Solucoes Hist 10

Embed Size (px)

Citation preview

  • 7/25/2019 Solucoes Hist 10

    1/77

    1

    PREPARAR OS TESTESHISTRIA A10. ANOPROPOSTAS DE RESOLUO

    PROPOSTAS DE RESOLUO

    Exerccios Propostos (pgs. 43 a 45)

    1.1. Pisstrato vai marcar o panorama poltico da 2. metade do sculo VI. Aps duas tentativasfalhadas para chegar ao poder, este homem instala uma ditadura que vai governar Atenas deforma arbitrria durante quase 50 anos. Malgrado todas as conotaes negativas associadas sformas de governos autoritrios, poca, e durante algum tempo, Pisstrato parece ter sabido tiraralgum proveito do seu imenso poder. Para alm de um programa cultural intenso, quesobrevalorizou muitas das festividades religiosas da cidade, como as Panateneias (referidas nodocumento), incrementou inmeras obras pblicas que dotaram Atenas de uma modernidadempar, poca. Para alm disso, desenvolveu a economia da cidade, auxiliou os maisdesfavorecidos e promoveu os contactos externos. Desta forma, no de admirar que o autorafirme que: () Psistrato recrutou um pouco por toda a parte colaborao armada: a resistncia

    desvaneceu-se simples aproximao e Atenas ficou durante um quarto de sculo sob umsistema de tirania com o acordo passivo da grande maioria da opinio.; ou seja, o tiranoconseguiu convencer grande parte da opinio pblica da legitimidade do seu governo. Noobstante a dureza do mesmo, os Pisstratos (Referindo-se, igualmente, aos filhos de Pisstrato)compensaram a autoridade arbitrria que tinham arrogado com uma poltica de prestgio. Equipare embelezar a cidade, louvar os deuses com novos templos e as massas populares com festassumptuosas, pr ao servio da propaganda comum de Atenas e dos seus tiranos o heri Teseu,os poemas homricos, o Apolo de Delos, manter a paz sem menosprezar os lucros coloniais, nemse esquecendo sequer de colocar os primeiros marcos do que ir ser o imperialismo econmico emonetrio de Atenas (Referncia clara ao fomento econmico que ir conhecer um forteimpulso durante a tirania). Porm, tal arbitrariedade nunca dura muito tempo sem que osque sofrem as agruras da falta de liberdades contra ela se revoltem

    1.2-.A ( ) poltica de prestgio () a que o autor do documento faz referncia, j a ela nosreferimos na resposta questo anterior. Em boa verdade, Pisstrato no fez por menos. Sabendoque a severidade e () arbitrariedade ()da sua governao poderiam colocar em causa a suaexistncia e a legitimidade que tanto procurava para a sua atuao, Pisstrato trata de Equipar eembelezar a cidade, louvar os deuses com novos templos e as massas populares com festassumptuosas, pr ao servio da propaganda comum de Atenas e dos seus tiranos o heri Teseu,os poemas homricos, o Apolo de Delos, manter a paz sem menosprezar os lucros coloniais, nemse esquecendo sequer de colocar os primeiros marcos do que ir ser o imperialismo econmico emonetrio de Atenas () ; ou seja, festividades grandiosas, exaltaes de cariz nacionalista,desenvolvimento econmico da plis ateniense, sem esquecer, como bvio, o apego dosAtenienses ao culto dos deuses: Tudo deve ter comeado pelo que era mais espetacular: asfestas religiosas ().

    1.3. Se motivo houve para o convvio saudvel entre os habitantes do mundo helnico, essemotivo foi a religio e o profundo fervor religioso que unia o comum dos mortais com os deusesque adoravam as suas cidades. Deste modo, cerimnias e competies variadas tornaram-se notadominante de toda a Hlade, facto identitrio de todos os seus habitantes () festas sumptuosas(). Tal constituiu, assim, um verdadeiro fenmeno cultural dentro da Grcia Antiga, expresso,sobretudo, atravs do chamado culto cvico em que a adorao dos deuses e heris de cadacidade era a face mais visvel do mesmo. No caso dos Atenienses, estes veneravam os seusdeuses e, a acrpole, sendo a moradade muitos desses deuses, era o local mais concorrido dacidade, s tendo como rival a gora. A deusa Atena, a protetora da cidade, filha dileta de Zeus,era alvo de uma venerao e adorao sem paralelo. Para alm de protetora e guardi de Atenase dos seus habitantes era, da mesma forma, um modelo de virtudes para os Atenienses. Durantetodo o ano, as oferendas, as preces, os sacrifcios feitos sua figura eram factos correntes. Noentanto, era periodicamente que este culto cvico a esta deusa se elevava a estatuto de grandesfestividades solenes, as Panateneias. A procisso em honra da deusa descrita peloscontemporneos de forma exaustiva, sendo retratada como uma festa grandiosa, nunca vista na

  • 7/25/2019 Solucoes Hist 10

    2/77

    2

    PREPARAR OS TESTESHISTRIA A10. ANOPROPOSTAS DE RESOLUO

    cidade e em toda a tica: (Tudo deve ter comeado pelo que era mais espetacular: as festasreligiosas. Antes de Pisstrato, Atenas celebrara cerimnias em honra da sua deusa, asPanateneias, convidando todos os gregos).As filhas das melhores famlias de Atenas levavam at ao Erection (templo maior da deusa) o

    peplo(tnica) que anteriormente haviam fiado, tecido e bordado e que haveria de cobrir a deusa,expressando, assim, a devoo de todos os Atenienses.

    1.4. Fazer a apologia de um regime de tipo tirnico pode, efetivamente, ser possvel. H quemdefenda, naturalmente, as solues polticas de tipo ditatorial e, logo, tirnicas, porque noimplicam a livre escolha, por parte do povo, de quem o governa ou, sequer, como o governa.Deste modo, e de um ponto de vista puramente atual e vivendo em democracia, gozando deliberdades e direitos consignados numa Constituio e amando a liberdade, parece-nos pertinentee absolutamente natural, no defender este tipo de regimes pois que negam a mais elementarliberdade de cada um. Todavia, esta questo apela a uma reflexo, tendo em conta aquilo que nos relatado no documento e com uma particularidade o caso da tirania dos Pisstratos, na Atenasda 2. metade do sculo VI a.C. Ora, luz desse mesmo documento, no parece que seja muitoplausvel falar em estagnao, exceto se nos referirmos aos direitos dos cidados, durantedcadas cerceados porque, e tal como afirma o autor, () de facto, no h nada menos severo doque a vida da sociedade ateniense que aparece nestes vasos, no tempo de Pisstrato e dos seusfilhos.; () certamente que Pisstrato utilizou a fora para se apoderar do poder e Hpias o terrorpara se manter nele aps a morte de Hiparco. () Pisstrato deixou fugir os seus inimigos outomou-lhes os filhos como refns); por outro lado, fcil apercebermo-nos que a sociedadeateniense no dever ter tido muita vontade para se opor aos Psistratos, e temos tal factoconfirmado quando o autor invoca a expresso () autoridade arbitrria(). Visto deste prisma,podemos falar de estagnao em termos de direitos humanos. Todavia, no podemos negar asevidncias e, por evidncias, entenda-se o desenvolvimento em vrios campos que Atenas vaiconhecer sob o domnio de Pisstrato e a que o autor alude claramente no seu texto. A nveleconmico podemos falar de um progresso notvel em Atenas, como est patente nas seguintespassagens: ( ) inumerveis vasos pintados exportados um pouco por toda a parte (),referindo-se produo de objetos de cermica e ao incremento da sua comercializao emmassa; () sem menosprezar os lucros coloniais, nem se esquecendo sequer de colocar osprimeiros marcos do que ir ser o imperialismo econmico e monetrio de Atenas (), referindo-se s vantagens trazidas pela colonizao grega, ao acesso a um vasto mercado e ao dealbar dautilizao da moeda como elemento vital nas trocas econmicas, o que vai fazer de Atenas amaior e mais rica de todas as cidades-estado. Por outro lado, apesar de todos os porns, a pazfez parte do regime tirnico () recrutou um pouco por toda a parte colaborao armada: aresistncia desvaneceu-se simples aproximao; acordo passivo da grande maioria daopinio(). Finalmente, e no que respeita qualidade de vida dos Atenienses e cultura,Pisstrato tambm parece ter dado pontos, como evidente na seguinte passagem: () Equipar eembelezar a cidade, louvar os deuses com novos templos e as massas populares com festassumptuosas, pr ao servio da propaganda comum de Atenas e dos seus tiranos o heri Teseu,os poemas homricos, o Apolo de Delos (.). Em jeito de concluso, somos obrigados, peranteestes factos, a concordar com o autor quando este fala em poltica de prestgio. Na verdade,grande parte do esplendor da Atenas de Pricles deveu-se aos passos iniciados por Pisstrato. Aquesto que insiste em permanecer : a que custo, todo esse prestgio...?

    2.1. Aos 18 anos de idade, aps um rigoroso plano de estudos que estava dividido por etapas, ofuturo cidado de Atenas entrava no chamado estatuto de efebia, tornando-se, desta forma, efebo,o que, significa homem jovem e dotado de beleza (fsica, entenda-se). Todavia, no caso ateniense,tal significava integrar a ltima etapa de formao do jovem ateniense, ou seja, o servio militar de2 anos. S aps o fim desses 2 anos, e j com 20 anos de idade, o jovem homem ateniensepoderia usufruir do ttulo inalienvel de cidado () A efebia condiciona o acesso cidadania ().At a, a educao que, desde os 7 anos, esses aspirantes a cidados haviam recebido, tinhaprovidenciado um leque de disciplinas que os haviam preparado para exercerem a poltica aoservio de Atenas mas, de igual forma, uma intensa preparao fsica para que, de facto, efebiasignificasse, igualmente, beleza fsica (pelo menos, aquela que era idealizada pelos Gregos e, naverdade, representada na sua pintura e escultura). Deste modo, o cidado era preparado,verdadeiramente, para servir a cidade, quer enquanto poltico, quer (como est patente no

  • 7/25/2019 Solucoes Hist 10

    3/77

    3

    PREPARAR OS TESTESHISTRIA A10. ANOPROPOSTAS DE RESOLUO

    documento) como militar, mesmo que fossem, apenas, os 2 anos de servio militar que eramobrigados a cumprir. No entanto, o patriotismo inerente a todo este processo inquestionvel.Seno, vejamos: () Lutarei pela defesa da religio e do Estadoe transmitirei aos meus cadetesuma ptria de modo algum diminuda mas mais grande e mais potente (). Por outro lado, somos

    confrontados com o cidado dcil, obediente, no qual tanto se investiu durante anos: ()Obedecerei aos magistrados, s leis estabelecidas, e quelas que forem institudas () e, ainda,com o cidado que jamais mete em causa os seus deuses ou o culto cvico da sua cidade: Euvenerarei os cultos dos meus pais. Tomo como testemunho deste juramento as divindadesAglauros, Hstia, Enyo, Enyalios, Ares e Atena, Zeus (). Melhor pessoa ao servio da cidade eramuito difcil de idealizar

    3.1. A repartio da populao ateniense era profundamente desequilibrada, como facilmenteobservvel no grfico. Na verdade, no seu auge, sculo V a. C., Atenas tornou-se a cidade maispopulosa do mundo conhecido, atingindo perto de 400 mil habitantes (as discusses dosespecialistas no so coesas acerca deste nmero, mas tendem para uma proporo aproximada).A reduzida proporo do seu corpo cvico bem evidente nos dados representados no documento3 onde os cidados representam a minoria da populao ateniense, seguidos, quase a par, pelassuas famlias e pelos metecos, mais numerosos que todos os cidados, no entanto. Mais gritante o caso dos que constituam praticamente metade de populao da cidade, os escravos, que, nogrfico, aparecem com uma larga diferena quando comparados com os outros grupos.

    3.2. Tendo em conta as palavras daquele que foi considerado o arauto da democracia ateniense,Pricles, ou seja, que a originalidade do regime democrtico residia no facto de ele no satisfazeruma minoria mas sim a maioria, parece-nos que tal entra em profunda contradio com asociedade ateniense e o modo como esta se dividia, bem como o papel que desempenhava dentroda logstica do funcionamento da cidade estado de Atenas que tanto servia de modelo a todasas outras cidades. Na verdade, todos os cidados atenienses podiam e deviam ser membrosativos da mquina democrtica ateniense. Tal era, de facto, indito no mundo de ento e naHistria da humanidade. No entanto, quem eram os cidados? Nada mais, nada menos, do que aminoria da populao ateniense, que se situava, aproximadamente, na casa dos 40 mil habitantes.Ou seja, um pequeno grupo de afortunados pelo facto de terem nascido na cidade de Atenas eserem filhos de pai e me atenienses, obrigatoriamente. Para alm disso, este reduzido corpocvico era apenas constitudo por homens e que tivessem, requisito imprescindvel, cumpridoservio militar obrigatrio durante o perodo dos 18 aos 20 anos. As mulheres, os metecos e osescravos (uma grande parte da populao da cidade, vital para o seu funcionamento emanuteno) eram completamente excludos da vida poltica.

    4.1. Os jogos a que se refere o autor so, como o prprio cita, os () Jogos Panhelnicos (),especificando, igualmente, algumas das cidades onde estes poderiam decorrer, como Olmpia,Delfos, Corinto e Nemeia. Conhecidos igualmente como Festivais Pan-helnicos, estes jogos eramrealizados em todos as cidades do mundo grego, com o intuito de honrar cada um dos deusesnacionais. De entre estes festivais/jogos destacavam-se, sem sombra de dvida, aqueles queeram realizados em Olmpia, os Jogos Olmpicos, em honra do pai de todos os deuses Zeus.Realizados no Vero, no ms de agosto, de quatro em quatro anos, decorriam no santurio deOlmpia. Atletas adultos, jovens e adolescentes de todo o mundo helnico acorriam ao festival dosfestivais, onde, para alm do culto a Zeus, eram atrados pelas competies desportivas que ospodiam tornar em heris. Todos os participantes eram, de facto, rivais nas provas em queparticipavam, mas era o fervor religioso que os unia num perodo do ano em que todo e qualquerconflito blico entre cidades-estado conhecia uma trgua que era integralmente respeitada portodos. este aspeto que melhor explica o carter sagrado que estes jogos tinham.

    4.2. J o referimos em respostas anteriores, o quo importante era a educao dos jovensatenienses. De facto, futuro poltico, futuro magistrado, futuro militar e futuro atleta era um mixquese pretendia reunir no futuro cidado de Atenas. Tal parece-nos hoje, porventura, algo utpico,sobretudo se pensarmos naquilo que a nossa educao e aquilo que a escola confere, narealidade, a cada um de ns. Se quisermos ver a educao ateniense como elitista, tal pertinente. Mas, pertinente tambm o facto de ser uma educao que estava preocupada emconferir uma formao muitssimo completa para os seus aspirantes a cidados. Podemos diz-lo,

  • 7/25/2019 Solucoes Hist 10

    4/77

    4

    PREPARAR OS TESTESHISTRIA A10. ANOPROPOSTAS DE RESOLUO

    sem reticncias, que o modelo de educao ateniense aspirava perfeio e, tal, inclua o factode os seus jovens estarem preparados para servir a sua cidade em todos os domnios, isto ,sendo atletas excelentes ao participarem em jogos: () Os campees podiam esperar conseguiralgum dia nos Jogos Pan-helnicos de Olmpia, de Delfos, do istmo de Corinto ou de Nemeia, uma

    daquelas vitrias que seria o orgulho da sua cidade(); serem polticos hbeis quandodiscursavam na Eclsia; serem justos e retos ao julgarem um crime ou ao avaliarem uma lei,enquanto magistrados ou, ainda, terem a coragem e a valentia necessrias para combateramarduamente contra os inimigos da cidade () a equitao, o manejo das armas completavam aformao do jovem ()). Assim, fcil perceber que o jovem ateniense teria de ter uma educaoque passasse, sempre por uma dupla funcionalidade: intelectual e fsica. A velha mxima mentes em corpo so era levada muito a srio e, por isso mesmo, a formao dos meninos,adolescentes e jovens passava por reas como a leitura, a escrita, o clculo e a ginstica ()jovens treinando-se em todos os desportos atlticos que ainda hoje se praticam: lutar, correr,lanar o disco ou o dardo. Alguns baixos - relevos clebres pela sua perfeio mostram-no-los ajogar bola, a uma espcie de hquei () num perodo inicial para, depois, e at aos 18 anos,integrar disciplinas to variadas como a recitao de poemas homricos, a oratria, a retrica, aluta, a msica, o canto, a filosofia, a histria, a matemtica, a religio, a cincia, a poltica, entreoutras. O papel dos Sofistas era determinante no percurso educacional de qualquer cidado. Bemremunerado, nem todos os cidados podiam ter acesso a um sofista para coroar o seu percursoeducativo. No entanto, era necessrio conviver com eles na medida em que eram os grandesmestres da argumentao e da persuaso, caractersticas basilares em qualquer poltico.

    5.1. A ordem arquitetnica representada no documento a ordem jnica. Sendo considerada maiselegante e delicada do que a ordem drica (mais macia e simples), a ordem jnica caracteriza-se,como podemos ver na imagem, por uma coluna possuidora de um fuste mais alto e ligeiramentemais estreito do que na ordem drica, encimada de um capitel de volutas em forma de caracol que,suporta, por seu turno, uma arquitrave dividida em camadas sobrepostas que formam filashorizontais e, por cima da arquitrave, um friso todo ele contnuo volta de todo o edifcio (nestecaso, no que resta dele). Resta acrescentar que, no fuste, estamos perante caneluras separadaspor superfcies lisas e planas que vo da base ao capitel.

    Teste de Avaliao 1 (pgs. 46 a 49)

    Grupo I

    1. A Acrpole ateniense, na imagem, ainda hoje o carto de visita de Atenas, quer pelalocalizao em termos paisagsticos dentro da cidade, quer pela importncia que teve na Grciaclssica enquanto centro vital da cidade-estado de Atenas, a maior, a mais rica, a mais forte e amais esplendorosa de toda a Hlade no sculo V a.C.Numa fase inicial, a acrpole vai concentrar em si a esmagadora maioria dos lugares pblicos,pela sua posio, sobretudo, em termos de relevo, dado que uma colina bastante considervelno s em altura mas, tambm, em dimenso, como podemos observar na imagem. Portanto, aque nasce a plis, na parte mais alta de toda a rea envolvente. A partir da acrpole, a cidadedisseminou-se pelas suas encostas e cresceu. Na Acrpole encontravam-se edifcios como opalcio, smbolo do poder poltico- militar, os templos para o culto religioso e as habitaes demuitos aristocratas da cidade. De realar que, toda esta rea era circundada por uma muralha.Com o crescimento de Atenas ao longo dos sculos. VI e V a.C., a gora (na parte baixa dacidade) acabou por assumir o protagonismo no que toca vida poltica e econmica e at, emalguns casos, alguns templos foram construdos nessa rea ou em seu torno. De igual modo,muitas famlias da velha aristocracia ateniense mudaram-se para ali, acompanhando umatendncia que era inevitvel. Por isso, a Acrpole vai assumir-se, sobretudo em finais do sculo VIe durante o sculo V a.C., como ponto nevrlgico do culto cvico-religioso da cidade, tornando-selocal de peregrinao e de verdadeira devoo religiosa para todos os Atenienses mas, tambm,para muitos habitantes do mundo grego. O Propileus sinal evidente da importncia deste local.Entrada monumental da Acrpole, era apenas uma preparao para a espetacularidade daquiloque se seguia, como o Partnon, o Erection ou a grande esttua da deusa Atena, entre outros

  • 7/25/2019 Solucoes Hist 10

    5/77

    5

    PREPARAR OS TESTESHISTRIA A10. ANOPROPOSTAS DE RESOLUO

    monumentos religiosos. Como possvel observar na imagem e ler na legenda, era a queculminava a magnificente procisso das Panateneias, com a oferta do peplo a Atena. Que melhorlugar para a deusa dileta dos Atenienses, seno o local da cidade de onde podia vigiar, observar eguardar todos os seus habitantes?

    2. A imagem representa uma cena da procisso das grandes Panateneias, festa maior, porexcelncia, da Atenas clssica, onde so visveis alguns cavaleiros, representando alguns doscidados que se dedicavam vida militar, quer pela carreira que assim exerciam, quer porestarem em pleno perodo do seu servio militar obrigatrio. possvel apercebermo-nos, destaforma, como todos os habitantes de Atenas, livres e no livres, participavam nas festividadesmaiores que honravam a deusa protetora da cidade. Na verdade, as suas convices religiosaseram de tal forma intensas que, faltar procisso que era o culminar das festividades, era quaseimpensvel. As Panateneias podiam ser, apenas, mais uma das muitas manifestaes cvico-religiosas de Atenas. No o eram, no entanto; bem pelo contrrio, estas celebraes eram o pontomais alto dessas manifestaes, o mais esperado por todos os Atenienses e aquele em que a suadevoo falava mais alto. Eram, igualmente, das raras ocasies em que a mulher podia participarna vida pblica da cidade. Agradar, a todo o custo, sua deusa predileta e conseguir os seusfavores, acalmar a sua ira e contribuir para a sua calma eram os fatores que moviam osAtenienses para estas celebraes. Se, em todo o mundo grego, Atena, deusa da guerra e dasabedoria era cumulada de honrarias, em Atenas, para alm de ser a sua protetora, era ummodelo de virtudes a seguir por todos os habitantes. Por isso, estas festas (destaque, igualmente,para as Grandes Dionisacas, em honra do deus Dionsio) reuniam toda a comunidade de Atenasem prol do bem pblico. Honrando, desta forma, os seus deuses, a cidade manteria, assim, a suapaz, a sua desenvoltura, a sua grandeza. Tal justifica, muito provavelmente, a opinio de umcontemporneo, ao afirmar que Atenas era () um festival contnuo().

    3. Entre muitas das contradies da democracia ateniense estava esta ironia de que a maioriadeque Pricles tanto se orgulhava no era, nada mais, todavia, do que a minoria dos que habitavamAtenas! Ou seja, os cidados, com um nmero aproximado dos 40 000, entre uma populao querondava os 400 000 habitantes! Os cidados tinham de ser homens, apenas, e com mais de 20anos! Por outro lado, s eram cidados os que eram filhos de pai e me atenienses e nascidos emAtenas! Tinham de ter cumprido servio militar durante 2 anos e, se possvel, terem tido acesso auma educao que os tivesse preparado para o exerccio da cidadania. S eles podiam possuirterras, vend-las, arrend-las e dedicar-se poltica ou a outras ocupaes, como a ociosidadeque, como afirmava Aristteles, no os obrigasse a () dobrar o seu reto corpo (). Ora, naverdade, em situao diferente, encontravam-se os metecos (estrangeiros). Sendo em maiornmero que os 40 000 cidados (aproximadamente o dobro), estes homens eram livres e podiamser gregos ou no. Ao permanecerem em Atenas mais de um ms (o que era muito comum,devido atividade principal da cidade, o comrcio) tinham, obrigatoriamente, de se inscrever comometecos. Ativamente envolvidos nas atividades comerciais e artesanais da cidade, estes homenscontribuam, em boa verdade, para uma parte substancial da riqueza da cidade, no s devido aosseus negcios, mas aos impostos a que estavam sujeitos, como era o caso do metoikion (impostode residncia) ou de outros como, imagine-se, um imposto para poderem fazer comrcio na gora!No tendo qualquer direito poltico, no podendo sequer comprar uma habitao, o meteco,todavia, tinha os mesmos deveres financeiros que o vulgar cidado e deveria servir o exrcitoateniense em caso de guerra. E aqui que, tal como o texto descreve, o meteco se podia vir atornar num meteco istele, isto , adquirir a isotelia() que a estes seja dada a isotelia (), ouseja, o meteco era recompensado com a sua passagem ao grau de cidado por ter prestado bonsservios, tal como relatado no texto, na guerra ()A fim de que recebam justas recompensas osmetecos que participem no regresso de File (). A partir desse momento, passavam, finalmente,a estar em p de igualdade com os cidados em todos os sentidos () agrada ao povo decretarque eles prprios e os seus descendentes sejam atenienses, que tenham a cidadania e sejamrepartidos imediatamente pelas dez tribos: que os poderes pblicos usem a seu respeito dasmesmas leis (); () direito de conclurem casamentos legais em p de igualdade com osAtenienses(). O que mais choca aqui, no fim de contas, a distino bem vincada entre umaelite, os cidados, e todos os outros. Ademais, no bastava o contributo essencial dado pelosestrangeiros e a defesa, em caso de guerra, de uma cidade que no lhes reconhecia qualquer

  • 7/25/2019 Solucoes Hist 10

    6/77

    6

    PREPARAR OS TESTESHISTRIA A10. ANOPROPOSTAS DE RESOLUO

    direito, tinham de se destacar na guerra para adquirem estatuto jurdico em Atenas e poderemdeixar de ser olhados como estranhos.

    4. Atenas foi, de entre todas as cidades-estado (plis) da Hlade, aquela que maior protagonismo

    assumiu no sculo V a.C. Na verdade, reuniu todas as condies para tal, em primeiro lugardevido sua localizao geogrfica, porta de entrada e sada para todo o comrcio doMediterrneo, abenoada por um porto que servia toda a cidade e o territrio envolvente, a tica,o porto do Pireu. De facto, tendo em conta que a definio de plis encerra o conceito de clulapoltica que se estende a toda uma comunidade que se agregou em torno de um primeiro ncleourbano e que usufrua de independncia nos campos geogrfico, poltico, administrativo eeconmico, Atenas acabou por materializar a unio deste conceito unindo o seu territrio ao seucorpo populacional/cvico, chave essencial para a sua autonomia face ao restante mundo grego.Como definido por Aristteles, Atenas possua subsistncias e abundncia de inmeras riquezas,graas sua fortssima atividade comercial: artes (notem-se os documentos 2 e 4), culto divino(com as suas manifestaes cvico-religiosas centradas na Acrpole, visvel no documento 1 e,tambm, no documento 2) e a poltica, envolvendo todos os seus cidados, algo indito no mundode ento. Ou seja, aspirava (e conseguiu-o, de facto) ao ideal autrcico. Deste modo, Atenasliderava o mundo helnico a todos os nveis: demogrfico (atingindo um nmero de habitantes nacasa dos 400 000), cultural (sendo exemplo para o mundo conhecido da poca pela suaarquitetura, escultura documento 4- e cermica mpares), economicamente como militarmente(veja-se, no documento 3, a referncia a mais uma batalha, a de File, em que, ao que parece, osAtenienses no deixaram os louros em mos alheias), sobretudo devido ao imenso dinheiroconseguido custa da Liga de Delos. Coroando esta sucesso de virtudes atenienses, temos ocampo poltico em que, tambm a, Atenas deu cartas, como o primeiro Estado da histria dahumanidade a possuir um regime que todos os seus vizinhos invejavam e que inspirou quasetodos os Estados modernos atuais: a Democracia. este regime poltico indito que introduz oconceito de cidado enquanto indivduo que detm aquilo a que se apelida de cidadania. Esta foiuma preocupao, de facto, deste regime, definir cidado e cidadania. Esta passou, assim, a serentendida como a capacidade dos cidados de participarem na administrao e na justia dacidade enquanto seus membros por excelncia. Por isso, na plis grega (entenda-se, o casomais especfico de Atenas) que ser cidado faz sentido porque ele participa ativamente naresoluo dos problemas pblicos da cidade, na elaborao das suas leis, e tudo porque eraatravs do mrito e no do seu nome familiar ou da sua fortuna que ele era, efetivamente,reconhecido. Todo o cidado tinha as mesmas oportunidades e, para tal, no se olhava categoria social, aos bens financeiros ou sua cultura. Por isso, direitos inalienveis de qualquercidado passaram a ser isonomia, a isegoria e a isocracia. Assim, tambm a plis que lheconfere a possibilidade de se expressar, de se cultivar, de se exercitar no manejo das armas (todoo cidado teria, uma vez na vida, de ser soldado, em tempo de guerra ou no) e no mbito dassuas capacidades fsicas. Ora, se a democracia ateniense nos merece elogios e se consideramosinegvel o seu contributo para o mundo dos nossos dias, tambm nos merece algumas reservas,pois que padecia de um sem-nmero de imperfeies que, no fim de contas tornavam estademocracia com limitaes. Tal parece contrassensual mas, a olharmos para o caso dos metecos,abordado no documento 3, ficaremos mais elucidados. Sendo quase o dobro dos cidados a viverna cidade de Atenas, pagando os mesmos impostos do que os cidados e outros para almdesses, dando a ganhar a Atenas muito do dinheiro que existia na cidade, sendo, em parte,responsveis, pela sua prosperidade, os metecos no tinham quaisquer direitos polticos e atpodiam, em casos excecionais, ser tornados escravos. Por isso, s atravs da isotelia(documento3) que os metecos poderiam adquirir o direito de cidadania. Por outro lado, as mulheres notinham, igualmente, nenhuma oportunidade de participar na vida poltica nem to pouco nasmanifestaes pblicas, exceo feita s Panateneias, manifestao cvico-religiosa maior dacidade de Atenas, em que poderiam fazer-se notar. A existncia de escravatura outro dos pontosnegros desta democracia. Sendo praticamente metade da populao da cidade de Atenas, osescravos eram vistos como um produto, uma propriedade comandada pelos seus senhores e notinham, deste modo, qualquer direito reconhecido, nem o mais elementar. Como agravante, atortura era regularmente usada com os escravos quando, por exemplo, estes serviam de provanum julgamento. Acrescente-se a este quadro, o ostracismo e o imperialismo atenienses paravermos o quo limitada era esta democracia. No entanto, inquestionvel a sua novidadeenquanto regime poltico que conduziu Atenas ao seu esplendor e ao seu auge no sculo V a.C.

  • 7/25/2019 Solucoes Hist 10

    7/77

    7

    PREPARAR OS TESTESHISTRIA A10. ANOPROPOSTAS DE RESOLUO

    Na verdade, e ironicamente, a fortuna que Atenas vai amealhando custa da Liga de Delos, quelhe permite manter, com pompa e circunstncia, as grandes festividades, sinnimo da suadevoo aos deuses, como as Panateneias ou as Dionisacas, bem como outras festas ticas. Odocumento 2 um testemunho dessa devoo que se cimentava com essas grandes festividades,

    sobretudo com as Panateneias, celebrao sempre aguardada com grande expetativa e em que,durante dois dias, se prestavam as mais altas honras deusa protetora de Atenas, Atena. De 4em 4 anos, a festividade tinha a durao de 4 dias pautados por uma grande solenidade. Aprocisso com a qual terminavam as festividades, representada no friso do Partnon (documento2) partia do bairro do Cermico, no centro de Atenas, e acabava na Acrpole, junto ao Erection,templo da deusa Atena Polade (protetora da cidade). Ora, para alm destas grandes cerimnias,o tesouro da Liga de Delos serviu, ainda, para embelezar a cidade com belos edifcios pblicos, doqual o Partnon, visvel no documento 1, apenas um dos exemplos, espalhados um pouco portoda a Acrpole e pela cidade de Atenas. Por outro lado, a busca incessante de perfeio e dohomem ideal (motivo pelo qual a educao ateniense era um dos desgnios maiores dademocracia) levou a que os escultores atenienses materializassem, no mrmore, na pedra, nobronze, esse homem perfeito que acabou por ser representado pela escultura de Policleto, oDorfero (documento 4). A tal busca que atrs referimos est bem patente neste documento em

    que podemos observar claramente que a arte escultrica grega no sentido almejou (e conseguiu)atingir a representao do homem perfeito, dotado de uma beleza ideal. Se repararmos, esquerda, na 1. esttua, o Pugilista, no podemos ter dvida. Os pormenores anatmicos e aexpresso com que o atleta representado escuta, ouve ou observa algo so exmios. no sculoV a.C. que este idealismo escultrico (como tambm o podemos ver na obra Hermes e Dionsio)atinge o seu apogeu, ou seja, o mximo de expressividade, movimento, elegncia, beleza quetanto se almejava. Tanto Praxteles como Policleto foram representantes exmios da ode belezahumana, do cidado visto na sua dimenso fsica, esttica e puramente visual sem, no entanto, seesquecerem que, servir a sua cidade, era o objetivo mximo.

    Grupo II

    1. Para o grego da poca clssica, a lei era um princpio basilar pelo qual se regia e fonteinspiradora para a sua conduta em sociedade. Por isso, qualquer grego estaria disposto a bater-sepela lei da sua cidade, se necessrio. Por isso, e tal como Hesodo defendeu, as leis, enquantoregras orientadoras, deveriam ser quase como o ar que se respirava, () deviam ser escritas, oscritrios de deciso claramente definidos e as causas mais frequentes de desacordo rodeadas detestemunhas que mais tarde atestassem a verdade ().Tal marcaria, porventura, aquilo a que oautor do texto apelida de () transio de um sistema jurdico arcaico () para um sistemacomplexo (), ou seja, de um sistema jurdico marcado pela tradio oral, passado de geraopara gerao, para um novo que tivesse passado a compilar as leis por escrito, o que significavagarantir o cumprimento das mesmas, sem interpretaes pessoais que pudessem desvirtuar osprincpios que estavam ligados a cada uma delas. Por isso que Hesodo fala em critrios dedeciso claramente definidos e sugere, ainda, que os depoimentos das testemunhas queestivessem em qualquer processo ficassem registados para, se necessrio, serem fonte deconsulta. Deste modo, e tal como se pode ler no texto, todos () conheciam as leis (). Nada que,hoje, nos espante e com o qual no concordemos.

    2. Dadas as caractersticas que j conhecemos da sociedade grega (tomando sobretudo, comoexemplo, a sociedade ateniense) que j conhecemos e que eram o principal calcanhar de Aquilesdos seus regimes polticos, nomeadamente da originalssima democracia ateniense, estaafirmao parece-nos, em tudo, pertinente. Primeiro, porque se fala em conceitos como reputaoe categoria que, inevitavelmente, conduziam a uma estratificao da sociedade, por muito queessa no fosse uma das bandeiras da democracia ateniense que sempre se vangloriou daigualdade. No entanto, e pela leitura do texto, vemos que tal fazia perfeito sentido, seno vejamos:() distino entre homem livre e escravo so particularmente impressionantes (); ou seja, aobsesso em diferenciar, claramente, os que eram livres e os no livres era um dado adquirido.Na verdade, os escravos eram, no o esqueamos, vistos como instrumentos animados, como jAristteles defendia. Por outro lado, e insistimos neste ponto, mesmo entre os que eram livres, asdistines eram, por demais, altamente distintivas (basta recordarmos o caso dos metecos). Talafirmao ainda mais cabal quando atentamos nesta passagem: () oprocesso judicial era de

  • 7/25/2019 Solucoes Hist 10

    8/77

    8

    PREPARAR OS TESTESHISTRIA A10. ANOPROPOSTAS DE RESOLUO

    um modo geral mais benfico do que coercivo para aqueles que eram livrese cidados. Aquelesque no possuam uma reputao averiguvel nem condies de cidadania estrangeiros,escravos, aqueles que tinham ocupaes indignas ou aqueles cuja desonra (atimia) erapublicamente reconhecida no possuam direitos, nem o direito de no serem coagidos nem o

    direito de pleitear (). Como no concordar com a afirmao do autor? Na verdade, apercebemo-nos de que s os cidados e os que, efetivamente, no tivessem tido qualquer tipo de problemacom a justia, mesmo que tivessem sado ilibados, poderiam ser membros respeitveis (erespeitados) dentro da complexa sociedade grega. Repare-se que, inclusive, se fala de ocupaesindignas, como se alguma ocupao (entenda-se, trabalho, profisso) possa ser consideradaindigna. Esta ideia aparece-nos ainda mais reforada quando o autor refere a () proteo dadapelo processo jurdico ao cidado livre e a acentuada diferenciao deste relativamente a outrasclasses de pessoas muito menos privilegiadas (). Mais gritante , ainda, o facto de a categoriade que fala o autor levasse a coisas como () o direito de um cidado exigir, num processo penal,ou at civil, a tortura de escravos (.). Portanto, sem comentrios.

    3. Inegvel, e como uma das virtudes maiores, talvez, da democracia ateniense, o facto de as leisserem reunidas num corpus escrito, livres de interpretaes aleatrias de qualquer um que

    pudessem meter em causa a sua veracidade. Por outro lado, o facto de todo o cidado ver a leicomo limite sua liberdade, no interferindo, deste modo, com a liberdade do seu prximo, arespeitar e a tomar como regra para a sua vivncia em sociedade: () os cidados livres dascidades-estado gregas sujeitavam-se, de bom grado a muitas restries dos seus atos pessoaisque teriam ofendido os guerreiros aristocrticos de Homero. Mas sujeitavam-se de bom gradoporque conheciam as leis, respeitavam aqueles que as aplicavam (). Dentro do campo dascontradies poderamos estar aqui a debitar inmeros defeitos do qual padecia a democraciaateniense. Pegando no texto, salta vista, a enorme diferenciao entre os cidados e os outros,entendidos, no caso do que nos apresentado em particular, os escravos (a maioria da populaode Atenas). Ultra protegido pelas leis, o cidado vivia numa situao jurdico-social que osdistanciava largamente dos demais. Por outro lado, a existncia da tortura como algo aceitegeneralizadamente, como algo enquadrado no sistema jurdico da cidade, devidamenteregulamentado, completamente incompatvel com um sistema que se queria democrtico!Vejamos: ()Aristteles apresenta uma lista de cinco provas () que podem ser utilizadas numprocesso jurdico (): as leis, as testemunhas, os costumes, a tortura (); () direito de umcidado exigir, num processo penal, ou at civil, a tortura de escravos parece ter sido aceite de ummodo geral (); () se os juzes no conseguirem formar uma opinio depois de todas as provasterem sido apresentadas, podem aplicar tortura corporal aos escravos aps estes terem prestadoo seu testemunho na presena de ambas as partes em questo ().

    Exerccios propostos (pgs. 83 a 85)

    1.1. O imperador tinha um controlo total sobre todo o Imprio. No tendo o dom da ubiquidade,soube, no entanto, conseguir a melhor maneira de controlar toda a rea conquistada por Roma,elaborando, minuciosamente, um sistema de governao do Imprio, atravs de mecanismos(presentes no esquema) que permitiam que nada lhe escapasse, mesmo nas reas mais distantesda cidade-me, Roma. Por isso, quase omnipotente e omnipresente, o imperador, qual polvogigantesco, com os seus tentculos, chegava a todos os locais e a todas as reas do mundoromano. Seno, vejamos: sabendo da importncia que o Senado tinha para com os cidadosromanos e do seu apego s instituies republicanas, o imperador foi cauto e manteve essasmesmas instituies, embora sob moldes diferentes. Como verificar no esquema, Augustomanteve as instituies republicanas adaptando-as, no entanto, ao conceito de Principado, isto ,oprinceps sensatus, no fundo, a figura suprema dentro do velho rgo republicano. Rapidamente,e como os membros do Senado passam a ser homens da sua confiana, tal vai-lhe conferindoautoridade acima de qualquer pessoa. Deste modo, o Senado, rgo legislativo e executivo porexcelncia, vai-se tornar num rgo de ratificao das decises imperiais, apenas. Por outro lado,ao receber a tribuncia potestas, ou seja, o poder tribuncio, o imperador tornou a sua pessoaintocvel, qual deus (por isso, a referncia a () pessoa inviolvel e sagrada (). Este poderconfere-lhe, por outro lado, a capacidade de convocar os Comcios, propor novas leis e, como

  • 7/25/2019 Solucoes Hist 10

    9/77

    9

    PREPARAR OS TESTESHISTRIA A10. ANOPROPOSTAS DE RESOLUO

    corolrio, dado que o maior dos tribunos da plebe, anular decises do prprio Senado(convocando-o e vetando as suas decises). Na verdade, o imperador podia, se quisesse,modificar toda a composio do Senado se, porventura, pudesse achar, em algum momento, queeste estaria a escapar ao seu controlo. Numa verdadeira operao de cosmtica, divide as

    provncias do Imprio, concedendo parte delas para o Senado (onde os membros so escolhidospor ele!) e guarda para ele prprio as chamadas provncias imperais. Para alm disto, e numaoperao de progressiva assimilao das instituies republicanas, vai ali-las a instituies detipo monrquico que passam a estar totalmente dependentes de si e sob a sua alada, dado que,para essas instituies nomeia apenas pessoas da sua confiana. Deste modo, reas degovernao como o exrcito, as finanas, a justia e a administrao tero todas aquilo a quedenominamos de funcionrios imperais. Em suma, j no podemos falar de uma orgnicaorganizacional dependente do Senado, como na Repblica, mas de uma orgnica muito suigeneris, uma orgnica imperial.

    1.2. fcil perceber, pela observao atenta do esquema, a diferena entre provncias de doistipos distintos: senatoriais e imperiais. As primeiras estavam sob a alada do Senado, instituiomaior do Imprio Romano. As segundas estariam sob o controlo direto do prprio imperador. Ora,as provncias que ficavam sob controlo do Senado eram aquelas que j haviam sido pacificadas(embora sob o olho bem atento do imperador, que era vigilante q.b. para evitar situaes quepudessem meter a sua autoridade em causa nessas provncias), enquanto que, no caso doimperador, as provncias mais difceis de impor a Pax romana(o esquema designa-as por as demais difcil sujeio) ficariam sob o seu cuidado at, provavelmente, darem as trguas desejadas eaceitarem a dominao romana.

    1.3. Na verdade, o Imperador sabia que a populao de Roma no queria sequer ouvir falar demonarquia, imbuda que estava, h sculos, daquilo que representava, na sua tica, a melhormaneira de governar Roma, ou seja, a Repblica. Usurpar as instituies republicanas, anul-las,despi-las da sua essncia de garante da voz e das aspiraes dos Romanos era, porventura, algosuicida. Desta forma, e tal como percetvel pela observao do esquema, o imperador teve ocuidado de nunca pr fim a essas instituies. Pelo contrrio, adaptou-as, numa operao bemcuidada, s instituies de tipo monrquico que vai instituindo. Na verdade, ao receber a tribunciapotestase ao intitular-seprinceps senatus, o imperador estava a incorporar na sua pele as vestesde um rei que tudo passou a controlar, perpetuando, todavia, as instituies republicanas que,supostamente, mantinham a sua atividade e as suas funes. Ora, nada de mais errneo pensar-se que essas instituies manteriam as suas atribuies tal e qual como na Repblica! Oimperador aceitava o Senado. Logo, este tinha de lhe ser absolutamente fiel. Ao poder anular assuas decises pelo direito de veto, ao poder convoc-lo, ao propor-lhe novas leis que seriamirreversivelmente aprovadas (ou no fossem os seus membros escolhidos pelo prprio imperador),o imperador, para alm de se comportar como um monarca, agia de forma absoluta. Peloesquema apresentado, conclumos que o imperador conseguiu criar um enorme Estado totalitrio,atravs de mecanismos que lhe permitiam controlar toda a rea conquistada por Roma,elaborando, minuciosamente, um sistema de governao do Imprio, atravs de mecanismos(presentes no esquema) que permitiam que nada lhe escapasse. No tendo uma polcia poltica,to tpica dos ditadores do sculo XX, tal no impedia, de modo algum, que no refreassequalquer tentativa de oposio ou de insubordinao.

    1.4. Se recuarmos at ao 9. ano e nos lembrarmos da ascenso dos fascismos, uma das coisasque, para alm de todas as caractersticas das ditaduras e de cada um dos ditadores em peculiar,marcaram estes regimes do sculo XX e que foi trao comum a todos a todos os lderes daextrema-direita extrema-esquerda, foi o chamado totalitarismo, ou seja, o facto de todos ospoderes estarem concentrados num s lder, de o mesmo controlar todos os setores da vida doEstado, exercendo poder sobre tudo e sobre todos. Ora, esse poder exercia-se de formaautoritria, muitas vezes discricionria, esmagando, por completo, a liberdade individual de cadaum. Tal conceo de poder implicava, portanto, que a autoridade do chefe fosse consideradainquestionvel ao ponto de o culto ao mesmo - culto ao chefe - ser uma das facetas essenciaispara a manuteno dos regimes ditatoriais. Por isso, medidas como a represso e perseguioaos adversrios, as prises de carter poltico, a tortura, ou caractersticas como o ultranacionalismo, a ideia velada da paz como algo efmero, pouco crvel, e a defesa da fora como

  • 7/25/2019 Solucoes Hist 10

    10/77

  • 7/25/2019 Solucoes Hist 10

    11/77

    11

    PREPARAR OS TESTESHISTRIA A10. ANOPROPOSTAS DE RESOLUO

    2.4. Caractersticas associadas ao direito romano, o racionalismo e o pragmatismo, esto bempresentes na sua prpria gnese, mas clarificam-se muito melhor aps a elaborao das Leis dasDoze Tbuas. Racional porque parte de pressupostos que assim lhe vo dando forma e tornando-o exequvel: () atos e processos receberam o seu nome, fixaram-se ritos e frmulas ()e, mais

    importante, houve uma preocupao em distinguir () as diversas espcies de direitos, gentlico,cvico, comum, sagrado (). O facto de os legisladores terem, aquando da altura em que seredigiram as Leis das Doze Tbuas, querido () apresentar solues e dar regras de direito sobreuma srie de pontos considerados difceis nessa altura , mostra, igualmente, a racionalidadeinerente ao direito romano. A necessidade de o direito ser acessvel a todos e todos ocompreenderem bem, explicam bem o uso da razo em todo este processo. Prova desteracionalismo foi ainda o facto de os Romanos terem distinguido direito privado de direito pblico.Por isso, no de admirar que, associado a toda esta dose de racionalidade, o carter prtico damquina legislativa romana seja bem percetvel. Na realidade, os Romanos bem o demonstram,cabalmente, quando compilam todas as leis que, at a, estavam ao acesso da livre interpretaode cada um, num todo documental (ambivalente) As Leis das Doze Tbuas e, bem o diz oautor do documento, () representam um conjunto artificial de dispositivos prticos, dando aimpresso de que os legisladores quiseram apresentar solues e dar regras de direito sobre uma

    srie de pontos (). Portanto, prtico, acessvel, racional, o direito romano in fluenciou at hojetodo o mundo ocidental e a organizao da justia na maioria do mundo ocidental.

    2.5. O autor do documento alude a () grande nmero de delitos tanto privados como pblicos (). Na verdade, tal afirmao tem a ver com o facto de os Romanos terem diferenciado dois tiposde direito, como j o dissemos anteriormente, o direito pblico e o direito privado. Assim, ao direitopblico cabia a organizao dos assuntos relativos ao Estado enquanto que, no que concerne aodireito privado, estavam ligados todos os assuntos que tinham a ver com os particulares, desdeassuntos bsicos como a disputa de um qualquer bem, at assuntos mais complexos como umcasamento, um divrcio, entre outros.

    3.1. O documento 3 pretende representar uma reconstituio da Roma imperial. Num olhar maisrpido e desatento, podemos no nos aperceber de que a influncia grega est bem patente nasconstrues de carter pblico no todo urbano. No entanto, numa observao mais atenta edemorada, chegamos rapidamente concluso de que a arquitetura helnica serviu de base a umgrande conjunto de obras pblicas romanas, esmagadoramente pela observao dos templosespalhados um pouco por toda cidade. Poderamos, todavia, escamotear este aspeto devido presena dos arcos de volta perfeita, Ao Coliseu ou ao Circo Mximo, bem como o aqueduto. Masno nos iludamos. Estamos, sem dvida, perante inovaes tipicamente romanas, mas tal noofusca a igualmente visvel influncia grega. Sendo a cultura romana aquilo a que denominamosuma cultura de sntese, no difcil compreender que, dessa amlgama de influncias, seja derealar a grega. Lembremo-nos que a presena grega no sul de Itlia data do sc. VIII a.C. oscontactos comerciais entre os dois povosgrego e romano, ou melhor, itlicodatam da mesmaaltura. Os habitantes da Pennsula Itlica assimilaram, ao longo de dcadas, a lngua grega (eramas elites, para alm das camadas populares, que mais faziam questo em falar a lngua gregacomo prova da sua erudio e cultura) e usaram-na correntemente em todas as atividades do seuquotidiano. Por isso, no estranho o facto de os modelos arquitetnicos gregos terem servido demodelo para as construes romanas, muito particularmente nos templos espalhados um poucopor toda a maqueta: colunas das vrias ordens arquitetnicas, frisos, arquitraves, bases, telhadosde duas guas e os inevitveis frontes. H elementos inovadores, com certeza, mas os quesaltam vista so, sem dvida, os que constituem o legado helenstico.

    3.2. Os Romanos no se limitaram a copiar os elementos mais notveis da arquitetura grega. Setal constituiu uma base para a edificao de muitos dos seus edifcios pblicos, no impediu,todavia, que as inovaes pontuais e fruto de um gosto esttico e apurado sem limites, seatrevesse a arrojar e a lanar novos desafios no conjunto edificado das cidades romanas. Naimagem que nos apresentada, para alm do arco de volta perfeita, visvel em muitas dasconstrues, podemos apontar outros elementos que so tipicamente romanos. o caso daschamadas pilastras, uma adaptao da tradicional coluna mas que , digamos, engolida por parteda parede da chamada cella, tornando-o numa coluna que, aos nossos olhos, nos surge comocortada a meio por uma parede e incrustada nessa mesma parede; por outro lado, temos

  • 7/25/2019 Solucoes Hist 10

    12/77

  • 7/25/2019 Solucoes Hist 10

    13/77

    13

    PREPARAR OS TESTESHISTRIA A10. ANOPROPOSTAS DE RESOLUO

    2- Se a Lei das Doze Tbuas conferiu ao direito romano a legitimidade para se tornar o modelojurdico para o mundo desenvolvido do ocidente nos sculos que se lhe seguiram, ela foi, tambmo melhor exemplo do pragmatismo romano. Na verdade, a Repblica foi o campo onde se

    modelou o modelo de jurisprudncia romana, de modo a acabar com todas as ilegalidades eincongruncias associadas ao modelo de direito consuetudinrio que, at essa poca,predominava. Portanto, a partir da Lei das Doze Tbuas, o direito romano tornou-se mais justo,prtico, metdico e ajustado a toda a populao romana. Tal no passou, no entanto, de umamiragem que rapidamente se desvaneceu com o comeo do Imprio e do regime arbitrrio que lhepassou a estar associado.O autor do texto mostra que h, de facto, uma progressiva desvalorizao do legado deixado pelaLei das Doze Tbuas. Comecemos pela tortura tida, malgrado, como algo banal em Roma que, noentanto, se vai comear a estender ao cidado livre: () Os homens livres, inicialmentesalvaguardados da tortura (), passaram a ficar sujeitos a ela em caso de traio durante oImprio e, mais tarde, num espetro cada vez mais largo de casos determinados por ordem imperial(). Por outro lado, a arbitragem voluntria ou comunal conduziu arbitragem imposta peloEstado nas legis actiones (modelos de ao judicial) depois de um processo formal mais alargado

    e, por fim, ao processo cognitio extra ordinem, em que o Estado controlava totalmente as aesjudiciais ();prova cada vez mais a intromisso do Estado (logo, do imperador) nos processosjudiciais. A mo imperialesmagava, assim, os regulares mecanismos jurdicos que a Repblica sehavia esforado por criar: () o simples cidado que desempenha as funes de rbitro substitudo por um funcionrio pblico nomeado pelo imperador ou por um funcionrio com um altocargo na administrao imperial(). O episdio que, no final do texto, nos descrito pelo autor a prova mais que evidente do que acabamos de afirmar. O exemplar direito romano passou aestar refm do imperador e dos seus caprichos. Por isso, e em jeito de concluso, o autor afirmaque () O imperador podia no s ditar a lei, mas tambm fazer excees lei que noreconheciam necessariamente os antigos privilgios republicanos do homem livre ().

    Grupo II

    1. Dentro do mundo que, a pouco e pouco, ia ficando sob o jugo romano, muitos foram os fatoresde consolidao da adaptao dos povos conquistados ao seu novo lder: Roma. Comummenteconhecidos como agentes de romanizao (porque romanizaram e, logo, cimentaram as relaesentre conquistados e conquistadores), estes fatores foram uma prova da inteligncia romana e doseu esprito integracionista face s regies que iam dominando. Rapidamente seduzidos pelomodo de vida dos Romanos, a esmagadora maioria dos povos conquistados ansiava por ser vistacomo romana. Assim, a administrao romana foi uma arma bastante eficaz para levar a cabo aconcretizao dos desejos dos povos submetidos a Roma. Dessa maneira, concedia-se um votode confiana por parte de Roma aos que dela ainda duvidavam, ao conceder, por exemplo, o ttulode provncia a muitas das reas conquistadas e, de seguida, dentro das provncias, concessodo ttulo de cidade. Traavam-se, assim, no Imprio, os quadros administrativos que iriam durarsculos. A administrao da Hispnia (abordada no documento 1) vai, desta forma, dar o pontapde sada a todo este processo administrativo. Tal como podemos ler neste texto, Plnio, o Velho,quem faz a primeira sistematizao da engrenagem administrativa romana () Com Plnio, oVelho, podemos considerar trs tipos de cidades peregrinas: federadas (ou, muitas vezes, livrese federadas); livres; estipendirias(). Apesar desta aparente liberdade concedida por Roma, ()As cidades estipendirias no podiam fazer mais do que aceitar a condio que Roma lhesimpunha; elas no dispunham mais do que, na verdade, uma autonomia (). No entanto,podemos perceber que as cidades federadas e livres ou livres e federadas tinham, de facto, umamaior margem de movimentao para reclamarem, por exemplo, mais benesses, mais direitosporque, e tal como diz o autor do documento 1, () eram exteriores s provncias (). Aimportncia de ser municpio era, no entanto, muito importante para a cimentao do processo deromanizar as reas conquistadas dado que, uma povoao que adquirisse o estatuto de municpioveria reconhecido o direito de se administrar segundo regras semelhantes s da capital Roma.Que processo melhor para que os seus habitantes fossem reconhecidos como cidados romanose se sentissem como tal?

  • 7/25/2019 Solucoes Hist 10

    14/77

    14

    PREPARAR OS TESTESHISTRIA A10. ANOPROPOSTAS DE RESOLUO

    2. O exrcito romano foi, por excelncia, num sentido um tanto ou quanto metafrico, a massafsica que materializou os ideais expansionistas de Roma. o exrcito romano, com a sua foraavassaladora, disciplina mpar, rigor no seu modus operandi, treino intensivo (como podemosobservar na reconstituio representada no documento 2) e, pormenor aparentemente pouco

    significativo, com um manancial de armas, tticas militares e um equipamento para combate(tambm no documento 2) que os tornava, efetivamente, os melhores do mundo conhecido poca. Por isso, o seu papel na construo do Imprio foi praticamente providencial. Em boaverdade, os legionrios romanos so, como mais uma vez percetvel no documento 2, umamquina de guerra super bem treinada, super disciplinada e super organizada que, aps ocombate, e em particular nas provncias de mais difcil sujeio a se instalavam, com fortssimoscontingentes militares. So eles quem iria zelar para que no houvesse focos de instabilidade quepudessem conduzir a situaes de insubordinao nos povos conquistados por Roma. desta forma que se compreende que tenham sido os soldados/legionrios os principais agentesde romanizao e da manuteno, durante sculos daquilo a que denominamos por PaxRomana.Era, portanto, perfeitamente normal que, aps o vigor blico das suas primeiras investidas emterras que desejavam suas, se tenham instalado, com as suas legies, durante perodos de vriosanos e at, por vezes, para o resto das suas vidas, em acampamentos que tinham praticamentetodas as condies de uma cidade. Foi assim, que, a bem ou a mal, as regies conquistadas,mesmo as mais rebeldes, foram pacificadas. Com a anlise do documento 3, apercebemo-nos dafora do exrcito romano e de como era quase impossvel este ver-se enfraquecido, mesmo que,esporadicamente, pudesse sofrer, como era perfeitamente possvel, perdas. Na verdade, aointegrar os povos conquistados no Imprio, ao estender a sua administrao, o seu modo de vida,ao conceder o grau de cidado aos povos conquistados, os Romanos sabiam bem o que estavama fazer. No se tratava apenas de os pacificar, de os fazer sentir como parte integrante do mundoromano mas, e muito importante, de perpetuar a incorporao de mancebos no seu exrcito (ouseja, era-se um cidado romano, era-se igualmente um militar em tempo de guerra!). Odocumento 3 permite-nos concluir que, medida que o nmero de cidados vai aumentando,assim vo aumentando os homens considerados aptos para o combate (entre 15 e 45 anos) e,logo, o nmero de militares em milhares (sendo o maior nmero atingido em 47 d.C.) embora omaior nmero de adultos tenha sido em 6 d.C. A extenso da cidadania romana a todos oshabitantes do Imprio s contribuiu para isto: ter tambm um maior nmero de militaresincorporados! Por isso, um exrcito sempre renovado, sempre ativo, sempre pronto para cumprir oseu dever.

    3. Aps a truculncia da expanso de Roma e sua metamorfose num territrio que se alargoumuito para l da Pennsula Itlica, o maior e mais durvel imprio de toda a histria dahumanidade estava formado. Se, inicialmente, os motivos para esta expanso de Roma forammeramente defensivos, como forma de proteo dos vizinhos dos romanos no territrio do Lcio,aps isso, o desejo de conquistar mais territrio no mais os largou e a sede de ganncia, glria,poder e o desejo que se foi fermentando de tornar todo o mundo conhecido numa Grande Romaestiveram por detrs da formao do imprio. A expanso foi lenta (cerca de 700 anos) mascontnua. Assim, ao fim deste perodo de tempo, o Mediterrneo ficou cercado pelos romanos que,durante sculos, deram-se ao luxo de apelidar de Mare Nostrum (O nosso mar) o marMediterrneo. Na verdade, trs continentes - Europa, sia e frica - foram dominados pelofortssimo exrcito romano que, organizado, disciplinado, muitssimo bem treinado para qualquersituao de combate (documento 2) foi um dos grandes responsveis (talvez o maior) pelapacificao das reas conquistadas e respetiva integrao no imprio. O autor do documento 1bem reala como, mesmo as regies, digamos, mais insubordinadas, acabaram por se vergarperante a pesada mo do exrcito romano () Csar () reduzir a Glia a provncia (). Para aprossecuo e manuteno deste vastssimo e duradouro imprio, o exrcito romano, para almdo que j foi dito, mantinha-se constantemente renovado e, digamos, refrescado de sangue novo,ou no fossem as benesses concedidas pelo imperador s reas conquistadas, sinnimo de algomais. Na verdade, a progressiva extenso da cidadania aos novos territrios que iam sendointegrados no seio da me Roma, tinha tambm um outro fito que no se resumia ao facto dequerer pacificar os povos conquistados e dominados. Na verdade, e como podemos observar nodocumento 3, ter um maior nmero de cidados significava ter, igualmente, um maior nmero delegionrios integrados nas legies e, logo, um reforo continuado do poder dos militares. Nodevemos, por isso mesmo, questionar como foi possvel a consolidao de um espao imperial to

  • 7/25/2019 Solucoes Hist 10

    15/77

    15

    PREPARAR OS TESTESHISTRIA A10. ANOPROPOSTAS DE RESOLUO

    vasto. Sede de vitria, glria, riquezas, ganncia, mais o especializadssimo exrcito romano, eis acombinao perfeita. Ora, medida que se conquistava, tambm se romanizava, ou seja,procedia-se a um inteligente processo de integrao (visto como o melhor e mais eficaz meio depacificar os recm-conquistados) que, tal como a expresso romanizao nos indica, tinha

    como objetivo romanizar o que no era romano! E note-se que no foi apenas um processo queenvolveu os hbitos e costumes das pessoas mas, igualmente, as prprias paisagens, numprocedimento alargado, quase global, que vai fazer parte de todo este processo. No fim de contastratava-se de uma completa assimilao da cultura romana que, desta forma, transformou oespao imperial num todo homogeneizado com a mesma lngua (latim), os mesmos hbitos ecostumes, a mesma religio/religies, a mesma administrao (como no caso que nosapresentado no documento 1), as mesmas leis (como a lei de cidadania, j mencionadaanteriormente), e at as mesmas infraestruturas que iriam servir uma populao que ansiava porviver maneira romana e isto implicava viver em cidades, quer fossem, como referido nodocumento 1, livres, federadas ou estipendirias. A Pennsula Ibrica, conquistada entre ossculos I a.C. e I d.C., ficou conhecido como o territrio, na opinio de muitos historiadores, maisromano dos territrios conquistadosdepois da prpria Itlia. Na verdade, a Pennsula Ibrica, apsa dura resistncia ao avano romano, tornou-se num espao que, dentro do Imprio, foi exemplarem termos culturais e civilizacionais, sendo modelo para a grande maioria das outras reasdebaixo do controlo romano. A administrao da Hispnia (descrita no documento 1, quando secitam os dados de Plnio, o Velho) vai, assim, marcar a consolidao de todo este processo. Oestatuto de municpio era tremendamente importante para a cimentao do processo de romanizara Pennsula j que, uma povoao que adquirisse o estatuto de municipia veria reconhecido odireito de se administrar segundo regras semelhantes s da capital Roma. Desta forma, os seushabitantes eram automaticamente reconhecidos como cidados romanos (aspirao maior detodos os habitantes romanizados) Por isso, os centros urbanos que a vo ser constitudos ()Para as Espanhas, Plnio, o Velho, transmitiu-nos nmeros precisos, provenientes de estatsticasoficiais do comeo do Imprio. Na Btica, em 129 comunidades peregrinas, 3 eram federadas, 6livres; na Tarraconensis, no havia mais do que uma cidade federada, nenhuma livre; as 36povoaes peregrinas da Lusitnia eram todas estipendirias() sero verdadeiras imitaes deRoma que, em quase nada (talvez no em extenso. Roma era um gigante que havia atingido omilho de habitantes entrada do sc. I d.C.) ficavam atrs da monumentalidade e esplendor dametrpole (note-se o documento 2 onde o Teatro de Mrida, em Espanha, bem comprova o queacabamos de dizer). A introduo do modo de vida romano foi lento e foi direcionando-se de estepara oeste, desde as costas do mar Mediterrneo at s costas do Atlntico. O territrio peninsularfoi visto, depois de dominado, uma terra de oportunidades para antigos soldados, por exemplo, eoutros romanos da prpria Pennsula Itlica que olhavam para a Hispnia como uma espcie deterra prometida. Por isso, o processo de miscigenao com as populaes locais foi algo queaconteceu com bastante frequncia e da resultaram, por exemplo, muitos casamentos entresoldados e mulheres das populaes nativas que cimentaram profundamente os laos entre osIberos de origem e a cidade me, Roma. Todo este processo acabou por atrair para o territriopeninsular muitos comerciantes que tiraram proveito da presena de muitos legionrios na regioe do seu estabelecimento, para comearem/refazerem as suas vidas. Desta forma, a difuso domodo de vida romano acentuou-se ainda mais, dando azo a uma espcie de territrio irmo deRoma. Por outro lado, a constituio de clientelas locais, foi uma forma bem sucedida defamiliarizar as populaes locais com o modo vida dos romanos. Resta uma referncia polticade urbanizao, que transformou por completo a pennsula (numa perspetiva meramentepaisagstica) num territrio todo ele renovado imagem de Roma. Os testemunhos daquilo queforam as faces mais visveis da presena dos municpios em territrio peninsular ainda hojepodem ser encontrados em todo o territrio peninsular, no s as famosas vias calcetadas, osfruns, os edifcios para lazer e divertimento mas, tambm, as infraestruturas necessrias aodesenvolvimento de muitas atividades econmicas que foram intensamente desenvolvidas emterritrio ibrico como a imagem que temos presente no documento 4 - tanques para salga depeixe-, entre muitas outras construes de grande utilidade para o cidado comum (sim, porque opragmatismo romano tambm chegou pennsula). Portanto, e em jeito de concluso, naPennsula Ibrica, o processo de aculturao/romanizao foi quase perfeito e, de tal modo, que aromanizao ir persistir muito parar alm da queda do Imprio Romano.

  • 7/25/2019 Solucoes Hist 10

    16/77

    16

    PREPARAR OS TESTESHISTRIA A10. ANOPROPOSTAS DE RESOLUO

    GRUPO III

    1. O culto ao imperador bem visvel nesta que foi uma das inmeras moedas que circularam portodo o Imprio Romano e uma das faces mais visveis do dinamismo que caracterizou a economia

    do imprio, uma economia de feies verdadeiramente monetrias. mesmo neste pequenoobjeto que se propagava, ento, o culto ao imperador, glorificando todas as suas virtudes, os seuspoderes, enfim, tudo aquilo que fazia da sua figura algum que tivesse a legitimidade total para seraceite como o senhor absoluto e nico de todo o imprio. Seno, vejamos: o seu carter divino ()eleito dos deuses(); () Sumo pontfice(); a sua capacidade de liderana inquestionvel ()vencedor dos Germanos (); () vencedor dos Dcios (); (..) general vitorioso (); ()cnsul pela quinta vez() e repara-se no nfase colocado em () quinta vez() ; () pai daptria (); o homem que legisla e auxilia o direito romano () poder de propor leis (). averdadeira elegia ao chefe, sua essncia e ao Estado por ele representado. Por ltimo, restaacrescentar uma verdadeira tentativa de divinizao do imperador () Trajano, filho de Nerva ().Concluindo, nesta moeda podemos observar a promoo ntida a algumas das chamadas virtudesimperiais, ou seja, de alguns dos benefcios que o imperador havia dado ao mundo e aoshabitantes do imprio; neste caso em particular, a glria e a justia.

    2. Os poderes do imperador eram ilimitados. Esta poderia ser a expresso ideal para caracterizara amplitude dos poderes imperiais. A moeda em honra de Trajano, enquanto objeto de culto, nose limita a promover e deificar a sua imagem, fazendojusao seu imenso poder dentro do imprio.Ela , igualmente, uma forma de perpetuar, em todo o imprio, a ideia de que o chefe intocvelporque no h poder que o mesmo no detenha, ou seja, o seu poder chega a todo o lado e tocaa todos. Depois de consolidado o poder imperial com Otvio Csar Augusto, o poder dosimperadores tornou-se inquestionvel e foi esmagando as velhas instituies republicanas. Noquerendo, todavia, mostrar ao povo romano (que odiava a monarquia) que desprezavam atradio republicana, os imperadores mantiveram, meramente como objeto decorativo, as suasinstituies polticas, como o Senado, por exemplo. No obstante, e repare-se na moeda, Trajanono tinha problemas em se auto intitular como Csar (Rei). Contradio, portanto. Por outro lado,o Senado passou a estar, progressivamente, nas mos do imperador j que este podia modificar acomposio do mesmo, excluindo desse rgo os elementos que no fossem do seu agrado.Quando a moeda refere ()poder de propor leis() est inequivocamente a referir-se ao poderdeprinceps senatus que os imperadores passaram a ter, ou seja, a figura mais importante dentrodo velho rgo republicano. Tal facto vai-lhes conferindo autoridade acima de qualquer pessoa.Assim, o Senado, rgo legislativo e executivo por excelncia, vai-se tornar num rgo queapenas aprova as decises do Pai da ptria. O imperador era, de igual forma, o sacerdote dossacerdotes, por isso o Eleito dos deuses e o Sumo Pontfice; logo, uma pessoa intocvel, umverdadeiro deus, j que () filho de Nerva(). Resta apontar o facto de o imperador ser o chefesupremo do exrcito: () Vencedor dos Germanos (); () Vencedor dos Dcios () e ()General vitorioso().

    Exerccios Propostos (pgs. 108 e 109)

    1.1. Tertuliano manifesta-se indignado e at ofendido com o tratamento que era dado aos cristospelos seus congneres Romanos. Na verdade, sendo to cidados como o cidado de Roma, osseguidores do Cristianismo eram os bodes expiatriosde todos os males que aconteciam no seiodo Imprio. Na exposio que nos feita por Tertuliano, percebe-se que os cristos so olhadoscom desprezo e desconfiana e vistos como pessoas que no interessavam, nem tampoucocontribuam, na tica dos Romanos, para a economia do Imprio: () gentes inteis para osnegcios (); () como podemos parecer-vos inteis para os vossos negcios, j que nsvivemos com vocs e de vocs (). Para elucidar os Romanos, Tertuliano tenta, da forma maissimples, faz-los perceber que eles so to Romanos como todos os outros: () Comopoderamos ns s-lo, ns que vivemos com vocs, que temos a mesma alimentao, o mesmovesturio, o mesmo gnero de vida que vocs, que estamos debaixo das mesmas necessidadesda existncia? (); () Com vocs, ns navegamos, com vocs ns servimos como soldados,ns trabalhamos a terra, fazemos o comrcio: do mesmo modo, ns trocamos com vocs os

  • 7/25/2019 Solucoes Hist 10

    17/77

    17

    PREPARAR OS TESTESHISTRIA A10. ANOPROPOSTAS DE RESOLUO

    produtos do nosso artesanato e do nosso trabalho().Na verdade, parece que nada do que oscristos faziam os poderia colocar em p de igualdade com qualquer outro habitante do Imprio,porque a estigmatizao que era feita aos mesmos, impedia qualquer vislumbre de tolerncia paracom eles. Assim, tanto fazia, como diz Tertuliano, () frequentar o vosso frum, o vosso mercado,

    as vossas lojas, as vossas hospedarias, as vossas feiras e outros stios de comrcio ()ou, maisdo que isso, prestar, de facto, servios pblicos ao, e em nome do, Imprio, como ser soldado naslegies, que nada abria os olhos s autoridades romanas! Por isso, Tertuliano no compreendia,de todo, o que tinham contra os cristos: ()Sinceramente, eu no o compreendo ().

    1.1.1. Entre muitos dos motivos que levavam os Romanos a desprezarem os cristos e a v-loscomo uma seita perigosa e nociva para a sociedade romana destacava-se, sem dvida, o facto deos cristos no serem, nem aceitarem, o politesmo dos Romanos. Mais grave ainda, aos olhosdas autoridades romanas, era o no reconhecimento do imperador como uma entidade divina e,logo, ao qual no se sentiam obrigados a prestar qualquer culto. Ou seja, no se tratava apenasde no reconhecerem os tradicionais deuses romanos mas, ao mesmo tempo, no olharem para oimperador como senhor omnipotente e que estava acima de todas as coisas e de todos os seres.Como que, perguntavam-se os Romanos, um mendigo, pobre, esfarrapado e inofensivo, como ohavia sido Jesus Cristo, poderia ser considerado como o filho de Deus na Terra e adorado evenerado como o mais perfeito dos homens, estando acima do prprio imperador? Na verdade,ningum compreendia este apego dos cristos a Jesus e o seu culto monotesta. Tertuliano metemais uma acha na fogueiraao afirmar exatamente aquilo que incomodava os Romanos: () Nslembramo-nos que devemos a nossa existncia a Deus, como ao Senhor e ao Criador de todas ascoisas: no h um nico fruto das suas obras que nos rejeitemos. Unicamente, guardamo-nos de,em nome Dele, praticar excessos ou abusar (). Ou seja, um indigente, como era consideradoJesus Cristo na viso dos Romanos, era tratado, na voz de Tertuliano (e na de todos os Cristos)como Deus, Senhor e Criador de todas as coisas, algo que era, poca, no apenaspoliticamente incorreto mas, pior ainda, considerado um crime, dada a evidente negao do poderimperial enquanto autoridade religiosa. Quando Tertuliano, de seguida, acrescenta que os ristosno cometem excessosou abusos em nome de Deus, referir-se-ia, muito provavelmente, ao factode no concordarem, de modo algum, com os rituais, oferendas, sacrifcios, jogos e festas que,durante o ano inteiro, Roma dedicava ao imperador. Como eram apologistas da paz, adeptos dano violncia, naturalmente que no aceitavam, nem viam com bons olhos a guerra como meiopara submeter nenhum povo, regio, algo que contrariava tudo aquilo que, para os Romanos eralgico, normal e, sobretudo, inquestionvel.

    2.1. So muitos os motivos que levaram derrocada do Imprio Romano. De entre eles, podemosapontar aquele que est ligado anarquia reinante dentro do exrcito imperial. Na verdade, astropas que to bem conhecamos como as mais disciplinadas, as mais rigorosas, de todo o mundoconhecido e as verdadeiras responsveis pelo colosso romano, haviam-se tornado, muitoparticularmente a partir do sc. III d.C., nos coveiros do Imprio. Desobedincia, desrespeito,traio, fraqueza e uma completa falta de sentido de dever caracterizavam, agora, o novo exrcitoromano. Em nome do dinheiro, que era quem ordenava qualquer ao mais consentnea, asoldadesca assassinava imperadores e aclamava outros, fazia desaparecer generais e, de ummomento para o outro, nomeava outros. A troco de dinheiro, os eficientssimos legionriosromanos haviam-se transformado em verdadeiros mercenrios que, na verdade, se vendiam aqualquer preo. Ora, esta situao acarretou outra, inevitvel, e que foi a profunda crise polticaem que o Imprio mergulhou, um verdadeiro abismo que haveria de colocar o Imprio no caminhodo seu trmino. De facto, a partir do final do sculo II e sculo III adentro, no mais pararam ossucessivos assassinatos de imperadores que se sucediam a um ritmo alucinante, sobretudo nacentria de duzentos. O Senado, j at a um rgo coarctado pelo poder imperial, viu-secompletamente impotente para repor a ordem e pacificar as hostes. Era, portanto, uma mistura defatores que funcionou com uma fora explosiva: anarquia militar e instabilidade poltica.

    2.1.1. O baixo-relevo persa coloca em evidncia o seu rei, Chapur I, senhor muito provavelmentedos povos Srmatas, oriundos do atual Iro, numa altura em que o Imprio Romano passava porum dos seus perodos mais conturbados, caracterizados pela anarquia militar e por uma tremendainstabilidade poltica que deixou o Imprio tremendamente fragilizado. A juntar a este quadro pordemais negro, os povos que, para l dos limites do Imprio, sempre tinham sido compelidos a

  • 7/25/2019 Solucoes Hist 10

    18/77

    18

    PREPARAR OS TESTESHISTRIA A10. ANOPROPOSTAS DE RESOLUO

    manterem-se no seu lugar, davam agora sinais de avano, sobretudo pela inatividade do exrcitoromano que, algo desgastado e desabituado do campo de batalha, aps longas dcadas derelativa paz, no contava com as investidas que comearam a assumir carter de uma violnciaainda no sentida no espao imperial. A pax romana abria brechas no seu seio e, em muitos

    casos, tal como podemos ver representado na imagem, os imperadores foram obrigados a chegara alianas com alguns dos povos brbaros com o fito de conseguirem aliados ou, por outro lado,evitar a todo o custo, mais invases devastadoras em territrio romano. Na verdade, e pelaposio do imperador Valeriano, ajoelhado, braos abertos, nota-se a fragilidade em que Roma seencontrava. Valeriano reconhece a superioridade de um rei brbaro que representado com todoo seu esplendor e numa ntida postura de fora face, provavelmente, humildade do imperador.

    2.2. A imagem representada no documento 3, uma escultura, mostra-nos as figuras que estiveramligadas ao sistema poltico que ficou conhecido como tetrarquia imperial. Dois augustos(Diocleciano e Maximiano) e dois Csares (Galrio e Constncio Cloro), abraam fraternalmenteos segundos, como sinal da sua proteo e afeto. O perigo brbaro comea a afetar o Impriodurante as ltimas dcadas do sculo III. Na verdade, a paxromana, de que tanto se vangloriarama pica e a historiografia romanas, comeou a ceder face presso de povos que viviam para ldos limesromanos e que, h muito, cobiavam as riquezas do mundo romanizado. Conjuntamentecom um exrcito enfraquecido por lutas internas e por uma grave crise poltica, o Imprioenfrentou tempos muitssimo conturbados que, no entanto, se atenuaram com o imperadorDiocleciano, a partir de 284. Parecia que os brbaros tinham sido definitivamente afastados doslimites do Imprio e no trariam mais problemas. No entanto, o problema, e do qual Dioclecianotinha plena conscincia, era o gigantismo de que o Imprio padecia. Em boa verdade, o tamanhode um territrio to extenso poderia constituir uma ameaa (as ameaas dos brbaros e as suasinvestidas junto aos limes, haviam-no provado) para a sua sobrevivncia a longo prazo. por issoque, numa deciso indita, Diocleciano decide desdobrar a autoridade imperial, ou seja, associa-se, antes de mais, com Maximiano que, automaticamente, passou a ter o ttulo de Augusto, talcomo o primeiro. Num curto espao de tempo, cada um dos Augustos, acabou por adotar umsucessor, que receberia o ttulo de Csar (Galrio e Constncio Cloro). Os quatro haveriam departilhar entre si a administrao e a defesa do Imprio. Sinal dos tempos ou no, a tetrarquia foi aprova evidente de que o Imprio no era indestrutvel e, mais, estava fragilizado e enfraquecido.Se um imperador, sozinho, no conseguia dar provas daquilo que, durante sculos, vriosimperadores haviam dado, ou seja, de segurana, fora e um esprito de liderana mpares, aunidade imperial estava seriamente em questo. O perigo j no espreitava s de fora mas,tambm, dentro do prprio Imprio que sofria, agora, de uma profunda crise de conscincia.

    2.3. O ttulo do documento 4 diz tudo (ou quase tudo). Afinal, os temveis ameaadores da unidadedo Imprio, os denominados Brbaros, estavam inseridos no prprio exrcito romano! () Nstemos sido protegidos por exrcitos compostos de brbaros loiros (). Para maior admirao, oautor do documento salienta que, digamos, os brbaros - legionrios () so exatamente damesma raa dos nossos escravos (). A descrio de Sinsio de Cirene corresponde aos povosGermanos, aqueles que, a norte do Imprio, na zona compreendida entre o mar Bltico eenglobando as reas dos rios Reno, Vstula e Danbio, so os pioneiros das primeiras investidasbrbaras contra o espao imperial. Ora, estas investidas eram, amide, feitas de forma mais oumenos violenta, dado que os Germanos no eram propriamente um povo com uma unidade coesade nenhum tipo, nem poltica, nem tnica e, por isso mesmo, os seus ataques eramdesorganizados e, no raras vezes, imprudentes. S no sculo III, os seus ataques assumiramuma feio marcadamente dura. At a, as coisas resumiram-se a pequenos ataques fortuitos,aqui e ali, sem consequncias graves, mas o suficiente para pr em causa a unidade poltica doImprio. No entanto, so estes Germanos que, na opinio de Tcito, tinham um elevado sentidode cumprimento do dever e de honra e que, de forma quase sistemtica, se vo assim instalandoe, a pouco e pouco, integrando a enorme massa de cidados romanos e, logo, e nessa condio,integrando tambm o exrcito romano que, como j sabemos, tinha uma necessidade constantede novos recursos humanos. Para mais, e data deste docuemnto, as legies romanas haviamentrado, h muito, numa crise profunda, em que a indisciplina, o desleixo e a apatia face s suastradicionais funes, haviam substitudo a tropa de elite que, durante sculos, tinha sido aexpresso mais adequada para caracterizar a instituio militar do Imprio. Posto isto, no deestranhar a incluso de elementos oriundos dos povos brbaros dentro das fileiras do exrcito

  • 7/25/2019 Solucoes Hist 10

    19/77

    19

    PREPARAR OS TESTESHISTRIA A10. ANOPROPOSTAS DE RESOLUO

    romano (sendo, inclusive, recompensados, como podemos ler no documento, pelos serviosprestados, acrescendo a isto o facto de essas recompensas corresponderem aquilo que estespovos mais desejavam terras, direitos polticos, entre outros.) j que, e se formos a pensar, talat constitua uma mais-valia para os Romanos que poderiam contar com novos aliados na sua

    luta contra novas investidas de outros povos estranhos ao Imprio. Finalmente, o autor reconhece,com relativa facilidade que ()Ns temos sido protegidos por exrcitos compostos de brbarosloiros (), ou seja, o reforo e contributo destes homens era essencial para a manuteno do queainda restava dapaxromana.

    2.3.1. Sinsio de Cirene, ainda que de forma contida, faz um elogio atitude de Teodsio paracom os brbaros: ()O nosso imperador Teodsio tratou-os com doura e indulgncia. Acaboupor lhes atribuir o ttulo de aliados. Tambm lhes distribuiu terras. () concesso de direitospolticos (). No entanto, acaba por concluir que () Estes brbaros no veem mais do quefraqueza da nossa parte com estas atitudes e isso s lhes d uma insolncia semprecedentes.(). Resumindo, o autor, por assim dizer, acaba por desmistificar todas as boasintenes de Teodsio, dando-lhes uma importncia relativa. Afinal de contas, integrarmercenrios brbaros no exrcito romano poderia, na opinio de Sinsio de Cirene, vir a redundarnum erro crasso porque, () Estes brbaros no veem mais do que fraqueza da nossa parte ()e isso s lhes d uma insolncia sem precedentes ().O que o autor, no fundo, temia, era que osBrbaros se virassem contra quem os havia acolhido e fizessem minar a unidade do Imprio apartir do interior. No teria tido este homem a sua quota-parte de razo?

    3.1. A velhssima e durante sculos resistente unidade imperial tem o seu fim aps a razia daprimeira vaga de invases brbaras. A diviso do Imprio feita com Diocleciano tambm noajudou para que o velho mundo romano, um gigante em decadncia, se mantivesse, de todo,unido. De facto, se observarmos o mapa observamos que o resqucio do Imprio que vai ficar dep o Imprio Romano do Oriente, com a nova capital em Constantinopla, e que se sustentar dep quase mais 1000 anos. Pelo contrrio, a parte ocidental do Imprio completamente retalhadaem vrios reinos brbaros que constituem uma frgil multiplicidade de Estados, na sua maioria,com fronteiras mal definidas, com lutas internas pelo poder e que, por isso mesmo, tm duraoefmera. Na Pennsula Ibrica vemos dois novos reinos, o dos Suevos e o dos Visigodos (um dosmais fortes e consistentes da poca). Na Pennsula Itlica, por seu turno, centro nevrlgico doantigo Imprio, instalam-se os Ostrogodos (que tambm se alargam para a parte do atual territriosuo e austraco). J na antiga provncia da Glia (atual Frana), podemos verificar uma pequenaparte do reino dos Burgndios (que tambm incluiria parte da atual Sua) mas tambm aqueleque, a par com o reino Visigtico, ser dos que desempenhar um papel mais importante noquadro da nova Europa medieval, o reino dos Francos. Incluindo uma parte substancial da atualAlemanha, podemos observar os reinos Turngio, Alamano e Saxo. J nas Ilhas Britnicas,observamos que Saxes e Celtas partilham o mesmo territrio. Para l destes reinos, situavam-seainda outros povos que poderemos considerar como prias, dado que no esto integrados emnenhum reino, como o caso dos Eslavos, dos Lombardos e dos Gpidas. Era o comeo da IdadeMdia, com uma Europa retalhada e irreconhecvel, face aos mais de 500 anos duma Europa forte,unida, coesa e tida como indestrutvel da qual no restava, agora, nada mais do que uma memria.

    Exerccios Propostos (pgs. 137 a 139)

    1.1. A imagem mostra o papa Adriano I na cerimnia de coroao do filho do imperador CarlosMagno, Lus I, o Piedoso, rei da Aquitnia, no ano de 781, em Roma (sede do poder espiritual).Esta cena mostra bem como o poder espiritual, representado pelo papa Adriano estavaintimamente ligado como o poder temporal, simbolizado por Lus, o Piedoso. Na verdade, h muitoque, no Imprio Franco, a unio entre poder poltico e religioso se preparava. Tal viria a contribuir,decisivamente para a unio numa mesma f e numa mesma crena na Europa ocidental. Oacontecimento da imagem era apenas o caminho, mais que evidente, para aquilo que se iriapassar em 800. Durante o sculo VIII, o reino Franco foi o mais prestigioso reino cristo doOcidente, contribuindo, ao mesmo tempo, para a afirmao da Igreja. Carlos Martel, Pepino oBreve, e, sobretudo Carlos Magno, trouxeram a pujana ainda maior do colosso franco e

  • 7/25/2019 Solucoes Hist 10

    20/77

    20

    PREPARAR OS TESTESHISTRIA A10. ANOPROPOSTAS DE RESOLUO

    afirmao da instituio Igreja. Grande militar e estratega, sonhando recuperar a unidade perdidadesde a queda do Imprio Romano do Ocidente, intentou um sem-nmero de expedies militaresque lhe permitiram transformar o seu pequeno Imprio Franco (que se cingia apenas a territriofrancs) num verdadeiro imprio de grandes dimenses (Frana, Holanda, Blgica, Alemanha,

    ustria e uma parte substancial da Itlia, ou seja, basicamente, toda a Europa ocidental). Umaparte do xito deste homem ficou a dever-se ao auxlio da Igreja que enviava, nas suascampanhas militares, missionrios, cuja misso era a de converter e de batizar todos os povosque eram conquistados. Essa tarefa, por seu turno, deixava que os soldados francossubmetessem as tropas inimigas ao seu poder. Por isso, a Igreja tomou este homem como seufilho dileto e, antes de o coroar como Imperador do Ocidente, no Natal de 800, coroou, comovemos na imagem, o seu filho, Lus I. A coroao, no entanto, de Carlos Magno, foi de sumaimportncia para a poca. Em termos polticos, marcava uma posio da Cristandade ocidentalface Igreja de Constantinopla, tornando Carlos Magno como o legtimo herdeiro dos imperadoresromanos e dando a ideia de restaurao do Imprio Romano do Ocidente. Por outro lado,unificava, depois um longo caminho percorrido (mas que podemos antever pela imagem), oocidente europeu sob o mesmo poder poltico e temporal (o de Carlos Magno) e o mesmo poderreligioso e espiritual (o do papa e da Igreja de Roma).

    1.1.1. O sonho de reconstituio de um imprio universal e cristo pareceu, como vimos, tomarforma, no Natal de 800. Ora, a coroao de Carlos Magno colocava, ainda que no de formavisvel, o problema da relao entre poder espiritual e temporal a mdio e longo prazos. De facto,aps a sua morte, o Imprio no demorou muito a dividir-se. Todavia, depois um perodoconturbado, o sonho imperial voltou a nascer, desta feita em meados do sculo X, na pessoa deOto I, rei da Alemanha (Germnia) que era, poca, o mais poderoso monarca do ocidente. semelhana de Carlos Magno, Oto aliou-se ao papa do qual recebeu, de igual forma, a coroaimperial (962) mostrando que, muito para l das convulses polticas, a unio entre poderespiritual e temporal parecia no quebrar-se. Assim, como resultado da aliana entre imperador epapado, nasceu aquilo que foi apelidado de Sacro Imprio Romano-Germnico e que englobavaterritrios germnicos e italianos (ficava compreendido entre a Itlia do norte, o reino de Frana,da Dinamarca, da Polnia e da Hungria; uma parte do leste da Frana, bem como da atual Sua;ustria e Polnia estavam integradas neste Imprio). Oto II haveria de seguir a poltica do seu paie consolidar um poder poltico forte e centralizado.

    1.2. O Imprio Romano do Oriente teve uma vida longa, s sucumbindo em 1453. Este Imprioque, regra geral, denominamos por Imprio Bizantino (por causa de Bizncio), assumiu-se, desdecedo, como um espao civilizado onde a perpetuao dos hbitos e costumes romanospermaneceu e at se desenvolveu. Possuidor de uma cultura muito requintada, bastante frenteda Europa brbara, Constantino pde, a, erguer a nova Roma, Constantinopla, que se tornouainda mais opulenta e rica que a antiga capital do Imprio. O Patriarca de Constantinopla passou aser o rival mais direto do papa de Roma e as divergncias nunca foram disfaradas. Discordavamnum sem-nmero de pormenores doutrinais (como os relativos ao dogma da Santssima Trindadee forma de comunho). No entanto, o maior problema era a recusa do Patriarca em aceitar asupremacia de Roma. Por isso, em, 1054, esse litgio tornou-se uma rutura efetiva: os legados dopapa e o Patriarca de Constantinopla excomungaram-se mutuamente. Estava iniciado o cisma dacristandade que vinha colocar srias reservas numa continuidade efetiva da unio entre oscristos da Europa. As diferenas, no entanto, eram evidentes: a Oriente, apoiada no ImprioBizantino, existia uma Igreja de lngua grega, que afirmava ser fiel aos dogmas primitivos doCristianismo e, por isso, intitulava-se ortodoxa (que significa, em grego, aquela que segue adoutrina certa); a Ocidente, e apoiada no Sacro Imprio Romano-Germnico, existia uma Igrejalatina debaixo da autoridade de Roma. Esta ciso religiosa que vai fraturar a Europa exemplo emotivo do agravamento do abismo poltico e cultural entre as duas partes da Cristandade que, apartir da, se vo afrontar declaradamente, como o mapa mostra. De facto, em 1204, na 4.cruzada, e podemos v-lo no mapa, os cavaleiros da Europa ocidental, a caminho de Jerusalm,aproveitam, fazendo um desvio, para tomar de assalto e saquear Constantinopla, e tal no eraapenas devido ao seu fervor religioso mas, sobretudo, devido s imensas riquezas que a cidadepossua. Esse episdio mostra bem como a cidade representava, aos olhos dos europeusocidentais, um verdadeiro inimigo, cuja hostilidade era necessria aniquilar. Por aqui tambm nosapercebemos de como o fanatismo religioso cegou a Cristandade, impedindo-a de ver que, ambos

  • 7/25/2019 Solucoes Hist 10

    21/77

    21

    PREPARAR OS TESTESHISTRIA A10. ANOPROPOSTAS DE RESOLUO

    os lados, afinal de contas, partilhavam a mesma f. Quem ficaria a ganhar, e agradeceria aoOcidente, era o Islo

    2.1. Do sculo XI a XII, a Europa vai conhecer uma acentuada prosperidade econmica. Esta

    acontecer, antes de mais, no meio rural. No ano 1000, a Europa, pode dizer-se, no era um lugaraconselhvel a deslocaes. Na verdade, estava coberta por densas florestas bravias e animaisselvagens, em detrimento de terra cultivada. Nos trs sculos seguintes, os homens, beneficiandodo clima de paz e de bons anos climticos, desbravaram bosques, secaram pntanos, amanharambaldios, tudo transformando em reas propcias atividade agrcola. Os grandes arroteamentosde terras foram o resultado, no s da ao individual desses homens, mas tambm da aoconjunta de reis, senhores e ordens religiosas. A expanso da rea agrcola fez reanimarpovoaes que, desde as invases brbaras estavam adormecidas, para no dizer abandonadas.Este fenmeno tem o seu auge no sculo XIII. A juntar a esta descrio, temos de juntarconsiderveis avanos tcnicos como, por exemplo, o emprego cada vez mais comum deutenslios agrcolas como a charrua, a introduo da coelheira rgida, no gado cavalar, e da cangafrontal no gado bovino. Para alm disto, o afolhamento trienal veio permitir um melhoraproveitamento da terra, bem como a fertilizao das terras com a chamada marga e cinzas etambm a maior utilizao do estrume animal, que melhoraram os solos. O documento mostraalgumas destas alteraes como as secagens de rios, a construo de viveiros e,consequentemente, como forma de atrair camponeses, a edificao de habitaes e granjas, bemcomo alguns benefcios fiscais: () no obrigando os camponeses ao imposto mnimo que elesaqui pagavam (), estmulo para uma verdadeira expanso agrria.

    2.2. O grfico mostra-nos como, a partir do sculo X, a populao europeia comeou a aumentar,contrariando a tendncia de queda que se verificava desde o sculo III. Do ano 1000 a 1300, asubida verificada foi exponencial, coincidindo com o dese