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Sobre Mensagem de Fernando Pessoa
PINTURA DE JOAQUIM CARVALHO
Um Olhar
Sobre Mensagem de Fernando Pessoa
PINTURA DE JOAQUIM CARVALHO
Um Olhar
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Dando de novo dimensão e espaço à expressão artística do pintor Joaquim Carvalho, executor de vários
trabalhos dedicados a Fernando Pessoa, podemos celebrar e acolher uma outra manifestação da obra
Mensagem, sob a bênção de um generoso e harmonioso casamento entre a poesia e a pintura, ou, se
preferirmos, entre o sentimento que se escreve e aquele que se desenha e se pinta.
Muitas têm sido as abordagens e as exposições sobre a vida e obra de um dos maiores vultos do
Modernismo Português, mas certamente não terão surgido tantas que se pautassem por tamanha
originalidade e exclusividade de pólos de emissão; utilizando um dos mais nobres e ricos sentidos que o
Homem possui, a visão, podemos através dela abranger não só o mundo real mas igualmente o mundo
virtual do Second Life.
No Ano Europeu da Inovação e da Criatividade, o convite que endereçamos é para se deixarem envolver
pela riqueza de dois mundos paralelos que espelham um mesmo conceito, que a cultura e a arte não
conhecem fronteiras, nem mesmo virtuais.
António d’Orey Capucho
Presidente da Câmara Municipal de Cascais
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Encontrei em “Mensagem”, uma consciência do nosso passado que foi futuro anterior de muitos futuros.
A visão do anterior mar que separou, como futuro mar que não pode deixar de unir, revelou Universal a
acção de um Povo que, foi e é o nosso. Povo que despiu o linho e com ele ergueu as velas que deram
força às caravelas! Povo que enganou a fome com a vontade de chegar mais além! Povo que transfor-
mou todos os medos num sonho onde a Terra sonhada era redonda! Povo que deu sentido ao vento,
alimentando o mar de gente e navios, a olhar sempre o “Occidente, futuro do passado”, porque o futuro
era, foi e ainda é o Mar!
Joaquim Carvalho
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O Second Life® (SL) é uma nova forma de comunicação �D, constituída por um mundo virtual que vai
crescendo pela dinâmica dos seus residentes e onde milhões de utilizadores, independentemente do
local do planeta onde se encontrem, podem interagir (conviver, fazer negócios, aprender, etc.)
Por este motivo, o SL não é um jogo mas, tal como o nome indica, um novo espaço de cidadania que o
utilizador tem na Internet, assumindo-se por isso como um metaverso.
Universidades de todo o mundo, incluindo Harvard, têm a sua presença em SL e em alguns casos, pos-
sibilitam o ensino integral de cursos e a obtenção de graus académicos a partir desta plataforma. Em
Portugal, temos o exemplo das Universidades do Porto, Aveiro, Santarém, Católica e UTAD, todas com
presenças e projectos de “e-learning” ou divulgação.
Igualmente o Banco Mundial, uma instituição financeira que procura ajudar países em vias de desen-
volvimento, está a utilizar o Second Life® para discutir negócios a nível global. A �9 de Outubro, esta
instituição apresentou em SL o seu relatório anual.
Até Julho de �008 existiam 1�,8 milhões de contas abertas em SL, com uma média diária de �� mil
residentes online simultaneamente. O valor de transacções diárias na data referida situava-se nos
1,� milhões de dólares americanos, pelo que a economia do Second Life® está ao nível de um pais
pequeno com um PIB de �.� milhões de dólares em �00�1.
Nesta dimensão, a CCV - Comunidade Cultural Virtual consiste num grupo de residentes do Second Life® que se juntaram com o mesmo propósito: fazer e apoiar projectos de divulgação de arte e cultura
em mundos virtuais, com destaque para esta plataforma.
Nesta vertente, e porque o ano de �009 é o Ano Europeu para a Criatividade e a Inovação, o CCV em
parceria com a Câmara Municipal de Cascais propuseram-se à realização de uma inédita exposição sobre
Fernando Pessoa, que abrangesse não só o mundo real mas também o mundo virtual do Second Life.
Deste modo, esta exposição irá unir o mundo virtual e o real, estando patente em simultâneo na Biblio-
teca Municipal de Cascais – S. Domingos de Rana e em Second Life.
Proceder-se-á ainda a sessões de esclarecimento sobre SL utilizando as infra-estruturas informáticas
disponíveis naquela Biblioteca e em SL será feito o mesmo relativamente a Fernando Pessoa, assim
como a promoção turística do concelho de Cascais e de Portugal.
Comunidade Cultural Virtual
1. Fonte: Revista Época http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EDG���10-�01�-���-�,00.html)
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Esta exposição constitui tão somente uma pequena, mas valiosa e diferenciada obra de Joaquim Carvalho. A sua atracção pela pintura e os seus primeiros quadros, ainda que então em fase figurativa, remontam à segunda fase da sua infância.
Artesão persistente na busca, em desassossego, das harmonias e equilíbrios estéticos, entre os conteúdos das vivências e as formas da sua expressão, Joaquim Carvalho percorreu com uma intensidade maior nos últimos dez anos, múltiplos azimutes nas suas centenas de quadros, colagens e outras formas de expressão artística a que se dedicou.
A sua independência perante as ‘escolas oficiais’ em moda, se por um lado lhe fez adiar as possibilidades de divulgação mais ampla que a sua obra merece, alargou-lhe em contrapartida e, por outro lado, uma margem maior à sua criatividade, que assim se mostra autêntica e não enfeudada, afirmando-se por si própria. Sem ceder aos estériotipos de conveniência, nem ao bricolage repetitivo de cariz tecnocrático, que invadem algumas das galerias de arte.
À Metapsicologia da criatividade artística e ao seu estudo, são úteis as obras de artistas como este.
Na interacção entre o desassossego interior, que move o pintor para a tela, o escultor para o cinzel, o músico para a pauta; a forma e conteúdo(s) interagidos e transmutados; e, a vivência sentida diferencialmente por cada um de nós, que contempla essas obras: eis um triângulo indispensável ao estudo da criatividade artística e à sua Metapsicologia transpessoal.
Freud, T. W. Adorno, E. L. Cortesão, por exemplo têm dado contribuição significativa nesse sentido, ao estudarem as obras de Miguel Ângelo, Mozart, Mahler, Durrell, Keats, Rimbaud, Béla Bártok e outros.
Na sua esteira, podemos encontrar na obra de Joaquim Carvalho esboços já visíveis desses fenómenos dialéticos, que exprimem e evocam em nós sossego, bem-estar e sentimento de holding; ou que pelo contrário... e por vezes até ao mesmo tempo..., suscitam, através de formas e traços díspares ou que se anulam emoções inquietas, de estranheza (uncanny), de expectativa; em fenómenos, sem dúvida, conectados com ‘a realização do negativo’ (negativenelfüllllng), segundo a expressão de T. W. Adorno na análise da música de Gustav Mahler.
Tudo isto, contudo, não seria possível de alcançar e de comunicar a quem vê os seus quadros, se a mestria formal e o domínio dos materiais não tivesse conhecido também e, particularmente nos últimos anos, um grande desenvolvimento e inovação por parte de Joaquim Carvalho(…)
António Alves Gomes, in catálogo da exposição “Reuniões e Intersecções”, Palácio Anjos, Algés, 1989
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(…) Pensar com as linhas, as formas e as manchas de cor, apenas apontadas, aqui e ali, como elementos autónomos, é compreender como é perversa e irreverente a maneira como o desenhador aflora algo que o transcende e que tanto lhe espicaça a memória e o sonho, num tempo de eminente suspensão entre o ser e o fazer. É o fazer que sustém o ser, por aí se indagando a sua real capacidade de expressão, ao trazer à superfície o que mais profundamente o inquieta. O desenho é esse risco, nítido e claro, a que se vincula o desenhador.A vivência disso é já a tranquila intranquilidade de quem, à partida, sabe de si o bastante para se aventurar no processo da construção/desconstrução de uma linguagem, cujas regras vai inventando e questionando, sem certezas radicais e/ou absolutas, mas mantendo-se flexível e permeável à ênfase de uma expressão gráfica que, a todo o momento, se altera, pelas características específicas que assume.O desenho de Joaquim Carvalho é esse deambular incerto, mas extremamente sensível, que se interroga e se define no próprio espaço em que se insere e só aí.A originalidade começa onde o autor se revela, como autodidacta que é, no menor grafismo ou mancha, no breve apontamento de algo que se inicia e não acaba nunca. É este seu modo de ser, inesgotável, que nos deixa perplexos e surpreendidos. Se há rostos que são paisagens e paisagens que foram rostos para se reduzirem à topografia residual da mesma aventura; se há janelas (rectângulos ao alto), que se abrem para dentro e para fora, fazendo convergir o interior e o exterior, a sombra e a luz, o que se vê e o que se imagina; ultrapassemos essas referências, aqui apenas sugeridas, para nos fixarmos mais peremptoriamente no modo como os elementos se organizam e promovem uma nova linguagem que, não sendo necessariamente figurativa e/ou abstracta, deixa-nos livres para as mais livres e diversificadas interpretações. Costumo dizer que a imagem poética é aquela que transcende o convencional, suscitando um número infinito de leituras. O desenho de Joaquim Carvalho situa-se no ponto limite, onde a imagem poética emerge, com toda a sua carga simbólica, como registo de uma vivência pessoal, não fácil de decifrar e, no entanto, provocando em nós um estranho e inquietante fascínio.
Eurico Gonçalves, in catálogo da exposição “Duas partes/Um todo”, Junta da Costa do Estoril,
Estoril, 1990.
Ao conhecimento de sentido puramente abstracto da Arte, objectiva-se através de instintos e intenções, o desejo de inserir um mundo sem objectos na cultura de várias épocas.Referenciando escritos de Kandinsky «- o objecto é substituído para evitar o perigo da solução decorativa, ... desenvolver a eficácia das formas puras,… construí-las sobre uma base declaradamente espiritual...» - este é o manifesto da linguagem de alguns experimentadores, protagonistas de uma verdade e de um conhecimento intuitivo, do qual não se afastará com certeza a pesquisa de Joaquim Carvalho.Expressões de códigos equivalentes a realidades do seu mundo interior, propõe-nos uma leitura cuidadosa de signos, onde será necessário uma aprendizagem do valor semântico dos elementos utilizados. Experimentalismo de carisma didáctico, o espaço de acção é «inundado» pelo grafismo dos materiais, impulsionados pela espontaneidade inspirada no gesto por vezes em êxtase de vigor.À complexidade de registos para um encontro de figurações personificadas associa-se a duplicidade de um diálogo em permanente transmutação. No cromatismo existente, a conotação com determinadas formas de culturas etnográficas poderá ser acontecimento; no entanto, a pintura de Joaquim Carvalho é sempre um jogo de metamorfoses temporais, onde a linguagem evolui com ‘a insistência (até à dor) do acto criativo.
Daniel Nave, in catálogo da exposição “Diálogos”, Galeria Sabugal, Lisboa, 1990
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Um dia - que de tão longínquo muitas vezes se não guarda na memória - acontece o fascínio. O lápis abandonado fere a alvura da parede e ali regista o gesto, a incoordenação e a força. Se o bico se parte é menor o efeito e mais suave o ralho. A verdade é que isso pode desencadear o gosto, a curiosidade, a invenção.Não sei se o que atrás descrevo sucedeu a Joaquim Carvalho. Sei, no entanto, que foi precoce o seu amor pelas imagens a avaliar pelos trabalhos do tempo escolar que ainda conserva. São obras interessantes sobretudo porque denotam a sensibilidade do autor para os valores da terra, sua essencialidade e vivência. Era dali que partia para os sonhos com castelos medievais e donzelas e ali aportava, depois disso, tecendo a guacho as texturas do solo arado.Gasto o tempo imprescindível para crescer e ei-lo que reaparece a reinventar a realidade que agora se veste de cores próprias e suavemente amadurecidas.Tomando o quadrilátero como base, o seu discurso plástico ordena-se, por fases, no sentido de ritmos que, não raro, conduzem ao preenchimento obsessivo dos espaços numa interessante vibração cromática, numa emocionada procura de simplicidade, num telúrico construir de texturas...Sendo nítida a evocação de Magnelli há nesta série de obras o desejo de não perder totalmente as motivações originais. É assim que permanecem vestígios de um grafismo que define imagens, que delimita rostos, que se depura, sensível, para ser, ao primeiro olhar, apenas um jogo deleitado de formas e de cores. A harmonia resulta da sua variação permanente, como se houvesse uma visceral necessidade de esgotar o mesmo tema que nos surge ductilmente austero ou rico, simplificado ou complexo, quase opaco ou na apoteose de tons tímbricos rompendo dos fundos para operar a ruptura.Aprofundando a análise percebe-se que a aparente homogeneidade desta pintura se desdobra para registar o código de uma linguagem que concilia a racionalização e o imediatismo de modo eminentemente poético.A imutabilidade dos valores presentes tem a ver com restrito universo de símbolos utilizados numa constância que engloba, como factor determinante, a autenticidade do pintor.Uma procura exaustiva conduz Joaquim Carvalho ao requinte subtil de composições equilibradas nas quais é nítida a cumplicidade com o suporte, exercício a um tempo inteligente e lúdico, através do qual se traduz a sua fluência plástica.O autor aposta, com alguma ousadia, na ambiguidade. É dela que parte e é a ela que chega. Dir-se-ia que o seu trabalho guarda, na contínua vibração das cores e dos traços finais, pedaços de um mistério sempre pronto a revelar-se. Radica aí toda a justificação da sua pesquisa estética, comunicação que em si mesma encerra a potencialidade de novos percursos.Não duvidamos de que, apoiado no domínio cromático e no conhecimento perfeito das formas que são base das suas obras, Joaquim Carvalho possa vir a acentuar, com idêntica força, o sentido mágico da sua harmonia.
Edgardo Xavier, in catálogo da exposição “0utonos”, Biblioteca Nacional, Lisboa, 1991
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Fica-nos na memória o espaço consentido de Joaquim Carvalho. Surpresa maior pela polifonia cromáti-
ca. Concerto de desejos, sonhos e glórias. Canto de pássaros em alvoradas sem fim.
É pois.
Cruzem por segundos a verdade insufismável dentro de nós e projectem-se no espaço com a força ina-
balável dos sentidos. Sonhem sinfonias universais de comunhão plena, joguem no silêncio de mistérios
escondidos de povos milenários. Apostem nas ruínas de Tiahuanaco, e mergulhem em picassianos
horizontes africanos , dêem-lhe a cor de Paris e sentem-se à sombra de uma buganvília.
É fácil.
Que energia cósmica emana de um trabalho sentido em cada segundo? Apenas a busca atávica de ser
português em mares ignorados. Percurso de aventura sanguíneo em portos de sete paragens remotos
que o sonho percorre em tardes lusas de litoral incandescente.
Paleta de mistério universal, misto de denodo e entrega, fonte de cor, torrente de coragem.
Quem dera pudéssemos ser cadinho de tão carinhosa e violenta pintura. Brotaria dentro de nós um
cristal profundo com as cores do arco-íris e colheríamos Hiroxima. Viagem maior dos sentidos.
Vertigem.
Poemas em movimento.
Vale a aposta do coração.
Jorge de Brito, in catálogo da exposição no Instituto da Biblioteca Nacional e do Livro, 199�.
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Em 199�, iniciei um texto sobre Joaquim Carvalho como aqui transcrevo:
“Do desenho à pintura de Joaquim Carvalho, dista referência para a origem do gesto; ou seja, o artista estabelece as referências no sonho das coisas — a sua imagética, transmitidos os impulsos ao real, produz a descodificação das coisas que povoam o seu espaço onírico — e lhes traz forma e expressão, em termos claros e exactos, ainda que (tanto no desenho como na pintura) por via de uma resistência natural ao imobilismo, os traços no papel ou as manchas pictóricas, adquiram uma evolução natural, determinando uma opção geradora de reflexos sucessivos…”(…)
(…) Joaquim Carvalho é um daqueles autores plásticos em que a “adivinhação” das consequências é perceptível após um exercício analítico auto-dimensionado em função da experimentação sucessiva; coisa alguma resulta do acaso. Ao invés, o seu trabalho é resultante de maturação longa, sem sobressaltos de concepção mas assumindo “riscos” calculados quanto ao resultado final, daí referir-me eu à inexistência do acaso, pois tudo neste autor é resultado de uma aturada busca de formas, de geometrização básica que se traduz na rigorosa expressão final patente das suas obras, sejam elas desenhos, pintura ou simples esbocetos sem aspiração maior que a sua natureza investigadora… Joaquim Carvalho é um artista de sólida formação, talvez mais por convicção natural do que consequente de um esforço de entendimento das coisas que produzem o efeito criativo. Porque o efeito, o acto de criar é nele algo absolutamente natural, básico, inultrapassável.
A pintura insípida, ascéptica até, se quisermos, é prova de uma lucidez evidente, de uma exigência estética que se lhe reconhece sem esforço; o artista é, de facto, e dentro do seu modo de realizar pintura, um sério caso de criatividade assumida em convicção, de rigor na realização, mas também de autêntica liberdade de concepção.
Balizando o seu trabalho por valores de prioridade evidente, e em que os parâmetros são de elevada qualidade estética, o pintor assume determinação conceptual de elevado grau, sendo óbvia a sua capacidade na resolução dos mais diferentes estádios de dificuldade na elaboração das suas obras.
Alheando-se de tendências e fugindo de recorrências (o que nem sempre é fácil, reconheça-se…) Joaquim Carvalho possui um discurso plástico que se notabiliza pela sobriedade e “elegância” dos recursos de que se recorre no encontro de soluções sobre os suportes que vai trabalhando; a realização das suas obras resulta pura, sem recurso a técnicas de evidente fragilidade, sem ambiguidades, bastando-se na rigorosa construção pictórica que povoa o seu imaginário criador, poético mesmo, sem dúvida, mas em paralelo, de uma lucidez notável no que respeita às regras da construção que possibilitam a “arquitectura” das suas pinturas.
Tudo isto não anula alguma inquietação (já o afirmara há anos, e hoje o confirmo) que, felizmente para o processo criativo do autor, o anima uma vez que será este estado, um dos impulsionadores que mais responsáveis serão pela continuada busca que é patente neste autor; porque, é evidência, Joaquim Carvalho se não basta no que vai conseguindo criar. Nele, o imobilismo é algo que se não poderia (nem por si próprio) aceitar, já que se nos habituou à experimentação continuada e persistente do autor que é, inegavelmente.
Do anterior referido não pode inferir-se todavia que o trabalho deste artista seja fruto de um rigor a que se casa a investigação, a analítica da expressão ou, tão simplesmente, a concepção procurando a resultante da correcção das formas nas manchas, do traço da exactidão geométrica que leva à elaboração da obra; não está ausente a imensa plataforma onírica que povoa a mente do pintor, e este aspecto é determinante, este sim, no resultado final.
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E é, sobretudo nesta vertente, que o discurso plástico de Joaquim Carvalho adquire maior força e expressividade; porque ao contrário de assumir-se distante e fria, a sua pintura determina uma poesia que acalenta a nossa imaginação e nos prende pela simplicidade aparente com que se recorta na nossa capacidade de ver… De alguma forma, Joaquim Carvalho nos conduz a um recanto de tranquilidade e de inerente sossego, um estado que se confunde com alguma musicalidade que paira sobre as suas pinturas. Mais que para descrever, é para sentir. Mas só pode sentir quem se entrega… E a obra deste autor, não é para olhar, apenas.
Racionalizando quanto baste o processo de elaboração do seu trabalho, o artista concede-lhe como consequência derradeira, magia de subtrair as sensações que nos animam e as devolver com o enriquecedor condão de sossegar-nos o espírito! E todavia sabemos que foi a inquietação sucessiva do autor, que nos concede tal estado de paz… Eis um fenómeno cuja origem se perde nos meandros da mente, exaltada certamente, deste artista que hoje se expõe — porque é disto que se trata a final… — ao conceito e juízo de quem observa o seu trabalho.
Joaquim Carvalho, estou certo, é a resultante do que em si próprio recolhe. Por isso ele se assume, na sua naturalidade (simplicidade mesmo) como um autor onde os sobressaltos não são visíveis ou referenciáveis. Ele limita-se a cumprir um destino natural em si próprio, com rigor poeticamente assumido, sem equívocos de expressão, sem receios evidenciáveis. A sua segurança resulta da consciência do que é e do que pode. E pode muito.
Muito mais poderá Joaquim Carvalho. Para tanto basta que seja exactamente o que é e assume: um pintor consciente, rigoroso na busca e na experiência das soluções e, sobretudo, autêntico como tem sido (…)
Carlos Lança (Presidente da Associação Nacional dos Artistas Plásticos),
In catálogo da exposição realizada: - na Sala Damião de Góis, Bruxelas, Bélgica, �000
- no Museu da Electricidade, Lisboa, �001
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(…) O seu traço seguro sobrepõe-se ao enunciado, numa espécie de ilegalidade pagã, dionisíaca, que dança constantemente na corda bamba dos conceitos e das formas. Estamos pois perante um pintor nietzschiano que sabe que são os estados de excepção que determinam o artista (…) (…) « O efeito da obra de arte é de suscitar o estado criador de arte, a embriaguez » já dizia Nietzsche. Joaquim Carvalho pelo extremo refinamento e magnificência das suas cores, pela solidez do seu traço, pelas gradações do seu tom afirmativo diviniza a existência e embriaga-nos perduravelmente. (…)
(…) A obra, quase toda inédita, é uma aventura magnífica ao longo de mais de vinte anos, uma história exaltante de materiais (por vezes muito pobres), de técnicas e de memória poética num eclectismo fundamental que tem a ver não só com os primitivos artistas da criação mas também com outros «irregulares da Arte » que poeticamente se descreveram e descreveram o mundo. Este pintor visionário com um espírito renascentista pode ao mesmo tempo aproximar-se do surrealismo mais alvoroçado como da abstracção mais livre, ajoelhar-se aos pés do minimalismo mais redutor como praticar um gestualismo mais insondável. Esta totalidade depõe Joaquim Carvalho nos primeiros lugares da criação pictórica portuguesa contemporânea onde há poucos artistas cheios de santuários líricos tão complexos e exigentes. Obra desacadémica, no fundo da liberdade criativa, tão cara a Dubuffet que viu nos cultores autênticos da Arte Bruta os príncipes verdadeiros da pintura. Joaquim Carvalho é um pintor que pinta com a boca das cores, que regressa muitas vezes ao tempo anterior da sua obra, numa visita redentora e regularizadora, um Eterno Retorno que é a afirmação do absoluto e do relativo, da necessidade e da liberdade, da poesia cujos temas são eternos e sempre jovens. (…)
Manuel da Silva Ramos, in catálogo da exposição “Desaguadianadouro de um Rio”, Museu da Água, Lisboa, �00�
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(…) Encontramos também, mais recentemente no mundo que Joaquim Carvalho recria, casas objectos, perspecti-vas uma infinidade de receptáculos de vida e até projectos que ousam traduzir o visionarismo de Fernando Pessoa, da sua « mensagem », do seu quinto império interior (…)
(…) As técnicas utilizadas nos desenhos e pinturas de Joaquim Carvalho, que tem sempre o papel como su-porte, vão da tinta da china e do pastel ao acrílico e outros processos, com resultados por vezes muito cativantes no traço e no colorido, desconcertantes na pluralidade de sentidos, na abertura ao mistério, na criação de formas inominadas.Artista praticamente autodidacta, com muita leitura da pintura clássica e contemporânea, desde o surrealismo e o abstraccionismo ao que de mais inovador e provocante hoje se faz nos grandes ateliers de Nova York ou de França e de Itália, em permanente descoberta e mudança, Joaquim Carvalho, fiel ao seu paradigma crístico, viaja por inces-santes experiências, de obra para obra, entre o que vê e o que visiona, construindo imagens poéticas (…)
(…) Mas, na sua aventura deambulante de desenhador – pintor, investe-se no interior e no exterior das criaturas e coisas que convoca para o papel e assim dá existência a um mundo perturbante, que porventura escapa ao seu próprio pensamento sensível.Os seus grafismos e as suas manchas têm com frequência um poder de sedução que ele rejeita, por querer levar ainda mais longe por territórios ignotos, a sua demanda de formas e de consciência.
Urbano Tavares Rodrigues, in exposição “ Ser Português”, Fundação D. Luís I, Cascais, �00�
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Joaquim Carvalho vem-me surpreendendo a cada vez que contacto com a sua obra; para mim (e para muitos outros, analistas ou simples observadores do trabalho do pintor), olhar a pintura do artista é um exercício de raciocínio e, simultaneamente, de introspecção genuinamente assumida por cada atento observador… A isso ”obrigam” as sucessivas propostas do autor.Como já foi escrito por Manuel da Silva Ramos, para apenas citar este escritor, “é um escândalo que este veraz e pertinaz artista não seja mais conhecido em Portugal”. Eu acrescentarei que, concordando em absoluto com Manuel da Silva Ramos considero que, para além do nosso espaço geográfico, a pintura de Joaquim Carvalho já deveria ter tido acesso ao reconhecimento no exterior do país uma vez que, sem qualquer dúvida, o merecimento pelo seu trabalho ao longo dos anos mais do que o justifica, pela qualidade das propostas, inteligência autoral e indesmentível qualidade estética, como também pelo conteúdo da obra que vem realisando.Seria uma simples questão de justiça; e ainda é tempo de superar o “esquecimento” ou, se quisermos ser mais directos e explícitos, é tempo de incluir Joaquim Carvalho entre o grupo de artistas plásticos portugueses com direito a figurar nas agendas dos promotores de arte em Portugal ou seja, entre os artistas que, com incontornável sentido de justiça, merecem a divulgação além fronteiras. (…)
(…) Acompanhamos há já longos anos a actividade de Joaquim Carvalho e em ocasiões outras, tivémos ensejo de pronunciarmo-nos sobre o trabalho realizado pelo autor, mas em cada uma das vezes que olhamos as suas obras, sempre nos surpreendemos, por dois motivos essencialmente: porque a qualidade a isso nos “obriga” e porque, sempre, há algo mais que não conhecíamos. (…)
(…) Nestas obras o exercício da revisitação ao restante da produção artística de Joaquim Carvalho é uma imposição lógica, até para obter os parâmetros comparativos sobre o anterior e o posterior, sendo que tal exercício é um percurso gratificante.O “Minimalismo expressivo” do autor, deixa-nos convictos de que todo o seu trabalho é sequência de um projecto alicerçado em sólidos fundamentos estético-criativos jamais divorciado de objectos firmemente assumidos, sistematicamente ensaiados até à depuração final das formas que visualizamos; (…)
(…) A economia de processos técnicos, a rejeição do supérfluo, bem como a nitidez representativa da “linha da imagem” e de enquadramento em cada um dos suportes, é efectivamente notável.Só este aspecto bastaria para distinguir o trabalho do autor mas Joaquim Carvalho vai mais longe ao sintetizar ao máximo a capacidade de representação das imagens centrais de cada uma das suas pinturas, justificando assim a coerência global de todo o seu projecto de realização artística.O ineditismo de muitas (muitíssimas!) obras do artista, impõe uma cuidada análise ao todo da sua produção sendo que, todavia, tal sempre se nos afigura um exercício difícil, tantas são as obras que compõem o trabalho aturado e atentamente realizado por Joaquim Carvalho. Difícil? Sim, mas já indispensável. Uma mostra antológica da obra do autor seria propícia a essa análise…Cada uma das exposições do artista nos deixa a sensação de “uma pedrada no charco”; aqui chegados, vem-nos à memória um livro de Urbano Tavares Rodrigues, não pela analogia com o conteúdo da obra deste grande autor português, mas pelo significado da expressão, que aqui cabe por inteiro; é que a obra de Joaquim Carvalho é, em regra, uma forma de agitação das “águas paradas” de um lago de conformismo confrangedor que se vem registando na área das Artes Plásticas em Portugal, mau grado o esforço de alguns visando alterar o continuado processo de não reconhecimento de valores, sempre (ou quase…) condicionado aos “grupos de interesse específico” que vão continuando na sua tarefa de, em detrimento de alguns, considerar valores seguros a promover alguns outros, e em regra, apenas esses…(…)
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(…) A obra deste pintor integra assim, justamente, o “lote” de realizações artísticas que possui inteiro mérito… ainda que o reconhecimento do autor tarde…Pela nossa parte prosseguiremos, convictamente, na defesa dos autores cuja honestidade, propósitos estéticos e capacidade de realização artística sejam insuspeitos e merecedores do devido destaque e reconhecimento sem descurar, obviamente, aqueles que embora já consagrados, justifiquem a valorização prosseguida.Joaquim Carvalho é um desses autores, pintor de extrema sensibilidade, seriíssimo no seu objectivo, insuspeito na convicta e consciente opção que mobiliza a sua atenção criativa face ao desempenho criativo que vem prosseguindo há tantos anos.As obras agora trazidas a público, saídas do “purgatório” onde outras espiam pecados não cometidos e que sob o manto do desconhecimento vão resistindo ao tempo de descoberta redentora, são testemunho do labor continuado do autor que as concebeu.Certamente, mais tarde ou mais cedo - esperemos que mais cedo…- Joaquim Carvalho será devidamente reconhecido como criador de eleição, ultrapassando a voragem dos suspeitos critérios de validação neste tempo que tudo vai consumindo ao sabor das conveniências e interesses materiais…Porque a obra deste artista tem merecimento indiscutível e (mau grado os interesses instalados) incontornável.A crítica fica para os especialistas, “armadura” que não envergamos a bel prazer; a nós basta-nos a verdade das constatações e Joaquim Carvalho é, em si mesmo, uma constatação difícil de contornar, merecendo a verdade que, essa sim, assumimos, sobretudo porque consideramos ser indispensável um actualizado enquadramento dos valores que ao longo dos anos vem despontando no panorama das artes plásticas em Portugal, sem todavia esquecermos aqueles que, antes do final do século XX, designadamente nas décadas entre os anos �0 e 90, valorizaram as novas tendências.Joaquim Carvalho está entre esses, ainda que mais recente no tempo de surgimento, mas nem por este facto menos significativo.A realidade e reconhecimento impõe-se.
Carlos Lança (Presidente da Associação Nacional dos Artistas Plásticos)
in catálogo da da exposição “Ser Português”, Museu Provincial de Cáceres, Cáceres, Espanha, �00�
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Sobre Mensagem de Fernando Pessoa
PINTURA DE JOAQUIM CARVALHO
Um Olhar
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Ser Português
Janelador de Mundos
Ancoradouro de alma rectangular
Aceitador de desígnios infindos
Estreitador da Terra... Abridor do Mar
Cinzelador de palavras circulares
Terra, Mar... Viagem
Inventor de Impérios!
Aceita que Estes se desfaçam
Para que Deles Outros nasçam
Melodias novas surgirão
Para vestir a palavra Saudade.
Joaquim Carvalho
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1.
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Os Castelos
A Europa jaz, posta nos cotovelos:
De Oriente a Ocidente jaz, fitando,
E toldam-lhe românticos cabelos
Olhos gregos, lembrando.
O cotovelo esquerdo é recuado;
O direito é em ângulo disposto.
Aquele diz Itália onde é pousado;
Este diz Inglaterra onde, afastado,
A mão sustenta, em que se apoia o rosto.
Fita, com olhar ‘sfíngico e fatal,
O Ocidente, futuro do passado.
O rosto com que fita é Portugal.
PRIMEIRA PARTE | BRASãO | I OS CAMPOS | PRIMEIRO
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Ulisses
O mito é o nada que é tudo.
O mesmo sol que abre os céus
É um mito brilhante e mudo -
O corpo morto de Deus,
Vivo e desnudo.
Este, que aqui aportou,
Foi por não ser existindo.
Sem existir nos bastou.
Por não ter vindo foi vindo
E nos criou.
Assim a lenda se escorre
A entrar na realidade,
E a fecundá-la decorre.
Em baixo, a vida, metade
De nada, morre.
PRIMEIRA PARTE | BRASãO | II OS CASTELOS | PRIMEIRO
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Viriato
Se a alma que sente e faz conhece
Só porque lembra o que esqueceu,
Vivemos, raça, porque houvesse
Memória em nós do instinto teu.
Nação porque reencarnaste,
Povo porque ressuscitou
ou tu, ou o de que eras a haste -
Assim se Portugal formou.
Teu ser é como aquela fria
Luz que precede a madrugada,
E é já o ir a haver o dia
Na antemanhã, confuso nada.
PRIMEIRA PARTE | BRASãO | II OS CASTELOS | SEGUNDO
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O Conde D. Henrique
Todo começo é involuntário.
Deus é o agente.
O herói a si assiste, vário
E inconsciente.
À espada em tuas mãos achada
Teu olhar desce.
“Que farei eu com esta espada?”
Ergueste-a, e fez-se.
PRIMEIRA PARTE | BRASãO | II OS CASTELLOS | TERCEIRO
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�.
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D. Tareja
As nações todas são mistérios.
Cada uma é todo o mundo a sós.
Ó mãe de reis e avó de impérios,
Vela por nós!
Teu seio augusto amamentou
Com bruta e natural certeza
O que, imprevisto, Deus fadou.
Por ele reza!
Dê tua prece outro destino
A que fadou o instinto teu!
O homem que foi o teu menino
Envelheceu.
Mas todo vivo é eterno infante
Onde estás e não há o dia.
No antigo seio, vigilante,
De novo o cria!
PRIMEIRA PARTE | BRASãO | II OS CASTELOS | QUARTO
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�.
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D. Afonso Henriques
Pai, foste cavaleiro.
Hoje a vigília é nossa.
Dá-nos o exemplo inteiro
E a tua inteira força!
Dá, contra a hora em que, errada,
Novos infiéis vençam,
A bênção como espada,
A espada como bênção!
PRIMEIRA PARTE | BRASãO | II OS CASTELOS | QUINTO
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�.
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D. Dinis
Na noite escreve um seu Cantar de Amigo
O plantador de naus a haver,
E ouve um silêncio murmuro consigo:
É o rumor dos pinhais que, como um trigo
De Império, ondulam sem se poder ver.
Arroio, esse cantar, jovem e puro,
Busca o oceano por achar;
E a fala dos pinhais, marulho obscuro,
É o som presente desse mar futuro,
É a voz da terra ansiando pelo mar.
PRIMEIRA PARTE | BRASãO | II CASTELOS | SEXTO
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8..
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D. João o Primeiro
O homem e a hora são um só
Quando Deus faz e a história é feita.
O mais é carne, cujo pó
A terra espreita.
Mestre, sem o saber, do Templo
Que Portugal foi feito ser,
Que houveste a glória e deste o exemplo
De o defender.
Teu nome, eleito em sua fama,
É, na ara da nossa alma interna,
A que repele, eterna chama,
A sombra eterna.
PRIMEIRA PARTE | BRASãO | II OS CASTELOS | SÉTIMO (I)
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9.
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D. Filipa de Lencastre
Que enigma havia em teu seio
Que só génios concebia?
Que arcanjo teus sonhos veio
Velar, maternos, um dia?
Volve a nós o teu rosto sério,
Princesa do Santo Gral,
Humano ventre do Império,
Madrinha de Portugal!
PRIMEIRA PARTE | BRASãO | II OS CASTELOS | SÉTIMO (II)
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10.
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D. Pedro, Regente de Portugal
Claro em pensar, e claro no sentir,
É claro no querer;
Indeferente ao que há em conseguir
Que seja só obter;
Dúplice dono, sem me dividir,
De dever e de ser -
Não me podia a Sorte dar guarida
Por não ser eu dos seus.
Assim vivi, assim morri, a vida,
Calmo sob mudos céus,
Fiel à palavra dada e à ideia tida.
Tudo mais é com Deus!
PRIMEIRA PARTE | BRASãO | III AS QUINAS | TERCEIRA
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11.
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D. João, Infante de Portugal
Não fui alguém. Minha alma estava estreita
Entre tão grandes almas minhas pares,
Inutilmente eleita,
Virgemmente parada;
Porque é do português, pai de amplos mares,
Querer, poder só isto:
O inteiro mar, ou a orla vã desfeita -
O todo, ou o seu nada.
PRIMEIRA PARTE | BRASãO | III AS QUINAS | QUARTA
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1�.
DIGITALIZAR FOTOGRAFIA
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D. Sebastião, Rei de Portugal
Louco, sim, louco, porque quis minha grandeza
Qual a Sorte a não dá.
Não coube em mim minha certeza;
Por isso onde o areal está
Ficou meu ser que houve, não o que há.
Minha loucura, outros que me a tomem
Com o que nela ia.
Sem a loucura que é o homem
Mais que a besta sadia,
Cadáver adiado que procria?
PRIMEIRA PARTE | BRASãO | III AS QUINAS | QUINTA
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1�.
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Nunálvares Pereira
Que auréola te cerca?
É a espada que, volteando,
Faz que o ar alto perca
Seu azul negro e brando.
Mas que espada é que, erguida,
Faz esse halo no céu?
É Excalibur, a ungida,
Que o rei Artur te deu.
‘Sperança consumada,
S. Portugal em ser,
Ergue a luz da tua espada
Para a estrada se ver!
PRIMEIRA PARTE | BRASãO | IV A COROA
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1�.
_�8 _�9_�9
A Cabeça do grifo
O Infante D. Henrique
Em seu trono entre o brilho das esferas,
Com seu manto de noite e solidão,
Tem aos pés o mar novo e as mortas eras -
O único imperador que tem, deveras,
O globo mundo em sua mão.
PRIMEIRA PARTE | BRASãO | V O TIMBRE
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1�.
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Uma Asa do Grifo
D. João o Segundo
Braços cruzados, fita além do mar
Parece em promontório uma alta serra -
O limite da terra a dominar
O mar que possa haver além da terra.
Seu formidável vulto solitário
Enche de estar presente o mar e o céu,
E parece tremer o mundo vário
Que ele abra os braços e lhe rasgue o véu.
PRIMEIRA PARTE | BRASãO | V O TIMBRE
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1� .
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A Outra Asa do Grifo
Afonso de Albuquerque
De pé, sobre os países conquistados
Desce os olhos cansados
De ver o mundo e a injustiça e a sorte.
Não pensa em vida ou morte,
Tão poderoso que não quere o quanto
Pode, que o querer tanto
Calcara mais do que o submisso mundo
Sob o seu passo fundo.
Três impérios do chão lhe a Sorte apanha.
Criou-os como quem desdenha.
PRIMEIRA PARTE | BRASãO | V O TIMBRE
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1�.
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I O Infante
Deus quere, o homem sonha, a obra nasce,
Deus quis que a terra fosse toda uma,
Que o mar unisse, já não separasse.
Sagrou-te, e foste desvendando a espuma,
E a orla branca foi de ilha em continente,
Clareou, correndo, até ao fim do mundo,
E viu-se a terra inteira, de repente,
Surgir, redonda, do azul profundo.
Quem te sagrou criou-te português.
Do mar e nós em ti nos deu sinal.
Cumpriu-se o Mar, e o Império se desfez.
Senhor, falta cumprir-se Portugal!
SEGUNDA PARTE | MAR PORTUGUêS
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18.
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II O Horizonte
Ó mar anterior a nós, teus medos
Tinham coral e praias e arvoredos.
Desvendadas a noite e a cerração,
As tormentas passadas e o mistério,
Abria em flor o Longe, e o Sul sidério
‘Splendia sobre as naus da iniciação.
Linha severa da longínqua costa -
Quando a nau se aproxima ergue-se a encosta
Em árvores onde o Longe nada tinha;
Mais perto, abre-se a terra em sons e cores:
E, no desembarcar, há aves, flores,
Onde era só, de longe a abstracta linha.
O sonho é ver as formas invisíveis
Da distância imprecisa, e, com sensíveis
Movimentos da esp’rança e da vontade,
Buscar na linha fria do horizonte
A árvore, a praia, a flor, a ave, a fonte -
Os beijos merecidos da Verdade.
SEGUNDA PARTE | MAR PORTUGUêS
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19.
_�8 _�9_�9
III Padrão
O esforço é grande e o homem é pequeno.
Eu, Diogo Cão, navegador, deixei
Este padrão ao pé do areal moreno
E para diante naveguei.
A alma é divina e a obra é imperfeita.
Este padrão sinala ao vento e aos céus
Que, da obra ousada, é minha a parte feita:
O por-fazer é só com Deus.
E ao imenso e possível oceano
Ensinam estas Quinas, que aqui vês,
Que o mar com fim será grego ou romano:
O mar sem fim é português.
E a Cruz ao alto diz que o que me há na alma
E faz a febre em mim de navegar
Só encontrará de Deus na eterna calma
O porto sempre por achar.
SEGUNDA PARTE | MAR PORTUGUêS
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�0.
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V Epitáfio de Bartolomeu Dias
Jaz aqui, na pequena praia extrema,
O Capitão do Fim. Dobrado o Assombro,
O mar é o mesmo: já ninguém o tema!
Atlas, mostra alto o mundo no seu ombro.
SEGUNDA PARTE | MAR PORTUGUêS
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�1.
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VI Os Colombos
Outros haverão de ter
O que houvermos de perder.
Outros poderão achar
O que, no nosso encontrar,
Foi achado, ou não achado,
Segundo o destino dado.
Mas o que a eles não toca
É a Magia que evoca
O Longe e faz dele história.
E por isso a sua glória
É justa auréola dada
Por uma luz emprestada.
SEGUNDA PARTE | MAR PORTUGUêS
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VII Ocidente
Com duas mãos - o Acto e o Destino -
Desvendámos. No mesmo gesto, ao céu
Uma ergue o fecho trémulo e divino
E a outra afasta o véu.
Fosse a hora que haver ou a que havia
A mão que ao Ocidente o véu rasgou,
Foi a alma a Ciência e corpo a ousadia
Da mão que desvendou.
Fosse Acaso, ou Vontade, ou Temporal
A mão que ergueu o facho que luziu,
Foi Deus a alma e o corpo Portugal
Da mão que o conduziu.
SEGUNDA PARTE | MAR PORTUGUêS
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VIII Fernão de Magalhães
No vale clareia uma fogueira.
Uma dança sacode a terra inteira.
E sombras desformes e descompostas
Em clarões negros do vale vão
Subitamente pelas encostas,
Indo perder-se na escuridão.
De quem é a dança que a noite aterra?
São os Titãs, os filhos da Terra,
Que dançam na morte do marinheiro
Que quis cingir o materno vulto
- Cingi-lo, dos homens, o primeiro -,
Na praia ao longe por fim sepulto.
Dançam, nem sabem que a alma ousada
Do morto ainda comanda a armada,
Pulso sem corpo ao leme a guiar
As naus no resto do fim do espaço:
Que até ausente soube cercar
A terra inteira com o seu abraço.
Violou a Terra. Mas eles não
O sabem, e dançam na solidão;
E sombras desformes e descompostas,
Indo perder-se nos horizontes,
Galgam do vale pelas encostas
Dos mudos montes.
SEGUNDA PARTE | MAR PORTUGUêS
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X Mar Português
Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!
Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quere passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.
SEGUNDA PARTE | MAR PORTUGUêS
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XI A Última Nau
Levando a bordo El-Rei D. Sebastião,
E erguendo, como um nome, alto o pendão
Do Império,
Foi-se a última nau, ao sol aziago
Erma, e entre choros de ânsia e de presago
Mistério.
Não voltou mais. A que ilha indescoberta
Aportou? Voltará da sorte incerta
Que teve?
Deus guarda o corpo e a forma do futuro,
Mas Sua luz projecta-o, sonho escuro
E breve.
Ah, quanto mais ao povo a alma falta,
Mais a minha alma atlântica se exalta
E entorna,
E em mim, num mar que não tem tempo ou ‘spaco,
Vejo entre a cerração teu vulto baço
Que torna.
Não sei a hora, mas sei que há a hora,
Demore-a Deus, chame-lhe a alma embora
Mistério.
Surges ao sol em mim, e a névoa finda:
A mesma, e trazes o pendão ainda
Do Império.
SEGUNDA PARTE | MAR PORTUGUêS
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��.
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D. Sebastião
‘Sperai! Cai no areal e na hora adversa
Que Deus concede aos seus
Para o intervalo em que esteja a alma imersa
Em sonhos que são Deus.
Que importa o areal e a morte e a desventura
Se com Deus me guardei?
É O que eu me sonhei que eterno dura,
É Esse que regressarei.
TERCEIRA PARTE | O ENCOBERTO | I OS SíMBOLOS | PRIMEIRO
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O Quinto Império
Triste de quem vive em casa,
Contente com o seu lar,
Sem que um sonho, no erguer de asa,
Faça até mais rubra a brasa
Da lareira a abandonar!
Triste de quem é feliz!
Vive porque a vida dura.
Nada na alma lhe diz
Mais que a lição da raiz -
Ter por vida a sepultura.
Eras sobre eras se somem
No tempo que em eras vem.
Ser descontente é ser homem.
Que as forças cegas se domem
Pela visão que a alma tem!
E assim, passados os quatro
Tempos do ser que sonhou,
A terra será teatro
Do dia claro, que no atro
Da erma noite começou.
Grécia, Roma, Cristandade,
Europa - os quatro se vão
Para onde vai toda a idade.
Quem vem viver a verdade
Que morreu D. Sebastião?
TERCEIRA PARTE | O ENCOBERTO | I OS SíMBOLOS | SEGUNDO
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O Desejado
Onde quer que, entre sombras e dizeres,
Jazas, remoto, sente-te sonhado,
E ergue-te do fundo de não-seres
Para teu novo fado!
Vem, Galaaz com pátria, erguer de novo,
Mas já no auge da suprema prova,
A alma penitente do teu povo
À Eucaristia Nova.
Mestre da Paz, ergue teu gládio ungido,
Excalibur do Fim, em jeito tal
Que sua Luz ao mundo dividido
Revele o Santo Gral!
TERCEIRA PARTE | O ENCOBERTO | I OS SíMBOLOS | TERCEIRO
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�9.
_�8 _�9_�9
As Ilhas Afortunadas
Que voz vem no som das ondas
Que não é a voz do mar?
É a voz de alguém que nos fala,
Mas que, se escutarmos, cala,
Por ter havido escutar.
E só se, meio dormindo,
Sem saber de ouvir ouvimos,
Que ela nos diz a esperança
A que, como uma criança
Dormente, a dormir sorrimos.
São ilhas afortunadas,
São terras sem ter lugar,
Onde o Rei mora esperando.
Mas, se vamos despertando,
Cala a voz, e há só o mar.
TERCEIRA PARTE | O ENCOBERTO | I OS SIMBOLOS | QUARTO
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António Vieira
O céu ‘strela o azul e tem grandeza.
Este, que teve a fama e à glória tem,
Imperador da língua portuguesa,
Foi-nos um céu também.
No imenso espaço seu de meditar,
Constelado de forma e de visão,
Surge, prenúncio claro do luar,
El-Rei D. Sebastião.
Mas não, não é luar: é luz do etéreo.
É um dia; e, no céu amplo de desejo,
A madrugada irreal do Quinto Império
Doira as margens do Tejo.
TERCEIRA PARTE | O ENCOBERTO | II OS AVISOS | SEGUNDO
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�1.
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Terceiro
‘Screvo meu livro à beira-mágoa.
Meu coração não tem que ter.
Tenho meus olhos quentes de água.
Só tu, Senhor, me dás viver.
Só te sentir e te pensar
Meus dias vácuos enche e doura.
Mas quando quererás voltar?
Quando é o Rei? Quando é a Hora?
Quando virás a ser o Cristo
De a quem morreu o falso Deus,
E a despertar do mal que existo
A Nova Terra e os Novos Céus?
Quando virás, ó Encoberto,
Sonho das eras português,
Tornar-me mais que o sopro incerto
De um grande anseio que Deus fez?
Ah, quando quererás, voltando,
Fazer minha esperança amor?
Da névoa e da saudade quando?
Quando, meu Sonho e meu Senhor?
TERCEIRA PARTE | O ENCOBERTO | II OS AVISOS
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Tormenta
Que jaz no abismo do mar que se ergue?
Nós, Portugal, o poder ser.
Que inquietação do fundo nos soergue?
O desejar poder querer.
Isto, e o mistério de que a noite é o fausto...
Mas súbito, onde o vento ruge,
O relâmpago, farol de Deus, um hausto
Brilha, e o mar ‘scuro ‘struge.
TERCEIRA PARTE | O ENCOBERTO | III OS TEMPOS | SEGUNDO
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_8� _8�_8�
Calma
Que costa é que as ondas cantam
E se não pode encontrar
Por mais naus que haja no mar?
O que é que as ondas encontram
E nunca se vê surgindo?
Este som de o mar praiar
Onde é que está existindo?
Ilha próxima e remota,
Que nos ouvidos persiste,
Para a vista não existe.
Que nau, que armada, que frota
Pode encontrar o caminho
À praia onde o mar insiste
Se à vista do mar é sozinho?
Haverá rasgões no espaço
Que dêem para o outro lado,
E que, um deles encontrado,
Aqui, onde há só sargaço,
Surja uma ilha velada,
O país afortunado
Que guarda o Rei desterrado
Em sua vida encantada?
TERCEIRA PARTE | O ENCOBERTO | III OS TEMPOS | TERCEIRO
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Antemanhã
O mostrengo que está no fim do mar
Veio das trevas a procurar
A madrugada do novo dia,
Do novo dia sem acabar;
E disse: “Quem é que dorme a lembrar
Que desvendou o Segundo Mundo,
Nem o Terceiro quere desvendar?”
E o som na treva de ele rodar
Faz mau o sono, triste o sonhar,
Rodou e foi-se o mostrengo servo
Que seu senhor veio aqui buscar.
Que veio aqui seu senhor chamar -
Chamar Aquele que está dormindo
E foi outrora Senhor do Mar.
TERCEIRA PARTE | O ENCOBERTO | III OS TEMPOS | QUARTO
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Nevoeiro
Nem rei nem lei, nem paz nem guerra,
Define com perfil e ser
Este fulgor baço da terra
Que é Portugal a entristecer -
Brilho sem luz e sem arder,
Como o que o fogo-fátuo encerra.
Ninguém sabe que coisa quere.
Ninguém conhece que alma tem,
Nem o que é mal nem o que é bem.
(Que ânsia distante perto chora?)
Tudo é incerto e derradeiro.
Tudo é disperso, nada é inteiro.
Ó Portugal, hoje és nevoeiro...
É a Hora!
TERCEIRA PARTE | O ENCOBERTO | III OS TEMPOS | QUINTO
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JOAQUIM CARVALHO
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JOAQUIM CARVALHO | CURRICULUM
Licenciado em Engenharia Química pelo
Instituto Superior Técnico, Lisboa, e licenciado
em Química, Ramo de Formação Educacional,
pela Faculdade de Ciências de Lisboa.
Frequentou as Oficinas de Pintura e Desenho
do Ar.Co, Lisboa, em 198�/1988.
Curso de Serigrafia organizado pela
Câmara Municipal de Oeiras, em 1989.
POESIA E PINTURA
Onde os Rios Nascem. �00�
Recuperar a Claridade. �008
EXPOSIÇÕES INDIVIDUAIS
Palácio Anjos, Algés;
Junta de Turismo da Costa do Sol, Estoril | Galeria Sabugal, Lisboa
Galeria Alfamixta, Lisboa;
Galeria da Biblioteca Nacional e do Livro, Lisboa;
Union Hill Arts Gallery, Kansas City – Missouri, E.U.A. ;
Galeria da Biblioteca Nacional e do Livro, Lisboa;
Museu Municipal, Figueira da Foz;
Museu de Aveiro, Aveiro;
Casa do Marquês, Algés;
Sala Damião de Góis, Bruxelas;
Museu da electricidade – Central Tejo, Lisboa;
Banco de Portugal, Lisboa;
Museu da Água – Casa do Registo, Lisboa | Fava Rica, Baiona, Espanha
Banco de Portugal, Lisboa | Instituto Camões, Vigo, Espanha;
Saint Michael and All Angels Episcopal Church, Kansas, E.U.A
Unity Temple on the Plaza Kansas City – Missouri, E.U.A
Grace Episcopal Cathedral,Topeka, U.S.A. Museu Provincial de Cáceres,
Cáceres, Espanha;
Museu Municipal de Sátão, Sátão; Fundação D. Luís I - Centro Cultural de
Cascais, Cascais;
Galeria Espaço Ponto e Vírgula, Torres Vedras; Galeria Brilho e Centelha,
Paço de Arcos; Exposição na Comunidade Cultural Virtual na Second life;
Biblioteca Municipal de Cascais - São Domingos de Rana
1989
1990
1991
199�
199�
199�
199�
1998
1999
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EXPOSIÇÕES COLECTIVAS
Salão da Primavera da Galeria de Arte do Casino do Estoril,
Estoril; Salão de Verão, Arte 89 – S.N.B.A., Lisboa
Galeria Miron arte contemporânea Portuguesa, Lisboa
Salão de pequeno Formato da Galeria de Arte do Casino do
Estoril, Estoril;
Exposição Evocativa do Centenário de Mário de Sá Carneiro na
Galeria da Biblioteca Nacional
e do Livro, Lisboa e Centro Gulbenkian, Paris;
Trovas à Morte de Inês, Galeria Soctip, Lisboa
I Bienal de Arte, Sabugal;
FIAP’9�, Galeria ���, Porto;
II Bienal de Arte, Sabugal;
Como é Diferente o Amor em Portugal, Galeria da Biblioteca
Nacional e do Livro, Lisboa;
III Bienal de Arte, Sabugal;
Exposição da ANAP, Museu de Aveiro, Aveiro
I Fórum da Cooperação e Solidariedade AMI, Lisboa;
ANJE - Exposição ANAP;
Percepções perante a Doença de Alzheimer
ANJE -Exposição ANAP;
Eu dei �0 minutos para os próximos 1000 anos Museu da
Àgua – Patriacal, Lisboa;
Porto Capital Europeia da Cultura - Instalações da Real
Companhia Velha , Vila Nova de Gaia;
Exposição Interdistrital de Pintura Rotary Internacional, Braga
Exposição de Pintura, 9�º Convenção R.I. Barcelona;
Exposição e Leilão de Obras de Arte, Galeria de Arte da Câ-
mara Municipal, ílhavo
Hotel D. Inês, Coimbra | 9º Bienal Internacional de Artes Plásti-
cas, Vendas Novas | Os Poderes da Arte, Supremo Tribunal de
Justiça,Lisboa | Galeria Perve, Lisboa;
10º Exposição Internacional de Artes Plásticas, Vendas Novas;
11º Exposição Internacional de Artes Plásticas, Vendas Novas
Acervo Galeria Perve, Lisboa; �00� Galeria Ipanema Park, Porto
Instituto Politécnico de Viseu, Viseu, etc...
Visão-1�0 anos depois, na galeria Malaposta, Lisboa.
1989
1990
1991
199�
199�
199�
199�
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1998
1999
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LEGENDAS
1. Tinta-da-china sobre papel. 1989 [�0 x ��cm]
�. Tinta-da-china sobre papel. 198� [�� x �0 cm]
�. Técnica mista sobre papel. 1988 [�� x ��,� cm]
�. Técnica mista sobre papel. 1989 [�� x �0 cm]
�. Grafite e lápis vermelho e verde sobre papel [�� x �9,� cm]
�. Técnica mista sobre papel. 1989 [�� x �0 cm]
�. Técnica mista sobre tela.199� [90 x 90 cm]
8. Técnica mista sobre papel. �000 [19,� x ��,� cm]
9. Técnica mista sobre papel.198� [�� x �0 cm]
10. Acrílico e lápis de cera sobre papel. 199� [��,� x �1 cm]
11. Tinta-da-china sobre papel.199� [�9,� x �9cm]
1�. Tinta-da-china sobre papel. 1989 [�� x �� cm]
1�. Tinta-da-china sobre papel. �008 [�� x �9,� cm]
1�. Tinta-da-china e acrílico s. papel. 1989 [�� x �0 cm]
1�. Técnica mista sobre papel. 199� [�� x �0 cm]
1�. Técnica mista sobre papel.199� [�8 x ��,� cm]
1�. Acrílico e tinta da china sobre papel. �00� [�9,� x �� cm]
18. Tinta-da-china sobre papel. �000 [�� x �0 cm]
19. Tinta-da-china e lápis de cera sobre papel. 199� [�� x �8 cm]
�0. Técnica mista sobre papel. 199� [�8 x �� cm]
�1. Tinta-da-china sobre papel. �00� [�9 x �1 cm]
��. Tinta-da-china e lápis de cera sobre papel. 199� [��,� x �8 cm]
��. Técnica mista sobre papel. �00� [�9 x �� cm]
��. Tinta-da-china e grafite sobre papel. 1989 [�9,� x �� cm]
��. Tinta-da-china e lápis de cera sobre papel.199� [�1 x �� cm]
��. Técnica mista sobre papel.199� [�� x �0 cm]
��. Tinta-da-china sobre papel. �008 [�� x ��,� cm]
�8. Tinta-da-china e grafite sobre papel. 1989 [�� x �9,� cm]
�9. Tinta-da-china sobre papel. �008 [�� x ��,� cm]
�0. Técnica mista sobre papel.1988 [�� x �0 cm]
�1. Tinta-da-china sobre papel. 198� [�1 x �� cm]
��. Técnica mista sobre papel. 1988 [�� x �0cm]
��. Técnica mista sobre papel. �00� [�9,� x 1�,� cm]
��. Tinta-da-china sobre papel. 1989 [�� x ��,� cm]
��. Técnica mista sobre papel.1988 [�� x �9 cm]
��. Tinta-da-china sobre papel.1989 [��,� x �� cm]
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Ficha Técnica
Edição Câmara Municipal de Cascais
FotografiaHumberto Ferreira
Design e PaginaçãoAna Pinheiro
ImpressãoTextype (a confirmar)
Tiragem�00 exemplares
ISBN9�8-9��-���-19�-�
Depósito Legala colocar pela gráfica
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