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SPl- Bauru SJSP -16/fev/2016-14 :18 11 111 11 11 11 111 1 11 11 11 1111 2016.031852 - AG UIU FOR 11 11111111 11111111111 111111 1111111111 Ili 0002889 - 43.2016.4.03.0000 MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL PROCURADORIA DA REPÚBLICA NO ESTADO DE SÃO PAULO PROCU RADORI A R EG IO AL DOS DIR EITOS DO CIDADÃO l r- 13 60 - Con solação - São Paulo - EXCELÉNTTsSIMO SENHOR DOUTOR DESEMBARGADOR FEDERAL PRESIDENTE DO EGRÉGIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 3ª REGIÃO - SÃO PAULO. URGENTE AGRAVO DE INSTRUMENTO Ref.: AÇÃO CIVIL PÚBLICA nº 0023969-33.2015.403.6100 2ª Vara Cível da Seção Judiciária de São Paulo (SP) O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, pelo Procurador da República que esta subscreve, no exercício de suas atribuições constitucionais e legais, vem, respeitosamente perante Vossa Excelência, com assento nos arts. 522 e 527, inciso III e.e. art. 558, caput, todos do Código de Processo Civil, interpor o presente AGRAVO DE INSTRUMENTO COM PEDIDO DE ANTECIPAÇÃO DE TUTELA RECURSAL dar. decisão de fl. 111 /1 12 , que indeferiu o pedido de antecipação dos efeitos da tutela, o que faz no termos das razões anexas. Cumpre informar que a Procuradoria Regional Federal da 3ª Região - SP/MS, órgão vinculado à Advocacia Geral da União (agravada) possui endereço na Rua da Consolação, nº 1875, São Paulo/SP e, pelo fato de atuar ex lege , deixa-se de juntar cópia da procuração e dados dos advogados, conforme determina o artigo 525, inciso L do Código de Processo Civil, considerado o disposto - igo 9º da · nº 9.469/97.

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SPl- Bauru SJSP -16/fev/2016-14:18

11 111 11 11 11 111111 1111 1111 2016 .031852 - AG UIU FOR

11 11111111 11111111111 111111 1111111111 Ili 0002889 - 43.2016.4.03.0000

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL PROCURADORIA DA REPÚBLICA NO ESTADO DE SÃO PAULO

PROCURADORIA R EG IO AL DOS DIREITOS DO CIDADÃO

l

r- Ru~rcicaneca , 1360 -Consolação - São Paulo - s""P=CEP013õ7.-0õ2~~(il)D69"=5 ÕÜÕ -J

EXCELÉNTTsSIMO SENHOR DOUTOR DESEMBARGADOR FEDERAL PRESIDENTE DO EGRÉGIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 3ª REGIÃO -SÃO PAULO.

URGENTE

AGRAVO DE INSTRUMENTO Ref.: AÇÃO CIVIL PÚBLICA nº 0023969-33.2015.403.6100 2ª Vara Cível da Seção Judiciária de São Paulo (SP)

O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, pelo Procurador da República que esta subscreve, no exercício de suas atribuições constitucionais e legais, vem, respeitosamente perante Vossa Excelência, com assento nos arts . 522 e 527, inciso III e.e. art. 558, caput, todos do Código de Processo Civil, interpor o presente

AGRAVO DE INSTRUMENTO COM PEDIDO DE ANTECIPAÇÃO DE TUTELA RECURSAL

dar. decisão de fl. 111 /1 12, que indeferiu o pedido de antecipação dos efeitos da tutela, o que faz no termos das razões anexas.

Cumpre informar que a Procuradoria Regional Federal da 3ª Região -SP/MS, órgão vinculado à Advocacia Geral da União (agravada) possui endereço na Rua da Consolação, nº 1875, São Paulo/SP e, pelo fato de atuar ex lege , deixa-se de juntar cópia da procuração e dados dos advogados, conforme determina o artigo 525, inciso L do Código de Processo Civil, considerado o disposto - igo 9º da · nº 9.469/97.

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MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL Procuradoria da República no Estado de São Paulo Procuradoria Regional dos Direitos do Cidadão

Quanto aos demais agravados, não consta procuração nos autos em razão da ausência de intimação, até o momento. Contudo, podem ser citados nos seguintes endereços: RÁDIO SHOW DE IGARAPAVA LTDA., CNPJ nº 585686000120, com sede na Rua Nicolau Nassif, 523 , Conjunto H Kasuto Yatsuda, Jardim Madrugada, Igarapava/SP. CEP nº 14540-000, RÁDIO AM SHOW LTDA., pessoa jurídica de direito privado, C PJ nº 57329732000147, com sede na Rua Elpídio Gomes 366 Vila Amélia, Ribeirão Preto/SP. CEP nº 14050-290, e LUIZ FELIPE BALEIA TENUTO ROSSI, brasileiro, Deputado Federal, inscrito no CPF sob o nº 178.167.248-29, residente na Rodovia Prefeito Antonio Duarte ogueira, Km 313, casa 412, Ribeirão Preto/SP, CEP 14022-060.

Buscando atender o disposto nos incisos I e II do artigo 525 do Código de Processo Civil , bem como demonstrar a tempestividade do recurso interposto, apresenta os seguintes documentos de instrução:

1 - obrigatórios:

a) cópia da decisão agravada (DOC. 1 - fls. 111/112);

b) cópia da abertura de vista ao Ministério Público Federal (DOC. 2- fl. l 13v).

II - facultativos:

a) cópia da petição inicial da ação civil pública nº 0023970-18.2015.403 .6100 (DOC. 3 -fls. 02/30).

b) documentos que instruíram a petição inicial e comprovam a participação ilegal do réu Luiz Felipe Baleia Tenuto Rossi, bem como a situação inconstitucional dos demais réus (DOC. 4 - fls. 47/52, 54/56 e 58).

c) manifestação da União (DOC. 5 - fls. 97/110).

Termos em que, E.R.M.

2/24

EIRA MACHADO

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MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL Procuradoria da República no Estado de São Paulo P ROCURADORIA REGIONAL DOS Ü IREITOS DO C 1DADÃO

Agravante: Ministério Público Federal Agravada: União Federal e outros Ação Civil Pública nº 0023969-33.2015.403.6100 2ª Vara Federal Cível de São Paulo (SP)

EGRÉGIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 3ª REGIÃO

COLENDATURMAJULGADORA

EMINENTES DESEMBARGADORES FEDERAIS

DIGNÍSSIMA PROCURADORIA-REGIONAL DA REPÚBLICA

1-DOS FATOS

3

A presente Ação Civil Pública foi proposta com vistas a assegurar, em

homenagem aos preceitos constitucionais, o pleno cumprimento do artigo 54, II, alínea

"a" da Constituição Federal, que define a impossibilidade de Deputados e Senadores, a

partir de sua posse, serem proprietários, controladores ou diretores de empresas que goze

de favor proveniente de contrato com pessoa jurídica de direito público, ou que nela

exerça função remunerada.

Na exordial demonstrou-se conforme informações documentos amealhados

com a instauração de Procedimento Preparatório (nº 1.34.001.000957/2015-15) na

Procuradoria Regional dos Direitos do Cidadão de São Paulo, foi constatado que as rés

Rádio Show de lgarapava ltda. e Rádio AM Show ltda. ,

concessionárias/permissionárias/autorizatárias do serviço de radiodifusão sonora, tem como

sócio LUIZ FELIPE BALEIA TENUTO ROSSI , ocupante and~ e . o de Deputado

Federal (DOC. 4).

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O serviço de radiodifusão é atribuído às rés Rádio Show de Igarapava ltda. e

Rádio AM Show ltda .. Todavia, nos termos do contrato social das empresas, consta como

sócio o Deputado Federal LUIZ FELIPE BALEIA TENUTO ROSSI (DOC. 4).

De tal forma, deve-se considerar a afronta constitucional aqui apontada.

pois enquanto o réu LUIZ FELIPE BALEIA TENUTO ROSSI é sócio de pessoa jurídica

que explora radiodifusão sonora, também ocupa cargo eletivo de Deputado Federal pelo

Estado de São Paulo (DOC. 4).

Em decisão liminar, o d. Juízo afirmou que merece maior

discussão/instrução as questões referentes à natureza das cláusulas dos contratos de

concessão e de permissão de radiodifusão, bem como que a suspensão dos serviços de

radiodifusão sonora das corrés vai de encontro ao princípio da continuidade do serviço

público. Por conseguinte, julgou ausente o periculum in mora e negou o pedido de tutela

antecipada.

Porém, a decisão não merece prosperar, conforme passamos a dispor.

II - DO DIREITO

O autor, ora agravante, no exercício de suas funções institucionais de velar

pela defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e

individuais indisponíveis (art. 127, C.F.), bem como da legalidade, impessoalidade e

moralidade, relativas à administração pública direta, indireta ou fundacional , de qualquer

dos Poderes da União, além dos princípios constitucionais relativos à comunicação social

(art. 5º, I, "h' ; II, 'd"; Lei Complementar nº 75/93), busca tutela jurisdicional que

restabeleça, no caso, o cumprimento e observância da incompatibili entar

negocial ou contratual estabelecida no artigo 54, 1, "a", da Co

a qual os Deputados e Senadores não poderão, desde a,,..,.,~.Y"'~,.,yv

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5

manter contrato com pessoa jurídica de direito público, autarquia, empresa pública.

sociedade de economia mista ou empresa concessionária de serviço público. salvo quando

o contrato obedecer a cláusulas uniformes.

Cabe destacar que as ·'cláusulas uniformes" não englobam o contrato de

sociedade, pois referem-se apenas aos contratos de adesão de consumo, os quais são

firmados entre congressistas e empresas prestadoras de serviços públicos. Em mesmo

entendimento, segue julgado exposto na exordial:

Eleições 2012. Registro de candidatura. Decisão regional. Indeferimento. Art. 1° ,

li , i , da LC nº 64 190. Cláusulas uniformes. Não incidência .

Desincompatibilização. Ausência. 1. O Tribunal Regional Eleitoral, soberano na

análise do contexto tático-probatório, assentou que o contrato de permissão para

a prestação de serviço público entre a Aneel e a Cooperativa de Distribuição e

Geração de Energia das Missões (Cermissões) submete-se a procedimento de

licitação. nos termos do art. 2° . IV, da Lei nº 8.987 195, razão pela qual não se

enquadra na ressalva relativa aos contratos de cláusulas uniformes. 2. Diante

disso, a Corte de origem concluiu que o candidato a vereador, o qual exerce o

cargo de vice-presidente na citada entidade, estava inelegível, nos termos do art.

1° , inciso li , alínea i , da LC nº 64190, por não ter se afastado de suas funções

nos seis meses anteriores ao pleito. 3. O agravante sustenta que o contrato seria

de cláusulas uniformes. Todavia, a Corte de origem não explicitou as

circunstâncias alusivas ao referido contrato, nem foram opostos embargos de

declaração para provocar o exame da alegação de que tal instrumento contratual

seria padronizado e de adesão. razão pela qual, para afastar a conclusão da

Corte de origem, quanto à incidência da causa de inelegibilidade, seria

necessário o reexame de fatos e provas, vedado em sede de recurso de

natureza extraordinária, nos termos das Súmulas nº 7 do STJ e nº 279 do STF.

Agravo regimental a que se nega provimento. (TSE, Pleno, maioria, AgR-REspe

nº 170-02.2012.6.21 .0052/RS, Relator Ministro HENRIQUE NEVES DA SILVA.

Data da Decisão: 2510412013. Data da Publicação: 0410612013) - sem destaque

no original. ,.,. ~-

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6

Tal dispositivo consiste na reafirmação dos princípios estruturantes que

regem não só a administração pública estrito senso, mas a atuação de qualquer agente

público e político, que são a impessoalidade, a moralidade e a isonomia. E, no caso,

sintomático que os valores de tais postulados devem balizar e integrar a interpretação a

ser conferida à extensão e profundidade desse art. 54 do texto constitucional.

Para além há ainda respeitável entendimento doutrinário, que defende que

essa modalidade de incompatibilidade parlamentar objetiva para além da preservação do

princípio da isonomia, impedir também o tráfico de influência:

[ ... ]o Estatuto dos Congressistas cria o regime jurídico do parlamentar com o fito

de garantir a livre e isenta atuação do Poder Legislativo, e não privilégios

particulares de seus membros[ ... ]

Já as incompatibilidades negociais são as que vedam aos congressistas

firmarem contrato com as entidades mencionadas acima, salvo se forem

contratos com cláusulas uniformes (art. 54, 1, a) , isto é, contratos que contenham

cláusulas padronizadas para qualquer contratante, os chamados contratos de

adesão. Justifica-se a ressalva , vez que não pode o parlamentar ser privado de

firmar, v.g., contratos de prestação de serviços com empresa de telefonia

(concessionária de serviços público) , ou um banco público , como o Banco do

Brasil ou a Caixa Econômica Federal. Ademais, por se tratar de contrato com

cláusulas padronizadas para qualquer pessoa , não haveria , em princípio

nenhuma aferição de vantagem indevida ou privilégio em virtude do cargo de

congressista exercido. Desse forma estaria preservado o princípio da isonomia.

[ .. . ]

Percebe-se claramente que as incompatibilidades estabelecidas no dispositivo

sob comento possuem, em comum, o escopo de evitar que o congressista exerça

tráfico de influência, utilizando a importância que decorre do man

que exerce, para aferir benefícios particulares, inclusiv

interesse público, violando o princípio da igualdade.1 ~~~~~~~~~

STRECK Lenio Luiz, OLIVEIRA, Marcelo Andrade Cattoni, NUNES, poderes : Capítulo 1 Do poder legislativo: Seção V Dos deputados e

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7

É ainda indene de dúvidas que através de tal dispositivo busca-se, dentre

outros objetivos proteger os meios de comunicação, mais especificamente o exercício dos

serviços públicos de radiodifusão, da influência do poder político, a fim de criar um

ambiente livre e democrático, no campo da comunicação social, sabido, no mais, que

grande parcela da população não tem acesso a fontes diversas de informação, por isso as

radiodifusoras são responsáveis pela produção e veiculação de relevantes informações,

difusão do pensamento e notícias ao grande público.

Nessa perspectiva, a aludida vedação constitui imprescindível tutela contra

a influência política nos meios de comunicação (serviços públicos de radiodifusão) de

suma importância para a garantia de preceitos fundamentais como a liberdade de

expressão e o direito à informação, mas também para a proteção da normalidade e

legitimidade das eleições visando preservar ao fim e ao cabo a democracia, sobre a qual

vale reproduzir a advertência de Luís Roberto Barroso:

A democracia não se assenta apenas no princípio majoritário, mas também na

realização de valores substantivos, na concretização dos direitos fundamentais e

na observância dos procedimentos que assegurem a participação livre e

igualitária de todas as pessoas no processo decisório[ ... ]

Na configuração moderna do Estado e da sociedade, a idéia de democracia já

não se reduz à prerrogativa popular de eleger representantes, nem tampouco às

manifestações das instâncias formais do processo majoritário . Vive-se uma

democracia deliberativa , em que o debate público amplo, realizado em contexto

de livre circulação de idéias e de informações, observado o respeito aos direitos

fundamentais, desempenha uma função racionalizadora e legitimadora de

determinadas escolhas políticas.2

Gomes et ai (Org.). Comentários à constituição do Brasil. São Paulo: Tiragem 20 14) / BARROSO, Luís Roberto . O controle de constitucionalidade no ãi · sileiro: 2" edição revista e atuali=ada de acordo com a E.C. n. 451200-1. São Paulo: Saraiva, 2006, p. 58 e 61

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8

Justamente porque não é possível ignorar o potencial risco de congressistas

utilizarem do espaço de comunicação para promoverem interesses próprios ou de

terceiros, de maneira a prejudicar a formação da opinião pública (através de informações.

manifestações e noticiários tendenciosos) é que se estabeleceu a incompatibilidade

constitucional, de impedimento de congressistas firmarem contratos com órgãos da

administração pública, notadamente de concessão de serviços públicos.

Tem-se assim, respeitosamente, que entendimentos como o adotado na

decisão agravada decorrem de uma visão acanhada da extensão e profundidade da

democracia, em razão das condições históricas do nosso país, conforme bem realça Celso

Antônio Bandeira de Mello:

É que o Brasil mal conhece instituições políticas democráticas. Desde 1500 -

quando foi descoberto - até o presente não experimentou mais do que

pouquíssimos anos de cambaleante democracia política , o que ocorreu entre

1946 a 1964, e desde 1986 [ ... ] Com efeito, durante o período colonial e imperial

é óbvio que não se cogitava de democracia. Durante a República Velha,

sabidamente, também não houve espaço para sua implantação e as eleições "a

bico de pena" cuidavam zelosamente de impedir-lhe o nascimento. Sobrevindo a

revolução de 1930 e subsequente implantação da ditadura getulista , o País

continuou insciente do que seria este regime, só conhecido nos países

civilizados. Finalmente com a Constituição de 1946 desvendou-se para nós o

mundo até então desconhecido da democracia. Contudo, em 1° de abril de 1964

o Golpe militar se encarregou de desvanecer estes sonhos, implantando nova

ditadura (a dos generais) , que se manteve até 1986, em se final disfarçada por

configuração mais

democrática [ .. . ]3

M ELLO. Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrati vo. 32° ed. São Paulo: Malheiros. 20 14. p. 107.

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9

Ademais é preciso não olvidar que compete privativamente à União le~islar

sobre a radiodifusão, conforme exposto no artigo 22, inciso IV da Constituição4, o que

sem sombra de dúvidas revela indisfarçável conflito de interesses, violador dos princípios

da moralidade, isonomia e impessoalidade, a autorização para a participação de

congressistas, seja direta ou indiretamente, como sócios ou associados de pessoas

jurídicas concessionárias, permissionárias ou autorizatárias de serviços públicos de

radiodifüsão.

Inclusive, a própria Câmara dos Deputados já decidiu e reconheceu o

conflito de interesses no Relatório dos trabalhos da Subcomissão Especial (CCTCI),

criada para analisar as normas de radiodifusão, apontando que não somente a direção, mas

também a propriedade de emissoras de rádio e televisão são incompatíveis com a natureza

do cargo político:

(. . .) como o Congresso Nacional é responsável pela apreciação dos atos de

outorga e de renovação de outorga de radiodifusão, a propriedade e a direção de

emissoras de rádio e televisão são incompatíveis com a natureza do cargo

político e o controle sobre concessões públicas, haja vista o notório conflito de

interesses. 5

A concessão do direito de exploração do serviço público de radiodifusão de

sons e imagens a parlamentares, ainda que indiretamente, quando figurem nos quadros da

concessionária como sócio catista, se caracteriza como a prestação de um favor, situação

vetada pela Constituição (art. 54, 1, ' 'a" c/c art. 3 7 caput) e que, para além do que já se

pontuou, se afasta do princípio republicano, isto é, da noção de verdadeira república,

confonne ensina Fábio Konder Comparato: ~--

4 Artigo 22. Compete privativamente à União legislar sobre: IV - águas, energia, i r · · a - ecom icações e radiodifusão. / ·~ ' Comi ssão de Ciência. Tecnologia. Comunicação e Informáti ca. Subcomissão ~~#de dio ·' são. Relatório dos trabalho da ubcomissão Especial da Comissão de Ciência, Tecnologia, C nica -o formática - CCTCI, da Câmara dos Deputados, criada para analisar mudanças nas normas de aprêéiaçao os atos de outorga e renovação de concessão, permissão ou autorização de serviço de radiodifusão sonora e de sons e imagens . Centro de Documentação e In fo rmação. Edições Câmara. Brasília. 2009. p. 54. grifo nosso. Disponível cm: <h ttp : 11 www2 . camara . gov. br I a tividade-legisla tiva I comissoes I comissoes-permanen tes l cc tci l pu blicacoes. h tml l Rel-Radiodifu sao . pd f>. Acesso em : 12. 12.2011.

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10

A verdadeira República , os romanos nos mostraram claramente, é um regime

onde o bem comum do povo está sempre acima de interesses particulares, de

famílias , classes grupos religiosos, sindicatos e, até mesmo, entidades estatais,

pois muitas e muitas vezes uma entidade estatal pode atuar contra o bem

comum do povo, para escapar de alguma situação difícil , constrangedora ,

notadamente em seu aspecto financeiro .

[ . .. ]

Os meios de comunicação de massa - e estou falando na sede de uma

institui9ão prestigiosa , que grande serviço prestou à nossa República , que é a

ABI - (me refiro à televisão e à rádio) usam um espaço público que pertence ao

povo. Ora, é uma aberração que esse serviço de comunicação, debate , de

crítica , utilizando um espaço público, seja feito em detrimento do povo , dos

interesses do povo. De alguma forma nós precisamos encontrar uma solução

que evite, de um lado, a "estatização" e, por outro lado, o privativo explorador.

Mas será possível que não tenhamos a capacidade para encontrar uma solução

jurídica justa e que dê essa medida equânime de regulação das coisas?6

Aliás colhe-se desde o preâmbulo da Constituição que o Brasil constitui- e em

um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais,

assim como a liberdade, a segurança .. o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça

como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista.

De modo que o consentimento de vantagens, privilégios ou benefícios em

razão de preferência pessoal ou do exercício de poder econômico .. político ou de função ..

destoa do figurino constitucional do Estado Democrático de Direito que adota o re i

republicano.

6 COMPARATO, Fábio Konder. O desafio de construir um novo poder. Jornal dos economistas, Rio de Janeiro, n. 201 , p. 5, abr. 2006. Disponível em: <hnp://www.corecon-rj .org.br/documents/ 118'.27/ 13981 /Abril +-+2006+%28n%C %BA201 %29/f922a95f-095b-49d6-8a l9-fb7a3I96f6b9?version=1.2> Acesso em: 15 fev. 2016.

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Isto porque, ao celebrar contratos com particulares a Administração deverá

sempre respeitar os princípios constitucionais da impessoalidade, da moralidade e da

isonomia. Como garantia, as contratações se valerão sempre do processo de licitação,

garantido pelo artigo 34, inciso XXI da Constituição Federal, de modo a permitir que todos os

interessados disputem em igualdade as contratações do governo e em contrapartida, a

Administração possa selecionar a proposta mais vantajosa ao interesse público.

De tal maneira, toma-se incompatível com os princípios e valores adotadas

pela Constituição da República que congressistas figurem como proprietários, controladores

ou diretores dessas empresas, como já expresso no artigo 54, inciso l, alínea "a" do texto

constitucional.

O mesmo entendimento, já foi inclusive adotado pelo Supremo Tribunal

Federal, no julgamento da Ação Penal 5307, na qual a Ministra Rosa Weber afirmou em

seu voto:

"Entendo que a concessão - ou a permissão - para a exploração de serviços de

radiodifusão a parlamentar ou a empresa dirigida ou pertencente a parlamentar

viola as proibições constitucionais e legais acima examinadas" - sem destaque

no original.

Nesse caso, a Suprema Corte condenou um Deputado Federal por

falsificação do contrato social de empresa detentora de permissão para a exploração de

serviço de radiodifusão sonora em frequência modulada. Segundo o Acórdão, a

falsificação foi realizada para omitir a condição de sócio do parlamentar federal ,

diante da vedação prevista no artigo 54 da Constituição Federal e no artigo 3

4.117/62. Ainda, dispõe:

(i) os contratos de concessão e de permissa--c J...<7le-81eTV ~~~~~~~~~

7 TF. AP 530. Rei. Min. Ro a Weber. Rei. p/ AcórdàD Min. Roberto Barroso. Primeira Turma julgado em 09.09.2014, DJe Public 17-11-2014. Republicação DJe Public 19.12.20 14. No mesmo sentido. veja-se os precedentes do TJSP e do TJR mencionados no item 111.6. abaixo.

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enquadram na exceção prevista na parte final do artigo 54, 1, "a", da Constituição

(contratos que obedecem a cláusulas uniformes), pois não constituem contratos

de adesão celebrados entre consumidor e empresa concessionária de serviços,

tais como contratos de fornecimento de água e luz, "cuja celebração jamais teria

o condão de implicar qualquer espécie de cooptação";

(ii) contratos precedidos de licitação, na modalidade de técnica e preço, não

obedecem a cláusulas uniformes, pois "riscos de manipulação do resultado para

favorecimento de empresa controlada por parlamentar ou os riscos de utilização

pelo parlamentar de influência indevida no certame são mais do que óbvios''.· "[o]

objetivo das incompatibilidades do artigo 54 consiste exatamente em prevenir

riscos e males da espécie"; "[não há] como qualificar um contrato como por

adesão ou de cláusulas uniformes quando precedido por licitação, influindo essa

na variação de aspectos relevantes do pacto, como o preço e o objeto da

prestação"; e

(iii) "não merece endosso, nessa perspectiva, a posição trazida aos autos em

ofício do Ministério das Comunicações e em parecer da Câmara dos Deputados

de que não haveria proibição para que parlamentar fosse proprietário de

empresa titular de serviço radiodifusão (fls . 426-7, 1.008-9 e fls . 1.942-3)"; "ao

contrário do ali preconizado, a proibição é clara ".

No mesmo sentido há precedentes análogos do Tribunal de Justiça de São

Paulo 8 e do Tribunal de Justiça do Rio Grande

incompatibilidade negocial em empresas que possuem políticos

8 TJSP, Apelação n. 102.77 1.5/0-00/Guarulhos, Relator Desembargador Willi arinho, 27.0 1.2000, data de registro 28.02.2000. Ementa: "MANDADO DE SEGU ÇA - Lic· sociedade comercial do certame - Admissibilidade - De utado e ver or ncorrente - Restri ão constitucional CF art. 54 1 "a" e li . "a" e LOM. art. 18. 1. e II "a" - n 1 atibilidades negociais -Subsistência da sentença concessiva da ordem - Recursos, voluntários e oficial, não providos. IMPOSSIBILIDADE JURÍDICA DO PEDIDO - Esgotamento das vias administrativas - Matéria sujeita ao crivo do Judiciário (CF, art. 5°, XXXV) - Preliminar, rejeitada" (grifo nosso). 9 TJRS, Apelação Cível n. 70018961870/Seberi, Relator Desembargador Luiz Felipe Silveira Difini , julgado em 19.12.2007, DJ 21.02.2008. Ementa: "Apelação cível. Licitação e Contrato Administrativo. Ação civil pública. Ato de improbidade administrativa. Violação ao princípio da moralidade administrativa. ( ... ) Inobservância de princípio regente da administração pública. Ação dolosa. Contratação com o poder público vedada a detentor de mandato de vereador. Art. 43 da Lei orgânica e art. 54 da Constituição Federal. Má-fé caracterizada. Evidente obtenção de beneficio próprio dos demandados. ( ... )" (grifo nosso).

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eletivo como sócios, pois não podem participar de licitação pública ou firmar e manter

contratos com a Administração.

O Tribunal de Justiça de São Paulo ainda afirmou que (i) o artigo 54 não

alcança apenas contratos fumados pelos políticos como pessoas fisicas mas também os

contratos firmados por pessoas jurídicas das quais participem os políticos como sócios e

(ii ) a norma do artigo 54 alcança também a Administração, proibindo-a de celebrar os

contratos vedados pelo artigo 54. Essa decisão foi examinada pelo Supremo Tribunal Federal

no RE 370.018 1º. Apesar de negar seguimento ao recurso. a Ministra Cármen Lúcia afirmou,

quanto ao mérito, que nada havia a "reformar ou a se corrigir nas decisões anteriormente

exaradas pelos órgãos do Poder Judiciário".

E tais precedentes estão fincados, indiscutivelmente. nos princípios da

moralidade, impessoalidade e isonomia.

A título de exemplo veja-se o que preceitua o § 1° do art. 37, da

Constituição Federal, quer seja, que a publicidade dos atos, programas, obras, serviços e

campanhas dos órgãos públicos deverá ter caráter educativo, informativo ou de orientação

social, dela não podendo constar nomes, símbolos ou imagens que caracterizem promoção

pessoal de autoridades ou servidores públicos. Pois bem, interpretando esse dispositivo

constitucional a Corte Suprema concluiu que é inconstitucional a utilização de slogan na

publicidade dos atos da Administração Pública com conteúdo subliminar que se identifica

com o partido político dos governantes. Tal entendimento deu-se quando do julgamento

do Recurso Extraordinário nº 191.668/RS, em face de acórdão assim ementado:

ADMINISTRATIVO. CONSTITUCIONAL. AÇÃO POPULAR. PUBLICIDADE. A

INCLUSÃO DE SLOGAN NA PUBLICIDADE DOS ATOS DA ADMINISTRAÇÃO . . 7

PUBLICA, COM CONTEUDO SUBLIMINAR QUE O N ICA COMO

PARTIDO POLÍTICO DOS GOVERNANTES,

10 STF. RE 370.018/SP, Relatora Ministra Carmen Lúcia, julgamento e

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PESSOAL ILÍCITA, VEDADA NO ART-37, PAR-1 , DA CONSTITUIÇÃO

FEDERAL. A IMPRESSÃO DO SLOGAN OCUPA ESPAÇO DESNECESSÁRIO,

ENCARECENDO AS PUBLICACOES COMO LESÃO AO ERÁRIO PÚBLICO E

NAO ATENDE AOS REQUISITOS DE TER CARÁTER EDUCATIVO,

INFORMATIVO OU DE ORIENTAÇÃO SOCIAL. EMBARGOS REJEITADOS.

(RESUMO) (Embargos Infringentes Nº 593129422 , Primeiro Grupo de Câmaras

Cíveis, Tribunal de ~lustiça do RS, Relator: José Vellinho de Lacerda , Julgado em

01/07/1994) .

Antes da remessa do caso ao Supremo Tribunal Federal, na Corte de origem

(TJRS) houve interposição de embargos infringentes, de cujo acórdão se colhe:

Sr. Presidente. A matéria foi analisada à exaustão nos doutos votos proferidos na

Câmara e no não menos erudito Parecer do Dr. Procurador de Justiça . Fácil ,

pois, a tarefa deste Relator, limitada a optar por uma das duas posições. Faço-o,

aderindo à douta maioria . É de conhecimento geral que a 'administração-popular'

confunde-se com 'administração do Partido dos Trabalhadores' . Se o fato ainda

despertasse alguma dúvida, ficaria ela desfeita coma a leitura do folheto de fl . 46.

Ora sendo a expressão usada com enorme destaque nos editais , comunicados e

avisos de licitação de tis. 6/8, é de se reconhecer - data vênia - que se trata de

uma forma de marcar, na lembrança do público, a presença de agremiação

política e, via indireta , das autoridades integrantes de seu quadro. Tal prática é

vedada no art. 37 , § 1°, da CF, eis que fere o princípio da impessoalidade. Além

disso a impressão do slogan ocupa espaço desnecessário, encarecendo as

publicações, com lesão ao erário e, pelo menos nos exemplares trazidos aos

autos, não atende aos requisitos de ter caráter educativo, informativo ou de

orientação social. Rejeito os embargos. É o voto.11

A Suprema Corte manteve o julgado em decisão co

seguida de parte do voto do E. Relator, Ministro Menezes Dire· :

11 Disponível em: <http://redir.stf.jus.br/pae.inadorpub/paginador.jsp?docTP=;:. em 15 fev. 2016.

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EMENTA Publicidade de atos governamentais. Princípio da impessoalidade. Art.

37, parágrafo 1 º, da Constituição Federal. 1. O caput e o parágrafo 1° do artigo

37 da Constituição Federal impedem que haja qualquer tipo de identificação

entre a publicidade e os titulares dos cargos alcançando os partidos políticos a

que pertençam . O rigor do dispositivo constitucional que assegura o princípio da

impessoalidade vincula a publicidade ao caráter educativo, informativo ou de

orientação social é incompatível com a menção de nomes, símbolos ou imagens,

aí incluídos slogans, que caracterizem promoção pessoal ou de servidores

públicos. A possibilidade de vinculação do conteúdo da divulgação com o partido

político a que pertença o titular do cargo público mancha o princípio da

impessoalidade e desnatura o caráter educativo, informativo ou de orientação

que constam do comando posto pelo constituinte dos oitenta . 2. Recurso

extraordinário desprovido.

(RE 191668, Relator(a) : Min . MENEZES DIREITO, Primeira Turma , julgado em

15/04/2008, DJe-097 DIVULG 29-05-2008 PUBLIC 30-05-2008 EMENT VOL-

02321-02 PP-00268 RT J VOL-00206-01 PP-00400 RT v. 97, n. 876, 2008, p.

128-131 LEXSTF v. 30, n. 359, 2008 , p. 226-231 RJTJRS v. 47 . n. 286, 2012, p.

33-37)

REPRODUÇÃO PARCIAL DO VOTO DO MINISTRO MENEZES DIREITO:

"[ ... ] No momento em que existe a possibilidade de reconhecimento ou

identificação da origem pessoal ou partidária da publicidade há , sem dúvida , o

rompimento do princípio da impessoalidade determinada no caput, bem como

configuração da promoção pessoal daquele que exerce o cargo público no

padrão de sua vinculação com determinado partido político que ensejou sua

eleição. Assim , direta ou indiretamente, a vedação é alcançada toda a vez que

exista a menor possibilidade que seja de desvirtuar-se a lisura desejada pelo

constituinte , sequer sendo necessário construir interpretação tortuosa que

autorize essa vedação, nascida que é da simples leitura do texto da espécie

normativa de índole constitucional. Com isso, o que se deve explicitar é que a

regra constitucional veda qualquer tipo de identificação pouco relevando que

seja por meio de nome, de slogan ou de imagem ncular o governo à

pessoa do governante ou ao seu partido. Q de abertura nesse

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princípio é capaz de ensejar no tempo exceções que levam à inutilidade do

dispositivo. [ ... ]"1 2

Grifamos.

Ou seja, a Corte Suprema foi buscar no princípio da impessoalidade. em

toda a sua extensão e profundidade a forma de interpretar o dispositivo sob a perspectiva

democrática e republicana. Revelador o entendimento de que o conteúdo subliminar e ª mera possibilidade de reconhecimento de propaganda pessoal/partidária, direta ou

indiretamente, ou, ainda, a menor possibilidade de desvirtuar os objetivos na norma

constitucional, deve ser reprimida e considerada inconstitucional.

Mutatis mutandis, é o que se pretende com a ação civil pública proposta

pelo Ministério Público Federal e, mais imediatamente, com o presente recurso de agravo

de instrumento, vez que na r. decisão agravada se conferiu interpretação restritiva e literal

ao artigo 54, 1, alínea "a", da Constituição Federal, permitindo-se a indevida participação

societária de parlamentares, em empresas concessionárias de serviços públicos, o que

viola os princípios estruturantes da administração pública (impessoalidade, moralidade e

isonomia), que se aplicam não só aos atos de seus agentes públicos (Poder Executivo

estrito senso) mas também aos agentes públicos e políticos de quaisquer dos Poderes do

Estado (funções estatais) conforme ensina Carlos Ayres Brito:

2.1 É isso mesmo. Embora a cabeça do art. 37 da Constituição deixe literalmente

posto que a "administração Pública" Uá agora com iniciais minúsculas) é algo

próprio de cada um dos Poderes orgânicos da União, dos Estados, do Distrito

Federal e dos Municípios, o fato é que a matéria está versada no interior do

segmento normativo respeitante à organização do Estado Federal como um todo .

Não no título alusivo à organização daqueles Poderes estatais (título de n. IV) .

2.2 As coisas se explicam. Se a administração pública é

Poderes do Estado, e não uma particularidade dess ou daq

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que a matéria faça parte (como efetivamente faz) da realidade que abarca todos

eles sem exceção: a realidade do Estado. Que já é uma realidade-continente ,

enquanto cada qual dos Poderes não passa de uma realidade-conteúdo.

A interpretação literal, como a adotada na decisão agravada, desvinculada

dos princípios estruturantes e dos valores fundamentais adotados pela Carta da República,

constitui vezo do positivismo jurídico dogmático que não encontra mais espaço no atual

estágio civilizatório do direito, conforme assevera Daniel Sarmento:

Esta imagem do Direito, que teve seu apogeu na fase das grandes codificações

do século XIX, entrou , porém , em crise com o crepúsculo do Estado Liberal. As

novas demandas sociais que se cristalizavam no mundo contemporâneo

impunham uma concepção substantiva de justiça , que a compreensão formalista

do fenômeno jurídico não tinha como abrigar. Assim , sob as mais variadas

perspectivas, o positivismo passa a sofrer ataques contundentes, seja sob o

enfoque metodológico (realismo jurídico, utopia, teoria da argumentação, lógica

do razoável etc.), seja do ponto de cista material (teoria crítica , jurisprudência dos

valores etc.)

[ .. . ]

Afinal , o Direito é uma disciplina que se destina à regência da vida humana em

comunidade, e que não pode, por consequência , ser tratada como ciência exata .

[ ... ]

Assim , torna-se evidente que a neutralidade plena do aplicador do Direito,

postulada pela hermenêutica tradicional , constitui um mito ultrapassado, que se

presta à ocultação das relações de poder subjacentes à esfera jurídica , com o

objetivo de perpetuá-las, e que tem ser desmascarado, em favor da

transparência que deve revestir o fenômeno jurídico dos estados democráticos.

[ ... ]

Na verdade, para definição da natureza de princípio ou de regra de determinada

norma jurídica, torna-se necessário, no mais das vezes, transcender seu texto

legal e analisar também a qualidade do bem jurídico protegido pela

como o domínio empírico sobre o qual ela se projeta .

[ ... ]

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Demais, a Constituição dirigente, característica do Estado do Bem-Estar Social ,

ao ocupar-se de uma infinidade de questões que anteriormente não eram objeto

de tutela constitucional, não tem corno descer ao nível de detalharnento

necessário à regulamentação imediata de todos os campos aos quais se dedica.

Assim, acaba valendo-se, nestes novos campos, de princípios setoriais, que

estabelecem valores e objetivos centrais, os quais, posteriormente, têm de ser

concretizados pelo legislador.

Diante disso, fica evidente a razão pela qual a Constituição torna-se hospedeira

de tantos princípios. Segundo Joaquín Arce y Flórez-Valdés, hoje o habitat

natural dos princípios gerais de direito não é mais o código - expressão de uma

fase do Direito que se findou - , mas a própria Constituição, que sintetiza os

valores mais relevantes da ordem jurídica.

Neste sentido, o caráter principiológico da Lei Fundamental representa um

autêntico convite ao intérprete para que proceda uma "leitura moral" da

Constituição.

Cumpre reconhecer, porém, que a Constituição brasileira de 1988 caracteriza-se

por descer a um nível de detalhamento, no varejo das miudezas, como ressaltou

Luiz Roberto Barroso. Este fato pode ser em parte imputado à atuação marcante

de lobbies de toda a ordem na constituinte, que conseguiram alçar ao texto

fundamental normas garantidoras de interesses corporativos, completamente

desprovidas de dignidade constitucional.

[ ... ]

De todo modo, o arcabouço da ordem constitucional brasileira está alicerçado em

princípios altamente abstratos, portadores de um acentuado conteúdo axiológico,

corno o do Estado Democrático de Direito, da dignidade da pessoa humana e da

igualdade. Entretanto, um dos vícios da jurisprudência brasileira tem sido o do

relativo descaso devotado aos princípios constitucionais , o que acaba despindo o

processo de interpretação e aplicação da Constituição da sua dimensão ética

mais profunda. Como observou o grande constitucionalista norte-americano

Bruce Ackerman , a relutância do Tribunal Constitucional em interpretar a

Constituição brasileira de 1988 como uma constituição de prinçípios leva os

advogados a duvidarem se a Constituição brasileira é de f

13 SARMENTO, Daniel. A ponderação de interesses na constituição fed p. 20, 21 /22, 48, 49/50 e 51.

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Significativo nessa perspectiva o que estabelece o novo Código de Processo

Civil , Lei nº 13. l 05/2015. que após vincar no seu art. 1° que o processo civil será

ordenado, disciplinado e interpretado conforme os valores e as normas fundamentais

estabelecidos na Constituição da República Federativa do Brasil, preceitua no seu artigo

8° que, ao aplicar o ordenamento jurídico. o juiz atenderá aos fins sociais e às exigências

do bem comum, resguardando e promovendo a dignidade da pessoa humana e observando

a proporcionalidade. a razoabilidade, a legalidade, a publicidade e a eficiência

Aliás, firme nessa perspectiva da força normativa da constituição e da

incidência de seus princípios e valores na aplicação do direito e na prestação da tutela

jurisdicional, foi que o Supremo Tribunal Federal, debruçando-se sobre o alcance dos

princípios da moralidade e impessoalidade, editou a Súmula Vinculante nº 13, mesmo

sem a existência, ao menos à época, da norma constitucional ou infraconstitucional

e pressa sobre o tema, ao menos não na profundidade e amplitude do verbete sumular, do

seguinte teor:

A nomeação de cônjuge, companheiro ou parente em linha reta, colateral ou por

afinidade, até o terceiro grau, inclusive, da autoridade nomeante ou de servidor

da mesma pessoa jurídica, investido em cargo de direção, chefia ou

assessoramento, para o exercício de cargo em comissão ou de confiança, ou,

ainda, de função gratificada na Administração Pública direta e indireta, em

qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos

municípios, compreendido o ajuste mediante designações recíprocas, viola a

Constituição Federal.

No seu voto, na medida cautelar da Ação Declaratória de

Constitucionalidade nº 12, precedente que deu origem à referida súmula. asseverou o E.

Ministro Carlos Ayres Brito, em seu voto Uulgamento aos 16/02

princípio da impessoalidade consiste:

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[ ... ] no descarte do personalismo. Na proibição do marketing pessoal oi da auto­

promoção com os cargos, ad unções, os empregos, os feitos , as obras, os

serviços e campanhas de natureza pública. Na absoluta separação entre o

público e o privado , ou entre a Administração e o administrador, segundo a

republicana metáfora de que 'não se pode fazer cortesia com o chapéu alheio".

Conceitos que se contrapõem à multissecular cultura do patrimonialismo eque se

vulnerabilizam, não há negar, com a prática do chamado nepotismo. [ ... ]14

Outrossim, quando do julgamento de mérito da própria Ação Declaratória

de Constitucionalidade nº 12, aos 20/08/2008, vale reproduzir o que pontuaram os

Ministros Menezes Direito e Cármen Lúcia:

VOTO DO MINISTRO MENEZES DIREITO - REPRODUÇÃO PARCIAL:

Mas eu tenho entendido, e creio que essa é a convergência do Supremo Tribunal

Federal , que esses princípios que estão insculpidos no caput do artigo 37 da

Constituição Federal têm uma eficácia própria , eles são dotados de uma força

própria , que podem ser imediatamente aplicados. E eu diria até mais: sem um

retorno às origens técnicas da diferenciação entre o princípio e a norma, que

hoje, na perspectiva da Suprema Corte, esses princípios revestem-se da mesma

força , tanto isso que, em precedente recentíssimo que julgamos aqui neste

Pleno, nós aplicamos um desses princípios com a força efetiva de uma norma

constitucional , e, portanto, esse princípio pode, sim, ser aplicado diretamente,

independentemente da existência de uma lei formal.

Se essa concepção é verdadeira , e, ao meu sentir, é verdadeira , nós temos de

admitir que dentro das atribuições do Conselho Nacional de Justiça está a de

preservar os princípios

que estão presentes no caput do artigo 37 da Constituição. E um desses

princípios é aquele relativo à moralidade;

resolução do Conselho Nacional de Justiça.

14 Disponível em: < ,_,_,h t~t "'-'-'-'-"-""""""'"-'-'-"""'-"~='-'-"-""'-'-"'-"'-""~~=~'79'-"7""'-'-....:..r===--"-~-'-"­em: 15 fev. 2016.

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VOTO DA MINISTRA CÁRMEN LÚCIA- REPRODUÇÃO PARCIAL:

O traçado histórico brasileiro expõe a utilização dos espaços públicos pelos

interesses privados, do que decorre, em grande parte - e que já haveria de ter

sido extirpada há muito - a manutenção de atuações nepotistas no País.

[ ... ]

Contra a pessoalidade que assolava em terras brasileiras, sobreveio em 1828 a

Lei de 1 O de outubro, em cujo art. 38 em dispunha:

"Nenhum vereador poderá votar em negócio de seu particular interesse, nem

dos seus ascendentes ou descendentes, ou cunhados, enquanto durar o

cunhadio. Igualmente não votarão aqueles que jurarem suspeição".

Sob a vigência da Constituição de 1824, ensinava o grande Pimenta Bueno:

"A admissão dos cidadãos nos cargos públicos, sem outra diferença que

não seja de seus talentos e virtudes, é uma bela e lógica consequência. da

igualdade perante a lei. Não são pois as condições de nascimento, as

distinções ou prejuízos aristocráticos, e sim a capacidade, as habilitações, o

mérito pessoal , que dão a preferência aos cargos públicos; é uma conquista

preciosa da civilização e da justiça , que produz importantes resultados.

Primeiramente, é óbvio que os empregos, que os serviços públicos, não

podem ser bem desempenhados senão pela capacidade, pelos talentos e

virtudes; sem isso os negócios sofrerão e a sociedade terá o duplo sacrifício

de contribuir para as respectivas gratificações e de ver os seis interesses

mal dirigidos, sacrificados.

Em segundo lugar cumpre reconhecer que os talentos e a probidade, além

das garantias que dão, e serviços que prestam, são forças naturais e de

grande intensidade, pois que dispõe de meios, recursos, e de muitas outras

forças .

A abolição dos privilégios. salva a única exceção dos que forem essencial e

inteiramente exigidos por utilidade ou serviços públicos, é uma outra

consequência necessária do justo e útil princípio da igualdade perante a lei.

Por privilégio em geral , ou na consideração do direito público, entende-se

toda e qualquer espécie de prerrogativas, vantagens, isenções ou direitos

quaisquer concedidos com exceção da lei co~,.,.~

privilégio pode expressar-se por uma

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Ter direito superior ou preferência quando entrar com outros em

concorrência" (Direito Público Brasileiro e Análise da Constituição do

Império. Rio de Janeiro: ministério dos Negócios interiores, 1958, p. 412) .

Dessa forma, firme nesses precedentes jurisprudenciais paradigmáticos. e

no sentido que deles emana qual seja, de que, tratando de impor isenção e imparcialidade

à atuação do agente público/político (diretrizes do Estado Democrático de Direito,

fundando em regime republicano), para além da literalidade das normas é preciso buscar a

interpretação nos princípios e valores contidos na Constituição Federal, pretende-se a

reforma da decisão agravada, para o fim de acolher-se os pedidos de tutela liminar

requeridos na exordial da ação civil pública, cuja cópia instrui o presente recurso.

m - DA NÃO CONVERSÃO EM AGRAVO RETIDO E DA

ANTECIPACÃO DA TUTELA RECURSAL

Inicialmente, destaca-se que a decisão impugnada, pelo fato de postergar o

pedido antecipatório de tutela com fundamentação que malfere princípios e valores

albergados na Carta da República, causa lesão grave e de dificil reparação decorrente de

abuso do poder político e econômico, mediante concessão de serviço público de

radiodifusão a beneficiar parlamentar, prática vedada pelo ordenamento jurídico (art. 54,

1, "a", C.F. ).

Como já demonstrado, a situação das rés, empresas

concessionárias/permissionárias dos serviços de radiodifusão encontra-se

nitidamente em desacordo com o art. 54, inciso 1, alínea "a", da Constituição

Federal, além dos princípios constitucionais estruturantes da admini,,,.,...-.,._-,v pública, da

impessoalidade, moralidade e isonomia.

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Permitir a continuidade da exploração de serviço público concedido de

forma inconstitucional, propiciando o abuso de poder político e econômico, causa um

dano de proporções muito maiores do que a restrição do acesso à informação das

populações afetadas.

No mais, reafirme-se. sob a perspectiva de fumus bani iuris, que a decisão

agravada é passível de reforma pois, além de representar afronta aos princípios da

moralidade na Administração e de supremacia do interesse público, ofende o princípio da

legalidade. acolhido pelo artigo 5°, inciso II, da Lei Maior.

Ainda, em atenção ao comando normativo extraído do artigo 273 , § 2°, do

estatuto processual civil, que inadmite a concessão de tutela antecipada diante de eventual

perigo de irreversibilidade do provimento atendido, salienta-se que, no caso em testi lha,

não há que se falar em riscos capazes de afastar a tutela antecipatória pleiteada,

considerada a dimensão dos direitos constitucionais violados.

Destarte, comprovada a possibilidade de lesão grave e de dificil reparação,

o presente caso não autoriza a conversão em agravo retido, conforme previsto no artigo

527, inciso II, do Código de Processo Civil, devendo, ao invés, ser processado na forma

de instrumento, pois cabível a antecipação da pretensão de tutela recursai em caráter

liminar, consoante estabelece o artigo 527, inciso III, do estatuto processual civil, in

verbis:

Artigo 527. Recebido o agravo de instrumento no tribunal, e distribuído incontinenti, o relator: (. . .) Ili- poderá atribuir efeito suspensivo ao recurso (art. 558), ou

deferir. em anteci a ão arcialinente a

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IV - DOS PEDIDOS

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Diante do exposto nas presentes razões recursais e considerando o quanto

aduzido na inicial da ação civil pública promovida (DOC. 3). o Ministério Público

Federal requer:

1) seja concedida, inaudita altera pars, LIMINAR. inclusive com

ANTECIPAÇÃO DA TUTELA RECURSAL, com a reforma da decisão de primeiro

grau, deferindo-se os pedidos de tutela liminar/antecipada (na perspectiva da

fungibilidade prevista no§ 7~ do artigo 273. do Código de Processo Civil). com o fim de

impor aos agravados:

a) Seja suspensa a execução do serviço de radiodifusão sonora das rés

RÁDIO SHOW DE IGARAPAVA LTDA. e RÁDIO AM SHOW LTDA ..

b) A União abstenha-se de conceder novas outorgas de serviço de

radiodifusão às rés RÁDIO SHOW DE IGARAPAVA LTDA. e RÁDIO AM SHOW LTDA ..

2) Seja DADO PROVIMENTO ao presente agravo de instrumento,

reformando-se a decisão ora recorrida.

Termos em que,

pede deferimento.

São Paulo, 15 de fevereiro de 2016.

IVEIRA MACHADO

Pr