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Sobre livros e dedicatórias: D. João e a Casa Literária do Arco do Cego (1799-1801) 1 On books and dedications: D. John and the Casa Literária do Arco do Cego (1799-1801) Claudio DeNipoti 2 [email protected] Magnus Roberto de Mello Pereira 3 [email protected] 1 O presente artigo e resultado de pesquisas financiadas pelo CNPq e pela Fundação Araucária. 2 Professor do Departamento de História da Universidade Estadual de Ponta Grossa. Integrante do CEDOPE – Centro de Documentação e Pesquisa de História dos Domínios Portugueses (UFPR). 3 Professor do Departamento de História da Universidade Federal do Paraná. Integrante do CEDOPE – Cen- tro de Documentação e Pesquisa de História dos Domínios Portugueses (UFPR). História Unisinos 17(3):257-271, Setembro/Dezembro 2013 © 2013 by Unisinos – doi: 10.4013/htu.2013.173.06 Resumo: Este trabalho busca compreender a importância dada à escrita e aos seus suportes no Antigo Regime português (em especial no século XVIII) em torno das abordagens da história da palavra impressa. A especificidade deste estudo está na escolha do corpo documental no qual se baseia: as dedicações encontradas na abertura das obras impressas na Typografia do Arco do Cego. A análise desses pequenos textos dá a perceber muito da cultura política do século XVIII português, abrindo algumas perspectivas para se pensar a aparentemente contraditória relação entre construção do Estado moderno e redes clientelares de dádivas e mercês. Palavras-chave: história do livro e da leitura, dedicatórias, Arco do Cego, D. Rodrigo de Souza Coutinho. Abstract: is article tries to understand the importance given to writing and its media during the Portuguese Ancien Régime (particularly the 18 th century) and to grasp the ways in which writing changed social interactions, ways of thinking and power relation- ships. e specific approach of this study lies in the choice of source documents: the dedications found on the first pages of the books published at the Arco do Cego print shop. e analysis of these texts allows us to perceive quite a lot about the Portuguese political culture in the 18 th century, opening up possibilities to understand the apparently contradictory relationship between the construction of the modern state and the client networks based on gift and favor. Key words: book history, reading history, dedications, Arco do Cego, D. Rodrigo de Souza Coutinho.

Sobre Livros e Dedicatórias

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  • Sobre livros e dedicatrias: D. Joo e a Casa Literria do Arco do Cego (1799-1801)1

    On books and dedications: D. John and the Casa Literria do Arco do Cego (1799-1801)

    Claudio [email protected]

    Magnus Roberto de Mello [email protected]

    1 O presente artigo e resultado de pesquisas nanciadas pelo CNPq e pela Fundao Araucria.2 Professor do Departamento de Histria da Universidade Estadual de Ponta Grossa. Integrante do CEDOPE Centro de Documentao e Pesquisa de Histria dos Domnios Portugueses (UFPR).3 Professor do Departamento de Histria da Universidade Federal do Paran. Integrante do CEDOPE Cen-tro de Documentao e Pesquisa de Histria dos Domnios Portugueses (UFPR).

    Histria Unisinos17(3):257-271, Setembro/Dezembro 2013 2013 by Unisinos doi: 10.4013/htu.2013.173.06

    Resumo: Este trabalho busca compreender a importncia dada escrita e aos seus suportes no Antigo Regime portugus (em especial no sculo XVIII) em torno das abordagens da histria da palavra impressa. A especificidade deste estudo est na escolha do corpo documental no qual se baseia: as dedicaes encontradas na abertura das obras impressas na Typografia do Arco do Cego. A anlise desses pequenos textos d a perceber muito da cultura poltica do sculo XVIII portugus, abrindo algumas perspectivas para se pensar a aparentemente contraditria relao entre construo do Estado moderno e redes clientelares de ddivas e mercs.

    Palavras-chave: histria do livro e da leitura, dedicatrias, Arco do Cego, D. Rodrigo de Souza Coutinho.

    Abstract: Th is article tries to understand the importance given to writing and its media during the Portuguese Ancien Rgime (particularly the 18th century) and to grasp the ways in which writing changed social interactions, ways of thinking and power relation-ships. Th e specifi c approach of this study lies in the choice of source documents: the dedications found on the fi rst pages of the books published at the Arco do Cego print shop. Th e analysis of these texts allows us to perceive quite a lot about the Portuguese political culture in the 18th century, opening up possibilities to understand the apparently contradictory relationship between the construction of the modern state and the client networks based on gift and favor.

    Key words: book history, reading history, dedications, Arco do Cego, D. Rodrigo de Souza Coutinho.

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    Claudio DeNipoti, Magnus Roberto de Mello Pereira

    Vol. 17 N 3 - setembro/dezembro de 2013

    A Casa Literria do Arco do Cego foi fundada em 1799 e existiu at 1801. A sua criao envolveu alguns nomes emblemticos do ltimo perodo da ilustrao portuguesa, em especial D. Rodrigo de Souza Coutinho (1745-1812), idealizador do projeto, e frei Mariano da Conceio Veloso (1742-1811), diretor da instituio em seus trs anos de existncia. Agindo em nome do prncipe regente D. Joo, eles imprimiram gesto poltica da casa editorial caractersticas tpicas do Antigo Regime Portu-gus. O empreendimento j foi bastante explorado pela historiografi a contempornea, tanto na vertente da histria do livro e da leitura, quanto da histria poltica e da histria das ideias. Em Portugal, Curto (1999), Faria (1999) Nunes e Brigola (1999) so os principais autores a tomarem os livros produzidos no Arco do Cego por objeto de seus estudos. Kury (2004), Wegner (2004) e Boschi (2006) buscaram entender tais obras em sua condio de produto de um em-preendimento cientfi co colonial. Outros autores, como, por exemplo, Cruz (2002) e Pereira (2002, 2006), estudaram-nas tendo em vista a atuao, no contexto cientfi co portugus, dos luso-brasileiros envolvidos no projeto.

    O presente estudo no pretende acompanhar a trajetria do empreendimento editorial, nem abordar o conjunto de livros produzidos, nem sequer a distribuio dos mesmos. O corpus documental abordado neste trabalho prende-se a um simples detalhe na composio dos livros editados no Arco do Cego: as dedicatrias presentes na abertura das obras.

    Apesar de se apresentarem como um mero de-talhe, as dedicatrias acabam por dizer muito sobre a cultura poltica do ambiente em que foram produzidas. Nessa perspectiva, interessa apontar algumas caracters-ticas fundamentais do projeto poltico de D. Rodrigo de Souza Coutinho, gestor e mentor do Arco do Cego. Primeiramente, necessrio ter em mente que este pro-jeto baseava-se em duas perspectivas polticas, que hoje tendemos a ver como contraditrias, mas que na poca eram perfeitamente operacionais e compatveis.

    A oposio entre uma maneira de conceber a poltica fundada na reforma do aparelho de Estado, no dom-nio fi scal, militar ou da administrao da justia, e uma outra, baseada em ddivas liberais, mercs e na formao de laos pessoais ou clientelares tinha as suas razes bem localizadas numa cultura poltica de Antigo Regime (Curto, 1999 p. 32).

    D. Rodrigo de Souza Coutinho, o primeiro Con-de de Linhares, era afi lhado do Marqus de Pombal e,

    aps a morte de Martinho de Mello e Castro, sucedeu-o assumindo a Secretaria da Marinha e Ultramar. A traje-tria poltica de Souza Coutinho mais uma evidencia a contrariar a noo corrente que v o governo de D. Maria como o momento de uma viradeira poltica. O que se observa atravs das aes do ministro do ultramar , de fato, a tentativa de dar continuidade ao projeto pombali-no de desenvolvimento cientfi co e industrial de Portugal. A forte infl uncia poltica de Souza Coutinho durante a regncia de D. Joo se expressa atravs das diretrizes que ele imprimiu ao seu amplo projeto de investigao cien-tfi ca, voltado especialmente para o universo das colnias.

    Entre a sua gesto na pasta da Marinha e do Ultramar e a de seu antecessor, Martinho de Mello e Castro, houve continuidades e descontinuidades. Uma das marcas da ao de Souza Coutinho foi a ampliao da nfase nas colnias. A atuao cientfi ca de Mello e Castro caracterizou-se por uma poltica de recolha de espcies zoolgicas e botnicas para o Jardim Botnico e Gabinete de Histria Natural da Ajuda. O auge do processo ocorreu ainda no reinado de D. Maria, com o envio de expedies fi losfi cas s colnias da Amrica e da frica. Com Souza Coutinho, ocorreriam certas mudanas. A recolha de espcimes cresceu, mas houve uma pulverizao de aes. Em vez de organizar viagens fi losfi cas integradas por naturalistas, desenhistas e jar-dineiros botnicos, o novo ministro preferiu comissionar diversos agentes da coroa para que cumprissem tarefas cientfi cas especfi cas. A mudana de maior vulto ocorreu, no entanto, em relao produo e divulgao do texto cientfi co. D. Rodrigo acreditava especialmente no poder da palavra impressa, e assim as memrias4 passaram a ocupar o centro das atenes.

    Com a publicao das Memrias Econmicas da Academia Real das Cincias de Lisboa, e mais ainda durante o consulado Souza Coutinho, o texto fi losfi co ganharia um outro estatuto. Embora desse continui-dade poltica de recolha e mesmo a ampliasse, o conde de Linhares era antes um vido colecionador de memrias do que de curiosidades naturais (Pereira, 2002, p. 39).

    O Conde de Linhares encontrou no frei Ma-riano da Conceio Veloso o parceiro ideal para a sua principal empreitada editorial, a qual era dedicada s colnias americanas. Frei Veloso era natural de Minas Gerais e tornou-se um importante naturalista, apesar de no ter frequentado a universidade. Ganhou prestgio no

    4 Jos Lus Cardoso fala mesmo na existncia de um movimento memorialista e projetista, caracterizado por realizar o inventrio e descrio de situaes econmicas e apresentao de propostas para sua mudana (Cardoso, 1989, p. 38).

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    meio cientfi co portugus por ter realizado um amplo levantamento da fl ora do Rio de Janeiro, por ordem do vice-rei D. Lus de Vasconcelos. Mudou-se para Lisboa, acompanhando o vice-rei, com o propsito de publicar a sua Flora Fluminensis. No entanto, desde 1792, o processo de editorao da obra se arrastava. Aps assumir a Secre-taria do Ultramar, Souza Coutinho deu ordens expressas para que fossem concedidos diversos apoios e facilidades ao naturalista (Borgmeier, 1961, p. 21). Mesmo assim, a publicao continuou paralisada. Foi neste perodo, no entanto, que Souza Coutinho e Veloso envolveram-se em uma parceria que, dois anos depois, iria desembocar na criao da tipografi a do Arco do Cego.

    Naquele exato momento, o principal interesse do conde de Linhares era a produo de salitre e de outros compostos que serviam de insumo fabricao de plvora, porcelana, txteis, etc. (Luna, 2009). Entre as primeiras obras traduzidas e organizadas por Veloso sob os auspcios do ministro estavam as que se dedicavam a mtodos de fazer salitre (Chaptal, 1798) e potassa (Veloso, 1798), de autoria do famoso qumico francs Chaptal e de Richard Watson, professor de qumica em Cambridge.

    Essas duas obras, que antecedem a criao fsica da tipografi a do Arco do Cego, j traziam em evidncia na portada indcios de que eram fruto da chancela da coroa. Ou seja, o empreendimento editorial iniciou antes mesmo da instalao da ofi cina de impresso na Quinta do Arco do Cego. O opsculo contendo o extrato da obra de Chaptal embora traduzido e impresso por ordem de Sua Magestade, no contava, todavia, com uma dedicatria. J

    a Alographia, que reunia excertos da obra de Watson e de outros qumicos, levava as marcas que iriam caracterizar uma parte expressiva dos livros produzidos no empre-endimento editorial comandado por Souza Coutinho e Conceio Veloso. Neste caso, a chancela deixava de ser a de Sua Magestade e passava a ser a de Sua Alteza Real o Prncipe do Brazil, ou seja, D. Joo. Alm disto, a obra principiava por um texto laudatrio que atribua ao prncipe a iniciativa da publicao, como pode ser visto na folha de rosto da Alographia (Figura 1).

    Ao mesmo tempo em que iniciava a parceria editorial com frei Veloso, D. Rodrigo inclua integrantes da intelectualidade luso-brasileira em seu projeto de pro-duo de salitre. Joo da Silva Feij foi encarregado de fazer experimentos sobre a produo artifi cial de salitre em Lisboa, juntamente com Conceio Veloso. No Brasil, foram mobilizados, dentre muitos outros, Joo Manso Pereira, em So Paulo, e Joaquim Veloso de Miranda, em Minas Gerais. Tinha incio, uma forma de agir que caracterizou o consulado de D. Rodrigo (Silva, 2006, vol. 2, p. 191). Tal modus operandi pautava-se pela preten-so de articular os interesses da corte com os das elites coloniais, incorporando membros da elite letrada brasileira em um projeto poltico conjunto de Imprio transatlntico, no qual a colnia teria papel crucial e ativo na superao do atraso portugus (Wegner, 2004, p. 132).

    Como parte deste projeto poltico, o acervo de obras produzidas no Arco do Cego (pouco mais de oitenta ttulos) pode ser entendido tanto como um elemento na construo de um Estado moderno de polticas pblicas,

    Figura 1. Frontispcio e incio da dedicatria da Alographia dos Alkalis Fixos.Figure 1. Front page and first part of the dedication of Alographia dos Alkalis Fixos.

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    quanto pode ser inserido no mbito do mecenato e do clientelismo do Antigo Regime. Clientelismo imperial, diga-se de passagem, uma vez que a casa editorial agre-gou, desde o seu incio, a intelectualidade luso-brasileira que vivia em Portugal, colocando-a na rbita de Souza Coutinho. Podemos considerar, portanto, que a produo literria do Arco do Cego, breve, mas intensa, foi um exemplo cabal do projeto poltico de Sousa Coutinho em seus diversos sentidos, inscrevendo-se, juntamente com outras instituies contemporneas como a Academia de Cincias (Curto, 1999, p. 48-49), em

    uma poltica colonial que, tanto no plano interno quanto no plano externo, realava o Brasil, sem esque-cer a ndia. E a produo tipogrfi ca de obras relativas Amrica Portuguesa [...] era um imperativo, num momento em que a prosperidade comercial da metrpole se lhe devia (Curto, 2007, p. 279).

    A principal caracterstica da linha editorial da Tipografi a do Arco do Cego era, portanto, estimular a produo e dar divulgao ao conhecimento cientfi co e tcnico que propiciasse o progresso econmico daquilo que, poca, se entendia por nao:

    A tentativa de constituio de uma massa slida de conhecimentos sobre a natureza brasileira, aliada a uma utilizao sistemtica de bibliografi a internacio-nal, fez parte das ambies dessa gerao de homens de cincia e foi acompanhada por mais trs caractersticas relevantes: a crtica do modelo portugus, a exaltao de outros sistemas de colonizao e a valorizao da experincia brasileira e tropical (Kury, 2004, p. 122).

    A recepo dessas obras, em Portugal e no Brasil, j foi objeto de outros estudos, assim como os pressupostos iluministas/utilitaristas que inspiraram tanto o empreendi-mento do Arco do Cego em si, quanto o projeto pombali-no maior, continuado por Linhares, no qual se integraram frei Veloso e outros ilustrados brasileiros. Como j dis-semos, interessa-nos aqui um outro aspecto desse corpus documental, que se insere na charneira entre as prticas de Antigo Regime e as do Iluminismo propriamente dito, qual seja, as dedicatrias e outros textos laudatrios que abrem a maior parte das obras que compem o projeto editorial de D. Rodrigo de Souza Coutinho.

    O presente trabalho posiciona-se, portanto, no territrio da produo historiogrfi ca relativo ao estudo da histria da palavra impressa, que se ocupa das prticas de escrita e leitura, envolvendo a o mundo do livro em sua

    produo e consumo. Neste sentido, aproxima-se das tra-dies especfi cas da histria da leitura, como foi desenvol-vida principalmente por Chartier (1995, 2002) e Darnton (1986). As reconstrues feitas dentro desta abordagem tm privilegiado (ainda que no exclusivamente) estudos sobre as sociedades de Antigo Regime, entre os sculos XVI e XVIII. neste perodo que a palavra impressa passa a ter penetrao maior e mais marcada em relao a outras formas de transmisso de conhecimento. Assim, que se compreende a importncia que passa ser dada escrita e aos seus suportes, por parte das autoridades que buscavam regular os comportamentos e moldar as mentes atravs do papel pedaggico, aculturador e disciplinar atribudo aos textos em circulao para um corpo mais amplo de leitores (Chartier, 2002, p. 56). O empreendimento edi-torial criado pelo Conde de Linhares e conduzido por frei Veloso tinha essa exata feio pedaggica.

    Sobre dedicatrias

    Em conformidade com essas premissas de ordem terica, a abordagem desenvolvida no presente trabalho tem por objeto as dedicatrias das obras editadas no Arco do Cego bem como o prprio ato de dedicar livros. Estu-dos sistemticos sobre a dedicao de livros no Antigo Re-gime portugus ainda so pouco comuns. As dedicatrias, mais frequentemente, aparecem como questo secundria na abordagem de outros temas. Magnus Pereira, por exemplo, observou que entre as estratgias adotadas por Elias Alexandre da Silva Correia para tentar ascender na carreira militar estava a de dedicao de livros e manus-critos (Pereira, 2006). Este militar luso-brasileiro enviado a Angola era explcito em seus propsitos de adquirir no Servio Real o acesso dos postos, & estimao dos homens condecorados, & bem nascidos. Sua trajetria, no entanto, mostra que havia uma inverso de ordem em seu modus operandi. Ele foi um bajulador de homens bem nascidos, buscando-lhes a estimao, com vista ao acesso dos postos. A adulatio era, de fato, um padro corrente nas relaes patrono-cliente (Hespanha, 1993, p. 169). Em 1778, Silva Correia publicou em Lisboa um pequeno livro sobre as peripcias de sua travessia do Atlntico no navio Nossa Senhora da Ajuda (Silva Correia, 1778). O opsculo foi dedicado a Jos de Seabra da Silva, que, da condio de banido para a frica por Pombal, voltaria ao alto escalo do governo, tornando-se Ministro do Reino, em 1788. Silva Correia aproveitou para inserir no fi nal do livro tambm uma ode ao conselheiro Jos Mascarenhas Pacheco Pereira Coelho de Mello, criador da Academia Braslica dos Renascidos.5 A Histria de Angola, sua obra

    5 Silva Correia era publicamente um protegido do conselheiro. De fato, era seu lho bastardo (ver Castelo Branco, 1932, p. 118).

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    maior, permaneceu indita por mais de um sculo (Cor-ra, 1937). No entanto, o manuscrito inclua uma longa dedicatria ao Prncipe D. Joo. A seguir, apresentava coroa a cobrana pelos anos de sacrifcio em Angola. Os historiadores Th ornton & Miller, referindo-se a esta obra, disseram que o seu manuscrito deve, assim, num certo sentido, representar uma das mais longas e elaboradas peties ao favor real jamais dirigidas corte de Lisboa (Th ornton e Miller, 1990, p. 27).

    As dedicatrias de cada obra devem ser considera-das como parte integrante dos livros nos quais aparecem, ainda que por vezes elas tenham histrias prprias, como veremos. O exemplo acima fornece indcios que ajudam esclarecer alguns aspectos importantes do funcionamento dos sistemas de clientelismo de que participam. Dedicar signifi ca tambm designar ou nomear. Entre outros prop-sitos, o ato de dedicar pretende fazer com que a prpria obra ofertada, ao menos fi gurativamente, torne-se propriedade do patrono, permanecendo dele sem importar quem possua as cpias (Buchtel, 2004, p. 10). A dedicao tambm visava transformar o receptor (o rei ou um outro grande homem) em autor, sendo uma das formas de inscrever a relao cliente/patrono em uma afi rmao de soberania absoluta do prncipe, que possua no somente o que deu, mas tambm o que recebeu (Chartier, 1995, p. 37).

    Este aspecto se reveste de particular importncia em sociedades como a de Portugal do Antigo Regime, cujo funcionamento j foi defi nido como uma cadeia de mercs (Olival, 2001), na qual graas, ddivas, e dons no eram aes isoladas ou distores, mas atos que se inseriam em cadeias de obrigaes recprocas inerentes ao prprio funcionamento daquelas sociedades (Perei-ra, 2006, p. 111). No caso dos livros, como anotou Ana Delmas, A dedicatria impressa era personifi cao da troca de benefcios por prestgio e afi rmao de poder; manifestao textual dessa relao de interdependncia, da troca de poder simblico por privilgios com rendimentos materiais (Delmas, 2008, p. 37).

    Nessa sociedade de poderes simblicos, a economia dos privilgios encontrava-se de tal forma enraizada no ambiente de corte, que se tornou sua essncia. O sentido da vida de um privilegiado residia no prprio fato de haver recebido uma benesse, e sua perda signifi cava um esvaziamento de sua existncia. Grupos de letrados da corte comearam a questionar o prprio sistema, mas no foram capazes de se desligarem dessas engrenagens. A necessidade do prestgio e a facilidade de perd-lo arruinando-se, dessa forma, a existncia social e o prprio meio de vida eram elementos impulsiona-dores da manuteno desse esquema de privilgios (Delmas, 2008, p. 34).

    Alm disso e por causa disso as dedicatrias funcionavam tambm como um subterfgio sutil para evitar ou pressionar a censura, o que fazia com que, ao aceitar uma dedicao, a grande fi gura a quem o livro era destinado retribusse de imediato ao autor com uma merc: publicar com mais liberdade. Como alertou Negroni, ao aceitar o dom de um livro, reconhece-se implicitamente o valor [da obra] e recobre-se o autor e a obra com a proteo do destinatrio da dedicatria (Negroni, 1995, p. 58). Chartier, ao analisar exemplos franceses, chega a concluso semelhante.

    Para aqueles que escreviam e publicavam, a oferta de um livro a um prncipe era um ato sobre o qual toda a sua existncia podia depender. Ao aceitar ou recusar uma dedicao, o soberano achava-se na posio de dar ou no a legitimidade a um trabalho (ou a uma descoberta) (Chartier, 1995, p. 36).

    No caso das obras do Arco do Cego h uma pe-culiaridade a considerar. O ciclo da oferenda e da graa retributiva fechava-se nos prprios livros, ou pelo menos na maior parte deles. As obras estrangeiras traziam na portada Traduzido de ordem de Sua Alteza Real, o Prncipe Regente Nosso Senhor. No caso das redigidas em portugus constava Publicada debaixo dos auspcios e ordens de Sua Alteza Real. Por vezes aparecia uma autorizao mais simples e direta Por ordem Superior, indicando, nesse caso, que a publicao ocorrera pro-vavelmente por determinao de D. Rodrigo de Souza Coutinho. Em todos esses exemplos, o que estava sendo afi rmado que as obras em questo no haviam passado pela censura, j que publicadas sob a chancela direta ou indireta do Prncipe.

    Do ponto de vista literrio, a dedicatria era um estilo de retrica, ensinado e estudado nas universidades europeias, a partir da obra de Tomas de Aquino (mas no somente dela), e compunha-se de diversas partes preestabelecidas.

    Dividia-se em exrdio (em que se remetia a algo deleitvel, ilustre que fi zesse degrau ao argumento da obra); proposio (exposio dos motivos de se escrever a obra, o mtodo, utilidade, necessidade da mesma, que se expunha ao patrono eleito); confi rmao (mostra-se o quanto o autor deve ao patrono, mencionando o amor, a piedade e o obsquio para com ele, ou ainda o desejo de lhe ser grato, apregoando os seus merecimentos e louvores); e concluso (momento em que se recomenda a obra para ser defendida e livre dos maldizentes, e que com o patrocnio adquirido promete-se enviar ao patrono obras melhores, melhor trabalhadas e mais

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    dignas do esplendor do benfeitor). Uma parte fi nal, tambm chamada de resposta, deve compreender a gratido e os louvores tanto da obra dedicada quanto de quem a oferece, veementemente assinalados, para que continuem a servir utilidade pblica (Delmas, 2008, p. 99).

    As obras do Arco do Cego, no geral, obedeciam aproximadamente a esse esquema. Ocorriam algumas variaes, que eram antes no nvel dos detalhes e do or-denamento das partes componentes do que mudanas de fundo. Veja-se, por exemplo, a Figura 2 na qual aparece a Dedicatria includa na traduo, feita por Jos Ferreira da Silva, do livro sobre as propriedades da quina do padre Comparetti (1801).

    O que se observa, portanto, a utilizao de um estilo consagrado na retrica. O homenageado era alado condio de coautor, de maneira que as honras derivadas da obra dedicada fossem divididas entre patrono (ho-menageado) e cliente (autor da dedicatria), inserindo o livro nas cadeias de ddivas, to caractersticas do Antigo Regime. Isto ocorria tanto em Portugal, quanto no restante da Europa.

    No conjunto das obras publicadas no Arco do Cego, as dedicatrias impressas esto presentes em cerca de um tero delas (principalmente nas tradues do frei Veloso), e, invariavelmente, so dirigidas ao regente Dom Joo. Esses nmeros so condizentes com a proporo de dedicatrias e a escolha dos destinatrios encontradas em

    outras pesquisas do perodo. Em seu estudo sobre a Im-prensa Rgia, entre 1788 e 1800, Ana Delmas constatou que de 553 livros editados pela Imprensa Rgia, entre 1788 e 1800, 176 eram dedicados principalmente a D. Jos I, ao Marqus de Pombal e a D. Maria I (Delmas, 2008, p. 77-83).

    Interessam, nesta anlise, as recorrncias e peculia-ridades discursivas desses pequenos textos com relao ao universo aparentemente paradoxal das perspectivas polticas do fi nal do sculo XVIII e incio do XIX. Para fi ns compa-rativos, as dedicatrias foram divididas em dois grupos, os publicados nos prelos do Arco do Cego e aqueles mandados imprimir em outras tipografi as, ambos organizados a partir do catlogo do Arco do Cego, feito pela Biblioteca Nacional de Lisboa e pela Imprensa Nacional Casa da Moeda de Portugal (Campos, 1999, p. 10-13).

    No primeiro grupo, foram includas as oitenta e trs obras que, entre 1799 e 1801, mencionam na imprenta a Typografi a Chalcographica, Typoplastica, e Litteraria do Arco do Cego. Vinte e oito (33,7%) destes livros so pre-cedidos por dedicatrias impressas. Outras quatro obras podem ser includas por serem inteiramente dedicadas a D. Joo, dispensando a formalidade da dedicao. So elas o poema que Bocage escreve para o aniversrio de D. Joo (Bocage, 1801), a Ode ao feliz governo de S. Alteza Real o Principe Regente Nosso Senhor, de Jos de So Bernardino Botelho, a coletnea de poemas de diversos autores que o Intendente de Polcia Diogo Ignacio de Pina Manique ofereceu a D. Joo em 1801 com o ttulo Tributo de gratido

    Figura 2. Dedicatria feita pelo tradutor da obra: Observaes sobre a propriedade da Quina do Brasil.Figure 2. Dedication written by the translator of Observaes sobre a propriedade da Quina do Brasil.

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    Sobre livros e dedicatrias: D. Joo e a Casa Literria do Arco do Cego (1799-1801)

    que a patria consagra a Sua Alteza Real o Principe Regente Nosso Senhor e a cantata a trs vozes intitulada A vassala-gem: [...] A Lealdade, A Fortaleza, A Constancia; dedicada ao Feliz dia natalicio de SUA ALTEZA REAL o Principe Regente N.S. Pio, Augusto, Feliz, Pai da Patria.

    Estes indivduos, ao fazerem das dedicatrias moeda corrente da economia de ddivas, tornam vis-veis estas caractersticas das relaes sociais de Antigo Regime. Bocage (1765-1805), neste aspecto, exemplar, uma vez que seu Elogio... um agradecimento ao Conde de Linhares por t-lo acolhido em sua rede de cliente-lismo, imediatamente aps o perodo de priso que lhe foi imposto por Pina Manique e pela Inquisio. Anos depois, o polmico poeta tambm publicou homenagem a frei Veloso (Bocage, 1805). Jos de So Bernardino Botelho, por sua vez, com 59 anos poca da publicao do livro, era cnego da Baslica Patriarcal Santa Maria, Abade Reservatrio de Gondar (Camargo e Moraes, 1993, p.87), autor de diversas obras laudatrias seme-lhantes s do Arco do Cego, como os Sonhos poticos consagrados aos Faustos desponsrios do... D. Luis Ma-chado de Mendona... de 1802, ou a Profecia politica realizada no excellente Arthur Lord Wellington..., de 1811 e se encaixava melhor na imagem de homem do Antigo Regime que o poeta, tradutor de Rousseau e Voltaire, condenado por dissoluo dos costumes e ideias republicanas. Pina Manique, responsvel pela priso de Bocage, fora homem de confi ana do Marques de Pombal que conseguiu se manter nas boas graas de D. Maria e se tornar intendente de polcia, mostrando sua habilidade para circular nos meandros sociais da nobreza do Antigo Regime.

    Um segundo grupo, formado por 56 obras, foi elencado no levantamento feito pelos pesquisadores da Biblioteca Nacional de Lisboa e pela Imprensa Nacional Casa da Moeda para a exposio e livros que comemo-raram o bicentenrio do Arco do Cego. Esto includos a livros publicados em outras tipografi as portuguesas que se associam, de alguma forma, ao frei Veloso, a D. Rodrigo ou prpria ofi cina do Arco do Cego (Campos, 1999, p. 12). Quatorze (25%) desses livros tm dedicatrias impressas e fi zeram parte do presente estudo.

    Como visto anteriormente, fundamental a com-preenso de que, em uma sociedade clientelista como a de Portugal do Antigo Regime, a dedicao do livro a uma personalidade de importncia social permitia ao autor da obra compartilhar a autoria com a pessoa a quem o livro era dedicado, garantindo-lhe uma independncia relativa, fornecida pela proteo patriarcal.

    As noes at aqui desenvolvidas, sobre a dedicao das obras, parecem responder primeira questo suscitada pelo corpo documental. Por que, apesar de D. Rodrigo de Souza Coutinho ser o mentor da Casa Literria do Arco do Cego, os livros l produzidos eram dedicados exclusivamente a D. Joo? H uma nica obra dedicada ao Conde de Linhares6, e uma outra a frei Veloso7, mas ambas so antes dedicadas ao prncipe regente. Este virtual monoplio das dedicatrias sugere que Souza Coutinho era responsvel por uma diretriz, ou recomendao, de que somente o prncipe regente fosse alvo das dedicaes dos livros editados pelo empreendimento editorial.

    Quando comparadas, as dedicatrias a D. Joo demonstram uma caracterstica comum, o que diz respeito, provavelmente, s frmulas retricas consagradas, confor-me visto acima quanto ao modelo de Toms de Aquino. Todas abrem com a invocao SENHOR, destinada a D. Joo, e praticamente todas terminam apresentando o autor como seu vassalo, utilizando diversas combinaes das palavras fi el, humilde, obediente, respeitoso, enfatizando a ideia de redes de clientelismo das quais as dedicatrias participam, como no exemplo abaixo, escrito por Jos Agostinho de Macedo:

    SENHOR

    Desejando dar poesia hum emprego digno de seus sublimes voos, escolhi o Espectaculo que a Natureza off erece aos olhos de hum fi losofo; e desejando dar ao meu Poema, o mais Alto e digno Protector, escolhi a V. A. R. A Razo e a Justia applaudiro huma, e outra escolha. Guarde DEOS a V. A. R. como a Religio, e o Imprio ho mister, e deseja

    O mais fi el vassalo (Macedo, 1801).

    A dedicao das obras a D. Joo garantia legitimi-dade aos textos e proteo aos autores, que se esforavam para continuar merecendo esta proteo, pois sua insero na sociabilidade poltico-letrada do Antigo Regime era caracterizada por uma inter-relao entre os contatos pessoais e ocupaes de cargos ou funes poltico-ad-ministrativas, em um vnculo entre competncias tcnicas e relaes de confi ana (Wegner, 2004; Curto, 1999).

    Outra caracterstica comum s dedicatrias em anlise a atribuio, a D. Joo, de caracters-ticas que no correspondem, hoje, imagem dele perpetuada pela historiografia, principalmente a republicana. D. Joo descrito, principalmen-te no exrdio das dedicatrias, como benevolente,

    6 Feita por Pinto (1801).7 No poema de Jos Agostinho de Macedo, Contemplao da natureza (1801), situado depois da dedicatria a D. Joo e depois do prefcio do autor.

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    bondoso, clemente, benigno, paternal, provedor, afvel, amoroso, o melhor dos prncipes, grande Pai das famlias, promotor das cincias, protetor da agricultura e dos estudos, restaurador da marinha. Ele tambm alvo da gratido do povo, executor de um memorvel reinado (mesmo antes de sua me morrer e ele de fato tornar-se rei), o melhor dos prncipes, possuidor da confi ana dos sditos, dono de uma bondade augusta, entre outras atribuies. importante perceber essas qualifi caes como parte do formulrio clientelista, sendo comuns a outros textos de dedicao a outros reis, ou protetores nobres, mais do que representaes da personalidade de D. Joo segundo parmetros con-temporneos.

    No tocante autoria das dedicatrias, impor-tante notar que uma grande quantidade delas (12 nos livros publicados no Arco do Cego e sete no grupo de livros afi ns) foram assinadas pelos tradutores das obras, sendo que as originais foram ignoradas. As dedicatrias assinadas pelos prprios autores foram 12 nos livros do Arco do Cego e duas no segundo grupo de livros, com trs e duas dedicaes, respectivamente, feitas pelo editor da obra o frei Veloso.

    Frei Veloso, alis, predomina nesta categoria sendo autor de um total de 14 dedicatrias, como editor (5), autor (1) ou tradutor (8), no total de livros analisado aqui. Depois dele, os autores mais profcuos dos textos de dedi-cao como autores ou tradutores so Vicente Coelho Teles e Jos Feliciano Fernandes Pinheiro (que viria a ser o Visconde de So Leopoldo do Brasil Monrquico), com trs textos assinados por cada um deles.

    Ao analisarmos as dedicatrias, as contradies apontadas acima por Diogo Ramada Curto quanto co-existncia de quadros de pensamento do Antigo Regime e ideias iluministas fi cam mais explcitas. As alegaes quanto aos motivos so particularmente elucidativas. Ao justifi carem ao Regente, leitor privilegiado transformado em coautor, por que escreveram ou traduziram as obras, ou, principalmente, por que as dedicaram a D. Joo, os autores revelavam aspectos diversos dessas mesmas su-postas contradies.

    As justificativas que explicam as dedicatrias (contidas em sua proposio, para mantermos em mente as recomendaes do mtodo de retrica) reforam relaes pautadas pelo clientelismo do Antigo Regime. Neste sentido, Jos Agostinho de Macedo, na dedicatria transcrita acima, pretende dar um protetor ao poema que escreveu para D. Joo; Antonio Carlos Ribeiro de Andrade Machado da Silva buscou obter reconhecimento pela traduo que realizou de Robert Fulton, obra cuja publicao traria reconhecimento a D. Joo, devido a certas caractersticas de sua administrao, dentre as quais o estmulo verso de obras teis:

    Des que V.A.R. tomou a governana do Estado se tem esmerado em promover os melhoramentos, e invenes uteis, de que a incuria dos tempos tinha feito carecer Portugal; a posteridade, juiz frio e imparcial, no deixar de fazer apreo das intenes, e sabedoria das medidas de V.A.R., e fazer-lhes a devida justia. Entre estas medidas, meo ver, no he de pouca monta a or-dem de traduzir-se o Tratado de Roberto Fulton sobre os pequenos Canaes, passo, que reputo como degro para o ulterior estabelecimento de hum systema asizado de Canaes (Fulton, 1800).

    Na obra de Jos da Silva Lisboa consta uma dedica-tria feita em reconhecimento pelos benefcios recebidos, em virtude da liberalidade do Regente, alm do desejo de fazer ao Estado algum servio duravel e buscando contribuir de algum modo para extenso, e prosperida-de do Commercio Nacional (Lisboa, 1801). Na de Jos Joaquim Viegas Menezes, por sua vez, a dedicao foi elaborada como demonstrao de respeito e aprovao, na expectativa de continuar trabalhando a servio do prncipe, ao mesmo tempo em que era louvada a proteo real s artes grfi cas, o que teria permitido que ele realizasse sua traduo do Tratado da gravura de Abraham Bosse:

    parece que se conforma a minha off erta com zello, e feliz acerto, com que V. A. R. se tem dignado promo-ver, e aperfeioar a Gravura pela brilhante Direco da Offi cina Calcographica nas caza Litteraria desta Corte; onde infl uindo os favoraveis Auspicios da Real Benefi cencia, prosperamente se tem aberto esta Flor, que, ainda a pouco, envolvida no ressiccado germe da indolencia, existia entre ns to pouco conhecida, ou pelo menos to pouco cultivada (Bosse, 1801).

    Os motivos expressos nas dedicatrias dos livros dos autores e tradutores brasileiros ou reinis para dedicar os livros a D. Joo incluem outras mani-festaes de respeito e reconhecimento, bem como a vontade de ser agradvel ao prncipe, a satisfao dos justos deveres, o desejo de aceitao real e, sinal de amor e vasalagem, alm tornar pblicas as zelosas e paternas inclinaes de D. Joo. As razes alegadas para escrever ou traduzir as obras ainda na proposio continuam a afi rmar as relaes patriarcais, embora algumas outras idias apaream. Na obra de Bernardi-no Antonio Gomes, a Memria sobre a Ipecacuanha Fusca, o texto de dedicao diz que havia a pretenso de cooperar alguma cousa para o bem da humanidade e, particularmente da Nao. No obstante, as frmulas utilizadas mantinham-se no quadro da submisso para com o mecenas real:

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    Sobre livros e dedicatrias: D. Joo e a Casa Literria do Arco do Cego (1799-1801)

    Mas parecendo-me que esta pequena Memoria continha algumas noes novas, e uteis ao publico, e observando que V.A.R., nada despresando do que pde contribuir para o bem da Nao, se digna ser hum Mecenas geral no s dos sabios, mas de todos os litteratos, que desejo ser uteis, julguei-me nesta classe com titulos suffi cientes para aspirar honra, e fortuna de apresentar ao publico estas poucas e incultas, mas apparentemente no inuteis paginas debaixo da gide sagrada do AUGUSTO NOME de V.A.R. (Gomes, 1801).

    Frei Veloso, por sua vez, atribuiu a escrita da Me-mria sobre a Cultura e productos da cana de assucar, de Jos Caetano Gomes, ao objetivo de fazer felices os Habitadores do Brasil, por uma bem entendida agri-cultura (Gomes, 1800). O mesmo frei Veloso afi rmou ter traduzido a obra de Jaques Barbut, Helminthologia portuguesa (publicada porm na Officina de Joa Procopio Correa da Silva, em 1799 e no no Arco do Cego) tanto para o bem da humanidade quanto para granjear as benesses de D. Joo, j que o soberano, como o rei bblico Davi, possua, em seu Augusto, e terno corao, em gro heroico, as mesmas virtudes, e piedosos sentimentos daquelle antigo Soberano (Barbut, 1799). No livro de Ildefonso Leopoldo Bayard, por sua vez, est expressa a aspirao de que Portugal e a lngua portu-guesa se igualassem nao e lngua francesas, devido ao incentivo de D. Joo,

    por que conhece, que ellas [as tradues] so os meios, por que as linguas se fazem universaes, e razo porque a lingua Franceza o he tanto, no s porque ha muitas obras boas nella escritas; mas tambem porque quasi todos os livros bons escritos noutras linguas nella se acho traduzidos.Eu me lisongeio pois com a esperana de que a minha Nao, sendo assim como eu, animada pela Benig-nidade de V.A.R., venha a fazer a nossa lingua (em nada inferior Franceza) to universal como esta h (Bayard, 1801).

    Essas dedicatrias chamam a ateno porque trazem em si valores como o bem da humanidade e a felicidade, que so pontos chave do pensamento iluminista do sculo XVIII, ao mesmo tempo em que reiteram as formas de organizao social do Antigo Regime. Ao par disso, a valorizao da Nao como elemento de cons-truo de identidade tambm um fenmeno localizvel na Europa a partir da segunda metade do sculo XVIII. O tom geral da dedicao que aparece na obra de Jos da Silva Lisboa ilustra a preocupao com a ideia da nao

    portuguesa, e de como os livros podem contribuir para melhorar esta mesma nao:

    O desejo de fazer ao Estado algum servio duravel, unido ao reconhecimento dos benefi cios, que devo Real Munifi cencia, animou-me a levar s Augustas mos de V.A.R. o presente trabalho, que emprehendi, no designio de contribuir de algum modo para extenso, e prosperidade do Commercio Nacional (Lisboa, 1801).

    Note-se que a ptria, tal como referida, deve ser entendida em sua dimenso imperial (metrpole + col-nias), principalmente se considerarmos a origem brasileira da maior parte dos autores e tradutores do Arco do Cego. Na Nomenclatura chimica portugueza, franceza e lati-na, Vicente Coelho de Seabra Silva Teles, por exemplo, expressa a gratido pelos benefcios recebidos da Coroa desde o Glorioso Governo da Augusta RAINHA, Mi de V.A.R., o que t-lo-ia levado a consagrar os seus trabalhos Patria commum (Teles, 1801). O amor pela ptria tambm est expresso na frmula de dedicao que aparece na traduo feita por Jos Ferreira da Silva das Observaes sobre a propriedade da quina do Brasil, de Andr Comparetti.

    No he a ambio da gloria, nem o interesse, que me tra-zem Augusta presena de V.A.R., o amor da Patria, e o zelo de vassalo amante do Publico, estes so, SENHOR, os fortes estimulos, que me dirigem: as tristes circumstancias, em que estava toda esta corte pelo temor da peste, que a sabia Providencia, e justas medidas de V.A.R. tem sabido to bem previnir [...] (Comparetti, 1801).

    Valores como a busca pelo aprimoramento da nao, o amor ptria, a necessidade de escorar a riqueza do paiz, a utilidade para o Estado, entre outras justifi cativas, demonstram o quanto os ideais administrativos pombalinos arraigaram-se entre os agentes do Imprio, reafi rmando, por um lado, a ideia do iluminismo como um processo amplo de prticas administrativas exercidas em meio a transformaes nas sociabilidades (Kury, 2004, p. 110). Por outro lado, inscreve a atividade cientfi ca, exercida nas academias ou, neste caso, na Typografi a Chalcographica e Littera-ria do Arco do Cego, como parte das novas inscries espaciais que alargam o crculo dos que participam numa esfera pblica centrada na fi gura do prncipe (Curto, 2007, p. 24). Atravs da dedicatria, os autores buscam identifi car-se com personalidades de autoridade e prestgio, na expectativa de alcanar a retribuio que envolvia a economia da ddiva.

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    Sobre livros e dedicatrias

    A dedicao quase que exclusiva das obras publica-das no empreendimento editorial do Arco do Cego ao prn-cipe regente D. Joo coloca um problema historiogrfi co que pode ser pensado a partir de duas hipteses de tra-balho. A primeira delas, mais de acordo com as tradies literrias inglesas e francesas, nas quais a ao individual ocupa o centro das atenes, parte da premissa de que a escrita do livro, ou da traduo, e a da dedicatria so de responsabilidade de uma nica pessoa: o Autor. Parece uma obviedade, mas as coisas no se processam neces-sariamente assim, o que leva a pensar numa segunda hiptese, a qual examina a possibilidade inversa, a de que livro e dedicatria, independentemente de quem assina, no tenham necessariamente a mesma autoria.

    Para exercitarmos a primeira hiptese, impor-tante tentarmos entender como os autores e tradutores se inseriam na sociedade de Antigo Regime portugus, para que as dedicatrias ganhem sentido no seu contexto de produo tornado opaco ao observador atual. As trajetrias de vida desses autores e a dedicao de suas obras podem ajudar a compreender melhor essa sociedade.

    Jos Agostinho de Macedo (1761-1831), por exemplo, consolidou sua fama em torno da defesa radical do absolutismo e da condenao do iderio da Revoluo Francesa e da maonaria. Alinhando-se no campo miguelista, ele deixou clara essa defesa. Antonio Carlos Ribeiro de Andrade Machado da Silva (1773-1845), por outro lado, foi um adepto vigoroso das novas ideias. Irmo de Jos Bonifcio, Andrada Silva (seu nome parlamentar) participou da revoluo de Pernam-buco em 1817 (o que lhe custou quatro anos de priso), da constituinte de 1821 e da constituinte brasileira de 1823, alm de ter sido ministro do Imprio, em 1840. Jos da Silva Lisboa (1756-1835), primeiro baro e visconde de Cairu, atuou intensamente na Corte do Rio de Janeiro, sendo defensor de D. Joo VI e, aps 1822, de D. Pedro I. Seguidor das ideias de Adam Smith, Silva Lisboa atuou como fi gura chave no Imprio at sua morte, como, por exemplo, ao defender a abertura dos portos no Brasil quando da vinda da Corte ideia que foi incorporada por D. Joo aps sua passagem por Salvador. Jos Joaquim Viegas Menezes (1778-1841) se fi rmou como gravador e entalhador, fazendo parte da equipe de frei Veloso no Arco do Cego, continuando o trabalho de entalhes e gravuras que o colocam como precursor desta arte no Brasil no incio do sculo XIX (Ferreira, 1994, p. 243). Bernardino Antonio Gomes (1768-1823), mdico e botnico portugus, foi respon-svel por diversos estudos de plantas oriundas do Brasil, fez parte da Real Academia de Cincias a partir de 1812

    e atuou como mdico particular da princesa Leopoldina no Rio de Janeiro em 1817. Ildefonso Leopoldo Bayard (1785-1856), diplomata portugus envolvido nas ne-gociaes da independncia do Brasil, foi Cavaleiro da Ordem de Cristo e embaixador portugus em Berlim, Viena e no Rio de Janeiro, tendo servido os sucessivos reis de Portugal at sua morte (Biker, 1856). Vicente Coelho de Seabra Silva e Teles (1764-1804) foi um dos principais qumicos portugueses do perodo, membro da Real Academia de Cincias e professor da Univer-sidade de Coimbra.

    As vidas de todos esses autores que participaram do empreendimento editorial do Arco do Cego foram defi nidas pelos mecanismos do clientelismo cientfi co e poltico que, por sua vez, se manifestam claramente na frmula antiga das dedicatrias, mesmo que os interesses, temas e perspectivas dos seus prprios escritos ou tradu-es fosse novos, no sentido de se opor, tacitamente, ao Antigo Regime poltico ou mais frequentemente intelectual.

    As dedicatrias de Seabra Teles nos do algumas pistas que permitem particularizar esse processo. Se-guindo a sua trajetria editorial, possvel perceber que ele usou o ato de dedicar livros como parte da estratgia de constituio de suas redes de sociabilidades pessoais e institucionais. Quando publicou seus Elementos de Qumica, em 1788, Teles, por azar, dedicou a obra Academia Literria do Rio de Janeiro (Teles, 1788a). Esta instituio foi fundada sob os auspcios do vice-rei D. Lus de Souza, em 1786, mas foi fechada em 1794 por seu sucessor, o conde de Resende, sob a suspeita de difundir ideias revolucionrias francesas. Isto poderia ter-lhe causado problema e fechado portas, mas no foi o que ocorreu. Sua Dissertao sobre o calor, de 1788, foi off erecida ao Senhor Jos Bonifcio de Andrada e Silva, fi gura em ascenso no ambiente cientfi co e adminis-trativo portugus (Teles, 1788b). Por sua vez, o tratado em que condenava o uso de templos para sepultamento, publicado no Arco do Cego, foi dedicado ao Prncipe Regente, indicando a integrao de Seabra Teles ao crculo de Souza Coutinho (Figura 3).

    Assim, o que se observa que, do ponto de vista do Autor (do livro e dedicatria inclusa), a circulao da palavra impressa funcionava como mecanismo bem arraigado de estabelecimento e perpetuao de relaes sociais hierrquicas. Uma anlise mais detalhada das redes de clientelismo e da ao paternalista da coroa portuguesa, realizada por comparaes mais extensas das dedicaes feitas em outros corpi editoriais, pode aprofundar essa percepo. Podemos concluir, no tocante ao desenvol-vimento desta hiptese em particular, que, no Imprio Portugus, aquilo que foi teorizado por Chartier sobre a

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    Sobre livros e dedicatrias: D. Joo e a Casa Literria do Arco do Cego (1799-1801)

    ao transformadora da palavra impressa sobre os modos de interao social, as formas de pensar e as relaes de poder apenas parcialmente pertinente. Em Portugal, neste aspecto, percebe-se que mudanas em curso convi-viam, no entanto, com fortes permanncias.

    Como Filosopho mostrarei a e cacia da voz do meu Soberano

    Fica por ser examinada a outra hiptese de tra-balho. Como foi dito, todos os indicadores apontam para o fato de que, no perodo em questo, a sociedade portuguesa era ainda muito imersa na cultura poltica do Antigo Regime e, em decorrncia, o seu mercado livreiro apresentava diferenas profundas em relao ao bem mais estudado caso francs, por exemplo. A fi gura do autor que se movimenta livremente, e por desgnios prprios, em um mercado livreiro era ainda incipiente. Este autor uma fi gura muito caracterstica da existncia de uma opinio pblica, tal qual foi pensada por Habermas e outros te-ricos (Habermas, 1984). No Portugal do fi nal do sculo XVIII, eram ainda incipientes os veculos impressos a dar vazo a discusses ocorridas fora do controle hegemnico da monarquia absolutista. verdade que j circulavam papis sediciosos (Alves, 2000) ou mais frequentemente alguma literatura de fi co, folhas volantes, literatura de

    cordel que inclua peas teatrais curtas, como os entreme-zes, que negociavam a existncia de um espao de opinio com a estrutura censria da monarquia.

    J o empreendimento do Arco do Cego era tudo menos isso. Tratava-se de uma espcie de brao colateral, dedicado s colnias, da Impresso Rgia, criada por Pombal. Assim, difcil pens-lo como espao de autoria independente, apesar de seus propsitos ilustrados e de quase sempre estar fora do alcance da censura. A existn-cia de um espao de autoria plena, ainda que de textos encomisticos como as dedicatrias, demonstra-se frgil como hiptese de trabalho, contrariando a suposio de que os autores das dedicaes fossem os autores dos livros. E se assim no fosse?

    So muito raros os casos em que a documentao disponvel permite acompanhar a histria da preparao dos livros resultantes da poltica editorial conduzida por D. Rodrigo de Souza Coutinho. Apenas em dois casos, a documentao disponvel deixa pistas de que a dedicao exclusiva ao Prncipe D. Joo ia alm de uma simples diretriz recomendada ou imposta aos tradutores e autores.

    Um primeiro exemplo a observar ocorre com uma publicao intitulada Memria sobre a caneleira.8 No se trata propriamente de um caso de alterao de dedicatria, mas outra forma de alterao de originais cujas motivaes e efeitos pretendidos eram semelhantes. Os manuscritos preparados para publicao traziam na capa que a edio ocorria por determinao do ministro. No entanto, eles foram emendados por Alexandre Rodrigues Ferreira, por

    Figura 3. Frontispcios de trs livros de Seabra Teles.Figure 3. Front pages of three of Seabra Teles books.

    8 Esta memria de autor desconhecido, mas, por engano, costuma ser atribuda ao prprio frei Veloso.

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    Vol. 17 N 3 - setembro/dezembro de 2013

    ordem de S. Ex, conforme se observa na Figura 4. As modifi caes introduzidas tornavam o prncipe D. Joo o responsvel no apenas pela publicao, mas tambm por enviar mudas de canela para serem aclimatadas no Brasil.9 Ato tpico de um prncipe ilustrado, como pre-tendia Souza Coutinho.

    Caso mais especfi co e bem documentado ocorreu com uma memria de Manoel Arruda da Cmara, um dos muitos naturalistas luso-brasileiros comissionados por Souza Coutinho para fazer observaes cientfi cas sobre a ocorrncia de nitro ou salitre nos territrios coloniais. Como vimos, um dos propsitos mais acalentados do ministro era tornar Portugal autossufi ciente na produo desse composto. As instrues enviadas ao naturalista insistiam em que ele investigasse principalmente as ocor-rncias de salitre. No entanto, ele foi alm, dedicando-se ao estudo de diversos outros produtos naturais de interesse econmico.

    Entre 1797 e 1799, Cmara percorreu o serto nordestino, partindo de Pernambuco at atingir a Serra dos Cocos, no Cear. Em 1799, recebeu da coroa uma nova misso, a de investigar a ocorrncia de plantas que servissem de matria-prima produo de papel (AHU, Pernambuco, cx. 2011, Doc. 14321), e, em1801, a de estu-dar as plantas nativas produtoras de fi bras, o que o levou a descrever diversas espcies vegetais da regio, especial-mente as bromlias terrestres, como o caro, o gravat, o coroat, o anans manso e a pita (Cmara, 1810). Arruda

    da Cmara manteve ativa correspondncia com Linhares e com frei Veloso, enviando-lhes memrias sobre diversos temas, algumas das quais acabaram sendo publicadas no Arco do Cego e, depois, na Impresso Rgia.

    justamente o processo de editorao de sua mais conhecida obra, a Memria sobre os algodoeiros, que fornece as pistas que permitem entender o processo de elaborao de dedicatrias adotado na Casa Editorial do Arco do Cego.10 Tomo a liberdade e ousadia de por aos ps de V. Excia. este pequeno fruto de meu trabalho, onde obter o merecimento que lhe falta, dizia Arruda da Cmara ao enviar o seu tratado a D. Rodrigo, em dezembro de 1797 (AHU, Paraba, cx. 33, doc. 2405, in Mello, 1982, p. 239). Os originais desta memria encontram-se atualmente na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro e neles pode ser lida a seguinte dedicatria ao ministro Souza Coutinho:

    Os primeiros frutos dos meus trabalhos estudiosos e as primcias das experincias que tenho incansavelmente feito [...] deveriam ser consagrados a um Ministro que, do p mesmo do trono, estende suas penetrantes vistas at os nossos frteis campos e deles procura extrair suas preciosas produes [...]. Este Ministro, Senhor, V. Excia.; a V. Excia., pois, que devo consagrar este pe-queno trabalho, com o qual procurei contribuir, segundo a fraqueza de minhas foras, para o bem comum da Ptria [...] (BNRJ, 02,1,009, in Mello, 1982, p. 28).

    Figura 4. Comparao entre o manuscrito e o frontispcio da publicao da Memria sobre a Caneleira.Figure 4. Comparison between the manuscript and the publised front page of Memria sobre a Caneleira.

    9 Arquivo Histrico Ultramarino (AHU, Reino, mao 14). A publicao no traz a data, mas provvel que tenha sido impressa em 1797.10 O historiador pernambucano Gonsalves de Mello foi o responsvel por perceber a discrepncia entre as dedicatrias na obra de Cmara (ver Mello, 1982, p. 28-29).

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    Histria Unisinos

    Sobre livros e dedicatrias: D. Joo e a Casa Literria do Arco do Cego (1799-1801)

    Como se percebe, a dedicatria foi concebida segundo os preceitos retricos correntes poca. No en-tanto, h no manuscrito um detalhe de maior interesse. Em sua folha de rosto, possvel perceber anotaes e intervenes por parte de Conceio Veloso, a mais no-tvel delas, a substituio do destinatrio da memria: o Prncipe, no lugar do Ministro. Volta-se, assim, diretriz do Conde de Linhares, de que todos os livros produzidos pelo empreendimento seriam dedicados a D. Joo. No esta, porm, a dedicatria que integra a obra publicada no Arco do Cego. A que saiu dos prelos da casa literria aproveitava alguns segmentos do texto original, mas havia sido ampliada e abusava das frmulas retricas da dedicatria. Eram quatro pginas de uma longa e emotiva dedicao ao Prncipe regente. Vejamos alguns trechos:

    SENHORNo he a vaidade de me querer inculcar util aos meus compatriotas, o que me obriga a levar ao Supedaneo dothrono de V. A. R. estas primeiras observaes agro-nomicas sobre a interessante cultura do Algodo, que tenho feito, mas sim a nova obrigao, em que V. A. R. mepoz, tendo sido servido de me encarregar do exame das producoe naturaes deste Paiz, em que nasci, e em que habito, e em que tenho indizivel honra de receber as ordens de V. A. R.[...]Cego, Senhor, desta gloria, corro aos ps do Th rono de V.A.R., a appresentar o que at ento tinha adquirido de conhecimento, sem olhar para a mesquinheza delles, e para a grandeza de V. A. R., a quem os off ereo. A mesma mo poderosa, que me levanta do nada, e me appresenta a face de toda a Nao, e do mundo todo, como hum cidado util, e hum fi el vassallo, queira dar-lhe aquella grandeza, e importancia, que a con-dignifi que em a sua Augusta presena.[...]- Este he o trabalho, que ora apresento a V.A.R., em quanto as minhas diligncias vo ser empregadas pelos Sertes desta Capitania: treparei, para crdito dellas, o mais empinado das suas montanhas; descerei ao mais abatido dos seus Valles; penetrarei o interior do seu terreno, e o esvicerarei: desde o musgo mais aviltado, at o mais corpulento cedro; desde o mais vil insecto, at o grosso Tapyra; desde a mais esteril terra, at o mais precioso metal, todos sero objectos dos meus exames, das minhas analyses. Como Filosopho mostrarei a effi cacia da voz do meu Soberano, e como vassalo darei a prova de ser com toda a devoo e ternura.

    De V.A.R.o mais obediente e humilde

    Manuel Arruda da Camara (Cmara, 1799).

    Como bem percebeu o historiador Gonsalves de Mello, no existiu tempo hbil entre o envio e a publicao da memria para que o prprio Arruda da Cmara tivesse redigido essa nova dedicatria (Mello, 1982, p. 29). Alm do que, h uma evidente discrepncia estilstica entre a dedicatria e os textos conhecidos do naturalista. Assim, h que presumir que ela de autoria de Veloso ou de algum dos outros integrantes de sua equipe de redatores e tradu-tores. A parte fi nal do texto primorosa. Inicia anunciando a principal mudana epistemolgica da fi losofi a natural, ou seja, o abandono do estudo do raro e do notvel em prol de uma proposta de abrangncia universal: desde o mais vil insecto, at o grosso Tapyra. Conclui com um voto de submisso vassaltica do homem de cincia.

    Esses dois casos apontam a uma mesma direo, a de que as dedicatrias e livros no tinham necessariamente um mesmo autor. Elas eram, se assim podemos cham-las, dedicatrias editoriais, produzidas pelos integrantes da equipe do Arco do Cego, mais provavelmente por Con-ceio Veloso, e se inseriam diretamente na relao entre o ministro Souza Coutinho e o Prncipe Regente. Dessa perspectiva, essas dedicatrias podem ser vistas como textos especialmente controlados por um outro tipo de censura que no a ofi cialmente estabelecida.

    Como j observamos, a chancela real expressa nas frmulas Traduzido de ordem de Sua Alteza Real, o Prncipe Regente Nosso Senhor ou Publicada debaixo dos auspcios e ordens de Sua Alteza Real indicam que as obras haviam sido impressas sem terem passado pela Mesa Censria. D. Rodrigo deve ter recorrido a esse expediente por dois motivos. O primeiro deles era de ordem prtica, j que assim a Casa do Arco do Cego ganhava agilidade editorial. O segundo, e mais importante ainda, que a chancela direta de D. Joo permitia que o empreendimento editorial escapasse da interferncia de outras personagens importantes na cena poltica, as quais poderiam agir atravs dos mecanismos vigentes de censura. O grupo de grandes fi guras que concentrava o poder em Portugal era muito pouco homogneo e convivia em equilbrio precrio. Basta lembrar, como exemplo, a controversa relao entre Souza Coutinho e Pina Manique.

    Em contrapartida, a chancela do prncipe fazia com que as obras do Arco do Cego passassem a ter Dom Joo como coautor, contribuindo para a afi rmao de sua soberania. Na tradio poltica dominante, baseada na ddiva, na merc, e nas relaes interpessoais, os autores eram inscritos na esfera de clientela de Dom Rodrigo de Souza Coutinho, que, por sua vez, as remetia ao prncipe regente.

    O empreendimento literrio do Arco do Cego foi poderoso instrumento propagandstico do Conde de Linhares. Em relao ao conjunto da produo da casa

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    Claudio DeNipoti, Magnus Roberto de Mello Pereira

    Vol. 17 N 3 - setembro/dezembro de 2013

    editorial, as dedicatrias podem ser vistas apenas como detalhes. Contudo, exatamente nos limites desses tex-tos menores que se explicitam os propsitos da editoria, da a importncia a eles atribuda e o cuidado com que eram tratados. Em termos de histria do livro e da lei-tura no Antigo Regime, esses simples detalhes ajudam a perceber como nas sociedades do Antigo Regime, entre os sculos XVI e XVIII, a circulao multiplicada do escrito impresso modifi cou as formas de sociabilidade, autorizou novos pensamentos, transformou as relaes com o poder (Chartier, 1991, p. 178). No presente caso, preciso perceber que essas dedicatrias, multiplicadas pelo processo de impresso, ultrapassaram em muito a simples bajulatio ou a reproduo de frmulas de dedicao que os autores utilizavam para confi rmar e legitimar seu status como funcionrios do imprio e vassalos (ver Villalta, 1999; Ramos, 1988). No caso portugus, era algo maior que estava em jogo, e o livro, na sua totalidade ou em seus detalhes editoriais, cumpria papel relevante no cenrio do qual fazia parte.

    Deve-se ter em conta que D. Joo no era o prnci-pe herdeiro preparado para reinar. Chegou a essa condio com a morte do primognito D. Jos e, em seguida, foi obrigado a assumir a regncia do reino, devido ao estado de sade de D. Maria. Tudo isso numa conjuntura eu-ropeia e colonial extremamente conturbada. Muitas das atitudes de D. Rodrigo devem ser pensadas como partes integrantes do conjunto de aes destinadas a transformar o prncipe no Prncipe. Ou seja, transformar o apagado prncipe D. Joo no verdadeiro rei de Portugal, mas no num rei qualquer, e sim num monarca ilustrado.

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    Submetido: 05/04/2013Aceito: 31/07/2013

    Claudio DeNipotiUniversidade Estadual de Ponta GrossaDepartamento de HistriaAv. Carlos Cavalcanti, 4748, Campus Uvaranas84030-900, Ponta Grossa, PR, Brasil

    Magnus Roberto de Mello PereiraUniversidade Federal do ParanDepartamento de HistriaRua General Carneiro, 460, 6 andar80060-150, Curitiba, PR, Brasil