Sonho Despertar.jésus Santiago

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  • 7/23/2019 Sonho Despertar.jsus Santiago

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    Interveno no Seminrio da Orientao Lacaniana

    Tout dernier Lacan Jacques-Alain Miller

    O sono do des!ertar

    "#OTAS $S%A&SAS %A&A 'MA A%&$S$#TA()O O&AL*

    J+sus Santia,o

    Vou abordar o problema do claro de um modo indireto, ou seja, por meio do

    que J.-A. Miller denomina, na ltima lio do curso, Le tout dernier Lacan, como o

    sonho do despertar. impacto que essa ltima lio causou na audi!ncia do "urso,

    le#ou $ui% &olano a di%er, em sua resenha semanal, que, para ele, $acan no seria mais o

    mesmo ap's aquela aula. ( bem pro#)#el, a*irma &olano, que o achado maior desta lio

    seja a lu% que se lana sobre o *ato de que a primeira lio de O momento de concluir +

    uma r+plica contundente datica de Spinoza.

    Aqueles que j) tomaram contato com essa primeira lio desse ultimo &emin)rio

    de $acan O momento de concluir, sabem que al+m de estarmos diante de *rases, muitas

    #e%es obscuras, que aparecem aos saltos, sem maiores articulaes, nenhuma re*er!ncia

    + *eita, ali, ao *il'so*o &pino%a.Justamente, Miller nos prope retirar um *io condutor para a elaborao, desse

    &emin)rio, cheio de *rases descosturadas e enim)ticas. sse *io + o seuinte/ Ainda

    que Lacan diga muita coisa contra a lgica em seu ultimo/ultimssimo ensino de Lacan

    (isto no em extenso mais em intenso, entretanto, ! por interm!dio da lgica que se

    pode situar o seu ultimssimo ensino, pois, ele o coloca so" o patronato do momento de

    concluir# pior ainda, nesse mesmo &emin)rio, no aparece, mesmo que seja uma nica

    #e%, uma re*er!ncia sobre a tal e0presso/ momento de concluir# le apenas a adotou

    como um t1tulo para o conjunto desse percurso.

    2o + um percurso nada simples. Muito antes pelo contr)rio3 Miller, nos di%, que

    quando escutou, pela primeira #e%, esse t1tulo que $acan lhe ha#ia con*iado, olhando-o

    dentro dos seus olhos, ele reaiu com os seuintes pensamentos$ %&&&, no ! nada

    45eali%ada no dia 67 de junho de 6889, no semin)rio de rientao $acaniana da :;-M>???, O

    sintoma, re*ere-se @ eternidade nos termos de uma recusa da eternidade # Aqui, no

    &emin)rio >>V, a recusa da eternidade adquire a *orma de uma de*inio que se precisa

    pelo sintama o sonho do despertar. &ob essa 'tica, a eternidade aparece como a

    continuao inde*inida do tempo. tom que $acan con*ere a essa *ormulao + que se

    trata do sonho de uma sa1da do tempo, de uma retirada para *ora do tempo.

    i%er isto, nos encaminha, para o problema, de aluma maneira, compartilhado

    por $acan, com toda uma pitada da *iloso*ia platBnica, de uma contempla+o, para

    sempre, eterna, do -erdadeiro#;ara-al+m da discusso mais detida do problema, Miller

    se perunta, se ao e#oc)-lo, $acan no aponta para a cateoria, *amiliar aos especialistas

    na (tica de &pino%a, empreada nos mais di#ersos conte0tos, a saber/ su" specie

    aeternitatis#ssa e0presso conceitual da sub specie aeternitatis + pi#B da concepo

    do tempo como eternidade, o pi#B do momento de concluir da VC e ltima parte da sua

    (tica, parte intitulada/ a pot!ncia da inteli!ncia ou da liberdade. m suma, para

    Miller, mais do que um di)loo com &pino%a, a primeira lio do .omento de concluir

    constitui uma r+plica @ concepo temporal da (tica. ;ro#a#elmente, o recurso @ &pino%a

    seja o instante de #er que antecede o seu momento de concluir.

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    ;ois bemD, a eternidade que obstina $acan no seu momento de concluir

    con#ere e se con*ronta, de modo quase natural, para a eternidade de &pino%a. ( a

    eternidade, no sentido, de que se pode introdu%ir, ou, ainda, que se reconhece que j)

    esta#a imerso nela, quando a alma se considera, ela pr'pria, (cita+o de Spinoza sem

    relao com a e0ist!ncia do corpo. ;ara os e0eetas, isto sempre se constituiu como uma

    di*iculdade a ser ultrapassada, pois, a alma +, por conseqE!ncia, de*inida por meio da

    id!ia de um corpo#;ara chear a esse ponto de #ista em que se considera a alma sem

    rela+o com a existncia do corpo *oi necess)rio toda um uma demonstrao que &pino%a

    detalha, na primeira parte do $i#ro V, em que se percebe a alma racional capa% de reular

    e controlar a a*eti#idade, e, assim, ampliar o dom1nio da ra%o.

    ( uma maneira de con#idar a alma a se reencontrar naquilo que + a *onte da sua

    petri*icao, da sua paralisia. u seja, se alma aprende a *ormar id+ias claras de seusa*etos, isto +, *a%er uma id+ia de suas causas, de uma tal maneira que esses a*etos

    dei0aro de ser pai0es. Assim, a alma dei0ar) de padecer. ( um con#ite para se

    reencontrar no seu *uncionamento mental, para dar conta do modo como os a*etos se

    *ormam a partir de certas causas e, atra#+s disto, tomar uma certa distFncia a respeito dos

    a*etos dos quais ela padece. n*im, &pino%a pensa que isto seja poss1#el por meio da boa

    #ontade e, sobretudo, por meio da leitura da (tica. "hear a esse ponto, #ia psican)lise, +

    mais comple0o e dura mais tempo. ;or+m, essa concepo da eternidade no + sem

    alum eco para n's.

    &pino%a se prope, de alum modo, ele#ar o a*eto @ dinidade do conhecimento, @

    dinidade do conhecimento das causas, permanecendo sob a +ide do que ele chama

    ratio temporis, da rera do tempo. le concebe a ratio temporis, que ordena a #ida a*eti#a

    como um empreendimento di*1cil de controlar. A id+ia que se depreende + que se pode

    subtrair a alma da ratio temporis, da rera do tempo e da e0ist!ncia do corpo. ( uma

    conquista do que h) de mais real em n's mesmo. ( por isto que &pino%a + capa% de

    *ormular, com a proposio 6G, este enunciado que no cessou de circular atra#+s dos

    s+culos, com todo um acento spino%ista/ A alma &umana no pode ser a"solutamente

    destruda 0untamente com o corpo, mas alguma coisa dela permanece, que ! eterna#

    2o *undo, + um escFndalo colocar a alma no mesmo n1#el do #i#ido, ou, no

    mesmo n1#el do caos dos a*etos, a*etos que esto colocados, na #ida de cada um para

    G

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    recobrir, #elar, *a%er esquecer a eternidade que est) em cada um. m suma, cada um est)

    submerso na eternidade.

    ;ara &pino%a, h), com e*eito, uma e0peri!ncia que nos *a% sentir eternos, mesmo

    se aparentemente no percebemos isto. ( a e0peri!ncia da eometria, da demonstrao

    eom+trica. &pino%a e =obbes testemunham o impacto da emoo que e0perimentam ao

    terem acesso a outra ordem da realidade, baseado na *ora in#ariante do necess)rio, do

    necess)rio para sempre assim. Hem-se acesso a esse para sempre#( necess)rio que

    haja alo, em cada um, homo!neo aopara sempre#( isto, aos olhos de &pino%a, o

    nosso intelecto3

    ( o sentido que + necess)rio dar ao enunciado que *iura no esc'lio da proposio

    >>???, a saber/ a e0ist!ncia da alma no pode se de*inir pelo tempo, no pode se e0plicar

    pela durao. ( preciso considerar a alma como um su" aeternitatis specie (su")esp!cieda eternidade, isto +, do ponto de #ista ou sob o Fnulo da eternidade. su" aeternitatis

    specie se ap'ia sobre as demonstraes necess)rias da eometria euclidiana I+ o pr'prio

    m+todo de &pino%a Iproposies corol)rio demonstraes esc'liosK. + nesse

    mo#imento que se #! conjuar o racional, o eom+trico, o eterno e o necess)rio.

    &acional

    .eom+trico

    $terno

    #ecessrio

    ( a essa seqE!ncia que $acan se enderea na primeira lio do .omento de concluir#

    Ap's a passaem que se *e% re*er!ncia antes na qual aparece a hip'tese do inconsciente

    inscrita na a*irmao de que no se sonha apenas quando se dorme, obt+m-se o que ele

    denomina o ra%o)#el e que, seundo ele, + a *antasia. ?sso nos d) o Fnulo de $acan/

    no o racional, mas, simplesmente, o ra%o)#el.

    (acional ) (azovel

    Hem-se a eometria, por+m, $acan arumenta que a eometria euclidiana tem

    todos os caracteres da *antasia. ;or mais que isso possa parecer desarticulado,

    descosturado, obser#a-se, ao contr)rio, que se, de um lado, $acan *ala da eternidade,

    em seuida, ele chea @ eometria que seria con*orme @ l'ica da *antasia. ;ortanto, a

    L

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    eometria + para os anjos, isto +, para quem no tem corpo, para a alma sem relao com

    a e0ist!ncia do corpo.

    0atamente, no.omento de concluir, $acan se *elicita que se pBde encontrar uma

    sa1da para a eometria que + a topoloia, no sentido que a topoloia + uma eometria que

    tem corpo.

    *eometria ) +opologia

    "orrelati#amente, compreende-se tamb+m que o culto do eterno seja recusado.

    Mas, o que + #ai ocupar o luar do eterno que + que se #ai di%er no luar do eterno

    (, certamente, o temporal, o tempesti#o.

    terno ) +emporal

    , por *im, acrescenta-se que $acan ope ao car)ter primordial do necess)rio, apromoo constante do continente.

    $ecessrio ) ontingente

    Hem-se, assim, o seuinte quadro/

    &acional / &a0ovel

    .eom+trico / To!olo,ia

    $terno / Tem!oral

    #ecessrio / 1ontin,ente

    e outro modo, O .omento de concluir, se coloca sob o patroc1nio de &pino%a,

    isto + que se constituiu, na ordem do intelectual, o instante de #er de $acan, que te#e,

    para ele, o #alor de ressonFncia. tudo aquilo que $acan e0trai de seu ultim1ssimo ensino

    sure para mani*estar a sa1da dos limites da eometria euclidiana.

    %ara 2inali0ar uma 3reve re2le4o so3re as rela5es de S!ino0a com a !ol6tica7

    e0emplo deste uso do tema da eternidade, + a questo das relaes entre a *iloso*ia de

    &pino%a e a pol1tica. &e a pol1tica + da ordem da hist'ria, eis a1 um *il'so*o para quem o

    seu sistema se apresenta como o desen#ol#imento da id+ia de que con&ecer ! con&ecer

    1eus,e que 1eus ! a natureza ela)prpria#&e a pol1tica + da ordem da pai0o, eis a1

    N

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    um *il'so*o que se prope conhecer os desejos e as aes dos homens 2 maneira dos

    ge3metras (4como se *osse questo de cur#as, super*1cies e #olumes. &e a pol1tica +

    tomar partido na atualidade, eis a1 um *il'so*o para quem a sabedoria e o soberano bem

    consistiam em conceber todas as coisas sinulares do ponto de -ista da eternidade

    (su" specie aeternitatis*Ouem poderia di%er que a pol1tica no seja pura especulao

    P