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48 o estado do meio ambiente no Brasil o estado dos solos 1. Patrimônio e estado atual dos solos O território brasileiro Ø caracterizado por uma grande diver- sidade de tipos de solos, correspondendo diretamente à intensidade de manifestaçªo das diferentes formas e tipos de relevo, clima, material de origem, vegetaçªo e organis- mos associados, os quais, por sua vez, condicionam dife- rentes processos formadores de solos. A Regiªo Centro-Oeste, vasta superfície aplainada pelos processos erosivos naturais, Ø constituída pelo Planalto Central Brasileiro. Nela predomina o clima tropical quen- te com veranicos acentuados e grandes extensıes de solos profundos, bem drenados, de baixa fertilidade na- tural, porØm com características físicas favorÆveis, alØm das condiçıes topogrÆficas que permitem a franca me- canizaçªo das lavouras. Um quadro sintØtico das paisagens brasileiras por regiªo mostra, na regiªo Norte, um território de planícies e baixos planaltos, de clima equatorial, calor permanente e alto teor de umidade, com predominância de solos profundos, alta- mente intemperizados, Æcidos, de baixa fertilidade natural e saturados por alumínio, o que diminui significativamente a capacidade produtiva dessa regiªo. Na regiªo Nordeste, observam-se tipos climÆticos que vari- am do quente e œmido ao quente e seco (semi-Ærido), pas- sando por uma faixa de transiçªo semi-œmida. Ocorrem, em grande parte dessa regiªo, solos de mØdia a alta fertili- dade natural, em geral pouco profundos em decorrŒncia de seu baixo grau de intemperismo. A regiªo Sudeste Ø constituída de planaltos e Æreas serra- nas com vÆrios pontos de altitudes superiores a 2.000 metros, clima tropical com verıes quentes nas baixadas, e mais amenos nas Æreas altimontanas, com predominân- cia de solos bem desenvolvidos, geralmente de baixa fer- tilidade natural. Na regiªo Sul, os solos originados de rochas bÆsicas e sedimentos diversos, encontram-se distribuídos em uma paisagem com relevo diversificado, onde predomina o cli- ma subtropical, com estaçıes bem definidas e solos fØrteis com elevado potencial agrossilvepastoril.

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    o estado dos solos

    1 . Patrimnio e estado atual dossolos

    O territrio brasileiro caracterizado por uma grande diver-sidade de tipos de solos, correspondendo diretamente

    intensidade de manifestao das diferentes formas e tiposde relevo, clima, material de origem, vegetao e organis-

    mos associados, os quais, por sua vez, condicionam dife-rentes processos formadores de solos.

    A Regio Centro-Oeste, vasta superfcie aplainada pelos

    processos erosivos naturais, constituda pelo PlanaltoCentral Brasileiro. Nela predomina o clima tropical quen-

    te com veranicos acentuados e grandes extenses desolos profundos, bem drenados, de baixa fertilidade na-

    tural, porm com caractersticas fsicas favorveis, almdas condies topogrficas que permitem a franca me-

    canizao das lavouras.

    Um quadro sinttico das paisagens brasileiras por regiomostra, na regio Norte, um territrio de plancies e baixos

    planaltos, de clima equatorial, calor permanente e alto teorde umidade, com predominncia de solos profundos, alta-

    mente intemperizados, cidos, de baixa fertilidade natural esaturados por alumnio, o que diminui significativamente a

    capacidade produtiva dessa regio.

    Na regio Nordeste, observam-se tipos climticos que vari-am do quente e mido ao quente e seco (semi-rido), pas-

    sando por uma faixa de transio semi-mida. Ocorrem,em grande parte dessa regio, solos de mdia a alta fertili-

    dade natural, em geral pouco profundos em decorrncia deseu baixo grau de intemperismo.

    A regio Sudeste constituda de planaltos e reas serra-

    nas com vrios pontos de altitudes superiores a 2.000metros, clima tropical com veres quentes nas baixadas,

    e mais amenos nas reas altimontanas, com predominn-cia de solos bem desenvolvidos, geralmente de baixa fer-

    tilidade natural.

    Na regio Sul, os solos originados de rochas bsicas esedimentos diversos, encontram-se distribudos em uma

    paisagem com relevo diversificado, onde predomina o cli-ma subtropical, com estaes bem definidas e solos frteis

    com elevado potencial agrossilvepastoril.

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    Esta diferenciao regional, apresen-tando considervel variabilidade de

    solo, clima e relevo, reflete-se direta-mente no potencial agrcola das ter-

    ras, na diversificao das paisagens enos aspectos vinculados ao uso do

    solo. Com base no Mapa de Solos doBrasil (Embrapa, 1981) e no atual Sis-

    tema Brasileiro de Classificao deSolos (Embrapa, 1999), pode-se dis-

    tinguir 13 principais classes de solo,representativas das paisagens brasi-

    leiras, sendo sua extenso apresenta-da na Tabela 1.

    1.1. A susceptibilidade dossolos aos processoserosivos

    A susceptibilidade natural dos solos

    eroso, uma funo da interao en-tre as condies de clima, modelado

    do terreno e tipo de solo. Da anlise dainterao destes fatores e a partir deestimativas experimentais de perdas de

    solo, foi possvel estabelecer cinco clas-ses de suscetibilidade eroso das ter-

    ras do pas. Assim as classes muitobaixa e baixa englobam tanto os solos

    de baixadas, hidromrficos ou no,como aqueles de planalto, muito po-

    rosos, profundos e bem drenados, to-dos localizados em relevo plano. Em

    condies mais favorveis ao desen-volvimento de processos erosivos,

    destacam-se solos comumente areno-sos ou com elevada mudana de tex-

    tura em profundidade, bem como aque-les rasos, localizados, em geral, em re-

    levos dissecados, configurando clas-ses de suscetibilidade eroso mdia,

    alta ou muito alta (Figura 1).

    Com base nestas interpretaes, 65%das terras brasileiras podem ser consi-

    deradas como de moderada a baixasusceptibilidade eroso, que se ex-

    pressam, entretanto, de forma diver-sa, nas diferentes regies. Assim na

    regio Norte, observam-se baixos n-

    veis de suscetibilidade nas vrzeas dorio Amazonas e seus afluentes, bem

    como nos baixos plats, onde se de-senvolvem solos argilosos ou muito

    argilosos, muito profundos, porosos,geralmente em relevo plano. Esses

    ambientes, sob domnio deGleissolos, Neossolos Flvicos,

    Latossolos Amarelos e Vermelho-Amarelos, representam aproximada-

    mente 46% das terras dessa regiodo Brasil (Tabela 1). As terras com o

    maior potencial de eroso e distribu-das em aproximadamente 36% da

    regio, ocorrem em relevos mais dis-secados e compreendem os Argisso-

    los, Luvissolos e Cambissolos.

    No Nordeste do Brasil, 33% das terrasapresentam susceptibilidade muito

    baixa e baixa, 34% mdia e 33% tmclasses de susceptibilidade alta e mui-

    to alta. Solos como os NeossolosQuartzarnicos, Litlicos e Regolticos

    so os com maior potencial erosodevido presena de contedos signi-

    ficativos de areia, associado, em alguns

    casos, a relevos dissecados. Emboraas chuvas no semi-rido nordestino

    sejam de baixa durao e freqncia,sua elevada intensidade em alguns lo-

    cais favorece o escoamento superfici-al, desagregao e transporte dos so-

    los, mesmo em relevos mais aplaina-dos. Solos como os Luvissolos, em

    geral com maiores contedos de argilae em relevos bastante dissecados, re-

    presentam as terras com elevada sus-cetibilidade eroso. J reas expres-

    sivas de Latossolos, representando cer-ca de 30% da regio, so aquelas repre-

    sentativas das terras com baixa susce-tibilidade eroso. J a ocorrncia de

    horizontes superficiais arenosos, bemcomo o aumento do teor de argila em

    profundidade, torna os Argissolos ePlanossolos medianamente suscetveis

    eroso nas condies climticas pr-prias da regio.

    O Centro-Oeste apresenta cerca de 70%

    de seus solos com suscetibilidadevariando de muito baixa a mdia, de-

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    o estado dos solos

    corrente, em termos gerais, da dominncia de relevos aplai-

    nados do planalto central brasileiro, associados a solosprofundos e bem drenados, como os Latossolos. O restan-

    te das terras (30%) corresponde, em geral, aos solos comelevados contedos de areia, como os Neossolos

    Quartzarnicos e alguns Latossolos de textura mdia, osquais apresentam fraca estruturao e so facilmente car-

    regados pelas guas da chuva, mesmo em relevo relativa-mente plano. Ressalta-se a ocorrncia, nessa regio, de se-

    veros processos erosivos, como as voorocas nas terrassituadas prximas s linhas de drenagem, resultado da

    conjugao de solos muito friveis e relevo mais movimen-tado, como, por exemplo, nos chapades das divisas entre

    os estados de Gois, Mato Grosso do Sul, Minas Geras eMato Grosso, onde se originam diversos rios que formam

    as bacias do Prata e do Amazonas.

    Na regio Sudeste ocorre a predominncia de solos combaixa suscetibilidade aos processos erosivos (46%). Seme-

    lhante regio Centro-Oeste, a ocorrncia expressiva deLatossolos em relevos aplainados, com elevados conte-

    dos de argila e bem estruturados, condicionam a baixasuscetibilidade eroso. Entretanto, 40% da regio apre-

    senta terras muito susceptveis eroso, decorrncia derelevos mais acidentados e/ou a solos com elevados con-

    tedos de areia ou significativa diferena textural em pro-fundidade, como, por exemplo, as que ocorrem no oeste

    do estado de So Paulo e nos relevos acidentados ao longoda Serra do Mar.

    Para a regio Sul, observa-se a predominncia de solos

    com alta e muito alta suscetibilidade eroso, condiciona-dos pela presena significativa de solos rasos, como os

    Cambissolos e Neossolos Litlicos, ou mesmo mais profun-dos, como os Argissolos, todos localizados em relevos aci-

    dentados das serras e planaltos sulinos. Os solos comsuscetibilidade muito baixa e baixa perfazem 29% da regio,

    geralmente associados aos planaltos e plancies sedimentares

    de relevos aplainados, onde ocorrem Latossolos e Planossolos,respectivamente. Na classe de suscetibilidade mdia, desta-

    cam-se os Alissolos, Nitossolos e Chernossolos, em geral emrelevo movimentado.

    1 .2. O potencial de uso das terras

    O uso adequado da terra o primeiro passo em direo

    preservao do recurso natural solo, e agricultura correta esustentvel. Para isso, deve-se empregar cada parcela de ter-

    ra de acordo com a sua aptido, capacidade de sustentaoe produtividade econmica, de tal forma que os recursos

    naturais sejam colocados disposio do homem para seumelhor uso e benefcio, ao mesmo tempo em que so pre-

    servadas para geraes futuras (Lepsch et al., 1991). Na ava-liao que se segue, no foram consideradas outras

    potencialidades e restries ambientais, como coberturavegetal, biodiversidade e etc., aspectos estes abordados em

    outros captulos do Geo Brasil.

    A Tabela 2 apresenta a aptido agrcola das terras do Brasilpor regio, evidenciando os diferentes nveis tecnolgicos

    de manejo (primitivo, intermedirio e avanado) e tipos deusos indicados. De sua anlise, verifica-se que h uma gran-

    de predominncia de terras aptas para lavouras, quandocomparadas s demais atividades. Considerando-se os di-

    ferentes nveis tecnolgicos, o pas dispe de aproximada-mente 65% do seu territrio (5.552.673km2) de terras aptas

    ao uso agropecurio.

    Ao se analisar a atividade lavoura no conjunto detodas as regies do Brasil, observa-se que os nveis

    de manejo, ou seja, os graus de intensidade de usode tecnologias no manejo do solo, foram preponde-

    rantes na definio do maior ou menor potencial deterras aptas para este fim. evidente que, para o

    manejo A (primitivo), h um predomnio de terrascom srias limitaes (classe Restrita) para todas as

    regies do pas, significando que a utilizao detecnologias rudimentares limita, grandemente, o cul-

    tivo de lavouras por agricultores (Tabela 2) . Nomanejo B (pouco desenvolvido), verifica-se um cer-

    to equilbrio entre as terras com limitaes modera-das e fortes (classes Regular e Restrita) na maioria

    das regies brasileiras, enquanto no manejo C (de-senvolvido; altamente tecnicizado) ocorre um forte

    predomnio de terras com moderadas restries, con-siderando-se o atual nvel de tecnicizao. Torna-se

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    interessante destacar que as terras mais frteis e pro-

    pcias agricultura (classe Boa) s ficaram mais evi-denciadas nos manejos B e C, mesmo assim predo-

    minantemente nas regies Sudeste e Sul.

    Aproximadamente 10% do territrio nacional ou cercade 926.137km2, so terras indicadas para uso com pas-

    tagem plantada. A regio Sul destaca-se positivamente,apresentando elevado potencial para essa atividade.

    Cerca de 56% de suas terras apresentam aptido Boapara pastagens plantadas, seguidas de 28% com apti-

    do Regular, e apenas 17% com restries severas a este

    uso. As demais regies apresentaram-se constitudasde terras com classe de aptido Regular e Restrita para

    pastagem plantada.

    Com relao silvicultura, destaque tambm para a regioSul, onde cerca de 48% de suas terras apresentam aptido

    variando de Boa a Regular (14% e 34%, respectivamente),sendo o restante (52%) da classe restrita. A regio Nordes-

    te, apesar do alto percentual de terras com aptido Restri-ta (67%), apresenta o correspondente a 31% de suas terras

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    o estado dos solos

    com aptido Regular, e apenas 2% com aptido Boa para utilizao com silvi-

    cultura (Tabela 2).

    Quanto avaliao das terras para pastagem natural, a regio Sul destacou-senovamente, pois apresenta 60% de suas terras com aptido Boa para essa

    atividade. A seguir, destaca-se a regio Nordeste, cujas terras apresentam, do-minantemente, aptido Regular (33%) e Restrita (67%). As demais regies apre-

    sentam suas terras com classe de aptido quase que exclusivamente Restritapara pastagem natural.

    A partir da contextualizao e viso sinptica sobre a avaliao da aptido

    agrcola das terras brasileiras, observa-se que o pas possui um imenso poten-cial agrcola, pois dispe de 5,55 milhes de quilmetros quadrados (555 mi-

    lhes de hectares) de terras aptas para lavouras, onde, salvo restries deordem ambiental, 2,79 milhes esto na regio Norte. Possui tambm, ex-

    pressiva extenso (964.334km2) de terras aptas para pastagem plantada epara silvicultura.

    1 .3. O uso atual das terras

    Entre os diversos usos dos solos identificados pelo Censo Agropecurio de 1996,

    as atividades agropecurias ocupam atualmente cerca de 27,6% do territrio (Ta-

    bela 3), sendo que as reas apenas de

    preservao permanente, e jdemarcadas, representam cerca de 55

    milhes de hectares, estimando-se quebrevemente alcance 10% do territrio

    nacional com os novos processos dedemarcao em curso. Embora seja um

    quantitativo expressivo, considera-seque este montante ainda seja insufici-

    ente para a preservao dos diversosbiomas do pas.

    A anlise da estrutura produtiva

    do pas revela que o principal usodo solo a pecuria, com 21% do

    territrio brasileiro ocupado compastagens, ou seja, mais que o tri-

    plo das terras destinadas a pro-duo de culturas permanentes e

    lavouras. Em termos regionais,observa-se que o aproveitamento

    de pastagens naturais ainda per-manece significativo, apesar dasdiferenas regionais em termos

    climticos, valor da terra, padresculturais, oportunidades produti-

    vas e tecnicizao da agropecu-ria (Figura 2). J para pastagens

    plantadas, a regio Centro-Oestedestaca-se em relao s demais,

    com seus 46 milhes de hectares,ou quase a metade das pastagens

    plantadas do Brasil, seguida pelaregio Sudeste com cerca de 20

    milhes de hectares.

    Embora o pas disponha de um ex-celente potencial de solos aptos

    irrigao, estimados em 29,5 mi-lhes de hectares, sua utilizao ain-

    da modesta, totalizando em 1998uma rea de 2,87 milhes de hecta-

    res, ou seja, apenas 6,19% das re-as destinadas a produo agrco-

    la , muito abaixo dos padresmundiais e das oportunidades que

    o Pas oferece.

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    Com relao intensidade de uso

    das terras por atividadesagrossilvipastoris, esta foi estima-

    da com base no CensoAgropecurio de 1985/86, e na base

    de informaes municipais foramselecionadas variveis que repre-

    sentam as trs principais categori-as de uso da Terra: Agricultura,

    Pecuria e Silvicultura, que foramnormalizadas e agrupadas em um

    ndice final de intensidade de ocu-pao dos territrios municipais

    por atividades agrossilvipastoris(Figura 3). Verifica-se que a ativida-

    de agropecuria mais intensivanas regies Sul, Sudeste e Centro-

    Oeste, respectivamente. A regioNordeste, embora bastante

    antropizada, apresenta uma inten-sidade de uso intermediria, face

    s limitaes climticas; e a regio

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    o estado dos solos

    Norte apresenta, de forma geral, municpios com reas de baixa intensida-

    de de uso agropecurio ou mesmo ausente.

    2. O domnio e a dinmica do uso dos solos

    2.1. O perfil da estrutura fundiria

    A estrutura fundiria brasileira, que determina parte da forma e presso de uso do

    solo, pode ser analisada sob duas ticas distintas: a primeira tem por foco a distribui-o do espao fundirio entre seus detentores - proprietrios e posseiros. A segunda

    permite identificar como este espao ocupado e explorado pelos produtores rurais.Desta forma tm-se: o imvel rural (unidade de propriedade) e o estabelecimento

    agropecurio (unidade de produo). Para as anlises relativas distribuio doespao fundirio entre os detentores, so utilizados os dados cadastrais levantados

    pelo Instituto Nacional de Colonizao e Reforma Agrria Incra. Na segunda hip-tese, empregam-se os dados extrados dos Censos Agropecurios, da Fundao do

    Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica IBGE. Embora as fontes apresentemesquemas conceituais distintos, ambas evidenciam um acentuado grau de concen-

    trao da terra no Brasil.

    que a mdia nacional, enquanto que

    para os estabelecimentos rurais, domesmo extrato, ela representa 43 ve-

    zes a mdia nacional.

    Portanto, como conseqncia, tantode seu passado de ocupao colonial

    quanto da sua forma de ocupaomais recente, o Brasil no apresenta

    uma satisfatria distribuio da pro-priedade da terra, ainda que sucessi-

    vos governos no tenham poupadoesforos no sentido de reverter este

    quadro. Atualmente as aes de refor-ma agrria tomaram grande vulto, tan-

    to em funo da presso exercida porsegmentos da sociedade civil organi-

    zada, como pelas diretrizes e metasde polticas agrrias estabelecidas e

    concretizadas notadamente nos trsltimos governos.

    Outro ponto a ser destacado refere-se

    ao fato de que a concentrao de pro-priedade da terra seja elevada em todo

    pas quando vista sob a tica da sim-ples anlise dos indicadores nacionais.

    Tais indicadores tendem a obscurecerou mesmo distorcer as diferenas re-

    gionais da contrao da propriedadeda terra, tanto em seus aspectos his-

    tricos, como nos sistemas de ocu-pao e dimenso das reas. Este ce-

    nrio pode ser visualizado atravs dondice de Gini (Tabela 4), utilizada

    como medida de avaliao da concen-trao fundiria. Observando-se a va-

    riao do ndice entre 1992 e 1998.Deve ser dada ateno especial re-

    gio Norte, nica a apresentar valoressuperiores aos ndices nacionais nos

    dois perodos considerados.

    As aes de cadastramento do Incraregistraram, aproximadamente, 2,9

    milhes e 3,6 milhes de imveis ru-rais, respectivamente, em 1992 e em

    1998, distribudos em termos abso-lutos, pelas cinco grandes regies

    Conforme as estatsticas cadastrais do Incra, em 1998, os imveis rurais com reasuperior a 1.000 ha, representando 1,4% do universo cadastrado, detinham 49% da

    rea total. J em termos de estabelecimentos agropecurios, 0,9% deles, com reasuperior a 1.000 ha, ocupavam 43,7% da rea total recenseada em 1996. Do outro

    extremo, 31,1% dos imveis rurais com menos de 10 ha, ocupavam apenas 1,4%da rea total. De forma mais dramtica, 52,9% dos estabelecimentos agropecurios

    com rea inferior a 10 ha, abrangiam, to somente, 2,7% da rea total.

    Quando considerada a grandeza do territrio brasileiro, 415 milhes de hecta-res pelo cadastro do Incra em 1998, e 353 milhes de hectares de acordo com

    o ltimo Censo Agropecurio do IBGE, evidencia-se a magnitude que se deste forte grau de concentrao da terra no pas. Um bom exemplo est no fato

    de que a rea mdia dos imveis rurais com mais de 1.000 ha 33 vezes maior

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    brasileiras, conforme Tabela 5. Ana-

    lisando-se os dois momentos retra-tados, verifica-se que a regio Sul con-

    centra a maior quantidade de imveisdo Brasil 35,53% em 1992 e 31,57%

    em 1998, ao mesmo tempo em queocupa sempre a menor parcela da

    rea cadastrada. Seus imveis tmem mdia 38 ha, e a metade deles

    no ultrapassa a 14 ha.

    As regies Nordeste e Sudeste man-tm-se com representatividade se-

    melhante no tocante ao nmero deimveis, em ambos os perodos de

    avaliao. A situao no se repetequando comparada s reas cadas-

    tradas, apontando maior concentra-o para a regio Nordeste. Em 1998,

    a rea mdia dos imveis da regioNordeste correspondia a 79,1 ha, en-

    quanto que os imveis da regio Su-deste apresentavam uma mdia de

    70,2 ha. Acentua-se o contraste e a

    desigualdade entre as regies quan-

    do comparadas suas reas media-nas. Metade dos imveis da regio

    Sudeste tem at 19 ha, enquanto quea rea mediana para o Nordeste no

    atinge 16 ha.

    Mais da metade da rea cadastradano pas pertence s regies Norte e

    Centro-Oeste, embora a quantidade deimveis, mesmo em conjunto, seja

    pouco expressiva, se comparada comqualquer outra regio brasileira. Como

    reflexo, as reas mdias dos imveislocalizados em ambas regies ultra-

    passa a 400 ha e a rea mediana apro-xima-se dos 70 ha.

    Considerando-se o perodo, pode-se

    mensurar a dinmica dos movimen-tos ocorridos no cadastro. Para o Bra-

    sil, observou-se um acrscimo de22,7% no nmero de imveis rurais e

    de 34,0% na rea. Entretanto, umagrande estabilidade observada na

    estrutura fundiria brasileira no pero-do 1972/1998, fato este corroborado

    pela rea mdia dos imveis que, deacordo com Hoffmann diminuiu ape-

    nas 3%, passando de 109,3 ha em 1972para 106,0 ha em 1992. A rea media-

    na nacional apresenta mudana insig-nificante, caindo de 18,7 para 18,5 ha.

    O ndice de Gini permanece um pou-co acima de 0,83 e a porcentagem da

    rea total, ocupada pelos 10% maio-

    res estabelecimentos, permanece em77%.

    A Tabela 4 demonstra a mencionada

    estabilidade no perodo 1972/1998,utilizando para tanto, alm do ndice

    de Gini, o ndice de Theil, que tambmconstitui uma medida de concentra-

    o. Ainda segundo Hoffmann, umadas razes para esta estabilidade da

    estrutura fundiria deve-se extensoterritorial do pas, que faz com que in-

    tervenes governamentais localiza-das tenham pouco efeito no total.

    2.2. Estabelecimentos, reae valor bruto da produo

    No Brasil existem 4.859.864 estabele-cimentos rurais, ocupando uma rea

    de 353,6 milhes de hectares. No anoagrcola 95/96, o Valor Bruto da Produ-

    o (VBP) Agropecuria foi de R$ 47,8bilhes e o financiamento total (FT) de

    R$ 3,7 bilhes. Do total dos estabeleci-mentos, 4.139.369 so familiares, ocu-

    pando uma rea de 107,8 milhes deha, sendo responsveis por R$ 18,1 bi-

    lhes do VBP total e contaram com R$937 milhes de financiamento rural. Os

    agricultores patronais so representa-dos por 554.501 estabelecimentos,

    ocupando 240 milhes de ha. O res-tante formado por aqueles estabele-

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    o estado dos solos

    cimentos que no puderam ser enquadrados.(Tabela 6)

    A anlise regional demonstra a importncia da agriculturafamiliar nas regies Norte e Sul, nas quais mais de 50% do

    VBP produzido nos estabelecimentos familiares. Na re-gio Norte, os agricultores familiares representam 85,4% dos

    estabelecimentos, ocupam 37,5% da rea e produzem 58,3%do VBP da regio, recebendo 38,6% dos financiamentos.

    Nesta regio, onde se observa tambm o predomnio de

    terras restritas para onvel tecnolgico primi-

    tivo (Manejo A), co-mum tambm a ocor-

    rncia da agricultura fa-miliar de menor nvel

    tecnolgico, de formaitinerante e com o em-

    prego de queimadas,com forte presso sobre

    os solos, que face pe-quena dimenso mdia

    das propriedades, tem-peratura ambiente eleva-da e precipitao inten-

    sa, rapidamente per-dem sua capacidade produtiva.

    A regio Sudeste comparativamente a que apresenta o

    maior desequilbrio, onde a agricultura familiar apresentauma grande desproporo entre o percentual de financia-

    mento recebido e a rea dos estabelecimentos. Esses agri-cultores possuem 29,2% da rea e recebem somente 12,6%

    do crdito rural aplicado. Ressalta-se o problema das zonasmontanhosas do sudeste brasileiro que sofrem forte pres-

    so de uso, pois os pequenos produtores caractersticosdestas regies, alm das limitaes de rea disponvel e

    mecanizao das terras, so penalizados ainda pela falta deacesso ao nvel financeiro requerido para adoo de

    tecnologias e alternativas produtivas.

    A regio Nordeste a que apresenta o maior nmero deagricultores familiares (88,3%), os quais ocupam 43,5% da

    rea regional, produzem 43% de todo VBP da regio e res-pondem por apenas 26,8% do valor dos financiamentos

    agrcolas. Historicamente a conjugao de fortes limita-es climticas conjugadas insuficincia de rea para pro-

    duo tem resultado na perda progressiva da coberturavegetal natural, sobre explorao dos solos com conse-

    qente perda de sua capacidade produtiva dos solos, ero-so e, em casos mais srios, a desertificao.

    Este fato tem determinado um deslocamento do setor para

    terras com menor potencial de uso, com maiores riscos desobre utilizao e degradao dos recursos do solo, como

    efetivamente se observa pela presena de pastagens degra-dadas e processos erosivos nestas regies. Na regio Norte,

    a conjugao de temperaturas elevadas e chuvas intensasdetermina uma perda mais rpida do potencial produtivo

    dos solos, e conseqen-temente das pastagens,

    sendo principalmenteestas as reas ocupadas

    recentemente pelas la-vouras. No Nordeste,

    face fragilidade dobioma Caatinga este in-

    dicador maispreocupante, face ao ris-

    co adicional dedesertificao.

    De forma geral, o pro-dutor ao implantar re-

    as de pastagens plan-tadas, quando muito, consegue fazer a correo do solo,

    geralmente atravs da utilizao de culturas de ciclo cur-to (milho, arroz etc.), porm no consegue ter o nvel

    financeiro requerido para manej-las atravs de aduba-es de manuteno e tcnicas de manejo, ocasionan-

    do, geralmente, o sobrepastejo. Nesta situao, e emalgumas regies do pas, ainda se observa o uso de quei-

    madas como forma de manejo e recuperao de pasta-gens no perodo seco, geralmente com drsticos efeitos

    subseqentes sobre a conservao dos solos e dos de-mais recursos naturais.

    No caso dos bovinos, parte da produo originou-se da

    expanso pecuria atravs do aumento das reas compastagens, porm como as taxas de expanso apresen-

    tam, ultimamente, sinais de estabilizao, parte tambm oriunda do processo de tecnicizao do setor. Exemplos

    desta modernizao no faltam no pas, como programasoficiais e privados de melhoria gentica do plantel nacio-

    nal, que incluem inseminao artificial e transferncias deembries, integrao lavoura-pecuria, confinamento e

    semiconfinamento, e o recente programa oficial derastreabilidade eletrnica de animais. Como resultado, a

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    taxa de abate ou desfrute do rebanho nacional, que era de

    16% em 1990, terminou a dcada com 23%, superior a m-dia mundial de 20%. Estes indicadores, associados s no-

    vas ferramentas da biotecnologia para o melhoramentogentico, indicam que a pecuria nacional deva manter uma

    tendncia crescente de tecnicizao, respondendo s de-mandas de consumo via ganhos crescentes de produtivi-

    dade, sendo sua intensidade dependente de polticas

    setoriais, diminuindo sua expanso em direo Amaz-nia, hoje uma das principais formas de ocupao das suas

    terras.

    A rea mdia dos estabelecimentos familiares no Brasil de 26 ha (Figuras 4 e 5), enquanto que a patronal de 433

    ha, apresentando tambm uma grande variao entre asregies, relacionando-se ao processo histrico de ocupa-

    o da terra. Assim, nas regies onde os agricultores patro-nais apresentam as maiores reas mdias, o mesmo acon-

    tece entre os familiares. Enquanto a rea mdia entre osfamiliares do Nordeste de 16,6 ha, no Centro-Oeste de

    84,5 ha. Entre os patronais, com uma mdia de 433 ha parao Brasil, na regio Centro-Oeste a mdia chega a 1.324 ha,

    encontrando-se na regio Sudeste a menor rea entre a dospatronais, com 223 ha por estabelecimento.

    A anlise regional demonstra a importncia da agricultura

    familiar nas regies Norte e Sul, nas quais mais de 50% doVBP produzido nos estabelecimentos familiares. Na re-

    gio Norte, os agricultores familiares representam 85,4%dos estabelecimentos, ocupam 37,5% da rea e produzem

    58,3% do VBP da regio, recebendo 38,6% dos financia-mentos (Tabela 6).

    A regio Sul a mais forte em termos de agricultura famili-ar, representada por 90,5% de todos os estabelecimentos

    da regio, ocupando 43,8% da rea, e produzindo 57,1% doVBP regional. Nesta regio, os agricultores familiares fi-

    cam com 43,3% dos financiamentos aplicados na regio.Destaca-se, tambm, que nesta regio que se observa

    agricultores familiares mais tecnicizados, adotando siste-mas conservacionistas de produo, como o Sistema de

    Plantio Direto.

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    o estado dos solos

    O Centro-Oeste apresenta o menor percentual de agricultores familiaresentre as regies brasileiras, representando 66,8% dos estabelecimentos da

    regio, e ocupando apenas 12,6% da rea regional. Nesta regio, verifica-seuma intensificao do uso da terra, com forte especializao para a produ-

    o de gros e fibras em plantios com fins industriais, bem como fruticultu-ra e a pecuria extensiva.

    2.3. Aspectos gerais da dinmica de uso da terra

    A variao percentual da rea total utilizada no pas, tendo como base os dados

    dos Censos de 1970 e 1996, revela uma expanso mdia de 28% do uso dasterras, porm com grandes diferenas regionais. Assim as maiores variaes

    nas reas utilizadas, cobertas pelos censos, aconteceram nas regies Norte (85%)e Centro-Oeste (62%), indicando um forte processo de expanso da agropecuria

    nessas regies. No Nordeste houve um acrscimo de 17%, no Sul permaneceuquase constante, e no Sudeste um retrocesso de 5%.

    todas as regies e, logica-mente, no pas;

    b) Em geral, as percentagens to-

    tais de reas com lavouras (tem-porrias e permanentes) mos-

    tram pequenas variaes, po-dendo, no entanto, ser feitas

    algumas consideraes entreos dois tipos. No pas, ou seja,

    na mdia das regies, houveum decrscimo da frao cor-

    respondente a lavouras perma-nentes, junto com um acrs-

    cimo da frao de lavourastemporrias, o mesmo tendo

    acontecido no Nordeste e noSul. Na regio Norte houve um

    incremento na percentagem derea com lavouras permanen-

    tes e uma pequena diminuioem lavouras temporrias. J no

    Sudeste e no Centro-Oeste osdois componentes aumenta-ram, porm no Sudeste o au-

    mento mais importante ocor-reu nas lavouras permanentes,

    sendo discreto para as lavou-ras temporrias, enquanto que

    no Centro-Oeste ocorreu o con-trrio, ou seja, esta tende a se

    consolidar como a grande pro-dutora de gros;

    c) Para as reas com matas e flo-

    restas, na mdia, houve au-mento tanto no componente

    para matas naturais, quanto node matas plantadas. Regional-

    mente isso tambm aconte-ceu no Nordeste, no Sudeste

    e no Centro-Oeste, com dife-rentes graus de variao. J no

    Norte e no Sul houve uma di-minuio dos componentes

    relacionados com matas nati-vas, e um aumento nos de

    matas plantadas.

    Desagregando os dados em seis principais formas de uso, ou seja, lavouras per-

    manentes -LAVPER, lavouras temporrias -LAVTMP, pastagens naturais- PASTNAT,pastagens plantadas -PASTPLA, matas e florestas naturais-MATNAT e matas e

    florestas plantadas -MATPLA e, relativizando-as pelo total da rea por elas ocupa-das (Tabela 7), pode-se captar os aspectos essenciais da evoluo do uso do

    espao nacional.

    A partir das contribuies relativas, e em termos resumidos e essencialmentequalitativos, podem ser obtidas as seguintes concluses, que descrevem as

    tendncias produtivas das regies brasileiras:

    a) A principal mudana reside na diminuio da percentagem das reascom pastagens nativas, conjuntamente com o crescimento da per-

    centagem das reas com pastagens cultivadas, o que aconteceu em

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    Aplicando-se aos dados um conceito

    de distncia (de fato, mtrica L1) entreduas estruturas para avaliar as mudan-

    as ocorridas no uso da terra, as prin-cipais concluses so:

    a) Tanto no pas, quanto em cada

    regio, as variaes que ocor-reram em termos de pastagens

    so muito superiores s queaconteceram nas lavouras ou

    nas matas e florestas, situan-do-se entre 65% e 85% da varia-

    o total;

    b) Na mdia, ou seja, para todoo pas, a contribuio para a

    variao nas estruturas deuso da ordem de 12% em

    matas e florestas, e de cercade 3%, em lavouras;

    c) Nas regies, a contribuio

    para a variao de estrutura daslavouras, ou das matas e flo-

    restas, mostra dois tipos decomportamento: nas regies

    Norte, Sudeste e Centro-Oesteso maiores as contribuies

    das matas e florestas do que asdas lavouras (sendo cerca de

    duas vezes maior no Sudeste,quatro vezes no Centro-Oeste

    e nove vezes no Norte); nas re-gies Nordeste e Sul so maio-

    res as contribuies das lavou-ras do que as das matas e flo-

    restas (sendo cerca de dez ve-zes maiores no Nordeste e,

    apenas, 30% maiores no Sul).

    Em termos agregados, a distnciapode ser utilizada como um indicador

    de dinmica no uso da terra. Assim,considerando as distncias calcula-

    das, a regio mais dinmica a doCentro-Oeste, sendo seguida pela do

    Sudeste, Norte, Sul e Nordeste, res-pectivamente.

    2.4. A dinmica e as transformaes da agropecuria

    Ao longo das dcadas analisadas, constata-se que a agricultura cumpriu comeficincia seu papel na economia brasileira, ou seja, a de prover alimentos, ener-

    gia, fibras e outros para a populao, gerando divisas via exportao de exceden-tes e capital para a industrializao do pas.

    Grandes investimentos em infra-estrutura tornaram possvel um sistema de trans-porte multimodal cada vez mais eficiente e barato, com efeitos catalticos tanto na

    expanso como no aumento da produo agropecuria. Exportaes de reascom pouco acesso so agora possveis a preos competitivos, como no Corredor

    Norte, o caminho fluvial que conecta o Rio Madeira ao Rio Amazonas atravs doPorto de Itacoatiara e o Corredor Centro - Norte conectando o estado de Mato

    Grosso ao Porto de Ponta da Madeira no Nordeste do pas, permitindo aindaincorporao de novas reas produtivas dos estados de Tocantins, Piau e Mara-

    nho. Nestes, como exemplo das possibilidades de transformaes associadasas potencialidades das terras e vantagens comparativas, no ano agrcola de 1998 j

    cultivaram uma rea da ordem de 210 mil hectares de soja, apresentando umpotencial superior a 3 milhes de hectares, rea equivalente cultivada no estado

    do Rio Grande do Sul.

    O desenvolvimento e uso de novas tecnologias de produo, a exemplo daagricultura, tambm tem sido a alternativa utilizada pelo setor ao longo do tem-

    po, para enfrentar os problemas de rentabilidade e respostas s demandas deconsumo, como indicado pelo aumento constante da produo de carnes ilus-

    trado na Figura 7. Sunos e especialmente aves, tiveram ganhos de produo eprodutividade excepcionais a partir da dcada de 1990. A agricultura brasileira

    atualmente uma das mais competitivas do mundo, com amplas perspectivasde influenciar a formulao de preos internacionais.

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    Entretanto, as perdas e frustaes de safras em culturastemporrias em regime de sequeiro eram expressivas at

    a metade da dcada de 1990, com registros de perdas porseca da ordem de 60% e 32% por chuvas intensas nos

    cultivos de vero e nos cultivos de inverno, da regio Sul,perdas por seca de 30%, por chuvas fortes na colheita 32%

    e geada 30%.

    A disponibilidade tecnolgica sob condio de sequeiro ain-da no completa para todos os agricultores e regies. O

    Nordeste, a mais frgil das regies e que provavelmenteno ter condies de competir com as demais, sob tecno-

    logia irrigada favorecida pela luminosidade e temperatu-ra, podendo ser extremamente competitiva, desde que se

    promova o desenvolvimento tecnolgico especfico paraas condies ambientais locais, buscando-se nveis de pro-

    dutividades economicamente mais elevados que os atuais,principalmente para o milho, arroz, feijo e algodo.

    Porm a irrigao no Brasil, que passou por um perodo de

    forte expanso at o ano de 1990, apresenta atualmenteum crescimento lento, embora oferea uma srie de van-

    tagens comparativas ao processo de uso e ocupao dasterras. Exemplificando, apenas 6,19% dos 38,3 milhes dehectares atualmente cultivados no pas so irrigados, sen-

    do que no mundo 17% do 1,5 bilho de hectares utilizam airrigao. Entretanto, a produtividade da irrigao agrcola

    faz com que estes 17,7% respondam por 40% dos alimen-tos produzidos, sendo esta proporo ainda maior no Bra-

    sil, ou seja, 35% da produo agrcola oriunda dos 2,87milhes de hectares irrigados. Assim, pela sua extenso

    atual, e de forma geral, pelos baixos impactos causadosaos solos brasileiros ao longo do tempo, a irrigao no

    se configura como uma forma de presso sob os solos, esim uma alternativa para diminuir a presso pela ocupa-

    o e uso agrcola das terras brasileiras, via aumento derenda econmica, produo e produtividade agrcola. Para

    tal, necessrio estabelecer uma nova poltica de crditopara o setor, que equacione a maior necessidade de inves-

    timentos nesta tecnologia, o acesso ao crdito e os eleva-dos custos financeiros atuais, permitindo ainda a partici-

    pao dos pequenos produtores, um problema que passapor exigncias de garantias, solues de passivos e ou-

    tros fora do domnio dos agricultores.

    O rebanho bovino nacional atualmente o segundo maiordo mundo, estimado em 157 milhes de cabeas (32 mi-

    lhes de leite e 125 milhes de corte), distribudos em 1,6milhes de estabelecimentos pecurios. Para tal, as varia-

    es com o uso da terra com pastagens, especialmentecom pastagem plantada, foram extremamente superioresas demais formas de uso, revelando seu dinamismo espa-

    cial e sua importncia relativa na expanso da fronteira agr-cola do Pas.

    Figura 6- Uso atual, aptido agrcola e balano da disponibilidade das terras aptas para pastagem plantada por regio do Brasil.

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    Uma anlise comparativa utilizando-sedados agregados indica que a rea de

    pastagens plantadas somente no su-pera em volume de terras com aptido

    para este fim na regio Norte (Figura 8).Embora esta comparao no signifi-

    que necessariamente que a atividadeesteja utilizando terras com menor apti-

    do ou mesmo inaptas, serve como in-dicador indireto de presso sobre o uso

    da terra. Assim, nas regies Sul, Sudes-te e Centro-Oeste, existe a tendncia de

    ocupao por lavouras de reas compastagens naturais, plantadas, degrada-

    das ou no, face sua menor rentabili-dade comparativa.

    Uma anlise expedita sobre a rentabi-lidade mdia do setor (Embrapa, 2001

    projees no oficiais) utilizando-sedados agregados revela que os pecu-

    aristas possuem em mdia 75 cabe-as, que considerando uma margem

    lquida de 15% na atividade, resultanuma remunerao mensal de R$

    100,00 para a sobrevivncia deste m-dio pecuarista. Esta simulao ilustra

    especialmente as dificuldades dos pe-quenos produtores e a presso que

    estes exercem sobre as terras de me-nor aptido agrcola, como as que se

    verificam por exemplo, nas regiesmontanhosas do Sudeste, e a neces-

    sidade de programas e polticas seto-

    riais para a diversificao/ordenamen-to agrcola, recuperao das pasta-

    gens, solos e mesmo o reflorestamen-to de biomas mais ameaados.

    De fato o problema da degradao

    das pastagens no Brasil preocupan-te, face principalmente a extenso

    de terras atualmente utilizadas. Em-bora alternativas tecnolgicas exis-

    tam e estejam disponveis, a baixarentabilidade do setor geralmente

    determina, especialmente entre ospequenos e mdios pecuaristas, um

    baixo uso de tecnologias de manejodos solos e pastagens.

    3. Processos dedegradao da terra

    Os processos de degradao esto

    associados a fatores edficos, cli-mticos e antrpicos. A intensida-

    de e a taxa de desenvolvimento des-ses processos so ampliadas pelo

    uso e manejo inadequados da terra(desmatamento indiscriminado, ex-

    plorao acima da capacidade desuporte, uso intensivo de grades de

    discos no preparo do solo etc.), queexpondo o solo aos fatores intem-

    pricos induzem destruiogradativa de suas propriedades fsi-

    cas, qumicas e biolgicas. A perda

    da camada superficial do solo aprincipal forma de expresso da de-

    gradao das terras no Brasil, sen-do a eroso a sua causa maior.

    3.1. Eroso

    O modelo agrcola predominante no

    pas baseado em uso de energia fs-sil, agroqumicos, mecanizao inten-

    siva e forte preocupao com a efici-ncia econmica, via ganhos de pro-

    dutividade. Ainda hoje, utilizando opreparo intensivo do solo atravs de

    implementos como arados e gradesde discos, esse modelo incrementa

    fortemente os processos erosivospela exposio do solo

    ao sol, chuva, destrui-o de seus agregados,

    formao de camadascompactadas, decrsci-

    mo de permeabilidadee infiltrao e, em con-

    seqncia, elevaodas perdas do

    patrimnio solo.

    Assim, a erosohdrica a principal

    forma de degradaodos solos no Brasil, e

    ocorre em trs fases: desagrega-o, transporte e deposio; e suas

    principais formas de expresso soa laminar, sulcos e em voorocas

    (Bertoni & Lombardi Neto, 1990).Em 1982 estimou-se que 12,5 mi-

    lhes de t de sedimentos eram de-positados por ano no reservatrio

    da usina hidreltrica de Itaipu, sen-do que 4,8 milhes provinham do

    estado do Paran (Derpsch et al.,1991). Em So Paulo, dos 194 mi-

    lhes de t de terras frteis erodidasanualmente, 48,5 milhes de t causa-

    ram assoreamento e poluio em ma-nanciais, correspondendo a 10 kg de

    solo para cada 1 kg de soja, e a 12 kg

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    o estado dos solos

    para cada 1 kg de algodo produzi-do (Bertolini et al., 1993). No Rio Gran-

    de do Sul, perdas anuais de 40 t ha--1

    de solo foram reportadas por

    Schmidt (1989). Em 1949, estimava-se que o Brasil perdia por eroso

    laminar cerca de 500 milhes de t deterra anualmente (Bertoni &

    Lombardi Neto, 1990) e, em 1992, re-lataram-se perdas anuais de 600 mi-

    lhes de t (Bahia et al., 1992).

    Hoje, em razo da ampliao da reaagrcola, e do uso intensivo das ter-

    ras, as perdas de solo por eroso se

    ampliaram em algumas regies dopas. Considerando a rea total ocu-

    pada com lavouras (anuais e perenes)e pastagens (naturais e plantadas),

    relatadas no Censo Agropecurio de1995/1996, e admitindo-se uma perda

    mdia anual de solo de 15,0 t ha-1 paralavouras (Bragagnolo & Pan, 2000) e

    de 0,4 t ha-1 para pastagens (Bertoni &Lombardi Neto, 1990), estimou-se as

    perdas totais anuais de solo em 822,7milhes de t, sendo 751,6 milhes em

    rea de lavouras e 71,1 milhes de t

    A eroso gera perdas anuais correspondentes a 15,2 milhes de t de calcrio dolomtico (23%

    de CaO) valorados em R$563 milhes; 879 mil t de superfosfato triplo que valem R$483

    milhes e 3 milhes de t de cloreto de potssio valorados em R$1,7 bilhes. A reposio das

    perdas de N e S, totalizam 5,3 milhes de t de uria ou R$2,77 bilhes e 995 mil t de sulfato de

    amnio custando R$394 milhes. Somando-se a esses valores R$2,06 bilhes que o custo do

    adubo orgnico necessrio reposio da matria orgnica ao solo, estima-se que a eroso

    hdrica gere um prejuzo total relativo s perdas de fertilizante, calcrio e adubo orgnico, da

    ordem de R$ 7,9 bilhes por ano.

    Pode-se ainda estimar com base em diferentes autores, o efeito da eroso na depreciao da

    terra (Landers et al., 2001a), no custo do tratamento de gua para consumo humano (Bassi,

    1999), no custo de manuteno de estradas (Bragagnolo et al., 1997) e na reposio de

    reservatrios, decorrente da perda anual da capacidade de armazenamento hdrico (Carvalho

    et al., 2000). Somando-se os impactos anteriores estima-se, de forma parcial (h uma extensa

    relao de efeitos aqui no valorados), que a eroso promoveria R$13,3 bilhes de prejuzos

    por ano (Tabela 8).

    Box 1 - Valorao econmica de perdas.

    devidas s pastagens. Desse total, 247

    milhes de t de sedimentos por ano(ou 30%) podem ser, finalmente, de-

    positados em estradas, rios, represasetc., acarretando prejuzos scio-eco-

    nmicos e ambientais de elevadamagnitude. Valores superiores foram

    ainda obtidos por Vergara Filho (1994)que estimou em 1,054 bilhes de t as

    perdas anuais de solo para o Brasil.

    Alm das partculas de solo em sus-penso, o escoamento superficial

    transporta nutrientes, matria org-nica, sementes e defensivos agr-

    colas que, alm de causarem pre-juzos produo agropecuria, po-

    luem os recursos hdricos. Combase em Hernani et al. (1999) e nos

    dados acima descritos, estimou-seas perdas anuais de Clcio em 2,5

    milhes de t, Mg em 186 mil t, Pem 142 mil t, K em 1,45 milhes t

    e 26 milhes de t em matria org-nica. Admitindo-se perdas por ero-

    so em lavouras, 863 mil t e 86 milt, para N e S, respectivamente

    (Malavolta, 1992), e que tais perdasnas reas de pastagens sejam 50%

    menores, estimou-se em 2,4 mi-lhes e 239 mil t por ano as perdas

    totais de N e S, respectivamente.

    Estabelecendo-se, com base emDe Maria (1999), que as perdas de

    gua sejam de 2.519 m3 ha-1.ano-1

    para as reas cultivadas com la-

    vouras, e que nas com pastagensa perda mdia relativa seja um d-

    cimo desse valor, estima-se para area atualmente ocupada, perdas

    anuais de gua de 126,2 bilhes dem3 em reas de lavouras e 44,8 bi-

    lhes de m3 em reas de pasta-gens, num total de 171 bilhes de

    m3 de gua. Esse volume no seinfiltra no solo e nem recompe

    lenis freticos, causando en-chentes nos rios e diminuio da

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    disponibilidade hdrica, sendo um

    dos fatores ocultos na recente cri-se energtica brasileira.

    O cruzamento do mapa de intensidade

    de uso com o de susceptibilidade dasterras eroso ilustra espacialmente

    estas perdas, como apresentado na Fi-gura 8. Assim na regio Norte, onde os

    solos tm alta susceptibilidade ero-so, face elevada precipitao

    pluviomtrica, 98% das terras apresen-tam baixo grau de vulnerabilidade ero-

    so hdrica devido principalmente bai-xa ocupao agrcola das terras, enquan-

    to na regio Nordeste limitaes clim-ticas diminuem essa vulnerabilidade em

    82% das reas. Embora apresente bai-xos nveis de vulnerabilidade em 78%

    de sua rea ocupada, a regio Centro-Oeste apresenta reas extremamente

    crticas, como as bordas do Pantanal eas nascentes de rios importantes para

    as bacias do rio Amazonas e doParaguai/Prata. bm um agravamento da eroso em

    conseqncia das mudanas climti-cas esperadas para o prximo sculo

    (Williams et al., 1996 e Williams, 2000).

    3.2. Perda de fertilidade dosolo

    As prticas modernas de adubao,

    introduzidas h mais de um sculo ebaseadas no conceito de nutrio de

    plantas, contriburam significativa-mente para o aumento da produo

    agrcola e melhoria da qualidade dealimentos, florestas e forrageiras. A

    elevao da fertilidade dos solos pelaadubao, aliada ao melhoramento

    de plantas, aumentou a produtivida-de das culturas no perodo de 1970-

    1998, resultando na economia de uti-lizao de terras no Brasil da ordem

    de 60 milhes de hectares. Esta reapoderia ser ainda maior, caso a adu-

    bao fosse uma prtica mais disse-minada no pas.

    Os solos brasileiros

    so em geral cidos,pobres em fsforo,

    clcio, magnsio ecom teores altos de

    elementos txicos(alumnio, mangans

    e ferro); no entanto,aplica-se muito me-

    nos fertilizante e cor-retivo que o recomen-

    dado. Em funo daacidez excessiva, deve-

    riam ser aplicados cer-ca de 75 milhes de t

    anuais de calcrio.Embora a capacidade

    instalada para minera-o e processamento

    seja atualmente de 50milhes de t anuais,

    aplica-se hoje no pascerca de 15 milhes

    de t.ano-1, quantidade

    A regio Sul apresenta 40% de suas

    terras com elevados graus devulnerabilidade indicando que solos de

    maior susceptibilidade eroso estosendo fortemente pressionados em

    seu uso. Em contrapartida, desde adcada de 1980 cresce, nessa regio, o

    uso de sistemas conservacionistas demanejo do solo baseados no Plantio

    Direto (utilizado em 85% da rea cultiva-da com culturas anuais) e programas

    de manejo integrado em baciashidrogrficas, mudando essa criticida-

    de para uma agricultura sustentvel.

    Ressalta-se, ainda, a grande influnciada inadequao de estradas de terra

    rurais e de reas periurbanas princi-palmente de loteamentos ou ocupa-

    es de populaes de baixa renda, noimpacto provocado pela eroso devi-

    do m execuo ou inadequada con-servao (Bertolini & Lombardi Neto,

    1993). Diversas projees indicam tam-

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    o estado dos solos

    esta que pouco mudou entre 1984 e 1999. Portanto, a cada

    ano, cerca de 60 milhes de t de calcrio deixam de ser apli-cadas, resultando em menor eficincia dos fertilizantes, me-

    nor produtividade das lavouras, menor renda para os agricul-tores, maior perda da capacidade produtiva dos solos e, con-

    seqentemente, presso sobre os recursos naturais.

    Estima-se que a contribuio de fertilizantes no rendi-mento obtido por lavouras da ordem de 35% a 50%. O

    uso de adubos minerais (fertilizantes qumicos) e or-gnicos (adubao verde de inverno e vero e ester-

    cos) no pas ainda muito baixo, por isso ainda nocausam problemas ao ambiente (contaminao de

    guas subterrneas, por exemplo) como os registrado

    em pases como Holanda e Alemanha. Embora respon-

    svel por do consumo total de fertilizantes (N, P2O5 eK2O) na Amrica Latina, o Brasil ainda no ultrapassou

    o consumo de 5 milhes de t anuais (perodo 1970 a1989), sendo que entre 1989 e 1999 o consumo aumen-

    tou apenas 800 mil t, atingindo 5,8 milhes de t. O con-sumo de fertilizante nitrogenado, entre 1970 e 1989, foi

    de 0,5 a 0,9 milho de t.ano-1 e entre 1989 e 1999 houveum aumento para cerca de 1,5 milho t.ano-1.

    O consumo de fertilizantes aparenta estar relacionado s

    condies econmicas do agricultor, pois entre 1991 e 1994aumentou em 48%, em 1995 diminuiu 9%, entre 1995 e 1998

    aumentou 35% e em 1999 decresceu 7%. As quedas noconsumo relacionam-se a problemas de crdito, frustrao

    de safras e baixos preos dos produtos agrcolas, enquan-to os aumentos envolvem geralmente relao de troca fa-

    vorvel entre fertilizantes e produtos agrcolas associada asafras satisfatrias quanto produtividade.

    Dos 120 milhes de hectares sob pastagem, cerca de 80

    milhes so de pastagens plantadas (~ 50 milhes de hana regio dos Cerrados; 20 milhes na Amaznia e 20 mi-

    lhes na regio da Floresta Atlntica), ou cerca de 10% darea total do Pas. Na Amaznia, a grande maioria foi

    estabelecida praticamente sem nenhuma adubao fican-do a produtividade dependente dos resduos das cinzas

    das queimadas. Nas outras regies, a introduo foi apscultivo pioneiro de arroz ou outro cereal, ficando a produ-

    tividade dependente do efeito residual do adubo qumicoaplicado para o cereal. A explorao extrativista da produ-

    o animal, estabelecida em solos exauridos por outrasculturas ou pela eroso, a ausncia da adubao (princi-

    palmente de fsforo e nitrognio) e o sobrepastejo soalgumas das principais causas da degradao das pasta-

    gens e dos solos no Brasil.

    Nessas condies, as exigncias das plantas forrageiras noso atendidas, a no ser aps o curto perodo em que ascinzas das queimadas ou a decomposio da matria org-

    nica, favorecida pelo preparo recente do solo, colocam emdisponibilidade alguns nutrientes. No Brasil, a adubao da

    pastagem nativa ou plantada insignificante, gerando ndi-ces zootcnicos pfios. Entretanto, os efeitos benficos da

    adubao so observados j no primeiro ano aps a aplica-o, enquanto a reposio das perdas pode melhorar em

    muito a eficincia da adubao, uma vez que a reciclagem muito alta em pastagens produtivas e de qualidade.

    3.3. Desert i f icao

    A Conveno das Naes Unidas para o Combate

    Desertificao (United Nations, 2001) conceituou adesertificao como o processo de degradao das terras

    das regies ridas, semi-ridas e sub-midas secas, resul-tante de diferentes fatores, entre eles as variaes climti-

    cas e as atividades humanas. Refere-se degradao dosolo, da fauna, da flora e dos recursos hdricos. As regies

    de clima rido e semi-rido do Nordeste brasileiro constitu-em os ambientes mais susceptveis a esses processos.

    Analisando-se os dados do Zoneamento Agroecolgico do

    Nordeste, elaborado pela (Embrapa Solos, 2001), concluiu-se que aproximadamente 1/3 da regio semi-rida, ou cerca

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    de 353.870 km2 constitudo por terras com muito baixa abaixa oferta ambiental (solos rasos, pedregosos e/ou sali-

    nos em clima rido), que esto atualmente sendo utilizadascom pecuria em regime extensivo, agricultura de subsis-

    tncia e algodo, em manchas de solos de menor limita-o. A conjugao desta explorao, com domnio de pe-

    quenas e mdias propriedades e ocorrncia comum de va-lores de densidade da ordem de 15-20 hab/km2, exerce uma

    forte presso antrpica sobre os solos e vegetao. Comoresultado, algumas dessas reas j se encontram em pro-

    cesso avanado de desertificao, sendo recentemente se-lecionados quatro ncleos, nos municpios de Gilbus (PI),

    Irauuba (CE), Serid (RN/PB) e Cabrob (PE), onde osefeitos esto concentrados em pequena e delimitada parte

    do territrio (cerca de 15.000 Km2) porm com danos deprofunda gravidade.

    Nesse sentido, o diagnstico bsico Plano Nacional de

    Combate Desertificao em elaborao pelo MMAindicou uma rea total de 1.548.672 km2 com algum

    processo de degradao, sendo que 98.595 km2

    encontram-se na forma muito grave.

    3.4. Descaracterizao de reas midas

    As reas midas no Brasil somam cerca de 44,7 milhes deha e ocupam cerca de 5% do territrio. Tambm conheci-

    dos como solos de vrzeas, so constitudos principalmen-te pelas classes dos Organossolos, Gleissolos e Neosso-

    los. Apesar da pequena extenso que ocupam na superfcieterrestre, so considerados de suma importncia para a eco-

    nomia de determinadas regies, face ao seu potencial agr-cola, sendo utilizados principalmente para a produo de

    olercolas, pecuria, rizicultura e a cana-de-acar, geralmen-te de forma intensiva. Esses solos, quando drenados e/ou

    cultivados, esto sujeitos a mudanas significativas em seusatributos. O uso intensivo e inadequado (com drenagem

    excessiva, por exemplo) ocasiona alteraes quantitativase qualitativas expressivas na sua matria orgnica, decor-

    rentes do processo de oxidao, com efeito significativonas propriedades fsicas, qumicas e morfolgicas, alm da

    produtividade agrcola.

    Embora no se disponha de dados oficiais, estima-se que adescaracterizao desses solos seja expressiva em todas

    as regies do Pas, decorrente da drenagem para diversosfins, como da sedimentao resultante de processos

    erosivos das terras altas. Um exemplo deste ltimo processo o que atualmente se observa na plancie do Pantanal Mato-

    Grossense. Obras de macro-drenagem e retificao de riospara fins de saneamento, como as realizadas nas dcadas

    de 1960 e 1970 descaracterizaram completamente os solosoriginalmente classificados como Organossolos e

    Gleissolos em estados como o do Rio de Janeiro e EspritoSanto dentre outros. Estas obras causaram ainda aumento

    da salinidade ou acidificao extrema de solos sulfatadoscidos em diversos estados, com impactos ainda hoje

    negativos para os recursos hdricos e a ictiofauna

    Embora no se disponha de dados oficiais, estima-se que adescaracterizao desses solos seja expressiva em todas as

    regies do pas, decorrente tanto da drenagem para aprovei-tamento agrcola, como da sedimentao resultante de pro-

    cessos erosivos das terras altas. Um exemplo deste ltimoprocesso o que atualmente se observa na plancie do Pan-

    tanal Mato-Grossense. Adicionalmente, obras de macro-dre-nagem e retificao de rios para fins de saneamento, como

    as realizadas nas dcadas de 60 e 70, descaracterizaram com-pletamente os solos originalmente classificados como

    Organossolos e Gleissolos nos estados do Rio de Janeiro,Esprito Santo e outros. Essas obras causaram ainda aumen-

    to da salinidade e/ou acidificao extrema de solos sulfatadoscidos, em diversos Estados do pas, com impactos, aindahoje, negativos para os recursos hdricos e a ictiofauna.

    3.5. Arenizao

    Arenizao aqui entendida como o processo de

    retrabalhamento de depsitos arenosos pouco ou no con-solidados, que acarreta dificuldades para a fixao da cober-

    tura vegetal, devido intensa mobilidade dos sedimentospela ao das guas e dos ventos. a degradao, relaciona-

    da ao clima mido, em que a diminuio do potencial biol-gico no resulta em condies de tipo deserto. O Rio Grande

    do Sul, com precipitao mdia de 1.400 mm, apresenta re-as em fase de arenizao localizadas a sudoeste do estado.

    Os municpios envolvidos so Alegrete, Cacequi, Itaqui,Maambar, Manoel Viana, Quara, Rosrio do Sul, So Fran-

    cisco de Assis e Unistalda, onde os areais ocupam 3,67 km2.A esse total, so acrescidos 1.600 ha de reas denominadas

    focos de arenizao.

    3.6. Salinizao

    A salinizao, oriunda de processos naturais ou pelo usoagrcola, ocorre em cerca de 2% do territrio nacional esti-

    mando-se em 85.931 km2 (Pereira, 1990). De uma maneirageral, a salinizao est relacionada ocorrncia de solos

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    o estado dos solos

    situados em regies de baixas precipitaes pluviais, altosdficits hdricos e com deficincias naturais de drenagem.

    A prtica da agricultura irrigada uma das principais

    causadoras de salinizao dos solos em reas dedrenabilidade deficiente nula, especialmente nas regi-

    es de clima semi-rido.

    Nessas condies caso no sejam drenados artificialmen-te, os solos tendem a se tornar salinos, o que vem ocorren-

    do em algumas terras da regio Nordeste. Nesta, a bacia dorio So Francisco a mais importante para a irrigao e, em

    sua poro semi-rida, regies do Mdio, Submdio e partedo Baixo, os solos apresentam risco de salinizao de muito

    alto a mdio. J no seu Alto percurso, a ocorrncia de solos

    mais profundos, bem drenados e a precipitao pluviomtricamais elevada, determinam um risco de salinizao oscilando

    de nulo a baixo.

    Estimativas do Ministrio do Meio Ambiente, realizadasem 1998, apontavam 495.000 ha irrigados no Nordeste. Des-

    tes 139.000 ha pertenciam a projetos de irrigao pblicos,dos quais 2.093 ha foram salinizados e 750 ha estavam em

    risco de salinizao. Portanto, embora no se disponha dedados sobre a salinizao em reas privadas, e mesmo con-

    siderando que esta represente um risco constante para ascondies de solo e clima da regio Nordeste, atualmente a

    salinizao no se configura, comparativamente, como umprocesso de degradao importante dos solos do pas, espe-

    cialmente nas outras regies onde ocorrem condies maisdesfavorveis salinizao.

    3.7. Queimadas

    As queimadas ocorrem em todo o territrio nacional, em

    cultivo itinerante praticado por indgenas e caboclos, ouem sistemas de produo altamente intensificados, como

    a cana de acar e o algodo, gerando impactos ambientaisem escala local e regional. Elas so utilizadas em limpeza

    de reas, preparao de colheita, renovao de pastagens,queima de resduos, para eliminar pragas e doenas, como

    tcnica de caaetc. Existem mui-

    tos tipos de quei-madas, movidas

    por interessesdistintos, em sis-

    temas de produ-o e geografias

    diferentes.

    O fogo afeta dire-

    tamente as carac-tersticas fsico-

    qumicas (perdapor volatilizao

    de N e S) e biol-gicas dos solos,

    deteriora a quali-dade do ar, reduz

    a biodiversidadee prejudica a sa-

    de humana. Aosair de controle, atinge o patrimnio pblico e privado (flo-

    restas, cercas, linhas de transmisso e de telefonia, cons-trues etc.). As queimadas tambm alteram a qumica da

    atmosfera e influem negativamente nas mudanas globais.

    3.8. Contaminao por resduos urbanos,industriais e agroqumicos

    Os principais impactos sobre os solos so possveis con-

    taminaes pelo uso de defensivos agrcolas e a sobre-utilizao de terras de menor potencial agrcola, especial-

    mente com pastagens.

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    Toda e qualquer atividade humana leva produo deresduos (lixo urbano e industrial, esgotos etc.) cuja dis-

    posio inadequada tem causado problemas de contami-nao ambiental. Entretanto, o pas no dispe de

    quantificaes e estudos sistemticos sobre a contami-nao de solos, oriunda dessas atividades, nem tampouco

    a contaminao destes pela utilizao de defensivos agr-colas na agricultura.

    Outra fonte de contaminao, tambm restrita ao entorno

    dos centros urbanos o lixo urbano. Do lixo produzido,cerca de 13% depositado em aterros controlados, 10% em

    aterros sanitrios, 0,9% submetido a compostagem e 0,1% incinerado. O restante (76%) depositado a cu aberto,

    nos chamados lixes.

    Esgotos urbanos, que so um dos principais poluidores dosmananciais hdricos, tambm podem causar a contamina-

    o de solos, quando despejados diretamente ou via extra-vasamento de rios e canais de esgotamento. Solos de vrze-

    as nestas condies podem ser descaracterizados e/ou con-taminados por agentes biolgicos. Essa situao relativa-

    mente comum nos grandes centros urbanos, onde se relataainda o uso de irrigao, especialmente na produo deolercolas, com guas superficiais contaminadas por esgo-

    tos de natureza diversa.

    Por outro lado, o tratamento dos esgotos, que contribuipara reduzir a poluio dos rios e melhorar a sade da

    populao, resulta na produo de um resduo rico emmatria orgnica e nutrientes, denominado lodo de esgo-

    to ou biosslido, que necessita de adequada disposiofinal. Entre as alternativas mais usuais para tal, esto o

    uso agrcola e florestal (aplicao direta no solo, compos-tagem, fertilizante e solo sinttico), que embora se apre-

    sente como uma das mais convenientes, ainda poucoutilizada no pas. Assim, mesmo considerando que este

    biosslido possa apresentar, em algumas situaes,poluentes como metais pesados e organismos

    patognicos ao homem, este no representa atualmenteuma forma de descaracterizao ou contaminao do solo,

    face ao uso quase inexpressivo no pas.

    Em termos de poluio, apenas os aterros sanitrios ofe-recem certa segurana, pois utilizam critrios de engenha-

    ria e normas operacionais bastante rgidas. Nos demaistipos de disposio (lixes e aterros controlados), alm

    da perda da camada superficial, no h impermeabiliza-o do solo, o que implica em risco de contaminao do

    subsolo e das guas subterrneas por produtos orgni-

    cos resultantes da decomposio da matria orgnicacontida no lixo. O uso da compostagem do lixo e do com-

    posto orgnico na agricultura, no representa riscos descaracterizao do solo, pois praticamente tambm no

    so utilizados no pas.

    Com relao contaminao do solo por resduos indus-triais, existem apenas registros localizados, relacionados

    ao entorno de centros urbanos, como a contaminao dep-de-broca (RJ), resduos radioativos (GO) etc. Relatos

    sobre impactos de chuva cida, oriunda de emisses in-dustriais e queima de combustveis fsseis, so mais fre-

    qentes sobre a sade da populao e na produo agr-cola, sendo o seu efeito na descaracterizao do solo ain-

    da pouco estudado.

    A contaminao do solo por agroqumicos tem sidoraramente estudada, sendo que as informaes exis-

    tentes advm de levantamentos visando o controle daqualidade da gua e alimentos. Entretanto, h uns pou-

    cos registros em situaes especficas como a conta-minao por cobre e zinco em reas de horticultura e

    fruticultura, e compostos de atrazina em reas de arrozirrigado, dentre outras.