercfcio da atividade economica ou ainda consagrado

ROE N 43 - MarmiddotAbrI21115- PARrE GERAl- OUTRINL

efetivamente a sociedade empresaria unipessoal bastando para tanto inshycluirentreasEseecies de sociedades ja existentes a sociedade constitulda par um 6nico s6cio titular de todas as quotas Em qualquer dos casos a insenao feita no art 44 do C6digo Civil seria desnecessaria

Do mesmo entendimento compartilha Wilges Ariana Bruscato (2011 p 10) que afirma que acaso a EIREU fosse uma sociedade unipessoal nao haveria necessidade de inclusao do instituto no inciso VI do art 44 do C6shydigo Civil ja que as sociedades ja estao previstas no inciso II do mesmo dispositivo Da forma como posta nao existe sociedade e silll um tipo sui generis no direito patrio Ainda afirma-se que

a EIREI nao tem natureza juridica de sociedade empresaria ao contrario do que muitos ainda defendem mas trata-se de uma nova categoria de pessoa jurfdica de direito privado que tambem se destina ao exercfcio da empresa Tanto que a Lei nQ 124412011 incluiu as empresas individuais de responsashybilidade limitada no rol de pessoas jurfdicas de direito privado do art 44 do C6digo Civil (inciso Vi) Ademais a lei nQ 124412011 ao inserir no C6dishygo Civil 0 art 980-A teve 0 cuidado de topograficamente tambemcriar um novo titulo (mulo I-A Da Empresa Individual de Responsabiidade Umitashyda) situado entre os Titulos I e II que tratam respedivamente do empresario individual e das sociedades empresarias (Pinheiro 2011 p indeterminadal

Nao obstante os variados entendimentos ha Uma tendencia de que a EIRELI seja efetivaillente compreendida como uma nova especie de pessoa juridica nao se tratando de empresario indiVidual tampouco de sOliedade empresaria ainda que unipessoal Tanto e assim que na ja mencionada I Jarnada de Direito Comercial do Conselho da Justi~a Federal foi aprovado o Enunciado nil 3 com a seguinte redacao A Empresa Individual de Resshyponsabilidade Limitada - ElRELI nao e sociedade unipessoa mas um novo ente~j_stjn~q da pessoa doempresarioe da sociedade eiTlpresfiriao qual seguia ciresmmiddota Iinha do Enunciado nil 46937 da V Jornada de Direito Civil que afirma que a empresa individual de responsabilidade limitada (EIRELI) nao e sociedade mas nova ente jurfdica personificado

24 AEIRELI EO PRomo DE NOVO CUOIGO COMERCIAl EXTINCAO DO INSTITUTO [ CRI~O DE f40VAS FIGURAS1

Tramita no Congresso Nacional 0 Projeta de Lei nil 15722011 que visa a instjtui~ao de um novo C6digo Comercial com a consequente revoshy

~__~~M~~~~ __ __ ___~_____ _~

37 Enunciado n 469 do elF Arts 44 e 980middotA A empresa individual de responsabilidade Iimltada (poundIRELI) olio Ii sociedade mas novo ente jurrdico personificado

Ii r~ RDE Nmiddot 43 - MarmiddotAbrf2615 - PARTE GERAl- OnUIRIUA

gasao de diversos dispositivos do atual C6digo Civil bem como de legislashysoes esparsas

o projeto apresentado pelo Deputado Vicente Candido baseado em minuta elaborada por Fabio Ulhoa Coelho na obra 0 futuro do direito coshymercia tem como uma de suas justificativas a sistematizasao revisao aperfeiltoamento e modernizasao da disciplina jurldica do estabeledmento empresarial do comercio eletronico da concorrencia desleal das condutas parasitarias da escrituratao mercantit do exerddo individual da empresa e da sociedade unipessoal (Brasil 2011 p 118)

Dito projeto nao traz em seu texto referenda expressa ao instituto recem-criado a EIRELI No entanto consagra duas figuras que merecem especial atensao sao elas 0 empresario individual em regime fiduciario e a sociedade Iimitada unipessoajJs

o empresario individual tal como e conhecido atualmente nao deishyxa de existir na redasao do projeto de NCCom sendo disciplinado entre os arts 14 a 32 do projeto de lei No que tange as suas caracteristicas esshysenciais 0 empresario individual permanece sendo pessoa ffsica que exershyce singularmente uma empresa sem limitaltao de responsabilidade nao se submetendo ao prindpio da autonornia patrimonial

Entretanto alem do empresario individual ate 0 momenta conhecido o novo C6digo Comercial visa a instituir outras duas formas de exerdcio individual da empresa como jei dito as quais possibilitam a separaSao de patrimonio e limitaltao de responsabilidade do empreendedor 0 empresashyrio individual que exerce a empresa em regime fiduciari039 e a sociedade limitada unipessoal

Da leitura do projeto infere-se que 0 empresario individual ao reshyquerer 0 seu registro comeh~rfipfesarioquntamp ao 6rgaocompetente poderamiddot fazer uma declaratao na qual conste que 0 exercicio da empresa dar-seshy

38 Na verdadc ha que se pontuar que 0 projeto de lei esta baseado em texto do jurisla Fabio Ulhoa Coelho a entende que a EIREU euma socied8de limiteda unipessoal e n~o ume nova especie de pessoa juridica eo fato pelo qual nao esta ela prevista nesse lormato no relerido projeto

39 A fiducia tem origem no direito romano ral institwlo caraclerlzamiddotse pela contiana e boa-lEi existentes entre fidLicianle e fiduciario A propriedade fiduciira por sua vez caracteriza-se quando determinado bern ou conjento de bens e destinado II gamntia de certo(s) credor(es) ou scja os bens constltuldos como propriedade fiduciaria de destlnam a garantia do cumprimento de determlnadas obrlgaltOes do liduciaro perante 0 fiduciante nao podendo ser objeto de expropriaao Pilra a adlmplemenlo das obriga6es pessoafs do fiduciiirio (Restlffe Neto Rest1ffe 20001 Segundo a C6digo Civil de 2002 em seu art L35 considerashysa propriedade fiducjaria a proprfedade resoliNel de caisa m6vel imungfvel Que 0 devedor com escopo de garanta translere ao credor Para maior aprofundamento acarce do tema vide SILVA ltJiz Augusto Beck da Alienaliio fiducitlfia ampm garantia 4 ed RIO de Janeiro forense 1998

RDE N 43 - Mar-AbtfZ015 - PARrE GERAl- DOUTRINL

-a em regime fiduciario Com a referida dedaraltao 0 empresario devera constitJir 1m patrimbnio relaeuroionado aattvrdade empresarial que pretende exercer absolutamente separado de seu patrimonio pessoaL

Assim uma vez cumpridos os requisitos 0 empresario individual desshysa modalidade (que continuaria sendo pessoa fisica) nao poderia ter seu patrimonio pessoal expropriado para 0 cumprimento das obrigalt6es assushymidas no exercicio da atividade salvo se conforme disp6e 0 sect 29 do art 32 do NCCom se tratarem de obrigaltoes de natureza trabalhista e triblltaria relacionadas ou nao com a empresa Trata-se pois do estabelecimento de um patrimonio de afetaltao que serviria de garantia aos credares do em preshysarlo individual em vez de totalidade do seu patrimonio

A outra forma de exercfcio singular da empresa proposto pelo projeto em comento e a constituiltao de uma sociedade limitada unipessoal Ao tratar das sociedades em especie 0 projeto preve a existencia de cinco tipos societarios (sociedade anonima sociedade limitada sociedade em nome coletivo sociedade em comandita simples e sociedade em comandita par alt6est todos os tipos ja cOllhecidos e previstos no atllal C6digo Civil

A novidade e uma pequena alteraltao feita no ambito das sociedades limitadas para no art 192 dispor que a sociedade limitada sera constishytufda por um ou mais s6cios ou seja retira da definiltao de sociedade a pluralidade dos s6cios

Todavia algumas consideralt6es devem ser feitas acerca do projeto em questao no que tange a sua relaltao com 0 instituto ora estudado

Conforme ja referido a limita~ao de responsabilidade do empresario individual era esperada pela doutrina patria ha muito tempo e a EIRELI foi a

l~gislativaelJcontrada para dar res posta aosansetoSexistentes

Com crfticas ou nao fato e que a EIRELI hoje majoritariamente conshysiderada como uma nova especie de pessoa juridica concebe a limitaltao de responsabilidade no exercfcio individual da empresa e desde 0 infcio de sua vigencia as estatisticas mostram que esta nova forma de exercer a empresa vem crescendo em todo 0 Pafs S6 em Sao Paulo nos primeiros tres meses de sua existencia a EIRELI jii representava mais de 4 do total de registros realizados conforme informaltao publicada pela Junta Comercial do daquele Estad040bull

40 Para majores Inlormacentes e dados estatistlcos vide htlpwwwjucespJazendaspgovbr

RUE III 43 - MOImiddotAbr2U15 - PARTE GERAl- nOUTHINA

Nesse passo cumpre questionar qual sera 0 futuro da EIRELI se 0 Proshyjeto de Lei nQ 15722011 vier a ser aprovado 0 que fazer com as EIRELIs ja existentes ao tempCl da publicacao do novo C6digo Comerdal Sera necesshysaria a criacao de regras de transicao ou os titulares de EIRELI simplesmente serao obrigados a requerer sua transformacao perante as Juntas Comercias para uma das duas modalidades criadas pelo novo C6digo

Certo e que 0 projeto de Novo C6digo Comercial contempla de certa forma a EIRELI mas colocando-a definitivamente como uma especie de sociedade limitada a sociedade limitada unipessoal No entanto ao propor llm projeto e necessario fazer uma analise do impacto que as alteraC6es provocarao sob pena de a nova lei em vez de pacificar entendimentos e llnificar tratamento acabar acarretando um caos inicial comprometendo sua pr6pria legitimidade

CONSIDERA~OES FINAlS

A limitacao de responsabilidade no exerdcio individual da emprcsa e tema recorrente na doutrina brasileira e desejo antigo dos empreendedores Ate a consagrarao da EIRELI par meio da Lei nQ 124412011 tal limitarao nao era posslvel no exercfcio individual da empresa como ja amplamenshyte debatido e demonstrado Com a criacao da EIRELI 0 legislador patrio apresenta aos empreendedores brasileiros uma nova possibilidade para empresariar sem a necessidade de constituirao de sociedades de fachada ou eventual comprometimento da totalidade do patrimonio pessoal do emshypreendedor

Percebe-se contudo que as controversias existentes ern torno da EIRELI ainda sao muitas Mas algumas coisas podem-se dizer certas Prishym~irQjslli1fiIR~khv~i~efetivamentepara privilegiar os pequenosemiddottledioS0i(i empreendedores nao se ve razao plausivel para que ela seja constituida por titular pessoa juridica Beneficiar sociedades estrangeiras e um argumento fraco para fazer esta defesa

Segundo do ponto de vista da garantia dos credores a exigencia de um capital mfnimo tern razao de ser principalmente levando ern conta que ate entao os empresarios individuais respondiam com a totalidade do seu patrimonio Todavia considerando que nao ha exigencia nesse sentido para as demais especies de empresarios de fato fere-se 0 principio da igualdade de tratamento Ainda em rela-ao ao capital minimo se 0 objetivo do legisshylador era beneficiar pequenos e medios empreendedores 0 minima estabeshylecido em 100 vezes 0 salario-mfnimo nacional e bastante alto Talvez uma

nOf Ndeg 43 - MalmiddotAbrl2015 -PARTE GERAl- DOUTRJNL bullbull bullbullbull

adequacao do montante fosse interessante para 0 atingimento dos objetivos do novel instituto

Em relacao a natureza juridica compreender a EIRElI como uma nova especie de pessoa jurfdica e certamente 0 melhor caminho ainda que isso possa parecer estranho ja que se esta diante de uma pessoa jurfdica constituida de uma dnica pessoa Afinal partindo dessa premissa nao seria necessario relativizar 0 conceito de sociedade que exige pluralidade de s6dos tampouco seria necessario pensar um empresario individual pessoa frsica que pudesse ser titular de dois patrimonios autonomos 0 pessoal eo de afetacao

Em derradeira analise no que diz respeito ao Projeto de novo C6digo Comercial cabe apenas ressaltar que eventual aprovacao devera levar em considerarao 0 fato de que como visto desde a entrada ern vigor da Lei nQ 124412011 a procura dos empreendedores por esta modalidade de exercfcio da empresa tern sido grande Contudo 0 projeto de lei nao traz qualquer mencao ao instituto Assim dever-se-a ter uma preocupacao com a transi-ao nao se podendo ignorar a existencia destes slljeitos de direito sem estabelecer qual sera oseu destino Mal se consagram institutos no Brashysil e novamente se pretendem altera~oes legislativas Assim nao se chega a maturidade

Por hora ainda que com quest6es controvertidas ha uma unanimidashyde doutrinaria de que a EIRELI e bem-vinda nao apenas porque oriunda de pleitos antigos mas tambem porque apresenta uma nova possibilidade para quem pretende empresariar no Brasil de modo que ha grande expectativa no sentido de que 0 Poder Judiciario seja capaz de dirimir as controversias existentes causadas basicamente por falhas do legislador permitindo uma amPla utilizacao dQoolRjn~titu~9~gW~Cialmente poraqueles que aoque parece se tentou benefidar 05 pequenos e medios empreendedores brasishyleiros

Page 8: SINTESE - cortemello.com.br · RESUMO A EIRELI - Empresa Individual de Aesponsabilidade Limitada foi introduzida no ordena ... a partir da doutrina de Alberto Asquini, que entende

JUilJ fiDE It 43 -i4armiddotAIJr2Ul ~ - PARU GEllAl- OOHmlNA

o sujeito de direito que pratica os atos necessarios a realizarao da atividade economica nao se confundindo com seus sodos (Coelho 2012 p 23 e 27)

De todo 0 exposto conclui-se que para 0 direito empresarial desde suas primeiras manifestaroes ainda na Idade Media a personalidade jurishydica propria que era atributo exclusivo das pessoas fisicas foi estendida as pessoas juridicas que sao formadas pela uniao de no minimo duas pessoas em sociedade As empresas pod em ser exercidas po is tanto por pessoas fIshysicas quanta por pessoas juridicas Neste ultimo caso a pessoa jurfdica tem autonomia patrimonial em rela~ao ao patrimonio pessoal de seus socios

12 As CONSEQUENCIAS DA PERSONlflCACAO E A IMPORTANCIA DO PRINCPIO DA AUTONOMIA

PATRIMONIAL

A personalidade juridica e uma inven~ao do Direito Nao existe pesshysoa jurfdica senao sob a otica do Direito que a criou com 0 objetivo de solucionar alguns problemas decorrentes das relar6es humanas autorizanshydo a priitica de atos juridicos por outros sujeitos de direito que nao apenas pessoas naturals (Coelho 2011 p 138)

A personalidade juridica das sociedades empresarias e a criarao que possibilita conferir titularidade de direitos a um ente que nasce da uniao de outros ou seja e uma ficrao que atribui personalidade a um ente formado por uma coletividade de pessoas (Fazzio JUnior 2008 p 31)

o principal objetivo da atribuicao de personalidade jurfdica as soshyciedades e permitir que estas possam praticar todos os atos juridicos necesshysarios ao desenvolvimento da atividade para a qual foram criadas por si

lu~exce projiSSiOQ~Irente uma atividade empre~ari~ ~simse~Qo0tegistfJl DaO econdi~ao para taiacteriza~ao de uma pessoa (flsica au jurldica) como efllpresilio tratando-se na verdade de mera declarruao de regularidade do exercfcio dll empresa de acordo com as normas impostas pelo ordenaP1ento juridico patrio A inexist~ncia de registro nao descaracteriza 0 sujelto como empresario mas uma vez conligurando 0 descumprimento de uma obriga~~o a ele imposta acarreta algumas restri~es No caso da sociedade empresaria irregular uma das restri6es ea impossibilidade de realizar sua inscrirao junto aD Cadaslro Naeional de Pessoas Juridlcas com a consequente sanao pelo descumprimento das obriga~6es tributarias decorrentes deste cadastra Assim a sociedade empresiiria nao deixa de ser empresaria pela lalla de reglstro l1as naD sera uma pessaa juridice Dessa Iorma sendo sociedade oespersonificada os socioS da sociedade empresria irregular nlio gozam das benesses de Ilmitarao de respansabilidade atribuida via de regra as sociedades regulares (Coeiho 2011) Quanta if desnecessidade de reglstro marcantil para caracterizaao do empresaria ji se manitestou 0 Conselho da Justita Federal na III Jornada de Direito Civil na quallcram aprovados os Enunciados nOs 198 e 199 que disp5em respectivamente Art 967 A inscri~ao do empresArio na Junta Comercial nao Ii requisito para a sua caracteriza~ao admitiodo-se a exerclcio da empresa sem lal provid~ncia 0 empresarlo irregular reune os requisitos do art 966 suieltando-se as normas do COdigo Civil e da legislaao comerdal salvo naquilo em que Iorem incompatlveis com a sua condi~ao ou diante de expressa disposiao em contrjrio e Art 967 A inscriltiio do empresario ou sociedade empresiiria erequisito delineador de sua regulalidade e nao da sua caracteriza9iio (Conselho da Iusti~a Federal 2004 p Indeterminada)

ROE N 43 - MarJlbr2015 - PARTE GEftAl- DOUTRINL

mesmas e nao em nome dos sodos Na sodedade empresaria tal objetivo mOiVa-s~ ltliJ1rja maisreJevante na medida em que a atividade exercida exishyge assuncao de riscos os quais serao assumidos pela pessoa juridica e nao pelas pessoas fisicas (Fazzio Junior 2008 p 31)

Nesse contexto a importfmcia da atribuirao de personalidade jurishydica as sociedades empresarias e evidente sendo facil concluir que para minimizar 0 risco da atividade empresarial separando 0 patrimonio pessoal dos empreendedores os indivfduos devem - ou deveriam ate pouco tempo - constituir uma sociedade formando assim uma pessoa juridica a qual goza de autonomia patrimonial

Essa ficrao resulta em uma serie de consequendas importantes para o Direito De modo geral e possivel identificar tres consequencias advindas da atribuirao de personalidade jurfdica as sociedades empresarias a titulashyridade obrigacional a titularidade processual e a responsabilidade patrimoshynial (CoelflO 2012 p 32)

A titularidade obrigacional determina que todas as obrigacoes assushymidas no ambito do exercicio da atividade empresarial 0 serao pela socieshydade e nao pelas pessoas de seus socios Assim quem figura em um dos polos da rela~ao jurfdica estabelecida com terceiros (contratos de trabalho de prestarao ou contratarao cje servicos etc) e a sociedade e nao as pesshysoas dos socios que a comp6em Ja a titularidade processual implica que apenas a sociedade seja parte legftima para demandar ou ser demandada em processos judiciais que visem a discutir obrigar6es assumidas em seu nome Por fim a responsabilidade patrimonial que determina que a pessoa jurfdica e responsavel pelas obrigacoes que ela contrair com 0 seupr6prio patrim()Oi(jQ~qllaledistinto do patrimonio pessoal de cadaunl closs6dos que a constituem ou seja 0 conjunto de bens da sociedade forma 0 patrishymonio da pessoa jurfdica e eesse patrimonio que em regra responde pelas obrigac6es assumidas pela sociedade (Coelho 2012 p 32-33L

Arnaldo Rizzardo tambem reconhece que

tanto e pr6pria e distinta a personalidade juridica que 0 sistema juridico reconhece a sua existencia distinta da de seus s6dos e assim a titularidade pr6pria de direitos (de ordem patrimonial e moral) como a sujeirao a obrigashyr6es e deveres (como sujeito passivo na demanda de creditos existentes par terceiros) Nao se confundem os direitos e deveres da pessoa jurfdica com as de seus s6cios oem os direilos e deveres destes se transferem para a pessoa jurfdica (Rizzardo 2009 p 23)

1 11 ~ bull RDE N 43 - Mar-Abd2Dl5 - PARTE GERAl- DOUTRINA

Na mesma linha Ricardo Negrao (2011 r p 203) afirma que sao efeishytos da personificarao a assunao de capaddade para direitos e obrigar6es middota separacao entre a pessoa juridica e aspessoas dos s6dos a existenda de patrimonio proprio distinto do de seus sodos e a possibilidade de a socieshydade alterar a sua estrutura interna

Ve-se portanto que nao ha grande divergencia doutrinarla quanta aos principais efeitos da personificacao No entanto entre as tres conseshyquendas destacadas e a responsabilidade patrimonial da pessoa jurfdica a que merece maior destaque

A existenda de patrimonio pro-prio das pessoas juddicas da-se por forra da incidencia do princfpio da autonomia patrimonial segundo 0 qual os bens da sociedade empresaria formam um patrimonio autonomo que responde pelas obrigar6es contrardas por esta enquanto que os bens de cada um dos socios que a compoem permanecem via de regra imunes ao cumprimento destas obrigaroes

Trata-se na verdade de algo muito antigo decorrente da maxima aplicada desde a Lex Poetelia Papiria que data de 326 antes de Cristo por melo da qual se determinou que 0 patrimonio do devedor fosse a garantia dos credores Com tal lei a obrigarao entre 0 credor e 0 devedor deixou de estar pautada em um vinculo corporal sendo substitufda pela responsabilishydade patrimonia ou seja os bens e nao mais 0 corpo do devedor passashyram a responder por suas diviaas (Alves 201 Or p 382 e 436)

Ora se a devedora e a sociedade empresaria e justo que apenas 0

seu patrimonio responda pelas obrigaroes contrafdas e nao 0 patrimonio de seus sodos sujeitos de direito distintos A autonomia patrimonial e a responsabilidade patrimonial proprias da sociedade formam uma estrutura que incentiva a aS5Un~Q dQriscodo exerdcio de uma atividade empreshysaria Principalmente quando 0 tipo de sociedade traz tambem a regra da limitarao de responsabilidade dos s6cios 0 que ocorre nas sociedades anoshynimas e limitadas

Tal e a importancia da autonomia patrimonial das pessoas jurfdicas que Fabio Ulhoa Coelho (2012 p 34) afirma que se trata do alicerce do direito sodetario

Esse e 0 principio da autonomia patrimonial alicerce do direito societario Sua importilncia para 0 desenvolvimento de atividades economicas da proshydUlao e cireula~ao de bens e servicos e fundamental na medida em que limita a possibilidade de perdas nos investimentos mais arriseados A partir da afirmacao do postulado juridieo de que 0 patrimonio dos s6cios nao res-

RDE PI ~3 -lIhrmiddotAbr1015 - PARTE GERAl- DDlITHINA ~

ponde por dividas da sociedade motivam-se investidores e empreendedores a aplicar dinheiro emathddades oconomieas-demiddotmaior envergadura e risco 5e nao existisse 0 principio da separaCao patrimonial os insueessos na exshyploracao da empresa poderiam significar a perda de todos os bens particushylares dos s6cios amealhados ao longo do trabalho de uma vida ou mesmo de geracoes e nesse quadro menos pessoas se sentiriam estimuladas a deshysenvolver novas atividades empresariais No final 0 potencial econ6mieo do Pars nao estaria eficientemente otimizado e as pessoas em geral ficariam prejudicadasr tendo menos acesso a bens e servi~os 0 principio da autoshynomia patrimonial e importantfssimo para que 0 direito discipline de forma adequada a explora(ao da atividade economica

o principia da autonomia patrimonial e sem duvida um importante mecanismo de incentivo ao exercicio da atividade empresaria na medida em que possibilita a minimizarao dos riscos assumidos pela pessoa ffsica que decide exercer uma empresa Isso parque mesmo nas especies societashyrias em que a responsabilidade dos s6das e ilimitada (sociedade em nome coletivo por exemplo) est~ sera sempre subsidiaria por forra do princlpio de mesmo nome consagrado no ordenamento jurfdico patrio pelo art 1024 do Codigo Civil de 2002 2deg

Parece evidente que 0 princlpio da autonomia patrimonial coadunashy-se nao apenas com os fundamentos da ordem economica brasileira exshypressos no caput do art 170 da Constituirao Federal quais sejam a livre iniciativa e a valorizarao do trabalho humano bem como corn seus prindshypios norteadores como a livre concorrencia e 0 livre exerckio da atividade economica alem de toda a constru~ao hist6rica de incentivo ao exercicio da empresa como forma de fomentar a economia dos Estados possibilitanshydo a gerarao e a circularao das riquezas

Todaviacomo exposto anterio~trl1ente Os beneficios desse principio nao se aplicam ao empreendedor que exerce a empresa de forma individual nao sendo outra a razao principal para a edirao da Lei nQ 124412011 que introduziu no Brasi a EIRELI

13 EIRElI AS PRINCIPAlS CARACTERisrlCAS DO NOVO EMPRESARIO

Feitos os esclarecimentos sabre as diferentes especies de empresashyrios ate entao existentes cabe 0 enfrentamento da nova especie introduzida recentemente no ordenamento juridico brasileiro a Empresa Individual de

-middot~---middot-middot-----_~___laquo~_M

20 Art 1024 do eeB Os bens particuJares dos socios nao podem set executados por dlvldas cta saciedade senao depois de executados os bens socials (BraSil 2002 p indeterminacta)

13 It ROE N 43 - MarmiddotlbI2D15 - PARTE GERAl- DOUTRINA

Responsabilidade Umitada - EIRELI Especie de empresario que conforme refere Andre Luiz Santa Cruz Ramos (2012 p 40) surge na legislacao piitria atendendoa antigos an5eiostantoda doutrina quantodo meio empresariai

Ate a entrada em vigor da legislacao que introduziu a EIRElI como ja dito existiam apenas duas formas de exercer a empresa ou como empreshysario individual (pessoa ffsica sem autonomia patrimonial e limitacao de responsabilidade) ou como sociedade empresaria (na qual os sodos podem ou nao vir a responder pelas obrigacoes contraidas no exercfcio da atividashyde mas sempre e tao somente ap6s 0 esgotamento do patrim6nio social ja que ha no mlnimo a autonomia patrimonial da pessoa juridical

A partir da EIRElI pasSOli a ser posslvel que uma s6 pessoa exerca a empresa por meio de uma pessoa juridica 0 que permite a efetiva separacao patrimonial e limitacao de responsabilidade ao capital investido como ocorshyref mais precisamente nas sociedades limitadas Esse novo ente apresenta caracterfsticas bastante pr6prias

De plano pode-se ressaltar uma caracterfstica e esta incontroversa A EIRELI eum ente dotado de pcrsonalidade juridica pr6pria ja que inserida no rei das pessoas juridicas de direito privado do art 44 do C6digo Civil Ao contrario do empresario individual que e uma pessoa flsica a EIRELI e uma pessoa juridica constituida para 0 exerdcio de uma atividade economica Ainda pela leitura do texto legal na medida em que a EIRELI esta prevista em um inciso em separado inciso VI incluido pela Lei nQ 124412011 a priori nao se poderia concluir qLle se trata de uma sociedade empresaria as quais ja vinham previstas no inciso II

Assim da simples interpretacao da alteracao ocarrida no art 44 do C6digo Civil conclui-se que a EIRELI e pessoa juridica nao se confundindo comasect~Od~adeiJilmpouco com 0 empresario individualquenem peSsoa jurfdiCa~

Outra caracterfstica importante da EIRELI e a exigencia de urn capital mfnimo nao inferior a 100 vezes 0 salilrio-minimo vigente no Pais para a sua constitLlicao conforme dispoe 0 caput do art 980-A do C6digo Civil de 2002 22 tambem inclufdo pela Lei nQ 124412011 0 empreendedor que

21 De plano cumpre esciarecer que por ludo quanto)a exposto no decorrer do presente estudo a nomenclatura utllizada pelo legislador eatecnica na mediaa em que atribuiu personalidade jur(dica a uma etividade Como visto ernpresa nao esujelto de direilos mas sim uma atividade exercida pelo empresario este sim sujeilO de direitos

22 Art 980-A do CCB A empresa individual de responsabWdade limitada sera constiturda por uma cnica pessoa titular da Malidade do capital social devidamente integralizado que nao sera imerior a 100 (cern) vezes 0

maior saario-minimo vigente no Pais (Brasil 2002 p indeterminada)

ROE II 43 - MarmiddotAbI2D15- fART GERAl- DOUTBIRA

desejar exercer a empresa como EIRELI devera no ate da constituicao inshytegralizar a totalidtdedQ valordQ capital que naQPodera ser em valores atuais inferior a R$ 7880000 (setenta e oito mil e oitocentos reais)

Ainda a integralizacao do capital podera ser eita nao apenas em dinheiro mas tambem em bens desde que suscetfveis de avaliacao em dishynheiro nao sendo exigida a apresentacao de laudo avaliativo para tanto Este capital diferente do que ocorre nas sociedades nao sera dividido em quotas ou acoes A regra e a da unicidade do capital afinal este e totalmente titularizado par uma unica pessoa

A terceira caracterfstica marcante da EIRELI diz com 0 sujeito que pode constituf-Ia ou seja 0 titular da EIRELI Segundo dispoe 0 caput do ja mencionado art 980-A do C6digo Civil a EIRELI sera constitufda por apenas uma pessoa Ocorre que 0 dispositivo legal nao deixa claro que 0

titular precisa ser uma pessoa ffsica ou se poderia tambem ser uma pessoa jurfdica Essa falta de especificacao legal gerou discussao com argumentos favoraveis e contra nas duas direltoes No entanto 0 ONRC - Departamenshyto NacionaJ do Registro doComercio pOl meio da lnstrucao Normativa n

9 1172011 definiu (item 1210) que apenas as pessoas naturais plenashy

mente capazes podem constituir EIRELI Ainda ratjficando tal disposiao 0

item 1211 preve expressamente que nao pode ser titular de EfRELI a pesshysoa juridica bem assim a pessoa natural impedida pOl norma constitucional ou por lei especial (Brasil 2011 p indeterminada)

Outra caracterfstica semelhante ao que ocorre com as sociedades limitadas e que a EIRELI pode utilizar qualquer das especies de nome emshypresarial qual seja firma ou denominacao social acrescidas da expressao EIRELI ao final

Par tim e talvezil car~ct~rf~ti~~~5Ys importante a responsabilidade limitada ao capital investido e devidamente integralizado pelo titular da EIRELI Essa regra se depreende da leitura do sect 62 do art 980-A do C6digo Civil que determina a aplicacao a EIRELI das regras previstas para as socieshydades limitadas naquilo em que com patfve I (Brasil 2011 p indeterminashyda) Essa era a mescla qlle se desejava uma modalidade de empresario que fosse constitufda por uma (mica pessoa mas com limitacao de responsabilishydade e facilidade na forma de constituicao como ocorre com as sociedades limitadas

Em sfntese sao estas as principalS caracteristicas da Empresa Indivishydual de Responsabilidade Limitada Ocorre todavia que tais caracterfsticas estabelecidas pela nova legislacao vem causando inumeras controversias

15 ROf N 43 - MarmiddotAbr2015 - PARrE GHAl- DOUfHINA

entre os operadores do Direito e os doutrinadores e estudiosos do direito empresariai Nilo obstante a cria~ao de um instituto que possibilitasse a limitacao de responsabiHdade para 0 exercicio individual da empresa e anshyseio antigo entre os doutrinadores patrios Nesse sentido ainda que objeto de divergeuromcias 0 novo ente com certeza e muito bem-vindo

2OS ASPECTOS CONTROVERTIDOS ACERCA DA EIRElI

Apresentadas as caracteristicas fundamentais da EIRElI conforme as disposicoes legais vigentes faz-se necessario apresentar as controversias que delas surgem A doutrina jurfdica diverge ja que algumas das caracteshyrfsticas da EIRELI supostamente vao de encontro a conceitos estabelecidos e institutos consolidados ao lange de seculos

Os principais aspectos controvertidos acerca da EIRELI dizem respeito as exigencias feitas pelo legislador para sua constituicao especialmente no que tange ao capital mlnimo a ser investido quem pode ser seu titu lar equal a sua natureza jurfdica

21 QUEM PODE SER TITULAR DE UMA EIRElI

Uma das questOes mais problematicas acerca do novo instituto diz respeito aqueles que podem ser titulares de uma EIRELI

Como visto 0 art 980-A do C6digo Civil disp6e em seu caput que a EIREU sera constitufda por uma Cinica pessoa titular de todo 0 capital social o DNRC por seu turno emitiu instru~ao normativa aprovando 0 Manual de Atos de Registro de Empresa Individual de Responsabilidade limitada23

a ser adotado pelas Juntas Comercias de todos os Estados 0 qual preve expressamente que apenas as pessoas fisicas maiores capazes e livres de

q1iili~querimpedimentos legais podemsertittJlar~sde jma BREtt

Ejustamente na redacao da lei e da instrucao normativa do DNRC que reside grande parte da controversia

Hi quem defenda a possibilidade de constituicao da EIRELI por pesshysoas juridicas sob 0 argumento de que se 0 texto legal nao taz qualquer proibicao de forma expressa referindo-se apenas a pessoa ff

nao poderiam os operadores interpretar a norma de forma a excluir algum sujeito de direishyto quando a propria norma nao 0 faz

------~~ -~--~----~----bull---shyda Instru~ao Normativa n 1172011 do Departamento Nacional de Registro do Comercio

em ltllttpwwwdnrcgovbrILegislacaQIIN20117202011pdfgt

RUE N 43 - MarmiddotAbdZ015 - PAHTf GERAl- DOUrnIlIA_

Nesse sentido

C6mefeitO(Jcaput do art 980-A do C6digo Civil expressamente prescreve que a EIREU sera constitllfda par uma unica pessoa sem excluir as pessoas jurrdicas nem restringir essa passibilidade exclusivamente as pessoas ffsicas Ora pessaa jurfdica tambem e pessaa (Mela 2011 p indeterminada)

Da mesma forma defende-se a ideia de que adotar uma interpretacao que restrinja 0 direito de uma pessoa juridica constituir uma EIREU seria afrontar a princfpio constitucional da legalidade uma vez que se a proibishycao nao esta expressa a pennissao estaria subentendida

[ J naa ha impedimenta legal para que uma pes sea juridica titularize 0 cashypital social de uma EIRELI e sob 0 primado de uma ordem jurfdica liberal afirma-se que 0 que nao esta proibido ou ordenade e permitido Esta leitura decorre diretamente do principia da legalidade consagrado na art 5Q

II da Constitui~ao Federal que estabelece que ninguem sera abrigado a fazer Oll

deixar de fazer aigllma coisa senao em virtude de lei (Lupi Schlosser 2012 p indeterminadal

Fabio Ulhoa Coelho (2012 p 409) tambem entende que a EIRELI para ele uma sociedade limitada unipessoal 24

pode ser constitufda tanto por s6cio Cinico pessoa fisica como juridica

No mesmo sentido sustenta-se que a intencao do legislador com a publicacao da lei nQ 124412011 teria sido justamente permitir a constituishycao de EIRElI por pessoa juridica ja que suprimiu da redacao original dos Projetos de lei nQs 46052009 e 49532009 a restritao que era expressa (Melo 2012 p indeterminada)

QO Projeton 46052009 de autoria do Deputado Marcos MonteSi

tinhapbr objetivoaindusao noC6digo Civil de 2002 do art 98S-A 0

qual teria a seguinte redacao A empresa individual de responsabilidade limitada sera constituida por um Cinico s6cio pessoa natural que e 0 titular da totalidade do capital social e que somente podera figurar numa unica empresa dessa modalidade (Brasil 2009 p indeterminada)

Ja 0 Projeto nQ 49532009 de autoria do Deputado Eduardo Sciarra intencionava a incillsao do art 980-A no C6digo Civil de 2002 com a seshyguinte redacao Qualquer pessoa ffsica que atenda ao disposto no art 972

-----~---------=~-~--~~--~---

24 Para Fabio Ulhoa Coelho (2012 p 409) a EIRELI deve ser considerada como urna sociedade limitada umpessoa Sustenta que a interpretaao sistematica do direito positivo conduz conciusao de que nao se trata de nova esp~cie de pessoa jurldica mas do nomen juris dado ~ sociedade limitada unipessoal Tratarshy-se-a melhor cia natureza jurldica da EIRELI no item 33 deste artigo

lU ROE Ndeg 43 - MarmiddotAbifZ015 - PARTE GEML - DOUIRIVA

que exena ou deseje exercer profissionalmente a atividade de empresario podera constituir Empreendimento Individual de Responsabilidade limitashyda (Brasil 2009 p indeterminada)

Assim ja que suprimidos os termos natural e ffsica que acompashynhavam a pessoa na redacao original dos projetos de lei a intencao do legislador so poderia ser permitir que a EIRELI fosse constituida tambem por pessoas juridicas (Rivas 2012 p indeterminada)

Outro argumento apresentado por aqueles que defendem a possibishylidade de a pessoa juridica ser titular de EIRELI ea fadlitacao da instalacao e do funcionamento de sociedades ernpresarias estrangeiras no Pais como forma de aquecer a economia nacional

Fundamental mencionar que a possibilidade de constituiltao de EIRELI par pessoas jurfdicas val facilitar de sobremaneira a instalaltao de sociedades estrangeiras no Brasil Estas ao consultarem advogados brasileiros sobre os procedimentos necessarios ao infcio do desenvolvimento de suas atlvidades no pais invariavelmente surpreendem-se com a quanti dade e complexidade dos procedimentos sendo que dentre eles urn que normal mente cria bastanshyte dificuldade e justamente a necessidade de indicaltao de uma pluralidade de s6cios na sociedade brasileira 0 que muitas vezes as obriga a indicaltao de pessoa ffsica com participaltao apenas simb6lica simplesmente para atenshyder ao formalismo exigi do (Martins Fllho sd p indeterminada)

Contra tal argumento Wilges Ariana Bruscato (2012) sustenta que embora investimentos estrangeiros sejam importantes para 0 desenvolvishymento economico do PaIS a EIRELI nao pode servir como uma forma de burlar a egisla~ao vigente que regulamenta a instalacao e 0 iuncionamento de socitgtdades estrangeiras no Brasil Para a autora trata-se de materia de ordem publica antesdesermateria de~ireito empresqrill e por esla nao pode ser superadclcOni atrid~5oili EIRELI

Tambem com base nos textos dos projetos que deram origem a lei em comento a autora conclui que a omissao dos termos natural ou flshysica para definir qual 0 tipo de pessoa poderia constituir EIRELI teria sido acidentai haja vista que nao houve qualquer justificativa para a supressao da restricao que era expressa nos textos dos projetos ou seja em momenta algum durante 0 tramite do processo legislativo justificou-se tal supressao no interesse de estender as pessoas juridjcas apossibilidade de constituicao de EIRELI (Bruscato 2012)

No mesmo sentido e 0 entendimento de Jacques Maika y Negri (2012 p indeterminada)

RUE N 43 - MarJIbrl2015 - PARTE GERAl- DOUTAINL

Analisado 0 processo legislativo fica claro que houve lapso por parte do reatqrct9Jrojeto substituto DeputadoMamelo Itagiba e nao supressao deshyliberada da expressao natural caso em que 0 parlamentarteria justificado a alteraltao e a sua intenltao

Esta foj tambem a conclusao aqual chegaram os jurislas integrantes do Conselho da Justica Federal que em sua V Jornada de Direito Civil ocorshyrida em novembro de 2011 emitiram 0 Enunciado nQ 4682~ segundo 0 qual apenas as pessoas ffsicas podem constituir EIRELI

Parece evidente que antes de consolidar-se entendimento acerca da possibilidade ou nao de pessoas juridicas virem a constitu ir empresas indivishyduais de responsabilidade limitada sera no Judiciario que esta problematica sera discutida em maior escala

Recentemente 0 Jufzo da 9il Vara da Fazenda Publica do Rio de janeiroRj proferiu decisao na qual deferiu em mandado de scguranca (Proshycesso nQ 0054566-7120128190001) impetrado em face da Junta Comershycial daquele estado medida liminar para que uma pessoa jurfdica levasse a diante 0 processo de transformalt50 de sociedade empresaria em EIRELI Trata-se de sociedade limitada composta por um socio pessoa juridica e um socio pessoa ffsica e este ultimo retirou-se da sociedade A pretensao posta em juizo era de que a sociedade limitada pudesse ser transformada em EIRELI como resultado daiconcentraltao das quotas sociais em um dos s6cios no caso 0 s6cio pessoa juridica 0 pedido foi negado pela Junta Coshymercial do Estado do Rio de Janeiro sob a alegaltao de que a transformacao de uma sociedade empresaria em EIRELI no caso de inexistencia superveshyniente de pluralidade de socios e possivel desde que 0 socio sobre quem se concentre a totalidade das quotas sociais sejaumapessoa f[sica e nao illrfdGa 0 pedido liminar vertidoem sooede mandadodemiddot seguran~a foi aeferido tendo 0 juizo da 9~ Vara da Fazenda Publica do Rio de JaneiroRJ sustentado que nao existe impedimento legal para que 0 titular da EIRELI seja uma pessoa juridica

Recurso de agravo de inslrumento foj interposto pela re (0016183shy2720128190000) e este foi provido para anular a decisao agravada mas reconhecendo a incompetencia do juizo declinando da mesma para a Jusshytica Federal 0 processo que recebeu 0 nQ 0008231-2720124025101 tramitou perante a 12~ Vara Federal do Rio de Janeiro Em que pese tenha sido ratificada a decisao da justica estadual para conceder a medida limishy~---~~-- ------------- 25 Enunciado nO 468 do CJF Art 9SOmiddotA A empresa individual de responsabildade limitada sO poder~ S8r

conslitufda por pessoa nattJral (BraSil 2011 p indetemlinada)

1 ROE n 43 - MarmiddotAhrIZOI5- PARlE GERAl- DOUTBINA

nar pleiteada a sentenca denegou a seguranta sob 0 fundamento de que embora no tramite legislativo 0 termo natural tenha sido exduido do art 980-A do Codigo Civiftodomnteudo daLei nlt1 124412011 que criou a EIRELI foj engendrado para abarcar apenas a possibjljdade de que seu titular fosse pessoa natural Da decisao nao foi interposto recurs026 bull

Como se percebe embora haja discussao doutrinaria ace rca da possishybilidade de a pessoa juridica ser titular de uma EIRElI ha que se considerar que diante do posicionamento do DNRC esposado na IN 1172011 bem como do Conselho da Justica Federal atualmente ainda que na pratica prevalece 0 entendimento de que apenas pessoas fisicas podem constituir EIRElI

22 AEIHELI EO CAPITAL MiNIMO PARA SUA CONSTITUICAO IN)CONSTITUCIONAUDADE DA NORMA

A exigencia de capital minimo para a constituicao da EIRElI em valor nao inferior a 100 vezes 0 maior salario-minimo vigente no Pais tambem e controvertida

No minimol e possivel vislumbrar tal exigencia como uma forma de trazer seguranta ao instituto ja que com a constituicao da EIRElI 0 emshypreendedor goza de uma separacao entre 0 patrimonio afetado ao exercfcio da atividade e 0 seu patrimanio pessoal A exigencia de urn capital minimo pode ser vista como uma forma de garantir 0 cumprimento das obrigac5es assumidas no exercfcio da atividade Uma garantia para eventuais credores da EIRUI

Em outras palavras 0 estabelecimento de um capital minima e necesshysario para dar credibilidade ao instituto recem-criado ja que com a consshytituicao da EIRELI ha uma autonomia patrimonial ha uma separacao entre o patfifl~niHi~Rif~8qI~middotatJvidade ecooomieuroa--e-G-pattimQlli0partiS2ulill~Qrmiddot titu lar (Pessoa 2011)

Sao muitos no entanto os argumentos contrarios aexigencia imposta pelo texto legal

Inicialmente destaca-se que nao existe via de regra capital minimo estabelecido para a constituitao de sociedades ou registro de empresario individual no Brasil exigindo-se tao somente uma adequacao do capital investido ao objeto social motivo pelo qual a exigencia feita somente para a EIRElI e questionavel (Ramos 2012 p 43)

26 Integra da decisaa pode ser visuallzada em lthttpJprocwebjfrjjusbrportalconsultaresconsprocaspgt

RO N 43 - MarmiddotAbrl2815- PARlE GEnAL - DOUfRINL

Com efeito

Anenhumaoutra forma de exerc1cioempresarial no pals se faz a exigencia exceto em casas excepcionais de um minima de capital Como sustentar essa regra para a EIREU 1550 infringe a igualdade de tratamento que deve ser dada a todos genericamente A desigualdade de tratamento existe por certo sem arrostar a isonomia nos casos em que haja no entanto justificativa para tanto (Bruscato 2011 p 29)

Este e tambern 0 entendimento exposto na Atao Direta de Inconstishytucionalidade nQ 4637 proposta pelo Partido Popular Socialista perante 0

Supremo Tribunal Federal a qual ainda se encontra pendente de julgamenshyto Na aludida ADln defende-se que condicionar a constituiltao de uma EJRElI a integralizaltao de um capital minimo sem qualquer motivo evidenshyte e relevante constituiria afronta ao princfpio da isonomia bem como ao fundamento da livre iniciativa2

expresso no art 17028 caput da CF1988 (Brasil2011)

Segundo 0 partido autor da ADln ao estabelecer um capital no valor de 100 vezes 0 salario-minimo vigente no Pais 0 legislador acabou ferindo o prindpio da igualdade Sustenta-se que para a constituiltao de uma socieshydade com socios de responsabilidade limitada como por exemplo a socieshydade limilada nao existe exigencia de capital mlnimo logol nao eposslvel faze-Io em relarao a EIRElI ja que segundo exposto naacao ambas sao pessoas jurfdicas de identica feiltao no que diz respeito a responsabilidade dos proprietarios (Brasil 2011 )

Outro argumento contrario ao capital minimo exigido para a constituishycao da EJRElI diz respeito acapacidade econamica daqueles que poderiam ser beneficiados com a criacao danolafi~ura isto e os pequenos empre~ endedores que antesdacriacaoddriYovoenteou empresariavam de forma individual sem limitacao de responsabilidade e separacao de patrimonio ou necessariamente tinham de estabelecer sociedades apenas para gozar da autonomia patrimonial e assim reduzir os riscos do empreendimento Nesse

27 A livre iniciativa segundo Pedro le~7a e um dos pilares da ordem econOmica ao lado da valoriza~ao do Irabalha humano (lenza 201 p 984) Inocsectncio Martires Coelho citando Miguel Reale explica que livre iniciativa e livre concorrencla silo conceitos complementares mas essenciamente distinlos A primeira nao 0 senaa a proje~ao da liberdade individual no plano de produ~ao citula~ao e distribuii8o das riquezas assegurando nao apenas a livre esoolha des proflssoes e das atlvidades econ8mlcas mas tambem a autonoma elei~ao dos processos ou meios julgados mais adequados aconsecu~iio des fins visados liberdade de fins ede maios informa aprincipia de livre inicleliva conlerindo-Ihe um valar primordial como results da interpreta~ao conjugada dos cftados arts 1deg e [70 (Reale apud Mendes Coelho Branco 2010 p 1409)

28 Art 170 da CF11988 A ordem econOmica fundada na valoriza~~o do trabalho humano e na livre iniciativa tern por tim assegurar a todosexist~ncia digna conforme es ditames da Justia SOCial observados as seguintesprinclpies [J (6rasll 1988 p indeterminada)

liU RDE 43 - MarmiddotAbr2015 - PARTE GEllAl- OOUfOINA

caso a sociedade era constitufda normalmente com pessoas pr6ximas mas sem nenhum interesse na atividade as quais figuravam nocQotratosocial

como titulares de percentual minima das quotas sociais constituindo as chamadas sociedades de fachada ja mencionadas29 bull

Nesse ponto pode-se dizer que apesar das crfticas disparadas ao novel instituto a EIRELI mostra-5e como instrumento eficaz para coibir a praticc comumente adotada no Brasil de conslituiyJo de sociedades em que um dos s6ci05 nao tem qualquer participa)ao na gestao do empreendishymento formada com 0 dnico objetivo de limitar a responsabilidade do emshypresario que na pratica exerce a empresa individualmente (Ramos 2012 p 40-41)

Por essa razJo e que uma vez sendo 0 objetivo da criaCJo da EIRELI estimular 0 exercicio de atividade empresaria especialmente por pequenos empreendedores 0 valor de 100 (cem) vezes 0 salario-minimo mostra-se desproporcional 1550 porque grande parte dos empreendedores que podem se enquadrar na EIRELI iniciam suas atividades com capital bastante inferior Afirma-se que 0 capital minimo estabelecido pelo legislador esta longe da realidade dos pequenos empreendedores brasiieiros e caracteriza desresshypeito ao principio da livre iniciativa Assim 0 legislador patrio nao teria la5shytreado a fixayao deste valor em estudos sobre a capacidade econ6mico-fishynanceira dos provaveis interessados nesta especie societaria (Pessoa 2011 )

Estes sao tambem os argumentos que embasam a justificativa do Proshyjeto de Lei nQ 24682011 de autoria do Deputado Carlos Bezerra Segundo o parlamentar a exigencia feita pelo legislador retira dos pequenos empreshyendedores a possibilidade de coostituiyao de lima EIRELI haja vista que 0

valor exigido na Lei 0 2 124412011 supera significativamente 0 valor geshyralmente empregado para a constitlliyao dasPeqU~PilSempresas Por essa raz~(jo aludidoprojeto tem como um (feseusigtbJetivosillterar 0 art 9~O-A do Codigo Civil para reduzir de 100 para 50 salarios-mfnimos 0 capital minima exigido para a constitui~ao de lima EIREU (Brasil 2011)

Seguindo mesmo entendimento

29 A exist~ncia das chamadas sociedades de fachada Ii conhecida desde ha multo olio apenas pela dovtrina mas tam~m pela junsprud~ncia de nossos trlbunais 0 reconhecimento desta situa~ao se faz relevante tanto para que possa coibir tal praliea quanto para proteger a indivlduo que comprovadamente jamals exerceL qualqller poder de administra~ao sobre a sociedade da responsabllizagao pelos atos praticados indlvidualmente pelo s6cio detentor da quase totalidade das quotas sociais A tItulo de exemplo Execu~ao fiscal E aparente a socledade em que a imensa maioria das quotas pertenee a uma s6 pessoa flsiea Sltua~ao que mascara a atividade de urn comereiante em nome Individual Indelerlmento do pedido de penhora sobre bens do s60lo de fachada Decisao acertada potque de acordo com a realldade fatlca Agravo improvldo (TJRS AI 591020177 1 ccrv Rei Jose Velllnha de Lacenla J 21051991)

30

ROE N 43 - MarmiddotAlIr2n15 - PAUn GfRAl- OUUmINL

Deveria ser desnecessario diz~-Io mas tal materia nao poderia jamais ser objeto de decisao arbitraria sob pena de frustraiOobjetivo mesmo da norshyma e ll1alferir a Constituirao 0 numero 100 ninguem negara soa bem aos ouvidos mas isso nao deveria bastar para inseri-Io em texto legal Se de fato sua eleirao foi desacompanhada de qualquer embasamento tecnico e passrvel demonstrar-se inclusive mediante a colheita de dados estatisticos e indicacoes de direito comparado a inconstitucionalidade decorrente da violaSao aos princfpios da isonomia e da razoabllidade Por que se negar ao cidadao que dispanha de 50 salarios-minimos 0 direito de constituir uma EIREU quando em Portugal eassaz inferior 0 montante necessario para faz~shy-10 e no Chile sequer existe exigencia dessa especie (como alias previa 0

texto primitivo do PU e questao cuja resposta se desprovida de fundamenshytos s6lidos atesta a contrariedade aos supracitados principios (Nadu sd p indeterminada)

A exclusao de grande parte dos empreendedores do pafs com a exishygeurogtncia de capital mlnimo alto e tambem argumento da ADln 4637 ja que o objetivo primordial da norma recem-criada e fomentar 0 desenvolvimento ecoo6mico e social do pais Sustenta-se que tal objetivo esta sendo prejudishycado oa medida em que a legislacao retira de pequenos empreendedores a possibilidade de lanyarem-se no mercado economico de forma regular saindo portanto da informalidade (Brasil 2011 p indeterminadal

Corroborando 0 entendimento aeima Haroldo Malheiros Duclerc Vercosa (2011 p indeterminada) afirma que

rJa crftJca que se faz eque 0 capital mlnimo exigido de tal sociedade deixa a margem urna parcela substancial dos microempresarios patrios os quais continuarao dentro do regime geraf de respollsabilidade patrimonial pessoal (e do risco correspondente) sem acesso ao patrimonio ~eparadoqlleeiQ ltI

serqiad9para q EIRElI a naoser par alguma fugapararrlecanisfnocorno deg dlc6nstitui~ao de uma sociedade limitada com outro socio este detentor de

minima expressao do capital social Mas tal recurso muito utilizado apreshysenta custos que 0 microempresario dificilll1ente poderii suportar

Ainda deve-se considerar que a vinculacao do salario-mfnimo para qualquer fim e expressameote vedada pel a Constituicao Federal de 1988 em seu art 72

IV30 Nesse passo ainda que se considere posslvel Oll ate mesmo necessaria a exigencia de lim capital minimo para a constituicao de

Art lO da Cf1988 Sao direlos dos tlllbalhadores urbanos e rurais aiem de outros que visem il melhoria de sua condl~ilo social L1IV - saIMiomiddotInnlmo lixado em lei naeionalmente uniftcado capaz de arender a suas neeessidades vitais Mslcas e ~s de sua famflia com moradla alilnenta~iio eduoaao saude lazer vestuario higiene transporte e prevldencla social com reaJustes perlMieas que lhe preservem degpoder aquisitivo sendo vedada sua vineula~ilo rara qualqver 11m l (Brasil 1988 p indeterminada)

N N bullbullbullbullbullbull HOE N 43 - MarmiddotAbr2015 -AlIT GERAl- DOUTRIIfA

uma EIRELI este capital em regra nao poderia ser calculado com base no salario-minimo

5eguindo tal raciodnio e por entender que a parte final do art 980shyA do Codigo Civil de 200212 fere 0 disposto no art IV da Constituishylt030 Federal entre os argumentos utilizados na ADIn 4637 esta 0 fato de que 0 eonstituinte com 0 objetivo de evitar que os reajustes peri6dicos do salario-minimo que visam a preserva-ao de seu poder aquisitivD sofram influencias de interesses diversos daqueles previstos na Constitui-ao vedou expressamente a villculacao do salario-minimo para qualquer finalidade (Brasil 2011 p indeterminada)

Ainda eonsiderando a oscilacao que 0 reajuste do salado pode imshypliear a I Jornada de Direito Comercial do Conselho da Justi-a Federal ocorrida em outubro de 2012 no 5TJ definiu por meio do Enunciado nQ 4 que llma vez subscrito e efetivamente integralizado 0 capital da empresa individual de responsabilidade limitada nao sofrera nenhuma influencia deshycorrente de ulteriores alteracoes no salario minimo

Nao obstante os argumentos contrarios e a ADln pendente de julshygamento vige hoje a exigencia de capital minimo para a eonstituirao da EIRELI fixada com base no salario-minimo nacional vigente na epoca da constitu icao

23 EIRElI EMPRESARlO InDIVIDUAL SOCIEDADE EMPRESARIA UlflPESSOAL OU UM TlPO SUI GEMERIS

DE EMPRESARIO

o legislador batizou 0 novo instituto de Empresa Individual de Resshyponsabilidade limitada Em primeiro lugar ha que se considerar que resta eonsagrado na legisla-ao na doutrina e najurisprudencia que empresae uma atividade exerddapelo empresarilte nao uma pessoa urn sujeito de direitos (Moraes 201 0 p 40 Diante disso a primeira crltica feita ao legisshy

31 0 STF ja firmoL entendimento em divesos julgadas no sentido de que e proibida a vinculaao do sailtirio minima para qualquer finalidade Dana moral FiKa~ilo de indenizaltao com vinculaao a salario-minimo Vedaao constitucional Art 7deg IV da Carta Magna 0 Plenario desta Corte ao julgar em 01101997 a ADln 1425 firmou a entendimenro de qle ao estabelecer 0 art 7deg IV da Constitui~iio que e vedada a vincula~o ao salaria-mlnima para quaiquer fim quis evitar que interesses estranhos aos versados na norma constitucional venham a tel influencia na filCll~o do valor minima a ser observado No caso a indenizaltiio par dana moral fo fixada em 500 salarios-minimos para que inequivacamente 0 valor do salilria-mlnlmo a que essa indenizaao esta vinculado atue como fator de atualizaao desta a que IS vedada pela citarlD dispositivo canstitucional Outros precedentes desta Corte quanta 11 vedaao da vinculagao em causa ReculSo extraordinario conhecido e provida

32 Art 98QA do CCB A empresa individual de responsabilidade limitada sera constituida por uma dnica pessoa titular da totalidade do capital social devidamente integralizado que nao sera inferior a 100 (cern) vezes 0

malar salMo-mfnimo vigenre no Pars (Brasil 2002 paginaltaa indeterminada)

33

ROE N 43 - MarmiddotAbr2015 - PARlE GERAl- DOUmIIlL 1

lador infraconstitucional acerca da natureza juridica da EIRELI diz respeito asuafaLta detecnica para dar nome ao institutomiddot recem~criado chamando de empresa uma especie de empresario (Ramos 2012)

Ora se empresa e uma atividade e nao um sujeito de direitos a falha tecnica legislativa contribtli para a compreensao inadequada que cornushymente se faz da empresa ou seja confundindo-a com a propria pessoa dica ou ainda com 0 estabelecimento empresarial Por essa razao a crftica vem no sentido de que a terminologia mais adequada seria empresario e nao empresa

Nominada de forma equivocada ou nao uma figura juridica capaz de conferir a possibilidade de exercfcio da empresa por uma s6 pessoa ffsiea com separa-ao de patrimonio e limita-ao de responsabilidade e como ja dito desejo antigo da dOlltrina brasileira Como exemplo epossivel citar 0

projeto de Lei nil 201 de 194733 apresentado pelo entao Deputado Fausto

de Freitas e Castro 0 qual dispunha em seu art 12 que qualquer pessoa capaz de exereer 0 eomercio podera constituir empresa em nome individual limitando a sua responsab[lidade pelos neg6cios da mesma ao valor do capital declarado (Martins Filho 1950 p 64-66)

Antonio Martins Filho em cuja obra Umitatiio da responsabilidade do comerciante individual analisa 0 aludido projeto de lei afirmava

A empresa individual de responsabilidade limitada constituindo a ultima fase do processo evolutivo da limitaltao dos riscos e insistentemente redashymada pelos agentes da atividade econ6mica dos novos tempos Recusando-a de direito nao evitara 0 legislador a existencia de fato desse tipo de empresa que passa a funcionar sob forma de sociedade fictfcia ou unipessoal (Martins Filho 1950 p 9)

ja naquela epoca ainda sob a vigencia do Codigo Comercial de 1850 e do C6digo Civil de 1916 0 autor ressaltava a importancia da limita~ao de responsabilidade daquele que era conhecido como comerciante individual (hoje empresario individual) bem como reconhecia a existencia de socieshydades constitufdas apenas formalmente para 0 fim de aquisi=ao de personashylidade jurfdica pr6pria e separa-ao de patrimonio a partir do que concluia que apenas a cria-ao da empresa individual de responsabilidade limitada

Projeto de Lei nO 201 de 1947 anexo abra Limitarl0 de resJOflsabilidade do comerciante individual MARTINS FILHO AntOnio Anais do Congresso Jurfdico Nacional Comemorativo do Cinquenlenario da Faculdade de Direito de Porto Alegre Revisa de Fecudade de Direito de Porto Alegre Porto Alegre URGS maio 1950

middot RDE II U - MarmiddotAer201S - PARrE GER~L - DoumlNA

serla capaz de acabar com tal pratica tao comum no Brasil (Martins Filho

1950)

Em 2005 Wilges Ariana Bruscato tambem assinalava a importanshycia do exercicio individual da empresa com limita=ao de responsabilidade como forma eficaz de fomento da economia

jft que 0 modus vivendi de nossa sociedade atual baseia-se em resultados economicos e relevante acenar com contribuilt6es para 0 desenvolvimento da atividade empresarial feita de maneira singular como forma de incentivar as pequenas iniciativas que num 6istema de colmeia representam a agreshyga~ao de vaores sociais importantes como 0 emprego 0 recolhimento de tributo a disseminaltao tecnologica entre outros ou seja 0 favorecimento de pequenas iniciativas que aquecem a economia (Bruscato 2005 p 75)

No mesmo sentido Felipe Ferreira Machado Moraes (2010 p 37-38) sustenta a necessidade de limita=ao da responsabilidade do empresario inshydividual como forma de cumprir os objetivos do Estado Democratico de Direlto tais como expressos na pr6pria Constitui=ao Federal de 1988

Em um Eslado Democratico de Direilo em que a propria Constituiltao da Republica contempla dispositivos que pregam 0 desenvolvimento nacional a livre iniciativa e inclusive 0 tratamento favorecido as empresas de pequeno porte nao parece prosperar 0 entendimento de que 0 empresario individual deve ter sua responsabilidade ilimitada respondendo com a totalidade de seu patrimonio particular (civil) por eventuais insucessos de seu empreendishy

mento

o anseio pela limitarao da responsabilidade no exerdcio individual da ernpreSq~Iil~re ()s~doutrinadores patrios baseava-se frequenteniente experiencia de outros paises que regulamentaram em sua ordem interna diversas formas de possibilitar a limitarao de responsabilidade daquele que

deseja empresariar individualmente

Na Alemanha como visto surgiu 0 primeiro modelo de sociedade por quotas de responsabilidade limitada em 1892 Em 1981 quase um 56shyculo depois entra em vigor a lei que alterou a legislarao das Sociedades por Quotas de Responsabilidade limitada para introduzir no ordenamenshyto juridico alemao a Sociedade por Quotas de Responsabilidade Limitada Unipessoal Passou-se enUlo a permitir a constituirao de Sociedades por Quotas de Responsabilidade Limitada por apenas uma pessoa (ffsica ou jushy

ridica) (Abrao 2000 p 6)

ROE N 43 - M8rmiddotAb~2015 - PARr CEIlAL - DOUTRlIIAmiddotmiddotmiddotmiddot

Tambem na Fran=a ap6s a regulamenta=ao clas sociedades por quoshytas de fesponsabiJidade Itmitadaiolintroduzida a limitada unipessoal em 1985 permitindo iguafmente a constituirao de sociedades unipessoais (Abrao 2000 p 12)

Ja em Portugal existem duas possibilidades para 0 exercfcio indivishydual da empresa Em 1986 0 Decreto-Lei nQ 2481986 criou a figura do Esshytabelecimento Individual de Responsabilidade limitada EtRL Trata-se de figura na~ dotada de personalidade juridica constilufda atraves de um pashytrimonio de afetarao por meio do qual uma pessoa fisica explora uma ativishydade economica empresarial Para a constituirao de um EIRL e necessario o investimento minima de euro 5000 (cinco mil euros) Ja a segunda forma de empresariar individualmente em Portugal com separarao patrimonial e limitarao de responsabilidade foi regulamentada 10 anos ap6s 0 EIRL por meio do Decreto-Lei nil 2571996 a Sociedade Unipessoal par Quotas Tal sociedade e constitufda por uma 56 pessoa (fIsica OU juridical titular de todo o capital social e cuja responsabllidade esta limitada ao capital investido sendo este livremente fixado pelo s6cio ou seja nao ha exigencia de capital mlnimo para a SUQ ao contrario do que ocorre com 0 EIR134

bull

Na experiencia brasileira entretanto ate a ediraa da Lei nQ 124412011 nao havia possibilidade de exercer uma atividade econoshymica organizada de forma individual sem 0 camprometimento da totalidade do patrimonio do empresario A sociedade unipessoal admitida em palses europeus desde meados de 1980 somente era permitida no Brasil em duas hip6teses excepcionais quais sejam a subsidiaria integral prevista na Lei das Sociedades Anonimas (Lei nQ 64041976)35 e a unipessoalidade ternshyporaria da sociedade pelo prazo de cento e oitenta dias conforme dispoe 0

art 1033 IVJ6 do C6qigoCiv

Assim no Brasil ap6s anos de discussao doutrimiria e de entendishymento quanta a necessidade de cria=ao de um instituto que viabilizasse 0

exercfcio da empresa de forma individual sem que isso acarretasse necessashyria risco ao patrimonio pessoal do empresario 0 legislador infraconstitucioshy

34 Informa~aes dlsponiveis em lthttpwwwpot1lJgalgIObalptPTlnvestirPortugaguiadoinvestldorICriareinstalar PaginaSTipos5ociedadesComerciais aspxgt

35 Art 251 da LSA A companhia pode ser constilulda mediante escrilura publica tendo como unico acionisa sociedade brasileira sect 1deg A sociedade que subscrever em bans 0 capital de subsidiaria inlegral devera aprover o laudo de avaliaifio de que trata 0 art 8deg respondendo nos lermos do sect 6 do art 80 e do art 10 e seu panlgrafo Llnico sect 2deg A companhia pade ser converlda em subsidiara integral mediante aquiSitao por scciedade braslieira de lodes as sues ayoes ou nos lermos do art 252

36 Art 1033 do eC8 Dissolve-se a scciedade quando oeorrer 11 IV a falla de pluralidede de socios nila reconstltufda no prazo de cenro e oitenla dias L J

ROE Ndeg 43 - MarmiddotAbr2015 - PARTI GERAl- OUIRINA

nal consagrou a flgura da Empresa Individual de Responsabilidade Limitada a EIRELI

Quando inserida no ordenamento juridico a EIRElI gerou controvershysias acerca da sua natureza juridica Ha que diga tratar-se de empresario inshydividual por outro lado ha que afirme tratar-se de uma sociedade limitada unipessoal No entanto hii tambem uma terceira corrente que afirma ser a EIRELI uma nova especie de pessoa juridical um ente distinto do empresario individual e das sociedades empresarias

A corrente menos express iva considera a EIRELI uma nova modalishydade de empresario individual ou seja um empresario individual de resshyponsabilidade limitada Para tal corrente 0 empresario individual ate en tao conhecido aquele que e pessoa fisica permanece existindo passando a existir 0 empresario individual pessoa jurfdica

Nesse senti do

Apesar de ser uma pessoa jurfdica a EIRELI nao euma sociedade empresaria mas sim uma forma diferenciada de constituiyao de empresario individual (que ao contrltirio daquela e pessoa natural) (Cardoso 2012 p indetermishynada)

Outra corrente mais expressiva e a capitaneada par Fabio Ulhoa Coelho (2012 p 409) para quem a EIRELI e uma sociedade empresaria definindo-a como uma sociedade limitada unipessoal na qual apenas uma pessoa (rfsica ou jurfdica no entender do autor) sera titular da totalidade das quotas socials 0 autor salienta que 0 sect 6Q do art 980middotA do C6digo Civil pershymite concluir que a EIRELI eespecie de sociedade limitada pois se submete as regras deste tipo societario

Da mesma forma Gustavo de Alvarenga Batista (2012) defi ne Em terrnosmiddotpraticos aEIRELI possibilitaqueiumemprksaflopessoa constitua uma sociedade unipessoal na qual fica sua responsabilidade atreshylada ao valor do capital por ele integralizado

Ja Andre Luiz Santa Cruz Ramos (2012) entende que 0 legislador criou uma nova figura juridica distinta da sociedade eillpresaria e do empresario individual mas com caracteristicas semelhantes a ambos No entanto 0 aushytor entende que foi um equivoco a cria~ao de um novo tipo de pessoa jurfshydica Sustenta que 0 legislador poderia tao somente ter consagrado 0 empreshysario individual de responsabilidade limitada que continuaria sendo uma pessoa fisica mas gozando da separa~ao entre 0 seu patrimonio pessoal e aquele afetado ao exercfcio da atividade economica ou ainda consagrado

ROE N 43 - MarmiddotAbrI21115- PARrE GERAl- OUTRINL

efetivamente a sociedade empresaria unipessoal bastando para tanto inshycluirentreasEseecies de sociedades ja existentes a sociedade constitulda par um 6nico s6cio titular de todas as quotas Em qualquer dos casos a insenao feita no art 44 do C6digo Civil seria desnecessaria

Do mesmo entendimento compartilha Wilges Ariana Bruscato (2011 p 10) que afirma que acaso a EIREU fosse uma sociedade unipessoal nao haveria necessidade de inclusao do instituto no inciso VI do art 44 do C6shydigo Civil ja que as sociedades ja estao previstas no inciso II do mesmo dispositivo Da forma como posta nao existe sociedade e silll um tipo sui generis no direito patrio Ainda afirma-se que

a EIREI nao tem natureza juridica de sociedade empresaria ao contrario do que muitos ainda defendem mas trata-se de uma nova categoria de pessoa jurfdica de direito privado que tambem se destina ao exercfcio da empresa Tanto que a Lei nQ 124412011 incluiu as empresas individuais de responsashybilidade limitada no rol de pessoas jurfdicas de direito privado do art 44 do C6digo Civil (inciso Vi) Ademais a lei nQ 124412011 ao inserir no C6dishygo Civil 0 art 980-A teve 0 cuidado de topograficamente tambemcriar um novo titulo (mulo I-A Da Empresa Individual de Responsabiidade Umitashyda) situado entre os Titulos I e II que tratam respedivamente do empresario individual e das sociedades empresarias (Pinheiro 2011 p indeterminadal

Nao obstante os variados entendimentos ha Uma tendencia de que a EIRELI seja efetivaillente compreendida como uma nova especie de pessoa juridica nao se tratando de empresario indiVidual tampouco de sOliedade empresaria ainda que unipessoal Tanto e assim que na ja mencionada I Jarnada de Direito Comercial do Conselho da Justi~a Federal foi aprovado o Enunciado nil 3 com a seguinte redacao A Empresa Individual de Resshyponsabilidade Limitada - ElRELI nao e sociedade unipessoa mas um novo ente~j_stjn~q da pessoa doempresarioe da sociedade eiTlpresfiriao qual seguia ciresmmiddota Iinha do Enunciado nil 46937 da V Jornada de Direito Civil que afirma que a empresa individual de responsabilidade limitada (EIRELI) nao e sociedade mas nova ente jurfdica personificado

24 AEIRELI EO PRomo DE NOVO CUOIGO COMERCIAl EXTINCAO DO INSTITUTO [ CRI~O DE f40VAS FIGURAS1

Tramita no Congresso Nacional 0 Projeta de Lei nil 15722011 que visa a instjtui~ao de um novo C6digo Comercial com a consequente revoshy

~__~~M~~~~ __ __ ___~_____ _~

37 Enunciado n 469 do elF Arts 44 e 980middotA A empresa individual de responsabilidade Iimltada (poundIRELI) olio Ii sociedade mas novo ente jurrdico personificado

Ii r~ RDE Nmiddot 43 - MarmiddotAbrf2615 - PARTE GERAl- OnUIRIUA

gasao de diversos dispositivos do atual C6digo Civil bem como de legislashysoes esparsas

o projeto apresentado pelo Deputado Vicente Candido baseado em minuta elaborada por Fabio Ulhoa Coelho na obra 0 futuro do direito coshymercia tem como uma de suas justificativas a sistematizasao revisao aperfeiltoamento e modernizasao da disciplina jurldica do estabeledmento empresarial do comercio eletronico da concorrencia desleal das condutas parasitarias da escrituratao mercantit do exerddo individual da empresa e da sociedade unipessoal (Brasil 2011 p 118)

Dito projeto nao traz em seu texto referenda expressa ao instituto recem-criado a EIRELI No entanto consagra duas figuras que merecem especial atensao sao elas 0 empresario individual em regime fiduciario e a sociedade Iimitada unipessoajJs

o empresario individual tal como e conhecido atualmente nao deishyxa de existir na redasao do projeto de NCCom sendo disciplinado entre os arts 14 a 32 do projeto de lei No que tange as suas caracteristicas esshysenciais 0 empresario individual permanece sendo pessoa ffsica que exershyce singularmente uma empresa sem limitaltao de responsabilidade nao se submetendo ao prindpio da autonornia patrimonial

Entretanto alem do empresario individual ate 0 momenta conhecido o novo C6digo Comercial visa a instituir outras duas formas de exerdcio individual da empresa como jei dito as quais possibilitam a separaSao de patrimonio e limitaltao de responsabilidade do empreendedor 0 empresashyrio individual que exerce a empresa em regime fiduciari039 e a sociedade limitada unipessoal

Da leitura do projeto infere-se que 0 empresario individual ao reshyquerer 0 seu registro comeh~rfipfesarioquntamp ao 6rgaocompetente poderamiddot fazer uma declaratao na qual conste que 0 exercicio da empresa dar-seshy

38 Na verdadc ha que se pontuar que 0 projeto de lei esta baseado em texto do jurisla Fabio Ulhoa Coelho a entende que a EIREU euma socied8de limiteda unipessoal e n~o ume nova especie de pessoa juridica eo fato pelo qual nao esta ela prevista nesse lormato no relerido projeto

39 A fiducia tem origem no direito romano ral institwlo caraclerlzamiddotse pela contiana e boa-lEi existentes entre fidLicianle e fiduciario A propriedade fiduciira por sua vez caracteriza-se quando determinado bern ou conjento de bens e destinado II gamntia de certo(s) credor(es) ou scja os bens constltuldos como propriedade fiduciaria de destlnam a garantia do cumprimento de determlnadas obrlgaltOes do liduciaro perante 0 fiduciante nao podendo ser objeto de expropriaao Pilra a adlmplemenlo das obriga6es pessoafs do fiduciiirio (Restlffe Neto Rest1ffe 20001 Segundo a C6digo Civil de 2002 em seu art L35 considerashysa propriedade fiducjaria a proprfedade resoliNel de caisa m6vel imungfvel Que 0 devedor com escopo de garanta translere ao credor Para maior aprofundamento acarce do tema vide SILVA ltJiz Augusto Beck da Alienaliio fiducitlfia ampm garantia 4 ed RIO de Janeiro forense 1998

RDE N 43 - Mar-AbtfZ015 - PARrE GERAl- DOUTRINL

-a em regime fiduciario Com a referida dedaraltao 0 empresario devera constitJir 1m patrimbnio relaeuroionado aattvrdade empresarial que pretende exercer absolutamente separado de seu patrimonio pessoaL

Assim uma vez cumpridos os requisitos 0 empresario individual desshysa modalidade (que continuaria sendo pessoa fisica) nao poderia ter seu patrimonio pessoal expropriado para 0 cumprimento das obrigalt6es assushymidas no exercicio da atividade salvo se conforme disp6e 0 sect 29 do art 32 do NCCom se tratarem de obrigaltoes de natureza trabalhista e triblltaria relacionadas ou nao com a empresa Trata-se pois do estabelecimento de um patrimonio de afetaltao que serviria de garantia aos credares do em preshysarlo individual em vez de totalidade do seu patrimonio

A outra forma de exercfcio singular da empresa proposto pelo projeto em comento e a constituiltao de uma sociedade limitada unipessoal Ao tratar das sociedades em especie 0 projeto preve a existencia de cinco tipos societarios (sociedade anonima sociedade limitada sociedade em nome coletivo sociedade em comandita simples e sociedade em comandita par alt6est todos os tipos ja cOllhecidos e previstos no atllal C6digo Civil

A novidade e uma pequena alteraltao feita no ambito das sociedades limitadas para no art 192 dispor que a sociedade limitada sera constishytufda por um ou mais s6cios ou seja retira da definiltao de sociedade a pluralidade dos s6cios

Todavia algumas consideralt6es devem ser feitas acerca do projeto em questao no que tange a sua relaltao com 0 instituto ora estudado

Conforme ja referido a limita~ao de responsabilidade do empresario individual era esperada pela doutrina patria ha muito tempo e a EIRELI foi a

l~gislativaelJcontrada para dar res posta aosansetoSexistentes

Com crfticas ou nao fato e que a EIRELI hoje majoritariamente conshysiderada como uma nova especie de pessoa juridica concebe a limitaltao de responsabilidade no exercfcio individual da empresa e desde 0 infcio de sua vigencia as estatisticas mostram que esta nova forma de exercer a empresa vem crescendo em todo 0 Pafs S6 em Sao Paulo nos primeiros tres meses de sua existencia a EIRELI jii representava mais de 4 do total de registros realizados conforme informaltao publicada pela Junta Comercial do daquele Estad040bull

40 Para majores Inlormacentes e dados estatistlcos vide htlpwwwjucespJazendaspgovbr

RUE III 43 - MOImiddotAbr2U15 - PARTE GERAl- nOUTHINA

Nesse passo cumpre questionar qual sera 0 futuro da EIRELI se 0 Proshyjeto de Lei nQ 15722011 vier a ser aprovado 0 que fazer com as EIRELIs ja existentes ao tempCl da publicacao do novo C6digo Comerdal Sera necesshysaria a criacao de regras de transicao ou os titulares de EIRELI simplesmente serao obrigados a requerer sua transformacao perante as Juntas Comercias para uma das duas modalidades criadas pelo novo C6digo

Certo e que 0 projeto de Novo C6digo Comercial contempla de certa forma a EIRELI mas colocando-a definitivamente como uma especie de sociedade limitada a sociedade limitada unipessoal No entanto ao propor llm projeto e necessario fazer uma analise do impacto que as alteraC6es provocarao sob pena de a nova lei em vez de pacificar entendimentos e llnificar tratamento acabar acarretando um caos inicial comprometendo sua pr6pria legitimidade

CONSIDERA~OES FINAlS

A limitacao de responsabilidade no exerdcio individual da emprcsa e tema recorrente na doutrina brasileira e desejo antigo dos empreendedores Ate a consagrarao da EIRELI par meio da Lei nQ 124412011 tal limitarao nao era posslvel no exercfcio individual da empresa como ja amplamenshyte debatido e demonstrado Com a criacao da EIRELI 0 legislador patrio apresenta aos empreendedores brasileiros uma nova possibilidade para empresariar sem a necessidade de constituirao de sociedades de fachada ou eventual comprometimento da totalidade do patrimonio pessoal do emshypreendedor

Percebe-se contudo que as controversias existentes ern torno da EIRELI ainda sao muitas Mas algumas coisas podem-se dizer certas Prishym~irQjslli1fiIR~khv~i~efetivamentepara privilegiar os pequenosemiddottledioS0i(i empreendedores nao se ve razao plausivel para que ela seja constituida por titular pessoa juridica Beneficiar sociedades estrangeiras e um argumento fraco para fazer esta defesa

Segundo do ponto de vista da garantia dos credores a exigencia de um capital mfnimo tern razao de ser principalmente levando ern conta que ate entao os empresarios individuais respondiam com a totalidade do seu patrimonio Todavia considerando que nao ha exigencia nesse sentido para as demais especies de empresarios de fato fere-se 0 principio da igualdade de tratamento Ainda em rela-ao ao capital minimo se 0 objetivo do legisshylador era beneficiar pequenos e medios empreendedores 0 minima estabeshylecido em 100 vezes 0 salario-mfnimo nacional e bastante alto Talvez uma

nOf Ndeg 43 - MalmiddotAbrl2015 -PARTE GERAl- DOUTRJNL bullbull bullbullbull

adequacao do montante fosse interessante para 0 atingimento dos objetivos do novel instituto

Em relacao a natureza juridica compreender a EIRElI como uma nova especie de pessoa jurfdica e certamente 0 melhor caminho ainda que isso possa parecer estranho ja que se esta diante de uma pessoa jurfdica constituida de uma dnica pessoa Afinal partindo dessa premissa nao seria necessario relativizar 0 conceito de sociedade que exige pluralidade de s6dos tampouco seria necessario pensar um empresario individual pessoa frsica que pudesse ser titular de dois patrimonios autonomos 0 pessoal eo de afetacao

Em derradeira analise no que diz respeito ao Projeto de novo C6digo Comercial cabe apenas ressaltar que eventual aprovacao devera levar em considerarao 0 fato de que como visto desde a entrada ern vigor da Lei nQ 124412011 a procura dos empreendedores por esta modalidade de exercfcio da empresa tern sido grande Contudo 0 projeto de lei nao traz qualquer mencao ao instituto Assim dever-se-a ter uma preocupacao com a transi-ao nao se podendo ignorar a existencia destes slljeitos de direito sem estabelecer qual sera oseu destino Mal se consagram institutos no Brashysil e novamente se pretendem altera~oes legislativas Assim nao se chega a maturidade

Por hora ainda que com quest6es controvertidas ha uma unanimidashyde doutrinaria de que a EIRELI e bem-vinda nao apenas porque oriunda de pleitos antigos mas tambem porque apresenta uma nova possibilidade para quem pretende empresariar no Brasil de modo que ha grande expectativa no sentido de que 0 Poder Judiciario seja capaz de dirimir as controversias existentes causadas basicamente por falhas do legislador permitindo uma amPla utilizacao dQoolRjn~titu~9~gW~Cialmente poraqueles que aoque parece se tentou benefidar 05 pequenos e medios empreendedores brasishyleiros

Page 9: SINTESE - cortemello.com.br · RESUMO A EIRELI - Empresa Individual de Aesponsabilidade Limitada foi introduzida no ordena ... a partir da doutrina de Alberto Asquini, que entende

1 11 ~ bull RDE N 43 - Mar-Abd2Dl5 - PARTE GERAl- DOUTRINA

Na mesma linha Ricardo Negrao (2011 r p 203) afirma que sao efeishytos da personificarao a assunao de capaddade para direitos e obrigar6es middota separacao entre a pessoa juridica e aspessoas dos s6dos a existenda de patrimonio proprio distinto do de seus sodos e a possibilidade de a socieshydade alterar a sua estrutura interna

Ve-se portanto que nao ha grande divergencia doutrinarla quanta aos principais efeitos da personificacao No entanto entre as tres conseshyquendas destacadas e a responsabilidade patrimonial da pessoa jurfdica a que merece maior destaque

A existenda de patrimonio pro-prio das pessoas juddicas da-se por forra da incidencia do princfpio da autonomia patrimonial segundo 0 qual os bens da sociedade empresaria formam um patrimonio autonomo que responde pelas obrigar6es contrardas por esta enquanto que os bens de cada um dos socios que a compoem permanecem via de regra imunes ao cumprimento destas obrigaroes

Trata-se na verdade de algo muito antigo decorrente da maxima aplicada desde a Lex Poetelia Papiria que data de 326 antes de Cristo por melo da qual se determinou que 0 patrimonio do devedor fosse a garantia dos credores Com tal lei a obrigarao entre 0 credor e 0 devedor deixou de estar pautada em um vinculo corporal sendo substitufda pela responsabilishydade patrimonia ou seja os bens e nao mais 0 corpo do devedor passashyram a responder por suas diviaas (Alves 201 Or p 382 e 436)

Ora se a devedora e a sociedade empresaria e justo que apenas 0

seu patrimonio responda pelas obrigaroes contrafdas e nao 0 patrimonio de seus sodos sujeitos de direito distintos A autonomia patrimonial e a responsabilidade patrimonial proprias da sociedade formam uma estrutura que incentiva a aS5Un~Q dQriscodo exerdcio de uma atividade empreshysaria Principalmente quando 0 tipo de sociedade traz tambem a regra da limitarao de responsabilidade dos s6cios 0 que ocorre nas sociedades anoshynimas e limitadas

Tal e a importancia da autonomia patrimonial das pessoas jurfdicas que Fabio Ulhoa Coelho (2012 p 34) afirma que se trata do alicerce do direito sodetario

Esse e 0 principio da autonomia patrimonial alicerce do direito societario Sua importilncia para 0 desenvolvimento de atividades economicas da proshydUlao e cireula~ao de bens e servicos e fundamental na medida em que limita a possibilidade de perdas nos investimentos mais arriseados A partir da afirmacao do postulado juridieo de que 0 patrimonio dos s6cios nao res-

RDE PI ~3 -lIhrmiddotAbr1015 - PARTE GERAl- DDlITHINA ~

ponde por dividas da sociedade motivam-se investidores e empreendedores a aplicar dinheiro emathddades oconomieas-demiddotmaior envergadura e risco 5e nao existisse 0 principio da separaCao patrimonial os insueessos na exshyploracao da empresa poderiam significar a perda de todos os bens particushylares dos s6cios amealhados ao longo do trabalho de uma vida ou mesmo de geracoes e nesse quadro menos pessoas se sentiriam estimuladas a deshysenvolver novas atividades empresariais No final 0 potencial econ6mieo do Pars nao estaria eficientemente otimizado e as pessoas em geral ficariam prejudicadasr tendo menos acesso a bens e servi~os 0 principio da autoshynomia patrimonial e importantfssimo para que 0 direito discipline de forma adequada a explora(ao da atividade economica

o principia da autonomia patrimonial e sem duvida um importante mecanismo de incentivo ao exercicio da atividade empresaria na medida em que possibilita a minimizarao dos riscos assumidos pela pessoa ffsica que decide exercer uma empresa Isso parque mesmo nas especies societashyrias em que a responsabilidade dos s6das e ilimitada (sociedade em nome coletivo por exemplo) est~ sera sempre subsidiaria por forra do princlpio de mesmo nome consagrado no ordenamento jurfdico patrio pelo art 1024 do Codigo Civil de 2002 2deg

Parece evidente que 0 princlpio da autonomia patrimonial coadunashy-se nao apenas com os fundamentos da ordem economica brasileira exshypressos no caput do art 170 da Constituirao Federal quais sejam a livre iniciativa e a valorizarao do trabalho humano bem como corn seus prindshypios norteadores como a livre concorrencia e 0 livre exerckio da atividade economica alem de toda a constru~ao hist6rica de incentivo ao exercicio da empresa como forma de fomentar a economia dos Estados possibilitanshydo a gerarao e a circularao das riquezas

Todaviacomo exposto anterio~trl1ente Os beneficios desse principio nao se aplicam ao empreendedor que exerce a empresa de forma individual nao sendo outra a razao principal para a edirao da Lei nQ 124412011 que introduziu no Brasi a EIRELI

13 EIRElI AS PRINCIPAlS CARACTERisrlCAS DO NOVO EMPRESARIO

Feitos os esclarecimentos sabre as diferentes especies de empresashyrios ate entao existentes cabe 0 enfrentamento da nova especie introduzida recentemente no ordenamento juridico brasileiro a Empresa Individual de

-middot~---middot-middot-----_~___laquo~_M

20 Art 1024 do eeB Os bens particuJares dos socios nao podem set executados por dlvldas cta saciedade senao depois de executados os bens socials (BraSil 2002 p indeterminacta)

13 It ROE N 43 - MarmiddotlbI2D15 - PARTE GERAl- DOUTRINA

Responsabilidade Umitada - EIRELI Especie de empresario que conforme refere Andre Luiz Santa Cruz Ramos (2012 p 40) surge na legislacao piitria atendendoa antigos an5eiostantoda doutrina quantodo meio empresariai

Ate a entrada em vigor da legislacao que introduziu a EIRElI como ja dito existiam apenas duas formas de exercer a empresa ou como empreshysario individual (pessoa ffsica sem autonomia patrimonial e limitacao de responsabilidade) ou como sociedade empresaria (na qual os sodos podem ou nao vir a responder pelas obrigacoes contraidas no exercfcio da atividashyde mas sempre e tao somente ap6s 0 esgotamento do patrim6nio social ja que ha no mlnimo a autonomia patrimonial da pessoa juridical

A partir da EIRElI pasSOli a ser posslvel que uma s6 pessoa exerca a empresa por meio de uma pessoa juridica 0 que permite a efetiva separacao patrimonial e limitacao de responsabilidade ao capital investido como ocorshyref mais precisamente nas sociedades limitadas Esse novo ente apresenta caracterfsticas bastante pr6prias

De plano pode-se ressaltar uma caracterfstica e esta incontroversa A EIRELI eum ente dotado de pcrsonalidade juridica pr6pria ja que inserida no rei das pessoas juridicas de direito privado do art 44 do C6digo Civil Ao contrario do empresario individual que e uma pessoa flsica a EIRELI e uma pessoa juridica constituida para 0 exerdcio de uma atividade economica Ainda pela leitura do texto legal na medida em que a EIRELI esta prevista em um inciso em separado inciso VI incluido pela Lei nQ 124412011 a priori nao se poderia concluir qLle se trata de uma sociedade empresaria as quais ja vinham previstas no inciso II

Assim da simples interpretacao da alteracao ocarrida no art 44 do C6digo Civil conclui-se que a EIRELI e pessoa juridica nao se confundindo comasect~Od~adeiJilmpouco com 0 empresario individualquenem peSsoa jurfdiCa~

Outra caracterfstica importante da EIRELI e a exigencia de urn capital mfnimo nao inferior a 100 vezes 0 salilrio-minimo vigente no Pais para a sua constitLlicao conforme dispoe 0 caput do art 980-A do C6digo Civil de 2002 22 tambem inclufdo pela Lei nQ 124412011 0 empreendedor que

21 De plano cumpre esciarecer que por ludo quanto)a exposto no decorrer do presente estudo a nomenclatura utllizada pelo legislador eatecnica na mediaa em que atribuiu personalidade jur(dica a uma etividade Como visto ernpresa nao esujelto de direilos mas sim uma atividade exercida pelo empresario este sim sujeilO de direitos

22 Art 980-A do CCB A empresa individual de responsabWdade limitada sera constiturda por uma cnica pessoa titular da Malidade do capital social devidamente integralizado que nao sera imerior a 100 (cern) vezes 0

maior saario-minimo vigente no Pais (Brasil 2002 p indeterminada)

ROE II 43 - MarmiddotAbI2D15- fART GERAl- DOUTBIRA

desejar exercer a empresa como EIRELI devera no ate da constituicao inshytegralizar a totalidtdedQ valordQ capital que naQPodera ser em valores atuais inferior a R$ 7880000 (setenta e oito mil e oitocentos reais)

Ainda a integralizacao do capital podera ser eita nao apenas em dinheiro mas tambem em bens desde que suscetfveis de avaliacao em dishynheiro nao sendo exigida a apresentacao de laudo avaliativo para tanto Este capital diferente do que ocorre nas sociedades nao sera dividido em quotas ou acoes A regra e a da unicidade do capital afinal este e totalmente titularizado par uma unica pessoa

A terceira caracterfstica marcante da EIRELI diz com 0 sujeito que pode constituf-Ia ou seja 0 titular da EIRELI Segundo dispoe 0 caput do ja mencionado art 980-A do C6digo Civil a EIRELI sera constitufda por apenas uma pessoa Ocorre que 0 dispositivo legal nao deixa claro que 0

titular precisa ser uma pessoa ffsica ou se poderia tambem ser uma pessoa jurfdica Essa falta de especificacao legal gerou discussao com argumentos favoraveis e contra nas duas direltoes No entanto 0 ONRC - Departamenshyto NacionaJ do Registro doComercio pOl meio da lnstrucao Normativa n

9 1172011 definiu (item 1210) que apenas as pessoas naturais plenashy

mente capazes podem constituir EIRELI Ainda ratjficando tal disposiao 0

item 1211 preve expressamente que nao pode ser titular de EfRELI a pesshysoa juridica bem assim a pessoa natural impedida pOl norma constitucional ou por lei especial (Brasil 2011 p indeterminada)

Outra caracterfstica semelhante ao que ocorre com as sociedades limitadas e que a EIRELI pode utilizar qualquer das especies de nome emshypresarial qual seja firma ou denominacao social acrescidas da expressao EIRELI ao final

Par tim e talvezil car~ct~rf~ti~~~5Ys importante a responsabilidade limitada ao capital investido e devidamente integralizado pelo titular da EIRELI Essa regra se depreende da leitura do sect 62 do art 980-A do C6digo Civil que determina a aplicacao a EIRELI das regras previstas para as socieshydades limitadas naquilo em que com patfve I (Brasil 2011 p indeterminashyda) Essa era a mescla qlle se desejava uma modalidade de empresario que fosse constitufda por uma (mica pessoa mas com limitacao de responsabilishydade e facilidade na forma de constituicao como ocorre com as sociedades limitadas

Em sfntese sao estas as principalS caracteristicas da Empresa Indivishydual de Responsabilidade Limitada Ocorre todavia que tais caracterfsticas estabelecidas pela nova legislacao vem causando inumeras controversias

15 ROf N 43 - MarmiddotAbr2015 - PARrE GHAl- DOUfHINA

entre os operadores do Direito e os doutrinadores e estudiosos do direito empresariai Nilo obstante a cria~ao de um instituto que possibilitasse a limitacao de responsabiHdade para 0 exercicio individual da empresa e anshyseio antigo entre os doutrinadores patrios Nesse sentido ainda que objeto de divergeuromcias 0 novo ente com certeza e muito bem-vindo

2OS ASPECTOS CONTROVERTIDOS ACERCA DA EIRElI

Apresentadas as caracteristicas fundamentais da EIRElI conforme as disposicoes legais vigentes faz-se necessario apresentar as controversias que delas surgem A doutrina jurfdica diverge ja que algumas das caracteshyrfsticas da EIRELI supostamente vao de encontro a conceitos estabelecidos e institutos consolidados ao lange de seculos

Os principais aspectos controvertidos acerca da EIRELI dizem respeito as exigencias feitas pelo legislador para sua constituicao especialmente no que tange ao capital mlnimo a ser investido quem pode ser seu titu lar equal a sua natureza jurfdica

21 QUEM PODE SER TITULAR DE UMA EIRElI

Uma das questOes mais problematicas acerca do novo instituto diz respeito aqueles que podem ser titulares de uma EIRELI

Como visto 0 art 980-A do C6digo Civil disp6e em seu caput que a EIREU sera constitufda por uma Cinica pessoa titular de todo 0 capital social o DNRC por seu turno emitiu instru~ao normativa aprovando 0 Manual de Atos de Registro de Empresa Individual de Responsabilidade limitada23

a ser adotado pelas Juntas Comercias de todos os Estados 0 qual preve expressamente que apenas as pessoas fisicas maiores capazes e livres de

q1iili~querimpedimentos legais podemsertittJlar~sde jma BREtt

Ejustamente na redacao da lei e da instrucao normativa do DNRC que reside grande parte da controversia

Hi quem defenda a possibilidade de constituicao da EIRELI por pesshysoas juridicas sob 0 argumento de que se 0 texto legal nao taz qualquer proibicao de forma expressa referindo-se apenas a pessoa ff

nao poderiam os operadores interpretar a norma de forma a excluir algum sujeito de direishyto quando a propria norma nao 0 faz

------~~ -~--~----~----bull---shyda Instru~ao Normativa n 1172011 do Departamento Nacional de Registro do Comercio

em ltllttpwwwdnrcgovbrILegislacaQIIN20117202011pdfgt

RUE N 43 - MarmiddotAbdZ015 - PAHTf GERAl- DOUrnIlIA_

Nesse sentido

C6mefeitO(Jcaput do art 980-A do C6digo Civil expressamente prescreve que a EIREU sera constitllfda par uma unica pessoa sem excluir as pessoas jurrdicas nem restringir essa passibilidade exclusivamente as pessoas ffsicas Ora pessaa jurfdica tambem e pessaa (Mela 2011 p indeterminada)

Da mesma forma defende-se a ideia de que adotar uma interpretacao que restrinja 0 direito de uma pessoa juridica constituir uma EIREU seria afrontar a princfpio constitucional da legalidade uma vez que se a proibishycao nao esta expressa a pennissao estaria subentendida

[ J naa ha impedimenta legal para que uma pes sea juridica titularize 0 cashypital social de uma EIRELI e sob 0 primado de uma ordem jurfdica liberal afirma-se que 0 que nao esta proibido ou ordenade e permitido Esta leitura decorre diretamente do principia da legalidade consagrado na art 5Q

II da Constitui~ao Federal que estabelece que ninguem sera abrigado a fazer Oll

deixar de fazer aigllma coisa senao em virtude de lei (Lupi Schlosser 2012 p indeterminadal

Fabio Ulhoa Coelho (2012 p 409) tambem entende que a EIRELI para ele uma sociedade limitada unipessoal 24

pode ser constitufda tanto por s6cio Cinico pessoa fisica como juridica

No mesmo sentido sustenta-se que a intencao do legislador com a publicacao da lei nQ 124412011 teria sido justamente permitir a constituishycao de EIRElI por pessoa juridica ja que suprimiu da redacao original dos Projetos de lei nQs 46052009 e 49532009 a restritao que era expressa (Melo 2012 p indeterminada)

QO Projeton 46052009 de autoria do Deputado Marcos MonteSi

tinhapbr objetivoaindusao noC6digo Civil de 2002 do art 98S-A 0

qual teria a seguinte redacao A empresa individual de responsabilidade limitada sera constituida por um Cinico s6cio pessoa natural que e 0 titular da totalidade do capital social e que somente podera figurar numa unica empresa dessa modalidade (Brasil 2009 p indeterminada)

Ja 0 Projeto nQ 49532009 de autoria do Deputado Eduardo Sciarra intencionava a incillsao do art 980-A no C6digo Civil de 2002 com a seshyguinte redacao Qualquer pessoa ffsica que atenda ao disposto no art 972

-----~---------=~-~--~~--~---

24 Para Fabio Ulhoa Coelho (2012 p 409) a EIRELI deve ser considerada como urna sociedade limitada umpessoa Sustenta que a interpretaao sistematica do direito positivo conduz conciusao de que nao se trata de nova esp~cie de pessoa jurldica mas do nomen juris dado ~ sociedade limitada unipessoal Tratarshy-se-a melhor cia natureza jurldica da EIRELI no item 33 deste artigo

lU ROE Ndeg 43 - MarmiddotAbifZ015 - PARTE GEML - DOUIRIVA

que exena ou deseje exercer profissionalmente a atividade de empresario podera constituir Empreendimento Individual de Responsabilidade limitashyda (Brasil 2009 p indeterminada)

Assim ja que suprimidos os termos natural e ffsica que acompashynhavam a pessoa na redacao original dos projetos de lei a intencao do legislador so poderia ser permitir que a EIRELI fosse constituida tambem por pessoas juridicas (Rivas 2012 p indeterminada)

Outro argumento apresentado por aqueles que defendem a possibishylidade de a pessoa juridica ser titular de EIRELI ea fadlitacao da instalacao e do funcionamento de sociedades ernpresarias estrangeiras no Pais como forma de aquecer a economia nacional

Fundamental mencionar que a possibilidade de constituiltao de EIRELI par pessoas jurfdicas val facilitar de sobremaneira a instalaltao de sociedades estrangeiras no Brasil Estas ao consultarem advogados brasileiros sobre os procedimentos necessarios ao infcio do desenvolvimento de suas atlvidades no pais invariavelmente surpreendem-se com a quanti dade e complexidade dos procedimentos sendo que dentre eles urn que normal mente cria bastanshyte dificuldade e justamente a necessidade de indicaltao de uma pluralidade de s6cios na sociedade brasileira 0 que muitas vezes as obriga a indicaltao de pessoa ffsica com participaltao apenas simb6lica simplesmente para atenshyder ao formalismo exigi do (Martins Fllho sd p indeterminada)

Contra tal argumento Wilges Ariana Bruscato (2012) sustenta que embora investimentos estrangeiros sejam importantes para 0 desenvolvishymento economico do PaIS a EIRELI nao pode servir como uma forma de burlar a egisla~ao vigente que regulamenta a instalacao e 0 iuncionamento de socitgtdades estrangeiras no Brasil Para a autora trata-se de materia de ordem publica antesdesermateria de~ireito empresqrill e por esla nao pode ser superadclcOni atrid~5oili EIRELI

Tambem com base nos textos dos projetos que deram origem a lei em comento a autora conclui que a omissao dos termos natural ou flshysica para definir qual 0 tipo de pessoa poderia constituir EIRELI teria sido acidentai haja vista que nao houve qualquer justificativa para a supressao da restricao que era expressa nos textos dos projetos ou seja em momenta algum durante 0 tramite do processo legislativo justificou-se tal supressao no interesse de estender as pessoas juridjcas apossibilidade de constituicao de EIRELI (Bruscato 2012)

No mesmo sentido e 0 entendimento de Jacques Maika y Negri (2012 p indeterminada)

RUE N 43 - MarJIbrl2015 - PARTE GERAl- DOUTAINL

Analisado 0 processo legislativo fica claro que houve lapso por parte do reatqrct9Jrojeto substituto DeputadoMamelo Itagiba e nao supressao deshyliberada da expressao natural caso em que 0 parlamentarteria justificado a alteraltao e a sua intenltao

Esta foj tambem a conclusao aqual chegaram os jurislas integrantes do Conselho da Justica Federal que em sua V Jornada de Direito Civil ocorshyrida em novembro de 2011 emitiram 0 Enunciado nQ 4682~ segundo 0 qual apenas as pessoas ffsicas podem constituir EIRELI

Parece evidente que antes de consolidar-se entendimento acerca da possibilidade ou nao de pessoas juridicas virem a constitu ir empresas indivishyduais de responsabilidade limitada sera no Judiciario que esta problematica sera discutida em maior escala

Recentemente 0 Jufzo da 9il Vara da Fazenda Publica do Rio de janeiroRj proferiu decisao na qual deferiu em mandado de scguranca (Proshycesso nQ 0054566-7120128190001) impetrado em face da Junta Comershycial daquele estado medida liminar para que uma pessoa jurfdica levasse a diante 0 processo de transformalt50 de sociedade empresaria em EIRELI Trata-se de sociedade limitada composta por um socio pessoa juridica e um socio pessoa ffsica e este ultimo retirou-se da sociedade A pretensao posta em juizo era de que a sociedade limitada pudesse ser transformada em EIRELI como resultado daiconcentraltao das quotas sociais em um dos s6cios no caso 0 s6cio pessoa juridica 0 pedido foi negado pela Junta Coshymercial do Estado do Rio de Janeiro sob a alegaltao de que a transformacao de uma sociedade empresaria em EIRELI no caso de inexistencia superveshyniente de pluralidade de socios e possivel desde que 0 socio sobre quem se concentre a totalidade das quotas sociais sejaumapessoa f[sica e nao illrfdGa 0 pedido liminar vertidoem sooede mandadodemiddot seguran~a foi aeferido tendo 0 juizo da 9~ Vara da Fazenda Publica do Rio de JaneiroRJ sustentado que nao existe impedimento legal para que 0 titular da EIRELI seja uma pessoa juridica

Recurso de agravo de inslrumento foj interposto pela re (0016183shy2720128190000) e este foi provido para anular a decisao agravada mas reconhecendo a incompetencia do juizo declinando da mesma para a Jusshytica Federal 0 processo que recebeu 0 nQ 0008231-2720124025101 tramitou perante a 12~ Vara Federal do Rio de Janeiro Em que pese tenha sido ratificada a decisao da justica estadual para conceder a medida limishy~---~~-- ------------- 25 Enunciado nO 468 do CJF Art 9SOmiddotA A empresa individual de responsabildade limitada sO poder~ S8r

conslitufda por pessoa nattJral (BraSil 2011 p indetemlinada)

1 ROE n 43 - MarmiddotAhrIZOI5- PARlE GERAl- DOUTBINA

nar pleiteada a sentenca denegou a seguranta sob 0 fundamento de que embora no tramite legislativo 0 termo natural tenha sido exduido do art 980-A do Codigo Civiftodomnteudo daLei nlt1 124412011 que criou a EIRELI foj engendrado para abarcar apenas a possibjljdade de que seu titular fosse pessoa natural Da decisao nao foi interposto recurs026 bull

Como se percebe embora haja discussao doutrinaria ace rca da possishybilidade de a pessoa juridica ser titular de uma EIRElI ha que se considerar que diante do posicionamento do DNRC esposado na IN 1172011 bem como do Conselho da Justica Federal atualmente ainda que na pratica prevalece 0 entendimento de que apenas pessoas fisicas podem constituir EIRElI

22 AEIHELI EO CAPITAL MiNIMO PARA SUA CONSTITUICAO IN)CONSTITUCIONAUDADE DA NORMA

A exigencia de capital minimo para a constituicao da EIRElI em valor nao inferior a 100 vezes 0 maior salario-minimo vigente no Pais tambem e controvertida

No minimol e possivel vislumbrar tal exigencia como uma forma de trazer seguranta ao instituto ja que com a constituicao da EIRElI 0 emshypreendedor goza de uma separacao entre 0 patrimonio afetado ao exercfcio da atividade e 0 seu patrimanio pessoal A exigencia de urn capital minimo pode ser vista como uma forma de garantir 0 cumprimento das obrigac5es assumidas no exercfcio da atividade Uma garantia para eventuais credores da EIRUI

Em outras palavras 0 estabelecimento de um capital minima e necesshysario para dar credibilidade ao instituto recem-criado ja que com a consshytituicao da EIRELI ha uma autonomia patrimonial ha uma separacao entre o patfifl~niHi~Rif~8qI~middotatJvidade ecooomieuroa--e-G-pattimQlli0partiS2ulill~Qrmiddot titu lar (Pessoa 2011)

Sao muitos no entanto os argumentos contrarios aexigencia imposta pelo texto legal

Inicialmente destaca-se que nao existe via de regra capital minimo estabelecido para a constituitao de sociedades ou registro de empresario individual no Brasil exigindo-se tao somente uma adequacao do capital investido ao objeto social motivo pelo qual a exigencia feita somente para a EIRElI e questionavel (Ramos 2012 p 43)

26 Integra da decisaa pode ser visuallzada em lthttpJprocwebjfrjjusbrportalconsultaresconsprocaspgt

RO N 43 - MarmiddotAbrl2815- PARlE GEnAL - DOUfRINL

Com efeito

Anenhumaoutra forma de exerc1cioempresarial no pals se faz a exigencia exceto em casas excepcionais de um minima de capital Como sustentar essa regra para a EIREU 1550 infringe a igualdade de tratamento que deve ser dada a todos genericamente A desigualdade de tratamento existe por certo sem arrostar a isonomia nos casos em que haja no entanto justificativa para tanto (Bruscato 2011 p 29)

Este e tambern 0 entendimento exposto na Atao Direta de Inconstishytucionalidade nQ 4637 proposta pelo Partido Popular Socialista perante 0

Supremo Tribunal Federal a qual ainda se encontra pendente de julgamenshyto Na aludida ADln defende-se que condicionar a constituiltao de uma EJRElI a integralizaltao de um capital minimo sem qualquer motivo evidenshyte e relevante constituiria afronta ao princfpio da isonomia bem como ao fundamento da livre iniciativa2

expresso no art 17028 caput da CF1988 (Brasil2011)

Segundo 0 partido autor da ADln ao estabelecer um capital no valor de 100 vezes 0 salario-minimo vigente no Pais 0 legislador acabou ferindo o prindpio da igualdade Sustenta-se que para a constituiltao de uma socieshydade com socios de responsabilidade limitada como por exemplo a socieshydade limilada nao existe exigencia de capital mlnimo logol nao eposslvel faze-Io em relarao a EIRElI ja que segundo exposto naacao ambas sao pessoas jurfdicas de identica feiltao no que diz respeito a responsabilidade dos proprietarios (Brasil 2011 )

Outro argumento contrario ao capital minimo exigido para a constituishycao da EJRElI diz respeito acapacidade econamica daqueles que poderiam ser beneficiados com a criacao danolafi~ura isto e os pequenos empre~ endedores que antesdacriacaoddriYovoenteou empresariavam de forma individual sem limitacao de responsabilidade e separacao de patrimonio ou necessariamente tinham de estabelecer sociedades apenas para gozar da autonomia patrimonial e assim reduzir os riscos do empreendimento Nesse

27 A livre iniciativa segundo Pedro le~7a e um dos pilares da ordem econOmica ao lado da valoriza~ao do Irabalha humano (lenza 201 p 984) Inocsectncio Martires Coelho citando Miguel Reale explica que livre iniciativa e livre concorrencla silo conceitos complementares mas essenciamente distinlos A primeira nao 0 senaa a proje~ao da liberdade individual no plano de produ~ao citula~ao e distribuii8o das riquezas assegurando nao apenas a livre esoolha des proflssoes e das atlvidades econ8mlcas mas tambem a autonoma elei~ao dos processos ou meios julgados mais adequados aconsecu~iio des fins visados liberdade de fins ede maios informa aprincipia de livre inicleliva conlerindo-Ihe um valar primordial como results da interpreta~ao conjugada dos cftados arts 1deg e [70 (Reale apud Mendes Coelho Branco 2010 p 1409)

28 Art 170 da CF11988 A ordem econOmica fundada na valoriza~~o do trabalho humano e na livre iniciativa tern por tim assegurar a todosexist~ncia digna conforme es ditames da Justia SOCial observados as seguintesprinclpies [J (6rasll 1988 p indeterminada)

liU RDE 43 - MarmiddotAbr2015 - PARTE GEllAl- OOUfOINA

caso a sociedade era constitufda normalmente com pessoas pr6ximas mas sem nenhum interesse na atividade as quais figuravam nocQotratosocial

como titulares de percentual minima das quotas sociais constituindo as chamadas sociedades de fachada ja mencionadas29 bull

Nesse ponto pode-se dizer que apesar das crfticas disparadas ao novel instituto a EIRELI mostra-5e como instrumento eficaz para coibir a praticc comumente adotada no Brasil de conslituiyJo de sociedades em que um dos s6ci05 nao tem qualquer participa)ao na gestao do empreendishymento formada com 0 dnico objetivo de limitar a responsabilidade do emshypresario que na pratica exerce a empresa individualmente (Ramos 2012 p 40-41)

Por essa razJo e que uma vez sendo 0 objetivo da criaCJo da EIRELI estimular 0 exercicio de atividade empresaria especialmente por pequenos empreendedores 0 valor de 100 (cem) vezes 0 salario-minimo mostra-se desproporcional 1550 porque grande parte dos empreendedores que podem se enquadrar na EIRELI iniciam suas atividades com capital bastante inferior Afirma-se que 0 capital minimo estabelecido pelo legislador esta longe da realidade dos pequenos empreendedores brasiieiros e caracteriza desresshypeito ao principio da livre iniciativa Assim 0 legislador patrio nao teria la5shytreado a fixayao deste valor em estudos sobre a capacidade econ6mico-fishynanceira dos provaveis interessados nesta especie societaria (Pessoa 2011 )

Estes sao tambem os argumentos que embasam a justificativa do Proshyjeto de Lei nQ 24682011 de autoria do Deputado Carlos Bezerra Segundo o parlamentar a exigencia feita pelo legislador retira dos pequenos empreshyendedores a possibilidade de coostituiyao de lima EIRELI haja vista que 0

valor exigido na Lei 0 2 124412011 supera significativamente 0 valor geshyralmente empregado para a constitlliyao dasPeqU~PilSempresas Por essa raz~(jo aludidoprojeto tem como um (feseusigtbJetivosillterar 0 art 9~O-A do Codigo Civil para reduzir de 100 para 50 salarios-mfnimos 0 capital minima exigido para a constitui~ao de lima EIREU (Brasil 2011)

Seguindo mesmo entendimento

29 A exist~ncia das chamadas sociedades de fachada Ii conhecida desde ha multo olio apenas pela dovtrina mas tam~m pela junsprud~ncia de nossos trlbunais 0 reconhecimento desta situa~ao se faz relevante tanto para que possa coibir tal praliea quanto para proteger a indivlduo que comprovadamente jamals exerceL qualqller poder de administra~ao sobre a sociedade da responsabllizagao pelos atos praticados indlvidualmente pelo s6cio detentor da quase totalidade das quotas sociais A tItulo de exemplo Execu~ao fiscal E aparente a socledade em que a imensa maioria das quotas pertenee a uma s6 pessoa flsiea Sltua~ao que mascara a atividade de urn comereiante em nome Individual Indelerlmento do pedido de penhora sobre bens do s60lo de fachada Decisao acertada potque de acordo com a realldade fatlca Agravo improvldo (TJRS AI 591020177 1 ccrv Rei Jose Velllnha de Lacenla J 21051991)

30

ROE N 43 - MarmiddotAlIr2n15 - PAUn GfRAl- OUUmINL

Deveria ser desnecessario diz~-Io mas tal materia nao poderia jamais ser objeto de decisao arbitraria sob pena de frustraiOobjetivo mesmo da norshyma e ll1alferir a Constituirao 0 numero 100 ninguem negara soa bem aos ouvidos mas isso nao deveria bastar para inseri-Io em texto legal Se de fato sua eleirao foi desacompanhada de qualquer embasamento tecnico e passrvel demonstrar-se inclusive mediante a colheita de dados estatisticos e indicacoes de direito comparado a inconstitucionalidade decorrente da violaSao aos princfpios da isonomia e da razoabllidade Por que se negar ao cidadao que dispanha de 50 salarios-minimos 0 direito de constituir uma EIREU quando em Portugal eassaz inferior 0 montante necessario para faz~shy-10 e no Chile sequer existe exigencia dessa especie (como alias previa 0

texto primitivo do PU e questao cuja resposta se desprovida de fundamenshytos s6lidos atesta a contrariedade aos supracitados principios (Nadu sd p indeterminada)

A exclusao de grande parte dos empreendedores do pafs com a exishygeurogtncia de capital mlnimo alto e tambem argumento da ADln 4637 ja que o objetivo primordial da norma recem-criada e fomentar 0 desenvolvimento ecoo6mico e social do pais Sustenta-se que tal objetivo esta sendo prejudishycado oa medida em que a legislacao retira de pequenos empreendedores a possibilidade de lanyarem-se no mercado economico de forma regular saindo portanto da informalidade (Brasil 2011 p indeterminadal

Corroborando 0 entendimento aeima Haroldo Malheiros Duclerc Vercosa (2011 p indeterminada) afirma que

rJa crftJca que se faz eque 0 capital mlnimo exigido de tal sociedade deixa a margem urna parcela substancial dos microempresarios patrios os quais continuarao dentro do regime geraf de respollsabilidade patrimonial pessoal (e do risco correspondente) sem acesso ao patrimonio ~eparadoqlleeiQ ltI

serqiad9para q EIRElI a naoser par alguma fugapararrlecanisfnocorno deg dlc6nstitui~ao de uma sociedade limitada com outro socio este detentor de

minima expressao do capital social Mas tal recurso muito utilizado apreshysenta custos que 0 microempresario dificilll1ente poderii suportar

Ainda deve-se considerar que a vinculacao do salario-mfnimo para qualquer fim e expressameote vedada pel a Constituicao Federal de 1988 em seu art 72

IV30 Nesse passo ainda que se considere posslvel Oll ate mesmo necessaria a exigencia de lim capital minimo para a constituicao de

Art lO da Cf1988 Sao direlos dos tlllbalhadores urbanos e rurais aiem de outros que visem il melhoria de sua condl~ilo social L1IV - saIMiomiddotInnlmo lixado em lei naeionalmente uniftcado capaz de arender a suas neeessidades vitais Mslcas e ~s de sua famflia com moradla alilnenta~iio eduoaao saude lazer vestuario higiene transporte e prevldencla social com reaJustes perlMieas que lhe preservem degpoder aquisitivo sendo vedada sua vineula~ilo rara qualqver 11m l (Brasil 1988 p indeterminada)

N N bullbullbullbullbullbull HOE N 43 - MarmiddotAbr2015 -AlIT GERAl- DOUTRIIfA

uma EIRELI este capital em regra nao poderia ser calculado com base no salario-minimo

5eguindo tal raciodnio e por entender que a parte final do art 980shyA do Codigo Civil de 200212 fere 0 disposto no art IV da Constituishylt030 Federal entre os argumentos utilizados na ADIn 4637 esta 0 fato de que 0 eonstituinte com 0 objetivo de evitar que os reajustes peri6dicos do salario-minimo que visam a preserva-ao de seu poder aquisitivD sofram influencias de interesses diversos daqueles previstos na Constitui-ao vedou expressamente a villculacao do salario-minimo para qualquer finalidade (Brasil 2011 p indeterminada)

Ainda eonsiderando a oscilacao que 0 reajuste do salado pode imshypliear a I Jornada de Direito Comercial do Conselho da Justi-a Federal ocorrida em outubro de 2012 no 5TJ definiu por meio do Enunciado nQ 4 que llma vez subscrito e efetivamente integralizado 0 capital da empresa individual de responsabilidade limitada nao sofrera nenhuma influencia deshycorrente de ulteriores alteracoes no salario minimo

Nao obstante os argumentos contrarios e a ADln pendente de julshygamento vige hoje a exigencia de capital minimo para a eonstituirao da EIRELI fixada com base no salario-minimo nacional vigente na epoca da constitu icao

23 EIRElI EMPRESARlO InDIVIDUAL SOCIEDADE EMPRESARIA UlflPESSOAL OU UM TlPO SUI GEMERIS

DE EMPRESARIO

o legislador batizou 0 novo instituto de Empresa Individual de Resshyponsabilidade limitada Em primeiro lugar ha que se considerar que resta eonsagrado na legisla-ao na doutrina e najurisprudencia que empresae uma atividade exerddapelo empresarilte nao uma pessoa urn sujeito de direitos (Moraes 201 0 p 40 Diante disso a primeira crltica feita ao legisshy

31 0 STF ja firmoL entendimento em divesos julgadas no sentido de que e proibida a vinculaao do sailtirio minima para qualquer finalidade Dana moral FiKa~ilo de indenizaltao com vinculaao a salario-minimo Vedaao constitucional Art 7deg IV da Carta Magna 0 Plenario desta Corte ao julgar em 01101997 a ADln 1425 firmou a entendimenro de qle ao estabelecer 0 art 7deg IV da Constitui~iio que e vedada a vincula~o ao salaria-mlnima para quaiquer fim quis evitar que interesses estranhos aos versados na norma constitucional venham a tel influencia na filCll~o do valor minima a ser observado No caso a indenizaltiio par dana moral fo fixada em 500 salarios-minimos para que inequivacamente 0 valor do salilria-mlnlmo a que essa indenizaao esta vinculado atue como fator de atualizaao desta a que IS vedada pela citarlD dispositivo canstitucional Outros precedentes desta Corte quanta 11 vedaao da vinculagao em causa ReculSo extraordinario conhecido e provida

32 Art 98QA do CCB A empresa individual de responsabilidade limitada sera constituida por uma dnica pessoa titular da totalidade do capital social devidamente integralizado que nao sera inferior a 100 (cern) vezes 0

malar salMo-mfnimo vigenre no Pars (Brasil 2002 paginaltaa indeterminada)

33

ROE N 43 - MarmiddotAbr2015 - PARlE GERAl- DOUmIIlL 1

lador infraconstitucional acerca da natureza juridica da EIRELI diz respeito asuafaLta detecnica para dar nome ao institutomiddot recem~criado chamando de empresa uma especie de empresario (Ramos 2012)

Ora se empresa e uma atividade e nao um sujeito de direitos a falha tecnica legislativa contribtli para a compreensao inadequada que cornushymente se faz da empresa ou seja confundindo-a com a propria pessoa dica ou ainda com 0 estabelecimento empresarial Por essa razao a crftica vem no sentido de que a terminologia mais adequada seria empresario e nao empresa

Nominada de forma equivocada ou nao uma figura juridica capaz de conferir a possibilidade de exercfcio da empresa por uma s6 pessoa ffsiea com separa-ao de patrimonio e limita-ao de responsabilidade e como ja dito desejo antigo da dOlltrina brasileira Como exemplo epossivel citar 0

projeto de Lei nil 201 de 194733 apresentado pelo entao Deputado Fausto

de Freitas e Castro 0 qual dispunha em seu art 12 que qualquer pessoa capaz de exereer 0 eomercio podera constituir empresa em nome individual limitando a sua responsab[lidade pelos neg6cios da mesma ao valor do capital declarado (Martins Filho 1950 p 64-66)

Antonio Martins Filho em cuja obra Umitatiio da responsabilidade do comerciante individual analisa 0 aludido projeto de lei afirmava

A empresa individual de responsabilidade limitada constituindo a ultima fase do processo evolutivo da limitaltao dos riscos e insistentemente redashymada pelos agentes da atividade econ6mica dos novos tempos Recusando-a de direito nao evitara 0 legislador a existencia de fato desse tipo de empresa que passa a funcionar sob forma de sociedade fictfcia ou unipessoal (Martins Filho 1950 p 9)

ja naquela epoca ainda sob a vigencia do Codigo Comercial de 1850 e do C6digo Civil de 1916 0 autor ressaltava a importancia da limita~ao de responsabilidade daquele que era conhecido como comerciante individual (hoje empresario individual) bem como reconhecia a existencia de socieshydades constitufdas apenas formalmente para 0 fim de aquisi=ao de personashylidade jurfdica pr6pria e separa-ao de patrimonio a partir do que concluia que apenas a cria-ao da empresa individual de responsabilidade limitada

Projeto de Lei nO 201 de 1947 anexo abra Limitarl0 de resJOflsabilidade do comerciante individual MARTINS FILHO AntOnio Anais do Congresso Jurfdico Nacional Comemorativo do Cinquenlenario da Faculdade de Direito de Porto Alegre Revisa de Fecudade de Direito de Porto Alegre Porto Alegre URGS maio 1950

middot RDE II U - MarmiddotAer201S - PARrE GER~L - DoumlNA

serla capaz de acabar com tal pratica tao comum no Brasil (Martins Filho

1950)

Em 2005 Wilges Ariana Bruscato tambem assinalava a importanshycia do exercicio individual da empresa com limita=ao de responsabilidade como forma eficaz de fomento da economia

jft que 0 modus vivendi de nossa sociedade atual baseia-se em resultados economicos e relevante acenar com contribuilt6es para 0 desenvolvimento da atividade empresarial feita de maneira singular como forma de incentivar as pequenas iniciativas que num 6istema de colmeia representam a agreshyga~ao de vaores sociais importantes como 0 emprego 0 recolhimento de tributo a disseminaltao tecnologica entre outros ou seja 0 favorecimento de pequenas iniciativas que aquecem a economia (Bruscato 2005 p 75)

No mesmo sentido Felipe Ferreira Machado Moraes (2010 p 37-38) sustenta a necessidade de limita=ao da responsabilidade do empresario inshydividual como forma de cumprir os objetivos do Estado Democratico de Direlto tais como expressos na pr6pria Constitui=ao Federal de 1988

Em um Eslado Democratico de Direilo em que a propria Constituiltao da Republica contempla dispositivos que pregam 0 desenvolvimento nacional a livre iniciativa e inclusive 0 tratamento favorecido as empresas de pequeno porte nao parece prosperar 0 entendimento de que 0 empresario individual deve ter sua responsabilidade ilimitada respondendo com a totalidade de seu patrimonio particular (civil) por eventuais insucessos de seu empreendishy

mento

o anseio pela limitarao da responsabilidade no exerdcio individual da ernpreSq~Iil~re ()s~doutrinadores patrios baseava-se frequenteniente experiencia de outros paises que regulamentaram em sua ordem interna diversas formas de possibilitar a limitarao de responsabilidade daquele que

deseja empresariar individualmente

Na Alemanha como visto surgiu 0 primeiro modelo de sociedade por quotas de responsabilidade limitada em 1892 Em 1981 quase um 56shyculo depois entra em vigor a lei que alterou a legislarao das Sociedades por Quotas de Responsabilidade limitada para introduzir no ordenamenshyto juridico alemao a Sociedade por Quotas de Responsabilidade Limitada Unipessoal Passou-se enUlo a permitir a constituirao de Sociedades por Quotas de Responsabilidade Limitada por apenas uma pessoa (ffsica ou jushy

ridica) (Abrao 2000 p 6)

ROE N 43 - M8rmiddotAb~2015 - PARr CEIlAL - DOUTRlIIAmiddotmiddotmiddotmiddot

Tambem na Fran=a ap6s a regulamenta=ao clas sociedades por quoshytas de fesponsabiJidade Itmitadaiolintroduzida a limitada unipessoal em 1985 permitindo iguafmente a constituirao de sociedades unipessoais (Abrao 2000 p 12)

Ja em Portugal existem duas possibilidades para 0 exercfcio indivishydual da empresa Em 1986 0 Decreto-Lei nQ 2481986 criou a figura do Esshytabelecimento Individual de Responsabilidade limitada EtRL Trata-se de figura na~ dotada de personalidade juridica constilufda atraves de um pashytrimonio de afetarao por meio do qual uma pessoa fisica explora uma ativishydade economica empresarial Para a constituirao de um EIRL e necessario o investimento minima de euro 5000 (cinco mil euros) Ja a segunda forma de empresariar individualmente em Portugal com separarao patrimonial e limitarao de responsabilidade foi regulamentada 10 anos ap6s 0 EIRL por meio do Decreto-Lei nil 2571996 a Sociedade Unipessoal par Quotas Tal sociedade e constitufda por uma 56 pessoa (fIsica OU juridical titular de todo o capital social e cuja responsabllidade esta limitada ao capital investido sendo este livremente fixado pelo s6cio ou seja nao ha exigencia de capital mlnimo para a SUQ ao contrario do que ocorre com 0 EIR134

bull

Na experiencia brasileira entretanto ate a ediraa da Lei nQ 124412011 nao havia possibilidade de exercer uma atividade econoshymica organizada de forma individual sem 0 camprometimento da totalidade do patrimonio do empresario A sociedade unipessoal admitida em palses europeus desde meados de 1980 somente era permitida no Brasil em duas hip6teses excepcionais quais sejam a subsidiaria integral prevista na Lei das Sociedades Anonimas (Lei nQ 64041976)35 e a unipessoalidade ternshyporaria da sociedade pelo prazo de cento e oitenta dias conforme dispoe 0

art 1033 IVJ6 do C6qigoCiv

Assim no Brasil ap6s anos de discussao doutrimiria e de entendishymento quanta a necessidade de cria=ao de um instituto que viabilizasse 0

exercfcio da empresa de forma individual sem que isso acarretasse necessashyria risco ao patrimonio pessoal do empresario 0 legislador infraconstitucioshy

34 Informa~aes dlsponiveis em lthttpwwwpot1lJgalgIObalptPTlnvestirPortugaguiadoinvestldorICriareinstalar PaginaSTipos5ociedadesComerciais aspxgt

35 Art 251 da LSA A companhia pode ser constilulda mediante escrilura publica tendo como unico acionisa sociedade brasileira sect 1deg A sociedade que subscrever em bans 0 capital de subsidiaria inlegral devera aprover o laudo de avaliaifio de que trata 0 art 8deg respondendo nos lermos do sect 6 do art 80 e do art 10 e seu panlgrafo Llnico sect 2deg A companhia pade ser converlda em subsidiara integral mediante aquiSitao por scciedade braslieira de lodes as sues ayoes ou nos lermos do art 252

36 Art 1033 do eC8 Dissolve-se a scciedade quando oeorrer 11 IV a falla de pluralidede de socios nila reconstltufda no prazo de cenro e oitenla dias L J

ROE Ndeg 43 - MarmiddotAbr2015 - PARTI GERAl- OUIRINA

nal consagrou a flgura da Empresa Individual de Responsabilidade Limitada a EIRELI

Quando inserida no ordenamento juridico a EIRElI gerou controvershysias acerca da sua natureza juridica Ha que diga tratar-se de empresario inshydividual por outro lado ha que afirme tratar-se de uma sociedade limitada unipessoal No entanto hii tambem uma terceira corrente que afirma ser a EIRELI uma nova especie de pessoa juridical um ente distinto do empresario individual e das sociedades empresarias

A corrente menos express iva considera a EIRELI uma nova modalishydade de empresario individual ou seja um empresario individual de resshyponsabilidade limitada Para tal corrente 0 empresario individual ate en tao conhecido aquele que e pessoa fisica permanece existindo passando a existir 0 empresario individual pessoa jurfdica

Nesse senti do

Apesar de ser uma pessoa jurfdica a EIRELI nao euma sociedade empresaria mas sim uma forma diferenciada de constituiyao de empresario individual (que ao contrltirio daquela e pessoa natural) (Cardoso 2012 p indetermishynada)

Outra corrente mais expressiva e a capitaneada par Fabio Ulhoa Coelho (2012 p 409) para quem a EIRELI e uma sociedade empresaria definindo-a como uma sociedade limitada unipessoal na qual apenas uma pessoa (rfsica ou jurfdica no entender do autor) sera titular da totalidade das quotas socials 0 autor salienta que 0 sect 6Q do art 980middotA do C6digo Civil pershymite concluir que a EIRELI eespecie de sociedade limitada pois se submete as regras deste tipo societario

Da mesma forma Gustavo de Alvarenga Batista (2012) defi ne Em terrnosmiddotpraticos aEIRELI possibilitaqueiumemprksaflopessoa constitua uma sociedade unipessoal na qual fica sua responsabilidade atreshylada ao valor do capital por ele integralizado

Ja Andre Luiz Santa Cruz Ramos (2012) entende que 0 legislador criou uma nova figura juridica distinta da sociedade eillpresaria e do empresario individual mas com caracteristicas semelhantes a ambos No entanto 0 aushytor entende que foi um equivoco a cria~ao de um novo tipo de pessoa jurfshydica Sustenta que 0 legislador poderia tao somente ter consagrado 0 empreshysario individual de responsabilidade limitada que continuaria sendo uma pessoa fisica mas gozando da separa~ao entre 0 seu patrimonio pessoal e aquele afetado ao exercfcio da atividade economica ou ainda consagrado

ROE N 43 - MarmiddotAbrI21115- PARrE GERAl- OUTRINL

efetivamente a sociedade empresaria unipessoal bastando para tanto inshycluirentreasEseecies de sociedades ja existentes a sociedade constitulda par um 6nico s6cio titular de todas as quotas Em qualquer dos casos a insenao feita no art 44 do C6digo Civil seria desnecessaria

Do mesmo entendimento compartilha Wilges Ariana Bruscato (2011 p 10) que afirma que acaso a EIREU fosse uma sociedade unipessoal nao haveria necessidade de inclusao do instituto no inciso VI do art 44 do C6shydigo Civil ja que as sociedades ja estao previstas no inciso II do mesmo dispositivo Da forma como posta nao existe sociedade e silll um tipo sui generis no direito patrio Ainda afirma-se que

a EIREI nao tem natureza juridica de sociedade empresaria ao contrario do que muitos ainda defendem mas trata-se de uma nova categoria de pessoa jurfdica de direito privado que tambem se destina ao exercfcio da empresa Tanto que a Lei nQ 124412011 incluiu as empresas individuais de responsashybilidade limitada no rol de pessoas jurfdicas de direito privado do art 44 do C6digo Civil (inciso Vi) Ademais a lei nQ 124412011 ao inserir no C6dishygo Civil 0 art 980-A teve 0 cuidado de topograficamente tambemcriar um novo titulo (mulo I-A Da Empresa Individual de Responsabiidade Umitashyda) situado entre os Titulos I e II que tratam respedivamente do empresario individual e das sociedades empresarias (Pinheiro 2011 p indeterminadal

Nao obstante os variados entendimentos ha Uma tendencia de que a EIRELI seja efetivaillente compreendida como uma nova especie de pessoa juridica nao se tratando de empresario indiVidual tampouco de sOliedade empresaria ainda que unipessoal Tanto e assim que na ja mencionada I Jarnada de Direito Comercial do Conselho da Justi~a Federal foi aprovado o Enunciado nil 3 com a seguinte redacao A Empresa Individual de Resshyponsabilidade Limitada - ElRELI nao e sociedade unipessoa mas um novo ente~j_stjn~q da pessoa doempresarioe da sociedade eiTlpresfiriao qual seguia ciresmmiddota Iinha do Enunciado nil 46937 da V Jornada de Direito Civil que afirma que a empresa individual de responsabilidade limitada (EIRELI) nao e sociedade mas nova ente jurfdica personificado

24 AEIRELI EO PRomo DE NOVO CUOIGO COMERCIAl EXTINCAO DO INSTITUTO [ CRI~O DE f40VAS FIGURAS1

Tramita no Congresso Nacional 0 Projeta de Lei nil 15722011 que visa a instjtui~ao de um novo C6digo Comercial com a consequente revoshy

~__~~M~~~~ __ __ ___~_____ _~

37 Enunciado n 469 do elF Arts 44 e 980middotA A empresa individual de responsabilidade Iimltada (poundIRELI) olio Ii sociedade mas novo ente jurrdico personificado

Ii r~ RDE Nmiddot 43 - MarmiddotAbrf2615 - PARTE GERAl- OnUIRIUA

gasao de diversos dispositivos do atual C6digo Civil bem como de legislashysoes esparsas

o projeto apresentado pelo Deputado Vicente Candido baseado em minuta elaborada por Fabio Ulhoa Coelho na obra 0 futuro do direito coshymercia tem como uma de suas justificativas a sistematizasao revisao aperfeiltoamento e modernizasao da disciplina jurldica do estabeledmento empresarial do comercio eletronico da concorrencia desleal das condutas parasitarias da escrituratao mercantit do exerddo individual da empresa e da sociedade unipessoal (Brasil 2011 p 118)

Dito projeto nao traz em seu texto referenda expressa ao instituto recem-criado a EIRELI No entanto consagra duas figuras que merecem especial atensao sao elas 0 empresario individual em regime fiduciario e a sociedade Iimitada unipessoajJs

o empresario individual tal como e conhecido atualmente nao deishyxa de existir na redasao do projeto de NCCom sendo disciplinado entre os arts 14 a 32 do projeto de lei No que tange as suas caracteristicas esshysenciais 0 empresario individual permanece sendo pessoa ffsica que exershyce singularmente uma empresa sem limitaltao de responsabilidade nao se submetendo ao prindpio da autonornia patrimonial

Entretanto alem do empresario individual ate 0 momenta conhecido o novo C6digo Comercial visa a instituir outras duas formas de exerdcio individual da empresa como jei dito as quais possibilitam a separaSao de patrimonio e limitaltao de responsabilidade do empreendedor 0 empresashyrio individual que exerce a empresa em regime fiduciari039 e a sociedade limitada unipessoal

Da leitura do projeto infere-se que 0 empresario individual ao reshyquerer 0 seu registro comeh~rfipfesarioquntamp ao 6rgaocompetente poderamiddot fazer uma declaratao na qual conste que 0 exercicio da empresa dar-seshy

38 Na verdadc ha que se pontuar que 0 projeto de lei esta baseado em texto do jurisla Fabio Ulhoa Coelho a entende que a EIREU euma socied8de limiteda unipessoal e n~o ume nova especie de pessoa juridica eo fato pelo qual nao esta ela prevista nesse lormato no relerido projeto

39 A fiducia tem origem no direito romano ral institwlo caraclerlzamiddotse pela contiana e boa-lEi existentes entre fidLicianle e fiduciario A propriedade fiduciira por sua vez caracteriza-se quando determinado bern ou conjento de bens e destinado II gamntia de certo(s) credor(es) ou scja os bens constltuldos como propriedade fiduciaria de destlnam a garantia do cumprimento de determlnadas obrlgaltOes do liduciaro perante 0 fiduciante nao podendo ser objeto de expropriaao Pilra a adlmplemenlo das obriga6es pessoafs do fiduciiirio (Restlffe Neto Rest1ffe 20001 Segundo a C6digo Civil de 2002 em seu art L35 considerashysa propriedade fiducjaria a proprfedade resoliNel de caisa m6vel imungfvel Que 0 devedor com escopo de garanta translere ao credor Para maior aprofundamento acarce do tema vide SILVA ltJiz Augusto Beck da Alienaliio fiducitlfia ampm garantia 4 ed RIO de Janeiro forense 1998

RDE N 43 - Mar-AbtfZ015 - PARrE GERAl- DOUTRINL

-a em regime fiduciario Com a referida dedaraltao 0 empresario devera constitJir 1m patrimbnio relaeuroionado aattvrdade empresarial que pretende exercer absolutamente separado de seu patrimonio pessoaL

Assim uma vez cumpridos os requisitos 0 empresario individual desshysa modalidade (que continuaria sendo pessoa fisica) nao poderia ter seu patrimonio pessoal expropriado para 0 cumprimento das obrigalt6es assushymidas no exercicio da atividade salvo se conforme disp6e 0 sect 29 do art 32 do NCCom se tratarem de obrigaltoes de natureza trabalhista e triblltaria relacionadas ou nao com a empresa Trata-se pois do estabelecimento de um patrimonio de afetaltao que serviria de garantia aos credares do em preshysarlo individual em vez de totalidade do seu patrimonio

A outra forma de exercfcio singular da empresa proposto pelo projeto em comento e a constituiltao de uma sociedade limitada unipessoal Ao tratar das sociedades em especie 0 projeto preve a existencia de cinco tipos societarios (sociedade anonima sociedade limitada sociedade em nome coletivo sociedade em comandita simples e sociedade em comandita par alt6est todos os tipos ja cOllhecidos e previstos no atllal C6digo Civil

A novidade e uma pequena alteraltao feita no ambito das sociedades limitadas para no art 192 dispor que a sociedade limitada sera constishytufda por um ou mais s6cios ou seja retira da definiltao de sociedade a pluralidade dos s6cios

Todavia algumas consideralt6es devem ser feitas acerca do projeto em questao no que tange a sua relaltao com 0 instituto ora estudado

Conforme ja referido a limita~ao de responsabilidade do empresario individual era esperada pela doutrina patria ha muito tempo e a EIRELI foi a

l~gislativaelJcontrada para dar res posta aosansetoSexistentes

Com crfticas ou nao fato e que a EIRELI hoje majoritariamente conshysiderada como uma nova especie de pessoa juridica concebe a limitaltao de responsabilidade no exercfcio individual da empresa e desde 0 infcio de sua vigencia as estatisticas mostram que esta nova forma de exercer a empresa vem crescendo em todo 0 Pafs S6 em Sao Paulo nos primeiros tres meses de sua existencia a EIRELI jii representava mais de 4 do total de registros realizados conforme informaltao publicada pela Junta Comercial do daquele Estad040bull

40 Para majores Inlormacentes e dados estatistlcos vide htlpwwwjucespJazendaspgovbr

RUE III 43 - MOImiddotAbr2U15 - PARTE GERAl- nOUTHINA

Nesse passo cumpre questionar qual sera 0 futuro da EIRELI se 0 Proshyjeto de Lei nQ 15722011 vier a ser aprovado 0 que fazer com as EIRELIs ja existentes ao tempCl da publicacao do novo C6digo Comerdal Sera necesshysaria a criacao de regras de transicao ou os titulares de EIRELI simplesmente serao obrigados a requerer sua transformacao perante as Juntas Comercias para uma das duas modalidades criadas pelo novo C6digo

Certo e que 0 projeto de Novo C6digo Comercial contempla de certa forma a EIRELI mas colocando-a definitivamente como uma especie de sociedade limitada a sociedade limitada unipessoal No entanto ao propor llm projeto e necessario fazer uma analise do impacto que as alteraC6es provocarao sob pena de a nova lei em vez de pacificar entendimentos e llnificar tratamento acabar acarretando um caos inicial comprometendo sua pr6pria legitimidade

CONSIDERA~OES FINAlS

A limitacao de responsabilidade no exerdcio individual da emprcsa e tema recorrente na doutrina brasileira e desejo antigo dos empreendedores Ate a consagrarao da EIRELI par meio da Lei nQ 124412011 tal limitarao nao era posslvel no exercfcio individual da empresa como ja amplamenshyte debatido e demonstrado Com a criacao da EIRELI 0 legislador patrio apresenta aos empreendedores brasileiros uma nova possibilidade para empresariar sem a necessidade de constituirao de sociedades de fachada ou eventual comprometimento da totalidade do patrimonio pessoal do emshypreendedor

Percebe-se contudo que as controversias existentes ern torno da EIRELI ainda sao muitas Mas algumas coisas podem-se dizer certas Prishym~irQjslli1fiIR~khv~i~efetivamentepara privilegiar os pequenosemiddottledioS0i(i empreendedores nao se ve razao plausivel para que ela seja constituida por titular pessoa juridica Beneficiar sociedades estrangeiras e um argumento fraco para fazer esta defesa

Segundo do ponto de vista da garantia dos credores a exigencia de um capital mfnimo tern razao de ser principalmente levando ern conta que ate entao os empresarios individuais respondiam com a totalidade do seu patrimonio Todavia considerando que nao ha exigencia nesse sentido para as demais especies de empresarios de fato fere-se 0 principio da igualdade de tratamento Ainda em rela-ao ao capital minimo se 0 objetivo do legisshylador era beneficiar pequenos e medios empreendedores 0 minima estabeshylecido em 100 vezes 0 salario-mfnimo nacional e bastante alto Talvez uma

nOf Ndeg 43 - MalmiddotAbrl2015 -PARTE GERAl- DOUTRJNL bullbull bullbullbull

adequacao do montante fosse interessante para 0 atingimento dos objetivos do novel instituto

Em relacao a natureza juridica compreender a EIRElI como uma nova especie de pessoa jurfdica e certamente 0 melhor caminho ainda que isso possa parecer estranho ja que se esta diante de uma pessoa jurfdica constituida de uma dnica pessoa Afinal partindo dessa premissa nao seria necessario relativizar 0 conceito de sociedade que exige pluralidade de s6dos tampouco seria necessario pensar um empresario individual pessoa frsica que pudesse ser titular de dois patrimonios autonomos 0 pessoal eo de afetacao

Em derradeira analise no que diz respeito ao Projeto de novo C6digo Comercial cabe apenas ressaltar que eventual aprovacao devera levar em considerarao 0 fato de que como visto desde a entrada ern vigor da Lei nQ 124412011 a procura dos empreendedores por esta modalidade de exercfcio da empresa tern sido grande Contudo 0 projeto de lei nao traz qualquer mencao ao instituto Assim dever-se-a ter uma preocupacao com a transi-ao nao se podendo ignorar a existencia destes slljeitos de direito sem estabelecer qual sera oseu destino Mal se consagram institutos no Brashysil e novamente se pretendem altera~oes legislativas Assim nao se chega a maturidade

Por hora ainda que com quest6es controvertidas ha uma unanimidashyde doutrinaria de que a EIRELI e bem-vinda nao apenas porque oriunda de pleitos antigos mas tambem porque apresenta uma nova possibilidade para quem pretende empresariar no Brasil de modo que ha grande expectativa no sentido de que 0 Poder Judiciario seja capaz de dirimir as controversias existentes causadas basicamente por falhas do legislador permitindo uma amPla utilizacao dQoolRjn~titu~9~gW~Cialmente poraqueles que aoque parece se tentou benefidar 05 pequenos e medios empreendedores brasishyleiros

Page 10: SINTESE - cortemello.com.br · RESUMO A EIRELI - Empresa Individual de Aesponsabilidade Limitada foi introduzida no ordena ... a partir da doutrina de Alberto Asquini, que entende

13 It ROE N 43 - MarmiddotlbI2D15 - PARTE GERAl- DOUTRINA

Responsabilidade Umitada - EIRELI Especie de empresario que conforme refere Andre Luiz Santa Cruz Ramos (2012 p 40) surge na legislacao piitria atendendoa antigos an5eiostantoda doutrina quantodo meio empresariai

Ate a entrada em vigor da legislacao que introduziu a EIRElI como ja dito existiam apenas duas formas de exercer a empresa ou como empreshysario individual (pessoa ffsica sem autonomia patrimonial e limitacao de responsabilidade) ou como sociedade empresaria (na qual os sodos podem ou nao vir a responder pelas obrigacoes contraidas no exercfcio da atividashyde mas sempre e tao somente ap6s 0 esgotamento do patrim6nio social ja que ha no mlnimo a autonomia patrimonial da pessoa juridical

A partir da EIRElI pasSOli a ser posslvel que uma s6 pessoa exerca a empresa por meio de uma pessoa juridica 0 que permite a efetiva separacao patrimonial e limitacao de responsabilidade ao capital investido como ocorshyref mais precisamente nas sociedades limitadas Esse novo ente apresenta caracterfsticas bastante pr6prias

De plano pode-se ressaltar uma caracterfstica e esta incontroversa A EIRELI eum ente dotado de pcrsonalidade juridica pr6pria ja que inserida no rei das pessoas juridicas de direito privado do art 44 do C6digo Civil Ao contrario do empresario individual que e uma pessoa flsica a EIRELI e uma pessoa juridica constituida para 0 exerdcio de uma atividade economica Ainda pela leitura do texto legal na medida em que a EIRELI esta prevista em um inciso em separado inciso VI incluido pela Lei nQ 124412011 a priori nao se poderia concluir qLle se trata de uma sociedade empresaria as quais ja vinham previstas no inciso II

Assim da simples interpretacao da alteracao ocarrida no art 44 do C6digo Civil conclui-se que a EIRELI e pessoa juridica nao se confundindo comasect~Od~adeiJilmpouco com 0 empresario individualquenem peSsoa jurfdiCa~

Outra caracterfstica importante da EIRELI e a exigencia de urn capital mfnimo nao inferior a 100 vezes 0 salilrio-minimo vigente no Pais para a sua constitLlicao conforme dispoe 0 caput do art 980-A do C6digo Civil de 2002 22 tambem inclufdo pela Lei nQ 124412011 0 empreendedor que

21 De plano cumpre esciarecer que por ludo quanto)a exposto no decorrer do presente estudo a nomenclatura utllizada pelo legislador eatecnica na mediaa em que atribuiu personalidade jur(dica a uma etividade Como visto ernpresa nao esujelto de direilos mas sim uma atividade exercida pelo empresario este sim sujeilO de direitos

22 Art 980-A do CCB A empresa individual de responsabWdade limitada sera constiturda por uma cnica pessoa titular da Malidade do capital social devidamente integralizado que nao sera imerior a 100 (cern) vezes 0

maior saario-minimo vigente no Pais (Brasil 2002 p indeterminada)

ROE II 43 - MarmiddotAbI2D15- fART GERAl- DOUTBIRA

desejar exercer a empresa como EIRELI devera no ate da constituicao inshytegralizar a totalidtdedQ valordQ capital que naQPodera ser em valores atuais inferior a R$ 7880000 (setenta e oito mil e oitocentos reais)

Ainda a integralizacao do capital podera ser eita nao apenas em dinheiro mas tambem em bens desde que suscetfveis de avaliacao em dishynheiro nao sendo exigida a apresentacao de laudo avaliativo para tanto Este capital diferente do que ocorre nas sociedades nao sera dividido em quotas ou acoes A regra e a da unicidade do capital afinal este e totalmente titularizado par uma unica pessoa

A terceira caracterfstica marcante da EIRELI diz com 0 sujeito que pode constituf-Ia ou seja 0 titular da EIRELI Segundo dispoe 0 caput do ja mencionado art 980-A do C6digo Civil a EIRELI sera constitufda por apenas uma pessoa Ocorre que 0 dispositivo legal nao deixa claro que 0

titular precisa ser uma pessoa ffsica ou se poderia tambem ser uma pessoa jurfdica Essa falta de especificacao legal gerou discussao com argumentos favoraveis e contra nas duas direltoes No entanto 0 ONRC - Departamenshyto NacionaJ do Registro doComercio pOl meio da lnstrucao Normativa n

9 1172011 definiu (item 1210) que apenas as pessoas naturais plenashy

mente capazes podem constituir EIRELI Ainda ratjficando tal disposiao 0

item 1211 preve expressamente que nao pode ser titular de EfRELI a pesshysoa juridica bem assim a pessoa natural impedida pOl norma constitucional ou por lei especial (Brasil 2011 p indeterminada)

Outra caracterfstica semelhante ao que ocorre com as sociedades limitadas e que a EIRELI pode utilizar qualquer das especies de nome emshypresarial qual seja firma ou denominacao social acrescidas da expressao EIRELI ao final

Par tim e talvezil car~ct~rf~ti~~~5Ys importante a responsabilidade limitada ao capital investido e devidamente integralizado pelo titular da EIRELI Essa regra se depreende da leitura do sect 62 do art 980-A do C6digo Civil que determina a aplicacao a EIRELI das regras previstas para as socieshydades limitadas naquilo em que com patfve I (Brasil 2011 p indeterminashyda) Essa era a mescla qlle se desejava uma modalidade de empresario que fosse constitufda por uma (mica pessoa mas com limitacao de responsabilishydade e facilidade na forma de constituicao como ocorre com as sociedades limitadas

Em sfntese sao estas as principalS caracteristicas da Empresa Indivishydual de Responsabilidade Limitada Ocorre todavia que tais caracterfsticas estabelecidas pela nova legislacao vem causando inumeras controversias

15 ROf N 43 - MarmiddotAbr2015 - PARrE GHAl- DOUfHINA

entre os operadores do Direito e os doutrinadores e estudiosos do direito empresariai Nilo obstante a cria~ao de um instituto que possibilitasse a limitacao de responsabiHdade para 0 exercicio individual da empresa e anshyseio antigo entre os doutrinadores patrios Nesse sentido ainda que objeto de divergeuromcias 0 novo ente com certeza e muito bem-vindo

2OS ASPECTOS CONTROVERTIDOS ACERCA DA EIRElI

Apresentadas as caracteristicas fundamentais da EIRElI conforme as disposicoes legais vigentes faz-se necessario apresentar as controversias que delas surgem A doutrina jurfdica diverge ja que algumas das caracteshyrfsticas da EIRELI supostamente vao de encontro a conceitos estabelecidos e institutos consolidados ao lange de seculos

Os principais aspectos controvertidos acerca da EIRELI dizem respeito as exigencias feitas pelo legislador para sua constituicao especialmente no que tange ao capital mlnimo a ser investido quem pode ser seu titu lar equal a sua natureza jurfdica

21 QUEM PODE SER TITULAR DE UMA EIRElI

Uma das questOes mais problematicas acerca do novo instituto diz respeito aqueles que podem ser titulares de uma EIRELI

Como visto 0 art 980-A do C6digo Civil disp6e em seu caput que a EIREU sera constitufda por uma Cinica pessoa titular de todo 0 capital social o DNRC por seu turno emitiu instru~ao normativa aprovando 0 Manual de Atos de Registro de Empresa Individual de Responsabilidade limitada23

a ser adotado pelas Juntas Comercias de todos os Estados 0 qual preve expressamente que apenas as pessoas fisicas maiores capazes e livres de

q1iili~querimpedimentos legais podemsertittJlar~sde jma BREtt

Ejustamente na redacao da lei e da instrucao normativa do DNRC que reside grande parte da controversia

Hi quem defenda a possibilidade de constituicao da EIRELI por pesshysoas juridicas sob 0 argumento de que se 0 texto legal nao taz qualquer proibicao de forma expressa referindo-se apenas a pessoa ff

nao poderiam os operadores interpretar a norma de forma a excluir algum sujeito de direishyto quando a propria norma nao 0 faz

------~~ -~--~----~----bull---shyda Instru~ao Normativa n 1172011 do Departamento Nacional de Registro do Comercio

em ltllttpwwwdnrcgovbrILegislacaQIIN20117202011pdfgt

RUE N 43 - MarmiddotAbdZ015 - PAHTf GERAl- DOUrnIlIA_

Nesse sentido

C6mefeitO(Jcaput do art 980-A do C6digo Civil expressamente prescreve que a EIREU sera constitllfda par uma unica pessoa sem excluir as pessoas jurrdicas nem restringir essa passibilidade exclusivamente as pessoas ffsicas Ora pessaa jurfdica tambem e pessaa (Mela 2011 p indeterminada)

Da mesma forma defende-se a ideia de que adotar uma interpretacao que restrinja 0 direito de uma pessoa juridica constituir uma EIREU seria afrontar a princfpio constitucional da legalidade uma vez que se a proibishycao nao esta expressa a pennissao estaria subentendida

[ J naa ha impedimenta legal para que uma pes sea juridica titularize 0 cashypital social de uma EIRELI e sob 0 primado de uma ordem jurfdica liberal afirma-se que 0 que nao esta proibido ou ordenade e permitido Esta leitura decorre diretamente do principia da legalidade consagrado na art 5Q

II da Constitui~ao Federal que estabelece que ninguem sera abrigado a fazer Oll

deixar de fazer aigllma coisa senao em virtude de lei (Lupi Schlosser 2012 p indeterminadal

Fabio Ulhoa Coelho (2012 p 409) tambem entende que a EIRELI para ele uma sociedade limitada unipessoal 24

pode ser constitufda tanto por s6cio Cinico pessoa fisica como juridica

No mesmo sentido sustenta-se que a intencao do legislador com a publicacao da lei nQ 124412011 teria sido justamente permitir a constituishycao de EIRElI por pessoa juridica ja que suprimiu da redacao original dos Projetos de lei nQs 46052009 e 49532009 a restritao que era expressa (Melo 2012 p indeterminada)

QO Projeton 46052009 de autoria do Deputado Marcos MonteSi

tinhapbr objetivoaindusao noC6digo Civil de 2002 do art 98S-A 0

qual teria a seguinte redacao A empresa individual de responsabilidade limitada sera constituida por um Cinico s6cio pessoa natural que e 0 titular da totalidade do capital social e que somente podera figurar numa unica empresa dessa modalidade (Brasil 2009 p indeterminada)

Ja 0 Projeto nQ 49532009 de autoria do Deputado Eduardo Sciarra intencionava a incillsao do art 980-A no C6digo Civil de 2002 com a seshyguinte redacao Qualquer pessoa ffsica que atenda ao disposto no art 972

-----~---------=~-~--~~--~---

24 Para Fabio Ulhoa Coelho (2012 p 409) a EIRELI deve ser considerada como urna sociedade limitada umpessoa Sustenta que a interpretaao sistematica do direito positivo conduz conciusao de que nao se trata de nova esp~cie de pessoa jurldica mas do nomen juris dado ~ sociedade limitada unipessoal Tratarshy-se-a melhor cia natureza jurldica da EIRELI no item 33 deste artigo

lU ROE Ndeg 43 - MarmiddotAbifZ015 - PARTE GEML - DOUIRIVA

que exena ou deseje exercer profissionalmente a atividade de empresario podera constituir Empreendimento Individual de Responsabilidade limitashyda (Brasil 2009 p indeterminada)

Assim ja que suprimidos os termos natural e ffsica que acompashynhavam a pessoa na redacao original dos projetos de lei a intencao do legislador so poderia ser permitir que a EIRELI fosse constituida tambem por pessoas juridicas (Rivas 2012 p indeterminada)

Outro argumento apresentado por aqueles que defendem a possibishylidade de a pessoa juridica ser titular de EIRELI ea fadlitacao da instalacao e do funcionamento de sociedades ernpresarias estrangeiras no Pais como forma de aquecer a economia nacional

Fundamental mencionar que a possibilidade de constituiltao de EIRELI par pessoas jurfdicas val facilitar de sobremaneira a instalaltao de sociedades estrangeiras no Brasil Estas ao consultarem advogados brasileiros sobre os procedimentos necessarios ao infcio do desenvolvimento de suas atlvidades no pais invariavelmente surpreendem-se com a quanti dade e complexidade dos procedimentos sendo que dentre eles urn que normal mente cria bastanshyte dificuldade e justamente a necessidade de indicaltao de uma pluralidade de s6cios na sociedade brasileira 0 que muitas vezes as obriga a indicaltao de pessoa ffsica com participaltao apenas simb6lica simplesmente para atenshyder ao formalismo exigi do (Martins Fllho sd p indeterminada)

Contra tal argumento Wilges Ariana Bruscato (2012) sustenta que embora investimentos estrangeiros sejam importantes para 0 desenvolvishymento economico do PaIS a EIRELI nao pode servir como uma forma de burlar a egisla~ao vigente que regulamenta a instalacao e 0 iuncionamento de socitgtdades estrangeiras no Brasil Para a autora trata-se de materia de ordem publica antesdesermateria de~ireito empresqrill e por esla nao pode ser superadclcOni atrid~5oili EIRELI

Tambem com base nos textos dos projetos que deram origem a lei em comento a autora conclui que a omissao dos termos natural ou flshysica para definir qual 0 tipo de pessoa poderia constituir EIRELI teria sido acidentai haja vista que nao houve qualquer justificativa para a supressao da restricao que era expressa nos textos dos projetos ou seja em momenta algum durante 0 tramite do processo legislativo justificou-se tal supressao no interesse de estender as pessoas juridjcas apossibilidade de constituicao de EIRELI (Bruscato 2012)

No mesmo sentido e 0 entendimento de Jacques Maika y Negri (2012 p indeterminada)

RUE N 43 - MarJIbrl2015 - PARTE GERAl- DOUTAINL

Analisado 0 processo legislativo fica claro que houve lapso por parte do reatqrct9Jrojeto substituto DeputadoMamelo Itagiba e nao supressao deshyliberada da expressao natural caso em que 0 parlamentarteria justificado a alteraltao e a sua intenltao

Esta foj tambem a conclusao aqual chegaram os jurislas integrantes do Conselho da Justica Federal que em sua V Jornada de Direito Civil ocorshyrida em novembro de 2011 emitiram 0 Enunciado nQ 4682~ segundo 0 qual apenas as pessoas ffsicas podem constituir EIRELI

Parece evidente que antes de consolidar-se entendimento acerca da possibilidade ou nao de pessoas juridicas virem a constitu ir empresas indivishyduais de responsabilidade limitada sera no Judiciario que esta problematica sera discutida em maior escala

Recentemente 0 Jufzo da 9il Vara da Fazenda Publica do Rio de janeiroRj proferiu decisao na qual deferiu em mandado de scguranca (Proshycesso nQ 0054566-7120128190001) impetrado em face da Junta Comershycial daquele estado medida liminar para que uma pessoa jurfdica levasse a diante 0 processo de transformalt50 de sociedade empresaria em EIRELI Trata-se de sociedade limitada composta por um socio pessoa juridica e um socio pessoa ffsica e este ultimo retirou-se da sociedade A pretensao posta em juizo era de que a sociedade limitada pudesse ser transformada em EIRELI como resultado daiconcentraltao das quotas sociais em um dos s6cios no caso 0 s6cio pessoa juridica 0 pedido foi negado pela Junta Coshymercial do Estado do Rio de Janeiro sob a alegaltao de que a transformacao de uma sociedade empresaria em EIRELI no caso de inexistencia superveshyniente de pluralidade de socios e possivel desde que 0 socio sobre quem se concentre a totalidade das quotas sociais sejaumapessoa f[sica e nao illrfdGa 0 pedido liminar vertidoem sooede mandadodemiddot seguran~a foi aeferido tendo 0 juizo da 9~ Vara da Fazenda Publica do Rio de JaneiroRJ sustentado que nao existe impedimento legal para que 0 titular da EIRELI seja uma pessoa juridica

Recurso de agravo de inslrumento foj interposto pela re (0016183shy2720128190000) e este foi provido para anular a decisao agravada mas reconhecendo a incompetencia do juizo declinando da mesma para a Jusshytica Federal 0 processo que recebeu 0 nQ 0008231-2720124025101 tramitou perante a 12~ Vara Federal do Rio de Janeiro Em que pese tenha sido ratificada a decisao da justica estadual para conceder a medida limishy~---~~-- ------------- 25 Enunciado nO 468 do CJF Art 9SOmiddotA A empresa individual de responsabildade limitada sO poder~ S8r

conslitufda por pessoa nattJral (BraSil 2011 p indetemlinada)

1 ROE n 43 - MarmiddotAhrIZOI5- PARlE GERAl- DOUTBINA

nar pleiteada a sentenca denegou a seguranta sob 0 fundamento de que embora no tramite legislativo 0 termo natural tenha sido exduido do art 980-A do Codigo Civiftodomnteudo daLei nlt1 124412011 que criou a EIRELI foj engendrado para abarcar apenas a possibjljdade de que seu titular fosse pessoa natural Da decisao nao foi interposto recurs026 bull

Como se percebe embora haja discussao doutrinaria ace rca da possishybilidade de a pessoa juridica ser titular de uma EIRElI ha que se considerar que diante do posicionamento do DNRC esposado na IN 1172011 bem como do Conselho da Justica Federal atualmente ainda que na pratica prevalece 0 entendimento de que apenas pessoas fisicas podem constituir EIRElI

22 AEIHELI EO CAPITAL MiNIMO PARA SUA CONSTITUICAO IN)CONSTITUCIONAUDADE DA NORMA

A exigencia de capital minimo para a constituicao da EIRElI em valor nao inferior a 100 vezes 0 maior salario-minimo vigente no Pais tambem e controvertida

No minimol e possivel vislumbrar tal exigencia como uma forma de trazer seguranta ao instituto ja que com a constituicao da EIRElI 0 emshypreendedor goza de uma separacao entre 0 patrimonio afetado ao exercfcio da atividade e 0 seu patrimanio pessoal A exigencia de urn capital minimo pode ser vista como uma forma de garantir 0 cumprimento das obrigac5es assumidas no exercfcio da atividade Uma garantia para eventuais credores da EIRUI

Em outras palavras 0 estabelecimento de um capital minima e necesshysario para dar credibilidade ao instituto recem-criado ja que com a consshytituicao da EIRELI ha uma autonomia patrimonial ha uma separacao entre o patfifl~niHi~Rif~8qI~middotatJvidade ecooomieuroa--e-G-pattimQlli0partiS2ulill~Qrmiddot titu lar (Pessoa 2011)

Sao muitos no entanto os argumentos contrarios aexigencia imposta pelo texto legal

Inicialmente destaca-se que nao existe via de regra capital minimo estabelecido para a constituitao de sociedades ou registro de empresario individual no Brasil exigindo-se tao somente uma adequacao do capital investido ao objeto social motivo pelo qual a exigencia feita somente para a EIRElI e questionavel (Ramos 2012 p 43)

26 Integra da decisaa pode ser visuallzada em lthttpJprocwebjfrjjusbrportalconsultaresconsprocaspgt

RO N 43 - MarmiddotAbrl2815- PARlE GEnAL - DOUfRINL

Com efeito

Anenhumaoutra forma de exerc1cioempresarial no pals se faz a exigencia exceto em casas excepcionais de um minima de capital Como sustentar essa regra para a EIREU 1550 infringe a igualdade de tratamento que deve ser dada a todos genericamente A desigualdade de tratamento existe por certo sem arrostar a isonomia nos casos em que haja no entanto justificativa para tanto (Bruscato 2011 p 29)

Este e tambern 0 entendimento exposto na Atao Direta de Inconstishytucionalidade nQ 4637 proposta pelo Partido Popular Socialista perante 0

Supremo Tribunal Federal a qual ainda se encontra pendente de julgamenshyto Na aludida ADln defende-se que condicionar a constituiltao de uma EJRElI a integralizaltao de um capital minimo sem qualquer motivo evidenshyte e relevante constituiria afronta ao princfpio da isonomia bem como ao fundamento da livre iniciativa2

expresso no art 17028 caput da CF1988 (Brasil2011)

Segundo 0 partido autor da ADln ao estabelecer um capital no valor de 100 vezes 0 salario-minimo vigente no Pais 0 legislador acabou ferindo o prindpio da igualdade Sustenta-se que para a constituiltao de uma socieshydade com socios de responsabilidade limitada como por exemplo a socieshydade limilada nao existe exigencia de capital mlnimo logol nao eposslvel faze-Io em relarao a EIRElI ja que segundo exposto naacao ambas sao pessoas jurfdicas de identica feiltao no que diz respeito a responsabilidade dos proprietarios (Brasil 2011 )

Outro argumento contrario ao capital minimo exigido para a constituishycao da EJRElI diz respeito acapacidade econamica daqueles que poderiam ser beneficiados com a criacao danolafi~ura isto e os pequenos empre~ endedores que antesdacriacaoddriYovoenteou empresariavam de forma individual sem limitacao de responsabilidade e separacao de patrimonio ou necessariamente tinham de estabelecer sociedades apenas para gozar da autonomia patrimonial e assim reduzir os riscos do empreendimento Nesse

27 A livre iniciativa segundo Pedro le~7a e um dos pilares da ordem econOmica ao lado da valoriza~ao do Irabalha humano (lenza 201 p 984) Inocsectncio Martires Coelho citando Miguel Reale explica que livre iniciativa e livre concorrencla silo conceitos complementares mas essenciamente distinlos A primeira nao 0 senaa a proje~ao da liberdade individual no plano de produ~ao citula~ao e distribuii8o das riquezas assegurando nao apenas a livre esoolha des proflssoes e das atlvidades econ8mlcas mas tambem a autonoma elei~ao dos processos ou meios julgados mais adequados aconsecu~iio des fins visados liberdade de fins ede maios informa aprincipia de livre inicleliva conlerindo-Ihe um valar primordial como results da interpreta~ao conjugada dos cftados arts 1deg e [70 (Reale apud Mendes Coelho Branco 2010 p 1409)

28 Art 170 da CF11988 A ordem econOmica fundada na valoriza~~o do trabalho humano e na livre iniciativa tern por tim assegurar a todosexist~ncia digna conforme es ditames da Justia SOCial observados as seguintesprinclpies [J (6rasll 1988 p indeterminada)

liU RDE 43 - MarmiddotAbr2015 - PARTE GEllAl- OOUfOINA

caso a sociedade era constitufda normalmente com pessoas pr6ximas mas sem nenhum interesse na atividade as quais figuravam nocQotratosocial

como titulares de percentual minima das quotas sociais constituindo as chamadas sociedades de fachada ja mencionadas29 bull

Nesse ponto pode-se dizer que apesar das crfticas disparadas ao novel instituto a EIRELI mostra-5e como instrumento eficaz para coibir a praticc comumente adotada no Brasil de conslituiyJo de sociedades em que um dos s6ci05 nao tem qualquer participa)ao na gestao do empreendishymento formada com 0 dnico objetivo de limitar a responsabilidade do emshypresario que na pratica exerce a empresa individualmente (Ramos 2012 p 40-41)

Por essa razJo e que uma vez sendo 0 objetivo da criaCJo da EIRELI estimular 0 exercicio de atividade empresaria especialmente por pequenos empreendedores 0 valor de 100 (cem) vezes 0 salario-minimo mostra-se desproporcional 1550 porque grande parte dos empreendedores que podem se enquadrar na EIRELI iniciam suas atividades com capital bastante inferior Afirma-se que 0 capital minimo estabelecido pelo legislador esta longe da realidade dos pequenos empreendedores brasiieiros e caracteriza desresshypeito ao principio da livre iniciativa Assim 0 legislador patrio nao teria la5shytreado a fixayao deste valor em estudos sobre a capacidade econ6mico-fishynanceira dos provaveis interessados nesta especie societaria (Pessoa 2011 )

Estes sao tambem os argumentos que embasam a justificativa do Proshyjeto de Lei nQ 24682011 de autoria do Deputado Carlos Bezerra Segundo o parlamentar a exigencia feita pelo legislador retira dos pequenos empreshyendedores a possibilidade de coostituiyao de lima EIRELI haja vista que 0

valor exigido na Lei 0 2 124412011 supera significativamente 0 valor geshyralmente empregado para a constitlliyao dasPeqU~PilSempresas Por essa raz~(jo aludidoprojeto tem como um (feseusigtbJetivosillterar 0 art 9~O-A do Codigo Civil para reduzir de 100 para 50 salarios-mfnimos 0 capital minima exigido para a constitui~ao de lima EIREU (Brasil 2011)

Seguindo mesmo entendimento

29 A exist~ncia das chamadas sociedades de fachada Ii conhecida desde ha multo olio apenas pela dovtrina mas tam~m pela junsprud~ncia de nossos trlbunais 0 reconhecimento desta situa~ao se faz relevante tanto para que possa coibir tal praliea quanto para proteger a indivlduo que comprovadamente jamals exerceL qualqller poder de administra~ao sobre a sociedade da responsabllizagao pelos atos praticados indlvidualmente pelo s6cio detentor da quase totalidade das quotas sociais A tItulo de exemplo Execu~ao fiscal E aparente a socledade em que a imensa maioria das quotas pertenee a uma s6 pessoa flsiea Sltua~ao que mascara a atividade de urn comereiante em nome Individual Indelerlmento do pedido de penhora sobre bens do s60lo de fachada Decisao acertada potque de acordo com a realldade fatlca Agravo improvldo (TJRS AI 591020177 1 ccrv Rei Jose Velllnha de Lacenla J 21051991)

30

ROE N 43 - MarmiddotAlIr2n15 - PAUn GfRAl- OUUmINL

Deveria ser desnecessario diz~-Io mas tal materia nao poderia jamais ser objeto de decisao arbitraria sob pena de frustraiOobjetivo mesmo da norshyma e ll1alferir a Constituirao 0 numero 100 ninguem negara soa bem aos ouvidos mas isso nao deveria bastar para inseri-Io em texto legal Se de fato sua eleirao foi desacompanhada de qualquer embasamento tecnico e passrvel demonstrar-se inclusive mediante a colheita de dados estatisticos e indicacoes de direito comparado a inconstitucionalidade decorrente da violaSao aos princfpios da isonomia e da razoabllidade Por que se negar ao cidadao que dispanha de 50 salarios-minimos 0 direito de constituir uma EIREU quando em Portugal eassaz inferior 0 montante necessario para faz~shy-10 e no Chile sequer existe exigencia dessa especie (como alias previa 0

texto primitivo do PU e questao cuja resposta se desprovida de fundamenshytos s6lidos atesta a contrariedade aos supracitados principios (Nadu sd p indeterminada)

A exclusao de grande parte dos empreendedores do pafs com a exishygeurogtncia de capital mlnimo alto e tambem argumento da ADln 4637 ja que o objetivo primordial da norma recem-criada e fomentar 0 desenvolvimento ecoo6mico e social do pais Sustenta-se que tal objetivo esta sendo prejudishycado oa medida em que a legislacao retira de pequenos empreendedores a possibilidade de lanyarem-se no mercado economico de forma regular saindo portanto da informalidade (Brasil 2011 p indeterminadal

Corroborando 0 entendimento aeima Haroldo Malheiros Duclerc Vercosa (2011 p indeterminada) afirma que

rJa crftJca que se faz eque 0 capital mlnimo exigido de tal sociedade deixa a margem urna parcela substancial dos microempresarios patrios os quais continuarao dentro do regime geraf de respollsabilidade patrimonial pessoal (e do risco correspondente) sem acesso ao patrimonio ~eparadoqlleeiQ ltI

serqiad9para q EIRElI a naoser par alguma fugapararrlecanisfnocorno deg dlc6nstitui~ao de uma sociedade limitada com outro socio este detentor de

minima expressao do capital social Mas tal recurso muito utilizado apreshysenta custos que 0 microempresario dificilll1ente poderii suportar

Ainda deve-se considerar que a vinculacao do salario-mfnimo para qualquer fim e expressameote vedada pel a Constituicao Federal de 1988 em seu art 72

IV30 Nesse passo ainda que se considere posslvel Oll ate mesmo necessaria a exigencia de lim capital minimo para a constituicao de

Art lO da Cf1988 Sao direlos dos tlllbalhadores urbanos e rurais aiem de outros que visem il melhoria de sua condl~ilo social L1IV - saIMiomiddotInnlmo lixado em lei naeionalmente uniftcado capaz de arender a suas neeessidades vitais Mslcas e ~s de sua famflia com moradla alilnenta~iio eduoaao saude lazer vestuario higiene transporte e prevldencla social com reaJustes perlMieas que lhe preservem degpoder aquisitivo sendo vedada sua vineula~ilo rara qualqver 11m l (Brasil 1988 p indeterminada)

N N bullbullbullbullbullbull HOE N 43 - MarmiddotAbr2015 -AlIT GERAl- DOUTRIIfA

uma EIRELI este capital em regra nao poderia ser calculado com base no salario-minimo

5eguindo tal raciodnio e por entender que a parte final do art 980shyA do Codigo Civil de 200212 fere 0 disposto no art IV da Constituishylt030 Federal entre os argumentos utilizados na ADIn 4637 esta 0 fato de que 0 eonstituinte com 0 objetivo de evitar que os reajustes peri6dicos do salario-minimo que visam a preserva-ao de seu poder aquisitivD sofram influencias de interesses diversos daqueles previstos na Constitui-ao vedou expressamente a villculacao do salario-minimo para qualquer finalidade (Brasil 2011 p indeterminada)

Ainda eonsiderando a oscilacao que 0 reajuste do salado pode imshypliear a I Jornada de Direito Comercial do Conselho da Justi-a Federal ocorrida em outubro de 2012 no 5TJ definiu por meio do Enunciado nQ 4 que llma vez subscrito e efetivamente integralizado 0 capital da empresa individual de responsabilidade limitada nao sofrera nenhuma influencia deshycorrente de ulteriores alteracoes no salario minimo

Nao obstante os argumentos contrarios e a ADln pendente de julshygamento vige hoje a exigencia de capital minimo para a eonstituirao da EIRELI fixada com base no salario-minimo nacional vigente na epoca da constitu icao

23 EIRElI EMPRESARlO InDIVIDUAL SOCIEDADE EMPRESARIA UlflPESSOAL OU UM TlPO SUI GEMERIS

DE EMPRESARIO

o legislador batizou 0 novo instituto de Empresa Individual de Resshyponsabilidade limitada Em primeiro lugar ha que se considerar que resta eonsagrado na legisla-ao na doutrina e najurisprudencia que empresae uma atividade exerddapelo empresarilte nao uma pessoa urn sujeito de direitos (Moraes 201 0 p 40 Diante disso a primeira crltica feita ao legisshy

31 0 STF ja firmoL entendimento em divesos julgadas no sentido de que e proibida a vinculaao do sailtirio minima para qualquer finalidade Dana moral FiKa~ilo de indenizaltao com vinculaao a salario-minimo Vedaao constitucional Art 7deg IV da Carta Magna 0 Plenario desta Corte ao julgar em 01101997 a ADln 1425 firmou a entendimenro de qle ao estabelecer 0 art 7deg IV da Constitui~iio que e vedada a vincula~o ao salaria-mlnima para quaiquer fim quis evitar que interesses estranhos aos versados na norma constitucional venham a tel influencia na filCll~o do valor minima a ser observado No caso a indenizaltiio par dana moral fo fixada em 500 salarios-minimos para que inequivacamente 0 valor do salilria-mlnlmo a que essa indenizaao esta vinculado atue como fator de atualizaao desta a que IS vedada pela citarlD dispositivo canstitucional Outros precedentes desta Corte quanta 11 vedaao da vinculagao em causa ReculSo extraordinario conhecido e provida

32 Art 98QA do CCB A empresa individual de responsabilidade limitada sera constituida por uma dnica pessoa titular da totalidade do capital social devidamente integralizado que nao sera inferior a 100 (cern) vezes 0

malar salMo-mfnimo vigenre no Pars (Brasil 2002 paginaltaa indeterminada)

33

ROE N 43 - MarmiddotAbr2015 - PARlE GERAl- DOUmIIlL 1

lador infraconstitucional acerca da natureza juridica da EIRELI diz respeito asuafaLta detecnica para dar nome ao institutomiddot recem~criado chamando de empresa uma especie de empresario (Ramos 2012)

Ora se empresa e uma atividade e nao um sujeito de direitos a falha tecnica legislativa contribtli para a compreensao inadequada que cornushymente se faz da empresa ou seja confundindo-a com a propria pessoa dica ou ainda com 0 estabelecimento empresarial Por essa razao a crftica vem no sentido de que a terminologia mais adequada seria empresario e nao empresa

Nominada de forma equivocada ou nao uma figura juridica capaz de conferir a possibilidade de exercfcio da empresa por uma s6 pessoa ffsiea com separa-ao de patrimonio e limita-ao de responsabilidade e como ja dito desejo antigo da dOlltrina brasileira Como exemplo epossivel citar 0

projeto de Lei nil 201 de 194733 apresentado pelo entao Deputado Fausto

de Freitas e Castro 0 qual dispunha em seu art 12 que qualquer pessoa capaz de exereer 0 eomercio podera constituir empresa em nome individual limitando a sua responsab[lidade pelos neg6cios da mesma ao valor do capital declarado (Martins Filho 1950 p 64-66)

Antonio Martins Filho em cuja obra Umitatiio da responsabilidade do comerciante individual analisa 0 aludido projeto de lei afirmava

A empresa individual de responsabilidade limitada constituindo a ultima fase do processo evolutivo da limitaltao dos riscos e insistentemente redashymada pelos agentes da atividade econ6mica dos novos tempos Recusando-a de direito nao evitara 0 legislador a existencia de fato desse tipo de empresa que passa a funcionar sob forma de sociedade fictfcia ou unipessoal (Martins Filho 1950 p 9)

ja naquela epoca ainda sob a vigencia do Codigo Comercial de 1850 e do C6digo Civil de 1916 0 autor ressaltava a importancia da limita~ao de responsabilidade daquele que era conhecido como comerciante individual (hoje empresario individual) bem como reconhecia a existencia de socieshydades constitufdas apenas formalmente para 0 fim de aquisi=ao de personashylidade jurfdica pr6pria e separa-ao de patrimonio a partir do que concluia que apenas a cria-ao da empresa individual de responsabilidade limitada

Projeto de Lei nO 201 de 1947 anexo abra Limitarl0 de resJOflsabilidade do comerciante individual MARTINS FILHO AntOnio Anais do Congresso Jurfdico Nacional Comemorativo do Cinquenlenario da Faculdade de Direito de Porto Alegre Revisa de Fecudade de Direito de Porto Alegre Porto Alegre URGS maio 1950

middot RDE II U - MarmiddotAer201S - PARrE GER~L - DoumlNA

serla capaz de acabar com tal pratica tao comum no Brasil (Martins Filho

1950)

Em 2005 Wilges Ariana Bruscato tambem assinalava a importanshycia do exercicio individual da empresa com limita=ao de responsabilidade como forma eficaz de fomento da economia

jft que 0 modus vivendi de nossa sociedade atual baseia-se em resultados economicos e relevante acenar com contribuilt6es para 0 desenvolvimento da atividade empresarial feita de maneira singular como forma de incentivar as pequenas iniciativas que num 6istema de colmeia representam a agreshyga~ao de vaores sociais importantes como 0 emprego 0 recolhimento de tributo a disseminaltao tecnologica entre outros ou seja 0 favorecimento de pequenas iniciativas que aquecem a economia (Bruscato 2005 p 75)

No mesmo sentido Felipe Ferreira Machado Moraes (2010 p 37-38) sustenta a necessidade de limita=ao da responsabilidade do empresario inshydividual como forma de cumprir os objetivos do Estado Democratico de Direlto tais como expressos na pr6pria Constitui=ao Federal de 1988

Em um Eslado Democratico de Direilo em que a propria Constituiltao da Republica contempla dispositivos que pregam 0 desenvolvimento nacional a livre iniciativa e inclusive 0 tratamento favorecido as empresas de pequeno porte nao parece prosperar 0 entendimento de que 0 empresario individual deve ter sua responsabilidade ilimitada respondendo com a totalidade de seu patrimonio particular (civil) por eventuais insucessos de seu empreendishy

mento

o anseio pela limitarao da responsabilidade no exerdcio individual da ernpreSq~Iil~re ()s~doutrinadores patrios baseava-se frequenteniente experiencia de outros paises que regulamentaram em sua ordem interna diversas formas de possibilitar a limitarao de responsabilidade daquele que

deseja empresariar individualmente

Na Alemanha como visto surgiu 0 primeiro modelo de sociedade por quotas de responsabilidade limitada em 1892 Em 1981 quase um 56shyculo depois entra em vigor a lei que alterou a legislarao das Sociedades por Quotas de Responsabilidade limitada para introduzir no ordenamenshyto juridico alemao a Sociedade por Quotas de Responsabilidade Limitada Unipessoal Passou-se enUlo a permitir a constituirao de Sociedades por Quotas de Responsabilidade Limitada por apenas uma pessoa (ffsica ou jushy

ridica) (Abrao 2000 p 6)

ROE N 43 - M8rmiddotAb~2015 - PARr CEIlAL - DOUTRlIIAmiddotmiddotmiddotmiddot

Tambem na Fran=a ap6s a regulamenta=ao clas sociedades por quoshytas de fesponsabiJidade Itmitadaiolintroduzida a limitada unipessoal em 1985 permitindo iguafmente a constituirao de sociedades unipessoais (Abrao 2000 p 12)

Ja em Portugal existem duas possibilidades para 0 exercfcio indivishydual da empresa Em 1986 0 Decreto-Lei nQ 2481986 criou a figura do Esshytabelecimento Individual de Responsabilidade limitada EtRL Trata-se de figura na~ dotada de personalidade juridica constilufda atraves de um pashytrimonio de afetarao por meio do qual uma pessoa fisica explora uma ativishydade economica empresarial Para a constituirao de um EIRL e necessario o investimento minima de euro 5000 (cinco mil euros) Ja a segunda forma de empresariar individualmente em Portugal com separarao patrimonial e limitarao de responsabilidade foi regulamentada 10 anos ap6s 0 EIRL por meio do Decreto-Lei nil 2571996 a Sociedade Unipessoal par Quotas Tal sociedade e constitufda por uma 56 pessoa (fIsica OU juridical titular de todo o capital social e cuja responsabllidade esta limitada ao capital investido sendo este livremente fixado pelo s6cio ou seja nao ha exigencia de capital mlnimo para a SUQ ao contrario do que ocorre com 0 EIR134

bull

Na experiencia brasileira entretanto ate a ediraa da Lei nQ 124412011 nao havia possibilidade de exercer uma atividade econoshymica organizada de forma individual sem 0 camprometimento da totalidade do patrimonio do empresario A sociedade unipessoal admitida em palses europeus desde meados de 1980 somente era permitida no Brasil em duas hip6teses excepcionais quais sejam a subsidiaria integral prevista na Lei das Sociedades Anonimas (Lei nQ 64041976)35 e a unipessoalidade ternshyporaria da sociedade pelo prazo de cento e oitenta dias conforme dispoe 0

art 1033 IVJ6 do C6qigoCiv

Assim no Brasil ap6s anos de discussao doutrimiria e de entendishymento quanta a necessidade de cria=ao de um instituto que viabilizasse 0

exercfcio da empresa de forma individual sem que isso acarretasse necessashyria risco ao patrimonio pessoal do empresario 0 legislador infraconstitucioshy

34 Informa~aes dlsponiveis em lthttpwwwpot1lJgalgIObalptPTlnvestirPortugaguiadoinvestldorICriareinstalar PaginaSTipos5ociedadesComerciais aspxgt

35 Art 251 da LSA A companhia pode ser constilulda mediante escrilura publica tendo como unico acionisa sociedade brasileira sect 1deg A sociedade que subscrever em bans 0 capital de subsidiaria inlegral devera aprover o laudo de avaliaifio de que trata 0 art 8deg respondendo nos lermos do sect 6 do art 80 e do art 10 e seu panlgrafo Llnico sect 2deg A companhia pade ser converlda em subsidiara integral mediante aquiSitao por scciedade braslieira de lodes as sues ayoes ou nos lermos do art 252

36 Art 1033 do eC8 Dissolve-se a scciedade quando oeorrer 11 IV a falla de pluralidede de socios nila reconstltufda no prazo de cenro e oitenla dias L J

ROE Ndeg 43 - MarmiddotAbr2015 - PARTI GERAl- OUIRINA

nal consagrou a flgura da Empresa Individual de Responsabilidade Limitada a EIRELI

Quando inserida no ordenamento juridico a EIRElI gerou controvershysias acerca da sua natureza juridica Ha que diga tratar-se de empresario inshydividual por outro lado ha que afirme tratar-se de uma sociedade limitada unipessoal No entanto hii tambem uma terceira corrente que afirma ser a EIRELI uma nova especie de pessoa juridical um ente distinto do empresario individual e das sociedades empresarias

A corrente menos express iva considera a EIRELI uma nova modalishydade de empresario individual ou seja um empresario individual de resshyponsabilidade limitada Para tal corrente 0 empresario individual ate en tao conhecido aquele que e pessoa fisica permanece existindo passando a existir 0 empresario individual pessoa jurfdica

Nesse senti do

Apesar de ser uma pessoa jurfdica a EIRELI nao euma sociedade empresaria mas sim uma forma diferenciada de constituiyao de empresario individual (que ao contrltirio daquela e pessoa natural) (Cardoso 2012 p indetermishynada)

Outra corrente mais expressiva e a capitaneada par Fabio Ulhoa Coelho (2012 p 409) para quem a EIRELI e uma sociedade empresaria definindo-a como uma sociedade limitada unipessoal na qual apenas uma pessoa (rfsica ou jurfdica no entender do autor) sera titular da totalidade das quotas socials 0 autor salienta que 0 sect 6Q do art 980middotA do C6digo Civil pershymite concluir que a EIRELI eespecie de sociedade limitada pois se submete as regras deste tipo societario

Da mesma forma Gustavo de Alvarenga Batista (2012) defi ne Em terrnosmiddotpraticos aEIRELI possibilitaqueiumemprksaflopessoa constitua uma sociedade unipessoal na qual fica sua responsabilidade atreshylada ao valor do capital por ele integralizado

Ja Andre Luiz Santa Cruz Ramos (2012) entende que 0 legislador criou uma nova figura juridica distinta da sociedade eillpresaria e do empresario individual mas com caracteristicas semelhantes a ambos No entanto 0 aushytor entende que foi um equivoco a cria~ao de um novo tipo de pessoa jurfshydica Sustenta que 0 legislador poderia tao somente ter consagrado 0 empreshysario individual de responsabilidade limitada que continuaria sendo uma pessoa fisica mas gozando da separa~ao entre 0 seu patrimonio pessoal e aquele afetado ao exercfcio da atividade economica ou ainda consagrado

ROE N 43 - MarmiddotAbrI21115- PARrE GERAl- OUTRINL

efetivamente a sociedade empresaria unipessoal bastando para tanto inshycluirentreasEseecies de sociedades ja existentes a sociedade constitulda par um 6nico s6cio titular de todas as quotas Em qualquer dos casos a insenao feita no art 44 do C6digo Civil seria desnecessaria

Do mesmo entendimento compartilha Wilges Ariana Bruscato (2011 p 10) que afirma que acaso a EIREU fosse uma sociedade unipessoal nao haveria necessidade de inclusao do instituto no inciso VI do art 44 do C6shydigo Civil ja que as sociedades ja estao previstas no inciso II do mesmo dispositivo Da forma como posta nao existe sociedade e silll um tipo sui generis no direito patrio Ainda afirma-se que

a EIREI nao tem natureza juridica de sociedade empresaria ao contrario do que muitos ainda defendem mas trata-se de uma nova categoria de pessoa jurfdica de direito privado que tambem se destina ao exercfcio da empresa Tanto que a Lei nQ 124412011 incluiu as empresas individuais de responsashybilidade limitada no rol de pessoas jurfdicas de direito privado do art 44 do C6digo Civil (inciso Vi) Ademais a lei nQ 124412011 ao inserir no C6dishygo Civil 0 art 980-A teve 0 cuidado de topograficamente tambemcriar um novo titulo (mulo I-A Da Empresa Individual de Responsabiidade Umitashyda) situado entre os Titulos I e II que tratam respedivamente do empresario individual e das sociedades empresarias (Pinheiro 2011 p indeterminadal

Nao obstante os variados entendimentos ha Uma tendencia de que a EIRELI seja efetivaillente compreendida como uma nova especie de pessoa juridica nao se tratando de empresario indiVidual tampouco de sOliedade empresaria ainda que unipessoal Tanto e assim que na ja mencionada I Jarnada de Direito Comercial do Conselho da Justi~a Federal foi aprovado o Enunciado nil 3 com a seguinte redacao A Empresa Individual de Resshyponsabilidade Limitada - ElRELI nao e sociedade unipessoa mas um novo ente~j_stjn~q da pessoa doempresarioe da sociedade eiTlpresfiriao qual seguia ciresmmiddota Iinha do Enunciado nil 46937 da V Jornada de Direito Civil que afirma que a empresa individual de responsabilidade limitada (EIRELI) nao e sociedade mas nova ente jurfdica personificado

24 AEIRELI EO PRomo DE NOVO CUOIGO COMERCIAl EXTINCAO DO INSTITUTO [ CRI~O DE f40VAS FIGURAS1

Tramita no Congresso Nacional 0 Projeta de Lei nil 15722011 que visa a instjtui~ao de um novo C6digo Comercial com a consequente revoshy

~__~~M~~~~ __ __ ___~_____ _~

37 Enunciado n 469 do elF Arts 44 e 980middotA A empresa individual de responsabilidade Iimltada (poundIRELI) olio Ii sociedade mas novo ente jurrdico personificado

Ii r~ RDE Nmiddot 43 - MarmiddotAbrf2615 - PARTE GERAl- OnUIRIUA

gasao de diversos dispositivos do atual C6digo Civil bem como de legislashysoes esparsas

o projeto apresentado pelo Deputado Vicente Candido baseado em minuta elaborada por Fabio Ulhoa Coelho na obra 0 futuro do direito coshymercia tem como uma de suas justificativas a sistematizasao revisao aperfeiltoamento e modernizasao da disciplina jurldica do estabeledmento empresarial do comercio eletronico da concorrencia desleal das condutas parasitarias da escrituratao mercantit do exerddo individual da empresa e da sociedade unipessoal (Brasil 2011 p 118)

Dito projeto nao traz em seu texto referenda expressa ao instituto recem-criado a EIRELI No entanto consagra duas figuras que merecem especial atensao sao elas 0 empresario individual em regime fiduciario e a sociedade Iimitada unipessoajJs

o empresario individual tal como e conhecido atualmente nao deishyxa de existir na redasao do projeto de NCCom sendo disciplinado entre os arts 14 a 32 do projeto de lei No que tange as suas caracteristicas esshysenciais 0 empresario individual permanece sendo pessoa ffsica que exershyce singularmente uma empresa sem limitaltao de responsabilidade nao se submetendo ao prindpio da autonornia patrimonial

Entretanto alem do empresario individual ate 0 momenta conhecido o novo C6digo Comercial visa a instituir outras duas formas de exerdcio individual da empresa como jei dito as quais possibilitam a separaSao de patrimonio e limitaltao de responsabilidade do empreendedor 0 empresashyrio individual que exerce a empresa em regime fiduciari039 e a sociedade limitada unipessoal

Da leitura do projeto infere-se que 0 empresario individual ao reshyquerer 0 seu registro comeh~rfipfesarioquntamp ao 6rgaocompetente poderamiddot fazer uma declaratao na qual conste que 0 exercicio da empresa dar-seshy

38 Na verdadc ha que se pontuar que 0 projeto de lei esta baseado em texto do jurisla Fabio Ulhoa Coelho a entende que a EIREU euma socied8de limiteda unipessoal e n~o ume nova especie de pessoa juridica eo fato pelo qual nao esta ela prevista nesse lormato no relerido projeto

39 A fiducia tem origem no direito romano ral institwlo caraclerlzamiddotse pela contiana e boa-lEi existentes entre fidLicianle e fiduciario A propriedade fiduciira por sua vez caracteriza-se quando determinado bern ou conjento de bens e destinado II gamntia de certo(s) credor(es) ou scja os bens constltuldos como propriedade fiduciaria de destlnam a garantia do cumprimento de determlnadas obrlgaltOes do liduciaro perante 0 fiduciante nao podendo ser objeto de expropriaao Pilra a adlmplemenlo das obriga6es pessoafs do fiduciiirio (Restlffe Neto Rest1ffe 20001 Segundo a C6digo Civil de 2002 em seu art L35 considerashysa propriedade fiducjaria a proprfedade resoliNel de caisa m6vel imungfvel Que 0 devedor com escopo de garanta translere ao credor Para maior aprofundamento acarce do tema vide SILVA ltJiz Augusto Beck da Alienaliio fiducitlfia ampm garantia 4 ed RIO de Janeiro forense 1998

RDE N 43 - Mar-AbtfZ015 - PARrE GERAl- DOUTRINL

-a em regime fiduciario Com a referida dedaraltao 0 empresario devera constitJir 1m patrimbnio relaeuroionado aattvrdade empresarial que pretende exercer absolutamente separado de seu patrimonio pessoaL

Assim uma vez cumpridos os requisitos 0 empresario individual desshysa modalidade (que continuaria sendo pessoa fisica) nao poderia ter seu patrimonio pessoal expropriado para 0 cumprimento das obrigalt6es assushymidas no exercicio da atividade salvo se conforme disp6e 0 sect 29 do art 32 do NCCom se tratarem de obrigaltoes de natureza trabalhista e triblltaria relacionadas ou nao com a empresa Trata-se pois do estabelecimento de um patrimonio de afetaltao que serviria de garantia aos credares do em preshysarlo individual em vez de totalidade do seu patrimonio

A outra forma de exercfcio singular da empresa proposto pelo projeto em comento e a constituiltao de uma sociedade limitada unipessoal Ao tratar das sociedades em especie 0 projeto preve a existencia de cinco tipos societarios (sociedade anonima sociedade limitada sociedade em nome coletivo sociedade em comandita simples e sociedade em comandita par alt6est todos os tipos ja cOllhecidos e previstos no atllal C6digo Civil

A novidade e uma pequena alteraltao feita no ambito das sociedades limitadas para no art 192 dispor que a sociedade limitada sera constishytufda por um ou mais s6cios ou seja retira da definiltao de sociedade a pluralidade dos s6cios

Todavia algumas consideralt6es devem ser feitas acerca do projeto em questao no que tange a sua relaltao com 0 instituto ora estudado

Conforme ja referido a limita~ao de responsabilidade do empresario individual era esperada pela doutrina patria ha muito tempo e a EIRELI foi a

l~gislativaelJcontrada para dar res posta aosansetoSexistentes

Com crfticas ou nao fato e que a EIRELI hoje majoritariamente conshysiderada como uma nova especie de pessoa juridica concebe a limitaltao de responsabilidade no exercfcio individual da empresa e desde 0 infcio de sua vigencia as estatisticas mostram que esta nova forma de exercer a empresa vem crescendo em todo 0 Pafs S6 em Sao Paulo nos primeiros tres meses de sua existencia a EIRELI jii representava mais de 4 do total de registros realizados conforme informaltao publicada pela Junta Comercial do daquele Estad040bull

40 Para majores Inlormacentes e dados estatistlcos vide htlpwwwjucespJazendaspgovbr

RUE III 43 - MOImiddotAbr2U15 - PARTE GERAl- nOUTHINA

Nesse passo cumpre questionar qual sera 0 futuro da EIRELI se 0 Proshyjeto de Lei nQ 15722011 vier a ser aprovado 0 que fazer com as EIRELIs ja existentes ao tempCl da publicacao do novo C6digo Comerdal Sera necesshysaria a criacao de regras de transicao ou os titulares de EIRELI simplesmente serao obrigados a requerer sua transformacao perante as Juntas Comercias para uma das duas modalidades criadas pelo novo C6digo

Certo e que 0 projeto de Novo C6digo Comercial contempla de certa forma a EIRELI mas colocando-a definitivamente como uma especie de sociedade limitada a sociedade limitada unipessoal No entanto ao propor llm projeto e necessario fazer uma analise do impacto que as alteraC6es provocarao sob pena de a nova lei em vez de pacificar entendimentos e llnificar tratamento acabar acarretando um caos inicial comprometendo sua pr6pria legitimidade

CONSIDERA~OES FINAlS

A limitacao de responsabilidade no exerdcio individual da emprcsa e tema recorrente na doutrina brasileira e desejo antigo dos empreendedores Ate a consagrarao da EIRELI par meio da Lei nQ 124412011 tal limitarao nao era posslvel no exercfcio individual da empresa como ja amplamenshyte debatido e demonstrado Com a criacao da EIRELI 0 legislador patrio apresenta aos empreendedores brasileiros uma nova possibilidade para empresariar sem a necessidade de constituirao de sociedades de fachada ou eventual comprometimento da totalidade do patrimonio pessoal do emshypreendedor

Percebe-se contudo que as controversias existentes ern torno da EIRELI ainda sao muitas Mas algumas coisas podem-se dizer certas Prishym~irQjslli1fiIR~khv~i~efetivamentepara privilegiar os pequenosemiddottledioS0i(i empreendedores nao se ve razao plausivel para que ela seja constituida por titular pessoa juridica Beneficiar sociedades estrangeiras e um argumento fraco para fazer esta defesa

Segundo do ponto de vista da garantia dos credores a exigencia de um capital mfnimo tern razao de ser principalmente levando ern conta que ate entao os empresarios individuais respondiam com a totalidade do seu patrimonio Todavia considerando que nao ha exigencia nesse sentido para as demais especies de empresarios de fato fere-se 0 principio da igualdade de tratamento Ainda em rela-ao ao capital minimo se 0 objetivo do legisshylador era beneficiar pequenos e medios empreendedores 0 minima estabeshylecido em 100 vezes 0 salario-mfnimo nacional e bastante alto Talvez uma

nOf Ndeg 43 - MalmiddotAbrl2015 -PARTE GERAl- DOUTRJNL bullbull bullbullbull

adequacao do montante fosse interessante para 0 atingimento dos objetivos do novel instituto

Em relacao a natureza juridica compreender a EIRElI como uma nova especie de pessoa jurfdica e certamente 0 melhor caminho ainda que isso possa parecer estranho ja que se esta diante de uma pessoa jurfdica constituida de uma dnica pessoa Afinal partindo dessa premissa nao seria necessario relativizar 0 conceito de sociedade que exige pluralidade de s6dos tampouco seria necessario pensar um empresario individual pessoa frsica que pudesse ser titular de dois patrimonios autonomos 0 pessoal eo de afetacao

Em derradeira analise no que diz respeito ao Projeto de novo C6digo Comercial cabe apenas ressaltar que eventual aprovacao devera levar em considerarao 0 fato de que como visto desde a entrada ern vigor da Lei nQ 124412011 a procura dos empreendedores por esta modalidade de exercfcio da empresa tern sido grande Contudo 0 projeto de lei nao traz qualquer mencao ao instituto Assim dever-se-a ter uma preocupacao com a transi-ao nao se podendo ignorar a existencia destes slljeitos de direito sem estabelecer qual sera oseu destino Mal se consagram institutos no Brashysil e novamente se pretendem altera~oes legislativas Assim nao se chega a maturidade

Por hora ainda que com quest6es controvertidas ha uma unanimidashyde doutrinaria de que a EIRELI e bem-vinda nao apenas porque oriunda de pleitos antigos mas tambem porque apresenta uma nova possibilidade para quem pretende empresariar no Brasil de modo que ha grande expectativa no sentido de que 0 Poder Judiciario seja capaz de dirimir as controversias existentes causadas basicamente por falhas do legislador permitindo uma amPla utilizacao dQoolRjn~titu~9~gW~Cialmente poraqueles que aoque parece se tentou benefidar 05 pequenos e medios empreendedores brasishyleiros

Page 11: SINTESE - cortemello.com.br · RESUMO A EIRELI - Empresa Individual de Aesponsabilidade Limitada foi introduzida no ordena ... a partir da doutrina de Alberto Asquini, que entende

15 ROf N 43 - MarmiddotAbr2015 - PARrE GHAl- DOUfHINA

entre os operadores do Direito e os doutrinadores e estudiosos do direito empresariai Nilo obstante a cria~ao de um instituto que possibilitasse a limitacao de responsabiHdade para 0 exercicio individual da empresa e anshyseio antigo entre os doutrinadores patrios Nesse sentido ainda que objeto de divergeuromcias 0 novo ente com certeza e muito bem-vindo

2OS ASPECTOS CONTROVERTIDOS ACERCA DA EIRElI

Apresentadas as caracteristicas fundamentais da EIRElI conforme as disposicoes legais vigentes faz-se necessario apresentar as controversias que delas surgem A doutrina jurfdica diverge ja que algumas das caracteshyrfsticas da EIRELI supostamente vao de encontro a conceitos estabelecidos e institutos consolidados ao lange de seculos

Os principais aspectos controvertidos acerca da EIRELI dizem respeito as exigencias feitas pelo legislador para sua constituicao especialmente no que tange ao capital mlnimo a ser investido quem pode ser seu titu lar equal a sua natureza jurfdica

21 QUEM PODE SER TITULAR DE UMA EIRElI

Uma das questOes mais problematicas acerca do novo instituto diz respeito aqueles que podem ser titulares de uma EIRELI

Como visto 0 art 980-A do C6digo Civil disp6e em seu caput que a EIREU sera constitufda por uma Cinica pessoa titular de todo 0 capital social o DNRC por seu turno emitiu instru~ao normativa aprovando 0 Manual de Atos de Registro de Empresa Individual de Responsabilidade limitada23

a ser adotado pelas Juntas Comercias de todos os Estados 0 qual preve expressamente que apenas as pessoas fisicas maiores capazes e livres de

q1iili~querimpedimentos legais podemsertittJlar~sde jma BREtt

Ejustamente na redacao da lei e da instrucao normativa do DNRC que reside grande parte da controversia

Hi quem defenda a possibilidade de constituicao da EIRELI por pesshysoas juridicas sob 0 argumento de que se 0 texto legal nao taz qualquer proibicao de forma expressa referindo-se apenas a pessoa ff

nao poderiam os operadores interpretar a norma de forma a excluir algum sujeito de direishyto quando a propria norma nao 0 faz

------~~ -~--~----~----bull---shyda Instru~ao Normativa n 1172011 do Departamento Nacional de Registro do Comercio

em ltllttpwwwdnrcgovbrILegislacaQIIN20117202011pdfgt

RUE N 43 - MarmiddotAbdZ015 - PAHTf GERAl- DOUrnIlIA_

Nesse sentido

C6mefeitO(Jcaput do art 980-A do C6digo Civil expressamente prescreve que a EIREU sera constitllfda par uma unica pessoa sem excluir as pessoas jurrdicas nem restringir essa passibilidade exclusivamente as pessoas ffsicas Ora pessaa jurfdica tambem e pessaa (Mela 2011 p indeterminada)

Da mesma forma defende-se a ideia de que adotar uma interpretacao que restrinja 0 direito de uma pessoa juridica constituir uma EIREU seria afrontar a princfpio constitucional da legalidade uma vez que se a proibishycao nao esta expressa a pennissao estaria subentendida

[ J naa ha impedimenta legal para que uma pes sea juridica titularize 0 cashypital social de uma EIRELI e sob 0 primado de uma ordem jurfdica liberal afirma-se que 0 que nao esta proibido ou ordenade e permitido Esta leitura decorre diretamente do principia da legalidade consagrado na art 5Q

II da Constitui~ao Federal que estabelece que ninguem sera abrigado a fazer Oll

deixar de fazer aigllma coisa senao em virtude de lei (Lupi Schlosser 2012 p indeterminadal

Fabio Ulhoa Coelho (2012 p 409) tambem entende que a EIRELI para ele uma sociedade limitada unipessoal 24

pode ser constitufda tanto por s6cio Cinico pessoa fisica como juridica

No mesmo sentido sustenta-se que a intencao do legislador com a publicacao da lei nQ 124412011 teria sido justamente permitir a constituishycao de EIRElI por pessoa juridica ja que suprimiu da redacao original dos Projetos de lei nQs 46052009 e 49532009 a restritao que era expressa (Melo 2012 p indeterminada)

QO Projeton 46052009 de autoria do Deputado Marcos MonteSi

tinhapbr objetivoaindusao noC6digo Civil de 2002 do art 98S-A 0

qual teria a seguinte redacao A empresa individual de responsabilidade limitada sera constituida por um Cinico s6cio pessoa natural que e 0 titular da totalidade do capital social e que somente podera figurar numa unica empresa dessa modalidade (Brasil 2009 p indeterminada)

Ja 0 Projeto nQ 49532009 de autoria do Deputado Eduardo Sciarra intencionava a incillsao do art 980-A no C6digo Civil de 2002 com a seshyguinte redacao Qualquer pessoa ffsica que atenda ao disposto no art 972

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24 Para Fabio Ulhoa Coelho (2012 p 409) a EIRELI deve ser considerada como urna sociedade limitada umpessoa Sustenta que a interpretaao sistematica do direito positivo conduz conciusao de que nao se trata de nova esp~cie de pessoa jurldica mas do nomen juris dado ~ sociedade limitada unipessoal Tratarshy-se-a melhor cia natureza jurldica da EIRELI no item 33 deste artigo

lU ROE Ndeg 43 - MarmiddotAbifZ015 - PARTE GEML - DOUIRIVA

que exena ou deseje exercer profissionalmente a atividade de empresario podera constituir Empreendimento Individual de Responsabilidade limitashyda (Brasil 2009 p indeterminada)

Assim ja que suprimidos os termos natural e ffsica que acompashynhavam a pessoa na redacao original dos projetos de lei a intencao do legislador so poderia ser permitir que a EIRELI fosse constituida tambem por pessoas juridicas (Rivas 2012 p indeterminada)

Outro argumento apresentado por aqueles que defendem a possibishylidade de a pessoa juridica ser titular de EIRELI ea fadlitacao da instalacao e do funcionamento de sociedades ernpresarias estrangeiras no Pais como forma de aquecer a economia nacional

Fundamental mencionar que a possibilidade de constituiltao de EIRELI par pessoas jurfdicas val facilitar de sobremaneira a instalaltao de sociedades estrangeiras no Brasil Estas ao consultarem advogados brasileiros sobre os procedimentos necessarios ao infcio do desenvolvimento de suas atlvidades no pais invariavelmente surpreendem-se com a quanti dade e complexidade dos procedimentos sendo que dentre eles urn que normal mente cria bastanshyte dificuldade e justamente a necessidade de indicaltao de uma pluralidade de s6cios na sociedade brasileira 0 que muitas vezes as obriga a indicaltao de pessoa ffsica com participaltao apenas simb6lica simplesmente para atenshyder ao formalismo exigi do (Martins Fllho sd p indeterminada)

Contra tal argumento Wilges Ariana Bruscato (2012) sustenta que embora investimentos estrangeiros sejam importantes para 0 desenvolvishymento economico do PaIS a EIRELI nao pode servir como uma forma de burlar a egisla~ao vigente que regulamenta a instalacao e 0 iuncionamento de socitgtdades estrangeiras no Brasil Para a autora trata-se de materia de ordem publica antesdesermateria de~ireito empresqrill e por esla nao pode ser superadclcOni atrid~5oili EIRELI

Tambem com base nos textos dos projetos que deram origem a lei em comento a autora conclui que a omissao dos termos natural ou flshysica para definir qual 0 tipo de pessoa poderia constituir EIRELI teria sido acidentai haja vista que nao houve qualquer justificativa para a supressao da restricao que era expressa nos textos dos projetos ou seja em momenta algum durante 0 tramite do processo legislativo justificou-se tal supressao no interesse de estender as pessoas juridjcas apossibilidade de constituicao de EIRELI (Bruscato 2012)

No mesmo sentido e 0 entendimento de Jacques Maika y Negri (2012 p indeterminada)

RUE N 43 - MarJIbrl2015 - PARTE GERAl- DOUTAINL

Analisado 0 processo legislativo fica claro que houve lapso por parte do reatqrct9Jrojeto substituto DeputadoMamelo Itagiba e nao supressao deshyliberada da expressao natural caso em que 0 parlamentarteria justificado a alteraltao e a sua intenltao

Esta foj tambem a conclusao aqual chegaram os jurislas integrantes do Conselho da Justica Federal que em sua V Jornada de Direito Civil ocorshyrida em novembro de 2011 emitiram 0 Enunciado nQ 4682~ segundo 0 qual apenas as pessoas ffsicas podem constituir EIRELI

Parece evidente que antes de consolidar-se entendimento acerca da possibilidade ou nao de pessoas juridicas virem a constitu ir empresas indivishyduais de responsabilidade limitada sera no Judiciario que esta problematica sera discutida em maior escala

Recentemente 0 Jufzo da 9il Vara da Fazenda Publica do Rio de janeiroRj proferiu decisao na qual deferiu em mandado de scguranca (Proshycesso nQ 0054566-7120128190001) impetrado em face da Junta Comershycial daquele estado medida liminar para que uma pessoa jurfdica levasse a diante 0 processo de transformalt50 de sociedade empresaria em EIRELI Trata-se de sociedade limitada composta por um socio pessoa juridica e um socio pessoa ffsica e este ultimo retirou-se da sociedade A pretensao posta em juizo era de que a sociedade limitada pudesse ser transformada em EIRELI como resultado daiconcentraltao das quotas sociais em um dos s6cios no caso 0 s6cio pessoa juridica 0 pedido foi negado pela Junta Coshymercial do Estado do Rio de Janeiro sob a alegaltao de que a transformacao de uma sociedade empresaria em EIRELI no caso de inexistencia superveshyniente de pluralidade de socios e possivel desde que 0 socio sobre quem se concentre a totalidade das quotas sociais sejaumapessoa f[sica e nao illrfdGa 0 pedido liminar vertidoem sooede mandadodemiddot seguran~a foi aeferido tendo 0 juizo da 9~ Vara da Fazenda Publica do Rio de JaneiroRJ sustentado que nao existe impedimento legal para que 0 titular da EIRELI seja uma pessoa juridica

Recurso de agravo de inslrumento foj interposto pela re (0016183shy2720128190000) e este foi provido para anular a decisao agravada mas reconhecendo a incompetencia do juizo declinando da mesma para a Jusshytica Federal 0 processo que recebeu 0 nQ 0008231-2720124025101 tramitou perante a 12~ Vara Federal do Rio de Janeiro Em que pese tenha sido ratificada a decisao da justica estadual para conceder a medida limishy~---~~-- ------------- 25 Enunciado nO 468 do CJF Art 9SOmiddotA A empresa individual de responsabildade limitada sO poder~ S8r

conslitufda por pessoa nattJral (BraSil 2011 p indetemlinada)

1 ROE n 43 - MarmiddotAhrIZOI5- PARlE GERAl- DOUTBINA

nar pleiteada a sentenca denegou a seguranta sob 0 fundamento de que embora no tramite legislativo 0 termo natural tenha sido exduido do art 980-A do Codigo Civiftodomnteudo daLei nlt1 124412011 que criou a EIRELI foj engendrado para abarcar apenas a possibjljdade de que seu titular fosse pessoa natural Da decisao nao foi interposto recurs026 bull

Como se percebe embora haja discussao doutrinaria ace rca da possishybilidade de a pessoa juridica ser titular de uma EIRElI ha que se considerar que diante do posicionamento do DNRC esposado na IN 1172011 bem como do Conselho da Justica Federal atualmente ainda que na pratica prevalece 0 entendimento de que apenas pessoas fisicas podem constituir EIRElI

22 AEIHELI EO CAPITAL MiNIMO PARA SUA CONSTITUICAO IN)CONSTITUCIONAUDADE DA NORMA

A exigencia de capital minimo para a constituicao da EIRElI em valor nao inferior a 100 vezes 0 maior salario-minimo vigente no Pais tambem e controvertida

No minimol e possivel vislumbrar tal exigencia como uma forma de trazer seguranta ao instituto ja que com a constituicao da EIRElI 0 emshypreendedor goza de uma separacao entre 0 patrimonio afetado ao exercfcio da atividade e 0 seu patrimanio pessoal A exigencia de urn capital minimo pode ser vista como uma forma de garantir 0 cumprimento das obrigac5es assumidas no exercfcio da atividade Uma garantia para eventuais credores da EIRUI

Em outras palavras 0 estabelecimento de um capital minima e necesshysario para dar credibilidade ao instituto recem-criado ja que com a consshytituicao da EIRELI ha uma autonomia patrimonial ha uma separacao entre o patfifl~niHi~Rif~8qI~middotatJvidade ecooomieuroa--e-G-pattimQlli0partiS2ulill~Qrmiddot titu lar (Pessoa 2011)

Sao muitos no entanto os argumentos contrarios aexigencia imposta pelo texto legal

Inicialmente destaca-se que nao existe via de regra capital minimo estabelecido para a constituitao de sociedades ou registro de empresario individual no Brasil exigindo-se tao somente uma adequacao do capital investido ao objeto social motivo pelo qual a exigencia feita somente para a EIRElI e questionavel (Ramos 2012 p 43)

26 Integra da decisaa pode ser visuallzada em lthttpJprocwebjfrjjusbrportalconsultaresconsprocaspgt

RO N 43 - MarmiddotAbrl2815- PARlE GEnAL - DOUfRINL

Com efeito

Anenhumaoutra forma de exerc1cioempresarial no pals se faz a exigencia exceto em casas excepcionais de um minima de capital Como sustentar essa regra para a EIREU 1550 infringe a igualdade de tratamento que deve ser dada a todos genericamente A desigualdade de tratamento existe por certo sem arrostar a isonomia nos casos em que haja no entanto justificativa para tanto (Bruscato 2011 p 29)

Este e tambern 0 entendimento exposto na Atao Direta de Inconstishytucionalidade nQ 4637 proposta pelo Partido Popular Socialista perante 0

Supremo Tribunal Federal a qual ainda se encontra pendente de julgamenshyto Na aludida ADln defende-se que condicionar a constituiltao de uma EJRElI a integralizaltao de um capital minimo sem qualquer motivo evidenshyte e relevante constituiria afronta ao princfpio da isonomia bem como ao fundamento da livre iniciativa2

expresso no art 17028 caput da CF1988 (Brasil2011)

Segundo 0 partido autor da ADln ao estabelecer um capital no valor de 100 vezes 0 salario-minimo vigente no Pais 0 legislador acabou ferindo o prindpio da igualdade Sustenta-se que para a constituiltao de uma socieshydade com socios de responsabilidade limitada como por exemplo a socieshydade limilada nao existe exigencia de capital mlnimo logol nao eposslvel faze-Io em relarao a EIRElI ja que segundo exposto naacao ambas sao pessoas jurfdicas de identica feiltao no que diz respeito a responsabilidade dos proprietarios (Brasil 2011 )

Outro argumento contrario ao capital minimo exigido para a constituishycao da EJRElI diz respeito acapacidade econamica daqueles que poderiam ser beneficiados com a criacao danolafi~ura isto e os pequenos empre~ endedores que antesdacriacaoddriYovoenteou empresariavam de forma individual sem limitacao de responsabilidade e separacao de patrimonio ou necessariamente tinham de estabelecer sociedades apenas para gozar da autonomia patrimonial e assim reduzir os riscos do empreendimento Nesse

27 A livre iniciativa segundo Pedro le~7a e um dos pilares da ordem econOmica ao lado da valoriza~ao do Irabalha humano (lenza 201 p 984) Inocsectncio Martires Coelho citando Miguel Reale explica que livre iniciativa e livre concorrencla silo conceitos complementares mas essenciamente distinlos A primeira nao 0 senaa a proje~ao da liberdade individual no plano de produ~ao citula~ao e distribuii8o das riquezas assegurando nao apenas a livre esoolha des proflssoes e das atlvidades econ8mlcas mas tambem a autonoma elei~ao dos processos ou meios julgados mais adequados aconsecu~iio des fins visados liberdade de fins ede maios informa aprincipia de livre inicleliva conlerindo-Ihe um valar primordial como results da interpreta~ao conjugada dos cftados arts 1deg e [70 (Reale apud Mendes Coelho Branco 2010 p 1409)

28 Art 170 da CF11988 A ordem econOmica fundada na valoriza~~o do trabalho humano e na livre iniciativa tern por tim assegurar a todosexist~ncia digna conforme es ditames da Justia SOCial observados as seguintesprinclpies [J (6rasll 1988 p indeterminada)

liU RDE 43 - MarmiddotAbr2015 - PARTE GEllAl- OOUfOINA

caso a sociedade era constitufda normalmente com pessoas pr6ximas mas sem nenhum interesse na atividade as quais figuravam nocQotratosocial

como titulares de percentual minima das quotas sociais constituindo as chamadas sociedades de fachada ja mencionadas29 bull

Nesse ponto pode-se dizer que apesar das crfticas disparadas ao novel instituto a EIRELI mostra-5e como instrumento eficaz para coibir a praticc comumente adotada no Brasil de conslituiyJo de sociedades em que um dos s6ci05 nao tem qualquer participa)ao na gestao do empreendishymento formada com 0 dnico objetivo de limitar a responsabilidade do emshypresario que na pratica exerce a empresa individualmente (Ramos 2012 p 40-41)

Por essa razJo e que uma vez sendo 0 objetivo da criaCJo da EIRELI estimular 0 exercicio de atividade empresaria especialmente por pequenos empreendedores 0 valor de 100 (cem) vezes 0 salario-minimo mostra-se desproporcional 1550 porque grande parte dos empreendedores que podem se enquadrar na EIRELI iniciam suas atividades com capital bastante inferior Afirma-se que 0 capital minimo estabelecido pelo legislador esta longe da realidade dos pequenos empreendedores brasiieiros e caracteriza desresshypeito ao principio da livre iniciativa Assim 0 legislador patrio nao teria la5shytreado a fixayao deste valor em estudos sobre a capacidade econ6mico-fishynanceira dos provaveis interessados nesta especie societaria (Pessoa 2011 )

Estes sao tambem os argumentos que embasam a justificativa do Proshyjeto de Lei nQ 24682011 de autoria do Deputado Carlos Bezerra Segundo o parlamentar a exigencia feita pelo legislador retira dos pequenos empreshyendedores a possibilidade de coostituiyao de lima EIRELI haja vista que 0

valor exigido na Lei 0 2 124412011 supera significativamente 0 valor geshyralmente empregado para a constitlliyao dasPeqU~PilSempresas Por essa raz~(jo aludidoprojeto tem como um (feseusigtbJetivosillterar 0 art 9~O-A do Codigo Civil para reduzir de 100 para 50 salarios-mfnimos 0 capital minima exigido para a constitui~ao de lima EIREU (Brasil 2011)

Seguindo mesmo entendimento

29 A exist~ncia das chamadas sociedades de fachada Ii conhecida desde ha multo olio apenas pela dovtrina mas tam~m pela junsprud~ncia de nossos trlbunais 0 reconhecimento desta situa~ao se faz relevante tanto para que possa coibir tal praliea quanto para proteger a indivlduo que comprovadamente jamals exerceL qualqller poder de administra~ao sobre a sociedade da responsabllizagao pelos atos praticados indlvidualmente pelo s6cio detentor da quase totalidade das quotas sociais A tItulo de exemplo Execu~ao fiscal E aparente a socledade em que a imensa maioria das quotas pertenee a uma s6 pessoa flsiea Sltua~ao que mascara a atividade de urn comereiante em nome Individual Indelerlmento do pedido de penhora sobre bens do s60lo de fachada Decisao acertada potque de acordo com a realldade fatlca Agravo improvldo (TJRS AI 591020177 1 ccrv Rei Jose Velllnha de Lacenla J 21051991)

30

ROE N 43 - MarmiddotAlIr2n15 - PAUn GfRAl- OUUmINL

Deveria ser desnecessario diz~-Io mas tal materia nao poderia jamais ser objeto de decisao arbitraria sob pena de frustraiOobjetivo mesmo da norshyma e ll1alferir a Constituirao 0 numero 100 ninguem negara soa bem aos ouvidos mas isso nao deveria bastar para inseri-Io em texto legal Se de fato sua eleirao foi desacompanhada de qualquer embasamento tecnico e passrvel demonstrar-se inclusive mediante a colheita de dados estatisticos e indicacoes de direito comparado a inconstitucionalidade decorrente da violaSao aos princfpios da isonomia e da razoabllidade Por que se negar ao cidadao que dispanha de 50 salarios-minimos 0 direito de constituir uma EIREU quando em Portugal eassaz inferior 0 montante necessario para faz~shy-10 e no Chile sequer existe exigencia dessa especie (como alias previa 0

texto primitivo do PU e questao cuja resposta se desprovida de fundamenshytos s6lidos atesta a contrariedade aos supracitados principios (Nadu sd p indeterminada)

A exclusao de grande parte dos empreendedores do pafs com a exishygeurogtncia de capital mlnimo alto e tambem argumento da ADln 4637 ja que o objetivo primordial da norma recem-criada e fomentar 0 desenvolvimento ecoo6mico e social do pais Sustenta-se que tal objetivo esta sendo prejudishycado oa medida em que a legislacao retira de pequenos empreendedores a possibilidade de lanyarem-se no mercado economico de forma regular saindo portanto da informalidade (Brasil 2011 p indeterminadal

Corroborando 0 entendimento aeima Haroldo Malheiros Duclerc Vercosa (2011 p indeterminada) afirma que

rJa crftJca que se faz eque 0 capital mlnimo exigido de tal sociedade deixa a margem urna parcela substancial dos microempresarios patrios os quais continuarao dentro do regime geraf de respollsabilidade patrimonial pessoal (e do risco correspondente) sem acesso ao patrimonio ~eparadoqlleeiQ ltI

serqiad9para q EIRElI a naoser par alguma fugapararrlecanisfnocorno deg dlc6nstitui~ao de uma sociedade limitada com outro socio este detentor de

minima expressao do capital social Mas tal recurso muito utilizado apreshysenta custos que 0 microempresario dificilll1ente poderii suportar

Ainda deve-se considerar que a vinculacao do salario-mfnimo para qualquer fim e expressameote vedada pel a Constituicao Federal de 1988 em seu art 72

IV30 Nesse passo ainda que se considere posslvel Oll ate mesmo necessaria a exigencia de lim capital minimo para a constituicao de

Art lO da Cf1988 Sao direlos dos tlllbalhadores urbanos e rurais aiem de outros que visem il melhoria de sua condl~ilo social L1IV - saIMiomiddotInnlmo lixado em lei naeionalmente uniftcado capaz de arender a suas neeessidades vitais Mslcas e ~s de sua famflia com moradla alilnenta~iio eduoaao saude lazer vestuario higiene transporte e prevldencla social com reaJustes perlMieas que lhe preservem degpoder aquisitivo sendo vedada sua vineula~ilo rara qualqver 11m l (Brasil 1988 p indeterminada)

N N bullbullbullbullbullbull HOE N 43 - MarmiddotAbr2015 -AlIT GERAl- DOUTRIIfA

uma EIRELI este capital em regra nao poderia ser calculado com base no salario-minimo

5eguindo tal raciodnio e por entender que a parte final do art 980shyA do Codigo Civil de 200212 fere 0 disposto no art IV da Constituishylt030 Federal entre os argumentos utilizados na ADIn 4637 esta 0 fato de que 0 eonstituinte com 0 objetivo de evitar que os reajustes peri6dicos do salario-minimo que visam a preserva-ao de seu poder aquisitivD sofram influencias de interesses diversos daqueles previstos na Constitui-ao vedou expressamente a villculacao do salario-minimo para qualquer finalidade (Brasil 2011 p indeterminada)

Ainda eonsiderando a oscilacao que 0 reajuste do salado pode imshypliear a I Jornada de Direito Comercial do Conselho da Justi-a Federal ocorrida em outubro de 2012 no 5TJ definiu por meio do Enunciado nQ 4 que llma vez subscrito e efetivamente integralizado 0 capital da empresa individual de responsabilidade limitada nao sofrera nenhuma influencia deshycorrente de ulteriores alteracoes no salario minimo

Nao obstante os argumentos contrarios e a ADln pendente de julshygamento vige hoje a exigencia de capital minimo para a eonstituirao da EIRELI fixada com base no salario-minimo nacional vigente na epoca da constitu icao

23 EIRElI EMPRESARlO InDIVIDUAL SOCIEDADE EMPRESARIA UlflPESSOAL OU UM TlPO SUI GEMERIS

DE EMPRESARIO

o legislador batizou 0 novo instituto de Empresa Individual de Resshyponsabilidade limitada Em primeiro lugar ha que se considerar que resta eonsagrado na legisla-ao na doutrina e najurisprudencia que empresae uma atividade exerddapelo empresarilte nao uma pessoa urn sujeito de direitos (Moraes 201 0 p 40 Diante disso a primeira crltica feita ao legisshy

31 0 STF ja firmoL entendimento em divesos julgadas no sentido de que e proibida a vinculaao do sailtirio minima para qualquer finalidade Dana moral FiKa~ilo de indenizaltao com vinculaao a salario-minimo Vedaao constitucional Art 7deg IV da Carta Magna 0 Plenario desta Corte ao julgar em 01101997 a ADln 1425 firmou a entendimenro de qle ao estabelecer 0 art 7deg IV da Constitui~iio que e vedada a vincula~o ao salaria-mlnima para quaiquer fim quis evitar que interesses estranhos aos versados na norma constitucional venham a tel influencia na filCll~o do valor minima a ser observado No caso a indenizaltiio par dana moral fo fixada em 500 salarios-minimos para que inequivacamente 0 valor do salilria-mlnlmo a que essa indenizaao esta vinculado atue como fator de atualizaao desta a que IS vedada pela citarlD dispositivo canstitucional Outros precedentes desta Corte quanta 11 vedaao da vinculagao em causa ReculSo extraordinario conhecido e provida

32 Art 98QA do CCB A empresa individual de responsabilidade limitada sera constituida por uma dnica pessoa titular da totalidade do capital social devidamente integralizado que nao sera inferior a 100 (cern) vezes 0

malar salMo-mfnimo vigenre no Pars (Brasil 2002 paginaltaa indeterminada)

33

ROE N 43 - MarmiddotAbr2015 - PARlE GERAl- DOUmIIlL 1

lador infraconstitucional acerca da natureza juridica da EIRELI diz respeito asuafaLta detecnica para dar nome ao institutomiddot recem~criado chamando de empresa uma especie de empresario (Ramos 2012)

Ora se empresa e uma atividade e nao um sujeito de direitos a falha tecnica legislativa contribtli para a compreensao inadequada que cornushymente se faz da empresa ou seja confundindo-a com a propria pessoa dica ou ainda com 0 estabelecimento empresarial Por essa razao a crftica vem no sentido de que a terminologia mais adequada seria empresario e nao empresa

Nominada de forma equivocada ou nao uma figura juridica capaz de conferir a possibilidade de exercfcio da empresa por uma s6 pessoa ffsiea com separa-ao de patrimonio e limita-ao de responsabilidade e como ja dito desejo antigo da dOlltrina brasileira Como exemplo epossivel citar 0

projeto de Lei nil 201 de 194733 apresentado pelo entao Deputado Fausto

de Freitas e Castro 0 qual dispunha em seu art 12 que qualquer pessoa capaz de exereer 0 eomercio podera constituir empresa em nome individual limitando a sua responsab[lidade pelos neg6cios da mesma ao valor do capital declarado (Martins Filho 1950 p 64-66)

Antonio Martins Filho em cuja obra Umitatiio da responsabilidade do comerciante individual analisa 0 aludido projeto de lei afirmava

A empresa individual de responsabilidade limitada constituindo a ultima fase do processo evolutivo da limitaltao dos riscos e insistentemente redashymada pelos agentes da atividade econ6mica dos novos tempos Recusando-a de direito nao evitara 0 legislador a existencia de fato desse tipo de empresa que passa a funcionar sob forma de sociedade fictfcia ou unipessoal (Martins Filho 1950 p 9)

ja naquela epoca ainda sob a vigencia do Codigo Comercial de 1850 e do C6digo Civil de 1916 0 autor ressaltava a importancia da limita~ao de responsabilidade daquele que era conhecido como comerciante individual (hoje empresario individual) bem como reconhecia a existencia de socieshydades constitufdas apenas formalmente para 0 fim de aquisi=ao de personashylidade jurfdica pr6pria e separa-ao de patrimonio a partir do que concluia que apenas a cria-ao da empresa individual de responsabilidade limitada

Projeto de Lei nO 201 de 1947 anexo abra Limitarl0 de resJOflsabilidade do comerciante individual MARTINS FILHO AntOnio Anais do Congresso Jurfdico Nacional Comemorativo do Cinquenlenario da Faculdade de Direito de Porto Alegre Revisa de Fecudade de Direito de Porto Alegre Porto Alegre URGS maio 1950

middot RDE II U - MarmiddotAer201S - PARrE GER~L - DoumlNA

serla capaz de acabar com tal pratica tao comum no Brasil (Martins Filho

1950)

Em 2005 Wilges Ariana Bruscato tambem assinalava a importanshycia do exercicio individual da empresa com limita=ao de responsabilidade como forma eficaz de fomento da economia

jft que 0 modus vivendi de nossa sociedade atual baseia-se em resultados economicos e relevante acenar com contribuilt6es para 0 desenvolvimento da atividade empresarial feita de maneira singular como forma de incentivar as pequenas iniciativas que num 6istema de colmeia representam a agreshyga~ao de vaores sociais importantes como 0 emprego 0 recolhimento de tributo a disseminaltao tecnologica entre outros ou seja 0 favorecimento de pequenas iniciativas que aquecem a economia (Bruscato 2005 p 75)

No mesmo sentido Felipe Ferreira Machado Moraes (2010 p 37-38) sustenta a necessidade de limita=ao da responsabilidade do empresario inshydividual como forma de cumprir os objetivos do Estado Democratico de Direlto tais como expressos na pr6pria Constitui=ao Federal de 1988

Em um Eslado Democratico de Direilo em que a propria Constituiltao da Republica contempla dispositivos que pregam 0 desenvolvimento nacional a livre iniciativa e inclusive 0 tratamento favorecido as empresas de pequeno porte nao parece prosperar 0 entendimento de que 0 empresario individual deve ter sua responsabilidade ilimitada respondendo com a totalidade de seu patrimonio particular (civil) por eventuais insucessos de seu empreendishy

mento

o anseio pela limitarao da responsabilidade no exerdcio individual da ernpreSq~Iil~re ()s~doutrinadores patrios baseava-se frequenteniente experiencia de outros paises que regulamentaram em sua ordem interna diversas formas de possibilitar a limitarao de responsabilidade daquele que

deseja empresariar individualmente

Na Alemanha como visto surgiu 0 primeiro modelo de sociedade por quotas de responsabilidade limitada em 1892 Em 1981 quase um 56shyculo depois entra em vigor a lei que alterou a legislarao das Sociedades por Quotas de Responsabilidade limitada para introduzir no ordenamenshyto juridico alemao a Sociedade por Quotas de Responsabilidade Limitada Unipessoal Passou-se enUlo a permitir a constituirao de Sociedades por Quotas de Responsabilidade Limitada por apenas uma pessoa (ffsica ou jushy

ridica) (Abrao 2000 p 6)

ROE N 43 - M8rmiddotAb~2015 - PARr CEIlAL - DOUTRlIIAmiddotmiddotmiddotmiddot

Tambem na Fran=a ap6s a regulamenta=ao clas sociedades por quoshytas de fesponsabiJidade Itmitadaiolintroduzida a limitada unipessoal em 1985 permitindo iguafmente a constituirao de sociedades unipessoais (Abrao 2000 p 12)

Ja em Portugal existem duas possibilidades para 0 exercfcio indivishydual da empresa Em 1986 0 Decreto-Lei nQ 2481986 criou a figura do Esshytabelecimento Individual de Responsabilidade limitada EtRL Trata-se de figura na~ dotada de personalidade juridica constilufda atraves de um pashytrimonio de afetarao por meio do qual uma pessoa fisica explora uma ativishydade economica empresarial Para a constituirao de um EIRL e necessario o investimento minima de euro 5000 (cinco mil euros) Ja a segunda forma de empresariar individualmente em Portugal com separarao patrimonial e limitarao de responsabilidade foi regulamentada 10 anos ap6s 0 EIRL por meio do Decreto-Lei nil 2571996 a Sociedade Unipessoal par Quotas Tal sociedade e constitufda por uma 56 pessoa (fIsica OU juridical titular de todo o capital social e cuja responsabllidade esta limitada ao capital investido sendo este livremente fixado pelo s6cio ou seja nao ha exigencia de capital mlnimo para a SUQ ao contrario do que ocorre com 0 EIR134

bull

Na experiencia brasileira entretanto ate a ediraa da Lei nQ 124412011 nao havia possibilidade de exercer uma atividade econoshymica organizada de forma individual sem 0 camprometimento da totalidade do patrimonio do empresario A sociedade unipessoal admitida em palses europeus desde meados de 1980 somente era permitida no Brasil em duas hip6teses excepcionais quais sejam a subsidiaria integral prevista na Lei das Sociedades Anonimas (Lei nQ 64041976)35 e a unipessoalidade ternshyporaria da sociedade pelo prazo de cento e oitenta dias conforme dispoe 0

art 1033 IVJ6 do C6qigoCiv

Assim no Brasil ap6s anos de discussao doutrimiria e de entendishymento quanta a necessidade de cria=ao de um instituto que viabilizasse 0

exercfcio da empresa de forma individual sem que isso acarretasse necessashyria risco ao patrimonio pessoal do empresario 0 legislador infraconstitucioshy

34 Informa~aes dlsponiveis em lthttpwwwpot1lJgalgIObalptPTlnvestirPortugaguiadoinvestldorICriareinstalar PaginaSTipos5ociedadesComerciais aspxgt

35 Art 251 da LSA A companhia pode ser constilulda mediante escrilura publica tendo como unico acionisa sociedade brasileira sect 1deg A sociedade que subscrever em bans 0 capital de subsidiaria inlegral devera aprover o laudo de avaliaifio de que trata 0 art 8deg respondendo nos lermos do sect 6 do art 80 e do art 10 e seu panlgrafo Llnico sect 2deg A companhia pade ser converlda em subsidiara integral mediante aquiSitao por scciedade braslieira de lodes as sues ayoes ou nos lermos do art 252

36 Art 1033 do eC8 Dissolve-se a scciedade quando oeorrer 11 IV a falla de pluralidede de socios nila reconstltufda no prazo de cenro e oitenla dias L J

ROE Ndeg 43 - MarmiddotAbr2015 - PARTI GERAl- OUIRINA

nal consagrou a flgura da Empresa Individual de Responsabilidade Limitada a EIRELI

Quando inserida no ordenamento juridico a EIRElI gerou controvershysias acerca da sua natureza juridica Ha que diga tratar-se de empresario inshydividual por outro lado ha que afirme tratar-se de uma sociedade limitada unipessoal No entanto hii tambem uma terceira corrente que afirma ser a EIRELI uma nova especie de pessoa juridical um ente distinto do empresario individual e das sociedades empresarias

A corrente menos express iva considera a EIRELI uma nova modalishydade de empresario individual ou seja um empresario individual de resshyponsabilidade limitada Para tal corrente 0 empresario individual ate en tao conhecido aquele que e pessoa fisica permanece existindo passando a existir 0 empresario individual pessoa jurfdica

Nesse senti do

Apesar de ser uma pessoa jurfdica a EIRELI nao euma sociedade empresaria mas sim uma forma diferenciada de constituiyao de empresario individual (que ao contrltirio daquela e pessoa natural) (Cardoso 2012 p indetermishynada)

Outra corrente mais expressiva e a capitaneada par Fabio Ulhoa Coelho (2012 p 409) para quem a EIRELI e uma sociedade empresaria definindo-a como uma sociedade limitada unipessoal na qual apenas uma pessoa (rfsica ou jurfdica no entender do autor) sera titular da totalidade das quotas socials 0 autor salienta que 0 sect 6Q do art 980middotA do C6digo Civil pershymite concluir que a EIRELI eespecie de sociedade limitada pois se submete as regras deste tipo societario

Da mesma forma Gustavo de Alvarenga Batista (2012) defi ne Em terrnosmiddotpraticos aEIRELI possibilitaqueiumemprksaflopessoa constitua uma sociedade unipessoal na qual fica sua responsabilidade atreshylada ao valor do capital por ele integralizado

Ja Andre Luiz Santa Cruz Ramos (2012) entende que 0 legislador criou uma nova figura juridica distinta da sociedade eillpresaria e do empresario individual mas com caracteristicas semelhantes a ambos No entanto 0 aushytor entende que foi um equivoco a cria~ao de um novo tipo de pessoa jurfshydica Sustenta que 0 legislador poderia tao somente ter consagrado 0 empreshysario individual de responsabilidade limitada que continuaria sendo uma pessoa fisica mas gozando da separa~ao entre 0 seu patrimonio pessoal e aquele afetado ao exercfcio da atividade economica ou ainda consagrado

ROE N 43 - MarmiddotAbrI21115- PARrE GERAl- OUTRINL

efetivamente a sociedade empresaria unipessoal bastando para tanto inshycluirentreasEseecies de sociedades ja existentes a sociedade constitulda par um 6nico s6cio titular de todas as quotas Em qualquer dos casos a insenao feita no art 44 do C6digo Civil seria desnecessaria

Do mesmo entendimento compartilha Wilges Ariana Bruscato (2011 p 10) que afirma que acaso a EIREU fosse uma sociedade unipessoal nao haveria necessidade de inclusao do instituto no inciso VI do art 44 do C6shydigo Civil ja que as sociedades ja estao previstas no inciso II do mesmo dispositivo Da forma como posta nao existe sociedade e silll um tipo sui generis no direito patrio Ainda afirma-se que

a EIREI nao tem natureza juridica de sociedade empresaria ao contrario do que muitos ainda defendem mas trata-se de uma nova categoria de pessoa jurfdica de direito privado que tambem se destina ao exercfcio da empresa Tanto que a Lei nQ 124412011 incluiu as empresas individuais de responsashybilidade limitada no rol de pessoas jurfdicas de direito privado do art 44 do C6digo Civil (inciso Vi) Ademais a lei nQ 124412011 ao inserir no C6dishygo Civil 0 art 980-A teve 0 cuidado de topograficamente tambemcriar um novo titulo (mulo I-A Da Empresa Individual de Responsabiidade Umitashyda) situado entre os Titulos I e II que tratam respedivamente do empresario individual e das sociedades empresarias (Pinheiro 2011 p indeterminadal

Nao obstante os variados entendimentos ha Uma tendencia de que a EIRELI seja efetivaillente compreendida como uma nova especie de pessoa juridica nao se tratando de empresario indiVidual tampouco de sOliedade empresaria ainda que unipessoal Tanto e assim que na ja mencionada I Jarnada de Direito Comercial do Conselho da Justi~a Federal foi aprovado o Enunciado nil 3 com a seguinte redacao A Empresa Individual de Resshyponsabilidade Limitada - ElRELI nao e sociedade unipessoa mas um novo ente~j_stjn~q da pessoa doempresarioe da sociedade eiTlpresfiriao qual seguia ciresmmiddota Iinha do Enunciado nil 46937 da V Jornada de Direito Civil que afirma que a empresa individual de responsabilidade limitada (EIRELI) nao e sociedade mas nova ente jurfdica personificado

24 AEIRELI EO PRomo DE NOVO CUOIGO COMERCIAl EXTINCAO DO INSTITUTO [ CRI~O DE f40VAS FIGURAS1

Tramita no Congresso Nacional 0 Projeta de Lei nil 15722011 que visa a instjtui~ao de um novo C6digo Comercial com a consequente revoshy

~__~~M~~~~ __ __ ___~_____ _~

37 Enunciado n 469 do elF Arts 44 e 980middotA A empresa individual de responsabilidade Iimltada (poundIRELI) olio Ii sociedade mas novo ente jurrdico personificado

Ii r~ RDE Nmiddot 43 - MarmiddotAbrf2615 - PARTE GERAl- OnUIRIUA

gasao de diversos dispositivos do atual C6digo Civil bem como de legislashysoes esparsas

o projeto apresentado pelo Deputado Vicente Candido baseado em minuta elaborada por Fabio Ulhoa Coelho na obra 0 futuro do direito coshymercia tem como uma de suas justificativas a sistematizasao revisao aperfeiltoamento e modernizasao da disciplina jurldica do estabeledmento empresarial do comercio eletronico da concorrencia desleal das condutas parasitarias da escrituratao mercantit do exerddo individual da empresa e da sociedade unipessoal (Brasil 2011 p 118)

Dito projeto nao traz em seu texto referenda expressa ao instituto recem-criado a EIRELI No entanto consagra duas figuras que merecem especial atensao sao elas 0 empresario individual em regime fiduciario e a sociedade Iimitada unipessoajJs

o empresario individual tal como e conhecido atualmente nao deishyxa de existir na redasao do projeto de NCCom sendo disciplinado entre os arts 14 a 32 do projeto de lei No que tange as suas caracteristicas esshysenciais 0 empresario individual permanece sendo pessoa ffsica que exershyce singularmente uma empresa sem limitaltao de responsabilidade nao se submetendo ao prindpio da autonornia patrimonial

Entretanto alem do empresario individual ate 0 momenta conhecido o novo C6digo Comercial visa a instituir outras duas formas de exerdcio individual da empresa como jei dito as quais possibilitam a separaSao de patrimonio e limitaltao de responsabilidade do empreendedor 0 empresashyrio individual que exerce a empresa em regime fiduciari039 e a sociedade limitada unipessoal

Da leitura do projeto infere-se que 0 empresario individual ao reshyquerer 0 seu registro comeh~rfipfesarioquntamp ao 6rgaocompetente poderamiddot fazer uma declaratao na qual conste que 0 exercicio da empresa dar-seshy

38 Na verdadc ha que se pontuar que 0 projeto de lei esta baseado em texto do jurisla Fabio Ulhoa Coelho a entende que a EIREU euma socied8de limiteda unipessoal e n~o ume nova especie de pessoa juridica eo fato pelo qual nao esta ela prevista nesse lormato no relerido projeto

39 A fiducia tem origem no direito romano ral institwlo caraclerlzamiddotse pela contiana e boa-lEi existentes entre fidLicianle e fiduciario A propriedade fiduciira por sua vez caracteriza-se quando determinado bern ou conjento de bens e destinado II gamntia de certo(s) credor(es) ou scja os bens constltuldos como propriedade fiduciaria de destlnam a garantia do cumprimento de determlnadas obrlgaltOes do liduciaro perante 0 fiduciante nao podendo ser objeto de expropriaao Pilra a adlmplemenlo das obriga6es pessoafs do fiduciiirio (Restlffe Neto Rest1ffe 20001 Segundo a C6digo Civil de 2002 em seu art L35 considerashysa propriedade fiducjaria a proprfedade resoliNel de caisa m6vel imungfvel Que 0 devedor com escopo de garanta translere ao credor Para maior aprofundamento acarce do tema vide SILVA ltJiz Augusto Beck da Alienaliio fiducitlfia ampm garantia 4 ed RIO de Janeiro forense 1998

RDE N 43 - Mar-AbtfZ015 - PARrE GERAl- DOUTRINL

-a em regime fiduciario Com a referida dedaraltao 0 empresario devera constitJir 1m patrimbnio relaeuroionado aattvrdade empresarial que pretende exercer absolutamente separado de seu patrimonio pessoaL

Assim uma vez cumpridos os requisitos 0 empresario individual desshysa modalidade (que continuaria sendo pessoa fisica) nao poderia ter seu patrimonio pessoal expropriado para 0 cumprimento das obrigalt6es assushymidas no exercicio da atividade salvo se conforme disp6e 0 sect 29 do art 32 do NCCom se tratarem de obrigaltoes de natureza trabalhista e triblltaria relacionadas ou nao com a empresa Trata-se pois do estabelecimento de um patrimonio de afetaltao que serviria de garantia aos credares do em preshysarlo individual em vez de totalidade do seu patrimonio

A outra forma de exercfcio singular da empresa proposto pelo projeto em comento e a constituiltao de uma sociedade limitada unipessoal Ao tratar das sociedades em especie 0 projeto preve a existencia de cinco tipos societarios (sociedade anonima sociedade limitada sociedade em nome coletivo sociedade em comandita simples e sociedade em comandita par alt6est todos os tipos ja cOllhecidos e previstos no atllal C6digo Civil

A novidade e uma pequena alteraltao feita no ambito das sociedades limitadas para no art 192 dispor que a sociedade limitada sera constishytufda por um ou mais s6cios ou seja retira da definiltao de sociedade a pluralidade dos s6cios

Todavia algumas consideralt6es devem ser feitas acerca do projeto em questao no que tange a sua relaltao com 0 instituto ora estudado

Conforme ja referido a limita~ao de responsabilidade do empresario individual era esperada pela doutrina patria ha muito tempo e a EIRELI foi a

l~gislativaelJcontrada para dar res posta aosansetoSexistentes

Com crfticas ou nao fato e que a EIRELI hoje majoritariamente conshysiderada como uma nova especie de pessoa juridica concebe a limitaltao de responsabilidade no exercfcio individual da empresa e desde 0 infcio de sua vigencia as estatisticas mostram que esta nova forma de exercer a empresa vem crescendo em todo 0 Pafs S6 em Sao Paulo nos primeiros tres meses de sua existencia a EIRELI jii representava mais de 4 do total de registros realizados conforme informaltao publicada pela Junta Comercial do daquele Estad040bull

40 Para majores Inlormacentes e dados estatistlcos vide htlpwwwjucespJazendaspgovbr

RUE III 43 - MOImiddotAbr2U15 - PARTE GERAl- nOUTHINA

Nesse passo cumpre questionar qual sera 0 futuro da EIRELI se 0 Proshyjeto de Lei nQ 15722011 vier a ser aprovado 0 que fazer com as EIRELIs ja existentes ao tempCl da publicacao do novo C6digo Comerdal Sera necesshysaria a criacao de regras de transicao ou os titulares de EIRELI simplesmente serao obrigados a requerer sua transformacao perante as Juntas Comercias para uma das duas modalidades criadas pelo novo C6digo

Certo e que 0 projeto de Novo C6digo Comercial contempla de certa forma a EIRELI mas colocando-a definitivamente como uma especie de sociedade limitada a sociedade limitada unipessoal No entanto ao propor llm projeto e necessario fazer uma analise do impacto que as alteraC6es provocarao sob pena de a nova lei em vez de pacificar entendimentos e llnificar tratamento acabar acarretando um caos inicial comprometendo sua pr6pria legitimidade

CONSIDERA~OES FINAlS

A limitacao de responsabilidade no exerdcio individual da emprcsa e tema recorrente na doutrina brasileira e desejo antigo dos empreendedores Ate a consagrarao da EIRELI par meio da Lei nQ 124412011 tal limitarao nao era posslvel no exercfcio individual da empresa como ja amplamenshyte debatido e demonstrado Com a criacao da EIRELI 0 legislador patrio apresenta aos empreendedores brasileiros uma nova possibilidade para empresariar sem a necessidade de constituirao de sociedades de fachada ou eventual comprometimento da totalidade do patrimonio pessoal do emshypreendedor

Percebe-se contudo que as controversias existentes ern torno da EIRELI ainda sao muitas Mas algumas coisas podem-se dizer certas Prishym~irQjslli1fiIR~khv~i~efetivamentepara privilegiar os pequenosemiddottledioS0i(i empreendedores nao se ve razao plausivel para que ela seja constituida por titular pessoa juridica Beneficiar sociedades estrangeiras e um argumento fraco para fazer esta defesa

Segundo do ponto de vista da garantia dos credores a exigencia de um capital mfnimo tern razao de ser principalmente levando ern conta que ate entao os empresarios individuais respondiam com a totalidade do seu patrimonio Todavia considerando que nao ha exigencia nesse sentido para as demais especies de empresarios de fato fere-se 0 principio da igualdade de tratamento Ainda em rela-ao ao capital minimo se 0 objetivo do legisshylador era beneficiar pequenos e medios empreendedores 0 minima estabeshylecido em 100 vezes 0 salario-mfnimo nacional e bastante alto Talvez uma

nOf Ndeg 43 - MalmiddotAbrl2015 -PARTE GERAl- DOUTRJNL bullbull bullbullbull

adequacao do montante fosse interessante para 0 atingimento dos objetivos do novel instituto

Em relacao a natureza juridica compreender a EIRElI como uma nova especie de pessoa jurfdica e certamente 0 melhor caminho ainda que isso possa parecer estranho ja que se esta diante de uma pessoa jurfdica constituida de uma dnica pessoa Afinal partindo dessa premissa nao seria necessario relativizar 0 conceito de sociedade que exige pluralidade de s6dos tampouco seria necessario pensar um empresario individual pessoa frsica que pudesse ser titular de dois patrimonios autonomos 0 pessoal eo de afetacao

Em derradeira analise no que diz respeito ao Projeto de novo C6digo Comercial cabe apenas ressaltar que eventual aprovacao devera levar em considerarao 0 fato de que como visto desde a entrada ern vigor da Lei nQ 124412011 a procura dos empreendedores por esta modalidade de exercfcio da empresa tern sido grande Contudo 0 projeto de lei nao traz qualquer mencao ao instituto Assim dever-se-a ter uma preocupacao com a transi-ao nao se podendo ignorar a existencia destes slljeitos de direito sem estabelecer qual sera oseu destino Mal se consagram institutos no Brashysil e novamente se pretendem altera~oes legislativas Assim nao se chega a maturidade

Por hora ainda que com quest6es controvertidas ha uma unanimidashyde doutrinaria de que a EIRELI e bem-vinda nao apenas porque oriunda de pleitos antigos mas tambem porque apresenta uma nova possibilidade para quem pretende empresariar no Brasil de modo que ha grande expectativa no sentido de que 0 Poder Judiciario seja capaz de dirimir as controversias existentes causadas basicamente por falhas do legislador permitindo uma amPla utilizacao dQoolRjn~titu~9~gW~Cialmente poraqueles que aoque parece se tentou benefidar 05 pequenos e medios empreendedores brasishyleiros

Page 12: SINTESE - cortemello.com.br · RESUMO A EIRELI - Empresa Individual de Aesponsabilidade Limitada foi introduzida no ordena ... a partir da doutrina de Alberto Asquini, que entende

lU ROE Ndeg 43 - MarmiddotAbifZ015 - PARTE GEML - DOUIRIVA

que exena ou deseje exercer profissionalmente a atividade de empresario podera constituir Empreendimento Individual de Responsabilidade limitashyda (Brasil 2009 p indeterminada)

Assim ja que suprimidos os termos natural e ffsica que acompashynhavam a pessoa na redacao original dos projetos de lei a intencao do legislador so poderia ser permitir que a EIRELI fosse constituida tambem por pessoas juridicas (Rivas 2012 p indeterminada)

Outro argumento apresentado por aqueles que defendem a possibishylidade de a pessoa juridica ser titular de EIRELI ea fadlitacao da instalacao e do funcionamento de sociedades ernpresarias estrangeiras no Pais como forma de aquecer a economia nacional

Fundamental mencionar que a possibilidade de constituiltao de EIRELI par pessoas jurfdicas val facilitar de sobremaneira a instalaltao de sociedades estrangeiras no Brasil Estas ao consultarem advogados brasileiros sobre os procedimentos necessarios ao infcio do desenvolvimento de suas atlvidades no pais invariavelmente surpreendem-se com a quanti dade e complexidade dos procedimentos sendo que dentre eles urn que normal mente cria bastanshyte dificuldade e justamente a necessidade de indicaltao de uma pluralidade de s6cios na sociedade brasileira 0 que muitas vezes as obriga a indicaltao de pessoa ffsica com participaltao apenas simb6lica simplesmente para atenshyder ao formalismo exigi do (Martins Fllho sd p indeterminada)

Contra tal argumento Wilges Ariana Bruscato (2012) sustenta que embora investimentos estrangeiros sejam importantes para 0 desenvolvishymento economico do PaIS a EIRELI nao pode servir como uma forma de burlar a egisla~ao vigente que regulamenta a instalacao e 0 iuncionamento de socitgtdades estrangeiras no Brasil Para a autora trata-se de materia de ordem publica antesdesermateria de~ireito empresqrill e por esla nao pode ser superadclcOni atrid~5oili EIRELI

Tambem com base nos textos dos projetos que deram origem a lei em comento a autora conclui que a omissao dos termos natural ou flshysica para definir qual 0 tipo de pessoa poderia constituir EIRELI teria sido acidentai haja vista que nao houve qualquer justificativa para a supressao da restricao que era expressa nos textos dos projetos ou seja em momenta algum durante 0 tramite do processo legislativo justificou-se tal supressao no interesse de estender as pessoas juridjcas apossibilidade de constituicao de EIRELI (Bruscato 2012)

No mesmo sentido e 0 entendimento de Jacques Maika y Negri (2012 p indeterminada)

RUE N 43 - MarJIbrl2015 - PARTE GERAl- DOUTAINL

Analisado 0 processo legislativo fica claro que houve lapso por parte do reatqrct9Jrojeto substituto DeputadoMamelo Itagiba e nao supressao deshyliberada da expressao natural caso em que 0 parlamentarteria justificado a alteraltao e a sua intenltao

Esta foj tambem a conclusao aqual chegaram os jurislas integrantes do Conselho da Justica Federal que em sua V Jornada de Direito Civil ocorshyrida em novembro de 2011 emitiram 0 Enunciado nQ 4682~ segundo 0 qual apenas as pessoas ffsicas podem constituir EIRELI

Parece evidente que antes de consolidar-se entendimento acerca da possibilidade ou nao de pessoas juridicas virem a constitu ir empresas indivishyduais de responsabilidade limitada sera no Judiciario que esta problematica sera discutida em maior escala

Recentemente 0 Jufzo da 9il Vara da Fazenda Publica do Rio de janeiroRj proferiu decisao na qual deferiu em mandado de scguranca (Proshycesso nQ 0054566-7120128190001) impetrado em face da Junta Comershycial daquele estado medida liminar para que uma pessoa jurfdica levasse a diante 0 processo de transformalt50 de sociedade empresaria em EIRELI Trata-se de sociedade limitada composta por um socio pessoa juridica e um socio pessoa ffsica e este ultimo retirou-se da sociedade A pretensao posta em juizo era de que a sociedade limitada pudesse ser transformada em EIRELI como resultado daiconcentraltao das quotas sociais em um dos s6cios no caso 0 s6cio pessoa juridica 0 pedido foi negado pela Junta Coshymercial do Estado do Rio de Janeiro sob a alegaltao de que a transformacao de uma sociedade empresaria em EIRELI no caso de inexistencia superveshyniente de pluralidade de socios e possivel desde que 0 socio sobre quem se concentre a totalidade das quotas sociais sejaumapessoa f[sica e nao illrfdGa 0 pedido liminar vertidoem sooede mandadodemiddot seguran~a foi aeferido tendo 0 juizo da 9~ Vara da Fazenda Publica do Rio de JaneiroRJ sustentado que nao existe impedimento legal para que 0 titular da EIRELI seja uma pessoa juridica

Recurso de agravo de inslrumento foj interposto pela re (0016183shy2720128190000) e este foi provido para anular a decisao agravada mas reconhecendo a incompetencia do juizo declinando da mesma para a Jusshytica Federal 0 processo que recebeu 0 nQ 0008231-2720124025101 tramitou perante a 12~ Vara Federal do Rio de Janeiro Em que pese tenha sido ratificada a decisao da justica estadual para conceder a medida limishy~---~~-- ------------- 25 Enunciado nO 468 do CJF Art 9SOmiddotA A empresa individual de responsabildade limitada sO poder~ S8r

conslitufda por pessoa nattJral (BraSil 2011 p indetemlinada)

1 ROE n 43 - MarmiddotAhrIZOI5- PARlE GERAl- DOUTBINA

nar pleiteada a sentenca denegou a seguranta sob 0 fundamento de que embora no tramite legislativo 0 termo natural tenha sido exduido do art 980-A do Codigo Civiftodomnteudo daLei nlt1 124412011 que criou a EIRELI foj engendrado para abarcar apenas a possibjljdade de que seu titular fosse pessoa natural Da decisao nao foi interposto recurs026 bull

Como se percebe embora haja discussao doutrinaria ace rca da possishybilidade de a pessoa juridica ser titular de uma EIRElI ha que se considerar que diante do posicionamento do DNRC esposado na IN 1172011 bem como do Conselho da Justica Federal atualmente ainda que na pratica prevalece 0 entendimento de que apenas pessoas fisicas podem constituir EIRElI

22 AEIHELI EO CAPITAL MiNIMO PARA SUA CONSTITUICAO IN)CONSTITUCIONAUDADE DA NORMA

A exigencia de capital minimo para a constituicao da EIRElI em valor nao inferior a 100 vezes 0 maior salario-minimo vigente no Pais tambem e controvertida

No minimol e possivel vislumbrar tal exigencia como uma forma de trazer seguranta ao instituto ja que com a constituicao da EIRElI 0 emshypreendedor goza de uma separacao entre 0 patrimonio afetado ao exercfcio da atividade e 0 seu patrimanio pessoal A exigencia de urn capital minimo pode ser vista como uma forma de garantir 0 cumprimento das obrigac5es assumidas no exercfcio da atividade Uma garantia para eventuais credores da EIRUI

Em outras palavras 0 estabelecimento de um capital minima e necesshysario para dar credibilidade ao instituto recem-criado ja que com a consshytituicao da EIRELI ha uma autonomia patrimonial ha uma separacao entre o patfifl~niHi~Rif~8qI~middotatJvidade ecooomieuroa--e-G-pattimQlli0partiS2ulill~Qrmiddot titu lar (Pessoa 2011)

Sao muitos no entanto os argumentos contrarios aexigencia imposta pelo texto legal

Inicialmente destaca-se que nao existe via de regra capital minimo estabelecido para a constituitao de sociedades ou registro de empresario individual no Brasil exigindo-se tao somente uma adequacao do capital investido ao objeto social motivo pelo qual a exigencia feita somente para a EIRElI e questionavel (Ramos 2012 p 43)

26 Integra da decisaa pode ser visuallzada em lthttpJprocwebjfrjjusbrportalconsultaresconsprocaspgt

RO N 43 - MarmiddotAbrl2815- PARlE GEnAL - DOUfRINL

Com efeito

Anenhumaoutra forma de exerc1cioempresarial no pals se faz a exigencia exceto em casas excepcionais de um minima de capital Como sustentar essa regra para a EIREU 1550 infringe a igualdade de tratamento que deve ser dada a todos genericamente A desigualdade de tratamento existe por certo sem arrostar a isonomia nos casos em que haja no entanto justificativa para tanto (Bruscato 2011 p 29)

Este e tambern 0 entendimento exposto na Atao Direta de Inconstishytucionalidade nQ 4637 proposta pelo Partido Popular Socialista perante 0

Supremo Tribunal Federal a qual ainda se encontra pendente de julgamenshyto Na aludida ADln defende-se que condicionar a constituiltao de uma EJRElI a integralizaltao de um capital minimo sem qualquer motivo evidenshyte e relevante constituiria afronta ao princfpio da isonomia bem como ao fundamento da livre iniciativa2

expresso no art 17028 caput da CF1988 (Brasil2011)

Segundo 0 partido autor da ADln ao estabelecer um capital no valor de 100 vezes 0 salario-minimo vigente no Pais 0 legislador acabou ferindo o prindpio da igualdade Sustenta-se que para a constituiltao de uma socieshydade com socios de responsabilidade limitada como por exemplo a socieshydade limilada nao existe exigencia de capital mlnimo logol nao eposslvel faze-Io em relarao a EIRElI ja que segundo exposto naacao ambas sao pessoas jurfdicas de identica feiltao no que diz respeito a responsabilidade dos proprietarios (Brasil 2011 )

Outro argumento contrario ao capital minimo exigido para a constituishycao da EJRElI diz respeito acapacidade econamica daqueles que poderiam ser beneficiados com a criacao danolafi~ura isto e os pequenos empre~ endedores que antesdacriacaoddriYovoenteou empresariavam de forma individual sem limitacao de responsabilidade e separacao de patrimonio ou necessariamente tinham de estabelecer sociedades apenas para gozar da autonomia patrimonial e assim reduzir os riscos do empreendimento Nesse

27 A livre iniciativa segundo Pedro le~7a e um dos pilares da ordem econOmica ao lado da valoriza~ao do Irabalha humano (lenza 201 p 984) Inocsectncio Martires Coelho citando Miguel Reale explica que livre iniciativa e livre concorrencla silo conceitos complementares mas essenciamente distinlos A primeira nao 0 senaa a proje~ao da liberdade individual no plano de produ~ao citula~ao e distribuii8o das riquezas assegurando nao apenas a livre esoolha des proflssoes e das atlvidades econ8mlcas mas tambem a autonoma elei~ao dos processos ou meios julgados mais adequados aconsecu~iio des fins visados liberdade de fins ede maios informa aprincipia de livre inicleliva conlerindo-Ihe um valar primordial como results da interpreta~ao conjugada dos cftados arts 1deg e [70 (Reale apud Mendes Coelho Branco 2010 p 1409)

28 Art 170 da CF11988 A ordem econOmica fundada na valoriza~~o do trabalho humano e na livre iniciativa tern por tim assegurar a todosexist~ncia digna conforme es ditames da Justia SOCial observados as seguintesprinclpies [J (6rasll 1988 p indeterminada)

liU RDE 43 - MarmiddotAbr2015 - PARTE GEllAl- OOUfOINA

caso a sociedade era constitufda normalmente com pessoas pr6ximas mas sem nenhum interesse na atividade as quais figuravam nocQotratosocial

como titulares de percentual minima das quotas sociais constituindo as chamadas sociedades de fachada ja mencionadas29 bull

Nesse ponto pode-se dizer que apesar das crfticas disparadas ao novel instituto a EIRELI mostra-5e como instrumento eficaz para coibir a praticc comumente adotada no Brasil de conslituiyJo de sociedades em que um dos s6ci05 nao tem qualquer participa)ao na gestao do empreendishymento formada com 0 dnico objetivo de limitar a responsabilidade do emshypresario que na pratica exerce a empresa individualmente (Ramos 2012 p 40-41)

Por essa razJo e que uma vez sendo 0 objetivo da criaCJo da EIRELI estimular 0 exercicio de atividade empresaria especialmente por pequenos empreendedores 0 valor de 100 (cem) vezes 0 salario-minimo mostra-se desproporcional 1550 porque grande parte dos empreendedores que podem se enquadrar na EIRELI iniciam suas atividades com capital bastante inferior Afirma-se que 0 capital minimo estabelecido pelo legislador esta longe da realidade dos pequenos empreendedores brasiieiros e caracteriza desresshypeito ao principio da livre iniciativa Assim 0 legislador patrio nao teria la5shytreado a fixayao deste valor em estudos sobre a capacidade econ6mico-fishynanceira dos provaveis interessados nesta especie societaria (Pessoa 2011 )

Estes sao tambem os argumentos que embasam a justificativa do Proshyjeto de Lei nQ 24682011 de autoria do Deputado Carlos Bezerra Segundo o parlamentar a exigencia feita pelo legislador retira dos pequenos empreshyendedores a possibilidade de coostituiyao de lima EIRELI haja vista que 0

valor exigido na Lei 0 2 124412011 supera significativamente 0 valor geshyralmente empregado para a constitlliyao dasPeqU~PilSempresas Por essa raz~(jo aludidoprojeto tem como um (feseusigtbJetivosillterar 0 art 9~O-A do Codigo Civil para reduzir de 100 para 50 salarios-mfnimos 0 capital minima exigido para a constitui~ao de lima EIREU (Brasil 2011)

Seguindo mesmo entendimento

29 A exist~ncia das chamadas sociedades de fachada Ii conhecida desde ha multo olio apenas pela dovtrina mas tam~m pela junsprud~ncia de nossos trlbunais 0 reconhecimento desta situa~ao se faz relevante tanto para que possa coibir tal praliea quanto para proteger a indivlduo que comprovadamente jamals exerceL qualqller poder de administra~ao sobre a sociedade da responsabllizagao pelos atos praticados indlvidualmente pelo s6cio detentor da quase totalidade das quotas sociais A tItulo de exemplo Execu~ao fiscal E aparente a socledade em que a imensa maioria das quotas pertenee a uma s6 pessoa flsiea Sltua~ao que mascara a atividade de urn comereiante em nome Individual Indelerlmento do pedido de penhora sobre bens do s60lo de fachada Decisao acertada potque de acordo com a realldade fatlca Agravo improvldo (TJRS AI 591020177 1 ccrv Rei Jose Velllnha de Lacenla J 21051991)

30

ROE N 43 - MarmiddotAlIr2n15 - PAUn GfRAl- OUUmINL

Deveria ser desnecessario diz~-Io mas tal materia nao poderia jamais ser objeto de decisao arbitraria sob pena de frustraiOobjetivo mesmo da norshyma e ll1alferir a Constituirao 0 numero 100 ninguem negara soa bem aos ouvidos mas isso nao deveria bastar para inseri-Io em texto legal Se de fato sua eleirao foi desacompanhada de qualquer embasamento tecnico e passrvel demonstrar-se inclusive mediante a colheita de dados estatisticos e indicacoes de direito comparado a inconstitucionalidade decorrente da violaSao aos princfpios da isonomia e da razoabllidade Por que se negar ao cidadao que dispanha de 50 salarios-minimos 0 direito de constituir uma EIREU quando em Portugal eassaz inferior 0 montante necessario para faz~shy-10 e no Chile sequer existe exigencia dessa especie (como alias previa 0

texto primitivo do PU e questao cuja resposta se desprovida de fundamenshytos s6lidos atesta a contrariedade aos supracitados principios (Nadu sd p indeterminada)

A exclusao de grande parte dos empreendedores do pafs com a exishygeurogtncia de capital mlnimo alto e tambem argumento da ADln 4637 ja que o objetivo primordial da norma recem-criada e fomentar 0 desenvolvimento ecoo6mico e social do pais Sustenta-se que tal objetivo esta sendo prejudishycado oa medida em que a legislacao retira de pequenos empreendedores a possibilidade de lanyarem-se no mercado economico de forma regular saindo portanto da informalidade (Brasil 2011 p indeterminadal

Corroborando 0 entendimento aeima Haroldo Malheiros Duclerc Vercosa (2011 p indeterminada) afirma que

rJa crftJca que se faz eque 0 capital mlnimo exigido de tal sociedade deixa a margem urna parcela substancial dos microempresarios patrios os quais continuarao dentro do regime geraf de respollsabilidade patrimonial pessoal (e do risco correspondente) sem acesso ao patrimonio ~eparadoqlleeiQ ltI

serqiad9para q EIRElI a naoser par alguma fugapararrlecanisfnocorno deg dlc6nstitui~ao de uma sociedade limitada com outro socio este detentor de

minima expressao do capital social Mas tal recurso muito utilizado apreshysenta custos que 0 microempresario dificilll1ente poderii suportar

Ainda deve-se considerar que a vinculacao do salario-mfnimo para qualquer fim e expressameote vedada pel a Constituicao Federal de 1988 em seu art 72

IV30 Nesse passo ainda que se considere posslvel Oll ate mesmo necessaria a exigencia de lim capital minimo para a constituicao de

Art lO da Cf1988 Sao direlos dos tlllbalhadores urbanos e rurais aiem de outros que visem il melhoria de sua condl~ilo social L1IV - saIMiomiddotInnlmo lixado em lei naeionalmente uniftcado capaz de arender a suas neeessidades vitais Mslcas e ~s de sua famflia com moradla alilnenta~iio eduoaao saude lazer vestuario higiene transporte e prevldencla social com reaJustes perlMieas que lhe preservem degpoder aquisitivo sendo vedada sua vineula~ilo rara qualqver 11m l (Brasil 1988 p indeterminada)

N N bullbullbullbullbullbull HOE N 43 - MarmiddotAbr2015 -AlIT GERAl- DOUTRIIfA

uma EIRELI este capital em regra nao poderia ser calculado com base no salario-minimo

5eguindo tal raciodnio e por entender que a parte final do art 980shyA do Codigo Civil de 200212 fere 0 disposto no art IV da Constituishylt030 Federal entre os argumentos utilizados na ADIn 4637 esta 0 fato de que 0 eonstituinte com 0 objetivo de evitar que os reajustes peri6dicos do salario-minimo que visam a preserva-ao de seu poder aquisitivD sofram influencias de interesses diversos daqueles previstos na Constitui-ao vedou expressamente a villculacao do salario-minimo para qualquer finalidade (Brasil 2011 p indeterminada)

Ainda eonsiderando a oscilacao que 0 reajuste do salado pode imshypliear a I Jornada de Direito Comercial do Conselho da Justi-a Federal ocorrida em outubro de 2012 no 5TJ definiu por meio do Enunciado nQ 4 que llma vez subscrito e efetivamente integralizado 0 capital da empresa individual de responsabilidade limitada nao sofrera nenhuma influencia deshycorrente de ulteriores alteracoes no salario minimo

Nao obstante os argumentos contrarios e a ADln pendente de julshygamento vige hoje a exigencia de capital minimo para a eonstituirao da EIRELI fixada com base no salario-minimo nacional vigente na epoca da constitu icao

23 EIRElI EMPRESARlO InDIVIDUAL SOCIEDADE EMPRESARIA UlflPESSOAL OU UM TlPO SUI GEMERIS

DE EMPRESARIO

o legislador batizou 0 novo instituto de Empresa Individual de Resshyponsabilidade limitada Em primeiro lugar ha que se considerar que resta eonsagrado na legisla-ao na doutrina e najurisprudencia que empresae uma atividade exerddapelo empresarilte nao uma pessoa urn sujeito de direitos (Moraes 201 0 p 40 Diante disso a primeira crltica feita ao legisshy

31 0 STF ja firmoL entendimento em divesos julgadas no sentido de que e proibida a vinculaao do sailtirio minima para qualquer finalidade Dana moral FiKa~ilo de indenizaltao com vinculaao a salario-minimo Vedaao constitucional Art 7deg IV da Carta Magna 0 Plenario desta Corte ao julgar em 01101997 a ADln 1425 firmou a entendimenro de qle ao estabelecer 0 art 7deg IV da Constitui~iio que e vedada a vincula~o ao salaria-mlnima para quaiquer fim quis evitar que interesses estranhos aos versados na norma constitucional venham a tel influencia na filCll~o do valor minima a ser observado No caso a indenizaltiio par dana moral fo fixada em 500 salarios-minimos para que inequivacamente 0 valor do salilria-mlnlmo a que essa indenizaao esta vinculado atue como fator de atualizaao desta a que IS vedada pela citarlD dispositivo canstitucional Outros precedentes desta Corte quanta 11 vedaao da vinculagao em causa ReculSo extraordinario conhecido e provida

32 Art 98QA do CCB A empresa individual de responsabilidade limitada sera constituida por uma dnica pessoa titular da totalidade do capital social devidamente integralizado que nao sera inferior a 100 (cern) vezes 0

malar salMo-mfnimo vigenre no Pars (Brasil 2002 paginaltaa indeterminada)

33

ROE N 43 - MarmiddotAbr2015 - PARlE GERAl- DOUmIIlL 1

lador infraconstitucional acerca da natureza juridica da EIRELI diz respeito asuafaLta detecnica para dar nome ao institutomiddot recem~criado chamando de empresa uma especie de empresario (Ramos 2012)

Ora se empresa e uma atividade e nao um sujeito de direitos a falha tecnica legislativa contribtli para a compreensao inadequada que cornushymente se faz da empresa ou seja confundindo-a com a propria pessoa dica ou ainda com 0 estabelecimento empresarial Por essa razao a crftica vem no sentido de que a terminologia mais adequada seria empresario e nao empresa

Nominada de forma equivocada ou nao uma figura juridica capaz de conferir a possibilidade de exercfcio da empresa por uma s6 pessoa ffsiea com separa-ao de patrimonio e limita-ao de responsabilidade e como ja dito desejo antigo da dOlltrina brasileira Como exemplo epossivel citar 0

projeto de Lei nil 201 de 194733 apresentado pelo entao Deputado Fausto

de Freitas e Castro 0 qual dispunha em seu art 12 que qualquer pessoa capaz de exereer 0 eomercio podera constituir empresa em nome individual limitando a sua responsab[lidade pelos neg6cios da mesma ao valor do capital declarado (Martins Filho 1950 p 64-66)

Antonio Martins Filho em cuja obra Umitatiio da responsabilidade do comerciante individual analisa 0 aludido projeto de lei afirmava

A empresa individual de responsabilidade limitada constituindo a ultima fase do processo evolutivo da limitaltao dos riscos e insistentemente redashymada pelos agentes da atividade econ6mica dos novos tempos Recusando-a de direito nao evitara 0 legislador a existencia de fato desse tipo de empresa que passa a funcionar sob forma de sociedade fictfcia ou unipessoal (Martins Filho 1950 p 9)

ja naquela epoca ainda sob a vigencia do Codigo Comercial de 1850 e do C6digo Civil de 1916 0 autor ressaltava a importancia da limita~ao de responsabilidade daquele que era conhecido como comerciante individual (hoje empresario individual) bem como reconhecia a existencia de socieshydades constitufdas apenas formalmente para 0 fim de aquisi=ao de personashylidade jurfdica pr6pria e separa-ao de patrimonio a partir do que concluia que apenas a cria-ao da empresa individual de responsabilidade limitada

Projeto de Lei nO 201 de 1947 anexo abra Limitarl0 de resJOflsabilidade do comerciante individual MARTINS FILHO AntOnio Anais do Congresso Jurfdico Nacional Comemorativo do Cinquenlenario da Faculdade de Direito de Porto Alegre Revisa de Fecudade de Direito de Porto Alegre Porto Alegre URGS maio 1950

middot RDE II U - MarmiddotAer201S - PARrE GER~L - DoumlNA

serla capaz de acabar com tal pratica tao comum no Brasil (Martins Filho

1950)

Em 2005 Wilges Ariana Bruscato tambem assinalava a importanshycia do exercicio individual da empresa com limita=ao de responsabilidade como forma eficaz de fomento da economia

jft que 0 modus vivendi de nossa sociedade atual baseia-se em resultados economicos e relevante acenar com contribuilt6es para 0 desenvolvimento da atividade empresarial feita de maneira singular como forma de incentivar as pequenas iniciativas que num 6istema de colmeia representam a agreshyga~ao de vaores sociais importantes como 0 emprego 0 recolhimento de tributo a disseminaltao tecnologica entre outros ou seja 0 favorecimento de pequenas iniciativas que aquecem a economia (Bruscato 2005 p 75)

No mesmo sentido Felipe Ferreira Machado Moraes (2010 p 37-38) sustenta a necessidade de limita=ao da responsabilidade do empresario inshydividual como forma de cumprir os objetivos do Estado Democratico de Direlto tais como expressos na pr6pria Constitui=ao Federal de 1988

Em um Eslado Democratico de Direilo em que a propria Constituiltao da Republica contempla dispositivos que pregam 0 desenvolvimento nacional a livre iniciativa e inclusive 0 tratamento favorecido as empresas de pequeno porte nao parece prosperar 0 entendimento de que 0 empresario individual deve ter sua responsabilidade ilimitada respondendo com a totalidade de seu patrimonio particular (civil) por eventuais insucessos de seu empreendishy

mento

o anseio pela limitarao da responsabilidade no exerdcio individual da ernpreSq~Iil~re ()s~doutrinadores patrios baseava-se frequenteniente experiencia de outros paises que regulamentaram em sua ordem interna diversas formas de possibilitar a limitarao de responsabilidade daquele que

deseja empresariar individualmente

Na Alemanha como visto surgiu 0 primeiro modelo de sociedade por quotas de responsabilidade limitada em 1892 Em 1981 quase um 56shyculo depois entra em vigor a lei que alterou a legislarao das Sociedades por Quotas de Responsabilidade limitada para introduzir no ordenamenshyto juridico alemao a Sociedade por Quotas de Responsabilidade Limitada Unipessoal Passou-se enUlo a permitir a constituirao de Sociedades por Quotas de Responsabilidade Limitada por apenas uma pessoa (ffsica ou jushy

ridica) (Abrao 2000 p 6)

ROE N 43 - M8rmiddotAb~2015 - PARr CEIlAL - DOUTRlIIAmiddotmiddotmiddotmiddot

Tambem na Fran=a ap6s a regulamenta=ao clas sociedades por quoshytas de fesponsabiJidade Itmitadaiolintroduzida a limitada unipessoal em 1985 permitindo iguafmente a constituirao de sociedades unipessoais (Abrao 2000 p 12)

Ja em Portugal existem duas possibilidades para 0 exercfcio indivishydual da empresa Em 1986 0 Decreto-Lei nQ 2481986 criou a figura do Esshytabelecimento Individual de Responsabilidade limitada EtRL Trata-se de figura na~ dotada de personalidade juridica constilufda atraves de um pashytrimonio de afetarao por meio do qual uma pessoa fisica explora uma ativishydade economica empresarial Para a constituirao de um EIRL e necessario o investimento minima de euro 5000 (cinco mil euros) Ja a segunda forma de empresariar individualmente em Portugal com separarao patrimonial e limitarao de responsabilidade foi regulamentada 10 anos ap6s 0 EIRL por meio do Decreto-Lei nil 2571996 a Sociedade Unipessoal par Quotas Tal sociedade e constitufda por uma 56 pessoa (fIsica OU juridical titular de todo o capital social e cuja responsabllidade esta limitada ao capital investido sendo este livremente fixado pelo s6cio ou seja nao ha exigencia de capital mlnimo para a SUQ ao contrario do que ocorre com 0 EIR134

bull

Na experiencia brasileira entretanto ate a ediraa da Lei nQ 124412011 nao havia possibilidade de exercer uma atividade econoshymica organizada de forma individual sem 0 camprometimento da totalidade do patrimonio do empresario A sociedade unipessoal admitida em palses europeus desde meados de 1980 somente era permitida no Brasil em duas hip6teses excepcionais quais sejam a subsidiaria integral prevista na Lei das Sociedades Anonimas (Lei nQ 64041976)35 e a unipessoalidade ternshyporaria da sociedade pelo prazo de cento e oitenta dias conforme dispoe 0

art 1033 IVJ6 do C6qigoCiv

Assim no Brasil ap6s anos de discussao doutrimiria e de entendishymento quanta a necessidade de cria=ao de um instituto que viabilizasse 0

exercfcio da empresa de forma individual sem que isso acarretasse necessashyria risco ao patrimonio pessoal do empresario 0 legislador infraconstitucioshy

34 Informa~aes dlsponiveis em lthttpwwwpot1lJgalgIObalptPTlnvestirPortugaguiadoinvestldorICriareinstalar PaginaSTipos5ociedadesComerciais aspxgt

35 Art 251 da LSA A companhia pode ser constilulda mediante escrilura publica tendo como unico acionisa sociedade brasileira sect 1deg A sociedade que subscrever em bans 0 capital de subsidiaria inlegral devera aprover o laudo de avaliaifio de que trata 0 art 8deg respondendo nos lermos do sect 6 do art 80 e do art 10 e seu panlgrafo Llnico sect 2deg A companhia pade ser converlda em subsidiara integral mediante aquiSitao por scciedade braslieira de lodes as sues ayoes ou nos lermos do art 252

36 Art 1033 do eC8 Dissolve-se a scciedade quando oeorrer 11 IV a falla de pluralidede de socios nila reconstltufda no prazo de cenro e oitenla dias L J

ROE Ndeg 43 - MarmiddotAbr2015 - PARTI GERAl- OUIRINA

nal consagrou a flgura da Empresa Individual de Responsabilidade Limitada a EIRELI

Quando inserida no ordenamento juridico a EIRElI gerou controvershysias acerca da sua natureza juridica Ha que diga tratar-se de empresario inshydividual por outro lado ha que afirme tratar-se de uma sociedade limitada unipessoal No entanto hii tambem uma terceira corrente que afirma ser a EIRELI uma nova especie de pessoa juridical um ente distinto do empresario individual e das sociedades empresarias

A corrente menos express iva considera a EIRELI uma nova modalishydade de empresario individual ou seja um empresario individual de resshyponsabilidade limitada Para tal corrente 0 empresario individual ate en tao conhecido aquele que e pessoa fisica permanece existindo passando a existir 0 empresario individual pessoa jurfdica

Nesse senti do

Apesar de ser uma pessoa jurfdica a EIRELI nao euma sociedade empresaria mas sim uma forma diferenciada de constituiyao de empresario individual (que ao contrltirio daquela e pessoa natural) (Cardoso 2012 p indetermishynada)

Outra corrente mais expressiva e a capitaneada par Fabio Ulhoa Coelho (2012 p 409) para quem a EIRELI e uma sociedade empresaria definindo-a como uma sociedade limitada unipessoal na qual apenas uma pessoa (rfsica ou jurfdica no entender do autor) sera titular da totalidade das quotas socials 0 autor salienta que 0 sect 6Q do art 980middotA do C6digo Civil pershymite concluir que a EIRELI eespecie de sociedade limitada pois se submete as regras deste tipo societario

Da mesma forma Gustavo de Alvarenga Batista (2012) defi ne Em terrnosmiddotpraticos aEIRELI possibilitaqueiumemprksaflopessoa constitua uma sociedade unipessoal na qual fica sua responsabilidade atreshylada ao valor do capital por ele integralizado

Ja Andre Luiz Santa Cruz Ramos (2012) entende que 0 legislador criou uma nova figura juridica distinta da sociedade eillpresaria e do empresario individual mas com caracteristicas semelhantes a ambos No entanto 0 aushytor entende que foi um equivoco a cria~ao de um novo tipo de pessoa jurfshydica Sustenta que 0 legislador poderia tao somente ter consagrado 0 empreshysario individual de responsabilidade limitada que continuaria sendo uma pessoa fisica mas gozando da separa~ao entre 0 seu patrimonio pessoal e aquele afetado ao exercfcio da atividade economica ou ainda consagrado

ROE N 43 - MarmiddotAbrI21115- PARrE GERAl- OUTRINL

efetivamente a sociedade empresaria unipessoal bastando para tanto inshycluirentreasEseecies de sociedades ja existentes a sociedade constitulda par um 6nico s6cio titular de todas as quotas Em qualquer dos casos a insenao feita no art 44 do C6digo Civil seria desnecessaria

Do mesmo entendimento compartilha Wilges Ariana Bruscato (2011 p 10) que afirma que acaso a EIREU fosse uma sociedade unipessoal nao haveria necessidade de inclusao do instituto no inciso VI do art 44 do C6shydigo Civil ja que as sociedades ja estao previstas no inciso II do mesmo dispositivo Da forma como posta nao existe sociedade e silll um tipo sui generis no direito patrio Ainda afirma-se que

a EIREI nao tem natureza juridica de sociedade empresaria ao contrario do que muitos ainda defendem mas trata-se de uma nova categoria de pessoa jurfdica de direito privado que tambem se destina ao exercfcio da empresa Tanto que a Lei nQ 124412011 incluiu as empresas individuais de responsashybilidade limitada no rol de pessoas jurfdicas de direito privado do art 44 do C6digo Civil (inciso Vi) Ademais a lei nQ 124412011 ao inserir no C6dishygo Civil 0 art 980-A teve 0 cuidado de topograficamente tambemcriar um novo titulo (mulo I-A Da Empresa Individual de Responsabiidade Umitashyda) situado entre os Titulos I e II que tratam respedivamente do empresario individual e das sociedades empresarias (Pinheiro 2011 p indeterminadal

Nao obstante os variados entendimentos ha Uma tendencia de que a EIRELI seja efetivaillente compreendida como uma nova especie de pessoa juridica nao se tratando de empresario indiVidual tampouco de sOliedade empresaria ainda que unipessoal Tanto e assim que na ja mencionada I Jarnada de Direito Comercial do Conselho da Justi~a Federal foi aprovado o Enunciado nil 3 com a seguinte redacao A Empresa Individual de Resshyponsabilidade Limitada - ElRELI nao e sociedade unipessoa mas um novo ente~j_stjn~q da pessoa doempresarioe da sociedade eiTlpresfiriao qual seguia ciresmmiddota Iinha do Enunciado nil 46937 da V Jornada de Direito Civil que afirma que a empresa individual de responsabilidade limitada (EIRELI) nao e sociedade mas nova ente jurfdica personificado

24 AEIRELI EO PRomo DE NOVO CUOIGO COMERCIAl EXTINCAO DO INSTITUTO [ CRI~O DE f40VAS FIGURAS1

Tramita no Congresso Nacional 0 Projeta de Lei nil 15722011 que visa a instjtui~ao de um novo C6digo Comercial com a consequente revoshy

~__~~M~~~~ __ __ ___~_____ _~

37 Enunciado n 469 do elF Arts 44 e 980middotA A empresa individual de responsabilidade Iimltada (poundIRELI) olio Ii sociedade mas novo ente jurrdico personificado

Ii r~ RDE Nmiddot 43 - MarmiddotAbrf2615 - PARTE GERAl- OnUIRIUA

gasao de diversos dispositivos do atual C6digo Civil bem como de legislashysoes esparsas

o projeto apresentado pelo Deputado Vicente Candido baseado em minuta elaborada por Fabio Ulhoa Coelho na obra 0 futuro do direito coshymercia tem como uma de suas justificativas a sistematizasao revisao aperfeiltoamento e modernizasao da disciplina jurldica do estabeledmento empresarial do comercio eletronico da concorrencia desleal das condutas parasitarias da escrituratao mercantit do exerddo individual da empresa e da sociedade unipessoal (Brasil 2011 p 118)

Dito projeto nao traz em seu texto referenda expressa ao instituto recem-criado a EIRELI No entanto consagra duas figuras que merecem especial atensao sao elas 0 empresario individual em regime fiduciario e a sociedade Iimitada unipessoajJs

o empresario individual tal como e conhecido atualmente nao deishyxa de existir na redasao do projeto de NCCom sendo disciplinado entre os arts 14 a 32 do projeto de lei No que tange as suas caracteristicas esshysenciais 0 empresario individual permanece sendo pessoa ffsica que exershyce singularmente uma empresa sem limitaltao de responsabilidade nao se submetendo ao prindpio da autonornia patrimonial

Entretanto alem do empresario individual ate 0 momenta conhecido o novo C6digo Comercial visa a instituir outras duas formas de exerdcio individual da empresa como jei dito as quais possibilitam a separaSao de patrimonio e limitaltao de responsabilidade do empreendedor 0 empresashyrio individual que exerce a empresa em regime fiduciari039 e a sociedade limitada unipessoal

Da leitura do projeto infere-se que 0 empresario individual ao reshyquerer 0 seu registro comeh~rfipfesarioquntamp ao 6rgaocompetente poderamiddot fazer uma declaratao na qual conste que 0 exercicio da empresa dar-seshy

38 Na verdadc ha que se pontuar que 0 projeto de lei esta baseado em texto do jurisla Fabio Ulhoa Coelho a entende que a EIREU euma socied8de limiteda unipessoal e n~o ume nova especie de pessoa juridica eo fato pelo qual nao esta ela prevista nesse lormato no relerido projeto

39 A fiducia tem origem no direito romano ral institwlo caraclerlzamiddotse pela contiana e boa-lEi existentes entre fidLicianle e fiduciario A propriedade fiduciira por sua vez caracteriza-se quando determinado bern ou conjento de bens e destinado II gamntia de certo(s) credor(es) ou scja os bens constltuldos como propriedade fiduciaria de destlnam a garantia do cumprimento de determlnadas obrlgaltOes do liduciaro perante 0 fiduciante nao podendo ser objeto de expropriaao Pilra a adlmplemenlo das obriga6es pessoafs do fiduciiirio (Restlffe Neto Rest1ffe 20001 Segundo a C6digo Civil de 2002 em seu art L35 considerashysa propriedade fiducjaria a proprfedade resoliNel de caisa m6vel imungfvel Que 0 devedor com escopo de garanta translere ao credor Para maior aprofundamento acarce do tema vide SILVA ltJiz Augusto Beck da Alienaliio fiducitlfia ampm garantia 4 ed RIO de Janeiro forense 1998

RDE N 43 - Mar-AbtfZ015 - PARrE GERAl- DOUTRINL

-a em regime fiduciario Com a referida dedaraltao 0 empresario devera constitJir 1m patrimbnio relaeuroionado aattvrdade empresarial que pretende exercer absolutamente separado de seu patrimonio pessoaL

Assim uma vez cumpridos os requisitos 0 empresario individual desshysa modalidade (que continuaria sendo pessoa fisica) nao poderia ter seu patrimonio pessoal expropriado para 0 cumprimento das obrigalt6es assushymidas no exercicio da atividade salvo se conforme disp6e 0 sect 29 do art 32 do NCCom se tratarem de obrigaltoes de natureza trabalhista e triblltaria relacionadas ou nao com a empresa Trata-se pois do estabelecimento de um patrimonio de afetaltao que serviria de garantia aos credares do em preshysarlo individual em vez de totalidade do seu patrimonio

A outra forma de exercfcio singular da empresa proposto pelo projeto em comento e a constituiltao de uma sociedade limitada unipessoal Ao tratar das sociedades em especie 0 projeto preve a existencia de cinco tipos societarios (sociedade anonima sociedade limitada sociedade em nome coletivo sociedade em comandita simples e sociedade em comandita par alt6est todos os tipos ja cOllhecidos e previstos no atllal C6digo Civil

A novidade e uma pequena alteraltao feita no ambito das sociedades limitadas para no art 192 dispor que a sociedade limitada sera constishytufda por um ou mais s6cios ou seja retira da definiltao de sociedade a pluralidade dos s6cios

Todavia algumas consideralt6es devem ser feitas acerca do projeto em questao no que tange a sua relaltao com 0 instituto ora estudado

Conforme ja referido a limita~ao de responsabilidade do empresario individual era esperada pela doutrina patria ha muito tempo e a EIRELI foi a

l~gislativaelJcontrada para dar res posta aosansetoSexistentes

Com crfticas ou nao fato e que a EIRELI hoje majoritariamente conshysiderada como uma nova especie de pessoa juridica concebe a limitaltao de responsabilidade no exercfcio individual da empresa e desde 0 infcio de sua vigencia as estatisticas mostram que esta nova forma de exercer a empresa vem crescendo em todo 0 Pafs S6 em Sao Paulo nos primeiros tres meses de sua existencia a EIRELI jii representava mais de 4 do total de registros realizados conforme informaltao publicada pela Junta Comercial do daquele Estad040bull

40 Para majores Inlormacentes e dados estatistlcos vide htlpwwwjucespJazendaspgovbr

RUE III 43 - MOImiddotAbr2U15 - PARTE GERAl- nOUTHINA

Nesse passo cumpre questionar qual sera 0 futuro da EIRELI se 0 Proshyjeto de Lei nQ 15722011 vier a ser aprovado 0 que fazer com as EIRELIs ja existentes ao tempCl da publicacao do novo C6digo Comerdal Sera necesshysaria a criacao de regras de transicao ou os titulares de EIRELI simplesmente serao obrigados a requerer sua transformacao perante as Juntas Comercias para uma das duas modalidades criadas pelo novo C6digo

Certo e que 0 projeto de Novo C6digo Comercial contempla de certa forma a EIRELI mas colocando-a definitivamente como uma especie de sociedade limitada a sociedade limitada unipessoal No entanto ao propor llm projeto e necessario fazer uma analise do impacto que as alteraC6es provocarao sob pena de a nova lei em vez de pacificar entendimentos e llnificar tratamento acabar acarretando um caos inicial comprometendo sua pr6pria legitimidade

CONSIDERA~OES FINAlS

A limitacao de responsabilidade no exerdcio individual da emprcsa e tema recorrente na doutrina brasileira e desejo antigo dos empreendedores Ate a consagrarao da EIRELI par meio da Lei nQ 124412011 tal limitarao nao era posslvel no exercfcio individual da empresa como ja amplamenshyte debatido e demonstrado Com a criacao da EIRELI 0 legislador patrio apresenta aos empreendedores brasileiros uma nova possibilidade para empresariar sem a necessidade de constituirao de sociedades de fachada ou eventual comprometimento da totalidade do patrimonio pessoal do emshypreendedor

Percebe-se contudo que as controversias existentes ern torno da EIRELI ainda sao muitas Mas algumas coisas podem-se dizer certas Prishym~irQjslli1fiIR~khv~i~efetivamentepara privilegiar os pequenosemiddottledioS0i(i empreendedores nao se ve razao plausivel para que ela seja constituida por titular pessoa juridica Beneficiar sociedades estrangeiras e um argumento fraco para fazer esta defesa

Segundo do ponto de vista da garantia dos credores a exigencia de um capital mfnimo tern razao de ser principalmente levando ern conta que ate entao os empresarios individuais respondiam com a totalidade do seu patrimonio Todavia considerando que nao ha exigencia nesse sentido para as demais especies de empresarios de fato fere-se 0 principio da igualdade de tratamento Ainda em rela-ao ao capital minimo se 0 objetivo do legisshylador era beneficiar pequenos e medios empreendedores 0 minima estabeshylecido em 100 vezes 0 salario-mfnimo nacional e bastante alto Talvez uma

nOf Ndeg 43 - MalmiddotAbrl2015 -PARTE GERAl- DOUTRJNL bullbull bullbullbull

adequacao do montante fosse interessante para 0 atingimento dos objetivos do novel instituto

Em relacao a natureza juridica compreender a EIRElI como uma nova especie de pessoa jurfdica e certamente 0 melhor caminho ainda que isso possa parecer estranho ja que se esta diante de uma pessoa jurfdica constituida de uma dnica pessoa Afinal partindo dessa premissa nao seria necessario relativizar 0 conceito de sociedade que exige pluralidade de s6dos tampouco seria necessario pensar um empresario individual pessoa frsica que pudesse ser titular de dois patrimonios autonomos 0 pessoal eo de afetacao

Em derradeira analise no que diz respeito ao Projeto de novo C6digo Comercial cabe apenas ressaltar que eventual aprovacao devera levar em considerarao 0 fato de que como visto desde a entrada ern vigor da Lei nQ 124412011 a procura dos empreendedores por esta modalidade de exercfcio da empresa tern sido grande Contudo 0 projeto de lei nao traz qualquer mencao ao instituto Assim dever-se-a ter uma preocupacao com a transi-ao nao se podendo ignorar a existencia destes slljeitos de direito sem estabelecer qual sera oseu destino Mal se consagram institutos no Brashysil e novamente se pretendem altera~oes legislativas Assim nao se chega a maturidade

Por hora ainda que com quest6es controvertidas ha uma unanimidashyde doutrinaria de que a EIRELI e bem-vinda nao apenas porque oriunda de pleitos antigos mas tambem porque apresenta uma nova possibilidade para quem pretende empresariar no Brasil de modo que ha grande expectativa no sentido de que 0 Poder Judiciario seja capaz de dirimir as controversias existentes causadas basicamente por falhas do legislador permitindo uma amPla utilizacao dQoolRjn~titu~9~gW~Cialmente poraqueles que aoque parece se tentou benefidar 05 pequenos e medios empreendedores brasishyleiros

Page 13: SINTESE - cortemello.com.br · RESUMO A EIRELI - Empresa Individual de Aesponsabilidade Limitada foi introduzida no ordena ... a partir da doutrina de Alberto Asquini, que entende

1 ROE n 43 - MarmiddotAhrIZOI5- PARlE GERAl- DOUTBINA

nar pleiteada a sentenca denegou a seguranta sob 0 fundamento de que embora no tramite legislativo 0 termo natural tenha sido exduido do art 980-A do Codigo Civiftodomnteudo daLei nlt1 124412011 que criou a EIRELI foj engendrado para abarcar apenas a possibjljdade de que seu titular fosse pessoa natural Da decisao nao foi interposto recurs026 bull

Como se percebe embora haja discussao doutrinaria ace rca da possishybilidade de a pessoa juridica ser titular de uma EIRElI ha que se considerar que diante do posicionamento do DNRC esposado na IN 1172011 bem como do Conselho da Justica Federal atualmente ainda que na pratica prevalece 0 entendimento de que apenas pessoas fisicas podem constituir EIRElI

22 AEIHELI EO CAPITAL MiNIMO PARA SUA CONSTITUICAO IN)CONSTITUCIONAUDADE DA NORMA

A exigencia de capital minimo para a constituicao da EIRElI em valor nao inferior a 100 vezes 0 maior salario-minimo vigente no Pais tambem e controvertida

No minimol e possivel vislumbrar tal exigencia como uma forma de trazer seguranta ao instituto ja que com a constituicao da EIRElI 0 emshypreendedor goza de uma separacao entre 0 patrimonio afetado ao exercfcio da atividade e 0 seu patrimanio pessoal A exigencia de urn capital minimo pode ser vista como uma forma de garantir 0 cumprimento das obrigac5es assumidas no exercfcio da atividade Uma garantia para eventuais credores da EIRUI

Em outras palavras 0 estabelecimento de um capital minima e necesshysario para dar credibilidade ao instituto recem-criado ja que com a consshytituicao da EIRELI ha uma autonomia patrimonial ha uma separacao entre o patfifl~niHi~Rif~8qI~middotatJvidade ecooomieuroa--e-G-pattimQlli0partiS2ulill~Qrmiddot titu lar (Pessoa 2011)

Sao muitos no entanto os argumentos contrarios aexigencia imposta pelo texto legal

Inicialmente destaca-se que nao existe via de regra capital minimo estabelecido para a constituitao de sociedades ou registro de empresario individual no Brasil exigindo-se tao somente uma adequacao do capital investido ao objeto social motivo pelo qual a exigencia feita somente para a EIRElI e questionavel (Ramos 2012 p 43)

26 Integra da decisaa pode ser visuallzada em lthttpJprocwebjfrjjusbrportalconsultaresconsprocaspgt

RO N 43 - MarmiddotAbrl2815- PARlE GEnAL - DOUfRINL

Com efeito

Anenhumaoutra forma de exerc1cioempresarial no pals se faz a exigencia exceto em casas excepcionais de um minima de capital Como sustentar essa regra para a EIREU 1550 infringe a igualdade de tratamento que deve ser dada a todos genericamente A desigualdade de tratamento existe por certo sem arrostar a isonomia nos casos em que haja no entanto justificativa para tanto (Bruscato 2011 p 29)

Este e tambern 0 entendimento exposto na Atao Direta de Inconstishytucionalidade nQ 4637 proposta pelo Partido Popular Socialista perante 0

Supremo Tribunal Federal a qual ainda se encontra pendente de julgamenshyto Na aludida ADln defende-se que condicionar a constituiltao de uma EJRElI a integralizaltao de um capital minimo sem qualquer motivo evidenshyte e relevante constituiria afronta ao princfpio da isonomia bem como ao fundamento da livre iniciativa2

expresso no art 17028 caput da CF1988 (Brasil2011)

Segundo 0 partido autor da ADln ao estabelecer um capital no valor de 100 vezes 0 salario-minimo vigente no Pais 0 legislador acabou ferindo o prindpio da igualdade Sustenta-se que para a constituiltao de uma socieshydade com socios de responsabilidade limitada como por exemplo a socieshydade limilada nao existe exigencia de capital mlnimo logol nao eposslvel faze-Io em relarao a EIRElI ja que segundo exposto naacao ambas sao pessoas jurfdicas de identica feiltao no que diz respeito a responsabilidade dos proprietarios (Brasil 2011 )

Outro argumento contrario ao capital minimo exigido para a constituishycao da EJRElI diz respeito acapacidade econamica daqueles que poderiam ser beneficiados com a criacao danolafi~ura isto e os pequenos empre~ endedores que antesdacriacaoddriYovoenteou empresariavam de forma individual sem limitacao de responsabilidade e separacao de patrimonio ou necessariamente tinham de estabelecer sociedades apenas para gozar da autonomia patrimonial e assim reduzir os riscos do empreendimento Nesse

27 A livre iniciativa segundo Pedro le~7a e um dos pilares da ordem econOmica ao lado da valoriza~ao do Irabalha humano (lenza 201 p 984) Inocsectncio Martires Coelho citando Miguel Reale explica que livre iniciativa e livre concorrencla silo conceitos complementares mas essenciamente distinlos A primeira nao 0 senaa a proje~ao da liberdade individual no plano de produ~ao citula~ao e distribuii8o das riquezas assegurando nao apenas a livre esoolha des proflssoes e das atlvidades econ8mlcas mas tambem a autonoma elei~ao dos processos ou meios julgados mais adequados aconsecu~iio des fins visados liberdade de fins ede maios informa aprincipia de livre inicleliva conlerindo-Ihe um valar primordial como results da interpreta~ao conjugada dos cftados arts 1deg e [70 (Reale apud Mendes Coelho Branco 2010 p 1409)

28 Art 170 da CF11988 A ordem econOmica fundada na valoriza~~o do trabalho humano e na livre iniciativa tern por tim assegurar a todosexist~ncia digna conforme es ditames da Justia SOCial observados as seguintesprinclpies [J (6rasll 1988 p indeterminada)

liU RDE 43 - MarmiddotAbr2015 - PARTE GEllAl- OOUfOINA

caso a sociedade era constitufda normalmente com pessoas pr6ximas mas sem nenhum interesse na atividade as quais figuravam nocQotratosocial

como titulares de percentual minima das quotas sociais constituindo as chamadas sociedades de fachada ja mencionadas29 bull

Nesse ponto pode-se dizer que apesar das crfticas disparadas ao novel instituto a EIRELI mostra-5e como instrumento eficaz para coibir a praticc comumente adotada no Brasil de conslituiyJo de sociedades em que um dos s6ci05 nao tem qualquer participa)ao na gestao do empreendishymento formada com 0 dnico objetivo de limitar a responsabilidade do emshypresario que na pratica exerce a empresa individualmente (Ramos 2012 p 40-41)

Por essa razJo e que uma vez sendo 0 objetivo da criaCJo da EIRELI estimular 0 exercicio de atividade empresaria especialmente por pequenos empreendedores 0 valor de 100 (cem) vezes 0 salario-minimo mostra-se desproporcional 1550 porque grande parte dos empreendedores que podem se enquadrar na EIRELI iniciam suas atividades com capital bastante inferior Afirma-se que 0 capital minimo estabelecido pelo legislador esta longe da realidade dos pequenos empreendedores brasiieiros e caracteriza desresshypeito ao principio da livre iniciativa Assim 0 legislador patrio nao teria la5shytreado a fixayao deste valor em estudos sobre a capacidade econ6mico-fishynanceira dos provaveis interessados nesta especie societaria (Pessoa 2011 )

Estes sao tambem os argumentos que embasam a justificativa do Proshyjeto de Lei nQ 24682011 de autoria do Deputado Carlos Bezerra Segundo o parlamentar a exigencia feita pelo legislador retira dos pequenos empreshyendedores a possibilidade de coostituiyao de lima EIRELI haja vista que 0

valor exigido na Lei 0 2 124412011 supera significativamente 0 valor geshyralmente empregado para a constitlliyao dasPeqU~PilSempresas Por essa raz~(jo aludidoprojeto tem como um (feseusigtbJetivosillterar 0 art 9~O-A do Codigo Civil para reduzir de 100 para 50 salarios-mfnimos 0 capital minima exigido para a constitui~ao de lima EIREU (Brasil 2011)

Seguindo mesmo entendimento

29 A exist~ncia das chamadas sociedades de fachada Ii conhecida desde ha multo olio apenas pela dovtrina mas tam~m pela junsprud~ncia de nossos trlbunais 0 reconhecimento desta situa~ao se faz relevante tanto para que possa coibir tal praliea quanto para proteger a indivlduo que comprovadamente jamals exerceL qualqller poder de administra~ao sobre a sociedade da responsabllizagao pelos atos praticados indlvidualmente pelo s6cio detentor da quase totalidade das quotas sociais A tItulo de exemplo Execu~ao fiscal E aparente a socledade em que a imensa maioria das quotas pertenee a uma s6 pessoa flsiea Sltua~ao que mascara a atividade de urn comereiante em nome Individual Indelerlmento do pedido de penhora sobre bens do s60lo de fachada Decisao acertada potque de acordo com a realldade fatlca Agravo improvldo (TJRS AI 591020177 1 ccrv Rei Jose Velllnha de Lacenla J 21051991)

30

ROE N 43 - MarmiddotAlIr2n15 - PAUn GfRAl- OUUmINL

Deveria ser desnecessario diz~-Io mas tal materia nao poderia jamais ser objeto de decisao arbitraria sob pena de frustraiOobjetivo mesmo da norshyma e ll1alferir a Constituirao 0 numero 100 ninguem negara soa bem aos ouvidos mas isso nao deveria bastar para inseri-Io em texto legal Se de fato sua eleirao foi desacompanhada de qualquer embasamento tecnico e passrvel demonstrar-se inclusive mediante a colheita de dados estatisticos e indicacoes de direito comparado a inconstitucionalidade decorrente da violaSao aos princfpios da isonomia e da razoabllidade Por que se negar ao cidadao que dispanha de 50 salarios-minimos 0 direito de constituir uma EIREU quando em Portugal eassaz inferior 0 montante necessario para faz~shy-10 e no Chile sequer existe exigencia dessa especie (como alias previa 0

texto primitivo do PU e questao cuja resposta se desprovida de fundamenshytos s6lidos atesta a contrariedade aos supracitados principios (Nadu sd p indeterminada)

A exclusao de grande parte dos empreendedores do pafs com a exishygeurogtncia de capital mlnimo alto e tambem argumento da ADln 4637 ja que o objetivo primordial da norma recem-criada e fomentar 0 desenvolvimento ecoo6mico e social do pais Sustenta-se que tal objetivo esta sendo prejudishycado oa medida em que a legislacao retira de pequenos empreendedores a possibilidade de lanyarem-se no mercado economico de forma regular saindo portanto da informalidade (Brasil 2011 p indeterminadal

Corroborando 0 entendimento aeima Haroldo Malheiros Duclerc Vercosa (2011 p indeterminada) afirma que

rJa crftJca que se faz eque 0 capital mlnimo exigido de tal sociedade deixa a margem urna parcela substancial dos microempresarios patrios os quais continuarao dentro do regime geraf de respollsabilidade patrimonial pessoal (e do risco correspondente) sem acesso ao patrimonio ~eparadoqlleeiQ ltI

serqiad9para q EIRElI a naoser par alguma fugapararrlecanisfnocorno deg dlc6nstitui~ao de uma sociedade limitada com outro socio este detentor de

minima expressao do capital social Mas tal recurso muito utilizado apreshysenta custos que 0 microempresario dificilll1ente poderii suportar

Ainda deve-se considerar que a vinculacao do salario-mfnimo para qualquer fim e expressameote vedada pel a Constituicao Federal de 1988 em seu art 72

IV30 Nesse passo ainda que se considere posslvel Oll ate mesmo necessaria a exigencia de lim capital minimo para a constituicao de

Art lO da Cf1988 Sao direlos dos tlllbalhadores urbanos e rurais aiem de outros que visem il melhoria de sua condl~ilo social L1IV - saIMiomiddotInnlmo lixado em lei naeionalmente uniftcado capaz de arender a suas neeessidades vitais Mslcas e ~s de sua famflia com moradla alilnenta~iio eduoaao saude lazer vestuario higiene transporte e prevldencla social com reaJustes perlMieas que lhe preservem degpoder aquisitivo sendo vedada sua vineula~ilo rara qualqver 11m l (Brasil 1988 p indeterminada)

N N bullbullbullbullbullbull HOE N 43 - MarmiddotAbr2015 -AlIT GERAl- DOUTRIIfA

uma EIRELI este capital em regra nao poderia ser calculado com base no salario-minimo

5eguindo tal raciodnio e por entender que a parte final do art 980shyA do Codigo Civil de 200212 fere 0 disposto no art IV da Constituishylt030 Federal entre os argumentos utilizados na ADIn 4637 esta 0 fato de que 0 eonstituinte com 0 objetivo de evitar que os reajustes peri6dicos do salario-minimo que visam a preserva-ao de seu poder aquisitivD sofram influencias de interesses diversos daqueles previstos na Constitui-ao vedou expressamente a villculacao do salario-minimo para qualquer finalidade (Brasil 2011 p indeterminada)

Ainda eonsiderando a oscilacao que 0 reajuste do salado pode imshypliear a I Jornada de Direito Comercial do Conselho da Justi-a Federal ocorrida em outubro de 2012 no 5TJ definiu por meio do Enunciado nQ 4 que llma vez subscrito e efetivamente integralizado 0 capital da empresa individual de responsabilidade limitada nao sofrera nenhuma influencia deshycorrente de ulteriores alteracoes no salario minimo

Nao obstante os argumentos contrarios e a ADln pendente de julshygamento vige hoje a exigencia de capital minimo para a eonstituirao da EIRELI fixada com base no salario-minimo nacional vigente na epoca da constitu icao

23 EIRElI EMPRESARlO InDIVIDUAL SOCIEDADE EMPRESARIA UlflPESSOAL OU UM TlPO SUI GEMERIS

DE EMPRESARIO

o legislador batizou 0 novo instituto de Empresa Individual de Resshyponsabilidade limitada Em primeiro lugar ha que se considerar que resta eonsagrado na legisla-ao na doutrina e najurisprudencia que empresae uma atividade exerddapelo empresarilte nao uma pessoa urn sujeito de direitos (Moraes 201 0 p 40 Diante disso a primeira crltica feita ao legisshy

31 0 STF ja firmoL entendimento em divesos julgadas no sentido de que e proibida a vinculaao do sailtirio minima para qualquer finalidade Dana moral FiKa~ilo de indenizaltao com vinculaao a salario-minimo Vedaao constitucional Art 7deg IV da Carta Magna 0 Plenario desta Corte ao julgar em 01101997 a ADln 1425 firmou a entendimenro de qle ao estabelecer 0 art 7deg IV da Constitui~iio que e vedada a vincula~o ao salaria-mlnima para quaiquer fim quis evitar que interesses estranhos aos versados na norma constitucional venham a tel influencia na filCll~o do valor minima a ser observado No caso a indenizaltiio par dana moral fo fixada em 500 salarios-minimos para que inequivacamente 0 valor do salilria-mlnlmo a que essa indenizaao esta vinculado atue como fator de atualizaao desta a que IS vedada pela citarlD dispositivo canstitucional Outros precedentes desta Corte quanta 11 vedaao da vinculagao em causa ReculSo extraordinario conhecido e provida

32 Art 98QA do CCB A empresa individual de responsabilidade limitada sera constituida por uma dnica pessoa titular da totalidade do capital social devidamente integralizado que nao sera inferior a 100 (cern) vezes 0

malar salMo-mfnimo vigenre no Pars (Brasil 2002 paginaltaa indeterminada)

33

ROE N 43 - MarmiddotAbr2015 - PARlE GERAl- DOUmIIlL 1

lador infraconstitucional acerca da natureza juridica da EIRELI diz respeito asuafaLta detecnica para dar nome ao institutomiddot recem~criado chamando de empresa uma especie de empresario (Ramos 2012)

Ora se empresa e uma atividade e nao um sujeito de direitos a falha tecnica legislativa contribtli para a compreensao inadequada que cornushymente se faz da empresa ou seja confundindo-a com a propria pessoa dica ou ainda com 0 estabelecimento empresarial Por essa razao a crftica vem no sentido de que a terminologia mais adequada seria empresario e nao empresa

Nominada de forma equivocada ou nao uma figura juridica capaz de conferir a possibilidade de exercfcio da empresa por uma s6 pessoa ffsiea com separa-ao de patrimonio e limita-ao de responsabilidade e como ja dito desejo antigo da dOlltrina brasileira Como exemplo epossivel citar 0

projeto de Lei nil 201 de 194733 apresentado pelo entao Deputado Fausto

de Freitas e Castro 0 qual dispunha em seu art 12 que qualquer pessoa capaz de exereer 0 eomercio podera constituir empresa em nome individual limitando a sua responsab[lidade pelos neg6cios da mesma ao valor do capital declarado (Martins Filho 1950 p 64-66)

Antonio Martins Filho em cuja obra Umitatiio da responsabilidade do comerciante individual analisa 0 aludido projeto de lei afirmava

A empresa individual de responsabilidade limitada constituindo a ultima fase do processo evolutivo da limitaltao dos riscos e insistentemente redashymada pelos agentes da atividade econ6mica dos novos tempos Recusando-a de direito nao evitara 0 legislador a existencia de fato desse tipo de empresa que passa a funcionar sob forma de sociedade fictfcia ou unipessoal (Martins Filho 1950 p 9)

ja naquela epoca ainda sob a vigencia do Codigo Comercial de 1850 e do C6digo Civil de 1916 0 autor ressaltava a importancia da limita~ao de responsabilidade daquele que era conhecido como comerciante individual (hoje empresario individual) bem como reconhecia a existencia de socieshydades constitufdas apenas formalmente para 0 fim de aquisi=ao de personashylidade jurfdica pr6pria e separa-ao de patrimonio a partir do que concluia que apenas a cria-ao da empresa individual de responsabilidade limitada

Projeto de Lei nO 201 de 1947 anexo abra Limitarl0 de resJOflsabilidade do comerciante individual MARTINS FILHO AntOnio Anais do Congresso Jurfdico Nacional Comemorativo do Cinquenlenario da Faculdade de Direito de Porto Alegre Revisa de Fecudade de Direito de Porto Alegre Porto Alegre URGS maio 1950

middot RDE II U - MarmiddotAer201S - PARrE GER~L - DoumlNA

serla capaz de acabar com tal pratica tao comum no Brasil (Martins Filho

1950)

Em 2005 Wilges Ariana Bruscato tambem assinalava a importanshycia do exercicio individual da empresa com limita=ao de responsabilidade como forma eficaz de fomento da economia

jft que 0 modus vivendi de nossa sociedade atual baseia-se em resultados economicos e relevante acenar com contribuilt6es para 0 desenvolvimento da atividade empresarial feita de maneira singular como forma de incentivar as pequenas iniciativas que num 6istema de colmeia representam a agreshyga~ao de vaores sociais importantes como 0 emprego 0 recolhimento de tributo a disseminaltao tecnologica entre outros ou seja 0 favorecimento de pequenas iniciativas que aquecem a economia (Bruscato 2005 p 75)

No mesmo sentido Felipe Ferreira Machado Moraes (2010 p 37-38) sustenta a necessidade de limita=ao da responsabilidade do empresario inshydividual como forma de cumprir os objetivos do Estado Democratico de Direlto tais como expressos na pr6pria Constitui=ao Federal de 1988

Em um Eslado Democratico de Direilo em que a propria Constituiltao da Republica contempla dispositivos que pregam 0 desenvolvimento nacional a livre iniciativa e inclusive 0 tratamento favorecido as empresas de pequeno porte nao parece prosperar 0 entendimento de que 0 empresario individual deve ter sua responsabilidade ilimitada respondendo com a totalidade de seu patrimonio particular (civil) por eventuais insucessos de seu empreendishy

mento

o anseio pela limitarao da responsabilidade no exerdcio individual da ernpreSq~Iil~re ()s~doutrinadores patrios baseava-se frequenteniente experiencia de outros paises que regulamentaram em sua ordem interna diversas formas de possibilitar a limitarao de responsabilidade daquele que

deseja empresariar individualmente

Na Alemanha como visto surgiu 0 primeiro modelo de sociedade por quotas de responsabilidade limitada em 1892 Em 1981 quase um 56shyculo depois entra em vigor a lei que alterou a legislarao das Sociedades por Quotas de Responsabilidade limitada para introduzir no ordenamenshyto juridico alemao a Sociedade por Quotas de Responsabilidade Limitada Unipessoal Passou-se enUlo a permitir a constituirao de Sociedades por Quotas de Responsabilidade Limitada por apenas uma pessoa (ffsica ou jushy

ridica) (Abrao 2000 p 6)

ROE N 43 - M8rmiddotAb~2015 - PARr CEIlAL - DOUTRlIIAmiddotmiddotmiddotmiddot

Tambem na Fran=a ap6s a regulamenta=ao clas sociedades por quoshytas de fesponsabiJidade Itmitadaiolintroduzida a limitada unipessoal em 1985 permitindo iguafmente a constituirao de sociedades unipessoais (Abrao 2000 p 12)

Ja em Portugal existem duas possibilidades para 0 exercfcio indivishydual da empresa Em 1986 0 Decreto-Lei nQ 2481986 criou a figura do Esshytabelecimento Individual de Responsabilidade limitada EtRL Trata-se de figura na~ dotada de personalidade juridica constilufda atraves de um pashytrimonio de afetarao por meio do qual uma pessoa fisica explora uma ativishydade economica empresarial Para a constituirao de um EIRL e necessario o investimento minima de euro 5000 (cinco mil euros) Ja a segunda forma de empresariar individualmente em Portugal com separarao patrimonial e limitarao de responsabilidade foi regulamentada 10 anos ap6s 0 EIRL por meio do Decreto-Lei nil 2571996 a Sociedade Unipessoal par Quotas Tal sociedade e constitufda por uma 56 pessoa (fIsica OU juridical titular de todo o capital social e cuja responsabllidade esta limitada ao capital investido sendo este livremente fixado pelo s6cio ou seja nao ha exigencia de capital mlnimo para a SUQ ao contrario do que ocorre com 0 EIR134

bull

Na experiencia brasileira entretanto ate a ediraa da Lei nQ 124412011 nao havia possibilidade de exercer uma atividade econoshymica organizada de forma individual sem 0 camprometimento da totalidade do patrimonio do empresario A sociedade unipessoal admitida em palses europeus desde meados de 1980 somente era permitida no Brasil em duas hip6teses excepcionais quais sejam a subsidiaria integral prevista na Lei das Sociedades Anonimas (Lei nQ 64041976)35 e a unipessoalidade ternshyporaria da sociedade pelo prazo de cento e oitenta dias conforme dispoe 0

art 1033 IVJ6 do C6qigoCiv

Assim no Brasil ap6s anos de discussao doutrimiria e de entendishymento quanta a necessidade de cria=ao de um instituto que viabilizasse 0

exercfcio da empresa de forma individual sem que isso acarretasse necessashyria risco ao patrimonio pessoal do empresario 0 legislador infraconstitucioshy

34 Informa~aes dlsponiveis em lthttpwwwpot1lJgalgIObalptPTlnvestirPortugaguiadoinvestldorICriareinstalar PaginaSTipos5ociedadesComerciais aspxgt

35 Art 251 da LSA A companhia pode ser constilulda mediante escrilura publica tendo como unico acionisa sociedade brasileira sect 1deg A sociedade que subscrever em bans 0 capital de subsidiaria inlegral devera aprover o laudo de avaliaifio de que trata 0 art 8deg respondendo nos lermos do sect 6 do art 80 e do art 10 e seu panlgrafo Llnico sect 2deg A companhia pade ser converlda em subsidiara integral mediante aquiSitao por scciedade braslieira de lodes as sues ayoes ou nos lermos do art 252

36 Art 1033 do eC8 Dissolve-se a scciedade quando oeorrer 11 IV a falla de pluralidede de socios nila reconstltufda no prazo de cenro e oitenla dias L J

ROE Ndeg 43 - MarmiddotAbr2015 - PARTI GERAl- OUIRINA

nal consagrou a flgura da Empresa Individual de Responsabilidade Limitada a EIRELI

Quando inserida no ordenamento juridico a EIRElI gerou controvershysias acerca da sua natureza juridica Ha que diga tratar-se de empresario inshydividual por outro lado ha que afirme tratar-se de uma sociedade limitada unipessoal No entanto hii tambem uma terceira corrente que afirma ser a EIRELI uma nova especie de pessoa juridical um ente distinto do empresario individual e das sociedades empresarias

A corrente menos express iva considera a EIRELI uma nova modalishydade de empresario individual ou seja um empresario individual de resshyponsabilidade limitada Para tal corrente 0 empresario individual ate en tao conhecido aquele que e pessoa fisica permanece existindo passando a existir 0 empresario individual pessoa jurfdica

Nesse senti do

Apesar de ser uma pessoa jurfdica a EIRELI nao euma sociedade empresaria mas sim uma forma diferenciada de constituiyao de empresario individual (que ao contrltirio daquela e pessoa natural) (Cardoso 2012 p indetermishynada)

Outra corrente mais expressiva e a capitaneada par Fabio Ulhoa Coelho (2012 p 409) para quem a EIRELI e uma sociedade empresaria definindo-a como uma sociedade limitada unipessoal na qual apenas uma pessoa (rfsica ou jurfdica no entender do autor) sera titular da totalidade das quotas socials 0 autor salienta que 0 sect 6Q do art 980middotA do C6digo Civil pershymite concluir que a EIRELI eespecie de sociedade limitada pois se submete as regras deste tipo societario

Da mesma forma Gustavo de Alvarenga Batista (2012) defi ne Em terrnosmiddotpraticos aEIRELI possibilitaqueiumemprksaflopessoa constitua uma sociedade unipessoal na qual fica sua responsabilidade atreshylada ao valor do capital por ele integralizado

Ja Andre Luiz Santa Cruz Ramos (2012) entende que 0 legislador criou uma nova figura juridica distinta da sociedade eillpresaria e do empresario individual mas com caracteristicas semelhantes a ambos No entanto 0 aushytor entende que foi um equivoco a cria~ao de um novo tipo de pessoa jurfshydica Sustenta que 0 legislador poderia tao somente ter consagrado 0 empreshysario individual de responsabilidade limitada que continuaria sendo uma pessoa fisica mas gozando da separa~ao entre 0 seu patrimonio pessoal e aquele afetado ao exercfcio da atividade economica ou ainda consagrado

ROE N 43 - MarmiddotAbrI21115- PARrE GERAl- OUTRINL

efetivamente a sociedade empresaria unipessoal bastando para tanto inshycluirentreasEseecies de sociedades ja existentes a sociedade constitulda par um 6nico s6cio titular de todas as quotas Em qualquer dos casos a insenao feita no art 44 do C6digo Civil seria desnecessaria

Do mesmo entendimento compartilha Wilges Ariana Bruscato (2011 p 10) que afirma que acaso a EIREU fosse uma sociedade unipessoal nao haveria necessidade de inclusao do instituto no inciso VI do art 44 do C6shydigo Civil ja que as sociedades ja estao previstas no inciso II do mesmo dispositivo Da forma como posta nao existe sociedade e silll um tipo sui generis no direito patrio Ainda afirma-se que

a EIREI nao tem natureza juridica de sociedade empresaria ao contrario do que muitos ainda defendem mas trata-se de uma nova categoria de pessoa jurfdica de direito privado que tambem se destina ao exercfcio da empresa Tanto que a Lei nQ 124412011 incluiu as empresas individuais de responsashybilidade limitada no rol de pessoas jurfdicas de direito privado do art 44 do C6digo Civil (inciso Vi) Ademais a lei nQ 124412011 ao inserir no C6dishygo Civil 0 art 980-A teve 0 cuidado de topograficamente tambemcriar um novo titulo (mulo I-A Da Empresa Individual de Responsabiidade Umitashyda) situado entre os Titulos I e II que tratam respedivamente do empresario individual e das sociedades empresarias (Pinheiro 2011 p indeterminadal

Nao obstante os variados entendimentos ha Uma tendencia de que a EIRELI seja efetivaillente compreendida como uma nova especie de pessoa juridica nao se tratando de empresario indiVidual tampouco de sOliedade empresaria ainda que unipessoal Tanto e assim que na ja mencionada I Jarnada de Direito Comercial do Conselho da Justi~a Federal foi aprovado o Enunciado nil 3 com a seguinte redacao A Empresa Individual de Resshyponsabilidade Limitada - ElRELI nao e sociedade unipessoa mas um novo ente~j_stjn~q da pessoa doempresarioe da sociedade eiTlpresfiriao qual seguia ciresmmiddota Iinha do Enunciado nil 46937 da V Jornada de Direito Civil que afirma que a empresa individual de responsabilidade limitada (EIRELI) nao e sociedade mas nova ente jurfdica personificado

24 AEIRELI EO PRomo DE NOVO CUOIGO COMERCIAl EXTINCAO DO INSTITUTO [ CRI~O DE f40VAS FIGURAS1

Tramita no Congresso Nacional 0 Projeta de Lei nil 15722011 que visa a instjtui~ao de um novo C6digo Comercial com a consequente revoshy

~__~~M~~~~ __ __ ___~_____ _~

37 Enunciado n 469 do elF Arts 44 e 980middotA A empresa individual de responsabilidade Iimltada (poundIRELI) olio Ii sociedade mas novo ente jurrdico personificado

Ii r~ RDE Nmiddot 43 - MarmiddotAbrf2615 - PARTE GERAl- OnUIRIUA

gasao de diversos dispositivos do atual C6digo Civil bem como de legislashysoes esparsas

o projeto apresentado pelo Deputado Vicente Candido baseado em minuta elaborada por Fabio Ulhoa Coelho na obra 0 futuro do direito coshymercia tem como uma de suas justificativas a sistematizasao revisao aperfeiltoamento e modernizasao da disciplina jurldica do estabeledmento empresarial do comercio eletronico da concorrencia desleal das condutas parasitarias da escrituratao mercantit do exerddo individual da empresa e da sociedade unipessoal (Brasil 2011 p 118)

Dito projeto nao traz em seu texto referenda expressa ao instituto recem-criado a EIRELI No entanto consagra duas figuras que merecem especial atensao sao elas 0 empresario individual em regime fiduciario e a sociedade Iimitada unipessoajJs

o empresario individual tal como e conhecido atualmente nao deishyxa de existir na redasao do projeto de NCCom sendo disciplinado entre os arts 14 a 32 do projeto de lei No que tange as suas caracteristicas esshysenciais 0 empresario individual permanece sendo pessoa ffsica que exershyce singularmente uma empresa sem limitaltao de responsabilidade nao se submetendo ao prindpio da autonornia patrimonial

Entretanto alem do empresario individual ate 0 momenta conhecido o novo C6digo Comercial visa a instituir outras duas formas de exerdcio individual da empresa como jei dito as quais possibilitam a separaSao de patrimonio e limitaltao de responsabilidade do empreendedor 0 empresashyrio individual que exerce a empresa em regime fiduciari039 e a sociedade limitada unipessoal

Da leitura do projeto infere-se que 0 empresario individual ao reshyquerer 0 seu registro comeh~rfipfesarioquntamp ao 6rgaocompetente poderamiddot fazer uma declaratao na qual conste que 0 exercicio da empresa dar-seshy

38 Na verdadc ha que se pontuar que 0 projeto de lei esta baseado em texto do jurisla Fabio Ulhoa Coelho a entende que a EIREU euma socied8de limiteda unipessoal e n~o ume nova especie de pessoa juridica eo fato pelo qual nao esta ela prevista nesse lormato no relerido projeto

39 A fiducia tem origem no direito romano ral institwlo caraclerlzamiddotse pela contiana e boa-lEi existentes entre fidLicianle e fiduciario A propriedade fiduciira por sua vez caracteriza-se quando determinado bern ou conjento de bens e destinado II gamntia de certo(s) credor(es) ou scja os bens constltuldos como propriedade fiduciaria de destlnam a garantia do cumprimento de determlnadas obrlgaltOes do liduciaro perante 0 fiduciante nao podendo ser objeto de expropriaao Pilra a adlmplemenlo das obriga6es pessoafs do fiduciiirio (Restlffe Neto Rest1ffe 20001 Segundo a C6digo Civil de 2002 em seu art L35 considerashysa propriedade fiducjaria a proprfedade resoliNel de caisa m6vel imungfvel Que 0 devedor com escopo de garanta translere ao credor Para maior aprofundamento acarce do tema vide SILVA ltJiz Augusto Beck da Alienaliio fiducitlfia ampm garantia 4 ed RIO de Janeiro forense 1998

RDE N 43 - Mar-AbtfZ015 - PARrE GERAl- DOUTRINL

-a em regime fiduciario Com a referida dedaraltao 0 empresario devera constitJir 1m patrimbnio relaeuroionado aattvrdade empresarial que pretende exercer absolutamente separado de seu patrimonio pessoaL

Assim uma vez cumpridos os requisitos 0 empresario individual desshysa modalidade (que continuaria sendo pessoa fisica) nao poderia ter seu patrimonio pessoal expropriado para 0 cumprimento das obrigalt6es assushymidas no exercicio da atividade salvo se conforme disp6e 0 sect 29 do art 32 do NCCom se tratarem de obrigaltoes de natureza trabalhista e triblltaria relacionadas ou nao com a empresa Trata-se pois do estabelecimento de um patrimonio de afetaltao que serviria de garantia aos credares do em preshysarlo individual em vez de totalidade do seu patrimonio

A outra forma de exercfcio singular da empresa proposto pelo projeto em comento e a constituiltao de uma sociedade limitada unipessoal Ao tratar das sociedades em especie 0 projeto preve a existencia de cinco tipos societarios (sociedade anonima sociedade limitada sociedade em nome coletivo sociedade em comandita simples e sociedade em comandita par alt6est todos os tipos ja cOllhecidos e previstos no atllal C6digo Civil

A novidade e uma pequena alteraltao feita no ambito das sociedades limitadas para no art 192 dispor que a sociedade limitada sera constishytufda por um ou mais s6cios ou seja retira da definiltao de sociedade a pluralidade dos s6cios

Todavia algumas consideralt6es devem ser feitas acerca do projeto em questao no que tange a sua relaltao com 0 instituto ora estudado

Conforme ja referido a limita~ao de responsabilidade do empresario individual era esperada pela doutrina patria ha muito tempo e a EIRELI foi a

l~gislativaelJcontrada para dar res posta aosansetoSexistentes

Com crfticas ou nao fato e que a EIRELI hoje majoritariamente conshysiderada como uma nova especie de pessoa juridica concebe a limitaltao de responsabilidade no exercfcio individual da empresa e desde 0 infcio de sua vigencia as estatisticas mostram que esta nova forma de exercer a empresa vem crescendo em todo 0 Pafs S6 em Sao Paulo nos primeiros tres meses de sua existencia a EIRELI jii representava mais de 4 do total de registros realizados conforme informaltao publicada pela Junta Comercial do daquele Estad040bull

40 Para majores Inlormacentes e dados estatistlcos vide htlpwwwjucespJazendaspgovbr

RUE III 43 - MOImiddotAbr2U15 - PARTE GERAl- nOUTHINA

Nesse passo cumpre questionar qual sera 0 futuro da EIRELI se 0 Proshyjeto de Lei nQ 15722011 vier a ser aprovado 0 que fazer com as EIRELIs ja existentes ao tempCl da publicacao do novo C6digo Comerdal Sera necesshysaria a criacao de regras de transicao ou os titulares de EIRELI simplesmente serao obrigados a requerer sua transformacao perante as Juntas Comercias para uma das duas modalidades criadas pelo novo C6digo

Certo e que 0 projeto de Novo C6digo Comercial contempla de certa forma a EIRELI mas colocando-a definitivamente como uma especie de sociedade limitada a sociedade limitada unipessoal No entanto ao propor llm projeto e necessario fazer uma analise do impacto que as alteraC6es provocarao sob pena de a nova lei em vez de pacificar entendimentos e llnificar tratamento acabar acarretando um caos inicial comprometendo sua pr6pria legitimidade

CONSIDERA~OES FINAlS

A limitacao de responsabilidade no exerdcio individual da emprcsa e tema recorrente na doutrina brasileira e desejo antigo dos empreendedores Ate a consagrarao da EIRELI par meio da Lei nQ 124412011 tal limitarao nao era posslvel no exercfcio individual da empresa como ja amplamenshyte debatido e demonstrado Com a criacao da EIRELI 0 legislador patrio apresenta aos empreendedores brasileiros uma nova possibilidade para empresariar sem a necessidade de constituirao de sociedades de fachada ou eventual comprometimento da totalidade do patrimonio pessoal do emshypreendedor

Percebe-se contudo que as controversias existentes ern torno da EIRELI ainda sao muitas Mas algumas coisas podem-se dizer certas Prishym~irQjslli1fiIR~khv~i~efetivamentepara privilegiar os pequenosemiddottledioS0i(i empreendedores nao se ve razao plausivel para que ela seja constituida por titular pessoa juridica Beneficiar sociedades estrangeiras e um argumento fraco para fazer esta defesa

Segundo do ponto de vista da garantia dos credores a exigencia de um capital mfnimo tern razao de ser principalmente levando ern conta que ate entao os empresarios individuais respondiam com a totalidade do seu patrimonio Todavia considerando que nao ha exigencia nesse sentido para as demais especies de empresarios de fato fere-se 0 principio da igualdade de tratamento Ainda em rela-ao ao capital minimo se 0 objetivo do legisshylador era beneficiar pequenos e medios empreendedores 0 minima estabeshylecido em 100 vezes 0 salario-mfnimo nacional e bastante alto Talvez uma

nOf Ndeg 43 - MalmiddotAbrl2015 -PARTE GERAl- DOUTRJNL bullbull bullbullbull

adequacao do montante fosse interessante para 0 atingimento dos objetivos do novel instituto

Em relacao a natureza juridica compreender a EIRElI como uma nova especie de pessoa jurfdica e certamente 0 melhor caminho ainda que isso possa parecer estranho ja que se esta diante de uma pessoa jurfdica constituida de uma dnica pessoa Afinal partindo dessa premissa nao seria necessario relativizar 0 conceito de sociedade que exige pluralidade de s6dos tampouco seria necessario pensar um empresario individual pessoa frsica que pudesse ser titular de dois patrimonios autonomos 0 pessoal eo de afetacao

Em derradeira analise no que diz respeito ao Projeto de novo C6digo Comercial cabe apenas ressaltar que eventual aprovacao devera levar em considerarao 0 fato de que como visto desde a entrada ern vigor da Lei nQ 124412011 a procura dos empreendedores por esta modalidade de exercfcio da empresa tern sido grande Contudo 0 projeto de lei nao traz qualquer mencao ao instituto Assim dever-se-a ter uma preocupacao com a transi-ao nao se podendo ignorar a existencia destes slljeitos de direito sem estabelecer qual sera oseu destino Mal se consagram institutos no Brashysil e novamente se pretendem altera~oes legislativas Assim nao se chega a maturidade

Por hora ainda que com quest6es controvertidas ha uma unanimidashyde doutrinaria de que a EIRELI e bem-vinda nao apenas porque oriunda de pleitos antigos mas tambem porque apresenta uma nova possibilidade para quem pretende empresariar no Brasil de modo que ha grande expectativa no sentido de que 0 Poder Judiciario seja capaz de dirimir as controversias existentes causadas basicamente por falhas do legislador permitindo uma amPla utilizacao dQoolRjn~titu~9~gW~Cialmente poraqueles que aoque parece se tentou benefidar 05 pequenos e medios empreendedores brasishyleiros

Page 14: SINTESE - cortemello.com.br · RESUMO A EIRELI - Empresa Individual de Aesponsabilidade Limitada foi introduzida no ordena ... a partir da doutrina de Alberto Asquini, que entende

liU RDE 43 - MarmiddotAbr2015 - PARTE GEllAl- OOUfOINA

caso a sociedade era constitufda normalmente com pessoas pr6ximas mas sem nenhum interesse na atividade as quais figuravam nocQotratosocial

como titulares de percentual minima das quotas sociais constituindo as chamadas sociedades de fachada ja mencionadas29 bull

Nesse ponto pode-se dizer que apesar das crfticas disparadas ao novel instituto a EIRELI mostra-5e como instrumento eficaz para coibir a praticc comumente adotada no Brasil de conslituiyJo de sociedades em que um dos s6ci05 nao tem qualquer participa)ao na gestao do empreendishymento formada com 0 dnico objetivo de limitar a responsabilidade do emshypresario que na pratica exerce a empresa individualmente (Ramos 2012 p 40-41)

Por essa razJo e que uma vez sendo 0 objetivo da criaCJo da EIRELI estimular 0 exercicio de atividade empresaria especialmente por pequenos empreendedores 0 valor de 100 (cem) vezes 0 salario-minimo mostra-se desproporcional 1550 porque grande parte dos empreendedores que podem se enquadrar na EIRELI iniciam suas atividades com capital bastante inferior Afirma-se que 0 capital minimo estabelecido pelo legislador esta longe da realidade dos pequenos empreendedores brasiieiros e caracteriza desresshypeito ao principio da livre iniciativa Assim 0 legislador patrio nao teria la5shytreado a fixayao deste valor em estudos sobre a capacidade econ6mico-fishynanceira dos provaveis interessados nesta especie societaria (Pessoa 2011 )

Estes sao tambem os argumentos que embasam a justificativa do Proshyjeto de Lei nQ 24682011 de autoria do Deputado Carlos Bezerra Segundo o parlamentar a exigencia feita pelo legislador retira dos pequenos empreshyendedores a possibilidade de coostituiyao de lima EIRELI haja vista que 0

valor exigido na Lei 0 2 124412011 supera significativamente 0 valor geshyralmente empregado para a constitlliyao dasPeqU~PilSempresas Por essa raz~(jo aludidoprojeto tem como um (feseusigtbJetivosillterar 0 art 9~O-A do Codigo Civil para reduzir de 100 para 50 salarios-mfnimos 0 capital minima exigido para a constitui~ao de lima EIREU (Brasil 2011)

Seguindo mesmo entendimento

29 A exist~ncia das chamadas sociedades de fachada Ii conhecida desde ha multo olio apenas pela dovtrina mas tam~m pela junsprud~ncia de nossos trlbunais 0 reconhecimento desta situa~ao se faz relevante tanto para que possa coibir tal praliea quanto para proteger a indivlduo que comprovadamente jamals exerceL qualqller poder de administra~ao sobre a sociedade da responsabllizagao pelos atos praticados indlvidualmente pelo s6cio detentor da quase totalidade das quotas sociais A tItulo de exemplo Execu~ao fiscal E aparente a socledade em que a imensa maioria das quotas pertenee a uma s6 pessoa flsiea Sltua~ao que mascara a atividade de urn comereiante em nome Individual Indelerlmento do pedido de penhora sobre bens do s60lo de fachada Decisao acertada potque de acordo com a realldade fatlca Agravo improvldo (TJRS AI 591020177 1 ccrv Rei Jose Velllnha de Lacenla J 21051991)

30

ROE N 43 - MarmiddotAlIr2n15 - PAUn GfRAl- OUUmINL

Deveria ser desnecessario diz~-Io mas tal materia nao poderia jamais ser objeto de decisao arbitraria sob pena de frustraiOobjetivo mesmo da norshyma e ll1alferir a Constituirao 0 numero 100 ninguem negara soa bem aos ouvidos mas isso nao deveria bastar para inseri-Io em texto legal Se de fato sua eleirao foi desacompanhada de qualquer embasamento tecnico e passrvel demonstrar-se inclusive mediante a colheita de dados estatisticos e indicacoes de direito comparado a inconstitucionalidade decorrente da violaSao aos princfpios da isonomia e da razoabllidade Por que se negar ao cidadao que dispanha de 50 salarios-minimos 0 direito de constituir uma EIREU quando em Portugal eassaz inferior 0 montante necessario para faz~shy-10 e no Chile sequer existe exigencia dessa especie (como alias previa 0

texto primitivo do PU e questao cuja resposta se desprovida de fundamenshytos s6lidos atesta a contrariedade aos supracitados principios (Nadu sd p indeterminada)

A exclusao de grande parte dos empreendedores do pafs com a exishygeurogtncia de capital mlnimo alto e tambem argumento da ADln 4637 ja que o objetivo primordial da norma recem-criada e fomentar 0 desenvolvimento ecoo6mico e social do pais Sustenta-se que tal objetivo esta sendo prejudishycado oa medida em que a legislacao retira de pequenos empreendedores a possibilidade de lanyarem-se no mercado economico de forma regular saindo portanto da informalidade (Brasil 2011 p indeterminadal

Corroborando 0 entendimento aeima Haroldo Malheiros Duclerc Vercosa (2011 p indeterminada) afirma que

rJa crftJca que se faz eque 0 capital mlnimo exigido de tal sociedade deixa a margem urna parcela substancial dos microempresarios patrios os quais continuarao dentro do regime geraf de respollsabilidade patrimonial pessoal (e do risco correspondente) sem acesso ao patrimonio ~eparadoqlleeiQ ltI

serqiad9para q EIRElI a naoser par alguma fugapararrlecanisfnocorno deg dlc6nstitui~ao de uma sociedade limitada com outro socio este detentor de

minima expressao do capital social Mas tal recurso muito utilizado apreshysenta custos que 0 microempresario dificilll1ente poderii suportar

Ainda deve-se considerar que a vinculacao do salario-mfnimo para qualquer fim e expressameote vedada pel a Constituicao Federal de 1988 em seu art 72

IV30 Nesse passo ainda que se considere posslvel Oll ate mesmo necessaria a exigencia de lim capital minimo para a constituicao de

Art lO da Cf1988 Sao direlos dos tlllbalhadores urbanos e rurais aiem de outros que visem il melhoria de sua condl~ilo social L1IV - saIMiomiddotInnlmo lixado em lei naeionalmente uniftcado capaz de arender a suas neeessidades vitais Mslcas e ~s de sua famflia com moradla alilnenta~iio eduoaao saude lazer vestuario higiene transporte e prevldencla social com reaJustes perlMieas que lhe preservem degpoder aquisitivo sendo vedada sua vineula~ilo rara qualqver 11m l (Brasil 1988 p indeterminada)

N N bullbullbullbullbullbull HOE N 43 - MarmiddotAbr2015 -AlIT GERAl- DOUTRIIfA

uma EIRELI este capital em regra nao poderia ser calculado com base no salario-minimo

5eguindo tal raciodnio e por entender que a parte final do art 980shyA do Codigo Civil de 200212 fere 0 disposto no art IV da Constituishylt030 Federal entre os argumentos utilizados na ADIn 4637 esta 0 fato de que 0 eonstituinte com 0 objetivo de evitar que os reajustes peri6dicos do salario-minimo que visam a preserva-ao de seu poder aquisitivD sofram influencias de interesses diversos daqueles previstos na Constitui-ao vedou expressamente a villculacao do salario-minimo para qualquer finalidade (Brasil 2011 p indeterminada)

Ainda eonsiderando a oscilacao que 0 reajuste do salado pode imshypliear a I Jornada de Direito Comercial do Conselho da Justi-a Federal ocorrida em outubro de 2012 no 5TJ definiu por meio do Enunciado nQ 4 que llma vez subscrito e efetivamente integralizado 0 capital da empresa individual de responsabilidade limitada nao sofrera nenhuma influencia deshycorrente de ulteriores alteracoes no salario minimo

Nao obstante os argumentos contrarios e a ADln pendente de julshygamento vige hoje a exigencia de capital minimo para a eonstituirao da EIRELI fixada com base no salario-minimo nacional vigente na epoca da constitu icao

23 EIRElI EMPRESARlO InDIVIDUAL SOCIEDADE EMPRESARIA UlflPESSOAL OU UM TlPO SUI GEMERIS

DE EMPRESARIO

o legislador batizou 0 novo instituto de Empresa Individual de Resshyponsabilidade limitada Em primeiro lugar ha que se considerar que resta eonsagrado na legisla-ao na doutrina e najurisprudencia que empresae uma atividade exerddapelo empresarilte nao uma pessoa urn sujeito de direitos (Moraes 201 0 p 40 Diante disso a primeira crltica feita ao legisshy

31 0 STF ja firmoL entendimento em divesos julgadas no sentido de que e proibida a vinculaao do sailtirio minima para qualquer finalidade Dana moral FiKa~ilo de indenizaltao com vinculaao a salario-minimo Vedaao constitucional Art 7deg IV da Carta Magna 0 Plenario desta Corte ao julgar em 01101997 a ADln 1425 firmou a entendimenro de qle ao estabelecer 0 art 7deg IV da Constitui~iio que e vedada a vincula~o ao salaria-mlnima para quaiquer fim quis evitar que interesses estranhos aos versados na norma constitucional venham a tel influencia na filCll~o do valor minima a ser observado No caso a indenizaltiio par dana moral fo fixada em 500 salarios-minimos para que inequivacamente 0 valor do salilria-mlnlmo a que essa indenizaao esta vinculado atue como fator de atualizaao desta a que IS vedada pela citarlD dispositivo canstitucional Outros precedentes desta Corte quanta 11 vedaao da vinculagao em causa ReculSo extraordinario conhecido e provida

32 Art 98QA do CCB A empresa individual de responsabilidade limitada sera constituida por uma dnica pessoa titular da totalidade do capital social devidamente integralizado que nao sera inferior a 100 (cern) vezes 0

malar salMo-mfnimo vigenre no Pars (Brasil 2002 paginaltaa indeterminada)

33

ROE N 43 - MarmiddotAbr2015 - PARlE GERAl- DOUmIIlL 1

lador infraconstitucional acerca da natureza juridica da EIRELI diz respeito asuafaLta detecnica para dar nome ao institutomiddot recem~criado chamando de empresa uma especie de empresario (Ramos 2012)

Ora se empresa e uma atividade e nao um sujeito de direitos a falha tecnica legislativa contribtli para a compreensao inadequada que cornushymente se faz da empresa ou seja confundindo-a com a propria pessoa dica ou ainda com 0 estabelecimento empresarial Por essa razao a crftica vem no sentido de que a terminologia mais adequada seria empresario e nao empresa

Nominada de forma equivocada ou nao uma figura juridica capaz de conferir a possibilidade de exercfcio da empresa por uma s6 pessoa ffsiea com separa-ao de patrimonio e limita-ao de responsabilidade e como ja dito desejo antigo da dOlltrina brasileira Como exemplo epossivel citar 0

projeto de Lei nil 201 de 194733 apresentado pelo entao Deputado Fausto

de Freitas e Castro 0 qual dispunha em seu art 12 que qualquer pessoa capaz de exereer 0 eomercio podera constituir empresa em nome individual limitando a sua responsab[lidade pelos neg6cios da mesma ao valor do capital declarado (Martins Filho 1950 p 64-66)

Antonio Martins Filho em cuja obra Umitatiio da responsabilidade do comerciante individual analisa 0 aludido projeto de lei afirmava

A empresa individual de responsabilidade limitada constituindo a ultima fase do processo evolutivo da limitaltao dos riscos e insistentemente redashymada pelos agentes da atividade econ6mica dos novos tempos Recusando-a de direito nao evitara 0 legislador a existencia de fato desse tipo de empresa que passa a funcionar sob forma de sociedade fictfcia ou unipessoal (Martins Filho 1950 p 9)

ja naquela epoca ainda sob a vigencia do Codigo Comercial de 1850 e do C6digo Civil de 1916 0 autor ressaltava a importancia da limita~ao de responsabilidade daquele que era conhecido como comerciante individual (hoje empresario individual) bem como reconhecia a existencia de socieshydades constitufdas apenas formalmente para 0 fim de aquisi=ao de personashylidade jurfdica pr6pria e separa-ao de patrimonio a partir do que concluia que apenas a cria-ao da empresa individual de responsabilidade limitada

Projeto de Lei nO 201 de 1947 anexo abra Limitarl0 de resJOflsabilidade do comerciante individual MARTINS FILHO AntOnio Anais do Congresso Jurfdico Nacional Comemorativo do Cinquenlenario da Faculdade de Direito de Porto Alegre Revisa de Fecudade de Direito de Porto Alegre Porto Alegre URGS maio 1950

middot RDE II U - MarmiddotAer201S - PARrE GER~L - DoumlNA

serla capaz de acabar com tal pratica tao comum no Brasil (Martins Filho

1950)

Em 2005 Wilges Ariana Bruscato tambem assinalava a importanshycia do exercicio individual da empresa com limita=ao de responsabilidade como forma eficaz de fomento da economia

jft que 0 modus vivendi de nossa sociedade atual baseia-se em resultados economicos e relevante acenar com contribuilt6es para 0 desenvolvimento da atividade empresarial feita de maneira singular como forma de incentivar as pequenas iniciativas que num 6istema de colmeia representam a agreshyga~ao de vaores sociais importantes como 0 emprego 0 recolhimento de tributo a disseminaltao tecnologica entre outros ou seja 0 favorecimento de pequenas iniciativas que aquecem a economia (Bruscato 2005 p 75)

No mesmo sentido Felipe Ferreira Machado Moraes (2010 p 37-38) sustenta a necessidade de limita=ao da responsabilidade do empresario inshydividual como forma de cumprir os objetivos do Estado Democratico de Direlto tais como expressos na pr6pria Constitui=ao Federal de 1988

Em um Eslado Democratico de Direilo em que a propria Constituiltao da Republica contempla dispositivos que pregam 0 desenvolvimento nacional a livre iniciativa e inclusive 0 tratamento favorecido as empresas de pequeno porte nao parece prosperar 0 entendimento de que 0 empresario individual deve ter sua responsabilidade ilimitada respondendo com a totalidade de seu patrimonio particular (civil) por eventuais insucessos de seu empreendishy

mento

o anseio pela limitarao da responsabilidade no exerdcio individual da ernpreSq~Iil~re ()s~doutrinadores patrios baseava-se frequenteniente experiencia de outros paises que regulamentaram em sua ordem interna diversas formas de possibilitar a limitarao de responsabilidade daquele que

deseja empresariar individualmente

Na Alemanha como visto surgiu 0 primeiro modelo de sociedade por quotas de responsabilidade limitada em 1892 Em 1981 quase um 56shyculo depois entra em vigor a lei que alterou a legislarao das Sociedades por Quotas de Responsabilidade limitada para introduzir no ordenamenshyto juridico alemao a Sociedade por Quotas de Responsabilidade Limitada Unipessoal Passou-se enUlo a permitir a constituirao de Sociedades por Quotas de Responsabilidade Limitada por apenas uma pessoa (ffsica ou jushy

ridica) (Abrao 2000 p 6)

ROE N 43 - M8rmiddotAb~2015 - PARr CEIlAL - DOUTRlIIAmiddotmiddotmiddotmiddot

Tambem na Fran=a ap6s a regulamenta=ao clas sociedades por quoshytas de fesponsabiJidade Itmitadaiolintroduzida a limitada unipessoal em 1985 permitindo iguafmente a constituirao de sociedades unipessoais (Abrao 2000 p 12)

Ja em Portugal existem duas possibilidades para 0 exercfcio indivishydual da empresa Em 1986 0 Decreto-Lei nQ 2481986 criou a figura do Esshytabelecimento Individual de Responsabilidade limitada EtRL Trata-se de figura na~ dotada de personalidade juridica constilufda atraves de um pashytrimonio de afetarao por meio do qual uma pessoa fisica explora uma ativishydade economica empresarial Para a constituirao de um EIRL e necessario o investimento minima de euro 5000 (cinco mil euros) Ja a segunda forma de empresariar individualmente em Portugal com separarao patrimonial e limitarao de responsabilidade foi regulamentada 10 anos ap6s 0 EIRL por meio do Decreto-Lei nil 2571996 a Sociedade Unipessoal par Quotas Tal sociedade e constitufda por uma 56 pessoa (fIsica OU juridical titular de todo o capital social e cuja responsabllidade esta limitada ao capital investido sendo este livremente fixado pelo s6cio ou seja nao ha exigencia de capital mlnimo para a SUQ ao contrario do que ocorre com 0 EIR134

bull

Na experiencia brasileira entretanto ate a ediraa da Lei nQ 124412011 nao havia possibilidade de exercer uma atividade econoshymica organizada de forma individual sem 0 camprometimento da totalidade do patrimonio do empresario A sociedade unipessoal admitida em palses europeus desde meados de 1980 somente era permitida no Brasil em duas hip6teses excepcionais quais sejam a subsidiaria integral prevista na Lei das Sociedades Anonimas (Lei nQ 64041976)35 e a unipessoalidade ternshyporaria da sociedade pelo prazo de cento e oitenta dias conforme dispoe 0

art 1033 IVJ6 do C6qigoCiv

Assim no Brasil ap6s anos de discussao doutrimiria e de entendishymento quanta a necessidade de cria=ao de um instituto que viabilizasse 0

exercfcio da empresa de forma individual sem que isso acarretasse necessashyria risco ao patrimonio pessoal do empresario 0 legislador infraconstitucioshy

34 Informa~aes dlsponiveis em lthttpwwwpot1lJgalgIObalptPTlnvestirPortugaguiadoinvestldorICriareinstalar PaginaSTipos5ociedadesComerciais aspxgt

35 Art 251 da LSA A companhia pode ser constilulda mediante escrilura publica tendo como unico acionisa sociedade brasileira sect 1deg A sociedade que subscrever em bans 0 capital de subsidiaria inlegral devera aprover o laudo de avaliaifio de que trata 0 art 8deg respondendo nos lermos do sect 6 do art 80 e do art 10 e seu panlgrafo Llnico sect 2deg A companhia pade ser converlda em subsidiara integral mediante aquiSitao por scciedade braslieira de lodes as sues ayoes ou nos lermos do art 252

36 Art 1033 do eC8 Dissolve-se a scciedade quando oeorrer 11 IV a falla de pluralidede de socios nila reconstltufda no prazo de cenro e oitenla dias L J

ROE Ndeg 43 - MarmiddotAbr2015 - PARTI GERAl- OUIRINA

nal consagrou a flgura da Empresa Individual de Responsabilidade Limitada a EIRELI

Quando inserida no ordenamento juridico a EIRElI gerou controvershysias acerca da sua natureza juridica Ha que diga tratar-se de empresario inshydividual por outro lado ha que afirme tratar-se de uma sociedade limitada unipessoal No entanto hii tambem uma terceira corrente que afirma ser a EIRELI uma nova especie de pessoa juridical um ente distinto do empresario individual e das sociedades empresarias

A corrente menos express iva considera a EIRELI uma nova modalishydade de empresario individual ou seja um empresario individual de resshyponsabilidade limitada Para tal corrente 0 empresario individual ate en tao conhecido aquele que e pessoa fisica permanece existindo passando a existir 0 empresario individual pessoa jurfdica

Nesse senti do

Apesar de ser uma pessoa jurfdica a EIRELI nao euma sociedade empresaria mas sim uma forma diferenciada de constituiyao de empresario individual (que ao contrltirio daquela e pessoa natural) (Cardoso 2012 p indetermishynada)

Outra corrente mais expressiva e a capitaneada par Fabio Ulhoa Coelho (2012 p 409) para quem a EIRELI e uma sociedade empresaria definindo-a como uma sociedade limitada unipessoal na qual apenas uma pessoa (rfsica ou jurfdica no entender do autor) sera titular da totalidade das quotas socials 0 autor salienta que 0 sect 6Q do art 980middotA do C6digo Civil pershymite concluir que a EIRELI eespecie de sociedade limitada pois se submete as regras deste tipo societario

Da mesma forma Gustavo de Alvarenga Batista (2012) defi ne Em terrnosmiddotpraticos aEIRELI possibilitaqueiumemprksaflopessoa constitua uma sociedade unipessoal na qual fica sua responsabilidade atreshylada ao valor do capital por ele integralizado

Ja Andre Luiz Santa Cruz Ramos (2012) entende que 0 legislador criou uma nova figura juridica distinta da sociedade eillpresaria e do empresario individual mas com caracteristicas semelhantes a ambos No entanto 0 aushytor entende que foi um equivoco a cria~ao de um novo tipo de pessoa jurfshydica Sustenta que 0 legislador poderia tao somente ter consagrado 0 empreshysario individual de responsabilidade limitada que continuaria sendo uma pessoa fisica mas gozando da separa~ao entre 0 seu patrimonio pessoal e aquele afetado ao exercfcio da atividade economica ou ainda consagrado

ROE N 43 - MarmiddotAbrI21115- PARrE GERAl- OUTRINL

efetivamente a sociedade empresaria unipessoal bastando para tanto inshycluirentreasEseecies de sociedades ja existentes a sociedade constitulda par um 6nico s6cio titular de todas as quotas Em qualquer dos casos a insenao feita no art 44 do C6digo Civil seria desnecessaria

Do mesmo entendimento compartilha Wilges Ariana Bruscato (2011 p 10) que afirma que acaso a EIREU fosse uma sociedade unipessoal nao haveria necessidade de inclusao do instituto no inciso VI do art 44 do C6shydigo Civil ja que as sociedades ja estao previstas no inciso II do mesmo dispositivo Da forma como posta nao existe sociedade e silll um tipo sui generis no direito patrio Ainda afirma-se que

a EIREI nao tem natureza juridica de sociedade empresaria ao contrario do que muitos ainda defendem mas trata-se de uma nova categoria de pessoa jurfdica de direito privado que tambem se destina ao exercfcio da empresa Tanto que a Lei nQ 124412011 incluiu as empresas individuais de responsashybilidade limitada no rol de pessoas jurfdicas de direito privado do art 44 do C6digo Civil (inciso Vi) Ademais a lei nQ 124412011 ao inserir no C6dishygo Civil 0 art 980-A teve 0 cuidado de topograficamente tambemcriar um novo titulo (mulo I-A Da Empresa Individual de Responsabiidade Umitashyda) situado entre os Titulos I e II que tratam respedivamente do empresario individual e das sociedades empresarias (Pinheiro 2011 p indeterminadal

Nao obstante os variados entendimentos ha Uma tendencia de que a EIRELI seja efetivaillente compreendida como uma nova especie de pessoa juridica nao se tratando de empresario indiVidual tampouco de sOliedade empresaria ainda que unipessoal Tanto e assim que na ja mencionada I Jarnada de Direito Comercial do Conselho da Justi~a Federal foi aprovado o Enunciado nil 3 com a seguinte redacao A Empresa Individual de Resshyponsabilidade Limitada - ElRELI nao e sociedade unipessoa mas um novo ente~j_stjn~q da pessoa doempresarioe da sociedade eiTlpresfiriao qual seguia ciresmmiddota Iinha do Enunciado nil 46937 da V Jornada de Direito Civil que afirma que a empresa individual de responsabilidade limitada (EIRELI) nao e sociedade mas nova ente jurfdica personificado

24 AEIRELI EO PRomo DE NOVO CUOIGO COMERCIAl EXTINCAO DO INSTITUTO [ CRI~O DE f40VAS FIGURAS1

Tramita no Congresso Nacional 0 Projeta de Lei nil 15722011 que visa a instjtui~ao de um novo C6digo Comercial com a consequente revoshy

~__~~M~~~~ __ __ ___~_____ _~

37 Enunciado n 469 do elF Arts 44 e 980middotA A empresa individual de responsabilidade Iimltada (poundIRELI) olio Ii sociedade mas novo ente jurrdico personificado

Ii r~ RDE Nmiddot 43 - MarmiddotAbrf2615 - PARTE GERAl- OnUIRIUA

gasao de diversos dispositivos do atual C6digo Civil bem como de legislashysoes esparsas

o projeto apresentado pelo Deputado Vicente Candido baseado em minuta elaborada por Fabio Ulhoa Coelho na obra 0 futuro do direito coshymercia tem como uma de suas justificativas a sistematizasao revisao aperfeiltoamento e modernizasao da disciplina jurldica do estabeledmento empresarial do comercio eletronico da concorrencia desleal das condutas parasitarias da escrituratao mercantit do exerddo individual da empresa e da sociedade unipessoal (Brasil 2011 p 118)

Dito projeto nao traz em seu texto referenda expressa ao instituto recem-criado a EIRELI No entanto consagra duas figuras que merecem especial atensao sao elas 0 empresario individual em regime fiduciario e a sociedade Iimitada unipessoajJs

o empresario individual tal como e conhecido atualmente nao deishyxa de existir na redasao do projeto de NCCom sendo disciplinado entre os arts 14 a 32 do projeto de lei No que tange as suas caracteristicas esshysenciais 0 empresario individual permanece sendo pessoa ffsica que exershyce singularmente uma empresa sem limitaltao de responsabilidade nao se submetendo ao prindpio da autonornia patrimonial

Entretanto alem do empresario individual ate 0 momenta conhecido o novo C6digo Comercial visa a instituir outras duas formas de exerdcio individual da empresa como jei dito as quais possibilitam a separaSao de patrimonio e limitaltao de responsabilidade do empreendedor 0 empresashyrio individual que exerce a empresa em regime fiduciari039 e a sociedade limitada unipessoal

Da leitura do projeto infere-se que 0 empresario individual ao reshyquerer 0 seu registro comeh~rfipfesarioquntamp ao 6rgaocompetente poderamiddot fazer uma declaratao na qual conste que 0 exercicio da empresa dar-seshy

38 Na verdadc ha que se pontuar que 0 projeto de lei esta baseado em texto do jurisla Fabio Ulhoa Coelho a entende que a EIREU euma socied8de limiteda unipessoal e n~o ume nova especie de pessoa juridica eo fato pelo qual nao esta ela prevista nesse lormato no relerido projeto

39 A fiducia tem origem no direito romano ral institwlo caraclerlzamiddotse pela contiana e boa-lEi existentes entre fidLicianle e fiduciario A propriedade fiduciira por sua vez caracteriza-se quando determinado bern ou conjento de bens e destinado II gamntia de certo(s) credor(es) ou scja os bens constltuldos como propriedade fiduciaria de destlnam a garantia do cumprimento de determlnadas obrlgaltOes do liduciaro perante 0 fiduciante nao podendo ser objeto de expropriaao Pilra a adlmplemenlo das obriga6es pessoafs do fiduciiirio (Restlffe Neto Rest1ffe 20001 Segundo a C6digo Civil de 2002 em seu art L35 considerashysa propriedade fiducjaria a proprfedade resoliNel de caisa m6vel imungfvel Que 0 devedor com escopo de garanta translere ao credor Para maior aprofundamento acarce do tema vide SILVA ltJiz Augusto Beck da Alienaliio fiducitlfia ampm garantia 4 ed RIO de Janeiro forense 1998

RDE N 43 - Mar-AbtfZ015 - PARrE GERAl- DOUTRINL

-a em regime fiduciario Com a referida dedaraltao 0 empresario devera constitJir 1m patrimbnio relaeuroionado aattvrdade empresarial que pretende exercer absolutamente separado de seu patrimonio pessoaL

Assim uma vez cumpridos os requisitos 0 empresario individual desshysa modalidade (que continuaria sendo pessoa fisica) nao poderia ter seu patrimonio pessoal expropriado para 0 cumprimento das obrigalt6es assushymidas no exercicio da atividade salvo se conforme disp6e 0 sect 29 do art 32 do NCCom se tratarem de obrigaltoes de natureza trabalhista e triblltaria relacionadas ou nao com a empresa Trata-se pois do estabelecimento de um patrimonio de afetaltao que serviria de garantia aos credares do em preshysarlo individual em vez de totalidade do seu patrimonio

A outra forma de exercfcio singular da empresa proposto pelo projeto em comento e a constituiltao de uma sociedade limitada unipessoal Ao tratar das sociedades em especie 0 projeto preve a existencia de cinco tipos societarios (sociedade anonima sociedade limitada sociedade em nome coletivo sociedade em comandita simples e sociedade em comandita par alt6est todos os tipos ja cOllhecidos e previstos no atllal C6digo Civil

A novidade e uma pequena alteraltao feita no ambito das sociedades limitadas para no art 192 dispor que a sociedade limitada sera constishytufda por um ou mais s6cios ou seja retira da definiltao de sociedade a pluralidade dos s6cios

Todavia algumas consideralt6es devem ser feitas acerca do projeto em questao no que tange a sua relaltao com 0 instituto ora estudado

Conforme ja referido a limita~ao de responsabilidade do empresario individual era esperada pela doutrina patria ha muito tempo e a EIRELI foi a

l~gislativaelJcontrada para dar res posta aosansetoSexistentes

Com crfticas ou nao fato e que a EIRELI hoje majoritariamente conshysiderada como uma nova especie de pessoa juridica concebe a limitaltao de responsabilidade no exercfcio individual da empresa e desde 0 infcio de sua vigencia as estatisticas mostram que esta nova forma de exercer a empresa vem crescendo em todo 0 Pafs S6 em Sao Paulo nos primeiros tres meses de sua existencia a EIRELI jii representava mais de 4 do total de registros realizados conforme informaltao publicada pela Junta Comercial do daquele Estad040bull

40 Para majores Inlormacentes e dados estatistlcos vide htlpwwwjucespJazendaspgovbr

RUE III 43 - MOImiddotAbr2U15 - PARTE GERAl- nOUTHINA

Nesse passo cumpre questionar qual sera 0 futuro da EIRELI se 0 Proshyjeto de Lei nQ 15722011 vier a ser aprovado 0 que fazer com as EIRELIs ja existentes ao tempCl da publicacao do novo C6digo Comerdal Sera necesshysaria a criacao de regras de transicao ou os titulares de EIRELI simplesmente serao obrigados a requerer sua transformacao perante as Juntas Comercias para uma das duas modalidades criadas pelo novo C6digo

Certo e que 0 projeto de Novo C6digo Comercial contempla de certa forma a EIRELI mas colocando-a definitivamente como uma especie de sociedade limitada a sociedade limitada unipessoal No entanto ao propor llm projeto e necessario fazer uma analise do impacto que as alteraC6es provocarao sob pena de a nova lei em vez de pacificar entendimentos e llnificar tratamento acabar acarretando um caos inicial comprometendo sua pr6pria legitimidade

CONSIDERA~OES FINAlS

A limitacao de responsabilidade no exerdcio individual da emprcsa e tema recorrente na doutrina brasileira e desejo antigo dos empreendedores Ate a consagrarao da EIRELI par meio da Lei nQ 124412011 tal limitarao nao era posslvel no exercfcio individual da empresa como ja amplamenshyte debatido e demonstrado Com a criacao da EIRELI 0 legislador patrio apresenta aos empreendedores brasileiros uma nova possibilidade para empresariar sem a necessidade de constituirao de sociedades de fachada ou eventual comprometimento da totalidade do patrimonio pessoal do emshypreendedor

Percebe-se contudo que as controversias existentes ern torno da EIRELI ainda sao muitas Mas algumas coisas podem-se dizer certas Prishym~irQjslli1fiIR~khv~i~efetivamentepara privilegiar os pequenosemiddottledioS0i(i empreendedores nao se ve razao plausivel para que ela seja constituida por titular pessoa juridica Beneficiar sociedades estrangeiras e um argumento fraco para fazer esta defesa

Segundo do ponto de vista da garantia dos credores a exigencia de um capital mfnimo tern razao de ser principalmente levando ern conta que ate entao os empresarios individuais respondiam com a totalidade do seu patrimonio Todavia considerando que nao ha exigencia nesse sentido para as demais especies de empresarios de fato fere-se 0 principio da igualdade de tratamento Ainda em rela-ao ao capital minimo se 0 objetivo do legisshylador era beneficiar pequenos e medios empreendedores 0 minima estabeshylecido em 100 vezes 0 salario-mfnimo nacional e bastante alto Talvez uma

nOf Ndeg 43 - MalmiddotAbrl2015 -PARTE GERAl- DOUTRJNL bullbull bullbullbull

adequacao do montante fosse interessante para 0 atingimento dos objetivos do novel instituto

Em relacao a natureza juridica compreender a EIRElI como uma nova especie de pessoa jurfdica e certamente 0 melhor caminho ainda que isso possa parecer estranho ja que se esta diante de uma pessoa jurfdica constituida de uma dnica pessoa Afinal partindo dessa premissa nao seria necessario relativizar 0 conceito de sociedade que exige pluralidade de s6dos tampouco seria necessario pensar um empresario individual pessoa frsica que pudesse ser titular de dois patrimonios autonomos 0 pessoal eo de afetacao

Em derradeira analise no que diz respeito ao Projeto de novo C6digo Comercial cabe apenas ressaltar que eventual aprovacao devera levar em considerarao 0 fato de que como visto desde a entrada ern vigor da Lei nQ 124412011 a procura dos empreendedores por esta modalidade de exercfcio da empresa tern sido grande Contudo 0 projeto de lei nao traz qualquer mencao ao instituto Assim dever-se-a ter uma preocupacao com a transi-ao nao se podendo ignorar a existencia destes slljeitos de direito sem estabelecer qual sera oseu destino Mal se consagram institutos no Brashysil e novamente se pretendem altera~oes legislativas Assim nao se chega a maturidade

Por hora ainda que com quest6es controvertidas ha uma unanimidashyde doutrinaria de que a EIRELI e bem-vinda nao apenas porque oriunda de pleitos antigos mas tambem porque apresenta uma nova possibilidade para quem pretende empresariar no Brasil de modo que ha grande expectativa no sentido de que 0 Poder Judiciario seja capaz de dirimir as controversias existentes causadas basicamente por falhas do legislador permitindo uma amPla utilizacao dQoolRjn~titu~9~gW~Cialmente poraqueles que aoque parece se tentou benefidar 05 pequenos e medios empreendedores brasishyleiros

Page 15: SINTESE - cortemello.com.br · RESUMO A EIRELI - Empresa Individual de Aesponsabilidade Limitada foi introduzida no ordena ... a partir da doutrina de Alberto Asquini, que entende

N N bullbullbullbullbullbull HOE N 43 - MarmiddotAbr2015 -AlIT GERAl- DOUTRIIfA

uma EIRELI este capital em regra nao poderia ser calculado com base no salario-minimo

5eguindo tal raciodnio e por entender que a parte final do art 980shyA do Codigo Civil de 200212 fere 0 disposto no art IV da Constituishylt030 Federal entre os argumentos utilizados na ADIn 4637 esta 0 fato de que 0 eonstituinte com 0 objetivo de evitar que os reajustes peri6dicos do salario-minimo que visam a preserva-ao de seu poder aquisitivD sofram influencias de interesses diversos daqueles previstos na Constitui-ao vedou expressamente a villculacao do salario-minimo para qualquer finalidade (Brasil 2011 p indeterminada)

Ainda eonsiderando a oscilacao que 0 reajuste do salado pode imshypliear a I Jornada de Direito Comercial do Conselho da Justi-a Federal ocorrida em outubro de 2012 no 5TJ definiu por meio do Enunciado nQ 4 que llma vez subscrito e efetivamente integralizado 0 capital da empresa individual de responsabilidade limitada nao sofrera nenhuma influencia deshycorrente de ulteriores alteracoes no salario minimo

Nao obstante os argumentos contrarios e a ADln pendente de julshygamento vige hoje a exigencia de capital minimo para a eonstituirao da EIRELI fixada com base no salario-minimo nacional vigente na epoca da constitu icao

23 EIRElI EMPRESARlO InDIVIDUAL SOCIEDADE EMPRESARIA UlflPESSOAL OU UM TlPO SUI GEMERIS

DE EMPRESARIO

o legislador batizou 0 novo instituto de Empresa Individual de Resshyponsabilidade limitada Em primeiro lugar ha que se considerar que resta eonsagrado na legisla-ao na doutrina e najurisprudencia que empresae uma atividade exerddapelo empresarilte nao uma pessoa urn sujeito de direitos (Moraes 201 0 p 40 Diante disso a primeira crltica feita ao legisshy

31 0 STF ja firmoL entendimento em divesos julgadas no sentido de que e proibida a vinculaao do sailtirio minima para qualquer finalidade Dana moral FiKa~ilo de indenizaltao com vinculaao a salario-minimo Vedaao constitucional Art 7deg IV da Carta Magna 0 Plenario desta Corte ao julgar em 01101997 a ADln 1425 firmou a entendimenro de qle ao estabelecer 0 art 7deg IV da Constitui~iio que e vedada a vincula~o ao salaria-mlnima para quaiquer fim quis evitar que interesses estranhos aos versados na norma constitucional venham a tel influencia na filCll~o do valor minima a ser observado No caso a indenizaltiio par dana moral fo fixada em 500 salarios-minimos para que inequivacamente 0 valor do salilria-mlnlmo a que essa indenizaao esta vinculado atue como fator de atualizaao desta a que IS vedada pela citarlD dispositivo canstitucional Outros precedentes desta Corte quanta 11 vedaao da vinculagao em causa ReculSo extraordinario conhecido e provida

32 Art 98QA do CCB A empresa individual de responsabilidade limitada sera constituida por uma dnica pessoa titular da totalidade do capital social devidamente integralizado que nao sera inferior a 100 (cern) vezes 0

malar salMo-mfnimo vigenre no Pars (Brasil 2002 paginaltaa indeterminada)

33

ROE N 43 - MarmiddotAbr2015 - PARlE GERAl- DOUmIIlL 1

lador infraconstitucional acerca da natureza juridica da EIRELI diz respeito asuafaLta detecnica para dar nome ao institutomiddot recem~criado chamando de empresa uma especie de empresario (Ramos 2012)

Ora se empresa e uma atividade e nao um sujeito de direitos a falha tecnica legislativa contribtli para a compreensao inadequada que cornushymente se faz da empresa ou seja confundindo-a com a propria pessoa dica ou ainda com 0 estabelecimento empresarial Por essa razao a crftica vem no sentido de que a terminologia mais adequada seria empresario e nao empresa

Nominada de forma equivocada ou nao uma figura juridica capaz de conferir a possibilidade de exercfcio da empresa por uma s6 pessoa ffsiea com separa-ao de patrimonio e limita-ao de responsabilidade e como ja dito desejo antigo da dOlltrina brasileira Como exemplo epossivel citar 0

projeto de Lei nil 201 de 194733 apresentado pelo entao Deputado Fausto

de Freitas e Castro 0 qual dispunha em seu art 12 que qualquer pessoa capaz de exereer 0 eomercio podera constituir empresa em nome individual limitando a sua responsab[lidade pelos neg6cios da mesma ao valor do capital declarado (Martins Filho 1950 p 64-66)

Antonio Martins Filho em cuja obra Umitatiio da responsabilidade do comerciante individual analisa 0 aludido projeto de lei afirmava

A empresa individual de responsabilidade limitada constituindo a ultima fase do processo evolutivo da limitaltao dos riscos e insistentemente redashymada pelos agentes da atividade econ6mica dos novos tempos Recusando-a de direito nao evitara 0 legislador a existencia de fato desse tipo de empresa que passa a funcionar sob forma de sociedade fictfcia ou unipessoal (Martins Filho 1950 p 9)

ja naquela epoca ainda sob a vigencia do Codigo Comercial de 1850 e do C6digo Civil de 1916 0 autor ressaltava a importancia da limita~ao de responsabilidade daquele que era conhecido como comerciante individual (hoje empresario individual) bem como reconhecia a existencia de socieshydades constitufdas apenas formalmente para 0 fim de aquisi=ao de personashylidade jurfdica pr6pria e separa-ao de patrimonio a partir do que concluia que apenas a cria-ao da empresa individual de responsabilidade limitada

Projeto de Lei nO 201 de 1947 anexo abra Limitarl0 de resJOflsabilidade do comerciante individual MARTINS FILHO AntOnio Anais do Congresso Jurfdico Nacional Comemorativo do Cinquenlenario da Faculdade de Direito de Porto Alegre Revisa de Fecudade de Direito de Porto Alegre Porto Alegre URGS maio 1950

middot RDE II U - MarmiddotAer201S - PARrE GER~L - DoumlNA

serla capaz de acabar com tal pratica tao comum no Brasil (Martins Filho

1950)

Em 2005 Wilges Ariana Bruscato tambem assinalava a importanshycia do exercicio individual da empresa com limita=ao de responsabilidade como forma eficaz de fomento da economia

jft que 0 modus vivendi de nossa sociedade atual baseia-se em resultados economicos e relevante acenar com contribuilt6es para 0 desenvolvimento da atividade empresarial feita de maneira singular como forma de incentivar as pequenas iniciativas que num 6istema de colmeia representam a agreshyga~ao de vaores sociais importantes como 0 emprego 0 recolhimento de tributo a disseminaltao tecnologica entre outros ou seja 0 favorecimento de pequenas iniciativas que aquecem a economia (Bruscato 2005 p 75)

No mesmo sentido Felipe Ferreira Machado Moraes (2010 p 37-38) sustenta a necessidade de limita=ao da responsabilidade do empresario inshydividual como forma de cumprir os objetivos do Estado Democratico de Direlto tais como expressos na pr6pria Constitui=ao Federal de 1988

Em um Eslado Democratico de Direilo em que a propria Constituiltao da Republica contempla dispositivos que pregam 0 desenvolvimento nacional a livre iniciativa e inclusive 0 tratamento favorecido as empresas de pequeno porte nao parece prosperar 0 entendimento de que 0 empresario individual deve ter sua responsabilidade ilimitada respondendo com a totalidade de seu patrimonio particular (civil) por eventuais insucessos de seu empreendishy

mento

o anseio pela limitarao da responsabilidade no exerdcio individual da ernpreSq~Iil~re ()s~doutrinadores patrios baseava-se frequenteniente experiencia de outros paises que regulamentaram em sua ordem interna diversas formas de possibilitar a limitarao de responsabilidade daquele que

deseja empresariar individualmente

Na Alemanha como visto surgiu 0 primeiro modelo de sociedade por quotas de responsabilidade limitada em 1892 Em 1981 quase um 56shyculo depois entra em vigor a lei que alterou a legislarao das Sociedades por Quotas de Responsabilidade limitada para introduzir no ordenamenshyto juridico alemao a Sociedade por Quotas de Responsabilidade Limitada Unipessoal Passou-se enUlo a permitir a constituirao de Sociedades por Quotas de Responsabilidade Limitada por apenas uma pessoa (ffsica ou jushy

ridica) (Abrao 2000 p 6)

ROE N 43 - M8rmiddotAb~2015 - PARr CEIlAL - DOUTRlIIAmiddotmiddotmiddotmiddot

Tambem na Fran=a ap6s a regulamenta=ao clas sociedades por quoshytas de fesponsabiJidade Itmitadaiolintroduzida a limitada unipessoal em 1985 permitindo iguafmente a constituirao de sociedades unipessoais (Abrao 2000 p 12)

Ja em Portugal existem duas possibilidades para 0 exercfcio indivishydual da empresa Em 1986 0 Decreto-Lei nQ 2481986 criou a figura do Esshytabelecimento Individual de Responsabilidade limitada EtRL Trata-se de figura na~ dotada de personalidade juridica constilufda atraves de um pashytrimonio de afetarao por meio do qual uma pessoa fisica explora uma ativishydade economica empresarial Para a constituirao de um EIRL e necessario o investimento minima de euro 5000 (cinco mil euros) Ja a segunda forma de empresariar individualmente em Portugal com separarao patrimonial e limitarao de responsabilidade foi regulamentada 10 anos ap6s 0 EIRL por meio do Decreto-Lei nil 2571996 a Sociedade Unipessoal par Quotas Tal sociedade e constitufda por uma 56 pessoa (fIsica OU juridical titular de todo o capital social e cuja responsabllidade esta limitada ao capital investido sendo este livremente fixado pelo s6cio ou seja nao ha exigencia de capital mlnimo para a SUQ ao contrario do que ocorre com 0 EIR134

bull

Na experiencia brasileira entretanto ate a ediraa da Lei nQ 124412011 nao havia possibilidade de exercer uma atividade econoshymica organizada de forma individual sem 0 camprometimento da totalidade do patrimonio do empresario A sociedade unipessoal admitida em palses europeus desde meados de 1980 somente era permitida no Brasil em duas hip6teses excepcionais quais sejam a subsidiaria integral prevista na Lei das Sociedades Anonimas (Lei nQ 64041976)35 e a unipessoalidade ternshyporaria da sociedade pelo prazo de cento e oitenta dias conforme dispoe 0

art 1033 IVJ6 do C6qigoCiv

Assim no Brasil ap6s anos de discussao doutrimiria e de entendishymento quanta a necessidade de cria=ao de um instituto que viabilizasse 0

exercfcio da empresa de forma individual sem que isso acarretasse necessashyria risco ao patrimonio pessoal do empresario 0 legislador infraconstitucioshy

34 Informa~aes dlsponiveis em lthttpwwwpot1lJgalgIObalptPTlnvestirPortugaguiadoinvestldorICriareinstalar PaginaSTipos5ociedadesComerciais aspxgt

35 Art 251 da LSA A companhia pode ser constilulda mediante escrilura publica tendo como unico acionisa sociedade brasileira sect 1deg A sociedade que subscrever em bans 0 capital de subsidiaria inlegral devera aprover o laudo de avaliaifio de que trata 0 art 8deg respondendo nos lermos do sect 6 do art 80 e do art 10 e seu panlgrafo Llnico sect 2deg A companhia pade ser converlda em subsidiara integral mediante aquiSitao por scciedade braslieira de lodes as sues ayoes ou nos lermos do art 252

36 Art 1033 do eC8 Dissolve-se a scciedade quando oeorrer 11 IV a falla de pluralidede de socios nila reconstltufda no prazo de cenro e oitenla dias L J

ROE Ndeg 43 - MarmiddotAbr2015 - PARTI GERAl- OUIRINA

nal consagrou a flgura da Empresa Individual de Responsabilidade Limitada a EIRELI

Quando inserida no ordenamento juridico a EIRElI gerou controvershysias acerca da sua natureza juridica Ha que diga tratar-se de empresario inshydividual por outro lado ha que afirme tratar-se de uma sociedade limitada unipessoal No entanto hii tambem uma terceira corrente que afirma ser a EIRELI uma nova especie de pessoa juridical um ente distinto do empresario individual e das sociedades empresarias

A corrente menos express iva considera a EIRELI uma nova modalishydade de empresario individual ou seja um empresario individual de resshyponsabilidade limitada Para tal corrente 0 empresario individual ate en tao conhecido aquele que e pessoa fisica permanece existindo passando a existir 0 empresario individual pessoa jurfdica

Nesse senti do

Apesar de ser uma pessoa jurfdica a EIRELI nao euma sociedade empresaria mas sim uma forma diferenciada de constituiyao de empresario individual (que ao contrltirio daquela e pessoa natural) (Cardoso 2012 p indetermishynada)

Outra corrente mais expressiva e a capitaneada par Fabio Ulhoa Coelho (2012 p 409) para quem a EIRELI e uma sociedade empresaria definindo-a como uma sociedade limitada unipessoal na qual apenas uma pessoa (rfsica ou jurfdica no entender do autor) sera titular da totalidade das quotas socials 0 autor salienta que 0 sect 6Q do art 980middotA do C6digo Civil pershymite concluir que a EIRELI eespecie de sociedade limitada pois se submete as regras deste tipo societario

Da mesma forma Gustavo de Alvarenga Batista (2012) defi ne Em terrnosmiddotpraticos aEIRELI possibilitaqueiumemprksaflopessoa constitua uma sociedade unipessoal na qual fica sua responsabilidade atreshylada ao valor do capital por ele integralizado

Ja Andre Luiz Santa Cruz Ramos (2012) entende que 0 legislador criou uma nova figura juridica distinta da sociedade eillpresaria e do empresario individual mas com caracteristicas semelhantes a ambos No entanto 0 aushytor entende que foi um equivoco a cria~ao de um novo tipo de pessoa jurfshydica Sustenta que 0 legislador poderia tao somente ter consagrado 0 empreshysario individual de responsabilidade limitada que continuaria sendo uma pessoa fisica mas gozando da separa~ao entre 0 seu patrimonio pessoal e aquele afetado ao exercfcio da atividade economica ou ainda consagrado

ROE N 43 - MarmiddotAbrI21115- PARrE GERAl- OUTRINL

efetivamente a sociedade empresaria unipessoal bastando para tanto inshycluirentreasEseecies de sociedades ja existentes a sociedade constitulda par um 6nico s6cio titular de todas as quotas Em qualquer dos casos a insenao feita no art 44 do C6digo Civil seria desnecessaria

Do mesmo entendimento compartilha Wilges Ariana Bruscato (2011 p 10) que afirma que acaso a EIREU fosse uma sociedade unipessoal nao haveria necessidade de inclusao do instituto no inciso VI do art 44 do C6shydigo Civil ja que as sociedades ja estao previstas no inciso II do mesmo dispositivo Da forma como posta nao existe sociedade e silll um tipo sui generis no direito patrio Ainda afirma-se que

a EIREI nao tem natureza juridica de sociedade empresaria ao contrario do que muitos ainda defendem mas trata-se de uma nova categoria de pessoa jurfdica de direito privado que tambem se destina ao exercfcio da empresa Tanto que a Lei nQ 124412011 incluiu as empresas individuais de responsashybilidade limitada no rol de pessoas jurfdicas de direito privado do art 44 do C6digo Civil (inciso Vi) Ademais a lei nQ 124412011 ao inserir no C6dishygo Civil 0 art 980-A teve 0 cuidado de topograficamente tambemcriar um novo titulo (mulo I-A Da Empresa Individual de Responsabiidade Umitashyda) situado entre os Titulos I e II que tratam respedivamente do empresario individual e das sociedades empresarias (Pinheiro 2011 p indeterminadal

Nao obstante os variados entendimentos ha Uma tendencia de que a EIRELI seja efetivaillente compreendida como uma nova especie de pessoa juridica nao se tratando de empresario indiVidual tampouco de sOliedade empresaria ainda que unipessoal Tanto e assim que na ja mencionada I Jarnada de Direito Comercial do Conselho da Justi~a Federal foi aprovado o Enunciado nil 3 com a seguinte redacao A Empresa Individual de Resshyponsabilidade Limitada - ElRELI nao e sociedade unipessoa mas um novo ente~j_stjn~q da pessoa doempresarioe da sociedade eiTlpresfiriao qual seguia ciresmmiddota Iinha do Enunciado nil 46937 da V Jornada de Direito Civil que afirma que a empresa individual de responsabilidade limitada (EIRELI) nao e sociedade mas nova ente jurfdica personificado

24 AEIRELI EO PRomo DE NOVO CUOIGO COMERCIAl EXTINCAO DO INSTITUTO [ CRI~O DE f40VAS FIGURAS1

Tramita no Congresso Nacional 0 Projeta de Lei nil 15722011 que visa a instjtui~ao de um novo C6digo Comercial com a consequente revoshy

~__~~M~~~~ __ __ ___~_____ _~

37 Enunciado n 469 do elF Arts 44 e 980middotA A empresa individual de responsabilidade Iimltada (poundIRELI) olio Ii sociedade mas novo ente jurrdico personificado

Ii r~ RDE Nmiddot 43 - MarmiddotAbrf2615 - PARTE GERAl- OnUIRIUA

gasao de diversos dispositivos do atual C6digo Civil bem como de legislashysoes esparsas

o projeto apresentado pelo Deputado Vicente Candido baseado em minuta elaborada por Fabio Ulhoa Coelho na obra 0 futuro do direito coshymercia tem como uma de suas justificativas a sistematizasao revisao aperfeiltoamento e modernizasao da disciplina jurldica do estabeledmento empresarial do comercio eletronico da concorrencia desleal das condutas parasitarias da escrituratao mercantit do exerddo individual da empresa e da sociedade unipessoal (Brasil 2011 p 118)

Dito projeto nao traz em seu texto referenda expressa ao instituto recem-criado a EIRELI No entanto consagra duas figuras que merecem especial atensao sao elas 0 empresario individual em regime fiduciario e a sociedade Iimitada unipessoajJs

o empresario individual tal como e conhecido atualmente nao deishyxa de existir na redasao do projeto de NCCom sendo disciplinado entre os arts 14 a 32 do projeto de lei No que tange as suas caracteristicas esshysenciais 0 empresario individual permanece sendo pessoa ffsica que exershyce singularmente uma empresa sem limitaltao de responsabilidade nao se submetendo ao prindpio da autonornia patrimonial

Entretanto alem do empresario individual ate 0 momenta conhecido o novo C6digo Comercial visa a instituir outras duas formas de exerdcio individual da empresa como jei dito as quais possibilitam a separaSao de patrimonio e limitaltao de responsabilidade do empreendedor 0 empresashyrio individual que exerce a empresa em regime fiduciari039 e a sociedade limitada unipessoal

Da leitura do projeto infere-se que 0 empresario individual ao reshyquerer 0 seu registro comeh~rfipfesarioquntamp ao 6rgaocompetente poderamiddot fazer uma declaratao na qual conste que 0 exercicio da empresa dar-seshy

38 Na verdadc ha que se pontuar que 0 projeto de lei esta baseado em texto do jurisla Fabio Ulhoa Coelho a entende que a EIREU euma socied8de limiteda unipessoal e n~o ume nova especie de pessoa juridica eo fato pelo qual nao esta ela prevista nesse lormato no relerido projeto

39 A fiducia tem origem no direito romano ral institwlo caraclerlzamiddotse pela contiana e boa-lEi existentes entre fidLicianle e fiduciario A propriedade fiduciira por sua vez caracteriza-se quando determinado bern ou conjento de bens e destinado II gamntia de certo(s) credor(es) ou scja os bens constltuldos como propriedade fiduciaria de destlnam a garantia do cumprimento de determlnadas obrlgaltOes do liduciaro perante 0 fiduciante nao podendo ser objeto de expropriaao Pilra a adlmplemenlo das obriga6es pessoafs do fiduciiirio (Restlffe Neto Rest1ffe 20001 Segundo a C6digo Civil de 2002 em seu art L35 considerashysa propriedade fiducjaria a proprfedade resoliNel de caisa m6vel imungfvel Que 0 devedor com escopo de garanta translere ao credor Para maior aprofundamento acarce do tema vide SILVA ltJiz Augusto Beck da Alienaliio fiducitlfia ampm garantia 4 ed RIO de Janeiro forense 1998

RDE N 43 - Mar-AbtfZ015 - PARrE GERAl- DOUTRINL

-a em regime fiduciario Com a referida dedaraltao 0 empresario devera constitJir 1m patrimbnio relaeuroionado aattvrdade empresarial que pretende exercer absolutamente separado de seu patrimonio pessoaL

Assim uma vez cumpridos os requisitos 0 empresario individual desshysa modalidade (que continuaria sendo pessoa fisica) nao poderia ter seu patrimonio pessoal expropriado para 0 cumprimento das obrigalt6es assushymidas no exercicio da atividade salvo se conforme disp6e 0 sect 29 do art 32 do NCCom se tratarem de obrigaltoes de natureza trabalhista e triblltaria relacionadas ou nao com a empresa Trata-se pois do estabelecimento de um patrimonio de afetaltao que serviria de garantia aos credares do em preshysarlo individual em vez de totalidade do seu patrimonio

A outra forma de exercfcio singular da empresa proposto pelo projeto em comento e a constituiltao de uma sociedade limitada unipessoal Ao tratar das sociedades em especie 0 projeto preve a existencia de cinco tipos societarios (sociedade anonima sociedade limitada sociedade em nome coletivo sociedade em comandita simples e sociedade em comandita par alt6est todos os tipos ja cOllhecidos e previstos no atllal C6digo Civil

A novidade e uma pequena alteraltao feita no ambito das sociedades limitadas para no art 192 dispor que a sociedade limitada sera constishytufda por um ou mais s6cios ou seja retira da definiltao de sociedade a pluralidade dos s6cios

Todavia algumas consideralt6es devem ser feitas acerca do projeto em questao no que tange a sua relaltao com 0 instituto ora estudado

Conforme ja referido a limita~ao de responsabilidade do empresario individual era esperada pela doutrina patria ha muito tempo e a EIRELI foi a

l~gislativaelJcontrada para dar res posta aosansetoSexistentes

Com crfticas ou nao fato e que a EIRELI hoje majoritariamente conshysiderada como uma nova especie de pessoa juridica concebe a limitaltao de responsabilidade no exercfcio individual da empresa e desde 0 infcio de sua vigencia as estatisticas mostram que esta nova forma de exercer a empresa vem crescendo em todo 0 Pafs S6 em Sao Paulo nos primeiros tres meses de sua existencia a EIRELI jii representava mais de 4 do total de registros realizados conforme informaltao publicada pela Junta Comercial do daquele Estad040bull

40 Para majores Inlormacentes e dados estatistlcos vide htlpwwwjucespJazendaspgovbr

RUE III 43 - MOImiddotAbr2U15 - PARTE GERAl- nOUTHINA

Nesse passo cumpre questionar qual sera 0 futuro da EIRELI se 0 Proshyjeto de Lei nQ 15722011 vier a ser aprovado 0 que fazer com as EIRELIs ja existentes ao tempCl da publicacao do novo C6digo Comerdal Sera necesshysaria a criacao de regras de transicao ou os titulares de EIRELI simplesmente serao obrigados a requerer sua transformacao perante as Juntas Comercias para uma das duas modalidades criadas pelo novo C6digo

Certo e que 0 projeto de Novo C6digo Comercial contempla de certa forma a EIRELI mas colocando-a definitivamente como uma especie de sociedade limitada a sociedade limitada unipessoal No entanto ao propor llm projeto e necessario fazer uma analise do impacto que as alteraC6es provocarao sob pena de a nova lei em vez de pacificar entendimentos e llnificar tratamento acabar acarretando um caos inicial comprometendo sua pr6pria legitimidade

CONSIDERA~OES FINAlS

A limitacao de responsabilidade no exerdcio individual da emprcsa e tema recorrente na doutrina brasileira e desejo antigo dos empreendedores Ate a consagrarao da EIRELI par meio da Lei nQ 124412011 tal limitarao nao era posslvel no exercfcio individual da empresa como ja amplamenshyte debatido e demonstrado Com a criacao da EIRELI 0 legislador patrio apresenta aos empreendedores brasileiros uma nova possibilidade para empresariar sem a necessidade de constituirao de sociedades de fachada ou eventual comprometimento da totalidade do patrimonio pessoal do emshypreendedor

Percebe-se contudo que as controversias existentes ern torno da EIRELI ainda sao muitas Mas algumas coisas podem-se dizer certas Prishym~irQjslli1fiIR~khv~i~efetivamentepara privilegiar os pequenosemiddottledioS0i(i empreendedores nao se ve razao plausivel para que ela seja constituida por titular pessoa juridica Beneficiar sociedades estrangeiras e um argumento fraco para fazer esta defesa

Segundo do ponto de vista da garantia dos credores a exigencia de um capital mfnimo tern razao de ser principalmente levando ern conta que ate entao os empresarios individuais respondiam com a totalidade do seu patrimonio Todavia considerando que nao ha exigencia nesse sentido para as demais especies de empresarios de fato fere-se 0 principio da igualdade de tratamento Ainda em rela-ao ao capital minimo se 0 objetivo do legisshylador era beneficiar pequenos e medios empreendedores 0 minima estabeshylecido em 100 vezes 0 salario-mfnimo nacional e bastante alto Talvez uma

nOf Ndeg 43 - MalmiddotAbrl2015 -PARTE GERAl- DOUTRJNL bullbull bullbullbull

adequacao do montante fosse interessante para 0 atingimento dos objetivos do novel instituto

Em relacao a natureza juridica compreender a EIRElI como uma nova especie de pessoa jurfdica e certamente 0 melhor caminho ainda que isso possa parecer estranho ja que se esta diante de uma pessoa jurfdica constituida de uma dnica pessoa Afinal partindo dessa premissa nao seria necessario relativizar 0 conceito de sociedade que exige pluralidade de s6dos tampouco seria necessario pensar um empresario individual pessoa frsica que pudesse ser titular de dois patrimonios autonomos 0 pessoal eo de afetacao

Em derradeira analise no que diz respeito ao Projeto de novo C6digo Comercial cabe apenas ressaltar que eventual aprovacao devera levar em considerarao 0 fato de que como visto desde a entrada ern vigor da Lei nQ 124412011 a procura dos empreendedores por esta modalidade de exercfcio da empresa tern sido grande Contudo 0 projeto de lei nao traz qualquer mencao ao instituto Assim dever-se-a ter uma preocupacao com a transi-ao nao se podendo ignorar a existencia destes slljeitos de direito sem estabelecer qual sera oseu destino Mal se consagram institutos no Brashysil e novamente se pretendem altera~oes legislativas Assim nao se chega a maturidade

Por hora ainda que com quest6es controvertidas ha uma unanimidashyde doutrinaria de que a EIRELI e bem-vinda nao apenas porque oriunda de pleitos antigos mas tambem porque apresenta uma nova possibilidade para quem pretende empresariar no Brasil de modo que ha grande expectativa no sentido de que 0 Poder Judiciario seja capaz de dirimir as controversias existentes causadas basicamente por falhas do legislador permitindo uma amPla utilizacao dQoolRjn~titu~9~gW~Cialmente poraqueles que aoque parece se tentou benefidar 05 pequenos e medios empreendedores brasishyleiros

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middot RDE II U - MarmiddotAer201S - PARrE GER~L - DoumlNA

serla capaz de acabar com tal pratica tao comum no Brasil (Martins Filho

1950)

Em 2005 Wilges Ariana Bruscato tambem assinalava a importanshycia do exercicio individual da empresa com limita=ao de responsabilidade como forma eficaz de fomento da economia

jft que 0 modus vivendi de nossa sociedade atual baseia-se em resultados economicos e relevante acenar com contribuilt6es para 0 desenvolvimento da atividade empresarial feita de maneira singular como forma de incentivar as pequenas iniciativas que num 6istema de colmeia representam a agreshyga~ao de vaores sociais importantes como 0 emprego 0 recolhimento de tributo a disseminaltao tecnologica entre outros ou seja 0 favorecimento de pequenas iniciativas que aquecem a economia (Bruscato 2005 p 75)

No mesmo sentido Felipe Ferreira Machado Moraes (2010 p 37-38) sustenta a necessidade de limita=ao da responsabilidade do empresario inshydividual como forma de cumprir os objetivos do Estado Democratico de Direlto tais como expressos na pr6pria Constitui=ao Federal de 1988

Em um Eslado Democratico de Direilo em que a propria Constituiltao da Republica contempla dispositivos que pregam 0 desenvolvimento nacional a livre iniciativa e inclusive 0 tratamento favorecido as empresas de pequeno porte nao parece prosperar 0 entendimento de que 0 empresario individual deve ter sua responsabilidade ilimitada respondendo com a totalidade de seu patrimonio particular (civil) por eventuais insucessos de seu empreendishy

mento

o anseio pela limitarao da responsabilidade no exerdcio individual da ernpreSq~Iil~re ()s~doutrinadores patrios baseava-se frequenteniente experiencia de outros paises que regulamentaram em sua ordem interna diversas formas de possibilitar a limitarao de responsabilidade daquele que

deseja empresariar individualmente

Na Alemanha como visto surgiu 0 primeiro modelo de sociedade por quotas de responsabilidade limitada em 1892 Em 1981 quase um 56shyculo depois entra em vigor a lei que alterou a legislarao das Sociedades por Quotas de Responsabilidade limitada para introduzir no ordenamenshyto juridico alemao a Sociedade por Quotas de Responsabilidade Limitada Unipessoal Passou-se enUlo a permitir a constituirao de Sociedades por Quotas de Responsabilidade Limitada por apenas uma pessoa (ffsica ou jushy

ridica) (Abrao 2000 p 6)

ROE N 43 - M8rmiddotAb~2015 - PARr CEIlAL - DOUTRlIIAmiddotmiddotmiddotmiddot

Tambem na Fran=a ap6s a regulamenta=ao clas sociedades por quoshytas de fesponsabiJidade Itmitadaiolintroduzida a limitada unipessoal em 1985 permitindo iguafmente a constituirao de sociedades unipessoais (Abrao 2000 p 12)

Ja em Portugal existem duas possibilidades para 0 exercfcio indivishydual da empresa Em 1986 0 Decreto-Lei nQ 2481986 criou a figura do Esshytabelecimento Individual de Responsabilidade limitada EtRL Trata-se de figura na~ dotada de personalidade juridica constilufda atraves de um pashytrimonio de afetarao por meio do qual uma pessoa fisica explora uma ativishydade economica empresarial Para a constituirao de um EIRL e necessario o investimento minima de euro 5000 (cinco mil euros) Ja a segunda forma de empresariar individualmente em Portugal com separarao patrimonial e limitarao de responsabilidade foi regulamentada 10 anos ap6s 0 EIRL por meio do Decreto-Lei nil 2571996 a Sociedade Unipessoal par Quotas Tal sociedade e constitufda por uma 56 pessoa (fIsica OU juridical titular de todo o capital social e cuja responsabllidade esta limitada ao capital investido sendo este livremente fixado pelo s6cio ou seja nao ha exigencia de capital mlnimo para a SUQ ao contrario do que ocorre com 0 EIR134

bull

Na experiencia brasileira entretanto ate a ediraa da Lei nQ 124412011 nao havia possibilidade de exercer uma atividade econoshymica organizada de forma individual sem 0 camprometimento da totalidade do patrimonio do empresario A sociedade unipessoal admitida em palses europeus desde meados de 1980 somente era permitida no Brasil em duas hip6teses excepcionais quais sejam a subsidiaria integral prevista na Lei das Sociedades Anonimas (Lei nQ 64041976)35 e a unipessoalidade ternshyporaria da sociedade pelo prazo de cento e oitenta dias conforme dispoe 0

art 1033 IVJ6 do C6qigoCiv

Assim no Brasil ap6s anos de discussao doutrimiria e de entendishymento quanta a necessidade de cria=ao de um instituto que viabilizasse 0

exercfcio da empresa de forma individual sem que isso acarretasse necessashyria risco ao patrimonio pessoal do empresario 0 legislador infraconstitucioshy

34 Informa~aes dlsponiveis em lthttpwwwpot1lJgalgIObalptPTlnvestirPortugaguiadoinvestldorICriareinstalar PaginaSTipos5ociedadesComerciais aspxgt

35 Art 251 da LSA A companhia pode ser constilulda mediante escrilura publica tendo como unico acionisa sociedade brasileira sect 1deg A sociedade que subscrever em bans 0 capital de subsidiaria inlegral devera aprover o laudo de avaliaifio de que trata 0 art 8deg respondendo nos lermos do sect 6 do art 80 e do art 10 e seu panlgrafo Llnico sect 2deg A companhia pade ser converlda em subsidiara integral mediante aquiSitao por scciedade braslieira de lodes as sues ayoes ou nos lermos do art 252

36 Art 1033 do eC8 Dissolve-se a scciedade quando oeorrer 11 IV a falla de pluralidede de socios nila reconstltufda no prazo de cenro e oitenla dias L J

ROE Ndeg 43 - MarmiddotAbr2015 - PARTI GERAl- OUIRINA

nal consagrou a flgura da Empresa Individual de Responsabilidade Limitada a EIRELI

Quando inserida no ordenamento juridico a EIRElI gerou controvershysias acerca da sua natureza juridica Ha que diga tratar-se de empresario inshydividual por outro lado ha que afirme tratar-se de uma sociedade limitada unipessoal No entanto hii tambem uma terceira corrente que afirma ser a EIRELI uma nova especie de pessoa juridical um ente distinto do empresario individual e das sociedades empresarias

A corrente menos express iva considera a EIRELI uma nova modalishydade de empresario individual ou seja um empresario individual de resshyponsabilidade limitada Para tal corrente 0 empresario individual ate en tao conhecido aquele que e pessoa fisica permanece existindo passando a existir 0 empresario individual pessoa jurfdica

Nesse senti do

Apesar de ser uma pessoa jurfdica a EIRELI nao euma sociedade empresaria mas sim uma forma diferenciada de constituiyao de empresario individual (que ao contrltirio daquela e pessoa natural) (Cardoso 2012 p indetermishynada)

Outra corrente mais expressiva e a capitaneada par Fabio Ulhoa Coelho (2012 p 409) para quem a EIRELI e uma sociedade empresaria definindo-a como uma sociedade limitada unipessoal na qual apenas uma pessoa (rfsica ou jurfdica no entender do autor) sera titular da totalidade das quotas socials 0 autor salienta que 0 sect 6Q do art 980middotA do C6digo Civil pershymite concluir que a EIRELI eespecie de sociedade limitada pois se submete as regras deste tipo societario

Da mesma forma Gustavo de Alvarenga Batista (2012) defi ne Em terrnosmiddotpraticos aEIRELI possibilitaqueiumemprksaflopessoa constitua uma sociedade unipessoal na qual fica sua responsabilidade atreshylada ao valor do capital por ele integralizado

Ja Andre Luiz Santa Cruz Ramos (2012) entende que 0 legislador criou uma nova figura juridica distinta da sociedade eillpresaria e do empresario individual mas com caracteristicas semelhantes a ambos No entanto 0 aushytor entende que foi um equivoco a cria~ao de um novo tipo de pessoa jurfshydica Sustenta que 0 legislador poderia tao somente ter consagrado 0 empreshysario individual de responsabilidade limitada que continuaria sendo uma pessoa fisica mas gozando da separa~ao entre 0 seu patrimonio pessoal e aquele afetado ao exercfcio da atividade economica ou ainda consagrado

ROE N 43 - MarmiddotAbrI21115- PARrE GERAl- OUTRINL

efetivamente a sociedade empresaria unipessoal bastando para tanto inshycluirentreasEseecies de sociedades ja existentes a sociedade constitulda par um 6nico s6cio titular de todas as quotas Em qualquer dos casos a insenao feita no art 44 do C6digo Civil seria desnecessaria

Do mesmo entendimento compartilha Wilges Ariana Bruscato (2011 p 10) que afirma que acaso a EIREU fosse uma sociedade unipessoal nao haveria necessidade de inclusao do instituto no inciso VI do art 44 do C6shydigo Civil ja que as sociedades ja estao previstas no inciso II do mesmo dispositivo Da forma como posta nao existe sociedade e silll um tipo sui generis no direito patrio Ainda afirma-se que

a EIREI nao tem natureza juridica de sociedade empresaria ao contrario do que muitos ainda defendem mas trata-se de uma nova categoria de pessoa jurfdica de direito privado que tambem se destina ao exercfcio da empresa Tanto que a Lei nQ 124412011 incluiu as empresas individuais de responsashybilidade limitada no rol de pessoas jurfdicas de direito privado do art 44 do C6digo Civil (inciso Vi) Ademais a lei nQ 124412011 ao inserir no C6dishygo Civil 0 art 980-A teve 0 cuidado de topograficamente tambemcriar um novo titulo (mulo I-A Da Empresa Individual de Responsabiidade Umitashyda) situado entre os Titulos I e II que tratam respedivamente do empresario individual e das sociedades empresarias (Pinheiro 2011 p indeterminadal

Nao obstante os variados entendimentos ha Uma tendencia de que a EIRELI seja efetivaillente compreendida como uma nova especie de pessoa juridica nao se tratando de empresario indiVidual tampouco de sOliedade empresaria ainda que unipessoal Tanto e assim que na ja mencionada I Jarnada de Direito Comercial do Conselho da Justi~a Federal foi aprovado o Enunciado nil 3 com a seguinte redacao A Empresa Individual de Resshyponsabilidade Limitada - ElRELI nao e sociedade unipessoa mas um novo ente~j_stjn~q da pessoa doempresarioe da sociedade eiTlpresfiriao qual seguia ciresmmiddota Iinha do Enunciado nil 46937 da V Jornada de Direito Civil que afirma que a empresa individual de responsabilidade limitada (EIRELI) nao e sociedade mas nova ente jurfdica personificado

24 AEIRELI EO PRomo DE NOVO CUOIGO COMERCIAl EXTINCAO DO INSTITUTO [ CRI~O DE f40VAS FIGURAS1

Tramita no Congresso Nacional 0 Projeta de Lei nil 15722011 que visa a instjtui~ao de um novo C6digo Comercial com a consequente revoshy

~__~~M~~~~ __ __ ___~_____ _~

37 Enunciado n 469 do elF Arts 44 e 980middotA A empresa individual de responsabilidade Iimltada (poundIRELI) olio Ii sociedade mas novo ente jurrdico personificado

Ii r~ RDE Nmiddot 43 - MarmiddotAbrf2615 - PARTE GERAl- OnUIRIUA

gasao de diversos dispositivos do atual C6digo Civil bem como de legislashysoes esparsas

o projeto apresentado pelo Deputado Vicente Candido baseado em minuta elaborada por Fabio Ulhoa Coelho na obra 0 futuro do direito coshymercia tem como uma de suas justificativas a sistematizasao revisao aperfeiltoamento e modernizasao da disciplina jurldica do estabeledmento empresarial do comercio eletronico da concorrencia desleal das condutas parasitarias da escrituratao mercantit do exerddo individual da empresa e da sociedade unipessoal (Brasil 2011 p 118)

Dito projeto nao traz em seu texto referenda expressa ao instituto recem-criado a EIRELI No entanto consagra duas figuras que merecem especial atensao sao elas 0 empresario individual em regime fiduciario e a sociedade Iimitada unipessoajJs

o empresario individual tal como e conhecido atualmente nao deishyxa de existir na redasao do projeto de NCCom sendo disciplinado entre os arts 14 a 32 do projeto de lei No que tange as suas caracteristicas esshysenciais 0 empresario individual permanece sendo pessoa ffsica que exershyce singularmente uma empresa sem limitaltao de responsabilidade nao se submetendo ao prindpio da autonornia patrimonial

Entretanto alem do empresario individual ate 0 momenta conhecido o novo C6digo Comercial visa a instituir outras duas formas de exerdcio individual da empresa como jei dito as quais possibilitam a separaSao de patrimonio e limitaltao de responsabilidade do empreendedor 0 empresashyrio individual que exerce a empresa em regime fiduciari039 e a sociedade limitada unipessoal

Da leitura do projeto infere-se que 0 empresario individual ao reshyquerer 0 seu registro comeh~rfipfesarioquntamp ao 6rgaocompetente poderamiddot fazer uma declaratao na qual conste que 0 exercicio da empresa dar-seshy

38 Na verdadc ha que se pontuar que 0 projeto de lei esta baseado em texto do jurisla Fabio Ulhoa Coelho a entende que a EIREU euma socied8de limiteda unipessoal e n~o ume nova especie de pessoa juridica eo fato pelo qual nao esta ela prevista nesse lormato no relerido projeto

39 A fiducia tem origem no direito romano ral institwlo caraclerlzamiddotse pela contiana e boa-lEi existentes entre fidLicianle e fiduciario A propriedade fiduciira por sua vez caracteriza-se quando determinado bern ou conjento de bens e destinado II gamntia de certo(s) credor(es) ou scja os bens constltuldos como propriedade fiduciaria de destlnam a garantia do cumprimento de determlnadas obrlgaltOes do liduciaro perante 0 fiduciante nao podendo ser objeto de expropriaao Pilra a adlmplemenlo das obriga6es pessoafs do fiduciiirio (Restlffe Neto Rest1ffe 20001 Segundo a C6digo Civil de 2002 em seu art L35 considerashysa propriedade fiducjaria a proprfedade resoliNel de caisa m6vel imungfvel Que 0 devedor com escopo de garanta translere ao credor Para maior aprofundamento acarce do tema vide SILVA ltJiz Augusto Beck da Alienaliio fiducitlfia ampm garantia 4 ed RIO de Janeiro forense 1998

RDE N 43 - Mar-AbtfZ015 - PARrE GERAl- DOUTRINL

-a em regime fiduciario Com a referida dedaraltao 0 empresario devera constitJir 1m patrimbnio relaeuroionado aattvrdade empresarial que pretende exercer absolutamente separado de seu patrimonio pessoaL

Assim uma vez cumpridos os requisitos 0 empresario individual desshysa modalidade (que continuaria sendo pessoa fisica) nao poderia ter seu patrimonio pessoal expropriado para 0 cumprimento das obrigalt6es assushymidas no exercicio da atividade salvo se conforme disp6e 0 sect 29 do art 32 do NCCom se tratarem de obrigaltoes de natureza trabalhista e triblltaria relacionadas ou nao com a empresa Trata-se pois do estabelecimento de um patrimonio de afetaltao que serviria de garantia aos credares do em preshysarlo individual em vez de totalidade do seu patrimonio

A outra forma de exercfcio singular da empresa proposto pelo projeto em comento e a constituiltao de uma sociedade limitada unipessoal Ao tratar das sociedades em especie 0 projeto preve a existencia de cinco tipos societarios (sociedade anonima sociedade limitada sociedade em nome coletivo sociedade em comandita simples e sociedade em comandita par alt6est todos os tipos ja cOllhecidos e previstos no atllal C6digo Civil

A novidade e uma pequena alteraltao feita no ambito das sociedades limitadas para no art 192 dispor que a sociedade limitada sera constishytufda por um ou mais s6cios ou seja retira da definiltao de sociedade a pluralidade dos s6cios

Todavia algumas consideralt6es devem ser feitas acerca do projeto em questao no que tange a sua relaltao com 0 instituto ora estudado

Conforme ja referido a limita~ao de responsabilidade do empresario individual era esperada pela doutrina patria ha muito tempo e a EIRELI foi a

l~gislativaelJcontrada para dar res posta aosansetoSexistentes

Com crfticas ou nao fato e que a EIRELI hoje majoritariamente conshysiderada como uma nova especie de pessoa juridica concebe a limitaltao de responsabilidade no exercfcio individual da empresa e desde 0 infcio de sua vigencia as estatisticas mostram que esta nova forma de exercer a empresa vem crescendo em todo 0 Pafs S6 em Sao Paulo nos primeiros tres meses de sua existencia a EIRELI jii representava mais de 4 do total de registros realizados conforme informaltao publicada pela Junta Comercial do daquele Estad040bull

40 Para majores Inlormacentes e dados estatistlcos vide htlpwwwjucespJazendaspgovbr

RUE III 43 - MOImiddotAbr2U15 - PARTE GERAl- nOUTHINA

Nesse passo cumpre questionar qual sera 0 futuro da EIRELI se 0 Proshyjeto de Lei nQ 15722011 vier a ser aprovado 0 que fazer com as EIRELIs ja existentes ao tempCl da publicacao do novo C6digo Comerdal Sera necesshysaria a criacao de regras de transicao ou os titulares de EIRELI simplesmente serao obrigados a requerer sua transformacao perante as Juntas Comercias para uma das duas modalidades criadas pelo novo C6digo

Certo e que 0 projeto de Novo C6digo Comercial contempla de certa forma a EIRELI mas colocando-a definitivamente como uma especie de sociedade limitada a sociedade limitada unipessoal No entanto ao propor llm projeto e necessario fazer uma analise do impacto que as alteraC6es provocarao sob pena de a nova lei em vez de pacificar entendimentos e llnificar tratamento acabar acarretando um caos inicial comprometendo sua pr6pria legitimidade

CONSIDERA~OES FINAlS

A limitacao de responsabilidade no exerdcio individual da emprcsa e tema recorrente na doutrina brasileira e desejo antigo dos empreendedores Ate a consagrarao da EIRELI par meio da Lei nQ 124412011 tal limitarao nao era posslvel no exercfcio individual da empresa como ja amplamenshyte debatido e demonstrado Com a criacao da EIRELI 0 legislador patrio apresenta aos empreendedores brasileiros uma nova possibilidade para empresariar sem a necessidade de constituirao de sociedades de fachada ou eventual comprometimento da totalidade do patrimonio pessoal do emshypreendedor

Percebe-se contudo que as controversias existentes ern torno da EIRELI ainda sao muitas Mas algumas coisas podem-se dizer certas Prishym~irQjslli1fiIR~khv~i~efetivamentepara privilegiar os pequenosemiddottledioS0i(i empreendedores nao se ve razao plausivel para que ela seja constituida por titular pessoa juridica Beneficiar sociedades estrangeiras e um argumento fraco para fazer esta defesa

Segundo do ponto de vista da garantia dos credores a exigencia de um capital mfnimo tern razao de ser principalmente levando ern conta que ate entao os empresarios individuais respondiam com a totalidade do seu patrimonio Todavia considerando que nao ha exigencia nesse sentido para as demais especies de empresarios de fato fere-se 0 principio da igualdade de tratamento Ainda em rela-ao ao capital minimo se 0 objetivo do legisshylador era beneficiar pequenos e medios empreendedores 0 minima estabeshylecido em 100 vezes 0 salario-mfnimo nacional e bastante alto Talvez uma

nOf Ndeg 43 - MalmiddotAbrl2015 -PARTE GERAl- DOUTRJNL bullbull bullbullbull

adequacao do montante fosse interessante para 0 atingimento dos objetivos do novel instituto

Em relacao a natureza juridica compreender a EIRElI como uma nova especie de pessoa jurfdica e certamente 0 melhor caminho ainda que isso possa parecer estranho ja que se esta diante de uma pessoa jurfdica constituida de uma dnica pessoa Afinal partindo dessa premissa nao seria necessario relativizar 0 conceito de sociedade que exige pluralidade de s6dos tampouco seria necessario pensar um empresario individual pessoa frsica que pudesse ser titular de dois patrimonios autonomos 0 pessoal eo de afetacao

Em derradeira analise no que diz respeito ao Projeto de novo C6digo Comercial cabe apenas ressaltar que eventual aprovacao devera levar em considerarao 0 fato de que como visto desde a entrada ern vigor da Lei nQ 124412011 a procura dos empreendedores por esta modalidade de exercfcio da empresa tern sido grande Contudo 0 projeto de lei nao traz qualquer mencao ao instituto Assim dever-se-a ter uma preocupacao com a transi-ao nao se podendo ignorar a existencia destes slljeitos de direito sem estabelecer qual sera oseu destino Mal se consagram institutos no Brashysil e novamente se pretendem altera~oes legislativas Assim nao se chega a maturidade

Por hora ainda que com quest6es controvertidas ha uma unanimidashyde doutrinaria de que a EIRELI e bem-vinda nao apenas porque oriunda de pleitos antigos mas tambem porque apresenta uma nova possibilidade para quem pretende empresariar no Brasil de modo que ha grande expectativa no sentido de que 0 Poder Judiciario seja capaz de dirimir as controversias existentes causadas basicamente por falhas do legislador permitindo uma amPla utilizacao dQoolRjn~titu~9~gW~Cialmente poraqueles que aoque parece se tentou benefidar 05 pequenos e medios empreendedores brasishyleiros

Page 17: SINTESE - cortemello.com.br · RESUMO A EIRELI - Empresa Individual de Aesponsabilidade Limitada foi introduzida no ordena ... a partir da doutrina de Alberto Asquini, que entende

ROE Ndeg 43 - MarmiddotAbr2015 - PARTI GERAl- OUIRINA

nal consagrou a flgura da Empresa Individual de Responsabilidade Limitada a EIRELI

Quando inserida no ordenamento juridico a EIRElI gerou controvershysias acerca da sua natureza juridica Ha que diga tratar-se de empresario inshydividual por outro lado ha que afirme tratar-se de uma sociedade limitada unipessoal No entanto hii tambem uma terceira corrente que afirma ser a EIRELI uma nova especie de pessoa juridical um ente distinto do empresario individual e das sociedades empresarias

A corrente menos express iva considera a EIRELI uma nova modalishydade de empresario individual ou seja um empresario individual de resshyponsabilidade limitada Para tal corrente 0 empresario individual ate en tao conhecido aquele que e pessoa fisica permanece existindo passando a existir 0 empresario individual pessoa jurfdica

Nesse senti do

Apesar de ser uma pessoa jurfdica a EIRELI nao euma sociedade empresaria mas sim uma forma diferenciada de constituiyao de empresario individual (que ao contrltirio daquela e pessoa natural) (Cardoso 2012 p indetermishynada)

Outra corrente mais expressiva e a capitaneada par Fabio Ulhoa Coelho (2012 p 409) para quem a EIRELI e uma sociedade empresaria definindo-a como uma sociedade limitada unipessoal na qual apenas uma pessoa (rfsica ou jurfdica no entender do autor) sera titular da totalidade das quotas socials 0 autor salienta que 0 sect 6Q do art 980middotA do C6digo Civil pershymite concluir que a EIRELI eespecie de sociedade limitada pois se submete as regras deste tipo societario

Da mesma forma Gustavo de Alvarenga Batista (2012) defi ne Em terrnosmiddotpraticos aEIRELI possibilitaqueiumemprksaflopessoa constitua uma sociedade unipessoal na qual fica sua responsabilidade atreshylada ao valor do capital por ele integralizado

Ja Andre Luiz Santa Cruz Ramos (2012) entende que 0 legislador criou uma nova figura juridica distinta da sociedade eillpresaria e do empresario individual mas com caracteristicas semelhantes a ambos No entanto 0 aushytor entende que foi um equivoco a cria~ao de um novo tipo de pessoa jurfshydica Sustenta que 0 legislador poderia tao somente ter consagrado 0 empreshysario individual de responsabilidade limitada que continuaria sendo uma pessoa fisica mas gozando da separa~ao entre 0 seu patrimonio pessoal e aquele afetado ao exercfcio da atividade economica ou ainda consagrado

ROE N 43 - MarmiddotAbrI21115- PARrE GERAl- OUTRINL

efetivamente a sociedade empresaria unipessoal bastando para tanto inshycluirentreasEseecies de sociedades ja existentes a sociedade constitulda par um 6nico s6cio titular de todas as quotas Em qualquer dos casos a insenao feita no art 44 do C6digo Civil seria desnecessaria

Do mesmo entendimento compartilha Wilges Ariana Bruscato (2011 p 10) que afirma que acaso a EIREU fosse uma sociedade unipessoal nao haveria necessidade de inclusao do instituto no inciso VI do art 44 do C6shydigo Civil ja que as sociedades ja estao previstas no inciso II do mesmo dispositivo Da forma como posta nao existe sociedade e silll um tipo sui generis no direito patrio Ainda afirma-se que

a EIREI nao tem natureza juridica de sociedade empresaria ao contrario do que muitos ainda defendem mas trata-se de uma nova categoria de pessoa jurfdica de direito privado que tambem se destina ao exercfcio da empresa Tanto que a Lei nQ 124412011 incluiu as empresas individuais de responsashybilidade limitada no rol de pessoas jurfdicas de direito privado do art 44 do C6digo Civil (inciso Vi) Ademais a lei nQ 124412011 ao inserir no C6dishygo Civil 0 art 980-A teve 0 cuidado de topograficamente tambemcriar um novo titulo (mulo I-A Da Empresa Individual de Responsabiidade Umitashyda) situado entre os Titulos I e II que tratam respedivamente do empresario individual e das sociedades empresarias (Pinheiro 2011 p indeterminadal

Nao obstante os variados entendimentos ha Uma tendencia de que a EIRELI seja efetivaillente compreendida como uma nova especie de pessoa juridica nao se tratando de empresario indiVidual tampouco de sOliedade empresaria ainda que unipessoal Tanto e assim que na ja mencionada I Jarnada de Direito Comercial do Conselho da Justi~a Federal foi aprovado o Enunciado nil 3 com a seguinte redacao A Empresa Individual de Resshyponsabilidade Limitada - ElRELI nao e sociedade unipessoa mas um novo ente~j_stjn~q da pessoa doempresarioe da sociedade eiTlpresfiriao qual seguia ciresmmiddota Iinha do Enunciado nil 46937 da V Jornada de Direito Civil que afirma que a empresa individual de responsabilidade limitada (EIRELI) nao e sociedade mas nova ente jurfdica personificado

24 AEIRELI EO PRomo DE NOVO CUOIGO COMERCIAl EXTINCAO DO INSTITUTO [ CRI~O DE f40VAS FIGURAS1

Tramita no Congresso Nacional 0 Projeta de Lei nil 15722011 que visa a instjtui~ao de um novo C6digo Comercial com a consequente revoshy

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37 Enunciado n 469 do elF Arts 44 e 980middotA A empresa individual de responsabilidade Iimltada (poundIRELI) olio Ii sociedade mas novo ente jurrdico personificado

Ii r~ RDE Nmiddot 43 - MarmiddotAbrf2615 - PARTE GERAl- OnUIRIUA

gasao de diversos dispositivos do atual C6digo Civil bem como de legislashysoes esparsas

o projeto apresentado pelo Deputado Vicente Candido baseado em minuta elaborada por Fabio Ulhoa Coelho na obra 0 futuro do direito coshymercia tem como uma de suas justificativas a sistematizasao revisao aperfeiltoamento e modernizasao da disciplina jurldica do estabeledmento empresarial do comercio eletronico da concorrencia desleal das condutas parasitarias da escrituratao mercantit do exerddo individual da empresa e da sociedade unipessoal (Brasil 2011 p 118)

Dito projeto nao traz em seu texto referenda expressa ao instituto recem-criado a EIRELI No entanto consagra duas figuras que merecem especial atensao sao elas 0 empresario individual em regime fiduciario e a sociedade Iimitada unipessoajJs

o empresario individual tal como e conhecido atualmente nao deishyxa de existir na redasao do projeto de NCCom sendo disciplinado entre os arts 14 a 32 do projeto de lei No que tange as suas caracteristicas esshysenciais 0 empresario individual permanece sendo pessoa ffsica que exershyce singularmente uma empresa sem limitaltao de responsabilidade nao se submetendo ao prindpio da autonornia patrimonial

Entretanto alem do empresario individual ate 0 momenta conhecido o novo C6digo Comercial visa a instituir outras duas formas de exerdcio individual da empresa como jei dito as quais possibilitam a separaSao de patrimonio e limitaltao de responsabilidade do empreendedor 0 empresashyrio individual que exerce a empresa em regime fiduciari039 e a sociedade limitada unipessoal

Da leitura do projeto infere-se que 0 empresario individual ao reshyquerer 0 seu registro comeh~rfipfesarioquntamp ao 6rgaocompetente poderamiddot fazer uma declaratao na qual conste que 0 exercicio da empresa dar-seshy

38 Na verdadc ha que se pontuar que 0 projeto de lei esta baseado em texto do jurisla Fabio Ulhoa Coelho a entende que a EIREU euma socied8de limiteda unipessoal e n~o ume nova especie de pessoa juridica eo fato pelo qual nao esta ela prevista nesse lormato no relerido projeto

39 A fiducia tem origem no direito romano ral institwlo caraclerlzamiddotse pela contiana e boa-lEi existentes entre fidLicianle e fiduciario A propriedade fiduciira por sua vez caracteriza-se quando determinado bern ou conjento de bens e destinado II gamntia de certo(s) credor(es) ou scja os bens constltuldos como propriedade fiduciaria de destlnam a garantia do cumprimento de determlnadas obrlgaltOes do liduciaro perante 0 fiduciante nao podendo ser objeto de expropriaao Pilra a adlmplemenlo das obriga6es pessoafs do fiduciiirio (Restlffe Neto Rest1ffe 20001 Segundo a C6digo Civil de 2002 em seu art L35 considerashysa propriedade fiducjaria a proprfedade resoliNel de caisa m6vel imungfvel Que 0 devedor com escopo de garanta translere ao credor Para maior aprofundamento acarce do tema vide SILVA ltJiz Augusto Beck da Alienaliio fiducitlfia ampm garantia 4 ed RIO de Janeiro forense 1998

RDE N 43 - Mar-AbtfZ015 - PARrE GERAl- DOUTRINL

-a em regime fiduciario Com a referida dedaraltao 0 empresario devera constitJir 1m patrimbnio relaeuroionado aattvrdade empresarial que pretende exercer absolutamente separado de seu patrimonio pessoaL

Assim uma vez cumpridos os requisitos 0 empresario individual desshysa modalidade (que continuaria sendo pessoa fisica) nao poderia ter seu patrimonio pessoal expropriado para 0 cumprimento das obrigalt6es assushymidas no exercicio da atividade salvo se conforme disp6e 0 sect 29 do art 32 do NCCom se tratarem de obrigaltoes de natureza trabalhista e triblltaria relacionadas ou nao com a empresa Trata-se pois do estabelecimento de um patrimonio de afetaltao que serviria de garantia aos credares do em preshysarlo individual em vez de totalidade do seu patrimonio

A outra forma de exercfcio singular da empresa proposto pelo projeto em comento e a constituiltao de uma sociedade limitada unipessoal Ao tratar das sociedades em especie 0 projeto preve a existencia de cinco tipos societarios (sociedade anonima sociedade limitada sociedade em nome coletivo sociedade em comandita simples e sociedade em comandita par alt6est todos os tipos ja cOllhecidos e previstos no atllal C6digo Civil

A novidade e uma pequena alteraltao feita no ambito das sociedades limitadas para no art 192 dispor que a sociedade limitada sera constishytufda por um ou mais s6cios ou seja retira da definiltao de sociedade a pluralidade dos s6cios

Todavia algumas consideralt6es devem ser feitas acerca do projeto em questao no que tange a sua relaltao com 0 instituto ora estudado

Conforme ja referido a limita~ao de responsabilidade do empresario individual era esperada pela doutrina patria ha muito tempo e a EIRELI foi a

l~gislativaelJcontrada para dar res posta aosansetoSexistentes

Com crfticas ou nao fato e que a EIRELI hoje majoritariamente conshysiderada como uma nova especie de pessoa juridica concebe a limitaltao de responsabilidade no exercfcio individual da empresa e desde 0 infcio de sua vigencia as estatisticas mostram que esta nova forma de exercer a empresa vem crescendo em todo 0 Pafs S6 em Sao Paulo nos primeiros tres meses de sua existencia a EIRELI jii representava mais de 4 do total de registros realizados conforme informaltao publicada pela Junta Comercial do daquele Estad040bull

40 Para majores Inlormacentes e dados estatistlcos vide htlpwwwjucespJazendaspgovbr

RUE III 43 - MOImiddotAbr2U15 - PARTE GERAl- nOUTHINA

Nesse passo cumpre questionar qual sera 0 futuro da EIRELI se 0 Proshyjeto de Lei nQ 15722011 vier a ser aprovado 0 que fazer com as EIRELIs ja existentes ao tempCl da publicacao do novo C6digo Comerdal Sera necesshysaria a criacao de regras de transicao ou os titulares de EIRELI simplesmente serao obrigados a requerer sua transformacao perante as Juntas Comercias para uma das duas modalidades criadas pelo novo C6digo

Certo e que 0 projeto de Novo C6digo Comercial contempla de certa forma a EIRELI mas colocando-a definitivamente como uma especie de sociedade limitada a sociedade limitada unipessoal No entanto ao propor llm projeto e necessario fazer uma analise do impacto que as alteraC6es provocarao sob pena de a nova lei em vez de pacificar entendimentos e llnificar tratamento acabar acarretando um caos inicial comprometendo sua pr6pria legitimidade

CONSIDERA~OES FINAlS

A limitacao de responsabilidade no exerdcio individual da emprcsa e tema recorrente na doutrina brasileira e desejo antigo dos empreendedores Ate a consagrarao da EIRELI par meio da Lei nQ 124412011 tal limitarao nao era posslvel no exercfcio individual da empresa como ja amplamenshyte debatido e demonstrado Com a criacao da EIRELI 0 legislador patrio apresenta aos empreendedores brasileiros uma nova possibilidade para empresariar sem a necessidade de constituirao de sociedades de fachada ou eventual comprometimento da totalidade do patrimonio pessoal do emshypreendedor

Percebe-se contudo que as controversias existentes ern torno da EIRELI ainda sao muitas Mas algumas coisas podem-se dizer certas Prishym~irQjslli1fiIR~khv~i~efetivamentepara privilegiar os pequenosemiddottledioS0i(i empreendedores nao se ve razao plausivel para que ela seja constituida por titular pessoa juridica Beneficiar sociedades estrangeiras e um argumento fraco para fazer esta defesa

Segundo do ponto de vista da garantia dos credores a exigencia de um capital mfnimo tern razao de ser principalmente levando ern conta que ate entao os empresarios individuais respondiam com a totalidade do seu patrimonio Todavia considerando que nao ha exigencia nesse sentido para as demais especies de empresarios de fato fere-se 0 principio da igualdade de tratamento Ainda em rela-ao ao capital minimo se 0 objetivo do legisshylador era beneficiar pequenos e medios empreendedores 0 minima estabeshylecido em 100 vezes 0 salario-mfnimo nacional e bastante alto Talvez uma

nOf Ndeg 43 - MalmiddotAbrl2015 -PARTE GERAl- DOUTRJNL bullbull bullbullbull

adequacao do montante fosse interessante para 0 atingimento dos objetivos do novel instituto

Em relacao a natureza juridica compreender a EIRElI como uma nova especie de pessoa jurfdica e certamente 0 melhor caminho ainda que isso possa parecer estranho ja que se esta diante de uma pessoa jurfdica constituida de uma dnica pessoa Afinal partindo dessa premissa nao seria necessario relativizar 0 conceito de sociedade que exige pluralidade de s6dos tampouco seria necessario pensar um empresario individual pessoa frsica que pudesse ser titular de dois patrimonios autonomos 0 pessoal eo de afetacao

Em derradeira analise no que diz respeito ao Projeto de novo C6digo Comercial cabe apenas ressaltar que eventual aprovacao devera levar em considerarao 0 fato de que como visto desde a entrada ern vigor da Lei nQ 124412011 a procura dos empreendedores por esta modalidade de exercfcio da empresa tern sido grande Contudo 0 projeto de lei nao traz qualquer mencao ao instituto Assim dever-se-a ter uma preocupacao com a transi-ao nao se podendo ignorar a existencia destes slljeitos de direito sem estabelecer qual sera oseu destino Mal se consagram institutos no Brashysil e novamente se pretendem altera~oes legislativas Assim nao se chega a maturidade

Por hora ainda que com quest6es controvertidas ha uma unanimidashyde doutrinaria de que a EIRELI e bem-vinda nao apenas porque oriunda de pleitos antigos mas tambem porque apresenta uma nova possibilidade para quem pretende empresariar no Brasil de modo que ha grande expectativa no sentido de que 0 Poder Judiciario seja capaz de dirimir as controversias existentes causadas basicamente por falhas do legislador permitindo uma amPla utilizacao dQoolRjn~titu~9~gW~Cialmente poraqueles que aoque parece se tentou benefidar 05 pequenos e medios empreendedores brasishyleiros

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Ii r~ RDE Nmiddot 43 - MarmiddotAbrf2615 - PARTE GERAl- OnUIRIUA

gasao de diversos dispositivos do atual C6digo Civil bem como de legislashysoes esparsas

o projeto apresentado pelo Deputado Vicente Candido baseado em minuta elaborada por Fabio Ulhoa Coelho na obra 0 futuro do direito coshymercia tem como uma de suas justificativas a sistematizasao revisao aperfeiltoamento e modernizasao da disciplina jurldica do estabeledmento empresarial do comercio eletronico da concorrencia desleal das condutas parasitarias da escrituratao mercantit do exerddo individual da empresa e da sociedade unipessoal (Brasil 2011 p 118)

Dito projeto nao traz em seu texto referenda expressa ao instituto recem-criado a EIRELI No entanto consagra duas figuras que merecem especial atensao sao elas 0 empresario individual em regime fiduciario e a sociedade Iimitada unipessoajJs

o empresario individual tal como e conhecido atualmente nao deishyxa de existir na redasao do projeto de NCCom sendo disciplinado entre os arts 14 a 32 do projeto de lei No que tange as suas caracteristicas esshysenciais 0 empresario individual permanece sendo pessoa ffsica que exershyce singularmente uma empresa sem limitaltao de responsabilidade nao se submetendo ao prindpio da autonornia patrimonial

Entretanto alem do empresario individual ate 0 momenta conhecido o novo C6digo Comercial visa a instituir outras duas formas de exerdcio individual da empresa como jei dito as quais possibilitam a separaSao de patrimonio e limitaltao de responsabilidade do empreendedor 0 empresashyrio individual que exerce a empresa em regime fiduciari039 e a sociedade limitada unipessoal

Da leitura do projeto infere-se que 0 empresario individual ao reshyquerer 0 seu registro comeh~rfipfesarioquntamp ao 6rgaocompetente poderamiddot fazer uma declaratao na qual conste que 0 exercicio da empresa dar-seshy

38 Na verdadc ha que se pontuar que 0 projeto de lei esta baseado em texto do jurisla Fabio Ulhoa Coelho a entende que a EIREU euma socied8de limiteda unipessoal e n~o ume nova especie de pessoa juridica eo fato pelo qual nao esta ela prevista nesse lormato no relerido projeto

39 A fiducia tem origem no direito romano ral institwlo caraclerlzamiddotse pela contiana e boa-lEi existentes entre fidLicianle e fiduciario A propriedade fiduciira por sua vez caracteriza-se quando determinado bern ou conjento de bens e destinado II gamntia de certo(s) credor(es) ou scja os bens constltuldos como propriedade fiduciaria de destlnam a garantia do cumprimento de determlnadas obrlgaltOes do liduciaro perante 0 fiduciante nao podendo ser objeto de expropriaao Pilra a adlmplemenlo das obriga6es pessoafs do fiduciiirio (Restlffe Neto Rest1ffe 20001 Segundo a C6digo Civil de 2002 em seu art L35 considerashysa propriedade fiducjaria a proprfedade resoliNel de caisa m6vel imungfvel Que 0 devedor com escopo de garanta translere ao credor Para maior aprofundamento acarce do tema vide SILVA ltJiz Augusto Beck da Alienaliio fiducitlfia ampm garantia 4 ed RIO de Janeiro forense 1998

RDE N 43 - Mar-AbtfZ015 - PARrE GERAl- DOUTRINL

-a em regime fiduciario Com a referida dedaraltao 0 empresario devera constitJir 1m patrimbnio relaeuroionado aattvrdade empresarial que pretende exercer absolutamente separado de seu patrimonio pessoaL

Assim uma vez cumpridos os requisitos 0 empresario individual desshysa modalidade (que continuaria sendo pessoa fisica) nao poderia ter seu patrimonio pessoal expropriado para 0 cumprimento das obrigalt6es assushymidas no exercicio da atividade salvo se conforme disp6e 0 sect 29 do art 32 do NCCom se tratarem de obrigaltoes de natureza trabalhista e triblltaria relacionadas ou nao com a empresa Trata-se pois do estabelecimento de um patrimonio de afetaltao que serviria de garantia aos credares do em preshysarlo individual em vez de totalidade do seu patrimonio

A outra forma de exercfcio singular da empresa proposto pelo projeto em comento e a constituiltao de uma sociedade limitada unipessoal Ao tratar das sociedades em especie 0 projeto preve a existencia de cinco tipos societarios (sociedade anonima sociedade limitada sociedade em nome coletivo sociedade em comandita simples e sociedade em comandita par alt6est todos os tipos ja cOllhecidos e previstos no atllal C6digo Civil

A novidade e uma pequena alteraltao feita no ambito das sociedades limitadas para no art 192 dispor que a sociedade limitada sera constishytufda por um ou mais s6cios ou seja retira da definiltao de sociedade a pluralidade dos s6cios

Todavia algumas consideralt6es devem ser feitas acerca do projeto em questao no que tange a sua relaltao com 0 instituto ora estudado

Conforme ja referido a limita~ao de responsabilidade do empresario individual era esperada pela doutrina patria ha muito tempo e a EIRELI foi a

l~gislativaelJcontrada para dar res posta aosansetoSexistentes

Com crfticas ou nao fato e que a EIRELI hoje majoritariamente conshysiderada como uma nova especie de pessoa juridica concebe a limitaltao de responsabilidade no exercfcio individual da empresa e desde 0 infcio de sua vigencia as estatisticas mostram que esta nova forma de exercer a empresa vem crescendo em todo 0 Pafs S6 em Sao Paulo nos primeiros tres meses de sua existencia a EIRELI jii representava mais de 4 do total de registros realizados conforme informaltao publicada pela Junta Comercial do daquele Estad040bull

40 Para majores Inlormacentes e dados estatistlcos vide htlpwwwjucespJazendaspgovbr

RUE III 43 - MOImiddotAbr2U15 - PARTE GERAl- nOUTHINA

Nesse passo cumpre questionar qual sera 0 futuro da EIRELI se 0 Proshyjeto de Lei nQ 15722011 vier a ser aprovado 0 que fazer com as EIRELIs ja existentes ao tempCl da publicacao do novo C6digo Comerdal Sera necesshysaria a criacao de regras de transicao ou os titulares de EIRELI simplesmente serao obrigados a requerer sua transformacao perante as Juntas Comercias para uma das duas modalidades criadas pelo novo C6digo

Certo e que 0 projeto de Novo C6digo Comercial contempla de certa forma a EIRELI mas colocando-a definitivamente como uma especie de sociedade limitada a sociedade limitada unipessoal No entanto ao propor llm projeto e necessario fazer uma analise do impacto que as alteraC6es provocarao sob pena de a nova lei em vez de pacificar entendimentos e llnificar tratamento acabar acarretando um caos inicial comprometendo sua pr6pria legitimidade

CONSIDERA~OES FINAlS

A limitacao de responsabilidade no exerdcio individual da emprcsa e tema recorrente na doutrina brasileira e desejo antigo dos empreendedores Ate a consagrarao da EIRELI par meio da Lei nQ 124412011 tal limitarao nao era posslvel no exercfcio individual da empresa como ja amplamenshyte debatido e demonstrado Com a criacao da EIRELI 0 legislador patrio apresenta aos empreendedores brasileiros uma nova possibilidade para empresariar sem a necessidade de constituirao de sociedades de fachada ou eventual comprometimento da totalidade do patrimonio pessoal do emshypreendedor

Percebe-se contudo que as controversias existentes ern torno da EIRELI ainda sao muitas Mas algumas coisas podem-se dizer certas Prishym~irQjslli1fiIR~khv~i~efetivamentepara privilegiar os pequenosemiddottledioS0i(i empreendedores nao se ve razao plausivel para que ela seja constituida por titular pessoa juridica Beneficiar sociedades estrangeiras e um argumento fraco para fazer esta defesa

Segundo do ponto de vista da garantia dos credores a exigencia de um capital mfnimo tern razao de ser principalmente levando ern conta que ate entao os empresarios individuais respondiam com a totalidade do seu patrimonio Todavia considerando que nao ha exigencia nesse sentido para as demais especies de empresarios de fato fere-se 0 principio da igualdade de tratamento Ainda em rela-ao ao capital minimo se 0 objetivo do legisshylador era beneficiar pequenos e medios empreendedores 0 minima estabeshylecido em 100 vezes 0 salario-mfnimo nacional e bastante alto Talvez uma

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adequacao do montante fosse interessante para 0 atingimento dos objetivos do novel instituto

Em relacao a natureza juridica compreender a EIRElI como uma nova especie de pessoa jurfdica e certamente 0 melhor caminho ainda que isso possa parecer estranho ja que se esta diante de uma pessoa jurfdica constituida de uma dnica pessoa Afinal partindo dessa premissa nao seria necessario relativizar 0 conceito de sociedade que exige pluralidade de s6dos tampouco seria necessario pensar um empresario individual pessoa frsica que pudesse ser titular de dois patrimonios autonomos 0 pessoal eo de afetacao

Em derradeira analise no que diz respeito ao Projeto de novo C6digo Comercial cabe apenas ressaltar que eventual aprovacao devera levar em considerarao 0 fato de que como visto desde a entrada ern vigor da Lei nQ 124412011 a procura dos empreendedores por esta modalidade de exercfcio da empresa tern sido grande Contudo 0 projeto de lei nao traz qualquer mencao ao instituto Assim dever-se-a ter uma preocupacao com a transi-ao nao se podendo ignorar a existencia destes slljeitos de direito sem estabelecer qual sera oseu destino Mal se consagram institutos no Brashysil e novamente se pretendem altera~oes legislativas Assim nao se chega a maturidade

Por hora ainda que com quest6es controvertidas ha uma unanimidashyde doutrinaria de que a EIRELI e bem-vinda nao apenas porque oriunda de pleitos antigos mas tambem porque apresenta uma nova possibilidade para quem pretende empresariar no Brasil de modo que ha grande expectativa no sentido de que 0 Poder Judiciario seja capaz de dirimir as controversias existentes causadas basicamente por falhas do legislador permitindo uma amPla utilizacao dQoolRjn~titu~9~gW~Cialmente poraqueles que aoque parece se tentou benefidar 05 pequenos e medios empreendedores brasishyleiros

Page 19: SINTESE - cortemello.com.br · RESUMO A EIRELI - Empresa Individual de Aesponsabilidade Limitada foi introduzida no ordena ... a partir da doutrina de Alberto Asquini, que entende

RUE III 43 - MOImiddotAbr2U15 - PARTE GERAl- nOUTHINA

Nesse passo cumpre questionar qual sera 0 futuro da EIRELI se 0 Proshyjeto de Lei nQ 15722011 vier a ser aprovado 0 que fazer com as EIRELIs ja existentes ao tempCl da publicacao do novo C6digo Comerdal Sera necesshysaria a criacao de regras de transicao ou os titulares de EIRELI simplesmente serao obrigados a requerer sua transformacao perante as Juntas Comercias para uma das duas modalidades criadas pelo novo C6digo

Certo e que 0 projeto de Novo C6digo Comercial contempla de certa forma a EIRELI mas colocando-a definitivamente como uma especie de sociedade limitada a sociedade limitada unipessoal No entanto ao propor llm projeto e necessario fazer uma analise do impacto que as alteraC6es provocarao sob pena de a nova lei em vez de pacificar entendimentos e llnificar tratamento acabar acarretando um caos inicial comprometendo sua pr6pria legitimidade

CONSIDERA~OES FINAlS

A limitacao de responsabilidade no exerdcio individual da emprcsa e tema recorrente na doutrina brasileira e desejo antigo dos empreendedores Ate a consagrarao da EIRELI par meio da Lei nQ 124412011 tal limitarao nao era posslvel no exercfcio individual da empresa como ja amplamenshyte debatido e demonstrado Com a criacao da EIRELI 0 legislador patrio apresenta aos empreendedores brasileiros uma nova possibilidade para empresariar sem a necessidade de constituirao de sociedades de fachada ou eventual comprometimento da totalidade do patrimonio pessoal do emshypreendedor

Percebe-se contudo que as controversias existentes ern torno da EIRELI ainda sao muitas Mas algumas coisas podem-se dizer certas Prishym~irQjslli1fiIR~khv~i~efetivamentepara privilegiar os pequenosemiddottledioS0i(i empreendedores nao se ve razao plausivel para que ela seja constituida por titular pessoa juridica Beneficiar sociedades estrangeiras e um argumento fraco para fazer esta defesa

Segundo do ponto de vista da garantia dos credores a exigencia de um capital mfnimo tern razao de ser principalmente levando ern conta que ate entao os empresarios individuais respondiam com a totalidade do seu patrimonio Todavia considerando que nao ha exigencia nesse sentido para as demais especies de empresarios de fato fere-se 0 principio da igualdade de tratamento Ainda em rela-ao ao capital minimo se 0 objetivo do legisshylador era beneficiar pequenos e medios empreendedores 0 minima estabeshylecido em 100 vezes 0 salario-mfnimo nacional e bastante alto Talvez uma

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adequacao do montante fosse interessante para 0 atingimento dos objetivos do novel instituto

Em relacao a natureza juridica compreender a EIRElI como uma nova especie de pessoa jurfdica e certamente 0 melhor caminho ainda que isso possa parecer estranho ja que se esta diante de uma pessoa jurfdica constituida de uma dnica pessoa Afinal partindo dessa premissa nao seria necessario relativizar 0 conceito de sociedade que exige pluralidade de s6dos tampouco seria necessario pensar um empresario individual pessoa frsica que pudesse ser titular de dois patrimonios autonomos 0 pessoal eo de afetacao

Em derradeira analise no que diz respeito ao Projeto de novo C6digo Comercial cabe apenas ressaltar que eventual aprovacao devera levar em considerarao 0 fato de que como visto desde a entrada ern vigor da Lei nQ 124412011 a procura dos empreendedores por esta modalidade de exercfcio da empresa tern sido grande Contudo 0 projeto de lei nao traz qualquer mencao ao instituto Assim dever-se-a ter uma preocupacao com a transi-ao nao se podendo ignorar a existencia destes slljeitos de direito sem estabelecer qual sera oseu destino Mal se consagram institutos no Brashysil e novamente se pretendem altera~oes legislativas Assim nao se chega a maturidade

Por hora ainda que com quest6es controvertidas ha uma unanimidashyde doutrinaria de que a EIRELI e bem-vinda nao apenas porque oriunda de pleitos antigos mas tambem porque apresenta uma nova possibilidade para quem pretende empresariar no Brasil de modo que ha grande expectativa no sentido de que 0 Poder Judiciario seja capaz de dirimir as controversias existentes causadas basicamente por falhas do legislador permitindo uma amPla utilizacao dQoolRjn~titu~9~gW~Cialmente poraqueles que aoque parece se tentou benefidar 05 pequenos e medios empreendedores brasishyleiros