Spread e Float Bancario

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Sumrio

Introduo...............................................................................................................................1 O que Spread........................................................................................................................3 2.1. O Spread Bancrio no Contexto do Sistema Financeiro Brasileiro.............................7 2.2. O Mercado de Crdito..................................................................................................9 3. A histria do Spread Bancrio..........................................................................................11 3.1. Fatores Macroeconmicos.........................................................................................12 3.2 Fatores Microeconmicos...........................................................................................13 3.3 Fatores Institucionais..................................................................................................14 3.4. O Spread Bancrio na Viso das Instituies Financeiras.........................................16 4. Floating Bancrio..............................................................................................................17 4.1. Free Float...................................................................................................................18 4.2. A Relao de Floating com a Concesso de Crdito no Brasil .................................18 5. Concluses........................................................................................................................21

IntroduoNo Brasil, em razo do sucesso de processo de estabilizao de preos, da maior abertura e integrao ao mercado financeiro internacional e, mais recentemente, da adoo de um regime de taxa de cmbio flutuante, esperavam-se que os spreads bancrios iriam, 1

em algum grau, convergir para os nveis internacionais. H, contudo, um certo desapontamento com relao aos resultados alcanados. Apesar da queda da taxa de juros que ocorreu a partir de meados de 1999, o spread bancrio no Brasil ainda se mantm em patamares elevadssimos em termos internacionais, situando-se ao redor de 40% nos ltimos anos. De fato, um dos principais fatores que impedem o crescimento do crdito no Brasil cuja relao crdito/PIB tem cado de forma acentuada de 1994 aos dias de hoje so as elevadssimas taxas de juros dos emprstimos que tm sido praticadas no Pas, que explica, ao menos em parte, a alta rentabilidade dos grandes bancos varejistas. Por sua vez, o baixo nvel de crdito no Brasil um dos fatores que tm contribudo para que a economia cresa abaixo de seu potencial. Embora j existam alguns estudos acadmicos sobre a determinao do spread no Brasil, a explicao sobre o nvel do elevado spread bancrio no pas ainda uma questo em aberto. Alguns estudos procuraram aferir se o spread bancrio elevado estaria relacionado baixa concorrncia existente no setor, mas os resultados esto longe de ser conclusivos. Por outro lado, tem sido bastante veiculado por exemplo, pela Federao Brasileira de Bancos (FEBRABAN) que os altos spreads resultam fundamentalmente do crowding out do governo no mercado de ttulos, em razo de sua elevada dvida, dos nveis elevados do compulsrio sobre os depsitos dos bancos, da tributao excessiva sobre as operaes de crdito e ainda do elevado volume de crditos direcionados, tudo isto fazendo com que os bancos tenham menos recursos para emprestar e a um custo artificialmente mais alto. Para melhor analisarmos do que se vem a ser spread bancrio e floating bancrio, colocaremos aqui uma prvia leitura com a seguinte reportagem do jornal O Globo, publicada em 22/08/2010, escrita por Regina Alvarez e Patrcia Duarte.

Na dcada, spread bancrio cai bem menos que juros e engorda os lucrosPara empresas, custo alto do capital faz pas perder competitividade. A queda substancial na taxas de juros registrada nos ltimos dez anos no foi acompanhada, na mesma proporo, pela reduo do spread bancrio parcela dos custos relativa aos riscos de cada operao financeira que embutida nos juros cobrados dos clientes finais. Isso, segundo analistas, sustenta em grande parte a lucratividade dos bancos em um cenrio de estabilidade econmica. Em 2000, incio da srie histrica do Banco Central, os spreads eram de 28,37 pontos, para taxa mdia de juros de 46,3% ao ano. Em junho de 2010, a taxa havia recuado para 34,6%, e os spreads, para apenas 23,51 pontos (queda de 17,2%). Essa combinao de economia estabilizada e forte com, demanda aquecida, crdito farto, juros e spreads altos, perfeita para o setor financeiro, pois garante ganhos elevados com baixo risco de inadimplncia avalia um analista do mercado financeiro, que prefere se manter no anonimato. Nos ltimos dez anos, os bancos tambm ampliaram seu espao na economia, enquanto a participao do setor produtivo encolheu. Em 2000, segundo a nova srie do IBGE, o setor industrial tinha uma participao de 27,7% no PIB e o segmento financeiro

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dos servios tinha 6%. Em 2009, a indstria caiu para 25,4% e o setor financeiro subiu para 7,3%. Na viso do setor industrial, o peso dos juros e dos spreads bancrios so responsveis, em grande parte pela perda de espao da indstria na economia, combinando com outros fatores, como a carga tributria elevada, o cmbio valorizado e a burocracia. A Federao das Indstrias de So Paulo (FIESP) tem um estudo que compra a competitividade na indstria em 43 pases, onde o Brasil se destaca, entre outros aspectos, pelo alto custo do capital. O custo do capital no Brasil disparadamente maior afirma o diretor de Competitividade e Tecnologia da FIESP, Jos Ricardo Coelho. O diretor na linha de discurso do setor produtivo um crtico dos juros e spreads altos, que, na sua viso, tiram a competitividade da indstria e engordam os lucros dos bancos: Quanto maior a carga de juros, mais o governo tem que pagar para rolar o gasto. E os bancos ganham dos dois lados. Coelho apresenta dados que mostram como a indstria nacional compete em condies desiguais com seus concorrentes no exterior, em relao ao custo do capital. Os juros mdios no pas estavam em 43,3% ao ano, em meados 2009. J nos pases competem com o Brasil a mdia era de 13,5% ao ano. O Brasil tem os maiores spreads do mundo. Anexo 1

O que SpreadOs elevados custos dos emprstimos so causas de restries nos volumes de crdito, de problemas de risco moral e seleo adversa, dentre outros. Entretanto, deve-se 3

destacar outro ponto que impacta negativamente o volume de concesso de crdito: o spread bancrio. Primeiramente h que se definir precisamente o que seja spread. O Spread um fator que influncia na vida da maioria das pessoas que tomam emprstimo pessoal na maioria dos pases, uma palavra constantemente mencionada, porm pouco sabem ou nada sabem sobre esse assunto. Spread um termo em ingls que em sentido amplo significa: extenso, amplitude, envergadura, vo de ponte etc. Em finanas, o termo spread bancrio a diferena entre a taxa de captao e de aplicao, que fica em poder das instituies financeiras (diferena entre a taxa de juros que as instituies financeiras pagam na captao do dinheiro e a que cobram dos clientes). Ou seja, refere-se diferena entre o preo de compra (procura) e venda (oferta) da mesma ao, ttulo ou transao monetria. Spread Bancrio aplicado nos bancos somando-se taxa de juros mnima determinada pelo Banco Central, a SELIC, para estabelecer as taxas mediante as quais efetuam emprstimos ao pblico. Enquanto a taxa SELIC da ordem de 12% ao ano, os bancos cobram de seus clientes 68% ou mais ao ano, ou seja, h um "spread" da ordem de 56% ao ano. Por exemplo, se comprarmos uma ao na bolsa de valores a 10 centavos e a vendermos a 1 real, temos um spread de 90 centavos. Grande parte do lucro obtido pelos corretores de ttulos advm desta diferena. Este exemplo s para termos uma pequena idia de como se aplica o Spread, nos emprstimos pessoais esses valores so muito mais volumosos e os lucros dos bancos e financeiras tambm atravs desta.

A frmula de clculo do "spread", segundo Juan Manuel Wernicke:

Diferencial entre as taxas ativas e passivas onde, corresponde s taxas de juros das operaes ativas, relativas s operaes de crdito concedidas pelos bancos; ip corresponde s taxas de juros das operaes passivas p corresponde taxa esperada de crditos no reembolsveis que se pode considerar como a "taxa de prmio de risco" c corresponde ao custo de financiamento (com uma margem que garanta o lucro da atividade bancria) Anexo 2 Quanto maior o Spread nos emprstimos ou aplicado nas operaes de crdito ou financeiras, maior o lucro que as instituies tm nas operaes monetrias. O tamanho do spread no Brasil, caracterizado como a diferena entre os custos de captao e os juros cobrados nos emprstimos, que agrava ainda mais os efeitos nocivos dos altos ndices determinados pelo Banco Central para os juros primrios.

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Normalmente, pases em desenvolvimento como o Brasil tendem a apresentar altas taxas de spread na intermediao financeira. Entretanto, diversos so os fatores utilizados na explicao dessas elevadas taxas, por no existir muito fundamento na idia de que os elevados spreads bancrios observados no pas sejam decorrncia da baixa concorrncia do setor. Sobre a correlao entre as altas taxas de juros e o spread bancrio elevado, correlacionam-se uma taxa bsica alta que implica sobre o spread bancrio elevado, no apenas pelo maior risco de inadimplncia envolvido nas operaes de emprstimos, mas tambm pelo alto retorno oferecido pelos ttulos pblicos, a principal varivel utilizada pelos bancos para a estipulao do diferencial cobrado entre as suas taxas de captao e aplicao de recursos.

Spread bancrio e sua influncia na sociedade contemporneaLeonardo Carlo Biggi de Paiva

No que se relaciona a taxa de juros, a preocupao da sociedade constante, havendo em noticirios, jornais e telejornais de todo o pas, notcias quase que dirias de temas correlacionados ao assunto, podendo-se citar mesmo de grande euforia econmica o perodo em que o COPOM decide fixar a taxa de juros bsica da Economia. de grande relevncia e influncia na sociedade em tantos pontos diferentes o estabelecimento das taxas de juros, sendo cada vez mais necessrio, portanto, compreender os meandros de formao dos juros e do porqu que assumem relevncia to grande em nosso meio, especialmente no que tange aos juros praticados pelas instituies financeiras, que nesse mbito assumem a nomenclatura de spread bancrio. Faz-se necessrio entender o Spread bancrio, portanto, e isto porque no raro se apresenta a necessidade de utilizao de bancos para a efetivao de variados atos, como pagamento de contas de gua, luz, telefone etc., seja para receber salrios e firmar emprstimos, formar poupana, fazer investimentos, ou at mesmo se valer das diversas modalidades de emprstimos cedidas por estas instituies, sempre aparecendo a figura da taxa de juros e do spread bancrio. Resumidamente, ento, o presente artigo se prestar a entender o spread bancrio, demonstrando sua importncia, composio e influncia na sociedade, iniciando pelo bsico conceito de juros. Nas palavras do doutrinador e professor Silvio Rodrigues, Juro o preo do uso do capital. Vale dizer, o fruto produzido pelo dinheiro, e ainda, sob o plio dos ensinamentos de De Plcido e Silva, Juros, no sentido atual, so tecnicamente os frutos do capital, ou seja, os justos proventos ou recompensas que deles se tiram, consoante permisso e determinao da prpria lei, sejam resultantes de uma conveno ou exigveis por faculdade inscrita em lei. Partindo dessa premissa, de que juro a remunerao do dinheiro, passemos a estudar o Spread bancrio. Em recentes entrevistas e noticirios, o presidente Lula manifestou sria preocupao quanto ao assunto, exigindo das instituies financeiras que reduzissem o

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spread bancrio, uma vez que este se encontrava entre as maiores taxas do mundo, sendo o teor de suas manifestaes a que segue, vejamos: A taxa SELIC menos preocupante hoje do que a taxa do spread. preciso reduzir o spread, A reduo do spread bancrio neste momento uma obsesso minha. Ns precisamos fazer o spread bancrio voltar normalidade no pas, Ns estamos numa fase em que o BC e a Fazenda esto estudando isso e obviamente que quem tem bancos pblicos como tem o Brasil pode atravs dos bancos pblicos comear essa tarefa de reduzir as taxas dos spreads bancrios. Mas por que ser que o spread bancrio to alto e por que a tentativa de reduzi-lo tem sido obsesso do Governo? Para esclarecer, mister se faz, antes de mais nada, entender o que seja Spread bancrio, qual seu conceito. Nesse sentido, a definio mais aceita a de que Spread bancrio a diferena entre a taxa de captao que os bancos empregam e a taxa que aplicam no emprstimo. Ou seja, se o banco capta dinheiro dos investidores a uma taxa de 10% ao ano, por exemplo, e empresta esse mesmo dinheiro a uma taxa de 30% ao ano, seu Spread ser de 20% (30% 10%). Para reduzi-lo, portanto, se o problema fosse to-somente aritmtico, bastaria que o banco emprestasse dinheiro a uma taxa de juros inferior, reduzindo-a para que assim, o Spread tambm fosse reduzido. Contudo, no to simples assim. Com esse spread (diferena da taxa de emprstimo e da taxa de captao), o banco tem de arcar com diversos custos e suportar riscos, como pagamento de impostos, pagamentos de custos administrativos, custos com a inadimplncia, sendo que apenas com as sobras eventuais aps o pagamento dessas diversas despesas que o banco retirar seu lucro. Nesse passo, oportuno demonstrar que o Spread bancrio se decompe em diversas parcelas. Segundo estudo da FEBRABAN, o percentual das parcelas o que segue: impostos diretos (20,6%); impostos indiretos e contribuies ao Fundo Garantidor de Crditos (7,9%); despesas administrativas (14,1%); despesas com inadimplncia (17%); e margem lquida (40,1%). Em outro estudo do Banco Central, revelou-se que o spread brasileiro composto por vrios itens: custo administrativo (13,5% do total), inadimplncia (37,35%), compulsrio (3,59%), tributos (8,09%), outros impostos (10,53%) e margem lquida dos bancos (26,93%). Em outubro de 2009, attulo de exemplo, portanto, dos 28,4 pontos do spread a margem (lucro) das instituies foi de 7,65 pontos porcentuais. (Fonte: Agncia Sindical). Ademais, quanto maior for a insegurana inspirada pela inadimplncia de um pas tanto maior ser o Spread bancrio. Isto porque, segundo explicao do Banco central, a insegurana jurdica em relao aos contratos de crdito, ao colocar em risco o recebimento dos valores pactuados, retrai a oferta de crdito e aumenta o spread, por um lado, pressionando os custos administrativos das instituies financeiras, inchando em especial as reas de avaliao de risco de crdito e a rea jurdica; por outro lado, reduz a certeza de recebimento da instituio financeira, mesmo numa situao de contratao de garantias, 6

pressionando o prmio de risco embutido no spread, tudo isso fazendo com que o Spread aumente significativamente. Portanto, do que restou exposto, verifica-se que a reduo do Spread no to simples assim, pois que depende de uma srie de elementos diversos, sendo que cada fator econmico pode influenciar de maneira significativamente em sua composio, impedindo a almejada reduo. Em termos numricos, atualmente o Brasil se encontra em 2 lugar no que tange taxa mdia do Spread, apontando 35,4 pontos percentuais, apenas perdendo para o Zimbbue, primeiro colocado no ranking, com 75 pontos percentuais, sendo certo que a Holanda que menor taxa de Spread possui, -0,6 pontos percentuais, consoante recente dado divulgado pelo site InfoMoney, que apresenta a tabela abaixo com as maiores e menores taxas de Spread. Taxa mdia de spread Pas Zimbbue Brasil Maiores taxas Pas Menores taxas -0,6 ponto percentual 0,2 ponto percentual 0,3 ponto percentual 0,7 ponto percentual 75 pontos Holanda percentuais 35,4 pontos Reino percentuais Unido

Madagascar 33,2 pontos Ir percentuais Paraguai Malau 27,2 pontos Frana percentuais

21,8 pontos Eslovquia 0,8 ponto percentuais percentual

Fonte: Frum Econmico Mundial Destarte, esperando terem ficadas esclarecidas as dvidas acerca da impossibilidade de reduo das taxas de Spread, bem como esperando terem sido sanadas dvidas acerca de seu conceito e composio, conclumos que muitos so os fatores econmicos que influenciam na definio das taxas de juros, sendo dificultosa sua reduo especialmente em pases que possuem ndices de inadimplncia elevados. Anexo 3

2.1. O Spread Bancrio no Contexto do Sistema Financeiro BrasileiroPara entender o spread bancrio e seus componentes, essencial que se tenha conhecimento de como funciona o sistema financeiro nacional, principalmente no que se refere ao mercado de crdito e seu respectivo risco, como tambm entender toda a

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regulamentao desse mercado e respectivas conseqncias nas polticas adotadas pelas instituies bancrias na determinao da taxa de juros para os seus diversos produtos. O mercado financeiro composto, basicamente, por duas unidades de agentes: 1. A unidade superavitria, formada por aqueles que possuem, num determinado perodo de tempo, renda superior a suas previses de gastos; e 2. A unidade deficitria, formada por indivduos cuja pretenso de gastos supera a renda auferida, para um determinado perodo de tempo. Assim, pode-se dizer que relaes financeiras, portanto, envolvem a negociao de contratos em que se registram obrigaes ativas e passivas por parte de unidades superavitrias e deficitrias, respectivamente. Essas duas unidades de agentes devem considerar, para a tomada de deciso, os riscos existentes na negociao, os prazos das operaes, as garantias envolvidas e outros aspectos em comum. A grande diferena entre eles reside no fato de que o agente superavitrio analisa o lado da remunerao a ser auferida com o emprstimo, enquanto o deficitrio enfoca o retorno a ser obtido com a obteno do referido emprstimo. Um sistema financeiro, por sua vez, responsvel pela canalizao de recursos das unidades superavitrias para as deficitrias, situao esta que impulsiona o crescimento da economia, utilizando os recursos disponveis de maneira mais eficiente e contribuindo para a manuteno do bem estar social e do nvel de emprego. Alm disso, responsvel pela organizao e operao dos sistemas de pagamento da economia, como tambm pela criao de ativos, tendo em vista a necessidade dos poupadores. Pois, o modo como a interao entre os mercados e as instituies financeiras ocorre forma a estrutura que define o sistema financeiro. De acordo com Gurley-Shaw, citado por Lopes e Rosseti (1988), a ocorrncia de intermediao financeira pressupe a existncia de agentes superavitrios e deficitrios dispostos a transacionar no mercado, como tambm que o sistema econmico tenha superado o estgio primitivo das trocas diretas em espcie. Os intermedirios financeiros desempenham duas funes bsicas. A primeira a de corretagem, quando atuam como agentes do poupador, fornecendo servios de informao e transao. A segunda a de transformao de ativos, ao emitirem instrumentos financeiros muito mais atraentes para os poupadores do que os instrumentos emitidos diretamente pelas empresas. O intermedirio financeiro tambm pode atuar aprimorando o funcionamento dos mercados, ao minimizar diversos problemas, principalmente aqueles relacionados assimetria de informaes, esta por sua vez pode causar dois tipos de problemas no sistema financeiro: 1. O problema da seleo adversa, quando a maioria do mercado financeiro composta por tomadores potenciais de maior risco; e 2. O problema do risco moral, que ocorreria apenas aps as transaes. O risco moral nos mercados financeiros o risco de que o tomador se comprometa com atividades que sejam indesejveis (imorais) do ponto de vista da instituio financeira, porque elas diminuem a probabilidade de que o emprstimo seja pago. Sendo assim, as instituies financeiras podem decidir que o melhor no conceder o emprstimo. O sistema financeiro nacional possui um alto grau de sofisticao, sendo composto por um pequeno nmero de grandes bancos, mas possuindo, tambm, um mercado de capitais bem desenvolvido e competitivo. Na estrutura desse sistema, temos integrantes que possuem carter, principalmente, normativo. Nesse rol destacam-se: 8

CMN Conselho Monetrio Nacional, Banco Central do Brasil, CVM Comisso de Valores Mobilirios, Banco do Brasil (participa como integrante normativo do sistema financeiro, por ser o responsvel pela execuo de polticas de crdito rural e industrial.), BNDES Banco Nacional de Desenvolvimento Econmico e Social (participa do sistema financeiro nacional, como integrante normativo, por ser o rgo responsvel pela execuo de polticas de investimento do Governo Federal). Estes integrantes podem ser considerados os responsveis pela sua normalizao. Por outro lado, tambm integram o sistema as instituies pblicas e privadas de carter operacional, ou seja, todas aquelas que, de alguma forma, funcionam como intermedirios financeiros (bancos, cooperativas, sociedades de crdito, corretoras, seguradoras e outros). Os bancos destacam-se como os principais intermedirios financeiros de qualquer sistema. Pois, os bancos comerciais so instituies engajadas em dois tipos de atividades, uma em cada lado do balano patrimonial, a saber: captao de depsitos e emprstimos. Do lado da captao de recursos, os intermedirios financeiros buscam recursos emprestados, pagando taxas, aos participantes com disponibilidade de recursos, que possam cobrir o risco incorrido por tais participantes na cesso desses recursos. Tais taxas, por sua vez, devem ser inferiores s taxas que o intermedirio pretende auferir ao investir os recursos captados. Dentre os instrumentos clssicos de captao utilizados pelos intermedirios financeiros esto os depsitos vista, depsitos a prazo e as cadernetas de poupana, os emprstimos e o capital bancrio ou patrimnio lquido. O Brasil, nos ltimos anos, verificou-se um considervel crescimento de outros tipos de captaes, basicamente aquelas relacionadas aos instrumentos de crdito, tais como cesses, fundos de direitos creditrios, cdulas de crdito bancrio e outros. Por sua vez, no que se refere s aplicaes de recursos, as instituies participantes do mercado financeiro possuem diversos tipos de ativos para os quais podem ser direcionados os recursos por elas captados. Entretanto, o ativo que gera o maior retorno para as instituies bancrias a concesso de crdito. Os bancos lucram principalmente atravs da concesso de emprstimos, pois em funo da falta de liquidez e risco de default mais alto, esses bancos buscam obter um rendimento mais alto sobre os emprstimos concedidos. To importante quanto a composio do portflio do banco a forma de financiamento da compra dos ativos. Assim, a deciso estratgica de balano do banco ser procedida com base na escolha entre quantos e quais tipos de ativos comprar e quanto e quais tipos de obrigaes emitir, escolha esta que ser orientada de acordo com a percepo de risco e as oportunidades de lucro visualizadas pelos bancos.

2.2. O Mercado de CrditoO crdito bancrio deve ser apreciado como um instrumento de alavancagem (proporo de recursos de terceiros na estrutura de capital da empresa), do crescimento econmico, pois quando o acesso ao crdito facilitado, as empresas tendem a investir mais na expanso de suas atividades, com as famlias tendendo a expandir o seu consumo. O crdito bancrio movimenta a economia, garante o comrcio e a fluidez dos mecanismos de troca. Ou seja, o crdito detm a fora econmica tendo em vista o fato de

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que a maioria das transaes comerciais realizadas atualmente est diretamente relacionada ao crdito, e no moeda. A literatura econmica sempre destacou a relevncia dos mercados financeiros para o desenvolvimento econmico dos pases, alm de considerar o crdito privado como um importante motor de crescimento econmico. O mercado financeiro brasileiro caracterizado por um volume de crdito relativamente baixo e por taxas de inadimplncia e de juros muito altas. Entretanto, mesmo apresentando volumes abaixo de seu potencial, o crdito bancrio fator essencial no financiamento de projetos de investimento, tendo em vista o mercado de capitais, ainda incipiente no pas. No caso especfico brasileiro, onde o mercado de capitais responde por uma parcela restrita de financiamento privado, o crdito bancrio, em particular, desempenha papel fundamental na intermediao de poupana e, portanto na viabilizao de projetos de investimento. Entretanto, nos ltimos anos a qualidade das decises de crdito e investimento de muitas instituies financeiras tem despertado ateno especial. Incertezas conjunturais associadas a dificuldades de uma correta mensurao da probabilidade de perdas em suas carteiras de crdito tm feito com que muitas dessas instituies passem a procurar solues para as dificuldades por elas encontradas na intermediao financeira, dificuldades estas que venham a aumentar a probabilidade de inadimplncia em seus emprstimos. Para serem lucrativas, as instituies financeiras devem superar os problemas de seleo adversa e risco moral que aumentam a probabilidade de inadimplncia em emprstimos. Os mtodos utilizados pelas instituies financeiras para mitigar esses problemas ajudam a explicar uma srie de princpios de administrao de riscos de crdito: filtragem e monitoramento, o estabelecimento de relaes de longo prazo com os clientes, compromissos de emprstimos, garantias, exigncias de saldo mnimo e racionamento de crdito. Destaca-se que os problemas de qualidade do crdito podem levar, na pior das hipteses, uma instituio financeira inadimplncia. Entretanto, tambm afirma que, medida que as instituies financeiras ampliam suas atividades de concesso de garantias de crdito e outras fora do balano, surgem novos tipos de exposio a risco de crdito. Assim, a anlise de risco de crdito importante, atualmente, para uma grande variedade de relaes contratuais entre IFs e contrapartes. O risco de crdito poderia ser caracterizado como a probabilidade de ocorrncia de um evento de inadimplncia. Ong (1999), por sua vez, prefere relacionar os principais elementos que constituem o risco de crdito em elementos de risco individuais (probabilidade de inadimplncia, taxa de recuperao e migrao de crdito) e elementos de risco de portflio (correlao de inadimplncia e da qualidade do crdito e contribuio ao risco de concentrao). De acordo com o BIS Bank for International Settlements (1997), o risco de crdito poderia ser dividido em cinco itens: 1. Risco de inadimplncia, que consistiria na possibilidade do tomador do emprstimo no honrar seus compromissos com a instituio; 2. Risco de degradao da garantia, que seria o risco do bem dado em garantia se desvalorizar ou degradar; 3. Risco de concentrao de crdito, quando apenas uma pessoa ou grupo consegue ter acesso ao crdito;

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4. Risco de degradao do crdito, que seria a perda na qualidade do crdito do seu tomador, causada por uma queda no valor de sua obrigao; e 5. Risco soberano, associado possibilidade de perdas em transaes internacionais. Entretanto, mesmo podendo ser o risco de crdito considerado a mais antiga e, para a maioria dos bancos, a mais importante classe de risco dos ativos, a tcnica e o conhecimento cientfico aplicado nessa rea ainda so bastante inferiores queles aplicados no que se refere ao risco de mercado. Mas, destaca-se que as tcnicas de modelagem do risco de crdito experimentaram evoluo considervel ao longo da dcada de 90. Assim, para administrar de forma mais eficaz esse risco inerente s atividades relacionadas ao crdito, as instituies financeiras buscaram desenvolver instrumentos para previso da inadimplncia de suas operaes de crdito. Com o objetivo de atuar de forma positiva na principal fonte causadora de insolvncia no sistema financeiro, os rgos reguladores passaram a prescrever normas que tinham como objetivo facilitar a mensurao do risco de crdito das instituies financeiras e assim, conseqentemente, agilizar a tomada de medidas que pudessem resguardar o sistema diante de uma possvel situao de problemas detectados em instituies. Esses mesmos rgos reguladores tambm incentivaram o desenvolvimento de instrumentos de previso de inadimplncia pelas instituies financeiras, principalmente a partir da edio do acordo de Basilia, ao relacionarem normas que associavam a qualidade das operaes realizadas pelas instituies financeiras a suas necessidades de capital.

3. A histria do Spread BancrioA partir dos anos 90, mais precisamente com a implantao do Plano Real, o pas apostava que a abertura e a integrao do mercado financeiro internacional, a adoo de um regime com taxas de cmbio flexvel, ou seja, medidas decorrentes do processo de estabilizao dos preos resultariam num sucesso mais expressivo das polticas econmicas, com enfoque no sistema financeiro. H, contudo, um desapontamento em relao aos resultados obtidos, pois os spreads bancrios fazem do Brasil o campeo mundial desse segmento mesmo com uma nova insero internacional com nfase na abertura econmica. Faz-se espantoso o spread praticado pelos bancos no Brasil: na casa dos 40% nos ltimos anos. inegvel, entretanto, que houve um avano no sistema financeiro bancrio a partir de 1994, perodo no qual a diferena entre a taxa de aplicao nas operaes de emprstimo e a taxa de captao de recursos pelos bancos era de aproximadamente 120%. Os spreads caram vertiginosamente de 150% no incio de 1995 para 40% em meados de 2000 desde a implantao do Plano Real, porm, ainda permaneceram em nveis exorbitantes. A regulamentao existente na indstria bancria pode ser considerada como uma das maiores do mundo capitalista, sendo decorrente, principalmente, da importncia do papel exercido por tal indstria na intermediao financeira e fornecimento de liquidez economia como um todo. Destaca-se que a maior parte dessa regulamentao tem objetivos prudenciais, principalmente por estabelecer requisitos de capital para os intermedirios financeiros. O sistema financeiro estaria entre os setores mais duramente regulamentados da economia, sendo os bancos as instituies financeiras sujeitas a mais regras legais.

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Como j fora citado acima no Brasil, o sistema financeiro, onde predomina um pequeno nmero de grandes bancos globais, extremamente desenvolvido, possuindo considerveis diferenas no que se refere a outros pases de desenvolvimento econmico semelhante ou, at mesmo, superior. Assim, para que seja possvel um controle eficaz desse sistema, existem diversos rgos e entidades responsveis por sua normalizao e, em alguns casos, at por execuo de polticas pblicas relacionadas a esse mercado financeiro. Com o objetivo de reduzir os custos e riscos das operaes de crdito e possibilitar a expanso da oferta de emprstimos e financiamentos no segmento livre, o governo e o Banco Central Trabalham juntos desde a implantao do Projeto Juros e Spread Bancrio. Assim, nos ltimos anos foram implementadas vrias medidas visando reduo dos juros e do spread bancrio, medidas estas que ainda no conseguiram mudar, por completo, o cenrio de crdito caro e escasso que perdura, atualmente, no Brasil. Com base nos estudos do BACEN, verificou-se a implantao de diversas medidas nesse perodo, podendo ser classificadas em trs grupos: 1. Medidas com vistas estabilidade macroeconmica e desenvolvimento do crdito; 2. Medidas de caractersticas microeconmicas, voltadas ao acesso s informaes, transparncia e concorrncia; e 3. Medidas relacionadas a reformas jurdicas e institucionais, voltadas para o sistema de insolvncias e cobrana de dvidas.

3.1. Fatores MacroeconmicosOs diversos fatores macroeconmicos so parte importante na explicao dos elevados spreads bancrio no Brasil, haja vista que a instabilidade econmica do pas influencia diretamente o comportamento dos bancos atravs da alta variabilidade da taxa de inflao e da taxa de cmbio como conseqncia da vulnerabilidade da economia, dentre os quais destacam-se: A elevada volatilidade da taxa de juros SELIC A taxa SELIC um ndice pelo qual as taxas de juros cobradas pelo mercado se balizam no Brasil. a taxa bsica utilizada como referncia pela poltica monetria. A taxa overnight do Sistema Especial de Liquidao e de Custdia (SELIC), expressa na forma anual, a taxa mdia ponderada pelo volume das operaes de financiamento por um dia, lastreadas em ttulos pblicos federais e realizadas no SELIC, na forma de operaes compromissadas. divulgada pelo Comit de Poltica Monetria (Copom).Conforme o Banco Central do Brasil o conceito de taxa Selic : a taxa apurada no Selic, obtida mediante o clculo da taxa mdia ponderada e ajustada das operaes de financiamento por um dia, lastreadas em ttulos pblicos federais e cursadas no referido sistema ou em cmaras de compensao e liquidao de ativos, na forma de operaes compromissadas. Esclarecemos que, neste caso, as operaes compromissadas so operaes de venda de ttulos com compromisso de recompra assumido pelo

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vendedor, concomitante com compromisso de revenda assumido pelo comprador, para liquidao no dia til seguinte. Ressaltamos, ainda, que esto aptas a realizar operaes compromissadas, por um dia til, fundamentalmente as instituies financeiras habilitadas, tais como bancos, caixas econmicas, sociedades corretoras de ttulos e valores mobilirios e sociedades distribuidoras de ttulos e valores mobilirios,

que aumenta o grau de averso ao risco de crdito das instituies bancrias; O baixo crescimento da produo industrial, que afeta negativamente os nveis de inadimplncia dos emprstimos, diminuindo os ganhos de escala a serem auferidos pelos bancos em suas operaes de crdito; Alm do elevado retorno oferecido nas aplicaes em ttulos pblicos (em funo das altas taxas de juros) que passam a se constituir em alternativa lquida, segura e lucrativa de aplicao dos recursos das instituies bancrias. Diante da relao direta entre essas variveis configuram-se como incuas medidas que visem reduo no nvel de spread sem alterar o ambiente macroeconmico do pas, atravs da implantao de polticas inibidoras da volatilidade da taxa de juros que possam objetivar o crescimento e a sustentao da economia. Sob essas condies de incerteza, os bancos tm acentuado sua preferncia por liquidez, adotando medidas cautelosas na alocao de portflio: retrao da carteira de crdito, aplicao em ttulos pblicos e elevao do mark-up bancrio, o spread. Sendo assim, perceptvel como os fatores macroeconmicos da economia brasileira, sem dvida, explicam em elevada instncia os motivos pelos quais o sistema financeiro se protege cobrando altas taxas de juros e perpetuando o nvel elevado do spread bancrio no Brasil. Historicamente se pode argumentar que as cobranas abusivas de spreads no Brasil decorrem de um elevado grau de incerteza no ambiente macroeconmico (cmbio, inflao, volatilidade da taxa de juros), fatores que assombram a estrutura bancria nacional. O problema que a econmica brasileira tem diminudo sensivelmente seus preos-chave (cmbio e juro), sem que isto tenha representado uma melhora proporcional do nvel dos spreads, logo se pode perceber que h uma multideterminao de fatores para a explicao do fenmeno. O outro fator trata da interdependncia das variveis de risco de taxa de juros e o risco de crdito. Uma elevada volatilidade da taxa bsica de juros deve se traduzir, em alguma medida, numa alta variabilidade do nvel de produo real, ou seja, a produo industrial (como denota a matria - Anexo1 - citada na introduo desse trabalho), tambm afeta o spread bancrio, uma vez que, baixo crescimento impacta negativamente tanto no crescimento dos nveis de inadimplncia dos emprstimos quanto na menor demanda por crdito, diminuindo os ganhos de escala que poderiam ser obtidos pelos bancos nas operaes de crdito, o que faz com que os bancos procurem compensar a falta de escala com uma elevao na taxa de emprstimos.

3.2 Fatores Microeconmicos

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Evidentemente a estrutura bancria nacional extremamente oligopolizada o que permite explicar a relao desta ocorrncia com altos nveis de spread bancrio, haja vista que a retrao da oferta de crdito compensada com a elevao do spread. No entanto, importante ressaltar, que medir a concentrao bancria somente baseando-se nos nmeros de instituies pode levar a concluses errneas sobre esse mercado, por conta disso, necessrio analisar o sistema como um todo. De um lado, poucos bancos podem ser to ou mais eficientes que um conglomerado, sendo assim, no h problemas quanto a um nmero baixo de instituies. Por outro lado, no caso do Brasil, essa questo mais complexa ao analisar a conformao econmica do pas aps 1994, perodo em que se observou uma considervel reduo no nmero de instituies bancrias as quais detm uma padronizao de servios de fornecimento de crdito desde ento. Pode-se destacar aqui tambm, a importncia do processo de fuses e aquisies no setor bancrio para a eficincia social do setor. Mais precisamente, o aumento do grau de concentrao do setor bancrio resultante desse processo de fuses e aquisies estaria produzindo uma reduo da eficincia social dos bancos. Mas com o governo estimulando a concorrncia entre os bancos, como forma de intim-los a reduzir o spread cobrado nas operaes de emprstimo, pode-se facilitar o objetivo do crescimento atravs da reduo do custo do dinheiro. Essa uma maneira de promover um choque de crdito no Brasil. Onde segue duas linhas de atuao: aumentar a oferta de dinheiro a ser emprestado e reduzir o custo de financiamento, cuja principal via de atuao o spread bancrio.

3.3 Fatores InstitucionaisDesde 1999 o Banco Central vm estudando e implementando medidas para atenuar o problema da inadimplncia e da morosidade judicial, a fim de tornar o ambiente institucional e jurdico brasileiro mais favorvel ao crdito e, essencialmente aos credores. Uma vez que o aumento da escala de crdito concedida pelos bancos age diretamente sobre a reduo da taxa de emprstimo, pois passa a no existir a necessidade de compensar perdas por falta de concesses de crdito. Para atingir este objetivo foram criadas as Cdulas de Crdito Bancrio (CCB), as quais encontram-se entre as primeiras medidas elencadas para solucionar os problemas ligados lentido na concesso de emprstimos e s ineficincias jurdicas. Outras medidas j tomadas pelo sistema judicirio brasileiro so: o esclarecimento quanto legalidade da cobrana de juros compostos no sistema financeiro, a certificao de assinatura digital em contratos eletrnicos, a extenso da alienao fiduciria para bens fungveis, assim como a compensao de pagamentos. Segundo a lei 10.931 sancionada em 2004 que trata sobre o patrimnio de afetao em empreendimentos imobilirios, assim como da criao da CCB e dos Certificados de Cdula de Crdito Bancrio (CCCB), a CCB independe de um processo de conhecimento para sua execuo judicial, o que agiliza e reduz os custos de cobrana de dvidas bancrias na Justia. J a CCCBs, negociveis em mercado, surgiu para aumentar a liquidez e os atrativos para o fornecimento de crdito bancrio. Essa legislao tambm dispe de alternativas que permitam a realizao de operaes com garantia em alienao fiduciria em outros bens e direitos, como ttulos e outros crditos. Alm disso, segundo o Ministrio

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da Justia, a lei possibilitou a reduo dos riscos jurdicos das transaes financeiras atravs da capitalizao dos juros nas operaes de crdito com a utilizao daquele ttulo executivo. Para aumentar a segurana jurdica do crdito ao setor empresarial, se destaca a importncia da reforma da Lei das Falncias e a recuperao de empresas que fomentaram as seguintes modificaes, entre outras: Reduo dos riscos de crdito ao setor empresarial, em funo da maior prioridade concedida aos crditos com garantia real de falncia, bem como da expectativa do aumento da recuperao de crditos de empresas insolventes por conta da prpria modernizao da falncia e da recuperao judicial; Reconhecimento legal dos acordos informais para renegociao de dbitos de empresas em dificuldade, com a criao da recuperao extrajudicial; Prioridade venda em blocos dos ativos da empresa falida, evitando que a falncia do empresrio signifique necessariamente o fim da empresa, com o fechamento e a lacrao de suas dependncias, a destruio de empregos que prejudicam os trabalhadores, os credores e a economia em geral. A lei 10.931, de 2004, tambm permitiu a construo de um novo marco regulatrio para o fornecimento de crdito no setor imobilirio. Em 2006 o volume das concesses aumentou substancialmente tanto por bancos pblicos quanto pelos privados, antes ocultos nos emprstimos de longo prazo, ou seja, a retomada por essa espcie de crdito est acontecendo porque foram tomadas medidas concretas para dar segurana legal ao tomador e financiador. Dentre as solues tomadas destacam-se: A alienao fiduciria, cujo comprador s se torna dono do imvel depois de quitlo. Em caso de dficits, o banco tem o direito de retomar o bem adquirido. Tal modalidade j existia no crdito de automveis, porm, no fazia parte at ento do mercado imobilirio; Mesmo que haja controvrsias em relao ao total da dvida (a respeito de juros abusivos, por exemplo), o comprador no fica eximido de honrar o principal do crdito, alm das despesas de IPTU, condomnio e servios essenciais como gua e energia eltrica. Apesar dessas medidas favorveis, os juros ainda so exorbitantes, mas comeam a surgir financiamentos com taxas prefixadas, que abstm o tomador do emprstimo das surpresas no decorrer no financiamento, pois o mesmo sabe exatamente quanto pagar at o trmino do contrato. Essa situao seria inconcebvel a cinco anos. O interesse nesse ramo da economia voltou a aflorar a partir do Plano Real, antes disso, as construtoras no tinham interesse em investir no setor devido escassez de financiamento e ainda por que os compradores no dispunham de renda para efetuar tal ao. Desde os anos 70, perodo do milagre brasileiro que subsidiava o acesso da classe mdia casa prpria, com crdito do Banco Nacional de Habitao, o pas no dispe de recursos para facilitar o financiamento no mercado imobilirio. Mesmo com a estabilizao da economia aps 1994, o mercado de crdito no aqueceu devido s estratosfricas taxas de juros que tornava mais confortvel e mais lucrativo deixar o dinheiro aplicado. Com a tendncia verificada de queda em 2006, o financiamento imobilirio volta a interessar os bancos e o mercado fica cada vez mais promissor, principalmente, pelas transformaes

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jurdicas, citadas acima, que aumentaram o vnculo do tomador de crdito com o fornecedor do mesmo pelo menos por cinco anos, dando as garantias legais que competem s instituies. As reformas agora tendem a concentrar-se no campo da morosidade judiciria para que as instituies sintam-se completamente seguras para efetuar o abastecimento econmico do Brasil, via concesso creditcia.

3.4. O Spread Bancrio na Viso das Instituies FinanceirasEm dezembro/2004, a Fundao Instituto de Pesquisas Contbeis, Atuariais e Financeiras (FIPECAFI), rgo de apoio institucional ao Departamento de Contabilidade e Atuaria da Faculdade de Economia, Administrao e Contabilidade da Universidade de So Paulo (FEA/USP), por solicitao da Federao Brasileira de Bancos FEBRABAN, publicou seu trabalho que tratava da anlise da real dimenso do spread bancrio brasileiro. Esse trabalho originou-se a partir da constatao de que grande parte das anlises macro e microeconmicas do spread no Brasil, com enfoque nas cincias econmicas, utilizavam-se de demonstrativos contbeis como a base de suas concluses. Assim, os pesquisadores da FIPECAFI utilizaram um conjunto de informaes contidas na contabilidade dos bancos e registradas em seus balancetes/balanos de acordo com as regras estabelecidas pelo COSIF (Plano de Contas Padro das Instituies Financeiras). De acordo com FIPECAFI (2004), a idia era fazer uma anlise tcnica, consubstanciada, substantiva e coerente, com os mesmos elementos de anlise usados por diversos segmentos da sociedade brasileira preocupados com o tema. Ainda de acordo com tais pesquisadores, o trabalho apresentava considervel importncia tendo em vista o spread bancrio apresentar-se como um tema constante das discusses no Brasil sendo, muitas vezes, vtima de anlises imperfeitas.

Brasil tem o spread bancrio mais elevado do mundoECONOMIA 28/12/09, 07:55 - OJE/Lusa

Os brasileiros pagaram em 2009 um total de spread bancrio de 261,7 mil milhes de reais (103,2 mil milhes de euros), o valor mais alto entre 40 pases com o mesmo modelo, revelou um estudo hoje divulgado. Nos 12 meses de crise financeira global, os clientes e empresas brasileiras pagaram um diferencial maior entre a taxa de juros cobrada pelos bancos e a que eles pagam aos clientes para captar recursos quando comparados com outros pases, de acordo com um estudo elaborado pela Federao das Indstrias do Estado de So Paulo (FIESP). Caso a mdia mundial de spread bancrio fosse aplicada no Brasil, este teria cado para 71,5 mil milhes de reais (28,2 mil milhes de euros), apontou o estudo, que tomou como base dados do Fundo Monetrio Internacional (FMI). A reduo do spread bancrio no Brasil estar na ordem do dia no prximo ano, marcando 16

a agenda econmica do Banco Central brasileiro, que manteve recentemente a taxa de juros nos 8,75%, de forma a garantir as linhas de crdito necessrias para o financiamento da recuperao econmica. Anexo 4

4. Floating BancrioRefere-se reteno temporria de recursos. O pagamento de salrios de uma empresa efetuada por um banco uma prestao de servios que pode ser remunerada atravs do floating, ou seja, a empresa deposita em conta corrente os recursos com antecedncia de um ou mais dias. A cobrana de floating em uma operao de emprstimo bancrio provoca, obviamente, a elevao da taxa efetiva de juros, em conseqncia do encurtamento do perodo. usado como reciprocidade financeira. As instituies financeiras podem tambm solicitar como garantia em suas operaes de crdito a entrega de duplicatas para cobrana em volume igual ou maior que o valor do emprstimo solicitado. No entanto, nessa exigncia normal de mercado que se visualiza uma forma de reciprocidade capaz de alterar bastante o custo efetivo do emprstimo. Ao reter, por exemplo, por alguns dias o dinheiro arrecadado das duplicatas em cobrana antes de creditar em conta corrente do cliente, num mecanismo conhecido como floating de duplicatas, o custo da operao acrescido com base na taxa diria do valor do dinheiro. Um exemplo ajuda a esclarecer melhor esse mecanismo de floating e sua influncia sobre o custo do crdito: Admita que uma empresa esteja negociando uma operao de desconto com um banco pelo prazo de 60 dias. A taxa de desconto de 2,7% ao ms e o IOF atinge a 0,123% ao ms. O valor da duplicata de $ 44.000,00. Cada dia de atraso no recebimento representa uma perda determinada basicamente pelo que o tomador do emprstimo deixou de receber no perodo em que o banco, utilizando-se do mecanismo do floating, reteve o dinheiro recebido das duplicatas. Em outras palavras, nesses quatro dias de floating o emitente das duplicatas perdeu a oportunidade de efetuar aplicaes em diferentes ativos com o produto do recebimento, realizando um prejuzo evidente. O resultado, sobretudo diante da suposio de as duplicatas em garantia apresentarem vencimento na mesma data da operao, bastante prximo a IRR apurada de 3,16% ao ms. Principalmente diante da facilidade de clculo, o critrio simplificado bastante utilizado pelo mercado. Evidentemente, outras formas de reciprocidade bancria podem ocorrer na prtica, onerando de diferentes maneiras o custo efetivo dos emprstimos. Entretanto, o raciocnio desenvolvido pode ser diretamente aplicado na determinao do custo final das outras modalidades, sem necessidade de se introduzir novos conceitos ou instrumentos de clculo.

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4.1. Free FloatRefere-se a uma terminologia utilizada no mercado de capitais quando uma empresa deixa determinada quantidade de aes livre negociao no mercado. So as aes que se encontram em circulao, ou seja, aquelas que esto disposio para negociao no mercado, excluindo-se as pertencentes aos controladores e aquelas na tesouraria da companhia. Representa a quantidade de aes livres que existem cotadas em bolsa, ou seja, a frao das aes emitidas que no se encontra fixa na mo de acionistas estveis (normalmente, majoritrios, mas nem sempre). Por exemplo, na Sonae SGPS (SON) as aes controladas por Belmiro de Azevedo no fazem parte do free float, contando apenas as que esto dispersas em bolsa. O termo destina-se a identificar o capital que pode, facilmente, mudar de mos em bolsa. Durante a bolha tecnolgica era prtica comum cotar apenas uma pequena parte do capital no IPO (e portanto, criar um pequeno free float) para facilitar a subida astronmica das aes, obtendo depois um benefcio superior nas emisses secundrias seguintes. Tambm comum, grandes especuladores escolherem papis com free floats pequenos para criar as suas especulaes, isso porque esse fato facilita mover substancialmente as cotaes. O free float uma das aes adotadas pelas instituies financeiras para investir, em um curto prazo, o floating.

BM&FBovespa estende prazo para Aliana atingir free floatNotcia publicada s: 08/11/2010 19:56 e lida 61 vezes.

Assim, a instituio tem at 30 de junho de 2011 para atingir o free float mnimo requerido pelo regulamento. 8 de novembro 2010 - A Transmissora Aliana de Energia Eltrica anunciou nesta segundafeira que a BM&FBovespa aprovou o pedido para extenso do prazo para a companhia atingir o percentual mnimo de aes em circulao (free float) de 25% das aes, requerido pelo Regulamento de Listagem do Nvel 2 de Governana Corporativa da bolsa paulista. Assim, a instituio tem at 30 de junho de 2011 para atingir o free float mnimo requerido pelo regulamento. Segundo comunicado enviado Comisso de Valores Mobilirios (CVM), "a companhia dever, ainda, manter em circulao no mercado, no mnimo, o percentual apresentado atualmente de 4,72% do capital social total at a sua recomposio".(Redao - www.ultimoinstante.com.br)

Anexo 5

4.2. A Relao de Floating com a Concesso de Crdito no Brasil

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A dcada de 1990 no Brasil foi marcada pela globalizao, pela abertura econmica, pelo Plano Real e pela adeso do Brasil ao Acordo da Basilia. Estes acontecimentos determinaram o incio de um processo de saneamento, privatizao e fuso de instituies bancrias levando todo o sistema financeiro para um processo evolutivo atravs do uso de novos mtodos e novas prticas. Aps o Plano Real, e com o fim dos ganhos fceis do floating (aplicaes privilegiadas de recursos dos correntistas a taxas que chegaram a 80% ao ms, na poca de alta inflao. Assim, os grandes bancos de varejo, com grandes redes de agncias e muitos clientes tinham alto retorno sobre o alto grau de captao do depsito vista), dada a queda acentuada da inflao, os bancos brasileiros precisaram buscar novas fontes de receitas. Este fato acarretou a perda de uma das principais fontes de receita dos bancos: os ganhos inflacionrios sobre os recursos no remunerados de depsitos vista e sobre os recursos em trnsito no sistema ("float"). Estima-se que a perda de "float" para bancos pblicos e privados tenha sido da ordem de R$ 9 bilhes ao ano, sinalizando ao setor financeiro que este deveria sofrer profundas mudanas. O floating era a principal fonte de receitas dos bancos. Procurando suprir suas perdas, a resposta dos bancos nova conjuntura foi rpida, atacando simultaneamente trs pontos: 1. Elevao do volume de operaes de crdito; 2. Aumento do volume de preos dos servios bancrios (inclusive cobrando por servios que antes eram oferecidos gratuitamente); e 3. Reduo de custos e despesas, principalmente por meio de corte de pessoal. Cabe elucidar que o Brasil passou a adotar altas taxas de juros aps o Plano Real para garantir a sustentabilidade bancria antes proveniente dos ganhos por floating. O Plano Real alterou a forma de financiamento do dficit pblico: ao invs de financi-lo via emisso de dinheiro, passou a faz-lo pela emisso de dvida. Com as elevadas taxas de juros auferidas aps 1994, para compensar os ganhos bancrios, as operaes de crdito e de ttulos dos bancos de macro e grande porte aumentaram R$ 23,9 bilhes e as despesas destes mesmos bancos aumentaram R$ 15,3 bilhes. Houve, entretanto, num perodo de um ano (1994-1995), um acrscimo lquido de R$ 8,6 bilhes, correspondentes, exatamente, perda de receita que esses bancos tiveram com floating.

Basilia 3 far bancos buscarem mais liquidez01/10/2010 - 00:07h O Globo

SO PAULO - As mudanas propostas no acordo Basilia 3 devem exigir que o sistema financeiro brasileiro busque mais liquidez e parelhamento de prazos entre ativos e passivos nos bancos. Este pode ser um problema para o setor, uma vez que as captaes so feitas no curto prazo e cada vez mais preciso emprestar no longo prazo. O objetivo do acordo aumentar a estabilidade do sistema financeiro e evitar crises globais. As novas normas, aprovadas pelo Comit de Superviso Bancria da Basilia, obrigaro os bancos a manter mais capital como garantia para uma variedade de emprstimos e investimentos, o que dever reduzir os lucros. O presidente do Santander e da Federao Brasileira de Bancos (FEBRABAN), Fbio Barbosa, disse ao DCI que o novo acordo ser discutido amplamente em todo o mundo. "Existem muitos pontos que precisam de elucidao. No curto prazo o tema no preocupa o Santander, pois fizemos uma boa captao com aumento de capital no 19

ano passado." Captao foi a grande discusso do Seminrio Internacional da Associao Nacional das Instituies de Crdito, Financiamento e Investimento (ACREFI). Fbio Barbosa disse que as instituies financeiras j dialogam com o governo federal para tentar criar leis e instrumentos de dvida mais lquidos e com melhores condies de negociao. "Hoje captamos no curto prazo para emprestarmos no longo prazo. Do jeito como est no se sustenta. Por enquanto, a liquidez no mundo est grande, mas no podemos confiar apenas no exterior." Para ele, haver um gargalo financeiro para fomentar a infraestrutura do Pas. "Passamos por um momento muito positivo atualmente, com emprego em alta, incorporao de novas classes de consumidor e eventos importantes de infraestrutura em vista, como Copa do Mundo e as Olimpadas. O problema como vamos desenvolver um sistema consistente de emprstimos de longo prazo." Barbosa analisa que os bancos captam no curto prazo, no sendo vivel dar crdito de longo prazo e criar um descasamento de prazos. " perigoso para o sistema financeiro. Quem vai financiar a longo prazo no quer ficar exposto a Certificados de Depsito Interbancrio (CDI)." O presidente do banco defende o desenvolvimento de um mercado secundrio de ttulos, que deixe os investidores mais vontade para entrar e sair dos papis. "Outro ponto necessrio a desindexao dos instrumentos de dbito brasileiro do CDI, uma taxa diria. A indstria bancria precisa casar emprstimos mais longos com taxas longas e no com CDI." Na mesma linha de raciocnio, o presidente do HSBC Brasil, Conrado Engel, defende que a falta de poupana interna um dos grandes gargalos do Brasil. "Sustentar o crescimento da economia s com poupana externa no vivel. Precisamos de mercado secundrio no Brasil." Ele acredita que o acordo de Basilia 3 vai implicar na exigncia maior de liquidez no sistema financeiro. "Hoje, temos no Brasil um plo de depsitos de compulsrios grandes e isto vai fazer parte das discusses sobre o acordo." Engel ressalta que o processo para derrubar as taxas compulsrio uma discusso constante com o Banco Central (BC). "O conservadorismo muito grande um dos fatores que fizeram o Brasil implementar polticas contra- cclicas muito rpido em 2008." Para o presidente do HSBC, as mudanas passam tambm pela criao de ttulos mais adequados nova realidade da economia mundial. Ele cita como exemplo a criao das letras financeiras. "Qual o nvel de compulsrio que a Letra ter nos emprstimos de longo prazo? Precisaria ser menor que o CDB. Discutimos esse tema para que os investidores busquem estes papis. a maneira de aumentar o apetite dos bancos e de investidores carregarem estes papis por anos." O presidente do BNP Paribas , Louis Bazire, tambm defende mudanas para aumentar o dinheiro de longo prazo. "Precisamos de incentivos fiscais de investimentos de longo prazo. Existem pases em que se voc investe em aes e fica com os papis por 5 anos, os fundos so isentos de Imposto de Renda (IR)". Um dos motivos para a populao no investir o dinheiro em poupana o "trauma" da hiperinflao. "Existe bastante espao para estimular poupana de longo prazo."Free float do Santader. Ontem o DCI destacou que o banco Santander Brasil precisar ter um free float (aes em livre circulao no mercado) de 25% at 2014. Hoje, 16,40% das aes esto nessa condio. Ao ser questionado como o banco faria para aumentar o free float, o presidente do Santander, Fabio Barbosa, destacou que o controlador do banco Santander Espanha e o assunto no faz parte da dinmica executiva do banco, alm de o prazo para isto acontecer perdurar at 2014. As mudanas propostas no acordo Basilia 3 devem exigir que o sistema financeiro brasileiro busque mais liquidez e parelhamento de prazos entre ativos e passivos nos bancos. O presidente do Santander e da Federao Brasileira de Bancos (FEBRABAN), Fbio Barbosa, disse que o novo acordo ser discutido amplamente em todo o mundo. "Muitos pontos precisam de elucidao. No 20

curto prazo, o tema no preocupa o Santander, pois fizemos uma boa captao com aumento de capital no ano passado." Os bancos tambm acreditam que ser necessrio diminuir o depsito compulsrio exigido atualmente pelo Banco Central. fonte: DCI Anexo 6

5. ConclusesDebater os fatores determinantes do spread bancrio brasileiro requer o estudo de todas as variveis e todos os fatos histricos que influenciam o elevado patamar dos spreads. Os fatores macroeconmicos da economia brasileira explicam em grande medida o alto nvel do spread bancrio, uma vez que todo o sistema financeiro cobra altas taxas de juros em virtude de auferir proteo aos riscos de mercado. J os fatores microeconmicos, com uma estrutura bancria nacional extremamente oligopolizada, explicam os altos nveis do spread bancrio, pois com as perdas de escala na concesso do crdito preciso existir uma maior lucratividade por emprstimo concedido. Por fim, o ambiente institucional e jurdico brasileiro permite argumentar que a gradativa reduo dos riscos jurdicos das transaes financeiras, a reduo dos riscos de crdito ao setor empresarial, a expectativa de aumento das recuperaes de crdito, e a existncia da alienao fiduciria, entre outras medidas acarretam diretamente no aumento do vnculo do tomador de crdito com seu fornecedor, o que aumenta a disposio das instituies a conceder o crdito e, portanto, h uma diminuio gradativa do spread. Impactando o nvel do spread bancrio brasileiro, todos os fatores supracitados tambm afetam diretamente os patamares da concesso de crdito no Brasil. No menos verdade o fato de a maior transformao do mercado bancrio brasileiro ter acontecido entre os anos de 1994 e 2004. Primeiramente, o fim dos ganhos com o float determinou um aumento no nvel das operaes de crdito, posteriormente o novo regime de metas inflacionrias tambm refletiu no aumento da concesso de crdito. Com a anlise dos fatores determinantes do spread bancrio e da lgica de causalidades destes com o nvel de concesso de crdito no pas, torna-se verdadeiro afirmar que uma poltica macroeconmica boa e consistente; restries operacionais que promovam a eficincia e a estabilidade bancria; a manuteno da competitividade do setor bancrio e um ambiente institucional favorvel causam, paulatinamente, a diminuio dos nveis do spread bancrio brasileiro, o que aumenta a concesso de crdito no pas, auferindo reflexos positivos para o crescimento econmico do Brasil, atravs de maior acesso ao crdito e maiores patamares de produtividade interna. Portanto, a incerteza no ambiente macroeconmico que envolve os bancos, e como tal interage diretamente com a concesso de crdito no Brasil, uma causa determinante dos elevados spreads no Brasil. Se isto se coloca como conclusivo, ento a adoo de polticas macroeconmicas que visem acelerao do crescimento econmico, bem como a reduo do nvel e da volatilidade da taxa bsica de juros podero ter um efeito positivo no sentido de reduzir os spreads bancrios no Brasil. No entanto, o que se coloca como condicionante o papel das medidas microeconmicas que conformam a abordagem de uma nova proposta de trabalho frente a inocuidade das polticas macroeconmicas. Se o ambiente econmico brasileiro

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no se mostrar favorvel concesso de crdito, com baixa volatilidade da taxa de juros, com baixo ndice de inadimplncia no mercado de emprstimos, as medidas de natureza microeconmicas visando diminuio do spread podero mais uma vez se mostrar incuas. A questo que a proporo das margens praticadas pelos bancos, no Brasil, determinada muito mais pela volatilidade da taxa bsica de juros do que pelo comportamento monopolstico dos bancos. Portanto, a ateno da poltica pblica deve ser mais bem focada nas polticas macroeconmicas, visando o alcance de um crescimento econmico sustentado e financeiramente estvel para Brasil.

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