14
Síndrome obesidade hipoventilação alveolar na Terapia Intensiva Marcela Alves Passos Bergamaschi Orientador (a): Prof a Ms Jacqueline Rodrigues de Freitas Vianna Orientador (a): Prof a Esp Miléa Mara Lourenço da Silva Pós-graduação em Terapia Intensiva Adulto pelo Instituto Terzius de informação e formação em saúde R das Rosas 259 Vila Lídia - Batatais -São Paulo Tel 16 3662 5416 E-mail: [email protected] Campinas, SP 2011

Síndrome obesidade hipoventilação alveolar na Terapia ...arquivos.5gsistemas.com.br/PosRedentor/arquivos/conteudo_542afea7… · Obesidade. Síndrome de Pickwick. 3 SUMMARY Objective:

  • Upload
    hahanh

  • View
    223

  • Download
    1

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Síndrome obesidade hipoventilação alveolar na Terapia ...arquivos.5gsistemas.com.br/PosRedentor/arquivos/conteudo_542afea7… · Obesidade. Síndrome de Pickwick. 3 SUMMARY Objective:

Síndrome obesidade hipoventilação alveolar na Terapia

Intensiva

Marcela Alves Passos Bergamaschi

Orientador (a): Prof a Ms Jacqueline Rodrigues de Freitas Vianna

Orientador (a): Prof a Esp Miléa Mara Lourenço da Silva

Pós-graduação em Terapia Intensiva Adulto pelo Instituto Terzius de informação e formação em saúde

R das Rosas 259 Vila Lídia - Batatais -São Paulo Tel 16 3662 5416

E-mail: [email protected]

Campinas, SP

2011

Page 2: Síndrome obesidade hipoventilação alveolar na Terapia ...arquivos.5gsistemas.com.br/PosRedentor/arquivos/conteudo_542afea7… · Obesidade. Síndrome de Pickwick. 3 SUMMARY Objective:

2

RESUMO

Objetivo: Abordar o suporte ventilatório na Síndrome Obesidade-Hipoventilação Alveolar

(SOHA). Métodos: Relato de paciente, sexo masculino, 57 anos, branco, soldador, com história de

cansaço crônico, roncos e dificuldades respiratórias durante o sono, sonolência diurna, dispnéia

progressiva aos esforços com sintomas intensificados há uma semana e necessitando de auxílio para

as atividades de vida diária. Internado para tratamento da Insuficiência Cardíaca (IC) evoluiu com

piora do padrão respiratório e insuficiência respiratória aguda, sendo transferido para UTI da Santa

Casa de Batatais. Resultados: Submetido à ventilação não invasiva, modo BIPAP por 24hs, evoluiu

com intubação e ventilação mecânica (VM) por oito dias, sem condições de desmame foi realizado

traqueostomia, após o 10° dia iniciado treinamento de endurance por sete dias, sendo adaptado

BIPAP por dez dias. Evoluiu com choque séptico, VM por 48hs, BIPAP por quatro dias, retorno a VM

por doze dias, iniciado treinamento de força por nove dias, sendo possível mantê-lo em BIPAP no 6°

dia e após adaptado a peça T com oxigênio a 5 L/min e válvula de PEEP=8 cm H2O dia e BIPAP

noite, permanecendo no esquema por dez dias. Retornou a VM por recidiva de choque séptico,

seguido de insuficiência renal crônica, necessitando de hemodiálise, sem resposta, evoluiu para óbito

após 48hs. Conclusões: Verificou-se a importância da assistência ventilatória adequada na SOHA, e

a efetividade do BIPAP como método de escolha no controle da hipoventilação para correção da

hipercapnia, assim como a importância da equipe interdisciplinar no gerenciamento do suporte

ventilatório de forma intensiva e sistemática.

Palavras-chave: Hipoventilação Alveolar. Hipercapnia. Obesidade. Síndrome de Pickwick.

Page 3: Síndrome obesidade hipoventilação alveolar na Terapia ...arquivos.5gsistemas.com.br/PosRedentor/arquivos/conteudo_542afea7… · Obesidade. Síndrome de Pickwick. 3 SUMMARY Objective:

3

SUMMARY

Objective: Address the ventilatory support in Obesity-Hypoventilation Syndrome Alveolar

(SOHA). Methods: Case report of patient, male, 57 year old white male welder, with a history of

chronic tiredness, snoring and breathing difficulties during sleep, daytime sleepiness, with progressive

exertional dyspnea intensified symptoms at 1 week and needing help for activities of daily living.

Hospitalized for treatment of heart failure (HF) experienced worsening of breathing pattern and

respiratory failure, being transferred to the ICU of the Santa Casa de Batatais. Results: The patient

underwent a non-invasive ventilation, BIPAP mode for 24 hours, evolved with intubation and

mechanical ventilation (MV) for 8 days, unable to wean tracheostomy was performed after the 10th

day started endurance training for 7 days, being adapted BIPAP for 10 days. Developed septic shock,

VM for 48 h, BiPAP for 4 days, return the VM for 12 days starting strength training for nine days, and

you can keep it in BIPAP on the 6th day after and adapted to T-piece with oxygen at 5 L / I valve

PEEP = 8 cm H2O BIPAP day and night, staying in the scheme for 10 days. He returned to MV for

recurrence of septic shock, followed by chronic renal failure requiring hemodialysis, unresponsive,

died after 48 hours. Conclusions: Results show the importance of proper ventilation in SOHA, and

effectiveness of BiPAP as a method of choice in the control of hypoventilation for correction of

hypercapnia, as well as the importance of the interdisciplinary team in the management of ventilatory

support in an intensive and systematic.

Key Words: Alveolar Hypoventilation. Hypercapnia. Obesity. Pickwickian Syndrome.

Page 4: Síndrome obesidade hipoventilação alveolar na Terapia ...arquivos.5gsistemas.com.br/PosRedentor/arquivos/conteudo_542afea7… · Obesidade. Síndrome de Pickwick. 3 SUMMARY Objective:

4

1. INTRODUÇÃO

O principal prejuízo causado pela obesidade à função respiratória é a hipoventilação

alveolar, que consiste na incapacidade do aparelho respiratório em eliminar o gás carbônico

(CO2) na mesma proporção que chega aos pulmões. (SILVA, 2006).

A Síndrome Obesidade-Hipoventilação Alveolar (SOHA) ou Síndrome de Pickwick ou

Hipoventilação da Obesidade ou Síndrome de Hipoventilação da Obesidade, a qual os

primeiros relatos foram datados desde a década de 1950 por Kerr e Langenl (PARK, 2007),

consiste na inefetividade do sistema respiratório em manter as trocas gasosas adequadas.

(SILVA, 2006). Ocorre na presença de obesidade (IMC>30 Kgm²) e causa hipercapnia

crônica (PaCO² >45mmHg) enquanto acordado, sem nenhuma relação à doenças

pulmonares que justifique a hipoventilação, sendo que aproximadamente 90٪ dos casos

estão acompanhados da Síndrome da Apnéia Obstrutiva do Sono (SAOS) (MOKHLEISI &

TULAIMAT, 2007).

Sua importância nos dias atuais tem aumentado devido ao aumento da prevalência

da Obesidade e da descoberta da Síndrome das Apnéias do Sono como fator de

agravamento dos sintomas, na maioria dos casos (SILVA, 2006).

A Síndrome da Apnéia Obstrutiva do Sono (SAOS) caracteriza-se pela presença de

estreitamento parcial (hipopnéia) ou colapso total (apnéia) das vias aéreas superiores

durante o sono, com conseqüente hipoxemia e hipercapnia, associado à fragmentação do

sono e sonolência diurna excessiva decorrente dos freqüentes despertares (YOUNG et al,

1993).

A abordagem terapêutica na Síndrome Obesidade-Hipoventilação Alveolar inclui o

tratamento da Obesidade, com mudança no estilo de vida, hábitos alimentares, prática de

atividade física ou mesmo cirurgia bariátrica e o tratamento da hipoventilação alveolar por

meio da assistência ventilatória adequada dependendo das condições clínicas e

gasométricas, podendo ser usada a ventilação mecânica invasiva e ventilação mecânica

não-invasiva em modo CPAP ou BIPAP. (AMERICAN ACADEMY OF SLEEP

MEDICINE, 1999).

O uso de BIPAP reveste-se de grande importância e vem se impondo como o

primeiro método de escolha, por permitir correção da hipercapnia, demonstrando ser um

método que contribui na melhora da morbimortalidade e na qualidade de vida dos pacientes

com SOHA.

O objetivo desse relato é abordar a assistência ventilatória na Síndrome Obesidade-

Hipoventilação Alveolar dentro da Terapia Intensiva.

Page 5: Síndrome obesidade hipoventilação alveolar na Terapia ...arquivos.5gsistemas.com.br/PosRedentor/arquivos/conteudo_542afea7… · Obesidade. Síndrome de Pickwick. 3 SUMMARY Objective:

5

2. RELATO DE CASO

HC: Homem, 57 anos, branco, soldador, natural e procedente de Pitangueiras - SP

com história de cansaço crônico, roncos e dificuldades respiratórias durante o sono,

sonolência diurna intensa, dispnéia progressiva aos esforços com sintomas intensificados há

uma semana, com dificuldade de deambulação, necessitando de auxílio para as atividades

da vida diária cotidiana. Foi admitido em uma unidade hospitalar em sua cidade de origem

para tratamento de um quadro de Insuficiência Cardíaca Descompensada (IC), evoluindo

com piora do padrão respiratório culminando com Insuficiência Respiratória Aguda, sendo

transferido para Unidade de Terapia Intensiva da Santa Casa de Batatais - SP.

Antecedentes Pessoais: Nega tabagismo, Etilismo, Doença de Chagas e Doença

arterial coronariana prévia.

Comorbidades: Hipertensão Arterial Sistêmica, Diabetes mellitus e Obesidade

mórbida.

Exame físico: Paciente torporoso, com confusão mental, apresentando

rebaixamento do nível de consciência com Escala de Coma de Glasgow de 12. Apresenta

obesidade grau III (IMC=47,75), com edema de em MMII +++/4+, fáscies cansada e

pletórica, cianose de mucosa e extremidades, em franca Insuficiência respiratória com

sudorese fria, taquipnéia, e uso de musculatura acessória grau IV.

Exames complementares:

•Gasometria arterial na admissão (FiO2= 21%)

pH= 7,26 PaCO2= 109 PaO2= 39 SatO2= 62% HCO3= 47 ABE= +14

•Hemograma : Hb- 18,0g/dl e Ht- 65%, Leucócitos- normais

•Uréia- 103 e Creatinina- 1,6

•ECG: Ritmo sinusal, FC= 90 bpm, bloqueio divisional ântero-superior, bloqueio incompleto

de ramo direito sem alteração da repolarização ventricular.

•Radiografia de tórax (figura 1)

Page 6: Síndrome obesidade hipoventilação alveolar na Terapia ...arquivos.5gsistemas.com.br/PosRedentor/arquivos/conteudo_542afea7… · Obesidade. Síndrome de Pickwick. 3 SUMMARY Objective:

6

Figura 1 – Radiografia Tórax com presença de cardiomegalia

3. METODOLOGIA E RESULTADOS

O paciente foi imediatamente admitido e submetido à ventilação mecânica não-

invasiva (VNI) com máscara facial, em modo BIPAP com pressão inspiratória positiva (IPAP)

= 16 cm H2O, pressão expiratória positiva (EPAP)= 8 cmH2O, tempo inspiratório (TI)= 0,87”,

FiO2= 100% sendo diminuído gradativamente até 45% no período de uma hora,

apresentando melhora gasométrica, inicialmente com: pH= 7,26; PaCO2= 109; PaO2= 39;

SatO2= 62%; HCO3= 47; ABE= +14 e após 30’de BIPAP, pH= 7,31; PaCO2= 79; PaO2= 62;

SatO2= 88%; HCO3= 39; ABE= +9, melhora do estado torporoso, porém mantendo

confusão mental com períodos de agitação psicomotora que impediram maior tempo no

suporte ventilatório. A VNI foi realizada nos períodos manhã, tarde e noite, porém logo no

segundo dia houve piora do quadro clínico e não mais resposta à VNI, sendo necessário a

adaptação de suporte ventilatório invasivo, realizando intubação orotraqueal com tubo nº

8,5, fixado cadarço em 23 cm, admitido na ventilação mecânica em modo PCV A/C, FiO2=

80%, TI= 0,55” , Fr= 18, sensibilidade (SE)= 3,0 L/m, PEEP= 5 cm H₂O, PCV= 25,

permanecendo por oito dias, sem condições de desmame da prótese ventilatória, foi

submetido a traqueostomia.

Após dez dias com traqueostomia o paciente não apresentou índices preditivos para

desmame da ventilação mecânica sendo iniciado protocolo de treinamento de endurance

com pressão de suporte (PSV) de 5 cmH2O por um período de sete dias, possibilitando a

adaptação da VNI em modo BIPAP com IPAP= 16 cmH2O, EPAP= 8 cm H2O, TI= 1,00” e

Page 7: Síndrome obesidade hipoventilação alveolar na Terapia ...arquivos.5gsistemas.com.br/PosRedentor/arquivos/conteudo_542afea7… · Obesidade. Síndrome de Pickwick. 3 SUMMARY Objective:

7

FiO2= 35%, por um período de dez dias. Após este período o paciente evoluiu com piora do

quadro clínico por choque séptico de foco pulmonar e úlcera de pressão sacral grau IV,

sendo necessário administração de drogas vasoativas e o retorno à ventilação mecânica em

modo SIMV(PCV)+PSV com FiO2= 50%, TI= 0,89”, Fr=12, SE= 3,0 L/m, PEEP= 8, PCV=

17, PSV=17, na qual permaneceu por mais dois dias.

Após 48hs, o choque séptico foi revertido, foi retornado ao BIPAP, pernanecendo por

quatro dias, aprentando taquipnéia e queda de SatO2, sendo retornado ao modo

SIMV(PCV)+PSV, permanecendo por doze dias. Durante este período apresentou redução

de hemoglobina e hematócrito, sendo necessário a transfusão de três unidades de

concentrados de hemácias.

Após 24hs da correção , optou-se pelo treinamento muscular respiratório (TMR) força

e endurance, devido a Pimáx de -20 cmH2O. O treinamento foi realizado com resistor de

carga linear pressórica (Trheshold), para inspiração e expiração, com carga de 30% da

Pimax, iniciando com 6 cm H2O, e progredindo para 8 cm H2O. O TMR foi mantido por um

período de nove dias, com progressão do tempo de treinamento até 15 minutos nos dois

últimos dias de treinamento.

Após seis dias de treinamento, foi possível adaptação da VNI em modo BIPAP

durante o dia, com retorno ao modo SIMV(PCV)+PSV a noite durante o sono. E após 72hs

para peça T com suplementação de oxigênio a 5 L/m durante o dia e retornando a VNI em

modo BIPAP durante à noite, foi adaptado uma válvula de PEEP=8 cm H2O para manter

melhorar a capacidade residual funcional e a oxigenação. As úlceras progrediram mesmo

com uso associado de laser ao protocolo usado na instituição (Sulfadizina de prata e

Barbatimão), devido a presença de tecido necrótico, foi necessário quatro intervenções de

desbridamento.

Paciente permaneceu por dez dias em uso de peça T (diurna) e BIPAP (noturno);

sendo necessário retornar ao BIPAP contínuo devido a recidiva de quadro séptico por

manutenção de foco em úlcera de pressão associado a sítio infeccioso em ponta de cateter,

sendo confirmado a presença de Staphylococcus multi resistente, Pseudomonas multi

resistente e Escherichia coli. O processo culminou com Insuficiência Renal e necessidade

de hemodiálise, porém sem resposta satisfatória a todas as medidas terapêuticas; após 24

hs foi necessário retornar a ventilação mecânica em modo SIMV(PCV)+PSV com FiO2=

50%, TI= 0,89”, Fr= 12, SE= 3,0 L/m, PEEP= 8, PCV= 17, PSV= 17, devido a choque

séptico, sem reposta a hemodiálise, quadro este que culminou com o óbito após dois dias,

totalizando um período de internação de setenta dias.

Durante todo período de internação foram aplicados diversos recursos

fisioterapêuticos direcionados a atender as necessidades específicas do paciente em cada

situação através de técnicas de remoção de muco brônquico, tais como: vibrocompressão,

Page 8: Síndrome obesidade hipoventilação alveolar na Terapia ...arquivos.5gsistemas.com.br/PosRedentor/arquivos/conteudo_542afea7… · Obesidade. Síndrome de Pickwick. 3 SUMMARY Objective:

8

aceleração do fluxo aéreo (AFE), hiperinsuflação manual (ambú), hiperinsuflação mecânica,

técnica de PEEP-ZEEP, tosse assistida e aspiração das vias aéreas superiores e inferiores.

Como terapia de expansão pulmonar as técnicas de oxigenioterapia, compressão e

descompressão torácica, exercício de expansão com membros superiores com diagonais de

Kabath, assim como treinamento de endurance e força muscular respiratória, mobilização e

alongamento passivo global, exercícios metabólicos, exercícios de mímica fascial, mudança

de decúbito, posicionamento adequado no leito e laserterapia para as úlceras de pressão.

Além do monitoramento do suporte ventilatório invasivo e não-invasivo como descrito

anteriormente. Através da intervenção intensiva da fisioterapia foi possível que o paciente

após traqueostomia evoluisse de forma satisfatória no desmame do suporte ventilatório,

assim como recuperação do déficit motor (Miopatia) que acompanha os pacientes

submetidos ao imobilismo, uso de sedação prolongada e uso de corticoesteróides. O

paciente recuperou a função muscular global, conseguindo realizar movimentos ativos

assistidos, recuperação de músculos envolvidos na fala e mastigação, deglutição permitindo

o mesmo comunicar-se e alimentar-se por via oral.

O comportamento da gasometria arterial nos diferentes momentos do suporte

ventilatório invasivo e não-invasivo, através da monitorização podem ser analisados nos

gráficos 1, 2, 3.

Pré BIPAP

Pós BIPAP

Pré BIPAP

Pós BIPAP

pH PCO2 PO2

PO2 39 62 46 85

PCO2 129 79 136 139

pH 7,26 7,31 7,14 7,16

Pré BIPAP Pós BIPAP Pré BIPAP Pós BIPAP

Gráfico 1 – Comportamento da gasometria arterial no momento pré e pós admissão da VNI

em modo BIPAP, nas primeiras 24 horas.

Page 9: Síndrome obesidade hipoventilação alveolar na Terapia ...arquivos.5gsistemas.com.br/PosRedentor/arquivos/conteudo_542afea7… · Obesidade. Síndrome de Pickwick. 3 SUMMARY Objective:

9

0

20

40

60

80

pH PaCO₂ PaO₂pH 7,45 7,39

PaCO₂ 49,12 59

PaO₂ 56,5 58

Durante IOT Durante TQT

Gráfico 2 – Média da gasometria arterial durante a IOT e durante TQT.

0

20

40

60

80

Val

ore

s G

aso

mét

rico

s

pH 7,54 7,52 7,45 7,4 7,43

PaCO₂ 31 35 45 46 41

PaO₂ 49 59 47 68 70

1 2 3 4 5

Gráfico 3 – Comportamento da gasometria arterial durante admissão de peça T durante o

dia e BIPAP durante a noite (1, 2, 3, 4, 5) avaliada a cada dois dias, no decorrer de 10 dias.

4. DISCUSSÃO

A hipoventilação alveolar pode ser aguda ou crônica e pode ser causada por vários

mecanismos. As síndromes de hipoventilações específicas incluem a hipoventilação alveolar

central, deformidades da parede torácica, doenças neuromusculares como mistenia gravis,

esclerose lateral amiotrófica, Síndrome de Guillain-Barré e distrofia muscular, ademais,

Page 10: Síndrome obesidade hipoventilação alveolar na Terapia ...arquivos.5gsistemas.com.br/PosRedentor/arquivos/conteudo_542afea7… · Obesidade. Síndrome de Pickwick. 3 SUMMARY Objective:

10

doença pulmonar obstrutiva crônica e a síndrome da hipoventilação relacionada a

obesidade. (FAYYAZ JAZEELA, 2011).

A SOHA é uma morbidade restritiva dos movimentos respiratórios por um fator

extrínseco ao pulmão, com redução dos volumes e capacidades pulmonares de 20% menor

e ventilação voluntária de 40% menor que os obesos que não têm hipoventilação (LAABAN

1994; FAYYAZ JAZEELA, 2011). A deficiência de lepitina ou a resistência a lepitina pode

também contribuir para a SOHA, reduzindo a capacidade de resposta ventilatória e levando

a retenção de dióxido de carbono (FAYYAZ JAZEELA , 2011). A inefetividade do sistema

respiratório em manter as trocas gasosas adequadas na SOHA possui ligação com a

presença de tecido adiposo que reveste o toráx e abdomem no obeso, proporcionando

resistência ao trabalho muscular do diafragma e dos outros músculos da respiração. Dessa

forma o excesso de gordura centrípeta proporciona alterações na mecânica respiratória

interferido no funcionamento do fole torácico (ROCHESTER, 1974; JUBBER, 2004;

LAABAN et al, 1999). O que faz com que pacientes com SOHA apresentem força

muscular respiratória e volume corrente em repouso menores quando comparados a

pacientes obesos que não hipoventilam (SHARP et al, 1994).

As manifestações clínicas da SOHA geralmente não são específicas e na maioria

dos casos são secundárias para o diagnóstico clínico subjacente, por esse fato a maior

parte dos casos de SOHA só é diagnosticada numa fase adiantada da doença durante a

primeira internação em Insuficiência Respiratória Crônica Agudizada (IRCA), apresentando

Insuficiência Cardíaca Direita, Acidose Respiratória e Hipoxemia grave (SIEKER et al,

1995)

Os sintomas podem variar dependendo da gravidade da hipoventilação, taxa de

desenvolvimento da hipercapnia e do grau de compensação para a acidose respiratória que

pode estar presente. Durante as fases iniciais de hipoventilação com leve a moderada

hipercapnia, os pacientes geralmente são assintomáticos ou têm sintomas mínimos. Eles

podem ficar anciosos e se queixam de dispnéia aos esforços, à medida que a hipoventilação

progride eles relatam dispnéia em repouso (PARK, 2007; FAYYAZ JAZEELA, 2011).

No caso relatado o paciente obteve um diagnóstico tardio da SOHA, ou seja, numa

fase adiantada da doença e em sua primeira internação em IRCA, confirmando estes

relatos.

Nesses episódios de agudização o suporte ventilatório deve ser o primeiro recurso a

ser utilizado, em modo CPAP ou BIPAP, com suplementação de oxigênio a depender da

necessidade, com objetivo imediato de corrigir a acidose respiratória e a hipoxemia

(LAPINSKY et al, 1994).

Page 11: Síndrome obesidade hipoventilação alveolar na Terapia ...arquivos.5gsistemas.com.br/PosRedentor/arquivos/conteudo_542afea7… · Obesidade. Síndrome de Pickwick. 3 SUMMARY Objective:

11

Paciente foi admitido na VNI no modo BIPAP seguindo os critérios preconizados pelo

III Consenso de Ventilação Mecânica e conforme recomendações da Academia Americana

de Medicina do Sono.

Muitos dos pacientes que se encontram em Insuficiência Respiratória Crônica

Agudizada vão necessitar de ventilação mecânica não invasiva ciclada a volume, ou mesmo

ventilação mecânica invasiva, até que se possa ser adaptado o CPAP ou BIPAP (LHANO

LAP et al, 2005).

Na presença de dificuldade na adapatação a máscara facial, ou de intolerância aos

altos fluxos por dificuldade expiratória, pode ser necessário a realização de traqueostomia

associada ou não a ventilação BIPAP (BERGER et al, 2001).

Nesse relato após 24hs o paciente não respondendo mais ao BIPAP, foi

precocemente submetido à intubação orotraqueal e ventilação mecânica invasiva

inicialmente ciclada a pressão progredindo para ciclagem a volume no modo mandatório

intermitente, não apresentando condições de desmame da prótese ventilatória, sendo

submetido a traqueostomia, e em seguida adaptado a VNI em modo BIPAP.

O uso de ventilação não invasiva CPAP, BIPAP, vem se impondo como método de

escolha no tratamento da SOHA, pois atua na correção da hipercapnia e no controle da

hipoxemia, proporcionando uma assistência ventilatória adequada, aumentando assim a

qualidade de vida desses pacientes (WINDISCH et al, 2000; HIDA et al, 2003).

O tratamento com ventilação não invasiva durante a noite é capaz de melhorar a

hipoventilação diurna e noturna, bem como os sintomas, aumentando a sobrevida

(TOGEIRO e FONTES, 2010).

O BIPAP proporcionou assistência ventilatória adequada no caso relatado,

mostrando- se efetivo no controle da hipercapnia e manutenção de oxigenação adequada,

com baixa oferta de oxigênio.

Segundo Silva, 2006 é imprescindível a perda de peso no controle de sintomas e

melhora gasométrica na SOHA, porém alguns autores mostraram que mesmo após a perda

significativa de peso alguns pacientes não melhoraram a hipoventilação levando a pensar

em uma predisposição genética (PARK , 2007), a qual, anteriormente era conhecida como

maldição de Ondina, geralmente apresentada em recém – nascidos e em 90% dos casos

era causada por uma mutação de expansão polialanina no gene PHOX2B (FAYYAZ

JAZEELA, 2011).

Page 12: Síndrome obesidade hipoventilação alveolar na Terapia ...arquivos.5gsistemas.com.br/PosRedentor/arquivos/conteudo_542afea7… · Obesidade. Síndrome de Pickwick. 3 SUMMARY Objective:

12

5. CONCLUSÃO

É importante salientar que o diagnóstico da SOHA deve ser feito de maneira

precoce, sendo necessária uma investigação adequada em pacientes com obesidade

mórbida, estando atento não somente às comorbidades mais conhecidas, como Diabetes

mellitus, Dislipidemia, Hipertensão Arterial, como também a presença de distúrbios do sono

e a Síndrome da Hipoventilação relacionada à Obesidade.

A assistência médica consiste principalmente em corrigir o distúrbio adjacente à

hipoventilação, porém, deve-se ter muito cuidado em corrigir a hipercapnia em pacientes

crônicos, pois corre-se o risco de alcalinizar o líquido cefalorraquidiano e desencadear

quadros de crises convulsivas, induzir uma alcalose metabólica e conseqüentemente

arritmias cardíacas. Broncodilatadores, agentes anticolinérgicos e metilxantinas são muito

úteis em pacientes com Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica e Broncoespasmo severo,

além disso, a teofilina pode melhorar a contratilidade do músculo diafragma e estimular o

centro respiratório.

No caso relatado verificou-se a importância da assistência ventilatória adequada na

SOHA, e a efetividade da ventilação não invasiva, sendo o BIPAP o método de escolha no

controle da hipoventilação para correção da hipercapnia, assim como, a importância da

equipe interdisciplinar no gerenciamento do suporte ventilatório de forma intensiva e

sistemática.

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AMERICAN ACADEMY OF SLEEP MEDICINE. Sleep-related breathing disorders in adults:

recommendations for syndrome definition and measurement techniques in clinical research.

Sleep, v.22, p. 667-669, 1999.

BERGER KI, AYAPPA I, CHATR-AMONTRI B, MARFATIA A, SORKIN I, BARRY RRT,

DAVID M, GOLDRING RM. Obesity-hypoventilation syndrome as a spectrum of respiratory

disturbances during sleep. Chest, v. 120, p. 1231-1238, 2001.

FAYYAZ JAZEELA, MONSENIFAR ZAB, Hypoventilation syndromes, Medicine Medescape

reference, 2011.

Page 13: Síndrome obesidade hipoventilação alveolar na Terapia ...arquivos.5gsistemas.com.br/PosRedentor/arquivos/conteudo_542afea7… · Obesidade. Síndrome de Pickwick. 3 SUMMARY Objective:

13

HIDA W, OKABE S, TASUMI K, KIMURA H, AKASIBA T, CHIN K, OHI M, NAKAYAMA H,

SATOH M, KURIYAMA T. Nasal continuous positive airway pressure improves quality of

life\in obesity hypoventilation syndrome. Sleep Breath. v. 7, p. 3-12, 2003.

JUBBER AS. Respiratory complications of obesity. Int J Clin Pract, v. 58, p. 573-580, 2004.

LAABAN JP. Respiratory function in massive obesity. Rev Prat, v.43, p. 1911-1917, 1994.

ROCHESTER DF, ENSON Y. Current concepts in the pathogenesis of the obesity-

hypoventilation syndrome. Am J Med, v. 57, p. 402-420, 1974.

LAABAN JP, ORVOEN-FIJA E, CASSUTO D, PASCAL S, LEGER D, BASDEVANT A,

ROCHEMAURE J, GUY-GRAND B. Mechanisms of diurnal hypercapnia en sleep apnea

syndromes associated with morbid obesity. Presse Med, v. 25, p. 12-16, 1999.

LHANO LAP, GOLPE R, PIQUER MO, RACAMONDE V, CARUNCHO MV, MUINELOS OC,

CARRO CA. Short-term and long-term effects of nasal intermittent positive pressure

ventilation in patients with obesity hypoventilation syndrome. Chest, v. 128, p. 587-594,

2005.

LAPINSKY SE, MOUNT DB, MACKEYD, GROSSMAN RF. Management of acute respiratory

failure due to pulmonary edema with nasal positive pressure support. Chest, v. 105, p. 229-

231, 1994.

MOKHLEISI B, TULAIMAT A. Recent advent in Obesity Hypoventilation Syndrome. Chest,

v.132, p.1322-1336, 2007.

PARK JOHN G. Obesity hypoventilation syndrome. MD,FCCP CHESTNET, artigo12.03.

2007.

SHARP JT, HENRY JP, SWEANY SK. The total work of breathing in normal and obese men.

J Clin Invest, v 43, p. 728-739, 1994.

SIEKER HO, ESTES EH JR, KELSER GA, MCINTOSH HAD. Cardiopulmonary syndrome

with extreme obesity. J Clin Investigation, v34, p. 91-92, 1995.

SILVA GA. Síndrome obesidade-hipoventilação alveolar. Medicina (Ribeirão Preto); v. 39,

n.2, 195-204, 2006.

Page 14: Síndrome obesidade hipoventilação alveolar na Terapia ...arquivos.5gsistemas.com.br/PosRedentor/arquivos/conteudo_542afea7… · Obesidade. Síndrome de Pickwick. 3 SUMMARY Objective:

14

TOGEIRO SMGP, FONTES FH. Hipoventilação relacionada ao sono. J Bras Pneumol.

V.36, supl.2, p. S1-S61, 2010.

WINDISCH W, DREHER M, STORRE JH, SORICHTER S. Nocturnal non-invasive positive

pressure ventilation: physiological effects on spontaneous breathing. Respir Physiol

Neurobiol. v.150, p. 251-60, 2000.

YOUNG T, PALTA M, DEMPSEY J, SKATRUD J, WEBER S, BADR S. The occurrence of

sleep disordered breathing among middle aged adults. N Engl J Med, v.323, p.1230-1235,

1993.