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Quanto Custa o Brasil pra Você? www.quantocustaobrasil.com.br Página 1 de 41 Sonegação no Brasil – Uma Estimativa do Desvio da Arrecadação do Exercício de 2014 Sindicato Nacional dos Procuradores da Fazenda Nacional - SINPROFAZ Brasília/DF, março de 2015. RESUMO: A elevada carga tributária no Brasil é tema frequente de debates na sociedade, bem como a discussão quanto à sobrecarga suportada pelos contribuintes adimplentes em função da evasão tributária existente. A busca pela justiça fiscal pressupõe a observância da capacidade contributiva, mas também o efetivo combate à sonegação fiscal. Este estudo é uma atualização, com dados do exercício de 2014, do estudo da evasão fiscal do Brasil que foi publicado pelo Sinprofaz quando do lançamento do Sonegômetro em 05/06/2013, e intitulado “Sonegação no Brasil – Uma Estimativa do Desvio da Arrecadação”. Em 2014, também houve uma atualização do estudo com base na arrecadação de 2013. Os resultados indicaram que, mantendo todos os demais parâmetros constantes, a arrecadação tributária brasileira poderia se expandir em 23,6% caso fosse possível eliminar a evasão tributária cujo indicador médio para todos os tributos apontados neste trabalho foi da ordem de 8,6% do PIB. Na hipótese ainda de se extrapolar para todos os tributos a média dos indicadores de sonegação dos tributos que têm maior relevância para a arrecadação (ICMS, Imposto de Renda e Contribuições Previdenciárias) poder-se-ia estimar um indicador de sonegação de 27,6% da arrecadação (o mesmo do indicador de sonegação para o VAT em países da América Latina que foi de 27,6%). Com isso, a estimativa de sonegação iria de 8,7% para a 10,1% do PIB. Isso representaria uma perda de arrecadação de R$ 518,2 bilhões, levando-se em conta a estimativa de PIB do ano de 2014 . Tomando-se em consideração esse último indicador para a sonegação, poder-se-ia afirmar que se não houvesse evasão, o peso da carga tributária poderia ser reduzido em quase 30% e ainda manter o mesmo nível de arrecadação. Esses R$ 518,2 bilhões estimados de sonegação tributária são praticamente equivalentes a quase 90% de tudo que foi arrecadado pelos estados e municípios juntos, estimados em R$ 597,6 bilhões. Por fim, registra-se que o presente relatório não teve pretensão de esgotar o assunto e sim de fomentar a discussão sobre a justiça fiscal e sobre o ainda alarmante patamar de sonegação tributária no Brasil. Palavras-chave: sonegação; evasão fiscal; justiça fiscal.

Sonegação no Brasil

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Estudo do SINPROFAZ

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    Sonegao no Brasil Uma Estimativa do Desvio da Arrecadao do Exerccio de 2014 Sindicato Nacional dos Procuradores da Fazenda Nacional - SINPROFAZ

    Braslia/DF, maro de 2015.

    RESUMO: A elevada carga tributria no Brasil tema frequente de debates na

    sociedade, bem como a discusso quanto sobrecarga suportada pelos contribuintes

    adimplentes em funo da evaso tributria existente. A busca pela justia fiscal

    pressupe a observncia da capacidade contributiva, mas tambm o efetivo combate

    sonegao fiscal. Este estudo uma atualizao, com dados do exerccio de 2014, do

    estudo da evaso fiscal do Brasil que foi publicado pelo Sinprofaz quando do lanamento

    do Sonegmetro em 05/06/2013, e intitulado Sonegao no Brasil Uma Estimativa do

    Desvio da Arrecadao. Em 2014, tambm houve uma atualizao do estudo com base

    na arrecadao de 2013.

    Os resultados indicaram que, mantendo todos os demais parmetros constantes, a

    arrecadao tributria brasileira poderia se expandir em 23,6% caso fosse possvel

    eliminar a evaso tributria cujo indicador mdio para todos os tributos apontados neste

    trabalho foi da ordem de 8,6% do PIB.

    Na hiptese ainda de se extrapolar para todos os tributos a mdia dos indicadores

    de sonegao dos tributos que tm maior relevncia para a arrecadao (ICMS, Imposto

    de Renda e Contribuies Previdencirias) poder-se-ia estimar um indicador de sonegao

    de 27,6% da arrecadao (o mesmo do indicador de sonegao para o VAT em pases da

    Amrica Latina que foi de 27,6%). Com isso, a estimativa de sonegao iria de 8,7% para

    a 10,1% do PIB. Isso representaria uma perda de arrecadao de R$ 518,2 bilhes,

    levando-se em conta a estimativa de PIB do ano de 2014 . Tomando-se em considerao

    esse ltimo indicador para a sonegao, poder-se-ia afirmar que se no houvesse evaso,

    o peso da carga tributria poderia ser reduzido em quase 30% e ainda manter o mesmo

    nvel de arrecadao. Esses R$ 518,2 bilhes estimados de sonegao tributria so

    praticamente equivalentes a quase 90% de tudo que foi arrecadado pelos estados e

    municpios juntos, estimados em R$ 597,6 bilhes.

    Por fim, registra-se que o presente relatrio no teve pretenso de esgotar o

    assunto e sim de fomentar a discusso sobre a justia fiscal e sobre o ainda alarmante

    patamar de sonegao tributria no Brasil.

    Palavras-chave: sonegao; evaso fiscal; justia fiscal.

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    CONTEDO

    1 INTRODUO

    2 CARGA TRIBUTRIA NO BRASIL E NO MUNDO

    3 SONEGAO FISCAL: determinantes e estimativas - Racionalidade da sonegao fiscal:

    aspectos econmicos e culturais

    4 MODELO TERICO

    4.1 Metodologias de Estimao: caractersticas e dificuldades

    4.2 Reviso da Literatura: Caractersticas e Limitaes de Outros Estudos

    5 ESTIMAO

    5.1 Resultados Nacionais

    5.2 Outros Resultados no Brasil e no Mundo

    5.2.1 Estimativa de Hiato Tributrio no Reino Unido

    6 CONCLUSES

    7 BIBLIOGRAFIA

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    1 INTRODUO

    O presente estudo uma continuidade do trabalho desenvolvido pelo Sindicato

    Nacional dos Procuradores da Fazenda Nacional SINPROFAZ de aprofundar a

    discusso sobre a Justia Fiscal, sobre a carga tributria e sobre o relacionamento do

    Estado com o Cidado, tanto na perspectiva estado-fisco x cidado-contribuinte,

    quanto sob o prisma do estado-provedor x cidado-beneficirio de servios pblicos.

    O SINPROFAZ entende que a busca pela justia fiscal pressupe a observncia da

    capacidade contributiva, mas tambm o efetivo combate sonegao fiscal.

    Nesse sentido, esta uma atualizao, para o exerccio de 2014, da estimativa

    da evaso fiscal do Brasil que foi publicada pelo Sinprofaz pela primeira vez quando

    do lanamento do Sonegmetro em 05/06/2013, e intitulado Sonegao no Brasil

    Uma Estimativa do Desvio da Arrecadao. O primeiro estudo foi baseado em dados

    divulgados referentes ao exerccio de 2011. Em 2014, foi feita uma atualizao com

    dados de 2013, sendo alguns oficiais j publicados e outros ainda com estimativas de

    arrecadao. Agora, mais uma vez, o Sinprofaz faz atualizao utilizando os dados

    referentes ao exerccio de 2014, adotando a mesma metodologia do estudo anterior.

    Desde o surgimento dos Estados Nacionais, as demandas da sociedade em

    muito ultrapassaram a necessidade de segurana nacional. A proteo militar da

    sociedade, por si s, tornou- se incrivelmente onerosa com o avano tecnolgico,

    sempre ultrapassando a casa dos bilhes de dlares, no raro chegando aos trilhes

    nos oramentos dos pases lderes em tecnologia militar, como EUA e Rssia. Mas

    alm da proteo militar da sociedade, entraram no escopo de aes dos Estados a

    segurana pblica em geral, sade, educao, transporte coletivo, moradia, pesquisa,

    desenvolvimento e inovao tecnolgica, para ficar em uma breve lista. Tais itens

    demandam recursos significativos da sociedade, pois, afinal, todo direito tem custo

    (HOLMES, 1999).

    Efetivamente, ao longo do sculo 20, a maioria dos pases do mundo, se no todos, experimentaram aumento substancial da carga tributria. No caso do Brasil, segundo OLIVEIRA (2010), entre 1916 e 1920 a carga tributria brasileira era de 7% do PIB, enquanto que neste incio de sculo XXI se aproxima dos 40% do PIB. A elevada carga tributria e o intenso endividamento dos Estados fez surgir indicadores

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    simplificados que alertam a populao em geral sobre o comportamento das finanas pblicas como o "impostmetro" e o "debt clock"1.

    Se de um lado os cidados demandam dos respectivos Estados vrios servios

    coletivos, de outro, as pessoas jurdicas, fonte maior de gerao de riqueza nas

    economias capitalistas, demandam melhores condies para produzir, menos

    impostos e regras tributrias mais simples em particular. A presso competitiva, muitas

    vezes, induz sonegao. Mas no s isso.

    Quando a carga tributria muito alta e a probabilidade de detectar a

    sonegao baixa, economicamente racional para pessoas fsicas e jurdicas

    sonegarem. Elementos culturais interferem na frequncia e intensidade da sonegao,

    mas fato que a sonegao est presente em todas as sociedades. To presente que

    no raro o cidado se pergunta "onde esto aqueles bilhes sonegados?" (MURPHY,

    2008) e surgem demandas por indicadores simples de sonegao nos moldes dos

    indicadores de arrecadao e dvida pblica.

    Porm, dada a complexidade dos sistemas tributrios, do brasileiro em

    particular, conforme mostra OLIVEIRA (2010), construir tal indicador no algo to

    trivial. Estudiosos h muito se debruam na anlise dos mais variados aspectos das

    exaes tributrias. Existem no Brasil diversos trabalhos sobre os princpios

    constitucionais tributrios (razoabilidade, capacidade contributiva, etc.), sobre as

    obrigaes tributrias em geral, sobre os tributos em espcie, entre outros. Entretanto,

    pouco se tem estudado sobre as distores do sistema tributrio e em especial sobre

    a quantificao da receita pblica no realizada em virtude da sonegao.

    POLINSKY e SHAVELL (2008) ressaltam que so quatro as escolhas pblicas

    normalmente tomadas quanto represso aos transgressores das leis. A primeira

    escolha diz respeito ao tipo de pressuposto adotado pelo Estado para atribuir

    responsabilidade a determinado cidado pelo descumprimento de regra de Direito, se

    o pressuposto da responsabilidade objetiva ou se o fundamento da responsabilidade

    subjetiva. O segundo ponto a ser considerado se a sano ser monetria ou no

    monetria, ou se haver a mescla dos dois tipos de sano. A terceira escolha a ser

    feita, segundo os autores, diz respeito ao quantum da pena. E a quarta e no menos

    importante escolha pblica diz respeito probabilidade de detectar e de efetivamente

    1 http://www.impostometro.com.br/ , http://www.usdebtclock.org/

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    punir os transgressores. Esta ltima varivel est diretamente relacionada ao

    montante de recursos que o Estado est disposto a empregar para encontrar e

    efetivamente punir aqueles que descumprirem as leis.

    bem verdade que muitos Estados tm investido e sofisticado a estrutura de

    represso aos sonegadores de modo a aumentar a probabilidade de deteco dos

    casos de sonegao. Entretanto, apesar dos esforos, algum nvel de sonegao

    continua e continuar a existir em todos os pases, at porque o aparato estatal

    necessrio para descortinar cem por cento dos casos de sonegao seria to custoso

    que inviabilizaria o prprio sistema tributrio.

    O objetivo deste estudo estimar, com base em outros trabalhos j realizados,

    o nvel de desvio de arrecadao no Brasil decorrente da sonegao fiscal. A tarefa

    rdua, e este trabalho no tem inteno de exaurir a discusso, mas apenas pretende

    contribuir para a discusso, uma vez que limitado o nmero de estudos que tentam

    mensurar esse desvio e geralmente se concentram em um ou um pequeno grupo de

    tributos.

    2 CARGA TRIBUTRIA NO BRASIL E NO MUNDO

    A partir dos dados preliminares de arrecadao, estima-se que Carga Tributria

    Bruta brasileira (CTB) tenha atingido 36,6% do PIB, segundo dados publicados em

    dez/20142 pela Receita Federal do Brasil e por outros rgos. Na prpria definio de

    CTB da Receita Federal no clculo da Carga Tributria, busca-se aferir o fluxo de

    recursos financeiros direcionado da sociedade para o Estado que apresente

    caractersticas econmicas de tributo, independente de sua denominao ou natureza

    jurdica. Portanto, na anlise de pertinncia ou no de incluso de uma receita no

    cmputo da Carga Tributria Bruta (CTB), o juzo econmico prevalece sobre o

    jurdico. Em geral, consideram-se no clculo da CTB os pagamentos compulsrios

    2 Anlise da Arrecadao dos Tributos Federais. Receita Federal do Brasil. Dez/2014; Arrecadao do Salrio Educao (FNDE/Ministrio da Educao), Relatrio de Arrecada do FGTS (FGTS/Caixa), Boletim de Arrecadao

    Estadual (CONFAZ/Ministrio da Fazenda).

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    (definido em lei) realizados por pessoas fsicas e/ou jurdicas, inclusive as de direito

    pblico, para o Estado, excluindo-se aqueles que configurem sano, penalidade ou

    outros acrscimos legais.

    Em relao distribuio por esfera administrativa, o Governo Federal ficou

    com 68,2% do total da arrecadao, enquanto os estados ficaram com 25,8% e os

    municpios com 6,0%, conforme Tabela 1.

    Tabela 1 Tributos por Esfera (R$ em milhes)

    O detalhamento da carga tributria pelas principais bases de incidncia para o

    exerccio de 2014 ainda no foi divulgada, mas utilizando-se os dados oficiais para o

    exerccio de 2013, pode-se perceber que os tributos sobre bens e servios respondem

    por mais da metade do total (51,3%), seguidos pelos tributos sobre a folha de salrios

    (25,0%) e sobre a renda (18,1%). Somados, eles responderam por 94,4% da carga

    tributria total. Em relao ao exerccio de 2012 houve pouca variao nas

    participaes dos tributos por base de incidncia. A Tabela 2 traz o detalhamento aqui

    mencionado.

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    Tabela 2 Tributos por Base de Incidncia - 2013 (R$ em milhes)

    Na comparao com outros pases da Amrica Latina, possvel notar

    algumas diferenas, tanto na composio da carga tributria conforme sua base de

    incidncia, como no seu montante em relao ao PIB. Entretanto, preciso que se

    faa uma ressalva quanto comparao entre a composio das cargas tributrias

    dos pases, pois alguns tipos de tributos podem predominar em alguns pases e em

    outros, no. o caso das contribuies relacionadas previdncia social estatal que

    tm considervel importncia na composio da carga tributria do Brasil, mas que

    so pouco representativas naqueles pases em que a previdncia

    predominantemente privada.

    No tocante base de incidncia, a tabela a seguir demonstra que o Brasil teve

    uma participao da Seguridade Social acima da mdia dos pases da Amrica Latina

    e maior tambm do que os sete pases listados na anlise. Por outro lado, a

    participao de tributos sobre a renda menor do que a mdia dos pases da regio,

    sendo maior apenas que da Argentina. Os impostos sobre Bens e Servios

    representam em mdia, nos pases da Amrica Latina, quase metade da carga

    tributria. Nos pases listados, a nica exceo foi o Mxico.

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    Tabela 3 Estrutura Tributria por Base de Incidncia: Percentual do Total

    No tocante ao montante da carga tributria em relao ao PIB, o Brasil mostra

    um perfil diferente da maioria dos pases da Amrica Latina. Enquanto que, em mdia,

    os tributos equivalem a aproximadamente um quinto do PIB (18,6%), no Brasil esse

    indicador quase o dobro, chegando a 34,3% do PIB para 2007 (36,6% a estimativa

    para 2014). Dos pases relacionados, a Argentina, com 29% do PIB, o nico pas

    que tem uma carga mais prxima da brasileira, conforme tabela a seguir.

    Tabela 4 Carga Tributria por Base de Incidncia e como Percentual do PIB

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    Como os tributos tm a finalidade de fornecer recursos para que o Estado atue

    fornecendo bens e servios pblicos, visando melhoria das condies de vida de sua

    populao, seria razovel fazer comparao entre a arrecadao e os servios

    prestados. Para isso, foi utilizado o ndice de Desenvolvimento Humano IDH3 como

    medida indicativa de resultado dos bens e servios prestados pelo Estado,

    comparando-a com a carga tributria dos mesmos pases mencionados acima. A

    tabela abaixo demonstra essa relao.

    3 O stio oficial do Programa das Naes Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) resume em linguagem simples o que vem a ser o ndice de Desenvolvimento Humano IDH: O objetivo da criao do ndice de Desenvolvimento Humano foi o de oferecer um contraponto a outro indicador muito utilizado, o Produto Interno Bruto (PIB) per capita, que considera apenas a dimenso econmica do desenvolvimento. Criado por Mahbub ul Haq com a colaborao do economista indiano Amartya Sen, ganhador do Prmio Nobel de Economia de 1998, o IDH pretende ser uma medida geral, sinttica, do desenvolvimento humano. Apesar de ampliar a perspectiva sobre o desenvolvimento humano, o IDH no abrange todos os aspectos de desenvolvimento e no uma representao da "felicidade" das pessoas, nem indica "o melhor lugar no mundo para se viver". Democracia, participao, equidade, sustentabilidade so outros dos muitos aspectos do desenvolvimento humano que no so contemplados no IDH. O IDH tem o grande mrito de sintetizar a compreenso do tema e ampliar e fomentar o debate. Desde 2010, quando o Relatrio de Desenvolvimento Humano completou 20 anos, novas metodologias foram incorporadas para o clculo do IDH. Atualmente, os trs pilares que constituem o IDH (sade, educao e renda) so mensurados da seguinte forma: Uma vida longa e saudvel (sade) medida pela expectativa de vida; O acesso ao conhecimento (educao) medido por: i) mdia de anos de educao de adultos, que o nmero mdio de anos de educao recebidos durante a vida por pessoas a partir de 25 anos; e ii) a expectativa de anos de escolaridade para crianas na idade de iniciar a vida escolar, que o nmero total de anos de escolaridade que um criana na idade de iniciar a vida escolar pode esperar receber se os padres prevalecentes de taxas de matrculas especficas por idade permanecerem os mesmos durante a vida da criana; E o padro de vida (renda) medido pela Renda Nacional Bruta (RNB) per capita expressa em poder de paridade de compra (PPP) constante, em dlar, tendo 2005 como ano de referncia. (Disponvel em: http://www.pnud.org.br/idh)

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    Tabela 5 Carga Tributria vs IDH

    Pode-se notar que muitos pases, inobstante menor carga tributria, tm IDH

    mais elevado. O grfico a seguir, baseado na tabela anterior, bem ilustrativo dessa

    relao.

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    Grfico 1

    possvel notar que o Brasil diverge da tendncia dos demais pases da

    regio, com alta carga tributria, pois apesar da alta carga tributria possui baixo IDH.

    Pases com IDH semelhante tm aproximadamente metade da carga tributria do

    Brasil. A Argentina a que tem carga tributria mais prxima do Brasil, mas possui

    IDH maior.

    Fazendo-se a mesma comparao com outros pases, esta relao perversa

    para o caso brasileiro fica ainda mais evidente. De uma lista de 28 pases, o Brasil tem

    a 16 maior carga tributria, mas a 27 colocao em IDH. Com isso, o Brasil fica

    apenas frente da Turquia, mas enquanto a carga tributria brasileira avaliada

    poca era de cerca de 35%, a turca era de 25%, ou seja, quase um tero menor.

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    Tabela 6 Carga Tributria vs IDH

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    No grfico a seguir, com dados da tabela anterior, o distanciamento do Brasil

    em relao aos demais pases fica ainda mais evidente. vlido destacar que existe

    uma tendncia de relao proporcional entre carga tributria e IDH, relao

    apresentada pela maior parte dos pases, mas o Brasil apresenta resultado bem

    diferente.

    Grfico 2

    Pode-se afirmar que esse panorama mais um fator de desincentivo ao

    adimplemento tributrio no Brasil, o que faz com que o investimento no aparato de

    fiscalizao e recuperao de tributos seja ainda mais necessrio no combate

    sonegao no Brasil.

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    3 SONEGAO FISCAL: DETERMINANTES E ESTIMATIVAS RACIONALIDADE DA SONEGAO FISCAL: ASPECTOS ECONMICOS E CULTURAIS

    Quando a carga tributria muito alta e a probabilidade de detectar a

    sonegao baixa, economicamente racional para pessoas fsicas e jurdicas

    sonegarem (ALLINGHAM e SANDMO (1972); ENGEL e HINES Jr (2000)). Elementos

    culturais interferem na frequncia e intensidade da sonegao, mas fato que a

    sonegao est presente em todas as sociedades.

    SLEMORD (2007) alerta que estamos enganando a ns mesmos, quando se

    trata de sonegao e correlatos, ao revisar o que se sabia at ento sobre a

    magnitude, natureza e determinantes da evaso fiscal, particularmente para os EUA. A

    literatura registra que sonegar no novidade pelo menos desde o Imprio Romano, e

    que os valores sonegados so sempre substancialmente elevados. Entre os

    determinantes da sonegao, os valores de uma sociedade so sempre o elemento

    catalizador do comportamento sonegador. Em algumas sociedades, como as nrdicas,

    os cidados sentem orgulho em pagar tributos e a informalidade baixa, como indica

    as estimativas para pases da OCDE; mas para a Amrica Central e do Sul, as

    estimativas indicam informalidade quase 3 vezes maior (AHMED e RIDER, 2008),

    conforme tabela abaixo.

    Tabela 7 Economia Informal no Mundo (2005)

    O tamanho do governo tambm influencia a sonegao. Na medida em que o

    Estado cresce, e junto com ele a carga tributria, tentativas de enganar o fisco se

    tornam mais tolerveis, e a confiana no governo tende a diminuir. Sendo a

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    honestidade tributria, por vezes, considerada uma "honestidade patolgica"

    (SLEMORD, 2002).

    Vrias tentativas de obter evidncia emprica para os determinantes no

    econmicos da tributao foram feitas, via de regra, usando dados do World Value

    Survey (WVS). TORGLER (2006) analisou a relao entre religiosidade e moralidade

    fiscal. Os microdados referentes a indivduos de 30 pases sobre educao religiosa,

    sobre frequncia s igrejas, sobre organizao religiosa, percepo da religiosidade,

    entre outros, levaram o mencionado autor a concluir que h relao positiva entre

    religiosidade e moralidade fiscal.

    Nesta linha de raciocnio, RICHARDSON (2006) analisa tambm dados do

    WVS para 45 pases e conclui que elementos no econmicos tm forte impacto na

    evaso fiscal. Em particular, a complexidade do sistema tributrio. Alm disso, nvel

    educacional (escolaridade), fonte de renda, sentimento de justia e moralidade fiscal.

    Quanto menor a complexidade e quanto maior a educao, servios como fonte de

    renda, sentimento de justia e a moralidade fiscal; menor a sonegao.

    4 MODELO TERICO

    4.1 Metodologias de Estimao: caractersticas e dificuldades

    A mensurao da evaso fiscal, tanto no Brasil, quanto nos outros pases,

    repleta de complicaes e dificuldades. A maior delas se refere aos dados disponveis

    e a sua baixa confiabilidade.

    Vrios mtodos tm sido usados em todo o mundo para a estimao,

    sobretudo, da evaso. Alguns deles tentam medir de forma direta e outros de forma

    indireta. Entre os mtodos diretos podemos citar os que se utilizam de: 1) contas

    nacionais, 2) controles diretos; 3) pesquisas de oramento domiciliar; 4) pesquisa de

    comportamento do contribuinte. Os mtodos indiretos esto geralmente associados

    estimativa da economia informal, que uma vez estimada, associada sonegao

    fiscal.

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    A seguir so descritas as caractersticas dos principais mtodos:

    a) Contas Nacionais:

    Talvez o mais comum e mais utilizado mtodo de mensurao da taxa

    de evaso fiscal. Ele adota a comparao entre a estimativa de receita

    feita pelas autoridades de contabilidade nacional com o montante

    efetivamente arrecadado. A diferena entre o montante arrecadado e a

    receita estimada daria a indicao, consoante esse mtodo, da receita

    no declarada. Se a alquota do imposto for fixa, pode-se estimar

    diretamente a evaso, caso contrrio, seria necessrio ainda considerar

    nas declaraes as vrias isenes e dedues.

    b) Mtodo por Amostragem:

    Este mtodo consiste em gerar uma amostra aleatria dos contribuintes

    e atribuir a toda populao a evaso fiscal da amostra. Nos EUA a

    ltima estimativa foi feita em 2006 e publicada em 2012. Elas so feitas

    a cada 5 anos aproximadamente, pois levam anos para serem

    analisadas e comparadas com dados de outros rgos. A taxa de

    evaso foi estimada em 20%, sendo que desse total, 66% eram

    indivduos, 16% empresas e 18% outros. Entretanto, este mtodo mede

    apenas a tributao sobre a renda, mas no mensura a tributao sobre

    o consumo, que muito relevante no Brasil, pas foco deste estudo.

    c) Pesquisa Direta com os Contribuintes:

    Alguns pases, especialmente os nrdicos, se utilizam da pesquisa

    direta com os contribuintes. Ela consiste em escolher uma amostra

    aleatria de contribuintes e pedi- los, entre outras coisas, para

    descreverem seu comportamento com relao ao pagamento de

    impostos. Este mtodo sofre uma srie de crticas, que vo desde a

    possibilidade de os indivduos no se lembrarem de seu comportamento

    passado, at dvida sobre o fato de esses contribuintes estarem

    realmente dispostos a fornecer informaes precisas sobre a questo.

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    Assim, provvel que os dados obtidos por este mtodo sejam

    subestimados.

    d) Mtodo da Pesquisa de Oramento:

    baseado nas pesquisas de oramento familiar, que mostram a relao

    entre os gastos familiares e suas rendas declaradas. Quando h um

    gasto superior renda, h suspeita de evaso. Entretanto, o gasto pode

    ser influenciado por outros fatores como riqueza acumulada,

    emprstimos e outras diferenas. Esses resultados no so muito

    confiveis e podem fornecer apenas uma ordem de grandeza da

    evaso.

    e) Mtodo Indireto:

    Mtodo essencialmente relacionado quantificao da economia

    informal ou submersa. A utilizao dos indicadores da economia

    informal para determinar indicador de evaso fiscal apresenta diversas

    dificuldades, dentre elas o fato de que grande parcela dos indivduos

    que est margem do sistema tributrio em decorrncia da

    informalidade desenvolve atividade cujo nvel de renda estaria

    albergada por iseno, ou ainda, no leva em conta a evaso fiscal

    promovida pelas pessoas fsicas e jurdicas que exercem atividade

    formalizadas.

    Como visto, todos os mtodos de mensurao da evaso fiscal apresentam

    suas dificuldades. Estimar a taxa de sonegao no Brasil apresenta ainda outro

    grande problema que a dificuldade de obteno de informaes de todas as esferas

    de governo, sobretudo das administraes estaduais e municipais, j que se tem 26

    estados e o Distrito Federal e mais de 5 mil municpios, em diversos estgios de

    desenvolvimento institucional.

    4.2 REVISO DA LITERATURA: CARACTERSTICAS E LIMITAES DE OUTROS ESTUDOS

    Vrios estudos foram consultados e serviram de base de pesquisa para a

    elaborao deste trabalho. Cada um deles tem caractersticas prprias, como escopo,

  • Quanto Custa o Brasil pra Voc? www.quantocustaobrasil.com.br Pgina 18 de 41

    tipo de tributo analisado, metodologia adotada, limitaes de sua metodologia, etc. A

    seguir sero comentados os estudos considerados mais relevantes, entre todos

    levados em considerao neste trabalho.

    a) SIQUEIRA (2006). Evaso fiscal do imposto sobre a renda: uma anlise do

    comportamento do contribuinte ante o sistema impositivo brasileiro.

    O ponto central desse trabalho explicar como o comportamento do

    contribuinte afeta o nvel de evaso do Imposto de Renda da Pessoa Fsica (IRPF),

    por meio da expanso do modelo de Allingham e Sandmo (1972).

    O modelo proposto por eles descreve a evaso do imposto sobre a renda como

    um processo de tomada de deciso de portflio, utilizando a teoria da utilidade

    esperada desenvolvida por von Neumann e Morgenstern. Nesse sentido, supem que

    um contribuinte racional representativo considera a renda omitida (ou a evaso da

    renda) um ativo de risco, que depende da possibilidade de deteco da omisso e de

    sua consequente punio e, a partir de ento, maximiza uma funo de utilidade

    esperada.

    Para testar o modelo proposto, o mencionado autor utilizou alguns indicadores

    que se baseavam em dados como: 1) nmero total de declaraes auditadas (Malha);

    2) nmero total de contribuintes apenas fiscalizados; 3) nmero total de contribuintes

    em Malha e fiscalizados.

    Entretanto, indicadores como esses possuem algumas limitaes, que devem

    ser consideradas e ponderadas para possveis extrapolaes dos resultados da

    experincia para o universo dos contribuintes. O prprio autor enumera as seguintes:

    1. o critrio de seleo dos contribuintes pode estar viesado por indcios

    prvios de sonegao e at mesmo por denncias, j que os resultados

    relativos renda no-declarada se referem, to somente, aos contribuintes

    fiscalizados pela Secretaria da Receita Federal - SRF;

    2. outra restrio que se enfrenta que as estimativas baseadas em dados

    da Secretaria da Receita Federal - SRF relacionam-se somente aos

    declarantes, no trazendo quaisquer informaes sobre os no-

    declarantes. Conforme observou Franzoni (1999), os no-declarantes so

  • Quanto Custa o Brasil pra Voc? www.quantocustaobrasil.com.br Pgina 19 de 41

    parte importante da atividade sonegadora e desconsider-los pode

    enviesar tais estimativas;

    3. sabe-se que as auditorias fiscais tm uma capacidade limitada de detectar

    a evaso, especialmente em relao s rendas dos autnomos e daqueles

    que realizam somente operaes em dinheiro; assim, em alguns casos, os

    valores evadidos podem ser um pouco maiores que os estimados com

    base somente nas auditorias;

    4. por ltimo, deve ser ressaltado que estudos baseados em pesquisas

    amostrais enfrentam diversos problemas. Entre eles, o mais importante

    que os resultados dependem crucialmente da representatividade da

    amostra e de eventuais vieses de seleo.

    Do estudo em referncia foi utilizada neste relatrio a estimativa de evaso do

    Imposto de Renda de Pessoa Fsica - IRPF, que foi de 34,09%, a partir de dados de

    1998 (declarao do exerccio de 1999).

    b) PAES (2011). O Hiato Tributrio do Imposto sobre Produtos Industrializados

    Evidncias Setoriais

    Neste artigo o autor analisou o hiato tributrio do IPI partindo de uma fonte

    altamente desagregada, a PIA Produto4, e de informaes detalhadas da legislao

    do IPI, para obter estimativas do hiato por setor econmico no perodo entre 2001 e

    2007.

    Primeiramente, o autor calculou a alquota mdia esperada de IPI para cada

    setor. Depois, j de posse de tais alquotas setoriais, ele fez ajustes pertinentes para o

    clculo da arrecadao legal, que a arrecadao esperada obtida ao se aplicar as

    alquotas mdias legais sobre a base do imposto. Neste segundo momento, so

    tambm considerados os crditos tributrios do IPI na aquisio de insumos, os

    benefcios da Zona Franca de Manaus, bem como isenes e imunidades divulgadas

    4 Pesquisa Industrial Anual de Produto - PIA-Produto. O IBGE traz os seguintes esclarecimentos quanto ao ndice: As informaes coletadas referem-se aos valores de vendas e s quantidades produzidas e vendidas dos produtos e servios industriais prestados por cerca de 40.000 empresas. A pesquisa organizada segundo as categorias de atividades definidas na Classificao Nacional de Atividades Econmicas - CNAE, assim como todas as pesquisas econmicas implantadas a partir de 1996. O registro da informao de produtos e servios se d, na PIA-Produto, atravs de uma lista de produtos e servios preestabelecida, a Lista de Bens e Servios Industriais - PRODLIST, referncia bsica para os levantamentos da produo nacional. (Disponvel em: http:// www.ibge.gov.br/ questionarios/leiame_pia_prod.html)

  • Quanto Custa o Brasil pra Voc? www.quantocustaobrasil.com.br Pgina 20 de 41

    pela Receita Federal do Brasil (RFB). Finalmente, calcula-se o hiato tributrio, que a

    arrecadao legal esperada deduzida da arrecadao realizada.

    Destaque-se que o hiato tributrio no significa necessariamente a presena de

    sonegao, embora esta possa vir a ser um dos seus principais componentes.

    Segundo o mencionado autor setores em que a presena de benefcios fiscais

    significativa e cujos benefcios so particularmente difceis de serem mensurados,

    podem apresentar hiatos maiores, devido dificuldade de se calcular as estimativas

    do tamanho de tais benefcios. Alm disso, fatores como a informalidade e a

    visibilidade do setor para a fiscalizao tambm podem contribuir para o hiato

    tributrio. Claramente o hiato tributrio o resultado de um conjunto de fatores

    complexos, relacionados a aspectos institucionais, legais e culturais.

    Os percentuais de hiato tributrio ou tax gap encontrado nesse estudo foram

    adotados, a ttulo de simplificao para o trabalho que ora se apresenta, como

    percentual de sonegao de IPI, tendo sido feita uma mdia ponderada de todos os

    indicadores encontrados nos anos avaliados pelo trabalho, chegando-se a um

    percentual de 33,4%.

    c) SABAINI e JIMNEZ (2011). "Tax structure and tax evasion in Latin America"

    Esse artigo estuda a estrutura tributria de alguns pases da Amrica Latina,

    mostrando a sua evoluo ao longo do tempo, o contexto histrico e os seus efeitos

    sobre o consumo e a renda. Ele demonstra a grande importncia dos IVA (Imposto

    sobre Valor Agregado ou VAT Value Added Tax) na arrecadao desses pases,

    seguido do Imposto de Renda, que nesses pases tem foco principal nas empresas.

    Os mencionados autores mostram que, apesar da diversidade, os sistemas tributrios

    da grande maioria dos pases da Amrica Latina dividem algumas caractersticas

    relevantes: a composio das suas estruturas tributrias; as restries tcnicas,

    econmicas, polticas e administrativas que eles enfrentam; tendncias de polticas

    tributrias e administrativas; e um elevado indicador de sonegao.

    Segundo seus prprios autores, os objetivos do trabalho so:

  • Quanto Custa o Brasil pra Voc? www.quantocustaobrasil.com.br Pgina 21 de 41

    1. Estudar a evoluo e as maiores caractersticas do nvel tpico e estrutura

    de tributao na regio nos ltimos 20 anos, identificando importantes

    diferenas entre os pases da regio que permita seu agrupamento;

    2. Destacar os principais obstculos e restries que a maioria dos pases

    tem encontrado na tentativa de aumentar suas receitas e modificar as suas

    estruturas

    3. Detalhar as principais polticas adotadas pelos pases nos anos recentes;

    4. Analisar os vrios aspectos da evaso, como os mtodos de estimao, as

    informaes disponveis, as informaes em casos especficos onde tenha

    havido progresso significante na mensurao;

    5. Analisar as estratgias implementadas para aumentar a coleta dos

    principais tributos, bem como os indicadores de desempenho.

    A estimativa de evaso fiscal do estudo feita com base no VAT e no Imposto

    de Renda de Pessoa Fsica e Jurdica de alguns pases da Amrica Latina. Entretanto,

    ao se analisar as estimativas deve-se ter cautela, pois o processo de estimao

    encontra uma srie de dificuldades. Em geral, no encontram grandes diferenas

    metodolgicas na estimativa da evaso de imposto de renda das empresas. Em regra,

    elas partem da explorao das contas nacionais, com alguns ajustes, por problemas

    de disponibilidade e qualidade de informaes. Quanto ao imposto de renda de

    pessoa fsica, partem de pesquisa de oramento familiar ajustados segundo as contas

    nacionais. Este tipo de pesquisa limitado, pois os entrevistados tendem a sub-

    declararem sua renda ou no report-las. Outra dificuldade a definio da base de

    imposto tributvel e da quantidade de tratamentos especiais e dedues. Quanto ao

    VAT, o mtodo mais comum fazer a estimativa pelas contas nacionais e comparar

    com a taxa efetiva. Entretanto, a preciso da estimativa depende da confiabilidade dos

    dados, que podem ser afetados por uma grande gama de regimes especiais e

    isenes.

    Desse trabalho foi utilizado o parmetro de evaso de VAT como um balizador

    em relao estimativa do VAT brasileiro, construdo neste estudo a partir dos

    indicadores conjuntos do IPI, ICMS e ISS, sendo que a estimativa de sonegao para

    cada um desses tributos se baseou em estudos do IBPT (2009) e Paes (2011).

    d) AMARAL, OLENIKE, AMARAL & STEINBRUCH (2009): Estudo sobre a Sonegao

    Fiscal das Empresas Brasileira, IBPT.

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    O objetivo desse estudo, segundo seus prprios autores, estimar o montante

    de tributos sonegados pelas empresas no Brasil, bem como o indicador de sonegao

    por setores e por tributos.

    A base de dados utilizada foram os balanos de fiscalizao da Receita

    Federal do Brasil, do Instituto Nacional do Seguro Social INSS, das Secretarias de

    Fazenda dos Estados, e das Secretarias de Finanas das Capitais.

    Nesse estudo foram analisados 9.925 autos de infrao lavrados contra

    empresas de todos os portes, sendo que em 26,84% dos casos existiam fortes indcios

    de sonegao.

    importante registrar que a utilizao dos resultados deste tipo de estudo, ou

    seja de estudos baseados em autos de infrao deve ser feito com alguma cautela,

    pois os dados podem ser tendenciosos por conta da amostra enviesada (sem

    considerar os casos em que a sonegao no foi descoberta) . Geralmente os rgos

    fiscalizadores no fazem uma escolha aleatria das empresas a serem auditadas. O

    mais comum que eles adotem algum critrio indicativo de evaso para selecionar as

    empresas ou a fiscalizao decorra de denncia.

    Das concluses desse trabalho foram extrados parmetros para estimar a

    evaso de diversos tributos, sobretudo queles incidentes sobre as empresas, entre

    eles o ICMS.

    4.3 MODELO PROPOSTO E METODOLOGIA ADOTADA

    Conforme j abordado anteriormente, a literatura sobre mensurao da

    sonegao fiscal bastante escassa em todo o mundo e, sobretudo, no Brasil. Os

    poucos estudos existentes abordam um tributo ou um pequeno grupo deles. Cada um

    desses estudos adota uma metodologia prpria, de acordo com a disponibilidade de

    dados. A escassez de dados e a sua baixa confiabilidade esto entre os maiores

    desafios a serem enfrentados por aqueles que se propem a estimar a evaso fiscal.

    A diversidade de regimes especiais de tributao e de benefcios fiscais torna ainda

    mais complexa a estimao.

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    A comparao entre pases tambm outro desafio, pois alm das dificuldades

    mencionadas, deve-se levar em considerao ainda as especificidades dos sistemas

    tributrios de cada pas. Neste trabalho, optou-se, ento, por adotar um modelo que

    reunisse os indicadores encontrados em outros estudos, para cada tipo de tributo, com

    o fim de estimar um indicador mdio provvel da sonegao no Brasil. claro que

    cada um dos estudos tem as suas prprias limitaes decorrentes das metodologias

    adotadas e da disponibilidade de dados, conforme j abordado anteriormente, mas

    esta foi a maneira de se ter uma estimao mdia do patamar de sonegao no Brasil.

    No obstante a existncia de limitaes metodolgicas, o presente estudo tem

    como inspirao a patente necessidade de aprofundamento da discusso sobre a

    Justia Fiscal, a carga tributria e o relacionamento do Estado com o Cidado, tanto

    na perspectiva estado-fisco x cidado-contribuinte, quanto na perspectiva estado-

    provedor x cidado-beneficirio de servios pblicos.

    5 ESTIMAO

    5.1 RESULTADOS NACIONAIS

    O indicador percentual de evaso para o conjunto de tributos brasileiros foi

    encontrado a partir do cruzamento e ponderao dos dados da arrecadao dos

    tributos brasileiros com os indicadores de evaso encontrados em outros estudos.

    Assim, quanto arrecadao, foram utilizados o relatrio Anlise da Arrecadao de

    Receitas Federais de 2014 publicado pela Receita Federal do Brasil (RFB) em

    dezembro de 2014, que representou 60% do total da carga tributria e ainda

    informaes de outros rgos5, como os dados de arrecadao do FGTS informado

    pela Caixa Econmica Federal; do Salrio Educao, informado pela Fundo Nacional

    de Desenvolvimento do Ensino FNDE (Ministrio da Educao); da arrecadao dos

    tributos estaduais, informado pelo boletim de arrecadao estaduais do CONFAZ

    (Ministrio da Fazenda). J os indicadores de evaso por tipo de tributo, foram

    5 Anlise da Arrecadao das Receitas Federais 2013 - Anlise por Tributos e Base de Incidncia. Receita Federal do Brasil. Dez/2014; Arrecadao do Salrio Educao (FNDE/Ministrio da Educao), Relatrio de Arrecada do FGTS (FGTS/Caixa), Boletim de Arrecadao Estadual (CONFAZ/Ministrio da Fazenda).

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    extrados de outros estudos como SIQUEIRA (2006), PAES (2011) e IBPT (2009). O

    detalhamento pode ser verificado na tabela a seguir.

    Tabela 8 Parmetros para Estimativa de Sonegao

    Apesar de haver no Brasil algumas dezenas de tributos, os 13 detalhados na

    tabela acima somaram 89,1% do total estimado para a arrecadao tributria no ano

    de 2014, enquanto os demais (linha outros) somaram apenas 10,9%. Devido a sua

    grande representatividade para o total dos tributos, apenas o primeiro conjunto de

    tributos foi utilizado para as estimaes deste trabalho.

    O cruzamento dos indicadores dos estudos adotados neste trabalho com o

    respectivo montante estimado de tributos resultou em um indicador estimado mdio de

    evaso de 23,6% da arrecadao, que equivale a R$ 443,9 bilhes ou 8,6% do PIB de

    2014. Em relao ao exerccio de 2013, j atualizado com dados oficiais, houve um

    incremento no montante estimado de evaso de R$ 23,4 bilhes.

    5.2 OUTROS RESULTADOS NO BRASIL E EM OUTROS PASES

    O presente estudo, como j versado, busca contribuir para a estimao

    da sonegao tributria para todo o conjunto de tributos no Brasil tomando

    como base os estudos existentes, inobstante as diferenas de metodologia e

    premissas e as limitaes de representatividade respectivas.

    Devido s diferentes estruturas tributrias dos pases difcil obter

    parmetros internacionais para comparao desses sistemas. Mais raro ainda

    so estudos que apresentem estimativas das taxas de evaso em diversos

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    pases com relao a tributos que apresentem base de clculo e hipteses de

    incidncia semelhantes.

    Os tributos com caractersticas semelhantes sobre os quais foram

    obtidas estimativas de evaso fiscal se referem ao Imposto de Renda e ao

    Imposto sobre Valor Adicionado (Value Added Tax VAT). Com base no

    estudo de Jimnez e Sabaini (2012) sobre a evaso para Imposto de Renda e

    VAT foi possvel fazer uma comparao entre os dados informados por aqueles

    autores e a estimativa adotada neste estudo. Com base na tabela de estimativa

    de evaso fiscal no Brasil, apresentada no tpico anterior, a evaso

    relacionada ao Imposto de Renda seria de 28,0%.

    O VAT, por sua vez, presente em diversos pases, um imposto que

    incide sobre a despesa ou consumo e tributa o "valor agregado" nas

    transaes efetuadas pelo contribuinte. No Brasil, pode-se afirmar, a grosso

    modo, que o correspondente a este imposto est dividido em trs impostos: IPI

    (imposto sobre produtos industrializados), de competncia da Unio; ICMS

    (imposto sobre operaes relativas circulao de mercadorias e sobre

    prestaes de servios de transporte interestadual, intermunicipal e de

    comunicao), de competncia dos estados e do DF; e ISSQN ou ISS (imposto

    sobre servios de qualquer natureza, com exceo dos impostos

    compreendidos em Circulao de Mercadorias), de competncia dos

    Municpios e tambm do Distrito Federal.

    A tabela a seguir demonstra que os tributos que corresponderiam ao

    VAT no Brasil so responsveis por quase 27,3% da carga tributria total e

    teriam segundo estimativa apresentada no tpico anterior um indicador de

    sonegao da ordem de 27,5%. Este indicador de evaso o mesmo apontado

    como mdia para a alguns pases selecionados da Amrica Latina no estudo

    de Sabaini e Jimnez (2012).

    Tabela 9 Estimativa de Sonegao Tributria para VAT

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    O indicador de evaso para o VAT no caso brasileiro estimado neste

    estudo em 27,5%, praticamente o mesmo dos dois estudos anteriores em

    funo da pouca mudana na participao percentual desses tributos em

    perodos to curtos. Para 2014 os tributos de VAT equivaleram a 2,7% do PIB.

    Seu resultado muito influenciado pela estimativa do indicador de sonegao

    para o ICMS, uma vez que este tributo representa aproximadamente 80% do

    valor que poderia ser atribudo ao conjunto de tributos brasileiros equivalentes

    ao VAT.

    A seguir, apresenta-se tabela com a comparao da estimativa de

    evaso de Imposto de Renda e VAT de alguns pases da Amrica Latina com

    os estimados para o Brasil.

    Tabela 10 - Sonegao do Imposto de Renda e VAT - Amrica Latina

    Na tabela acima podemos notar que o indicador de sonegao

    encontrado para o conjunto de tributos do Brasil correspondentes ao VAT

    bem prximo ao encontrado nos demais pases latino-americanos

    relacionados, sendo, inclusive, igual mdia linear do indicador desses pases.

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    Por outro lado, a estimativa de sonegao para o Imposto de Renda no Brasil

    adotado neste estudo ficou abaixo da mdia daqueles pases, tanto no que se

    refere s pessoas fsicas, como tambm no que diz respeito s corporaes.

    A seguir podem ser verificadas, de forma grfica, a relao entre as

    estimativas internacionais relatadas por Jimnez e Sabaini (2012) e as

    indicadas neste estudo. A diferena pode estar no fato de ambas se utilizarem

    de metodologias diferentes. Para o caso brasileiro foi adotada a pesquisa do

    IBPT (2009) para o imposto de renda das corporaes e de Siqueira (2006)

    para o das pessoas fsicas. Ambas no capturam o mercado informal e so

    baseadas em dados oficiais, seja em autuaes ou em dados da Sonegao

    do Imposto de Renda e VAT, que apenas levaram em conta as empresas

    formais. Por outro lado, os estudos de Jimnez e Sabaini (2012) so baseados

    em estimativas macroeconmicas que capturam o mercado informal.

    Grfico 4 Grfico 5

    No ano de 1991, em artigo publicado na Folha de So Paulo, o

    economista Andr Franco Montoro Filho estimou, de forma simplificada, que a

    carga tributria potencial no Brasil seria de 43% distribudos conforme tabela

    abaixo.

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    Tabela 11 Estimativa de Arrecadao Potencial (1991)

    poca, a carga tributria era de 25% do PIB, havendo com isso uma

    sonegao, segundo a afirmao de Montoro, de aproximadamente 18%

    (=43% - 25%) do PIB. Este nmero serve como balizador para comparao

    com a estimativa do presente estudo, cujo indicador estimado foi

    aproximadamente 24% para uma carga tributria de 37% do PIB. Se a evaso

    fosse zero, isso indica que seriam arrecadados aproximadamente 46% do PIB

    (37% x 1,24). Ou seja, em ambos os estudos, a carga tributria potencial

    mxima para uma evaso zero seria acima de 40% do PIB.

    Entretanto, os mencionados nmeros s confirmariam um ao outro se o

    aumento da carga tributria tivesse se dado inteiramente em razo do

    incremento da eficincia da arrecadao e no em virtude do aumento de

    alquotas e do alargamento das hipteses de incidncia dos tributos. Apesar de

    ser notrio ter havido nos ltimos 20 anos um aumento da eficincia da

    arrecadao e a reduo do mercado informal, no parece razovel atribuir

    este aumento da carga tributria de 25% para 35% do PIB apenas a esses dois

    fatores, sendo mais provvel que parte desse incremento da arrecadao se

    deva ao aumento de alquotas e das bases de incidncia dos tributos.

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    5.2.1 Estimativa de Hiato Tributrio no Reino Unido

    O Reino Unido tem feito um dos mais completos trabalhos de

    acompanhamento de hiato tributrio. Por meio de sua entidade

    arrecadadora, a Highest Majesty Revenue & Customs HMRC, o

    equivalente a Receita Federal no Brasil, eles tm publicado anualmente

    relatrios com estimativas de hiato tributrio indicando os seus diversos

    componentes.

    O HMRC define o hiato tributrio como sendo a diferena entre o

    montante de tributos que se deveria, em teoria, arrecadar menos o

    arrecadado de fato. A obrigao terica representa o imposto que

    deveria ser pago pelos indivduos e companhias caso fosse obedecida a

    letra da lei e a interpretao do que seria a inteno do parlamento

    quando a fez (o esprito da lei). O hiato liquido de impostos adicionais

    obtidos por meio de auditorias, ou seja, os impostos obtidos por meio de

    autuaes entra no clculo da arrecadao e diminui o hiato.

    A cada ano as metodologias so revisadas e as sries histricas

    anteriores so refeitas, quando possvel, com base na nova

    metodologia, dando coerncia ao longo do tempo.

    No ano fiscal de 2012-2013 (que vai de 06 de abril de um ano a

    05 de abril do ano subsequente), estima-se que o hiato tributrio foi de

    34 bilhes, o que representou 6,8% de hiato em relao carga

    tributria terica de 500 bilhes. Sob o prisma do tipo de arrecadao,

    quem mais contribuiu para esse hiato foi o grupo de Imposto de Renda,

    Contribuio para a Seguridade e Ganhos de Capital, que representou

    41% do total, ou 14,2 bilhes. O grfico abaixo mostra o montante e a

    participao de cada um dos grupos no total.

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    Grfico 6

    Quando se analisa a srie histrica, possvel notar uma

    reduo em termos percentuais no hiato, possvel ainda verificar que

    o hiato mdio caiu de 8,5% em 2005-06 para 6,8% em 2012-13. O tipo

    de tributo que mais contribuiu para esta queda foi o VAT (imposto sobre

    Valor Agregado) que teve uma diminuio no hiato da ordem de 14,4%

    em 2005-06 para 10,9% em 2012-13. Essa diminuio importante

    tanto do ponto de vista do nmero de pontos percentuais (-3,5%),

    quanto do peso que ele tem para a mdia geral, j que o hiato do VAT

    representou 36% do total do hiato em 2012-13.

    Tabela 12 Evoluo do Hiato Tributrio no Reino Unido

  • Quanto Custa o Brasil pra Voc? www.quantocustaobrasil.com.br Pgina 31 de 41

    Sob o aspecto do tipo de contribuinte, o grupo que mais

    contribuiu para o hiato foi o das pequenas e mdias empresas, com

    41% do total, o equivalente a 15,1 bilhes. O segundo maior grupo foi

    o das grandes empresas com 9,3 bilhes (27%). Ou seja, este

    segmento corporativo representou mais de 70% de todo o hiato

    tributrio e os indivduos apenas 13% (4,6 bilhes). O grfico abaixo

    faz o detalhamento de todos os grupos.

    Grfico 7

    O relatrio do HMRC tambm faz estimativa por segmentao de

    comportamento do contribuinte. Os comportamentos analisados, bem como

    suas respectivas definies, segundo o HMRC, so:

    1. Ataques Criminosos: organizaes criminosas que mantm

    condutas constantes e coordenadas de ataques ao sistema

    tributrio, como contrabando e outras fraudes.

    2. Evaso: uma atividade ilegal, nos quais indivduos ou

    empresas registradas deliberadamente omitem, ocultam ou

    distorcem informaes com o objetivo de reduzir as obrigaes

    tributrias.

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    3. Economia Informal (ou Oculta): so atividades econmicas no

    declaradas, cuja renda inteiramente desconhecida pela

    HMRC. Elas podem ser compostas pelos fantasmas, que so

    fontes de renda inteiramente no declaradas; ou pelos

    moonligthers, que so pessoas que tem um emprego formal

    com tributao em folha, mas que tambm tem um segundo

    emprego cuja renda no declarada. Este tipo, a Economia

    Informal, difere da Evaso por que no primeiro caso toda a

    renda desconhecida e no segundo apenas parte da renda

    subdeclarada.

    4. Eliso: a explorao das regras de tributao em busca de

    brechas legais que permitam obter resultados no previstos pelo

    parlamento quando da elaborao da lei. Para o HMRC, eliso

    (avoidence) no o mesmo que planejamento tributrio

    legtimo. Para a entidade a Eliso aqui descrita envolve,

    frequentemente, transaes artificiais que tem pouco ou nada a

    ver com a proposta comercial, mas apenas a de obter vantagem

    tributria.

    5. Interpretao Legal: est relacionada com potenciais perdas de

    tributos por casos nos quais o HMRC e os indivduos ou

    empresas tm diferentes interpretaes de como e quando a lei

    deve ser aplicada.

    6. No Pagamento: refere-se aos tributos que, embora de

    conhecimento do Tesouro e devidamente inscritos, no foram

    pagos em decorrncia da insolvncia dos devedores.

    7. Descuido: o descuido na prestao das informaes pelo

    contribuinte pode provocar falhas nas informaes registradas e

    nas restituies de impostos. O descuido pode ser reflexo da

    falta de conhecimento, falta de habilidade ou outra circunstncia

    afeta ao contribuinte.

    8. Erro: a despeito do contribuinte ser cuidadoso, podem ocorrer

    erros de preenchimento ou omisso de dados que provocam

    erros nos clculos dos tributos.

  • Quanto Custa o Brasil pra Voc? www.quantocustaobrasil.com.br Pgina 33 de 41

    O relatrio tambm faz a segregao do hiato tributrio por tipo de

    comportamento. Nele possvel notar que a maior fator a economia

    informal, com 5,9 bilhes, com ataque criminoso em segundo lugar

    com 5,4 bilhes. O detalhamento completo est no grfico abaixo:

    Grfico 8

    O relatrio adota diversas metodologias de estimativas para

    cada grupo de tributo, conforme a disponibilidade de dados e a sua

    consistncia para realizar estimativas. A tabela abaixo faz um resumo,

    de forma geral, das metodologias empregadas:

  • Quanto Custa o Brasil pra Voc? www.quantocustaobrasil.com.br Pgina 34 de 41

    Tabela 13 Metodologias Adotadas pelo HMRC por Tributo

    Apesar de todo o detalhamento apresentado e da

    descrio da metodologia pelo relatrio da HMRC, os resultados

    do trabalho so, em parte, contestados pela Public and

    Comercial Service - PCS, que o sexto maior sindicado no

    Reino Unido, com mais de 270 mil associados e abrange

    trabalhadores do setor pblico e privado.

  • Quanto Custa o Brasil pra Voc? www.quantocustaobrasil.com.br Pgina 35 de 41

    Para o PCS o hiato tributrio muito maior. O principal

    argumento que, enquanto no relatrio do HMRC a economia

    informal gera perdas de apenas 5,4 bilhes, a economia

    informal seria muito maior. Para isso, estima que se ela fosse de

    aproximadamente 10% do PIB, s isso representaria uma

    economia no registrada de mais de 100 bilhes. Com uma

    carga tributria de quase 40% do PIB, s isso representaria um

    hiato de mais 40 bilhes. Alm do mais, o estudo argumenta

    que devido dificuldade de se fiscalizar rendas como as de

    aluguel de imveis, rendas de ganho de capital, transmisso de

    herana, etc, o valor do hiato tributrio seria muito maior do que

    o divulgado. Pelas estimativas da PCS o valor para 2012-13

    seria de 79,7 bilhes, mais do que o dobro o indicador oficial.

  • Quanto Custa o Brasil pra Voc? www.quantocustaobrasil.com.br Pgina 36 de 41

    6 CONCLUSES

    A elevada carga tributria no Brasil tema frequente de debates na sociedade,

    bem como a discusso quanto sobrecarga suportada pelos contribuintes

    adimplentes em funo da evaso tributria existente. Este trabalho teve como meta

    principal encontrar um parmetro que indicasse uma ordem de grandeza para a

    evaso tributria no Brasil. Entretanto, por sua prpria natureza, estimar um indicador

    de evaso tributria uma tarefa complexa e que carece de disponibilidade de dados,

    pois h um grande nmero de tributos, com diferentes alquotas, isenes e benefcios

    tributrios. Alm disso, so escassos os dados referentes queles que evadem, pois

    no constam dos dados oficiais e no possuem incentivos para se manifestarem por

    pesquisas de entrevistas. Estudos do gnero tambm so escassos em outros pases.

    Nesse sentido, o meio encontrado foi apoiar este trabalho em outros estudos

    que fizeram estimativas para um tributo especfico ou para um grupo de tributos e a

    partir deles estimar um parmetro que conferisse uma ordem de grandeza da evaso

    para todo o conjunto de tributos do Brasil.

    Existem vrias limitaes neste tipo de trabalho. Uma delas que ele herda

    todas as limitaes dos trabalhos nos quais se apoiou, como, por exemplo, a

    representatividade da amostra que pode estar viesada, a dificuldade de capturar o

    mercado informal ou ainda de albergar a multiplicidade de alquotas e benefcios

    fiscais. Outros resultados foram utilizados como balizamento do resultado obtido neste

    estudo. Um deles o que buscou definir um indicador de evaso para o VAT em

    pases da Amrica Latina e encontrou, na mdia, a mesma ordem de grandeza

    encontrado por este trabalho, de aproximadamente 28%. Para o imposto de renda, a

    estimativa deste estudo ficou abaixo da mdia dos outros pases da Amrica Latina:

    30% versus 51%, talvez em funo de diferenas metodolgicas.

    Os resultados indicaram que, mantendo todos os demais parmetros

    constantes, a arrecadao tributria brasileira poderia se expandir em 23,6%, caso

    fosse possvel eliminar a evaso tributria, cujo indicador mdio para todos os tributos

    apontado neste trabalho foi da ordem de 8,6% do PIB.

  • Quanto Custa o Brasil pra Voc? www.quantocustaobrasil.com.br Pgina 37 de 41

    Na hiptese ainda de se levar em conta apenas a mdia dos indicadores de

    sonegao dos tributos que tm maior relevncia para a arrecadao (ICMS, Imposto

    de Renda e Contribuies Previdencirias) poder-se-ia estimar um indicador de

    sonegao de 27,6% da arrecadao (o mesmo do indicador de sonegao para o

    VAT em pases da Amrica Latina que foi de 27,6%), que equivale a 10,1% do PIB, o

    que representaria o valor de R$ 518,2 bilhes caso levado em conta o PIB estimado

    para o de 2014. Tomando-se em considerao esse ltimo indicador para a

    sonegao, poder-se-ia afirmar que se no houvesse evaso, o peso da carga

    tributria poderia ser reduzida em quase 30% e ainda manter o mesmo nvel de

    arrecadao. Esses R$ 518,2 bilhes estimados de sonegao tributria so

    praticamente equivalentes a quase 90% de tudo que foi arrecadado pelos estados e

    municpios juntos, estimados em R$ 597,6 bilhes.

    Por fim, registra-se que o presente relatrio no teve pretenso de esgotar o

    assunto e sim de fomentar a discusso sobre a justia fiscal e sobre o ainda alarmante

    patamar de sonegao tributria no Brasil.

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