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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS FACULDADE DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS CIÊNCIAS CONTÁBEIS CIC055 CONTABILIDADE INTERNACIONAL Elias Martins da Silva Matheus Agenor Alves Santos Pedro Zolini Moreira TRABALHO: ARRENDAMENTO MERCANTIL Professor: Cleberson Luiz Santos de Paulo Belo Horizonte, Maio/2011

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS FACULDADE DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS

CIÊNCIAS CONTÁBEIS

CIC055 – CONTABILIDADE INTERNACIONAL

Elias Martins da Silva

Matheus Agenor Alves Santos

Pedro Zolini Moreira

TRABALHO:

ARRENDAMENTO MERCANTIL

Professor: Cleberson Luiz Santos de Paulo

Belo Horizonte, Maio/2011

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SUMÁRIO:

1. INTRODUÇÃO

2. HISTÓRICO DO DESENVOLVIMENTO DA NORMA INTERNACIONAL

3. ESCOPO E ALCANCE DA NORMA

4. DEFINIÇÃO DE ARRENDAMENTO

4.1 Contratos que são na essência arrendamento

4.2 Contratos que não são essência arrendamento

4.3 Diferença entre contrato de arrendamento e licenciamento

5. CLASSIFICAÇÃO

5.1 Regra geral

5.1 Arrendamento de terrenos e edifícios

6. RECONHECIMENTO E MENSURAÇÃO

6.1 Arrendamento nas Demonstrações dos Arrendatários

6.2 Arrendamento nas Demonstrações dos Arrendadores

7. CASOS ESPECIAIS

7.1 Contratos de venda e Leaseback

7.2 O Arrendador é fabricante do Ativo objeto do Arrendamento

8. COMPARAÇÃO COM AS NORMAS E PRÁTICAS CONTÁBEIS

BRASILEIRAS

9. EXEMPLO DE APLICAÇÃO

10. CONSIDERAÇÕES FINAIS

11. REFERÊNCIAS

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1. INTRODUÇÃO

Vivemos em uma economia globalizada e em que a informação é uma

necessidade para todos. Neste sentido a Contabilidade, ciência que gera informação para

o mundo dos negócios, deve estar preocupada com a geração de uma informação que

possa ser entendida pelo mundo. Tendo como base esta situação, a Contabilidade

brasileira encontra-se em pleno processo de convergência a um padrão internacional.

Este trabalho vem tratar do procedimento utilizado pela norma internacional no

que se refere ao tratamento a ser dado para as operações de Arrendamento Mercantil

também conhecida pelo termo em inglês Leasing. Também é objetivo do mesmo

comparar tais normas e procedimentos com os adotados pelo Brasil atualmente.

Em termos de normativos internacionais teremos como base a International

Accounting Standard 17 (IAS 17) que é emitido pela International Accounting

Standard Board (IASB) organismo internacional criado com o objetivo de emitir

normas e procedimentos sobre contabilidade e fomentar seu uso pelo mundo.

No mercado europeu e norte-americano o IAS 17 e seu correspondente nos

Estados Unidos SFAS 13 já vem sendo utilizado há muitos anos. Estes pronunciamentos

que tratam de arrendamento tem caráter inovador uma vez que foram os primeiros a

trazer conceitos importantes de contabilização como, o uso da essência sobre a forma, e

o desconto a valor presente ao invés do custo histórico.

2. HISTÓRICO DO DESENVOLVIMENTO DA NORMA

INTERNACIONAL

A IAS 17 foi emitida em 1982, para uso a partir do primeiro dia do exercício de

1984, baseado num pronunciamento sobre o assunto, já existente no Reino Unido, o

SSPA 21. O principal efeito desta norma foi na definição de arrendamento financeiro

como sendo aquele que transfere ao arrendatário substancialmente todos os riscos e

benefícios de um ativo. Para os demais arrendamentos que não apresentassem estas

características, cabia a classificação como operacionais.

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Ao longo do tempo a IAS 17 passou por algumas revisões, sendo que a principal

delas ocorreu em 1997, conduzidas pelo International Accounting Standards Committee

(IASC) que viria a se extinguir em 2001, sendo substituído pelo IASB.

Em 2003 ocorreu uma nova revisão já conduzida pelo IASB, que passou a valer

em 1º de janeiro de 2005, sua inovação referiu-se a classificação dos arrendamentos de

terrenos e edifícios que não haviam sido contemplados até então. Esta revisão é a que

está mais atualizada até hoje, porém o conceito sobre o tratamento contábil adequado

para o Arrendamento Mercantil encontra-se em pleno desenvolvimento sendo pauta de

estudo pelo IASB.

3. ESCOPO E ALCANCE DA NORMA

O escopo e alcance da norma são contemplados pelos dois primeiros parágrafos

da IAS 17. No primeiro parágrafo é estabelecido que as normas podem ser adotadas

tanto pelo arrendador quanto pelo arrendatário e no segundo são comentados os casos

em que não é válido a aplicação do pronunciamento, que são:

a) arrendamentos para explorar ou usar minérios, petróleo, gás natural e recursos

similares não regeneráveis;

b) acordos de licenciamentos para itens tais como fitas cinematográficas, registros de

vídeo, peças de teatro, manuscritos, patentes e direitos autorais (copyright);

c) ativos dos arrendatários que sejam contabilizados com propriedades de investimentos

(cobertos pela IAS 40, Propriedades de Investimento);

d) propriedades de investimento proporcionadas pelos arrendadores quando os

arrendamentos forem classificados como operacionais (coberto pela IAS 40);

e) ativos biológicos dos arrendadores decorrentes de um arrendamento classificado

como financeiro (cobertos pela IAS 41, Agricultura);

f) ativos biológicos proporcionados pelos arrendadores quando os arrendamentos forem

classificados com operacionais (cobertos pela IAS 41).

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4. DEFINIÇÃO DE ARRENDAMENTO

A IAS 17 define arrendamento como, um acordo pelo qual o arrendador

transmite ao arrendatário em troca de um pagamento ou série de pagamentos o direito

de usar um ativo por um período de tempo acordado.

Esta definição na prática não é tão simples assim. Neste tipo de contrato, é muito

comum termos uma estrutura que legalmente não se caracteriza como um arrendamento,

mas que em sua essência econômica o é. Ocorrendo também o contrário.

4.1 Contratos que são na essência arrendamento

Como é cada vez mais comum no mercado internacional (assim como no

brasileiro), para os contratos de arrendamento, que podem gerar conflitos de

contabilização, a International Financial Reporting Interpretation Committee (IFRIC)

emitiu em 2004 o IFRIC 4, uma interpretação da norma que visa sistematizar a

definição de um contrato como sendo de arrendamento ou não.

O IFRIC 4 entende que há um contrato de arrendamento quando:

a) para que o contrato seja executado e cumprido, há a necessidade de se utilizar

especificamente um ativo ou grupo de ativos;

b) o contrato, para seu cumprimento represente o direito de uso de um ativo.

Vamos usar um exemplo para entender melhor esta questão. Imaginemos que

uma empresa comercial adquira de um fornecedor certa quantidade de calçados por ano,

é contrato normal de compra e venda. Agora se esta empresa contrata a construção de

uma filial desta empresa para produzir todos os sapatos especificamente para ela, a um

preço definido. Percebemos primeiramente que ela absorve todos os benefícios e riscos

da fábrica, por meio de pagamentos periódicos (pagamento dos calçados produzidos), e

o objeto do contrato é uma fábrica específica. Mesmo que não fosse especificado que

toda a produção fosse destinada à empresa contratante, mas se identificado que o

volume de produção ou característica do produto façam que mesma se destine exclusiva

ou quase que exclusivamente a referida empresa temos mesmo assim um contrato de

arrendamento.

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4.2 Contratos que não são na essência arrendamentos

Sobre esta questão os organismos internacionais emitiram uma interpretação

(SIC 27) que permite avaliar casos em que não há essência econômica de arrendamento,

ocorrendo nas seguintes situações:

a) a empresa que está cedendo o ativo na realidade retém todos os riscos e benefícios

inerentes a sua propriedade e não há uma mudança substancial nos direitos de uso desse

ativo;

b) a razão primária da transação é um benefício fiscal ou necessidade de caixa, e não

efetuar a transferência de posse ou propriedade de um ativo (caso do Leaseback).

4.3 Diferença entre contrato de arrendamento e licenciamento

Não há clara definição na IAS 17 do que seria um contrato de licenciamento, o

que seria muito relevante, uma vez que este tipo de contrato tem características

econômicas bem próximas do contrato de arrendamento deixando bem subjetiva sua

diferenciação.

O referido pronunciamento quando exclui os licenciamentos, o faz dando os

exemplos de fitas cinematográficas, peças de teatro, direitos autorais entre outros. Todos

são ativos intangíveis, mas o contrato de arrendamento não exclui o arrendamento de

ativos intangíveis. Demonstrando assim uma lacuna a ser esclarecida na norma.

5. CLASSIFICAÇÃO

5.1 Regra Geral

A IAS 17 estabelece que existem dois tipos de arrendamento, o financeiro e o

operacional. E estabelece que essa diferenciação entre o tipo de arrendamento de que se

trata deve ser feita no início do arrendamento não sendo permitido uma reclassificação,

exceto no caso de haver alguma mudança no contrato que a justifique, coibindo assim

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práticas de reclassificação contingenciadas por outros fatores que não sejam a essência

econômica da operação.

Ela define o arrendamento financeiro como o que transfere substancialmente

todos os riscos e benefícios inerentes à propriedade de um ativo, sem necessariamente

haver a transferência de propriedade.

Para classificar um arrendamento em financeiro é preciso que o mesmo possua

individualmente ou agregadamente algumas características como:

a) transferência da propriedade do ativo para o arrendador no fim do prazo do

arrendamento;

b) o arrendatário ter a opção de comprar o ativo por um preço que se espera que seja

suficientemente mais baixo do que o justo valor à data em que a opção se torne

exercível para que, no início do arrendamento, seja razoavelmente certo de que a opção

será exercida;

c) o prazo do arrendamento refere-se á maior parte da vida econômica do ativo, mesmo

que o título não seja transferido;

d) no início do arrendamento, o valor presente dos pagamentos mínimos do

arrendamento representa substancialmente todo o valor justo do ativo arrendado;

e) os ativos arrendados são de uma natureza tão especializada que apenas o arrendatário

pode utilizá-los sem grandes modificações.

Normalmente o valor das parcelas do arrendamento operacional apresenta um

valor equivalente ao aluguel, porém no caso no arrendamento financeiro este valor é o

representativo de uma compra financiada com determinada taxa de juros. Assim neste

caso o arrendador obteria todo o retorno com o referido ativo em um único contrato.

5.2 Arrendamento de terrenos e edifícios

Conforme dito acima, a ultima atualização da IAS 17 foi justamente sobre este

assunto. O grande problema desta questão é o fato de que terrenos não têm vida útil

considerada finita, assim só seria um contrato de arrendamento financeiro se o

arrendatário efetuasse a compra do terreno após o contrato.

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Já para os edifícios, como os mesmos possuem vida finita e estimável, deve

receber classificação idêntica aos demais ativos. Porém resta saber como seria o

tratamento do arrendamento de um edifício em um contrato de arrendamento financeiro

e cujo terreno não se vai adquirir ao fim do contrato e que não seja possível contabiliza-

los de forma separada.

Para este casos a IAS 17 iguala tal conjunto a mesma classificação do edifício.

Assim, no caso acima, teríamos a classificação do contrato como arrendamento

financeiro.

6. RECONHECIMENTO, MENSURAÇÃO E DIVULGAÇÃO

6.1 Arrendamento financeiro nas demonstrações do arrendatário

A IAS 17 prevê que nestes casos o ativo em questão deve ser contabilizado na

empresa do arrendatário, visto que apesar do mesmo não ser contratualmente de

propriedade da referida empresa, baseado no princípio da essência sobre a forma deve

no balanço da mesma ser classificado uma vez esta assume praticamente todos os riscos

e benefícios do mesmo, sendo na essência um ativo da empresa arrendatária.

Este reconhecimento deve ser pelo valor presente das parcelas de arrendamento

obrigatórias ou pelo valor justo, dos dois o menor. Quaisquer custos iniciais incorridos

devem ser adicionados ao valor do ativo, desde que diretamente atribuídos a

negociação.

Com relação à taxa usada para trazer as parcelas a valor presente, deve se dar

preferência para aquela implícita no contrato, ou seja, aquela que iguale ou aproxime o

valor presente ao valor justo do ativo. Na dificuldade de encontrar esta taxa de juros,

orienta-se pelo uso de uma taxa comum no financiamento do tipo de ativo em questão.

Para ficar mais claro vamos supor uma situação. A empresa A adquire um ativo

por meio de contrato de arrendamento financeiro. Este ativo será pago em 60 parcelas

mensais de $1.000 e com um valor residual de $5.000. A taxa de juros para o

financiamento deste ativo no mercado é 1% ao mês.

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Data xxxx

D- Imobilizado (Arrendamento Mercantil Financeiro) 47.707,29

D- Despesas Antecipadas (Despesas Financeiras a apropriar) 17.292,71

C- Obrigações Financeiras a pagar 65.000,00

Aquisição de ativo, por meio de contrato de Arrendamento Mercantil financeiro.

Posteriormente deve-se periodicamente efetuar os lançamentos referentes aos

pagamentos das parcelas do arrendamento como segue:

Data xxxx

D- Despesas financeiras

C- Despesas Antecipadas (Despesas Financeiras a apropriar) 449,55

Reconhecimento das despesas financeiras da operação

D- Obrigações financeiras a pagar

C- Disponibilidades 1.000,00

Pagamento da primeira parcela do Arrendamento Mercantil Financeiro.

No que se refere à depreciação ou amortização, deve ser feita a distinção se

haverá ou não transferência do ativo ao fim do contrato. Caso haja esta transferência a

depreciação deve ter por base a vida útil do ativo, caso contrário o prazo do contrato. O

valor para tido como referência é aquele líquido de encargos financeiros.

Suporemos que no nosso exemplo a vida útil esperada com bem seja 6 anos, sem

valor residual esperado, com amortização em linha reta.

Data xxxx

D- Despesas com depreciação

C- Depreciação acumulada (Arrendamento Mercantil Financeiro) 662,60

Reconhecimento da depreciação

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6.2 Arrendamento operacional nas demonstrações do arrendatário

As operações de arrendamento mercantil não são reconhecidas nas

demonstrações do arrendatário. Nesta situação a norma estabelece que as parcelas pagas

devem ser reconhecidas como despesas numa base linear durante o prazo de

arrendamento ao menos que outra base seja mais representativa da essência econômica

da operação.

6.3 Arrendamento Financeiro nas Demonstrações do arrendador

Pelo lado do arrendador, a IAS 17 antes de tudo define o que seria o

investimento bruto, o investimento líquido e o rendimento financeiro não realizado.

O investimento bruto é formado pelos pagamentos a receber e qualquer outro

valor residual não garantido que fique por conta do arrendador. O investimento líquido

é o investimento bruto descontado a taxa de juros do arrendamento. O rendimento

financeiro é a diferença entre o investimento bruto e o líquido.

Os arrendadores devem reconhecer os ativos detidos segundo um arrendamento

financeiro nos seus balanços como uma conta a receber por uma quantia igual ao

investimento líquido no arrendamento. Substancialmente, num arrendamento financeiro,

os pagamentos de arrendamento a receber são tratados pelo arrendador com reembolso

de capital e rendimento financeiro para reembolsar e recompensar o arrendador pelo seu

investimento e serviço.

6.4 Arrendamento Operacional nas Demonstrações do arrendador

O arrendador deve apresentar o ativo de que se trata em seu balanço, em grupo

adequado. A receita deve se reconhecida em linha reta, mesmo que o recebimento não o

seja, exceto em casos em que haja uma outra forma temporal que seja uma forma de

melhor representar o uso do ativo. Todos os custos do arrendamento incluindo a

depreciação são considerados como despesas.

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6.5 Divulgação

A empresa arrendatária deve apresentar em suas notas explicativas no que se

refere ao ativo arrendado, dados como o valor bruto do ativo, depreciações, detalhes do

contrato e valores que restam a ser pagos oriundos tanto de prestações como de valores

residuais.

Com relação ao passivo deve ser apresentado as parcelas obrigatórias no que se

refere a seus valores nominais e presentes, cronograma de pagamentos, valores a serem

pagos no exercício seguinte, 5 próximos exercícios e posteriores a estes.

Adicionalmente, assuntos tais como pagamentos vinculados a eventos futuros,

existência de cláusulas de prorrogação ou opção de compra, bem como restrições

impostas ao contrato arrendamento também devem ser divulgadas.

Quando se trata do arrendador, as informações referentes aos ativos devem ser

divulgadas com o mesmo detalhamento citado para os arrendatários.

7. CASOS ESPECIAIS

7.1 Contratos de venda e Leaseback

O contrato de venda e Leaseback é uma operação de leasing em que o próprio

cliente atua também como fornecedor: ele vende o bem para a arrendadora e em seguida

arrenda o bem.

Na prática, funciona como uma maneira simples e rápida de obter um capital de

giro de longo prazo com garantia real e sem incidência de IOF. A empresa vende um

bem do seu ativo imobilizado sem perder o uso do mesmo, e depois se for um

arrendamento mercantil financeiro tem a oportunidade de recompra.

Qualquer lucro obtido na operação deve ser diferido e amortizado durante o

prazo do arrendamento mercantil financeiro. Como este tipo de contrato é um meio pelo

qual o arrendador financia o arrendatário, com o ativo como garantia, não é apropriado

considerar como receita um lucro no preço de venda obtido sobre o valor contábil.

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Se uma transação de leaseback resultar em arrendamento mercantil operacional,

e se estiver claro que a transação é estabelecida pelo valor justo, qualquer lucro ou

prejuízo deve ser imediatamente reconhecido, exceto se o prejuízo for compensado por

futuros pagamentos do arrendamento mercantil. Se o preço de venda estiver acima do

valor justo, o excedente sobre o valor justo deve ser diferido e amortizado durante o

período pelo qual se espera que o ativo seja usado.

7.2 O Arrendador é fabricante do Ativo objeto do Arrendamento

Normalmente os custos são partes integrantes do investimento inicial do

arrendador. Porém nestes casos em que o arrendador é o fabricante do ativo objeto do

contrato, o IAS 17 estabelece que custos iniciais devem ser considerados despesas do

arrendador, entendendo-se que tais custos são essência da atividade do arrendador tendo

que ser considerado uma despesa vinculada a venda do produto e não de finalização do

contrato de arrendamento.

8. COMPARAÇÃO COM AS PRÁTICAS CONTÁBEIS NO BRASIL

No Brasil, a normatização sobre o arrendamento ocorreu em 1974, com a

publicação da lei 6.099. Porém, essa lei se resumiu ao caráter tributário das operações

de arrendamento mercantil, nunca tendo a pretensão de ditar normas quanto ao

tratamento de tais operações.

Pelo fato de não haver nenhum pronunciamento contábil para contratos

de arrendamento, pareceu conveniente a adoção dessa lei para atender às necessidades

de escrituração e assim foi feito. Deve-se ressaltar que o conhecimento e utilização das

normas internacionais eram, até então, restritos principalmente ao meio acadêmico e às

grandes multinacionais, que enviavam relatórios para suas matrizes no exterior.

A crescente internacionalização da economia, até mesmo por se tratar de um

fenômeno global forçou a adoção de uma contabilidade que fosse compatível com o

mercado externo. Novas normas foram criadas, porém só agora se pode afirmar que há

uma padronização, até certo ponto radical, de modo a atingir uma convergência com o

exterior.

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A implementação do CPC 06, tradução da IAS 17, surge de modo a

descaracterizar o enraizado modelo tributário dentro das normas brasileiras até então

vigentes no que tange operações de arrendamento e para fixar a aplicação da preferência

da essência sobre a forma, hábito ainda utilizado de modo insatisfatório no Brasil até

então.

O CPC 06 é uma tradução da IAS 17, assim não há diferença entre as normas, a única

diferença que pode ocorrer se refere a interpretações que existem nas IFRS mas ainda

não foram trazidas para o CPC. Estas interpretações dão conta principalmente de

situações em que se deve ou não considerar como arrendamento.

9. EXEMPLO DE APLICAÇÃO

A Gol Linhas Aéreas Inteligentes S.A. é uma sociedade por ações constituída de

acordo com as leis brasileiras, em 12 de março de 2004. A Companhia tem por objeto o

exercício do controle acionário da VRG Linhas Aéreas S.A. e, por intermédio de

entidades controladas ou coligadas, explorar essencialmente: os serviços de transporte

aéreo regular e não regular de âmbito nacional e internacional de passageiros, cargas ou

malas postais, na conformidade das concessões das autoridades competentes; e

atividades complementares de serviço de transporte aéreo por fretamento de

passageiros.

Suas demonstrações financeiras consolidadas são preparadas de acordo com as

Normas Internacionais de Relatório Financeiro (IFRSs) emitidas pelo IASB e as

práticas contábeis adotadas no Brasil, que compreendem aquelas incluídas na legislação

societária brasileira e os Pronunciamentos, as Orientações e as Interpretações emitidas

pelo Comitê de Pronunciamentos Contábeis – CPC.

Em suas notas explicativas a empresa ressalta que de acordo com o CPC 06 e o

IAS 17 “Arrendamento Mercantil”, os contratos de arrendamento mercantil são

classificados sob a modalidade financeira quando há transferência de propriedade e dos

riscos e benefícios inerentes a propriedade do bem ao arrendatário. Todos os demais

arrendamentos são classificados sob a modalidade operacional. Os arrendamentos

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operacionais são reconhecidos como uma despesa no resultado de forma linear durante

o prazo do contrato do arrendamento.

Os contratos de arrendamentos financeiros são valorizados com base no menor

valor entre o valor presente dos pagamentos mínimos obrigatórios do contrato ou valor

justo do bem na data de início do contrato de arrendamento. Os valores a pagar

decorrentes das contraprestações dos contratos de arrendamento financeiro são

reconhecidos e alocados entre despesa financeira e amortização do passivo de

arrendamento financeiro de forma a alcançar uma taxa constante de juros. A diferença

entre o valor presente e o valor total das contraprestações vincendas é apropriada ao

resultado como despesa financeira. A correspondente obrigação ao arrendador é

registrada como dívida de curto e longo prazo. As aeronaves sob a modalidade de

arrendamento financeiro, que possuem opção de compra ao final do contrato, são

depreciadas linearmente pela vida útil econômica estimada do bem até seu valor

residual estimado de 20%, calculado com base em preços de mercado. Para as demais

aeronaves, quando não existe uma razoável certeza de que a Companhia irá obter a

propriedade do bem no fim do prazo contratual, a depreciação considera o menor prazo

entre a vida útil-econômica remanescente estimada e o prazo do contrato de

arrendamento.

Os ganhos ou perdas decorrentes de transações de leaseback classificados após a

venda como arrendamento operacional, são reconhecidos da seguinte forma:

Imediatamente no resultado quando for certo que a transação foi estabelecida a

valor justo.

Se o preço de transação for estabelecido abaixo do valor justo, qualquer ganho

ou perda será reconhecido imediatamente no resultado, exceto se a perda for

compensada por pagamentos futuros de arrendamento abaixo do valor de

mercado, quando os ganhos ou perdas são diferidos e amortizados na proporção

dos pagamentos do arrendamento durante o período que se espera que o ativo

seja utilizado.

Na hipótese do preço de venda ser superior ao valor justo do bem, o valor

excedente ao valor justo é diferido e amortizado durante o período em que se

espera que o ativo será utilizado. A amortização destes ganhos é registrada como

uma redução das despesas com arrendamentos.

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Se a transação de leaseback resultar em arrendamento mercantil financeiro, qualquer

excesso de receita de venda obtido acima do valor contábil deve ser diferido e

amortizado durante o prazo do arrendamento mercantil. A Companhia não possui

operações de leaseback que resultaram em arrendamento mercantil financeiro.

A movimentação dos saldos de ativos imobilizados é conforme segue em milhares de

reais;

Imobilizado sob

arrendamento financeiro

Outros equipamentos de

voo

Adiantamentos para aquisição de

imobilizado Outros Total

Em 01/01/2009 1.308.562 595.265 969.554 137.724 3.011.105 Adições 823.943 53.090 122.758 44.832 1.044.603 Baixas (43.299) (75) (553.394) (340) (597.108) Depreciação (68.123) (47.116) - (17.648) (132.887) Em 31/12/2009 2.021.083 601.164 538.898 164.568 3.325.713 Adições 381.078 200.543 293.239 29.926 905.130 Baixas - (2.740) (508.476) (297) (511.513) Depreciação (191.728) (47.151) - (19.139) (258.018) Em 31/12/2010 2.210.433 751.816 323.661 175.058 3.460.968

Os pagamentos futuros de contraprestações dos contratos de arrendamento mercantil

financeiro estão denominados em dólares norte-americanos e em 31 de dezembro de

2010 estão detalhados a seguir:

31/12/10 31/12/09 01/01/09 2009 - - 222.222

2010 - 207.877 221.904

2011 227.174 206.823 220.906 2012 227.174 204.907 219.188 2013 227.174 204.053 219.188 2014 227.174 204.053 215.348 2015 219.576 204.053 215.348 Após 2015 935.450 771.817 555.178 Total de pagamentos mínimos de arrendamento 2.063.722 2.003.583 2.089.282 Menos total de juros (383.618) (446.165) (502.121) Valor presente dos pagamentos mínimos de arrendamentos 1.680.104 1.557.418 1.587.161 Menos parcela de curto prazo (146.634) (136.679) (157.948) Parcela de longo prazo 1.533.470 1.420.739 1.429.213

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As movimentações do investimento nos exercícios estão demonstradas a seguir em

milhares de reais:

Saldos em 31 de dezembro de 2009 2.417.133 Resultado de equivalência patrimonial 292.463 Perdas diferidas, líquidas com sale leaseback 32.494 Resultados não-realizados de hedge 8.633 Saldos em 31 de dezembro de 2010 2.750.723

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10. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A norma internacional é inovadora, para os padrões de contabilização de

arrendamentos mercantis no Brasil, e chega através do CPC 06 quebrando tradicional

tendência fiscal de nossa contabilidade.

Com este padrão as informações ganham em essência econômica e podem

melhor representar as operações efetuadas pela empresa.

Ainda temos alguns passos para seguir, principalmente no que se refere a

comunhão entre interpretações, sendo considerado o ponto de divergência entre a norma

internacional e brasileira.

Porém a maior barreira já foi quebrada: a mudança da lei que agora torna

obrigatória a aplicação da norma internacional, o que representa enorme evolução no

que diz respeito à transparência e ao ganho dos usuários das informações contábeis.

É de se ressaltar que a constante atualização é fundamental para os profissionais

da área, a norma brasileira vai se adequando aos padrões internacionais e estes não são

imóveis. A norma americana ainda diverge do IASB em alguns pontos e novos estudos

sobre o melhor tratamento contábil das operações estão em curso. Assim o caminho da

melhor contabilidade não tem um destino determinado, mas uma tendência certa, a

pesquisa, para aproximar cada vez mais a os relatórios contábeis da realidade

econômica das empresas.

Page 18: Slides Leasing

11. REFERÊNCIAS

1. BRASIL. Lei nº.11.637, de 28 de dezembro de 2007. Altera e revoga dispositivos

da Lei no.6.404, de 15 de dezembro de 1976, e da Lei no.6.385, de 7 de dezembro de

1976, e estende às sociedades de grande porte disposições relativas à elaboração e

divulgação de demonstrações financeiras. Disponível em http: //http:

//www.planalto.gov.br/ ccivil_03/_Ato2007-2010/2007/Lei/L11638.htm. Acesso em 11

de mai. 2011;

2. CPC COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS. Pronunciamento

Técnico CPC–06: Operações de Arrendamento Mercantil. Disponível em:

http://www.cpc.org.br/pdf/CPC06_R1.pdf. Acesso em 7 de mai. 2011.

3. IAS – International Accounting Standard nº 17 – Leases

4. FIPECAFI e ERNST& YOUNG. Manual de Normas Internacionais de

Contabilidade: IFRS versus Normas Brasileiras. São Paulo, Atlas, 2010.

5. GOL LINHAS AÉREAS INTELIGENTES S.A. NOTAS EXPLICATIVAS

ÀSDEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS. Disponível em:

http://www.bmfbovespa.com.br/ciaslistadas/empresaslistadas/ResumoDemonstrativosFi

nanceiros.aspx?codigoCvm=19569&idioma=pt-br. Acesso em 18 de Maio. 2011.

6. IUDICIBUS, Sérgio; MARTINS, Eliseu; GELBCKE, Ernesto Rubens; SANTOS,

Ariovaldo dos. Manual de Contabilidade Societária: Aplicável a todas as

Sociedades de acordo com as Normas Internacionais e do CPC. 1ª Edição. São

Paulo: Atlas, 2010.