Solos e aptidão agroflorestal do Acre

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Trabalho descreve os principais solos do Acre e sua aptidão agrícola, com foco em Sistemas Agroflorestais

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AMARAL, Eufran Ferreira ; ARAJO, Edson Alves; MELO, Antonio Willian Flores de ; SILVA, J. R. T. ; SOUZA, A. N. . Solos e aptid o agroflorestal. In: Eufran Ferreira do Amaral. (Org.). Zoneamento Ecolgico-econmico do Acre: recursos naturais e meio ambiente. Rio Branco: SECTMA, 2000, v. 1, p. 37-49.

Solos e Aptido Agroflorestal

5 - SOLOS E APTIDO A GROFLORESTAL5.1 - ASPECTOS METODOLGICOSO Estado do Acre possui vrios levantamentos de solos em nvel exploratrio que englobam toda sua extenso, como o RADAMBRASIL (BRASIL, 1976; 1977) e PMACI I e II (IBGE, 1984; 1994). Estes levantamentos tm servido de base para outros trabalhos e estudos realizados na regio nas mais diversas reas do conhecimento. Entretanto, tm-se verificado algumas restries no tocante ao planejamento de uso da terra e ao reordenamento territorial do Estado em funo da escala de publicao e da desatualizao de muitas classes de solos. Alm desses levantamentos, o Estado conta hoje com levantamentos pontuais realizados por empresas particulares e instituies de pesquisa e ensino, governamentais e no-governamentais. Para atender s finalidades do Zoneamento Ecolgico-Econmico do Acre, elaborou-se um Mapa Pedolgico do Estado na escala de 1:1.000.000, (Figura 1) onde foram incorporadas as informaes existentes, adotando-se o novo Sistema Brasileiro de Classificao de Solos (EMBRAPA, 1999). Este mapa agrega informaes secundrias de diversas escalas e a experincia de pesquisadores com solos desta regio, sendo uma sntese e um avano conceitual no contexto dos solos acreanos. A baixa disponibilidade de tempo e recurso para a execuo de trabalhos de campo e a necessidade imediata de realizar a primeira verso do Zoneamento Ecolgico-Econmico do Acre determinaram que o mtodo utilizado para a montagem desse mapa fosse o de compilao. A exemplo do mapa de solos, o nico trabalho que contempla a aptido agrcola para o Estado foi publicado no final da dcada de 70 (BRASIL, 1979), perodo em que se consolidava a primeira verso do Sistema Brasileiro de Classificao de Solos. A dificuldade de trabalho de campo, ausncia de produtos de sensores remotos em escalas adequadas, associados ao baixo grau de conhecimento dos solos do Acre, fez com que se criasse o mito de que o Acre tem o "fil" das terras da Amaznia ou como se diz no jargo popular: "no Acre tudo que se planta d". Entretanto, esta imagem no se confirmou no decorrer de mais de vinte anos de explorao agropecuria, em virtude da origem sedimentar dos solos e de restries, tais como:5HVWULo}HV Morfolgicas Fsicas Qumicas 2FRUUrQFLDV Estrutura, presena de concrees, tabatinga Mudana textural, baixa permeabilidade Baixo contedo de fsforo, acidez capacidade de reteno de ctions elevada, baixa

Assim, de maneira a inovar e a permitir a insero dos estudos de solos, considerados as atuais tendncias de uso de solo no Estado, adaptou-se o atual sistema de aptido agrcola das terras (RAMALHO FILHO & BEEK, 1994), com novos indicativos de uso, incorporando-se os sistemas agroflorestais, silvipastoris e o uso florestal. Integrando-se esses estudos interpretao do Mapa Pedolgico do Acre (1999), foi elaborado um Mapa de Aptido Agroflorestal, na escala 1:1.000.000. Foram consideradas as condies do meio ambiente, propriedades fsicas e qumicas das diferentes classes de solo e a viabilidade de melhoramento, relativo a cinco fatores: fertilidade natural, excesso de gua, deficincia de gua, susceptibilidade eroso e impedimentos ao uso de implementos agrcolas. A aptido agroflorestal uma interpretao tcnica voltada para as possibilidades de uso do solo com prticas agroflorestais, que avana nos indicativos de uso, pois permite uma viso mais adequada do potencial presente nos solos da Amaznia.

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Zoneamento Ecolgico-Econmico

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Qrqvh6yvy Qrqvh8hivy QrqvhByrvy QrqvhGhy6hry QrqvhIvy Qrqvh6tvy6hry Qrqvh6tvyWrryu6hry Qrqvh6tvyWrryu QrqvhGvy

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Figura 1 - Mapa pedolgico do Estado do Acre (Fonte: ZEE/AC, 1999)

5.2 - LEVANTAMENTO DAS CLASSES DE SOLOSA correlao de classes de solos do Acre com o novo Sistema Brasileiro de Classificao de Solos resultou no Mapa Pedolgico do Estado,1999, Escala 1:1.000.000. Comparando-se os resultados obtidos neste mapa com aquele disponvel pelo RADAMBRASIL, 1976/1977, apresentados na Tabela 1, verificam-se algumas diferenas de tratamento nas classes de solo. A quase totalidade dos solos que anteriormente eram classificados como Podzlicos (solos com B textural), foram agora includos na classe dos ARGISSOLOS, ALISSOLOS, LUVISSOLOS e NITOSSOLOS.Tabela 1 - Relao entre as Classes de Solos5$'$0%5$6,/ Podzlico Vermelho Amarelo lico Ta Cambissolos Glei Hmico e Glei Pouco Hmico Latossolo Vermelho Amarelo, Latossolo Vermelho Escuro Podzlico Vermelho Escuro Podzlico Vermelho Amarelo Tb, Podzlico Vermelho Amarelo plntico Ta** Podzlico Vermelho Amarelo Eutrfico Ta Solos Aluviais, Areias Quartzosas, Litossolos Brunizem avermelhado Vertissolos 0DSD 3HGROyJLFR GR $FUH Alissolos Cambissolos Gleissolos Latossolos Nitossolos Argissolo Luvissolo Neossolo* Chernossolo* Vertissolos*

Fonte: RADAMBRASIL, 1976,1977; ZEE - Mapa Pedolgico do Acre, 1999, Escala 1:1.000.000. * Ocorrem somente como componentes secundrios nas unidades de mapeamento. ** Muitos dos Podzlicos Vermelho Amarelo plntico Ta, que deveriam ser classificados como Plintossolos( em funo da argila de atividade alta), no o foram por falta de dados na descrio morfolgica; desta forma, foram mantidos como Argissolos Amarelos plnticos.2 Os solos so estruturados em camadas denominadas Horizontes. O horizonte A o horizonte superficial rico em matria orgnica, o horizonte B o horizonte sub-superficial, geralmente enriquecido com argila e utilizado para classificar o solo (horizonte diagnstico). O horizonte C aquele que j est mais prximo da rocha-me, sendo o material parental do solo.

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Solos e Aptido Agroflorestal Descrevem-se, a seguir, as Classes de Solos resultantes do mapeamento de 1999.&ODVVHV GH 6RORV 'HVFULomR Tm como caracterstica marcante o horizonte B textural e a baixa atividade da argila (valores inferiores a 27 cmolc/kg sem correo para carbono), muitos deles com alta 3+ saturao por alumnio (m 50%), mas com valores de Al inferiores a 4 cmolc/Kg, no satisfazendo, portanto, as condies requeridas para o carter alumnico (Figura 2) Possuem horizonte B textural e com argila de atividade 20 cmolc/kg de argila, alm do alto 3+ contedo de alumnio trocvel (Al 4 cmolc/kg), saturao por alumnio 50% e/ ou saturao por bases < 50% na maior parte do horizonte B. Compreendem os Podzlicos Vermelho-Amarelo Eutrfico, tendo como caractersticas 1 marcantes a alta atividade da argila (> 27 cmolc/ kg de solo), o carter eutrfico (V>50%), alm da presena de horizonte B textural. Os principais critrios para classificar os Latossolos so: a colorao, relacionada forma de ferro (hematita ou goethita), o teor de Fe2O3 do ataque sulfrico associado ao material de origem, e as caractersticas morfolgicas como: pouca diferenciao entre horizontes, profunidade e estrutura. No tiveram alteraes no tocante ao primeiro nvel categrico, no o o o entanto sofreram algumas modificaes no 2. e 3. nveis categricos. Com relao ao 2. nvel categrico, muitos Latossolos, que eram classificados como Vermelho-Amarelo, passaram a ser designados simplesmente como AMARELOS. Da mesma forma, alguns que eram chamados de Latossolo Vermelho Escuro passaram a ser chamados o LATOSSOLOS VERMELHOS. Em termos do 3. nvel categrico, o que se pode observar que muitos Latossolos tinham o carter lico, no tendo um correspondente direto na o classificao, sendo enquadrados, ento, no 3. nvel categrico como Distrfico (Figura 2) So solos pouco profundos ou rasos, com pequena diferenciao de horizontes e ausncia de acumulao de argila, moderadamente drenados, apresentando sequncia de horizonte A, Bi e C. Forma similar aos Latossolos ocorre para esses solos; entretanto, tal classe contempla o carter alumnico (Figura 2). So solos constitudos por material mineral com horizonte vrtico entre 25 e 100 cm de profundidade e relao textural insuficiente para caracterizar um B textural. So solos pouco evoludos e sem horizonte B diagnstico como os Litlicos(Neossolos Litlicos), Aluviais(Neossolos Flvicos) e algumas Areias Quartzosas(Neossolos Quartzarnicos) (Figura 2). Os solos desta classe so permanentemente ou periodicamente saturados por gua, salvo se artificialmente drenados. Caracterizam-se pela forte gleizao, em decorrncia do regime de umidade redutor, que se processa em meio anaerbico, com muita deficincia ou mesmo ausncia de oxignio, devido ao encharcamento do solo por longo perodo ou durante todo ano.

ARGISSOLOS

ALISSOLOS

LUVISSOLOS

LATOSSOLOS

CAMBISSOLOS

VERTISSOLOS

NEOSSOLOS

GLEISSOLOS

Na Tabela 2, esto demonstrados os percentuais ocupados pelas classes de solos no Estado do Acre, onde os Argissolos ocorrem em 64% do territrio. A classe que ocupa menor extenso so os Luvissolos. Vale ressaltar a participao dos Gleissolos em 7,4% do Estado, indicando um potencial para cultivo nas reas de influncia de rios e igaraps. A representao grfica das classes de solos encontra-se nas Figuras 3a e 3b, com a distribuio das classes no 1. e 2. nveis categricos. A Figura 3b detalha as classes de solos do 1. nvel, com os Argissolos Amarelos ocupando a maior parte do Estado.

1

Solos eutrficos so solos ricos quimicamente, que possuem saturao de bases(V) com um teor maior de 50%.

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Zoneamento Ecolgico-Econmico

Nitossolo

Latossolo Amarelo

Argissolo Vermelho Amarelo

Neossolo Flvico

Cambissolo Hplico

Latossolo Vermelho Amarelo

Figura 2 - Mapa de solos do sudeste acreano com fotografias de perfis representativos das classes que ocorrem no Acre

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Solos e Aptido AgroflorestalTabela 2 - Classes de Solos no 1. Nvel Categrico, rea ocupada e Percentual em relao ao Estado do Acre

&ODVVH 1tYHO &DWHJyULFR Alissolos Cambissolos Gleissolos Latossolos Nitossolos Argissolo Luvissolo 7RWDO

UHD KD 215.150,5 3.686.550,2 1.135.262,2 291.445,0 115.967,6 9.765.696,0 62.561,5 1,4 24,2 7,4 1,9 0,8 64,0 0,4

Fonte: ZEE - Mapa Pedolgico, 1999, Escala 1:1.000.000.

&ODVVHV GH VRORV QtYHO FDWHJyULFR QR (VWDGR GR $FUH

Alissolos

Cambissolos

Gleissolos

Latossolos

Nitossolos

Argissolo

Luvissolo

Figura 3a - Distribuio das Classes de Solos no 1. Nvel Categrico no Estado do Acre (Fonte: ZEE - Mapa Pedolgico do Estado do Acre, 1999,Escala 1:1000.000)

8yhrqry!tryphrtyvp@hqq6pr (((

Alissolo Crmico Argissolo Amarelo Latossolo Amarelo Nitossolo Vermelho

Argissolo Vermelho Cambissolo Hplico Latossolo Vermelho Amarelo

Argisolo Vermelho Amarelo Gleissolo Hplico Luvissolo Hipocrmico

Figura 3b - Distribuio das Classes de solos no 2 nvel categrico no Estado do Acre (Fonte: ZEE - Mapa Pedolgico do Estado do Acre, 1999,Escala 1:1000.000)

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Zoneamento Ecolgico-Econmico Os solos tm uma relao estreita com a paisagem (vegetao natural, geologia e geomorfologia). Os Latossolos esto associados a superfcies tabulares, que se caracterizam por um relevo plano e uma vegetao de porte mais alto. Os Argissolos esto associados a reas de relevo mais movimentado com uma vegetao de porte mais baixo e os Cambissolos ocorrem em reas de relevo muito movimentado, com uma vegetao de porte mais baixo e com sub-bosque com ocorrncia de taboca. O solo um componente chave no processo de sustentao das atividades agropecurias. No entanto, as pesquisas sobre solos no Acre ainda no atendem qualitativa e quantitativamente s necessidades para que um maior nmero de respostas sejam dadas sobre a influncia desses solos nos ecossistemas naturais e agropastoris em que esto inseridos. Os estudos existentes sobre os solos do Acre so ainda de natureza pontual devido, principalmente, s dificuldades de acesso s regies de estudo e baixa disponibilidade de recursos para a realizao de pesquisas mais detalhadas. Na ltima dcada, os levantamentos de solos foram intensificados e suas contribuies tm elevado significativamente o conhecimento atual dos solos do Acre no que concerne gnese, morfologia, fsica, qumica e mineralogia, o que j tem permitido estabelecer inferncias sobre a melhor utilizao de alguns deles. Os solos do Acre possuem grande variabilidade espacial. Mapas pedolgicos em escalas maiores, com detalhamento das potencialidades e restries, podem permitir, futuramente, um planejamento de uso do solo mais eficiente.

5.3 - A APTIDO AGROFLORESTALA aptido agroflorestal visa indicar o uso mais adequado de uma determinada extenso de terra, a partir do equacionamento dos fatores bsicos (fertilidade natural, excesso de gua, deficincia de gua, susceptibilidade eroso e impedimentos ao uso de implementos agrcolas) e dos graus de limitao que venham a existir aps a utilizao de prticas agrcolas inerentes aos sistemas de manejo. Os sistemas de manejo so identificados pelo seu nvel tecnolgico, a saber: Identificao A B C Nvel Tecnolgico Baixo Mdio Alto

A aptido agroflorestal consiste na distribuio das terras dentro de grupos semelhantes e na incorporao dos usos sustentveis (e/ou alternativas promissoras) s condies de solo e clima da Amaznia. As prticas agroflorestais devem considerar as condies sociais, econmicas e ecolgicas no cultivo ou explorao de rvores em associao a culturas de ciclo curto e/ou criao de animais, ordenadas de forma seqencial ou simultnea. Assim, a aptido agroflorestal incorpora conceitos de potencialidades e restries para o uso sustentvel dos solos, como tambm de aspectos econmicos para subsidiar a concepo de mapas de gesto de recursos naturais.Critrios Metodolgicos para a Definio da Aptido Agroflorestal

Para definir a aptido agroflorestal foram considerados cinco fatores limitantes:l l l l

deficincia de Fertilidade; deficincia de gua; excesso de gua ou Deficincia de Oxignio; susceptibilidade Eroso e;

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Solos e Aptido Agroflorestall

impedimentos Mecanizao.

De posse dos dados morfolgicos, fsicos e qumicos, foi definida a aptido agroflorestal dos componentes de cada unidade de mapeamento, que obedeceram classificao para cada nvel de manejo - A, B e C. Os grupos de aptido agroflorestal esto representados por algarismos de 1 a 6, que identificam o tipo de utilizao mais intensivo permitido pela terra, de acordo com o seu potencial e suas restries. A partir da adoo desses parmetros, o uso da terra passa a ser cumulativo. Uma rea indicada para produo intensiva de gros pode ser utilizada para a implantao de um sistema silvipastoril, com relativa perda para o produtor, que estaria subutilizando o potencial de suas terras. Em contrapartida, se as terras so aptas para sistemas silvipastoris, o produtor no poderia cultivar gros, uma vez que estaria superutilizando a terra, aumentando a incidncia de impactos negativos, tais como, baixa produtividade, eroso, dificuldade de manejo da rea etc.Grupos de Aptido Agroflorestal

saber:

Os Grupos de Aptido Florestal so hierarquizados de acordo com as possibilidades de uso, a

*UXSRV 1 2 3 4 5 6

3RVVLELOLGDGHV GH 8VR Aptido para a produo intensiva de gros. Aptido para culturas perenes, espcies frutferas e florestais em monocultivos Aptido para explorao de culturas perenes e espcies florestais e frutferas em sistemas agroflorestais. Aptido para pastagem agrosilvipastoris. com nfase para sistemas

Sem aptido agroflorestal, com restries moderadas para atividades florestais e conseqente circulao de veculos. Sem aptido agroflorestal, indicado para preservao da flora e fauna.

OBS: As reas sem aptido para outro uso so indicadas para preservao. Ressalta-se que, para a definio de reas de preservao e conservao, devem ser considerados outros critrios como: biodiversidade, endemia, populaes tradicionais etc.

Foram admitidos seis grupos de aptido para avaliar as condies de implantao de prticas agroflorestais, a partir da hierarquia de uso (Figura 4). As indicaes visam, a partir do grupo 2, contemplar a explorao em pequenas reas. Trabalhou-se com a hiptese da organizao da produo baseada na agricultura familiar, com a explorao de pequenos mdulos, envolvendo a mo de obra disponvel no ncleo familiar. Ressalta-se que a agricultura familiar sustentvel aquela em que predomina o trabalho familiar nas atividades produtivas, incorporando diferentes nveis tecnolgicos e estruturando a cadeia produtiva com base na agregao de valor aos produtos e no fortalecimento da organizao social. Conforme se observa no quadro anterior, o Grupo 1 representa as terras de melhor potencial, podendo ser utilizada mecanizao sem maiores restries. O Grupo 6 refere-se a terras inaptas para qualquer um dos tipos de utilizao mencionados, a no ser em casos especiais para manejo florestal de baixo impacto, preferencialmente o no-madeireiro, desde que apresente potencial na tipologia florestal de ocorrncia.

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Zoneamento Ecolgico-Econmico A Figura 4, apresenta um resumo das alternativas de uso. Pode-se avaliar que o uso menos intensivo de uma rea pode ser uma prtica recomendvel, quando se tem, por exemplo, uma rea com potencial para manejo florestal em uma rea propcia para produo de gros. No entanto, a superutilizao ocasiona o que se v no Estado do Acre atualmente, um mosaico de reas abandonadas, expanso rpida da fronteira agrcola, desmatamentos anuais etc.Trvqqhrqhvrvqhqrqr Bqr6vqm6tsyrhy8yhrh{vphrqvhr Trvqqh hvq}rrqh yvvho}r Tvrhqr

1 Latossolo Amarelo Distrfico

2 Argissolo Amarelo Distrfico

3 Argissolo Amarelo Eutrfico Plntico

4 Alissolo Hipocrmico Argilvico

5 Alissolo Crmico Argilvico

6 Neossolo Litlico Distrfico

Aumento das limitaes e dos riscos de uso

Aumento da liberdade de escolha de uso

Produo intensiva de gros Culturas perenes e Espcies florestais e frutferas em monocultivos Culturas perenes e espcies florestais e frutferas com nfase em sistemas agroflorestais Pastagem com nfase para Sistemas agrosilvipastoris Atividades florestais com restries moderadas Preservao da flora e fauna

Correta utilizao da terra, ou seja, a rea tem aptido para cultivos agroflorestais e est sendo cultivada com agrofloresta ou com outro uso menos intensivo que permita ter produo em bases sustentveis. Super-utilizao da terra, ou seja, uma rea que tem seu uso mximo indicado para sistemas silvipastoris, sendo cultivado com gros.

Figura 4 - Hierarquia das Possibilidades de Uso de acordo com a Aptido Agroflorestal

Estes sistemas de uso foram definidos conforme as seguintes concepes:a) Agricultura intensiva

Agricultura praticada com alto grau de tecnificao, incluindo uso de mquinas e implementos e insumos agrcolas, como adubos e corretivos. So reas normalmente de relevo plano a suave ondulado, sem restrio de drenagem, podendo ser ou no de fertilidade natural boa, sendo esta ltima restrio compensada, quando for o caso com o uso de corretivos e adio de fertilizantes (Figura 5).

Figura 5 - rea mecanizada para cultivo de gros no municpio de Senador Guiomard

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Solos e Aptido Agroflorestalb) Explorao de culturas perenes e de espcies florestais e frutferas em monocultivos

Constituem, geralmente, monocultivos da pupunha, da banana, do caf e da pimenta longa, comumente cultivados por agricultores de mdio porte que dispem de recursos para aquisio de corretivos e fertilizantes, alm de poderem lanar mo de sementes e cultivares mais produtivos e/ou da compra de mudas enxertadas (Figura 6).

Figura 6 - Cultivo de caf consorciado com milho no municpio de Plcido de Castro.

c) Explorao de culturas perenes e de espcies florestais e frutferas em sistemas agroflorestais

Este tipo de uso consiste numa multiestratificada forma de utilizao do solo, por intermdio do consorciamento de plantas e ou animais, seqencial ou simultaneamente, de maneira a diversificar ao mximo a produo. Caracteriza-se pela adoo de prticas agroflorestais, como o uso de leguminosas, uso de cobertura vegetal, rotao de cultura, cerca viva, sombreamento, quebra-vento etc. No Estado do Acre h milhares de hectares de capoeiras e de terras ociosas que podero ser incorporadas ao processo produtivo por meio da utilizao de sistemas de produo mais adaptados e produtivos que a agricultura migratria adotada atualmente pelos pequenos produtores rurais locais. Como conseqncia, aumentar a quantidade de produtos para abastecer o mercado interno, principalmente daqueles que compem a base dos hbitos e costumes alimentares da populao local (Figura 7).

Figura 7 - Sistema agroflorestal composto de pupunha, caf e cupuau, como culturas principais, na rea experimental da Embrapa Acre.

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Zoneamento Ecolgico-Econmicod) Terras aptas para pastagem com nfase para Sistemas agrosilvipastoris

Os sistemas agrosilvipastoris so classificados como Sistemas Agroflorestais (SAFs), nos quais rvores e arbustos so mantidos ou cultivados em reas de pastagens. Tanto do ponto de vista scioeconmico como do ecolgico os sistemas agrosilvipastoris so considerados mais sustentveis que os sistemas de produo pecuria tradicionais, que utilizam gramneas em formao homognea (Figura 8).

Figura 8 - Bovinos se beneficiando da sombra das rvores em uma pastagem de braquiaro

e) Manejo florestal

a administrao da floresta para obteno de benefcios econmicos e sociais, respeitando-se os mecanismos de sustentao dos ecossistemas. A produo de madeira e de produtos no-madeireiros (plantas medicinais, leos, essncias, ltex) tm, como fonte de matria-prima, somente as florestas exploradas que possuem Planos de Manejo Florestal ou por meio de desmatamentos autorizados.f) Preservao da flora e fauna

Este tipo de uso se define por reas que apresentam, geralmente, fortes restries do ponto de vista da topografia e da morfologia, por impedimentos fsico-qumicos, por serem reas de preservao permanente, ou ainda por serem locais habitados por espcies endmicas ou ameaadas de extino. Mapa de Aptido Agroflorestal Com base no Mapa Pedolgico do Estado do Acre e na avaliao das classes de aptido, foi elaborado o Mapa de Aptido Agroflorestal das Terras do Acre, na Escala 1:1.000.000, Figura 9.

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Solos e Aptido Agroflorestal

HI8DPGDH6

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# Y 8SVa@DSP9PTVG # Y SP 9SDBV@T6GW@T

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Figura 9 - Mapa de Aptido Agroflorestal do Estado do Acre (Fonte: ZEE/AC, 1999)

As classes de aptido relacionadas a seguir, que indicam o tipo de utilizao da terra, resultaram da relao da classe de aptido com o nvel de manejo (Tabela 3a e 3b). Foram definidas como Boa, Regular, Restrita e Inapta:Tabela 3a - Relao entre as Classes de Solo e Aptido Agroflorestal no Estado do Acre8yhrqr 6vqm 9rpvom

Boa

Terras sem limitaes significativas para a produo sustentada de um determinado tipo de produto, observando as condies de manejo adotado. H um mnimo de restries que no provocam reduo de produtividade, nem de benefcios, ou aumento de insumos acima de um nvel aceitvel. Terras que apresentam limitaes moderadas para a produo sustentada de um determinado tipo de produto, observando as condies de manejo adotado. As limitaes reduzem a produtividade ou os benefcios, elevando a necessidade de insumos. Tais custos exigem maior retorno a ser obtido na etapa de comercializao dos produtos. Ainda que atrativas, essas vantagens so sensivelmente inferiores quelas auferidas das terras da Classe Boa. Terras que apresentam limitaes fortes para a produo sustentada de um determinado tipo de produto, observando as condies de manejo adotado. Essas limitaes reduzem a produtividade ou os benefcios, ou ento aumentam os insumos necessrios, de tal maneira, que os custos s seriam justificados marginalmente. Terras apresentando condies que parecem excluir a produo sustentada do tipo de utilizao em questo.

Regular

Restrita

Inapta

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Zoneamento Ecolgico-EconmicoTabela 3b - Relao entre classes de solo, aptido e descrio da classe8yhrqrTy Grt r qh 6 vq m 9rpvom qh8yhrqr6vqm6tsyrhy

Latossolo Vermelho Amarelo distrfico tpico

LVAd2

1aBC

Terras com aptido boa para produo intensiva de gros nos nveis tecnolgicos B e C e regular para produo intensiva de gros no nvel tecnolgico A. Terras com aptido restrita para culturas perenes e cultivos de espcies florestais e frutferas em sistemas agroflorestais nos nveis tecnolgico A e B. Terras com aptido regular para culturas perenes e cultivos de espcies florestais e frutferas em monocultivos no nvel tecnolgico B e restrita para monocultivos no nvel tecnolgico A. Terras com aptido restrita para culturas perenes e cultivos de espcies florestais e frutferas em sistemas agroflorestais no nvel tecnolgico B. Terras com aptido restrita para culturas perenes e cultivo de espcies florestais e frutferas em sistemas agroflorestais no nvel tecnolgico A. Terras com aptido restrita para culturas perenes e cultivo de espcies florestais e frutferas em sistemas agroflorestais no nvel tecnolgico A. Terras aptas para atividades florestais com restries moderadas. Terras com aptido boa para produo intensiva de gros nos nveis tecnolgicos A e B. Terras com aptido restrita para culturas perenes e cultivos de espcies florestais e frutferas com nfase em sistemas agroflorestais nos nveis tecnolgico A e B. Terras aptas para atividades florestais com restries moderadas.

Argissolo Amarelo distrfico

PAd4

3(ab)

Luvissolo Hipocrmico rtico

TPa2

2a(b)

Gleissolo Hplico alumnico

GXa

3(b)

Cambissolo Hplico Ta eutrfico

CXve1

3(a)

Nitossolo Vermelho eutrfico tpico Alissolo Crmico argilvico tpico Chernossolo Argilvico rtico saproltico Neossolo Flvico Ta eutrfico

NVe1 ACt1 MTor RUve

3(a) 5N 1AB 3(ab)

Vertissolo Cromado carbontico

VCk

5n

Fonte: ZEE - Mapa de Aptido Agroflorestal, 2000, Escala 1:1.000.000 e ZEE - Mapa Pedolgico, 1999, escala 1:1.000.000.

Ao contrrio das demais, a Classe Inapta no representada por smbolos. Sua interpretao feita pela ausncia das letras no tipo de utilizao considerado. De acordo com os dados do Mapa de Aptido Agroflorestal, considerando o primeiro componente de cada unidade de mapeamento, verifica-se que mais de 44% das terras do Acre so aptas para cultivo de espcies florestais e frutferas em monocultivos, enquanto que apenas 2% tm aptido boa para produo intensiva de gros no nvel de manejo C, conforme aponta a Figura 17.6vqm6tsyrhyqhUrhq6pr

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Grupo de terras aptas para a produo intensiva de Grupo de terras aptas para cultivo de espcies florestais e frutferas em Grupo de terras aptas para cultivos de espcies florestais e frutferas com nfase em sistemas Grupo de terras aptas para pastagem com nfase para Sistemas Sem aptido agroflorestal, com restries moderadas para atividades Sem aptido agroflorestral, indicado para preservao da flora e

Figura 10 - Distribuio da Aptido Agroflorestal das Terras do Acre, 1999 (Fonte: ZEE - Mapa Pedolgico do Estadodo Acre, 1999, escala 1:1.000.000)(*) As letras que acompanham os algarismos so indicativas das classes de aptido de acordo com os nveis de manejo e podem aparecer nos subgrupos em maisculas, minsculas ou minsculas entre parnteses, com indicao de diferentes tipos de utilizao.

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Solos e Aptido Agroflorestal

5.4 - RECOMENDAESO Mapa de Aptido Agroflorestal resultante desta primeira aproximao do Zoneamento Ecolgico-Econmico apresenta uma viso macrorregional do Estado do Acre. Enquanto instrumento de planejamento de ocupao e uso do solo, permite o reconhecimento das potencialidades e limitaes das terras nas distintas regies existentes no Estado. Subsidia a ao dos rgos de planejamento no reconhecimento dessas diferenas que demandaro formas adequadas de interveno. Na fase seguinte do ZEE ser necessrio detalhar o mapa pedolgico e das unidades fisiogrficas, indicando outros usos alternativos da terra, de forma a oferecer subsdios ao planejamento territorial dos municpios. A pesquisa precisa aprofundar seus estudos no que se refere a indicadores de degradao e sustentabilidade, com definio de usos sustentveis para a realidade amaznica, baseada nos cenrios atuais de explorao da terra (incluindo pastagens, sistemas agroflorestais, agricultura de derruba e queima etc.). Recomenda-se a montagem de um banco de dados georreferenciados de pontos de coletas de amostras de solo para avaliao da fertilidade, podendo ser atualizado de forma permanente. Com este instrumental possvel traar isolinhas de fertilidade para o Estado e oferecer programas de incentivos produo em funo do estado nutricional dos solos das diferentes regies. A partir dessa base tcnica, sero mais eficientes as aes destinadas a incentivar o cultivo em pequenas reas, associando as culturas de subsistncia com prticas agroflorestais que envolvam desde o uso de cobertura morta at desenhos de sistemas complexos como os agrosilvipastoris. Neste contexto, a organizao da produo em base familiar, desde que empregue manejo adequado dos solos, representa uma das alternativas de uso da terra com indicativos da sustentabilidade, garantindo o desenvolvimento econmico, com qualidade de vida e conservao dos recursos naturais.

5.5 - BIBLIOGRAFIABRASIL. Ministrio das Minas e Energias. Departamento Nacional da Produo Mineral. Projeto RADAMBRASIL - Levantamento de recursos naturais. Folhas SC. 19 Rio Branco: geologia, geomorfologia, pedologia, vegetao, uso potencial da terra. Rio de Janeiro: Diviso de Publicao, 1976, 464 p. 12 v. BRASIL. Ministrio das Minas e Energias. Departamento Nacional da Produo Mineral. Projeto RADAMBRASIL - Levantamento de recursos naturais. Folhas SB/SC. 18 Javari/Contamana: geologia, geomorfologia, pedologia, vegetao, uso potencial da terra. Rio de Janeiro: Diviso de Departamento, 1977, 420 p. 13 v. BRASIL. Ministrio da Agricultura. Secretaria Nacional de Planejamento Agrcola. Aptido agrcola das terras do Acre: estudos bsicos para o planejamento agrcola. Braslia, 1979, 82 p. 13 v. EMBRAPA. Centro Nacional de Pesquisa de Solos. Sistema Brasileiro de Classificao de Solos. Braslia: Embrapa Produo de Informao, Rio de Janeiro: Embrapa Solos, 1999, 412 p. IBGE - Instituto brasileiro de geografia e estatstica. PMACI I - Projeto de proteo do meio ambiente e das comunidades indgenas. Diagnstico geoambiental e socioeconmico: rea de influncia da BR-364 trecho Rio Branco/Cruzeiro do Sul. Rio de Janeiro: DEDIT, 1990, 144 p. IBGE - Instituto brasileiro de geografia e estatstica. PMACI II - Projeto de proteo do meio ambiente e das comunidades indgenas. Diagnstico geoambiental e socioeconmico: rea de influncia da BR-364 trecho Rio Branco/Cruzeiro do Sul. Rio de Janeiro: DEDIT, 1990, 144 p. RAMALHO FILHO, A., BEEK, K. S. Sistema de avaliao da aptido agrcola das terras. 3. ed. Ver. Rio de Janeiro: EMBRAPA-CNPS, 1994, 65 p. ZEE - Zoneamento Ecolgico-Econmico. Mapa pedolgico do Estado do Acre. Escala 1:1.000.000. Rio Branco: SEPLAN/SECTMA, 1999. 49