sistemaproducao-APIÁRIO- Prof.Juninho.PDF

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  • Sistemas deProduo 3

    Teresina, PI2002

    Ricardo Costa Rodrigues de CamargoEditor Tcnico

    ISSN 0104-866X

    Dezembro, 2002Empresa Brasileira de Pesquisa AgropecuriaCentro de Pesquisa Agropecuria do Meio-NorteMinistrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento

    Produo de Mel

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  • Exemplares desta publicao podem ser adquiridos na:

    Embrapa Meio-NorteAv. Duque de Caxias, 5650, Buenos AiresCaixa Postal 01CEP. 64006-220 Teresina, PI,Fone: (86) 225-1141Fax: (86) 225-1142.Home page: www.cpamn.embrapa.br.Vendas: [email protected].

    Comit de Publicaes

    Presidente: Valdenir Queiroz RibeiroSecretria executiva: rsula Maria Barros de ArajoMembros: Expedito Aguiar Lopes, Maria do Perptuo Socorro Cortez Bona do

    Nascimento, Edson Alves Bastos, Milton Jos Cardoso e Joo AvelarMagalhes

    Supervisor editorial: Lgia Maria Rolim BandeiraRevisor de texto: Francisco de Assis DavidNormalizao bibliogrfica: Orlane da Silva MaiaDiagramao eletrnica: Erlndio Santos de Resende

    1 edio1 impresso (2002) 500 exemplares

    Todos os direitos reservados.A reproduo no-autorizada desta publicao, no todo ou em parte, constitui violaodos direitos autorais (Lei n 9.610).

    Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP)Embrapa Meio-Norte

    Produo de mel / Ricardo Costa Rodrigues de Camargo ... [et et.]. - Teresina :Embrapa Meio-Norte, 2002.138 p. : il.; 21 cm. - (Embrapa Meio-Norte. Sistemas de Produo ; 3).

    CDD 638.1 (21. ed.)

    Embrapa 2002

    1. Apicultura 2. Mel de abelha 3. Mercado 4. Sistema de produo.I Camargo, Ricardo Costa Rodrigues de. II. Embrapa Meio-Norte. III Srie.

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  • Autores

    Ricardo Costa Rodrigues de CamargoBilogo, Doutor em Zootecnia, Embrapa Meio-Norte,Caixa Postal 01, CEP 64006-220 Teresina, [email protected]

    Fbia de Mello PereiraEngenheira Agrnoma, Doutoranda em Zootecnia,Embrapa Meio-Norte, Caixa Postal 01, CEP 64006-220Teresina, [email protected]

    Maria Teresa do Rgo LopesEngenheira Agrnoma, Doutora em Entomologia,Embrapa Meio-Norte, Caixa Postal 01, CEP 64006-220Teresina, [email protected]

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  • Apresentao

    A apicultura uma das atividades capazes de causar impactos positivos, tantosociais quanto econmicos, alm de contribuir para a manuteno e preservaosdos ecossistemas existentes. a cadeia produtiva da apicultura propicia a geraode inmeros postos de trabalho, empregos e fluxo de renda, principalmente noambiente da agricultura familiar, sendo, dessa forma, determinante na melhoriada qualidade de vida e fixao do homem no meio rural.

    O Brasil apresenta caractersticas especiais de flora e clima que aliado presenada abelha africanizada, lhe conferem um potencial fabuloso para a ativbidadeapcola, ainda pouco explorada. Nesse sentido, a Embrapa vem apoiando odesenvolvimento da apicultura no Brasil, especialmente na regio Nordeste, porintermdio da Embrapa Meio-Norte, que tem como um de seus objetivospromover a gerao e transferncia de tecnologias, que visem a melhoria dodesempenho do agronegcio apcola, contribuindo dessa forma com o aumentode produtividade e a melhoria da qualidade dos produtos da comia.

    Este documento contm importantes informaes, apresentadas de maneiraprtica, que, juntamente com as aes de pesquisa e desenvolvimento que vmsendo executadas nessa rea, iro favorecer o aumento da competitividade dosetor tanto para o mercado interno, como para o externo, contribuindo paraelevar o Pas a uma posio de destaque no mercado munidal de mel.

    Maria Pinheiro Fernande CorraChefe-Geral da Embrapa Meio-Norte

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  • Sumrio

    Produo de mel ...................................................... 11Introduo ............................................................. 11Histrico ............................................................... 12

    Surgimento das abelhas .............................................. 12Histrico da apicultura ................................................ 12Introduo da Apis mellifera no Brasil .......................... 14

    Importncia econmica ........................................................... 17Produo de mel no Brasil e no mundo.................... 17Outros produtos importantes da atividade ............... 19Cera ................................................................... 19Prpolis ............................................................... 19Plen .................................................................. 20Polinizao .......................................................... 20Gelia real .......................................................... 21Apitoxina ........................................................... 21

    Raas de abelhas Apis mellifera ............................... 22Apis mellifera mellifera (abelha real, alem, comum ounegra) ........................................................................ 22Apis mellifera lingustica (abelha italiana) ...................... 22Apis mellifera caucasica .............................................. 23Apis mellifera carnica (abelha carnica) .......................... 23Apis mellifera scutellata (abelha africana) ..................... 24Abelha africanizada .................................................... 24Outras raas de abelhas .............................................. 25

    Mel ....................................................................... 26Definio e origem ..................................................... 27Composio ............................................................... 28

    Acares ........................................................................ 29gua .............................................................................. 29Enzimas ........................................................................... 30Protenas ......................................................................... 32cidos ............................................................................ 32Minerais .......................................................................... 33Outros ............................................................................ 34

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  • Propriedades teraputicas .......................................... 35Aspectos morfolgicos das abelhas Apis mellifera ...... 37

    Cabea ..................................................................... 37Trax ........................................................................ 40Abdome .................................................................... 40

    Organizao social e desenvolvimento das abelhas Apismellifera ................................................................ 41

    Organizao e estrutura da colmeia............................. 41Desenvolvimento das abelhas ..................................... 47Estrutura e uso dos favos ........................................... 48Diferenciao das castas ............................................ 49Comunicao ............................................................ 50Termorregulao da colmeia ....................................... 53

    Equipamentos ........................................................ 54Martelo de marceneiro e alicate ................................. 54Arame ...................................................................... 55Esticador de arame ................................................... 55carretilha de apicultor ............................................... 55Incrustador eltrico de cera ....................................... 56Limpador de canaleta ................................................ 56Fumigador ................................................................ 57Formo de apicultor .................................................. 58Vassoura ou espanador apcola .................................. 59

    Vestimentas .......................................................... 59Macaco .................................................................. 59Luva ........................................................................ 60Bota......................................................................... 60Colmeia ................................................................... 60

    Instalao do Apirio .............................................. 66Tipos de apirios ...................................................... 66

    Apirio fixo ...................................................................... 66Apirio migratrio ............................................................. 67

    Localizao do apirio ............................................... 68Flora apcola .................................................................. 68Outros fatores a serem considerados ................................. 69

    Povoamento da colmeia .......................................... 72Caixa isca (captura passiva) ....................................... 72Coleta de enxame migratrio (captura ativa) .............. 73

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  • Coleta de enxame fixo .............................................. 73Diviso de enxame .................................................... 74

    Manejo produtivo das colmeias ................................ 75Reviso das colmeias ................................................ 75

    Quando e como realizar as revises .................................... 75O que observar durante as revises .................................... 77

    Algumas situaes encontradas durante as revises emedidas recomendadas .............................................................. 78

    Fortalecimento e unio das famlias ..................................... 79Fortalecendo enxames ...................................................... 79Unio de enxames ............................................................ 80Diviso das famlias .......................................................... 82Colmeia poedeira ou zanganeira ......................................... 82Pilhagem ....................................................................... 84Troca de quadras e caixas ................................................ 84

    Alimentao .......................................................... 85Perodo de alimentao ............................................. 87Alimentao e produo de mel................................. 87Alimentao energtica ............................................. 88Alimentao protica ................................................ 90Alimentadores .......................................................... 92

    Alimentador de boardman ................................................. 93Alimentador de cobertura ou bandeja .................................. 94Alimentador doolitle ou de cocho interno ............................. 95

    Precaues ............................................................... 96Doenas e inimigos naturais das abelhas .................... 96Doenas das abelhas................................................. 97

    Importncia ................................................................... 97Doenas de crias ............................................................ 98

    Cria ptrida europia (CPE) .................................................... 99Cria ptrida americana (CPA) ................................................. 100Cria ensacada ....................................................................... 104Cria giz ................................................................................ 105

    Doenas e parasitoses de abelhas adultas ............................ 106Nosemose .............................................................................. 106Acariose ................................................................................. 107

    Como enviar amostras de abelhas com sintomas de doenaspara anlise em laboratrio ................................................ 107

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  • Outros organismos que causam danos a crias e adultos ....108caro Varroa destructor .................................................. 108Traas-da-cera ............................................................... 109Formigas e cupins ........................................................... 110

    Substituio de rainhas .......................................... 111Cuidados na substituio ........................................ 113

    Manejo de colheita ................................................. 113Vestimentas ............................................................. 114Fatores climticos ..................................................... 114Uso da fumaa ......................................................... 114Seleo dos quadros ................................................. 114Transporte das melgueiras durante a colheita ............. 115

    Cuidados com o veculo e o transporte .....................116Extrao e processamento do mel ............................ 117

    Instalaes ............................................................... 117Casa do mel ................................................................... 118Projeto arquitetnico ....................................................... 118Caractersticas gerais da construo .................................. 118

    Equipamentos e utenslios ......................................... 120Garfo desoperculador ..................................................... 120Faca desoperculadora ..................................................... 121Aparelho automtico de desoperculao ............................ 121Mesa desoperculadora .................................................... 121Peneiras ....................................................................... 122Balde ........................................................................... 122Centrfuga .................................................................... 122Decantador ................................................................... 123Homnogenizador ............................................................ 123Mesa Coletora ............................................................... 124

    Higienizao ............................................................. 124Processamento ......................................................... 126Armazenamento ....................................................... 127Embalagem .............................................................. 127

    Referncias Bibliogrficas ........................................ 129

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  • Produo de MelRicardo Costa Rodrigues de CamargoFbia de Mello PereiraMaria Teresa do Rgo Lopes

    Introduo

    O mel usado como alimento pelo homem desde a pr-histria. Por vriossculos, foi retirado dos enxames de forma extrativista e predatria, muitasvezes causando danos ao meio ambiente, matando as abelhas. Entretanto, com otempo, o homem foi aprendendo a proteger seus enxames, instal-los emcolmeias racionais e manej-los de forma que houvesse maior produo de melsem causar prejuzo para as abelhas. Nascia, assim, a apicultura.

    Essa atividade atravessou o tempo, ganhou o mundo e se tornou umaimportante fonte de renda para vrias famlias. Hoje, alm do mel, possvelexplorar, com a criao racional das abelhas, produtos como: plen apcola,gelia real, rainhas, polinizao, apitoxina e cera. Existem casos de produtoresque comercializam enxames e crias.

    O Brasil , atualmente, o 6 maior produtor de mel (ficando atrs somente daChina, Estados Unidos, Argentina, Mxico e Canad), entretanto, ainda existeum grande potencial apcola (flora e clima) no-explorado e grande possibilidadede se maximizar a produo, incrementando o agronegcio apcola. Para tanto, necessrio que o produtor possua conhecimentos sobre biologia das abelhas,tcnicas de manejo e colheita de mel, pragas e doenas dos enxames,importncia econmica, mercado e comercializao.

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  • 13Produo de mel

    Histrico

    Surgimento das abelhas

    As abelhas so descendentes das vespas que deixaram de se alimentar depequenos insetos e aranhas para consumirem o plen das flores, quando essassurgiram, h cerca de 135 milhes de anos. Durante esse processo evolutivo,surgiram vrias espcies de abelhas. Hoje se conhecem mais de 20 mil espcies,mas acredita-se que existam umas 40 mil espcies ainda no-descobertas.Somente 2% das espcies de abelhas so sociais e produzem mel. Entre asespcies produtoras de mel, as do gnero Apis so as mais conhecidas edifundidas.

    O fssil mais antigo desse gnero que se conhece da espcie j extinta Apisambruster e data de 12 milhes de anos. Provavelmente, esse gnero de abelhatenha surgido na frica aps a separao do continente americano, tendoposteriormente migrado para a Europa e sia, originando as espcies Apismellifera, Apis cerana, Apis florea, Apis korchevniskov, Apis andreniformis, Apisdorsata, Apis laboriosa, Apis nuluensis e Apis nigrocincta .

    As abelhas que permaneceram na frica e Europa originaram vrias subespciesde Apis mellifera adaptadas s diversas condies ambientais em que sedesenvolveram. Embora, hoje, essa espcie seja criada no continente Americanoe na Oceania, ela s foi introduzida nessas regies no perodo da colonizao.

    Histrico da apicultura

    Pesquisas arqueolgicas mostram que as abelhas sociais j produziam eestocavam mel h 20 milhes de anos, antes mesmo do surgimento do homemna Terra.

    No incio, o homem promovia uma verdadeira caada ao mel, tendo queprocurar e localizar os enxames, que muitas vezes nidificavam em locais de difcilacesso e de grande risco para os coletores. Naquela poca, o alimento ingerido

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  • 14 Produo de mel

    era uma mistura de mel, plen, crias e cera, pois o homem ainda no sabia comoseparar os produtos do favo. Os enxames, muitas vezes, morriam ou fugiam,obrigando o homem a procurar novos ninhos cada vez que necessitasse retirar omel para consumo.

    H, aproximadamente, 2.400 anos a.C., os egpcios comearam a colocar asabelhas em potes de barro. A retirada do mel ainda era muito similar caadaprimitiva; entretanto, os enxames podiam ser transportados e colocados prximo residncia do produtor.

    Apesar de os egpcios serem considerados os pioneiros na criao de abelhas, apalavra colmeia vem do grego, pois os gregos colocavam seus enxames emrecipientes com forma de sino, feitos de palha tranada chamada de colmo.

    Naquela poca, as abelhas j assumiam tanta importncia para o homem queeram consideradas sagradas para muitas civilizaes. Com isso, vrias lendas ecultos surgiram a respeito desses insetos. Com o tempo, elas tambm passarama assumir grande importncia econmica e a ser consideradas um smbolo depoder para reis, rainhas, papas, cardeais, duques, condes e prncipes, fazendoparte de brases, cetros, coroas, moedas, mantos reais, entre outros.

    Na Idade Mdia, em algumas regies da Europa, as rvores eram propriedade dogoverno, sendo proibido derrub-las, pois poderiam servir de abrigo a umenxame no futuro. Os enxames eram registrados em cartrio e deixados deherana por escrito e o roubo de abelhas era considerado um crime imperdovel,podendo ser punido com a morte.

    Nesse perodo, muitos produtores j no suportavam ter que matar suas abelhaspara coletar o mel e vrios estudos iniciaram-se nesse sentido. O uso derecipientes horizontais e com comprimento maior que o brao do produtor foiuma das primeiras tentativas. Nessas colmeias, para colheita do mel, o apicultorjogava fumaa na entrada da caixa, fazendo com que todas as abelhas fossempara o fundo, inclusive a rainha, e depois retirava somente os favos da frente,deixando uma reserva para as abelhas.

    Alguns anos depois surgiu a idia de se trabalhar com recipientes sobrepostos,em que o apicultor removeria a parte superior, deixando reserva para as abelhasna caixa inferior. Embora resolvesse a questo da colheita do mel, o produtor

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  • 15Produo de mel

    no tinha acesso rea de cria sem destru-la, o que impossibilitava um manejomais racional dos enxames. Para resolver essa questo, os produtorescomearam a colocar barras horizontais no topo dos recipientes, separadas poruma distncia igual distncia dos favos construdos. Assim, as abelhasconstruam os favos nessas barras, facilitando a inspeo; entretanto, as lateraisdos favos ainda ficavam presas s paredes da colmeia.

    Em 1851, o Reverendo Lorenzo Lorraine Langstroth verificou que as abelhasdepositavam prpolis em qualquer espao inferior a 4,7 mm e construam favosem espaos superiores a 9,5 mm. A medida entre esses dois espaos Langstrothchamou de espao abelha, que o menor espao livre existente no interior dacolmeia e por onde podem passar duas abelhas ao mesmo tempo. Essadescoberta simples foi uma das chaves para o desenvolvimento da apiculturaracional. Inspirado no modelo de colmeia usado por Francis Huber, que prendiacada favo em quadros presos pelas laterais e os movimentava como as pginasde um livro, Langstroth resolveu estender as barras superiores j usadas e fecharo quadro nas laterais e abaixo, mantendo sempre o espao abelha entre cadapea da caixa, criando, assim, os quadros mveis que poderiam ser retirados dascolmeias pelo topo e movidos lateralmente dentro da caixa. A colmeia dequadros mveis permitiu a criao racional de abelhas, favorecendo o avanotecnolgico da atividade como a conhecemos hoje.

    Introduo da Apis mellifera no Brasil

    As abelhas da espcie Apis mellifera foram introduzidas no Brasil em 1840,oriundas da Espanha e Portugal, trazidas pelo Padre Antnio Carneiro.Provavelmente, as subespcies Apis mellifera mellifera (abelha preta ou alem) eApis mellifera crnica tenham sido as primeiras abelhas a chegarem em nosso pas.

    Em 1845, imigrantes alemes introduziram no Sul do Pas a abelha Apismellifera mellifera. Entre os anos de 1870 a 1880, as abelhas italianas, Apismellifera ligustica foram introduzidas no Sul e na Bahia.

    No se tem registro preciso da introduo das abelhas no Norte e Nordeste doPas, mas, em 1845, Castelo Branco afirmava: as abelhas do Piau no tmferro.

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  • 16 Produo de mel

    Naquele perodo, a maior parte dos apicultores criava abelhas de forma rstica,possuindo poucas colmeias no quintal, onde, em razo da baixa agressividade,eram criadas prximo a outros animais, como porcos e galinhas. O objetivoprincipal da maioria dos produtores era atender s prprias necessidades deconsumo.

    Em meados de 1950, a apicultura sofreu um grande baque em razo deproblemas com a sanidade em funo do surgimento de doenas e pragas(nosemose, acariose e cria ptrida europia), o que dizimou 80% das colmeiasdo Pas e diminuiu a produo de mel drasticamente. Diante desse quadro, ficouevidente que era preciso aumentar a resistncia das abelhas no Pas.

    Assim, em 1956, o professor Warwick Estevan Kerr dirigiu-se frica, comapoio do Ministrio da Agricultura, com a incumbncia de selecionar rainhas decolmeias africanas produtivas e resistentes a doenas. A inteno era realizarpesquisas comparando a produtividade, rusticidade e agressividade entre asabelhas europias, africanas e seus hbridos e, aps os resultados conclusivos,recomendar a abelha mais apropriada s nossas condies.

    Dessa forma, em 1957, 49 rainhas foram levadas ao apirio experimental de RioClaro para serem testadas e comparadas com as abelhas italianas e pretas.Entretanto, nada se concluiu desse experimento, pois, em virtude de umacidente, 26 colmeias africanas enxamearam 45 dias aps a introduo.

    A liberao dessas abelhas muito produtivas, porm muito agressivas, criou umgrande problema para o Brasil. O pavor desse inseto invadiu o mundo em razode notcias sensacionalistas nas televises, jornais e revistas internacionais.Nesse perodo, nenhum animal foi mais comentado em livros, entrevistas,reportagens e filmes do que as abelhas assassinas ou abelhas brasileiras,como eram chamadas.

    As abelhas assassinas eram consideradas pragas da apicultura e comearam asurgir campanhas para a sua erradicao, no s dos apirios, mas tambm dasmatas, com a aplicao de inseticidas em todo o Pas. Essa atitude, alm de seruma operao de alto custo, provocaria um desastre ecolgico de tamanhoincalculvel.

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  • 17Produo de mel

    Toda essa campanha acabou provocando o abandono de muitos apicultores daatividade e uma queda na produo de mel no Pas. Na verdade, o que aconteciaera uma completa inadequao da forma de criao e manejo das abelhasafricanas. Embora as tcnicas usadas fossem adaptadas s abelhas europias,para as abelhas africanas, as vestimentas eram inadequadas; os fumigadores,pequenos e pouco potentes; as tcnicas de manejo, imprprias para as abelhas eas colmeias dispostas muito prximas das residncias, escolas, estradas e deoutros animais. Todos esses fatores, em conjunto com a maior agressividade,facilitavam o ataque e os acidentes.

    Com isso, muitos produtores considerados amadores abandonaram a atividade eos que permaneceram tiveram que se adaptar s novas tcnicas de manejo,profissionalizando-se cada vez mais para controlar a agressividade das abelhas.

    Na tentativa de amenizar a situao, distriburam-se entre os apicultores rainhasitalianas fecundadas por zanges italianos. Tal iniciativa no deu certo porque osprodutores, j sabendo da maior produtividade das abelhas africanas, eliminavamas rainhas italianas. A soluo foi distribuir rainhas italianas virgens, que seacasalavam com zanges africanos, obtendo uma prole mais produtiva e menosagressiva.

    Outros fatores importantes que contriburam para a reduo da agressividade dasabelhas africanas e para o crescimento e desenvolvimento da atividade foram: ainterao entre produtores e pesquisadores nos congressos e simpsios; acriao de concursos premiando novos inventos; a liberao de crditos para aatividade; a participao do Pas em eventos internacionais; o investimento empesquisas; a criao da Confederao Brasileira de Apicultura em 1967; e avalorizao progressiva de outros produtos apcolas.

    Hoje, as abelhas chamadas de africanizadas, por terem herdado muitascaractersticas das abelhas africanas, so consideradas como as responsveispelo desenvolvimento apcola do Pas, de modo que o Brasil, que era o 28produtor mundial de mel (5 mil t/ano), passou para o 6 (20 mil t em 2001). Aagressividade considerada por muitos apicultores como um forte aliado paraevitar roubo da sua produo e ainda vem a vantagem de serem resistentes avrias pragas e doenas que assolam a atividade em todo o mundo, mas no tmsido problema no Brasil.

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  • 18 Produo de mel

    Importncia econmica

    Estudos sobre a produo apcola no Brasil mostram dados contraditrios quantoao nmero de apicultores e colmeias, produo e produtividade. Quanto aosapicultores, as pesquisas apontam os extremos entre 26.315 e 300.000; essesprodutores, juntos, possuem entre 1.315.790 e 2.500.000 colmeias e umfaturamento anual entre R$ 84.740.000,00 e R$ 506.250.000,00 (Sampaio,2002).

    Os dados conflitantes refletem a dificuldade em se obterem informaes precisasquanto produo e comercializao no setor agropecurio, entretanto,conseguem passar a idia da importncia dessa atividade para o Pas.

    Produo de mel no Brasil e no mundo

    Dimensionar o volume de mel produzido e comercializado uma tarefa difcil,pois os poucos dados confiveis sobre o assunto so conflitantes. Estima-se quea produo mundial de mel durante o ano de 2001 foi de, aproximadamente,1.263 mil toneladas, sendo a China o maior produtor (256 mil toneladas). ATabela 1 demonstra a produo de mel nos continentes e em alguns pases nosltimos anos.

    Segundo os dados do IBGE, a produo de mel em 2000 no Brasil foi de21.865.144 kg, gerando um faturamento de R$ 84.640.339,00.

    Os maiores exportadores mundiais so: China, Argentina, Mxico, EstadosUnidos e Canad. Juntos, esses pases comercializaram durante o ano de 2001cerca de 242 mil toneladas, movimentando, aproximadamente, 238 mil (Tabela 2).

    Entre janeiro e julho de 2002, o Brasil exportou 10.615 toneladas de mel, masestima-se que o mercado internacional conseguir absorver 170 mil toneladas/ano de mel oriundo do Brasil. Os principais compradores de mel do Pas so:Alemanha, Espanha, Canad, Estados Unidos, Porto Rico e Mxico.

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  • 19Produo de mel

    Tabela 1. Produo mundial de mel em mil toneladas.

    Continente/Pas 1998 1999 2000 2001

    sia 401 435 457 465

    China 211 236 252 256

    Amrica do Norte e Central 218 201 208 205

    Canad 46 37 31 32

    Estados Unidos 100 94 100 100

    Mxico 55 55 59 56

    Amrica do Sul 109 133 141 131

    Argentina 75 93 98 90

    Brasil 18 19 22 20

    Europa 291 293 286 288

    Unio Europia 109 117 112 111

    Oceania 31 29 29 29

    Austrlia 22 19 19 19

    Total 1188 1232 1265 1263Fonte: Braunstein (2002).

    Tabela 2. Principais exportadores de mel (em mil toneladas) e os ganhos (em mildlares).

    Pas 1998 1999 2000 Mel U$ Mel U$ Mel U$

    China 79 87 87 79 103 87Argentina 68 89 93 96 88 87Mxico 32 42 22 25 31 35Estados Unidos 5 9 5 9 5 8Canad 11 20 15 21 15 21Unio Europia 44 46 48Fonte: Braunstein (2002).

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  • 20 Produo de mel

    Outros produtos importantes da atividade

    Alm do mel, que ser descrito com maiores detalhes adiante, o produtor poderobter renda de seus produtos descritos a seguir:

    Cera

    Utilizada pelas abelhas para construo dos favos e fechamento dos alvolos(oprculo). Produzida por glndulas especiais (cerperas), situadas no abdmendas abelhas operrias. A cera de Apis mellifera possui 248 componentesdiferentes, nem todos ainda identificados. Logo aps sua secreo, a cera possuiuma cor clara, escurecendo com o tempo, em virtude do depsito de plen e dodesenvolvimento das larvas.

    As indstrias de cosmticos, medicamentos e velas so as principaisconsumidoras de cera; entretanto, tambm utilizada na indstria txtil, nafabricao de polidores e vernizes, no processamento de alimentos e na indstriatecnolgica. Os principais importadores so: Estados Unidos, Alemanha, ReinoUnido, Japo e Frana; os principais exportadores so: Chile, Tanznia, Brasil,Holanda e Austrlia.

    Prpolis

    Substncia resinosa, adesiva e balsmica, elaborada pelas abelhas a partir damistura da cera e da resina coletada das plantas, retirada dos botes florais,gemas e dos cortes nas cascas dos vegetais.

    A prpolis usada pelas abelhas para fechar as frestas e a entrada do ninho,evitando correntes de ar frias durante o inverno. Em razo das suas propriedadesbactericidas e fungicidas, usada tambm na limpeza da colnia e para isolaruma parte do ninho ou algum corpo estranho que no pode ser removido dacolnia.

    Sua composio, cor, odor e propriedades medicinais dependem da espcie deplanta disponvel para as abelhas. Atualmente, a prpolis usada,principalmente, pelas indstrias de cosmticos e farmacutica. Cerca de 75% daprpolis produzida no Brasil exportada, sendo o Japo o maior comprador.

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  • 21Produo de mel

    Plen

    Gameta masculino das flores coletado pelas abelhas e transportado para acolmeia para ser armazenado nos alvolos e passar por um processo defermentao. Usado como alimento pelas abelhas na fase larval e abelhas adultascom at 18 dias de idade. um produto rico em protenas, lipdios, minerais evitaminas.

    Em virtude do seu alto valor nutritivo, usado como suplementao alimentar,comercializado misturado com o mel, seco, em cpsulas ou tabletes. Noexistem dados sobre a produo e comercializao mundial desse produto.

    Polinizao

    A polinizao a transferncia do plen (gameta masculino da flor) para o vuloda mesma flor ou de outra flor da mesma espcie. S aps essa transferncia que ocorre a formao dos frutos.

    Muitas vezes, para que ocorra essa transferncia, necessria a ajuda de umagente. Alm da gua e do vento, diversos animais podem servir de agentespolarizadores, como insetos, pssaros, morcegos, ratos, macacos, entretanto, asabelhas so os agentes mais eficientes da maioria das espcies vegetaiscultivadas.

    Em locais com alto ndice de desmatamento e devastao ou com predominnciada monocultura, os produtores ficam extremamente dependentes das abelhaspara poderem produzir. Com isso, muitos apicultores alugam suas colmeiasdurante o perodo da florada para servios de polinizao.

    Embora esse tipo de servio no seja comum no Brasil, ocorrendo somente noSul do Pas e em regies isoladas do Rio Grande do Norte, nos EUA metade dascolmeias usada dessa forma, gerando um incremento na renda do produtor.

    Dependendo da cultura, local de produo, manejo utilizado e devastao daregio, a polinizao pode aumentar a produo entre 5 e 500%. Dessa forma,estima-se que por ano a polinizao gere um benefcio mundial acima de cembilhes de dlares (De Jong, 2000).

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  • 22 Produo de mel

    Gelia real

    A gelia real uma substncia produzida pelas glndulas hipofaringeanas emandibulares das operrias com at 14 dias de idade. Na colmeia, usada comoalimento das larvas e da rainha.

    Constituda basicamente de gua, carboidratos, protenas, lipdios e vitaminas, agelia real muito viscosa, possui cor branco-leitosa e sabor cido forte. Emborano seja estocada na colmeias como o mel e o plen, produzida por algunsapicultores para comercializao in natura, misturada com mel ou mesmoliofilizada. A indstria de cosmticos e medicamentos tambm a utilizam nacomposio de diversos produtos.

    A China o principal Pas produtor, responsvel por cerca de 60% da produomundial, exportando, aproximadamente, 450 toneladas/ano para Japo, EstadosUnidos e Europa.

    Apitoxina

    O veneno das abelhas operrias, ou apitoxina, produzido pelas glndulas deveneno nas duas primeiras semanas de vida da operria e armazenado no sacode veneno situado na base do ferro. Cada operria produz 0,3 mg de veneno,que uma substncia transparente, solvel em gua e composta de protenas,aminocidos, lipdios e enzimas.

    Embora a ao anti-reumtica do veneno seja comprovada e o preo no mercadoseja muito atrativo, trata-se de um produto de difcil comercializao, pois, aocontrrio de outros produtos apcolas, o veneno deve ser comercializado parafarmcias de manipulao e indstrias de processamento qumico, em razo dasua ao txica.

    A tolerncia do homem dose do veneno bastante variada. Existem relatos depessoas que sofreram mais de cem ferroadas e no apresentaram sintomasgraves. Entretanto, indivduos extremamente alrgicos podem apresentar choqueanafiltico e falecer com uma nica ferroada.

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  • 23Produo de mel

    Raas de abelhas Apis mellifera

    O habitat das abelhas Apis mellifera bastante diversificado e inclui savana,florestas tropicais, deserto, regies litorneas e montanhosas. Essa grandevariedade de clima e vegetao acabou originando diversas subespcies ou raasde abelhas, com diferentes caractersticas e adaptadas s diversas condiesambientais.

    A diferenciao dessas raas no um processo fcil, sendo realizado somentepor pessoas especializadas, que podem usar medidas morfolgicas ou anlise deDNA.

    A seguir, apresentam-se algumas caractersticas das raas de abelhasintroduzidas no Brasil.

    Apis mellifera mellifera (abelha real, alem, comum ounegra)

    n Originrias do Norte da Europa e Centro-oeste da Rssia, provavelmenteestendendo-se at a Pennsula Ibrica.

    n Abelhas grandes e escuras com poucas listras amarelas.

    n Tm lngua curta (5,7 a 6,4 mm), o que dificulta o trabalho em floresprofundas.

    n Nervosas e irritadas, tornam-se agressivas com facilidade caso o manejo sejainadequado.

    n Produtivas e prolferas, adaptam-se com facilidade a diferentes ambientes.

    n Propolisam com abundncia, principalmente em regies midas.

    Apis mellifera ligustica (abelha italiana)

    n Originrias da Itlia.

    n Essas abelhas tm a colorao amarela intensa; produtivas e muito mansas,so as abelhas mais populares entre apicultores de todo o mundo.

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  • 24 Produo de mel

    Apesar de serem menores que as A.m. mellifera, tm a lngua mais comprida(6,3 a 6,6 mm).

    Possuem sentido de orientao fraco, por isso entram nas colmeias erradasfreqentemente.

    Constrem favos rapidamente e so mais propensas ao saque do que abelhas deoutras raas europias.

    Apis mellifera caucasica

    n Originrias do Vale do Cucaso, na Rssia.

    n Possuem colorao cinza-escura, com um aspecto azulado, plos curtos elngua comprida (pode chegar a 7 mm).

    n Consideradas a raa mais mansa e bastante produtiva.

    n Enxameiam com facilidade e usam muita prpolis.

    n Sensveis Nosema apis.

    Apis mellifera carnica (abelha carnica)

    n Originrias do Sudeste dos Alpes da ustria, Nordeste da Iugoslvia e Valedo Danbio.

    n Assemelham-se muito com a abelha negra, tendo o abdmen cinza oumarrom.

    n Pouco propolisadoras, mansas, resistentes a doenas e bastante produtivas.

    n Coletam honeydew em abundncia.

    n So facilmente adaptadas a diferentes climas e possuem uma tendncia maiora enxamearem.

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  • 25Produo de mel

    Apis mellifera scutellata (abelha africana)

    n Originrias do Leste da frica, so mais produtivas e muito mais agressivas.

    n So menores e constrem alvolos de operrias menores que as abelhaseuropias. Sendo assim, suas operrias possuem um ciclo dedesenvolvimento precoce (18,5 a 19 dias) em relao s europias (21 dias),o que lhes confere vantagem na produo e resistncia ao caro do gneroVarroa.

    n Possuem viso mais aguada, resposta mais rpida e eficaz ao feromnio dealarme, persistncia e ataques susceptveis em massa, incluindo operrias decolmeias vizinhas, tornando-as mais agressivas.

    n Ao contrrio das europias que armazenam muito alimento, elas convertem oalimento rapidamente em cria, aumentando a populao e liberando vriosenxames reprodutivos.

    n Migram facilmente se a competio for alta ou se as condies ambientaisno forem favorveis.

    n Essas caractersticas tm uma variabilidade gentica muito grande e soinfluenciadas por fatores ambientais internos e externos.

    Abelha africanizada

    A abelha, no Brasil, um hbrido das abelhas europias (Apis mellifera mellifera,Apis mellifera ligustica, Apis mellifera caucsica e Apis mellifera crnica) com aabelha africana Apis mellifera scutellata.

    A variabilidade gentica dessas abelhas muito grande, havendo umapredominncia das caractersticas das abelhas europias no Sul do Pas,enquanto ao norte predominam as caractersticas das abelhas africanas.

    A abelha africanizada possui um comportamento muito semelhante ao da Apismellifera scutellata, em razo da maior adaptabilidade dessas raas s condiesclimticas do Pas. Muito agressivas, porm, menos que as africanas, a abelhado Brasil tem grande facilidade de enxamear, alta produtividade, resistncia adoenas e adapta-se a climas mais frios, continuando o trabalho em temperaturasbaixas, enquanto as europias se recolhem nessas pocas.

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  • 26 Produo de mel

    Outras raas de abelhas

    A Tabela 3 cita outras raas de abelha Apis mellifera e o seu local de ocorrncia.

    Tabela 3. Raas de abelhas Apis mellifera e sua distribuio.

    Raa Distribuio

    Apis mellifera adami Creta

    Apis mellifera andansonii Costa Oeste da frica

    Apis mellifera anatolica Turquia at Oeste do Ir

    Apis mellifera armenica Armnia

    Apis mellifera capennsis Sul da frica do Sul

    Apis mellifera cecropia Sul da Grcia

    Apis mellifera cypria Mediterrneo Central e Sudoeste da Europa

    Apis mellifera intermissa Lbia at Marrocos

    Apis mellifera jemenetica Somlia, Uganda, Sudo

    Apis mellifera lamarckii Egito, Sudo e Vale do Nilo

    Apis mellifera litrea Costa Leste da frica

    Apis mellifera macedonica Norte da Grcia

    Apis mellifera major Marrocos

    Apis mellifera meda Turquia at Oeste do Ir

    Apis mellifera nubica frica

    Apis mellifera remipes Regio caucasiana

    Apis mellifera sahariensis Arglia

    Apis mellifera siciliana Ssilia Itlia

    Apis mellifera syriaca Palestina e Sria

    Apis mellifera unicolor Madagascar

    Apis mellifera yementica Yemen e Oman

    Apis mellifera litorea Costa Leste da frica

    Apis mellifera monticola Tanznia, em altitude entre 1.500 e 3.100 m

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  • 27Produo de mel

    Mel

    Atravs dos tempos, o mel sempre foi considerado um produto especial,utilizado pelo homem desde os tempos mais remotos. Evidncias de seu usopelo ser humano aparecem desde a Pr-histria, com inmeras referncias empinturas rupestres e em manuscritos e pinturas do antigo Egito, Grcia e Roma.

    A utilizao do mel na nutrio humana no deveria limitar-se apenas a suacaracterstica adoante, como excelente substituto do acar, mas principalmentepor ser um alimento de alta qualidade, rico em energia e inmeras outrassubstncias benficas ao equilbrio dos processos biolgicos de nosso corpo(Tabela 4).

    Embora o mel seja um alimento de alta qualidade, apenas o seu consumo,mesmo em grandes quantidades, no suficiente para atender a todas as nossasnecessidades nutricionais.

    Tabela 4. Nutrientes do mel em relao aos requerimentos humanos.

    Nutriente Unidade Quantidade em Ingesto diria 100g de mel recomendada

    Energia Caloria 339 2800VitaminaA U.I. - 5000B1 mg 0,004 - 0,006 1,5Complexo B2Riboflavina mg 0,02 - 0,06 1,7Niacina mg 0,11 - 0,36 20B6 mg 0,008 - 0,32 2cido Pantotenico mg 0,02 - 0,11 10cido Flico mg - 0,4B12 mg - 6C mg 2,2 - 2,4 60D U.I. - 400E U.I. - 30Biotina mg - 0,330

    Alm de sua qualidade como alimento, esse produto nico dotado de inmeraspropriedades teraputicas, sendo utilizado pela medicina popular sob diversasformas e associaes com fitoterpicos.

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  • 28 Produo de mel

    Definio e origem

    O mel a substncia viscosa, aromtica e aucarada obtida a partir do nctar dasflores e/ou exsudatos sacarnicas que as abelhas melficas produzem (Fig.1).

    Fig. 1. Mel em favo

    Seu aroma, paladar, colorao, viscosidade e propriedades medicinais estodiretamente relacionados com a fonte de nctar que o originam e tambm com aespcie de abelha que o produziu (Fig. 2).

    Fig. 2. Exemplo da variedade de cores do mel de Apis mellifera.

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  • 29Produo de mel

    O nctar transportado para a colmeia, onde ir sofrer mudanas em suaconcentrao e composio qumica, para ento ser armazenado nos alvolos.Entretanto, mesmo durante o seu transporte para a colmeia, secrees de vriasglndulas, principalmente das glndulas hipofaringeanas, so acrescentadas,introduzindo ao material original enzimas como a invertase (a-glicosidase),diastase (a e amilase), glicose oxidase, catalase e fosfatase.

    Composio

    Apesar de o mel ser basicamente uma soluo saturada de acares e gua, seusoutros componentes, aliados s caractersticas da fonte floral que o originou,conferem-lhe um alto grau de complexidade Tabela 5).

    Segundo Campos (1987), a composio mdia do mel, em termosesquemticos, pode ser resumida em trs componentes principais: acares,gua e diversos. Por detrs dessa aparente simplicidade, esconde-se um dosprodutos biolgicos mais complexos.

    Tabela 5. Composio bsica do mel.

    Composio bsica do melComponente Mdia Desvio-padro Variao

    gua (%) 17,2 1,46 13,4 - 22,9Frutose (%) 38,19 2,07 27,25 - 44,26Glicose (%) 31,28 3,03 22,03 - 40,75Sacarose (%) 1,31 0,95 0,25 - 7,57Maltose (%) 7,31 2,09 2,74 - 15,98Acares totais (%) 1,50 1,03 0,13 - 8,49Outros (%) 3,1 1,97 0,00 - 13,20pH 3,91 - 3,42 - 6,10Acidez livre (meq/kg) 22,03 8,22 6,75- 47,19Lactose (meq/kg) 7,11 3,52 0,00 - 18,76Acidez total (meq/kg) 29,12 10,33 8,68 - 59,49Lactose/Acidez livre 0,335 0,135 0,00 - 0,950Cinzas (%) 0,169 0,15 0,020 - 1,028Nitrognio (%) 0,041 0,026 0,00 - 0,133Diastase 20,8 9,76 2,10 - 61,20

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  • 30 Produo de mel

    Acares

    Os principais componentes do mel so os acares, sendo que osmonossacardeos frutose e glicose representam 80% da quantidade total (WhiteJunior, 1975). J os dissacardeos sacarose e maltose somam 10% (Tabela 6).

    Tabela 6. Comparao de calorias do mel com outros alimentos.

    Alimento Quantidade de calorias/kg

    Acar de Mesa 4.130

    Mel de Abelha 3.395

    Ovos 1.375

    Aves 880

    Leite 600

    White Junior & Siciliano (1980) encontraram em alguns tipos de mel acaresincomuns como a isomaltose, nigerose, leucarose e turanose.

    A alta concentrao de diferentes tipos de acar responsvel pelas diversaspropriedades fsicas do mel, tais como: viscosidade, densidade,higroscopicidade, capacidade de granulao (cristalizao) e valores calricos(Campos, 1987).

    Alm dos acares, a gua presente no mel tem papel importante na suaqualidade e caractersticas.

    gua

    A gua presente no mel apresenta forte interao com as molculas dosacares, deixando poucas molculas de gua disponveis para osmicroorganismos (Verssimo, 1987).

    O contedo de gua do mel pode variar de 15% a 21%, sendo normalmenteencontrados nveis de 17% (Mendes & Coelho, 1983). Apesar de a legislaobrasileira permitir um valor mximo de 20%, valores acima de 18% j podem

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  • 31Produo de mel

    comprometer sua qualidade final. Entretanto, nveis bem acima desses valores jforam encontrados por diversos pesquisadores em diferentes tipos de mel (Costaet al., 1989; Cortopassi-Laurino & Gelli, 1991; Azeredo, M.A.A. & Azeredo,L.C., 1999; Sodr, 2000; Marchini, 2001).

    Em condies especiais de nveis elevados de umidade, o mel pode fermentarpela ao de leveduras osmofilticas (tolerantes ao acar) presentes tambm emsua composio. Segundo Crane (1987), a maior possibilidade de fermentaodo mel est ligada ao maior teor de umidade e leveduras.

    O processo de fermentao pode ocorrer mais facilmente naqueles mischamados verdes, ou seja, mis que so colhidos de favos que no tiveramseus alvolos devidamente operculados pelas abelhas; nessa situao, o melapresenta teor elevado de gua. Entretanto, mesmo o mel operculado pode ternveis acima de 18% de gua, caso o apirio esteja localizado em regio comumidade relativa do ar superior a 60%.

    Outros fatores associados ao processo de fermentao esto relacionados com am assepsia durante a extrao, manipulao, envase e acondicionamento emlocal no-apropriado (Faria, 1983).

    A prpria centrifugao pode contribuir negativamente na qualidade do mel. Acentrfuga pulveriza o mel em micropartculas, favorecendo a absoro de guapela formao de uma grande superfcie em relao ao volume. Se esse processoocorrer em local com umidade relativa alta, o mel pode ter seu teor de guaaumentado. O ideal seria que o local fosse equipado com desumidificador.

    Enzimas

    Segundo Crane (1987), a adio de enzimas pelas abelhas ao nctar ir causarmudanas qumicas, que iro aumentar a quantidade de acar, o que no seriapossvel sem essa ao enzimtica.

    A enzima invertase adicionada pelas abelhas transforma 3/4 da sacarose inicialdo nctar coletado nos acares invertidos glicose e frutose, ao mesmo tempoque acares superiores so sintetizados, no sendo presentes no materialvegetal original. Sua ao contnua at que o amadurecimento total do melocorra.

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  • 32 Produo de mel

    Dessa forma, pode-se definir o amadurecimento do mel como a inverso dasacarose do nctar pela enzima invertase e sua simultnea mudana deconcentrao.

    A enzima invertase ir permanecer no mel conservando sua atividade por algumtempo, a menos que seja inativada pelo aquecimento; mesmo assim, o contedoda sacarose do mel nunca chega a zero. Essa inverso de sacarose em glicose efrutose produz uma soluo mais concentrada de acares, aumentando aresistncia desse material deteriorao por fermentao e promovendo assim oarmazenamento de um alimento altamente energtico em um espao mnimo.

    Outras diversas enzimas, como a diastase, catalase, a-glicosidase, peroxidase,lipase, amilase, fosfatase cida e inulase, j foram detectadas no mel pordiferentes autores (Schepartz & Subers, 1966; White Junior & Kushinir, 1967;Huidobro et al., 1995).

    A diastase quebra o amido, sendo sua funo na fisiologia da abelha ainda noclaramente compreendida, podendo estar envolvida com a digesto do plen.

    Como a diastase apresenta alto grau de instabilidade em frente s temperaturaselevadas, sua presena ou no se faz importante na tentativa de detectarpossveis aquecimentos do mel comercialmente vendido, apesar de que tambmem temperaturas ambientes ela pode vir a deteriorar-se quando o armazenamentofor prolongado.

    A catalase e a fosfatase so enzimas que facilitam a associao acar-lcool,sendo um dos fatores que auxiliam na desintoxicao alcolica pelo mel (Serranoet al., 1994). Entretanto, segundo Weston & Brocklebank (2000), a catalasepresente no mel se origina do plen da flor e sua quantidade no mel depende dafonte floral e da quantidade de plen coletado pelas abelhas.

    A glicose-oxidase, que em solues diludas mais ativa, White Junior (1975),reage com a glicose formando cido glucnico (principal composto cido do mel)e perxido de hidrognio, esse ltimo capaz de proteger o mel contra adecomposio bacteriana at que seu contedo de acares esteja alto osuficiente para faz-lo ( Schepartz et al., 1966; Mendes & Coelho, 1983).

    Segundo White et al. (1963), a principal substncia antibacteriana do mel operxido de hidrognio, cuja quantidade presente no mel dependente tanto dosnveis de glicose-oxidase, quanto de catalase, uma vez que a catalase destri operxido de hidrognio (Weston et al., 2000).

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  • 33Produo de mel

    Protenas

    Em concentraes bem menores, encontram-se as protenas ocorrendo apenasem traos. A protena do mel tem duas origens, vegetal e animal.

    Sua origem vegetal advm do nctar e do plen; j sua origem animal proveniente da prpria abelha (White Junior et al., 1978). No segundo caso,trata-se de constituintes das secrees das glndulas salivares, juntamente comprodutos recolhidos no decurso da colheita do nctar ou da maturao do mel(Campos, 1987).

    Wootton et al. (1976) constataram em seis amostras de mel australianas osseguintes aminocidos livres: leucina, isoleucina, histidina, metionina, alanina,fenilalanina, glicina, cido asprtico, treonina, serina, cido glutmico, prolina,valina, cistena, tirosina, lisina e arginina.

    Dentre esses aminocidos, a prolina, proveniente das secrees salivares dasabelhas, o que apresenta os maiores valores, variando entre 0,2% e 2,8%.Juntamente com o contedo de gua, sua concentrao usada como umparmetro de identificao da maturidade do mel (Costa et al., 1999).Segundo Von Der Ohe et al. (1991), necessrio pelo menos 200 mg deprolina/kg de mel.

    cidos

    Os cidos orgnicos do mel representam menos que 0,5% dos slidos, tendoum pronunciado efeito no flavor, podendo ser responsveis, em parte, pelaexcelente estabilidade do mel em frente a microorganismos. Na literatura, pelomenos 18 cidos orgnicos do mel j foram citados. Sabe-se que o cidoglucnico est presente em maior quantidade, cuja presena relaciona-se com asreaes enzimticas que ocorrem durante o processo de amadurecimento. J emmenor quantidade, podem-se encontrar outros cidos como: actico, butrico,ltico, oxlico, frmico, mlico, succnico, pirvico, gliclico, ctrico,butiricoltico, tartrico, malico, piroglutmico, a-cetoglutrico, 2- ou 3-fosfoglicrico, a- ou b-glicerofosfato e vnico (Strison et al., 1960; White Junior,1975; Mendes & Coelho, 1983).

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  • 34 Produo de mel

    Tan et al. (1988) constataram alguns cidos aromticos no mel unifloral demanuka (Leptopermum scoparium) que no estavam presentes no nctar de suasflores.

    Os mis de manuka e de viperina (Echium vulgare) apresentam alta atividadeantimicrobiana, podendo essa atividade estar relacionada com a presena dealguns tipos de cido (Wilkins et al., 1993).

    Minerais

    Os minerais esto presentes numa concentrao que varia de 0,02% a valoresprximos de 1%. White Junior (1975) constatou valores de 0,15% a 0,25%do peso total do mel.

    Entre os elementos qumicos inorgnicos encontrados no mel, podem-se citar:clcio, cloro, cobre, ferro, mangans, magnsio, fsforo, boro, potssio, silcio,sdio, enxofre, zinco, nitrognio, iodo, rdio, estanho, smio, alumnio, titnio echumbo (White Junior, 1975; Pamplona, 1989).

    Embora em concentraes nfimas, vitaminas, tais como: B1, B2, B3, B5, B6,B8, B9, C e D tambm so encontradas no mel, sendo facilmente assimilveispela associao a outras substncias como o hidrato de carbono, sais minerais,oligoelementos, cidos orgnicos e outros. A filtrao do mel para fim comercialpode reduzir seu contedo de vitaminas, exceto a de vitamina K (Haydak et al.,1943). Segundo Kitzes et al. (1943) tal filtrao retira do mel o plen,responsvel pela presena de vitaminas (Tabela 7).

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  • 35Produo de mel

    Tabela 7. Contedo de minerais em mis claro e escuro e os requerimentoshumanos.

    Elemento Ingesto diria(Macro e Cor Variana Mdia recomendada Micro) (ppm) (ppm) (mg)

    Clcio Clara 23,00 - 68,00 49,00 800Escura 5,00 - 266,00 51,00

    Fsforo Clara 23,00 - 50,00 35,00 800Escura 27,00 - 58,00 47,00

    Potssio Clara 100,00 - 588,00 205,00 782Escura 115,00 - 4733,00 1676,00

    Sdio Clara 6,00 - 35,00 18,00 460Escura 9,00 - 400,00 76,00

    Magnsio Clara 11,00 - 56,00 19,00 350Escura 7,00 - 126,00 35,00

    Cloro Clara 23,00 - 75,00 52,00 (300 - 1200)Escura 48,00 - 201,00 113,00

    Dixido de Clara 7,00 - 12,00 9,00 (21 - 46)Silcio Escura 5,00 - 28,00 14,00 como c. SilcioFerro Clara 1,20 - 4,80 2,40 20

    Escura 0,70 - 33,50 9,40Mangans Clara 0,17 - 0,44 0,30 10

    Escura 0,46 - 9,53 4,09Cobre Clara 0,14 - 0,70 0,29 2

    Escura 0,35 - 1,04 0,56Enxofre Clara 36,00 - 108,00 58,00 -

    Escura 56,00 - 126,00 100,00

    Outros

    Os componentes menores do mel, como os materiais flavorizantes (aldedos elcoois), pigmentos, cidos e minerais, influenciam consideravelmente nasdiferenas entre tipos de mel. Sabatier et al. (1992) detectaram algunsflavonides presentes no mel de girassol (conhecidamente rico em flavonides).Em maiores concentraes, foram encontrados os seguintes flavonides:

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  • 36 Produo de mel

    pinocembrina (5,7-dihidroxiflavona), pinobanksina (3,5,7-trihidroxiflavonona),crisina (5,7-dihidroxiflavona), galangina (3,5,7-trihidroxiflavona) e quercetina(3,5,7,3,4-pentahidroxiflavona). Em menores concentraes: tectocrisina (5-hidroxi-7metoxiflavona) e quenferol (3,5,7,4-tetrahidroxiflavona). Bogdanov(1989) usando HPLC constatou a presena de pinocembrina em quatro amostrasde mel (duas de origem floral e duas de origem no-floral, o chamadohoneydew).

    Propriedades teraputicas

    Esse item tem a finalidade de informar sobre as diversas pesquisas que j forame que vm sendo desenvolvidas a respeito da utilizao do mel com finsteraputicos. Entretanto, qualquer produto ou substncia que seja utilizada parafins curativos deve ter o devido consentimento mdico.

    A utilizao dos produtos das abelhas com fins teraputicos denominadaAPITERAPIA, que vem-se desenvolvendo consideravelmente nos ltimos anos,com a realizao de inmeros trabalhos cientficos, cujos efeitos benficos sade humana tm sido considerados por um nmero cada vez maior deprofissionais da sade. Pases como a Alemanha j a adotaram como prticaoficial na sua rede pblica de sade.

    Especificamente ao mel, atribuem-se vrias propriedades medicinais, alm de suaqualidade como alimento. Apesar de o homem fazer uso do mel para finsteraputicos desde tempos remotos, sua utilizao como um alimento nico, decaractersticas especiais, deveria ser o principal atrativo para o seu consumo.

    Infelizmente, a populao brasileira, de maneira geral, no o encara dessa forma,considerando-o mais como um medicamento do que como alimento, passando aconsumi-lo apenas nas pocas mais frias do ano, quando ocorre um aumento decasos patolgicos relacionados aos problemas respiratrios. No Brasil, seuconsumo como alimento ainda muito baixo (aproximadamente 300 g/habitante/ano), principalmente ao se comparar com pases como os EstadosUnidos e os da Comunidade Europia e frica, que podem chegar a mais de1kg/ano por habitante.

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  • 37Produo de mel

    Dentre as inmeras propriedades medicinais atribudas ao mel pela medicinapopular e que vm sendo comprovadas por inmeros trabalhos cientficos, suaatividade antimicrobiana talvez seja seu efeito medicinal mais ativo (Sato &Miyata, 2000), sendo que no apenas um fator, mas vrios fatores e suasinteraes so os responsveis por tal atividade.

    Segundo Adcock (1962), Molan (1992) e Wahdan (1998), os responsveis poressa habilidade antimicrobiana so os fatores fsicos, como sua alta osmolaridadee acidez, e os fatores qumicos relacionados com a presena de substnciasinibidoras, como o perxido de hidrognio, e substncias volteis, como osflavonides e cidos fenlicos.

    De maneira geral, destinam-se ao mel inmeros efeitos benficos em vriascondies patolgicas.

    Propriedades antisspticas, antibacterianas tambm so atribudas ao mel,fazendo com que ele seja utilizado como coadjuvante na rea teraputica emdiversos tratamentos profilticos (Stonoga & Freitas, 1991).

    Sua propriedade antibacteriana j foi amplamente confirmada em diversostrabalhos cientficos (Adcock, 1962; White et al., 1963; Dustmann, 1978;Molan & Russell, 1988; Allen et al., 1991; Cortopassi-Laurino & Gelly, 1991),como tambm seu potencial antioxidante (Rosenblat et al., 1996), sua aofungicida (Efem et al., 1992), cicatrizante (Bergman et al., 1983; Efem, 1988;Green, 1988; Gupta et al., 1993 e promotora da epitelizao das extremidadesde feridas (Efem, 1988).

    Popularmente, ao mel ainda se atribuem outras propriedades como antianmica,emoliente, antiputrefante, digestiva, laxativa e diurtica (Verssimo, 1987).

    Atualmente, alguns pases, como a Frana e a Itlia, j vm objetivando aproduo de mel com propostas teraputicas especficas, como nos tratamentosde lceras e problemas respiratrios (Yaniv & Rudich, 1996).

    Apesar de a medicina popular atribuir ao mel inmeras propriedades curativas,sendo muitas delas j comprovadas por pesquisadores do mundo inteiro, a suautilizao para fins teraputicos deve ser indicada e acompanhada porprofissionais da sade, no cabendo qualquer substituio de medicamentos semo devido aval mdico.

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  • 38 Produo de mel

    Aspectos morfolgicos das abelhasApis mellifera

    As abelhas, como os demais insetos, apresentam um esqueleto externo chamadoexoesqueleto. Constitudo de quitina, o exoesqueleto fornece proteo para osrgos internos e sustentao para os msculos, alm de proteger o insetocontra a perda de gua. O corpo dividido em trs partes: cabea, trax eabdome (Fig. 3). A seguir, sero descritas resumidamente cada uma dessaspartes, destacando-se aquelas que apresentam maior importncia para odesempenho das diversas atividades das abelhas.

    Fig. 3. Aspectos da morfologia externa de operria de Apis mellifera.Fonte: Snodgrass (1956), adaptada pelos autores.

    Cabea

    Na cabea, esto localizados os olhos simples e compostos as antenas, oaparelho bucal (Fig. 4) e, internamente, as glndulas.

    TRAX

    CABEA

    ABDOME

    OlhoComposto

    Antena

    Probscide ouLngua

    Pernas

    AnteriorMediana

    Posterior

    Ferro

    Asas anteriores

    Asas posteriores

    TRAX

    CABEA

    ABDOME

    OlhoComposto

    OlhoComposto

    AntenaAntena

    Probscide ouLngua

    Probscide ouLngua

    PernasPernas

    AnteriorMediana

    Posterior

    FerroFerro

    Asas anteriores

    Asas anteriores

    Asas posteriores

    Asas posteriores

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  • 39Produo de mel

    Os olhos compostos so dois grandes olhos localizados na parte lateral dacabea. So formados por estruturas menores denominadas omatdeos, cujonmero varia de acordo com a casta, sendo bem mais numerosos nos zangesdo que em operrias e rainhas (Dade, 1994). Possuem funo de percepo deluz, cores e movimentos. As abelhas no conseguem perceber a cor vermelha,mas podem perceber ultravioleta, azul-violeta, azul, verde, amarelo e laranja(Nogueira-Couto & Couto, 2002).

    Fig. 4. Aspectos da morfologia externa da cabea de operria de Apis mellifera.Fonte: Dade (1994), adaptada pelos autores.

    Os olhos simples ou ocelos so estruturas menores, em nmero de trs,localizadas na regio frontal da cabea formando um tringulo. No formamimagens. Tm como funo detectar a intensidade luminosa.

    As antenas, em nmero de duas, so localizadas na parte frontal mediana dacabea. Nas antenas, encontram-se estruturas para o olfato, tato e audio. Oolfato realizado por meio das cavidades olfativas, que existem em nmerobastante superior nos zanges do que nas operrias e rainhas. Isso se deve necessidade que os zanges tm de perceber o odor da rainha durante o vonupcial.

    Probscide ouLngua

    Ocelos

    Antena

    Mandbula

    OlhoComposto

    Probscide ouLngua

    Probscide ouLngua

    OcelosOcelos

    AntenaAntena

    MandbulaMandbula

    OlhoComposto

    OlhoComposto

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  • 40 Produo de mel

    A presena de plos sensoriais na cabea serve para a percepo das correntesde ar e protegem contra poeira e gua.

    O aparelho bucal composto por duas mandbulas e a lngua ou probscide. Asmandbulas so estruturas fortes, utilizadas para cortar e manipular cera, prpolise plen. Servem tambm para alimentar as larvas, limpar os favos, retirar abelhasmortas do interior da colmeia e na defesa. A lngua uma pea bastante flexvel,coberta de plos, utilizada na coleta e transferncia de alimento, na desidrataodo nctar e na evaporao da gua quando se torna necessrio controlar atemperatura da colmeia.

    No interior da cabea, encontram-se as glndulas hipofaringeanas que tm porfuno a produo da gelia real e de enzimas usadas na transformao donctar em mel, as glndulas salivares que esto envolvidas na elaborao doalimento e as glndulas mandibulares que esto relacionadas produo degelia real e de feromnios (Fig. 5) (Nogueira-Couto & Couto, 2002).

    Fig.5. Aspectos da anatomia interna de operria de Apis mellifera.Fonte: Camargo (1972), adaptada pelos autores.

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  • 41Produo de mel

    Trax

    No trax, destacam-se os rgos locomotores pernas e asas (Fig. 3) e apresena de grande quantidade de plos que possuem importante funo nafixao dos gros de plen quando as abelhas entram em contato com as flores(Nogueira-Couto & Couto, 2002).

    As abelhas, como os demais insetos, apresentam trs pares de pernas. Aspernas posteriores das operrias so adaptadas para o transporte de plen eresinas. Para isso, possuem cavidades chamadas corbculas, nas quais sodepositadas as cargas de plen ou resinas para serem transportadas at acolmeia. Alm da funo de locomoo, as pernas auxiliam tambm namanipulao da cera e prpolis, na limpeza das antenas, das asas e do corpo eno agrupamento das abelhas quando formam cachos.

    As abelhas possuem dois pares de asas de estrutura membranosa quepossibilitam o vo a uma velocidade mdia de 24 km/h (Nogueira-Couto &Couto, 2002).

    No trax, tambm so encontrados espirculos, que so rgos de respirao, oesfago, que parte do sistema digestivo (Meyer & Wiese, 1985) e glndulassalivares envolvidas no processamento do alimento.

    Abdome

    O abdome formado por segmentos unidos por membranas bastante flexveisque facilitam o seu movimento. Nessa parte do corpo, encontram-se rgos doaparelho digestivo, circulatrio, reprodutor, excretor, rgos de defesa eglndulas produtoras de cera (Fig.5).

    No aparelho digestivo, destaca-se o papo ou vescula nectarfera que o rgoresponsvel pelo transporte de gua e nctar e auxilia na formao do mel. Opapo possui grande capacidade de expanso e ocupa quase toda a cavidadeabdominal quando est cheio. O seu contedo pode ser regurgitado pelacontrao da musculatura (Nogueira-Couto & Couto, 2002).

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  • 42 Produo de mel

    Existem quatro pares de glndulas produtoras de cera (cerferas), localizadas naparte ventral do abdome das abelhas operrias. A cera secretada pelas glndulasse solidifica em contato com o ar, formando escamas ou placas que so retiradase manipuladas para a construo dos favos com auxlio das pernas e dasmandbulas.

    No final do abdome, encontra-se o rgo de defesa das abelhas o ferro -presente apenas nas operrias e rainhas. O ferro constitudo por um estileteusado na perfurao e duas lancetas que possuem farpas que prendem o ferrona superfcie ferroada, dificultando sua retirada. O ferro ligado a uma pequenabolsa onde o veneno fica armazenado. Essas estruturas so movidas pormsculos que auxiliam na introduo do ferro e injeo do veneno. Ascontraes musculares da bolsa de veneno permitem que o veneno continuesendo injetado mesmo depois da sada da abelha. Desse modo, quanto maisdepressa o ferro for removido, menor ser a quantidade de veneno injetada.Recomenda-se que o ferro seja removido pela base, utilizando-se uma lmina oua prpria unha, evitando-se pression-lo com os dedos para no injetar umamaior quantidade de veneno. Como, na maioria das vezes, o ferro fica preso nasuperfcie picada, quando a abelha tenta voar ou sair do local aps a ferroada,ocorre ruptura de seu abdome e conseqente morte. Na rainha, as farpas doferro so menos desenvolvidas que nas operrias e a musculatura ligada aoferro bem desenvolvida para que a rainha no o perca aps utiliz-lo.

    Organizao social e desenvolvi-mento das abelhas Apis mellifera

    Organizao e estrutura da colmeia

    As abelhas so insetos sociais, vivendo em colnias organizadas em que osindivduos se dividem em castas, possuindo funes bem definidas que soexecutadas visando sempre sobrevivncia e manuteno do enxame. Numacolnia, em condies normais, existe uma rainha, cerca de 5.000 a 100.000operrias e de 0 a 400 zanges (Fig.6)

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  • 43Produo de mel

    Fig. 6. Rainha, operrias e zanges adultos de uma colmeia de Apis mellifera.

    A rainha tem por funo a postura de ovos e a manuteno da ordem social nacolmeia. A larva da rainha criada num alvolo modificado, bem maior que osdas larvas de operrias e zanges, de formato cilndrico, denominado realeira(Fig. 7), sendo alimentada pelas operrias com a gelia real, produto rico emprotenas, vitaminas e hormnios sexuais. A rainha adulta mede quase o dobrodo tamanho de uma operria (Fig. 6) e a nica fmea frtil da colmeia,apresentando o aparelho reprodutor bem desenvolvido.

    Fig. 7. Realeiras construdas na extremidade do favo.

    Foto

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  • 44 Produo de mel

    A vida reprodutiva da rainha inicia-se com o vo nupcial para sua fecundaoque ocorre, aproximadamente, 5 a 7 dias depois de seu nascimento. Afecundao ocorre em reas de congregao de zanges, onde existem decentenas a milhares de zanges voando espera de uma rainha, conferindoassim uma grande variabilidade gentica no acasalamento.

    A rainha se dirige a essas reas a cerca de 10 metros de altura, atraindo oszanges com a liberao de substncias denominadas feromnios. Apenas osmais rpidos e fortes conseguem alcan-la e o acasalamento, ou cpula, ocorreem pleno vo. Uma rainha pode ser fecundada por at 17 zanges e o smen armazenado num reservatrio especial denominado espermateca. Esse estoquede smen ser utilizado para a fecundao de vulos durante toda a vida darainha, pois ao retornar colnia no sair mais para realizar outro vo nupcial.A rainha comea a postura dos ovos na colnia de 3 a 7 dias depois doacasalamento.

    Somente a rainha capaz de produzir ovos fertilizados, que do origem sfmeas (operrias ou novas rainhas), alm de ovos no-fertilizados, que originamos zanges. Em casos especiais, as operrias tambm podem produzir ovos,embora no-fertilizados, que daro origem a zanges.

    A capacidade de postura da rainha pode ser de at 2.500 a 3.000 ovos por dia,em condies de abundncia de alimento. Ela pode viver e reproduzir-se por at3 anos ou mais. Entretanto, em climas tropicais, sua taxa de postura diminuiaps o primeiro ano. Por isso, costuma-se recomendar aos apicultores quesubstituam suas rainhas anualmente.

    A rainha consegue manter a ordem social na colmeia atravs da liberao deferomnios. Essas substncias tm funo atrativa e servem para informar aosmembros da colmeia que existe uma rainha presente e em atividade; inibem aproduo de outras rainhas, a enxameao e a postura de ovos pelas operrias.Servem ainda para auxiliar no reconhecimento da colmeia e na orientao dasoperrias. A rainha est sempre acompanhada por um grupo de 5 a 10 operrias,encarregadas de aliment-la e cuidar de sua limpeza. As operrias tambm podemaproximar-se da rainha para recebimento e repasse de feromnios a outrosmembros da colmeia.

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  • 45Produo de mel

    Quando ocorre a morte da rainha ou quando ela deixa de produzir feromnios ede realizar posturas, em virtude de sua idade avanada, ou ainda quando oenxame est muito populoso e falta espao na colmeia, as operrias escolhemovos recentemente depositados ou larvas de at 3 dias de idade, que sedesenvolvem em clulas especiais realeiras (Fig. 7) para a produo denovas rainhas. A primeira rainha a nascer destri as demais realeiras e luta comoutras rainhas que tenham nascido ao mesmo tempo at que apenas umasobreviva.

    Em caso de populao grande, a rainha velha enxameia com, aproximadamente,metade da populao antes do nascimento de uma nova rainha. Em algunscasos, quando a rainha est muito cansada, ela pode permanecer na colmeia emconvivncia com a nova rainha por algumas semanas, at sua morte natural.Tambm pode ocorrer que a nova rainha elimine a rainha antiga, logo aps onascimento.

    As operrias (Fig. 6) realizam todo o trabalho para a manuteno da colmeia.Elas executam atividades distintas, de acordo com a idade, desenvolvimentoglandular e necessidade da colnia (Tabela 8).

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  • 46 Produo de mel

    Tabela 8. Funes executadas pelas operrias de acordo com a idade.

    Idade Funo

    1 ao 5 dia Realizam a limpeza dos alvolos e de abelhas recm-nascidas

    5 ao 10 dia So chamadas abelhas nutrizes porque cuidam daalimentao das larvas em desenvolvimento. Nesseestdio, elas apresentam grande desenvolvimento dasglndulas hipofaringeanas e mandibulares, produtoras degelia real.

    11 ao 20 dia Produzem cera para construo de favos, quando hnecessidade, pois nessa idade as operrias apresentamgrande desenvolvimento das glndulas cerferas. Almdisso, recebem e desidratam o nctar trazido pelascampeiras, elaborando o mel, e estocam o plen nosfavos.

    18 ao 21 dia Realizam a defesa da colmeia. Nessa fase, as operriasapresentam os rgos de defesa bem desenvolvidos, comgrande acmulo de veneno. Podem tambm participar docontrole da temperatura na colmeia.

    22 dia at a morte Realizam a coleta de nctar, plen, resinas e gua, quandoso denominadas campeiras.

    importante ressaltar que a necessidade da colmeia pode fazer com que asoperrias reativem algumas das glndulas atrofiadas para realizar determinadaatividade, ou seja, se for necessrio, uma abelha mais nova pode sair para acoleta no campo e uma abelha mais velha pode encarregar-se de alimentar a cria.

    As operrias possuem os rgos reprodutores atrofiados, no sendo capazes dese reproduzirem. Isso acontece porque, na fase de larva, elas recebem alimentomenos nutritivo e em menor quantidade que a rainha. Alm disso, a rainha

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  • 47Produo de mel

    produz feromnios que inibem o desenvolvimento do sistema reprodutor dasoperrias na fase adulta. Em compensao, elas possuem rgos de defesa etrabalho perfeitamente desenvolvidos, muitos dos quais no so observados narainha e no zango, como a corbcula (onde feito o transporte de materiaisslidos) e as glndulas de cera.

    Os zanges (Fig. 6) so os indivduos machos da colnia, cuja nica funo fecundar a rainha durante o vo nupcial. As larvas de zanges so criadas emalvolos maiores que os das larvas de operrias (Fig. 8) e levam 24 dias paracompletarem seu desenvolvimento de ovo a adulto. Eles so maiores e maisfortes do que as operrias, entretanto, no possuem rgos para trabalho nemferro e, em determinados perodos, so alimentados pelas operrias. Emcontrapartida, os zanges apresentam os olhos compostos mais desenvolvidos eantenas com maior capacidade olfativa. Alm disso, possuem asas maiores emusculatura de vo mais desenvolvida. Essas caractersticas lhes permitem maiororientao, percepo e rapidez para a localizao de rainhas virgens durante ovo nupcial.

    Fig. 8. Alvolos de zango e de operria de Apis mellifera.

    Os zanges so atrados pelos feromnios da rainha a distncias de at 5 kmdurante o vo nupcial. Durante o acasalamento, o rgo genital do zango(endfalo) fica preso no corpo da rainha e se rompe, ocasionando sua morte.

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    go Aovolo de zango Aovolo de operria

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  • 48 Produo de mel

    Desenvolvimento das abelhas

    Durante seu ciclo de vida, as abelhas passam por quatro diferentes fases: ovo,larva, pupa e adulto (Fig.9).

    Fig. 9. Diferentes fases do ciclo de desenvolvimento de abelhas Apis mellifera.

    A rainha inicia a postura geralmente aps o terceiro dia de sua fecundao,depositando um ovo em cada alvolo. O ovo cilndrico, de cor branca e,quando recm-colocado, fica em posio vertical no fundo do alvolo. Trs diasaps a postura, ocorre o nascimento da larva, que tem cor branca, formatovermiforme e fica posicionada no fundo do alvolo, com corpo recurvado emforma de C (Fig. 9). Durante essa fase, a larva passa por cinco estdios decrescimento, trocando sua cutcula (pele) aps cada estdio.

    No final da fase larval, 5 a 6 dias aps a ecloso, a clula operculada e a larvamuda de posio, ficando reta e imvel. Nessa fase, ela no se alimenta mais,tece seu casulo, sendo comumente chamada de pr-pupa. Na fase de pupa jpodem ser distinguidos a cabea, o trax e o abdome, visualizando-se olhos,pernas, asas, antenas e partes bucais. Os olhos e o corpo passam por mudanasde colorao at a emerso da abelha adulta (Fig. 9). Toda a transformao pelaqual a abelha passa at chegar ao estdio adulto denomina-se metamorfose.

    A durao de cada uma das fases diferenciada para rainhas, operrias ezanges (Tabela 9).

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  • 49Produo de mel

    Tabela 9. Perodo de desenvolvimento (dias) de crias de abelhas Apis melliferaafricanizada.

    Perodo de desenvolvimento (dias)

    Casta Ovo Larva Pupa Total

    Rainha 3 5 7 15

    Operria 3 5 12 20

    Zango 3 6,5 14,5 24

    A longevidade dos adultos das trs castas tambm diferente: a rainha podeviver at 2 anos ou mais apesar de que, em clima tropical, sua vida reprodutivadura, em mdia, 1 ano; as operrias, em condies normais, vivem de 20 a 40dias. Os zanges que no acasalam podem viver at 80 dias, se houver alimentona colmeia. Durante o perodo de escassez de alimentos, as operrias costumamexpulsar ou matar os zanges.

    Estrutura e uso dos favos

    O ninho das abelhas constitudo de favos, que so formados por alvolos deformato hexagonal (com seis lados). Essa forma permite menor uso de material emaior aproveitamento do espao. Os alvolos tm uma inclinao de 4 a 9 paracima, evitando que a larva e o mel escorram, e so construdos em doistamanhos: no maior, a rainha faz postura de ovos de zango; j os menores podemser usados para a criao de operrias e para estocagem de alimento (Fig. 8).

    Durante a maior parte do ano, a prole criada nas partes centrais da colmeia, deforma a facilitar o controle de temperatura pelas operrias. A cria,freqentemente, ocupa o centro dos favos, sendo que os cantos inferiores esuperiores so usados para estocagem de alimento, facilitando o trabalho dasabelhas nutrizes, que so responsveis pela alimentao das larvas.

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  • 50 Produo de mel

    Diferenciao das castas

    Geneticamente, uma rainha idntica a uma operria. Ambas se desenvolvem apartir de ovos fertilizados. Entretanto, fisiolgica e morfologicamente, essascastas so diferentes em razo da alimentao que as larvas recebem.

    A rainha recebe, durante toda sua vida, um alimento denominado gelia real, que composto da mistura das secrees das glndulas mandibulares ehipofaringeanas, localizadas na cabea de operrias (Fig. 5), com adio deacares provenientes do papo. Pesquisas tm indicado que a gelia realoferecida s larvas de rainha superior em quantidade e qualidade, possuindomaior proporo da secreo das glndulas mandibulares e maior concentraode acares e outros compostos nutritivos (Nogueira-Couto & Couto, 2002).

    As larvas de operrias so alimentadas at o terceiro dia com um alimentocomumente chamado de gelia de operria, que apresenta maior proporo dasecreo das glndulas hipofaringeanas e menor quantidade de acares que oda rainha. Aps esse perodo, passam a receber uma mistura de gelia deoperria, mel e plen.

    Mesmo tendo recebido um alimento menos nutritivo, uma larva de, no mximo,3 dias pode transformar-se em rainha se passar a receber a alimentaoadequada. Entretanto, quanto mais nova for a larva, melhor ser a qualidade darainha e sua capacidade de postura.

    Alm da alimentao, a estrutura onde a larva da rainha criada (realeira) temgrande influncia em seu desenvolvimento, uma vez que maior que o alvolode operria e posicionada de cabea para baixo, o que deixa o abdmen da pupalivre, permitindo pleno desenvolvimento e formao dos rgos reprodutores.Assim, para que uma larva de operria se transforme em rainha, necessrio,alm da alimentao, que a larva seja transferida para uma realeira ou que seconstrua uma realeira no local onde se encontra a larva.

    Um resumo sobre a diferenciao das castas em abelhas Apis mellifera apresenta-se na Fig. 10

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  • 51Produo de mel

    Fig. 10. Esquema de diferenciao das castas em Apis mellifera.

    Comunicao

    Entre as abelhas Apis mellifera, a comunicao pode ser feita por meio de sons,substncias qumicas, tato, danas ou estmulos eletromagnticos.

    A transferncia de alimento parece ser uma das maneiras mais importantes decomunicao, uma vez que durante as transferncias ocorrem tambm trocas dealgumas secrees glandulares. Esse simples gesto de troca de alimento podeinformar a necessidade de nctar e gua, odor e sabor da fonte de alimento e asmudanas na qualidade e quantidade de nctar coletado, afetando a postura,criao da prole, secreo de cera e armazenamento do mel, entre outrasatividades. Durante esse processo, so transferidos, tambm, feromnios queestimulam aes especficas.

    O principal meio de comunicao qumico feito pelos feromnios, que sosubstncias qumicas produzidas e liberadas externamente por indivduos queproduzem uma resposta especfica no comportamento ou fisiologia de indivduosda mesma espcie. Em abelhas, esses feromnios so transmitidos pelo ar,contato fsico ou alimento. Na Tabela 10, apresentam-se alguns feromniosproduzidos pelas abelhas e as reaes desencadeadas por eles (Free, 1987;Winston, 1987; Nogueira-Couto & Couto, 2002).

    ovo

    No fecundado Fecundado

    Zango Gelia real

    Rainha Operria

    Gelia operria+mel + plen

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  • 52 Produo de mel

    Tabela 10. Alguns feromnios produzidos por abelhas Apis mellifera e asrespectivas reaes.

    Feromnios Reao desencadeada

    Produzidos por operrias: Feromnio de trilha Orienta as operrias na localizao do ninho e de

    fontes de alimento

    Feromnio de alarme Alerta as operrias para a presena de inimigoprximo colmeia

    Feromnio de defesa Liberado por operrias durante a ferroada, atraioutras operrias para ferroarem o local

    Feromnio de deteno Repele as operrias de fontes sem disponibilidadede alimento

    Feromnio da glndula Liberado na entrada da colmia durante a de Nasonov enxameao e em fontes de gua e alimento,

    ajuda na orientao e no agrupamento dasabelhas

    Produzidos por rainhas: Feromnio da glndula Atrai zanges para o acasalamento, mantm a mandibular unidade da colmeia, inibe o desenvolvimento dos

    ovrios das operrias e a produo de rainhas

    Feromnio das glndulas Atrao das operrias. Age em sinergia com o epidermais feromnio da glndula mandibular Feromnio de trilha Ajuda a evitar a produo de novas rainhas

    Produzidos por zanges: Feromnio da glndula Atrai rainhas e outros zanges para a zona de mandibular do zango congregao de zanges

    Produzidos por crias: Feromnio de cria Estimula a coleta e inibe o desenvolvimento dos

    ovrios das operrias. Permite que as operriasreconheam idade, casta e estado de sanidadedas crias

    Fonte: Free (1987), Winston (1987) e Nogueira-Couto & Couto (2002).

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  • 53Produo de mel

    A dana outro importante meio de comunicao; por meio dela as operriaspodem informar a distncia e a localizao exata de uma fonte de alimento, umnovo local para instalao do enxame, a necessidade de ajuda em sua higieneou, ainda, podem impedir que a rainha destrua novas realeiras e estimular aenxameao.

    O cientista alemo Karl Von Frisch descobriu e definiu o sistema de comunicaoutilizado para informar sobre a localizao da fonte de alimento, observando queas abelhas costumam realizar trs tipos de dana: dana em crculo, dana dorequebrado ou em forma de oito e dana da foice (Wiese, 1985), (Tabela 11).

    Tabela 11. Tipos de dana realizados pelas abelhas Apis mellifera para transmitirinformaes sobre fontes de alimentos.

    Dana Funo

    Dana em crculo Informa sobre fontes de alimento que esto a menos decem metros de distncia da colmeia

    Dana do requebrado Usada para fontes de alimento que esto a mais de cemmetros de distncia. Nessa dana, a abelha descreve adireo e a distncia da fonte

    Dana da foice Considerada uma dana de transio entre a dana emcrculo e a do requebrado. utilizada quando oalimento se encontra a at cem metros da colmeia

    As danas podem ser executadas dentro da colmeia, sobre um favo ou noalvado. Durante a dana, a operria campeira indica a direo da fonte dealimento em relao posio da colmeia e do sol. A distncia da colmeia at afonte de nctar informada pelo nmero de vibraes (requebrados) realizadas epela intensidade do som emitido durante a dana. Quanto menor a distnciaentre a fonte e a colmeia, maior o nmero de vibraes.

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  • 54 Produo de mel

    A campeira pode interromper sua dana a curtos intervalos e oferecer soperrias que esto observando uma gota do nctar que coletou. Assim, elainforma o odor do nctar e da flor e as demais operrias partem em busca dessafonte. O recrutamento aumenta com a vivacidade e a durao da dana.

    Termorregulao da colmeia

    Independentemente da temperatura externa, a rea de cria da colmeia mantidaentre 34 e 35C, temperatura ideal para o desenvolvimento das crias. Aocorrncia de temperaturas fora dessa faixa pode provocar aumento damortalidade na colnia e as operrias que emergirem podem apresentar defeitosfsicos nas asas ou outras partes do corpo.

    Para baixar a temperatura da colmeia, as abelhas do interior da colnia sedistanciam dos favos e se aglomeram do lado de fora da caixa. Algumasoperrias ficam posicionadas na entrada do ninho, movimentando suas asas deforma a direcionar uma corrente de ar para o interior da colmeia. Essa corrente dear, alm de esfriar a colmeia, auxilia na evaporao da umidade do nctar,transformando-o em mel.

    No interior da caixa, outras operrias esto batendo as asas, ajudando nacirculao da corrente de ar. Se houver duas entradas na colmeia, o ar aspiradopor uma