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Sociedade do Ouro Prof. Victor Creti Bruzadelli

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Sociedade do Ouro

Prof. Victor Creti Bruzadelli

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Ocupação do território brasileiro

Expansão para o sertão:

Fatores facilitadores:

União Ibérica: folga do Tratado de Tordesilhas;

Princípio do Uti Possidets;

Formas de expansão:

Expedições militares para expulsar estrangeiros;

Criadores de gado movendo-se para o interior;

Jesuítas fundando missões jesuíticas, dentre eles o Colégio São Paulo, futura Vila de São Vicente.

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O Brasil antes do ouro

Capitania de São Vicente:

Atual cidade de São Paulo;

Pequena agricultura: Pobreza generalizada;

Considerada a principal entrada para o sertão.

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As Bandeiras

Conceito: Expedições particulares, geralmente organizadas por vicentinos;

Objetivos: encontrar negros fugidos, capturar indígenas como escravos e descobrir metais preciosos;

Influências:

Invasão de Angola: necessidade de escravizar indígenas;

Imaginário das viagens medievais de Marco Polo;

Formadas por mestiços (mamelucos): conhecimento sobre o sertão.

Evém a Bandeira dos Polistas...

num tropel soturno.

Rasgando as lavras

ensacando ouro,

encadeiam Vila Boa

nos morros vestidos

de pau-d’arco.

Foi quando a perdida gente

riscou o roteiro incerto

do velho Bandeirante.

E Bartolomeu Bueno,

num passe de magia

histórica,

tira Goyaz de um prato de aguardente

e ficou sendo o Anhangüera.

(CORALINA, Cora. Anhangüera)

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As Bandeiras

A construção do “mito” Bandeirante:

Auguste de Saint-Hilaire (XIX):

“Uma raça de gigantes”;

Revolta constitucionalista de 1932:

Bandeirantes como símbolo de São Paulo que se opunham ao governo federal varguista.

Concepção atual:

Homens de seu tempo com grande importância histórica

“Eram homens ousados e intrépidos esses aventureiros, que se embrenhavam pelos sertões de Minas em busca do ouro; de vontade firme, pertinaz, inabalável. Cegos pela ambição, arrostavam os maiores perigos; não temiam o tempo, as estações, a chuva, a seca, o frio, o calor, os animais ferozes, répteis que davam a morte instantânea. [...] Se não tinham o que comer, roíam as raízes das árvores; serviam-lhes de alimentos os lagartos, as cobras, os sapos, que encontravam pelo caminho [...]Muitas serras, muitos rios, muitos lugares que conhecemos com os nomes indígenas, foram batizados por eles. Tais eram, em geral, os primeiros descobridores das ricas minas do Brasil”

(SANTOS, Joaquim Felício dos. Memórias

do Distrito Diamantinho, de

1868)

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As Bandeiras

“a oportunidade para o bandeirante emergir como verdadeiro símbolo capaz de solucionar os conflitos que desafiavam a nação surgiu na crise da virada dos anos 1930. O movimento militar de 1930, [...] derrubou o presidente Washington Luis, representante da oligarquia paulista, e alçou ao poder Getúlio Vargas. Contrariados, grupos políticos de São Paulo formaram a Frente Única, apelando para a luta armada.

Para convencer a sociedade de que desafiava a ditadura em nome da unidade nacional, nada melhor do que resgatar o velho mito. Os bandeirantes voltam ao centro dos discursos políticos. Com suas virtudes já consolidadas — coragem, audácia, honradez e rigor moral — um símbolo capaz de congregar o povo paulista”

(ABUD, Kátia Maria. Paulistas, uni-vos)

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As Bandeiras

Outros tipos de viagens ao sertão:

Descidas: Expedições religiosas com missão catequizadora;

Entrada: Bandeiras organizadas pela Coroa;

A descoberta do ouro:

Minas Gerais: Antônio Rodrigo Arzão (1693);

Mato Grosso: Pascoal Moreira Cabral (1719);

Goiás: Bartolomeu Bueno da Silva, o Anhanguera (1725);

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A sociedade do Ouro

Controle e Administração das minas:

Intendência das Minas (1702):

Minas sob posse metropolitana: Exploração concedidas à particulares;

Administração: distribuição de terras;

Justiça: Questões referentes à mineração;

Tributação: Cobrança de impostos.

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A sociedade do Ouro

Controle e Administração das minas:

Casas de Fundição (1720):

Mecanismo de cobrança de impostos;

Impostos:

Capitação: Cobrado sob a cabeça de escravo;

Quinto: 20% da produção;

Derrama: 100@ anuais de ouro.

“Meu Avô temia e devia; meu pai devia; eu não temo e não devo! “

(D. João V)

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A sociedade do ouro

Tipos de ouro:

Ouro de Lavagem ou Aluvião:

Barrancos dos rios;

Mais barato.

Ouro de Lavras ou Grupiara:

Escavação e escravos;

Mais caro;

Grandes propriedades exploratórias.

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Os diamantes

Distrito diamantino:

Descoberta de diamantes em 1729;

Local: Arraial do Tijuco (atual Diamantina);

Estanco régio: exploração estatal;

Exploração por Contratadores (1740): particulares que controlavam a exploração pagando uma quantia fixa à coroa antecipadamente.

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Inglaterra, Portugal e o ouro

A Inglaterra e a economia portuguesa:

Tratado de Methuen (1703):

“Panos e vinhos”;

Atraso industrial em Portugal;

Escoamento do ouro brasileiro;

Consequência: industrialização inglesa.

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A crise da produção aurífera

Crise da produção:

Intensa exploração;

Técnicas rudimentares;

Ouro de aluvião: facilmente encontrado e esgotado;

Contrabando intenso;

Ganância da coroa.

“A arte de explorar minas não é entre eles mais que uma rotina imperfeita e cega “(Auguste de Saint-Hilaire)

Ano Produção Aurífera

1697 115 kg

1699 725 kg

1705 1,5 t

1715 6,5 t

1739 10 t

1744 9,7 t

1754 8,8 t

1764 7,6 t

A decadência do Ouro

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Consequências da economia aurífera

A “sede insaciável de Ouro”:

Migração do Brasil e da Europa;

Aumento demográfico:

Formação de uma sociedade heterogênea;

Processo de Urbanização desordenada: criação de vilas e arraiais;

Desenvolvimento de estradas: Comércio lombo de mulas;

Século XVII 300 mil

Século XVIII 3,3 milhões

“Quando a capitania das Minas Gerais conhecia o seu apogeu, milhares de homens viviam na miséria, passavam fome, vagavam sem destino pelos arraiais, tristes frutos deteriorados de um sistema econômico doente e de uma estrutura de poder violenta. Da riqueza extraída das Minas, quase tudo ia para a Metrópole, onde se consumia em gastos suntuários, em construções monumentais (...), no pagamento das importações de que Portugal necessitava”

(SOUZA, Laura de Mello e . Opulência e miséria nas Minas

Gerais)

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Consequências da economia aurífera

Expansão do território colonial e povoamento do sertão;

Desenvolvimento de outras regiões da colônia: proibição de agricultura na região das minas;

Possibilidade mínima de mobilidade social, inclusive para escravos;

Mudança do eixo econômico:

Do nordeste para o centro-sul;

Transferência da Capital para o Rio de Janeiro em 1763;

Surgimento de revoltas nativistas e separatistas.

“O caso de uma Rosa Gomes, escrava do alferes José Gomes de Barros. Muita conhecida no tempo [...], a escrava diligente havia juntado pecúlio para comprar quatro escravos a crédito, incluindo uma mãe e filho. No entanto o alferes, seu senhor, não ajustava preço para a Rosa comprar a própria liberdade, lançando valores fantásticos, irreais. Luís da Cunha, em ordem pública, interveio na pendenga, forçando José Gomes de Barros a contratar com justeza a alforria da escrava, apontando-lhe vilmente incorrer em ludibrio de sua honra e do caráter de alferes da companhia de nobreza por agir erradamente com a serva.”

(BERTRAN, Paulo. Notícia geral da Capitania de Goiás)

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Conflitos na região das minas

Guerra dos Emboabas (1708):

Conflito entre bandeirantes vicentinos e portugueses (Emboabas), pela exploração das minas;

Consequências:

Derrota dos paulistas;

Retirada das minas e descoberta de ouro em outras regiões;

Criação das capitanias de Minas Gerais, Mato Grosso e Goiás.

“Destes atritos e malquerenças, a primeira manifestação pública explodiu nas terras do ouro com a chamada guerra dos Emboabas, uma das designações dos reinóis na língua geral. [...]Os paulistas afetavam profundo desprezo pelo emboaba, tratavam-no por vós, como se fora escravo, informa o cronista destes sucessos”

(ABREU, Capistrano de. Capítulos de História

colonial.)

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Conflitos na região das minas

Revolta de Vila Rica (1720):

Contrária à criação das Casas de Fundição;

Líder: Filipe dos Santos;

Derrota sumária da revolta, com o enforcamento e esquartejamento do líder.

“Dom Pedro Miguel de Almeida Portugal - conde de Assumar - se casou em 1715 com D. Maria José de Lencastre. Daí a dois anos partiria para o Brasil como governador da capitania de São Paulo e Minas Gerais. Nas Minas, não teria sossego, dividido entre o cuidado ante virtuais levantes escravos e efetivos levantes de poderosos; o mais sério destes o celebrizaria como algoz: foi o conde de Assumar que, em 1720, mandou executar Felipe dos Santos sem julgamento, sendo a seguir chamado a Lisboa e amargurado um longo ostracismo”

(Laura de Mello e Souza, Norma e conflito: aspectos

da história de Minas no século XVIII)