152
UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE EDUCAÇÃO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE MESTRADO EM SAÚDE E GESTÃO DO TRABALHO SOLANGE DE FÁTIMA CARDOZO DANELUZ REABILITAÇÃO PROFISSIONAL – UM OLHAR INTERDISCIPLINAR E INTERINSTITUCIONAL NA ATENÇÃO INTEGRAL À SAÚDE DO TRABALHADOR Itajaí 2011

SOLANGE DE F TIMA CARDOZO DANELUZ) - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Solange de Fatima Cardozo Daneluz.pdf · de assistência tradicional em reabilitação profissional foi criado,

  • Upload
    vohanh

  • View
    216

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: SOLANGE DE F TIMA CARDOZO DANELUZ) - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Solange de Fatima Cardozo Daneluz.pdf · de assistência tradicional em reabilitação profissional foi criado,

UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ

CENTRO DE EDUCAÇÃO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE

MESTRADO EM SAÚDE E GESTÃO DO TRABALHO

SOLANGE DE FÁTIMA CARDOZO DANELUZ

REABILITAÇÃO PROFISSIONAL – UM OLHAR INTERDISCIPLINAR E

INTERINSTITUCIONAL NA ATENÇÃO INTEGRAL À SAÚDE DO TRABALHADOR

Itajaí

2011

Page 2: SOLANGE DE F TIMA CARDOZO DANELUZ) - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Solange de Fatima Cardozo Daneluz.pdf · de assistência tradicional em reabilitação profissional foi criado,

SOLANGE DE FÁTIMA CARDOZO DANELUZ

REABILITAÇÃO PROFISSIONAL – UM OLHAR INTERDISCIPLINAR E

INTERINSTITUCIONAL NA ATENÇÃO INTEGRAL À SAÚDE DO TRABALHADOR

Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado Profissional em Saúde e Gestão do Trabalho, da Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Saúde e Gestão do Trabalho. Orientadora: Profª. Dra. Elizabeth Navas Sanches

Itajaí

2011

Page 3: SOLANGE DE F TIMA CARDOZO DANELUZ) - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Solange de Fatima Cardozo Daneluz.pdf · de assistência tradicional em reabilitação profissional foi criado,

SOLANGE DE FÁTIMA CARDOZO DANELUZ

REABILITAÇÃO PROFISSIONAL – UM OLHAR INTERDISCIPLINAR E

INTERINSTITUCIONAL NA ATENÇÃO INTEGRAL À SAÚDE DO TRABALHADOR

Essa Dissertação foi julgada adequada para obtenção do título de Mestre em

Saúde e Gestão do Trabalho e aprovada pelo Programa de Mestrado Profissional

em Saúde e Gestão do Trabalho, da Universidade do Vale do Itajaí.

Área de Concentração: Saúde da Família

Itajaí, ... de .................... de 2011

Profª.Drª. Elizabeth Navas Sanches

UNIVALI de Itajaí

Presidente – Orientadora

Prof. Dr. Luiz Roberto Agea Cutolo

UNIVALI de Itajaí

Membro

Prof. Dr. Rodrigo Moretti Pires

UFSC

Membro

Profª. Dra. Stella Maris Lopes

UNIVALI de Itajaí

Membro

Page 4: SOLANGE DE F TIMA CARDOZO DANELUZ) - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Solange de Fatima Cardozo Daneluz.pdf · de assistência tradicional em reabilitação profissional foi criado,

3

FICHA CATALOGRÁFICA

D198r

Daneluz, Solange de Fátima Cardozo, 1965- Reabilitação profissional [manuscrito] : um olhar interdisciplinar e interinstitucional na atenção integral à saúde do trabalhador / Solange de Fátima Cardozo Daneluz. – 2011. 167 f. : il. Color. Cópia de computador (Printout(s)). Dissertação (mestrado) – Universidade do Vale do Itajaí, Programa de Mestrado Profissionalizante em Saúde e Gestão do Trabalho, 2011. “Orientadora: Profª. Drª Elizabeth Navas Sanches. ”. Bibliografia: f. 114-129. 1. Promoção da saúde dos empregados. 2. Políticas públicas. 3. Reabilitação profissional. I. Sanches, Elizabeth Navas. II. Título.

CDU: 614

Claudia Bittencourt Berlim – CRB 14/964

Page 5: SOLANGE DE F TIMA CARDOZO DANELUZ) - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Solange de Fatima Cardozo Daneluz.pdf · de assistência tradicional em reabilitação profissional foi criado,

“O ser humano vivencia a si mesmo, seus

pensamentos, como algo separado do resto do

universo numa espécie de ilusão de óptica de sua

consciência. E essa ilusão é um tipo de prisão que

nos restringe a nossos desejos pessoais, conceitos

e ao afeto apenas pelas pessoas mais próximas.

Nossa principal tarefa é a de nos livrarmos dessa

prisão ampliando nosso círculo de compaixão para

que ele abranja todos os seres vivos e toda a

natureza em sua beleza. Ninguém conseguirá

atingir completamente este objetivo mas, lutar

pela sua realização, já é por si só parte de nossa

liberação e o alicerce de nossa segurança

interior”.

Albert Einstein

Page 6: SOLANGE DE F TIMA CARDOZO DANELUZ) - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Solange de Fatima Cardozo Daneluz.pdf · de assistência tradicional em reabilitação profissional foi criado,

RESUMO

Para atender os trabalhadores e responder à necessidade de mudanças no modelo

de assistência tradicional em reabilitação profissional foi criado, no município de

Chapecó–SC, o Grupo de Apoio à Reabilitação Profissional (GARP), uma parceria

interinstitucional que articula a rede de serviços e disponibiliza um conjunto de

tecnologias para a assistência em saúde e reinserção profissional. Este pesquisa

apresenta os resultados de estudo que analisou o processo de implantação e

implementação desse grupo. Buscou-se avaliar as ações interdisciplinares e

interinstitucionais, a contribuição dos profissionais envolvidos e as dificuldades

encontradas. Trata-se de uma pesquisa-ação de abordagem qualitativa, organizada

em oficinas de trabalho com os profissionais do GARP, utilizando a metodologia

problematizadora e o Arco de Charles Maguerez. A integralidade das ações foi o

princípio norteador e os resultados demonstraram a existência de pontos fortes

contribuindo com a melhoria do modelo de atenção e ampliando a responsabilidade

das instituições envolvidas. Os pontos fracos, representados pela ausência de uma

rede de atenção articulada, pela diversidade de concepções e pelo distanciamento

das instituições, motivaram a convergência dos olhares interinstitucionais para a

elaboração de um modelo de intervenção integral à saúde dos trabalhadores e

colocaram o desafio de atuar na perspectiva da prevenção e promoção.

Palavras-chave: Saúde do Trabalhador; Políticas Públicas; Serviços de

Reabilitação; Assistência Integral à Saúde.

Page 7: SOLANGE DE F TIMA CARDOZO DANELUZ) - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Solange de Fatima Cardozo Daneluz.pdf · de assistência tradicional em reabilitação profissional foi criado,

6

ABSTRACT

The Professional Rehabilitation Support Group (PRSG) was created in the city of

Chapecó, in the State of Santa Catarina, to serve workers and meet the need for

changes to the traditional health care model in professional rehabilitation. The PRSG

is a partnership among several institutions that articulates a network of services and

offers a set of technologies for health care and professional reinsertion in job market.

This research presents the results of a study that analyzed the process of

implantation and implementation of this group. It sought to evaluate the

interdisciplinary and inter-institutional actions, the contributions of the professionals

involved, and the difficulties found. It is a research-action study with a qualitative

approach, organized in workshops with GARP professionals, using an investigative

method, and the Charles Maquerez Arch. The integrality of the actions was the

guiding principle, and the results demonstrate the existence of strong points,

contributing to an improvement in the health care model, and broadening the

responsibilities of the institutions involved. The weak points, represented by the lack

of an articulated health care network, due to the diversity of concepts and the

distancing between institutions, prompted a convergence of institutional looks for the

design of a model of integral intervention in the workers’ health, and place the

challenge of acting with a view to prevention and promotion.

Key words: Workers’ health. Professional rehabilitation services. Public Policy.

Comprehensive health care.

Page 8: SOLANGE DE F TIMA CARDOZO DANELUZ) - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Solange de Fatima Cardozo Daneluz.pdf · de assistência tradicional em reabilitação profissional foi criado,

LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Fluxograma do GARP ................................................................................ 18

Figura 2. Modelo de relação causal do processo saúde/doença............................... 39

Figura 3. Atenção Integral a Saúde do Trabalhador .................................................. 41

Figura 4. Arco de Charles Maguerez ......................................................................... 63

Page 9: SOLANGE DE F TIMA CARDOZO DANELUZ) - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Solange de Fatima Cardozo Daneluz.pdf · de assistência tradicional em reabilitação profissional foi criado,

LISTA DE SIGLAS

ABEF – Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frangos

ABIA – Associação Brasileira das Indústrias de Alimentos

ACP – Ação Civil Pública

APS – Agência da Previdência Social

APS – Atenção Primária em Saúde

CAGED – Cadastro Geral de Empregados e Desempregados

CEREST – Centro de Referência em Saúde do Trabalhador

CETESB – Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental

CGR – Colegiados de Gestão Regional

CIB – Comissão Intergestores Bipartite

CIST – Comissão Intersetorial de Saúde do Trabalhador

CLT – Consolidação das Leis do Trabalho

CNES – Código Nacional de Estabelecimentos de Saúde

CNIS – Cadastro Nacional de Informações Sociais

CNST – Conferência Nacional de Saúde do Trabalhador

CEREST – Centro de Referência em Saúde do Trabalhador

CIF – Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde

CISAMOSC – Consórcio Intermunicipal de Saúde da Associação dos Municípios do

Oeste de Santa Catarina

CISGE – Centro Integrado de Saúde Grande Efapi

CNS – Conselho Nacional de Saúde

CONASS – Conselho Nacional de Secretários de Saúde

COSAT – Área Técnica de Saúde do Trabalhador

CRAS – Centro de Referência em Assistência Social

CAT – Comunicação de Acidentes de Trabalho

CUT – Central Única dos Trabalhadores

DAPE – Departamento de Ações Programáticas Estratégicas

DATAPREV – Empresa de Tecnologia e Informações da Previdência Social

DORT – Distúrbio osteomuscular relacionado ao trabalho

DOU – Diário Oficial da União

DRT – Delegacia Regional do Trabalho

Page 10: SOLANGE DE F TIMA CARDOZO DANELUZ) - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Solange de Fatima Cardozo Daneluz.pdf · de assistência tradicional em reabilitação profissional foi criado,

9

EPIs – Equipamentos de Proteção Individual

ESF – Estratégia de Saúde da Família

FABOV – Fundo de Apoio à Bovinocultura de Corte

FAMATO – Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Mato Grosso

GARP – Grupo de Apoio a Reabilitação Profissional

GEISAT – Grupo Executivo Interinstitucional de Saúde do Trabalhador

IDH – Índice de Desenvolvimento Humano

INSS – Instituto Nacional de Seguro Social

LER – Lesão por Esforço Repetitivo

MMA – Ministério do Meio Ambiente

MPAS – Ministério da Previdência Social

MPT – Ministério Público do Trabalho

MTE – Ministério do Trabalho e Emprego

MS – Ministério da Saúde

NOST – Norma Operacional Básica de Saúde do Trabalhador

OIT – Organização Internacional do Trabalho

OMS – Organização Mundial da Saúde

OPAS – Organização Pan-Americana da Saúde

OS – Promoção da Saúde

PAIR – Perda Auditiva Induzida por Ruído

PET – Programa de Educação para o Trabalho

PNSST – Política Nacional de Segurança e Saúde do Trabalhador

PNST – Política Nacional de Saúde do Trabalhador

RAS – Rede de Atenção à Saúde

RAIS – Relação Anual de Informações Sociais

RENAST – Rede Nacional de Atenção Integral à Saúde do Trabalhador

RENECIAT – Rede Nacional de Centros de Informação e Assistência Toxicológica

SAS – Secretaria de Atenção à Saúde

SASSM – Serviço de Atenção à Saúde do Servidor Municipal

SESMT – Serviço Especializado em Engenharia de Segurança e Medicina do

Trabalho

SGTES – Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde

SIA – Sistema de Informação Ambulatorial

SIAB – Sistema de Informação da Atenção Básica

Page 11: SOLANGE DE F TIMA CARDOZO DANELUZ) - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Solange de Fatima Cardozo Daneluz.pdf · de assistência tradicional em reabilitação profissional foi criado,

10

SIH – Sistema de Informação sobre Internação Hospitalar

SIM – Sistema de Informação sobre Mortalidade

SINAN – Sistema de Informação de Agravos de Notificação

SINASC – Sistema de Informação de Nascidos Vivos

SINITOX – Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas

SIS – Sistema de Informação em Saúde

SUS – Sistema Único de Saúde

UNOCHAPECÓ – Universidade Comunitária da Região de Chapecó

VISAT – Vigilância em Saúde do Trabalhador

Page 12: SOLANGE DE F TIMA CARDOZO DANELUZ) - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Solange de Fatima Cardozo Daneluz.pdf · de assistência tradicional em reabilitação profissional foi criado,

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................ 12

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ...................................................................... 21

2.1 A interação do trabalhador no ambiente de trabalho....................................... 21

2.2 As condições de trabalho na indústria frigorífica ............................................. 22

2.3 Do reconhecimento da doença ocupacional à reabilitação profissional .......... 26

2.4 O surgimento do campo da “saúde do trabalhador” ........................................ 28

2.5 O desenvolvimento da Vigilância em Saúde do Trabalhador no SUS ............ 31

2.6 Serviços de reabilitação profissional ............................................................... 36

2.7 Marco teórico: Atenção Integral a Saúde – Integralidade................................ 37

3 PERCURSO METODOLÓGICO ..................................................................... 62

3.1 O contexto do estudo ...................................................................................... 65

3.2 Os participantes .............................................................................................. 66

3.3 Estratégia de coleta dos dados ....................................................................... 66

3.4 Organização e registros dos dados coletados ................................................ 68

3.5 Análise dos dados ........................................................................................... 69

3.6 As oficinas de trabalho .................................................................................... 69

3.6.1 I oficina de trabalho ......................................................................................... 69

3.6.2 II oficina de trabalho ........................................................................................ 70

3.6.3 III oficina de trabalho ....................................................................................... 72

3.7 Aspectos éticos ............................................................................................... 73

4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS ............................................... 75

4.1 I oficina de trabalho ......................................................................................... 76

4.1.1 Etapa 01: Observação da realidade (problema) .............................................. 76

4.2 II oficina de trabalho ........................................................................................ 90

4.2.1 Etapa 02: pontos-chave .................................................................................. 90

4.2.2 Etapa 03: teorização ....................................................................................... 98

4.3 III oficina de trabalho ..................................................................................... 100

4.3.1 Etapa 04: hipóteses de soluções .................................................................. 100

4.3.2 Etapa 05: aplicação a realidade (prática) ...................................................... 104

5 DISCUSSÃO..................................................................................................108

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................... 113

REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 115

APÊNDICES ........................................................................................................... 131

ANEXOS ................................................................................................................. 135

Page 13: SOLANGE DE F TIMA CARDOZO DANELUZ) - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Solange de Fatima Cardozo Daneluz.pdf · de assistência tradicional em reabilitação profissional foi criado,

1 INTRODUÇÃO

A agroindústria é um dos principais segmentos da economia brasileira, com

importância tanto no abastecimento interno como no desempenho exportador do

País. O Brasil tornou-se, nesses últimos 30 anos, o maior exportador de carne de

aves do mundo, exporta 2.713 mil toneladas principalmente para a Ásia, Oriente

Médio e Europa, sendo o terceiro na produção desse produto. São 9.335 mil

toneladas de frango por ano, perdendo apenas para a China com 10.350 mil

toneladas, e Estados Unidos com produção de 16.162 mil toneladas ano (Abef,

2006).

Este segmento é responsável por quase 15% do faturamento do setor

industrial e por empregar mais de um milhão de pessoas. Faturou R$ 230,6 bilhões

em 2007, uma alta de 10,6%, em relação a 2006, quando o faturamento somou R$

208,4 bilhões. Os derivados de carne foram responsáveis pela maior fatia na venda

de industrializados alimentares, com R$ 50,8 bilhões, alta de 18,5%, em relação a

2006 (Abia, 2008).

As condições atuais de trabalho nos frigoríficos são, porém, incompatíveis

com a manutenção da saúde física e mental do trabalhador. Segundo dados do

Anuário Estatístico de Acidentes de Trabalho do Ministério da Previdência Social,

com apoio do Ministério do Trabalho e Emprego, em 2006, os estabelecimentos de

abate e preparação de produtos derivados da carne, ocuparam o primeiro lugar em

número de acidentes de trabalho: 932, um aumento superior a 48%, se comparado

ao ano de 2004, quando os frigoríficos já eram o primeiro colocado na lista, com 627

casos registrados.

O Estado de Santa Catarina, em 2004, teve um índice de acidentes de

trabalho de 24,5%, que, se comparados aos índices do Brasil em 18,5%, colocam o

estado numa posição pior que a média nacional. Foram 4.120 acidentes de trabalho

registrados na macrorregião do Oeste, no triênio 2002-04, sendo que, segundo a

Secretaria de Desenvolvimento Regional, atribuídos a Chapecó 1.236 registros. Os

acidentes de trabalho, segundo a atividade econômica, como nos estabelecimentos

de abate e preparação de produtos derivados da carne de aves, estão em 23,3%

sendo que destes, 72,0% estão na faixa etária entre os 16 e 34 anos.

O trabalho em frigorífico é resultado de uma política de produtividade,

Page 14: SOLANGE DE F TIMA CARDOZO DANELUZ) - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Solange de Fatima Cardozo Daneluz.pdf · de assistência tradicional em reabilitação profissional foi criado,

13

competitividade e diversidade que leva os trabalhadores ao sofrimento dos impactos

dessas novas regras e processos produtivos em suas atividades e ambientes

ocupacionais.

Há um grande complexo de agroindústrias instaladas na região oeste do

Estado de Santa Catarina, situado no sul do Brasil. Neste pólo agroindustrial

destaca-se a cidade de Chapecó, uma das maiores produtoras e exportadoras

mundiais de carne de frango (Abef, 2006).

Essa liderança tem colocado a rede básica de saúde em alerta, pela

fragilização da saúde de seus trabalhadores. Percebe-se que o adoecimento

transcende os limites da área médica e exige uma análise sociológica,

administrativa, antropológica e psicológica do processo. Em vistorias realizadas pelo

Ministério Público do Trabalho no ambiente de trabalho da indústria frigorífica, na

região oeste do Estado de Santa Catarina, foram constatados casos de jornada de

trabalho de até 16 horas e com ritmo de trabalho acentuado. Na atividade em que o

trabalhador desossa quatro sobrecoxas de frango por minuto, o cálculo chega a 54

movimentos por minuto, quase um movimento a cada segundo. Nas vistorias

realizadas em uma das empresas do setor frigorífico investigadas no Estado,

apontou-se que, entre 2006 e 2007, a cada dia um trabalhador era afastado do

trabalho, por depressão ou doença osteomuscular. Poucas atividades econômicas

registram tantos adoecimentos quanto os frigoríficos. As fiscalizações têm resultado

em termos de ajustamento de conduta ou em ações civis públicas (Sardá, 2008).

O município de Chapecó, próximo de 200 mil habitantes, cumpre a função de

município pólo da região oeste e extremo-oeste do Estado. A economia é baseada

na agroindústria, porém em pleno processo de multissetorialização, com destaque

para outros segmentos industriais, em especial o desenvolvimento do comércio,

turismo de eventos, sendo referência regional em prestação de serviços

especializados e formação profissional na área da saúde, educação, manutenção

industrial e turismo. As feiras e eventos se tornaram grande fonte de receita e

oportunidade de negócios para todos os setores da economia (Chapecó, 2010).

Tal cenário é observado em avaliações qualitativas realizadas por instituições

especializadas, as quais destacam Chapecó em qualidade de vida, desenvolvimento

de carreira profissional, oportunidades de investimento, turismo, entre outros. Estas

condições permitem o uso do termo “desenvolvimento econômico” que, apesar de

mal utilizado em alguns meios, caracteriza-se por uma melhoria contínua na

Page 15: SOLANGE DE F TIMA CARDOZO DANELUZ) - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Solange de Fatima Cardozo Daneluz.pdf · de assistência tradicional em reabilitação profissional foi criado,

14

qualidade de vida da população local, refletindo, também, no aspecto regional.

O acompanhamento e análise mensal dos dados relativos à evolução do

emprego formal evidenciaram-se, visto que no comparativo entre os municípios

catarinenses com mais de 100.000 habitantes, Chapecó obteve o melhor

desempenho na Variação de Empregos, com 12,63% no ano de 2007. Os dados

apontaram o município, com índices de crescimento acima das médias estadual

(6,11%) e nacional (3,96%). Este índice é obtido a partir da evolução na geração de

novos postos de trabalho nos cinco principais setores da atividade produtiva. A

flutuação do emprego, em nível setorial, foi a seguinte: comércio (10,81%), indústria

(18,47%), prestadores de serviço (6,28%), construção civil (27,04%) e agropecuária

(13,19%). Essa especialização segmentada vem sendo acompanhada pela

administração municipal, sempre com a parceria da comunidade organizada,

servindo de base para a implementação de ações estratégicas que induzam o

desenvolvimento de maneira distributiva na microrregião, com o intuito de fortalecer

a região metropolitana (Chapecó, 2010).

Com o fortalecimento das ferramentas públicas de desenvolvimento, o

Sistema Único de Saúde (SUS) no Município de Chapecó vem sendo reforçado a

partir da organização da rede de atenção básica, através da concepção da

Estratégia Saúde da Família (ESF), cujas ações priorizam as ações integradas.

Apesar de aparentar um contexto favorável, na construção da saúde no

município, existe uma preocupação nos âmbitos interinstitucionais internos que

atuam na saúde do trabalhador e que exigem o desenvolvimento de estratégias

inovadoras, voltadas para a mudança do modelo de atenção. Estes pretendem

romper com a lógica da concepção focalizada, exclusivamente, na recuperação da

capacidade física para a manutenção da força de trabalho, vinculada exclusivamente

às determinações de ordem econômica.

A reabilitação física tradicional ancora-se apenas nas intervenções clínicas

individualizadas, desprovidas de investimentos em vínculos com os pacientes e

ensurdecidas quanto às suas necessidades e anseios.

Em Chapecó foi firmada parceria interinstitucional com possibilidades de

utilização da rede de serviços disponíveis no município que deverá dar suporte

operacional para a implementação de um projeto, entre:

1. O Instituto Nacional de Seguro Social (INSS), com a interveniência da

Gerência Executiva de Chapecó – SC;

Page 16: SOLANGE DE F TIMA CARDOZO DANELUZ) - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Solange de Fatima Cardozo Daneluz.pdf · de assistência tradicional em reabilitação profissional foi criado,

15

2. O município de Chapecó, tendo como intervenientes a Secretaria Municipal

de Saúde, representada pelos: Serviço Municipal de Fisioterapia e Saúde Funcional,

Vigilância em Saúde e o Centro de Referência em Saúde do Trabalhador (CEREST);

3. O Conselho Municipal de Saúde, por meio de representantes do controle

social;

4. O Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), com a interveniência da

Gerência Regional do Trabalho e Emprego de Santa Catarina;

5. E o Ministério Público do Trabalho (MPT).

Todos estes setores atuam em conjunto, com o objetivo de implantar o

Projeto Piloto de Reabilitação Profissional, uma estratégia de articulação da rede de

serviços do município de Chapecó, visando a disponibilizar um conjunto de

equipamentos para utilização de tecnologia, de comunicação e informação, com a

finalidade de dar assistência em saúde e reinserção profissional dos segurados,

encaminhados ao programa de reabilitação profissional do INSS.

Foi criado, então, em 19 de fevereiro de 2009, o Grupo de Apoio a

Reabilitação Profissional (GARP), oficializado por meio de um Termo de

Compromisso. As responsabilidades acordadas entre estas instituições encontram-

se disponíveis no Anexo A. Neste Termo de Compromisso destacam-se como

objetivos:

1. Focalizar ações de atendimento à saúde e reinserção profissional, através

da organização de um fluxo assistencial;

2. Realizar a vigilância no meio ambiente do trabalho, visando a identificar

tarefas e atividades de trabalho para readaptação profissional;

3. Avaliar o processo de reabilitação funcional e profissional dos segurados do

INSS;

4. Divulgar as ações e serviços que compõem a política pública da área de

saúde e segurança do trabalhador.

Os selecionados para participarem do GARP são trabalhadores segurados,

encaminhados à reabilitação profissional pela perícia médica da Agência da

Previdência Social (APS) – Chapecó, com diferentes diagnósticos, mas que não

apresentam impossibilidades para atuação profissional.

O município, representado pela Secretaria da Saúde, colocou à disposição o

Serviço Municipal de Fisioterapia e Saúde Funcional com a tarefa de organizar as

ações de assistência individual e coletiva para os trabalhadores selecionados para o

Page 17: SOLANGE DE F TIMA CARDOZO DANELUZ) - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Solange de Fatima Cardozo Daneluz.pdf · de assistência tradicional em reabilitação profissional foi criado,

16

projeto piloto. Estas ações foram aprimoradas, debatidas e selecionadas em um

grupo formado por profissionais deste serviço, dos quais participam: terapeuta

ocupacional, fisioterapeuta, psicóloga, fonoaudióloga e assistente social. Estas

intervenções foram denominadas como Grupo de Atenção Integral ao

Trabalhador.

A necessidade de desenvolver este projeto, em formato de parceria com as

instituições envolvidas na saúde do trabalhador, ocorreu quando a assistência

passou a ser o foco central e discussão permanente das demandas, até então não

atendidas de forma sistemática pelas instituições no município.

O trabalhador queixava-se de um atendimento desrespeitoso recebido por

parte dos profissionais da saúde nas instituições às quais recorre em função de

algum acometimento. Quando os trabalhadores procuram o SUS para autorização

de tratamento fisioterápico nas clínicas de fisioterapia terceirizadas no município,

são muito comuns queixas da falta de interlocução entre os profissionais (SUS e o

INSS), as diferenças de olhar institucional para o diagnóstico das patologias

relacionadas ao trabalho ou nos casos de acidentes de trabalho. Os laudos que

descrevem os diagnósticos, os que produzem o afastamento para tratamento e os

que conduzem à aposentadoria por invalidez, não se baseiam em critérios objetivos

e muitas vezes não são considerados os laudos de exames ou de relatórios médicos

de outros profissionais que acompanham estes trabalhadores, como por exemplo,

nas Unidades de Saúde da Estratégia de Saúde da Família (ESF).

O Projeto Piloto prevê que, concomitantemente às intervenções com os

segurados, sejam avaliados postos e atividades de trabalho por parte do INSS,

Vigilância em Saúde, Cerest e MTE, resultando num parecer para readaptação de

cada caso na empresa de vínculo, propondo mudanças e adaptações nos ambientes

de trabalho. Na sequência, o setor de reabilitação profissional do INSS analisará os

pareceres e havendo compatibilidade da função proposta pela empresa de vínculo e

a reabilitação funcional do segurado, será elaborado um laudo conclusivo.

Posteriormente, será dada orientação ao segurado e à empresa quanto aos

procedimentos no ato do desligamento do INSS e emissão do certificado de

homologação de readaptação profissional.

Caso não haja atividades de trabalho compatíveis para a readaptação do

segurado na empresa de vínculo, este poderá ser encaminhado à requalificação

profissional subsidiado pelo INSS, recebendo informações sobre a escolha de outra

Page 18: SOLANGE DE F TIMA CARDOZO DANELUZ) - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Solange de Fatima Cardozo Daneluz.pdf · de assistência tradicional em reabilitação profissional foi criado,

17

atividade a exercer no mercado de trabalho e de acordo com seu interesse.

Outra situação é o segurado não corresponder aos critérios do programa,

como falta de atividades compatíveis na empresa de vínculo, somada à idade

avançada e baixo nível de instrução para requalificação, ausência de condições

biopsicossociais para desenvolver o programa profissional, sendo encaminhado

novamente à perícia médica do INSS para conclusão do caso.

Os segurados atendidos nesse processo são selecionados – casos elegíveis

de reabilitação profissional – e cadastrados em um banco de dados criado para o

projeto piloto, sendo uma amostra inicial de 20 pessoas. A duração do projeto foi

prevista para 12 meses, podendo sofrer mudanças a partir da avaliação das

intervenções do GARP.

A avaliação do projeto piloto foi proposta de forma processual, no decorrer da

sua execução, através de: reuniões periódicas para discussão da implementação

das etapas do projeto; avaliação do cumprimento das responsabilidades de cada

instituição e dos dados gerados durante o processo, tais como, banco de dados,

pareceres emitidos, relatórios das visitas técnicas às empresas e pesquisa de

fixação.

Há um acordo firmado entre as instituições para que este projeto seja

divulgado por meio da imprensa falada e escrita, em seminários, pesquisas

científicas, dentre outras, porém a publicação e divulgação de dados resultantes do

projeto somente serão permitidas com a anuência das entidades parceiras do

projeto. Os profissionais envolvidos neste projeto ficarão responsáveis pelo envio de

relatórios trimestrais ao Ministério Público do Trabalho, relatando informações sobre

as empresas com maior número de adoecimentos, agravos e afastamentos para

medidas cabíveis no que se refere à melhoria dos ambientes de trabalho.

Para esclarecer os passos a serem seguidos por este projeto, foi organizado

um fluxograma, onde cada instituição tem claramente identificada a sua atribuição no

decorrer do processo. Este fluxograma foi construído entre os profissionais

envolvidos e se configura da seguinte forma:

Page 19: SOLANGE DE F TIMA CARDOZO DANELUZ) - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Solange de Fatima Cardozo Daneluz.pdf · de assistência tradicional em reabilitação profissional foi criado,

18

FLUXOGRAMA DO GARP

Figura 1. Fluxograma do GARP. Fonte: GARP – Grupo de Apoio a Reabilitação Profissional, Chapecó – SC, 2009.

Entende-se que a escolha do tema apresentado nesta Dissertação para

obtenção do título de Mestre pelo Programa de Mestrado Profissional em Saúde e

Gestão do Trabalho, da Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI), justifica-se pela

relevância social da proposta, devido ao grande número de indústrias do setor

agropecuário no País, o tempo prolongado para definir a situação do trabalhador

adoecido, o número reduzido de serviços de reabilitação profissional e o papel das

SERVIÇO MUNICIPAL DE FISIOTERAPIA E SAÚDE

FUNCIONAL GRUPO DE ATENÇÃO

INTEGRAL AO TRABALHADOR

CEREST / VISA / MTE Fiscalização

INSS Análise dos postos e atividades de

trabalho MPT

Notificação/autuação

REABILITAÇÃO PROFISSIONAL – INSS

Terapeuta Ocupacional e Assistente Social

REABILITAÇÃO PROFISSIONAL INSS

TRABALHADOR-SEGURADO

PERÍCIA MÉDICA INSS

APTO

REALOCAÇÃO NA EMPRESA

REQUALIFICAÇÃO PROFISSIONAL

INAPTO

MANUTENÇÃO DO BENEFÍCIO

APOSENTADORIA

Page 20: SOLANGE DE F TIMA CARDOZO DANELUZ) - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Solange de Fatima Cardozo Daneluz.pdf · de assistência tradicional em reabilitação profissional foi criado,

19

políticas públicas que favoreçam a reinserção do trabalhador. Esta escolha me

pareceu adequada pela graduação em fisioterapia e hoje na função de gestora de

serviços da Atenção Especializada no município de Chapecó, pude defrontar-me

com desafios antes despercebidos. Apesar da intenção ampliada na formação

acadêmica, o enfoque e a prática tendem a priorizar ao acadêmico o aprendizado

voltado para a reabilitação das habilidades físicas – a dimensão biológica,

oferecendo poucos subsídios para a compreensão do impacto na dimensão

subjetiva: os valores sociais, em especial, da relação do trabalho na vida do

indivíduo e dos riscos da saúde mental do trabalhador. Existe uma crise de

referencial da Saúde do Trabalhador. Há necessidade de revisão do campo teórico e

prático da área, urgência na inclusão de temáticas como a relação interdisciplinar

nos modelos de atenção e as relações interinstitucionais com seus diferentes

olhares para o trabalhador, estes fatores também reforçaram a relevância do estudo.

Esta pesquisa teve como foco o estudo dos principais atores (profissionais e

instituições) que participam do GARP. A problemática do estudo foi permeada pelos

seguintes questionamentos:

1. Quais as atribuições e as ações interdisciplinares e interinstitucionais na

implementação deste grupo, que favorecem ou contribuem para a atenção integral a

saúde do trabalhador?

2. Quais as principais dificuldades enfrentadas pelos profissionais e pelas

instituições no processo de implantação deste projeto piloto?

3. Qual a sua contribuição para a assistência integral à saúde do trabalhador,

na rede básica de saúde do município?

Neste contexto, este trabalho tem como objetivo geral:

Analisar o processo de implementação, implantação e os resultados obtidos

pelo Grupo de Apoio a Reabilitação Profissional – GARP.

Seus objetivos específicos serão considerados nas seguintes linhas:

- Avaliar os aspectos organizacionais e metodológicos nas ações

interdisciplinares e interinstitucionais na implementação do GARP;

- Investigar a percepção dos profissionais sobre a contribuição de cada um

dos envolvidos no processo de reabilitação;

- Levantar as principais dificuldades enfrentadas pelos profissionais e pelas

instituições no processo de implantação do GARP;

- Identificar que ações de intervenção das instituições envolvidas no GARP

Page 21: SOLANGE DE F TIMA CARDOZO DANELUZ) - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Solange de Fatima Cardozo Daneluz.pdf · de assistência tradicional em reabilitação profissional foi criado,

20

contribuíram para a sua implantação.

Como resultado final desta pesquisa pretende-se “reconhecer a variedade das

necessidades relacionadas à saúde do trabalhador, entendendo a complexidade da

integralidade como processo, vivenciando o cotidiano, o território e as possibilidades

das ações integradas da saúde”.

Page 22: SOLANGE DE F TIMA CARDOZO DANELUZ) - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Solange de Fatima Cardozo Daneluz.pdf · de assistência tradicional em reabilitação profissional foi criado,

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 A interação do trabalhador no ambiente de trabalho

O trabalho sempre despertou sentimento ambíguo no ser humano. Enquanto

por um lado é considerado sofrimento, obrigação, esforço, meio pelo qual se obtém

a própria subsistência e de seus dependentes, atividade alienante realizado sem

propósitos e que torna o ser humano escravo das próprias necessidades, por outro,

é fonte de realização e prazer, que permite a expressão do ser humano e de sua

criatividade, na transformação da realidade. Os aspectos positivos do trabalho

representam dignidade, capacidade de se manter por meios próprios, possibilidade

de consumo, valorização do indivíduo e do bem-estar na vida. Somam-se a estes o

sentimento de se sentir útil e ativo na sociedade (Vasconcelos, 2002).

Ao longo da história, o trabalho passou por mudanças significativas em sua

estrutura organizacional. Na Idade Média e Moderna era realizado em contexto

grupal, coletivo; no entanto, a partir da Idade Contemporânea, com a industrialização

e com a exigência de profissionalização e especialização crescentes, o trabalho tem

sido realizado de maneira mais isolada, em que cada profissional responde por

determinado fragmento da atividade (Oliniski; Lacerda, 2004).

O trabalhador desenvolveu uma competência técnica bastante especializada,

porém, no decorrer deste desenvolvimento, uma barreira cerceou os locais de

trabalho, fazendo com que a interação das pessoas diminuísse consideravelmente.

Por conseguinte, observa-se que o contato direto entre as pessoas que

compartilham o mesmo ambiente de trabalho é pequeno e que o relacionamento

estabelecido entre elas é impessoal e revestido de pouco significado construtivo

(Rehfeldt, 2003).

A consequência desse processo é a superficialidade nos relacionamentos

que, por sua vez, pode levar à incompreensão, mal-entendidos e conflitos,

comprometendo a qualidade das relações sociais. Ao invés de os contatos humanos

serem diretos, enriquecedores e significativos, eles são cada vez mais indiretos e de

pouca importância, interesse ou necessidade (Rehfeldt, 2003).

Algumas instituições têm buscado reverter essa situação, adotando políticas

Page 23: SOLANGE DE F TIMA CARDOZO DANELUZ) - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Solange de Fatima Cardozo Daneluz.pdf · de assistência tradicional em reabilitação profissional foi criado,

22

de humanização ou organizando o trabalho em células ou pequenos grupos. Estas

estratégias buscam maior aproximação das pessoas, entretanto, aglutinar as

pessoas em um mesmo espaço não implica em experiências positivas e

construtivas, pois as pessoas precisam relacionar-se socialmente. Nesse sentido,

Dejours, Abdoucheli e Jayet (2002, p. 45) referem que:

[...] as condutas humanas resultam da interação homem-ambiente. Logo, o mundo do trabalho é visto sob o aspecto intersubjetivo e social. O ambiente físico e os aspectos mais técnicos são deixados de lado. Para ele as relações intersubjetivas do homem com o outro desempenham papel organizador das condutas humanas e não se reduzem a uma entidade ou sistema homem – outro.

Oliniski e Lacerda (2004), ao analisarem Dejours, Abdoucheli e Jayet (2002),

sublinha que é dada grande ênfase à eficiência da interação do trabalhador com seu

ambiente de trabalho; mas a maioria desses estudos concebe basicamente a

existência de ações do sujeito sobre o ambiente. No entanto, o inverso, a ação do

ambiente sobre o trabalhador ainda é pouco explorada. Sugere-se que não se

podem analisar os comportamentos humanos a partir das interações individuais,

isoladas de um sujeito e o ambiente físico do trabalho, indicando a importância das

interações das pessoas no trabalho.

2.2 As condições de trabalho na indústria frigorífica

A indústria frigorífica constitui unidade operacional completa em que o

controle da matéria-prima, o processamento, a estocagem e a distribuição são

gerenciadas por modelos empresariais, dividindo-se em estabelecimentos que

realizam o abate e processamento de carnes e os que apenas processam as carnes

(Cetesb, 2008).

As indústrias voltadas para exportação fazem uso de inovações tecnológicas

(máquinas, equipamentos e instalações que dão suporte aos processos produtivos)

e apresentam sistemas modernos e informatizados (Famato/Fabov, 2007). O

processo produtivo da indústria frigorífica apresenta tarefas associadas, complexas e

representa um sistema contínuo de “desmontagem” do animal (Cetesb, 2008).

Page 24: SOLANGE DE F TIMA CARDOZO DANELUZ) - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Solange de Fatima Cardozo Daneluz.pdf · de assistência tradicional em reabilitação profissional foi criado,

23

Berkowitz e Fagel (2001) apontam que, nesses estabelecimentos frigoríficos,

o trabalho é muito especializado e quase todas as tarefas se realizam ao longo de

linhas de produção nas quais a matéria-prima se desloca em trilhos ou

transportadores aéreos e cada trabalhador realiza apenas uma operação. As tarefas

produzidas podem exigir entre 10 a 20 mil cortes diários.

As atividades dessas indústrias possuem uma estrutura produtiva que

combina atividades estritamente manuais com processos automatizados, em que

grande parte dos trabalhadores executa o trabalho de forma manual. Muitas dessas

atividades são extremamente repetitivas, monótonas e realizadas em ritmos

intensos, que explicam a alta incidência de Lesões por Esforços Repetitivos.

Lacaz e Sato (2000, p. 15) confirmam os riscos impostos pela indústria

alimentícia:

[...] no caso do ramo da alimentação, a LER tem atingido principalmente as trabalhadoras e os trabalhadores que realizam atividades de preparação e montagem de embalagens, envasamento, embalamento e empacotamento, [...], mas há ainda aquelas atividades que são específicas de determinados processos da fabricação de alimentos, como são os presentes na indústria de corte de aves, por exemplo. [...], em geral não há pausas com qualidade satisfatória e quantidade suficiente.

O quadro 1 demonstra a relação entre os diagnósticos das lesões por esforço

repetitivo e a função exercida pelos trabalhadores na indústria de alimentos.

Page 25: SOLANGE DE F TIMA CARDOZO DANELUZ) - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Solange de Fatima Cardozo Daneluz.pdf · de assistência tradicional em reabilitação profissional foi criado,

24

Quadro 1 – Diagnósticos de lesão por esforço repetitivo em operários da indústria de corte de aves e de industrialização de suínos e bovinos segundo setor e função. Fonte: Lacaz e Sato (2000, p. 16).

Para Padovani (2008), os acidentes de trabalho merecem análise especial na

Indústria Alimentícia, pois são provocados por máquinas e equipamentos. O Brasil,

depois de ocupar, durante a década de 70, o título de campeão mundial em

acidentes de trabalho, continua, com base nos dados da Organização Internacional

do Trabalho (OIT), posicionado entre os dez piores do plano mundial. Segundo o

engenheiro mecânico de segurança do trabalho, Vilela (2000), no Brasil é prática

corrente das empresas, investigações que atribuem a ocorrência do acidente a

comportamentos inadequados do trabalhador (descuido, imprudência, negligência,

desatenção, etc.). Sobre as investigações de acidentes trabalhistas, afirma o autor,

Page 26: SOLANGE DE F TIMA CARDOZO DANELUZ) - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Solange de Fatima Cardozo Daneluz.pdf · de assistência tradicional em reabilitação profissional foi criado,

25

[...] somente se concentram para recomendações centradas na mudança de comportamento (prestar mais atenção, tomar mais cuidado, reforçar o treinamento, etc.), em que se pressupõe que somente os trabalhadores são capazes de manter constante vigília em suas atividades (VILELA, 2000, p. 6).

Outro fator negativo é o trabalho em turnos alternados, com vistas a

maximizar os meios de produção. São observados problemas gastrointestinais,

psicológicos e distúrbios do sono. Os problemas gastrointestinais referem-se às

alterações nos horários e sequências das refeições no trabalho noturno. Os

problemas emocionais são relacionados a uma maior tendência à expressão de

“mal-estar geral”, além da ansiedade e depressão. É explicada pela inversão do

ritmo biológico, cujo déficit de horas de sono perdido acaba gerando implicações

negativas para a vida social e produtiva.

Alguns trabalhadores chegam, inclusive, a recorrer à automedicação, prática

esta contra-indicada, ingerindo tranquilizantes durante o dia (para dormir) e

estimulantes durante a noite (manterem-se acordados). Além dos problemas de

saúde, provenientes do uso destas drogas, há casos de trabalhadores que sofreram

acidentes de trabalho, pois os efeitos dos tranquilizantes se manifestaram à noite,

durante o período laboral (Padovani, 2008).

Ao lado destas, há também o risco de queimaduras provocadas por vapor e

água quente em alguns tipos de indústrias, além de queimaduras por produtos

químicos.

[...] riscos graves de intoxicação e queimaduras químicas devido ao emprego de substâncias refrigerantes como amoníaco anidro, o cloreto de metila e outras substâncias orgânicas que contêm cloro ou flúor. Tais substâncias são empregadas em processos de congelamento e em câmaras frigoríficas. Para o transporte de produtos que necessitam de refrigeração, é utilizado o dióxido de carbono (LACAZ; SATO, 2000, p. 23).

Estes produtos químicos são empregados como insumos para o processo de

fabricação; em procedimentos de higienização dos locais de trabalho, de máquinas e

equipamentos e, ainda, podem ser desprendidos como subproduto de combinação

de outras substâncias.

A presença dos ruídos, do frio e calor intensos, se dá pelo movimento das

máquinas e mecanismos da produção industrial, além daqueles advindos das

próprias matérias-primas. Há também os chamados efeitos não auditivos do ruído,

os quais se dão sobre os outros órgãos do corpo humano, especificamente os do

Page 27: SOLANGE DE F TIMA CARDOZO DANELUZ) - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Solange de Fatima Cardozo Daneluz.pdf · de assistência tradicional em reabilitação profissional foi criado,

26

sistema neuropsíquico. Assim, tomando como fonte informativa as Normas e

Manuais Técnicos do Ministério do Trabalho – Perda auditiva induzida por ruído

(Brasil, 2006a), dentre as reações do organismo ao ruído enumeramos aquelas que

são de curta duração e caracterizam-se pelo aumento do número de batimentos do

coração e dos movimentos respiratórios; pela elevação da pressão arterial, aumento

da circulação no cérebro e diminuição dos músculos periféricos, que ficam

contraídos, dilatação das pupilas e aumento da produção dos hormônios da

adrenalina e noradrenalina. A isto se denomina de reações de alarme ou de

estresse.

Além disso, a exposição prolongada ao ruído provoca cefaléia constante,

aumento da taxa de absentismo; além de colaborar para o aumento da ocorrência

de acidentes do trabalho e de trânsito, dentre os quais se enquadra os acidentes de

trajeto.

Paralelos ao risco físico do ruído têm as questões relativas à exposição do

trabalhador a ambientes com temperaturas extremas, quentes ou frias. Para Lacaz e

Sato (2000), pior que a exposição ao frio ou calor é a alternância entre eles,

causando os “choques térmicos” sobre o organismo.

2.3 Do reconhecimento da doença ocupacional à reabilitação profissional

O trabalhador que necessita da reabilitação profissional passa por uma “via

crucis” para obter o direito ao reconhecimento de sua doença de origem

ocupacional, que começa pelo diagnóstico e estabelecimento do nexo causal,

passando pela consulta do médico da empresa ou nas unidades municipais de

saúde (Bernardo, 2006). A autora ressalta que, quando o diagnóstico estabelece a

incapacidade para o trabalho, inicia-se o período de afastamento, quando o

trabalhador é considerado “temporariamente desativado” e passa por recorrentes

perícias no INSS para definir a legitimidade do benefício.

Após o diagnóstico da doença, de origem ocupacional ou não, mas que

incapacita para o trabalho, o trabalhador busca tratamento médico e/ou cirúrgico e

de reabilitação física. A dependência de procedimentos especializados e a

dificuldade de acesso aos serviços de saúde prolongam a duração da fase de

tratamento, aumentam o tempo de afastamento do trabalho e cronificam os

Page 28: SOLANGE DE F TIMA CARDOZO DANELUZ) - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Solange de Fatima Cardozo Daneluz.pdf · de assistência tradicional em reabilitação profissional foi criado,

27

sintomas. Esse tempo gasto constitui motivo de retardo de sua introdução no

programa de reabilitação profissional do INSS, que deveria ser realizado o mais

cedo possível para evitar efeitos práticos e simbólicos do seu desligamento do

mundo do trabalho (Bernardo, 2006).

Com o afastamento, o cotidiano de trabalho é substituído por uma série de

consultas médicas, exames, tratamentos e perícias do INSS, que representam

significativas mudanças na rotina dessas pessoas. Além da convivência com a dor e

com a incapacidade de realizar pequenas atividades domésticas, trazem uma série

de consequências emocionais e sociais.

O desgaste sofrido pelo trabalhador brasileiro durante o processo de

reconhecimento de sua doença nas perícias, pesando sobre ele o descrédito dos

profissionais de saúde, partindo-se do pressuposto de que na busca do benefício da

aposentadoria por doença, o trabalhador poderia estar simulando seus sintomas.

Nas pericias casos de desconfiança frente à veracidade das doenças dos segurados

são observados, o segurado é testado por meio de elementos positivos, factuais

para embasarem a conclusão pericial sobre a incapacidade e se realmente está

impossibilitado de realizar o movimento necessário. Sob essa ótica, os portadores de

doenças sem alterações visíveis e palpáveis encontram maior dificuldade de

reconhecimento de sua doença pelo médico-perito. O trabalhador, nesse processo,

carrega o peso de uma dor que não é compreendida e nem aceita pelos outros, pois

não pode ser materializada ou provada (Merlo, 2003; Nardi, 1999).

O segurado em processo de reabilitação está ciente que ao término do

programa será considerado de alta, cessará a concessão do benefício e deverá

concorrer por um emprego no mercado de trabalho. Este período fica marcado pela

indefinição, em relação às condições futuras de sobrevivência e da vontade de

retorno ao trabalho, há risco concreto do desemprego, do preconceito para com o

trabalhador-doente e desqualificado, do estigma e da incompreensão das empresas.

O trabalhador afastado das atividades produtivas carrega a perda essencial na

conformação de sua identidade social, o traço da doença e a expectativa negativa

de reabsorção no mercado de trabalho (Matsuo, 1998).

A tese defendida na Saúde do Trabalhador que, mesmo sob a ótica de

priorização do trabalho taylorista-fordista e do “chão de fábrica”, as consequências

do desemprego já tinham sido percebidas por Dejours, Abdoucheli e Jayet (1986, p.

10), quando afirmava que “se o trabalho pode ser perigoso, se pode ser causa de

Page 29: SOLANGE DE F TIMA CARDOZO DANELUZ) - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Solange de Fatima Cardozo Daneluz.pdf · de assistência tradicional em reabilitação profissional foi criado,

28

sofrimento, é preciso, também, compreender que o não trabalho é igualmente

perigoso”. Sem se deter na questão, o autor relata observar indícios da existência da

relação entre desemprego e saúde psíquica em levantamentos preliminares e na

experiência cotidiana.

Pesquisas demonstram a multiplicidade de fatores que interferem no processo

de reinserção no trabalho de indivíduos afastados por motivo de doença ou trauma.

Características psicológicas e clínicas do trabalhador, aspectos econômicos e

fatores organizacionais, psicossociais e físicos do local de trabalho vêm sendo

apontados como associados ao retorno ao trabalho, entretanto, há poucos estudos

sobre as incapacidades resultantes de uma doença ou acidente de trabalho e sobre

quais aspectos poderiam interferir no retorno ao trabalho desses trabalhadores.

(Cabral e Sampaio, 2007; Bernardo, 2006).

A experiência do afastamento do trabalho por doença, apesar do

reconhecimento e consciência de se tratar de uma situação provisória, provoca nos

afastados uma “ilusão de trabalho”, por receberem benefícios mensais,

principalmente para aqueles em afastamento de longa duração. Entretanto, a

possibilidade de perder a renda de sobrevivência pelo benefício é uma constante em

suas vidas, desde o momento do diagnóstico da doença (Matsuo, 1998).

No Brasil, o tempo prolongado que a seguridade social leva para definir a

situação do trabalhador, o número reduzido de serviços de reabilitação profissional e

de políticas públicas que favoreçam a reinserção do trabalhador, após um acidente,

são fatores que têm dificultado pesquisas nessa área (Bernardo, 2006).

2.4 O surgimento do campo da “saúde do trabalhador”

A construção do campo da saúde do trabalhador é traçada de maneira

precisa, por Minayo-Gomez e Thedin-Costa (1997). Esses autores destacam o

advento da Revolução Industrial e a emergência da Medicina de Fábrica, a partir do

Factory Act, de 1833, na Inglaterra. Essa Medicina de Fábrica, em que o médico no

interior das unidades representava, ao mesmo tempo, a tentativa de detectar

processos danosos à saúde e uma ajuda ao empresário para recuperar o

trabalhador, visando a reintegrá-lo à linha de produção, seria o embrião da Medicina

Page 30: SOLANGE DE F TIMA CARDOZO DANELUZ) - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Solange de Fatima Cardozo Daneluz.pdf · de assistência tradicional em reabilitação profissional foi criado,

29

do Trabalho.

Orientada pela teoria da unicausalidade, a Medicina do Trabalho tende a

isolar riscos específicos e atuar sobre suas consequências, em função de sintomas e

sinais ou associando-os a uma doença legalmente reconhecida. Mas,

frequentemente, as doenças originadas no trabalho só são percebidas em estágios

avançados, e isso é potencializado ou intensificado pela rotatividade da mão de obra

no contexto da terceirização (De Seta; Costa Reis, 2010).

Assim, a passagem por processos produtivos diversos pode mascarar nexos

causais e diluir a possibilidade de estabelecê-los, excetuando-se os mais evidentes,

e considerada a hipótese remota de exames admissionais que levem em conta a

história laboral pregressa (Minayo-Gomez; Thedin-Costa, 1997).

Esses autores afirmam que, incorporando a teoria da multicausalidade, “na

qual um conjunto de fatores de risco é considerado na produção da doença, avaliada

por meio da clínica médica e de indicadores ambientais e biológicos de exposição e

efeito [...]” (p. 21), a saúde ocupacional avança numa proposta interdisciplinar, com

base na higiene industrial, e relaciona ambiente de trabalho e o corpo do

trabalhador. Mas, dizem os autores, se os agentes/riscos são assumidos

descontextualizados das razões que se situam em sua origem, repetem-se, na

prática, as limitações da Medicina do Trabalho. As medidas que deveriam assegurar

a saúde do trabalhador, em seu sentido mais amplo, acabam por restringir-se a

intervenções pontuais sobre os riscos mais evidentes [...] (Minayo-Gomez; Thedin-

Costa, 1997).

Mesmo com a ênfase no uso de equipamentos de proteção individual, em

detrimento dos de proteção coletiva, e a normalização de formas “seguras” de

trabalhar (Minayo-Gomez; Thedin-Costa, 1997), torna-se possível atribuir ao

trabalhador certo grau de responsabilidade pelos acidentes e pelas doenças que o

acometem.

O movimento da Saúde do Trabalhador é visto, no Brasil, como a

configuração de “um novo paradigma que, com a incorporação de alguns

referenciais das ciências sociais – particularmente do pensamento marxista –,

amplia a visão da medicina do trabalho e da saúde ocupacional [...]” (Minayo-

Gomez; Thedin-Costa, 1997, p. 21). Esse movimento, que considera a determinação

social do processo saúde doença e o trabalhador como agente de mudanças, com

saberes e vivências acumuladas, individual e coletivamente, sobre seu próprio

Page 31: SOLANGE DE F TIMA CARDOZO DANELUZ) - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Solange de Fatima Cardozo Daneluz.pdf · de assistência tradicional em reabilitação profissional foi criado,

30

trabalho (Lacaz; Machado; Porto, 2002), surge sob a influência:

a) da medicina social latino-americana dos anos 1960 e início dos anos 1970

(epidemiologia crítica social), ampliou o quadro interpretativo do processo saúde-

doença, inclusive em sua articulação com o trabalho; e

b) da experiência italiana com a reforma sanitária daquele país e do

Movimento Operário Italiano.

Esse movimento floresceu na mobilização de setores da sociedade que

lutavam pela democratização do país e pelo direito de livre organização sindical, na

reflexão crítica sobre a limitação dos modelos vigentes de atenção à saúde, nos

setores sindicais em situação sanitária problemática e na ação interinstitucional de

diversos atores informados por uma perspectiva comum.

A 8ª Conferência Nacional de Saúde, em 1986, define que,

Do conceito amplo de saúde e da noção desse direito como conquista social, emerge a ideia de que o pleno exercício do direito à saúde implica em garantir: trabalho em condições dignas, com amplo conhecimento e controle dos trabalhadores sobre o processo e o ambiente de trabalho [...] (CONFERÊNCIA NACIONAL DE SAÚDE, 1986, item 05).

Como desdobramento dessa conferência, em dezembro de 1986 realiza- se a

1ª Conferência Nacional de Saúde do Trabalhador (CNST), na qual, de maneira

mais enfática, aparece em pauta a inserção da Saúde do Trabalhador como prática

a ser desenvolvida no setor saúde (Lacaz; Machado; Porto, 2002).

A Constituição Federal de 1988 e a Lei n. 8.080/90 confirmam a Saúde do

Trabalhador como competência do SUS, embora de forma não exclusiva. A área de

“exclusividade do SUS” diz respeito apenas à assistência, mas não às atividades

relacionadas à fiscalização dos ambientes de trabalho. E é relativamente a essa

fiscalização que ocorrem as disputas de poder com Delegacias Regionais do

Trabalho e com os auditores fiscais, como as apontadas, por exemplo, por Minayo-

Gomez e Thedin-Costa (1997) e Machado (2005).

Além da literatura, os conflitos podem ser inferidos pela falta de continuidade

do funcionamento do Grupo Executivo Interinstitucional de Saúde do Trabalhador

(Geisat). Sobre o funcionamento desse fórum permanente, que era previsto para se

realizar mensalmente, registram-se os avanços decorrentes do esforço de

articulação intersetorial, como a elaboração da Política Nacional de Segurança e

Saúde do Trabalhador (PNSST) e a preparação para a 3ª Conferência Nacional de

Page 32: SOLANGE DE F TIMA CARDOZO DANELUZ) - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Solange de Fatima Cardozo Daneluz.pdf · de assistência tradicional em reabilitação profissional foi criado,

31

Saúde do Trabalhador, realizada entre 24 e 27 de novembro de 2005, bem como a

Convocatória Interministerial dessa mesma Conferência.

Vale registrar que a Política Nacional de Segurança e Saúde do Trabalhador

teve suas diretrizes publicadas na Portaria 1.125/GM, de 06 de julho de 2005.

Todavia, essa Portaria foi suspensa por um mês, quando o Ministro Saraiva Felipe

assumiu, e revogada totalmente no final de 2005. Um fato digno de nota é que tem

constado a recomendação ao Ministério da Saúde para a republicação dessa

Portaria.

Neste momento, além do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), também

os Ministérios da Previdência Social (MPAS), do Meio Ambiente (MMA) e a

Promotoria Pública assumem responsabilidades, cabendo:

- à Previdência Social, o pagamento dos benefícios enquanto perdure a

incapacidade decorrente de acidente do trabalho; os procedimentos de reabilitação

profissional e reinserção no mercado; a coleta, consolidação e divulgação de dados

sobre ocorrência de acidentes de trabalho;

- ao Ministério Público, a assistência jurídica às vítimas de acidentes e

doenças do trabalho e/ou seus dependentes; a fiscalização e o acompanhamento de

denúncias de descumprimentos das Normas de Segurança e Medicina do Trabalho;

a impetração de ações de reparação de dano;

- e ao Grupo Executivo Interinstitucional de Saúde do Trabalhador (Geisat), a

compatibilização e integração das políticas e práticas de intervenção desenvolvidas

pelo Estado (Silva; Barreto Júnior; Sant’ana, 2003).

2.5 O desenvolvimento da Vigilância em Saúde do Trabalhador no SUS

A vigilância em saúde centra suas ações na prevenção dos danos e na

promoção da saúde, atuando sobre alguns de seus fatores determinantes, consigna-

a como o aparato típico do Estado, por intermédio de ações de natureza pública

interventora (vigilância sanitária), mais potencialmente capaz de elevar os níveis de

saúde da população e, portanto, de consolidar o próprio SUS em sua missão

reformadora (De Setta e Costa Reis, 2010).

No mundo ocidental, dentro da lógica que construiu o Estado moderno, a

Page 33: SOLANGE DE F TIMA CARDOZO DANELUZ) - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Solange de Fatima Cardozo Daneluz.pdf · de assistência tradicional em reabilitação profissional foi criado,

32

vigilância sanitária é uma das áreas que se convencionou chamar de funções típicas

do Estado. Sua tarefa de mediatizar, técnica e politicamente, os interesses dos

diversos segmentos sociais na definição dos regulamentos e usar de poder coercivo

para fazer cumpri-los é intransferível (Lucchese, 2001, p. 52).

A vigilância em saúde é balizada pela doutrina, organização e legalidade do

SUS, onde está abrigada. O exercício da vigilância em saúde, no campo

institucional, ainda exibe lacunas no alcance de suas ações, contrariando a doutrina

da universalidade, e muitas dificuldades de articulação entre seus componentes

estruturais (vigilância epidemiológica e sanitária), que se mantêm separados, de

modo incoerente com a ideia de uma vigilância totalizadora, a fragmentação da

vigilância sanitária, em vários setores compartimentados, cujas ações são efetuadas

por especialistas sobre objetos específicos, observando uma ordem incompreensível

num contexto doutrinário que fala em integralidade (Vasconcellos; Almeida; Guedes,

2010).

Recentemente, a essa divisão histórica da própria vigilância sanitária vem se

agregando, em alguns serviços, a Vigilância em Saúde do Trabalhador (Visat), por

força de sua inclusão como campo de práticas do SUS. O que antes já era um

problema estrutural agravou-se com a segmentação maior de atividades, as

decorrentes especializações e a maior pulverização de ações (Vasconcellos;

Almeida; Guedes, 2010).

Quando a incorporação do campo da saúde do trabalhador surgiu como

prática componente da vigilância em saúde, emergiu o desafio de ampliar o olhar

sobre as relações saúde-trabalho nas práticas cotidianas da vigilância sanitária.

Reforçou esse desafio a preponderância de dispositivos constitucionais nos estados

brasileiros relacionados às fiscalizações/inspeções dos processos e ambientes de

trabalho, demonstrando a intencionalidade de conferir ao SUS essa nova

prerrogativa, a responsabilidade de intervir nos processos de trabalho, segundo o

prisma da saúde pública, como contraponto à fiscalização tradicional, exercida pelo

Ministério do Trabalho (Vasconcellos; Almeida; Guedes, 2010).

O resgate da vigilância em saúde do trabalhador pelo campo de ação da

saúde pública intencionou considerar os diversos determinantes sociais envolvidos

com a relação da saúde com o consumo, o trabalho, o meio ambiente e até mesmo

com o desenvolvimento. Nesse contexto, a incorporação de uma vigilância de

processos produtivos, partindo da vigilância em saúde do trabalhador já instituída,

Page 34: SOLANGE DE F TIMA CARDOZO DANELUZ) - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Solange de Fatima Cardozo Daneluz.pdf · de assistência tradicional em reabilitação profissional foi criado,

33

configura uma maior integralização do olhar da vigilância sanitária sobre os

complexos produtivos, nos quais repousa grande parte das fontes de adoecimento

da população (Vasconcellos; Almeida; Guedes, 2010).

Desde a promulgação da Constituição Federal, das constituições estaduais

logo a seguir e da Lei Orgânica da Saúde, em 1990, várias iniciativas foram sendo

tomadas para institucionalizar a vigilância em saúde do trabalhador, no âmbito do

SUS (Vasconcellos, 2007, p. 281). Fato relevante para a institucionalidade da Visat

foi a emissão, em 01 de julho de 1998, da portaria MS n. 3.120 (Instrução Normativa

de Vigilância em Saúde do Trabalhador no SUS), cujo propósito era fornecer

subsídios básicos para o desenvolvimento de ações de Vigilância em Saúde do

Trabalhador [...] instrumentalizar [...] os setores responsáveis pela vigilância e defesa

da saúde, nas Secretarias de Estados e Municípios, de forma a incorporarem, em

suas práticas, mecanismos de análise e intervenção sobre os processos e os

ambientes de trabalho (Brasil, 1998, p. 2).

Dias e Hoefel (2005) sintetizam a atuação da Visat como contínua e

sistemática e atua no sentido de detectar, conhecer, pesquisar e analisar os fatores

determinantes e condicionantes dos agravos à saúde relacionados aos processos e

ambientes de trabalho, em seus aspectos tecnológico, social, organizacional e

epidemiológico, com a finalidade de planejar, executar e avaliar intervenções sobre

esses aspectos, de forma a eliminá-los e controlá-los [...] (Brasil, 1998).

A Portaria n. 3.908/GM, de 30 de outubro de 1998, conhecida como Norma

Operacional Básica de Saúde do Trabalhador (Nost/SUS), complementar à

NOB/SUS 1/96, buscou orientar e instrumentalizar a realização das ações de saúde

do trabalhador no âmbito de estados e municípios. Definiu as responsabilidades dos

municípios em cada uma das duas condições de gestão (Plena de Atenção Básica e

Plena do Sistema) definidas pela NOB 01/96.

Silva, Barreto Júnior e Sant’Ana (2003) assim destacam os pressupostos

básicos da Nost/SUS: universalidade das ações, independentemente de vínculos

empregatícios formais no mercado de trabalho; integralidade das ações,

compreendendo assistência, recuperação de agravos e prevenção por meio de

intervenções nos processos de trabalho; direito à informação e controle social, com a

incorporação dos trabalhadores e seus representantes em todas as etapas da

vigilância à saúde; e regionalização e hierarquização, através da execução das

ações de saúde do trabalhador em todos os níveis da rede de serviços, organizados

Page 35: SOLANGE DE F TIMA CARDOZO DANELUZ) - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Solange de Fatima Cardozo Daneluz.pdf · de assistência tradicional em reabilitação profissional foi criado,

34

num sistema de referência e contrarreferência, local e regional [...].

Mais tarde, pela Portaria n. 1.679, de 19 de setembro de 2002, criou-se a

Rede Nacional de Atenção Integral à Saúde do Trabalhador (Renast), com atribuição

prioritária de regulamentar a implementação da Política Nacional de Saúde do

Trabalhador (Pnst). O pressuposto é de um modelo de atenção integrado, que

considere todo o processo saúde-doença do trabalho, no âmbito da promoção, da

assistência e da vigilância, e que articule todos os dispositivos, equipamentos e

serviços do SUS, numa rede de abrangência nacional, com conexões organizadas

nos diferentes níveis de gestão, com produção de informação e a implantação de

Centros de Referência em Saúde dos Trabalhadores (Cerest) (Silveira; Ribeiro; Lino,

2005).

Essa rede foi ampliada posteriormente, mediante outras normas, como a

Portaria n. 2.437/GM, de 07 de dezembro de 2005. Um ponto nessa portaria é que o

Cerest regional deve dispor de delegação formal da vigilância sanitária nos casos

em que a saúde do trabalhador não estiver na estrutura da vigilância em saúde ou

da vigilância sanitária. Evidencia-se, assim, o esforço de articulação intrassetorial da

saúde do trabalhador.

Dias e Hoefel (2005) consideram que os princípios e diretrizes que norteiam a

Renast e a Pnst podem ser assim resumidos:

I) Atenção integral à Saúde dos Trabalhadores;

II) Articulações intra e intersetoriais;

III) Informações em Saúde do Trabalhador;

IV) Apoio ao desenvolvimento de estudos e pesquisas;

V) Capacitação permanente em Saúde do Trabalhador;

VI) Participação da comunidade na gestão das ações em Saúde do

Trabalhador.

A responsabilidade pelo financiamento das ações e dos serviços é das três

esferas de governo; os repasses federais não devem ser os únicos a ser

empregados: a Renast conta com repasses de recursos federais para o

financiamento de suas ações, de acordo com a operacionalização de um Plano de

Trabalho de Saúde do Trabalhador em estados e municípios, e a sua

implementação vem sendo a principal estratégia da Política Nacional de Saúde do

Trabalhador (PNST).

Dias e Hoefel (2005) consideram a Renast, conceitualmente, uma rede

Page 36: SOLANGE DE F TIMA CARDOZO DANELUZ) - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Solange de Fatima Cardozo Daneluz.pdf · de assistência tradicional em reabilitação profissional foi criado,

35

nacional de informação e práticas de saúde, organizada com o propósito de

implementar ações assistenciais, de vigilância e de promoção da saúde no SUS, na

perspectiva da Saúde do Trabalhador. Nela, os centros de referência passam a ter

papel de destaque e a pactuar as ações em seu território. Dentre as ações da

Renast, encontram-se as de:

- prover suporte técnico às ações de assistência e vigilância da saúde do

trabalhador;

- recolher, sistematizar e difundir informações de modo a viabilizar as ações

de vigilância;

- facilitar os processos de capacitação e educação permanente para os

profissionais de saúde e para o controle social.

Pode-se dizer que na vigilância em saúde do trabalhador tem ocorrido como

nas demais vigilâncias, um avanço no que diz respeito à produção de conhecimento

e no desenho de propostas metodológicas de intervenção. Entretanto, ainda é um

processo inacabado, no qual a complexidade da questão produção/trabalho ainda

coloca enormes desafios, dentre os quais a retaguarda laboratorial.

Dias e Hoefel (2005) consideram que o SUS assume um papel social

diferenciado ao se colocar como a única política pública de cobertura universal para

o cuidado da saúde dos trabalhadores, obrigando à busca da redefinição das

práticas de saúde e à construção de um “novo modelo” de atenção [...] (Dias; Hoefel,

2005).

A PNST e a Renast emergem na busca desse “novo modelo” de atenção.

Entretanto, apesar dos avanços significativos no campo conceitual, que apontam um

novo enfoque e novas práticas para lidar com a relação trabalho-saúde,

consubstanciados sob a denominação de Saúde do Trabalhador, depara-se, no

cotidiano, com a hegemonia da Medicina do Trabalho e da Saúde Ocupacional e

com a fragilidade na sua estruturação e articulação intra e intersetorial. Essa

fragilidade institucional pode ser agora suplantada mediante sua nova inserção na

estrutura do Ministério da Saúde e na centralidade que pode vir a alcançar com essa

nova inserção.

Por fim, como já se disse, para a Saúde do Trabalhador, são requeridas

pactuações. E, embora aparentemente subfinanciada, ainda é muito recente que a

vigilância sanitária municipal tenha transferências financeiras regulares.

Page 37: SOLANGE DE F TIMA CARDOZO DANELUZ) - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Solange de Fatima Cardozo Daneluz.pdf · de assistência tradicional em reabilitação profissional foi criado,

36

2.6 Serviços de reabilitação profissional

No Brasil, embora a reabilitação profissional seja um direito preconizado pela

Convenção n. 159 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), pela Lei

8.213/91 e clamada pela 3ª Conferência Nacional de Saúde do Trabalhador,

realizada entre 24 e 27 de novembro de 2005 efetivamente, o aparato estatal

oferece possibilidades limitadas para que esse processo ocorra.

Takahashi e Iguti (2008) acentuam que a reabilitação profissional é a resposta

pública à problemática da incapacidade e os serviços a ela relacionados foram

implantados como estratégia de regulação econômica dos sistemas e como medida

de intervenção estatal nas relações de trabalho. Ela tem a finalidade de reduzir o

tempo dos benefícios por incapacidade e se apresenta como uma forma de

intervenção para a redução e superação das desvantagens produzidas pelas

incapacidades de modo a possibilitar o retorno ao trabalho (Takahashi e Iguti, 2008).

Na definição de Seyfried (1998), a reabilitação profissional é um programa

estruturado para desenvolver atividades terapêuticas e de profissionalização que

abrange a integralidade do indivíduo, fortalecendo-o para lidar e superar as

dificuldades impostas por suas incapacidades. Além de visar à estabilização física e

à ampliação de movimentos e força, atua no processo de estabilização psicossocial,

possibilitando a integração nas relações sociais, cotidianas e de trabalho através de

uma identidade ressignificada (Seyfried,1998).

O objetivo de um programa de reabilitação profissional só é alcançado

quando resulta na inserção da pessoa em um trabalho que permita sua integração

social plena (Seyfried,1998). Mas no caso do Brasil, os trabalhadores que

apresentam limitações físicas ou psíquicas para continuar a exercer a sua atividade

laboral, “são condenados a permanecerem em auxílio-doença por tempo prolongado

ou mesmo de forma definitiva, ou são devolvidos para o mercado de trabalho,

desprovidos de qualquer possibilidade para se manterem” (Rossi et al., 2007, p. 1).

Até os anos 1990, a Previdência Social contava com uma estrutura,

insuficiente e limitada, mas que tinha uma prática de avaliação multiprofissional.

Com dificuldades e limitações fazia a recolocação profissional. No final daquele

período e início dos anos 2000, descentralizou-se a reabilitação profissional para as

Page 38: SOLANGE DE F TIMA CARDOZO DANELUZ) - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Solange de Fatima Cardozo Daneluz.pdf · de assistência tradicional em reabilitação profissional foi criado,

37

agências do Inss e gerências executivas. No entanto, a desejada descentralização

não se fez acompanhar de adequada estrutura técnica e administrativa, qual seja,

formação de equipes multiprofissionais, pessoal de apoio, espaço físico,

equipamentos, ferramentas administrativas adequadas para que, à luz de cada

realidade local e regional, pudessem trabalhar junto às empresas e ao mercado de

trabalho, preparando-os para acolher os trabalhadores, com diferentes tipos de

limitações, após um processo de reabilitação profissional, abrangendo a

requalificação profissional e efetiva reinserção (Minayo-Gomez, Lacaz, 2005).

Atualmente, as agências e gerências executivas contam com orientadores

profissionais, em número insuficiente, sem a devida formação, que têm a ingrata

incumbência de promover a reabilitação profissional. Se, com equipes

multiprofissionais e recursos, a reabilitação profissional é um processo complexo e

difícil, o trabalho solitário, sem os recursos necessários, torna a tarefa penosa e

malsucedida.

2.7 Marco teórico: Atenção Integral a Saúde – Integralidade

Mendes (2007), Franco e Magalhães Júnior (2003) afirmam que uma atenção

integral à saúde começa pela reorganização dos processos de trabalho na rede

básica, onde a assistência deve ser multiprofissional, e vai somando-se a todas as

outras ações assistenciais, como apoio diagnóstico, procedimentos de média e alta

complexidade, atenção à urgência e emergência, serviços especializados e

internação hospitalar. “Associa-se a estas ações as questões relacionadas à

vigilância à saúde, expressas nas atividades de vigilância sanitária, epidemiológica,

controle de zoonoses e nas formas de ações intersetoriais que resultam em

produção de saúde” (Belo Horizonte, 2003, p. 7-8).

Um modelo de atenção integral à saúde do trabalhador é um modelo

que implica em qualificar as práticas de saúde, envolvendo o

atendimento dos acidentados do trabalho, dos trabalhadores

doentes, das urgências e emergências às ações de promoção e

proteção da saúde e de vigilância, orientadas por critério

epidemiológico. Para que isso ocorra de modo efetivo, fazem-se

necessárias abordagens interdisciplinares e a utilização de

Page 39: SOLANGE DE F TIMA CARDOZO DANELUZ) - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Solange de Fatima Cardozo Daneluz.pdf · de assistência tradicional em reabilitação profissional foi criado,

38

instrumentos, saberes, tecnologias originadas de diferentes áreas do

conhecimento colocadas a serviço das necessidades dos

trabalhadores (Braga Júnior, 2006, p. 17).

É no âmbito da atenção primária e na Estratégia Saúde da Família, definida

pelo Ministério da Saúde como um dos eixos organizadores das ações do SUS, que

“deverão ser concentrados esforços no sentido de garantir ao trabalhador acesso a

uma atenção qualificada para estabelecer o nexo causal entre o quadro de

morbimortalidade verificado nos processos de trabalho de um determinado território”

(Braga Júnior, 2006, p. 18). Nesse caso, o usuário passa a ser o elemento

estruturante de todo processo de produção da saúde, quebrando com um tradicional

modo de intervir sobre o campo das necessidades, de forma compartimentada. A

atenção à saúde passa a ser integrada e não partilhada, reunindo na cadeia

produtiva do cuidado um saber-fazer cada vez mais múltiplo (Franco e Magalhães

Júnior, 2003). Para tanto, essa atenção deverá ser constituída de uma abordagem

focada na promoção da saúde, incluindo

fatores de risco e doenças já instaladas [...]; ações educativas e

estímulo a mudanças no estilo de vida; estratégias de adesão ao

tratamento medicamentoso; ações produzidas por equipe

multidisciplinar; incorporação de outros profissionais de saúde;

empoderamento do indivíduo para o autogerenciamento das suas

doenças e dos seus riscos – autonomia (Malta e Merhy, 2010, p.

603).

Considerando que o espectro do sentido da integralidade é amplo, Cutolo

(2006) acentua que o desenvolvimento desse modelo parte da noção ampliada da

concepção saúde-doença; passa pela compreensão do indivíduo enquanto ser

biográfico, familiar e social; e potencializa a oferta integrada de serviços de

promoção e proteção de saúde, até a prevenção de doenças, a recuperação e

reabilitação da saúde. Um sentido considerado nuclear e primordial: o

reconhecimento da necessidade do outro.

Cutolo (2006) salienta que uma concepção saúde/doença biologicista,

pautada no desencadeador biológico (unicausal), leva a agir na recuperação e

reabilitação da saúde. Já um modo de ver multicausal, com seus condicionantes

ecológico-ambientais, conduz a ação no sentido da proteção da saúde e prevenção

de doenças, enquanto um entendimento de saúde/doença como processo e sua

Page 40: SOLANGE DE F TIMA CARDOZO DANELUZ) - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Solange de Fatima Cardozo Daneluz.pdf · de assistência tradicional em reabilitação profissional foi criado,

39

determinação social tem como consequência a promoção da saúde.

Então, uma visão integral carrega os determinantes sociais, os condicionantes

ecológico-ambientais e o desencadeador biológico. Consequentemente as ações se

materializam nas ações integradas de saúde, ou seja, um conjunto de esforços de

promoção, proteção, prevenção, recuperação e reabilitação.

Figura 2. Modelo de relação causal do processo saúde/doença. Fonte: Cutolo (2006, p. 17).

Maeyama e Cutolo (2010) ressaltam que a promoção em saúde se refere a

medidas que visam aumentar a saúde e o bem-estar geral, não se dirigindo

especificamente a uma doença ou desordem, utilizando estratégias para a

transformação das condições de vida e de trabalho que influenciam nos problemas

de saúde, demandando uma abordagem intersetorial e demonstrando, assim, a

ligação existente entre promoção de saúde e o entendimento de determinação social

do processo saúde/doença.

Amparamo-nos na Carta de Ottawa (Brasil, 2002) para nortear a discussão

acerca do tema em estudo. Nela os campos ou eixos de ação da promoção de

saúde são representados por estabelecimento de políticas públicas favoráveis à

saúde, criação de ambientes propícios, reorientação dos serviços de saúde,

fortalecimento da ação comunitária e desenvolvimento de habilidades pessoais.

Dias (2001) salienta que na saúde do trabalhador os determinantes são

compreendidos pelos condicionantes sociais, econômicos, tecnológicos e

organizacionais responsáveis pelas condições de vida e os fatores de risco

ocupacionais — físicos, químicos, biológicos, mecânicos e aqueles decorrentes da

Page 41: SOLANGE DE F TIMA CARDOZO DANELUZ) - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Solange de Fatima Cardozo Daneluz.pdf · de assistência tradicional em reabilitação profissional foi criado,

40

organização laboral — presentes nos processos de trabalho.

As ações de saúde do trabalhador têm como foco as mudanças nos

processos de trabalho que contemplem as relações saúde/trabalho em toda a sua

complexidade, por meio de uma atuação multiprofissional, interdisciplinar e

intersetorial (Dias, 2001). “Os trabalhadores [...] são considerados sujeitos e

partícipes das ações de saúde, que incluem: o estudo das condições de trabalho, a

identificação de mecanismos de intervenção técnica para sua melhoria e adequação

e o controle dos serviços de saúde prestados” (Dias, 2001, p. 17).

As políticas de governo devem definir as atribuições e competências dos

diversos setores envolvidos, incluindo as políticas econômicas, da indústria e

comércio, da agricultura, da ciência e tecnologia, do trabalho, da previdência social,

do meio ambiente, da educação e da justiça. Essas políticas devem ser articuladas

também às estruturas organizadas da sociedade civil, por atuação sistemática que

resulte na garantia de condições de trabalho dignas, seguras e saudáveis para todos

os trabalhadores (Dias, 2001).

A Organização Mundial de Saúde (OMS) coloca sete princípios da promoção

de saúde: empoderamento da população, concepção holística, participação social,

intersetorialidade, equidade, ações multiestratégicas e a sustentabilidade (Sícoli e

Nascimento, 2003). Desses atributos da promoção em saúde destacamos a

importância da concepção holística, aqui entendida como a integralidade, a

intersetorialidade e ações multiestratégicas e integradas, sem nos distanciarmos dos

demais princípios que interagem entre si e utilizam recursos da sociedade,

influenciando a qualidade de vida e as demandas sobre os serviços de saúde.

Para este trabalho, consideramos como eixos da promoção em saúde que

corroboram com a integralidade na saúde do trabalhador, as políticas públicas

saudáveis, os ambientes favoráveis, a reorientação dos serviços de saúde e a

intersetorialidade. Como atributos, o empoderamento da população, as condições

de vida e trabalho seguras, a interdisciplinaridade e as ações estratégicas (grifo

nosso).

Na tentativa de representarmos, graficamente, esta relação, apresentamos a

figura 3.

Page 42: SOLANGE DE F TIMA CARDOZO DANELUZ) - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Solange de Fatima Cardozo Daneluz.pdf · de assistência tradicional em reabilitação profissional foi criado,

Figura 3. Atenção Integral a Saúde do Trabalhador. Fonte: Desenvolvido pela autora durante explanação de Cutolo (2006).

1. Recuperação e Reabilitação da Saúde

Segundo Ministério da Saúde, a recuperação da saúde envolve ações de

diagnóstico e o tratamento de doenças, acidentes e danos de toda natureza, a

limitação da invalidez e a reabilitação. Essas ações são exercidas pelos serviços

públicos de saúde (ambulatórias e hospitalares) e, de forma complementar, pelos

Concepção

saúde-doença

Condicionantes Ecológico-

Ambientais: Ambiente e

Organização do Trabalho

RECUPERAÇÃO

PROTEÇÃO

PREVENÇÃO

INTEGRALIDADE

REABILITAÇÃO

PROMOÇÃO

EIXOS ATRIBUTOS

INTERDISCIPLINARIDADE

REORIENTAÇÃO DOS SERVIÇOS DE SAÚDE

INTERSETORIALIDADE

POLÍTICAS PÚBLICAS SAUDÁVEIS

CONDIÇÕES DE VIDA E TRABALHO SEGURAS

AMBIENTES FAVORÁVEIS

Desencadeador Biológico: Doença e

Acidentes de Trabalho

AÇÕES MULTIESTRATÉGICAS

EMPODERAMENTO

Determinantes Sociais: Relação

Capitalista de Trabalho, Não

Trabalho, Retorno ao Trabalho e Desemprego

Page 43: SOLANGE DE F TIMA CARDOZO DANELUZ) - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Solange de Fatima Cardozo Daneluz.pdf · de assistência tradicional em reabilitação profissional foi criado,

42

serviços particulares, contratados ou conveniados, que integram a rede do SUS, nos

níveis federal, estadual e municipal, particularmente nos dois últimos, nos quais deve

estar concentrada a maior parte dessas atividades (Brasil, 2009).

De todo modo, nesses serviços as ações típicas são: consultas médicas e

odontológicas, o atendimento de enfermagem, exames diagnosticadores e o

tratamento, inclusive em regime de internação. A realização de todas essas ações

para a população deve corresponder às suas necessidades básicas, e estas

transparecem, tanto pela procura dos serviços (demanda), como pelos estudos

epidemiológicos e sociais de cada região (planejamento da produção de serviços).

O diagnóstico deve ser feito o mais precocemente possível, assim como o

tratamento deve ser instituído de imediato, de modo a deter a progressão da

doença. Por isso, os serviços de saúde devem buscar o adequado desempenho

dessas duas ações fundamentais de recuperação da saúde – o diagnóstico e o

tratamento – visto que tais serviços representam a porta de entrada do sistema de

saúde, onde a população toma o seu primeiro contato com a rede de atenção.

O tratamento deve ser prestado ao paciente portador de qualquer alteração

de sua saúde, desde uma afecção corriqueira, até uma doença mais complexa, que

exige a atenção especializada e tecnologia avançada. O tratamento deve ser

conduzido, desde o início, com a preocupação de impedir o surgimento de eventuais

incapacidades decorrentes das diferentes doenças e danos.

A reabilitação consiste na recuperação parcial ou total das capacidades no

processo de doença e na reintegração do indivíduo ao seu ambiente social e à sua

atividade profissional. Com essa finalidade, são utilizados não só os serviços

hospitalares como os comunitários, visando à reeducação e treinamento, ao

reemprego do reabilitado ou à sua colocação seletiva, através de programas

específicos junto às indústrias e ao comércio, para a absorção dessa mão de obra.

As ações de recuperação da saúde, na maior parte das vezes podem e

devem ser planejadas, através de estudos epidemiológicos, definição de cobertura e

concentração das ações ambulatoriais e hospitalares, aplicando-se parâmetros de

atendimento. No caso da atenção a grupos de risco, a previsão e planejamento

destas ações tornam-se conjugadas às ações de promoção e proteção. Assim

vistas, as ações de recuperação da saúde devem ser, também, geradas no

diagnóstico e tratamento científico da comunidade, integrando as ações promotoras

e protetoras.

Page 44: SOLANGE DE F TIMA CARDOZO DANELUZ) - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Solange de Fatima Cardozo Daneluz.pdf · de assistência tradicional em reabilitação profissional foi criado,

43

Estes conceitos são baseados no entendimento biológico do processo saúde-

doença.

2. Proteção e Prevenção a Saúde

Maeyama e Cutolo (2010) nos lembram a importância de se conceituar,

corretamente, o que é promoção da saúde e prevenção, porque em muitos

ambientes são tomados como sinônimos. A falta de clareza pode estar associada,

ainda, à antiga classificação de Leavell e Clark em 1965, que desenvolveram um

esquema de medidas preventivas baseado na história natural da doença. A

promoção da saúde e a proteção foram agrupadas no 1º nível de atuação, chamado

prevenção primária. Para esses autores a prevenção apresenta-se em três fases:

primária, secundária e terciária. A prevenção primária é a realizada no período de

pré-patogênese. O conceito de promoção da saúde aparece como um dos níveis da

prevenção primária, definido como “medidas destinadas a desenvolver uma saúde

ótima”. Um segundo nível da prevenção primária seria a proteção específica “contra

agentes patológicos ou pelo estabelecimento de barreiras contra os agentes do meio

ambiente”. A fase da prevenção secundária também se apresenta em dois níveis: o

primeiro, diagnóstico e tratamento precoce e o segundo, limitação da invalidez. Por

fim, a prevenção terciária que diz respeito a ações de reabilitação (Leavell; Clarck,

1976 apud Maeyama e Cutolo 2010).

Para Maeyama e Cutolo (2010) as ações preventivas orientam-se para evitar

o surgimento de doenças especificas, reduzindo sua incidência e prevalência,

através do conhecimento epidemiológico. Estruturam-se através de projetos de

educação sanitária, com divulgação de informação cientifica e recomendações

normativas de mudanças de hábitos.

A prevenção orienta-se, ainda, para as ações de detecção, controle e

enfraquecimento dos fatores de risco de uma determinada enfermidade (Buss, 2003)

e, portanto, as ações de prevenção têm sua explicação, a partir dos conceitos de

multicausalidade do processo saúde-doença (Maeyama e Cutolo 2010).

3. Promoção da Saúde

Existem várias interpretações sobre o conceito de Promoção da Saúde (PS),

Page 45: SOLANGE DE F TIMA CARDOZO DANELUZ) - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Solange de Fatima Cardozo Daneluz.pdf · de assistência tradicional em reabilitação profissional foi criado,

44

que foram se constituindo num tempo social e histórico. No campo da saúde pública,

pode-se afirmar que a ideia da PS está contida na concepção de Wislow, em 1920: a

Promoção da Saúde é um esforço da comunidade organizada para alcançar

políticas que melhorem as condições de saúde da população e os programas

educativos para que o indivíduo melhore sua saúde pessoal, assim como para o

desenvolvimento de uma ‘maquinaria social’ que assegure a todos os níveis de vida

adequados para a manutenção e o melhoramento da saúde (Wislow, 1920, p. 23

apud Buss, 2003).

Como enfatiza Restrepo e Malaga (2001), no século XIX já eram

reconhecidos os importantes efeitos exercidos pelas condições de vida no estado de

saúde de uma população, em especial mediante o movimento conhecido como

Medicina Social, que indicava a necessidade de políticas públicas intersetoriais e de

natureza mais integral.

A primeira referência ao termo, no entanto, é atribuída por vários autores ao

sanitarista Henry Sigerist, em publicação de 1941, quando reordenou as funções da

medicina, como: promoção da saúde, prevenção das doenças, recuperação dos

enfermos e reabilitação. Esta reordenação se realizaria mediante um programa de

saúde que incluía educação livre para a população, meios de recreação e descanso,

melhores condições de vida e trabalho, sistema público de saúde universal com

ações de prevenção e recuperação da saúde, bem como centros médicos de

pesquisa e formação; e destacava a importância de uma ação coordenada dos

políticos, médicos, educadores e outros setores, como empresas e sindicatos

(Terris,1996).

Algumas concepções contidas na sua proposição traziam um ideário próximo

ao que seria proposto depois, em 1986, na 1ª Conferência Internacional de

Promoção da Saúde, em Ottawa (Terris, 1996; Restrepo; Malaga, 2001; Buss, 2003;

Andrade, 2006).

No século XX, na década de 1940, nos Estados Unidos surge o movimento

preventivista, com base no paradigma da história natural da doença, de Leavell e

Clark, que redefiniram o conceito de prevenção – primária, secundária, terciária –,

tendo sido este novo discurso incorporado, em sua totalidade, pela prática médica

(Arouca, 2003).

O conceito de Promoção da Saúde como parte da prevenção primária, no

período da pré-patogênese, estava relacionado à melhoria das condições de vida e

Page 46: SOLANGE DE F TIMA CARDOZO DANELUZ) - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Solange de Fatima Cardozo Daneluz.pdf · de assistência tradicional em reabilitação profissional foi criado,

45

voltado às pessoas saudáveis.

Com a transição epidemiológica, isto é, a mudança dos padrões de

adoecimento das doenças infecciosas para as doenças crônicas não transmissíveis,

destaca-se o Relatório Lalonde, que traz princípios valiosos à Promoção da Saúde

contemporânea, dentre os quais se pode ressaltar a correlação entre saúde,

desenvolvimento econômico e justiça social. Este documento, segundo Buss (2003),

teria organizado o campo da Promoção da Saúde colocando-o no contexto do

pensamento políticoestratégico.

Outro marco histórico foi a 1ª Conferência Internacional sobre Cuidados

Primários de Saúde, já citada, que produziu a Declaração de Alma Ata, em 1978,

trazendo como eixo filosófico e metodológico a Atenção Primária em Saúde (APS)

(Brasil, 2002). Este documento reafirma a intrínseca relação entre saúde e os fatores

sociais e econômicos, colocando na agenda da saúde a questão da equidade e

introduzindo o tema da intersetorialidade como exigência fundamental para o

alcance das metas em saúde reconhecida como conceito positivo e de qualidade de

vida.

Segundo o Relatório Final da Comissão Nacional de Determinantes Sociais

da Saúde (Brasil, 2008), a compreensão da importância de uma relação de

influência mútua é fundamental, ressaltando que a sustentabilidade das intervenções

está condicionada a políticas governamentais mais amplas que favoreçam o setor

saúde e vários outros setores.

Decorridos 30 anos, a Organização Mundial da Saúde (OMS) renovou a

discussão com a publicação do relatório intitulado: Atenção Primária em Saúde

(APS), mais necessária do que nunca (World Health Organization, 2008). São

recuperados valores e princípios da APS que orientam o desenvolvimento dos

sistemas de saúde, contidos em quatro conjuntos de reformas que refletem a

convergência desses valores, as expectativas dos cidadãos e alguns desafios

comuns de natureza transversal para o desempenho dos sistemas de saúde. São as

reformas em prol da cobertura universal, da prestação de serviços, das políticas

públicas e as de liderança. Naquelas relativas às políticas públicas, a Promoção da

Saúde entendida como política destaca, entre outros itens, a integração das

intervenções de saúde pública e a APS, bem como a aplicação de políticas

saudáveis intersetoriais.

A promoção da saúde contemporânea, fundamentada na Carta de Ottawa

Page 47: SOLANGE DE F TIMA CARDOZO DANELUZ) - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Solange de Fatima Cardozo Daneluz.pdf · de assistência tradicional em reabilitação profissional foi criado,

46

revitaliza o debate sobre a situação de saúde e os processos sociais, colocando a

saúde como um bem público universal e trazendo uma visão sistêmica na qual está

colocado o enfrentamento das desigualdades sociais.

No Brasil, o debate em torno da Promoção em Saúde recoloca, de forma

politizada, a questão dos determinantes sociais da saúde, isto é, identifica-a com a

noção de qualidade de vida, em contraposição ao reducionismo biomédico, e

introduz o tema da intersetorialidade como questão fundamental para o alcance dos

objetivos em saúde.

Sobre os eixos da Promoção da Saúde

1. Políticas Públicas Saudáveis

Para Pinheiro e Mattos (2003), um dos sentidos do princípio de integralidade

é relativo às configurações de políticas específicas, desenhadas como respostas

governamentais a problemas de saúde que afligem certo grupo populacional, ou às

necessidades de grupos específicos.

Há também outro sentido, que diz respeito a ações contempladas numa

política especial cabendo ao governo responder aos problemas de saúde pública, e

que essa resposta deve incorporar tanto as possibilidades de prevenção como as

possibilidades assistenciais.

Para Buss et al. (2000), as decisões em qualquer campo das políticas

públicas, em todos os níveis de governo, têm influências favoráveis ou desfavoráveis

sobre a saúde da população. A promoção da saúde propugna pela formulação e

implementação de políticas públicas saudáveis, o que implica a construção da

prioridade para a saúde entre políticos e dirigentes de todos os setores e em todos

os níveis, com responsabilização pelas consequências das políticas sobre a saúde

da população.

As políticas públicas saudáveis materializam-se através de diversos

mecanismos complementares, que incluem legislação, medidas fiscais, taxações e

mudanças organizacionais, entre outras, e por ações intersetoriais coordenadas que

apontem para a equidade em saúde, distribuição mais equitativa da renda e políticas

sociais.

Buss et al. (2000) lembra-nos que a relação entre políticas públicas e saúde

voltou a ganhar relevo nos últimos anos, não tanto pelos benefícios, mas pelos

Page 48: SOLANGE DE F TIMA CARDOZO DANELUZ) - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Solange de Fatima Cardozo Daneluz.pdf · de assistência tradicional em reabilitação profissional foi criado,

47

malefícios por elas gerados. Cita os efeitos das políticas que impulsionaram a

economia urbano-industrial, ao longo do século XX: desigualdades sociais, danos

ambientais irreparáveis em alguns casos, ambientes sociais mórbidos geradores de

sociopatias e psicopatias (violência, drogas etc.).

A ideia moderna de políticas públicas saudáveis envolve um duplo

compromisso: o compromisso político de situar a saúde no topo da agenda pública,

promovendo-a de setor da administração a critério de governo, e o compromisso

técnico de enfatizar, como foco de intervenção, os fatores determinantes do

processo saúde-doença.

A saúde deixa de ser um estado estático, biologicamente definido, para ser

compreendida como um estado dinâmico, socialmente produzido. Nesse marco, a

intervenção visa não apenas a diminuir o risco de doenças, mas a aumentar as

chances de saúde e de vida, acarretando uma intervenção multi e intersetorial sobre

os chamados determinantes do processo saúde-enfermidade (Buss et al., 2000, p.

37).

Nesta concepção, o estado (re) estabelece a centralidade de seu caráter

público e de sua responsabilidade social, isto é, seu compromisso com o interesse

público e com o bem comum. Isso implica um esforço (desenho institucional) de

superar déficits de eficiência/efetividade (capacidade de fazer o que deve ser feito) e

déficits de representatividade/sensibilidade (capacidade de definir o que precisa ser

feito, segundo o interesse e as necessidades da sociedade).

É possível superar a ideia de políticas públicas como iniciativas exclusivas ou

monopolíticas do aparelho estatal. Serão sempre fruto de interlocução e pactuação

entre atores sociais. Elaboradas e pactuadas em foruns participativos, expressivos

da diversidade de interesses e necessidades sociais, as políticas públicas tendem a

ser comprometidas com a saúde, quando têm sua implementação controlada pela

participação ativa da sociedade. Representam, assim, uma nova e mais adequada

redistribuição de direitos e responsabilidades entre o Estado e a sociedade.

2. Ambientes Saudáveis

A criação de ambientes saudáveis surge como campo de ação prioritário na

área de promoção de saúde. O termo “ambiente” incorpora não apenas a dimensão

“física ou natural”, mas também cultural, social, política e econômica.

Cohen (2004) afirma a importância do envolvimento de universidades,

Page 49: SOLANGE DE F TIMA CARDOZO DANELUZ) - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Solange de Fatima Cardozo Daneluz.pdf · de assistência tradicional em reabilitação profissional foi criado,

48

empresas e escolas de uma cidade, que podem delinear os processos de

estabelecimento de uma política de alianças, voltadas para construção de caminhos

de participação, responsabilização e reconhecimento institucional na gestão pública

da promoção de saúde na cidade. Este cenário reforça a responsabilidade do setor

público, em conjunto com a sociedade, de dar suporte e garantia de uma vida

saudável aos cidadãos que vivem no município.

O reconhecimento da importância do ambiente de trabalho para a saúde tem

avançado para além das tradicionais doenças ocupacionais. A discussão sobre o

impacto da atividade física no trabalho, da exposição a substâncias físicas e

químicas, da influência sobre estilos de vida e comportamentos tais como o fumo,

dieta, atividade física, e, mais recentemente, a contribuição de fatores psicossociais

no trabalho para o gradiente de saúde e doença, que têm influenciado,

significativamente o conceito e as práticas de promoção de saúde em locais de

trabalho.

A promoção de saúde em locais de trabalho compreende todas as medidas

assumidas por empregadores, empregados e pela sociedade para melhorar a saúde

e o bem-estar de pessoas no trabalho. Suas ações envolvem comportamentos

individuais e condições de trabalho (Cohen, 2004, p. 54).

Então, ações de promoção de saúde, combinadas com saúde ocupacional e

práticas de segurança no trabalho, têm demonstrado um aumento na produtividade,

na qualidade de produtos e processos e no controle de custos. Além disso, o

aumento do nível de conscientização individual sobre saúde e comportamentos

positivos em saúde têm sido evidenciados como resultado positivo de práticas de

promoção de saúde efetiva.

Os ambientes saudáveis são um recorte do movimento das cidades

saudáveis que surgiu na Europa, no ano de 1986, mesmo ano em que se realizou a

já mencionada Conferência de Ottawa no continente americano. Segundo Ashton

(1993), o projeto cidades saudáveis visava ao desenvolvimento de planos de ação

locais para a promoção da saúde, baseados nos princípios de saúde para todos, da

OMS. Desde então vem crescendo continuamente, envolvendo hoje mais de 1.800

cidades, em várias redes desenvolvidas nos cinco continentes.

Referendado na Declaração de Santa Fé de Bogotá pela maioria dos países

latino-americanos, assim como pela Carta de Promoção da Saúde no Caribe, o

movimento dos municípios saudáveis chegou à América Latina no início da década

Page 50: SOLANGE DE F TIMA CARDOZO DANELUZ) - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Solange de Fatima Cardozo Daneluz.pdf · de assistência tradicional em reabilitação profissional foi criado,

49

de 1990. Na sua proposta, pretende-se a articulação de políticas públicas

multissetoriais, a criação dos ambientes e condições para uma vida sadia com bem-

estar. É, em última instância, uma forma de governar e administrar que requer e

propícia a reestruturação dos sistemas de saúde e de sua articulação com outros

sistemas, na conformação de políticas e programas integrados de desenvolvimento

humano e bem-estar (Opas, 2003).

Segundo a Opas (2003), este enfoque centra a ação e a participação da

comunidade, assim como a educação sanitária e a comunicação para a saúde, em

ampliar as atitudes pessoais e a capacidade da comunidade em melhorar as

condições físicas e psicossociais, nos espaços onde as pessoas vivem, estudam,

trabalham e se divertem.

Para a Opas (2003), o movimento dos municípios saudáveis avançou

rapidamente na região das Américas, num contexto de ampliação da

descentralização e da participação democrática como o que se verificou na década

de 1990, alcançando mais de 500 municípios, em praticamente todos os países do

Continente. Já foram realizados dois Encontros Latino-Americanos de Secretarias

Municipais de Saúde – em Cuba (1994) e em Fortaleza, Brasil (1996) –, cujos

objetivos foram consolidar a iniciativa da rede de municípios saudáveis e trocar

experiências concretas desenvolvidas no Continente.

Sua configuração varia em cada município, compreendendo desde programas

ainda unissetoriais e dirigidos à promoção de comportamentos individuais saudáveis,

até propostas bastante abrangentes, reunindo poder público e sociedade, com

atividades que alcançam diversas dimensões e setores políticos, sociais e

econômicos. Muitos países estão em processo de estabelecer redes nacionais para

o intercâmbio de experiências e a busca de vantagens e incentivos nas negociações

com os demais níveis do poder público.

A articulação de políticas públicas municipais saudáveis, a ação intersetorial e

a participação comunitária constituem as bases para o processo de estruturação de

um município saudável. Um enorme desafio, que ainda permanece, é a identificação

das melhores formas de institucionalidade social e de novas dinâmicas de gestão

municipal integradas e participativas, que venham a permitir o alcance dos objetivos

e metas traçadas para o processo.

Page 51: SOLANGE DE F TIMA CARDOZO DANELUZ) - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Solange de Fatima Cardozo Daneluz.pdf · de assistência tradicional em reabilitação profissional foi criado,

50

3. Reorientação dos serviços de Saúde: Modelos de Atenção

Segundo a Portaria n. 4.279, de 30 de dezembro de 2010, que estabelece

diretrizes para a organização da Rede de Atenção à Saúde (RAS), no âmbito do

Sistema Único de Saúde (SUS). O modelo de atenção à saúde é um sistema lógico

que organiza o funcionamento da RAS, articulando, de forma singular, as relações

entre a população e suas subpopulações estratificadas por riscos, focos das

intervenções do sistema de atenção à saúde e os diferentes tipos de intervenções

sanitárias, definido em função da visão prevalecente da saúde, das situações

demográficas e epidemiológicas e dos determinantes sociais da saúde, vigentes em

determinado tempo e em determinada sociedade. Para a implantação da RAS, é

necessária uma mudança no atual modelo de atenção hegemônico no SUS, ou seja,

exige uma intervenção concomitante sobre as condições agudas e crônicas.

O modelo de atenção definido na regulamentação do SUS preconiza uma

contraposição ao modelo atual que é centrado na doença e em especial no

atendimento à demanda espontânea e na agudização das condições crônicas.

Aponta para a necessidade de uma organização que construa a intersetorialidade

para a promoção da saúde, contemple a integralidade dos saberes com o

fortalecimento do apoio matricial, considere as vulnerabilidades de grupos ou

populações e suas necessidades, fortalecendo as ações sobre as condições

crônicas.

A diferença entre RAS baseada na APS e rede de urgência e emergência

está no papel da APS. Na rede de atenção às condições crônicas, funciona como

centro de comunicação, mas na Rede de atenção às urgências e emergências é um

dos pontos de atenção, sem cumprir o papel de coordenação dos fluxos e contra

fluxos dessa Rede.

Um dos problemas contemporâneos centrais da crise dos modelos de

atenção à saúde consiste no enfrentamento das condições crônicas na mesma

lógica das condições agudas, ou seja, por meio de tecnologias destinadas a

responder aos momentos agudos dos agravos – normalmente momentos de

agudização das condições crônicas, autopercebidos pelas pessoas –, através da

atenção à demanda espontânea, principalmente, em unidades de pronto

atendimento, ou de internações hospitalares de urgência ou emergência. É

desconhecendo a necessidade imperiosa de uma atenção contínua nos momentos

silenciosos dos agravos quando as condições crônicas insidiosamente evoluem.

Page 52: SOLANGE DE F TIMA CARDOZO DANELUZ) - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Solange de Fatima Cardozo Daneluz.pdf · de assistência tradicional em reabilitação profissional foi criado,

51

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS/Opas, 2003), um sistema

de Atenção Primária incapaz de gerenciar com eficácia o HIV/Aids, o diabetes e a

depressão irá tornar-se obsoleto em pouco tempo. Hoje, as condições crônicas são

responsáveis por 60% de todo o ônus decorrente de doenças no mundo. No ano

2020, serão responsáveis por 80% da carga de doença dos países em

desenvolvimento e, nesses países, a aderência aos tratamentos chega a ser apenas

de 20% (OMS/Opas, 2003). Por esse motivo, no sistema integrado, a Atenção

Primária deve estar orientada para a atenção às condições crônicas, com o objetivo

de controlar as doenças/agravos de maior relevância, através da adoção de

tecnologias de gestão da clínica, tais como as diretrizes clínicas e a gestão de

patologias.

No SUS, a Estratégia Saúde da Família, representa o principal modelo para a

organização da APS. O seu fortalecimento torna-se uma exigência para o

estabelecimento da RAS.

Para Teixeira (2001), os modelos de atenção à saúde ou modelos

assistenciais podem ser definidos, genericamente, como combinações de saberes

(conhecimentos) e técnicas (métodos e instrumentos) utilizadas para resolver

problemas e atender necessidades de saúde individuais e coletivas. Nesse sentido,

um modelo de atenção não é simplesmente uma forma de organização dos serviços

de saúde nem tampouco um modo de administrar (gerir ou gerenciar) um sistema de

saúde.

Os modelos de atenção à saúde são formas de organização das relações

entre sujeitos (profissionais de saúde e usuários) mediadas por tecnologias

(materiais e não materiais) utilizadas no processo de trabalho em saúde, cujo

propósito é intervir sobre problemas (danos e riscos) e necessidades sociais de

saúde historicamente definidas (Paim, 1993, 1999).

Parte de uma dinâmica histórica e social em constante transformação, os

problemas e necessidades de saúde refletem as mudanças nas condições de vida

da população, exigindo mudanças nos modelos de atenção. Estes, entretanto,

apresentam uma inércia, na medida em que se institucionalizam em políticas e

práticas sociais que reproduzem interesses econômicos e políticos de grupos

profissionais, empresas, corporações e elites políticas, por vezes distanciados dos

interesses e necessidades da maioria da população.

Pode-se considerar que nenhuma das propostas e experiências em processo

Page 53: SOLANGE DE F TIMA CARDOZO DANELUZ) - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Solange de Fatima Cardozo Daneluz.pdf · de assistência tradicional em reabilitação profissional foi criado,

52

no país dá conta, sozinha, de todos os aspectos envolvidos na problemática do

modelo assistencial. São respostas parciais, que precisam ser conhecidas e

articuladas. O desafio que se coloca é o de difundir, multiplicar e institucionalizar as

propostas alternativas que vêm sendo desenvolvidas em vários estados e municípios

das diversas regiões do país, contando, muitas vezes, com o apoio de centros

acadêmicos e organizações internacionais de cooperação técnica.

Nesse particular, podem ser destacadas as seguintes propostas:

- Ações programáticas de saúde: implica a utilização da programação como

instrumento de redefinição do processo de trabalho em saúde, tomando como ponto

de partida a identificação das necessidades sociais de saúde da população que

demanda os serviços das unidades básicas. Nesse sentido a definição de ações

programáticas se ancora no conhecimento acerca dos problemas e necessidades

dos indivíduos e dos grupos da população em situações concretas, em um processo

que resgata a dimensão técnico-científica e ética do trabalho em saúde (Schraiber,

1990, 1993, 1995; Schraiber; Nemes; Gonçalves, 1996). A utilização desse enfoque

para a definição de ações programáticas de saúde, no âmbito das unidades básicas

do sistema, constitui uma alternativa à implementação dos chamados programas

especiais, sendo, também, uma fonte de inspiração para o desenvolvimento

tecnológico de processos de programação que tentem superar o viés economicista

da Programação Pactuada Integrada PPI.

- Estratégia de Saúde da Família: as ações realizadas pelas equipes de

saúde da família incluem ações territoriais que extrapolam os muros das unidades

de saúde, enfatizando atividades educativas e de prevenção de riscos e agravos

específicos, com ações básicas de atenção à saúde de grupos prioritários. Ainda

que tenha sido elaborado originalmente como um programa focalizado, dirigido a

grupos da população relativamente excluídos do acesso ao consumo de serviços, a

Saúde da Família vem se apresentando, em vários municípios, como estratégia de

reorganização da atenção primária da saúde, com a pretensão de influir na

reestruturação do modelo de atenção em sua totalidade (MS, 2003).

- Acolhimento: a organização de práticas de acolhimento à clientela dos

serviços públicos de saúde, e o estabelecimento de vínculos entre profissionais e

clientela, implica mudanças na porta de entrada da população aos serviços com

introdução de mudanças na recepção do usuário, no agendamento das consultas e

na programação da prestação de serviços, de modo a incluir atividades derivadas na

Page 54: SOLANGE DE F TIMA CARDOZO DANELUZ) - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Solange de Fatima Cardozo Daneluz.pdf · de assistência tradicional em reabilitação profissional foi criado,

53

releitura das necessidades sociais de saúde da população (Merhy; Onocko, 1997).

Além de contribuir para a humanização e melhoria da qualidade da atenção, é uma

estratégia de reorientação da atenção à demanda espontânea que pode ter efeitos

significativos na racionalização dos recursos, no perfil ocupacional dos profissionais

e nas relações destes com os usuários e até no estabelecimento de processos de

mudança nas concepções da população acerca das suas necessidades de saúde e

lugar ocupado pelo consumo de serviços de saúde na melhoria do seu bem-estar

(Merhy; Onocko, 1997).

- Vigilância da Saúde: as propostas englobadas sob a denominação de

Vigilância da Saúde incluem o fortalecimento das ações de vigilância epidemiológica

e sanitária, a implantação de ações de vigilância nutricional dirigidas a grupos de

risco, a vigilância na área de saúde do trabalhador, levando em conta os ambientes

de trabalho e os riscos ocupacionais, a vigilância ambiental em áreas específicas de

risco epidemiológico, sem perder de vista a necessidade de reorientação das ações

de prevenção de riscos e de recuperação da saúde, isto é, a própria assistência

médico-ambulatorial, laboratorial e hospitalar (Mendes; Akerman, 2007; Teixeira,

2001). Por sua abrangência, a proposta de Vigilância da Saúde pode ser

incorporada como referência na reorientação do modelo de atenção, especialmente

tendo em vista a possibilidade de expansão e consolidação de iniciativas como o

Vigisus e sua articulação com outros projetos em curso (Teixeira, 2001; Paim, 1999).

- Cidades saudáveis: a noção de cidades saudáveis implica uma visão

ampliada da gestão governamental, que inclui a promoção da cidadania e o

envolvimento criativo de organizações comunitárias no planejamento e execução de

ações intersetoriais dirigidas à melhoria das condições de vida e saúde,

principalmente em áreas territoriais das grandes cidades onde se concentra a

população exposta a uma concentração de riscos vinculados à precariedade das

condições de vida, incluindo fatores econômicos, ambientais e culturais (Westphal,

1997; Malik, 1997, Keinert, 1997; Ferraz, 1999; Radis, 2000). Sua incorporação ao

referencial adotado pelas administrações municipais pode contribuir para a

concretização de processos de descentralização, intersetorialidade e,

principalmente, para a ampliação do leque de ações sociais voltados ao atendimento

de necessidades de saúde da população.

- Promoção da saúde: fundamentada na concepção de campo da saúde, as

medidas de promoção se aplicam, essencialmente, à melhoria das condições e

Page 55: SOLANGE DE F TIMA CARDOZO DANELUZ) - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Solange de Fatima Cardozo Daneluz.pdf · de assistência tradicional em reabilitação profissional foi criado,

54

estilos de vida de grupos populacionais específicos, apoiando-se, amplamente, em

atividades de Educação e Comunicação em saúde e na formulação de políticas

públicas saudáveis nas várias esferas de governo nacional, estadual e municipal

(Ferraz, 1999).

Exemplos recentes de medidas desta natureza, adotadas no âmbito da

política governamental são a restrição à propaganda de produtos do tabaco através

dos meios de comunicação de massa (controle do tabagismo), a ações de marketing

sanitário através da mídia (saúde na mídia), voltadas, por exemplo, para a promoção

de sexo seguro (controle das DST e Aids) ou o controle na utilização de

medicamentos (uso dos medicamentos genéricos).

A amplitude das políticas públicas saudáveis, entretanto, vai além da

promoção de estilos de vida que preservam a saúde ou ao controle de produtos e

serviços danosos a ela.

A adoção dessa perspectiva no processo de redefinição da Política Nacional

de Saúde implica o estabelecimento de liderança e protagonismo das instituições de

saúde (MS, SES e SMS) na reorientação das políticas econômicas e sociais em seu

conjunto, em busca daquilo que Santos (2000) chama de globalização alternativa.

4. Interdisciplinaridade

Diversos autores abordam a interdisciplinaridade, fazendo-se necessário,

trazê-la ao tema para que não haja interpretações contraditórias e para que

possamos não confundir com outras abordagens como a multidisciplinaridade,

pluridisciplinaridade e transdisciplinaridade.

Para o Ministério da Saúde, nos cadernos do Pacto pela Saúde, a Portaria n.

399/GM de 22/02/06, assinala que:

[...] todo o município é responsável pela integralidade da atenção à saúde de sua população, devendo garantir ações de saúde prestadas de forma interdisciplinar, por meio da abordagem integral e contínua do indivíduo em seu contexto familiar, social e de trabalho.

Minayo (1994) diz que é praticamente impossível conceituar,

consensualmente, a interdisciplinaridade. Para a autora, haveria duas formas de

interdisciplinaridade: uma implícita, interna, própria da racionalidade científica que,

pelo avanço de conhecimentos acaba criando novas disciplinas; e outra constituída,

Page 56: SOLANGE DE F TIMA CARDOZO DANELUZ) - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Solange de Fatima Cardozo Daneluz.pdf · de assistência tradicional em reabilitação profissional foi criado,

55

externamente, por campos operativos que articulam ciência, técnica e política,

sobretudo, por meio de intervenções sociais, como é o caso da saúde pública.

Para Tambellini (1994), a prática interdisciplinar, como reconstrução do saber

constituído, poder-se-ia desenvolver a partir de duas possibilidades que coexistem

em trajetórias individualizadas por um sujeito de origem disciplinar, que vai se

apropriando de outros olhares, ampliando seu olhar original; ou por intermédio de

um processo coletivo em equipes multiprofissionais, em que vários sujeitos, de

distintas disciplinas, debruçam-se em torno de um problema.

Já Garcia (1994) considera ser sempre limitada a interdisciplinaridade

solitária, realizada por um “sujeito interdisciplinar” ou um grupo de indivíduos com

formações semelhantes, pois o entendimento de sistemas complexos também

dependeria de uma multiplicidade de enfoques e estudos especializados, sendo

indispensável a formação de equipes multiprofissionais com quadros competentes

em suas áreas específicas de atuação.

Complementando a posição de Garcia e Minayo (apud Porto; Almeida, 2002),

considera ser um pré-requisito para o sucesso do empreendimento interdisciplinar a

disposição ao diálogo que possam articular conceitos comuns e realizar

triangulações metodológicas, colaborando entre si na análise dos resultados.

A saúde do trabalhador foi gestada, desde o início, como um empreendimento

de integração disciplinar, no qual as diversas disciplinas ou campos disciplinares não

se justaporiam, mas coexistiriam como “complementares, no sentido de tentar reunir,

de maneira mais compreensiva, aqueles fatores que permanecem à margem do

âmbito da ação de cada uma delas isoladamente” (Tambellini et al., 1986, p. 18). Em

outro artigo, esta mesma autora levanta a importância de se constituírem campos

particulares na saúde pública que possibilitem o rompimento com “uma certa

dissociação entre os estudos epidemiológicos, os de planificação e os de políticas,

cada um operando sem considerar necessariamente os outros” (Tambellini, 1994, p.

87).

Ao contemplar o contorno social, econômico, político e cultural – definidor das

relações particulares travadas nos espaços de trabalho e do perfil de reprodução

social dos diferentes grupos humanos –, e o referente às características dos

processos de trabalho com potencial de repercussão na saúde (Minayo-Gomez;

Thedin-Costa, 1997). A saúde do trabalhador buscou articular estes dois planos de

análise em suas manifestações concretas como objetos de estudo e estratégias de

Page 57: SOLANGE DE F TIMA CARDOZO DANELUZ) - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Solange de Fatima Cardozo Daneluz.pdf · de assistência tradicional em reabilitação profissional foi criado,

56

intervenção.

Tal perspectiva de integração entre investigação, formação e intervenção

aparece na evolução e articulação orgânica entre os vários grupos de pesquisa

surgidos nos anos 80-90, e na formação dos programas e centros de referência em

saúde do trabalhador, estruturados em várias regiões do país no interior do SUS em

instâncias de planejamento e execução no nível estadual e municipal. Pode-se dizer

que as experiências de vigilância em saúde do trabalhador do SUS, a partir de

grupos multiprofissionais e ações interinstitucionais, atuaram como importante

elemento nas novas estratégias de integração disciplinar (Machado, 1996; Lacaz,

1997; Porto; Machado; Freitas, 2000).

Nesse processo, diferentes campos de conhecimento e profissionais foram se

incorporando em torno dessas ações, com inserções diferenciadas nos espaços

mais acadêmicos ou mais operacionais do SUS, ou ainda em assessorias no âmbito

sindical. Frequentemente tais inserções ocorreram – e ocorrem – de forma fluida

entre os espaços acadêmicos e operativos, através da cooperação técnica e da

formação dos profissionais em cursos de pós-graduação, particularmente nos

centros urbanos mais desenvolvidos.

Entre as várias áreas de conhecimento, graduações e especialidades

envolvidas, destacam- se as ciências sociais e humanas (como a psicologia, a

assistência social e a sociologia), as ciências biomédicas (como a clínica e suas

especialidades, a medicina do trabalho e a toxicologia), e áreas mais tecnológicas

(como a higiene e engenharia de segurança do trabalho, a engenharia de produção

e a ergonomia) (Cutolo et al., 2005).

Sobre os atributos da Promoção em Saúde:

1. Empoderamento

A Carta de Ottawa (1986) preconiza, também, que o incremento do poder das

comunidades (a posse e o controle dos seus próprios esforços e destino) é central

para a melhoria das condições de saúde. Nesse sentido, estratégias de

“empoderamento” da comunidade supõem, entre outras iniciativas, a educação para

a cidadania, a socialização de informações, o envolvimento na tomada de decisões

dentro de um processo de diagnóstico, o planejamento e a execução de projetos

Page 58: SOLANGE DE F TIMA CARDOZO DANELUZ) - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Solange de Fatima Cardozo Daneluz.pdf · de assistência tradicional em reabilitação profissional foi criado,

57

sociais.

Uma comunidade que trabalha para atingir objetivos comuns, adquire força e

consciência de sua capacidade e poder coletivos para enfrentar e resolver

problemas que atingem a todos.

Já o empowerment da população organizada, materializa-se através da

difusão ampla das evidências das relações entre saúde e seus pré-requisitos, assim

como da construção de mecanismos de atuação eficientes, é um ponto central na

estratégia da promoção da saúde para a reivindicação por políticas públicas

saudáveis. Numa nova distribuição de deveres e direitos entre o Estado e a

sociedade, entre indivíduos e coletivos, entre público e privado, a questão da

participação não deve ser entendida como concessão ou normatividade burocrática,

mas como pré-requisito institucional e político para a definição da “saúde que

queremos”. Não é apenas uma circunstância desejável, mas uma condição

indispensável para a viabilidade e efetividade das políticas públicas (Sícoli,2003).

Na saúde do trabalhador o empowerment faz-se necessário através da

discussão em grupos sobre temas como: o processo saúde/doença relacionado ao

trabalho, a análise das questões como o cotidiano laboral, o mercado de trabalho

contemporâneo, as políticas de gestão das empresas, as condições atuais do

trabalho, os preconceitos em relação ao não trabalho, as práticas negativas de

instituições públicas que deveriam proteger os trabalhadores, etc. É a partir de

reflexões como essas de que trabalho, saúde e doença estão intimamente

relacionados, que se busca a implementação de ações que possibilitem a formação

de uma consciência crítica dos participantes.

A ênfase recai na busca de soluções para tarefas coletivamente

estabelecidas, em que tal reflexão favoreça a instauração de novos modos de agir

sobre sua história particular e sobre o contexto social. Tal prática permite a

construção de laços solidários entre os participantes. Esta solidariedade apresenta-

se como um dispositivo capaz de romper com o individualismo e com a resignação

queixosa, capaz de desenvolver uma consciência crítica e suscitar a proposição de

ações de transformação social.

O desenvolvimento de uma consciência crítica é um meio crucial de ganhar

poder. Uma consciência crítica envolve os entendimentos de como as relações de

poder na sociedade moldam as experiências e as percepções de cada indivíduo, e

de poder identificar como cada um pode assumir um papel dentro de uma mudança

Page 59: SOLANGE DE F TIMA CARDOZO DANELUZ) - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Solange de Fatima Cardozo Daneluz.pdf · de assistência tradicional em reabilitação profissional foi criado,

58

social. Isto é, particularmente, importante em situações de desigualdade, nas quais

os indivíduos internalizaram crenças sobre sua própria identidade e poder.

O entendimento de que os membros de um grupo podem afetar as

circunstâncias de vida é crucial para identificar a falta de poder como uma fonte de

problemas, no sentido de alcançar uma mudança social mais do que aquela restrita

a uma dimensão individual (Gutierrez, 1992 apud Bernstein et al., 1994).

Nas experiências em grupo, através dos relatos dos participantes, é que o

movimento de tomada de consciência se dá num processo de choques de realidade.

A história de cada um surge pelas formas concretas, através das quais ele age,

coloca-se, posiciona-se, aliena-se, perde-se, ou se recupera, ao longo do processo.

Nesse sentido, podemos entender como é que, no plano ideológico, o indivíduo

pode se tornar consciente ao detectar as contradições entre as representações e

suas atividades desempenhadas na produção de sua vida material (Netz;

Amazarray, 2005).

2. Intersetorialidade

“A prática da intersetorialidade aponta que não há receitas, metodologias

consagradas ou evidências estabelecidas. Há, sim, algumas experiências, tentativas,

erros e acertos” (Mendes; Akerman, 2007, p. 96).

A intersetorialidade pode ser definida como um processo no qual objetivos,

estratégias, atividades e recursos de cada setor são considerados segundo suas

repercussões e efeitos nos objetivos, estratégias, atividades e recursos dos demais

setores (Opas, 1996).

A intersetorialidade procura superar a visão isolada e fragmentada na

formulação e implementação de políticas e na organização do setor saúde. Significa

adotar uma perspectiva global para a análise da questão saúde, e não somente do

setor saúde, incorporando o maior número possível de conhecimentos sobre outras

áreas de políticas públicas, como, por exemplo, educação, trabalho e renda, meio

ambiente, habitação, transporte, energia, agricultura etc., assim como sobre o

contexto social, econômico, político, geográfico e cultural onde atua a política

(Mendes; Akerman, 2007).

Essas áreas interagem entre si e com a área da saúde e, em conjunto,

utilizam recursos da sociedade, influenciando a qualidade de vida e as demandas

sobre os serviços de saúde. No processo de ação intersetorial é necessário obter

Page 60: SOLANGE DE F TIMA CARDOZO DANELUZ) - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Solange de Fatima Cardozo Daneluz.pdf · de assistência tradicional em reabilitação profissional foi criado,

59

conhecimentos tanto sobre os antecedentes, ou seja, os valores que levaram à

formulação de determinada política, como também sobre o impacto que cada política

setorial tem sobre a saúde da população.

De outro lado, a adoção da perspectiva global supõe, também, conhecer a

complexidade das vinculações intersetoriais presentes em cada problema, objeto da

política de saúde. Assim, a ação intersetorial pode questionar as consequências das

diversas políticas sobre a saúde global da população ou sobre um determinado

problema concreto de saúde, considerado em determinado território.

Compreende-se a intersetorialidade como uma articulação das possibilidades

dos distintos setores de pensar a questão complexa da saúde, de

corresponsabilizar-se pela garantia da saúde como direito humano e de cidadania, e

de mobilizar-se na formulação de intervenções que a propiciem.

O processo de construção de ações intersetoriais implica a troca e a

construção coletiva de saberes, linguagens e práticas entre os diversos setores

envolvidos na tentativa de equacionar determinada questão sanitária, de modo a

tornar-se possível produzir soluções inovadoras, quanto à melhoria da qualidade de

vida.

Tal processo propicia a cada setor a ampliação de sua capacidade de analisar

e de transformar seu modo de operar, a partir do convívio com a perspectiva dos

outros setores, abrindo caminho para que os esforços de todos sejam mais efetivos

e eficazes.

O compromisso do setor Saúde na articulação intersetorial é tornar cada vez

mais visível que o processo saúde-adoecimento é efeito de múltiplos aspectos,

sendo pertinente a todos os setores da sociedade, devendo compor suas agendas.

Dessa maneira, é tarefa do setor Saúde, nas várias esferas de decisão, convocar os

outros setores e considerar a avaliação e os parâmetros sanitários quanto à melhoria

da qualidade de vida da população, quando forem construir suas políticas específicas.

Oliveira (2008) diz que a integração e ações entre instituições é uma das

exigências dos organismos financiadores nacionais e internacionais para a liberação

de recursos para a execução de programas e projetos. Mesmo assim caracteriza-se

como uma ação que ainda encontra entraves à sua implementação.

Tecnicamente, a interinstitucionalidade é uma estratégia de ação que

otimizaria recursos (humanos, financeiros e técnicos), mas sua execução, por

depender de decisões políticas, acaba emperrada no imediatismo das questões

Page 61: SOLANGE DE F TIMA CARDOZO DANELUZ) - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Solange de Fatima Cardozo Daneluz.pdf · de assistência tradicional em reabilitação profissional foi criado,

60

cotidianas e das urgências da administração.

A interinstitucionalidade é uma ação que requer planejamento, carece de

tempo e sistemática de planificação, pré-requisitos à sua implementação. Pré-

requisitos esses que encontram na cultura do imediato e da desvalorização do

planejamento, ainda predominantes na esfera governamental, seu maior empecilho.

A intersetorialidade relaciona-se ao estabelecimento de nexos entre as

políticas públicas. Os vários órgãos de governo de uma cidade atuam na prestação

de serviços aos cidadãos, geralmente de maneira fragmentada e individualizada. As

estruturas governamentais apresentam formatos piramidais, hierarquizados e

especializados, carecendo de uma articulação entre si, especialmente quando o

interesse por melhorar o atendimento das demandas da população local torna-se, de

fato, prioridade (Oliveira, 2008).

Enquanto a interdisciplinaridade fundamenta-se na articulação dos “saberes”,

a intersetorialidade assenta-se no “fazer” articulado, com vistas à superação da

fragmentação de políticas e de ações, respeitando as especificidades de cada

instituição. Um dos focos centrais é, sem dúvida, a comunicação entre os “saberes”

e os “fazeres”, no intuito de arquitetar uma síntese sinérgica entre todos os

envolvidos no processo de construção.

Sobre esses dois princípios repousa a integração interinstitucional, entendida

aqui, de modo geral, como o compartilhamento articulado/planejado de

conhecimentos, políticas, ações, poder e responsabilidades em prol de uma

mudança de realidade. Situação de governo que, para sua efetiva implementação,

requer vontade e decisão política, pois implica transformações estruturais na

maneira de governar e na estrutura do próprio poder.

Integrar significa compartilhamento de poder, mudança de postura, mas, via

de regra, o que predomina no poder público brasileiro é a hierarquização de suas

instituições. Num processo de integração, os municípios possuem autonomia, mas

tem poder quem interage mais, quem compartilha mais, quem coopera mais, e não

quem tem mais prestígio ou proximidade com o gestor maior. É preciso, antes de

tudo, mudar as posturas, sobrepujar interesses particulares, reinantes na esfera

pública, em benefício de uma coletividade (Oliveira, 2008).

Segundo o Manual da Rede Nacional de Atenção Integral à Saúde do

Trabalhador (Renast, 2006) a pactuação intra e intersetorial constitui uma diretriz

fundamental da Pnsst e pressupõe o envolvimento de diversos setores do governo e

Page 62: SOLANGE DE F TIMA CARDOZO DANELUZ) - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Solange de Fatima Cardozo Daneluz.pdf · de assistência tradicional em reabilitação profissional foi criado,

61

da sociedade civil:

A intersetorialidade permite o estabelecimento de espaços compartilhados

entre instituições e setores de governos e entre setores de diferentes governos

federal, estadual e municipal – que atuam na produção da saúde, na formulação,

implementação e acompanhamento de políticas públicas que possam ter impacto

positivo sobre a saúde da população.

Permite considerar o cidadão na sua totalidade, nas suas necessidades

individuais e coletivas, demonstrando que ações resolutivas em saúde requerem

parcerias com outros setores, entre eles, Ministério do Trabalho e Emprego, da

Previdência Social, do Meio Ambiente, da Educação.

A intersetorialidade nos estados e municípios envolve órgãos dos governos

locais, estaduais e nacionais, com estruturas derivadas dos ministérios que atuam

nas regiões, tais como, DRT, Inss, Fundacentro, universidades, centros de

pesquisas etc.

Já na intrassetorialidade, no âmbito do Ministério da Saúde, identificam-se

interfaces da Saúde do Trabalhador em toda a estrutura organizacional, por

exemplo: Secretaria de Atenção à Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde,

Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde, Secretaria de Gestão

Participativa, Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos, Anvisa e

Funasa, entre outros.

A intrassetorialidade deve ocorrer nos três níveis de governo federal,

estadual e municipal – estabelecendo os passos de articulação entre as diferentes

secretarias de governo e com órgãos regionais derivados dos ministérios – DRT e

INSS.

3. Ações multiestrátegicas

As ações multiestratégicas pressupõem o envolvimento de diferentes

disciplinas e dizem respeito à combinação de métodos e abordagens variadas,

incluindo: desenvolvimento de políticas públicas, mudanças organizacionais,

desenvolvimento e fortalecimento comunitário, questões legislativas, educacionais e

do âmbito da comunicação.

Sícoli e Nascimento (2003) defendem o caráter operativo das ações

multiestratégicas, podendo identificar as iniciativas que se relacionam à necessidade

de satisfazer a complexidade e abrangência de problemas envolvidos e que seria a

concretização de práticas orientadas pela intersetorialidade.

Page 63: SOLANGE DE F TIMA CARDOZO DANELUZ) - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Solange de Fatima Cardozo Daneluz.pdf · de assistência tradicional em reabilitação profissional foi criado,

62

3 PERCURSO METODOLÓGICO

A pesquisa é “atividade básica das ciências na sua indagação e descoberta da realidade. É uma atitude e uma prática teórica de constante busca que define um processo intrinsecamente inacabado e permanente. É uma atividade de aproximação sucessiva da realidade que nunca se esgota, fazendo uma combinação particular entre teoria e dados” (Minayo; Deslandes; Cruz Neto, 1993, p. 23).

Neste capítulo, descrevemos o percurso metodológico desenvolvido na

presente pesquisa, para o alcance dos objetivos propostos.

Escolhemos utilizar uma pesquisa-ação de abordagem qualitativa que

conforme Kemmis e McTaggart,1988 significa planejar, observar, agir e refletir de

maneira mais consciente, mais sistemática e mais rigorosa o que fazemos na nossa

experiência diária. Esta permite avaliar três aspectos: 1º a pesquisa sobre os atores

sociais, suas ações, transações e interações, objetivando a explicação; 2º a

pesquisa para dotar de uma prática racional as práticas espontâneas, destacando a

finalidade da aplicação; e 3º a pesquisa pela ação, isto é, assumida por seus

próprios atores, tanto em suas concepções como em sua execução e

acompanhamento, que tem por meta a implicação (Kemmis e McTaggart,1988).

Nesta pesquisa ação foi utilizado como referência a Metodologia da

Problematização, suas características e especificidades, realizando oficina como

técnica de coleta de dados.

A Problematização é uma metodologia utilizada no ensino, no estudo e no

trabalho. O desenvolvimento do aprender e do ensinar parte dos problemas

identificados pelo participante na realidade em que está inserido. Parte, também, da

base que o mundo está em constante modificação e desencadeia, rapidamente,

novas mudanças.

Portanto, o que se espera é o aumento da capacidade do participante em

detectar e resolver os problemas reais e descobrir as soluções. Segundo Berbel

(1998), a metodologia pode ser utilizada sempre que seja oportuno, em situações

em que os temas estejam relacionados com a vida em sociedade.

A Metodologia da Problematização é considerada compatível e adequada

para o desenvolvimento de atividades de ensino e pesquisa nos cenários de ensino

Page 64: SOLANGE DE F TIMA CARDOZO DANELUZ) - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Solange de Fatima Cardozo Daneluz.pdf · de assistência tradicional em reabilitação profissional foi criado,

63

comunitário e dos serviços de saúde que exigem do participante, além do

conhecimento, uma tomada de consciência e decisões para intervir nos problemas

da realidade na qual estão inseridos, exigindo do profissional comprometimento e

responsabilidade.

Bordenave e Pereira (1982) explica a utilização desta metodologia por meio

do Arco de Charles Maguerez que é composto de cinco etapas que se desenvolvem

a partir da realidade ou de um recorte da mesma e para a realidade retorna,

exercitando a cadeia dialética de ação-reflexão-ação.

Onde os problemas são identificados e onde se aplica a solução

Problema

Pontos-chave

Teorização

Hipótese de soluções

Aplicação da realidade (pratica)

Figura 4. Arco de Charles Maguerez. Fonte: Carvalho (2008).

A primeira etapa é a Observação da realidade social concreta: os

participantes são orientados pelo facilitador a olharem atentamente e a registrarem o

que percebem sobre a parcela da realidade em que o tema está sendo vivido.

Essa observação permite aos participantes identificar dificuldades, carências,

discrepâncias de várias ordens, que serão transformados em problemas. As

discussões entre os membros do grupo e o facilitador ajudarão na formulação ou

redação do problema.

Os participantes iniciam cada tema a ser trabalhado relatando a sua

experiência ou vivência para o grupo. São sensibilizados, às vezes, com dinâmicas

inespecíficas (com o objetivo apenas de acordar, motivar e integrar os participantes)

Page 65: SOLANGE DE F TIMA CARDOZO DANELUZ) - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Solange de Fatima Cardozo Daneluz.pdf · de assistência tradicional em reabilitação profissional foi criado,

64

e específicas (têm relação com o tema a ser discutido) para que os participantes

sensibilizados para o tema deixem emergir situações/problemas trazendo para o

grupo os fatores determinantes, o contexto sócio-político-cultural para melhor refletir

o assunto.

A segunda etapa é a identificação dos pontos-chave: os participantes

refletirão sobre as possíveis causas do problema em estudo. Por que será que esse

problema acontece?

Nesse momento é feita uma análise criteriosa e crítica pelo participante da

situação, pois o objetivo é solucionar o problema. Serão, então, selecionados os

tópicos importantes.

Nesta etapa o facilitador, por meio de perguntas que orientaram a discussão,

procura identificar com o grupo quais são os pontos-chave das situações

trabalhadas e quais são os fatores determinantes.

A terceira etapa é a Teorização: etapa do estudo da investigação. Os

participantes se organizam tecnicamente para buscarem as informações de que

necessitam (biblioteca em busca de livros, revistas, aula, pesquisas, palestras,

dentre outros). As informações colhidas são analisadas e avaliadas quanto à sua

contribuição para a resolução do problema.

Essa etapa é alcançada pelos participantes após esgotarem os

conhecimentos que possuem sobre o tema na discussão em grupo, ou em plenárias

com apresentação de trabalhos realizados e com a troca de experiências. O

facilitador tem como função despertar e auxiliar o grupo para o acréscimo de

conhecimento sobre o tema, para enriquecer o construído pelo grupo e, também,

sistematizar todo o conteúdo produzido por ele. Alguns temas são teorizados com

textos de apoio, filmes em fitas, vídeo, palestras.

A quarta etapa é a de elaboração de Hipótese de solução: todo o estudo

deverá oferecer elementos para os participantes criticarem e criativamente

elaborarem as possíveis soluções.

Durante esta etapa a equipe trabalha pensando e tentando criar hipóteses de

acordo com a sua realidade. É observado que, nos intervalos, as equipes conversam

e trocam informações, procurando levantar a melhor solução para os seus

problemas.

A quinta etapa será a da Aplicação à realidade: retorno das decisões para

serem executadas, caracterizando o momento em que os participantes levarão uma

Page 66: SOLANGE DE F TIMA CARDOZO DANELUZ) - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Solange de Fatima Cardozo Daneluz.pdf · de assistência tradicional em reabilitação profissional foi criado,

65

resposta ao problema. No presente estudo, o objetivo é que os participantes

apliquem o conhecimento com a finalidade de organizarem o trabalho, de acordo

com as diretrizes e princípios da Saúde do Trabalhador em sua realidade local,

melhorando a prática de assistência para as populações.

O papel do participante durante todo o processo é ativo e participativo.

Observa, faz perguntas, expressa suas percepções e opiniões e, por isso, é

motivado a aprender,

Para Bodernave e Pereira (1982, p. 17), a problematização permite que:

[...] o aprendiz seja constantemente ativo, formulando perguntas, percepções e opiniões, a partir da observação da realidade com seus próprios olhos, nas quais os aprendizes estão inseridos, sendo motivados para a percepção dos problemas reais significativos e para a busca de soluções dos problemas.

Ressalta-se que o propósito maior é preparar o participante para tomar

consciência de seu mundo e atuar intencionalmente para transformá-lo. Espera-se

que ele aja politicamente como cidadão e profissional e que seja agente social que

participa da construção da história de seu tempo.

3.1 O contexto do estudo

Conforme destacam Trentini e Paim (2005, p. 74), a escolha do

espaço/cenário para desenvolvimento da pesquisa deve ser “aquele onde foi

identificado o problema a ser solucionado ou as mudanças a serem feitas”.

Este estudo teve como contexto a Reabilitação Profissional, embora o cenário

principal seja o Projeto Piloto de Reabilitação Profissional, executado pelo Grupo de

Apoio à Reabilitação Profissional (GARP), com o objetivo de promover oficinas com

os atores (instituições e profissionais), envolvendo-os em discussões e construções

coletivas do conhecimento e reconhecimento de seus papéis para o fortalecimento

da atenção integral a saúde do trabalhador no município de Chapecó – SC.

Page 67: SOLANGE DE F TIMA CARDOZO DANELUZ) - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Solange de Fatima Cardozo Daneluz.pdf · de assistência tradicional em reabilitação profissional foi criado,

66

3.2 Os participantes

Para melhor compreensão dessa proposta passaremos a apresentar os

participantes das oficinas, contextos dessas instituições, com suas especificidades e

formas de relacionamento institucional.

Em Chapecó foi firmada parceria interinstitucional com possibilidades de

utilização da rede de serviços disponíveis no município que deverá dar suporte

operacional para implementação deste projeto, entre elas:

1. O Instituto Nacional de Seguro Social (INSS), com a interveniência da

Gerência Executiva de Chapecó – SC;

2. O município de Chapecó, tendo como intervenientes a Secretaria Municipal

de Saúde, representada pelos: Serviço Municipal de Fisioterapia e Saúde Funcional,

Vigilância em Saúde e o Centro de Referência em Saúde do Trabalhador (CEREST);

3. O Conselho Municipal de Saúde, através do controle social;

4. O Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), com a interveniência da

Gerência Regional do Trabalho e Emprego de Santa Catarina;

5. E o Ministério Público do Trabalho (MPT).

Todas estas instituições atuam em conjunto, com o objetivo de implantar o

Projeto Piloto de Reabilitação Profissional, uma estratégia de articulação da rede de

serviços do município de Chapecó, visando a disponibilizar um conjunto de

equipamentos, para utilização de tecnologia, de comunicação e informação, com a

finalidade de dar assistência em saúde e reinserção profissional dos segurados

encaminhados ao programa de reabilitação profissional do INSS, conforme já

descrito no capitulo inicial.

3.3 Estratégia de coleta dos dados

Como estratégia metodológica para a coleta de dados nesta pesquisa,

trabalhamos com oficinas.

Para Anastasiou e Alves (2004), oficina, também chamada de laboratório ou

workshop, caracteriza-se como uma “estratégia do fazer pedagógico em que o

Page 68: SOLANGE DE F TIMA CARDOZO DANELUZ) - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Solange de Fatima Cardozo Daneluz.pdf · de assistência tradicional em reabilitação profissional foi criado,

67

espaço de construção e reconstrução do conhecimento são as principais ênfases”.

É a reunião de um pequeno número de pessoas com interesses comuns, a fim de estudar e trabalhar para o conhecimento ou aprofundamento de um tema, sob orientação de um especialista. Possibilita o aprender a fazer melhor algo, mediante a aplicação de conceitos e conhecimentos previamente adquiridos (ANASTASIOU; ALVES, 2004, p. 96).

Grisotti e Patrício (2006, p. 63) ressaltam que:

Uma oficina pode ser caracterizada como um espaço de vivências interpessoais criado para trabalhar – transformar – situações particulares e coletivas. É um processo participativo, no qual se estimulam a explicitação, a discussão e a reflexão de temas.

Afonso (2006, p. 9) define oficina como:

Um trabalho estruturado com grupos, independentemente do número de encontros, sendo focalizado em torno de uma questão central que o grupo se propõe a elaborar, em um contexto social. A elaboração que se busca na oficina não se restringe a uma reflexão racional, mas envolve os sujeitos de maneira integral, formas de pensar, sentir e agir.

De acordo com o autor, uma oficina deve ter um planejamento básico e

flexível, sendo desenvolvida ao longo de um número combinado de encontros.

Utiliza informações e reflexões e trabalha significados afetivos e vivências

relacionadas ao tema em discussão.

Destacam Anastasiou e Alves (2004) que, no desenvolvimento de uma

oficina, podem ser utilizados diversos e diferentes recursos como músicas, textos,

observações diretas, vídeos, pesquisa de campo, experiências práticas, num

movimento de construção individual e coletiva, sendo que, ao fim, o grupo

materializa suas produções.

Como estratégia metodológica utilizada no desenvolvimento de uma pesquisa

(Afonso, 2006), uma oficina apresenta dimensões pedagógica e terapêutica. A

pedagógica incentiva o processo de aprendizagem do grupo, a partir de sua

experiência e de acordo com a demanda deste; a dimensão terapêutica daria

sustentação ao processo de elaboração, a partir da análise das relações do grupo,

dos insights e reflexões.

Tratando-se de uma estratégia de trabalho em grupo, é fundamental a

organização e preparação cuidadosa de uma oficina, na qual o planejamento deve

Page 69: SOLANGE DE F TIMA CARDOZO DANELUZ) - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Solange de Fatima Cardozo Daneluz.pdf · de assistência tradicional em reabilitação profissional foi criado,

68

ser compartilhado e mutuamente comprometido com o participante que, como sujeito

do processo, deverá ser ativo. Para o sucesso no desenvolvimento da estratégia e

alcance dos objetivos propostos, o pesquisador deve dominar o processo,

conhecendo e preparando suas etapas (Anastasiou; Alves, 2004).

Ao optarmos pela realização de oficinas, propomo-nos a articular técnicas e

estratégias com uma postura pedagógica crítico-reflexiva, apresentando, como

instrumento adequado a problematização e reflexão do tema em estudo, visando a

mudanças nas concepções e práticas no contexto pesquisado.

Foram realizadas 03 oficinas, de 03 horas de duração, aproximadamente,

com periodicidades variadas – conforme solicitado e acordado com os participantes.

Cada oficina foi organizada e realizada de modo a oferecer oportunidade para

momentos de acolhimento, desenvolvimento de atividades e fechamento. Durante

cada encontro, foi oferecido um ambiente favorável à socialização e à integração do

grupo entre si e com a pesquisadora.

Ressalta-se a participação ativa dos atores representantes das instituições,

que demonstraram iniciativa e comprometimento para a produção deste material, o

cuidado para otimização deste fórum, para resolução das demandas de cada

instituição e da qualificação dos profissionais.

3.4 Organização e registros dos dados coletados

Visando à organização dos registros dos dados coletados, recorremos ao

auxilio de um relator que procedeu aos registros sistemáticos dos pontos destacados

nas discussões, bem como o suporte na logística dos encontros.

Para garantir o rigor e confiabilidade dos dados, foram utilizados recursos de

gravação de voz nas oficinas, com posterior transcrição das falas.

Os registros dos materiais produzidos nas oficinas, bem como experiências,

dúvidas, idéias, dificuldades e facilidades, observações e percepções da

pesquisadora que surgiram ao longo do desenvolvimento da pesquisa foram

também registradas.

Page 70: SOLANGE DE F TIMA CARDOZO DANELUZ) - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Solange de Fatima Cardozo Daneluz.pdf · de assistência tradicional em reabilitação profissional foi criado,

69

3.5 Análise dos dados

A análise dos dados foi desenvolvida a partir da reunião dos registros das

falas obtidas em cada etapa vivenciada nas oficinas de trabalho, sustentada pelo

Referencial Teórico. Essa fase ocorreu concomitante à coleta dos dados.

3.6 As oficinas de trabalho

3.6.1 I oficina de trabalho

A primeira oficina ocorreu no dia 02 de junho de 2010, no auditório do Serviço

Municipal de Reabilitação, com a presença dos seguintes participantes:

1. Diretora de Atenção a Saúde da Secretaria Municipal de Saúde do

município de Chapecó;

2. Psicóloga, Assistente Social, Fisioterapeuta e Fonoaudióloga

representando o Serviço Municipal de Reabilitação e Saúde Funcional;

3. Psicóloga e Fonoaudióloga representando o Centro de Referência em

Saúde do Trabalhador (CEREST);

4. Gerente da Vigilância em Saúde do município de Chapecó;

5. Assistente Social (que também representa a CIST) e Terapeuta

Ocupacional da Reabilitação Profissional do INSS;

6. Gerente Regional do Ministério Trabalho e Emprego;

7. Presidente do Conselho Municipal de Saúde, e;

8. A pesquisadora.

As ausências registradas e justificadas foram as dos representantes do

Ministério Público do Trabalho.

ETAPA 01: Observação da realidade (problema)

Nesta oficina procuramos desenvolver a primeira etapa da metodologia, em

Page 71: SOLANGE DE F TIMA CARDOZO DANELUZ) - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Solange de Fatima Cardozo Daneluz.pdf · de assistência tradicional em reabilitação profissional foi criado,

70

que buscamos identificar o recorte da realidade a ser observado e decidimos qual a

forma de observação que iríamos utilizar. Duas perguntas foram lançadas aos

participantes:

- Quais as atribuições e as ações interdisciplinares e interinstitucionais na

implementação deste grupo?

- Quais as principais dificuldades enfrentadas pelos profissionais e pelas

instituições no processo de implantação deste projeto piloto?

Para nos aproximarmos dessa realidade, pressupõe-se possuir alguns

saberes que englobam conhecimentos, crenças, competências, habilidades, que são

incorporados e adquiridos de fontes diversas.

Ao nos apropriarmos destas informações vindas da realidade, procuramos

registrar para analisá-las, como forma de problematizar a realidade, confrontamos

essas novas informações com os saberes experienciais, o que nos permitiu

problematizar essa realidade.

Desse modo os saberes dos sujeitos, foram compartilhados, colocados em

dúvida e novos saberes construídos em interação com os outros. Por meio desse

processo, dessa interação, o olhar do sujeito não é mais o mesmo, pois implica uma

relação social com esses mesmos saberes, bem como com os outros sujeitos que os

produzem, construindo uma nova perspectiva perante o recorte analisado.

3.6.2 II oficina de trabalho

A segunda oficina aconteceu no dia 09 de junho de 2010, quarta-feira, no

período da manhã com uma duração prevista para 03 horas, no auditório do Serviço

Municipal de Reabilitação, com a presença dos seguintes participantes:

1. Diretora de Atenção a Saúde da Secretaria Municipal de Saúde do

município de Chapecó;

2. Psicóloga, Assistente Social, Fisioterapeuta e Fonoaudióloga

representando o Serviço Municipal de Reabilitação e Saúde Funcional;

3. Técnico em Segurança do Trabalho representando o Centro de Referência

em Saúde do Trabalhador (CEREST);

4. Terapeuta Ocupacional da Reabilitação Profissional do INSS;

Page 72: SOLANGE DE F TIMA CARDOZO DANELUZ) - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Solange de Fatima Cardozo Daneluz.pdf · de assistência tradicional em reabilitação profissional foi criado,

71

5. Gerente Regional do Ministério Trabalho e Emprego;

6. Presidente do Conselho Municipal de Saúde, e;

7. A pesquisadora.

As ausências registradas e justificadas foram as dos representantes do:

1. Ministério Público do Trabalho;

2. Gerência de Vigilância em Saúde;

3. Psicóloga e Fonoaudióloga do CEREST;

4. Assistente Social representante da CIST e do INSS.

Nesta oficina desenvolvemos duas etapas da metodologia: a ETAPA 02 que

extrai os Pontos-chave e a ETAPA 03 que organiza a Teorização dos pontos-

chave.

ETAPA 02: PONTOS-CHAVE

Após observarmos os problemas identificados pelos diversos olhares dos

representantes das instituições envolvidas, procuramos definir o que estaria

ocasionando a existência deste problema, de forma mais direta, naquele recorte de

realidade.

A reflexão tomou como foco os determinantes maiores do problema. Os

aspectos que, de modo indireto, podem influenciar sobre o problema e os próprios

fatores mencionados.

ETAPA 03: TEORIZAÇÃO

Nesta etapa foi proporcionado a todos os participantes um aprofundamento

dos saberes prévios a respeito do problema, elencados na etapa dos Pontos-chave.

Ou seja, a etapa nos permitiu construir respostas apoiadas na literatura cientifica e

por informações e experiências dos atores envolvidos neste problema.

“A Teorização vai ser o momento da investigação, do estudo propriamente

dito, daqueles pontos-chave definidos para esclarecer o problema” (BERBEL, 1998,

p. 4).

Foram coletadas as informações, tratadas, discutidas e analisadas, buscando-

se um sentido para elas, relacionando teoria e prática, sempre com vistas à

compreensão e solução do problema.

Page 73: SOLANGE DE F TIMA CARDOZO DANELUZ) - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Solange de Fatima Cardozo Daneluz.pdf · de assistência tradicional em reabilitação profissional foi criado,

72

3.6.3 III oficina de trabalho

A terceira oficina aconteceu no dia 23 de junho de 2010, quarta-feira, no

período da manhã com uma duração prevista para 03 horas, no auditório do

Mercado Público Regional, com a presença dos seguintes participantes:

1. Secretário Municipal de Saúde de Chapecó;

2. Diretora de Atenção a Saúde da Secretaria Municipal de Saúde do

município de Chapecó;

3. Psicóloga, Assistente Social, Fisioterapeuta e Fonoaudióloga

representando o Serviço Municipal de Reabilitação e Saúde Funcional;

4. Fisioterapeuta, Psicóloga, Fonoaudióloga e o Técnico em Segurança do

Trabalho, representando o Centro de Referência em Saúde do Trabalhador

(CEREST);

5. Terapeuta Ocupacional da Reabilitação Profissional e a Assistente Social

(que também representa a CIST), representando o INSS;

6. Gerente de Vigilância em Saúde;

7. Gerente Regional do Ministério Trabalho e Emprego;

8. Presidente do Conselho Municipal de Saúde;

9. Gerente de Projetos e Planejamento da Secretaria de Saúde, juntamente

com dois técnicos do setor, e;

10. A pesquisadora.

A ausência registrada e justificada foi as dos representantes do Ministério

Público do Trabalho.

Nesta oficina foram desenvolvidas duas etapas da metodologia proposta:

ETAPA 04: Hipóteses de soluções e a ETAPA 05: Aplicação da realidade:

prática.

A partir desta etapa identificamos alguns pontos que podem responder a outra

pergunta na qual se problematiza este estudo:

- Qual a contribuição deste modelo de atenção para a assistência integral à

saúde do trabalhador na rede básica de saúde do município?

Page 74: SOLANGE DE F TIMA CARDOZO DANELUZ) - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Solange de Fatima Cardozo Daneluz.pdf · de assistência tradicional em reabilitação profissional foi criado,

73

ETAPA 04: HIPÓTESES DE SOLUÇÕES

Após ser reapresentado o registro das hipóteses de solução (com o problema

envolvido) elaboradas nas oficinas anteriores, os participantes passaram a explicar e

argumentar o sentido das mesmas, ao mesmo tempo, projetar ideias que poderão vir

a se transformar em ações concretas para solucionar ou dar passos no caminho da

solução para o problema estudado. Nesta etapa procuramos elencar todas as

possibilidades e os encaminhamentos de soluções para os problemas apresentados,

tais hipóteses poderão abranger diferentes instâncias às quais são atribuídas ações

de transformação da realidade voltadas para um futuro próximo.

ETAPA 05: APLICAÇÃO DA REALIDADE: PRÁTICA

Neste momento, os participantes propuseram-se a desenhar ações concretas,

sugestões e/ou reivindicações a partir destas discussões, para alterar os processos

de trabalho e beneficiar a concretização e efetivação dos objetivos em torno da

atenção integral à saúde do trabalhador.

3.7 Aspectos éticos

A apresentação da proposta de pesquisa deve ser clara e bem divulgada

entre os envolvidos, de maneira a favorecer a compreensão e estimular a

participação de todos os participantes selecionados, conforme os critérios definidos.

Neste estudo, como garantia dos princípios éticos no desenvolvimento de

uma atividade com seres humanos, foram respeitadas as Diretrizes e Normas da

Pesquisa Envolvendo Seres Humanos. Resolução n. 196/96 do Conselho Nacional

de Saúde do Ministério da Saúde (CNS/MS, 1996). De acordo com a Resolução,

devem ser considerados o respeito à dignidade do ser humano, a proteção aos

direitos e o seu bem-estar.

Para este estudo, elaboramos um Termo de Consentimento Livre e

Esclarecido (APÊNDICE A), a fim de garantir, principalmente, a autorização para o

uso dos dados obtidos e o anonimato dos participantes.

Page 75: SOLANGE DE F TIMA CARDOZO DANELUZ) - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Solange de Fatima Cardozo Daneluz.pdf · de assistência tradicional em reabilitação profissional foi criado,

74

Os profissionais foram convidados a participar espontaneamente, sendo que

a sua recusa não implicou prejuízos ou forma alguma de constrangimento para eles.

Garantimos e respeitamos da mesma forma, a opção de desistência do

estudo em todos os momentos de sua trajetória.

Ainda seguindo a mesma Resolução, garantimos o anonimato dos

participantes.

Considerando que houve poucas ausências das instituições envolvidas na

participação por oficina, o anonimato foi garantido à medida em que não foram

reproduzidas falas completas nos resultados, tampouco a identificação completa dos

participantes. Eles foram “identificados”, conforme sugerido pelos próprios

participantes, por nomes como “sujeitos nº 01, 02...”, definidos pela pesquisadora,

aleatoriamente.

A proposta de investigação foi submetida à apreciação e aprovada pelo

Comitê de Ética da Univali, sob o registro de Parecer n. 541/09 (APÊNDICE B).

Page 76: SOLANGE DE F TIMA CARDOZO DANELUZ) - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Solange de Fatima Cardozo Daneluz.pdf · de assistência tradicional em reabilitação profissional foi criado,

4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS

Para apresentarmos e analisarmos os dados desta pesquisa, descrevemos as

etapas características da Metodologia da Problematização que compõem o Arco de

Maguerez, a partir das oficinas de trabalho.

Na primeira etapa identificamos e caracterizamos as ações dos atores

envolvidos neste projeto piloto, levantamos os problemas detectados na realidade

deste grupo.

Na segunda etapa, os pontos-chave foram escolhidos para direcionar o foco

especifico da investigação.

Na terceira etapa, a teorização, foi definida a escolha dos autores que tratam

dessa temática e a fundamentação dos achados.

Na quarta etapa, sintetizamos as ações e, a partir disso, foram sugeridas as

hipóteses de soluções, nesta etapa também, procuramos demonstrar o cruzamento

das relações e perceber as contribuições que estas oficinas poderão oportunizar às

instituições envolvidas, a partir deste alinhamento.

Na quinta etapa, levantamos as principais ações interinstitucionais que estão

sendo realizadas, a partir desta parceria, e que incentivaram aproximações com

outras instituições, e demonstrar que neste momento existem ações concretas

acontecendo no município.

Desse modo, podemos afirmar que alcançamos as expectativas definidas

como objetivos para a investigação.

Pudemos perceber e retratar a importância desta metodologia e seu efetivo

potencial, ao realizar as cinco etapas do Arco de Maguerez.

Por todo este estudo realizado, pela análise das etapas da metodologia, foi

possível extrair confirmações de que existem vários saberes envolvidos nesse

processo e que dão suporte para aqueles que dela se utilizarem.

Assim, a partir da coleta de dados, algumas respostas às questões

norteadoras desta pesquisa puderam ser observadas, relacionando-as com os meus

pressupostos e objetivos.

Page 77: SOLANGE DE F TIMA CARDOZO DANELUZ) - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Solange de Fatima Cardozo Daneluz.pdf · de assistência tradicional em reabilitação profissional foi criado,

76

4.1 I oficina de trabalho

4.1.1 Etapa 01: Observação da realidade (problema)

Nesta primeira oficina de trabalho procuramos proporcionar um clima

favorável ao debate, aguardamos a iniciativa dos participantes em relatar as

experiências vivenciadas pelo projeto piloto. Os itens elencados a seguir procuraram

dimensionar os pontos de fortalecimento (aspectos positivos) e as fragilidades,

originados deste trabalho intersetorial.

Aspectos Positivos:

1. A importância em se organizar uma equipe multidisciplinar que foi

proporcionada pela ação interinstitucional, a oportunidade de vivenciar experiências

e a multiplicidade de suas especificidades, foram destacadas na fala do “sujeito 08”,

[...] O atendimento multiprofissional que foi oferecido pelo projeto piloto, com relatório de qualidade que te fornece subsídios, informação, com orientador profissional, isto te dá segurança, realmente o usuário foi bem avaliado, bem atendido, pena que continua fragmentado, depois de todo este atendimento o serviço tem demandas que os recursos humanos não dão conta desta demanda, essas pessoas acabam voltando pra fila de espera...

A relevância deste trabalho interdisciplinar que teve caráter voltado a

promoção e a reabilitação e com enfoque no atendimento em grupo, propôs aos

profissionais envolvidos neste projeto, atuarem juntos ao trabalhador portador de

doença ocupacional, considerando a extensão de sua patologia, sua realidade social

e profissional.

Trouxe como experiência profissional a possibilidade de construir

conhecimento sobre saúde do trabalhador, desenvolver ações de educação em

saúde sobre questões da relação saúde-trabalho, buscando a prevenção dos

agravos às doenças ocupacionais, identificar limites e potencialidades que o

individuo tem em seu corpo, visando o autocuidado e o reconhecimento das suas

possibilidades de trabalho, também a possibilidade de criar um espaço teórico-

vivencial que favoreceu o repensar sobre a situação biopsicossocial atual, promoveu

Page 78: SOLANGE DE F TIMA CARDOZO DANELUZ) - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Solange de Fatima Cardozo Daneluz.pdf · de assistência tradicional em reabilitação profissional foi criado,

77

o tratamento e a reabilitação funcional de usuários portadores de agravos à saúde

decorrentes do trabalho.

2. O sentimento da equipe multiprofissional quando consegue identificar o

empoderamento que o segurado adquiriu ao participar do projeto piloto, na fala do

“sujeito 09”,

[...] a gente percebeu o empoderamento do grupo. No primeiro momento do grupo, percebeu-se que o participante veio com muitas dificuldades físicas (não podia ficar sentado, não podia ficar em pé, doía aqui, doía ali...) a equipe ficou assustada com o grupo, chegaram com aquela obrigação de estar no grupo, por que se não estão, a coisa não vai andar pra ele. No decorrer do grupo pelas temáticas trabalhadas se observou que se iniciaram algumas mudanças, por exemplo, no físico, as pessoas começaram a se arrumar mais, ficar mais falantes, isso nos deixou muito bem, a gente vinha trabalhar animada...

O trabalho desenvolvido por esta equipe constituiu-se em atividades

informativas sobre doenças ocupacionais, processo de adoecimento, fatores

causais, agravantes e de melhora, organização do trabalho, ergonomia, direitos

previdenciários e trabalhistas, discussões coletivas, aplicação de técnicas e

atividades práticas que envolvem o trabalho corporal, auto cuidado, relaxamento,

realização de exercícios terapêuticos e percepção de si mesmo no contexto pessoal

e social.

Foram realizados 13 encontros, em duas etapas simultaneamente: encontros

em grupo onde foram utilizadas técnicas como: dinâmicas de grupo, discussões em

pequenos e grandes grupos, construção de painéis, atividades com músicas, vídeos,

palestras e exercícios de alongamentos globais. O atendimento individualizado foi

multiprofissional (fisioterapia/psicologia e serviço social) conforme necessidades

avaliadas pelos profissionais foram utilizados os seguintes recursos:

eletrotermoterapia, alongamentos, orientação postural, acompanhamento

psicológico de apoio, avaliação para disponibilização de vale transporte, bolsa

alimento e medicamento, encaminhamentos para ortopedia e psiquiatria e

psicologia.

Percebeu-se que a qualidade de serviços ofertada ao trabalhador influenciou

significativamente o trabalho, possibilitando a equipe técnica e os segurados

envolvidos a percepção do empoderamento.

Page 79: SOLANGE DE F TIMA CARDOZO DANELUZ) - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Solange de Fatima Cardozo Daneluz.pdf · de assistência tradicional em reabilitação profissional foi criado,

78

Para Netz e Amazarray (2006), nas experiências realizadas em grupo, o

movimento de tomada de consciência se dá num processo de choques de realidade.

A história de cada um surge pelas formas concretas, através das quais ele age,

coloca-se, posiciona-se, aliena-se, perde-se, ou se recupera ao longo do processo.

Através do empoderamento o indivíduo pode se tornar consciente ao detectar as

contradições entre as representações e suas atividades desempenhadas na

produção de sua vida material.

Permite a construção de laços solidários entre os participantes. Esta

solidariedade apresenta-se como um dispositivo capaz de romper com o

individualismo e com a resignação queixosa de desenvolver uma consciência crítica

e suscitar a proposição de ações de transformação social.

3. A consolidação e o avanço do diálogo entre as instituições, em torno do

tema, são ressaltados como um fato importante neste processo, como podemos

observar nas falas do “sujeito” 02:

[...] discutir Saúde do Trabalhador é complexo e nós temos nossos limites pessoais, ter criado um grupo, uma proposta, um termo de compromisso interinstitucional foi um avanço. Fazer o projeto piloto tudo isso é uma evolução. Avançamos muito apesar das dificuldades, não temos estrutura, não temos recursos específicos, a política de saúde do trabalhador não é uma prioridade, só o fato de estarmos hoje todas estas entidades aqui reunidas, discutindo saúde do trabalhador é muito positivo, imagine isso há 04, 05 anos atrás sequer poderia ser discutido desta forma...

Percebemos que nunca esteve tão próximo o diálogo em defesa da saúde do

trabalhador no município de Chapecó, por mais que ainda predomine a morosidade

tradicional na fiscalização, investigação e autuação nos ambientes de trabalho

adoecedores, percebemos ações efetivas que podem evoluir para o reconhecimento

e a sustentabilidade destas ações através de medidas jurídicas que estão em pauta.

O diálogo e a proximidade das instituições são inevitáveis, mesmo que ainda

tenhamos ações fragmentadas e individualizadas.

Este avanço é atribuído a persistência dos atores representantes das

instituições e da abertura das instituições em demonstrar as fragilidades e as

limitações que atualmente formam os gargalos e as demandas reprimidas.

Para Oliveira (2008), os vários órgãos do governo de uma cidade, que atuam

na prestação de serviços aos cidadãos, geralmente se relacionam de maneira

Page 80: SOLANGE DE F TIMA CARDOZO DANELUZ) - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Solange de Fatima Cardozo Daneluz.pdf · de assistência tradicional em reabilitação profissional foi criado,

79

fragmentada e individualizada, pois as estruturas governamentais apresentam

formatos piramidais, hierarquizados e especializados, carecendo de uma articulação

entre si, especialmente quando o interesse por melhorar o atendimento das

demandas da população local torna-se, de fato, prioridade.

Ainda para o mesmo autor, a integração interinstitucional, atualmente, é um

tema corriqueiro dentro das administrações públicas. No que tange à esfera

municipal, conforma-se numa discussão acalorada, principalmente por ser vista

como um caminho capaz de oportunizar o encontro com alternativas para os

problemas do setor público. Para além dos aspectos administrativos, esse tipo de

integração também é posto como contribuição para a solução de alguns dos graves

problemas urbanos.

O “sujeito” 07 confirma a importância da intersetorialidade, afirmando: “[...] é

na união das entidades que se pode ter mais força para pra mudar as atuais

condições...”

Esta necessidade de união de forças de ações setoriais exigiu um processo

sistemático de articulação, planejamento e coordenação e principalmente a co-

responsabilização das instituições em torno do projeto.

O “sujeito” 04 denota a importância do trabalho desenvolvido pelo projeto

piloto e incentiva a continuidade e ampliação do mesmo:

[...] estas oficinas poderão possibilitar que o GARP abra as portas para discussão com as entidades que tem maior poder público para executar soluções, através destas oficinas se identificará os problemas e uma avaliação da importância do mesmo, este grupo deu certo tem que continuar, é um piloto e já tem despertado o interesse de outros estados (norte ou nordeste) devemos ampliá-lo pra outros trabalhadores, além da indústria frigorífica, outro grupo de trabalhadores, levar essa experiência pra outros municípios, pro CEREST do Estado, Conselho Estadual, pra que se possa fortalecer as propostas de políticas de saúde do trabalhador, a partir do micro...

Porém, para o “sujeito” 03, “... durante esta oficina discutiu-se muito a

viabilidade e as expectativas quanto ao GARP, sendo assim, acredito que deva ser

revisto o contexto na qual surgiu esta expressão”.

Um projeto piloto é constituído para que ajustes possam acontecer antes que

um trabalho concreto venha ocorrer, é neste contexto que se deve pensar, com

ajustes para a sua viabilização, agilidade no processo e resolutibilidade das

Page 81: SOLANGE DE F TIMA CARDOZO DANELUZ) - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Solange de Fatima Cardozo Daneluz.pdf · de assistência tradicional em reabilitação profissional foi criado,

80

intervensões.

Para Moysés et al. (2004), a intersetorialidade apresenta-se como a

“articulação entre sujeitos de setores sociais e, portanto, como saberes, poderes e

vontades diversos, para enfrentar problemas complexos”. Para que possa existir

implica a explicitação das relações de poder entre os distintos atores e organizações

sociais, exigindo pactuação e não se isentando conflitos, contradições e problemas

(MENDES; ARKEMAN, 2007; MOYSÉS et. al., 2004).

A partir deste ponto pode-se observar que os participantes encaminharam a

discussão com maior ênfase para os pontos de fragilidade da articulação,

demonstraram que havia necessidade de expressar a insatisfação de algumas

situações e optou-se por organizar as opiniões na seguinte ordem de importância:

Pontos de Fragilidade:

1. Há uma indefinição na rede de assistencia para o atendimento da saúde do

trabalhador no município de Chapecó, como citam os “sujeitos” 01 e 02:

[...] como esta rede funcionou? Teve acesso a exames, houve a parceria das instituições. Percebeu-se a ausência das instituições nas reuniões, esta rede não é só assistência é também a presença, a participação, pensar em saúde do trabalhador é pensar numa garantia de direitos... (S 01)

[...] Quando o trabalhador fica tanto tempo sem conseguir um RX, tomografia, por exemplo, não é que o trabalhador tenha que ser preterido no sistema, pois o acesso ao SUS é universal, mas nós temos que pensar estratégias pra que ele seja mais bem atendido... (S 02)

O trabalhador está sendo atendido na rede municipal quando procura a

unidade de saúde, porta de entrada do sistema, ele é reconhecido como integrante

de uma família, atribuição da estratégia de saúde da família, porem não é percebida

a integração dos serviços de saúde e a necessidade de se ofertar serviços para

determinada população (trabalhador) em determinado território, sob uma única

gestão, com a garantia da continuidade do cuidado durante todo o ciclo de uma

condição ou doença.

[...] as Redes de Atenção à Saúde são organizações poliárquicas de conjuntos de serviços de saúde, vinculados entre si por uma missão única, por objetivos comuns e por uma ação cooperativa e interdependente, que permite ofertar uma atenção contínua e integral a determinada população, coordenada pela Atenção Primária à Saúde – prestada no tempo certo, no

Page 82: SOLANGE DE F TIMA CARDOZO DANELUZ) - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Solange de Fatima Cardozo Daneluz.pdf · de assistência tradicional em reabilitação profissional foi criado,

81

lugar certo, com o custo certo, com a qualidade certa e de forma humanizada, e com responsabilidade sanitária e econômica por esta população (MENDES, 2009, p.23)

O “sujeito” 04, mostra sua preocupação em ofertar atendimento centrado

somente na reabilitação física e assim se manifesta: “... Nós estamos tratando da

doença, pra pensar em saúde precisamos pensar em antecipar nestas questões,

antes que ele adoeça...”

Para o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (CONASS) (BRASIL,

2010b), as redes de atenção à saúde são um sistema de saúde que precisa cuidar

das pessoas para que não adoeçam e não apenas cuidar das doenças. O sistema

de saúde brasileiro, de modo geral, tem sido, com algumas exceções, reativo,

atendendo à demanda, sem planejamento das necessidades de saúde da população

em determinado território, e os indicadores de morbimortalidade têm sido pouco

usados para planejar as ações e os serviços socialmente necessários. Sem falar que

avaliação do impacto dos serviços ofertados – seu custo-benefício, seus efeitos

adversos – e qualidade, na grande maioria, não são mensurados rotineiramente; as

avaliações são pouco utilizadas para redirecionar o planejamento.

2. Diferentes concepções (conceitos cristalizados) e modelos de organização

que dificultam uma ação integrada, provocando a fragmentação das

responsabilidades das instituições com a multiplicidade de ações desconectadas,

estanques, não integradas e distanciadas institucionalmente, conforme sugere o

“sujeito” 01:

[...] porque os funcionários continuam adoecendo? Se na empresa tem CIPA, tem PCMSO, tem programa de saúde do trabalhador lá dentro, porque quando a gente questionou o MPT, este disse:- deixe que esta parte é nossa e a gente resolve! Isso eu nunca mais vou esquecer, se eu tô discutindo parceria a gente tem que pode dizer aonde não trabalhou bem, precisa de ajuda, aonde a gente precisa melhorar, pode dizer... a gente tem que se despir das nossas fraquezas e das dificuldades para deixar que o auxilio venha... [...] Onde esta a construção? Se todos estão discutindo saúde do trabalhador todos têm que colocar as suas dificuldades sem medo, como se pode discutir se não pode enfrentar aquilo que existe? [...] Aqui somos todos trabalhadores que tem dificuldades, são instituições que tem limites. Pode ter havido avanços por ter uma construção anterior, mas no momento, não vejo construção...

Page 83: SOLANGE DE F TIMA CARDOZO DANELUZ) - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Solange de Fatima Cardozo Daneluz.pdf · de assistência tradicional em reabilitação profissional foi criado,

82

Percebemos as dificuldades que algumas instituições apresentam nos

processos de articulação, no momento de colocar em pratica ações horizontalizadas,

refletir esta dificuldade e colocar em prática ações conjuntas podem aproximar a

identificação de sujeitos coletivos que se unem em torno de valores, objetivos e

projetos comuns. Quando somente uma instituição chama pra si a responsabilidade

perde-se a possibilidade de responder às demandas com flexibilidade, conectividade

e descentralização de forma de atuação contemporânea e com articulação social.

Whitaker, 2002 infere a isto o exercício da liberdade, responsabilidade,

democratização da informação, reflexão sobre os padrões de dominação,

competição, autoritarismo e manipulação que a cultura do mundo atual introjeta em

todas as pessoas. Quando articulamos em rede, possibilitamos uma forma de poder

conjunto, fugindo das relações de micropoder. Poder só é efetivamente poder se não

se concentrar em nenhum membro particular, isto é, se todos estiverem dispostos a

ceder informações e poder aos demais.

A preocupação evidenciada pelo “sujeito” 08 se relaciona aos conceitos

utilizados pelos profissionais e instituições, conforme manifesta a seguir:

[...] o que me preocupa é o que está cristalizado na sociedade, os conceitos de funcionalidade e incapacidade, deficiência, doença cada instituição tem a sua visão e seus conceitos. O trabalhador fica confuso, os conceitos são diferentes, o que pode o que não pode, ele não sabe em quem acreditar. Há uma grande necessidade em discutir conceitos, concepção de saúde-doença, hoje a gente percebe que os que passaram pelo projeto piloto, têm um entendimento muito mais amplo, percebem claramente as mudanças de comportamento inclusive de ordem pessoal (vestuário, higiene), autoestima...

Nesta discussão os participantes conseguiram declarar suas angustias em

relação aos conceitos e preconceitos de ordem teórica e na pratica diária. Sabe-se

que o modelo biomédico ainda domina algumas categorias profissionais e quando se

deseja atuar de forma interdisciplinar é inevitável chegar a estas concepções.

Tomando como exemplo os diferentes conceitos de deficiência, a

Organização Mundial da Saúde (OMS) tentou contemplar os diferentes estados de

comprometimento causado pela deficiência ao criar uma classificação padrão

baseada no modelo médico tradicional de doença, etiologia-patologia-manifestação,

que associa doença-deficiência-incapacidade-impedimento, porém explicita que a

avaliação das classificações de deficiência é dependente das normas culturais. O

Brasil é um exemplo de situação contraditória de classificação de deficiência não

Page 84: SOLANGE DE F TIMA CARDOZO DANELUZ) - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Solange de Fatima Cardozo Daneluz.pdf · de assistência tradicional em reabilitação profissional foi criado,

83

condizente com a realidade. Reconhece a categoria da deficiência associada ao

modelo médico de saúde-doença, de origem física, mental, auditiva visual e múltipla

(BRASIL, 2004). O Governo tenta representar a magnitude da deficiência, além do

corpo, com os conceitos de “deficiência permanente” e “incapacidade” (Lei n. 3.298,

de 1999).

Já a Organização Mundial de Saúde (OMS/OPAS, 2003), em Genebra,

recomenda a Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde

(CIF), pois esta oferece uma linguagem padrão e uma estrutura para a descrição da

saúde e dos estados relacionados à saúde. A CIF é a classificação da saúde e seus

domínios que nos ajudam a descrever alterações ou mudanças na função e

estrutura corporal, o que uma pessoa com uma condição de saúde pode fazer em

um ambiente padrão (seu nível de capacidade), assim como o que ela realmente faz

no seu ambiente real (seu nível de desempenho). Estes domínios são classificados a

partir de perspectivas do corpo, individuais e sociais por meio de duas listas: uma

lista de funções e estruturas corporais, e uma lista de domínios de atividade e

participação.

Outra fala que aponta a mesma preocupação é quando o “sujeito 03” solicita

que seja revisto os conceitos de “atenção e atendimento” por não parecer claro no

primeiro item 01 de fragilidades, já apresentado, que diz... Há uma indefinição na

rede assistencial para o atendimento da saúde do trabalhador no município.

Para Narvai (2005), as práticas de saúde pública, precisam transcender os

serviços e mesmo o sistema de saúde, desenvolvendo, concomitantemente, ações

sobre todos os determinantes e condicionantes do processo saúde-doença, quando

se fala em “atenção à saúde” se refere ao “conjunto de atividades intra e extrassetor

saúde que, incluindo a assistência individual, não se esgota nela, atingindo grupos

populacionais com o objetivo de manter a saúde, e requerendo ações concomitantes

sobre todos os determinantes da saúde-doença”.

Discutiu-se no grupo os termos, sendo “assistência” corresponde ao “conjunto

de procedimentos clínico-cirúrgicos dirigidos a consumidores individuais, doentes ou

não”. Assim, “atenção” e “assistência” seriam termos que corresponderiam a

distintos significados, não se devendo utilizá-los como sinônimos ou equivalentes,

sobretudo ao abordar as políticas, o financiamento, o planejamento e a

administração em saúde.

Se formos nos ater a conceitos, Narvai (2005) faz a seguinte provocação. Ao

Page 85: SOLANGE DE F TIMA CARDOZO DANELUZ) - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Solange de Fatima Cardozo Daneluz.pdf · de assistência tradicional em reabilitação profissional foi criado,

84

contrário do que se costuma encontrar na literatura sobre o assunto a Constituição

brasileira de 1988 não fala em “integralidade”, aliás, muito menos em integralidade

na atenção à saúde. A Carta Magna determina (art. 198, II) que, em termos de

saúde, haja “atendimento integral, com prioridade para as atividades preventivas,

sem prejuízo dos serviços assistenciais”. Assim, o “atendimento” (quer dizer, as

ações no âmbito da assistência) deve ser integral, ou seja, conforme o “Aurélio”,

“total, inteiro, global” (Ferreira, 1999). Para isso, deve funcionar (bem...) o sistema de

serviços de saúde, com adequados mecanismos de referência e contrarreferência.

Note-se que no texto constitucional tanto as “atividades preventivas”, quanto os

“serviços assistenciais” (com o inequívoco sentido de “atividades terapêuticas”, pois

é deste binômio prevenção-terapia que se trata) encontram-se subordinadas ao

“atendimento” (ou seja, à “assistência” ao indivíduo).

Estes textos foram selecionados para compor a Etapa de Teorização, pois

neste debate eles foram muito ricos e aproximaram os pares pra discussão o que

acabou desarmando alguns envolvidos preocupados em apenas apontar as

fragilidades do projeto e mascarar as causas das fragilidades.

3. Precariedade nos sistemas de informação da saúde do trabalhador e

ausência de um banco de dados integrado com a rede intersetorial, como destaca o

“sujeito 08”:

[...] A limitação das instituições, o medo de passar informações, sistema bloqueados, tudo é sigiloso, se dentro da instituição já há problemas com as informações, imagine a disponibilidade de um banco de dados integrado, parece estar fora da realidade...

Nesta fala revelou-se este problema, quando são consultados alguns bancos

de dados, pois importantes sistemas de informação para a saúde do trabalhador

inseridos em outros Ministérios, como é o caso do Dataprev do Ministério da

Previdência e Assistência Social, que deve ser utilizado com cautela, pois só

contempla os trabalhadores segurados.

Já o Ministério da Saúde disponibiliza diversos sistemas de informação em

saúde que produzem uma enorme quantidade de dados referentes às atividades

setoriais em saúde, gerando grandes bancos de dados nacionais, como: Sistema de

Informação sobre Mortalidade (SIM), Sistema de Informação de Nascidos Vivos

Page 86: SOLANGE DE F TIMA CARDOZO DANELUZ) - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Solange de Fatima Cardozo Daneluz.pdf · de assistência tradicional em reabilitação profissional foi criado,

85

(Sinasc), Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), Sistema de

Informação sobre Internação Hospitalar (SIH), Sistema de Informação Ambulatorial

(SIA), entre outros (Renast, 2006).

Na Saúde do Trabalhador, os dados são obtidos, essencialmente, através da

rede de serviços de vigilância e de atenção à saúde, gerando informações nos

diversos sistemas de informação em saúde, que devem oportunizar a detecção

precoce da perda de saúde individual do trabalhador, a avaliação dos riscos

ocupacionais e a eficácia das medidas preventivas, curativas e reabilitadoras.

Também devem contribuir para a melhoria dos cuidados de saúde e para o controle

de exposição aos riscos ocupacionais.

A Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) e o Cadastro Geral de

Empregados e Desempregados (Caged) são sistemas de informação do Ministério

do Trabalho e Emprego. A RAIS constitui um instrumento de fundamental

importância para o acompanhamento e a caracterização do mercado de trabalho

formal. O Caged constitui importante fonte de informação do mercado de trabalho,

de âmbito nacional, e de periodicidade mensal. Foi criado como instrumento de

acompanhamento e de fiscalização do processo de admissão e de dispensa de

trabalhadores regidos pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), com o objetivo

de assistir os desempregados e de apoiar medidas contra o desemprego.

Enfim, conclui-se que para caracterização eficiente do perfil epidemiológico da

saúde dos trabalhadores, a partir de fontes de informação, faz-se necessário o

comprometimento articulado intra e intersetorialmente, para o alcance de ações

eficazes em saúde do trabalhador.

4. Dificuldades na gestão dos serviços para construir e consolidar uma política

efetiva, participativa e intersetorial para garantir a continuidade do cuidado durante

todo o ciclo da condição ou doença do trabalhador (promoção, proteção, cura e

reabilitação). No destaque do “sujeito” 03 a falta de participação no planejamento

das ações, gera insegurança e denota o despreparo para a intervenção, como relata

a seguir:

[...] Quanto ao planejamento, nossa equipe teve problemas internos, problemas de gestão, não havia repasse das informações para equipe, quando chegou na hora da nossa participação não estávamos preparados e com clareza dos objetivos do GARP, pois nas atribuições havia limitações... (S 03).

Page 87: SOLANGE DE F TIMA CARDOZO DANELUZ) - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Solange de Fatima Cardozo Daneluz.pdf · de assistência tradicional em reabilitação profissional foi criado,

86

“[...] os trabalhos desenvolvidos continuam se resumindo aos profissionais e

não as instituições, as instituições não conseguiram absorver a ideia, se muda o

profissional morre a idéia...” (S 08).

Quando se refletiu sobre o porquê isso acontece dentro das instituições,

atribuiu-se que as decisões políticas interferem cruelmente na gestão dos serviços.

Quando se deseja uma reengenharia administrativa, é necessário haver uma

mudança na cultura das instituições, e isso nem sempre é possível. É necessária

uma revisão nos perfis profissionais, no ingresso, na formação, na reciclagem e na

educação continuada dos atores.

Para o sujeito 08, a:

[...] Sobrecarga de trabalho, a demanda é muito maior que os recursos humanos, o GARP atendeu 19 pessoas, hoje temos 1900 na fila de espera para o primeiro atendimento na Reabilitação Profissional, se em 19 atendimentos a gente tem ações fragmentadas imaginem no atendimento da real demanda, imaginem pra desenvolver ações de prevenção e promoção, vai muito ainda, é um circulo vicioso...

Constatou-se também, que as equipes mínimas sugeridas pelas portarias

ministeriais para compor os serviços públicos, sempre estão em desvantagem. Ou

por não haver profissionais concursados especializados para desenvolver suas

atribuições, ou pelo ingresso de servidores com contratos precários.

No caso das agências e gerências executivas do INSS, atualmente contam

com orientadores profissionais, em número insuficiente, sem a devida formação e

que têm a ingrata incumbência de promover a reabilitação profissional. Se, com

equipes multiprofissionais e recursos, a reabilitação profissional já é um processo

complexo e difícil, o trabalho solitário, sem os recursos necessários, torna a tarefa

penosa e malsucedida.

É importante assinalar a urgência dos recursos humanos suficientes e

preparados para atender a essa realidade e para trabalhar com diferentes

profissionais, de forma integrada. O cidadão requer tratamento integral não

fragmentado, diferentes profissionais, espaços de atenção, em tempos diferentes,

que devem ter seus processos integrados para garantir uma resposta adequada a

Page 88: SOLANGE DE F TIMA CARDOZO DANELUZ) - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Solange de Fatima Cardozo Daneluz.pdf · de assistência tradicional em reabilitação profissional foi criado,

87

suas demandas e necessidades.

5. O acesso aos serviços fica interrompido quando não definição da rede de

atenção, a articulação intrasetorial é fundamental para a otimização dos recursos

humanos e das ações, a sobreposição de ações gera desgaste tanto para os

trabalhadores da saúde como para os cidadãos, conforme a fala a seguir do “sujeito”

08:

[...] O segurado chega sem a mínima assistência, informação, não sabe nem quais são os serviços disponíveis no município, quais são seus direitos. Nosso maior objetivo no inicio era articular esta rede. Ter um olhar para comunicação, parceria, encaminhamentos. Não conseguimos um fluxo continuo hoje todo o ponto crítico, todo o vínculo acaba batendo na minha sala, sem respostas... quando chega ao final se percebe como poderia ter sido conduzido diferente, na próxima deverá haver correções, reorganizar...e pois estas pessoas continuam aguardando atendimento, o fluxo não aconteceu...

Os profissionais envolvidos no projeto concordam com a idéia que sem a

integração nos vários níveis de atenção, todos os aspectos do desempenho do

sistema de saúde sofrem. Os pacientes ficam perdidos, os serviços necessários não

são prestados, ou são postergados, a qualidade e a satisfação do usuário caem e o

custo benefício diminui.

Na rede municipal de saúde a articulação entre as ações das vigilâncias

(sanitária, epidemiológica, do trabalhador e ambiental) e a atenção básica se

encontra fragmentada, pois estas deveriam ser realizadas numa perspectiva de

prevenção, a partir do mapeamento de riscos, mecanismos de vigilância

epidemiológica, programas de controle e outras formas de abordagem.

Quando o profissional fala na importância da revisão dos fluxos e o respeito

aos protocolos, denota a importância do projeto piloto, que tem principal finalidade

de revisão de modelo para qualificar a oferta de serviços.

6. O descaso com que é tratada a saúde do trabalhador mostra claramente o

descompromisso da classe dirigente e políticas internas das empresas que não

assumem as responsabilidades dos danos que causam à saúde da classe

trabalhadora a partir da imposição de processos de produção obsoletos, “sujeito 02”:

[...] Fala-se que há desconhecimento, há má vontade, há má fé das empresas e dos ambulatórios de saúde das empresas (médicos). Não querem aplicar dinheiro na saúde do trabalhador. O trabalhador é tratado

Page 89: SOLANGE DE F TIMA CARDOZO DANELUZ) - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Solange de Fatima Cardozo Daneluz.pdf · de assistência tradicional em reabilitação profissional foi criado,

88

como um produtor de lucro pra empresa, no nosso sindicato o trabalhador é orientado a cobrar ações da empresa, se negar a realizar atividades que o prejudiquem. Não trabalhar doente, se a atividade esta oferecendo perigo não vá trabalhar...

Os profissionais acreditam que o modelo da medicina do trabalho que prioriza

a saúde do trabalho e não, necessariamente, a saúde do trabalhador, isto acaba

contribuindo para fortalecer o descaso que algumas empresas assumem nos

processos de adoecimentos de seus trabalhadores.

A perícia médica reproduz o modelo do cumprimento restrito à norma legal, os

saberes especializados e técnicos (no caso, o saber médico) e a centralização do

poder (enquanto representante da autoridade legal). Os diagnósticos são marcados

pela fragmentação, cada especialista dá um novo diagnóstico e um novo tratamento.

Nos depoimentos dos trabalhadores, destacam as situações que referendam

o descaso da empresa, a falta de assistência e o sentimento de abandono. Mostram,

também, as dificuldades dos espaços sindicais do município e, especificamente, da

categoria, em interferências junto a estas instituições em situações de adoecimento

dos trabalhadores. Essas inúmeras dificuldades passam pelo desconhecimento do

trabalhador a respeito das ações que poderiam se efetivar através desses espaços

representativos e preocupação com a desinformação sindical.

Os segurados relataram que há grande resistência nas empresas no que se

refere a implantação de medidas preventivas. Reforçam que dificilmente as

reclamações, ou sugestões dos trabalhadores são ouvidas pelos superiores e

afirmam que determinada situação de risco só é considerada quando ocorrem

acidentes. Mencionam que mesmo as pausas para alongamento, no caso da linha

de produção das agroindústrias, geralmente só são praticadas quando há visitas na

empresas ou, no caso de fiscalização. Mostraram-se descrentes de que as

empresas sejam sensibilizadas para a importância dessas mudanças preventivas,

pois segundo os mesmos, elas detêm grande poder político e econômico o que lhes

dá suporte, segurança para continuar visando o lucro.

Foi abordado também que a constituição de comissões de saúde e a

promoção de eventos dentro das empresas, têm adesão restrita dos trabalhadores.

7. Não existe uma rede de empregabilidade na região que absorva o

Page 90: SOLANGE DE F TIMA CARDOZO DANELUZ) - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Solange de Fatima Cardozo Daneluz.pdf · de assistência tradicional em reabilitação profissional foi criado,

89

reabilitado ao mercado de trabalho, a reinserção através da qualificação do

trabalhador depende de uma carta de ofertas de cursos profissionalizantes que

garantam a reinserção social como salienta “sujeito” 08:

[...] outro fator que esta emperrando muito é a rede de empregabilidade, tem pessoas que são capazes para determinado ramo de atividade, mas não se consegue encaminhar para outra, as empresas desconhecem que podem empregar reabilitados, a equipe fez um ótimo trabalho assistencial, aí você vai discutir cursos profissionalizantes, mas as instituições de educação não estão preparadas para receber os diferentes, que talvez não possam escrever horas seguidas, que não podem ficar por muito tempo sentado, os cursos oferecidos não correspondem com o mercado de trabalho para as vagas que os segurados estão pretendendo, ou recebe alta do INSS e a empresa manda embora. E aí pra arrumar emprego a pessoa “normal” já é difícil, quem dirá pra lesionado. A gente iniciou esta discussão de empregabilidade, mas o grupo ficou constrangido e voltou pra trás...

A grande dificuldade encontrada neste projeto piloto foi o nível de

escolarização e a idade dos segurados. Buscou-se possibilitar ao grupo de

segurados o entendimento de que as incapacidades laborativas podem ser

superadas com a ampliação de suas perspectivas de atuação profissional. A

elevação do grau de escolaridade, a participação em cursos profissionalizantes e a

percepção de si como sujeito capaz de desenvolver potencialidades se torna

fundamental para que o indivíduo possa ser reinserido no mercado de trabalho.

8. A falta de representação de outros segmentos da sociedade como a

educação profissionalizante, os sindicatos e as empresas, demonstrou fragilidades e

limitações nas discussões.

“[...] Senti também a não participação de alguns segmentos como a

educação, profissionalização, qualificação profissional, sindicatos, empresas e na

possibilidade em fazer convênios...” (S 12).

Essa ausência de participação institucional pode ser analisada pela

dificuldade da articulação da intersetorialidade, ao envolver as diferentes

perspectivas e espaços e disputas de poder instituições que passam pelo

empobrecimento da participação. Há uma descontinuidade das ações.

O grupo identificou que se deve fomentar uma ampla participação institucional

e também popular, pois só assim acarretará flexibilidade e durabilidade das ações

constituídas em torno de problemas concretos de saúde do trabalhador.

Page 91: SOLANGE DE F TIMA CARDOZO DANELUZ) - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Solange de Fatima Cardozo Daneluz.pdf · de assistência tradicional em reabilitação profissional foi criado,

90

As atividades se estenderam até o momento em que foram escolhidos, dentre

os principais pontos de fragilidades, o critério e o foco específico sobre o qual se

aparenta ter mais urgência, prioridade e necessidade de estudo e que nos

possibilitasse atuar sobre ele, para redigi-lo como problema.

4.2 II oficina de trabalho

4.2.1 Etapa 02: pontos-chave

Nesta segunda oficina, percebemos algumas ausências importantes dos

participantes envolvidos na primeira oficina, embora tenham justificado o motivo do

não comparecimento, percebeu-se que o debate passou a ser mais enfático e

acalorado, muitas vezes com certo grau de parcialidade e colocações defensivas de

algumas instituições.

As ausências de algumas instituições sinalizaram as dificuldades ainda

fortalecidas por ações individualizadas, percebemos que ao se deparar com o

quadro dos Aspectos Positivos x Pontos de Fragilidade, o compromisso em justificá-

lo, veio a tona e os profissionais que representam as instituições não se sentiram

instrumentalizados evitando o debate.

Então relembramos os itens escolhidos na primeira oficina denominados

como problemas detectados e decidiu-se nomear, como pontos-chave, os seguintes

aspectos:

1. A estrutura organizacional;

2. A gestão das ações;

3. Os sistemas de informação e comunicação.

A tabela representada a seguir foi criada através da utilização de tarjetas

desenvolvidas pelos participantes, durante as oficinas.

Page 92: SOLANGE DE F TIMA CARDOZO DANELUZ) - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Solange de Fatima Cardozo Daneluz.pdf · de assistência tradicional em reabilitação profissional foi criado,

91

Quadro 1. II Oficina de Trabalho: definição dos pontos-chave.

Pontos Chaves Problemas detectados 1. A estrutura organizacional

1. Indefinição de rede organizada e articulada para o atendimento a saúde do trabalhador no município de Chapecó; 2. Diferentes concepções (conceitos cristalizados) e modelos de organização que dificultam uma ação integrada, provocando a fragmentação das responsabilidades das instituições com multiplicidade de ações desconectadas, estanques, não integradas e distanciadas institucionalmente; 3. Na rede municipal de saúde a articulação entre as ações das vigilâncias (sanitária, epidemiológica, do trabalhador e ambiental) e a atenção básica, esta prejudicada; 4. A falta de representação de outros segmentos da sociedade como a educação profissionalizante, os sindicatos e as empresas, demonstra fragilidades e limitações nas discussões.

2. A gestão das ações

1. Não existe uma rede de empregabilidade na região que absorva o reabilitado ao mercado de trabalho, a reinserção através da qualificação do trabalhador depende de uma carta de ofertas de cursos profissionalizantes que garantam a reinserção social; 2. O descaso com que é tratada a saúde do trabalhador mostra claramente o descompromisso da classe dirigente com políticas internas das empresas que não assumem as responsabilidades dos danos que causam a saúde da classe trabalhadora a partir da imposição de processos de produção obsoletos; 3. Dificuldades de gestão para construir e consolidar uma política efetiva, participativa e intersetorial para garantir a continuidade do cuidado durante todo o ciclo da condição ou doença do trabalhador (promoção, proteção, cura e reabilitação).

3. Os sistemas de informação e comunicação

1. Precariedade dos sistemas de informação da saúde do trabalhador e ausência de um banco de dados integrado com a rede intersetorial.

Fonte: Material produzido na II Oficina de Trabalho ocorrida em 09 de junho de 2010.

Após definição dos pontos-chave, selecionamos os textos a seguir para nortear as

discussões na etapa da Teorização.

Estes textos são recortes da Política Nacional de Saúde do Trabalhador e Do

Manual da Renast – Rede Nacional de Saúde do Trabalhador.

Sobre a Estrutura Organizacional da Saúde do Trabalhador:

Estruturação da Renast/Matriz das Instâncias

A Rede Nacional de Atenção Integral à Saúde do Trabalhador (Renast),

instituída através da Portaria n. 1.679/02 e fortalecida por meio das Portarias n.

2.437/05 e 2.728/09, visa a assegurar a atenção integral aos trabalhadores de todos

os setores da economia: formal e informal, público e privado, das áreas urbanas e

rurais, incluindo ações de vigilância, promoção, prevenção, proteção, assistência,

reabilitação, educação permanente, informação e comunicação em saúde do

Page 93: SOLANGE DE F TIMA CARDOZO DANELUZ) - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Solange de Fatima Cardozo Daneluz.pdf · de assistência tradicional em reabilitação profissional foi criado,

92

trabalhador.

A Renast constitui-se a principal estratégia do Sistema Único de Saúde para a

implantação e implementação das ações de Saúde do Trabalhador em todos os

municípios do país, que deverão desenvolver ações compatíveis com os estágios de

diferenciação do SUS em cada região ou cidade, de forma descentralizada,

hierarquizada e compartilhada entre os níveis de gestão.

A atenção integral em Saúde do Trabalhador desenvolve-se em todos os

pontos da rede de atenção do SUS, desde a atenção primária, incluindo a estratégia

da Saúde da Família, até os serviços de média e alta complexidade, que compõem a

rede de serviços sentinela em Saúde do Trabalhador, centros de referência em

Saúde do Trabalhador, redes de Vigilância em Saúde e outras instâncias do SUS.

Cumpre ressaltar que as ações de Saúde do Trabalhador devem ter como

eixo norteador a vigilância em saúde do Trabalhador a ser desenvolvida de forma

articulada especialmente com os demais componentes da vigilância em saúde e com

a atenção primária.

Centro Estadual de Referência em Saúde do Trabalhador – Os Cerest

Estaduais têm como atribuição dar apoio técnico-científico, de forma matricial, como

meio de assegurar retaguarda especializada e suporte técnico-pedagógico para as

equipes dos Cerest Regionais e demais áreas técnicas no âmbito estadual.

Devem desenvolver projetos estruturadores para a produção de

conhecimento e tecnologias que articulem ações de assistência, reabilitação,

promoção, prevenção, vigilância em saúde, produção e comunicação de

informações, em áreas e problemas identificados como prioritários para o estado.

Esses projetos também devem ter como objetivo priorizar a produção de tecnologias

de intervenção em vigilância em saúde do trabalhador aplicáveis em larga escala,

visando à melhoria das condições de trabalho e dos processos produtivos.

Centro de Referência Regional em Saúde do Trabalhador – O Centro de

Referência Regional em Saúde do Trabalhador (Cerest) deve ser compreendido

como uma ferramenta estratégica para a disseminação das práticas em saúde do

trabalhador na rede do SUS, no âmbito de uma região de saúde. Dessa forma, o

Cerest representa, no âmbito de um determinado território, um polo irradiador da

cultura especializada subentendida na relação processo de produção/saúde/

Page 94: SOLANGE DE F TIMA CARDOZO DANELUZ) - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Solange de Fatima Cardozo Daneluz.pdf · de assistência tradicional em reabilitação profissional foi criado,

93

trabalho/meio ambiente, assumindo a função de suporte técnico e científico, deste

campo do conhecimento, junto aos profissionais de todos os serviços da rede do

SUS nele existentes, orientando-os nas suas práticas de atenção. Este suporte não

se deve traduzir, unicamente, pela função de núcleo de inteligência, de supervisão

ou de capacitação desta rede de serviços, mas deve, necessariamente, concretizar-

se em práticas conjuntas de intervenção especializada e, particularmente, em

práticas de vigilância e de assistência especializada, de maior complexidade.

Em decorrência do seu papel disseminador, o Cerest deve solicitar ao gestor

a inclusão de temas relacionados à Saúde do Trabalhador nas pautas de reunião do

Colegiado de Gestão Regional da sua área de abrangência, bem como acompanhar

as discussões e, pela mesma razão, deve-se relacionar, continuamente, com as

instâncias da Educação Permanente em Saúde. As atividades do Cerest só fazem

sentido se articuladas com os demais serviços da rede do SUS, orientando-os e

fornecendo retaguarda nas suas práticas, de forma que os agravos à saúde

relacionados ao trabalho possam ser acolhidos em todos os níveis de atenção do

SUS, de forma integral e hierarquizada. Além dessa função de matriciamento da

rede de serviços do SUS e de retaguarda especializada, o Cerest deve concretizar

práticas conjuntas de intervenção, principalmente ações de vigilância.

Centro de Referência em Saúde do Trabalhador Municipal – A

implantação de Cerest, de abrangência municipal, está condicionada a uma

população superior a 500 mil habitantes, sendo que os Cerest já habilitados, de

abrangência regional, somente poderão alterar sua área de abrangência mediante

prévia aprovação da Comissão Intergestores Bipartite (Portaria MS/GM n. 2.728,

2009).

Como o financiamento das ações de qualquer tipo de Cerest se dá,

principalmente, através do Bloco Atenção de Média e Alta complexidade

Ambulatorial e Hospitalar, e estando o Cerest municipal localizado em um município

de grande porte (acima de 500 mil habitantes), infere-se, portanto, que esse

município possa ser referência para a região e até mesmo sede de micro ou

macrorregião, conforme o Plano Diretor de Regionalização de cada estado, que tem

como um de seus objetivos a organização da assistência, considerando os níveis de

complexidade e de capacidade instalada dos municípios da região.

A regionalização objetiva garantir o direito da população à saúde, reduzindo

Page 95: SOLANGE DE F TIMA CARDOZO DANELUZ) - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Solange de Fatima Cardozo Daneluz.pdf · de assistência tradicional em reabilitação profissional foi criado,

94

as desigualdades sociais e territoriais por meio da identificação e reconhecimento

das Regiões de Saúde. Sendo assim, mesmo com o uso e gestão do recurso

financeiro voltados para o município, o Cerest municipal tem um papel importante no

setor de saúde, enquanto unidade de referência inserida no nível de média e alta

complexidade, tanto para as ações de assistência quanto para as de vigilância.

Unidade Sentinela em Saúde do Trabalhador – A expressão mais

capilarizada da saúde do trabalhador no SUS é a Unidade Sentinela em Saúde do

Trabalhador, mapeada e definida pelos gestores e técnicos dos municípios, sendo

habilitada por processo de pactuação no respectivo Colegiado de Gestão Regional,

por meio de um termo de adesão intergestores.

As Unidades Sentinelas constituem-se em qualquer unidade ou serviço de

saúde já implantado, com cadastro no Código Nacional de Estabelecimentos de

Saúde (CNES), cujo atendimento gere informações de relevância para a saúde do

trabalhador.

Atuam na identificação, investigação epidemiológica, diagnóstico e notificação

dos casos confirmados de agravos relacionados ao trabalho, exceto casos suspeitos

de intoxicações exógenas, constantes na Portaria GM/MS n. 777/2004. As

informações geradas e sistematizadas pelas Unidades Sentinelas subsidiam as

ações de prevenção e vigilância em saúde do trabalhador.

Município Sentinela – Os municípios com atividades econômicas, que

revelam dados epidemiológicos, previdenciários, que indiquem fatores de risco à

saúde significativos, oriundos de processos de trabalho em seus territórios, de

grande relevância para a saúde do trabalhador e para o meio ambiente, são aqui

denominados de Municípios Sentinelas. Deve ser compreendido como uma

estratégia de enfretamento de situações que forem apontadas como problemas

relacionados à relação saúde-trabalho-ambiente, desenvolvendo políticas de

promoção da saúde, norteadas pelo princípio da sustentabilidade, além de fortalecer

o acesso do trabalhador às ações integradas de vigilância e de assistência, com

participação e controle social.

Para a consolidação dos Municípios Sentinelas devem ser respeitadas as

diretrizes amplamente destacadas na consolidação do Sistema Único de Saúde:

(a) os princípios da descentralização e da regionalização, aqui enfatizados,

Page 96: SOLANGE DE F TIMA CARDOZO DANELUZ) - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Solange de Fatima Cardozo Daneluz.pdf · de assistência tradicional em reabilitação profissional foi criado,

95

porque as ações devem ser geradas no âmbito municipal, mas também abarcando

os municípios vizinhos, exigindo, portanto, estratégias de pactuação;

(b) o da integralidade, buscando assegurar, intrassetorialmente, a associação

de ações de vigilância e assistência em Saúde do Trabalhador e, intersetorialmente,

ações articuladas através dos diferentes órgãos, inclusive os ministérios diretamente

envolvidos nas questões de saúde, trabalho e meio ambiente;

(c) o do controle social que aqui deve estar, em especial, imbuído do desafio

de monitorar os processos produtivos e, por fim,

(d) a problematização das questões relacionadas ao desenvolvimento

econômico loco-regional, pautando-se o debate sobre os desejados modelos de

desenvolvimento sustentável.

O Município Sentinela envolve critérios epidemiológicos, com base nos

agravos à saúde e ao meio ambiente relacionados aos processos produtivos, mas

também avançando na análise de outros parâmetros a serem observados nas

realidades loco-regionais, incorporando informações mais amplas sobre a situação

social e dos arranjos produtivos locais. Para mapeamentos iniciais, propõe-se o

levantamento dos principais ramos de atividade predominantes e a situação de

benefícios previdenciários associados às doenças mais significativas nos grupos

populacionais expostos, incluindo, os trabalhadores como grupo mais vulnerável

(mais exposto). Dentre os indicadores sociais mais amplos, deve ser avaliado o

Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Quanto à sistematização e organização

das informações necessárias para nortear as ações a serem desenvolvidas,

enfatiza-se a importância de serem exploradas diferentes bases e fontes de

informações, que sejam específicas e relevantes dentro das realidades loco-

regionais. Nessa perspectiva torna-se fundamental o papel dos centros de referência

e das coordenações estadual, regional e municipal, ouvidas as instâncias de

controle social.

Sobre a Gestão das Ações:

Os gestores devem organizar as ações de Saúde do Trabalhador,

considerando as dimensões de vigilância e assistência, organizando apoio para esta

atenção integral, compondo a atenção primária em saúde de forma a atender as

demandas locais. Na medida em que há uma maior amplitude populacional, de

atividade econômica e necessidade de maior densidade tecnológica resolutiva para

Page 97: SOLANGE DE F TIMA CARDOZO DANELUZ) - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Solange de Fatima Cardozo Daneluz.pdf · de assistência tradicional em reabilitação profissional foi criado,

96

a atenção integral da saúde, devem ser organizadas ações de referência e/ou

serviços específicos de Saúde do Trabalhador no município, região e estado,

pactuados nos Colegiados de Gestão Regional (CGR) e Comissão Intergestores

Bipartite (CIB), definindo linhas de cuidado e sua rede de atenção.

Os gestores devem coordenar o processo de elaboração da Política de Saúde

do Trabalhador nas três esferas de gestão, submetendo-as às suas respectivas

instâncias de pactuação e aprovação dos conselhos de saúde.

Para a implementação da Política Nacional de Saúde do Trabalhador, cada

esfera de gestão tem competências e atribuições solidárias na Renast. As

atribuições da União, estados e municípios na gestão da Renast foram

estabelecidas pela Portaria n. 2.728, de novembro de 2009.

Sobre os Sistemas de Informação e Comunicação:

Os sistemas de informação em saúde enquanto componentes de gestão

em ST

A informação, tanto para a saúde pública de um modo geral como para a

saúde do trabalhador, deve ser entendida como um instrumento indicativo de

deficiências prioritárias, levando a um planejamento responsável e à execução

oportuna de transformações necessárias. A Organização Mundial da Saúde define

Sistema de Informação em Saúde (SIS) como um mecanismo de coleta,

processamento, análise e transmissão da informação necessária para se planejar,

organizar, operar e avaliar os serviços de saúde.

No Brasil, o Ministério da Saúde disponibiliza diversos sistemas de

informação em saúde, que produzem uma enorme quantidade de dados referentes

às atividades setoriais em saúde, gerando grandes bancos de dados nacionais,

como: Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM), Sistema de Informação de

Nascidos Vivos (Sinasc), Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan),

Sistema de Informação sobre Internação Hospitalar (SIH), Sistema de Informação

Ambulatorial (SIA), entre outros.

Na Saúde do Trabalhador, os dados são obtidos, essencialmente, através da

rede de serviços de vigilância e de atenção à saúde, gerando informações nos

diversos sistemas de informação em saúde, que devem oportunizar a detecção

precoce da perda de saúde individual do trabalhador, a avaliação dos riscos

Page 98: SOLANGE DE F TIMA CARDOZO DANELUZ) - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Solange de Fatima Cardozo Daneluz.pdf · de assistência tradicional em reabilitação profissional foi criado,

97

ocupacionais e a eficácia das medidas preventivas, curativas e reabilitadoras.

Também devem contribuir para a melhoria dos cuidados de saúde e para o controle

de exposições aos riscos ocupacionais.

A utilização efetiva do Sinan permitirá a realização do diagnóstico dinâmico da

ocorrência de um acidente ou agravo em saúde do trabalhador, podendo fornecer

subsídios para explicações causais, além de vir a indicar riscos aos quais os

trabalhadores estão sujeitos, contribuindo, assim, para a identificação da realidade

epidemiológica de determinada área geográfica.

Os agravos à saúde do trabalhador de notificação compulsória, no Sinan,

foram definidos através da Portaria Ministerial n. 777/2004, e são eles: Acidente de

Trabalho Grave (incluindo o acidente de trabalho fatal e com crianças e

adolescentes), Acidente de Trabalho com Exposição a Material Biológico,

Intoxicação Exógena (incluindo a intoxicação por agrotóxicos, chumbo e benzeno),

Dermatose Ocupacional, LER/DORT, PAIR, Transtorno Mental Relacionado ao

Trabalho, Pneumoconioses e Câncer Ocupacional.

O SIM foi criado em 1975 para a obtenção regular de dados sobre

mortalidade no País. A partir da sua criação, foi possível a captação de dados sobre

mortalidade, de forma abrangente e confiável, para subsidiar as diversas esferas de

gestão na saúde pública.

Na saúde do trabalhador, o SIM pode proporcionar a produção de estatísticas

de mortalidade e a construção dos principais indicadores de saúde. A análise dessas

informações permite estudos não apenas do ponto de vista estatístico e

epidemiológico, mas também sócio-demográfico.

Tanto o SIH quanto o SIA são instrumentos importantes de controle e

avaliação, principalmente, da assistência médica provida pelo SUS e poderiam

indicar os custos com a assistência à saúde dos trabalhadores.

O Sistema de Informação da Atenção Básica (SIAB) foi desenvolvido como

instrumento gerencial dos Sistemas Locais de Saúde e incorporou em sua

formulação conceitos como território, problema e responsabilidade sanitária, estando

completamente inserido no contexto de reorganização do SUS no país.

Para a saúde do trabalhador o SIAB deve ser utilizado de forma a obter

informações sobre cadastros de famílias, condições de moradia e saneamento,

situação de saúde, produção e composição das equipes de saúde.

Outro importante sistema de informação para a saúde do trabalhador, no

Page 99: SOLANGE DE F TIMA CARDOZO DANELUZ) - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Solange de Fatima Cardozo Daneluz.pdf · de assistência tradicional em reabilitação profissional foi criado,

98

contexto das intoxicações ocupacionais, é o Sistema Nacional de Informações

Tóxico-Farmacológicas (Sinitox). Esse sistema tem como principal atribuição

coordenar a coleta, a compilação, a análise e a divulgação dos casos de intoxicação

e envenenamento notificados no país. Os registros são realizados pela Rede

Nacional de Centros de Informação e Assistência Toxicológica (Reneciat), composta

por 37 unidades, localizada em 19 estados brasileiros.

Importantes sistemas de informação para a saúde do trabalhador estão

inseridos em outros Ministérios, como é o caso do Dataprev do Ministério da

Previdência e Assistência Social, que deve ser utilizado com cautela, pois só

contempla os trabalhadores segurados.

A Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) e o Cadastro Geral de

Empregados e Desempregados (Caged) são sistemas de informação do Ministério

do Trabalho e Emprego. A RAIS constitui um instrumento de fundamental

importância para o acompanhamento e a caracterização do mercado de trabalho

formal. O Caged constitui importante fonte de informação do mercado de trabalho de

âmbito nacional e de periodicidade mensal. Foi criado como instrumento de

acompanhamento e de fiscalização do processo de admissão e de dispensa de

trabalhadores regidos pela CLT, com o objetivo de assistir os desempregados e de

apoiar medidas contra o desemprego.

Enfim, para a caracterização eficiente do perfil epidemiológico da saúde dos

trabalhadores, a partir de fontes de informação, faz-se necessário o

comprometimento articulado intra e inter setorialmente, para o alcance de ações

eficazes em saúde do trabalhador.

4.2.2 Etapa 03: teorização

Na etapa da teorização, o ponto de partida foram os pontos chaves, cada

profissional trouxe sua contribuição através de artigos acadêmicos atuais e textos

desenvolvidos pelas políticas públicas das instituições envolvidas. Estes textos

foram lidos pelos participantes e no decorrer das leituras foram acrescentados novos

achados bibliográficos relacionados aos pontos selecionados, que serviram como

referencial teórico para esta pesquisa. Os apontamentos originados pelas oficinas

Page 100: SOLANGE DE F TIMA CARDOZO DANELUZ) - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Solange de Fatima Cardozo Daneluz.pdf · de assistência tradicional em reabilitação profissional foi criado,

99

foram confrontados e confirmados, através de um amplo debate teórico.

Selecionamos os que mais se aproximavam com a realidade do grupo e percebemos

que houve uma construção teórica a partir do resgate de alguns períodos da história,

importantes para o entendimento da organização da saúde e da doença como

praticas sociais, que esclarecem o papel que integralidade exerce hoje, colaborando

para plena realização dos ideais do Sistema Único de Saúde (SUS).

Foi discutida a relação entre a saúde e as condições gerais de vida do

trabalhador, a complexidade para a formulação do modelo de campo de saúde do

trabalhador, segundo a qual a saúde é determinada por múltiplas variáveis que se

agrupam nas seguintes categorias: determinantes de saúde - desencadeador

biológico (doenças e acidentes de trabalho), determinantes sociais (desemprego,

não trabalho e o retorno ao trabalho) e condicionantes ecológicos ambientais

(ambiente e organização do trabalho).

Alguns textos e artigos deflagraram o reconhecimento da integralidade como

princípio fundamental do modelo de intervenção que se deseja e que deverá

articular ações de reabilitação, recuperação, proteção, prevenção e, principalmente,

promoção em saúde.

Também foi ressaltado o papel da promoção de saúde, que coloca desafios

teóricos e estratégicos para a construção de novas práticas e compromissos

públicos em torno da produção da saúde. Analisamos alguns de seus fundamentos,

utilizando como eixos as políticas públicas saudáveis, os ambientes favoráveis, a

reorientação dos serviços de saúde, o fortalecimento da ação comunitária e o

desenvolvimento de habilidades pessoais, além dos atributos necessários para o

desenvolvimento desse modelo, como o empoderamento da população, a

concepção holística, a intersetorialidade, a participação social, a equidade, a

sustentabilidade e ações multiestratégicas.

Importantes contribuições para aprofundar a reflexão foram obtidas nos

estudos de Dias (2001), Dias e Hoefel (2005), Franco e Magalhães Júnior (2003),

Sícoli e Nascimento (2003), Buss (2000), Pinheiro e Mattos (2003), De Seta e Reis

(2009), Lacaz e Sato (2006), Mendes (2007), Porto e Almeida (2002), Braga Júnior

(2006), Vasconcellos, Almeida e Guedes (2010).

Verificamos que houve uma mudança teórica, pois os conceitos eleitos

originaram a possibilidade de se rever as posições e aprofundar os conhecimentos,

dando origem a uma consciência muito maior do problema e da sua influência sobre

Page 101: SOLANGE DE F TIMA CARDOZO DANELUZ) - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Solange de Fatima Cardozo Daneluz.pdf · de assistência tradicional em reabilitação profissional foi criado,

100

o meio social.

4.3 III oficina de trabalho

4.3.1 Etapa 04: hipóteses de soluções

Após aprofundamento do “conhecimento”, do olhar através de diversos

ângulos o mesmo foco, de refletir sobre os pontos-chave (suas indagações iniciais),

de comparar a realidade com a teorização, partimos para a formatação das

hipóteses de soluções. Sugerimos que os profissionais envolvidos nessas oficinas

socializassem as hipóteses internamente nas instituições de origem e

posteriormente as reconduzissem ao grupo, como sugestões efetivas para aplicação

à realidade. Foram pontuadas as seguintes proposições:

1. Identificar a rede de atenção integral à saúde do trabalhador,

reconhecendo a abrangência de seu campo de ação, seu caráter intrassetorial

(envolvendo todas as esferas de governo) e intersetorial (envolvendo a Previdência

Social, Trabalho, Meio Ambiente, Justiça, Educação e demais setores relacionados

com as políticas de desenvolvimento), de forma interdisciplinar. Preferencialmente

com a gestão participativa dos trabalhadores, no município de Chapecó.

2. Responsabilizar a qualificação e educação permanente, a atenção

prestada aos usuários da rede municipal, estimulando que a atenção básica

incorpore e funcione na perspectiva da Saúde do Trabalhador, articulada com a

vigilância em saúde para o estabelecimento da relação entre o agravo ou doença

com o trabalho e do registro no sistema de informação, possibilitando coletivizar o

fenômeno e estabelecer procedimentos de vigilância que modifiquem as condições e

ambientes de trabalho geradores de doenças.

3. Organizar o processo de trabalho no espaço territorial da Atenção Básica –

porta de entrada do sistema. Com efetivação da vigilância à saúde no espaço

territorial da unidade, cuidado clínico adequado e gerenciamento para a

continuidade de atenção em rede quando necessário. Através de equipes de

Page 102: SOLANGE DE F TIMA CARDOZO DANELUZ) - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Solange de Fatima Cardozo Daneluz.pdf · de assistência tradicional em reabilitação profissional foi criado,

101

referência especializada para apoio ao matriciamento, na intenção de assegurar

retaguarda às equipes e profissionais da estratégia de saúde da família na atenção

aos problemas da saúde do trabalhador, ampliando a possibilidade de realizar a

clínica ampliada e a integração dialógica entre as distintas especialidades e

profissões, envolvidas na intervenção.

4. Mapear e identificar os fatores de risco e de proteção à saúde do

trabalhador, existentes na estrutura e na dinâmica que compõem o território em que

vive a população adstrita, delimitados como objeto de atuação dos profissionais das

unidades de saúde, utilizando tecnologia de geoprocessamento e mapas

inteligentes.

5. Possibilitar ao Serviço Municipal de Reabilitação atuar como um serviço de

referência em assistência à saúde do trabalhador, e que, tão logo receba as

formalizações requeridas pela Previdência Social, possa iniciar o atendimento a

todos os segurados do INSS, sem distinção de empresa ou tempo de afastamento, e

que todos que recebam os benefícios decorrentes de algum tipo de transtorno,

músculo esqueléticos, ou acidente de trabalho, desde que residentes no município,

possam ser atendidos pela equipe multidisciplinar, através de um modelo terapêutico

de atenção integral e integrado, ultrapassando a intervenção clínica individualizada e

centrado nos aspectos físicos e na compatibilidade dos adoecidos no trabalho,

reconhecendo as limitações em outras dimensões, como a emocional, relacional e

social, e desenvolvendo novos recursos adaptativos para o resgate da autonomia

dos adoecidos, não só para o trabalho, mas para a vida em geral.

6. Incrementar a equipe multidisciplinar do Cerest e do Serviço Municipal de

Reabilitação, através de concurso público e parceria institucional com os cursos de

graduação na área da saúde, prevendo que todos os profissionais contratados

sejam capacitados para o trabalho em equipe e assim tenham maior precisão nas

ações integradas e, principalmente, possam reinserir estas pessoas no direito ao

trabalho, ao convívio social e à cidadania.

7. Criar grupos de trabalhadores em reabilitação profissional com o objetivo

de intervir na relação saúde/trabalho do trabalhador inapto e/ou com restrições

Page 103: SOLANGE DE F TIMA CARDOZO DANELUZ) - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Solange de Fatima Cardozo Daneluz.pdf · de assistência tradicional em reabilitação profissional foi criado,

102

definitivas de saúde para o cargo que integra, buscando a valorização profissional e

a máxima produtividade em atividade compatível com o potencial laborativo

apresentado.

8. Oferecer ao trabalhador com restrição de capacidade laborativa, atividades

coletivas que visem evitar o agravamento de sua saúde por questões emocionais,

decorrentes do processo de reabilitação, bem como estimulá-lo a reconhecer o seu

potencial laboral e a sua co-responsabilidade no processo saúde/doença.

9. Promover na rede de atenção à saúde mental, a inclusão dos

trabalhadores, visando à prevenção e à redução dos riscos psicossociais no

desenvolvimento de suas atividades laborais. Formalizar parcerias que propiciam

ações de prevenção e serviços de assistência terapêutica, tendo como eixo

estruturante um conjunto de medidas educativas, preventivas, assistenciais e de

reabilitação, sendo focos prioritários as áreas de transtornos mentais e de

comportamento, dependências químicas e prevenção do estresse.

10. Criar um canal de comunicação entre a perícia médica do INSS, e a

equipe multidisciplinar do Serviço Municipal de Reabilitação e o Cerest, com a

finalidade de ampliar a atuação numa avaliação global, respeitando as necessidades

dos casos avaliados e as competências profissionais, de forma a que os

encaminhamentos dos trabalhadores aos serviços de saúde da rede pública do

município possam ser referenciados e contrarreferenciados.

11. Promover grupos de retorno ao trabalho aos segurados da Previdência

Social, acidentados e adoecidos do trabalho, encaminhados pela Perícia Médica do

INSS, através de atividades terapêuticas que envolvam a profissionalização e a

negociação com as empresas para que a recolocação dos reabilitados seja em

funções compatíveis.

12. Assegurar que as empresas que resistem em reconhecer as doenças

ocupacionais como uma problemática decorrente das condições de trabalho, que

não acolhem, adequadamente, os adoecidos reabilitados e descumprem as

condições acordadas nas negociações de retorno, sejam responsabilizadas e que

Page 104: SOLANGE DE F TIMA CARDOZO DANELUZ) - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Solange de Fatima Cardozo Daneluz.pdf · de assistência tradicional em reabilitação profissional foi criado,

103

propiciem o efetivo reconhecimento dos direitos do segurado, diminuam a existência

de conflitos institucionais e possibilitem um melhor gerenciamento dos fatores de

riscos ocupacionais.

13. Garantir ao GARP a continuidade da alocação dos recursos humanos e

materiais, mantendo apoio institucional e respaldo político das diversas instituições

públicas e privadas, para que os assistidos possam ter uma percepção positiva do

programa, legitimando e aproximando os sindicatos e a associação dos adoecidos.

14. Repensar o GARP como grupo local de estudo e discussão permanente

sobre a elaboração e monitoramento da execução das políticas, planos, programas

e ações em Saúde do Trabalhador, fomentando a educação permanente como eixo

desta proposta. Utilizar a proposta da “Pedagogia Problematizadora” com formato

preparação-capacitação dos agentes públicos (profissionais trabalhadores do SUS)

para a vigilância das relações saúde-trabalho, em comunidades ampliadas de

intervenção com os próprios trabalhadores da indústria frigorífica.

15. Desenvolver ações que permitam uma melhoria do fluxo de informações

em Saúde do Trabalhador, como:

- Discutir e construir juntamente com as vigilâncias e com a assistência, o

fluxo e instrumentos para registro, recebimento, triagem e entrada das informações

nos sistemas disponíveis.

- Identificar as realidades locais para o estabelecimento das necessidades de

capacitação e infraestrutura.

- Realizar capacitações junto às equipes de assistência e vigilância para a

implementação das ações e fluxos de informação.

- Monitoramento dos dados e retorno das análises realizadas pelos Cerest e

por todas as esferas de gestão.

- Buscar e analisar as informações primárias e secundárias de diversas fontes

sobre os setores produtivos dentro de seu território. Dentre as fontes tem-se:

Sistemas de Informação Epidemiológicos (Sinan, SIM, Sinasc, SIAB, SIA, SIH),

Eventos Sentinelas, RAIS/Caged, CAT, Dataprev, Sinitox e outros.

Page 105: SOLANGE DE F TIMA CARDOZO DANELUZ) - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Solange de Fatima Cardozo Daneluz.pdf · de assistência tradicional em reabilitação profissional foi criado,

104

4.3.2 Etapa 05: aplicação a realidade (prática)

Para cumprirmos a última etapa da metodologia — aplicação à realidade

(prática) — contamos com o retorno das proposições formatadas de apenas duas

instituições participantes. A seguir apresentamos uma síntese das propostas,

identificando as instituições com os números 01 e 02 para garantir o sigilo das

proponentes. Ressaltamos que o objetivo desta pesquisa foi reunir material que

apoie uma construção efetiva, concreta e integral das ações de saúde do

trabalhador.

A instituição 01 destacou algumas situações definidas como “limitações

técnicas”:

— Devido ao fato de o GARP compreender atividades fragmentadas entre

diversas instituições, coube a esta equipe técnica apenas o procedimento de

vistorias, não tendo contato direto com os trabalhadores no período em que o

projeto piloto foi desenvolvido. Em função disso, não pode apropriar-se

plenamente da real condição psíquica e física dos trabalhadores,

desconhecendo, em partes, suas limitações/incapacidades para o retorno ao

trabalho. Essa situação dificultou a relação a ser estabelecida nas vistorias, pela

qual os postos de trabalho sugeridos deveriam atender às particularidades do

quadro clínico de cada trabalhador.

— As atividades desenvolvidas no GARP demandaram muito tempo de trabalho,

não só deste serviço, mas também das demais instituições participantes. Dessa

forma, torna-se inviável mantê-lo nesse formato, uma vez que há no município

demanda considerável de trabalhadores que necessitam ser reabilitados e

posteriormente readaptados em diferentes postos de trabalho e que outras

instituições relacionadas à saúde do trabalhador não demonstraram

comprometimento no desenvolvimento do projeto piloto e, por extensão, com os

trabalhadores em questão.

— Durante as atividades, esta equipe verificou que a atividade frigorífica

apresenta processos de trabalho fragmentados e uma política interna rígida. O

processo de readaptação de trabalhadores se torna complexo, pois a política

interna de algumas empresas não permite que trabalhadores migrem para

diferentes setores produtivos. Além disso, a ocupação de cargos menos

Page 106: SOLANGE DE F TIMA CARDOZO DANELUZ) - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Solange de Fatima Cardozo Daneluz.pdf · de assistência tradicional em reabilitação profissional foi criado,

105

“maçantes” geralmente se dá por trabalhadores de carreira e que, devido ao

tempo de permanência na empresa, ascendem cargos “melhores”, não podendo

esses cargos serem ocupados por trabalhadores readaptados que apresentam

restrições à atividade laboral.

— O GARP viabilizou algumas readaptações de trabalhadores a postos de

trabalho de setores diferentes àqueles anteriormente ocupados antes do

afastamento deles. Isso foi possível a partir da constatação da incompatibilidade

dos postos de trabalho às limitações funcionais do trabalhador e das condições

de saúde e segurança dos ambientes de trabalho sugeridos, bem como da

sensibilização dos profissionais do Serviço Especializado em Engenharia de

Segurança e em Medicina do Trabalho (SESMT) da empresa.

— Verificou-se a necessidade de manter uma relação mais direta com o Serviço

de Reabilitação, discutindo-se limitações funcionais dos trabalhadores,

sugestões de postos de trabalho e condições de retorno. A partir dessa maior

interação entre serviços há uma melhor visualização das condições psíquicas e

físicas dos trabalhadores de modo a permitir vistorias mais criteriosas dos

ambientes de trabalho.

Os integrantes da instituição 02 fizeram as seguintes considerações:

— Percebeu-se que, devido ao quadro crônico de dor e pelo longo tempo de

afastamento do trabalho, houve diminuição do convívio social, mudança na

rotina familiar e assunção de novos papéis neste contexto. O homem passa a

exercer o cuidado com os filhos, assume algumas tarefas domésticas, deixa de

ser o principal mantenedor da família e, em alguns casos, restringe sua

convivência ao âmbito familiar. A mulher, por vezes, não consegue desempenhar

tarefas que qualificam seu papel sociofamiliar de esposa e mãe. Essas

alterações no desempenho de papéis já internalizados podem ser sentidos como

perda da identidade profissional e sociofamiliar, gerando sentimentos de desvalia

na relação consigo e com o meio em que vive.

— Observaram-se fragilidades no atendimento ao trabalhador pela dificuldade

na articulação da rede tanto na atenção básica quanto na especializada, número

reduzido de consultas, demora excessiva para realização de exames. No

sistema previdenciário, excessivo tempo de espera para realização de perícias e

insatisfação com a qualidade do atendimento dispensada pelos peritos.

— Percebeu-se a ausência de outros atores que não foram inseridos no

Page 107: SOLANGE DE F TIMA CARDOZO DANELUZ) - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Solange de Fatima Cardozo Daneluz.pdf · de assistência tradicional em reabilitação profissional foi criado,

106

projeto e fazem parte da rede assistencial, como sindicatos, empresas, Unidade

Básica de Saúde e ESF, Centro de Referência em Assistência Social (Cras). No

decorrer do projeto piloto a participação e o envolvimento dos atores não se fez

de forma equânime, dificultando, por vezes, a efetividade de seu

desenvolvimento.

— A consequência da falta de articulação social dificulta o acesso à

informação e o atendimento, contribuindo para o adoecimento dos trabalhadores

e da sociedade. Existe uma produção de sofrimento desencadeada pela

desarticulação da rede assistencial que, ao invés de cumprir seu papel na

proteção social ao trabalhador, acaba por desprotegê-lo em seu momento de

maior vulnerabilidade.

— A realização do projeto possibilitou compreender melhor a realidade do

trabalhador adoecido no município de Chapecó, além de possibilitar uma

tentativa de articulação da rede assistencial. Percebeu-se a necessidade urgente

do estabelecimento de um fluxo de atendimento em saúde do trabalhador, uma

parceria mais efetiva entre os atores que possibilite a continuidade do projeto e o

estabelecimento de uma proposta eficaz no atendimento à saúde do trabalhador.

Convém salientar que, além das respostas enviadas pelas instituições,

constatamos que várias ações pontuais têm sido desenvolvidas no município de

Chapecó, decorrentes do diálogo fomentado pelo GARP, num movimento de

ampliação e de interlocução das parcerias interinstitucionais que passaram a

efetivar apoio e estão transformando o cenário e atuando de forma concreta.

Em 2009 e 2010 alguns fatos importantes devem ser destacados, como a

aproximação das instituições de ensino superior da área da saúde, com

desenvolvimento de projetos de pesquisa e de reorientação na formação de

profissionais na rede municipal de saúde. Destacam-se, nesse contexto, a

articulação com dois programas lançados pelo Ministério da Saúde em 2005 e

2010, respectivamente: o Programa Nacional de Reorientação da Formação

Profissional em Saúde (Pró-Saúde) e o Programa de Educação pelo Trabalho

para a Saúde (PET-Saúde). O primeiro contempla cursos de graduação da área

da saúde, visando assegurar uma abordagem integral do processo

saúde/doença com ênfase na atenção básica. O outro disponibiliza bolsas para

tutores, preceptores (profissionais dos serviços) e também para estudantes de

graduação da área da saúde.

Page 108: SOLANGE DE F TIMA CARDOZO DANELUZ) - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Solange de Fatima Cardozo Daneluz.pdf · de assistência tradicional em reabilitação profissional foi criado,

107

Igualmente relevantes foram o estabelecimento de diálogo entre a Justiça do

Trabalho, as empresas frigoríficas, a Secretaria de Saúde e o Ministério Público

do Trabalho para determinar responsabilidades na assistência à saúde do

trabalhador; a incorporação da saúde do trabalhador no Plano de Saúde

Municipal — tema discutido pelos gestores, trabalhadores da saúde e controle

social por meio do Conselho Municipal de Saúde — e a parceria entre a

Secretaria de Saúde e uma instituição de ensino para ampliar a oferta na

assistência ao trabalhador.

Page 109: SOLANGE DE F TIMA CARDOZO DANELUZ) - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Solange de Fatima Cardozo Daneluz.pdf · de assistência tradicional em reabilitação profissional foi criado,

5 DISCUSSÃO

Quanto ao questionamento inicial sobre quais as atribuições e as ações

interdisciplinares e interinstitucionais envolvidas na implementação do GARP,

constatamos, durante o processo de trabalho originado pelas oficinas, que a maioria

dos profissionais que participam do grupo é composta por funcionários públicos

efetivos que prestaram concurso. A estrutura física, os equipamentos e insumos

oferecidos pelas instituições para o desenvolvimento das atividades propiciam boas

condições de trabalho. Foi também evidenciada a valorização do saber desses

profissionais em todas as fases do projeto piloto, bem como a credibilidade neles

depositada para essa articulação intersetorial.

Observamos que as ações em saúde atribuídas pelas instituições à equipe de

trabalho do GARP, como o planejamento, o acolhimento dos segurados, a

participação nas reuniões de equipe para estudo e discussão de casos e nos

encontros com o grande grupo para os encaminhamentos do projeto e as visitas aos

locais de trabalho dos segurados representaram práticas propiciadoras de um

trabalho efetivamente interdisciplinar.

Sobre as principais dificuldades enfrentadas pelos profissionais e pelas

instituições no processo de implantação do projeto piloto, constatamos que a

construção da prática interdisciplinar é o principal desafio. E isso ficou evidente nas

falas dos participantes das oficinas, que declararam não haver diálogo entre os

profissionais das diferentes instituições que iriam desenvolver o projeto piloto. Eles

assinalaram o fato de que os gestores das instituições não instrumentalizaram os

profissionais que iriam executar as atividades com os segurados no trabalho em

grupo, ressaltando que foram entendendo o projeto piloto durante a sua execução.

Segundo esses profissionais, o GARP enfrentou momentos muito difíceis,

situações-limite para encaminhamentos aos serviços especializados, principalmente

consultas de ortopedia e psiquiatria, bem como dificuldades de acesso aos serviços

durante o processo de acompanhamento dos segurados (exames de imagem,

principalmente). Eles lamentaram a falta de continuidade das ações após o

encerramento das atividades do grupo que trabalhava diretamente com os

segurados.

Os profissionais manifestaram sensibilidade em relação ao desgaste do

Page 110: SOLANGE DE F TIMA CARDOZO DANELUZ) - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Solange de Fatima Cardozo Daneluz.pdf · de assistência tradicional em reabilitação profissional foi criado,

109

trabalhador durante o processo de reconhecimento de sua doença, sentindo-se

muitas vezes impotentes por causa da falta de autonomia para interferir no processo.

Atribuíam isso ao fato de que as instituições envolvidas estão subordinadas a

diferentes esferas de governo e instâncias decisórias. Há múltiplas diretrizes e

protocolos, leis e normas, formas de gestão, interesses e atribuições distintas e

muitas vezes divergentes, o que inviabiliza a sinergia e a sintonia entre as ações e

impede sua eficiente integração.

Mesmo trabalhando na ótica de equipe interdisciplinar, perdeu-se a

oportunidade de concretizar uma mudança no modelo assistencial centrado na

prática biomédica. A figura do médico especialista ou do médico perito ainda é a

referência e aparece como que diminuindo a importância do trabalho realizado sob o

manto da integralidade. Verificou-se certo descomprometimento e distância da

prática desejada, que deve ser centrada na comunicação entre os profissionais,

levando em conta toda a complexidade do processo saúde/doença.

Os participantes das oficinas entendem que a prática interdisciplinar deve ser

norteadora do processo de trabalho e que os profissionais devem se pautar na

construção de um espaço para o diálogo troca de informações e conhecimentos,

assumindo uma responsabilidade coletiva.

Apesar de não existir um fluxograma específico para o trabalhador na rede

básica, na maioria dos casos, no momento em que a queixa do usuário fugia do

núcleo de competência dos profissionais da rede, procurou-se dar o

encaminhamento mais próximo da resolubilidade.

Notamos que geralmente, quando um profissional concebe a complexidade

desse processo, ele sente a necessidade de buscar uma interação dialógica com

outros profissionais para ampliar o olhar sobre determinada situação, porém, muitas

vezes não encontra uma solução definitiva para o encaminhamento do caso, por

falta de uma estrutura definida da rede.

Ficou nítida nas discussões a necessidade de trabalhar noções básicas para

fundamentar esse projeto e também a relutância em admitir que há diferentes

concepções, conceitos cristalizados e modelos de organização que dificultam uma

ação integrada, que provocam a fragmentação das responsabilidades das

instituições, com multiplicidade de ações desconectadas, estanques, de forma não

articulada e distanciadas entre si. Os representantes das instituições justificam que

os conceitos dos diferentes profissionais foram construídos a partir de experiências e

Page 111: SOLANGE DE F TIMA CARDOZO DANELUZ) - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Solange de Fatima Cardozo Daneluz.pdf · de assistência tradicional em reabilitação profissional foi criado,

110

estudos na área. Eles não falam de conceitos cristalizados ou inflexíveis, mas sim de

conceitos elaborados com base em diretrizes nacionais e na legislação.

Cabe ainda assinalar a postura das empresas que ignoram ou dão pouca

importância a essa problemática, não desempenhando a responsabilidade social

empresarial. Esta prevê o exercício da cidadania responsável, que respeita o

indivíduo e o trabalhador, evitando qualquer tipo de discriminação, adotando um

comportamento justo frente às demissões, preocupando-se com a capacitação

profissional, com questões relacionadas à saúde e à segurança dos funcionários.

Muitas agem como se nenhuma medida precisasse ser adotada, mesmo quando são

autuadas.

Outra questão preocupante é a fragilidade das relações entre trabalhadores,

empresa e sindicato. Sabe-se que quando a empresa promove interlocução

transparente com as entidades sindicais, num diálogo em torno de objetivos

compartilhados, e adota uma política de gestão participativa, estimula o

envolvimento dos funcionários em atividades que possibilitam o desenvolvimento

pessoal, profissional e a conquista de metas estabelecidas nesses espaços de

representação social. Essas ações contribuem para condições dignas de vida, de

saúde e de trabalho.

Com referência à contribuição para a assistência integral à saúde do

trabalhador na rede básica de saúde do município, cabe destacar que, ao se

promover o exercício de uma escuta ampliada, que inclua questões relativas ao

trabalho e não trabalho na abordagem da família dá-se grande contribuição para a

mudança de mentalidade das equipes de saúde, no modo de funcionamento da ESF

e na extensão de sua territorialidade. No entanto, a ESF esteve ausente o tempo

todo nas discussões do projeto e também não foi convidada, lembrada ou ao menos

citada como parte da rede de atenção à saúde.

A discussão do projeto piloto foi remetida a um plano ambulatorial, curativo,

reabilitador, em que a articulação intrassetorial se apresenta como uma

responsabilidade institucional com pequeno impacto na intervenção sobre os

ambientes, territórios e nos processos de trabalho nocivos à saúde.

Existe o desejo de articular uma rede de atenção à saúde do trabalhador,

alicerçada na disponibilidade de recursos para atender o trabalhador em toda a linha

de cuidado, especialmente para a ampliação da oferta na atenção especializada.

Mas apenas isso não basta. Há de se ter a regulação na rede prestadora de serviços

Page 112: SOLANGE DE F TIMA CARDOZO DANELUZ) - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Solange de Fatima Cardozo Daneluz.pdf · de assistência tradicional em reabilitação profissional foi criado,

111

ao SUS, principalmente dos seus fluxos e dos contratos do setor privado, que dão a

retaguarda na complementaridade do atendimento. Esse ponto não foi objeto desta

pesquisa, mas acabou transparecendo em muitas situações vivenciadas.

É de fundamental importância a normalização dos fluxos de referência e

contrarreferência para que o usuário e os trabalhadores da saúde reconheçam a

rede de atenção à saúde do trabalhador. Quando são utilizados parâmetros

assistenciais para os centros de saúde gerenciarem as demandas de seu território é

garantida uma referência segura aos diversos níveis de complexidade da atenção e

a contrarreferência para a ESF na Unidade Básica.

Quando a equipe de saúde é responsável pela gestão do projeto terapêutico

e recebe avaliação permanente das prioridades assistenciais, passa a orientar os

encaminhamentos, analisar a pertinência das intervenções utilizadas e adequar a

intervenção à situação problemática que a originou.

Na atenção básica deve haver estudo permanente da relação existente entre

os objetivos das intervenções e os meios empregados. Ao conhecer o modo como

os recursos são utilizados para produzir o serviço, bem como os recursos

empregados em relação aos efeitos obtidos (custo/benefício) e a influência que o

projeto terapêutico tem sobre o estado de saúde do indivíduo, os profissionais

conseguem determinar a eficácia dos serviços prestados e modificá-los quando

necessário.

A principal contribuição observada nesse modelo é a fundamentação,

associada à articulação dos “saberes”, pois a intersetorialidade, no seu “fazer”

articulado, propõe-se a oportunizar a superação da fragmentação das políticas e das

ações. Quando realmente há comunicação entre os “saberes” e os “fazeres”, há um

processo de construção.

Ficou claro que todo o processo de intervenção que se propõe a desenvolver

ações coletivas provoca também reações. Essas reações se tornaram os maiores

entraves à implementação do GARP, abortando a realização de algumas ações e

dando outros encaminhamentos que não satisfaziam a necessidade real. Nesse

“jogo de forças” alguns resultados se anularam e não permitiram legitimar todos os

objetivos do projeto.

O GARP desencadeou, simultaneamente, atitudes positivas e negativas dos

diversos atores sociais envolvidos. Os diferentes olhares se manifestaram por haver

contradições dominantes à lógica atual da atenção ao trabalhador. A legitimação

Page 113: SOLANGE DE F TIMA CARDOZO DANELUZ) - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Solange de Fatima Cardozo Daneluz.pdf · de assistência tradicional em reabilitação profissional foi criado,

112

desse projeto piloto, desde o início, apresentou-se como uma necessidade

estratégica a ser trabalhada pela equipe.

Esse propósito esteve sempre presente em todas as propostas formuladas

para o projeto de intervenção, no sentido de legitimar tanto o conteúdo quanto o

grupo institucional que o formulou. Entendemos que tal legitimação irá ocorrer

somente quando houver o convencimento dos participantes de que a proposta

trouxe ou poderá trazer benefícios aos atores envolvidos (trabalhadores,

profissionais e instituições) e quando eles aceitarem que o grupo que a formulou tem

o direito de fazê-lo.

Identificamos as possibilidades de construir um trabalho em equipe

interdisciplinar e intersetorial, mas há um longo caminho a percorrer, com muito mais

debates e problematizações no sentido de incorporar o conceito à prática

interdisciplinar, visando concretamente instituir mudanças na perspectiva dos

princípios norteadores e de fortalecimento do SUS, que só serão efetivadas a partir

de uma visão ampliada do processo saúde/doença.

A construção de um novo modo de operar os serviços de saúde deve ser

realizada no plano coletivo, nunca tomando uma postura institucional individualizada

ou fragmentada. Deve-se interagir, trocar conhecimentos e saberes. Com olhar

fragmentado não há forma integral, sistêmica, integrada, e infelizmente não haverá

integralidade.

Acreditamos que a integralidade não pode correr o risco de ser transformada

em um conceito, mas deve sim ser assumida como um ideal e como um dever.

Parafraseando Camargo Júnior (2003), é um ideal impossível de ser plenamente

atingido, mas do qual constantemente buscamos nos aproximar. Deparamo-nos,

portanto, com um paradoxo: a integralidade é ao mesmo tempo inalcançável e

indispensável.

Page 114: SOLANGE DE F TIMA CARDOZO DANELUZ) - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Solange de Fatima Cardozo Daneluz.pdf · de assistência tradicional em reabilitação profissional foi criado,

113

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nosso objetivo com esta investigação foi analisar um modelo de intervenção

com destaque para o papel do Sistema Único de Saúde na assistência integral à

saúde dos trabalhadores e para o desafio de atuar na perspectiva de prevenção e

promoção da saúde do trabalhador de modo integrado e articulado com os demais

órgãos públicos que atuam nessa área no município de Chapecó.

A adoção da metodologia problematizadora oportunizou, aos profissionais

envolvidos, identificar pontos fortes e fragilidades, elaborar hipóteses de solução

para os problemas levantados e sugerir ações para transformar a realidade.

Também os levou a ultrapassar a simples retenção de informações, a desenvolver

habilidades reflexivas e criativas que permitem mobilizar o cenário e adquirir outros

conhecimentos em diferentes dimensões, somando-os aos já existentes para

ressignificar conceitos e possibilidades.

Tomando como base as observações realizadas no processo de

desenvolvimento desta pesquisa, podemos afirmar que a reabilitação profissional é o

final da linha de cuidado do trabalhador e que todos os problemas encontrados são

frutos da exposição desse indivíduo aos fatores de risco das doenças e dos

ambientes de trabalho.

Percebemos a angústia dos atores envolvidos (profissionais e instituições) na

construção do Projeto Piloto de Reabilitação Profissional, diante da dinâmica

imposta pelo modelo capitalista adotado pelas empresas empregadoras e das

exigências excludentes do mercado de trabalho. Apesar do expressivo número de

estudos realizados em torno da saúde do trabalhador, ainda é infindável o campo de

conhecimento que se tem a trilhar na busca de um melhor entendimento sobre essas

questões, principalmente quando se considera o número crescente de trabalhadores

acometidos por sofrimentos relacionados ao ambiente e às condições de trabalho.

Compreendemos que os fazeres do cotidiano de cada indivíduo, em última instância,

são os que definem o perfil da assistência.

No fazer diário, o que se tem demonstrado na assistência aos trabalhadores

adoecidos são práticas descontextualizadas, não resolutivas, inadequadas para lidar

com essa realidade. Falta aos profissionais uma visão holística capaz de fazê-los

superar a intervenção focada no corpo adoecido, sem considerar a pessoa que tem

uma história enredada entre a dor, o sofrimento e a perda de identidade. Não basta

Page 115: SOLANGE DE F TIMA CARDOZO DANELUZ) - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Solange de Fatima Cardozo Daneluz.pdf · de assistência tradicional em reabilitação profissional foi criado,

114

estar preparado para atender o indivíduo quando este já estiver doente; é preciso

intervir no processo que causa o adoecimento.

Há que se reconhecer que o papel dos profissionais de saúde diante da

problemática colocada neste estudo vai muito além do debate, requerendo o

desenvolvimento de pesquisas, de atividades de educação em saúde, de

elaboração, planejamento e implementação de programas que visem à prevenção

das doenças ocupacionais e dos acidentes de trabalho, nunca esquecendo o olhar

cuidadoso sobre as manifestações psíquicas e emocionais do quadro geral e a

importância da participação efetiva nas atividades de vigilância em saúde propostas

na legislação do SUS.

Para superar os obstáculos enfrentados pelos profissionais e instituições

desse projeto piloto, é necessário muito diálogo para que eles possam contribuir

para a efetividade do princípio da integralidade no processo saúde/doença, nas

relações intersetoriais e principalmente na participação efetiva dos gestores dos

serviços. Só assim será possível favorecer mais autonomia no trabalho e melhoria

da qualidade de vida da equipe e das pessoas por ela atendidas.

Os profissionais de saúde e as instituições ainda precisam identificar

intervenções necessárias à assistência, atuar para que a qualidade de vida destas

pessoas possa ser aprimorada. Deve-se refletir sobre maneiras de “cuidar” que

levem formas de prevenção da saúde aos espaços, aos territórios, que visem

promoção e fortalecimento das ações e, principalmente, um tratamento adequado

durante a recuperação e a reabilitação do indivíduo, destacando a necessidade de

entender como o trabalhador faz, para que as suas experiências possam ser

utilizadas de forma transformadora. E quem sabe transformar a realidade que motiva

a denúncia de Sardá (2008): “Estão abatendo frangos pelo pescoço e trabalhadores

pelos membros superiores”.

Page 116: SOLANGE DE F TIMA CARDOZO DANELUZ) - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Solange de Fatima Cardozo Daneluz.pdf · de assistência tradicional em reabilitação profissional foi criado,

REFERÊNCIAS

ABEF – Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frangos. Relatório Anual. São Paulo, 2006. ABIA – Associação Brasileira das Indústrias de Alimentos. Faturamento do setor de alimentos. São Paulo: ABIA, 2008. Disponível em: <http://www.abia.org.br>. Acesso em: 12 maio 2008. AFONSO, M. L. (Org.). Oficinas em dinâmica de grupo na área da saúde: um método de intervenção psicossocial. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2006. ANASTASIOU, L. G. C.; ALVES, L. P. Estratégias de ensinagem. In: ANASTASIOU, L. G. C.; ALVES, L. P. (Org.). Processos de ensinagem na universidade: pressupostos para as estratégias de trabalho em aula. 3. ed. Joinville: Univille, 2004. p. 67-100. ANDRADE, L. O. M. A saúde e o dilema da Intersetorialidade. São Paulo: Hucitec, 2006. ANDRADE, L. O. M.; BARRET, I. C. D. E. A promoção da saúde e o movimento de cidades /municípios saudáveis: proposta de articulação entre saúde e ambiente. In: MINAYO, M. C. S.; MIRANDA, A. C. (Org.). Saúde em ambiente sustentável: estreitando nos. Rio de Janeiro: Abrasco e Ed. Fiocruz, 2002. p. 151-198. AROUCA, S. O dilema preventivista: contribuição para a compreensão e crítica da medicina preventiva. São Paulo: UNESP; Rio de Janeiro: Fiocruz, 2003. ASHTON, J. Ciudades sanas. Espanha: Masson S.A.,1993. BARBIER, R. A pesquisa-ação. Trad. Lucie Didio. Brasília: Plano Editora, 2002. BELO HORIZONTE. Secretaria Municipal de Saúde. Propostas da Secretaria Municipal de Saúde. In: VIII Conferência Municipal de Saúde: etapa municipal da XII Conferência Nacional. Anais... Belo Horizonte, MG, Brasil. Disponível em: <www.pbh.gov.br/smsa/biblioteca/gabinete/teseconfmunbh_2003.doc>. Aceso em: 15 jul. 2011.

Page 117: SOLANGE DE F TIMA CARDOZO DANELUZ) - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Solange de Fatima Cardozo Daneluz.pdf · de assistência tradicional em reabilitação profissional foi criado,

116

BERBEL, N. A. N. (Org.). Questões de ensino na Universidade: conversas com quem gosta de aprender para ensinar. Londrina: Editora da UEL, 1998. 147 p. BERKOWITZ, D. E.; FAGEL, M. J. Indústria cárnica. In: SOCIEDAD ESPAÑOLA PARA EL ESTUDIO DE LA ANSIEDAD Y EL ESTRÉS. Enciclopedia de salud y seguridad em el trabajo, v. 3, pt. 10, cap. 67, p. 16-20, 2001. Disponível em: <http://www.ucm.es/info/seas/estres_lab/enciclo/indice_gral.htm>. Acesso em: 1 fev. 2008. BERNARDO, L. C. Os significados do trabalho e da reabilitação profissional para o trabalhador incapacitado para o exercício da profissão habitual. Dissertação (Mestrado em Saúde Pública) – Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2006. BERNSTEIN, E. et al. Empowerment forum: a dialogue between guest editorial board members. In: Health Education Quarterly (Special issue. Community empowerment, participatory education and health – Part II), v. 21, n. 3, p. 281-294, 1994. BORDENAVE, J.; PEREIRA, A. Estratégias de ensino-aprendizagem. 4. ed. Petrópolis: Vozes, 1982. BRAGA JÚNIOR, D. (org.) Manual de gestão e gerenciamento. São Paulo: Rede Nacional de Atenção Integral à Saúde do Trabalhador/ Ministério da Saúde, 2006. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Políticas de Saúde. Projeto Promoção da Saúde. As Cartas da Promoção da Saúde. Brasília: Ministério da Saúde, 2002. [Carta de Ottawa, p. 19-27]. BRASIL. Lei n. 8.213, de 24 de julho de 1991. Dispõe sobre os planos de benefícios da Previdência Social e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, 14 ago. 1991. Disponível em: <http://www010.dataprev.gov.br/sislex/paginas/42/1991/8213.htm>. Acesso em: 7 abr. 2009. ______. Portaria MS/GM n 3.120, de 19 de julho de 1998. Aprova a Instrução Normativa de Vigilância em Saúde do Trabalhador no SUS. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, 14 jul. 1998a. ______. Portaria GM n. 3.908, de 30 de outubro de 1998. Estabelece procedimentos para orientar e instrumentalizar as ações e serviços de saúde do trabalhador no Sistema Único de Saúde (SUS). Diário Oficial da União, Brasília, 10 nov. 1998b. Disponível em: <http://www.anvisa.gov.br/legis/portarias/3908_98.htm>.

Page 118: SOLANGE DE F TIMA CARDOZO DANELUZ) - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Solange de Fatima Cardozo Daneluz.pdf · de assistência tradicional em reabilitação profissional foi criado,

117

Acesso em: 31 mar. 2009. ______. Decreto n. 3.298, de 20 de dezembro de 1999. Regulamenta a Lei n. 7.853, de 24 de outubro de1989, dispõe sobre a Política Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência, consolida as normas de proteção, e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil/decreto/d3298.htm>. Acesso em: 26 fev. 2010. ______. Ministério da Saúde. Política Nacional de Promoção em Saúde: documento para discussão. Brasília, 2002. ______. Portaria n. 1.679/GM, de 19 de setembro de 2002. Dispõe sobre a estruturação da rede nacional de atenção integral à saúde do trabalhador no SUS e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, 20 set. 2002. Disponível em: <http://dtr2001.saude.gov.br/sas/PORTARIAS/Port2002/Gm/GM-1679.htm>. Acesso em: 21 mar. 2009. ______. Constituição Federal. Consolidação das leis do trabalho, legislação previdenciária, código de processo civil, profissões regulamentadas: legislação complementar, súmulas. Barueri: Manole, 2004. 1949 p. ______. Ministério da Saúde. Portaria n. 125/GM de 06 de julho de 2005. Dispõe sobre os propósitos da política de saúde do trabalhador para o SUS. Disponível em: <http://dtr2001.saude.gov.br/portarias>. Acesso em: 19 jul. 2009. ______. Portaria GM n. 2.437, de 7 dezembro de 2005. Dispõe sobre a ampliação e o fortalecimento da Rede Nacional de Atenção Integral à Saúde do Trabalhador – RENAST, no Sistema Único de Saúde – SUS e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, 9 dez. 2005. Disponível em: <http://dtr2001.saude.gov.br/sas/portarias/port2005/gm/gm-2437.htm>. Acesso em: 7 abr. 2009. ______. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Perda auditiva induzida por ruído (Pair). Brasília: Editora do Ministério da Saúde, 2006a. 40 p. (Série A. Normas e Manuais Técnicos) (Saúde do Trabalhador; 5. Protocolos de Complexidade Diferenciada) ______. Ministério Previdência e Assistência Social (MPAS). Relatório final do grupo de trabalho interministerial sobre acidentes de trabalho e saúde do trabalhador. Brasília, 2006b. _______. Portaria n. 399/GM de 22 de fevereiro de 2006. Divulga o Pacto pela Saúde 2006 – Consolidação do SUS e aprova as Diretrizes Operacionais do Referido Pacto. Disponível em:

Page 119: SOLANGE DE F TIMA CARDOZO DANELUZ) - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Solange de Fatima Cardozo Daneluz.pdf · de assistência tradicional em reabilitação profissional foi criado,

118

<http://dtr2001.saude.gov.br/sas/portarias/port2006/gm/gm-399.htm>. Acesso em: 20 jan. 2010. ______. Ministério da Previdência Social. DATAPREV – Empresa de Tecnologia e Informações da Previdência Social. CNIS – Cadastro Nacional de Informações Sociais. Disponível em: <http://portal.dataprev.gov.br/2009/07/26/cnis-cadastro-nacional-de-informacoes-sociais>. Acesso em: 29 out. 2009. ______. Ministério da Saúde. Conselho Nacional das Secretarias Municipais de Saúde. O SUS de A a Z: garantindo saúde nos municípios. 3. ed. Brasília: Editora do Ministério da Saúde, 2009. 480 p. : il color + 1 CD-ROM – (Série F. Comunicação e Educação em Saúde). ______. Ministério da Saúde. Editora do Ministério da Saúde. Série A: normas e manuais técnicos. Disponível em: <http://dtr2001.saude.gov.br/editora/produtos/livros/genero/s00a.htm>. Acesso em: 12 fev. 2010a. ______. Conselho Nacional de Secretários de Saúde. As oficinas para a organização das redes de atenção à saúde. CONASS, 2010b. 108 p. (CONASS Documenta; 21) ______. Portaria n. 4.279, de 30 de dezembro de 2010. (Publicada no DOU de 31/12/2010, Seção I, Página 89). Estabelece diretrizes para a organização da Rede de Atenção à Saúde no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS). Disponível em: <http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/portaria4279_docredes.pdf>. Acesso em: 3 mar. 2010. BUSS, P. M. Uma introdução a ao conceito de promoção em saúde. In: Promoção da saúde: conceitos, práticas e reflexões. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2003. p. 15-38. BUSS, P. M. et al. Promoción de la salud y la salud pública: una contribución para el debate entre las escuelas de salud pública de América Latina y el Caribe. Brasil, Rio de Janeiro: ENSP/FioCruz, jul. 2000 (mimeo). CABRAL, L. H. A.; SAMPAIO, R. F. Retorno ao trabalho após um trauma de mão: uma abordagem qualiquantitativa. In: 27º Congresso Brasileiro de Cirurgia de Mão e IX Congresso Brasileiro de Reabilitação de Mão, 2007, Anais..., Porto Alegre, 2007.

Page 120: SOLANGE DE F TIMA CARDOZO DANELUZ) - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Solange de Fatima Cardozo Daneluz.pdf · de assistência tradicional em reabilitação profissional foi criado,

119

CAMARGO JR., K. R. Um ensaio sobre a (in)definição de integralidade. In: PINHEIRO, R.; MATTOS, R. A. de (Org.). Construção da integralidade: cotidiano,saberes e práticas em saúde. Rio de Janeiro: UERJ/IMS/ABRASCO, 2003. p. 35-44. CAMPOS, C. E. A. O desafio da integralidade segundo as perspectivas da vigilância da saúde e da saúde da família. Ciência & Saúde Coletiva, v. 8, n. 2, p. 569-584, 2003. CARVALHO, G. M. A epidemiologia como instrumento para a integralidade e interdisciplinaridade na formação médica. Goiás: Universidade Católica de Goiás, 2008. Disponível em: http://www.epi2008.com.br/apresentacoes/ CC_22_09_Tarde_PDF/Gustavo%20Carvalho.pdf>. Acesso em: 20 abr. 2009. CHAPECÓ. Prefeitura Municipal. Disponível em: <http://www.chapeco.sc.gov.br.> Acesso em: 12 fev. 2010. CECILIO, L. C. O. As necessidades de saúde como conceito estruturante na luta pela integralidade e equidade na atenção a saúde. In: PINHEIRO, R.; MATTOS, R. (Org.). Os sentidos da integralidade na atenção ao cuidado da saúde. Rio de Janeiro: UERJ/ABRASCO, 2001. p. 113-126. CETESB – Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental. Guia técnico ambiental de frigoríficos: industrialização de carne bovina e suína, série P + L. São Paulo, 2008. COHEN, S. C. Habitação saudável como um caminho para a promoção da saúde. (Tese de Doutorado). Rio de Janeiro: Escola Nacional de Saúde Pública, Fundação Oswaldo Cruz, 2004. COMISSÃO NACIONAL sobre Determinantes Sociais da Saúde. As causas sociais das iniqüidades em saúde no Brasil. Relatório Final da Comissão Nacional de Determinantes Sociais da Saúde, abr. 2008. Disponível em: <http://determinantes.saude.homolog.bvs.br/lildbi/docsonline/6/1/016-Relatorio.pdf>. Acesso em: 18 abr. 2009. CONFERÊNCIA INTERNACIONAL SOBRE PROMOÇÃO DA SAÚDE, 1., Ottawa, nov. 1986. Carta de Ottawa. In: BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Políticas de Saúde. Projeto Promoção da Saúde: as cartas da Promoção da Saúde. Brasília, 2002. p. 16-25.

Page 121: SOLANGE DE F TIMA CARDOZO DANELUZ) - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Solange de Fatima Cardozo Daneluz.pdf · de assistência tradicional em reabilitação profissional foi criado,

120

CONFERÊNCIA NACIONAL DE SAÚDE, 8a. Relatório Final. Brasília: Ministério da Saúde, 1986. Disponível em: <http://conselho.saude.gov.br/biblioteca/relatorio_8.pdf>. Acesso em: 2 abr. 2009. CNS/MS – Conselho Nacional de Saúde/Ministério da Saúde. Diretrizes e normas de pesquisa envolvendo seres humanos. Resolução 196/96, outorgada pelo Decreto n. 93.933 de 14 de janeiro de 1987. CNST – 3ª

Conferência Nacional em Saúde do Trabalhador. Trabalhar sim,

adoecer não. Textos de apoio – coletânea n. 1, Brasília, maio 2005. CUTOLO, L. R. A. Estilo de pensamento em educação médica. Tese de Doutorado, CED/UFSC, Florianópolis, 2001. ______. Modelo biomédico, reforma sanitária e educação pediátrica. Arquivos Catarinenses de Medicina, v. 35, n. 4, 2006. CUTOLO, L. R. A. et al. Competências dos profissionais de saúde para o trabalho interdisciplinar. Interface: Comunicação, Saúde e Educação, Botucatu, v. 9, n. 18, p. 521-536, 2005. CUTOLO, L. R. A.; MAEYAMA, M. A. As concepções de saúde e suas ações consequentes. Arquivos Catarinenses de Medicina (Impresso), v. 39, p. 89-96, 2010. CHAPECÓ. Prefeitura Municipal. Disponível em: <http://www.chapeco.sc.gov.br>. Acesso em: 12 fev. 2009. ______. Secretaria Municipal de Saúde. Plano Municipal de Saúde de Chapecó. Gestão 2010-2013. DEJOURS, C.; ABDOUCHELI, E.; JAYET, C. Psicodinâmica do trabalho: contribuições da Escola Dejouriana à análise da relação prazer, sofrimento e trabalho. São Paulo: Atlas, 1986. ______. ______. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2002. DE SETA, M. H. A construção do Sistema Nacional de Vigilância Sanitária: uma análise das relações intergovernamentais na perspectiva do federalismo. 2007. 176

Page 122: SOLANGE DE F TIMA CARDOZO DANELUZ) - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Solange de Fatima Cardozo Daneluz.pdf · de assistência tradicional em reabilitação profissional foi criado,

121

p. Tese (Doutorado em Saúde Coletiva) – Instituto de Medicina Social, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2007. DE SETA, M. H.; COSTA REIS, M. Estruturação e gestão dos sistemas nacionais das vigilâncias: evolução, componentes e atribuições. In: OLIVEIRA, R. G.; GRABOIS, V.; MENDES JÚNIOR, W. V. Qualificação dos gestores do SUS. Rio de Janeiro: EAD/ENSP/Fiocruz, 2010. DEVER, G. E. A. A epidemiologia na administração dos serviços de saúde. São Paulo: Pioneira, 1988. 394 p. DIAS, E. C. O campo da saúde do trabalhador e o papel dos profissionais de saúde na atenção à saúde dos trabalhadores. In: MINISTÉRIO DA SAÚDE; ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANADA DA SAÚDE. Doenças relacionadas com o trabalho: diagnóstico e condutas - Manual de procedimentos para os serviços de saúde. Brasília/DF: Ministério da Saúde/Ops, 2001. p. 17-26. DIAS, E. C.; HOEFEL, M. da G. O desafio de implementar as ações de saúde do trabalhador no SUS: a estratégia da RENAST. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 10, n. 4, p. 817-828, out./dez. 2005. FAMATO/FABOV – Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Mato Grosso/Fundo de Apoio à Bovinocultura de Corte. Diagnóstico da cadeia produtiva agroindustrial da bovinocultura de corte do Estado de Mato Grosso. Cuiabá, 2007. (Relatório de pesquisa). FERRAZ, S. T. Cidades saudáveis: uma urbanidade para 2000. Brasília: Paralelo 15, 1999. FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Aurélio século XXI: o dicionário da língua portuguesa. 3. ed. rev. e ampl. Rio de Janeiro: Nova Fronteria, 1999. 2128 p. FRANCO, T. B. Processos de trabalho e a mudança do modelo tecnoassistencial em saúde. (Tese de Mestrado). Campinas, SP: Unicamp, 2000. ______. Processos de trabalho e transição tecnológica na saúde. (Tese de Doutorado). Campinas, SP: Unicamp, 2003. FRANCO, Túlio Batista; MAGALHÃES JÚNIOR, Helvécio Miranda. Integralidade na saúde: a organização das linhas do cuidado. In: O trabalho em saúde: olhando e experienciando o SUS no cotidiano. 2. ed. São Paulo: Hucitec, 2004.

Page 123: SOLANGE DE F TIMA CARDOZO DANELUZ) - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Solange de Fatima Cardozo Daneluz.pdf · de assistência tradicional em reabilitação profissional foi criado,

122

GAEDKE, M. A.; KRUG, S. B. F. Quem eu sou? A identidade de trabalhadoras portadoras de LER/DORT. Revista Textos & Contextos, Porto Alegre, v. 7, n. 1, p. 120-137, jan./jun. 2008. GARCIA, R. Interdisciplinaridad y sistemas complejos. In: LEFF, E. et al. Ciencias sociales y formación ambiental. Barcelona: Gedisa, 1994. GOMEZ, C. M.; LACAZ, F. A. de C. Saúde do trabalhador: novas – velhas questões. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 10, n. 4, p. 797-807, out./dez. 2005. GRISOTTI, M.; PATRÍCIO Z. M. A saúde coletiva entre discursos e práticas: a participação de usuários, trabalhadores e conselheiros de saúde no Município de Florianópolis. Florianópolis: EDUFSC, 2006. KEINERT, T. M. M. Planejamento governamental e políticas públicas: a estratégia das cidades saudáveis. Saúde e Sociedade, v. 6, n. 2, p. 55-64, 1997. Kemmis,S., McT.,R. (eds) (1988) The action research planner, 3rd. Ed. Victoria: Deakin University. LACAZ, F. A. Saúde dos trabalhadores: cenários e desafios. Cadernos de Saúde Pública, v. 13, n. 2, p. 7-19, 1997. LACAZ, F. A. de C.; MACHADO, J. M. H.; PORTO, M. F. de S. Relatório do Projeto “Estudo da situação e tendências da vigilância em saúde do trabalhador no Brasil”. [S.I.], 2002. Disponível em: <http://www.abrasco.org.br/GTs/GT%20trabalhador%20RelatrioFinal%20.pdf>. Acesso em: 20 mar. 2009. LACAZ; F. A. de C.; SATO, L. Cadernos de saúde do trabalhador: condições de trabalho e saúde dos(as) trabalhadores(as) do ramo da alimentação. São Paulo: INST – CUT, 2000. LUCCHESE, G. Globalização e regulação sanitária: os rumos da vigilância sanitária no Brasil. 2001. 245 p. Tese (Doutorado em Saúde Pública) – Escola Nacional de Saúde Pública, Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, 2001. MACHADO, J. M. H. Alternativas e processos de vigilância em saúde do trabalhador: a heterogenidade da intervenção. 1996. Tese (doutorado em Saúde Pública) –

Page 124: SOLANGE DE F TIMA CARDOZO DANELUZ) - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Solange de Fatima Cardozo Daneluz.pdf · de assistência tradicional em reabilitação profissional foi criado,

123

Escola Nacional de Saúde Pública, Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, 1996. ______. A propósito da vigilância em saúde do trabalhador. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 10, n. 4, p. 987-992, out./dez. 2005. MACHADO, J. M. H.; PORTO, M. F. S. Epidemiologia e serviços de saúde. Ensaio – Promoção da saúde e intersetorialidade: a experiência da vigilância em saúde do trabalhador na construção de redes, v. 12, n. 3, jul./set. 2003. MAEYAMA, M.A.; CUTOLO, L. R. A.. As concepções de saúde e suas ações consequentes. Arquivos Catarinenses de Medicina, v. 39, n. 1. p. 89-96, 2010. MALIK, A. M. Cidades saudáveis: estratégia em aberto. Saúde e Sociedade, v. 6, n. 2, p. 19-30, 1997. MALTA, Deborah Carvalho; MERHY, Emerson Elias. O percurso da linha do cuidado sob a perspectiva das doenças crônicas não transmissíveis. Interface – Comunic., Saúde, Educ., v. 14, n. 34, p. 593-605, jul./set. 2010. MATSUO, M. Acidentado do trabalho: reabilitação ou exclusão? São Paulo: Fundacentro, 1998. 238 p. MATTOS, R. Os sentidos da integralidade: algumas reflexões acerca dos valores que merecem ser definidos. In: PINHEIRO, R.; MATTOS, R. (Org.). Os sentidos da integralidade na atenção ao cuidado à saúde. Rio de Janeiro: UERJ/ABRASCO, 2001. p. 39-64. MENDES, E. V. A modelagem das redes de atenção à saúde. Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais, Subsecretaria de Políticas e Ações em Saúde, Superintendência de Atenção à Saúde, Assessoria de Normalização. Belo Horizonte, jul. 2007. ______. As redes de atenção à saúde. Belo Horizonte: Escola de Saúde Pública de Minas Gerais, 2009. MENDES, R.; AKERMAN, M. Intersetorialidade: reflexões e práticas In: FERNANDEZ, J. C. A.; MENDES, R. Promoção da saúde e gestão local. São Paulo: Aderaldo & Rothschild/CEPEDOC, 2007. MERHY, E. E; ONOCKO, R. (Org.). Agir em saúde: um desafio para o público. São Paulo: Hucitec, 1997. MINAYO-GOMEZ, C.; LACAZ, F.A.C. Saúde do trabalhador: novas - velhas

Page 125: SOLANGE DE F TIMA CARDOZO DANELUZ) - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Solange de Fatima Cardozo Daneluz.pdf · de assistência tradicional em reabilitação profissional foi criado,

124

questões. . Revista Debate. Rio de Janeiro, v. 10, sipl. 4, p.797-807, 2005. MINAYO-GOMEZ, C.; THEDIN-COSTA, S. M. da F. A. A construção do campo saúde do trabalhador: percurso e dilemas. Ciencia e Saúde Coletiva. Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 13, sipl. 2, p. 21-32, 1997. MINAYO, M. S. C. Interdisciplinaridade: funcionalidade ou utopia? Revista Saúde e Sociedade, v. 3, n. 2, p. 42-64, 1994. ______. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. 8. ed. São Paulo: Hucitec – ABRASCO, 2007. MINAYO, M. C. S.; DESLANDES, S. F.; CRUZ NETO, O. (Org.). Pesquisa social: teoria, método e criatividade. 10. ed. Petrópolis: Vozes, 1993. MINAYO, M. C. S.; DESLANDES, S. (Org.). Caminhos do pensamento: epistemologia e método. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2001. MINISTÉRIO DA SAÚDE – Secretaria de Assistência à Saúde – Desenhos da Organização da Atenção no SUS. A integralidade da atenção à saúde. Encontro dos estudantes universitários da área de saúde e o SUS – Brasília – 17 de maio de 2003. MINISTÉRIO DA SAÚDE DO BRASIL. Representação no Brasil da OPAS/OMS. Doenças relacionadas ao trabalho: manual de procedimentos para serviços de saúde. Brasília: Ministério da Saúde do Brasil, 2001. 580 p. MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO – Fundacentro. Seminário Reabilitação Profissional Pública: um direito do cidadão. São Paulo, 2007. MOON, W.; GEICKER, O. Disability: concepts and definitions. Disability and Work. Encyclopedia of Occupational Health and Safety [versão em CDROM]. Geneva: OIT, 1998. p. 17.2-17.9. MOYSÉS, S. J. et al. Avaliando o processo de construção de políticas públicas de promoção de saúde: a experiência de Curitiba. In: Revista Ciência & Saúde Coletiva, v. 9, n. 3, p. 627-641, 2004. NARVAI, P. C. Integralidade na atenção básica à saúde. Integralidade? Atenção? Básica? In: GARCIA, D. V. (org.). Novos rumos da saúde bucal: os caminhos da

Page 126: SOLANGE DE F TIMA CARDOZO DANELUZ) - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Solange de Fatima Cardozo Daneluz.pdf · de assistência tradicional em reabilitação profissional foi criado,

125

integralidade. Rio de Janeiro: ABORJ/ANS/UNESCO; 2005. p. 28-42. NETZ, J. A.; AMAZARRAY, M. R. A organização dos trabalhadores na resistência às práticas discriminatórias: um olhar acerca da subjetividade, saúde e trabalho. Textos e Contextos, Porto Alegre, v. 4, n. 4, 2005. Disponível em: <http://www.pucrs.br/textos>. Acesso em: 18 mar. 2006. ______. Promoção de saúde e cidadania: a experiência do grupo de ação solidária com portadores de LER/DORT. Boletim da Saúde, Porto Alegre, v. 20, n. 1, jan./jun. 2006. NOGUEIRA, Danielle Cronemberger Albuquerque. Definindo saúde, meio ambiente, saúde do trabalhador e o papel das organizações governamentais. 42, p. 1-8, 2005. OIT – OFICINA INTERNACIONAL DEL TRABAJO. Panorama laboral: América Latina e Caribe. 2004. Disponível em: <http://www.oitbrasil.org.br/info/estat.php>. Acesso em: 25 ago. 2009. OMS/OPAS – Organização Mundial de Saúde/Organização Panamericana de Saúde. CIF: classificação internacional de funcionalidade, incapacidade e saúde. Universidade de São Paulo, 2003. OLINISKI, S. R.; LACERDA, M. R. As diferentes faces do ambiente de trabalho em saúde. Cogitare Enfermagem (UFPR), Curitiba, v. 9, n. 2, p. 43-52, 2004. OLIVEIRA, J. V. de. Cidades e turismo sustentável: a cooperação interinstitucional no Conselho de Desenvolvimento do Turismo do Pólo Costa das Dunas/RN. Natal: PPGCS/UFRN, 2008. (Dissertação de Mestrado). OPAS – Organização Pan-Americana de Saúde. Cartas [da promoção de saúde]. Brasília, 1996. Disponível em: <http://www.opas.org.br/coletiva/carta. cfm>. Acesso em: 20 maio 2009. ______. Divisão de Promoção e Proteção da Saúde. Municípios e comunidades saudáveis: guia dos prefeitos para promover qualidade de vida. Brasília: OPAS, W. K. Kellogg Foundation, 2003. PADOVANI, A. Segurança do trabalho em indústrias alimentícias: uma abordagem geral. Rio de Janeiro: SOBES – Sociedade Brasileira de Engenharia de

Page 127: SOLANGE DE F TIMA CARDOZO DANELUZ) - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Solange de Fatima Cardozo Daneluz.pdf · de assistência tradicional em reabilitação profissional foi criado,

126

Segurança, 2008. PAHO/WHO. Redes integradas de servicios de salud: conceptos, opciones de política y hoja de ruta para su implementación en las Américas. Serie – La Renovación de La Atención Primaria en las Américas. Washington DC, 28 Oct. 2008. PAIM, J. S. A reorganização das praticas de saúde em distritos sanitários. In: MENDES, E. V. (org.). Distrito sanitário: processo social de mudança das práticas sanitárias do Sistema Único de Saúde. São Paulo: Hucitec; Rio de Janeiro: ABRASCO, 1993. p. 187-220. ______. Por um planejamento das Práticas de saúde. Saúde & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 4, 1999. PINHEIRO, R.; MATTOS, R. A. Os sentidos da integralidade na atenção e no cuidado à saúde. Rio de Janeiro: ABRASCO, 2001. PINHEIRO, R.; MATTOS, R. A. de (Org.). Construção da integralidade: cotidiano,saberes e práticas em saúde. Rio de Janeiro: UERJ/IMS/ABRASCO, 2003. PORTO, M. F. de S.; ALMEIDA, G. E. S. Significados e limites das estratégias de integração disciplinar: uma reflexão sobre as contribuições da saúde do trabalhador. Ciência & Saúde Coletiva, v. 7, n. 2, p. 335-347, 2002. PORTO, M. F. de S.; MACHADO, J. M. H.; FREITAS, C. M. Promoção da saúde e intersetorialidade: a experiência da vigilância em saúde do trabalhador na construção de redes. In: Anais do VI Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva. Salvador: Abrasco e ISC/UFBA, 2000. RADIS (TEMAS). Cidades saudáveis. Radis, n. 19, Fiocruz, maio 2000. REABILITAÇÃO PROFISSIONAL PÚBLICA. Um direito do cidadão: habilitação e reabilitação profissional: abordagem interdisciplinar, intersetorial e interinstitucional. Documento disponível para discussão pública. Fundacentro, 2007. REHFELDT, K. H. G. Competência social no trabalho do futuro e no futuro do trabalhador: o caminho natural para a liderança. Blumenau: Edifurb, 2003. RENAST – Rede Nacional de Atenção Integral à Saúde do Trabalhador. Manual de Gestão e Gerenciamento. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde

Page 128: SOLANGE DE F TIMA CARDOZO DANELUZ) - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Solange de Fatima Cardozo Daneluz.pdf · de assistência tradicional em reabilitação profissional foi criado,

127

(SAS). Departamento de Ações Programáticas Estratégicas (DAPE). Área Técnica de Saúde do Trabalhador (COSAT). Brasília, 2006. RESTREPO, H. E.; MALAGA, H. (Org.). Promocion de la salud: como construir vida saudable. Bogotá: Medica Internacional, 2001. ROSSI, D. et al. Habilitação e reabilitação profissional: abordagem interdisciplinar, intersetorial e interinstitucional. Documento para discussão pública. Seminário reabilitação profissional pública, um direito do cidadão. São Paulo, 2007. Disponível em: <www.spbancarios.com.br/download/17/proposta_rp_out2007.pdf>. Acesso em: 23 jun. 2008. SARDÁ, S. E.. Meio ambiente de trabalho: frigoríficos. Tema apresentado no I Seminário sobre Meio Ambiente do Trabalho nas Indústrias Frigoríficas do Estado de Santa Catarina - Frigoríficos: como superar a atual situação de adoecimento de trabalhadores? Procuradoria Regional do Trabalho da 12ª Região, Santa Catarina. Florianópolis, 12 de dezembro de 2008. Disponível em: <www.prt12.mpt.gov.br/.../seminario-frigorificos/seminario_frigorificos_mp>. Acesso em: 12 jul. 2011. SARDÁ, S.E.; RUIZ, R. C.; KIRTSCHIG, G.. Tutela jurídica da saúde dos empregados de frigoríficos: considerações dos serviços públicos. Acta Fisiátrica, São Paulo: Editora Lemos, v. 16, n. 2, p. 59-65, jun. 2009. Disponível em: <http://www.actafisiatrica.org.br>. Acesso em: 12 jul. 2011. SANTOS, B. S. A crítica da razão indolente: contra o desperdício da experiência. São Paulo: Cortez, 2000. SCHRAIBER, L. B. (org.). Programação em saúde hoje. São Paulo/Rio de Janeiro: Hucitec/Abrasco, 1990. 226 p. SCHRAIBER, L. B. Epidemiologia em serviços: uma tecnologia de que tipo? In: Informe Epidemiológico do SUS, ano 2, n. 3, p. 5-32, maio/jun. 1993. ______. Políticas públicas e planejamento nas práticas de Saúde. Saúde em Debate, n. 47, CEBES, p. 28-35, jun. 1995. SCHRAIBER, L. B.; NEMES, M. I. B.; GONÇALVES, R. B. Saúde do adulto: programas e ações na unidade básica. São Paulo: Hucitec, 1996. 286 p. SEYFRIED, E. Vocational rehabilitation and employment support services.

Page 129: SOLANGE DE F TIMA CARDOZO DANELUZ) - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Solange de Fatima Cardozo Daneluz.pdf · de assistência tradicional em reabilitação profissional foi criado,

128

Disability and Work. Encyclopedia of Occupational Health and Safety [versão em CD-ROM]. Geneva: OIT, 1998. p. 17.18-17.22. SÍCOLI, J. L.; NASCIMENTO, P. R. Promoção de saúde: concepções, princípios e Operacionalização. Interface - Comunic, Saúde, Educ, v. 7, n. 12, p. 91-112, 2003. SILVA, S. R.; GUIMARÃES, E. V.; RODRIGUES, A. M. V. N. Aspectos relacionados ao processo de retorno ao trabalho de indivíduos com desordens musculoesqueléticas do membro superior: uma bibliografia comentada. Rev. Ter. Ocup. Univ., São Paulo, v. 18, n. 1, p. 38-43, jan./abr. 2007. SILVA, Z. P. da; BARRETO JÚNIOR, I. F.; SANT’ANA, M. do C. Saúde do trabalhador no âmbito municipal. São Paulo em Perspectiva, v. 17, n. 1, p. 47-57, 2003. SILVEIRA, A. M.; RIBEIRO, F. S. N.; LINO, A. de F. P. F. O controle social no SUS e a RENAST. In: CONFERÊNCIA NACIONAL DE SAÚDE DO TRABALHADOR, 3, 2005, Brasília. Trabalhar sim, adoecer não: textos de apoio... Brasília, 2005. Disponível em: <http://www.hc.ufmg.br/cerest/downloads/Coletanea.pdf>. Acesso em: 16 jul. 2006. TAKAHASHI, M. A. B. C. Avaliação em reabilitação profissional: a experiência de adoecer por LER e o resgate da autonomia: uma trajetória singular. (Dissertação de Mestrado). Campinas: Universidade Estadual de Campinas, 2000. ______. Incapacidade e Previdência Social: trajetória de incapacitação de trabalhadores adoecidos por LER/DORT no contexto da reforma previdenciária brasileira da década de 1990. (Tese de Doutorado). Campinas: Universidade Estadual de Campinas, 2006. TAKAHASHI, M. A. B. C.; CANESQUI, A. M. Pesquisa avaliativa em reabilitação profissional: a efetividade de um serviço em desconstrução. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 19, n. 5, p. 1473-1483, set./out. 2003. TAKAHASHI, M. A. B. C.; IGUTI, A. M. As mudanças nas práticas de reabilitação profissional da Previdência Social no Brasil: modernização ou enfraquecimento da proteção social? Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 24, n. 11, p. 2661-2670, nov. 2008. TAMBELLINI, A. T. et al. Política nacional de saúde dos trabalhadores: análises e perspectivas. I Conferência Nacional de Saúde dos Trabalhadores. Rio de Janeiro: Abrasco/Fiocruz, 1986.

Page 130: SOLANGE DE F TIMA CARDOZO DANELUZ) - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Solange de Fatima Cardozo Daneluz.pdf · de assistência tradicional em reabilitação profissional foi criado,

129

TAMBELLINI, A. T. Interdisciplinaridad y formación de recursos humanos para el area de salud en el area de salud del trabajador y ecología humana. In: RODRIGUEZ, M. I. (coord.). Lo biológico y lo social. Washington D.C.: OPS/OMS, 1994. TEIXEIRA, C. (Org.). Promoção e vigilância da saúde. Salvador: ISC/UFBA, 2001. TERRIS, M. Concepts of health promotion: dualites in public health theory. In: Health promotion: an anthologiy. Washington: PAHO, 1996. TRENTINI, M.; PAIM, L. Cenário atual da pesquisa de enfermagem brasileira. Congresso Criança 2005. 2º Congresso Internacional de Especialidades Pediátricas – Módulo enfermagem; 30 ago. 2005; Instituto de Ensino Superior Pequeno Príncipe. Curitiba (PR): Associação Hospitalar de Proteção à Criança Dr. Raul Carneiro, 2005. THIOLLENT, M.. Metodologia da pesquisa-ação. 7. ed. São Paulo: Cortez, 1996. Pesquisa-ação nas organizações. São Paulo: Atlas, 1997. UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ. Pró-Reitoria de Ensino. Elaboração de trabalhos acadêmico-científicos. Itajaí: Universidade do Vale do Itajaí, 2006. (Cadernos de ensino. Formação continuada. Ensino superior, ano 2, n. 4). VASCONCELOS, E. M. R. Bem-estar humano e sua influência na saúde. In: CIANCIARULLO, T. I.; CORNETTA, V. K. (Org.). Saúde, desenvolvimento e globalização: um desafio para os gestores do terceiro milênio. São Paulo: Ícone, 2002. cap. 2, p. 127-148. VASCONCELLOS, L. C. F. de. Saúde, trabalho e desenvolvimento sustentável: apontamentos para uma política de Estado. Tese (Doutorado Saúde Pública) – Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, 2007. VASCONCELLOS, L. C. F. de; ALMEIDA, C. V. B. de; GUEDES, D. T. Vigilância em saúde do trabalhador: passos para uma pedagogia. Trab. Educ. Saúde, Rio de Janeiro, v. 7, n. 3, p. 445-462, nov.2009/fev. 2010. VILELA, Rodolfo Andrade Gouveia. Acidentes do trabalho com máquinas: identificação de riscos e prevenção. São Paulo: INST – CUT, 2000. 35 p.

Page 131: SOLANGE DE F TIMA CARDOZO DANELUZ) - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Solange de Fatima Cardozo Daneluz.pdf · de assistência tradicional em reabilitação profissional foi criado,

130

WESTPHAL, M. F. Municípios saudáveis: aspectos conceituais. Saúde e Sociedade, v. 6, n. 2, p. 9-18, 1997. WHITAKER, D. C. A. Sociologia rural: questões metodológicas emergentes. São Paulo: Letras à Margem, 2002. WORLD HEALTH ORGANIZATION. The world health report 2008: primary health care now more than ever. Geneva, 2008.

Page 132: SOLANGE DE F TIMA CARDOZO DANELUZ) - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Solange de Fatima Cardozo Daneluz.pdf · de assistência tradicional em reabilitação profissional foi criado,

131

APÊNDICES

Page 133: SOLANGE DE F TIMA CARDOZO DANELUZ) - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Solange de Fatima Cardozo Daneluz.pdf · de assistência tradicional em reabilitação profissional foi criado,

APÊNDICE A – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Prezado(a) senhor(a)

Estou realizando pesquisa intitulada REABILITAÇÃO PROFISSIONAL – UM

OLHAR INTERDISCIPLINAR E INTERINSTITUCIONAL NA ATENÇÃO INTEGRAL

A SAÚDE DO TRABALHADOR, esta deverá ser apresentado como projeto de

pesquisa para aquisição do título de mestre no Programa de Mestrado Profissional

em Saúde e Gestão do Trabalho, da Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI.

Venho, por meio deste, solicitar sua participação nesta pesquisa através da

sua participação em oficina, que tem como objetivo geral elaborar um modelo de

intervenção com destaque ao papel do Sistema Único de Saúde na assistência

integral à saúde dos trabalhadores e o desafio de atuar na perspectiva de prevenção

e promoção da saúde do trabalhador de modo integrado e articulado com os demais

órgãos públicos que atuam nesta área. Os objetivos específicos são avaliar os

aspectos organizacionais e metodológicos nas ações interdisciplinares e

interinstitucionais na implementação do Grupo de Apoio a Reabilitação Profissional

(GARP), investigar a percepção dos profissionais sobre a sua contribuição no

processo de reabilitação, levantar as principais dificuldades enfrentadas pelos

profissionais e pelas instituições no processo de implantação e identificar quais as

ações de intervenção das instituições envolvidas contribuíram para a sua

implantação.

A proposta final desta pesquisa é “reconhecer a variedade das necessidades

relacionadas à saúde do trabalhador, entendendo a complexidade da integralidade

como um processo, vivenciando o cotidiano, o território e as possibilidades das

ações integradas da saúde”.

Posso garantir que os dados obtidos durante pesquisa serão mantidos

confidencialmente, serão analisados sem que apareçam seus nomes.

Os procedimentos aplicados por esta pesquisa não oferecem risco a

integridade moral, física, mental ou efeitos colaterais. As informações obtidas

através da coleta de dados serão utilizadas para alcançar o objetivo acima proposto,

e para a composição do relatório final de pesquisa que será entregue para o GARP,

podendo ser apresentado como artigo e comunicações em eventos, esta devolutiva

tem papel importante, por ser uma experiência compartilhada e como

Page 134: SOLANGE DE F TIMA CARDOZO DANELUZ) - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Solange de Fatima Cardozo Daneluz.pdf · de assistência tradicional em reabilitação profissional foi criado,

133

recomendações para as políticas de formação.

Caso não queira mais fazer parte da pesquisa, favor entrar em contato pelo

telefone abaixo citado.

Este termo de consentimento livre e esclarecido é feito em duas vias, sendo

que uma delas ficará em poder do pesquisador e outra com o sujeito participante da

pesquisa.

Caso necessite de maiores informações, basta procurar as responsáveis pelo

projeto, conforme indicado abaixo.

Pesquisador Responsável: Profª. Dra. Elizabeth Navas Sanches

Assinatura: __________________________________________________________

Mestranda: Solange de Fátima Cardozo Daneluz

Telefone: (49) 3321-0082 – 9142-3552

Assinatura: __________________________________________________________

CONSENTIMENTO DA PARTICIPAÇÃO DA PESSOA COMO SUJEITO

Eu, __________________________________________________________,

RG ____________________________, CPF ______________________________,

abaixo assinado, concordo em participar do presente estudo como sujeito. Fui

devidamente informado e esclarecido pela pesquisadora, sobre os termos e os

procedimentos nela envolvidos, bem como os riscos e benefícios decorrentes da

minha participação. Foi-me garantido que posso retirar meu consentimento a

qualquer momento, sem que isto leve a qualquer penalidade ou interrupção de

minha participação no projeto.

Local: ________________________________ Data: ____/______/_______.

Nome e assinatura do sujeito:

___________________________________________________________________

Nome e assinatura da responsável pela pesquisa:

___________________________________________________________________

Este termo de consentimento livre e esclarecido é feito em duas vias, sendo

que uma delas ficará em poder do pesquisador e outra com o sujeito participante da

pesquisa.

Page 135: SOLANGE DE F TIMA CARDOZO DANELUZ) - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Solange de Fatima Cardozo Daneluz.pdf · de assistência tradicional em reabilitação profissional foi criado,

APÊNDICE B – Parecer n. 541/09

Page 136: SOLANGE DE F TIMA CARDOZO DANELUZ) - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Solange de Fatima Cardozo Daneluz.pdf · de assistência tradicional em reabilitação profissional foi criado,

135

Page 137: SOLANGE DE F TIMA CARDOZO DANELUZ) - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Solange de Fatima Cardozo Daneluz.pdf · de assistência tradicional em reabilitação profissional foi criado,

ANEXOS

Page 138: SOLANGE DE F TIMA CARDOZO DANELUZ) - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Solange de Fatima Cardozo Daneluz.pdf · de assistência tradicional em reabilitação profissional foi criado,

ANEXO A – Termo de Compromisso

GRUPO DE APOIO À REABILITAÇÃO PROFISSIONAL – GARP

I. Compromete-se o INSTITUTO NACIONAL DE SEGURO SOCIAL – INSS:

1. Compor o Grupo de Apoio à Reabilitação Profissional (GARP);

2. Participar das reuniões técnicas para discussão de ações e estratégias no âmbito

da reabilitação funcional e profissional;

3. Levantar a demanda dos segurados elegíveis para o projeto piloto;

4. Avaliar os segurados para encaminhamento aos serviços especializados;

5. Avaliar o potencial laborativo dos segurados, através da equipe de Reabilitação

Profissional do INSS, antes e após o processo de reabilitação funcional desses;

6. Analisar as atividades laborativas, in loco, compatíveis com cada caso;

7. Acompanhar o segurado durante o processo de curso/treinamento na empresa;

8. Emitir o Certificado de Reabilitação Profissional após o processo (laudo

conclusivo);

9. Conduzir o processo reabilitatório visando o cumprimento da legislação sobre o

percentual de reserva de vagas para reabilitados nas empresas;

10. Realizar a pesquisa de fixação para constatar a efetividade do processo de

reabilitação profissional;

11. Manter atualizado o banco de dados para compartilhamento de informações com

os demais serviços;

12. Articular as parcerias com outros órgãos afins, ONGS e outros segmentos

sociais;

13. Estabelecer agenda de atuação junto ao município através do GARP, garantindo

acompanhamento das atividades de implantação;

14. Acompanhar a execução do projeto firmado através do Termo de Compromisso

celebrado entre as instituições;

15. Avaliar, periodicamente, através do GARP, as ações e desenvolvimento do

projeto piloto.

II. Compromete-se o SERVIÇO MUNICIPAL DE FISIOTERAPIA E SAÚDE

FUNCIONAL:

1. Compor o Grupo de Apoio à Reabilitação Profissional (GARP);

2. Participar das reuniões técnicas para discussão de ações e estratégias no âmbito

Page 139: SOLANGE DE F TIMA CARDOZO DANELUZ) - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Solange de Fatima Cardozo Daneluz.pdf · de assistência tradicional em reabilitação profissional foi criado,

154

da reabilitação funcional e profissional;

3. Dispor assistência à saúde dos segurados encaminhados ao programa de

Reabilitação Profissional do INSS, de acordo com a prévia avaliação da demanda;

4. Manter atualizado o banco de dados para compartilhamento de informações com

os demais serviços;

5. Estabelecer agenda de atuação junto ao município através do GARP, garantindo

acompanhamento das atividades de implantação;

6. Acompanhar a execução do projeto firmado através do Termo de Compromisso

celebrado entre as instituições;

7. Avaliar, periodicamente, através do GARP, as ações e desenvolvimento do projeto

piloto.

III. Compromete-se o CENTRO DE REFERÊNCIA EM SAÚDE DO

TRABALHADOR DE CHAPECÓ:

1. Compor o Grupo de Apoio à Reabilitação Profissional (GARP);

2. Participar das reuniões técnicas para discussão de ações e estratégias no âmbito

da reabilitação funcional e profissional;

3. Realizar vigilância, junto ao serviço de Vigilância Sanitária, dos ambientes de

trabalho para identificação de fatores de risco e possíveis modificações destes;

4. Manter atualizado o banco de dados para compartilhamento de informações com

os demais serviços;

5. Articular as parcerias com outros órgãos afins, ONGS e outros segmentos sociais;

6. Estabelecer agenda de atuação junto ao município através do GARP, garantindo

acompanhamento das atividades de implantação;

7. Acompanhar a execução do projeto firmado através do Termo de Compromisso

celebrado entre as instituições;

8. Avaliar, periodicamente, através do GARP, as ações e desenvolvimento do projeto

piloto.

IV. Compromete-se o CONSELHO MUNICIPAL DE SAÚDE DE CHAPECÓ:

1. Compor o Grupo de Apoio à Reabilitação Profissional (GARP);

2. Participar das reuniões técnicas para discussão de ações e estratégias no âmbito

da reabilitação funcional e profissional;

3. Estabelecer agenda de atuação junto ao município através do GARP, garantindo

acompanhamento das atividades de implantação;

4. Acompanhar a execução do projeto firmado através do Termo de Compromisso

Page 140: SOLANGE DE F TIMA CARDOZO DANELUZ) - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Solange de Fatima Cardozo Daneluz.pdf · de assistência tradicional em reabilitação profissional foi criado,

155

celebrado entre as instituições;

5. Avaliar, periodicamente, através do GARP, as ações e desenvolvimento do projeto

piloto, através do Controle Social.

V. Compromete-se o MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO:

1. Compor o Grupo de Apoio à Reabilitação Profissional (GARP);

2. Participar das reuniões técnicas para discussão de ações e estratégias no âmbito

da reabilitação funcional e profissional;

3. Atuar em face às empresas visando o cumprimento da cota destinada às pessoas

portadoras de deficiência e a segurados reabilitados, nos termos da Lei n. 8.213/91;

4. Atuar em face às empresas visando a adequação do meio ambiente do trabalho;

5. Adotar medidas cabíveis a partir dos relatórios trimestrais, enviados pelo GARP,

sobre as empresas com maior número de adoecimentos e seus agravos;

6. Atuar como órgão Agente no recebimento de denúncias, instaurando

procedimentos investigatórios, inquéritos civis públicos e outras medidas

administrativas ou o ajuizamento de ações judiciais, quando comprovadas ilicitudes

no meio ambiente de trabalho;

7. Estabelecer agenda de atuação junto ao município através do GARP, garantindo

acompanhamento das atividades de implantação;

8. Acompanhar a execução do projeto firmado através do Termo de Compromisso

celebrado entre as instituições;

9. Avaliar, periodicamente, através do GARP, as ações e desenvolvimento do projeto

piloto.

VI. Compromete-se o MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO:

1. Compor o Grupo de Apoio à Reabilitação Profissional (GARP);

2. Participar das reuniões técnicas para discussão de ações e estratégias no âmbito

da reabilitação funcional e profissional;

3. Estabelecer agenda de atuação junto ao município através do GARP, garantindo

acompanhamento das atividades de implantação;

4. Verificar o cumprimento, por parte das empresas, da legislação de proteção ao

trabalhador com o objetivo de garantir a observância da legislação trabalhista;

5. Acompanhar a execução do projeto firmado através do Termo de Compromisso

celebrado entre as instituições;

6. Avaliar, periodicamente, através do GARP, as ações e desenvolvimento do projeto

piloto.

Page 141: SOLANGE DE F TIMA CARDOZO DANELUZ) - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Solange de Fatima Cardozo Daneluz.pdf · de assistência tradicional em reabilitação profissional foi criado,

ANEXO B – Relatório final do GARP

Prefeitura de Chapecó

Secretaria da Saúde

Serviço Municipal de Fisioterapia e Saúde Funcional

RELATÓRIO FINAL DO GARP – GRUPO DE APOIO A REABILITAÇÃO

PROFISSIONAL

O Serviço Municipal de Fisioterapia e Saúde Funcional é uma unidade

ambulatorial, devidamente cadastrada no sistema SIA/SUS, conta com estrutura

física, equipamentos e recursos humanos especializados para prestar assistência de

cuidados em reabilitação física (motor e sensório-motora) no município de Chapecó-

SC, os usuários são encaminhados por outros serviços de saúde. Constitui-se na

referência de média complexidade em reabilitação física, de acordo com os

princípios definidos pela NOAS-SUS 01/2001. A partir da Portaria n. 587,

06/10/2008, passou a ser referência para Procedimentos em Média e Alta

Complexidade, no estado de Santa Catarina.

Conta com equipe multiprofissional – Fisioterapeuta, Assistente Social,

Psicóloga, Fonoaudióloga e Terapeuta Ocupacional. Esse serviço realiza

atendimento individualizado e em grupo. São atendidos usuários acometidos por

doenças neurológicas, traumatismos, amputações, doenças osteomusculares,

obesidade mórbida, sendo também responsável pela autorização de 450

atendimentos mensais às clínicas de fisioterapia da rede privada conveniada ao SUS

e dispensa para próteses e meios auxiliares de locomoção. O serviço tem parceria

com a UNOCHAPECÓ como campo de estágio em fisioterapia.

O Serviço Municipal de Fisioterapia teve como atribuições: compor o Grupo

de Apoio à Reabilitação Profissional (GARP); participar das reuniões técnicas para

discussão de ações e estratégias no âmbito da reabilitação funcional e profissional;

dispor assistência à saúde dos segurados encaminhados ao programa de

Page 142: SOLANGE DE F TIMA CARDOZO DANELUZ) - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Solange de Fatima Cardozo Daneluz.pdf · de assistência tradicional em reabilitação profissional foi criado,

157

Reabilitação Profissional do INSS, de acordo com a prévia avaliação da demanda;

manter atualizado o banco de dados para compartilhamento de informações com os

demais serviços; estabelecer agenda de atuação junto ao município, através do

GARP, garantindo acompanhamento das atividades de implantação; acompanhar a

execução do projeto firmado, através do Termo de Compromisso celebrado entre as

instituições e avaliar, periodicamente, através do GARP, as ações e o

desenvolvimento do projeto piloto.

Este projeto apresenta um caráter de promoção e de reabilitação, com

enfoque no atendimento em grupo e propôs-se a atuar junto ao trabalhador portador

de doença ocupacional, considerando a extensão de sua patologia e sua realidade

social e profissional.

As atividades desenvolvidas no serviço tiveram como objetivos: construir

conhecimento sobre saúde do trabalhador; desenvolver ações de educação em

saúde sobre questões da relação saúde-trabalho, buscando a prevenção dos

agravos às doenças ocupacionais; identificar limites e potencialidades que o

indivíduo tem em seu corpo, visando ao autocuidado e ao reconhecimento das suas

possibilidades de trabalho; criar um espaço teórico-vivencial que favoreça o repensar

sobre a situação biopsicossocial atual e promover o tratamento e reabilitação

funcional de usuários portadores de agravos à saúde decorrentes do trabalho.

O trabalho desenvolvido constituiu-se em atividades informativas sobre

doenças ocupacionais e o processo de adoecimento, fatores causais, agravantes e

de melhora, organização do trabalho, ergonomia, direitos previdenciários e

trabalhistas, discussões coletivas e aplicação de técnicas e atividades práticas que

desenvolvem o trabalho corporal, autocuidado, relaxamento, realização de

exercícios terapêuticos e percepção de si mesmo no contexto pessoal e social.

Foram realizados 13 encontros semanais, com duração aproximada de 120

minutos que ocorreram em duas etapas, simultaneamente: encontros em grupo e

atendimento individualizado multiprofissional (fisioterapia/psicologia e serviço social

conforme necessidade avaliada pelos profissionais).

Os profissionais do serviço, envolvidos nos atendimentos, foram:

fisioterapeuta, assistente social, fonoaudióloga e psicóloga.

Foi realizada, inicialmente, avaliação fisioterapêutica, social e psicológica.

Aplicaram-se no início e na fase final dos encontros os instrumentos: Questionário

de Corlett, Avaliação da Qualidade de Vida – Whoquol – bref, HAD – Escala

Page 143: SOLANGE DE F TIMA CARDOZO DANELUZ) - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Solange de Fatima Cardozo Daneluz.pdf · de assistência tradicional em reabilitação profissional foi criado,

158

Hospitalar de Ansiedade e Depressão.

Durante os encontros de grupo foram utilizadas as seguintes técnicas:

dinâmicas de grupo, discussões em pequenos e grandes grupos, construção de

painéis, atividades com músicas, vídeos, palestras, alongamentos globais.

Conforme a necessidade do usuário, foram utilizados os seguintes recursos:

eletroterapia, alongamento, orientação, acompanhamento psicológico de apoio,

avaliação para disponibilização de vale transporte, bolsa alimento e medicamento,

encaminhamentos para ortopedia e psiquiatria(CERES – Centro de Referência em

Especialidades) e psicologia (CAPS II – Centro de Atenção Psicosscial).

O projeto GARP foi apresentado aos beneficiários no dia 09 de abril de 2009,

nas dependências do INSS, onde também foi esclarecida a necessidade da

assinatura do termo de consentimento para adesão ao projeto. A partir da

concordância destes, iniciaram-se as atividades no Serviço Municipal de

Reabilitação e Saúde Funcional. Num primeiro momento, foram realizadas as

avaliações individuais com a equipe multiprofissional, durante as avaliações os

usuários demonstraram-se inseguros por não terem clareza do projeto e pelo receio

da perda do benefício.

No 1º encontro do GARP, foi realizada a apresentação do projeto aos

usuários, os objetivos e a metodologia das atividades que seriam desenvolvidas

durante o período em que eles estariam em atendimento neste serviço. Na

sequência foram feitos esclarecimentos e a entrega do Termo de Consentimento.

Observou-se, ainda, que alguns segurados necessitavam de novos esclarecimentos

sobre as implicações da assinatura do mesmo, os quais foram realizados

individualmente.

Neste encontro, o grupo de usuários apresentava-se tenso e desconfiado;

eram visíveis as queixas de dores, alguns chegavam a levantar e mudar de posição

para poder aliviar a dor, o olhar era desanimado e sem muitas perspectivas.

Percebeu-se, também, um desinteresse com o autocuidado e pouca responsividade

ao ambiente, sugerindo que os usuários sentiam-se adoecidos física e

emocionalmente.

No encerramento deste encontro aplicou-se uma Técnica de Dinâmica de

Grupo em que se buscou, através desta, promover a integração entre os membros e

o entendimento destes de que as atividades a serem desenvolvidas buscariam o

fortalecimento do grupo no processo de reabilitação profissional.

Page 144: SOLANGE DE F TIMA CARDOZO DANELUZ) - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Solange de Fatima Cardozo Daneluz.pdf · de assistência tradicional em reabilitação profissional foi criado,

159

Aplicação do teste de qualidade de vida.

No 2º encontro, foi abordada a temática “Processo Saúde – Doença” tendo

como enfoque Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho – DORT:

conceito, fatores de risco, faixa etária de maior incidência, causas, consequências e

patologias relacionadas a esses distúrbios.

O grupo demonstrou grande interesse durante as explanações,

principalmente quando abordadas as patologias oriundas dos DORTs, fazendo

relatos e questionamentos sobre seu quadro clínico. Naquele momento houve

muitas queixas sobre a condição física em que se encontram, citando dores intensas

e frequentes.

Com relação ao atendimento do Sistema Único de Saúde (SUS), as queixas

centraram-se na demora ao acesso às consultas especializadas (psiquiatria e

ortopedia), realização de exames (Raio-X, Tomografia, Ultrassom, Ressonância

Magnética) e de cirurgias. Houve pontuações referentes ao descontentamento no

atendimento prestado pelos peritos do INSS e à demora ao agendamento das

perícias, pois os mesmos ficam, por vezes, sem receber o seu benefício no intervalo

entre o agendamento e a realização das perícias. Relatam que essa situação

acarreta dificuldades no cumprimento de seus compromissos financeiros e, por

vezes, dificultam sua subsistência.

Foi ressaltada a importância do conhecimento sobre sua patologia para

compreenderem os seus limites e as suas possibilidades, e, desta forma,

desconstruir a visão de incapacidade internalizada pela maioria destes usuários que,

em vários momentos, relataram não conseguir “fazer mais nada” (sic) e sentirem-se

sem condições de retorno ao trabalho. Nesse sentido, foi colocado que, devido às

suas patologias, os mesmos possuíam limitações para desenvolver determinadas

funções e que o trabalho a ser desenvolvido buscaria identificar qual a capacidade

laborativa de cada um dos integrantes do grupo.

Posteriormente, foi realizada a aplicação inicial do teste Corlett visando à

avaliação do quadro álgico. Na análise dos resultados constatou-se que a maior

incidência de dor apresentava-se, respectivamente, em: coluna, quadril e membros

superiores. Observou-se que 47,36% dos participantes do grupo são funcionários da

agroindústria. No encerramento deste encontro, realizou-se uma sessão de

alongamento, com objetivo de instrumentalizá-los ao autocuidado.

No 3º encontro, foi realizada uma palestra com o tema “Dor Crônica”. Na

Page 145: SOLANGE DE F TIMA CARDOZO DANELUZ) - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Solange de Fatima Cardozo Daneluz.pdf · de assistência tradicional em reabilitação profissional foi criado,

160

abordagem da temática, o grupo mostrou-se atento, havendo questionamentos que

se direcionaram a questões legais, inclusive retomaram aspectos/dúvidas com

relação a este projeto. Após esta explanação, realizou-se atividade de alongamento

com o grupo.

No 4º encontro, a temática elencada foi “Incapacidade x Funcionalidade”,

discutida a partir de três eixos: doença, incapacidade e funcionalidade. Objetivou-se

construir junto ao grupo a compreensão de que todos têm limites, potencialidades e

possibilidades.

Foram apresentadas as seguintes citações sobre os eixos:

Doença:

“Pessoas que não tem disposição para o trabalho é não poder fazer nada”.

“A doença interfere em toda a família, preocupações, estado de dependências

de familiares”.

“Pessoas incapaz de se desenvolver funções”.

“Para algumas pessoas doença é um problema muito grave porque tira toda a

agilidade da pessoa, movimentos, esforços, etc.”.

“Doença é um estado de dor, é não poder fazer coisas do mesmo modo que

antes”.

“Doença são vários sintomas, a doença são sintomas ruins mas não deixam

você incapaz de realizar algumas coisas”.

“Doença afeta o estado físico, espiritual e mental das pessoas” (sic 4º

Encontro Grupo Projeto GARP, 2009).

Incapacidade:

“Cada pessoas tem uma incapacidade diferente. Pode ser temporária, pode

ser permanente... que as pessoas são capazes de fazer algumas coisas” (sic 4º

Encontro Grupo Projeto GARP).

Funcionalidade:

“Quando a pessoa consegue desempenhar uma determinada função”.

“Poder ser útil no espaço que a pessoa estiver”.

“Útil no trabalho, no meio social, família”.

“É ter capacidade para aceitar tudo o que a pessoa precisa desempenhar”.

“Saber aceitar seus limites” (sic 4º Encontro Grupo Projeto GARP, 2009).

Page 146: SOLANGE DE F TIMA CARDOZO DANELUZ) - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Solange de Fatima Cardozo Daneluz.pdf · de assistência tradicional em reabilitação profissional foi criado,

161

A partir da construção destes conceitos, buscou-se possibilitar ao grupo o

entendimento de que as incapacidades laborativas podem ser superadas com a

ampliação de suas perspectivas de atuação profissional. A elevação do grau de

escolaridade, a participação em cursos profissionalizantes e a percepção de si como

sujeito capaz de desenvolver potencialidades é fundamental para que o indivíduo

possa ser reinserido no mercado de trabalho.

Na sequência foi apresentado um slide sobre Stephen Hawking, portador de

esclerose lateral amiotrófica, que, apesar das limitações físicas, tornou-se doutor em

Cosmologia e um dos mais renomados físicos do mundo.

O 5º encontro teve como foco central de discussão o Estresse. Buscou-se

identificar, coletivamente, as causas, consequências, medidas de prevenção e como

administrar as situações de estresse. O grupo foi dividido em três subgrupos que

discutiram a temática no âmbito familiar, de trabalho e social. Os mesmo pontuaram

como principais causas a dor, falta de compreensão, de conhecimento sobre DORT,

rotina, o ritmo intenso de trabalho, pressão para atingir metas de produtividade,

baixa remuneração salarial, trânsito (violência, falta de qualidade no transporte

público), atendimento à saúde (dificuldade de acesso a consultas e exames

especializados), discriminação, desemprego, dificuldades financeiras, conflitos

familiares. Alguns desses apontamentos:

“Maior estresse é você estar sentindo dor e alguém esperar algo de você”.

“Estresse familiar é uma pessoa, da própria família não acreditar em você”.

“Fazer sempre a mesma função, não ter rodízio nas funções”.

“A pressão do encarregado sobre a gente”.

“As condições no ambiente de trabalho eram ruins, frias, molhadas, pesadas”.

“Falta de pausas, a falta de compreensão de patrões e colegas” (sic 5º

Encontro Grupo Projeto GARP, 2009).

Muitos ressaltaram que a dificuldade maior, no sentido da prevenção, se deve

a rigidez nos processos de produção, a existência de poucas opções de lazer

(praças públicas, áreas verdes nos bairros) e a dificuldade de acesso às mesmas,

seja pela distância ou falta de condições financeiras. No que se refere a administrar

as situações de estresse pontuaram que uma situação de estresse pode geralmente

levar a outras seja no trabalho, no convívio familiar ou social ou em ambos. Relatam

que é muito difícil ter controle, conseguir resolver determinada situação sem

estender para outros ambientes de suas vidas. Como estão intrinsecamente ligados,

Page 147: SOLANGE DE F TIMA CARDOZO DANELUZ) - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Solange de Fatima Cardozo Daneluz.pdf · de assistência tradicional em reabilitação profissional foi criado,

162

qualquer situação de estresse, acontecida em determinado ambiente,

automaticamente, interferirá nos demais podendo resultar no agravamento da

situação, “Estresse é um problema sem solução” (sic).

No final desse encontro, o grupo questionou o andamento das atividades do

GARP junto às empresas e também referente à situação dos mesmos, quanto ao

retorno ao trabalho. Questionaram a possibilidade de terem um representante

participando das reuniões do GARP. Percebeu-se esta reação do grupo como um

movimento de exercício de participação social e cidadania. Dessa forma, tal desejo

foi repassado em reunião geral do GARP para apreciação e, posteriormente, deu-se

o retorno ao grupo da viabilidade dessa participação.

Foi encerrada essa discussão com a mensagem “Como não adoecer”, de

Dráuzio Varella.

“Prevenção dos riscos ergonômicos com orientações posturais” no trabalho foi

o assunto do 6º Encontro. Para discussão desse tema, a profissional foi explanando

sobre os possíveis riscos ergonômicos existentes nos ambientes de trabalho e de

que forma eles contribuem para o desenvolvimento de doenças ocupacionais.

Ressaltou, também, que quando os ambientes de trabalho são planejados, com

medidas ergonômicas adequadas, diminui a possibilidade do desenvolvimento de

doenças ocupacionais. Enfatizou, ainda, que a prevenção não se resume a esses

cuidados, pois manter a postura correta durante a execução de atividades

laborativas é fundamental para prevenir os DORT’s.

Os usuários colocaram que há grande resistência nas empresas, no que se

refere à implantação dessas medidas preventivas. Reforçam que dificilmente as

reclamações, ou sugestões dos trabalhadores são ouvidas pelos superiores e

afirmam que determinada situação de risco só é considerada quando ocorrem

acidentes. Mencionam que mesmo as pausas para alongamento, no caso da linha

de produção das agroindústrias, geralmente só são praticadas quando há visitas à

empresas, ou no caso de fiscalização. Mostraram-se descrentes de que as

empresas sejam sensibilizadas para a importância dessas mudanças preventivas,

pois segundo os mesmos, elas detêm grande poder político e econômico o que lhes

dá suporte, segurança para continuar visando o lucro, indiferentemente de quem

seja. Mas esse processo foi fundamental para alcançá-lo. No final do encontro foi

repassado ao grupo a viabilidade de haver um representante do grupo participando

das reuniões do GARP, sendo feita a escolha do mesmo.

Page 148: SOLANGE DE F TIMA CARDOZO DANELUZ) - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Solange de Fatima Cardozo Daneluz.pdf · de assistência tradicional em reabilitação profissional foi criado,

163

O 7º encontro buscou desenvolver uma reflexão sobre o tema “Repensando a

vida e o trabalho”. Para essa atividade foram distribuídas sobre as cadeiras,

organizadas em círculo, figuras afins ao tema. Cada usuário escolheu uma figura

para socializar com o grupo sobre o significado da mesma em sua vida. Com essa

reflexão, enfocou-se a importância do trabalho na vida das pessoas, as relações que

se estabelecem a partir deste, como as de aprendizagem, conhecimento, realização

pessoal e profissional. Abordaram-se, também, as relações familiares, de amizade,

amor, sonhos, ideais e objetivos que estabelecem as “relações da vida” do indivíduo.

Relações essas que transitam por esses ambientes interferindo, simultaneamente,

ora num, ora noutro.

Durante as colocações, ficou claro o papel central do trabalho na vida das

pessoas e a valorização dos laços familiares. Relataram que o afastamento do

trabalho e a situação de adoecimento os distanciaram dos amigos/colegas,

passaram a ter menos vida social, muito tempo ocioso e, com isso, momentos

depressivos, dor mais intensa mesmo sem fazer esforço físico, mudança de rotina e

dos papéis no ambiente familiar, isolamento e menos momentos de lazer.

Colocaram, também, que gostariam de retornar ao trabalho, mas que se sentiam

inseguros quanto a como seria essa volta, como a empresa os receberia, que função

desempenhariam, como seria o relacionamento com os colegas, que estabilidade

teriam no emprego. Os relatos apresentaram, ainda, o desejo de realização do

sonho de ter uma casa confortável, estabilidade financeira, qualidade de vida,

momentos de lazer com a família.

Durante esse encontro, surgiu a preocupação dos participantes de como

fariam o acompanhamento das ações nas próximas etapas do projeto, quando as

atividades em grupo desenvolvidas por esse serviço fossem concluídas. Nesse

sentido, propuseram que o grupo tivesse continuidade com encontros mensais no

INSS.

O 8º encontro teve como tema “Redes Sociais” e objetivou possibilitar aos

usuários identificar, em seu meio social, as instituições e serviços aos quais têm

acesso, reconhecendo-as como uma rede social de atendimento.

Num primeiro momento, foi realizada uma breve explanação sobre redes

sociais, para introduzi-los no tema a ser discutido.

Para melhor compreensão de como essas redes estão estabelecidas, cada

usuário construiu sua rede social e identificou as potencialidades e as deficiências

Page 149: SOLANGE DE F TIMA CARDOZO DANELUZ) - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Solange de Fatima Cardozo Daneluz.pdf · de assistência tradicional em reabilitação profissional foi criado,

164

dessa rede.

Foi identificada, em todas as redes construídas, a existência de escolas,

creches, igrejas, hospital, unidade de saúde, trabalho, centro comunitário, farmácias,

mercado, mesmo que estivessem distantes da residência, Centro de Referência em

Assistência Social (CRAS), lanchonetes, bares, posto de combustível, bancos, INSS,

Secretaria de Saúde, salão de beleza, posto de lavagem, base da polícia militar,

universidade, penitenciária, parque de exposições, correios, campo de futebol,

ginásio de esportes, cemitério, dentista, clínica de fisioterapia, Centro de Referência

em Saúde do Trabalhador (CEREST). Também foram citadas redes familiares,

vizinhos, lojas, padaria.

Entre as dificuldades relatadas, durante a apresentação ao grupo, foram

citadas, a falta de lotéricas em alguns bairros, agências bancárias, espaços públicos

de lazer (praças, áreas para caminhadas, prática de esportes...). O grupo colocou

que muitas vezes a rede existente atende suas necessidades, mas o que dificulta o

acesso são as dificuldades financeiras.

Na sequência foi informado ao grupo que a proposta sugerida no encontro

anterior foi aceita, sendo que esses encontros seriam acompanhados por eles, com

datas de encontros a serem acordadas.

O tema trabalhado no 9º “Encontro foi Estilo Saudável de vida X Qualidade de

vida”. Foram criados três grupos para discussão dos temas: Qualidade de vida;

Estilos saudáveis de vida; Situações que dificultam uma vida saudável. Seguem as

colocações apresentadas pelos grupos:

Qualidade de vida: sistema de saúde eficiente; trabalho; Previdência Social;

educação; direito a lazer; família; transporte público adequado; moradia digna;

amigos; oportunidade de participar da reabilitação.

Estilos saudáveis de vida: alimentação saudável; exercícios físicos

(caminhadas); relacionamento familiar tranquilo, vizinhos, parentes; lazer; trabalho.

Situações que dificultam uma vida saudável: dor; financeiro; maus hábitos,

alimentação; álcool; drogas; tabagismo; falta de informação; infraestrutura;

dificuldade de transporte; falta de vontade.

Após a discussão, foram criados painéis, a partir de recortes de revistas e,

posteriormente, foi realizada a socialização da discussão e apresentação dos

painéis ao grande grupo.

A participação do grupo no desenvolvimento da atividade foi efetiva, sendo

Page 150: SOLANGE DE F TIMA CARDOZO DANELUZ) - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Solange de Fatima Cardozo Daneluz.pdf · de assistência tradicional em reabilitação profissional foi criado,

165

que a maioria dos integrantes expressou sua opinião, apresentando apontamentos

que retrataram as dificuldades enfrentadas na busca da melhoria da qualidade de

vida.

“O cotidiano a partir da incapacidade atual” foi o tema do 10º encontro. O

assunto trabalhado foi o conceito de cuidado e autocuidado para que o usuário

possa reconhecer-se como um indivíduo capaz de estabelecer uma relação

saudável consigo mesmo, através do autocuidado. Da mesma forma, identificar os

espaços sociais que lhe possibilitem ser cuidado, garantindo o direito à sua

cidadania.

Para finalizar esse encontro, foi realizada uma dinâmica, utilizando as

bolinhas crespas, estimulando a circulação dos pés, fazendo com que cada

participante percebesse a diferença de seu alongamento do início para o final. O

grupo demonstrou interesse com a dinâmica e ao final perguntou onde poderiam

adquirir as bolinhas para utilizarem em casa.

No 11º encontro, foi realizada uma reavaliação fisioterapêutica e reaplicados

os testes Whoqol e Corlett, para análise da melhoria da qualidade de vida e

alteração do quadro álgico, apresentado inicialmente. Na análise dos testes

aplicados não foram observadas alteração significativas entre uma aplicação e outra.

Concluiu-se que, possivelmente, esse resultado se deva ao pouco tempo de

intervalo entre a aplicação inicial e final. Num segundo momento foram socializados

os assuntos discutidos na reunião com as entidades parceiras do GARP, ocorrida

em 29/06/2009, nas dependências do Serviço Municipal de Fisioterapia e Saúde

Funcional pelo representante do grupo de usuários que participou da reunião.

No 12º Encontro teve como tema: “Sono e Respiração”, falou-se sobre a

função do sono e seus benefícios para o corpo e a mente, enfatizando a importância

da qualidade do mesmo. Mostrou-se aos participantes posturas adequadas para a

coluna durante o sono e repouso. Com relação à respiração, trabalhou-se o padrão

respiratório diafragmático, ressaltando a importância deste padrão associado ao

sono para a melhoria da qualidade de vida. Foi realizada uma atividade prática com

a participação de 2 pessoas para demonstrarem como dormem e levantam da cama

e finalizou-se com exercícios de respiração.

Alguns participantes relataram a dificuldade para dormir, mesmo fazendo uso

de medicamentos. Desconheciam a relação entre alimentação e horário adequado

para alimentar-se antes de dormir. Perceberam a falta de conhecimento, quanto à

Page 151: SOLANGE DE F TIMA CARDOZO DANELUZ) - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Solange de Fatima Cardozo Daneluz.pdf · de assistência tradicional em reabilitação profissional foi criado,

166

importância da respiração diafragmática no dia a dia, não só no momento de dormir,

mas também em todas as atividades realizadas. Falou-se sobre a utilização de

técnicas respiratórias para o alívio da dor, ansiedade e insônia, entre outros

benefícios. Comentaram sobre hábitos posturais inadequados para dormir e

desconheciam os malefícios que os mesmos poderiam acarretar.

13º encontro – “Retorno às atividades e orientações gerais”. Nesse encontro

foi realizada uma avaliação geral do grupo, em que os participantes expuseram as

suas experiências, adquiridas durante as sessões, avaliaram seu aproveitamento e

deram sugestões para o projeto. As colocações do grupo ficaram centradas mais

nas dificuldades de conseguir consulta médica com especialistas, exames de média

e alta complexidade. Nesse sentido, colocaram que foi “decepcionante” (sic), pois

tinham a expectativa de que, através do projeto, teriam mais facilidade de acesso a

esses atendimentos. Contudo, vale ressaltar que ficaram em atendimento em grupo,

por aproximadamente 04 meses, e naquele momento havia falta de profissionais da

área médica, na Secretaria de Saúde. Dessa forma, esses atendimentos

aconteceram após o término dos encontros do grupo. Salientaram que o período

realizado de fisioterapia foi insuficiente para haver uma melhora significava do

quadro clínico. Pontuaram, também, dificuldades para o atendimento nas Unidades

de Saúde, em relação ao número reduzido de consultas e falta de médicos.

Colocaram, ainda, a preocupação com a estabilidade no emprego, após a alta do

INSS.

De forma geral, relataram que foi uma experiência positiva, pois fortaleceram-

se com o grupo, embora não tenha havido uma melhora significativa na condição

física devido a cronicidade de seus quadros clínicos, ficou visível a melhora no

estado emocional e na reinserção social.

Considerações Finais

Percebeu-se que, devido ao quadro crônico de dor e pelo longo tempo de

afastamento do trabalho, da maioria destes usuários, houve diminuição do convívio

social, mudança na rotina familiar e assunção de novos papéis neste contexto. O

homem passa a exercer o cuidado com os filhos, assume algumas tarefas

domésticas, deixa de ser o principal mantenedor da família e, em alguns casos,

restringe sua convivência ao âmbito familiar. A mulher, por vezes, não consegue

Page 152: SOLANGE DE F TIMA CARDOZO DANELUZ) - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Solange de Fatima Cardozo Daneluz.pdf · de assistência tradicional em reabilitação profissional foi criado,

167

desempenhar tarefas que qualificam seu papel sócio-familiar de esposa e mãe.

Essas alterações no desempenho de papéis já internalizados podem ser sentidos

como perda da identidade profissional e sócio-familiar, gerando, consequentemente,

sentimentos de desvalia em sua relação consigo e com o meio em que vive.

Observaram-se fragilidades no atendimento à saúde do trabalhador: na rede

de assistência à saúde pela dificuldade na articulação da rede, tanto na atenção

básica, quanto na especializada, número reduzido de consultas, demora excessiva

para a realização de exames; no sistema previdenciário, excessivo tempo de espera

para a realização de perícias e insatisfação com a qualidade do atendimento

dispensada pelos peritos.

Nesse cenário, percebeu-se a ausência e a importância de outros atores que

não foram inseridos no projeto e fazem parte da rede assistencial, como sindicatos,

empresas, Unidades Básicas de Saúde, Centros de Referência em Assistência

Social (CRAS) entre outros. No decorrer do projeto, a participação e o envolvimento

dos atores não se deram de forma equânime dificultando, por vezes, a efetividade

de seu desenvolvimento.