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SRIO POSSENTI
POR QUE (NO) ENSINAR GRAMTICA NA ESCOLA
DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAO NA PUBLICAO (CIP)
(CMARA BRASILEIRA DO LIVRO, SP, BRASIL)
_________________________________________________________________
Possenti, Srio
Por que (no) ensinar gramtica na escola / Srio Possenti Campinas, SP :
Mercado de Letras : Associao de Leitura do Brasil, 1996. (Coleo Leituras
no Brasil)
ISBN 85 85725-24-9
1. Portugus - Gramtica - Estudo e ensino I. Ttulo II. Srie.
96-3880 CDD-469-507
_________________________________________________________________
ndice para catlogo sistemtico
1. Gramtica : Portugus : Estudo e ensino 469.507
COLEO LEITURAS NO BRASL
Coordenao: Luiz Parcival Leme Britto
Conselho Editorial: Glucia Mollo Pcora, Valdir Heitor Barzotto,
Maria Jos Nobrega, Wilmar da Rocha D'Angelis e Mrcia Abreu
Capa: Vande Rotta Gomide
Copidesque: Nvia Maria Fernandes
Reviso: Marlia Marcello Braida
DIREITOS RESERVADOS PARA A LNGUA PORTUGUESA:
MERCADO DE LETRAS EDIO E LIVRARIA LTDA,
Rua Barbosa de Andrade, 111
Fone: (19) 3241-7514
13073-410 - Campinas SP Brasil
www. mercado-de-letras. com. br
E-mail: [email protected]
ASSOCIAO DE LEITURA DO BRASIL
Faculdade de Educao/Unicamp
Cidade Universitria "Zeferino Vaz"
13081 -970 - Campinas SP Brasil
Fone: {19} 3289-4166
6 reimpresso
2000
Proibida a reproduo desta obra
sem a autorizao prvia dos Editores.
Sumrio
APRESENTAO .............................................................................................................................. 5
INTRODUO ............................................................................................................9
O PAPEL DA ESCOLA ENSINAR LNGUA PADRO ........................................... 11
DAMOS AULAS DE QUE A QUEM? ........................................................................ 14
NO H LNGUAS FCEIS OU DIFCEIS ............................................................... 17
TODOS OS QUE FALAM SABEM FALAR ............................................................... 20
NO EXISTEM LNGUAS UNIFORMES .................................................................. 24
NO EXISTEM LNGUAS IMUTVEIS ..................................................................... 27
FALAMOS MAIS CORRETAMENTE DO QUE PENSAMOS .................................... 31
LNGUA NO SE ENSINA, APRENDE-SE ............................................................... 35
SABEMOS O QUE OS ALUNOS AINDA NO SABEM? .......................................... 38
ENSINAR LNGUA OU ENSINAR GRAMTICA ? ................................................... 41
INTRODUO ................................................................................................................................. 44
CONCEITOS DE GRAMTICA................................................................................. 47
GRAMTICAS NORMATIVAS .................................................................................. 48
GRAMTICAS DESCRITIVAS.................................................................................. 49
GRAMTICAS INTERNALIZADAS ........................................................................... 52
REGRAS ................................................................................................................... 56
LNGUA ..................................................................................................................... 57
ERRO ........................................................................................................................ 60
ESBOO PRTICO .................................................................................................. 64
APRESENTAO
Este livro tem basicamente duas origens, ambas um pouco antigas, e sua estrutura
as reflete ainda. Ele vem de dois textos menores que, por sua vez, resultaram de
pequenos desafios propostos a mim por outros pesquisadores. Os dois desafios tm mais
ou menos a mesma data, ou, o que importa, a mesma datao intelectual e ideolgica.
No h, entre um e outro, mudana de posio de minha parte, no que se refere aos
temas em questo. Alis, minha posio em relao a esses temas mais ou menos a
mesma h quinze anos, e exatamente por isso que decidi transformar aqueles dois
textos em livro.
Acho que foi em 1982. No Instituto de Estudos da Linguagem da Unicamp, como
decorrncia da criao do curso de Letras, isto , do ingresso de alunos que seriam por
hiptese professores de Portugus nas escolas de primeiro e/ou segundo graus (at
ento s funcionava no Departamento que deu origem ao Instituto um bacharelado em
lingustica), veio baiIa a questo da necessidade ou no de haver, no currculo de
letras, disciplinas de ensino de gramtica normativa. At ento, no bacharelado em
lingustica, e no currculo qne o curso de letras herdava daquele bacharelado, elas no
existiam. Supunha-se, por um lado, que os alunos j tinham estudado suficientemente as
gramti- cas tradicionais, e era chegada a hora de eles aprenderem a analisar fatos de
lngua segundo outras teorias, mais sofisticadas. Por outro lado, muitos dos professores
do Departamento de Lingustica estvamos convencidos, j, de que ensinar lngua e
ensinar gramtica so duas coisas diferentes. E achvamos que nosso trabalho era
formar professores que ensinassem lngua, e no professores de gramtica. Alm disso,
achvamos que ensinar mais gramtica tradicional era de certa forma intil, dado que at
nossos privilegiados alunos ainda achavam que deviam ter aulas da matria, aps cerca
de dez anos de estudos! Alguns alunos entendiam a questo da mesma forma. Outros
insistiam que no sabiam gramtica e que deveriam aprend-la para poder ensin-la nas
escolas. Por essas duas razes, tal contedo deveria ser contemplado no currculo.
Houve seminrios sobre a questo, com alunos e professores participando de discusses
(s vezes, bate-bocas) bastante animadas.
Um dia, num encontro casual, o professor Roberto Schwartz me perguntou em que
tipo de discusso estvamos metidos, afinal, no caso do ensino de gramtica. Queria
saber como os linguistas viam essa histria do padro lingustico e da gramtica,
inclusive porque, a seu ver, percebia-se a falta de um conhecimento mnimo de tais
questes nos trabalhos que os alunos escreviam sobre textos literrios. Tentei dizer-lhe,
em poucas palavras, o que alguns de ns pensvamos e dizamos, entre ns e nos
seminrios. Ele me props, ento, que escrevesse um texto "inteligente" sobre a questo.
Sugeriu-me at o ttulo, "Gramtica e poltica". Disse-me que, se o texto ficasse bom, ele
tentaria faz-lo passar no Conselho Editorial da revista Novos Estudos Cebrap. Suponho
que ele tenha gostado, pois o texto saiu naquela revista, no volume 2, n 3, de 1983.
Cerca de um ano depois, ao organizar seu livro O texio na sala de aula, J. W. Geraldi
incluiu "Gramtica e poltica".
Passado mais um ano, em reunies com a equipe da CENP (um rgo ligado
Secretaria de Educao do Estado de So Paulo) para negociar a participao de alguns
professores do Departamento de Lingustica do Instituto de Estudos da Linguagem no
Projeto IP, um membro daquela equipe declarou que o texto sobre gramtica poderia
ser algo como o meu "Gramtica e poltica", mas numa linguagem um pouco mais
acessvel aos professores da rede. Rodolfo Ilari e eu, ento, escrevemos essa nova
verso, que foi publicada pela secretaria da Educao do Estado de So Paulo, com o
ttulo de Portugus e ensino de gramtica, em 1985.
Acho que foi em I984, quem sabe em 1983. Um dia, o professor Mercer, do
Departamento de Letras da Universidade Federal do Paran, convidou-me para participar
de um ciclo de palestras que ele coordenava, em Curitiba, sobre lingustica e ensino de
portugus. Disse-me ao telefone que, em primeiro lugar, esperava que eu aceitasse e,
em segundo, que eu fosse a Curitiba para dizer que no havia nenhuma relao entre as
duas coisas. Eu lhe disse que aceitava e que ia a Curitiba para dizer que havia uma
relao importante entre as duas coisas, mas, de qualquer forma, eu esperava
surpreend-lo com meu discurso. que eu imaginava, j, como resultado de algumas
leituras e muitas conversas com colegas, como consequncia de debates relativamente
numerosos com professores de segundo grau e de faculdades do interior, e tambm,
relevantemente, de uma posio poltica clara (modestamente, ainda penso isso) em
relao questo, que as principais contribuies da lingustica para o ensino da lngua
no tm muito a ver com a introduo de gramticas melhores na escola (embora isso
seja eventualmente de enorme interesse), mas, fundamentalmente, com a colocao em
cena de atitudes diversas dos professores em relao ao que sejam uma lngua e seu
processo de aprendizado (ou aquisio). Basicamente, tratava-se de eliminar
preconceitos e de redizer algumas coisas bvias sobre o funcionamento real da
linguagem na vida real dos falantes, insinuando que esse uso real o que deve ser
priorizado na sala de aula. No sei se consegui surpreender o professor Mercer ou
qualquer outra pessoa. O que fiz foi extrair das