Sons Da Fala - Fonologia

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UCHOA, J.A.C. Os sons da fala. Fortaleza: UFC Virtual, 2010 Os sons da falaJ.A.C. Uchoa1ResumoEstudodossonsdafalacomatenoaoportugusnordestino, paraalunosde Letras com poucos contatos diretos com o professor. Combina-se com textos de aula em ambiente virtual e tarefas de observao de produes orais, inclusive em vdeo. Palavras-chaveLngua Portuguesa, Portugus cearense, Fonologia, Fontica, Fonmica, Ortografia, Grafia, Meios de expresso.1. Incio de conversaEste um primeiro texto para disciplina de Fonologia do Portugus, dedicado quase exclusivamente fontica articulatria, aplicado-a ao portugus. Est planejado para a complementao e oaprofundamento de matria contida nas aulas doCursode Letras semipresencial do Instituto UFC Virtual, mas pode ser utilizado como texto independente em outros tipos de cursos de fonologia. Esta verso, de maro de 2010, tem pontos por corrigir.Dos textos que conhecemos emvernculo, uns parecempouco adequados s caractersticas deumcursosemipresencial decurtaduraoecompoucaassistnciade professor em sala real. Outros no se prestam, achamos, ao uso fora do mbito da academia experiente ou foramadaptados apressadamente para o aluno no graduado. Parecem inadequados at para alunos de disciplina com 64 horas presenciais ao longo de um semestre letivo convencional de aproximadamente quatro meses, por serem exclusivamente tericos, sem sugesto de uso no dia-a-dia dos alunos envolvidos. Procuramos evitar acomplicao, no temos como negar acomplexidadedos fenmenos lingusticos. Por isso, contamos comoesforopelacompreensobaseadano confronto entre o que dizemos e a observao da lngua portuguesa que se realiza em torno de voc. Aleituraqueimaginamosaqui feitaotempotodocomlpis e papel(ou teclado) crtica, comparativa, comentada por escrito. Imaginamos tambm que, daqui a um ms, voc vai estar compreendendo2 bem os fenmenos fonolgicos do portugus, para fins prticos. 1Professor do Curso de Letras da Universidade Federal do Cear.2Para o autor, a preocupao com o gerundismo, vcio de linguagem, no passa de antigerundismo, um preconceito parecido com outros.UCHOA, J.A.C. Os sons da fala. Fortaleza: UFC Virtual, 2010 2Este texto pressupe a existncia de outro(s), mais dedicado(s) variao fontica dos portugus, s questes prosdicas e s associaes entre fonologia e grafia. Umcurso completo deveria conter parte especificamente dedicada s vises no clssicas da fonologia, s aplicaes defonologiaaopreconceitolingstico, pronnciainfantil, histriada lngua, interligaoentreosfenmenosfonolgicoseasquestespsicolgicas, sociais, pedaggicas. Por faltadetemponossoedosalunos, entretanto, essestemasserovistos parcamente, apenas ao longo deste, do outro texto, nos exerccios das aulas. Temos poucotempoparaobservar oqueestaoalcancedos sentidos, comoas constelaes, osarbustos(inclusiveplantasmedicinais)quecrescemproibidosnasruas, a alimentao e outras atividades corpreas essenciais, como funcionamento do aparelho fonador. Se sabemos pouco da fontica, que pode ser baseada na percepo auditiva ou nos movimentos e posies da articulao dos sons, quanto mais da fonologia, invisvel, bem mais abstrata. Tentemos explicar como se relacionam a fontica e a fonologia e o que tm a ver com os outros niveis de anlise lingustica. Voc vem passando numa rua onde h turistas e v o encontrodeduas famlias deumamesmanacionalidade, alguns louros, alguns deolhos levemente amendoados, que no falam portugus. O que voc vai notar? Primeiro, cadeias de sons estranhos que no lhe dizem nada, inclusive a repetio de sons bem molhados, com shshsh, tsh, lh. Segundo, as reaes de alegria: risos, abraos. O que voc notou tem a ver com duas realidades, ou, mais ou menos nos termos de (Ferdinand de) Saussure ou de (Louis) Hjelmslev, certassubstncais: nemossonsquevocpercebe, nemosgestose demonstraes faciais, gestuais, so lngua. Entre eles, entretanto, com os sons produzidos, seria possvel a comunicao, mesmo quenopudessemgesticular, quefalassemaotelefone, quehouvesseapenaspapiscom texto. Estou imaginando a lngua russa. Os sons que chegaram a seus ouvidos na cena descrita fazempartedos sons capazes deseremproduzidos eouvidos por pessoas. Os gestos e expresses faciais tambm so esperados de pessoas. As pessoas do grupo s compreenderam os sons porque possuem uma lngua.Algumacoisamudariasevoc tivesse estudado fontica? Um pouco, apenas. Voc poderia transcrever o que dizem, quer dizer, tomando a cadeia da fala, imaginar sinais em umpapel queindicariasegmentos pronunciados. Por exemplo, poderia, usandosmbolos comuns, transcrever algoqueelesdizemrepetidamentecomoyaidvmaskv(commais UCHOA, J.A.C. Os sons da fala. Fortaleza: UFC Virtual, 2010 3destaque em u e no a final. Com um bom treinamento em transcrio, perceberia que no som correspondente a d no a ponta da lngua (pice) nem a rea logo depois da ponta (coroa), que tocam nos montinhos atrs dos dentes (alvolos) ou atrs dos prprios dentes, como seria de esperar em portugus. Notaria tambm que os estrangeiros usam uma melodia de fala bem diferente da nossa, bem tpica do russo. Disso, da pronncia, trata a fontica, sem ligar muito para os significados de unidades, de signos lingusticos.Nada no que foi transcrito acima, yaidvmaskv, explica, ao menos, quantas palavras um falante de russo palavras percebe no trecho, muito menos seus significados, da mesma forma que algo transcrito como dakelashtuashtrsas nada significaria para o russo que no conhece a lngua portuguesa, nem mesmo lhe possibilitaria dizer quantas unidades h a. Se voc conhecesse tecnicamente a fonologia do russo, saberia que, numa slaba que no a mais forte da palavra, sons como , , (como em ser) ou (como em cera nodistinguemsentidos. Se voc as pessoas dizerems vezes yaidvmaskv, yaiddami, vai terminar achando que h duas partes nessas cadeias de sons, que a h 3 coisas: yaid, vmaskv e dami e estar no rumo certo para aprender a lngua.Associando a audio das frases com situaes que observar, pode vir a entender quesetratade'ya' (correspondenteaoportugus 'eu'), idu('vou'), vmoskv(para Moscou) ou domoi ('para casa'). Nesse ponto, voc j tem conhecimentos inconscientes (a) da fonologia (consegue a partir dos sons chegar a singnificados), (b) da morfologia, (c) da sintaxe da lngua russa. Tambmter chegado a isso o russo que, sabendo fontica, transcreveu dakelashtuashtrsas e agora perceber que h nessa cadeia de sons os signos 'di' 'aklas' 'tuas' 'trsas' (aqui empregamos no a ortografia comum, mas uma forma de representao fontica sem detalhes, praticamente fonolgica e com sinais fceis), quer dizer, mais ou menos,cabelos agrupados de certa maneira, distantes nesse momento de quem fala e de quem ouve, pertencentes pessoa com quem se fala.Brevemente, impossvel separar completamente a fontica e a fonologia ou fonmica, e as teorias atribuem a esses termos conceitos bem variados. Por enquanto, o termo fonologiaser utilizado de forma mais ou menos vaga, com valor que vai do sentido mais geral, incluindoafonmicaeafontica, aosentidomais particular etradicional. Neste ltimo sentido, fonmico o elemento ou trao que serve para distinguir o sentido dos itens lexicais. Interessa, agora, saber que, ao empregar o termo fontica, restringimos nosso objeto UCHOA, J.A.C. Os sons da fala. Fortaleza: UFC Virtual, 2010 4deestudopronnciadeunidades lingsticas comopercebidapor algumatentoou treinado para tal finalidade. A inseparabilidade dos aspectos fonmico e fontico vem da inseparabilidade entre as coisas efetivamente integradas na realidade. A separao possvel e talvez necessria apenas na anlise humana, para um fim determinado e momentneo. Quando compreendemos uma frase, recebemos por nossos ouvidos (ou tambm por conduo ssea, se nossa prpria voz) um sinal de som conduzido por um ou mais meios (o ar, o telefone). As impresses recolhidas no pavilho auditivo que se inicia com a orelha vo ao interior do crebro por nervos e so trabalhadas, para a decodificao. No estudo da pronncia, pode-se recortar a realidade percebida para chegar ao exame dos sons quantoasuapercepo, inclusive forma como soouvidos, quantoa suas propriedadesfsicas, paranosrestringirmosacstica. Podemostambm, comofazemos quase exclusivamente neste primeiro texto, abordar os sons quanto a sua produo no aparelho fonador, com viso articulatria. Alguns lingistas insistiram na excelncia de critrios e termos acsticos na descrio e classificao dos sons da fala, mas esses termos continuam a soar estranhos at em cursos mais longos. Alm disso, habituados inevitvel ligao entre o articulatrio, o acstico e o perceptivo emnossas experincias de fala, associamos o tempo todo a percepo das propriedades acsticas dos sons a nossas impresses articulatrias. Uma prova irrefutvel dessa habilidade de associar a impresso acstica ao movimento no prprio aparelho a aquisio da fonologia pelos bebs. Em torno dos dois anos de idade, ao ouvir nova palavra em contexto, acertam a maior parte dos traos fonticos deumapalavranaprimeira tentativa (observe seus sobrinhos e relate as experincias).Os adultos, ao ouvirem pela primeira vez uma palavra estrangeira (e at de sua prpria lngua) precisam de vrias repeties (no nos pergunte agora por qu), mas tambm, na maior parte dos casos, conseguem aprender a pronncia sem descrio que faa referncia as partes do aparelho fonador.Sugerimosquetenhasempreperto, aoler estetexto, espelhinhodemoououtro aparelho fonador (vivo, claro, de algum que aceite colaborar), papel e material de escrever, depreferncialapiseiracomgrafitemole, outeclado. Imaginamosque, nesteponto, voc tenha observado processos de fonao integrada em discurso bem real, como que est sendo sugerido em aula do curso semipresencial, em vdeos. Reveja os pontos indicados no texto da UCHOA, J.A.C. Os sons da fala. Fortaleza: UFC Virtual, 2010 5aula, presteatenoaos lbios, aos movimentos eposicionamentos nointerior daboca. Encerramos esse primeiro contato desejando que voc tenha mais interesse nas tarefas e na observao no-exigida, que ansiedade causada pela expectativa de cobranas e avaliaes. Utilizamos aqui smbolos do Alfabeto Fontico Internacional, cuja tabela ser exposta adiante adaptada para este curso e, anexa no fim do texto, em sua verso completa oficial de 2005. Para poderleras transcriesfonticas,instale em seu computador pelo menosa(s) fontes do SIL Doulos IPA93.3 2. Passeando com os sons pelo aparelho fonador2.1 O aparelho fonadorAs coisas de que tratamos no estudo criterioso, metdico, sujeito a discusso (isto , cientfico, lingstico) da lngua no foram inventadas, mas esto perto, ou melhor, em voc. Osconhecimentosparaasatividades humanassoimplcitos,entretanto,funcionam muito bem, semestarmos conscientesdesuaexistncia, desuascaractersticas. Oestudantede Letras oindivduoprivilegiadodoqual seesperaquevenhaacompreender deforma explcita tais conhecimentos. Bemmais difcil foi o trabalho dos pioneiros que, na Antiguidade, semmanuais delingstica, fizeramaanlisefonticaefonolgicadesuas lnguas, para criar os primeiros silabrios e alfabetos.Se voc ouvir frases em uma lngua desconhecida, no distinguir segmentos fnicos, fonemas, palavras, porque a cadeia da fala umcontinuum. Quando se ouve lngua conhecida, entretanto, umprogramarecebepistasfnicasedistingueunidades, porqueas identifica com base em um lxico mental. Quando voc ouviu uma cadeia fnica em O meu amor me chamou, verso de A Banda, disponvel em nosso curso, o programa chamado lngua portuguesaatuou, porque, dadivisoempalavras divisoemsegmentos, tudouma abstrao ou a aplicao de instrues inconscientes da lngua portuguesa.A frase do verso supracitado nos leva a uma transcrio fontica assim:3Pelo menos o arquivo IPA93dr.ttf (tipo normal, utilizado aqui) e, se possvel, tambm os arquivos IPA93db.ttf, IPA93dc.ttf e IPA93di.ttf, para ler negrito e itlico. No Windows, copie o(s) arquivo(s), v a Iniciar, Painel de Controle, Aparncia e temas, Fontes. L veja as fontes j instaladas. Ponha o cursor do mouse sobre o nome da pasta (Fontes) na linha de cima do navegador, pressione o lado direito do mouse, clique em Colar, veja se o nome SILDoulosIPA93 aparece com as outras fontes.UCHOA, J.A.C. Os sons da fala. Fortaleza: UFC Virtual, 2010 6Temos representados nos versos acima segmentos fnicos, comoserealmentese separassem, indicaes de slabas relativamente mais fortes (-mor, -mou, precedidas por sinal de acento), indicao de tom ascendente na ltima slaba, correspondente no verso, na linguagemescrita, auma vrgula, nos versos Estava-toanavida, /omeuamor me chamou, / pra ver a banda passar (...). Cada uma dessas coisas percebidas corresponde a uma propriedadeacstica, quesvemaexistir porquealgoacontece, epodeser descrito, no aparelho fonador.O que chamamos aparelho fonador um ambiente utilizado para a fala, incluindo os rgosde doisaparelhos,orespiratrio e o digestivo, que, por sua vez, mantm reasem comum.Nomeamos,no que dizemos abaixo, os rgos importantes para a fala nas lnguas maisconhecidas4. Vejaafiguraabaixo, examine-se, pensenadescrioqueoferecemosa seguir.Maisimportantequeaalimentao(compareaquantidadedesegundosquepode passas sem respirar com a quantidade de semanas que pode passar sem comer), a respirao pode ocorrer no s com a passagem do ar pelo nariz e pelas fossas nasais, mas tambm por ondevoos alimentos: peloslbioseaolargodosdentesedalngua. Afaringe passagem para o ar e os alimentos, sendo cavidade onde se encontram os caminhos oral, nasal e faringal. Depois da faringe, especializam-se os rgos, ou h risco de morte. Os alimentos seguempor umtuboflcido, o esfago, para uma bolsa tambmflcida, o estmago, misturando-se um pouco com o ar, sem maiores problemas. O caminho do ar, entretanto, no pode receber alimento, exclusivo depois da faringe. Porisso, humaportanaentradadalaringe, aepiglote, quesefechaparaosalimentos passarem adiante.Em seguida, dentro da laringe h outra porta, ascordas vocais, em cuja 4H lnguas nas quais a faringe (informe-se sobre o rabe, o hebraico, o aramaico, lnguas semticas, as lnguas do povo cariri) e at a epiglote podem ter funes. Em portugus, esses rgos podem distinguir as vozes das pessoas ( freqente faringalizao que, forte, pode serconsiderada defeito), at por se modificarem por doenas como a gripe.UCHOA, J.A.C. Os sons da fala. Fortaleza: UFC Virtual, 2010 7abertura, a glote, deve passar apenas o ar. A laringe continuada pela traquia, por onde o ar chega aos (ou vem dos) brnquios e pulmes. Issotudo, noquenosinteressa, serveparaaproduodesonscujaspropriedades acsticas (amplitude, freqncia, ressonncia, durao) chegamaos ouvidos detodoser humano normal e so desprezadas ou valorizadas, conforme a fonologia de cada lngua. Antes de continuar, fale com algum que entenda de instrumentos musicais, e pense sobreassemelhanasentreessesinstrumentos eoaparelhofonador humano. Emquese assemelham quanto a:(a) fonte de energia - observe sanfona, gaita, piano, violo, tambor: de onde vem ar, golpe, toque?(b) a produode notas musicais de diferentes frequncias - onde isso acontece nos aparelhos acima?(c) comoacontecearessonncia, queajudaadistinguir otimbredecada instrumento e aumenta a perceptibilidade desse som: como interferemas dimenses, os materiais, o tamanho e a forma das cavidades (em violo, banjo, balalaica e fagote, em voc, com um aparelho fonador humano?(d)quemodificaesdasnotasbsicassopossveis, paraproduzir rudos diferentes, alm de sons musicais?Vamosparaumasessodeconscientizaodoaparelhofonador. Nadescrioque faremos, vamos privilegiar apenas dois parmetros da classificao dos sons, a saber,ponto (zonaseriamaisexato, masmenoscomumenteusado)emododearticulao. Depois, continuando a descrio,vamos ver outros dois parmetros:cavidade de ressonncia, com destaque para a nasalidade, e vibrao das cordas vocais, responsvel pelo vozeamento.2.2 Pontos e modos de articulaoDurante a descrio que se segue, veja a figura abaixo e sinta seus rgos. O espao chamadofaringepontodepassagem do ar e dos alimentos. A laringe limita-se com a passagem para as fossas nasais (at o nariz), a boca (concluda com os lbios), o esfago (que UCHOA, J.A.C. Os sons da fala. Fortaleza: UFC Virtual, 2010 8vai at o estmago) e a laringe (continuada pela traquia, que segue na direo dos pulmes). Para a fala em portugus, contribuem:a. Os pulmes, de onde vem o ar, que se dirige para a laringe. [a+en 100316]b. Na laringe, antes de passar para a laringe, de onde vai boca e s fossas nasais, a glote pode estar completamente aberta (para a respirao e os sons aspirados), e o esfagoNotequefaltam nodesenhooesfagoe oestmago(continuaodosespao que desce da faringe, mais prximo da coluna), a traquia e os pulmes (continuao da laringe).Fig. 1 O aparelho fonadorFonte: http://uab.unb.br/mod/book/print.php?id=1298Toque os lbios superiores (LS) e inferiores com a lngua (Lg) e continue movendo-a, toque com a ponta (pice, Ap) os dentes superiores (DS), sinta-os. Agora, continue at a parte dos trs dos dentes superiores, chegue s gengivas, ao ponto onde comea a carne, que chamamos alvolos (Al, leito onde ficam os dentes). Se continuar o movimento com a lngua apartir dosalvolos, passapequenacurvae chegaa partedura nocudaboca,chamada palato duro (PD). UCHOA, J.A.C. Os sons da fala. Fortaleza: UFC Virtual, 2010 9Nodeveser difcilclassificarasconsoantessublinhadas de'osmeninosdeJati' pronunciadascomonessacidadeemplenoCariri comopico-dentais(simplificadamente, dentais), ou em Itapaj, no Norte, como ou lmino-alveolares ou corono-alveolares (de forma simplificada,alveolares). De fato, muito provvel que, enquanto as pessoas do Cariri e de outrasregiesdizem [dia`ti]agente de Itapaj prefira dizer 'do Jati'e,em vez dossons oclusivos[t] e [d], faam uso de [tj] (em Jati) e [d] (em 'onde'), sons classificveis como africados, pois comeam com fechamento total (ocluso), mas usam o ar da liberao como fricativo. Ateno, quando dizemos que um som oclusivoou africado, estamos falando de modo, de como articulado. Quando dizemos que apical (produzido com o pice, a ponta da lngua), laminar (ou coronal), dental, alveolar, estamos falando de ponto (ou zona), onde ou com que articulado.Para ter maior conscincia das sutilezas e da variao na classificao dos sons com base na anatomia,vamos a uma pequena experincia. Experimente sentir a lngua (picee lmina) tocando, ao mesmo tempo, um pouco dos dentes superiores, os alvolos e o comeo do palato duro. mais ou menos isso que acontece quando pronuncia as consoantes de J achei /'a n'jcj /. Os sons produzidos a so chamados ps-alveolares por terem a parte de cima do canal tocada depois dos alvolos, ou lveo-palatais, por abrangerem no toque essas duas partes. Frisamos esse ltimo item para fazer notar que, paralelamente aos rgos passivos daarticulao, localizadosemgeral napartedecimadaboca, hosrgosativos(o maxilar inferior que mvel, no o superior). Acima, usou vrias partes da lngua: a ponta ou pice (Ap), a coroaou lmina (Co,La), que podem ser chamadas conjuntamente frente da lngua, da os sons frontais ou ntero-linguais, denominaes genricas bastante teis, ou apicais, coronais (laminares), denominaes mais especficas. Retomemos o passeio. Se continuar, a partir do palato duro, chegar, com a ponta da lngua, a uma rea em que o cu da boca apresenta mais uma discreta curva e chega a parte mais suave. A comea o palato mole, ou vu palatino (de velum, da as consoantes velares) onde pode pronunciar, cuidadosamente, "C... c...". O passeio com a ponta parou logo no incio do vu, a no ser que voc esteja entre os privilegiados que conseguem (se conseguiu, comunique-nos) levar apontadalnguavula(de"uvinha", emlatim, toapropriado quantooquesedizianointerior,campanhinha). Dequalquer maneira, concentre-seno espelhinho, abra a boca, tente ver todo o percurso. Ao olhar no espelho, sopre o ar forando UCHOA, J.A.C. Os sons da fala. Fortaleza: UFC Virtual, 2010 10na sada da faringe, perto da raiz da lngua e ver que a vula, a ponta no fim do vu palatino, sobe. Avula, abaixada, pode encontrar-se compartes posteriores da lngua para a produodesonsuvulares, comonaproduodervibrantemltiplodoportugusem dialetos doportugus, emdiversas lnguas europias (francs, alemo, holands) e em hebraico moderno. Vamosconsiderarumpouco apenasos articuladores inferiores, mveis,ativos(o maxilar inferior que mvel, pode subir), que se situam paralelamente aos rgos passivos da articulao, localizados em geral na parte de cima da boca. Acima, usou vrias partes da lngua: apontaoupice(Ap), acoroaoulmina(Co,La),5quepodemser chamadas conjuntamente frente da lngua. Quando continua para o vu palatino e a vula (superiores, imveis, passivos), tende usar outras partes da lngua: o dorso(Do) e a raiz(Ra). Os sons pronunciados comopice(ouponta) ealmina(oucoroa) podemser chamados mais genericamente, para finalidade prtica oupara ser fiel maior variao, emfonologia, anterioresou ntero-linguais, em vez de apicais,laminares,coronais. Da mesma forma, em vez de termos especficos como dorsal, pode-se dizer que os sons articulados com o dorso ou a raiz so posteriores ou pstero-linguais. Demonstramos isso no diagrama que se segue, de forma pouco exata: LS DS Al pA PD VP Uv CVLIDILAp LCo LAnLDoLRa CV ABREVIATURASLbio Superior, Dentes Superiores, Alvolos, regio ps-Alveolar, Palato Duro, Vu Palatino, vula, Cordas Vocais. Lbio Infierior, Lngua (pice, Coroa, parte Anterior, Dorso, Raiz).Abaixo da faringe vem a laringe, fechada em sua parte superior pela epiglote, primeira novadefesadoaparelhofonador (nonarizeadjacnciashmecanismos protetores), que precisaestarfechadanaingestodealimentos. Dentrodalaringehascordasvocais. O espao entre elas se chama glote (verifique se seus pais conhecem a expresso cair no goto, usada quando h engasgo) defesa final contra a passagem de corpos estranhos, alimentos. 5 bem comum a diviso da lngua como na frmula mnemnica de Macambira, Apcdora, em 4 partes: pice (Ap) ou ponta, (2) Coroa (Co) ou Lmina (La), Dorso (Do) e Raiz (Ra). Silva (2001: 30) divide-a em 5 partes: pice, lmina, parte anterior, parte mdia e parte posterior. Obviamente, no h demarcao fsica possvel, apenas zonas relativamente estabelecida.UCHOA, J.A.C. Os sons da fala. Fortaleza: UFC Virtual, 2010 11Aconsoanteoclusivaglotal(glotalstop), comum em dialetos do ingls para /t/ em certas posies, por exemplo em Le[] me see you ('Deixe-me v-la', 'Deixe eu ver voc'), no temvalorfonmicoemportugus.6Surgeseparandopalavrasiniciadaspor vogais em enumeraes ('Sentam-se a Rute, Antnia, Elda, Olga, Adalberto') ou aparece em pessoas (h queas chametatas) correspondendoa/k/ e/g/, comoem'Sevocapa[1]asselo[1]oo ci[1]arro...' Os sons correspondentes a 'r' e 'rr' podem ser bem diferentes, conforme as lnguas e os dialetos, osgrausdeformalidadeeasposiesnaspalavras(inicial oufinalmente, entre vogais, depois de consoantes). Pense nos sons, que, com base em uma gramtica tradicional voc diria serem vibrantes, quer dizer, produzidos com a ponta da lngua contra os alvolos, em uma expresso como (pensando em um festival em Guaramiranga) pronunciamos clara e cuidadosamente rolar na arte da serra: [n5'Iannn'ahtji dns'cnc] ou [h5'Ia nn'ahti.dn'scnc].Asexpressesvibranteevibrantesimplesnoseaplicamapropriadamentes pronncias do Nordeste e de outras regies do Brasil, a no ser, talvez, nos grupos consonantaiscomoem'pre','brio', 'traa', 'endro', 'crasso', 'ogro', 'cafre'e 'palavra'. Fora desses ambientes, a forma simples realiza-se, entre vogais (dentro de palavras ou no final), como tepe (ingls tap), uma batidinha nica da ponta da lngua nos alvolos, ressalvados alguns apagamentos bem comuns, dos quais trataremos abaixo. Antesdeconsoantesoudesilncio(poderealizar-setambmcomotepe, oucomo qualquer som fricativo posterior, quer dizer, velar ([x] - [y]), uvular ([y] - [n]), ou glotal ([h] - [n]). Determinar searealizaoacontece emuma dessas trs zonas exigemuita pacincia. Somos programados para no perceber essa diferena, por isso, em muitos cursos, simplesmente sedecide recomendar um nico par de smbolos,que pode ser o velar (veja acima) ou glotal (levando-se em conta a grande possibilidade dessa realizao no Nordeste). Neste caso, quando usar a primeira variante (no vozeada) e quando usar a segunda (vozeada)? Recomendamos, se voc no quer recorrer a exaustivos testes de audio, adotar a forma vozeada ([y] ou [n] antes de consoantes vozeadas (por exemplo, embordar gardnias), mas empregar a forma no vozeada nos outros casos (antes de pausa, antes de consoante no vozeada), como em acertar quase tudo e sair.6Em alemo mostra limites entre morfemas, antes de vogais. Tem valor fonmico, entre outras, em lnguas indgenas, inclusive da famlia tupi-guarani e nas lnguas semticas. UCHOA, J.A.C. Os sons da fala. Fortaleza: UFC Virtual, 2010 12 comum o apagamento da forma simples nos finais de palavra (comer acar) e antesdesomfricativops-alveolar[]e,principalmente, alveolar ou dental[s],comoem nem percebe a energia que vem das pessoas. Quanto forma dita mltipla, representada na escrita com 'r' inicial de palavra e com 'rr' medial, realiza-se em partes do Brasil e em Portugal como vibrante (uvular ou velar), mas, emnossaregio, comofricativa. Vale, ento, oquedissemosacimasobreasconsoantes fricativasvelares, uvulareseglotais, comumamudana: aqui, notoimportantenem constante a assimilao regressiva (um som seguinte impe seu trao ao anterior). Isso quer dizer que normal ouvir e[n]ado, com um murmrio glotal quase inaudvel, ou e[x]ado, como se ouvia at recentemente em ligaes da TELEMAR, hoje, Oi. No discutimos aqui a pouca exatido e se chamar todo som no oclusivo glotal de fricativo.Note que o relaxado murmrio glotao simbolizado por [n] ocorre freqentemente no Nordeste como realizao das fricativas vozeadas [v], [z] e []. Exemplos deste ltimo uso econmico acontecem em Tava, Maisela (preposio significando companhia, utilizada pelo menos no portugus nordestino e em galego) e Eu j vi. Essa pronncia comum nos centros urbanos em fala menos formal, mas pode lexicalizar-se (ser sempre empregada para uma mesma palavra) em certos lugares (como em 'cavalo'). 2.3 Os traos vozeamento e nasalizao As pregas vocais que chamamos cordas e o espao entre elas, a glote, alm do papel crucial na proteo do aparelho respiratrio, tm diversos papis na fala.vogais e a glote tm pelomenos trs papis nafala. Serveparaaarticulaodas consoantes glotais, parte responsvel pelos tons ou sons musicais timbre na produo das vogais, pelo vozeamento e pela msica da fala. No sentido deste texto,voz termo que designa apenas a vibrao das cordas vocais, diferindo levemente de quando se diz que algum tem voz bonita e de muitos outros usos.A voz possibilita a produo de sons musicais, tons, notas, teis tambm msica. Na linguagem verbal, distingue itens lexicais nas lnguas tonais, indica emoes e atitudes, serve paraaentoaoqueindicarupturassintticaseatosdefalanasfrases, representadosna escrita pelos sinais de pontuao. Trataremos mais disso na parte de prosdia. UCHOA, J.A.C. Os sons da fala. Fortaleza: UFC Virtual, 2010 13Veja a figura abaixo. Se voc desenha um aparelho fonador para descrever um som especfico, precisa tra-lo de forma compatvel com o que acontece num aparelho fonador real aopronunciar esseosomrepresentado. Nos dois desenhos, hvibraodas cordas vocais, os sons so vozeados. Em um deles, h ressonncia nas fossas nasais, porque o vu palatino permite a passagem do ar.Fig. 2 Vu, vula, cordas vocais (vibrando)Fonte: http://uab.unb.br/mod/book/print.php?id=1298Modificadapor diferentescaixasderessonncia, naboca(cujacavidademudade tamanho e forma conforme as posies da lngua), nas fossas nasais e nos lbios (vogais no-arredondadas e arredondadas), voz faz possvel a distino dos timbres(a impresso que o ouvido humano tem da variao de ressonncia). Os diferentes timbres caracterizam as vogais e servem para a identificao dos produtores de voz (que instrumento est tocando, quem est falando). Finalmente, extremamentefuncional, namaioriadaslnguasmais conhecidas, a distino,possibilitada pela vibrao ou falta de vibrao das cordas vocais, entre (a) sons vozeados, ditos, tradicionalmente e de forma menos apropriada,sonoros, como as vogais e UCHOA, J.A.C. Os sons da fala. Fortaleza: UFC Virtual, 2010 14parte das consoantes, e (b) sons no-vozeados (ditos tradicionalmente surdos), outra parte das consoantes. Estamos passando longe dos conceitos de acstica, mas precisamos entender melhor a ressonncia. Para se entender bem a nasalizao, preciso lembrar que mais comumente a voz (que est nas consoantes vozeadas) pode ressoar em uma ou mais de uma cavidade. Sons puramente nasais so comuns quando se cantarola e em interjeies como Hum e -h (divirta-seprocurandooutrasreapresentaesgrficasparaessasfrasesno-racionais), nas quais a cavidade fica fechada e o ar se escoa completamente pelas fossas nasais. As consoantes nasais so, de fato, sons oro-nasais, com ocluso na boca e ressonncia adicional nas fossas nasais. Nas vogais nasais ou nasalizadas, h basicamente diversos tipos de ressonnciaoral elabial, conformeas posies dalnguaeaaberturados lbios, mais ressonncia na cavidade nasal. 2.4 Exerccios sobre articulaoParaseexercitar antes daprximaseo, quetratadacodificao, peloAlfabeto Fontico internacional, siga as sugestes abaixo. medida que vai vendo (no tenha preconceito contra o gerndio, antes, enfrente a corrupo e o egosmo!) novos termos, resista ao hbito de decorar (ou memorizar, d quase na mesma) sem compreender. Descubra porque existeestetermo, qual suaorigem. Enoescrevaconsoantefricativo, somfricativas, pense! Os alunos de Letras precisam estar entre os melhores, mais competentes usurios da lngua, alm de serem capazes de explicar tudo que pode ser explicado, e responder por que, em muitos casos, algo no explicvel com os conhecimentos possudos.1. Sinta os lbios ao pronunciar, ora da forma mais espontnea possvel, ora atentamente, 'meu ibope'. A transcrio fontica pode ser [mcwi'b5pij. Preste ateno aos 4 sons consonantais, quer dizer, produzidos comrudo por h obstculos no canal de articulao. Nos sons 1, 3e4, os lbios sefechamcompletamente. Nosegundo, sse aproximam e a lngua pode ficar alta em sua parte de trs. Se os 4 soam diferentes, o que mais distinguecadaum? Ou, perguntandodeoutramaneira, emquesoiguais, emqueso diferentes?2.. Experimente dizer a frase 'Vai ver as favas azuis!' Voc pode pronunciar ou no o som correspondente a r. Quantos tipos de consoantes h a, como so pronunciadas, em que UCHOA, J.A.C. Os sons da fala. Fortaleza: UFC Virtual, 2010 15se distinguem entre si? Ajudamos respondendo a uma parte. Em duas das consoantes, pode-se examinarcomoo som pronunciado, para ver o modo de articulaoe, ao mesmo tempo, ondee com queo som pronunciado, para ver o ponto de articulao. Em dois dos sons, produzindo algo que se percebe como frico (da, som fricativo), aperta-se o LI contra os DS(solabiodentais). Nosoutrosdois, aperta-seacoroadalngua(quaseopice) ouo pice, contra os alvolos (ou os dentes: como voc pronuncia?), por isso, essas consoantes so ditas, alm de fricativas,alveolares (ou dentais), falando s do ponto do articulador passivo, ou, mais pormenorizadamente,pico-dentais,corono-alveolares(depende de como voc pronuncia, no adianta decorar a resposta). Agora responda: se as consoantes so iguais entre si, duas a duas, quanto ao modo e ao ponto de articulao, em que se distinguem, como se classifica esta caracterstica, onde isto acontece e como? 3. Experimente dizer a frase mal inventada (observe as letras sublinhadas): Se a chance j surgisse e eu um dia visse como estava tia Zilce! Parte dos sons foi abordada acima. Onde acontece a produo dos outros, em seu aparelho fonador? Descubra seus smbolos fonticos e como eles se classificam. Para ajudar, informamosquedoisdelessofricativos,doissoafricados(o queisso significa?), parte deles, quanto s cordas vocais, no-vozeada, a outra parte vozeada. Em que ponto ou zona so articulados, levando-se em conta os articuladores ativos(que sobem) e os passivos(que esperam em cima)? 4. Experimente dizer Marco,marcas,marque. Sinta a parte da lngua e a parte do cudaboca, emcadacaso. Ondeasconsoantesoclusivasqueiniciamasltimasslabas, representadas ortograficamente com c, c e qu, respectivamente, so pronunciadas? Pense, experimenteesintaquantasvezesfornecessrio, pensenovamenteeanote, antes de continuar. Agora, descubra como sua(s) gramtica(s) classificam esses sons, esse fonema. O que voc acha, comparando sua experincia e o que leu na gramtica?Vai ter problema emclassificar honestamente, conforme a pronncia, os sons consonantais antes de /u/, de /a/ e de /i/. assim, porque so pronunciados um na parte de trs daboca, antesdevogalposterior(diz-se queuvular),o outronocentro,antesde vogal central (no vu, por isso, velar) e ltimo, finalmente, /i/,vogal anterior, bem frente, palatal. UCHOA, J.A.C. Os sons da fala. Fortaleza: UFC Virtual, 2010 16Por causadessas diferentes pronncias eclassificaes, as transcries seriam['mahqo], ['mahkcs], ['mahci]. 5. Onde voc pronuncia os sons:a. Correspondente a r ou a rr em 'O rei corria sem roupa'?b. Correspondentes a r em: 'Por aqui, por todo o barco, querem pegar os pargos'? Sua gramtica talvez diga que parte desses sons vibrante. Voc concorda com isso?c. Correspondentes s pronncias relaxadas (nos trs casos, trata-se de sons produzidos no mesmo lugar!) correspondentes a j em Tu j tem palet, a v em Tav'era bom l e a s com som de z em Foi por caso do frio. A expresso corresponde a cas do frie, em bom dialeto com o s igual a r, quer dizer, por causa do frio. Tratamos dessa outra lngua em outro texto.No fechamento deste item e fechando seu exerccio, vamos recapitular. O que chamamos aparelho fonador inclui: (1)fontedeenergia, ospulmes, omeiovibrtil queoar, quesedeslocapela traquia e ganha a laringe, para funcionar na... (2) fonao, produo de voz, que, em sentido restrito, s o som musical, o tom, a nota que se faz nas cordas vocais). (3) A articulao, em sentido mais restrito, tem a ver apenas com o (a) modo e o (b) ponto, o como e o onde o som produzido. (4) Os sons podem ainda ser modificados nas cavidades de ressonncia: a principal, a boca, pode assumir muitos formatos diferentes. As outras, lbios, fossas nasais e faringe, so acrescentadas, ou seja, um som mais comumente oral nasalizado, oral faringalizado, etc. H lnguascomoasdafamliacariri, nas quais a faringalizao pode ser funcional, distinguir significados, mas mais comumessefenmenoapenas caracterizar otimbre de certas pessoas. Seafaringalizaomuitoforte,podeser vista como defeitoaser corrigido:as pessoas fanhas ou fanhosas geralmente faringalizam, no nasalizam.Estamos concluindo este primeiro texto. Para facilitar sua compreenso dos smbolos que usamos, adaptamos para voc, abaixo, a tabela do Alfabeto Fontico Internacional, j que UCHOA, J.A.C. Os sons da fala. Fortaleza: UFC Virtual, 2010 17atabelaoficial sempreemingls(tr-la-emosnoprximotexto), da asiglaIPApara International Phonetic Alphabet.3. Transcrio fontica3.1 Para perceber e representar a falaComo nas outras atividades humanas, perceber sons algo que exige treino, para se tomar conscinciadefatores subjetivos, quer dizer, inconscientes, nodeclarados, que alteramosresultados. Oproblemanoquealgumpossaerrar, aotentar perceber com exatidoaoqueouve. bemmais srio. Aoaprender umalngua, nossacognionos programa para no ouvir o que irrelevante para o uso da lngua. Lembrando um exemplo nosso bem acima, falantes dos dialetos mais conhecidos do ingls tendem a no perceber o vozeamento como relevante, enquanto falantes do portugus so programados para no notar a aspirao (depois das consoantes oclusivas no-vozeadas) como relevantes para o lxico. Oquevocouve muitomais resultado do preenchimento de expectativas, que da interpretaoobjetivadepropriedadesacsticasearticulatriasrealmenteproduzidas. comum quem transcreve uma conversa registrar em vrias linhas do texto frases completamente diferentes das que foram ditas, por ter-se enganado com uma nica palavra no incio do trecho.Mesmo que voc evite tais distores, no pense que est livre de decises extralingsticas. Transcrever foneticamente representar sons levando emconta s a pronncia como percebida, dependendo das circunstncias que envolvem uma realizao da lngua, do interesse do transcritor, de seu grau de conhecimento de fontica. H alguns anos, trabalhamos, no Ncleo de Pesquisa e Especializao em Lingstica, com a transcrio de fitas gravadas para diversos projetos. Em um deles, colaborando com um colega de outra universidade, verificamos se eram realizadas como alveolares ou dentais, no Vale do Jaguaribe, os fonemas /t/, /d/ e /n/, portanto, no nos preocupvamos, por exemplo, coma realizao devogais.Em outro, investigamos to-somente as heizao,ou seja,a realizao das consoantes fricativas vozeadas labiodental / v /, alveolar (ou dental) / z / e ps-alveolar / / como consoante fricativa (ou, diramos, talvez melhor, aspirada) glotal vozeada (ou murmurada!) / n /. UCHOA, J.A.C. Os sons da fala. Fortaleza: UFC Virtual, 2010 18Numatranscrio, hdecises aseremtomadas, quantoaoqueseregistraouse despreza. Por exemplo, na pesquisa supracitada, tnhamos que decidir, para /t/, /d/ e /n/ antes de / i /, se se tratava de realizao apical (com o pice, a ponta da lngua) e/ou dental (como no Cariri) ou produzida com a lmina da lngua contra os alvolos. Neste ltimo caso, para /t/ e /d/, espera-se que a pronncia seja tambm africada, quer dizer, comece com oclusiva, mas, nafasedeliberao, o arsejaaproveitadoparafricativa,ficando tudo [tj] ou[d]. Como classificar eanotar, nocasodavariantecaririense, seumapronnciafosseapical, mas ocorresse nos alvolos? Como lidar com o fato de que as pronncias ouvidas no podem ser classificadas como [t] oucomo [tj], pois h pronncias intermedirias, mais oumenos palatalizadas [t'j, e em diferentes graus, mas no propriamente africadas? Deve terobservadoque no possvel exigir umatranscrio fonticanicapara cada palavra da lngua, embora seja possvel, desde que se obedea a certas decises tericas emetodolgicas,estabelecer umas representao fonmica(fonolgica) para cada item lexical da lngua. Isso acontece porque, excludos os impedimentos articulatrios (clulas em preto na tabela do IPA), qualquer som pode ocorrer nas frases pronunciadas em uma lngua: h um nmero limitado de fonemas na lngua portuguesa ou em um de seus dialetos, mas um nmero ilimitado de fones (sons dafala) em frases realizadas de um discurso em portugus. Se voc perguntar onome de uma aluno seu, emclasse, fingir quatro vezes que no compreendeu e ele repetir, ver que apresenta pronncias diferentes em cada vez. Uma transcrio fontica pode ser mais exata (estrita, pormenorizada, narrow, [ ' n+cw]) ou menos exata (ampla, genrica, broad, [' b+5: d]). Os dados registrados em umatranscriomaisgenricacoincidem com uma representao fonmica,se no estiver misturada com dados ortogrficos, como em comple[tjjivo (som africado) ~ comple[ tjivo(somoclusivodental). Osdadosincludosnuma transcriobem exatade coquinho incluiriam at os fatos de a primeira realizao fonema /k/ palatal [c], enquanto a segundauvular[q]. Asegundavogal amaislongadastrs, masnormalmentenose indica isso na transcrio. O fonema simbolizvel com [] pode ser realmente oclusivo nasal, sentindo-se o toque no palato, ou um som aproximante, semivogal nasalizada [j ]. O fonema /u/7 tono final, pode ser desvozeado (o que se representa com um pequeno crculo subposto 7Neste momento, estamos desprezando a indicao de arquifonema.UCHOA, J.A.C. Os sons da fala. Fortaleza: UFC Virtual, 2010 19ao smbolo da vogal). A ortografia, a representao fonmica e a transcrio fontica podem ficar assim: [qo'ci:jo ] - [ko'kiu] coquinho. Talvez suas necessidades de transcrio sejam de apenas dois tipos.Primeiro, vocquersabercomosepronunciaosomrepresentadoporumsmbolo grfico do IPA, talvez porque o encontrou em transcrio fontica. Basta localizar o smbolo na tabela, observar como est colocado em sua clula, e que informaes sobre o som so fornecidas na coluna e na linha correspondentes ao smbolo.Para []8, h na tabela as seguintes informaes:Modo de articulao: Fricativo (primeira coluna)Zona de articulao: Ps-alveolar (ou lveo-palatal, na primeira linha)Papel das cordas vocais: Vozeado (est na segunda posio de uma clula)Se voc sabe o que significam os termos fricativo, ps-alveolar e vozeado, resolveu o problema. Senosabe, podeseinformar arespeito, outentar descobrir comparandoo smbolo em questo com outros das mesmas coluna e linha. Por favor, se acha que um termo desses mera questode memorizao semjustificativas, est errado. Descubra oque significa a palavra correspondente ao termo.Uma segunda necessidade talvez seja transcrever um som que voc ouviu. Comece, tentando reproduzir o som em voz alta ou mentalmente e descubra: Modo de articulao: Comovoc o pronuncia, o que faz comos rgos: articuladorativo e passivo.Zona de articulao: Onde a articulao acontece, que rgos usa.Papel das cordas vocais: H ou no vibrao na laringe, nas cordas vocais?No item 3.3 encontrar indicaes sobre terminologia para os modos de articulao, para mais esclarecimento sobre essas questes.3.2 O Alfabeto Fontico... para a Lngua PortuguesaVoc podia at dizer, coloquialmente, M que pode, isso num era internacional?, ao ver umttuloassim. Pois, sevocprecisassetrabalhar comumalnguaindgenanunca 8Se no aparece em seu texto um sinalzinho parecido com um cavalo marinho, pegue, do stio de nosso curso, a fonte SIL Doulos IPA 93, arquivo Ipa93dr.ttf e providencie, com a ajuda de seu professor a sua instalao em seu computador.UCHOA, J.A.C. Os sons da fala. Fortaleza: UFC Virtual, 2010 20estudada, no-classificada em uma famlia (lingstica), completamente desconhecida, partiria radicalmentedefones. Issoquer dizer que no teria idia do que fonmico, fonolgico, relevante, naquelalngua. Quenopoderiaaindadizer, por exemplo, que[a] e[o] so alofones dofonema / a/, como acontece emportugus brasileiro: emmuitas lnguas, pertencem a fonemas diferentes. Mas, j ao transcrever, condicionamos o objeto percebido a nossos princpios, expectativas, finalidades.Por isso, adaptamos a tabela o Alfabeto Fontico Internacional ao uso prtico neste nosso Curso, e explicamos as alteraes. Voc recebeu, anexa a este texto, tabela oficial do International PhoneticAlphabet, IPA, oAlfabetoFonticoInternacional, queexistedesde 1888, na verso atualizada emde 2005. Abaixo, apresentamos uma tabela reduzida e traduzida por ns para o portugus.Se voc quer consultar um bom glossrio em ingls, pode ver ou baixar A little encyclopaedia of Phonetics (2002), de Peter Roach, da Universidade de Reading, Reino Unido, no endereo:http://www.personal.rdg.ac.uk/~llsroach/encyc.pdf (email: [email protected]).Consulte a tabela dos smbolos que apresentamos abaixo. Quanto ao ponto de articulao, foi excluda depois da coluna das uvulares, uma das farngeas, importante para a descrio do rabe. Quanto ao modo de articulao, foi apagada depois das fricativas a linha daslateraisfricativas. Alis, essalinhaeessetermosoprovasdequeosignificadode cientficobemdiferentedoquesepensanumavisosimplista. Tallinhatraznaverso oficial apenas dois smbolos, que designam um som importante em lnguas do grupo asteca e outro importante, ao que se sabe, em gals. O gals,ou Welsh, lngua cltica falada no Pas deGales,Wales, noterritriodaGr-Bretanha, ondesediadaaInternational Phonetic Association. Alinhadasaproximantes(semivogais, vejadescrioemoutropontodestetexto) desceu, ficando mais prxima das vogais altas. A mudana se justifica tambm para conferir maiorcoernciaeiconicidadequantoabertura. Nasconsoanteslateraisaindahcontato entreosarticuladores, masnonasaproximantesque, foneticamentevizinhasdasvogais, tendem a confundir-se com elas na fonologia do portugus.UCHOA, J.A.C. Os sons da fala. Fortaleza: UFC Virtual, 2010 21ALFABETO FONTICO INTERNACIONAL (Reviso de 2005)Reduzida os smbolos comumente usados para o portugus. Alterada levemente em colunas, linhas e termos, como descrevemos a seguir. Consoantes (pulmnicas)Bilabial La-bio-dentalDental Alveolar Alveopa-latalRetroflexo Palatal Velar Uvular GlotalPlosivop b t d t d c j k g q GNasalm n n pVibranter nTeperFricativo Iv O sz j xy yn hnLateral aprox. I tAproxi-mante(w)+ j wVogaisNasais (ver as orais) Anterior Central Posteriori uFechado i io u

ccoMeio-fe-chado cc oMeio-Aber-to c n 5 Abertoa oArredon-dadoQuanto aos termos, no IPA original, ao lado do termo tap, aportuguesado como tepe (batidinha, tradicionalmente vibrante simples) h o termo flap, que desprezamos. Preservamos o termo plosivo, que substitudo em portugus por oclusivo, porque tambm asnasaissooclusivas(naboca, embora o ar fique livre em sua passagem para as fossas nasais). Preferimos alveopalatal a ps-alveolar, seguindo muitos autores, porque nos parece que caracteriza os sons do portugus em chuta (verbo) e juta (planta e fibra) a rea dessas duas zonas e uma grande poro da lngua, no valendo para ns uma articulao que tome apenas uma pequena rea depois dos alvolos.bemicnicaatabelaacima, oquefacilitaseuaprendizado. Queremosdizerso muito significativas as convenes da tabela, h grande semelhana entre suas representaes e o que acontece no aparelho fonador real. Nas descries que fazemos no restante deste item, mostraremos o seguinte:UCHOA, J.A.C. Os sons da fala. Fortaleza: UFC Virtual, 2010 22a. As posies dos termos na primeira coluna, referente aosmodos de articulao, correspondem de perto aos graus de fechamento do canal articulatrio: sons mais fechados em cima, mais abertos em baixo, includas, a, as vogais.b. As posies na primeira linha correspondem s zonas de articulao de um aparelho fonador com a boca voltada para o lado direito da folha (primeira margem direita). Vai-se, portanto, dos lbios glote. c. Nas vogais, como nas consoantes, a posio mais esquerda fica na direo dos lbios. O som [i] corresponde regio do palato, [a] ao centro da boca, ao vu palatino, [u] vula. A vogal mais fechada muito aberta, se comparada com as consoantes aproximantes, semivogais.d. Se h dois smbolos consonantais numa clula, o da esquerda no-vozeado, o da direita vozeado. Se s h um (caso de r, l, m, n) a posio mostra a tendncia (espera-se que [l] seja vozeado), mas o tipo de vozeamento pode variar.e. Se uma casa est vazia e em branco, no se considerou relevante pr um smbolo a, mas um som com essas caractersticas possvel. Pode haver vibrante bilabial (o smbolo [n]),crianasopronunciamimitando motor decarro.Se a clula est em negro,o som considerado impossvel (casos de vibrante velar e de lateral bilabial).f. No est nessa tabela, mas, nas vogais, dois smbolos juntos, como em [i y], [c o], [\5],correspondem a umsomno-arrendondado e a outro arredondado.Faltam em nossa tabela, porque consideramos isso irrelevante emportugus (embora ocorra, nunca fonmico), mas est l na verso oficial.Aproveitamosopargrafoacima para lhe lembrar,primeiro,que se fala de fone, mas defonema doportugus(oudogals, doesperanto, doalemo, dofulni). Um fonema /o/ do portugus pode ter pouco a ver com um fonema /o/ do russo, englobando um conjunto de fones diferentes, que se distribuem de maneira diferente. Vamoscontarumcasoprtico,vindo de nossa experincia no ensino de Portugus para Estrangeiros. Percebemos, h alguns anos, que falantes de russo, estudando portugus, tendiamaescrever(edizer)algocomo(esquecemosaspalavras reais)asalunas novas, referindo-se a dois rapazes. Para um professor formado em lingstica, corrigir textos escritos oufaladossriscandoebaixandonotaumabsurdo. Temosqueexplicar, descobrirque UCHOA, J.A.C. Os sons da fala. Fortaleza: UFC Virtual, 2010 23estratgia fez o aluno chegar quela realizao que consideramos falha. Aparentemente,os alunos russos cometiam erro de concordncia, confundindo masculino e feminino. Poisnoeraisso. Aconteceque, emrusso, semposiotnicasodistintosos fonemas /a/ e /o/ (que pode ser realizado como aberto ou fechado, no tem importncia, ao contrrio do que acontece em portugus. Em posio tona, em russo, os sons centrais [c] e [n] correspondem tanto a /a/ quanto a /o/, de forma que , sino, e ,9 sinos, transliterados no alfabeto latino como kolokle kolokol, so pronunciados mais ou menos [kctc' k5t] e [kctckc' ta],10 respectivamente. 3.2 A terminologia fontica, exemplificada com o portugusVamos a algumas experincias com classificao e transcrio. Considerando que h graus de abertura, temos alguns grupos de tipos de modos de articulao. 1. Fechamentomximo:consoantesoclusivasenasais,vibrantes,tepe. Observe e penseemporqueseescolheramossmbolosparaCaretademedo, oquejustificaoos termos em negrito: [kn'rctcdi'mcdo]. O fechamento mximo ocorre de forma variada, a partir da qual so classificados os sons, conforme os termos descritos de forma sucinta a seguir. Plosivo vs.oclusivo. O primeiro termo est na tabela oficial do IPA, o segundo em livros brasileiros, sendo mais comum em obras sobre o portugus. Designam os mesmos sons, com motivaes diferentes. Uma ploso, no nosso caso, para fora,exploso, e acontece por causa da ocluso, fechamento total simples, com liberao sbita do ar. Na prtica, um som plosivo pode ser no-liberado (not released), cessando o esforo articuladorsna ocluso. Istoaconteceregularmente em lnguas como o vietnamse o cantons(outralnguadaChina, diferentedomandarimdePequim). Emportugus, alofone, por exemplo, de /b/ em pronncias de Sabe?; em ingls, acontece, por exemplo, 9 Em russo e em muitas outras lnguas, principalmente eslavas, como blgaro, ucraniano e o srvio, utilizado o alfabeto cirlico, construdo a partir do alfabeto grego para a evangelizao no Velho Eslavnio pelos ortodoxos Cirilo e Metdio.10 O smbolo [t] representa l velarizado, coarticulado com aproximante [w], porque a lngua se ergue em sua parte posterior. um l colorido de u, l escuro, dark L, como o de well, em ingls ou em dialetos do portugus em mal (em Portugal e, talvez, ainda, no Sul do Brasil). Em geral, diz-se que l tem cor de vogal: o do portugus brasileiro central, o do francs e do alemo so anteriores, palatais, lembrando i.UCHOA, J.A.C. Os sons da fala. Fortaleza: UFC Virtual, 2010 24nos advrbios de afirmao e negao, grafado Yep e Nope... de fato, no se ouve a propriamentep, apenasocorremyessem[s]eno, comfechamentoimediatodos lbios. H tambm sons implosivos, que so produzidos com o ar que ingressa, que vem de fora Nasal. Nestes, a ocluso na boca no causa (ex)ploso, por que o ar escapa para a cavidade nasal. Vibrante. Emvezdefechamentototal, temtoques. Nocomumnoportugus nordestino. Avibrante simples chamada comumente pelos lingistas Tepe, detap, batidinha,porque a lngua d umtoque rpido na boca, entre os alvolos e o palato. Na vibrante mltipla, h trs toques pelo menos, nos lbios (um com o outro), nos alvolos ou na vula. 2. Fechamento suficiente forar a corrente de ar e produzir rudo: consoantes fricativas em J h chuvas: [a'a'juvcs]. Nas fricativas, h impresso de frico, pois o ar forado num estreitamento, sem exploso ou fechamento consistente no canal.Oportugusestentreaslnguasmaisricasemsomfricativos(comparecomo espanhol). Temosasformasno-vozeadae vozeada de labiodentais,dentais(Romrio)ou alveolares e ps-palatais (ltima transcrio, acima). Como se no bastasse, no Nordeste e em outras reas do Brasil, os fonemas [n], sempre, e [r], em fim de slaba, se for realizado, so fricativos, geralmente glotais (h reas nas quais igualmente fricativo, mas velar ou uvular). 3. Pode haver um movimento entre os articuladores, sem qualquer grau de fechamento queproduzaoclusoouqueleveaforar apassagemdoaracontececomasconsoantes aproximantes (semivogais, semiconsoantes!), inclusive laterais. Experimente dizer:Ei, e a aula?, ['cj jn'owIc]. Aqui, no se ouve claramente rudo, mas se sente movimento noaparelhofonador, narelaocomos outros segmentos: oalteamentodalngua, por exemplo, nur angedeutet11, 's indicado'.Nalateralaproximante,a impresso do som acontece quando a lngua se move, afastando-se do cu da boca. Se no, produz-se uma curiosssima vogal lateral. Experimente, prolongandoosomdeleml::::::::::. Atranscrio [l.:la]. (Noexperimente em pblico, use com moderao, pois se parece com expresso de baixo calo). 11 Pronuncia-se ['nun'1angc'd5otctj. A expresso, muito apropriada, utilizada em SCHUBIGER, Maria (1977).UCHOA, J.A.C. Os sons da fala. Fortaleza: UFC Virtual, 2010 254. Percepesacontecidassemrudoesempercepodemovimentoleve, quese distinguemapenas pelotimbre, quer dizer, a sensao auditiva de que dois sons so diferentes, s porque h configuraes diferentes no aparelho fonador, que levama ressonncias diferentes. Experimente comparar o que dissemos acima sobre Ei, e a aula, para [j], [w] e [l], com o que acontece em Ah, a, para [a], [c] e [i]. No segundo caso, voc percebe algo como [a], mesmo que a lngua fique parada por alguns segundos, ao longo de toda a pronncia. Trata-se das vogais, sons de articulao livre.A percepo das diferenas vemexclusivamentedos diferentes tipos deressonnciadavoz, davibraodas cordas vocais, conforme as modificaes na cavidade bucal, determinadas pelas diferentes posies dalngua, edaaberturadoslbios. Alnguacontinuadescendo, oqueestassociados subclassificaes a seguir. (a) Altas. O termo corresponde a fechado, pois o articulador ativo, a lngua, est mais queparaas outras vogais. Vejaos smbolos paraas altas anterior eposterior. Fizemos diferenaentreformastnicas, maistensas, altas, extremas(anterior, posterior), eformas tonas, relaxadas, menos extremas (tendendo centralizao da lngua):['v i tji si'bitjiziu 'sundo] 12, Vinte cibites e um surdo.(b)Mdias-altas. Mantivemos velhas tradies, com 1 smbolo para /e/, um para /o/, mas vrios smbolos para /a/. Voltamos ao assunto em (d):[scbo'zcrcsc j'no minn'Ic ], Seboseira sem nome na l(c) Mdias-baixas. S 1 smbolo para /c/, 1 para /5/.[novafl5'rcjtcj, Nova Floresta(d) Baixas (isto , abertas). Reveja tudo at em cima: cumprimos, para as realizaes de /a/, a tradio mxima, de Macambira, com smbolos diferentes para variante tnica oral [a], tona final [c], outras tonas [n], qualquer realizao nasal [c ], precedendo a semivogal [w]: [o]. No se impressione: isso discutvel, voc pode simplificar. ['IaIow'tavc'aGwc] L faltava gua.Para curiosos: como o somvoclico central mdio relaxado, a aproximante / semivogal anterior e a correspondente posterior so difceis de nomear claramente isoladas, com o prprio som, recebem nomes prprios, de origem hebraica. So xu (schwa) para [c], iode (yod) para [j] e uau (vav, waw) para [w].Paramos aqui, pedindo desculpa pelo freio abrupto, para voltar logo em novo texto.12 Na prosdia, no seguimos o clssico do AFI, porque o sinalzinho de agudo para a entoao, til para as lnguas tonais, mal seria notado para essas ocorrncias frasais. UCHOA, J.A.C. Os sons da fala. Fortaleza: UFC Virtual, 2010 26BIBLIOGRAFIACAMARAJR., JoaquimMattoso.EstruturadalnguaPortuguesa. Petrpolis, RJ: Vozes, 1970.CAVALIERE, Ricardo.Pontos essenciais em fontica e fonologia. Rio de Janeiro: Lucerna, 2005.GLEASON JR, H.A.An Introduction to descriptive linguistics. Revised edition. New York: Holt, Rinehart and Winston, Inc., 1955, 1961.Emportugus:Introduo lingstica descritiva. 2. ed. Lisboa: Fund. Calouste Gulbenkian, 1985. Vem saindo por outra editora.LEMLE, Miriam.Guiatericodoalfabetizador. Ed. rev. eatualizada. SoPaulo: tica, 2004.LYONS, John.Lingua(gem) elingustica. Umaintroduo. RiodeJaneiro: Guanabara Koogan, 1987. 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