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Av. Afonso Pena, 4.100 – 11º andar – Bairro Mangabeiras – Belo Horizonte – Minas Gerais – CEP 30.130009 Tel/fax (31) 32825000 – [email protected] 1 EXMO. SR. DR. JUIZ FEDERAL DA 13ª VARA FEDERAL DE CURITIBA, SEÇÃO JUDICIÁRIA DO PARANÁ. Ação Penal nº 5083401-18.2014.404.7000 Evento – Resposta à Acusação SÉRGIO CUNHA MENDES, 7º denunciado na Ação Penal nº 5083401- 18.2014.404.7000, por seu defensor infra-assinado 1 , vem oferecer sua RESPOSTA À ACUSAÇÃO, nos termos e no prazo dos artigos 396 e 396-A do CPP, na forma seguinte: I – 1ª Preliminar : argüição de suspeição e impedimento do ilustre Juiz Federal Sérgio Fernando Moro por cinco diferentes fundamentos: (1) Atuação anterior como juiz condutor das investigações, com deferimento de medidas cautelares diversas. Comprometimento com o conteúdo das mesmas investigações. Necessidade de separação entre o juiz competente para os atos de investigação e para a ação penal. (2) Manifestações antecipadas contundentes sobre o mérito das acusações, com a afirmação contraditória de tratar-se de mera cognição sumária. (3) Artigo publicado na mídia nacional, com pronunciamento, de fato e de direito, sobre atuação do Poder Judiciário e o procedimento penal a ser adotado em caso de corrupção, quando já estava em curso a Operação Lava Jato sob sua direta supervisão. Incidência, por analogia (art. 3º do CPP) da causa de impedimento prevista no art. 252, III, do CPP. (4) Acusação de uso de documento falso em que o próprio juiz é apontado como a vítima imediata da ação imputada. Impedimento natural para a causa. (5) Declaração do magistrado, em 10/05/2010 (Autos nº 2007.70.00.007074-6), de suspeição, por motivo de foro íntimo, para processar e julgar ALBERTO YOUSSEF, em razão de acordo de delação premiada (Autos nº 2004.70.00.002.414-0). 1 – O advogado infra-assinado bem sabe que, em regra, a prudência recomenda não se argüir a suspeição e/ou o impedimento de magistrado, até porque a tendência natural dos órgãos judiciários é rejeitar a argüição e cria-se, desnecessariamente, uma animosidade indesejada com o julgador. 1 Procuração – Evento 1 – INIC1 – DOC. 01 anexo à inicial – Autos 507842480. 2014.404.7000; ANEXO 1, procuração específica para esta ação penal, com poderes especiais para exceção de suspeição e impedimento e exceção de incompetência.

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 Av. Afonso Pena, 4.100 – 11º andar – Bairro Mangabeiras – Belo Horizonte – Minas Gerais – CEP 30.130‐009 

Tel/fax (31) 3282‐5000 – [email protected]                                                                        1 

 

EXMO. SR. DR. JUIZ FEDERAL DA 13ª VARA FEDERAL DE CURITIBA, SEÇÃO JUDICIÁRIA DO PARANÁ.

Ação Penal nº 5083401-18.2014.404.7000

Evento – Resposta à Acusação

SÉRGIO CUNHA MENDES, 7º denunciado na Ação Penal nº 5083401-18.2014.404.7000, por seu defensor infra-assinado1, vem oferecer sua RESPOSTA À ACUSAÇÃO, nos termos e no prazo dos artigos 396 e 396-A do CPP, na forma seguinte:

I – 1ª Preliminar: argüição de suspeição e impedimento do ilustre Juiz Federal Sérgio Fernando Moro por cinco diferentes fundamentos: (1) Atuação anterior como juiz condutor das investigações, com deferimento de medidas cautelares diversas. Comprometimento com o conteúdo das mesmas investigações. Necessidade de separação entre o juiz competente para os atos de investigação e para a ação penal. (2) Manifestações antecipadas contundentes sobre o mérito das acusações, com a afirmação contraditória de tratar-se de mera cognição sumária. (3) Artigo publicado na mídia nacional, com pronunciamento, de fato e de direito, sobre atuação do Poder Judiciário e o procedimento penal a ser adotado em caso de corrupção, quando já estava em curso a Operação Lava Jato sob sua direta supervisão. Incidência, por analogia (art. 3º do CPP) da causa de impedimento prevista no art. 252, III, do CPP. (4) Acusação de uso de documento falso em que o próprio juiz é apontado como a vítima imediata da ação imputada. Impedimento natural para a causa. (5) Declaração do magistrado, em 10/05/2010 (Autos nº 2007.70.00.007074-6), de suspeição, por motivo de foro íntimo, para processar e julgar ALBERTO YOUSSEF, em razão de acordo de delação premiada (Autos nº 2004.70.00.002.414-0).

1 – O advogado infra-assinado bem sabe que, em regra, a prudência recomenda não se argüir a suspeição e/ou o impedimento de magistrado, até porque a tendência natural dos órgãos judiciários é rejeitar a argüição e cria-se, desnecessariamente, uma animosidade indesejada com o julgador.

                                                            1 Procuração – Evento 1 – INIC1 – DOC. 01 anexo à inicial – Autos 5078424‐80. 2014.404.7000; ANEXO 1, procuração específica para esta ação penal, com poderes especiais para exceção de suspeição e impedimento e exceção de incompetência. 

  

 Av. Afonso Pena, 4.100 – 11º andar – Bairro Mangabeiras – Belo Horizonte – Minas Gerais – CEP 30.130‐009 

Tel/fax (31) 3282‐5000 – [email protected]                                                                        2 

 

Entretanto, no caso concreto, a veemência e a contundência dos

pronunciamentos anteriores do douto magistrado sobre o mérito da acusação e o procedimento penal a ser adotado, bem como a condição de vítima apontada na denúncia e a decisão anterior afirmando suspeição por motivo de foro íntimo, impuseram a tomada da presente medida, até por questão de cautela e para, no futuro, não haver alegação de omissão do acusado ou de sua defesa.

2 – Em primeiro lugar, como vem sendo sustentado pela doutrina e já adotado em várias capitais do país na Justiça Estadual2, deve haver uma separação entre o juiz competente para supervisionar o inquérito policial e a adoção de medidas cautelares preparatórias da ação penal e o juiz competente para o futuro julgamento da ação penal.

Fica evidente o comprometimento do primeiro, como no caso concreto, em que foram deferidas inúmeras medidas cautelares, com ampla fundamentação sobre o mérito das acusações pelo douto magistrado federal aqui apontado como impedido (interceptações telefônicas, bloqueio de ativos, quebra de sigilo bancário e fiscal, buscas e apreensões, prisões temporárias e preventivas, etc.).

Há, inclusive, proposta legislativa concreta inserida no Projeto de novo Código de Processo Penal brasileiro, já aprovado no Senado Federal e em tramitação na Câmara dos Deputados, para tornar explícita a regra que, implicitamente, já está adotada pelo nosso Direito Processual Penal, como princípio relativo a independência e imparcialidade do juiz3.

Afinal, o juiz não poderá exercer jurisdição no processo em que ele próprio houver se pronunciado, antecipadamente (ainda que em outro julgamento na mesma instância), sobre o mérito da acusação que, no futuro, será objeto de seu julgamento (artigo 252, inciso III, combinado com o art. 3º, ambos do CPP).

Esta a orientação do Supremo Tribunal Federal, firmada em acórdão relatado

pelo Ministro Joaquim Barbosa, no julgamento do Habeas Corpus nº 86.963, 2ª Turma, julgado em 12/12/2006, publicado no DJ 17/08/2007.

3 – Até certo ponto já prevendo que poderia haver a argüição de

impedimento, diante da contundência dos fundamentos lançados sobre o mérito das acusações, nas decisões anteriores proferidas em relação aos fatos imputados na

                                                            2 Varas especializadas de inquéritos policiais RJ, SP e BH (DIPO), cujos juízes não tem competência para as futuras ações penais. 3 Projeto de Lei do Senado nº 156/2009  (ali aprovado) e hoje Projeto de Lei nº 8045, de 2010, da Câmara dos Deputados,  em  cuja  Exposição  de Motivos  consta  a  seguinte  passagem:  “Manter  o  distanciamento  do  juiz  do processo, responsável pela decisão de mérito, em relação aos elementos de convicção produzidos e dirigidos ao órgão da acusação”. 

  

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presente ação penal, V. Exa., quer na decisão que decretou as prisões temporárias e preventivas, quer na decisão de recebimento da denúncia, sentiu necessidade de afirmar, ao final, contraditoriamente a tudo que antes estava escrito, que:

“As  considerações  ora  realizadas  sobre  as  provas  tiveram  presente  a  necessidade  de  apreciar  o cabimento das prisões, buscas e seqüestros, requeridos, tendo sido efetuadas em cognição sumária. Por óbvio, dado o caráter das medidas, algum aprofundamento na valoração e descrição das provas é inevitável, mas a cognição é prima facie e não representa juízo definitivo sobre os fatos, as provas e as questões de direito envolvidas, algo  só viável após o  fim das  investigações e especialmente após o contraditório” (Cfr na nota  2 ‐ Evento 10 dos Autos 5073475‐13.2014.404.7000)  “As  considerações  ora  realizadas  sobre  as  provas  tiveram  presente  a  necessidade  de  apreciar  a viabilidade  da  denúncia,  tendo  sido  efetuadas  em  cognição  sumária.  Por  óbvio,  algum aprofundamento na valoração e descrição das provas é inevitável, mas a cognição é prima facie e não representa juízo definitivo sobre os fatos, as provas e as questões de direito envolvidas, algo só viável após o fim das investigações e especialmente após o contraditório”(Cfr na nota 3 ‐ Evento 6 dos Autos desta Ação Penal 5083401‐18.2014.404.7000) 

4 – Na mesma linha de manifestação anterior sobre o mérito das acusações e sobre o procedimento penal a ser adotado, quando já estava em curso a Operação Lava Jato e, portanto, era o magistrado federal responsável pela supervisão das investigações e já havia adotado várias medidas cautelares no curso da mesma Operação Policial, V. Exa. fez publicar no jornal Folha de São Paulo artigo4, na página de opinião e tendências, no qual antecipou o seu posicionamento sobre a atuação do Poder Judiciário diante dos fatos imputados nesta ação penal, in verbis:

“Em  17  de  fevereiro  de  1992,  foi  preso,  na  Itália,  Mario  Chiesa,  diretor  de  instituição filantrópica e pública de Milão, dando início à Operação Mãos Limpas ("Mani Pulite"). Após um mês, ele resolveu colaborar, alegando como álibi o famoso "tutti rubiamo così", ou "todos roubamos assim". Dois anos  depois,  2.993  mandados  de  prisão  haviam  sido  expedidos  e  6.059  pessoas  estavam  sob investigação, entre elas políticos e agentes públicos. A Itália estava mergulhada na corrupção, forjando o termo "Tangentopoli" –ou seja, "cidade da propina", embora fosse mais apropriado "país da propina". Como  resultado,  houve  grande  alteração  do  panorama  político,  propiciando  um  novo  começo democrático, com méritos e deméritos. 

Há,  infelizmente,  semelhanças  com  o  quadro  atual  brasileiro  –e  não  apenas  o  de  hoje.  A corrupção  não  tem  cores  partidárias.  Não  é  monopólio  de  agremiações  políticas  ou  de  governos específicos. Combatê‐la deve ser bandeira da esquerda e da direita. Embora existam políticos corruptos em qualquer agremiação, não há partido que defenda a corrupção. Há a responsabilidade das  leis, do Executivo e do Judiciário. Das primeiras, pela estruturação de processo penal por vezes infindável, com múltiplos recursos que impedem que ações penais cheguem ao fim. Do segundo, por se tornar refém da política partidária e não adotar postura  firme contra a deterioração da vida pública. Do  terceiro, pela excessiva  leniência,  com  louváveis  exceções,  em  relação  a  esse  tipo  de  criminalidade.  É  necessário alterar  a  situação. É preciso  legislação penal que,  garantidos os direitos do  acusado, permita que os processos cheguem ao final. Do Poder Executivo, menos fechar de olhos. 

Imprescindível também mudança de percepção dos juízes quanto aos males da corrupção. Se um terço do rigor contra os criminosos do tráfico de drogas fosse transferido para os processos de crimes de corrupção, haveria grande diferença. Em parte, o problema não é a  lei, mas de percepção dos juízes. 

                                                            4 Edição de 24/08/2014 ‐ http://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2014/08/1504474‐sergio‐fernando‐moro‐nao‐e‐dos‐astros‐a‐culpa.shtml 

  

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Defendo, em concreto, que o  rigor  se  imponha em  casos de  crimes graves de  corrupção. Especificamente, presentes evidências claras de crimes de corrupção, não se deve permitir o apelo em liberdade do  condenado,  salvo  se o produto do  crime  tiver  sido  integralmente  recuperado. Não  é antecipação  da  pena, mas  reflexão  razoável  de  que,  se  o  condenado mantém  escondida  fortuna amealhada com o malfeito, o risco de fuga ou de nova ocultação do produto do crime é claro e atual. 

É  fácil apresentar projeto de  lei a  respeito e  igualmente viável defender, mesmo  sem  lei, posição jurisprudencial nesse sentido. Gostaria de ver isso defendido pelos candidatos à Presidência da República ou, mesmo antes, no Congresso Nacional e nos tribunais. Enfim, a corrupção não é um dado da natureza ou consequência dos trópicos, mas um produto de fraqueza  institucional e cultural. Como Brutus bem sabe, não é dos astros a culpa. SERGIO FERNANDO MORO, 42, é juiz federal e professor na Faculdade de Direito da Universidade Federal do Paraná (UFPR)” (negritos nossos) 

Este artigo, aliás é, em certa medida, uma reprodução atualizada para fins de

publicação jornalística, de outro muito mais expressivo a revelar o pronunciamento do magistrado, de fato e de direito, sobre a questão da corrupção e a atuação do Poder Judiciário no Brasil, a exemplo da Operação Mani Pulite da Itália, o qual artigo foi publicado na Revista CEJ, do Conselho da Justiça Federal, n. 26, p. 56-62, jul/set. 20045.

5 – Para justificar a argüição de impedimento aqui posta, em 1ª preliminar,

cumpre considerar que o Ministério Público Federal imputou aos acusados Sérgio Cunha Mendes e Rogério Cunha de Oliveira, a prática do crime de uso de documento falso (art. 304, do CP), “no dia 13/10/2014, às 16:51, perante a 13ª Vara Federal Criminal de Curitiba, fraudando a instrução processual. Com efeito, o r. Juízo dessa Vara, em despacho datado do dia 08 de outubro de 2014 (Evento 23 – Autos 5053744-31.2014.404.7000), (...) intimou a empresa MENDES JÚNIOR TRADING E ENGENHARIA S.A. (...) para que atendesse a solicitação policial a fim de “confirmar ou não a existência dessas transações, se positivo discriminá-las e esclarecer sua natureza, juntando eventuais contratos e notas fiscais que as amparem, bem como a eventual comprovação dos serviços contratados” – ainda o MPF disse – que a juntada dos documentos objeto da intimação judicial seria da parte dos acusados uma “afronta à dignidade do Poder Judiciário” – e mais disse o MPF – os acusados referidos fizeram uso de documentos falsos “perante a Justiça Federal” (denúncia, pág. 89/91, grifos nossos).

Ora, se a acusação for verdadeira, por óbvio, V. Exa., MM. Juiz Federal da 13ª

Vara Federal de Curitiba, para quem os documentos foram apresentados em atendimento à intimação da empresa para juntá-los, é a vítima imediata.

Aliás, V. Exa., na decisão de decretação de prisão preventiva (Evento 10 dos

Autos 5073475-13.2014.404.7000), antecipando-se ao órgão de acusação, fez a imputação, afirmando o seguinte:

                                                            5 O inteiro teor pode ser lido no site do “Consultor Jurídico” – “Considerações sobre a Operação Mani Pulite”, Sérgio Fernando Moro, http://s.conjur.com.br/dl/artigo‐moro‐mani‐pulite.pdf 

  

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“Como adiantado, este Juízo, a pedido da autoridade policial, concedeu às empreiteiras a oportunidade de esclarecerem os fatos (...) Para surpresa deste Juízo, parte das empreiteiras omitiu‐se, mas, o que é mais grave, parte delas simplesmente apresentou os contratos e notas fraudulentas nos inquéritos, (...) mas  também  tentativa  de  justificar  os  fatos  de  uma  forma  fraudulenta  perante  este  Juízo”  (...) No mínimo, apresentando a documentação falsa em Juízo ...”(grifos nossos) 

Inequívoco, portanto, que em relação a esta imputação contida na denúncia, a

vítima imediata do suposto crime é V. Exa., que na decisão de recebimento da mesma denúncia, afirmou o seguinte, a revelar que, em princípio, entende que a vítima imediata do alegado uso de documento falso é mesmo V. Exa., o digno Juiz Federal Titular da 13ª Vara Federal de Curitiba, in verbis:

“Ainda  a  denúncia  reporta‐se  à  apresentação  de  documentos  falsos  pela  Mendes  Júnior  no  dia 13/10/2014 à esta 13ª Vara Federal de Curitiba  (fls. 89 da denúncia). Em síntese,  intimada a empresa para  justificar as  transações  com as empresas  controladas por Alberto Youssef, ela apresentou notas fiscais  fraudulentas à  Justiça Federal, sem  fazer qualquer  ressalva quanto ao seu caráter  fraudulento, mesmo  tendo  ciência  dele  (inquérito  5053744‐31.2014.404.7000,  evento  29),  o  que,  segundo  a denúncia configuraria crime de uso de documento  falso perante a  Justiça Federal”.  (Evento 6, destes autos, grifos nossos). 6 – A derradeiro, cumpre considerar, ainda, que V. Exa. mesmo declarou-se

suspeito por motivo de foro íntimo (obviamente não esclarecido), para processar e julgar o denunciado ALBERTO YOUSSEF, nos Autos de nº 2007.70.00.007.074-6, referindo-se também a sua participação na homologação do primeiro acordo de delação premiada deste acusado nos Autos nº 2004.70.00.002.414-0:

“REPRESENTAÇÃO CRIMINAL N" 2007.70.00.007074‐6/PR   RPTE.     DEPARTAMENTO DE POLICIA FEDERAL 

SUPERINTENDENCIA REGIONAL DO PARANA  

DESPACHO/DECISÃO  

Demorei a despachar pois estava ocupado com casos mais prementes. Considerando o já exposto na fl. 312, especialmente que o inquérito parece movido pela 

discordância  quanto  à  prévia  delação  premiada  entre  MPF  e  Alberto  Youssef,  e  ainda especificamente  que  este  julgador  homologou  o  acordo  de  delação  premiada  do MPF  com Alberto Youssef, reputo mais apropriado que o inquérito prossiga com outro juiz. 

Assim, declaro‐me suspeito por motivo de foro intimo para continuar no inquérito. Remetam‐se os autos ao MM. Juiz Federal Substituto desta Vara. Caso  ao  final  das  investigações  ou  no  seu  decorrer,  se  entenda  que  houve 

descumprimento do acordo de delação premiada celebrado entre Alberto Youssef e MPF, deve ser encaminhada informação a este Juízo, especificamente para o feito 2004.7000002414‐0, para a apuração das eventuais conseqüências naquele feito e sem prejuízo das decorrentes da própria investigação em trâmite. 

Curitiba, 10 de maio de 2010. Sérgio Fernando Moro Juiz Federal” 

Uma decisão de reconhecimento de suspeição por motivo de foro íntimo fala

por si e dispensa qualquer outro comentário, revelando a impossibilidade de

  

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continuidade da permanência do ilustre magistrado federal na condução de ação penal em que também figura como denunciado o mesmo acusado ALBERTO YOUSSEF, na qual, novamente, houve um acordo de delação premiada que V. Exa. endossou em audiência de interrogatório, antes mesmo da homologação pelo STF.

7 – Em face do exposto, pelos cinco diferentes fundamentos, a defesa do

denunciado, em 1ª preliminar, pede e espera seja acolhida a arguição de suspeição e impedimento, desde logo (independentemente de sua apreciação na forma de exceção de suspeição e impedimento. Todavia se esta for a única forma de apreciação da questão admitida pelo douto Juízo, segue petição com incidente conexo, a ser distribuído por dependência, como exceção de suspeição e impedimento, para processamento e julgamento), ou, seja a questão apreciada, oportunamente, como 1ª preliminar, por ocasião da sentença de primeira instância, feito aqui o prequestionamento da ofensa à Constituição (art. 5º, inciso LIII) e à lei federal (artigos 252 a 255, do CPP; combinados com o artigo 134, inciso I, e o art. 135, parágrafo único, ambos do CPC (aplicáveis por força do art. 3º do CPP).

II – 2ª Preliminar: Incompetência do Juízo da 13ª Vara Federal de Curitiba. Prequestionamento das ofensas à Constituição: artigo 5º, incisos XXXVII (proibição de juízo de exceção) e LIII (princípio do juiz natural ou juiz competente). Prequestionamento das ofensas à lei federal: CPP, artigo 70 (foro do lugar da infração).

8 – A defesa do denunciado argúi, em 2ª preliminar, a incompetência do juízo da 13ª Vara Federal de Curitiba. Em tese, a questão poderia ser objeto de exceção de incompetência, todavia, V. Exa., magistrado federal argüido de incompetente, já decidiu a matéria, antecipadamente, quando proferiu as decisões anteriores de decretação da prisão preventiva dos investigados6 e de recebimento da denúncia nesta ação penal7, afirmando sua competência. Sabidamente, não cabe recurso no processo penal contra a decisão que afirma competência. Assim, a presente 2ª preliminar visa ao prequestionamento da ofensa à Constituição e à lei federal, que deverá ser objeto de expressa apreciação por ocasião da sentença final de primeira instância – o que desde logo se requer – para que possa ser objeto de apreciação, se necessário, em todas as instâncias superiores (TRF, STJ e STF).

9 – Embora seja correto afirmar-se que os fatos, de que trata globalmente a Operação Lava Jato, “se espalharam pelo território nacional”, no caso concreto da presente ação penal, considerados objetivamente, os fatos imputados na denúncia

                                                            6 Evento 10 dos Autos 5073475‐13.2014.404.7000 (especialmente a partir da pág. 38/54) 7 Evento 6 desta Ação Penal 5083401‐18.2014.404.7000 (especialmente a partir da pág. 10/20) 

  

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oferecida pelo MPF8 não ocorreram na jurisdição desta 13ª Vara Federal de Curitiba (organização criminosa por administradores e agentes da empresa MENDES JÚNIOR TRADING E ENGENHARIA S/A – MJTESA, empresa com sede em São Paulo, SP, e escritório em Belo Horizonte, MG; corrupção ativa dos administradores e agentes da MJTESA em relação ao diretor da PETROBRAS Paulo Roberto Costa, aquela sediada em Belo Horizonte, MG, e este baseado no Rio de Janeiro, RJ; lavagem de dinheiro por três diretores da MJTESA (BH/MG) e por Paulo Roberto Costa (RJ/RJ) e Alberto Youssef, cujo escritório era situado em SP/SP, bem como as empresas envolvidas (GFD e Rigidez).

A referência feita a obra da REPAR (Refinaria Presidente Getúlio Vargas, no Paraná) não tem pertinência, no caso concreto, como abaixo se demonstrará, pois os únicos pagamentos feitos pela MJTESA para as empresas de Alberto Youssef (GFD Investimentos Ltda. e Empreiteira Rigidez Ltda.) tem relação com duas outras obras da PETROBRAS apenas: REPLAN (Refinaria de Paulínea, em SP) e TABR (Terminal Aquaviário de Barra do Riacho, em ES). Ademais, os pagamentos – apontados equivocadamente como consumação de lavagem de dinheiro – deram-se de conta bancária da MJTESA (MG) para contas bancárias das empresas citadas de YOUSSEF (SP).

Restaria, assim, apenas a competência territorial desta Vara Federal de Curitiba para a imputação do suposto uso de documento falso perante este próprio juízo federal, tipo penal que, inequivocamente, não ocorreu por absoluta falta de potencialidade dos documentos apresentados para iludir a fé pública ou a boa fé das autoridades da Justiça Federal, do Ministério Público Federal e da Polícia Federal, que deles já tinham conhecimento prévio9, bem como das informações prestadas por Alberto Youssef, Carlos Alberto Pereira da Costa e Waldomiro de Oliveira, que já haviam esclarecido que os mesmos não correspondiam à efetiva prestação de serviços, o que foi, em seguida, confirmado nas declarações à Polícia Federal dos acusados Sérgio Cunha Mendes10, Rogério Cunha de Oliveira11 e Ângelo Alves Mendes12.

10 – Em resumo, embora se possa falar em conexão da conexão da conexão entre os fatos desta ação penal e os de outras ações penais em andamento nesta 13ª Vara Federal “de Curitiba”, sabidamente, esta não é uma Vara Federal “do Brasil” (verdadeiro juízo de exceção), em cuja jurisdição cabem fatos ocorridos no território de outros juízos ou varas federais das Seções Judiciárias do Rio de Janeiro, de São Paulo, do Espírito Santo ou de Minas Gerais.

                                                            8 Evento 1 – denúncia1 desta Ação Penal 9 Documentos já juntados, em razão de busca e apreensão, nos autos 5073475‐13.2014.404.7000 10 Evento 1 – OUT 150 (Parte 8); Evento 44‐DECL2 , Autos 5053744‐31.2014.404.7000 11 Evento 54 – DESP1 , fls. 462/5, dos Autos 5053744‐31.2014.404.7000 12 Evento 54 – DESP1, fls. 448/450, dos Autos 5053744‐31.2014.404.7000 

  

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11 – V. Exa. mesmo, ilustre Juiz Federal Sérgio Fernando Moro, em 2004, quando já era magistrado na Seção Judiciária Federal do Paraná, em Curitiba, ciente de fatos conexos com o Caso Banestado e a famosa Operação Farol da Colina, objeto da Força Tarefa CC-5, quando se descobriu a remessa ilegal de divisas ao exterior através da conta ônibus da BHSC e de suas subcontas, após, inicialmente, decretar a prisão temporária de dezenas de doleiros de diferentes estados brasileiros, veio a reconhecer a incompetência da Justiça Federal do Paraná e, apesar da conexão da conexão da conexão entre os fatos, declinou para diferentes Seções Judiciárias Federais (por exemplo, RJ, SP e MG) centenas de inquéritos policiais que tinham como investigados os clientes dos doleiros, acusados de infração ao artigo 22 da Lei 7.492/86.

Aquelas decisões de reconhecimento da incompetência nos casos conexos da Operação Farol da Colina, proferidas por V. Exa., servem de precedentes – contraditórios com a posição agora assumida – para reconhecer-se, na presente ação penal, quanto à 1ª parte da denúncia (que se refere aos administradores e agentes da MJTESA), a incompetência desta 13ª Vara Federal de Curitiba.

12 – A decisão proferida pelo STJ, genericamente para os fatos globalmente considerados da Operação Lava Jato (HC 302.605/PR, Rel. Min. Newton Trisotto, 5ª Turma, 25/11/2014), não tem aplicação específica para os fatos desta ação penal, sob pena de violação da lei federal (art. 70 do CPP) e da Constituição (art. 5º, incisos XXXVII e LIII).

Igualmente, a decisão proferida pelo STF, favorável a competência da Justiça Federal de primeiro grau de jurisdição, para o processo e julgamento dos acusados que não tem foro por prerrogativa de função, envolvidos genericamente na Operação Lava Jato (declinação de competência ordenada pelo Ministro TEORI ZAVASCKI – Reclamação nº 17.623/PR, em 19/05/2014), não tem aplicação específica para os fatos desta ação penal, sob pena de violação da lei federal (art. 70 do CPP) e da Constituição (art. 5º, incisos XXXVII e LIII).

13 – Ademais, está demonstrado que a suposta competência desta 13ª Vara Federal de Curitiba, foi fruto de uma “criação” de conexão entre pessoa e não entre fatos. Fez-se uma vinculação entre um processo arquivado relativo a delação anterior de ALBERTO YOUSSEF e uma nova investigação envolvendo o mesmo e o então Deputado Federal JOSÉ JANENE para provocar uma distribuição dirigida em prejuízo do princípio do juiz natural. E, mais do que isto, instaurou-se nesta Vara Federal uma investigação sobre JOSÉ JANENE, quando este ainda era deputado federal (sujeito a competência constitucional do Supremo Tribunal Federal) e a apuração estava vinculada ao processo do “mensalão” (AP 470 do STF), pois se queria investigar lavagem de recursos originários daquele esquema pelo Deputado Federal José Janene (que era réu naquela ação penal) com a participação de ALBERTO YOUSSEF, que,

  

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antes tinha respondido uma ação penal na Justiça Federal de Curitiba e fizera um acordo de delação premiada.

Isto tudo resulta claro das referências iniciais constantes da denúncia desta ação penal (pág. 8 e 9 e notas 13 a 15), bem como dos dados relativos ao Inquérito nº 2006.70.00.018662-8 (Inquérito contra José Janene), aos autos nº 2004.70.00.002414-0 (primeira delação de Alberto Youssef), aos autos nº 2004.70.00.012177-4 (investigação de lavagem de dinheiro da família do Deputado Federal referido) e ao inquérito nº 2004.70.00.033532-7. Houve, inclusive, violação da Resolução nº 42/2006 do TRF-4, relativa à redistribuição de 50% dos feitos da antiga 2ª Vara Federal de Curitiba. Tudo isto ocorrido, quando, em julho de 2006, JOSÉ JANENE estava no exercício do mandato de deputado federal, pois somente se aposentou em dezembro daquele ano.

14 – De outro lado, a denúncia trata de corrupção de funcionário da PETROBRÁS, de lavagem de dinheiro da suposta propina e de organização criminosa. Nada disso diz respeito a crimes de competência da Justiça Federal, segundo o artigo 109 da Constituição.

A PETROBRAS é uma sociedade de economia mista e, por isso, “não incide a regra de competência disposta no art. 109, IV, da Carta Magna, na hipótese em que a prática delituosa envolve bens e serviços da Petrobrás” (Conforme Súmula 42 do STJ e precedentes do STJ: STJ, 3" Seção, CC 34.575, Rel. Min. Vicente Leal, DJU de 9/9/2002, unânime; STJ, 3" Seção, CC 30.344, Rei. Min Felix Fischer, DJU de 18/2/2002, unânime; Precedente do STF: ACO 987/RJ, Rel. Min. Ellen Gracie, pleno, unânime, DJe de 22/08/2011).

Quando se identificou, no curso das investigações da Operação Lava Jato, possíveis práticas delituosas envolvendo a Petrobrás, o respectivo inquérito deveria ter sido remetido a Justiça Estadual do Rio de Janeiro, nunca devendo ter permanecido perante esta Vara Federal de Curitiba.

15 – Isto posto, em 2ª preliminar, pelos diferentes fundamentos acima expostos, a defesa do denunciado pede e espera seja reconhecida a incompetência do juízo da 13ª Vara Federal de Curitiba, desde logo (independentemente de sua apreciação na forma de exceção de incompetência. Todavia se esta for a única forma de apreciação da questão admitida pelo douto Juízo, segue petição com incidente conexo, a ser distribuído por dependência, como exceção de incompetência, para processamento e julgamento), ou, seja a questão apreciada, oportunamente, como 2ª preliminar, por ocasião da sentença de primeira instância, feito aqui o prequestionamento das ofensas à Constituição (art. 5º, incisos XXXVII e LIII) e à lei federal (art. 70 do CPP).

  

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III - 3ª Preliminar: cerceamento de defesa por negativa de acesso ao conteúdo dos termos de colaboração (depoimentos) prestados por “acusados delatores” nos respectivos procedimentos de delação premiada, bem como acesso aos próprios termos de acordos de delação premiada e a diversos procedimentos, inquéritos e ações penais mencionados na denúncia. 16 – Por ocasião da decisão de decretação das prisões preventivas (Evento 10

dos Autos 5073475-13.2014.404.7000), V. Exa., ilustrado julgador, fez referências diversas às delações premiadas que teriam feito os acusados Paulo Roberto Costa, Alberto Youssef, Augusto Ribeiro de Mendonça Neto e Júlio Gerin de Almeida Camargo.

Na denúncia oferecida pelo MPF (Evento 1 – denúncia1 desta Ação Penal), os

dignos Procuradores da República, igualmente, se reportam diversas vezes às delações premiadas que teriam feito os acusados Paulo Roberto Costa, Alberto Youssef, Augusto Ribeiro de Mendonça Neto e Júlio Gerin de Almeida Camargo.

E, em terceiro lugar, na decisão de recebimento da denúncia, V. Exa. também

faz citações dos termos contidos em declarações prestadas pelos delatores referidos (Evento 6 desta ação penal).

Nos presentes autos, no momento da citação do acusado e quando iniciado o

prazo para oferecimento de resposta a acusação, a defesa teve conhecimento e localizou nos autos, tão somente as declarações prestadas em termos de colaboração em delação premiada pelos acusados Augusto Ribeiro de Mendonça Neto13 e Júlio Gerin de Almeida Camargo14.

Em relação aos acusados Paulo Roberto Costa e Alberto Youssef, foram

juntados nestes autos, apenas, transcrições de depoimentos prestados em juízo, em outra ação penal (Autos 5026212-82.2014.404.7000)15. Não foram juntados os termos de colaboração (depoimentos) em delação premiada destes dois acusados.

Ademais, não foram juntados aos autos até a citação do acusado e o início do

prazo para Resposta, para conhecimento da defesa, os próprios termos de acordo de delação premiada dos quatro acusados, embora se trata de documentos já formalizados, existindo decisões judiciais que expressamente negam o acesso a tais

                                                            13 Parte 25, pág. 272/ 331‐ Evento 529 dos Autos 5073475‐13.2014.404.7000 – Termos de Colaboração de nº 01 a 13. 14 Parte 25, pág. 332/379‐ Evento 529 dos Autos 5073475‐13.2014.404.7000 – Termos de Colaboração de nº 01 a 08. 15 Parte 8, Evento 1, OUT 151, pág. 1/26 do PRC; pág. 26/54 do AY 

  

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documentos16, bem como de outros delatores, apesar da garantia constitucional do direito de defesa (artigo 5º, inciso LV, da CF) e os termos claros da Súmula Vinculante 14 do STF.

De outro lado, o argumento de que os depoimentos prestados em acordo de

colaboração premiada devem, em princípio, permanecer sob sigilo até pelo menos a propositura da denúncia, como dispõe o art. 7º, §3º, da Lei n.º 12.850/2013, não prevalece para o caso concreto em que há denúncia oferecida e recebida.

17 – É evidente o prejuízo para a defesa do denunciado, que está cerceada,

pela impossibilidade de conhecimento e análise dos termos de acordo de delação premiada e dos termos de colaboração (depoimentos) resultantes das mesmas delações, até para avaliar a licitude, como prova, dos depoimentos invocados na denúncia e nas decisões judiciais de prisão e recebimento de denúncia.

Registre-se que em relação ao único Termo de Acordo de Colaboração

Premiada, feito entre o MPF e Paulo Roberto Costa, de que se tem conhecimento pela internet, fruto de vazamento seletivo, datado de 27/08/2014, com visto de Juiz Instrutor datado de 29/09/2014, pode-se afirmar que o mesmo viola a Constituição e a Convenção Americana de Direitos Humanos (Pacto de São José da Costa Rica), por impor ao acusado colaborador Paulo Roberto Costa e a sua defesa vários atos que importam em renúncia de direitos fundamentais constantes de cláusulas pétreas da Constituição (irrenunciáveis), tais como: desistir de habeas corpus impetrados; desistir de defesas processuais, inclusive discussões sobre competência e nulidades; suspensão da Súmula Vinculante 14 do STF; renúncia ao direito ao silêncio; renúncia a garantia contra a autoincriminação; renúncia ao direito de recorrer das sentenças penais condenatórias.

Ora, ainda que se queira invocar a Lei 12.850/2013, é óbvio em face da

hierarquia da Lei Maior e do Pacto, que o mencionado termo de acordo importa em gravíssimas violações da Constituição e, via de conseqüência, os termos de colaboração (depoimentos) prestados como derivação do mesmo constituem prova ilícita que não pode ser utilizada em juízo, nos termos do art. 5º, LVI (CF) e art. 157 e seu §1º, do CPP, questão de direito cujo prequestionamento fica aqui, desde logo, formulado.

Manifesto, assim, o cerceamento de defesa e o inequívoco prejuízo à defesa

do denunciado, que está impedida de discutir e questionar a validade dos depoimentos invocados contra o mesmo, pela falta de acesso apontada.

                                                            16 Evento 289 (19/11/14); Evento 523 (03/12/14); Evento 619; Evento 679 (17/12/14); Evento 708 (18/12/14) todos dos Autos 5073475‐13.2014.404.7000 

  

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18 – De outro lado, embora mencionados na denúncia, a defesa do acusado não teve acesso a diversos procedimentos (medidas cautelares), inquéritos e ações penais que tramitam ou tramitaram nesta 13ª Vara Federal de Curitiba, vários protegidos por sigilo (nível 1 ou 2) ou segredo de justiça.

É indispensável para o exercício do direito de defesa que seja facultado o

acesso da defesa do acusado a todos eles, a saber, os mencionados na denúncia (pág. 8 e 9, notas 13 a 15):

5049597-93.2013.404.7000 5027775-48.2013.404.7000 5007992-36.2014.404.7000 5001446-62.2014.404.7000 5014901-94.2014.404.7000 5021466-74.2014.404.7000 5010109-97.2014.404.7000 5049557-14.2013.404.7000 5026212-82.2014.404.7000 Operação LAVAJATO – envolvendo CARLOS HABIB CHATER, Autos

5025687-03.2014.404.7000 e 5001438-85.2014.404.7000; Operação BIDONE – envolvendo ALBERTO YOUSSEF, Autos 5025699-17.

2014.404.7000 e outras ações penais; Operações DOLCE VITTA I e II – envolvendo NELMA MITSUE PENASSO

KODAMA, Autos 5026243-05.2014.404.7000; Operação CASABLANCA – envolvendo RAUL HENRIQUE SROUR, Autos

5025692-25.2014.404.7000. 19 – Em face do exposto, a defesa do denunciado, em 3ª preliminar, pede e

espera seja reconhecido o cerceamento de defesa, desde logo, saneando-se o processo com decisão judicial que determine a juntada aos autos de todos os termos de acordo de colaboração premiada firmados pelos quatro acusados (Paulo Roberto Costa, Alberto Youssef, Augusto Ribeiro de Mendonça Neto e Júlio Gerin de Almeida Camargo), bem como juntando-se cópia de todos os termos de colaboração (depoimentos) prestados pelos mesmos em razão das delações premiadas, bem como seja permitido o acesso a todos os autos acima enumerados, e, após, ordenada a reabertura do prazo para Resposta à Acusação, ou, seja a questão apreciada, oportunamente, como 3ª preliminar, por ocasião da sentença de primeira instância, feito aqui o prequestionamento das ofensas à Constituição (art. 5º, incisos LV e LVI), à lei federal (art. 157 e seu §1º, do CPP) e à Súmula Vinculante 14 do STF.

  

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IV – 4ª Preliminar: inépcia da denúncia por falta de narrativa dos fatos imputados, com todas as suas circunstâncias; por falta de individualização das condutas; por falta de descrição do elemento subjetivo dos tipos penais imputados, valendo-se de mera responsabilidade penal objetiva decorrente da condição de diretor da empresa. Violação da Constituição (art. 1º, inciso III; art. 5º, incisos LIV e LV) e da lei federal (art. 41 e 395, do CPP). 20 – Apesar de ter em sua 1ª parte (relativa a acusações aos administradores

e agentes da MJTESA) 90 páginas, a denúncia oferecida pelo MPF é inepta, importando em violação ao princípio da dignidade da pessoa humana e às garantias do devido processo legal e da ampla defesa (art. 1º, inciso III; art. 5º, incisos LIV e LV, CF), diante da falta de cumprimento dos mandamentos do artigo 41 do CPP.

A denúncia não delimita no tempo a conduta de cada um dos denunciados,

dentre aqueles que chama de “administradores e agentes” da MJTESA, logo na primeira imputação (organização criminosa), quando se afirma que “em data não precisada nos autos, mas sendo certo que desde 2004 até pelo menos 14 de novembro de 2014”. A peça acusatória mistura pessoas que, ao longo do tempo, exerceram cargos e funções diferentes, entraram e saíram da empresa ou nela não trabalhavam na época dos fatos imputados.

Diz, ainda, a denúncia de forma inepta que o acusado oferecia vantagens

indevidas a Paulo Roberto Costa “e a outros empregados da PETROBRAS para a consecução de contratos com a Estatal”, sem apontar quais seriam “os outros empregados da PETROBRAS”.

Afirma, ainda, a denúncia de forma inepta que o acusado participa “de reuniões

do cartel”, sem especificar, para possibilitar o exercício da defesa, quando, onde e quais eram tais reuniões.

O MPF, na inepta denúncia, diz que o diretor acusado participava das

atividades fraudulentas desempenhadas pelos agentes da empresa, só porque a representava na assinatura de contratos e aditivos, o que importa em imputação fundada em mera responsabilidade penal objetiva e sem descrição de dolo.

Na acusação de prática de corrupção ativa, em que o corrompido seria o então

Diretor de Abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa, embora a denúncia diga que a conduta tem vinculação com seis obras (REPAR, REPLAN, COMPERJ, REGAP, TABR e TAIC), afirma-se, de forma genérica, sem qualquer detalhamento que permita o exercício do direito de defesa, que os acusados teriam efetuado tratativas com Alberto Youssef para o pagamento de vantagens indevidas, em datas não precisadas,

  

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tanto em relação aos contratos quanto em relação a aditivos, embora a peça inicial, em todos os casos (seis contratos e seus aditivos) se limite a repetir que foi identificado o pagamento de um total de R$8.028.000,00 (seis vezes o mesmo valor: pág. 48, 54, 56, 60, 64 e 67 – da denúncia), mas afirma que teria havido “outros pagamentos” sem especificar valores, datas e forma dos mesmos.

E, ainda quanto a esta imputação de corrupção ativa, no final, sem qualquer

explicação que permita entender a acusação e exercer a defesa, afirmar a denúncia que seriam 53 (cinqüenta e três) atos de corrupção ativa (pág. 164), não os tendo descrito e detalhado (quando, onde, como, etc.).

Na imputação de lavagem de dinheiro, embora a denúncia se refira a “um

grande volume de recursos sujos” ou a “dinheiro sujo de origem criminosa”, não se aponta qual seria o dinheiro “sujo”, de economia informal ou de origem ilícita que podia ser objeto de “lavagem”, pois a empresa MJTESA só dispunha de recursos em conta bancária formal, oficial e integrante do Sistema Financeiro Nacional, tendo sido feitos pagamentos, mediante depósitos bancários em contas bancárias identificadas de empresas determinadas, também dentro do Sistema Financeiro Nacional.

A própria denúncia descreve os pagamentos da MJTESA para GFD e Rigidez

como exaurimento da corrupção ativa. Se, posteriormente, o dinheiro que ingressou nas contas destas duas empresas foi objeto de alguma conduta de lavagem para pagamento a beneficiários finais (políticos, por exemplo), isto não está descrito na denúncia e não envolve a pessoa do acusado.

O uso na contabilidade da MJTESA dos contratos e das notas fiscais, que não

correspondiam a serviços efetivamente prestados, constituiu lançamento de despesas fictícias, que, em tese, poderia ser tratada como crime tributário (como admite a própria denúncia) pela redução da base de cálculo de tributos, o que constitui objeto de procedimento administrativo fiscal perante a RFB, não se caracterizando infração penal enquanto este não for encerrado com lançamento definitivo de crédito tributário e não houver pagamento ou parcelamento.

21 – Em face do exposto, a defesa do denunciado, em 4ª preliminar, pede e

espera seja reconhecida a inépcia da denúncia, reconsiderando-se a decisão de recebimento da denúncia para sua rejeição, ou, seja a questão apreciada, oportunamente, como 4ª preliminar, por ocasião da sentença de primeira instância, feito aqui o prequestionamento das ofensas à Constituição (art. 1º, inciso III, art. 5º, incisos LIV e LV) e à lei federal (artigos 41 e 395, inciso I, do CPP).

  

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V – MÉRITO: 22 – É sabido que nesta fase dos artigos 396 e 396-A do CPP podem ser feitas

alegações de defesa com exame do mérito. Entretanto, já houve a decisão judicial de recebimento da denúncia, na qual V. Exa., antecipando seu juízo negativo sobre quaisquer pedidos da defesa dos denunciados, marcou, desde logo, audiências para inquirição de testemunhas e determinou a intimação dos acusados para as mesmas, revelando, uma vez mais, a procedência da argüição de suspeição e impedimento.

A defesa do denunciado faz, aqui, uma negativa genérica das acusações, pois

o mesmo não praticou nenhuma das condutas imputadas na denúncia, segundo as provas já existentes nestes autos e nos autos conexos, consoante os termos de suas declarações à Autoridade Policial, bem como conforme se provará durante a instrução criminal contraditória.

23 – É necessário, no entanto, dada a multiplicidade de imputações e suas

características, fazer-se, desde logo, algumas breves considerações sobre cada uma, para esclarecimento preliminar do Juízo sobre a defesa do denunciado, bem como para exame de pedido de absolvição sumária parcial (artigo 397 do CPP).

Espera-se que os fundamentos e pedidos, nesta fase, apesar da designação

de audiências, sejam previamente examinados e acolhidos. V.1 – Supostos crimes antecedentes. Cartel e fraude em licitações. 24 – A empreiteira brasileira MENDES JÚNIOR, fundada em Minas Gerais em

1953, presta serviços de engenharia à PETROBRÁS desde a década de 60 do século passado, tendo, por isto, expertise na prestação de serviços à Estatal e longo histórico de cadastro e bons serviços.

25 – Se houve cartel de empreiteiras na PETROBRÁS, a MJTESA (Mendes

Júnior Trading e Engenharia S.A.) dele não participou jamais, pois sempre lutou, licitamente, para ganhar seus contratos em procedimentos licitatórios regulares, que seguiam a sistemática legal da própria PETROBRÁS.

Registre-se, em primeiro lugar, que é a própria PETROBRÁS que seleciona as

empresas que vão participar de suas licitações, que não seguem a sistemática da Lei 8.666/83 (Lei Geral de Licitações no Brasil), pois a PETROBRÁS possui um cadastro de empresas fornecedoras que ela própria controla e classifica, só podendo participar das licitações as empresas que possuem o registro naquele cadastro (CRCC), que é

  

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renovado anualmente, após rigoroso procedimento por pessoal técnico da PETROBRÁS.

Assim, não é possível às empreiteiras, em suposto cartel, escolher quais as

empresas que vão participar desta ou daquela licitação na PETROBRÁS, pois é a própria PETROBRÁS que faz o controle das empresas fornecedoras convidadas para os certames, mediante seu próprio cadastro e a classificação nele contida.

O acusado delator PAULO ROBERTO COSTA, em depoimento à Justiça,

afirmou que: “As  grandes  empresas  do  Brasil,  e  são  poucas  grandes  empresas  que  têm  condição  de  fazer  uma 

refinaria, que tem condição de fazer uma plataforma, que tem condição de fazer um navio de processo”17 “... toda as licitações da área de Abastecimento de grande porte são conduzidas por outra diretoria, que 

não era a Diretoria de Abastecimento, que era a Diretoria de Serviços (...) Então existe uma, uma diretoria que faz esta atividade O quê que ela faz nesta atividade? Ela pega o cadastro da Petrobras, escolhe as empresas que vão participar do processo licitatório, faz a licitação, então é nomeada uma comissão de licitação ou a coordenação da comissão de licitação é dessa diretoria, então ela faz a licitação” (pág. 4) 

“...  era um grupo  técnico que participava  (das  comissões de  licitações)  (...) as  comissões  todas  eram indicadas pela Diretoria de Serviço”(pág. 12) 

Sobre inclusão de empresas em licitações: “só pode ser, ser incluída essa empresa se ela tiver capacidade técnica, administrativa, etc, e a comissão aprovar” (pág. 12) “A parte de cadastramento toda da Petrobras, quer seja para empresa prestadora de serviço, quer seja para empresa fornecedor de produto (...) é feita através de uma área de cadastramento que é o CRCC” (pág. 16) 

Indagado  se  as  empresas  tinha  conhecimento  de  antemão  sobre  o  valor  de  referência,  isto  é,  do orçamento básico, a estimativa de preço feita pela Petrobras, respondeu: “Não. Não tinham porque a comissão de li  ...  esse  grupo  era  muito  fechado  e  muito  correto,  nunca  tive  nenhuma  referência  de  ter  vazamento  de informações ... o orçamento era feito e era trancado lá a sete chaves” (pág. 13) 

“A Diretoria de  Serviço,  atrás  de uma  comissão  de  licitação  ia  no  cadastro,  escolhia  as  empresas de acordo  com a  complexidade da obra e de acordo  com o  valor da obra aproximado, que  já  se  tinha  idéia, etc., separava as empresas. Então quem fazia tudo isso era a comissão de licitação interna da companhia, da Petrobras” (pág. 24) 

“A Petrobras, ela tinha duas escolhas para fazer em relação aos projetos. Concluir o projeto todo e isso ia demorar muito tempo, ou entregar o projeto básico para as companhias para executarem depois o detalhamento” (justificando, assim, os aditivos contratuais)(pág. 14).  

 

O delator ALBERTO YOUSSEF, igualmente, esclareceu que: “A questão de CRCC na Petrobrás é uma documentação bastante extensa e complicada de se fazer (...) 

mas se ele não tivesse o CRCC ele não podia fornecer pra Petrobras” (pág. 33) 

Ademais, quer considerada a redação original da Lei 8.137/90 (artigo 4º), quer

considerada a nova redação fruto da Lei 12.529/2011, a prática do cartel pressupõe “dominação de mercado” ou “controle de mercado” por ajuste ou acordo entre empresas, o que não tem sentido se dirigida a ação a uma única empresa (PETROBRÁS) e não ao “mercado” (ou setor de), quando a própria suposta vítima é

                                                            17 Evento 1, OUT 151, pág. 3 

  

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que controla as suas fornecedoras pelo cadastro, pela classificação nele imposta e pela escolha das fornecedoras convidadas a participar de licitações.

Os acusados delatores Augusto Ribeiro Mendonça Neto e Júlio Gerin de

Almeida Camargo, que informaram representar as empresas do grupo TOYO SETAL (SOG), não figuram como signatários dos contratos entre esta empresa e a PETROBRÁS, nem aparecem como representantes dos Consórcios nas obras da REPAR e da REPLAN, únicas nas quais houve relacionamento comercial e operacional entre a MJTESA e aquela empresa.

Os documentos apresentados pela advogada dos delatores18 ou aqueles que

teriam sido apreendidos na ENGEVIX apontando reuniões com a suposta participação de representante da MJTESA não indicado, têm registros relativos a obras da PETROBRÁS que não correspondem a obras de que a empreiteira mineira tenha participado19, revelando seu desvalor.

Em quadro já apresentado a este Juízo, a MJTESA demonstrou que no período

de 2011 a 2014 participou de 20 (vinte) procedimentos licitatórios na PETROBRÁS e somente logrou êxito em um (01)20, evidenciando que não participava de cartel, inclusive considerando-se o custo da apresentação de propostas, admitido pelo próprio MPF na denúncia.

De qualquer forma, esta imputação (cartel), embora indicada como “crime

antecedente”, não é objeto da denúncia da presente ação penal. Aos alegados indícios de prática da infração, apontados na denúncia, são opostos os contra indícios acima.

26 – Por outro lado, a MJTESA nunca participou de fraude em licitação,

sendo até questionável a incidência do artigo 90 da Lei 8.666/93 em relação a procedimento realizado no âmbito da PETROBRÁS que não está sujeita e nem observa a referida lei.

Neste ponto é importante registrar que, na sistemática adotada pela

PETROBRÁS, após a empreiteira ser declarada vencedora da licitação, sua proposta é submetida a uma negociação interna na PETROBRÁS, com equipe técnica qualificada e muito rigorosa, que exige da licitante vencedora que apresente o seu DFP (Demonstrativo de Formação de Preço) e, quase sempre, impõe uma redução no preço para a assinatura do contrato, situação incompatível com a conduta de suposta participação em cartel e/ou fraude a licitação.

                                                            18 Parte 7 ‐ Evento 1, OUT 140  19 Parte 7 – Evento 1, OUT 139, PÁG. 9 (REDUC); OUT 141, PÁG. 2 (STEAM CRACKER ou HDT‐ Nafta Coque) 20 Evento 1 – INIC1 – DOC. 17 anexo à inicial – Autos 5078424‐80. 2014.404.7000 

  

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Nos seis casos de contratos mencionados na denúncia, por exemplo, ocorreu o

seguinte:

  Obra da Petrobrás  Valor Proposta (R$) Valor Contrato (R$) 

1  REGAP  1.159.526.441,53 711.924.823,57

2  REPLAN (Consórcio)  797.818.005,10 696.910.620,73

3  REPAR (Consórcio)  2.253.710.536,05 2.252.710.536,05

4  TABR  493.561.194,26 493.561.194,26

5  TAIC  254.396.998,60 220.990.000,00

6  COMPERJ (Consórcio)  1.969.317.341,00 1.869.624.800,00

Em outras palavras, além da empresa ganhar a licitação por ter apresentado a

proposta de menor valor, ainda teve em cinco casos o seu preço de contrato reduzido por negociação com a PETROBRÁS em relação à proposta apresentada (Anexo 2)21.

Estes procedimentos de negociação interna foram feitos entre equipe técnica

da empreiteira MJTESA e equipe técnica da PETROBRÁS, em várias reuniões, que são objeto de ATAS, assinadas e arquivadas na PETROBRÁS junto ao respectivo processo de contrato.

De qualquer forma, esta imputação (fraude a licitação), embora indicada como

“crime antecedente”, não é objeto da denúncia da presente ação penal. Aos alegados indícios de prática da infração, apontados na denúncia, são opostos os contra indícios acima.

V.2 – (1º FATO – “A”) Imputação do crime de “organização criminosa”. Período indicado de 2004 a 14/11/2014. Invocação da Lei 12.850 de 02/08/2013. Suposta participação de cinco denunciados entre administradores e agentes da MJTESA. 27 – A denúncia se limita a descrever a prática do crime de “organização

criminosa” (tipificado na Lei 12.850/2013), não tendo em sua narrativa os elementos integrantes do tipo penal do art. 288 do CP (formação de bando ou quadrilha), que, por isso, não pode ser objeto de eventual aplicação subsidiária.

Neste ponto, histórica a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal no

julgamento dos Embargos Infringentes na Ação Penal nº 470 (caso do “Mensalão”), na época acompanhado por V. Exa., ilustre Juiz Federal, então integrante da assessoria da eminente Ministra ROSA WEBER. O plenário do Supremo Tribunal Federal afastou a acusação de quadrilha, de que se transcrevem trechos dos principais votos

                                                            21 ANEXO 2 – Planilha relativa às seis obras da PETROBRÁS com participação da MJTESA. 

  

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vencedores, que se aplicam ao caso concreto pela precariedade da narrativa da denúncia aqui oferecida:

Voto do Ministro RICARDO LEWANDOWSKI, fls. 57.468/57.482, do qual se destacam os seguintes tópicos:

“A convivência da quadrilha com a coautoria não é automática. É preciso que se façam 

as  distinções,  de maneira  tecnicamente  apurada,  para  que  se  possa  ir  além  de  uma  série  de 

crimes cometidos em coautoria, na forma do artigo 29 do Código Penal, para ingressarmos numa 

figura mais grave, ou conjugada àquela primeira, que é  justamente a formação de quadrilha ou 

bando a que alude o artigo 288 do Código Penal”. 

“É  dizer,  não  é  a  prática  de  dois  ou mais  crimes  praticados  em  coautoria,  que  vai 

caracterizar  o  bando  ou  quadrilha.  É  preciso  que  haja  uma  conjunção  permanente  com  um 

acordo subjetivo de vontades para praticar uma série indeterminada de crimes ...”. 

“Então, nós precisamos verificar se essa quadrilha que o Ministério Público  imputa aos 

réus  tinha ou não este escopo: colocar em risco a  incolumidade pública ou a paz social; ou se, 

simplesmente, houve um concurso de agentes, conforme o art. 29 do Código Penal, para praticar 

alguns crimes pelos quais, aliás, estão respondendo e muitos estão sendo condenados”. 

“Note‐se  que  há  mais  uma  característica  –  também  aventada  pelas  duas  ilustres 

Ministras:  o  fulcro,  o  objeto,  o  bem  jurídico  tutelado  pelo  artigo  288  do  Código  Penal  é 

justamente a paz pública. Para se ter como configurado esse tipo penal, é preciso verificar, assim, 

se  a  conduta dos  réus que  foram  incluídos nesta Ação Penal  470  teve  estas  características:  a 

prática de uma série de crimes  indeterminados; uma conjunção de pessoas  interligadas por um 

mesmo interesse, portanto, subjetivamente; e se realmente ‐ a menos que se entenda de forma 

muito lata – houve uma ameaça à paz pública”. 

“A existência, na denúncia, de  indícios, ou mesmo de provas reveladoras da prática de 

diversos delitos, à evidência, não pode ser suficiente para a tipificação do crime de formação de 

quadrilha em todas as imputações. 

Delito autônomo que é, o crime de  formação de quadrilha possui contornos próprios, 

tais como, estabilidade, permanência, número mínimo de participantes, liame subjetivo entre os 

membros, o desejo de praticar uma série indeterminada de crimes, etc. 

Com efeito, não basta, para a caracterização do delito de quadrilha, a simples coautoria 

em diversos crimes, de forma continuada ou em concurso material, se não ficar evidenciado que 

os coautores se associaram, de forma estável e permanente, para o fim de praticá‐los”. 

Voto da Ministra ROSA WEBER, fls. 52.676/53.093 (especialmente, fls. 53.040/53.047) e explicação de fls. 57.772/3, do qual se destacam os seguintes tópicos:

“Talvez  isso  explique  a  dificuldade  ou  controvérsia  na  abordagem  do  crime  de  quadrilha 

quando as infrações criminais para as quais ela tenha sido constituída já tenham ocorrido. Afinal,  nessa  hipótese,  a  punição  a  título  de  quadrilha  já  não  é  mais  absolutamente 

necessária,  pois  os  integrantes  já  podem  ser  responsabilizados  pelos  crimes  concretamente praticados pela associação. 

  

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Apesar  disso,  tendo  a  associação  criminosa  sido  erigida  a  crime  autônomo,  a  prática  de crimes concretos  implica a  imposição da sanção pelo crime de quadrilha em concurso material com as penas dos crimes concretamente praticados. 

Deve‐se, porém, nesses casos, ter extremo cuidado para não confundir associação criminosa com mera coautoria. 

Para distingui‐los, há que  se exigir  certa autonomia do  crime de quadrilha em  relação aos crimes  concretamente  praticados.  Para  tanto,  necessária  a  configuração  de  uma  entidade autônoma, formada pelo vínculo associativo e transcendente aos indivíduos que a compõem”. 

“Entretanto,  é  necessária  para  sua  configuração,  a  teor  do  art.  288  do  Código  Penal 

brasileiro, a associação de mais de três pessoas para a prática de crimes, ou seja, a ocorrência de 

um vínculo associativo que resulte na criação de uma entidade com certa autonomia em relação 

a  cada  indivíduo  que  a  integre.  Em  tal  tipo,  encontra‐se  inerente  a  exigência  de  certa 

estabilidade, permanência e um programa delitivo, a fim de distingui‐la da prática de crimes em 

coautoria”. 

“Enfatizo que pressupõe, o  tipo  legal em  foco, a configuração de uma entidade autônoma, 

formada  por  vínculo  associativo,  a  transcender  os  indivíduos  que  a  compõem  e  com  certa 

autonomia  em  relação  a  cada  um  deles,  ainda  que  desnecessária  a  existência  de  elementos 

constitutivos  formais  e  prescindíveis  engenharia  sofisticada  e  estrutura  complexa,  consoante 

consignam precedentes sempre lembrados desta Corte”. 

“Ora, tenho como  indiscutível – renovando meu pedido de vênia aos que pensam de forma 

diversa‐, que os chamados núcleos político, financeiro e operacional envolvidos nesta ação penal 

jamais  imaginaram  formar uma associação para delinqüir, uma societas sceleris com o objetivo 

de sobreviverem, usufruírem – ou se  locupletarem – com o produto dos crimes  resultantes de 

sua atuação. 

Havia um objetivo: a cooptação de apoio político ao governo. Todos os demais fatos típicos 

que giraram em torno desse objetivo sempre tiveram por finalidade garantir a consumação desse 

desiderato. 

Em absoluto detecto a configuração, ainda que informal, de uma entidade com vida própria 

ou, nos dizeres de José de Figueiredo Dias, de um “centro autônomo de imputação e motivação” 

a que subordinados os réus como agentes criminosos. Delineada,  isto sim, data venia, hipótese 

de coautoria, traduzindo, a meu juízo, o fato de os crimes terem sido praticados em série e por 

tempo considerável, continuidade delitiva, e não a existência de quadrilha ao feitio legal. 

Em  síntese,  à  compreensão de que  só existe quadrilha ao  feitio  legal quando o acerto de 

vontades  entre os  integrantes do  grupo  visa  a uma  série  indeterminada de delitos,  é dizer,  à 

compreensão de que o tipo penal exige que a associação se  faça para a prática de crimes com 

indeterminação na ação final e de que o tipo penal diz com sociedades engendradas para o crime 

com a finalidade de, por formas diversificadas e imprevistas, usufruir dos produtos auferidos com 

ações  criminosas  indistintas,  caso,  exemplificativamente,  de  grupos  formados  para  assaltar, 

roubar,  falsificar, seqüestrar, extorquir, concluo pela  inviabilidade de reputar tipificado o artigo 

288 do Código Penal, na espécie, com a conseqüente absolvição de todos os réus, forte no art. 

386, III, do Código Penal. 

Registro,  à  demasia,  não  identificar,  em  qualquer  hipótese,  à  luz  dos  fatos  e  provas  dos 

autos, nos agentes dos crimes específicos  já  reconhecidos por este Plenário contra os quais se 

dirige a presente imputação, o dolo de criar ou participar de uma associação criminosa autônoma 

com vista à prática de crimes  indeterminados.  Identifico, é certo, em alguns desses agentes os 

  

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dolos inerentes à prática de crimes em série de peculato, lavagem de capitais, corrupção e gestão 

fraudulenta, consoante me manifestei ao longo deste julgamento, inconfundíveis, contudo, com 

o dolo de associação criminosa. 

É como voto, Senhor Presidente, pela absolvição de todos os réus, forte no art. 386, III, 

do CPP, acompanhando, com renovado pedido de vênia, o eminente Revisor”. 

Voto do Ministro DIAS TOFFOLI, fls. 57.752/57.769, do qual se destacam os seguintes tópicos:

“Não  vislumbro  ter  havido  a  associação  dos  acusados  para  a  prática,  por  período 

indeterminado,  de  crimes.  No  caso,  o  crime  de  quadrilha  ou  bando  reúne  a  meu  ver  dois 

elementos indispensáveis à sua configuração, quais sejam, a reunião de mais de três agentes e a 

associação estável ou permanente para a prática de crimes. Segundo a  lição clássica de Nelson 

Hungria,  o  crime  de  quadrilha  resulta  da  “reunião  estável  ou  permanente  (que  não  significa 

perpétua), para o fim de perpetração de uma  indeterminada série de crimes”  (Comentários ao 

Código Penal. Rio de Janeiro: Forense, 1958. v. 9, p. 178 – grifei). 

Com efeito, caso os crimes  já estejam preestabelecidos e a associação seja formada no 

intento de praticar aqueles crimes, teremos, na espécie, uma coautoria, assim como destacou a 

Ministra Rosa Weber, quando da análise da questão em seu judicioso voto”. 

Voto da Ministra CARMEN LÚCIA, fls. 57.510/57.514, do qual se destacam os seguintes tópicos:

“Tal como a Ministra Rosa acaba de dizer, o que fica no meu voto e eu estou, portanto, 

pedindo, com todas as vênias, a possibilidade de divergir, é exatamente porque me parece que 

aqui, tal como foi afirmado pelo Ministro‐Revisor e agora pela Ministra Rosa Weber, a associação 

é feita  ‐ na minha compreensão, ao  interpretar o artigo 288  ‐ para a prática de crimes e, neste 

caso, esta associação  já se faz,  já se constitui de maneira voltada à estabilidade e permanência; 

são os termos do artigo 288: associação, estável e permanente, de mais de três pessoas para a 

prática de crimes. 

E é  isso e por  isso que estou  seguindo na  linha do que  foi afirmado,  inicialmente, na 

divergência do Ministro‐Revisor, Ricardo Lewandowski, porque não me parece que tenha havido, 

neste  caso,  a  comprovação,  pelo  Ministério  Público,  de  que  houve  a  constituição  de  uma 

associação com fins a durar, sem determinação, com a específica finalidade de prática de crimes. 

Nelson Hungria  ‐ que acaba de  ser citado  também pela Ministra Rosa Weber  ‐ afirma 

expressamente  que  o  elemento  subjetivo  do  crime  de  formação  de  quadrilha  é  a  vontade 

consciente e  livre de se associar com o  fim de cometer crimes. Afirma ele: o dolo específico é 

este.  O  que,  no  entanto,  Senhor  Presidente,  antecipando  o meu  voto,  e mais  uma  vez me 

desculpando por discordar do brilhante voto do Ministro‐Relator, me leva a absolver, nos termos 

do artigo 386,  III, do Código de Processo Penal, acompanhando a divergência, é a circunstância 

de  que  para  que  se  caracterize  a  quadrilha,  a  meu  ver,  é  preciso  que  haja  a  reunião  dos 

elementos do tipo, ou seja, associa‐se para a prática de crimes. 

O que nós  tivemos, neste caso, comprovado? Que pessoas que chegaram a cargos de 

poder  ou  até  faziam  parte  de  empresas  de maneira  legítima  nos  cargos;  presidente  de  um 

  

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partido legitimamente estava no cargo; e ali, naquele cargo, praticou um ato contrário à lei penal 

e, por  isso, está respondendo no outro  item da denúncia, no outro  item do  julgamento, e não, 

portanto,  acumulando‐se  esta  como  se  tivesse  chegado  ao  poder  para  esse  cometimento  de 

crimes.  A mesma  coisa  se  tem  quanto  à  própria  empresa  de  que  faz  parte Marcos  Valério, 

Cristiano Paz, Ramon Hollerbach, Simone de Vasconcelos; ela existia, praticava atividades lícitas”. 

No caso destes autos, afirmou-se que a associação era para praticar cartel e

fraude a licitação perante a PETROBRÁS, com corrupção de seu diretor. Suposta associação de pessoas para a prática de crimes certos e determinados, o que não é descrição de formação de bando ou quadrilha (art. 288, CP), conforme a lição do STF.

28 – Além de inviável a incidência do tipo do art. 288 do CP à narrativa contida

na denúncia, é óbvia a impossibilidade jurídica do acolhimento do pedido condenatório, quanto à aplicação da Lei 12.850, de 02/08/2013, para fatos ocorridos antes de sua vigência (45 dias após a data de publicação ocorrida em 05/08/2013), isto é, de 2004 até setembro de 2013.

No particular deve ser observado o princípio da irretroatividade da lei penal

incriminadora, nos termos do artigo 5º, inciso XL, da Constituição e artigo 2º, parágrafo único, do Código Penal, o que não demanda quaisquer outros argumentos.

O artigo 1º da Lei 12.850/2013 – em relação aos fatos ocorridos no período de

setembro de 2013 a novembro de 2014 – exige, para caracterização da infração, a participação na associação de 4(quatro) ou mais pessoas.

Registre-se, por ser então relevante, desde logo, que o acusado ALBERTO

ELÍSIO VILAÇA GOMES desligou-se da MJTESA desde 30/03/2011, isto é, antes da vigência da Lei 12.850/2013! (Anexos 3 a 5)22

E, de outro lado, o acusado JOSÉ HUMBERTO CRUVINEL RESENDE, mero

gerente de contrato (da Obra 583 – REPLAN, de 01/04/2011 a 16/12/2013), segundo os dados constantes dos autos, apenas e tão somente praticou, em relação a todos os fatos narrados na denúncia, UM ÚNICO ATO: como representante da MJTESA, assinou o contrato entre o Consórcio MENDES JÚNIOR – MPE – SOG e a GFD Investimentos Ltda., em 23/08/201123, quando a Lei 12.850/13 ainda não estava em vigor!

Portanto, dos cinco denunciados de prática de organização criminosa, comprovadamente dois nada fizeram no período de vigência da lei penal nova que definiu o tipo penal imputado, restando descaracterizada a infração pela ausência do número legal mínimo de pessoas em associação criminosa no âmbito da MJTESA.

                                                            22 ANEXOS 3 a 5 – três declarações setor de  Recursos Humanos da MJTESA sobre a situação funcional de réus. 23 Evento 1 – OUT 199, PÁG. 01 a 06 (Pasta 12 – volume 2) destes Autos da Ação Penal. 

  

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29 – Por estas razões, a defesa do denunciado, nesta oportunidade, com fundamento no artigo 397, inciso III, do CPP, pede e espera sua ABSOLVIÇÃO SUMÁRIA, quanto à imputação do crime de “organização criminosa”.

V.3 – (2º e 3º conjunto de fatos – “D” e “E”) Imputação do crime de corrupção ativa. Artigo 333 e parágrafo único do CP, por 53 vezes, em relação a Paulo Roberto Costa. 30 – Afirma o MPF na denúncia, nesta parte, que no período de 2004 a 2014,

os denunciados ligados a MJTESA (Sérgio, Ângelo, Alberto, Rogério e José Humberto), com o auxílio de Alberto Youssef, teriam praticado crime de corrupção ativa (art. 333 e parágrafo único, do CP) pois teriam prometido vantagens indevidas ao então Diretor de Abastecimento da PETROBRÁS Paulo Roberto Costa, para determiná-lo a praticar, omitir e retardar atos de ofício.

Embora a denúncia afirme, genericamente, que teria havido corrupção ativa,

quer em relação a licitações e contratos, relativos a seis obras (REPLAN, REPAR, COMPERJ, REGAP, TABR e TAIC) e a seus aditivos (Tópico 3.2 da denúncia a partir da pág. 42), o Ministério Público Federal somente aponta, objetivamente, por seis vezes o mesmo valor de R$8.028.000,00 como pagamento de “propina” a Paulo Roberto Costa, por intermédio de Alberto Youssef (pág. 48, 54, 56, 60, 64 e 67 – da denúncia).

Não há nos autos, salvo as afirmações genéricas e não provadas

documentalmente pelos delatores (Paulo Roberto Costa e Alberto Youssef), nenhum outro documento, elemento de convicção (tais como, contratos, notas fiscais, depósitos bancários, comprovantes de pagamentos, saques em dinheiro, etc.) relativo a qualquer outro pagamento feito pela MJTESA em favor de Paulo Roberto Costa e/ou empresas de Alberto Youssef, ou promessa de pagamento.

31 – Há, tão somente, aquele fato admitido pelos acusados SÉRGIO, ÂNGELO

e ROGÉRIO, em seus interrogatórios policiais, no sentido de que os dirigentes da empreiteira MJTESA foram vítimas de extorsão ou achaque (juridicamente “concussão”) praticada pelo acusado PAULO ROBERTO COSTA com o auxílio de ALBERTO YOUSSEF.

Isto se deu, concretamente, apenas em relação a dois contratos (REPLAN e

TABR). O denunciado SÉRGIO CUNHA MENDES, interrogado pela Polícia Federal, admitiu, expressamente, que a MENDES JUNIOR fez pagamentos a duas empresas (GFD Investimentos e Empreiteira RIGIDEZ) de ALBERTO YOUSSEF, no valor total de R$8.028.000,00, para atender a exigência de PAULO ROBERTO COSTA

  

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(“concussão”), como “propina” para que os pagamentos que eram devidos pela PETROBRAS à MENDES JUNIOR fossem realizados e a empresa não fosse excluída de licitações futuras (ameaças feitas para extorquir aqueles pagamentos):

“...ALBERTO  YOUSSEF,  agindo  em  nome  de  PAULO  ROBERTO  COSTA,  exigia  que  a MENDES    JUNIOR efetivasse o pagamento de vantagem  indevida para que a empresa continuasse a desenvolver os projetos  já em andamento e a ser convidada para processos licitatórios futuros;   QUE na época, a MENDES JUNIOR concordou em fazer tais pagamentos, pois, caso não os fizesse, o Diretor de Abastecimento PAULO ROBERTO COSTA poderia, de  fato, prejudicar os pagamentos da PETROBRÁS direcionados à MENDES  JUNIOR por contratos em execução e excluí‐la de novos convites  (...) Que o declarante apenas recentemente verificou  junto a ROGÉRIO CUNHA, tendo em  vista  intimação  formulada  pela  Polícia  Federal,  a  forma  como  se  deram  tais  pagamentos  de  propina;  que mediante  verificações  junto à  contabilidade  da MENDES  JUNIOR,  confirmou‐se que houve  pagamentos  para  as empresas GFD INVESTIMENTOS E EMPREITEIRA RIGIDEZ do montante total de R$8.028.000,00 (oito milhões e vinte e oito mil reais), entre julho de 2011 e setembro de 2011 e em maio de 2012; que embora  tenham sido firmados contratos entre a MENDES JUNIOR e as empresas GFD INVESTIMENTOS e EMPREITEIRA RIGIDEZ não houve efetiva prestação de serviços do objeto contrato, de maneira que se tratam de contratos simulados tão somente para fazer frente, no caixa da MENDES JUNIOR, dos pagamentos de vantagem  indevida exigidos por ALBERTO YOUSSEF (...) que esta forma de pagamento era uma exigência de ALBERTO YOUSSEF (...) que não houve outros pagamentos de vantagem indevida exigidos por ALBERTO YOUSSEF, mediante contratos com as empresas referidas (...) que esses esclarecimentos  quanto  ao  motivo  dos  pagamentos  efetuados  a  ALBERTO  YOUSSEF  por  intermédio  de  tais contratos  estão  sendo  feitos  neste  momento,  sendo  que  anteriormente  foram  fornecidas  apenas  cópias  dos contratos e das notas fiscais para atender à intimação policial”24

O Diretor da Área de Óleo e Gás da MJTESA, o denunciado ROGÉRIO

CUNHA DE OLIVEIRA, em suas declarações à autoridade policial, afirmou:

“que conhecia ALBERTO YOUSSEF como “PRIMO”, apelido este com o qual ALBERTO YOUSSEF havia sido apresentado a SÉRGIO MENDES por PAULO ROBERTO COSTA; que em maio de 2011, SÉRGIO MENDES telefonou ao declarante convocando‐o para uma reunião em São Paulo; que SÉRGIO MENDES informou que havia recebido uma ligação de PAULO ROBERTO COSTA informando que o PRIMO iria procurá‐lo no dia seguinte para tratar de assunto de  interesse da MENDES  JUNIOR; que nessa  reunião com PRIMO, estavam presentes, além do declarante o Vice Presidente da empresa SÉRGIO MENDES; que PRIMO informou que se a MENDES JUNIOR não pagasse o percentual sobre o valor dos serviços realizados, muitos deles há mais de um ano, PAULO ROBERTO COSTA não iria aprovar os pagamentos devidos pela PETROBRAS a MENDES JUNIOR e não convidaria mais a empresa MENDES JUNIOR para participar das próximas obras da PETROBRÁS; que PRIMO exigiu da MENDES  JUNIOR, nessa  reunião, a  titulo de propina, um percentual que  variava  entre 2,2 a 2,4% de  três  termos aditivos dos  contrato  referente a obra do Terminal Aquaviário de Barra do Riacho e um termo aditivo referente a obra da REPLAN em Paulínea; QUE PRIMO recebeu,  como propina, em  torno de 8 milhões e 100 mil  reais; QUE o pagamento era depositado na  conta da empresa de ALBERTO YOUSSEF  (PRIMO) e este emitia uma Nota Fiscal em  favor da MENDES  JUNIOR  (...) que as diretorias, como a de PAULO ROBERTO COSTA por exemplo, tem total liberdade para convidar as empresas que vão participar do convite da licitação; que a lista dos convidados deve ser aprovada também pela diretoria executiva da PETROBRÁS; que diante disso, a MENDES JUNIOR teve que ceder ao pedido de pagamento de propina, posto que poderia não  ser mais  convidada para  realização de obras da PETROBRAS; que ainda nesta época a PETROBRÁS tinha uma dívida  com a MENDES  JUNIOR por  serviços  já  concluídos por  esta  empresa,  em  torno de 250 a 300 milhões de reais”25

O Vice Presidente Corporativo da MJTESA, o denunciado ANGELO ALVES

MENDES, em suas declarações, afirmou:

                                                            24 Evento 1 – OUT 150 (Parte 8); Evento 44‐DECL2 , Autos 5053744‐31.2014.404.7000 25 Evento 54 – DESP1 , fls. 462/5, dos Autos 5053744‐31.2014.404.7000 

  

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“que  somente  após  a  deflagração  da Operação  Lava  Jato  o  declarante  tomou  conhecimento  de  que PAULO  ROBERTO  exigia  certo  percentual  para  liberação  dos  pagamentos  a  serem  feitos  pela  PETROBRÁS  à MENDES JUNIOR (...) que somente tomou conhecimento das comissões exigidas por PAULO ROBERTO COSTA após a deflagração da Operação Lava Jato, como  já afirmado (...) que esclarece que a MENDES JUNIOR tem contratos com a GFD INVESTIMENTOS LTDA. e a EMPREITEIRA RIGIDEZ, os quais já foram entregues no interesse do Inquérito Policial  da  Operação  Lava  Jato  (...)  que  com  relação  aos  serviços  objetos  dos  contratos  com  a  empresa  GFD INVESTIMENTOS e EMPREITEIRA RIGIDEZ cujas cópias foram apresentadas pelo procurador Marcelo Leonardo tem a afirmar que tais serviços não foram efetivamente prestados, vindo a tomar conhecimento, posteriormente, que tais  pagamentos  enquadravam‐se  no  sistema  de  cobrança  de  comissões  de  PAULO  ROBERTO  COSTA  (...)  o declarante  afirma,  como  já mencionado,  não  houve  a  prestação  de  serviços  pela  EMPREITEIRA RIGIDEZ  e GFD INVESTIMENTOS”26

32 – Os fatos estão limitados no tempo (1º pagamento em 08/08/2011 e o

último pagamento em 07/06/2013). Jamais atingiram os valores imaginados na denúncia, com base nas genéricas e não provadas declarações dos delatores, bem como estão limitados na quantidade (11 – onze pagamentos), pois se referem à extorsão feita em relação a dois contratos (REPLAN – Refinaria de Paulínea, SP e TABR – Terminal Aquaviário de Barra do Riacho, ES), a saber:

(I) Em razão do Contrato entre Mendes Júnior Trading e Engenharia S/A e a

GFD Investimentos Ltda (CONTRATO nº MJTE – ANOG 001/2011, assinado por Angelo Alves Mendes e Rogério Cunha de Oliveira), datado de 29/07/2011, no valor de R$1.200.000,00 (hum milhão e duzentos mil reais), foram feitos quatro (04) pagamentos de R$300.000,00 cada (08/08/2011, 31/08/2011, 29/09/2011 e 28/10/2011)

(II) Em razão do Primeiro Aditivo ao Contrato nº MJTE – ANOG 001/2011

(assinado por Angelo Alves Mendes e Rogério Cunha de Oliveira), datado de 15/09/2011, foi feito um (01) pagamento de R$1.020.000,00 (hum milhão e vinte mil reais) em 06/12/2011.

(III) Em razão do Contrato entre Mendes Júnior Trading e Engenharia S/A e a

GFD Investimentos Ltda (CONTRATO nº MJTE – AEG/005.A/2011, assinado por Angelo Alves Mendes e Rogério Cunha de Oliveira), datado de 10/08/2011, foi feito um (01) pagamento de R$1.000.000,00 (hum milhão de reais) em 16/05/2012.

(IV) Em razão do Contrato entre o Consórcio Mendes Júnior-MPE-SOG e a

GFD Investimentos Ltda., datado de 23/08/2011( assinado por José Humberto Cruvinel Resende pela MJTESA), foi feito um (01) pagamento de no valor de R$2.700.000,00 (dois milhões e setecentos mil reais) em 05/01/2012.

(V) – Sem que houvesse contrato assinado (a via datada de 10/08/2011 constante dos autos não foi assinado por ninguém da MJTESA)27 houve pagamento

                                                            26 Evento 54 – DESP1, fls. 448/450, dos Autos 5053744‐31.2014.404.7000 27 Evento 1 – OUT 197, PÁG. 1/11 (PARTE 12, VOLUME 2) 

  

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em favor da EMPREITEIRA RIGIDEZ LTDA. (CNPJ nº 05.279.268/0001-28), no valor de total de R$2.108.000,00, divididos em quatro (4) parcelas líquidas de R$989.179,00, R$494.589,50, R$247.294,75 e R$247.294,75, efetuadas em 25/05/2012, 25/06/2012, 16/07/2012 e 07/06/2013.

Se outras empresas contratadas ou consorciadas (ou representantes destas)

fizeram pagamento de propina a quem quer que seja, por outros meios, a MJTESA, seus administradores e funcionários nisso não tiveram participação ou conhecimento.

33 – Os quadros e cálculos apresentados pelo MPF na denúncia no Tópico 3.2

(pág. 47/8; pág. 52/3; pág. 59/60 e pág. 63) são fruto de mera suposição de dezenas de pagamentos, baseado nas afirmações genéricas dos delatores no sentido de que havia pagamento de propina em todos os contratos e aditivos no percentual de 1%, de que não se tem comprovação fática nos autos.

Observe-se que nos quadros apresentados pelo MPF na denúncia, a relação

dos supostos pagamentos (“vantagem indevida que cabia à Mendes Júnior”) tem 46 itens (pág. 47/8; pág. 52/3; pág. 59/60 e pág. 63), embora, inexplicavelmente, a denúncia fale em 53 vezes.

34 – Como em relação aos onze pagamentos efetuados, os representantes da

MJTESA foram extorquidos, achacados, sendo vítimas de concussão, a vontade (pressuposto da imputabilidade e da culpabilidade) estava viciada, o que exclui, por óbvio, o dolo relativo à corrupção ativa, sendo a conduta, em conseqüência, atípica.

Os próprios quatro delatores, em seus depoimentos constantes dos autos,

narram o esquema de achaque montado na PETROBRAS. Afirmam o seguinte:  PAULO ROBERTO COSTA: (Evento 1, OUT 151)  “... se ela (empresa) deixasse de contribuir com determinado partido naquele momento, isso ia refletir 

em outras obras a nível de governo que os partidos não iam olhar isso com muito bons olhos, então, vamos dizer, esse seria um interesse mútuo, dos partidos, dos políticos e das empresas porque não visava só a Petrobras, visava hidrovias, ferrovias, rodovias, hidroelétricas, etc., etc. 

Perguntado:  E  se  essas  empresas  não  concordassem  em  pagar  essa  vantagem,  esses  valores,  tinha alguma conseqüência. Vamos dizer, recusou a fazer esse pagamento? 

Resposta:  “Nunca,  nunca. Houve  alguns  atrasos, mas  deixar  de  pagar,  nunca  tive  conhecimento  que deixaram de pagar, devido a esses interesses maiores a nível de Brasil”.(pág.24) 

Perguntado:  Ele  só  não  esclareceu  qual  a  conseqüência  que  teria  para  as  empreiteiras  se  elas  não pagassem. Resposta:  “Primeiro  que  essas  empresas  tinham  interesse  em  outros ministérios  capitaneados  por partidos. E como eu falei essas empresas são as mesmas que participam de várias outras obras a nível de Brasil, quer  seja em  ferrovias,  rodovias, aeroportos, portos, usinas hidrelétricas, etc.  , etc., etc.,  saneamento básico, minha  casa minha vida, ou  seja,  todos os programas  , a nível de governo, nos Ministérios,  tem   políticos de partidos. Se você cria um problema de um lado, pode‐se criar um problema do outro. Então no meu tempo lá eu não  lembro  de  ter  nenhuma  empresa  ter  deixado de pagar. Houve, houveram  alguns atrasos,  de  empresas  do cartel, mas deixar de pagar, nunca deixaram. 

  

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 Perguntado: ou seja, se as empreiteiras não pagassem, elas certamente seriam prejudicadas por não 

pagar, é  isso? Resposta: “Por que a Petrobras  iria  fazer de prejuízo para elas? Atrasar uma medição, alguma coisa nesse sentido.” (pág. 25). 

  ALBERTO YOUSSEF: (Evento 1, OUT 151)  “Bom, o conhecimento que eu  tenho é que  toda empresa que  tinha uma obra na Petrobras algumas 

delas  realmente  pagavam,  algumas  não  pagavam, mas  é  que  todas  ela  tinham  que  pagar  1%  pra  área  de Abastecimento e 1% pra área de Serviço”. (pág. 29) 

“Na verdade ela ganhava a obra. Se ela não pagasse tinha ingerência política e do ... e do próprio diretor que não fazia a obra se ela não pagasse” (pág.33) 

“Mas toda empresa que desse porte maior, ela já sabia que qualquer obra que ela fosse fazer, na área de Abastecimento  da  Petrobras,  ela  tinha que  pagar  o pedágio  de  1%.  E  1%  também  para  área  de  Serviço  e Engenharia”(pág. 34) 

“Escutava  nas  reuniões  que  eram  feitas  entre  o  seu  José  (Deputado  Federal  José  Janene),  entre  os próprios empreiteiros e depois eu mesmo, quando tratei de algumas obras depois da doença dele e do falecimento dele, deixei claro pros empreiteiros que eles também tinham que resolver a parte lá deles na Engenharia” (pág. 34) 

Perguntado: O senhor disse que se as empresas não aceitassem repassar os valores, elas não fariam as obras (...) Resposta: “É, com certeza. Na verdade, eu só, eu só tinha esses valores porque existia a operação com as empresas, a Petrobras e os agentes políticos” (pág. 48) 

Perguntado: O senhor disse que ficava muito claro nessas reuniões que as empreiteiras tinham que se submeter ao sistema, sob pena de não participarem? Resposta: É, na verdade, as empresas, principalmente as grandes, ficavam refém desse esquema porque: ou participa ou não tem obra” (pág. 51). 

 AUGUSTO RIBEIRO DE MENDONÇA NETO28:  “Que  existia mais  ou menos  uma  idéia  do  percentual  que  os Diretores  da  PETROBRAS  gostariam  de 

receber por cada contrato, sendo que no caso do declarante era de 1% sobre o valor do contrato para a Diretoria de Abastecimento, de PAULO ROBERTO COSTA” (pág.7) 

“Que  a  cobrança  de  “comissões”,  descobriu‐se  posteriormente  que  era  algo  institucionalizado,  pois todas as obras,  inclusive aquelas onde as empresas ganharam por preços  inexeqüíveis, havia essas contribuições, conforme  comentários  da  época  e  afirmações  de  PAULO  ROBERTO  COSTA;  que  durante  as  negociações  com  a PETROBRAS, JÚLIO CAMARGO deve ter se deparado com essa exigência” (TERMOTRANSCDEP3, PÁG. 3) 

“Que o declarante, como coordenador comercial dos dois consórcios (REPLAN e REPAR) foi o responsável por negociar as “comissões” pagas a RENATO DUQUE e PAULO ROBERTO COSTA; que a negociação do valor a ser pago a PAULO ROBERTO COSTA foi feita com JOSÉ JANENE; que as negociações foram “bastante duras”, pois as “demonstrações  de  poder  foram  relevantes”  (...)  que  JOSÉ  JANENE  chamou  o  declarante  várias  vezes  em  seu escritório em São Paulo/SP, no bairro Itaim, na rua Gerônimo da Veiga, para reuniões de intimidações e ameaças (...) que a exigência feita por PAULO ROBERTO COSTA e JOSÉ JANENE era em torno de 1% sobre os contratos (...) que as demonstrações acima era no sentido de que “ou pagava ou a conseqüência era grande” (...) que a conversa era de que os valores eram destinados a PAULO ROBERTO COSTA, na qualidade de Diretor de Abastecimento da PETROBRÁS, e ao Partido PP, representando por JOSÉ JANENE; que no mesmo contrato da REPAR, mas de forma e com  negociações  independentes,  também  foi  exigido  o  pagamento  de  vantagem  indevida  pelo  Diretor  de Engenharia RENATO DUQUE; que a exigência já era prévia” (pag. 4) 

“Que todas as empresas do “CLUBE” foram procuradas à época por JOSÉ JANENE, o qual se intitulava o responsável pela nomeação de PAULO ROBERTO COSTA para a Diretoria de Abastecimento da PETROBRÁS;   que houve  explícitas  demonstrações  de  poder  na  exigência  de  vantagens  indevidas  (“comissões”)  (...)  que  as negociações foram “bastante duras” pois as “demonstrações de poder foram relevantes”; que por exemplo PAULO ROBERTO COSTA vetou um aditivo de um contrato da MPE e a SOG, na REDUC, onde todos os níveis da companhia achavam que o declarante tinha razão e PAULO achou que não; que por conseqüência a PETROBRAS não pagou 

                                                            28 Evento 529, TRANSCDEP1, Termo de Colaboração nº 01 – Autos 5073475‐13.2014.404.7000 

  

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esse item, o que trouxe grande prejuízo (...) que JOSÉ JANENE chamou o declarante várias vezes em seu escritório em São Paulo/SP (...)para reuniões de intimidações e ameaças” (TERMOTRANSCDEP5, pág. 2) 

“Que as exigências feitas por JOSÉ JANENE ao declarante e a outras empresas era no sentido de manter a regularidade do pagamento das “comissões”(pág. 3). 

“Reafirma  também  que  JOSÉ  JANENE  exigiu  de  todas  as  empresas  do  “CLUBE”  que  fossem  pagas “comissões” cujo destino seria parte para o partido PP e outro para o Diretor PAULO ROBERTO COSTA; QUE JOSÉ JANENE  e  ALBERTO  YOUSSEF  atuavam  como  intermediários  na  captação  de  comissões  entre  o  Diretor  de Abastecimento da PETROBRAS, PAULO ROBERTO COSTA, e as empresas”( TERMOTRANSCDEP7, pág. 4). 

“que JOSÉ JANENE e RENATO DUQUE exigia cada qual, de forma independente, a sua parte consistente em  propina;  que  não  se  recorda  quanto  cada  um  deles  exigiu,  mas  o  total  pago,  salvo  engano,  foi  de aproximadamente R$20 milhões de reais (a respeito da REPLAN/Consórcio CMMS) (TERMOTRANSCDEP8, pág. 4). 

“Que neste contrato da REPAR, JOSÉ JANENE e RENATO DUQUE também exigiram cada qual, de forma independente, a sua parte consistente em propina; que não negociou diretamente o pagamento de propina com PAULO  ROBERTO  COSTA,  mas  pode  afirmar,  por  conta  das  exigências  feitas  por  JOSÉ  JANENE,  que  PAULO ROBERTO COSTA  também era um dos beneficiários da propina (...) que as demonstrações eram no sentido de que “ou pagava ou a conseqüência era grande” (...) Que JOSÉ JANENE apresentou ALBERTO YOUSSEF ao declarante no escritório daquele em São Paulo e disse que YOUSSEF  seria quem  iria operacionalizar a cobrança das propinas” (TERMOTRANSCDEP8, pág. 6). 

 JÚLIO GERIN DE ALMEIDA CAMARGO29: 

Sobre o contrato REVAP: “houve solicitação e pagamento de propina; que a exigência do pagamento de 

propinas  partiu  do  Diretor  de  Abastecimento  PAULO  ROBERTO  COSTA  e  do  Diretor  de  Engenharia  e  Serviços, RENATO DUQUE (...) que não houve o conhecimento de todos os integrantes do consórcio para tanto (...)(pág. 4) 

Sobre  o  contrato  CABIÚNAS  2:  “Que  foi  exigida  vantagem  indevida  por  RENATO  DUQUE  e  PEDRO BARUSCO para o referido contrato” (pág. 4) 

Sobre o contrato REPAR (Consórcio INTERPAR): “Que houve uma grande negociação entre o CONSÓRCIO INTERPAR e a PETROBRAS até se chegar ao preço final do contrato; que afirma todavia, que houve solicitação de pagamento  de  vantagem  indevida  por RENATO DUQUE  e  PEDRO BARUSCO  (...)  que o  valor  foi  pago mediante transferências feitas pelo declarante ao exterior (...) que o pagamento da propina se deu sem o conhecimento dos representantes da SOG, MENDES JÚNIOR e SKANSKA” (pág. 6) 

“... que era “uma  regra do  jogo” conhecida por  todos, mas não  falava diretamente sobre  isso com os representantes das empresas (...) a regra do jogo exigia das empresas o pagamento de propinas para formalização dos  contratos  (...)  acredita  que  os  representantes  das  empresas  para  as  quais  atuou,  retificando  o  que  disse anteriormente, sabiam dos pagamentos de vantagem indevida” (pág. 6) 

“Que JOSÉ JANENE foi o responsável pela nomeação de PAULO ROBERTO e foi quem determinou a regra de se pagar 1% sobre qualquer contrato na Diretoria de Abastecimento da PETROBRAS  (...) Que  JOSÉ  JANENE fazia a exigência do 1% e a destinação do valor  segundo ele era para  si próprio, para o  seu partido PP e para PAULO ROBERTO COSTA” (TERMOTRANSCDEP 18, pág. 6) 

“... mas era a regra do  jogo,  isto é, se não houvesse propina na área de abastecimento e na área de engenharia, não se chegaria ao sucesso das negociações” (TERMOTRANSCDEP 19, pág. 3) 

(Os negritos nos quatro termos são nossos)  

35 – Como é do conhecimento de V. Exa., outros denunciados nas ações penais conexas, relativas a outras empreiteiras, igualmente, dão notícia do esquema de achaque contra as empresas contratadas pela PETROBRAS, por suas diretorias de Abastecimento (PAULO ROBERTO COSTA) e Serviços (RENATO DUQUE), tais como por exemplo, ERTON MEDEIROS FONSECA da Galvão Engenharia (Autos nº 5083360-51.2014.404.7000) e GERSON DE MELO ALMADA da Engevix Engenharia (Autos nº 5083351-89.2014.404.7000).

                                                            29 Evento 529, TERMOTRANSCDEP15 (Termo de colaboração nº 1) – Autos 5073475‐13.2014.404.7000  

  

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36 – Por estas razões, a defesa do denunciado, nesta oportunidade, com

fundamento no artigo 397, inciso III, do CPP, pede e espera sua ABSOLVIÇÃO SUMÁRIA, quanto à imputação do crime de “corrupção ativa”, uma vez que a ausência manifesta de dolo, por vontade viciada (pessoa vítima de concussão), excluí a tipicidade da conduta.

V.4 – (4º conjunto de fatos – “F”) Imputação do crime de lavagem de dinheiro. Artigo 1º c/c art. 1º, §2º, II, da Lei 9.613/98, por 11 vezes. 37 – Como já dito acima, os 11 (onze) pagamentos feitos as empresas GFD e

RIGIDEZ, constituem, no máximo, o exaurimento da corrupção ativa, pois se destinavam a atender a extorsão, ao achaque, à concussão praticada por PAULO ROBERTO COSTA com o auxílio de ALBERTO YOUSSEF.

Ademais, os pagamentos – apontados equivocadamente como consumação de

lavagem de dinheiro – deram-se de conta bancária da MJTESA (MG) para contas bancárias das empresas citadas de YOUSSEF (SP). Na imputação de lavagem de dinheiro, embora a denúncia se refira a “um grande volume de recursos sujos” ou a “dinheiro sujo de origem criminosa”, não se aponta qual seria o dinheiro “sujo”, de economia informal ou de origem ilícita que podia ser objeto de “lavagem”, pois a empresa MJTESA só dispunha de recursos em conta bancária formal, oficial e integrante do Sistema Financeiro Nacional, oriundos de sua atividade lícita na área de construção e engenharia, tendo sido feitos pagamentos, mediante depósitos ou transferências bancários em contas bancárias identificadas de empresas determinadas, também dentro do Sistema Financeiro Nacional.

Neste sentido, os documentos bancários apresentados pela MJTESA relativos aos citados pagamentos (Evento 29, PET1 – pág. 17, 20, 25, 38 e 46 – Autos 5053744-31.2014.404.7000), bem como o Relatório elaborado pela Polícia Federal a partir da quebra de sigilo bancário da GFD e da RIGIDEZ (Evento 52, INF3 - Autos 5053744-31.2014.404.7000).

A própria denúncia descreve os pagamentos da MJTESA para GFD e Rigidez como exaurimento da corrupção ativa. Se, posteriormente, o dinheiro que ingressou nas contas destas duas empresas foi objeto de alguma conduta de lavagem para pagamento a beneficiários finais (agentes políticos, por exemplo), isto não está descrito na denúncia e não envolve a pessoa do acusado.

O uso na contabilidade da MJTESA dos contratos e das notas fiscais, que não

correspondiam a serviços efetivamente prestados, constituiu lançamento de despesas

  

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fictícias, que, em tese, poderia ser tratado como elemento integrante do tipo do crime tributário (art. 1º, incisos I, II ou III, da Lei 8.137/90 – como admite a própria denúncia – pág. 7 e pág. 25) pela redução da base de cálculo de tributos, o que constitui objeto de procedimento administrativo fiscal perante a RFB, não se caracterizando infração penal tributária enquanto este procedimento não for encerrado com lançamento definitivo de crédito tributário e não houver pagamento ou parcelamento.

38 – Por estas razões, a defesa do denunciado, nesta oportunidade, com

fundamento no artigo 397, inciso III, do CPP, pede e espera sua ABSOLVIÇÃO SUMÁRIA, quanto à imputação do crime de “lavagem de dinheiro”, uma vez que não há descrição de conduta típica na denúncia, sendo ausente a narrativa de ação de dissimular ou ocultar a natureza, origem, localização, disposição, movimentação ou propriedade de bens, direitos ou valores, provenientes direta ou indiretamente, de infração penal.

V.5 – (5º conjunto de fatos – “J”) Imputação do crime de uso de documentos falsos. Artigo 304 do CP, por duas vezes. 39 – Ministério Público Federal imputou aos acusados Sérgio Cunha Mendes e

Rogério Cunha de Oliveira, a prática do crime de uso de documento falso (art. 304, do CP), “no dia 13/10/2014, às 16:51, perante a 13ª Vara Federal Criminal de Curitiba, fraudando a instrução processual. Com efeito, o r. Juízo dessa Vara, em despacho datado do dia 08 de outubro de 2014 (Evento 23 – Autos 5053744-31.2014.404.7000), (...) intimou a empresa MENDES JÚNIOR TRADING E ENGENHARIA S.A. (...) para que atendesse a solicitação policial a fim de “confirmar ou não a existência dessas transações, se positivo discriminá-las e esclarecer sua natureza, juntando eventuais contratos e notas fiscais que as amparem, bem como a eventual comprovação dos serviços contratados” – ainda o MPF disse – que a juntada dos documentos objeto da intimação judicial seria da parte dos acusados uma “afronta à dignidade do Poder Judiciário” – e mais disse o MPF – os acusados referidos fizeram uso de documentos falsos “perante a Justiça Federal” (denúncia, pág. 89/91, grifos nossos).

A imputação do suposto uso de documento falso perante este próprio juízo

federal diz respeito a tipo penal que, inequivocamente, não ocorreu por absoluta falta de potencialidade lesiva dos documentos apresentados para iludir a fé pública ou a boa fé das autoridades da Justiça Federal, do Ministério Público Federal e da Polícia Federal, que deles já tinham conhecimento prévio30, bem como tinham conhecimento prévio das informações prestadas por Alberto Youssef, Carlos Alberto Pereira da Costa e Waldomiro de Oliveira, que já haviam esclarecido que os mesmos não correspondiam                                                             30 Documentos já juntados, em razão de busca e apreensão, nos autos 5073475‐13.2014.404.7000 

  

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à efetiva prestação de serviços, o que foi, em seguida, confirmado nas declarações à Polícia Federal dos acusados Sérgio Cunha Mendes31, Rogério Cunha de Oliveira32 e Ângelo Alves Mendes33.

O próprio MPF, na denúncia, informa que outra via dos documentos (contratos e notas fiscais) havia sido apreendida na sede da ARBOR CONTABIL. Informa, ainda o MPF, que parte das notas fiscais foi encontrada na caixa de mensagens de ENIVALDO QUADRADO e em dispositivo de informática de JOÃO PROCÓPIO (Da denúncia: Nota 105, pág. 80: Nota 106, pág. 81; Nota 109, pág. 82; Nota 112, pag. 83; Nota 114, pág. 84; Nota 116, pág. 85; Nota 117, pag. 86 – autos 5049557-14.2013.404.7000, Evento 448; Nota 118, pág. 86 – quebra de sigilo bancário da Empreiteira RIGIDEZ Ltda.).

Assim, é absolutamente inverídica a afirmação de que a apresentação dos documentos em petição da pessoa jurídica MJTESA, firmada por seu procurador, estaria “turbando as investigações e criando risco concreto à instrução criminal”, pois, muito ao contrário, confirmava o que já se sabia através dos elementos acima referidos, citados pelo próprio MPF na denúncia, bem como, em nada, ameaçavam a regularidade da instrução, diante dos dados já colhidos e depoimentos já prestados.

Ademais, instada a se manifestar oficialmente por ordem judicial, a empresa MJTESA, através de seu advogado, ora signatário, peticionou em juízo, no exercício regular de seu mister, e não os acusados SÉRGIO CUNHA MENDES e ROGÉRIO CUNHA DE OLIVEIRA, os quais sequer haviam outorgado procuração ao advogado subscritor da petição.

Registre-se que a apresentação dos documentos foi em cumprimento à determinação judicial que antecedeu a intimação do advogado da empresa. Se não houvesse o seu cumprimento, em tese, poderia haver crime de desobediência (art. 330 do CP).

A derradeiro, é importante esclarecer que o acusado SÉRGIO reside em Brasília e, até então, não tinha tido contato com o advogado, bem como o acusado ROGÉRIO, que tem residência em Recife e trabalhava no Rio de Janeiro, igualmente, nada conversou com o advogado sobre a intimação para apresentação dos documentos.

O setor de contabilidade da MJTESA foi consultado pelo advogado, conforme a intimação judicial, para apurar se a empresa tinha, ou não, alguma relação comercial com as empresas mencionadas na intimação e, em caso afirmativo, os respectivos documentos arquivados e registrados na Contabilidade deveriam ser repassados ao advogado para atender a requisição da Justiça de sua juntada.

                                                            31 Evento 1 – OUT 150 (Parte 8); Evento 44‐DECL2 , Autos 5053744‐31.2014.404.7000 32 Evento 54 – DESP1 , fls. 462/5, dos Autos 5053744‐31.2014.404.7000 33 Evento 54 – DESP1, fls. 448/450, dos Autos 5053744‐31.2014.404.7000 

  

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Há, na realidade, uma tentativa de criminalizar o exercício regular do direito de defesa, constitucionalmente garantido no país, o que se repudia com veemência, até porque V. Exa. intimou a empresa a apresentar documentos que V. Exa. já conhecia e tinha ciência plena de que os serviços contratados não tinham sido prestados. Assim, a conduta de apresentação dos documentos, quanto a imputação de uso de documentos falsos, é típico crime impossível pela manifesta ineficácia do meio (art. 17 do CP).

Em nenhum momento, a empresa MENDES JUNIOR, seus diretores ou procurador afirmaram que os documentos apresentados tinham conteúdo verdadeiro. Ao contrário, ao serem ouvidos, os diretores esclareceram que os serviços mencionados nos aludidos contratos não foram prestados, sendo os valores pagos destinados a satisfação da “propina” exigida pelo Diretor da PETROBRAS, Paulo Roberto Costa, com o auxílio de Alberto Youssef.

40 – Por estas razões, a defesa do denunciado, nesta oportunidade, com fundamento no artigo 397, incisos I e III, do CPP, pede e espera sua ABSOLVIÇÃO SUMÁRIA, quanto à imputação do crime de “uso de documento falso”.

VI – A SITUAÇÃO PESSOAL DE SÉRGIO CUNHA MENDES 41 – O denunciado SÉRGIO CUNHA MENDES, que tem curso superior

incompleto, é empresário e acionista da empresa MENDES JUNIOR, onde trabalhava há mais de 30 anos, exercia até ser preso o cargo de Diretor Vice-Presidente Executivo, subordinado ao Diretor Presidente Jésus Murillo Valle Mendes (DOC. 09 Anexo a INIC1, Autos nº 5078424-80.2014.404.7000, ata do conselho de administração da MENDES JUNIOR Trading e Engenharia S/A, de 02/07/2014). Por decisão do Conselho de Administração da empresa MENDES JÚNIOR foi afastado do cargo de Diretor Vice-Presidente Executivo, a partir de 03/12/2014, que ficou vago, conforme ata do órgão deliberativo (DOC. 10 Anexo a INIC1, Autos nº 5078424-80.2014.404.7000).

O denunciado SÉRGIO CUNHA MENDES, nascido em 17/02/1956 (58 anos de idade) tem identidade civil determinada (C.I. nº 09262144-0, expedida em 31/01/90 pelo IIFP/RJ), sendo inscrito no C.P.F. sob nº 311.654.356-91 (DOC. 11 Anexo a INIC1, Autos nº 5078424-80.2014.404.7000).

Tem residência fixa em Brasília, DF, no endereço SHIS, 13, CJ 07, CASA 23, LAGO SUL, CEP 71.635-070 (comprovante de residência, conta NET, DOC. 12/13 Anexo a INIC1, Autos nº 5078424-80.2014.404.7000). SÉRGIO CUNHA MENDES é casado com MAURA ALVIM MENDES, desde 12/04/1984, tendo o casal duas filhas, BRUNA ALVIM MENDES (08/08/1986) e MARIA EDUARDA ALVIM MENDES (13/11/1989), conforme as certidões de casamento e nascimento anexas (DOC. 14/16 Anexo a INIC1, Autos nº 5078424-80.2014.404.7000).

  

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O denunciado SÉRGIO CUNHA MENDES é primário, conforme as certidões anexas expedidas pelos sistemas do TJDFT e TRF-1, da Justiça Estadual e Federal de sua residência (DOC. 17/18 Anexo a INIC1, Autos nº 5078424-80.2014.404.7000).

O denunciado não é o Presidente da MENDES JUNIOR, era apenas um de seus Vice-Presidentes. Cabe esclarecer que o denunciado SÉRGIO CUNHA MENDES não é e nem nunca foi “controlador da empreiteira MENDES JÚNIOR”, como sustentado na decisão que lhe decretou a prisão.

Esta empresa, criada por seu avô José Mendes Júnior, continuou com os 06 (seis) filhos deste, dentro os quais o pai do paciente (Sânzio Valle Mendes) já falecido e que teve 07 (sete) filhos. Assim, o acusado SÉRGIO CUNHA MENDES tem apenas 1/7 (um sétimo) de 1/6 (um sexto) da parte do capital da empresa que ainda pertence à família, cujo controle está pulverizado entre as seis famílias dos herdeiros originários.

Ademais, como constou, expressamente, da decisão de decretação de sua prisão preventiva, o nome do denunciado SÉRGIO CUNHA MENDES foi mencionado, exclusivamente, nas delações dos réus colaboradores (Paulo Roberto Costa e Alberto Youssef), inexistindo referência ao seu nome em quaisquer documentos ou papéis, que constituam, ao menos em tese, prova de suposta prática de crime.

Ora, em situação idêntica, na decisão de decretação de sua prisão preventiva, o Juiz Federal da 13ª Vara de Curitiba decidiu não ordenar sequer prisão temporária para dirigentes de outra empreiteira, como se pode ler na decisão:

“Pleiteou ainda o MPF a decretação da prisão temporária de Márcio Faria da Silva e Rogério Santos 

de Araújo, dirigentes da Odebrecht, o que não  foi  requerido pela autoridade policial. Embora haja 

algumas provas da participação da Odebrecht no cartel de empresas e no pagamento de vantagens 

indevidas  a  agentes  públicos,  ela  decorre,  por  ora,  principalmente,  da  palavra  dos  criminosos 

colaboradores, sem ainda provas documentais mais robustas que a amparem. No contexto, entendo 

que, por ora, quanto a eles, não  se  justifica a decretação da prisão  temporária, motivo pelo qual 

indefiro a medida” (Evento 10 dos Autos 5073475‐13.2014.404.7000). 

42 – O denunciado SÉRGIO CUNHA MENDES assinou contratos entre a

MJTESA e PETROBRAS como diretor estatutário. Teve, no particular, comportamento idêntico ao de outros diretores da MJTESA, que assinaram contratos ou aditivos entre a MJTESA e a PETROBRAS, e não foram denunciados pelo MPF, pois isto seria, como é em relação ao acusado SÉRGIO CUNHA MENDES, imputação baseada em mera responsabilidade penal objetiva, o que é intolerável em Direito Penal.

  

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VII – Requerimentos de produção de provas. 43 – A defesa do denunciado nesta oportunidade requer a produção das

seguintes e imprescindíveis provas, durante a instrução criminal contraditória: 43.1 – Requer seja objeto de requisição judicial perante a PETROBRÁS: a) Cópias das ATAS de reuniões entre equipe da PETROBRAS e equipe da MJTESA

(ou consórcio de que esta participou), relativas a negociação do preço da proposta apresentada, que antecederam a assinatura do contrato, em relação a cada uma das seis obras citadas na denúncia, isto é REPAR, REPLAN, COMPERJ, REGAP, TABR e TAIC;

b) Cópias da ATAS de reuniões entre equipe da PETROBRÁS e equipe da MJTESA (ou consórcio de que esta participou), relativas a negociação que antecedeu a assinatura de cada um dos diversos ADITIVOS de contratos, em relação a cada uma das seis obras citadas na denúncia, isto é REPAR, REPLAN, COMPERJ, REGAP, TABR e TAIC;

c) Cópia dos RELATÓRIOS e PARECERES elaborados pela equipe da PETROBRÁS e por seu Jurídico, que subsidiaram as decisões da diretoria da PETROBRÁS, para aprovação da assinatura de contratos e de cada um dos aditivos, em relação a cada uma das seis obras citadas na denúncia, isto é REPAR, REPLAN, COMPERJ, REGAP, TABR e TAIC;

43.2 – Requer a realização de perícia judicial, contábil e financeira

(econômica) e de engenharia, para apurar a existência, ou não, de superfaturamento ou sobrepreço, nas obras e em cada um dos contratos e em cada um dos aditivos, em relação a cada uma das seis obras citadas na denúncia, isto é REPAR, REPLAN, COMPERJ, REGAP, TABR e TAIC.

Deferida a perícia, a defesa requer seja-lhe aberta vista para o oferecimento de

quesitos e indicação de assistente técnico, nos termos do art. 159, incisos e parágrafos, do CPP. Requer, desde logo, sejam os peritos oficiais intimados para prestar esclarecimentos em audiência, após a realização da perícia, nos termos do art. 159, §5º, inciso I, combinado com o art. 400, §2º, ambos do CPP.

43.3 – Protesta a defesa do denunciado pela oportuna juntada de

documentos, nos termos do art. 231 do CPP. 43.4 – Em face da multiplicidade de fatos imputados na denúncia, a defesa

arrola as testemunhas abaixo, requerendo sua intimação para comparecimento em audiências na instrução criminal contraditória, inclusive pelo sistema de videoconferência, com a cláusula de imprescindibilidade, nos termos da parte final do art. 396-A do CPP:

  

 Av. Afonso Pena, 4.100 – 11º andar – Bairro Mangabeiras – Belo Horizonte – Minas Gerais – CEP 30.130‐009 

Tel/fax (31) 3282‐5000 – [email protected]                                                                        35 

 

1. Roberto Wagner Monteiro, advogado, endereço: MSPW 29, Conj. 02, Lote 4, Park Way, BRASÍLIA, DF;

2. Robson Rodovalho, bispo evangélico e físico, endereço: QL 6, Conj. 3, Casa 2, Lago Sul, BRASÍLIA, DF;

3. Luiz Antônio Guerra Silva, advogado, endereço: SMDB, Conj. 09, Lote 04, Casa A, Lago Sul, BRASÍLIA, DF, CEP 71.618-090;

4. Euler Marques Andrade Filho, publicitário, endereço: Rua Professor Antônio Aleixo, 500 apto. 1500, Bairro Lourdes, Belo Horizonte, MG, CEP 30.180-150;

5. José Marcos Cardoso Costa, engenheiro, endereço: Av. João Pinheiro, 146, 17º andar, Centro, BELO HORIZONTE, MG, CEP 30.130-927;

6. Sérgio Lúcio dos Santos, engenheiro, endereço: Av. João Pinheiro, 146, 17º andar, Centro, BELO HORIZONTE, MG, CEP 30.130-927;

7. Lívia Sousa Sant’Ana, psicóloga, endereço: Av. João Pinheiro, 146, 14º andar, Centro, BELO HORIZONTE, MG, CEP 30.130-927;

8. Érica Brettas Déllia Savia, engenheira, endereço: Av. João Pinheiro, 146, 17º andar, Centro, BELO HORIZONTE, MG, CEP 30.130-927;

9. Flávio Campos de Paiva Vieira, administrador de empresas, endereço: Av. João Pinheiro, 146, 14º andar, Centro, BELO HORIZONTE, MG, CEP 30.130-927;

10. Gilson Ademar Campos, funcionário da PETROBRÁS, endereço funcional: Av. Henrique Valadares, 28/Bloco B/1º andar, EDISEN, Centro, RIO DE JANEIRO, RJ, CEP 20.231-030;

11. Carlos Alexandre Fanjul Igreja, funcionário da PETROBRÁS, endereço funcional: Av. Henrique Valadares, 28/Bloco B/1º andar, EDISEN, Centro, RIO DE JANEIRO, RJ, CEP 20.231-030;

12. Jair Donizete da Costa, funcionário da PETROBRÁS, endereço funcional: Rodovia Rio Santos (BR 101), Km 83, Jacuecanga, ANGRA DOS REIS, RJ, CEP 23905-000 ou Estaleiro: Avenida Conde Maurício de Nassa, S/N, Jacuecanga, ANGRA DOS REIS, RJ, CEP 23905-000;

13. Sérgio dos Santos Arantes, funcionário da PETROBRÁS, responsável pela área de orçamento de projetos básicos de obras, cujo endereço e apresentação deverá ser requisitado à PETROBRÁS, nos termos de decisão anterior (Evento 5, DESPADEC1 e Evento 73, PET1);

VIII – Requerimentos de desmembramento do processo: 44 – A denúncia oferecida nesta ação penal, como reconhecido na decisão de

recebimento da denúncia, possui duas partes distintas. Na 1ª parte foi formulada acusação contra os administradores e agentes da MJTESA (da pág. 1 até pag. 90). Há uma 2ª parte que trata de acusação contra ALBERTO YOUSSEF e outros, com imputação de lavagem de dinheiro (da pag. 91 até pág. 164).

  

 Av. Afonso Pena, 4.100 – 11º andar – Bairro Mangabeiras – Belo Horizonte – Minas Gerais – CEP 30.130‐009 

Tel/fax (31) 3282‐5000 – [email protected]                                                                        36 

 

Na decisão de recebimento da denúncia, V. Exa. afirmou o seguinte:

“Nessa segunda parte da denúncia, não há imputações contra os dirigentes da Mendes Júnior. (...)Talvez 

fosse o caso de processar em separado os crimes constantes na primeira parte da denúncia (corrupção e 

lavagem envolvendo crimes diretamente relacionados a Mendes Júnior) dos crimes constantes na segunda 

parte (lavagem pela aquisição de bens pela GFD Investimentos). Afinal, o acúmulo de fatos e de acusados 

pode prejudicar a tramitação. Entretanto, é o caso de respeitar a opção feita pelo MPF, diante da inegável 

conexão  entre  crime  antecedente  e  crime  de  lavagem,  sem  prejuízo  de  eventual  desmembramento  no 

curso do processo caso se mostre necessário”.34

Na 1ª parte da denúncia, são acusadas sete pessoas (Paulo Roberto Costa e

Alberto Youssef), sendo CINCO vinculadas à empreiteira MENDES JÚNIOR (SÉRGIO CUNHA MENDES, ROGÉRIO CUNHA DE OLIVEIRA, ÂNGELO ALVES MENDES, ALBERTO ELÍSIO VILAÇA GOMES e JOSÉ HUMBERTO CRUVINEL RESENDE).

Na 2ª parte da denúncia, são acusadas DEZ pessoas (ALBERTO YOUSSEF,

WALDOMIRO DE OLIVEIRA, CARLOS ALBERTO PEREIRA DA COSTA, JOÃO PROCÓPIO JUNQUEIRA PACHECO DE ALMEIDA PRADO, ENIVALDO QUADRADO, ANTÔNIO CARLOS FIORAVANTE BRASIL PIERUCCINI, MÁRIO LÚCIO DE OLIVEIRA, RICARDO RIBEIRO PESSOA, JOÃO DE TEIVE E ARGOLLO e SANDRA RAPHAEL GUIMARÃES).

De outro lado, nas ações penais conexas relativas às outras empreiteiras, os

acusados vinculados às mesmas estão em feito distinto, sem envolvimento com outros acusados e outras acusações.

Por óbvio, a tramitação de ação penal contra dezesseis acusados é muito mais

complicada e processualmente mais complexa e nada econômica em termos de atos processuais e seus desdobramentos (multiplicidade de acusados, defensores, testemunhas, audiências, vistas, etc.).

45 – Isto posto, a defesa do denunciado vem requerer a V. Exa., com suporte

no artigo 80 do CPP, seja determinada a separação dos processos e julgamentos, em relação à 1ª parte da denúncia, para que tramite de forma independente a ação penal contra os cinco denunciados vinculados a empreiteira MENDES JÚNIOR.

IX– Requerimentos de dispensa de comparecimento do acusado a audiência de instrução perante esta 13ª Vara Federal de Curitiba. 46 – Na decisão de recebimento da denúncia, V.Exa. marcou audiências para

inquirição de testemunhas de acusação e dispensou a presença de dois acusados:

                                                            34 Evento 6 dos Autos desta Ação Penal 5083401‐18.2014.404.7000 

  

 Av. Afonso Pena, 4.100 – 11º andar – Bairro Mangabeiras – Belo Horizonte – Minas Gerais – CEP 30.130‐009 

Tel/fax (31) 3282‐5000 – [email protected]                                                                        37 

 

“(...) designo desde logo audiência para oitiva de testemunhas de acusação em Curitiba:  ‐ para  11/02/2015,  às  14:00, para oitiva das  testemunhas Augusto Ribeiro de Mendonça Neto,  Julio Gerin de Almeida Camargo, Meire Bonfin da Silva Poza e Leonardo Meirelles;  ‐ para 12/02/2015, às 14:00, para oitiva das  testemunhas Pedro Aramis de  Lima Arruda, Gerson  Luiz 

Gonçalves,  Marcelino  Guedes  Ferreira  Mosqueira  Gomes  e  Venina  Velosa  da  Fonseca,  todos 

empregados da Petrobras. 

(...) 

Dispenso a presença na referida audiência dos acusados Alberto Youssef e Paulo Roberto Costa. Caso 

os defensores respectivos insistam na presença, deverão informar a este Juízo”. (Evento 6) 

O denunciado, ora defendido, igualmente não deseja comparecer às

audiências de instrução, perante esta 13ª Vara Federal de Curitiba, e, por isso, vem requerer a V. Exa., isonomicamente, seja o mesmo dispensado de comparecimento (art. 5º, inciso X, c/c o inciso LVII, CF).

47 – Nestes termos, juntada esta aos autos, com os 05 (cinco) documentos

ANEXOS, requer sejam examinadas e acolhidas todas as teses de defesa apresentadas e examinados e deferidos os diferentes requerimentos formulados nesta Resposta à Acusação, para os fins de direito.

Curitiba, 27 de janeiro de 2015.

MARCELO LEONARDO

OAB/MG nº 25.328 Defensor

(petição eletrônica assinada com certificação digital)