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ANNE SULLIVAN UNIVERSITY CURSO: SERVIÇO SOCIAL DISCIPLINA: FUNDAMENTOS DE SERVIÇO SOCIAL IV PROFESSORA: JULIANA FELISBERTO

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ANNE SULLIVAN UNIVERSITY CURSO: SERVIO SOCIAL

ANNE SULLIVAN UNIVERSITYCURSO: SERVIO SOCIALDISCIPLINA: FUNDAMENTOS DE SERVIO SOCIAL IVPROFESSORA: JULIANA FELISBERTODEFININDO NOSSO PONTO DE CHEGADA

Os objetivos especficos desta unidade:Ao finalizar seus estudos, voc poder ter construdo e sistematizado aprendizagens como:

Finalizar a exposio sobre a evoluo do servio social at o perodo contemporneo.

O servio social evolui e se renova.

Uma expresso desse rearranjo profissional foi o movimento de reconceituao do servio social, ocorrido entre os anos de 1965 1975, que expressava uma nova corrente para a profisso, com carter mais heterogneo vrias vertentes, linhas polticas, tericas e profissionais. Ele fruto de condicionantes histricas, com aprovao de setores jovens e profissionais de vanguarda do servio social.Com o passar dos anos, mais especificamente nas dcadas de 1980 e 1990, o servio social encontra seu pice, pois a reviso profissional, latente nas dcadas anteriores, se concretiza.

instalado um processo de renovao de dentro e fora da categoria, conhecido como o processo de ruptura do servio social com o tradicionalismo profissional. Ele no foi imediato, por isso ser chamado de processo de ruptura, pois nessa poca ainda no havia uma hegemonia na prpria categoria profissional.O servio social na dcada de 1990 rompe com o conservadorismo, aproximando-se de uma viso de homem enquanto ser social que constri sua histria, tendo a liberdade como eixo central de orientao desse projeto, entendido no apenas como valor, mas como capacidade ontolgica do ser social.Novas demandas so colocadas para o servio social, exigindo novas legislaes e polticas.O servio social na cena contempornea tem sua direo voltada defesa da classe trabalhadora e do trabalho, dentro do processo de reproduo da vida material e dos modos de vida; comprometido com a afirmao da democracia, da liberdade, da igualdade e da justia social, lutando pelos direitos e cidadania, em direo do desenvolvimento social inclusivo.Muitas viradas o servio social vivenciou desde o movimento de reconceituao; dos congressos de servio social que sistematizaram a prtica, at a contemporaneidade, expressas nos ltimos captulos desta unidade, fechando a fundamentao de nossa profisso.

A RENOVAO DO SERVIO SOCIAL

A partir dos anos 1960 at 1970 ampliava-se a rea de atuao do assistente social, juntamente com o aumento das demandas pelos servios e polticas sociais, o que impulsionava um avano nos mbitos acadmico, profissional e organizativo, devido, tambm, a uma aproximao com os fundamentos da teoria da modernizao presente nas cincias sociais. Esse perodo correspondia ao do avano do desenvolvimentismo e do capitalismo industrial, que geravam preocupaes aos poderes autoritrios da sociedade brasileira.Foi til ao servio social, portanto, sua insero no mbito universitrio, o dilogo com as disciplinas das cincias sociais e a criao e expanso da ps-graduao, com a implantao dos cursos de mestrado e doutorado no incio dos anos 70.As transformaes que emergiam refletiam tambm na organizao poltica da prpria categoria profissional. A partir desse rearranjo ocorreu a criao das entidades de ensino, pesquisa e representao profissional.Dentro desse contexto de mudanas, o evento que marcou essa ruptura histrica da profisso com o perfil conservador foi o III Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais, realizado em So Paulo, em 1979, o Congresso da Virada, que marcou o questionamento da organizao conservadora da profisso.Esse congresso realizou a crtica ao conservadorismo, ao capitalismo e autocracia burguesa, firmando compromisso com a classe trabalhadora e com transformaes radicais da sociedade.Foi a primeira expresso na construo de um projeto tico, poltico e profissional que pudesse orientar a ao profissional, situando como determinante da desigualdade de classe na sociedade capitalista a apropriao privada da riqueza socialmente produzida.No final da dcada de 70, no contexto das greves operrias do ABC, da reorganizao da sociedade civil e do avano dos movimentos populares, a crise da ditadura j se expressava com maior intensidade.A anistia poltica, em 1979, ocorre como resultado da confluncia da mobilizao de trabalhadores, intelectuais e dos movimentos pastorais entre outros movimentos e partidos de esquerda, como os comunistas e socialistas. A transio democrtica reaviva no servio social a vertente comprometida com o projeto democrtico-popular, explicitando a dimenso poltica e o significado social da profisso.O III Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais, ocorrido entre os dias 23 a 28 de setembro do ano de 1979, no Anhembi em So Paulo, chamado Congresso da Virada, pois a postura crtica dos assistentes sociais foi o que deu suporte construo do desenvolvimento critico do servio social brasileiro.Esse congresso representou um momento de grandes mudanas para a profisso, abrindo novos horizontes de luta pela democracia, vinculado classe trabalhadora na luta pelos direitos humanos, atrelado aos movimentos sociais e outras associaes.Os convidados oficiais, representantes das autoridades do regime militar, foram destitudos da comisso de honra e substitudos por dirigentes de movimentos sindicais e populares, dentre eles Lus Incio Lula da Silva. Esse fato histrico teve grande repercusso na categoria profissional, constituindo um marco no processo de politizao e mobilizao de profissionais e estudantes de servio social e na reativao das entidades sindicais em todo pas, culminando com a criao da Associao Nacional de Assistentes Sociais ANAS no ano de 1983.A partir desse congresso, houve um repensar pelos prprios profissionais sobre a atuao profissional e um novo projeto tico, poltico e profissional, demarcando-se a direo social daprofisso ao lado da classe trabalhadora e no mais atendendo ao conservadorismo.Foi um marco e tambm um processo, com determinaes exgenas e endgenas profisso, marcado pelo adensamento da conjuntura nacional e latino-americana da poca de um lado e pelo prprio acmulo da profisso proporcionado pelo movimento de reconceituao, de outro.Teve destaque a influncia da Teologia da Libertao, ao estabelecer seu compromisso com os pobres e com a sua libertao, passou ela a se constituir em referncia dos reconceitualizadores. Esses se encontravam inseridos em contextos universitrios ou vinculados a movimentos da Igreja, operando uma mudana significativa nos vnculos sociais que estabeleciam com o povo e com suas lutas sociais, seu protagonismo em movimentos de resistncia ditadura e de militncia poltica que se aproximavam do marxismo.Trata-se de uma mudana na concepo de servio social e no perfil da categoria profissional, possibilitada tanto pela insero do servio social no circuito acadmico e pela criao da ps-graduao (1972), que aproximava a profisso das teorias sociais, dentre elas a do marxismo, quanto pelo processo de ampliao e laicizao da categoria profissional, dadas as novas demandas postas pela ditadura, que alteravam substancialmente o perfil profissional. Como decorrncia, tem-se a ampliao e consolidao do mercado de trabalho para os assistentes sociais, especialmente no campo da execuo das polticas sociais.O III Congresso deixava claro que era urgente a ruptura com a herana conservadora presente desde a emergncia do servio social no Brasil e a importncia de um novo projeto de profisso.O movimento de reconceituao do servio social

Os anos de 1960 influenciaram grandemente o servio social brasileiro. Com a instalao da ditadura militar, novas demandas foram impostas ao assistente social, porm, com o grande cerceamento ideopoltico, muito pouco se avanava. A categoria profissional apresentava-se engessada e de braos atados com os limites impostos pelo perodo. A impossibilidade de questionar as condies polticas, sociais e econmicas da realidade brasileira sinalizavam um movimento interno e externo, que indagavam e questionavam o objeto, os objetivos, os mtodos e os procedimentos de interveno do servio social, dando incio ao chamado movimento de reconceituao.

O movimento de reconceituao do servio social, ocorrido entre os anos de 1965 1975, expressa uma nova corrente para a profisso, com carter mais heterogneo vrias vertentes, linhas polticas, tericas e profissionais. Ele fruto de condicionantes histricas, com aprovao de setores jovens e profissionais de vanguarda do servio social.Esse movimento fez a denncia e crtica ao servio social tradicional e seu vnculo com o conservadorismo, uma autocrtica profisso reviso global; questionamento da sociedade e seu nvel societrio, da direo social da prtica profissional, de suas razes sociopolticas, de seus fundamentos ideolgicos e tericos, sintonizando o servio social com a realidade a fim de atender s demandas crtica o tradicionalismo.Expressou tambm um avano nas reflexes tericas do servio social, fez a crtica ao assistencialismo e s bases convencionais, buscando um novo papel para a atuao, mais atrelado realidade. um movimento terico, metodolgico e operacional.No foi um movimento homogneo de ideias e posies, mas incorporou vrias correntes e tendncias. At mesmo sua aceitao no meio profissional no foi homognea.Ele foi mais intenso na Amrica Latina no Brasil, pas com um nvel mais avanado de industrializao e um sistema de governo populista, lutas de classes e organizaes mais conscientes das mesmas, com ocorrncia de participao poltica, onde ele assumiu uma perspectiva crtica de contestao poltica e de proposta de transformao social. Essa posio dificilmente poderia ser levada prtica frente exploso de governos militares ditatoriais e pela ausncia de suportes tericos claros.

A primeira expresso desse movimento se deu a partir do 1 Seminrio Latino-Americano de Servio Social, realizado no ano de 1965 em Porto Alegre, e teve seu trmino por volta do ano de 1973. Nesse mesmo ano, com a interlocuo com o servio social latino-americano, foi fundada a Associao Latino Americana de Escolas de Servio Social (logo depois, Trabalho Social), ALAETS, entidade de grande importncia no fomento da crtica servio social critico. Entretanto, na profisso, em consonncia com o contexto da dcada de 1960, emergiu um movimento crtico, denominado Movimento de Reconceituao Latino-Americano do Servio Social.

Esse movimento trouxe inmeros questionamentos acerca da sociedade e das condies de trabalho postas ao assistente social, alavancando um posicionamento crtico face ao servio social tradicional conservador e lgica capitalista. Possibilitou uma anlise crtica da sociedade do capital, problematizando o papel do assistente social na sociedade capitalista e as demandas a ele dirigidas.No Brasil, as influncias desse movimento s iro repercutir a partir do fim da Ditadura Militar, que minou as bases que proporcionariam a crtica progressista no servio social.O ps 1964 serviu para repensar, rearranjando o que era tradicional j que mudanas efetivas no poderiam ser instauradas. Esse processo tambm poderia ser denominado como modernizao conservadora.Dentro dessa perspectiva, o servio social apenas revisou seus conceitos e contedos, resgatando e mantendo seus ncleos tericos, revestindo-os de uma nova roupagem apenas.No servio social, ocorreram mudanas:

no contexto universitrio: entrada do curso na universidade, forte expresso do movimento estudantil; no repensar do currculo mnimo do servio social; no questionamento da universidade tradicional prope-se uma universidade mais democrtica, poltica; na interlocuo do servio social com as cincias sociais, incorporao de conceitos; na introduo do desenvolvimento de comunidade, com uma atuao mais ativa, macrossocietria, inserindo a profisso em equipes multidisciplinares, dando um carter mais tcnico profisso, mais participativo no que diz respeito ao planejamento e administrao, o servio social no se restringe apenas ao papel de um executor das polticas pblicas. O desenvolvimento de comunidade o vetor para esse repensar da profisso.Essa eroso perdurou at o ano de 1964, quando o golpe levou ao rompimento com essas vertentes.O movimento de reconceituao no foi unitrio, nem homogneo, mas desdobrou-se em diversas tendncias, conforme sinopse a seguir:AutorTendncias identificadasJosefa Batista Lopes (1979)

A perspectiva da integrao social (modernizante).A perspectiva da libertao social (marxista).

Vicente de Paula Faleiros (1981)Paradigma das relaes interindividuais (funcionalista / fenomenolgica).Paradigma das relaes de fora, poder e explorao (marxista).

Maria Guadalupe Silva (1982)Posies ideolgicas conservadoras (funcionalistas).Posies ideolgicas de mudanas:- tendncia reformista ou desenvolvimentista (modernizadora);- tendncia revolucionria (transformao radical marxismo).

Jos Paulo Netto (1990)Perspectiva modernizadora (conservadora).Reatualizao do conservadorismo (fenomenolgica).inteno de ruptura (marxista)

Ivete Simionatto (1995)vertente desenvolvimentista;vertentes radicais.

A periodizao histrica do movimento elenca um desenvolvimento do servio sociallatino-americano em que prevalecem as seguintes concepes na profisso:

concepo benefcio-assistencial: uma forma tecnificada de exercer a caridade e a filantropia; concepo paramdica ou parajurdica: se relaciona ao dos visitadores domiciliares, auxiliares do mdico ou dos servios judicirios; concepo assptico-tecnocrtica: oferta profissional de seus servios, com carter poltica e ideologicamente neutro, a partir da influncia norte-americana nos mtodos do servio social de caso, grupo e comunidade; concepo desenvolvimentista: inspirada no iderio da Aliana para o Progresso e patrocinada pelo governo americano; concepo conscientizadora-revolucionria: emergiu com o movimento de reconceituao.Outra abordagem aquela que assinala quatro fases para o servio social:1. fase pr-tcnica: aes ainda assistencialistas, sob a forma de caridade e benemerncia;2. fase tcnica: a partir do desenvolvimento do capitalismo e a transio das sociedades pr-industriais ao capitalismo industrial, com crescente tecnificao das formas de assistncia pblica;3. fase pr-cientfica: aps a Segunda Guerra Mundial, com maior embasamento terico profissional;4. fase cientifica: ruptura epistemolgica do servio social, que passa a preocupar-se em apreender a natureza contraditria das coisas, como tambm a essncia e a substancia dos fenmenos, pondo em questo as limitaes tericas, metodolgicas e axiolgicas da profisso.O SERVIO SOCIAL PS ANOS 1980: VIVNCIAS DA RENOVAO CRTICA

A dcada de 1980 inaugura um novo processo para a reviso profissional. nessa dcada que a categoria profissional respira novos ares rumo a uma atuao mais democrtica e autnoma.Instala-se um processo dentro e fora da categoria, processo de renovao do servio social, conhecido como o processo de ruptura do servio social com o tradicionalismo profissional. Esse processo no foi imediato, por isso chamado de processo de ruptura, pois nessa poca ainda no havia uma hegemonia na prpria categoria profissional.Um questionamento das bases se iniciava, questionando e refletindo criticamente a metodologia e a prtica profissional. Esse era tambm um questionamento tico. A tica entra em pauta nas discusses profissionais, pois se verificou que se fazia necessrio romper com a neutralidade e com o tradicionalismo filosfico fundado pelo neotomismo e humanismo cristo. Ao assumir esse posicionamento tico, novas possibilidades se abririam, pois ainda eram insuficientes as aes voltadas para a classe trabalhadora.O regime militar vigente nessa dcada apresentava-se desgastado, pois havia no momento uma falta de sincronia no interior das classes dominantes, que refletia no sistema econmico e fazia cada dia mais aumentar a condio de pobreza e desigualdade social.Essa herana da reconceituao foi a base para a renovao crtica do servio social brasileiro na dcada de 1980, mesmo com os limites, aponta-se algumas conquistas decorrentes dessa poca no Brasil:1. intercmbio e interao profissionais com outros pases que respondessem as problemticas comuns da Amrica Latina;2. a explicitao da dimenso poltica da ao profissional;3. interlocuo crtica com as cincias sociais: crtica ao tradicionalismo, com abertura para a tradio marxista e sincronia com tendncias diversificadas do pensamento social contemporneo;4. inaugurao do pluralismo profissional.Essa dcada marca tambm o processo de abertura poltica no Brasil, com grande avano dos movimentos sociais. O fortalecimento do sindicalismo, das comunidades de base e da reforma sanitria, aliado ao aprofundamento da crise econmica que se evidenciou na ditadura militar, vai resultar em um grande movimento social em torno da elaborao da nova Constituio.Nessa conjuntura, h um movimento significativo no servio social, de ampliao do debate terico e incorporao de algumas temticas como o Estado e as polticas sociais fundamentadas no marxismo.A mobilizao da sociedade civil se adensa com a incorporao de diferentes categorias profissionais (mdicos, professores, sanitaristas, funcionrios pblicos, assistentes sociais), que engrossam as lutas polticas, recriando suas entidades representativas e aliando-se s reivindicaes democrticas de retomada do poder civil, de reconhecimento de direitos sociais e polticos, de democratizao do Estado, de enfrentamento da grave crise social.No mbito do servio social inicia-se a fecundao de um debate e posicionamento tico comprometido com a classe trabalhadora, com os direitos humanos e sociais, com a ampliao da democracia. As entidades profissionais tiveram um papel fundamental nesse processo de lutas, pelo seu atrelamento com a universidade e no adensamento da crtica.E nessa dcada que h um rompimento com o conservadorismo no servio social, pela reviso do posicionamento tico e profissional, pela prpria reviso do projeto formativo da profisso diretrizes curriculares de 1982; pela organizao da categoria participao democrtica. As entidades de ensino e representativas tiveram esse papel primordial, ABESS/CEDEPSS (Centro de Documentao e Pesquisa em servio social e Polticas Sociais) e o CFESS/CRESS merecem destaque na elaborao de uma legislao que contemplasse essas mudanas.

No ano de 1986 um novo do cdigo de tica foi lanado, comprometido com um novo projeto tico, poltico e profissional junto classe trabalhadora e seus interesses e que rompia com o corporativismo profissional.Uma nova postura e direcionamento so assumidos, que vieram a legitimar o compromisso expresso nesse novo cdigo profissional.Nesse contexto, outros fatores importantes marcaram esse processo de renovao crtica do servio social: a aprovao do novo currculo mnimo pelo Conselho Federal de Educao em 1982 representou um ganho significativo; a aproximao do servio social da discusso sobre a vida cotidiana, atravs de autores como Lukcs e Heller, Goldman, Lefvre; como tambm a presena da influncia Gramsciana em vrias produes dessa poca, que possibilitou novas interpretaes das possibilidades de renovao crtica. Esses fatores incorporavam o papel de educador prtica profissional, contribuindo com a renovao da profisso. Marcam, tambm, a elaborao de um novo Cdigo de tica Profissional em 1986, que se configurou como elementos significativos no processo de ruptura profissional, sobretudo, nos aspectos poltico e terico, expressando a influncia do pensamento marxista no servio social.Propunha-se ainda a superar a fragmentao existente no trip caso, grupo e comunidade, criando as disciplinas de Metodologia do Servio Social, Histria do Servio Social e Teoria do Servio Social.Merece destaque tambm a formulao expressa na obra produzida por Marilda Villela Iamamotoe Raul de Carvalho, publicada em 1982 e intitulada Relaes Sociais e servio social no Brasil: esboo de uma interpretao histrico-metodolgica, que veio de encontro s expectativas da categoria, sinalizando uma maioridade intelectual no rompimento.Todo esse processo se desdobra na construo de um novo projeto tico, poltico e profissional, vinculado a um projeto societrio, propondo uma nova ordem social, voltada equidade e justia social, numa perspectiva de universalizao dos acessos aos bens e servios relativos s polticas sociais.Nesse contexto a profisso busca o compromisso com a classe trabalhadora atravs do aprimoramento intelectual, baseada na qualificao acadmica e alicerada em concepes terico-metodolgicas crticas e slidas.No que tange ao modelo de proteo social, a Constituio Federal de 1988, denominada Constituio Cidad, uma das mais progressistas, em que a sade, conjuntamente com a assistncia social e a previdncia social, integram a seguridade social.Esse novo paradigma do trip da Seguridade Social como direito do cidado foi fruto de fortemovimentao popular, por meio de movimentos populares de sade, sindicatos, associaes dedonas de casa, em contraposio aos segmentos privados, que se uniram em torno de uma proposta de privatizao dos servios, o que necessitou de uma composio de foras para o avano do entendimento da sade e assistncia como direito, porm prevendo a possibilidade de complementao pelo setor privado.Essa dcada foi de extrema importncia para o servio social, que passa a avaliar a sua ao dentro da tradio marxista, como tambm h uma maior aproximao no movimento interno da universidade.Os anos de 1980 comeavam a colocar para o servio social brasileiro demandas, particularmente na ps-graduao, de instituies portuguesas e latino-americanas (Argentina, Uruguai, Chile), o que ampliava a influncia do pensamento profissional brasileiro.Esse novo modelo de Estado vem operando num processo de enfraquecimento dos movimentos sociais, que vinham da dcada anterior, com forte mobilizao. Observa-se um esvaziamento dos sindicatos, um reforo da negociao dos acordos dentro das fbricas sem intermediao dos sindicatos, uma valorizao do individual e da prestao de servio em detrimento do emprego formal.Em contrapartida, a Constituio de 1988 garantiu o controle social das polticas pblicas, com o fortalecimento da gesto municipal; dessa forma, o servio social tem necessidade de rever sua prtica para contribuir na reorganizao do movimento social em torno das garantias de direitos e manuteno das conquistas obtidas, evidenciando questes referente necessidade de construir e concretizar uma prtica que garanta um Estado participativo.A partir dessa realidade, o Estado fica com a funo de garantir um mnimo aos que no podem pagar, e o setor privado, com o atendimento aos cidados consumidores economicamente ativos, garantindo o lucro do setor, e repassando para o Estado as situaes de alto custo; nos planos de sade, o usurio, apesar de financiar durante anos sua sade, quando necessita de um tratamento de alto custo, encaminhado para sade pblica.O Estado liberal traz como estratgia de governo um projeto privatista, o que cada vez mais vem trazendo demandas para o servio social. Muitas das demandas apresentadas categoria tm um carter de fiscalizao dos usurios, de convencimento da impossibilidade de acessar determinado recurso por no apresentar o perfil estabelecido; na seleo socioeconmica que exclui mais usurios de que os inclui; na atuao psicossocial via aconselhamento; na atuao atravs da incluso de benefcios previdencirios e sociais tal como o Beneficio de Prestao Continuada BPC. Ainda perfilam a atuao profissional a ao junto aos planos de sade, percias sociais, planos de previdncia privada. Tais prticas podem significar uma volta ao assistencialismo por meio da ideologia do favor e do predomnio de prticas individuais.Nesse novo contexto, cabe aos profissionais de servio social fortalecer as instncias de controle social previstas na Constituio (conselhos municipais de sade, educao, assistncia, segurana pblica, cultura, conselhos tutelares) para garantir a manuteno e viabilizao de polticas pblicas nessas reas, alm da destinao efetiva dos recursos financeiros disponveis, garantindo a otimizao de tais recursos nas aes de interesse das classes populares. Cabe ainda lutar para que esses conselhos no sejam cooptados pela iniciativa privada, garantindo assim seu papel de controle social da execuo de polticas pblicas.Os programas de transferncia de renda, embora reconhecidos internacionalmente como importante poltica de combate fome, so um caminho para uma distribuio de renda menos perversa. Encontram fortes crticas nos setores hegemnicos nacionais e concorrem com polticas assistencialistas de preservao da pobreza, como tambm na ausncia de uma retaguarda populao usuria.Assim, tendo em conta os debates e embates no servio social, a partir de 1986, com a elaborao de um cdigo de tica profissional, inicia-se a busca do rompimento com o conservadorismo. Nesse cdigo, visvel o rompimento das referncias ticas desconectadas, superam-se, portanto, as reflexes ticas obscurecidas pelas construes idealizadas da realidade, que situam a tica fora do campo dos condicionantes histricos, dos interesses de classe. Ao mesmo tempo, h um reconhecimento da dimenso poltico-ideolgica que marca a profisso desde o seu incio e caracteriza a sua histria, o que pode ser percebido na prpria introduo do Cdigo.Destaca-se, uma postura em defesa de direitos antes no observada, na disposio sobre os deveres dos assistentes sociais Denunciar, no exerccio da profisso, s organizaes da categoria, s autoridades e aos rgos competentes, qualquer forma de agresso integridade fsica, social e mental, bem como abuso de autoridade individual e institucional (Cdigo de tica Profissional, 1993).O servio social e os anos 1990: consolidao da renovao crticaAs dcadas de 1980 e 1990 sinalizaram a maturidade do servio social. Com sua aproximao com outras matrizes tericas, com a crtica fundamentada e elaborada tornou-se evidente que o carter dado profisso anteriormente acrtico e a-histrico deveria ser rompido e repensado. Nos horizontes se abriam para o exerccio profissional, colocou-se para o assistente social uma maior participao, participao essa para alm da intelectualidade. A participao do assistente social retorna militncia e ao iderio de luta to obscurecido pelo perododitatorial.A participao do assistente social nos movimentos sociais, nas lutas de classes e na questo social iam de encontro a uma melhor compreenso da realidade social. nesse momento que as teorias sociais crticas serviram de aprofundamento para os assistentes sociais, com especial ateno pela teoria social de Marx.A dcada de 1990 marcada por fortes influncias nas relaes sociais no pas, a partir do projeto neoliberal, iniciado pelo governo de Fernando Collor de Mello, da contrarreforma do Estado sob a orientao do Consenso de Washington defendida pelo governo Fernando Henrique Cardoso.O governo de FHC foi aquele que deu maior abertura para os postulados do neoliberalismo4. Com o Plano Real, os ajustes neoliberais tiveram novos contornos. Mesmo j iniciados no governo de Fernando Collor de Mello, os ajustes neoliberais se intensificaram.

No plano econmico, estabelece-se um plano de estabilizao a fim de se retomar o crescimento e combater a inflao. O Estado retirado mesmo com uma poltica que visava a um Estado de bem estar social aos moldes americanos Welfare State.No mbito do servio social, os efeitos foram grandes. Com as propostas de privatizao das empresas estatais, da flexibilizao da economia e reestruturao no mundo do trabalho, da retrao dos direitos sociais e da reforma do Estado, o Estado mnimo, mesmo com esse cenrio desastroso e de retrocessos, o servio social amplia os campos de atuao, passando a atuar no terceiro setor, nos conselhos de direitos, entre outros.O servio social na dcada de 1990 rompe com o conservadorismo, achegando-se a uma viso de homem enquanto ser social que constri sua histria, tendo a liberdade como eixo central de orientao deste projeto, entendida no apenas como valor, mas como capacidade ontolgica do ser social.Com essas reflexes, a dcada de 1990, ser o momento histrico em que o servio social supera as dificuldades encontradas na dcada de 1980. Sero superadas, principalmente, as defasagens de publicaes acerca dos fundamentos filosficos da tica e do ser social, consolidando um amadurecimento, sistematizado e difundido entre a categoria na dcada, a partir da promulgao de documentos normativos, necessrios nesse modelo de sociedade, a fim de garantir os direitos e deveres dos profissionais.Os assistentes sociais ingressaram os anos 1990 como uma categoria que tambm pesquisadora, reconhecida pelas agncias que as fomentam.A aprovao do Cdigo de tica em 1993, j tende para a mudana, tratando a tica em seus fundamentos filosficos, em sua configurao histrica na sociedade burguesa e na realidade brasileira. possvel afirmar, ento, que o Cdigo de 1993 confirmou importantes valores e diretrizes para o exerccio profissional, que se colocam de forma divergente daqueles que atualmente vm sendo difundidos e efetivados.O projeto tico, poltico e profissional legitima o compromisso com uma determinada ideologia e classe social. Esse posicionamento est expresso na Lei de Regulamentao da Profisso de Servio Social, em 1993; no Cdigo de tica de 1993 e nas novas Diretrizes Curriculares de 1996. Dessa forma, a profisso debateu, elaborou e legitimou, junto categoria, a estrutura necessria para a consolidaohegemnica desses novos rumos, aos quais essas normatizaes profissionais deram a base.Os anos 1990 trouxeram para o pas uma emergncia no redimensionamento econmico e uma maior abertura para a economia global e para a concorrncia internacional. Com essa abertura, o Brasil teve que se adequar aos moldes internacionais. Contrataes flexibilizadas, subcontratos, parcialidade notrabalho, incorporao de modelos americanos no sistema de produo evidenciaram esta adequao.Mesmo com um contexto que aparentemente evidencia mudanas significativas e uma evoluo por meio do enquadramento dos modelos internacionais, os retrocessos e limites eram maiores e atingiam pontualmente a classe trabalhadora.Diante desse contexto devastador, o Estado, que j se colocava como mnimo, desenvolve aes fragmentrias, seletivas e focalistas a fim de responder e apaziguar os nimos da classe trabalhadora que formava um verdadeiro exrcito de reserva.Tais aes afetavam a profisso de servio social, pois a questo social no se apresentava com a mesma cara e formato de anteriormente. Havia naquele momento uma emergncia, mais uma entre as que j se colocaram para a categoria profissional. Urgia para o servio social apresentar respostas um desafio, mais do que uma emergncia em si de decifrar a realidade imposta pelo sistema capitalista e pelo ajuste do neoliberalismo, verificado no processo de desfiliao social da classe trabalhadora e, por extenso, de sua famlia, na defasagem apresentada pelo sistema dito como protetor, como tambm urgia pensar em respostas mais claras e pontuais, pois a questo social agora tinha mltiplas expresses e ia alm da condio de pobreza.A questo social se expressa com um novo perfil. Ela um conjunto, no s a situao de pobreza em si, formada pela precarizao, pela insegurana e vulnerabilidade social no trabalho e nas condies devida, pelo desemprego, pelos baixos salrios, pela desproteo social que assola a classe trabalhadora.Alm disso, propunha-se uma construo coletiva, concretizao dessa construo j sinalizada com os movimentos ocorridos no interior na categoria, a construo de um projeto tico, poltico, hegemnico e societrio.Pode-se identificar isso por meio de consulta aos princpios fundamentais do ltimo Cdigo de tica da profisso.Ainda nessa dcada, adensou o debate terico, o que gerou maior visibilidade acadmica e cientfica da profisso. A pesquisa que at ento no era uma realidade determinante do modo de ser e existir do servio social passou a ser uma necessidade em todos os nveis de formao.Na formao profissional foram eleitos novos elementos valorativos e formativos. A teoria social crtica foi definitivamente incorporada. Novas dimenses foram evidenciadas, como tambm uma nova reforma curricular. As novas diretrizes (Diretrizes Curriculares de 1998) evidenciaram e apontaram como direo a apreenso crtica do processo histrico como totalidade; a investigao; a apreenso do significado social da profisso a fim de desvelar as possibilidades contidas no cotidiano; o cumprimento de competncias e atribuies.As diretrizes curriculares do curso de servio social evidenciaram os componentes principais que so as dimenses terico-metodolgica, tcnico-operativa e tico-poltica.O trabalho tomado como norte, como categoria central do ser social, sendo, portanto, a partir dele pensadas e repensadas as aes. Ncleos de fundamentao foram criados a fim de efetivar este projeto profissional.Os Ncleos de Fundamentao podem ser: ncleo de fundamentos terico-metodolgicos da vida social; ncleo de fundamentos da particularidade da formao scio-histrica da sociedade brasileira; ncleo de fundamentos do trabalho profissional.O assistente social deveria ter capacidade de apreender, sob a tica da totalidade, os processossocio-histricos que permeiam a vida da classe trabalhadora. Ele deveria ainda compreender o significado social da profisso e das suas demandas, como tambm a sua insero na diviso social do trabalho.O projeto tico-poltico veio a protagonizar valores, agreg-los rumo a uma nova ordemsocietria.O Cdigo de tica de 1993 veio somar a essas premissas de mudana instauradas para a profisso.Seus princpios sinalizaram que se faziam necessrias mudanas. A liberdade colocada como valor tico central tal como as demandas que emergem dela junto ao contexto poltico: autonomia, emancipao do sujeito. Sinaliza-se o respeito ao indivduo respeitando sua historia, sua cultura, seus costumes.A condio de cidadania evidenciada, como tambm a necessria luta pelos direitos humanos e sociais, pelo posicionamento em favor da equidade e da justia social. Deve-se ainda assegurar a universalidade de acesso aos bens e servios, o que, mesmo instrudo legalmente, vai em sentido contrrio ao estabelecido pelo neoliberalismo.No incio do sculo XXI, as alteraes nas relaes sociais requisitam da profisso novos patamares para compreenso da sociedade, fazendo emergir preocupaes com as matrizes tericas que alimentam a formao profissional e a interveno do assistente social.os avanos consolidados na dcada de 1990 se deram em trs dimenses. Na dimenso tico-poltica, a superao da neutralidade profissional, inserindo os profissionais na luta juntamente com os trabalhadores. Na dimenso terico-metodolgica, com o Cdigo de 1993, a ampliao com a teoria marxista, que se baseou no entendimento crtico e histrico da prtica tica e poltica. Na dimenso tcnico-operativa, a conquista de direitos e deveres do assistente social sintonizados nesses novos rumos consolidados pelo Cdigo de tica de 1993.a partir do Cdigo de 1993 que o projeto profissional ganha visibilidade nacional comoprojeto tico-poltico.Temas articuladores para a prtica nessa dcada:

seguridade social, juntamente com o trip realizado com a poltica de sade,assistncia social e previdncia social. A noo de seguridade supe que os cidadostenham acesso a um conjunto de certezas e seguranas que cubram, reduzam ouprevinam situaes de risco e vulnerabilidades sociais sem custo algum: assistncia social como poltica publica de proteo social; municipalizao e descentralizao das polticas sociais pblicas; consolidao do projeto tico, poltico, terico, metodolgico e operativo.Porm, mesmo com todos esses avanos, vrios impasses se colocaram frente aoservio social na dcada de 1990.Um impasse muito famoso e que traz um grande n para a atuao profissional o do distanciamento entre o trabalho intelectual, de cunho terico e metodolgico, e o exerccio da prtica profissional.Outro diz respeito construo de estratgias tcnico-operativas para o exerccioprofissional, ou seja, do preenchimento o campo de mediaes entre as bases tericas e a operacionalidade.O servio social na cena contemporneaO servio social na cena contempornea tem sua direo voltada defesa da classe trabalhadora e do trabalho, dentro do processo de reproduo da vida material e dos modos de vida; comprometido com a afirmao da democracia, da liberdade, da igualdade e da justia social, lutando pelos direitos e pela cidadania em direo do desenvolvimento social inclusivo.As condies concretas na atualidade para a atuao profissional sinalizam um atrelamento com o movimento, como um todo, da sociedade. Atravs do desenvolvimento do iderio neoliberal, dois aspectos em particular se interpelam ao servio social: as novas manifestaes e expresses da questo social e os processos de redefinio dos sistemas de proteo social.At mesmo a prpria expresso da questo social apresenta-se num novo perfil, com a precarizao, insegurana e a vulnerabilidade do trabalho, que geram a perda das protees e seguranas sociais no enfrentamento do desemprego e do crescimento do trabalho informal e das formas precarizadas de trabalho, o achatamento salarial e o aumento da desproteo social.Evidencia-se a renovao crtica profissional, fruto do amplo processo de lutas pela democratizao, de lutas operrias, processo esse que rompia com o tradicionalismo.Face s mudanas estruturais e sociais, exige-se da profisso de servio social que continuadamente estabelea uma interligao e apropriao terico-metodolgica, que o permita ler e reler a realidade eatribuir visibilidade aos fios que integram o singular com o coletivo.O servio social tem hoje nas polticas sociais seu maio foco de atuao, visto que o Estado, gestor das polticas sociais, o maior empregador. Dado seu carter assalariado e o fato de a interveno profissional s se realizar mediada por organizaes pblicas ou privadas, a profisso acaba sendo condicionada pelo tipo, pela natureza, pelo formato, pela modalidade de atendimento das sequelas da questo social sugeridas pelo Estado burgus.O redesenho das aes sociais estatais caracteriza-se pela municipalizao, descentralizao e transferncia para a iniciativa privada de atividades prestadas por rgo do Estado. Instala-se umanova tica na ao social estatal: o Estado deve subsidiar as aes e no execut-las. Para esse papel subsidirio que cabe ao Estado, ganham fora as alternativas privatistas para a questo social e crescem as aes no campo da filantropia refilantropizao.No se trata do ressurgimento da filantropia, mesmo que suas expresses se deem com as mesmas marcas do passado assistencialista, porm ela se expressa com uma nova roupagem, a filantropia do grande capital, resultante do amplo processo de privatizao dos servios sociais processoneoliberal.Tal filantropia se expressa como uma evocao da solidariedade social em parceria com a sociedade civil e o Estado.

Este sinaliza um avano no chamado terceiro setor, que muitas das vezes vem substituir as aes socioassistenciais estatais.So apresentados vrios desafios profissionais e acadmicos:1. Formao terica e metodolgica que permita explicar o atual processo do desenvolvimento capitalista.2. Qualidade acadmica na formao universitria.3. Articulao em rede rumo defesa do trabalho e dos direitos.4. Afirmao do horizonte social e tico-poltico do projeto profissional no trabalho cotidiano.5. Atitude crtica e ofensiva na defesa das condies de trabalho e na qualidade dos servios prestados.Intenta-se hoje um atendimento s demandas sociais atravs ou no formato de servios sociais oupolticas sociais, por aes que, neste perodo contemporneo, so denominadas como refilantropizao, pelas instituies pblicas no estatais, as quais apresentam em seu quadro scio-ocupacional o exerccio profissional como atividade voluntria. Dessa forma, estabelece-se uma nova relao entre as instituies prestadoras de servio, os agentes prestadores de servios e os usurios.A ao estatal efetivada nesse contexto de projeto neoliberal, mesmo que de forma fragmentada,mostrou-se eficaz nas aes de reduo da pobreza.Nesse perodo, as aes do Estado apresentam-se refuncionalizadas e requerem a ao dos trssegmentos, o setor pblico estatal, as empresas e as instituies sem fins lucrativos. Cresce a demanda e a exigncia da solidariedade, solidariedade via voluntariado, refilantropizando algumas velhas questes.A questo social apresenta-se institucionalizada pelas organizaes sociais, responsveis pela execuo das polticas sociais. Com essa institucionalizao h uma desqualificao e descaracterizao profissional, que tendencia fragmentao da categoria.Velhas prticas so retomadas, como o carter missionrio, a vocao, substituindo a intervenoprofissional por atividades voluntrias, desprofissionalizadas.Nesse perodo tambm se inicia uma retomada do crescimento econmico, logo ameaado pela crise internacional do capital financeiro, iniciada em 2008, com repercusses no Brasil.

As manifestaes dessa crise, representadas pela elevao dos ndices de desemprego e pela recesso,comeam a ser ligeiramente atenuadas a partir do segundo trimestre de 2009.As polticas sociais consolidadas a partir do final dos anos de 1990 e no ano de 2000 vm consolidara gesto descentralizada do sistema socioassistencial. A pobreza focalizada atravs de programas eprojetos sociais que abarcam apenas uma parcela at mesmo as aes socioassistenciais de erradicaoda condio de pobreza so seletivas, visto que se faz necessrio selecionar, atravs de critrios econdicionantes, os mais empobrecidos dos empobrecidos. Critrios so utilizados, critrios esses que somais exclusivos do que inclusivos.Os governos atuais tm efetivado ainda mais essa condio seletiva, atravs de uma incluso,incluso esta perversa que no contempla a totalidade humana e as novas condies que elegem outrasnecessidades e mnimos sociais.H a prevalncia dos programas de transferncia de renda, tais como o Benefcio de Prestao Continuada BPC e o Bolsa Famlia, criado pelo Governo Federal em 2003.Merecem destaque ainda as novas polticas e seus avanos, como o alcanado pela Poltica de Assistncia Social, com um carter mais geral e nacional, implantada desde 2004. Soma-se a esta o Sistema nico de Assistncia Social SUAS, implantado desde 2005, muito semelhante ao SUS, que vem a universalizar o acesso, gerir recursos e servios.Os campos de prtica do servio social nesse incio de sculo esto indo de encontro s novas expresses da questo social mltiplas expresses. Para essa execuo, execuo que v alm do carter tecnocrtico e acrtico, exige-se um continuum, um constante repensar da prtica,para que essa no caia e retorne aos modelos anteriores de ao profissional. Para tal, mister ver e rever diariamente seu contedo terico-metodolgico para dar conta dos desafios que seu compromisso.

67Ainda no mbito do mercado de trabalho emergente para o assistente social, as aes que perpassam a prtica mostram que no apenas na execuo de aes e programas este pode atuar. A execuo de prticas como de assessoria e consultoria s ONGs, aos movimentos sociais, aos profissionais, tem sido requisitada, como tambm a formulao de polticas, implementao de programas destinados ao treinamento e organizao de voluntrios.Acentua-se a tendncia neoconservadora, as polticas e aes focalistas, fragmentadas, de controle, dentro da tica da abordagem microscpica da questo social, transformada em problema tico-moral.

No mbito da dimenso instrumental da profisso h que se ter uma racionalidade, ontolgica e crtica, que inspire a atuao profissional e que faa o profissional ter a coragem de no retroceder, mesmo que no cotidiano muitos dos passos que guiam a ao profissional rumem ao retrocesso; e que o encorajem, mesmo um passo para frente e dois para trs, a qualificar-se para o enfrentamento das reformas estatais e das demandas que essas trazem. Para tal, faz-se necessrio realizar alianas com os outros profissionais e trabalhadores, que permitam a defesa da democracia e os direitos humanos, e o acesso aos bens e servios sociais.Para tanto, h que se ultrapassar a racionalidade formal-abstrata das correntes tecnocrticas, a viso tarefista-burocrtica, fatalista, bem como combater os subjetivismos, que visam psicologizar as respostas profissionais. Ambos so produto do pensamento conservador burgus e dele se sustentam.

As mudanas no mundo do trabalho, os novos padres de produo e de gesto da fora de trabalho (reestruturao produtiva, flexibilizao, fordismo, taylorismo, keynesianismo (poltica de pleno emprego) foram as primeiras expresses da contemporaneidade que emergiram e permearam a sociedade atual.Os avanos tecnolgicos e dos meios de produo marcam esse cenrio contemporneo, como tambm as relaes intergeracionais, fornecendo um novo olhar para a questo do envelhecimento e para as questes de gnero e de opo.Com esses avanos h um agravamento das condies de vida, um avano ou ressurgir dos movimentos sociais, como tambm o reflorescimento de velhas expresses da questo social tais como a violncia e suas inmeras expresses, a questo urbana, entre outros.Para tanto se exige um novo perfil profissional que melhor contemple as expresses (mltiplas expresses) da questo social. Exige-se um profissional antenado, que saiba interpretar e decifrar a realidade cotidiana e a transformar em projetos profissionais. Que tenha ainda um carter interventivo, que rompa com a endogenia, com as atividades repetitivas e alienantes, com as meras rotinas burocrticas, ou seja, que transcenda com a mesmice que muitos espaos de trabalho imprimem profisso.Exige-se um profissional no mltiplo strito sensu, mas que saiba transitar nos vrios lcus profissionais, que saiba propor, que negocie, que defenda a profisso de servio social, rompendo com o fatalismo e o messianismo.

ConclusoO servio social teve seu incio na Europa, com forte influncia da religio catlica, com caractersticas filantrpicas de atendimento religioso aos pobres e enfermos.No Brasil, a profisso tem incio em 1930, com base nos ensinamentos de franceses e belgas. A partir de 1945, com o final da Segunda Guerra Mundial, passa a buscar um tecnicismo, substituindo uma postura julgadora por instrumentos da psicologia, sob influncia do servio social norte-americano, pondo fim influncia europeia.A partir de 1970, impulsionado pelas questes sociais na Amrica Latina, passa a pensar em um modelo de atuao mais condizente com a necessidade dessa demanda e no mais das culturas de pases desenvolvidos, dando assim origem reconceituao da profisso. Esse movimento ocorre no perodo de polarizao entre o sistema capitalista e o socialismo.Apesar de historicamente atrelado ao capitalismo, o movimento de reconceituao trouxe para o ensino acadmico e para a profisso um discurso e uma prtica baseados nas teorias marxistas.Nos ltimos 70 anos, o servio social realizou uma transformao no interior da profisso. O servio social deixa de culpar os indivduos pelas situaes que vivenciavam para assumir uma postura funcionalista de adequao e prtica doutrinria baseada em princpios cristos. Efetiva-se como uma prtica institucionalizada, atuando junto a indivduos com desajustamentos familiares e sociais. Tais desajustamentos muitas vezes decorrem de estruturas sociais inadequadas (CBCISS, 1967).Na dcada de 1970, com as mobilizaes populares contra a ditadura militar, o servio social rev seu objeto e o define como transformao social. Esse objeto foi definido de forma pitoresca porque a transformao social no pde ser atribuda a nenhuma categoria profissional especfica e sim a todo o movimento social. Isso implicou o engajamento do governo nas diferentes instncias: legislativo (garantindo leis que contribussem para mudana social, distribuio mais equitativa de renda); executivo (com programas sociais de regate da cidadania e no de perpetuao da dependncia e misria); e judicirio (garantindo acesso justia e rapidez em processos e no cumprimento da lei, diminuindo a impunidade).

Na dcada de 80, a profisso sintonizou-se ao processo de transformaes sociais, polticas e econmicas do mundo contemporneo e da prpria realidade brasileira, o que veio a exigir e a colocar para a profisso novas demandas que sinalizaram a emergncia da capacitao e atualizao constante a fim de acompanhar esse processo.O assistente social tem seu processo de trabalho orientado por condies econmicas, polticas e culturais, impossibilitando uma prtica descolada dessa realidade socio-histrica. Tendo como base de sua interveno as diversas manifestaes da questo social, ele se utiliza de instrumentos para intervir. Esses instrumentos lhes so ferramentas de trabalho. Diga-se ferramenta, mas nem sempre algo palpvel como uma ferramenta martelo, pregos, etc.; mas sim um conglomerado de tcnicas, de embasamentos tericos metodolgicos, tcnico-operativos, entre outros.Alm desse atrelamento com a realidade vivida diariamente, a atuao profissionaltem tambm um horizonte tico-poltico compromissado com as camadas populares,na defesa da democracia e na luta pelos direitos sociais dos cidados, alinhado comos princpios fundamentais inscritos no Cdigo de tica Profissional: ampliao econsolidao da cidadania, considerada tarefa primordial de toda sociedade, com vistas garantia dos direitos civis, sociais e polticos da classe trabalhadora.Essa nova realidade imposta requereu um balanar das estruturas da categoria, impondo uma reviso de sua prtica frente s demandas contemporneas, e o repensar de suas atribuies e competncias.Por fim, apesar do equvoco na escolha do objeto, essa redefinio propiciou um vnculo com as classes subalternizadas e exploradas pelo capital. Essa questo tem marcado o discurso social e legitimado uma atuao comprometida com a proposta dialtica marxista, em contraponto ao tecnicismo assistencial positivista do incio do exerccio profissional no Brasil.Atualmente, o objeto do servio social passou a ser definido como a questo social,ou as expresses da questo social, conforme definido pela Associao Brasileira de Ensino em servio social (ABESS) (ABESS/CEDEPSS, 1996, p. 154-5).Na virada do milnio, assume-se uma postura marxista.Reconhece-se que a forma de produo social a causa prioritria das desigualdades, devido necessidade de manter a dominao de classes; reconhece-se a assistncia como um direito e a necessidade de fortalecer os movimentos sociais, garantindo o protagonismo dos indivduos.As demandas impostas para o servio social esto minadas de determinaes econmicas, polticas, culturais, ideolgicas, ento elas exigem mais do que aessimples, repetitivas, instrumentais, imediatistas, sem contedos tico-polticos.