44
SISTEMA ISOLADO PARA A CAPTAÇÃO CAPACITIVA DE ELETROCARDIOGRAMA Gabriel Vianna Resende Projeto de Graduação apresentado ao Curso de Engenharia Eletrônica e de Computação da Escola Politécnica, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Engenheiro. Orientador: Marcio Nogueira de Souza Rio de Janeiro Setembro de 2019

SISTEMA ISOLADO PARA A CAPTAÇÃO CAPACITIVA DE

  • Upload
    others

  • View
    1

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

SISTEMA ISOLADO PARA A CAPTAÇÃO CAPACITIVA

DE ELETROCARDIOGRAMA

Gabriel Vianna Resende

Projeto de Graduação apresentado ao Curso de

Engenharia Eletrônica e de Computação da Escola

Politécnica, Universidade Federal do Rio de

Janeiro, como parte dos requisitos necessários à

obtenção do título de Engenheiro.

Orientador: Marcio Nogueira de Souza

Rio de Janeiro

Setembro de 2019

iv

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

Escola Politécnica – Departamento de Eletrônica e de Computação

Centro de Tecnologia, bloco H, sala H-217, Cidade Universitária

Rio de Janeiro – RJ CEP 21949-900

Este exemplar é de propriedade da Universidade Federal do Rio de Janeiro, que

poderá incluí-lo em base de dados, armazenar em computador, microfilmar ou adotar

qualquer forma de arquivamento.

É permitida a menção, reprodução parcial ou integral e a transmissão entre

bibliotecas deste trabalho, sem modificação de seu texto, em qualquer meio que esteja

ou venha a ser fixado, para pesquisa acadêmica, comentários e citações, desde que sem

finalidade comercial e que seja feita a referência bibliográfica completa.

Os conceitos expressos neste trabalho são de responsabilidade do(s) autor(es).

v

AGRADECIMENTO

Agradeço aos meus pais, Arthur e Ilma, por sempre me apoiarem em todas as

etapas da minha vida. Também agradeço ao meu tio Helcio, à Monica e ao Arnaldo pela

ajuda durante todos esses anos de graduação. Por fim, agradeço ao professor Marcio

Nogueira de Souza pela orientação e toda paciência durante o desenvolvimento deste

trabalho.

vi

RESUMO

Sistemas convencionais de eletrocardiograma usam eletrodos com gel que

requerem contato com a pele. Esses sistemas podem não ser ideais para monitoramento

de longa duração devido a irritações na pele e reações alérgicas, causadas pelo gel

presente no eletrodo. Para evitar esses problemas, diferentes soluções têm sido

apresentadas, incluindo eletrodos secos e eletrodos isolados. Recentemente, vários

pesquisadores têm explorado os eletrodos isolados, também conhecidos como eletrodos

capacitivos, conseguindo adquirir sinais de boa qualidade. Este trabalho apresenta um

sistema completamente isolado para a aquisição de eletrocardiograma (ECG) com

acoplamento capacitivo, utilizando a técnica de bootstrap e também um drive de perna

direita (DRL) capacitivo. O desenvolvimento e sinais coletados em voluntários são

apresentados. Dos resultados, é possível concluir que o sistema proposto com eletrodos

capacitivos para a aquisição de ECG funciona com qualidade suficiente para determinar

a frequência cardíaca. Os resultados tiveram qualidades de sinal diferentes dependendo

do voluntário, evidenciando que ainda são necessários ajustes para que o sistema

apresente resultado similar aos sistemas que usam eletrodos convencionais.

Palavras-Chave: eletrodos capacitivos, eletrocardiograma, eletrodos isolados.

vii

ABSTRACT

Conventional systems for electrophysiological measurement use wet electrodes

that require contact with skin. Those systems may not be feasible for a long term

monitoring due to skin irritation and allergic reactions, caused by the conductive gel

present on the electrode. To avoid these issues, different approaches have been

proposed, including dry contact and insulating electrodes. Recently, several researchers

have explored insulating electrodes, also known as capacitive electrodes, achieving

good signal results. This work presents a fully insulated system to acquire

electrocardiogram (ECG) with capacitive coupling, bootstrap technique, and also a

capacitive driven right leg circuit (DRL). The development and some results of

examples of the acquired signal are presented. From results, we conclude that the

proposed system of capacitive electrode for acquiring ECG signals worked properly to

determine heart rate. The signal quality obtained differs depending on the volunteer,

adjusts are needed to obtain results similar to the ones acquired by using conventional

electrodes.

Key-words: Insulated electrodes, Eletrocardiogram, Capacitive electrodes.

viii

SIGLAS

ECG – Eletrocardiograma

DRL – Drive right leg

ATP – Trifosfato de adenosina

CMR – Commom mode rejection

USB – Universal serial bus

DC – Direct current

LabVIEW – Laboratory Virtual Instrument Engineering Workbench

AD – Analógico digital

SNR – Razão sinal ruído

ix

Sumário

1 Introdução 1

1.1 - Tema . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1

1.2 - Delimitação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1

1.3 - Justificativa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1

1.4 - Objetivos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2

1.5 - Metodologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2

1.6 - Descrição . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3

2 Fundamentos Teóricos 4

2.1 - Biopotenciais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4

2.2 - Eletrocardiograma . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5

2.3 - Eletrodos Metálicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6

2.4 - Circuitos utilizados na captação de biopotenciais . . . . . . . . 7

2.4.1 - Amplificador de Instrumentação . . . . . . . . , . . . . . . . . , 7

2.4.2 - Amplificador de ECG . . . . . . . . . . . . . . . . , . . . . . . . . , 9

2.4.3 - Circuito Drive de Perna Direita (DRL) . . , . . . . . . . . , 10

3 Revisão da Literatura 11

3.1 - Metodologia dos artigos presentes na literatura . . . . . . . . . . 11

3.2 - Resultados dos artigos presentes na literatura . . . . . . . . . . . 13

4 Materiais e Métodos 16

4.1 - Diagrama de blocos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16

x

4.2 - Hardware . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17

4.2.1 - Eletrodos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17

4.2.2 - Amplificador de instrumentação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19

4.2.3 - Drive de perna direita . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19

4.2.4 -Corretor de linha de base . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20

4.3 - Sistema de aquisição . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20

4.4 - Sistemática de avaliação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22

4.4.1 -Teste de bancada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22

4.4.2 -Protocolo de aquisição . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22

5 Resultados 24

5.1 - Resposta em frequência do eletrodo . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24

5.2 - Aquisição em voluntários . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25

6 Discussão e Conclusão 30

Bibliografia 31

xi

Lista de Figuras

2.1 – Ilustração do coração humano, com detalhes dos tecidos de condução dos

potenciais de ação cardíacos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

5

2.2 – Forma de onda típica de um sinal de ECG e intervalos analisados

clinicamente. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

6

2.3 – Amplificador de Instrumentação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8

2.4 – Topologia básica de um amplificador de ECG . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9

3.1 – Circuito do eletrodo sem resistor de polarização . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11

3.2 – Circuito do eletrodo construído com a metade do capacitor . . . . . . . . . . . . . 13

3.3 – Trechos dos sinais obtidos em [6] . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14

3.4 – Resultados apresentados por [7] . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15

4.1 – Diagrama de blocos do sistema . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16

4.2 – Modelo da interface da pele com o eletrodo e sua eletrônica . . . . . . . . . . . . 17

4.3 – Topologia do bootstrap . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18

4.4 – Circuito do drive de perna direita . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20

4.5 – Software implementado em LabVIEW . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21

5.1 – Resposta em frequência do eletrodo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24

5.2 – Resposta em frequência do circuito . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25

5.3 – Trechos do sinal coletado no primeiro voluntário . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26

5.4 – Trechos do sinal coletado no segundo voluntário . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27

xii

5.5 – Trechos do sinal coletado no terceiro voluntário . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28

xiii

Lista de Tabelas

5.1 – Razão sinal ruído dos sinais dos três voluntários . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29

1

Capítulo 1

Introdução

1.1 – Tema

O tema do trabalho é a captação de sinais de eletrocardiograma usando eletrodos

isolados. O desafio a ser superado é o desenvolvimento de um dispositivo capaz de

adquirir sinais sem contato elétrico com a pele, mas com qualidade de sinal similar aos

eletrodos convencionais que usam gel condutor.

1.2 – Delimitação

A aquisição capacitiva de eletrocardiograma proposta se dá por cima da roupa, a

qual é usada como isolante, e com apenas uma derivação (das 12 tradicionalmente

observadas na prática clínica). Todas as medidas serão feitas com os eletrodos fixos em

posições especificas e com o indivíduo em repouso, não sendo tratados os casos em que

há interferência no sinal devido ao movimento dos eletrodos ou do indivíduo.

1.3 – Justificativa

Monitorar a atividade cardíaca é uma forma muito eficiente de diagnosticar

doenças cardiovasculares e acompanhar seu desenvolvimento. O método tradicional

para a aquisição de eletrocardiograma, usando eletrodos metálicos e gel condutor,

consegue fornecer sinais com alta qualidade para a análise clínica, porém o gel dos

eletrodos pode causar irritação da pele, além de necessitar da preparação da pele

(limpeza e tricotomia). Para superar esses problemas, os eletrodos capacitivos fornecem

uma alternativa para a aquisição de sinais de eletrocardiografia (ECG). O principal

2

problema na aquisição de biopotenciais através da roupa é a baixa capacitância de

acoplamento, de apenas dezenas de pF, exigindo impedâncias de entrada muito altas

para o pré-amplificador utilizado, de modo a fornecer uma frequência de corte inferior

de centésimos de Hertz.

Para conseguir impedâncias de entrada elevadas muitas técnicas já foram

propostas, sendo várias delas complexas e com necessidade de um grande número de

componentes. Nesse trabalho foi utilizada a técnica de bootstrap para elevar a

impedância de entrada do circuito do pré-amplificador.

Adicionalmente, as altas impedâncias de entrada tornam a captação de

biopotenciais por meio de eletrodos isolados mais vulnerável à interferência

eletromagnética, sendo necessário um design cuidadoso do eletrodo e do circuito do

pré-amplificador. Além disso, para eliminar a interferência eletromagnética presente no

corpo devido à rede elétrica, há a necessidade de implementar um eletrodo para o driver

de perna direita, que tem por objetivo melhorar a rejeição de sinais de interferência de

modo comum (normalmente 60 Hz). Para o sistema proposto, esse eletrodo também

deve ser isolado, uma vez que o uso de um eletrodo convencional com gel diminuiria os

benefícios dos demais eletrodos isolados. Neste sentido, este trabalho propõe uma

implementação completamente isolada e que futuramente possa contribuir para o

desenvolvimento e aprimoramento de dispositivos vestíveis (do Inglês, wearable

devices) para a captação de biopotenciais.

1.4 – Objetivos

O objetivo deste trabalho é o desenvolvimento de um dispositivo capaz de

adquirir sinais de eletrocardiograma por sobre a roupa, sem contato elétrico com a pele.

Desta forma, os objetivos específicos são: desenvolver um par de eletrodos com sua

eletrônica de amplificação que possua alta impedância de entrada e proteção contra

interferência eletromagnética; um eletrodo e circuito de drive de perna direita; um

circuito capaz de medir diferencialmente o sinal dos dois primeiros eletrodos e fornecer

o sinal a ser realimentado pelo terceiro eletrodo.

3

1.5 – Metodologia

A base metodológica para o projeto é a implementação de um circuito bootstrap

para elevação da impedância de entrada do circuito pré-amplificador ligado ao eletrodo.

Em tais circuitos, é necessário o uso de amplificadores operacionais de baixo ruído, uma

vez que esses eletrodos são a parte mais sensível à ruído e realizam a interface do

dispositivo com o indivíduo. Os resistores usados para a implementação do bootstrap

precisam ser ajustados de acordo com o tamanho do eletrodo fabricado e a espessura

média da roupa, para que seja atingida a frequência de corte necessária para não haver

perdas das componentes de frequência mais baixas do sinal. O ganho da realimentação

do drive de perna direita precisa ser escolhido suficientemente grande para eliminar a

interferência, porém não tão grande a ponto de comprometer a estabilidade.

1.6 – Descrição

No capítulo 2 são apresentados os fundamentos e conceitos usados no

desenvolvimento do trabalho. No capítulo 3 é feita uma revisão de trabalhos

semelhantes. Os materiais e métodos usados no desenvolvimento deste trabalho são

apresentados no capítulo 4. O capítulo 5 apresenta os resultados dos testes em bancada e

captação de sinais em voluntários. No capítulo 6 os resultados são discutidos e é feita a

conclusão do trabalho.

4

Capítulo 2

Fundamentos teóricos

2.1 – Biopotenciais

A variação da atividade eletroquímica de células excitáveis dos tecidos nervosos

e musculares dá origem aos biopotenciais [1]. A diferença de concentração de íons no

interior e exterior da membrana celular deste tipo de células gera um potencial, que

pode ser de repouso ou de ação. Em ambos os casos, o biopotencial é gerado e

transmitido.

Quando há um equilíbrio dos íons dentro e fora da célula, essa apresenta um

potencial de repouso. O valor desse potencial é medido no interior da célula em relação

ao exterior e fica entre -50 e -100 mV. Nesta situação a célula é dita polarizada e seu

potencial é controlado majoritariamente pela diferença de concentração de potássio,

podendo ser calculado pela equação de Nernst [1].

A célula pode receber estímulos externos, normalmente químicos, mecânicos ou

por tensão, provocando um aumento do potencial. Se este aumento ultrapassar um

limiar, que varia para cada tipo de célula, canais de sódio controlados por tensão são

abertos e a permeabilidade da membrana aumenta, permitindo a entrada de íons 𝑁𝑎+.

Assim, membrana começa a se despolarizar. Isso acontece até que a despolarização

atinja um valor no qual os canais de sódio se fecham. Quando isso ocorre, canais de

potássio são abertos permitindo a saída de íons 𝐾+ e a membrana volta a se polarizar.

Até que os canais de potássio sejam fechados acontece um fluxo excessivo de íons

causando uma polarização além do potencial de repouso, chamada hiperpolarização.

Assim é gerado o potencial de ação. Após a geração de vários potenciais de ação há

cada vez mais íons de sódio dentro da célula e de potássio fora. Esses íons são levados

de volta às suas concentrações iniciais pela bomba de sódio potássio que realiza

transporte ativo e necessita de energia derivada do trifosfato de adenosina (ATP) [2].

5

A despolarização de uma região da membrana serve como estímulo para as

regiões adjacentes e, assim, o potencial de ação é propagado por toda a membrana.

Algumas células possuem potencial de repouso alto o suficiente para que os canais de

sódio não se fechem completamente, fazendo com que a membrana se despolarize sem a

necessidade de um estímulo externo e que o potencial de ação seja gerado

espontaneamente. Células cardíacas especializadas, por exemplo, são capazes de manter

o funcionamento do coração mesmo sem influência do sistema nervoso [2].

2.2 – Eletrocardiograma

O coração age como uma bomba que impulsiona o sangue através do sistema

circulatório (Figura 2.1). Funciona em duas fases: na diástole está relaxado e se enche

de sangue; e na sístole ele se contrai, expulsando o sangue. Para que esses movimentos

ocorram em sincronia, são necessários impulsos elétricos coordenados, que são gerados

por tecidos condutivos especializados que estão presentes no coração. Cada tipo de

tecido tem seu potencial de ação característico [1].

Figura 2.1: Ilustração do coração humano, com detalhes dos tecidos de condução

dos potenciais de ação cardíacos.

Fonte: Adaptado de [3].

6

A sequência de biopotenciais que resulta do ciclo sístole-diástole formam

potenciais de ação que percorrem o tórax e chegam à superfície da pele. Esse sinal é

conhecido como eletrocardiograma (ECG). A contração ritmada dos músculos cardíacos

gera um sinal característico formado pelas ondas P, Q, R, S e T (Figura 2.2). A duração

do potencial de ação é chamada de sístole elétrica, enquanto o tempo sem potencial é

chamado de diástole elétrica. Durante a sístole, o potencial de ação gerado pelo nódulo

sinoatrial percorre os tecidos especializados contraindo os átrios e ventrículos. O

sentido e direção da propagação do biopotencial vão determinar o formato das ondas do

ECG. Analisando o intervalo de tempo entre essas formas de onda, assim como o

formato das mesmas, é possível se diagnosticar diversas doenças cardíacas [1].

Figura 2.2: Forma de onda típica de um sinal de ECG e intervalos analisados

clinicamente.

Fonte: Adaptado de [4].

2.3 – Eletrodos metálicos

Como visto anteriormente, biopotenciais são gerados em decorrência de

condução iônica por alguns tecidos biológicos. Uma vez que os circuitos eletrônicos

7

operam com elétrons como portadores de carga, a captação, amplificação e

processamento dos biopotenciais requer que eles sejam transformados de iônicos para

eletrônicos. Ou seja, é necessário convertê-los em sinais elétricos, sendo este o papel

dos eletrodos de captação e de sua eletrônica associada.

Para diminuir a impedância entre a pele e o eletrodo é necessário que haja a

limpeza da pele e aplicação de gel condutor. Mesmo assim, para aquisições de longa

duração, a troca dos eletrodos é necessária, uma vez que o adesivo não se adere por

muito tempo, poucos duram 24 horas. A troca do local do eletrodo também é feita a fim

de evitar irritação da pele [5].

Outro problema importante dos eletrodos são os artefatos de movimento, que

são ruídos gerados por conta da movimentação do eletrodo em relação à pele. Para

aquisições curtas, a contribuição do paciente permanecendo em repouso é suficiente

para evitar tais ruídos. Em monitoramento de longo prazo, entretanto, o movimento é

inevitável e os artefatos de movimento podem ser confundidos com o biopotencial [5].

2.4 – Circuitos utilizados na captação de biopotenciais

Um amplificador de biopotencial deve atender a características específicas do

sinal que está sendo amplificado, como faixa de frequência e ganho. Outros atributos

desejáveis são altíssima impedância de entrada, uma vez que a fonte do biopotencial

pode ter impedância tão alta quanto 10⁷ Ω, e alta rejeição de modo comum, ou common

mode rejection (CMR), devido principalmente à interferência da rede elétrica. O

amplificador de instrumentação possui todas essas propriedades.

2.4.1 – Amplificador de Instrumentação

Formado por três amplificadores operacionais, a topologia clássica do

amplificador de instrumentação tem os dois amplificadores operacionais da entrada na

configuração não inversora e o terceiro está configurado como um amplificador

diferencial (Figura 2.3). A simetria dessa topologia favorece a obtenção de um alto

CMR, assim como o casamento dos componentes.

8

Figura 2.3 – Amplificador de Instrumentação.

Fonte: Autoria própria.

Para calcular o ganho do amplificador de instrumentação, vamos usar o princípio

da superposição e considerar 𝑅2 = 𝑅3, 𝑅4 = 𝑅6, 𝑅5 = 𝑅7, então:

𝐸3 = 𝐸2. (𝑅3

𝑅𝐺+ 1) − 𝐸1. (

𝑅3

𝑅𝐺) (2.1)

𝐸4 = 𝐸1. (𝑅2

𝑅𝐺+ 1) − 𝐸2. (

𝑅2

𝑅𝐺) (2.2)

Fazendo (Equação 2.1 – Equação 2.2) e substituindo 𝑅2 = 𝑅3:

𝐸3 − 𝐸4 = (𝐸1 − 𝐸2). (2𝑅2

𝑅𝐺+ 1) (2.3)

Como (𝐸3 − 𝐸4) é a entrada do amplificador diferencial, considerando o ganho

do mesmo unitário:

𝐴𝑣 =𝐸𝑜𝑢𝑡

𝐸𝑖𝑛= 2

𝑅2

𝑅𝐺+ 1 (2.3)

9

Acrescentando o ganho amplificador diferencial, o ganho total do amplificador

será:

𝐴𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 = (2𝑅2

𝑅𝐺+ 1) . (

𝑅5

𝑅4) (2.4)

A condição de que 𝑅2 = 𝑅3, 𝑅4 = 𝑅6, 𝑅5 = 𝑅7 é muito difícil de ser realizada

com componentes discretos. Por isso, sua versão em circuito integrado é a mais

utilizada. O casamento dos componentes fabricados em circuito integrado é

fundamental para atingir altos valores de CMRR.

2.4.2 – Amplificador de ECG

Para a aquisição do ECG, é possível ligar os eletrodos usados na captação do

biopotencial diretamente no amplificador de instrumentação, como mostra a Figura 2.4.

Essa topologia é a mais básica, onde dois eletrodos captam o sinal e o terceiro fornece

um sinal de realimentação que é novamente aplicado ao indivíduo. O resistor 𝑅𝐺 ,

responsável pelo ganho, é dividido em dois para obter-se uma estimativa do sinal de

modo comum, isso é possível graças à simetria da topologia do amplificador de

instrumentação utilizado. Tal sinal de modo comum geralmente é formado por

interferência da rede elétrica.

Figura 2.4 – Topologia básica de um amplificador de ECG.

Fonte: Autoria própria.

10

Analisando ainda o circuito, a estimativa do sinal de modo comum é ligada a um

buffer, para isolar os resistores de ganho do restante do circuito, e sua saída vai à

blindagem dos cabos dos eletrodos, prática que reduz a interferência da rede elétrica. O

circuito restante é conhecido como drive de perna direita, o qual será detalhado a seguir.

2.4.3 – Circuito Drive de Perna Direita (DRL)

O circuito de drive de perna direita é responsável por realimentar, com uma

inversão de fase de 180º, o sinal de modo comum. Consiste em um amplificador

inversor que, ao inverter a fase e re-injetar o sinal de modo comum, reduz o mesmo no

paciente e, consequentemente, na entrada do amplificador de instrumentação. No

entanto, o ganho do DRL não deve ser muito elevado para não tornar o sistema instável,

uma vez que se trata de uma realimentação.

11

Capítulo 3

Revisão da literatura

Na literatura são propostas diversas formas para construir o eletrodo capacitivo,

incluindo diferentes materiais, formatos, interfaces e polarizações. Este capítulo

abordará trabalhos semelhantes presentes na literatura, apresentando suas metodologias

e resultados.

3.1 – Metodologia dos artigos presentes na literatura

Em [6], a proposta de construção do eletrodo é similar à desse trabalho, sendo

construído em placa de circuito impresso no tamanho de uma moeda, com a face

sensora isolada por máscara de solda. A eletrônica de front-end é implementada por um

amplificador de instrumentação (INA116), que possui baixíssima corrente de

polarização. A entrada não-inversora do amplificador é a entrada de sinal e não possui

resistor de polarização. O autor afirma que devido à corrente de polarização ser

extremamente baixa, o amplificador não satura.

Figura 3.1: Circuito do eletrodo sem resistor de polarização.

Fonte: Adaptado de [6].

12

A entrada inversora do amplificador de instrumentação recebe uma versão

filtrada (filtro passa-baixas com frequência de corte igual a 0,7 Hz) do sinal presente no

circuito de guarda da entrada não inversora. Como o amplificador de instrumentação

amplifica a diferença entre suas entradas, o sinal de entrada será filtrado por um filtro

equivalente passa-altas com mesma frequência de corte do passa-baixas. Isso reduz a

vantagem de se ter uma impedância de entrada tão elevada, pois normalmente essa

característica é desejada para reduzir a frequência de corte da interface e, com

frequência de corte em 0,7 Hz, componentes de mais baixa frequência do ECG são

atenuadas.

O sinal de cada eletrodo ainda passa por um filtro passa-altas para remover offset

do amplificador e um filtro passa-baixas a fim de evitar aliasing na digitalização, sendo

usado também para se extrair o sinal de modo comum. Tal sinal é usado no eletrodo de

referência, que é o único eletrodo de gel do sistema. Com isso, este não é

completamente capacitivo e os benefícios da implementação dos eletrodos isolados é

reduzida. Após os filtros, o sinal é digitalizado e as saídas de todos os conversores são

ligadas a um transmissor sem fio.

No artigo [7], o eletrodo é construído a partir de um capacitor cerâmico

comercial partido ao meio. Uma metade do capacitor é utilizada para realizar a interface

devido à alta constante dielétrica do isolante, fornecendo uma capacitância de

acoplamento maior. Um amplificador operacional na configuração seguidor de tensão é

utilizado para condicionar o sinal. Para polarizar o amplificador, um resistor de 1 GΩ é

utilizado, embora não fique claro no texto como esse resistor é implementado, pois seu

valor está fora da faixa de valores comerciais.

Diodos foram colocados na entrada do buffer para prevenir que a tensão de

entrada atinja valores em que o amplificador sature. De forma semelhante, diodos zener

ligados entre entrada e às alimentações foram utilizados para prevenir que descargas

eletrostáticas danifiquem a entrada do amplificador operacional.

Os sinais de ambos os eletrodos foram digitalizados por um kit comercial para

aquisição de biopotenciais. O sinal do drive de perna direita foi obtido do kit e, assim

como no caso anterior, conectado à pele, usando um eletrodo de gel convencional.

13

Figura 3.2: Circuito do eletrodo construído com a metade do capacitor.

Fonte: Adaptado de [7].

3.2 – Resultados dos artigos presentes na literatura

O artigo [6] adquiriu sinais de eletroencefalograma e ECG. Os sinais de ECG

foram obtidos utilizando-se dois isolantes: uma camiseta e um suéter mais espesso,

ambos de algodão. A Figura 3.3 mostra que, embora com o suéter a qualidade do sinal

tenha piorado, ainda é possível identificar o complexo QRS e determinar a frequência

cardíaca.

14

Figura 3.3: Trechos dos sinais obtidos em [6].

Fonte: Adaptado de [6].

O artigo [7] testou o funcionamento dos eletrodos nas situações: sobre a pele e

isolado pela roupa, ambos com dielétrico e sem dielétrico. Na Figura 3.4, os sinais (a) e

(b) foram adquiridos com os eletrodos posicionados sobre a pele, enquanto em (c) e (d)

sobre um tecido de algodão. Em (a) e (c) utilizaram-se eletrodos de 17 cm² e sem

isolante para fins de comparação com (b) e (d), que são os obtidos com os eletrodos

construídos com o dielétrico do capacitor. Observa-se que em ambos os casos a

aquisição através da roupa piorou a qualidade do sinal, adicionando mais ruído.

Também é possível afirmar que os eletrodos com dielétrico possuem qualidade maior

quando comparados com os sem isolante.

15

Figura 3.4: Resultados apresentados por [7].

Fonte: Adaptado de [7].

16

Capítulo 4

Materiais e Métodos

4.1 –Diagrama de blocos

O sistema proposto contém três eletrodos: um par de eletrodos diferenciais e o

drive de perna direita. O par de eletrodos diferenciais está conectado ao amplificador de

instrumentação através de cabos blindados, cuja blindagem foi conectada ao sinal de

modo comum obtido do amplificador de instrumentação. O sistema também conta com

um circuito de correção de linha de base que é utilizado para remover flutuações do

nível médio do sinal, evitando saturações da saída. O sinal é filtrado por um filtro passa-

baixas e amplificado para, então, ser digitalizado pela placa de aquisição que é

conectada a um computador via interface USB.

Figura 4.1: Diagrama de blocos do sistema.

Fonte: Autoria própria.

17

4.2 – Hardware

4.2.1 –Eletrodos

Para fornecer uma interface estável com a pele, os eletrodos foram construídos

em placas de circuito impresso. Uma face da placa fica em contato com a roupa, criando

a interface capacitiva, enquanto na outra está o circuito responsável por condicionar o

sinal e fornecer um caminho de baixa impedância para o resto do circuito, a fim de

reduzir a adição de ruído.

Um anel de guarda protege as partes do circuito vulneráveis a ruído, faz isso pois

é ligado à saída do buffer e assim a tensão da entrada e do anel são aproximadamente

iguais, reduzindo acoplamento capacitivo de sinais de interferência. Foi implementado

em ambos os lados do eletrodo, por todo o caminho até a entrada do amplificador

operacional.

Figura 4.2: Modelo da interface da pele com o eletrodo e sua eletrônica.

Fonte: Autoria própria.

Além da capacitância, na interface existe uma resistência parasita devido à não

idealidade do isolante, que será desprezada por fins de simplicidade. Na Figura 4.2, o

capacitor 𝐶𝑆 representa a capacitância da interface, 𝑅𝑏 é a resistência equivalente vista

da entrada e 𝐶𝑖 é a capacitância de entrada do amplificador operacional. A Equação 1

expressa a tensão na entrada do buffer e a Equação 2 calcula a frequência de corte da

interface.

18

𝑉𝑖 =𝑗𝜔𝑅𝑏𝐶𝑠

1+𝑗𝜔𝑅𝑏(𝐶𝑖+𝐶𝑠)𝑉𝑠 (1)

𝑓𝑐 =1

2𝜋(𝐶𝑖+𝐶𝑠)𝑅𝑏 (2)

A frequência de corte escolhida foi de 0,05 Hz. A partir dessa informação, é

preciso ajustar 𝐶𝑆 e 𝑅𝐵. A resistência de entrada possui um limite dado por 𝑅𝑏𝑀𝐴𝑋 <

𝑉𝑐𝑐 𝑖𝑏𝑖𝑎𝑠⁄ , valores maiores que esses causariam a saturação do buffer [8]. Devido à baixa

capacitância da interface, o valor de 𝑅𝐵 deve ser muito alto, assumindo valores da

ordem de centenas de GΩ. Para implementá-lo, a técnica de bootstrap foi utilizada.

Com ela é possível criar um caminho para a corrente de polarização do amplificador

operacional e ao mesmo tempo simular um resistor com valor altíssimo. A Figura 4.3

ilustra a topologia.

O amplificador operacional tem papel muito importante na determinação do

valor de 𝑅𝐵, uma vez que sua corrente de polarização deve ser extremamente baixa para

que 𝑅𝐵 possa assumir valores altos sem provocar a saturação do amplificador. Para isso

foi escolhido o OPA2350 que possui corrente de polarização de apenas 0,5 pA.

Figura 4.3: Topologia do bootstrap.

Fonte: Autoria própria.

A Equação 3 fornece a impedância de entrada resultante.

𝑅𝑏 = 𝑅1 𝑅2 𝑅3⁄ (3)

19

O diâmetro escolhido para o eletrodo foi de 25 mm para que não haja

desconforto ao “vesti-lo”. A capacitância criada na interface pode ser estimada pela

Equação 4, assumindo 𝑑 = 0,3 𝑚𝑚, 𝜖𝑟 = 1, 𝜖0 = 8,85. 10−12 𝐹

𝑚.

𝐶𝑆 ≅ 𝜖0𝜖𝑟𝐴

𝑑= 14,5 𝑝𝐹 (4)

Considerando apenas o efeito passa-altas da interface, o resistor de polarização

pode ser calculado pela Equação 5.

𝑅𝑏 =1

2𝜋𝐶𝑠𝑓𝑐= 219 𝐺𝛺 (5)

Avaliando os resistores disponíveis comercialmente para implementar 𝑅𝑏 e que

𝜖𝑟 pode ser maior que 1, então 𝐶𝑆 pode estar sendo subestimado, foram escolhidos os

valores 𝑅1 = 10 𝑀𝛺, 𝑅2 = 2,2 𝑀𝛺 e 𝑅3 = 120 𝛺. Com esses valores obtém-se 𝑅𝑏 =

183 𝐺𝛺.

4.2.2 –Amplificador de instrumentação

O amplificador de instrumentação escolhido foi o INA128 devido à sua alta

rejeição de modo comum. Ele possui uma característica de simetria que, ao dividir seu

resistor de ganho em dois, pode-se obter uma estimativa do sinal de modo comum entre

os dois resistores. Esse sinal é fornecido ao drive de perna direita e à blindagem dos

cabos dos eletrodos.

4.2.3 –Drive de perna direita

Para implementar um sistema de captação de biopotenciais totalmente isolado, o

drive de perna direita (DRL) também deve ser capacitivo. Isso representa um grande

desafio, pois como só é possível controlar a capacitância de acoplamento é difícil

determinar a frequência de corte da interface. Para que essa seja adequada, foi

necessário aumentar o tamanho do eletrodo do drive de perna direita para 8 x 4,5 cm. A

Figura 4.4 ilustra o circuito.

20

Figura 4.4: Circuito do drive de perna direita.

Fonte: Autoria própria.

O filtro passa-altas formado por 𝐶𝐻 e 𝑅𝐻 é necessário para remover o nível DC

que pode existir entre os resistores de ganho. Enquanto 𝐶𝐿 e 𝑅𝐿 formam um filtro passa-

baixas, que foi adicionado para atenuar ruídos de alta frequência que saturariam a saída

do circuito.

4.2.4 –Corretor de linha de base

O sinal do ECG na saída do amplificador de instrumentação pode apresentar

flutuações devido à respiração e artefatos de movimento. Para que o nível médio do

sinal fosse trazido para zero, foi implementado um circuito de correção de linha de base.

Esse circuito consiste em filtrar o sinal de ECG com um filtro passa-baixas, com

frequência de corte de 1 Hz e fornecer um pequeno ganho negativo, de -2,5. O sinal

resultante é ligado à entrada de referência do amplificador de instrumentação e, por isso,

é subtraído do sinal de ECG.

4.3 –Sistema de aquisição

A parte do sistema responsável por digitalizar e registrar o sinal é composta por

uma placa de aquisição e um computador. A placa de aquisição utilizada foi a USB-

6009 da National Instruments, que possui 4 entradas analógicas com conversor

21

analógico-digital de 14 bits diferencial e frequência de amostragem máxima de 48000

amostras por segundo. Para evitar o feito de aliasing, a saída do amplificador de

instrumentação passa por um filtro passa-baixas com frequência de corte em 100 Hz

antes de ser digitalizado à taxa de 1 kS/s.

Um programa em LabVIEW foi desenvolvido para visualização e registro do

sinal. O programa começa com o bloco de configuração da placa e do modo de

aquisição. Tal bloco, destacado na Figura 4.5, configura qual canal da placa será lido, a

frequência de amostragem, os valores máximo e mínimo e o modo de aquisição da

placa. Os valores máximo e mínimo são escolhidos para que o pré-amplificador da placa

de aquisição ajuste seu ganho de forma a utilizar o máximo da faixa dinâmica do

conversor AD. A placa aceita faixa de entrada de ±1 V, que foi a utilizada.

Figura 4.5: Software implementado em LabVIEW.

Fonte: Autoria própria.

Após o bloco de configuração, há um filtro digital do tipo Butterworth de 2ª

ordem, que foi inicialmente configurado como notch de segunda ordem, com banda de

22

rejeição de 58 a 62 Hz, para remover eventuais interferências da rede elétrica, mas pode

ter sua configuração alterada conforme necessário. Em seguida, o sinal é conectado ao

painel de visualização e ao bloco para registro do sinal. Este último registra o sinal em

um arquivo com os dados separados por vírgula.

O bloco de cálculo da frequência cardíaca filtra o sinal com um filtro digital

passa-altas de 2ª ordem do tipo Butterworth com frequência de corte de 5 Hz, a fim de

manter apenas o pico da onda R e comparar o sinal obtido com um limiar que, se for

ultrapassado, cria um valor TRUE. Para evitar que o ruído presente no sinal seja

confundido com um batimento, existem dois limiares: 0 V e 0,3 V. A comparação é

feita de forma que só é considerado o acontecimento de um batimento quando o sinal

vai de uma amostra menor que 0 V para uma maior que 0,3 V.

Na ocorrência de um novo batimento, é realizada a diferença entre os instantes

do batimento atual e o passado, para descobrir quantas amostras aconteceram entre um

batimento e outro. Em seguida, a frequência de amostragem é dividida por esse

intervalo. Assim, descobre-se a frequência por segundo. Enfim, o valor é multiplicado

por 60 para obter o número de batimentos por minuto.

4.4 –Sistemática de avaliação

4.4.1 –Teste de bancada

Para avaliar o sistema, o ganho será avaliado em várias frequências entre

0,01 Hz e 1 kHz. A interface dos eletrodos com a pele será simulada com uma placa de

alumínio isolada com a mesma camisa utilizada para captação do ECG. A curva com

ganhos práticos será comparada com a projetada.

4.4.2 –Protocolo de aquisição

A aquisição do ECG se dará através de uma camisa de algodão. Duas camisas

serão usadas, a primeira (camisa 1) com uma camada de tecido, de aproximadamente

0,3 mm de espessura, e outra (camisa 2) com duas camadas de tecido. O eletrodo do

23

drive de perna direita será posicionado no meio do tórax e os outros serão colocados um

à direita e outro à esquerda. Duas configurações de afastamento entre os eletrodos serão

testadas. Na primeira, os eletrodos ficarão a 20 cm do drive de perna direita e na

segunda a 2 cm. Para fixar os eletrodos sobre a camisa, será usada uma cinta elástica

sobre os mesmos.

Para avaliar a qualidade do sinal obtido, será utilizada a razão sinal ruído (SNR).

Tal razão será calculada através dos valores médios entre os picos e vales do sinal, e o

seu equivalente no ruído, através das equações:

𝑉𝑝 =∑ 𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟𝑒𝑠 𝑑𝑒 𝑝𝑖𝑐𝑜𝑁

𝑁 (6)

𝑉𝑣 =∑ 𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟𝑒𝑠 𝑑𝑒 𝑣𝑎𝑙𝑒𝑁

𝑁 (7)

𝑆𝑁𝑅 =𝑉𝑝𝑠𝑖𝑛𝑎𝑙

− 𝑉𝑣𝑠𝑖𝑛𝑎𝑙

𝑉𝑝𝑟𝑢í𝑑𝑜− 𝑉𝑣𝑟𝑢í𝑑𝑜

(8)

24

Capítulo 5

Resultados

5.1 –Resposta em frequência do circuito

As Figuras 5.1 e 5.2 apresentam os resultados da resposta em frequência do

eletrodo e do circuito completo, respectivamente. Como o sistema possui entrada

diferencial, para determinar a resposta em frequência do circuito foi colocada uma

senóide em cada eletrodo de entrada. As senóides possuíam mesma frequência e fase,

mas amplitudes diferentes. Assim, a diferença entre as senóides da entrada foi

comparada com o sinal presente na saída para determinar o ganho.

Figura 5.1: Resposta em frequência do eletrodo.

Fonte: Autoria própria.

25

Figura 5.2: Resposta em frequência do circuito.

Fonte: Autoria própria.

5.2 –Aquisição em voluntários

Foram adquiridos sinais em três voluntários, cujos resultados são mostrados nas

Figuras 5.1 a 5.3. O eletrocardiograma também foi adquirido com os eletrodos

posicionados diretamente sobre a pele para efeitos de comparação.

O voluntário 1 apresentou os sinais mais ruidosos dentre todos. Mesmo com a

adição do filtro notch de 60 Hz, a qualidade do sinal não melhorou significativamente.

Os sinais obtidos no voluntario 2 apresentaram nível de ruído mais baixo e a filtragem

melhorou a qualidade do sinal. No caso do voluntário 3, os sinais obtidos, mesmo sem o

uso do filtro, são muito próximos aos obtidos diretamente sobre a pele. A Tabela 5.1

mostra os resultados dos SRN para todos os voluntários.

26

Figura 5.1: Trechos do sinal coletado no primeiro voluntário.

Fonte: Autoria própria.

27

Figura 5.2: Trechos do sinal coletado no segundo voluntário.

Fonte: Autoria própria.

28

Figura 5.3: Trechos do sinal coletado no terceiro voluntário.

Fonte: Autoria própria.

29

Tabela 5.1 – Razão sinal ruído dos sinais dos três voluntários

Camisa Posição dos eletrodos Estado do filtro

SNR para cada

voluntário (V/V)

1 2 3

1

Juntos Desligado 13,3 32,7 57,1

Ligado 14,6 20,2 56,7

Separados Desligado 20,6 36,2 28,6

Ligado 24,7 29,0 27,3

2

Juntos Desligado 4,3 21,9 56,0

Ligado 9,5 23,5 63,4

Separados Desligado 8,4 27,6 39,3

Ligado 21,1 16,8 29,0

30

Capítulo 6

Discussão e Conclusão

A resposta em frequência encontrada para o eletrodo está dentro do esperado.

Além da atenuação em baixas frequências, também se observa uma atenuação em

frequências mais altas, começando em aproximadamente 100 Hz, devida à capacitância

de entrada do amplificador operacional. A resposta do circuito também está de acordo

com o projetado, com resposta aproximadamente plana na banda de passagem.

O sinal coletado nos voluntários apresentou melhor relação sinal ruído na

posição separados para os voluntários 1 e 2, e na posição juntos para o voluntário 3. Na

posição separados, as SNR têm valores mais próximos uns dos outros, indicando que

essa posição de eletrodos traz mais estabilidade para as aquisições e é mais adequada

para indivíduos em geral.

A camisa 1 apresentou maior SNR, como já se esperava devido à menor

espessura. A adição do filtro notch de 60 Hz aumentou a SNR em alguns casos,

enquanto reduziu em outros, indicando que o ruído presente no sinal não se deve apenas

à interferência da rede elétrica. O voluntário 3 é o autor deste trabalho e os testes para

ajuste do ganho do DRL foram realizados nele. Provavelmente por isso os valores de

SNR para o voluntário 3 são os mais altos. Uma alternativa para melhorar o SNR de

todos os voluntários seria ajustar o ganho do DRL individualmente até que o nível de

ruído seja imperceptível.

O sistema apresentou desempenho satisfatório, sendo possível determinar

claramente a frequência cardíaca de todos os voluntários. Ajustes ainda devem ser feitos

para reduzir o ruído presente no sinal. Possíveis ajustes incluem: testes com diferentes

materiais para a construção dos eletrodos; fixação dos eletrodos na roupa para evitar

artefatos de movimento; transmissão sem fio e alimentação por baterias, que deixaria o

sistema mais vestível; possibilidade de ajustar o ganho do DRL individualmente.

31

Bibliografia

[1] WEBSTER, J. G., CLARK, J. W., Medical instrumentation: Application and design. New York, Wiley, 1998.

[2] GUYTON, A. C.; HALL, J. E.; GUYTON, A; C. Tratado de fisiologia médica.

Elsevier Brasil, 2006.

[3] Madhero88, “Conductionsystemoftheheart”,

https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Conductionsystemoftheheart.png, 2010,

Texto traduzido para português por Gabriel Vianna Resende,

https://creativecommons.org/licenses/by/3.0/legalcode, (Acesso em 04/07/2019).

[4] Jmarchn, “SinusRhythmLabels CAT”,

https://commons.wikimedia.org/wiki/File:SinusRhythmLabels_CAT.svg, 2010,

Texto traduzido para o português por Gabriel Vianna Resende,

https://creativecommons.org/licenses/by-sa/3.0/legalcode, (Acesso em 04/07/2019).

[5] CARR, J. JOSEPH, BROWN, JOHN M., Introduction to Biomedical Equipment

Technology. Upper Saddle River, Columbus, Prentice Hall, 2001.

[6] CHI, YU M., GERT CAUWENBERGHS. "Wireless non-contact EEG/ECG

electrodes for body sensor networks." In: 2010 International Conference on Body

Sensor Networks. IEEE, p. 297-301, Singapura, 7-9 June 2010.

[7] VLACH, K., KIJONKA, J., JUREK, F., VAVRA, P., ZONCA, P. "Capacitive

biopotential electrode with a ceramic dielectric layer." Sensors and Actuators B:

Chemical, v. 245, pp. 988-995, 2017.

[8] E. SPINELLI, M. HABERMAN. “Insulating electrodes: A review on biopotential

front ends for dielectric skin-electrode interfaces”. Physiological measurement,

v.31, pp. 183–198, 2010.