SOBRE A DESOOBERTA DE MIOOÉNICO N A REGIÃO DE OOIN A

(PENÍNSULA DE SETÚBAL)

POR

A. M. GALOPIM DE CARVALHO, A. SERRALHEIRO

& V. BOTELHO PEREIRA

RÉSUMÊ

Un petit affleurement fossilifere, miocene, vient d'être localité à 600 m à l'Est de Coi na (péninsule de Setúbal) au milieu des sables blancs plio­-pléistocenes. 11 s'agit d'une couche de gres fin, marneux, abondamment f,ossilifere (moules internes et externes de gastropodes et de lamellibran­ches). Sa mise à découvert a été due à l'érosion d'un petit vallon confluent de la riviere de Coina qui ravine les sables blancs jusqu'ausubstratum antépliocene.

Au point de vue sédimentologique, le dépôt ressemble aux autres formations mi'ocenes de la péninsule de Setúbal; la paléontologie confirme cette datation.

INTRODUÇÃO

No decurso dos trabalhos de prospecção e estudo de areias brancas, siliciosas, na península de Setúbal, levados a efeito pelo Serviço de Fomento Mineiro, foi localizado, por dois de nós (G. C. e V. B. P.), em Coina, um pequeno afloramento de rocha sedimentar arenítica, de grão muito fino , abundantemente fossi­lífera.

O aspecto desta formação, bem como as características sedi­mentológicas permitem supor que, se trata de depósito miocénico.

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Posteriormente, de colaboração com' A. S. efectuou-se, no local, vasta colheita de fósseis, sobretudo moluscos, cujo estudo preli'minar, realizado por este último, permitiu confirmar a idade miocénica do jazigo.

O estudo pormenorizado désta fauna constitui tarefa a cargo de A. S. e que este apresentará oportunamente.

Na presente nota, apenas se pretende dar notícia do facto, docurnentando-o dos pontos de vista sedimentológico e paleon­tológico, suficientes para o estahelecimento da idade da formação.

DESCRIÇÃO DO AFLORAMENTO E LOCALIZAÇÃO

Trata-se de pequeno afloramento, visível apenas numa exten­são de cerca de 10 a 15 metros, na linha de água que, vinda de SE, conflui na ribeira de Coina, imediatamente a norte da povoação do mesmo nome.

Fig. 1 - Localização do .dloramento fossilífero, miocénico (F).

Situa-se a cerca de 600 ma leste de Coina, no local onde esta linha de água se cruza com a estrada que, da povoação, se dirige para leste, por Barra Cheia.

É, apenas, no talude do lado norte (margem direita), cortado pelo encaixe daquele valeiro, que se pode observar uma bancada de arenito muito fino, acastanhado a' amarelado, margoso, muito rÍço __ de fósseis.' -

Trata-se,'soibretudo,. de moldes internos e externos de molusc

cos (gastrópodes e lamelibrânquios), separados por vazios corres­pondentes às valvas respectivas, cuja calcite foi, na maioria dos casos, dissolvida.

A espessura da bancada fossilífera não excede um metro e conesponde, pràticamente, ao talude -do valeiro. A vertente oposta, assimétrica, apresenta desnível 'muito maior, (cerca de 10 m, no local) onde apenas se observam areias brancas (areias de Coina).

A estrutura das formações é difícil de observar dada a natu­reza destas, essencialmente arenitos, às vezes, muito pouco conso­lidados e, em grande parte. também, cobertos por areias móveis de cobertura, fluviais ou eólicas, muito recentes. Assim, é difícil decidir se o a:floramento fossilífero se deve a uma deslocação por fractura, relativamente aos depósitos superiores, ou se a simples irregularidade do relevo do substrato 'miocénico (<fossi­lizado pelas areias brancas, plio-plistocénicas) posto a descoherto pelo encaixe da rede fluvial actual. Em todo o caso, cremos ser a última hipótese a mais provável, independentemente das rela­ções tectónicas que possam existir entre as formações do substrato antepliocénico .

. GARACTERÍST,IGAS SEDIMENTOLÕGICAS DO DEPÓSITO

- Composição fu~damental:

- fracção arenosa ....................... 58,7 % - fracção silto-argilosa ................. 14,8 ro - fracção cárbonatada .................. 26,5 ro

- Granulometria:

Md0=3,7 QD0=O,3 Skq0=O,O

Md=O,08 mm 50 = 1,3 Hé _ .0,3

- Mineralogia da fracção leve e morfoscopia dos grãos de quartzo - O quartzo, representado' por grãos rolados e sub-rola­dos, brilhantes, predomina sobre as micas, nas fracções superiores

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a 0,5 mm de diâmetro. Nas inferiores, ao contrário, abundam as micas: muscovite e biotite parcialmente alterada. O feldspato é escasso.

- Mineralogia da fracção pesada - dos mais abundantes aos mais raros, estão representados:

-hiotite - turmalina - andaluzite - silima,nite - zircão - estaurolite

- Mineralogia da fracção argilosa ----4 por ordem decrescente da percentagem; o difractograma de raios X revela a presença de:

, - ilite (e/ou micas) - montmorilonite - caulinite

,Tal conjunto de características sedimentológicas afasta ime­diatamente a ideia de considerar a formação em causa como pliocénica, idade a,tribuída em glO'bo aos terrenos desta zona, no mapa geológico na escala de 1/50000 - folhas de Lisboa e de Setúbal. Por outro lado, estas mesmas características integram-se completamente nas que apontámos, no geral, para as formações do Miocénico da península de Setúbal (GALOPIM DE CARVALHO,

1969).

PALEONTOLOGIA

Os peledpodes e gastrópodes são abundantes e correspondem a muitas formas. E raro, po.cém, encontrar bons exemplares e, mesmo -estes, correspondem, a moldes internos e externos; excep­tuam-se os ostveídeos, os quais estão representados pelas próprias valvas.

__ I <:L

Satisfazendo o intuito da presente nota, pareceu-1los suficiente destacar do conjunto de formas fósseis, os Turritelídeos.

As espécies e variedades identificadas são:

- Prato roti/era Lk. ----; Prato roti/era Lk. var. costai D. C. & G. ----; Turritella aquitanensis TOURN.

Basta este conjunto, típico do Miocénico dos arredores de Lisboa e da península de Setúbal, para que, de momento, acei­temos como miocénico o pequeno afloramento de Coina.

Facto digno de registo, é o da existência de Vermetus e de Balanus, muito bem conservados, incrustados nos moldes de molus­cos referidos. Isto indica que, pelo menos no local, o substrato miooénico, litificado e após a dissolução da calcite dos fósseis, foi arrasado e invadido pelo mar, em período anterior à depo­sição das areias brancas da Coina. Tal facto deve coincidir com a transgressão do Pliocénico inferior, tão bem documentada na região.

CONCLUSÕES

o pequeno afloramento fossilífero, agora localizado cerca de 600 m a leste de Coina (península de Setúbal), corresponde a um depósito detrítico, fino, margoso e muito rico, sobretudo, de impressões de moluscos (moldes internos e externos de gastró­podes e de lamelibrânquios).

Este depósito aflora devido ao encaixe de pequeno curso de água, afluente da ribeira de Coina; é, apenas, observável numa pequena extensão (10 a 15 m).

,Do ponto de vista sedimentológico, a referida formação asse­melha-se, de modo geral, a outras, de idade miocénica, da penín­sula de Setúbal.

O estudo sumário dos fósseis de Turritelídeos ali recolhidos, confirma esta hipótese.

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BIBLIOGRAFIA

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CHOFFAT, P. - ;Essai sur la tectonique de la chaine de l'Arrábida. Mem. Com. Serv. Geoi. Portligal, Lisboa, 1908.

GALOPIM DE CARVALHO, ·A. M. -- 'Gontribuição para o conhecimento geo­lógico da bacia terciária do Tejo. Mem. Servo Geol. Portugal, n ü 15 (no.va série), Lisboa, 1969.

ZBYSZEWSKI, G . - L' Aquitanien supérieur de Lisbonne et du Ribatejo. Com. Servo Geol. p Ol·tugal, voL 3'5, pp. 99-149, Lisboa, 1954.

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ZBYSZEWSKI, G. - Notícia explicativa da folha 4 - Lisboa - da Carta g,eológica de Portugal na escala de 1/ 50000. Servo Geol. Portllgal. Lisb:J'a, 1963.

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A. M. G. DE CARVALHO , A. :::iERRALHEIRO & V. b. t'EREIR A - ~obre

a descoberta de Miocénico na região de Coina

Afloramento do miocénico fossilítero , situado cerca de 600 m a leste de Coina.

Pormeno r da bancada fossilífera.

t:sT. I

A. M. G. DE CARVALHO, A. SERRALHEIRO O: \. Jj . .PEREIRA - Sobre a descobtrta de Miocénico ?la região de Coina

EST. II

Figuras:

ESTAMPA II

1 e 4 - Pro to rotifera LK. contramoldes de plasticina.

2, 3 e 5 a 8 - Proto rotitera LK. var. costai D. C. & G. 2, 7 e 8 - moldes externos 3 - contramolde de plasticina do exemplar n." 2

5 e 6 - moldes int.ernos

9 a 14 - TlIrritelia aquital1el1sis TOURN.

9 a 12 - moldes ext!:rnos 13 e 14 - contramoldes de plasticina