SOARES. Carmen Soares - Imagens da Educação no Corpo

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Por convencao os textos sao impresses em caracteres escuros sobre fundo claro. Apesar de virem de regioes obscuras da sociedade dos homens, as palavras fixam-se no papel escuras em fundos claros, neutros, como se quisessem esquecer sua origem complexa, ambigua, perigosa, para exibirem-se como limpas, nitidas, claras. E assim se exige tambem as ideias que elas expoem. E tambem quando elas sao faladas. E assim deve ser o orador, o cientista, o escritor academico. Limpo, claro, nftido. E tambem a escola, a educagao do corpo, a ginastica. Certa vez, convencionou-se tambem que a arte verdadeira deveria ser suja, escura, obscura, como se ela nao quisesse expor sua face solar, clara, positiva. E assim deveria ser o artista. Sujo, obscuro, problematico. E tambem a rua, o funambulo, o trabalhador das minas, o circo. O exagero destas duas afirmacoes leva-nos a afirmar que deveriamos buscar uma opiniao media. Nao. Para que algo significative seja revelado, as coisas devem ser misturadas, colocadas em tensao. Buscar sentidos na aproximagao problematica de linguagens diferentes. Traducao. Traduzir de uma linguagem para outra para que algo de verdadeiro e inesperado surja ora do texto, ora da imagem e ai achar trechos da historia que ficaram perdidos e obscurecidos pela historia oficial. Traducao tambem da imaginagao, do desejo e da historia do pesquisador, dos trechos perdidos e obscurecidos pela sua historia oficial. Como se uma pesquisa pudesse ser ao mesmo tempo uma historia pessoal profundamente social. Milton Jose de Almeida

Z :EDITORA AUTORES - ASSOCIADOSCO

O corpo movel, livre, leve, agil. Muitas vezes comico. O corpo rfgido, retesado. O corpo limpo, consertado. O corpo controlado, construido, modelado. O. corpo atletico. A estetica do corpo. O corpo contorcido, pesado. O corpo destrufdo, destrogado, atrofiado, espoliado. Ainda assim, o corpo. Corpo impregnado de valores. Corpo marcado pelas condigoes de vida. Vivendo ritmos, desenvolvendo agoes, assumindo posigoes, posturas. Diferentes, variadas, opostas, contraditorias. Imagens do corpo. Imogens da educocdo no corpo. Imagens que vao se produzindo no fio de um discurso despretensioso e belo, em uma composigao sui generis de palavras e figuras e desenhos e pinturas, em que o texto e o corpo se mostram em espetaculo. No flo desse discurso, qual trapezista em busca de equilibrio, somos instigados, desafiados a um exerdcio do olhar, exercfcio dos modos de conceber o corpo e seus modos de agao e movimento. Somos convidados a experimentar muitas leituras do corpo e do texto. E sobre a ginastica que a autora nos fala. Sobre a ginastica como uma forma de atividade culturalmente valorizada. E sobre praticas que vao se instituindo e se institucionalizando nos modos de sentir e de viver o co/po. Na narrativa que se constroi, ela nos informa e nos envolve e nos encanta, enquanto analisa e apresenta, de maneira inteiramente original, uma rica trama de

IMAGENS DA EDUCACAO NO CORPOESTUDO A PARTIR DA GINASTICA FRANCESA NO SECULO XIX

CARMEN LUCIA SCARES

3a

CoLEgAo EoucAgAo CONTEMPORANEAAUTORES ASSOCIADOS Bibslctec

Dados Internacionais de Catalogagao na Publicagao (CIP) (Camara Brasileira do Livro, SR Brasil) Scares, Carmen Lucia Imagens da educagao no corpo : estudo a partir da ginastica francesa no seculo XIX / Carmen Lucia Scares. - 3. ed. - Campinas, SP : Autores Associados, 2005. Bibliografia. ISBN 85-85701-53-6 I. Educagao fisica - 2. Ginastica- Franca - Seculo 19 I. Titulo. 97-5400 Indices para catalogo sistematico: I. Corpo : Educac,ao fisica 6 I 3.7 CDD-613.7

SUMARIO

LlSTA DE FlGURAS

PREFACIO A 3a EoigAo PREFACIO A 2a EoigAo PREFACIO CAPITULO UM AsIMAGENS CAPITULO Dois EDUCAQAO NO CORPO: A RUA, A FESTA, o CIRCO, A GINASTICA CAPITULO TRES O CORPO MOLDADO: A LlMPEZA E A UTILIDADE CAPITULO QUATRO O CORPO AOESTRADO: O INDIVIDUO, DlSCIPLINADOR DE Si MESMO 8117

I" Edigao - marco de 1998 Impresso no Brasil - dezembro de 2005 Copyright 2005 by Editora Autores Associados EDITORA AUTORES ASSOCIADOS LTDA. Uina edilora educativa a servifo da cultura brasileira Av. Albino J.B. de Oliveira, 901 - CEP 13084-008 - Campinas - SP Pabx/Fax: (19) 3289-5930 E-mail', [email protected] Catalogo on-line: www.autoresassociados.com.br Conselho Editorial "Prof. Casemiro dos Reis Filho" Bernardete A. Gatti Carlos Roberto Jamil CHIJ Dermeval Saviani Gilberta S. de M. Jannuzzi Maria Aparecida Mot/a Walter E. Garcia Diretor Executive Fldvio Baldy dos Reis Diretora Editorial Gilberta S. de M. Jannuzzi Coordenadora Editorial Erica Bombardi Assistente Editorial Aline Marques Diagramacao e Composicao Vlad Camargo Erica Bombardi Revisao Margarette de Souza Freitas Aline Marques Capa Criacao a partir de Paul Gauguin Eiaha Ohipa (Nao ao Trabalho), 1896, e ilustracao Ginasio Normal Mililar e Civil de Amoros, 1820 Milton Jose de Almeida Arte-Final Reg. 005044 Vlad Camarga Impressao e Acabamento Grafica

33

1BIBLIOGRAFIA

139

BibliotecaSet-:....

LlSTA DE FlGURAS

FIGURA I Polichinelos e saltimbancos ou O barraco dos saltimbancos (Polichinelles et saltimbanques ou la Baraque des saltimbanques), quadro de Giandomenico Tiepolo pintado por volta de 1793. Fonte: Guillou, 1995, p. 135. FIGURA 2 O drco (Cirque), quadro de Georges Seurat, pintado em I 89 I. Fonte: Strasser, 199 I, Apresentagao. FIGURA 3 Amoros conduzindo uma aula, em Paris, I 820. Fonte: Zoro, 1986. Encarte especial. FIGURA 4 A fenfacao de santo Antonio (La tentation de saint Antoine) (detalhe), quadro de jeronimus Bosch, pintado por volta de 15001510. Fonte: Franga, 1994, pp. 80-81. FIGURA 5 A famflia de Carlos IV, quadro de Francisco de Goya, pintado entre ISOOe 1801. Fonte: Wright, s.d., p. 35. FIGURA 6 Ginasio ao ar livre, por volta do ano de 1840, catalogadas por Jean Zoro. Fonte: Zoro, 1986, p. 23. Exercicio no portico, por volta do ano de 1836, catalogadas por Jean Zoro. Fonte: Zoro, 1986, p. 80. No Circo Fernando: a amazona, quadro de Toulouse-Lautrec, pin-

FIGURA 7

FIGURA 8

tado em I! Fonte: Mundo dos museus, 1967, p. 62. FIGURA 9 Mademoiselle La/a no Circo Fernando (Mademoiselle La/a au Cirque Fernando), quadro pintado por Edgar Degas em 1879. Fonte: Huttinger, 1977, p. 48.

FIGURA 18 Danca nupcial ao ar livre, quadro de Pieter Bruegel, pintado em 1556. Fonte: Os Grandes..., 1986, vol. 2, n. 18, p. 56. FIGURA 19 O enterro da sardinha, quadro de Francisco de Goya, pintado entreosanos de I 8 l 2 e 1819. Fonte: Wright, s.d., p. 45. FIGURA 20 Jogos, s.d. Fonte: Zoro, 1986, p. 1 1 0 . FIGURA 21 O tecelao (Le tisserand), quadro pintado por Van Gogh em 1884. Fonte: Guillou, 1995, p. 1 2 1 . FIGURA 22 e 23 jogo com bola, 1880(?)-1899. Fonte: Zoro, 1986, pp. 47 e 203.

FIGURA 10 O clown no circo (Le down au cirque), quadro de Pierre-Auguste Renoir, pintado em 1868. Fonte: Dulout, 1994, p. 41. FIGURA I I O combate do carnaval e da quaresma (Le combat de carnaval et careme), quadro de Pieter Bruegel, pintado em I 559. Fonte: Mascheroni, 1993, s/p. FIGURA 12 O mane/'o de armas. Fonte: Zoro, 1986, p. 148. FIGURA 13 jogos infantis (Les jeux d'enfants), quadro de Pieter Bruegel, pintado em I 560. Fonte: Mascheroni, 1993, s/p. FIGURA 14 O Boneco de palha, quadro pintado por Francisco de Goya, 1791 1792. Fonte: Wright, s.d., p. 21. FIGURA 15 Os pequenos gigantes, quadro pintado por Francisco de Goya, 1791-1792. Fonte: Wright, s.d., p, 23. FIGURA 16 Garotos brincando de so/dados, quadro pintado por Francisco de Goya por volta de 1777-1785. Fonte: Wright, s.d., p. 22. FIGURA 17 A danca dos camponeses (La danse des paysans), quadro de Pieter Bruegel, pintado por volta de 1568. Fonte: Os Grandes..., 1986, n. 18, p. 54.

FIGURA 24 A dama e o licorne (La dame a la licorne), tapegaria (detaihe) de fins do seculo XV Reprodugao em cartao. Musee des Thermes. Fonte: Musee des Thermes, 1991 (cartao). FIGURA 25 Cape/a Sistina (detaihe), Michelangelo. Fonte: Os Grandes..., 1986, vol. 2, n. 16, p. 12. FIGURA 26 O descanso dos mineiros: o jogo (La pause des mineurs: lejeu), quadro pintado por Henry Perlee Parker em 1836. Fonte: Guillou, 1995, p. 120. FIGURA 27 O batalhao escolar, 1885. Fonte: Zoro, 1986, p. 209. FIGURA 28 A cruz de ferro, aparelhos de ortopedia, illustration, 1868. Fonte: Corbin, 1991, vol. 4, p. 604.

FIGURA 29 e 30

Exemplos de aparelhos que "corrigem" posturas e "endireitam" o corpo no seculo XIX. Fonte: Labbe, 1930, vol. I, pp. 417-419.

FIGURA 38 jogos, seculo XVI. Imagens reproduzidas a partir de Celestino F M. Pereira. Fonte: Pereira, s.d., pp. 583, 589 e 736. FIGURA 39 llustragao de capa do livro Germinal de Emile Zola em edigaofrancesa de Garnier-Flammarion. Fonte: Zola, 1968. Capa. FIGURA 40 Dispositive experimental para registrar os movimentos do torax, do abdomen e tambem o debito de ar expirado durante o canto. Imagens reproduzidas de Georges Demeny. Fonte: Demeny, 1 9 3 1 , p. 95. FIGURA 41 Estagao fisiologica do Parque dos Prfncipes. Imagens reproduzidas a partir de Jean Zoro. Fonte: Zoro, 1986, p. 234. FIGURA 42 Fonoscopio Demeny. Imagens reproduzidas a partir de Georges Demeny. Fonte: Demeny, 1 9 3 1 , p. 275. FIGURA 43 e 44 Marey. Cronofotografias. Imagens reproduzidas a partir de Michel Frizot (org.) e Jean Zoro. Fonte: Frizot, 1987, pp. 25, 42 e 44; Zoro, 1986, p. 235.

FIGURA 3 I Fachada do Ginasio Normal Militar, criado e dirigido pelo Cel. Amoros. Imagens respectivamente retiradas de Jean Zoro e de Eduardo de Los Keys. Fonte: Zoro, 1986, p. 23; Reys, 1961. Anexo. FIGURA 32 Ginastica elementar de Amoros: marchas e corridas. Desenhos reproduzidos a partir de jean Zoro, Marcel Labbe. Os desenhos apresentados pelos autores aqui utilizados foram reproduzidos diretamente da obra do proprio Amoros - o Atlas que acompanha o Manuel d'Education Physique, Cymnastique et Moral. Fonte: Zoro, 1986, pp. 80 e 86; Labbe, 1930, vol. 2, pp. 3 I, 39e45. FIGURA 33 Aparelhos de Amoros: mastros verticals. Imagens reproduzidas a partir de Jean Zoro e Jose L. H. Vazquez. Fonte: Zoro, 1986, p. 74; Vazquez, 1988, p. 36. FIGURA 34 Aparelhos de Amoros: barras, paralelas e cavalo. Imagens reproduzidas a partir de Jose Luis Hernandez Vazquez. Fonte: Vazquez, 1988, pp. 37, 43, 44 e 45. FIGURA 35 Amoros: aparelhos paraaprender a nadar. Imagens reproduzidas a partir da obra de jean Zoro. Fonte: Zoro, 1986, pp. 138-139. FIGURA 36 Amoros, Exercidos de salvamento. Fonte: Reys, 1 9 6 1 . Anexo. FIGURA 37 Saltos sobre o cavalo. O cavalo em diferentes epocas. Imagens reproduzidas a partir de Eduardo de Los Reys e Jean Zoro. Fonte: Reys, 1961. Anexo. Zoro, pp. 228 e 229.

FIGURA 45 Cronofotografo Demeny. Imagens reproduzidas a partir de Jean Zoro. Fonte: Zoro, 1986, p. 236 FIGURA 46 Entrada do metro, Paris (Entree de metro), Hector Guimard, I 899. Construction du metro. Traversee de la Seine du Chatelet, 1907. Archives Hachette. Fonte: Clay, 1975, p. 12.

FIGURAS 47, 48, 49, 50 e 5 1

Ginastica sueca. Imagens reproduzidas a partir de Marcel Labbe. Fonte: Labbe, 1930, vol. 2, pp. 173, 175,203, 207, 275, 276, 277, 278, 246, 247, 248, 249, 281,283 e 284.

FIGURA 52 Cenas das minas de carvao. Imagens reproduzidas a partir de Georges Demeny. Fonte: Demeny, 1924, pp. 308-309.

PREFACIO A 3a BDICAO

FIGURA 53 Imagens reproduzidas a partir de Celestino F. M. Pereira. Fonte: Pereira, s.d., pp. 580 e 246. FIGURAS 54, 55, 56, 57 Demeny apresenta uma ligao de ginastica e exercicios destinados as mulheres - ginastica francesa. Imagens reproduzidas a partir de Georges Demeny e Jean Zoro. Fonte: Demeny, 1920, p. 49. Figural. Zoro, Raymond Williams, em Cultura, alerta-nos para uma dimensao eminentemente historica da produgao artfstica, qual seja, a condigao de produgao das obras de FIGURA 58 Espartilhos. Imagens reproduzidas a partir de Georges Demeny e Jean Zoro. Fonte: Demeny, 1 9 3 1 , p. 229; Zoro, 1986, p. 77. FIGURA 59 Batalhoes escolares. Imagens reproduzidas a partir de Jean Zoro. Fonte: Zoro, 1986, p. 208. FIGURA 60 O uso da forga nos trabalhos. Imagens reproduzidas a partir de Georges Demeny. Fonte: Demeny, 193 I, pp. 180, 1 8 1 , I 8 2 e 183. arte. Sem remeter a Walter Benjamin - outro grande expoente da critica a modernidade -, suas consideragoes permitem indagar se em algum momento a obra de arte teve, de fato, uma aura que a projetasse como legado do esclarecimento, aura esta que se teria perdido em urn dos movimentos da modernidade. Ao recuperar essa dimensao da produgao artistica ou cultural, Williams permite pensar o entrecruzamento de duas dimensoes fundamentais da experiencia moderna: I. a mudanga de padroes culturais que se deslocam de uma perspectiva mutualista para uma que afirma o individuo como elemento central na nova configuragao social que se instaura; 2. a emergencia desse novo mundo que e, a despeito do que o diferencia, devedorde umatradigaoseletivade longa duragao. Assim, segundo essa perspectiva, a modernidade mantem vestfgios de um passado que representou a sementeira do turbilhao que submeteria diferentes culturas ao imperativo da organizagao, do calculo, da precisao, do controle, em uma palavra, da administragao. Como tendencia historica, um passado demarcado pela tensao entre o velho e o novo, o cientffico e o sensivel, o mitico e o objetivo, que conhece a sua plena realizagao, nao em um perfodo precise, mas em um longo processo de afirmagao do novo ethos que representaria a civilizagao, consubstanciado na grande cidade.

DA MODERNIDADE, DA EDUCACAO DO CORPO, DOS SEUS ECOS CONTEMPORANEOS

1986, pp. 36, 90, 102, 126 e 130.

Entre processes passados infirmados pelo o/focento, e possfvel dar destaque aquilo que inadvertidamente, e nao sem problemas, podemos denominar "culturas populares", que partilhavam uma nogao de vida comunitaria, paulatinamente substituida pela experiencia que marcou o flaneur. Aquelas formas de vida comunitaria que representavam maneiras proprias de operar com a natureza e com a sociedade, nao coincidentes com os novos designios cientificistas que se afirmavam, e que marcariam tab fortemente a educagao do corpo no Ocidente. Em contrapartida, a efervescencia da urbe do seculo XIX produziria uma profusao de experiendas transformadoras da sensibilidade artfstica, seja na forma de escolas, teorias, tendencias ou tecnologias. E certo que esse processo demoraria a chegarem terras brasileiras. Mas como marca inalienavel da modernidade, seus ecos reverberariam em diferentes lugares e tempos, com enfases e profundidades nao menos plurals. Como epitome desse processo, uma Europa arcaica debatia-se contra a Revolucao Industrial, contra o Palacio'de Cristal e as reformas de Haussmann, levadas a cabo como apanagio do sangue de 1848. Pois e na confluencia desses elementos, desses produtos, desses processes culturas populares, cientificismo, arte, tecnologia, educagao do corpo - que Carmen Lucia Soares se embrenha para nos conduzir por uma trama na qual o "novo" apropria o "velho" para se afirmar como "revolucionario". O mundo do povo concebido pelo velho Brueguel, que assiste nao sem resistencia ao seu eclipse, narrado por Williams sobre outro tempo e lugar, enseja, junto a outros elementos, o nascimento de uma tecnologia de cuidados com o corpo sem precedentes na historia. Com o acento particular na educagao que moldaria o homem industrioso, industrial, monada substantiva que invadiria exposigoes, cafes, galerias: a rua. Pois aquela cultura, patrimonio identitario sem nome, posto que marcado pela experiencia comum, alimentaria o ventre de um discurso que prescreveria doutrinas, exerdcios, metodos para que todos fossem cada vez menos cada um. Ou seja, o mundo reencantavase, as promessas do esclarecimento nao se cumpriam, e o turbilhao atingia em cheio as formas de pensar na (re)conformagao da sociedade. Longo processo este, inconcluso por certo. Aberto, portanto, a possibilidade historica. E Carmen ajuda-nos a ver como a rua se confundia com a festa, que era brinquedo e guerra, dor e prazer, pulso e morte. Mas esse movimento lentamente e solapado pelos designios da cientificidade que atingiria as telas, os cromos, os triIhos, o ago o corpo; sem esquecermos que tornariam a aflorar os seus rnais inospitos pressupostos na experiencia que liga a Paris de Hausmmann a Guernica de Picasso. Tempo de mutilagao e salvacionismo. Tempos de corpos serem educados. Tempos de discursos e praticas serem mobilizados para a sua educagao.

Funambulos e outros artistas que tomavam as ruas, esses trabalhadores "apostatas" das causas da ciencia, do trabalho, da tecnica "cientffica", seriam justamente os fornecedores do material que fomentaria as experiencias que prescreveriam a corregao, a perfeigao, a educagao corporals. Nao sao experiencias simples: a tecnica vodferava; a matematica pontificava; a natureza era captada em uma dimensao sem precedentes. E as sequencias de fotos que Carmen da a ver e propoe analisar chocam quando comparadas com as imagens que abrem o seu estudo, essas sim, ainda queficgao- postos que sao "arte" - .encarnadas, vividas, encharcadas de humanidade ate pela partilhaque estao a representar. Mundo pulsante das ruas, mundo frio dos laboratories! Duas vidas, dois modelos de corpos, imbricados na lembranga de que a sua raiz e a vida daqueles artistas do povo que tinham como o seu trabalho explorar os limites dos seus corpos. Estranhos apostatas aqueles, que unificavam vida e trabalho nos seus corpos! Ajudaram a criar as "ciencias do movimento humano" com o seu trabalho mambembe, execravel, maldito. Curioso liame este da historia, que liga o contexto do Rabelais de Bakhtin as experiencias dos campos de concentragao nazistas. O corpo que morre e mata; que vive e viola; e violado e ri! Curioso tambem este tema do corpo: intangfvel nas suas marcas, nao reduzfvel a nenhum padrao, pouco conhecido na sua complexidade historica. Duplo corpo! Corpos! Se encerram dificuldades inauditas, o que dizer da sua educagao? Se a formagao nao e mensuravel pelo quantum dos modelos matematicos, como proceder historicamente para compreender a educagao do corpo como premissa do processo de formagao? Questoes para muitos projetos, muitos investimentos, muitas reflexoes. Questoes tocadas, abertas, tomadas como objeto por Carmen, que das entranhas das representagoes da arte e da tecnica nos estranha com a maxima que teria sido o corpo transformado em maquina um dos pontos de inflexao da modernidade. Nao basta mata-lo; e precise educa-lo! Quem sabe reinventa-lo, nao como representagao artistica, mas como objeto de saber. Corpomaquina, saber-coisa! Percorrendo Demeny, a literatura, afotografia, a iconografia, cortados em suas perspectivas diacronicas, Carmen oferece-nos um mapa - aberto, plurivocal de possibilidades postas pela marcha do esclarecimento, a partir do projeto que ungia o corpo na sua dimensao utilitaria, filha da organizagao de um tempo que viu a grande fabrica levar as ultimas consequendas a redugao do corpo ao imperative do calculo, nao sem que uma ou multiplas retoricas se desenvolvessem para justificar as atrocidades nasfabricas, nas ruas, nas minas, nos campos. Corpos reduzidos acoisas; homens, mulheres e criangas com as suas dignidades achincalhadas. Triste legado do esclarecimento europeu que se espraiava pelo mundo! No Brasil daquele tempo, a

escravidao, essa marca tangivel da degradagao humana, corporalmente visfvel, moralmente reprovavel. Aqueles eram, ainda, tempos da ferula, que marcava no corpo infante os limites das suas possibilidades de expressao. Os tempos eram de regozijo, pelo menos para aqueles que vislumbravam republica, industrializagao, urbanizagao, modernizagao no Brasil, a imagem e semelhanga de terras europeias. Mas se o trabalho de Carmen pelo que propoe ja ajuda a pensar um processo de educagao do corpo para a reorganizagao da cultura nos moldes da urbe europeia, as imagens e representagoes com as quais trabalha permitem ainda um pouco mais. Permitem que mapeemos, tambem em um esforgo diacrfinico, a insistencia de determinadas praticas em permanecer como resqufcios da incultura de um mundo patogenico. E nos tempos de hoje voltamos o nosso olhar para as criangas do sisal, das minas de carvao, da prostituigao; voltamos nossos sentidos para a explosao xenofoba, para o aniquilamento do diferente, para a banalizagao da dor do outro. Dor que se manifesta ainda naquilo que seria inimaginavel na modernidade dos primeiros tempos: a negagao do trabalho, do mais rudimentar dos trabalhos, aquele das maos, dos bragos, corporal. Pois mesmo esse trabalho, da apologia de personagens e tradigoes tao distintas, hoje se esvai como promessa nao cumprida. Paradoxalmente, quando alguns vivem justamente da venda dos seus corpos: herois ou "barbaros" modernos, atletas, estrelas, criangas, mulheres, trabalhadores informais, tern em comum o investimento que se faz sobre os seus corpos para consignar mais pontos no projeto que nos extrai a humanidade. Alguns, anonimos; outros, idolos universais. Tbdos, estilhago de um tempo que elevou o corpo e a sua educagao no adro dos sacriffcios da civilizagao pela consolidate do moderno. Pois esse "moderno" precisa ser questionado em suas bases e em seus pressupostos. Mas precisa ser lembrado como o tempo-projeto que banhou o mundo de esperanga, de Utopia, de resistencia. Saudade do seculoXIX? Seria exagero, porcerto! Mas entendido como auge de um mundo que acreditou nas possibilidades humanas, voltar a Bruegel e Boch, passando por Rabelais e o grotesco, chegando a Amoros e Demeny, e um exercfcio estimulante para aqueles que querem e pensam a historia como possibilidade. Dai Williams poder nos alertar para a longa revolugao que representou a obliteragao de formas alternativas de organizagao da sociedade. Formas alternativas nas quais o esforgo e a habilidade corporals eram condigao de vida e realizagao para a maior parte dos homens e mulheres que faziam do seu dia-a-dia razao de trabalho e festa, lugar e tempo de celebragao da vida, pelo que ela nos reserva de dor e prazer. Dor que seria de forma sub-repticia, transformada em norma de conduta, em estilo de vida, em sofrimento apaziguado pelo entretenimento. Hoje o trabalho e outro, a fruigao e pouca, tambem e outro o corpo e a sua educagao. Mas do

exercfcio de Carmen podemos apreender as marcas de um tempo de ebuligao, no qual projetos eram disputados, tendencias solapadas, vitorias encetadas. Os vencidos ficaram como memoria a martelar na consciencia do presente cinico. A beleza no horror? Se recuperarmos atopicafreudiana, a beleza e um dos motores que ajudaram a perpetuar o horror. Ou, pelo menos, o modelo de beleza que fez do corpo o cenaculo oracular de um mundo que se perdeu da sua humanidade. E que e humano justamente pelo que nos apresenta de inconcluso! Esse processo, artisticamente focalizado por Carmen Scares nessas paginas, esta aberto. Algumas causas ainda podem ser ganhas. E ao historiador cabe fazer lembrar sempre aquilo que nuncafoi farsa, mas os obices de um mundo que estranhou a si mesmo e o qual continuamos a estranhar nas nossas indagagoes sobre essas distancias espago temporais que aproximam arte e ciencia, ficgao e realidade, narrativa e experienda.

Curitiba, primavera de 2005 Marcus Aurelio Taborda de OliveiraProfessor do Departamento de Teoria e Pratica de Ensino e do Programa de Pos-Graduagao (area tematica de historia e historiografia da educagao) da Universidade Federal do Parana

PREFACIO A 2a EDICAO

A educagao e o processo pelo qual as sociedades asseguram a transmissao dos conhecimentos, e dos valores fundamentals, das geragoes mais veIhas para as geragoes mais novas. Ate hoje, em cada sociedade e independentemente do seu estadio de desenvolvimento ou dos modelos de educagao concebidos, este e o meio que assegura a cultura. A preparagao para a vida sup5e a educagao fisica, um conjunto mais ou menos extenso e complexo de principles, de metodos e de tecnicas a partir dos quais se estruturam maneiras de fazer, verdadeiro know-how indispensavel a vida humana e social. A educagao dos seres humanos elabora-se no sentido de favorecer a adaptagao ao meio natural e fisico.tanto quanto humano e social. A aprendizagem das actividades que inserem os seres humanos no mundo da vida e um valor da vida humana e social. Descuidar esta area, de preservagao de tudo quanto e considerado valioso e significative, e comprometer as hipoteses de sobrevivencia e de continuidade das sociedades tal como as conhecemos. As tecnicas, de que a ginastica faz parte, representam um fenomeno de cultura que necessita de maior atengao para que se compreenda, com clareza e afastada das tensoes ideologicas que, sem duvida, as utilizaram, qual o seu valor e qual o seu sentido social no quadro de uma sociedade em mudanga e que aspirava a uma maior justiga social. No territorio do corpo, esse mediador singular, os interesses cruzavam-se ontem, como hoje, entre os valores humanos mais profundos e as profanagoes mais hipocritas. Este e o espago e o tempo do ser humano, da sua vida individual e colectiva. Um territorio que e

indispensavel salvaguardar, nas formas e nas fungoes, certamente, mas sem que se esquega, em momento algum, que este e o espago verdadeiramente sagrado onde se definem e defendem os limites entre a liberdade e o abuso. Como acontece no processo de constituigao de alguns factos da cultura, a institucionalizagao da educagao fisica ocorre num periodo alargado. E este um tempo longo, no qual se inscrevera a sua construgao teorica e a elaboragao minuciosa e sistematica de propostas concretas de operacionalizagao. E no seio de uma Europa que se pensa a si propria e aos seus limites, onde os problemas do homem e da sociedade se impoem e suscitam animado debate, flnos argumentos e o confronto fecundo entre perspectivas eruditas e esclarecidas e as propostas consistentes de mudanga e de consolidagao de valores entendidos como fundamentals, que as possibilidades de educar adquirem uma importancia social e polftica, de facto, moderna. Este periodo, que se podera compreender entre o tempo dos fundadores, como John Locke, Henri de Boisregard e, tambem, Jean Jacques Rousseau, entre outros, e com clareza desde os finals do seculo XVII, e a sua integragao como uma discipliha escolar, acessfvel a maioria da populagao, facto que se verificara segundo ritmos e orientagoes distintas por toda a Europa e por todo o Ocidente, desde os infcios do seculo XIX, e o momento em que se estruturam os poderes proprios da sociedade democratica de que o Estado-nagao e uma instituigao fundamental e o cidadao uma nogao revestida de uma responsabilidade outra. E nos interstfcios de uma sociedade na qual a tecnica e a inteligencia se sobrepoem, com lentidao, aos valores do nascimento e de prerrogativas anacronicas, que a educagao dos mais jovens assenta, tambem, com. particular preocupagao, na formagao do caracter e da vontade, atraves do corpo e do exercicio fisico, isto e, de uma actividade moderada e regular devidamente orientada. O olhar distanciado, que as ciencias procuram, sugere as linhas de poder que a palavra de Foucault revela, o alargamento das redes de interdependencia e de as configuragoes esbogadas entre os grupos socials que Elias explica, os confrontos entre os defeitos incrustados no corpo social e os excesses incontidos que essa mesma realidade apresenta, as necessidades e as expectativas que o estudo de Crespo desenterra ao expor as texturas multiplas e as tensoes da sociedade portuguesa, os limitados centres e as infindaveis periferias onde se jogam os poderes e as politicas de que nos elucida Hobsbawm, avangam em sentido diverso das festas e das formas de subversao em que a comunidade de Thorndike se revigorava e em que Bakhtin atenta.

Os termos da racionalizagao entendida como necessaria, face aos valores do desenvolvirnento e do progresso, indicam a verticalizagao dos corpos, a higienizagao dos habitos publicos e privados, a normalizagao dos comportamentos. No caudal de problemas, de propostas e de iniciativas rasgadas por entre quotidianos que se procuram distintos, as tecnicas, os metodos, as explicagoes inspiradas e legitimadas no processo cientifico, irrompem pelo seculo XIX como uma das solugoes que, no quadro educative, poderiam contribuir para uma transformagao desejada. Demarcar campos de intervengao, valorizar orientagoes precisas e marginalizar correntes demasiado proximas de satisfagoes imediatas, luxuriantes e inibriadoras, constituiu uma das tarefas a que se langaram alguns. O empreendimento individual inscrevia-se nas formas de comportamento a que se aspirava. Amoros, como Demeny, como tantos outros, personificavam o indivfduo que nao sogobra, que enfrenta os obstaculos e concretiza, justamente pela acgao persistente e altruista, as atitudes de uma outra nobreza em formagao. O corpo, vigoroso, altivo, autonomo, e o primeiro sinal de um mundo em estruturagao. A imagem de elegancia, de sobriedade, de comedimento, de perfeito auto-domfnio. A correcgao das indumentarias escuras, das camisas e dos colarinhos brancos, do movimento adequado e das capacidades que se desenvolvem pela vontade, pela regularidade, pela repetigao e pelo exercicio, pelo ensaio e pelo erro, a imagem de eficiencia acompanha cada corrente. Nao pelo visivel ou, sequer, pelo visual. Mas pelo que transmite dentro do sentido yisado - um ser humano complete, em condigoes de fazerface a uma sociedade mais exigente, mais complexa e diffcil mas, tambem, desejava-se, menos desigual. Aos desdobramentos desgarrados de contorcionismos inuteis, opoe-se a ideia mestra da utilidade, da justeza, do servigo. Na verdade, numa sociedade outra, onde o colorido da corte, o evenemenfaristocratico e circular, os minuetes e as contra-dangas, a esgrima de efeito e as exibigoes de alta escola onde o carroussel distinguia cavalos e cavaleiros, nao sao exclufdos, que a arte e como o ar, indispensavel, mas restringem-se, progressivamente, a cerimoniais de familia, memoria do que tende a extinguir-se. E a arte, ha que a buscar. Como Barthes assinala, o sentido passa, como um discurso, um texto, por entre os indivfduos e as imagens que os olhares percebem. Nesta perspectiva, outros individuos, outras praticas, outros discursos, animam os comportamentos tendo em vista garantir, acima de tudo, que algo, de importan-

te, de extraordinario, de tao essencial, se preserve. E esta e uma area de todos, nao de alguns. A obra de Carmen Lucia Scares, feita de exigencia e de rigor, conduznos a um universe de possfveis em confronto, de alternativas que se jogam por entre situagoes e poderes diversos. No fulcra das tensoes que se manifestam, o corpo e o territorio das forgas de uns e de outros, os interesses e as necessidades de uma sociedade em mudanga, as fraquezas que se desejava transformar em acgao verdadeiramente social e util. Em particular, a proposta edificada por Amoros, primeiro autor de uma ficha de avaliagao destinada a que proprios jovens procedessem a analise das suas capacidades e avangos bem como as dos seus colegas, elemento decisive do trabalho realizado e instrumento de medida fundamental na afirmagao do valor do exercicio ffsico. Ou a orientagao de Demeny, apurada segundo princfpios seguros mas nao suficientes entre outros interesses que se esbogam. No trabalho de Carmen Lucia Soares, as imagens animam-se de sentido, seguidas por um texto denso, salpicado de notas preciosas feitas de dados reunidos com extreme cuidado. Por este texto, porem, avangamos sem cansago. O interesse que desperta em cada linha prende-nos do principle ao fim. Como se de uma viagem se tratasse, por um pais repleto de aspectos interessantes disposto a ser explorado com gosto por especialistas, iniciados ou simples curiosos. Na verdade, a viagem realizada suscita a vontade de prosseguir, de continuar na senda das propostas e das linhas avangadas. A par da riqueza de informagao prestada, assente na consulta das fontes originals, na integragao dos conhecimentos feita de compreensao dos problemas, na utilizagao segura da literatura da epoca como um outro elemento propicio ao entendimento, a curiosidade desperta representa uma qualidade pouco frequente entre multiples escritos produzidos pelos especialistas. Esta e uma caracteristica da autora que nao se subordina aos modelos rigidos da escrita cientifica americana e eleva a um outro nivel o trabalho apresentado. De facto, a natureza do tema apela, precisamente, a essa forma: feita de sensibilidade e de autenticidade. Lisboa, 23 de Janeiro de 2002 M. HasseProfessors associada agregada da Universidade Tecnica de Lisboa, Faculdade de Motriddade Humana

PREFACIO

O que se ve quando se olha um texto, quando se olha uma imagem? O olhar comega a ler o texto, o olhar comega a ver a imagem, o texto diz, a imagem mostra. O texto principia a conduzir o olhar em seu trajeto da esquerda para a direita, em seu grafismo ordenado, em suas linhas horizontals que comegam a completar paginas. Um texto revela-se pouco a pouco, acumulando sentidos trazidos pelas palavras, pela sintaxe. A forma texto e tambem a forma de pensar o que o texto diz. Os significados das palavras sao tambem os significados de como elas se mostram. Entao tambem se ve um texto. Um texto e uma imagem. A imagem - uma gravura, uma pintura, uma fotografia - revela-se de uma so vez. Permite que o olhar, delimitado somente pelas bordas, comece a vela a partir de qualquer ponto, vagueie por ela em diferentes diregoes, permanega onde quiser, imagine. A forma imagem, com suas linhas, superficies, perspectivas, manchas, e tambem a forma de pensar o que a imagem mostra. Os significados das imagens sao tambem os significados de como elas se mostram. E ai as imagens tornam-se signos. Entao, tambem se le uma imagem. Uma imagem e um texto. Por convengao os textos sao impressos em caracteres escuros sob fundo claro. Apesar de virem de regioes obscuras da sociedade dos homens, as palavras fixam-se no papel, escuras em fundos claros, neutros, como se quisessem esquecer sua origem complexa, amblgua, perigosa, para exibirem-se como limpas, nitidas, claras. E assim deve ser o orador, o cientista, o escritor

C A P I T U L Oacademico. Limpo, claro, nitido. E tambem a escola, a educagao do corpo, a ginastica. Certa vez, convencionou-se tambem que a arte verdadeira deveria ser suj'a, escura, obscura, como se ela nao quisesse expor sua face solar, clara, positiva. E assim deveria ser o artista. Sujo, obscuro, problematico. E tambem a rua, o funambulo, o trabalhador das minas, o circo. O exagero destas duas afirmagoes leva-nos a afirmar que devenamos buscar uma opiniao media. Nao. Para que algo significative seja revelado, as coisas devem ser misturadas, colocadas em tensao. Buscar sentidos na aproximagao problematica de linguagens diferentes. Tradugao. Traduzir de uma linguagem para outra para que algo de verdadeiro e inesperado surja ora do texto, ora da imagem e ai achar trechos da historia que ficaram perdidos e obscurecidos pela historia oficial. Tradugao tambem da imaginagao, do desejo e da historia do pesquisador, dos trechos perdidos e obscurecidos pela sua historia oficial. Como se uma pesquisa pudesse ser ao mesmo tempo uma historia pessoal profundamente social. As palavras que voce vai ler e as imagens que voce vai ver querem ser lidas e vistas juntas e separadas. Juntas para que o leitor ganhe a imaginable que Ihe falta e a imagem ganhe a estabilidade de que carece. Separadas para que cada uma conte a sua historia. Juntas-separadas para que o leitor construa outra historia e imagine novamente este pequeno momento do seculo XIX. Isto quer dizer tambem que as imagens neste livro nao querem ser meras ilustragoes do texto, nem o texto explicar a imagem. Que o leitor passeie por elas imaginando outros significados e acrescentando explicates verdadeiras aquelas que o autor explica. Pode se contar a mesma historia tantas vezes quantos escritores quiserem faze-lo. Escrever e urn exercicio de liberdade, nao de submissao. Nenhum metodo pode ter a pretensao de aprisionar a verdade, e acreditar nos autores e um exercicio politico dos leitores.

U M

As IMAGENS

Milton Jose de AlmeidaProfessor doutor da Faculdade de Educagao da UNI CAMP e coordenador do Laboratorio de Estudos Audiovisuais - OLHO

Fig. I

Giandomenico Tiepolo, Polichinelos e saltimbancos (ou O barraco dos saltimbancos), por volta de 1793

Fig. 2

Georges Seurat, O c/rco, 189 I

Fig. 4

Jeronimus Bosch, A tentagao de santo Antonio (detaihe), por volta de 1500-1510

Fig. 3

Amoros conduzindo uma aula, 1820

Fig. 6

Ginasio ao ar livre, 1840

Fig. 5

Francisco de Goya, A famflia de Carlos /I/ 1800-1801

Fig. 7

Exercido no portico, I 836

Fig. I I Pieter Bruegel, O combate do carnaval e da quaresma, 1559

Fig. 8

Toulouse-Lautrec, No Oreo Fernando: a amazona, I 888

Fig. 12 O manejo de armas

Fig. 9

Edgar Degas, Mademoiselle Lala no Oreo Fernando, I 879

Fig. 10 Pierre-Auguste Renoir, O down no c/rco, 1868

Fig. 13 Pieter Bruegel, Jogos infantis, 1560

Fig. 17 Fig. 15 Francisco de Goya, Os pequenos gigantes, 1791-1792 Fig. 14 Francisco de Goya, O boneco de pa/ha, 1791-1792

Pieter Bruegel, A danca dos camponeses, por volta de I 568

I

Fig. 16 Francisco de Goya, Garotos brincando de so/dados, por volta de 1777-1785

mmFig. 18 Pieter Bruegel, Danga nupcial ao ar llvre, 1556

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Fig. 20 Jogos, s.d. Fig. 19 Francisco de Goya, O enterro da sardinha, I 8 1 2 - 1 8 19

frFig. 22 yo^o com oo/a, 1880(?)-1 899

Fig. 21 Van Gogh, O tece/ao, 1884

Fig. 23 yo,?o com Z>o/a, 1880(?)-1899

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IFig. 25 Michelangelo, Cape/a Sistina, Roma (detaihe)

Fig. 24 /4 cfeA7?a e o //come, tapegaria (detaihe), fins do seculo XV

Fig. 26 Henry Perlee Parker, O descanso dos mineiros: o jogo, 1836

C A P I T U L OIK HATAIM.ON S4

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,6*,., ;OCORPOADESTRADO 137

sido criados. Era o laboratorio de Joinville, o laboratorio de Marey, as colaboragoes com o Ministerio da Instrugao Publica, onde se podiam aplicaros resultados das pesquisas. Mas, conforme suas palavras, De repente e quando estes meios ja vinham dando resultados, foram subitamente suprimidos e das maos do inventor fizeram passa-los para as maos de inexperientes; e assim ficou perdida toda uma grande soma de dinheiro dispendida nestas instalagoes. A tecnica experimental que tantas e tao cabais provas ja havia dado foi condenada, sem exame e sem competencia, dizendo-se: "Nao temos necessidade de tudo isto, a verdade esta em Estocolmo!" O espfrito cientffico sera incompativel com o espirito militar? Nao o cremos; todavia, esta maneira de agir podia-nos fazer supor, pelo menos no presente caso106. Diante deste reves, desiludido, Demeny deseja que a ciencia e a educagao fiquem fora de influencias polfticas. Suas convicgoes positivistas o fazem crer que isto fosse possfvel e necessario para que a marcha do progresso nao fosse retardada. Que a incompreensao de um ministro que substitufsse outro nao rompesse com a evolugao do conhecimento, privando um pesquisador de seus meios de pesquisar. A ciencia, para ele, esta acima das paixoes humanas e deve sempre ser preservada destes sentimentos. Suas desilusoes, portanto, localizam-se nos homens. Desse modo, a sua crenga na ciencia em nenhum momento e abalada. Demeny tern a certeza de que, em um future, quando a sociedade inteirafor regida por leis criadas pela ciencia, ou seja, quando a sociedade inteira estiver na fase cientifica/positiva, suas pesquisas triunfarao. Assim, tem a convicgao de que suas pesquisas cientificas sobre a educagao f(sica sao propostas do futuro. Nem construfdas ao acaso, nem amontoado de palavras, seus resultados, pelo contrario, sao obtidos pelo rigoroso controle experimental, que nao e intangfvel, mas evolui continuamente. Busca um grau maiorde perfeigao e combate os espfritos ceticos. Como um missionario da nova "religiao do progresso", suas ideias nao poderiam ser mais claras. Elas estao em sintonia com um mundo mais urbano que se afirma. A cidade e pois o cenario que decide os atos da vida de indivfduos e sociedade. Acumula pessoas e Husoes. Expoe, de modo inequfvoco, a exclusao social e a Fig. 60 - O uso da forga nos trabalhos. 106. Cf. Demeny, 1924, p. 518.

138 IMAGENS DA EPUCACAO NO CORPO

miseria decorrente. Os seres urbanos, esses novos barbaros, precisam, portanto, sereducados. Devem tornar-se autodisciplinados, decididos. Ser o senhor de seus gestos e condigao indispensavel para a vida urbana e veloz que se afirma. De certo modo, a educagao fisica matiza com tons mais quentes este novo olhar sobre individuo e sociedade. Mostra-se como modelo cientifico e tecnico, capaz de potencializar recursos e energias fisicas. Fornece algumas das muitas respostas e solugoes buscadas por uma burguesia avida por compreender, cada vez mais, o uso das forgas da natureza, das forcas humanas e assegurar o progresso a que tao triunfalmente dera inicio. Quando Demeny afirma que o trabalhador deve ser pensado como um "capital de energia" e que cabe a educagao fisica contribuir decisivamente na formagao deste capital107, e possivel vislumbrar, mais claramente, o lugar desta educagao fisica. Demeny, com suas pesquisas experimentais sobre o movimento humano, mesmo quando e contestado, apenas confirma o lugar ja assegurado da educagao fisica na sociedade. Sobretudo de uma educagao fisica que se apresentava com finalidade muito precisa: ensinar os indivfduos a adquirir forgas, a adquirir tambem uma destreza geral que favorece nao so o manejo de instrumentos no mundo do trabaIho, mas tambem melhora a utilizagao das forgas fisicas e morals. A energia, "moeda do universe", nao podia ser desperdigada. Aprender a sua utilizagao com o corpo e no corpo era tornar-se senhor de seu gasto.

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