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ANO 13 # 33 ISSN 24467995 O EQUILÍBRIO ENTRE OS TRÊS PODERES NO BRASIL ESTÁ AMEAÇADO? SOCIEDADE E JUSTIÇA O FANTÁSTICO MUNDO DA TRIGONOMETRIA SAIBA POR QUE ASTRÔNOMOS E QUÍMICOS NÃO ABREM MÃO DELA REFRIGERADOR DE VACINAS INVENÇÃO DE ESTUDANTE BRITÂNICO PROMETE SALVAR MILHÕES DE VIDAS

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ANO 13

# 33

ISS

N 2

4467995

O EQUILÍBRIO ENTRE OS TRÊS PODERES NO BRASIL ESTÁ AMEAÇADO?

SOCIEDADEE JUSTIÇA

O FANTÁSTICO MUNDO DA TRIGONOMETRIA

SAIBA POR QUE ASTRÔNOMOS E QUÍMICOS NÃO ABREM MÃO DELA

REFRIGERADOR DE VACINAS INVENÇÃO DE ESTUDANTE BRITÂNICO PROMETE SALVAR MILHÕES DE VIDAS

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Diretora editorial

Renata Mascarenhas

Coordenação Editorial

Bárbara Muneratti e Renato Luiz Tresolavy

Jornalista responsável

Jayme Brener (Mtb 19.289-78-61-SP)

Produção editorial

Ex Libris Comunicação IntegradaTel. (11) [email protected]

Edição

Cláudio Camargo

Revisão

Hélia de Jesus Gonsaga (ger.), Kátia Scaff Marques (coord.), Rosângela Muricy (coord.), Claudia Virgilio, Gabriela Mace-do de Andrade, Luís Maurício Boa Nova e Raquel A. Taveira

Projeto gráfi co

Buono Disegnowww.buonodisegno.com.br

Diagramação

Regina Beer

Infográfi cos

Área Design

Capa

Mouses Sagiorato

Impressão e acabamento

Divisão de Sistemas de Ensino

Av. das Nações Unidas, 7221Pinheiros - CEP 05425-902São Paulo – SP

Reprodução proibida. Todos os direitos reservados.

Central de Atendimento às Escolas0800 770 1996

Entre nósA clava forte da JustiçaNunca a Justiça esteve tão em evidência no Brasil, da mesma forma que nun-ca as ações da Justiça dividiram tanto o país. Uma parte dos brasileiros acredita que o fundamental é combater a corrup-ção, não importam os meios. Esta parcela da população aplaude qualquer ação contra os corruptos, mesmo que sejam arbitrárias. Outros defendem que o necessário combate à corrupção não pode passar por cima das garan-tias constitucionais e legais dos cidadãos. Além disso, o protagonismo de juízes e do Ministério Público é tanto que já se fala em “judicialização da política”, com o Judiciário ocupando os espa-ços do Executivo e do Legislativo, já que estes poderes, às voltas com de-núncias de corrupção, estão praticamente paralisados. E na política, como se sabe, não existe vácuo.Nossa matéria de capa traz essa polêmica e deixa no ar a pergunta: depois de décadas, tanto na ditadura como na democracia, em que o Judiciário e o Legislativo foram neutralizados pelo Executivo, o poder da toga toma as ré-deas. Seria esse protagonismo um avanço ou uma ameaça ao equilíbrio dos Três Poderes – um dos pilares do Estado democrático de Direito?Os conceitos de “esquerda” e “direita”, que muitos supunham superados, vol-taram com toda a força nos últimos anos, no Brasil e no mundo. Basta ver, por exemplo, o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff e as eleições nos Estados Unidos. A pergunta que se faz é: esses conceitos estão ultrapassados ou ainda conservam o vigor?Polêmica, aliás, é o que não falta nesta edição. Como a discussão sobre a tê-nue fronteira que separa a liberdade de expressão e o bullying: preconceitos e ofensas podem ser pretextos para fazer humor?Na área de Ciências da Natureza, temas impactantes, como: a técnica que utiliza DNA de três pais para gerar bebês sem as doenças dos pais, os avan-ços na luta contra o buraco na camada de ozônio, a disseminação dos drones para uso civil e as mil e uma utilidades da Trigonometria.

Boa leitura!

Gente que fez

FEVEREIRO 2017 | ATUALIZA

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LUIZA VILLAMÉA

Jornalista graduada

pela Universidade

Cásper Líbero e

mestra em História

pela USP. Trabalhou

no jornal O Globo

e nas revistas

IstoÉ e Veja.

Atua como repórter

especial da revista

Brasileiros.

CLÁUDIO CAMARGO

Jornalista e

sociólogo, formado pela

Escola de Sociologia e

Política de São Paulo.

Trabalhou como

redator e subeditor

no jornal Folha de

S.Paulo e como

editor da seção

“Internacional”

na revista IstoÉ.

FERNANDO PORFIRIO

DE LIMA

Jornalista graduado pela

Universidade Federal de

Alagoas, com atuação

nos jornais Gazeta, Jornal

de Alagoas, DCI, Folha da

Tarde e Diário Popular. Foi

assessor de imprensa na

Prefeitura de São Paulo e

no Ministério Público de

São Paulo.

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LUIZ CHAGAS

Jornalista, músico e

tradutor. Autor, com

Mônica Tarantino,

do songbook PretoBrás,

sobre a obra de Itamar

Assumpção, com quem

tocou durante décadas.

Criou trilhas sonoras

para cinema. Atualmente

escreve para a

revista Brasileiros.

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09SEM LIMITES

Índ

ice TROCANDO

IDEIAS O arquiteto Gilberto Belleza, atual presidente do Conselho Regional de Arquitetura e Urbanismo de São Paulo (CAU/SP), fala sobre a evolução, as perspectivas e os

horizontes de uma profissão dinâmica num país em

constante transformação.

06

DIFÍCIL E FASCINANTE

A Trigonometria é a parte da Matemática que lida com

triângulos, círculos, ondas e oscilações. Do teorema de

Pitágoras ao cálculo diferencial e às aplicações práticas na

Medicina, na Engenharia, na Química e na Biologia, esse

ramo da Matemática evoluiu muito.

26

A HORA E A VEZ

DO JUDICIÁRIOO atual protagonismo do Poder Judiciário e do MP cresceu com a Lava Jato. Muitos aplaudem a

ação da Justiça contra a corrupção; outros criticam os abusos de poder e dizem que vivemos um processo de “judicialização da política” em razão

do enfraquecimento do Executivo e do

Legislativo.

10

18

ESQUERDA ×

DIREITAA radicalização política no Brasil trouxe à tona os velhos conceitos

de “esquerda” e “direita”, que muitos julgavam superados depois da Guerra Fria. Contudo, seriam tais conceitos,

forjados no século XVIII, capazes de dar conta de uma realidade

complexa como a de hoje?

HUMOR: LIBERDADE

OU BULLYING?Numa sociedade ideal, o

politicamente correto deveria evitar a disseminação de preconceitos contra

minorias, enquanto o politicamente incorreto deveria garantir a liberdade de expressão. Entretanto, no mundo real, muitas vezes os que se dizem

incorretos são, na verdade, conservadores com um

discurso de ódio.

22ENTENDA A

REVISTAÍcones temáticos

relacionam as matérias às áreas do

conhecimento. A seção “Em foco” contempla as competências e as habilidades do Enem.

LINGUAGENS MATEMÁTICA

CIÊNCIAS DA NATUREZA

CIÊNCIAS HUMANAS

QUÍMICA

FÍSICA

GEOGRAFIA

SOCIOLOGIA

FILOSOFIA

LÍNGUA PORTUGUESA

INGLÊS

ESPANHOL

EDUCAÇÃO FÍSICA

ARTE

MATEMÁTICA

BIOLOGIA

HISTÓRIA

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41BACKUP

49ENCARE

ESSA!

50DIÁLOGO

COM A ARTE

FEVEREIRO 2017 | ATUALIZA

DNA DE TRÊS PAIS

Cientistas estadunidenses

desenvolveram uma técnica que

permite que bebês, filhos de pais

com doenças genéticas graves, nasçam

saudáveis. Essa técnica utiliza o DNA de

três pessoas: do pai, da mãe e de um

terceiro doador. A descoberta traz muitas

esperanças a milhões de pessoas com

doenças genéticas, porém reabre o

debate sobre os limites éticos da

manipulação genética.

30

CADA VEZ MAIS SURDOS?

Segundo a Organização Mundial

da Saúde (OMS), atualmente um

terço dos idosos com mais de

65 anos sofre de surdez, além de

metade daqueles com mais de 75 anos.

No entanto, o que preocupa os

especialistas é o aumento do problema

entre os jovens. A poluição sonora,

sobretudo por equipamentos de

som, é um dos principais

vilões desse mal.

REFRIGERADOR DE VACINAS

O estudante William Broadway,

de 22 anos, da Universidade de

Loughborough (Reino Unido), criou

uma microgeladeira para transportar

vacinas e até órgãos, o que pode

ajudar a salvar cerca de 1,5 milhão

de vidas por ano. A invenção valeu

a Broadway o prêmio James

Dyson Award.

CAMADA DE OZÔNIO

Em 1985, cientistas anunciaram

que um imenso buraco se abria

na camada de ozônio da atmosfera

sobre a Antártida e que ele estava

aumentando cada vez mais.

A gravidade da situação mobilizou

a primeira ação global pelo meio

ambiente. Contudo, apesar

dos avanços, o problema

ainda é extremamente

preocupante.

34

36

38

44

MATA HARIEm 1917, o Exército

francês condenou à morte por

fuzilamento a bailarina e cortesã

holandesa Margaretha Gertruida

Zelle, mais conhecida como Mata Hari.

Na verdade, havia a suspeita de que

ela fosse agente dupla (Alemanha e

França). Hoje, cem anos depois da

execução de Mata Hari, acredita-se

que a acusação de espionagem

pode ter sido falsa.

42

A ESCALADA DOS DRONES

Os drones, ou veículos aéreos não tripulados (Vants),

surgiram com o objetivo de poupar a vida de militares em situação de risco. Hoje, o uso civil dos drones tem

crescido, em áreas como a de monitoramento agrícola e

a de Meteorologia.

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ATUALIZA  |  FEVEREIRO 2017

A Arquitetura como missão

06 | TROCANDO IDEIASpor mArco pAULo ferreIrA

Gilberto Belleza

O atual presidente do Conselho Regional de Arquitetura e Urbanismo

fala sobre o papel do arquiteto no Brasil de hoje

Ex-integrante do Conselho Regional de

Engenharia e Agronomia de São Pau-

lo (Crea/SP), Gilberto Belleza, atual pre-

sidente do Conselho Regional de Arquite-

tura e Urbanismo de São Paulo (CAU/SP),

acredita que o campo de atuação de arquitetos e ur-

banistas tem mudado e ampliado muito no Brasil.

Para ele, que já foi curador da Bienal Internacional de

Arquitetura de São Paulo, em 2005, existe hoje uma

demanda cada vez maior por profissionais de Arqui-

tetura e Urbanismo em áreas não tradicionais, como

sustentabilidade e patrimônio histórico. “Um dos

aspectos que valorizaram muito nossa profissão é a

grande quantidade de profissionais que estão entran-

do no mercado”, diz Belleza, nascido em São Paulo,

com graduação, mestrado e doutorado pela Faculda-

de de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP e dou-

torado em projetos pela Universidade Presbiteriana

Mackenzie. A seguir, veja alguns trechos da entrevista.

Atualiza: Como você se interessou por Arquitetura e Urbanismo?Gilberto Belleza: Quando eu estava no segundo grau,

já gostava muito de desenhar. Eu estava um pouco em

dúvida entre fazer Engenharia e Arquitetura. Mas

meu dom artístico, de certa maneira, me levou mais

para a Arquitetura do que para a Engenharia. E não te-

nho dúvida nenhuma de que a melhor opção foi essa.

Como está o mercado de trabalho para os jovens formandos nessa área?Estamos num momento muito delicado porque a cri-

se no país atingiu em cheio a nossa área e a área da

construção civil. Esperamos que a crise seja momen-

tânea. Porque, sem dúvida, é uma crise advinda da si-

tuação crítica do país.

Quais são as principais áreas de atuação dos arqui-tetos e urbanistas?Tem mudado e ampliado muito, o campo de atuação

dos arquitetos e urbanistas. O número de profissio-

nais formados tem feito com que a gente amplie con-

sideravelmente nosso campo. Então, as áreas básicas

que a gente tinha de atuação, que eram as de Arqui-

tetura, planejamento e construção, hoje se têm am-

pliado para as áreas de sustentabilidade e patrimônio

histórico, de uma maneira muito mais efetiva, fazen-

do com a que a atuação do arquiteto e urbanista tenha

um papel fundamental dentro da cidade e da socieda-

de brasileira.

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goodluz/Shutterstock

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ATUALIZA  | FEVEREIRO 2017

08 | TROCANDO IDEIAS

Quem contrata um arquiteto reconhece a importância desse profissional

Quais as principais característi-cas que um arquiteto e urbanis-ta deve ter?Em primeiro lugar, ter bom co-

nhecimento de desenho. Saber

desenhar e saber se expressar por

meio do desenho. Vai ter ainda

que se aprimorar em Informáti-

ca, que é uma área essencial tam-

bém. E aprimorar muito questões

críticas da sociedade, do ponto de

vista ambiental, urbano e de cons-

trução. Nessa fase inicial, princi-

palmente, questões ligadas à His-

tória, desenho e expressão. Tudo

isso é muito importante.

Como escolher a faculdade em que se pretende cursar Arquite-tura e Urbanismo?Precisa primeiro se inteirar de to-

dos os cursos que existem. Nós

temos, hoje em dia, uma grande

quantidade de cursos, dos mais va-

riados níveis de qualidade. Então,

sugiro pesquisar bastante para sa-

ber quais são as melhores opções.

Evidentemente que isso envolve

questões econômicas, de distância.

Pesquisar também a origem desses

cursos, se eles têm uma estrutu-

ra definida de funcionamento, se

têm uma boa biblioteca, a quali-

dade dos professores, etc. Isso vai

ajudar muito o jovem estudante a

escolher qual o melhor curso que

ele pode fazer.

E qual o melhor momento para começar a fazer um estágio?Na medida do possível, desde o se-

gundo ou o terceiro ano já é bom

tentar um estágio. Evidentemen-

te, um estágio que ofereça a possi-

bilidade de aprender, que não seja

simplesmente utilização de mão

de obra barata. E conseguir dosar

isso com o curso. Porque só o es-

tágio também não adianta. Preci-

sa saber tirar do curso as melhores

qualidades que ele te oferece, e ao

aspectos legais da profissão, se o

currículo está sendo obedecido, se

o número de horas/aulas está sen-

do cumprido. E, ao mesmo tempo,

a Comissão tem um papel impor-

tante dentro do Conselho porque

ela é que legaliza todas essas áreas

de formação e ensino, inclusive o

registro de profissionais estrangei-

ros que vêm ao Brasil.

Em sua opinião, hoje a profissão é valorizada como se deve?Cada vez mais. Um dos aspectos

que valorizaram muito nossa pro-

fissão é a grande quantidade de

profissionais no mercado. Ou seja,

tem crescido consideravelmen-

te o número de profissionais for-

mados, e isso tem feito com que

as pessoas tenham próximo à sua

família um profissional arquiteto,

reconhecendo nele a sua capacida-

de. Além disso, uma coisa bastante

importante é que quem contrata

um arquiteto reconhece a impor-

tância desse profissional. Nós te-

mos uma pesquisa do CAU/BR que

diz que entre 80% e 90% das pes-

soas que contrataram um arquite-

to voltariam a contratá-lo. As pes-

soas reconhecem a importância

desses profissionais na socieda-

de, em sua atuação e sua respon-

sabilidade.

mesmo tempo aprimorar seu co-

nhecimento nesses estágios.

Qual a importância da criação do CAU para a profissão?Em primeiro lugar, um reconhe-

cimento da própria sociedade da

importância de se ter um Conse-

lho próprio para os arquitetos e

urbanistas. Em segundo, que foi

uma luta em que os arquitetos e

urbanistas quiseram caracterizar

claramente a importância da sua

profissão para a sociedade, dife-

renciando-se do outro conselho

que existia e que congregava mais

de 130 profissões. Então, a possi-

bilidade de ter um conselho pro-

fissional único valoriza não só o

profissional perante a sociedade,

mas também os profissionais pe-

rante a própria categoria.

Qual o papel da Comissão de En-sino e Formação do CAU/SP, principalmente para os estudan-tes de Arquitetura e Urbanismo?Tem papel fundamental de acom-

panhar o registro das novas insti-

tuições no Conselho, como se dá

esse registro, se estão cumprindo

todas as regras. Da mesma ma-

neira, acompanha o registro dos

novos profissionais, se eles es-

tão conseguindo contemplar os

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FEVEREIRO 2017 | ATUALIZA

Morcegos usam Carotenoide para pigmentar a pele

Plutão, o planeta-anão, pintou

sua lua de vermelho

Veneno contra

esclerose

Caronte, a maior das cinco luas conhecidas de Plutão, tem

uma mancha vermelha em seu polo norte. Os cientistas es-

tão especulando que esta coloração peculiar, descoberta pela

sonda New Horizons, poderia ser causada pela captura de gás

metano emitido por Plutão. As moléculas de metano ficariam

aprisionadas na calota polar da lua durante os longos inver-

nos, de mais 100 anos, que existem lá.

Uma grande equipe, liderada por Will Grundy, do Observatório

Lowell, analisou dados gerados pela New Horizons e criou um

modelo da dinâmica da superfície do satélite, levando em conta

ainda os efeitos do movimento conjunto de Plutão e Caronte em

torno do Sol.

A conclusão é que, além de realmente ser capaz de preservar o

metano liberado por Plutão, a calota polar norte de Caronte, uma

vez exposta à radiação solar, pode ser palco de proces-

sos fotoquímicos que transformam o metano em

moléculas mais complexas, criando a coloração

avermelhada.

Fonte: <www.inovacaotecnologica.com.br>

Acesso em: 22 dez. 2016.

Os animais não podem sintetizar pigmentos carotenoi-

des e, por isso, devem consumi-los em sua dieta. A maioria

dos mamíferos, incluindo os seres humanos, é acumulado-

ra de carotenoides, mas não conseguem distribuí-los para

alguns tecidos e órgãos, tais como a pele. Isso limita a ca-

pacidade potencial desses organismos para se beneficiar

do antioxidante.

Porém, recentemente, biólogos da Espanha e da Costa Rica

publicaram uma nova descoberta na revista Proceedings,

da Academia Nacional de Ciências. O morcego-branco-

-hondurenho forma sua pele na cor amarelo-brilhante com

a deposição da luteína xantofila. A espécie, acreditam os

pesquisadores, poderia ser um modelo de mamífero que

pode ajudar a desenvolver estratégias para melhorar a as-

similação de luteína em seres humanos e, assim, evitar a

degeneração macular.

Fonte: <phys.org/> Acesso em: 22 dez. 2016.

No litoral das regiões Norte, Nor-

deste e parte da região Sudeste do

Brasil vive um peixe venenoso e peço-

nhento, que tem presas e espinhos para

injetar toxinas em suas vítimas: chama-se

niquim (Thalassophryne nattereri), que habita

em zonas de transição entre as águas salgada e

doce, escondido no fundo lodoso de rios e lagoas

costeiras. Na maré vazante, o niquim, que tem

cor de areia, sobrevive enterrado, podendo

viver fora da água por até 18 horas.

No mesmo peixe, cientistas identificaram

um peptídio com atividade anti-inflamatória

comprovada nos casos de esclerose múlti-

pla. De acordo com os pesquisadores, em

camundongos o peptídeo bloqueia o trânsito

e a infiltração de linfócitos patogênicos e ma-

crófagos para o sistema nervoso central, o que

favorece o aumento de células reguladoras.

Em 2008, um grupo de pesquisadores do

Laboratório Especial de Toxinologia do Instituto

Butantan, em São Paulo, desenvolveu um

soro efetivo contra a picada do niquim.

Agora, a mesma equipe, liderada

pelas imunofarmacologistas Mô-

nica Lopes Ferreira e Carla Lima,

descobriu que as fêmeas do

niquim, embora menores,

possuem toxina mais pode-

rosa que a dos machos.

Fonte: <www.sciencedirect.

com/science/

journal/00410101 >

Acesso em:

22 dez. 2016.

www.tecmundo.com.br

www.inovacaotecnologica.com.br/

SEM

LIMITESINTERFACE

ENTRE CIÊNCIA E SOCIEDADE

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phys.org/

Thalassophryne nattereri e

seus espinhos venenosos

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10 | CIÊNCIAS HUMANASpor luiza villaméa

Ao colecionar delações premiadas e vazamentos seletivos e influenciar os rumos políticos do país, integrantes do Ministério Público e do Judiciário são aplaudidos por muitos e criticados por outros, que temem que esse protagonismo ameace um dos pilares do Estado de Direito: o equilíbrio dos Três Poderes

Justiça de vara curta

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Ultimamente, os casosde condução coercitivatêm se repetido no país. O mais famoso aconteceu no ano passado, quandoo juiz Sérgio Moro aplicou a medida ao ex-presidente Lula. Explique em quecondições essa medidapode ser aplicada equando ela constituiabuso de autoridade.

No caso do Mensalão,apenas três dos 38acusados tinham “foroprivilegiado”, o que lhes dava o direito de serem julgados pelo Supremo Tribunal Federal (STF). No entanto, a totalidadedos réus foi julgada por aquela Corte suprema.Explique as razões para essa excepcionalidade.

Ainda no julgamento do Mensalão, o STF adotou um critério inédito na jurisprudência do país,a teoria do domíniodo fato. Segundo essateoria, o chefe, mesmonão estando presentena cena do crime, deveser responsabilizado. Qual a razão da adoção dessa tese?

Procuradores da República que atuam na Lava Jatoelaboraram uma série de medidas contra a corrupção, coletaram mais de 2 milhões de assinaturas e as enviaram à Câmara, que retirou medidas consideradas arbitrárias. Quais foram os pontospolêmicos retirados pelos deputados?

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12 | CIÊNCIAS HUMANAS

aTualiza | FEVEREIRO 2017

Depois do Japonês, veio o Le-

nhador da Federal. O primei-

ro, o agente Newton Ishii,

destacou-se ao aparecer “con-

duzindo” presos da Operação

Lava Jato, sempre de óculos

escuros e roupas pretas. Não

demorou a ganhar marchinha: “Ai, meu Deus,

me dei mal / Bateu na minha porta / O Japonês

da Federal”. Até que, em junho de 2016, o pró-

prio agente foi preso, para terminar de cumprir

condenação por contrabando. Voltou à Polícia

“A justiça inflexível

é frequentemente a

maior das injustiças”

(Públio Terêncio Afro,

dramaturgo e poeta

romano, 186 a.C.-159 a.C.)

Federal poucas semanas depois,

monitorado por tornozeleira ele-

trônica. Logo perdeu espaço para

o Lenhador, que chamou a aten-

ção ao escoltar Eduardo Cunha,

quando o ex-deputado foi preso.

Com barba espessa, coque samu-

rai e roupas despojadas, o agente

Lucas Valença também ganhou

marchinha: “Ai, meu Deus... Pas-

sei mal / Estou na detenção /

Com o Lenhador da Federal”.

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FEVEREIRO 2017 | aTualiza

A repentina fama do Japonês e

do Lenhador incomodou delega-

dos da Polícia Federal. Eles agora

querem que os agentes cubram o

rosto com balaclava (touca ninja)

durante as operações. A federa-

ção dos agentes reclamou, dizendo

que o uso obrigatório da balaclava

“fere os direitos dos policiais fe-

derais”. Aparentemente sem im-

portância, essa fogueira de vaida-

des reflete um momento muito

peculiar da Justiça no Brasil. Sim-

ples executores de ordens de prisão

ou de condução para depoimento,

os agentes federais repetem em

seu universo uma postura espeta-

culosa que começou no Supremo

Tribunal Federal e se popularizou

nas outras instâncias da Justiça,

passando por diferentes escalões

do Ministério Público. Tamanha

proeminência envolve até confli-

to com os outros dois poderes da

República – o Executivo e o Le-

gislativo.

Nunca a Justiça esteve tão em

evidência no país. Da mesma for-

ma, nunca as ações da Justiça di-

vidiram tanto o Brasil.

Uma parte dos brasileiros de-

fende que o importante é comba-

ter a corrupção, não importam os

métodos. Essa parcela da popula-

ção aplaude quando um persona-

gem apontado como corrupto é

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Desde o julgamento do Mensalão, em 2012, o Supremo Tribunal Federal vem ocupando o espaço político

do Legislativo e do Executivo, assolados por graves denúncias de corrupção.

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14 | CIÊNCIAS HUMANAS

aTualiza | FEVEREIRO 2017

levado à força para depor, mesmo

que ele não tenha sido convocado

antes para prestar algum tipo de

esclarecimento. Ou seja, quando é

alvo de uma nova interpretação da

chamada “condução coercitiva”.

Outra parte dos brasileiros tam-

bém defende o combate à corrup-

ção, mas avalia que ele não deve

ser feito comprometendo princí-

pios básicos do Estado de Direito.

No caso da condução coercitiva,

ela não poderia acontecer como

vem ocorrendo no país. “A Consti-

tuição é clara. Só pode haver con-

dução coercitiva após uma intima-

ção feita anteriormente, de forma

regular e depois de a pessoa resis-

tir a essa intimação. E resistência

a uma ordem judicial é resistência

física, violenta. Ou sumir, evadir-

-se”, afirma o jurista Pedro Serra-

no, professor de Direito Constitu-

cional da PUC-SP.

Nos últimos tempos, a condução

coercitiva vem sendo praticada

sem intimações anteriores. A ini-

ciativa começou com a Lava Jato, a

operação deflagrada em março de

2014 para apurar um megaesque-

ma de desvio de dinheiro da Petro-

bras. O recurso, assim como a pri-

são antes do julgamento, faz parte

dos métodos de trabalho da força-

-tarefa responsável pela opera-

ção. Os integrantes da força-tare-

fa não foram, porém, os pioneiros

na espetacularização da Justiça.

O excessivo protagonismo de mi-

nistros, desembargadores, juízes,

procuradores e promotores tem

como marco o ano de 2012 e o jul-

gamento do Mensalão.

Esquema ilegal de financiamen-

to político organizado entre 2003

e 2004, durante o governo Luiz

Inácio Lula da Silva, o Mensalão

marcou época ao chegar ao Supre-

mo Tribunal Federal, a mais alta

corte do país. Com transmissão

ao vivo pela televisão, virou o caso

mais complexo já julgado pelo Su-

premo, que se viu às voltas com um

volume enorme de informações.

Antes mesmo de começarem os

trabalhos, na abertura da primeira

sessão, o processo tinha 50.199 pá-

ginas, 234 volumes e 593 anexos.

Foi um caso excepcional. No

Mensalão, o Supremo fez papel de

primeira instância, embora só três

dos 38 acusados tivessem “foro es-

pecial por prerrogativa de função”.

Trocando em miúdos, só três réus

eram autoridades públicas com di-

reito a julgamento em um tribunal

Historicamente,

o desequilíbrio

dos Três

Poderes no

Brasil

favoreceu

o Executivo,

mas hoje é o

protagonismo

do Judiciário

que ameaça

o equilíbrio

necessário

O agente federal Newton Ishii (à esquerda) e o ex-deputado Eduardo Cunha (à direita) ao ser preso pela

Operação Lava Jato, acompanhado pelo “Lenhador da Federal”.

superior: os ex-deputados federais

João Paulo Cunha (PT-SP), Pedro

Henry (PP-MT) e Valdemar Cos-

ta Neto (PR-SP). Os outros 35 réus

não exerciam naquele momento

nenhuma função que justificasse

julgamento no Supremo.

Para entender esses recentes – e

controversos – movimentos da

Justiça brasileira, é importan-

te lembrar como ela se organiza.

Pelo sistema judiciário do país, o

Supremo Tribunal Federal é o ór-

gão máximo. Cabe a ele zelar pelo

cumprimento da Constituição. Os

11 juízes do Supremo são chama-

dos ministros e, nas infrações pe-

nais comuns, estão encarregados

de julgar o presidente da Repúbli-

ca, o vice-presidente, os integran-

tes do Congresso Nacional e o pro-

curador-geral da República. Eles

também têm a palavra final em

causas envolvendo dispositivos da

Constituição.

Processos como o do Mensalão

e da Lava Jato tramitam na Justi-

ça Federal porque ela julga crimes

cometidos contra a União ou em-

presas públicas federais. Em ge-

ral, esses processos começam na

primeira instância, como é o caso

da 13a Vara da Justiça Federal em

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FEVEREIRO 2017 | aTualiza

A legítima defesa e o salame

Controvérsias não são exclusividade da

Justiça Federal. Na Justiça Estadual, um

dos episódios mais controversos dos úl-

timos tempos envolveu o desembarga-

dor Ivan Sartori, de São Paulo. Em julho de

2016, ele condenou à pena de seis meses

de prisão um homem que tinha roubado

salame de um supermercado da cidade de

Poá, na Grande São Paulo. Dois meses de-

pois, o mesmo desembargador votou pela

absolvição de 74 policiais militares conde-

nados pelos assassinatos de 77 dos 111 pre-

sos mortos no massacre do Carandiru.

Um dos argumentos do desembargador

contraria tudo o que já foi apurado sobre

a ação da Polícia Militar no Carandiru, em

outubro de 1992: “Não houve massacre. Foi

legítima defesa”. Diante das críticas à sua

posição, Sartori afirmou em redes sociais

que a cobertura da imprensa era tenden-

ciosa. Como se não bastasse, o desembar-

gador sugeriu que há dinheiro do crime or-

ganizado financiando parte da mídia e das

organizações de direitos humanos. Não

deu nenhuma palavra sobre a condenação

do homem pego pelo segurança do super-

mercado com salame debaixo da camisa,

que estava desempregado e confessou ter

roubado para matar a fome.

Curitiba, comandada por Sérgio Moro, o juiz da Lava Jato. Se alguma autoridade com “foro especial por prerrogativa de função” aparece como suspeita ou acusada no curso das investigações, o processo é en-viado para o Supremo. Ou desmembrado. Nessa hi-pótese, “sobe” para o Supremo apenas a parte envol-vendo a autoridade.

Acima da primeira instância e antes do Supremo ou do Superior Tribunal de Justiça (responsável por fazer uma interpretação uniforme da legislação fe-deral) há um patamar intermediário. Trata-se da se-gunda instância, na qual os juízes são denominados desembargadores. Eles julgam recursos impetrados por aqueles que não concordam com o decidido pelo juiz de primeira instância. No caso do Mensalão,

presente na cena do crime, mas tem o controle da ação.

Quando soube que a teoria es-tava sendo aplicada no julgamen-to do Mensalão, o jurista afirmou que não fazia sentido. “O mero ter de saber não basta”, argumentou Roxin, durante participação em seminário sobre Direito Penal no Rio de Janeiro. Na época, ele ci-tou como uso adequado da teoria do domínio do fato o julgamento de integrantes do Conselho Na-cional de Segurança da extinta Alemanha Oriental, que davam ordem para atirar em quem ten-tasse atravessar a fronteira e fugir para a Alemanha Ocidental.

“É interessante saber que aqui [no Brasil] também há o clamor por condenações severas, mesmo sem provas suficientes. O proble-ma é que isso não corresponde ao Direito”, ressaltou o jurista

35 réus poderiam ter sido julgados na primeira instância. Eles teriam direito a recorrer mais tarde a ins-tâncias superiores, enquanto o Su-premo se encarregaria apenas dos três ex-deputados federais.

Não foi assim que aconteceu. Por decisão da maioria dos mi-nistros, todos os réus foram jul-gados pelo Supremo. Desacostu-mados a julgar tantos réus de uma só vez, em muitas ocasiões os mi-nistros se atrapalharam na ordem dos votos e na soma das penas. Ao mesmo tempo, firmaram novas interpretações da lei. A mais polê-mica delas dizia respeito à teoria do domínio do fato, desenvolvida nos anos 1960 pelo jurista alemão Claus Roxin. Como muitos crimes do nazismo ficaram impunes, Ro-xin desenvolveu a teoria do do-mínio do fato como forma de en-quadrar uma pessoa que não está

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O juiz federal Sérgio Moro, que conduz a Operação Lava Jato.

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16 | CIÊNCIAS HUMANAS

aTualiza | FEVEREIRO 2017

alemão. “O juiz não tem de ficar ao lado da opinião pública.” Du-rante o julgamento do Mensalão, o ministro Ricardo Lewandowski discordou dos colegas que apoia-vam a aplicação da teoria do do-mínio do fato. Voto vencido, fez um alerta: “O que me preocupa é como os 14 mil juízes vão aplicar a teoria do domínio do fato”.

A preocupação de Lewandowski, que se referiu ao número total de juízes brasileiros, fazia sentido. Na Lava Jato, o juiz de primeira instância Sérgio Moro não cita a teoria de Roxin, mas está fazen-do valer uma interpretação muito própria da lei. Prender o acusado antes do julgamento para pressio-ná-lo a confessar é uma das estra-tégias atribuídas a ele mais ques-tionadas no meio jurídico. Em contrapartida, Moro e os promo-tores do MP contam com o apoio de grande parte da população, embora alguns juristas apontem o caráter de espetáculo midiáti-co e de moralismo messiânico de suas ações.

O interessante é que a cruzada de Moro contra a corrupção co-meçou a ser planejada pelo menos dez anos antes de a Lava Jato ser deflagrada. Isso fica evidente em artigo publicado por ele em 2004 na Revista CEJ (do Conselho de Justiça Federal) sobre a Opera-ção Mãos Limpas, que combateu a corrupção da Itália entre 1992 e 1996. No texto, Moro afirma que diante de uma prisão antes do jul-gamento “não há qualquer óbice moral em tentar-se obter do in-vestigado ou do acusado uma con-fissão ou delação premiada, evi-dentemente sem a utilização de qualquer método interrogatório repudiado pelo Direito”.

No mesmo artigo, Moro comen-ta que a Operação Mãos Limpas

de prática desse tipo de crime. Na época do Império, a situação era tão descarada que o tesourei-ro-mor de dom João VI, Bento Maria Targini, que chegou a ba-rão e depois a visconde, inspirou uma reveladora quadrinha popu-lar: “Quem furta pouco é ladrão. Quem furta muito é barão. Quem mais furta e esconde, passa de ba-rão a visconde”.

De lá para cá, o cenário mu-dou muito, até pela possibilida-de de investigar, julgar e punir. É preciso, no entanto, prosseguir aprimorando as leis e coibindo abusos. Com relação ao primeiro quesito, os procuradores da Re-pública que atuam na Lava Jato elaboraram uma série de medi-das contra a corrupção e coleta-ram mais de 2 milhões de assina-turas para transformá-la em lei. Muito aplaudida pela maioria da população e pouco discutida em profundidade, a série de medidas tem entre seus pontos polêmicos a possibilidade de que provas ilí-citas sejam consideradas válidas se forem colhidas de boa-fé. Além

fez “largo uso da imprensa” e da estratégia de vazar para a mídia aliada informações protegidas por sigilo. Como se sabe, mecanismo similar ocorre no Brasil da Lava Jato. Para o juiz, a lição mais im-portante da Mãos Limpas é que ações contra a corrupção só fun-cionam com o apoio da opinião pú-blica: “É esta [a democracia] quem define os limites e as possibilida-des da ação judicial. Enquanto ela contar com o apoio da opinião pú-blica, tem condições de avançar, e apresentar bons resultados”.

Na condução da Lava Jato, não há dúvida de que Moro conta com a aprovação de boa parte dos bra-sileiros. Outra parte, embora apoie a luta contra a corrupção, questiona os métodos e as infor-mações difundidas pela força-ta-refa. Do jeito que os resultados são apresentados, passa a impressão de que o desvio de dinheiro públi-co e esquemas de propina são pro-blemas recentes do cenário políti-co nacional. Não é bem assim.

Desde que os portugueses apor-taram no país, há informações

Um dos

pressupostos

do Estado

de Direito

é a existência

dos Três

Poderes

independentes

e em

equilíbrio

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O procurador Deltan Dallagnol e o PowerPoint em que acusa o ex-presidente Lula.

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C3 Compreender a produção e o papel histórico das instituições

sociais, políticas e econômicas, associando-as aos diferentes

grupos, conflitos e movimentos sociais.

H14 Comparar diferentes pontos de vista, presentes em textos

analíticos e interpretativos, sobre situação ou fatos de natureza

histórico-geográfica acerca das instituições sociais, políticas e

econômicas.

Há muito tempo há preocupações quanto à legalidade de aspectos da

Lava Jato, não apenas das conduções coercitivas, mas de tópicos como

as delações premiadas, seus vazamentos antes da homologação judicial,

o acesso da defesa a elas e as prerrogativas da Vara Criminal de Curitiba

para julgar todos os casos. O debate sobre a legalidade de pontos da

Lava Jato é salutar, e é compreensível que os procuradores tenham di-

ficuldade em compreender isso. O clamor popular que acreditam preci-

sar para continuar apurando o escândalo de corrupção aparentemente

investiu alguns deles de uma confiança quase entorpecente.

Disponível em: <www.cartacapital.com.br/politica/a-lava-jato-e-a-pressao-

da-opiniao-publica>. Acesso em: 22 nov. 2016.

A reação que manifestam mais uma vez os petistas, agora à prisão de An-

tonio Palocci, é perfeitamente compreensível diante do devastador efei-

to de mais essa ação da Lava Jato sobre a já desmoralizada imagem do

PT. Palocci é um político articulado e competente que prestou relevantes

serviços a seu partido, como a famosa Carta aos Brasileiros, que abriu ca-

minho para a eleição de Lula em 2002, e teve uma atuação eficaz à fren-

te do Ministério da Fazenda, sob Lula, e da Casa Civil, sob Dilma. Mas as

abundantes evidências do tráfico de influência por ele praticado com a

Odebrecht e depois com os clientes de seus serviços de consultoria reve-

lam que seu calcanhar de Aquiles é a irresistível cobiça pelo vil metal. Essa

fraqueza, que não pega bem quando assola homens públicos, tem produ-

zido efeitos devastadores quando dela trata a Lava Jato. Seja um lado ou

seja outro, os delinquentes estão indo para a cadeia, purgar seus crimes.

Disponível em: <http://opiniao.estadao.com.br/noticias/geral,a-lava-jato-

-chegando-la,10000078864>. Acesso em: 25 nov. 2016.

A leitura atenta dos dois textos opinativos mostra que os autores:

a) concordam nas críticas à atuação midiática da Justiça brasileira na apu-

ração dos supostos crimes cometidos nos meandros da nossa política.

b) concordam em exaltar a atuação dos responsáveis pela Operação

Lava Jato nas investigações de crimes sem precedentes na história da

política brasileira.

c) discordam quanto à atuação da Justiça: enquanto o segundo texto

valoriza o trabalho realizado, o primeiro critica a forma como as apura-

ções são conduzidas.

d) discordam na forma como as investigações são conduzidas: enquan-

to o primeiro defende a parceria entre mídia e investigadores, o segun-

do pede mais cuidado na apuração dos crimes.

e) discordam na velocidade das investigações: enquanto o primeiro

quer investigações mais céleres, o segundo solicita ritmo mais pausado

nas apurações.

Resposta: c

EM FOCO

FEVEREIRO 2017 | aTualiza

disso, o projeto previa limitação do habeas

corpus e prisão preventiva para localizar

recursos desviados. A Câmara aprovou o

projeto, mas tirou essas medidas, conside-

radas abusivas, e ainda aprovou a possibi-

lidade de juízes e procuradores responde-

rem por crimes de “abuso de autoridade”.

Em Curitiba, 14 procuradores trabalham

em regime de dedicação exclusiva à Lava

Jato. Como Moro, parecem totalmente em-

penhados à causa, mas também são ques-

tionados por extrapolar limites no decorrer

dos processos. Foi o que ocorreu quando

exibiram um PowerPoint apresentando

o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva

como “o comandante máximo”, “o grande

maestro” do esquema de corrupção da Pe-

trobras, mas não apresentaram nenhuma

prova nesse sentido. Na prática, sequer de-

nunciaram o ex-presidente pelo “coman-

do” apontado no PowerPoint.

Episódios como esse reforçam as críticas

à interferência da Justiça nos rumos polí-

ticos do país. Outros exemplos de confli-

to entre o Judiciário e os demais poderes

da República foram a demora do STF em

afastar o ex-deputado Eduardo Cunha do

comando da Câmara dos Deputados, a “se-

letividade” dos vazamentos da Lava Jato e

o conflito do presidente do Senado, Renan

Calheiros, com a Polícia Federal e o MPF

quando a Justiça autorizou a prisão de

agentes da polícia do Senado acusados

de atrapalhar a Lava Jato.

Um dos pressupostos do Estado Demo-

crático de Direito é a existência dos Três

Poderes independentes e em equilíbrio.

Historicamente, o desequilíbrio pendeu

em favor do Executivo, como durante o Es-

tado Novo (1937-1945) e a ditadura militar

(1964-1985). Mas hoje é o Judiciário, com

seu protagonismo, que ameaça esse equilí-

brio, já que o Legislativo e o Executivo es-

tão paralisados por denúncias de corrupção.

Como em política não há vácuo, criou-se o

que os analistas chamam de “judicialização

da política”. Pode não ser um bom caminho.

“A pior ditadura é a ditadura do Judiciário.

Contra ela, não há como recorrer”, escreveu

Rui Barbosa.

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18 | CIÊNCIAS HUMANASpor cláudio camargo

aTualiza | FEVEREIRO 2017

Nos últimos anos, a polarização es-

querda × direita, que muitos su-

punham morta e sepultada, vol-

tou com toda a força ao cenário

político brasileiro. Na verdade,

isso foi possível pelo fato de a di-

reita ter saído do armário e se po-

sicionado como tal. No passado, em razão da associa-

ção da direita com os desmandos da ditadura militar,

apenas meia dúzia de gatos pingados, como o deputa-

do Jair Bolsonaro, se assumia claramente como direi-

tista. Era a época em que os movimentos sociais – MST,

MTST, CUT, entre outros – ocupavam a cena política

e assustavam os conservadores.

Hoje, na esteira dos escândalos de corrupção que

envolveram os governos do PT, a direita ganhou não

apenas coragem, mas também as ruas, as redes so-

ciais e os corações e mentes de partes significativas da

juventude. Organizações como o Movimento Brasil

Declaradas

mortas, essas

denominações,

que nasceram

no fim do século

XVIII, ressurgem

agora com força

no Brasil e em

todo o mundo

Esquerda e

direita ainda fazem sentido?

Livre (MBL) e o Vem Pra Rua

disputaram a liderança das gi-

gantescas manifestações pelo

impeachment da então presiden-

te Dilma Rousseff, enquanto por-

ta-vozes da direita, hidrófoba ou

civilizada, pontificam em rádios,

TVs, revistas e jornais.

Se antes era in ser de esquerda,

hoje, ao contrário, esquerdista vi-

rou quase sinônimo de palavrão,

pelo menos em certos círculos;

enquanto ser de direita não ape-

nas não envergonha mais como se

tornou a sinal de distinção. Exem-

plo dessa metamorfose foram as

eleições municipais de 2016, nas

quais os candidatos apoiados pe-

los “coxinhas” (PSDB-DEM-PPS-

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No passado, era in ser

de esquerda, ao passo

que quase ninguém se

declarava de direita.

Hoje, ao contrário, muitos

jovens se assumem

orgulhosamente como

sendo “de direita”. Quais

as razões para essa

mudança?

Explique como

surgiram e como

se desenvolveram

historicamente os

conceitos de esquerda

e direita. É possível

que essas expressões

continuem a fazer

sentido depois do

colapso do comunismo e

da globalização da

sociedade pós-industrial?

Extremistas de direita

e extremistas de

esquerda costumam

defender posições

antagônicas entre si. No

entanto, estes dois lados

desprezam igualmente

a democracia e os

direitos humanos.

O que explica

essa afi nidade?

Esquerda e direita

se defi nem pela

defesa de valores

antitéticos, isto é,

completamente opostos.

A esquerda é igualitária

e a direita é libertária.

É possível conciliar

esses valores em uma

democracia ou

isso não passa de

uma bela ilusão?

FEVEREIRO 2017 | aTualiza

-PMDB, entre outros) ganharam de goleada dos candidatos dos “mortadelas” (PT-PCdoB-PDT--PSol e quejandos).

Apesar dessa polarização, cabe a pergunta: as categorias esquerda e direita, que surgiram no fi m do século XVIII, na passa-gem do feudalismo ao capitalismo, ainda dão conta dos múltiplos con-fl itos da sociedade pós-industrial e globalizada do século XXI? Não se-ria simplista demais reduzir os di-lemas dessa sociedade complexa a uma mera metáfora espacial?

À primeira vista, parece que sim. Alguns críticos apontaram a queda do Muro de Berlim e o colapso do comunismo como prova cabal de que essa divisão

estava ultrapassada há muito tem-po. Filósofos como o estaduniden-se conservador Francis Fukuyama proclamaram o “fi m da História” e a vitória do capitalismo democrá-tico. Dizem que quem proclama o fi m da oposição esquerda × direi-ta é de direita, mas houve também muitos pensadores “progressistas” que sustentaram a mesma tese. Só que não. Duas décadas depois, em meio à persistente crise econômi-ca mundial, essa oposição reapa-receu mais forte do que nunca no crescimento da xenofobia e do neofascismo em todo o mundo, nas lutas de trabalhadores contra políticas de austeridade em vários países da União Europeia, na vitó-ria de Donald Trump à Presidên-

cia dos Estados Unidos, na ocupação de escolas no Brasil, na ofensiva con-servadora contra governos “progres-sistas” da América Latina. É o caso, então, de parafrasear o escritor Mark Twain: as notícias sobre a morte da oposição esquerda/direita foram ma-nifestadamente exageradas.

Filhas da Revolu•‹o

Mas o que são, na verdade, “es-querda” e “direita”? A origem des-sa oposição remonta à Revolução Francesa de 1789. Depois da Queda da Bastilha, a Assembleia Nacional aboliu os direitos feudais e votou a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão. Logo surgiu a questão de saber se o rei Luís XVI teria direito a vetar as deliberações da Assembleia. Aqueles que acreditavam que nada estava acima da soberania popular (a Assembleia) se posicionaram à esquerda do presidente. Os que, ao contrário, consideravam que o rei simbolizava a nação se posiciona-ram à direita. “Para uns, iniciava-se um novo período na história da hu-manidade, marcadamente diferente do anterior; para outros, não haveria necessidade de operar uma ruptura tão radical e valeria a pena preservar uma continuidade com o Antigo Re-gime. Os primeiros eram a esquerda;

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20 | CIÊNCIAS HUMANAS

aTualiza | FEVEREIRO 2017

os segundos, a direita”, escreve o

historiador Rui Tavares.

Após a restauração, em 1815, as

denominações esquerda e direita

consolidaram-se com o apareci-

mento de um “centro”. Segundo

o filósofo Marcel Gauchet, “para

que existam uma direita e uma

esquerda, necessita-se, ao menos,

de um terceiro termo, o centro.

Mas se existe um centro, cada um

dos partidos laterais está prisio-

neiro de tendências radicais que

fazem com que existam ao menos

duas direitas, uma direita-direita

e uma direita extrema, e, de modo

semelhante, duas esquerdas”.

Na verdade, bem mais que

duas. Pois tivemos esquerdas au-

toritárias ( jacobinos, comunis-

tas), direitas autoritárias (mi-

litaristas, clericais e fascistas),

esquerdas democráticas (socia-

listas, social-democratas), direi-

tas democráticas (liberais, con-

servadores), esquerdas estatistas

(comunistas, trabalhistas), direi-

tas estatistas (fascistas, democra-

tas cristãos), esquerdas anties-

tatistas (anarquistas, socialistas)

e direitas antiestatistas (neoli-

berais, libertários). Assim, con-

tinuamos sem avançar muito na

definição sobre o que seriam “es-

querda” e “direita”.

No livro (Direita e esquerda:

razões e significados de uma

distinção política), o filósofo po-

lítico italiano Norberto Bobbio

(1909-2004) explica que o que

realmente distingue esquerda e

direita é o posicionamento sobre

a questão da igualdade. “De um

lado, estão aqueles [de esquerda]

que consideram que os homens

são mais iguais que desiguais; de

outro, aqueles [de direita] que

consideram que eles são mais de-

siguais que iguais. (...) O iguali-

tário parte da convicção de que

a maior parte das desigualdades

que o indignam, e que gostaria

de fazer desaparecer, são sociais

e, enquanto tais, elimináveis; o

inigualitário, ao contrário, par-

te da convicção oposta, de que as

desigualdades são naturais e, en-

quanto tal, inelimináveis”. Para

Bobbio, a direita está mais dis-

posta a aceitar aquilo que é na-

tural e aquilo que está conforme

a natureza, ou seja, o habitual, a

tradição, a força do passado. Já a

esquerda está propensa a acredi-

tar que o homem é capaz de corri-

gir tanto as desigualdades sociais

quanto as desigualdades naturais.

Além da oposição esquerda ×

direita, continua Bobbio, há a

oposição entre extremistas e mo-

derados de cada espectro político,

que se sobrepõe à primeira. Esta

segunda oposição nada tem a ver

com a natureza dos programas

políticos, mas diz respeito aos

meios para alcançá-los. “Se é ver-

dade que o critério que subjaz à

distinção entre esquerda e direita

é diverso do que subjaz à distin-

ção entre extremistas e modera-

dos, então se deve concluir que a

ideologias opostas podem encon-

trar campos de convergência e de

acordo com suas alas extremas,

ainda que permaneçam distintas

com respeito a programas e fins

últimos”, explica Bobbio.

Em resumo, podemos afirmar,

com Bobbio, que, em termos gerais,

a esquerda privilegia a igualdade,

enquanto a direita dá ênfase à liber-

dade. Isso quer dizer que a busca da

igualdade pode ameaçar a liber-

dade? Depende. No caso do comu-

nismo soviético, sim. No caso do

welfare state, não necessariamen-

te. Exemplificando, mas sem

O que

realmente

distingue a

esquerda da

direita é o

posicionamento

sobre a

questão da

igualdade

Conciliação: o socialista François Mitterrand e o

conservador Helmut Kohl.

Extremismo: Fidel Castro e Augusto Pinochet.

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FEVEREIRO 2017 | aTualiza

esgotar a questão, citamos no-

vamente o filósofo italiano

Bobbio: “Em geral, qualquer

extensão da esfera pública por

razões igualitárias, na medi-

da em que precisa ser impos-

ta, restringe a liberdade de es-

colha na esfera privada”. E esta

é intrinsecamente desigual, pois

a liberdade privada dos ricos é

C3 Compreender a produção

e o papel histórico das

instituições sociais,

políticas e econômicas,

associando-as aos

diferentes grupos,

conflitos e movimentos

sociais.

H15 Avaliar criticamente

conflitos culturais, sociais,

políticos, econômicos ou

ambientais ao longo da

História.

Em pleno século XXI, o debate acer-

ca dos posicionamentos à esquerda

e à direita do espectro político con-

tinua aquecido. Quando a queda do

Muro de Berlim, no final dos anos

1980, preconizou o fim do comu-

nismo na Europa oriental, muito se

falou sobre a morte da esquerda.

No entanto, os governos comunis-

tas sobreviventes se reinventaram,

como o da China, que promoveu

uma guinada capitalista em sua

economia, e o de Cuba, que demo-

rou um pouco mais, mas recente-

mente ensaiou uma reaproximação

com os Estados Unidos. Partidos

com orientação à esquerda perma-

necem ativos em todo o mundo, in-

clusive no Brasil. Como foi visto na

reportagem, historicamente, os ter-

mos “esquerda” e “direita” surgiram

com a Revolução Francesa, no fim

do século XVIII. Quando, no salão da

Assembleia Nacional, os liberais gi-

rondinos posicionaram-se à direita,

e os centralizadores jacobinos fica-

ram à esquerda, não imaginavam

estar criando denominações que

marcariam a História.

No cenário político atual, as cor-

rentes de direita e de esquerda di-

vergem principalmente quanto:

a) à forma como devem ser condu-

zidas as eleições nacionais.

b) ao sistema de governo.

c) à separação entre os poderes.

d) ao grau de intervenção estatal na

economia.

e) à liberdade de imprensa.

EM FOCO

Resposta: d

Esquerdas e direitas

Extremismo Moderação Extremismo

Anarquismo Comunismo Socialismo Liberalismo Conservadorismo Monarquia Nazismo Fascismo

muito mais ampla do que a liber-

dade privada dos pobres. “A perda

de liberdade golpeia naturalmen-

te mais o rico do que o pobre, para

quem a liberdade de escolher o meio

de transporte, o tipo de escola, o

modo de vestir está habitualmente

impedida, não por uma imposição

pública, mas pela situação econô-

mica interna à esfera privada.”

Stalin (à esquerda) e Hitler: totalitarismo à esquerda e à direita.

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22 | LINGUAGENSpor luiz chagas

Liberdade para odiar?

Há mais coisas entre o

politicamente correto, a

liberdade de expressão

e o discurso de ódio do

que imagina nossa

vã filosofia

aTualiza | FEVEREIRO 2017

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Existem limites para a liberdade? (A liberdade guiando o povo, de Eugène Delacroix, 1830).

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Depois dos atentados contra o jornal Charlie Hebdo, acusado pelos

terroristas de ofender o Islã, as autoridades da França pressionam

os muçulmanos para que se adaptem aos costumes do país. Isso é

defesa da laicidade ou intolerância?

No auge do sucesso dos Beatles, John Lennon concedeu uma

entrevista na qual declarou que a banda era mais popular que Jesus.

Por que a declaração provocou um escândalo nos Estados Unidos

mas não teve repercussão no Reino Unido, onde foi publicada

originalmente?

A noção de politicamente correto nasceu com a Inquisição, cujo Index

do Vaticano prescrevia o que podia e o que não podia ser publicado.

Explique como esse posicionamento migrou do conservadorismo

católico para o pensamento progressista.

A liberdade de expressão deve ser absoluta, como nos

Estados Unidos, inclusive para manifestações de racismo, sexismo,

xenofobia, antissemitismo, ou deve estabelecer alguns limites para

proteger grupos social e culturalmente vulneráveis?

FEVEREIRO 2017 | aTualiza

u a n d o d i v i -

dia a banca-

da do noticiá-

rio da semana

( W e e k e n d

u p d a t e ) d o

programa satí-

rico Saturday

night live com

o hoje célebre Jimmy Fallon, a re-

datora e atriz Tina Fey anunciou

a morte da cachorrinha de Bill

Clinton, então presidente, arre-

matando: “como a primeira-dama

Hillary encontra-se em viagem, a

Casa Branca está sem cadelas no

momento”. Em seguida ergueu os

braços comemorando: “consegui!

Falei!” enquanto Fallon se escon-

dia debaixo da mesa. E o mundo

não acabou – em inglês bitch é usa-

do tanto para animais quanto para

designar uma mulher “metida a

besta”, digamos.

O episódio mostra tanto a liber-

dade de expressão em vigor nos

Estados Unidos quanto a cons-

ciência da responsabilidade por

parte de quem a exerce. Por outro

lado, o massacre dos jornalistas

franceses do jornal Charlie Hebdo,

praticado por terroristas islâmi-

cos que supostamente estavam se

vingando de ofensas contra sua

religião, exibe a que ponto a into-

lerância pode chegar. Atualmente,

por exemplo, as autoridades fran-

cesas proíbem que mulheres mu-

çulmanas frequentem as praias do

país cobertas pela burca – criou-se

até um negócio chamado “burkíni”

para fi car no meio-termo.

No auge do sucesso dos Beatles,

John Lennon concedeu uma en-

trevista para Maureen Cleave,

uma jornalista inglesa sua amiga,

durante a qual teceu comentários

sobre o absurdo de sua banda ter

se tornado “mais popular que

Jesus Cristo”. Acrescentou que

a religião sofria uma crise e ele

não sabia “o que ia durar mais,

o cristianismo ou o rock and

roll”. Publicada no jornal London

Evening Standard, tradicional e

com muita infl uência em Artes

e Finanças, a entrevista não pro-

vocou maiores comoções no país;

na verdade, passou despercebi-

da. Meses depois, às vésperas de

uma turnê dos Beatles pelos Es-

tados Unidos, que seria a sua úl-

tima, a Datebook, uma revistinha

para adolescentes que vendia

que nem água como tudo que tra-

zia ídolos na capa, transcreveu

a matéria e colocou a primeira

frase na capa, ao lado de outra de

Paul em que chamava os Estados

Unidos de “país piolhento” (lousy

country) que não respeitava os

negros. Deu a maior confusão e

Lennon, considerado um homem

irreverente, teve de se desculpar

antes de cada show. Em uma das

coletivas, disse: “falei o que pen-

so, não posso me comportar como

um monge. Sem querer ofender

os monges!” E sorry monks! aca-

bou virando uma frase famosa.

Paul chamando o país de racis-

ta passou, mas John “maior que

Cristo” foi demais. E, justamente,

a noção de politicamente cor-

reto ou incorreto vem da reli-

gião católica. O Index Librorum

Prohibitorum do Vaticano estabe-

lecia o que podia e não podia ser

dito e era modifi cado a cada edi-

ção, pois o mundo católico pode

mudar como a sociedade em ge-

ral. Como pode ser visto no caso

do escritor Monteiro Lobato.

Gerações e gerações foram edu-

cadas lendo as aventuras da tur-

ma do Sítio do Pica-Pau-Amarelo.

O problema

do

politicamente

correto e

incorreto

é de ordem

política.

Numa

sociedade

ideal, o

primeiro

evitaria a

infâmia e

o segundo

defenderia a

liberdade de

expressão

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24 | LINGUAGENS

aTualiza | FEVEREIRO 2017

inconveniências. O Sindicato dos

Jornalistas poderia ter reclamado

e não o fez. Ou seja, existem “mal-

-educados”, “racistas”, “antissemi-

tas”, “homofóbicos”, “defensores

do estupro”, “machistas” e “prose-

litistas” e os “sem noção” por si só.

Todos são passíveis de punição. Isso

seria apelar para o bom senso.

Na época da ditatura, palavrão era

um problema. Havia mesa-redonda,

debate, passeata quase todo dia. Uma

frase atribuída a Bernard Shaw era

repetida à exaustão: “palavrão é toda

palavra capaz de chocar um magistra-

do senil e ignorante”. Hoje em dia até

os bichinhos da Disney falam barba-

ridades. O problema do politicamen-

te correto e do incorreto é que incorre

em posição política. Numa sociedade

ideal, o primeiro cuidaria de evitar a

infâmia, a degradação e a improprie-

dade, enquanto os outros defende-

riam a liberdade de expressão. Mas,

no mundo real, há os que se dizem

“incorretos”, mas são conservadores

com um discurso de ódio e que veem

a “correção” como uma “fantasia”

inventada por liberais e marxistas,

além de ser uma atitude “covarde”

e “eufemística”. Ou seja, é o mesmo

que tornar o discurso da boneca Emí-

lia em verdades. E às vezes é.

Sorry monks!

As brigas entre a boneca de pano

Emília e a cozinheira, tia Nastá-

cia, a quem em momentos de fú-

ria chamava de “preta beiçuda”,

entre outras coisas, eram monu-

mentais. Tratava-se assumida-

mente de besteiras e malcriações

ditas por um brinquedo de pano

tido como desbocado, traquinas

e inconsequente, e que acaba-

va sempre pedindo desculpas.

Mas não pode mais. Fala-se até

em se revisar a coleção de livros

para tirar essas “incorreções”.

Não é a primeira vez que Lobato

é censurado. Na versão do Sítio

apresentada pela Globo nos anos

1970-1980, por exemplo, não ha-

via o “pó-de-pirlimpimpim” res-

ponsável pelas viagens no tempo

e espaço da turma. Poderia ser

confundido com cocaína ou coi-

sa pior. Na versão televisiva de

Júlio Gouveia, duas décadas an-

tes, o efeito era introduzido por

espiral girando como a vertigem

era representada no fi lme Um

corpo que cai (Vertigo), de Alfred

Hitchcock.

Delimitar-se a fronteira en-

tre o politicamente incorreto e

o bullying, ao que parece, seria

uma questão de “momento da so-

ciedade” e de bom senso de uma

maneira geral. Rafi nha Bastos e

Danilo Gentili, dois “grandes” hu-

moristas – têm mais de 1,80 m –,

no caso, reclamam de “censura”

e “patrulhamento”. O primeiro,

que ofendeu uma cantora grávi-

da, perdeu o emprego e acabou

sendo processado pelo marido

dela. E daí? Clinton podia per-

feitamente processar Tina Fey,

o que não fez – e ela nem foi des-

pedida. No caso de Gentili, ele

assumiu a postura de “gorilão de

direita” e foi combatido por essa

opção. Está reclamando do quê?

Todos se lembram que ele sur-

giu no CQC fazendo um “repór-

ter mal-informado” que só dizia

C1 Aplicar as tecnologias da comunicação e da informação na escola, no trabalho e em outros contextos relevantes para sua vida.

H4 Reconhecer posições críticas aos usos sociais que são feitos das linguagens e dos sistemas de comunicação e informação.

Este pode ser considerado o século

“politicamente correto”. As piadas, ane-

dotas, causos e gozações entre amigos,

que no passado recente eram vistos

como sinônimos de bom humor, hoje

são tratados como bullying e rendem

processos e condenações na justiça do

Brasil e de outros países. Há uma preo-

cupação generalizada que leva muitos a

revisitar o passado e propor sanções a

obras clássicas. Foi nesse contexto que

a obra de Monteiro Lobato, Caçadas de

Pedrinho, publicada em 1933, foi con-

siderada “racista” e sua distribuição a

escolas públicas foi desestimulada pelo

Conselho Nacional de Educação. Crítica

à excessiva burocracia do Estado brasi-

leiro e ao modo de apresentar aspectos

da vida do campo (retratado no “Sítio

do Pica-Pau-Amarelo”) em meio a mui-

ta fantasia e imaginação, o livro usa,

para a personagem de Tia Nastácia,

tratamentos que os conselheiros consi-

deraram estereotipados e prejudiciais à

educação dos jovens leitores.

A crítica à obra de Lobato deixa de con-

siderar:

a) o fato de a obra ser fruto de um tem-

po no qual as noções politicamente cor-

retas eram distintas das atuais.

b) a formação política do autor, que fez

do racismo um tom constante em suas

obras.

c) a época em que a obra foi escrita,

anos antes da abolição da escravatura.

d) o fato de Lobato ter sido um ferrenho

defensor do Modernismo, que tinha na

liberdade de expressão uma bandeira.

e) que a obra, disfarçada de literatura

infantil, era na verdade destinada ao

público adulto.

Resposta: a

EM FOCO

Capa do jornal Charlie Hebdo, acusado de

blasfêmia e vítima do terrorismo.

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O CHAMADO DO MONSTRO

Patrick Ness

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aTualiza | FEVEREIRO 2017

26 | MATEMÁTICApor fernando porfirio de lima

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FEVEREIRO 2017 | aTualiza

Trigonometria – um mundo fascinante Os astrônomos usam a

Trigonometria para estimar a

distância das estrelas; os químicos

a utilizam para descrever o ângulo

das ligações moleculares A M a t e m á t i c a

amplia o pen-

samento crítico

e as habilidades

para a resolu-

ção de proble-

ma s, p r o p o r-

cionando perspectiva em eventos

da vida real. Já a Trigonometria

é a face dessa ciência que prova a

propriedade dos triângulos, cír-

culos, ondas e oscilações. Do teo-

rema de Pitágoras ao cálculo dife-

rencial e às aplicações práticas na

Medicina, na Engenharia, na Quí-

mica, na Biologia, na Cartografia,

na navegação e até na música, esse

ramo da Matemática evoluiu a

ponto de fazer parte de nosso co-

tidiano.

A Trigonometria tem como ob-

jetivo principal a resolução de

triângulos, determinando seus

seis elementos que são três lados

A Matemática amplia opensamento crítico e as habilidades para a resolução dos problemas reais, com respostas concretas. Pode-se dizer que a Trigonometria, que lida com triângulos, círculos, ondas e oscilações, é uma ciência teórica ou tem aplicaçõesigualmente práticas?

Apesar de ter origensem culturas diversas,os estudos de Trigonometria têm uma relação muito importante com o teorema de Pitágoras, o fi lósofo e matemático grego que viveu no século VI a.C., antes do nascimentoda Trigonometria.Explique o porquê dessa relação com o teorema.

Um dos pais da Trigonometriafoi o grego Hiparco de Niceia, que viveu no século II a.C. ecriou uma técnica que estudou as relações entre os elementosde um triângulo para prever os eclipses e os movimentos dos astros. Dê alguns exemplos de aplicações práticas dessa descoberta que o próprio Hiparco aplicou em sua época.

A Trigonometria tem aplicações na Astronomia, para calcular a distância entre a Terra e outros astros; na Geografi a, para ser utilizada em sistemas de navegação por satélite; na Química, para descrever os ângulos entre os átomos; e na Engenharia, para construir estruturas. Mas qual seria aaplicação da Trigonometriana indústria musical?

e três ângulos. Suas abordagens

envolvem campos da Geometria,

como o estudo da esfera com a Tri-

gonometria esférica. Ela pode ser

usada para, por exemplo, estimar

a distância entre as estrelas e a dis-

tância entre divisas, e os campos que

usam a Trigonometria envolvem a

Astronomia, a navegação, a teo-

ria musical, a óptica, a Eletrônica,

a Biologia, entre muitos outros.

Os estudos trigonométricos

têm uma relação muito importan-

te com o teorema de Pitágoras, já

que, por meio de sua aplicação, de-

terminamos valores de medidas

desconhecidas. O teorema de Pitá-

goras é uma equação que pode ser

aplicada em qualquer triângulo

retângulo (triângulo que tem um

ângulo de 90°).

A palavra Trigonometria teve

origem na resolução de pro-

blemas práticos relacionados à

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aTualiza | FEVEREIRO 2017

28 | MATEMÁTICA

navegação e à Astronomia. Acre-

dita-se que, como ciência, nasceu

com o astrônomo grego Hiparco

de Niceia (190 a.C.-125 a.C.). Este

criou uma matemática aplicada

para prever os eclipses e os mo-

vimentos dos astros, permitindo

a elaboração de calendários mais

precisos e maior segurança na

navegação. Hiparco ficou conhe-

cido como Pai da Trigonometria,

por ter estudado e sistematiza-

do algumas relações entre os ele-

mentos de um triângulo.

A Trigonometria é de grande

utilidade na medição de distân-

cias inacessíveis ao ser humano,

como a altura de montanhas, tor-

res e árvores, ou a largura de rios

e lagos. Por esse motivo foi con-

siderada, em sua origem, como

uma extensão da Geometria.

Há indícios de que os babilô-

nios (habitantes da antiga Meso-

potâmia, hoje região que compre-

ende o Iraque) efetuaram estudos

rudimentares de Trigonometria.

Mais tarde, a Astronomia, estu-

dada por egípcios e gregos, foi a

grande impulsora do desenvolvi-

mento da Trigonometria.

Na Engenharia, a Trigonome-

tria não é somente uma matéria a

ser estudada em sala de aula sem

aplicações práticas no mundo

real. Engenheiros de várias áreas

utilizam seus fundamentos para

construir estruturas, sistemas,

desenhar pontes e solucionar

problemas científicos.

Uma carreira que usa a lei dos

senos é a de Engenharia de dese-

nho e manutenção de aeronaves.

Nela se deve calcular a velocidade

das aeronaves, assim como a do ar,

para fazê-las mais aerodinâmicas.

Uma vez tomadas a velocidade do

vento, o ângulo de rumo e a veloci-

dade relativa da aeronave em rela-

ção ao ar, pode-se encontrar o ân-

gulo que é a diferença da direção

do vento e do ângulo de rumo.

A mesma ciência é usada na in-

dústria musical. O som viaja em

ondas que são utilizadas no de-

senvolvimento de música pelo

computador. Um computador

não entende a música como o ser

humano. A máquina a representa

matematicamente por suas ondas

constituintes.

Na Astronomia, a triangulação,

que aplica um princípio da Trigo-

nometria, é utilizada por astrôno-

mos para calcular a distância en-

tre a Terra e estrelas próximas. Já

na Geografia, ela é utilizada para

medir a distância entre pontos de

referência, além de ser também

utilizada em sistemas de navega-

ção por satélite. Por exemplo, um

piloto decolando do aeroporto de

Guarulhos, em São Paulo, deverá

saber qual o ângulo de decolagem

e quando deve virar a certo ângulo

no céu para chegar até o aeroporto

de Heathrow, em Londres.

Os químicos usam as funções tri-

gonométricas para descrever com

precisão os ângulos que são cria-

dos quando os átomos se ligam

para formar as moléculas. A Quí-

mica é uma ciência que descreve

a interação entre as substâncias, e

as funções trigonométricas, como

o seno, o cosseno e a tangente, são

Apesar de ter

nascido na

Grécia, a

Trigonometria

é resultante

dos esforços

de vários

povos de

épocas

diferentes,

como os

gregos,

egípcios,

indianos

e persas

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Resposta: e

EM FOCO

FEVEREIRO 2017 | aTualiza

C1 Construir significados para os números naturais, inteiros, racionais e reais.

H3 Resolver situação- -problema envolvendo conhecimentos numéricos.

Trigonometria (do grego tri, “três”;

gonos, “ângulos”; metron, “me-

dir”) é o ramo da Matemática cujo

arcabouço conceitual é baseado

no cálculo das medidas dos lados

e ângulos de um triângulo. Permi-

tiu a orientação dos antigos na-

vegadores, possibilitou a medida

da distância entre a Terra e a Lua,

auxilia nos trabalhos de Cartogra-

fia e de Engenharia, entre outras

aplicações.

Um engenheiro, encarregado das

obras de um novo aeroporto, ao

planejar a localização da pista de

pousos e decolagens, ficou mui-

to preocupado com a posição de

uma torre de transmissão de ener-

gia elétrica de 200 m de altura,

situada a 3 km de onde seria po-

sicionada a extremidade da pista.

Sabe-se que, ao decolar, os aviões

sobem formando um ângulo de

30º com a pista (horizontal).

Feitos os cálculos, o engenheiro

concluiu que, nessas condições,

ao decolar, um avião:

a) se chocaria com a torre, pois

estaria a 100 m de altitude ao pas-

sar por ela.

b) se chocaria com a torre, pois

estaria a 200 m de altitude ao pas-

sar por ela.

c) não se chocaria com a torre,

pois estaria a 700 m de altitude ao

passar por ela.

d) não se chocaria com a torre,

pois estaria a 1 200 m de altitude

ao passar por ela.

e) não se chocaria com a torre,

pois estaria a 1 700 m de altitude

ao passar por ela.

essenciais para descrever os com-

postos em suas três dimensões.

Na Medicina, uma das apli-

cações da função trigonométri-

ca é evidenciada na análise e no

estudo da frequência cardíaca,

isto é, do número de batimen-

tos cardíacos num determinado

intervalo de tempo, geralmen-

te medido em bpm (batimen-

tos cardíacos por minuto). Desta

análise, podemos verificar a pres-

são arterial de uma pessoa.

O sangue bombeado pelo cora-

ção é transportado para todos os

tecidos e órgãos do corpo humano

através de vasos chamados de ar-

térias. A pressão arterial ou sanguí-

nea é a força que o sangue exerce so-

bre as paredes das artérias.

Desse modo, a Trigonometria é re-

sultante dos esforços de vários povos

de diversas épocas diferentes. As fun-

ções trigonométricas foram estuda-

das, entre outros, pelo já citado gre-

go Hiparco de Niceia, mas também

pelo egípcio Ptolomeu (90-165),

pelos indianos Aryabhata (476-

-550), Varahamihira (505-587) e

Brahmagupta (598-668) e até pelo

famoso poeta e matemático persa

Omar Khayyam (1048-1131), autor

de Rubaiyat. Pode ser complicada,

mas é fascinante.

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30 |CIÊNCIAS DA NATUREZApor silvia kochen

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A primeira experiência

de um bebê com DNA

de três pais ocorreu

nos Estados Unidos,

com um casal que já

havia perdido dois

filhos por causa de

uma doença genética

rara, a Síndrome de

Leigh, uma anomalia

nas mitocôndrias

que prejudica o

desenvolvimento do

sistema nervoso. Como

foi essa experiência?

O procedimento

adotado pelos

cientistas na nova

técnica foi pegar um

óvulo de uma doadora

sã, retirar o seu núcleo

e implantar no lugar

o núcleo do embrião

fertilizado do casal.

Quanto o bebê

terá de carga genética

dos pais de origem

e da doadora?

A técnica utilizada para

gerar o bebê de três

pais é relativamente

simples e está ao

alcance de qualquer

clínica de fertilização

bem equipada em todo

o mundo. No entanto,

esse procedimento

levanta uma série

de questões éticas.

Quais são as principais

questões?

A técnica de

transplante

de mitocôndrias já foi

amplamente testada

e se mostrou bastante

segura. Por isso o

Parlamento britânico

aprovou uma lei

que permite o uso

dessa técnica como

tratamento para

doenças genéticas.

O que prevê a

legislação brasileira

sobre casos como

esses?

FEVEREIRO 2017 | aTualiza

Nova técnica desenvolvida

nos Estados Unidos pode ser

a esperança para pais que

querem evitar a transmissão

de doenças graves a seus filhos

DNA de

três pais

Biólogos de todo

o mundo en-

frentam desa-

fios a cada dia

em que novas

façanhas se tor-

nam possíveis,

como a eliminação de doenças por

meio de tecnologia genética. Foi o

que aconteceu recentemente com

o nascimento de um bebê com um

pai e duas mães.

Os pais, de origem jordaniana,

vivem nos Estados Unidos e per-

deram dois filhos pequenos por

causa de uma doença genética

muito rara, a Síndrome de Leigh,

uma anomalia nas mitocôndrias

que prejudica o desenvolvimen-

to do sistema nervoso e muscu-

lar. As mitocôndrias são fábricas

de energia de nossas células e seu

mau funcionamento causa vários

problemas de saúde, como ceguei-

ra, epilepsia, retardo mental, fra-

queza muscular e problemas car-

díacos, entre outros.

O casal resolveu, então, bus-

car ajuda da ciência para gerar

um filho saudável. A técnica em-

pregada é relativamente simples,

mas o procedimento ainda levan-

ta questionamentos éticos e, por

essa razão, foi realizado no México,

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aTualiza | FEVEREIRO 2017

32 | CIÊNCIAS DA NATUREZA

onde a lei não tem restrições nesse sentido.

Uma célula tem um núcleo e seu citoplasma, onde ficam as mitocôndrias, à semelhança de um ovo com a gema e a clara, res-pectivamente. Ao ser fertilizado, o óvulo resultante terá DNA de ambos os pais no núcleo, no qual se encontram 3 bilhões de genes. Mas também há no citoplasma as mitocôndrias, que possuem ou-tros 16 mil genes, herança ape-nas da mãe. Para gerar um bebê saudável, ele teria de ficar sem as mitocôndrias defeituosas.

O procedimento adotado foi pegar um óvulo de uma doado-ra sã, retirar o seu núcleo e im-plantar no lugar o núcleo do embrião fertilizado do casal que queria um filho são. Dessa for-ma, o bebê tem 99,998% da car-ga genética dos pais de origem

alcance de qualquer clínica de fer-tilização in vitro bem equipada, diz Lygia Pereira. Mas esse tipo de procedimento levanta uma sé-rie de questões éticas em todo o mundo. A pergunta que todos fa-zem é: em que medida é ética a busca de modificações genéticas?

Afinal, muitas vidas poderiam ser salvas se conseguíssemos eli-minar doenças transmitidas ge-neticamente, como a hemofilia ou a diabetes. Mas a manipulação genética também pode ser usada para o mal, na medida em que po-deria se buscar bebês com carac-terísticas predefinidas (loiros e de olhos azuis, por exemplo), o que resultaria em uma sofisticada eu-genia laboratorial.

Mas há pesquisas ao redor do mundo que buscam alterar a car-ga genética no núcleo de em-briões humanos. Neste caso,

Trata-se

de um

procedimento

bem diferente

da clonagem,

mas, mesmo

assim, a

técnica

levanta

questões

éticas

jordaniana e mais 0,002% de ge-nes da doadora.

“Não se trata de manipulação genética; o que houve foi um caso de transferência nuclear entre óvulos”, afirma Lygia da Veiga Pe-reira, professora titular do Labora-tório Nacional de Células-Tronco Embrionárias (Lance) da Univer-sidade de São Paulo. “É algo que podemos chamar de transplante de mitocôndrias”. Ela ressalta que é importante notar que esse proce-dimento é muito diferente de uma clonagem. No transplante de mi-tocôndrias, usam-se células-tron-co; na clonagem, uma célula adul-ta é utilizada para reproduzir uma carga genética.

Questões éticasA técnica utilizada para ge-

rar o bebê “de três pais” é re-lativamente simples e está ao

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Resposta: d

EM FOCO

FEVEREIRO 2017 | aTualiza

C4 Compreender interações

entre organismos

e ambiente, em

particular aquelas

relacionadas à saúde

humana, relacionando

conhecimentos científicos,

aspectos culturais e

características individuais.

H13 Reconhecer mecanismos

de transmissão da vida,

prevendo ou explicando

a manifestação de

características dos

seres vivos.

O DNA humano é encontrado no

núcleo, formando os cromosso-

mos, e também no interior das

mitocôndrias. O DNA mitocondrial

tem grande aplicação nos estudos

evolutivos que buscam determinar

a ancestralidade da espécie huma-

na, por exemplo, e também no âm-

bito forense, principalmente quan-

do as amostras disponíveis de DNA

estão degradadas ou são escassas.

A principal particularidade do DNA

mitocondrial é que ele:

a) só se manifesta nas mulheres,

embora seja originário de ambos

os pais.

b) é exclusivamente masculino,

não existindo nas células femini-

nas.

c) contém os genes responsáveis

pelas principais atividades ce-

lulares.

d) tem origem exclusivamente ma-

terna, uma vez que o citoplasma do

zigoto é proveniente do ovócito.

e) é exclusivamente feminino, não

existindo nas células masculinas.

normalmente são usados embriões

que seriam descartados em labora-

tórios (por estarem há muito tem-

po estocados, por exemplo, e sem

condições de vingar). Em 2015,

pesquisadores chineses anuncia-

ram o uso de uma nova técnica

para alterar embriões, denomina-

da sistema crispr caspase.

O grande problema em relação

às pesquisas de manipulação gené-

tica desenvolvidas com o objetivo

de se eliminar doenças hereditá-

rias, explica Lygia, é que ainda não

se conseguiu restringir as modifi-

cações ao alvo. Isso significa que,

além de atingir os genes que trans-

mitem alguma doença, como a he-

mofilia, foram afetados vários ou-

tros genes.

A Lei de Biossegurança vigente no Brasil

proíbe pesquisas com esse tipo de manipu-

lação genética e, por esta razão, o país não

consegue realizar pesquisas desta nature-

za. Segundo a geneticista, há um consenso

de que a substituição de mitocôndrias, em-

pregada na geração do bebê “de três pais”, é

algo muito diferente de alterações no geno-

ma nuclear.

A técnica de transplante de mitocôn-

drias já foi amplamente testada em mode-

los animais e se mostrou segura. Por isso,

o Parlamento britânico já aprovou uma

lei que permite o uso dessa técnica no país

como tratamento para doenças genéticas.

No Brasil, há um vácuo na lei em relação ao

transplante de mitocôndrias, o que significa

que não há proibição. Nos Estados Unidos, o

procedimento é proibido, o que fez com que

o caso fosse transferido para o México.

Esse núcleo é inserido

no óvulo sem núcleo

da doadora, com

mitocôndrias normais.

O óvulo reconstituído é

fertilizado com o esper-

matozoide do compa-

nheiro da paciente.

O embrião fertilizado,

com mitocôndrias nor-

mais e genomas materno

e paterno, pode ser

transferido para o útero.

Um óvulo não fertilizado com mitocôndrias anormais

e um com mitocôndrias normais são selecionados.

Os núcleos são removidos e apenas o núcleo da paciente

é mantido, o da doadora é descartado.

1

2

3 4 5

mitocôndrias anormais

núcleo

mitocôndrias normais

núcleo

SAIBA COMO É A TÉCNICA

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34 | CIÊNCIAS DA NATUREZA

aTualiza | FEVEREIRO 2017

por fernando porfirio de lima

Segundo a OMS, um terço das pessoas em

todo o mundo acima de 65 anos e metade

com mais de 75 sofrem com perda auditiva. No

entanto, os médicos agora estão preocupados

com a perda de audição de jovens. Quais as

principais razões para esse fenômeno?

No Brasil, segundo censo do IBGE, 8,6%

da população – cerca de 9 milhões de

pessoas – tem algum problema auditivo e

60% deles são idosos. Em todo o mundo,

segundo a ONU, 360 milhões de pessoas têm

perda auditiva de moderada a profunda. Qual é

a porcentagem de pessoas no país com perda

auditiva devido a exposição diária a ruídos?

A poluição sonora pode afetar seriamente a

audição. Ruídos a partir de 85 decibéis são

prejudiciais e, a partir de 95 decibéis, podem

causar sérios danos à audição. Quais são as

orientações médicas para minorar os danos

quando enfrentamos situações como estas?

Os ruídos do dia a dia entre 80 e 90 decibéis,

como tráfego, buzinas, obras e música alta

direto nos fones de ouvido, já começam a

prejudicar a audição e alteram o estado

emocional das pessoas. Quais são os

problemas adicionais enfrentados pelas

pessoas que sofrem com essa poluição?

A febre do fone

de ouvido vem

ocasionando uma triste

estatística: é cada vez

maior o número de

jovens com problemas

de audição

A surdez é um distúrbio que pode

acometer pessoas de todas as ida-

des. Algumas crianças já nascem

com perdas auditivas que variam

de grau e intensidade, e o decrésci-

mo da audição parece ser regra nas

pessoas que teimam em viver mui-

to tempo. A perda auditiva, assim como ocorre com a

visão, é uma degeneração comum ao corpo humano

e acontece gradualmente durante o envelhecimento.

Entretanto, o modo como vivemos atualmente pode

acelerar drasticamente este processo.

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS),

um terço dos idosos com mais de 65 anos sofre do pro-

blema, além de metade daqueles com mais de 75 anos.

Mas o que tem preocupado especialistas recentemen-

te é a perda de audição dos jovens. A poluição sonora,

principalmente por equipamentos de som, está entre

um dos principais vilões, segundo a Academia Brasi-

leira de Otorrinolaringologia e a Sociedade Brasileira

de Otologia.

Estamos fi cando surdos?

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C1 Compreender as ciências naturais e as tecnologias a elas associadas como construções humanas, percebendo seus papéis nos processos de produção e no desenvolvimento econômico e social da humanidade.

H1 Reconhecer características ou propriedades de fenômenos ondulatórios ou oscilatórios, relacionando-os a seus usos em diferentes contextos.

A poluição sonora, decorrente de

toda sorte de ruídos nas cidades

(trânsito de veículos, construções,

manutenção de ruas e calçadas,

etc.) e o uso frequente de fones

de ouvido ajustados em altíssimos

volumes prejudicam severamente

nossos órgãos auditivos. Os danos

começam com sons de 85 decibéis

(dB) e se agravam com intensida-

des maiores e/ou com o tempo de

exposição. Sons intensos e inter-

mitentes não permitem a recupe-

ração auditiva e levam à perda de

sensibilidade. O tempo máximo de

exposição (sem que a orelha sofra

danos) para sons de 85 dB é de

8 horas, valor que cai pela metade a

cada elevação de 5 dB.

Quanto tempo a orelha suporta,

sem sofrer danos, nas proximi-

dades de uma caixa acústica que

emite som com intensidade de

110 dB, tão alto que impede a con-

versa entre duas pessoas?

a) 2 horas

b) 1 hora

c) 30 minutos

d) 15 minutos

e) 7,5 minutos

Resposta: d

EM FOCO

FEVEREIRO 2017 | aTualiza

Alguns estudos internacionais

também apontam para a mesma

direção. Um artigo publicado no

International Journal of Pediatrics

demonstra uma preocupação so-

bre os riscos de traumas auditivos

em crianças pelo uso de sons am-

plificados, com uso de MP3 player,

videogame, etc. Outra pesquisa re-

cente, realizada pelo Departamen-

to de Saúde de Nova York, mostrou

que uma em cada quatro pessoas

entre 18 e 44 anos que costuma-

vam ouvir som alto com fone de

ouvido teve problemas de audição.

No Brasil, segundo o Censo

2010, 8,6% da população, ou 9 mi-

lhões de pessoas, tem algum pro-

blema auditivo. Estima-se que

60% destes sejam idosos. A Asso-

ciação Brasileira de Otorrinola-

ringologia e Cirurgia Cervicofacial

(ABORL-CCF) alerta que até 35%

das perdas de audição ocorrem por

causa da exposição aos sons in-

tensos, como fones de ouvido em

smartphones, celulares, aparelhos

de MP3 e ruídos no ambiente de

trabalho. De acordo com a associa-

ção, a surdez causada pela expo-

sição aos sons intensos vai acumu-

lando ao longo dos anos.

Um estudo da OMS alerta que

360 milhões de pessoas em todo o

mundo sofrem de perda auditiva.

A entidade considera que a perda

de audição relacionada ao ruído

musical é a segunda maior causa

de surdez no mundo. De acordo

com a Sociedade Brasileira de Oto-

logia, 30% a 35% das perdas de au-

dição são consequência da exposi-

ção a ruídos diários.

A fonoaudióloga Isabela Car-

valho, da empresa Telex Soluções

Auditivas, destaca que a prevenção

é a melhor arma para a luta contra

a perda auditiva. Segundo a fono-

audióloga, a audição perdida não

volta mais. “Provavelmente, va-

mos ter mais velhinhos com pro-

blemas de audição na

nossa geração do que

na anterior, dos nos-

sos pais, justamente

por causa da exposi-

ção a ruídos inten-

sos”, ressalta.

Os fones colo-

cados no canal

auditivo levam o som diretamente à membrana

timpânica, sem nenhuma barreira de proteção às

delicadas estruturas que compõem a orelha inter-

na. Os fones tipo concha são os mais indicados pe-

los médicos e especialistas, desde que usados em

uma intensidade sonora adequada, informa a As-

sociação Brasileira de Otorrinolaringologia e Ci-

rurgia Cervicofacial.

A poluição sonora também pode afetar a audição.

De acordo com a especialista da Telex Soluções Au-

ditivas, ruídos a partir de 85 decibéis (nível de pres-

são sonora), intensidade registrada em uma ave-

nida movimentada, são prejudiciais. A orientação

é não permanecer por mais de oito horas em am-

bientes com sons em torno de 85 decibéis. A partir

de 95 decibéis, por exemplo, em um ambiente onde

alguém está tocando piano bem alto, a permanência

recomendada cai para duas horas.

Isabela lembra que os ruídos do dia a dia também

podem alterar o lado emocional das pessoas. “A par-

te emotiva da pessoa vai ficar alterada. Chegando

em casa, isso vai aflorar um pouquinho e pode fa-

zer a pessoa ter diminuição de concentração, ner-

vosismo, estresse, dificuldade para dormir. Tudo

isso pode estar relacionado à poluição sonora que a

gente vive no dia a dia.”

Não só os fones de ouvido, mas também as boates,

muito frequentadas por jovens, são um perigo em

potencial. Deve-se evitar ouvir música muito alta

dentro de casa ou do carro e moderar o volume nos

fones de ouvido.

De acordo com a especialista, um pequeno pro-

blema na audição já é um sinal de alerta. “Quanto

maior a frequência a ambientes barulhentos, maio-

res os riscos. Além disso, à medida que o volume da

música passa dos 100 decibéis, aumenta-se o ris-

co de uma possível lesão na cóclea – órgão dentro

da orelha responsável pela audição. Nestes casos,

o tempo de exposição não deve passar de 30 minu-

tos”, explica a fonoaudióloga da Telex.

Frequências de 80 a 90 decibéis já começam a

prejudicar a audição. No entanto, vivemos em ci-

dades com muitos ruídos de obras,

trânsito, buzinas, metalúrgicas e

ainda a música alta direto nos fo-

nes de ouvido. São fatores que, em

conjunto, podem ser prejudiciais à

audição.

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36 | CIÊNCIAS DA NATUREZA

aTualiza | FEVEREIRO 2017

O estudante britânico William

Broadway, de 22 anos, da

Universidade de Loughborough,

ganhou um prêmio e entrou na lista

do James Award por ter criado

uma microgeladeira de vacinas.

Como foi que ele teve esta ideia e

como ele a pôs em prática?

Segundo o jornal britânico

The Guardian, cerca de 19,5 milhões

de crianças em todo o mundo –

60% delas em países em

desenvolvimento – não conseguiram

receber imunização por vários tipos

de problemas. Cite quais são os

principais obstáculos à vacinação.

No Brasil, o Ministério da Saúde

é o responsável pela vacinação,

oferecendo, por meio do SUS,

17 tipos de vacinas recomendadas

pela OMS, a um custo de

R$ 3,9 bilhões em 2016.

Esses montantes dão conta

das necessidades da população

brasileira?

A microgeladeira de Broadway,

chamada Isobar, permite armazenar

vacinas por até 30 dias em uma

temperatura que varia de 2 a 8 graus

Celsius. Explique quais são e como

funcionam as três partes desse

equipamento, uma delas baseada

em um sistema desenvolvido pelo

físico alemão Albert Einstein.

Um estudante britânico criou uma invenção simples

e barata que pode salvar milhões de pessoas e ainda

evitar o desperdício de vacinas

Por ter criado uma microgeladei-ra de vacinas, o estudante William Broadway, de 22 anos, da Univer-sidade de Loughborough, no Reino Unido, ganhou o prêmio nacional em seu país, e seu invento entrou na lista do James Dyson Award,

um prêmio internacional para distinguir, encorajar e inspirar as próximas gerações de engenheiros e dese-nhistas industriais.

A ideia posta em prática por Broadway começou quando ele fez, em 2012, uma viagem de sete semanas pelo sudeste e sudoeste asiático, em países como Cam-boja, China, Hong Kong e Vietnã. A experiência aconte-ceu mesmo antes de Broadway começar sua graduação em Desenho Industrial e Tecnologia na universidade.

Em regiões muitos pobres da Ásia, o futuro aluno da Universidade de Loughborough viu o grande desper-dício de vacinas valiosas em razão do armazenamento inadequado e de problemas na hora de transportá-las para lugares remotos. Viu e ficou indignado. A partir daí, ele contou, sentiu-se motivado a achar uma solu-ção para esses gargalos.

Refrigerador de

vacinas

por fernando porfirio de lima

O jornal britânico The Guardian aponta que cerca de 19,5 milhões de crianças de todo o mundo não conseguiram receber imunização, e 60% delas vivem em países em desenvolvimento. Até que uma vacina seja administrada em uma pessoa, além da pesquisa e dos tes-tes até sua produção, é preciso que ela passe por um longo e rigoroso processo envolvendo compra, ava-liação, liberação e distribuição.

No caso do Brasil, o Ministé-rio da Saúde é o órgão responsá-vel por esse processo. Os produtos passam ainda por uma avaliação feita pelo Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde e, só então, são enviadas para os

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C4 Compreender interações entre organismos e ambiente, em particular aquelas ligadas à saúde humana, relacionando conhecimentos científicos, aspectos culturais e características individuais.

H14 Identificar padrões em fenômenos e processos vitais dos organismos, como manutenção do equilíbrio interno, defesa, relações com o ambiente, sexualidade, entre outros.

A terceira dose da vacina contra poliomielite, adminis-

trada aos seis meses, deixa de ser oral e passa a ser inje-

tável. A mudança é uma nova etapa para o uso exclusivo

da vacina inativada (injetável) na prevenção contra a pa-

ralisia infantil, tendo em vista a proximidade da erradica-

ção mundial da doença. No Brasil, o último caso foi em

1989. A partir de agora, a criança recebe as três primei-

ras doses do esquema – aos dois, quatro e seis meses

de vida – com a vacina inativada poliomielite (VIP), de

forma injetável. Já a vacina oral poliomielite (VOP) con-

tinua sendo administrada como reforço aos 15 meses,

quatro anos e anualmente durante a campanha nacio-

nal, para crianças de um a quatro anos.

Adaptado de: <www.brasil.gov.br/saude/2016/01/

calendario-de-vacinacao-atualizado-ja-esta-em-vigor>

Acesso em: 23 nov. 2016.

Algumas vacinas, como a da poliomielite, requerem do-

ses de reforço para:

a) completar a carga de anticorpos recebida na primeira

vacinação.

b) eliminar progressivamente o vírus causador da doença.

c) estimular o organismo a intensificar a produção de

anticorpos.

d) promover alterações no DNA viral que reduzem sua

patogenicidade.

e) incrementar a quantidade de linfócitos recebidos na

primeira vacinação.

Resposta: c

EM FOCO

FEVEREIRO 2017 | aTualiza

estados. O número de doses envia-

das é notificado previamente, le-

vando em conta a situação epide-

miológica, população e estoques.

Hoje, o Ministério da Saúde ofer-

ta, por meio do SUS, 17 tipos de

vacinas recomendadas pela Orga-

nização Mundial da Saúde (OMS).

O investimento dessa oferta che-

gou a R$ 3,9 bilhões em 2016.

Para que este investimento es-

teja seguro, a logística dos produ-

tos precisa ser impecável, pois de-

vem chegar aos seus destinos em

perfeito estado de uso e dentro do

prazo de validade. A rastreabili-

dade e armazenagem em tempe-

raturas e locais apropriados são

fundamentais. O dimensiona-

mento correto para compra tam-

bém é imprescindível, visto que,

muitas vezes, a procura é maior

que a oferta, ocasionando perda.

Essa foi a preocupação do in-

ventor britânico. Mas como resol-

ver isso, na prática? Broadway es-

tava acampando com amigos e, ao

ver que eles haviam trazido quilos

de gelo, pensou que deveria exis-

tir um sistema de refrigeração me-

lhor do que apenas trazer cubos

e esperá-los derreter. O estudan-

te explica qual o problema com o

modo de transporte atual das va-

cinas: a temperatura em que elas

se encontram é instável, e não há

pontos de parada suficientes em

áreas remotas para conservar essa

temperatura.

Vacinas precisam ser man-

tidas entre 2 e 8 graus Celsius

para serem eficazes. E o refrige-

rador criado por Broadway con-

segue manter essa temperatura

de forma constante por 30 dias.

O Isobar também poderia ser usa-

do para proteger órgãos doados,

transplantes de sangue e células-

-tronco. “Nenhum problema é

grande demais, e muitas vezes

as soluções mais simples são as

melhores”, disse certa vez James

Dyson, o engenheiro britânico

que inventou do primeiro aspira-

dor de pó sem saco coletor.

A maioria dos transportadores

de vacinas usa gelo ou compres-

sas para manter as vacinas gela-

das, o que faz com que elas este-

jam em temperatura abaixo da

considerada ideal. Assim, as va-

cinas perdem potência, e a vaci-

nação não é segura. Centenas de

milhares de pessoas morrem to-

dos os anos por conta de tal des-

cuido, segundo Broadway.

Com seu invento, o Isobar, é

possível armazenar vacinas por

até 30 dias em uma tempera-

tura que varia entre 2 e 8 graus

Celsius. Para conseguir tal efeito,

a invenção possui três partes.

A primeira é uma mochila, que

armazena as vacinas; a segunda é

uma unidade de refrigeração; e a

terceira parte é um queimador de

gás propano, fonte de energia tér-

mica presente em alguns fogões.

A unidade de refrigeração foi

baseada em um sistema desen-

volvido por Albert Einstein e com

patente publicada em 1930. Usan-

do água e amônia, é possível gerar

refrigeração por meio da absor-

ção de vapores – um processo que

foi esquecido com a chegada dos

refrigeradores elétricos.

Amônia e água são aquecidos

em uma câmara de baixa pres-

são, por meio de energia térmi-

ca. A amônia é separada da água

por meio desse processo e seu

vapor é capturado dentro de

uma câmara superior à original.

William Broadway.

Uma válvula é acionada quando a unidade precisa

de refrigeração, unindo câmara superior e original.

A amônia em forma de gás mistura-se com a água,

gerando um efeito de resfriamento.

A unidade de refrigeração o Isobar pode ser recar-

regada por eletricidade; o queimador de gás propa-

no é usado em situações emergenciais, quando não

há uma fonte elétrica disponível. Carregando de for-

ma elétrica, a unidade é refrigerada por até seis dias;

as reservas de propano podem ser recarregadas até

chegar a 30 dias possíveis de uso, por padrões de se-

gurança internacionais.

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ATUALIZA  |  FEVEREIRO 2017

38 | CIÊNCIAS DA NATUREZApor sILvIA kochen

Ação global conjunta

conseguiu reduzir o

crescimento do buraco

na camada de ozônio,

mas o problema ainda

não foi resolvido

A luta continua

Em 1985, cientistas anunciaram que

todos os anos, no início da primave-

ra no hemisfério sul, um imenso bu-

raco se abria na camada de ozônio da

atmosfera sobre a Antártida e que

ele também estava ficando cada vez

maior. A gravidade da situação era

tal que mobilizou a primeira ação conjunta de todas

as nações do globo para a preservação do meio am-

biente. Em setembro de 1987, era assinado o Proto-

colo de Montreal, cujos resultados começam a ser

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observados agora, quase três dé-

cadas depois. Porém, o problema

ainda é grave.

Segundo o pesquisador titular no

Centro de Ciência do Sistema Ter-

restre (CCST) do Instituto Nacio-

nal de Pesquisas Espaciais (INPE),

Plínio Alvalá, o que se verifica atu-

almente é uma variação para

menor no buraco da camada de

ozônio sobre a Antártida. Porém

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FEVEREIRO 2017  |  ATUALIZA

também, segundo o pesquisador,

ainda é cedo para concluir que ele

esteja realmente diminuindo.

Somente entre 2030 e 2040 é

que poderemos confi rmar se obu-

raco na camada de ozônio na An-

tártida está encolhendo. Alvalá

alerta, porém, que mais adiante o

problema poderá se agravar, pois

ainda não há uma tecnologia capaz

de efetivamente combatê-lo, já que

Há mais de 30 anos,os cientistas fi caram alarmados com o aumento do buraco na camada de ozônio sobre a Antártida. O Protocolo de Montreal traçou uma ação conjunta para a preservação ambiental. Quais foram os resultadosdesse esforço?

Depois de muitas pesquisas,os cientistas conseguiramdescobrir o “vilão” pelo buraco na camada de ozônio: oclorofl uorcarboneto,mais conhecido como CFC,que tinha uma ampla aplicação industrial desdeos anos 1940. Qual foi a razão pela qual esse gás provocou oburaco na camada de ozônio?

Governos de todo o mundo assinaram um compromisso global para reduzir ou eliminar os riscos à camada de ozônio.Como funciona o fundo que foi instituído por esses países em relação aos paísesdesenvolvidos e ospaíses em desenvolvimento?

Até meados dos anos 1990,o Brasil era o líder na América Latina em consumo de CFC e o segundo maior entre os países emdesenvolvimento,atrás apenas da China. Desde 2010 o Brasil deixou de consumir CFC. Como issofoi possível?

Pesquisas na Antártida mostram

que nos últimos anos o buraco na

camada de ozônio diminuiu.

várias substâncias destruidoras de

ozônio continuam sendo usadas

em larga escala pelas indústrias de

todo o mundo.

Ciclo do CFC

Em 1985, uma equipe de pes-

quisadores britânicos na Antárti-

da observou pela primeira vez, nas

medições que fazia em solo, um de-

créscimo na camada de ozônio. O

fenômeno era intenso e estranho,

o que levou a comunidade científi -

ca a checar informações de satéli-

tes para saber o que acontecia. Foi

assim que se descobriu o buraco

na camada de ozônio na Antárti-

da. Uma grande ameaça ao planeta.

O passo seguinte foi investigar as

causas desse fenômeno.

Depois de muitas pesquisas, os

cientistas apontaram o principal

culpado pelo problema: o cloro-

fl uorcarboneto (CFC), um gás for-

mado por cloro, fl úor e carbono

que foi sintetizado artifi cialmen-

te em 1928 e passou a ter ampla

aplicação industrial a partir das

décadas de 1940 e 1950. O CFC

parecia ser ideal para usos indus-

triais, pois não tem cheiro, não

tem cor, não é infl amável e é ex-

tremamente estável, já que não

reage com outros componentes

químicos e pode fi car intacto por

até cem anos na estratosfera.

O CFC tem inúmeras aplicações, que vão desde uso

como gás para refrigeração em geladeiras e aparelhos

de ar condicionado, até como agente propelente de

aerossóis, espuma de estofados, matéria-prima para

plásticos, espumas de extintores de incêndio, etc. Ele

parecia também não oferecer risco porque o gás que

escapava de uma geladeira velha, por exemplo, fi cava

na atmosfera e, levado pela circulação do ar em todo o

planeta, acabava subindo para as camadas mais altas,

a estratosfera.

Porém, à semelhança das correntes marítimas, a

estratosfera também tem correntes de ar que circu-

lam em direção aos polos, explica Alvalá. Por uma sé-

rie de características meteorológicas únicas na An-

tártida, o ar acaba no interior de um vórtex polar,

um vento em sentido circular que prende os gases at-

mosféricos em seu interior.

As baixas temperaturas do inverno antártico pro-

duzem reações químicas nesses gases, e na primave-

ra, quando a radiação solar começa a quebrar as mo-

léculas de CFC, há uma grande liberação de cloro na

região. De uso industrial amplo como corrosivo, o clo-

ro destrói o ozônio (O3) formando uma molécula de

oxigênio (O2) e uma molécula de óxido de cloro (ClO).

Como a concentração de CFC na atmosfera era cada

vez maior, a quantidade de cloro liberado a cada pri-

mavera na região era crescente e formou um buraco

na camada de ozônio. Esse buraco crescia e ameaçava

a vida na Terra. Afi nal, é a camada de ozônio que fun-

ciona como um cobertor para proteger a superfície do

planeta da radiação solar, altamente danosa à vida.

Protocolo de Montreal

O alerta foi dado. Governos de todo o mundo se

reuniram em Montreal e, pela primeira vez na his-

tória, todos os 197 países do mundo assumiram o

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C3 Associar intervenções que resultam em degradação ou conservação ambiental a processos produtivos e sociais e a instrumentos ou ações científico-tecnológicos.

H10 Analisar perturbações ambientais, identificando fontes, transporte e/ou destino dos poluentes ou prevendo efeitos em sistemas naturais, produtivos ou sociais.

O buraco na camada de ozônio sobre

a Antártida está diminuindo. Um estu-

do revelou que o tamanho foi reduzido

em cerca de quatro milhões de quilô-

metros quadrados – uma área do ta-

manho da Índia – desde 2000. Essa é

uma boa notícia para o meio ambiente,

quase 30 anos após o Protocolo de

Montreal ser assinado para eliminar

progressivamente a emissão de certos

poluentes. O estudo atribuiu a recu-

peração da camada de ozônio ao “de-

clínio contínuo do cloro atmosférico

proveniente de clorofluorcarbonetos

(CFCs)”, ou componentes químicos

que eram emitidos por limpeza a seco,

geladeiras, spray de cabelos e outros

aerossóis.

Adaptado de: <http://g1.globo.com/

natureza/noticia/2016/06/buraco-

-na-camada-de-ozonio-sobre-antarti-

da-esta-diminuindo-diz-estudo.html>

Acesso em: 24 nov. 2016.

A preservação da camada atmosférica

de ozônio é importante porque ela:

a) bloqueia a passagem da radiação

ultravioleta, protegendo os seres vivos

de seus efeitos deletérios.

b) intensifica o efeito estufa, contribuin-

do para aquecer o ambiente e favorecer

a sobrevivência dos seres vivos.

c) causa chuva ácida, necessária para

o bom desenvolvimento das plantas.

d) evita a decomposição da matéria

orgânica, o que mantém o pH do solo.

e) promove a eutrofização das águas,

importante para a floração das algas.

Resposta: a

EM FOCO

40 | CIÊNCIAS DA NATUREZA

ATUALIZA  |  FEVEREIRO 2017

compromisso global de reduzir ou eliminar os ris-cos à camada de ozônio. Para tornar isso possível, o Protocolo de Montreal instituiu em 1990 um fun-do multilateral para financiar a sua implantação.

O fundo é mantido, principalmente, com a con-tribuição dos países desenvolvidos a fundo perdido (ou seja, em caráter de doação) e serve para finan-ciar a conversão de tecnologia, o treinamento e a capacitação e o fortalecimento institucional para que países em desenvolvimento possam cumprir os compromissos assumidos em Montreal. Isso signi-fica que o dinheiro é empregado na substituição de equipamentos industriais pelos que usem substân-cias que não destruam a camada de ozônio em seus processos, para pesquisas, para o treinamento de pessoal e para financiar serviços que garantirão o cumprimento do acordo, como órgãos de fiscaliza-ção ou de treinamento.

Para ter acesso aos recursos, os países em desen-volvimento devem apresentar programas ou proje-tos que estruturem as ações para se chegar a metas de redução do uso de substâncias destruidoras de ozônio, entre as quais o CFC é uma das principais.

Ações do Brasil

Até meados dos anos 1990, o Brasil era o líder da América Latina em consumo de CFC e o segundo maior entre os países em desenvolvimento, atrás apenas da China. Desde 2010, o Brasil não con-some mais CFC. Alvalá ressalta que o Brasil é um dos pioneiros nas medidas de eliminação do CFC.

“Mas o problema ainda está lon-ge de ser sanado”, alerta.

Hoje, o maior substituto para o CFC é o hidrofluorcarboneto (HCFC), que tem uma molécula maior e que se quebra mais de-vagar, explica Alvalá. Mas, ao ser quebrada a molécula de HCFC, o problema permanece, pois ele também libera cloro na atmos-fera, o que pode destruir o ozô-nio. O HCFC tem outro incon-veniente: ele também produz o efeito estufa.

Os tratados internacionais preveem a descontinuidade do HCFC até 2030 para os países industrializados e 2040 para os países em desenvolvimento. É um longo caminho a percor-rer, pois essa substância ainda é uma das principais matérias--primas na produção de espu-mas sintéticas. Por isso, os jo-vens estudantes de hoje que pretendem se dedicar a carrei-ras científicas já podem come-çar a se preparar para o desa-fio de encontrar um substituto para o HCFC que seja ambien-talmente seguro.

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BACKUPA MEMÓRIA REVISITADA

41

FEVEREIRO 2017  |  ATUALIZA

1817(Há 200 anos)

1917(Há 100 anos)

1937(Há 80 anos)

1957 (Há 60 anos)

1967(Há 50 anos)

1977(Há 40 anos)

Revolução Pernambucana Um movimento

de caráter

emancipacionista

e republicano

eclodiu em 6 de

março de 1817 no

Recife, em protesto

contra o aumento

de impostos para

custear os gastos da

Corte portuguesa,

instalada no Rio de

Janeiro desde 1808,

e contra a ocupação

de cargos públicos

por portugueses.

Os principais líderes

foram Domingos

José Martins, José

de Barros Lima

(“Leão Coroado”),

Antônio Cruz e os

padres João Ribeiro

e Miguel Joaquim

de Almeida Castro

(“Miguelinho”).

Influenciados pelas

ideias iluministas

e apoiados pela

maçonaria e por

clérigos e militares,

os revoltosos

depuseram o

governador e

instalaram uma

junta revolucionária

que aboliu os

impostos e

permitiu liberdade

de imprensa e de

culto. Os combates

duraram 75 dias,

resultando na derrota

dos revoltosos e

na execução

dos líderes.

Queda do czarismo na RússiaEm fevereiro de

1917 (março pelo

calendário ocidental),

greves e motins

eclodiram em

Petrogrado (atual

São Petersburgo)

em protesto contra

a participação da

Rússia na Primeira

Guerra Mundial, a

escassez econômica

crônica e a miséria

das massas

trabalhadoras.

O resultado foi a

abdicação do

czar Nicolau II.

O líder menchevique

(socialista moderado)

Alexander

Kerensky assumiu

provisoriamente

o governo, mas o

poder real ficou

dividido entre a Duma

(Parlamento)

e o Soviete

(Conselho) de

Petrogrado.

A manutenção

do país na guerra

reacendeu o

descontentamento

das massas, abrindo

caminho para que

os bolcheviques

(comunistas)

tomassem o poder

em novembro e

instalassem um

Estado socialista.

Pio XI critica o nazismo Em 14 de março

de 1937, o papa

Pio XI divulgou

a encíclica Mit

brennender Sorge

(Com profunda

preocupação),

uma duríssima

crítica ao regime

nacional-socialista

alemão e à sua

ideologia racista.

Na primeira

crítica oficial ao

nazismo feita

por um chefe de

Estado, o papa

referiu-se a Adolf

Hitler como

“profeta louco

de arrogância

repulsiva”. Cópias

da encíclica

foram enviadas

clandestinamente

para a Alemanha

para serem

lidas em todas

as paróquias

alemãs. Em

1933, Pio XI havia

negociado uma

concordata com

a Alemanha, mas

Hitler continuou

a perseguir os

católicos no país.

Tratado de RomaAssinado em

março de 1957 em

Roma, o tratado

congregou França,

Alemanha, Itália e

o Benelux (Bélgica,

Países Baixos e

Luxemburgo), pelo

qual os signatários

renunciaram a

partes de sua

soberania para

criar um mercado

comum. Idealizado

por Jean Monnet e

Robert Schumann,

o tratado objetivava

unir a Europa

ocidental depois

da recuperação

trazida pelo Plano

Marshall, criando

a Comunidade

Econômica

Europeia (CEE)

e a Comunidade

Europeia de

Energia Atômica

(Euratom).

A CEE se expandiu

e em 1992, com

o Tratado de

Maastricht, virou

a União Europeia,

adotando a moeda

única, o euro.

Golpe dos coronéis na Grécia Um grupo de

oficiais direitistas

do Exército, liderado

pelo coronel Georgios

Papadopolus, deu

um golpe de Estado

e obrigou o rei

Constantino II a se

exilar. A justificativa

oficial para o

golpe foi que uma

“conspiração

comunista” havia

se infiltrado na

burocracia estatal,

na academia,

na imprensa e

mesmo no Exército.

O “regime dos

coronéis” isolou a

Grécia da Europa,

prendeu 45 mil

inimigos, fechou o

Parlamento, torturou

e matou civis. Em

1974, incapaz de

controlar a crise

com os turcos em

Chipre, o regime

caiu. A ditadura foi

retratada em 1969

no filme Z, do diretor

grego Constantin

Costa-Gravas.

Pacote de AbrilEm abril de 1977, o

governo do general

Ernesto Geisel

baixou um conjunto

de decretos –

apelidado pela

oposição de

Pacote de

Abril – determinando

o fechamento

temporário do

Congresso e

alterando as regras

para as eleições

de 1978. Entre as

principais mudanças

estava a criação de

senadores indiretos

(“biônicos”) para

1/3 da Câmara

Alta. O pacote

também manteve

a eleição indireta

para presidente,

governadores e

prefeitos de capitais,

estendeu o mandato

presidencial

para seis anos

e aumentou a

representação de

estados menos

populosos.

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42 | CIÊNCIAS HUMANAS

ATUALIZA  |  FEVEREIRO 2017

por LUIZA vILLAméA

Mata Hari,

o enigma da mais

famosa espiã

A estreia da dançarina Mata Hari

em Paris, em 1905, não poderia

ser mais rumorosa. Com a rotun-

da do primeiro andar do Museu

Guimet transformada em uma

espécie de templo indiano, Mata

Hari encantou pela dança, mas

também pela beleza seminua, envolta em véus. Era

o começo da fama. No palco, ela apresentou o exo-

tismo oriental à Europa. Fora do palco, seduziu uma

série de homens poderosos. Doze anos depois, acu-

sada de espionagem, a dançarina seria fuzilada no

começo de uma manhã de outono em Vincennes,

nos arredores de Paris.

“Preciso usar isso?”, perguntou Mata Hari diante

do pelotão de fuzilamento, referindo-se à venda que

um oficial ofereceu para que ela cobrisse os olhos.

Pela descrição do jornalista Henry Wales, que cobriu

a execução pela agência americana International

News Service, o oficial foi sucinto. “Se madame pre-

fere não usar, não faz diferença”, respondeu, antes

de dar meia-volta. Sem venda nem amarras, Mata

A bailarina que colecionou admiradores acabou

fuzilada há quase 100 anos, acusada pela França,

sem provas contundentes, de espionar para a Alemanha

O que levou a holandesa Margaretha Gertruida

Zelle a se interessar pela cultura hindu que havia

na ilha de Java, mudar o nome para Mata Hari

e se tornar uma dançarina famosa e depois

cortesã, seduzindo muitos homens poderosos no

começo do século XX?

Mata Hari foi presa pelo Exército francês, acusada

de espionar para os alemães e fuzilada em 15

de outubro de 1917, aos 41 anos. Quais foram

as principais lendas, nunca comprovadas, que

correram sobre sua execução pelo pelotão de

fuzilamento em Vincennes?

Hollywood fez poucos filmes sobre Mata Hari.

O mais conhecido deles, de 1931, foi estrelado por

Greta Garbo, então uma das mais prestigiadas

atrizes de cinema. Outra versão, em 1985, foi

estrelada pela holandesa Sylvia Kristel. Em que

outro filme a dançarina holandesa foi citada?

A versão de que Mata Hari era espiã a serviço dos

alemães foi contestada por vários historiadores,

como a antropóloga estadunidense Pat Shipman.

A mais recente tentativa de contestar a versão

oficial ocorreu em 2001, com investigações feitas

por Leon Schirmann. Que fim levaram essas

investigações?

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FEVEREIRO 2017  |  ATUALIZA

Hari foi fuzilada no dia 15 de ou-tubro de 1917, em plena Primei-ra Guerra Mundial, depois de um julgamento questionado até hoje.

Mata Hari era, na verdade, Mar-garetha Gertruida Zelle, nascida na cidade de Leeuwarden, nos Paí-ses Baixos. Filha de um comercian-te bem-sucedido, ela perdeu a mãe ainda na adolescência e, antes de se tornar um símbolo da ousadia fe-minina, casou-se com um capitão do Exército holandês. Não hesitou em acompanhar o marido quan-do ele foi destacado para servir em Java, a maior ilha da Indonésia, en-tre o Sudeste Asiático e a Austrália.

Naquela época, Java pertencia ao império holandês e era reple-ta de templos hindus, herança de reinos estabelecidos na região em séculos anteriores. Com dois fi-lhos pequenos e um casamento que caminhava de mal a pior, a ho-landesa Margaretha mergulhou na cultura hindu. Dela tirou a ins-piração para se reinventar como Mata Hari anos mais tarde, depois que voltou para a Europa, divor-ciou-se e partiu para uma vida au-tônoma. O filho mais velho tinha morrido de forma misteriosa em Java, supostamente envenenado por empregados. A menina ficou sob a guarda do pai.

Depois da estreia estrondo-sa no Museu Guimet, Mata Hari cultivou com esmero a imagem de dançarina exótica, vinculan-do-se sempre ao universo que

C3 Compreender a produção e o papel

histórico das instituições sociais,

políticas e econômicas, associando-as

aos diferentes grupos, conflitos e

movimentos sociais.

H15 Avaliar criticamente conflitos culturais,

sociais, políticos, econômicos ou

ambientais ao longo da História.

A Grande Guerra de 1914 foi uma consequência

da remobilização contemporânea dos anciens

régimes da Europa. Embora perdendo terreno

para as forças do capitalismo industrial, as forças

da antiga ordem ainda estavam suficientemente

dispostas e poderosas para resistir e retardar

o curso da história, se necessário recorrendo à

violência. A Grande Guerra foi antes a expressão

da decadência e queda da antiga ordem, lutando

para prolongar sua vida, que do explosivo cresci-

mento do capitalismo industrial, resolvido a im-

por a sua primazia. Por toda a Europa, a partir

de 1917, as pressões de uma guerra prolonga-

da afinal abalaram e romperam os alicerces da

velha ordem entrincheirada, que havia sido sua

incubadora. Mesmo assim, à exceção da Rús-

sia, onde se desmoronou o antigo regime mais

obstinado e tradicional, após 1918–1919, as for-

ças da permanência se recobraram o suficiente

para agravar a crise geral da Europa, promover o

fascismo e contribuir para a retomada da guerra

total em 1939.

Adaptado de: MAYER, A. A força da tradição:

a persistência do Antigo Regime. São Paulo:

Companhia das Letras, 1987.

Segundo o autor, a Primeira Guerra Mundial

resultou:

a) do surgimento do fascismo, derivado da Re-

volução Russa, que exportou seu modelo para

os demais países da Europa.

b) da expansão do capitalismo industrial, que

usou a guerra para consolidar sua primazia.

c) da reação violenta das forças da modernida-

de em sua tentativa de romper os laços com a

antiga ordem.

d) da reação dos antigos regimes à moderniza-

ção econômica e política trazida pelo capitalis-

mo industrial.

e) da tentativa de os comunistas russos propa-

garem seus ideais de liberalismo econômico e

igualdade entre os cidadãos.

EM FOCO

Resposta: d

conhecera em Java. Ao escrever so-bre uma biografia da dançarina/es-piã, o coronel estadunidense Fitzhugh Minnigerode disse que ela insistia mui-to na semelhança entre suas danças e as apresentadas em templos da Índia, onde teria aprendido os movimentos. Insistia tanto que “acreditava, ou quase acredita-va, na versão”, registrou Minnigerode no The New York Times, em maio de 1930.

Naquela altura, 13 anos depois do fu-zilamento de Mata Hari, a fama de espiã recrutada pela Alemanha ou dupla espiã (a serviço da França e da Alemanha) só aumentava, assim como o número de li-vros e filmes a seu respeito. Para a antro-póloga estadunidense Pat Shipman, au-tora do livro Femme Fatale, Mata Hari foi usada como bode expiatório para distrair a opinião pública sobre as perdas sofridas pelo Exército da França no front.

A mais recente tentativa de questio-nar o julgamento que a condenou à mor-te ocorreu em 2001, devido a investiga-ções feitas por Leon Schirmann, um veterano da resistência ao nazismo na França, que se dedicou a pesqui-sas históricas depois de se aposentar como professor de Física. Schirmann, no entanto, não conseguiu reunir pro-vas suficientes para reabrir o caso na Justiça. Restou o mito.

A história de Mata Hari foi vivida no cinema em 1931, no filme homônimo es-trelado por Greta Garbo, então uma das mais prestigiadas estrelas de Hollywood. Uma nova versão foi feita em 1985, estre-lada por Sylvia Kristel. A bailarina tam-bém é citada no filme Cassino Royale (1967), como amante de James Bond.

Greta Garbo vive

Mata Hari em

filme de 1931.

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Para o mal e para o bem

44 | MATEMÁTICA

ATUALIZA  |  FEVEREIRO 2017

 por vInícIUs AbbATeA 

Surgidos como armas de guerra, os drones são

cada vez mais utilizados para fins pacíficos, mas

sua regulamentação ainda é indefinida no Brasil

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Os drones são qualquer tipo de aeronave que nãoprecisa de pilotos embarcados para ser guiada. Também são conhecidos como Veículos AéreosNão Tripulados (Vants). Apesar de ter suas origens na Segunda Guerra Mundial, o drone sóse popularizou recentemente. Qual a razão para isso?

Os drones foram utilizados inicialmente com objetivos militares, para buscar alvos difíceis e arriscados, poupandoas vidas de pilotos. Os Vants ainda são usados pelos EUA noAfeganistão e no Paquistão, para combater terroristas. Quais são as principais críticas a esse uso militar dos drones?

Hoje os drones são amplamente utilizados na área civil, como na vigilância de fronteiras, identifi cação de pragas agrícolas, monitoramento de rebanho, levantamento de ocupações urbanas e monitoramento de redes de energia. Explique quais são as principais vantagens do uso dos drones para esses fi ns civis.

Os drones já são utilizados,com sucesso, por pesquisadoresda Universidade de Mato Grosso(UFMT) para levantamentoaéreo de áreas devastadas.Os especialistas apontam um futuro promissor para os Vants na área de Biologia. Queoutras áreas são promissoras?

FEVEREIRO 2017  |  ATUALIZA

No início, os drones (‘zangão’, em

inglês), ou Veículos Aéreos Não

Tripulados (Vants), surgiram

para poupar vidas de militares

em situação de risco, economi-

zar recursos e causar o maior

número de danos ao inimigo.

Entretanto, em razão do caráter frequentemente se-

creto das operações em que os drones são emprega-

dos, principalmente pelos Estados Unidos, vem ocor-

rendo um debate sobre esse método sorrateiro de

combate, que está sendo usado em países com os quais

os estadunidenses sequer estão em guerra, como Pa-

quistão, Afeganistão, Iêmen, Líbano e Somália. A Casa

Branca admite que 116 “não combatentes” – eufemis-

mo para civis – foram mortos entre janeiro de 2009 e

dezembro de 2015 pelos drones dos EUA. Entretanto,

para a ONG Bureau of Investigative Journalism, o nú-

mero foi bem maior: 801 pessoas.

A inspiração para o drone foi a temível “bomba voa-

dora” dos nazistas, a V-1 (Vergeltungswaffe-1), usada no

fim da Segunda Guerra Mundial (1939-1945) para bom-

bardeios contra a Inglaterra e a Bélgica. Depois de atu-

ar nos teatros de operações da guerra, o Vant ganhou

espaço na área civil, sobretudo em ações que envolvem

alto risco para os seres humanos.

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46 | MATEMÁTICA

ATUALIZA  |  FEVEREIRO 2017

O drone é todo e qualquer tipo

de aeronave que não precisa de pi-

lotos embarcados para ser guiada.

Pode ser controlado a distância

por meios eletrônicos e computa-

cionais, sob a supervisão de huma-

nos, ou sem a sua intervenção, por

meio de Controladores Lógicos

Programáveis (CLP).

Ultimamente, o drone vem ga-

nhando versões mais atualizadas,

feitas de materiais leves e com no-

vas tecnologias para os mais diver-

sos fins.

Na área civil, os Vants são utili-

zados para a vigilância de frontei-

ras rurais e urbanas, identificação

de pragas agrícolas, levantamento

de ocupações urbanas e monitora-

mento de redes de energia, entre

outros usos.

“Os drones não vieram para

substituir o trabalho do ser huma-

no, mas para complementá-lo, evi-

tando sua exposição a situações de

risco, cujo resultado final poderia

ser prejudicial à sua saúde. Em se-

gundo plano está a redução de cus-

tos, onde imagens aéreas de alta

resolução são necessárias, mas os

custos de operação de uma aero-

nave tripulada são muito altos”,

explica Gabriel Klabin, presidente

da Santos Lab, empresa que fabri-

ca drones, entres os quais os mo-

delos Carcará e Libélula.

“Outra vantagem é o ganho em

mobilidade, já que os drones po-

dem atuar em várias áreas, desde

um simples monitoramento de

uma plantação até uma incursão

policial, deixando o profissional

mais preparado para a ação que

terá que desenvolver”, completa.

Imagens geradas em atividades

de monitoramento por Vants apre-

sentam vantagens em relação às

imagens produzidas por satélites.

As imagens feitas por drones con-

seguem captar objetos bem peque-

nos, de até 5 centímetros, sendo su-

periores às imagens dos satélites,

que alcançam, no máximo, resolu-

ção de 30 cm × 30 cm por pixel.

Na área da biologia, por exem-

plo, especialistas apontam para

um futuro promissor para os equi-

pamentos voadores. Ele já é uti-

lizado, com sucesso, por pesqui-

sadores da Universidade Federal

de Mato Grosso (UFMT) para o

levantamento de imagens aéreas

em um projeto que tem o objetivo

de recuperar áreas degradadas.

Alguns modelos são produzidos

com material bastante resistente,

como o Kevlar (utilizado em cole-

tes à prova de balas, por exemplo),

podendo alcançar até mil metros

de altura e voar, sem parar, du-

rante 90 minutos. Em um dia, um

drone pode mapear entre 2 mil e 3

mil hectares.

O primeiro drone de que se tem

registro no Brasil foi o BQM1BR,

fabricado pela extinta CBT (Com-

panhia Brasileira de Tratores), de

propulsão a jato. Esse protótipo

serviria como alvo aéreo e reali-

zou um voo em 1983. Outro drone

de que se tem conhecimento é o

Gralha-Azul, produzido pela Em-

bravant. Os dois primeiros protó-

tipos do Gralha-Azul realizaram

vários ensaios em voo, operando

com radiocontrole.

Os primeiros Vants da empre-

sa Santos Lab, os Carcará, fo-

ram desenvolvidos para atender

ao Corpo de Fuzileiros Navais da

Marinha. Em 2016 foram criadas

versões para uso civil, em especial

voltado para as áreas de agricul-

tura de precisão, meio ambiente e

topografia.

Já o drone Libélula foi desen-

volvido para aplicar larvicidas nos

focos do mosquito Aedes aegypti.

O modelo evoluiu para sua versão

A “bomba voadora” V-1, usada pelos alemães entre 1944 e 1945.

O Carcará, drone brasileiro desenvolvido para

atender os fuzileiros navais.

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FEVEREIRO 2017  |  ATUALIZA

militar, cujo foco principal é reconhecimento aproximado.

Uso militar e policial

no Brasil

No Brasil, as Forças Armadas, as polícias e os bombeiros podem adquirir Aeronaves Remotamen-te Pilotadas (ARP), ou drones, de acordo com suas necessida-des. Contudo, o Departamento de Controle do Espaço Aéreo (De-cea), órgão de Comando da Ae-ronáutica, é que estabelece as regras para os voos, assim como ocorre com qualquer outro tipo de aeronave.

A Força Aérea Brasileira (FAB) recebeu em 2011 quatro aerona-ves RQ-450 e uma RQ-900. To-das são operadas pelo Esquadrão Hórus, sediado na Base Aérea de Santa Maria (RS), mas com atuação em todo o território nacio-nal. Seus Vants já foram deslocados para a fronteira em razão das ope-rações Ágata, dentre outras. As ae-ronaves da FAB são utilizadas em missões de vigilância e reconheci-mento, desarmadas, utilizando-se de sensores óticos e eletrônicos.

O Exército brasileiro já empre-gou Vants nas Operações Ágata

e Laçador, utilizando o modelo RQ -450, entre 2011 e 2013, e atualmente está conduzindo um projeto de pesquisa e desenvolvi-mento de um sistema composto de três aeronaves não tripuladas, com o objetivo de verificar a via-bilidade do seu emprego.

Mercado

O mercado de drones no Brasil movimentou em 2016, R$ 200 milhões, segundo a MundoGEO, empresa especiali-zada no setor. Desse montante, grande parte virá da atividade de

Na área civil,

os Vants são

utilizados

para a

vigilância

de fronteiras,

combate a

pragas,

levantamento

de ocupações

urbanas e

monitoramento

de redes de

energia pequenas e médias empresas. Já a empresa de pesquisa Markets and Markets estima que o mercado global de drones vá crescer apro-ximadamente 30% entre 2015 e 2020, com uma indústria de cerca de US$ 5,5 bilhões.

No futuro, o uso dos drones ten-de a aumentar, viabilizando pro-jetos ligados a monitoramento da fauna silvestre e exótica, recursos hídricos, paisagismo, saneamen-to, rodovias e ocorrências de trân-sito, além de evoluir na ampliação da autonomia e da tecnologia em-barcada.

O drone Libélula, desenvolvido para aplicar

larvicidas em focos do Aedes aegypti.

O drone israelense RQ-450, projetado para longas missões de resistência.

O drone militar brasileiro BQM1BR, projetado e construído

pelo Centro Técnico Aeroespacial (CTA).

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ATUALIZA  |  FEVEREIRO 2017

48 | MATEMÁTICAResposta: b

EM FOCO

Regulamentação Em 2015, a Anac (Agência Nacional de Aviação

Civil) colocou em audiência pública uma propos-

ta de regulamentação para utilização de Vants não

autônomos, também conhecidos como Aeronaves

Remotamente Pilotadas (RPA, sigla do inglês Re-

motely Piloted Aircraft) e aeromodelos.

Como os drones compartilham o espaço aéreo

com aeronaves civis, é preciso que sejam estabele-

cidos os padrões mínimos de segurança operacio-

nal, que permitam o tráfego de ambos.

A Agência aguarda a aprovação de uma Medi-

da Provisória (MP), que está sendo trabalhada no

âmbito da Secretaria de Aviação Civil, do Minis-

tério dos Transportes, Portos e Aviação Civil, que

terá interferência na nova regulação de Vants. Até

que isso ocorra, para qualquer tipo de operação es-

pacial, o proprietário vai precisar de autorização

da Anac.

Atualmente, só é permitido operar RPAs no Bra-

sil quem possui uma autorização expressa da Anac

ou um Certificado de Autorização de Voo Experi-

mental (Cave), emitido segundo a IS n. 21-002A.

No âmbito internacional, a FAA (Federal Aviation

Administration), nos EUA, já emitiu regulamenta-

ção própria, assim como a Organização de Aviação

Civil, que serve de guia para os países-membros.

C8 Apropriar-se de conhecimentos da

Biologia para, em situações-problema,

interpretar, avaliar ou planejar intervenções

científi co-tecnológicas.

H30 Avaliar propostas de alcance individual ou

coletivo, identifi cando aquelas que visam

à preservação e à implementação da saúde

individual, coletiva ou do ambiente.

As áreas verdes de Niterói serão monitoradas pelo

céu. A Secretaria Municipal de Meio Ambiente, Re-

cursos Hídricos e Sustentabilidade começou a ope-

rar um drone que vai sobrevoar diariamente as áreas

de preservação permanente da cidade. O equipa-

mento será usado em conjunto com a Defesa Civil

na identifi cação de focos de incêndios fl orestais e

no combate à ocupação irregular. Principal causa

da perda de vegetação em Niterói, as queimadas

estão no foco do trabalho que deve ser iniciado ofi -

cialmente nas próximas semanas. Só no primeiro

semestre deste ano, foram registrados 118 incên-

dios na cidade. Em 2015, houve 230. O Corpo de

Bombeiros ainda calcula o quanto isso representa

em área devastada, mas os 776 incêndios registra-

dos em 2014 subtraíram 18% da mata. Na maior

parte dos casos, a origem do fogo está na queda de

balões e pequenas fogueiras feitas por moradores

para queimar lixo.

Disponível em: <http://oglobo.globo.com/rio/

bairros/drone-comeca-ser-usado-no-monito-

ramento-de-queimadas-em-niteroi-19855948>

Acesso em: 24 nov. 2015.

O uso dos drones no monitoramento de incêndios e

de ocupações irregulares:

a) não é recomendável porque compromete a bio-

diversidade representada pelas plantas, animais e

outros tipos de organismos das áreas protegidas.

b) é recomendável porque ocupações irregulares e

incêndios devastam as áreas de preservação e eli-

minam os seres vivos que ali habitam.

c) não é recomendável porque as queimadas pre-

servam os microrganismos do solo, que são res-

ponsáveis por sua fertilidade.

d) não é recomendável porque representa uma in-

vasão à privacidade das pessoas residentes no local.

e) é recomendável porque serve para indicar as áreas

mais adequadas para o desmatamento, evitando a

devastação total do local.

O drone militar estadunidense General Atomics Q1 Predator.

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Assistir a filmes sem legenda é uma forma interessante e divertida

de aprender ou praticar a língua inglesa (ou outro idioma desejável).

Filmes de espiões, como James Bond, o agente 007, atraem

grande público, tanto que são reinventados frequentemente.

Seis atores diferentes interpretaram Bond ao longo de mais

de 50 anos. Nesta atividade, você deve tentar descobrir a

palavra (em inglês) associada a cada definição do universo

da espionagem.

Para testar a capacidade de raciocínio lógico de seus alunos, um professor propôs a eles um desafio.

Solicitou três voluntários; apresentaram-se Roger,

Gabriel e Dudu, que foram colocados em fila.

Em seguida, mostrou a eles cinco bonés,

sendo três brancos e dois verdes. Pediu

que ficassem de olhos fechados e colocou

na cabeça de cada um deles um dos bonés,

de modo que, ao abrirem os olhos, cada aluno

só pudesse visualizar o boné dos colegas que

estivessem à sua frente, mas fosse incapaz

de observar o boné que estivesse usando e

muito menos o dos colegas que estivessem

atrás. Dessa forma, Roger, que era o último

aluno da fila, via os bonés dos outros dois;

Gabriel, o do meio, só via o boné à sua frente; e

Dudu, o primeiro aluno da fila, não via qualquer

boné. O professor, então, pediu a Roger que

dissesse a cor de seu boné; ele não soube dizer.

Repetiu a pergunta a Gabriel e este também não

conseguiu responder. Fez a pergunta a Dudu;

este respondeu corretamente.

Qual foi a resposta de Dudu? Como ele

conseguiu acertar?

Palavra Significado

O que James Bond é

Para quem James Bond trabalha

Equipamento de escuta

Informante ou agente duplo

Vilão

Auxiliar ou capanga do vilão

Bugiganga, traquitana, recurso tecnológico

O desafio dos b nés

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ENCARE ESSA!DESAFIOS PARA O SEU RACIOCêNIO

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DIÁLOGO COM A ARTEEXPRESSÕES DA SENSIBILIDADE HUMANA

No fim da vida, o pintor, desenhista e gravurista francês Henri-Émile-Benoît Matisse (1869-1954), já bastante debilitado, produziu uma série de papéis recortados pintados a guache, como este, intitulado Nu Azul II (Blue Nude II, 1952, Centro Pompidou, Paris). Inicialmente tido como um dos líderes do fauvismo, Matisse ficou conhecido pelo uso fluido e original que fez da cor, desenvolvendo uma técnica própria e altamente sofisticada.

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Dimensões da obra: 112 x 73,5 cm.

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LINGUAGENS A MESÓCLISE E AS DISPUTAS EM TORNO DA LÍNGUA

CIÊNCIAS HUMANASA CONQUISTA DA AMÉRICA:

ESCRAVIDÃO E RESISTÊNCIA

CIÊNCIAS DA NATUREZADOPING E OLIMPÍADAS

MATEMÁTICAGRANDEZAS PROPORCIONAIS

E ADESTRAMENTO CANINO

REDAÇÃOCOMO LIDAR COM O AUMENTO DA INTOLERÂNCIA?

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#atualize-se

Atualiza Enem é um suplemento da revista Atualiza.

Diretoria editorialRenata Mascarenhas

Coordenação editorialBárbara Muneratti e Renato Tresolavy

AutoresLinguagens e Redação:José Ruy Lozano

Matemática:Rafael Zattoni

Ciências da Natureza:Daniel Nadaleto

Ciências Humanas:Paula Nomelini

EdiçãoRenato Tresolavy

RevisãoHélia de Jesus Gonsaga (ger.), Kátia Scaff

Marques (coord.), Rosângela Muricy (coord.),

Adriana de Rinaldi, Claudia Virgilio, Gabriela

Macedo de Andrade e Luís Maurício Boa Nova

DiagramaçãoDaniela Amaral (coord.), Daniel de Paula Elias

CapaDaniel de Paula Elias

Foto da capaBlend Images/Getty Images

Impressão e acabamento

SER, GEO, MAXI e ÉTICODIVISÃO DE SISTEMAS DE ENSINO

Av. das Nações Unidas, 7221

Pinheiros – CEP 05425-902

São Paulo – SP

Reprodução proibida.

Todos os direitos reservados.

Uma publica•‹o

Central de atendimento às escolas

0800 772 0028

Ano novo, antigos desafi os

Novo ano, vida nova. Mário Quintana nos relembra que o tempo voa, e disso temos certeza. “Quando se vê, já são seis horas! Quando se vê, já é sexta-feira! Quando se vê, já é Na-tal... Quando se vê, já terminou o ano”, diz o poeta.

Completamos o poema dizendo: e já estamos em 2017.O ano novo começa trazendo-nos antigos problemas; bas-

ta olhar para nossas cidades. Nosso entorno revela a necessidade de criarmos proje-

tos de vida urbana mais sustentáveis, como o que se deu no esforço mundial para banir o CFC. Ações governamentais contra o CFC nos mostram que gestores e cidadãos devem entender as cidades, a natureza e o meio ambiente como partes integrantes de cada um de nós. Essa é uma questão de cidadania.

O exercício da cidadania é outro problema que não está resolvido. Muitos brasileiros estão aplaudindo o protagonis-mo e o ativismo político do Poder Judiciário na luta contra a corrupção, embora sejam os poderes, Executivo e Judiciá-rio, juntamente com a população, os principais responsáveis pela construção de um Brasil mais sustentável. Porém, no vácuo de uma atuação responsável dos poderes Legislativo e Executivo, praticamos a “judicialização” da política, questão sobre a qual precisamos muito refletir.

Sustentabilidade, cidadania e inclusão social são as pala-vras fundamentais para nossos projetos de ano novo. Não é mais tolerável continuarmos excluindo grupos minoritários e ironizando-os em nome do humor e da sátira, já que as fron-teiras entre o cômico e o eticamente correto são muito tê-nues. Por isso, antes de curtirmos e compartilharmos “pia-das” e “memes”, é fundamental fazer uma reflexão sobre a mensagem que trazem, num exercício de alteridade.

Por fim, é necessário lembrar a poluição sonora. Não é possível viver de forma sustentável e com qualidade com tal forma de agressão. Pesquisas revelam que ruídos com mui-tos decibéis, somados à prática de ouvir aparelhos sonoros em alto volume, têm aumentado o número de casos de defi-ciência auditiva entre os jovens. É fundamental evitarmos tal situação!

Desejamos que no ano que se inicia você não perca a au-dição, no sentido denotativo, e que tampouco a perca cono-tativamente: que você ouça os pedidos de socorro de seu entorno e exerça sua cidadania participando, cooperando e propondo intervenções solidárias como resolução de nossos velhos problemas num ano novo.

Francisca ParisPedagoga e mestra em Educação

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LinguagensLLinguagLLinguag

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Em profundidade

No livro Não é errado falar

assim! Em defesa do português

brasileiro (Parábola Editorial,

2009), o linguista e professor

da UnB Marcos Bagno mostra

como algumas construções já

incorporadas aos mais cultos

contextos de escrita no Brasil

ainda são condenadas pela

gramática tradicional. Trata-se

de uma refl exão profunda e bem

informada sobre a variação e a

dinâmica da língua portuguesa.

A mesóclise e as disputas em torno da língua

“Se mais não fosse, sê-lo-ia...”

“Se houver algum erro, corrigi-lo-ei.”

Colocação pronominal frequente nos discursos do presidente Michel Temer, que assu-

miu o cargo após controverso processo de impeachment e intensa crise política, a mesócli-

se gerou grande polêmica nos meios de comunicação.

Os mais conservadores politicamente foram em geral elogiosos ao retorno do que cha-

maram de “verdadeira língua portuguesa”, aquela que obedece aos padrões gramaticais.

Para eles, voltava ao poder o prestígio da norma culta, que teria sido aviltada durante os

governos anteriores.

Já os partidários da mandatária afastada Dilma Rousseff, muitos deles identifi cados à

esquerda do panorama político brasileiro, logo associaram as mesóclises presidenciais ao

suposto atraso de suas ideias, combinando, por exemplo, o uso rebuscado do idioma ao

fato de Temer não ter nomeado mulheres em seu ministério, ou de propor medidas rigi-

damente ortodoxas no campo econômico. Assim, o conservadorismo político do governo

Temer estaria refl etido no uso de formas pretensamente arcaicas da língua portuguesa.

Após meses de debates e brincadeiras nas redes sociais, aos quais você, aluno antenado

de Ensino Médio, deve ter prestado atenção, resta a pergunta: o uso da língua é também

uma questão política?

Gramáticos e especialistas mais tradicionais evitam essa abordagem. Eles costumam investir

na ideia de que a língua é um corpus de normas mais ou menos estáveis, prescritas aos falantes.

Há um uso do idioma considerado bom ou desejável, que todos deveriam respeitar nas mais di-

versas circunstâncias. Tal conjunto de regras seria neutro e aplicável a todos, indistintamente.

Há, no entanto, linguistas e acadêmicos com abordagens bastante distintas. Para eles,

a linguagem é um fenômeno a ser reconhecido cientifi camente, ou seja, com base na ob-

servação e na análise do uso real dos falantes, em contextos diversos e situações reais de

comunicação. Não haveria um “bom uso” da língua, mas sim formas adequadas a con-

textos mais formais e monitorados, e outras próprias de contextos menos formais. Além

disso, há as possíveis variações de registro, de caráter regional, histórico e social.

Em profundidade

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(Enem-2012)

Texto I

Antigamente

Antigamente, os pirralhos dobravam a língua diante dos pais, e se um se esquecia de arear os dentes antes de cair nos braços de Morfeu era capaz de entrar no couro. Não devia também se esquecer de lavar os pés sem tugir nem mugir. Nada de bater na cacunda do padrinho, nem de debicar os mais velhos, pois levava tunda. Ainda cedinho, aguava as plantas, ia ao corte e logo voltava aos penates. Não ficava mangando na rua, nem escapulia do mestre, mesmo que não entendesse patavina da instrução moral e cívica. O verdadeiro smart calçava botina de botões para comparecer todo liró ao copo-d’água, se bem que no convescote apenas lambiscasse, para evitar flatos. Os bilontras é que eram um precipício, jogando com pau de dois bicos, pelo que carecia muita cautela e caldo de galinha. O melhor era pôr as barbas de molho diante de um treteiro de topete, depois de fintar e engambelar os coiós, e antes que se pusesse tudo em pratos limpos, ele abria o arco.

ANDRADE, C. D. Poesia e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1983 (fragmento).

C8 Compreender e usar a língua portuguesa como língua materna, geradora de significação e integradora da orga-

nização do mundo e da própria identidade.

H25 Identificar, em textos de diferentes gêneros, as marcas linguísticas que singularizam as variedades linguísti-

cas sociais, regionais e de registro.

Em foco

O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) adota esta última visão, mais pluralista e dinâmica, sobre a língua portuguesa e

o fenômeno das linguagens de modo geral. Isso não quer dizer que a prova despreze o registro padronizado e culto, ou que você

esteja liberado para fugir das regularidades gramaticais formalmente autorizadas em sua redação, por exemplo. O Enem, no

entanto, também avalia sua capacidade de reconhecimento das variantes linguísticas e sua compreensão de textos produzi-

dos em diferentes registros de linguagem.

Aliás, há uma competência específica avaliada pelo teste da área de Linguagens, Códigos e suas Tecnologias e três habilidades

sobre as variantes associadas a ela. Veja:

Competência de área 8 – Compreender e usar a língua portuguesa como língua ma-

terna, geradora de significação e integradora da organização

do mundo e da própria identidade.

H25 – Identificar, em textos de diferentes gêneros, as marcas linguísticas que singula-

rizam as variedades linguísticas sociais, regionais e de registro.

H26 – Relacionar as variedades linguísticas a situações específicas de uso social.

H27 – Reconhecer os usos da norma-padrão da língua portuguesa nas diferentes situações

de comunicação.

Algumas observações cabem aqui. A afirmação de que a língua portuguesa é “integradora da organização do mundo e da pró-

pria identidade” é poderosa! Por meio da língua, manifestamos quem somos, de onde viemos, de que lugar histórico, social e po-

lítico falamos e nos fazemos ouvir. Logo, textos de ensaios acadêmicos, que se expressam por meio do registro-padrão, podem

estar ao lado de uma letra de rap ou de uma canção típica do meio rural. Cada um desses textos demarcará uma visão de mundo,

por meio também de peculiaridades de linguagem. Cada um, em suma, terá um vocabulário próprio, construções sintáticas di-

ferentes, maneiras distintas de manobrar o idioma.

Sem pensar em hierarquias de melhor ou pior, o Enem propõe que pensemos a língua portuguesa em sua diversidade. Singu-

laridades locais ou regionais, adequação da expressão a diferentes contextos – mais ou menos formais – e também as formas de

uso consagradas pela norma gramatical padrão. Por exemplo: na sentença “Tem um problema no sistema”, o que marca a infor-

malidade? O aluno deverá reconhecer que o uso do verbo ter com sentido de haver é um sinal de que a frase é própria de situa-

ções informais. Em contextos mais monitorados, dar-se-ia (olha a mesóclise aí!) preferência ao verbo haver.

Em tempo: mesmo nas gramáticas mais normativas, prescritivas e tradicionais, a mesóclise é considerada uma forma de co-

locação pronominal em desuso.

Em tempo, ainda: propusemos acima uma pergunta: a língua é uma questão política? Sim, é. Acreditamos ter justificado a resposta.

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Linguagens

55

GabaritoConfira as resoluções no Portal de seu Sistema de Ensino.

1. d 2. a

O texto a seguir fundamenta as questões 1 e 2.

O rap nasceu como manifestação artística da juventude negra urbana dos Estados Unidos. No Brasil, o estilo musical, marcado pela denúncia social direta em relação à vida nas grandes cidades e suas periferias, tem no grupo paulistano Racionais MC’s uma de suas principais referências. A música “Homem na estrada” é uma das canções mais conhecidas do rap brasileiro. Leia alguns trechos.

Homem na estrada

[...]Amanhece mais um dia e tudo é exatamente igual. Calor insuportável, 28 graus. Faltou água, já é rotina, monotonia, não tem prazo pra voltar, hã!,já fazem cinco dias.

[...]Empapuçado ele sai, vai dar um rolê. Não acredita no que vê, não daquela maneira, crianças, gatos, cachorros disputam palmo a palmo seu café da manhã na lateral da feira. Molecada sem futuro, eu já consigo ver, só vão na escola pra comer [...]

(Vagalume. Disponível em: <www.vagalume.com.br/racionais-mcs/homem-na-estrada.html#ixzz3uf9v2uu7>. Acesso em: 17 nov. 2016.)

1 C5/H16 Sobre as formas utilizadas na composição, afirma-se que:a) a letra se compõe por versos livres e sem rima.b) a canção se estrutura com grande regularidade métrica.c) o desprezo pela rima é característico do gênero composicional.d) a letra apresenta rimas assonantes e aproximativas.e) a proximidade com a linguagem oral impede regularidades

formais.

2 C8/H25 A letra da canção apresenta fortes marcas de oralidade, típicas do gênero musical rap.Tais marcas ficam evidentes no(a):a) composição das rimas, que remetem à linguagem falada.b) flexão verbal em tempo presente, que não se adéqua ao contexto.c) uso de termos coloquiais, como “empapuçado” e “feira”.d) uso constante da primeira pessoa, que aumenta a subjetividade.e) caráter abreviado dos versos e de suas construções sintáticas.

Atividades

Texto II

Palavras do arco-da-velha

Expressão Significado

Cair nos braços de Morfeu Dormir

Debicar Zombar, ridicularizar

Tunda Surra

Mangar Escarnecer, caçoar

Tugir Murmurar

Liró Bem-vestido

Copo-d'água Lanche oferecido pelos amigos

Convescote Piquenique

Bilontra Velhaco

Treteiro de topete Tratante atrevido

Abrir o arco Fugir

FIORIN, J. L. As línguas mudam. In: Revista Língua Portuguesa, n. 24, out. 2007 (adaptado).

Na leitura do fragmento do texto “Antigamente”, constata-se, pelo emprego de palavras obsoletas, que itens lexicais outrora produtivos não mais o são no português brasileiro atual. Este fenômeno revela que:a) a língua portuguesa de antigamente carecia de termos para se

referir a fatos e coisas do cotidiano.b) o português brasileiro se constitui evitando a ampliação do léxico

proveniente do português europeu.c) a heterogeneidade do português leva a uma estabilidade do seu

léxico no eixo temporal.d) o português brasileiro se apoia no léxico inglês para ser

reconhecido como língua independente.e) o léxico do português representa uma realidade linguística

variável e diversificada.

Alternativa: eA questão apresenta alternativas que podem confundir o aluno menos atento ao tema da variação linguística. A alternativa a, por exemplo, chama a atenção ao uso de termos de língua estrangeira presentes no texto I e relaciona-o a uma suposta carência de palavras no português. Além de não abranger todas as diferenças, trata-se de afirmação errada, pois a influência de línguas estrangeiras é um processo que não tem relação necessária com insuficiências da língua materna. A alternativa b é evidentemente errada, pois toda a ampliação lexical constitui um desvio local do português brasileiro perante o original europeu. A alternativa c utiliza termos sofisticados para afirmar exatamente o contrário do que demonstram os textos-base, ou seja, a mudança (ou instabilidade) lexical. A alternativa d reitera o desvio de leitura sugerido pela alternativa a. Já a alternativa e, correta, sintetiza o próprio conceito de variação linguística.

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MatemáticamMatemáticamMatemática

56

Grandezas proporcionais e

adestramento caninoMichele é dona de um pequeno centro de adestramento canino, no interior do estado de

São Paulo. Apesar de não ser uma empresa de grande porte, ela tem tido um bom destaque

no ramo ultimamente, pois seus cães têm vencido três de cada quatro torneios disputados.

Atualmente, em decorrência da atenção que o centro de adestramento ganhou, os ne-

gócios deram uma boa expandida. Assim, Michele já não tem tido o mesmo tempo para

adestrar e tem-se dedicado mais à administração do centro.

Hoje ela estuda a possibilidade de adoção de mais 4 cães, que foram encontrados por

uma amiga e acolhidos temporariamente em sua casa.

O centro conta atualmente com 20 cães adultos, que comem em média a mesma quantidade

de ração. Assim, a ração estocada (120 kg) deve durar mais 16 dias. Como Michele é bem orga-

nizada e cuidadosa, há uma nova entrega de ração programada para daqui a 14 dias. Querendo

acolher os novos cães (também adultos) no prazo de três dias, Michele precisa saber se a quan-

tidade de ração será sufi ciente ou se precisará pedir aos fornecedores que adiantem a entrega.

Para resolver tal situação, vamos retomar alguns conceitos importantes.

Razões entre grandezasTudo aquilo que se pode medir ou contabilizar pode ser chamado de grandeza. E ra-

zão é uma das maneiras de se comparar grandezas.

• Razões entre grandezas do mesmo tipo

Quando indicamos uma razão entre duas grandezas do mesmo tipo, essas grandezas

devem estar na mesma unidade e o resultado será um número puro (sem unidade), como

em escalas de mapas, por exemplo.

Se um mapa for representado em uma escala de 1 : 5 000 (lemos: “1 para 5 000”), signifi -

ca que cada unidade de comprimento medida no mapa corresponde, na realidade, a 5 000

unidades de mesma dimensão, ou seja, cada centímetro medido no mapa corresponde a

5 000 cm = 50 metros.

Os exemplos de aplicações são incontáveis; até mesmo a probabilidade simples de um

evento ocorrer é calculada pela razão entre o número de eventos favoráveis e o número

de eventos possíveis.

• Razões entre grandezas diferentes

Existem inúmeras aplicações, nas mais diversas áreas, deste tipo de razão. Por exem-

plo, a velocidade de um móvel pode ser dada pela razão entre a medida do deslocamento

e o tempo gasto nesse movimento; a densidade de um corpo é a razão entre sua massa e

seu volume; a concorrência de um curso superior pode ser dada na razão de candidatos

por vaga; muitos remédios têm suas dosagens indicadas em mg ou mL, por quilograma de

massa do paciente.

Em profundidade

Para mostrar mais uma

aplicabilidade de grandezas

proporcionais, destacamos

recurso do projeto

M3 Matemática Multimídia,

desenvolvido pela Universidade

Estadual de Campinas

(Unicamp):

A velha história das multidões.

Disponível em: <http://m3.ime.

unicamp.br/recursos/1189>.

Acesso em: 14 out. 2016.

Para ir ainda mais além,

sugerimos o livro A Matemática

e a Monalisa, de Bülent Atalay,

publicado pela Mercuryo

Editora. Nesse livro, o autor nos

conduz a passeios por diversas

épocas e locais, analisando a

presença de uma das constantes

mais famosas e intrigantes

da Matemática em obras de

arte, na Arquitetura e no corpo

humano: a razão áurea.

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pro

du

çã

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k

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57

ProporçãoEste é o nome que se dá à igualdade entre duas razões.

Assim, ab

cd

= (lemos: “a está para b, assim como c está para

d”), com b ≠ 0 e d ≠ 0, é um exemplo de proporção. Tal proporção

possui diversas propriedades importantes.

Vamos rever as seguintes propriedades da proporção anterior:

=ac

bd

db

ca

= ad = bc

Grandezas proporcionaisLendo a história do centro de adestramento de Michele, per-

cebemos que algumas grandezas, dentro de determinado con-

texto, dependem umas das outras. No texto citado temos quan-

tidades de cães, ração e dias (duração da ração em estoque),

todas grandezas proporcionais.

Para você entender melhor, vamos começar comparando as

duas últimas (quantidades de ração e dias).

De acordo com o texto, o estoque é de 120 kg de ração e deve

ser suficiente para 16 dias. Assim, podemos inferir que a meta-

de dessa quantidade de ração seria suficiente para a metade da

quantidade de dias, o triplo dessa quantidade de ração seria su-

ficiente para o triplo da quantidade de dias, e assim por diante.

Veja a tabela com algumas situações:

Ração (kg)

120 60 240 30 15 45 90

Tempo (dias)

16 8 32 4 2 6 12

As duas grandezas da tabela apresentada comportam-se da

mesma maneira, ou seja, são grandezas diretamente pro-

porcionais. Nesse caso, a razão entre elas é sempre constante.

Observe:12016

=608

=24032

=304

=152

=456

=9012

= L

Logo, utilizando uma proporção entre essas duas grandezas,

podemos calcular quantos quilogramas de ração serão gastos nos

próximos três dias (antes de o centro receber os novos animais):

x

Ração (kg)

120

Tempo (dias)

163

A situação, assim proposta, é chamada de regra de três simples.

Como as grandezas são diretamente proporcionais, podemos

escrever a seguinte proporção:

x120

=163

De acordo com uma das propriedades que destacamos ante-

riormente, temos:

xx x

120=

163

16 = 360 = 22, 5 kg⇒ ⇒

Portanto, nesses três dias, serão gastos 22,5 kg de ração, sobran-

do (120 – 22,5) 97,5 kg, para os (20 + 4) 24 cães, por (12 – 3) 9 dias,

até a entrega do novo carregamento de ração. Contudo, isso será

suficiente?

Assim, ao fazer uma regra de três simples entre grandezas

diretamente proporcionais, basta montar uma proporção

entre essas grandezas.

Agora, continuando nossos estudos, vamos determinar quan-

to tempo duraria a ração do estoque se Michele aceitasse os

4 novos cães no mesmo dia (ou seja, não esperasse 3 dias).

De acordo com o texto, os 20 cães consumiriam toda a ração

em 16 dias. Portanto, podemos inferir que a metade dessa quan-

tidade de cães consumiria essa ração no dobro do tempo, o triplo

da quantidade de cães consumiria toda a ração em um terço do

tempo, e assim por diante. Veja a tabela com algumas situações:

Cães (unidades)

20 10 60 40 5

Tempo (dias)

16 3216Ñ

38 64

As duas grandezas estudadas comportam-se de maneira in-

versa, ou seja, são grandezas inversamente proporcionais.

Em tal caso, o produto entre elas é sempre constante. Repare:

20 · 16 = 10 · 32 = 60 · 163

= 40 · 8 = 5 · 64 = ...

Podemos determinar quanto tempo o estoque de ração dura-

ria para 24 cães também usando uma regra de três simples:

y

Cães (unidades)

2024

Tempo (dias)

16

No entanto, como as grandezas são inversamente proporcio-

nais, só podemos montar uma proporção ao inverter uma das

razões. Assim, temos:

y2420

=16

De acordo com uma das propriedades que destacamos aqui,

temos:

y yy y

2420

=16 6

5=

166 = 80 = 13, 3 dias⇒ ⇒ ⇒

Logo, a ração acabaria antes da nova entrega e Michele fez

bem em esperar.

De modo geral, ao fazer uma regra de três simples entre

grandezas inversamente proporcionais, montamos uma pro-

porção entre tais grandezas invertendo uma das razões.

Regra de três compostaAgora que retomamos todos esses conceitos, vamos fechar

esta edição do Atualiza Enem de Matemática respondendo à

questão inicial: recebendo os novos cães em três dias, a quanti-

dade de ração no estoque será suficiente?

Até agora, sabemos que nos próximos três dias devem ser

consumidos 22,5 kg de ração, sobrando 97,5 kg para 24 cães. Va-

mos ver para quanto tempo tal quantidade será suficiente, fa-

zendo uma regra de três composta para as três grandezas (cães,

ração e tempo):

z

Cães (unidades)

2024

Ração (kg)

12097, 5

Tempo (dias)

16

Para resolver uma regra de três composta, primeiramente

comparamos cada uma das grandezas àquela que tem a incóg-

nita. Em seguida, igualamos a razão da grandeza da incógnita ao

produto das outras razões (ou razão inversa, se as grandezas fo-

rem inversamente proporcionais). Assim, como tempo e ração

são diretamente proporcionais, enquanto tempo e cães são in-

versamente proporcionais, temos:

⋅ ⇒ ⋅ ⇒ ⇒z z z

z16

=2420

12097, 5

16=

65

12097, 5

16=

720487, 5

= 10, 83 dias

Como a nova entrega de ração será feita 11 dias após a recepção

dos novos cães, o estoque será aproximadamente adequado.

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Matemática

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1.  d      2.  aGabarito

1 C3/H12 O valor calórico de uma refeição, em kcal, é calculado de acordo com a quantidade de carboidratos, proteínas e gorduras totais. Em média, os carboidratos e as proteínas fornecem 4 kcal/g e as gorduras, 9 kcal/g. A tabela a seguir descreve os componentes nutricionais de uma refeição.

Alimento Carboidrato Proteína Gordura total

Arroz (100 g) 25,8 g 2,6 g 1,0 g

Feijão (80 g) 10,8 g 3,8 g 0,4 g

Carne moída (120 g) 0,0 g 32,0 g 13,0 g

Agrião (50 g) 1,1 g 1,3 g 0,1 g

Goiaba (80 g) 10,4 g 0,9 g 0,3 g

(Enem-MEC) A Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) de São Paulo testou em 2013 novos radares que permitem o cálculo da velocidade média desenvolvida por um veículo em um trecho da via.

As medições de velocidade deixariam de ocorrer de maneira instantânea, ao se passar pelo radar, e seriam feitas a partir da velocidade média no trecho, considerando o tempo gasto no percurso entre um radar e outro. Sabe-se que a velocidade média é calculada como sendo a razão entre a distância percorrida e o tempo gasto para percorrê-la.O teste realizado mostrou que o tempo que permite uma condução segura de deslocamento no percurso entre os dois radares deveria ser de, no mínimo, 1 minuto e 24 segundos. Com isso, a CET precisa instalar uma placa antes do primeiro radar informando a velocidade média máxima permitida nesse trecho da via. O valor a ser exibido na placa deve ser o maior possível, entre os que atendem às condições de condução segura observadas.

Disponível em: <www1.folha.uol.com.br/>. Acesso em: 11 jan. 2014.

C4 Construir noções de variação de grandezas para a compreensão da realidade e a solução de problemas do cotidiano. 

H17 Analisar informações envolvendo a variação de grandezas como recurso para a construção de argumentação.

Em foco

Atividades

Com base apenas nas informações aqui apresentadas, sabe-se que o valor calórico dessa refeição é:a) 397,8 kcalb) 414,0 kcalc) 426,6 kcal

d) 488,0 kcale) 512,4 kcal

2 C4/H16 Para a inauguração de duas novas unidades, uma escola de idiomas realizou dois coquetéis com alunos e professores. No primeiro, com 3 horas de duração, o buffet contratado serviu 54 kg de petiscos, 63 garrafas de refrigerante e 36 L de suco. No segundo, com uma hora a menos de duração, foi solicitado ao buffet que a quantidade de alimentos e bebidas continuasse proporcional ao primeiro, por pessoa e por hora. A expectativa da gerência das escolas é que compareçam aos dois eventos, ao todo, 363 pessoas, na razão de 6 para 5, do primeiro para o

segundo. Assim, o buffet deverá servir no segundo coquetel:a) 30 kg de petiscos, 35 garrafas de refrigerante e 20 L de suco.b) 45 kg de petiscos, 50 garrafas de refrigerante e 30 L de suco.c) 36 kg de petiscos, 42 garrafas de refrigerante e 24 L de suco.d) 45 kg de petiscos, 42 garrafas de refrigerante e 36 L de suco.e) 54 kg de petiscos, 50 garrafas de refrigerante e 24 L de suco.

A placa de sinalização que informa a velocidade que atende a essas condições é:

a) 25km/h

b) 69km/h

c) 90km/h

d) 102km/h

e) 110km/h

Alternativa: cEsta atividade verifica a habilidade do aluno na identificação e na análise de grandezas proporcionais, bem como no trabalho com unidades de medida.Como as velocidades apresentadas estão dadas em km/h, vamos começar a resolução convertendo o tempo mínimo do trajeto para hora. 1 minuto e 24 segundos = 84 segundosComo 1 hora = 3 600 segundos, então 84 segundos correspondem

a 84

3 600=

7

300hora.

Assim, como velocidade é uma razão entre a medida de um deslocamento e o tempo gasto nele, temos:

⇒ ⋅ ⇒v v v=2,1

7

300

= 2,1300

7= 90 km/h

Portanto, para que se possa percorrer a distância entre um radar e outro, no mínimo em 1 minuto e 24 segundos, a velocidade máxima deve ser de 90 km/h.

Confira as resoluções no Portal de seu Sistema de Ensino.

EN

EM

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014

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CiênciasNaturezadaCiênciasdaCiênciasNaturdaNatur

59

Em profundidade

<www.abcd.gov.br/>Site da Autoridade Brasileira de Controle de Dopagem (ABCD) com a lista de substâncias proibidas no esporte, a legislação e outras informações sobre os procedimentos relativos ao controle da dopagem. Acesso em: 23 out. 2016.

<http://abcd.gov.br/arquivos/CodigoMundialAntidopagem/Cdigo_Mundial_Antidopagem_2015_Portugus_-_WEB.pdf>Código Mundial Antidopagem, 2015. Acesso em: 23 out. 2016.

<www.abcd.gov.br/arquivos/lista20150101.pdf>Lista das substâncias proibidas no esporte. Acesso em: 23 out. 2016.

Doping e Olimp’adas

O uso de qualquer droga que possa melhorar o desempenho ou fazer mal à saúde dos

atletas é considerado doping, segundo a AMA (Agência Mundial Antidoping). O termo

"droga" não se refere apenas às substâncias ilícitas, mas a todas aquelas, naturais ou sin-

téticas, que alteram o funcionamento do organismo; portanto, inclui os medicamentos. O

doping está presente desde a Antiguidade nos Jogos Olímpicos. Há relatos do escritor gre-

go Philostratus sobre o uso de chás e cogumelos por atletas em Olímpia, na Grécia antiga.

Mas, em 1968, começaram os primeiros testes antidoping nos Jogos Olímpicos.

Os testes são realizados em amostra de sangue ou urina do atleta, esporadicamente, sem

aviso prévio, antes ou após as competições. O fator surpresa é importante para impedir

que o atleta, com base no calendário de competições, interrompa o uso da droga e limpe o

organismo antes dos jogos, mascarando o doping. Ser fl agrado pode resultar em perda de

medalha, em suspensão e até no fi m de uma carreira. Os principais tipos de substâncias

utilizados, apesar de proibidos, são: anabolizantes, estimulantes, fatores de crescimento,

diuréticos e analgésicos narcóticos.

Anabolizantes, como esteroides androgênicos anabólicos, são hormônios sintéticos que

imitam a testosterona (produzida a partir do colesterol). Apesar de ser conhecida como

um hormônio masculino, a testosterona (produzida nos testículos) também é encontrada

nas mulheres, em menor quantidade (produzida nas glândulas adrenais ou suprarrenais).

Seus efeitos incluem ação andrógena (desenvolvimento de características sexuais mascu-

linas, como voz mais grossa, crescimento do órgão sexual, aumento de pelos nas axilas e

nos genitais, barba e bigode, agressividade, etc.) e ação anabólica (diminuição da gordura

corporal e aumento da massa muscular e da força). Os anabolizantes também aumentam

o número de hemácias e a capacidade respiratória. Porém, podem causar câncer de fígado,

impotência sexual, esterilidade, infarto, etc.

Reprodução/<http://w

ww.abcd.gov.br>

andriano.cz/Shutterstock

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60

Alguns hormônios e fatores de crescimento são:

LH, GH, hCG, eritropoetina e insulina. O LH é um

hormônio produzido pela adenoipófise que promo-

ve a ovulação (nas mulheres) e estimula os testículos

(nos homens) a liberarem a testosterona, causando

o aparecimento de características sexuais secundá-

rias, entre elas o desenvolvimento da musculatu-

ra. Assim, o uso de LH pelos homens tem um efeito

anabolizante indireto, por estimular a produção de

testosterona.

O GH, ou hormônio do crescimento, também é

produzido pela adenoipófise e age na epífise dos os-

sos e no aumento muscular (efeito desejado no do-

ping). Sua produção anormal durante a infância

pode causar o gigantismo (excesso de GH) ou o na-

nismo (falta de GH), e seu excesso na vida adulta

causa a acromegalia (crescimento de extremidades,

como mãos, pés e queixo). Já o hCG é um hormônio

placentário identificado na urina, nos testes de gra-

videz comprados em farmácias, mas que também es-

timula a produção de hormônios esteroides; assim,

tem efeito anabolizante indireto.

A insulina, hormônio produzido no pâncreas, di-

minui a glicemia (taxa de glicose no sangue), pois faz

com que a glicose (monossacarídeo) seja armazenada

dentro das células na forma de glicogênio (polissaca-

rídeo). Contudo, a insulina também altera o metabo-

lismo e tem efeito anabolizante. Ela é permitida, po-

rém para os atletas com diabetes melito.

A eritropoetina é um hormônio produzido nos rins

(85%) e no fígado (15%) que estimula a síntese de

hemácias pela medula óssea. Com mais hemácias, há

maior transporte de O2, aumentando, assim, a taxa

de respiração celular e, consequentemente, de gera-

ção de energia para os músculos. Isso permite maior

esforço muscular, utilizando o metabolismo aeróbi-

co para a produção de energia, diminuindo efeitos

de câimbra e dor causados pelo ácido láctico gera-

do pelo metabolismo anaeróbico. A liberação desse

hormônio é naturalmente estimulada em situações

de hipóxia, seja por hemorragia, seja por baixa con-

centração de O2 em altas altitudes. A eritropoetina

pode causar hipertensão e infarto como efeitos cola-

terais do doping.

Os analgésicos narcóticos, como a morfina, dimi-

nuem a dor e são utilizados, principalmente, em es-

portes de alta resistência. Por ocultar a sensação de

dor, eles podem levar ao agravamento das lesões, caso

o atleta aumente o esforço. Estimulantes como anfe-

taminas e efedrina (para emagrecer) agem no sistema

nervoso central, com efeitos análogos aos da adrena-

lina (aumento da frequência respiratória e cardíaca).

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Ciências da Natureza

61

Confira as resoluções no Portal de seu Sistema de Ensino. Gabarito 1.  d      2.  c

1 C4/H14 Um grupo de substâncias proibidas nos Jogos Olímpicos é o dos anabolizantes, como os esteroides androgênicos anabólicos, hormônios sintéticos que mimetizam a testosterona. Esta última é um hormônio sexual sintetizado a partir do colesterol, que pode alterar o funcionamento do organismo. Assim:

a) as mulheres não devem fazer uso de testosterona, pois é um hormônio masculino.b) as mulheres não devem fazer uso de testosterona, pois aumenta o colesterol no organismo devido ao fato de ser um hormônio esteroide

(lipídico).c) as mulheres devem evitar o uso de testosterona, já que é um hormônio sintetizado exclusivamente pelos testículos.d) as mulheres devem evitar o uso de testosterona, pois o excesso desse hormônio já existente em seu corpo pode alterar o funcionamento

do organismo.e) as mulheres podem utilizar esse hormônio, uma vez que é exclusivamente masculino e, portanto, não altera funções no corpo da mulher.

2 C4/H14 Um atleta brasileiro ficou de fora das Olimpíadas do Rio 2016 ao ser flagrado no teste antidoping pelo uso de uma das substâncias proibidas pela AMA (Agência Mundial Antidoping), a EPO, que é semelhante à eritropoetina, hormônio produzido nos rins e que atua na produção de novas hemácias. O hormônio eritropoetina, a versão natural da EPO, é uma substância:

a) produzida por glândulas exócrinas, localizadas em nossos rins.b) que age nas células renais, aumentando a quantidade de hemácias.c) que age na medula óssea, aumentando a taxa de eritrócitos.d) que tem como consequência o aumento do metabolismo anaeróbico, por atuar na produção de novas hemácias.e) que tem sua liberação estimulada naturalmente em locais de baixa altitude.

Atividades

(Enem-MEC) A adaptação dos integrantes da seleção brasileira de futebol à altitude de La Paz foi muito comentada em 1995, por ocasião de um torneio, como pode ser lido no texto a seguir. “A seleção brasileira embarca hoje para La Paz, capital da Bolívia, situada a 3 700 metros de altitude, onde disputará o Torneio Interamérica. A adaptação deverá ocorrer em um prazo de 10 dias, aproximadamente. O organismo humano, em altitudes elevadas, necessita desse tempo para se adaptar, evitando-se, assim, risco de um colapso circulatório.” (Adaptado da revista Placar, edição fev. 1995.)A adaptação da equipe foi necessária principalmente porque a atmosfera de La Paz, quando comparada à das cidades brasileiras, apresenta:

a) menor pressão e menor concentração de oxigênio.b) maior pressão e maior quantidade de oxigênio.c) maior pressão e maior concentração de gás carbônico.d) menor pressão e maior temperatura.e) maior pressão e menor temperatura.

Alternativa: aEm altitudes elevadas há menos ar (ar rarefeito) e consequentemente menos gás oxigênio. Absorvendo menos gás oxigênio pelos pulmões ocorre queda da pressão parcial de oxigênio no sangue, o que estimula os rins a produzirem eritropoetina (hormônio), que age na medula óssea promovendo o aumento de hemácias (células vermelhas do sangue que possuem hemoglobina). A hemoglobina é um pigmento respiratório vermelho que transporta gás oxigênio.

C8 Apropriar-se de conhecimentos de Biologia para, em situações-problema, interpretar, avaliar ou planejar 

intervenções científico-tecnológicas. 

H28 Associar características adaptativas dos organismos com seu modo de vida ou seus limites de distribuição 

em diferentes ambientes, em especial em ambientes brasileiros.

Em foco

Os diuréticos podem ser utilizados para diminuir o peso

do atleta para competir em uma categoria de peso mais leve

do que aquela em que geralmente se enquadra. Isso pode

ocorrer, por exemplo, com boxeadores. Nosso corpo produz

hormônios que evitam a diurese (eliminação de urina pe-

los rins), ou seja, de efeito inverso ao dos diuréticos. O ADH

(hormônio antidiurético), produzido pelo hipotálamo e libe-

rado pela neuroipófise, e a aldosterona (hormônio produzi-

do pelas adrenais) agem nos túbulos renais, promovendo a

reabsorção de água. O ADH faz com que a água volte para o

sangue por osmose; e a aldosterona promove a reabsorção

de sais (por exemplo, o sódio) e, consequentemente, de água.

Também é proibido injetar sangue ou derivados, que

poderiam aumentar o transporte de oxigênio e, por con-

seguinte, o metabolismo aeróbico. Já a dopagem genética,

como a transferência de ácidos nucleicos ou o uso de célu-

las normais ou geneticamente modificadas, ainda não foi

detectada, porém também é proibida.

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CiênciascCiênciascCiênciasHumanasHCiênciasHCiênciasHumanasHHumanas

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Em profundidade

Livro

Dicionário da escravidão

negra no Brasil, de Clóvis Moura. Último livro do cientista social e fundador do Instituto Brasileiro de Estudos Africanistas, Clóvis Moura ( falecido em 2003), o dicionário é uma referência para a compreensão da exclusão (humana, social e cultural) imposta ao negro em nosso país.

Site

<http://censo2010.ibge.gov.br/>

O site apresenta diversos dados detalhados obtidos a partir do Censo 2010, ampliando as informações com material e indicações complementares.

Filme

Uma história de amor e fúria. Direção: Luiz Bolognesi, 2012, Buriti Filmes.

Este fi lme é uma animação que retrata o amor entre um herói imortal e Janaína, a mulher por quem é apaixonado há 600 anos. Como pano de fundo do romance, o longa ressalta quatro fases da história do Brasil: a colonização, a escravidão, o regime militar e o futuro, em 2096, quando haverá guerra pela água.

A conquista da América: escravidão e resistência

A conquista da América pelos portugueses é um episódio da História que causa po-lêmica e grandes discussões. A colonização do continente americano é um processo que resultou da ocupação do território pelos europeus, com o objetivo de dominar e explorar as riquezas naturais e os povos que habitavam a América. A construção de histórias oficiais e nacionalistas ao longo do século XIX pelas nações americanas re-cém-independentes tinha um viés eurocêntrico que transformou a colonização em um processo de “descoberta” do continente pelos europeus, silenciando as tradições, a cultura, o conhecimento e a história dos povos tradicionais que foram mortos, escra-vizados ou aculturados ao longo dos séculos de dominação. Os povos da África que fo-ram escravizados e utilizados como a principal mão de obra no Brasil colônia também foram silenciados na construção dessa história oficial do século XIX.

Chegamos ao século XXI reconhecendo e nos identificando como uma nação ne-gra e indígena. O Censo demográfico 2010 aponta que 50,7% da população se auto-declara preta (7,6%) e parda (43,1%) e que 0,4% se autodeclara indígena (305 etnias

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e 274 línguas indígenas). Reafirmar as identidades africa-na e indígena no Censo, na construção da história pessoal e familiar, nos aspectos culturais e em suas vivências co-tidianas é uma atitude de resistência, que nos possibili-ta problematizar a visão eurocêntrica construída sobre o processo de colonização da América.

A escravidão indígena e africana no Brasil colonial foi uma relação violenta que resultou no controle e na explo-ração da capacidade de trabalho de um ser humano por outro. Na escravidão, diversos aspectos da vida dos indí-genas e dos povos da África foram explorados: os conhe-cimentos sobre o uso de ervas medicinais; as técnicas de cultivo e os saberes sobre a alimentação; o vocabulário, as músicas, as danças e diversas manifestações culturais; as crenças religiosas e as visões de mundo construídas em cada sociedade; a capacidade de produzir e utilizar ferra-mentas, construir objetos; as diferentes formas de orga-nização social, o estabelecimento de hierarquias, as divi-sões de trabalho e as interações sociais; enfim, todos os aspectos mais complexos presentes em seres humanos e na vida em sociedade de indígenas e dos povos da África foram explorados, dominados, apropriados e silenciados pelos europeus durante a colonização da América.

As fugas, as revoltas, a construção de quilombos, a ma-nutenção de aspectos culturais são exemplos de resis-tência das populações indígena e africana e de seus des-cendentes em relação à escravidão durante o período colonial. A luta mais imediata dessas populações escravi-zadas era pela sobrevivência e pela libertação. Os séculos de disputas permitiram a construção de identidades que aproximaram etnias diversas entre si sob uma denomina-ção comum: indígena e africana. Os efeitos que a escravi-dão indígena e africana têm na sociedade brasileira atual e as reivindicações para a conquista da cidadania plena pelos descendentes dessas populações escravizadas dialo-gam diretamente com as experiências históricas que mar-caram o período colonial do Brasil.

Os europeus construíram os termos “indígena” e “afri-cano” como sinônimos de “selvageria”, “barbárie”, “povos atrasados, sem cultura e sem história”. Com o processo de independência do Brasil, a abolição da escravidão e a Pro-clamação da República, esses termos passaram a ser asso-ciados à pobreza, ao alcoolismo, à prostituição, à violência, à marginalidade, ao exotismo, ao feio, àquilo que deve ser eliminado. A escravidão resultou na construção de uma so-ciedade com grande desigualdade econômica e social, uma vez que a libertação dessas pessoas escravizadas não in-cluiu a inserção de tais grupos na cidadania. Os direitos à educação, à moradia, à saúde, ao transporte não estavam destinados a populações que eram vistas a partir de este-reótipos construídos historicamente e que deslegitimavam seus direitos, os desumanizando. A escravidão não foi só

uma relação de violência física para o domínio do corpo de outro ser humano, mas também uma relação de violência psicológica e emocional, que invalidou a identidade, os sa-beres e a cultura dos indígenas e dos povos da África escra-vizados, associando-os à origem de todos os problemas da sociedade.

No Brasil do século XXI, vários movimentos sociais reivindicam a construção de novos significados para os termos “indígena” e “africano”, ressaltando todos os as-pectos silenciados, dominados e explorados ao longo dos períodos colonial e imperial. Os indígenas evidenciam sua diversidade étnica, nomeiam suas culturas, articu-lam-se para a defesa do direito à terra, enfrentam a vio-lência e o projeto de extermínio comandado por latifun-diários, utilizam a literatura, o cinema e a música para enaltecer e divulgar suas tradições e visões de mundo, fortalecem suas identidades a partir dos conhecimentos compartilhados e da presença na universidade. A popu-lação negra brasileira articula-se em diversos movimen-tos sociais que destacam a valorização estética e cultural das tradições africanas, lutam pelos direitos das mulhe-res negras (acesso a creches, fim do estereótipo “mulata ‘tipo exportação’”, igualdade salarial e o próprio direito à vida, uma vez que houve um aumento de mais de 50% no número de mulheres negras assassinadas no país nos úl-timos 10 anos – dados retirados do estudo Mapa da Vio-

lência 2015: Homicídios de Mulheres no Brasil, realizado pela Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais, a pedido da ONU Mulheres), pelos direitos da juventude negra (acesso à educação e à saúde pública de qualida-de, além de moradia; fim das mortes dos jovens negros no Brasil, especialmente em função das armas de fogo. Dados da Anistia Internacional indicam que, em 2012, 56 000 pessoas foram assassinadas no Brasil. Destas, 30 000 são jovens entre 15 e 29 anos e, desse total, 77% são negros), utilizando a música, a literatura, o cinema e a presença nas faculdades para reafirmar suas tradições, seus saberes, suas identidades e suas manifestações cul-turais (por exemplo, a prática de religiões de matriz afri-cana, como a umbanda e o candomblé, sem que ocorram ataques ou demonstração de qualquer tipo de precon-ceito), a luta para garantir uma ocupação igualitária nos postos de trabalho.

A resistência aos efeitos causados pela prática escravo-crata no Brasil permanece e se torna cada vez mais inten-sa, sobretudo quando há políticas públicas e apoio insti-tucional/midiático a tais comportamentos. Para superar o passado escravocrata e eliminar os efeitos dessa prática na sociedade atual, é necessário dar voz a todos os descen-dentes das populações escravizadas para que suas identi-dades tragam a riqueza, a diversidade e os saberes silen-ciados ao longo de séculos.

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Ciências Humanas

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GabaritoConfira as resoluções no Portal de seu Sistema de Ensino.

1.  c      2.  d

1 C1/H4 Leia o texto.

Para alguns autores, estudiosos do assunto, a capoeira foi uma invenção do negro na África, onde existia como forma de dança ritualística. Mais tarde, com o processo do colonialismo brasileiro e com a chegada dos negros escravos originários da África, aqui a capoeira apareceu como forma de defesa pessoal dos escravos contra seus opressores do engenho (SANTOS, 1990, p. 19). [...] Em 1890 a capoeira foi considerada “fora da lei” pelo antigo Código Penal da República. No capítulo que tratava dos vadios e capoeiras, o artigo 402 trazia a penalidade de dois a seis meses de prisão a quem ousasse fazer nas ruas e praças públicas exercício de agilidade e destreza corporal conhecida pela denominação capoeiragem: andar em carreiras, com armas ou instrumentos capazes de produzir lesão corporal, promovendo tumulto ou desordens, ameaçando pessoa certa ou incerta, ou incutindo temor de algum mal (REGO, 1968, p. 292).

FONTOURA, A. R. R.; GUIMARÃES, A. C. de A. História da Capoeira, Revista da Educação Física/UEM, Maringá, v. 13, n. 2, p. 141-150, 2o sem. 2002.

Disponível em: <http://eduem.uem.br/ojs/index.php/RevEducFis/article/viewFile/3712/2553>. Acesso em: 2 nov. 2016.

A capoeira é uma manifestação cultural brasileira e, de acordo com o texto, foi interpretada por seus praticantes e pelo governo brasileiro, respectivamente, como:a) uma dança ritualística africana e uma habilidade corporal típica

do brasileiro.b) um ato de resistência e uma manifestação artística pública.c) uma prática de defesa pessoal e um ato criminoso.d) uma estratégia para garantir o porte de armas e um resgate de

tradições africanas.e) uma ameaça ao poder dos senhores de engenho e uma dança

capaz de causar lesões corporais.

2 C3/H15 Texto I

O número de indígenas que moram em áreas urbanas brasileiras está diminuindo, mas crescendo em aldeias e no campo. O percentual de indígenas que falam uma língua nativa é seis vezes maior entre os que moram em terras indígenas do que entre os que vivem em cidades. As conclusões integram o mais detalhado estudo já feito

Atividades

pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) sobre os povos indígenas brasileiros, baseado no Censo de 2010 e lançado nesta semana. Segundo o instituto, há cerca de 900 mil indígenas no Brasil, que se dividem entre 305 etnias e falam ao menos 274 línguas. Os dados fazem do Brasil um dos países com maior diversidade sociocultural do planeta. Em comparação, em todo o continente europeu há cerca de 140 línguas autóctones, segundo um estudo publicado em 2011 pelo Instituto de História Europeia.

Disponível em: <https://educezimbra.wordpress.com/2016/09/26/305-etnias-e-274-linguas-estudo-revela-riqueza-cultural-entre-indios-no-brasil/>.

Acesso em: 2 nov. 2016.

Texto II

“Novo incêndio e ataque a tiros deixam cerca de 40 guaranis e kaiowás desabrigados em Kurusu Ambá” (13 set. 2016).

Este é o quinto ataque em 2016 contra acampamentos do povo em Kurusu Ambá (Coronel Sapucaia – MS). Em janeiro, um outro acampamento também foi incendiado por pistoleiros – na ocasião, porém, o fogo foi ateado pelos próprios pistoleiros nos barracos e pertences indígenas. O último ataque antes desta terça ocorreu em 12 de julho: pistoleiros cercaram um outro acampamento e atiraram contra os indígenas.

Disponível em: <http://odescortinardaamazonia.blogspot.com.br/2016/09/novo-incendio-e-ataque-tiros-deixam.html>. Acesso em: 2 nov. 2016.

Os textos apresentam informações sobre a população indígena brasileira na atualidade, evidenciando:a) a diversidade cultural indígena e as tradições guerreiras entre as

tribos que habitam o Mato Grosso do Sul.b) o aumento da população indígena nos centros urbanos em

consequência dos conflitos violentos pela posse das terras no campo.c) o sucesso das políticas para demarcação das terras indígenas,

que resultaram no retorno dos indígenas para o campo e no convívio pacífico com os fazendeiros.

d) que o reconhecimento da diversidade étnica indígena não implica o fim dos conflitos e das mortes indígenas pela posse da terra.

e) a semelhança cultural entre as diversas etnias e línguas faladas no país, facilitando a demarcação das terras indígenas de acordo com os interesses do agronegócio.

C1 Compreender os elementos culturais que constituem as identidades. 

H1 Interpretar histórica e/ou geograficamente fontes documentais acerca de aspectos da cultura. 

Em foco

(Enem-MEC) A língua de que usam, por toda a costa, carece de três letras; convém a saber, não se acha nela F, nem L, nem R, coisa digna de espanto, porque assim não têm Fé, nem Lei, nem Rei, e dessa maneira vivem desordenadamente, sem terem além disto conta, nem peso, nem medida.

GÂNDAVO, P. de M. A primeira história do Brasil: história da província de Santa Cruz a que vulgarmente chamamos Brasil. Rio de Janeiro: Zahar, 2004.

(Adaptado).

A observação do cronista português Pero de Magalhães Gândavo, em 1576, sobre a ausência das letras F, L e R na língua mencionada, demonstra a:a) simplicidade da organização social das tribos brasileiras.b) dominação portuguesa imposta aos indígenas no início da

colonização.c) superioridade da sociedade europeia em relação à sociedade

indígena.d) incompreensão dos valores socioculturais indígenas pelos

portugueses.e) dificuldade experimentada pelos portugueses no aprendizado da

língua nativa.

Alternativa: d

a) (F) Não há simplicidade na organização social das tribos indígenas e a observação feita pelo cronista justifica-se a partir do olhar que o europeu construiu sobre as populações indígenas na Idade Moderna.

b) (F) As características ressaltadas pelo cronista foram utilizadas como argumentos para justificar a dominação, mas no documento essas características foram apresentadas como uma constatação feita pelos europeus sobre as sociedades indígenas.

c) (F) Apesar de as sociedades europeias se definirem como “superiores” às sociedades indígenas na Idade Moderna, as características apresentadas pelo cronista resultam de sua observação eurocêntrica a respeito da cultura indígena analisada. Portanto, afirmar que as características ressaltadas pelo cronista demonstram a superioridade europeia é afirmar que a visão eurocêntrica da História é uma verdade absoluta.

d) (V) O cronista utiliza os critérios presentes em sua cultura para analisar e julgar a cultura indígena descrita, apontando “falhas” na cultura indígena por não compreender que cada cultura possui sua própria dinâmica e seus próprios valores.

e) (F) A descrição da falta das letras F, L e R não é alusão à dificuldade para compreender a língua indígena.

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RedaçãoRRRR

65

Em profundidade

Para aqueles que leem em inglês, o jornal britânico The

Telegraph reuniu algumas das melhores frases iniciais da literatura. Vale a pena conferir não só este especial, mas todo o site de cultura do periódico, com artigos instigantes sobre arte, cultura e pensamento. O endereço é <www.telegraph.co.uk/books/what-to-read/30-great-opening-lines-in-literature/>. Acesso em: 5 dez. 2016.

“Professor, como eu começo?”Quando se depara com as linhas distribuídas na folha de redação do Enem, o aluno en-

frenta o desafi o de elaborar suas primeiras sentenças. Todos os professores experientes de produção de texto sabem que muitos estudantes têm difi culdade em iniciar seus textos. Na sala de aula, a afi rmação “Ah, eu não sei como começar” é muito ouvida.

É necessário alertar que a elaboração de um plano de texto antes do início da redação propria-mente dita é fundamental. Pensar antes de iniciar a escrita. Assim, o aluno poderá alinhavar em pequenos tópicos ou itens, no espaço destinado ao rascunho, seu posicionamento em relação ao tema, à tese a ser defendida e aos argumentos que utilizará nos parágrafos de desenvolvimento.

Sem dúvida, a difi culdade de começar estará em grande medida superada. Mesmo as-sim, a introdução é um desafi o. Afi nal, ela estabelece a comunicação inicial com o leitor, aciona o ato de dizer. E isso não é fácil mesmo para escritores experientes.

A primeira frase de um grande romance pode tornar-se um marco da história literária. São célebres alguns inícios:

“As famílias felizes são parecidas, as infelizes o são cada uma a sua maneira.” (Anna Kariêninna, Leon Tolstói)

“Foi o melhor dos tempos, foi o pior dos tempos, foi a idade da sabedoria, foi a idade da imbecilidade, foi a época de acreditar, foi a época da descrença, foi a época da Luz, foi a época da Escuridão.” (Conto de duas cidades, Charles Dickens)

Sem a pretensão de escrever grandes romances (pelo menos por enquanto), o estudante que faz o Enem se preocupa em realizar uma introdução inteligente e consistente com a argumentação.

Há no mínimo dois caminhos lógicos para começar um texto argumentativo. Um, mais próximo do que os fi lósofos chama-riam de indução, quando o relato de uma situação particular faz alusão a um tema geral. Outro, denominado dedução, organi-za as principais ideias logo de início para desenvolvê-las depois.

Imagine que você está diante de uma proposta de redação sobre o crescimento da intolerância e dos crimes de ódio no Brasil (na página seguinte, você a encontrará). Uma possibilidade de contextualização do tema seria a seguinte:

A prática de assassinatos por multidões era comum na Antiguidade, com inúmeros relatos de apedrejamento de pecadores, queima de bruxas, entre outros. A origem da palavra “linchamento” é atribuída a Charles Lynch, fazendeiro da Virgínia, nos Estados Unidos, que punia criminosos durante a Guerra da Independência em 1782; e ao capitão William Lynch, que teria mantido um comitê para a manutenção da ordem no mesmo período. Em 1837, surge a Lei de Lynch (bater com pau), baseada nos atos do fazendeiro, usada para pregar o ódio racial contra negros e índios.

(Portal G1. Disponível em: <http://g1.globo.com/politica/dias-de-intolerancia/platb/>. Acesso em: 17 nov. 2016.)

Neste caso, percebe-se que o redator construiu um recuo histórico. Trata-se de maneira criativa de apresentar o tema e en-caminhar o leitor ao percurso que se seguirá. Para tanto, é necessário ter repertório cultural que se relacione à proposta.

Imagine agora o seguinte início para a mesma redação:

É do professor de História André Luiz Ribeiro, 27 anos, o mais recente relato sobre uma onda de violência baseada na intolerância que persiste no Brasil em 2014. Confundido com um ladrão em São Paulo, ele foi espancado e só conseguiu escapar depois de dar aula sobre Revolução Francesa a um dos bombeiros que o resgataram.

(Portal G1. Disponível em: <http://g1.globo.com/politica/dias-de-intolerancia/platb/>. Acesso em: 17 nov. 2016.)

Indutivamente, o relato sobre o caso do professor de História vítima de uma multidão enfurecida após ser confundido com um ladrão ilustra o tema da intolerância e pode permitir a articulação com uma refl exão analítica sobre a questão. Aqui se re-quer fundamentalmente informação, ou seja, o acompanhamento dos fatos por meio de notícias e reportagens.

Vamos a outra alternativa:

Indivíduos enfurecidos dispostos a espancar até a morte indígenas, negros, moradores de rua e homossexuais. Internautas anônimos que manifestam ódio e preconceito pelas redes sociais. Essas e outras manifestações de intolerância são infelizmente comuns nos dias de hoje no Brasil. As profundas mudanças culturais e transformações de valores, bem como a insegurança econômica produzida pela expansão de formas degradantes de exploração econômica, são os elementos que fomentam tais explosões de ódio.

Aqui o caminho é dedutivo. Perceba que os argumentos já foram lançados no primeiro parágrafo e deverão ser desen-volvidos e ampliados nos parágrafos posteriores.

Qualquer que seja o início de seu texto, boa redação!

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Redação

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Confira as resoluções no Portal de seu Sistema de Ensino.

Proposta de redaçãoCom base na leitura dos textos motivadores seguintes e nos conhecimentos construídos ao longo de sua formação, redija um texto dissertativo-argumentativo em norma-padrão da língua sobre o tema Como lidar com o aumento da intolerância?. Selecione, organize e relacione coerentemente argumentos e fatos para a defesa de seu ponto de vista, respeitando os direitos humanos.

(Enem-MEC – 2a aplicação)Com base na leitura dos textos motivadores seguintes e nos conhecimentos construídos ao longo de sua formação, redija texto dissertativo- -argumentativo em norma-padrão da língua sobre o tema A família contemporânea e o que ela representa para a sociedade. Selecione, organize e relacione coerentemente argumentos e fatos para defesa de seu ponto de vista, respeitando os direitos humanos.

Texto I

Crimes de ódio são motivados pelo ápice do preconceito de um indivíduo ou grupo contra determinada vítima. Muitas vezes, os envolvidos nunca se cruzaram na rua, mas religiões diferentes, ideologias ultrapassadas dos tempos da Segunda Guerra Mundial ou a abominação contra a cor ou a etnia de alguém pode ser determinante para uma tragédia.

Portal Terra. Disponível em: <https://noticias.terra.com.br/brasil/policia/veja-10-crimes-de-odio-que-chocaram-o-brasil,386d4fc7b94fa310VgnCLD200000

bbcceb0aRCRD.html>. Acesso em: 17 nov. 2016.

Texto II

Disponível em: <http://malvados.com.br/index1573.html>. Acesso em: 17 nov. 2016.

Texto III

O crime de ódio na internet é duplamente perigoso. Além de discriminar e tratar de maneira degradante determinados grupos sociais, também incita o preconceito em outros usuários da rede

social, especialmente crianças e adolescentes. Dessa forma, esse tipo de crime de ódio torna possível uma grave expansão de atos discriminatórios, discursos preconceituosos e atitudes agressivas. O que antes seria um caso individual, no mundo virtual atinge milhares de pessoas e influencia negativamente um enorme grupo de indivíduos. Todavia, é importante ter consciência de que atitudes desrespeitosas na internet também são passíveis de punição e devem ser denunciadas devidamente.Disponível em: <www.guiadedireitos.org/index.php?option=com_content&view

=article&id=1036&Itemid=259>. Acesso em: 17 nov. 2016.

Texto IV

O crime de ódio é uma forma de violência direcionada a um determinado grupo social com características específicas, ou seja, o agressor escolhe suas vítimas de acordo com seus preconceitos e, orientado por estes, coloca-se de maneira hostil contra um particular modo de ser e agir típico de um conjunto de pessoas. Os grupos afetados por esse delito discriminatório são os mais variados possíveis, porém o crime de ódio ocorre com maior frequência com as chamadas minorias sociais. São consideradas minorias sociais aqueles conjuntos de indivíduos que histórica e socialmente sofreram notória discriminação. Como exemplo podemos citar as vítimas de racismo, homofobia, xenofobia, etnocentrismo, intolerância religiosa e preconceito com deficientes.

ORTEGA, F. T. O que são os crimes de ódio? Disponível em: <https://draflaviaortega.jusbrasil.com.br/noticias/309394678/o-que-sao-os-crimes-

de-odio>. Acesso em: 17 nov. 2016.

Texto I

AMARAL, Tarsila do. A família. 1925. Óleo sobre tela, 79 cm × 101,5 cm. Coleção Torquato Saboia

Pessoa, SP.

Texto II

O desenvolvimento de instituições modernas do Estado e do mercado abarca, em parte, as antigas funções da família, restringindo a esfera de atuação desta às dimensões da afetividade e da reprodução da vida, em seus aspectos biológicos e culturais. Por essa razão, é importante refletir sobre como o Estado, por meio de seu papel regulador e de promotor de políticas públicas, deve assumir responsabilidades perante os indivíduos, as famílias e o bem-estar coletivo.

ITABORAÍ, N. R. A proteção social da família brasileira contemporânea: reflexões sobre a

dimensão simbólica das políticas públicas. Disponível em: <www.abep.nepo.unicamp.br>.

Acesso em: 14 ago. 2009.

Texto III

Lidar com as famílias, hoje, é lidar com a diversidade; famílias intactas, famílias em processo de separação, famílias monoparentais, famílias reconstruídas, famílias constituídas de casais homossexuais, famílias constituídas de filhos adotivos, famílias constituídas por meio das novas técnicas de reprodução. A família intacta, tal qual nos acostumamos a pensar como sendo o modelo de família, é, hoje em dia, uma das várias formas de se viver a família. A multiplicidade “ser família”, hoje, cria um hiato na geração que aprendeu o “ser família” de acordo com determinadas características e sua concretização na prática. Talvez só a geração dos filhos saiba desenvolver a maneira de denominar tal realidade.

MOREIRA, B. F. O que há de novo nas novas famílias? Disponível em: <www.tvebrasil.com.

br>. Acesso em: 14 ago. 2009.

ComentárioO desafio do aluno ao redigir o texto argumentativo baseado nesta proposta é o de olhar para a instituição familiar a partir de um viés analítico, sem se deixar levar pela experiência pessoal e subjetiva frequentemente suscitada pela questão.Os textos que fundamentam a proposta induzem à reflexão por dois caminhos. O primeiro é o da distinção entre a esfera pública da vida, regida pela lei e mantida pelo Estado de Direito, e a esfera privada, em que se localizam os vínculos de afetividade e particularidade. O segundo, que dialoga com o primeiro, é a tematização da diversidade que as formas de constituição familiar adquiriram no mundo contemporâneo.Neste sentido, encaixa-se a pintura de Tarsila do Amaral, que nos mostra uma formação familiar ampla, típica da tradição dos meios rurais, diversa portanto dos núcleos monoparentais próprios do meio urbano.Tudo indica ser a expectativa da banca o entendimento da instituição familiar como produto histórico e cultural, variável no tempo e no espaço. Uma reflexão sobre o percurso dessa instituição no mundo contemporâneo conduziria a análise para uma postura de defesa da diversidade e garantia de direitos às famílias que destoem dos modelos consagrados pela civilização ocidental cristã.

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