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2º PERÍODO PALMAS-TO/ 2006 Sociologia Geral e Jurídica Caio Monteiro Melo Christiano Mota e Silva Jair José Maldaner

Sociologia Geral Juridica

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    2 PERODO

    PALMAS-TO/ 2006

    Sociologia Geral e Jurdica

    Caio Monteiro Melo Christiano Mota e Silva

    Jair Jos Maldaner

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    Fundao Universidade do Tocantins

    Reitor: Humberto Luiz Falco Coelho Pr-Reitor Acadmico: Galileu Marcos Guarenghi

    Pr-Reitoria de Ps-Graduao e Extenso: Maria Luiza C. P. do Nascimento

    Pr-Reitora de Pesquisa: Antnia Custodia Pedreira

    Pr-Reitor de Administrao e Finanas: Maria Valdnia Rodrigues Noleto

    Diretor de Educao a Distncia e Tecnologias Educacionais: Claudemir

    Andreaci

    Equipe Pedaggica Unitins

    Coordenao do Curso: Jos Kazuo Otsuka

    Contedos da Disciplina: Caio Monteiro Melo, Christiano Mota e Silva e Jair

    Jos Maldaner

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    Apresentao

    Caro(a) Acadmico(a),

    Voc que estudou a disciplina Matrizes Histricas e Filosficas do

    Direito no atual momento iniciar uma importante etapa: aprender a pensar e

    refletir o Direito enquanto um objeto sociolgico.

    Assim, neste Caderno de Contedos e Atividades estudaremos

    aspectos importantes da Sociologia e sua focalizao no Direito.

    O contedo que ser trabalhado no se esgota por si s, exigindo de

    voc rigor e vigor nos estudos para complementar suas fontes de estudo.

    O nosso roteiro de trabalho estabelece momentos de estudo e

    aprofundamento sobre as matrizes tericas e clssicas da Sociologia, e

    temticas voltadas para o Direito.

    Dessa maneira, desejamos bons estudos a voc e esperamos que o

    roteiro de temas possibilite maiores conhecimentos sobre a importncia da

    Sociologia do Direito.

    Os autores

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    PLANO DE ENSINO

    Curso: Fundamentos e Prticas Judicirias Disciplina: Sociologia Geral e Jurdica Carga Horria: 60h Crditos: 04

    EMENTA: Organizao social. Objeto da sociologia. Quadros tericos referncias para o

    estudo da sociologia: Abordagem Durkeineana, Weberiana e Marxista.

    Processos Sociais. Status e papel social. Grupos sociais. Estrutura e

    organizao social. Controle social. Estratificao social. Mobilidade social.

    Mudana social. Movimentos sociais. O Direito como fenmeno social.

    Sociologia Jurdica e Dogmtica do Direito. Sociologia Jurdica. Histria da

    Sociologia do Direito. Pluralismo jurdico. Direito e controle social. Direito e

    mudana social. Interpretao sociolgica do Direito. Direito e Sociologia

    Histrico: Costumes, Cdigos (COMMON LAW); Vontade e Legislao; Justia

    e Vingana. Direito e Opinio Pblica: Comportamento Coletivo; Opinio

    Pblica. Direito, Religio, Famlia e Poder Poltico: Fenmeno Religioso;

    Significado Social da Famlia; Funes Sociais do Poder Poltico. Teoria

    Sociolgica da Histria do Direito: Escola; Sociedade como Fonte do Direito;

    Limite do Direito Positivo. Razes Sociolgicos CC: Processo de Emancipao

    Poltica; Sentido Sociolgico da Constituio.

    OBJETIVO: Analisar criticamente a relao entre o Direito e os processos sociais tendo

    como referncia os conceitos bsicos da sociologia e da cincia jurdica.

    METODOLOGIA: Contedos trabalhados nas tele aulas

    Estudo antecipado do aluno (a)

    Participao efetiva na instncia de interatividade

    CONTEUDO PROGRAMTICO: A Sociologia e sua importncia para a construo de um conhecimento

    crtico contextualizado.

    A sociologia e suas bases fundacionais. Abordagem sociolgica em Augusto Comte: Positivismo e o Direito. A contribuio de mile Durkheim, Karl Marx e Max Weber. Sociologia Jurdica: noo, objeto e histrico. Estrutura, Organizao e Controle Social.

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    Estratificao, Mobilidade, Mudana e Movimentos Sociais. As Instituies Sociais e o Direito: Famlia, Igreja, Estado e

    conformao do Direito.

    Direito e sociedade controle e mudana social e interpretao sociolgica do direito.

    Opinio Pblica e Direito: o impacto da opinio pblica na criao/aplicao do Direito.

    Compreendendo o Pluralismo Jurdico e as fontes no-estatais de produo do direito: um olhar sociolgico.

    Sociologia Jurdica e Constituio sob o prisma sociolgico.

    BIBLIOGRAFIA BSICA: CASTRO, Celso Antonio Pinheiro. Sociologia do Direito. 8.ed. So Paulo: Atlas, 2003. SALDANHA, Nelson. Sociologia do Direito. 5.ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2003. SCURO NETO, Pedro. Sociologia Geral e Jurdica: Manual dos Cursos de Direito. 5.ed. So Paulo: Saraiva, 2004. BIBILIOGRAFIA COMPLEMENTAR: LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade, colaboradora. Sociologia Geral. 6.ed. rev. e ampl. So Paulo: Atlas, 1990. VILA NOVA, Sebastio. Introduo Sociologia. 5.ed. rev e aum. So Paulo: Atlas, 2000. OLIVEIRA, Prsio Santos de. Introduo Sociologia. 25.ed. So Paulo: Atlas, 2004.

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    Sumrio

    Tema 1 A Sociologia e sua importncia para a construo de um conhecimento crtico contextualizado..................................07

    Tema 2 A sociologia e suas bases fundacionais............................................10

    Tema 3 Abordagem sociolgica em Augusto Comte: Positivismo e o Direito...........................................................................................17

    Tema 4 A contribuio de mile Durkheim, Karl Marx e Max Weber............21

    Tema 5 Sociologia Jurdica: noo, objeto e histrico (I)...............................29

    Tema 6 Sociologia Jurdica: noo, objeto e histrico (II)..............................37

    Tema 7 Estrutura, Organizao e Controle Social.........................................47

    Tema 8 Estratificao, Mobilidade, Mudana e Movimentos Sociais............51

    Tema 9 As Instituies Sociais e o Direito: Famlia, Igreja, Estado e conformao do Direito......................................................................................57

    Tema 10 Direito e sociedade controle e mudana social e interpretao sociolgica do direito.........................................................................................63

    Tema 11 Opinio Pblica e Direito: o impacto da opinio pblica na criao/aplicao do Direito..............................................................................70

    Tema 12 Compreendendo o Pluralismo Jurdico e as fontes no-estatais de produo do direito: um olhar sociolgico........................................................76

    Tema 13 Sociologia Jurdica e Constituio sob o prisma sociolgico.........82

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    A Sociologia e Sua Importncia Para a Construo de Um Conhecimento Crtico Contextualizado

    Objetivo

    Conhecer aspectos relevantes sobre a importncia da Sociologia no

    panorama das cincias humanas e sua utilizao para a aprendizagem de um

    pensar crtico mais sistematizado.

    Introduo

    Voc muitas vezes deve pensar sobre qual a importncia da

    Sociologia em cursos de Cincias Humanas. Para que isso? Sempre temos

    uma grande curiosidade em procurar os significados e utilidades das cincias...

    pois bem, a Sociologia traz consigo determinados mtodos e teorias que nos

    auxiliam justamente na busca dessas respostas. A Sociologia possibilita a

    sada de determinados pensamentos e reflexes abstratos e nos indica

    caminhos tericos e metodolgicos voltados para uma aplicabilidade no mundo

    das relaes societrias entre os seres humanos. Neste tema, estaremos

    abordando alguns aspectos relevantes para que voc possa ter as chaves

    iniciais de entendimento dos segredos e das verdades da Sociologia.

    A SOCIOLOGIA E SUA SISTEMATIZAO

    Ao localizar livros e sites eletrnicos sobre a Sociologia, sempre nos

    deparamos com mile Durkheim, Auguste Comte, Karl Marx e Max Weber

    considerados os pais fundadores dessa rea de conhecimento. A Sociologia

    uma cincia que surgiu no sculo XIX, e teve uma sistematizao mais rigorosa

    com Augusto Comte.

    Entretanto, a reflexo sobre os processos que ocorrem na vida social

    no produto somente do sculo XIX. Desde a Antigidade, a vida em

    sociedade explicada tendo como referncia os costumes e a cultura de

    Tema 01

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    determinada sociedade. O estudo das relaes sociais est diretamente ligado

    ao conceito de cultura. Cada sociedade elabora e cria sua prpria cultura e

    recebe influncia de outras culturas.

    A palavra cultura apresenta muitas definies e significados, mas

    sociologicamente pode ser definida como um conjunto de crenas, costumes,

    regras, manifestaes artsticas, tradies e ensinamentos produzidos e

    transmitidos no interior de uma sociedade. A cultura fruto, portanto, daquilo

    que produzido e desenvolvido pelo homem atravs do convvio social. Todas

    as formas de sociedade possuem cultura, pois vivendo em sociedade

    participam de determinada cultura.

    No estudo das relaes sociais e dos fenmenos culturais h que se

    ter conscincia de que so os homens em sociedade que criam, expressam,

    transmitem, recebem e transformam a cultura em sociedade. As culturas

    atendem aos problemas da vida do indivduo ou do grupo, e as sociedades

    necessitam da cultura para sobreviverem. Ambas esto intimamente

    relacionadas: no h sociedade sem cultura assim como no h cultura sem

    sociedade (homens) (LAKATOS, 1999, p. 148).

    Os padres de comportamento do homem, bem como suas formas de

    organizao social so mutveis no tempo e no espao. O padro de

    comportamento nosso diferente do padro de comportamento do tempo dos

    nossos avs, talvez at do tempo dos nossos pais. Algumas maneiras de agir

    permaneceram, mas outras cederam lugar a novas formas.

    Assim por exemplo os animais como abelhas, insetos, formigas

    possuem padres de comportamento e uma organizao social, mas a principal

    caracterstica dessa organizao a estabilidade, e ela fruto da herana

    biolgica; j os padres de comportamento do homem so extremamente

    flexveis e so fruto, sobretudo da educao e da aprendizagem. A mudana de

    padres , portanto, uma das caractersticas fundamentais das sociedades

    humanas.

    Constantemente, temos que nos adaptar a novas situaes sociais,

    mudando conceitos, costumes, maneiras de pensar. Na anlise dos fenmenos

    sociais, a sociologia tem de obedecer aos mesmos princpios vlidos para todos

    os ramos do conhecimento cientfico apesar das especificidades inerentes

    abordagem cientfica da sociedade.

    A cincia tem como objetivo explicar a realidade com base na

    observao sistemtica dos fatos. A sociologia pretende explicar o que acontece

    na sociedade partindo da observao sistemtica dos fatos sociais. Outra

    caracterstica importante da sociologia a neutralidade valorativa. Isso significa

    dizer que a sociologia no emite juzos de valor quando da anlise dos fatos

    sociais, ela no julga se determinado fato ou determinada caracterstica de uma

    sociedade boa ou m, no dita normas para as relaes sociais. A Sociologia

    estuda os valores e as normas que existem de fato na sociedade e tenta

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    identificar e classificar as relaes entre esses componentes da sociedade e

    outras manifestaes da vida social, sem, no entanto, julgar a sociedade nem os

    homens e os seus atos. No cabe sociologia dizer como a sociedade deve ser,

    mas constatar e explicar como ela . (VILA NOVA, 2000, p. 29-30). Ela,

    portanto, se baseia em estudos objetivos que melhor podem revelar a verdadeira

    natureza dos fenmenos sociais.

    Que mtodo a sociologia utiliza? O mtodo predominante da sociologia o

    indutivo, isto , parte da observao de casos particulares para chegar

    formulao de generalizaes sobre a vida em sociedade.

    Sntese da Aula Nesta aula trabalhamos a Sociologia enquanto uma rea de conhecimento que

    procura investigar e refletir sobre os valores e as normas existentes. Voc

    percebeu que importante identificar e classificar os processos e relaes

    estabelecidas na vida social. Voc concorda que a sociologia possui uma tarefa

    muito importante sobre a explicao dos fatos sociais?

    Atividades 1) Vamos fazer um exerccio bsico. Olhando o grande nmero de oferta de programas televisivos (sries, novelas, programas de auditrio etc.) voc

    concorda que eles intencionalmente veiculam normas e valores sociais?

    Observe uma emisso (filme, seriado, novela, programa de auditrio) e

    responda: a) que modelo de sociedade ele procura transmitir?; b) quais so os

    contedos que ele seleciona para transmitir?; c) quais so os acontecimentos

    sociais que mais so destacados?

    Referncias LAKATOS, Eva Maria & MARCONI, Marina de Andrade. Sociologia geral. 6.ed. rev. e ampl. So Paulo: Atlas, 1990. VILA NOVA, Sebastio. Introduo Sociologia. 5.ed. rev e aum. So Paulo: Atlas, 2000. OLIVEIRA, Prsio Santos de. Introduo Sociologia. 25.ed. So Paulo: Atlas, 2004.

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    A Sociologia e Suas Bases Fundacionais

    Objetivo

    Situar as bases histricas formacionais da reflexo sobre as relaes

    sociais, enfocando momentos do perodo greco-romano at o Sculo XIX.

    Introduo

    A construo da Sociologia enquanto uma cincia passa pelo

    reconhecimento construdo mediante pesquisas histricas sistemticas das estruturaes, realizaes, estratgias e contextos que configuraram as

    diversas comunidades de pesquisadores, pensadores e cientistas ao longo dos

    sculos XIX, XX e neste novo sculo XXI. Assim, importante que realizemos

    uma perquirio da investigao sobre a Sociologia, procurando assinalar suas

    origens, suas fontes, suas estratgias metodolgicas que a firmaram no campo

    cientfico como uma cincia, um saber que mescla a teoria e a observao

    metodolgica sobre o mundo da experincia social.

    O HOMEM SOCIAL E SUAS RELAES

    As relaes sociais entre os seres humanos se processam desde a

    considerada pr-histria, partindo do princpio de que ao iniciarem o processo

    de viver em agrupamentos, organizaes comearam a existir como marcos

    diferenciadores desses grupos comunitrios e sociais.

    Vamos realizar uma breve anlise panormica sobre determinadas mudanas

    que se processaram desde a Antiguidade Clssica sobre as formas de

    organizao social dos seres humanos at o surgimento da Sociologia durante

    o sculo XIX.

    Tema 02

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    Contribuies da Grcia e de Roma A Grcia Antiga teve uma grande influncia no mundo ocidental. Como vimos

    no semestre passado, vrios filsofos se destacaram durante este perodo, como

    Scrates, Plato e Aristteles. Nesta poca, ocorreu uma grande transformao na

    forma de pensar e analisar o mundo. O desenvolvimento da Filosofia promoveu uma

    quebra de percepo sobre a organizao do mundo, saindo-se de concepes

    mtico-religiosas e adentrando-se para reflexes com bases racionais. As correntes de

    pensamento filosfico com base racional influenciaram, de forma geral, a vida dos

    povos helnicos. Conceitos como Democracia e Cidadania se tornaram parte da vida

    poltica e social das pessoas, consideradas cidads, e marco de um processo de

    mudana das estruturas que ainda existiam na Grcia Antiga. A cidade-estado, a

    polis, o cidado (o masculino livre, no-escravo e proprietrio de terras) participava da

    vida pblica social com direitos e deveres.

    A cidadania era um ttulo recebido por aquele que participava do culto da cidade e

    dessa forma poderia usufruir dos direitos civis e polticos. Ao cidado competia

    tambm seguir a religio da cidade e honrar seus deuses. Aos estrangeiros, s

    mulheres, aos escravos, s crianas, era vedada esta possibilidade, tendo em vista a

    preservao das cerimnias sagradas. A religio era, dessa forma, o marco referencial

    que delimitava o espao da cidadania e distinguia de forma categrica o cidado do

    estrangeiro.

    Em Roma, ser cidado era ser reconhecido como pessoa, ter personalidade

    e, assim, poder praticar atos jurdicos, entre eles a participao na gesto da cidade e

    no culto comum. Como as assemblias que decidiam os destinos da cidade eram

    precedidas por um culto, a participao nestes abria a possibilidade de intervir

    naquelas. Durante um bom perodo, a prtica religiosa serviu como nexo organizador

    da vida poltica na sociedade greco-romana.

    Com a transio de uma sociedade rural aristocrtica para a vida urbana e mercantil,

    novos atores sociais so incorporados vida poltica ampliando a demanda pelos

    direitos de cidadania. Este processo ocasionou o deslocamento da primazia dos

    critrios hereditrios para a busca do interesse pblico. Note-se que com o sucesso

    econmico advindo do forte desenvolvimento do comrcio, os comerciantes aspiram a

    uma participao efetiva nos rumos da sociedade porque no fundo so eles que

    sustentam as atividades da polis. Dessa transio para a busca do interesse pblico

    decorrem duas conseqncias: a concesso de direitos polticos a todos os homens

    livres; a consulta a todos os cidados determina o interesse pblico dando maior

    relevncia a cidadania.

    E a Idade Mdia? O que voc conhece sobre sua organizao social?

    Idade Mdia (476 at 1453) No perodo medieval, as relaes sociais era justificadas e representadas pelos

    princpios e doutrinas eclesisticas da Igreja Crist. A viso de um mundo cujo centro

    era o divino e o poder hegemnico sob as mos das instituies eclesisticas

    estabeleceu uma ordem social, cujos grupos populacionais seguiam de forma

    inquestionvel os preceitos estabelecidos. Critrios racionais e empricos, de forma

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    mais cientfica, como conhecemos na atualidade, estavam excludos dessa maneira

    de conceber o mundo e a sociedade. Pensadores cristos, como Toms de Aquino,

    Guilherme de Ockham, Abelardo, Anselmo e outros, a partir do nascedouro da

    Universidade, sobretudo em Paris, contriburam para que novas focalizaes sobre a

    relao homem-divindade-universo pudessem ocorrem. A recuperao de obras

    aristotlicas preservadas pelos rabes, e sua conseqente traduo possibilitaram

    outras formulaes sobre as concepes de Estado, organizao social, doutrinas e a

    prpria razo. No entanto, a Idade Mdia produziu um imaginrio social hierarquizado

    e imutvel, isto , a cada um o seu lugar poltico-social-econmico e cultural segundo

    os desgnios divinos.

    Os modernos e suas novidades

    Idade Moderna (1453-1789) O termo Idade Moderna uma construo a posteriori, assim como modernidade,

    modernizao e modernismo. Moderno significa em latim modus, como algo que

    acontece agora, uma agora-j. O termo foi trabalhado para designar tudo aquilo que se

    contrapunha ao Antigo Regime (Feudal) e defendia uma nova sociedade, com novos

    estatutos para o homem enquanto ser pensante e indivduo laicizado. Como marcas de

    pensamento sobre esse perodo, no se esquecendo do prprio movimento ocasionado

    pelo Renascimento, de tericos polticos, como Maquiavel (1469-1527) e sua obra O

    Prncipe, Thomas Hobbes (1588-1679) e sua obra O Leviat, e as anlises da vida da

    sociedade como uma relao entre os mais fortes, sendo o Estado, o responsvel pelo

    controle social.Ren Descartes (1596-1650) foi um dos mais importantes pensadores

    para o desenvolvimento da Sociologia. Elevando a razo como fundamento principal do

    conhecimento sua inteno era deixar as verdades adquiridas pelo uso da tradio, da

    revelao ou do senso comum de lado. Sua obra Discurso do Mtodo influenciou as

    novas anlises da sociedade, partindo de um pressuposto cientfico emprico com base

    na observao.

    Um pouco da fonte da Histria

    As mudanas, durante a Idade Moderna do ponto de vista sociolgico,

    econmico, poltico, cultural passam pela anlise das razes das

    transformaes ocorridas a partir do processo de queda da economia feudal

    (sc. XIII XIV). Com a mudana de eixo das transaes comerciais e

    expanso comercial martima da Itlia para os pases ibricos (Espanha e

    Portugal) e de outros pases como Holanda, Inglaterra, foi inaugurada a era do

    Mercantilismo e o processo de colonizao das Amricas e frica, levando

    para a Europa matria-prima e metais preciosos. Essas mudanas na

    economia causaram a acumulao de capital comercial pela Inglaterra, nos

    sculos XVI a XVIII, culminando com a Revoluo Industrial. Isso acarretou o crescimento das cidades europias e o declnio da produo agrcola, gerando

    processos de produo cada vez mais concentrados - as fbricas - com novas

    descobertas de tcnicas de produo e novas alternativas energticas,

    delineando-se o novo sistema econmico, o Capitalismo.

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    O movimento iluminista, tambm conhecido como o Iluminismo (Sculo

    XVIII) ou Idade das Luzes foi o perodo histrico marcado pela posio com

    que os pesquisadores, cientistas, filsofos e demais pensadores, na procura da

    exaltao do conhecimento cientfico, procuravam descobrir o porqu de tudo

    que acontecia na natureza e as as leis consideradas naturais e imutveis. Para

    eles, o entendimento destas coisas iria propiciar humanidade o controle sobre

    a natureza. Para o Iluminismo, a razo era a explicao para todos os

    fenmenos que podem ocorrer na natureza e na sociedade. Tentava assim,

    excluir explicaes como o milagre ou qualquer outra explicao sobrenatural.

    Todas explicaes consideradas simples, colocando Deus em todas elas,

    passaram a ser questionadas pelos iluministas. Para o Iluminismo, tudo

    deveria ser explicado empiricamente (cientificamente atravs da observao).

    Essa racionalidade ainda no existia nas instituies que controlavam a

    sociedade, como a poltica, a justia a economia entre outras, at porque,

    essas instituies eram regidas por prticas feudais, ou controladas pela Igreja.

    Os pensadores iluministas contriburam para as idias e ideais que se

    fazem presentes na Declarao dos Direitos do Homem e do Cidado como

    tambm na Revoluo Francesa.

    Voc conhece as influncias do Iluminismo?Vamos relembrar um pouco de nossos conhecimentos de histria aprendidos no Ensino Mdio? A questo est: em quais contextos histricos localizados a presena das idias iluministas se fizeram presentes?

    A Declarao da Independncia dos Estados Unidos da Amrica de 1776 em relao Inglaterra, cujos princpios inspiraram-se na filosofia iluminista.

    A Revoluo Francesa como movimento poltico ocorrido no sculo XVIII, contra as instituies absolutistas, agravados pelos problemas sociais como a fome, misria, aumento de impostos e explorao dos camponeses, maioria da populao francesa. Com tantos problemas impedindo o crescimento econmico, o movimento passou a ter adeso dos burgueses inspirados nos ideais iluministas. Durante a Revoluo Francesa, em sua primeira fase, foi criada durante a Assemblia Geral Constituinte de 26 de agosto de 1789, a Declarao dos Direitos do Homem e do Cidado. Essa Declarao possuiu uma viso universal dos direitos do homem e do cidado, constituindo uma de suas caractersticas marcantes, a universalizao destes princpios, ocorrendo sua mundializao, influenciando vrios pases.

    A Revoluo Industrial acima referenciada iniciou-se na Inglaterra a partir da segunda metade de sculo XVIII, estendendo para outros pases da Europa e Estados Unidos. Foi um perodo que houve uma acelerao da economia inglesa que passou de predominantemente agrria para uma economia industrial, tendo como caracterstica a alta produo em escala, utilizando mquinas para diminuir o tempo e o custo da produo.

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    Em meio a todos os abalos causados pela Revoluo Industrial, as

    diferentes formas de produo passaram a alterar a vida das pessoas comuns.

    Entre essas mudanas podemos apontar as seguintes:

    1) Mudanas na cultura do trabalho: os novos trabalhadores das indstrias tiveram

    que passar por uma mudana, de um ambiente domstico para a disciplina das

    indstrias, isso caracterizou a mudana da cultura na forma de trabalhar.

    2) Surgimento de novas funes: surgiram novas funes como a do empresrio, do capitalista e do operrio. O empresrio o proprietrio dos equipamentos e mquinas e

    o operrio portador da fora de trabalho.

    3) O trabalho humano passa a ser gradativamente uma extenso da mquina: a

    mquina passa a substituir o homem, produzindo mais em um menor espao de tempo,

    gerando mais lucro para o empresrio.

    4) Diviso do trabalho: organizando de uma forma racionalizada o trabalho, em que

    cada operrio responsvel por uma pequena parte da produo, ocorrendo uma

    especializao da produo em partes, o trabalho destinado a cada operrio podia ser

    substitudo por qualquer outro operrio.

    5) Produo em alta escala: a intensa mecanizao da produo e a velocidade em

    que os produtos eram fabricados ocasionou a baixa de preos dos produtos,

    aumentando o nmero de compradores.

    Nos sculos XIX e XX, ocorre a consolidao do modo de produo

    capitalista em alguns pases europeus, sobretudo Inglaterra, bero da

    Revoluo Industrial e Estados Unidos da Amrica, alm de terem sido os

    sculos do desenvolvimento cientfico, foi neste momento que surgiram importantes teorias nos diferentes campos do conhecimento, como nas cincias da natureza (fsica, qumica, biologia, astronomia), exatas

    (matemtica, lgica) e humanas (economia, psicologia, sociologia).

    Nesse sculo, as contradies e conflitos sociais gerados pelo modo

    de produo capitalista, ainda em sua fase selvagem de crescimento, pelas

    desigualdades e disparidades sociais decorrentes da explorao da fora de

    trabalho, com ainda incipiente legislao trabalhista e social, aguam o esprito

    investigativo de filsofos para compreenso da sociedade na sua organizao

    e dinmica, entre os quais, Augusto Comte (1798-1857), Karl Marx (1818-

    1883), mile Durkheim (1858-1917), Max Weber (1864-1920), que, com

    abordagens terico-metodolgicas diferentes, conceberam e interpretaram a

    sociedade, originando correntes de pensamento sociolgico, conforme

    veremos nos prximos temas.

    Sntese da Aula

    Vimos neste tema os perodos histricos e alguns dos pensadores que

    mais influenciaram o pensamento ocidental, sendo alguns deles importantes

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    para que a Sociologia surgisse. Na antiguidade, o pensamento filosfico

    influenciou a vida da poltica grega, pois modificou o pensamento predominante

    at ento utilizado com base na sua religiosidade. Na Idade Mdia europia, o

    pensamento se fundamentou na f religiosa sob controle das instituies

    eclesisticas. J na Idade Moderna, tambm na Europa, ocorreu uma

    revoluo na forma de pensar com a valorizao da razo, tornando o ser

    humano o centro das atenes passando de sua condio de objeto, durante o

    perodo medieval, para a condio de sujeito, controlador de seus atos, durante

    a modernidade.

    Atividades

    1) Existe um blog na internet chamado Blog da Imprensa de Jacutinga.

    interessante perceber a qualidade das reflexes veiculadas, leia o texto que

    produziram sobre cultura, educao e poltica, elaborado por Thiago de S.B.

    Rodrigues e a reflexo sobre os aspectos histricos que estamos estudando.

    No final da idade mdia europia, entre os sculos XIII e XIV, as universidades

    pululavam pela Europa, como indcios da abertura que estaria por vir e que

    costumamos chamar de Renascimento ou Esclarecimento, Aufklarng, como

    dizem os alemes. Sobretudo, como dissera Kant, maioridade ou

    esclarecimento significa a capacidade de guiar-se por sua prpria razo, sem o

    auxlio de outrem, ou seja, por si mesmo. Sapere audi, dizia Kant, em seu

    opsculo sobre Que o esclarecimento?, isto , ousai saber! Pois, a dignidade

    do homem reside, na exata medida, em que dedica sua vida busca do

    conhecimento, em outras palavras, que busca conhecer-se a si mesmo. Thi,

    tentei entender esse pargrafo, mas no sei se consegui... depois compara

    com o seu: Em larga medida os centros de educao ou escolas como

    costumamos chamar, desde que foram inventadas na idade mdia, englobando

    nessa rubrica, os nveis infantil, fundamental, mdio e superior at certo ponto,

    no que tange a funo que desempenham, qual seja, contextualizar a criana e

    o adolescente, e inseri-los na malha cultural que fundamenta, em ltima

    instncia, a prpria idia de sociedade - o papel mais importante do processo

    de socializao e formao do indivduo humano, considerado seus aspectos

    morais, cientficos, artsticos, fsicos e psicolgicos. ( Postado pela Redao s

    10: 31, http://www.imprensadejacutinga.com/archives/2005/09/).

    Pois bem, vamos ajudar ao interlocutor de Thi a compreender o que

    Kant desejou expressar com:

    Sapere audi, dizia Kant, em seu opsculo sobre Que o esclarecimento?, isto

    , ousai saber! Pois, a dignidade do homem reside, na exata medida, em que

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    16

    dedica sua vida busca do conhecimento, em outras palavras, que busca

    conhecer-se a si mesmo.

    Referncias Bibliogrficas COSTA, Cristina. Sociologia: Introduo cincia da sociedade. 2.ed. So

    Paulo: Moderna, 1997.

    LAKATOS, Eva Maria. Sociologia geral. 6.ed. So Paulo: Atlas. 1990.

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    17

    Abordagem sociolgica em Augusto Comte:

    Positivismo e o Direito Objetivo

    Compreender o contexto e a estruturao do mtodo investigativo

    positivista atravs de seu principal terico, Augusto Comte, correlacionando

    seus princpios com a estrutura social da poca e sua contribuio para a

    Sociologia e o Direito.

    Introduo

    relativamente recente a estruturao das Cincias Humanas ou

    Sociais como disciplinas acadmicas e cientficas. Com a sociologia no foi

    diferente. Na tentativa de estruturar uma nova cincia, criou-se um novo

    mtodo de investigao cientfico baseado na objetividade e neutralidade das

    cincias naturais. Abordaremos neste tema, mais detalhadamente, o

    surgimento do positivismo, a contribuio de Augusto Comte para esta teoria e

    sua extenso no Direito.

    Razes do movimento positivista

    O movimento Iluminista do sculo XVIII nasceu a partir das

    transformaes sociais e culturais iniciadas com o Renascimento e foi um

    movimento intelectual que acreditava na primazia da razo na explicao dos

    fenmenos de todos os tipos: sociais, culturais, polticos e econmicos. Ao

    contrrio da doutrina divina e das explicaes religiosas da Igreja, os filsofos

    iluministas desejam explicar os fenmenos sociais e naturais atravs da razo

    e dos mtodos de investigao.

    Tema 03

    Um mtodo investigativo um conjunto de tcnicas, aes e teorias utilizadas para investigar cientificamente um determinado fenmeno. Exemplo: a antropologia, atualmente, utiliza um mtodo de investigao conhecido como observao participante, onde, na investigao das tradies de determinada comunidade, o pesquisador vive um tempo em meio a estas pessoas para vivenciar, observar e perceber todas as suas caractersticas essenciais.

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    18

    Alguns dos pensadores iluministas lideraram um movimento para a

    elaborao de uma obra que abrangesse as idias iluministas. Esta obra foi a

    Enciclopdia, que consistia na explicao de vrios conceitos de todas as

    reas existentes sob a tica da razo e da explicao cientfica, e no de um

    carter divino. Condorcet foi um conhecido enciclopedista que iniciou a

    estruturao de uma proposta de pensamento e mtodo investigativo que

    afastava do processo cientfico toda e qualquer pr-noo, preconceito ou

    senso comum de suas anlises. Para ele a sociedade deve ser estudada e

    investigada como as cincias naturais, a exemplo da matemtica, da

    astronomia e da fsica.

    Outro grande cientista que tambm colaborou para este novo mtodo

    foi Saint Simon. Este autor foi o primeiro a chamar este mtodo investigativo de

    positivo ou positivismo, e considerava o novo mtodo como livre do senso

    comum e das idias pr-concebidas, que no poderiam ser levadas em conta

    no momento da observao cientifica. O nico problema desta nova

    abordagem metodolgica era o posicionamento revolucionrio de seus tericos

    principais.

    Para Condorcet e Saint Simon, a luta pela manuteno e sustentao

    da abordagem positivista no era apenas uma crtica acadmica e cientfica,

    mas tambm uma luta revolucionria. Era uma luta estabelecida contra a

    ordem absolutista vigente e que defendia o combate ao tradicionalismo poltico

    e social, juntamente com o fim das pr-noes e preconceitos cientficos. No

    era apenas uma disputa e uma inovao de carter cientfico-metodolgico,

    mas uma luta de cunho revolucionrio, contra o absolutismo e pela burguesia.

    Augusto Comte A partir de meados do sculo XIX, um novo terico vem contestar este

    carter revolucionrio da nova doutrina cientfica. Augusto Comte

    considerado o criador do positivismo porque "transformou a doutrina em

    ideologia e abandonou os preconceitos revolucionrios" (LOWY, 1998, p. 22).

    O Positivismo tem por base a experimentao, somente nela, o investigador

    deve ater-se, ou seja, toda especulao acrtica, toda metafsica e toda teologia

    Os clrigos e demais membros da Igreja Catlica exerciam um forte poder sobre

    todas as esferas da vida cotidiana das pessoas, desde o seu fortalecimento durante a

    Idade Mdia (sculo V ao sculo XV). O teocentrismo era a forma de pensamento,

    desenvolvida na Idade Mdia e reforada pela Igreja Catlica, que defendia uma

    explicao divina para todos os fenmenos. A partir da disseminao das idias

    iluministas e do inicio da Idade Moderna (sculo XV ao sculo XVIII) os cientistas

    passam a defender uma nova forma de pensamento: o antropocentrismo, cujas

    explicaes para os todos os fenmenos advm da razo humana e no da vontade

    divina.

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    19

    devem ser descartadas. Comte estabeleceu os trs princpios fundamentais do

    mtodo positivista:

    a sociedade regida por leis naturais invariveis que independem da ao humana;

    a sociedade deve ser estudada pelos mesmos mtodos das cincias naturais;

    as cincias da sociedade devem utilizar o mtodo da observao e da investigao de forma objetiva, neutra e sem pr-noes, preconceitos

    e juzos de valor, para estabelecer relaes causais entre os

    fenmenos sociais;

    Atividades 1) Voc quer conhecer dados biogrficos de Auguste Comte? A Revista Nova Escola, da Abril Cultural, em sua edio 185, produziu um resumo

    suscinto sobre a vida de Auguste Comte. O endereo

    http://revistaescola.abril.com.br/edicoes/0185/aberto/mt.89607.shtml.

    Vamos conhecer um pouco mais sobre as idias de Auguste Comte.

    Fenmenos Sociais: Para Comte, os fenmenos sociais, polticos e econmicos deveriam ser investigados e observados a partir do mesmo

    mtodo das cincias naturais. O investigador, o cientista, deve afastar de suas

    interpretaes e de toda e qualquer pr-noo ou preconceito sobre o tema

    investigado. Revelando de maneira objetiva e neutra apenas o fruto de suas

    observaes, estabelecendo, assim, de forma positiva, as relaes do tipo

    causa-conseqncia que determinam e definem os fenmenos sociais, da

    mesma forma que acontece com os fenmenos naturais.

    O papel do cientista: O cientista no deveria desenvolver um papel revolucionrio ou de luta contra o regime poltico vigente. Para Comte, esta

    tambm era uma forma de imbuir um preconceito investigao, que deveria

    ser neutra e objetiva sem carter poltico.

    E A CONTRIBUIO DO POSITIVISMO PARA O DIREITO?

    A teoria positivista teve uma importante influncia no Direito.

    Anteriormente ao advento da doutrina positivista, o direito era constitudo

    apenas pelo Direito Natural. Este gnero de Direito aquele que se compe de

    princpios inerentes prpria essncia humana. O Direito Natural no escrito,

    no criado pela sociedade, nem formulado pelo Estado. Como o adjetivo

    natural j indica, um direito espontneo, que se origina da prpria natureza

    social do homem que revelado pela conjugao da experincia e da razo.

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    20

    Ele constitudo por um conjunto de princpios, e no de regras. Seu

    carter universal, eterno e imutvel e pertencem a todos os tempos, no so

    elaborados pelos homens e emanam de uma vontade superior, porque

    pertencem prpria natureza humana. Os princpios que constituem o Direito

    Natural so entre outros: "o bem deve ser feito", "no lesar a outrem", "dar a

    cada um o que seu", "respeitar a personalidade do prximo", "as leis da

    natureza", etc.

    Para a conscincia social do sculo XIX, a mutabilidade do direito

    passa a ser o usual: a idia de que, em princpio, todo direito mude torna-se a

    regra, e que algum direito no mude, a exceo. Esta verdadeira

    institucionalizao da mutabilidade do direito corresponder ao chamado

    fenmeno da positivao do direito.

    O Direito Positivo o conjunto de normas estabelecidas pelo poder

    poltico que impem e regulam a vida social de um dado povo em uma

    determinada poca. constitudo pelo conjunto de normas elaboradas por uma

    sociedade determinada, para reger sua vida interna com a proteo da fora

    social. o direito institucionalizado pelo Estado, a ordem jurdica obrigatria

    em determinado lugar e tempo. O Direito Positivo foi cunhado para efeito de

    distino do Direito Natural, um sistema de normas objetivamente

    estabelecidas, seja na forma legislada seja na consuetudinria, o direito

    vigente e eficaz em determinada sociedade, limitando a cincia jurdica ao

    estudo das legislaes positivas. Sntese da Aula O positivismo surge em decorrncia das idias iluministas, como alternativa investigao nas cincias humanas e como luta revolucionria

    contra o regime vigente. Augusto Comte modifica a viso inicial de Condorcet e

    Saint Simon, e estrutura o mtodo positivista de investigao como livre de pr-

    noes, preconceitos e juzos de valor, portanto um mtodo de investigao

    cientfica to neutro quanto os das cincias naturais. Esta nova forma de ver a

    cincia teve como conseqncia, entre outras, o surgimento da Sociologia,

    chamada por Comte de Fsica Social, e a organizao do positivismo jurdico.

    Referncias LWY, Michael. Ideologia e cincia social: elementos para uma analise marxista. 12.ed. So Paulo: Cortez, 1998. http://www.puc-rio.br/sobrepuc/depto/direito/pet_jur/c3pessan.html 17/10/2005 http://www.dji.com.br/dicionario/direito_natural.htm 17/10/2005

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    21

    A contribuio de mile Durkheim, Karl Marx e Max Weber.

    Objetivo Compreender as matrizes de pensamento focalizadas no fenmeno

    sociolgico a partir de mile Durkheim, Karl Marx e Max Weber.

    Introduo Como vimos no tema anterior, Augusto Comte sistematizou as bases

    do pensamento sociolgico com seu mtodo positivista. Ele aprimorou este

    mtodo investigativo para dar s Cincias Sociais ou Humanas o mesmo

    carter de neutralidade e objetividade das Cincias Naturais. Contudo,

    importante que tambm tenhamos um conhecimento sobre as contribuies de

    mile Durkheim, Karl Marx e Max Weber.

    MILE DURKHEIM E O FATO SOCIOLGICO

    mile Durkheim (1858-1917) nasceu em Epinal, na Frana, e morreu

    em Paris. Foi um dos socilogos que contribuiu para a anlise da vida social,

    sendo influenciado por Augusto Comte, que afirmava ser a sociedade um

    organismo vivo.

    Durkheim tambm concordava com o pressuposto comteano de que a

    sociedade se mantm unida quando passa, de alguma forma, a compartilhar

    sentimentos e crenas. Entretanto, Durkheim criticou Comte quando na

    questo do conceito evolucionista da sociedade, pois sabia que os povos que

    substituem os anteriores no so necessariamente superiores, apenas so

    diferentes em sua estrutura social com diferentes valores, conhecimentos e

    forma organizacional.

    Uma das grandes preocupaes de Durkheim era definir e estruturar

    um mtodo de anlise que conferisse sociologia a objetividade cientifica que

    ele julgava ser necessrio para caracteriz-la como uma cincia. Em seu livro

    As Regras do Mtodo Sociolgico, ele explica detalhadamente a concepo de

    seu mtodo, que podemos resumir como: um conjunto de tcnicas e

    Temas 4

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    22

    procedimentos de investigao dos fatos sociais, onde o pesquisador afasta

    sistematicamente suas pr-noes e as falsas evidncias do senso comum,

    para exprimir a realidade da forma mais objetiva possvel.

    Como podemos perceber, h uma grande semelhana entre o

    positivismo comteano e o mtodo sociolgico durkheimeano. A diferena

    fundamental entre eles que Durkheim admite a existncia de uma

    peculiaridade dos fatos sociais, por estes pertencerem ao reino social, que

    mais subjetivo do que os fenmenos da natureza.

    Para melhor compreendermos este mtodo, devemos entender dois

    conceitos: o de fato social e o de suas trs caractersticas.

    Com esta definio de fato social como coisa, Durkheim d aos fatos

    sociais as seguintes caractersticas: a exterioridade, a coercitividade e a

    generalidade. Nessa anlise de Durkheim, podemos contar com a contribuio

    de Lakatos (1999, p. 68-72), ao explicitar as caractersticas especficas dos

    fatos sociais, que so:

    a exterioridade: este conceito baseia-se na concepo durkheimeana de conscincia coletiva, por ele definida como o conjunto das maneiras de agir, de

    pensar e de sentir, comum mdia dos membros de determinada sociedade e

    que compem a herana prpria dessa sociedade. Estas so exteriores s

    pessoas, porque as precedem, transcendem e a elas sobrevivem. Portanto, os

    fatos sociais so independentes e esto acima e fora dos indivduos. Exemplo:

    ao atingirmos certa idade devemos cumprir certos deveres (votar ou justificar o

    voto, alistamento militar para cidados do sexo masculino) para com o Estado,

    que anterior e independente de nossa existncia particular.

    a coercitividade: as normas de conduta e de pensamento so dotadas de poder coercitivo, porque se impem aos indivduos, independente de suas

    vontades. Exemplo: se no formos votar ou justificar o voto em uma eleio a

    coero se far sentir atravs das sanes legais de que lana mo a

    sociedade para nos punir(ex. ficamos impedidos de assumir cargos pblicos).

    fato social toda maneira de fazer, fixada ou no, susceptvel de exercer sobre o

    indivduo uma coero exterior; ou ainda, toda maneira de fazer que geral na

    extenso de uma sociedade dada e, ao mesmo tempo, possui uma existncia prpria,

    independente de suas manifestaes individuais. (DURKHEIM, 1999, p. 13)

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    23

    a generalidade: o fato social comum a todos os membros de um grupo ou sua grande maioria. Ele geral na extenso de uma determinada sociedade e

    tem ao mesmo tempo existncia prpria e independncia em relao s

    conscincias individuais.

    Ao definir fato social, Durkheim definiu tambm que este para ser

    estudado, deveria ser tratado como coisa. Uma coisa todo e qualquer objeto

    desconhecido da inteligncia humana. Tratar os fatos como coisas significa dar

    aos fatos conhecidos por ns um carter de estranheza, para que a anlise

    feita pelo pesquisador no seja obscurecida por paixes e preconceitos.

    KARL MARX (1818-1883)

    O economista, filsofo e socilogo alemo, Karl Marx nasceu em Trier,

    Alemanha, em 5 de maio de 1818, e morreu em Londres, na Inglaterra, a 14 de

    maro de 1883. Marx descreve como o motor da sociedade, o processo de luta

    de classes. Para ele, em todas as pocas vividas pela humanidade existiu a

    luta entre classes de produtores e no-produtores. Os produtores so aqueles

    que possuem a fora de trabalho, ou seja, a capacidade e as condies para

    trabalhar. Os no-produtores so aqueles que no exercem a fora de trabalho,

    mas possuem os instrumentos, as ferramentas, as mquinas, as instalaes, a

    matria-prima e o investimento, ou seja, os meios de produo. Portanto, Marx

    fundamenta a sua anlise sociolgica em uma abordagem econmica. Marx

    analisa a sociedade e sua vida atravs das relaes sociais materialistas.

    Influenciando o modo, o meio e como as pessoas produzem, sendo esta a

    base para todas as relaes. Assim, seu conceito de sociedade est ligado ao

    modo de produo1.

    O mtodo de anlise que Marx utiliza em seu estudo sobre a vida em

    sociedade o chamado materialismo histrico, que consiste nas relaes

    materiais que os homens estabelecem entre si, ou seja, Marx leva em conta os

    processos histricos de produo que os homens vivenciam e sua relao

    dialtica2, e no apenas um mtodo puramente terico.

    Os bens materiais podem ser considerados o motivo principal das

    transformaes que ocorrem na sociedade e sua histria. Sua abordagem das

    relaes materiais perceber que a vida que o indivduo tem o que ele

    representa socialmente, e esta sua vida, coincide com sua produo e a forma,

    como produz. Tendo o trabalho como fonte vital para a prpria vida do

    indivduo, a produo seu objetivo primordial. Pois, atravs do trabalho que

    o indivduo ir se humanizar.

    Marx afirmou que duas mos no podem produzir mais do que uma

    boca pode consumir, pois assim no existiria base econmica. No sistema

    capitalista, se no existir excedente, ou seja, o que ele chama de mais-valia,

    no existe explorao do trabalho. O excedente4 estaria ligado explorao do

    4 Excedente: quantidade de trabalho apropriado pelo capitalista no pago ao trabalhador.

    2 Dialtica marxista: este conceito consiste em um movimento da natureza e dos processos histricos que consiste na realizao de uma ao histrica (tese), em sua negao (anttese) e na nova abordagem assumida por ela (sntese). Um movimento dinmico e constante que promove o desenvolvimento e as relaes da humanidade.

    1 Modo de produo a juno das foras produtivas e das relaes sociais de produo em determinada poca e sociedade. As foras produtivas so a ao do homem sobre a natureza, o ato do trabalho. As relaes sociais de produo so as formas pelas quais os homens se organizam para produzir. Portanto, de acordo com o contexto histrico e com as condies sociais, culturais e polticas de uma determinada sociedade, em uma determinada poca, que se estrutura a fase econmica dessa sociedade, ou seja, seu modo de produo.

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    24

    trabalhador, podendo apontar o caminho para a revoluo social. Dessa forma,

    importante esclarecer que a relao entre capital, salrios e acumulao

    simplesmente a relao entre trabalho e o excedente (quantidade de trabalho

    apropriado pelo capitalista no pago ao trabalhador) que transforma em capital

    o trabalho adicional para por em movimento a produo de riqueza que ir

    aumentar cada vez mais. Sendo o trabalho o principal produto do operrio, este, especificamente

    possui sua cotao. Ento o valor do trabalho do operrio depende do uso e de

    sua utilidade. Com isso, quando o trabalho se torna mercadoria na produo de

    objetos teis, ele automaticamente est determinando seu valor. Porm, o

    trabalho operrio no consegue consumir o que produz, pois ele trabalha

    apenas para se manter vivo.

    Assim, o operrio no considera seu trabalho parte de sua vida, para

    ele um sacrifcio, uma mercadoria que ele vende na fbrica ou empresa onde

    trabalha. O trabalho no passa de um meio para conseguir sua comida, no

    fazendo parte de suas atividades. No faz parte do seu cotidiano, pois no

    existe prazer. O operrio no se reconhece no produto que criou, chegando

    assim a alienao.

    Uma caracterstica do capitalismo est no constante aperfeioamento

    tcnico e aumento incessante da produtividade. Para isso foi criada a diviso

    do trabalho, uma tarefa pequena, individual, chegando a ser um ato abstrato,

    aparentemente sem relao com o produto final, como se o trabalhador nem

    precisasse saber o que est sendo produzido. Chegamos assim o que Marx

    considera de idiotismo do ofcio. O trabalhador se torna uma parte

    insignificante da produo, pois sua "especialidade", pode ser substituda por

    qualquer um, sem condio de negociaes. Para resolver este problema,

    Marx s via uma sada, a sociedade comunista.

    Entretanto, neste processo de evoluo, as relaes sociais podem ser

    um entrave para este progresso, ocorrendo assim momentos revolucionrios.

    Marx ento mostra que as transformaes resultariam na formao de grupos

    organizados, os considerados socialmente oprimidos, que iriam intensificar sua

    luta poltica na conquista do poder. Mostrando que a fora produtiva, ou seja,

    aqueles que produzem, a maior classe revolucionria. A classe revolucionria

    iria fazer evoluir e tornar livre a sociedade de elementos estruturados em idias

    velhas e enrijecidas, sendo estes os fatores que impedem a evoluo para uma

    sociedade melhor. Em termos marxistas, a sociedade melhor seria a sociedade

    comunista, que anteriormente passaria pela sociedade socialista.

    Alienao: termo traduzindo as trs

    palavras usadas por Marx para designar

    "tornar-se estranho a si mesmo". O trabalho do

    homem se torna uma obrigao esmagadora

    para sua vida, sendo apenas para manter sua

    sobrevivncia, no fazendo realmente o que

    lhe identifica. Se a sua produo o que o

    defini, em estado de alienao ele no sabe

    mais o que realmente .

  • EAD UNITINS SOCIOLOGIA GERAL E JURDICA - FUNDAMENTOS E PRTICAS JUDICIRIAS

    25

    Vimos ento que a sociedade analisada por Marx viveu sempre em

    uma relao de conflito entre opressor e oprimido, caminhando por uma

    evoluo, acompanhada pela igual evoluo dos modos de produo. Nesta

    evoluo, segundo a tica marxista, a chegada da sociedade comunista seria a

    ltima etapa, na qual todos poderiam viver em harmonia com o seu tipo de

    produo.

    MAX WEBER

    Max Weber nasceu na cidade de Erfurt, na Turngia, Alemanha, a 21

    de abril de 1864. Uma das caractersticas de Weber foi ter travado o debate

    contrrio corrente positivista ainda predominante. O mtodo weberiano

    conhecido como mtodo compreensivo, no qual se busca analisar a sociedade

    atravs da compreenso de suas relaes sociais. O pesquisador busca a

    objetividade, mas admite o carter subjetivo dos fenmenos sociais.

    Entendendo o que Weber escreveu sobre sociedade est sua interpretao

    sobre a ao social.

    Estas condutas podem ser vrias aes individuais ou a ao de um

    indivduo sendo orientada pela dos outros. A explicao sociolgica est na

    busca pela compreenso do sentido, do desenvolvimento e os efeitos desta

    Sociedade socialista: primeira etapa das transformaes da sociedade capitalista, no qual os trabalhadores tomariam o poder sendo responsveis

    pela gesto do Estado que administraria os bens coletivos desapropriados

    dos capitalistas e, atravs do planejamento da produo em todos os

    setores ocorreria a desigualdade social seria reduzida. Esta fase

    constituiria uma transio para a sociedade comunista. Sociedade comunista: seria ltima etapa da transformao econmico-social, nesta sociedade no existiria o Estado e haveria a eliminao das

    classes sociais cuja produo e distribuio de bens seria gerida pelos

    grupos coletivos de trabalho, ou seja, a populao organizada para garantir

    a produo.

    Ao social uma conduta humana (ato, omisso, permisso) dotada de

    um significado subjetivo dado por quem o executa, o qual orienta seu

    prprio comportamento, tendo em vista a ao passada, presente ou

    futura de outro ou de outros que, por sua vez, podem ser

    individualizados e conhecidos ou ma pluralidade de indivduos

    indeterminados e completamente desconhecidos (WEBER, 2005, p. 82).

  • EAD UNITINS SOCIOLOGIA GERAL E JURDICA - FUNDAMENTOS E PRTICAS JUDICIRIAS

    26

    conduta, ou seja, o seu carter social. No lhe interessando qual a validade

    desta conduta, nem compreender quem praticou enquanto indivduo. Para

    Weber, o que interessa interpretar a conexo do sentido em que se inclua a

    ao (BARBOSA; QUINTANEIRO, 1999, p.107). Como foi dito, para Weber, a

    sociedade pode ser compreendida a partir do conjunto das aes individuais.

    Estes so todo tipo de ao que os indivduos fazem, orientando-se pela ao

    de outros. A ao social s existe quando o indivduo tenta estabelecer algum

    tipo de comunicao, a partir de suas aes com os demais, sendo conceitos

    que explicam a realidade social, mas no so a realidade social, apenas a

    sua anlise. Weber estabeleceu quatro tipos de ao social:

    Ao tradicional: aquela determinada por um costume ou um hbito arraigado;

    Ao afetiva: aquela determinada por afetos ou estados sentimentais; Ao Racional com relao a valores: determinada pela crena

    consciente num valor considerado importante, independentemente do xito desse valor na realidade;

    Ao Racional com relao a fins: determinada pelo clculo racional que coloca fins e organiza os meios necessrios.

    Nos conceitos de ao social e definio de seus diferentes tipos,

    Weber no analisa as regras e normas sociais como exteriores aos indivduos.

    Para ele, as normas e regras sociais so o resultado do conjunto de aes

    individuais. Uma outra contribuio de Weber para a sociologia sua anlise

    sobre a legitimidade do poder. O uso do convencimento para definir a ao e o

    caminho das pessoas, o que seria considerado o domnio do poder pelo

    convencimento. Weber faz um interessante trabalho, unindo, at ento, o que

    poderia ser analisado na sociedade, aproveitando a preocupao das

    indstrias pela produo e as relaes entre as pessoas no seu interior. Weber

    desenvolve um trabalho em que as preocupaes sociais do indivduo, tanto de

    alta ou baixa classe social, poderiam influenciar na produo da economia. Os trs tipos de dominao:

    Weber determinou trs tipos de dominao, vejamos quais:

    Dominao burocrtica ou racional legal: baseada na posio formalmente instituda a autoridade do cargo que o indivduo ocupa. Sua autoridade legtima por estar de acordo com as leis ou regras determinadas, sendo a lei um instrumento legitimador desta autoridade. Dominao tradicional: baseada na crena, normas e tradies sagradas que as pessoas obedecem em virtude da tradio. A obedincia autoridade devida tradio e aos costumes, vontade da pessoa, no tendo relao com a capacidade ou funo que ser executada. Dominao carismtica: baseada nas qualidades pessoais do indivduo, tido como um lder, em uma venerao como uma santidade, heri ou carter exemplar. Sua natureza quase religiosa, enquanto dura o sistema social em que existem como: Cristo, Napoleo, Ghandi, Hitler etc. (DIAS, 2004, p.195)

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    27

    Filsofos Idia sobre a sociedade

    mile Durkheim

    Embora algumas de suas idias sobre a sociedade fossem semelhantes s de Comte (positivista), Durkheim possui caractersticas funcionalistas, como analisar a sociedade como um organismo vivo e a unio de grupos quando passam a compartilhar sentimentos semelhantes. Contudo, sua idia sobre sociedade est ligada relao que esta possui com o indivduo. Sendo o indivduo um produto da sociedade em que vive, moldado por suas instituies reguladoras.

    Karl Marx

    Nas idias de Marx, predominam a mudana, a transformao da sociedade, negando a idia positivista. Para ele, o capitalismo seria uma fase da evoluo da sociedade socialista, caminhando para a ditadura do proletariado e posteriormente chegando ao comunismo. Na relao entre produtores e no-produtores, que existe na sociedade, origina-se a mais-valia, apontando o caminho para a revoluo social.

    Max Weber

    Em Weber, sua idia sobre a sociedade est ligada anlise relativa, negando a idia positivista. Olhando para a sociedade, ele analisava de forma relativa a atitude das pessoas. Podendo a ao de um indivduo estar ligada a apenas um outro ou a um grupo, como tambm podendo ocorrer de forma contrria, ou seja, a ao de um grupo estar sendo influenciada apenas por um indivduo ou um outro grupo. Nessas relaes entre as aes do indivduo, Weber contribui com a anlise da legitimidade do poder, podendo assim perceber como um indivduo passa a dominar a ao do outro, o convencendo de que aquela ao a maneira correta de atuar em sociedade.

    Atividades

    1. Explique o que Positivismo e como isso influenciou o pensamento de Augusto Comte.

    2. Qual foi o importante cientista que influenciou Augusto Comte? Como

    este o usou em sua teoria?

    3. Para Augusto Comte, o que significava o movimento dinmico e esttico?

    4. Para Durkhein, o que so fenmenos sociais e como so analisados?

    5. Explique como Karl Marx analisada a sociedade em sua relao entre

    produtores, no-produtores e excedente?

    6. Explique qual era a tese de Karl Marx sobre a evoluo da sociedade.

    7. Explique como Max Weber analisava sociedade e como ocorriam suas mudanas.

    Vamos analisar agora um quadro comparativo dos

    socilogos clssicos:

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    28

    Referncias BARBOSA, Maria Lgia de Oliveira; QUINTANERO, Tania. Max Weber. In.

    BARBOSA, Maria Lgia de Oliveira. Oliveira, Mrcia Gardnia de. Quintaneiro,

    Tnia. Um toque de clssicos: Durkheim, Marx e Weber. 2. Ed. Belo

    Horizonte: UFMG 1995.

    COHN, Gabriel. Weber. Coleo grandes cientistas sociais. So Paulo. tica.

    2005.

    COSTA, Cristina. Sociologia: Introduo cincia da sociedade. 2 Ed. So

    Paulo: Moderna, 1997.

    DURKHEIM, mile. As regras do mtodo sociolgico. 2 Ed. So Paulo.

    Martins Fontes. 1999.

    Enciclopdia Concisa Delta. http/www.educacao.aol.com.br/. 25/07/2005.

    MEGALE, Janurio Francisco. http/www.culturabrasil.pro.br/ismos.htm.

    25/07/2005.

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    29

    Sociologia Jurdica: noo, objeto e histrico (I) Objetivos

    Compreender o que sociologia jurdica e o seu objeto;

    Apresentar aspectos histricos ligados sociologia jurdica.

    Introduo

    O direito um fenmeno social, ou seja, ele se revela na sociedade, ao

    estabelecer normas de convvio entre os diversos membros do corpo social. No

    estudo do direito, sempre houve, de uma forma ou de outra, a tendncia para

    isolar certas dimenses da realidade jurdica ou de reduzi-la aos fatos, ou aos

    valores ou s normas. Veremos que a sociologia jurdica, sem perder de vista a

    interao sempre presente entre os elementos fato, valor e norma, se dedica

    especialmente ao direito enquanto fato ou fenmeno social. Mas vamos

    trabalhar neste tema com um artigo e sobre ele iremos analisar determinadas

    questes a ns pertinentes. O artigo foi capturado do endereo eletrnico

    http://sociologiajur.vilabol.uol.com.br/tasociologiadodireito.htm, de autoria do

    graduando em Direito Bruno Vigneron Cariello, do graduando de Cincias

    Sociais Maximiliano Vieira Franco de Godoy e Leonardo do Amaral Pedrete

    bacharel em Cincias Sociais (UFRJ) e graduando em Direito. O importante

    perceber o exerccio textual que os graduandos estabeleceram na tentativa de

    criar uma interface entre Direito e Sociologia. O texto tambm um convite

    para voc, que est estudando Fundamentos e Prticas Judicirias a iniciar

    sua incurses analticas textuais.

    Sociologia do Direito: Velhos e Novos Caminhos

    Vigneron Cariello Maximiliano Vieira Franco de Godoy

    Leonardo do Amaral Pedrete I Introduo

    Este artigo prope um breve panorama da Sociologia do Direito i[1], abrangendo

    Vamos ler o texto e responder as questes propostas, para que possamos ir nos

    Tema 5

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    30

    desde (a) as reflexes epistemolgicas acerca do estudo das relaes entre direito e realidade social, passando (b) pelas perspectivas, autores, conceitos e noes que marcaram e ainda marcam o desenvolvimento do campo, at (c) os seus principais temas e questes atualmente abordados. No pretendemos aqui exaurir todas as possveis questes que uma disciplina ampla como a Sociologia Jurdica sugere, mas to-somente oferecer uma introduo sinttica a quem deseja enveredar-se nos estudos desse campo. O debate sobre a definio de Sociologia Jurdica enquanto campo autnomo do saber cientfico ainda est em aberto. Podemos entend-la como um mtodo cientfico de anlise das relaes entre o direito e a realidade social, das suas condies factuais de existncia e do desenvolvimento dos sistemas jurdicos sobre o sistema social. Resumidamente, constitui-se na anlise do direito na sociedade (seu lugar e funo) e da sociedade no direito (resposta social diante da regulao jurdico-formal) ii[2].

    Na Europa, a Sociologia Jurdica foi institucionalizada como disciplina acadmica a partir dos departamentos de Filosofia do Direito. Com isso, o desenvolvimento daquela disciplina privilegiou perspectivas metodolgicas, histricas, tericas e sistemticas diversas da perspectiva do mtodo emprico. A conseqncia desta atitude, por vezes, foi a reduo da cincia sociolgica do direito em simples sociologismo jurdico ou em pura teoria sociolgica do direito. Contudo, as correntes jurdicas sociologistas e antiformalistas tiveram sua importncia, pois tambm abriram caminho consolidao da Sociologia Jurdica como disciplina cientfica autnoma, colocando a Cincia Jurdica rumo ao mtodo social do direito.

    Para se falar do caso brasileiro, cumpre lembrar que a institucionalizao da disciplina, superando o dogmatismo legalista e permitindo os primeiros estudos empricos, s foi possvel no incio da dcada de 1960, com os primeiros cursos em Recife. At ento, observaram-se trs fases da Sociologia Jurdica, sempre de cunho terico. Uma primeira fundada nas metodologias de Spencer e A. Comte a que tem expresso na proposta de Rui Barbosa de uma cadeira de Sociologia nas faculdades de Direito, em substituio filosofia jusnaturalista ora em voga. A segunda, j destacada do positivismo comtista, foi desenvolvida na Escola de Recife por Clvis Bevilaqua, Tobias Barreto e, em especial, Slvio Romero, por tratar a temtica da cultura como uma questo sociolgica, tentando conciliar Kant e Spencer. Por fim, esses antecedentes passam por uma terceira fase, em que Pontes de Miranda, com sua verso do

    acercando com mais propriedade da Sociologia do Direito.

    1- Qual a expresso adequada a ser utilizada: Sociologia Jurdica, Sociologia do Direito ou estudos sociojurdicos?

    2) Como se pode entender o campo de estudos da Sociologia Jurdica?

    3) Que processo se sucedeu na Europa que possibilitou uma certa separao entre os estudos sociojurdicos da filosofia do direito?

    4) Sntese com suas palavras a situao do campo de estudos no Brasil.

    5) Quais foram as matrizes de pensamento preponderantes no cenrio nacional?

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    neopositivismo lgico, sistematiza pioneiramente a reflexo sociolgica. No entanto, devido a sua rgida separao entre cincia e juzos de valor, no se permitiu desenvolver uma delimitao mais clara dos fenmenos jurdicos enquanto objeto sociolgico. Ademais, seu pensamento terico foi reinterpretado no sentido do dogmatismo legalista e acrtico de que falamos iii[3].

    possvel se pensar, ainda, relaes entre a Sociologia Jurdica e as cincias econmicas. Uma anlise econmica do direito busca compreender as normas e instituies jurdicas aplicando mtodos e instrumentos das cincias econmicas, ou seja, realiza uma anlise fundamentada num ponto de vista externo e descritivo, com categorias como eficincia ou funcionamento mais favorvel, considerando, pois, que os destinatrios das normas utilizaro o sistema jurdico para maximizar os resultados de suas aes sociais. Esta nova perspectiva de anlise cresceu na dcada de setenta do sculo passado e encontra-se prxima das teorias utilitaristas, inspiradas em J. Bentham.

    Os sistemas jurdicos podem ser compreendidos numa perspectiva jurdico-dogmtica prpria Cincia Jurdica stricto sensu iv[4] como sendo um conjunto lgico-formal de regras jurdicas (com caractersticas como sistematizao, generalidade, completude, unidade e coerncia). Outra possibilidade a perspectiva sociojurdica de compreenso dos sistemas jurdicos, considerando-os lugares de interao formados com smbolos normativos e sistemas de smbolos normativos como elementos causais dos comportamentos sociais.

    No que toca s problemticas metodolgicas peculiares Sociologia do Direito, cabe meno ao debate entre a sociologia terica (valorizada na Europa) muito ligada aos temas da justificao de sua autonomia disciplinar e da crtica do mtodo de conhecimento jurdico, assim como a estudos terico-funcionalistas referenciados s idias de E. Durkheim, M. Weber e N. Luhmann e as pesquisas socioempricas (de tradio norte-americana) fundadas num modo behaviorista de encarar os mtodos quantitativos. Durante a maior parte do sculo XX, a Sociologia do Direito europia permaneceu fundamentalmente terica, sem dilogo com as tentativas empiristas. Outra incomunicabilidade que caracterizou disputas no campo foi entre a sociologia da cultura jurdica, levada a cabo por juristas de vis antiformalista v[5], e a sociologia das instituies jurdicas, feita por socilogos que rejeitam as concepes normativas em seus estudos. Como veremos, o conflito entre essas personagens atravessa no s as questes

    6) Como relacionar Sociologia Jurdica e Cincias Econmicas?

    5) O que um sistema jurdico compreendido na perspectiva jurdico-dogmtica?

    7) E a perspectiva sociojurdica compreensiva?

    8) Diferencie os estudos terico-funcionalistas das propostas socioempricas? Quais so as tradies presentes nessas tendncias?

    9) Qual o objeto da Sociologia do Direito que os autores procuram salientar?

    10) E quais so os mtodos e a funo?

    11) O que um campo interdisciplinar?

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    de mtodo e de objeto da cincia em questo, como a de seu status de disciplina.

    De fato, a Sociologia Jurdica apresenta um debate entre vises divergentes quanto ao aspecto disciplinar: ora vista como um cruzamento de disciplinas, ora como uma disciplina parte. Embora a maioria dos autores adote a atitude pluridisciplinar, mesmo entre eles h a discusso: a Sociologia do Direito aproxima-se mais das cincias jurdicas ou da sociologia geral? Por outro lado, os socilogos-juristas determinados em estabelecer uma disciplina autnoma esbarram na exigncia de provar a existncia de objeto, funo e mtodo prprios.

    Um caminho encontrado pelos estudos sociojurdicos considerar-se como campo interdisciplinar, em que se pressupe a colaborao equilibrada entre juristas (perspectiva interna) e socilogos (perspectiva externa) vi[6]. Assim, ao vislumbrarem um campo jurdico comum e aberto, esses estudos compreendem no apenas o direito em sentido estrito, mas tambm os modos de regulao de conflitos que dele se aproximam ou com ele se relacionam. Isso requer a superao de uma epistemologia positivista, que postula a dualidade objeto/sujeito e a realidade real, por uma epistemologia construtivista, que prope a interao objeto/sujeito e o princpio de representao das experincias.

    II Referncias tradicionais

    O jusnaturalismo racionalista pode ser considerado, desde a razo secular de H. Grcio, como o precursor modernovii[7] da anlise sociolgica do direito. G.B. Vico quem desponta nesse pensamento como um interessado na especificidade das cincias sociais, dedicando-se ao estudo do desenvolvimento histrico do direito.

    Antecedentes igualmente notveis esto nas teorias contratualistas de T. Hobbes, J. Locke e J.J. Rousseau. Do desenvolvimento de temas de sua filosofia social depreendem-se concepes significativas acerca das funes que o direito assumiria em decorrncia do contrato social. As principais concluses giravam em torno da garantia dos direitos naturais de liberdade, vida e propriedade.

    Por outro lado, antecipando a pesquisa emprica em Sociologia, Montesquieu tido por fundador da Sociologia do Direito. De fato, em sua estratgia de aplicar o princpio da causalidade fsica sociedade, o autor afasta as concepes normativas do fato jurdico, explicando o direito enquanto fenmeno social inserido em um contexto scio-histrico particular. Dentre as influncias que legou esto o relativismo do direito e a causalidade histrica e sociolgica por mtodo. No utilitarismo

    10) Vamos recordar de aspectos j trabalhados nas Matrizes Histricas e Filosficas do Direito? Procure definir o que o jusnaturalismo racionalista.

    11) Quais foram as contribuies de Thomas Hobbes, John Locke e Jean-Jacques Rousseau?

    12) Por que Montesquieu considerado o fundador da Sociologia do Direito?

    13) Qual foi a contribuio da tendncia do utilitarismo ingls? E quais eram suas

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    ingls representado por autores como J. Bentham temos uma referncia legalista, ligada ao positivismo jurdico, e contrria ao jusnaturalismo. Ao mesmo tempo, prope-se um fundamento realista para o direito, atravs do critrio da utilidade social. Da se explica o interesse pela sociologia legislativa e das organizaes judicirias, visando a propositura de reformas.

    J a Escola Histrica do Direito de F.K. Savigny claramente antilegalista, no sentido de afirmar que o direito tem um desenvolvimento espontneo, ligado aos costumes, poltica e economia de um povo. Os estudos histrico-sociolgicos acerca da origem das instituies jurdicas alems so frutos dessa desconfiana em relao ao legislador representativo, e objetivavam concorrer na elaborao de conceitos que limitassem a discricionariedade dos poderes normativos.

    caractersticas?

    14) Quais as caractersticas de uma escola do Direito antilegalista?

    15) Voc j estudou as contribuies de Karl Marx, mile Durkheim e Max Weber. Ento, leia os pargrafos seguintes, produzindo uma sntese sobre os principais aspectos abordados e salientando o que mais voc agrega de contedo ao seu conhecimento adquirido.

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    Abordaremos agora a relao entre os cnones da Sociologia e o direito, sendo necessrio explicar a perspectiva destes trs fundadores da Sociologia enquanto disciplina: K. Marx, E. Durkheim e M. Weber.

    Marx no escreveu especificamente sobre o direito, mas contribuiu grandiosamente para a Sociologia Jurdica com sua teoria do conflito, que estabelece relaes entre direito, Estado, economia e sociedade. Com inspirao na dialtica hegeliana, Marx utilizou-se do mtodo do materialismo histrico para construir sua teoria social, onde encontramos vestgios de uma Sociologia Jurdica. No modo de produo capitalista, a classe dominante (detentora dos meios de produo) impe seus interesses econmicos classe proletria. Diante dessa infra-estrutura social conflituosa, ergue-se uma superestrutura jurdico-estatal a fim de manter a dominao de classes. Como variveis dependentes da estrutura econmica e da relao de dominao, o direito e o Estado aparecem como instrumento de coero da classe dominante, servindo imposio de sua ideologia.

    Durkheim utiliza, no estudo da Sociologia Jurdica, o mtodo funcionalista que emprega na sociologia geral. Sua reflexo se volta para a ntima relao entre o direito e a sociedade, enfatizando a estabilidade e a durabilidade do direito enquanto organizao social. Visando ora a dimenso terica, ora a emprica, e nunca se esquecendo da metodolgica, Durkheim problematiza a manuteno da ordem social. A resoluo desse problema encontra-se na existncia, em toda sociedade, de um conjunto de normas, denominado direito, que regula a ao dos indivduos. Em sua teoria estrutural-funcionalista do controle social, baseada no consenso dos indivduos a respeito do direito (smbolo da coeso social), Durkheim analisa dois tipos de estrutura social as quais correspondem dois tipos de direito. A estrutura mais primitiva se caracteriza pela solidariedade mecnica concretizada em interesses e valores compartilhados pelos membros da sociedade. Nela no se diferencia totalmente o direito da moral, assim como a estrutura da sociedade encontra-se indiferenciada. O segundo tipo de estrutura social tem por imperativo a solidariedade orgnica caracterizada pela definio de funes entre os diversos grupos sociais especializados, resultando numa formao social estruturalmente diferenciada. A passagem de um tipo social a outro se faz mediante um aumento na diviso do trabalho social, tendo por conseqncia a substituio do direito repressivo pelo restitutivo.

    Weber desenvolveu uma Sociologia do Direito de carter histrico, discutindo paradigmas epistemolgicos acerca das divergncias metodolgicas entre a Dogmtica Jurdica e a Sociologia do Direito. Diversamente dos co-fundadores da Sociologia, Weber entende esta disciplina a partir da metodologia compreensiva e no puramente descritiva. Este autor demonstra a diferena clara existente entre o mtodo sociolgico e o jurdico-dogmtico: o primeiro busca saber qual o comportamento dos membros de um grupo em relao ordem jurdica em vigor, enquanto o segundo visa estabelecer a coerncia lgica das proposies jurdicas. Em suma, as duas perspectivas encontram-se em planos diferentes, uma no plano do que (sociolgico) e outra no plano do dever-ser (jurdico). E assim Weber reala a existncia de um outro mtodo de anlise da Cincia Jurdica (o mtodo sociolgico) que pode se relacionar complementarmente com o mtodo dogmtico-jurdico. Ele se utiliza de tipos ideais e da anttese formal/material, sendo o direito racional-formal aquele que combina a previsibilidade com os critrios de deciso do sistema jurdico considerado, e o direito racional-material, um tipo calculvel, mas que apela para sistemas exteriores (religioso, tico, poltico) ao jurdico nos processos decisrios.

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    O incio do sculo XX observou o desenvolvimento de uma corrente crtica no pensamento jurdico, principalmente na Alemanha e na ustria. Representado por E. Ehrlich, H. Kantorowicz e E. Fuchs, o Movimento do Direito Livre defendeu uma nova Cincia Jurdica, de carter sociolgico e emprico. O movimento teve como precursora, no final do sculo XIX, a tentativa de sociologizao do pensamento jurdico representada pela crtica ao formalismo, legalismo e idealismo da Jurisprudncia dos Conceitos (formada por autores como G.F. Puchta e Windscheid) por parte da Jurisprudncia dos Interesses, de R. Jhering.

    O Movimento do Direito Livre contribuiu para a formao do paradigma da criao livre do direito, que se caracteriza: pela introduo de uma concepo sociolgica das fontes formais de produo do direito; pela desvalorizao cientfica da Dogmtica Jurdica e sua substituio pela Sociologia do Direito; e pelo reconhecimento da existncia de lacunas em qualquer sistema jurdico e da funo judiciria como funo criadora do direito. Seu precursor, Ehrlich, afirmava a existncia de um direito vivo, real ou livre, que regula a vida social de modo espontneo. Ele no apreendido pela Dogmtica Jurdica, mas deve ser considerado pelo juiz em suas decises, tanto quanto a lei estatal.

    O segundo paradigma influenciado pelo referido movimento conhecido como o pluralismo jurdico. Partindo da idia da existncia de diferentes sistemas jurdicos coexistentes e independentes em relao ao direito estatal, essa perspectiva amplia o conceito de juridicidade viii[8]. Ela foi reformulada por G. Gurvitch, filsofo do direito, defensor da Sociologia do Direito como disciplina autnoma, alm de crtico tanto do sociologismo quanto do positivismo jurdico.

    Gurvitch afirmou a pluralidade de fontes de criao do direito e a existncia de um direito social, de natureza extra-estatal, baseado em fatos normativos apoiados em valores, fins e objetivos de cada grupo social, geradores e fontes de validade de direitos na sociedade. Outra formulao desse paradigma do direito social foi proposta por L. Duguit, autor que, inspirado na idia durkheimiana de solidariedade social e na crtica ao formalismo jurdico, concebeu o direito como produto natural do desenvolvimento social, afirmando que o direito estatal apenas reconhece e institucionaliza as regras da vida social.

    Entre as dcadas de 1920 e 1950, duas correntes realistas desenvolveram o paradigma da cincia social do direito: de um lado, o Realismo Jurdico Escandinavo, representado por A. Hgerstrom, A.V. Lundstedt, K. Olivecrona e A. Ross; de outro o Realismo Jurdico Norte- Americano, representado por J. Frank e K.N Llewellyn, precedido por juzes da Jurisprudncia Sociolgica, como O.W. Holmes, B.N. Cardozo e R. Pound. As doutrinas realistas apresentam como substratos comuns a influncia das filosofias utilitarista e pragmtica e a compreenso do direito em sua realidade sociolgica por fora de postulados empiristas (em detrimento das concepes metafsicas e lgico-formais). Apesar disso, os enfoques divergem consideravelmente, privilegiando ora a prtica efetiva dos tribunais, ora esquemas filosficos.

    A vertente americana percebeu o direito como resultado da interao entre o direito dos livros (normas jurdicas estatais) e o direito em ao (prtica dos tribunais e juzes) ix[9], tendo enfatizado os efeitos do direito na sociedade como um processo contnuo de engenharia social, bem como os diversos tipos de condicionamentos escondidos nas decises judiciais, sob aparncia de formulaes lgicas. Por outro lado, a vertente escandinava de que se aproximava o alemo T. Geiger ocupou-se em substituir o carter metafsico e idealista dos conceitos da Cincia Jurdica tradicional por uma teoria factual ou sociolgico-formal do direito, fortemente embasada em pressupostos descritivos, factuais e pragmticos da filosofia empirista moderna.

    Notas:

    1[1] Os termos Sociologia Jurdica, Sociologia do Direito e estudos sociojurdicos sero, a princpio, utilizados indistintamente, embora se deva notar que a ltima expresso (mais utilizada entre os norte-americanos) remete noo de um campo interdisciplinar, enquanto as duas outras (de origem francesa) referem-se a uma disciplina autnoma.

    1[2] Definio proposta em ARNAUD & FARIAS DULCE, 2000, obra que inspirou o presente artigo.

    1[3] Cf. SEVERO ROCHA, 1988.

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    1[4] A Cincia Jurdica stricto sensu sofre uma diviso sob o ponto de vista dos aspectos formal e material. A Teoria Geral do Direito objetiva elaborar conceitos jurdicos bsicos, compartilhados por todos os sistemas jurdicos (aspecto formal do direito), enquanto que a Dogmtica Jurdica revela o contedo material das normas de determinado sistema jurdico, ou seja, trata da significao conceitual das normas (aspecto material do direito).

    1[5] o caso da Jurisprudncia dos Interesses, de R. Jhering.

    1[6] A distino perspectiva interna / perspectiva externa foi desenvolvida por H.L.A. Hart e R. Dworkin.

    1[7] As contribuies mais remotas Sociologia do Direito

    encontram-se em historiadores da Grcia Antiga, como Herdoto e

    Plutarco, que j demonstravam idias de relatividade e variabilidade do

    direito. Mas Aristteles que aborda, com uma proposta metodolgica

    realista e emprica, questes to pertinentes como as da origem e eficcia

    sociais do direito convencional ou positivo.

    1[8] Linhas de demarcao entre o direito e o sociojurdico, no verbete juridicidade (ARNAUD et al., 1999).

    1[9] A distino law in books / law in action creditada ao juiz norte-americano O.W. Holmes.

    Atividades

    1) Aps a leitura e atividades propostas inclusas no texto, procure agora,

    no mximo em 40 linhas, dissertar sobre: O objeto e a funo da Sociologia do Direito.

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    Sociologia Jurdica: noo, objeto e histrico (II) Objetivos

    Compreender o que sociologia jurdica e o seu objeto;

    Apresentar aspectos histricos ligados sociologia jurdica.

    Introduo Vamos continuar nossa leitura e anlise sobre o texto de Bruno

    Vigneron Cariello, Maximiliano Vieira Franco de Godoy e Leonardo do Amaral Pedrete. Vejamos o que eles salientam sobre a renvoao dos paradigmas na

    Sociologia do Direito.

    Sociologia do Direito: Velhos e Novos Caminhos (II)

    Vigneron Cariello

    Maximiliano Vieira Franco de Godoy Leonardo do Amaral Pedrete

    III Paradigmas renovados

    A partir da dcada de 1960, observou-se um grande renascimento do

    interesse por uma anlise marxista do direito, a partir da releitura das obras do

    prprio Marx e de marxistas como E. Pasukanis, K. Renner e A. Gramsci.

    Principal terico sovitico das dcadas de 1920 e 1930, Pasukanis sustentava que, assim como o Estado, o direito seria uma formao caracterstica da

    sociedade burguesa e o contrato, a forma de expresso jurdica das relaes

    capitalistas. Personagem da social-democracia na Europa Ocidental, Renner

    estudou as funes sociais e as transformaes do direito privado na

    sociedade capitalista, constatando que o direito no acompanha

    necessariamente as mudanas da infra-estrutura. O filsofo italiano Gramsci, por sua vez, notou que o Estado apresenta instituies destinadas produo

    da hegemonia, alm das destinadas coero, embora situe o direito no plano

    da construo da legalidade legitimadora do domnio coercitivo.

    Tema 06

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    38

    Ainda que no se tenha produzido uma teoria geral marxista do direito,

    possvel identificar diversas correntes dentre as numerosas obras de

    inspirao marxista produzidas aps os anos 60. Com Holloway e S. Piccioto, pelo vis de Pasukanis, a natureza das relaes capitalistas de produo serve

    de base para a compreenso do Estado e do direito. Pelo estruturalismo de

    Althusser, o direito aparece como conjuno dos modos de dominao

    repressivos. Com inspirao gramsciana, N. Poulantzas e C. Sumner chamam ateno para o papel desempenhado pelo direito na produo da hegemonia.

    Em uma abordagem histrica, E. P. Thompson afirma que o direito um campo

    de conflito marcado pela luta em torno da lei, sendo necessrio para um projeto

    de democracia socialista.

    O marxismo serviu ainda de referncia terica para dois movimentos

    crticos: a associao Crtica do Direito e o Critical Legal Studies. A associao

    Crtica do Direito foi formada em 1978 por docentes das faculdades de Direito

    da Frana (como M. Villey, A.J. Arnaud, N. Poulantzas e M. Miaille). O projeto inicial pedaggico e cientfico era reconstruir uma teoria geral do

    direito, porm, nos anos 80, deu lugar anlise terica marxista do jogo

    concreto dos mecanismos jurdicos na sociedade burguesa. Designado nos

    EUA como Critical Legal Studies (CLS), o segundo movimento dedica-se, a

    partir de 1981, compreenso e crtica anti-liberal dos fenmenos jurdicos,

    utilizando referncias tericas do realismo jurdico, do feminismo e do

    estruturalismo, alm do marxismo. Em denncia ao empirismo das cincias

    sociais e econmicas norte-americanas, o CLS se