Sobre Os Aneis de Poder Um Estudo Compar

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    Histria, imagem e narrativas No 15, outubro/2012 ISSN 1808 9895 http://www.historiaimagem.com.br

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    Sobre os Anis de Poder: um estudo comparativo sobre as relaes de poder entrea obra de Tolkien e a mitologia escandinava

    Pablo Gomes de MirandaMestrando em Histria dos Espaos pela UFRN1

    [email protected]

    Resumo: O presente artigo tem como objetivo abordar as diferentes representaes dosanis emO Silmarillion, obra escrita pelo ingls John Ronald Reuel Tolkien, onde nosfocamos principalmente no fragmento Dos Anis de Poder e da Terceira Era, material publicado junto aO Silmarillion. Traaremos um paralelo com antigas narrativasescandinavas, abordando trs exemplos recorrentes na mitologia nrdica, Draupnr,Svagrss e Advaranaut, para ento estabelecermos as devidas relaes com os anis de poder descritos e a sua ao no mundo onde se passam os acontecimentos descritos porTolkien.

    Palavras-chave: Anis; Mitologia Escandinava;O Silmarillion; Tolkien;

    1 Mestrando em Histria dos Espaos pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), linhade pesquisa Cultura, Poder e Representaes Espaciais, onde desenvolve a pesquisaGuerra e

    Identidade: um estudo da marcialidade no Heimskringla sob orientao da Profa. Dra. Maria EmiliaMonteiro Porto. Membro do Ncleo de Estudos Vikings e Escandinavos.

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    Introduo:

    Em O Silmarillion, um conjunto de histrias sobre o passado remoto doscenrios construdos por John Ronald Reuel Tolkien, delinea a criao e osacontecimentos de uma temtica familiar a todos os seus escritos, os Anis do Poder.Para Tolkien, esses artefatos dotados de poderes fabulosos so entregues como presentes aos Homens, Elfos e Anes. Os presentes, que carregam consigo a promessade poder aos portadores, transforma-se em um instrumento de dominao pelo senhordo escuro, Sauron. Nesse trabalho, vamos nos concentrar principalmente em uma parte

    de O Silmarillion, chamada Dos Anis de Poder e da Terceira Era. Faz-se necessrio,no entanto, uma pequena retrospectiva sobre a produo do autor e a influncia dasfontes antigas e medievais, para compreendermos melhor o processo criativo do autor.

    Os acontecimentos que levaram J. R. R. Tolkien a escrever seu material sobre aTerra-Mdia, comearam com suas experincias da Primeira Guerra Mundial, quando as primeiras anotaes do seu Livro de Contos Perdidos2, esboos que seriam modificados pelo prprio autor e publicados mais tarde, de forma pstuma, apresentava a guerra

    contra Morgoth, a Saga de Trin e o material que viria a ser Lthien e Beren. Entre osservios de 1917 e 1918, quando impossibilitado de lutar no fronte de guerra, emocasio de ter contrado a Febre das Trincheiras, ele viu sua futura esposa, Edith,danando, o que lhe inspira a aprimorar o trabalho sobre Lthien e Beren.

    Na ocasio do Armistcio, 11 de novembro de 1918, ele j estava envolvido emtrabalhos acadmicos, vindo a contribuir com o Dicionrio de Ingls Oxford, no cargode Lexicogrfo assistente, mesmo perodo em que l, para o Clube de Ensaios da ExeterCollege, a Queda de Gondollin (parte do seu material do Livro de Contos Perdidos). Em1920 se torna professor-associado em Lngua Inglesa na Universidade de Leeds. Juntoao professor Eric Valentine Gordon, fundam o Clube Viking3, onde os membros (emsua maioria fillogos e historiadores) promoviam leituras de sagas islandesas, enquantodicutiam gtico, nrdico e ingls antigo. Sua parceria com E. V. Gordon tambm deu

    2 Book of the Lost Tales, no original, sem traduo para o portugus. No confundir com o Unfinished

    Tales, do mesmo autor, que fora publicado no Brasil com o ttulo Contos Inacabados.3 Viking Club.

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    frutos em sua traduo de Sir Galvo e o Cavaleiro Verde4. Em 1925, Tolkien consegueo cargo de Reader 5 de Anglo-saxo, na Universidade de Oxford.

    Ocupando seu novo cargo, Tolkien faz parte do grupo literrio chamado Inkling,do qual fez parte Messrs Coghill, Owen Barfield, Charles Williams e Clive StaplesLewis. Tal grupo, que se caracterizava pelos seus encontros informais e leituras demateriais produzidos pelos seus membros, proveu a profcua ocasio para a troca deidias entre J. R. R. Tolkien, do qual estamos tratando nesse artigo e C. S. Lewis,escritor de Narnia. De maneira curiosa, sua carreira no magistrio no fora marcada poruma quantidade volumosa de trabalhos acadmicos, mas por uma pequena produo que

    se destacara pela fora de seus argumentos. Durante a sua carreira como professor daUniversidade de Oxford, Tolkien publicou o seu famoso ensaio Beowulf: os Monstrose os Crticos6, uma coletnea de estudos sobre a interpretao e recepo da obra Beowulf 7.

    O seu primeiro livro sobre a Terra-Mdia,O Hobbit , publicado em 1937, e atrilogia deO Senhor dos Anis entre 1954 e 1955. Trabalhos famosos do autor, entreeles O Silmarillione Contos Inacabados, foram editados e publicados pelo seu filho,

    Cristopher Tolkien. Suas produes so permeadas pelas experincias que J. R. R.

    4 Sir Gawain and the Green Knight.5 difcil estabelecer um parmetro desse mesmo cargo para as universidades brasileiras, devido srestries que envolvem o termo Professor no Reino Unido. Poderamos dizer que o termo Readerequivale ao Professor-Assistente.6 Beowulf: The Monsters and The Critics, sem traduo para o portugus.7 Tolkien era muito influente nos estudos de Beowulf ao menos durante sua vida no porque fizeraespecficas, tcnicas, contribuies, mas porque ele desenvolveu uma leitura do quadro geral do poemaque encontrou benefcio de vrias geraes de crticos. Ainda que seja falacioso dizer que ningum almde Tolkien via Beowulf como um trabalho coerente de arte, porm Tolkien fez o primeiro caso

    amplamente aceito por ver Beowulf como um sucesso esttico, e ele mostrou como os monstros emBeowulr eram simblicas (no alegricas) representaes do caos e noite, postos em oposio aestabilidade e civilizao. O uso pelo poeta de tais smbolos, permitem a ele cria um poema que foce nona emaranhada lealdade dos heris, mas em um drama csmico maior, do qual eles so uma parte. Destamaneira, Tolkien interpretou a temtica de Beowulf como homem, cada homem, todos os homens etodos os seus trabalhos devem perecer, uma temtica consistente com o passado pago, mas um no qualnenhum cristo precisaria desprezar. Foi essa temtica, Tolkien argumentou, que trouxe a grandedignidade para o poema que mesmo os pesquisadores que lamentavam os monstros, acabaram por notar.Tolkien ainda argumentou que a macroestrutura do poema era semelhante microestrutura da linha potica Anglo-saxnica: ambas eram baseadas no equilbrio de uma parte sobre a outra. A linha potica dividida em duas metades grosseiras por uma cesura (Tolkien usou um termo mais descritivo pausa darespirao em Traduzindo Beowulf); outrossim, o poema dividido em duas parte grosseiras, a primeira na Dinamarca, a segunda em Gtalndia. Essa viso da estrutura do poema, permanece at hoje

    como consenso entre os Anglo-Saxonistas (embora haja dissidentes que argumentam por uma estruturaem trs ou quatro partes, seus argumentos no foram aceitos amplamente) (DROUT, 2007 p. 59 60).

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    Tolkien teve em toda uma vida de aproximaes com fontes da antiguidade e domedievo, ele foi um autor dinmico, que soube buscar inspirao nas mais diversasculturas que podiam lhe prover inspiraes para a escrita de suas aventuras8.

    No entanto, a influncia mais vigorosa advm das fontes do ingls antigo(nglisc): como exemplos temos Beowulf (provavelmente o que lhe influenciou mais), aBatalha de Maldon, O Hino de Cdmon, Encanto das Nove Ervas, os poemas de

    8 Suas obras encontram congruncias com a mitologia grega, entre o panteo de Valinor e os deuses doOlimpo, podemos fazer analogias a Manw e Zeus (senhores de suas montanhas, Taniquetil e o Olimpo,respectivamente, alm da sacralidade das guias), Ulmo e Poseidon (os senhores das guas), Aul, umferreiro que pode ser comparado a Hefesto, Mandos dominando o mundo inferior como Hades; Yavannacom Demeter, Vna com Persfone. Podemos encontrar a inspirao de Tolkien, tambm, nas lendasgregas (FISHER, 2007, p. 258 259): similar lenda de Prometeu, Aul forja uma corrente mgica,Angainor, para aprisionar Melkor, enquanto Maedhros, fora pendurado na montanha Thangorodrim(quando no seu resgate, Fingon corta sua mo); os irmos Elros e Elrond, similar a Castor e Pollux, sedividem entre a mortalidade e a imortalidade; nos contos de Beren e Lthien podemos encontrarsemelhanas com Orfeu e Eurdice, quando lembramos do resgate do companheiro morto, no mundoinferior; de alguma maneira, a queda de Nmenor, pode estar ligada aos dilogos de Plato, principalmente deCrtias. Da cultura latina, podemos traar alguns paralelos (SWAIN, 2007, p. 345 346): comparaes entre a Eneida de Virglio eO Senhor dos Anis, pode incluir o Caminho dos Mortosque lembra as cavernas descritas na fonte latina; o medo de Enias espantado pelo toque da sua espada,da mesma maneira como Gimli empunha seu machado. O prprio exrcito dos mortos, encontra seu paralelo medieval: ... no sculo XII que aparece nesses textos, pela primeira vez, o nome do bandoHellequin, atestado sob formas diversas at nossos dias. Sua mais antiga meno devida ao mongeanglo-normando Orderic Vital (1075 1142) (SCHMITT, 1999, p. 112). Algumas comparaes entreEnias e Aragorn so inevitveis: ambos so homens de alta linhagem, mas exilados de seus reinos;ambos encontram o amor de uma mulher forte e bela, amor que deve ser rejeitado em favor de seusdestinos; ambos encontram desafiantes ao trono, que na hora da morte, reconhecem o direito de reinar dosheris8. Do francs antigo, podemos considerar algumas comparaes com A Cano de Rolando, afigura do rei guerreiro Carlos Magno, inspirao para o rei Thoden (seus cabelos brancos e sua altura) eo conselheiro, Ganelo, na figura traioeira de Grma. No entanto na estrutura das obras em francsantigos, que Tolkien deve ter se inspirado mais, quando se utilizou de uma forma complexa de entrelace(um padro que tambm est presente em Beowulf , ainda que no de maneira to marcante), na qual h asoreposio de narrativas, tornando-as inseparveis, forma essa que pode ser encontrada no crculoarturiano, no tocante as obras atribudas Chrtien de Troyes. Do antigo alto alemo, Althochdeutsch,Tolkien conhecia oWessobrunner Gebet , que contm versos sobre o caos que antecede a criao(semelhante aoVlusp); os picos Hildebrandslied e Nibelungenlied , os quais so citados em seu estudo

    Finn and Hengest; do alto alemo mdio, Mittelhochdeutsch, Tolkien ainda conhecia o pico Kudrun, Iwein de Hartmann von Aue,Tristo de Gottfried von Strassburg, aGuerra de Tria de Konrad vonWrzbrug e Meier Helmbrecht de Wernher, o Jardineiro (SMITH, 2007, p. 470). Junto ao grego e aolatim, o finlands foi a lngua usada para o Qenya, uma das lnfuas lficas criadas por Tolkien, pela suamusicalidade fontica. O Kalevala, epopia compilada no sculo XIX por Elias Lonnrt, a partir decanes populares, no entanto, foi a maior inspirao retirada da cultura finlandesa, de onde pode sertraados diversos paralelos com a mitologia deO Silmarillion. As descries da criao do universo, emambas as obras, circulam em torno da msica criadora e cosmognica; podemos fazer paralelos entreAul e Ilmarinen, o deus ferreiro fnico, Varda (Elbereth), com a deusa da criao Ilmatar (que tambmlembra em certos aspectos, a senhora lfica Galadriel, pela sua luz) que tambm me de Vinminem(um dos personagens principais do Kalevala e que por sua vez divide muitos traos fsicos com Gandalf,um mago e sbio conselheiro de vrios povos); Fanor, o criador das Silmarils e lder dos elfos Noldor,lembra o mago Joukahainen, o mago impetuoso e ambicioso; o desbravador e ousado pretendente de

    Lthien, Beren, se assemelha a Lemminkinen; Trin Turambar, da mesma maneira comete incesto esuicdio, como Kullervo (PETTY, 2007, p. 205 207).

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    Cynewulf (principalmente Juliana e Cristo), Lceboc9, Herbarium, Salomo e Saturno,O Marinheiro, O Errante; e sem dvida, do nrdico antigo (norrna): Sagas Islandesas(Vlsunga saga, Hrlfs saga Kraka ok Kappa hans, Hervarar saga ok Heireks, etc), Edda em Prosa e a Edda Potica, alm do texto latinoGesta Danorum.

    Sua relao estreita com o pico Beowulf , marcante em toda sua obra. Para nonos determos em comparar as vrias ligaes com seus escritos, basta nos dizer que umdos temas centrais retirados desse conjunto de poemas, por Tolkien, gravita em torno dagenerosidade, que expressa em si, formas elevadas de coragem e auto-sacrifcio(CALLAHAN, 1972, p.5). O mesmo auto-sacrifcio feito por Beowulf 10 em sua batalha

    contra o Drago, feito pelos hobbits quando decidem destruir o Anel do Poder,tomando uma responsabilidade inesperada:

    ...mas o amor de Tolkien, pela idia de heris, homens de proezas ecoragem, lutando uma desesperada luta por aquilo que direito, contra barreiras provavelmente irresistveis, uma das vertentes contadas naHistria deO Senhor dos Anis. Em outra vertente desse pico, a lutaherica interna e espiritual. [...] os maiores heris deO Senhor dos Anis no aspiram portil fjr ok frgar ; nem o desejo porlof e dom os motivam. Sua responsabilidade com a causa do bem os chmam eele no podem, nem vo, recusar. A guerra posiciona o bem contra omal absoluto, mas o bem aparece, quase metaforicamente, nos moldese formas da Era Herica. O resultado dessa vasta batalha, entretanto,depende completamente do sucesso ou falha de duas pequenas figuras,Sam e Frodo (CLARK, 2000, p. 44)11.

    A jornada da comitiva destinada a essa destruio, composta por vrios personagens que se comprometem de maneira generosa (mesmo Boromir remedia sua

    9 Termo de traduo complicada para o portugus, poderamos traduzir como Livro dos Parasitas ou dasEnfermidades, mas podemos perder o sentido original da palavra.10 No colocamos o termo aqui em Itlico, pelo fato de nos referirmos ao personagem Beowulf e no aobra de mesmo nome, fato que se repete com Hobbit, a raa de seres da qual faz parte Bilbo e FrodoBolseiro eO Hobbit , obra de J. R. R. Tolkien. 11 ...but Tolkiens love for the idea of heroes, men of prowess and courage fighting a desperate battle forthe right against seemingly overpowering odds, makes one strand of the story told in LR. In the otherstrand of that epic, the heroic struggle is internal and spiritual. [...] The large heroes of LR do not aspiretil fjr ok frgar ; no desire forlof and dom motivates them. Their duty to the good cause calls them andthey cannot, will not, refuse. The war pits the good against absolute evil, but the good appear, almost

    metaphorically, in the shapes and forms of the heroic age. The outcome of this vast struggle, however,depends completely upon the success or failure of two small figures, Sam and Frodo. Traduo nossa.

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    ganncia na hora de sua morte, protegendo os Hobbits). No s os personagens deOSenhor dos Anis enfrentam, com chances pequenas, foras esmagadoras: emO Hobbit ,Bilbo Bolseiro recrutado por Gandalf, o Cinza, para uma jornada, para o qual acertamuma parte dos tesouros conseguidos nessa empreitada, na qual na falta de guerreiros ouheris, um ladro serviria para roubar o ouro do drago Smaug. o prprio Bilbo, quemais tarde ir se livrar de sua parte do ouro, para atenuar o conflito entre os Homens,Elfos e Anes. EmO Silmarillion, por exemplo, a histria de Lthien e Beren, tambm permeada pela jornada contra todas as probabilidades, inclusive nenhum interesse emfama ou riquezas, apenas pelo amor entre o casal.

    Da Batalha de Maldon, podemos ver o questionamento do valor herico deAragorn, feito por Boromir, ao lembrar que o antepassado do primeiro, Isildur, falharaem destruir o Anel de Sauron, a resposta de Aragorn semelhante a linha 251 do poemaem ingls antigo: nu mg cunnian hwa cene sy, agora podemos saber quem corajoso (HOLMES, 2007, p. 52 54)12. Do Hino de Cdmon, segundo o prprioTolkien (quando explicou seu trabalho aos editores da Houghton Mifflin), veio o termoTerra-mdia13, retirado diretamente da stima linha do poema (HARPER, 2007, p. 81 82). Do Encanto das Nove Ervas, Elrond consegue curar o ferimento que o Rei-Bruxode Angmar havia lhe provocado, quando o apunhalou em Amon Sl14. Das ervas, aKingsfoil, conhecida na Terra-Mdia como Athelas, divide vrias caractersticas com aservas das famlias Potentilla e Astarecae, no Lceboc e Herbarium, as plantasconhecidas como Wudurofe ou Wuduhrofe (ainda, Astularegia, em latim),correspondente ao gnero Asphodelus, tambm so paralelos da Athelas, teis pelo seuaroma e utilidade para curar ferimentos. Tambm dessas fontes medicinais queTolkien retira as Lembas, descritas comowegbrde (po de viagem) (KISOR, 2007, p.350). A imagem radiante e o brilho de algumas personagens femininas, como Galadriel

    12 John R. Holmes ainda traa uma outra comparao, em torno da expresso Coragem do Norte:Tolkiens dramatic sequel to the poem, The Homecoming of Beorhtnoth, Beorhthels Son, is onlythe most concrete sign of the poems influence on Tolkien: more general is the poems iconic status as theclassic expression of what Tolkien in Beowulf: The Monsters and the Critics called Northern courage(HOLMES, 2007, p. 52).13 Do original Middangeard, no original.14 O encanto til, segundo o Encanto das Nove Ervas, pontadas sbitas, ou seja, reumatismos e doreslocalizadas de origens desconhecidas, resultados de dardos e lminas atiradas por bruxas, demnios e

    elfos. Segue o procedimento do encanto: The exorcist uses the herbs feverfew, nettle, and plantain and aknife to extract or neutralize this dart, which then melts (LEIBIGER, 2007, p. 91 92).

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    e owyn, parte de um conjunto de qualidades, tais como nascimento nobre,sobriedade e coragem, caracterstico do poema Juliana (TUBBS, 2007, p. 315 316);temos a transposio e interpretao da Viagem de arendel, o Estrela Vespertina, do poema Cristo, para a viagem de arendil, o marinheiro, personagem que matou o dragoAncalagon, o Negro e garantiu a vitria dos Valar sobre Morgoth na Guerra da Ira(PHELPSTEAD, 2007, p. 98 99)15. De Salomo e Saturno, foram retiradas inspirao para vrias charadas, usadas principalmente na disputa entre Bilbo e Gollum, emO Hobbit , especialmente a charada sobre o tempo (POWELL, 2007, p. 620).

    de O Marinheiro (The Seafarer) e O Errante (The Wanderer), que Tolkien

    adota o tema do exlio, voltado para os Noldor, aos Entes e, particularmente, ao personagem Aragorn: ...The Seafarer imediatamente impele o leitor para dentro de ummundo de degredo, penria, e solido.The Wanderer lamenta a passagem de uma vidainteira, o mundo herico do saguo de guerreiro (OLIVEIRA, 2010, p. 185). EmTheWanderer , encontramos termos que identificam o guerreiro comoeard-stapa, que podeser traduzido como vagante, andarilho, em paralelo direto com a alcunha de Aragorn,conhecido comoStrider . Em tempo, alguns versos foram ditos por Aragorn aosRohirrim em As Duas Torres: Aonde foi o cavalo?/ Aonde o cavaleiro?/ Aonde odoador do tesouro?/ Onde esto os assentos do banquete?/Onde esto os divertimentosno saguo?16 (The Wanderer 92 95).

    EmThe Seafarer , podemos encontrar o exlio marcado no ambiente martimo, asdurezas e dissabores do modo de vida ao mar. No entanto, os mesmo obstculos,glorificam a rdua vida ao mar em contraste com uma pacfica vida em terra: O poetadiscute as misrias e atraes da vida no mar, passando, em seguida, a comparao entre

    os valores terrenos e as recompensas celestiais (OLIVEIRA, 2010, p. 201), sendoidentificado com o personagem arendil,The Seafarer , do qual escrevemosanteriormente. Devemos lembrar que o personagem Legolas, ao ouvir as andorinhas, fazum poema sobre o exlio de seu povo (sendo ele um Elfo, ainda que ele no seja Noldor), podemos perceber a relao das aves marinhas e o sentimento do exlio em

    15 Na ltima batalha de arendil, tambm h a incidncia do tema radiante, quando ele aparece envoltoem luz branca, navegando no seu barco Vingilot.16 Hwr cwom mearg? Hwr cwom mago?/Hwr cwom maumgyfa?/Hwr cwom symbla

    gesetu?/Hwr sindon seledreamas?, estrofes transcritas e traduzidas por Joo Bittencourt de Oliveira,em OLIVEIRA, 2010, p. 192.

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    versos como: s vezes, eu fazia do canto do cisne o meu prprio passatempo, dotrinado do mergulho e do maarico a gargalhada dos homens, do gorjeio da gaivota aalegria do saguo de hidromel17 (The Seafarer 19 22).

    Fontes escandinavas tambm podem ter servido de inspirao para o episdiodas charadas, na Viso de Gylfi (Gylfaginning ), parte da Edda em Prosa, o deus rr derrotado em combate por uma velha, que mais tarde revelado ser a prpria velhice (acharada em Salomo e Saturno usa o termo velhice e no tempo, Tolkien acaba porsimplific-la, modificando a original). Na Edda Potica, no poema Cano deVafrnir (Vafrnisml ), o deus inn, conhecido pela sua sabedoria, enfrenta

    Vafrnir, o mais poderoso de todos os gigantes, em um desafio de charadas, domesmo modo, h um desafio na Hervarar saga ok Heireks, utilizando poemas, comoformulao das perguntas, esse embate, tambm com o deus inn, termina com amesma pergunta feita no Vafrnir, acerca dos segredos sussurrados pelo deus aocorpo de seu filho, durante o funeral do mesmo. Um outro poema da Edda Potica,Falas da Profetisa (Vlusp) serviu como inspirao para o nome dos anes queacompanham Bilbo Bolseiro, em O Hobbit18.

    Ainda na Edda Potica, temos a Cano de Regin ( Reginsml ), que apresenta amaldio do ouro em torno do tesouro do drago Ffnir, um tema ligado diretamente aoAnel do Poder, como iremos demonstrar nesse artigo. Da Cano de Alvss ( Alvssml ),o deus rr ludibria seu adversrio at o amanhecer, quando o sol transforma Alvss em pedra, em paralelo comO Hobbit , quando os Trolls so transformados em pedra damesma maneira. Segundo BURNS (2007, p. 473 478), vrios traos do deus innesto presentes na obra de Tolkien, espalhados por vrios personagens: Manw observa

    a criao da mesma maneira que o deus nrdico, ambos sentados em seus respectivos

    17 Hwilum ylfete song/dyd ic me to gomene, ganetes hleoor/ond huilpan sweg fore hleahtor wera,/mwsingende fore medodrince, estrofes transcritas e traduzidas por Joo Bittencourt de Oliveira, emOLIVEIRA, 2010, p. 199 200.18 Podemos encontrar os anes mais poderosos, Msognir e Durinn. Seguem Ni e Nii, Norri, Suri,Austri, Vestri, Aljfr,, Bvurr, Bvurr, Bmburr, Nri, nn, narr, Veigr, Gandalfr,Vindalfr, rinn,ekkr, orinn, rr, Vitr, Litr, Nr, Nrr, Reginn, Fli, Kli, Fundinn, Nli, Heptifli, Hanarr, Svurr,Frr, Hrnbori, Frgr, Lni, Aurvangr, Jari, Eikinskjaldi, Draupnir, Dolgrasir, Hr, Haugspori, Hlvangr,Glinn, Skirfir, Virfir, Skfir, i, lfr, Yngvi, Fjalarr, Frosti, Finnr e Ginarr. Alguns desses nomes possuem significados prprios (Norri, Suri, Austri, Vestri, norte, sul, leste e oeste, respectivamente),

    Eikinskjaldi pode ser traduzido como escudo de carvalho, outros nomes como lfr causa confuso, pois pode ser traduzido como Elfo, essa lista pode ser encontrada entre os versos 9 e 16 do referido poema.

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    tronos, da mesma maneira, o deus nrdico e o valar tolkeniano empregam aves ao seusservios. Da mesma maneira, Sauron a tudo observa, como uma representao negativa,em sua fortaleza Barad-dr, que junto Morgoth, favorecem o uso de lobos e atuam pormeios ardilosos, alm de poder assumir diversas formas. Podemos ainda traar paralelosentre o conto Beren e o lobo Carcharoth e a lenda do deus Tr e o lobo Fenrir, onde emambos os casos os protagonistas tm suas mos arrancadas pelos lobos, ou ainda entreTrin e Sigurr, ambos portam elmos aterrorizantes e usam espadas renovadas paramatar os respectivos drages (Glaurung e Ffnir) que quando mortos, predizem umfuturo negro para seus algozes. Das Sagas Islandesas, temos a transposio da forma deurso do personagem Beorn, similar ao que se passa naVlsunga saga, com Sigurr e

    Sigmundr que adotam a figura do lobo, na Hrlfs saga ok Kappa hans, com Bjrki, queadota a forma de um urso para lutar pelo seu rei e, ainda, o pai de Egil Skallagrimsson,da Egils saga Skallagrimssonar , que se transformava em um lobo noite.

    Essas comparaes, ainda que rpidas e superficiais, nos mostram a amplitudedo uso das mais diversas fontes que o autor cruzou para dar vida s suas obras. Em particular, a temtica do anel, que cruza praticamente todas as obras de Tolkien, no estranha s fontes anglo-saxnicas e nrdicas, onde desempenha um poder simblicorelacionado a vnculos de poderes entre os homens. Possibilitados, ento, pela ligaoentre o corpo literrio de Tolkien e as vrias fontes do mundo anglo-saxnico eescandinavos, faremos analogias entre as representaes dos anis emO Silmarillion eaqueles presentes nos mitos escandinavos, para compreendermos a harmonia e aconservao das relaes de poder entre a escrita do autor ingls e o arcabouomitolgico nrdico.

    Dos Anis de Poder e da Terceira Era as representaes dos Anis de Poder em

    Tolkien:

    O primeiro dos Anis do Poder a ser apresentado por Tolkien ao pblico leitor,foi em 1937, na ocasio da publicao deO Hobbit (lembremos queO Silmarillion foi publicado anos depois), em uma contenda de charadas s escuras, entre um Hobbit,Bilbo Bolseiro, e a solitria pequena criatura viscosa conhecida como Gollum (ou

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    precioso, como se dirige a si mesmo). Em sua primeira apario, o anel no traziaconsigo, mal algum ao seu portador, era um simples adorno que conferia ao seu portador a habilidade de se tornar invisvel. Tal habilidade acaba sendo til por toda atrama, conferindo ao artefato importncia vital para o desenrolar das aventuras de BilboBolseiro. Assustado e longe de seus amigos, Bilbo se aproxima desse Gollum que lhe prope um jogo de charadas na caverna, visando devorar o pequeno Hobbit. Aps oconfronto, do qual Bilbo Bolseiro sai vitorioso, Gollum promete-lhe ajuda para a sadada caverna, mas que seria necessrio retornar ao seu esconderijo, justificando que haviaali coisas teis a serem usadas na pequena jornada19.

    Apesar de ser o anel mais famoso, o Um Anel, pertencente ao vilo Sauron, no o nico. EmO Silmarillion, na ocasio do fim da Grande Guerra e a queda dasThangorodrim, Sauron perde o seu senhor Morgoth, junto a todos os poderes conferidos por sua vassalidade. merc dos Elfos e dos valar, principalmente Manw, Sauronrepudia seus atos, prestando votos de obedincia aos seus captores. Por orgulho evergonha, no se dispe viagem em direo a Valinor, onde seria julgado, mas permanece na Terra-Mdia, onde se volta novamente ao mal, pois os laos queMorgoth lanara sobre ele eram muito fortes (TOLKIEN, 2011, p. 364). Conseguindoa confiana dos habitantes da Terra-Mdia, ele adota o nome Annatar, Senhor dosPresentes, passando a ser querido por todos.

    Sauron utiliza-se do orgulho das tradies dos povos lficos, para queaceitassem seus saberes sobre artes outrora perdidas. Os Noldor foram os Elfos que

    19 ... Gollum tinha a inteno de voltar. Agora estava com fome, e furioso. Era uma criatura miservel emalvada, e j arquitetara um plano. No muito longe ficava sua ilha, da qual Bilbo nada sabia, e ali, em

    seu esconderijo, ele guardava algumas ninharias desprezveis, e uma coisa muito bonita, muito bonita,muito maravilhosa. Ele tinha um anel, um anel de ouro, um anel precioso. - Meu presente de aniversrio! sussurrou consigo mesmo, como tantas vezes fizera nos interminveis dias escuros. isso que nsquer agora, ssim, ns quer ele. Ele o queria porque se tratava de um anel de poder, e se algum colocavaaquele anel no dedo, ficava invisvel e s podia ser visto em plena luz do dia e, mesmo assim, apenas pelasombra, que aparecia trmula e apagada (TOLKIEN, 2002, p. 80 - 81). O Gollum uma criaturaobcecada por este anel, planejando utiliz-lo para enforcar Bilbo, quando nota que o havia perdido, sedirige furioso ao pequeno Hobbit, que tinha o anel de poder em seu bolso (que ironicamente haviafornecido a soluo para a derradeira charada que lhe conferira vitria sobre viscosa criatura). Aflito pela perda do anel, a criatura guincha, amaldioa, chora e enlouquece no escuro de sua caverna, enquanto perseguia o Hobbit: Tinha perdido: perdido a presa, e perdido, tambm, a nica coisa de que gostava, oseu precioso (TOLKIEN, 2002, p. 87), invisvel pelo poder do artefato, Bilbo j encontrara seu caminhoe estava longe do perigo, indo se reencontrar com os companheiros de sua comitiva.

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    partiram em busca das Silmarils, objetos valiosos feitos pelo Elfo Fanor e que envolve boa parte deO Silmarillion, um povo orgulhoso de seus artefatos, aceitando de bomgrado a contribuio de Sauron acerca da fabricao de objetos que pudessem elevarseus domnios artsticos. Por outro lado, Sauron j arquitetava seu plano de dominao,na inteno de manter os Elfos sob vigilncia:

    Ora, os elfos fizeram muitos anis. Em segredo, porm, Sauron fezUm Anel para governar todos os outros; e o poder dos outros estavavinculado ao dele, de modo a submeter-se totalmente a ele e a durarsomente enquanto ele durasse. E grande parte da fora e da vontade deSauron foi transmitida quele Um Anel. Pois o poder dos anis lficosera enorme, e aquele que deveria govern-lo deveria ser um objeto de potncia extraordinria. E Sauron o forjou na Montanha de Fogo naTerra da Sombra. E, enquanto usava o Um Anel, ele conseguia perceber tudo o que era feito pelos anis subalternos, e ler e controlarat mesmo os pensamentos daqueles que os usavam (TOLKIEN,2011, p. 366 367).

    Descobrindo suas intenes, os Elfos retiraram os anis a tempo e fugiram.

    Declarando guerra, Sauron reivindica os objetos afirmando que sem o seuconhecimento, nenhum dos anis teriam sido feitos. contado, ento, que um certoartfice, de nome Celembrimbor, forjara trs dos Anis do Poder, Narya (Anel do Fogo)que teve um rubi engastado, Nenya (Anel da gua) que recebeu um diamante e Vilya(Anel do Ar) adornado com uma safira. Esses trs anis conferem habilidades diferentesdaquele Um Anel forjado por Sauron e utilizado por Bilbo Bolseiro (e mais tarde porFrodo Bolseiro, emO Senhor dos Anis), ... quem os guardasse poderia afastar osestragos do tempo e adiar o cansao do mundo (TOLKIEN, 2011, p. 367). Esses anis passam a estar ligados diretamente ao destino dos povos lficos, pois nas regies ondeeram guardados, Vilya protegida por Elrond, filho de Lthien e Beren, em Valfenda e Nenya por Galadriel, senhora de Lrien, esposa de Celeborn20, a passagem do tempono os afetavam, preservando a beleza dos Elfos e a sua felicidade. Da mesma maneira,caso fossem destrudos, o que acabou ocorrendo, j que a destruio do Um Anel estava

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    O Anel do Fogo, Narya, estava na posse secreta de Crdan, o Armador, passando depois para a guardade Mithrandir (Gandalf).

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    ligada a todos os Anis de Poder, os Elfos seriam eclipsados pelos Homens, dandoincio terceira Era.

    Os Elfos so os que menos sofrem a ao negativa dos Anis de Poder, o autorfaz um pequeno comentrio sobre essa questo em um rascunho de uma cartaendereada a Michael Straight em 1956:

    Por essa razo caram at certo ponto nos artifcios de Sauron:desejavam um certo poder sobre as coisas tal como so (o que bastante distinto de arte), para tornar efetiva sua vontade particular de preservao capturar a mudana e manter as coisas sempre novas e belas. Os Trs Anis eram imaculados pois esse objetivo de umamaneira limitada era bom, inclua a cura dos danos reais da malciaassim como a mera captura das mudanas, e os Elfos no desejavamdominar outras vontades nem usurpar todo o mundo para seu prazer particular (TOLKIEN, 2006, p. 257).

    Ainda cedo na narrativa deO Silmarillion (exatamente na seo chamadaQuenta Silmarillion), Tolkien descreve a criao dos Anes por Aul, o valar que

    domina as artes da forja e est ligado terra. Ansioso para ensinar seu ofcio, ele cria ossete patriarcas dos Anes, sendo recriminado por Ilvatar, o superior de todos os valar.Aul prope destruir os Anes, esses que ao demonstrarem medo, fazem Ilvatar seapiedar, permitindo a existncia desses seres, na condio que esperassem devida hora(o aparecimento dos Elfos) adormecidos.

    Como foram feitos por Aul na poca em que Morgoth era uma grande ameaa,eles eram tenazes e resistentes so duros como a pedra, teimosos, firmes na amizade e

    na inimizade, e conseguem suportar fadiga, fome e ferimentos com mais bravura do quetodos os outros povos que falam (TOLKIEN, 2011, p. 41). Entretanto, sete anis foramdados por Sauron aos lderes Anes, e seus prprios tesouros estavam ligados possedos anis. As caractersticas dessa raa, atribudas por Tolkien, ligados sua tenacidadee busca por tesouros, os levam a ser naturalmente resistentes aos encantos do vilo, massua ganncia acaba os deixando vulnerveis:

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    Os anes de fato se provaram resistentes e duros de domar. que elesde fato se provaram resistentes e duros de domar. que eles nosuportam o domnio de outros; e difcil descobrir o que passa emseus coraes; [...] Usavam seus anis somente para a obteno de

    riquezas; mas a clera e uma cobia avassaladora por ouro foramdespertados em seu ntimo, e disso bastantes malefcios resultaram em proveito de Sauron. Diz-se que a origem de cada um dos SeteTesouros dos Reis Anes de outrora foi um anel de ouro. Mas todosesses tesouros j h muito foram pilhados, e os drages os devoraram;e dos Sete Anis alguns foram consumidos pelo fogo, e alguns Sauronrecuperou (TOLKIEN, 2011, p. 368).

    Por ltimo, Sauron ofereceu nove anis aos Homens, esses que sofreram muito

    mais as aes de sua dominao. Aqueles que aceitaram, se tornaram sbios, eramfeiticeiros, reis e guerreiros poderosos de seu tempo. Podiam andar invisveis luz dodia e conseguiam ver coisas que no eram perceptveis olhos mortais, porm, tanto poder e glria conferida aos usurios dos nove anis acabou sendo sua runa, como o prprio autor escreve:

    ...um a um, mais cedo ou mais tarde, de acordo com sua fora inata e a bondade ou a maldade de suas vontades no incio, eles caam sob aescravido do anel que portavam e sob o domnio do Um, que era o deSauron. E se tornavam invisveis para sempre, menos para ele, queusava o Anel Governante e passavam para o reino das sombras. Osnazgl eram eles, os Espectros do Anel, os mais terrveis servos doInimigo. A escurido ia com eles, e seus gritos eram dados com a vozda morte (TOLKIEN, 2011, p. 368).

    Os Homens, na literatura de Tolkien, foram os que se corromperam com maiorfacilidade e de maneira mais ampla. Apesar de boa parte da narrativa deO Silmarillion tratar dos Valar, Maiar e Elfos, fica muito claro a importncia assumida pelos Homens,como um passo importante para que se cumprisse o prprio destino da Terra-Mdia, sena Ainulindal, os Elfos so chamados de os Primognitos de Ilvatar, os Homens soos Sucessores (TOLKIEN, 2011, p. 7). Os Elfos (chamados de Quendi por Ilvatar), soas mais belas e as mais felizes criaturas, alm de possurem uma vida sem os efeitos dotempo, apenas falecendo por assassinato ou definhamento, no caso eles so reunidos na

    manso de Mandos, um Valar responsvel pelos mortos, para depois retornar. Os

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    Homens (chamados de Atani) recebem dons que so pouco compreendidos peloshabitantes da Terra-Mdia, Liberdade e Mortalidade. Os Homens, para Tolkien, buscamem seus coraes por coisas que esto fora do mundo, o fazendo sem descanso, essaatuao est destinada a completar a criao que Ilvatar e os Valar cantaram emAinulindal. O tempo passageiro dos Homens os tornam hspedes transitrios nessemundo, livrando-os da tristeza dos Elfos, que so assolados pela angstia de observar aextenuao daquilo que mais se ama, o fim da Terra-Mdia (que, por sua vez, nada mais do que o fim de um ciclo previsto pelos criadores, quando haver a Segunda Canodos Ainur).

    Respondendo a questes acerca de sua obraO Senhor dos Anis, nos rascunhosde uma carta endereada a uma certa Joanna de Bortadanno, Tolkien expressa atemtica de sua obra:

    No creio que mesmo o Poder ou a Dominao sejam o verdadeirocentro de minha histria. Isso fornece o tema de uma guerra, sobrealguma coisa suficientemente sombria e ameaadora para parecer-senaquele momento de suprema importncia, mas principalmente um

    cenrio para os personagens mostrarem-se. O verdadeiro tema paramim sobre algo muito mais permanente e difcil: Morte eImortalidade o mistrio do amor pelo mundo nos coraes de umaraa fadada a deix-lo e aparentemente perd-lo; a angstia noscoraes de uma raa fadada a no deix-lo at que toda a histriadeste mundo estimulada pelo mal esteja completa (TOLKIEN, 2006, p. 236).

    Os dons conferidos aos Homens espantam os Elfos que admiram a rpida vida

    de Born, o Velho21. Os prprios Homens no compreendem os seus dons e sofacilmente corrompidos pelos poderes das trevas, principalmente os seus senhores,

    21 A passagem naQuenta Silmarillion merece uma citao, pela fora ilustrativa: Os anos de vida dosedain foram prolongados, de acordo com o clculo dos homens, depois de sua chegada a Beleriand; mas,no final, Bor, o Velho, faleceu quando j tinha vivido noventa e trs anos, quarenta e quatro dos quais aservio do Rei Felagund. E, quando jazia morto, sem nenhum ferimento ou mgoa, mas abatido pelaidade, os eldar viram pela primeira vez o rpido ocaso da vida dos homens e a morte por cansao que elesmesmos no conheciam. E lamentaram muito a perda de seus amigos. Bor, entretanto, entregara a vidade bom grado e fizera a passagem em paz. E os eldar muito se admiraram com o estranho destino dos

    homens, pois em toda a sua tradio de conhecimento no havia nenhuma meno a ele, e seu fim lhes eradesconhecido (TOLKIEN, 2011, p. 185).

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    Morgoth e Sauron. O Akallabth narra a ascenso e queda dos Nmenorianos, Homensque ao temerem a morte, preservam os corpos dos falecidos, constrem suas necrpolise, seduzidos por Sauron, se entregam ao culto de Morgoth, durante o reinado de Ar-Pharazn (chamado de O Dourado). Os Elfos so os menos afetados pelo controle deSauron, seus anis foram feitos sem a sua influncia (apesar de sujeitos ao Um Anel), eforam levados a confeco dos artefatos por um motivo nobre, a restaurao do malcausado pela escurido daquilo que mal, sua fraqueza ronda a angstia de ver a belezase desfazer, aproveitado por Sauron quando deles se aproxima. Os anes sonaturalmente resistentes feitiaria de Sauron, no entanto demonstram uma fraquezarelacionada cobia pelo ouro, por essa via tambm foram dominados. A liberdade e

    busca de poder, caractersticas mais marcante dos Homens, dados como presente pelo prprio Ilvatar, os angustia justamente pela sua incompreenso e a maneira pela qualso mais expostos aos poderes malignos na literatura tolkeniana.

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    Imagem 1: Forging of the One Pintura de Ted Smith22, representando o momento em que Sauron, oSenhor do Escuro, forja o Um Anel.

    Os Anis de Poder, so instrumentos de dominao por excelncia, utilizados por Sauron para a dominao dos povos da Terra-Mdia. A relao mgica entre eles,subordinados ao Um Anel (possudo pelo prprio Senhor do Escuro), fora os serviosdaqueles que so corrompidos, no para uma vassalagem (instituio presente nas obrasde Tolkien), mas para uma relao tirnica de obsesso (relacionados ao passado, ouroou glria) que sujeita obedincia aqueles que utilizam esses artefatos23.

    Os Anis na Mitologia Escandinava:

    Os anis esto ligados diretamente a alguma uma forma de reconhecimento oucompensao. Alguns exemplos das sagas islandesas, em especiais as das sagas dos reis(konungasgur ) nos mostram os anis sendo usados como pagamentos por versos dosescaldos, os poetas escandinavos: Na saga do santo lfr, o escaldo Sigvatr rarson

    declama um poema para o rei, que para recompensa-lo lhe d um anel de ouro( gullhringr ) no peso de meia marca e lhe integra aos seus companheiros (lfs saga Helga 43). Mais a frente, o escaldo Sigvatr faz uma jornada at encontrar-se com o jarl Rgnvaldr, na ocasio do encontro o poeta profere alguns versos sobre a dificuldade da jornada, e o anfitrio lhe presenteia com um gullhringr (lfs saga Helga 91). Naocasio da visita do mesmo escaldo corte do rei Kntr, o Grande, ele recebe um gullhringr de meia marca, enquanto outro escaldo, Bersi Skldtorfuson, ganha dois

    gullhringar de meia marca cada, alm de uma bela espada24

    (lfs saga Helga 131). Aoacordar na manh antes da derradeira batalha de Stiklarstair, o rei lfr pede que oescaldo rmor recite algum poema, assim ele recita os antigos Ditos de Bjarki

    22 Pintura disponvel emhttp://www.tednasmith.com/silmarillion/TN-Forging_the_One.jpg.23 Essa sujeio est presente nesses versos que simplifica toda essa relao de dominao: Trs Anis para os Reis-Elfos sob este cu,/Sete para os Senhores Anes em seus rochosos corredores,/Nove para osHomens Mortais, fadados ao eterno sono,/Um para o Senhor do Escuro em seu escuro trono./Na Terra deMordor onde as Sombras se deitam (TOLKIEN, 2006, p. 146).24 Na ocasio, o poeta no demora em tecer crticas ao rei em poesia, primeiro atestando a injustia

    cometida na premiao dos poetas e em outra estrofe, a dominao desse monarca sobre outros reis ecomo o seu patrono, lfr, nunca iria se ajoelhar perante Kntr (lfs saga Helga 131).

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    ( Bjarkaml ) para inspirar os guerreiros, por isso o rei lhe d um gullhringr de meiamarca (lfs saga Helga 208).

    Imagem 2: Parte do tesouro desenterrado em Gotland, aqui encontramos anis, braceletes e colares em prata. Na ocasio da escavao, foram retirados 76 kg de prata em jias e moedas.

    Tambm so usados em barganhas, como trocas ou pagamentos por servios: Nasaga de lfr Tryggvason, o rei se afeioa por Vgi, um enorme co que pertencia a um pastor irlands, em troca do animal, o rei d ao pastor um anel de ouro ( gullhringr ) junto a sua amizade (lfs saga Tryggvasonar 32). Certa vez, o santo lfr pede queBjorn leve sua proposta acerca das fronteiras de seu reino para a corte do rei sueco, paraessa empreitada ele entrega ao mensageiro uma espada adornada com ouro e um anel dededo de ouro ( fingrgull ), a ser entregue ao jarl Rgnvaldr, para que lhe ajudasse nacausa (uma compensao pelos esforos). Steinn Skaptason, ao aportar na Islndia,consegue trazer um padre para o nascimento da filha de rbergr rnason, Steinn lhe d

    como presente batismal, um fingrgull(lfs saga Helga 138).

    Os anis tambm podem ser usados para atrair os homens para o servio deoutros lderes: um plano para assassinar o rei lfr desbaratado, tendo rir, meio-irmo de rir Hndr, sido pago pelos mandantes de Kntr, um gullhringr (lfs saga Helga 165). Os mandantes de Kntr tambm conseguem com que o stallari25 Bjrn

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    Stallari uma posio elevada dentro da cadeia de comando dos exrcitos reais existente a partir doreinado de Santo lfr.

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    trasse o santo lfr, para isso tentaram-no comprar com prata inglesa (enska silfr ), masas negociaes s foram concludas com a promessa de mais benefcios e com duas gullhringar(lfs saga Helga 185)2627.

    O anel tambm um artefato usado para identificar na saga fantstica(fornaldarsgur) Hrlfs Saga Kraka ok Kappa Hans, onde Bjrn, amaldioado pela suamadrasta a tomar a forma de um urso, pede a Bera, sua amante, que recolhesse de seucorpo, um anel que possuia no brao, para que o identificassem no como o ursoamaldioado, mas como o prncipe Bjrn, filho do rei Hringr ( Hrlfs Saga Kraka ok Kappa hans 26)28. Na mesma saga, encontramos o primeiro paralelo que faremos com a

    obra de Tolkien, o anel chamado Pequeno Porco dos Suecos (Svagriss) entregue pela rainha Yrsa ao seu filho Hrlfr, enquanto ele visitava o rei Ails (que tenta perfidamente assassinar Hrlfr e seus campees). Junto a esse anel, a rainha lhe dera umchifre de prata, alm de vrios outros tesouros inestimveis. Ameaado em umaemboscada, Hrlfr agita o chifre, esparramando todo tesouro no cho, levando seusinimigos a parar uma perseguio para a coleta dessas riquezas.

    O rei Ails no sendo iludido por essa ttica, s parado quando Hrlfr

    arremessa oSvagriss no cho, sendo levado a recuperar o anel com sua lana. Ao tentarrecuperar o anel, Hrlfr compara Ails a um suno por ele ter se envergado para apanhara jia: Eu agora o fiz andar como um porco, aquele que dos Suecos era o mais poderoso29 ( Hrlfs Saga Kraka ok Kappa hans 45), quando Hrlfr golpeiamortalmente Ails, retomando novamente oSvagriss para si. Nos Ditos da Poesia

    26 Outros exemplos podem ser pontuados, mas acreditamos que de maneira geral, esses exemplos so os

    mais recorrentes nas sagas, sendo os anis uma forma de presente ou de compensao, como escrevemosanteriormente. De maneira similar, braceletes tambm desempenham funes parecidas, como podemosver no pico de Magns ( Magnsdrpa), o escaldo utiliza o termoormr no caso a palavra significadrago ou verme, que apresentam semelhanas tendo em vista o formato delgado e sem asas dodrago escandinavo (principalmente as representaes anteriores e do comeo da Era Viking) comoobserva o pesquisador Johnni Langer: Os textos geralmente no descrevem patas ou asas, e quandodescrevem as aes do animal, no caso do drago Fafnir, geralmente descrito como arrastando seucorpo, do mesmo modo que os vermes e serpentes (LANGER, 2007, p. 62);ormr pode significar, no poema, braceletes ou anis, j queormr uma metfora designada para o ouro utilizado pela aristocraciae lideranas guerreiras.27 Crus eius annulo vulneri incluso obsignatum reliquit. Traduo nossa. Aqui, no caso, ela queria secertificar que reconheceria o heri e se casaria com ele depois de t-lo curado, j que ele estavairreconhecvel pelos ferimentos da batalha.

    29 Svnbeyga ek n ann, sem Svanna er rkastr. Traduo nossa.

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    (Skaldskaparml ) descrito o episdio envolvendo oSvagriss30 de maneira similar. Orei Hrlfr junto aos seus campees, vo ao auxlio de Ails, que se recusa a pagar, apsa vitria, o preo pela ajuda que recebera, que seria o elmo Javali de Batalha( Hildigltr ), a armadura Herana dos Finns ( Finnsleif ) e o prprioSvagriss, quesegundo a fonte, pertencia aos ancestrais de Ail (Skaldskaparml 54 ).

    Imagem 2: Detalhe do elmo de Torslunda31, onde observamos a incidncia de sunos em equipamentoguerreiro. Aqui podemos ver representaes de dois guerreiros empunhando lanas com elmos contendo

    sunos empoleirados.

    Segundo a pesquisadora Leka Kvarva, as representaes desses animais emequipamentos guerreiros, podem estar associados a prtica mgica da transformao

    30 A passagem do derramamento de ouro pelo rei Hrlfr relativamente popular nas narrativasescandinavas. Na Gesta Danorum, a fuga de Hrlfr descrita no livro 2, captulo 6, e ao invs doSvagriss, ele recebe um grande torq de ouro, que usa tambm para distrair o rei Ails (sendo aqui poupado da morte). NaYnglinga saga29, temos apenas a meno do episdio do derramamento pelo reiHrlfr, dito aqui, que o rei Ails morre de uma queda de cavalo, enquanto se dirigia a um sacrifcio.31

    Imagem disponvel em:http://www.archeurope.com/uploads/images/Viking/vendal_helmets/matrix_2_l.jpg.

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    homem para animal, ou a inspirao sobre suas foras32, ainda que esse ponto estejaaberto discusso da cultura material e as narrativas escandinavas (Kvarva, 2011, p.184). O Svagrss (bem como todo o equipamento com desenhos de sunos) tambmest atrelado ao culto dos deuses Freyr e Freyja33, que, apesar de estarem ligados emtorno da esfera da fertilidade, tambm so notveis no aspecto guerreiro:

    O Javali tem sido usualmente conectado com a fertilidade,essencialmente por causa das presumidas funes de Freyr e Freyjacomo deidades da fertilidade. [...] Se ns considerarmos o aspecto da batalha (ao invs do aspecto da fertilidade) do javali como sendo principal, notvel que ambos os deuses, ainda que usualmenteconectados com a fertilidade, possuem um aspecto guerreiro; Arelao de Freyr com a batalha pode ser sugeridas em vrioskenningar e Freyja est claramente envolvida em batalhas. De acordocom oGrmnisml , 14, ela toma para si, metade dos guerreiros cados.Um fato que conecte Freyja mais prximo da idia de um javali deguerra a descrio dada por Tcito das imagens de javali emGermania, 45 [...] que menciona a deusa associada ao javali, no umdeus34 (Kvarva, 2011, p. 187 188).

    O pesquisador Johnni Langer, em um artigo sobre Seir, afirma que essa prtica,na mitologia escandinava, surge relacionado a Freyja, que teria ensinado a prtica aosoutros deuses, inclusive inn, que se utiliza desse conhecimento no campo divinatrio,controle da inteligncia alheia e das doenas, inclusive a deusa pode ter se utilizadodessa prtica mgica nas guerras entre os deuses ou como motivo desse conflito

    32 No o caso dos sunos, mas Tolkien em O Hobbit pensa um personagem com a habilidade demetamorfose, Beorn, que luta na forma de um enorme urso, inspirado em um dos campees do rei Hrlfr,

    Bvar Pequeno-Urso (Bjarki), que possuia tremenda fora e tal poder.33 A tese de Leka Kvarva, The Swine in Old Nordic Religion and Worldview (2011) mostra como ossunos possuem aspectos divinos mais antigos (principalmente se levarmos em considerao asreligiosidades celtas e germnicas no geral) que o culto aos deuses Freyja e Freyr. A autora produz uminteressante debate em torno dos aspectos guerreiros e frteis desse animal para os povos escandinavos. No caso a ligao com esses deuses estariam no fato de que eles dividiam esses aspectos fertilidade &guerra.34 The boar has usually been connected with fertility, essentially because of the presumed functions ofFreyr and Freyja as deities of fertility. [...] If we consider the battle aspect (rather than the fertility aspect)of the boar as being the main one, it is noteworthy that also both gods, although they are usuallyconnected with fertility, have a battle aspect. Freyrs relation to battle might be suggested from variouskenningar and Freyja is clearly involved in battles. According toGrmnisml14, she takes half of thefallen warriors. A fact which connects Freyja more closely to the idea of the battle boar is the

    description given by Tacitus of boar images inGermania, Ch. 45 [...] which mentions a goddess beingassociated with a boar, not a god. Traduo nossa.

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    (LANGER, 2010, p. 178 179). O Svagrss, dessa maneira, um artefato precioso(sendo muito estimado pelo rei Ails, o que leva a sua morte na saga do rei Hrlfr eseus Campees), que invoca o domnio mgico-guerreiro dos deuses Freyr e Freyja(alm da prpria figura suna que traz em si sua prpria belicosidade), mas que tambm pode estar ligado ao poder mgico que a deusa representa (ainda que nenhum ritualligado a prtica de Seir aparea na narrativa).

    Um segundo anel presente na mitologia nrdica e que deve ser mencionado, o Draupnir (Gotejante), encontrado nas Eddas Potica e em Prosa. A criao desseartefato est ligado ao episdio do roubo dos cabelos dourados da deusa Sif, por Loki,

    narrado noSkldskaparml . Aqui o ano Brokkr confecciona tesouros maravilhosos para os deuses, como uma aposta pela cabea de Loki: um javali com arreios de ouro e o barco Skblanir para o deus Freyr, o martelo Mjllnir para o deus rr (junto comnovos cabelos para sua esposa, Sif) e para o deus inn a lana Gungnir junto com o gullhringr Draupnir que tinha a seguinte propriedade: Ele deu o anel a inn e disse,que a cada nona noite dele dever verter oito anis com o mesmo peso que ele3536 (Skldskaparml 43). O nmero nove vinculado a ordem csmica na mitologiaescandinava (nove mundos), passam-se nove anos para que as donzelas-cisnes retornema sua condio primordial de Valquria (servas de inn) na Cano de Vlundr(Vllundarkvia), festivais religiosos em Lejre, Dinamarca e Uppsala, Sucia,aconteciam a cada nove anos (em Gamla Uppsala era realizado um grande sacrifcio deanimais, com nove tipos de machos sendo enforcados ao deus inn). O nmero noverepresenta, ainda, o auto-sacrifcio feito por esse deus na rvore Yggdrasill, quando nointuito de receber conhecimento, se enforca por nove dias ( Hvaml 138) (LANGER,2004, p. 59; 2005, 59 60; 2006, p. 40)37.

    35 No caso, o mesmo peso que o anel original.36 Hann gaf ni hringinn ok sagi, at ina nundu hverja ntt myndi drjpa af honum tta hringar jafnhfgir sem hann. Traduo nossa.37 Johnni Langer, em recente artigo sobre Seir, examina a ligao do nmero nove com a magiaxamnica entre os povos escandinavos: na mitologia escandinava, existem dezenas de citaesenvolvendo o nmero trs e o nove, tanto na EddaPotica quanto na Eddaem Prosa. A rvore Yggdrasill,eixo do universo, seria ligada basicamente a trs nveis: dos deuses, do homem e dos gigantes, cada umcom reinos e mundos distintos, que somados seriam nove localidades: no nvel mais baixo Hel e

    Niflheimr; nvel do meio - Jtunheimr e Migarr, Nidavellir e Svartalfheimr; no topo Alfheimr,Vananheimr e sgarr. Acreditamos que as conexes xamanistas sejam uma boa explicao para o

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    ltimo arremessa uma pedra em uma lonta, que por acaso era tr, metamorfoseado emuma lontra. Os deuses fazem uma sacola com a pele dessa lontra e se abrigam naresidncia de Hreimar, seu pai, que reconhecendo os restos do filho, demandacompensao dos deuses, que seria a sacola preenchida inteiramente com ouro. Lokiento captura o ano Andvari, que desfaz de sua fortuna em troca de sua vida. Depois detomado o ouro, Andvari tenta ainda esconder um anel, ao se desfazer dele, profere amaldio: Aquele ouro/que Gustr possuiu,/ser dos dois irmos/a causa de suasmortes/e conflito de oito nobres;/deve ser meu tesouro/de ningum proveito42( Reginsml 5). inn tenta manter o anel para si, no fim, entretanto, tem de entreg-lo para cobrir toda a pele de tr, sendo o anel o Presente de Andvari ( Andvaranaut ). Os

    outros filhos de Hreimar, Ffnir e Regin, pedem pela sua parte do tesouro, nohavendo repartio Ffnir mata o pai e toma tudo para si. Ffnir adota a forma de umdrago e toma conta do tesouro usando um elmo aterrorizante, o gishjlmr . Esse poema faz parte de um ciclo de narrativas populares entre os povos germnicos43, essesmesmos elementos podem ser achados noSkldskaparml , onde fica claro que o motivo pelo qual Andvari gostaria de manter consigo o anel, porque acreditava queconseguiria refazer, com a ajuda desse artefato, sua fortuna (Skldskaparml 46).

    A Vlsunga saga contm uma narrativa mais concentrada em torno da maldiodo Andvaranaut . Andvari amaldioa o anel (bem como todo o seu tesouro), o ouroenche a sacola feita com a pele de tr e Ffnir assassina seu pai, tomando o tesouro e setransformando no drago (Vlsunga saga 14). Impossibilitado de transpr a muralha dechamas, necessrio para alcanar a valkria Brynhild, Gunnar pede que Sigurr v busca-la. Sigurr derrotara previamente o drago Ffnir e tomara seu tesouro, inclusiveo anel, foi quando saiu de sua batalha e encontrou a valkria, fizeram promessas de amorque acabaram esquecendo por motivos relacionados a narrativa. Quando Sirgurr

    42 at skal gll/es Gustr tti,/brrum tveim/at bana vera/ok lingum tta at rgi;/mun mnsfar/mangi njta. Traduo Nossa.43 O Anel dos Nibelungos da Nibelungenlied divide muitas semelhanas com essas narrativas. O jovemSiegfried/Sigurr criado por um ferreiro, Alberich/Regin, que lhe educa para matar um drago Ffnir,do qual adquire sua fora. Em seguida matam seus educadores, que iam lhes trair, se encontram com umavalkria, para depois serem enganados em reinos distantes. Em todas essas narrativas apontam para umfim dramtico, motivados pela maldio do ouro, caracterizado simbolicamente pelo anel. No entantoTolkien foi enftico em dizer que os anis de seus trabalhos no devem ser ligados ao Anel dos

    Nibelungos, na ocasio de uma carta para Allen e Unwin, ele comenta que Ambos os anis eramredondos, e a que a semelhana termina (TOLKIEN, 2006, p. 292).

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    encontra Brynhild, lhe retira o Andvaranaut e lhe d outro anel do tesouro de Ffnir(Vlsunga saga 29), entregando o anel amaldioado a sua esposa, Gudrun. O Andvaranaut a prova necessria para a vingana de Brynhild, em certa discusso arainha Gudrun argumenta:

    Serias mais sbia se te calasses em lugar de maldizeres o meu homem.Todas as pessoas comentam que ainda no surgiu no mundo ningumque seja como ele, com relao ao que quer que seja. E no cabidoque tu o maldigas, porque ele foi teu primeiro homem, e ele matouFfnir e cavalgou pelas chamas tremeluzentes, quando tu o tomaste pelo rei Gunnar, e foi ele quem se deitou ao teu lado e tomou da tua

    mo o anel Andvaranaut e aqui tu podes reconhec-lo (Vlsunga saga 30)44.

    Brynhild leva o rei Gunnar a planejar o assassinato de Sigurr, esse que acabasendo morto por Guttormr, irmo de Gunnar (pois esse no rompe nenhum lao delealdade com esse ato). Com o assassinato feito, Brynhild se mata, profetizando antes amorte dos Giukungos, a linhagem de Gunnar e Gudrun.

    Concluso Transgresso do Um Anel.

    Mesmo que os anis mitolgicos no estejam diretamente correlacionados comos Anis de Poder das obras de Tolkien, podemos argumentar que cada um dosexemplos que pontuamos assinalam caractersticas prprias que podem ter inspirado oautor ingls: os trs anis lficos dominam a conservao e a beleza das coisas, o

    Svagriss estando relacionado a Freyja, pode tambm estar representar a sua ligaocom a fertilidade e abundncia. Os anis dos Anes, que lhes conferem suas riquezas,claramente pode ser relacionados ao Draupnir (mas tambm ao Andvaranaut ,lembrando que com ele tambm seria possvel para Andvari refazer suas riquezas). Demaneira similar, os anis dos Homens tornam os seus portadores feiticeiros poderosos eheris famosos (unindo as propriedades de todos esses anis da mitologia nrdica), na

    44 Traduo de Tho de Borba Moosburger.

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    qual a sua transformao nos espectros pode estar relacionado com um destino fatdicoe amaldioado do Andvaranaut .

    O Svagriss fora ganho pelo rei Hrlfr por suas aes merecidas, seja como presente ou como compensao de seus atos guerreiros. Ele leva a desonra do rei Ails pela prpria ganncia deste, sendo o anel culpado apenas de seu prprio valor, tantofsico quanto mgico-religioso. O Draupnir um artefato que sendo ligado principalmente a inn, conecta-se com o gnero aristocrtico ou as esferas guerreirasespecializadas, representando uma fonte renovvel de alianas, pagamentos, etc. O Andvaranaut , no entanto, o nico que apresenta na sua constituio mitolgica a

    maldio. Ele leva a morte, pela vingana tomada por Brynhild, o rei Sigurr e osGiukungos. Todos os trs anis esto ligados a uma idia de riqueza, sendo mortal nocaso do Svagriss, que por ser belo demais traz a morte do rei Ails (em uma dasnarrativas) e do Andvaranaut , que particularizado justamente pela maldio quecarrega consigo.

    Tolkien pode ter se inspirado nos anis da mitologia nrdica, em especial osdestinos trgicos aos quais sua posse os levam. Dentro de uma perspectiva das relaes

    de poderes, o anel faz parte de uma intricada organizao dos poderes simblicos quegarante uma harmonia entre o intricado elo de pertencimento entre aquele que entrega oanel e quem o recebe, relao senhor e vassalo na literatura de Tolkien. O podersimblico uma forma transformada e legtima de outras formas de poder, umamaneira no reconhecvel de progredir e manter outras formas de poderes. Tal poderno necessariamente precisa de um smbolo, pois simblico em si mesmo:

    O poder simblico como poder de constituir o dado pela enunciao,de fazer ver e fazer crer, de confirmar ou de transformar a viso domundo e, deste modo, a aco sobre o mundo, portanto o mundo; poder quase mgico que permite obter o equivalente daquilo que obtido pela fora (fsica ou econmica), graas ao efeito especfico damobilizao, s se exerce se forreconhecido, quer dizer, ignoradocomo arbitrrio (BOURDIEU, 2010, p.14)45.

    45 Grifos nossos.

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    O anel carrega um denso simbolismo de duplo pertencimento, uma relao deamo-escravo, de aprisionamento, porm um pertencimento concedido e do qual as partes envolvidas esto cativadas em servido dupla de benfico comprometimentomtuo46, elemento do rito e permanncia no liame da vassalidade, na qual o vassalocomo homem de seu senhor, emprega seus esforos nas obrigaes do costume feudal,enquanto o senhor concede o poder senhorial, nas formas de bens ou permisso dedireitos particulares (entre eles a aplicao de leis, recolhimento de taxas, etc), afim damanuteno de seus poderes e preenchimento de suas obrigaes, ajustando asdiferenas em uma hierarquia de iguais (BASCHET, 2006, p. 122 123).

    Os Anis de Poder no podem ser ignorados em uma relao de poderessimblicos, suas relaes de sentido so reconhecveis enquanto as necessidades quecobriram e aqueles a que servem, que no fim o senhos do escuro, Sauron. O Um Anel,em especial, enclausura aqueles que o portam, resistindo as chances de sua prpriadestruio47. O poder simblico anulado das relaes de vassalagem pelas propriedades mgica dos Anis de Poder, que pouco a pouco foram os portadores obedincia e benefcio unilateral aos poderes da escurido. Se oSvagriss trouxedesgraa ao rei ils, foi em razo de sua prpria ganncia, e o Andvaranaut trazconsigo a maldio para os Vlsungos e Giukungos, perpetuado tambm pela ganncia(iniciada na figura de Ffnir), nenhum deles transgridem essa relao que caminha parao simblico, sendo o Draupnir o nico item ligado perpetuao do poder, o que o faz

    46 A ambivalncia desse smbolo provm do fato de que o anel une e isola ao mesmo tempo, fazendolembrar por isso a relao dialticaamo-escravo . A imagem do falconeiro a aprisionar com uma argola ofalco que, a partir desse instante, no caar seno por ele, pode ser aproximada da imagem do Abade,

    substituto da divindade, a enfiar o anel nupcial no dedo da novia que, assim, se torna a esposa mstica deDeus, a serva do senhor. Com a diferena de que a submisso da religiosa, constrariamente do animal, livremente consentida. Isso o que confere ao anel seu valor sacramental: a expresso de um voto.Poder-se- observar ainda que, de acordo com a tradio, durante a celebrao do casamento os noivosdevem permutar entre si os anis. Isso quer dizer que a relao acima evocada se estabelece entre elesduplamente, em dois sentidos opostos: com efeito, uma dialtica duplamente sutil e que exige que cadaum dos cnjuges se torne, assim, amo e escravo do outro (CHEVALIER; GHEERBRANT, 2002, p. 53).47 Podemos fazer um paralelo curioso entre a fascinao do rei Ails em relao aoSvagriss e o reiIsildur com o Um Anel, que aps o cerco de Barad-dr se recusa a desfazer o anel: eles o aconselharam alan-lo no fogo de Orodruin, no qual havia sido forjado, que estava ali mo, para que o anel perecesse,o poder de Sauron se reduzisse para sempre, e Sauron sobrevivesse apenas como um espectro de maldadenos ermos. Isildur, porm, recusou esse conselho, dizendo: - Vou ficar com ele como compensao pelamorte de meu pai e de meu irmo. No fui eu quem deu no Inimigo o golpe fatal? - E o Anel que

    segurava lhe parecia ter aparncia belssima; e ele no quis permitir que fosse destrudo (TOLKIEN,2011, p. 376).

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    pela prpria concepo do ouro (sendo a manuteno do poder aristocrtico guerreiro por vias tradicionais do concedimento de ouro).

    Aquilo que malvolo nessas relaes de dominao unilaterial (ou diablico,em uma linguagem bem tolkeniana) no outra coisa seno a habilidade concedida por Sauron de quebrar: 1) o prprio simbolismo ao qual o anel est envolvido, em umarede de duplo pertencimentos, quando tenta garantir o controle sobre todas as raas,especialmente Elfos, Anes e Homens; 2) as relaes de poder simblico que governamas obrigaes senhor-vassalo das raas que receberam os anis como presentes (emtodos os seus planos), j que a relao de vassalagem tambm existe no mundo em que

    Tolkien escreve, fora do alcance do Senhor do Escuro. A existncia de Sauron estvinculada ao seu Um Anel, um sinal de que ele no sobreviveria sem tal poder tirnico.

    Durante a reunio do Conselho Branco, reunem-se Elrond, Galadriel, Cirdan,entre outros senhores lficos, junto a eles estavam Curunr (conhecido como Saruman, oBranco) e Mithrandir (Gandalf, o Cinzento). Em tal reunio foi debatido o destino doUm Anel que estava desaparecido e o funesto receio de que Sauron voltasse, pronunciado ento: Muitos so os estranhos acasos do mundo disse Mithrandir e,

    quando os Sbios tropeam, a ajuda costuma vir das mos dos fracos (TOLKIEN,2011, p. 384), um claro sinal de que aquelas raas forte e dominantes, j no podiamlivrar-se sozinhos da trangresso do Escuro: necessrio a participao daquele povoquieto e simples, que mora em confortveis tocas e que no busca fama das aventurasou a glria dos grandes sales. Um povo comum e fraco, suportando todo o fardo deuma relao de poder tirnica, no entanto crticos para o equilbrio dessa relao de poderes.

    Agradecimentos:

    Gostaramos de agradecer ao escandinavista Johnni Langer pelas idias fornecidas ereviso do rascunho original. Agradecemos a historiadora Luciana de Campos peloencorajamento fornecido aos estudantes em encontros acadmicos, principalmente emrelao aos estudos da literatura fantstica, em especial George R. R. Martin e J. R. R.

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