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Perfil David Levy Homenagens Mário Fonseca e Lela Maninha Soca MAGAZINE Destaque Isa Pereira Revista da SOCA - Sociedade Caboverdiana de Autores • Nº 02 • Novembro de 2010 Sociedade Caboverdiana de Autores

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1S o c aSociedade Caboverdiana de Autores

PerfilDavid LevyHomenagensMário Fonseca e Lela Maninha

Soca magazine

Destaque

IsaPereira

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Sociedade Caboverdiana de Autores

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EditorLayout

Design gráficoRevisão

FotografiaFoto da capa

Foto da contracapaImpressão

PeriodicidadeTiragem

Propriedade

Danny SpinolaEduardo Ramos CunhaBernardo Gomes LopesTomé VarelaAlbino Baptista,????Tó GomesTipografia SantosTrimestral1000 exemplaresSOCA

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Segundo os seus estatutos, a SOCA, tem por objecto a gestão, protecção e promoção dos direitos morais e patrimoniais dos autores de todos os géneros e formas de criação literária, artística e científica, nomeada-mente: Defender, em nome e representação dos seus associados, os direitos morais e patrimoniais destes; Administrar, como mandatária dos associados, todas as obras intelectuais de cujos direitos autorais aqueles sejam titulares, qualquer que seja o seu género, forma de expressão, mérito, modo de comunicação e objectivo; Promover a união entre os autores de obras intelectuais, tendo em vista não só a defesa dos seus direitos morais e patrimoniais, mas também a melhoria da satisfação das suas necessidades e protecção dos seus legítimos interesses; Defender a liberdade da criação intelectual; Garantir a protecção social dos seus membros, nos termos regulamentares; Negociar e assinar acordos, protocolos e contratos com institui-ções públicas e privadas, nacionais, estrangeiras e internacionais, nos termos e limites legais, etc. Todos esses princípios e atribuições são de suma importância e de capital relevância para a prossecução e consolidação dos objectivos e percurso da SOCA, no sentido de uma dinâmica e eficiência no desempenho da sua função, mas só serão, de facto, valorizados e capitalizados se forem devidamente implementados através de realizações permanentes e constantes capazes de promover uma real e eloquente interactividade com todos os seus sócios, que se sentirão, assim, devidamente representados e dignificados.É, pois, nesse sentido, que se torna imprescindível aos vários departamentos do Conselho de Administra-ção, os órgãos competentes para esse desempenho, definir uma estratégia e linha de acção programática e pragmática que garantam uma actuação e um desempenho eficaz do seu papel, com uma presença evidente e funcional no seio dos seus sócios e da sociedade civil em geral, buscando sempre a melhor forma de resolver os problemas que enfrenta no dia a dia, com soluções pertinentes, para que seja, de facto, a Sociedade que todos querem e que dignifique todos os seus sócios, respondendo a todos os seus anseios e reivindicações.Enfim, para que seja uma sociedade de autores e criadores, parceira e porta-voz de todos os artistas cabo-verdianos, e, fundamentalmente, garante de uma mais valia no domínio sócio-cultural caboverdiano.Por isso, procuramos organizar e orientar as actividades da SOCA, de acordo com a sua orgânica de funcionamento, que constitui a base da prossecução dos seus objectivos e da sua filosofia, abarcando o do-mínio das actividades autoral e editorial, das actividades culturais e das relações de cooperação e relações internacionais, com uma organização e uma estrutura administrativa bem instituídas e funcionais.Com base em tudo isso, criámos vários departamentos no seio do Conselho Administração, de acordo com a sua orgânica, em que cada responsável de departamento terá um papel importante a desempenhar, de modo a desenvolvermos um conjunto de actividades, de forma harmoniosa, segundo as nossas metas a atingir.Entretanto, estabelecemos, como meta prioritária e fundamental, a cobrança e distribuição dos direitos autorais; a aquisição de um espaço físico próprio, a ser equipado devidamente com o mobiliário indis-pensável para o seu funcionamento, a par da adopção de capacitação jurídica para uma actuação eficaz nas questões pertinentes dessa área, assim como a prossecução de um Departamento de Administração eficiente que garanta a cobrança de quotas, a criação de fundos financeiros e a gestão dos bens e patri-mónio da organização. Assim, realizámos uma mesa-redonda sobre a questão autoral em Cabo Verde, de onde saiu uma proposta de portaria que enviámos ao Ministério da Cultura que lhe deu o devido seguimento, através das instâncias competentes do Governo, publicando-a, o que nos permite, doravante, exercer, de forma legitima, o nosso papel. Por outro lado, enviamos uma nota à Direcção Geral do Património do Estado pedindo que nos conceda um edifício do património do Estado, em estado de degradação, para restaurarmos, de forma a termos uma sede condigna que nos permita realizarmos as nossas actividades e materializarmos os nossos principais desideratos, quais sejam: a promoção de um espaço de encontro e convívio permanente entre os sócios e o público em geral; o funcionamento em pleno dos departamentos e serviços da SOCA, com uma biblioteca e um espaço de actividade e diálogo culturais, onde se possa promover actividades culturais

Editorial

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diversas e dos artistas em geral, e que constitua um lugar de referência para todos os seus sócios e a sociedade civil.Outra grande aposta da SOCA, neste momento, é a criação de uma editora, a SOCA Edições, que responda às demandas de edições das revistas da SOCA e dos próprios sócios, tendo em conta as dificuldades e carências existentes nesse domínio. Para tanto, elaboramos um guia de procedimentos que nos permitirá desenvolver um di-álogo com os nossos escritores e o publico, baseado em publicações periódicas de obras dos nossos autores, tendo como princípios fundamentais determinadas normas, imprescindíveis, como o regulamento do sector editorial e a criação de equipas de avaliação para uma actuação criteriosa e concertada à volta dessa problemática, que abranja, inclusive, a procura de financiamento para as edições e do marketing necessário, bem como a celebração de contratos e de acordos que salvaguardem os interesses autorais dos seus sóciosTendo em conta o estatuto da SOCA, que preconiza a promoção de actividades cul-turais, literárias, de investigação e de interpretação culturais, bem como o encoraja-mento dos jovens no sentido de uma maior participação nas manifestações artísticas e culturais, elegemos como prioridade das prioridades a aposta na realização de actividades de natureza cultural.Por outro lado, considerando a necessidade que há em estimular o hábito da leitura no seio dos jovens, em dinamizar a tertúlia e a troca de ideias, ou o debate enrique-cedor no seio da sociedade caboverdiana, ou ainda em desenvolver o gosto pela investigação e pela divulgação da cultura caboverdiana,, entendeu o Conselho de Administração perspectivar e programar uma série de acções visando a satisfação dessas necessidades e a materialização desses propósitos, tendo o desenvolvimento das potencialidades artísticas do país como grande meta.Assim, e de forma esquemática e resumida, a Direcção da SOCA propõe-se levar a cabo, no decurso do seu mandato, um vasto conjunto de actividades, tais como a realização de actos de homenagem a valores, figuras e personalidades da cultura cabo-verdiana; a organização de mesas-redondas, colóquios e outros géneros de de-bates sobre assuntos de natureza cultural, ou com incidência na vida cultural, abertos aos membros da SOCA, aos escritores, aos demais agentes culturais e à sociedade civil; a realização de concursos literários e leituras poéticas, como forma de incentivar o gosto e o interesse por essa arte no seio dos jovens; a organização de Encontros dos Artistas com os Estudantes, ou com o público em geral, para falarem das suas obras ou das obras dos outros autores, como forma de melhor divulgar o conhecimento da arte e da cultura caboverdianas; a organização periódica (anual) de encontros temáti-cos entre os artistas para abordagem e análise de questões diversas, aproveitando-se os materiais apresentados para edições especiais da revista da SOCA; a organização de Semanas de Arte Integrada, Bienais de Artes Plásticas e Literatura com: - Feira de Livros, Exposições de Artes Plásticas (pintura, escultura, artesanato, fotografia), Teatro, Dança; Música e Poesia; Apresentações de Vídeos; Sites e Filmes; Gastronomia; a organização e/ou participação na organização de eventos culturais em colaboração com os Centros Culturais estrangeiros, sedeados no país, e com outros organismos associativos, nomeadamente na atribuição de um Grande Prémio Bianual de Arte, com várias distinções nas diversas modalidades artísticas.Quanto às Relações Públicas e Internacionais, um dos sectores chave para a projecção da SOCA, a nível nacional e internacional, pensamos adoptar estratégias específicas e dinâmicas de actuação que garantam uma imagem de marca no seio da sociedade cível, com um relacionamento estreito e cooperativo com todos os seus sócios, e com acordos de parceria com organizações congéneres, a nível internacional, bem como intercâmbios com artistas de outros países. Nesse sentido, vamos reforçar cada vez mais o site e a revista, com uma aposta forte na divulgação e distribuição, ao mesmo tempo que erigimos um programa televisivo que seja porta-voz dos artistas e sirva de meio privilegiado de divulgação das actividades da SOCA.Pensamos também angariar fundos, com a contribuição dos mecenas culturais – em-presas, organismos internacionais e ONG, para a criação de um fundo que possa servir de apoio às actividades culturais e à promoção dos nossos sócios; e estabelecer acordos de reciprocidade com organizações congéneres como a SPA, a ABRAMUS, a GDA, a SOMAS a SADIA, entre outras.

DS

Sumário

Editorial 3

QUEM É QUEM: Biografias 6

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Publicidade

Destaque 8Isa Pereira Briefing lançamento álbum de estreia 8

Informações Importantes DIRECÇÃO-GERAL DAS ALFÂNDEGAS 16

Poema - Canto ao 35 º Aniversário da Independência Nacional 20

Edições & Recensões 22Notas para apresentação de um peculiar livro – Olhar a urbe 22

Revista e actividades da SOCA 26

Perfil 28David Levy Lima

Homenagem 34Mário Fonseca 34Lela Maninha 39

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DANNy SPíNOLA (Daniel Euricles Rodrigues Spínola), Presidente

do Conselho de Administração da SOCA, Departamento de Adminis-

tração, Finanças e Património, nasceu em Ribeira da Barca, concelho

e freguesia de Santa Catarina da ilha de Santiago de Cabo Verde.

Cursou Língua e Literatura Portuguesas no Curso de Formação de

Professores do Ensino Secundário na cidade da Praia, Cabo Verde,

e licenciou-se em Língua e Cultura Portuguesas pela Faculdade de

Letras da Universidade de Lisboa.

É doutorando pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa em Estudos Literários,

Literatura Comparada.

É Presidente do Conselho de Administração da Sociedade Caboverdiana de Autores e

Assessor da Ministra do Ensino Superior, Ciência e Cultura.

É professor e jornalista de profissão, e escritor e pintor enquanto artista.

É director da revista Pré-Textos da AEC e Assessor do Ministro da Cultura.

Foi membro fundador do Movimento Pró-Cultura, da Associação de Escritores Cabo-

verdianos (AEC) e da SOCA (Sociedade Cabo-verdiana de Autores), onde desempe-

nhou a função de Secretário Executivo.

Tem colaboração dispersa em vários meios de informação e divulgação, nos domínios

de: prosa, poesia, ensaios, reportagens e entrevistas.

Tem publicado várias obras, entre ensaios, prosa e poesia e já fez várias exposições em

Cabo Verde e no estrangeiro.

Foi distinguido pelo Governo de Cabo Verde, em 2005, com o 1º grau da Medalha

de Mérito, em reconhecimento pelo seu especial mérito demonstrado no domínio da

cultura; e em 2007 foi distinguido pela Câmara Municipal da Praia com uma medalha

de mérito, enquanto escritor.

JOSé MARIA FERNANDES BARRETO DE CARVALhO, Vice-Presi-

dente do Conselho de Administração da SOCA, Departamento dos

Direitos de Autor, nasceu em Santa Catarina. Licenciou-se em Pintura

Monumental na Academia de Belas Artes de S. Petesburgo, URSS; Fez

estágios de formação em Génova, Suiça; Lisboa, Portugal; e em Dar-

es-Salam,Tanzânia. Foi professor de Liceu, em Santa Catarina; chefe

QUEM É QUEM: BiografiasSOCA

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de Divisão de Artes Plásticas da Direcção-Geral de

Animação Cultural; chefe de Departamento de Ani-

mação Cultural do INAC.

Em 1988/90 foi Presidente do Júri dos Prémios Cul-

turais “Jaime Figueiredo” e “Fontelima”;

Em 1999 foi Membro do Júri Internacional do Salão

Internacional de Jovens Pintores, Dacar, Senegal.

é mestrando em história Contemporânea na UNI-

CV/Universidade Portucalense.

É director da Direcção de Promoção Cultural, res-

ponsável pelo Palácio da Cultura.

Já participou em várias exposições individuais e co-

lectivas em Cabo Verde e no estrangeiro, nomea-

damente: Praia, Mindelo, Tarrafal, Santa Catarina,

S.Petersburgo, Dacar, Lisboa, Paris.

Foi distinguido pelo Governo de Cabo Verde, em

2005, com o 1º grau da Medalha de Mérito, em

reconhecimento pelo seu especial mérito demons-

trado no domínio da cultura; e em 2007 foi distin-

guido pela Câmara Municipal da Praia com uma

medalha de mérito, enquanto Director do Palácio

da Cultura.

MANUELA BARBOSA, mem-

bro do Conselho de Administra-

ção da SOCA, responsável pelo

Departamento da Acção e Pro-

moção Culturais, nasceu a 23

de Dezem bro de 1973 em Pedra

Badejo, Concelho de Santa Cruz da Ilha de San-

tiago. é pintora autodidacta e já expôs no Palácio

da Cultura – 2004; no Centro Cultural do Sal –

2005; no Aeroporto Internacional Amílcar Cabral

– Sal, 2005; no Auditório Nacional – Praia, 2006;

e nos E.U.A em The Harriett Tubman House Bóston,

MA USA-2007.

DANIEL DO ROSáRIO MEDINA

nasceu a 01 de Maio de 1957 em

Sto. Antão, Cabo Verde. Fez a sua

Licenciatura em Comunicação So-

cial – com especialização em Jor-

nalismo Internacional na Escola Su-

perior de Jornalismo – Porto.

Pós-Graduou-se em: Formação

Diplomática e Relações Consulares – Ministério dos

Negócios Estrangeiros (Portugal); em Direito da Co-

municação – Faculdade de Direito da Universidade de

Coimbra e fez o Curso de Mestrado em Psicologia So-

cial – Universidade Fernando Pessoa (ainda sem entre-

ga da tese final);

É Mestre em Linguística – Faculdade de Ciências Sociais

e humanas, Universidade Nova de Lisboa, com a clas-

sificação final de Muito Bom.

Doutorou-se em Ciências Políticas – Faculdade de So-

ciologia, Administração e Ciências Políticas da Univer-

sidade de Santiago de Compostela – Espanha com a

classificação de Sobressaliente.

É Professor Universitário em Instituições de Ensino Supe-

rior Público e Privado em Cabo Verde.

Foi professor universitário em várias universidades por-

tuguesas tendo desempenhado cargos de direcção e

regências de disciplinas.

É Analista e comentador permanente de Actualidade

Social e Política na imprensa nacional e Consultor de

Empresas nas áreas de Projectos, Comunicação e Ima-

gem, de entre várias outras funções e actividades.

Dirigiu vários órgãos de comunicação social: em Por-

tugal (duas rádios e um jornal) e em Cabo Verde (TCV,

Jornal de Cabo Verde)

Publicou vários artigos em revistas científicas e em jor-

nais nacionais e estrangeiros.

É co-autor de dois livros técnicos e de três livros de

poesia.

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Destaque

Isa Pereira

Kriola EnKantu é o álbum de estreia da cantora cabo-verdiana ISA, que espelha a sua forma de sentir Cabo Verde, sua crioulidade, no que concerne à diversidade dos géne-ros musicais tradicionais, suas raízes com o misto de influências de culturas de países que, ao longo da formação histórica de Cabo Verde, foram ganhando e assimilando raízes próprias nas ilhas.ISA, encantada com as ilhas, suas gentes e cultura, lança-se no mundo discográfico com uma sonoridade acústica, buscando uma linguagem intimista, criativa, audaz e, ao mesmo tempo, com um toque de universalidade, mostrando a misciginação, multi-culturalidade e força da palavra e raça krióla. “Segui o meu instinto, a voz interior e o coração, para elaborar e trabalhar este primeiro projecto discográfico. É uma emoção muito grande quando começamos a sentir e a ver algo de muito valioso para o nosso ser, ganhar corpo e ter a consciência que, dentro dessa caixinha, estão sensações, vi-brações, respirações, emoções diversas”, afirma. Homenageando e cantando para todas e cada uma das ilhas que compõem o arqui-pélago de Cabo Verde, a que orgulhosamente pertence, presenteia de forma inédita a Ilha de Santa Luzia, a única Ilha desabitada, com um tema cujo poema é de sua auto-ria, “Kantu Luzia”, tendo como intenção consciencializar a preservação, valorização da natureza e reservas ecológicas cabo-verdianas. Para encarar o desafio de ter presente, no álbum, líricas de sua própria autoria, convidou para a composição das respectivas melodias, músicos e artistas que se identificam com cada uma das letras, da ilha e do género musical. De salientar Tcheka, Princezito, Adão Brito, Valdo Pereira, e ainda o privilégio de também ter sido presenteada com ricas composições de novos e talentosos autores como Djoy Amado, Tiolino Évora, Tibau, e Lay Lobo (uma jovem poetisa que Isa fez questão de cantar as suas líricas do poema “Xintadu ta papia ku mar”, com o intuito de contribuir e motivar cada vez mais o aparecimento de mulheres e jovens kriólas a comporem poemas para a exaltação das ilhas e da mulher krióla). Encontramos ainda duas composições populares, tendo uma, em parte, criação do virtuoso artista e musico Paulino Vieira.

Briefing lançamento álbum de estreia – IsaPor: Baluka Brazão

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O álbum composto por 11 faixas onde cada ilha é particularmente homenageada com uma canção, incluindo a Ilha da diáspora, apresenta géneros musicais que fazem par-te do leque da tradição musical cabo-verdiana em sintonia com a contemporaneidade. Pode-se apreciar a Bandera da ilha do Fogo, Koladera inspirada numa viagem efectu-ada pela artista a São Salvador da Baía, homenageando a alegria e sensualidade que caracterizam a Ilha de São Vicente, uma Valsa em representação da ilha de Santo Antão, Finason-Batuku para Santiago, Funaná-Tabanka enaltecendo a diáspora cabo-verdiana, Kola-Sanjon – tradição na ilha de São Nicolau; Mazurca para a beleza das dunas da Boavista, Morna exaltando a da ilha Brava, Kriola EnKantu teve como director musical, arranjos e guitarras, a mestria de Hernani Al-meida, que desde o primeiro instante abraçou o projecto com todo o profissionalismo e dedicação, bem como a presença marcante e ao mesmo tempo subtil do percussionista angolano Carlos N’Du. Como convidados especiais poder-se-á apreciar o dedilhar do consagrado guitarrista caboverdiano Voginha, o acordeão e teclados de Zeca Couto,

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um dos componentes do ex-grupo musical cabo-verdiano, “Os Tubarões”, bem como o baixista Adão Brito, na canção “Pé di sinbron” . Voz que envolve a alma, dedicação, disciplina e paixão, são valores que caracterizam a personalidade artística e entrega ao canto de ISA. Assume-se como uma cabo-verdiana “ku pé finkadu na txon”, com amor, orgulho de pertencer, de coração, a todas as ilhas que compõem o seu país, o que se pode também confirmar nos detalhes da concepção gráfica do álbum, através da utilização de figurinos nas fotografias (feitas no Convento de São Francisco e no Ilhéu de Santa Maria), que foram criados pela própria cantora, e que se identificam com os padrões no vestuário tradicional de Cabo Verde, como as conchi-nhas e também o panu bitxu .Esta é a Kriola Enkantu pelas ilhas e para o mundo, encantada por receber de braços abertos, você caro amigo. Kriola En-Kantu

Toda a obra quando concluída guarda nela uma vasta informação seleccionada para constar nela. Mais do que isso guarda sentimentos dos quais o artista não se consegue apartar quando concebe um trabalho artístico. É a sua forma de perceber as coisas, os lugares, suas gentes, seus sons, seus sabores, mas, acima de tudo, é a sua forma de sentir como tudo isso se processa à sua volta. Este disco que hoje aqui orgulhosamente apresentamos, é a forma como a Isa aprendeu a sentir a música de Cabo Verde, música crioula e, consequentemente, fruto duma grande miscigenação de ritmos e sons, que por aqui passaram e ficaram, transformados no que chamamos de Bandera, Kolá, Mazurka, Koladera, Morna e Funaná que foram alguns dos estilos escolhidos pela Isa para compor este álbum. Kriola Enkantu é um disco feito à medida da Isa. Doce, suave, melodioso, mesmo quando trata ritmos mais quentes e com os quais lidamos de forma epidérmica, sensorial, reactiva, como é o caso do funaná da faixa 8. é um disco moderno que nos traz estilos tradicionais, antigos, interpretados de forma contemporânea. Aliás, para mim, essa é uma característica comum aos músicos desta nova geração que tem projectado a música cabo-verdiana muito além das nossas fronteiras e de alguma das limitações que alguns insistem em querer forço-samente preservar, esquecendo o percurso que se fez para chegar até aqui. A forma como hoje se toca o violão na koladera tem fortes influências da música brasileira, que entraram em Cabo Verde através do Porto Grande e que se tornaram num legado deixado por músi-cos como Luís Rendal, que, para mim, é o ícone desse estilo, apesar de existirem outros do mesmo calibre. São esses ritmos que vamos encontrar no tema número três, onde Isa traz-nos um cheirinho da Baía, com participação de Voginha, que vem confirmar o trabalho fantástico que vem fazendo na preservação dos estilos tradicionais tocados com o violão. Ser crioulo implica este tipo de influências que são marcas indeléveis da nossa história e da nossa cultura. Aliás, a fusão entre o batuku e o flamengo no tema número 7 vem provar-nos isso mesmo. Será que esta mistura faz do batuku menos batuku? Ou será que o torna mais rico? São perguntas que ficam no ar. Ouvir com atenção este tipo de trabalho poderá ajudar a fazer julgamentos despidos de preconceitos a este respeito. Para além disso nota-se que há uma preocupação no sentido de se actualizar também os te-mas dos versos que compõem os álbuns destes novos artistas. Nesse aspecto, Isa surpreende-nos com 5 temas seus e mais uns tantos de compositores actuais, dos quais não podia deixar

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de destacar a estreante Lay Lobo. Mas, para que hoje pudéssemos estar aqui a apresentar o primeiro registo em CD desta voz encantadora, houve toda uma caminhada, um processo de aprendizado, um trabalho árduo, muitas vezes compartilhado, porém, outras vezes soli-tário, onde me parece que o irmão e músico Valdo terá exercido um papel preponderante. A voz é considerada o primeiro instrumento musical. Por isso, para quem já aprendeu, ou pelo menos tentou aprender a tocar violão, esse instrumento tão popular entre nós, sabe as dificuldades com que se deparou no início, para conseguir fazer com que os dedos respeitassem a vontade do cérebro e as dores que se apoderam das articulações durante essa fase de iniciação. Imagino o quão difícil terá sido para a Isa conseguir chegar a este ponto de ter um domínio perfeito sobre as suas cordas vocais e por fim, presentear-nos com esta sua primeira obra musical que nos fala de Cabo Verde e da diversidade da cultu-ra das suas ilhas; um disco que os nossos ouvidos não se cansam de ouvir porque é como se fosse um suave massajar para os nossos sentidos. É claro que se tem forçosamente de partilhar estes elogios com os músicos escolhidos para acompanhá-la e que encaixaram na perfeição neste trabalho, onde mais uma vez, Hernani Almeida, joga um papel impor-tantíssimo como director musical e músico de referência. Surpreendeu-nos sobretudo a sua performance na guitarra baixo eléctrica, uma vez que é a primeira vez que o ouvimos tocar tal instrumento e sempre com a mesma qualidade a que nos habituou. A isso teremos ainda que acrescentar, a forma como conseguiu dirigir os músicos que participaram neste trabalho, todos com enorme experiência e talento, fazendo com que a sua destreza instrumental ajudasse a destacar ainda mais as qualidades da voz desta “Kriola Enkantu”.

(Baluka Brazão)08/04/09

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BIOGRAFIA DA ARTISTA

Voz que envolve a alma, dedicação, disciplina e paixão, são valores que caracteri-

zam a personalidade artística e entrega ao canto, de ISA.

Cabo-verdiana, filha de pais da ilha de S. Vicente e da ilha da Boavista, vive na

Ilha de Santiago desde um mês de idade. De acordo com o testemunho dos pais,

familiares e amigos, seu amor pelo canto sempre se manifestou, através de atitudes

de espontaneidade. Com cerca de 05 anos, quando ia à Igreja do Nazareno com a

avó e faziam os cânticos religiosos, como não sabia as letras desses cânticos, dava-

lhes uma versão própria colocando as letras das músicas que aprendia no Jardim de

Infância e cantava em voz alta com a maior alegria e naturalidade. ISA

PERE

IRA

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Na adolescência, juntamente com os colegas e vizinhos, nas brincadeiras de es-

cola, de rua, em casa e festas de aniversário, gostava e organizava concursos

de musica, dança, jogos, declamação de poemas, tendo sempre como pano de

fundo, a música.

Com 19 anos de idade parte para o Brasil a fim de efectuar, durante 4 anos, a

licenciatura em Relações Públicas, na Universidade Católica de Belorizonte, e nos

momentos de muita saudade dos familiares, a música era o seu refúgio e costuma-

va cantar nos convívios com os professores e colegas da Faculdade, mostrando-

lhes estratos da dança e cultura musical cabo-verdianas, como a morna, funaná,

koladera, batuque, kola-sanjon, assim como, músicas brasileiras e jazz.

De regresso a Cabo Verde, em 1998, fez sua estreia pública no evento Summer

Stravaganza, pelo que começou a ser frequentemente convidada a participar em

manifestações culturais e a cantar em espectáculos de cariz social, recreativos,

vários festivais internacionais em Cabo Verde (Festival Baia das Gatas – Ilha de

S.Vicente; Festival de Santa Maria – Ilha do Sal), Fesquintal Jazz, Festijazz; na inau-

guração do CINESAL – Sociedade de Promoção de Eventos Culturais; nos Centros

Culturais Francês e Português na Cidade da Praia; participou nos CD produzidos

pela Embaixada de França em Cabo Verde: Cap Vers l’Enfant II e Cap Vers Les Ou-

tres, a favor das crianças desfavorecidas; apresentou espectáculos nas comemo-

rações do 10º e 15ª aniversários da empresa farmacêutica INPhARMA; foi con-

vidada pela Presidência da República de Cabo Verde para cantar em recepções

de Gala oferecidas ao Presidente da República Portuguesa, bem como participar

nos Concertos oferecidos ao Presidente Angolano e do Brasil, nas visitas oficiais

efectuadas a Cabo Verde; e participou na Gala de comemoração dos cinquenta

anos – Bodas de Ouro da Transportadora Aérea de Cabo Verde –TACV.

Sua primeira internacionalização surge em 2003, com um convite para actuar em

Itália, no festival de música “Sete Sóis Sete Luas”, onde deu concertos nas cidades

de Roma, Pontedera e Montemurlo, com sucesso na apreciação do público que se

admirava por ISA ainda não ter tido um trabalho discográfico lançado; no Brasil,

actuou no Teatro Castro Alves, em São Salvador da Bahia, na IIª Conferência dos

Intelectuais Africanos e da Diáspora, onde também se apresentaram artistas con-

sagrados como Angelique Kidjo, Gilberto Gil, Balet Senegalês, Grupo Ile a ie, ten-

do sido admiravelmente referenciada pela imprensa, críticos e público presentes;

Foi convidada pela Secretaria da Cultura de Fortaleza, Brasil, para actuar no Cen-

tro Cultural Dragão do Mar e também na Cidade de Limoeiro do Norte, aquando

do IIIº Encontro Internacional dos Mestres do Mundo. hoje, ISA é considerada uma

das vozes da nova e curiosa geração cabo-verdiana de jovens talentos e defensora

da música tradicional de Cabo Verde, nas suas várias vertentes e influências.

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DIRECÇÃO-GERAL DAS ALFÂNDEGASINCENTIVOS FISCAIS DE CARáCTER ADUANEIRO

DESTINADOS AO SECTOR DA CULTURA

MÚSICA

Neste sector há que realçar dois subsectores:

O de suporte de musica cabo-verdiana interpretada por conjuntos ou

artistas cabo-verdianos.E o de equipamentos musicais e seus acessórios.

Em relação aos dois subsectores vigora a legislação seguinte:

Lei nº 106/IV/94, de 5 de Setembro ( BO nº 31 – I Série), artº 2º;Lei nº 20/VII/2007, de 28 de Dez. ( BO nº 47 – Supl. – I Série), que aprovou o Orçamento do Estado para o ano 2008 (artº 43º);Lei nº 21/VI/2003, de 14 de Julho ( BO nº 21 – I Série), que aprovou o Regula-mento do Imposto sobre o Valor Acrescentado (IVA) (artigo 12º, nº 1 – b) – iv.).

Objectivos legais:

1. Incentivar a produção da música por conjuntos musicais e artistas cabo-verdianos;2. Apoiar os agrupamentos musicais e as escolas de música na importação de equipa-mentos musicais e seus acessórios.

Informações importantes

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17S o c aSociedade Caboverdiana de Autores

DIRECÇÃO-GERAL DAS ALFÂNDEGASBeneficiários dos incentivos:

Os conjuntos e agrupamentos musicais cabo-verdianos;

Os artistas cabo-verdianos, residentes ou não;

As escolas de música.

Benefícios aduaneiros previstos:

Os conjuntos ou artistas cabo-verdianos, residentes ou não, gozam de isenções •de direitos na importação de suportes de música cabo-verdiana por eles inter-pretada.Os conjuntos e agrupamentos musicais, bem como as escolas de música, go-•zam de isenção de direitos aduaneiros, do IVA e do ICE na importação de equi-pamentos musicais e seus acessórios, quando não sejam fabricados no país.

Entidade responsável pela aplicação da lei:

A entidade responsável pela concessão dos benefícios fiscais é o Director-Geral

das Alfândegas.

CASAS DE CULTURA E DE ESPECTáCULOS

Nesses domínios, desde 2002, o Estado, através das sucessivas Leis de Orça-

mento do Estado, vem concedendo benefícios de carácter aduaneiro às casas de cultura e de espectáculos.

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Diploma legal:

Lei nº 20/VII/2007, de 28 de Dezembro, que aprovou o Orçamento do

Estado para o ano de 2008 (artº 43º);

Objectivo legal:

Incentivar a instalação, o apetrechamento e a modernização das casas

de cultura e de espectáculos.

Beneficiários:

Os beneficiários dos incentivos são as casas de cultura e de espectáculos.

Benefício aduaneiro concedido às casas de cultura e de espectáculos:

Isenção de direitos aduaneiros na importação de equipamentos musicais , mediante – parecer favorável do departamento governamental responsável pela área da cul-tura.Entidades responsáveis pela aplicação da lei:–

O membro do Governo responsável pela área da cultura;

A Direcção-Geral das Alfândegas.

A concessão desses benefícios compete ao Director-Geral das Alfândegas.

LIVROS CIENTíFICOS, TéCNICOS E DIDáCTICOS

Os livros científicos, técnicos e didácticos são livres de direitos pela Pauta adua-neira e isentos do Imposto sobre Valor Acrescentado (IVA).

OBRAS DE ARTE

As obras de arte, quadros e pinturas, de arte estatuária ou de escultura são • livres de direitos pela Pauta aduaneira e isentas do IVA.

VALOR ADUANEIRO NA IMPORTAÇÃO DE CD/DVD E OUTROS SUPORTES DE ARTISTAS NACIONAIS, QUANDO O “ MASTER” É PRODUZIDO EM CABO VERDE.

Tecnicamente o “MASTER”, produzido em Cabo Verde, consubstancia todo o •trabalho artístico/musical do(s) artista(s) traduzindo assim a parte principal e mais valiosa de um CD/DVD.

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Sendo assim, torna-se justo que o • valor aduaneiro do CD/DVD importado do estrangeiro, cujo “master”tenha sido produzido no país, seja determinado de forma diferente, tendo em conta a valia nacional que não deverá ser conside-rada no cômputo do valor do produto importado.

Nesta conformidade, as ALFÂNDEGAS deverão ter em consideração os seguin-•tes procedimentos com vista à não inclusão do preço do “master” produzido no país no valor aduaneiro do CD/DVD, quando importado.

Na exportação temporária do “master”:

1. O “master”, desde que produzido no país, deverá ser objecto de uma de-•claração de exportação temporária antes de ser enviado para o exterior para a reprodução em CD/DVD.

2. Do registo da declaração de exportação temporária deverão constar, de •entre outros elementos, o nome das obras, os intérpretes e respectivos acompa-nhantes, se os houver, e o valor do trabalho produzido.

3. Os elementos da declaração atrás referida deverão ser suportados por uma •declaração passada e assinada pelo responsável do estúdio onde o “master” foi produzido, sujeita a verificação aduaneira da sua autenticidade.

4. A reimportação do “master” deverá ser realizada no prazo de 1 (um) ano •após a data da declaração de exportação temporária.

Na importação do CD/DVD

Na declaração de importação de CD/DVD gravado nas circunstâncias acima •descritas, deverá fazer-se referência à declaração de exportação temporária do respectivo “master”, para efeitos de aceitação do valor declarado.

O valor aduaneiro na importação de CD/DVD masterizado no país passará •a ser o custo real da sua reprodução e apresentação realizadas no exterior, compreendendo a impressão mecânica, a impressão gráfica e a capa, sendo também incluído o custo do transporte e de outras despesas realizadas até ao destino.

* Tema apresentado

FÓRUM INTERNACIONAL SOBRE A ECONOMIA DA CULTURA 17 a 20de Novembro de 2008

Por: Marino Vieira Andrade, Júnior (Dir. Geral das Alfândegas)

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Canto ao 35 º Aniversário da Independência Nacional

Terra mãe, Terra amadaEstrela salgada de dez braçosE em cada braçoMil esperanças, mil certezas.

Coro: Ilha a ilha! Dor a dor! Amor a amor!

Cá vamos nós construindo o país.

Terra amada, terra doloridaCá vamos nós construindo o paísIlha a ilha! Dor a dor! Amor a amor!A esperança transformada em actos nos nossos punhosE novas seivas brotando da terra dura e seca

Coro: Ilha a ilha! Dor a dor! Amor a amor!Cá vamos nós construindo o país.

Terra dolorida, Terra pátria…Esquecido o nome de utopias e pasárgadasCá vamos nós edificando o nosso destinoDe pé, agora, com outro cantoEm que desespero e desesperançaVão sendo palavras olvidadas

Coro: Ilha a ilha! Dor a dor! Amor a amor!Cá vamos nós construindo o país.

Terra pátria, Terra bem amadaEis Cabo Verde, Terra de sol, mar e vento,A levantar-se com a forçaDas suas dez ilhas, Seus dez versos,Suas dez esperanças

Coro: Ilha a ilha! Dor a dor! Amor a amor!Cá vamos nós construindo o paísCABOVERDEAMADAMENTE…

• Poema construído por Danny Spínola, com versos de: Danny Spínola, Ovídio Martins, António Nunes e Oswaldo Osório

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Canto ao 35 º Aniversário da Independência Nacional

Terra mãe, Terra amadaEstrela salgada de dez braçosE em cada braçoMil esperanças, mil certezas.

Coro: Ilha a ilha! Dor a dor! Amor a amor!

Cá vamos nós construindo o país.

Terra amada, terra doloridaCá vamos nós construindo o paísIlha a ilha! Dor a dor! Amor a amor!A esperança transformada em actos nos nossos punhosE novas seivas brotando da terra dura e seca

Coro: Ilha a ilha! Dor a dor! Amor a amor!Cá vamos nós construindo o país.

Terra dolorida, Terra pátria…Esquecido o nome de utopias e pasárgadasCá vamos nós edificando o nosso destinoDe pé, agora, com outro cantoEm que desespero e desesperançaVão sendo palavras olvidadas

Coro: Ilha a ilha! Dor a dor! Amor a amor!Cá vamos nós construindo o país.

Terra pátria, Terra bem amadaEis Cabo Verde, Terra de sol, mar e vento,A levantar-se com a forçaDas suas dez ilhas, Seus dez versos,Suas dez esperanças

Coro: Ilha a ilha! Dor a dor! Amor a amor!Cá vamos nós construindo o paísCABOVERDEAMADAMENTE…

• Poema construído por Danny Spínola, com versos de: Danny Spínola, Ovídio Martins, António Nunes e Oswaldo Osório

Kantu Pa 35 Aniversáriu di Indipendensia

Nu lova dia di indipendensia

Di nos pátria-mai amadu

Strela salgadu di dés brasu

Na kada brasu: mil speransa, mil serteza

Ilha a ilha! Dor a dor! Amor a amor

Nu sta bá ta konstrui nos país

Tera amdu tera adoradu

Nu skese utupias y pasárgadas;

Sen dizisperu nen dizisperansa

Di pé finkadu na txon y punhu alsadu

Nu ta kanta

Ilha a ilha! Dor a dor! Amor a amor

Nu sta bá ta konstrui nos país

Tera pátria, tera ben-amadu

Kabu Verdi, tera di sol mar y ventu

Bu sta labanta ku forsa di bu dés ília

Bu dés versus, dés speransa, dés serteza

Ilha a ilha! Dor a dor! Amor a amor

Nu sta bá ta konstrui nos paíz

Di puema konstruídu pa Danny Spínola, ku versus di: Danny Spínola, •Daniel Rendall, Ovídio Martins, António Nunes y Oswaldo Osório.

Traduson y aranju di múzika pa Daniel Rendall.•

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Edições& Recensões

1 - Apresentar o livro Olhar a urbe é um exercício assumido em torno de um pro-jecto artístico que me faz repensar, reflectindo sobre a problemática da arte de uma forma geral dentro do contexto muito particular da realidade cabo-verdiana na óptica da fotografia artística. Temos aqui um excelente pretexto para falar um pouco de arte e chamar a atenção para aspectos que estarão naturalmente adormecidos na inércia do nosso quotidiano brando. Como se existisse um invisível muro de vidro muito espesso e blindado a separar a fotografia artística/conceptual da fotografia jornalística e/ou do conhecido retrato (este que reproduz fielmente a fisionomia de gente conhecida/fa-mosa/familiar e formas de objectos quotidianos e culturais num enquadramento e pos-tura proporcionais à ingénua preparação da maioria dos fotógrafos tradicionais, no sentido clássico do termo, associada à precariedade de um público não treinado para a fruição da fotografia artística e/ou conceptual. Falo de arte e não de outro gesto ou de outra área do desenvolvimento e conhecimento humanos que, não sendo inferio-res (entenda-se), não são seguramente o caminho escolhido e traçado por estes dois fotógrafos do mundo globalizado, Hélder Paz Monteiro e António Gomes, co-autores deste livro que conta com a participação de 73 fotógrafos de várias nacionalidades.

2 - Este é um livro deveras peculiar por se tratar de uma arte diversa e para além da escrita habitual dos livros; diz-se valer mais que mil palavras as imagens deste livro e digo eu: mais do que mais que mil palavras, porque diz o que lá vemos no primeiro olhar mais tudo o resto que mais tarde havemos de descobrir nelas acrescido da parte

Notas para apresentação de um peculiar livro – Olhar a urbe

Por: Hermano Lopes da Silva

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que jamais alguém há-de descobrir – aqui reside a verdadeira dimensão da obra de arte. Este trabalho de recolha imagética cujo tema é «urbe» traz para a discussão a fotografia artística realizada com recurso a uma única cor, ou, se quiserem, duas: a branca e a ausência das outras – a preta, gerando, assim, o cinza que ficará na retina de quem esfolheia o livro. A riqueza da cor branca bem como a ausência das outras com suas infinitas tonalidades representadas pela preta associam-se ao esbatimento da forma/silhueta em contraluz controlada pelo domínio técnico da câmara, de uma forma geral, pelos fotógrafos co-autores deste manual. Do grande plano ao controlo da velocidade, da saturação à manipulação “pictórica” das imagens e do plano de pormenor aos diversos artifícios com a finalidade única de criação de Arte. Olhar a Urbe é uma imensa sombra “virtual” que decide trazer apenas a essência das urbes que precisamos reter. As cores sempre fizeram parte da inegável realidade, mas a arte traz-nos a filtragem do que melhor conseguimos apreender do real, sendo assim, nada mais acertado que resumi-la à branca mais a ausência das outras todas. Aqui a abstracção da realidade se transforma na necessária complexidade das imagens con-seguidas na mente de cada fotógrafo. Um surreal e romântico olhar.

3 - Hélder P. Monteiro costuma dizer (e concordo plenamente) que a fotografia dele é concebida ou idealizada primeiro na sua mente e só depois traz a máquina, mera ferramenta do ofício, para registar, levantando em pixéis o objecto que será posterior-mente arquivado numa outra memória – a memória da inteligência artificial de um PC. Aqui encerra ele uma postura que o levará à obra maior. Quem pensa que adqui-rir uma máquina fotográfica último grito faz dele um Fotógrafo erra feio assim como a melhor cama não há-de curar insónia de ninguém e tal crença fará deste um eterno doente e daquele um «pato bravo» cada vez mais convicto da bravura. Não é importante o detalhe que a seguir digo mas é interessante referir que António Gomes natural de Portugal (a residência em CV) apresenta imagens do interior de Santiago da distante Pedra Badejo e daqui da Praia, enquanto Hélder Paz Monteiro natural de Cabo

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Verde apresenta imagens de um Portugal longínquo – Aveiro. Trata-se, assim, de uma mera coincidência ou um feliz desencontro neste globalizado mundo e uma prova de que na arte (fotográfica neste caso) é irrelevante o tema, o objecto ou lugar registados; mas de importância decisiva: a postura irrequieta, irreverente e tecnicamente aberta à inclusão do transcendente na reprodução simbólica duma existência ou invenção. Tal postura os torna profissionais desta arte porquanto torna-se difícil aligeirá-los na classe de amador, “entendido este como aquele que tem conhecimento pouco aprofundado sobre determinado assunto”, apesar de amá-lo, muitas vezes, profundamente.

4 - No livro anterior, Essência e Memória (Volume II), do qual é também co-autor Hélder P. Monteiro, a participação foi restringida a fotógrafos amadores, mas neste Olhar a urbe não houve a separação amador / profissional. Pergunto, onde reside a fronteira entre o amador e o profissional? Caso ela exista, não será seguramente deli-mitada pela sobrevivência ou não, a partir dela, de nenhum criador, nem tão pouco o resultado qualitativo da arte produzida. O amador em muitos momentos produz arte de qualidade superior e o profissional, por sua vez, não detém o monopólio da cria-ção artística até porque em muitas ocasiões ele se transforma num transgressor dos valores que interessam à arte por se encontrar vulnerável a uma prostituição assistida e, aí, o amador descomprometido com a ditadura da moeda se distancia qualitativa-mente daquele. A grande diferença entre o profissional e o amador é a postura que cada um assume face à produção da sua obra. Em se tratando de arte, não existe seguramente nenhuma diferença qualitativa de um em relação ao outro; são ambos toscos na mesma medida quando assim entenderem ou assim não estejam vocacio-nados. Não disse que o amador está acima do profissional, mas apetece-me afirmar que, em se tratando de arte, aquele (amador) tem o mundo à sua frente para ultrapas-sar qualitativamente o profissional, caso este entender posicionar a barriga à frente da inteligência da emoção estética…

5 - Há já em Cabo Verde um despertar para a coisa artística; falo de arte na sua dimensão maior, aquela dimensão que não tem sido, infelizmente, presenteada à po-pulação por uma elite de “artistas” conivente com o que o povo quer, e o que o povo quer, infelizmente, é revisitar o quotidiano, o trivial, o habitual, o kitsch, etc. Mas o

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erro não é o “querer do povo”, pois, este consome o que lhe é exortado a treinar. O erro é a forma gratuita, passiva e ingénua como muitos “artistas” se emocionam pe-rante a sedução do mercado violento e castrador, fruto da própria sonegação do ar-tista, embalado na inércia de uma resistência consciente, ou não, ao exercício de uma pedagogia franca para com o público (cabo-verdiano neste caso). Por outro lado, difícil seria, em Cabo Verde, angariar patrocinadores para um registo artístico desta natureza, pois, patrocinando, acham-se no direito de fazerem a “curadoria” e, desem-penhando este papel, sendo eles parte do tal povo supracitado, já se vê que tipo de artistas e obras serão patrocinados.

6 - Hoje, aqui e agora, se apresenta um registo em livro que doravante deveria fazer escola e desta escola supor que sairiam pupilos para o relançamento ou lançamento da arte fotográfica maior. Os cabo-verdianos têm frequentado as maiores universi-dades do mundo compartilhando muitas vezes assentos com gente célebre, assim, torna-se difícil entender por que carga-de-água a resistência em lançar a tal pedago-gia atrás referida para que haja um efectivo treino de muitos cabo-verdianos para as questões do gosto, esta palavra mágica que leva muitos a estribarem na máxima de que ela não se discute. Esta máxima é uma boa meia inverdade e mal contada para camuflar nossa ignorância e nossa (em muitos casos) triste condição de apreciadores convictos de muita arte menor e suspeita.

7 - Tenho para mim que, se for para representar, através da arte, a realidade tal e qual ela se nos apresenta na natureza, então, basta ela própria – a realidade in loco. Neste caso não seria necessário transpô-la para uma tela, uma película ou outro meio qualquer. Não falo do real, falo de arte apreendida na sua essência e ela (a arte) é de longe superior à própria realidade. O homem, como único ser capaz de gerar obras de arte, só se imortaliza através da própria arte; daí, como pretender fazê-la (a arte fo-tográfica) imitar (reproduzindo tal realidade numa espécie de plágio do existente) algo que a ela cabe a difícil tarefa da sua imortalização? Qualquer caminho que foge pro-curando novos e criativos caminhos alternativos, utilizando as mais diversas técnicas convencionais, ou não, estará perfeitamente na direcção e sentido correctos para um enquadramento artístico, e, é assim que, este livro que ora se apresenta, nos brinda com elegância artística merecida, um possível caminho certo entre outros também vá-lidos. A arte é uma irreverência do princípio ao fim e este livro não me deixa mentir…

«O verdadeiro Cogito não substitui o próprio mundo pela significação mundo»

Merleau Ponty

Praia 06-08-2010

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Revis

taActividades da SOCA

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Actividades da SOCA

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PerfilDavid Levy Lima

David Levy Lima é um pintor de finíssima têmpera que tem trilhado a senda do impressionis-mo de uma forma magistral e triunfal.Tendo o homem e a natureza como cerne das suas obras, David Levy imprime uma leveza e subtileza às suas pinceladas e trinchas que tornam os seus quadros de uma linguagem ambígua, ao mesmo tempo que simples, numa mística estética entre o impressionismo e o abstracto.Isto é, as pinturas de David Levy Lima possuem uma aura dialéctica devido à forma sábia como manipula as cores em manchas largas e finas, sobrepostas e dispersas, em superfícies lisas e cintilantes, ple nas de vibrações e reverberações, de nuances estriadas e sombreadas, conferindo aos seus quadros uma atmosfera de certa ridiscência, íg nea e sinestésica, de estranheza metafísica, ao mesmo tempo que nos encanta com um universo exótico e fantás-tico, quase que virtual, que nos dá a impressão de não ter correspondência com qualquer cenário ou realidade vivida ou sonhada, não obstante estarmos conscientes de que está a referir-se a uma realidade concreta, táctil, palpável.Ele joga com a ordenação das perspectivas, com a manipulação dos con trastes, com o cal-deamento das texturas, com a tecitura das luzes e dos brilhos, de forma a criar um mundo de visualizações e percepções suges tivas e sedosas, e de representatividades conotativas, flu-ídas e difusas, tais as performances de marca das vanguardas da pintura contemporânea.Na verdade, as suas obras constituem como que um convite ao nosso olhar à contemplação serena e beatífica, pela sua capacidade de esti mular a nossa participação no descobrir de um novo mundo, de uma nova realidade, palpitante e plena de sensações.Isto porque sentimo-nos espicaçados pelo desafio da interpretação desse mundo de aparên-cias ópticas, voláteis, indefiníveis, intangíveis que ora nos mostra um amontoado amalga-mado de cores, de traços, de planos e de brilhos, e ora nos apresenta imagens e cenários resplan decentes, vivos, coloridos e refrescantes, prazenteiros para um idílico passeio ou para um ameno convívio. E aqui estamos a falar das suas representatividades paisagísticas e sócio-culturais, e da sua essência, expressivas e cristalinas.Circum-navegando, em termos temáticos, por latitudes e longitudes várias, desde paisagens montanhosas e exuberantes, às achadas exten sas e secas, aos promontórios e enseadas ma-rítimas de Cabo Verde, ou às paisagens “verdescentes” e policromáticas de Portugal, pas-sando pelo repertório da cultura e do quotidiano cabo-verdiano, em dimensões paisagísticas ou em simples retrato, David Levy vai com pondo as suas telas com a sua sensibilidade à flor da pele na captação expressiva e invulgar de gestos e momentos e, quase que diríamos, do próprio tempo num determinado espaço, o que sobrevaloriza a sua performance estética.Pintor de apurada técnica e talento e de depurada expressividade, Da vid Levy já desenvolveu uma obra monumental e fulcral sobre a reali dade e a cultura cabo-verdianas.

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Mas também sobre o espaço urbano de Portugal com uma paleta lumi nosa, de muitos sentidos, pela proposta de in-quirição, de descodifica ção, de reconstrução e reinvenção, próprias de uma pintura ambígua, aparentemente frag-mentada por uma geometria mecânica de assime trias deri-vativas e rítmicas, às vezes abstracizantes, às vezes figurati-vas e sígnicas.Com uma linha excepcional de pintura, Levy revela-se como um mago-mestre do pincel na construção, principalmente, das suas paisa gens imaginadas, intuídas ou fotografadas, que se caracterizam pelo seu esplendor e pelas suas flori-das, exuberantes e pitorescas orques trações de cores, he-ráldicas, de formas plásticas e voláteis que nos concitam a um olhar contemplativo e reflexivo, ávido de outros enten-dimentos e percepções.Com uma galeria de pintura esplêndida, maravilhosa e persuasiva, de uma certa fantasia, e plena de emoção e encanto, David Levy Lima sobressai como um pintor de re-ferência na arte contemporânea cabo-verdiana e mesmo portuguesa, sobretudo pela sua originalidade e mestria na sua plástica moderna e impressionista (diríamos), na uti-lização de certas cores lado a lado para criar uma certa perspectiva óptica, assim como na utilização de pinceladas fortes que deixam transparecer as suas marcas, quando observadas de perto, mas que, vistas de longe, formam um todo compacto e homogéneo, tais as res sonâncias, principalmente de Monet, de Cézanne, de Matisse e, algu-mas vezes, de Van Gogh; mas também pela sua linguagem imagística de formatividade performativa e espirálica, com uma pitada de op art, em consonância com as novas ten-dências contemporâneas.

DS, in Cabo Verde e As Artes Plásticas - Percurso & Perspectivas

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David Levy Lima – Nasceu em 1945, em

Santo Antão Cabo Verde. Pintor autodidacta,

possui uma vasta obra exposta em Cabo Verde

e vários países da Europa. Foi distinguido

em 1997 com o Prémio “Jaime de Fiugueire-

do” concedido pelo Ministério da Educação

e Cultura e obteve uma Menção Honrosa na

Galeria de Arte do Casino Estoril, na Exposi-

ção “Paisagem Portuguesa/Terras e Regiões;

foi condecorado com a “Medalha do Vulcão

(1ª Classe) da Presidência da República de

Cabo Verde, por ocasião do 25º Aniversário

da Independência Nacional.

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HomenagemMário Fonseca

A morte, no dia 27 de Setembro de 2009, do ilustre escritor, crítico literário e cronista Mário Fonseca, o Primeiro Presidente da Mesa de Assembleia-Geral da SOCA, repre-sentou para a SOCA e os Artistas, em geral, o extinguir de uma luz de referência na literatura cabo-verdiana.

O autor do livro de poemas Se A luz É Para Todos partiu deixando obras de vulto como La Mer a Tout Les Coup, e L’odoriferante Evidence de Soleil Qu’ Est Une Orange, de entre outros, que são testemunhos da sua veia poética e filosófica, e do seu ideário de escrita, com uma preocupação constante relativamente a questões existencialistas, inclusive sobre a morte.

Poeta revolucionário e visionário, Mário Fonseca nasceu em 12 de Novembro de 1939 na cidade da Praia, Ilha de Santiago. Foi co-fundador do Suplemento Cultural Seló dos estudantes do Liceu Gil Eanes.

Licenciado em Letras na Universidade de Dacar, foi professor, tradutor e administrativo no Senegal, Mauritânia e Turquia.

Em Cabo Verde, foi Presidente do Instituto Nacional da Cultura.

Autor de inúmeras obras, de grande repercussão no percurso literário caboverdiano, de inúmeros trabalhos de crítica literária e um interventor assíduo na sociedade cabo-verdiana, através de crónicas de cariz social, de fundo humanista e pedagógico, esse poeta bilingue, que escreve tanto em francês, como em português, deixou uma vasta colaboração dispersa por jornais e revistas nacionais e estrangeiras.É com particular comoção e tristeza que a SOCA destaca, em jeito de homenagem, neste número da SOCA Magazine, a figura desta ilustre personalidade da Literatura Caboverdiana, através de uma crónica de Jorge Carlos Fonseca.

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Retomo a crónica depois de algum tempo de suspensão, tempo mais vasto do que o que previra, por razões deveras imponderáveis. Compreenderá o leitor o incómodo e a dificuldade de falar da morte de um irmão, o Mário. Seguramente fá-lo-ão de modo mais sereno e justo os amigos e os admiradores, que também os tinha, e genuínos, pois é destes que valerá a pena situar e medir o registo. Não se trata de relativizar ou olhar de soslaio para as homenagens e os consensos póstumos, sempre legítimos, merecedores de simpatia e, diga-se, habituais para o nosso modo de estar e de ser com os outros, sem que deixem de significar, na maioria dos casos, singela expressão de um sentimento de justiça e de gratidão. Apenas se pretende assinalar o facto – certamente inelutável quando estamos perante a literatura e, em particular, a sua forma superior, isto é, a poesia, a autêntica, aquela que se constrói à margem dos condicionamentos dos poderes – de uma quase generalizada desatenção, amiúde com assomos de altiva condescendência, que marca a relação(??) e o «olhar» dos cidadãos, da sociedade e, em particular, das instâncias do poder político e cultural , com, digamos de uma forma cómoda e redutora, os intelectuais «inorgânicos». Sobretudo com os poetas, os verdadeiros. Como foi o Mário. Mário, para mim, irmão onze anos mais novo, foi, desde a minha pré-adolescência, uma referência e um exemplo. Teria eu dez, onze, vá lá, doze anos de idade, e partilhávamos, com mais outro irmão, um quarto largo em casa de meus pais na rua Cândido dos Reis na Praia. A horas tardias para um miúdo que tinha de se levantar cedo para escola, irrompiam pelo quarto o Mário e os companheiros de sempre na altura, o Arménio e o Armando Dupret, em conversas soltas sobre a literatura que se fazia e a que pretendiam se fizesse, em diálogos estranhos sobre temas que hoje sei serem atinentes a ideais nacionalistas (ou próximos dele, simbolicamente, na época: a injustiça colonial, o racismo, a miséria física e espiritual). Abusivamente, faziam-me acordar e davam-me conselhos esquisitos como o de não ler excessivamente livros de cow-boys ou fotonovelas e de «pegar» em romances e, imagine-se!!, em poesia, que esta seria a salvação minha e de a de todos. [Significativo o facto de, muitos anos depois, em 1997,

Mário: o poeta-somente-poeta e o libertário compulsivo – uma crónica sob suspeição?

Por: Jorge Carlos Fonsaca

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Mário foi até à sua morte poeta, condição que assumia integralmente, e sobretudo um libertário compulsivo.

Insubmisso e avesso a açaimes (no poema escrito aos 20 anos

– «Quando a vida nascer» - : Quando a vida nascer/

Rasgarei as grades/ Rasgarei os açaimes/ Enterrarei a dor/ Gritarei bem alto/ A

minha sede de viver…), foi nacionalista e combatente, pan-africanista e também

revolucionário universalista, visionário e idealista à

outrance, crítico implacável do conservadorismo social e cultural, o que o tornava, aos olhos de muitos, num tempo culturalmente muito limitado,

um louco poeta ou um perigoso agente de indizíveis e

irrealizáveis profecias.

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Mário se referir à sua «febre primeira» como tendo sido a salvação de uma «precoce delinquência…» e ser ela (a literatura, melhor a sua forma superior, a poesia) « … ela mesma… que urgia a todo o preço e por todos os meios possuir…»] Começava bem cedo, pois, com a presença forte, irreverente, por vezes intransigente, do Mário, o seu ascendente visível sobremaneira pela quase sobranceria – provocatória – como exibia a condição de intelectual, o meu gosto pelas coisas da literatura e a minha atracção – fatal se mostrou pela vida fora – pela liberdade. Sim, esta ideia, na altura quase imperceptível, sincrética, de que somos humanos porque somos (podemos sê-lo) intrinsecamente livres.Ora bem, Mário foi até à sua morte poeta, condição que assumia integralmente, e sobretudo um libertário compulsivo. Insubmisso e avesso a açaimes (no poema escrito aos 20 anos – «Quando a vida nascer» – : Quando a vida nascer/Rasgarei as grades/ Rasgarei os açaimes/ Enterrarei a dor/ Gritarei bem alto/ A minha sede de viver…), foi nacionalista e combatente, pan-africanista e também revolucionário universalista, visionário e idealista à outrance, crítico implacável do conservadorismo social e cultural, o que o tornava, aos olhos de muitos, num tempo culturalmente muito limitado, um louco poeta ou um perigoso agente de indizíveis e irrealizáveis profecias. [No posfácio ao livro Se a luz é para todos, editado apenas em 1998, apesar de os poemas nele insertos terem cerca de trinta anos de existência, atribuladíssima, diga-se, Mário esclarece os leitores desta forma: «… no momento específico em que o escrevi, eu… não tinha corpo nem alma, porque só tinha espírito. E o meu espírito estava ocupado quase exclusivamente e a nível profundo com duas coisas: política e literatura…». E o que significava política?! A independência de Cabo Verde e da Guiné-Bissau… em geral, o combate pelo chamado terceiro-mundo e a guerra contra os preconceitos que os Ocidentais nutriam e continuam nutrindo acerca dos povos não europeus, a então chamada e não realizada revolução proletária mundial…»] Esta marca nunca o abandonará, ainda que, com o tempo, os dissabores da vida, de todo o género, o exílio longo, as incompreensões, o aprofundamento constante de uma sua visão angustiada do mundo e da existência, o amadurecimento de sua poética e de sua personalidade, a abertura de espírito a ideias e fenómenos novos (a democracia, melhor, o triunfo da democracia sobre a revolução, por exemplo), venha a surgir, numa ilusão óptica ou rasa compreensão de uma personalidade complexa e intencionadamente fingidora, um homem incoerente. Nada de menos exacto! Mário pecou talvez pela excessiva coerência do viver, pelas causas, pelos valores, pelos ideais, pelo que, para ele, era permanente e essencial: a liberdade, a justiça, a fraternidade, a igualdade, a dignidade do ser humano, enfim. Coerência – contrariamente ao que muitas vezes vem por aí propalado e ideologizado – não é, não foi para ele, apego irrestrito e acrítico a lugares, a instâncias, partidos e pessoas, mesmo quando deixam de estar sintonizados com os valores e princípios que originariamente justificaram ou fundaram a sua criação ou veneração. Ser coerente pode ser, quantas vezes, ter de mudar, de surpreender, de romper, de recomeçar, de incomodar, de perder, de morrer. E disto ouvi tanto de Mário, bem que algumas vezes eu próprio me tenha sentido obrigado a tentar convencê-lo do contrário.Foi esta postura de frontalidade permanente, a roçar não raro a ingenuidade, de sentido crítico face ao pormenor, de contínua insatisfação pelo real, de aparente ausência de lucidez nas lides do quotidiano, de, quantas vezes!, dificuldade congénita em ser «realista» e «prático», de incomodidade para todos os poderes, mas de uma determinação inabalável pelo que considera «vital», que explica uma vida de andarengo

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(Dacar, Mauritânia, Iraque), qual estrangeiro postergado na própria pátria, que nunca tenha sido ministro, embaixador, adido cultural ou tenha sido amiúde quase-ministro, quase-presidente do IILP, quase isto e aquilo, ou, ainda, e no que toca à sua condição primeira, existencial, de poeta, que, a par de outras razões, como a de grande parte de sua produção poética se apresentar em língua francesa, justifica talvez uma, até hoje, insuficiente compreensão e divulgação de sua rica e vasta (falamos da relatividade das coisas entre nós) obra poética.Aliás, é o poeta que esclarece, no já mencionado posfácio a Se a luz é para todos, que esta obra dada a lume trinta anos depois de ser escrita teve uma vida de inquietações: «Três vezes o tentei publicar, três vezes desisti. A primeira em 1969/70, a segunda após a revolução dos cravos, a terceira em 1987, estando de regresso a Nouakchott, após uma estada de um mês em Cabo Verde. Por que não foi possível publica-lo? Responderei: apenas porque o establishment não o permitiu». Terá sido a circunstância de ter optado por ser, a final, apenas poeta, avassaladora e cruelmente apenas poeta, projecto de deuses únicos que seriam aqueles, poucos, que decidem ser profissionais de coisa nenhuma, de coisa «que não serve para nada, não tem a utilidade de uma cadeira ou de um panfleto…», que igualmente pode desculpar uma injusta valorização de uma obra, ao menos no âmbito da poesia cabo-verdiana, de que – naturalmente que estarei sob suspeição neste juízo – seguramente foi uma das mais lídimas e consistentes representantes. Afinal tudo – também a morte? – não terá sido o preço pago por quem optou por ditar que «Nada em mim é meu./… Se respondo ao nome de Mário/ é por hábito de o trazer sempre ao ouvido./ … É também por hábito/ Que ao grito: cabo-verdianos!/ Acorro logo afobado./… Quanto à chamada: homens!/ Se sem hesitar respondo: presente!/ é que não posso deixar de caber/ No esquife previamente/Calcado/ Sobre as minhas mais verídicas medidas…»?!Afinal, não foi ele quem sentenciou: «Poesia!/ se não podes libertar/ mata!»?

[email protected]/[email protected]

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MORREU LELA DE MANINhA

Por: Jorge O. S. Silva

Foi consternado que recebi a notícia do falecimento deste caboverdiano que foi um lutador por uma melhor dignidade e mais amor próprio, nas épocas em que estas palavras eram mal conhecidas e as pessoas que enfrentavam o poder colonial contra os maus tratos e em defesa duma vida melhor eram incompreendidas e desconsideradas pelas autoridades e apoiantes do regime.

A morna “Sanvicent de Lonje” é uma das suas manifestações de revolta em relação à sociedade em que vivia. Se observarmos bem, a primeira estrofe denuncia a situação em que se vivia, ao declarar abertamente “Ken k’t’ôiá Sanvicente de lonje ka ta imajiná torment k’nô ta passá/ O tónt kôrê pa’riba, ô tónt kôrê p’ra box/ Sem rume sem direson”. Claramente ele declara uma situação insuportável, em que não se tem onde recorrer pois, quando não se tem rumo nem direcção, declaradamente vive-se numa situação de calamidade e desespero. Mas, mais adiante ele aumenta a denúncia da opressão, dizendo “ô tónt subi furtin, ô tónt s’bi tribunal/ Sem xpêránsa nen ventura”. É, declaradamente a denúncia à perseguição violenta que se vivia, em que a mínima coisa dava um julgamento sumário e uns dias no Fortim d’el rei, que era a cadeia da ilha.

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Na sua vida de compositor, Lela tem pelo menos duas incursões na lírica, sendo uma delas a coladeira “Bia Lulutxa” que todos conhecemos, “ta bai ta bai Fog e Brava/ Ta pasá pa Mindel/Ta fiká ta txorá”. E ainda uma morna que não conheço o título, mas de que passarei algumas estrofes que podem mesmo estar deturpadas, pois, todos nós sabemos que os intérpretes muitas vezes não conhecem os originais e daí os lapsos. Lela canta “Boz ôdju pretu stankadinhu/Sukuru sin kuma breu/ Ka ta dixan odja kaminhu/ Di n’bai pa seu. N’ten un dizgostu profundo/ Sô Deuj /na seu sabê/ S’ê pa n’amá maj algen nes mundu/ Antej nha ora n’morê. Pa min bô ê un santa/ Bô ê un anju di seu/ Min já n’krebu txeu/ Sin’ma amor di nha mãi”.

Lela deve ter conhecido B. Leza, Txuf, Karaka, Ti Goi, mas sei de certeza que conviveu com Olavo Bilak, outro compositor e intérprete famoso e tocador exímio do violão que desapareceu muito cedo devido a doença prolongada, acompanhou Romãozinho e tantos outros.

Lela de Maninha vai para Angola num processo por muitos conhecido, praticamente em desespero de causa, em busca duma vida melhor e tentando escapar ao desespero da perseguição, porque Lela era um reivindicador das causas justas como um emprego e uma vida digna. Assim decide embarcar contratado para Angola, com destino a uma roça qualquer que, ao que parece, seria pertença da CADA ou Mário Cunha que eram

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dos dois detentores de grandes propriedades na província do Kuanza Sul, em Angola. Não tendo sido sua intenção suportar as vicissitudes duma vida nas roças, pois, nunca admitiu quaisquer tipos de maus tratos, Lela tinha, de facto, como único objectivo, sair de Cabo Verde em busca de melhor vida, o que não era o caso da vida numa roça de café, ou nos palmares daquelas companhias no Kuanza Sul. Tinha, de facto, o objectivo de fugir daquela situação, assim que tivesse a primeira oportunidade. Assim, quando o barco chega a Cabinda, declarando desejar ir à terra, a fim de cumprimentar parentes e conhecer a cidade, Lela e mais alguns companheiros simulam uma revolta que culminou com a proibição de qualquer passageiro de ir à terra, gorando os seus planos neste primeiro momento. Mais tarde o barco pára em Ambrizete e em Luanda onde ele volta a tentar a sorte mas estando já sob suspeita e sendo ele o mais activo, as autoridades impediram de imediato qualquer possibilidade de atingir esse objectivo. Assim, Lela chega ao Lobito onde teve que enfrentar os rigores, até se desenvencilhar do fatídico contrato.

Mas as suas acções reivindicativas não param e Lela organiza um grupo de tocatinas pois, não se separava do seu violão e um belo dia é convidado pelo Administrador do Concelho para animar uma noite numa actividade oficial. Precisamente ali Lela decide apresentar a sua última composição de que passarei parte da letra que dizia: “Angola ê so pa branku/ Nô ta txomadu, nô ta fitxadu/ Nô ka tem direit, Nô ka tem razon/ Ê sô

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prizãu k’nô ta sujeit”. O resultado não se fez esperar e o grupo todo foi enviado para a prisão. Lela assumiu imediatamente a responsabilidade, como compositor e mesmo intérprete, não permitindo que os outros fossem punidos.

Entretanto, tendo-se-lhe impedido de levar o violão, Lela cantava o tempo todo, o que comovia a esposa do Administrador do Concelho que era uma amante da morna e pressionou o marido até que ele foi posto em liberdade.

Mas Lela desempenhou um papel importante no seio da nossa comunidade em Benguela, localidade em que se radicou até morrer. Tendo conseguido um lugar nos serviços de Identificação Civil, passou a ajudar todos aqueles que não tivessem documentos, pela facilidade conseguida nos próprios serviços. Muitas das pessoas que iam contratadas não eram portadoras de Bilhete de identidade, porque bastava o papel que lhes era entregue pelo angariador par embarcar. Mas a sua bondade ia além da comunidade caboverdeana, tendo mesmo ajudado muitos angolanos a adquirir o Bilhete de Identidade que era, nessa altura, o único instrumento para deixarem de ser considerados indígenas e adquirirem o título de assimilados.

Por isso, a Medalha de Mérito atribuída por Sua Excelência o Senhor Presidente da República caiu muito bem no peito deste valoroso caboverdiano, onde batia um nobre coração, sempre disposto a defender e apoiar os que dele precisavam.

Eu digo, antes, que Cabo Verde ganhou uma estrela, pois, Lela de Maninha viveu a sua vida na plenitude e morreu na velhice, depois de enfrentar os perigos e as perseguições de peito aberto e ter deixado algumas composições que só enriquecem a nossa cultura e enobrecem a sua figura perante nós todos. A família de Lela de Maninha deve sentir-se orgulhosa de ter tido na sua companhia personagem tão ilustre.

Da minha parte, sinto-me muito feliz de ter um dia conhecido pessoalmente este caboverdiano valoroso, intemerato, orgulho de nós todos.

Praia, 29 de Janeiro de 2010

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