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5/21/2018 STR010MetodologiaDaPesquisaCientifica-slidepdf.com http://slidepdf.com/reader/full/str010-metodologia-da-pesquisa-cientifica 1/86 CLIQUEAQUIPARA VIRARAPÁGINA Pós -Graduação MBA em Gestão de TI Palavra Digital Metodologia de Pesquisa Científca

STR010 Metodologia Da Pesquisa Cientifica

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  • CLIQUEAQUIPARAVIRARAPGINA

    Ps -Graduao

    MBA em Gesto de TI

    Palavra DigitalMetodologia de Pesquisa Cientfica

  • 2Palavra DigitalMBA em Gesto de TI

    Disciplina Metodologia de Pesquisa Cientfica

    Coordenao do CursoJeanne Dobgenski

    AutorAndr Glaser

    FICHA TCNICAEquipe de Gesto Editorial Flvia Mello MagriniAnlise de ProcessosJuliana Cristina e Silva Flvia Lopes

    Reviso Textual Alexia Galvo Alves Giovana Valente Ferreira

    Ingrid Favoretto Julio Camillo Luana Mercrio

    DiagramaoClula de Inovao e Produo de Contedos

  • 3Como citar esse documento:

    GLASER, Andr. Metodologia da Pesquisa Cientfica. Valinhos, p. 1-88. Disponvel em: . Acesso em: 30 jul. 2013.

    Chanceler Ana Maria Costa de Sousa

    Reitora Leocdia Agla Petry Leme

    Pr-Reitor Administrativo Antonio Fonseca de Carvalho

    Pr-Reitor de Graduao Eduardo de Oliveira Elias

    Pr-Reitor de Extenso Ivo Arcanglo Vedrsculo Busato

    Pr-Reitora de Pesquisa e PsGraduao Luciana Paes de Andrade

    Realizao:

    Diretoria de Extenso e Ps-Graduao Pedro Regazzo Vanessa Pancioni Claudia Benedetti Mario Nunes Alves

    Gerncia de Design EducacionalRodolfo PinelliGabriel Arajo

    2013 Anhanguera Educacional

    Proibida a reproduo final ou parcial por qualquer meio de impresso, em forma idntica, resumida ou modificada em lngua por-tuguesa ou qualquer outro idioma.

  • Apresentao da disciplinaAs pginas que se seguem do incio aos quatro textos que formam a leitura fundamental deste mdulo de metodologia da pesquisa cientfica. A preocupao central a de fornecer ferramentas para que os alunos dos cursos de especializao, nas mais diversas reas da Anhanguera Educacional, possam redigir um trabalho de concluso de curso satisfatrio. Nossa meta, na elaborao deste material, foi a de evitar que o conhecimento terico, por mais fascinante que seja, no se desprendesse do interesse prtico de um curso voltado para a elaborao de um artigo cientfico. Essa afirmao necessita de alguma especifi-cao, para que no fique a impresso de que este curso se reduza a uma srie de dicas para se escrever bem. Evidentemente, as dicas podem ser de grande ajuda no momento da elaborao e escrita de nossos textos, mas de forma alguma ganharo status prioritrio. O objetivo deste mdulo o de orientar o aluno, tendo como bases, por um lado, o seu prprio conhecimento e, por outro, formas de expandi-lo, para que possa construir um texto com base na sua prpria experincia.Dizer que nossa preocupao a de possibilitar que o aluno marque seu texto com a sua experincia no implica num reducionismo do conhecimento, como se o que o aluno j soubesse fosse o suficiente. Nossa posio diametralmente oposta e essa, como tambm o da crena de que o acmulo do conhecimento pelo conhecimento, desvinculado de sua realizao na prtica, bastaria. A maturidade de um texto cientfico depende de ao menos trs fatores: conhecimento da rea especfica sobre a qual se debrua a pesquisa; uma clareza quanto aos objetivos prtico-tericos do trabalho a ser realizado; e um domnio, no s da linguagem escrita, mas, sobretudo, do estilo acadmico. Nosso interesse, dessa for-ma, ser o de preparar as atividades deste mdulo sobre esse trip, contribuindo para que o aluno organize, da melhor forma possvel, o conhecimento que j possui; tenha condies de realizar uma pesquisa bem fundamentada; e aprimore, se houver necessidade, a sua habilidade escrita. A grande quantidade de reas profissionais s quais essa leitura voltada coloca-nos o problema de at que ponto a generalizao do que ser dito pode responder aos inter-esses de pessoas dos mais diversos crculos profissionais, e de como conseguir o grau de especificao necessrio tanto para que o interesse do aluno seja satisfatoriamente des-perto, quanto para que as diferenas entre os estilos dos artigos, de acordo com as reas de atuao, sejam devidamente abordadas. Para sanar este problema, as leituras e textos comuns a todos buscaro um grau de especificidade que no comprometa o entendimento de seu contedo ou o interesse de alunos diversificados, as atividades mais especficas sendo trabalhadas diretamente com o tutor responsvel pelo mdulo. Muitos alunos, pelos mais diversos motivos, possuem expectativas bastante baixas com relao a cursos de metodologia da pesquisa cientfica. nosso interesse reverter esse quadro, concentrando nos aspectos fascinantes da pesquisa e da produo escrita de con-hecimento, bem como da qualidade instrumental desse conhecimento nas mais diversas atividades profissionais. Um curso de especializao estabelece, em geral, um vnculo bastante estreito com a atividade profissional sobre a qual est organizado. Este mdulo de metodologia no pretende fugir a esse padro, mas, em conjunto com os outros nove mdulos, contribuir para a formao de um profissional preparado para enfrentar a reali-dade, s vezes bastante exigente, do mercado de trabalho atual.

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  • seesLEGENDA DE CONESIncio

    Links Importantes

    PontuandoVdeos

    Importantes

    Referncias

    Vamos pensar

    Aula 01 : Epistemologia

  • VOLTARPARA SEESAula

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    01

    Aula 01 - EpistemologiaObjetivos gerais

    Refletir sobre Cincia e Mtodo Cientfico

    Objetivos especficos

    Refletir sobre a verdade da cincia

    Discorrer sobre os tipos de conhecimento

    Definir as caractersticas da cincia

    1. A Esfera de Cincia: Delimitao de Campo

    Tendo em vista que discorreremos sobre metodologia da pesquisa cientfica, devemos definir inicialmente, mesmo que de maneira breve, o que entendemos por cincia e por mtodo. Tratemos de cada conceito separadamente.

    1. 1 A ESFERA DA CINCIA

    O que necessrio para que possamos dizer que algo cientfico? Nossa sociedade est to encharcada de verdades cientificamente provadas que no raro perdemos a noo de algumas qualidades intrnsecas do que seria uma cincia sria. Longe de defendermos uma inteno idealista, capaz de ver a cincia como esfera autnoma, no devemos, por outro lado, aceitar indiscriminadamente a subordinao total do conhecimento cientfico aos interesses do mercado. Isso porque, embora grande parte da produo cientfica esteja vinculada aos recursos provenientes das grandes empresas, com todas as complicaes que da advm no que tange aos interesses por lucro que movimentam a esfera privada, a falta de critrio no uso do conceito de cincia torna a pesquisa cientifica uma mera interveno publicitria. O sucesso deste uso bastante especfico do cientfico origina-se em uma certa crena popular de que o cientfico uma Verdade, legitimando como irrefutvel, consequentemente, a voz do cientista ou a do pesquisador. Vejamos um exemplo: o caf faz bem ou faz mal sade?

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    Com certeza todos ns j nos deparamos com argumentos contra, parcialmente contra, parcialmente a favor e a favor de sua ingesto, muitos deles cientificamente provados. At a, no h nada de novo. Toda a pesquisa cientfica bem feita possui um objetivo claro que delimita tanto a pesquisa propriamente dita quanto seus resultados. Uma pesquisa sobre o

    poder estimulante da cafena no crebro tender a apresentar um resultado mais positivo sobre o caf do que um estudo dos efeitos do caf no estmago ou na presso sangunea. Contudo, dada a idealizao da cincia como esfera da Verdade acima comentada, pode-se generalizar o que especfico com o intuito de se tirar proveito econmico ou poltico da pesquisa. Lembremo-nos, por exemplo, de que a supremacia ariana pregada pelo nazismo foi cientificamente embasada por um conjunto de ideias que se autointitulou uma teoria, conhecida como a eugenia nazista. Casos extremos no ditam regras, mas podem mostrar como certas tendncias ideolgicas trabalham desde as esferas mais amplas at as mais restritas.

    Dito isso, podemos afirmar que a cincia nunca representa uma Verdade com v maisculo, tipo de conhecimento que, como veremos a seguir, pertence a outra esfera do conhecimento. A cincia s pode fornecer uma verdade relativa, uma vez que uma conquista intrinsecamente humana. Da as necessrias e frequentes contestaes de teorias cientficas por outras mais recentes que parecem explicar melhor a realidade. Mas se a cincia busca explicar a realidade, essa explicao tem, como momento seguinte, a sua manipulao. A cincia busca interferir na realidade, atuando nas mais diversas reas das atividades humanas. E o faz pela unio bem realizada da investigao cientfica, a pesquisa propriamente dita, com a lgica racional que permite a generalizao das descobertas e a produo de leis.

    Assim, podemos dizer que a cincia tem como caractersticas bsicas a observao dos fatos, sua repetio (o experimento) e sua ordenao lgica, de forma a construir teorias que dem conta do comportamento dos eventos trabalhados, possibilitando sua utilizao racional nas mais diversas reas de atuao humana. Mas o que entendemos hoje como cientfico algo relativamente novo. Embora a busca pelo conhecimento emprico tenha existido na antiguidade, a sua aplicao prtica em larga escala teve que esperar condies culturais e scioeconmicas favorveis, o que ocorre j no perodo de transio da Idade Mdia para o mundo moderno. Entre as inmeras transformaes ocorridas neste perodo, um fator significativo para a expanso sem precedentes do conhecimento lgico-emprico foi a sua

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    separao da filosofia, norteando-se cada vez mais, como veremos a seguir, pelo mtodo indutivo. O mundo ocidental, a partir do humanismo, produziu uma contnua separao das esferas de conhecimento, pouco ou no separadas na Idade Mdia, tornando possvel um grau de especializao surpreendente de um novo pensamento lgico, vinculado apreenso emprica do mundo. Neste perodo, a razo assume o papel de instrumento para a obteno da verdade, antes nas mos do mstico religioso. Liberta das concepes religiosas no racionais e afastando-se do paradigma lgico ditado pelo mtodo dedutivo, a cincia constri, em suas teorias, outro mundo, movido por leis quantificveis.

    Este novo tipo de conhecimento pode ser melhor visualizado com uma breve exposio das quatro grandes esferas, geralmente aceitas como abrangendo os principais tipos de conhecimento no mundo ocidental: a popular, a filosfica, a religiosa e a cientfica. Para efeitos didticos, as trs primeiras esferas do conhecimento, relacionadas acima, sero discutidas em oposio ao conhecimento cientfico. Iniciemos pelo conhecimento religioso. Este conhecimento fundamentalmente transcendental. Sua base a f, pois parte de evidncias no verificveis. Assim, revela-se como dogmtico. Religio e cincia possuam uma grande proximidade no mundo medieval, muitas vezes sendo indissociveis. Tomemos, por exemplo, a astrologia: na Idade Mdia, este campo de estudo abrangia tanto a astronomia quanto a astrologia, que viriam a se separar posteriormente. O homem que estudava os astros era o mesmo que traava o destino das grandes naes. Dentre as discusses que levaram sua ciso, que foram muitas, podemos citar a descoberta, dados os critrios cada vez mais empricos e cuidadosos de observao, do 13 signo, a constelao de ofico, que passa pela eclptica celeste e localiza-se entre sagitrio e escorpio. Dado que essa nova constelao era verificvel, a nova tendncia pela busca da verdade nos fatos no podia compartilhar, com os astrlogos tradicionalistas, a no aceitao da incluso de mais um signo no zodaco. Da temos um novo impulso, entre tantos outros, para a formao de um campo emprico-cientfico, a astronomia, e um transcendente, a astrologia moderna.

    evidente que a cincia do humanismo no rompeu definitivamente com toda e qualquer concepo religiosa do mundo. O que ocorreu, um processo do qual a filosofia tambm participou ativamente, foi a mudana da prpria concepo de Deus, que se torna menos mstico e mais racional. O Deus mstico medieval, embora no deixe de existir, perde espao no campo filosfico e, sobretudo, no cientfico, que cada vez mais assume como uma das leis

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  • 9fundamentais do universo a lei de causa e efeito. Assim, Deus torna-se um ser absoluto em sua racionalidade, e o universo, antes sujeito aos seus caprichos, passa a ser regulado por suas leis, o movimento quantificvel e regular dos astros sendo um dos exemplos mximos de sua obra. O universo, antes criao de um ser mstico inacessvel inteligncia humana, torna-se o grande relgio criado pelo relojoeiro divino uma vez criadas as leis eternas, o funcionamento do mecanismo no mais alterado por caprichos do criador.

    Comparando filosofia e cincia, detectamos que ambas trabalham com sistemas lgicos. Porm, a filosofia medieval (e boa parte da filosofia moderna) no recorria ao mundo emprico como corao de suas indagaes e hipteses. Trabalhando com grandes questes da humanidade, como o belo, a verdade, a morte, a liberdade etc., construa seus sistemas lgicos sobre hipteses muitas vezes no verificveis, voltando-se para critrios valorativos. Fundamentalmente dedutiva, como veremos a seguir, no pode absorver totalmente os novos valores emprico-indutivos do novo conhecimento cientfico.

    No se trata aqui de um critrio valorativo. A cincia, apesar de todas as vantagens da apropriao da realidade pela observao, no pode abarcar o mundo. No que tange realidade social, histrica e cultural humana, h vrias reas das quais o conhecimento emprico ou no d conta, ou o faz ao preo de um reducionismo gritante. A liberdade, por exemplo, um conceito que s com contorcionismos surpreendentes pode ser investigada a partir de critrios emprico-mensurveis. Quando muito, pesquisas podem mapear o que determinada cultura ou frao de uma cultura entende por ser livre, ou criar critrios econmicos para definir qual seria uma renda que tornaria possvel algum critrio especfico de liberdade, mas as concluses jamais podero, a no ser de forma bastante ingnua, ser generalizadas em frmulas ou leis. Isso nos coloca um problema dos mais complexos quando, no sc. XIX, surgem as cincias humanas, obrigando a, em determinadas reas do saber, uma reaproximao da cincia aos critrios dedutivos da filosofia. Discutiremos este tpico a seguir, ainda nesta aula.

    No que tange s semelhanas e diferenas entre o conhecimento cientfico e o popular, o ponto de contato mais forte est na sua qualidade emprica embora o conhecimento popular seja muitas vezes marcado pelo mstico, tem sempre um objetivo prtico a ser alcanado. O que o difere do cientfico o seu carter tradicional (no h conhecimento popular de ponta) e sua pouca preocupao com a reflexo sobre os sistemas de que faz uso. Embora o conhecimento cientfico parea estar, primeira vista, bastante acima do popular, nosso

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    dia-a-dia marcado pela predominncia deste conhecimento. Um exemplo tpico est na rea da educao familiar. No h pai ou me que confie toda a educao, por exemplo, s conquistas e metodologias da psicopedagogia moderna. Em vrios momentos o que prevalece a tradio, o que foi herdado de nossos pais e avs, e que define tanto do que somos hoje.

    A separao dessas quatro formas de conhecimento obedece a critrios analtico-pedaggicos, j que no encontramos formas de conhecimento em estado puro. O que h so tendncias predominantes de uma ou de outra esfera, mas sempre com a presena de outras. A religio, por exemplo, est sempre ligada seja filosofia, quanto mais intelectuais os religiosos nela envolvidos, seja ao popular, que oferece a realidade concreta que ser organizada e direcionada por ela. A cincia, por mais que possa julgar-se neutra, est sempre sujeita viso de mundo do pesquisador, com seus pr-conceitos, suas crenas e sua cultura. Mesmo situaes que paream partir puramente da observao podem ser entendidas como profundamente culturais. Poderamos citar a famosa ma de Newton. A histria da queda da ma como sendo um gatilho para as investigaes sobre a gravidade (e a razo da lua no cair sobre ns como a fruta cai do galho da rvore) aponta para um interesse que vai muito alm do cientista como indivduo. Pois o fato que mas caem de rvores desde que macieiras existem. Apenas em um mundo que comea a valorizar a observao dos fatos como o local privilegiado do conhecimento faz sentido estudar a queda do objeto, buscando extrair do experimento as leis que movem o mundo. Na Idade Mdia, a queda de objetos faria mais sentido como vontade divina do que como lei quantificvel a ser investigada.

    Poderamos ainda acrescentar a essas quatro esferas do conhecimento mais duas, geralmente ausentes de manuais de metodologia o conhecimento jornalstico e o artstico. Quanto ao jornalstico, h um excelente artigo sobre o assunto, de autoria do Prof. Eduardo Meditsch (2005), que discute o lugar especfico do jornalstico como um conhecimento que vai alm da forma tradicional de v-lo, como estando entre o popular e o cientfico. J o artstico, tem sido bastante reconsiderado nas ltimas dcadas como recurso importante para a apreenso do mundo e atuao nele pela criatividade e pela fantasia. O espao artstico parece possibilitar formas de dizer algo sobre o mundo que no poderia ser dito da mesma forma por outros meios. Embora no haja espao para esta discusso aqui, um autor que defende o conhecimento artstico como fundamental Edgar Morin. Vale a pena conferir suas ideias em seu livro A cabea bem-feita (2003).

    Dito isto, falemos um pouco do mtodo cientfico.

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    1. 2 O MTODO CIENTFICO

    Podemos definir mtodo como um caminho a ser percorrido. Este caminho est presente em vrias reas da atividade e do conhecimento humanos. H certamente a necessidade de um mtodo de ao no mundo dos negcios, por exemplo, mesmo que os passos a serem seguidos no sejam teoricamente explicitados, dependendo mais da intuio ou do conhecimento prtico da pessoa envolvida. Em nossas atividades cotidianas, tambm fazemos constantemente uso de mtodos que, muitas vezes, passam despercebidos por nosso ser consciente. Basta lembrarmo-nos de quantas vezes algum nos revelou, para a nossa surpresa, alguma mania nossa, marcada por um mtodo, ou como percebemos no outro formas de agir bastante metdicas que lhe so invisveis, to invisveis que, em alguma situaes, podem causar constrangimento se reveladas.

    O que caracteriza, ento, o mtodo cientfico? Um elemento que definitivamente o constri a sequncia racional das aes que constituem este processo ou caminho. H, para falar de outra forma, uma organizao lgica entre os vrios momentos de uma pesquisa cientfica, que planejada e alterada de acordo com as necessidades impostas pelo prprio processo. Se devermos desenvolver um trabalho de campo sobre as tendncias polticas de determinado eleitorado, h um processo, ou mtodo, que depende, para o sucesso da pesquisa, de um estudo detalhado deste eleitorado, que permita a elaborao de questes pertinentes e das quais possamos extrair material suficiente para possveis generalizaes, sempre limitadas pelo escopo da pesquisa. Mas tambm se deve fazer um estudo das metodologias estatsticas disposio, para que detenhamos um repertrio suficiente para uma escolha adequada s necessidades do trabalho a ser realizado. O mtodo dever ainda determinar as formas de coleta dos dados, sua organizao, seleo e classificao, sempre tendo em vista uma concluso satisfatria. A razo, ento, ou a lgica racional, um elemento indispensvel para um mtodo cientfico bem elaborado.

    Mas a filosofia tambm faz uso de um mtodo racional. Ento, outro elemento distintivo deve ser considerado, uma vez que h uma diferena real entre o mtodo filosfico e o cientfico. O que torna a cincia cientfica um mtodo que una a razo observao dos fatos. A razo compartilhada pela cincia e pela filosofia; a observao emprica, por sua vez, comum cincia e ao conhecimento popular. Contudo, razo e observao juntas constituem

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    a marca do mtodo cientfico. Isso no significa que devamos necessariamente fazer uso do mtodo cientfico (razo + observao) em nossa pesquisa acadmica. H reas de pesquisa acadmica que trabalham sobre hipteses no verificveis, aproximando-se de linhas de um mtodo filosfico. Outras reas dependem tanto do mtodo cientfico como do filosfico para desenvolverem seus trabalhos. Seria interessante, agora, discutirmos o que seria o mtodo indutivo e o dedutivo, para ento retomarmos a questo de sua aplicabilidade.

    1. 3 DEDUO E INDUO

    Talvez, de forma genrica, possamos dizer que o mtodo dedutivo seja o corao da filosofia, e o indutivo, o da cincia. A diferena essencial entre ambos o movimento do pensamento lgico que, no primeiro caso, move-se do geral para o especfico e, no segundo, do especfico para o geral. O silogismo aristotlico, como formulao bsica da deduo, o exemplo mais frequente a que recorremos para exemplificar este encadeamento lgico de ideias:

    Todo ser humano mortal.

    Sou um ser humano.

    Portanto, sou mortal.

    As trs partes deste raciocnio so nomeadas premissa maior, de carter geral, premissa menor, especfica, e concluso. Parte-se do que aceito como verdade geral, de um axioma, para, atravs de uma premissa intermediria e especfica, chegar-se a uma concluso tambm verdadeira. O pensamento, movendo-se do geral conhecido sua concretizao, tem como um de seus fundamentos o conhecimento do mundo especfico a partir das leis que o regem.

    Como o encadeamento dos trs momentos do silogismo fundamentalmente racional, uma falsa lgica pode causar a impresso de verdade no que falso ou parcialmente falso:

    Co que ladra no morde.

    Este co ladra.

    Portanto, no morde.

    O erro, tomar o provrbio, de fundo moral, como axioma, pode levar a uma bela mordida na perna. Neste caso, a primeira premissa falsa, por no comportar, em sua generalizao,

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    uma verdade ou mesmo algo que se aproxime de uma verdade h muitos ces que ladram e mordem. Pode acontecer da lgica que articula as premissas no ser correta, ou ser ambgua, produzindo um raciocnio distorcido da realidade:

    A natureza movida pela lei do mais forte.

    Eu sou mais forte.

    natural que eu te domine.

    O erro lgico aqui advm do fato do ser humano no ser movido unicamente por foras instintivas, mas possuir cultura e poltica. Em sociedades complexas como a nossa, a fora, muitas vezes, provm de privilgios sociais que garantem sua legitimidade institucional. De outro lado, a mera aplicao da fora fsica para a dominao do outro pode levar o indivduo a atos passveis de penalizao, o que no ocorre na natureza.

    O pensamento dedutivo foi retomado na modernidade por Descartes. Sua nova estruturao lgica, mais complexa, parte de uma evidncia que ento analisada atravs de sua fragmentao. A anlise busca localizar e isolar as partes constitutivas do objeto de estudo para reconstruir o todo atravs da sntese. Esta uma forma de conhecimento mais profundo da evidncia. Como a evidncia, neste caso, pode ser hipottica, a ser ou no confirmada pela anlise, o mtodo possui grande potencial para a pesquisa. usado, sobretudo, quando o estudo parte de formulaes gerais j aceitas socialmente ou na comunidade cientfica. Tambm faz parte de toda pesquisa de raiz filosfica, corrente de pensamento construda a partir da formulao de hipteses sobre as quais encadeamentos lgicos complexos das ideias so construdos. Profundamente racional, o mtodo dedutivo pode atingir graus bastante abstratos, caso o encadeamento lgico no esteja de alguma forma atrelado ao mundo vivido da experincia sensvel.

    A induo apresenta um movimento oposto de apreenso da realidade ao da deduo e

    parte intrnseca da nova cincia, em sintonia com a proposta humanista do mergulho no real sensvel. O que mudou, entre tantas coisas, foi a prpria concepo do real. Como vimos acima, ao comentarmos o interesse de Newton pelas leis que movem o mundo sensvel, desde que mas existem, elas caem das rvores quando maduras. Esta uma evidncia que poderia criar um silogismo simples: toda a ma madura, salvo se for antes arrancada

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    ou devorada por algum animal, cai da rvore. Esta uma ma madura presa a uma rvore. Portanto, dadas as ressalvas anteriores, cair. O exemplo apenas para chamar a ateno ao fato de que a evidncia esteve sempre presente por toda a histria do ser humano. Porm, num determinado perodo histrico, denominado humanismo, parte de um movimento mais amplo de ascenso da classe burguesa, que emerge o interesse por investigar esta evidncia, vista como fenmeno a ser estudado. A diferena em relao ao pensamento dedutivo que agora no se parte de uma hiptese pr-estabelecida. a anlise dos elementos constitutivos do fenmeno que vai tornar possvel a induo de hipteses. A reproduo do fenmeno em condies controladas o experimento permite a contnua verificao das hipteses induzidas e sua reformulao constante. Quando a quantidade e a qualidade dos experimentos permitem a formulao de uma forte tendncia, esta examinada at que alcance o grau de generalizao de uma lei geral. Contudo, esta lei geral, se genuinamente cientfica, no tem a pretenso de ser Verdade Eterna, uma vez que novos estudos, realizados pelo mesmo pesquisador ou por outros na mesma poca ou em pocas posteriores, pode mostrar as limitaes ou mesmo os erros desta generalizao, produzindo novas leis gerais.

    H pouco espao para o purismo quando falamos desses mtodos. O mtodo indutivo, quando se estruturou como cincia, foi muitas vezes considerado o nico capaz de revelar a verdade do mundo, como diz Francis Bacon no aforismo XIV de seu Novum Organum:

    O silogismo consta de proposies, as proposies de palavras, as palavras so o signo das noes. Pelo que, se as prprias noes (que constituem a base dos fatos) so confusas e temerariamente abstradas das coisas, nada que delas depende pode pretender solidez. Aqui est por que a nica esperana radica na verdadeira induo.

    Porm, dizer que devemos ser totalmente indutivos para podermos realizar o ideal de uma cincia imparcial uma grande utopia, uma vez que no h pesquisador que possa remover, de sua pesquisa, seus conhecimentos, interesses e perspectivas de ordem cultural. Como vimos, o prprio fato de se olhar de forma diversa a ma caindo de uma rvore no fruto da genialidade de um homem, mas de um interesse coletivo gerado por uma nova concepo de mundo a verdade no estava mais nos desgnios msticos de Deus, mas na observao dos fenmenos para o descobrimento das leis que movem o mundo fsico. No se deve partir do pressuposto de que s a induo vlida tudo depende da rea de atuao da pesquisa e da corrente crtica que se segue. A arqueologia, por exemplo, tem nas evidncias

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    encontradas, nos stios arqueolgicos, material para muita pesquisa indutiva, mas no pode se privar da construo de hipteses que preencham os espaos vazios entre o que se tem para observao e formas de vida de uma poca histrica inacessvel em sua totalidade.

    A que tudo isso nos serve? O importante que tenhamos conscincia do que estamos fazendo. Nossa pesquisa parte do geral ou do especfico? O que queremos provar? H a necessidade da formulao de hipteses a serem testadas? Qual o caminho metodolgico que nossa pesquisa percorrer? Haver levantamento de dados? Como se realizar a anlise dos dados? De forma quantitativa, qualitativa, ou ambas? Quanto mais claras essas questes estiverem em nossa mente, mais provvel ser que produzamos um trabalho de qualidade. Saber se o argumento percorre o caminho da generalizao ou da especificao, e como o faz, possibilita que mantenhamos clara a espinha dorsal de nosso texto, no criando monstruosidades em sua forma.

    1. 4 TRABALHOS DE DIVULGAO E TRABALHOS COMPARATIVOS

    Mas necessrio que o argumento de um artigo seja sempre dedutivo ou indutivo? No. Um artigo cientfico pode seguir outros modelos. H bons artigos que funcionam como material de divulgao. Pega-se um livro importante e difcil, por exemplo, e aps uma leitura e anlise atentas do material, escreve-se um artigo explicitando o argumento central do livro, como ele se insere na obra do autor, como se insere na discusso teorica da qual faz parte, etc. Esse trabalho, de carter didtico, relevante e bastante til, dada a impossibilidade de tempo para lermos tudo o que nos interessa. H teses de mestrado, e mesmo de doutorado, que funcionam nessa linha, situando determinada obra no trabalho do autor e/ou no desenvolvimento de teorias em determinada poca e local. Em uma entrevista para o programa de radio Radioscopie,1 em sete de fevereiro de 1973, Jean-Paul Sartre faz um comentrio interessante sobre os trabalhos de divulgao de seus escritos por outras pessoas.

    No entanto, concordo que minhas obras filosficas no so, na verdade, legveis a no ser por filsofos. No entanto, pela mediao, elas atingiro o povo, pelos homens que a lero e daro a ela uma forma mais acessvel. Notei muitas vezes,

    aps escrever, que h pessoas que escrevem melhor. Os professores, por ex-

    1 Entrevista realizada em 7 de fevereiro de 1973 por Jacques Chancel em seu programa Radios-copie. Texto original (em francs) disponvel em: http://www.sartre.ch/Radioscopie.pdf

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    emplo, que explicaram melhor o existencialismo, que eu no expliquei em O ser e o nada. Simplesmente porque, naquele momento, talvez fosse necessrio inventar, compreender as coisas novas.

    O trecho esclarece a importncia do trabalho de divulgao, tanto para fins pedaggico-escolares quanto para enriquecer a discusso no prprio meio cientfico-acadmico. Se o trabalho for srio, certamente ser bem recebido.

    Outro tipo de artigo que no implica necessariamente na utilizao dos mtodos de induo e deduo o trabalho de comparao e enfrentamento entre teorias. Tambm de grande relevncia no meio acadmico, permite mapeamentos bastante frutferos de discusses tericas. Muitas vezes cedemos a um ecletismo vulgar, que aproxima teorias que so, na verdade, diametralmente opostas. Trabalhos comparativos srios permitem que compreendamos melhor o que est em jogo em teorias as mais diversas, o que est sendo defendido e o que est sendo questionado. Toda teoria uma interveno em uma discusso, embora muitas vezes no explicitada. Uma pesquisa desse tipo pode contribuir muito para o amadurecimento intelectual do pesquisador.

    2. AS CINCIAS NATURAIS E AS CINCIAS HUMANAS

    Como vimos, a cincia moderna inicia-se no humanismo como fundamentalmente emprica, atenta aos fatos, ao seu isolamento, sua repetio e sua anlise com o objetivo de deles extrair leis gerais que os descrevam. O seu potencial foi e extraordinrio basta vermos o desenvolvimento surpreendente das mquinas, que caminharam desde os primeiros relgios e teares mecnicos at os nossos sofisticados computadores, motores automotivos, etc. Mas essa forma de ver o mundo encontrou, sobretudo no sculo XIX, com o surgimento da sociologia e da psicologia modernas, dificuldades bastante grandes na transposio de um conhecimento acumulado por meio de um estudo das foras da natureza para o estudo do comportamento humano. O homem no apenas natureza, movido por interesses e desejos em dinmica constante, dadas as relaes sociais que constroem sua identidade. Assim, se possvel formular uma lei que descreva com exatido fenmenos causados pela gravidade em todo o planeta e mesmo em outros astros, muito mais difcil criar frmulas que dem conta do comportamento psicolgico humano ou que determinem com preciso o movimento da economia.

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    Diante disso, novas construes tericas foram desenvolvidas, gerando por vezes uma grande disparidade entre as cincias naturais e as humanas, ou entre as cincias humanas baseadas nas teorias das cincias naturais e as cincias humanas mais preocupadas em entender o espao no-natural (sociolgico, histrico, poltico e cultural) do homem. Deve-se ter em mente essa diferena, para que no se corra o risco de avaliar erroneamente uma teoria, exigindo fundamentaes que no so parte de seu ncleo duro. Por exemplo, a histria no pode ter a preciso da fsica mecnica. Se s vezes aspira a essa exatido, corre o risco de destruir o objeto que estuda o ser humano em prol de uma regularidade que, embora possa responder por certas tendncias da histria, no pode dar conta de toda a realidade do ser humano. Um dos grandes avanos na historiografia moderna, por exemplo, foi o questionamento da viso tradicional da histria como uma histria construda pela ao de grandes homens que sucedem uns aos outros em um movimento contnuo em direo ao futuro. O questionamento desse ideal teleolgico (o telos do progresso, um caminho que seria marcado pelo avano tecnolgico e do processo civilizatrio) feito, nessa nova historiografia, pela constatao de que a histria no um caminho rumo ao progresso, mas uma sequncia de lutas. Os que ganham e marcam seu lugar na histria no so necessariamente os melhores, mas os mais fortes, com mais recursos, com mais homens e/ou mais estratgia. Essas qualidades, to vinculadas ao ideal de guerra, no so necessariamente as qualidades que possibilitariam o progresso tico-moral do ser humano, por exemplo. A obra que melhor ilustra essa nova historiografia A formao da classe operria inglesa, de E. P. Thompson, contando a histria da classe operria como uma sequncia de luta, de vitrias e de perdas, sempre opondo seus ideais de comunidade aos ideais individualistas burgueses. No caso em questo, a fora da obra est no fato das generalizaes no passarem por cima do levantamento de dados, mas serem construdas a partir deles ou como hipteses a serem neles testadas.

    Dependendo da rea de pesquisa em que estamos envolvidos, critrios tanto metodolgicos quanto da exposio dos argumentos mudam. Se, por exemplo, trabalhamos com um tema que procura articular certa corrente poltica com as foras culturais de determinada sociedade, essa relao cultura/poltica no pode ser transformada em nmeros exatos, nem ser prevista com grande acuidade, como pode ser prevista a velocidade de um corpo caindo em condies especficas determinadas. Da mesma forma, com todo o conhecimento exato dos

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    elementos qumicos que agem no nosso corpo, a medicina no pode assegurar a cura total de uma doena. So tantas as foras determinantes, nas quais entra, inclusive, a disposio psicolgica do doente em se curar, que qualquer afirmao categrica pode se mostrar falsa.

    A induo e a deduo, dessa forma, embora marcadas pelo pensamento cientfico e pelo filosfico respectivamente, esto ambas presentes, em graus variados, nas pesquisas mais diversas. As cincias exatas podem ser muito dedutivas, especialmente quando atingem um alto grau de abstrao. A matemtica um bom exemplo de uma rea que permite tanto estudos indutivos quanto estudos altamente dedutivos, quando as relaes internas entre os nmeros ganham autonomia, distanciando-se do mundo emprico. Do mesmo modo, a economia pode ser estudada indutivamente, colocando prova teorias existentes e produzindo outras a partir de pesquisas de campo, ou se fechar em amplos mapeamentos de ciclos histricos que se baseiam mais em equaes matemticas do que em um conhecimento do comportamento humano. As cincias humanas enfrentam constantemente essa dificuldade da presena de concepes bastante diversas, umas se aproximando das cincias naturais, com a produo de leis mais fixas e quantificveis, aos poucos se distanciando do ser humano concreto, e outras procurando entender o ser humano no mundo, com trabalhos de campo mais empricos e amarrados ao mundo concreto.

    3. PROBLEMAS COMUNS

    O artigo de concluso do nosso curso de especializao, dessa forma, pode percorrer tanto uma via mais dedutiva quanto uma mais indutiva. Contudo, o que deve estar sempre em pauta no momento da pesquisa e da escrita que, independentemente do caminho metodolgico tomado, o argumento tem de ser movido por critrios lgico-racionais. Vimos no incio dessa aula os tipos de conhecimento. Tanto o religioso quanto o popular no podem ser pilares de sustentao de nosso argumento. Dizer que o lder deve ser persistente, justo e sincero, por exemplo, algo de uma generalidade gritante. Uma pesquisa que se proponha a trabalhar com essas qualidades teria que, por exemplo, examin-las em situaes e momentos histricos especficos quais as caractersticas de persistncia que contribuem para uma boa gesto em uma empresa familiar? Como fazer com que a empresa X, que implantou uma gesto estratgica mais arrojada h cinco anos, solucione problemas em sua gesto, ainda

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    amarrada a ideais de persistncia mais funcionais em uma hierarquia vertical? Estes so problemas especficos que podem ser trabalhados de forma lgico-indutiva.

    Mantendo o exemplo do lder, outro problema frequente o da falta de mtodo. comum que alunos venham com uma listagem de qualidades do lder, por exemplo, tiradas de algum livro sobre o assunto, mas sem organizar o seu trabalho seja dedutivamente, mostrando como essas qualidades se resolvem na prtica, modificando-se em situaes especficas diversas, seja indutivamente, mostrando como a prtica pode ser generalizada em certas tendncias mais amplas, os itens expostos, mas sempre como generalizaes que no podem ser simplesmente aplicadas como se fossem uma panaceia para todos os males. Temos de ter em mente que teorias so sempre generalizaes e, consequentemente, sempre redutivas. So traos gerais retirados dos objetos de estudo a partir de um ponto de vista especfico, nunca abarcando o objeto em sua completude. Uma teoria que desse conta de toda a realidade no seria mais teoria, mas a realidade propriamente dita. Faamos uso de teorias, mas para tal preciso que trabalhemos com um mtodo de aplicao; coloquemo-nas em xeque, mas trabalhando indutivamente ou comparando-as com outras teorias.

    Vamos pensar

    A partir do que foi apresentado nesta aula, comece a pensar em um tema que gostaria de pesquisar. Pense na importncia deste tema e faa uma pergunta de pesquisa para a temtica que escolheu.

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    Vimos nesta aula os seguintes pontos importantes:

    A Verdade da cincia

    Os tipos de conhecimento

    As caractersticas da cincia

    Referncias

    ALVES, Rubem. Filosofia da cincia. So Paulo, Ars Potica, 1996.

    BACON, Francis. Ovum Organum. Arquivo eletrnico. Site: TRIPLOV.com.org. Disponvel em: http://www.triplov.com/hist_fil_ciencia/francis_bacon/novum_organum/index.htm Acesso em: 23 jun 2013.

    CERVO, A. L. & Bervian, P. A. Metodologia Cientfica. So Paulo: Makron Books, 1996.

    DANTON, Gian. Metodologia Cientfica. MG: Virtual Books, 2002. Disponvel em: http://virtualbooks.terra.com.br/osmelhoresautores/Metodologia_cientifica.htm Acesso em: Acesso em: 12 abr 2013.

    LAKATOS, E. Maria & MARCONI, Marina de Andrade. Fundamentos de Metodologia Cientfica. So Paulo: Atlas, 1991.

    MEDITSCH, E. O jornalismo uma forma de conhecimento? Media & Jornalismo, Brasil, v. 1, n. 1, 2005. Disponivel em: http://revistas.univerciencia.org/index.php/mediajornalismo/article/view/1084/5273. Acessado em 28 jun 2013.

    Edgar MORIN. A cabea bem-feita. RJ: Ed. Bertrand Brasil LTDA, 2003.

    RODRIGUES, Andr Figueiredo. Como elaborar citaes e notas de rodap. SP: Humanitas, 2007.

    ______ . Como elaborar e apresentar monografias. SP: Humanitas, 2008.

    ______ . Como elaborar referncia bibliogrfica. SP: Humanitas, 2008.

    SIMES, Darclia. Trabalho acadmico. O que ? Como se faz? Rio de Janeiro: Dialogarts, 2004.

    Pontuando

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    Disponvel em: http://www.dialogarts.uerj.br/arquivos/trabalhoacademico2004.pdf Acesso em: 12 abr 2013.

    Referncias

  • seesLEGENDA DE CONESIncio

    Links Importantes

    PontuandoVdeos

    Importantes

    Referncias

    Vamos pensar

    Aula 02 : Normatizao

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    02

    NormatizaoObjetivos

    Auxiliar o aluno na formatao e normatizao de seu artigo cientfico.

    Expor a formatao e normatizao de artigos cientficos.

    1. O Formato Sare

    Os artigos cientficos resultantes de sua pesquisa devem seguir alguns padres e normatizaes vigentes. Veremos nesta aula algumas destas normas.

    A primeira forma a do SARE (Sistema Anhanguera de Revistas Eletrnicas), voc deve seguir esta formatao somente se quiser publicar seu artigo nas revistas da Anhanguera Educacional. Se no for o que pretende, deve seguir as demais normatizaes e a estrutura descrita em seu Manual de TCC.

    O formato SARE est disponvel para download. O acesso direto ao documento pode ser feito pelo link Modelo_Artigo_AESA.doc. O texto desse arquivo uma explicao detalhada de como o modelo funciona. Contudo, como a formatao possui sees diversas para o ttulo, subttulo e texto, seu uso pode apresentar problemas para pessoas que no esto muito familiarizadas com os recursos do Word. Algumas dicas podem tornar o seu manuseio bastante simples. Primeiro trataremos dos textos escritos diretamente no SARE, e depois discutiremos o problema da importao de documentos para esse formato.

    2. Escrevendo no Sare

    Como dito acima, o SARE possui estilos diversos para formataes diversas. Todos esses estilos podem ser selecionados no cone estilo do Word. Essa ferramenta oferece acesso direto a toda a formatao do texto, como vemos a seguir:

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    Figura 1: Tela de Estilos I

    Clicando sobre o cone subseo, por exemplo, temos o formato automaticamente selecionado no texto. Toda a formatao do SARE est l, incluindo a formatao dos itens, numerao, legendas, etc. Se o cone mostrar visualizao for pressionado, voc tem acesso inclusive ao estilo real da fonte, como na imagem a seguir:

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    Figura 2: Tela de Estilos II

    Com um pouco de prtica, este recurso pode ser usado com muita facilidade.

    Contudo, podem permanecer algumas dvidas quanto formatao do arquivo. Faremos ento uma descrio de como o SARE funciona, apontando problemas que possam ocorrer e maneiras de se formatar o texto manualmente.

    Comecemos pelo ttulo e pelo subttulo. O SARE possui formataes especficas para o ttulo e para o subttulo. O ttulo, em abbora (cor personalizada) e fonte arial narrow tamanho 14, no aceita letras minsculas. O subttulo, em arial 12, deve ser escrito com as primeiras letras em maisculo, com exceo de artigos, preposies e conjunes. Uma forma de se

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    trabalhar com essa formatao digitar no prprio ttulo disponvel no modelo, excluindo o que est escrito. Quem for utilizar este sistema, deve guardar um ttulo e um subttulo para que, sempre que necessrio, corte-o e cole-o no lugar devido. Abaixo um exemplo de como isso pode ser feito:

    3. Ttulo para Uso Posterior

    3. 1 Subttulo para Uso Posterior

    A numerao automtica. Uma vez colado o ttulo ou o subttulo, a numerao ser reorganizada de acordo com as sees e subsees do texto. Para comear a escrever, basta pressionar e a fonte muda para book antiqua tamanho 11. O primeiro pargrafo no possui paragrafao. A partir do segundo, a paragrafao passa a ser 1,5. Esse ajuste tambm automtico:

    3. 2 Ttulo

    O primeiro pargrafo se inicia colado margem esquerda.

    O segundo pargrafo se inicia com recuo esquerdo de 1,5cm. O mesmo ocorre com o subttulo.

    Pode-se proceder da mesma forma para o ttulo e subttulo do artigo basta selecionar o texto e escrever sobre ele. No final do modelo, h espao para agradecimentos e depois para as referncias bibliogrficas. Mantenha o formato original essas sees no so numeradas.

    Quanto a tabelas e figuras, o ttulo deve ser colocado acima das tabelas e abaixo da figuras. Corte e cole as frases abaixo, j com a formatao correta para o SARE (tabela: Times New Roman tamanho 10, espaamento simples, 6 pt antes e 3 pt depois; figura: Times New Roman tamanho 10, espaamento 1,5 linhas, 3 pt antes e 3 pt depois).

    Tabela 1 Exemplo de um Ttulo para uma Tabela.

    Figura 3 Exemplo de uma imagem inserida no artigo.

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    H no arquivo SARE um modelo de grfico. Use a formatao indicada, acrescentando ou eliminando linhas e colunas conforme a necessidade.

    Quanto ao cabealho, no topo da pgina pode-se ler, no arquivo do formato SARE, ttulo do artigo nas pginas pares e nome do autor nas pginas mpares. Para modificar o texto, basta clicar duas vezes sobre o cabealho, selecionar o trecho e digitar os dados por cima. O procedimento deve ser realizado em uma pgina par (ttulo) e em uma pgina mpar (autor). A formatao automtica (letra arial tamanho 8, espaamento simples, antes 30 pt, depois 0 pt). Deve-se manter a formatao pedida no ttulo, somente substantivos prprios devem vir com a primeira letra em maisculo.

    Na primeira pgina, canto esquerdo, h a frase nome da revista. Seu preenchimento ser realizado apenas em caso de publicao. Acerte apenas o ano. Na parte autor, coloque seu nome, unidade e email:

    autor

    afiliao autor

    emailautor@dominio

    Andr Luiz Glaser

    Anhanguera Educacional

    Unidade Brigadeiro

    [email protected]

    No caso de mais de um autor, basta repetir o procedimento. Porm, no se deve colocar na parte co-autor o nome do orientador. O orientador no co-autor! Pode-se colocar o nome do orientador em nota de rodap ou na seo agradecimentos.

    3. 3 Importando Documentos para o SARE

    H vrias situaes em que essa importao se faz necessria, as mais comuns sendo quando h textos escritos anteriormente, e no caso de citaes diretas. A importao de documentos para o arquivo do SARE pode ser feita de duas formas: pr-formatando o documento ou o colando no SARE, selecionando-o e ento escolhendo, na seo estilo, o estilo apropriado.

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    Esta ltima a forma mais simples, mas, para os que queiram trabalhar manualmente, abaixo sero explicados os passos para a formatao.

    Antes de cortar o documento, devem ser realizados os seguintes procedimentos:

    O texto deve ser justificado e formatado em espao 1,5 cm com a letra book antiqua tamanho 11. Em seguida, deve-se entrar na seo pargrafo do Word para formatar as margens. O novo padro :

    RECUO: esquerda 1, direita 0.

    ESPAAMENTO: antes 3 pontos, depois 3 pontos (provavelmente os nmeros devero ser digitados o procedimento automtico pula de 0 para 6 pontos). Para isso, no Word 2007, o cone incio deve ser clicado (barra de ferramentas no topo) e, em seguida, o cone pargrafo. Na verso antiga, deve-se procurar o cone formatar pargrafo. O texto, ento, deve ser transferido em blocos (subsees), cortando e colando no SARE.

    O resumo e o abstract possuem letra book antiqua tamanho 10 e espaamento simples entre as linhas (incluindo as palavras-chave). A formatao :

    RECUO: esquerda 0, direita 0.

    ESPAAMENTO: antes 0 pontos, depois 12 pontos (No caso das palavras-chave, o espaamento antes 0 pt, depois 0 pt.

    A Bibliografia possui a mesma letra das pginas do texto, mas em fonte tamanho 10 e espao simples sem justificao. As margens e espaamento so:

    RECUO: esquerda 1, direita 0.

    ESPAAMENTO: antes 3 pontos, depois 3 pontos

    Se, ao colar o texto, a formatao aparecer como a da seo ttulo ou subttulo, basta pressionar o cone para voltar este passo, digitar qualquer letra no novo pargrafo, colar novamente e depois apagar a letra. Isso pode ocorrer quando o texto a ser colado vier logo aps um ttulo ou subttulo. Vamos ao exemplo. Quero importar um pargrafo de um texto sobre traduo. Ao colar o documento j formatado como especificado acima, logo aps o ttulo da seo (A traduo hoje), tenho esse resultado:

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    4. A Traduo Hoje

    Ao falarmos de traduo, no estamos discutindo uma esfera autno-ma, capaz de estabelecer sua prpria problemtica como inerente ao seu campo de ao, excluindo-se, mesmo que parcialmente, a estrutura social mais ampla. Assim, torna-se ingnuo discutir um grau de objetividade que permita gerar uma traduo imparcial.

    Vejam que o pargrafo foi incorporado ao texto com a formatao do ttulo, ou seja, o modelo SARE no reconheceu que se trata de uma nova seo. A forma mais prtica de resolver este problema seria digitar qualquer letra, ou mesmo espao, antes da colagem:

    4. 1 A Traduo Hoje

    Z Ao falarmos de traduo, no estamos discutindo uma esfera autnoma, capaz de estabelecer sua prpria problemtica como inerente ao seu campo de ao, excluindo-se, mesmo que parcialmente, a estrutura social mais ampla. Assim, torna-se ingnuo discutir um grau de objetividade que permita gerar uma traduo imparcial.

    Aps o procedimento, no se esquea de apagar o caractere ou espao includo, neste caso, a letra Z.

    4. 2 Algumas Dicas de Formatao

    O artigo deve ser impresso em papel A4, impresso em preto (exceto imagens, grficos, etc.) e, ao menos at o momento, em apenas um lado do papel. No h restries explcitas ao uso do papel reciclado, mas vale pena checar se a instituio permite o seu uso. Como o artigo ser entregue no formato SARE, a sua formatao j est pronta, e no h, para impresses de arquivos nesse formato, folha de rosto. O artigo final deve ser entregue em encadernao plstica (frente transparente), em espiral.

    No caso de trabalhos de mdulo com a formatao tradicional, as margens so: esquerda 3 cm, direita 2 cm, superior 3 cm, e inferior 2 cm. Os pargrafos devem ser justificados e a

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    paginao no canto superior direito. Utilize espao 1,5 e, preferencialmente, as letras Times New Roman ou Arial. Para a formatao da Falsa Folha de Rosto, da Folha de Rosto e do Sumrio consulte o site Fazendo Acontecer, que apresenta figuras para facilitar o uso das ferramentas do Word, ou qualquer material similar. O resumo e o abstract devem vir com espao simples e devem ser seguidos pelas palavras-chave e keywords (de trs a seis).

    5. O Problema do Plgio

    O plgio merece uma seo parte, dada a sua frequncia nos trabalhos acadmicos nos dias de hoje. O uso constante do computador, e, sobretudo, da internet, tem gerado uma cultura corta e cola inaceitvel do ponto de vista acadmico, mas cada vez mais frequente nas atividades escolares, desde trabalhos de menor porte at monografias, dissertaes e teses. surpreendente que isso ocorra, visto que o trabalho intelectual no s no contra o dilogo com outros textos, mas o recomenda vivamente. Basta que as referncias sejam colocadas para que o plgio deixe de existir. O plgio consiste, basicamente, na apropriao indevida do texto ou ideias do outro. Como nos lembra o advogado e professor Jos Augusto

    Paz Ximenes Furtado, em artigo publicado no Site Jus Navigandi, em setembro de 2002:

    No Cdigo Penal em vigor, no Ttulo que trata dos Crimes Contra a Propriedade Intelectual, ns nos deparamos com a previso de crime de violao de direito autoral artigo 184 que traz o seguinte teor: Violar direito autoral: Pena de-teno, de 3 (trs) meses a 1 (um) ano, ou multa. E os seus pargrafos 1 e 2, consignam, respectivamente:

    1 Se a violao consistir em reproduo, por qualquer meio, com intuito de lu-cro, de obra intelectual, no todo ou em parte, sem autorizao expressa do autor ou de quem o represente, (...): Pena recluso, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa, (...).

    2 Na mesma pena do pargrafo anterior incorre quem vende, expe venda, aluga, introduz no Pas, adquire, oculta, empresta, troca ou tem em depsito, com intuito de lucro, original ou cpia de obra intelectual, (...), produzidos ou re-produzidos com violao de direito autoral.

    Um pouco adiante, o Professor Furtado lembra que a Constituio Federal diz, em seu artigo 5, XVII, que:

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    [...] aos autores pertence o direito exclusivo de utilizao, publicao ou re-produo de suas obras, (...). E a devida proteo legal em legislao ordinria ns a encontramos na Lei n 9.610/98, mais precisamente nos seus artigos 7, 22, 24, I, II e III, e 29, I.

    Porm, a citao com as devidas referncias no constitui plgio:

    Mas, se a prpria Lei acima citada, nos informa, no seu artigo 46, III, que no se constitui ofensa aos mencionados direitos, a citao em livros, jornais, revistas ou em qualquer outro meio de comunicao, de trechos de qualquer obra, desde que sejam indicados o nome do autor e a provenincia da obra, aonde consta-taremos a incidncia dessa contrafao (reproduo no autorizada) to grave, especificamente entendida na sua forma conhecida como PLGIO? Exatamente no modo como o plagirio se apossa do trabalho intelectual produzido por out-rem.

    Ainda no mesmo artigo, o Professor Furtado cita ento, como abominvel, uma prtica muito comum no meio escolar:

    O plagirio recorre dolosamente aos expedientes mais sutis, porm no menos recriminveis, e no reluta em fazer inseres, alteraes, enxertos nas ideias e nos pensamentos alheios, muitas vezes apenas modificando algumas palavras, a construo das frases, a fim de ludibriar intencionalmente e assim prejudicar, de forma covarde, o trabalho original de algum e ofendendo os direitos morais do seu verdadeiro autor.

    O assunto da maior seriedade, sobretudo pela aparente falta de informao dos alunos com relao ilegalidade do plgio. A cultura corta e cola mencionada acima, que ganha cada vez mais espao com o crescente uso dos computadores pessoais, no , em si, ilegal. Cortamos e colamos constantemente material para a nossa leitura diria, enviamos trechos copiados a amigos por email ou em redes sociais, cortamos e colamos partes de nossos prprios textos em nossos trabalhos. O uso contnuo desse recurso, contudo, nos induz a facilitarmos nossa vida, inserindo em nosso texto trechos retirados de outras fontes sem colocarmos as devidas referncias. H casos piores, e infelizmente frequentes, em que, como comentado na citao acima, o texto plagiado levemente modificado, em uma tentativa intencional de ludibriar o leitor.

    Uma vez detectado o plgio, o aluno ter de responder por ele. No vale a pena arriscar a ter um artigo recusado por conta de algumas pginas sem as devidas referncias. E mesmo que o aluno tenha sorte e o trabalho seja aprovado sem que o plgio tenha sido detectado, haver sempre a possibilidade de um leitor futuro conhecer a fonte original e denunciar o

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    autor. Hoje em dia, grande parte dos trabalhos de final de curso, ao invs de ser enviada para bibliotecas em forma de material impresso, alojada em bancos de dados de acesso aberto na internet. Um plgio pode vir a ser detectado mesmo anos aps sua publicao, podendo gerar processos e perda do ttulo adquirido.

    Como, ento, citar? As citaes podem ser literais ou livres (parfrases). Para as citaes literais, que consistem na importao do texto original sem alteraes, as aspas so usadas apenas se a citao for breve (at trs linhas). Se for longa (mais de trs linhas), deve-se usar um tamanho menor da fonte (no SARE, use book antiqua 9) e um espaamento menor entre as linhas (em geral, de 1,5 para 1,0). Em ambos os casos, a pontuao antes da citao a que melhor se adequar ao contexto. H duas formas de colocar as referncias: em nota de rodap e na forma autor-data. Embora a ABNT recomende ambas, a tendncia atual tem sido a de utilizar a forma autor-data. Nela, coloca-se entre parnteses o sobrenome do autor em letras maisculas, a data da publicao e, se o autor julgar necessrio, a pgina, sempre separados por vrgula. Se o sobrenome vier no corpo do texto, no se usam letras maisculas. Ex:

    a. Assim, define-se um novo gnero como sempre a transformao de um ou vrios gneros antigos. (TODOROV, 1980, p. 34)

    b. Segundo Todorov (1980, p. 34), um novo gnero sempre a transformao de um ou vrios gneros antigos.

    Se houver dois ou trs autores, devem ser separados com ponto e vrgula. Se houver mais de trs, usa-se apenas o primeiro sobrenome e, aps, a expresso latina et alli, mais comumente usada de forma abreviada: et al.

    Importante: Toda alterao feita em uma citao literal deve vir entre colchetes, seja ela uma omisso, um acrscimo ou uma alterao. Ex:

    a. Omisso: A viso conservadora, neste caso, est correta. [...] A ambiguidade do discurso mantm-se por toda a obra. (Aqui as reticncias marcam a omisso de uma parte do discurso original.)

    b. Acrscimo: Sua obra [a escrita em sua primeira fase, de 1890 at 1903], ape-sar de coesa, ainda no possua uma maturidade literria. (Aqui, o acrscimo clarifica ao leitor informaes que s seriam acessveis lendo trechos anteriores ao citado.)

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    c. Alterao: Segundo o autor, [o] livro se constituiu num marco do pensamento cientfico. (Aqui os colchetes marcam a alterao do o maisculo para o o minsculo).

    Se o texto original apresenta erros ortogrficos, problemas de coeso ou coerncia textuais, etc., no corrija. Coloque, aps a passagem, (sic).

    importante ter em mente que no apenas as citaes literais sem referncias so plgio, mas tambm as parfrases, que consistem na exposio, com as palavras do escritor, das ideias do outro. Essas exposies devem necessariamente conter, antes, aps ou durante sua execuo, as devidas referncias ao texto original. Evidentemente as parfrases, por no serem transcries literais, no viro entre aspas ou destacadas do texto, como no caso das literais. Mas no basta (e essa uma dvida comum dos alunos) citar a obra usada apenas nas referncias finais. Mesmo que o texto esteja nas referncias, se houver parfrase ou citao literal sem a devida indicao antes, durante ou depois da citao, h plgio. Aqui no h concesso possvel.

    A ttulo de ilustrao, vejamos como poderamos construir uma parfrase da citao do Professor Furtado j apresentada acima:

    O plagirio recorre dolosamente aos expedientes mais sutis, porm no menos recriminveis, e no reluta em fazer inseres, alteraes, enxertos nas ideias e nos pensamentos alheios, muitas vezes apenas modificando algumas palavras, a construo das frases, a fim de ludibriar intencionalmente e assim prejudicar, de forma covarde, o trabalho original de algum e ofendendo os direitos morais do seu verdadeiro autor.

    Uma opo de parfrase seria (no texto em que a parfrase for usada, como visto acima, no h recuo ou mudana no tamanho da fonte, alterados aqui por se tratar de um exemplo):

    Dentre os recursos ilcitos utilizados pelos plagiadores, o Professor Furtado (2002) cita as inseres e alteraes que modificam o sentido do texto. Tal ati-tude, entendida como recrimin vel e covarde, possui, seguindo o autor, uma inteno de ludibriar o leitor e infringe os direitos do autor.

    Outra opo, de leitura bastante agradvel se for bem feita, a mistura de parfrases e citaes literais breves:

    Dentre os recursos ilcitos utilizados pelos plagiadores, o Professor Furtado (2002) cita inseres, alteraes, enxertos nas ideias e nos pensamentos al-heios, manobras vistas como sutis, porm no menos recriminveis. Tal ati-tude, entendida como recriminvel e covarde, possui, segundo o autor, a in-

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    teno de ludibriar o leitor, simultaneamente prejudicando o trabalho original e ofendendo os direitos morais do seu verdadeiro autor.

    Outro problema bastante frequente que, caso citado incorretamente, tambm se configura como plgio, o da citao da citao, que tem de ser feita com o famoso apud. A citao da citao pode ocorrer tanto na forma literal quanto na forma de parfrase. Em ambos os casos, trata-se de citarmos um texto que j uma citao no original que lemos. Para que as referncias estejam corretas, preciso citar primeiro a obra e/ou o autor de onde foi extrado o texto e, depois, a obra consultada. Vejamos a definio e exemplos fornecidos pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS, s/d), que so, eles prprios, citao de citao (o texto se inicia com a seguinte informao: Meno de uma informao extrada de outra fonte. (ABNT, 2002, p.1):

    Citao de Citao

    Transcrio direta ou indireta de um texto em que no se teve acesso ao original, ou seja, retirada de fonte citada pelo autor da obra consultada.

    Indicar o autor da citao, seguido da data da obra original, a expresso latina apud, o nome do autor consultado, a data da obra consultada e a pgina onde consta a citao.

    Exemplo:

    Citaes curtas e inseridas no pargrafo:

    O homem precisamente o que ainda no . O homem no se define pelo que , mas pelo que deseja ser. (GOMENSORO DE SNCHEZ, 1963 apud SALVA-DOR, 1977, p. 160).

    Segundo o autor (SILVA, 1983 apud ABREU, 1999, p. 3) diz ser [...] a educao compreende desde [...]

    Citaes longas e destacadas no recuo de 4 cm.

    [...] com realidades como pobreza, menor escolaridade, menor acesso a opor-tunidades laborais, maior chance de sofrer explorao no trabalho, desemprego, alcoolismo, dificuldades na famlia e/ou na escola entre outras tantas problemti-cas as quais jovens de classe mdia. (FERNANDES apud RACOVSCHIK, 2002, p. 2).

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    Aula 02 | Normatizao

    Vejamos um ltimo comentrio sobre citao, um problema bastante frequente em trabalhos universitrios. O aluno, ao discutir um tema especfico, discorre sobre vrios autores e suas articulaes tericas sem t-los lido. O conhecimento desses autores foi realizado por meio de um livro que trata do assunto. Neste caso, no dar crdito para quem de fato realizou o rduo trabalho de ler obras completas de tericos para torn-los acessveis a um pblico mais amplo , no mnimo, muito desonesto. Se no se tratar de uma parfrase ou citao literal, informe o leitor que as informaes forma extradas do livro X, entre as pginas 34 e 67, por exemplo.

    6. Referncias Bibliogrficas

    Ao invs de repetirmos o que j foi escrito centenas de vezes, um domnio muito til para checarmos a formatao padro de trabalhos, que merece ser consultado frequentemente, o da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), que oferece o arquivo em verso PDF e HTML. Chamemos apenas a ateno para alguns tpicos frequentemente esquecidos pelos alunos:

    http://www.bu.ufsc.br/home982.PDF

    http://www.bu.ufsc.br/framerefer.html

    As referncias devem ser listadas pelo sobrenome do autor, que vem em letra maiscula. Quando h repetio do autor, ao invs de repeti-lo, deve-se usar um trao de seis caracteres. Na bibliografia deste texto, por exemplo, temos os seguintes exemplos:

    DEMO, P. Introduo metodologia da cincia. So Paulo: Atlas, 1991.

    ______. Metodologia cientfica em cincias sociais. So Paulo: Atlas, 1989.

    RODRIGUES, Andr Figueiredo. Como elaborar citaes e notas de rodap. SP: Humanitas, 2007.

    ______ . Como elaborar e apresentar monografias. SP: Humanitas, 2008.

    ______ . Como elaborar referncias bibliogrficas. SP: Humanitas, 2008.

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    inadmissvel a entrega de uma listagem de wwws. Se as referncias eletrnicas possurem autor, devem ser realizadas da mesma forma que um artigo impresso: nome do autor, ttulo, data se houver e, se for revista eletrnica, todos os dados pertinentes disponveis no site. Aps isso, deve-se usar a expresso Disponvel em: seguida do endereo eletrnico e a expresso Acesso em: seguida da data de acesso.

    Sites como a Wikipdia, embora muito teis para nossos trabalhos, no so bem vistos como referncias por no haver critrio de seleo para a publicao das informaes neles contidas. Se o aluno fizer uso de sites desse tipo, os bons artigos possuem links para sites mais confiveis, vinculados a universidades ou a revistas idneas. Opte sempre por referncias confiveis.

    As referncias impressas e as eletrnicas podem vir juntas ou separadas, escolha do autor. Caso deseje separ-las, o autor pode usar termos como Referncias Eletrnicas ou Referncias Webgrficas, por exemplo.

    A formatao do SARE para as referncias fonte book antiqua tamanho 10, espaamento simples com trs pontos antes e trs depois. No esquecer que, com exceo da primeira pgina, o formato SARE possui margem esquerda de 1cm.

    Para facilitar a vida do pesquisador, h um aplicativo desenvolvido pela UFSC que cria as referncias a partir da digitao dos dados. O site pode ser usado livremente. No h mais razo para a entrega de trabalhos com referncias fora dos padres.

    H uma infinidade de casos especficos que podem gerar dvidas ao pesquisador na hora da elaborao das referncias. A melhor coisa a fazer consultar boas referncias, como site aqui sugerido da UFSC, ou outros materiais disponveis. Para quem gosta de ter bons livros de consulta em casa, os livros de metodologia de Andr Figueiredo Rodrigues, professor da Anhanguera Educacional, so boas opes por um excelente preo.

    7. GERENCIAMENTO DO TEMPO

    Antes de discutirmos o projeto e o artigo, importante discorrermos um pouco sobre o gerenciamento do tempo. Como veremos na prxima aula, o pr-projeto possui uma seo dedicada ao cronograma. A construo do cronograma, porm, deve ser feita com bastante

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    Aula 02 | Normatizao

    cuidado, dando ateno tanto s necessidades da pesquisa propriamente dita quanto ao ritmo de trabalho do pesquisador. Em outros termos, precisamos nos conhecer. muito comum que alunos estabeleam prazos para ler uma quantidade grande de textos ou apresentar

    verses avanadas do trabalho que simplesmente no podero cumprir, seja por questes de tempo, seja por questes de disposio e organizao. Vamos tratar brevemente delas.

    Quanto ao tempo, cada um sabe quanto dele tem disponvel para o trabalho acadmico. Talvez a maior dificuldade esteja em uma certa segurana de que, se deixarmos para amanh o que faramos hoje, ainda haver tempo o suficiente para o trmino do trabalho. Essa segurana comum no incio das atividades, quando temos muitos meses para o trmino do artigo. Contudo, essa postura pode nos trazer problemas, porque praticamente inevitvel que o trabalho tome mais tempo do que o imaginado, principalmente se o aluno no est familiarizado com o trabalho acadmico. O resultado, em geral, muita presso no final do processo e um trabalho regular, quando um texto de mais qualidade teria sido possvel. Leituras e fichamentos demandam tempo, e no uma boa soluo deixar de fichar para economiz-lo, sobretudo em textos que sero, com muita probabilidade, usados, direta ou indiretamente, no artigo. Aps um tempo relativamente longo, tendemos a esquecer o que lemos (e mesmo onde lemos aquele pargrafo que resolveria muito do nosso problema, o que ainda mais frustrante).

    Uma boa dica programarmos o nosso crebro com um prazo final anterior ao prazo oficial. Terminar o trabalho um ou dois meses antes excelente, pois permite que ele seja relido aps duas ou trs semanas, perodo que contribui para que mantenhamos a distncia do texto que, na fase da escrita, muito difcil de ser alcanada. Horas sem dormir nos ltimos dias antes da entrega contribuem para que nosso rendimento caia drasticamente. Para retomarmos o tpico discutido anteriormente, fichamentos bem feitos permitem um ganho de tempo surpreendente na hora da escrita do texto final. Quanto mais material lido e fichado disposio, mais rapidamente construiremos nosso texto.

    Quanto disposio, seria ingnuo tentar traar tendncias universais, uma vez que pessoas diferentes podem apresentar variaes imensas neste tpico, ou a mesma pessoa em momentos diversos de sua vida. Em geral, para os que se sentem rapidamente desmotivados, um bom recurso a troca de atividades. Se a leitura no est rendendo, talvez valha pena ler outro texto que, embora tratando do mesmo tema, seja mais agradvel. Outras

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    opes seriam escrever, rever o que j foi escrito, buscar mais material na internet, assistir um vdeo sobre o assunto, em suma, fazer algo que permita que o trabalho continue fluindo. O contato prolongado com o tema fundamental para que nossa mente possa articular toda a informao recebida. S assim escreveremos como ns mesmos, a partir de nossa experincia. Claro que apenas quem faz as coisas com antecedncia pode desfrutar desse privilgio. Sob presso, h menos escolha.

    Uma organizao adequada de nossas atividades pode contribuir muito para uma boa disposio. Faamos uma listagem do que tem que ser feito, classificando as atividades em longas e curtas, e o que deve ser feito a curto, mdio e longo prazo. Uma boa planilha pode permitir mudanas de atividade que no afetem o andamento do trabalho, garantindo-nos aquele dia ou semana de folga merecidos, quando adiantamos as nossas tarefas. O estresse pode ser evitado com uma organizao eficiente. Trabalhar muito em um feriado pode significar um prximo feriado bastante tranquilo. Tenhamos em mente que o que deve ser buscado o mximo possvel de tranquilidade no ltimo tero de nosso prazo.

    H momentos em que temos que saber parar. Um caso comum o das leituras. Sempre haver centenas, se no milhares, de bons textos sobre o assunto com o qual estamos lidando. Mas importante estabelecermos prazos para parar de ler e comear a escrever. Nunca teremos lido tudo o que gostaramos. As paradas para a escrita permitem que o trabalho avance significativamente, com a vantagem de o texto poder ser melhorado com as novas leituras a serem feitas posteriormente. Tudo o que escrito com antecedncia permite revises e acrscimos para melhor-lo.

    Em suma, o trabalho intelectual exige muita atividade mental, de modo que, em geral, se torna improdutivo se estivermos cansados. Poucas pessoas tm treino para ficarem oito horas por dia lendo e escrevendo, por exemplo. H ainda outro problema: uma pesquisa, para ser bem realizada, necessita de familiaridade com o objeto de estudo e maturidade diante de nossos textos-base. muito mais produtivo um contato dirio menor, mas frequente, com sua pesquisa do que dez horas de atividade no domingo. Ou seja, deixar para a ltima hora sempre um problema, com o agravante da tenso emocional gerada pela presso dos prazos. No nos esqueamos tambm de um problema prtico o orientador estar mais disponvel no incio do prazo do que no final, quando ter de ler muitos artigos em um perodo curto. Quem quer uma ateno privilegiada no pode se dar ao luxo de deixar tudo para o ltimo ms.

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    Realize uma primeira tentativa de estruturao de seu projeto, faa uma pesquisa bibliogrfica sobre o tema escolhido, veja o que voc encontrou e inicie as leituras que julga mais importantes.

    Pontuando

    Ns vimos nesta Aula:

    Exposio da formatao e normatizao de artigos cientficos.

    A questo de trabalhos plagiados.

    A diferena entre bibliografia e referncia bibliogrfica.

    RefernciasABNT. NBR 10520. Informao e documentao: citaes e, documentos elaborao. Rio de Ja-neiro: ABNT, 2002 apud Citaes. UFRGS, documento eletrnico. Disponvel em: http://www.ufrgs.br/faced/setores/biblioteca/citacoes.html. Acesso em: 09 jan 2013.

    BUENO, Marco. Monografia sem segredo: Algumas dicas importantes (Texto extrado da revista Nova Escola, abril de 2004). GO: CESUC, 2004. Disponvel em: http://www.simaodemiranda.com.br/Dicas_Importantes.pdf Acesso em: 12 abr 2013.

    CERVO, A. L. & Bervian, P. A. Metodologia Cientfica. So Paulo: Makron Books, 1996.

    COMO FAZER REFERNCIAS. Arquivo eletrnico. Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Disponvel em: http://www.bu.ufsc.br/home982.PDF (Formato PDF); http://www.bu.ufsc.br/framere-fer.html (Formato html). Acesso em: 09 jan 2013.

    DANTON, Gian. Metodologia Cientfica. MG: Virtual Books, 2002. Disponvel em: http://virtualbooks.terra.com.br/osmelhoresautores/Metodologia_cientifica.htm Acesso em: 12 abr 2013.

    Vamos pensar

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    FURTADO, Jos Augusto P. X. Trabalhos acadmicos em Direito e a violao de direitos auto-rais atravs de plgio. Site: Jus Navigandi, 09/2002. Disponvel em: http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=3493 Acesso em: 12 abr 2013.

    Lakatos, E. Maria & Marconi, Marina de Andrade. Fundamentos de Metodologia Cientfica. So Paulo: Atlas, 1991.

    MECANISMO ONLINE PARA REFERNCIAS. Aplicativo eletrnico. UFSC. Disponvel em: http://www.rexlab.ufsc.br:8080/more/formulario1 Acesso em: 09 jan 2013.

    RODRIGUES, Andr Figueiredo. Como elaborar citaes e notas de rodap. SP: Humanitas, 2007.

    ______ . Como elaborar e apresentar monografias. SP: Humanitas, 2008.

    ______ . Como elaborar referncias bibliogrficas. SP: Humanitas, 2008.

    SIMES, Darclia. Trabalho acadmico. O que ? Como se faz? Rio de Janeiro: Dialogarts, 2004. Disponvel em: http://www.dialogarts.uerj.br/arquivos/trabalhoacademico2004.pdf Acesso em: 12 abr 2013.

    Referncias

  • seesLEGENDA DE CONESIncio

    Links Importantes

    PontuandoVdeos

    Importantes

    Referncias

    Vamos pensar

    Aula 03 : A Importncia do Fichamento

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    03

    A Importncia do FichamentoObjetivos

    Discorrer sobre os nveis de leitura.

    Exporofichamentocomoinstrumentodepesquisa.

    Explicaroscaminhosparaarealizaodofichamento.

    Abordar a escolha do tema de pesquisa.

    Apresentar boas fontes para escolha do tema.

    1. O Fichamento

    A pesquisa bibliogrfica indispensvel para a realizao de um bom artigo, contenha ele trabalho de campo ou no. Mas nem sempre o pesquisador sabe como lidar com os dados lidos nos mais diversos livros e artigos. O fichamento um recurso dos mais importantes para que as parfrases e citaes literais ocorram de forma apropriada no corpo do texto. O fichamento no deve se reduzir a uma anotao direta das ideias principais do que se est lendo. Este um primeiro momento, importante, mas no exaustivo. Aps essa primeira leitura, deve-se fazer um esquema geral do argumento central do texto. Um dos problemas mais comuns ocorre quando o leitor apreende o texto apenas em sua superfcie, entendendo as ideias na medida em que so lidas, mas sem conseguir visualizar a articulao do argumento como um todo. Neste ponto, a introduo de suma importncia l, em um texto bem construdo, a conduo inicial das ideias explicita como o argumento central ser desenvolvido, e oferece as informaes iniciais para que o leitor possa tirar o mximo proveito da leitura. Discutiremos mais adiante as implicaes da introduo em um texto acadmico, seja artigo, monografia, dissertao ou tese (vale lembrar que as quatro categorias mencionadas comportam o conceito de monografia, uma vez que se trata, basicamente, do desenvolvimento de uma ideia).

    Uma leitura apenas no suficiente, na maioria das vezes, para que um argumento seja plenamente entendido. Por isso, didaticamente improdutivo deixar as coisas para a ltima

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    hora. O tempo de reflexo, to esquecido nos dias da tecnologia da informao, fundamental para que o amadurecimento de uma ideia se realize. Aps ler o texto, fichando suas partes centrais, deve-se rel-lo, do incio, com o dobro de ateno da primeira leitura. Agora, sim, o fichamento das ideias pode ser acompanhado pela reconstruo analtica da espinha dorsal do texto, entendendo como o argumento se organiza, em quais teorias se baseia, com o que concorda e do que discorda.

    Tomemos como exemplo o resumo e introduo do artigo O planejamento estratgico dentro do conceito de administrao estratgica (ALDAY, 2000)1. A ttulo de ilustrao, o resumo ser fichado em forma de fluxograma e a introduo em forma de itens e fluxograma. Tomemos, primeiramente, o resumo:

    Resumo

    Este texto visa destacar a importncia do Planejamento Estratgico na gesto das organizaes, dentro do conceito de Administrao Estratgica. Apresenta as principais etapas para a implantao do processo de administrao estratgica e procura esclarecer os aspectos fundamentais do relacionamento dos conceitos de viso estratgica e gesto na implantao do planejamento estratgico, bem como destacar algumas opinies atuais de como devem ser tratados o planejamento para o presente e o planejamento para o futuro.

    Embora o texto seja curto, as ideias nele presente esto todas articuladas. Reparem como o fluxograma pode ser de grande utilidade na visualizao dessas articulaes:

    1 No falaremos do desenvolvimento e da concluso do artigo, mas a quem interessar, consta nas referncias o link de acesso para o texto integral.

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    Administrao Estratgica

    Planejamento Estratgica

    Viso Estratgica Gesto

    Presente PassadoFigura 1 Fluxograma do resumo

    O fluxograma acima capaz de organizar as ideias do texto com grande eficcia. A prtica na sua construo pode contribuir muito para visualizarmos a espinha dorsal de um argumento. Lembrando o que falamos acima, o entendimento de um texto no se d apenas pelo entendimento dos tpicos elencados nos pargrafos, mas sim pela apreenso de como eles se articulam no discurso. Vejamos uma possibilidade para o fichamento da introduo do artigo, agora trabalhando, para compararmos ambas as formas, com itens e com o fluxograma:

    Introduo

    Muito se fala em Planejamento Estratgico (PE), e nas organizaes de maneira geral ainda se pode encontrar uma srie de interpretaes em relao a esta ferramenta da administrao.

    O Planejamento Estratgico, que se tornou o foco de ateno da alta administrao das empresas, volta-se para as medidas positivas que uma empresa poder tomar para enfrentar ameaas e aproveitar as oportunidades encontradas em seu ambiente.

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    Empresas de todos os tipos esto chegando concluso de que essa ateno sistemtica estratgia uma atividade muito proveitosa. Empresas pequenas, mdias e grandes, distribuidores e fabricantes, bancos e instituies sem finalidade de lucro, todos os tipos de organizaes devem decidir os rumos que sejam mais adequados aos seus interesses.

    As razes dessa ateno crescente estratgia empresarial so muitas, algumas mais evidentes que outras. Dentre as causas mais importantes do crescimento recente do Planejamento Estratgico, pode-se citar que os ambientes de praticamente todas as empresas mudam com surpreendente rapidez. Essas mudanas ocorrem nos ambientes econmico, social, tecnolgico e poltico. A empresa somente poder crescer e progredir se conseguir ajustar-se conjuntura, e o Planejamento Estratgico uma tcnica comprovada para que tais ajustes sejam feitos com inteligncia.

    Trata-se de um instrumento mais flexvel que o conhecido Planejamento a Longo Prazo. Um elemento-chave da estratgia a seleo de apenas algumas caractersticas e medidas a serem consideradas tomadas.

    um instrumento que fora, ou pelo menos estimula, os administradores a pensar em termos do que importante ou relativamente importante, e tambm a se concentrar sobre assuntos de relevncia.

    O mais importante na utilizao do Planejamento Estratgico o seu estreito vnculo com a administrao estratgica nas organizaes. No se pode tratar isoladamente o planejamento estratgico sem entrar no processo estratgico, contribuindo assim de forma mais eficaz com a gesto dos administradores na obteno dos seus resultados.

    A introduo, constituda de sete pargrafos, prepara o leitor para o desenvolvimento. O argumento se desenvolve, em cada pargrafo, da seguinte forma:

    Vrias interpretaes para o Planejamento estratgico (PE);

    Objetivos do PE;

    Aceitao do PE em empresas de todos os tipos;

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    Razes para essa aceitao;

    PE: mais flexvel do que o Planejamento a Longo Prazo (PLP);

    PE: concentra-se no importante e no relevante;

    O PE possui vnculo estreito com a Administrao Estratgica (AE).

    Discutiremos a seguir as partes constitutivas de um artigo. Por ora, vale a pena focarmos como cada item emerge do item anterior, construindo o tecido do argumento. Aps apresentar o PE, o autor, no pargrafo cinco, j adianta um dos tpicos centrais a serem tratados no seu texto, embora apenas superficialmente o confronto entre o PE e o PLP. Em um fluxograma, poderamos representar essa introduo de uma forma mais rica, explicitando as articulaes do argumento (o nmero do pargrafo aparece entre parnteses):

    (4) Razes

    Planejamento Estratgico (PE)

    (1)Vrias interpretaes

    (2) Objetivos (3) Amplaaceitao

    Caractersticas

    (5) Mais flexvel que PLP

    (6) Concentra-se no

    importante e no relevante

    (7) Vnculo estreito

    com AE

    Figura 2 Fluxograma da introduo

    Uma vez que o fichamento pode vir a ser usado um bom tempo aps ser feito, uma boa dica para quem est fichando textos para o artigo final , aps o fichamento, escrever um ou dois

    Aula 03 | A Importncia do Fichamento

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    pargrafos com as suas impresses e eventuais intuies sobre o texto. Aps trs ou seis meses essas impresses, se no registradas, tero sido, muito provavelmente, esquecidas. Esses pequenos pargrafos podem ento ser de grande valia para o autor.

    Claro que h quem no goste de trabalhar nem com itens, nem com fluxograma, preferindo escrever pargrafos coesos. O fichamento para uso prprio, de modo que no h imposies quanto forma de sua execuo. O pesquisador deve faz-lo como preferir escrever em papel, no computador, riscar o prprio texto etc. Contudo, vale a pena praticar um pouco a construo de fluxogramas, pois eles permitem, indubitavelmente, uma tima visualizao do argumento. O mesmo vale para a construo do prprio artigo construes grficas anteriores ou paralelas sua redao colaboram para que criemos um argumento claro e coerente.

    2. O PROJETO DE PESQUISA

    2. 1 O PROJETO

    O projeto de pesquisa pode ser entendido como o planejamento detalhado da pesquisa a ser realizada. Apesar de ser um passo inicial, com a devida abertura para as descobertas da pesquisa (o projeto no pode conter a concluso do trabalho ainda por realizar), seu texto tem de demonstrar clareza e uma relativa familiaridade com o tema, com uma boa exposio da proposta de trabalho. Embora possa haver alteraes nos planos do trabalho, devido ao ritmo que a prpria pesquisa tende a impor ao pesquisador, a proposta inicial tem de ser vivel e sria. A Associao Brasileira de Normas Tcnicas (ABNT) define que o projeto deve ter as seguintes partes constitutivas:

    Introduo

    Levantamento de Literatura

    Problema

    Hiptese

    Objetivos gerais e especficos

    Justificativa

    Aula 03 | A Importncia do Fichamento

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    Metodologia

    Cronograma (opcional)

    Recursos (opcional)

    Referncias

    Anexos (opcional)

    A introduo o momento de maior liberdade no projeto. Nela pode-se discorrer sobre ele de forma mais geral, trazendo exemplos e dados que contribuam para dar um bom panorama do tema e de seu futuro desenvolvimento ao leitor. Embora haja uma seo posterior dedicada justificativa, a introduo um bom lugar para reforar a importncia da pesquisa.

    O levantamento da literatura no as referncias bibliogrficas, mas um comentrio sobre as referncias que nortearo o trabalho. Em outros termos, aqui no se trata de discutir todos os textos relacionados nas referncias bibliogrficas, mas apenas os que sero a base terica ou o objeto da pesquisa. Para escrever o projeto, algumas leituras j devem ter sido feitas. Este o momento de falar sobre as mais relevantes. Contudo, devemos sempre manter o foco. Um livro que achamos fantstico, mas que ser usado apenas parcialmente no artigo, no pode ganhar mais evidencia do que um texto que ser uma das sustentaes do argumento. O gosto pessoal no pode prevalecer sobre as exigncias da pesquisa.

    O aluno que no tem leitura e/ou experincia na rea em que pretende trabalhar no ter condies de discorrer sobre o problema, a hiptese, os objetivos, a justificativa e a metodologia a ser empregada. Esses tpicos devem ser escritos da forma mais objetiva, sucinta e clara possvel. No h espao aqui para generalizaes ou comentrios. O problema a questo por ns levantada, em geral algum assunto em uma rea especfica que no est resolvido. H, frequentemente, uma preocupao dos alunos com uma suposta necessidade de ser original. Porm, os trabalhos acadmicos, em sua maioria, no so originais, mas intervenes em discusses relevantes. A originalidade est mais no ponto de vista adotado do que no tema propriamente dito. No se encontra um tema original para se escrever um artigo de especializao. Vale mais a pena pensar que estamos contribuindo para uma discusso mais ampla.

    O que seria a hiptese? Trata-se de uma proposio inicial que orientar a nossa pesquisa e

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    que ser validada ou no. Um estudo de caso sobre a queda nas vendas de uma determinada empresa, apesar da aparente aceitabilidade do produto no mercado, dever seguir um certo caminho investigativo. Esse caminho norteado pela hiptese inicial. Sem hiptese, a pesquisa perde o foco. O que teria causado o frio rigoroso na Europa neste ano de 2011? Hipteses so lanadas e ento investigadas. A investigao pode provar que a hiptese verdadeira, parcialmente verdadeira ou falsa, abrindo caminho para novas pesquisas e novas hipteses.

    Alguns artigos possuem um argumento que pode no ser orientado por uma hiptese. Isso ocorre, sobretudo, em textos de divulgao, discutidos na nossa primeira aula. Salvo esse caso, hipteses esto sempre presentes, mesmo que no explicitadas. Mesmo um trabalho que compare duas teorias sobre o ensino da lngua estrangeira, uma teoria behaviorista e uma comunicativa, por exemplo, tem de possuir um ponto de entrada em ambas as teorias que justifique a comparao. Uma hiptese inicial poderia ser, por exemplo, que os mecanismos de ensino da abordagem comunicativa so mais eficientes. O trabalho poderia levar a uma concluso de que essa eficincia seria maior para algumas habilidades lingusticas e menor para outras. Ou mesmo surpreender o pesquisador com um resultado oposto hiptese inicial.

    Dito isso, temos de enfrentar o problema dos objetivos gerais e especficos. O objetivo no seria a prpria verificao da hiptese, uma vez que o objetivo a meta a ser alcanada? De certa forma, sim, uma vez que os dois tpicos esto intimamente relacionados. Mas, nessa seo, deve-se especificar melhor o que se pretende fazer. Retomando o exemplo do estudo de caso colocado quando falvamos da hiptese, os objetivos poderiam ser especificados do seguinte modo:

    O objetivo do presente trabalho detectar as causas das dificuldades enfrenta-das pela empresa X. Para tal, tem-se como objetivos especficos: investigar o panorama do mercado atual para o produto y, a qualidade dos produtos dos concorrentes e o modo como fazem a publicidade; investigar como a empresa X est atuando no mercado, por meio de um exame minucioso de seu depar-tamento de marketing; estabelecer uma comparao entre a empresa X e seus concorrentes; realizar uma pesquisa de satisfao com os clientes atuais e os an-tigos clientes que deixaram de comprar os produtos da empresa; e, por fim, bus-car uma estratgia, diante das evidencias encontradas, para reverter o quadro atual a mdio prazo.

    A justificativa a razo pela qual vale a pena tratar deste assunto. No caso acima, a justificativa pode ser a inconsistncia entre as expectativas da empresa e o resultado alcanado ou, em

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    um plano mais geral, o mapeamento de problemas de estratgia que possam atingir tambm outras empresas. As possibilidades de justificativa so vrias, mas tm de estar sempre relacionadas pesquisa. A justificativa no pode ser do tipo trabalho na empresa e quero saber o que est acontecendo. Embora questes pessoais, no raro, motivem a investigao, o trabalho deve apresentar sempre objetivos fora dessa esfera.

    A metodologia refere-se ao modo como a pesquisa ser realizada. Ser um trabalho fundamentalmente terico, baseado na pesquisa bibliogrfica e anlise de textos? Haver pesquisa de campo? Qual ser a metodologia empregada para a pesquisa? Ser qualitativa ou quantitativa? Haver estudo de caso? Como o objeto de estudo ser abordado? Haver classificao dos dados levantados? Como sero trabalhados? Essas so algumas perguntas a serem respondidas nessa seo, sempre de acordo com as exigncias da pesquisa.

    Aps a seo de metodologia, temos o cronograma. Embora a ABNT o considere opcional, ele permite um planejamento das atividades a serem cumpridas. O problema mais evidente nesse tpico que h uma forte tendncia do aluno desconsiderar os prazos estipulados, seja porque foram mal planejados, seja por questes de organizao pessoal. Uma boa atitude diante do cronograma pr-estabelecido no projeto a de tentar, de fato, cumprir as datas estabelecidas, mas sempre com a possibilidade de alteraes no decorrer do trabalho, conforme as novas necessidades da