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Software Livre 1 - Conceito Software livre hoje é uma realidade. Ele ocupa espaço significativo no cenário tecnológico brasileiro e, aos poucos, vem crescendo e se desenvolvendo. Nesse modelo, a fonte de receita provém da prestação de serviços e da necessidade de agregar conhecimento. Cenário nacional Um levantamento encomendado em 2006 pela Associação Brasileira das Empresas de Software (ABES) e realizado pela consultoria IDC indica que o mercado nacional de softwares e serviços é o 12º maior do mundo, movimentando US$ 7,41 bilhões em 2005. Em primeiro lugar está o mercado norte-americano, com US$ 287,5 bilhões de um segmento que movimento, no ano passado, US$ 662 bilhões em todo o mundo. Em 2005, apenas as vendas de softwares atingiram US$ 2,72 bilhões , um crescimento de 15% em relação ao ano anterior, quando o setor movimentou US$ 2,36 bilhões. Esse montante representa 1,2% do mercado mundial de programas e equivale a cerca de 41% do mercado latino-americano. A expectativa da IDC e da Abes é que o segmento mantenha um crescimento médio de 11% até 2009, indica a pesquisa. Porém, o País importa aproximadamente US$ 1 bilhão e exporta US$ 100 milhões, no modelo de software proprietário. A realidade é uma situação de quase monopólio na comercialização de software de escritório e de oligopólio em outras áreas. A adoção do software livre como novo paradigma tecnológico apresenta-se como uma solução para equilibrar essa balança. Os sistemas de escritório oferecem uma solução estável e eficiente. Alguns aplicativos em código aberto já dominam amplamente o mercado mundial, como o servidor de web Apache, utilizado em mais de 70% dos sites, inclusive na Casa Branca e no Deutsch Bank, entre outros. Fruto de trabalho colaborativo mundial, o Brasil não está sozinho ao seguir essa tendência. Além de países como Alemanha, França, Espanha e Índia, há um número crescente de empresas adotando a nova forma de fazer negócio na área de TI, como IBM, Novell e HP. Uma das iniciativas é o caso do KDE, uma interface gráfica que permite o uso amigável do computador. O KDE nasceu em 1996, devido à insatisfação com os sistemas existentes do programador alemão Mathias Ettrich. No modelo de software livre, a fonte de receita provém da prestação de serviços e da necessidade de agregar conhecimento permanentemente. Assim, a renda gerada com o desenvolvimento dos softwares é apropriada localmente e a geração de empregos se dá no próprio país. Isso é uma oposição à atual situação, que gera dependência externa e o envio de royalties desnecessários. Vale lembrar que, quando o governo incentiva a adoção de soluções em código aberto, não se está proibindo que a indústria de software continue a trabalhar com as soluções proprietárias. No entanto, comprovadamente na área de TI, países e empresas que adotaram na vanguarda novos

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  • Software Livre

    1 - Conceito

    Software livre hoje é uma realidade. Ele ocupa espaço significativo no cenário tecnológicobrasileiro e, aos poucos, vem crescendo e se desenvolvendo. Nesse modelo, a fonte de receitaprovém da prestação de serviços e da necessidade de agregar conhecimento. Cenário nacional Um levantamento encomendado em 2006 pela Associação Brasileira das Empresas de Software(ABES) e realizado pela consultoria IDC indica que o mercado nacional de softwares e serviços éo 12º maior do mundo, movimentando US$ 7,41 bilhões em 2005. Em primeiro lugar está o mercado norte-americano, com US$ 287,5 bilhões de um segmento quemovimento, no ano passado, US$ 662 bilhões em todo o mundo. Em 2005, apenas as vendas de softwares atingiram US$ 2,72 bilhões , um crescimento de 15%em relação ao ano anterior, quando o setor movimentou US$ 2,36 bilhões. Esse montanterepresenta 1,2% do mercado mundial de programas e equivale a cerca de 41% do mercadolatino-americano. A expectativa da IDC e da Abes é que o segmento mantenha um crescimentomédio de 11% até 2009, indica a pesquisa. Porém, o País importa aproximadamente US$ 1 bilhão e exporta US$ 100 milhões, no modelo desoftware proprietário. A realidade é uma situação de quase monopólio na comercialização desoftware de escritório e de oligopólio em outras áreas. A adoção do software livre como novo paradigma tecnológico apresenta-se como uma soluçãopara equilibrar essa balança. Os sistemas de escritório oferecem uma solução estável e eficiente.Alguns aplicativos em código aberto já dominam amplamente o mercado mundial, como o servidorde web Apache, utilizado em mais de 70% dos sites, inclusive na Casa Branca e no DeutschBank, entre outros. Fruto de trabalho colaborativo mundial, o Brasil não está sozinho ao seguir essa tendência. Alémde países como Alemanha, França, Espanha e Índia, há um número crescente de empresasadotando a nova forma de fazer negócio na área de TI, como IBM, Novell e HP. Uma dasiniciativas é o caso do KDE, uma interface gráfica que permite o uso amigável do computador. OKDE nasceu em 1996, devido à insatisfação com os sistemas existentes do programador alemãoMathias Ettrich. No modelo de software livre, a fonte de receita provém da prestação de serviços e danecessidade de agregar conhecimento permanentemente. Assim, a renda gerada com odesenvolvimento dos softwares é apropriada localmente e a geração de empregos se dá nopróprio país. Isso é uma oposição à atual situação, que gera dependência externa e o envio deroyalties desnecessários. Vale lembrar que, quando o governo incentiva a adoção de soluções em código aberto, não seestá proibindo que a indústria de software continue a trabalhar com as soluções proprietárias. Noentanto, comprovadamente na área de TI, países e empresas que adotaram na vanguarda novos

  • paradigmas conquistaram parcela significativa de mercado e passaram a predominar no espaçomundial. A maior diferença entre o software livre e o modelo proprietário não está na possibilidade de lerseus códigos, mas sim na possibilidade de alterar, customizar e melhorar. Isso possibilitaindependência tecnológica e de fornecedores para o país. Há brasileiros liderando muitos projetos, empresas que começam a se destacar nesse novomodelo e universidades que se transformaram em centros de excelência em projetos utilizadospelo mundo. Isso tudo sem haver a necessidade do envio de um único centavo em royalties parao exterior e com compartilhamento do conhecimento. Isso posiciona o Brasil na vanguarda naárea de tecnologia da informação e os resultados logo serão percebidos. Conceito de Software Livre Quando alguém se inicia no caminho dos programas gratuitos, a primeira discussão encontrada éa diferença entre software livre e código aberto. Apesar de serem muito parecidos, esses doisconceitos se diferenciam muito em seus fundamentos. O conceito de free software, criado pelo pesquisador Richard Stallman, do laboratório MIT AI Lab,baseia-se na idéia de que um programa e seu código fonte são conhecimentos científicos e, assimcomo os teoremas matemáticos, não podem ser guardados. A idéia é que, se eles foremescondidos do público, correremos o risco de ter uns poucos controlando o conhecimento –retardando, assim, o avanço da ciência. Richard Stallman vem desenvolvendo essa idéia com o projeto GNU (Gnu is Not Unix), criado em1984, por meio da organização Free Software Foundation (FSF). O projeto GNU iniciou apesquisa e o desenvolvimento de diversos programas que são distribuídos gratuitamente, como oprocessador de texto EMACS. Todos os programas são licenciados, seguindo o modelo GPL(GNU General Public License), que define claramente as características necessárias a umprograma para que ele seja considerado livre. Pela determinação da GPL, todo programa que utiliza fragmentos de programas licenciados pelaGPL também deve ganhar o status de GPL, ou seja, livre . Esse conceito de software livre ofereceuma barreira enorme às empresas, já que elas têm como principal objetivo não o aumento doconhecimento humano, e sim o lucro. Por isso, durante muito tempo, o uso de software livre ficourestrito a universidades e centros de pesquisa. Em 1997, um grupo formado por membros da comunidade de software livre se reuniu e amenizouo conceito, tornando-o mais atraente para as empresas. Entre os participantes, estavam EricRaymond (autor do livro A Catedral e o Bazar – a bíblia da comunidade free software), TimO’Reilly (editora O’Reilly, especializada em livros técnicos) e Larry Augustin (presidente da VAResearch, estrela das bolsas americanas pelo seu IPO fenomenal). O novo conceito, batizado de open source, permitiria que se comercializasse um software decódigo-fonte aberto ou se usasse parte de um código comercial em um produto gratuito. Optandopor programas free ou open source, paga-se o mesmo valor pelo produto final: zero. Isso é ótimopara os bolsos das empresas, mas onde está o apelo para o profissional de TI recomendar eutilizar free software em seus projetos? A resposta é: custos menores e margens de lucrosmaiores, que é o desejo de qualquer corporação. Como um projeto baseado em software livre ouopen source não tem os altos custos de licenciamento de software, essa economia pode (ecostuma) ser utilizada para contratar mais e melhores profissionais de TI. O que é o software livre

  • Richard Stallman é sempre enfático em destacar os quatro níveis de liberdade que caracterizamo software livre. Primeiro, liberdade de usar o software. Segundo, liberdade de alterar o softwareconforme as necessidades pessoais. Terceiro, liberdade de aperfeiçoar o software e distribuircópias para a comunidade. Quarto, liberdade de melhorar o software e publicá-lo com essasmelhorias. E para que isso aconteça, o software precisa ter o código aberto, única forma de ousuário/programador conseguir modificá-lo para uso próprio ou para compartilhar com outraspessoas. Isso é o que torna o software livre uma alternativa consistente e segura, pois étotalmente transparente para o usuário. Quem garante que no software proprietário, de código-fonte fechado, não exista nenhum"backdoor" ou cavalo de tróia, ou algum outro mecanismo secreto que permita o acesso dofabricante ou de terceiros no computador alheio? No software livre, existe uma comunidade deusuários verificando isso, e se achar algum problema pode corrigi-lo e acrescentar essa melhoriaao software. A história é a seguinte: após trabalhar treze anos no Laboratório de Inteligência Artificial doMassachussets Institute of Technology (MIT), Stallman deixou seu emprego, em 1984, para criarum sistema operacional livre. Optou por desenvolver um sistema portável, similar ao Unix, dandoinício ao projeto GNU, que estabelece a licença pública geral como premissa básica do softwarelivre. Criou então várias ferramentas, entre elas o editor de textos Emacs. Mas foi somente a partir de1991 que o GNU passou a utilizar o kernel criado por Linus Torvalds, chamado Linux. Por isso, dizStallman, as pessoas utilizam o GNU/Linux e não o Linux, pois ele nada mais é do que o softwaredesenvolvido pela GNU com o kernel do Linux. E o kernel é uma parte de um conjunto deprogramas, como o Emacs, o GCC, o debuger, o X Window System, os gerenciadores de janelas,entre outros. Também é importante distinguir o movimento Software Livre do movimento Open Source (códigoaberto), pois este último não trata das questões éticas que garantem a liberdade de compartilhar osoftware com outros e de publicá-lo com melhorias. No Open Source, o código-fonte do software éprotegido por direito autoral, o que é muito diferente do movimento Software Livre que é umaforma de consciência social, que encoraja a cooperação e o espírito comunitário de compartilharconhecimentos. Software livre X software proprietário O software proprietário trata-se de um modelo que restringe as liberdades do usuário, como porexemplo: limitando a finalidade do mesmo, o número de cópias que podem ser instaladas, negamacesso ao código-fonte impossibilitando assim, o estudo e a modificação do software. Outracaracterística que geralmente acompanha o software proprietário é o seu alto custo para oconsumidor final. O software livre vem para garantir a todos os usuários a execução do software, para qualqueruso, estudar o funcionamento de um programa e a de adaptá-lo às suas necessidades; aredistribuição de cópias e a facilidade de melhorar o programa e de tornar as modificaçõespúblicas de modo que a comunidade inteira se beneficie da melhoria. Também conhecido comosoftware libertário, os softwares livres são distribuídos gratuitamente, apesar de não seremnecessariamente grátis. Enquanto no software livre o programador abdica de um dos canais de receita pelo seu trabalho,em troca da preservação do controle dos termos de uso da sua obra, no software proprietário, o

  • programador abdica da liberdade de controlar sua obra, em troca de salário e compromisso desigilo, o distribuidor torna-se proprietário de tudo. Desde o código-fonte, tido como segredo denegócio, até as cópias executáveis, licenciadas ao usuário sob custódia e regime draconiano. Emcontrapartida, se a obra tiver qualidades, agregará eficiência aos empreendimentos em torno dela. Software Livre não significa um software não-comercial. Um programa livre deve estar disponívelpara uso comercial, desenvolvimento comercial, e distribuição comercial. O desenvolvimentocomercial de software livre não é incomum; tais softwares livres comerciais são muito importantes. Independentemente da competição com o código aberto, o software proprietário no Brasilenfrenta o problema do valor das licenças. Muitas pessoas vão escolher software de códigoaberto ou resolver piratear o Windows. De uma forma ou de outra, a Microsoft não ganha dinheiro.É uma história que se repete em vários países ao redor do mundo. Mas, de uma maneira maisgeral, a principal diferença entre software fechado e software de código aberto está no fato de quea produção de código aberto é mais eficiente. No sentido em que converte de uma melhor formatrabalho e capital em software que funciona. Com o tempo, a forma mais eficiente de produçãosempre vence. Linux, o pingüim O sucesso do GNU/Linux, cujo mascote é um pingüim chamado Tux, motivou a criação de outrosprojetos seguindo a mesma filosofia, sustentados por comunidades de empresas, governos,instituições, programadores, analistas, usuários e voluntários em geral. Hoje, o Software Livreconsolida-se como um grande conjunto de soluções tecnológicas robustas, abertas, seguras eflexíveis, ideais para organizações onde a inovação já faz parte do dia-a-dia. O Linux, como é do conhecimento de todos os adeptos da computação, se vem tornando umsistema operacional cada vez mais presente. Uma das razões para isso é que, além de suaqualidade, ele é um sistema que proporciona baixo custo em implementações pelo simples motivode ser gratuito. Assim como o próprio sistema, uma variedade enorme de softwares encontra-sedisponível sem ser necessário pagar nada por eles. O Software Livre possui tanta importância que se não fosse assim o Linux não existiria ou ficariarestrito aos muros de uma universidade. Linus Torvalds, o "pai do Linux", quando criou o sistema,não quis guardá-lo para si. Quis montar um sistema que atendesse às suas necessidades, masque também pudesse ser útil para mais alguém. Fez isso sem saber que estava acabando de"fundar" uma comunidade: a Comunidade Linux. Essa comunidade consiste em um número enorme de programadores e colaboradores no mundotodo que trabalham com um único objetivo: ter um sistema operacional robusto, confiante,dinâmico, e que, principalmente, esteja ao alcance de todos. A idéia é muito simples: para ser umsistema ao alcance de todos, todos podem colaborar, mostrar suas idéias e participar. Não a toa o Linux, a cada dia, vem conquistando novos usuários domésticos e cada vez maisatraindo empresas de todos os portes, que buscam um sistema confiável e barato. De quebra,podem alterá-lo para suprir suas necessidades e não precisam gastar com sistemas pagos elimitados. Tudo isso se tornou possível graças ao fato do Linux ser um sistema livre. Sua licençade uso é a GPL, sigla para GNU Public License, e é uma das formas mais conhecidas dedistribuição de programas. A maior parte dos softwares para Linux é baseada na licença GPL. Vale dizer que uma licença é um documento que permite o uso e distribuição de programasdentro de uma série de circunstâncias. É uma espécie de copyright (direitos autorais) que protegeo proprietário do programa. Tendo copyright, o dono pode vender, doar, tornar freeware enfim. A

  • Microsoft, por exemplo, atua assim. Você tem de pagar pelos programas e não pode utilizar umamesma cópia para mais de um computador. A licença GPL faz exatamente o contrário. Ela permite copiar o programa, e instalar em quantoscomputadores quiser, alterar o código-fonte e não pagar nada por isso. A GPL não ésimplesmente um texto que diz o que você deve fazer para desenvolver um software livre. É,resumidamente, um documento que garante a prática e a existência do mesmo.

    2 - Licença de software livre

    Os programas de computador (proprietários ou não-proprietários) são protegidos pela legislaçãode direitos autorais, e por isso possuem uma dimensão patrimonial. O proprietário do programapode doá-lo ou vendê-lo, distribuí-lo de forma remunerada ou gratuita. Introdução à legislação de informática O software ou programa de computador possui definição legal no art. 1°. da Lei n°. 9.609, de 19de fevereiro de 1998. Diz o referido dispositivo legal: “é a expressão de um conjunto organizadode instruções em linguagem natural ou codificada, contida em suporte físico de qualquer natureza,de emprego necessário em máquinas automáticas de tratamento da informação, dispositivos,instrumentos ou equipamentos periféricos, baseados em técnica digital ou analógica, para fazê-losfuncionar de modo e para fins determinados”. O conceito adotado parece adequado à natureza daatividade no universo jurídico. Se adotarmos, para fins de classificação, o critério da forma de comercialização ou distribuiçãoserão dois os tipos básicos de softwares (ou programas de computador): o proprietário e onão-proprietário, como já tratado no módulo anterior. O software proprietário é aquele em que ocódigo-fonte não é distribuído e permanece como algo de exclusivo conhecimento de seu criador.Já no software não-proprietário, por definição, o código-fonte permanece acessível para todoaquele que se interesse por ele. Em regra, o programador escreve, em linguagem de programação de alto nível, inteligível porhumanos, instruções ou declarações. Esse conjunto articulado de instruções ou declarações,voltado para um fim específico, é chamado de código-fonte. O arquivo que contém o código-fontenão é ”entendido” pelo computador. Assim, ele precisa ser compilado para ser transformado numarquivo com “código do objeto” em linguagem de máquina. Esse tipo de código possui instruçõescompreensíveis para o processador do computador, estando pronto para ser executado. Sob a ótica jurídica, o software proprietário é comercializado por meio de contrato de licença deuso. Nesse sentido, diz o art. 9°. da Lei n°. 9.609, de 1998: “O uso de programa de computador noPaís será objeto de contrato de licença. Parágrafo único. Na hipótese de eventual inexistência docontrato referido no caput desse artigo, o documento fiscal relativo à aquisição ou licenciamentode cópia servirá para comprovação da regularidade do seu uso”. Portanto, o usuário de umsoftware proprietário não compra o programa, não é dono ou proprietário dele. O usuário emquestão apenas firma um contrato de utilização daquele programa sob certas condições, previstasna licença, a qual aderiu. O tratamento jurídico do software não-proprietário, no entanto, não é tão direto quanto o dosoftware proprietário, objeto de comercialização em massa. Não é difícil perceber que a legislaçãofoi elaborada para atender ao modelo proprietário. O ponto de partida das considerações jurídicasé justamente o fato de que os programas de computador (proprietários ou não-proprietários) sãoprotegidos pela legislação de direitos autorais.

  • Direitos autorais Segundo a legislação em vigor, os direitos autorais possuem uma dimensão patrimonial. Assim, oprograma de computador possui um proprietário. Nos termos da Lei Civil, o proprietário pode, emrelação ao bem de sua propriedade, usar, gozar ou dispor dele. Eis aqui o cerne da questão: oproprietário do programa pode conformar, nos termos que entender convenientes, a forma deutilização, distribuição ou comercialização do mesmo. Portanto, o proprietário do programa podedoá-lo ou vendê-lo, distribuí-lo de forma remunerada ou gratuita, liberar ou restringir o acesso aocódigo-fonte. Pode mais. Pode preestabelecer condições para uso por terceiros. Nessa linha de raciocínio, são lícitas licenças extremamente restritivas, como aquelas utilizadaspelo software proprietário. Também são perfeitamente lícitas as licenças menos restritivas, comoaquelas utilizadas pelo software não-proprietário, notadamente o software livre. As licenças em questão funcionam como condicionamentos de uso formulados pelo autor(proprietário) do programa (proprietário ou não-proprietário) e aceitos pelo usuário. Por exemplo,um programador não pode incorporar código-fonte de software livre num programa proprietário(qualquer utilização ou aperfeiçoamento do software livre necessariamente também precisa serlivre). A licença de uso do Linux, por exemplo, o mais popular dos sistemas livres é a GPL, sigla paraGNU Public License e é uma das formas mais conhecidas de distribuição de programas. A maiorparte dos softwares para Linux é baseada na licença GPL. Vale lembrar, como já foi citado nomódulo anterior, que uma licença é um documento que permite o uso e distribuição de programasdentro de uma série de circunstâncias. É uma espécie de copyright (direitos autorais) que protegeo proprietário do programa. Tendo copyright, o dono pode vender, doar e tornar freeware. Para falar sobre licenças de Software Livre é indispensável definir Direitos Autorais e Copyright,uma expressão criada pelos norte-americanos com o objetivo de dar exclusividade de edição demateriais de imprensa escrita aos seus detentores. Dessa forma, autores que possuíssem oCopyright de suas obras poderiam designar quem poderia, e como poderia, copiar e distribuircópias de seus livros, artigos ou revistas. Entretanto, como não é necessário ser autor da obrapara deter o seu Copyright, não podemos dizer que direito autoral é igual a Copyright. O sistemade copyright atribui donos ao software e esses donos têm o direito de estabelecer regras dedistribuição do software. Outras licenças Software Livre não é necessariamente de domínio público, apesar de essa ser uma interpretaçãocompreensível do conceito de liberdade, para quem ainda não se familiarizou com a quebra doparadigma do software proprietário. Um programa de domínio público é aquele em que o criadorabre mão de seus direitos de autoria e de licenciamento de cópias. Nesse caso, quem estiver deposse do código tem o direito de fazer dele o que desejar, sem ter de obedecer qualquer restriçãoou norma. Se considerarmos o programa como uma maneira de se resolver determinado problema, com aajuda do computador, fica mais simples aceitar o software como uma idéia, não como um bem. Eo melhor é que as boas idéias sejam utilizadas em benefício de todos, e que todos possamdesfrutar das idéias e das novidades da tecnologia e da ciência. Para garantir essa liberdade, no caso do software para computador, a Free Software Foundationredigiu algumas licenças, as quais aplicadas ao programa, mantém os direitos de autoria aoimplementador do software, dando aos usuários do programa certas liberdades.

  • Além da GNU – General Public License, há outras licenças, algumas mais, outras menosrestritivas. A Lesser GPL (LGPL) – também redigida pela FSF, por exemplo, é mais permissivaque a GPL. Bibliotecas de função sob a LGPL podem ser usadas por software proprietário, apesarde serem livres. Se essas mesmas bibliotecas estiverem sob a GPL, elas podem ser usadasapenas por programas também sob a mesma licença . A escolha mais adequada vai depender dequão restrita o autor do software deseje que seja a utilização do seu programa. Punição ao mau uso A Lei de número 9609/98 diz que o uso de programa de computador será objeto de contrato delicença. Por sua vez, a violação dos direitos de autor de programa de computador pode resultarem detenção de seis meses a dois anos ou multa. Se a violação consistir na reprodução, porqualquer meio, de programa de computador, no todo ou em parte, para fins de comércio, semautorização expressa do autor ou de quem o represente, a pena é de reclusão de um a quatroanos e multa. A Lei que altera, atualiza e consolida a legislação sobre direitos autorais é a 9610/98. São obrasintelectuais protegidas, as criações do espírito, expressas por qualquer meio ou fixadas emqualquer suporte, tangível ou intangível, conhecido ou que se invente no futuro, incluindo entreoutros programas de computador. Diante da demanda colocada pelo governo brasileiro, foi firmado um acordo entre a Fundação doSoftware Livre e o Instituto Nacional de Tecnologia da Informação, por meio da escola de Direitoda Fundação Getúlio Vargas e da organização não-governamental americana Creative Commons.Como resultado do convênio, nasceu a CC-GNU GPL, licença oficial que tem sido utilizada pelogoverno Federal para o licenciamento de software em regime livre. A licença original GNU GPL foiescrita somente para advogados e seu idioma original é o inglês. Por meio do projeto, pioneiro no mundo, foi possível fazer a tradução para o português do textoda licença americana e, em seguida, acrescentar duas outras camadas das licenças do CreativeCommons, que facilitam a compreensão e a utilização da licença. A camada para leigos explicapara qualquer pessoa, seja advogado ou não, o que a licença faz e quais direitos ela confere. Aoutra camada, feita para máquinas, permite marcar o código do software eletronicamente, paraque qualquer computador possa identificar o regime de licenciamento que se aplica a ele. O primeiro software licenciado por ela foi o TerraCrime, do Ministério da Justiça, um programaque faz controle estatístico de criminalidade e que hoje encontra-se disponível para usuários edesenvolvedores de todo o Brasil. O setor privado também tem usado a licença brasileira, como odiscador UOL. Licença não assegura garantia As licenças, como a CC-GNU GPL, permitem o desenvolvimento de novos modelos de negócio,ao mesmo tempo em que promovem a disseminação do conhecimento, que é compartilhado comtoda a sociedade. A questão é que, se o software em si é livre, não é sobre ele que se estáestabelecendo qualquer negócio jurídico oneroso, mas sobre bens e outros serviços correlatos.Um ponto polêmico em relação ao uso do Software Livre é a questão da garantia sobre o produto. No texto da Licença Pública Geral, destaca-se a exclusão de garantia, pois o programa élicenciado sem custo. Além disso, há exclusão de responsabilidade civil, tanto do criador doprograma original quanto daqueles que o modificaram por quaisquer danos causados pelo uso.Essa discussão fica ainda no campo hipotético porque não se teve notícia, até o momento, que a

  • validade de tal cláusula tenha sido objeto de apreciação judicial, pois mesmo os softwaresproprietários apresentam uma garantia limitada. No caso de um defeito no computador, é difícilidentificar de onde veio o problema, se do software, do hardware ou das inúmeras relações que sedão entre os dois sistemas. A inexistência de garantia também não fere o Código de Defesa do Consumidor, porque arelação jurídica estabelecida nos termos da GPL não é uma relação de consumo. Essa relação seforma entre os sujeitos definidos como fornecedor e consumidor, e tem por objeto produtos ouserviços que este adquire daquele. Como os termos da GPL definem o que usar, copiar, modificare distribuir o programa, não deve gerar pagamento de contraprestação, não se caracteriza umacomercialização. Uma vez que o programa é licenciado sem ônus, cuja ausência de garantia tem respaldo legal, aexceção é quando os detentores dos direitos autorais e/ou terceiros expressam de forma escritaas garantias de comercialização e adequação de qualquer propósito, o que não assegura aousuário a qualidade e o desempenho do programa, custos a serem arcados pelo comprador. A Fundação para o Software Livre não fornece garantias quanto ao seu software e não podeprometer que o software GNU está livre de bugs de qualquer tipo. Mas é possível dizer que essesbugs são bem difíceis de ocorrer, pois existem poucas razões para isso e a mais provável podeser a versão, cuja listagem está disponível no site com todas as versões disponíveis."www.gnu.org":http://www.gnu.org.

    3 - Regulamentação

    A popularização do Software Livre está criando novas necessidades no campo jurídico. NoCongresso Federal existem diversos projetos de lei sobre a adoção preferencial de Software Livree código aberto. E, ao mesmo tempo, a ABES (Associação Brasileira das Empresas de Software)critica esses mesmos projetos, pois entende que se está criando uma espécie de reserva demercado. Projetos em discussão A popularização do Software Livre está criando novas necessidades no campo jurídico, tanto nonível da relação usuário-prestador de serviço, quanto no de implementação de políticas públicasque favoreçam a adoção desse tipo de programa. Iniciativa como de um grupo de advogados deSão Paulo, que criou a Creative Commons, com o objetivo trabalhar num projeto de tradução delicenças da Open Source Iniciative, exemplifica essas necessidades. As definições de Open Source e Software Livre são bastante semelhantes. Para o movimentoopen source, o fato do programa de computador ser de fonte aberta é uma questão de cunhoprático e, para o Software Livre é de cunho ético, compreendendo uma mobilização sócio-política.As licenças de fonte aberta são variáveis quanto à utilização do uso do código-fonte, enquanto aslicenças de Software Livre possuem uma forte característica: a necessidade de compatibilidadecom a GNU GPL ou com as chamadas quatro liberdades: executar, estudar, redistribuir eaperfeiçoar o programa. Existem diversos projetos de lei no Congresso Federal sobre a adoção preferencial de SoftwareLivre e código aberto, além da Frente Parlamentar do Software Livre, que articula politicamente aaprovação de tais leis, alterando inclusive a Lei das Licitações, número 8.666/93. Um deles é a Leido Software Livre (2.269/99) do deputado petista Walter Pinheiro. Segundo o parlamentar, amedida resultaria numa economia de até 60% nos gastos do governo.

  • Enquanto a Lei Federal não entra em vigor totalmente - somente alguns estados, como Paraná eRio Grande do Sul já adotaram a Lei - , cabe ao poder executivo, que é quem redige os editais,em todas as esferas, a opção de melhor custo/benefício e socialmente mais responsável. E,nesse ponto, é fundamental a fiscalização da sociedade e, no campo jurídico, a impugnação deeditais dirigidos, que firam o princípio da isonomia ou princípio de igualdade de todos perante alei. Em 2007, a Assembléia Legislativa do Paraná protocolou Projeto de Lei 503/2006, do deputadoEdson Praczyk (PRB), que dispõe sobre a padronização de documentos públicos em formatoOpenDocument Format ODF. A proposta prevê a adoção desse formato por órgãos públicos eautarquias em documentos públicos quando forem criados. Isso porque o padrão aberto éimperativo para a isenção do Software Livre. A iniciativa, se efetivada em 2007 vai propiciaravanços significativos na utilização do modelo no Estado do Paraná. Críticas à legislação A ABES (Associação Brasileira de Empresas de Software) vem criticando os projetos de lei, bemcomo as leis já aprovadas sobre o Software Livre, pois entende que se está criando uma espéciede "reserva de mercado". Isto porque, nas legislações citadas, há a obrigatoriedade daAdministração Pública utilizar o software aberto ou que dê preferência a este, eliminando aparticipação de diversos desenvolvedores de software proprietários existentes no territóriobrasileiro. A preocupação da entidade não é de todo equivocada. Na ânsia de querer eliminar custos, aAdministração Pública pode causar vários entraves jurídicos nessa questão. Afinal, não seriarespeitado o princípio constitucional da livre-concorrência e obrigaria o gestor público a darpreferência a um determinado tipo de software que pode não ser o de melhor solução técnica eeconômica. Muitas empresas, inclusive multinacionais, já estão destinando parcelas significativas de seusinvestimentos no desenvolvimento de soluções baseadas em sistemas abertos. Entretanto, se forlevada ao extremo a obrigação legal de apenas comercializar sistemas abertos, centenas deempresas não poderiam mais desenvolver softwares dentro dos padrões que consideram maisadequados, tendo de adotar umas das versões operacionais abertas. Além disto, há outra grande preocupação no empresariado nacional no que tange a aprovação deuma lei desse gênero. Dependendo de como a lei for aprovada, as empresas que fornecemprogramas de computador ao governo teriam de entregar a sua propriedade intelectual, ou seja, apedra fundamental de sua atividade. É exatamente a exploração dessa propriedade que gera areceita da empresa, o movimento econômico, empregos e arrecadação de tributos. Como se pode observar, é uma área fértil para as discussões e debates. A implementação e oaumento do uso do software aberto é indiscutível e inevitável. Resta aos profissionais das áreasenvolvidas criar regulamentos e normas que disciplinem o uso desse tipo de programa. O pontoessencial é não engessar o mercado, deixando as empresas, usuários e governo, livres paraescolher o melhor tipo de software, de acordo com a melhor análise custo/beneficio. Projetos de lei para aumentar a utilização Em alguns países, já foram propostos projetos de lei incentivando/obrigando a utilização desoftware nos órgãos da administração pública. Entre estes, estão a França, a Alemanha, a China,o México e o Brasil.

  • O deputado federal Sérgio Miranda (PCdoB-MG) é um dos pioneiros na luta pela implementaçãodo Software Livre no Brasil. Ao lado do deputado Walter Pinheiro (PT-BA), questionou a aplicaçãode recursos do Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações (Fust) parainstalação de um sistema operacional de código fechado em computadores de escolas públicas.Conseguiram aprovar uma medida que prevê que as máquinas funcionem com dois aplicativos: oWindows, da Microsoft e o Linux. O programa de informatização das escolas previa a criação de laboratórios com acesso àinternet. Eram recursos vultosos, para a compra de 240 mil computadores. E havia a imposição deque todos tivessem o sistema operacional da Microsoft e isso significava promover a inclusãodigital, usando apenas o programa da Microsoft. Para a empresa, era uma enorme vantagemcompetitiva. Para a Microsoft, não se tratava apenas de uma questão monetária, mas também de domínio demercado. A tática da Microsoft sempre foi incentivar a pirataria de seus próprios programas. Aspessoas tiveram acesso ao Windows e essa era única realidade que elas conheciam. Depois, aempresa começou a cobrar e justamente onde vende mais, ou seja, no setor público. Deputadosacreditam que mesmo que ela fosse a fornecedora do programa do FUST a preços muito baixos,depois ela aumentaria o preço, devido ao monopólio que exerce. Com o Linux, além da gratuidade, outra vantagem seria o fato de poder rodar em máquinas maisdefasadas, que é a realidade de boa parte das escolas públicas. Com um bom servidor, é possívelusar computadores mais antigos. Todos esperam que o Brasil desponte na corrida pela difusãodos programas de código aberto. Entretanto, nem sempre os projetos de lei são o caminho maisrápido para que isso aconteça. O melhor dos mundos é que o Software Livre conquiste maisespaço na sociedade por meio do convencimento e da demonstração, na prática, das vantagensque pode oferecer. Outras iniciativas Além do projeto de Sérgio Miranda, há outras leis e m destaque: o do deputado federal WalterPinheiro (PT/BA), o qual já foi citado no curso, e o do vereador recifense Waldemar Borges(PPS/PE), sancionada em 2001. Os dois são bastante semelhantes, embora o de Borges fuja auma contradição de termos utilizados por Pinheiro, quando esse indica uma obrigatoriedadeopcional de free software. Em vez disso, Borges propõe a utilização preferencial. Administradores dos setores público e privado, técnicos e grupos de usuários têm se manifestadoem debates em eventos e em listas de discussões existentes na Internet. Um projeto dessanatureza pode tornar as decisões no setor público ainda mais lentas e burocráticas. Ou seja,poderia engessar ainda mais o governo. Há quem defenda que possa ser exatamente ao contrário– os órgãos e os técnicos teriam mais independência em relação aos fornecedores de software, oque tornaria a manutenção dos sistemas mais ágil e bem menos burocratizada. Hoje, isso pode parecer uma afirmação um pouco fora da realidade. Mas talvez, em poucotempo, pode passar a ser vista como uma verdade óbvia pelas pessoas. O Linux e outrossoftwares livres estão se difundindo rapidamente e, a cada dia, mais pessoas estão interessadasem sua utilização e nos seus desdobramentos. . Lei como a do vereador Waldemar Borges tem um mérito indiscutível de trazer esse tema para aarena pública. O debate faz parte do jogo democrático e quem sai ganhando é a sociedade.Existem muitos mitos sobre o Software Livre que têm de ser desfeitos, como a "falta de suporte" etambém muito a esclarecer sobre os recursos disponíveis, como disponibilidade de ferramentas

  • de desenvolvimento e banco de dados. Mas não devemos esquecer de que não há solução única e cada órgão tem de ter liberdade paraanalisar a pertinência da adoção de Software Livre. Mas o comprometimento da CIPSGA não éapenas com esse debate e sim com o incentivo para a criação de uma comunidade livre detecnologia no Brasil. Creative Commons O Creative Commons é um projeto que tem por objetivo expandir a quantidade de obras criativasdisponíveis ao público, permitindo criar outras obras sobre elas, compartilhando-as. Isso é feitopor meio do desenvolvimento e da disponibilização de licenças jurídicas que permitem o acessoàs obras pelo público, sob condições mais flexíveis. Uma das principais características do direitoautoral tradicional é que ele funciona com negativas. Isso quer dizer que para utilizar qualquerconteúdo, é necessário pedir permissão ao seu autor ou titular de direitos. No sistema jurídico dapropriedade intelectual adotado no Brasil, até mesmo os rabiscos feitos em um guardanapo jánascem com todos os direitos reservados. Apesar disso, muitos autores e titulares de direitos não se importam que outras pessoas tenhamacesso aos seus trabalhos. Um músico, um videomaker ou uma escritora podem desejarjustamente o contrário: o amplo acesso às suas obras ou, eventualmente, que seus trabalhossejam reinterpretados, reconstruídos e recriados por outras pessoas. Assim, o Creative Commons gera instrumentos legais para que um autor ou titular de direitospossa dizer ao mundo que ele não se opõe à utilização de sua obra, no que diz respeito àdistribuição, cópia e outros tipos de uso. Existem diversas modalidades de licença, cada uma concedendo direitos e deveres específicos.Há licenças que permitem a ampla divulgação da obra, mas vedam seu uso comercial. Outraspermitem o aproveitamento da obra em outras obras. Há também licenças que permitem aremixagem, colagem e outras formas criativas de reconstrução da obra, permitindo uma enormeexplosão de possibilidades criativas. Muda-se, assim, de "todos os direitos reservados" para "alguns direitos reservados",garantindo-se a existência de uma universalidade de bens intelectuais criativos acessíveis atodos, que é condição fundamental para qualquer inovação cultural e tecnológica. Nesse sentido,o projeto tem por finalidade desempenhar atividades em três áreas fundamentais para osoperadores do direito: 1. Plano Normativo: Tradução de novas licenças jurídicas, além da GNU/GPL, permitindo maiorflexibilidade e desenvolvimento de novos modelos de licenciamento, sempre tendo em vista asdiretrizes da "Free Software Foundation" e da "Open Source Initiative" e sua adequação aoordenamento jurídico pátrio; 2. Plano Doutrinário: Produção científica de textos e artigos jurídicos voltados à resolução dequestões práticas e concretas em relação aos negócios e licenciamento envolvendo o SoftwareLivre; 3. Plano Judiciário: Realização de debates sobre questões em torno desse modelo delicenciamento.

    4 - Produtos

    Há uma grande variedade de produtos disponível no mercado de código-fonte aberto. Um dos

  • mais conhecidos e utilizados é o sistema operacional Linux. A busca pela liberdade de criação e adisseminação solidária de aperfeiçoamentos no sistema foi o impulso para a expansão domercado. Tipos de Softwares Livres Há uma grande variedade de produtos disponível no mercado de código-fonte aberto. Um dosmais conhecidos e utilizados dos softwares livres é o sistema operacional Linux, simbolizado pelopingüim Tux e desenvolvido em 1991 por Linus Torvalds, aluno de ciência da computação daUniversidade de Helsinque na Finlândia. Especialista no sistema operacional Unix, Torvaldsqueria criar uma plataforma para seu computador pessoal 386, que fosse como o Unix. O impasse principal foi a constatação de que construir um sistema operacional desse porte seriauma tarefa impossível de ser efetuada, a partir de software com o código-fonte fechado. Foi entãoque ele se prontificou a criar um sistema operacional de código-aberto, que fosse aperfeiçoadopor quem se dispusesse a contribuir, corrigindo defeitos e pequenos erros. A busca pela liberdade de criação e disseminação solidária de aperfeiçoamentos no sistemaoperacional Linux foi o impulso necessário e vital para o seu crescimento, amadurecimento edesenvolvimento. O conjunto de softwares que constitui o Linux forma uma extensa biblioteca quenão pára de crescer, consultada por empresas, especialistas, programadores, desenvolvedoresde softwares e leigos. O software livre nasceu na Universidade e está se expandindo rapidamente para a sociedade.Um passo decisivo para a consolidação, propagação e difusão do Linux foi dado por RichardStallman, que criou o projeto de software gratuito intitulado GNU, que significa "GNU Não é Unix".A administração do projeto é efetuada pela organização Free Software Fundation (FSF), que estáencarregada de proteger juridicamente os desenvolvedores de softwares gratuitos, a partir daGeneral Public License (GPL), contra a apropriação e a pirataria das grandes empresas. A GPL garante que os softwares possam ser utilizados ou compartilhados gratuitamente, com aautorização de seus criadores, de forma livre por qualquer pessoa. O conhecimento de suaprodução está sendo compartilhado de forma solidária, por empresas, gestores, milhões deusuários, hackers e inúmeras comunidades de cientistas. Um novo dispositivo é lançado eimediatamente já se começa o desenvolvimento do seu driver ou de seus aplicativos e muitorapidamente os usuários têm acesso ao produto. Um novo tipo de software é lançado e milharesde desenvolvedores correm contra o tempo para fazer os aplicativos correspondentes para aplataforma Linux. Existe uma demanda contínua por parte dos usuários e isso impulsionaempresas e desenvolvedores, alimentando um gigantesco círculo produtivo. O Linux pode ser obtido gratuitamente pela internet em inúmeros sites (www.cipsga.org.br ;www.conectiva.com.br ; www.redhat.com ; techupdate.zdnet.com ;www.procempa.com.br/softlivre) ou pode ser comprado a preços acessíveis em qualquerrevendedora de software ou lojas do ramo comercial da área. O Linux pode ser instalado tambémde forma particionada, isso significa que podemos ter a opção de instalar conjuntamente aossistemas operacionais que vêm instalados em nossas máquinas. Projeto Apache O Projeto Apache é um esforço coletivo de vários colaboradores para o desenvolvimento de umsoftware robusto, gratuito, e com qualidade, para a implementação de um servidor HTTP(HyperText Transfer Protocol) –usado na internet. O projeto é administrado por um grupo devoluntários do mundo todo, que se comunica por meio da internet, para planejar e desenvolver o

  • Apache e sua documentação. Em fevereiro de 1995, o software de servidor mais usado na internet era o desenvolvido por RobMcCool no National Center for Supercomputing Applications, da Universidade de Illinois. Porém, odesenvolvimento daquele servidor HTTP estava perdendo espaço depois que muitos webmasterstinham criado suas próprias extensões e por causa das dificuldades existentes em função de umadistribuição inadequada do software. Dessa forma, um pequeno grupo de webmasters se reuniu com a finalidade de coordenar asmudanças nesse servidor. A partir daí, Brian Behlendorf e Cliff Skolnick criaram uma lista, ondeconstavam os nomes de todos os colaboradores. Estava formado o Apache Group (ou ApacheSoftware Foundation), que possuía oito integrantes. Feitas as alterações no servidor até então usado, foi lançado o Servidor Apache (versão 0.6.2),em abril de 1995. Durante o período de maio-junho do mesmo ano, o grupo focou em implementarcaracterísticas novas para a versão 0.7.x do servidor Apache, ao mesmo tempo em que acomunidade de usuários e colaboradores do Apache crescia. Enquanto isso, Robert Thau, outrointegrante do grupo, projetou uma arquitetura de servidor nova, batizando-a de Shambhala, quepossuía, entre outras qualidades, uma melhor alocação de memória. De tão boa que era aShambhala, o grupo decidiu trocar a base do servidor pela do novo projeto e a somou àscaracterísticas da versão 0.7.x do Apache, que resultou no Apache 0.8.8, lançado em agosto. Depois de vários aperfeiçoamentos, testes e uma documentação nova, feita por David Robinson,o Apache 1.0 foi lançado em 1° de dezembro de 1995. Com isso, menos de um ano depois, oApache já era o servidor mais usado. Segundo a IDC, em junho de 2006, o Apache estavapresente em mais de 60% dos servidores da internet. O concorrente mais próximo é o InternetInformation Services (IIS), da Microsoft, com 20% do mercado. O Apache existe para oferecer uma implementação robusta do protocolo HTTP. Para isso, énecessário que ele rode em plataformas de código-fonte aberto, onde pessoas e empresaspossam utilizar o software de acordo com suas necessidades e pesquisas. Segundo o GrupoApache, as ferramentas de publicação de sites deveriam estar nas mãos de todos quenecessitassem. Assim, as desenvolvedoras de software ganhariam dinheiro provendo serviços usando o Apachee apoiariam, dessa forma, o desenvolvimento contínuo do software. Isso traria menos custos àempresa e ela usaria um software de grande qualidade e impediria a indústria de software decontrolar todos os protocolos existentes e fazendo a internet depender delas. Além disso, o Apache é desenvolvido por uma entidade colaborativa, onde quem quer e podeajudar, participa e usufrui dos benefícios de um software feito por muitas pessoas e ajuda comsuas ações no projeto. Esse tipo de comunidade só pode existir se todos os participantestrabalharem por espontânea vontade. Se fosse algo pago, cada um iria querer receber sua parte eisso geraria uma grande confusão. A intenção do grupo é ver o Apache sendo usado amplamente,por meio de companhias grandes, médias, pequenas; instituições de pesquisa, escolas,indivíduos, em intranets, enfim, em todos lugares. Outros softwares livres Os softwares livres podem ser divididos entre sistemas operacionais, como o Linux, suíte deescritório para o usuário final (Open Office e o KOffice), editor de imagens, (Gimp e o Gphoto),navegador de Internet (Mozilla, Firefox, Konqueror), e-mail (KMail, Evolution, Thunderbird),multimídia (XMMS, Noatum, KDE Media Player), banco de dados (MySQL, PostgreSQL), servidorde páginas web (Apache), ambiente para gerenciamento de conteúdo (Zope), agente integradorde rede Windows e Unix (Samba), gerenciamento remoto com criptografia (OpenSSH) e

  • servidores (Proxy server; DNS server; OpenLDAP, LDAP Server). A maior parte pode ser usada da mesma forma que os sistemas proprietários, como o navegadorde Internet Firefox. Ele importa automaticamente seus favoritos do Internet Explorer e permite aousuário organizá-los, exportá-los ou manipulá-los de forma extremamente intuitiva. Outro destaque é o Wiki, uma ferramenta de gerência e desenvolvimento colaborativo deconteúdo. A idéia do nome Wiki originou-se da palavra "wikiwiki", que significa "rápido-rapido" noidioma Havaiano. Segundo seus idealizadores, em um ambiente wiki não existem chefes, apesarde ser normal o desenvolvimento natural de lideranças (a não ser nos casos em que se reflete ofuncionamento da instituição em que o wiki é usado). O Zope é outro bom exemplo desenhado para prover suporte dinâmico de conteúdo da web, ebaseia-se em um modelo orientado para objeto. É um pacote que combina um sistema degerenciamento de conteúdo com um servidor de web e um sistema de modelos em um pacote. Écomum encontrar o Zope colocado atrás do Apache, em uma configuração multisservidor, onde oApache serve conteúdo estático e atua como acelerador baseado em cache para as partes do sitegeridas pelo Zope. O PHP-Nuke é um SGC (Sistema de Gerenciamento de Conteúdo), termo do inglês "ContentManagement System", reconhecido facilmente pela popular sigla, CMS. O sistema recebe essenome porque integra todas as ferramentas necessárias para criar e gerenciar um portal, seja elecomercial ou institucional. É caracterizado pela grande quantidade de funções presente nainstalação padrão e/ou nos módulos adicionais. Já o nome PHP-Nuke vem do inglês nuke, quepossui vários significados, sendo o mais comum um dispositivo ou arma nuclear. Ferramentas de proteção Existe um grande número de filtros de e-mail livres, ferramentas anti-spam, que evitam queanexos executáveis sejam baixados juntamente com os e-mails e diversos outros tipos de opções.O SpamAssassin é provavelmente o mais utilizado de todos os filtros anti-spam. Seu princípio defuncionamento é buscar por assinaturas heurísticas típicas de spams no cabeçalho e no corpodas mensagens e atribuir a cada ocorrência encontrada uma pontuação. Em seguida, apontuação é checada e, se exceder um limite do que é considerado normal, a mensagem édeclarada como spam. O Anomy Sanitizer é um conjunto de filtros que permite procurar por vírus nas mensagens dee-mail, desabilitar códigos HTML e Javascript potencialmente perigosos, bloquear ou removeranexos baseado em seus nomes de arquivo. Dessa forma, você não precisa receber, porexemplo, visual basic scripts, e também não precisa se preocupar com o risco de receber essetipo de arquivo. O MailScanner é um e-mail vírus scanner, protetor de vulnerabilidades, e marcador de spam. Eleutiliza o SpamAssassin para uma detecção muito boa dos spams e é desenhado para tratar comataques do tipo Denial Of Service (negação de serviço). Ele vai detectar arquivos zip protegidospor senhas e aplicar uma checagem de nome de arquivos aos seus conteúdos. É fácil de instalare suporta uma grande quantidade de servidores de e-mail, Postfix, Sendmail, Exim, Qmail,Zmailler e diversos antivírus: Sophos, MacAfee, F-Prot, F-Secure, DrWeb, ClamAV, BitDefender,RAV, Panda e pode ser integrado em qualquer sistema de e-mail. Se os sistemas de software livre estiverem configurados corretamente, os vírus terão efeito atécerto ponto. No entanto, há o problema de passar vírus para os locais que executam outrossistemas operacionais. Assim, o controle de pragas eletrônicas é necessário principalmente paraevitar a transmissão de vírus para outros locais que não sejam baseados em software livre.

  • Embora o correio eletrônico seja uma das principais formas de transmissão de vírus, não é aúnica, portanto, é necessário fazer uma varredura geral dos arquivos para evitar a transmissãopor outros meios. Um exemplo de software livre que pode atuar como uma solução de antivírus para servidores decorreio eletrônico, é o Clamav Antivírus (http://clamav.sourceforge.net). No entanto, é possívelgarantir que os arquivos executáveis possam ser instalados apenas pelo sistema administrador,por meio da configuração dos sistemas de arquivos, tanto nos servidores quanto nas estações detrabalho.

    5 - Aplicações

    Segundo estudo realizado com as 100 empresas que mais investem em tecnologia da informaçãono Brasil, em 2004 o Linux foi adotado por 64% delas. O que aponta um salto de 12% em relaçãoao levantamento anterior. Usos do software livre Surgido na década de 80, o software livre é um assunto relativamente novo e já possui ummercado cativo. Exemplo disso é o sistema operacional GNU/Linux. Segundo estudo realizadocom as 100 empresas que mais investem em tecnologia da informação no Brasil – que acontecehá nove anos, publicado na revista Info Exame –, em 2004 o Linux foi adotado por 64% dessasempresas. A pesquisa aponta um salto de 12% em relação ao levantamento anterior. Exemplosde corporações que utilizam o Linux são Varig, Embrapa, Sucos Mais, Petrobras, Carrefour, Pãode Açúcar, Casas Bahia, entre outras. Outro sucesso no mundo do software livre é o servidor web Apache, utilizado em cerca de 60%dos sites mundiais, como tratado no texto anterior do curso. Existe um outro aspecto que deve seravaliado nessa questão. Muitas empresas produtoras de programas e aplicativos dependemexclusivamente da venda de seus produtos para um tipo de plataforma que é a dominante nomercado no momento da comercialização. Por estarem habituados a trabalhar apenas para essemercado, os desenvolvedores deixam de atender a outras plataformas, como Linux e Macintosh.Mas as grandes companhias já começaram a adotar outros paradigmas, como é o caso da IBM eHP, que vendem servidores com Linux. Já a Novell, em 2006 adquiriu uma das mais importantesdistribuidoras de Linux do mundo, a SuSE Linux. Um exemplo é o que aconteceu com a IBM, que no ano 2000 tomou conhecimento de três fatos.Primeiro: ela não tinha uma solução Unix muito boa em preço/performance. Isso estava fazendocom que concorrentes, entre eles a Sun, levassem clientes embora. Segundo: eles tinhamservidores baratos, poderosos, baseados em hardware Intel, que poderiam reverter o quadro, se,ao menos, a IBM tivesse um sistema operacional Unix-like para colocar neles. Terceiro: elesdependiam da Microsoft para fornecer o único sistema operacional disponível para toda a linha deservidores Intel. Isto é, eles dependiam da mesma empresa que era parceira no desenvolvimentodo OS/2 e que lançou um produto, o Windows 3, para concorrer justamente com o OS/2. Aplicações críticas Nas palavras da IBM em 2000, o Linux não estava bom o bastante para aplicações críticas. Foiquando eles decidiram que, em vez de portar novamente o AIX para Intel, investiriam recursospara tornar o Linux "enterprise-ready". Trocando em miúdos, a IBM achou que o mercado desistemas operacionais proprietários para PCs estava morto (a Microsoft consome todos osrecursos desse "ecossistema") e que não valeria a pena investir num AIX/x86 quando, por menos

  • dinheiro, eles poderiam ajudar a deixar o Linux capaz de atender às demandas dos clientes. Brigas judiciais à parte, pois há quem pense que a IBM se apropriou do código e usou "métodosproprietários" para colocar no Linux, a Big Blue fez várias contribuições de código para o kernel edrivers do Linux em áreas importantes. Entre elas, a de escrita em discos e suporte amultiprocessamento com acesso não-uniforme à memória (que tinha sido desenvolvido por umaempresa que a IBM comprou, a Sequent, especializada em computadores com dúzias deprocessadores). A IBM também fez e bancou vários estudos sobre como o uso de servidores Intel rodando Linuxera economicamente vantajoso em relação ao emprego de máquinas RISC, rodando versõesproprietárias de Unix (inclusive os pSeries da própria IBM). Debaixo da mesma bandeira,favoreceu o desenvolvimento de versões do Linux para seus mainframes. Resumindo: ao investir junto com outras empresas no desenvolvimento do Linux, a IBMconseguiu várias vitórias importantes. Ela agora tem uma linha de servidores Linux de baixocusto, competindo com enormes vantagens com soluções RISC dos seus concorrentes e mesmocom servidores baseados em Windows. A IBM é o único fornecedor de mainframes, reportando crescimento das vendas no segmento,com empresas consolidando dezenas de servidores menores em um único equipamento. Comoum efeito colateral, o kernel do Linux deu um salto impressionante de qualidade. Outros gigantes adotam Linux Na mesma linha de raciocínio, Intel e HP perceberam que lançar o processador Itanium nomercado sem um suporte expressivo de software aplicativo seria suicídio. Em vez de pedir aMicrosoft que portasse o Windows para o Itanium e torcer para que ele estivesse pronto aomesmo tempo em que o processador fosse lançado, a HP decidiu fazer mais duas apostas. Umadelas, o port do HP/UX (o Unix proprietário da HP) para o Itanium e, em outra, no port do Linuxpara o processador. Com um processador de 64 bits no mercado há algum tempo, a HP hojepode vender suas soluções com uma escolha maior de sistemas operacionais em váriosmercados que não estariam acessíveis não fosse essa decisão. Atualmente, a HP vende os equipamentos HP/UX sobre Itanium aos seus clientes HP/UXtradicionais, vende máquinas Itanium rodando Windows para seus clientes Windows e vendemáquinas Itanium rodando Linux para os clientes que preferem Linux. E, claro, vendem máquinasIntel também. Outro caso bem interessante é o do Metrô de São Paulo, que já tinha trocado um sistema dee-mail corporativo baseado em mainframe por um construído com software livre, quando decidiueconomizar dinheiro usando StarOffice (naquela época a Sun não cobrava por ele) em vez doMicrosoft Office. Eles tinham dois problemas: o primeiro deles era que não existia documentação, material didáticoou tutoriais em português para o produto. Para resolver essa questão, o Metrô contratou umaempresa para ajudar na preparação da documentação e dos treinamentos. O segundo problemaera o do idioma. Existia uma versão do StarOffice/OpenOffice em português, mas era o dePortugal. A solução, no entanto, não veio do Metrô. Um engenheiro químico decidiu coordenar atradução do OpenOffice, que acabou, inclusive, sendo concluída antes que a Sun conseguisselançar o StarOffice 6 em português. Por fim, mesmo investindo dinheiro para modificar e complementar uma oferta existente, aeconomia feita em licenças não compradas de Microsoft Office mais do que cobriu os

  • investimentos no produto livre. Pode não ser muito vantajoso se você tem um escritório com cincopessoas, mas para eles, com mais de 1000 desktops por toda a companhia, a decisão foiacertadíssima. Software Livre no Governo O uso de Software Livre em governos tem crescido rapidamente em todo o mundo. Aracionalidade por trás dessa opção é a mesma que orienta o crescimento da adoção de SoftwareLivre em organizações privadas: redução de custos, independência de fornecedores e razõestécnicas (estabilidade, segurança etc). No caso brasileiro, a opção pelo Software Livre comoprograma oficial para o governo foi um pioneirismo do PT, principalmente do governo do RS,sendo que o governo atual continua incentivando projetos de adoção ao Software Livre. Podemos apontar cinco principais argumentos para defender o uso do software livre no governoFederal: o macroeconômico, o de segurança, o da autonomia tecnológica, o da independência defornecedores e o do compartilhamento do conhecimento. Primeiro, o macroeconômico. O Brasilreduz o envio de royalties para o exterior pelo pagamento de uso de software proprietário,gerando maior sustentabilidade do processo de inclusão digital da sociedade brasileira e deinformatização e modernização das empresas e instituições. Os recursos economizados podemser investidos no desenvolvimento da indústria tecnológica nacional. O segundo argumento é o da segurança. Como saber se um software é seguro se não temosacesso ao seu código-fonte? Programas com código aberto baseiam-se no princípio datransparência e permitem auditoria plena. Possibilitam a retirada de rotinas duvidosas, falhasgraves ou mesmo backdoors (forma de deixar no programa um caminho de invasão semdespertar a desconfiança do usuário) e, como conseqüência direta, mais segurança. Evidentemente, a opção pelo Software Livre não significa que, a partir de agora, todos ossoftwares proprietários serão retirados dos computadores do governo. Serão necessários estudosde viabilidade e políticas de migração para os casos em que software livre for a melhor opção.Vale destacar também que optar pelo padrão livre não significa apenas usá-lo, mas tambémincentivar o seu desenvolvimento. Nesse sentido, seria muito salutar a criação de uma espécie deProjeto Software Livre Brasil, com o objetivo de centralizar iniciativas globais e auxiliar os diversosórgãos de TI do governo. Algumas aplicações em saúde Já existem inúmeros projetos mundiais com a finalidade específica de desenvolver softwareslivres para a saúde. Um bom exemplo é o OSHCA – Open Source Health Care Alliance – que háanos organiza encontros anuais para debater soluções baseadas em software livre para a área.Outro ótimo exemplo de esforço para disponibilizar software livres para a saúde é o ProjetoDebian-med, uma idéia integrante do projeto Debian, que pretende disponibilizar programasabertos integrados com a sua distribuição GNU/LINUX. Existem inclusive desenvolvedoresbrasileiros. O próprio Ministério da Saúde disponibilizou um documento elaborado pelo Departamento deCiência e Tecnologia em Saúde (Decit), setor integrante da Secretaria de Políticas de Saúde,onde são sugeridas mudanças na política de C&T / S, visando a ampliação e a intensificação daspolíticas para a área. Uma das sugestões é a criação da "Agenda Nacional de Prioridades emPesquisa e Desenvolvimento Tecnológico em Saúde" no âmbito do SUS. Os princípios norteadores do desenvolvimento de uma metodologia para orientar a elaboração daAgenda de Prioridades em Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico em Saúde são: integraçãocom o SUS; ampla participação e representatividade dos atores envolvidos na formulação de

  • políticas, principalmente gestores e comunidade científica; garantia da sua replicabilidade econtinuidade em todas as instâncias de governo; incorporação de todas as dimensões quenorteiam os problemas de saúde; identificação da Agenda Nacional de Saúde e das informaçõesoriundas dos sistemas de informações em saúde como instrumentos de orientação; eestabelecimento de uma sistemática permanente de avaliação para redefinição de rumos eprioridades. Algumas áreas em que já existem projetos de softwares livres: Sistema estatístico: uma das principais ferramentas de um profissional da área de saúde, maisespecificamente a epidemiologia, são softwares estatísticos. O principal software proprietárioutilizado, chama-se SPSS, mas poucos profissionais sabem que existe um software mantido pelaFundação do Software Livre com a mesma finalidade, o PSPP. Também existem outrossoftwares, que apesar de não-livres, são gratuitos como o Epiinfo e podem ser uma opção. Geoprocessamento: O Geolivre é um projeto da PROCERGS que se iniciou em julho/2000 e visaprover informações básicas, confiáveis e permanentes sobre o espaço geográfico do Estado doRio Grande do Sul, além de disseminar a tecnologia de Geoprocessamento nos diversos órgãosda administração direta e indireta daquele Estado. Essa experiência poderia contribuir para asiniciativas de controle de epidemias como a dengue. Processamento digital de imagens: uma das contribuições mais inovadoras da tecnologia para asaúde é o processamento digital de imagens. Ela pode tanto reduzir custos com armazenamentoe distribuição de exames dentro de um hospital como também ser utilizada de forma integrada asistemas de telemedicina. Nesse caso, existem padrões abertos (exemplo, DICOM) paraprocessamento digital de imagens. Telemedicina: grande parte da infra-estrutura necessária para projetos de telemedicina pode sermontada utilizando software livre. Num país continental e com grandes desigualdades regionaiscomo o Brasil, recursos como esses são essenciais.

    6 - O impacto do software livre

    As oportunidades de negócios compõem um fator de grande atração na indústria do software livre.Novas formas de fazer dinheiro são incorporadas ao mercado. Os modelos de negócio vão doServiço Integral (venda do pacote físico e de todo tipo de suporte ao software) até a Oferta online(desenvolvimento e oferta de software livre em sistemas cujo acesso é autorizado mediantepagamento de uma taxa de associação Internet e Software Livre Revolução pode ser definida como uma mudança fundamental e repentina. Nos últimos anos,temos visto resultados de algumas delas, mas é sempre difícil prever o impacto da próxima. Asrevoluções normalmente trazem uma onda de mudanças e inovações. O PC se tornou comum nofinal da década de 80, estendendo o acesso à computação a todos os profissionais no ambientede trabalho. A competição acirrada entre os fabricantes e a consolidação de padrões de hardware,software e protocolos de comunicação permitiram que o computador ficasse mais acessível. Alguns anos atrás, o uso da Internet popularizou-se e gerou demanda explosiva porcomputadores para uso doméstico. Os volumes gerados pelo mercado de consumo acentuaramainda mais a queda de preço, também observada em servidores para aplicações profissionais, já

  • que esses compartilham muitos dos módulos e componentes com os computadores de usodoméstico. A vantagem de custo que o hardware especializado tinha em relação a servidores deuso geral está desaparecendo. Componentes e módulos de hardware padrão estão se tornandotão baratos que inviabilizam o projeto de hardware proprietário. Essa tendência está chegando aum ponto em que, com outro catalisador, é capaz de gerar uma mudança de paradigma. A revolução do Software Livre (ou Open Source Software) é a distribuição, sem restrições deinstalação e uso, sempre acompanhada do código-fonte. Não é necessariamente gratuito, mas ousuário pode modificá-lo conforme suas necessidades específicas. Freqüentemente, essasnecessidades são compartilhadas com outros usuários e as modificações beneficiam a todos eretornam à comunidade. Esforços são direcionados à inovação, sem reinvenção da roda. O crescimento do Linux, porexemplo, está relacionado principalmente em aplicações de Internet, mas o seu uso vemcrescendo rapidamente também em aplicações corporativas. Com raízes na Internet, o Linux desenvolveu suporte a networking muito forte e melhor queoutros sistemas operacionais. Por ser software livre e por receber contribuições de uma basegrande de desenvolvedores ao redor do mundo, é mais flexível e está evoluindo muitorapidamente. Não há dúvidas de que o Linux está mudando o mercado de servidores, desktops eredes. O Brasil no contexto do software livre Estima-se que no Brasil o mercado de sistemas operacionais baseados em software livre/códigoaberto tenha uma dimensão mínima de R$ 77 milhões, considerando-se somente a venda dedistribuições e serviços correlatos do Linux, com potencial de crescimento de 2,5 a 3 vezes até2008. O sistema Linux respondeu em 2003 por 9% do mercado mundial de sistemas operacionaise a estimativa é que em 2007 seja responsável por 18%. Além disso, o não pagamento delicenças pode significar uma economia de cerca de R$ 85 milhões ao ano para as empresas. Existem alguns mitos que não se confirmam se compararmos o Brasil com os demais países. Porexemplo, o perfil dos desenvolvedores brasileiros é muito semelhante ao dos europeus, que ébastante profissionalizado, tendo a predominância de pessoal qualificado. Entre as empresasdesenvolvedoras, destacam-se as que já desenvolviam software proprietário e que estãoadotando o modelo por exigência do mercado e multinacionais que têm nesse modelo uma formade ampliar sua participação. Entre as principais motivações do uso do software livre no Brasil estão as financeiras e astecnológicas. Enquanto empresas e usuários individuais são motivados por questões técnicas eeconômicas, desenvolvedores individuais o são por questões de capacitação (aprendizado) eempregabilidade. Quanto aos usuários, há predomínio de grandes organizações (64% têmfaturamento superior a R$ 1 milhão ao ano e 65% mais de 99 funcionários), com destaque para ossetores de tecnologias da informação e comunicação, governo, comércio e educação. Suasprincipais motivações são econômicas (diminuição de custos) e técnicas (desenvolvimento denovas habilidades). Impacto na indústria tradicional As oportunidades de negócios compõem um fator de grande atração nessa indústria. O softwarelivre incorpora novas formas de fazer dinheiro, cujos modelos de negócio vão do serviço integral(baseado na venda do pacote físico e de todo tipo de suporte ao software) até a oferta online(desenvolvimento e oferta de software livre em sistemas cujo acesso é autorizado mediantepagamento de uma taxa de associação). Entretanto, dadas suas características de disseminaçãodo código-fonte, ele ameaça a continuidade de modelos tradicionais de negócios, onde a

  • manutenção do sigilo do código-fonte (apropriabilidade) é fundamental, como venda de pacotes,componentes de software e produtos customizados. Em outras palavras, se o modelo do softwarelivre tornar-se padrão de desenvolvimento, os modelos de negócios tradicionais deverãoreformular-se e terão uma diminuição de lucratividade no que tange à venda de licenças. Porém,poderão ter forte incremento na venda de serviços, embora com maior concorrência. Em resumo,a inovação acelera a transição da indústria de software dos produtos para os serviços. O software livre não acaba com os regimes proprietários, mas afeta especificamente os quecombinam baixa especificidade de aplicação (programas mais genéricos, normalmentecomercializados como pacotes) com alta apropriabilidade (manutenção do código-fonte fechado).Em paralelo, o código aberto traz novos rumos para velhas trajetórias e novas trajetórias dentrode uma mesma tecnologia. Mesmo com um movimento de software livre mundial concentrado na Europa, EUA e Japão,como apontam estudos internacionais, em países em desenvolvimento como o Brasil ele estáinserido em atividades principais, especialmente nas de suporte e gerenciamento dos sistemas eprogramas. Fora isso, a concentração geográfica também se verifica no âmbito nacional: 78% dosdesenvolvedores individuais, 81% das empresas desenvolvedoras, 84% dos usuários individuais e85% das companhias usuárias encontram-se nas regiões Sul e Sudeste do Brasil. Rio Grande doSul e São Paulo são os dois principais focos de desenvolvimento e de uso de software livre noPaís. Software livre no mundo A questão de tecnologias abertas de informação e de comunicação, em particular a de softwarelivre e aberto, está entrando com força na agenda política de diversos países e blocoseconômicos. Segundo avaliações da União Européia, em documentos como "Free Software/OpenSource: Information Society Opportunities for Europe" está se formando rapidamente uma massacrítica que viabilizará a utilização de software aberto e livre em larga escala nos mais diversossegmentos sócio-econômicos. Enxerga-se, na nova conjuntura que está sendo delineada, umagrande oportunidade para a Europa assumir, em algumas áreas, uma posição de destaque nomercado de software hermeticamente fechado por meio de modelos de negócios apropriados. No outro lado do Atlântico, também os norte-americanos, normalmente defensores ferrenhos depropriedade intelectual em função de sua supremacia tecnológica, estão atentos ao que ocorre nomovimento de software livre. O documento "Recommendations of the Panel on Open SourceSoftware For High End Computing" do President’s Information Technology Advisory Committee(PITAC), faz fortes recomendações em relação ao software livre e aberto ao governo dos EstadosUnidos. Muito antes do setor público ficar mais atento à questão de software aberto, grandes atores nomercado de software estavam reorientando as suas estratégias de negócios para ocupar umespaço maior em um mercado cada vez mais competitivo. Um exemplo interessante é a IBM, queno passado tentou impor padrões próprios e sofreu diversos reveses econômicos em funçãodessa estratégia. Um documento bastante vasto, intitulado "Exploring Open Software Standardsfor Enterprise e-Business Computing: An IT Manager’s Guide", em que não cita nenhum de seusprodutos proprietários, evidencia claramente tal reposicionamento. Motivações para o crescimento A tendência de crescimento do mercado de software livre se deve em grande parte ao crescentemonopólio de empresas americanas e ao poder que tal monopólio confere a essas empresas notocante a política de preços e características de seus produtos. Como um exemplo recente

  • podemos citar a política de licenciamento do Windows XP, onde a licença de uso será gerada apartir das informações de hardware da máquina, o que impedirá o uso do sistema emcomputadores diferentes daqueles onde foram originalmente instalados. O fator econômico certamente não é determinante. A qualidade de sistemas livres é atestadapela sua ampla utilização e diversos testes de desempenho e confiabilidade conduzidos pordiversas empresas idôneas. O panorama no ambiente de trabalho pessoal é completamentediferente. Sistemas Microsoft dominam o mercado em taxas superiores a 90%. A fatia de desktopsequipados com GNU/Linux situa-se em redor de 2%. A evolução dos aplicativos tradicionais de produtividade e mesmo do ambiente gráfico desistemas GNU/Linux se tem dado de forma muito rápida. Além disso, existem diversas alternativasfuncionalmente equivalentes aos sistemas proprietários. O ambiente gráfico KDE oferece a suiteKOffice, que embora ainda limitada, provê competentemente a maior parte das funcionalidadesbásicas. Os maiores obstáculos à adoção como ferramenta de trabalho residem primordialmente em umacultura profundamente arraigada de uso de sistemas e aplicativos para ambientes MicrosoftWindows. Não obstante o forte fator cultural, algumas empresas têm promovido esforços nosentido de substituir componentes proprietários por outros gratuitos ou livres. Nos Estados Unidos, a cidade de Largo, na Flórida, emprega uma solução totalmente baseadaem sistemas Unix e terminais, com impacto significativo na questão financeira e em produtividade. A viabilidade ou não do Linux no desktop é objeto de acentuadas controvérsias. A Intel afirmaque sistemas GNU/Linux não estarão em condições de competir com sistemas Windows a menosque o número de aplicativos disponíveis seja equivalente nas duas plataformas. A empresa Dellafirma que sistemas GNU/Linux possuem mais chances no mercado de servidores. Por outro lado, existem alguns fatores a serem considerados. Sistemas GNU/Linux contêm, alémdo sistema operacional, milhares de outros aplicativos com as mais diversas funcionalidades. Avariante comercializada pela empresa Conectiva, sediada em Curitiba, denominada ConectivaLinux versão 7.0, exibe, após a instalação completa, 2.287 aplicativos. Em funcionalidade básica,os aplicativos de ambientes GNU/Linux respondem satisfatoriamente às necessidades maiscomuns. A adoção ampla de sistemas GNU/Linux em desktops é difícil devido, principalmente, a fatoresculturais. Não obstante esta dificuldade, fatores econômicos e estratégicos como os já citadosestão forçando muitas empresas e organismos públicos a reverem suas posições e a desenvolverprogramas de adoção de software livre.

    7 - Desafios

    Os entraves que o Software Livre tem de enfrentar e superar vai muito além de oferecer soluçõesconfiáveis, seguras e robustas, que propiciem boa performance, disponibilidade e economia. Épreciso superar monopólios já sólidos e, mais do que isso, trabalhar para uma mudança culturalimposta pelas grandes corporações. Após o impacto, o desafio Com certeza, o movimento do software livre é de grande importância, pois afeta a estrutura daindústria de software e obriga a revisão de algumas práticas comerciais de licenciamento. Jáobservamos claras mudanças na própria maneira como o software passa a ser distribuído e

  • remunerado. O software livre pode causar sérios transtornos nas empresas extremamente dependentes delicenciamentos de softwares em seus modelos de negócio. Um novo cenário de negócios,causado por uma tecnologia de ruptura que atua diretamente na faixa de mercado da corporação,torna o seu crescimento mais árduo, gerando por parte dessa empresa reações bastanteagressivas para evitar eventual percepção negativa dos investidores. Entretanto, os impactos donovo contexto afetam de maneira diferente as corporações do setor. Assim, uma companhia que atua intensamente em serviços pode rapidamente aumentar suareceita entrando forte nesse novo segmento. Por outro lado, uma empresa que obtém a maiorparte de sua receita de licenças de software, com serviços sendo uma receita marginal, é afetadanegativamente. Pressionada pela redução de preços, causada pela entrada de uma alternativa desoftware livre, diretamente concorrente ao seu produto ‘premium’, uma empresa será tentada alevar para a faixa de baixo do mercado seu modelo de negócios de lucratividade mais alta,vendendo seus produtos a preços menores que os praticados normalmente ou criando versõesmais simples. Mas, na prática, pouco ou quase nada dessa receita incremental se transfere para alucratividade, porque todo aumento de receita decorrente do maior volume de vendas acabasendo absorvido pelos seus próprios custos. O modelo de software livre vai transformar a indústriade software, mas não de maneira uniforme. Conviveremos sob ambos os modelos, softwareslivres e proprietários, e que cabe à indústria e aos usuários extrair o melhor das alternativasdisponíveis. A condição que favorece a adoção do software livre por empresas comerciais depende daestratégia de negócios que será adotada para fazer com que o software livre contribua para suaspróprias atividades empresariais. Isso pode acontecer por diversas razões. A primeira delas se dáquando a empresa entende que determinados softwares do seu portfólio estão caminhando paraum rápido processo de commoditização (reduzido ao nível de mercadoria comum) e não seriamais justificável manter custosas equipes de desenvolvimento e manutenção, pois o investimentonão teria retorno do mercado. O estágio de commoditização aparece quando os clientes não mais percebem valor nasmelhorias e inovações incluídas pelo vendedor em seus produtos de software, fruto dos trabalhosdas suas equipes de pesquisa e desenvolvimento. As funcionalidades já existentes atendemperfeitamente bem às necessidades dos clientes, que por sua vez, não desejam pagar mais pornenhuma funcionalidade adicional. O fator mais importante de competição nesse estágio passa aser o preço. Outro critério para a adoção do software livre é quando a empresa concentra-se em partes dosoftware que ainda apresentam oportunidades de diferenciação competitiva, liberando apenas aparte do código commoditizável para a comunidade. Esses produtos mais sofisticados obrigam aempresa a buscar as faixas superiores do mercado, mais exigentes em suas demandas. Por outrolado, essa faixa de mercado leva a margens de lucro mais altas e à tendência natural de descartaras faixas inferiores. A opção de liberar código à comunidade aparece como uma alternativainteressante para continuar competindo no segmento menos exigente do mercado. Em linhas gerais, existe também a possibilidade de utilizar um software livre quando a empresaentende que determinado software gera mais receitas em serviços como instalação, suporte eintegração e concentra-se nessa atividade, deixando com a comunidade a tarefa de evoluir emanter o software. E ainda quando uma empresa de hardware pode vender mais equipamentosse existir maior disponibilidade de software para seu produto e não tem condições de gerar essesoftware, por si, de maneira economicamente viável.

  • Fator cultural é uma das barreiras Em todas as esferas, seja pública ou privada, uma das maiores barreiras para o uso do softwarelivre ainda é cultural. O desconhecimento dos aplicativos existentes em software livre e as suaspotencialidades, além do hábito de utilizar os programas já conhecidos podem levar a umaresistência à mudança. Portanto, não bastam investimentos nas tecnologias, é preciso umacapacitação para essa mudança. Com intuito de superar esse entrave, o governo já está tomando providências com eventos decapacitação dos servidores públicos. Em 2006, em Brasília, ocorreu a Semana de Capacitaçãoem Software Livre, que contou com a participação de mais de 5 mil servidores de 124 instituiçõesmunicipais, estaduais e federais distribuídos em 98 cursos. O investimento de R$ 300 mil tevecomo objetivo principal capacitar os servidores para implementar e gerenciar, em suasinstituições, plataformas e aplicativos baseados em códigos abertos. Os cursos foram divididos em eixos temáticos como gestão e suporte em software livre, bases dedados, infra-estrutura e desenvolvimento de software. Os servidores capacitados nesses cursosdevem servir como multiplicadores da proposta em suas instituições de origem. Uma proposta quetem como foco a busca pela inserção da discussão sobre a importância e benefícios do softwarelivre nos diferentes níveis do governo. Essa inserção é considerada pelos organizadores como umdos grandes desafios do governo Federal para a mudança dos órgãos públicos em todo o Brasil.Não existem, entretanto, incentivos financeiros para a adoção desse novo modelo. A mudança cultural para a utilização do software livre passa, ainda, por outro espaço: a escola. Oensino de informática em escolas é, atualmente, baseado no uso de sistemas e programasproprietários. Nesse modelo vigente, os alunos não aprendem informática, mas sim a utilização deum produto específico. No ensino de informática baseado em software livre, os alunos devemaprender os conceitos envolvidos em um editor de textos ou de planilhas, por exemplo. O Rio Grande do Sul é pioneiro no uso de software livre na administração e no sistema público deensino. As escolas participantes do programa “Rede Escolar Livre” tiveram como base o uso doLinux em seus servidores. O projeto abrange também 10 núcleos de tecnologia educacionalvoltados para a capacitação de professores. A "Rede Escolar Livre" foi implementada em parceriacom o programa federal ProInfo, voltado para a aquisição de equipamentos e softwares ecapacitação de professores. Criado em 1997, o ProInfo não tinha como um de seus objetivos o uso de software livre. Isso serefletiu, de certa forma, em obstáculos visualizados por professores na avaliação do programa em2002: a falta de licenças de softwares foi considerada um grande problema para odesenvolvimento das atividades nos laboratórios de informática montados. Um obstáculo que nãoexistiria caso o software livre fosse adotado. Segundo dados do Departamento de Informática naEducação a Distância do Ministério da Educação, de 1997 a 2002, o ProInfo equipou mais de 4mil escolas com cerca de 54 mil computadores, um investimento de R$ 207 milhões entreaquisição de equipamentos e softwares e capacitação de professores. Outra iniciativa Federal que envolve a informatização de escolas é o Fundo de Universalizaçãodos Serviços de Telecomunicações (Fust). O Fust é constituído por 1% da receita das operadorasde telefonia, de TV por assinatura e outros serviços de telecomunicações e, em 2001, partedesses recursos foi destinada à compra de equipamentos e instalação de acesso à internet emmais de 12 mil escolas de ensino médio no País. Na época, a exigência de um sistema computacional proprietário na maioria das máquinas levouà paralisação judicial do projeto por dois anos. Segundo dados da Agência Nacional de

  • Telecomunicações, o Fust possui, hoje, R$ 3 bilhões acumulados para a implementação depontos de acesso à internet em todo o País. Entre outras instituições contempladas, está previstaa instalação de computadores em 185 mil escolas e 300 mil pontos de conexão para internet emescolas e bibliotecas públicas. Dessa vez, a compra de softwares proprietários não está incluída. Mão-de-obra é um dos maiores desafios As perspectivas de adoção do software livre são promissoras. Em 2005, os projetos envolvendo oLinux no País ultrapassaram os US$ 7 bilhões, valores divulgados pela e-Consulting. Mesmoassim, o mercado de trabalho para os desenvolvedorescresce lentamente. . O maior desafio é asustentação econômica. De toda a comunidade de desenvolvedores no Brasil, apenas umaminoria consegue sobreviver da programação, sem ferir seu compromisso com o software livre. Amaioria ainda escreve suas linhas de código nas horas vagas, trabalhando em outras atividades,relacionadas à computação ou não. Nesse sentido, há mobilizações de usuários não apenas do Brasil, mas de toda a América Latinaque buscam a união e troca de experiências desses profissionais. Em novembro de 2007 serárealizada, em Foz do Iguaçu (PR), a IV Conferência latino-americana de Software Livre -Latinoware 2007, evento internacional que reúne profissionais e interessados em programas decomputador de código aberto. A Latinoware 2007 é promovida pela Itaipu Binacional e pelaCelepar (Companhia de Informática do Paraná), com o objetivo abrir espaço para discussões ereflexões sobre a utilização do Software Livre na América Latina, aproximar desenvolvedores eprofissionais de tecnologia e, divulgar soluções de TI desenvolvidas em Software Livre. O eventoabrigará, também, a III Olimpíada de robótica latino-americana e sessões técnicas sobre SoftwareLivre, encontro de comunidades e o II Fórum de Software Livre do setor elétrico. Como o software livre não é obrigatoriamente gratuito e uma vez adquirido o usuário tem o direitode copiá-lo e distribuí-lo para quem quiser, as empresas que não têm o software como atividadeprincipal, como a americana IBM e a Cyclades, multinacional criada por brasileiros, estãoconseguindo prosperar com o software livre. O problema são aquelas que têm no software suaatividade principal. A defesa do software livre, porém, está bastante vinculada à esfera governamental em diversospartidos. Além das administrações petistas, o governo estadual de São Paulo, do PSDB, decidiudar preferência a esse tipo de programas abertos, assim como a prefeitura de Solenópoles (CE),também do PSDB. A Frente Parlamentar Mista pelo software livre tem como presidente de honrao senador José Sarney, do PMDB. O que conta muito em favor do Linux é a convicção dos seus defensores, pois não é fácilcompetir com os milhares parceiros certificados que a Microsoft tem no Brasil. Além de suadominação de 95% do mercado de sistemas operacionais para computadores de mesa, a maiorempresa de software do mundo usa a organização descentralizada da comunidade de softwarelivre como um dos argumentos a favor do Windows e do Microsoft Office. Um cliente precisaria integrar 17 produtos de diferentes fornecedores se fosse usar o softwarelivre para seu sistema de certificação. Existem diversos exemplos malsucedidos em software livre,mas estão mais ligados à falta de profissionalismo de prestadores de serviço em software livreque problemas de tecnologia. Afinal, grandes empresas brasileiras, como as Casas Bahia, aTelemar e a Petrobras, já abraçaram o Linux em atividades importantes. Lição de casa para as distribuições Um grande desafio para o futuro do software livre vem da tendência das empresas de distribuiçãodo Linux adicionarem software não-livre ao GNU/Linux, em nome da conveniência e do poder.

  • Todos os maiores desenvolvedores de distribuição fazem isso. Só a Red Hat oferece um CDcompletamente livre, mas nenhuma loja o vende; as outras empresas nem mesmo produzem talproduto. A maioria não identifica claramente os pacotes não-livres em suas distribuições; muitasaté mesmo desenvolvem software não-livre e o adicionam ao sistema. As pessoas justificam a adição de software não-livre com o argumento da "popularidade doLinux", valorizando a popularidade acima da liberdade. Por vezes isso é admitido abertamente. Aadição de software não-livre ao sistema GNU/Linux ajuda a aumentar a popularidade, seentendermos por popularidade a quantidade de pessoas utilizando parte do GNU/Linux emconjunto com software não-livre. Mas ao mesmo tempo, essa prática estimula a comunidade aaceitar software não-livre como algo bom, e a esquecer a meta de liberdade. Não há propósito emir mais rápido se não formos capazes de nos manter no caminho. Quando o "add-on" não-livre é uma biblioteca ou ferramenta de desenvolvimento, ela pode setornar uma armadilha para os desenvolvedores de software livre. Quando esses escrevemsoftware livre que depende de um pacote não-livre, o software não pode ser parte de um sistemacompletamente livre. Isso cria problemas, cujas soluções demoram anos para ficar prontas. Se a liberação de alternativas livres fosse apenas uma questão de programação, a solução dosproblemas no futuro se tornaria mais fácil na medida em que os recursos de desenvolvimento dacomunidade aumentam. Mas há obstáculos que ameaçam tornar tudo ainda mais difícil: leis queproíbem software livre. Conforme patentes de software se avolumam e que leis são utilizadas paraproibir o desenvolvimento de software livre para tarefas importantes, como ver um DVD ou escutarum