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SOLO E ÁGUA NOPOLÍGONO DAS SECAS

JOSÉ QUIMARÃES DUQUE

VINGT-UN ROSADO e AMÉRICA ROSADO(Seleção e organização)

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PREFÁCIO DA 1º EDICÃO

 BANCO DO NORDESTE DO BRASIL

Por sua importância para os estudos da Região e aproveitando oensejo das homenagens que se rendem ao Dr. José GuimarãesDuque pela passagem do seu septuagésimo aniversário, a Socie-dade Botânica Brasileira sugeriu ao Banco do Nordeste do Bra-

sil que patrocinasse nova tiragem do seu livro Solo e Água noPolígono das Secas.

O Dr. Guimarães Duque, como homem de ciência, tem dadoinestimável contribuição para a solução dos problemas da agri-cultura nordestina. Além do seu trabalho no Departamento deObras Contra Secas (DNOCS), onde, por muitos anos, desem-

 penhou funções de chefia de importantes setores daquele órgão,exerceu cargos públicos e desenvolveu intensa atividade no ma-gistério em sua área de especialização,

Entre os muitos trabalhos que publicou, como fruto do estudo eda sua experiência no trato dos problemas nordestinos, além doque ora se divulga que, por ser considerado um clássico do seugênero já teve três edições sob o auspício do DNOCS, figuraoutro que acaba de ser lançado pelo BNB, em sua segunda edi-ção, qual seja, O Nordeste e as Lavouras Xerófilas.

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 Ao escolher com satisfação a sugestão da Sociedade Botânica Brasileira, trazendo a lume a quarta edição de Solo e Água noPolígono das Secas, espera o BNB estar rendendo mais umahomenagem ao seu autor e star oferecendo uma contribuição ao25º Congresso Nacional de Botânica, a realizar-se em janeirode 197.

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PRIMEIRA PARTE

O EQUILÍBRIO BIOLÓGICO E A ORDEM SOCIAL

A Natureza na sua quietude construtiva, na sua lentidãode criar e de transformar, na paz da elaboração clorofiliana, nosossego das reações biológicas e químicas que demoram sécu-los, é um exemplo admirável de equilíbrio, de sincronização e

movimentos e de combinação de cores. Os minerais, as socieda-des vegetativas e os animais, formando o triângulo de sustenta-ção da vida, do Universo, se congregam harmonicamente, nacooperação mais íntima e mais grandiosa conhecida, com o fatorclima, para atingir o máximo da perfeição funcional, o sublimeda beleza e o mais elevado padrão de utilidade.

No viver coletivo dos vegetais inferiores e superiores, naadaptação das diversas espécies de plantas no mesmo solo, noamparo sombrio que as espécies prestam um às outras, na sim-biose que é o cooperativismo vegetal, na proteção que a mantaverde proporciona à Fauna, nós encontramos o mais edificante

ensinamento de solidariedade organizada.A Agricultura, filha dileta da Natureza, é o traço de união en-

tre o Reino Mineral, quase imutável, e o Mundo Animal inquieto,buliçoso e insatisfeito nas suas necessidades e ambições.

Dir-se-ia que a Agricultura é o abraço natural, é a solidari-edade oferecida em dois braços, um à calma dormência da terrae outro à sofreguidão da Humanidade, como que para conciliar àestática e a dinâmica da obra do Onipotente.

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A fase inicial da vida orgânica é o edaphon ou o conjuntodos organismos inferiores representados pelas bactérias, fungos,algas e protozoários, etc., invasores do solo rico de azoto, deumidade, com pouca luz e que, atuando sobre os minérios, ob-tém os primeiros compostos solúveis, a digestão preparatória danutrição dos outros seres vivos que aí se estabeleceram.

Este incipiente agregado elaborador vai enriquecendo omeio de compostos orgânicos, cada vez mais complexos e enér-

gicos, que proporcionam ambientes sempre mais ricos em ali-mentos e convidativos para as sucessões de outras formas devida, que, após, cedem o lugar, deixando suas sínteses, aos está-gios mais elevados de plantas e animais.

Assim, a superfície do solo vai sendo coberta aos poucospor alternativas invasões, e estabelecimentos de colônias bióti-cas que se multiplicam e cedem o espaço para tipos mais altos,executando cada função de assimilação e de acumulação de re-servas que são posteriormente usadas, transformadas e amplia-das pelas agregações bióticas seguintes.

Depois de décadas ou séculos da ação cooperativa, dos se-

res vivos com a atmosfera, forma-se um habitat de sombra, detemperatura mais amena, de panorama verde e de conforto rela-tivo, que permite a existência dos grandes animais e do Homem,por intermédio da Agricultura.

A presença do Homem é possível quando o bioma já seencontra em avançado estado de evolução, que aí se mantenhasem degradação e que a Agricultura se desenvolva sem destruir

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o balanço ecológico ou a estabilidade regular com as flutuaçõese repercussões das diferentes formas de vida no ambiente.

Portanto, o Homem e a Agricultura somente podem coe-xistir na Biota, no meio melhorado e coabitado pela série imensados seres microscópicos, pequenos, médios até os grandes con-sórcios vegetais-animais que, pela diversidade e multiplicidadede procedimentos e de hábitos, se harmonizam em sociedadecompensada.

A dependência entre os microorganismos e as grandesmanifestações de vida é eterna e básica para a evolução biológi-ca do mundo.

Na verdade não existe a estabilidade na Natureza e simuma concordância e fixações, crescimentos, reações, competi-ções, etc., sucessivas, de comunidades bióticas no mesmo espa-ço, em tempos diferentes, com tendências tolerantes ou mesmoacomodatícias.

LIMITACÕES NATURAIS

A interdependência entre o solo, a planta e o clima estabe-leceu limites ao trabalho do homem na Agricultura. As limita-ções naturais impõem um cerceamento na liberdade ou no direi-to de exploração dos recursos naturais. O desrespeito ao código,não escrito, na Natureza produz efeitos imediatos ou tardios,sutis ou graves, conforme a intensidade da transgressão.

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Se a Biota se degrada, se cai à estrutura da organização vi-va, que mantém o solo perenemente em produção, o Homemsofre no seu conforto e pode desaparecer.

O Homem pode se considerar desarmado diante do clima edas forças físicas se ele não se agarrar aos outros seres vivospara tirar proveito das suas influências benéficas, das suas asso-ciações coletivas, da coabitação com plantas e animais no usocomum de determinado espaço.

Nos quadros regionais se acomodam grupos humanos,plantas e animais com afinidades específicas e funcionais; àsvezes, as variações do clima os alteram e noutros momentos asubsistência do homem os perturba. A interdependência ou anecessidade de se apoiarem uns nos outros vai mantendo a coe-são original

A erodibilidade do solo, o desaparecimento de espécimes dafauna e o empobrecimento da flora são exemplos de limitaçõessutis e perigosas, impostas pela Natureza, como castigo, à popula-ção, causando a subalimentação, a emigração ou a extinção.

Uma aglomeração humana vive, em sua região natal, me-

diante uma adaptação empírica ou intuitiva, adquirida atravésdos anos ou de geração em geração, com o solo, o abrigo, o cli-ma, o trabalho, etc. Para garantir a sua perpetuidade, uma comu-nidade humana precisa viver em harmonia com o código da Na-tureza do seu meio. As transgressões ao jogo harmonioso dasforças naturais importam em penalidades que primam pela cru-eldade e imutabilidade. Se a terra é desnudada, a erosão aparececom o empobrecimento do solo, as inundações, etc., e o resulta-

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do é a fome e o perecimento da população não importando quemtenha sido o causador do desastre.

O homem não é livre no meio ecológico que ele bem co-nhece porque o solo é instável, nasce, vive e morre conforme aproteção, o repouso que se lhe dá em retribuição à entrega gene-rosa da sua fertilidade.

A adaptação dos seres vivos ao ambiente é requisito, fun-damental para a sobrevivência, porém o seu sincronismo funcio-

nal ou o “modus operandi” acompanha as variações edafoclima-téricas de cada região.O fim desta publicação, focalizando a instabilidade do

meio biológico nordestino é investigar um equilíbrio entre osrecursos naturais, os animais e os habitantes.

Salientaremos a importância da flora e da fauna: apresen-taremos os estudos dos solos irrigados e irrigáveis como meio deampliar a capacidade alimentar do polígono e no fim estudare-mos as medidas para a conservação do solo e da água como ga-rantia para a estabilidade econômica.

Quando a pressão da população sobre a capacidade de

subsistência do Polígono Seco alcança o limite da resistência,uma fração dos habitantes se movimenta e inicia-se a emigraçãointerna.

Este deslocamento de massa humana ou rompimento doequilíbrio biótico entre as disponibilidades do habitat e as ne-cessidades essenciais da vida é causado, periodicamente, peloaumento dos habitantes ou por uma seca diminuindo bruscamen-te o poder de sustentação. A sociedade humana, dentro da Zona

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Seca, vive em periclitante harmonia biótica com o solo, a flora ea fauna e na incompreensão cultural da interdependência ecoló-gica e simbiótica dos seres vivos.

Quanto mais delicada a desarmonia entre os seres anima-dos e o meio ambiente, quanto maior a intensidade da competi-ção entre os componentes da comunidade, mais conhecimentocientífico é exigido para obter a conciliação na sucessão dasformas ecológicas. Com a atual densidade de população, uma

pessoa para 10 hectares de área seca, o Nordeste já apresentasintomas de saarização; muito conhecimento, trabalho e coope-ração os habitantes deverão desenvolver para evitar a formaçãodo deserto.

O ciclo hidrológico nas regiões desérticas está convulsio-nado pela quebra das chuvas, pela violência dos escorrimentos epela subida da temperatura que enxuga a atmosfera não contri-buindo para a liquefação dos vapores de água.

A cadeia da água numa região é composta pela umidadedo ar, pelas correntes líquidas sobre o solo em forma de riachose rios e pelos veios aqüíferos, lençol freático e depósitos subter-

râneos de águas infiltradas continuamente e que alimentam asfontes e os poços. Quebrado que seja um elo desta cadeia, poruma causa qualquer, desencadeia-se o vento, cresce a evapora-ção, param as fontes, secam os rios, revolta-se o céu e míngua avida animal e vegetal.

A deficiência da cobertura do solo conspirou, aqui com aescassa profundidade da gleba e com a secura do ar para formara condição anômala da aridez caracterizada pelo escorrimento

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superficial da massa líquida em turbilhões, correntes de riachose de rios que duram somente horas com descargas máximas eleitos vazios no resto do ano.

As relações conjugadas entre a evaporação oceânica, a di-reção dos ventos pejados de umidade, a cadência das precipita-ções que atravessam a manta vegetativa para encher as camadasinferiores do solo, a vazão dos mananciais e o curso dos riosforam drasticamente rompidas no Nordeste, não podendo o ho-

mem restabelecê-las.A “saarização” progressiva vai rompendo cada vez mais oequilíbrio entre as associações vegetativas, o ciclo da água, aprodução agrícola, a economia e o aspecto social.

A marcha da mudança do ambiente para condições adver-sas principia nos altos com o transporte do solo, com o desco-brimento das pedras, com o secamento mais rápido e quando omorador não pode tolerar a adversidade local e muda-se para obaixio ele encontra as cheias repentinas, que cobrem as roças,que carregam as colheitas e deixam, após poucos dias, a terra emestado de não facilitar mais o desenvolvimento de um novo

plantio.Assim, de cima para baixa, nas colinas sertanejas, a água

“erosiona” tudo, terra e pedras, provocam sulcos irregulares navertical, drenando mais o que já era seco, empobrecendo mais opasto que já medrava fraco, e reduzindo mais o porte da vegeta-ção que já era anã.

Após e desequilíbrio físico começa a aparecer lentamenteà decadência biótica com a eliminação parcial da fauna até, em

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avançado grau, atingir o homem no seu conforto na sua alimen-tação e na sua saúde.

O limite da decadência biológica é alcançado quando, com adegradação do meio e crescimento da população, satura-se a “resis-tência demográfica” e uma parcela dos habitantes é obrigada a e-migrar porque os recursos locais não são mais bastantes para satis-fazer as necessidades daquela comunidade alterada.

O simples expansionismo das lavouras, o alargamento das

áreas, sem um plano conservacionista na abertura de novos lo-tes, significa intensificar a destruição e aumentar o deserto.O sistema de agricultar a terra árida tem de ser adequado

às suas condições porque o povo nordestino não pode fugir aoimperativo agrológico, biológico e cultural, que está ditando odestino da sua Civilização.

Para implantar um sistema de agricultura econômica epermanente nas regiões de avareza climática nós teremos deajustar os processos técnicos da população à manutenção maisecológica possível do habitat.

O clima, o ciclo hidrológico, a flora e os fatores demográ-

ficos são interdependentes e eles formam à paisagem natural e oquadro biológico.

Como o potencial de cultura de um povo supervisiona oseu comportamento técnico segue-se que a manutenção da sub-sistência e a garantia do progresso dependem muito da educaçãoe da preparação regional dos seus moradores.

Procuramos um meio de manter o equilíbrio entre as exi-gências da coletividade e as reservas da Zona Seca e também

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inquirimos os processos pelos quais, uma vez perturbada a har-monia funcional do conjunto pela intervenção de uma seca oupela saturação demográfico-econômica, possamos incrementar acolonização das regiões úmidas adjacentes, ampliar a irrigação,estabelecer novas indústrias e preservar a riqueza natural comofatores de melhoramento para a população nordestina.

O Nordeste não atingiu ainda a máxima capacidade demo-gráfico-econômica, porém marcha para a sua saturação.

A variação climática desordenada do meio físico obrigaráa população a viver sempre em flutuações, como a flora e a fau-na, e a solução será o incremento da produção dentro do polígo-no em paralelo com a colonização das regiões vizinhas do Nortee do Oeste para permuta de mercadorias.

Temos de unir, de integrar, a Terra Seca na Zona Úmidapelas rodovias e linhas fluviais para que elas se completem e se

 justaponham como órgãos de um Corpo Nacional. Com as liga-ções rodoviárias e ferroviárias do Nordeste com o Sul e com oavanço das rodovias nordestinas em procura do Maranhão e doNordeste de Goiás e, futuramente, com o prolongamento de ou-

tras estradas para o Pará, Sul-Amazonas, será possível iniciar-mos a conquista verdadeira do Nordeste e do Oeste, pela terrafirme, quando houver excesso de população na Zona Seca, me-diante a construção de estradas, de habitações, organizado hos-pitais, iniciando o saneamento, edificando escolas, aumentandoa produção, intensificando o comércio, realizando, enfim, umpovoamento racional das terras úmidas, devolutas.

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O desenvolvimento dos meios de transporte, conjugandosistemas rodoviários e fluviais, como por exemplo, as conexõesdas linhas fluviais Paranaíba, Tocantins e São Francisco com asrodovias centrais do Polígono Seco, exercerá um papel decisivona conquista de novas regiões com a fixação de famílias brasi-leiras e na expansão, no Nordeste, de um grande comércio inter-no e externo.

Pelos dados do IBGE a superfície de 1.150.652 km² do po-

lígono abriga quase treze milhões de pessoas; ela ainda admitemaior concentração de moradores e a sua exploração agrícolapede muitos melhoramentos.

Temos querido resolver os problemas financeiros de umNordeste estanque, com um vácuo do lado Oeste e sem umgrande porto entre Recife e Belém, não provocando as reaçõesatravés da produção de duas zonas para precipitar o movimentode trocas, aliviador das nossas aberturas de numerário. A área deinfluência econômica da Terra Semi-árida não se circunscrevenos limites do polígono geográfico; ela já atravessa o Atlânticopelo Leste e pode atingir Mato Grosso pelo Oeste, dependendo

da orientação político-administrativa dos Governos.O povoamento das regiões úmidas, limítrofes, resultará em

grandes benefícios para os Estados Secos pelo maior volume dematéria prima para as suas indústrias, pelo acréscimo de movi-mento importação e de exportação dos seus portos e pela multi-plicação das transações comerciais. Toda a tragédia das emigra-ções nordestinas, no passado, foi terem sido feitas para ambien-

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tes longínquos, sem plano de fixação das famílias, sem ligaçãocom a zona-mãe e nenhum proveito para esta.

Atém ontem o Nordeste, o Sul e o Norte somente dispu-nham de uma ligação – a via marítima; o País permanecia comoum sistema de vasos fechados. A solução das questões específi-cas dos Estados Secos não contava com a indispensável ajuda dotransporte interzonal.

A articulação das três Zonas (Sul, Nordeste, e Norte) formará

um sistema compensando de vasos comunicantes no sentido de-mográfico, econômico e social para maior progresso do país.A salubridade da Zona Seca, o elevado índice de natalida-

de da sua população, a sua posição estratégica de ligação doNorte com o Sul, a produção de matérias primas especiais declima árido, como: fibras, óleos, peles, minérios e ceras; a suasituação geográfica privilegiada para abastecer as indústrias doHemisfério Ocidental veio realçar a importância econômica,social e política do Nordeste.

Não tendo esta Faixa Seca nenhum problema político oureligioso como outras regiões secas do mundo e nem saneamen-

to grave a resolver, e como somos um povo pacífico, reunimosum conjunto de vantagens como produtores de mercadorias, nãocomuns, no ocidente.

Se, materialmente, as comunidades botânicas, faunianas ehumanas carecem do equilíbrio biológico com o solo e o climapara sobreviverem  –  para serem uma realidade natural  –  elas,moralmente, dependem, também, da organização jurídica que

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amolda, dirige e controla as relações dos indivíduos e dos gru-pos, dentro das sociedades.

Esta ordem social, por motivos vários, divorciou-se da con-cordância e do sincronismo que as populações precisam manter,principalmente com os ambientes de condições desfavoráveis.

O não cumprimento das leis humanas, a desobediência aosprincípios biológicos mais elementares, o desprezo às questõesdo campo e da agricultura, o sentido pejorativo que tomou a

palavra matuto, o desdém e a vergonha no tratar dos assuntos dasubsistência e da alimentação, tornaram a sociedade indiferenteà sorte do meio, artificial e egoísta.

Na luta titânica pela existência, as populações, adotando alei do menor esforço, resvalaram para o saque das riquezas natu-rais, procuraram transformar em metal sonante tudo o que omeio, pobre de água, poderia proporcionar, numa política depilhar e safar-se, semelhante àquela outra, mais antiga, do “a-

 prés moi le déluge”.Há um Código Florestal que regula o corte das matas, há

as reservas florestais nacionais de manutenção estabelecida em

lei e, no entanto, as derrubadas e os incêndios se fazem nas flo-restas da União sem o menor respeito ao agrônomo encarregadoda administração; todos estão de acordo na ampliação da áreairrigada, mas não existe a praxe do irrigante auxiliar na conser-vação dos canais que servem para todos e nem há a cooperaçãotão desejada entre os particulares para o aproveitamento maiscoletivo das obras públicas. O homem da cidade nada faz dereal, espontaneamente, para auxiliar a agricultura que o alimen-

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ta, pelo contrário, ele quer as refeições na hora certa sem se inte-ressar se houve inverno ou seca, pragas, crédito ou transporte.Só transporta o bem-estar e a fortuna do EU.

Na doce miragem do personalismo estanque, imediatista,os indivíduos continuam a viver em crescente atrito com o meiofísico e biológico, com a agravante numérica da competiçãomaterial pela existência e na confecção apresada de leis, às ve-zes paralelas, outras vezes contraditórias, que criam o caos da

incompreensão e do descontentamento.Assim, como a água que corre divagando para os lados natentativa de achar o seu leito tranqüilo, também às populaçõestrabalhadoras do polígono têm vivido em marés oscilatórias deaflições e de emigrações, dentro e fora da Zona, na esperança deencontrar, sem nunca ter conseguido ainda, aquele estabeleci-mento, aquela radicação, o desenvolvimento das suas atividadesde modo a estimular a prosperidade e a tranqüilidade que contri-buem para a felicidade de todos.

A vida do homem é demais breve, a do País é permanente,e o imediatismo prevaleceu paradoxalmente, nos agrupamentos

sociais mais letrados e mais educados, na escola da ambição.A classe mais abastada, a que comanda a aplicação dos

numerários nos empreendimentos e nos negócios, é a que maisse afasta da lavoura porque procura lucros rápidos e vultosos, aque menos protege os recursos básicos da Zona e a que menoszela pela formação de condições direta e indiretamente benéficaspara todos.

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A indústria, madrasta da lavoura, a simples compra da ma-téria prima sem indagação das operações da produção, sem aten-tar na melhoria do meio, é uma falsa prosperidade, que nos estáconduzindo, lentamente, insensivelmente, para a decadênciagradativa.

O conforto e o padrão de vida de um povo estão sujeitosao balanço do ambiente e os homens que dispõem de maior par-cela do poder político, financeiro ou intelectual não podem abu-

sar das suas posições, prerrogativas ou recursos sem perturbar aestabilidade da Natureza circundante, sem comprometer o po-tencial de vida dos grupos mais dependentes e mais laboriosos,que mais concorrem, numericamente, para o bem-estar coletivo.

A um simples golpe de vista constata-se que a organização jurídica está contra a ordem natural, que estamos muito longe dealcançar aquele gosto, interesse e amor que os povos altamenteeducados manifestam para com a árvore, o campo, o solo, a a-gricultura, buscando o auxílio da Natureza, completando a har-monia indispensável na coexistência do mundo vivo com o uni-verso físico, praticando a verdade daquela sentença de Kingsley;

a cooperação é a vida, concorrência é a morte.O êxodo dos habitantes rurais para as cidades, o aumento

do número de mendicantes, a falta de conforto nas fazendas, agrande mortalidade infantil, etc., são algumas das conseqüênciasdo desajustamento social, do desacordo do homem com o cam-po, da intranqüilidade gerada pela produção deficiente de ali-mentos que, em grande parte, é motivada pelo empobrecimentodo solo.

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A fome, o grande fator da agitação atual no mundo inteiro,é o rompimento do equilíbrio biológico com o meio físico e coma ordem social.

A auto-suficiência alimentar para população e a exigênciamais urgente do polígono.

Uma reforma agrária, com a simples divisão dos latifún-dios em pequenos lotes para a colonização, não é uma decisãofeliz para as nossas questões porque, no sertão, fora das várzeas

irrigadas, tem de predominar a grande fazenda, com as opera-ções em maior escala, para que o sistema extensivo, único pos-sível na terra seca, seja compensador e os lucros facilitem me-lhoramentos sucessivos.

O maior problema da Agricultura é de origem externa, isto é,depende da cooperação, do auxílio, que as populações não ruraispossam prestar à lavoura. Interessar-se pela sorte da Agricultura,conseguir o crédito rural, ter materiais agrícolas para a venda nasocasiões oportunas, facilitar a assistência médica e técnica, pagarpreços mais elevados pelos produtos melhores, etc., são exemplosde ajudas importantes que as gentes urbanas e industriais podem

dar à classe rural que as alimenta. Alguém poderia objetar que asclasses citadas nada têm a ver com a Agricultura. Têm e muito:com as refeições postas na mesa todos os dias. A Agricultura dei-xou de ser uma questão privativa da classe rural para ser a chave dasobrevivência de todas as populações.

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REGIÕES ECOLÓGICAS

O estudo do solo e da água e os seus usos para a lavouraabrangem as vegetações nativas e nos obrigam a divisão do po-lígono em regiões ecológicas, não obstante, há pequena diferen-ça entre algumas.

O Dr. E. Von Luetzelburg, nos dois períodos em que tra-balhou no DNOCS, estudou a flora do Nordeste e nas suas vali-

osas publicações classificou-a com o critério do botânico.Nós procuramos uma classificação de regiões, dentro dopolígono, tendo em vista, além da vegetação, também o clima eo solo refletidos no julgamento como que o matuto define a pai-sagem e o uso da terra. Nós não poderíamos definir ou identifi-car uma região, mesmo com conhecimento científico, se o nossocritério não fosse ampliado e completado com a impressão, coma experiência e as sensações que aquele ambiente impregnou nosseus habitantes.

Ousamos separar o polígono das Secas em caatinga, ser-tão, seridó, agreste, carrasco e serras, nomes que vieram da lín-

gua indígena ou foram escolhidos pelas populações locais.Cada região do Nordeste Seco tem as suas espécies vege-

tais acomodadas compensadamente nas necessidades de luz, denutrição, de água etc.; as espécies, os solos e os climas locaisprocuram manter equilíbrio fisiológico quando deixados emabandono.

A formação dos grupos botânicos característicos da aridezcomeça com a invasão do terreno pelas sementes das gramíneas,

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ciperáceas, compostas, verbenáceas, cactáceas, mofumbo, marme-leiro, jurema, etc., que germinam aproveitando a chance das chuvase vão compondo, com o tempo, uma seqüência ordenada de mu-dança e crescimento, cobrindo cada vez mais o chão, enriquecen-do-o de minerais e compostos orgânicos que modificam o meio eintensificam a competição para eliminar alguns componentes eformar o leito adequado para outras árvores e arbustos como catin-gueira, umburana, maniçoba, pau branco, sabiá, etc., através de

estádios sucessivos, menos perceptíveis e mais vagarosos do quena floresta hidrófila-megatérmica, o conjunto vegetativo desérticoevolui numa série de mudanças na dominância de espécies atravésdo tempo até atingir o clímax da organização xerófila com o apare-cimento de desenvolvimento das essências mais nobres como: aro-eira, angico, cumaru, cedro, pau ferro, de mistura com os indiví-duos que sobreviveram nas lutas de cada fase.

Para esclarecer o processo admitimos que cada sucessãovegetativa se baseia numa correlação pouco estável; o cresci-mento das espécies, a diminuição gradual da luz interna e a mo-dificação das condições do solo acabam anulando o próprio e-

quilíbrio anterior, novo estádio evolutivo é criado com os orga-nismos que resistiram à alteração e aqueles que o vento, a chuvae os pássaros introduziram na competição; segue-se novo ritmode desenvolvimento e atividade em que cada indivíduo e cadaespécie buscam o seu lugar no meio vivo e no espaço para flo-rescer e frutificar com a amplitude permissível pela tolerânciados vizinhos tendendo para uma harmonia relativa.

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As plantas, heterogênicas nas espécies, nos portes e nasexigências, cobrindo o solo numa acomodação admirável, asraízes estabelecendo-se em níveis diferentes, a participação daluz e da umidade em concordância com os hábitos de cada espé-cie, a densidade da massa vegetal escondendo o chão dos efeitosdo intemperismo formam o complexo solo-planta-clima caracte-rístico de cada região. Este complexo regional é o clímax deestabilização do ambiente, é o conjunto de força postas em equi-

líbrio pela plasticidade dos seres vivos e rigidez das leis naturaisdo mundo físico.O clímax de estabilização é o estado adulto atingido pela

população vegetal, na sua evolução e que não tolera nenhumaconcorrência. No Nordeste Seco o clímax de estabilidade é oxerofilismo, é a caatinga, ou cerrado ou sertão, vegetação xerófi-la, baixa, retorcida, unida, espinhenta e agressiva, em solo raso,pedregoso, seco, quase sem humos. Esta vegetação natural temmuita importância na restauração do solo cultivável

CAATINGA

Dentre os agrupamentos florísticos ou associações vegeta-tivas naturais no Nordeste seco, a caatinga é aquele que ocupaou domina maior área.

A caatinga é um conjunto de árvores e arbustos espontâ-neos, densos, baixos, retorcidos, leitosos, de aspecto seco, defolhas pequenas e caducas, no verão seco, para proteger a planta

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contra a desidratação pelo calor e pelo vento. As raízes são mui-to desenvolvidas, grossas e penetrantes.

O solo é silicoso ou silico-argiloso, muito seco, raso, qua-se se humos, pedregoso, pobre em azoto, porém contendo regu-lar teor de cálcio e potássio, como atesta a vegetação do algodo-eiro e do caroá.

Na caatinga a associação florística com o solo e a atmosfe-ra é quase uma simbiose, tal é o regime de economia rígida da

água para entreter as funções em equilíbrio; a união densa, fe-chada, de catingueiras, acácias, umbuzeiros, maniçobas, ma-cambiras, cactáceas, pereiro, etc., protegem o solo no invernocom a sua folhagem verde e no verão cobre-o com uma camadade folhas fenadas que são em parte comidas pelo gado e o res-tante aduba o chão; as espécies, para sobreviverem em relativaharmonia fisiológica absorvem umidade do ar, com o abaixa-mento da temperatura à noite, quando a terra seca lhes nega á-gua e força-as ao repouso. Este é o seu clímax de estabilizaçãovegetativa.

A resistência das plantas xerófilas à seca foi estudada pelo

botânico F. Von Luetzelburg, e do relatório da Seção de Botâni-ca e Ecologia, Arquivo do SAI., extraímos os seguintes trechos:“ Além dos espinhos, engrossamento da cutícula, coberta de ce-ra, redução da superfície folhear, etc., as plantas adaptadas àterra escaldante, atravessam as secas anuais e os verões semchuva, mediante reservas alimentícias armazenadas nas raízestuberculadas, nas batatas e xilopódios. Os estudos anatômicosde muitas árvores e arbustos do Nordeste revelaram a existên-

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cia destas reservas na cavidade, dentro das raízes em forma deágua, amidos, gomas resinosas, gomas mucilaginosas e seusderivados, açúcares, pentosas, albuminas, ácidos orgânicos aolado da hidrocelulose, linima, etc. Os xilopódios têm mais influ-ência sobre a vida vegetativa das ervas e subarbustos enquantoque as raízes tuberculadas pertencem mais à flora arbórea...”.

“...  As raízes tuberculares e os xilopódios apresentam umverdadeiro sistema xilêmico ou tecido com os característicos

 particulares de zonas geratrizes ou de câmbio, gerando novascamadas de madeira ou lenho. Entre as reservas alimentícias, figura, em primeiro lugar, o amido ou fécula originada da fo-tossíntese nas folhas, executada durante a época viçosa do in-verno quando as precipitações facilitam a estas plantas o máxi-mo de atividade vital. O amido abrange os elementos de oxigê-nio, hidrogênio e carbono e forma moléculas gigantescas con-

 forme os recentes estudos de Freudenberg, ligando as moléculas parciais entre si para correntes moleculares de centenas decorpos do caráter das sacarinas ou pentosas, correntes que ata-cada por fermentos como amilase, diástase e outros mais facil-

mente se desligam para compor novamente fórmulas mais sim- ples sendo neste estado liquefeitas e transportadas da região folhear para a das raízes onde elas se consolidam, formandonovamente amido. Durante aquela decomposição molecular,entram também elementos de fósforo e azoto tomando caráter albuminoso ou então absorvendo muito oxigênio, foram as áci-das orgânicas e seus derivados.. ”.

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“...Todas estas substâncias foram encontradas nos depósi-tos de reservas radiculares. Por isto não é de se estranhar queas plantas sertanejas, apesar da aparência de decadência bio-lógica durante as épocas secas, demonstrem grande viço, pro-duzam novos órgãos, como folhas, flores e frutos, com rapidezlo go nas primeiras chuvas...”

“Este modo das xerófilas se defenderam contra as secas é

novidade no estudo do xerofilismo. Até as plantas introduzidas

na região seca adquirem, gradativamente, o caráter de formar tubérculos nas raízes, como a mucunã, que, na sua ecologianatural, não costuma criar reservas nas raízes...”.

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“As batatas que servem principalmente para acumular 

estes sucos alimentícios, contêm água até 96%, como no casodo umbuzeiro, e têm sempre uma camada suberosa muita bemelaborada, rica de substância gordurosa, cutina e cera. Estacera apresenta-se em forma de bastões finíssimos através dacasca exterior das batatas como meio de impedir a transudaçãoda água...”.

“Os estudos anatômicos do lenho e da casca da oiticica

igualmente revelaram fatos interessantes: 1) o câmbio é muitodelgado e fraco de células geratrizes; 2) a casca e o lenho sãorigorosamente separados; 3) os tecidos celulares as cascamcontêm variadas quantidades de substâncias orgânicas, nutriti-vas, principalmente pentosas e outros sacarídeos; 4) a riquezaem células é grande e a hidrocelulose aparece em todas as par-tes da casca; 5) salientam também grandes séries de célulascontendo cristais de ácido oxálico; 6) a zona pré-cambial é sa-turada de glucosides...”.

“Enfim o tecido celular da casca e do lenho da oiticica sedestaca pela riqueza de substâncias orgânicas de alto poder nutri-

tivo e parece que esta árvore armazena em todos os seus tecidosalimentos de reserva para os períodos de escassez, na seca...”.

No estudo dos fatores de resistência à seca pela vegetaçãonativa desta zona, o Dr. Luetzelburg remeteu ao Prof. Karl Sues-senguth, do Museu de Munich, material botânico inclusive “ba-tatas” de raízes, tubérculos radiculares, xilopódios, etc. E na

 publicação alemã “Jornal Botânico Geral”, de Jena, série 30 – 

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vol. 130, 1936, está a opinião afirmativa do Professor. Baseadonos estudos do seu colega o Dr. Luetzelburg continuou a pesqui-sar em torno do sistema radicular das xerófitas e encontrou bata-tas nas raízes de muitas árvores e plantas sertanejas como: aroei-ra, cipaúba, umbuzeiro, faveleiro, timbaúba, tingui, embiratanha,castanhola, muçambê, pega-pinto, inharé, mucunã, etc.; em seurelatório de 1937 diz:

“O estudo das raízes tuberculadas e dos xilopódios força-mea mudar completamente a compreensão do xerofilismo do Nordes-te. Estas protuberâncias aparecem em muitas formas e vários as-

 pectos e em famílias diferentes. A defesa externa da planta contrao clima é secundária, as raízes exercem a função principal guar-dando água e nutrimentos para, nas ocasiões difíceis, reformar suavida e reconstruir seu corpo vegetativo... ”.

“... as raízes foram expostas a secar e perderam 50 a 70%d’água; esta água tem duas finalidades: a primeira, fisiológica,serve para dissolver e decompor a reserva sólida e ainda mistura-da com mucilagens, gomas etc., engrossa os líquidos e dificulta a

transpiração, a exsudação e a perda de líquidos; a segunda, por meio dos vasos internos, serve para irrigar toda a planta...”.

“... grande número de árvores do Nordeste seco vivemcom tais batatas radiculares e graças a esta providência elas

 podem sustentar perfeitamente a luta contra os efeitos das se-cas. Não somente as árvores e arbustos criaram esta garantiade vida, também ervas e subarbustos sabem sustentar sua vida

 por meio de xilopódios... ”.

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“...  Baseando-me nestes estudos posso afirmar que esta particularidade radicular é a causa decisiva do fenômeno do xerofilismo. Ao mesmo tempo fica esclarecido porque as plantasda seca podem permanecer ociosas no verão e ao mesmo tempoadquirem atividades vegetativas, instantânea, logo com as pri-meiras chuvas...”.

“... Com este aspecto ecológico à flora do Nordeste re-cebe um esclarecimento diferente do dos tempos anteriores,

quando se pretendia elucidar a questão do xerofilismo exclusi-vamente pelo estudo dos protetores externos da planta contra aseca. Toda a anatomia das raízes é construída no intuito de ga-rantir as reservas, de consolidar seus tecidos, de obter espaço

 para alimentos de consumo futuro que tanto influem na vidavegetativa como na perpetuação de espécie... ”.

“... O característico de produzir batatas´, tubérculos e xi-lopódios nas raízes foi adquirido lentamente através de décadasà medida que o vegetal se amoldava ao meio ambiente... ”.

Terminam aqui as plantas do cientista a quem rendemos as

nossas homenagens póstumas.As raízes das plantas resistentes à seca têm uma anatomia

e fisiologia rigorosamente sincronizadas com a ecologia da regi-ão e elas são muito mais importantes como órgãos do que julgá-vamos anteriormente.

Elas estão ensinando à população o segredo de viver nazona seca, como subsistir guardando alimentos produzidos nosanos chuvosos para os tempos de fome.

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O Agrônomo Carlos Farias revelou-nos que o sistema ra-dicular do algodoeiro Mocó tem uma influência decisiva na qua-lidade da fibra; no período crítico do amadurecimento da plumase as raízes são pouco desenvolvidas e falta seiva abundante, oalgodão apresenta defeitos da fiação devido à produção de fibrasimaturas.

O conhecimento do limitado movimento da água dentro dosolo, a escassa e lenta subida da água capilar para atender os

grandes gastos de umidade das plantas, põem em evidência aimportância funcional das raízes e o seu papel decisivo no apro-veitamento da água em nível ótimo no solo.

Portanto, a lavoura nas caatingas tem de ser feita respei-tando este clímax de estabilização porque ele é que permite arecuperação da fertilidade do solo, quando em repouso, com asua vegetação típica. A chuva média nas caatingas não fogemuito dos quinhentos (500) a setecentos milímetros (700 mm); atemperatura do ar varia entre dezoito e trinta e cinco graus Cel-sius (18 e 35ºC). A altitude pode alcançar até 600m.

O clima da caatinga caracteriza-se pela salubridade; é

quente e seco durante o dia e fresco à noite, convidando ao re-pouso. O cariri Paraibano e o Curimataú são subdivisão ou sub-regiões da caatinga com caracterizações locais. A extração decaroá nas caatingas, observando certos cuidados, pode ser feitaindefinidamente sem perigo de extinguir a cultura nativa ou deempobrecer o solo porque esta planta está em equilíbrio biológi-co com o seu ambiente. Uma vez que a caatinga foi roçada,queimada e plantada quebrou-se a harmonia do sistema e inicia-

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se o processo do desgaste do solo até que providencias sejamtomadas contra a erosão ou que se permita, depois de um perío-do de lavoura, o restabelecimento da caatinga típica. Ainda nãofoi atingido o clímax da estabilização da lavoura nos trópicos.Ainda temos de recorrer, periodicamente, às associações vegeta-tivas, naturais, típicas, para restabelecer ou melhorar a fertilida-de porque nenhuma adubação química, até hoje, conseguiu as-segurar um nível proveitoso de colheitas seguidas, nos países

quentes.A caatinga alta, fechada, impenetrável pela densidade epelos espinhos, foi à primitiva, mais rica de elementos arbóreos,mais povoada de espécies nobres, mais secular na idade, por-queconseguiu escapar do fato indígena, que sobreviveu ao avan-ço dos primeiros colonizadores, menos lavradores e mais criado-res dos primeiros colonizadores, menos lavradores e mais cria-dores, mas que sucumbiu ao segundo passo da Civilizaçãoquando as bocas mais poderosas e as necessidades de matéria-prima apelaram para amplos roçados e plantios.

Em poucos lugares resta, escondida, a caatinga verdadeira;

a que vemos curta e magra, sem epitetismo, com sub-bosque debromeliáceas selvagens e arbustos endurecidos, chão sem capinssão uma amostra, um vestígio do que foi a “floresta seca”.

A erosão, o fogo e o machado operaram um rareamento nacaatinga primária, que havia atingido no passado, o verdadeiroclímax do xerofilismo; eles deixaram como flora sucessora outracaatinga mais baixa, mais aberta, mais seca, em luta para recu-perar a posição de equilíbrio da antiga comunidade vegetativa.

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Dir-se-á que Civilização é sinônimo de devastação. Assimé quando as populações são mal educadas, egoístas e inconsci-entes do valor dos recursos naturais. A degradação lenta e inexo-rável das vegetações típicas, naturais, já começa a apresentar osseus primeiros resultados no estrago do solo, diminuição dassafras por unidade de área e fome parcial. Algumas causas sãorecentes, outras começaram a agir séculos atrás.

SERTÃO

O sertão é a região do Nordeste mais quente, de solo duro,pedregoso, de gnaisse, granito, sienito aflorando aqui e acolá,com vegetação mais rala ou menos densa do que a caatinga; dizo matuto que o sertão tem menos espinho do que a caatinga; aaltitude do sertão é baixa, duzentos a trezentos metros (200 a300m) ou não mais do que quatrocentos metros (400m). A vegeta-ção típica do sertão varia entre os solos de aluviões de baixios e osaltos secos das colinas; os aluviões de beira de rios são inundados ouinundáveis na época das enchentes, são férteis, duros, mais profun-

dos, mais heterogêneos na sua composição mineral e a vegetação éde árvores, arbustos e plantas efêmeras como: oiticica, carnaúba,

 juazeiro, canafístula, angico, pinhão bravo, jurema, mata-pasto, pe-reiro, algumas cactáceas, muitas leguminosas forrageiras anuais etc.;estes aluviões do sertão são os solos mais férteis e menos secos doNordeste, são os produtores de milho, feijão, arroz, banana, etc., eformam as bacias de irrigação dos açudes públicos; as colinas dosertão são muito secas e quentes no verão, são vestidas de faveleiros,

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 jurema, mofumbo, marmeleiros, aroeira, cactáceas, maniçoba, pi-nhão- bravo, capins panasco, mimoso, etc.

O fogo e o machado seguidos pela erosão abriram uma brechana associação pau branco –  jurema – angico - aroeira e deram ganhode causa à dupla mofumbo – mameleiro seguida pelo mata-pasto,salsa e cactáceas, ocasionado uma regressão nos tipos vegetativos.Onde os intrusos mofumbo-marmeleiro dão uma folga, os capinsdominam formando os campos que atraem os rebanhos de bois e

carneiros.O reaparecimento da vegetação alta dá-se quando três ou qua-tro invernos normais são seguidos e facilitam a germinação e o enra-izamento das mudinhas de leguminosas de porte.

O fogo tem sido o grande responsável pela acentuação do es-tado de secura do Polígono, evidenciado na redução da superfíciefolhear, na criação das cascas suberosas, no desaparecimento damanta orgânica.

As plantas do sertão mostram os sinais deixados pelo corte epela queima, repetidos durante séculos, depois que aqui chegou ohomem branco. Os bons invernos intercalados com secas, a ação do

fogo e a dos roçados foram e têm sido os indicadores ou os provoca-dores da vegetação concomitante no tempo e no espaço de árvores,arbustos e capins, característicos do sertão e do seridó.

O açude é o meio mais prático de obter água no sertão e noSeridó, onde o poço dá pouca água e de má qualidade.

Os solos do sertão, pelo grande número de análises feitas peloServiço Agro-Industrial, mostram grande pobreza em matéria orgâ-nica, umidade e elevado teor de minerais.

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Devido ao solo mais compacto e vegetação mais rarefeita aerosão tem sido mais forte, no passado, no sertão do que na caatinga.Segundo observações do Engenheiro Agrônomo Carlos Bastos Ti-gre, a jurema é o arbusto-mór, invasor, o primeiro que se estabelecena colina erodida do sertão para preparar o ambiente para as outrasespécies e que no fim de três anos a manta formada pela queda dasfolhas, em cada verão, já proporciona ambientes para germinação,com as chuvas, das sementes das outras árvores e arbustos nativos

em conjuntos com os capins e leguminosas anuais.Partindo da jurema-pioneira, da faveleira, da flor de cera eoutras espécies, a vegetação típica do sertão evolui até atingir oseu clímax estável no conjunto de muitos arbustos, árvores,plantas anuais e capins diversos, formando na estação chuvosauma vegetação rica, luxuriante, colorida de flores e no verão umesqueleto de plantas perenes, árvores e arbustos, secos, espi-nhentos, de solo nu devido ao desaparecimento dos capins, doscipós, das trepadeiras, do mata-pasto, etc., comidos pelo gado oureduzidos a pó e carregados pelo vento.

Os resultados das relações entre as espécies e os grupos florís-

ticos servem como medidas ou índices das condições do ambiente e,por isso, são chamados indicadores. Eles revelam as característicasatuais do clima e do solo, mostram os processos previsíveis no futu-ro e a interpretação dos acontecimentos passados.

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As modificações sofridas no passado pelo solo, devido aohomem, o foram diretamente pela ação do roçado, do jogo e docultivo e, indiretamente, pela erosão; pelas inundações; peladrenagem.

A sucessão, em Ecologia, é a mudança em seqüência dosgrupos de plantas, em ordem natural, como séries de habitantesde uma determinada área, atingido o mais avançado tipo de co-munidade que pode crescer naquele meio, – o clímax.

Os clímaxes mais típicos de vegetações são: o florestal, oda savana e o do campo. O Nordeste apresenta os três fácies declímaxes: o florestal, na serras; o da savana ou xerófilo, na caa-tinga; o do campo ou da pradaria nas pastagens do Seridó, nosmeses dos bons invernos.

O julgamento das espécies maiores, dominantes, de plan-tas reunidas na comunidade de uma região indica o clima e oestudo das menores ou dominadas revelam as condições do solo.

Quando perturbados, os grupos botânicos apresentam ossinais de interferência humana e podem ser isolados e observa-das as influências do clima e do solo.

As comunidades de plantas espelham os fatores da suaformação, a ordem em que eles atuam, mudam e também a futu-ra seqüência dos acontecimentos para previsão das possibilida-des. Os indicadores são o método mais racional ou natural dedeterminar o uso da terra.

Na sua desconcertante alternativa de seca e de chuva, a-presentando clímaxes variáveis e, às vezes, chocantes, o Nordes-te tem a sua condição nublada ou embaraçada na compreensão

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dos seus estudiosos, principalmente quando o pensamento hu-mano é colorido pelo otimismo.

Na acentuação da sua aridez o Polígono é influenciado portrês ordens de causas: as meteorológicas, as agrológicas e asantropológicas. No aproveitamento racional dos recursos natu-rais a ação do homem tem de conciliar ou procurar corrigir astendências negativas do clima e do solo sem pelo menos nãoagravá-las.

Os princípios ecológicos da sucessão, da competição, dosindicadores e do clímax de cada região natural do Nordeste têmde ser respeitados e aplicados pela lavoura, pela pastagem e pelaexploração da lenha a fim de compensar as exigências da popu-lação com os caprichos da atmosfera e as forças antagônicasdesencadeadas pela intervenção humana.

Extensos roçados, com queimadas, sem quebra-ventos in-termediários, sob cultivo continuado, quando atingidos por umaseca, são erodidos pelo vento baixo que carrega as camadas su-perficiais do solo até a última raiz do capim.

Desde o século XVII até hoje os grupos vegetativos têm

mostrado a diminuição de espécies, mudança na composição,modificações de formas, ocasionadas pelas secas, pelo fogo,pelos roçados e pela erosão, o que tem alterado a função da co-bertura na conservação do solo, da água e da fauna.

Com dinheiro e um pouco de técnica pode-se atenuar oclima, com muito trabalho é possível proteger o solo; o difícil edemorado é modificar os hábitos depredadores de uma popula-ção, é melhorar os métodos culturais na agricultura, é, enfim,

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conter a ambição daqueles que estão vendendo os recursos natu-rais para acumular o ouro para os seus proveitos exclusivos.

Uma conclusão, os governos e os políticos devem tirar: ade que o sossego, a saúde e a prosperidade econômica da popu-lação não se compram com verbas somente e sim, principalmen-te, apoiando e acatando os conselhos dos técnicos e empregandomedidas gerais para que o interesse coletivo paire acima dosegoísmos individuais.

Sendo indispensável à cooperação da Natureza, sendo im-prescindível a compreensão do povo, o problema das secas setransforma na questão de educar a população.

No seu livro “ A Horticultura nas bacias de irrigação dos pontos agrícolas”, o Engenheiro agrônomo Carlos Bastos Tigreapresenta, entre muitos ensinamentos básicos, um excelente es-tudo do sertão.

SERIDÓ

Abrando a maior parte do Estado do Rio Grande do Norte

pequenina fração da Paraíba, esta região se caracteriza por umavegetação baixa, muito espaçada, com capim de permeio, emsolo de gnaisse, granito e micaxisto muito erodido, arenoso eseco; as espécies dominantes são: faveleiro, umbuzeiro, maniço-ba, pinhão-bravo, pereiro, céreus e pilocéreus, gramíneas silico-sas, mimosas e caesalpináceas, representado as leguminosas; osseixos rolados existem por toda à parte e as massas de granito

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redondo sobressaem aqui e ali, demonstrando como a erosãolenta, através de séculos, deixa vestígios ciclópicos.

Das nossas regiões naturais a que mais se assemelha à sa-vana dos outros países é o Seridó. Quando bem coberto de ca-pins, com árvores e arbustos largamente distanciados e topogra-fia quase planta, o seridó é uma savana.

Se o capim caracteriza a pradaria, a árvore a floresta, o ar-busto identifica os clímaxes intermediários: savana, seridó, ser-

tão, caatinga.A diferença entre savana e caatinga é que a savana, nosoutros países secos, é uma mistura de capins com arbustos ecom árvores, ao passo que na caatinga não aparece o capim, osarbustos e as cactáceas são mais densos e dotados de grandeagressividade; na caatinga aparece o capim quando há interven-ção do pecuarista para a formação de pastagens.

O sol abrasador durante o dia, o vento fresco à noite, o li-mitado suprimento d’água, a faculdade dos arbustos brotarempelas raízes nas fases úmidas, deu, no carrasco, galho de causaaos arbustos e ervas lenhosas que, unidos e solidários, impedi-

ram, pelo sombreamento, pela ocupação do espaço e pela sededa água, o aparecimento dos capins na comunidade.

Parece-nos que, abstraindo-se as questões da altitude e de-talhes locais de solos, a caatinga degradada pelo machado e pelofogo, arrasada pela erosão, teria se transformando no sertão eeste, ainda mais queimado, mais limpo, de árvores e de arbustos,mais lavado pelas águas, e povoados de capins, teria gerado oseridó. Na realidade, porém, as modificações não se teriam dado

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com a simplicidade citada porque houve também alterações declima. O sertão, a caatinga e o seridó não têm climas iguais. Aflora nordestina foi adaptada, lentamente, através de séculos, aoxerofilismo e o fogo exerceu um papel preponderante na dilata-ção da aridez, conforme os vestígios encontrados em cada lugar.

As plantas dominantes de uma formação botânica que re-cebem maior influência climática, são as de maiores crescimen-tos e as mais numerosas; elas tomam conta do terreno, não dão

entrada às invasoras a não ser por meio das dominadas, nos es-tágios sucessores que demandam ao clímax. Por causa da formade vida e da densidade vegetativa, as dominantes são, em geral,as grandes fornecedoras de madeira, de abrigo e de alimentos.

A importância agrícola das plantas dominantes de uma re-gião ecológica, é que elas têm de reocupar o terreno, natural ouartificialmente, em associações heterogêneas, vestindo o solo,para a restituição da fertilidade, sempre que terminar o ciclo dasculturas comerciais.

Habitat do algodão mocó, com clima de particular secura,no verão, o Seridó é a região mais erodida do Nordeste; já não

existe solo nas colinas e as árvores e os arbustos se localizammuitos distanciados pela dificuldade de enraizamento. Os terre-nos para as culturas são procurados à margem dos rios ou amontante dos açudes e são aluviões carregadas pelas águas. Asculturas mais importantes são: algodão, batata doce, feijão ma-cassar, milho, arroz, jerimum, etc.

A geologia da região não facilita a obtenção da água pormeio de poço. Os açudes pequenos e médios constituem o meio

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mais prático de guardar água; o grande açude não encontra ex-tensões de solo para irrigar e a água represada cobre respeitávelárea indispensável para a lavoura de chuvas.

O solo florestado tendo para um ótimo de condições físi-cas, para a formação de a estrutura granular com o auxilio doscolóides orgânicos, pela elevação dos nutrientes minerais dosubsolo através das raízes profundas para as folhas e daí para acamada superficial do chão; as árvores retiram poucos nutrientes

do solo e cria na superfície um horizonte natural formando pormuitos anos de ação construtiva da fertilidade. As plantas culti-vadas são espécies exóticas, precoces, exigentes de nutrição e decondições artificiais, consomem o horizonte superficial do solo eo expõem ao ataque dos fatores negativos da produtividade. Emum programa agrícola conservador nós temos de alternar as in-fluencias naturais e artificiais sobre o solo, deixando-o um perí-odo em restauração com associações vegetativas, heterogêneas eespontâneas e outro tempo em exploração com culturas de ren-dimento, sob regime de confinamento, para atender às exigên-cias da população.

A periodicidade do aproveitamento do solo no Seridó podeser estabelecida assim, em rotação de longo prazo: plantas nati-vas lenhosas, cultura comercial, pasto e depois novamente plan-tas nativas, culturas, pastagens. A alternativa de exploração,metodizada, facilita tirar proveito das forças naturais atuandoconstantemente sobre o habitat de que o solo é uma parte.

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pins, ela é bem provida de forrageiras de rama, principalmenteleguminosas, que proporcionam aos bovinos substancial volumede folhas verdes.

CARRASCO

É o agrupamento botânico muito denso, apertado, de dois acinco metros de altura, formando de arbustos e árvores entrelaça-

das, de folhas duras, coriáceas, de chão arenoso, sem verdura.Dez a quinze arbustos em metros quadrados disputam o a-limento no solo e a luz no espaço para sobreviverem. As espé-cies vegetais mais constantes no Carrasco são: banha de galinha,marmeleiro, jiquiri, jurubeba, alecrim, canela de veado e subve-getação efêmera de capins silicosos e ervas que desaparecem naestação seca por falta de água.

No carrasco, situado depois de Tianguá, entre Ceará e Pi-auí, não aparece à relva e as cactáceas são muito raras; a vegeta-ção lenhosa, dura, entrelaçada e baixa é de difícil rompimento;os espaços vazios entre as plantas, aqui e ali, como aparecem no

agreste, são desconhecidos no carrasco.O solo do carrasco é quase sempre silicoso ou arenoso,

com ou sem pedras, permeável e enxuto. A desidratação no car-rasco é conjugada na atmosfera e no solo.

Não havendo humo debaixo da vegetação, com escassezde bases trocáveis no perfil do solo explorável pelas raízes, coma carência hídrica típica, o carrasco não indica aproveitamentopara lavoura. Na classificação das regiões ecológicas para explo-

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ração agrícola, ele figura com área pastoril ou de proteção ou deprodução de madeira fina.

A sociedade botânica do carrasco conserva o solo porque,entre outros motivos, as espécies lenhosas, baixas, requeremescassos minerais, satisfazem-se com pouca água.

... E impedem o vento direto. Não pode haver alternação dalavoura com o carrasco mesmo com o alqueive, porque não há,neste agrupamento natural, acumulação de humo e a umidade com

os nutrientes do solo são insuficientes para as plantas culturais.O clima seco, o solo enxuto e as condições de xerofilismonão explicam satisfatoriamente a quase ausência do humo nocarrasco.

A fisiologia do carrasco revela uma fase de vida entre a árvo-re e o capim. Na ecologia da seca o carrasco ficou dominado certasáreas porque o arbúsculo é mais xerófilo do que o capim.

A paisagem do carrasco demonstra as flutuações limitan-tes do clima em duas estações: uma pouco úmida e outra seca; ocrescimento, a forma de vida e a produção da sua flora tentamdefinir a síntese dos fatores físicos  –  inadaptabilidade para a

lavoura.

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A mistura aparentemente desordenada e confusa de árvo-res, arbustos e subarbustos lenhosos e duros com raízes engros-sadas, intumescidas, caules alargados para guardar reservas nu-tritivas, carecidas na fase seca, representa um mundo vegetalcom duas vidas: uma letárgica, de dormência, de visão cinzentae muda; outra, após as primeiras chuvas, revela o despertar re-pentino das energias latentes, a brotação geral e rápida de folhase de flores, de modo que em poucos dias o manto verde já co-

briu o solo, sombreou-o, tentado manter a umidade; os nutrien-tes que as plantas mantinham em hibernação nas raízes forammobilizadas e metabolizados para proporcionar os elementos dabrotação, da floração e da frutificação no mais curto período quepermite a máxima porção de umidade no solo e no ar, refrige-rando a canícula.

Na estação seca a intensidade luminosa, a grande radiaçãosolar, fica dispersa na vastidão aumentando o calor e a secura;no tempo das chuvas a cobertura absorve esta energia e a trans-forma em hidratos de carbono, baixando o rigorismo do clima ealimentando a macro e micro faunas.

Os agrupamentos botânicos do Nordeste seco não podemevoluir para uma floresta porque lhes falta o fator limitante  – água; não regridem a uma associação vegetativa, anual, porque aluminosidade, o calor e a secura não facilitam a criação de umacampina rosa, de gramínea, em estado mais ou menos puro.

Uma floresta é mais sensível à duração e ao rigor da esta-ção seca do que à quantidade total de chuvas durante o ano. Paracriar uma floresta é imprescindível não menos de 1.400mm de

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chuvas anuais e, sobretudo que elas sejam bem distribuídas ecom ligeiro intervalo de seca. Estas condições são exatamente ooposto do que existe no Nordeste semi-árido.

No carrasco e na caatinga há plantas de todos os tama-nhos, crescendo juntas, sem competição aparente, porque a altu-ra dos indivíduos, limitada pela pouca umidade, permite abun-dância de luz para todos. Na floresta a alta copagem, desenvol-vida com a água, corta a luz, elimina uma parte da subvegetação

e diminui a densidade da população.A competência é tolerada ou atenuada, no carrasco e nacaatinga, onde a acumulação vegetal é máxima, porque a grandediversidade de espécies com hábitos de vida, formas e exigên-cias diferentes reduz a intensidade dos atritos e cria a submissãoà harmonia do grupo.

As raízes provocam a acumulação vegetativa no espaço, oajuntamento ou o crescimento horizontal; a pluviosidade intensi-fica a competição dos espécimes pelo estimulo ao desenvolvi-mento em altura, pelo alargamento do espaço lateral requeridoindividualmente e, conseqüentemente, o rareamento da popula-

ção vegetal.A estratificação das camadas vegetativas, tão salientes nos

altos tipos florestais, onde é visível a tendência vegetativa, malse percebe nas sociedades xerófilas, tolerantes e de inclinaçãoreprodutiva.

As mais significativas formas de associações botânicas doPolígono Seco são a convivência, no espaço e no tempo, de ár-vores, arbustos e capins, o longo período de vida, a predominân-

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cia funcional das raízes, a densidade, o enrijamento e resistênciaà irregularidade da umidade.

A subordinação da existência em comum de árvores, ar-bustos e ervas, nas regiões do Nordeste, são um exemplo de quea multiplicidade de tipos com procedimentos e necessidadesdesiguais procuram agregação e cooperação funcionais.

SERRAS

As montanhas que, na Zona Seca, atingem mais de seis-centos metros (600 m) de altitude, com temperatura mais amenae com a condensação de vapores d’água varridos do mar pelosventos, principalmente nos maciços paralelos ao mar, têm for-mado uma vegetação mais alta, de crescimento mais rápido,atingindo em alguns pontos o caráter de matas.

A encosta da Borborema formando o Brejo Paraibano, aSerra do Araripe dando origem ao Cariri Cearense, a Serra deGuaramiranga com a lavoura de café e da Ibiapaba com os en-genhos de cana, os cafeeiros e as fontes d’água, a Serra do Tr i-

unfo, em Pernambuco, são exemplos do valor econômico dosmaciços que se levantam no meio da terra seca.

Araripe e Ibiapada são montanhas constituídas de arenitodando origem a solos arenosos, fracos, pouco retentores da águae muitos sujeitos à erosão nas encostas. Borborema e Guarami-ranga são formadas de granito, gnaisse, micaxistos, etc., e pro-duziram solos que não se pode chamar de férteis.

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precipitação é máxima, passando para o agreste, caatinga, cerra-do, até o carrasco seco e duro, na vertente pernambucana.

As serras do Nordeste, quando colocadas em sentido per-pendicular aos ventos dominantes, são geradores instantâneos deoásis climáticos, que, por sua vez, causam as variações bruscas enítidas dos clímaxes vegetativos tão próximos e diferenciados.

No território cearense, abrangendo os municípios de Cra-to, Missão Velha, Brejo do Santo, Jardim e Barbalha, está o Va-

le do Cariri contendo cinco mil quilômetros quadrados (5.000km²) com os seus brejos encharcados d’água, as fraldas da serramolhadas pelas águas das fontes e as caatingas nos latos dasondulações.

A chapada superior da serra tem sido muito devastada pe-los particulares, apesar da legislação que criou a Reserva Flores-tal do Araripe e da fiscalização dos agrônomos do Serviço Flo-restal do Ministério da Agricultura.

Nesta como noutras questões agrícolas, o agrônomo nãotem tido o devido apoio do governo nas providências adminis-trativas e muito menos o acatamento das autoridades municipais

para amparar os seus atos em benefício da coletividade.Os brejos do Vale são umedecidos pelas cento e sessenta e

uma fontes (161) d’águas dos cincos municípios e formam oslocais prediletos da cultura da cana, que alimenta os trezentos(300) engenhos na produção da rapadura e da aguardente.

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O prof. Joaquim Alves escreveu, em 1946, o excelentetrabalho “O Vale do Cariri” que, pela precisão das informaçõese presteza dos conceitos, deve ser lido por todos. Desta popula-ção extraímos os dados numéricos sobre este Vale.

Podemos dizer que a chuva média do Cariri está em redorde um metro por ano. Nos anos secos ela baixa para quatrocen-tos milímetros (400 mm); nos outros, mais numerosos, a precipi-tação oscila entre oitocentos a um mil e duzentos milímetros

(800 a 1.200 mm).A prática das queimadas para provocar pasto novo ou paraplantar mandioca, a extração da lenha para os trezentos (300)engenhos de cana ou para as fornalhas que cozinham a rapadura,que torram a farinha nos setecentos e quarenta (740) aviamentosexistentes ou para os alambiques que condensam a aguardente,ao lado do aumento da população, que já atingiu a média de trin-ta e três (33) pessoas por km², têm resultado na alarmante devas-tação das matas do Vale e da Serra, o que afetará, fatalmente,em futuro não remoto a vida do homem na região, mesmo que oVale seja industrializado.

O movimento popular que visa atrair a energia elétrica dePaulo Afonso para o Cariri, secundado pelos jornais e pelos Políti-cos do Ceará merece encômios pelo elevado patriotismo dos seuspromotores e pela importância econômica do empreendimento.

Lutemos pela energia elétrica, pela industrialização racio-nal e completiva da agricultura, porém, antes de tudo, defenda-mos a flora do Cariri porque ela é a garantia da vida e da eco-nomia da região.

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O Vale do Cariri tem sido um oásis, mas pode se trans-formar em um ermo se prevalecer entre os seus habitantes e ego-ísmo, a ambição, a devastação e a destruição dos seus recursosnaturais.

A atual densidade da população é de três hectares por ha-bitantes e o tamanho médio da propriedade agrícola, no Vale, éde trinta hectares. Estes números indicam que o Vale do Caririprecisa industrializar-se doravante pata comportar a população e

ao mesmo tempo planejar com visão a conservação dos seusrecursos naturais.

XEROFILISMO

Para uma zona sujeita aos azares da seca, em que o grau hi-grométrico do ar medeia de cinqüenta a oitenta por cento (50 a80%), em que o solo está desprotegido contra a evaporação, o cará-ter vegetal de viver com pouca água é uma vantagem decisiva.

A acomodação à secura, que se estereotipou nas plantasespontâneas pela queda das folhas para reduzir a transpiração,

pelos caules suberosos para esconder os vasos do calor, pelasreservas acumuladas nas raízes para nutrir a planta, é uma pou-pança de energias que faz o vegetal, é um ajustamento fitológicoàs imposições do meio, calcadas durante séculos.

A sobriedade da água freou o crescimento da flora, res-tringiu a hidratação a uma fase breve do ano, mas excitou, poroutro lado, a pressa da floração com a finalidade de perpetuar asespécies ameaçadas de extermínio.

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O céu, sem nuvens, derramando luz profusa na clorofila, ocalor persistente, provoca a elaboração da celulose, das fibras edas cerosidades que armam as estruturas das árvores e dos ar-bustos conferindo-lhes a perenidade, que vence a seca e caracte-riza a flora.

No polígono das Secas o xerofilismo é o caráter dominan-te de todos os agrupamentos botânicos com exceção dos de al-gumas serras; estas sociedades florísticas vivem sedentas de

água, são de porte reduzido, de folhagem caidiça, irritada contraa avareza do céu, sobre solo ressequido em luta constante pelaumidade. O clima, absolutamente irregular, oscila de chuva anu-al de trezentos a mil e trezentos milímetros, da neblina à tempes-tade violenta, do rio seco à cheia mais repentina.

Este xerofilismo é quase anfíbio, pois são quatro meses dechuvas para oito meses de seca e ele permite uma economia denutrientes no solo pela dormência parcial das plantas ou estag-nação vegetativa sob condições naturais.

Este clímax de vegetação, paradoxal, com um período hi-drófilo-megatérmico e outro xerófilo, no mesmo ano e com ciclo

de secas anuais, maiores, em intervalos irregulares, foi atingido,graças a uma “ponte” que a natureza criou – a adaptação – paraperpetuar espécies de plantas perenes a anuais. A agricultura daZona precisa considerar estes fatos na pesquisa de melhores mé-todos culturais e no tratamento do solo.

Esta terra recebendo quase três mil (3.000) horas de luz solarpor ano, castigada por ventos de dois a vinte quilômetros (20 km)por hora, aquecida até sessenta graus Celsius (60ºC) a superfície do

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solo seco no verão, e sujeita a um deflúvio médio de setenta e trêsmil (73.000) metros cúbicos d’água por quilômetro quadrado decaptação, nos revela a força do intemperismo.

A rapidez com que desaparecem as folhas e detritos caídos nosolo, às vezes em ocasiões de deficiência hídrica, lembra uma com-bustão parcial causada pela elevação da temperatura na superfície.

O xerofilismo e o megatermismo a lado de associações ar-borescentes, perfeitamente adaptadas a uma vida de saltos vege-

tativos e de recuos de hibernação hídrica, tornam difícil a manu-tenção de uma lavoura estável em condições naturais.As regiões mais características no Nordeste seco têm nas

plantas lenhosas os seus elementos dominantes de vestimenta. Épor esta razão que a matéria orgânica da vegetação típica, sendomais celulósica, tem uma elevada proporção de carbono e baixoconteúdo de azoto.

O longo período em que o meio permanece desidratadoimpede maior atividade das bactérias fixadoras de azoto.

Desde os tempos do nomadismo indígena até hoje o fogãotem sido um fator eficiente na acentuação do xerofilismo.

O matuto roça dez tarefas de caatinga, queima-as, plantaoito tarefas porque a chuva foi irregular e as replantas repetidasconsumiram a semente; na ocasião da capina o homem não temelementos para cuidar de toda a área porque necessita trabalharfora a fim de conseguir o numerário para as suas compras; estão,as áreas cultivadas se reduz a seis ou sete tarefas; quando eleconsegue colher o produto, de diferentes plantios, mal enraiza-dos, não obtêm colheita maior do que a correspondente a cinco

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tarefas. Conclusão: das dez tarefas de caatinga cincos foramroçados inutilmente.

Na queima dos roçados os aceiros não são bem feitos, ovento joga a faísca do outro lado e algumas centenas de hectaressão comburidos antes que o incêndio seja dominado.

Roçando e queimando sem método, plantando em fileirasde morro abaixo, cultivando glebas íngremes que deveriam ficarpara pastos ou para a produção de lenha, o matuto vai criando

pouco a pouco, com as práticas nocivas aplicadas em cada rocei-ro, multiplicada por um milhão deles, totaliza uma área anual,devastada, de um milhão de tarefas ou trezentos mil (300.000)hectares, fora às superfícies em culturas já enraizadas.

A extensividade da lavoura e o aumento de consumo dosgêneros alimentícios forçam o alargamento anual desta área paralimites imprevistos e o matuto vai, inconsciente e insensivel-mente, ajudando o clima seco a estender mais o xerofilismo.

Nem todas as práticas do matuto estão certas, algumas po-dem ser aproveitadas e melhoradas, outras devem ser combati-das, como as queimadas generalizadas, os plantios do morro

abaixo, as plantações nas encostas escorregadias, o não pouparas árvores valiosas, etc.

Entretanto, queremos ressalvar, o homem não é o respon-sável pelo clima seco; a zona do xerofilismo sempre foi desi-gualmente árida, pelo menos nos últimos séculos. Há milharesde anos passados o Polígono deve ter sido mais molhado, pois asua flora, atual, mostra sinais de uma adaptação lenta à secura,de uma avareza hídrica adquirida aos poucos, à medida que se

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foram alterando os elementos cósmicos e os fatores geográficosdeterminantes das ambiências climáticas.

É verdade que alguns vegetais, aqui existentes, são possu-idores de uma resistência à seca, natural e específica, como ascactáceas, as espinhentas, etc., porém a grande maioria dos ve-getais sertanejos dobrou-se ao clima para não desaparecer.

Se o homem deixasse de roçar o Nordeste seco ele não setornaria mais úmido, o chão se cobriria mais igual e completa-

mente desta mesma flora, o crescimento atingiria certo ponto edepois estagnaria porque estaria atingido o clímax vegetativo,permissível pela água do meio. A história desta mudança declima ficou estereotipada nos órgãos dos vegetais e no solo, on-de se pode ver e interpretar, as marcas de uma intensa erosãogeológica, que mostra a presença, aqui, no passado, de quanti-dades não pequenas de água.

Se nos milênios passados o meio foi molhado e hoje é seco eúmido, estará ele marchando para um clima completamente secoou voltado ao ciclo chuvoso? A resposta está em Camões... “Quedigam os sábios da escritura que segredos são estes da natura”.

O que podem dizer e está acontecendo é que o sertão estáse tornando mais nu, mais lavado, mais deserto e que isto é sufi-cientemente alarmante para a vida do homem e para a civiliza-ção atual. Para fins práticos não há necessidade de inquirir qualo período geológico que virá depois do atual, pois o seu apare-cimento não pode ser obstado por nós.

Nos limites da vida humana e no período da nossa gera-ção, nós podemos e devemos evitar o alargamento contínuo da

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faixa seca, eliminado as causas humanas deste mal, atuando commedidas coordenadas em toda a extensão do Polígono, ondeexistem pontos de menor resistência ecológica e cooperandocom todos os serviços e habitantes na poupança e no plantio devegetações protetoras do solo e amortecedoras do clima.

O desnudamento do solo não conduzirá o Polígono a umdeserto físico como o Saara, com as suas tempestades de areia eventos sufocantes, nem diminuirá o total de chuvas, porém pro-

vocará os extremos metereológicos, a insolação aumentada, ocalor excessivo, o ressecamento intenso, a erosão eólia, que pro-duzem cheias mais impetuosas e secas mais violentas, que fa-zem minguar as fontes da população, que diminuem a habituali-dade e o conforto, que resultam, enfim, no deserto econômico.

O xerofilismo é uma resultante as modificações impostaspelo clima árido à flora, é um sintoma da doença endêmica dassecas e deve ficar circunscrito à menor mancha vitimada peloselementos atmosféricos.

A expansão da aridez, a invasão do espinho e da secura nasoutras zonas, a intromissão da caatinga nas regiões, outrora úmidas,

adjacentes, causadas pelo fogo, pelas brechas dos roçados que olavrador estabelece nas terras novas, pela agressividade conquista-dora de que são dotadas as xerófilas, pelos verões secos que atra-sam os tipos hidrófilos e favorecem as imigradas  – esta dilataçãoda Zona Seca – deve ser contida, precisa ser impedida no seu ca-minhamento dissimulado para as áreas limítrofes.

As formações xerófilas são ousadas nos seus avanços paraganhar novos espaços quando aproveitam a degradação do meio,

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quando os espinhos, os mofumbos, os marmeleiros, se estabele-cem nos terrenos roçados ou erodidos, tomando conta do campo,obstando a renovação das espécies nobres, de grande porte, por-que o chão se acha densamente ocupado e defendido.

A distribuição da chuva no curso do ano é um fator ecoló-gico essencial; a brutal descontinuidade ou alternação de fasesúmidas e secas é uma causa de desbastes ou de eliminações nasespécies componentes da flora, mudando a sua fisionomia.

Um verão de oito meses causa o desfolhamento das árvores eo desaparecimento dos tipos efêmeros; dez meses de seca eliminaos indivíduos menos resistentes ou de escassas reservas nutritivas;depois de doze meses sem chuva os “claros” são largos e somenteas xerófilas, de grandes depósitos nutritivos, possuidoras de raízespossantes, com elevado poder de sucção osmótica para sugar aumidade do subsolo, podem permanecer vivas.

Quando, enfim, aparecem às chuvas os espaços vazios navegetação são preenchidos com aquelas espécies mais resisten-tes à secura e mais valentes na defesa do espaço com os seusespinhos e galhos duros, repelentes.

Os espinhos são a proteção da casca contra a evaporação ea arma para ferir as plantas vizinhas, com a força do vento, im-pedindo que as outras lhe tomem o espaço vital.

A variação da pluviosidade e a extensão da estação secasão os fatores mais importantes, conjugados com o solo raso, naecologia do Nordeste. A estação ecologicamente seca é aquelaem que o balanço hídrico é deficiente ou a relação das chuvas

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mais as águas da terra não equilibram as perdas do solo por eva-poração e das plantas por transpiração.

A nebulosidade é mínima no sertão. A insolação e a radia-ção solar são máximas. A radiação dá o total de energia que, notempo certo, a planta dispõe para o metabolismo.

O xerofilismo nordestino é único no mundo. Nenhuma ou-tra zona seca apresenta os mesmos característicos. O Karroo SulAfricano é seco, de vegetação até uma vírgula dois metros (1,2

m) de altura, composta de poucas árvores, muitos arbustos, semcapins, folhagem miúda, plantas bulbosas e tuberosas, chuvas decem a trezentos e setenta e cinco milímetros (100 a 375 mm),seis a onze meses de seca e a temperatura pode baixar até zerograu Celsius (0ºC). O clima é, portanto, irregularmente seco efrio. A Terra Caliente do México também é seca, mais do que oNordeste, porém é fria à noite. As outras regiões secas do mun-do se afastam mais do Nordeste.

FAUNA

Regiões semi-áridas, com falta d’água e sem alimentoverde durante parte de cada ano, o Nordeste possui uma faunapobre em quantidade. Observando a terra no seu uso agrícola eno proveito mais completo dos recursos naturais, renováveis,nós temos de tomar na devida conta os animais selvagens nosseus hábitos, alimentação, reprodução e refúgios. Assim, os her-bívoros, carnívoros, insetívoros, os terrestres, os aquáticos, avese os quadrúpedes numa região devem proporcionar caça e man-

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ter as pragas da agricultura em estado de balanço biológico. NoNordeste os insetos, melhores adaptados ao clima seco com re-produção no inverno em face do pequeno número de animaisinsetívoros, passaram a predominar e constituem os maioresinimigos das plantas cultivadas. Os pássaros, em geral bons ca-tadores de insetos, não acham bons refúgios e sementes flores-tais na vegetação nativa periodicamente sem folhas e sem som-bra. Daí predominarem as aves migradoras que aqui vêm para

aproveitar uma esporádica abundância de alimentos naturais. Adominância dos insetos, das raposas e dos roedores prova a per-turbação da fauna neste clima seco e terra nua. A vegetação bai-xa, escassa, de pouca folhagem, de insuficiente cobertura parauma bicharia de maior porte, as queimadas periódicas, formaramambiente sem conforto e tolerados apenas por animais de orga-nização inferior e não exigente d’água.

No passado muitas áreas foram desbravadas para grandes la-vouras e os resultados da erosão, dos baixos rendimentos e do de-sabrigo dos animais vêm provar que se tivesse havido um momen-to de reflexão, ter-se-ia percebido a imprestabilidade para o cultivo

e a necessidade de se manter os locais imperturbados.Os terrenos desnudos favorecem a reprodução de determi-

nados insetos especialmente dos de postura no solo.A importância biológica da fauna, sua posição como elo

da complexa cadeia de inter-relações ligando os seres vivos aoclima, pode ser avaliada pela perturbação e desconforto das pra-gas violentas quando dominam uma zona.

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Os animais, por menores e insignificantes que sejam, afe-tam o ambiente e promovem alterações na sobrevivência ou noaniquilamento de outras espécies animais ou vegetais, de aden-samento ou de rareamento da população animal ou vegetal epodem exercer profundas influencias sobre a Humanidade.

O uso econômico do solo implica na coordenação das me-didas da conservação da produtividade da terra com a proteçãodos animais silvestres, da flora e do controle da água.

A fauna é um produto da terra e ela tem o seu lugar espe-cífico e insubstituível entre o solo, à água e as plantas de modogeral e o primeiro lugar no aproveitamento daqueles lotes dafazenda cheios de pedras, acidentados ou erodidos onde nem alavoura e nem a pastagem podem prosperar para competir comos benefícios diretos e indiretos dos animais silvestres.

Em cada fazenda há terrenos íngremes, locais, pedregosos,cantos de cercas, altos de morros, terrenos erodidos, locais paraaçudes, onde não compensando na ocasião fazer lavouras ouestabelecer pastos, podem produzir caças ou animais úteis quecontrolem o aparecimento de pragas ou inimigos da lavoura.

Os animais silvestres também protegem a flora destruindoos inimigos das plantas, transportando sementes de um localpara o outro, e contribuindo para a polinização das flores. Ostipos de vegetações mistas, como as florestas tropicais variadasem espécies e com plantas de diferentes idades, formando umasérie de tetos verdes, são os que melhor estimulam o desenvol-vimento da fauna, especialmente nas margens ou limites a mata

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e o campo. A margem constitui o ambiente mais propício paraas aves.

A tarefa de suprimir indesejáveis formas de vida apresentaum desafio aos nossos conhecimentos das afinidades e das in-compatibilidades entre os seres vivos.

As tentativas para controlar roedores nocivos, insetos preju-diciais, ervas daninhas, etc., têm sido feitas freqüentemente pormétodos diretos. Nem sempre são os mais econômicos e eficazes.

Fomentar o desenvolvimento dos inimigos naturais daspragas pode ser mais econômico, porém é arriscado porque édifícil ou impossível prever o que acontecerá, quando uma plan-ta ou um animal é introduzido numa zona estranha.

A luz, a umidade, o calor, o vento, as plantas nativas e osanimais locais podem aceitar, estimular impugnar ou restringirparcialmente a participação daquele ser vivo no ambiente.

Para ilustrar as peripécias dos combates biológicos às pra-gas vamos citar três fatos contados no livro “Natural principlesof Land Use” de B. H. Graham. Um jardineiro americano levoupara Havaí um arbusto ornamental, Lantana Câmara, que ali se

adaptou muito bem. Já existia na Ilha a pomba tartaruga da Chi-na e o pássaro Minah da Índia. Estes pássaros vorazes encontra-ram nas sementes da Lantana a refeição ideal e com a sua dis-seminação nas pastagens o arbusto tornou-se uma praga. Haviauma lagarta da cana que causava anualmente grandes prejuízos;o pássaro indiano atacou esta lagarta e a manteve sob controle.Nesta época algum se lembrou de buscar insetos que destruíamas sementes da Lantana; assim foi feito e a população vegetal

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desta diminuiu rapidamente. Em conseqüência disto os pássaros,privados das sementes, diminuíram também e as lagartas da ca-na multiplicaram-se de tal forma que voltaram a constituir no-vamente uma praga.

O mongoose, um pequeno mamífero-carnivoro da Ìndia,foi trazido para as Ilhas da América Central para exterminar apraga dos ratos.

Com sua voracidade o hóspede indiano atacou os ratos,

reproduziu-se, e com o tempo, na falta de ratos, passou a perse-guir os animais domésticos e tornou-se um flagelo.Os australianos levaram da América uns cactos ornamen-

tais, semelhantes ao nosso quipá. Esta planta acomodou-se tãobem na Austrália que em poucos anos cobriu milhares de hecta-res de pastagens e campos de cultura. Depois de muitas tentati-vas para debelar o mal introduziram uma traça da Argentina, oCactoblastis-Cactorum, de sete anos após o último quipá su-cumbia decomposto pelo ataque da traça. Com o desaparecimen-to dos cactos a traça também não pode viver. Este caso da Aus-trália teve um final feliz porque o País é uma Ilha, não havia

outro País vizinho para ser invadido pela traça e não existiamoutros cactos explorados comercialmente.

Em Países novos o equilíbrio biológico entre os seres vi-vos não está bem estudado, razão por que as conseqüências daintrodução de novas espécies não podem ser previstas devido àpossibilidade de surgirem complicadas alterações biológicas.

Os requisitos indispensáveis para o crescimento da faunaútil são a cobertura, o alimento e a água.

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O represamento de rios e riachos, o cercamento e proteçãodos agrupamentos arbustivos e arbóreos contribuem para formaos micro-climas locais; à intercalação de campos cultivados e depastagens originando muitas margens tendem para o estímulo edesenvolvimento da fauna proveitosa.

O declínio da fauna ou o seu esgotamento em espécies equantidade é causado pela perturbação ou pela destruição dohabitat. A conservação do solo, procurando proteger a vegeta-

ção, é a melhor medida para resguardar a vida da bicharia. Épossível cultivar as terras da fazenda conservando-lhes a fertili-dade e ao mesmo tempo preservar a fauna.

A caça e a pesca são colheitas que se podem fazer entre eacima das lavouras na mesma terra. Ainda que os animais silves-tres necessitem de adequados territórios dentro do plano de ex-ploração da fazenda, esta como um todo, pode servir a seus fins.

Dedicando áreas para os animais nós estamos formandorefúgios, porém toda a propriedade é usada e aproveitada comohabitat da fauna.

Prendendo a água por meio de açudes, lagoas, e evitando a

colmatagem pelo controle de enxurradas nós estamos criandopeixes e abrigando as aves aquáticas; cercando terrenos destina-dos às matas nós formamos refúgios para os pássaros insetívo-ros; as culturas em faixas multiplicam as margens e proporcio-nam conforto a todos os animais; plantados quebra-ventos, evi-tando a poluição da água, combatendo o desnudamento dos pas-tos nós estaremos dando melhores oportunidades à fauna paraprosperar.

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SEGUNDA PARTE

OS MÉTODOS CULTURAIS NOS CLIMA QUENTE 

Desde o estabelecimento dos povos europeus na AméricaLatina por meio de governos coloniais, iniciou-se a exploraçãoda cana-de-açúcar, do cafeeiro, do cacaueiro, de óleos vegetais,fibras etc., por métodos agrícolas criados para climas tempera-

dos e frios. Aproveitando os africanos submissos e os índios quepuderam submeter, os europeus derrubaram matas, fizeram la-vouras nômades, aproveitaram o humo onde ele existia, queima-ram a vegetação para formar pastagens, saquearam os recursosnaturais, mas, não conquistaram a América Tropical com méto-dos agrícolas adequados ao meio e ao organismo humano sub-metido ao trabalho pesado em clima tórrido.

Trazendo para aqui os cientistas uma mistura de aventurei-ros com condenados, eles generalizaram a prática agrícola, eu-ropéia, na terra escaldante, não suspeitaram da erosão causadapelas chuvas torrenciais, araram morros e baixadas indistinta-

mente, ensinaram que o solo precisava de arejamento, de insola-ção e de vento para provocar reações.

Através do ensino agrícola saturado com idéias e teoriasexpostas por professores estrangeiros, de publicações difundindoas últimas novidades agrícolas em continentes frios, foi a nossaAgricultura orientada, embora bem intencionadamente, para umchoque com o ambiente.

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conservadoras e os métodos do lavrador formam um ciclo fe-chado, compensado, estabilizado.

Ao contrário, no trópico chuvoso, as forças dispersivas-desintegrantes da terra, como a umidade, a temperatura, a açãomicrobiana e o vento atuam trezentos e sessenta e seis (365) diaspor ano acelerando tremendamente a solubilização dos minerais,nutrientes que são arrastados pelos aguaceiros deixando no es-queleto o alumínio e o ferro. Resulta daí solos de fraco poder

adsorvente, índice baixíssimo de bases trocáveis e escassez dematéria orgânica.O intemperismo demasiado do clima quente e úmido sobre

terras geologicamente velhas rompeu as ligações moleculares dosminerais, deixando um resíduo de ferro alumínio nos complexos.

Nos solos latinizados, com o deslocamento das bases e a-cidificação, a argila tornou-se hidrogenada indicando que osnutrientes se dissolvem lentamente, e a solução do solo é diluí-da. A latinização dos terrenos de climas úmidos constitui o mai-or obstáculo à lavoura de elevados rendimentos porque a suafertilidade dura enquanto existe o humo fugidio que lhe empres-

ta o poder de sorção.A intensidade da influência climática em duração e grau é o

fator decisivo que faz a diferenciação dos solos temperados e tropi-cais, considerando em igualdade de condições as rochas mães.

A tendência do clima chuvoso para criar uma vegetaçãoarbórea e ervas daninhas, a recente introdução dos estudos dosolo e de métodos culturais, a ignorância do lavrador, o desgastedo terreno pela erosão, tornara difíceis, até hoje, o estabeleci-

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 pouso com plantas mistas, semeadas, o “barbecho” com vegeta-ção nativa e procurar esclarecer a duração da rotação das cultu-ras comerciais com a extensão do período de restauração do solopor grupos arborescentes ou arbustivos ou herbáceos.

Cientificamente, o preparo do solo é a operação que ofere-ce maior dificuldade porque ele exige conciliar a formação domelhor leito para a germinação das sementes e enraizamento dasmudinhas com a menor alteração possível do meio e o mínimo

de esforço humano. Devido à facilidade com que o solo cede suafertilidade, sob a pressão do intemperismo, o revolvimento ex-cessivo da superfície nas operações do preparo está em antago-nismo com a quietude habitual destes “caldo de cultura”.

A aração moderada nos baixios, a substituição do aradopela grade sempre que possível, a supressão do fogo, a coberturaverde no verão, a alternativa de lavoura e pastos periódicos nomesmo terreno, a adoção da curva de nível em lugar da linhareta, são recursos que se devem adotar numa possível correçãodos desajustes de uma agricultura quadrada no mundo redondo.

O sistema radicular das plantas cultivadas e das ervas da-

ninhas tem importância especial quanto aos métodos culturais. Aprofundidade, o espalhamento, a absorção de minérios, são deci-sivos no rendimento quando a vegetação nativa cede lugar àprimeira cultura na rotação ou quando as ervas invadem as filei-ras pela germinação das sementes trazidas pelo vento, pelos a-nimais, pelas águas ou já aí existentes aguardando chance parasurgir. As ervas ou mato das culturas compõem-se de espéciesque se amoldaram às condições do ambiente através de séculos e

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elas germinam, crescem e frutificam com assombrosa rapidezaproveitando momentos favoráveis, sem concorrência, enquantoo terreno está limpo, com muita luz, com boa umidade, rico denutrientes, etc., vencendo e abafando pela competição a plantacultivada, menos adaptada, e ainda vacilante no tímido enraiza-mento inicial.

As raízes das ervas além de resistentes são profundas, ten-tando obter no subsolo a garantia da sua frutificação para repro-

duzir a espécie.As ervas são plantas de ciclo vegetativo mais curto do queo da cultura comercial; quando as plantas cultivadas soltam asflores o mato já está amadurecendo as sementes.

Por diversos modos as sementes destas espécies efêmerasguardam o poder germinativo para alcançar as chuvas do anoseguinte: 1) cutícula endurecida em redor da semente para evitaro apodrecimento: 2) capa suberosa ou invólucro de ar para isolaro calor; 3) vitalidade mantida por demorado período de germi-nação: 4) resistência à secura por dispositivo contra a transpira-ção. A brotação dos rizomas doentes é outro meio. O compor-

tamento dominante das raízes destas ervas oportunistas permitiuformar o tapete de gramíneas, leguminosas, etc., que cobriu oscampos através de décadas e acumulou toneladas de massa or-gânica para benefício do solo.

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TIPOS DE LAVOURA

A terra nua é atacada pelo clima, o solo coberto é defendi-do pelas plantas. Cada vegetal é o significado vivo da relaçãoentre os elementos da atmosfera e o chão, porém o resultadostotal do grupo botânico é maior do que o da soma das suas par-tes componentes. A planta é um indicador das condições eviden-tes ou ocultas do meio, cujas intensidades e qualificações mere-

cem ser conhecidas nos conjuntos naturais, ou plantados para aaplicação dos métodos culturais adequados.A correspondência dos indivíduos ou das sociedades flo-

rísticas para com o habitat fornece a medida das possibilidadesdos solos para a lavoura, para a pecuária ou para as matas e aorientação mais segura dos processos agrícolas a serem adotadosem cada caso.

A sucessão nos agrupamentos vegetais, naturais, é a mu-dança lenta e parcial das plantas, em que umas desaparecem,outras continuam a vegetar e as terceiras são introduzidas naassociação, aproveitando os remanescentes das que se foram,

absorvendo os seus produtos decompostos em ácidos, bases eenzimas, gozando as afinidades com as espécies que ficaram ecom elas permutando compensações. As leguminosas e as gra-míneas são duas famílias afins.

As seqüências nas combinações coletivas são evoluçõesnaturais da flora nos trópicos. O calor, a umidade, a luz intensa,o solo intemperizado forçam reações, decompõem os produtosmaduros, precipitam sais, impõem modificações, rompem os

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equilíbrios criados para procurar outra estabilidade e, assim, asalterações do meio ensejam oportunidades de variações nos se-res vivos. A sucessão é uma reação típica da flora tropical emperpétua busca de equilíbrio, sem consegui-lo duradouramente.

A rotação nas lavouras é uma imitação que o agricultor fazde uma lei natural; alternando as plantas ou consorciando cultu-ra, o homem está juntando seres com afinidades invisíveis, po-rém reais, com tolerâncias descobertas depois de séculos e exi-

gências que a tradição julgou completivas. Muitas plantas sãoincompatíveis entre si, repugnam os restos das outras, suas som-bras são repelentes e elas não se harmonizam ou não suportam omeio quando colocadas lado a lado.

A cultura pura e a monocultura são artificialismos nos paí-ses quentes.

Por estas razões científicas os métodos culturais nas Zonascálidas têm de se basear numa mistura de plantas ou lavoura inter-calar para manter a produção no período mais longo possível.

As relações de causas e efeito entre o habitat e as aglomera-ções de plantas são os indicadores fenológicos, os princípios que

melhor apontam os procedimentos para as práticas da cultivacão.A fitofisiologia nos ensina que os seres desiguais se justa-

põem, que a diferenciação de tipos com comportamentos varia-dos se harmonizam no ajuntamento, que as plantas heterogêneasem portes e hábitos se combinam.

A agricultura moderna, enchendo pequenos espaços complantas e animais de uma única espécie, acentua as competiçõese multiplica os atritos, convidando as pragas, em profusão, ao

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banquete da lavoura. O controle do reino vegetal é o ardil que ohomem pode lançar mão para criar ambiente próprio para si edefender-se dos seres nocivos.

Como entre as plantas da mesma espécie, a vitória, em a-tingir a maturidade, está no maior crescimento, na quantidade defolhas, nas raízes mais profundas e espalhadas no solo, e, comoa energia da luz, disponível para o indivíduo, é proporcional aoquadro da distância entre as plantas e o suprimento mineral a-

quoso é, mais ou menos, o cubo desta distância, conclui-se que,nas culturas puras, os conflitos e os atritos da competição esta-belecida entre muitas unidades de iguais exigências, são muitoaumentados.

Portanto, nas lavouras não consorciadas, naquelas sem ro-tação e nas monoculturas as lutas das rivalidades são intensas.

Sabendo que, nos climas quentes, o solo cede facilmenteos seus nutrimentos e sendo muito forte a concorrência nas cul-turas puras, as plantações mistas ou intercaladas, formando ca-madas vegetativas em seqüência, de diferentes espécies se suce-dendo em curto período de exploração, entre duas fases de  pou-

sio da terra, são o segredo de conseguir a maior produção agrí-cola com a melhor conservação do solo.

No Nordeste nós podemos separar três tipos de lavouras,quando aos métodos culturais: 1) lavoura matuta: 2) cultura me-canizada: 3) plantação regada.

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Não classificamos como lavoura, propriamente ditas, ascolheitas de árvores quando não plantadas, crescidas espontane-amente, como caroá, oiticica, carnaúba, maniçoba, etc., em mis-tura e equilíbrio com as associações nativas.

A lavoura matuta é da enxada, que muda os roçados peri-odicamente e que abrange a maior área; é a praticada pelos ro-ceiros, moradores das fazendas ou pequenos proprietários com omenor esforço possível, gente que não tem recursos para com-

prar máquinas, nem adubos, etc. Os matutos fazem o roçado,queimam sem destocar, plantam e colhem algodão mocó, man-dioca, milho, feijão, arroz, etc. É a lavoura do pobre e que pro-duz alimentos em maior quantidade e o custo de produção é ele-vado por causa do trabalho manual e a pequena escola. Ela pre-cisa ser melhorada através do trabalho mútuo, cooperativista,financiado e da melhoria do solo com o alqueive pela vegetaçãoregional.

A necessidade de alimentação forçou populações primitivasou civilizadas a dedicar-se á Agricultura; com o tempo surgiramprocessos empíricos que passaram de geração a geração até torna-

rem-se tradicionais para aquelas coletividades e ambientes.Citado por E. H. Graham há o caso dos indígenas da No-

va-Guiné, tão primitivos que ainda usam machados de pedra,mas que, como lavradores, desenvolveram métodos agrícolasbaseados no alqueive, em terraços e na adubação verde em terraselevadas e em canais e drenos nos baixios. Há tribos africanas,em Tanganica, que plantam o milho e quando está com 30 cm dealtura semeiam a crotalária intercalar, depois de colheita de mi-

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lho enterram o adubo verde e plantam o sorgo. Antes da colheitado sorgo outra leguminosa é plantada no meio. E, assim, seguin-do a rotação com adubo verde, construindo terraços e drenos depedra, alimentando o gado em currais, estes indígenas conse-guem viver nos trópicos, com alta densidade de população duaspessoas por hectare.

O sistema de cultura, africano “corridor” usado no CongoBelga e citado por Charles Kellig em “ An Exploratory Study of Soil

Grops in Belgian Congo”, consiste em abrir na floresta talhões decem metros (100 m) de largura por uma milha de extensão, em quealguns talhões estão em cultura, outros sendo postos sob cultivo,outros em repouso, formando nova floresta e outros já com vegeta-ção adulta. Seis anos de cultivo são seguidos de doze anos de al-queive. As culturas são sempre mistas; as bananeiras são plantadasprimeiro, poucos dias depois é plantado o milho; quando o milhoatinge quinze centímetros (15cm) de altura é semeado o arroz in-tercalar; a mandioca entra em cena quando o arroz está com sessen-ta centímetros (60 cm) acima do chão. Todos os trabalhos são ma-nuais, entre os toros de madeira e algumas árvores são deixadas em

pé para facilitar o reflorestamento.O milho é o primeiro a amadurecer, o arroz é colhido cin-

co meses após o plantio; a mandioca demora um ano, a bananei-ra dá colheita entre um e dois anos.

Depois da bananeira o campo entra em formação florestalnovamente.

Às vezes, a bananeira é cortada, feita um plantio de milhoe amendoim e depois vem o crescimento da vegetação natural.

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Este sistema se caracteriza pela rapidez da exploração ini-cial, isto é, o aproveitamento máximo do humo com as culturasmisturadas e volta incontinenti ao estado de mata para recupera-ção da fertilidade. Devido às condições de pobreza da popula-ção, deficiência de conhecimentos técnicos, falta de máquinas,de adubos, etc., não há intensidade de cultivo.

O processo da lavoura matuta, no Brasil, o método agríco-la bantu, no Congo, o sistema de cultura milpa, no México, e a

prática de roça dos Kaingineros, nos Filipinas, são aquisições deconhecimentos iguais, por homens “ignorantes”, em diversaspartes do mundo, ao mesmo tempo, através da tentativa repetidaou da intuição tateante e são outras afirmações de que a experi-ência humana é primeiramente de base prática e depois de or-dem cognitiva.

O homem analfabeto herdou da tradição alguma coisa pre-ciosa, que a percepção instintiva descobriu, que o trabalho ado-tou e que a ciência pode sancionar, em parte. Nem tudo que olavrador faz é errado. Nas práticas agrícolas dos climas quenteso agricultor acumulou alguns conhecimentos que não devem ser

desprezados. No meio da ganga há gema preciosa. O que maisfalta no lavrador é o espírito da classe, é cooperação, trabalhomútuo em união para defesa do ruralismo.

Dadas às dificuldades de uma lavoura sistemática, emcondições ordinárias, passaram a predominar na Zona Seca ascolheitas de produtos nativos como: carnaúba, caroá, oiticica,maniçoba, pequi, etc., com um mínimo de trabalho por parte do

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homem, durante longos anos, sem alterar as relações solo-planta-clima e sem enfraquecer a terra.

A lavoura matuta do algodão mocó, alternado os roçados,sem capina, com um simples roço, permitindo o mato cobrir osolo, com o mínimo de trabalho, baixo rendimentos e caráterextensivo, é outra forma embrionária de lavoura nascida de intu-ição ou da preguiça, e que conserva a fertilidade, quando depoisdo ciclo da cultura vem o alqueire demorando com a vegetação

regional. Esta forma de lavoura nitidamente extensiva, permitin-do muito módico rendimento por área (200kg algodão mocó/ ha),com mudanças sucessivas de talhões e restauração da produtivi-dade primeira do solo pelos alqueires com plantas espontâneas – esta modalidade de lavoura rudimentar, repetimos  –  somentepode ser mantida em região de população escassa: quando adensidade da população cresce e obriga a adoção de cultura in-tensiva a sua repetição, com intervalos curtos, conduz ao desgas-te e ao empobrecimento do solo. A cultura da cana nos baixiosde Maranguape está se mantendo em produção através de decê-nios por causa da matéria orgânica que as águas trazem das ser-

ras adjacentes. A mesma coisa se dá com a cana nos baixios doCariri Cearense.

No clima do deserto as capinas não podem ser feitas comorecomenda a Agronomia ortodoxa porque o chão limpinho érapidamente devastado pelo vento; a riqueza do solo em basestrocáveis permite a nutrição do mato e o sombreamento é o re-médio mais eficaz contra o ressecamento e endurecimento. Nãoresta dúvida que o mato rasteiro diminui o rendimento das la-

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vouras, porém, na Agricultura semi-árida, o solo merece maiscuidado do que a planta. O solo é permanente, a cultura é tem-porária. A redução da colheita é compensada pela diminuição donúmero de capinas. A competição que as ervas faz à lavoura, noverão, é a maior desvantagem na cobertura com plantas vivas,mas pode-se removê-las escolhendo o mato menos prejudicial eselecionando as culturas mais resistentes à seca. No ambienteseco e ensolarado o Sombreamento é quase uma adubação.

Modificando o sistema da capina integral para a limpezade uma fileira sim, outra não, e mais tarde capinando a carreirasuja e deixando a outra criar mato nós desafogamos os trabalhosculturais e protegemos mais o solo.

A regra de diminuir as carpas ao limite mínimo que harmo-niza o rendimento das lavouras com a cobertura do solo têm fun-damento científico nos climas irregulares e quentes, porque som-breia o solo no verão e amortece a força das chuvas no inverno.

A elaboração da matéria orgânica é muito intensificadacom as ervas e os cadáveres destas formam a nutrição de segun-da mão de que nos fala Faulkner no seu “Plow Man Folly”.

O roço ou o corte do mato entre as fileiras da cultura já éuma operação praticada pelo matuto e ela tem por fim revestir osolo da camada verde para sombreá-lo e esfriá-lo economizandomatéria orgânica e proporcionando-lhe humos com resíduos dasespécies cortadas.

Ao mesmo tempo em que se nutre da porção mineral, acultura aproveita também os restos mortais das ervas daninhas.

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A classe dos pequenos lavradores, que mais cultiva os gê-neros alimentícios, não possui recursos para comprar máquinas,nem combustível e nem adubos, razão porque o método da la-voura matuta, melhorado, será sempre o preferido por ela. Aextensividade da lavoura, impossível substituição do repouso nacaatinga, conduzem-nos a procurar a solução da questão da pro-dução na união das famílias em sociedades ou cooperativas lo-cais, que comprem tudo e vendam tudo para os pequenos agri-

cultores e supra a falta do trabalho mecânico. Para os pequenosproprietários, arrendatários ou roceiros o problema da produçãode alimentos é mais de ordem social do que base técnica.

Obrigados a recorrerem ao alqueive com plantas da regiãopara manterem o solo sempre fecundo, impedidos de executar odestocamento todos os anos para a lavoura mecânica, sem recur-sos financeiros para a aquisição de fertilizantes, os lavradorestêm de buscar a solução das suas questões na união, no trabalhomútuo, e esta atuação coletiva torna-se mais importante paraeles do que a mudança de processos agrícolas ou a mecanização.

A função do agrônomo deve ser a de racionalizar a lavoura

matuta, estabelecendo os seus fundamentos, porque ela, para ohomem pobre, é a preferida, é a mais adaptada ao clima e ao solo.

Devemos estudar e evolução da lavoura matuta e não a suatransformação.

Quando se trata de uma lavoura em grande escala, indus-trializada, onde há capital, é lógico o emprego da máquina, doadubo, em busca da produção intensiva. Mas, também, aí, como

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em qualquer parte, a conservação do solo deve ocupar o primei-ro lugar.

As colheitas dos produtos nativos, a lavoura matuta, nômade,posto que tenham surgido do empirismo e deixem muito a desejarquando ao rendimento versus área sã , entretanto, formas de agri-cultura menos instáveis, em melhor equilíbrio biológico, porquesão adaptações seculares do trabalho do homem com o meio. Como avanço da civilização, aumento de consumo, transportes, etc.,

estas modalidades agrícolas já não bastam por si sós para satisfazeras exigências de uma coletividade multiplicada.A lavoura mecanizada vem em segundo lugar em área tra-

balhada e ela abrange especialmente as culturas industriais, co-mo algodão, cana, tomate, arroz, milho, lavoura moderna decarnaúba, etc., em que o terreno é destocado, arado e gradeadascom máquinas, a plantação é feita em fileiras, à capina com ocultivador, etc., e não pode ser usada a intercalação de espécies.Neste tipo de lavoura é urgente tomar muito cuidado com o solo:os talhões devem ser protegidos contra a erosão da água e dovento; devem ser deixadas fileiras de quebra-vento de plantas

regionais, espontâneas, entre limitados espaços; a adubação ver-de deve ser constante; a adubação química pode ser empregadaporque o industrial ou proprietário tem recurso e o produtocompensa; a rotação cultural ou afolhamento, o descanso dosolo mediante o reflorestamento artificial ou natural, etc., sãoobrigatórios.

Para produção em grande escala a lavoura mecanizada é amais adequada; entretanto, muito cuidado e medidas especiais de

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controle da erosão, de adubação, de pousio, do sombreamento oude cobertura do solo, de evitar o fogo, etc., devem ser tomadas.

A lavoura moderna, mecanizada, introduzida pelo agrô-nomo, é intensiva e mais ajustada às necessidades da populaçãoatual pela rapidez das operações, permite grandes culturas, bus-ca produções maiores por área, etc., porém, ela é mais agressiva,rompe os laços amistosos do solo com a vestimenta florísticanatural da região, desprotege o chão e abre uma brecha para o

seu desgaste, quando empregada sem cautela.A lavoura matuta ou nômade, na seqüência das suas ope-rações afetando grandes áreas e no uso das queimadas realiza oesgotamento do solo em extensão como a cultura mecânica, des-cuidada, nos trópicos, o faz em intensidade (profundidade).

A agricultura é o aproveitamento sincronizado de muitasleis biológicas correlacionadas com fenômenos físicos para al-cançar o ótimo fisiológico; entretanto, e, sobretudo nos trópicos,muitos fatores ultrapassam o limite crítico e passam a reagir porexcesso perturbando o desenvolvimento de processos que tantotêm de natural como artificial pela intervenção humana.

No Nordeste semi-árido a luz solar e o calor estão em atu-ação excessiva em face dos outros fatores.

Se até hoje o agrônomo dedicou especial atenção à seleçãoe ao aperfeiçoamento das plantas cultivadas, as desproporçõesda intensidade dos fatores da produção nos convencem da impe-riosidade de devotarmos mais estudos às associações vegetativasdos arquives recuperativos e à produção do solo como parte deum sistema-criador permanentemente em ação.

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O terceiro tipo de lavoura é a irrigada, demais intensiva,esgotante, buscadora de altos rendimentos, minuciosa, exigenteda atenção e própria para pequenos lotes familiares. Semelhan-tes à jardinagem, a cultura irrigada representa a mais alta fito-técnica conhecida, a tentativa de domínio mais rigoroso do ho-mem sobre os fatores naturais da produção. Na sua ânsia de jo-gar com a água, o solo e a planta, o irrigante esbarra no desgastedesastroso que o clima quente opera na fertilidade.

Para contar com garantias de produção permanente e ren-dimentos compensadores, a irrigação requer obsoleto cuidadocomo o solo evitando a salga pelo emprego do gesso e execu-tando a drenagem com antecedência.

A insolação direta no solo e o vento baixo na terra irriga-da, sem sobra e sem cobertura pelo “mulch”, são os maiorescausadores da degradação, da salinização e do endurecimento.

Trazer o solo sempre coberto de plantas ou de restos deculturas, não queimar os resíduos orgânicos, evitar os cultivosexcessivos, empregar o adubo verde e os adubos químicos, dei-xar o solo descansar cada três anos de lavoura, usar culturas

mistas, observar a rotação, preparar os adubos “compostos”, sãoos meios que os conhecimentos atuais da Agronomia aconse-lham como os melhores para conservar a fertilidade dos solosexplorados intensivamente.

Na irrigação é contraproducente manter a superfície do solopermanentemente úmida porque desenvolve raízes muito superfici-ais, impotentes para explorar a riqueza mineral do subsolo.

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O desenvolvimento de raízes profundas na lavoura irriga-da significa explorar o perfil do solo e manter baixo o lençold’água. Para este fim são necessárias doses pequenas d’ águas edrenagem.

As raízes crescem na direção do esterco, do adubo ou daumidade.

A capina mecânica, em clima temperado, está racionaliza-da porque as ervas crescem mais lentamente e o clima permite

escolher a ocasião própria de passar o cultivador quando a umi-dade no solo está no ponto ótimo e o mato iniciando o desenvol-vimento.

No Nordeste, com as chuvas depois do plantio, as ervasgerminam mais depressa do que as sementes plantadas vêm osaguaceiros, o solo encharca-se, o mato cobre prontamente o ter-reno e raramente se consegue um ponto adequado no estado dosolo, com o mato pequeno, para cultivarmos a lavoura. Sendo ocultivador uma máquina preventiva do mato, que não arrancaervas enraizadas, é necessário, para o bom êxito, que ele sejapassado às plantas adventícias então novinhas.

O emprego de “ervicidas”, tratamento moderno, tem ograve inconveniente de desnudar o solo, expondo-o mais à ero-são e de privá-lo de sua fonte de matéria orgânica natural.

Podemos classificar as ervas daninha como “pragas”, mastambém devemos confessar que elas protegem o solo e contribu-em com os seus “cadáveres” para adubá-lo.

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A capina ou cultivação profunda é uma poda nas raízes dacultura comercial e não tem valor como meio de guardar águano solo do sertão.

Os povos primitivos usavam meras escarificações superfi-ciais, como arremedo de capina, e é racional pensarmos que elesverificaram a sabedoria de não agitar o meio biológico.

A prática da cultura intercalar de gramíneas e leguminosasnão deixa de ser uma rotação baseada na diferença da organiza-

ção radicular nutrindo-se em camadas superpostas no solo. Oplantio de uma cultura entre as fileiras de uma lavoura em ama-durecimento é outra prática que visa a cobertura permanente eaproveitamento da superfície por raízes novas enquanto as ve-lhas alimentam-se no subsolo.

O “mulchamento” do solo ou cobertura, com qualquer espé-cie de matéria orgânica, retém a umidade na superfície e estimula aformação de radícolas neste ponto, impedindo a cultivação.

Muitas das idéias emitidas aqui sobre práticas agrícolas,especialmente aquelas sobre métodos culturais, são sugestõespossíveis no Polígono e não conceitos julgados aplicáveis, gene-

ralizados, às regiões úmidas.A Agricultura tropical atingiu, por motivo de ordem eco-

nômica e social, a fase de evolução premente em que a experi-mentação e a ciência devem nortear a sua orientação prementecom rumos seguros, embora aproveitando algumas práticas ori-ginadas de intuição e mantidas pela traição. Antes de inovar, deintroduzir processos que carecerão de ajuste aos hábitos da po-pulação, é mais prudente verificar se a rotina local está em con-

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flito com as necessidades do momento, em desarmonia com osincronismo do meio ou com o trabalho humano. Aquilo que atradição tem de respeitável, após passar pelo crivo da análise,depois de aferido pela investigação, merece a sanção do funda-mento científico.

Não existindo outras regiões tropicais para serem desco-bertas, diminuindo cada vez mais as terras virgens disponíveis,aumentado o consumo de produtos agrícolas pelo crescimento

progressivo da população, há necessidade da criação de métodosculturais mais racionais, mais conservadores que eles sejam aca-tados e empregados pelos lavradores num esforço coletivo decooperação para o progresso da civilização nos climas quentes.

Não existindo outras regiões tropicas para serem descober-tas, diminuindo cada vez mais as terras virgens disponíveis, au-mentando o consumo de produtos agrícolas pelo crescimentoprogressivo da população, há necessidade da criação de métodosculturais mais racionais, mais conservadores e que eles sejamacatados e empregados pelos lavradores num esforço coletivo decooperação para o progresso da civilização nos climas quentes.

Nunca, como na época atual, houve tanta necessidade decompreensão por parte de lavradores, agricultores e fazendeiros,de melhorar a Agricultura, seus métodos, e de conservar os re-cursos naturais garantidores da vida, no futuro.

A incompreensão e a falta da cooperação do homem ruralnesta questão, essencial para todos, são devidas à deficiência deeducação, de preparo para a profissão e de conhecimentos gerais.

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Para generalizar o emprego de uma prática agrícola, me-lhorada, numa região, importa em convencer uma multidão deoperários e lavradores da sua eficácia, das suas vantagens e dasua exeqüibilidade.

É preciso propaganda, demonstração e, mais do que isto; énecessária a experimentação. Técnicos, materiais, aparelhamen-tos, instalações, etc., custam muito dinheiro quando se quer efi-ciência. Nos trópicos os homens de governo não perceberam

ainda a importância dos recursos naturais que estão sendo dissi-pados, como imediatistas não pesam o valor de uma Agriculturacientificamente orientada e por isto não crêem na palavra dostécnicos. As certezas convencionais são mais fácies de aceitar earmam efeito mais rápido do que as verdades científicas.

Um homem de governo que não tiver convicções inabalá-veis na grandeza do trabalho científico, honestamente conduzi-do, pode, com um ato, inutilizar uma geração de agrônomos.

Desde os primeiros dias da colonização por gente não abo-rígine o Nordeste seco tem vivido da pecuária, da indústria ex-trativa e da lavoura de inverno.

Com a açudagem, com as estradas, com os canais de irri-gações, com o desenvolvimento comercial e aumento da popula-ção, surgiu a imperiosidade do estabelecimento de uma lavouraintensiva pela irrigação para garantir a subsistência da popula-ção nos anos secos. Com esta forma de cultura continua no in-verno e verão, com duas safras por ano e sempre nas mesmasáreas, surgiu o problema da conservação da fertilidade dos solosdas bacias de irrigação.

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Além da dificuldade natural da preservação da produtivi-dade dos terrenos nos climas quentes, por falta, ainda, de pro-cessos culturais econômicos e sancionados pela prática, existe ofato de que estas terras são de propriedades de homens ignoran-tes quando às questões de agrologia, de irrigações, e, acima detudo, inconscientes do perigo da destruição do solo destas áreasprivilegiadas, pela ação da erosão, pelo esgotamento e pela sali-nização. As reduzidas várzeas de aluvião, que podem ser irriga-

das, a sua fertilidade natural e o valor que eles representam co-mo fonte de alimentos para as gerações futuras, forçam-nos azelar deste já, pela manutenção da sua produtividade. Neste pon-to, o direito irrestrito do uso da terra, pelo seu dono, está emconflito com as necessidades da população.

Com os trabalhos realizados na defesa contra as secas, omeio físico nordestino evoluiu muito; barragens, estradas e obrasdiversas alteraram a fisionomia do ambiente, mas, o homem co-mum, do interior, permaneceu o mesmo, sem compreender o signi-ficado econômico e social das obras e sem poder atuar como ele-mento positivo de progresso. Daí existirem terras dominadas com

canais de irrigação e cultura apenas parcial. Não sendo o Nordestepermanentemente seco, existindo culturas xerófilas que produzemmesmo sem chuvas, a lavoura irrigada poucos se estendeu porquecomo forma de cultura especializada exige elevada soma de conhe-cimentos que ainda não existem no meio rural.

Por estas razões a irrigação cobre limitadas superfícies dasterras privadas.

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Aqueles proprietários que irrigam não praticam a rotaçãocultural, não proporcionam o repouso periódico aos talhões, nãofazem a adubação e estão certos que poderão colher, continua-mente, suas safras e que as advertências dos agrônomos sobredrenagem, salinização e conservação do solo são teorias inúteis.

É este o grande perigo que ameaça das melhores terras noNordeste. Se não for sancionada uma lei de irrigação, se nãoforem aplicados métodos de conservação dos solos, eles se arru-

inarão antes que a irrigação possa se ampliar.Além da conservação das obras de irrigação, mesmo de-pois do irrigante aprender como evitar a erosão, como corrigir asalinidade do solo e como praticar a adubação, ainda resta-ocompreender que é mais lucrativo, vender as suas safras e com-prar os objetos necessitados coletivamente ou praticar o coope-rativismo pelas vantagens do transporte, da venda total em me-lhores condições e da compra em grosso.

O minifúndio ou o pequeno lote familiar, irrigado, tem deser cultivado procurando-se unir as vantagens da cultura intensi-va, por intermédio do auxílio muito dos cooperados ou associa-

dos, ao sistema de vendas e compras em maior quantidades, u-sados pelas grandes empresas.

Além das quantidades essenciais de agricultor, o irrigastede uma instrução técnica-prática e de uma preparação moral,disciplinadora, que o capacite a perceber e sentir que há identi-dade nos interesses da sua família e nos da sua comunidade.

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O atraso mental da população nativa é a pedra de tropeçodeste problema porque, em última instância, quem terá de apli-car os princípios científicos da lavoura irrigada será o irrigante.

Preparar esta massa de população, para explorar eficien-temente as obras e conservar os recursos naturais, é desenvolver,extensivamente, uma forma de ensino técnico ainda não conhe-cida no Brasil.

AS CUTURAS E AS REGIÕES NATURAIS

A exploração agrícola baseia-se, em grande parte, nos in-dicadores das comunidades naturais, que permitem a previsão dautilização mais ecológica e econômica de determinado habitat.

As características do solo, o tipo da vegetação, os elemen-tos do clima, a umidade, a topografia, etc., são os reveladores,isoladamente e em conjunto, das condições mais favoráveis decertos tipos de lavoura ou da maior probabilidade de êxito de umramo agrícola.

Os indicadores naturais apontam as preferências de certas

plantas ou grupos botânicos para ambientes característicos, de-terminando, por exemplo: a preferência dos carnaubais pelosaluviões fluviais do sertão, como Assú, Baixo Jaguaribe, Acara-ú, devido à grande luminosidade necessária às suas folhas, solorico de bases trocáveis, especialmente potássio, e a presença dolençol d’água; o sucesso do mocó, no Seridó, devido à estaçãochuvosa para o crescimento e período muito quente e seco para amaturação dos capulhos, ao lado de regular teor de fósforo e

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potássio no solo; a predominância dos cereais, no agreste, pelosuprimento de umidade mais uniforme e solo fértil; a freqüênciado cafeeiro e da arboricultura nas serras, pela temperatura maisamena, maior umidade, solos mais profundos e necessidade dasárvores para vestir os morros contra as enxurradas; a adaptaçãoda pecuária às caatingas e aos carrascos, imposta pela intensi-dade da criação, presença dos arbustos de rama, clima seco fa-vorável para a saúde de gado, ausência de certos parasitas e zo-

onoses, e impossibilidade de aplicar outro ramo agrícola; a plan-tação da mandioca nos tabuleiros, entre o sertão e o mar, porcausa do grande consumo da farinha, da existência da lenha prao forno, da mandioca vegetal em terra fraca, recém-roçada esolo permeável para lavoura de raiz; a constância do canavialnos brejos, pela necessidade de muita água, aproveitamento debaixios com pouca drenagem, hábito secular da população nalida do engenho e a rapadura ser alimento básico na zona. E as-sim por diante.

Não resta dúvida que as plantas, como os animais, têmuma grande área de ocorrência, porém, o ótimo ecológico para

uma espécie atingir o seu clímax econômico é, geralmente, umazona especial dentro da área habitada. O mocó aparece em todasas regiões dentro do polígono, exceto nas serras, mas a sua “cot-ton-belt ” ou “mocolândia”, na expressão de Pimentel Gomes, éo Seridó.

Aproveitando as indicações espontâneas, o homem procu-ra tirar partido das influências edáficas e atmosféricas para cul-tivar com mais facilidade. Até a irrigação, com a sua artificiali-

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dade e controle rígido dos fatores da produção, precisa tomar emconsideração a indicação seletiva das culturas.

Depois de alguns anos de observação já podemos dizerque a alfafa, mesmo sob irrigação, não apresenta a sua longevi-dade típica por causa da temperatura muito elevada no verão e,parece-nos, não ser cultura economicamente aconselhável para oPolígono; o abacateiro, não resistindo a insolação nas bacias deirrigação, mostra-se pouco aceitável como cultura de rendimento

no sertão a tamareira, nos açudes, está encontrado chuvas de-mais, em algumas frutificações, para dar frutos de alta qualida-de; não há lugar para os algodoeiros anuais, nas áreas irrigadas,porque o mocó produz sem rega e os algodões herbáceos con-sumiram a água e ocupariam as quadras necessárias para as la-vouras alimentares.

Por outro lado, o sol intenso, a água abundante e a terrafarta de azoto, carbonatos e potássio, fizeram das terras regadas,no sertão, o paraíso das bananeiras e das bananas de fino sabor.

A CAATINGA, SERTÃO E SERIDÓ

Para manter o solo sempre coberto de vegetação, que é aprimeira metade contra a ação química e abiótica do sol, é ne-cessário adotar um método adequado e definindo para as lavou-ras permanentes.

A lavoura de algodão mocó como praticada pelo lavrador,é capinada somente até o enraizamento; depois, os roços inter-mediários são os únicos cultivos e as colheitas são feitas de ju-

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lho a setembro. Quando o algodoal, depois de alguns anos, apre-senta sintomas de decadência, surgem, espontaneamente, muitasmudas de leguminosas arbóreas e, com crescimento rápido, to-mam conta do terreno, os algodoeiros desaparecem e forma-se o

 juremal auxiliado pelos mororós, pelas cássias, capins, marme-leiros, mofumbos, etc., que completam a cobertura, o sombrea-mento e, se não houver erosão, inicia-se a marcha para o clímaxvegetativo da região, que completa e última, após muitos anos, o

rejuvenescimento da fertilidade do solo.Este método de lavoura, empírico, rudimentar, resulta dasforças naturais e da ação tateante do roceiro em busca do auxíliodo meio ou da procura de resultados com o mínimo de esforço.

O processo pode ser estimulado ou melhorado, a fim deque a composição botânica, recuperadora, se faça mais depressa;poder-se-ia, depois de umas cinco colheitas do algodoeiro mocó,plantar, entre as fileiras, de dois em dois metros, sementes de

 jurema de mororó, de catingueira e outros, de modo que estasleguminosas, ao crescerem, ainda permitam mais uma safra dealgodão e componham, em seguida, um bosque misto, de cober-

tura e antierosivo, que absorva o calor e a luz solar, e, com osseus detritos, as suas folhas e as suas raízes com nódulos fixado-res de azoto, dêem matéria orgânica e nutrimento ao chão paraum novo ciclo de cultura comercial, que poderia vir passadosseis ou oito anos.

A função do roceiro, neste florestamento, seria exclusiva-mente de distribuir, pelo plantio, as essências nativas para quenão houvesse falha, para que o agrupamento fosse múltiplo em

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espécies e que o fechamento das copas verdes, em cima, formas-se a primeira barragem dos elementos atmosféricos, impedidos,também, de atingir o solo pela camada do mato rasteiro.

Para esconder o solo da fúria do clima não basta o reflo-restamento simples, pois, a proteção seria insuficiente, é impres-cindível que a florestação seja artificial, isto é, plantada, que sejaheterogênea, densa, entremeada de ervas e de árvores.

O número, a densidade e a plasticidade das gramíneas e

das ervas, cujas raízes fibrosas se infiltram rapidamente em to-das as direções, transformando o solo numa massa mineral-orgânica, combinado com a rigidez das árvores cujas raízes son-dam as camadas profundas da terra mais energicamente e o seuteto verde forma o pára-sol das intempéries, constituem, com aumidade, a sombra e as bactérias, a mais complexa fábrica denutrientes para as plantas, a mais delicada digestão mineral e omais perfeito micro-clima preparador da gestação das matériasprimas pelas lavouras comercias.

Esta dupla camada revestidora do chão se protege mutua-mente, pois que, a de cima, a das copas, rouba o calor, capta a

luz e antepara o vento que viria raspar e secar o tapete inferior;por sua vez este vai retendo água sem deixá-la escorrer e diri-gem para as raízes da outra, aqueles alimentos que armazenou.

A preparação da camada superior do solo, afofada, ativa ereagente é um fenômeno biológico que demanda tempo, açãomicrobiana, sombra, umidade ótima e repouso. A restauração dafertilidade de cada talhão, depois de três a quatro anos de cultu-ra, não pode ser obtida com máquinas e adubos somente; é pos-

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sível consegui-la com o processo natural do alqueire, tambémintroduzido na rotação.

A organização do ciclo das culturas de produção e do pe-ríodo mais retardatário do repouso com reflorestamento rápidofacultam a produção de gêneros alimentícios, de matérias primase ao mesmo tempo de madeiras que já faltam nas regiões secas,mas, esta alternação de ciclos, para ser eficiente, tem de ser geralou praticada em todas as fazendas.

Uma variante deste método cultural poderia, também, serintroduzida nos roçados para os plantios de algodoeiros, ou dapalma forrageira, ou do agave. Nela seriam cortados os arbustose árvores de pouco valor e deixados os pés de aroeira, de paud’arco, de cedro, etc., para que ficassem vinte a trinta indivíduospor ha; far-se-iam os plantios, as capinas, no primeiro ano, osroços do mato e as colheitas cada ano, até o começo do declíniodas lavouras; estão, entraria em cena o reflorestamento interme-diário, no começo do inverno, com leguminosas arbóreo-arbustivas, a formação do tapete de capins com ervas e o terrenoficaria em alqueive durante seis ou oito anos, conforme as ne-

cessidades e o grau de restabelecimento do solo.Com os roçados, na caatinga ou no sertão, o matuto rompe

o clímax de estabilização da vegetação nativa; ao encerrar o pe-ríodo da exploração do solo pela lavoura, ele deve ajudar à Na-tureza na recriação do maciço primitivo mediante os plantios,dentro da lavoura ainda existente, das espécies que regeneram oprimeiro estádio silvícola da região, que nós poderíamos quaseapelidar de savana arborizada.

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No estado atual da lavoura matuta o lavrador destrói com-pletamente a caatinga, queima o roçado, faz a cultura e quandovem à decadência da produção, ele, sem controlar a erosão, a-bandona o terreno à sua própria sorte.

Nós propomos a adoção de um método em que o homemroça parcialmente a caatinga, não queima a galharia e sim a reti-ra ou faz coivaras, planta a cultura e tira tantas safras quantaspermitirem as condições, evita a erosão, e, depois, ele mesmo,

vai auxiliar a regeneração florestal local. Assim, destruindo paraviver e construindo para sobreviver, o sertanejo pratica uma la-voura com base mais ecológica, mais lucrativa e, possivelmente,mais duradoura.

Rotação para a cultura do algodão mocó, no Seridó ou no Ser-tão:

CICLO DE EXPLORACÃO

19 ano; Roçada, plantio do mocó com milho e capinas.

29 ano; até 59 ano; mocó, roço e colheitas.

CICLO DE RECUPERACÃO

69 ano: plantio de leguminosas arbustivas a última colheita domocó.69 até 12 ano: repouso com leguminosas e mato.

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Outros exemplos de rotação:

CICLO DE EXPLORACÃO

19 ano: Roçada, plantio do mocó e capinas.29 ano até 69 ano: mocó, roço e colheitas.79 e 89 anos: aproveitamento do pasto.

CICLO DE RECUPERACÃO

99 ano: plantio de leguminosas florestais por meio de sementes.99 até 159 anos: repouso com a vegetação plantada e espontânea.

O solo, a caatinga, a cultura comercial ou alimentícia e amão-de-obra, constituem fatores muito importantes na questãode manter uma população local sempre em aumento. O conhe-cimento da transformação do solo durante a cultura, fase evolu-tiva, permitirá um uso mais econômico dos elementos catalisa-dos e acumulados durante o período florestal, fase evolutiva. Do

estudo da ecologia botânica local poderá resultar uma reduçãodo tempo preciso para o revigoraste do solo. Mas, para benefí-cios mais amplos e mais gerais é indispensável modificar o con-ceito da nossa política agrária no sentido do que os métodossejam adotados e acatados pelos lavradores. Os estudos e osmelhoramentos dos processos da lavoura devem ser simultâ-neos. Modificar o sistema de lavoura não é alterar um ou outro

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fator do meio ou material da produção, mas, sim, exigir que ocamponês progrida nas operações.

O melhoramento de um velho método cultural, que asse-gure boas condições agrológicas, não é suficiente para o êxito deuma política agrícola; é imperioso que a sua aplicação seja ga-rantida e generalizada nas populações atrasadas pela implanta-ção de uma organização sistemática e de uma disciplina, impos-tas por motivos de interesses superiores.

Os melhoramentos dos processos de lavoura já usados pe-los matutos, nas culturas de seus hábitos, são fácies de aceitação.A preservação dos bons característicos do solo interessa a

todas as culturas, porém as alimentícias por serem as mais esgo-tantes, exigirem mais capinas e cuidados, são aquelas que pedemmelhores métodos. As plantas anuais, que nos dão o sustento,consomem a porção superficial do solo, aquela camada que ca-rece da atuação de muitos fatores, com o tempo, no  pousio ecujo desaparecimento é rápido.

Por estas razões, cada ano, os roçados são extensos, maissacrificada vai ficando a caatinga e um maior número de traba-

lhadores é requerido em desproporção com os proveitos. À me-dida que os habitantes se multiplicam, que diminui o tempo derepouso das terras, urge que o agricultor assuma, também, oencargo de recriar a caatinga ao que ajude esta a se refazer maisrapidamente para que a revitalização do solo seja mais enérgicae mais breve.

Na lavoura matuta não há revolvimento do solo para pre-cipitar oxidações, reduções, secamentos e combustão dos resí-

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duos pela temperatura alta, as raízes ficam todas na terra com-pondo a esponja nutritiva, a cultura mista de duas espécies deplantas ou do algodoeiro ou mato roçado, não deixam o solo nue a restauração das boas condições é conseguida pela caatinga,em seguida.

Embora pareça utópico, o sistema de cultura mais racionalpara a terra seca, talvez, seja um que não desnude o solo, masque procure uma combinação harmônica de um tipo florestal

rarefeito com uma lavoura comercial. A jurema, distribuída emespaços largos, intercalada com algodão mocó, já é uma formacultural antevista na lavoura matuta, depois de dois anos, comouma associação natural. Tratando-se de uma leguminosa espon-tânea, resistente, de folha estreita coando à luz, que despeja nochão boa quantidade de matéria orgânica, cada ano, é possívelassociá-la com o algodoeiro perene, no sertão, formando umconjunto protetor-produtivo.

Já temos visto culturas de planta sem espinho medrando emmistura com árvores de aroeira e de angico, sem nenhum prejuízoaparente, sem faltar luz interior e com boa proteção do solo. A ten-

dência de crescer árvores é típica do clima e do solo do sertão; ár-vores e arbustos lenhoso procuram medrar por toda parte.

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As árvores são as grandes armas nos ambientes ingratos,elas são a expressão de uma cultura superior, de um grau de ele-vado e, pelos nossos processos devastadores, elas estão sendotomadas, silenciadas no “campo de batalha”. O clima não é oúnico responsável pela aridez, a devastação mais a acentua. Poristo impõe-se a pesquisa de processos mais conservadores deagricultar o solo, pelos quais possamos tirar as colheitas semlesar o patrimônio produtivo do solo.

A lavoura com máquinas, não é combatida; ela ficará limi-tada aos solos mais profundos, aos aluviões de beira de rio, àslavouras industriais dos climas úmidos, onde a erosão e a fertili-dade podem ser mais eficazmente controlada.

As aglomerações botânicas locais revigoram o chão pelasombra, pela criação do horizonte esponjoso, pelo incrementodas microfloras a fauna e, sobretudo, por causa da matéria orgâ-nica em forma de linina. Esta parece ser a razão por que as vege-tações lenhosas restauram uma fertilidade mais durável no solodo que as plantas anuais, tenras, ricas de água, de celulose e deamido-açucares.

Em Conneticutt os cientistas pesquisam a vantagem da a-plicação da serragem e resíduos celulósicos de mistura com a-dubos azotados no melhoramento das terras fracas. A decompo-sição da celulose obriga aos agentes microbianos ao consumo doazoto existente no solo. A manutenção da celulose, nos solos declima quentes, para constante ativação microbiana, pode ser osegredo da produção elevada e mais regular.

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O alqueive com a vegetação arbórea é mais eficiente narecuperação da fertilidade porque o período de repouso é maislongo ou porque as árvores adicionam mais celulose ao solo doque as ervas.

Temos observado que o enterrior anual de leguminosa, pa-ra adubo verde, no sertão, não está estimulando o crescimentoda cultura comercial subseqüente como seria de se esperar.

Fica-nos a impressão de que as hemi-celuloses, os amidos,

os açúcares, pectinas, etc., são destruídos ou decompostos rapi-damente pela temperatura sempre alta, ação solar, etc., surtindoum efeito muito efêmero sobre a cultura, e, a fraca quantidadede linina, etc., não permitem influência demorada no solo; alémdisto, no sertão, as leguminosas anuais apresentam, nas raízes,poucos nódulos fixadores de azoto.

O Prof. Humberto Carneiro, da E. S. A. P., em admirávelpublicação no Boletim da Séc. Agr. de Pernambuco, n.s 4- 6-1947 chama a nossa atenção para a ação lexemática das enzimasou vírus do Gênero Fagus na destruição das bactérias fixadorasde azoto nas raízes das leguminosas. Os solos compactos, argi-

losos, de pH sete a oito, cansados das culturas repetidas, de le-gumes, são os que maior quantidade destas lisis contém e sãoaqueles onde a nodulação das raízes menos se desenvolvem,onde há redução na fixação do azoto do ar e o crescimento dosadubos verdes menos prospera.

A adição dos adubos químicos, a rotação cultural e o al-queive auxiliam na correção dos solos contaminados por entida-des lisimáticas, bacteriófagos.

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Há margem para suspeitarmos que a deficiência na síntesedo azoto gasoso, por via natural-biológica, seja causada peladifusão dos fagos nos solos do sertão.

No melhoramento dos métodos culturais devemos tersempre em mente: 1) que o solo não pode ficar exposto ao sol eao vento; 2) que o ciclo ou rotação das culturas comerciais deveser curto; 3) que a fase do alqueive restaurador necessita de serajudada para uma influência mais rápida e completa; 4) que as

lavouras consorciadas sejam mais comuns do que as puras, e; 5)que a conjugação das medidas antierosivas com a rotação sejaobservada.

O algodoeiro mocó, planta semi-perene, não dá margem àrotação com outras culturas porque o ciclo da exploração agríco-la ficaria muito longo e esgotante. As combinações possíveis,com o mocó, seriam o milho ou o feijão intercalados no primei-ro ano ou a formação do pasto, no algodoal depois de velho.

Estas práticas dependem da fertilidade e do estado do solo.A experimentação algum dia esclarecerá a eficiência do

alqueive com plantas anuais e com plantas lenhosas, ou o valor

das coberturas herbáceas, arbustivas ou arbóreas.Além repouso e como medida racionalizadora, é aconse-

lhável estabelecer as culturas de gêneros alimentícios somentenos aluviões, baixios e chapadas, e que o algodoeiro, como la-voura mais extensiva do Polígono Seco, não seja feita em terre-nos íngremes ou de difícil cobertura florestal.

As noções culturais que nós queremos ressaltar é que osmaus processos agrícolas significam a destruição do nosso po-

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tencial biológico, são estragos inúteis, da fertilidade, da flora eda fauna, desperdício do capital natural da zona, nascidos daignorância e da negligência dos moradores locais.

O ensino agrícola ambulante, a educação regional, a pro-paganda e a assistência mais eficiente são providências gover-namentais que devem ser auxiliadas e estimuladas pela colabo-ração dos particulares mais esclarecidos e influentes.

AGRESTE

Os métodos culturais têm muita importância no rendimen-to das culturas e na manutenção do terreno em condições de altaprodução para fazer face ao crescimento da população. Em todosos países do mundo as colheitas por ha, não adubado, estão bai-xando e os problemas agrológicos preocupam os homens deciência. Estas apreensões são as mesmas de cento e cinqüenta(150) anos passados quando apareceu a lei de Malthus; esteprincípio esteve obscurecido, até há pouco tempo, porque a ex-pansão agrícola das terras novas permitiu grandes abastecimen-

tos de gêneros alimentícios e adiou a gravidade da questão dealimentar a humanidade.

Como não existem mais continentes para descobrir e émuito limitada a terra nova para cultura, voltou à baila o antigoreceio de faltar à ração mínima para manter em vida as popula-ções de todos os continentes. Conseguir o abastecimento, naguerra e na paz, tornou-se o problema mais importante de cadaregião. Mas, o solo não é máquina para produzir safras continu-

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armente, cada vez mais volumosa, para satisfazer as bocas con-sumidoras em constante duplicação.

Surgem, então, as questões delicadas e complexas de pro-duzir sem esgotar o solo. A deterioração física do campo é umfato inquietante, o empobrecimento químico é assustador e aredação das colheitas por área é uma verdade que não pode serocultada. Os recursos técnicos para o aumento da produção têminfluência limitada; a adubação, a seleção, o emprego de máqui-

nas, a irrigação, os combates às pragas, etc., exigem dos matutosconhecimentos científicos para aplicá-los, muito dinheiro paracomprar os materiais, muita aparelhagem para ser construída e opovo rural ainda é demasiadamente atrasado e pobre para serbeneficiar com estes meios. O progresso de um indivíduo podeser rápido, o de um povo, não.

Para produzir mais, é preciso mais adubo, mais transporte,mais máquinas e mais dinheiro, e a classe rural é a mais pobre ea mais ignorante de todas. Mesmo que existisse adubo, máqui-nas e dinheiro para atender às necessidades de todos os lavrado-res, restaria ainda vencer o maior obstáculo: a seca.

As áreas irrigadas carecem de terraplanagem e de drenagempara serem postas em estado de uniforme umedecimento e preci-sam receber uma tonelada e gesso moído, por ano, por hectare,para ser manterem libertadas do sal, mas o capital particular nãoexiste para elas; ele procura os lucros fáceis e quilométricos.

A Lei de Malthus preocupa os homens responsáveis pelosgovernos e os cientistas já estão abrindo novos horizontes, auxi-liares da agricultura, na investigação dos fermentos produtores

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de proteínas, a obtenção de açucares da madeira, no emprego dafotossíntese em fábricas de alimentos carbohidratados, no em-prego da energia atômica na produção agrícola, na obtenção degorduras por fermentações microbianas, etc.

Ainda que haja fome parcial no mundo, não acreditamosque a lei de Malthus provoque uma tragédia em futuro próximo.Os fenômenos biológicos são muito lentos e os seus efeitos nãosão bruscos. Entretanto, devemos esperar uma contínua elevação

dos preços dos gêneros alimentícios, doravante.Uma das lavouras de maior rendimento e largo consumo éa da mandioca.

As lavouras de mandioca nos agrestes, nas serras e nas ca-atingas litorâneas, sem o caráter das grandes culturas industriaise sim em reduzida escala para a produção da farinha e da gomade consumo interno, como praticada por todos os roceiros, nãopode deixar de ser extensiva, baseada nos arquives recuperado-res da fertilidade.

Sem recursos para adquirir máquinas e adubos o roceirocombina o roçado da mandioca, na terra descansada, com a ob-

tenção da lenha para a farinhada. Aqui, a restauração da vegeta-ção local tem a dupla finalidade de regenerar a fertilidade dosolo e de criar o combustível para o forno.

As caatingas menos secas que se aproximam do litoral,como no Ceará, e os agrestes, onde o mandiocal é a maior la-voura, o terreno arenoso, ácido, força o lavrador a fazer a quei-mada para os sais minerais da cinza darem maior rendimento afazer a queimada para os sais minerais da cinza darem maior

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rendimento de raízes. Ocupando o solo durante dezoito meses, omandiocal pode ser intercalado com milho ou feijão e o ciclocultural não deve exceder de quatro anos.

Depois deste vem o pousio com o plantio ou o estabeleci-mento natural do sabiá, jurema, pau banco, etc., durante seisanos, para reavivar a produtividade.

Alimento básico para a população pobre, a farinha forneceo volume na ração, de feijão com rapadura, do roceiro. Nenhum

outro alimento é consumido em maior quantidade e é o maisbarato de todos.Na orla mais próxima do mar, desde o Ceará até a Bahia, a

área plantada de mandioca, cada, ano é imensa ela, com as ser-ras, abastece de farinha todo o Nordeste Brasileiro.

A importância de a mandioca crescer muito, depois dos es-tudos que foram feitos um Java e na América Central. A revista“A Fazenda” de agosto de 1950, traz um artigo de Walter Ben-glam sob o título “A mandioca supera a alfafa”, no qual se ver i-fica o extraordinário valor alimentício das folhas da mandioca,em proteínas e vitaminas, completando, assim, os carboidratos

das raízes. Contendo as raízes até quarenta por cento (40%) deamido e esclarecido, agora, que a farina seca, das folhas, contémvinte e dois (22) a vinte e cinco (25%) por cento de proteína emais de trezentas mil (300.000) unidades internacionais de vi-tamina A por libra, deduz-se que a mandioca é, para esta região,uma planta privilegiada e que merece toda a atenção na nossaalimentação e na do gado.

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Neste mesmo estudo de mandioca, citado, já há um quadrode análises provando que as folhas da mandioca são mais ricasem proteínas, sais minerais e vitaminas do que as folhas da acel-ga, do repolho, e do espinafre da N. Zelândia. Os habitantes deuma região de Java, que se alimentam naturalmente de raízes demandioca e de suas folhas, como “verdura” foram examinadospor médicos e julgados com boa saúde porquanto a ração conti-nha oito por cento (8%) de proteínas, cinco mil (5.000) unidades

internacionais de Vitamina A e cinqüenta a cem (50 a 100) uni-dades internacionais de vitamina B.A cultura mecânica de mandioca, no agreste litorâneo, do

Ceará, para a indústria do amido destinado à exportação, encerraas grandes vantagens de diminuir o transporte ao porto, de con-tar com a lenha, terreno arenoso de pouca pedra, mais facilidadepara materiais de adubação, etc.

Contando com chuvas médias anuais mil milímetros(1.000 mm) com um período seco e ensolarado para o benefici-amento do produto e com a água abundante e de boa qualidadedos poços, estes cinqüenta (50) quilômetros de largura da faixa

agreste cearense, entre o sertão e o mar, se prestam magnifica-mente para a grande indústria de amido que, em futuro não re-moto, aqui se instalará.

No agreste dos outros Estados, também, o milho e o feijãosão muito cultivados.

A cultura mecânica nos agrestes, seja de mandioca ou decereais, deverá ser feita com faixas de quebra-vento, em curvade nível, com vegetações nativas, para barrar o vento baixo que

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transporta o solo, especialmente onde ele é arenoso. O agrestearenoso de Pernambuco exige proteção contra a enxurrada naforma de sulcos, em contorno, faixas alternadas, proteção nosaltos, etc.

A manutenção constante das condições do agreste é deci-siva para assegurar a produção agrícola.

Os solos dos agrestes, mesmo os arenosos têm regular fer-tilidade, mas as suas produtividades são decorrentes das boas

propriedades físicas da reação da vegetação sobre o solo, manti-da sem interrupção.O corte, o destocamento e o cultivo mecanizado dilaceram

este organismo vivo; a estrutura granular e a manta orgânica artifi-cialmente criada pelo confinamento das árvores amparadas porarbustos são desagregadas e consumidas vorazmente pelas raízesfamintas dos cereais. A lavoura mecânica, para amortizar os eleva-dos gastos do destocamento, precisa dilatar o período de explora-ção, na mesma área, empregando as adubações com cinzas, as tor-tas, as leguminosas, os pós de osso ou os resíduos urbanos, abun-dantes e variados. Após um prazo cultural que justifique a roçada e

o destocamento vem o restabelecimento da vegetação nativa, quedeve ser plantada, para cobrir o solo e reatar as condições anterio-res de crescimento com o resíduo que foi deixado no campo. Apósalguns anos de descanso e de recuperação da fecundidade, o mes-mo lote voltará a ser novamente cultivado.

Assim, a cultura mecânica, industrial, em grande escala, po-de ser perpetuada numa região desde que se lance mão da aduba-ção, do alqueive com plantas locais e do controle da erosão. Ainda

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assim a repetição dos ciclos culturais tem limite; será feita comoindicar o rejuvenescimento do solo pela ação do pousio.

Como região natural, produtora de cereais, o agreste ne-cessita cuidar do armazenamento dos grãos e de sua conservaçãopara o consumo ou para o plantio. Os silos, os depósitos, as câ-maras de expurgo são instalações de boa venda, oportunamente,ou preserva-lhe a germinabilidade, para os plantios vindouros.

SERRAS

A cultura do café pode ser melhorada pelo plantio com ter-raços, em curva do nível ou ligeiramente inclinados, pela aduba-ção orgânica ou química. Porque o preço do café compensa estasdespesas, e pelo preparo do fruto com o despolpamento, seca-gem, beneficiamento e classificação.

O terreno demais íngreme das serras do Triunfo e Guara-piranga dificulta muito qualquer prática mais intensiva que sequeira fazer nesta lavoura.

O sombreamento dos cafezais, como usado aqui com as

ingazeiras, os muricis, etc., tem sido a salvação do solo e destarubiácea. O teto alto das ingazeiras corta trinta por cento (30%)da luz do sol, conforme leituras no fotômetro feitas por nós, em

 julho, em cafezais de Guarapiranga.É sabido que a arborização prolonga a vida do cafeeiro e

melhora a quantidade do grão, porém, a sombra parcial diminuia produção de “cerejas” por pé.

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Os fatores que intervém na escolha de uma leguminosapara arborizar o cafezal são:

1) crescimento rápido e vida longa;2) galhos rijos e folhagem favorável ao cafeeiro;3) sombra que impeça o desenvolvimento de ervas heliófi-

las nocivas;4) enraizamento profundo;

5) transpiração fraca na estação seca para não retirar a umi-dade necessária ao cafeeiro;6) inoculação fácil de bactérias fixadoras de azoto nas raí-

zes;7) abundante produção de folhagem e de detritos para co-

brir o solo.

As plantas mais comuns no sombreamento do cafeeiro sãoos ingás, os muricis, as acácias, as albizzias, etc.

A prática de cobrir o chão, sob os cafeeiros, com a mantatrazida das matas, pode melhorar muito a produção pelo nutri-

mento e retenção da umidade.É um fato aceito sem discussão que o cafeeiro não pode

ser cultivado a pleno sol, nas serras do Nordeste.O cafeeiro não quer verões secos, as estiagens devem ser cur-

tas. A boa destruição das chuvas é essencial para os arbustos e cor-rige a deficiência da quantidade de precipitação, até certo limite. Asárvores de sombreamento fazem competição, até certo limite, aocafeeiro quando há umidade, nos solos pouco profundos...

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A capacidade de sucção osmótica das raízes do cafeeiro éfraca, razão por que o chão deve estar bem provido de umidadena ocasião da floração. A irrigação, a adubação e o sombrea-mento são os três fatores mais importantes na obtenção de altaprodução de cafés finos.

Fatores climáticos, agrológicos e tipográficos ensinaramaos antepassados nordestinos que esta rubiácea teria de viver,aqui, em simbiose com a ingazeira.

O aumento da matéria orgânica pelas leguminosas som-breadoras, com a queda das folhas e detritos, forma o folheadosobre o solo, manta que ampara e absorve a chuva, cedendo-aaos poucos ao subsolo, sem permitir a erosão.

Este tapete não aquece a terra porque isola algum raio so-lar que filtra através das folhas do cafeeiro, depois de peneiradopela abóbada verde da mata protetora; evita o danoso vento bai-xo, ressecador; acelera a criação dos microorganismos úteis quedigerem os minerais com os humos, formando os humatos alca-linos; prepara o caldo de cultura onde as radicelas absorventesdo cafeeiro vão beber os seus nutrientes; favorece o desenvol-

vimento das bactérias fixadoras do azoto que são hóspedes dasraízes; impede a tendência da acidificação das terras cafeeirasquando desnudas; multiplica os adubos químicos.

Sendo o cafeeiro uma árvore naturalmente amiga da som-bra e dos solos frescos, ele gosta do sub-bosque das grandesárvores que barram a insolação causticante, que elevam a umi-dade relativa do ar e que propiciam condições especiais para a

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elaboração dos frutos graúdos, suaves e aromáticos, amadureci-dos uniformemente.

A arborização fornece os requisitos indispensáveis para aformação das “cerejas” sazonadas perfeitamente e que são ex i-gidas no despolpamento para a obtenção dos cafés finos.

O Prof. José Stênio Lopes no seu estudo “Notas sobre adecadência econômica da Serra de Baturité” (Anais do Inst. doNordeste, 1949) dá, entre outras boas informações, os totais de

chuvas, que comentamos adiante.Nas serras do Nordeste, a estiagem de oito meses no ve-rão, maio a dezembro é muito longa para o cafezal, por que ébaixa a produção por árvores. As chuvas totais, em Baturité, nosanos de 1941 a 1945, foram: seiscentos e noventa e um (691),seiscentos e quarenta e dois (642), oitocentos e quarenta e um(841), setecentos e noventa e um (791), e mil trezentos e sessen-ta e sete milímetros (1.367 mm), ou seja, a média anual de milnovecentos e quarenta e cinco milímetros (1.945 mm), é insufi-ciente mesmo para uma pequena colheita de café. Em Pacotí, amédia pluviométrica deste cinco anos, foi de mil duzentos e ses-

senta e cinco milímetros (1.265 mm) que, devido ao longo doverão coincidindo com a floração, ainda é escassa para a boacolheita de “cerejas”. Os principais fatores na elevação da pr o-dução do grão por cafeeiro, ali, são o aumento da umidade emais nutrientes por intermédio da adubação.

O sombreamento diminui o crescimento do mato e das er-vas reduzindo as despesas do custeio. Não é aconselhável usar aenxada nas capinas dos cafezais porque, com o folheado, as ra-

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dicelas absorvem os alimentos na superfície e as capinas destro-em esta rede de assimilação. A limpeza do mato pode ser feitacom o roço baixo, a facão, ou mediante o arranchamento daservas onde estas aparecerem.

Nas terras montanhosas, a pique, nas quais o cafeeiro écultivado no Nordeste, a arborização é a garantia física contra oarrastamento dos nutrientes e a segurança química contra a lixi-viação das bases trocáveis.

O emprego dos terraços nos plantios dos cafezais; o me-lhoramento do sombreamento mediante o replantio dos claroscom as grandes leguminosas; as podas periódicas nos galhos dassombreadoras; as adubações dos cafeeiros com material baratolevado das cidades (cinzas de madeira, lixo curtido, pó de osso,restos de matadouro) ou então com adubo de curral transportadodo sertão ou com a manta das matas vizinhas são os meios paraa obtenção de cafezais mais lucrativos.

A lavoura do café tem o seu futuro econômico asseguradonas serras do Nordeste pelo grande consumo local do produto eporque a arborização conserva a lavoura, ainda que o nível da

produção por pé seja baixo.O canavial, ao contrário, não encontra possibilidade de

perpetuidade, pois, a necessidade de lenha para as fornalhas derapadura ou para os alambiques da aguardente, obriga o cortedas matas, provoca a erosão violenta do morro, enfraquece osolo e destrói a produção.

A lavoura do café pode restaurar a prosperidade antiga dasserras, por diversas razões, sendo a maior delas a de que a flo-

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restação obrigatória conserva o solo; a cana, como cultura pura,sem rotação, sem adubos, em pequena escala, exigente de com-bustível, desprotege o solo de morro, tende a arruinar a terra ecausar a decadência.

Os sítios das serras são de pequenas áreas, o arquive émuito breve ou impossível em alguns casos, à densidade da po-pulação é elevada, cada dia, os terrenos mais íngremes, inade-quados para lavouras puras, são postos a produzir gêneros ali-

mentícios sem emprego das práticas conservadoras da fertilida-de, de modo que, somente o cafezal intensivamente tratado, comterraços, com adubação, com sombreamento controlado, portan-to, em harmonia com a vegetação natural, pode se perpetuarbiológica e economicamente.

As lavouras mais importantes das serras são: café, cana,frutas, hortaliças. Há, entretanto, limite de adaptabilidade: são aspartes mais chuvosas; as caatingas e os carrascos das serras sãosecos e arenosos demais e só servem para pasto, palma forragei-ra, algodão, caroá, etc.

As fruteiras e as hortaliças são boas culturas para as serras

quando realizadas intensivamente, com o controle da erosão,adubos químicos, organização do sistema de vendas sem inter-mediários, união dos produtores e transporte das colheitas semdeterioração.

A população do Nordeste necessita das serras para o seuabastecimento de colheitas que não são possíveis nas outras re-giões naturais do Polígono.

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TERCEIRA PARTE

“AS LAVOURAS SECAS”

Chamamos de “culturas secas” aquelas plantações resis-tentes à seca e adaptada às condições do Polígono. São muitas asplantas que crescem e dão colheitas rendosas no clima irregulare violento; algumas porque acumulam reservas no organismo,

outras porque consomem pouca água e as terceiras porque to-mam parte deste líquido da atmosfera, à noite.

O algodoeiro mocó, a carnaubeira, a oiticica, o agave, ocaroá, a maniçoba, o umbuzeiro, o pequizeiro, o faveleiro, apalma sem espinho, etc., são exemplos de plantas que, comgrande sucção osmótica nas raízes, dão colheitas compensadorasao homem. Com exceção dos frutos do pequizeiro e da baga dofaveleiro que são comestíveis e da palma, que é uma forrageira,as “lavouras secas” restantes dão produtos industriais, exportá-veis, que fornecem dólares ao país.

Sendo “cash-crops” elas têm um lugar muito destacado no

Nordeste e, juntamente com as peles e os minérios, formam osmaiores buscadores de numerário para o Polígono. A Natureza nãofoi tão madrasta para com o Nordeste, deu-lhe quase uma dúzia deplantas que valem mais do que um patrimônio econômico.

Quadro da produção e do valor das “lavouras secas”, noPolígono, no ano de 1948, fornecido pelas Diretorias de Estatís-ticas dos respectivos Estados. Agradecemos aos seus Diretoresestes dados

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As “lavouras secas” dão produtos de exportação, são ma-térias primas de alto valor no Ocidente, trazem ouro para o Bra-sil nas trocas internacionais e, por isto, são chamadas lavourasdos proprietários em contraposição com as culturas alimentares,menos lucrativas, que são as ocupações dos moradores.

Colheita Produção (kg) Valor (Cr$)

Algodão, em caroço 205.722.298 868.513.872,00Carnaúba, cera 12.247.738 249.336.487,00Agave, fibras ) 21.581.527 88.396.440,00Mamona, sementes 15.694.958 30.224.622,00Caroá, fibras 9.291.009 25.466.027,00Oiticica, sementes 25.974.159 25.045.137,00Maniçoba, borracha 379.373 2.795.237,00Total kg 290.691.062 1.289.777.882,00

Os açudes públicos são os ambientes próprios para as la-vouras dos colonos e as lavouras xerófilas, nas áreas secas, são ocampo de atividade dos fazendeiros.

A criação de gado, o algodão, a cera, as peles, a oiticica, ocaroá, os minérios, etc. são os grandes negócios do Nordeste aopasso que as culturas alimentares e as pequenas criações são as“distrações” da população laboriosa do interior.

No meio da umidade desordenada, em que o solo não temcapacidade de acumulação hídrica e onde a volta da água ao

(*) Inclui a produção da região úmida que não foi possível separar.

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açude e sem lesar o nosso precioso patrimônio de recursos vege-tais e edáficos.

A plantação racional das nossas árvores resistentes à seca,o aproveitamento das forrageiras rasteiras e de rama, a metodi-zarão das lavouras de chuva, a regulamentação da irrigação,como ela deve ser realmente feita, o cuidado na extração dosprodutos nativos e a exploração de minérios, podem tornar oNordeste uma das zonas mais prósperas do Brasil.

As culturas de árvores são perenes, formam patrimônios,são independentes dos enraizamentos anuais, sempre precáriospela incerteza das chuvas; são lavouras protetoras do solo a pou-co exigentes de tratos nos sistemas extensivos.

As árvores espalham no ambiente mais do que sombra, e-las absorvem a insolações e emitem verdura e suavidade queembelezam o panorama para o conforto e a tranqüilidade doespírito.

Nesta região, em que as condições naturais são desfavoráveispara a auto-renovação, cada árvore merece um carinho especial etem um valor muito superior ao preço intrínseco da madeira.

Se o equilíbrio biológico e econômico da região dependede um mínio de vinte e cinco por cento (25%) da área com flo-restas e sabendo-se que, na Zona Seca, predomina a caatingaconcluímos que o Polígono precisa ter, pelo menos, quinhentosmil quilômetros quadrados (500.000 km²) de caatingas altas parasatisfazer as necessidades dos habitantes e as de proteção.

O reflorestamento do Nordeste não pode ser feito comonas regiões úmidas: para produzir madeiras. Além da madeira,

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industrialização local destas fibras, na fixação das famílias ser-tanejas no verão e no vínculo criado entre a fábrica e o campo.

A industrialização racional da Zona Seca, baseada na ma-téria prima local, é uma necessidade à medida que cresce a po-pulação. Esta transformação ou beneficiamento de produtos so-be de importância naqueles pontos que forem atingidos pelaenergia elétrica oriunda de Paulo Afonso.

Cumpre, entretanto, observar que nenhuma fábrica, com o

seu núcleo humano, pode se manter próspera, quando rodeadapelo deserto.Se vamos continuar a nossa industrialização sugando a la-

voura, se persistirmos na venda dos nossos recursos naturais, semantivermos a atitude da indiferença para com os assuntos bási-cos, então, receberemos, na certa, a derrota do empobrecimentoe da aniquilação.

A vida de um País, como a dos seres vivos, se mantém eevolui através de uma série de ações diárias, construtivas, adi-cionais e coletivas, em que cada esforço é somado e ampliadocom a atividade anterior visando a conquista mais alta do bem

estar e da harmonia geral.

ALGODÃO MOCÓ

Dentre as “safras secas” nenhuma se compara ao algodãomocó em valor econômico: ele pesa na balança comercial doPolígono com cerca de um bilhão de cruzeiros. Cultivado noseridó, no sertão e na caatinga, no mocó representa uma das a-

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daptações mais felizes de um cruzamento natural com fixaçãoacentuada de característicos de resistência à seca e qualidades defibra. Houve, neste processo biológico demorado, uma compen-sação orgânica: a redução da produção por área.

Ao lado da pecuária e da cana para a rapadura, o algodãoforma o triângulo de sustentação financeira da grande fazendano sertão açudado.

Aproveitando a terra seca, sem gastar água do açude parti-

cular, ele fornece a torta protéica para suplementar o capim naalimentação do gado, dá o óleo para o sabão da higiene e a fibrarende dinheiro para cercar a fazenda, construir instalações e me-lhorar o negócio.

O gado, comendo o “resíduo” do algodão, produz o bomadubo que fertiliza os canaviais nas terras úmidas dos reservató-rios d’água; as vacas transformam a torta, as ramas, em leite eem novinhos carnudos que garantem a alimentação protetora daspopulações. A cana, combinando a água com a luz reverberantee o calor, elabora a rapadura, rica de hidratos de carbono e desais minerais, para balancear a ração de carne e farinha dos tra-

balhadores e proporciona, ainda, a ponto verde, no verão, para“refrescar” a ração do gado. Neste ciclo harmonioso de compen-sações, como convém a uma indústria baseada na Biologia, oalgodão, o gado e a cana vêm mantendo, através de séculos, avida agrícola da Zona Seca.

Se não fosse o mocó, cuja semente dá o único alimentoconcentrado para bovinos no interior, a pecuária não poderiaexistir na escala em que ele existe, hoje. Sem diminuir o valor

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das forrageiras, o benefício indireto do algodão é imenso: a suasemente garante o leite, o queijo e a carne, os alimentos maisimportantes para a saúde do sertanejo. Colocado entre a terra e oboi, o mocó é o grande transformador de cascalhos em albumi-nóides e fosfatos assimiláveis que o gado toma e sintetiza emsubprodutos finos e valiosos para a nutrição delicada do ser su-perior da escala zoológica.

O algodão mocó é uma das grandes maravilhas saídas des-

ta retorta mágica que é a flora nordestina.De acordo com o Dr. Raimundo Girão em “História Eco-nômica do Ceará” os primeiros plantios de algodão, no Ceará,datam de 1777.

A Estação Experimental do Seridó, em Cruzeta, Rio Gran-de do Norte, é o estabelecimento encarregado oficialmente domelhoramento do mocó. Subordinada ao CNEPA., do Ministérioda Agricultura, esta estação tem sido dirigida pelos agrônomosmais conhecedores do mocó, como: Otávio Lamartine, SilvioBezerra, Ursulino Veloso, Antídio Guerra, João Batista Cortes,Fernando Melo e muitos outros. São muito animadores os resul-

tados até agora conseguidos especialmente na seleção e na re-produção assexuada por estacas.

Na Secretaria da Agricultura da Paraíba, o Agrônomo Car-los Faria, vem há mais de dez (10) anos, melhorando o mocócom notáveis resultados práticos.

 Na sua publicação “O algodoeiro mocó e o seu melhora-mento na Paraíba” este Agrônomo recomenda selecionar plantasde boa frutificação, com dezessete (17) nós, galhos laterais mé-

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dios, capulhos grandes não situados nas pontas dos galhos, se-mentes pretas, lisas, com tufos nas pontas, fibras longas, bran-cas, macias e resistentes.

Não menos importantes são os trabalhos do competenteAgrº. Heitor Tavares sobre consorciação, poda, estudos da fibrae beneficiamento do algodão quando aquele especialista labuta-va na Diretoria da Agricultura, em Pernambuco.

A enxertia do algodoeiro mocó, como meio de perpetuar

híbridos, etc., foi iniciado pelo Agrº. Lauro Bezerra, na Estaçãode Vila Bela, Pernambuco. De caráter particular há a fazenda da“ Machine Cotton”, em Angicos, Rio Grande do Norte, melho-rando o mocó para linhas; existem, ali, já grandes plantações.

O algodoeiro mocó é, justificadamente, a xerófila que estárecebendo maior assistência científica, dentro do polígono.

A hibridação, a seleção, a enxertia e o enraizamento de esta-cas estão hoje introduzidos nos trabalhos de melhoramento do al-godoeiro mocó visando ganhar tempo e resultados mais seguros.

A longevidade revelada pelo número de nós do caule, oxerofilismo patenteado na elevada capacidade de sucção osmóti-

ca das raízes, as qualidades da fibra demonstradas no compri-mento, etc., são as grandes vantagens que o mocó leva sobrequalquer outro algodão no seridó e no sertão. Aumentar a pro-dução deste algodão, por área, diminuir as variações dos seuscaracteres para tornar suas fibras mais homogêneas, são os me-lhoramentos necessários no mocó, desde que mantenhamos inal-teráveis as suas vantagens naturais.

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O aumento da produção do algodão de fibra longa no Nor-deste depende dos braços disponíveis na colheita ou então daseleção de um tipo de mocó mais baixo, de esgalhamento uni-forme, para permitir a colheita mecânica.

O aumento de braços para a colheita manual do algodão,no verão, exige a ampliação da capacidade de sustentação doPolígono através da irrigação, sem dilatar a devastação da flora.

Inegavelmente, grandes melhoramentos têm sido feitos

nos tipos de algodão pela classificação, porém, parece-nos que omaior problema está em o lavrador ter, a tempo e hora, a boasemente em quantidade para plantar, substituindo cada ano osalgodoais inferiores pelos melhores.

Como buscador de dólares para o Polígono o mocó é o pa-gador natural da nossa importação de artigos indústrias. Parapagar cada automóvel que entra na Zona temos de colher cin-qüenta hectares de algodão fibra longa, para pagar cada geladei-ra cinco hectares e cada rádio três hectares.

Para conseguirmos o dinheiro com que melhorar as fazen-das e aumentar a produção e imperiosos exportar mais produtos

e importar menos mercadorias de luxo até que o nosso nívelfinanceiro suba ao limite máximo possível pelas trocas comerci-ais. Nenhum outro meio mais legítimo pode existir para obter-mos o volumoso capital necessário para a lavoura do que este.Até hoje, temos vivido na ilusão do matuto produzindo, comdificuldade, as escassas toneladas de matérias primas que sãoexportadas para pagar artigos de luxo, importados, e para pro-mover a sua propriedade e elevar as safras, muito pouco capital

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tem sido concedido. Acentua-se, portanto, também por este lado,cada vez mais, a disparidade, a diferença entre a cidade e o cam-po; a primeira destruindo o último. Autofagia suicida.

No capítulo dos métodos culturais tratamos também, doalgodoeiro mocó.

Além do que ali dissemos, julgamos importante aconselharque o plantio seja feito em curvas de nível, com faixas alterna-das, usando sulcos contra a enxurrada e os quebra-ventos de cem

em cem metros, interceptando a carreira do vento.O sistema clássico do “clean cultivation”, da lavoura lim-pinha com a enxada e o cultivador, estimula maior rendimento,porém não ajuda na conservação do solo quando vêm os agua-ceiros carregando a terra fofa ou quando o vento baixo, entre asfileiras, no verão, transporta a poeira e os detritos que são osacumuladores dos nutrientes das plantas.

Com a impetuosidade dos ventos de vinte a trinta quilôme-tros por hora, no verão, é preciso meditar no revolvimento dosolo que provoca o levantamento da poeira e devemos promoveruma cobertura viva e de detritos sobre o chão, porque nem o

terraceamento impede a erosão eólica. Conter o vento, baixar atemperatura e cortar a luz são as três proteções físicas, mais im-portantes, para o solo no Polígono; depois destas virão às outrasmedidas para caso particular.

O algodoeiro mocó, pela sua rusticidade, tolera o mato atécerto limite, embora com ligeira diminuição de rendimento, epor isto é possível revestir o chão com o roço das ervas.

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As culturas muito exigentes de capinas devem ser alterna-das com outras mais rústicas e resistentes para atenuar os estra-gos do solo.

Uma combinação do cultivador com as limpas de enxadapara enraizar o algodoeiro novo, a capina alternada de uma filei-ra deixando a outra com o mato, o emprego do roço de foice naplantação adulta quando houver perigo de erosão, uma podamais alta, etc., são recursos técnicos de que se pode lançar mão

para conciliar as exigências culturais do algodoeiro mocó com anecessidade de proteger a terra.O solo nordestino, além da água e do adubo, carece também

de sombra. A Agronomia clássica não cogitou ainda da sombracomo um grande fator no melhoramento dos solos sertanejos. Oscasos de sombreamento estudados até agora são aqueles de umaplanta cobrindo outra: leguminosas sobre cafeeiro, etc.

CULTURA DO ALGODÃO MOCÓ

LAVOURA MATUTA, DURANTE SETE ANOS,

INTERCALADA COM MILHO NO 1º ANO

A – Despesas por hectare:1) Roçado e queima ..........................................CR$ 400,002) Plantio do milho e do algodão ......................CR$ 100,003) Replanta do algodão no 2º ano .......................CR$ 50,004) Capinas de enxada, 1º ano ............................CR$ 800,005) Pulverização com inseticidas, 7anos .........CR$ 1.050,00

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6) Roço do algodão do 2º ao 7º......................CR$ 1.200,007) Colheita do milho no 1º ano .........................CR$ 100,008) Debulha do milho (500kg)............................CR$ 300,009) Colheita do algodão, 6 anos.......................CR$ 1.500,00

Total das despesas ...................................CR$ 5.600,00

B – Produção:

Valor do milho no 1º ano (500 kg) ...............CR$ 1.250,00Valor do algodão, 6 colheitas (1500 kg)......CR$ 13.000,00Total das Receitas ......................................CR$ 14.250,00

C – lucro provável de 7 anos...................................CR$ 8.670,00D – Lucro provável, 1 ha / ano................................CR$ 1.238,00

CARNAUBEIRA

Depois do algodoeiro, a carnaubeira ocupa o lugar maisimportante, economicamente, entre as xerófilas do Nordeste.

Planta heliófila por excelência, que não tolera cobertura arbóreaou arbustiva de outras espécies, a carnaubeira prefere os aluvi-ões férteis das margens dos rios.

Mais de cem milhões de carnaubeiras vegetam nos aluvi-ões fluviais de Assú, Baixo Jaguaribe, Acaraú e Piauí.

Com menores rendimentos ela vegeta também nos massa- pés, nos “salões”, nos tabuleiros, porém sempre no sertão e nasaltitudes que não ultrapassam os trezentos metros. Como a oiti-

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cica, ela é ávida de luz e de calor, exigindo perto de três mil ho-ras de insolação, por ano.

Aprofundando as suas raízes fibrosas no aluvião para cap-tar a água lá em baixo, a carnaubeira resiste à seca com este su-primento e pela redução de perdas hídricas nas partes aéreas.

Com um crescimento muito lento a exigência de azoto épequena, porém as necessidades de potássio, de magnésio, e decálcio são maiores para a formação do arcabouço vegetal e para

a elaboração da cera.A carnaubeira não é a árvore esgotante do solo por causado vagaroso desenvolvimento, da baixa produção por pé e por-que a cera é um composto de carbono, oxigênio e hidrogênioretirados do ar com mínima proporção de azoto extraído do solo.

As análises seguintes feitas nos laboratórios do S. A. I., desolos de aluvião fluvial do Baixo Assú, Rio Grande do Norte,onde vegetam grandes carnaubais, mostram as preferências des-ta palmeira.

A extração da cera de árvores nativas, pelo processo nor-mal, para verificação do custo da colheita, foi feita pelo Agrô-

nomo Paulo de B. Guerra, em 1939, no Instituto José AugustoTrindade. Ele fez dois cortes experimentais em duzentos e trintae uma carnaubeiras adultas, nativas, e obtiveram cinco mil equatro folhas e “olhos” que deram o total cinqüenta e oito milnovecentos e trinta e seis quilos de pó de cera ou duzentas e trin-ta e cinco gramas de pó de cera por árvore.

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As folhas perderam, em dois dias de secagem ao sol, qua-renta e dois por cento (42%) do peso e os “olhos” cinqüenta ecinco por cento (55%).

COLHEITA E BENEFICIAMENTO, EM HORAS

Preparo da ferramenta para o corte................................... 20horasCorte de 5.004 folhas..................................................... 240 horas

Transporte de 5.04 folhas .................................................. 8 horasSecagem ao sol de 5.004 folhas....................................... 57 horasRasgamento das folhas e extração do pó....................... 256 horas________________

Trabalho para obter 58,939 kg pó ................................. 581 horasIdem, idem, idem um quilo de pó...................................... 9 horas

Já existem mais de dois milhões de carnaubeiras plantadasem alinhamento e terreno destocado, na Zona Seca.

Nos primeiros quatro anos estes carnaubais têm sido culti-

vados em consorciação com a mandioca, o milho ou o feijão.Depois desta fase de enraizamento não se faz mais cultura inter-calar, as limpas são feitas à foice e os espaços intermediáriosdevem ser semeados com capins para formar pastagem sob ocarnaubal.

O gado não estraga as carnaubeiras depois de seis anos de i-dade, estas dominam o pasto e o capim protege o chão contra aerosão e a insolação. O carnaubal plantado é a melhor lavoura para

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se combinar com a pastagem, porque há abundância de luz para oscapins e a vegetação rasteira é a única que a carnaubeira tolera.

Sendo uma palmeira que vegeta mais de cem anos. A car-naubeira não deve ser mantida em terreno sempre limpo, sujeitoàs enxurradas ou ao arrastamento do solo pelo vento, salvo seela estiver situada em aluvião fluvial que receba, todos os anos,as enchentes portadoras de sedimentos e de fertilizantes. A a-daptação da carnaubeira com o tapete das forrageiras é uma

poupança de energia que garante ao grupo botânico o funciona-mento normal. Entretanto, este aproveitamento duplo não podeser exagerado: no verão o número de animais tem de ser diminu-ído e o pasto merece um repouso cada três anos para refazer-seno povoamento e na densidade das gramíneas.

A cultura da carnaubeira tem a grande vantagem de nãocompetir, na mão-de-obra, com as outras atividades da fazenda;uma vez enraizada a lavoura, os cortes das folhas e o beneficia-mento são feitos de setembro a dezembro, no verão, época emque não há plantios na terra seca nem cultivos e as safras já fo-ram terminadas.

Apesar de a carnaubeira vegetar em outros Estados, forada Zona Seca, é nos aluviões fluviais e nos arenitos calcários doPiauí, Ceará e Rio Grande do Norte que ela apresenta maiordensidade vegetativa e importância econômica.

Nestes três Estados a produção da cera oscila onze e dozemil toneladas anuais, no valor de quase trezentos milhões decruzeiros.

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A presença dos grandes carnaubais nativos nas bacias deirrigação do Nordeste diminui muito a expansão desta lavouraintensiva e levantou a questão de substituir ou não estes carnau-bais por culturas regadas.

Compensará tirar a carnaubeira, que somente dá o trabalhode colher e plantar lavouras alimentares, sob irrigação, com des-pesas e atenções constantes?

A resposta a esta pergunta não é fácil e temos de comparar

o lucro em cada caso, o esforço de organizar a irrigação, de con-siderar quem é o dono da terra e qual a sua preferência e se odinheiro é mais importante para a população do que o alimento.

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são densas ou ralas e se situado no litoral ou no sertão. A umarenda bruta de Cr$ um mil e quinhentos a nove mil cruzeiros(1.500,00 a Cr$ 9.000,00).

Sabemos pelo ensaio, atrás citado, que são preciso novehoras de trabalho para colher um quilo de cera ou vinte dois cru-zeiros (Cr$ 22,00); Sem incluir os juros e amortização dos capi-tais imóveis e circulantes.

COMPARACÃO DE RENDIMENTOSNOS CARNAÚBAIS NATIVOS

500 carnaubeiras por ha a 100g de cera por pé = 50 kg ceraValor da cera: 50 kg x 30,00 = Cr$ 1.500,00Custo da colheita: 50 kg x 22,00 = Cr$ 1.100,00

Diferença por ha Cr$ 400,00

2.000 carnaubeiras por ha a 150g de cera por pé = 300 kg ceraValor da cera: 300kg x 30,00 = Cr$ 9.000,00

Custo da colheita 300kg x 22,00 = Cr$ 6.600,00

Diferença por ha Cr$ 2.400,0

Nos carnaubais plantados o rendimento da cera varia me-nos porque os números de árvores por hectares são mais unifor-mes. Não conhecemos dados exatos sobre a produção de ceraem carnaubais plantados, com idade maior de vinte anos. Nos

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carnaubais cultivados, com dez anos de idade, a cera obtida nãovai além de vinte a trinta quilos por hectare, no ano.

Os rendimentos das culturas alimentares, para comparaçãocom o da carnaubeira, são os seguintes, baseados no Livro“Contas Culturais Base para Orçamento”, do Engº. Argº. Fer-nando Theóphilo, e atualizados pelos Agrônomos Paulo Guerrae Osvaldo Cruz:

CULTURA DE LARANJEIRAS, COM IRRIGAÇÃOPOR GRAVIDADE NOS AÇUDES PÚBLICOS

Produção: a partir do 4 anos.

A – Despesas por hectare:(cálculos a base de 15 anos de vida do pomar com 11 safras)

CrS1. Preparo do terreno, gradagem cruzada, a trator 162,002. Coveamento. 156 covas de 0,80 x 0,80 312,003. Adubação da cova, com esterco de curral:

Pessoal Cr$ 130,00Material Cr$ 234,00 364,00

4. Plantio das mudas:Pessoal Cr$ 60,00Material Cr$ 600,00 660,00

5. Tutoramento:Pessoal Cr$ 20,00

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Material Cr$ 20,00 40,006. Irrigações: 15 anos, 15 vezes por ano, a 600m³ 9.675,007. Tratos culturais: Cultivos a

grade, 2 por ano 4.860,00coroamento, 2 por anos 1.800,00poda, 1 por ano 4.500,00

8. Adubação, 5 vezes:Pessoal Cr$ 2.000,00

Material Cr$ 4.000,00 6.000,009. Combate as pragas, 30 vezes:Pessoal Cr$ 6.000,00Material Cr$ 9.000,00 15.000,00

10. Colheita (343.200 frutos) e 6.860,00Transporte 50.233,00

B – Produção:156 arvores, a 200 frutos, durante 11 anos ao preço deCr$ 0,40 137.280,00

C – Lucro provável por hectare, Cr$ 87.047,00

divididos por 15 anos, igual a 5.803,00D – Lucro provável, por ha/ano, a Cr$ 0,50 cada fruto 8.091,00E – Lucro provável, por ha/ano, a Cr$ 1,00 cada fruto 19.531,00

Obs.: Não estão incluídos os juros e a amortização do capitale nem as despesas de administração.

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CULTURA DE BANANEIRA

Época de plantio: ocasião das chuvas (Janeiro a Abril).Produção: a partir do 2º ano.Duração econômica da cultura: 6 anos.

A – Despesas por hectare, para 6 anos. CrS1. Preparo do terreno. (gradagem cruzada, a trator) 162,00

2. Coveamento. 400 covas de 0,80 x 0,80 440,003. Adubação da cova, c/esterco de curral:Pessoal Cr$ 340,00Material Cr$ 600,00 940,00

4. Plantio das mudas:Pessoal Cr$ 160,00Material Cr$ 120,00 280,00

5. Tratos culturais: 4 capinas no 1º ano 800,006. Irrigação: 6 anos, 10 vezes por ano, a 1.400m³ 4.020,007. Desbaste, 3 últimos anos, duas vezes por ano 1.200,008. Colheita, 5 anos (72.000 bananas,

a Cr$ 15,00 o milheiro) 6.000,00

B – Produção por hectare 72.000 frutos,5 anos. 360.000 bananas a Cr$ 0,20 72.000,00

C – Lucro por hectare, Cr$ 58.758,00divididos por 6 anos 5.803,00

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C – Lucro 11.218,00

CULTURA DE BATATA DOCE

Época do plantio: Maio – Junho, ciclo: 6 meses.A – Despesas por hectare: CrS1. Preparo do terreno, Gragagem cruzada, a trator 162,00

2. Formação dos leiroes, com arado de boi 105,00Aperfeiçoamento dos leiroes 200,003. Preparo da rama 400,004. Plantio da rama 400,005. Irrigação (15 vezes a 800m³) 810,006. Tratos culturais:

3 capinas a Cr$ 300,00 900,002 cultivos mecânicos a Cr$ 34,00 68,00

7. Colheita e transporte 900,003.945,00

B – Produção:

15.000 quilos de batatas de 1ha a Cr$ 0,80 12.000,00

C – Lucro ha, 1 ano 8.055,00

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CULTURA DE ARROZ

Época de plantio: Junho a Dezembro. Ciclo: 5 meses.

A – Despesas por hectares: CrS1. Preparo do terreno. (Gragagem cruzada, a trator) 162,002. Semeadura:

Pessoal Cr$ 170,00

Material Cr$ 120,00 290,003. Tratos culturais: 3 capinas 960,004. Irrigação, 10 vezes a 1.200m³ 660,005. Colheita, batedura, secagem, de

2.200 quilos (em casca) 460,006. Beneficiamento (1.400 quilos) 420,00

2.952,00B – Produção por hectare:

1.400 quilos de arroz beneficiado, a Cr$ 5,00 7.000,00

C – Lucro verificado 4.048,00

Obs.: Não estão incluídos despesas de adubação nem de comba-te as pragas.

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CULTURA DE TOMATE

A – Despesas por hectares.Ciclo: 5 meses. CrS1. Preparo do terreno: Aradura e gradagemmecânica 274,002. Adubação:

Pessoal Cr$ 80,00

Material Cr$ 800,00 880,003. Custo de produção de 6.000 mudas 600,004. Plantação e replanta 400,005. Irrigação. (29 vezes a 800m³) 1.566,006. Tratos culturais.

3 capinas a Cr$ 247,00 741,008 cultivos mecânicos a Cr$ 34,50 276,00

7. Combate as pragas:Pessoal Cr$ 120,00Material Cr$ 120,00 240,00

8. Colheita e transporte. 12 toneladas 1.680,00

6.657,00B – Produção:

12.000 quilos de tomate 1ha, aopreço de Cr$ 1,00 12.000,00

C – Lucro provável por ha, 1 ano 5.343,00

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CULTURA DO MILHO

Época de plantio: no inicio das chuvas (Janeiro a Março).Ciclo: 5 meses, colhendo seco.

A – Despesas por hectares.Ciclo: 5 meses. CrS1. Preparo do terreno: duas gradagens

e aradura a trator 432,002. Semeadura:Pessoal Cr$ 30,00Material Cr$ 31,00 61,00

3. Tratos culturais:2 capinas a Cr$ 247,003 cultivos mecânicos a Cr$ 34,50 494,00

4. Irrigação: 2 vezes a 1.000m³ (na falta de chuva) 110,005. Combate as pragas:

Pessoal Cr$ 60,00Material Cr$ 19,50 79,50

6. Colheita e transporte 400,007. Beneficiamento, secagem e armazenamento 320,00

2.000,00B – Produção:

1.600 quilos de milho beneficiado 4.000,00C – Lucro 2.000,00

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Nestes cálculos não estão incluídos a amortização e os ju-ros do capital imóvel.

Fica esclarecido que as lavouras alimentares, especialmen-te as fruteiras, deixam mais lucro do que a carnaubeira.

Entretanto, o lucro não é o único fator a ser consideradonesta competição entre as plantas alimentares e a palmeira decera. Esta última dá pouco trabalho e preocupação, não se alteracom as secas, a cera é fácil de conservar e tem comércio garan-

tido; além disto, o proprietário da terra prefere a carnaubeira e ogado que lhes dão dinheiro para comprar alimentos a qualquerpreço, sem se incomodar se os outros podem ou não adquirir assuas rações diárias. Do ponto de vista do Governo o raciocínionão pode ser tão simples assim.

A conclusão a que chegamos de que a carnaubeira dá co-lheita mais certa, é da predileção do dono da terra, dá menoslucro, porém com menos trabalho e preocupação, e um raciocí-nio para o momento atual, nas condições em que vivemos.

Para o futuro, a densidade da população, as exigências a-limentares, a escassez aguda de solos férteis, das várzeas, podem

forçar o plantio da carnaubeira na terra mais alta e a ocupaçãodos baixios com fruteiras, hortaliças e outras culturas de muitoalto rendimento ou de grande valor dietético para os habitantes.

A ocupação continuada dos grandes baixios do Acaraú,Jaguaribe, e Assú com carnaubais será, para os governantes dofuturo, um tormento, pois, a liberdade que o regime democráticoconcede ao indivíduo de viver onde deseja, resultará na acumu-lação excessiva dos grupos humanos nas terras mais férteis até

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que o solo se torne cada vez mais importante do que a água , quea subsistência se agrave mais e que uma solução seja dada aoproblema.

Todos os vales úmidos ou suscetíveis de umedecimento,no Nordeste, terão brevemente de ser recuperados ou postos emexploração sistemática para satisfazer as necessidades imperio-sas de uma população cujo crescimento não tem limites.

A área coberta de caatingas e matas tem de ser muito

grande no Polígono para corrigida, climática, para proteção dosrecursos naturais, renováveis, e as lavouras terão de aproveitar omais possível, os baixios procurando a fertilidade e as condiçõesfavoráveis onde elas existem.

A recuperação do solo debaixo do mar, na Holanda, medi-ante diques e bombeamento da água, empurrando o mar parafora, para ganhar cada hectare com a despesa de quarenta e setemil cruzeiros, o trabalho admirável dos judeus na Palestina co-locando terra sobre o cascalho para fazer solo, nos dão uma i-déia de gravidade da questão solo-arável, no mundo.

A superfície do solo aproveitável para lavouras, na Zona

Seca, nos próximos vinte anos, será muito pequena para a gran-de multidão que, por motivos diversos, aqui quererá viver.

A carnaubeira se caracteriza pelo baixo rendimento, pelapouca sensibilidade às secas, pela dispensa aos tratos culturais eassim ela se adapta perfeitamente à intensidade extrativa ou cul-tural. Pela lentidão do crescimento, baixa produção e sendo acera um hidrato de carbono, o carnaubal parece não ser esgotan-te da fertilidade do solo. Ainda não existem estudos detalhados

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sobre os solos preferidos pelas carnaubeiras espontâneas. Apre-sentamos as análises dos solos do Baixo Jaguaribe e Assú, co-bertos por carnaubeiras. Temos a impressão de que os carnau-bais destes dois grandes vales, com idade superior a um século,não empobreceram a terra. Também não medimos os fertilizan-tes trazidos, anualmente, pelas inundações destes baixios.

Os proprietários e os operários calculam a produção doscarnaubais pelo número de folhas necessário para obter uma

arroba de cera (quinze quilos).Devido aos inúmeros fatores que influem na produção dascarnaubeiras são necessárias duas mil a dez mil folhas cortadas,secadas e batidas para se conseguir uma arroba de cera. A idadedas árvores, o tipo do solo, a região, a proximidade do mar, in-fluem muito na produção. As mais altas produções são obtidasno sertão, com palmeiras idosas, em solo de aluvião fluvial,fresco, rico em azoto, carbonatos, potássio e magnésio. No lito-ral, a influência do mar exige até sete mil folhas para dar umaarroba de cera. No seridó e nas serras não existem carnaubeirasem exploração; nas caatingas o rendimento é baixo demais; no

agreste elas não aparecem. O sertão é o ambiente privilegiadodos carnaubais. Para aqueles que desejam ler trabalhos maiscompletos sobre a carnaubeira indicamos “Ensaios sobre a Car-naubeira” do Engº. Agrônomo J. B Morais Carvalho, “A Car-naubeira” do Engº. Pimentel Gomes.

Outra questão levantada com a carnaubeira é a alegação deque a irrigação diminui a cera. O Agrº. Manuel Morais irrigouos carnaubais nativos do P. A. Lima Campos e constatou que a

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irrigação, não prejudicou a produção da cera. A umidade da irri-gação, mesmo em grande escala, não altera o grau higrométricoda imensidade atmosférica.

A evaporação dos açudes e das terras regadas modifica a u-midade do ar como uma gota d’água afeta o volume do mar. Não éeconômica a irrigação dos carnaubais e nem a do algodoeiro mocó.A cultura da carnaubeira é mais lucrativa do que a do algodoeiromocó, porém este último dá produtos mais importantes para a eco-

nomia interna da Zona e vegeta em terras mais rasas e mais pedre-gosas, onde dificilmente a carnaubeira prosperaria.

OITICICA

Entre os vegetais que pertenceram, no passado, a uma flo-ra hidrófila e que depois se acomodaram à secura, restringido osgastos d’água, à medida que o ambiente se tornava mais ingrato,está a oiticica.

Ao contrário de muitas outras espécies sertanejas ela nãoperde as folhas no verão, mantém verde a sua folhagem dura,

coriácea e com a sua fronda mais larga do que alta ela sombreiao chão completamente e baliza o curso dos rios. Ela forma como juazeiro, o marizeiro, a craibeira, etc., as poucas espécies queresistem, verdes, à seca.

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Faz quinze anos somente que a oiticica entrou para a listadas plantas industriais do Nordeste e neste curto espaço de tem-po a árvore, que ninguém plantou, já deu ao Polígono mais deum bilhão de cruzeiros.

É uma espécie sertaneja típica, que gosta dos aluviõesmarginais dos rios porque, aí, há fertilidade natural, umidadesubterrânea e correnteza d’água, durante a maturação, para dis-tribuir a semente rio abaixo. Ela prefere as altitudes de zero até

duzentos metros, gosta de muito sol e mais calor; cresce lenta-mente atingindo a altura máxima de dez a quinze metros. Comoacontece com todas as árvores florestais, destinadas pela Natu-reza a produzir lenho, a frutificação da oiticica é retardada eirregular; a perpetuação da espécie está garantida por poucassementes durante uma longa vida. O aproveitamento industrialde sementes oleaginosas, produzidas assim irregularmente, trazdificuldades na fabricação do óleo e no seu comércio. Todas asindústrias, que se baseiam em matéria prima de origem extrati-va, têm complicações. A frutificação tardia é um caráter normaldas espécies selvagens, reproduzidas sexualmente ou de pé fran-

co. A descontinuidade das safras foi estudada pelo Agrº. ManoelAlves de Oliveira, no Instituto J. A. Trindade, que procurou, nairregularidade das chuvas, a causa das falhas anuais de frutifica-ção. Entretanto, aquele agrônomo diz em seu relatório que nãoencontrou correlação positiva entre chuva e safra, na oiticica.

Achamos que os dados de produção anual de oiticica não sãobastante exatos e no escasso período de dez anos não permitem

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ainda uma análise estatística digna de crédito. Não sabemos infor-mar que grau de influência da chuva tem sobre as safras da oiticica.

Somos de opinião que a frutificação alternada é motivadapelo fato de que a tendência natural da árvore florestal é crescero lenho e esta inclinação absorve as energias do vegetal deter-minando a diminuição ou eliminação de safras quando o tempoé desfavorável ou quando o solo, por algum motivo, sofre de-pressão momentânea de nutrientes. As falhas na produção da

oiticica nativa devem ser causadas por fatores genéticos ou bio-lógicos, edáficos e climáticos.Para fazermos de oiticica nativa uma árvore industrial foi

preciso violentar a Natureza por meio da enxertia.Em “Observações para a cultura da oiticica” – separata do

Boletim da IFOCS 1939 – o autor e Agrº. Paulo Guerra descrevea reprodução da oiticica por meio do enxerto de borbulha sobre“cavalo” da mesma espécie.

Feita a sementeira, a semente da oiticica começa a germi-nar dos trinta aos sessenta dias e dois meses depois de nascidaselas são levadas para viveiros com a distância de um a zero vír-

gula cinqüenta metros (1,00 x 0,50). Aí ficam durante seis me-ses, até atingirem a altura média de zero vírgula oitenta metros(0,80 m) quando são enxertadas. Depois que a borbulha começaa brotar contam-se seis a oito meses e faz-se a plantação do po-mar, em terreno de aluvião, covas de um vezes um vezes um(1,0 x 1,0 x 1,0) metros, na distância de doze vezes doze vezesdoze por quinze metros (12 x 12m ou 12 x 15 m).

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Atualmente o Agrº. Paulo Guerra está fazendo a multipli-cação pela enxertia de encostos, com o “cavalo” crescido emvasos grandes, porque verificou que a enxertia de borbulha, emviveiro no campo e plantação com blocos, dá enorme perda de-vido à oiticica não resistir à poda das raízes.

As mudas em vasos, no momento próprio, são encostadasaos galhos das matrizes escolhidas até terminar a ligação dostecidos.

Após o “desmame”, a muda, ainda no vaso, é transportadapara o pomar onde é retirada do vaso e plantada na cova.As árvores, plantadas de enxertos de borbulha no Instituto

J. A Trindade, em 1939, começaram a produzir em 1942 e estafrutificação tem se mantido mais regular e maior do que a dasárvores de pé franco, da mesma idade.

O crescimento dos enxertos tem sido muito satisfatório:com dez anos de idade as oiticicas apresentam dez metros dealtura e trinta metros de circunferência na copa inferior.

O crescimento das árvores enxertadas é mais rápido doque o das de pé franco, da mesma idade, especialmente compa-

rando-se a largura da “saia”.A floração das nativas, como a das de reprodução assexu-

ada, dá-se de julho a agosto e os frutos amadurecem de janeiro amarço.

Já tivemos produção de árvores enxertada de cem quilosde frutos.

A qualidade do óleo secativo não foi afetada pela enxertia.

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A torta da semente da oiticica, depois de extraído do óleocom solvente, apresenta a seguinte composição, conforme asanálises do Químico Luis Augusto de Oliveira, no Laboratório J.A. Trindade, em 1944:

Média;Umidade ............................................................................10,75%Matéria seca.......................................................................89,25%Proteínas ..............................................................................6,64%

Extrato etéreo ....................................................................21,29%Fibras.................................................................................27,50%Extrato não azotado ...........................................................29,41%Matérias minerais ................................................................4,41%CaO......................................................................................0,60%P205.....................................................................................0,38%K20 ......................................................................................1,24%Azoto ...................................................................................1,06%

Como está demonstrado acima a oiticica retira do solopreferentemente potássio, cálcio e fósforo.

PALMA FORRAGEIRA

De 1933 a 1936 o Serviço Agro-Industrial preparou eplantou no Polígono, da Bahia até o Piauí, duzentos e vinte edois campos de palmatória, Opuntia Fícus, variedade índicainerme, também chamada Cactus Burbank . Mais de dois mi-lhões de palmas ou raquetas foram adquiridas em Pernambuco

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(Caruaru, Custódia) e transportadas para estes campos cuja fina-lidade foi disseminar e multiplicar a palma em toda a Zona Seca.Mais tarde estes campos foram entregues às Prefeituras e aindahoje muitos fornecem mudas aos fazendeiros vizinhos.

O cacto sem espinho é uma forrageira aquosa, verde, queserve de “refrigério” para os ruminantes na seca: contém noven-ta e três por cento (93%) de água, sete por cento (7%) de matériaseca, zero vírgula seis por cento (0,6%) de proteína digestível,

três vírgula cinco (3,5%) de não azotados, uma vírgula dois porcento (1,2%) de fibras e um vírgula sete (1,7%) por cento deminerais e outros componentes. É ótimo alimento para misturarcom a torta de caroço de algodão para completar a ração do pas-to seco, no verão, para os bovinos, caprinos e ovinos.

A fazenda de criar organizada com grandes médias de ca-pins fenados, todos os anos, campos de palma e com farelo desemente de algodão, está preparada para enfrentar e vencerqualquer seca.

Fornecendo a matéria verde, água e volume, a palma, emcombinação com os outros alimentos, enche o estômago dos

animais, facilita a digestão e refresca a ração.

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A palma cresce bem na caatinga alta, no agreste nas ser-ras; no sertão, no seridó e no carrasco, devido à temperaturamais elevada e ar mais seco, o seu desenvolvimento é retardadoe o rendimento é baixo. As cactáceas, em geral, são plantas pou-co exigentes na fertilidade do solo, porém, o clima tem de teraquelas características de umidade e frescura noturna, que defi-nem as caatingas altas. Nas altitudes inferiores a quatrocentosmetros a palma vegeta com deficiência produtiva.

Os plantios podem ser feitos na distância de dois vezesdois metros ou um vírgula cinco vezes um vírgula cinco metroscolocando a palma em pé quando o solo é agilizo e deitadaquando ele é arenoso. O plantio da palma deitada forma a tou-ceira mais baixa e mais larga, que não tomba facilmente na área,como acontece com a planta alta originada pelo plantio em pé nosolo pouco firme.

O cultivo da palma pode ser feito em consorciação com oscereais ou então, no caso de roçado, deixar as árvores de madeirade lei como: angico, cedro, pau d’arco, aroeira e plantar o cactussem espinho, no meio. Depois do enraizamento da palma e para

evitar a erosão, é conveniente deixar crescer os capins ou legumi-nosas nativas e aproveitá-las para feno, no verão. Em terreno limpopelo cultivo constante a palma produz mais, porém o empobreci-mento do solo é mais rápido por causa da erosão.

A primeira introdução da palma sem espinho no Nordesteperdeu-se na noite dos tempos. A segunda foi feita pelo SAI.,com a importação da África do Sul de mudas das variedades

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Sodoma e Corfu, que foram plantadas no posto Agrícola de con-dado, em 1934.

O rendimento é muitíssimo variável; cem toneladas, porano, por ha, depois de atingir o estado adulto, colhido durantecinco anos, é um bom rendimento.

Um hectare plantado de palma rende, cada ano, uma quan-tidade de nutrientes equivalentes a trinta toneladas de silagem degramíneas.

A cultura da palma é extensiva, pouco trabalhosa, perene eadapta-se bem ao regime de criação do gado, nas caatingas. Ela,ao lado do caroço de algodão, da ponta da cana, do capim fena-do ou do cercado de pasto, guardado para o verão, representa umgrande recurso para a pecuária.

Das experiências estrangeiras sobre o valor dos cactus comoalimento de mistura para o gado podemos citar aquelas da publica-ção “ Insurance Against Drought ” Ministério da Agricultura daUnião Sul Africana: “Griffths observou no Texas que o cactus es-pinhoso é bom paladar e nutritivo quando dado com outros alimen-tos em curtos períodos (dois meses) e não produz nenhum efeito

prejudicial ao gosto do leite. Noutra experiência em que o gado foialimentado, verificou-se que vinte e cinco quilos de cactos espi-nhoso e um quilo de torta de caroço do algodão foram suficientespara que cada boi ganhasse meio quilo de peso, por dia. Em umacomparação feita por Hare, Novo México, com cactus espinhoso,torta de semente de algodão e feno da alfafa, ficou esclarecido queo cactus espinhoso adicionado à forragem curada ou não aumentoua digestibilidade desses produtos”.

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Nas caatingas é hábito do criador alimentar seus gadoscom palma picada, xiquexique, mandacaru e macambira quei-mada, porém a melhor ração é aquela composta destas “forr a-gens brabas”, mais torta de algodão e um feno. Assim, concilia-ríamos a suculência e o volume das nativas, com a concentraçãoprotéica da torta e as vitaminas e minerais dos fenos. O feno sejafeito de forragens espontâneas ou cultivado, é o alimento essen-cial que está faltando na nutrição dos ruminantes da Zona Seca.

O dia em que o fazendeiro verificar e compreender o valor e apraticabilidade da ração mista de cactáceas picadas, tortas e fe-nos, dada em comedouros no campo, como completiva das pas-tagens, o rendimento da pecuária duplicará.

MANIÇOBA

Entre os vegetais que estão transformando a caatinga nu-ma entidade econômica, está a maniçoba.

Espécie ávida de luz, ela domina a caatinga baixa até milmetros de altitude com a sua copa de três a seis metros acima do

chão; ela é tipicamente resistente à seca, guarda reservas nasraízes, solta as folhas no verão para economia de água e com asprimeiras chuvas emite a floração, antes da folhagem nova. Ca-paz de vegetar até nos altos de pedra do sertão, do carrasco e dascaatingas serranas, as maniçobas estão sempre acompanhadaspelas cactáceas, pereiros, mororós, faveleiros, pinhões, marme-leiros, cansanções, barrigudas, imburanas, muricis, oitis, paus-ferro, etc.

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Desde 1900, a borracha de maniçoba vem sendo extraídada Manihot piauhienses, Manihot brasilienses, Manihot Glazio-vii, etc. nativas ou plantadas no Nordeste.

Aproveitando as serras secas, as chapadas e os arenitos semhumo, as maniçobas são árvores industriais adequadas para o reflo-restamento de terrenos altos, cheios de pedras, que não servem paraoutros fins e que precisam ser defendidos contra a erosão. Semdúvida, o rendimento da borracha seca, por árvores e por unidade

de superfície, não é grande, porém, a proteção do solo contra aaridez e a erosão, compensam o plantio desta Euforbiácea.O Dr. Léo Zehntner, no seu livro “Estudo sobre as Mani-

çobas do Estado da Bahia em relação ao problema das secas”,apresenta conclusões interessantes sobre o aproveitamento destaxerófila industrial.

Disseminadas as maniçobas nativas entre as caatingas, emdistâncias irregulares, longe de água e de estradas, a sua explo-ração exige a residência temporária dos borracheiros, ali, emcabanas improvisadas, para homem colher dez a vinte quilos deborracha verde, por semana ou seis a nove quilos de lapas secas,

sangrando uma média de seiscentas a novecentas árvores, porsemana. A época dos cortes ou sangrias é de janeiro a agosto.

A extração do látex em maniçobais espontâneos, em asso-ciações botânicas mistas, sem queima e sem derrubadas, podeser feita continuamente sem nenhum perigo de erosão ou de em-pobrecimento do solo.

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É uma forma de exploração muito extensiva e de baixorendimento.

Os plantios das  Manihot , na Bahia, para fins comercias,começaram em 1904. Os plantios baianos têm sido feitos porsementes e por estacas com as covas em distâncias tais que dê-em mil e duzentas árvores, por ha.

As lavouras intercaladas de algodão e feijão podem ser usadasnos dois primeiros anos para cobrir as despesas e proteger o solo.

Os rendimentos da borracha seca por ha plantado varia decem a trezentos quilos, conforme a idade das árvores, podendo-se fazer a seleção por meio de estacas de matrizes altamenteprodutivas.

Para melhor organização da colheita, do transporte e ad-ministração os maniçobais devem ser plantados em lotes separa-dos por estradas ou caminhos, semeados com culturas intercala-res de palma forrageira ou mandioca nos primeiros anos paracustear as despesas; evitar o contacto da borracha nos primeirosanos para custear as despesas; evitar o contacto da borracha lí-quida com a terra para obter um produto melhor, etc.

Como árvore para florestamento, proteção do solo e ren-dimento de produção industrial importante, a maniçoba, com oseu poder de resistência à seca, é uma árvore de grande valoreconômico.

Os plantios das maniçobeiras, em consorciações com asleguminosas arbóreas, que mais freqüentemente as acompanhamnos agrupamentos naturais, são indicados para o melhoramento

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do solo e obtenção de lenha e estacas, quando o maniçobal esti-ver em decadência.

As plantações grandes, em caráter industrial, devem serfeitas em terrenos melhores, com planejamento.

O FAVELEIRO OU FAVELA

A vegetação espinhenta e agressiva do Sertão e do Seridó o-

ferece ao homem muitas plantas de grande valor econômico, comoo faveleiro (Cnidosculos phytacantus, Martius), o mata-pasto, opega-pinto, o cumaru, etc.

Sem similar no inteiro pelas suas características ecológicaso sertão e o seridó formam um imenso laboratório botânico ondea inteligência do nordestino foi buscar, para proveito da Civili-zação, a carnaúba, a oiticica, a maniçoba e o algodão mocó.

Agora, mais uma velha planta da flora atormentada torna-se nova diante das possibilidades do aproveitamento industrial.

O faveleiro, cujo estudo iniciado, em 1937, pelo Dr. F.Von Luetzelburg, é uma árvore de três a cinco metros de altura,

da família das Euforbiáceas, que vegeta na terra escaldante dosertão, do seridó e, em menor proporção, na caatinga baixa, emcompanhia do pereiro, do xiquexique, do cansanção, pinhão, etc.

Do Piauí até a Bahia, a favela, no seu ambiente típico, sedestaca no meio dos outros vegetais pela sua extraordinária re-sistência à secura.

Além da queda das folhas, diminuição da superfície folhe-ar, proteção dos estômatos com pêlos contra o excesso de evapo-

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ração, abundância de súber, etc. Há ainda, o meio mais eficaz dofaveleiro lutar contra a seca, que é o armazenamento de reservasalimentícias em formas disfarçadas no caule e nas raízes.

Ele, como as outras xerófilas, possui raízes tuberculadas, xi-lopódios, com reservas alimentares elaboradas durante as chuvasmediante a fotossíntese e os minerais absorvidos pelas raízes.

A floração da favela dá-se nos meses de janeiro e fevereiroe os frutos estão maduros em maio e junho.

As flores são hermafroditas, brancas, de quatro milímetrosde diâmetro e em cachos; os frutos são descentes e as sementestêm alguma semelhança com a da mamona.

As árvores, cortada em qualquer parte, exsudam uma seivabranca, semelhante ao látex, pegajosa, porém, uma vez seca, équebradiça.

O faveleiro é uma árvore de grande valor industrial porcausa das suas sementes oleaginosas e alimentícias. O QuímicoLuiz Augusto de Oliveira e o Agrº Roberto Cavaleira fizeramestudos desta planta no açude São Gonçalo, do S. A. I; as análi-ses do laboratório nos mostram o teor do óleo, suas característi-

cas e a composição alimentícia da torta da semente:

Óleo extraído das amêndoas com solventes........................51,9%Índice de saponificação ........................................................192,6Índice de acidez ......................................................................0,76Acidez ácido oléico ................................................................0,38Densidade 15º ..................................................................... 0.9226Índice de refração n 20 D ................................................... 1,4718

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O óleo é fino, cor semelhante a da água e pode ser usadopara alimentação porque o flagelado come a semente quebradacom farinha.

Análise da torta:

(depois de retirado óleo, seca e peneirada)Umidade 2,98%

Matérias minerais ................................................................8,32%CaO......................................................................................0,68%P205 (anidro fosfórico) .......................................................4,28%Proteínas (na farinha limpa e seca)....................................66,31%Açúcares reduzidos (glicose)...............................................3,58%

Resistindo à soalheira no meio das pedras, nos altos secos,a favela é uma árvore adequada para reflorestamento das áreasque necessitam cobertura. As suas sementes amadurecem emépocas diferentes do capulho do algodão e da oiticica, podendo aindústria de óleos operar mais dias por ano; fornecem óleo co-

mestível melhor do que o de oliveira porque já o comemos etorta para farinha alimentícia de alta qualidade e paladar.

CAROÁ

Para aqueles que desejam adquirir bons conhecimentossobre o caroá, aconselhamos a leitura do livro “O Caroá” daautoria do estudioso Engº. Agrº. Lauro Xavier. Como o mocó, o

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agave e a macambira, o caroá é uma planta fibrosa da caatinga.Ela vegeta escondida, debaixo dos arbustos, na meia luz, apro-veitando o humo poeirento que se forma da vegetação protetora.A indústria do caroá obtém prima dos caroazais nativos, medi-ante o corte das folhas em largas áreas e transporte para os des-fibradores locais. Com a sua brotação de rizomas, o caroá temreprodução garantida, ainda que a germinação das sementes sejaviável. O crescimento é lento, porém ininterrupto.

Os Engº. Agros. João Henriques da Silva, Lauro Xavier eDelmiro Maia, na Paraíba, Manoel Carneiro e Mário Vasconcelos,em Pernambuco, aconselham reproduzir o caroá por meio de rizo-mas, plantados na estação chuvosa, na distância de meio metropara cada lado. Aqueles colegas verificaram que a meia sombra émelhor do que a cultura descoberta. O rendimento de folhas verdespara fibras secas tem sido de quatro a dez por cento.

A extração do caroá encontra, na falta da água, o seu mai-or empecilho. O poço profundo é um recurso feliz quando a caa-tinga repousa sobre o arenito. Neste caso, a água em geral, éabundante, de boa qualidade, não salina e o revestimento do

poço, com tudo crivado, se limita aos primeiros metros de pro-fundidade, até encostar, no arenito consistente.

O açude, como solução da água para os caroazais, é claro.Além disto, a barragem requer uma “garganta”, acidente topo-gráfico nem sempre encontrado nas caatingas rasas.

A fibra do caroá está encontrando séria concorrência da fibrado agave. Sendo uma cultura mais fácil, feita em campo aberto,com maior rendimento de fibras por ha, o agave venceu o caroá.

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Entretanto, é uma situação momentânea, atual. Prestando-se paratecidos, a fibra do caroá tem mais valor do que a do agave.

O UMBU

Como o facheiro, o caroá, a palma forrageira, o umbuzeirocaracteriza as caatingas elevadas. A região do Cariri Velho, daParaíba, é uma caatinga com chuvas média anual, de quatrocen-

tos milímetros. Ali o umbuzeiro cresce misturado com o mulun-gu, o facheiro, a macambira, o canudo, o aveloz, a malva, o ca-roá, o agave, e muitas cactáceas.

O Solo, onde o umbuzeiro vegeta nativo, é silicoso ou are-noso, com a profundidade média de um metro, permeável, con-tendo, às vezes, seixos rolados.

A árvore do umbuzeiro mede até seis metros de altura edez metros de diâmetro da copa: suas raízes são pouco profun-das e muito extensas lateralmente.

O Engº. Agrº. Paulo Guerra, em 1938, estudou os umbu-zeiros nativos das Serra da Borborema e, entre informações,

aqui citadas, ele colheu e pesou os quinze mil seiscentos e oiten-ta frutos encontrados numa árvore, no total de cento e cinqüentae três quilos. A produção, anteriormente colhida, deste pé, foiestimada em cento e cinqüenta quilos e o agrônomo calculou emmais de trezentos quilos a produção, no ano, daquele umbuzeiro.

O peso de um umbu maduro varia de dez a vinte gramas.O mesmo relatório dá o estudo de seiscentos frutos pesando do-ze mil setecentos e oitenta gramas (12.780g) contendo vinte e

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sete por cento (27%) de polpa, oito por cento (8%) de sementes esessenta e cinco por cento (65%) de cascas.

A considerável produção de frutos por árvores, a safra colhidanos primeiros meses do ano, o fato incontestável de obter-se umafruta do gosto do povo numa região de tão baixa pluviosidade, nosfazem pensar na possibilidade de, por meio do estudo e da seleção,conseguir-se, com o auxílio da enxertia; um grande melhoramentono tamanho do fruto, no aumento da polpa com maior teor de açuca-

res, na diminuição do volume do caroço e no afinamento da casca.A safra não pequena de umbus originados de árvores após seisanos de idade somente é possível porque as grandes “batatas” dasraízes armazenam água e alimentos para as épocas secas. Esta vitóriada planta sobre o clima encerra uma grande vantagem para a popula-ção cabendo aos técnicos e ao Governo promoveram o seu aperfei-çoamento pelo estudo, de fomentarem os plantios dos pomares comos particulares e os frutos serem industrializados, secados e trans-formados em “ameixas” comerciáveis em condições econômicas.

O umbu pode ser converter na “ameixa” das caatingas e oumbuzeiro se transformar em outra árvore industrial, alimentícia,

saída da flora espinhenta e agressiva.Uma árvore capaz de guardar umidade e nutrientes, no meio

hostil, representa um milagre de acomodação.Na sua ecologia vegetal a Spondia Tuberosa apresenta uma densida-de vegetativa de quatro árvores por ha. Acreditamos que, plantadacom as outras espécies companheiras, em consorciação, para defen-der o solo, é possível organizar pomares com vinte e cinco umbuzei-ros por ha.

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QUARTA PARTE

OS ESTUDOS AGROLÒGICOS DAS BACIAS DE IRRIGAÇÃO

A Seção de Solos da SAI conta já quinze anos de estudo dasterras irrigáveis. Sinto-me bem, falando sobre este trabalho porquenada dele é devido a mim; ele resultou do esforço de colegas dedi-cados e competentes que o organizaram baseado na experiência de

outros povos.Os estudos de solos no Nordeste começaram com agrônomos

de grande valor como: José Ferreira de Castro, Estevam Saraus, EdSouza Melo, Edilberto Amaral, Luis Rainho Carneiro, Darci Du-que Catão, Pedro Barros Correia, etc. e os químicos Nicolau Braile,Walter Mota, Luis Augusto, e hoje são dirigidos pelo Agrº. EdSouza Melo, auxiliado pelo Agrº. Oswaldo Souza Dantas e quími-cos Orlando Meyer, Luiz Bezerra e Arão Horowitz, homens estu-diosos e dedicados ao trabalho.

Ele é feito do seguinte modo: 1º) levantamento agrológico ecadastral da bacia; 2º) análises das amostras colhidas; 3º) confecção

de mapa e do relatório, contendo todos os dados agrológicos e cen-sitários. A turma de campo se estabelece no terreno em barracas; omarcador de manchas do solo diferencia os tipos e coloca estacasnos limites, o taqueometrista levanta, por irradiação, cada tipo desolo, anotando em caderneta os dados, inclusive divisas de proprie-dades; o agrônomo determina a abertura de sondagens onde neces-sárias, estuda o perfil do solo dentro da sondagem aberta, colheamostras para o laboratório e enche a ficha da sondagem; o recen-

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seador acompanha o serviço colhendo os dados de áreas cultivadas,produção, número de pessoas, cabeças de gado, etc.; o desenhista,no campo mesmo, recebe as cadernetas dos taqueometristas, calcu-la os erros de fechamento dos polígonos, faz o desenho dos tipos desolos em cores, incluindo o curso dos rios, riachos, estradas, divisasde propriedades, etc. Terminando o serviço de campo que dura, àsvezes, dois anos em uma bacia de irrigação, os elementos são leva-dos para o IJAT., e ali o mapa é passado a limpo, feito às análises

das amostras da terra e organizado o relatório com informaçõessobre as terras, as análises e o recenseamento agro-econômico. Omapa com o relatório agrológico são enviados ao Sr. Diretor Geraldo DNOCS., com o parecer da Chefia sobre a possibilidade deirrigar tal bacia, suas vantagens ou inconveniências. Procedendodeste modo, já foram estudadas as seguintes bacias de irrigação noNordeste:

ESTUDO AGROLOGICO NAS BACIAS DEIRRIGAÇÃO DO NORDESTE, ATÉ 1952

AÇUDESÁreas comcarnaubais

(ha)

Áreas,leitos, riose lagoas

(ha)

Áreas livressolos, 1ª, 2ª,

3ª e 4ª classes(ha)

TOTALHA

Orós (Baixo Jaguari-be) Ce (*) 27.584 7.661 35.649 70.894

Açu – RN 10.767 6.500 16.733 34.000

(*) Açude não construído.

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São Gonçalo – Pb 504 21.993 22.497General Samaio – Ce 805 4.364 5.169Ayres de Souza – Ce 6 2.090 2.096Choro – Ce 249 1.387 1.586Caldeirão – Pi 34 1.246 1.280Lima Campos – Ce 40 823 863Eng. Arcoverde – Pb 22 833 855Stº. Antonio de Rus-sas – Ce

41 415 456

B. Diamante – 

Ce. 300 300P. A. Rio São Fran-cisco – Pe

190 190

General Dutra – RN 95 95Pilões (montante) 47 7.071 7.118Cedro 2.241Totais 38.351 15.909 93.189 149.640

26% 11% 63%

Discriminação da área estudada no Vale do Baixo Jaguaribe:

Áreas %

Aluvião fluvial............................................... 23.852,85 ha 33,7Aluvião salgada ............................................... 5.498,70 há 7,8Tabuleiro ......................................................... 1.730,90 há 2,4Massapé de tabuleiro calcário ......................... 4.565,50 há 6,4Carnaubal denso (x-1) ................................... 11.937,65 ha 16,8Carnaubal semidenso (x-2)............................. 10.082,90 ha 4,2Carnaubal pouco denso (x-3) ........................... 5.565,00 ha 7,9Lagoas e açudes................................................ 2.418,30 ha 3,4

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Rios e riachos ................................................... 2.243,10 ha 7,4Total.................................................................70.849,90 há

A vista destes dados é que são feitos os projetos de açudespúblicos, canais e drenos. Atualmente nenhum açude público éprojetado sem antes ser feito o estudo agrológico e cadastral dabacia de irrigação.

O açude “Caldeirão”, no “Piauí”, somente foi projetado

após o estudo das terras. Outra bacia que foi estudada antes deserem feitos os projetos das obras é a do Baixo Assú, no RioGrande do Norte.

TIPOS DE SOLOS

Divido à acumulação de serviço e deficiência numérica depessoal, o SAI., ainda não tem uma classificação dos tipos desolos que ocorrem nas bacias de irrigação. O Engº. Angº. Ed-mundo Sousa Melo, chefe da Seção de Solos, está estudando oagrupamento em classes das muitas denominações dadas aos

solos nos trabalhos de campo. Os principais nomes dados aostipos de solos pelos técnicos que fizeram os estudos de campo etambém as denominações dadas nos locais pelos habitantes são:aluvião, massapé, salão, tabuleiro, várzea e areiusco. Apesar dasvariações com que eles se apresentam em diferentes bacias deirrigação nós vamos tentar defini-los.

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ALUVIÃO

É o tipo de solo formado nos baixios, beiras de rio ou deriacho, mediante ao transporte de argilas e sílicas pelas águasdurante anos; é plano, cor escura, profundo, de regular drena-gem, fértil devido às misturas de materiais diferentes, de primei-ra classe para a irrigação. É o melhor solo, física e quimicamen-te, de toda a Zona Seca. O aluvião pode tomar as especificações

de fluvial – quando formado em beira de rio; salgado – quandocontém sal; argiloso – se a percentagem de argila é maior do quea de limo; de encosta – se ele é depositado pela cheia em encos-tas de morros.

MASSAPÊ

É originado pela deposição de material fino em baixios oulagoas que secam no verão; é barrento no inverno e cheio derachaduras no verão; tem más propriedades físicas e elevadoteor de minérios nobres como, cálcio, fósforo, magnésio, e tam-

bém de potássio. Sendo de permeabilidade quase nula o massa-pé, submetido à irrigação, exige drenagem imediata para evitar asalinização. O massapê salgado é o que sendo antigo foi subme-tido às evaporações continuadas durante muitos verões e preci-pitações de sal até tornar-se salgado. O massapê de tabuleirodeve a sua denominação à decomposição do xisto argiloso, emtopografia ondulada, razão porque é mais bem drenado do que omassapê.

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VÁRZEA

São os solos derramados de partes mais altas sobre lagoasou terras baixas onde o empoçamento d’água no inverno e asecura no verão conduziram à formação inicial do salão. A vár-zea contém regular riqueza química, porém, é endurecida, nãotem permeabilidade e nem drenagem natural. Este tipo de solosalga-se com facilidade quando irrigado, salvo quando as pre-

cauções especiais de escoamento, gessassem, etc., são tornadas.

AREIUSCO

É um tipo de solo que não ocorre em todas as bacias de ir-rigação; até agora ele apareceu em maior escala no Baixo Assú ena bacia do São Gonçalo. Ele se forma pelo derrame de materialgrosso, lavado, em camada espessa sobre outros solos; mais bai-xos. É pobre em elementos nutritivos, com exceção do cálcio; émuito drenante, não tem matéria orgânica, seca com rapidez enão se presta para a cultura.

BACIA DE IRRIGAÇÃO DO AÇUDE PÚBLICOGENERAL SAMPAIO - CEARÁ

Foram estudados cinco mil cento e sessenta e nove (5.169)hectares de terras, desde o local denominado Santo Antônio,passando pelas vilas de Pentecostes e Curu, até Serrote, numa

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distância de vinte e cinco (25) quilômetros. Estas terras distamsetenta e sete (77 km) de Fortaleza e são atravessadas pelos tri-lhos da RVC, e pela rodovia Fortaleza-Sobral.

Para a colheita de amostras de solos para análises foramfeitas cento e setenta e sete (177) sondagens com dois metros deprofundidades. Junto como levantamento agrológico foi tambémfeito um inquérito cadastral das propriedades e censo agro-econômico. As terras pertencem a quatrocentos e oitenta e dois

(482) proprietários, a população é de duas mil novecentos e cin-qüenta e duas (2.952) pessoas (adultos e menores), incluído asduas vilas, existindo um mil duzentas e quarenta e duas (1.242)casas de alvenaria e de taipa.

O rebanho encontrado no Vale foi de quatro mil duzentase cinco (4.205) bovinos, três mil quinhentos e quinze (3.515)lanígeros, três mil oitocentos e vinte e sete (3.827) caprinos, ummil trezentos e cinqüenta e quatro (1.354) suínos, quatrocentos equarenta e seis (446) eqüinos, duzentos e quarenta e dois (242)muares, um mil quatrocentos e trinta (1.430) asininos, treze milsetecentos e dezoito (13.718) aves.

Existem ainda as seguintes árvores nativas: cento e onzemil setecentos e setenta e dois (111.772) carnaubeiras e duas miloitocentos e noventa e uma (2.891) oiticicas.

Os solos foram assim classificados:

Solos de 1º classe para irrigação – aluvião HectaresFluvial e argiloso .................................................................. 2.818Solos de 2º classe para a irrigação – massapê

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Aluvião argiloso e salgado ................................................... 1.073Solos de 3º classe para irrigação – aluvião salgado,várzea, massapê salgado e tabuleiro........................................437Solos de 4º classe para irrigação – tabuleiroCristalino ...................................................................................38Leitos de rios e riachos............................................................803

Total ............................................................................5.101

ESTUDO AGROLÓGICO E RECENSEAMENTOAGRO-ECONÔMICO DO VALE DOASSÚ – RIO GRANDE DO NORTE

Duração do estudo ...............................................................2 anosPropriedades recenseadas ..................................................... 1.101Área total das propriedades

(incluindo terras altas)..........................................69.6000 haÁrea do Vale no mapa agrológico.................................34.000 haÁrea com carnaúba do Vale ..........................................10.767 ha

Área sem carnaúba do Vale...........................................16.777 haÁrea com lagoas, rios, riachos.........................................6.500 haNúmero de carnaubeira do Vale................ 28.000.000 de árvoresNúmero de carnaubeiras plantadas

de 1936 a 10945 ....................................................31.998 pésProdução de cera, calculada .....................................1.839.000 kgProdução de cera fornecida pelos

donos de carnaubais ................................................258.4000Numero de bovinos, lanígeros, caprinos,

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suínos, eqüinos, muares, asininos e aves............. 41.253 cab.Área cultivada com milho, arroz, feijão,

sorgo, batata doce.....................................................6.717 haValor da produção de cereais, oiticica, algodão,

peixe, cera de carnaúba e gado................... 43.747 000 (Cr$)População total do Vale.........................................16.898 pessoasPorcentagem de analfabetos sobre os adultos ........................68%

O estudo deste vale foi feito pelo Agrônomo Pedro BarrosCorreia.Os tipos de solos encontrados foram:Aluvião fluvial, aluvião silicoso, aluvião argiloso, aluvião

salgado, areiusco, massapê e tabuleiros cristalinos. A área totalque pode ser irrigada é de doze mil (12.000) ha, numa extensãode sessenta (60) km, distribuída em trechos entre carnaubais, oque dificulta a irrigação.

A extensão total do vele é de cem (100 km) quilômetros ea largura média de seis (6 km), todo ele de solo com grande pro-fundidade. No estudo das bacias de irrigação, temos constatado

o efeito ciclópico da erosão na formação dos aluviões marginaisdos rios.Através de séculos as enchentes carrearam do alto sertão

as argilas, os limos, a matéria orgânica, o azoto, o fósforo e opotássio que o intemperismo conseguiu em milênios arrancardas rochas para a formação dos solos locais. Este material trans-portado pelas correntes, anos após anos, colmataram o BaixoAssú em camadas estratificadas até completar uma grande pro-

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fundidade de aluvião. Do mesmo modo formaram-se os imensosaluviões do Jaguaribe, do Acaraú, do General Sampaio, do RioParaíba, nas várzeas de João Pessoa, etc. A declividade médiados rios do Nordeste é de um metro por quilômetro de compri-mento e os solos rasos do alto sertão não tendo uma boa vesti-menta de vegetação, proporcionam às chuvas possibilidade dearrastar para o mar todos os nutrientes do solo.

SOLO DA BACIA DE IRRIGAÇÃO DOAÇUDE PUBLICA SÃO GONÇALO

As terras da bacia de irrigação deste açude foram as pri-meiras a serem estudadas em 1935.

Esta bacia situada no município de Souza, Paraíba, nasduas margens: do rio Piranhas é, parcialmente, irrigada com aságuas dos açudes Piranhas e São Gonçalo. Até o momento fo-ram estudados e desenhados vinte e dois mil quatrocentos e no-venta e sete (22.497) hectares desta bacia que se liga com a ou-tra grande bacia do Rio do peixe.

Ao lado dos estudos topográficos, os levantamentos e es-tudos agrológicos com os recenseamentos agrícolas completamas informações de campo mais importantes que o DNOCS, em-prega para a organização de seus planos.

Os estudos objetivos e locais para o planejamento das obrasde irrigação e sua exploração econômica e social, em base conser-vadora, foram uma das inovações mais fundamentais introduzidaspara a solução do grande problema regional das secas.

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Sendo o problema do Nordeste seco, em grande parte, umaquestão de preservação dos recursos silvestres e proteção dosbens naturais, renováveis, é evidente que atuando em tão grandesuperfície, a repartição teria de lançar mão de uma pluralidadede técnicos representando eles uma universalidade de conheci-mentos imprescindíveis para a melhor solução física, econômicae social.

A hostilidade primitiva com que o meio físico recebia o ho-

mem, definida no grande calor, na secura e na falta de conforto, so-mente poderia ser vencida através de profundo exame dos processosde guardar água, de esconder o solo do desgaste, de economizar avegetação espontânea e de abrigar os animais úteis.

Para proceder a estes estudos de solos, plantas, águas e ani-mais foi criado o Instituto José Augusto Trindade, neste estudo,composto de laboratórios completos, seções de agronomia, hortipo-misilvicutura, zootecnia, botânica e fitossanidade, etc. e para condu-zir o grande programa de estudo das terras há a seção de solos.

Todas as amostras de terras colhidas pelos peritos de camposão analisadas neste laboratório; também as experiências, investiga-

ções e ensaios culturais são executados nos campos do Instituto e osresultados à aplicação nos sistemas de irrigação dos outros açudes.

SOLOS DA BACIA DE IRRIGAÇÃO DO AÇUDEPÚBLICO SANTO ANTÔNIO DE RUSSAS

19 e 29 Classe para irrigação – aluvião

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Fluvi........................................................................... 206,3000 ha3º Classe para irrigação – várzea............................... 131.8000 ha4º Casse parra irrigação – tabuleiro............................... 37.000 haLeito de rio ................................................................ 41.05000 ha

Total .................................................................... 456.1500 ha

Cumpre notar que a denominação vulgar dos tipos de so-los não pode ser uniformemente classificada em ordem irrigação

porque, por ex: uma aluvião figura na primeira classe de umdeterminado açude e em outro ele pode ser classificado em se-gunda classe devido à presença de sal ou falta de drenagem na-tural ou escassa profundidade etc.

SOLOS DA BACIA DE IRRIGAÇÃODO AÇUDE “LIMA CAMPOS”

Os terrenos planos, no Município do Icó, Ceará, à jusantedo Boqueirão “Estreito”, são aluviões antigos formados pelosmateriais transportados pelo Rio São João e Riacho Mucururé.

São terras férteis quimicamente, porém suas qualidades fí-sicas deixam a desejar quando à permeabilidade e drenagem.

Fazendo parte do sistema do Orós esta bacia de irrigaçãoabrange uma área de dez mil (10.000) hectares.

Entretanto, como no momento a irrigação se faz somentecom a água do Lima Campos, o estudo agrológico, atual, atingiusomente oitocentos e sessenta e três (863) hectares.

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A classificação provisória foi a seguinte:

19 e 29 Classes – Aluviões: - fluvial,argiloso, salgado, de riacho .................................. 403,3750 ha

29 e 39 Classes – Massapés: - verdadeiro,salgado e de tabuleiro ...........................................206,3700 ha

3º Classe – Várzea, aluvião de encosta,

aluvião de riacho e tabuleiro...................................71,0250 ha4º Classe – Tabuleiro arenítico....................................142.000 haTotal .................................................................863,6075 ha

A QUESTÃO MISTA TÉCNICA E SOCIAL

A incerteza desnorteante do clima, o aumento da popula-ção e a necessidade de produzir, cada ano, mais alimentos, emregiões onde o solo apresenta limitações sérias, precipitaram nosaçudes públicos, duas questões ao mesmo tempo: as edáficas eas sociais. Nas outras zonas brasileiras estes problemas não têm

a gravidade apresentada aqui. Do ponto de vista pedológico háos agrônomos, conscientes do perigo que nos aguarda, alarma-dos e incompreendidos; há o Governo, assoberbado com milassuntos, mal esclarecido quando aos usos inadequados e aosestragos dos nossos solos e há o povo, ignorantes de tudo, exi-gindo alimento. No aspecto social há os que exploram as idéiascomunistas, mas que, está provado, elas não encerram a soluçãopara o problema agrícola brasileiro; há os proprietários de terras

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irrigáveis que, recebendo, gratuitamente, o açude público e oscanais de irrigação, se negam a uma cooperação mais real e efi-ciente na exploração das obras para atender também, à popula-ção faminta com hortaliças, cereais e frutas; há o não acatamen-to do dono da terra negada aos conselhos do Serviço que admi-nistra o açude, a recusa do irrigante em observar práticas agríco-las, conservadoras da fertilidade do solo, que não são imposi-ções pessoas e sim exigências da técnica irrigatória; há as alega-

ções do lavrador, no açude, de que não dispõe de financiamentocapaz de lhe permitir um trabalho mais correto e mais oportuno.Quem estuda os solos da Zona Seca chega a três conclu-

sões imediatas:1ª) que as áreas irrigáveis são muito pequenas; 2ª) que os

aluviões fluviais são muito férteis. 3ª) que não há terras maisadequadas para a produção de gêneros alimentícios do que osbaixios, aluviões ou bacias de irrigação.

Sem dúvida, no futuro, no uso mais adequado dos solosférteis dos baixios tem de ser feito em ralação às terras das coli-nas e das serras.

O encarecimento do custo de vida, que é o grande proble-ma das classes pobres, na Zona Seca, se deve, em grande parte,à ocupação dos aluviões com lavouras industriais ou extrativasde carnaúba, de oiticica, do algodão, etc. Com a devastaçãocontinuada, com a erosão dos terrenos inclinados, a produção degêneros alimentícios, tornar-se-á cada vez mais cara e difícil: aquestão de alimentar a população agravará se não houver grandeampliação da irrigação e se não forem tomadas as providências

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governamentais regulando o uso dos baixios. Há um aspectosocial no uso do solo, no Polígono, que é tão importante quandoas questões técnicas, edáficas.

Como a erosão deixou uma imensa área com solos muitorasos, que secam muito depressa, à vista das superfícies de are-nito – caatinga com baixo potencial nutritivo e excessiva perco-lação, as áreas que permitem imediato alargamento de culturasalimentícias, sem despesas iniciais de adubação e sem elevação

mecânica d’água são os aluviões.Para as grandes culturas anuais, de raízes superficiais, osterrenos marginais do R. S. Francisco exigem elevados gastosiniciais com melhoramento, transportes e adubações.

Se os Vales do Assú, Jaguaribe, Acaraú e Parnaíba conti-nuaram ocupados, no porvir, com grandes carnaubais e oiticicas,o aumento da população forçará, evidentemente, maiores roça-dos na caatinga, maiores lavouras no sertão, seridó, agreste, oque resultará em grande devastação.

A atenuação da aridez deve ser conseguida por todos osmeios para amortecer o run-off desastroso, para diminuir a vio-

lência das cheias, para abrandar o rigor da seca e para criar me-lhores condições para a irrigação.

A relação solo-água-alimentos-população não pode ser es-quecida e nem relegada o segundo plano.

Não se pode pensar em baixar o custo da vida numa zonacom a importação de alimentos se as outras zonas do País so-frem no mesmo mal e se o transporte não é barato.

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O maior problema, imediato, para o bem-estar das popula-ções, é o barateamento do custo de vida ou uma situação tal quetodos tenham recursos para comprar alimentos, vestuários e ob-

 jetos essenciais.Inicialmente, esta relativa abundância de gêneros alimentí-

cios, que precisamos criar, depende da ampliação da irrigação e douso dos aluviões. A metade analfabeta da população, o seu baixograu de educação moral e cívica, a incompreensão do regime de-

mocrático, complicam a resolução de questões como esta.A ausência de grandes áreas sem empecilhos para o traba-lho mecânico, a incidência do vento baixo carregando a poeiraonde não existem os quebra-ventos intercalares, a irregularidadedas chuvas, o ataque dos insetos, tornaram às lavouras de cereaisde lucro muito emblemático, secundárias e entregues aos mora-dores ou agregados que as plantam, em pequena escala, paraalimentar suas famílias e vender as sobras.

A divisão das terras, no regime atual, de travessões per-pendiculares aos eixos dos rios, com as sucessivas heranças,resultou em tiras de poucas braças de largura por meia légua de

fundo, impossibilitando o bom aproveitamento da terra e impe-dindo as medidas conservadoras.

As inundações nos baixios de aluviões, causados pelascheias dos rios, nos invernos, a pequena declividade para o mardificultando o funcionamento permanente de um sistema de dre-nagem profunda, as áreas de lagoas ou de níveis inferiores aoleito do rio, que divagou pelas várzeas colmatadas, a presença

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dos grandes carnaubais, são motivos para estudos e raciocínioem qualquer projeto de aproveitamento dos aluviões.

O efeito das inundações, caminhando para o Atlântico,causou, nos séculos passados, a lavagem e o arrastamento dasterras interiores, depositando parte do material mais fino nosaluviões fluviais. A ação quase constante do vento levantado apoeira do solo e o pó que o calor torrou dos capins e folhascompleta o carregamento dos materiais sólidos.

A cobertura da área seca, com a vegetação nativa, assumeassim, um caráter de absoluta importância.Na execução dos talhos de irrigação há, em geral, as obras

da barragem, as pré-agricolas e a lavoura. Os serviços pré-agricolas têm uma importância fundamental no funcionamento ena conservação do sistema; eles se compõem dos canais, drenos,terraplenagem e estradas de penetração na bacia de irrigaçãocom seus bueiros, pontes, sifões, etc. O estudo minucioso e bemplanejado, para sincronizar a realização destas diferentes opera-ções, é que determina, em parte, o sucesso da lavoura molhada.Todos os países do mundo, que praticam a irrigação, cometeram

erros, e estes, na maioria das vezes, foram subestimar e mal exe-cutar as operações pré-agricolas na instalação dos sistemas irri-gatórios.

O Engenheiro Duffy Murry nos disse que, na América doNorte, havia muita preocupação com a barragem e atenção coma lavoura, mas o fracasso de alguns empreendimentos ensinouaos técnicos a estudar, planejar e fazer os trabalhos preparatórios(terraplenagem, estradas, drenos e canais) com a mesma atenção

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e rigor do que os dispensados à barragem. De fato, no sistema deirrigação o que aparece é a barragem e a lavoura; as execuçõespré-agricolas são obras ocultas.

Trabalhos por etapas com trechos de canais, seus derivantes,os drenos correspondentes, os acertos superficiais da terra abrangi-da, a instalação torna-se mais barata, mais completa e mais fácil deconservar, sem falar na diminuição do perigo da salga.

A irrigação focaliza bem a necessidade da uniformidade

de pensamento entre o lavrador e a coletividade. Foi o divórcioentre a população e o homem do campo, foi o desprezo dos cita-dinos para com os interesses do camponês e a destruição do solopor este último, não cuidando de transmitir às gerações futurasuma terra fértil, que causavam a dificuldade do abastecimentoatual e inquietação da população.

A coletividade tem o dever moral de “sentir” as necess i-dades da Agricultura, como os lavradores têm a responsabilida-de de atender às exigências do povo.

A divergência entre um e outro, estamos vendo, é a aniqui-lação recíproca.

A técnica da manutenção da fertilidade dos solos, regados,em clima quente, tem sido posta à prova em diversos países. Airrigação causa um aumento de sais solúveis na terra, o que pre-

 judica as propriedades físicas e altera a nutrição das plantas. NaCalifórnia, na província de Punjab, no Vale do Tigre e Eufrates,etc. Há extensões imensas de solos arruinados pela irrigação eque foram férteis, outrora. Estes fatos levaram muitos entendi-dos a chamar a irrigação de lavoura de duração efêmera. Em

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O aumento das manchas salinas é influenciado pela com-posição da água empregada, sua dose, quantidade de chuva, graude permeabilidade do solo e nível subterrâneo do lençol d’ água.

O controle da salinização é feito pela verificação da quan-tidade de sal levada a terra pela água de irrigação e a retirada dosal pela água de drenagem. No sertão, os solos são rasos impe-dindo a drenagem profunda e a compacidade não facilita a boainfiltração da água destilada da chuva, que vai levar o perfil da

terra tratada com gesso e arrastar o sulfato de sódio.A entrada e a saída do sal deve ser seguida do estudo das ca-madas do solo para conhecermos o que está acontecendo ali dentro.

A vigilância e o estudo fazem da lavoura regada uma ocu-pação absorvente, minuciosa e delicada, que exige do irrigantepreparo e qualidades morais.

Adicione-se a estes fatores mais o empecilho de que asmaiores bacias de irrigação (Assú, Baixo Jaguaribe, Acaraú) têmescassa declividade para a drenagem dessalinizante e são sujei-tas às inundações nos invernos normais.

O programa de drenagem das bacias de irrigação está sen-

do intensificado para acompanhar a extensão dos canais constru-ídos, a área plantada e as manchas salinas existentes. A drena-gem deve ser o objeto de estudo intenso e detalhado como assimexigem a rede de canais e a terraplenagem.

Para a dessalinização, a dose d’água não pode ser pequenae a drenagem é obrigada a dar escoamento às águas de lavageme a baixar o lençol subterrâneo para além de dois metros.

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Para perpetuar a irrigação no Nordeste, o homem tem defiscalizar assiduamente dois fatores: as condições do solo e ofuncionamento da drenagem.

Nenhum sistema de irrigação deve funcionar sem estar de-vidamente instalado, porque se a mancha salgada não for corri-gida com uma carga de dez toneladas de gesso, se a drenagemnão estiver completa, se a fiscalização não for rigorosa, o solotornar-se-á tóxico para as plantas, a produção desaparecerá e o

irrigante será banido do lote. O solo é o “termômetro” da estabi-lidade ou da permanência da irrigação; portanto, tornou-se ofator decisivo da fixação da família.

Existem conhecimentos técnicos para garantir a continui-dade da irrigação; o que não há é cooperação e compreensão, naaplicação destes conhecimentos, por todos os irrigantes.

O custo das obras contra as secas, a importância que elastêm como melhoramento regional, a garantia que elas represen-tam de um abastecimento interno, dão às terras irrigáveis umcaráter de uso coletivo. Acumular água de chuva artificialmente,distribuí-las em regos, retirar o excesso, não estragar a terra e

mais ainda as operações da lavoura, representam um esforço tãogrande, tão continuado, que obrigam o povo e o Governo a zela-rem ciosamente pela perpetuação dos sistemas.

A disponibilidade de água e as superfícies cultiváveis sãoos fatores mais decisivos na garantia da tranqüilidade futura daspopulações.

O custo das barragens, dos canais, das estradas nas baciasnão deve ser contado em dinheiro e sim avaliado em benefícios

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sociais, na segurança da produção, na oportunidade de trabalhotranqüilo e na satisfação das necessidades. O indivíduo quer a su-premacia econômica, a tradução do esforço em metal sonante: paraele a água, a terra e a planta têm de render dinheiro porque este é oseu ideal de vida. A coletividade é mais profunda no pensamento emais sábia na ambição: ele almeja ideais humanos porque senteque fracassaram os valores econômicos com base única para pro-porcionar a paz do grupo, o bem- estar e a felicidade

A família, que espera a irrigação, quer conseguir o sossegoque ela não encontrou no nomadismo, um teto e a alegria deuma vida que flui na certeza do dia de amanhã ser bom como ode hoje. Como a civilização moderna, que está perdendo a fé noideal econômico como fonte de felicidade, o caboclo sertanejo,curtido pela frustração, é rico de experiência da vida, já se con-venceu de que a alegria de sentir-se salva, a sensação de ver afamília satisfeita e a confiança nas colheitas continuadas, levammais do que o dinheiro.

Como a investigação dos fenômenos físicos e biológicospermitiu o grande avanço da Ciência Natural, as necessidades e

o sofrimento do povo impelem as novas conquistas na CiênciaSocial na procura de soluções da subsistência dos grupos e nãona proteção individual, financeiro.

O cooperativismo cristão, a exploração associativa de umaçude público por um grupo de famílias, com o financiamentopelo fundo social das secas, o arrendamento do lote com o con-trole da sua fertilidade exercido pelo agrônomo representante dogoverno, a venda das colheitas reunidas pela direção da associa-

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ção particular, a compra coletiva dos materiais e objetos neces-sários pelo órgão administrativo, é o único meio de evitar a ex-ploração do homem pelo homem, de manter a produção atravésdas gerações de dar assistência técnica, medica e social e dar averdadeira finalidade coletiva às obras.

Não basta o conhecimento da engenharia, da botânica, daagrologia, da medicina, é preciso também um elevado grau desacrifício, uma compreensão muito humana das carências da

população, um espírito cristão quase messiânico, uma ausênciade egoísmo, para resolver o problema da seca, que já atingiu asua maturidade. O aspecto social das secas emparelhou-se comos assuntos técnicos.

Aonde vamos colocar a família pobre que a seca lançou noespaço e no desespero?

Onde garantiremos as colheitas de alimentos? Sem dúvi-das, a resposta está na irrigação dos açudes públicos e das terraslaterais dos rios perenes, dentro da Zona Seca, e no auxílio com-plementar da colonização dos vales úmidos, adjacentes.

Para dar um rápido progresso ao Nordeste nós teremos de

conseguir solos e elementos de trabalho para trezentas mil(300.000) famílias que pouco ou nada estão produzindo. O ho-mem pobre quer trabalhar, exceto os doentes e os vadios, porémele não tem elementos nem ambiente e falta-lhe uma assistênciamista de técnica e de amizade.

Cada dia que passa a relação solo-água-população-subsistência vai se agravando mais. O regime democrático nãopermite resoluções pela força. As condições de salubridade con-

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vidam à permanência que, no futuro, de uma população maiordo que a capacidade de sustentação. Os solos e os recursos natu-rais serão os fatores decisivos desta questão.

Os países que tiveram no passado, ou que têm no presente,limitação de solos, como Peru, Java, China, Holanda, etc. forame são obrigados a recuperar “espaços vitais”.

David Perlman conta em “Terra aproveitável sob o mar”,Seleções de Setembro 1950, que a recuperação do solo debaixo

do mar, na Holanda, mediante diques e bombeamento da água,empurrando o mar para fora, custará um bilhão e quinhentosmilhões de florins para cento e cinqüenta e dois mil hectares, ouseja, quarenta e sete mil cruzeiros por ha. Firmam Bear em “Fo-od for thought about food” –  Journal of American Society of Agronomy – oct. 1949 confirma que a conquista do mesmo gol-fo de Zuider Zee com a área de quatrocentos mil acres custaráquinhentos milhões de dólares. O Prof. José Setzer em “PequenoCurso de pedologia”, página oitenta e cinco, diz “O Golfo deZuider Zee, na Holanda, foi fechado e drenado, pouco antes daguerra. Eminentes pedólogos estudaram os solos e elaboraram

planos de tratamento para dessalinizar terras situadas abaixo donível do mar. Verificaram que, nos primeiros dois ou cinco anos,não se poderia plantar nada. Em seguida já alguns solos poderi-am fornecer pastagens. Certas plantas úteis no fim de vinte anos,

 já poderiam ser plantadas, iniciando-se agricultura de alto ren-dimento. No fim de cinqüenta anos o golfo de Zuider Zee seriauma região de ótimos solos agrícolas, dos melhores da Holanda,

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de boas propriedades físicas, alto teor de humos e ótima riquezaquímica”.

O trabalho admirável dos judeus na Palestina, colocandoterra sobre cascalho para fazer solo, nos dão uma idéia da ques-tão solo-arável, no mundo.

Na Zona Seca existe um limiar térmico e higroscópico nasreações do solo além do qual a minerações dos colóides orgâni-cos é mais ativa e intensa do que a sua fixação nos tecidos vege-

tais. A desintegração da matéria orgânica é tão ou mais rápidaquanto a sua elaboração pela planta; contra seis meses de ativi-dade clorofiliana a doze meses de consumo orgânico.

As soluções nutritivas, nos solos semi-áridos, sofrem con-tínuas oscilações em quantidade, composição e concentração;elas são altamente dinâmicas. Os íons movem-se das partículascoloidais para a solução e desta para os colóides.

A capilaridade que era julgada de grande valor na agrolo-gia das regiões secas a ponto de dar origem ao “dry farming” foiestudada por BA., Keen e está demonstrando que ela, para finspráticos, na área, não eleva a água a mais de trinta e cinco cen-

tímetros, na área fina atinge setenta centímetros e na argila al-cança oitenta.

Em mais de cem determinações de capilaridade, feitas nolaboratório do SAI., com solos das bacias de irrigação, a ascen-são capilar, média, foi de quarenta e sete centímetros, somenteem um caso excepcional de solo com oitenta e seis por cento delimo e dez por cento de argila, a ascensão capilar ultrapassou ummetro ou cento e onze centímetros.

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Este fraco poder de subida da umidade, ao lado de solospouco profundos e intensa evaporação, não facilitou o desenvol-vimento da lavoura seca no Nordeste. A nossa lavoura seca temde ser baseada no xerofilismo.

Tomando a água fator de classificação da lavoura no Nor-deste nós estabelecemos três categorias: 1ª produto extrativo  – carnaúba, oiticica, caroá, pequi, etc., 2ª lavoura de inverno ou dechuva, aquela que pode desenvolver o ciclo com precipitações

irregulares no inverno, sendo anuais, e atravessar verões secos,sendo perenes (algodão mocó); 3ª lavoura de irrigação e vazante.

O HUMO

O pequeno lote familiar irrigado tem de ser mantido quaseque em produção continuada, salvo os períodos intermediáriosde alqueive.

Devido ao calor sem interrupção e à umidade constante oteor de matéria orgânica é muito baixo, cerca de um por cento.Esta pobreza orgânica conduz à diminuição das colheitas. Para

sustentar a produção dos lotes é indispensável que o humo sejagarantido na percentagem compatível com a exigência das cultu-ras. Temos que lançar mão da adubação verde mais freqüente-mente e da fabricação dos adubos orgânicos chamados “com-postos”.

Não julgamos possível a adoção do emprego das legumi-nosas arbóreas no repouso dos terrenos irrigados da maneiracomo o aconselhamos para o pousio das áreas de algodão mocó,

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nas caatingas, com a lavoura extensiva de chuvas. Na culturaregada o repouso é obrigatoriamente curto porque a exploração éintensiva. Assim, os feijões de corda, mucunã, crotalárias, etc.,assumem o papel principal auxiliados pelas aplicações dos “es-tercos mistos”.

O “composto” deve ser elaborado pelo próprio irrigante;ele consiste em montes de dez vezes quatro vezes dois metros,colocando em baixo um colchão absorvente de capim seco ou

serragem, seguindo de uma camada de estrume de gado, depoisoutra de talos de milho ou palha de arroz, sobre esta uma outrade resíduos de matadouro ou chifre moído ou animais mortosem pedaços; cobrindo o monte vai uma pasta de lama ou terragorda. Todas as camadas são molhadas. Assim, fazendo-se oaproveitamento do esterco dos currais, ao lado da bacia de irri-gação, juntando-se os restos de cultura, os animais mortos, oucapins, etc., é possível formarmos os depósitos de adubos pre-ciosos para as lavouras mais rendosas e esgotantes.

A fermentação adequada do monte de “composto” exige oseu arejamento perfeito por meio de buracos perfurados com um

pau no interior da massa. Depois de duas semanas e iniciada adecomposição do material, é preciso mexer a massa, revolvê-lapara completar a sua transformação em meio nutritivo.

O irrigante pode fazer dezenas destes montes, em diversospontos do lote, para evitar o transporte e facilitar a sua aplicaçãona lavoura.

Devido à necessidade do emprego freqüente destes “orgâ-nicos” no solo irrigado e como nem sempre é possível obter 

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grandes quantidades todos os anos, é recomendável, por econo-mia, aplicar o adubo orgânico na cova, em vez de enterrá-lo ouespalhá-lo sobre o solo.

Reconhecemos que não é exeqüível o uso do “composto” nalavoura extensiva do algodão, da carnaúba, do agave, etc., porque aquantidade exigida seria tão grande que não encontraríamos, nafazenda, a matéria prima suficiente para esta elaboração. Para estescasos nós teremos de lançar mão de outros recursos.

As bactérias, os fungos, os fermentos, os protozoários, as al-gas, e os vermes benéficos da terra são multiplicados e desenvolvi-dos com a adubação pelos “compostos”. Os investigadores da mi-cro flora e fauna, do Departamento de Agricultura dos EstadosUnidos, esclareceram que estes seres microscópicos segregamsubstâncias viscosas que unem as partículas do solo e os fungosemitem micélios que agrupam os grânulos da terra ajudando a for-mar a estrutura granular contrária à lavagem pela erosão.

Quando se lança palha ou serragem no terreno ou quandose faz o enterrio de grandes massas de adubo verde, o solo preci-sa ter a capacidade de “digerir” esta matéria orgânica. A “diges-

tão” depende da população microbiana. A “digestão” destes hi-dratos de carbono requer nitrogênio.

Não existindo o azoto suficiente para desintegrar este vo-lume de celulose a micro flora apodera-se do azoto do chão e alavoura subseqüente sofre.

Os vermes ou minhocas da terra misturam a parte mineralcom os detritos e os seus excrementos contêm elevados teoresde nitratos, fosfatos e sais de potássio assimiláveis.

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Os solos sertanejos têm escassa população edáfica porquesão fracos de humos. Para provocar a ação benfazeja da flora eda fauna internas, urge aumentar o meio de subsistência destesorganismos, isto é, aumentar a matéria orgânica.

As áreas irrigadas poderiam ter no lixo das cidades umagrande fonte de material para preparar adubos; obteríamos duasvantagens: higienizar as ruas e fertilizar os talhões submetidos àexploração exaustiva.

É preciso que os prefeitos compreendam este problema eprocurem auxiliar na sua resolução porque o transporte do mate-rial volumoso não é barato. O lixo, pela heterogeneidade da suacomposição mineral e orgânica, é o material próprio para a fa-bricação dos adubos completos.

Van Vurem em “Soil Fertility and Sewage” mostra o desen-volvimento da exploração dos adubos “compostos” com os “ref u-gos” das cidades Sul-Africanas. Ele obteve cerca de duzentas tone-ladas de adubo curtido, por ano, para cada dez mil habitantes dacidade, usando “sobras” das casas, as cinzas, as folhas, as cascas eas varreduras dos ciscos das ruas, que podem apodrecer.

Estes adubos são preparados mediante a separação das pe-dras, dos tijolos, dos vidros e dos metais componentes do lixo eamontoamento da parte putrescível em pisos impermeáveis, comumedecimento das camadas até dois ou três metros de altura;revolvida duas vezes durante a decomposição.

O adubo obtido do lixo é mais rico em azoto, fósforo, potás-sio e cálcio do que aquele derivado do “composto”, na fazenda.

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As milhares de toneladas de milhos, de arroz, de feijão, decarne, de hortaliças, de frutas, etc., que afluem, anualmente, àscidades devem regressar aos campos, parcialmente, na forma deadubos, como contribuição modesta na conservação da fertilida-de do solo.

Não somente o adubo precisa voltar ao sertão, mas, tam-bém a nossa atenção, o nosso interesse e a nossa administraçãonecessita de readquirir aquele espírito sertanista, viril, forte e

decidido que caracterizou os primeiros brasileiros que coloniza-ram o sertão.Entre as questões técnicas, edáficas, as mais importantes

são as degradações do solo novo quando submetido ao cultivo.

O COMPLEXO MINERAL

A derrubada da vegetação nativa transforma de repente aharmonia dos elementos climáticos e biológicos.

A ruptura do sincronismo provoca invariavelmente novasreações ou sucessões de fenômenos da gênese e da evolução do

solo.Após o corte e limpeza do terreno segue-se o ressecamen-

to causado pela evaporação intensa, ativação da ação microbia-na, reduzindo imediatamente a matéria orgânica; os sais solúveisou tornados solúveis pela ação do fogo, são arrastados pelaságuas; a cultura comercial encontra no primeiro e segundo anosabundância de nutrientes para produção normal e no terceiro equarto ano desfaz-se a estrutura granular do solo, aumenta a

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dispersão das argilas, desaparecem os colóides orgânicos, surgea compactação pela ação da luz direta, da desidratação e da este-rilização das bactérias e fungos e a produtividade do solo cairepentinamente.

Atingida esta fase da degradação impõem-se medidas con-tra a erosão e o repouso do solo com o restabelecimento da ve-getação nativa. Aparecem primeiramente as espécies agressivas,invasoras, múltiplas, densas, disputando o espaço livre; com o

tempo as ervas, capins, etc., perecem, deixando seus cadáverescomo adubo para os arbustos e as bianuais que fazem sombrapara a germinação das essências; assim, acalmando a intensida-de inicial da competição botânica sucede o estabelecimento degrupos vegetativos mais permanentes dotados de dinamismomais lento até alcançar o clímax vegetativo, natural, no fim devinte anos ou mais.

Esta evolução da cobertura viva do solo, transformada pe-lo homem através do espaço e do tempo, é acompanhada ou mo-tivada pelas variações da estrutura do solo ou arranjamento daspartículas em grânulos que melhoram as propriedades físicas da

terra e a sua produtividade.Os agrônomos J. D´Hoore e J. Friapit, na publicação “R e-

cherches sur les variations de struture du sol a Yangambi” – 1948  – estudaram as causas da floculação do solo, inclusive avegetação. Nas linhas seguintes procuramos interpretar o com-portamento dos colóides no arranjamento da estrutura como ex-posto por aqueles cientistas.

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As argilas, os limos e os colóides têm, na superfície exter-na de suas partículas, sedes de energias que se mostram em vá-rias formas, gerando fenômenos diversos. Os colóides se apre-sentam em dois estados: dispersos e floculados. No estado dedispersão, devido à extensão considerável das superfícies o co-lóide possui uma carga energética mais elevada do que no esta-do floculado. A floculação e mais estável do que a dispersão. Oscolóides argilosos puros pertencem à categoria dos suspensói-

des. O fator floculante dos suspensóides é a sua carga que dimi-nui as probabilidades de adesão por efeitos eletrostáticos. O po-tencial permite à mudança de íons. Tendo o colóide argilosouma carga negativa, ele pode mudar das bases. Em conseqüênciade uma carga nas proximidades das superfícies podem manifes-tar-se atrações moleculares eletrostáticas dos colóides para mo-léculas polares ou para colóides de potencial contrário.

O estado coloidal – fase móvel entre a matéria mineral e aviva  – pode ser formado pela peptisação, dispersão ou deflocu-lação e a sua destruição dá-se pela coagulação, floculação, pre-cipitação ou sedimentação.

Para haver coagulação é preciso que, no meio coloidal, asforças do movimento browniano vençam as repulsivas da cargaelétrica e as partículas coloidais entrem em contato. Com forçasiguais ou com as de repulsão mais fracas aja uma coagulaçãovagarosa. Quando desaparece a carga elétrica das partículas pre-cipita-se a coagulação.

A aglutinação dos colóides em flocos menores e estes emgrânulos maiores dependem do movimento da película d’água,

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dos minerais originais, do humo, da vegetação e da topografia.Nos climas úmidos a chuva transporta, da superfície para as ca-madas profundas, o material fino do humo e os colóides mine-rais e por este motivo à floculação é mais intensa abaixo da pri-meira camada filtrante.

Nas zonas secas os colóides, se não forem arrastados pelaerosão, permanecem próximos da superfície e ali se dá à flocu-lação, na ausência da salinidade.

No “salão” o teor de sílica coloidal é elevado a carga elé-trica é poderosa, a dispersão é acentuada, o que resulta em gran-de tensão osmótica e permeabilidade mínima. A orientação geralpara o melhoramento dos solos sódicos é a aplicação de subs-tâncias ácidas ou geradores de acidez. Apesar de o cálcio serfloculante, a sua presença nos solos salinos, não traz melhora-mento devido à insolubilidade.

As argilas que tem o Na como cátion trocável, tendem pa-ra a dispersão, produzindo solos pesados, duros, impermeáveiscomo o “salão”. As argilas cálcicas, pelo contrário, têm alto po-der de floculação, de formar a estrutura granular, porque o cá-

tion Ca é fortemente absorvido e dificilmente trocável. A argilahidrogenada, como os colóides orgânicos, tem também capaci-dade floculante.

Os terrenos cobertos com plantas de longa duração, a ati-vidade da fauna e da flora microscópicas no solo, a coberturacom detritos em forma de manta, auxiliam muito no arranjamen-to das partículas para formar a estrutura granular que promove a

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 permeabilidade, que aumenta a capacidade d’água e melhora afertilidade do solo.

Entre as areias, as sílicas, as argilas, a matéria orgânica eos seres microscópicos do solo, estão os colóides minerais eorgânicos. Eles são o resultado das alterações mecânicas e quí-micas do material mais grosso e da subdivisão e desintegraçãodos restos animais e vegetais. Na desintegração e hidrolizaçãodas argilas, novos produtos são sintetizados no corpo do solo. O

sistema coloidal não é estável, está sujeito às constantes mudan-ças conforme as condições do meio; ele é a parte ativa do solosob os pontos de vista químico, físico biológico e a determinanteda fertilidade.

A sílica Sio 2, a lumina Al 203 e o sesquióxido de ferroF203 são os elementos principais, derivados das rochas, queformam o esqueleto do solo.

O funcionamento coloidal, que rege as propriedades do so-lo, depende da sílica da matéria orgânica e dos sais minerais. NaZona Seca, devido ao movimento da água de baixo para cima emaior solubilidade da sílica a relação sílica / (alumina + ferro)

aumenta. Entretanto, esta relação não pode ser muito alta por-que, no meio alcalino, o Al 203 é solúvel, forma aluminados ebaixa o quociente.

Os minerais coloidais derivados da argila são reconheci-dos em três graus: koalinita, montmorilonita e mica. A montmo-rilonita tem as propriedades coloidais mais pronunciadas, maiorintumescência e influência mais ativa dos componentes do solo;ela ocorre também nos solos sialíticos do Nordeste.

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O grupo da kaolinita deriva das rochas ácidas e intermedi-árias por decomposição primária; os solos da Serra de Guarami-ranga se formaram deste material básico. As kaolinitas são mui-to ativas para fixar os fosfatos em formas insolúveis.

As micas hidratadas ocorrem no sertão – Arquiano – comoprodutos da erosão dos feldspatos potássios e sódicos e tambémaparecem nas rochas sedimentares.

As argilas e o humo constituem no solo o complexo zeolí-

tico humoso, o centro das reações do solo. Para determinarmos acomposição das argilas usamos a relação sílica-sesquióxido ourazões moleculares;

SiO2 e SiO2A ¹² 0³ R² 0³

Tomando, com exemplo o solo de aluvião argiloso da ba-cia de irrigação do açude Lima Campos, do quadro adiante, nóspodemos calcular a relação sílica-sesquióxido dividindo a per-centagem pelo peso molecular.

SiO2.................................................................44,44   60 = 0,738A12o3 ............................................................27,07   102 = 0,265Fe2o3..............................................................8,66   160 = 0,054

SiO2 = 0,738 = 2,78 SiO2 = 0,738 = 2,3A¹² 0³ 0,265 R²O3 0,265/0,054

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Ainda que o cálculo da relação de sesquióxidos para solosde clima seco tenha valor secundário, ele serve, todavia, para daruma idéia da latinização. Assim, lateríticos apresentam uma re-lação Si/R baixa; nos sialíticos ela é alta.

A abundância de bases trocáveis, reveladas nas análisesanexas, é característica dos solos de climas áridos; a evaporaçãointensa, a chuva limitada e o contínuo desdobramento do mate-rial argiloso conferem ao solo alto poder sortivo e teor de nutri-

entes minerais. Nos climas úmidos, de chuvas constantes, ocomplexo zeolítico sofre uma lavagem no sentido vertical, aágua transporta para o subsolo os produtos coloidais minerais eos da rápida decomposição dos detritos orgânicos deixando nasuperfície a alumina e o ferro com deficiência de bases, dessatu-rada, devido à ação contínua dos ácidos orgânicos que substitu-em as bases pelos íons de hidrogênio; é por este motivo que amatéria orgânica aumentando a sorção dos solos pelos colóidesrecupera temporariamente a fertilidade nos climas úmidos. Con-vém, entretanto, notar que, sob regime chuvoso, não existindosuficiência de bases minerais, a simples adição de matéria orgâ-

nica contribui também, com os ácidos gerados, para a maiorlatinização do solo.

A permuta de bases depende da espécie do cátion e daconcentração do mesmo ao ser adsorvido. Com cátions uni edivalentes a troca é um processo reversível; com cátions de hi-drogênio e trivalentes a permuta é irreversível por que somenteuma parte dos cátions, recentemente cambiados, pode ser, outravez, trocada por bases diferentes (Gedroiz, Bobko e Askinasy).

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As trocas de bases são as reações mais importantes do com-plexo zeolítico-húmico; elas são uma permuta de equivalênciaquímica entre a adsorção e do deslocamento de íons. A troca decátions é o processo em que os cátions do cristal de argila são subs-tituídos pelos cátions da solução do solo ou meio dispersos. Noprocesso um cátion da solução do solo é adsorvido e outro cátionpassa para a solução. A força de adsorção dos cátions ou capacida-de de substituição não e igual; quando maior for à energia de ad-

sorção de um íon mais difícil será a lavoura do solo. A ordem deadsorção é acreditada ser esta:

Ca > Mg>K>Na (Forest Soils, Lutz Chandler).

As condições de bases são rápidas e são reversíveis.A capacidade total dos colóides do solo para segurar os cá-

tions é expressa em miligramas equivalentes por cem gramas dosolo; ela é a soma do hidrogênio permutável mais os cátions metá-licos trocáveis, tudo referido em miliequivalentes por cem gramasde solo.

O grau de saturação das bases trocáveis (V) é calculado, nosquadros das análises anexas, multiplicando-se a soma das bases emmiliequivalentes por (S) por cem e dividindo-se o resultado pelacapacidade de troca (T) em miliequivalente por cem gramas desolo.

100S(V = ______)

T

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Um miliequivalente de uma substância é o seu peso atô-mico dividido pela valência em miligramas. O equivalente deCaO é vinte e um m. e. = 0,028g. A saturação é expressa empercentagem; para os solos das bacias de irrigação dos açudes amédia de saturação está acima de oitenta por cento e em diversasamostras a saturação foi total, cem por cento, isto é, a capacida-de de troca para cátions metálicos estava satisfeita. O humo co-loidal tem uma capacidade de troca de bases de quatrocentos por

cem gramas de humo, enquanto que os colóides minerais têmsessenta a cem m. e. por cem gramas. Para iguais volumes decolóides orgânicos e minerais a capacidade de troca é a mesma.

As análises feitas no Instituto José Augusto Trindade, de-monstram que as bases trocáveis predominantes nas terras dosaçudes são, em ordem decrescente: cálcio, magnésio, sódio, po-tássio, manganês.

À medida que diminui o cálcio aumenta o sódio e o solotorna-se salino. Pela ação da evaporação e deficiência de lava-gem por chuvas irregulares, o sódio originado da pulverizaçãoda albita ou feldspato sódico, quando não encontra drenagem

fácil, desloca o cálcio e a argila vai se tornando sódica, elevandoo pH, perdendo a estrutura granular, ficando mais dispersa, maisimpermeável até o solo atingir o grau de salinidade, de más pro-priedades físicas, que o fazem improdutivo.

A argila coloidal, a estrutura granular, a troca de bases sãoestudos importantíssimos para o SAI., visando manter os solosirrigados em produtividade.

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A formação dos solos salinos no Polígono das Secas en-contra explicação na secura do ambiente e presença do sódio nasalbitas e outros minérios agregados nos feldspatos.

O cloreto de sódio e o sal que aparece causando a salini-dade, o carbonato é mais difícil de ser encontrado aqui.

Para que um solo torne-se alcalinizado é preciso que hojeacumulação dos sais no solo, que estes atuem sobre o complexohúmico-zeolítico, que os sais dissolvidos se misturem com as

argilas e finalmente a degradação do solo pela hidrólise provo-cada pela água com gás carbônico ou outros ácidos.A investigação do grau de salinização é feito cálculo da

saturação de bases baseado nas análises feitas para os valores Se T. Além de outras informações o estudo da saturação das basesnos diz também aquelas que se encontram quimicamente com-binadas e as mantidas pelo fenômeno da adsorção.

Pelo critério de Von Sigmond citado em “Suelos Alcal i-nos” – do Argº. José Maria Marchesi  – para que um solo sejaconsiderado salino é preciso que a concentração de sais apareçavisivelmente e que a proporção relativa de cátions de K, Na, só

alcance de seis a onze por cento das equivalências totais desig-nadas por S; assim doze por cento de cátions K  – Na, dos equi-valentes compreendidos nas bases trocáveis, é o limite inferiorda alcalinização.

A origem do cloreto de sódio que aparece em manchas noNordeste, em locais às vezes sem irrigação, deve estar nos sili-catos sódicos ou feldspatos erodidos; o granito também contémsódio, em pequena quantidade.

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Quando o pH sobe acima de sete virgula nove, os colóidesnão se coagulam para formar a estrutura granular do solo; a adi-ção de gesso moído baixando o pH e trocando o sódio pelo cál-cio permitem flocular as argilas, aumentar a permeabilidade eexpulsar pela drenagem o sulfato de sódio formado.

Desejamos esclarecer que os estudos sobre solos salinospelo SAI., são feitos do seguinte modo 1º) levantamento agroló-gico das bacias de irrigação mediante mapas; 2º) determinação

do nível subterrâneo d’água por meio de furos permanentes comtrados; 3º) análises das amostras de solo visando também isolaras manchas salgadas; 4º) determinação do grau de saturação dosal; 5º) aplicação de gesso moído em quantidades diferentes eobservações dos efeitos; 6º) construção de drenos abertos e demanilhas e estudo da água de drenagem.

Na parte de conservação dos solos, páginas adiante, trata-remos ainda deste assunto.

SOLOS MARGINAIS DO RIO SÃO FRANCISCO

Há doze anos o Serviço Agro-Industrial instalou e vemmantendo o Posto Agrícola do Rio São Francisco, no local de-nominando Icó, entre Petrolândia e Jatinã. Apesar das grandesdificuldades iniciais daquele trabalho, hoje só parcialmente re-movidas, algumas informações foram conseguidas sobre solos eculturas irrigadas.

Durante os oito anos iniciais e mais difíceis o Engº. Angº.Trajano Nóbrega preparou as instalações com o valioso auxílio

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do Serviço de Estudos do DNOCS com o estabelecimento dairrigação este agrônomo deu grande desenvolvimento aos traba-lhos deste Posto.

As águas do Rio São Francisco, através de séculos, obede-cendo à dinâmica fluvial, vaguearam para a direita e para a es-querda em procura de leito e lavaram os solos marginais em longaextensão. Os elementos mais solúveis foram arrastados, deixandoum depósito de areia, sílica e argila lixiviadas. Com a presença do

calcário derramado aqui e ali do tabuleiro superior, sobre o vale, aargila tornou-se cálcica, a desintegração foi intensa, resultandosolos fofos ou permeáveis, com muita areia e sílica, profundos,secos, pobres de humo, de fósforos e de potássio.

O grande problema do Vale do São Francisco, no trechoque conhecemos entre Petrolândia e Petrolina, não é somente oimpaludismo e falta de transporte e sim, principalmente, o solopobre de elementos nutritivos, com rendimento muito baixo porunidade de área. A pobreza de matéria orgânica e de azoto évisível no aspecto das culturas irrigadas e foi confirmada pelasanálises do SAI, no quadro anexo. O teor de fósforo assimilável

é baixíssimo. É verdade que a permeabilidade e a profundidadedos solos marginais são boas, porém, o rendimento das lavourasdepende muito das bases trocáveis. O cálcio é o elemento queexiste em maiores proporções ali e ele, com o clima quente-seco, são os responsáveis pelo rápido desaparecimento da maté-ria orgânica. Os rendimentos das culturas irrigadas no PostoAgrícola do Rio São Francisco são as seguintes, em quilos, porhectare: cana – dois mil e noventa e quatro quilos (2.094 kg); batata

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doce – nove mil duzentos e noventa e sete quilos (9.297); hortali-ças, com adubo animal  – seis mil cento e dezesseis quilos (6.116kg); laranjeiras – dez mil quinhentos e vinte e três (10.523) frutospor ha; amendoim  – quatrocentos e trinta quilos (430 kg) de va-gens; milho quatrocentos cinqüenta quilos (450 kg) de grão. Estesnúmeros provam a necessidade de adubação daqueles solos paraculturas irrigadas.

Os agrônomos Macário de Brito e Ivo Falcão fizeram mais

de cem determinações de umidade nos solos irrigados e não irriga-dos naquele Posto. Para dar uma idéia da questão hídrica, resumi-mos uma parte destas dosagens no quadro abaixo, feitas em terrenoargiloso-silicoso, sem vegetação, com declive de zero vírgula cincoa dois por cento, sulcos com dois a cinco litros d’água por segundo,amostras tomadas quarenta e oito horas depois da rega:

Profundidade / amostraPercentagem de água em relação ao peso do solo:

Solo não irrigado Solo irrigado10 cm 1,4% 12,0%20 cm 4,8% 9,5%30 cm 3,2% 10,0%

40 cm 5,0% 9,5%50cm 4,7% 8,5%60 cm 5,3% 8,0%70 cm 6,2%80 cm 7,0%90 cm 6,2%

100 cm 7,0%

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Os dados acima revelam que a umidade natural dos solosmarginais do grande rio somente pode manter uma flora desérti-ca com paralisação vegetativa no verão seco. Outro agrupamen-to botânico diferente do faveleiro, da imburana, do pinhão, qui-pá, do pereiro, da aroeira, etc., não resistiriam ao baixo teor hí-drico do solo e nem a soalheira do verão.

A quase ausência de capins e de outras plantas anuais co-mo sub-vegetação, protetora do solo, no meio das espécies ar-

bustivas e arbóreas, deixa a terra exposta ao desgaste, pelas á-guas e pelo vento. O aspecto de abandono das terras ao longo dorio é devido em grande parte à erosão. Nos leitos dos riachos eno talude úmido do rio, existem árvores nativas do porte dascraíbeiras, angicos, quixabeiras, etc., e é ao que a populaçãolocal cultiva o amendoim, milho, cana, feijão, etc., para a suasubsistência.

A parte de terras marginais do Rio São Francisco que te-mos estudado é formada pela decomposição do arenito. Forma-ram-se, assim, solos arenosos, fofos, secos, nas chapadas vesti-das de caatingas; no vale do rio, propriamente dito, a textura do

solo é muito mais fina, com predominância da argila, da sílica edos limos, lavados, pobres, de fraco poder sortivo, porém pro-fundos e permeáveis.

Talvez a presença da “terra chocolate”, terra roxa, calcária,existente na parte alta e que se misturou em parte, com o solo debaixio, tenha contribuído para dar às terras marginais àquelapermeabilidade e profundidade.

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Sem irrigação, o teor natural de umidade nos solos margi-nais do rio, no trecho citado, está no limite do ponto de mur-chamento definitivo para as plantas cultivadas. Nenhuma plantapode prosperar e dar safra num solo em que a percentagemd’água, no perfil, varia de um por cento a sete do peso do solo.

Somente as plantas espontâneas, habituadas há séculos aocomportamento indisciplinado do clima que lança a avara médiade quatrocentos milímetros de chuvas, por ano, em desordenada

incidência mensal, podem suportar, quase em sono vegetativo,esta carência hídrica.A acentuada escassez de matéria orgânica daqueles solos – 

menos de um por cento  – torna mais difícil o problema da águaporque a terra não retém a umidade, perde-a prontamente sejapela evaporação devida ao calor e ao vento baixo, seja pela infil-tração causada pela permeabilidade.

Teoricamente a irrigação deveria ser feita em pequenasdoses com intervalos curtos; assim estamos procedendo, porém,há limite por causa do custo da irrigação onde a energia térmica

 já encarece o bombeamento da água.

O aumento da matéria orgânica naqueles solos, por meioda adubação verde, foi à primeira providência que tomamos parao melhoramento das terras. A aplicação do pó de osso para re-forçar o fósforo tem sido feita também com a finalidade de pro-vocar maior desenvolvimento nas leguminosas destinadas aoenterrio.

Entretanto, devemos confessar que aqueles solos têm rea-gido muito pouco com o emprego do pó de osso e adubo verde.

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Talvez, como conseqüência da aridez a inoculação de bactériasfixadoras de azoto nas raízes das leguminosas é deficiente. Osfeijões-guandu e macassar são os que dão alguns nódulos nasraízes e melhor crescimento.

No percurso total de três mil cento e sessenta e um (3.161km) quilômetros das suas nascentes na Serra da Canastra, emMinas, até a sua foz, o Rio S. Francisco corta o Polígono dasSecas numa extensão de um mil novecentos e doze quilômetros

(1.912 km), ou seja, desde Pirapora até Piranhas. A faixa seca,sem afluentes perenes, vai da barra até a foz na distância de no-vecentos e oitenta (980) metros.

Esta grande área seca, atravessada pelo rio, e que só lhefornece água nas cheias de poucos dias por ano, é que causa agrande variação na descarga do rio: cerca de doze mil metros(12.000³) cúbico por segundo em janeiro – fevereiro a setecentosa oitocentos metros cúbicos por segundo em agosto  – setembro,em Itaparica.

Devido ao desnudamento de grande parte do vale a erosãoé intensa, nas grandes cheias a água carrega, através dos “câ-

nions” de Paulo Afonso, cerca de seis mil (6.000) toneladas deareia e terra por hora, conforme informação do ilustre Engº.Dermeval Resende, da CHESF. Este poder erosivo do rio, namáxima vazão, significa um transporte de cento e quarenta (140)gramas de material sólido por metro cúbico d’água.

Mas, os rios Ceará não ficam atrás nesta competição erosiva.As análises feitas no SAI, adiante publicadas, apresentam,

para estes rios, os seguintes índices:

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Rios Locais DatasMaterial

sólido por 1m³d’água

Jaguaribe Ponte A. Lisboa 31 Maio 150 gJaguaribe Orós 21 Abril 155 gSalgado Icó 21 Abril 303 gPirangi Ponte trans. 31 Maio 114 g

Banabuiu Ponte trans. 31 Maio 27 gchoró Ponte trans. 31 Maio 254 g

A média do material transportado pela água destes rios ce-arenses, no fim do inverno, é de cento e cinqüenta e nove (159)gramas por metro d’água, maior do que do Rio São Francisco.

A amplitude de variação entre a máxima e a mínima vazãodo rio, tende a aumentar com o tempo devido a saarização dolongo vale. A secura da atmosfera, o calor, o solo marginal es-torricado e o vento soprando sem parar causam extraordináriaevaporação da água em curso. Um hectare de superfície de águaparada nos açudes públicos, no sertão, evapora, no verão, emmédia, setenta metros cúbicos de água cada vinte e quatro horas,

segundo as medições do SAI.O Rio São Francisco, no percurso da faixa seca, pela su-perfície exporta, superior a noventa mil (90.000) hectares demassa líquida, deve evaporar cada dia mais de seis milhões demetros cúbicos d’água.

A comissão de Estudos do Rio São Francisco e a Cia. Hi-drelétrica do São Francisco, com o desenvolvimento dos seus

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trabalhos de grande alcance econômico e social, concorrerãopara o progresso em todo o vale e regiões vizinhas.

Para conseguirmos uma lavoura irrigada, importante, ali,carecemos de energia barata e de adubos.

A pecuária de corte, baseada em pastos irrigados extensi-vamente, com energia de baixo custo, na caatinga semeada decapins e leguminosas, depois de arrancada a vegetação inútil,poderá ser, talvez, o melhor ramo agrícola para lucro e início do

melhoramento das terras.Os estudos realizados no Posto Agrícola do Rio São Fran-cisco, pelo SAI., provaram: primeiro não é conveniente roçar edestocar grandes áreas para lavoura intensiva porque desenca-deia a erosão em forma difícil de controlar nas condições locais;segundo, não compensa o emprego de energia térmica para irri-gação ali a não ser por meio de empresas com vultoso capital:terceiro o solo e a população do vale não estão em condições oupreparados para o estabelecimento imediato de culturas irriga-das, largas e intensivas.

O terreno precisa ser posto, primeiramente em estado de

responder às exigências das plantas cultivadas e para este fim nósnão podemos dispensar o concurso insubstituível da flora nativa.

Procurando forma pastagem mista, semiflorestais, de plan-tas caboclas consorciadas com aquelas escolhidas pelo técnico,nós criaremos ambiente especial, com a umidade lançada, capazde estimular uma evolução química, física e biológica do meioque ampare bons rendimentos agrícolas.

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Julgamos também imprescindível à preparação prática,técnica e higiênica da população.

A forma de pastagens extensivas, irrigadas, que sugerimos,seria o aproveitamento das plantas já enraizadas, de valor, quecompõem a caatinga natural com a eliminação das indesejáveis e asemeadura de forrageiras mistas entre esta vegetação visando com-pletá-la no seu aproveitamento econômico e ecológico.

O trecho deste vale que conhecemos não deve ser arado,

pois o chão já é fofo e permeável demais; a aração apressarámais a erosão.Poupando as espécies mais nobres da caatinga, como um-

buzeiro, catingueira, feijão camaratu, quixabeiras, faveleiro,canafístula, madeiras de lei, nós resguardaremos o solo, aprovei-taremos uma associação florística já estabelecida e obteremosmais rama para o gado.

Neste sistema de pastos irrigados, com uma parte da vege-tação espontânea e outra introduzida por semeaduras, à distribu-ição dos canais teria de obedecer a um traçado especial no qualseriam previstos, além do isolamento dos condutores por cercas,

também a forma e o tamanho dos lotes de partejamento.Esta modalidade de exploração inicial tem por finalidade

também melhorar os talhões com o estrume animal, apesar deque esta adubação não dispensa as dosagens de pó de osso, obti-do localmente, para a boa forragem.

A pobreza de nutrientes daqueles solos e o estado de desa-gregação natural nos levam a pensar num tipo de exploração

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agrícola no qual a proteção e o enriquecimento dos campos se- jam os objetivos predominantes.

A caatinga safransciscana não pode ser cultivada pelos mé-todos comuns de roçagem, destocamento, plantio, capina e colhei-ta, porque eles desencadeariam forças destrutivas de tal ímpeto queteríamos o deserto imediato. Ela tem de ser tratada de modo espe-cial e talvez a solução seja achada na conjugação das pastagenssilvícolas, irrigadas, de árvores e arbustos bem espaçados para o

lançamento de capins e leguminosas de permeio.Arrancando da caatinga as espécies sem valor para pasto epara madeira alteraríamos o equilíbrio biótico se não fosse areparação da harmonia com a umidade trazida pela irrigação.

Não faltará luz para a sub-vegetação forrageira porque aregião é ensolarada demais, os desbastes e as podas periódicasnos galhos para a obtenção de rama dosarão a luminosidade, aomesmo tempo em que o solo ficará protegido contra os ventos.

A umidade aplicada artificialmente apressará o crescimen-to do agrupamento formando uma floresta mista, rala, heterogê-nea, como convém ao trópico, e com a camada de detritos orgâ-

nicos para nutrir a relva.A caatinga está contendo forças mais poderosas do que

aquelas que o homem dispõe. Libertar estas forças destrutivasserá o suicídio. Aí está o grande problema do São Francisco.

Com dinheiro é fácil construir estradas, barragens, canais,portos, hospitais, etc., mas o dinheiro não basta para restabelecerou manter o equilíbrio biológico de uma região ou para garantir

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paração da torta protéica para o gado, diminuem muito os trans-portes e gera mercadorias valorizadas para o consumo local ouque podem procurar mercados em qualquer ponto do país.

O farelo do algodão é o melhor concentrado para a alimen-tação do gado, no sertão, e o adubo animal mais barato e maiscompleto para fertilizar o solo. A lavoura irrigada do algodoeiro,com a industrialização local dos seus produtos, aliada à pecuá-ria, poder ser um negócio rendoso nas terras sanfranciscanas.

O florestamento dos terrenos que margeiam o rio SãoFrancisco conta com a grande vantagem de solo permeável, pro-fundo e a irrigação complementar sustenta o crescimento rápido.

Este empreendimento é uma conciliação da proteção dosolo com a produção de madeira e lenha, materiais de grandenecessidade na região.

O eucalipto, o angico, a jurema, o cedro, o pau-d’arco acraibeira, a aroeira etc., não requerem fertilidade, são essenciaisque prosperam bem ali e cujos ciclos de maturidade são dosmais breves.

A indústria da cana de açúcar somente pode ser incentiva-

da, com água daquele rio, depois que tivermos conseguido bas-tante lenha.

A fabricação de pasta para papel encontra facilidade ali nodesenvolvimento rápido do eucalipto já verificado no posto a-grícola, na abundância de água com boas qualidades, na energiaelétrica barata nos pontos atingidos pelas linhas partidas de Pau-lo Afonso.

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A elaboração de celulose exige muita luz, calor, água, ele-tricidade e terras pobres, mas com ótimas propriedades físicas.

Tudo isto se encontra ou pode ser reunido nas beiras do ri-o. Além destas vantagens econômicas a floresta formada contri-buirá para transportar os nutrientes das profundas camadas dosolo para a superfície e, assim, permitir as lavouras de raízessuperficiais.

Explorando somente a silvicultura para papel, ou carvão

ou madeira ou, então, combinado à floresta com a lavoura, alter-nadamente, ficará garantida a fertilidade do solo e a prosperida-de de empresa.

Para um empreendimento que visa plantar um milhão deárvores por ano, é possível obter quinze milhões em quinze anosde plantios sistemáticos e iniciar o corte no décimo sexto ano edaí em diante não interromper mais as colheitas com a renova-ção dos talhões.

Já é compensador plantar florestas nas regiões mais povo-adas do Brasil; os preços dos produtos florestais sobem dia a diae eles são indispensáveis em qualquer comunidade.

A imensa área que borda o São Francisco tem largos tre-chos onde é possível plantar e cuidar de grandes florestas, irri-gadas quando necessário, e das quais possamos tirar lenha esta-cas, postes, tábuas, madeiras de construção, papel, alcatrão, car-vão, etc., para organizar as nossas fazendas, para edificar milha-res de casas para os nossos irmãos, obter papel em milhões detoneladas para o Brasil e para exportação, etc.

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A silvicultura é um ramo agrícola que tem algo da extensivi-dade que as glebas sanfranciscanas exigem na sua exploração.

Na indústria da pasta de papel, se for empregado o proces-so mecânico (raspagem, peneiração, moagem, classificação,secagem, etc.), o grande volume d’água usado, pode servir, tam-bém, depois para a irrigação das culturas, lançando na terra amatéria orgânica em suspensão.

Usando madeira sã, em rolos de vinte centímetros de diâ-

metro, é possível obter uma tonelada de pasta para cada cincometros cúbicos de madeira. Em peso a madeira seca dá um ren-dimento de cinqüenta de pasta.

A massa gasosa, seca, da atmosfera local, não absorve os rai-os ultravioleta e infravermelho da radiação solar, que, assim, comtodo o seu potencial de calor e de atividade química, incidem sobreo chão causticando-o e na flora diminuindo-lhe o porte, reduzindo-lhe o aparelho folhear, criando cortiças isoladoras nos caules e es-timulando a formação de espinho folhear, criando cortiças isolado-ras nos caules e estimulando a formação de espinhos, acúleos eoutros órgãos defensivos da integridade vegetal eternamente amea-

çada pela agressividade dos elementos físicos.O clima quente, seco e luminoso, com os dias não longos, fa-

cilita mais a floração e a frutificação do que o crescimento dos ve-getais; o verão quente e seco e o inverno fresco e úmido produzem,pela modificação da pressão barométrica, da temperatura, da hi-groscopicidade, etc., variações climáticas que relaxam a tensãonervosa, que diminuem a circulação sanguínea, que atenuam oritmo respiratório e permitem ao organismo humano repousar.

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A convivência do homem no clima seca o faz retrair os te-cidos de pele excitando o movimento do sangue; este sendomais concentrado atual sobre os nervos provocando a função. Éum fato natural o predomínio dos povos vivendo sob clima áridoe altitude baixa devido à sua supremacia intelectual.

A secura do meio dificulta as fermentações microbianas,assegura a salubridade e proporciona rapidez de movimentospela obediência dos músculos aos vasos motores.

As quatro estações do ano  – primavera, verão, outono, in-verno  – que caracterizam o clima europeu, são quatro estádiosque quebram a monotonia do ambiente dando aos seres vivosoportunidades de receber variáveis influências positivas e nega-tivas do meio. A monotonia climática é mais cansativa. No Nor-deste as estações estão reduzidas a duas – inverno e verão – sen-do a segunda muita longa do que a primeira. A diferenciação datemperatura e do grau higrométrico do ar entre o dia e a noitefavorece o “refrigério” para um repouso de oito horas em cadadia. A monotonia do clima nordestino é amenizada pelos “refr i-gérios” dos invernos irregulares cada oito meses e pelos perío-

dos de repouso cada dezesseis horas.

OS SOLOS DA SERRA DE GUARAMIRANGA

Pela grande declividade dos terrenos nesta serra, devidoaos métodos culturais inadequados e à cultura secular do café eda cana sem rotação e sem adubação, as colheitas diminuíram ea serra regrediu economicamente.

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Os terraços, os plantios em curva de nível, a defesa contraa erosão de modo geral, são desconhecidos ali.

Os solos não são suficientemente profundos para a lavourado café; os teores de matéria orgânica, de azoto e de fósforoassimilável são baixos para colheitas elevadas.

As adubações pesadas contendo muita matéria orgânica, aproteção contra a enxurrada são indispensáveis ali, para as cultu-ras do café, da cana, das fruteiras e das hortaliças.

O quadro que segue anexo dá o resultado de análises dasamostras de terras tiradas pelo autor em Guarapiranga e analisa-das no Laboratório do Serviço Agro-Industrial.

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QUINTA PARTE

 ALGUMAS QUESTÕES DA EXPLORAÇÃO DE AÇUDES PÚBLICOS  .

A exploração dos açudes públicos está dividida em duaspartes:

1ª) bacias hidráulicas com faixas secas e vazantes perten-centes à União e arrendadas às famílias pobres;

2ª) bacias de irrigação, pertencentes a particulares e parci-almente explorada por estes.

Esta exploração, ainda incompleta e imperfeita, acusou, noano de 1952, os seguintes valores:

Lavouras Áreas /  ha Produção: quilosLotes secos 11.374 13.565.438Vazantes 4.349 14.945.649

Irrigação 4.621 11.045.661Total 19.344 39.556.748

Ficaram 1.331 ha para serem colhidos em 1953.

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Valor de produção dos dezessete açudes administrados pe-lo SAI. em 1952:

Prod. Vegetais (39.556.748 kg) Cr$ 35.348.901,00Prod. Animais Cr$ 3.403.556,00Pescados (793.827 kg) Cr$ 3.304.216,00Valos dos Prod. Distribuídos e aplicados no serviço Cr$ 193.593,00Taxas recolhidas ao Tesouro Nacional Cr$ 1.474.196,00Total Cr$ 43.724.462,00

LAVOURA DE VAZANTE

A montante dos açudes, é um sistema permanente de cul-tivo das plantas precoces como arroz, batata, feijão e milho.

A inundação periódica da faixa da vazante, cobrindo a ter-ra com uma lamina d’água de alguns centímetros até alguns me-tros elimina as ervas daninhas, aduba-a com uma porção de lodoe esterco que vêm arrastados pelas águas para dentro do açude eaí depositam quando, depois da fermentação, se restabelece opH alcalino clareando a água. O arroz, planta semi – aquática, é aprincipal cultura alimentícia da vazante.

Outra grande vantagem da vazante é que ela produz ali-mentos verdes em pleno verão, prolonga a estação invernosa emelhora a alimentação da população.

Aproveitando a vazante depois do inverno, cultivando afaixa seca no período chuvoso e participando das pescarias noreservatório a família do rendeiro está fixada no sertão.

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A vazante plantada depois de setembro está sujeita à inun-dação pelas chuvas precoces; deitar a semente na cova antes demaio está sujeito ao repiquete de inverno.

A lavoura da vazante acompanha a água, é feita em faixaestreita para conseguir o enraizamento das plantinhas enquantohá umidade superficial; o arroz chega a ser plantado em mudadentro d’água e depois é colhido no seco.

As grandes vantagens da vazante é que ela produz alimen-

tos verdes na estação seca, como: feijão, batata, quiabo, tomate,amendoim, maxixe, etc., ela facilita o prolongamento da estaçãoinvernosa na produção de alimentos frescos que são os maisraros no sertão e que mais falta fazem na dieta do matuto, duran-te o ano.

Comendo os “legumes” de inverno, colhidos na faixa seca,enraizando o algodão, aproveitando a vazante, balanceando asua ração com a carne do pesoado do açude, a família do rendei-ro está fixada no sertão.

Aqueles reservatórios que ainda não possuem canais de ir-rigação e cuja área de vazantes está subordinada ao abaixamento

da água pela evaporação, poderia dar maiores culturas de verãose provocássemos um desnível mais rápido das águas.

Em média, o nível da água cai um palmo por mês, ou seja,sete milímetros por dia; nesta proporção, não sendo o terrenomuito íngreme, a umidade, que fica no solo, dá para enraizar aslavouras acima citadas; para dobrarmos a área de vazantes terí-amos que duplicar o abaixamento da coluna d’água, tirando estalentamente pelas comportas. Pensam os agrônomos e entre eles

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Osvaldo Cruz que, diminuindo, diariamente, quinze milímetrosna coluna, o solo da vazante secará muito depressa e as mudi-nhas não têm tempo de enraizar. As experiências para elucidaresta questão serão feitas no açude Pilões.

Subtraindo dos dezessete açudes a superfície da União, i-nundável pelas águas, ficam trinta e dois mil novecentos e seten-ta e cinco (32.975) hectares para quarto mil quinhentos e doze(4.512) famílias. Calculamos que o Nordeste tenha uma pessoa

para dez hectares. Então os açudes estão suportando dez vezesmais gente do que a densidade média da Zona Seca. O aprovei-tamento dos terrenos da União nas bacias hidráulicas não podeser de cem por cento hectares nos terrenos empedrados, há oslotes deixados sem caatinga, existem os terrenos erodidos, os emrepouso, leitos de rios, etc. No caso dos açudes acima a explora-ção atinge trinta por cento da área. Não cremos que o aprovei-tamento das bacias hidráulicas possa atingir mais de cinqüentada área sem destruir o solo. Há gente demais nas bacias hidráu-licas dos açudes; seremos forçados a uma diminuição para cadafamília poder cultivar a sua área. A providência inicial mais im-

portante no caso é o cercamento do açude. O rendeiro plantamenos por família porque não pode cercar mais terra. As estra-das circulares, as divisões definitivas dos lotes, a organização deescolas, casas de administração, são outras necessidades.

O padrão de vida do rendeiro é muito baixo; ele tira a suaalimentação do “legume”, do arroz, do feijão, da batata doce,plantados na vazante, do milho e da mandioca de inverno nafaixa seca e do peixe do açude; o algodão mocó, da faixa seca,

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(15.723) hectares e onde há canais nas terras particulares somen-te quatro mil seiscentos e vinte e um (4.621) já foram plantados.

Estudando os motivos do pequeno desenvolvimento da ir-rigação encontramos as seguintes causas: 1ª) os proprietários,que possuem outras fontes de renda como comércio de algodão,criação de gado, carnaubais, não se interessam pela irrigaçãoporque esta exige conhecimento e trabalhos disciplinado; 2ª) nosanos chuvosos o matuto, pelo hábito, prefere fazer roçados em-

bora a colheita seja problemática; 3ª) com o crescimento da pas-tagem o desenvolvimento da pecuária torna o homem indepen-dente da irrigação.

Na fase atual de exploração dos açudes, ainda incompletae imperfeita, deduzimos, pela nossa estatística, que se formossurpreendidos por um ano totalmente seco precisaríamos de cemmil metros cúbicos (100.000 m³) d’água dentro do açude paramantermos cada família, incluindo a evaporação, a irrigação etodos os gastos. Ainda não houve um ano totalmente seco, assecas são parciais e nunca atingem igualmente todas as regiõesdo Polígono.

As lavouras de chuvas estão garantidas quando a quedapluviométrica é acima de setecentos milímetros (700 mm); apecuária se mantém quinhentos milímetros (500 mm); abaixo dequatrocentos milímetros (400 mm) anuais de precipitação, amanutenção da fazenda torna-se precária, sem irrigação, na den-sidade atual da população.

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É verdade que a eficiência dos invernos depende tambémda sua distribuição, mas não podendo discutir a distribuição ra-cionamos com a quantidade.

A necessidade da irrigação começa quando a chuva anualcai abaixo de setecentos milímetros (700 mm) e torna-se cadavez mais imperiosa à medida que se aproxima dos duzentos mi-límetros anuais e que a população via aumentando.

Organizamos um gráfico teórico mostrando a relação chu-

va versus irrigação versus população. Uma chuva de setecentosmilímetros (700 mm) significa setecentos mil (700.000) metrosd’água por quilômetros e dá, nas condições médias do Nordeste,um run-off  de setenta e três mil metros cúbicos (73.000 m³)d’água quilômetros. A chuva de setecentos (700 mm) milímetrosque cai sobre um quilômetro no sertão, além de manter a pasta-gem, sustentar a lavoura matuta, ainda proporciona, por meio daaçudagem, a irrigação anual de um hectare de cultura na baciade irrigação.

Mas, a Zona Seca tem dois rios perenes o São Francisco eo Parnaíba e eles podem elevar muito a capacidade irrigatória do

Nordeste desde que sejam providenciadas outras condições fa-voráveis à irrigação, além do solo e água.

O nosso gráfico ilustra o princípio básico do desenvolvi-mento da irrigação com o crescimento da população, em face dequantidade de chuvas caídas.

Aumentando, a população cresce a tendência de devastarmais a vegetação nativa, protetora do solo e da vida e, por esta

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razão, nós devemos intensificar o aproveitamento dos açudesonde os aluviões permitem altos rendimentos.

Atualmente, os um milhão cento e cinqüenta mil seiscen-tos e cinqüenta e sete (1.150.657) quilômetros do Polígono Secocomportam doze milhões quinhentos e trinta e um mil trezentose cinco habitantes (12.531.305).

A lavoura irrigada está progredindo lentamente porque omatuto, com a chuva, avança na mata, na caatinga e na capoeira,

amplia os roçados e cada um agindo individual e inconsciente-mente, visando menos esforço, forma um movimento coletivo,organizado e devastador que causará sérios prejuízos à coletivi-dade pela provocação da aridez. Sem o concurso da irrigação háum limite na explorabilidade agrícola da Zona Seca e como esteaproveitamento somente podemos ser extensivos nós caminha-remos para a devastação da flora e destruição do solo.

A lavoura matuta, na sua extensividade e com o cresci-mento da população, alcançou um ponto além do qual ela nãopode passar.

Esta forma de lavoura não pode ser intensiva, tem de se

basear nos roçados alternados com o repouso do solo pela vege-tação nativa. Este ponto atingido é o limite do ciclo extensivo dalavoura de chuvas. A cultura irrigada, sistema mais intensivo,conhecido, de agricultura, permitirá, por sua vez, o crescimentoda população até um segundo limite, que chamaremos de ciclointensivo da lavoura regada.

Após este período de irrigação, que estamos iniciando a-gora, virá, com o maior volume das matérias primas e a evolu-

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ção educativa dos núcleos humanos, o ciclo da industrialização,favorecendo, por sua vez, também, uma terceira ampliação nacapacidade demográfica do Polígono.

Sem o concurso do povo, não é possível defender o equilí-brio biológico entre o solo, a água, a flora e a fauna. Esta camadade folhas verdes que cobre o chão do Nordeste é a mais firme ga-rantia da sua explorabilidade econômica e da sua habitabilidade.

A vegetação nativa é a grande força acampada no sertão im-

pedindo o avanço da aridez e criando ambiente para a irrigação.Para manter a harmonia entre a população, a sua economiae os recursos naturais torna-se necessário que a superfície regadaaumente à medida que crescem os habitantes e quando diminu-em as chuvas.

O avanço desordenado na caatinga, a marcha para o Oeste,sempre procurando terras novas, quando deixa vazios de regiõesintermediárias, vácuos de territórios abandonados, cria proble-mas de transporte, de conservação de estradas, de sanitarismo,de ensino, de assistência médica, que são verdadeiros pesadelosadministrativos. Não compensa devastar, é crime explorar sem

conservar; povoar racionalmente, em bases permanentes, é agrande questão.

A função social do açude impõe a produção de gêneros a-limentícios ao seu redor, antes de qualquer outra lavoura; asfrutas, as verduras, o leite, que são alimentos indispensáveispara a infância e para o balanço dietético de todos, podem serproduzidos todo o ano nos açudes.

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A conquista econômica do chão seco, através do açude,tem de ser tornar efetiva; todas as necessidades da populaçãodevem ser satisfeitas, no sertão; a luta tem de ser de trincheira,de estabilização; o homem forte precisa ser alimentado no ser-tão, o doente tratado ali, curado e restabelecido no local e edu-cado sob a doutrina ecológica do melhoramento do ambiente ena convicção do valor da sua contribuição pessoal.

Compete aos estudiosos, ao Governo e aos homens de boa

vontade alertar à população por meio de larga difusão de ensinoprático e da propaganda popular, organizada, sobre a conveniên-cia do racional aproveitamento os aluviões fertilíssimos parapoupar os terrenos de colinas e de altos a fim de não sacrificar-mos o futuro ciclo industrial da Zona. A etapa da exploraçãoextensiva atual, o ciclo da irrigação que estamos iniciando e asfuturas ampliações industriais são os encadeamentos interde-pendentes da Civilização Nordestina, que se baseia não só nainteligência arguta, na aprendizagem técnica, na evolução dostransportes, na compensação das trocas comercias, mas, tam-bém, e, sobretudo, na preservação dos recursos naturais que as-

seguram, em última análise, a elaboração do grande volume dematérias primas.

A lavoura de chuvas, a cultura de irrigação, as plantas xe-rófilas de alto valor industrial como carnaúba, oiticica, algodãomocó, caroá, etc., a pecuária e a exploração de minérios, são asbases da grande riqueza do Nordeste, que urge coordenar nasdiversas etapas da grande evolução econômica que nos aguarda.

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A última guerra veio colocar o Nordeste em posição dedestaque geográfico, estratégico. Sob o ponto de vista da defesanacional a Zona Seca e a irrigação adquiriram uma importânciacapital. Ponto avançado no Atlântico, ele é o trampolim dasAméricas e é imprescindível não só garantir o seu abastecimentocomo, também, a ajuda indispensável e múltipla das populaçõespara com os órgãos da defesa.

Os canais de irrigação de um açude não devem dominar

somente a área exata da capacidade do reservatório porque aobrigatoriedade do repouso periódico dos talhões, pelo menos detrês em três anos, para recuperação da fertilidade, exige maiordominância.

Sabido que não é possível, pelos conhecimentos atuais, acultivação contínua do mesmo solo, com boas colheitas, mesmocom adubação química, conhecidos os prejuízos causados pelaexaltação do solo, urge deixar inculto cada lote um ou dois anos,depois de cada quatro colheitas seguidas. Assim, um terço dabacia de irrigação fica inativa comercialmente, cada ano, ocu-pando com plantas espontâneas, em descanso reparador. Além

desta área existem ainda os espaços, não pequenos, tomadospelos drenos, pelas lagoas, cujos fundos não dão cota para dre-nagem, já os intervalos pedregosos e os que ficam acima do ní-vel dos condutores.

Manter uma bacia de irrigação produzindo sempre é aquestão mais difícil, mais dura e mais importante do Nordeste.

Diversos fatores influem nesta questão: os primeiros sãoos donos das terras que não acreditam que solos de uma produ-

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ção tão pujante possam se empobrecer; outro, é que o particularquer plantar sempre os pontos melhores e sem rotação; aindaoutro, é que o irrigante proprietário não aduba e não aceita con-selhos de ninguém. Há, ainda, um outro fator de muita impor-tância: os cientistas, hoje, acham impossível eternizar o cultivode plantas anuais nos climas quentes, no mesmo solo, semprecom bons rendimentos; as lavouras de sustentação, não industri-ais, raramente compensam a adubação química. Aquelas desti-

nadas à industrialização, porque o lucro é maior e grande a esca-la, pagam certas despesas em favor da fertilidade. As culturasarbóreas, como as fruteiras, o cafeeiro, etc., porque escondemmelhor a terra da ação do clima, porque emitem raízes sugado-ras, cada ano mais profundas, agüentam a produção.

As bananeiras, as laranjeiras e as mangueiras são as cultu-ras mais rendosas na irrigação, atualmente.

Entretanto, elas não podem ocupar mais de vinte e cincopor cento da área irrigável pelo reservatório por causa das repen-tinas secas de um a dois anos, que podem ser vencidas sacrifi-cando-se parte das lavouras anuais em favor das permanentes.

Formar um pomar custa muito tempo e dinheiro razão porque asua exploração deve ser longa para ser econômica. Nenhumalavoura se equipara com a da bananeira, em valor alimentício,na facilidade do cultivo, no rendimento em dinheiro, na boa co-bertura do solo e na adaptação para a indústria. O mercado dabanana é ilimitado no Nordeste.

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O desenvolvimento da irrigação no Nordeste tem encon-trado os seguintes obstáculos: 1) ano de muita chuva em que omatuto acha mais fácil fazer roçados do que irrigar; 2) algunsproprietários de terras irrigáveis têm outros negócios que lhesdão boa renda e não querem ter trabalho assíduo com a irriga-ção; 3) a exploração continuada dos lotes irrigados por proces-sos rotineiros empobrece o solo e baixa o rendimento; 4) as cul-turas xerófilas como carnaúba, oiticica, algodão mocó, agave,

caroá, etc., e as criações de gados, dão bom lucro ao homemindependentemente de irrigação e com pouca chuva.Os proprietários de terras, nas bacias de irrigação, têm

predileção pela cultura da cana e pelo fabrico de aguardente vi-sando lucro individual. Achamos imoral o Governo inverter odinheiro do povo em obras que vão produzir veneno para essemesmo povo. Além disto, enquanto o terreno está ocupado coma cana faltam espaços para as lavouras de sustentação e paraabrigar as famílias pobres nas crises de seca. Açude público eterra particular são duas entidades que não se combinam.

No estado atual da evolução no Nordeste o matuto gosta

mais de fazer roçados do que cuidar de lavoura irrigada porque émais fácil e menos trabalhoso, embora este procedimento resultena devastação da vegetação nativa, na provocação do deserto.Todos agem individual e inconscientemente visando menos es-forço, menos preocupação e estas devastações vão se transfor-mando num movimento coletivo, organizado e destruidor que jácomeçou a prejudicar a coletividade, mas o matuto ainda nãopercebeu o desastre que se aproxima. Compete aos estudiosos,

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ao Governo e aos homens de boa vontade alertar a populaçãopor meio de propaganda organizada e larga difusão do ensinoprático sobre o erro que está sendo cometido, anualmente, emgrande extensão, e os meios que devem ser aplicados para sanaro mal, enquanto é tempo.

As bacias de montante, onde o Governo não despendeugrandes somas são melhores exploradas no que as bacias de ju-sante que custaram, em canais e drenos, milhões de cruzeiros.

A divisão das propriedades no sertão é feita em linhas per-pendiculares ao leito dos rios; com as heranças sucessivas asáreas particulares tornaram-se muito estreitas, às vezes compoucas braças de largura por meia légua de fundo. Esta forma,no lote de irrigação, é muito inconveniente para os trabalhosagrícolas e para os exigidos pela conservação do solo.

Por mais este motivo, a bacia de irrigação deve ser desa-propriada e ocupada, em lotes arrendados, por famílias não pro-prietárias para assim assegurar o aproveitamento mais eficientedas obras.

A NECESSIDADE DE UMA DOUTRINA DAS SECAS

O Governo e o povo brasileiro resolveram, no passado,que o Nordeste seria habitado, decidiram conquistar economi-camente a sua área, determinaram que fossem feitos numerososreservatórios d’água e vias de comunicação. Foi verificado que aprimeira garantia para a vida seria a produção de gêneros ali-mentícios e a irrigação foi iniciada. É sabido que em todos os

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países secos, a cultura regada suscita muitos problemas e entreeles os da drenagem, da terraplanagem, da correção da salinida-de, do ajustamento da população e, sobretudo, o da manutençãodo alto nível da produtividade. A conservação das obras e a re-cuperação da terra são conseqüências obrigatórias da série deoperações impostas pela produção na região, e os seus custosnão podem ser argüidos porque são o preço da nossa sobrevi-vência, aqui. O solo é suor, sangue e vida: “Regarás o solo com

o suor do teu rosto”. E a vida não se avalia em dinheiro.O complexo problema do Nordeste nos seus aspectos: técni-co, social, econômico e jurídico, está a exigir dos nossos dirigentesa concepção de uma Doutrina das Secas. Os quarenta anos de tra-balhos fecundos do DNOCS para amenizar a aridez deram-lheautoridade suficiente para estabelecer uma série de conceitos econclusões como norma orientadora de uma sábia Política de Se-cas. O Serviço Agro-Industrial, com quinze anos de peleja no a-proveitamento das represas públicas, acumulou uma bagagem deconhecimentos, não desprezível, sobre o material humano, a terra,a água e as condições que predominam nos açudes.

Urge definir o uso e o aproveitamento do açude públicoem face das necessidades da população e da atividade privadano açude de cooperação.

Entendemos que o açude público deve pertencer ao Go-verno, incluindo as bacias hidráulicas e de irrigação mediantedesapropriações, que o órgão técnico do Governo faça a conser-vação das obras, estabeleça o arrendamento dos lotes mediantecontrato, no qual fica assegurada a produção de gêneros alimen-

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caráter múltiplo que impõe essa forma principal de aproveita-mento: boa água, bacia de irrigação acessível, terras de qualida-de aproveitada, – e ambiente legal favorável ao desenvolvimentoda cultura irrigada, com preenchimento das funções não só eco-nômica como sociais da obra”.

“Não pode haver dúvida sobre a conveniência da irrigaçãona zona semi-árida brasileira. O sol proporciona uma estação decultivo de zona meses. A chuva limita, precariamente, essa esta-

ção, a três ou cinco meses; nem sempre o que se cultiva pode sercolhido, e por vezes o clima da incerteza se torna em clima decalamidade”.

“Só a penúria extrema levaria o homem a plantar o leitoseco dos rios nas estiagens, adubando, criando o solo, cova acova, ao sol candente, para transformá-lo em hortas, que são ummonumento à fome”.

“O objetivo econômico da irrigação, no Nordeste, é duplo:garantir, antes do mais, as culturas de inverno, nas bacias, paraque as incertezas das chuvas não destruam o trabalho de quemsemeia; proporcionar, em seguida, sempre que possível, em á-

reas variáveis cada ano, com os recursos d’água sobrantes, aextensão, na estiagem, do cultivo”.

“O objetivo social da irrigação, imposto pela ameaça sem-pre independe da seca, é dar proteção contra o flagelo, estabili-dade, ao maior número possível de famílias. Se as obras constru-ídas, se a irrigação facultada, enriquecem apenas alguns, valerãoeconomicamente, será um insucesso referido ao seu objetivo

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“A urgência de uma legislação conveniente sobre as terrasirrigáveis do Nordeste não resulta apenas da necessidade de uti-lizá-las de maneira mais condizente com sua finalidade social.As exigências imperiosas e elementares de proteção, num climatropical, do solo preciso e insubstituível das bacias de irrigação,sujeito que será a influência depletora de um cultivo intensivo,impõem um regime de severa disciplina na exploração dessasterras, para que a falta de rotação de cultivos, de adubação, de

repouso, não venha destruir irremediavelmente a sua produtivi-dade. Tão imperiosas são essas exigências que os agrônomos doDepartamento de Secas, com a experiência da observação doque vem sucedendo na exploração, recente ainda, das nossas

 bacias irrigadas, onde os proprietários, senhores absolutos “nãoentendem e não aceitam conselhos”, advogam, com ardor, nãosó a desapropriação das terras dessas bacias, para seu parcela-mento e colonização ulteriores, por pequenos proprietários, oque é imprescindível, mas a reserva do domínio público sobreelas e sua exploração num regime de arrendamento. Sem chegar,talvez, a esse extremo, porque a propriedade da terra, principal-

mente da terra irrigada, é uma justa aspiração de quem a cultiva,tudo parece indicar que para essas bacias de irrigação, os direi-tos de propriedade devem ser estritamente limitados, inclusive,no que respeita ao regime de transmissão, e isso para evitar, numfuturo muito próximo, o vício oposto ao do latifúndio, o exces-sivo parcelamento”.

“O problema não é simples de resolver, no Nordeste, ondeas grandes bacias de irrigação, o Baixo Jaguaribe, por exemplo,

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 já está em grande parte ocupado e é tudo menos o deserto onde,de maneira quase geral, foram construídos os grandes sistemasde irrigação dos Estados Unidos da América do Norte”.

“Focalizado, pela primeira vez, em 1927, de maneira inci-siva pelo engenheiro Palhano de Jesus, em ligação com o pro-blema de Orós, voltou a ser tratado, em 1940, por comissão es-pecialmente designada para esse fim, e que chegou a organizarum projeto de Decreto-lei, regulando o assunto”.

“Após essa tentativa, lamentavelmente infrutífera, está sendoo problema novamente examinado no Congresso Nacional, mercêdo Projeto de Lei n.º 35, de 1949, de iniciativa do Deputado PlínioLemos, ilustre representante da Paraíba, e que “estabelece normas

 para colonização de terras no Polígono das Secas”.“Baseado em linhas gerais no da comissão de 1940, repr e-

senta esse projeto, com as modificações que parecem de aconse-lhar, e que a sabedoria do Legislativo não deixará certamente deincorporar à futura lei, a maior esperança do desenvolvimentoefetivo da grande irrigação na região semi-árida brasileira”.

No estudo da irrigação como defesa do clima e meio de

vida da população rural, nós temos de considerar os caracteresdo sertanejo, suas qualidades e defeitos em face do pouco de-senvolvimento desta nova forma de atividade. O esforço paraevitar a secura é, antes de tudo, uma união de vontades para me-lhorar o meio, é um empreendimento de equipe, de cooperação.A ação do Governo é parcial e não poderia deixar de sê-lo.

O Nordeste na sua evolução está passando por três fasesbem caracterizadas: 1ª) invasão antiga pelos vaqueiros e coloni-

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zação por povos não aborígines; 2ª) o estudo do meio físico e odesenvolvimento das obras contra as secas; 3ª) o preparo da po-pulação sertaneja para o aproveitamento racional das obras e dosrecursos naturais mantendo a sua explorabilidade em base eco-nômica e conservadora para as gerações futuras.

Não precisamos frisar que a fase mais difícil e mais lenta éaquela de disseminar entre a população rurícola, irrigantes, etc.As noções do cultivo consciencioso da terra, do cuidado na utili-

zação das obras, a economia da água, a importância de evitar osalgo do solo, a necessidade de manter a terra produzindo atra-vés das gerações, etc. Além disto, a irrigação necessita de estu-dos locais e objetivos, de planejamento, de operações sincroni-zadas com mais rigor e de uma universalidade de conhecimentosque as outras formas de lavoura não carecem.

O homem do campo tem o sentido macroscópico das coi-sas, ele não se impressiona com o detalhe e, como, às vezes, aRegião é molhada demais, ele se esquece da irrigação e passa aconsiderar a pecuária e a lavoura de chuvas como fontes funda-mentais, únicas, da vida econômica. Quando surge uma seca, o

homem é novamente surpreendido sem reservas alimentarespara si e para seus gados.

As oscilações bruscas do ambiente criam complexos deexaltação emotiva e de imprevidência econômica na populaçãosertaneja. A abundância e a prosperidade causada pelos bonsinvernos, alternando-se com as misérias das secas, formam aalma pródiga, despreocupada e sofredora do povo que aceita adesgraça como imposição periódica do destino.

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A irrigação é método, é racionalização, é correção de fato-res físicos, é minúcia, é previsão, é coordenação sistemática detodos os elementos da produção, mas os predicados do lavrador,acostumado na lavoura extensiva, são opostos aos atributos re-queridos pela irrigação.

Para criarmos uma mentalidade irrigatória teremos de, atra-vés da educação e do ensino técnico, moldar os hábitos e as idéiasdas gentes que exploram os açudes. Não se faz Agriculturas de

emergência, nem se pode improvisar as operações de uma elabora-ção comandada pelo ritmo lento e imperturbável da Natureza.O planejamento antecipado das obras e dos trabalhos irri-

gatórios, de modo que os serviços pré-agrícolas não sejam atra-sados e os orçamentos de União não sejam enxertados com o-bras sem estudos para satisfazer interesses políticos locais; apreferência da fixação da família pobre no lote regado; a educa-ção, a assistência técnica, médica e religiosa aos dependentes doaçude; o desenvolvimento da pequena indústria aproveitando amatéria prima que o reservatório oferece; o afastamento defini-tivo do interesse individual na irrigação, em empreendimento

público, para predominar o proveito geral, são pontos importan-tes na definição de uma doutrina das secas, capaz de manter acontinuidade da execução de um programa de obras, eficiente.

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mo no sentido do isolamento econômico, o seu egoísmo ou in-clinação de somente esforçar-se por si e para si. O isolamentosocial e econômico é um dos traços mais notáveis do caboclosertanejo.

A solidariedade e a cooperação eram caracteres salientesentre os membros das tribos que povoavam o sertão. A autorida-de, na tribo, não era discutida e os encargos de cada um, na vidada família, eram executados a tempo e em harmonia.

As procuras de alimentos, as fugas das secas ou migra-ções, se faziam de comum acordo e a harmonia das famílias, natribo, se mantinha coesa.

Os contatos, as imitações e as repulsões que se deram noencontro do gentio com os brancos, acompanhados de negros,foram em grande parte ocasionados no trabalho. O gênero devida do ameríncola baseava-se no passeio da caça e da pesca – trabalho recreativo; o branco dominador almejava lucro – traba-lho produtivo e o preto indiferente sentia na carne o peso dotrabalho – castigo.

Somente as práticas e os afazeres de absoluta necessidade

subsistiram na tripla assimilação de raças; os hábitos essenciaisrepetidos limitaram a órbita em que se movia a inteligência ecristalizaram a rotina. A vida familiar tribal, demais absorvente,restringia a iniciativa individual, desenvolvia as instituições co-munais, produzindo um estreito para o indivíduo. O individua-lismo, inovador e quebrador de rotina foi surgir depois de desa-parecida à civilização indígena e não foram totalmente aprovei-

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homem americano, na idade do bronze, sob as condições de con-tinente e num regime monárquico absoluto.

William Prescott em “História da Conquista do Peru” nosnarra que as águas das geleiras fundiam-se e escorriam para oslagos; os canais revestidos de pedras, com centenas de quilôme-tros, atravessavam morros em túneis e regavam os vales em sul-cos e as encostas por meio de terraços de pedras com solo colo-cado à mão. A terra pertencia ao Governo, cada um trabalhava o

seu lote, cuja área aumentava ou diminuía conforme o númerode filhos. A quantidade d’água para cada talhão era estabelecidaem lei, não escrita, e fiscalizada pelos “vedores” que tambémrecebiam a parte das colheitas, pagamento do aluguel do solo,que cabia ao Rei e a armazenava em depósitos para o consumodo povo nas épocas da escassez.

A vida dos Incas era simples e natural; o regime políticoera a monarquia absoluta; a religião consistia na adoração ao sol.

O solo peruano, pouco fértil e arenoso, era adubado com oexcremento das aves marinhas ou com as sardinhas pescadas nascostas do Pacífico.

A civilização conservadora dos indígenas zelava pela pro-dutividade do solo, cuidava da sobrevivência das aves que lhesforneciam o guano, estabelecia as épocas próprias para as caça-das da Ilhama, do guanaco e da vicunha que lhes davam animaisde trabalho, lã, peles e carne e a devastação da vegetação nativanão era permitida. Eles conheciam, por experiência própria, osperigos do desperdício dos recursos naturais no clima seco.

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Depois do estudo das obras e da resolução de suas execu-ções pelo Imperador, os profissionais construtores de canais eaquedutos dirigiam os indígenas especializados no corte dasrochas com ferramentas fabricadas de ligas metálicas, endureci-das, e orientavam os nivelamentos dos condutores d’água atr a-vés de centenas de quilômetros nas encostas e nos vales.

Os túneis e os canais eram revestidos de pedras com as juntas argamassadas.

Quando o sistema estava em condições de funcionar orga-nizavam-se a colonização do mesmo com os “mitimais” trazidosdas outras regiões do País. O cultivo da terra era coletivo oumais ou menos semelhante ao nosso mutirão.

Plantavam milho, feijão, inhame, bananeiras, fumo e bata-tas. As lavouras obedeciam a certa prioridade: primeiro planta-vam os campos das viúvas, depois os dos órfãos, os dos enfer-mos, os dos velhos e, por último, as plantações do povo, as doImperador e as do Sol.

A aplicação da água de irrigação e o controle da erosão e-ram fiscalizados pelos “vedores”.

A agricultura era uma instituição do Estado; o Imperador eos Nobres, para darem o exemplo ao povo, também aravam aterra com arados de madeira e pontas metálicas, puxados pordois homens.

Grandes muros de pedras, em forma de terraços eram levan-tados nas encostas e o solo fértil dos baixios era carregado e colo-cado sobre as banquetas para nutrir as “lavouras de degraus”.

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mento, o isolamento e a anulação de qualquer iniciativa de tra-balho exeqüível para proveito de todos.

A sociedade atual é egoísta porque os seus membros pen-sam e agem egoisticamente. A excessiva liberdade de iniciativapessoal ou os direitos jurídicos do cidadão embaraçam ou estor-vam o cumprimento dos deveres individuais no plano da harmo-nia geral.

A educação pode corrigir os defeitos da Organização So-

cial; pelo menos restringindo a ambição, ela atenuará os atritosdos grupos humanos.A coesão da classe rural é a necessidade mais premente,

no momento, para os produtores se fazerem ouvidos, reivindica-ram “um lugar ao sol” e tomaram parte nas decisões governa-mentais, das quais se acham excluídos.

As concentrações de flagelados que se formaram nas secaspassadas, tiveram por finalidade receber alimentos do governo. Oespírito do trabalho em equipe é quase nulo, ele se manifesta timi-damente nos “mutirões”, nos adjuntos, para logo desapar ecer.

Em trezentos anos a Civilização Nordestina pode ter evo-

luído muito na técnica das comunicações, no emprego das má-quinas em geral, no regime político, na alfabetização parcial,etc., porém ela regrediu tremendamente na cooperação, na har-monia grupal, na união do trabalho mútuo, nas qualidades dosindivíduos como unidade da multidão.

O que a comunidade ganhou na rapidez em transmitir opensamento, na confecção do sistema político, na assimilação deprincípios científicos, etc., ela perdeu em atributos outros desen-

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probidade é a baliza da prosperidade e esta é um dos fatores dafelicidade.

O colono que labutar pensando somente em si e na suafamília está desservindo a causa da irrigação porque, no peque-no lote, ele não poderá vencer produzindo as suas colheitas ven-dendo-as isoladamente e comprando individualmente tudo o queprecisar. Não conseguindo êxito o colono será um insatisfeito eum revoltado.

No açude, a cooperação ou a associação tem de ser a regraque assegurará o sucesso e que manterá a estabilidade do sistemaprodutor – distribuidor – comprador, assim como o conjunto vegetalna floresta garante a vida e o crescimento de cada árvore.

Da comunhão do colono com os seus semelhantes nasce asua força como indivíduo; o seu alheamento é o colapso do po-der pessoal.

O nomadismo é a pior conseqüência das secas, é a destrui-ção da família quando esta, abandonando o lar, sai pelas estradasem busca do alimento e a mãe adoece, os filhos fogem ou o pai“larga” a “obrigação”.

No estado evolutivo atual no Nordeste o nomadismo ou amorada periódica, inventada pelos índios como fuga das secas emeio de perseguir ou apanhar as caças ou maneira de obter ali-mentos, é prejudicial ao Estado, à Sociedade e à Família.

A emigração foi imposta ao íncola da Zona Seca pela pre-cariedade momentânea da habitabilidade do ambiente; se estefosse permanentemente farto teria se desenvolvida aqui umasociedade mais sedentária.

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gado, o índio e as forragens naturais se incumbiriam de lhe tra-zer as proteínas e os minerais de grande poder nutritivo, para amistura com os carboidratos do açúcar e da rapadura; e por istonão se estabeleceu, em larga escala, um método artificial de la-voura regada, e nem a conservação das forragens e dos alimen-tos – práticos imprescindíveis no progresso das regiões.

E assim permaneceu a terra seca sem evoluir para umaforma mais técnica da agricultura que não fosse colher o algo-

dão mocó, a carnaúba, a fabricação da farinha, as criações degados, etc.O homem amoldou-se ao chão seco, não tentou modificar

para melhor o “habitat ” até o limite do possível, não se preocu-pou em criar um método de tornar a caatinga mais verde e con-fortável.

Aconteceu, porém, que os habitantes cresceram em cabe-ças, que as estradas e os caminhões percorreram as chapadas elevaram o nosso algodão, ceras, óleos, etc., para o estrangeiroem pagamento das nossas dívidas resultantes da importação e-xagerada de automóveis, de geladeiras, de objetos de matéria

plástica, etc., deixando-nos mais uma vez sem numerário paracustearmos as lavouras, para estendermos maior irrigação, para,enfim, dobrarmos as colheitas.

As raças que nos produziram não eram, nenhumas delas,dotadas de alta técnica agrícolas.

A irrigação não se amplia sem a cooperação porque ela é,no Nordeste, uma questão social antes de ser um fator econômi-

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co, de necessidade ora transitória, ora permanente, conforme operíodo, se chuvoso ou seco.

No nosso caso não é preciso somente ter o engenheiropreparado para executar obras sob condições difíceis; o maisimportante é a popularização do bom aproveitamento, em largaamplitude, dos empreendimentos irrigatórios porque assim estáexigindo a pressão interna da população.

A densidade da população e as imposições da vida moder-

na condenam a antiga estratégia dos avanços e dos recuos ou ohábito da moradia no sertão nos anos chuvosos e mudança paraoutro “centro” quando surgir uma seca. A técnica moderna, ex-tremamente complicada de “corrigir” o clima, não nos permitetolerar o nomadismo, nem o isolamento e o egoísmo dos habi-tantes, sob pena de vermos os nossos esforços anulados.

A hostilidade de uma crise de seca eliminava impiedosa-mente o índio que contrariava a sua tribo como hoje castiga oflagelado que deixa a sua casa e se aventura nas estradas. Ascondições precárias de vida são as que mais exigem união e de-fesa mútua.

O homem nordestino revelou-se ótimo elemento na tarefada açudagem, das estradas, etc., como assalariado do Governo,pela sua perícia na condução de máquinas, na sua vivacidadeintelectual de aprender prontamente ofícios variados, na suaenergia e destreza de movimentos, mas, feito o açude e o canal,aquele homem não desenvolveu a lavoura irrigada, como seriade esperar do seu grau de atividade e da sua versatilidade.

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Os problemas das secas, como em geral as questões brasi-leiras, tornam-se difíceis porque falta a uniformidade de idéiasentre governantes e governados, porque não existe a sincroniza-ção na ajuda da população aos objetivos de Administração doEstado, porque a colaboração privada é deficiente, enfim, por-que a educação cívica e moral das massas está muito atrasada eo povo não compreende o valor do auxílio mútuo.

O proprietário retarda o seu concurso integral do desen-

volvimento da irrigação porque já tem do que viver, mas a famí-lia pobre tem se interessado e procurado participar do lote irri-gado como meio de conseguir alimentos.

O indivíduo, o grupo e a família não estão agindo em e-quipe como é necessário para integrar a ação governamental,porque o Nordeste, às vezes, é rico demais para precisar fazer airrigação.

Alguns homens ou fazendeiros estão realizando serviçospermanentes de lavouras irrigadas, dando exemplos admiráveis,porém os seus esforços diluem-se diante da imensa área seca eda paradoxal indiferença coletiva. Somente nas crises de secas,

como em 1942, houve interesse particular nos plantios sob irri-gação, porém mais por parte das famílias pobres do que dosproprietários. O homem de haveres, aquele que possui gados,que negocia com algodão ou que tem outras fontes de renda, nãose interessa pela irrigação porque esta é muito trabalhosa e pedeatenção constante.

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Somente aquele que necessita alimentar a família tem de-monstrado esforço na prática da irrigação. É irrigante por necessi-dade.

Um povo com a mentalidade do judeu construindo o solosobre os cascalhos da Palestina e uma gente que tem a coragemde carregar a terra de longa distância, para fazer lavoura comofez o inca, têm a persistência, a convicção e as qualidades quedão a vitória na irrigação.

A IRRIGAÇÃO E A EDUCAÇÃO

O homem para aproveitar uma natureza anfíbia, para sal-var-se de uma seca traiçoeira ou para escapar de uma cheia dilu-vial precisa, além de conhecimento do ambiente, de estar prepa-rado material e espiritualmente. O nordestino tem qualidadesadmiráveis de caráter, de inteligência e de resistência orgânicapara lutar com o clima, porém, nos anos chuvosos, ele se esque-ce da seca e quando o sol queima a última folha não se lembramais das cheias. Ele precisa estar armado para resistir os cho-

ques das variações bruscas dos elementos físicos com a sereni-dade da prudência.

Na defesa contra as secas o Governo se lembrou das bar-ragens, das estradas, etc., mas esqueceu-se do homem e da suapreparação para uma existência de luta no meio seco. A educa-ção popular, que habilita a família a viver contente e produzindobens para a coletividade, é a grande finalidade de qualquer sis-tema de Governo.

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fluência climática, apesar de poderosa, não é única na plasmaçãode raças e na decisão de sua evolução.

Na educação das massas e na herança dos caracteres hu-manos das raças cruzadas há uma imensa possibilidade para omelhoramento da ambiência, para o progresso material e moralda população. Embora esta evolução pela educação dependa doesforço do povo, ela deve ser provocada, preparada e precipitadapela ação orientada dos governos e dos homens bem dotados

moral e intelectualmente.Os problemas do Polígono Seco têm sido encarados pelostécnicos com o raciocínio lógico exigido nas soluções científicase a população quer resolvê-los pelo sentimento. O povo sempreenxerga os fatos pelos olhos de emoção.

A ignorância é uma fraqueza porque não facilita a orienta-ção das possibilidades na direção dos objetos colimados.

A indiferença e a ociosidade são prazeres que não devemser permitidos na época atribulada, atual.

Os dois processos de herança humana são o da continui-dade das células germinativas e a transmissão das experiências

de uma geração à outra pelo exemplo, pela repetição e pela lin-guagem falada ou escrita.

Desde o nascimento até a maturidade, a educação pode al-terar o procedimento ou os hábitos de vida permitindo o adian-tamento técnico que adapta o homem à labuta quase aquática dairrigação. A tradição criou, aqui, o caboclo enrijado da caatinga,seco e duro como vara de pau-ferro, de espírito independente,que galopa no cavalo para pegar o boi, mas que nenhum conhe-

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cimento tem da prática pantanosa e sedentária da irrigação, naqual a monotonia substitui a aventura e o nomadismo. O sertane-

 jo de “costumes secos”, comedor de farinha e rapadura, isola-cionista, precisa ser transformado na família gregária, de “hábi-tos aquáticos” para com sucesso, ser introduzida nos açudes.

No mister da lavoura extensiva, de chuvas, abstraindo-seos estragos do solo, o matuto é um sabido, porém, na minudên-cia da cultura regada, ele é um inábil.

Somos todos agrônomos, professores, padres, médicos,comerciantes, etc., responsáveis parciais pela não preparaçãocívica e técnica dos habitantes sertanejos. Cada homem esclare-cido e cidadão consciente, que desfruta os benefícios da era mo-derna, sem contribuir com os seus esforços pessoais na ajudaeficiente, desinteressada e patriótica que merece a classe que oalimenta, é indigno da sociedade.

Esta população atrasada e suja do interior é a parte maisverdadeira do Brasil, que devemos melhorar dia a dia, em açãoconjugada, nos conhecimentos técnicos e na convicção geral deque exclusivamente a união do saber, do poder e da vontade

podem conduzir-nos a uma vitória coletiva.Não resta a menor dúvida de que é indispensável um re-

gime especial, conservador e intensivo, para os açudes preen-cherem as suas múltiplas funções sociais e econômicas; e queeste aproveitamento exige a preparação das gerações novas.Uma vez estabelecido o colono irrigante na terra desapropriadapelo Governo, criada a cooperativa ou sociedade, ele passará aviver como unidade de um conjunto organizado para produzir,

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vender e comprar. Mais ainda: o filho aprenderá cada dia algu-ma coisa a respeito da produção, da adubação, da venda, dacompra dos objetos necessários, da leitura e da escrita, da im-portância de ajudar os outros, do valor da harmonia entre os co-lonos e, sobretudo, da decisiva influência do seu esforço indivi-dual no melhoramento incessante da sua comunidade. A ação doGoverno, através dos contratos e por intermédio da assistênciatécnica suprirá, no início a deficiência de conhecimentos dos

associados.Como o tempo, a educação dos meninos e meninas, dadasde modo prático e dentro da labuta diária formarão os elementoslíderes, mais conscientes e entusiastas, da obra que é de todos efeita para a grandeza da região.

A modificação da vida pela evolução da ciência pode serapontada na alteração da Zona Seca pelas obras de engenharia;não há mais lugar para o nomadismo, para o eterno olhar para océu e lamuriar; o sertão seco, espinhento, foi rasgado de estra-das, tapado de açudes e enchido de gente; o sertanejo nascido doíndio saiu da caatinga percorrendo as estradas e olhando a água

sem saber o que fazer dela. Dois mundos se chocaram: um quequer ser novo e outro que permanece velho.

A população se desajeitou do ambiente; não existe mais afase indígena coletora e caçadora; as exigências políticas e geo-gráficas impõem trocas vantajosas no comércio internacional;temos de aceitar a era da máquina, da ciência e da rapidez paranão sermos esmagados na concorrência, mas para ele não estãopreparados os oitenta por cento da população.

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Ouvindo o rádio, o sertanejo aprendeu que tem todo o di-reito de bem estar, mas não se lembrou que, vindo ao mundo,ele, também, assumiu compromissos e contraiu deveres paracom os seus semelhantes. O eu olvidou o nós.

A alfabetização pôs na mente de cada um a ambição ilimi-tada, o desejo indomável do gozo de cada conforto, mas não deuas qualidades para a consecução ampla dos bens econômicos.

A instrução, sem o freio da aprendizagem técnica e da

conduta moral, carrega sempre a coletividade para a ribanceiradeficitária.A ordem econômica é importante ao lado da ordem social,

para evitar o pauperismo que é o campo propício para a desor-dem e a intranqüilidade.

A educação e o trabalho na agricultura merecem uma novadoutrinação. O trabalho para o ameríndio era um brinquedo;para o negro o labor era o sofrimento; para o branco, um negó-cio. Estes três conceitos do trabalho colidiram-se na fusão dasraças e a faina agrícola ficou considerada como ocupação degente inferior.

Aos poucos começou a imperar a cronicidade dos déficitse com ela a falta de numerário para a agricultura.

A educação tem de reabilitar a dignidade, a grandeza e asvirtudes da labuta rural.

A seca tem de ser vencida com o trabalho metodizado,perseverante, paciente e científico da população porque não adi-anta os técnicos construírem obras hidráulicas na frente e oshabitantes continuarem a devastação atrás. Seria construir com

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as mãos e desmanchar com os pés. A açudagem e a devastaçãosão duas obras antagônicas, uma que cria e outra que destrói,uma intensiva e outra extensiva, uma lenta, outra rápida. Não éinteressante fincar açudes em cada grota se o povo vem atrásmetendo o machado na vegetação nativa, protetora do solo e davida. Um deserto açudado baniria o habitante. Não basta a açu-dagem, não é suficiente irrigar, é preciso ir além, ir mais fundona questão, e educar o homem para salvar este restinho de vege-

tação, de cobertura verde, que mantém a vida aqui, que é a arti-lharia de grosso calibre para impedir a invasão do deserto.Se não conjugarmos o efeito corretivo das obras hidráuli-

cas com a função protetora da vegetação nós agiremos comogafanhotos destruídos e não imitaremos a ação construtiva dasabelhas.

A população precisa compreender que a obra é o meio, ohomem é o fim; precisa sentir a dependência ecológica e semió-tica dos seres vivos e saber que arrancar dinheiro do sertão dequalquer modo é matar a galinha dos ovos de ouro.

A nossa civilização atingiu a perfeição de gerar este mons-

tro paradoxal: o homem que gasta muito, que pede muito con-forto e que produz mal; ela preparou um tipo de criador que nãofaz feno para alimentar os seus gados na seca, mas compra rádioe geladeira.

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O homem se comporta de acordo com as suas necessida-des, mas também se orienta pelas suas idéias.

O Serviço Agro-Industrial vem há anos mantendo escolasrurais práticas nos açudes; são sete escolas que deram três mil evinte e uma (3.021) aulas em 1952 freqüentadas por quatrocen-tos e trinta e sete (437) alunos e alunas.

Nós mentiríamos se disséssemos que o ensino nestas esco-las é completo. Há um programa misto de alfabetização e de

prática agrícola, porém a questão do professor ou professora estálonge de solução.As escolas dos nossos postos agrícolas devem exaltar as

vantagens da aridez; intensificar a simpatia e o entusiasmo cons-ciente pela açudagem e irrigação como fontes de riquezas per-manentes a que o Nordeste realmente deve almejar; deve dariniciativa ao aluno para obter os proveitos da ambiência privile-giada com a água e criar a sensação do bem estar pela missão dealimentar a comunidade; uma educação que estimule o espíritocooperativo e a alegria, virtudes que aliam os homens e solidari-zam as famílias.

A educação e a instrução devem atender o sertanejo na ne-cessidade econômica − subsistência; nas exigências da higiene – saúde e nas carências espirituais  – desejo e boa vontade de ser-vir à comunidade.

O ensino rural tem pouca eficiência porque ele requer umprofessor perfeito, que seja um didático, um lavrador, um en-fermeiro e um conhecedor das qualidades humanas, ao mesmo

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tempo. Este homem complexo é muito difícil de ser achado numPaís em que a quase totalidade gosta da cidade.

O nosso programa é o açude como centro de interesse; aágua, o solo, a vazante, a irrigação, o peixe, as máquinas, osanimais, a cooperativa, a conservação do empreendimento e acomunidade.

O assunto da escola é a vida da comunidade material e es-piritual, porque a educação é a vida em si mesma e não uma

preparação para a vida.As aulas não podem girar em torno do professor, como écomum, é sim abranger o tema do dia, em demonstração lá foradas quatro paredes, no campo, onde a aprendizagem se manifes-ta na multiplicação do trabalho cotidiano.

O Chefe do Posto Agrícola comanda um mundo em minia-tura; ele tem de ser líder, um administrador e um técnico; acres-centaríamos mais, também um educador.

A educação no Polígono Seco precisa ter o mesmo caráterduplo das obras contra as secas: intensiva nos açudes, extensivana terra seca.

A preparação do povo para evitar a devastação da vegeta-ção nativa, para impedir a “saarização” do Nordeste, é tão im-portante quanto à construção de obras hidráulicas.

A educação da família na Zona Seca tem de ser feita in-tensivamente nos açudes onde há ao mesmo tempo, água, solo,plantações, agrônomos, máquinas e instalações. Nestas escolasdos Postos Agrícolas, seriam ministradas, além das aulas de al-fabetização, também a parte prática, agrícola, abrangendo tudo o

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que diz respeito à vida em torno do açude. O habitante da terraseca, circunjacente, também poderia receber ensinamentos aí,principalmente os de fenação, os de melhoramentos dos pastos,os da conservação do solo, etc.

Para a educação das populações fora do alcance dos açudes asolução poderia ser pelo melhoramento dos programas das escolasexistentes, pela organização de um ensino ambulante, de caráteragrícola, fazendo demonstração em cada fazenda e exibindo filmes

preparados para cada operação prática que se deseja ensinar. Umacamioneta ou caminhão equipado com uma máquina de exibição,filmes, cartazes, materiais agrícolas necessários nas demonstrações,acompanhada por um agrônomo ou técnico com bastante experiên-cia nos assuntos, percorreria cada zona do Estado, ensinando edivertindo ao mesmo tempo os moradores.

Os professores para estas escolas e para este ensino ambu-lante seriam preparados à medida que o programa escolar fossese desenvolvendo.

Finalizando, temos a dizer que o desenvolvimento da irri-gação, em grande escala no Nordeste, não depende somente do

açude, dos canais e do agrônomo; são necessários ainda, entreoutros, muitos fatores; a cooperação dos irrigantes entre si, aeducação ruralista da população, a não devastação da vegetaçãonativa para impedir a intensificação da aridez, a sanção de leisexeqüíveis sobre a exploração de açudes, a regulamentação dalei 1.004, que proporciona financiamento ao irrigante pobre, emcolônias, em forma cooperativa ou associativa.

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O TAMANHO DO LOTE

Excluindo as terras devolutas não é fácil encontrar-se um lati-fúndio, no Polígono. Referirmo-nos à fazenda grande, de um indiví-duo, que tenha os seus documentos de propriedades, legalizados.

A maioria das propriedades é de área reduzida, especial-mente, nos aluviões fluviais e nas manchas úmidas.

No levantamento agrológico e censo agro-econômico da ba-

cia de irrigação do açude Orós, foram encontrados lotes individuaiscontendo duas braças de largura por meia légua de fundo.Há fazenda e sítios de superfícies grandes, porém poucos.As heranças sucessivas, e o aumento da população reduzi-

ram as áreas particulares ao mínimo, impossibilitando a explora-ção agrícola, econômica e impedindo a aplicação de medidasconservadoras da produtividade do solo.

O Engº. Agrº. J. Quintiliano Marques na sua excelente pu- blicação “Política de conservação do solo” chama a atenção dospoderes públicos e dos técnicos para o controle das característi-cas indesejáveis nos imóveis agrícolas, das práticas agrícolas

inconvenientes, etc., como evitar o insucesso na exploração deimóveis de forma inadequada ou por processos condenados,pois, estes processos são prejuízos para a coletividade, causamdesajustamentos sociais e retardam o progresso local.

No açude público a administração precisa estar muito a-tenta no sucesso financeiro do arrendatário do lote. Pela nossaexperiência julgamos que dez ha de faixa seca e um ha de va-zante, na bacia hidráulica, permitem a família viver modesta-

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mente. Nas bacias de irrigação cinco a dez ha proporcionarãomelhor padrão de vida. As áreas utilizadas e irrigáveis, nos açu-des, são muito pequenas para atender ao grande número de famí-lias solicitantes.

Para entender as trezentas mil (300.00) famílias e dar-lheselementos de trabalhos nós precisaremos conseguir cerca de doismilhões de (2.000.000) ha de terras irrigadas. Não existe tal áreaem condições de ser artificialmente molhada, por gravidade, no

Polígono Seco.Este superfície terá de ser completada com outros solos,mediante elevação mecânica das águas dos rios e dos lençóisabundantes, onde eles existirem.

O autor e o Engº. Agrº. Waldyr Liebman fizeram um en-saio sobre o tamanho do lote familiar, irrigado, no Instituto JoséAugusto Trindade, em 1938. O Boletim da IFOCS publicou oresultado deste estudo econômico-social. Tem sido baseado nes-te estudo que o SAI tem apresentado sugestões aos projetos delei de irrigação da autoria do Deputado Plínio Lemos e SenadorOlavo Oliveira.

O lote familiar grande facilita mais a conservação do soloporque é possível o alqueive mais demorado, porém, como não égrande a área irrigável do Nordeste, em face da população, te-mos de reduzir a superfície do lote para atender maior númerode famílias.

O minifúndio tem grande valor social e baixa expressãoeconômica. A grande fazenda é uma fábrica de numerário, po-rém não tem significado social.

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Falamos de um modo geral.Para aliar a produção de altos rendimentos financeiros com a

densidade de população dos lotes familiares, em torno dos açudes,nós teremos de explorar todo o reservatório como uma célula agríco-la, sob uma única administração – a da cooperativa ou sociedade – que faça todas as operações de compra e venda, em grande escala,que industrialize as colheitas, que empreste dinheiro à família doirrigante e que esta, lavrando o seu lote, entregue as safras ao orga-

nismo supervisores juntamente com a sua confiança.Todos nós sabemos que o lucro do pequeno lavrador é ínfimo,quando ele opera isoladamente, porque os seus conhecimentos sãomuito limitados para vencer a complexidade da agricultura, porquetrabalha em pequena escala por causa dos grandes riscos ocasiona-dos pela falta de chuvas, variação dos preços e o aparecimento depragas, e, enfim, porque a agricultura é sugada por todas as outrasprofissões.

O açude, com as suas águas e terras circunjacentes, é uma fá-brica de alimentos que trabalha vinte e quatro horas cada dia, quenão aceita feriados e não respeita os domingos; é uma indústria or-

gânica que não importa as matérias primas, porém a eficiência daelaboração é muito baixa. A planta somente aproveita dois por centoda energia radiante, solar, para elaborar compostos químicos, orgâ-nicos, e para cada quilo de produto colhido, o lago artificial precisaperder dois mil (2.000) quilos de água.

Não podemos ajuizar da importância do reservatório pelas ci-fras da sua produção em cruzeiros, mas, sim, pelos estômagos nutri-dos e emoções acalmadas.

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Se montássemos uma usina de açúcar em cada açude obtería-mos, sem dúvida, algarismos mais eloqüentes na produção, porémnegaríamos vantagens humanitárias à obra.

OS AÇUDES PÚBLICOS E A PRODUÇÃODE SEMENTES SELECIONADAS

A qualidade das sementes de milho, feijão, arroz, de algodão,

etc, que são plantadas anualmente nas lavouras de chuvas, deixamuito a desejar. Tem havido razões para assim acontecer. É queselecionar e multiplicar, todos os anos, espécies alimentícias, comchuvas irregulares é quase impossível.

Para se obter uma semente de milho de linhagem pura são ne-cessários seis anos de auto-fecundação continuada. Um ano de másprecipitações é o suficiente para a perda de semente e anulação dostrabalhos despendidos. Para conseguirmos o milho híbrido, que dáum rendimento, na colheita, maior que trinta por cento do que assementes comuns precisam ter duas variedades puras, cruzantes. Airrigação garante este trabalho sem interrupção.

A seleção do milho no IJAT começou em 1937 com o zelo e adedicação do renomado Agrônomo Manoel Tavares de Melo Caval-cante Filho. Muitos dos trabalhos do Instituto, inclusive as primeirasconstruções e a organização da parte do campo, resultaram da inicia-tiva e do esforço daquele colega.

A partir de 1942 o Agrônomo Clodoaldo de Oliveira Carvalhodesenvolveu a seleção por linhas puras das variedades “Catete” e“Amarelão” e, em 1947, o milho híbrido começou a ser fornecidos

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aos irrigantes para o plantio. Não houver interrupção no trabalho e,no momento, estão sendo tomadas as providências para a produçãodas sementes híbrida de milho, em larga escala, para o plantio forados açudes.

O fazendeiro seria mal sucedido se tentasse selecionar o milhopor linhas puras, na sua fazenda, com a irregularidade das chuvas.Mas ele pode plantar a semente híbrida comprada no açude todos osanos ou fazer a seleção em massa na sua lavoura desde que este seja

oriunda de semente selecionada, não híbrida.Também o arroz, variedades “Matão” e o “Pratão” feijão decorda, variedade “Careta” estão sendo selecionados em São Gonçaloe plantados nos açudes. No Posto Agrícola do açude “Lima Cam-

 pos”, o Agrônomo Manuel Morais está realizando a competiçãocultural de cinco variedades de arroz, sob irrigação.

No Posto Agrícola de Condado o Agrônomo Trajano Pires daNóbrega iniciou, em 1948, um ensaio de competição de cinqüentavariedades de mandioca; repetiu-o no ano seguinte com vinte e qua-tro variedades e, em 1950, continuou reduzindo-o para a comparaçãode doze variedades. Todos os ensaios foram irrigados e visa, com o

tempo, obter duas ou três variedades mais resistentes, mais precocese de maior rendimento em amido.

A produção de mudas enxertadas de laranjeiras, de manguei-ras, de oiticica, etc., o fornecimento de sementes de sorgo, de feijãogandu, de capim rhodes, de capim sempre verde, etc., podem serfeitos pelos açudes para melhorar a agricultura lá fora, acrescentan-do, assim, mais uma utilidade ao reservatório.

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As áreas irrigáveis são pequenas, porém o bom aproveitamen-to dos açudes impulsionará o melhoramento das lavouras de chuvas.O açude particular precisa desempenhar a sua função nesta campa-nha de garantir e ampliar as lavouras principais na Zona Seca. Aprodução da boa semente, em grande quantidade, para o plantio dalavoura matuta, a conservação dos cereais, em silos metálicos, nacasa de cada família sertaneja para atravessar as épocas de escassez,auxiliarão muito na solução dos problemas do Nordeste.

O valor produtivo do açude não pode circunscrever-se somen-te nas vazantes, nas irrigações e na pesca, é muito mais do que isto: éuma garantia, na seca de toda a vida animal que pulula em torno. É oaçude que permite a exploração da terra seca.

Esta função da açudagem nunca foi analisada. As vazantes, aslavouras irrigadas e a pesca, cujas produções em todos os açudes,são grandes, são os frutos imediatos dos reservatórios, porém, nãosão os únicos. Os estudos das plantas da terra seca, como: oiticica,favela, carnaúba, pinhão bravo, pega-pinto, mata-pasto e outras e aseleção de sementes foram e estão sendo realizados porque a açuda-gem tornou possível a vida permanente no sertão, porque o açude

criou um clima científico de estudos locais porque o reservatóriopermitiu a conquista da terra seca. As plantas industriais, xerófilas,proporcionadores de grandes riquezas, não são culturas para a baciade irrigação, elas bastam-se com as chuvas caídas, elas são áreasacrescentadas pela represa sem gastar uma gota de sua água.

Ninguém poderá predizer a quantidade de gado criado e en-gordado, fartamente, com os fenos das forrageiras nativas, aprovei-

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tadas, que, outrora, desconhecidas, estão, agora, sendo estudadas noInstituto José Augusto Trindade.

O sertanejo de hoje não pode avaliar o efeito da seleção dasplantas no rendimento futuro, o valor do cruzamento dos vegetais naresistência contra as pragas e as moléstias, o alcance do cruzamentoacompanhado da seleção, na obtenção da raça bovina produtiva,própria para o clima seco. É cedo ainda para a grande massa da po-pulação letrada e iletrada compreender o significado da grande obra

que ainda está nos alicerces. Estas áreas serão prolongamentos dosaçudes e, talvez, elas não pudessem existir se a represa não permitis-se o estudo da flora xerófila e o seu aproveitamento, se o reservatórionão fornecesse elementos para o técnico viver no sertão, observando,sentindo, acompanhando, verificando tudo de útil que a natureza,chamada agressiva, oferece ao homem. A exploração de minériosraros, estratégicos, tornou-se possível porque o açude deu água parao seu beneficiamento, para os homens e animais empregados na suaextração e porque enfim, o lago artificial produziu alimentos na for-ma de cereais, peixes e forragens. Pelas razões expostas acima a

 ÁREA DE INFLUÊNCIA PRODUTIVA do açude não tem limites, e

ela nunca poderá ser medida.O Engenheiro Vinícius Berredo em “Obras Contra as Secas”

teve estas frases lapidares: “O açude, no Nordeste, é como um tem-plo. E se os milagres da fé fizeram surgir, a cada canto, as igrejasmodestas onde se abriga a devoção do sertanejo, por que descrer damultiplicação dos açudes, também baluartes contra as incertezas dofuturo?”.

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SEXTA PARTE

 A MANUTENÇÃO DA PRODUTIVIDADE DO SOLO NO NORDESTE SEMI  –  ÁRIDO

A FERTILIDADE E A SAÚDE

Quimicamente falando, a fertilidade do solo depende dos

quatro elementos nobres: azoto, fósforo, potássio e cálcio quedevem existir em maior dose; dos “infinitamente pequenos”:ferro, zinco, cobre, manganês, enxofre, cobalto, magnésio, boro,sódio, alumínio, etc., e da matéria orgânica com os microorga-nismos constituindo a parte viva, coloidal e ativa.

O azoto, existe no solo na forma solúvel de nitratos, etc.,promove o crescimento das plantas, faz parte das células e geraas proteínas vegetais; o fósforo é o agente da frutificação nasplantas, do qual depende a formação das sementes e a reprodu-ção; o potássio, na forma de clorofila, age na fotossíntese e temmuita importância na formação dos amidos e açúcares.

Os compostos de cálcio têm influência na constituição dasparedes das células, na migração do amido nas diversas partes daplantação, na formação das radicelas e neutralização dos ácidos.

O papel exercido pelos minerais infinitamente pequenosna fisiologia vegetal é múltiplo: eles formam enzimas e vitami-nas, produzem antídotos contra a toxidez, aumentam a resistên-cia das plantas contra as doenças, têm efeitos estimulantes ecoloidais, auxiliam as reações microbianas, mantêm outros ele-

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mentos reduzidos ou oxidados e são essências para vida e ocrescimento.

A matéria orgânica, detritos, resíduos em decomposição, éo traço de união entre o complexo inerte dos minerais e o mundovivo das plantas. Ela é substância viva no corpo das plantas eanimais, ora está “morta” no solo como humo trabalhado pelosmicroorganismos que ligam dois reinos minerais e vegetais.Continuamente se transformando de matéria viva a cadáver e

vice-versa, assumindo a dupla função de sintetizadora e de de-sagregadora, a matéria orgânica é o laboratório onde os micró-bios reduzindo e oxidando, ajuntando e decompondo, misturan-do e sintetizando, com ácidos e bases, com água e com calor,extraem das rochas pulverizadas os elementos primários quepermitem manter em vida constante os chamados vegetais e a-nimais superiores.

O progressivo conhecimento da química do solo, os escla-recimentos da composição das plantas e as conquistas da inves-tigação da nutrição humana e animal trouxeram aos cientistas aconclusão de que a vitalidade dos seres vivos começa na terra.

Conseguir-se uma forragem que contenha proteína, hidratosde carbono, minerais, já é alguma coisa, porém está muito longe deser tudo. Um homem pode ingerir diariamente compostos azotados,amidos, gorduras, açucares, sais minerais e ser um doente da nutri-ção. Habituamo-nos a medir o grau de produtividade da terra pelosteores de fósforo, potássio, azoto, cálcio, aliados a um conjunto depropriedades físicas. Sem dúvida foi um grande passo. Mas a Natu-reza fica sempre com o incógnito para, na última hora, esmagar o

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homem na sua sabedoria. Há uma cadeia interdependente entre omundo inerte dos minerais, a obscura população microbiana, asplantas, os amimais e o homem. A terra forçada pelo intemperismo,pela ação microbiana e pela fome das plantas, cede àqueles mineraisque ela tem; os vegetais, na acomodação ao ambiente e tolerância,vão crescendo com os elementos conseguidos mesmo sob o regimede carência parcial.

A composição mineral do chão varia muito e poucas são as

manchas de solos que têm os nutrientes conhecidos e desconhecidoscapazes de estimular um vigor sadio às plantas para que estas trans-mitam qualitativamente aos animais e aos seres humanos a infinida-de de elementos nutritivos minerais, orgânicos e enzimáticos paraque a complexa estrutura biológica, humana, tenha uma nutriçãofisiologicamente perfeita.

É por esta razão que encontramos ali, acolá, homens e animaissofrendo de anemias aparentemente explicáveis, raquitismo semuma causa evidente, cárie, deficiências de reprodução, cegueira, etc.,que os cientistas nos ensinam serem parcial ou totalmente causadaspelos alimentos incompletos, deficientes, obtidos de plantas cresci-

das em solos pobres originalmente ou depauperados pela falta demedidas conservadoras da fertilidade. Informam-nos os investigado-res que o ferro, o cobalto, o manganês, o cobre, em porções infinite-simais nas plantas que corrigem as anemias ou animais.

Nem todos os solos contêm estes elementos e o confinamentoresultante do aumento da população subordina a nutrição do animalà qualidade da ração que ele pode obter.

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A leguminosa, colhida em terrenos fértil, é mais nutritiva doque aquela obtida em solo pobre.

As plantas dependem qualitativa e quantitativamente do solo eelas fornecem quase 100% dos alimentos consumidos pelos animaise 60% da ração humana.

A Dra. Abbot comprovou que existia íntima correlação entreas crianças anêmicas, a “doença do sal” do gado e a deficiência docobalto, ferro, cobre na terra em que eram cultivados os alimentos

para estas pessoas e animais.O Químico Charles Schnabel, estudando o poder nutritivo dasgramíneas novas, descobriu que a aveia, o trigo, cevada com dezoitodias de idades, segadas e secadas, formam um feno contendo maisde vinte e cinco por cento do peso em proteínas mais de dez porcento de peso em sais minerais e é o mais rico alimento em vitami-nas até hoje conhecido.

Os oito membros da família Schnabel alimentaram-se durantetrês anos com esse feno e nenhum deles tem um dente cariado, en-quanto que noventa por cento dos meninos da escola têm um oumais dentes estragados. Durante dois anos foram percorridas cente-

nas de milhas de solos americanos e os exames revelaram que so-mente dois por cento da área estudada era suficientemente fértil paraproduzir este extraordinário feno de aveia.

Experiências rigorosas, em Wisconsin, provaram que a vaca,recebendo uma ração completa de alimentos cultivados em solosférteis ou adubados, fornece leite contendo quinhentos microgramasde vitamina A por litro. O leite do mesmo animal com forragem deterra fraca não contém a metade teor de vitamina.

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As hortaliças e as frutas são excelentes fontes de vitaminase minerais quando cultivadas em solos adubados cientificamentee são pouco mais do que bagaço e água quando crescidas emsolo depauperado, sem cuidado.

A deficiência em cálcio e fósforo, em terrenos arenosos ouácidos, causa a osteomalácia ou caquexia nos animais. O bócio éoutro exemplo de doença resultante da falta de iodo.

Enfim, os alimentos deficientes obtidos de solos empobre-

cidos diminuem a resistência do organismo humano, dando vitó-ria às doenças infecciosas.Apesar de ainda não se conhecer tudo sobre nutrição, sa-

bemos, entretanto, hoje muito mais do que sabíamos anterior-mente e os cientistas já afirmam sem hesitação: “a nutrição co-meça no solo”, “somos o que comemos”, “a terra pobre empo-brece a gente, a gente pobre empobrece a terra; uma e outra seempobrecem cada vez mais”.

Os agrologistas já separaram, até hoje, mais de vinte ele-mentos do solo que têm influência na fisiologia vegetal e esteselementos raramente coexistem no mesmo local e daí surge à

necessidade da correção ou complementação dos elementos fal-tantes. Muitos destes são do grupo das “infinitamente pequenas”ou que, em doses mínimas no solo, são estimulantes catalizado-res ou provocadores de enzimas especiais, hormônios ou vitami-nas nas plantas.

Devemos acreditar na opinião dos sábios, como Alexis Car-rel, Albert Howard, Robert Mc Carrison, Arturo Hastings Merrit emuitos outros que confirmam a diminuição das doenças infecciosas

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graças aos antibióticos, às sulfas e às condições de melhoramentode higiene da vida. Mas, esses mesmos homens nos advertem deque tem havido um progressivo aumento das doenças nervosas, dasúlceras gástricas, da tuberculose, do câncer, da apendicite, das dia-betes, das dispepsias e de outros males lentos, degenerativos, quetêm na alimentação deficiente e insuficiente, bem como no modode vida, uma parcela das suas causas.

A falta dos oligoelementos no solo, a excessiva purifica-

ção dos alimentos pela industrialização, artificializam as raçõese as tornam incapazes de, com o uso continuado, satisfazer asexigências do organismo humano, submetido, na era atual, aomaior desgaste.

O médico Russel M. Wilder, do Departamento de Agricul-tura dos Estados Unidos, diz em “The Scientific Monthly”, deAbril de 1943: “En ciertas regiones, el suelo es pobre y los pr o-ductos derivados de el no continen algunos elementos nutritivosnecessários. Atualmente es uno los temas de investigación prin-cipales de la División de Investigación Agrícola. Con el tiempo,los químicos estarán en condiciones de corregir estas anormali-

dades del suelo. Hasta ahora, el propósito de la agricultura hasido obtener rendimientos máximos por acre, o tamaño y aspec-to del producto. En el futuro, habria que tratar do obtener altosvalores nutritivos...”

“Los experimentos realizados bajo mi dirección confirmanlas opiniones de muchos, de que el actual abastecimiento dealimentos es muy poco satisfactorio”.

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A ADMINISTRAÇÃO DA FAZENDA E A CONSERVA-ÇÃO DOS RECURSOS NATURAIS

Da exposição dos assuntos nas páginas adiante ficará es-clarecido que na condução dos trabalhos, numa base conserva-dora e lucrativa, é indispensável que exista um mapa detalhadoda propriedade, um plano administrativo e a decisão dos ramosagrícolas que serão explorados. Nas bacias de irrigação, porque

as áreas particulares são pequenas e as culturas são intensivas, omapa é geral e o plano de administração será cooperativamentepara melhor resultado dos cooperados.

Para as fazendas da Zona Seca, de regime extensivo, a su-perfície ocupada pelo particular precisa ser grande para justificarum empreendimento de maior vulto e garantia de sucesso. Nestecaso, o mapa ou planta da fazenda deverá contar os limites, cer-cas, estadas, açudes, casas, currais, pastos divididos, campos deculturas localizados nos talhões de solos apropriados, matas oucaatingas separadas nos trechos que não servem para pasto enem para culturas, etc., e as áreas respectivas.

Feito o mapa o proprietário ou administrador, que deve serhomem de bons conhecimentos práticos da profissão, habilido-so, enérgico, conhecedor do sertão, organizará o plano adminis-trativo contendo o calendário das operações conforme os ramosagrícolas escolhidos, a relação das máquinas necessárias para asculturas ou beneficiamento, os livros de escrituração de receita edespesa, a relação entre capital imóvel e capital circulante, a

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distribuição do pessoal de acordo com os serviços dos camposde culturas, etc.

É evidente que o mapa e o plano serão organizados comcada item no seu lugar e a execução será parcelada, melhorando-se a organização pouco a pouco tendo sempre em vista facilitaros trabalhos, as operações, procurando-se manter a fertilidade oumelhorar a terra, aproveitar a água, evitar a erosão, distribuir aspastagens, não estragar as matas evitando o fogo, plantar em

curvas de nível, mudar as estradas nos pontos inconvenientes,etc., e aumentar a renda liquida.O mapa e o plano administrativo visam também programar

os serviços durante o ano de modo a não haver períodos vagos enem épocas acumuladas de serviço. Assim haverá economia detempo e maior eficiência no emprego de máquinas, aproveita-mento do pessoal e rendimento do capital.

A escolha dos ramos agrícolas a serem explorados na fa-zenda é decisiva na aplicação do plano. Temos observado quenas fazendas do sertão, que dispõem de açudes, a melhor com-binação de ramos agrícolas é cana, algodão e gado. Estas duas

culturas e a criação do gado bovino possibilitam o aproveita-mento mais integral da fazenda, harmonizam-se entre si, com-pletam-se de modo admirável e proporcionam maior rendimentoao fazendeiro.

A cana ocupando as terras baixas umedecidas pelo açudeproduz a rapadura, alimento de largo consumo local, fornece aponta verde para alimentar o gado na seca e recebe o estrumedos animais.

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O algodão mocó vegeta na terra mais seca, é produto dogrande comércio e deixa o caroço, alimento protéico concentra-do, para o gado, ou fornece óleo para sabão e torta quando in-dustrializado.

O gado, pastando as áreas não apropriadas para cultura,transformam as forragens em carne, leite ou queijo, aumenta emnúmero rapidamente e auxilia na elevação da renda geral.

Para a boa marcha dos serviços, durante o ano, as culturas

não devem coincidir nas suas operações, especialmente na co-lheita. Neste ponto a cana e o algodão são parcialmente compe-tidores na colheita. De janeiro a abril os trabalhos principais são:preparo dos terrenos, adubação, plantios, capinas, combate àspragas, semeadura de capins nos pastos, etc.; de maio a setem-bro vêm às colheitas, os beneficiamentos, armazenamentos dosprodutos ou moagem da cana, fabrico da rapadura (que se esten-de até dezembro, às vezes), descaroçamento do algodão, etc.; desetembro a dezembro temos oportunidade de limpar o canavial,de destocar novos talhões, de reparar cercas, estradas, mudar ogado de pastos, consertar máquinas, melhorar os veículos e os

arreios dos animais, construir ou melhorar as instalações, arran-car as plantas inúteis ocupando espaço nas pastagens, construiraçudes ou levadas d’água, etc.

A adoção da tração animal ou mecânica nas lavouras e notransporte interno da fazenda depende da escala de exploração,do capital e se há serviço suficiente, durante o ano, para justifi-car a aquisição de trator ou veículos motorizado.

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ficos, da coordenação dos esforços, ninguém pode, ainda, garan-tir o sucesso porque a Natureza dita alterações climáticas ao seucapricho e o mercado é muito volúvel.

Entretanto, enquanto o homem necessitar de alimentos du-as vezes por dia e enquanto a ciência não conseguir sintetizar asrações diretamente, nós dependermos da Mãe Agricultura para anossa sobrevivência.

AS CAUSAS DO EMPOBRECIMENTO DO SOLO

Podemos resumir, grosso modo, os seguintes fatores prin-cipais que contribuem para a redução da fertilidade do solo: 1º)erosão pela água e pelo vento; 2º) queimada; 3º) revolvimentodo solo na estação seca deixando-o nu e exposto ao sol e ao ven-to; má colocação das lavouras, dos pastos e das capoeiras emrelação à topografia do terreno, ao tipo do solo; 5º) falta da rota-ção das culturas e método irracional de cultivar; 6º) deficiente eescasso emprego dos adubos; 7º) falta de medidas gerais de pro-teção do solo contra a ação destrutiva do clima tropical; 8º) des-

prezo da vegetação nativa.Raramente um solo é destruído por uma causa única; ge-

ralmente vários fatores se conjugam para empobrecê-lo. Domesmo modo dificilmente se poderá manter a fertilidade de umaterra ou restaurar a sua produtividade usando-se um processosomente. Sempre teremos de recorrer aos meios ou processoscompletivos que convirjam para a proteção do solo, visandoevitar a sua destruição. Também não podemos generalizar os

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processos de melhoramento do solo; cada caso deverá ser estu-dado “in loco” tomando em consideração a declividade, a inten-sidade das chuvas, o fim a que se destina o talhão, as proprieda-des físicas do solo etc.

A AÇÃO DA EROSÃO NO SOLO

A água e o vento são as forças ativas da erosão; atuam de

modos diferentes, porém seus efeitos são semelhantes. A efici-ência destes agentes no transporte de materiais da terra aumentacom a velocidade.

As gotas de água da chuva caindo com velocidade sobre aterra martelam as partículas do solo como um bombardeio, ati-rando-as para o ar numa ação desintegrante e a parte mais fina,os colóides, são mantidos em suspensão na gota d’água. Se achuva é forte, os milhos de gotas d’água vão se unindo forman-do uma película líquida, nadante, instável, carregada de poeira;com a continuação da chuva, sendo lenta a infiltração da águano solo, a capa líquida engrossa, rompe o equilíbrio, procura os

pontos mais baixos, aos poucos inicia o movimento descenden-te, conforme a declividade, carregando material em suspensãoaté que a união das porções liquidas, aumentando o peso, cau-sam a corrida e estabelece-se enxurrada em filete.

De filete em filete vai crescendo a massa líquida em mo-vimento até formar a enxurrada grossa que leva o esterco, a po-eira, os detritos orgânicos e o barro para os riachos e rios. Nestamistura preta, vermelha ou amarela, de água, terra e matéria

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orgânica, são levados também os micróbios úteis e os mineraissolúveis de fósforo, potássio, cálcio, nitratos, etc., que são osnutrientes diretos das plantas.

Dia após dia, anos seguidos, a erosão vai lavando a terra,transportando o solo superficial preto, esponjoso, nutritivo e osubsolo que fica cada vez menos retém a água porque perde opoder sortivo, a manta protetora que a natureza elaborou emmilhares de anos.

Por isto a enxurrada não tem a cor da água e sim a cor dosolo que ela lavou.Quanto mais forte for a chuva, mais íngreme o terreno e

mais nu o solo, mais impetuosa é à força da enxurrada, maior aturbulência da massa e maior o arrastamento da terra.

As caatingas queimadas os pastos super pastados, as la-vouras plantadas em fileiras de morro abaixo, os caminhos des-cendo colinas são pontos favoráveis para o início ou a intensifi-cação da erosão.

O solo erodido pela água, que perdeu a manta esponjosaprotetora, resseca facilmente, desintegra as partículas sem coe-

são e tornou-se vítima, na seca, da erosão eólia. O vento baixoem solo nu produz o deserto.

Mas, os efeitos da erosão não são somente o empobreci-mento do solo, o aparecimento do deserto; há ainda os estragosdas estradas; o entupimento de drenos, a colmatagem dos baixi-os, a obstrução dos rios, a inundação das lavouras, das cidades eos estragos das barragens.

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Milhões de toneladas de terras férteis, de nutrientes, sãolevados anualmente dos campos para os rios e daí para o fundodo mar.

Mas, o Governo não vê, o leigo não acredita e o fazendei-ro não pensa na erosão a ruína da atual civilização.

A citação das chuvas em média das máximas e média dasmínimas dá uma idéia da irregularidade e da altura das precipi-tações. Já houve chuvas diárias de duzentos e vinte e quatro mi-

límetros (224 mm) e duzentos e quarenta (240 mm) em Fortale-za, 20/3/1870 e 16/04/1855 (Boletim da IFOCS citado). Em seusestudos F. G. Aguiar divide as bacias de captação em oito tiposconforme a topografia, geologia, vestimenta da vegetação, etc., ecalcula os coeficientes do deflúvio.

Calculamos pelos dados das Estações Meteorológicas quea média de chuvas anuais do sertão do Ceará, da Paraíba e doRio Grande do Norte, é de setecentos milímetros (700 mm).

A média pluviométrica do Nordeste da Bahia e Oeste dePernambuco oscila entre quatrocentos (400) a quinhentos milí-metros (500 mm); no Posto Agrícola do Rio São Francisco, situ-

ado entre Petrolândia e Floresta, a chuva, média de oito anos, dequatrocentos e oito milímetros (408 mm).

Do cálculo de repleção dos açudes e da medição da águaacumulada nos reservatórios, atrás citados, achamos a média desetenta e três mil metros cúbicos (73.000 m³) d’água como de-flúvio, por quilômetro quadrado de captação. Este volumed’água nos dá uma idéia da erosão e dos materiais que podem

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ser transportados causando a destruição do solo, tendo em vistaque a declividade média dos rios é de um metro por quilômetros.

Pelo deflúvio, podemos imaginar a capacidade irrigatóriatotal, máxima e teórica, por gravidade, da área compreendida noPolígono das Secas.

Se fosse possível represar toda a água de chuva que escor-re na região, nós teríamos cerca de sessenta (60) bilhões de me-tros cúbicos d’água. Pelas medições de água de irrigação feitas

pelo SAI, nos açudes, são necessários setenta mil metros cúbicos(70.000 m³) de água dentro da represa, para garantir a irrigaçãode um hectare cultivado em um ano, incluindo as perdas porevaporação, infiltração, em trânsito nos canais e a água aplicadanas culturas. Assim, nesta hipótese teórica de acumulação, o Nor-deste Seco poderia irrigar cerca de oitocentos mil (800.000) hectares,por gravidade, no máximo.

Insistimos em dizer que a erosão, no passado, não deixou se-melhante área em condições de ser irrigada por gravidade. Alémdisto, uma parte dos baixios férteis está ocupada com carnaúbas,oiticicas, lagoas, etc., que reduzem de muito a superfície aproveitá-

vel. Verificamos, assim, que o fator limitante da produção, no futuro,será o SOLO e não a ÀGUA. Por mais este motivo, urge defender aterra de lavoura como sustentáculo econômico da região.

Dos dados acima se conclui que o deflúvio médio é pratica-mente igual à dose bruta de irrigação por hectare ano.

O cálculo teórico da capacidade total, absoluta, de irrigação doPolígono Seco é hipotético é baseado somente nas águas de chuvas;ele exclui as águas dos dois rios perenes: S. Francisco e Parnaíba.

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Pelos dados da erosão do solo na América do Norte, e tornan-do para o Nordeste números muito inferiores, concluímos que se nãoforem represados os sessenta bilhões de metros cúbico d’água perde-remos, anualmente, trinta e três milhões de toneladas de terra e ferti-lizantes, que continuarão a ser lançadas no fundo do mar.

A importância maior das represas, de qualquer tamanho, é re-ter no Continente o solo para a manutenção das gerações futuras. Oscento e vinte quatro açudes públicos e as quatrocentas e oitenta bar-

ragens por cooperação, construídos pelo DNOCS, no Nordeste, têmuma capacidade total de acumulação de três bilhões de metros cúbi-cos d’água. No programa governamental de recuperação econômicae aproveitando dos recursos naturais é urgentíssima a aplicação destaágua para fins produtivos. As barragens construídas estão retendo,no interior, nada menos de 1.500.000 toneladas de solo e nutrientespara usos futuro.

A erosão muito lentamente nas terras cobertas de capim oude matas. O crescimento unido do capim, as raízes fibrosas enumerosas, espalhadas no solo, protege a terra com muita efici-ência. Entretanto, quando o capim é superpastado (overgrazed )

ou pisoteado em extremo pelos animais eliminando o mantoprotetor, começa a ruína do solo pela lavagem.

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Nas capoeiras e florestas a proteção é dupla; 1º) pela fo-lhagem verde e ramos que amortecem a força da chuva, fazendoas gotas d’água caírem lentamente sobre a terra permitindo ab-sorção vagarosa; 2º) pelo manto de folhas secas, detritos, debai-xo da mata absorvendo muita água, não deixando saturar a em-bebição, de modo que a terra tenha tempo para sugar toda a águaque cai.

Vários outros fatores, além dos indicados, contribuem para

retardar a erosão e a perda d’água: os restos de culturas, as er-vas, os quebram ventos, etc.Além da vegetação, tipo de solo e topografia, a erosão é

muito reforçada pela velocidade do vento, pela intensidade dachuva e a temperatura do ambiente ressecando o solo. Estes trêsagentes climáticos, no Nordeste, são muito desfavoráveis à ma-nutenção do solo fértil. Já houve na Nordeste, chuvas de duzen-tos milímetros (200 mm) em vinte e quatro horas, duzentos litrosd’água por metro no espaço de um dia; a temperatura anual, mé-dia das máximas, é 33ºC e a média das mínimas 22ºC, umidaderelativa média de sessenta e oito por cento, velocidade do vento

no inverno de dois a dez quilômetros por hora e no verão dez atrinta quilômetros numa hora.

Além dos elementos climáticos serem desfavoráveis àconservação do solo, há ainda a circunstância de serem rasos ossolos do Nordeste, da vegetação perder a folhagem no verãopossibilitando o vento atingir o chão.

A terra nua no verão, a evaporação, o vento constante,causam, nesta estação, a erosão eólica, vento com poeira do so-

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lo. No inverno, o estrago é pela enxurrada que se inicia com asprimeiras chuvas, que encontra a vegetação seca, solo quase nu,período em que as águas barrentas transportam maior quantida-de de terra e de esterco. Efetivamente os solos do Nordeste estãosubmetidos ao desgaste durante doze meses cada ano, mesmosem incluir os nutrientes arrancados do solo pelas colheitas.

A temperatura alta influi na desintegração física e solubili-zação dos minerais do solo e das rochas que a enxurrada trans-

porta no inverno; no verão, ela contribui para o secamento su-perficial e desagregação das partículas que a força do vento le-vanta e carrega.

Absorção da água pelo solo  – Toda água que cai no solocontinua em movimento: uma parte evapora-se na superfície daterra mais quente, outra fração penetra no subsolo, uma porção éabsorvida pela primeira camada e, após saturação, o restanteescorre como enxurrada.

A permeabilidade da terra é que comenda a absorção daágua, mas também depende da rapidez com que a chuva cai. Aschuvas leves e continuadas são sugadas pela terra em maior pro-

porção do que as chuvas fortes porque a água tem de forçar asaída do ar do solo para ele entrar. Teoricamente, a porosidadede um solo pode atingir cinqüenta por cento do seu volume,mais é muito problemático que um metro cúbico de terra possachupar quinhentos litros de água, em condições normais de chu-vas. O regime de chuvas irregulares e torrenciais do Nordeste, aalternativa de excesso de água e excesso de seca complica muitoa questão da economia hídrica. A cultivação altera muito a ab-

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sorção da água pelo solo. O Jour. Am. Soc. Agr. Vol. 28-1936cita os seguintes dados experimentais: solo arado a dez centíme-tros, profundidade absorveu vinte e cinco milímetros de chuvasem uma hora; arado de quinze centímetros sugou trinta milíme-tros e o não arado tomou somente dezenove milímetros por hora.Cumpre notar que o aumento do poder de tomar água é transitó-rio no solo pelo efeito das máquinas. Com o tempo os solos cul-tivados tornam-se mais compactos do que os solos virgens de

vegetação nativa; a razão e que em igualmente de composiçãofísica, a vegetação nativa mais densa perfura o solo em todas asdireções, do modo ininterrupto, formando canais de penetraçãoda água.

Este, entre outros, é um dos motivos porque a erosão émaior nos terrenos cultivados do que nos de vegetação nativa.

Os talhões que recebem matéria orgânica na forma de a-dubo verde, restos de culturas, estrume, etc., adquirem pela fun-ção coloidal, a estrutura granular, torna-se mais abertos, maisesponjosos, são capazes de alojar mais água e mais rapidamente.

A conservação da água no solo significa aumentar a chuva

e tem como vantagem diminuir a erosão e fornecer mais umida-de às plantas.

As águas limpas penetram no solo mais depressa e emmaior proporção do que as barrentas ou lodosas. A enxurrada,carregando material fino em suspensão, quando perde a veloci-dade forma sedimentos que obstruem os poros superficiais daterra e dificultam a infiltração da água.

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Isto explica também um dos motivos por que os solos dasflorestas bebem tanta água e os campos limpos, formando lodo,tão pouca.

Todos os métodos de conservação do solo visam evitar aformação de enxurrada, da água barrenta, de difícil infiltração,porque ela rouba elementos nutritivos do solo e é custoso deter acorrida da água.

É de toda a conveniência aumentar a acumulação da água

no solo mediante a subsolagem Kilefer, culturas em curva denível, cultuas em faixas alternadas, terraceamento e boa rotaçãodas culturas.

No clima seco do Nordeste é preciso conjugar mais de mé-todo para acumular e conservar a água no solo.

Não se pode conservar os solos das bacias de irrigaçãosem controlar a erosão das terras altas adjacentes. Retendo einfiltrado as chuvas caídas nas terras altas, nós estaremos prote-gendo as bacias de irrigação contra as enxurradas, a colmata-gem, o entupimento dos drenos, o alagamento dos campos, etc.,que trazem prejuízos sob diversas formas.

As fazendas do Nordeste necessitam de um planejamentointeiramente novo no uso da terra para a conservação dos recur-sos naturais, para a proteção das obras construídas pelo Gover-no, defesa das às estradas e pontes, evitar a inundação das baciasde irrigação, estragos dos canais, colmatagem das represas, i-nundação das culturas, e, acima de tudo isto, preservar a produ-tividade da terra para as gerações futuras. Este plano tem de co-meçar separando os altos para o crescimento de caatingas ou de

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vegetações nativas que retenham as chuvas, destinar para pastosos campos de menor declividade com valetas ou terraços emcurvas de nível e permitir lavouras somente nos baixios, usandoos meios de proteção adiante citados.

O sistema desordenado e irracional, até agora usado na a-gricultura, conduziu à erosão desenfreada, ao desnudamento daterra, rompendo o equilíbrio criado pela Natureza entre o solo, aflora, a água, a fauna e a vida econômica do homem.

Uma das razões por que há muitas pragas de insetos noNordeste, devastando as lavouras, é a falta de refúgios para ospássaros, inimigos dos insetos; não há matas densas com som-bra, alimentos naturais suficientes para desenvolver e mantereste exército de catadores de insetos. A adaptação dos insetos aoclima seco, com reprodução no inverno, ao lado da hostilidadedo meio aos pássaros, tornou possível a predominância daquelesem face destes, o que resultou em mais este aspecto da quebrada harmonia original na natureza todas as vezes que o homemusa processos não racionais.

Outra conseqüência desta desarmonia incide sobre a fauna

aquática; a desproteção do solo, as chuvas excessivas, as inun-dações, o arrombamento de açudes particulares levam os peixespara o mar, ficando os outros animais aquáticos sem refúgio. Aestação seca força a emigração destes animais.

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A MANUTENÇÃO DA FERTILIDADE

A conservação do solo e o uso eficiente da terra, sob osdiversos sistemas agrícolas, que é a salvaguarda do empobreci-mento. A conservação implica no aproveitamento de cada loteda fazenda para o fim que ele melhor possa servir, tendo emvista as necessidades do proprietário, a topografia, a fertilidades,etc., de modo que ele se mantenha em produtividade. Alguns

talhões são demais inclinados para serem cultivados, outros sãofacilmente erodidos devidos às suas propriedades físicas e de-vem ser, ambos, destinados para florestas ou pastagens; um ter-reno poderá ser bom para lavoura se for drenado; um solo endu-recido poderá dar bons rendimentos se for devidamente tratado;se a terra estiver valorizada ou se o preço dos produtos compen-sar a adubação será a prática aconselhada. Se a propriedade nãodispõe de terras planas, as culturas poderão ser feitas nos meno-res declives mediante o plano em curva de nível, cultura em fai-xas, sulco horizontal ou em terraços. A conservação significalançar mão de meios técnicos, administrativos ou químicos ca-

pazes de fazerem cada quadra produzir aquilo que ele está emcondições de dar para a economia de empresa. A conservação dosolo é o uso científico da terra, é o seu aproveitamento para a-quele fim que ela está natural e economicamente indicado, po-rém de modo que as operações e a administração da exploraçãosejam orientadas no sentido de perpetuar a produtividade, demelhorá-la ou de restaurá-la.

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Certos fatores de ordem econômica e social têm influênciano uso da terra. Existem criadores que insistem em criar gado decorte em sítios que melhor seriam explorados com lavoura in-tensiva; outro exemplo são as fazendas grandes de mais em queoitenta por cento da área não produz nada.

Todo terreno deve produzir alguma coisa; não há terra inú-til. Toda a questão está em pensar e descobrir o uso econômicode cada talhão e aplicar-lhe os meios técnicos de aproveitá-lo

melhor. Muitos homens entram na Agricultura para se enrique-cerem o mais depressa possível, não se importando se deixam odeserto atrás de si; estes estão trocando os recursos naturais pelodinheiro. Não lhes interessa o futuro dos seus descendentes enem o da nacionalidade. São exploradores e não cidadãos.

O fazendeiro normal é conservador, salvo quando a igno-rância o impede de conhecer e de aplicar os métodos tendentes agarantir a sua economia e a dos filhos.

O bom senso da conservação do solo obriga a cada cida-dão consciente a lutar contra os fatos físicos da erosão e contra ocomplexo de considerações econômicas e sociais que afetam o

uso dos recursos naturais.Não existe justificativa técnica, jurídica ou moral para a

atual geração arruinar os recursos que a Natureza acumulou emmilênios para o benefício da Humanidade.

Ainda que a Agricultura seja exercida por milhões de indiví-duos que têm o direito de liberdade individual, há, acima de tudo, obom senso, a consciência nacional que ordena salvaguardar o inte-

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resse e o futuro da economia do País com a aplicação de princípioscientíficos de modo integral na prática agrícola.

É verdade que nem todos os indivíduos são iguais na soci-edade em conhecimentos e qualidades morais, mas a responsabi-lidade dos governos, o saber dos técnicos e os deveres cívicosdos cidadãos, obrigam moralmente a formação de uma consci-ência nacional em favor da riqueza pública, para defender a ter-ra, as águas, as plantas, as obras, o bem estar coletivo, contra a

ruína, o deserto e a miséria.Especificando, detalhadamente, a conservação do solo tempor fim proteger todos os recursos naturais contra o desgaste eempobrecimento causado por:

1. Remoção dos solos pela erosão;2. Deposição de produtos de erosão;3. Exaustação de nutrientes pela cultura excessiva ou pe-

lo pasto rapado;4. Acumulação de sais tóxicos;5. Cultura imprópria;

6. Drenagem inadequada.

A conservação do solo é realizada pelos seguintes meio:

1) Usando práticas adaptáveis de conservação e estruturasde engenharia para evitar a erosão e os depósitos desta.

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2) Empregando cultivos melhorados, o “muchamento”,culturas em faixas, o sulco em nível e o terraço paraconservar a chuva.

3) Aplicando água, adubos químicos, estrume, matéria or-gânica com a máxima eficiência.

4) Drenado e corrigindo sais nocivos.5) Plantando árvores e capins contra a erosão; reservando

a vegetação espontânea em determinados pontos estra-

tégicos para reter a água; controlando e mudando o ga-do das pastagens para evitar o demasiado pisoteio;mantendo sempre uma cobertura de capim para segurara chuva e impedir a enxurrada; arrancar dos pastos omofumbo, o marmeleiro, etc. passa o subsolador e se-mear capins resistente.

6) Proteger os terrenos altos, cheios de pedras, contra aentrada do gado para não estragar as florestas novas emformação porque evitam a erosão, são fontes de lenha eabrigo para a fauna.

7) Irrigar as culturas metodicamente, fazer a rotação, não

queimar os restos culturais e as ervas; permitir o repou-so de cada talhão irrigado no terceiro ano para crescer ocapim que restaura, em parte, a fertilidade; enterrar a-dubo verde, aproveitar o estrume de curral nos lotes cu-

 ja produção está decaindo; não arar o mesmo terrenotodos os anos seguidamente; quando arar no verão,plantar logo adubo verde para cobrir o terreno.

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8) Plantar quebra-ventos nos pontos necessários seja noscampos de culturas ou nos pastos.

9) Construir diques pequenos nas grotas e nos lugares ini-ciais de enxurrada; pequenas barragens nos riachos paraevitar que os cursos d’água se juntem formando cheiasmaiores. Os riachos maiores e rios exigirão barragensmédias e grandes.

10) No cultivo das terras de bacias hidráulicas dos açudes

é preciso usar faixas em curva de nível alternadas decapim e de lavoura, sulcos horizontais, terraços, etc.Os talhões da bacia hidráulica, que não servirem paralavoura, ficarão para pastos ou para a formação debosques.

11) Retirar as culturas das terras erodidas, semear capinspara pasto e fixação do solo.

12) Estabelecer os períodos da vegetação nativa, o ciclodas lavouras e as demoras do pastoreio, alternadamen-te, para cada talhão, sempre que possível, procurandoa harmonização das culturas com a pecuária, como re-

curso importante no equilíbrio da produtividade dosolo.

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O PLANO DA CONSERVAÇÃODOS RECURSOS NATURAIS

A prevenção eficiente da erosão exige o uso e o tratamentode todos os tipos de terra compreendidos naquela área de acordocom as necessidades e os seus característicos.

A aplicação racional das medidas de conservação obriga apresença do técnico no campo.

O técnico e o fazendeiro precisam examinar cada trechode terra, o que fica para capoeira, o que serve para pasto, ondelocalizar as lavouras, os estragos existentes, os meios possíveisde proteção, os desvios para as águas, o número de animais emrelação à pastagem, as máquinas que são necessárias, para ondeserão mudadas ou construídas novas cercas, etc. Em geral, cadatrecho de terra necessita de medidas próprias para sua proteção.

É, então, feito um mapa da fazenda com a reorganizaçãodos campos, desenho de estradas, drenos, cercas, capoeiras, pas-tos, açudes, casas, pomares, rios e em cada local onde serãoplantados os quebra-ventos, construídos os diques de represa-

mento, as faixas de culturas em curva de nível ou sulcamentohorizontal ou terraços, os bebedouros do gado, os canais de irri-gação, se houver, etc.

Este plano é um arranjamento inteiramente novo na admi-nistração da fazenda, é uma reorganização em base científica,permanente, das operações agrícolas visando obter uma produ-ção duradoura o mínimo de desgaste do solo.

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O trabalho e as despesas decorrentes da execução do planoserão compensados pela regularidade das safras com melhorrendimento e pela contribuição ao plano geral de preservaçãodos recursos naturais de utilidade coletiva.

Os planos de conservação do solo e da água e as suas exe-cuções requerem conhecimentos muitos vastos de agrologia,engenheira, silvicultura, biologia da fauna, agronomia, química,etc. A conservação dos recursos naturais é a mais nova das ciên-

cias agrícolas. Ela tem se desenvolvido muito à custa de pesqui-sas, ensaios e experiências de campo; sugiram novos métodos decultura, estruturas, novas máquinas estão sendo inventadas parapreencher as necessidades variáveis de cada localidade. Novasculturas entraram em uso (Kudsu, lespedesa), etc., e aos poucosestá se delineando uma nova forma de agricultura em substitui-ção da velha que era especulativa, destruidora e irracional.

Os princípios da conservação seguem a Natureza, colocamas primeiras coisas em primeiro lugar e não generalizam o em-prego dos meios de defesa porque não há um único remédio paratodos os males da terra devastada. Cada caso de erosão tem os

seus remédios específicos, daí a razão do exame local.Os planos de conservação agrícolas são baseados também

na aptidão ou capacidade do solo. Tomando em consideração asinformações obtidas no campo, é feita uma classificação da ap-tidão das terras nos seus característicos de declividade, erodibi-lidade, presença de pedras, salinidade, nível subterrâneo da á-gua, perigo de inundação, textura e profundidade do solo, umi-dade natural e grau de fertilidade. Estes são os fatos físicos mais

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importantes para guiar o desenho do mapa de conservação. Aclassificação da aptidão do solo pode ser feito em três grupos eclasses:

1. Terras aptas para lavoura:

Classe A  – Solos de boa produtividade, planos, livres deerosão e próprios para lavoura sem ser preciso práticas especi-

ais; alguns talhões podem precisar de adaptação para lavouracomo: roçagem, destocamento, drenagem.

Classe B  – Terrenos de regular fertilidade, aptos para la-voura, quase planos, onde se pode prevenir a erosão simples-mente pelo plantio em contorno, culturas de cobertura ou drena-gem superficial.

Classe C  –  Terra de moderada fertilidade que pode sercultivada mediante práticas intensivas de proteção pelo plantioem faixas, adubação, ou drenagem.

2. Terrenos adaptáveis para limitada cultivação:

Classe D – De fertilidade média, inclinação de causar ero-são, própria para pastos, ou para cultura de feno. Devem ser to-madas contra a erosão se esta classe for cultivada.

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3. Terras que não servem para cultivo:

Classe E  – Não adaptáveis para cultivo, porém úteis parapastos ou florestas tomando-se precauções normais quanto àerosão.

Classe F – Imprópria para lavoura, erodível, mas servindopara pasto e florestas desde que se adotem extremas medidas

preventivas ou práticas contra a destruição.

Classe G  – Terra sem valor para lavoura, pasto ou matacheia de pedras, íngreme, arenosa ou erodida. Pode ser destinadapara abrigar a fauna.

O critério a ser adotado na classificação das terras sob oponto de vista da conservação é igual ao usado para os mapasagrológicos se incluirmos as curvas de nível.

Com o cercamento das bacias hidráulicas e com a explora-ção sistemática dos lotes, teremos de adotar aí uma classifica-

ção, tendo em vista a conservação do solo. Nem todas as terrasdas bacias hidráulicas servem para lavoura; seremos obrigados aseparar as áreas que possam ser aproveitadas com pastos e aque-las que devem ser reflorestadas natural ou artificialmente. Emtodos os terrenos de montante, será conveniente fazer esta clas-sificação desenhando-a no mapa da bacia hidráulica para ficardefinitivo.

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Sempre que possível, às áreas do pasto pertencentes à U-nião, devem ser aproveitadas com o gado dos postos porque sóassim será possível controlar o limite do pastejamento para nãocausar erosão.

Feito o plano de conservação das terras e água da fazenda,ele servirá de guia e orientador para as operações e decisõesadministrativas no futuro. Os planos das propriedades formam oplano geral do município, os dos municípios completam o do

Estado e assim por diante, único modo pelo qual é possível per-petuar a fertilidade do solo para uma Agricultura permanentesuportar a nação financeiramente estabilizada.

Verdadeiramente, o planejamento da conservação dos re-cursos naturais é uma combinação do bom uso da terra, comapropriada administração e a adequada defesa do solo, tanto nafazenda como no conjunto da região ou país.

A PLANTA COMO PROTETORA DOSOLO E RETENTORA DE ÁGUA

A terra coberta de capins, arbustos ou arvoredos, está emcondição ótima para resistir aos estragos e para absorver a chu-va. O desgaste acelerado é proveniente do desnudamento, daaração continuada e do pastejamento demasiado. Pelas necessi-dades o homem é forçado a cultivar a terra e como este cultivotraz destruição, urge copiar os processos de defesa da natureza eintroduzir os meios técnicos conhecidos para salvar a economiaagrícola nacional.

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Isto quer dizer que devemos lançar mão de plantas decrescimento denso, manter coberturas de vegetação, ou “mul-che” vegetativo, na maior superfície possível e no maior espaçode tempo.

Há diversas razões por que as vegetações densas e os de-tritos orgânicos controlam as perdas de solo e de água.

Quando a gota d’água bate no solo nu as partículas sólidassão agitadas, afofadas e suspendidas. A cobertura da vegetação

evita primeiro ataque, a velocidade da água é amortecida pelasfolhas, galhos, ou manta orgânica, a água tem mais tempo parase infiltrar na terra que, deste modo, pode sugá-la em maiorquantidade.

Estes princípios são básicos e eles governam o emprego davegetação como meio de guardar solo e água.

O uso da vegetação para este fim tem limites e sempre te-remos de combiná-lo com os meios técnicos de engenharia.

Como exemplo de proteção vegetativa, temos os métodos:repouso do solo com mato nativo, cobertura, adubo verde, rota-ção, culturas em faixas alternadas, quebra-ventos, pastagens

controladas, prados e matas.Como métodos técnicos de engenharia são empregados: a

subsolagem, o contorno, o sulcamento, os terraços, os drenos,diques e barragens. Poderíamos acrescentar aqui os métodosquímicos que são a adubação e a correção das propriedades físi-cas do solo.

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O REPOUSO DO SOLO

Com mato nativo, seja herbáceo ou arbustivo, é o processousado pelo matuto quando ele roça cada ano terreno novo e deixa oúltimo roçado entregue às plantas espontâneas. É o processo natu-ral, porém, com a repetição constante das queimadas, inclinação doterreno e abandono, sem outros meios de proteção, o terreno acabase transformando em deserto. Inegavelmente o pousio, aqueive ou

repouso, com cobertura de mato, evitando-se a erosão, é um meiomuito prático de restaurar ou de melhorar, periodicamente, a ferti-lidade parcial de uma terra. Os agrologistas ainda não sabem expli-car a razão disto.

A teoria de eliminação de toxinas das plantas cultivadas, aoportunidade de solubilização de minerais, a subtração do solo,a ação direta do intemperismo tropical, a formação do mantoorgânico, etc., devem ser fatores de ação completiva na recupe-ração temporária do solo agrícola. O abandono do terreno emestado nu, seja ele plano ou inclinado, é prejudicial por causa dosol, do vento e da enxurrada. Paul Vageler comenta o caso de

solos cultivados intensamente com fumo, na Sumatra, que nãomantiveram a produção com repetidas dosagens de adubos quí-micos; foi preciso introduzir a prática do repouso do solo comcobertura, mato nativo, combinado com a adubação do fumopara manter o rendimento desta solanácea esgotante.

Nas bacias de irrigação, os talhões têm de descansar umano em cada três ou quatro de cultivo, com proteção superficialde leguminosas ou de ervas. O alqueive auxilia no melhoramen-

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to momentâneo da fertilidade, mas ele, por si só, não assegura aprodução contínua e demais intensiva das bacias de irrigação senão for completada com a adubação, afolhamento, etc. As plan-tas espontâneas, herbáceas principalmente, devido à densidadevegetativa, absorvem nutrientes nas camadas inferiores do solo eos deixam na superfície incorporados na matéria orgânica à dis-posição da cultura seguinte, quando, depois do pousio, o terrenoé gradeado ou capinado com o cultivador.

A ação benéfica do alqueive é anulada se o mato forqueimado. É o erro do matuto queimando a matéria orgânicatodo o ano. Faulkner condena a aração que enterra os detritosorgânicos.

As plantas nativas de cobertura são sempre capins, ervas eleguminosas, misturadas, ao passo que as de adubação verdessão sempre leguminosas simples ou combinadas, exercendotambém a função de cobertura.

AS CULTURAS DE COBERTURA

Tornam solúveis os minerais evitando o seu arrastamentopelas chuvas e aumentam a matéria orgânica; as de adubo verde,além destas funções, adicionam azoto ao solo.

A Estação experimental de Nova Jersey provou que,quando o terreno é alqueivado com dois anos de capim, a maté-ria orgânica é aumentada de mil trezentos e onze (1.311) quilospor hectare. Os capins são boas plantas de cobertura à elabora-ção da matéria orgânica. A função importantíssima da cobertura

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vegetativa é no verão para evitar o meteorismo escaldante caus-ticando o solo. Nunca é demais frisar esta ação. Os terrenos cul-tivados no inverno, cujas colheitas foram feitas em maio-junho,nunca devem ficar desabrigados até janeiro, nas bacias de irriga-ção. Se ele for destinado ao alqueive, neste verão procure-sesemeá-lo de leguminosas, faça-se a irrigação para o crescimentodas plantas cobri-lo depressa. Na preparação de terrenos paraplantio no verão, devemos usar mais a grade e menos o arado.

Quando a área for grande, devemos prepará-lo por partes acom-panhado logo com o plantio para não trazer muita exposição dosolo nu ao clima.

Fora da vegetação verde, que é a mais barata, a coberturado solo também pode ser feita com serragem, lixo das cidades,esterco, palha de carnaúba, bagaço de cana e papel. São meioscaros e de muito limitada aplicação.

Para os talhões das bacias de irrigação o mais prático épermitir crescer capins, ervas ou então semear mucunã ou feijãomacassar.

Os agrônomos Moacir de Brito e Pedro Barros Corrêa, da

Fábrica Peixe, de Pesqueira, nos seus trabalhos admiráveis deconservação do solo para cultura de tomate, encontraram nofeijão de porco, por falta de irrigação, a melhor planta de cober-tura para verão, nas faixas de contorno em repouso.

Nos pomares das bacias de irrigação, exceto nos de bana-neiras e mangueiras, o solo fica muito exposto no verão; o pro-blema de cobertura, neste caso, complica-se um pouco; enquan-to se descobre uma planta melhor, pode-se usar o mucunã ou

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macassar apesar de serem trepadeiras. Os pomicultores america-nos estão obtendo bons resultados com capins e ervas gradeadosvez de em quando. Precisamos experimentar este recurso.

Inúmeros fatos mostram que as verdades científicas apa-rentemente mais firmes eram apenas certezas convencionais.

OS ADULBOS VERDES

Constituem a melhor combinação prática de cobertura do so-lo com a adubação tanto para fins de proteção como para o de me-lhoramento ou restauração de terras cansadas. Para as bacias deirrigação, onde se dispõem de umidade durante o ano inteiro, épreferível escolher as leguminosas de maior massa como mucunã,crotalárias, macassar, etc., a fim de que o volume de matéria orgâ-nica e azoto, incorporado ao solo, seja o maior possível. Para oterreno não irrigado, as melhores leguminosas para adubo verdesão o feijão de porco, o guandu, porque resistem mais à faltad’água. Para adubo verde de pomares talvez as crotolárias satisf a-çam por não serem trepadeiras.

A ROTACÃO

Ou sucessão regular de culturas diferentes no mesmo lote,que os portugueses chamam de afolhamento, é outro meio usadopara evitar, até certo ponto, o esgotamento do terreno.

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Ela tem as vantagens de sistematizar as operações agríco-las, economizar trabalhos de preparação, auxiliar no controle daspragas (insetos ou plantas daninhas) e equilibrar a produção.

Não é fácil estabelecer uma rotação e culturas para o Nor-deste, por causa do clima e das culturas permanentes.

A rotação ganhou grande popularidade nos climas friosporque, ali há elevado número de culturas de ciclo curto como:trigo, aveia, centeio, cevada, batatinha, linho, hortaliças de

grande cultivo, e não menor número de leguminosas adaptáveis,como: muitas alfafas, muitos trevos, lespedesa, cowpeas, sojas,amendoins, etc.; que se prestam bem para intercalar a adubaçãoverde no plano do afolhamento.

Para o Nordeste irrigado, talvez se pudesse fazer uma ro-tação assim: 1º) ano  – milho no inverno e feijão no verão; 2º)ano – mandioca; 3º) – arroz no inverno e repouso com adubaçãoverde no verão. Outro exemplo seria: 1º) ano mandioca; 2º) ano

 – feijão no inverno e arroz no verão; 3º) ano  – repouso e aduba-ção verde com aplicação de farinha de osso; 4º) ano – milho; 5º)ano – alqueive.

Para lavoura não irrigada, com chuva, em terreno de bai-xio, pode-se usar um afolhamento de 1º) ano – arroz, 2)° ano  – adubação verde; 3º) ano  – milho; 4º) ano  – algodão; 5º) ano  – repouso e pasto para o gado.

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CULTURAS EM FAIXAS

A água em colina desprotegida adquire velocidade e avo-luma-se; por isto o poder erosivo da enxurrada aumenta com aextensão do declive. A cultura em tiras ou faixas transforma asinclinações longas numa série de declives curtos. Seu valor estáno fato de que qualquer coisa que detém a descida da água reduza capacidade desta de recolher detritos e transportá-los. As plan-

tas de crescimento unido e de raízes fibrosas, em faixas, atraves-sando o greide do terreno, quebram a velocidade da água, for-çam a sedimentação do material sólido neste ponto, não permi-tindo que o fluxo da água atinja a faixa de terra cultivada maisem baixo. Porque a cultura em faixa é uma série quase paralelade panos de terra cultivados e em  pousio, intercalados horizon-talmente ou cortando a inclinação do solo.

A cultura em faixa é um sistema agrícola em que as culturassão plantadas em tiras mais ou menos estreitas, através do greidedo solo, em que à parte plantada é seguida logo abaixo de umaparte em repouso com ervas nativas ou leguminosas, de modo que

a faixa erosível seja sustentada por outra resistência à erosão.A cultura em faixa também pode ser feita em contorno,

acompanhando a curva de nível, quando houver maior perigo deerosão. Neste caso a tira de terra não cultivada fica em ânguloreto com a declividade do solo e as fileiras da plantação comer-cial acompanham a curva de nível. Como está descrito acima acultura em faixas é uma combinação de cultivo e de repouso nomesmo terreno porque a faixa que ficou em descanso este ano

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será plantada no ano seguinte e onde foi lavoura este ano deixa-remos em pousio no ano próximo com cobertura de plantas nati-vas ou com leguminosas plantadas para adubo verde.

Há, também, a combinação de culturas em faixas com di-ferentes lavouras, como: uma faixa de milho, outra logo abaixode feijão e assim por diante; do mesmo modo uma tira de algo-dão pode ser alternada com outra de batata ou mandioca. É claroque duas ou três plantas cultivadas, em faixa, protegem muito

menos o terreno do que quando uma faixa é deixada com capim.Quando o terreno é sujeito à erosão, é imprescindível re-correr ao terraceamento para auxiliar as faixas.

Conforme a topografia, as faixas em repouso podem terdez metros de largura no sentido do declive e os “panos” culti-vados ficarem com trinta metros de largura no mesmo sentido.Adotando-se duas lavouras em faixas alternadas, a largura decada uma vai depender do greide e da erodibilidade do solo.

Os planos das lavouras em faixas devem ser feitos semprede acordo com a rotação das culturas, nunca repetir a mesmacultura na mesma faixa senão depois de três ou quatro anos, ex-

cluindo-se as permanentes.No caso do sertão, seria aconselhável a lavoura do algodão

em faixas com capim e, depois da colheita, pôr o gado para a-proveitar os restos da cultura e o pasto.

Salvo condições especiais, as faixas não devem ter mais detrinta metros de largura nem menos de dez metros.

As culturas em faixas alternadas são usadas nos terrenosplanos com o fim de quebra a força dos ventos baixos; as plantas

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de maior porte servem de quebra-vento para as pequenas, con-trolando um pouco a erosão eólica. Neste caso as fileiras deve-rão ficar em ângulo reto, com a direção dominante do vento.

Em um campo de cultura, pode existir uma faixa erodidaque compensa cultivar, mas que necessita ser protegida por cau-sa dos terrenos adjacentes. Em tal caso, usa-se a faixa perma-nente ou o plantio de capim, leguminosas, arbustos ou árvoresque detenham a destruição. Esta vegetação será mantida aí por

muitos anos e a faixa não será plantada com lavoura. Esta áreaterá ainda a função de abrigar a fauna, servir de quebra-vento ede fonte de lenha.

Em algumas bacias de irrigação onde há muita pedra, co-mo na do Açude Itans, talvez fosse melhor fazer carreiras depedra em curva de nível para defender o solo do que transportaras pedras para fora.

Estas linhas de pedra seriam como que faixas permanentescortando a enxurrada.

O LOTE ALTERNADO

É outro meio de controlar a erosão usando as plantas; sãoretângulos de meio hectare ou um quarto de hectare cada um,dispostos no terreno como comprimento no sentido horizontal ea largura, menor, no declive. Um lote cultivado é rodeado nosquatro lados por quatro lotes em repouso com capim. Assim aenxurrada iniciada no lote capinado é paralisada pelo capim dolote abaixo. No ano seguinte gradeia-se o capim dos lotes em

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repouso até apodrecer a matéria orgânica, plantam-se estes lotese deixam-se os recém-cultivados ficarem em alqueive. Alter-nando desta maneira as lavouras, nos lotes, cada ano, estaremosplantando sempre terra descansada. É um processo ótimo paraos terrenos de montante dos açudes. Tem este processo o defeitode permitir cultivar cada ano somente a metade da área, porque aoutra estará em descanso. O Agrº. Moacir Brito usa este método,em terreno de encosta, numa parte de área cultivada com toma-

teiro pela Fábrica “Peixe”.

O QUEBRA-VENTO

É o emprego de fileiras ou renques de árvores nativas ouplantadas, dispostas de modo que interrompam ou atenuem avelocidade do vento ou obstruam a descida da água na superfíciede solo inclinado. O quebra-vento tem uma função especial nadefesa do solo porque serve de barreira contra a erosão aérea econtra a enxurrada. No Posto Agrícola do Rio São Francisco, éonde entre outros lugares, o quebra-vento tem a sua aplicação

mais acertada e em maior escala. Os solos marginais do Rio SãoFrancisco, no trecho árido, para serem cultivados, necessitam dequebra-ventos cada duzentos metros de intervalo. Os ventosquentes, soprando numa direção constante além de transporta-rem a terra de cima, o esterco, aceleram a evaporação da umida-de, impedem o enraizamento das plantinhas, dão uma formadefeituosa às árvores dos pomares desprotegidos, etc. As melho-res árvores para estes renques são o eucalipto, canafístula, oiti,

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tamarindo, craibeira, bambu, kapok. Para terrenos não irrigados,o melhor quebre-vento é deixar uma faixa de dez metros de lar-gura de capoeira sem roçar, disposta em ângulo reto em direçãodominante do vento. A largura total do quebra-vento depende demuito das condições locais e do intervalo entre cada faixa deárvores.

Uma largura de dez metros, com intervalos de duzentosmetros é ótima.

Quanto mais altas são as árvores mais elas anteparam acorrente aérea. Este é outro fator a ser tomado em consideraçãoalém do tamanho que se der aos talhões cultivados entre as sé-ries de faixas arborizadas. Há a objeção de que os quebra-ventostomam muito espaço nas bacias de irrigação, porém suas vanta-gens superam estas perdas. Com o aumento da população, nosterrenos irrigados, tornar-se-á crítico o abastecimento de lenha emadeira; estas faixas arborizadas poderão atenuar esta escassez.

Na verdade, para a boa localização dos quebra-ventos, éabsolutamente indispensável que eles sejam planejados e proje-tados na mesma planta dos canais de irrigação na qual também

devem figurar os drenos, as estradas e a disposição dos talhõesde cultura em relação ao vento e a água.

Os melhores quebra-ventos são aqueles que contêm duasou mais espécies de árvores, porque, assim, é possível adensarmais a vegetação, conseguir uma parede mais alta e mais igual-mente fechada formando um anteparo mais eficiente contra ovento. O eucalipto, em plantio puro, não é perfeito quebra-vento,porque as árvores adultas perdem os galhos inferiores e deixam

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passar o vento rasteiro. O ideal é plantar fileiras de árvores degrande altura no centro e dos lados outras árvores de porte mé-dio e baixo; é conveniente também que ambas forneçam lenhaou madeira, cujas raízes não ataquem os canais quando próxi-mos e não se estendam muito lateralmente para não invadir oscampos cultivados.

ECONOMIA DA PASTAGEM

O clima seco, a riqueza em nutrientes minerais no solo, agrande área não adaptável para lavoura, o relativamente pequenonúmero de zoonoses, tornam o Polígono das Secas muito ade-quado para as criações de bovinos, eqüinos e caprinos, etc. Ape-sar do primitivismo do método de criar, significando quase a-bandono, ainda que sejam grandes as perdas nos períodos críti-cos da seca pela imprevidência na conservação das forragens,com tudo isto, a pecuária no Nordeste, é um fator econômico deprimeira grandeza.

A pastagem controlada significa transferir os animais de

um pasto para outro, em rotação sistemática, a fim de que nuncaos capins desapareçam, que fique sempre um manto protetor nasuperfície, evitando-se chegar ao “pasto rapado”, que é o limitepara o início da erosão. A primeira medida necessária para ocontrole dos postos é a divisão, por cercas, das grandes “man-gas” da fazenda em pastos, com as áreas determinadas pelo nú-mero de animais que se pode criar e o tempo de partejamentoque cada um pode proporcionar. Sem dúvida que cercar uma

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fazenda nos seus limites e dividir duas ou três “mangas” já éalguma coisa, porém isto não é tudo; é preciso que o cercamentodos pastos e sua distribuição sejam feitos tomando em conside-ração os bebedouros do gado, as estradas, os currais, os terrenosdestinados às culturas e os que devem ficar para capoeiras e ma-tas. Às vezes, a falta de forragem força o criador à por o gado nolote de capoeira em formação, com o estrago de muitas mudas.

O limite máximo do pastejamento é o fator mais importan-

te na conservação do solo das invernadas porque todas às vezesque o terreno começa a desnudar-se, manifesta-se nele a erosãoe torna-se, depois, muito difícil à obtenção de boa forragem.

No pasto erodido, as leguminosas desaparecem e os capinssilicosos e as ciperáceas invadem o campo.

Pior do que o excessivo pastejamento são as queimadasdos campos, sejam elas ocasionais ou propositais.

O campo queimado, no verão, é vitima do vento e, no in-verno, é lavado pela enxurrada; nos dois casos a cinza, o esterco,o cálcio e o fósforo, são perdidos para a nutrição das plantasforrageiras e, portanto, para a do gado.

O pasto demais pisoteado, de chão endurecido, pode semelhorado também pela aração, plantio de cultura de um ano esemeaduras de capins. Na aração de pastos em morro, teremosde cortar a erosão com terraços.

Para a boa exploração das pastagens e eficiente conserva-ção do solo, é preciso estabelecer o regime de partejamento, oumelhor, o número de animais e o número de dias que pode pas-tar em cada divisão de invernada ou campo, sem causar a destru-

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ição da vegetação ou do solo. A duração do partejamento, porsua vez, depende da estação do ano. No inverno o mesmo pastosuporta o dobro de reses do que no verão.

A administração das pastagens requer conhecimentos dadistribuição e da sucessão das espécies botânicas regionais paraevitar a regressão aos tipos vegetativos inferiores. Reconhecer asmelhores combinações botânicas para os prados forrageiros econservá-los sem degradação ou intromissão das pragas vegeta-

tivas é a função do pecuarista.Conhecendo como as espécies de plantas se substituem nopasto pela influência do pastejamento e do pisoteio, o criadortratará suas invernadas pela semeadura de espécies desejáveis oupelo repouso retirando o gado ou plantando arbustos de rama oufazendo sulcos horizontais para a água de chuva.

Se a densidade das leguminosas está diminuindo é eviden-te que a “manga” está deteriorando; se aqui aparece a terra pel a-da é sinal de excesso de animais e a erosão pode surgir; se ogado raspou as sementes dos capins, então a macega será fracano próximo ano.

Sempre observando o aparecimento das invasoras e ocomportamento dos campos na sua composição botânica e nocrescimento dos seus componentes, o fazendeiro conduz o apro-veitamento das suas invernadas para o equilíbrio vegetativomais econômico e eficiente.

As forrageiras, sendo as mais tenras e carecedoras de chu-vas são as que primeiro desaparecem quando as condições docampo são adversas; sendo elas as mais nutritivas e as acham ao

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alcance dos animais novos, representam elas, a parte principalda ração natural e ao mesmo tempo as denunciadoras de empo-brecimento ou do melhoramento da pastagem.

O longo verão seco impele o sertanejo a adotar o pastocomposto: arbóreo arbustivo-efêmero, isto é, aquele em que asárvores de rama se misturam, espaçadamente, com arbustos ú-teis sobre o chão coberto de gramíneas e leguminosas apetecidaspelos animais.

O clima e o solo da região favorecendo a este conjunto he-terogênico de vegetação, convida o pecuarista a não fazer roça-dos e destocamentos para formar as campinas abertas e limpascomo as do sul do país, pois esta prática seria contrária à ecolo-gia da região onde não existe a mostraca do berne, destruiria orecurso precioso da rama e privaria a fazenda da sua fonte natu-ral de lenha e estacas.

Se as chuvas são finas, no começo do inverno as árvores earbustos soltam a folhagem, sombreiam o solo e atrasam o cres-cimento dos capins e das efêmeras subjacentes; nos anos em queas primeiras chuvas são “molhadeiras” a sub-vegetação anual

brota com mais rapidez, atapeta o chão, e o pasto alto e o capimbaixo crescem iguais e abundantes.

Um pasto de boa cobertura, do tipo vegetativo mais útil emelhor adaptado ao meio ecológico, é a maior garantia, tambémcontra o aparecimento de espécies nocivas ou inúteis, contra amultiplicação dos roedores prejudicais e evita, outro tanto, aproliferação rápida dos insetos maléficos de postura na terra.

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Defendendo o pasto misto para esta zona, somos, entretan-to, de opinião que os capins, as leguminosas rasteiras, etc., de-vem merecer a nossa preferência na seleção, que mais atençãolhes seja dada, porque elas impedem a lavagem do solo pelaschuvas, porque cobrem o chão contra o sol e os ventos e porquesão as preferidas pelos animais.

Evitemos os cortes nas juremas, nos mororós, nos pau-branco, nas catingueiras, nos sabiás, nos juazeiros, nos feijões-

camaratu, etc., mas também cuidemos dos penascos, dos mimo-sos, das estilosantes, das jitiranas, dos ervanaços, meibomas, dasmalvas, das milhas, dos pega-pinto, etc., que são os verdadeirosfabricantes dos milhares de toneladas de carne e de leite quecomemos anualmente.

Não somente a longa estiagem a responsável pela defici-ência das pastagens e sim, principalmente, o excesso de animaisresultando na terra despida, na erosão, no aparecimento de ervasdaninhas. A maior necessidade dos pastos na Zona Seca é a co-bertura. No Nordeste ensolarado nem sempre falta água, masescasseia, sim, a sombra das ramas e o tapete dos capins. O cria-

dor, aqui, habituou-se a provocar o pastejamento exagerado, atéa terra ficar limpa julgando, que, desaparecendo o último fiapode capim, o campo foi bem aproveitado e que o solo não neces-sita de cobertura.

A sombra dos arbustos, a atenuação do grande calor solarsobre o chão, a camada orgânica composta de gramíneas e dedetritos vestindo a superfície, as raízes fibrosas e pivotantes per-

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correndo a camada superior da terra são os fatores de primeiragrandeza na conservação e na produção do pasto.

O bom crescimento do pasto nos invernos fornecendo cin-co a nove por cento de proteína e a sua quase ausência nos ve-rões causam rápidos ganhos de peso e drásticos emagrecimentosdos gados, roubando os lucros da pecuária. A diarréia dos bovi-nos no início do inverno é o efeito fisiológico da mudança re-pentina da alimentação seca, celulósica, fraca, para a ingestão de

capins tenros e brotos novos, ricos em águas e em sais minerais.Além de viver sob o regime alternativo da sociedade e dafome, cada ano, os animais estão submetidos também às desor-dens fisiológicas que prejudicam o crescimento e a produção. Afenação de capins nativos ou cultivados, a conservação de forra-gem do inverno para o verão, ou do ano abundante para o períodode escassez feita continuamente, é o único meio prático e baratode vencer esta dificuldade e obter animais sadios e produtivos. Asleguminosas precoces, espontâneas ou plantadas, colhidas antesda floração, secadas com cuidado para reter as folhas com colora-ção verde, são alimentos de primeira ordem pelo conteúdo de

proteínas, de sais, minerais e de muitas vitaminas essências, espe-cialmente aquelas estimuladoras do desenvolvimento dos animaisnovos e da lactação nas adultas. O mata-pasto, a jitirana, o feijãode rola, o feijão quandu, o macassar, a alfafa do nordeste, etc., sãoexemplos de forrageiras protéicas, nativas ou cultivadas, que po-dem ser fenadas em grande escala, em campos preparados, comsecagem ao sol se o tempo é seco ou desidratados, em galpões deassoalho-ripado, com ar quente insuflado com ventiladores ade-

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quados e, aí mesmo deixados armazenados para o arroçoamentodos animais quando necessário.

A prática de fenar as forragens em fenis-secadores, querpicando antes as ervas ou armazenado-as inteiras, usando a se-gadeira e a distribuição dentro do fenil por elevadores, rotativos,está ganhando terreno em todas as partes do mundo comparadacom a secagem ao sol devido à alta qualidade do feno consegui-do, à independência do tempo chuvoso e à economia resultante

da redução de concentrados na ração. Um galpão simples e umaaparelhagem pouco dispendiosa pode ser obtidos para a confec-ção, todos os anos, de muito feno de capim e de erva para arra-çoar os gados nas fases deficientes, nos verões, conseguindo,assim, leite todo o ano, mais carne e maior número de crias.

A formação de pastos em terrenos erodidos implica nocercamento, repouso durante dois ou três anos, controle da ero-são, arrancamento das plantas nocivas e semeadura das espéciesescolhidas.

Nas terras novas, ainda vestidas das vegetações típicas,basta eliminar os grupos inúteis, deixar os tipos de rama apreci-

ada pelo gado e semear os capins.Também se pode fazer um roço parcial, poupando as árvo-

res de lei, os arbustos de folhagem nutritiva, plantar algodão eapós três ou quatro anos formar o prado mediante a distribuiçãode sementes no inverno.

A pastagem não suporta exclusivamente o gado criado pe-lo fazendeiro e sim também a fauna representada pelos veados,tatus, preás, outros roedores, aves, insetos comedores de folhas

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no inverno, etc., de modo que o criador, na busca da capacidadede sustentação das suas invernadas, tem de contar, também, coma nutrição da fauna.

O uso do pasto na justa medida é de grande proveito para afauna porque forma a cobertura, gera o alimento e proporcionaágua para muitos animais.

Os meios usados na conservação do solo se adaptam per-feitamente bem ao melhoramento dos pastos e à preservação da

fauna, seja o cercamento, o sulco em contorno, o terraço, o re-pouso, a rotação ou o quebra vento. O pasto, o gado, a flora e afauna forma uma cadeia que pode ser igualmente beneficiadacom os métodos de conservação do solo.

Não foi ainda fixada a capacidade de sustentação dos pas-tos do Nordeste. Aliás, este é um assunto difícil por causa dassecas, do tipo de solo, da umidade natural e da vegetação forra-geira. Mauro Ladeira pesou, em São Gonçalo, a produção dealgumas forrageiras e encontrou os seguintes dados, por hectare:capins nativos, verdes, seis a sete toneladas; feno de capim pa-nasco onze toneladas; feno de ervanço cinco vírgula quatro tone-

ladas; feno de capim milhã cinco vírgula três toneladas; feno dediversos capins nativos associados cinco toneladas. Um corteúnico de forragem depois do inverno, não atinge a capacidademáxima de produção de um hectare, porém é preciso esclarecerque os dados acima são de terreno de baixio, aluvião; nos tabu-leiros areníticos e nos altos, a produção de forragem anual émais baixa do que a citada acima. É preciso tomar em conside-ração também a “rama” da vegetação arbustiva, forrageira.

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Por outro lado devemos deduzir a forragem apodrecida pe-las chuvas ocasionais de verão, as folhas e os capins secos arras-tados pelo vento, o que foi pisoteado pelos animais, etc.

Para fim de comparação, damos abaixo os rendimentos,em massa verde, dos capins; sempre verde, elefante e canarana,cultivados com irrigação e adubação orgânica, no açude SãoGonçalo, Instituto José Augusto Trindade, usados para corte:(Relatório do técnico João Eloy).

Capim sempre verde 160 toneladas-hectare/ano em 10 cortesCapim elefante 120 idem, idem em 9 cortesCapim canarana 80 idem, idem em 6 cortes

O agrônomo Fernando Ramos fez, no Posto Agrícola deCordado, um ensaio para determinar a capacidade de pastar dosgarrotes, na idade de um ano até dois anos. Esta experiência foifeita mediante pesagens cuidadosas antes e depois do pasteja-mento, controlando a água de bebida e o pasto de capim rhodes.Resultou que os garrotes de dois anos comeram quinze quilos de

capim diariamente.Esta cifra diária significa um consumo de cinco mil e qui-nhentos (5.500) quilos de pasto por ano para bovinos desta ida-de; mas com o crescimento aumentam as necessidades de nutri-ção até trinta quilos diários para o bovino adulto ou nove mil(9.000) quilos por ano.

Pelos dados colhidos no Matadouro Modelo, de Fortaleza,o peso vivo, médio, de um bovino com a idade de quatro anos

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É verdade que, na prática, os acontecimentos não se pro-cessam com a rigidez dos números acima e que uma boa distri-buição de chuvas altera muito o efeito da mesma quantidade deágua sobre os pastos, em quedas irregulares. Mas, os dados aci-ma citados dão uma boa indicação ao fazendeiro das reservasque ele deve ter sempre à mão para manter os seus animais maisou menos nutridos, com regular reprodução e boa renda.

O lucro da criação de gado depende muito da continuidade

da exploração e do ritmo da produção estabelecidos conforme acapacidade da fazenda e as providências tomadas com antece-dência quando ao suprimento alimentar.

Para suprir a deficiência de pasto o criador deverá ter o fe-no já preparado em anos anteriores, quando houver crescimentoforrageiro suficiente. Ele fará este armazenamento, em medas nocampo, nos anos em que não necessitar de forragem e, baseadono fato de que o capim fenado dura até nove anos, ele aumenta,anualmente, o seu estoque. Quando chegar a seca o fazendeirotem capim guardado para nutrir os seus gados durante dois outrês anos, sem diminuir o número de cabeças, sem interromper

as parições das vacas e com maior lucro porque venderá os seusprodutos por melhores preços, na época da escassez.

Para obter leite, mais carne, mais queijo, por hectare, épreciso que o criador cuide da alimentação mais racional e cien-tífica dos seus gados. As pastagens naturais têm uma capacidadede sustentação que não pode passar além de certo limite, deter-minado pela umidade do solo, fertilidade, número de animais,etc. Querendo conseguir animais mais precoces, de maior pro-

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dução em menor tempo, o fazendeiro tem de empregar uma ali-mentação mais protéica, mais concentrada, mais verde e maisabundante.

Para compreendermos a importância da qualidade dos a-limentos no desenvolvimento dos seres vivos basta repetir queum menino necessita ser alimentado durante cento e oitenta diaspara dobrar o pelo com a qual nasceu; um bezerro carece de qua-renta e cinco dias e um coelhinho faz o mesmo em oito dias so-

mente. O leite da mulher contém um por cento de albumina ezero vírgula dois por cento de sais minerais, o da vaca tem trêsvírgula cinco por cento de albumina e zero vírgula setenta e cin-co por cento de minerais, da coelha dá vinte e quatro por cento evinte e cinco por cento, respectivamente. Estes dados de Bunge,Ellenberger e Scheuner positivam que o animal não gera matérianem energia; o crescimento, a manutenção da vida e a produçãodependem dos alimentos e será mais rápido o desenvolvimentoquanto melhor for à qualidade da ração, respeitada a capacidadetransformadora do animal.

Uma vaca comum, sem tratamento especial, dá seiscentos

litros de leite por ano; pelas exigências atuais uma vaca deve darmais de dois mil (2.000) litros de leite em um ano e esta produ-ção aumentada requer mais alimentos e de melhor qualidade. Avaca nativa da Nigéria dá a sua primeira cria com seis anos deidade: uma fêmea da raça holandesa pode ter bezerro com trêsanos depois de nascida. Mas, a holandesa não vive com o capimrústico da África e sim pede uma ração que contenha, entre mui-tos outros nutrientes, mais de dez por cento de proteína. Esta

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capacidade produtiva, que o criador acelerou através da seleção,esgota o solo, retira mais elementos da terra e acaba provocandoo seu depauperamento, se o fazendeiro não tomar cuidado. Ofluxo constante de carne, de leite, de queijo, etc., do sertão paraas cidades, durante anos e séculos, significa a retirada de mi-lhões de toneladas de azoto mineral, de fosfatos, de carbonatos,etc., do solo. Não havendo reposição, não existindo medidaspara manter o índice das colheitas, a terra tem de cansar e a po-

pulação não pode aumentar.Os pastos são modalidades de lavouras, eles produzem osalimentos protetores da população (carne, leite, queijo, mantei-ga) e mais ainda os subprodutos do corpo animal que têm muitaimportância nas indústrias. As pastagens ocupam terras de valoracrescido dia a dia e o índice demográfico está exigindo delasmaiores produções por hectare, cada ano. Chegou a era do plan-tar forragens misturadas, de cuidar dos pastos com conhecimen-to dos minerais faltantes, com a prática de associar as ervas, osarbustos e as árvores em conjuntos ecológico que resistam aopisoteio e aos dentes dos animais.

Temos estudando o milho, o algodão, o arroz e despreza-mos as ervas, os capins e as folhas que dão alimentos para osruminantes. O clima seco é melhor para pasto de que para ascereais. Durante cada dez anos, temos em média, oito anos bonspara os pastos; a lavoura não conta com esta relativa garantia.

Estudando os campos, eliminando as plantas nocivas, aenxurrada, fazendo adubação onde for necessário, semeandoespécies com afinidade vegetativas, estaremos ajudando a suces-

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são ecológica a evoluir para um prado mais variado e mais rico.Para darmos este passo a frente, no melhoramento das maioresáreas das fazendas, é indispensável o entusiasmo do criador,muitos conhecimentos de química do solo, de botânica e de eco-logia. Não se pode auxiliar a Natureza sem grande dose de sabere de paciência.

Adotando-se um sistema de pastejamento rotativo-intermitente, período em que certo número de reses é posto a

aproveitar determinado pasto de área conhecida e depois é mu-dado para outro campo, ficando aquele em repouso, os animaisencontram cada dia forragem suficiente, sem andar muito e semprejudicar a cobertura do solo. Mudando-se cada dois ou trêsmeses os animais para pastos diferentes, nós estaríamos forne-cendo forragem melhor e defendendo o solo contra o desnuda-mento e a erosão. Assim, durante os doze meses do ano, os lotesde animais deverão pastar em períodos diferentes nos diversoscampos da fazenda, com intervalos de descanso para cada pasto.Por este motivo é indispensável que, em vez de poucas “man-gas” muito grandes, tenhamos maior número de pastos cercados

com área menor. Nesta distribuição de pastos é de toda vegeta-ção de forrageiras para corte em maio-junho e armazenamentodo feno em medas no próprio campo. Esta será reserva forragei-ra de seca ou dos períodos escassos. No posto Agrícola de Con-dado a meda de capins nativos, feita no campo, durou nove anose após este tempo, foi totalmente consumida pelo gado.

Ficou provado que quem faz feno, guarda alimento paraqualquer falta futura.

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A boa conservação dos pastos, além de garantir a saúde e areprodução dos animais, é o mais econômico de conservar o solode mais de metade da área das fazendas. O abandono dos cam-pos destinados aos pastos, a falta de cercas divisórias para sis-tematizar o pastejamento, a criação de maior número de animaisdo que a área comporta, são as causas mais freqüentes do des-nudamento da terra e da formação das enxurradas que deixam osolo cada vez mais pobre.

O arrancamento das plantas tóxicas, dos arbustos inúteisdo grupo mofumbo, marmeleiro e outros, deve ser feito periodi-camente com a semeadura de capins, para aumentar a densidadevegetativa das forrageiras e, conseqüentemente, evitar mais aerosão e produzir mais forragem por unidade de área.

Com exceção da introdução de algumas forrageiras exóti-cas e do cultivo limitado de algumas gramíneas, os criadores doNordeste não têm dedicado atenção ao melhoramento das pasta-gens, apesar da importância da pecuária e da colossal superfíciede terra explorada pelo gado.

Não é possível melhorar os pastos sem cuidarmos da con-

servação do solo. Não pode existir pastagem boa e permanentena terra erodida.

A divisão dos pastos, o seu cerceamento, a rotação do paste- jamento, o arrancamento das plantas nocivas e inúteis, a semeadurade forrageiras, são providência iniciais para a conservação do solo eproteção dos recursos naturais que devem ser completadas, onde fornecessário, com o sulcamento em curva de nível, gradeação ou ara-ção para facilitar a absorção e economia da água.

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Os estudos de forrageiras feitos no Instituto José AugustoTrindade foram publicados no excelente trabalho do nosso compa-nheiro, Engº. Agrº. Inácio Ellery Barreira, “Observações sobrealgumas forrageiras e meios de sua conservação no Nordeste”.Transcrevemos aqui estas análises para mostrar que nós temosmuitas forrageiras valiosas e que, cultivando-as ou tratando dospastos nativos, teremos muito leite e carne. Os químicos acharamque as forragens mistas, espontâneas, no mês de maio, no sertão,

têm um teor médio de proteína de nove por cento. É, portanto, degrande importância, fenar as forragens em maio, cortando-as, dei-xando-as dois a três dias ao sol e amontoando-as em grandes me-das no próprio campo com a proteção de uma cerca de arame emtorno e que se tira na ocasião do gado comer, na seca.

Na exploração mais intensiva da pecuária, como na indús-tria leiteira, na Inglaterra, a desidratação das forrageiras verdes,tenras, está sendo feita em secadores especiais que dão um ali-mento de boa conservação, cor verde, com elevada composiçãode proteínas, minerais e vitaminas.

O Engº. Agrônomo Fernando de Oliveira Théofilo no seu

 bem organizado trabalho: “Contas Culturais. Bases para orça-mento do trabalho agrícola” estuda os custos de produção dediversos produtos agrícolas, das forrageiras cultivadas e fenaçãodas nativas.

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ANÁLISES DAS FORRRAGEIRAS NATIVAS

MAPA

A “Este mapa contém o resultado médio das análises dealgumas forrageiras colhidas nos pastos da secção Zootécnica doIJAT., durante os anos de 42-43. Nesse período foram feitascerca de cento e vinte análises correspondendo a sessenta espé-

cies diversas. As que estão apresentadas aqui são aquelas emque foram obtidos resultados concordantes em dois ou mais a-mostras e as que analisadas uma única vez, deram resultadossatisfatório”.

“De muitas outras não foi possível obter um resultado mé-dio porque as amostras analisadas não deram resultados concor-dantes, isso naturalmente devido ao processo de colheita dasmesmas. As amostras eram colhidas, no campo, sem se observarcorretamente o estado do desenvolvimento das plantas, na faltade uma pessoa devidamente habilitada nesse serviço, e em épo-cas variáveis. Sem um trato cuidadoso, elas estiveram sujeitas às

variações climáticas que, nesses anos, foram muito irregulares.O que se tem feito, porém, já é suficiente para dar a conhecer acomposição média dos pastos estudados, podendo servir de basepara as correções necessárias na alimentação do gado, de modoa mantê-lo num regime adequado.“Essas análises poderão ser prosseguidas todos os anos de modo a se obter o maior númerode dados possível e, assim se poder tirar conclusões mais acerta-

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das uma vez que não é possível levar esses estudos de maneiramais precisa e concludente”.

“Laboratório do Serviço Agro-Industrial, 12 de julho de 1944. Luiz Augusto de Oliveira – Químico.

CAATINGA

Sabemos que a caatinga, capoeira e mata protegem o solocom maior eficiência contra a erosão devemos procurar reflores-tar os terrenos mais susceptíveis da lavagem pelas águas.

Em toda fazenda existem talhões que, devido à presençade pedras, ao declive, à pobreza do solo, etc., não servem parapastos nem para culturas. Eles devem ser tratados para a forma-ção de matas. As primeiras providências consistem no ser trata-dos para a formação de matas. As primeiras providências consis-tem no cercamento, na proteção da vegetação nativa que já exis-tir e no plantio dos “claros” com árvores aconselháveis por meiode sementes, no inverno.

As outras medidas são evitar a queima e a entrada do gado.Auxiliando a natureza, em pouco tempo um stand florestal

estará formando com o tríplice beneficio de proteger o solo, a-brigar a fauna útil e fornecer lenha e madeira que toda fazendanecessita muito.

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PRÁTICAS MECÂNICAS PARA RETER SOLO E ÁGUA

Além do emprego de plantas e de métodos culturais para a de-fesa do solo e economia da água existem, até hoje já comprovadoscomo eficientes, os processos de engenharia conhecidos sob os no-mes de contorno, sulcamento, subsolagem, terraços, drenos, diques ebarragens.

A aplicação de cada um destes processos depende das condi-

ções locais e muitas vezes é preciso o emprego conjugado de doisdeles.

O SULCO EM CONTORNO

Ou o sulcamento do solo em curva de nível, é um meio que sepode empregar para diminuir a erosão em terreno de pasto, solo pro-fundo. Este sulco, acompanhado o contorno do terreno, pode serfeitos com o arado ou qualquer sulcador comum, porém é mais efi-ciente fazê-los com o subsolador Killefer na profundidade de vintecentímetros. Estes cortes transversais ou greide do terreno são feitos

com o intervalo de um a dois metros em série de três sulcos paralelose deixa-se em baixo um trato de terra de dez a vinte metros de largu-ra sem sulcar, em seguida outra série de três sulcos em contorno eassim por diante.

A enxurrada que tem início na faixa livre é absorvida pelossulcos de baixo.

As finalidades dos sulcos, sejam eles feitos com arado, sulca-dor ou aparelho especial, é obrigar à água a penetrar no solo o que

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significa uma economia de chuva. Esta penetração d’ água maisrapidamente e em maior quantidade no solo resulta em umidademais duradoura e melhor vegetação.

Apesar de o sulcamento ser mais próprio para pastagens é eletambém utilizado para campos de cultura sob o nome de “sistemaKilefer”, originário da Califórnia.

Como o sulco tem grande influência na penetração da água naterra, ele é usado também para terrenos planos, sejam de pastos ou

de lavouras, desde que a capacidade do solo exija o seu emprego.É o caso do tratamento do “salão” pela subsolagem “Kilefer”que deve ser completada com o tratamento químico da gessagem.Uma correção desta natureza é uma verdadeira recuperação ou res-tauração do solo.

Em solo arenoso, de declive não muito acentuado é possívelfazer camalhões em curva de nível, usando uma grade de cisco como ângulo bem fechado. A água infiltrar-se-á na concavidade doscamalhões sem escorrer.

OS TERRAÇOS

Ou terraçamento são banquetas de terra ajustadas ao “greide”do terreno destinadas principalmente a deter o curso da enxurradaresultante das chuvas torrenciais e manter maior teor de umidade nossolos de clima pouco chuvoso. É, portanto, um meio artificial usadoem forma de rego, de vala, de canal ou de trincheira, dependendo dese o terreno exige um controle mais brando ou mais enérgico daenxurrada.

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A forma básica do terreno de campo é um leito de terrafeito artificialmente com arado e triângulo de madeira ou complanas terraçadoura em que a terra removida é encostada para olado de baixo, mantendo o comprimento sempre em nível oucom pequeno escoamento depois dos primeiros cem metros deextensão.

O espaçamento de um terraço para outro e a secção trans-versal do corte na terra (largura e altura) são determinados pela

topografia do terreno, clima e cultura que será plantada. Já fo-ram feitos estudos experimentais nos Estados Unidos e as tabe-las orgânicas dão todas as informações para cada caso.

Quando construídos em zonas chuvosas os terraços devemdespejar o excesso d’água, não absorvido pelo solo, em uma cana-leta ou coletor que conduza este excesso para os riachos; estes cole-tores devem ser sempre gramados ou cobertos de capim para nãoserem erodidos e forçar a deposição do material sólido contido naágua. A água excedente dos terraços também pode ser derivadapara uma floresta ou um campo bem empastado.

Os terraços podem ser divididos em três tipos; 1) terraço

de banquete; 2) terraço ondulado; 3) terraço simples. O tipo debanquete é próprio para morro onde vai se fazer plantio de po-mares, porque permite operações culturais na linha horizontal. Éo tipo mais eficiente no controle da erosão e o mais caro porque,em geral, é construído manualmente.

O tipo do terraço ondulado é totalmente feito com a plainaou o triângulo de madeira em terrenos sujeitos à erosão e onde

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outros processos de controle não foram suficientes; emprega-seeste tipo em solos de mais de quatro por cento de declive.

O terraço simples é usado em solo ameaçado pela enxur-rada como auxílio aos outros meios e onde a máquina pode pas-sar sem dificuldade.

O terraço pode ser em nível ou com pequena declividadepara uma das extremidades. Em geral a declividade do canaldentro do terraço aumenta cada cem ou cento e cinqüenta metros

de extensão na direção do despejo no coletor de enxurrada.Nas zonas de muita chuva e solo de média capacidade deabsorção, usa-se uma queda de dez centímetros para os primei-ros cento e cinqüenta metros de extensão, depois vinte centíme-tros para os segundos, cento e cinqüenta metros de comprimen-to, trinta centímetros para os terceiros, cento e cinqüenta metrose assim por diante.

Para os climas pouco chuvosos, os primeiros cento e cin-qüenta metros são construídos em nível depois doze centímetrosde queda para cento e oitenta metros de extensão e vinte e qua-tro centímetros de inclinação para outros cento e oitenta metros

de comprimento.A extensão ou comprimento total de um terraço tem limi-

tes: quinhentos metros é o máximo permitido para um terraçoque transporta água. Se o campo for mais extenso é preciso co-locar um coletor recebendo água dos terraços em cada quinhen-tos metros de comprimento.

O espaço entre um terraço e outro é regulado pela inclina-ção do solo e erodibilidade. O princípio que governa este espa-

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çamento é construir os terraços de modo tal que a chuva caídanão forme enxurrada e seja detida antes de adquirir velocidade.Um terreno com seis por cento de declive, terá um espaço má-ximo de vinte e dois metros e mínimo de dezesseis metros entredois terraços.

A seção transversal dos terraços está sujeita a três requisi-tos principais: 1) ter ampla capacidade de canal para deter a en-xurrada; 2) taludes suaves para evitar o caimento da terra no

fundo e para permitir o cultivo mecânico; 3) ser de construçãoeconômica.A área da seção transversal dos terraços será de mais ou

menos um metro quando, ou seja, um vírgula vinte metros delargura no fundo, três vírgula sessenta metros de largura no topoe zero vírgula trinta e sete metros de profundidade no canal. Acapacidade de transporte de água do fundo deste terraço serátrezentos e setenta e cinco metros a quinhentos milímetros e alargura total do terraço será de quatro vírgula cinco metros adoze metros dependendo do greide do terreno e o tipo de maqui-naria agrícola usada na cultivação.

A inclinação dos taludes pode ser de uma vírgula cincopor cento. Na conservação de pastos a seção do terraço pode serbem menor.

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O primeiro passo no planejar o terraçamento de um terre-no é fazer um mapa topográfico com as curvas de nível de vintecinco em vinte e cinco centímetros da linha vertical. Como nemsempre é possível conseguir este mapa, os terraços também po-dem ser feitos mediante um reconhecimento da área, e depoismarcar o primeiro terraço em cima colocando estacas de dez emdez metros de distância, com a declividade exigida. Quando nãose tem um instrumento de nível, usa-se uma régua comprida, de

madeira, com nível de pedreiro. É conveniente marcar todos osterraços com estacas, depois verificar se não há necessidade demudar algumas devido às dobras do terreno. Depois que todosos terraços estão estaqueados, inicia-se a construção de cima.

Quando a construção vai demorar, usa-se um sulco comarado, passando pelas estacas do nivelamento e este rego man-tém a marcação por muito tempo.

As máquinas para construir terraços são o arado e o triân-gulo de madeira para quem não tem outro equipamento; o aradovai à frente, cortando e afofando a terra e o triângulo vem atrás,puxado por outra junta de bois, encostando a terra para o lado de

baixo. Continua-se a passar o arado e o triangulo até que o terra-ço tenha a largura e a profundidade conveniente; então faz-senovo nivelamento no sentido do comprimento para a correçãodos pontos altos e baixos no fundo do terraço. Esta correção éfeita a enxada.

Para serviço de vulto na construção de terraços, recorre-seà máquina terraçadora, a plaina, acionadas a trator ou a boi; comeste equipamento a confecção de terraços é mais rápida, mais

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 barata e mais perfeita. A “pá de cavalo” e o “scraper ” tambémsão máquinas auxiliares deste serviço. Para boa conservação doterraceamento, é preciso que, no caso de o terreno ser destinadoà lavoura, a aração, o plantio e o cultivo sejam feitos em linhasparalelas com o terraço.

DRENAGEM

Para as terras de baixio das zonas úmidas ou para terrenosirrigados não é possível à conservação das boas propriedades dosolo ou o seu melhoramento sem a execução de serviços de dre-nagem.

Ela tem por fim remover o excesso d’água do solo paraque as raízes possam respirar, lavar as impurezas ou sais nocivosque se formam e se acumulam na zona das raízes, permitir aoxidação, o aumento da porosidade nos terrenos endurecidos eproporcionar culturas em terras antes encharcadas ou aumentode área útil.

Há duas classes de drenos: os superficiais e os subterrâ-

neos. Os primeiros têm a função de facilitar a saída da água dechuva, empoçada, nas depressões, e os segundos retirar a água,em demasia, que se acumula dentro do solo, em nível capaz deofender as raízes.

Os drenos subterrâneos podem ser abertos ou encobertos,dependendo se queremos ou não que as máquinas tenham livremovimento sobre a faixa drenada. O dreno subterrâneo pode

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também funcionar como esgotante da água superficial, depen-dendo da sua construção.

O teor de água no solo e a presença de sais nocivos é quedeterminam a necessidade de drenagem, sua profundidade, dis-tância e seção dos drenos. Nas bacias de irrigação, a drenagemcompleta as outras medidas que devem ser tomadas para a boaconservação do solo agrícola.

O primeiro conhecimento que é preciso ter do solo irriga-

do antes de estabelecer um projeto de drenagem, é localizar onível do lençol subterrâneo da água e as manchas salgadas ouonde há tendência para a salga. Estes dois pontos críticos mere-cem ser conhecidos para poupar trabalho, despesas e corrigircom rapidez as manchas de terras mais sujeitas à ação dos clore-tos ou dos carbonatos de sódio.

Sabendo-se a profundidade da água e os pontos de concen-tração dos sais, nós estamos em condições de evitar a subida daágua subterrânea para a superfície, causa da salga, e os tratos deterra em salgamento, que exigem a nossa imediata atenção paracorreção. Há trechos de terras já salgados antes da irrigação, há

outros com propensão a salgar e ainda terceiros que nunca salga-rão. Não é necessário e nem podemos economicamente drenarintensivamente todos os trechos cultivados de uma bacia de irri-gação. O problema consiste em saber onde estão os pontos críti-cos da salinização e procurar evitá-la ou corrigi-la.

A formação dos álcalis, nos climas semi-áridos, é explica-da pelos agrologistas como devida à abundância destes sais nasrochas desintegradas com deficiência de lavagem. Com a ação

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contínua do intemperismo, combinada com uma evaporaçãomaior do que a precipitação, há acumulação de sais dentre osquais os álcalis sobressaem pela tendência de saturação. Esteproblema da salinização é comum a todas as zonas secas domundo submetidas à irrigação.

A drenagem corrigida a salga ou evitando-a, permite man-ter o solo em produção, desde que outras medidas completaresde conservação sejam providenciadas; ela é uma medida especi-

fica para terra encharcada ou salinizada e é insuficiente por si sópara manter a fertilidade de um solo.Todas as vezes que água do subsolo aproxima-se de um

metro da superfície e que o solo ou a água contenham sais noci-vos, a drenagem precisa ser feita para afastar o nível hídrico deum para um meio metro de profundidade. Devido às camadasimpermeáveis do solo variarem de profundidade e de espessura,o nível da água subterrânea está sujeito a imensas graduações deprofundidade a curta distância. A razão por que alguns trechosirrigados não salgam, é devido à boa permeabilidade do subsolocom escoamento direto para leitos de rios ou drenos.

A vigilância do nível d’água no solo e da salinização é e-xercida pelas observações constantes das sondagens de tradofeitas nas bacias de irrigação.

À distância entre cada dreno coletor aberto, está subordi-nada à topografia e a vazão da água a escoar; a profundidadenunca será inferior a dois metros porque os coletores recebemágua dos drenos encobertos (Subterrâneos), que precisam ter, nomínimo, um metro de profundidade.

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O intervalo entre um e outro dreno subterrâneo varia con-forme o grau de salinização, a intensidade da cultura, o custo e atopografia; ele pode ser de dez a cinqüenta metros.

A cobertura do dreno com terra baseia-se na necessidadeda movimentação de máquinas nas operações culturais, na pre-sença de canais e na economia de água.

O material do fundo dos drenos cobertos pode ser pedraarranjada com brita ou manilha com camada de cascalho.

Quando os drenos cobertos são longos, urge construí-los comboa declividade para a velocidade da água escoante não facilitar asedimentação de material silicoso ou argiloso no interior.

Para drenos de maninha ou de pedra, uma declividade dedez a vinte centímetros por cem metros é boa, se a topografia doterreno assim a permite; os drenos abertos por causa da erosãonos taludes, não devem ter mais de cinco a dez centímetros dequeda para cada cem metros de comprimento.

A seleção das manilhas para drenos é muito importante,pois elas devem ser porosas, resistir a pressão da terra e não se-rem desintegráveis pelo sal. A manilha de barro vidrado é mais

resistente ao sal e à pressão, porém são muito mais caras.O nivelamento do fundo do dreno e a retidão da base de

maninha são fatores essenciais para o bom funcionamento e paraa conservação do sistema. Para melhor garantia é prudente que amanilha seja assentada em calçamento de pedra e coberta debrita para a retenção da sílica.

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DIQUES E BARRAGENS

Além dos meios já citados para economizar solo e apro-veitar a água, temos, nos diques e barragens, um dos mais efici-entes. Em muitos casos não basta evitar a enxurrada, o transpor-te do solo, é preciso também reter a água para aplicação posteri-or. Por isto lançamos mão dos diques de terra, de pedras, de ma-deira, de tijolos nas gargantas ou grotas apertadas ou onde um

curso d’água passa estrangulado entre dois morros.O dique quebra a velocidade da água, estanca-a, força adeposição do material sólido, evitando a erosão, formando umareserva d’água com lagoa ou açude. A parede pode ser larga ouestreita, alta ou baixa, dependendo da vazão do córrego, da prá-tica de construção, do capital disponível, do material que se teme das características do local. Em geral os diques e barragensconstruídos por fazendeiros têm desde um até dez metros dealtura, dependendo se os mesmos se destinam para bebedouro,controle de erosão, vazantes, irrigação, etc. Qualquer reservató-rio d’água representa um grande melhoramento na fazenda. Na

construção de um dique ou barragem, temos de, antes, conside-rar ou estudar a fundação (material e profundidade), o sangra-douro (custo e resistência do material), o volume do dique dabarragem, a facilidade de material da construção no local, a va-zão do curso d’água em relação ao reservatório que queremosformam, a existência ou não de terras a jusante para culturas,terras de montante para vazante, etc.

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Além da conservação do solo e da água o açude possibilitao plantio de vazantes nas terras frescas, permite a irrigação eproduz o peixe.

Na fazenda sertaneja, a vida humana a animal gira em tor-no do açude; ele é o centro de interesse econômico que garante aestabilidade da empresa.

Mas, a barragem não é somente um retentor do solo; elaexerce uma função preponderante na economia da região e na

preservação dos recursos naturais do país. Prendendo a água efixando a terra agrícola, ela cria um conjunto de condições favo-ráveis à vida animal e vegetal em torno; ela permite um adensa-mento de população humana, vegetal e animal que forma cen-tros de interesses produtivos, educativos e sociais; ela faz con-vergir forças naturais e humanas em harmonia com as necessi-dades essenciais da vida para um progresso e bem estar gerais demodo mais racional e permanente. Estreitando as relações entrea terra, a água, a planta, o animal, o homem, a escola, a igreja, atécnica e a cooperativa, o açude atrai os fatores mais decisivosdo melhoramento em torno de si para congregar a ação sincroni-

zada na conquista econômica da Zona Seca.Entretanto, a localização da obra tem de ser estudada para

o máximo proveito dos recursos naturais, não basta conhecer oboqueirão, a descarga, o solo, o material de construção; é preci-so, hoje, com a descoberta da grande riqueza mineral do Nordes-te, saber também que tesouro se esconderá debaixo da baciahidráulica, se a água não vai cobrir uma jazida de elevado valormineral e estratégico.

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A iniciativa particular, construindo diques, levantado bar-ragens, aproveitando lagoas, muito ajuda a ação do Governo noplano de defesa contra o clima.

Na escolha do local adequado para construir um dique oubarragem, o fazendeiro precisa considerar a existência de uma“garganta”, a capacidade de armazenamento d’água em relaçãoao volume do maciço, a topografia a montante e a jusante, a a-cessibilidade do material de construção, as condições do sangra-

douro, o comprimento e a altura do maciço, etc., antes de qual-quer decisão. Os locais de construção mais econômicos sãosempre as grotas apertadas com boa fundação e terrenos planosa jusante. A capacidade de armazenamento depende da vazão doriacho a ser pinçado, descarga esta que é derivada do deflúviomédio. De modo geral podemos dizer que a área da captaçãod’água, em quilômetros quadrados, multiplica por setenta e trêsmil (73.000 m³) metros cúbicos d’água, dará, com certa aproxi-mação, o volume d’água armazenada cada ano pelo reservatório.Achando o volume provável d’água que o riacho dará por ano,poderemos calcular a altura, o comprimento e a largura da bar-

ragem, conforme o material de construção: terra, tijolo ou pedra.A capacidade de repleção pode ser estimada, depois do es-

tudo topográfico, multiplicando-se o comprimento da linha d’água no eixo do córrego pela largura média do reservatório ve-zes um terço de altura da água.

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AFórmula: C x L x –––––––  = V

3

A decisão do material a ser empregado na construção deuma barragem depende das condições da fundação relevadaspelas sondagens, do material mais barato encontrado no local eda capacidade do reservatório. Pode existir muita pedra no local,

mas a fundação não permitir o emprego da alvenaria. Se o ali-cerce assentar em boa rocha e se a pedra tiver de ser trazida delonge, o fazendeiro deverá adotar uma barragem de terra.

A classificação das barragens pode ser feita, grosso modoem dois tipos: 1) acumulação acima do solo; 2) subterrâneas. Naverdade, todas as barragens acumulam água acima do solo oudentro da terra. As barragens de derivação e vertedouras são asdo primeiro tipo e nelas o sangradouro é lateral no primeiro casoe por cima do maciço, no segundo.

Queremos chamar a atenção dos particulares, para asgrandes vantagens das barragens subterrâneas tão pouco empre-

gadas no Nordeste. Todas as vezes que acumulamos água acimado solo, nós a expomos a uma grande evaporação.

Para darmos uma idéia de como é grande a evaporação nosaçudes, citamos que, pelas medições de água do SAI., os açudespúblicos de capacidade de trinta milhões a sessenta e oito mi-lhões, evaporam por ano oito milhões a quinze milhões de me-tros cúbicos d’água, ou seja, vinte e dois mil a quarenta e doismil metros cúbicos d’água por dia, variando com as condições

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locais de topografia mais aberta ou mais fechada altura d’água,direção e intensidade dos ventos, temperatura, etc. Sendo a doselíquida da água de irrigação aplicada nas culturas, média dosaçudes, por hectare ano, de oito mil metros cúbicos e sendo adose bruta, media de setenta mil metros cúbicos, vemos que aevaporação e infiltração dentro do reservatório e em trânsito noscanais somam oito a nove vezes mais do que a água aplicada nasculturas.

Considerando o fator evaporação, é preciso que uma re-presa tenha uma capacidade razoável para poder irrigar.Por este motivo, é que as barragens subterrâneas, acumu-

lando água dentro do solo e no subsolo com muito menor expo-sição à evaporação, levam uma grande vantagem em relação àsrepresas comuns.

A segunda comparação  –  custo  –  as subterrâneas podemser executadas com menos material, menor tempo e menos des-pesa porque elas consistem apenas numa cortina impermeabili-zada interceptando o lençol freático de um córrego, riacho ourio. Considerando a localização, as subterrâneas nem sempre

precisam de um boqueirão, basta encontrar um baixio profundo,bom de cultura, que, em certo ponto, abaixo, tenha a camadaimpermeável aflorado ou perto da superfície. Por meio de son-dagens ao longo e através de baixios ou vales de aluviões, o ho-mem procura conhecer a qualidade do solo, sua profundidade eem que ponto a camada impermeável ou a pedra estão mais per-to da superfície; aí, faz-se um valado transversal ao eixo do cór-rego ou do baixio até descobrir bem a pedra ou piçarra ou a argi-

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la compacta, desde uma ombreira até a outra. Dentro deste vala-do ou fundação, constrói-se uma parede de terra ou de alvenariacapaz de vedar a passagem da água, levantando-se até um metroou mais acima do chão. Aí teremos um açude de vazante.

As águas das chuvas, no córrego, são represadas até a altu-ra da parede, infiltram-se no solo e subsolo, até saturá-lo e oexcesso para por acima da parede, no ponto em que se deseja eonde se tomou a precauções para a sangria.

Depois do inverno a várzea úmida é plantada de cima parabaixo à medida de que a água superficial vai evaporando e dei-xando o solo saturado de umidade para a planta desenvolverdurante o verão. Deve-se dar preferência a uma várzea bem pla-na na qual um represamento mínimo possa umedecer e saturaruma grande planície.

Na barragem subterrânea, propriamente dita, o coroamentorespalda com o nível do chão, não havendo acumulação d’águaacima do solo como no açude de vazantes. Entretanto, o efeito éo mesmo nos dois casos: armazenamento da água abaixo dochão para o aproveitamento com culturas de verão. O açude de

vazantes, dadas à pequena altura do chão, é feito de propósitopara secar a água superficial no verão e permitir usar o solofresco com lavouras. O açude particular, como construído atu-almente, devido à elevação da parede, não facilita a sangria anu-al e daí resulta, às vezes, uma formação de salinidade a montan-te. Por outro lado, o açude particular proporciona excelente meiopara a criação de peixes, o que não acontece com o açude devazantes e com a barragem subterrânea. Enfim, a adoção de

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qualquer processo para o aproveitamento da água no Nordesteseco é uma questão que depende do local, das necessidades dafazenda e do gosto do fazendeiro.

Continuando com a comparação, afirmamos que no açude devazantes ou na barragem subterrânea não há o perigo de salga dasterras, não há necessidade de drenagem, porque o sal, que por ven-tura acumular na superfície, num verão, será levado pelas águas dopróximo inverno e lançado para fora pela cheia, na sangria. Cum-

pre notar que devemos prever a sangria todos os anos mediante ocálculo da altura da parede em função da descarga do riacho. Seacontecer, com o tempo, que a montante da parede seja aterrada,colmatada, pelo material carreado pelas águas, nós levantamentosmais a parede e ficaremos com um solo mais profundo a montantee maior porção de umidade retida.

Outra conveniência deste tipo de represamento, é que aterra coberta d’água provisoriamente é toda plantada no verão, oaluvião é todo utilizado, ao passo que no açude o aluvião ficaperdido debaixo d’água.

Um característico que não deve ser esquecido no emprego

da barragem subterrânea, é que ela aproveita bacias de captaçãomuito pequenas de cinco, dez, quinze, vinte quilômetros quadra-dos de captação que dão enxurradas de trezentos e cinqüenta milmetros cúbicos a um milhão e quinhentos mil metros cúbicos(1.5000.000 m³) anuais, volume que uma barragem de derivaçãoperde por evaporação.

Numa zona em que o solo de aluvião existe em pequena pro-porção, a barragem subterrânea facilita o seu cultivo quase integral

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porque onde não der barragem subterrânea, o fazendeiro fará la-vouras de inverno e nos locais apropriados para este tipo de represaele usará cultura de verão. A barragem subterrânea é um açude devazante. O criador de gado tem, nestas áreas umedecidas, um gran-de refrigério no verão, para produzir enormes quantidades de forra-gem verde para os animais, podendo ainda preparar muito feno naestação seca para as épocas de escassez. Além do emprego de bar-ragem sob as suas diversas modalidades, como meio de reter água,

há, ainda, outros processos mais simples, menos eficientes, porémque servem sempre para aproveitar menores áreas. São os diques,as levadas, as marachas, etc., que podem favorecer os desvios deágua de córregos ou riachos para terrenos com condições de embe-bê-las para aumentar a umidade natural da terra a ponto de garantiro êxito de uma cultura.

Apresentado às vantagens da barragem subterrânea e doaçude de vazantes como meios práticos no aproveitamento depequenas áreas, de condições especiais de topografia local, que-remos frisar que não somos exclusivistas a ponto de julgar queestes meios sejam bastante para resolver os problemas da terra

seca. Somos de opinião que são necessárias as grandes, médias epequenas barragens na luta contra as secas, mas que também osfazendeiros não estão dando a devida importância ao processomais simples de aproveitar o solo e economizar a água por meiodas barragens subterrâneas, dos diques, das marachas, dos des-vios dos cursos d’água, etc. que facilitam o espalhamento dolíquido sobre as várzeas, procurando armazená-lo no solo ouconseguir terra mais úmida.

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SÉTIMA PARTE

 A PREPARAÇÃO DO POVO PARA VENCER A SECA

O elemento decisivo, hoje, na melhoria de uma região, é apresteza com que a população local reage aos efeitos das obrasdo Governo. Quando os melhoramentos regionais, introduzidospela Administração, são recebidos com apatia e indiferença, não

temos motivos para esperar o progresso.O problema das comunidades retardadas apresenta aspec-

tos paradoxais.Um médico da L. B. A. nos informou que o fornecimento

da ração auxiliar de leite as crianças pobres resultou na diminui-ção que os pais davam aos filhos, em casa. O esforço da famíliadecresceu com a ajuda recebida.

O empréstimo temporário de máquinas aos irrigantes, en-quanto compravam as suas, prolongou-se por quinze anos, sem aaquisição do equipamento próprio, e a conservação dada ao ma-quinismo cedido foi a pior possível.

No setor da irrigação, além da deficiência da preparaçãopopular há ainda uma falta de interesse e de iniciativa dos donosdas terras irrigáveis pelo plantio destas, mesmo nos anos seca. Àmedida que aumenta o volume das obras construídas pelo Go-verno, retrai-se a ação do sertanejo no aproveitamento do açudeparticular e público.

Um sertanejo de cinqüenta anos de idade já assistiu e so-freu pelo menos quatro secas. Ainda hoje ele não guarda, nos

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anos chuvosos, uma parte das colheitas, para salvar, na próximacrise, a sua família e os seus gados. Ele prefere parecer a preser-var os cereais. A imprevidência tem a força de atavismo; o po-der dos costumes é mais forte do que o sofrimento. Estes resul-tados contraditórios evidenciam como é complexa a questão demelhorar as condições de vida das comunidades não educadas.

A insegurança material conduz os homens ao pessimismo,à intranqüilidade emocional e ao indiferentismo diante da vida.

As comunidades retornadas têm reduzida aptidão para assimilaros conhecimentos já avançados, em compreender o valor dotrabalho mútuo e demasiado zelo em não modificar os seus cos-tumes. Com a sua ignorância, elas permanecem no método ma-nual, de baixo rendimento, ficaram à margem da civilização,impotentes por si mesmas, para satisfazer as suas necessidadeselementares e não puderam acompanhar o cortejo suntuoso doelevado padrão de vida que a ciência do século XX deu às cole-tividades instruídas e educadas.

O povo precisa ser chamado a participar mais ativamenteno melhoramento do Nordeste.

Cientes de que o progresso resulta da melhoria geral no se-tor social, econômico, financeiro e político, certos de que asprovidências do Governo precisam encontrar receptividade nopovo, urge despertar as energias coletivas e provocar uma rea-ção de baixo para cima. Inicialmente, o Nordeste tem necessida-de de três coisas: alimento, fraternidade e ação conjunta. Conse-guindo esse primeiro desiderato, os esforços conjugados visarão

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obter outras melhorias sucessivas para a elevação gradual e fir-me do padrão de vida.

Esta convocação da população para a vida ativa pode serfeita por um movimento de grande envergadura, ambulante, deturmas de técnicos, com equipamento adequado, fazendo prele-ções nas feiras, nas escolas, nos cinemas, nas reuniões, nas ex-posições regionais, etc. A caravana compor-se-á de um agrôno-mo, um médico, um assistente social, uma professora doméstica,

um mecânico, e veículos com todo o equipamento preciso.A campanha visará angariar o concurso da Igreja, dos juí-zes, dos prefeitos, dos professores, dos comerciantes e, sobretu-do, dos fazendeiros. Os padres pregando nas igrejas sobre osassuntos do movimento darão grade prestigio a campanha.

Em cada ponto de reunião seriam feitos palestras esclare-cedoras, exibidos filmes educativos sobre o valor da disciplina eda ordem, a importância do agricultor, a necessidade da coope-ração entre os resistentes no mesmo Município, a consciência dovalor individual, etc.

Este trabalho preparativo das populações para vencer as cri-

ses deverá visar: 1) o desenvolvimento das boas qualidades morais,como: o cuidado com a família, o sentimento da responsabilidade,ser solidário com os companheiros da profissão, ter ambição paraaprender e não esperar tudo do Governo e 2) a formação de novoshábitos, como: conservar os alimentos e as forragens, cuidar dahigiene da casa e da família, preservar o solo, a água, a flora a fau-na, aprender a cooperar com os vizinhos, reparar as máquinas efornecer dados exatos para a estatística.

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Somente depois de convencer ao matuto de que o Governoquer ajudá-lo, e não explorá-lo quando ganharmos a confiança ea amizade dos homens e depois de verificada a aceitação dasidéias novas, é que serão focalizados os problemas do meio e daagricultura.

Não basta reunir os homens, é imprescindível que eles to-mem os assuntos como seus, os discutam entre si, se entusias-mem pela causa e compreendam o mérito da Agricultura como a

sua ocupação, entre as diversas profissões da comunidade.Apresentado os fatos mais notáveis da lavoura no municí-pio, sem os comentar, e incitado os agricultores a exporem assuas opiniões, é possível avivar o interesse dos presentes, excitara sensibilidade para os temas em foco e vencer a passividadereinante. O povo do Nordeste não tem sido esclarecido sobre ovalor da sua ação, da importância de unir os esforços dos gruposde residência próxima ou dos que têm idêntica atividade; não lhetemos indicado uma orientação a seguir e há uma separação ní-tida entre a ação do Poder Público e o labor particular.

Não é possível haver soma de esforços, acumulação de

conhecimentos, uniformidade de pensamentos e continuidadeadministrativas se os dirigentes e os dirigidos estão divorciados.O povo precisa compreender que o Governo trabalha para o seubem e não para enganá-lo.

Depois de conquistar a população local, de angariar a suaconfiança e estima, os funcionários do Governo iniciarão a se-gunda fase da campanha explicando as finalidades de um açude,

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ou mesmo em depósitos subterrâneos, semelhantes aos usadospara conservar o trigo na Argentina, teremos obtido, em dezanos, o armazenamento de uma safra completa.

Este estoque garantirá as rações da população durante doisanos sem chuvas. Está ao alcance de cada matuto separar umaparte dos cereais para o consumo nas secas. Bastas querer e criaro costume de assim proceder todos os anos, sem interrupção.

Com o reserva familiar de alimentos no interior, com o fi-

nanciamento da produção feito diretamente ao lavrador, o traba-lho de incentivo e de assistência aos proprietários, rendeiros emoradores, manterá as famílias nas suas casas durante as secas ea metade dos problemas já estará resolvida.

A ação da campanha não pode parar; ela continuará a a-conselhar, a ensinar e a demonstrar as vantagens dos novos cos-tumes, da economia, da vida regular, da conservação dos ali-mentos, da educação dos filhos sempre ocupados no trabalho eno cumprimento dos alimentos, da educação dos filhos sempreocupados no trabalho e no cumprimento dos deveres, dos pro-veitos de uma família ajudar a outra e, quando o grupo compre-

ender o valor do trabalho em equipe, então, serão lançadas asbases da cooperativa local de produção, de crédito, de transpor-te, etc.

Este deverá começar modestamente até os associados ad-quirirem a experiência precisa e a diretoria ter tempo de conhe-cer as disposições de cada sócio com a sociedade e as relaçõesdesta para com o comércio. O financiamento das cooperativasmerece uma atenção especial. O Governo deverá ter numerário

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A disciplinação geral da população para a produção orga-nizada tem de ser feita primeiramente convencendo o povo deque: 1) somente o trabalho constrói; 2) cada um precisa abdicarde uma parcela dos seus direitos como um sacrifício individualem prol da harmonia coletiva; 3) os resultados da ação coletivasão lentos, porém duradouros; 4) os resultados da ação coletivasão lentos, porém duradouros; 4) o progresso de um país precisaser uniforme nos diferentes setores de atividade e integral na

participação da sua população para ser verdadeiro e permanente.

EDUCACÃO E INSTRUCÃO INTENSIVA

O sucesso de uma civilização depende dos conhecimentosúteis, dos pensamentos sábios e dos sentimentos nobres dos ha-bitantes. A complexidade da vida atual exige que o homem sejaa expressão das verdades religiosas, morais e científicas que ahumanidade alcançou nos instantes da exaltação criadora duran-te milênios de experiência.

Erigimos a Ciência materialista e a Política Social como

balizas norteadores da nossa orientação, esquecendo-nos de quea força legítima da sobrevivência feliz está nas qualidades doindivíduo, unido ao grupo, na sublimação do ideal do coletivo,na conduta rica de sabedoria e no esforço mais construtivo dobem estar geral. A nossa redenção resultará mais da nossa pró-pria ação do que dos planos dos nossos governos e da perfeiçãodas nossas leis.

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O povo rural não encontra o caminho certo porque o seudestino está vinculado ao da população urbana, cuja educação éestimada pela quantidade de saber, insuflada na inteligência dos

 jovens, e não pela qualidade de doutrina de vida que ele encerra.O conhecimento é deficitário toda vez que o lucro é sobreposto àfamília, quando os direitos substituem os deveres, quando nãoempenhamos às nossas aspirações essenciais pelos valores maisaltos e quando a vontade não penetra o nosso pensamento e a

nossa ação.O grande erro da Democracia foi estabelecer a igualdadepara valores diferentes, foi nivelar o sábio com o analfabeto,equiparar o virtuoso com o desonesto, enfim, tem sido contar aquantidade e não avaliar a qualidade. O indivíduo é número,compõe a multidão; a pessoa é predicado, forma o cidadão. Oindivíduo sobrepujou o cidadão e se arroga o privilégio da liber-dade exorbitante da disciplina e da ordem, a ponto de quase nãoreconhecer as autoridades federais, estaduais e municipais, res-ponsáveis pela Administração pública.

Diariamente vemos o indivíduo prejudicar a coletividade.

Apesar de não termos um regime político melhor do que aDemocracia, ela nos acena com a liberdade e nos ilude sutilmen-te com a concorrência desleal, com as injustiças dos prêmiosimerecidos e com o materialismo dos números absolutos comopadrão da medida de valores.

No primado da inteligência, a ciência triunfou do coraçãoe da razão. Dir-se-ia que a Ciência venceu o Humanismo. Então,a condição do homem está prestes a desaparecer. No mundo dos

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paradoxos, o homem está desmerecendo a essência da vida e,com ela, a aptidão para a sobrevivência.

O privilégio do trabalho construtivo foi sobrepujado pelodireito de viver, independentemente das obrigações morais, reli-giosas e sociais que o indivíduo, ao nascer, assumiu para os seuscontemporâneos e para com Deus.

A alfabetização não tem resolvido os problemas das popu-lações do interior; o trabalho manual, empírico, aprendido pela

imitação, através de gerações, também não proporcionou umaprodução e um bem estar mais consentâneos com as crescentesnecessidades materiais dos grupos regionais. Desapareceu a con-fiança do lavrador no seu vizinho, escasseou a fé na ajuda dopróximo e faltou um guia que ensinasse aos matutos que a modi-ficação das condições do meio impõe a aquisição de novos cos-tumes.

Verificou-se, então, que o adiantamento unilateral ou de-sarmônico das comunidades é efêmero e ilusório; o melhora-mento real do padrão de vida apóia-se na aquisição contínua deconhecimentos proveitosos, na adoção de hábitos salutares, na

prosperidade de todos e no aperfeiçoamento do ambiente. Asfamílias sertanejas carecem da alfabetização, da disciplinação doraciocínio, da aprendizagem de melhores métodos de trabalhar,de praticar a solidariedade profissional e de se convencer davalia da iniciativa própria sem pedir tudo à Administração Pú-blica. Além da propaganda das vantagens da educação, um largoprograma deve ser executado, abrangendo o melhoramento dasescolas existentes, a organização de escolas rurais nos estabele-

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cimentos agrícolas federais, estaduais e municipais, o ensinoambulante de economia doméstica, práticas de enfermagem enoções de alimentação e a disseminação de processo simples deindústrias caseiras.

Em cada posto agropecuário, cada estação experimental,cada fazenda de sementes devem ser ministrados cursos práticosde agricultura para aproveitar as culturas, as máquinas, os agrô-nomos, os animais, a água e as instalações. Não é possível dar

estas aulas nas cidades ou nas escolas normais porque faltam oselementos básicos.O ensino nas escolas de agricultura do Nordeste, nos graus

superior, médio e elementar, deverá incluir o estudo da Ecologiae da Sociologia da Região. Nestas escolas deverão ser prepara-dos os professores para o ensino agrícola, ambulante, que requerdoutrinadores experientes, cultos e pacientes, homens que serãoconsultados nas fazendas sobre diferentes assuntos e muitos ca-sos especiais. Em geral, não falta conhecimento geral ao agrô-nomo; as qualidades pessoas da tolerância, da prudência, doespírito de sacrifício e da persistência não são facilmente encon-

tráveis no indivíduo.As Secretarias de Agricultura dos Estados devem dar cursos

especiais, sobre os assuntos agrícolas mais importantes, aos seusagrônomos mais estudiosos e esforçados para a melhoria gradativado pessoal técnico. Estes cursos ou séries de conferências poderãoser dados por autoridades ou professores contratados por poucotempo, que se obrigarão também a fazer demonstrações práticas.Programas de conservação do solo, mecanização da lavoura, siste-

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matização da lavoura xerófila, modos especiais de tratar com olavrador, irrigação, planejamento racional da exploração de umafazenda no sertão, são de grande utilidade.

Em geral, os agrônomos ocupados com os seus trabalhos epala dificuldade da aquisição de bons livros perdem o contatocom o adiantamento da profissão e, insensivelmente, são assimi-lados pelo meio ou seduzidos por ocupações, outras com prejuí-zo do seu capital de conhecimento técnico e de tempo na escola.

Todas as repartições agrícolas federais e estaduais devemter uma seção com agrônomos encarregados de ler publicações,sobre assuntos rurais, traduzi-las ou resumi-las em folhas mime-ografadas e distribuí-las com os colegas e auxiliares de serviçono campo.

Estes resumos poderão também ser úteis aos lavradores, sedistribuídos em larga escala.

Um homem instruído e educado é um cérebro caro, que foibeneficiado pela organização escolar, pelo professor que o ensi-nou, pelos livros que outros escreveram e pela cultura que a Ci-vilização acumulou; as suas responsabilidades científicas, cívi-

cas e sociais são enormes porque elas gozam de prestígio naclasse atrasada e pode explorar a ignorância alheia em proveitoda sua pessoa; dele depende o progresso ou a decadência da co-munidade. O saber não tem “ersatz”, ou melhor, a cultura nãotem sucedâneo; somente o conhecimento pode alargar o pensa-mento e esclarecer as idéias. A transmissão dos conhecimentosestá hoje ampliada pela publicidade nas formas de anúncios, defolhetos, de livros, de jornais, de rádios e da gravação, em dis-

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cos, de palestras e das aulas que podem ser repetidas em diferen-tes lugares. O Professor tem, assim, multiplicados os seus conta-tos com as coletividades às quais pode ensinar noções simples eproveitosas sem tomar muito tempo.

A tarefa de instrução e da educação das populações, paravencer a seca, é uma contribuição valiosa dos Ministérios daEducação, da Agricultura, das Secretarias Estaduais e das Pre-feituras Municipais.

A elite culta, brasileira, é extrovertida, busca conhecimen-tos e ilustração nas leituras em língua estrangeira e nas viagens,vive debruçada para o mundo, acompanhando mais os assuntosinternacionais do que pensando nos problemas do Brasil.

Os nossos cérebros pensantes, salvo raras e honrosas ex-ceções, vivem mergulhados no universalismo, participando dascorrentes de idéias que formam os pensamentos filosóficos decada época. Como filhos de latinos herdamos uma tendênciaacentuada para a cultura espiritualista.

As nossas escolas são bons exemplos de ensino universali-zado.

O regionalismo básico e científico não conseguiu aindapenetrar no nosso sistema de ensino. O nosso ambiente nordes-tino não pode ser uniforme porque é anfíbio, misto de água e deseca, sui-generis no mundo em comparação com os desertos quesão sempre desidratados, com os pólos gelados eternamente,com as regiões temperadas de clima ameno e com trópico sem-pre chuvoso.

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A incerteza é a característica desnorteante do nosso meio eo matuto, carecendo de tudo, com as desvantagens dos processoselementares, não consegue formar uma tradição de hábitos deirrigação, de conservação de alimentos, de previdência sistemá-tica, de conjugação de esforços, que caracteriza as comunidadesconservadoras dos ambientes típicos.

A igualdade ambiental ou a variação ordenada do meio émais propicia à formação dos costumes conservadores, à fixação

dos processos locais de produção e ao estabelecimento do com-portamento normal das coletividades. A oscilação violenta doclima dificulta a criação dos métodos de trabalho organizado,perturba a introdução de novas práticas aprovadas e impedem derotinar os processos julgados eficientes.

Se num ano a lavoura da colina carece de irrigação porcausa da seca, no outro ano a cultura do baixio precisa de drena-gem em conseqüência da inundação. A perenizarão dos rios pormeio de barragens choca-se com a prática secular das vazantesnos leitos secos até que o matuto se acomode com o bombea-mento da água corrente para regar as terras marginais.

A conservação de cereais e de forragens tropeça, nos anoschuvosos, na impaciência do agricultor para esperar a seca, mui-to embora já esteja provado experimentalmente que esta preser-vação é lucrativa. O comportamento do homem vacila quandoele vê a abundância de chuvas, o aspecto bonito das lavouras e amacega verdejante dos pastos. Ele esquece a seca.

Em vista da irregularidade climática perturbar a condutado povo nos processos da produção, o homem habituou-se a

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pedir tudo ao governo, inclusive o controle da economia particu-lar, quando mais útil seria distribuir conhecimentos e desenvol-ver habilidades por intermédio da educação da comunidade.Igualar as oportunidades pela educação, para incentivar as inici-ativas individuais e estimular as capacidades latentes, é melhordo que uniformiza a riqueza.

Já era tempo das escolas primárias, secundárias e superio-res terem os seus programas calcados no clima da região, na

aridez, no açude, na água subterrânea, nas plantas resistentes àseca, na irrigação, na conservação dos alimentos e das forragens,nos minerais da região, na piscicultura dos lagos internos, nasplantas valiosíssimas que dão safras com umidade escassa, nosolo calcinado que produz safras milagrosas, nos alimentos for-tes da rapadura, do feijão, da carne seca, do caju, da manga, dorefresco de pega-pinto, da cajuína, do pequi, do grão do favelei-ro, da ameixa do umbuzeiro, etc.

A parte ignorante da população, a iletrada, é introspectivano sentido sentimental e contemplativo, não relaciona o pensa-mento com as possibilidades do meio porque lhe falta a orienta-

ção da educação racional e ativa, porque a escola, o professor eo Ministério da Educação estão organizados e preparados parauma modalidade uniforme de ensino do Amazonas ao Prata,

 julgando que a unidade política do País decorre da generalizaçãodos programas escolares.

Os princípios científicos devem orientar os métodos detrabalho, precisam ser ensinados nas escolas, porém a universa-

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lização das matérias lecionadas é prejudicial ao nacionalismo donosso modo de vida e ao conhecimento das questões regionais.

Urge criar nas gerações novas a orientação regional basea-da no que o ambiente oferece na atualidade e no futuro, nas van-tagens a serem auferidas, nas dificuldades a superar, no amor aovalor intrínseco das coisas existentes na terra em que o homemnasceu, na crença de que o matuto é bom, capaz de ações admi-ráveis e de empreendimentos extraordinários.

A idéia fixa de um Nordeste melhor, mais verde, maisprodutivo, mais alegre, mais confortável, de homens operandoconjuntamente para o melhoramento cada vez mais eficiente daRegião, tem de ser conseguida pela ajuda da elite ilustrada emcooperação com o Governo, com o Poder Legislativo, com aJustiça, com a Igreja, com o Comércio e com a Indústria.

Um grande programa existente da educação precisa ser de-senvolvido, entre a população sertaneja, visando obter a com-preensão dos assuntos básicos, a cooperação no esforço e a har-monia nas ações.

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OITAVA PARTE

 A COLONIZAÇÃO DAS TERRAS ÚMIDAS, LIMÍTROFES DO POLÍGONO SECO.

A democracia confere a liberdade de locomoção ao habitantee quando o cidadão desajusta-se do meio, por causas diversas, dá-se à retirada ou a emigração. No Nordeste, esta tem sido feita para

regiões longínquas com o enfraquecimento da composição da po-pulação e nenhum benefício econômico para a zona mãe.

A emigração tem subtraído do Polígono quatorze por cen-to dos elementos masculinos entre dez e vinte e nove anos, exa-tamente os jovens mais capazes e mais hábeis. Esta exportaçãode capital humano atinge cifras astronômicas quando traduzidasem valor monetário. A saída desorganizada do homem moço,habilidoso e produtivo diminui a possibilidade do aproveitamen-to dos recursos naturais e a eficiência nos investimentos de nu-merário na região. O capital humano é a maior riqueza e a suadrenagem, para territórios outros, que não infundem progresso

nos estados-berços, significa uma poda na população com refle-xos econômicos negativos.

A parte mais pobre e mais numerosa da população é aque-le que carece de usufruir mais intensamente e mais largamenteos melhoramentos.

O aproveitamento parcial dos açudes públicos e particula-res representa uma deficiência no emprego de dinheiro ou ummau uso do capital. A distribuição inadequada do trabalho nas

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fazendas durante os meses do ano e a deficiência na educação dopovo, convertem-se em fatores estimulantes da retirada da populaçãoem procura de outras paragens, às vezes enganosas, quando o estabe-lecimento não é baseado na orientação segura.

O desenvolvimento da indústria para ocupar braços e as mul-tiplicações dos exemplos da iniciativa particular para dar empregossão de crescimento vagaroso e a emigração não espera por estasoportunidades. Assim, em vez de assistirmos ao êxodo incontrolado,

é melhor guiarmos o seu destino.Os vácuos demográficos ao Norte e ao Oeste do Polígono, asimensas glebas incultas estão a exigir a ocupação, o domínio e adefesa pelos brasileiros que receberam das gerações passadas umimenso império territorial para zelar politicamente e desenvolvereconomicamente.

A abertura de estradas para as ligações do Norte com o Leste eo Sul, a barateza dos transportes por meio das correntes de águasfluviais, indicam o caminho dos novos bandeirantes para fundarcolônias e fazendas, produzir carne, banha, manteiga, queijo, borra-cha, óleo, couro, etc., que serão trocados por mercadorias do sertão e

do litoral ou aí transformados, formando uma circulação de riquezase de compensações entre a zona- berço e os núcleos.

As estradas do Barão do Grajaú – Carolina – Araguaia, a deFloriano - Paranaguá – Goiás – Mato Grosso, a de Teresina em bus-ca do Vale do Mearim, conjugadas com a navegação fluvial dos riosmaiores, são as vias de comunicação que terão de ser abertas emfuturo próximo para levar homens e trazer riquezas. A safra anual debraços nordestinos terá de ser trocada, pelos produtos daquelas regi-

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ões por intermédio do comércio e da indústria integrando a econo-mia do País, já, politicamente unificado.

Das publicações do I. B. G. E., extraímos os seguintes dados,relativos ao Polígono Seco:

População (1950)........................................................... 12.531.305 habÁrea total ..........................................................................1.150.652 km²Aumento anual da população (2,4%)................................340.000 hab

Área cultivada (1951)....................................................... 3.392.917 habÁrea cultivada por hab, (1951).................................................. 0,27 hab

A relação tradicional entre a área cultivada e a população re-quer um hectare por um habitante, incluindo a alimentação na basede duas mil e quinhentas (2.500) calorias “per capita”, vestimenta,abrigo e gastos diversos. Os EU., da América do Norte mantém cadapessoa com um hectare plantado ou à razão de 1:1; no sul do Brasilcada habitante dispõem de zero vírgula cinco hectares; no Méxicozero vírgula trinta; na África Equatorial a mesma relação é de 1:1/7.Queremos que, para a nossa condição semi-árida, o padrão de vida

suba de 1:1/4 para 1:1/2.Estudando a densidade demográfica, o Dr. Castro Barreto, em

“Estudos Brasileiros de População”, assim se expressa, na páginavinte: “Os estudos recentes demonstram, entretanto (se a prática dospaíses superpopulados já não o houvesse feito), que, mesmo nosagrotipos mais elevados, o limite da população não deve ser o intole-rável (Wilcox). Nesses ultra-agrotipos a produção do azoto por mi-lha quadrada (840 acres) é capaz de nutrir teoricamente trinta e dois

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mil seiscentos e quarenta (32.640) indivíduos, mas na prática as po-pulações mais densas da Europa não vão além de mil e quinhentos(1.500) habitantes por milha quadrada, levando a vida a um grauquase intolerável. As substâncias azotadas proviriam exclusivamentedo reino vegetal, porque não comportaria os animais domésticos.Tais agrotipos representam, porém, percentuais mínimos na superfí-cie global da crosta terrestre”.

Os exemplos dos lavradores chineses e japoneses não servem

de padrão para as nossas condições porque ali a densidade da popu-lação atinge até três mil (3.000) pessoas por km², em algumas pro-víncias, e os seus métodos de cultivo já se cristalizaram na tradiçãode quatro mil (4.000) anos; as observações e as experiências adquiri-das de geração em geração criaram uma rotina de trabalho seguro,ecologicamente moldada ao ambiente e ao comportamento da famí-lia.

O segredo da agricultura chinesa, conseguindo manter o soloprodutivo durante XL séculos, está na adubação orgânica com o“composto”, preparado continuamente em montes de fermentaçãoregulada, aproveitando as varreduras, os lixos, as cinzas, os estercos,

as plantas aquáticas, a lama dos drenos, a vegetação das banquetasdos canais e dos drenos, o folhedo das florestas, os animais mortos,as serragens, etc., transportados das cidades ou juntados nos campos,curtidos e aplicados, todos os anos nas glebas a serem plantadas.Além desta adubação racional, a prática chinesa emprega, também, aadubação verde, a rotação das culturas, evita a erosão, constrói terra-ços e consegue duas colheitas, por ano, no mesmo talhão.

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Somente os povos de costumes amadurecidos, tradicionaise antigos são capazes de viver com uma agricultura tão intensivae cuidada; mas, os chineses, os japoneses e os hindus, têm baixopadrão de vida. Os nossos lavradores não conseguiram aindaalcançar os métodos de trabalho disciplinado, perfeito e contí-nuo; somos um povo ainda em formação, um tanto dispersivo,com grandes áreas disponíveis de terras devolutas. Esta é umadas razões por que os processos conservacionistas dos recursos

naturais não têm se difundido largamente entre os agricultores.A colonização das terras devolutas tem de ser obtidacom os costumes nacionais, nos moldes brasileiros, emboranos esforcemos para introduzir processos melhorados. Aindaque não sejamos contrários à imigração estrangeira, achamos,entretanto que temos dado pouco valor “à prata de casa”. Osproblemas do Nordeste e os da colonização têm de ser resol-vidos à moda brasileira, com a experiência do homem quenasceu no meio, que sentiu as suas reações, que estudou aecologia, os costumes e obteve as conclusões depois de longameditação e de sensato realismo.

Para que o nível de vida dos habitantes nordestinos possaatingir o padrão brasileiro, a superfície lavrada tem se subir parameio hectare “per capita”, ou seja, seis milhões de hectares(6.000.000), para a população atual. A primeira vista parece queo Polígono já atingiu a sua capacidade demográfica econômica,porém isto não é verdade. Uma parte da população está desajus-tada, não tem meios para trabalhar, apesar de existir ainda gle-bas para plantar. A emigração aumenta com a seca porque o

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povo não guarda os cereais nos anos bons para passar as crises dosmaus tempos e porque faltam os elementos de fixação e labor orga-nizado.

Temos de começar, desta já, a fixação das famílias desocupa-das nas zonas molhadas, em torno da faixa seca, para evitar que esteêxodo “á la diable” continue a perturbar as atividades do País.

O desenvolvimento da irrigação, por várias causas, é lento e omovimento imigratório, que continuará, precisará ser dirigido e auxi-

liado pelos Governos.Quando a população total do Território Seco alcançar os vintemilhões (20) de habitantes, a superfície agricultada, anualmente, nãopoderá ser inferior a dez milhões de hectares (10.000.000 ha). Emconseqüência da necessidade de descanso do solo, para a recupera-ção da fertilidade, a área destinada à lavoura será de trinta milhõesde hectares (30.000.000 ha), em base conservacionista.

Os campos erodidos, a reservas florestais, indispensáveis, aspastagens requeridas pela pecuária, as pedras, os rios, as lagoas, etc.,reduzem muito a superfície agricultável dos cento e quinze milhõesseiscentos e sessenta e cinco mil e duzentos hectares (115.065.200)

totais do Polígono. Assim, a área de solo lavável cada ano e a dealqueive dificilmente poderia ultrapassa os trinta milhões de hecta-res.

Atingido este limite demográfico, admissível pela lavoura dechuvas, a população acrescida anualmente terá de ser absorvida pelairrigação e pela colonização do Nordeste e do Oeste vizinhos.

A industrialização, conforme o seu grau e intensidade, absor-verá, também, uma boa parcela dos habitantes.

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Mas, enquanto não se estender à irrigação na escala citada, atéconseguirmos uma indústria que dê trabalho a muita gente, nós te-remos, normalmente, de estabelecer colônias agrícolas no Maranhão,sul do Piauí, norte de Goiás e de Minas, e lá fixarmos, cada ano,provavelmente vinte mil (20.000) famílias nordestinas, com estradas,casas, cooperativas, assistência, escola e organizações iniciais.

Esta colonização exigirá um loteamento mínimo de trinta hec-tares (30 ha), por família, devido ao repouso obrigatório para manter

a produtividade do solo em clima chuvoso, aos lotes de pastagens etalhões para matas. Enquanto a terra produzir bem, estes núcleosserão prósperos.

A preparação do local para o estabelecimento dos retirantestem de começar pela construção das estradas de acesso, estudos to-pográficos e agrológicos das glebas, fontes para o abastecimento deágua, marcação dos lotes com quinze hectares (15 ha), para lavoura,dez hectares (10 ha) para pastos e cinco hectares (5 ha), para matas.A área de cultura será dividida em três partes de cinco hectares (5ha), cada uma; cada parte será explorada de uma vez, em rotação detrês anos, permitindo assim, que cada talhão de cinco hectares (5 ha),

tenha um pousio de dois anos para recuperar a fertilidade. É absolu-tamente necessário o alqueive para evitar o empobrecimento da ter-ra, ao lado da rotação, das medidas conservacionistas e da adubaçãoorgânica, mais tarde. Cinco hectares, cada ano, para uma família atédez pessoas, dá um a proporção de meio hectare por habitante, o quesomado com os resultados do aproveitamento do posto pela pecuá-ria, pode ser suficiente para uma existência modesta.

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Os lotes familiares indivisíveis, distribuídos conforme a classi-ficação da capacidade de produtos, com talhões para cereais, forra-gens e lenha, de modo a permitir ao ocupante um modelo de vidasóbrio, porém estável.

Deste modo a abertura de lotes deverá ser na proporção deseiscentos mil hectares (600.000 ha), por ano. Alguém nos informouque o Brasil gasta cento e oitenta mil cruzeiros (Cr$ 180.000,00)para trazer e instalar, aqui, cada família européia. Se gastarmos trinta

mil cruzeiros (Cr$ 30.000,00) para cada família brasileira, neste a-grupamento, verifica-se que a despesa anual, provável, será da or-dem, de Cr$ seis milhões de cruzeiros (600.000.000,00).

Mesmo deixando de lado o aspecto político e humano e to-mando-se em colonização é altamente econômica.

O Dr. Castro Barreto, em “Estudos Brasileiros de População”,2ª edição, pág. 215, estima o valor por habitante, aos quinze anos,em sessenta mil cruzeiros (C$ 60.000,00). Tomando este númeropara as dez mil pessoas (100.000) vinte mil famílias (20.000) cita-das, teremos uma valorização humana da ordem de seis milhões decruzeiros (C$ 6.000.000,00).

Não poderemos fugir ao imperativo desta colonização, mesmocom o sucesso rápido das obras do Nordeste, porque; 1) é necessárioevitar o movimento caótico dos “paus de arara” para o Sul e para oAmazônia; 2) é preciso dar trabalho produtivo, nas parcelas devolu-tas do Oeste, ao acréscimo da população; 3) urge dar sossego aosadministradores para resolver os problemas. Não podemos impedir,porém, que muitas famílias, com os seus próprios recursos e vonta-

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de, emigrem a chamada de parentes, amigos ou por contratos deserviços.

Vemos, então, que o denominado problema do Nordeste exor-bitou-se, transbordou e transformou-se em dois: seca e pauperismo.Para conduzir as duas questões a soluções racionais nós teremos querealizar um programa muito intensivo de obras, de lavoura regada,de cultura conservadorista de chuvas, de industrialização, etc., dentrodo território seco e um outro plano, paralelo, de caráter extensivo, lá

fora, de localização dirigida da população móvel, desocupada oudesajustada.As vantagens de orientar esta colonização é dar ambiente de

trabalho a quem não está produzindo, eliminar um fator de perturba-ção interna do País, articular as regiões para o incremento do comér-cio que virá beneficiar o sertão, a caatinga, as serras, etc., pelo mo-vimento de trocas, e evitar os vácuos populacionais mediante a ocu-pação, provocar o saneamento, etc.

A invasão espontânea e desordenada de retirantes, nas glebasdo Oeste e do Nordeste, Causará o estrago total das florestas e dosolo, sem deixar reservas que asseguram o rendimento futuro dos

núcleos; é uma exploração para ganhar o máximo de dinheiro, nomenor tempo, sem a estrutura escolar- educativa e sem civismo.

Ela, sem presença de um órgão governamental, fundada so-mente na lei do mais forte e na ambição, criará no porvir, problemasagudos e soluções impossíveis.

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NOMES CIENTÍFICOS DAS PLANTASCITADAS NESTA PUBLICAÇÃO

1 – Abacate – Persea gratissima – Gaertn.2 – Angico – Piptadenia colubrina. Benth.3 – Amendoim –  Arachis hypogea – L.4 – Algodoeiro mocó – Gossuypium herbaceum var. Vitifolium, Roxb.

 – Gossupuim peruvianum, Gav.

5 – Alfafa no Nordeste – Stylosantes guyanensis.6 – Alecrim do campo –  Lantana microphila. Mart .7 – Arroz – Orisa sativa.8 – Agave – Fourcroya gigantea, L. Agave, rigida, Ternine.9 – Aroeira – Schinus aroeira.10 – Barriguda de espinho – Chorisia ventricosa, Nees et Mart.11 – Bananeira –  Musa paradisíaca. L.12 – Batata doce –  Batata edulis.13 – Babaçu – Orbignya speciosa.14 – Canafístula – Cassia fistula, L.15 – Cafeeiro – cofea arabica. L.16 – Carnaúba – Copernícia cerifera, Mart.

17 – Caroá –  Neoglaziovia variegata. Mez.18 – Xiquexique – Cereus Gounellei. K. Schuman. Pilocereus setou-sos, Guerke.

19 – Capim de roca – Paspalum sp.20 – Capim panasco – Panicum capilaceum, L.21 – Capim milhã – Panicum verticillatum, L.22 – Capim rhodes – Cloris gayana, Kunth.23 – Cansanção – Canidosculos infestans.24 – Catingueira – Caesalpinia brateosa, Tul.

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25 – Capim elefante – Pannisetum Purpureum, Schum.26 – Cedro – Cedrella glaziovii – Dc.27 – Cajueiro –  Anacardium ocidentali.28 – Cumaru – Coumaruna odorata, Aubl.29 – Cana de açúcar – Sacharum officinarum.30 – Capim sempre-verde – Panicum maximum.31 – Coqueiro – Cocus nucifera.32 – Ervanço – Telenthera sp.33 – Engorda magro –  Meibomia sp.

34 – Eucalipto – Eucalyptus sp.35 – Faveleiro – Cnidosculus phytacantus (Mart.)36 – Facheiro – Cereus equamosus.37 – Feijão macassar – Vigna sinesis, Endl.38 – Feijão guandu – Cajanus indicus.39 – Feijão mucunã – Stizilobium atterrimum.40 – Feijão camaratu – Cratylia surda – Tul.41 – Feijão de rola – Phaseolus semierectus, Scharnk.42 – Fícus benjamina – Ficus retasa, L.43 – Fumo –  Nocotiano tabacum, L.44 – Gitirana –  Ipomea glabra.45 – Jerimum – Cucurbita pepo, L.46 – Grama – Cynodon dactylon, Pers.47 – Ingazeira –  Ingá ingoides – Willd. – Ingá Leptantha, Benth.48 – Imbu – Spondia Tuberosa.49 – Imburana – Torresea cearensis – Fr. Alem.50 – Jatobá –  Hymenaea stilbocarpa.51 – Juazeiro – Sizuphus Juazeiro, Mart.52 – Jurema branca –  Mimosa verrucosa, Benth.53 – Jurema preta –  Mimosa nigra, Hub.54 – Jurubeba – Solanum paniculatum, L.

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55 – Laranjeira – Citrus aurantium, L.56 – Mamoeiro – Carica papaya, L.57 – Maniçoba –  Manihot Glaziovii.58 – Mangueira –  Mangifera indica, L.59 – Marmeleiro – Croton Lundianus, Muell Arg.60 – Mandacaru – Cereus Jamacaru, DC.61 – Melão – Cucurbita moschata, Duch.62 – Malva grande – Pavonia varians, Morio.63 – Mata pasto – Cassia reticulata, Willd.

64 – Melão – Cucurbita melo, L.65 – Mofumbo – Combretum leprosum, Mart.66 – Murici – byrsonima minarum, Ndz.67 – Muçambé – Terminalia aff, brasiliensis (Camb).68 – Macambira –  Bromelia laciniosa, Mart.69 – Malva –  Melochia sp.70 – Mandioca –  Manihot utilissima, Pohl.71 – Mororó –  Bahuinia fortificata, L.72 – Milho –  Zéa mays.73 – Milhã – Panicum sp.74 – Mamona –  Ricinus comunis.75 – Oró – Phaseolus panduratus, Mart. Periandra arenaria, B. Robri-

gues.76 – Oiti –  Moquilea tomentosa, Benth.77 – Oiticica –  Licania rigida.78 – Pinhão bravo –  Jatropa Pohliana, Muell Arg.79 – Pau-ferro – Caesalpinia ferrea, Mart.80 – Pereiro –  Aspidosperma macrocarpum, Mart.81 – Pequi – Caryocar glabrum. Pers.82 – Paga-pinto –  Bearhavia hirsuta.83 – Pau d´arco – Tecoma leucoxylon.

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84 – Pau branco –  Auxema onococalix, Tauber.85 – Palma forrageira – Opuntia fícus var , indica interm.86 – Quixapá – Opuntia inamoena.87 – Quixaba –  Bernelia Sertorum, Fr. Alem.88 – Rabo de raposa – Cereus bahiensis.89 – Sabiá –  Mimosa Caesalpiniaefolia, Mart.90 – Sorgo –  Andropogon sorghum, Pers.91 – Tamarindo – Tamarindus indica, L.92 – Tomateiro – Solanum licopersicum, L.

93 – Tamareira – Phoenix dactylifera, L.94 – Tingui –  Mascagnia Cartacea, Lofgren.

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ÍNDICE

Prefácio da 1ª Edição.................................................................2

 PRIMEIRA PARTE

O Equilíbrio Biológico e a Ordem Social ................................4Limitações naturais .................................................................6

Regiões ecológicas................................................................19Caatinga ................................................................................21Sertão .................................................................................... 34Seridó....................................................................................40Agreste..................................................................................44Carrasco ................................................................................45Serras .................................................................................... 50Xerofilismo...........................................................................56Fauna..................................................................................... 63

SEGUNDA PARTE

Os Métodos Culturais nos Climas Quentes...........................69Tipos de lavoura ...................................................................75As culturas e as regiões naturais...........................................94Caatinga, sertão e seridó.......................................................96Agreste................................................................................108Serras .................................................................................. 114

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TERCEIRA PARTE

“As Lavouras Secas” .............................................................120Algodão mocó.....................................................................125Carnaubeira.........................................................................132Oiticica................................................................................152Palma forrageira..................................................................158Maniçoba ............................................................................163

Faveleiro .............................................................................167Caroá...................................................................................171Umbu .................................................................................. 173

QUARTA PARTE

Os Estudos Agrológicos das Bacias de Irrigação................178Tipos de solos ..................................................................... 181Aluvião ...............................................................................183Massapê ..............................................................................183Salão ................................................................................... 184

Tabuleiro.............................................................................184Várzea.................................................................................185Areiusco..............................................................................185Bacia de irrigação do açude público G. Sampaio...............185Estudo agrológico do Vale Açu..........................................187Bacia de irrigação do açude público

Stº Antonio de Russas....................................................190Bacia de irrigação do açude publico “Lima Campos”........191

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A questão mista técnica e social .........................................192O humo ...............................................................................206O complexo mineral ...........................................................211Solos marginais do Rio S. Francisco .................................. 223Os solos da Serra de Guaramiranga....................................239

QUINTA PARTE

Algumas Questões da Exploração de Açudes Públicos ......242Lavoura de vazante.............................................................243Lavouras irrigadas em onze açudes públicos......................247A necessidade de uma doutrina das secas...........................261A irrigação e os atributos humanos .................................... 271A irrigação e a educação.....................................................286O tamanho do lote...............................................................297Os açudes públicos e a produção

de sementes selecionadas...............................................300

SEXTA PARTE

A Manutenção da Produção do Solo no NordesteSemi-Árido....................................................................305

A fertilidade e a saúde ........................................................305A administração da fazenda e a conservação

dos recursos naturais3....................................................312As causas do empobrecimento do solo...............................316A ação da erosão no solo .................................................... 317

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A manutenção da fertilidade...............................................331O plano da conservação dos recursos naturais ................... 336A planta como protetora do solo e retentora de água .........340O repouso do solo...............................................................342As culturas de cobertura ..................................................... 343Os adubos verdes................................................................345A rotação............................................................................. 345Culturas em faixas ..............................................................349

O lote alternado...................................................................351O Quebra-Vento..................................................................352Economia da pastagem .......................................................354Análises das forrageiras nativas..........................................372Caatingas.............................................................................373Práticas mecânicas para reter o solo e água ........................ 374O sulco em contorno...........................................................374Os terraços ..........................................................................375Drenagem............................................................................384Diques e barragens..............................................................388

SÉTIMA PARTE

A Preparação do Povo para Vencer a Seca.........................399Educação e instrução intensivas .........................................406