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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE CURSO DE PSICOLOGIA SINTOMAS DE ANSIEDADE, DEPRESSÃO E ESTRESSE EM SUJEITOS SEDENTÁRIOS ADERENTES E NÃO-ADERENTES A UM PROGRAMA REGULAR DE EXERCÍCIOS FÍSICOS. PAULA BEATRIZ SCHMIDT AFFINI Itajaí, (SC) 2009.

SINTOMAS DE ANSIEDADE, DEPRESSÃO E ESTRESSE EM SUJEITOS SEDENTÁRIOS ADERENTES E …siaibib01.univali.br/pdf/Paula Beatriz Schmidt Affini.pdf · 2011. 11. 21. · como o controle

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    UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ

    CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE

    CURSO DE PSICOLOGIA

    SINTOMAS DE ANSIEDADE, DEPRESSÃO E ESTRESSE EM

    SUJEITOS SEDENTÁRIOS ADERENTES E NÃO-ADERENTES A

    UM PROGRAMA REGULAR DE EXERCÍCIOS FÍSICOS.

    PAULA BEATRIZ SCHMIDT AFFINI

    Itajaí, (SC) 2009.

  • 2

    PAULA BEATRIZ SCHMIDT AFFINI

    SINTOMAS DE ANSIEDADE, DEPRESSÃO E ESTRESSE EM

    SUJEITOS SEDENTÁRIOS ADERENTES E NÃO-ADERENTES A

    UM PROGRAMA REGULAR DE EXERCÍCIOS FÍSICOS.

    Monografia apresentada como requisito parcial para obtenção do titulo de Bacharel em Psicologia da Universidade do Vale do Itajaí

    Orientador: Prof. Dr. Eduardo José Legal

    Itajaí SC, 2009

  • 3

    DEDICATÓRIA

    Aos meus queridos e amados: Ursula, Paulo, Sula,

    William, Gustavo e Marcio, que me apoiaram,

    incentivaram e “suportaram” durante este período.

  • 4

    AGRADECIMENTOS

    A Deus por ser a razão maior de todas as coisas, por me criar e capacitar para tal

    jornada!

    Ao meu querido professor orientador Dr. Eduardo José Legal, que como

    expressão de sua simplicidade atende simplesmente por Legal. Obrigada pelas

    incontáveis orientações sempre repletas de conversas interessantes e bem

    humoradas, pelo conhecimento compartilhado, pelo incentivo e paciência durante

    todo esse processo!

    Aos meus amados pais Paulo e Ursula, por terem me ensinado a importância da

    educação, e me incentivado para o estudo. Por terem não só “paitrocinado” essa

    façanha, mas por terem durante esse processo me possibilitado tempo para o

    estudo e me consolado e aquietado nos momentos de extrema ansiedade. A

    minha irmã predileta Sula e ao meu “cunhadinho” William, por terem

    compreendido minha ausência durante este período mágico e único que é a

    gestação! E não por último, ao meu “lindinho” Marcio, por ter não só me apoiado,

    animado e suportado, como também por ter acreditado que dias melhores viriam!

    Ao Cláudio, Raquel e Carlene da Acadêmia Company por tornarem essa pesquisa

    viável, estando sempre dispostos a me receber e auxiliar no desenrolar da

    mesma. E claro aos meus queridos participantes, sem vocês esse trabalho

    certamente não seria concluído!

  • 5

    SUMARIO

    RESUMO ................................................................................................................ 6

    1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 8

    2 EMBASAMENTO TEÓRICO .............................................................................. 10

    3 ASPECTOS METODOLÓGICOS ...................................................................... 24

    4 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS .................................. 27

    5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................... 48

    6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................. 51

    7 ANEXOS ............................................................................................................ 54

    7.1 Anexo 1 ........................................................................................................... 54

    8 APÊNDICES ...................................................................................................... 55

    8.1 Apêndice ......................................................................................................... 55

    8.2 Apêndice ......................................................................................................... 56

    8.3 Apêndice ......................................................................................................... 57

  • 6

    SINTOMAS DE ANSIEDADE, DEPRESSÃO E ESTRESSE EM

    SUJEITOS SEDENTÁRIOS ADERENTES E NÃO-ADERENTES A

    UM PROGRAMA REGULAR DE EXERCÍCIOS FÍSICOS.

    Orientador: Prof. Dr. Eduardo José Legal Defesa: Novembro de 2009.

    Resumo: O presente trabalho teve por objetivo investigar os benefícios de um programa de exercício físico

    regular sobre os sintomas de ansiedade, depressão e estresse em um grupo de sujeitos

    sedentários. A pesquisa foi realizada com um grupo composto por sete pessoas sedentárias que

    se submeteram a um programa de prática de exercícios físicos três vezes por semana em um

    período de dois meses (nove semanas). Foram mensurados os sintomas de ansiedade, depressão

    e estresse em três momentos distintos: antes do início do programa, um mês após o início do

    programa e dois meses após o início do programa. Para as medidas de ansiedade foi utilizado o

    BAI (Inventário de Ansiedade de Beck); para os sintomas depressivos, o BDI; e, por fim, para os

    sintomas de estresse, o Inventário de Sintomas de Estresse. Associações positivas entre a prática

    de exercícios físicos e a redução de sintomas foram encontradas nos sintomas de ansiedade,

    depressão e estresse entre os indivíduos que permaneceram no programa por 9 semanas, porém,

    para os não aderentes, os sintomas tenderam a aumentar. Apesar de não ser possível realizar

    testes estatísticos devido a pequena amostra, é possível relacionar a redução dos sintomas com a

    prática regular de exercícios físicos.

    Palavras-chave: 1. Exercícios Físicos 2. Ansiedade 3. Depressão

    4. Estresse

  • 7

    Sub-Área de concentração (CNPq) Membros da Banca

    ______________________________________ Professor convidado

    ______________________________________ Professor convidado

    ________________________________________ Professor Orientador

  • 8

    1 INTRODUÇÃO

    A prática regular de exercícios físicos apresenta correlações negativas com

    sintomas psicológicos, e positivas com o funcionamento do sistema imune. Ou

    seja, estresse, humor, ansiedade e cognição apresentam escores diminuídos em

    indivíduos que praticam algum tipo de exercício físico regularmente. Contudo,

    problemas relacionados a composição da amostra e ao abandono (não

    aderência) dificultam a análise de como ocorrem estes benefícios (ARAÚJO;

    MELLO; LEITE, 2005).

    Os efeitos benéficos dos exercícios físicos sobre o comportamento são

    apontados em diversos estudos nas áreas de Psicologia, Educação Física e

    Medicina. Porém poucos trabalhos investigam os efeitos e mecanismos pelos

    quais estes exercícios podem promover melhoras psicológicas e biológicas

    (ARAÚJO; MELLO; LEITE, 2005). Menos estudos ainda, existem sobre o que faz

    as pessoas aderirem ou não a prática regular de atividades físicas.

    De modo geral, os principais benefícios apontados na literatura

    especializada dizem respeito ao tratamento dos transtornos de humor, ansiedade,

    depressão e estresse, bem como melhoras no desempenho cognitivo

    (WEINBERG; GOULD, 2008).

    Neste sentido, compreender a relação entre exercícios físicos e aspectos

    psicológicos, é de suma importância para a sociedade contemporânea, visto que

    esta é afligida constantemente por transtornos de humor como a ansiedade e a

    depressão. Segundo a Organização Mundial da Saúde, a depressão é classificada

    como sendo a doença que mais incapacita o ser humano no século XXI. Diante

    disso Mello; Boscolo; Esteves e Tufik (2005), pontuam que o exercício físico pode

    acarretar diversos benefícios físicos e mentais ao ser humano, proporcionando

    assim uma melhor qualidade de vida.

    O tratamento para a depressão e ansiedade consiste geralmente em

    psicoterapia e o uso de farmacoterápicos, representando este último um elevado

    custo, e efeitos colaterais como a dependência, por este motivo, a prática regular

    de exercícios físicos poderia representar um tratamento alternativo e

  • 9

    complementar de baixo custo, com baixos ou inexistentes efeitos colaterais, e uma

    melhora significativa na qualidade de vida dos indivíduos.

    Uma revisão bibliográfica sobre os efeitos do exercício físico nos sintomas

    de ansiedade, depressão e estresse, realizada por Salmon (2001) indica que os

    resultados mais consistentes dos estudos que relacionam a prática de exercício

    físico com aspectos psicobiológicos, indicam efeitos antidepressivos e ansiolíticos

    bem como menor vulnerabilidade ao estresse.

    Diante do exposto anteriormente, a presente pesquisa teve como propósito

    investigar os efeitos da prática regular de exercícios físicos sobre sintomas de

    estresse, depressão e ansiedade em sujeitos sedentários. Pretendeu, também,

    avaliar os motivos da aderência e não aderência, a fim de compreender as

    características cognitivas e motivacionais envolvidas nesse processo.

    Para tanto foram levantados os sintomas de depressão, ansiedade e

    estresse dos participantes do programa de exercício físico regular, antes do início

    do programa, um mês após o início do programa e dois meses após o início do

    programa. Estas medidas foram comparadas ao longo do tempo das medições.

    Para os participantes, tanto os que se mantiveram quanto aqueles que se

    desligaram da prática de exercícios físicos, foram levantados os fatores ligados a

    aderência e não aderência aos mesmos.

    Esta monografia relata o caminho teórico e prático deste estudo, seus

    resultados e conclusões.

  • 10

    2 EMBASAMENTO TEÓRICO

    2.1. Exercícios físicos e Atividade física

    Ao relacionar aspectos psicobiológicos a prática de exercícios físicos, faz-

    se necessário esclarecer e diferenciar os conceitos de exercício físico e atividade

    física, visto que estes freqüentemente são considerados como sinônimos, quando

    tecnicamente não o são. A atividade física refere-se a qualquer movimento

    corporal que resulte em consumo de energias produzido pelos músculos

    esqueléticos, já o exercício físico envolve movimentos corporais planejados,

    estruturados e repetitivos realizados com a finalidade de melhorar ou manter

    componentes da boa forma física (VEIGAS; GONÇALES, 2009).

    São diversos e variados os tipos de exercícios físicos existentes. O

    exercício pode ser praticado em grupos ou individualmente, pode ter a finalidade

    de um desporto competitivo, ou ser praticado apenas como uma atividade de

    lazer; pode ser aeróbico, anaeróbico; crônico ou agudo (CASPERSEN; POWEL;

    CHRISTENSON, 1985 apud RIBEIRO, 1998)

    Compreende-se por exercício aeróbico aquele que é produzido com baixa

    intensidade em um longo espaço de tempo. Já o anaeróbico refere-se ao exercício

    físico produzido com muita intensidade em um período breve período de tempo

    (VEIGAS; GONÇALES, 2009).

    2.2 Exercícios Físicos e Aspectos Psicobiológicos:

    De acordo com Veigas e Gonçalves (2009), a busca pelo aumento da

    qualidade de vida tem sido enfatizada nas sociedades contemporâneas, estando

    esta qualidade relacionada com a alimentação, situação sócio-econômica, meio

    ambiente e, não por último, com a prática regular de exercícios físicos.

    Ainda de acordo com os mesmos autores, a prática de exercícios físicos

    acarreta um impacto positivo na redução dos riscos de doenças cardiovasculares,

    obesidade, diabetes, hipertensão arterial e obtenção de benefícios psicológicos

  • 11

    como o controle dos níveis de ansiedade e estresse, bem como a redução dos

    sintomas depressivos.

    Diversos estudos apontam diferenças significativas entre sujeitos

    praticantes de exercício físico e indivíduos sedentários, sendo que os sujeitos

    fisicamente ativos apresentam níveis mais baixos de depressão, hostilidade e

    ansiedade, enquanto a falta de exercícios físicos regulares revela-se um fator

    importante para o aparecimento de depressão e ansiedade (VEIGAS;

    GONÇALES, 2009).

    Os estudos acerca da relação entre exercícios físicos e os aspectos

    psicobiológicos começaram a ser descritos na literatura apenas a partir da década

    de 70, tendo como modelo o exercício aeróbico e suas repercussões sobre humor

    e ansiedade (MELLO et al., 2005).

    A prática regular de exercícios físicos traz resultados positivos para o sono

    e seus possíveis distúrbios, bem como para os aspectos psicobiológicos e

    transtornos de humor, como a ansiedade e a depressão, e também para aspectos

    cognitivos, como memória e aprendizagem (MELLO et al.; 2005).

    O exercício físico pode ser considerado uma intervenção não

    medicamentosa, para o tratamento de distúrbios psicobiológicos, visto que sua

    prática acarreta em alterações fisiológicas, bioquímicas e psicológicas (MELLO et

    al.; 2005).

    A relação entre exercícios físicos e seus efeitos ansiolíticos e

    principalmente anti-estressantes é largamente conhecida. Porém há carência no

    exame destas evidências para que o exercício físico possa de fato ser utilizado na

    prevenção e no tratamento dos distúrbios de ansiedade e estresse (TAYLOR,

    2000).

    A presente revisão tem por objetivo, abordar os benefícios da prática

    regular de exercícios físicos para os sintomas de ansiedade, depressão e

    estresse, visto que esta atividade pode produzir efeitos ansiolíticos,

    antidepressivos e proteger a saúde física e mental (ARAÚJO; MELLO; LEITE,

    2005).

  • 12

    2.3. Exercícios físicos e a Ansiedade

    A ansiedade pode, atualmente, ser definida e conceituada tanto como um

    sintoma, quanto como uma patologia, que envolve aspectos multifatoriais de

    caráter somático ou cognitivo. Manifestações de ansiedade normalmente ocorrem

    em situações que denotem algum perigo eminente originado por alguma situação

    ameaçadora em específico, ou, simplesmente por alterações no meio ambiente,

    relacionadas ao processo de desenvolvimento econômico, social e cultural

    (ARAÚJO et al; 2005).

    De acordo com Dalgalarrondo (2000, p. 107) a ansiedade

    caracteriza-se:

    [...] como estado de humor desconfortável, uma apreensão negativa em relação ao futuro, uma inquietação interna desagradável. A ansiedade inclui manifestações somáticas e fisiológicas (dispnéia, taquicardia, vaso constrição ou dilatação, tensão muscular, parestesias, tremores, sudorese, tontura, etc.) e manifestações psíquicas (inquietação interna, apreensão, desconforto mental, etc.).

    Ao conceituar a ansiedade, faz-se necessário a diferenciação entre a

    Ansiedade-Estado e a Ansiedade-Traço. A primeira refere-se a um estado de

    humor variável, caracterizado por sentimentos subjetivos de apreensão e tensão,

    conscientemente percebidos. A segunda refere-se à parte da personalidade do

    indivíduo, sendo deste modo, uma tendência ou disposição comportamental

    adquirida que influencia o comportamento, fazendo com que o indivíduo perceba

    circunstâncias normais como ameaçadoras, quando de fato não há nenhum perigo

    físico ou psicológico objetivo (WEINBERG e GOULD, 2008).

    Os estudos realizados por Lion (1978 apud ARAÚJO et al., 2005),

    investigaram os efeitos da corrida sobre os sintomas de ansiedade, comparando

    três pacientes crônicos com um grupo controle que recebeu a mesma atenção,

    porém sem o programa de corrida. Este consistia em corridas intercaladas com

    caminhadas três vezes por semana, durante dois meses. Os resultados indicaram

    que os indivíduos do grupo de corrida apresentavam valores significativamente

    menores que o grupo controle em relação à ansiedade-traço, avaliada pelo

  • 13

    inventário de Ansiedade Traço-Estado. Lion (1978 apud ARAÚJO et al., 2005),

    sugeriu que a corrida, seguida de períodos de relaxamento, reduz a ansiedade e

    diminui os níveis de tensão cognitiva e somática.

    Os experimentos de Morgan (1973 apud MELLO et al, 2005) demonstraram

    uma redução nos escores de ansiedade. Morgan (1973) determinou os estados

    de ansiedade pelos escores do inventário do Estado-Traço de Ansiedade (STAI)

    antes e após o exercício. Ele observou que, quando 15 homens adultos corriam

    por quinze minutos, a ansiedade diminuía abaixo da linha basal imediatamente

    após a corrida e permanecia diminuída por vinte minutos.

    Os estudos de O´Connor (1995 apud MELLO et al, 2005) demonstraram

    que o nível de ansiedade que um indivíduo possuía antes de começar um

    programa de exercício físico, bem como o tempo de recuperação após esse

    exercício, interferiam nas respostas de ansiedade ao exercício máximo, visto que

    nos primeiros 5 minutos após a prática do exercício, o nível de ansiedade

    encontrava-se elevado, só diminuindo de 10 à 15 minutos depois que o exercício

    foi realizado.

    Araújo, Mello e Leite, 2007 citam os estudos de Manger e Motta (2005) no

    qual indivíduos que sofriam de estresse pós-traumático apresentaram redução

    significativa dos sintomas de ansiedade após doze sessões de exercícios físicos

    aeróbicos.

    Servan-Schreiber (2004) cita os estudos de DiLorenzo e Bargman (1995),

    sobre os benefícios da prática de exercícios com o uso de uma bicicleta

    estacionária para a ansiedade, concluindo que a maioria dos participantes se

    sentiam mais cheios de energia e também mais relaxados depois de pedalar em

    bicicletas estacionárias, e que os benefícios ainda eram evidentes depois de um

    ano.

    Brown, Morgan e Raglin (1993 ARAÚJO et al.; 2005), estudaram

    componentes fisiológicos, utilizando cicloergometria, para avaliar os efeitos da

    atividade física nos níveis de ansiedade e pressão arterial em indivíduos

    normotensos e hipertensos, concluindo que os exercícios físicos aeróbicos

    produziam redução da ansiedade.

  • 14

    Calfas e Taylor (1994) revisaram 11 trabalhos que relacionavam a prática

    regular de exercícios físicos com os sintomas de ansiedade. Os estudos

    revisados foram todos realizados com pessoas jovens e o efeito redutor

    encontrado na redução dos sintomas de ansiedade foi mínimo. Dos 11 estudos

    revisados, apenas quatro contavam com um grupo controle.

    Long e Van Stavel (1995) revisaram 40 pesquisas nesta mesma temática.

    Dos 40 estudos revisados, todos realizados com adultos saudáveis (acima de 18

    anos de idade), o efeito do exercício físico em reduzir a ansiedade foi moderado

    nos grupos que praticavam exercício aeróbico, e um pouco menor nos grupos que

    praticavam exercícios não aeróbicos.

    Mc Donald and Hodgon (1991), por sua vez, revisaram 22 estudos que

    demonstraram efeitos redutores de ansiedade quando o exercício físico realizado

    era aeróbico. Os efeitos redutores de ansiedade foram aparentes apenas em

    participantes do sexo masculino, jovens e de meia idade.

    Petruzzelo, Landers, Hatfield, Kubitz e Salazar (1991), realizaram uma

    meta-análise sobre os efeitos redutores de ansiedade decorrentes da prática de

    exercício físico intenso e crônico. Nesta análise mais de 100 estudos foram

    abarcados, entre os principais resultados encontrados, destaca-se a associação

    da prática de exercício físico com a redução dos sintomas de ansiedade, quando o

    exercício é aeróbico, resultados estes independentes de idade e condições de

    saúde de seus participantes. Quanto ao estado de ansiedade, o exercício está

    associado com a redução dos sintomas, mas o resultado encontrado assemelha-

    se com o de terapias similares, como por exemplo, o relaxamento. Outro fator

    observado nesta revisão refere-se à necessidade dos programas de treinamento

    terem duração superior a 10 semanas, e as sessões de exercício durarem no

    mínimo 21 minutos, para que ocorra a ativação a redução nos estados de

    ansiedade e na ansiedade traço, ou seja, para que haja mudanças significativas

    na ansiedade.

    Wipfli, Rethorst e Landers (2009), revisaram 49 estudos. Nestes

    observaram que os indivíduos que participaram de grupos praticantes de

    exercícios físicos apresentaram maior redução nos níveis de ansiedade, do que os

  • 15

    indivíduos que compunham grupos controle. Grupos que foram submetidos a um

    programa de exercícios físicos também demonstraram maior redução dos

    sintomas de ansiedade, do que aqueles que receberam outras formas de

    tratamento para ansiedade.

    Em todos estes estudos não há referência às causas da não aderência ao

    tratamento, apesar de citarem que a amostra inicial (em alguns deles) era maior

    do que a que finalizou.

    2.4 Exercícios Físicos e a Depressão:

    Segundo a Organização Mundial da Saúde, neste início do século XXI a

    depressão representa a quarta maior causa de perda de anos de vida sadios.

    Além disso, é classificada como sendo o transtorno doença que mais incapacita o

    ser humano, e gera um risco de vida por suicídio de até 15% (ZUNKEL, 2003 apud

    BALLONE, 2006).

    Através da Classificação Internacional de Doenças (CID - 10), a depressão,

    em seus episódios típicos, implica em um humor deprimido, perda de interesse e

    prazer nas atividades, energia diminuída e processos de culpa ou negativismo.

    De acordo com Mutrie (2000); Coyle e Santiago (1995 apud VIEIRA;

    ROCHA; PORCU, 2008) e Goodwin (2003 apud VIEIRA; ROCHA E PORCU,

    2008), revisões epistemológicas sobre a relação entre exercícios físicos e

    sintomas de depressão, indicam que a depressão está intimamente ligada com a

    inatividade física, sendo que os indivíduos que mantém um vida fisicamente ativa

    são menos propensos a desenvolver depressão.

    Farmer; Locke; Moscicki; Dannenberg; Larson e Radloff (1988 apud

    MUTRIE, 2000), demonstraram através de seus estudos ao longo de oito anos,

    que mulheres que realizavam pouco ou nenhum exercício físico eram duas vezes

    mais propensas a desenvolver depressão do que aquelas que praticavam

    exercícios físicos regularmente. A mesma associação foi realizada com homens,

    porém sem resultados significativos. Os estudos realizados por Camacho,

  • 16

    Roberts, Cazarus, Kaplan & Cohen (1991, apud MUTRIE, 2000) também

    apontaram relação entre inatividade física e a incidência de depressão.

    A depressão está sempre associada a pensamentos obscuros e

    pessimistas (SERVAN-SCHREIBER, 2004). O esforço físico põe fim, pelo menos

    por um tempo, à torrente de pensamentos depressivos, os quais raramente

    surgem de modo espontâneo durante o exercício. A maioria das pessoas que

    pratica jogging, ou corre, afirma que depois de quinze ou vinte minutos de esforço

    contínuo atinge um estado no qual seus pensamentos são espontaneamente

    positivos e até mesmo criativos. Essa observação pode ser explicada através da

    hipótese da distração, que sugere que o desvio (promovido pelos exercícios) de

    estímulos não prazerosos ou de queixas somáticas dolorosas leva à melhora do

    afeto e do bem-estar (MORETTI; CARO, 2006).

    Lopes (2001 apud MELLO et al.; 2005) observou os efeitos de oito

    semanas de exercícios físicos aeróbicos nos níveis de serotonina e depressão

    entre mulheres de 50 e 72 anos. Os resultados indicaram que houve redução do

    percentual de gordura, alteração nos níveis plasmáticos de serotonina, sugerindo

    que essa relação entre exercício físico e a mobilização de gordura proporciona às

    mulheres uma melhora nos estados de humor.

    Vieira, Rocha e Porcu (2008), realizaram um ensaio clínico analisando a

    influencia do exercício físico (Hidroginástica, três vezes por semana), na

    depressão clínica em 18 mulheres com idade média de 43,33 anos, todas com

    diagnóstico de depressão moderada. Dentre os principais resultados observados

    por este estudo destaca-se a significativa redução dos níveis de depressão. Não

    houve a redução do quadro patológico da doença para a normalidade, mas

    observou-se a melhora de outros fatores de humor subjacentes aos sintomas da

    doença, entre eles, a redução da tensão, raiva, fadiga e confusão, bem como o

    aumento do vigor.

    As repostas encontradas nas pesquisas que relacionam a redução dos

    sintomas depressivos em decorrência da prática regular de exercícios físicos,

    parecem ser influenciadas pelo tipo e intensidade do exercício praticado. Viera et

    al., (2008) citam os apontamentos realizados por Landers (1999) e Martinsen; Lorr

  • 17

    e Dopplerman (1989) em que o exercício de predominância aeróbica e de

    intensidade moderada são apontados como os mais eficazes na redução dos

    níveis de depressão devido as respostas psicofisiológicas agudas e crônicas.

    Nos estudos de Cooper (1982, apud BALLONE, 2006), o exercício físico,

    em particular o chamado aeróbico, realizado com intensidade moderada e longa

    duração (a partir de 30 minutos), propicia alívio do estresse ou tensão, devido ao

    aumento da taxa de um conjunto de hormônios denominados endorfinas. Essas

    endorfinas são substâncias elaboradas pelo próprio Sistema Nervoso Central e

    agem aliviando o impacto estressor do ambiente. Por causa disso as endorfinas

    podem prevenir ou reduzir transtornos depressivos, conforme se comprova por

    vários estudos (BALLONE, 2006).

    Neste sentido Cheik; Reis; Heredia; Ventura; Tufik; Antunes e Mello (2003)

    verificaram em seus estudos que os níveis de depressão e ansiedade reduziram

    significativamente após intervenção com exercícios físicos moderados. Em um

    estudo realizado com adolescentes obesas, conduzido por Stella; Vilar; Lacroix;

    Fisbreg; Santos; Mello e Tuffik (2005) observou-se que o grupo que fora

    submetido aos exercícios aeróbicos com intensidade moderada apresentaram

    melhoras nos níveis de depressão em relação ao grupos que foram tratados com

    atividades físicas de lazer e de musculação, demonstrando deste modo, que para

    haver redução dos níveis de depressão, faz-se necessário a aplicação de um

    programa sistematizado e organizado de exercícios físicos.

    Veigas et al., (2008) inferem que os efeitos de uma única sessão de

    exercícios físicos sobre o humor, manifestos através das sensações de

    relaxamento e bem estar percebidas pelo cérebro, são sentidas por pelo menos

    duas horas após a pratica do exercício. Estas sensações são decorrentes da ação

    da -endorfina e dopamina liberadas na corrente sanguínea logo após o termino

    da sessão de exercícios.

    Um estudo realizado por Antunes; Stella; Santos; Bueno e Mello (2005),

    analisou o efeito de um programa de exercícios fiscos com bicicleta ergométrica

    sobre os escores de depressão, ansiedade e qualidade de vida em idosos

    sedentários. Neste estudo 46 voluntários sedentários com idade entre 60 e 75

  • 18

    anos, foram distribuídos aleatoriamente em grupo controle e experimental. Os

    voluntários que compuseram o grupo experimental foram submetidos a um

    programa de exercício com bicicleta ergométrica três vezes por semana. Após

    seis meses o grupo experimental obteve redução significativa dos escores de

    depressão e ansiedade, bem como o aumento da qualidade de vida, enquanto no

    grupo controle não foram encontradas alterações significativas neste escores,

    demonstrando assim que um programa de exercícios físicos aeróbicos regulares

    pode promover modificações favoráveis nos escores indicativos de depressão e

    ansiedade e melhorar a qualidade de vida de idosos.

    Resultados têm demonstrado que o exercício aeróbico melhora a aptidão e

    diminui os sintomas depressivos, principalmente se são aplicados programas

    prolongados e regulares, como por exemplo, durante 12 semanas. Esta melhora

    pode ser resultado tanto de mecanismos fisiológicos, quanto comportamentais

    associados com exercício aeróbico (BALLONE, 2006).

    Weinberg e Gould (2008) citam os estudos de Griest, Klein, Eischens e

    Faris (1978) realizados com indivíduos sedentários distribuídos aleatoriamente em

    grupo de corrida e em grupo de psicoterapia. Os indivíduos que compuseram o

    grupo de corrida se encontravam com um treinador três vezes por semana e

    realizavam sessões de corrida de 45 minutos. Já os sujeitos do grupo de

    psicoterapia, realizaram um sessão por semana com um psicoterapeuta. Após 10

    semanas os indivíduos que compuseram o grupo de corrida apresentaram

    diminuição significativa nos escores de depressão, comparáveis aos melhores

    resultados decorrentes das sessões de psicoterapia.

    Ainda de acordo com os mesmos autores (2008), faz-se necessário

    pontuar que as relações entre exercícios físicos e depressão, apontadas na

    literatura são correlacionais, o que significa que o exercício está relacionado com

    a redução dos sintomas depressivos, mas não é a causa das alterações na

    depressão.

    De modo geral, as revisões mais consistentes nesta temática encontradas

    na literatura, apontam que os efeitos positivos do exercício são percebidos em

    todas as faixas etárias, condições de saúde, raças, situações socioeconômicas e

  • 19

    gêneros. O exercício físico regular é apontado como tão efetivo quanto a

    psicoterapia na redução dos sintomas depressivos. Quanto à duração do

    programa de treinamento, os maiores efeitos antidepressivos ocorrem quando o

    treinamento tem no mínimo 9 semanas de duração, sendo que tanto os exercícios

    aeróbicos quanto os anaeróbicos estão associados com a redução da depressão

    (WEINBERG e GOULD, 2008).

    2.5. Exercícios Físicos e o Estresse:

    O estresse crônico envolve sensações de pressão, de perda do controle,

    da experiência de vivenciar uma situação sem solução aparente, bem como

    sintomas fisiológicos como: dor ou desconforto no peito, agitação, insônia, fadiga,

    dispepsia, dor de cabeça, queixas gastrointestinais, diminuição do apetite,

    aumento da pressão arterial, tensão muscular, dor nos músculos e articulações e

    disfunções sexuais. Isso tudo devido a presença de uma sobrecarga ou ameaça,

    que desencadeiam tais reações a fim de provocar uma resposta de fuga ou luta

    (ZIMPEL, 2005).

    De acordo com McGrafth (1970, apud Weinberg e Gould (2008), o estresse

    ocorre:

    [...] quando há um desequilíbrio substancial entre as demandas físicas e psicológicas impostas a um indivíduo e sua capacidade de resposta, em condições nas quais a falha em satisfazer tais demandas tem conseqüências importantes (p.100).

    Ainda de acordo de acordo com este autor, o estresse consiste em quatro

    etapas inter-relacionadas, sendo elas: 1- a demanda ambiental; 2-a percepção da

    demanda; 3- a resposta ao estresse e 4- as conseqüências comportamentais. Na

    primeira etapa do processo de estresse, estabelece-se algum tipo de demanda ao

    indivíduo, podendo ser esta tanto física, quanto psicológica. A segunda etapa

    refere-se ao modo como o indivíduo perceberá a demanda física ou psicológica,

    se ele a considerará ameaçadora ou não. A terceira refere-se ao tipo de resposta

  • 20

    física ou psicológica que do indivíduo frente ao evento estressor. A última etapa

    refere-se ao comportamento real do indivíduo sob estresse.

    Segundo Zimpel (2005), o modo de vida da sociedade contemporânea

    marcada pela impaciência e pela pressão de realizar as tarefas com mais eficácia

    em um tempo cada vez menor, contribui em muito para o aumento significativo de

    pessoas cada vez mais estressadas. Diante do postulado acima, estudos indicam

    que o exercício físico é um grande aliado na redução do estresse.

    De acordo com Sacks (1997) a atividade física regular pode não apenas

    contribuir para a redução dos sintomas de ansiedade e depressão, como pode

    eliminar os efeitos do estresse.

    Estudos realizados por Holmes e Roth,1985; Light, Obrist, James e

    Strogatz, 1987, apud Salmon (2001) indicam que indivíduos que praticam

    exercício físico regularmente quando expostos a estímulos estressores

    apresentam respostas cardíacas mais baixas e pressão arterial também mais

    baixas do que indivíduos sedentários expostos aos mesmos estímulos

    estressores, confirmando assim que a prática regular de exercícios físicos está

    relacionada com a redução da vulnerabilidade ao estresse.

    Os estudos de Brooke e Long (1987), apud Salmon (2001), demonstraram

    que em sujeitos praticantes de atividade física regular, expostos a situações

    estressantes do dia-a-dia, os níveis de noradrenalina se recuperam mais rápido

    bem como os sintomas de ansiedade, em comparação com sujeitos não

    praticantes de atividade física.

    Enquanto a psicoterapia pode ajudar a aliviar os efeitos estressores que já

    aconteceram, a prática regular de atividade física pode reduzir a vulnerabilidade

    aos eventos estressores que ainda ocorrerão (Salmon, 2001).

    De acordo com Veigas e Gonçalves (2009) em relação ao estresse, o

    exercício físico age facilitando a adaptação a situações geradoras de estresse,

    sendo deste modo considerado um estratégia de coping, ou seja, uma estratégia

    para controlar, reduzir ou tolerar exigências internas ou externas estressantes

    impostas a um indivíduo.

  • 21

    Os mesmos autores (2009), pontuam que os estudos que relacionam a

    pratica de exercícios fiscos com a menor vulnerabilidade ao estresse, não

    apontam diferenças significativas nas variáveis sexo, idade, local de residência,

    estado civil e situação socioeconômica.

    Estudos sugerem que o efeito redutor do exercício nos sintomas de

    estresse não ocorre somente pelos benefícios cardiovasculares que o mesmo

    proporciona, mas que ele é capaz de ajudar a saúde física como um todo. No

    início os estudos que apontavam como resultado a redução dos sintomas de

    estresse se concentravam na corrida como forma de provocar esses benefícios.

    Quanto a isso, Sacks (1997) pontua que qualquer atividade física, seja ela

    aeróbica ou anaeróbica, pode fazer com que seus participantes se sintam mais

    relaxados e concentrados desde que a atividade seja adequada às habilidades

    físicas, bem como prazerosa para o indivíduo.

    2.6. Aderência e Não Aderência ao Exercício físico

    Os benefícios decorrentes da prática do exercício físico, sobre os sintomas

    de ansiedade, depressão, vulnerabilidade ao estresse, estados de humor e

    cognição, assim como os benefícios físicos no controle do peso corporal, na

    mobilidade de articular-se, na redução de lipídeos, na resistência física, na força

    muscular, na pressão arterial, entre outros, são amplamente conhecidos pela

    população em geral. Muitas pessoas em busca desses benefícios, e do desejo de

    preservar, ou resgatar a juventude exercitam-se (SABA, 2001). Mas de acordo

    com Weinberg e Gould (2008), de fato, poucas são as pessoas que participam

    regularmente de exercícios físicos.

    Estudos estatísticos realizados nos EUA indicam que 50% das pessoas que

    iniciam um programa de exercícios físicos, desistem após 6 meses de

    treinamento, mesmo tendo experimentado os benefícios psicológicos e fisiológicos

    do exercício físico, entre eles a redução da tensão e da depressão, o aumento da

  • 22

    auto-estima e a diminuição no risco de doenças cardíacas (WEINBERG; GOULD,

    2008).

    Neste sentido, a aderência, quando relacionada à prática de exercício

    físico, pode ser conceituada como o comprometimento dos praticantes de

    exercícios físicos com uma rotina programada de treinamento (SABA, 2001). Este

    autor ainda pontua:

    A aderência do praticante ao exercício físico descreve nesse sentido, a concepção de um plano estruturado de prática de atividades e exercícios físicos durante toda a vida. O grande desafio que se impõe para o desenvolvimento do nível atual da prática de exercício físico é fazê-lo parte constante do cotidiano da pessoa (p.62).

    De acordo com Weinberg e Gould (2008), antes de comentar sobre os

    porquês da não aderência ao exercício físico, faz-se necessário falar sobre os

    motivos que levam a busca pelo exercício. Dentre os principais motivos elencados

    por estes autores, encontram-se: o controle do peso; a redução do risco de

    doenças cardiovasculares, a redução dos sintomas de estresse e de depressão, a

    satisfação gerada pelo exercício, a elevação da auto-estima, a oportunidade de

    socialização, etc. Saba (2008) destaca que um dos fatores elementares para a

    manutenção de uma rotina de exercícios físicos, rumo a aderência, refere-se ao

    prazer que a modalidade de exercício é capaz de proporcionar ou indivíduo

    praticante. Outro elemento importante é a sensação de satisfação decorrente dos

    ganhos no bem-estar físico e psicológico, que tornam o indivíduo mais seguro em

    expor-se em ambientes públicos, como academias de ginástica.

    Saba (2001) pontua fatores determinantes para aderência a prática de

    exercício físico. Entre os principais fatores determinantes encontram-se fatores

    pessoais como: histórico pessoal do indivíduo com o exercício, a ocupação, fumo,

    obesidade, nível educacional, idade dos participantes, grau de apreciação, auto

    motivação e auto eficácia; Fatores ambientais como: apoio do companheiro,

    facilidade de acesso ao local, reforço social e percepção. O último fator apontado

    por este autor como relevante para a aderência, refere-se as característica do

    exercício físico praticado, ou seja, a percepção da intensidade do exercício

  • 23

    realizado, e características do corpo técnico, principalmente no que se refere a

    conscientização dos participantes quanto as razões de ser fisicamente ativo.

    Dentre os motivos mais freqüentes utilizados para justificar a não aderência

    ao exercício físico encontram-se: a falta de tempo; a falta de energia, que

    freqüentemente é mais mental do que física e a falta de motivação. Outras razões

    atribuídas para justificar a não aderência referem-se: ao fato das prescrições de

    atividade física serem baseadas em dados de condicionamento, não considerando

    o preparo psicológico dos indivíduos para exercitar-se; ao fato da maioria das

    prescrições serem restritivas, não contribuindo para o aumento da motivação para

    o exercício regular, e prescrições baseadas em princípios de intensidade, duração

    e freqüência, o que pode ser desafiador demais para pessoas que iniciam a

    prática de exercício físico (WEINBERG; GOULD, 2008).

    Saba (2001) e Souza (2009), ao estudarem os motivos de aderência e não

    aderência em academias de ginástica destacam o desejo e a busca desenfreada

    por um corpo perfeito dentro dos padrões estéticos atuais, como um dos fatores

    relacionados com a não aderência e a alta rotatividade nas academias. Isso

    porque, de modo geral, o marketing das academias está focado para o alcance do

    corpo perfeito em espaço curto de tempo, e não para o desenvolvimento de um

    estilo saudável de vida, para toda a vida.

  • 24

    3 ASPECTOS METODOLÓGICOS

    3.1 Participantes da pesquisa

    A amostra foi composta por sete sujeitos, sendo quatro do sexo masculino

    e três do sexo feminino, com idade entre 13 e 27 anos, sedentários e residentes

    no município de Balneário Camboriú, inscritos em uma academia localizada nesta

    mesma cidade e que se voluntariaram a participar da pesquisa. Para participação

    na pesquisa o indivíduo deveria estar sem realizar exercícios físicos regulares

    (menos de 2 vezes por semana) por um período mínimo de 6 meses, não poderia

    apresentar problemas cardiovasculares e não fazer uso de medicação

    psicotrópica. Quanto à freqüência na academia considerou-se como aderente o

    indivíduo que alcançou pelo menos 75% de freqüência durante o período de

    coleta de dados.

    3.2 Instrumento

    Para a coleta de dados foram utilizados três instrumentos na forma de auto-

    relatório: o Inventário de Depressão Beck (BDI), o Inventário de Ansiedade Beck

    (BAI) e o Inventário de Sintomas de Estresse. O Inventário de Beck para

    Depressão (BDI) constitui uma forma objetiva para medir as manifestações

    comportamentais da depressão. É composto por 21 questões, cada qual com

    quatro alternativas com valores atribuídos de 0 a 3 e o escore deste questionário é

    dado pela somatória do total de alternativas. Os itens referem-se à tristeza,

    pessimismo, sensação de fracasso, falta de satisfação, sensação de culpa,

    sensação de punição, autodepreciação, auto-acusações, idéias suicidas, crises de

    choro, irritabilidade, retração social, indecisão, distorção da imagem corporal,

    inibição para o trabalho, distúrbio do sono, fadiga, perda de apetite, perda de

    peso, preocupação somática, diminuição de libido (CUNHA, 2001). Inventário

    Beck de Ansiedade (BAI) foi proposto por Beck para medir os sintomas comuns de

    ansiedade, o inventário consta de uma lista de 21 sintomas com quatro

    alternativas cada um, em ordem crescente do nível de ansiedade (CUNHA, 2001).

  • 25

    O Inventário de Sintomas de Estresse trata-se de um questionário no formato

    auto-relatório onde são listados 30 sintomas físicos e psicológicos que estão

    associados a reação de stress. Esta escala foi elaborada por Peixoto (2004) para

    “investigar os sintomas de estresse mais freqüentes e de maior intensidade

    apresentado pelos docentes” (p. 32), sujeitos na pesquisa desta autora. Ao lado

    de cada sintoma o respondente deve marcar a freqüência com que cada um deles

    se apresenta no indivíduo. Esta freqüência varia em uma escala ordinal de cinco

    intervalos: “0” (nunca), “1” (raramente), “2” (às vezes), “3” (muitas vezes), e “4”

    (sempre).

    3.3 Coleta dos Dados

    Para a coleta de dados, entrou-se em contato com academias da região,

    explicando o projeto de pesquisa, tendo aceitado apenas uma delas na localidade

    de Balneário Camboriú. Em parceria com a secretaria da academia, foi realizado o

    levantamento dos alunos novos inscritos na academia. Através da avaliação física

    realizada pela academia, foi possível detectar os alunos novos que estavam no

    mínimo seis meses sem praticar regularmente exercícios físicos. Dos alunos

    novos levantados sete se encontravam no perfil necessário para a pesquisa, ou

    seja, estavam sem praticar exercício físico por pelos menos seis meses, não

    faziam uso de medicamentos psicotrópicos e não apresentavam problemas

    cardiovasculares, ou qualquer outra restrição para a prática de exercício físico,

    sendo estes atestados por exame médico como pré-requisito para o ingresso

    nesta academia.

    Os inventários foram aplicados nos sete participantes antes do início do

    programa de exercício físico, um mês após o início e dois meses após o início do

    programa. Em cada re-teste, os participantes responderam um formulário de

    freqüência do mês (apêndice 3) e no último re-teste responderam um

    questionário sobre os motivos da aderência conforme apêndice 1. Para os

    participantes que durante o período de dois meses vieram a desistir do programa

    de exercícios físicos, foi aplicado um questionário de desligamento, no qual foram

    investigados os fatores ligados à desistência (apêndice 2). Considerou-se como

  • 26

    aderente o indivíduo que obteve no mínimo 75% de freqüência durante os dois

    meses.

    3.4 Análise dos Dados

    Devido ao pequeno número da amostra, os dados foram submetidos a uma

    análise descritiva, comparando individualmente os escores obtidos nos três testes

    por cada participante no início do programa, um mês após o início e dois meses

    após o início, a fim de averiguar se houve ou não melhora nos sintomas de

    ansiedade, depressão e estresse nos participantes da pesquisa

    Os dados sobre a aderência e abandono do treinamento também foram

    computados e analisados a partir da freqüência dos motivos relatados,

    comparando-os com os apontados pela literatura.

  • 27

    4 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

    Os dados do estudo foram analisados de acordo com os sintomas

    levantados pelos instrumentos utilizados: BDI, BAI e Sintomas de Estresse (SE).

    Deste modo, dado o pequeno número de participantes optou-se pela análise

    individual comparando os escores obtidos nos três testes por cada participante no

    início do programa, um mês após o início e dois meses após o início.

    Os resultados seguem a seguinte ordem de apresentação: 1) dados gerais

    da amostra e dos exercícios realizados, 2) sintomas de depressão, 3) sintomas de

    ansiedade, 4) sintomas de estresse, 5) Dados de Aderência e 6) Dados de não

    Aderência.

    O gênero e idade dos participantes segue conforme tabela 1.

    Tabela 1: Dados demográficos dos participantes do estudo.

    Participantes Faixa etária Sexo

    P1 17 anos Masculino

    P2 13 anos Masculino

    P3 25 anos Masculino

    P4 20 anos Feminino

    P5 25 anos Feminino

    P6 21 anos Feminino

    P7 27 anos Masculino

    A média de idade dos participantes foi de 21,14 anos, sendo que apenas

    dois participantes tinham idade abaixo de 20 anos de idade (P1 e P2). A amostra

    foi composta por um número quase igual de sujeitos do sexo masculino e feminino

    (4 e 3 respectivamente).

    A freqüência e tipo de exercício praticado pelos participantes durante os

    dois meses foram monitorados através do preenchimento do questionário de

    freqüência conforme apêndice 3.

  • 28

    A freqüência obtida pelos participantes no primeiro mês de exercícios

    físicos variou entre três vezes por semana (P1; P2; P3; P4 e P7) e mais de quatro

    vezes por semana (P5 e P6) conforme o demonstrado na tabela 2.

    Quanto ao tipo de exercício praticado, observa-se que predominantemente

    os participantes realizaram exercícios anaeróbicos (P1; P2; P4; P6 e P7). O

    participante P3 praticou apenas exercícios aeróbicos, e os participantes P4; P5 e

    P6 praticaram ambas as modalidades de exercício, também conforme a tabela 2.

    De acordo com Barros Neto (2009) a atividade aeróbica refere-se ao

    exercício contínuo, dinâmico e, na maioria das vezes, prolongado que estimula a

    função dos sistemas cardiorrespiratório e vascular e o metabolismo, porque

    aumenta a capacidade cardíaca e pulmonar para suprir os músculos com energia,

    consumindo, desta forma, oxigênio. De acordo com esse autor exercícios como

    caminhar, andar, pedalar, nadar, dançar ou qualquer atividade que obrigue a

    pessoa a sustentar seu peso corporal enquanto se movimenta são exercícios

    aeróbicos. Já a atividade anaeróbica refere-se basicamente ao um exercício de

    alta intensidade e curta duração que contempla fundamentalmente os músculos,

    utilizando uma forma de energia que independe do uso de oxigênio e que não

    obrigatoriamente está associado com o movimento. Deste modo, exercícios como

    musculação, corrida de cem metros rasos, saltos, arremesso de peso, são

    exemplos de atividades anaeróbicas.

    A freqüência obtida pelos participantes no segundo mês de exercícios

    físicos variou entre três vezes por semana (P1; P2; P5 e P6). Em comparação

    com o primeiro mês, observa-se que os participantes P5 e P6 reduziram sua

    freqüência semanal de quatro para três vezes por semana, e o participante P3

    reduziu de 3 para 2 vezes na semana. Os participantes P1, P2 mantiveram a

    mesma freqüência do primeiro mês. A freqüência dos participantes P4 e P7 não

    consta na tabela, pois os mesmos realizaram apenas um mês (cinco semanas) de

    academia e segundo seus próprios relatos não estão mais praticando qualquer

    outra modalidade de exercício físico regular. Os dados de aderência e não

    aderência destes participantes serão descritos e analisados nos itens 4.5 Dados

    de Aderência e 4.6 Dados de não Aderência, do presente capítulo.

  • 29

    A modalidade de exercício físico praticado pelos participantes no segundo

    mês permaneceu igual ao do primeiro mês conforme as tabela 2.

    Tabela 2: Freqüência de exercício físico e modalidade praticada realizadas pelos participantes durante os dois meses de duração do estudo.

    Participantes Freqüência

    Semanal

    Modalidade de exercício praticado

    Mês 1 Mês 2 Mês 1 Mês 2

    P1 3X 3x Esteira (15 min) e

    Musculação (60

    min)

    Esteira (15 min) e

    Musculação (60

    min)

    P2 3X 3x Esteira (15 min) e

    Musculação (60

    min)

    Esteira (15 min) e

    Musculação (60

    min)

    P3 3X 2x Caminhadas

    intercaladas com

    corrida (50 min)

    Caminhadas

    intercaladas com

    corrida (50 min)

    P4 3x - Musculação (50

    min) e Bike indoor

    (50 min)

    -

    P5 Mais de

    4x

    3x Caminhadas

    intercaladas com

    corrida (30 min) e

    musculação (60

    min)

    Caminhadas

    intercaladas com

    corrida (30 min) e

    musculação (60

    min)

    P6 Mais de

    4 x

    3x Caminhadas

    intercaladas com

    corrida (30 min)

    Caminhadas

    intercaladas com

    corrida (30 min)

    P7 3 x - Esteira (15 min)

    musculação (60

    min)

    -

  • 30

    A freqüência e duração das sessões de exercício físico obtida pelos

    participantes nas nove semanas da coleta,foi entre três a quatro vezes por

    semana com duração variando entre 50min e 90 min. De acordo com Saba (2001)

    a entidade científica norte-americana American College of Sports Medicine,

    recomenda que o exercício físico praticado de modo seguro seja realizado de três

    a cinco vezes por semana, com duração entre 20 a 60 minutos em atividades

    aeróbicas. Ainda sobre a freqüência, Servan-schreiber (2004) pontua que

    diversas pesquisas indicam que a quantidade mínima para se obter ganhos da

    prática de exercício é de vinte minutos, três vezes por semana.

    Quanto ao tipo de exercício físico praticado pelos participantes, observa-se

    o predomínio da musculação. Saba (2001) afirma que a musculação é uma das

    atividades mais importantes e prediletas dos freqüentadores de academias. O

    mesmo autor pontua que ao analisarmos as atividades preferidas por sexo,

    constamos que o sexo masculino prefere atividades como musculação, lutas e

    esportes com bola, enquanto o feminino tende às atividades rítmicas como

    hidroginástica, ginástica localizada. De acordo com Souza (2009) Esteira, Bike,

    Musculação, Ginástica Localizada, Alongamento e Spinning, são modalidades

    praticadas pela maioria dos freqüentadores de academia de ginástica.

    4.1 O efeito dos exercícios sobre os sintomas de depressão

    De modo geral, no primeiro mês de exercícios físicos foi possível observar

    uma redução significativa nos sintomas depressivos em quatro participantes (P1,

    P3, P5 e P6, a manutenção dos mesmos escores em dois participantes (P2 e P4),

    e o aumento dos sintomas depressivos em um participante (P7), conforme pode

    ser observado na figura 1.

  • 31

    0

    2

    4

    6

    8

    10

    12

    14

    16

    18

    20

    Escores BDI

    P1 P2 P3 P4 P5 P6 P7

    Participantes

    Sintomas Depressivos BDI I, II e III

    Antes

    1 mês

    2 meses

    Figura 1: Escores BDI no início do programa de exercícios físicos um mês após o início, e dois meses (9 semanas) após o início.

    Comparando os escores obtidos antes do início do programa de exercícios

    físicos e ao final dos dois meses (nove semanas) verificou-se a redução dos

    escores de depressão nos participantes P1; P2; P3; P5 e P6, conforme o

    demonstrado na figura 1. Os participantes P4 e P7 realizaram apenas um mês de

    exercício físico regular, sendo que no momento da terceira aplicação do inventário

    de Beck para depressão, estavam há um mês sem praticar nenhum exercício

    físico. Na terceira aplicação observou-se o aumento dos escores de sintomas

    depressivos, o que pode estar relacionado com o abandono da prática de

    exercício.

    Analisando os resultados obtidos na segunda aplicação (coluna vinho) dos

    instrumentos, com os resultados obtidos na terceira aplicação (coluna amarela),

    constata-se a diminuição dos escores de sintomas depressivos nos participantes

  • 32

    P1, P2 e P5, a manutenção dos mesmos escores no participante P6. Houve

    aumento nos escores de sintomas depressivos na participante P4, que conforme

    descrito no parágrafo acima realizou apenas um mês de exercícios físicos

    regulares.

    A redução dos sintomas depressivos e a relação com a prática de

    exercícios físicos é apontada na literatura por diversos estudos. De acordo com

    Veigas e Gonçalves (2009) sujeitos fisicamente ativos apresentam níveis mais

    baixos de depressão, hostilidade e ansiedade, enquanto a falta de exercícios

    físicos regulares revela-se um fator importante para o aparecimento de depressão

    e ansiedade.

    Segundo Mello et al. (2005), a prática regular de exercícios físicos traz

    resultados positivos para o sono e seus possíveis distúrbios, bem como para os

    aspectos psicobiológicos e transtornos afetivos, como a ansiedade e a depressão,

    e também para aspectos cognitivos, como memória e aprendizagem.

    Pesquisas realizadas por Vieira, Rocha e Porcu (2008) com mulheres

    apresentando quadros depressivos de leve a moderado, obtiveram como

    principais resultados a redução significativa dos sintomas de depressão,

    observando-se a melhora de fatores subjacentes aos sintomas da doença, entre

    eles, a redução da tensão, raiva, fadiga e confusão, bem como o aumento do

    vigor.

    As repostas encontradas nas pesquisas que relacionam a redução dos

    sintomas depressivos em decorrência da prática regular de exercícios físicos,

    parecem ser influenciadas pelo tipo e intensidade do exercício praticado. Viera et

    al. (2008) citam os apontamentos realizados por Landers (1999) e Martinsen; Lorr

    e Dopplerman (1989) nos quais o exercício de predominância aeróbica e de

    intensidade moderada são apontados como os mais eficazes na redução dos

    níveis de depressão devido as respostas psicofisiológicas agudas e crônicas.

    Neste sentido o aumento dos sintomas depressivos observado no

    participante P7 pode estar relacionado com o tipo e intensidade do exercício

    praticado, visto que a redução dos sintomas depressivos conforme o apontado

  • 33

    pela literatura tende a ser maior quando o exercício praticado é superior a três

    vezes por semana, e é de intensidade moderada.

    De acordo com Weinberg e Gould (2008) a prática de exercício físico

    produz maiores efeitos antidepressivos quando o programa de exercícios tem

    duração mínima de nove semanas. Considerando que os participantes no

    momento da segunda aplicação de testes, estavam com cinco semanas de prática

    regular de exercícios físicos, a manutenção dos escores depressivos nos

    participantes P2 e P4, pode estar relacionada com a curta duração do programa

    de exercício físico. Contudo, na terceira aplicação verificou-se o efeito preconizado

    por Weinberg e Gould (2008), pelo menos para o P2, já que a participante P4

    havia abandonado o programa.

    A literatura aponta que os benefícios sobre os sintomas depressivos

    independem se a modalidade de exercício praticado for aeróbica, ou anaeróbica,

    mas diversos autores como Cheik; Reis; Heredia; Ventura; Tufik; Antunes e Mello

    (2003) Stella; Vilar; Lacroix; Fisbreg; Santos; Mello e Tuffik (2005) indicam que

    maior redução dos sintomas depressivos ocorre quando o exercício realizado for

    aeróbico e de intensidade moderada. Neste sentido Stella; Santos; Bueno e Mello

    (2005), apontam que um programa de exercícios físicos aeróbicos regulares pode

    promover modificações favoráveis nos escores indicativos de depressão e

    ansiedade e melhorar a qualidade de vida de seus praticantes, conforme

    observado nos participantes nos participantes P1, P2, P3, P5 e P6.

  • 34

    4.2 O efeito dos exercícios sobre os sintomas de ansiedade

    Quanto aos sintomas de ansiedade, no primeiro mês, observou-se a

    redução dos escores do BAI em quatro sujeitos (P1; P2; P3 e P6) e o aumento dos

    escores em três sujeitos (P4; P5 e P7) conforme figura 2.

    0

    5

    10

    15

    20

    25

    30

    35

    Escores BAI

    P1 P2 P3 P4 P5 P6 P7

    Participantes

    Sintomas de Ansiedade BAI- I,II e III

    Antes

    1 mês

    2 meses

    Figura 2: Escores BAI no início do programa de exercícios físicos, um mês após o início e dois meses (9 semanas) após o início.

    Comparando os escores obtidos antes do início do programa de exercícios

    físicos e ao final dos dois meses (nove semanas) verificou-se a redução dos

  • 35

    escores de ansiedade nos participantes P1; P2 e P6. Por outro lado houve

    aumento dos escores nos participantes P3, P4 e P5. Os participantes P4 e P7

    realizaram apenas um mês de exercício físico regular, sendo que no momento da

    terceira aplicação do inventário de Beck para ansiedade, estavam há um mês sem

    praticar nenhum exercício físico. Na terceira aplicação observou-se o aumento dos

    escores de sintomas de ansiedade no participante P7, o que pode estar

    relacionado com o abandono da prática de exercício. Houve redução dos

    sintomas de ansiedade na participante P4, se os escores forem comparados com

    os obtidos na segunda aplicação do inventário, mas considerando os escores

    obtidos antes do início do programa de exercícios físicos com os obtidos ao final

    das semanas, contata-se o aumento destes escores.

    Revisões sobre os efeitos do exercício na promoção da saúde numa

    perspectiva psicológica, concluíram haver evidências de que o exercício físico

    está associado com a redução dos estado de ansiedade, principalmente quando

    este é capaz de proporcionar a distração da atenção dos pensamentos que

    provocam a ansiedade, ou que auxiliam na redefinição do significado subjetivo da

    excitação. A associação entre a redução dos sintomas de ansiedade e prática

    regular de exercícios físicos é amplamente contemplada em diversos estudos. De

    acordo com revisões realizadas por Taylor (2001) os efeitos redutores nos

    sintomas de ansiedade como decorrência da prática de exercícios físicos são de

    baixo a moderado, e referem-se principalmente a redução da ansiedade traço. Os

    efeitos redutores mais consistentes do exercício físico sobre a ansiedade são

    encontrados na ansiedade traço. Estes efeitos redutores são encontrados tanto

    em paciente clínicos como não-clínicos.

    Outro fator apontado em diversas pesquisas refere-se à necessidade dos

    programas de treinamento terem duração superior a 10 semanas, e as sessões de

    exercício durarem no mínimo 21 minutos, para que ocorra a ativação da redução

    nos estados de ansiedade e na ansiedade traço, ou seja, para que haja mudanças

    significativas na ansiedade (MUTRIE, 2000; SERVAN-SCHREIBER, 2004).

    Esta observação pode estar relacionada com o aumento dos escores no

    primeiro mês de exercícios físicos nos participantes P4, P5 e P7, e ao final dos

  • 36

    dois meses (nove semanas) nos participantes P3 e P5. De acordo com o

    demonstrado na tabela 1, o participante P3 reduziu sua freqüência de 3 para 2

    vezes por semana. A literatura aponta que para redução de sintomas depressivos

    e de ansiedade faz-se necessário o mínimo de 3 sessões semanais com duração

    superior a 20 minutos (SERVAN-SCHREIBER, 2004).

    Deste modo, o aumento dos sintomas de ansiedade na participante P4

    pode estar relacionado com a duração do programa de treinamento (sendo que a

    mesma praticou apenas 1 mês ou 5 semanas) de exercício físico regular, bem

    como a necessidade de uma duração superior a nove semanas (dois meses) no

    caso dos participantes P3 e P5.

    Quanto à intensidade do exercício praticado, autores como Becker (2000),

    Godoy (2002) Hall, Ekkakis, Petruzzello (2002) Araújo, Mello, Leite (2007) citados

    por Veigas e Gonçalves (2009) e Mello, Boscolo, Esteves, Tufik (2005) sugerem

    que o nível moderado é o mais adequado, já que a prática de exercício de nível

    severo está associada com a experimentação de estados afetivos negativos,

    assim como ao aumento da produção de ácido láctico que poderá possibilitar a

    ocorrência de ataques de pânico em indivíduos com transtorno de ansiedade. A

    presente pesquisa não teve controle sobre a variável intensidade do exercício

    praticado, sendo que desta forma, o aumento dos sintomas de ansiedade no

    participante P3 pode também estar associado à realização de exercícios de

    intensidade severa. Já em relação a modalidade de exercício físico, os estudos

    existentes não são taxativos em afirmar que a redução dos sintomas ocorre

    apenas quando o exercício realizado é aeróbico ou anaeróbico, mas de modo

    geral a maioria deles indica que a maior redução dos sintomas ocorre quando o

    exercício realizado é aeróbico e de intensidade moderada, conforme o descrito

    acima.

  • 37

    4.3. O efeito dos exercícios sobre os sintomas de estresse psicológico

    Analisando os escores obtidos no inventário de sintomas de estresse, no

    primeiro mês, constata-se a redução significativa dos sintomas em cinco

    participantes (P1; P2; P3; P5 e P7) e o aumentos dos escores de estresse em dois

    participantes (P4 e P6).

    0

    10

    20

    30

    40

    50

    60

    Escores

    P1 P2 P3 P4 P5 P6 P7

    Participantes

    Sintomas de Estresse I, II e III

    Antes

    1 mês

    2 meses

    Figura 3: Escores Inventário de Sintomas de Estresse no início do programa de exercícios físicos, um mês após o início, e dois meses (9 semanas) após o início.

    Analisando os resultados coletados após o primeiro mês do programa de

    exercícios físico (coluna vinho) com os obtidos após os dois meses (nove

    semanas) (coluna amarelo), observou-se a redução dos escores de sintomas de

    estresse nos participantes P2, P5 e P6, a manutenção dos mesmos escores no

    participante P1, bem como o aumento dos sintomas nos participantes P3 e P7.

  • 38

    Comparando os escores obtidos no início do programa de exercícios físicos

    com os obtidos após os dois meses (9 semanas) do início do programa, verificou-

    se a redução dos sintomas de estresse nos participantes P1, P2, P3, P5 e P6, a

    manutenção dos mesmo escores na participante P4, que como já pontuado, no

    momento da realização do terceiro teste, havia abandonado a prática regular de

    exercícios físicos há um mês.

    Ao analisar os escores de estresse obtidos pelo participante P7, que como

    já citado não aderiu ao programa, estando no momento da terceira aplicação do

    inventário de Sintomas de Estresse há um mês sem exercitar-se, verificou-se que

    houve a redução dos sintomas de estresse, se compararmos os escores obtidos

    antes do início do programa de exercícios físicos. Ao comparar os escores obtidos

    por este participante um mês após o início da atividade e os escores obtidos na

    terceira aplicação, constata-se o aumento dos sintomas de estresse, fato que

    pode estar associado com o êxodo do programa.

    De acordo com Sacks (1997) o exercício físico regular pode não apenas

    contribuir para a redução dos sintomas de ansiedade e depressão, como pode

    eliminar os efeitos do estresse. Neste sentido, Godoy (2002) pontua que o

    exercício físico pode possibilitar a redução da ansiedade e depressão, pode

    melhorar o auto-conceito, auto-imagem, auto-estima, e entre outros, aumentar a

    capacidade de lidar com fatores psicossociais de estresse e diminuir os estados

    de tensão. Os estudos realizados por Holmes e Roth,1985; Light, Obrist, James e

    Strogatz, 1987 (todos apud SALMON, 2001) também constataram que a prática

    regular de exercícios físicos está relacionada com a menor vulnerabilidade ao

    estresse.

    Veigas e Gonçalves (2009) pontuam que em relação ao estresse, o

    exercício físico age facilitando a adaptação a situações geradoras de estresse,

    sendo deste modo considerado um estratégia de coping, ou seja, uma estratégia

    para controlar, reduzir ou tolerar exigências internas ou externas estressantes

    impostas a um indivíduo.

    Na presente pesquisa não foram analisadas diferenças significativas na

    redução dos sintomas em relação às variáveis sexo e idade. Porém, Veigas e

  • 39

    Gonçalves (2009) também apontaram que a redução dos sintomas de estresse

    em decorrência do exercício físico, não apresentou diferenças significativas nas

    variáveis sexo, idade, local de residência, estado civil e situação socioeconômica.

    Sacks (1997) e Weinberg e Gould (2008) destacam que para a redução

    dos sintomas de estresse é fundamental que a atividade escolhida seja prazerosa

    ao indivíduo, sendo este critério mais importante do que o tipo de modalidade

    praticada, ou seja, tanto exercício aeróbicos, quanto anaeróbicos são capazes de

    reduzir os sintomas de estresse , deste que proporcionem prazer ao indivíduo,

    fato este que também foi observado na presente pesquisa, visto que todos os

    participantes que aderiram ao programa apresentaram redução dos sintomas de

    estresse.

  • 40

    4.5. Dados de Aderência

    Os fatores de aderência foram levantados através do questionário para

    aderentes, conforme o apêndice 1. Neste questionário, inquiriu-se os participantes

    sobre: as opiniões relativas ao treinamento na academia; os motivos que o

    levaram a praticar exercícios; os motivos pelos quais se mantiveram na atividade;

    se percebiam mudanças, e quais eram; e por último se houve algum fator

    estressante ou evento atípico nesse período.

    Os dados coletados nesse questionário serão apresentados nas tabelas 4

    (Opiniões relativas ao treinamento), 5 (Motivos que levaram a prática de exercícios

    físicos), 6 (Motivos pelos quais se mantiveram na atividade), 7 (Mudanças

    percebidas) e 8 (Fatores estressantes, ou eventos atípicos durante este período) e

    referem-se aos participantes P1; P2; P3; P5 e P6, que obtiveram freqüência

    mínima de 75%.

    Cabe ressaltar que a aderência estudada neste item (4.5) refere-se à

    aderência ao treinamento de exercícios físicos com duração de nove semanas (2

    meses).

    Tabela 4 - Opiniões dos participantes relativas ao treinamento executado.

    Participantes 1. Opiniões sobre o treinamento

    P1 Muito Bom.

    P2 Muito Bom.

    P3 Muito Bom.

    P5 Satisfatório- poderia ter mais acompanhamento do instrutor.

    P6 Satisfatório- poderia ter mais acompanhamento do instrutor.

    De acordo com esta tabela, observa-se que 60% dos participantes (P1; P2

    e P3) avaliam positivamente o treinamento prescrito na academia, enquanto 40%

    (P5 e P6) dos participantes aderentes consideram que o treinamento poderia ser

    melhor, se houvesse maior acompanhamento dos alunos no momento do

    exercício

  • 41

    Tabela 5- Motivos que levaram os participantes a prática de exercícios físicos

    Participantes 2. O que o motivou a participar?

    P1 Melhora da estética

    P2 Melhora da estética

    P3 Melhora da qualidade de vida

    P5 Melhora da estética

    P6 Melhora da estética

    A tabela 5 demonstra que 20% dos participantes aderentes (P3) iniciaram a

    prática de exercícios físicos em busca de qualidade de vida, enquanto 80% dos

    participantes (P1; P2; P5; P6) buscaram o exercício físico para melhorar a estética

    corporal.

    De acordo com Souza (2009) e Saba (2001) um das razões que levam as

    pessoas ao exercício físico é a busca por um ideal estético, ideal este que está

    presente no próprio marketing das academias, já que o fitness, melhoria da forma

    física, é muito mais enfatizado nesses centros de prática esportiva do que o

    conceito de wellness, ou seja, bem-estar.

    Em uma pesquisa que investigou o comportamento de aderência de

    mulheres em academias, constatou-se que dentre os motivos mais citados para

    iniciar a prática de exercícios físicos, encontram-se a redução da gordura corporal

    e a busca por uma melhor estética corporal (SOUZA, 2009). Weinberg e Gould

    (2008) ainda citam como principais razões que levam as pessoas a iniciarem a

    prática de exercícios: o controle de peso, a redução dos riscos de doenças

    cardiovasculares, a redução do estresse e da depressão, a satisfação

    proporcionada pelo exercício, a elevação da auto-estima, e oportunidade de

    socialização.

  • 42

    Tabela 6- Motivos pelos quais os participantes se mantêm na atividade

    A tabela 6 demonstra que os participantes se mantiveram na atividade

    principalmente para a manutenção da boa saúde, expressa nas falas dos

    participantes P1 e P3; pelo prazer proporcionado pela prática, demonstrado nas

    falas dos participantes P2 e P6, e pela busca de concretizar um ideal estético

    apontada pelos participantes P1, P2 e P5. Constata-se que dos 5 participantes

    considerados aderentes, 3 apontam como razões para manterem-se na atividade,

    a busca ou concretização de um ideal estético. De acordo com Souza (2009) uma

    das razões pelas quais as pessoas mais buscam exercitar-se se refere à

    aproximação de um ideal estético, sendo que este quando não alcançado

    freqüentemente se torna um fator de não aderência. Saba (2001), verificou em

    seus estudos, que ao longo dos anos, os indivíduos com maior tempo de prática

    de exercícios físicos tendem a manter-se na atividade como uma forma de buscar

    uma melhor qualidade de vida e não citam a melhoria da forma física com a razão

    de continuarem exercitando-se, como ocorre com as pessoas que praticam

    exercícios físicos regulares por menos tempo.

    Berger e Mcinman (1993), Robertson e Mutrie (1989) e Wankel (1988)

    todos citados por Saba (2001), apontam a importância do prazer gerado pela

    atividade, a manutenção da saúde e a busca por um ideal, bem como a prática de

    atividade em grupo com uma das razões mais citadas pelos aderentes à prática de

    exercícios físicos.

    Participantes 3. Por que se mantém na atividade?

    P1 “Pra não ser sedentário e para melhor a estética do meu corpo”(SIC)

    P2 “Porque me sinto bem”(SIC)

    P3 “Para melhor a saúde e esteticamente” (SIC)

    P5 “Porque obtenho o resultado (estético) que quero”(SIC)

    P6 “Por que me faz bem” (sic)

  • 43

    Tabela 7- Mudanças percebidas pelos participantes em seu corpo.

    Na tabela 7 podemos observar que dentre os motivos mais citados pelos

    participantes encontram-se os ganhos físicos adquiridos pelo exercício. Apenas

    um participante relatou motivos com aumento da disposição para tarefas.

    A prática regular de exercícios físicos pode proporcionar inúmeros

    benefícios aos seus participantes, dentre os principais benefícios destacados pela

    literatura encontram-se efeitos positivos sobre o sono, transtornos de humor,

    memória, aumento da auto-estima, manutenção da autonomia, aumento do bem

    estar social, melhora na auto-imagem, redução do isolamento social, redução da

    pressão arterial, controle do peso corporal, aumento da força muscular e da

    resistência física, diminuição da massa gorda e aumento da massa magra,

    elevação do metabolismo entre outros (SOUZA, 2001; MELLO et al., 2005).

    Participantes 4. Percebe mudanças? Se sim, quais foram?

    P1 “Sim. Meus braços e pernas estão desenvolvendo”(SIC)

    P2 “Sim. Meus braços estão mais definidos”(SIC)

    P3 “Sim. Estou mais disposto ao longo do dia.” (SIC)

    P5 “Sim, emagreci 5 kg”(SIC)

    P6 “sim. Perdi peso.” (SIC)

  • 44

    Tabela 8- Fatores estressantes ou eventos atípicos relatados pelos participantes durante o período de treinamento.

    Observa-se na tabela 8, que dos cinco participantes aderentes, apenas a

    participante P6 relatou a ocorrência de um evento estressante ou atípico nesse

    período, o que pode estar relacionado com o aumento dos sintomas de estresse

    desta participante, constatados na aplicação do segundo inventário de sintomas

    de estresse, conforme figura 5.

    4.6 Dados de não aderência

    Dos sete participantes, dois (P4 e P7) realizaram apenas um mês de

    exercício físico, não obtendo deste modo a freqüência mínima de 75% para serem

    considerados aderentes. Os motivos relacionados ao abandono foram coletados

    através do questionário para os não aderentes (apêndice 2), juntamente com os

    motivos que levaram estes a exercitarem-se e as opiniões sobre o treinamento.

    Estes dados serão apresentados na tabela 9 (Opiniões sobre o treinamento), na

    tabela 10 (Motivos que levaram a prática de exercícios físicos) e na tabela 11

    (Motivos do abandono).

    Participantes 5. Houve algum fator estressante neste período? Algum evento atípico?

    P1 Não.

    P2 Não.

    P3 Não.

    P5 Não.

    P6 “sim. Doença familiar.” (SIC)

  • 45

    Tabela 9- Opiniões dos participantes não aderentes sobre o treinamento Participantes Opiniões sobre o treinamento

    P4 “Nas primeiras semanas achei que não houve muita atenção do profissional

    de educação física, pois o treino era algo padrão e não específico para mim.

    Depois eu mudei de profissional e o treino foi mais adequado”(SIC).

    P7 “Às vezes sentia que o treino não era adequado para as minhas condições

    físicas, achava que me davam muito mais peso do que eu poderia agüentar.

    Faltou mais orientação dos profissionais”(SIC).

    De acordo com a tabela 9, é possível observar que ambos os participantes

    consideraram o treino insatisfatório, principalmente no que tange a orientação dos

    profissionais da academia, sendo que ambos apontaram que gostariam de ter

    mais supervisão na realização dos treinos. De fato, Saba (2001) elenca que a falta

    de orientação dos profissionais de educação física é uma dos fatores associados à

    desistência da prática de exercícios físicos.

    Outro fator apontado na Tabela 9 refere-se à queixa de o treino passado ser

    padrão e não considerar as condições físicas e, principalmente, psicológicas dos

    indivíduos. Na literatura específica Weinberg e Gould (2008) e Saba (2001)

    também elencam estas queixas como motivos para a não aderência. Segundo

    Dishman (1993), Berger e McInman (1993) citados por Saba (2001), este fator

    pode ser relacionado com a desistência, à medida que são interpretados pelos

    indivíduos como barreiras à prática de exercícios, visto que podem gerar

    sentimentos de incapacidade, bem como lesões musculares.

  • 46

    Tabela 10- Motivos que levaram os participantes não aderentes a prática de exercícios físicos Participantes 2. O que o motivou a participar?

    P4 “Iniciei para melhorar a minha saúde” (SIC).

    P7 “Melhorar desempenho físico, perder gorduras e ganhar massa magra”

    (SIC).

    A Tabela 10 demonstra as razões pelas quais os referidos participantes

    buscaram exercitar-se. Nela a participante P4 destaca a busca pela melhora da

    saúde, e o participante P7 a busca pela melhoria da forma física, o que segundo

    Saba (2001), Weinberg e Gould (2008), entre outros, constitui-se um dos

    principais motivos que levam as pessoas a iniciarem a prática de exercícios

    físicos.

    Tabela 11. Motivos do abandono do treinamento pelos participantes não aderentes

    Participantes 3. Motivos do abandono

    P4 “Deixei a atividade física, pois não me sentia muito motivada em sair de

    casa para ir à academia. Foram vários os motivos, mas o principal foi à

    distância da academia.” (SIC).

    P7 “Por motivos de saúde. Tive que realizar uma cirurgia, a qual necessitava de

    um tempo de repouso” (SIC).

    De acordo com os relatos dos participantes P4 e P7 constata-se que a

    primeira atribui a desistência principalmente a falta de motivação e a distância da

    academia, enquanto o segundo atribui a desistência a motivos de saúde. Dentre

    as razões mais atribuídas para não exercitar-se encontram-se: a falta de tempo, a

    falta de energia e a falta de motivação (SABA, 2001; WEINBERG;GOULD, 2008).

    Vários são os fatores que influenciam na aderência a pratica de exercícios

    físicos. O prazer que se obtém da prática, a sensação de satisfação originada

    pelos ganhos no bem-estar físico e psicológico, o envolvimento do praticante com

    exercícios no seu histórico pessoal, a auto-motivação, e autoconfiança dos

  • 47

    participantes são fatores que influenciam beneficamente o comportamento de

    aderência. O papel da auto-motivação, é citado por autores como Souza (2009),

    Saba (2001), Weinberg e Gould (2008), entre outros, como um dos fatores

    determinantes para o comportamento de aderência. De acordo com Saba (2001,

    p.66) a auto-motivação:

    [...] significa realizar atividades impulsionado pelas crenças pessoais, sem grande dependência de incentivos externos como a aparência, saúde, ou reconhecimento social. A auto-motivação é mais pronunciada quando o indivíduo não guia suas ações pela falha e toma a atividade a que se propõe como um elemento de prazer do seu cotidiano.

    Saba (2001) propõe alternativas para melhorar a auto-estima dos alunos de

    academia, e conseqüentemente contribuir para o aumento do comportamento de

    aderência a atividade física, entre as alternativas citadas, destaca-se a realização

    de exercícios físicos com menor grau de exigência, visto que exercício com maior

    exigência poderá gerar sentimentos de incapacidade.

    Outro fator relevante para a aderência a programas de exercício físico, de

    acordo com Saba (2001), refere-se à facilidade de acesso ao local da prática,

    sendo que quando esta facilidade não ocorre, este se torna um fator de não

    aderência, o que pode ser verificado na presente pesquisa através da fala da

    participante P4.

  • 48

    5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

    O presente estudo teve por objetivo verificar os benefícios de um programa

    de exercício físicos de duração de nove semanas, sobre os sintomas de

    ansiedade, depressão e estresse em sujeitos não praticantes de exercícios

    físicos. Verificou-se através dele, que a prática regular de exercícios físicos

    apresenta associações positivas na redução dos sintomas estresse, ansiedade e

    depressão.

    As associações foram observadas em relação ao exercício físico e os três

    conjuntos de sintomas estudados. Contudo, para os sintomas de estresse e

    depressão, os cinco participantes considerados aderentes (P1, P2, P3, P5 e P6)

    obtiveram maior redução ao final das nove semanas (dois meses) de exercícios

    físicos.

    Quanto aos sintomas de ansiedade, também foram observadas

    associações positivas, mas não tão expressivas, já que três dos cinco

    participantes considerados aderentes apresentaram redução destes sintomas.

    Verificou-se também o aumento dos sintomas de ansiedade em dois participantes

    considerados aderentes (P3 e P5). Este aumento, conforme o descrito na análise

    dos dados, pode estar relacionado com a intensidade do exercício praticado, pois

    os exercícios de alta intensidade são capazes de aumentar os sintomas de

    ansiedade. Neste sentido, apontamos aqui uma falha da presente pesquisa, já que

    a variável intensidade dos exercícios praticados pelos participantes, não foi

    controlada. Deste modo, sugere-se que pesquisas posteriores controlem esta

    variável, visto que a literatura aponta que os transtornos de humor apresentam

    melhores correlações quando o exercício realizado é de intensidade moderada. Já

    os exercícios de alta intensidade podem influenciar no aumento dos níveis de

    ansiedade, e possibilitar a ocorrência de ataques de pânico em indivíduos com

    transtorno de ansiedade, por exemplo. Exercícios intensos também podem

    contribuir para o abandono da prática de exercícios físicos regulares (HALL;

    EKKAKIS; PETRUZZELLO, 2002; ARAÚJO; MELLO; LEITE, 2007 apud VEIGAS;

    GONÇALVES, 2009).

  • 49

    Nesta pesquisa também foram verificados os motivo de aderência, no caso

    dos participantes P1, P2, P3, P5 e P6, e não aderência dos participantes P4 e P7

    ao programa de exercícios físicos. Através desta verificação constatou-se que

    entre os motivos mais citados pelos aderentes para continuarem a prática,

    destaca-se a busca pela concretização de um ideal estético, seguido da

    manutenção da boa saúde e do prazer proporcionado pela prática.

    Em relação a não aderência, constatou-se que os participantes não-

    aderentes (P4 e P7) atribuíram a desistência a falta de motivação, a distância da

    academia, e a problemas de saúde. Também verificou-se que estes participantes

    não estavam satisfeitos com o treino recebido.

    Cabe ressaltar que o projeto original da presente pesquisa, pretendia contar

    com uma amostra de 30 pessoas, sendo 15 do grupo experimental e 15 do grupo

    controle, e o exercício praticado previsto seria caminhada, de intensidade baixa a

    moderada, garantindo desta forma mais propriedade aos dados coletados. O

    projeto inicial foi inviabilizado devido ao número insuficiente de voluntários,

    passando desta forma para os procedimentos metodológicos da presente

    pesquisa.

    De modo geral, apesar dos percalços, foi possível obter, pelo menos,

    dados compatíveis com a literatura, no entanto, neste, como na maioria dos

    estudos que o precederam, o tamanho da amostra é um problema a ser

    ainda superado.

    Os resultados desta pesquisa foram verificados na amostra composta

    por sete participantes, sendo deste modo necessários estudos com

    populações mais amplas, afim de que se possa afirmar com mais

    propriedade os efeitos do exercício físico sobre os sintomas de ansiedade,

    depressão e estresse, bem como os motivos de aderência e não aderência

    dos participantes. Sugere-se também que pesquisas posteriores tenham

    controle sobre a variável intensidade do exercício realizado pelos

    participantes, possuam um grupo controle, e estendam a duração do

    programa para mais que dez semanas, visto que a literatura indica que os

  • 50

    melhores efeitos sobre os sintomas depressivos, de ansiedade e estresse

    são encontrados a partir desse período.

  • 51

    6 REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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