17

SOMBRAS NA PAREDE

Embed Size (px)

DESCRIPTION

O romance aborda as atividades do Circo e do Teatro da época, assim como do Cinema que estava nascendo. No caminho para produzir o primeiro filme feito em Hollywood, os personagens se envolvem em situações dramáticas, cheias de aventura, amor e incertezas. Os leitores vão adorar conhecer o GOLDEN BROTHERS CIRCUS, o CINETEATRO HOLLYWOOD e os estúdios da BRADFORD PRODUÇÕES CINEMATOGRÁFICAS, que servem de cenário para a história de SOMBRAS NA PAREDE.

Citation preview

SOMBRAS NA PAREDE

Romance

São Paulo 2013

SOMBRAS NA PAREDE

Romance

Daniel de Carvalho

Copyright © 2013 by Editora Baraúna SE Ltda

CapaAF Capas

Projeto GráficoAline Benitez

Parecer LiterárioAna Carolina Nonato

RevisãoPriscila Loiola

CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTESINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ

________________________________________________________________C321s Carvalho, Daniel de Sombras na parede/ Daniel de Carvalho. - São Paulo: Baraúna, 2013. ISBN 978-85-7923-671-6 1. Romance brasileiro. I. Título.

13-0913. CDD: 869.93 CDU: 821.134.3(81)-3

14.02.13 15.02.13 042749 ________________________________________________________________

Impresso no BrasilPrinted in Brazil

DIREITOS CEDIDOS PARA ESTA EDIÇÃO À EDITORA BARAÚNA www.EditoraBarauna.com.br

Rua da Glória, 246 – 3º andarCEP 01510-000 – Liberdade – São Paulo - SP

Tel.: 11 3167.4261www.editorabarauna.com.br

Dedico este romance, Sombras na Parede, à minha querida e saudosa esposa Neusa.

Daniel de CarvalhoSetembro de 2012

Piracicaba - SP

7

1A fazenda dos Bradfords

Janeiro de 1894Condado de Santa AnnaCalifórnia - EUA

EM 1894, HOLLYWOOD AINDA não era a tão famosa “Cidade do Cinema”, pois as filmadoras e os pro-jetores cinematográficos não existiam. Somente no ano seguinte, em 1895, os irmãos Lumière iriam apresentar ao público o Cinematógrafo, que eles haviam recente-mente patenteado.

Nessa época, no pequeno Condado de Santa Anna, próximo de Hollywood, ficava a Fazenda dos Bradfords. Na manhã de uma sexta-feira, na casa da fazenda, seus moradores preparavam-se para mais um dia de trabalho.

8

Daniel de Carvalho

— Dick! Você está aí na sala? — chamou tia Maggi lá da cozinha.

— Estou aqui, tia!— Não está na hora de levar o leite para os fregueses?— Ainda não. Daqui a pouco eu vou.Maggi esperou mais um pouco. Como tudo con-

tinuava quieto na sala, resolveu ir até lá verificar o que Dick estava fazendo. Encontrou-o entretido com o gros-so dicionário do tio Ernest.

— Outra vez rabiscando os livros do seu tio?— Ele não se incomoda, tia!— Como não? O Ernest tem adoração pelos livros

dele. E você já rabiscou quase todos com essa mania de fazer desenhos nos cantos das páginas.

— O tio Ernest disse que eu posso fazer isto com todos os livros dele — respondeu Dick sem desviar os olhos das figurinhas que se movimentavam no canto das páginas do dicionário.

Maggi colocou as mãos na cintura e pôs-se a obser-var a distração do sobrinho. Era realmente interessante ver as figurinhas se movimentando agilmente enquanto Dick ia soltando as páginas presas pelo polegar.

— Você não está grande demais para esta brincadei-ra, Dick?

Dick não respondeu e continuou atento ao que estava fazendo. Só então Maggi percebeu que a peque-na Lucy também estava na sala observando o passa-tempo do irmão.

— Deixa ele, tia Maggi! Viu que gozado como as figurinhas se mexem?

9

Sombras na Parede

— É verdade — concordou Maggi. — Seu irmão tem muita habilidade, pois faz isso há muito tempo, mas ele está se tornando um homenzinho e precisa dar aten-ção às coisas de adulto. Além disso, os livros do Ernest já estão todos rabiscados. É uma pena.

Dick não era um menino de se envolver em polê-micas. Fechou o dicionário e, sorridente, disse que ia guardá-lo na estante e que logo em seguida levaria o leite para os fregueses.

— Eu vou com ele, tia! — disse Lucy.— É bom mesmo. Assim você ajuda seu irmão a não

se distrair no caminho. Você, com doze anos, tem mais juízo que ele, que vai fazer catorze.

Logo depois, acompanhado de Lucy, Dick conduzia a carroça lotada de garrafas com leite a caminho do cen-tro do Condado. Lucy olhava inquieta para o irmão.

— Você está querendo dizer alguma coisa? — per-guntou Dick sem distrair-se das rédeas.

— Eu? — disfarçou Lucy.Dick olhou-a de soslaio.— Você está querendo me contar alguma coisa. O

que é?— Não posso contar.— Por quê?— É segredo.Dick franziu a testa.— Segredo?— É. Se eu contar, a tia Maggi vai ficar zangada

comigo.

10

Daniel de Carvalho

— Então eu nunca vou saber que segredo é esse?— Acho que a tia Maggi vai te contar hoje à noite,

quando o tio Ernest chegar.— E como você sabe desse segredo?— Eu ouvi a tia Maggi conversando com o tio Er-

nest. Quando eles perceberam que eu estava lá, pediram que eu não te contasse.

— Me conta! Eu não digo que você me contou.— Então vou contar. A tia Maggi...

Antes de conhecermos o segredo que Lucy está re-velando ao irmão, vamos saber um pouco mais sobre os Bradfords. A fazenda da família Bradford, dedicada à produção de leite e derivados, pertencia aos irmãos Maggi e Ernest. O outro irmão, Benjamin, pai de Dick e Lucy, falecera havia alguns anos quando já era viúvo. Desde então, Maggi ficara encarregada de dirigir a fazen-da enquanto o fotógrafo Ernest, casado com Charlotte, dedicava todo seu tempo ao Photo Studio Bradford, loca-lizado no centro do Condado. Maggi, Ernest e Charlotte relacionavam-se muito bem e cuidavam com amor dos seus dois sobrinhos Dick e Lucy. Era uma família verda-deiramente feliz.

11

2O Golden Brothers Circus

Janeiro de 1894DenverColorado - EUA

O GRANDE GOLDEN BROTHERS CIRCUS acabara de fazer sua última apresentação em Denver, no Colorado. No dia seguinte, começariam os preparativos para prosseguir a turnê rumo à Califórnia. Desta vez, o circo partiria para Salt Lake City, em Utah.

Era tarde da noite e os espectadores já haviam se retirado. As luzes foram se apagando à medida que os artistas e funcionários iam se recolhendo aos seus trai-lers dormitórios. Às duas da manhã, uma última luz permanecia acesa no trailer de Billy Barney, o proprie-tário do circo.

12

Daniel de Carvalho

O trailer de Barney e de sua esposa Lita era o mais amplo de todos, o que era lógico por se tratar do dono do circo. Contudo, considerando que o trailer servia de residência do casal e de escritório de administração, era muito apertado e desconfortável.

No trailer, Barney, Lita e a sobrinha Mabel eram os únicos que ainda permaneciam acordados depois de um dia tão cansativo. Barney e Lita, auxiliados por Mabel, haviam terminado de contabilizar a renda da bilheteria. Embora estivessem exaustos, Barney pediu que elas espe-rassem mais alguns minutos antes de se recolherem, pois precisava comunicar uma importante decisão que havia tomado. Tomou uma dose de rum e depois se sentou num estrado de madeira com acolchoado que servia de cama para ele e a esposa. Então começou a falar:

— O circo está em más condições financeiras! — disse apontando para uma pequena caixa de ferro onde costumavam guardar a renda da bilheteria.

Lita e Mabel olharam preocupadas para Barney e sentaram-se de frente para ele nas cadeiras de lona.

— Há muito tempo que os nossos ganhos não co-brem os gastos — informou ele.

Dito isso, levantou-se do estrado, foi até um pequeno armário e serviu-se de uma segunda dose de rum. Depois, voltou a sentar-se. Tomar rum diariamente era um hábito que Barney possuía desde muito jovem, mas nunca tomara mais que uma dose no mesmo dia. Ter repetido a dose da bebida acentuou a preocupação de Lita e Mabel.

— A renda desta noite não foi a que esperáva-mos? — perguntou Lita.

13

Sombras na Parede

— A renda tem sido boa — respondeu Barney —, entretanto, os gastos estão cada vez maiores e nossas re-servas estão se esgotando. Se não fizermos alguma coisa, em breve não teremos como pagar aos artistas e aos traba-lhadores. Nem teremos como comprar alimentos para os animais. Além disso, cada vez que mudamos de cidade, temos os custos do transporte da Companhia, além de ficarmos por alguns dias sem faturar.

— Mas amanhã vamos começar os preparativos para nossa próxima viagem, não é, tio Barney? — perguntou a jovem Mabel.

— Quanto a essa viagem para Salt Lake City, já está tudo acertado — confirmou Barney. — Depois disso, co-meçarão as dificuldades para efetuar os pagamentos.

Por algum tempo, ficaram os três em silêncio.— Bem, você disse que tinha uma decisão para nos

comunicar. Que decisão é essa? — perguntou Lita.

Antes de conhecermos a resposta a essa pergunta, convém sabermos um pouco mais sobre a família Barney.

Lita casara-se muito cedo com Billy Barney, quando era uma jovem atriz de teatro itinerante. Desde então, ela passou a viver no circo ajudando o marido na administra-ção dos negócios e a cuidar dos filhos do falecido irmão mais velho de Barney. Como não tiveram filhos, Barney e Lita adotaram um menino.

A família Barney era, portanto, formada por sete pessoas: Billy Barney, Lita e Johny, o filho adotivo com seis anos, e os sobrinhos Burt, com vinte anos, Mabel, com dezessete, Kelly, com doze e Louise, com dez.

14

Daniel de Carvalho

Voltando à pergunta de Lita, Billy Barney não se sentia confortável para comunicar sua decisão. Entretan-to, não pôde deixar de fazê-lo:

— Inicialmente, vamos reduzir a variedade de atra-ções e tentar continuar com nossos espetáculos. Se não der resultado, teremos que encerrar as atividades do Gol-den Brothers Circus.

Lita e Mabel olharam incrédulas para Barney. Não podiam imaginar o circo encerrando suas atividades. Ma-bel e seus irmãos, assim como o próprio Barney, haviam nascido no circo e não conheciam a vida fora dele. Bar-ney levantou-se e fez menção de servir-se de mais uma dose de rum. Lita deixou imediatamente sua cadeira e impediu-o de encher novamente o copo.

— Não adianta você beber, Billy! Isso não vai resol-ver nossos problemas. Precisamos de você sóbrio.

Barney suspirou e devolveu a garrafa ao armário. Voltou a sentar-se na cama. Estava arrasado.

— Nós vamos encontrar uma solução, tio! — disse Mabel tentando animá-lo.

— Billy! — observou Lita. — Você é o palhaço mais famoso dos Estados Unidos. É também um grande doma-dor. Por isso o circo está sempre lotado. Todos querem vê-lo.

Os olhos de Barney brilharam.— Não só isso! Nossa família toda é excepcional nos

números circenses. Temos também bons artistas contra-tados trabalhando conosco. Nossos números são ótimos e o circo está sempre lotado.

— Então o que há de errado? — perguntou Mabel.

15

Sombras na Parede

— Como eu já disse, os custos estão cada vez mais altos. As despesas de transporte por ferrovia são altíssimas. Além disso, os mastros e a lona são muito antigos e estão desgastados. Precisamos substituí-los. Nossa renda de bi-lheteria é muito boa, mas não cobre todas essas despesas.

Já passava das três da madrugada quando Mabel dei-xou os tios e recolheu-se em seu trailer. Barney e Lita deitaram-se, mas antes de dormir, inconformada, Lita fez mais uma pergunta:

— Você acha mesmo que pode acontecer de termos que fechar o circo?

— Tudo depende das reduções que conseguirmos fa-zer nas despesas sem permitir que caiam muito a qualidade das apresentações e a procura de ingressos. Se não conse-guirmos tudo isso, teremos que encerrar as atividades.

— E se isso acontecer, o que vai ser de nós?Barney suspirou e não respondeu. Exausto, virou

para o lado e caiu em sono profundo.