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Sistema JIT/Kanban e a percepção dos colaboradores em relação as perdas no processo Área temática: Gestão da Produção Elpidio Oscar Benitez Nara [email protected] Clane Regina Rech Storch [email protected] Liane Mahlmann Kipper [email protected] Luiz Afonso Storch [email protected] Resumo: A gestão de processos torna-se uma alternativa importante para as organizações que buscam constantemente a satisfação dos seus clientes e agregação de valor aos seus processos visando a melhoria contínua através do comprometimento dos seus colaboradores. A capacitação e a motivação dos colaboradores fazem a diferença, principalmente quando os mesmos são valorizados e reconhecidos pelas atitudes e ações de melhoria propostas para alcance dos objetivos da organização. Este artigo apresenta os resultados de uma pesquisa junto aos colaboradores que trabalham em um processo de manufatura da região sul do Brasil e utilizam o sistema JIT/Kanban, com foco sobre a minimização das sete perdas no processo. Dentre os problemas que levaram a justificativa do desenvolvimento dessa pesquisa estão a verificação da percepção dos que utilizam este sistema JIT/Kanban em relação as questões básicas de funcionamento do mesmo, bem como a real contribuição para a melhoria da forma de trabalho e os resultados com sua aplicação. A metodologia envolveu pesquisa qualitativa e exploratória, com estudo de caso para coleta de informações, complementando-os com elaboração e aplicação de questionário semiestruturado, permitindo a identificação da situação atual e também da situação ideal sob a ótica dos colaborados que utilizam o sistema. Os resultados encontrados após aplicação desse questionário permitiu identificar as perdas existentes no processo que utiliza o sistema JIT/Kanban na opinião dos colaboradores e mostrou que a partir de simples pesquisa junto aos mesmos as organizações podem identificar oportunidades de melhoria e receber sugestões para sua implantação. Dessa forma, essa pesquisa busca contribuir com identificação dos resultados encontrados na prática da aplicação do sistema JIT/Kanban, podendo ser replicada em outras organizações que utilizam do sistema em seu processo. Palavras-chaves: Sistema JIT/Kanban, Colaboradores, Perdas, Melhoria Contínua ISSN 1984-9354

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Sistema JIT/Kanban e a percepção dos colaboradores em

relação as perdas no processo

Área temática: Gestão da Produção

Elpidio Oscar Benitez Nara

[email protected]

Clane Regina Rech Storch

[email protected]

Liane Mahlmann Kipper

[email protected]

Luiz Afonso Storch

[email protected]

Resumo: A gestão de processos torna-se uma alternativa importante para as organizações que buscam constantemente a

satisfação dos seus clientes e agregação de valor aos seus processos visando a melhoria contínua através do

comprometimento dos seus colaboradores. A capacitação e a motivação dos colaboradores fazem a diferença,

principalmente quando os mesmos são valorizados e reconhecidos pelas atitudes e ações de melhoria propostas para

alcance dos objetivos da organização. Este artigo apresenta os resultados de uma pesquisa junto aos colaboradores que

trabalham em um processo de manufatura da região sul do Brasil e utilizam o sistema JIT/Kanban, com foco sobre a

minimização das sete perdas no processo. Dentre os problemas que levaram a justificativa do desenvolvimento dessa

pesquisa estão a verificação da percepção dos que utilizam este sistema JIT/Kanban em relação as questões básicas de

funcionamento do mesmo, bem como a real contribuição para a melhoria da forma de trabalho e os resultados com sua

aplicação. A metodologia envolveu pesquisa qualitativa e exploratória, com estudo de caso para coleta de informações,

complementando-os com elaboração e aplicação de questionário semiestruturado, permitindo a identificação da situação

atual e também da situação ideal sob a ótica dos colaborados que utilizam o sistema. Os resultados encontrados após

aplicação desse questionário permitiu identificar as perdas existentes no processo que utiliza o sistema JIT/Kanban na

opinião dos colaboradores e mostrou que a partir de simples pesquisa junto aos mesmos as organizações podem

identificar oportunidades de melhoria e receber sugestões para sua implantação. Dessa forma, essa pesquisa busca

contribuir com identificação dos resultados encontrados na prática da aplicação do sistema JIT/Kanban, podendo ser

replicada em outras organizações que utilizam do sistema em seu processo.

Palavras-chaves: Sistema JIT/Kanban, Colaboradores, Perdas, Melhoria Contínua

ISSN 1984-9354

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1. Introdução

A crescente competitividade global obriga as organizações a otimizar ao máximo seus

processos na busca constante pela melhoria contínua, através de ações que maximizam o retorno e

reduzem as perdas e desperdícios nos processos. A gestão de pessoas nas organizações se torna

essencial para que se consiga o comprometimento das mesmas que são essências para o êxito

organizacional. Para Kipper e Nara (2009), existe valorização de fatores como cooperação e trabalho

em equipe, no qual mudanças culturais são necessárias substituindo a estrutura hierárquica por visão

compartilhada e sistêmica dos processos, contribuindo para agregar valor aos processos.

A melhoria contínua dos processos produtivos, pode ser o ponto de partida para a implantação

da gestão de processos, aumentando a eficiência e, portanto, minimizando perdas e maximizando

lucros (Benitez et al., 2014). As melhorias promovidas pelos colaboradores durante suas atividades

incentivam e promovem o aprimoramento, pois os mesmos precisam reconhecer a importância de suas

contribuições num contexto global da organização (KUHLANG et al., 2011).

Thun, Drüke e Grübner (2010), concluíram que a chave para o sucesso da implementação do

Kanban é o treinamento das pessoas e que sua implantação efetivamente contribui para menores

tempos de set up e incremento da qualidade do produto resultante.

O Kanban é de simples uso e grande eficiência, porém, não pode ser aplicado em qualquer

situação. Ele permite o gerenciamento de estoques em processo através do controle da produção em

função da demanda e serve para operacionalizar o sistema Just In Time (JIT). A base do controle JIT é

a produção puxada, onde o ritmo do processo é dado pela necessidade do cliente, isso ocorre em todas

as etapas do processo, podendo existir em determinados locais estoques intermediários.

Com objetivo de explorar o resultado da aplicação do sistema JIT/Kanban em uma empresa de

manufatura de médio porte, quanto às perdas do sistema, foi elaborado questionário para identificação

da situação atual e também da situação ideal do ponto de vista dos colaboradores.

Dessa forma, essa pesquisa busca contribuir com a identificação dos resultados encontrados na

prática da aplicação do sistema JIT/Kanban, podendo ser replicada em outras organizações que

utilizam do sistema em seu processo.

Na sequência da pesquisa segue a revisão teórica com algumas abordagens sobre gestão de

pessoas e processos e sistema JIT/Kanban.

2. Revisão teórica

A necessidade constante de inovação, aumento da concorrência entre as organizações e a busca

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da competitividade para a sustentabilidade e sobrevivência a longo prazo são algumas das mudanças

no cenário atual de negócios (Kipper et al., 2013).

A implantação da gestão de processo proporciona a aquisição de mais conhecimento aos

colaboradores que começam a enxergar o inicio e o fim do processo e suas interações e o entendimento

de como suas atividades colaboram para o alcance do objetivo final (ALBERTI et al., 2013). São

necessárias mudanças profundas nas organizações, nos valores, nas aspirações, nos comportamentos

das pessoas, nas estratégias, nos processos, nas práticas e sistemas (Kipper et al., 2013).

A mudança da gestão tradicional para a gestão de processo pode ser traumática, pois as pessoas

precisam mudar a maneira de pensar para entender melhor o negócio, geralmente com mais

responsabilidade e trabalho em equipe que se torna fundamental para garantir o comprometimento de

todos, mudando as percepções de que as necessidades do cliente são consideradas apenas no final do

processo (STORCH et al., 2013b). Deste modo a atividade anteriormente realizada individualmente,

especializada e voltada ao seu setor de atuação, cedeu lugar para o trabalho em equipe, através da

cooperação, dos múltiplos conhecimentos e do compromisso pelo processo como um todo. Incentivam

todos a se sentirem responsáveis, a zelar pelos processos, de modo mais amplo (ALBERTI et al., 2013).

As empresas precisam visualizar seus processos de forma global e integrada, com foco na

otimização de custos, melhoria da qualidade e redução de perdas, por isso as pessoas precisam

trabalhar em equipe buscando continuamente fornecer mais valor ao cliente (STORCH et al., 2013a).

As empresas enfrentam muita pressão para atender a demanda do mercado global, precisam

produzir quantidade elevada e com boa qualidade do produto, no tempo de entrega e preço compatível

com o praticado pela sua concorrência, focando-se para atender as necessidades dos clientes como

exigência para permanecer no mercado global (NAUFAL, et al., 2012).

O sistema Kanban é uma abordagem do sistema de tração dando autorização para produzir a

quantidade necessária e no tempo específico a fim de repor a parte que foi enviada ao cliente, ou seja é

um método de redução dos níveis de estoque, produzir a quantidade necessária no tempo certo.

(NAUFAL, et al., 2012; PISUCHPEN, 2012). Uma evolução da aplicação do sistema JIT foi a criação

do sistema puxado de produção. Shimolawa e Fujimoto (2011) apresentam quatro etapas para o

desenvolvimento do sistema puxado no Sistema de Produção da Toyota (SPT):

a) primeira etapa, até 1955: organização do arranjo físico na seqüência dos processos e

desenvolvimento de operadores multifuncionais;

b) segunda etapa, de 1956 a 1965: desenvolvimento do método puxado integrando as linhas de

componentes com as linhas de montagem de motores e suspensões;

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c) terceira etapa, de 1966 a 1975: sincronia da produção através do desenvolvimento do sistema

puxado entre linhas para montagem de veículos e os processos, sendo eles próprios ou terceiros

internalizados;

d) quarta etapa, de 1976 em diante: uso de equipamentos com comunicação eletrônica,

integrando as atividades ao longo da linha de produção com etapas anteriores.

O Kanban é um subsistema do SPT, é usado para controlar os estoques em processo, a

produção e o suprimento de componentes e, em determinados casos, de matérias-primas. Definido

como um Sistema de Coordenação de Ordens (SCO) (FERNANDES, GODINHO FILHO, 2007), o

sistema Kanban controla a produção necessária, na quantidade e no momento necessário.

O Kanban contribui na redução do tempo de espera, no volume em estoque, melhora a

produtividade e interliga as operações em um fluxo uniforme contínuo (MOURA, 2007). O Kanban

busca movimentar e fornecer componentes para a produção apenas na quantidade e no momento

necessário, originando o uso do termo JIT para caracterizar este tipo de produção (TUBINO, 2006).

Alguns dos elementos que se inter relacionam no sistem JIT são o takt-time que tenta adequar o

ritmo de produção e vendas evitando superprodução, fluxo contínuo com intuito de diminuir a

movimentaçao e os estoques circulantes, produção puxada sendo o ritmo de trabalho definido pela

necessidade do clientes com o uso do Kanban (Storch et al., 2013b).

O Kanban facilita a programação da produção através da emissão em um único momento das

ordens de produção e posterior controle pelo processo, autores divergem quanto ao número de regras,

ditas básicas, e seu conteúdo, para uso do Kanban. IMAM, (1989, p. 86) cita como sendo seis as

regras, a saber:

1. Não envie produtos com defeito para o processo subseqüente;

2. O processo subseqüente vem retirar apenas o que necessita;

3. Produzir apenas a quantidade exata retirada pelo processo subseqüente;

4. Sincronizar a produção;

5. Kanban é um meio de uniformização;

6. Estabilizar e racionalizar o processo.

Em contrapartida, Moura (2007) cita que são cinco as regras básicas, sendo:

1. Cada processo retira as peças que precisa no processo anterior;

2. Não produzir mais do que o próximo processo solicitar;

3. Não enviar peças defeituosas ao próximo processo;

4. Os cartões Kanban servem como meio de ajuste da produção;

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5. Deve-se estabilizar e racionalizar a produção.

Percebe-se que há variações quanto à ordem e abrangência entre autores, mas qualquer

conhecedor do assunto deixa bem claro algumas circunstâncias que envolvem o uso de Kanban, entre

elas pode-se ver acima que a preocupação em produzir somente o que for necessário e não enviar para

o processo seguinte produtos/peças com defeito estão entre as principais características da ferramenta.

No sistema JIT/Kanban existem sete perdas que foram descritas no Sistema Toyota de Produção, as

quais são: por superprodução, transporte, processamento, produtos defeituosos, espera, nos estoques ou

por movimentação.

Entre os objetivos do Kanban podem ser destacados a minimização dos estoques do material

em processo, produção em pequenos lotes, possibilidade de controle visual e descentralizado. As

funções básicas do Kanban, que tem ligação com o objetivo de evitar a superprodução, além de

flexibilizar, agilizar e tornar confiável o sistema (MOURA, 2007; SLACK; CHAMBERS;

JOHNSTON, 2002) são resumidas a controle da produção just-in-time, controle de estoques e

instrumento de melhoria contínua (MONDEN, 1998; BALLÉ; BALLÉ, 2006).

3. Metodologia

A metodologia da pesquisa é necessária para o estabelecimento de um método de

desenvolvimento do trabalho com o objetivo de confirmar seu rigor científico na solução do problema

apresentado.

Com objetivo de possibilitar a replicação do método utilizado, classificou-se a pesquisa de

acordo com critérios de metodologia científica, a seguir descritos:

Quanto as variáveis envolvidas a pesquisa é qualitativa, que se propõe a contribuir para melhor

entendimento do tema proposto, estudando novas hipóteses e meio de monitoramento (MALHOTRA,

2006). Considerando que não adianta ter-se monitoramento e levantamento de dados sem interpreta-

los, essa pesquisa pode ser classificada como quantitativa (GODOY, 1995; GASKELL e BAUER,

2003).

Quanto aos objetivos a pesquisa é exploratória, considerando que foi efetuada revisão

bibliográfica, e descritiva, devido ao levantamento de dados necessário (GIL, 2002). Descritiva, pois

serão descritos fatos conhecidos a partir da pesquisa exploratória (SANTOS, 2000).

Quanto aos procedimentos de coleta de dados foi adotado para a pesquisa o estudo de caso,

considerado adequado para análise explicativa de fatos isolados (SANTOS, 2000).

Para elaborar um bom questionário devem ser seguidas algumas etapas, especificar a

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informação necessária, definir o tipo de entrevista e conteúdo das questões, planejar as questões e

decidir sobre sua estrutura, definir enunciado e ordenar adequadamente as questões, elaborar a

montagem e montar o questionário e realizar teste experimental do questionário (MALHOTRA, 2006).

De posse dessas informações, a partir do acompanhamento do processo e da experiência do

pesquisador, foi elaborado questionário com objetivo de identificar a situação quanto as sete perdas do

JIT/Kanban, sendo que seis grupos de perdas foram contempladas por três questões cada

(superprodução, transporte, processamento, produtos defeituosos, nos estoques ou por movimentação)

e um (perdas por espera) com quatro questões, conforme consta no quadro 1.

Utilizou-se questionário com questões escalonadas, ou seja, com múltipla escolha, onde as

opções se dedicam a medir a intensidade das respostas. Como técnica de escalonamento foi utilizada a

escala de Likert com cinco categorias de resposta, sendo elas Nunca, Quase nunca, Às vezes, Quase

sempre, Sempre. Para tabulação dos dados foram considerados os pesos de 1 a 5, ou seja, se o

respondente assinalar em nunca o peso é 1, quase nunca é 2 e assim sucessivamente até o sempre que é

5.

Para validação, como pré-teste, o questionário foi aplicado a três participantes do processo,

como seu resultado foi satisfatório e o mesmo entendido por todos, mostrou que não havia necessidade

de ajustes. Em seguida o questionário foi aplicado a todos os usuários do sistema, vinte pessoas

envolvidas.

Para tabulação dos dados do questionário (cálculos estatísticos da média dos pesos e do valor

atribuído) e apresentação dos resultados através de gráficos utilizou-se o software Excell.

Quadro 1 – Questionário aplicado aos clientes e fornecedores do sistema JIT/Kanban relativas

às sete perdas do sistema

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Fonte: Elaborado pelos autores

Dando prosseguimento ao trabalho parte-se para a aplicação do questionário e análise dos

resultados obtidos.

4. Aplicação e análise dos resultados

Os respondentes do questionário eram quinze mulheres e cinco homens, sendo que setenta por

cento dos colaboradores trabalha a mais de dois anos na organização pesquisada e são usuários atuais

do sistema. O questionário apresentou questões relativas a cada uma das sete perdas do sistema

JIT/Kanban.

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Na sequência são apresentados os grupos de questões com seus respectivos resultados,

mostrando situação atual e ideal na opinião das pessoas que utilizam o sistema.

Observa-se na figura 1 que os resultados do grupo de questões de perdas por superprodução,

com destaque para a média de respostas das questões que tratam de quantidade de peças e níveis de

estoque do Kanban. A menor média do grupo foi 2,36 para a questão que abordou se o processo para

quando os reservatórios estão cheios, o processo para. E para a média de valor atribuído observasse

que a maior importância está nos níveis de estoque, se estão visíveis com pontuação de 4,55,

considerando que a pontuação máxima é 5.

Figura 1 – Resultado das questões relativas a perdas por superprodução

Fonte: Elaborado pelos autores

Os resultados das questões sobre perdas por transporte são apresentados na figura 2, tendo a

menor média das respostas do grupo de questões envolvendo distância de deslocamento com 3,05. Na

média de valor atribuído observa-se que foi dado maior importância para a existência de meio de

transporte auxiliar para transportar as peças com pontuação de 4,1.

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Figura 2 – Resultado das questões de perdas por transporte

Fonte: Elaborado pelos autores

A questão que abordou a quantidade de movimentações por dia foi a que recebeu menor média

no grupo de questões que tratou perdas por processamento e que é apresentado na figura 3 com a

pontuação de 2,6. Percebe-se pelos resultados do grupo que as peças são transportadas mais que uma

vez por dia, merecendo atenção para redução de tempo perdido com transporte.

Figura 3 - Resultado das questões de perdas por processamento

Fonte: Elaborado pelos autores

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As questões envolvendo perdas por produtos defeituosos são apresentadas na figura 4. Pelos

resultados apresentados nos três itens analisados, o processo é controlado e quando necessário é

realizado o trabalho de revisão na produção. A média de valor atribuído neste item foi o que alcançou

o resultado mais próximo da média das respostas obtidas o que indica a importância desta perda no

processo produtivo e que o mesmo recebe monitoramento constante por parte dos envolvidos neste

processo.

Figura 4 - Resultado das questões de perdas por produtos defeituosos

Fonte: Elaborado pelos autores

Na figura 5 são apresentadas as questões sobre perdas por espera no processo, esse é o único

grupo que foi formado por quatro questões, não demonstrando maior ou menor importância no

contexto da pesquisa. O item ao qual foi atribuída menor importância para o processo foi a existência

de peças para evitar atrasos com pontuação de 3,35.

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Figura 5 – Resultado das questões de perdas por espera

Fonte: Elaborado pelos autores

A ocupação de espaço pelos reservatórios do Kanban recebeu a pior nota no grupo de questões

que trata de perdas nos estoques apresentadas na figura 6. Os espaços utilizados pelos reservatórios do

Kanban merecem análise, visto que tiveram média abaixo de três pontos.

Figura 6 – Resultado das questões de perdas nos estoques

Fonte: Elaborado pelos autores

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Observa-se na figura 7 que os resultados do grupo de questões sobre perdas por movimentação,

foi o único grupo que apresentou média das respostas superior ou igual a média do peso atribuído pelas

pessoas, sendo que somente se igualou em um dos pontos que questionava sobre a facilidade de se

trabalhar com o sistema Kanban onde a pontuação obtida ficou em 4,4.

Figura 7 – Resultado das questões de perdas por movimentação

Fonte: Elaborado pelos autores

Este trabalho de pesquisa foi primordial para conscientizar, comprometer e valorizar as pessoas

da organização que utilizam este sistema no seu dia-a-dia, demonstrando a sua real importância para o

bom funcionamento do processo produtivo e para alcance dos resultados.

3. Considerações Finais

No grupo de questões que abordou perdas por superprodução fica claro o descumprimento de

preceito básico do sistema no que refere-se a controle e redução de estoque quando o processo de

produção continua mesmo após completados os volumes de estoque determinados, embora haja

visibilidade dos níveis de estoque do Kanban e o resultado das respostas para as duas primeiras

questões encontram-se acima da expectativa, identificado a partir do fato de as médias das respostas

estarem mais altas que a média do valor atribuído.

Quando analisado o grupo de questões sobre perdas por transporte, identifica-se a necessidade

de reavaliar distâncias de deslocamento de peças, conseguindo com ajustes nesse quesito melhorar

consideravelmente o resultado geral do grupo, pois foi a única situação com média de resposta inferior

a sua importância. De forma similar ocorre no conjunto de questões sobre perdas por processamento,

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onde se identifica problema relacionado à movimentação de peças, conclusão a partir da média de

valor obtida de 2,60 na questão que trata da quantidade de movimentações por dia. Mesmo com peso

atribuído de apenas 3,40 existe diferença superior a vinte por cento entre as médias. Observada a

homogeneidade das respostas do grupo de questões sobre perdas por produtos defeituosos, figura 4,

conclui-se que existe controle no processo através de inspeções e ações em caso de identificação de

falhas, melhor média de resposta entre os grupos.

Se condição básica de parar quando estoque cheio não é respeitada, por outro lado a priorização

de peças quando os cartões alcançam nível crítico balisa funcionamento adequado do sistema, primeira

situação do grupo de questões da figura 5 que abordou perdas por espera, mesmo que deva evoluir na

visão dos usuários. Enquanto no grupo que tratou perdas por estoque, figura 6, ficou evidenciada a

necessidade de melhorar a ocupação de espaço pelos reservatórios, pois as respostas à segunda questão

apresentou média abaixo de 3 pontos, necessitando de reavaliação para que possibilite o sistema atuar

com maior número de componentes, no conjunto de questões que tratou de perdas por movimentação,

observado na figura 7, percebe-se que a média das respostas foi superior à média do peso atribuído

pelos colaboradores, com destaque para a movimentação de peças, onde as pessoas consideraram

aceitável para a organização o fato de peças serem movimentadas por distâncias maiores que cinco

metros e diariamente.

A aplicação do questionário permitiu identificar as perdas existentes no processo que utiliza o

sistema JIT/Kanban na opinião dos colaboradores que fazem uso do mesmo e mostrou que a partir da

simples pesquisa junto aos mesmos as organizações podem identificar oportunidades de melhoria e

inclusive contribuir com sugestões na sua implantação.

Dessa forma fica evidente a contribuição da pesquisa para replicação em qualquer organização

que utiliza o sistema, pois o funcionamento do sistema JIT/Kanban é simples, seus resultados são

benéficos, mas é preciso integração e disciplina para seu correto funcionamento, talvez essa

necessidade somada a existência de diversos sistemas mais modernos dificulte sua aplicação ou

coloque em dúvida seus resultados.

O que não faltam são oportunidades para melhorar os resultados, seja com eliminação de perda,

melhor aproveitamento da estrutura ou investimento em equipamentos, desde que seja amparado por

uma metodologia (STORCH; STORCH e MORAES, 2007; NARA; KIPPER; LIMA e STORCH,

2012).

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