100
R7.com Notícias Entretenimento Esportes Vídeos Rede Record E-mail E Estresse Ocupacional O estresse ocupacional é o conjunto de perturbações que caracterizam o desequilíbrio físico e psíquico e que ocorrem no ambiente de trabalho. O estresse ocupacional não tratado pode gerar a síndrome de Burnout O que é estresse ocupacional? Sempre que tratamos da palavra ocupacional, estamos falando de trabalho, emprego, ocupação, fonte de renda e termos correlatos. Quando nos ocupamos em discutir as patologias da ocupação, uma das mais proeminentes é o estresse.

Stress Ocupacional

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Stress Ocupacional

R7.com

Notícias Entretenimento Esportes Vídeos Rede Record E-mail

E

Estresse Ocupacional

O estresse ocupacional é o conjunto de perturbações que caracterizam o desequilíbrio físico e psíquico e que ocorrem no ambiente de trabalho. 

O estresse ocupacional não tratado pode gerar a síndrome de Burnout

O que é estresse ocupacional?

Sempre que tratamos da palavra ocupacional, estamos falando de trabalho, emprego, ocupação, fonte de renda e termos correlatos. Quando nos ocupamos em discutir as patologias da ocupação, uma das mais proeminentes é o estresse.

Compreende-se por estresse um conjunto de perturbações ou instabilidade psíquica e orgânica provocadas por diversos estímulos que vão desde a condição climática até as emoções e condições de trabalho. Na base da compreensão do conceito de estresse está o desequilíbrio, no caso, na relação entre trabalhador e ocupação. Entende-se, então, estresse ocupacional como o quadro de respostas pouco adequadas à estimulação física e emocional decorrente das exigências do ambiente de trabalho, das capacidades exigidas para realizá-lo e das condições do trabalhador. Em alguns casos, o estresse

Page 2: Stress Ocupacional

ocupacional não tratado pode gerar a síndrome de Burnout, caracterizada pelo esgotamento físico e psíquico em decorrência do trabalho.

O que pode desencadear o estresse ocupacional?

Existem muitos estímulos que podem desencadear o estresse, entre eles, estar exposto a condições como falta de recursos materiais, exigência física e psíquica superior ao que corresponde à função, ambientes de trabalho com problemas de relacionamento interpessoal ou que não garantam a saúde, o bem-estar e a segurança do trabalhador.

Quais são os principais tipos de estressores ocupacionais?

Alguns autores costumam dividir os estressores em três categorias: exigência de trabalho, incompatibilidade de papéis e condições materiais da ocupação. A exigência de trabalho pode ser um estressor ocupacional quando ultrapassa os níveis adequados para a manutenção da saúde do trabalhador, como longas jornadas, ritmo demasiadamente acelerado, turnos variáveis, horas extras etc. No caso da incompatibilidade de papéis, estamos tratando de questões organizacionais como a dificuldade de muitas empresas em ter boas descrições das atribuições e direitos de cada cargo, o que acaba impossibilitando o trabalhador de ter pleno domínio de suas funções e direitos. Por último, as condições materiais dizem respeito ao ambiente de trabalho: condições climáticas, de organização, iluminação, higiene e aspectos como a poluição visual e auditiva do local de trabalho.

Quais são os tratamentos possíveis?

Sempre que se trata de uma condição que não envolve apenas o adoecimento do indivíduo, mas a problemática de seu ambiente de trabalho e de suas atribuições, recomenda-se que as intervenções sejam feitas em três níveis diferentes: no nível primário, deve-se buscar reduzir os estímulos estressores, modificando o quanto for possível o ambiente de trabalho, buscando definir ocupações e direitos de cada trabalhador, como seus horários e funções. Já nesse nível, pode-se pensar em formas de acompanhamento psicológico, a partir do qual o sujeito pode ressignificar sua relação com o trabalho.

Em um segundo nível de atuação, deve-se buscar melhorar a resposta dos sujeitos ao ambiente de trabalho, com foco nos eventos estressores. Nesse sentido, as intervenções psicoterapêuticas buscam a compreensão e transformação da relação do sujeito com os estressores. Uma das formas comuns de atuação nesse sentido são as dinâmicas de grupo, as técnicas de relaxamento, meditação, acupuntura, psicoterapia etc. Vale ressaltar que, como são técnicas utilizadas quando o estresse ocupacional já está instalado, podem ser menos eficazes que as transformações sugeridas primariamente, isso porque não trabalham na fonte de estresse, mas em seus efeitos.

Por último está a atenção aos indivíduos acometidos da condição de estresse ocupacional que sofrem com os sintomas do desequilíbrio. Essa forma de atenção deve estar focada em reequilibrar o funcionamento físico e psicológico através da ação de equipes multidisciplinares, com terapeutas ocupacionais, psicólogos, médicos etc., que precisam constantemente destruir as barreiras do preconceito para adentrar o terreno das empresas, tornando-se possibilidade de aliança entre trabalho e saúde mental.

Page 3: Stress Ocupacional

Juliana Spinelli FerrariColaboradora Brasil EscolaGraduada em psicologia pela UNESP - Universidade Estadual PaulistaCurso de psicoterapia breve pela FUNDEB - Fundação para o Desenvolvimento de BauruMestranda em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano pela USP - Universidade de São Paulo

O estresse ocupacional dentro das empresas, uma preocupação a mais para os gestores

Estresse é uma combinação de reações fisiológicas e comportamentais apresentadas por uma pessoa quando se sente ameaçado ou desafiado, sendo um processo dinâmico que se manifesta por meio de sintomas físicos, psicológicos e comportamentais.

Estresse é uma combinação de reações fisiológicas e comportamentais apresentadas por uma pessoa quando se sente ameaçado ou desafiado, sendo um processo dinâmico que se manifesta por meio de sintomas físicos, psicológicos e comportamentais. Estudos afirmam que 50% a 80% das doenças possuem fundo psicossomático ou estão relacionadas a altos níveis de estresse.

E a conseqüência destes motivos dentro das organizações é o que chamamos de estresse ocupacional, que nada mais é do que o estresse sofrido pelo indivíduo dentro do ambiente de trabalho. Esta doença pode ser causada pela presença de agentes agressivos como riscos das atividades executadas ou sobrecargas de serviços rotineiros, além do assédio moral. Outros fatores que também influenciam este comportamento é a falta de

Page 4: Stress Ocupacional

uma comunicação eficaz dos gestores com seus colaboradores, tarefas excessivamentes monótonas e repetitivas ou a falta de desafios intelectuais para as pessoas. Outro ponto de atenção é a insegurança dos profissionais nos seus postos de trabalho, pois não existe nas empresas nenhuma segurança de que seu emprego está garantido.

Todos estes itens relacionados tornam o indivíduo oprimido no ambiente de trabalho, daí a importância do gestor em estar procurando minimizar o impacto que determinadas atividades ou o ambiente podem exercer sobre uma pessoa. Para se evitar estes obstáculos vem à importância no estudo do perfil do funcionário e o da função, que devem ser muito bem analisados antes da contração, para poder colocar a pessoa certa no lugar certo, evitando assim problemas futuros para as partes.

Quando uma pessoa começa a apresentar um quadro de estresse ocupacional ele demonstra alguns sintomas físicos como falta de concentração, indecisão, esquecimento, sensibilidade para críticas e atitudes rígidas. Por outro lado ele também demonstra alguns distúrbios emocionais como medo, ansiedade, excitação, nervosismo, tensão, irritabilidade, raiva, hostilidade, tristeza, vergonha, mau humor, solidão, ciúme, sentimento de insatisfação e falta de interesse.

O reflexo de todos estes sintomas recai brutalmente na organização, pois tem como conseqüência o aumento do absenteísmo, o crescimento do índice de evasão, a baixa de qualidade no trabalho, aumento dos conflitos interpessoais e a insatisfação dos colaboradores, além da diminuição da produtividade e baixo rendimento.

As organizações podem ajudar e muito a minimizar o estresse ocupacional, melhorando a relação do trabalho com as pessoas, proporcionando treinamentos e tempo adequado tanto para o aprendizado quanto para a execução das atividades, fornecer uma descrição clara e precisa sobre o que deve ser executado pelo colaborador, quais são suas rotinas e o seu impacto para o fluxo produtivo. Isso porque o trabalhador precisa se sentir como parte do processo, não apenas como mais um posto de trabalho. Eliminar ou diminuir exposições físicas prejudiciais à saúde como ruídos excessivos, substâncias tóxicas e outros fatores ambientais também são pontos de atenção a serem analisados.

O que precisa ser avaliado pelos gestores é a sua relação com seus subordinados, pois é um contato direto e diário que merece ter uma boa sintonia entre as partes. Por isso que uma boa comunicação é um item importante que gera confiabilidade e credibilidade, que ajuda no dia a dia do trabalho e evita distorções de entendimento em determinadas situações. Também dentro da comunicação o gestor precisa ouvir com respeito e serenidade os questionamentos dos funcionários e se possível apresentar respostas concretas que possam agregar valor aquilo que o indivíduo esta indagando ou sugerindo.

Por estes motivos que o investimento na Qualidade de Vida do Trabalho (QVT) vem sendo ponto chave para as empresas, pois esta ferramenta ajuda as partes a terem um relacionamento mais aberto e dinâmico, fazendo com que os impactos do trabalho sejam amenizados. Programas de vacinação, leitura, jogos, confraternizações e trabalhos laborais são formas de se fazer esta interação, deixando os funcionários e seus familiares mais a vontade em relação à empresa, tendo como conseqüência um melhor rendimento na execução de suas tarefas.

Page 5: Stress Ocupacional

A responsabilidade social de uma empresa é muito importante para seus colaboradores e a comunidade, pois trás uma importância positiva sobre a vida dos indivíduos, tanto dentro como fora da empresa, por isto que o QVT está ligado à promoção do conceito de Trabalho Saudável, e implica na redução da tensão mental e do estresse entre os indivíduos.

Sobre o autor

Emiliano Silva

Coordenador e professor dos Cursos Técnicos em Gestão do Senac Minas, consultor, palestrante e colunista do Jornal Diário do Aço. 

Atuo na área de gestão assessorando equipes a desenvolvimento de projetos e empresas a ingressarem no mercado.

Colunista do Jornal Diário do Aço, com artigos nas áreas de RH, Gestão de Negócios, MKT e Vendas e Motivação.

Estresse ocupacional e Síndrome de Burnout no exercício profissional da psicologia

 

 

Klayne Leite de Abreu; Ingrid Stoll; Letícia Silveira Ramos; Rosana Aveline Baumgardt; Christian Haag Kristensen

UNISINOS. Centro de Ciências da Saúde. Núcleo de Neurociências

Endereço para correspondência

 

 

RESUMO

Esta revisão teórica busca analisar os aspectos vinculados ao estresse ocupacional e à síndrome de burnout, bem como relacioná-los com a prática profissional dos psicólogos. Essas síndromes podem afetar o psicólogo pois, nas suas relações de

Page 6: Stress Ocupacional

trabalho, ele se encontra muito próximo de pessoas em sofrimento, podendo identificar-se e vincular-se afetivamente às mesmas. São discutidos aspectos conceituais e causais das síndromes, das relações de trabalho em saúde mental e, especificamente, do exercício profissional em Psicologia, considerando a realidade do Brasil e de outros países.

Palavras-chave: Estresse, Síndrome de burnout, Prática profissional.

ABSTRACT

The aspects linked to occupational stress and burnout syndrome, as well as their relation to the psychologists professional practice are this article scope. The main reason why these syndromes affect the psychology professional is linked to its work relations, that are very close to the contact with suffering people, as well as a sort of identification and affection that can be established between patient and caregiver. Conceptual aspects and causes of these syndromes are discussed, and also the job relations in mental health workers and psychologists, considering Brazil and other countries’ realities.

Keywords: Stress, burnout syndrome, Professional practice.

 

 

O trabalho ocupa um papel central na vida das pessoas e é um fator relevante na formação da identidade e na inserção social das mesmas. Neste contexto, considera-se que o bem-estar adquirido pelo equilíbrio entre as expectativas em relação à atividade profissional e à concretização das mesmas é um dos fatores que constituem a qualidade de vida. Esta é proporcionada pela satisfação de condições objetivas tais como renda, emprego, objetos possuídos e qualidade de habitação, de condições subjetivas como segurança, privacidade e afeto (Wilheim & Déak, citado em Cardoso, 1999), bem como motivação, relações de auto-estima, apoio e reconhecimento social.

Uma relação satisfatória com a atividade de trabalho é fundamental para o desenvolvimento nas diferentes áreas da vida humana e esta relação depende, em grande escala, dos suportes afetivos e sociais que os indivíduos recebem durante seu percurso profissional. O suporte afetivo provém do relacionamento com pessoas com as quais é possível compartilhar preocupações, amarguras e esperanças, de modo que sua presença possa trazer sentimentos de segurança, conforto e confiança. O suporte social aplica-se ao quadro de relações gerais que se estabelecem, naturalmente, entre colegas de trabalho, vizinhos e conhecidos, o que também pode favorecer o aprofundamento de relacionamentos que, mais tarde, venham a fazer parte do suporte afetivo.

Para Gazzotti e Vasques-Menezes (1999), a fragilidade emocional provocada pela falta dos suportes afetivo e social traz grande sofrimento, uma vez que o reflexo dessa situação não fica restrito à vida privada, ampliando-se para o campo das relações de trabalho. O trabalhador, ao sentir-se sem alternativa para compartilhar suas dificuldades, anseios e preocupações, tem aumentada sua tensão emocional, o

Page 7: Stress Ocupacional

que pode levar ao surgimento da síndrome de burnout e/ou do estresse ocupacional.

 

O que é burnout?

Para Codo e Vasques-Menezes (1999), burnout consiste na “síndrome da desistência”, pois o indivíduo, nessa situação, deixa de investir em seu trabalho e nas relações afetivas que dele decorrem e, aparentemente, torna-se incapaz de se envolver emocionalmente com o mesmo. No entanto, autores discutem a possibilidade de males como fadiga, depressão, estresse e falta de motivação também apresentarem a desistência como característica marcante. Dessa forma, pode-se pensar que estudos sobre desistência e, conseqüentemente, sobre burnout se iniciaram juntamente com os estudos de Pavlov. Este pesquisador constatou que cães submetidos a uma tarefa progressivamente difícil de realizar, como por exemplo, diferenciar um círculo de uma elipse, apresentavam um rompimento no comportamento e esse rompimento foi denominado, por Pavlov, de “neurose experimental” (Codo & Vasques-Menezes, 1999). Essa ruptura no comportamento não seria uma resposta frente a uma dificuldade tão grande que só restaria ao cão desistir da atividade e entrar em neurose experimental? Por analogia, os seres humanos poderiam entrar em burnout ao se sentirem incapazes de investir em seu trabalho, em conseqüência da incapacidade de lidar com o mesmo (Codo & Vasques-Menezes, 1999).

O termo burnout, no sentido que se está estudando, foi empregado na década de 70 pelo psicólogo clínico Freudenberger. Entretanto, é possível considerar a hipótese de que ele apenas nomeou um sentimento que já existia e havia sido experimentado por muitos (Codo & Vasques-Menezes, 1999). Freudenberger e Richelson (1991) descreveram um indivíduo com burnout como estando frustrado ou com fadiga desencadeada pelo investimento em determinada causa, modo de vida ou relacionamento que não correspondeu às expectativas. Em 1977, Maslach empregou o termo publicamente para referir-se a uma situação que afeta, com maior freqüência, aquelas pessoas que, em decorrência de sua profissão, mantêm um contato direto e contínuo com outros seres humanos.

Para Cherniss (citado em Roazzi, Carvalho, & Guimarães, 2000) burnout é uma forma de adaptação que pode resultar em efeitos negativos tanto para a própria pessoa quanto para seu local de trabalho. Portanto, é conseqüência de uma tentativa de adaptação própria das pessoas que não dispõem de recursos para lidar com o estresse no trabalho. Essa falta de habilidade para enfrentar o estresse é determinada tanto por fatores pessoais como por variáveis relativas ao trabalho em si e à organização. Entretanto, a mais influente definição de burnout foi desenvolvida por Maslach e Jackson em 1986. Sua definição multidimensional inclui três componentes: exaustão emocional, despersonalização e redução da realização pessoal (Mills & Huebner, 1998; Codo & Vasques-Menezes, 1999).

A exaustão emocional é caracterizada por um sentimento muito forte de tensão emocional que produz uma sensação de esgotamento, de falta de energia e de recursos emocionais próprios para lidar com as rotinas da prática profissional e representa a dimensão individual da síndrome. A despersonalização é o resultado do desenvolvimento de sentimentos e atitudes negativas, por vezes indiferentes e cínicas em torno daquelas pessoas que entram em contato direto com o profissional, que são sua demanda e objeto de trabalho. Num primeiro momento, é um fator de proteção, mas pode representar um risco de desumanização, constituindo a dimensão interpessoal de burnout. Por último, a falta de realização pessoal no trabalho caracteriza-se como uma tendência que afeta as habilidades interpessoais relacionadas com a prática profissional, o que influi diretamente na

Page 8: Stress Ocupacional

forma de atendimento e contato com as pessoas usuárias do trabalho, bem como com a organização (Maslach, 1998). Trata-se de uma síndrome na qual o trabalhador perde o sentido da sua relação com o trabalho, de forma que as coisas não lhe importam mais e qualquer esforço lhe parece inútil. Finalmente, a síndrome de burnout tem sido negativamente relacionada com saúde, performance e satisfação no trabalho, qualidade de vida e bem-estar psicológico (Rabin, Feldman, & Kaplan, 1999).

 

Estresse

O conceito de estresse foi primeiramente descrito por Selye, em 1936 (Helman, 1994; Gasparini & Rodrigues, 1992). Selye (1959) definiu estresse como sendo, essencialmente, o grau de desgaste total causado pela vida. Contudo, no século XVII, o termo foi utilizado por Robert Hooke, no campo da Física, para designar uma pesada carga que afeta uma determinada estrutura física (Lazarus, 1993). Etimologicamente, estresse deriva do latim stringere, significando apertar, cerrar, comprimir (Houaiss, Villar, & Franco, 2001).

Não há um consenso sobre o termo estresse. Alguns autores entendem que representa uma adaptação inadequada à mudança imposta pela situação externa, uma tentativa frustrada de lidar com os problemas (Helman, 1994), mas estresse também pode ser definido como um referente, tanto para descrever uma situação de muita tensão quanto para definir a tensão a tal situação (Lipp & Rocha, 1994).

Considerando as diferentes definições da palavra estresse, Lazarus (1993) descreve quatro pressupostos essenciais que devem ser observados: 1) um agente causal interno ou externo que pode ser denominado de estressor; 2) uma avaliação que diferencia tipos de estresse (dano, ameaça e desafio); 3) os processos de coping1 utilizados para lidar com os estressores e 4) um padrão complexo de efeitos na mente ou no corpo, freqüentemente referido como reação de estresse.

Apesar do estudo dos eventos estressores contar com um considerável desenvolvimento histórico, a maior parte da literatura empiricamente validada surgiu somente nas últimas duas décadas (Briere, 1997). Nas formulações iniciais preponderava o foco sobre o evento estressor per se, mas atualmente existe grande consideração nas diferenças individuais e nas variáveis cognitivas e motivacionais (Lazarus, 1993). Sendo assim, é importante considerar não só a imensa quantidade de fatores potencializadores de estresse mas, também, os aspectos individuais, a maneira como cada um reage às pressões cotidianas, bem como os aspectos culturais e sociais aos quais os sujeitos estão submetidos. Fatos como problemas familiares, acidentes, doenças, mortes, conflitos pessoais, dificuldade financeira, desemprego, aposentadoria, problemas no ambiente de trabalho, guerras e inúmeros outros podem ser experienciados de maneira diversa por dois indivíduos diferentes, em um mesmo contexto histórico, cultural e social, por exemplo, assim como problemas críticos na ordem social de um país podem potencializar o estresse patológico em diversos indivíduos (Helman, 1994; Ladeira, 1996).

Em suas sociedades, os indivíduos tentam atingir metas definidas, níveis de prestígio e padrões de comportamento que o grupo cultural impõe e espera de seus integrantes (Helman, 1994), de maneira que uma frustração na realização desses aspectos pode desencadear o estresse. Cardoso (1999) afirma que, para a Organização Mundial de Saúde (OMS), a saúde pode ser lesada não apenas pela presença de fatores agressivos (fatores de risco, de “sobrecarga“), mas também pela ausência de fatores ambientais (fatores de “subcarga” como a falta de suficiente atividade muscular, falta de comunicação com outras pessoas, falta de

Page 9: Stress Ocupacional

diversificação em tarefas de trabalho que causam monotonia, falta de responsabilidade individual ou de desafios intelectuais). Portanto, pode-se verificar que algum estresse é importante para a realização de qualquer atividade e que sua total ausência, assim como seu excesso, podem ser prejudiciais à saúde. Entretanto, o prolongamento de situações de estresse pode repercutir num quadro patológico, originando distúrbios transitórios ou mesmo doenças graves, como o estresse ocupacional.

 

Burnout e Estresse Ocupacional

Devido ao fato de essas síndromes serem ocasionadas a partir de situações relacionadas ao trabalho, há quem desconsidere suas diferenças. No entanto, embora não haja na literatura um consenso em relação à gênese das mesmas, burnout não é o mesmo que estresse ocupacional. burnout é o resultado de um prolongado processo de tentativas de lidar com determinadas condições de estresse (Rabin, Feldman, & Kaplan, 1999). O estresse pode ser visto como seu determinante, mas não coincide com o mesmo. Farber (citado em Roazzi, Carvalho, & Guimarães, 2000) explora a idéia de que burnout não resulta só do estresse em si (que pode ser inevitável em profissões assistenciais), mas do “estresse não mediado”, do estresse não moderado, sem possibilidade de solução. Assim, burnout não é um evento, mas sim um processo e, apesar de compartilharem duas características - esgotamento emocional e escassa realização pessoal - burnout e estresse ocupacional diferem pelo fator despersonalização (Cherniss, citado em Roazzi, Carvalho, & Guimarães, 2000). León e Iguti (1999) consideram burnout como um quadro clínico mental extremo do estresse ocupacional.

Através de pesquisa longitudinal, realizada com psicólogos escolares dos EUA, Mills e Huebner (1998) observaram a natureza transacional do relacionamento entre burnout e experiências ocupacionais estressantes. Os dados sugerem que, não somente estas experiências podem predispor os indivíduos a experienciar burnout, mas também que elevados níveis de burnout podem levá-los a desenvolver estresse ocupacional adicional.

Parece haver um consenso em torno da síndrome poder ser caracterizada como uma resposta ao estresse laboral crônico, mas é importante que seus conceitos sejam mantidos distintos. burnout tem como conseqüência uma dessensibilização dirigida às pessoas com quem se trabalha, incluindo usuários, clientes e a própria organização, e o estresse é um esgotamento diverso que, de modo geral, interfere na vida pessoal do indivíduo, além de seu trabalho (Codo & Vasques-Menezes, 1999). Entretanto, apesar de suas particularidades, as diferenças entre os dois não são claras, em função dos fatores desencadeadores serem muito próximos (ver Figura 1), o que dificulta o estabelecimento de um diagnóstico preciso e de uma relação de comorbidade.

 

Exercício Profissional em Psicologia

Cabe analisar, aqui, o contexto e os elementos em que as profissões estão inseridas, já que estão sujeitos a transformações ao longo do tempo. Pode-se considerar as dificuldades tecnológicas e a ordem sócio-econômica de nosso país e pensar quanto é dinâmico o processo de constituição de uma profissão, uma vez que esta se encontra em permanente interação com o meio social. Dessa forma, uma profissão recente, como a Psicologia, é fortemente influenciada por todo esse processo.

Page 10: Stress Ocupacional

Segundo o Conselho Federal de Psicologia (1988), a definição do psicólogo brasileiro, na década de 80, enfatizava sua atuação na elaboração e aplicação de técnicas de qualificação e diagnóstico de distúrbios. Entretanto, devemos sempre considerar que essa visão se insere na tradicional prática que tem privilegiado uma perspectiva de análise e de intervenção no âmbito estritamente individual (Moura, 1999). Atualmente, o fenômeno psicológico tem sido visto de forma abstrata - ora como manifestação de processos internos, ora como produto de vivências externas, elementos influenciados pelo meio físico e social (Bock, 1997).

Numa perspectiva mais atual, verifica-se uma evidente ampliação dos espaços de inserção do psicólogo (Yamamoto & Campos, 1997), de modo que mudanças importantes em domínios de atuação já são foco de pesquisa do Conselho Federal de Psicologia (CFP). Segundo Bastos e Achcar (1994), essas alterações se referem às concepções, práticas, inserção no mercado e clientes atendidos, bem como ao foco de intervenção do profissional de Psicologia. Uma tendência inicial aponta para um modelo que vai além da mensuração de características psicológicas e intervenção diante dos problemas de ajustamento de indivíduos; uma segunda diz respeito a um maior aperfeiçoamento e qualificação profissionais; finalmente, uma terceira visa a trabalhar de maneira mais articulada em relação a outras disciplinas e profissões, em uma perspectiva multidisciplinar e não-tecnicista.

 

Burnout e Estresse Ocupacional em Psicólogos

Conforme referido anteriormente, a síndrome de burnout consiste em uma resposta ao estresse ocupacional crônico, afetando profissionais que se ocupam em prestar assistência a outras pessoas. Entre os profissionais de saúde, eventos potencializadores de estresse podem surgir, dependendo do tipo de atividade exercida. Entretanto, existe uma evidência crescente demonstrando que os profissionais da área da saúde mental, por fatores relacionados à natureza de sua profissão, apresentam-se particularmente vulneráveis ao estresse e a seus efeitos (Rabin, Feldman, & Kaplan, 1999). Entre os fatores específicos, destacam-se: a) o manejo, por um longo período de tempo, com pessoas com transtornos mentais; b) a responsabilidade para com a vida do paciente; c) a inabilidade para estabelecer limites em suas interações profissionais e d) a atenção constante aos problemas e necessidades dos pacientes de uma forma não recíproca (Moore & Cooper, 1996; Rabin, Feldman, & Kaplan, 1999).

Facilmente se observa que os psicólogos, por atuarem na área da saúde mental, estão entre a clientela de risco da síndrome de burnout. Aos fatores destacados, acrescenta-se a possibilidade de haver alguma identificação e formação de laços afetivos entre os psicólogos e seus clientes (França, citado em Covolan, 1996), especialmente quando se trata de práticas mais tradicionais de atendimento individual. Exemplificando, estudos realizados em psicólogos clínicos norte-americanos e ingleses demonstraram elevados níveis de estresse entre esses profissionais (Rabin, Feldman, & Kaplan, 1999). Especificamente em relação a psicoterapeutas, Farber (1985) identificou cinco fatores desencadeadores de estresse: manutenção da relação terapêutica, agendamento, dúvidas profissionais, envolvimento excessivo no trabalho e esgotamento pessoal. Além desses, solidão, expectativas excessivas e falta de gratificação também foram identificados como fontes de estresse naqueles profissionais (Rabin, Feldman, & Kaplan, 1999). Entretanto, burnout afeta, também, psicólogos em outras áreas de atuação. Em uma amostra de 173 psicólogos escolares, Mills e Huebner (1998) observaram que 40% dos sujeitos relataram elevados níveis de exaustão emocional, 19% relataram um senso diminuído de realização pessoal e 10% relataram reações de despersonalização.

Page 11: Stress Ocupacional

Moore e Cooper (1996) propõem que talvez haja um vácuo entre as expectativas idealizadas e seus resultados na prática dos profissionais de saúde mental. Os profissionais dessa área idealizam que sua prática servirá para ajudar as pessoas e, na realidade, poucas mudanças são experienciadas por pacientes crônicos. Essa contradição indica que talvez seja mais gratificante, para o profissional, encarar sua prática como uma intervenção de apoio aos pacientes, ao invés de uma busca de cura. Essa situação pode ser uma ilustração do burnout e está relacionada com a realidade vivenciada pelos profissionais de saúde mental que são treinados para reconhecer e concordar com a realidade de seus pacientes.

Garcia, Cabeza e Fernandez (1998) identificaram uma variação no nível de burnout entre profissionais de saúde mental que trabalham em centros de saúde e em hospitais de Madri. Em centros de saúde foi percebido um grau de realização pessoal no trabalho mais favorável do que em hospitais. O local de trabalho, portanto, influencia sensivelmente o grau de realização pessoal no trabalho e a possibilidade de se desenvolver burnout e estresse a partir de um ambiente que exerça pressão nos indivíduos.

Leite (1997) obteve dados sobre a atividade de 34 profissionais da Psicologia que trabalhavam no Hospital Geral do Rio de Janeiro. Esses profissionais citaram que existem demandas institucionais diferentes da necessidade apresentada pelos pacientes que necessitam, na maioria das vezes, simplesmente de escuta, atenção e afeto. No entanto, as atividades cobradas pelo hospital são outras, como manejar pacientes difíceis, ordenar a enfermaria e lidar com funcionários, ficando claro, com isso, a dúvida relacionada ao papel do psicólogo no espaço hospitalar.

Considerando-se a realidade do exercício profissional, observa-se uma mudança em termos da atuação do psicólogo com o surgimento, nas últimas décadas, de novos campos e, conseqüentemente, no aumento da necessidade de aperfeiçoamento e qualificação profissional. As constantes mudanças levam à necessidade de aprimoramento e, embora isso faça parte da dinâmica das alterações paradigmáticas (que, além de já serem situações novas, ainda estão associadas ao processo de produção do conhecimento favorecido pelos novos avanços tecnológicos), é possível que possa gerar estresse em profissionais que não se beneficiem dessas alterações e as tomem como fortes fontes de pressão. Leite (1997) observa que, além das dificuldades encontradas no contato direto com as novas possibilidades de trabalho, há, ainda, uma dificuldade com a formação acadêmica que oriente e esclareça sobre as questões relativas aos diversos campos que surgem paralelos à graduação.

O contexto sócio-econômico a que estão sujeitos os profissionais de saúde mental no Brasil deve ser considerado. O sofrimento psíquico (e social) que os pacientes apresentam, as condições de atendimento, os baixos salários e o pequeno tempo disponível para uma consulta são fatores importantes a se considerar para pensar os processos de estresse ocupacional e burnout. Branco (1998) pressupõe que a atividade, nesse ambiente de trabalho permeado pela hierarquia, dificulta a afetividade entre paciente e profissional e, a partir daí, evidencia potenciais de estresse ocupacional e burnout. Williams (1999) conta sua experiência de trabalho como psicóloga em escolas de Toronto e destaca o prazer de atuar em um país que investe em educação pública de altíssima qualidade e com boas condições de trabalho, possibilitando satisfação profissional e se constituindo no que Maslach (1998) denomina “engajamento”. Este é definido nos mesmos termos de burnout, mas de forma positiva, pois um estado de maior energia, forte envolvimento e senso de eficácia se contrapõem à exaustão, ao cinismo e ao reduzido senso de realização pessoal. O engajamento não é um estado neutro, mas se opõe a burnout e se constitui num estado mental definido e num funcionamento social dentro de um domínio ocupacional. Dessa forma, há um continuum entre engajamento e burnout.

Page 12: Stress Ocupacional

Por fim, ao se constatar que o estresse ocupacional e, especialmente, a síndrome de burnout podem afetar a prestação do serviço e a qualidade do cuidado oferecido, julga-se necessário pesquisar essas síndromes em psicólogos brasileiros, considerando o contexto sócio-econômico a que estão sujeitos esses profissionais, já que a maioria das pesquisas existentes, por ocorrerem em países desenvolvidos, não levam em conta essas variáveis.

 

Referências bibliográficas

Antoniazzi, A. S., Dell’Aglio, D. D., & Bandeira, D. R. (1998). O conceito de coping: Uma revisão teórica. Estudos de Psicologia, 3, 273-294.         [ Links ]

Bastos, A. V. B. & Achcar, R. (1994). Dinâmica profissional e formação do psicólogo: Uma perspectiva de interação. Em R. Achar (Org.), Psicólogo brasileiro: Práticas emergentes e desafios para a formação (pp. 245-271). São Paulo: Casa do Psicólogo / Conselho Federal de Psicologia.         [ Links ]

Bock, A. M. B. (1997). Formação do psicólogo: Um rebate a partir do significado do fenômeno psicológico. Psicologia: Ciência e Profissão, 17(2), 37-43.         [ Links ]

Branco, M. T. C. (1998). Que profissionais queremos formar? Psicologia: Ciência e Profissão,18(3), 28-35.         [ Links ]

Briere, J. (1997). Psychological assessment of adult posttraumatic states. Washington, DC: American Psychological Association.         [ Links ]

Cardoso, W. L. C. D. (1999). Qualidade de vida e trabalho: Uma articulação possível. Em L. A. M. Guimarães & S. Grubits (Orgs.), Saúde Mental e Trabalho (pp. 89-116). São Paulo: Casa do Psicólogo.         [ Links ]

Codo, W., & Vasques-Menezes, I. (1999). O que é burnout? Em W. Codo (Org.), Educação: Carinho e trabalho (pp. 237-255). Rio de Janeiro: Vozes.         [ Links ]

Conselho Federal de Psicologia. (1988). Quem é o psicólogo brasileiro? São Paulo: Edicon.         [ Links ]

Covolan, M. A. (1996). Stress ocupacional do psicólogo clínico: Seus sintomas, suas fontes e as estratégias utilizadas para controlá-lo. Em M. A. Lipp (Org.), Pesquisas sobre stress no Brasil (pp. 225-240). São Paulo: Papirus.         [ Links ]

Farber, B. (1985). Clinical psychologists’ perceptions of psychotherapeutic work. Clinical Psychologist, 38, 10-13.         [ Links ]

Folkman, S., & Lazarus, R. S. (1988). Coping as a mediator of emotion. Journal of Personality and Social Psychology, 54, 466-475.         [ Links ]

Freudenberger, H. J., & Richelson, G. (1991). Estafa: O alto custo dos empreendimentos. Rio de Janeiro: Francisco Alves.         [ Links ]

Gasparini, A. C. L. F., & Rodrigues, A. L. (1992). Uma perspectiva psicossocial em psicossomática: Via estresse e trabalho. Em J. Mello Filho (Org.), Psicossomática hoje (pp. 93-107). Porto Alegre: Artes Médicas.         [ Links ]

Page 13: Stress Ocupacional

Garcia, M. S. O., Cabeza, I. G., & Fernandez, L. M. (1998). burnout en profesionales de salud mental. Anales de Psiquiatria,14(2), 48-55.         [ Links ]

Gazzotti, A. A., & Vasques-Menezes, I. (1999). Suporte afetivo e o sofrimento psíquico em burnout. Em W. Codo (Org.), Educação: Carinho e trabalho (pp. 261-266). Rio de Janeiro: Vozes.         [ Links ]

Helman, C. G. (1994). Cultura, saúde e doença. Porto Alegre: Artes Médicas. [ Links ]

Houaiss, A., Villar, M. de S., & Franco, F. M. de M. (Orgs.). (2001). Dicionário Houaiss da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva.         [ Links ]

Houaiss, A., Villar, M. de S., & Franco, F. M. de M. (Orgs.). (2001). Dicionário Houaiss da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva        [ Links ]

Ladeira, M. B. (1996). O processo de stress ocupacional e a psicopatologia do trabalho. Revista de Administração, 31(1), 64-74.         [ Links ]

Lazarus, R. S. (1993). From psychological stress to the emotions: A history of changing outlooks. Annual Review of Psychology, 44, 1-21.         [ Links ]

Leite, S. (1997). Psicólogo e algumas práticas no serviço público estadual de saúde. Psicologia: Ciência e Profissão, 17(1), 35-39.         [ Links ]

León, L. M., & Iguti, A. M. (1999). Saúde em tempos de desemprego. Em: L. A. M. Guimarães, & S. Grubits (Orgs.), Série Saúde Mental e Trabalho. (pp. 239-258). São Paulo: Casa do Psicólogo.         [ Links ]

Lipp, M. N., & Rocha J. C. (1994). Stress, hipertensão arterial e qualidade de vida: Um guia de tratamento ao hipertenso. Campinas: Papirus.         [ Links ]

Maslach, C. (1998). A multidimensional theory of burnout. Em: C. L. Cooper (Org.), Theories of organizational stress (pp.68-85). Manchester: Oxford University. [ Links ]

Mills, L. B., & Huebner, E. S. (1998). A prospective study of personality characteristics, occupational stressors, and burnout among school psychology practitioners. Journal of School Psychology, 36, 103-120.         [ Links ]

Moura, E. P. G. (1999). A psicologia (e os psicólogos) que temos e a psicologia que queremos: Reflexões a partir das propostas de diretrizes curriculares (Mec/Sesu) para os cursos de graduação em psicologia. Psicologia: Ciência e Profissão, 19(2), 10-19.         [ Links ]

Moore, K. A., & Cooper, C. L. (1996). Stress in mental health professionals: A theoretical overview. International Journal of Social Psychiatry, 42(2), 82-89. [ Links ]

Rabin, S., Feldman, D., & Kaplan, Z. (1999). Stress and intervention strategies in mental health professionals. British Journal of Medical Psychology, 72, 159-169. [ Links ]

Roazzi, A., Carvalho A. D., & Guimarães, P.V. (2000). Análise da estrutura de similaridade da síndrome de burnout: Validação da escala “Maslach Burnout Inventory” em professores. Trabalho apresentado no V Encontro Mineiro de

Page 14: Stress Ocupacional

Avaliação Psicológica: Teoria e prática & VIII Conferência Internacional de Avaliação Psicológica: Formas e contextos, Belo Horizonte, MG.         [ Links ]

Selye, H. (1959). Stress: A tensão da vida. São Paulo: IBRASA.         [ Links ]

Williams, L. C. A. (1999). A atuação do psicólogo em um mundo globalizado: A experiência de uma década de trabalho no Canadá. Psicologia: Ciência e Profissão 19(3), 32-39.         [ Links ]

Yamamoto, O. H., & Campos, H. R. (1997). Novos espaços, práticas emergentes: Um novo horizonte para a psicologia brasileira? Psicologia em Estudo, 2, 89-111. [ Links ]

 

 

Endereço para correspondência Klayne Leite de Abreu/ Ingrid Stoll/ Letícia Silveira Ramos Rosana Aveline Baumgardt/ Christian Haag Kristensen UNISINOS- Centro de Ciências da Saúde Núcleo de Neurociências Av. Unisinos, 950 - Caixa postal 275 93022-000 São Leopoldo - RS Tel.: +55-51-3332-0326 E-mail: [email protected]

Recebido em 10/11/00 Aprovado em 20/10/01

 

1 Os processos de coping são concebidos como as estratégias e esforços cognitivos e comportamentais que os indivíduos utilizam para lidar com as demandas específicas decorrentes de situações de estresse e avaliadas como excedendo seus recursos pessoais (Antoniazzi, Dell’Aglio, & Bandeira, 1998; Folkman & Lazarus,1988; Lazarus, 1993).

 

Agradecimentos: Os autores gostariam de agradecer a Antônio Roazzi, Christina Maslach, João Carlos Alchieri, Liliana Andolpho Magalhães Guimarães e Maria Elenice Quelho Areias pela sua contribuição na preparação deste artigo.

  Conselho Federal de Psicologia

SAF/SUL, Quadra 2, Bloco BEdifício Via Office, térreo sala 10570070-600 Brasília - DF - BrasilTel.: (55 61) 2109-0100

Page 15: Stress Ocupacional

[email protected]

Services on Demand

Article

Article in xml format

Article references

How to cite this article

Curriculum ScienTI

Automatic translation

Send this article by e-mail

Indicators

Related links

Bookmark

Share on delicious Share on google Share on twitter Share on digg Share on citeulike Share on connotea |More Sharing Services More

Permalink

Psicologia: Ciência e Profissão

Print version ISSN 1414-9893

Page 16: Stress Ocupacional

Psicol. cienc. prof. vol.22 no.2 Brasília June 2002

http://dx.doi.org/10.1590/S1414-98932002000200004 

ARTIGOS

 

Estresse ocupacional e Síndrome de Burnout no exercício profissional da psicologia

 

 

Klayne Leite de Abreu; Ingrid Stoll; Letícia Silveira Ramos; Rosana Aveline Baumgardt; Christian Haag Kristensen

UNISINOS. Centro de Ciências da Saúde. Núcleo de Neurociências

Endereço para correspondência

 

 

RESUMO

Esta revisão teórica busca analisar os aspectos vinculados ao estresse ocupacional e à síndrome de burnout, bem como relacioná-los com a prática profissional dos psicólogos. Essas síndromes podem afetar o psicólogo pois, nas suas relações de trabalho, ele se encontra muito próximo de pessoas em sofrimento, podendo identificar-se e vincular-se afetivamente às mesmas. São discutidos aspectos conceituais e causais das síndromes, das relações de trabalho em saúde mental e, especificamente, do exercício profissional em Psicologia, considerando a realidade do Brasil e de outros países.

Palavras-chave: Estresse, Síndrome de burnout, Prática profissional.

ABSTRACT

The aspects linked to occupational stress and burnout syndrome, as well as their relation to the psychologists professional practice are this article scope. The main reason why these syndromes affect the psychology professional is linked to its work relations, that are very close to the contact with suffering people, as well as a sort of identification and affection that can be established between patient and caregiver. Conceptual aspects and causes of these syndromes are discussed, and also the job relations in mental health workers and psychologists, considering Brazil and other countries’ realities.

Page 17: Stress Ocupacional

Keywords: Stress, burnout syndrome, Professional practice.

 

 

O trabalho ocupa um papel central na vida das pessoas e é um fator relevante na formação da identidade e na inserção social das mesmas. Neste contexto, considera-se que o bem-estar adquirido pelo equilíbrio entre as expectativas em relação à atividade profissional e à concretização das mesmas é um dos fatores que constituem a qualidade de vida. Esta é proporcionada pela satisfação de condições objetivas tais como renda, emprego, objetos possuídos e qualidade de habitação, de condições subjetivas como segurança, privacidade e afeto (Wilheim & Déak, citado em Cardoso, 1999), bem como motivação, relações de auto-estima, apoio e reconhecimento social.

Uma relação satisfatória com a atividade de trabalho é fundamental para o desenvolvimento nas diferentes áreas da vida humana e esta relação depende, em grande escala, dos suportes afetivos e sociais que os indivíduos recebem durante seu percurso profissional. O suporte afetivo provém do relacionamento com pessoas com as quais é possível compartilhar preocupações, amarguras e esperanças, de modo que sua presença possa trazer sentimentos de segurança, conforto e confiança. O suporte social aplica-se ao quadro de relações gerais que se estabelecem, naturalmente, entre colegas de trabalho, vizinhos e conhecidos, o que também pode favorecer o aprofundamento de relacionamentos que, mais tarde, venham a fazer parte do suporte afetivo.

Para Gazzotti e Vasques-Menezes (1999), a fragilidade emocional provocada pela falta dos suportes afetivo e social traz grande sofrimento, uma vez que o reflexo dessa situação não fica restrito à vida privada, ampliando-se para o campo das relações de trabalho. O trabalhador, ao sentir-se sem alternativa para compartilhar suas dificuldades, anseios e preocupações, tem aumentada sua tensão emocional, o que pode levar ao surgimento da síndrome de burnout e/ou do estresse ocupacional.

 

O que é burnout?

Para Codo e Vasques-Menezes (1999), burnout consiste na “síndrome da desistência”, pois o indivíduo, nessa situação, deixa de investir em seu trabalho e nas relações afetivas que dele decorrem e, aparentemente, torna-se incapaz de se envolver emocionalmente com o mesmo. No entanto, autores discutem a possibilidade de males como fadiga, depressão, estresse e falta de motivação também apresentarem a desistência como característica marcante. Dessa forma, pode-se pensar que estudos sobre desistência e, conseqüentemente, sobre burnout se iniciaram juntamente com os estudos de Pavlov. Este pesquisador constatou que cães submetidos a uma tarefa progressivamente difícil de realizar, como por exemplo, diferenciar um círculo de uma elipse, apresentavam um rompimento no comportamento e esse rompimento foi denominado, por Pavlov, de “neurose experimental” (Codo & Vasques-Menezes, 1999). Essa ruptura no comportamento não seria uma resposta frente a uma dificuldade tão grande que só restaria ao cão desistir da atividade e entrar em neurose experimental? Por analogia, os seres humanos poderiam entrar em burnout ao se sentirem incapazes de investir em seu

Page 18: Stress Ocupacional

trabalho, em conseqüência da incapacidade de lidar com o mesmo (Codo & Vasques-Menezes, 1999).

O termo burnout, no sentido que se está estudando, foi empregado na década de 70 pelo psicólogo clínico Freudenberger. Entretanto, é possível considerar a hipótese de que ele apenas nomeou um sentimento que já existia e havia sido experimentado por muitos (Codo & Vasques-Menezes, 1999). Freudenberger e Richelson (1991) descreveram um indivíduo com burnout como estando frustrado ou com fadiga desencadeada pelo investimento em determinada causa, modo de vida ou relacionamento que não correspondeu às expectativas. Em 1977, Maslach empregou o termo publicamente para referir-se a uma situação que afeta, com maior freqüência, aquelas pessoas que, em decorrência de sua profissão, mantêm um contato direto e contínuo com outros seres humanos.

Para Cherniss (citado em Roazzi, Carvalho, & Guimarães, 2000) burnout é uma forma de adaptação que pode resultar em efeitos negativos tanto para a própria pessoa quanto para seu local de trabalho. Portanto, é conseqüência de uma tentativa de adaptação própria das pessoas que não dispõem de recursos para lidar com o estresse no trabalho. Essa falta de habilidade para enfrentar o estresse é determinada tanto por fatores pessoais como por variáveis relativas ao trabalho em si e à organização. Entretanto, a mais influente definição de burnout foi desenvolvida por Maslach e Jackson em 1986. Sua definição multidimensional inclui três componentes: exaustão emocional, despersonalização e redução da realização pessoal (Mills & Huebner, 1998; Codo & Vasques-Menezes, 1999).

A exaustão emocional é caracterizada por um sentimento muito forte de tensão emocional que produz uma sensação de esgotamento, de falta de energia e de recursos emocionais próprios para lidar com as rotinas da prática profissional e representa a dimensão individual da síndrome. A despersonalização é o resultado do desenvolvimento de sentimentos e atitudes negativas, por vezes indiferentes e cínicas em torno daquelas pessoas que entram em contato direto com o profissional, que são sua demanda e objeto de trabalho. Num primeiro momento, é um fator de proteção, mas pode representar um risco de desumanização, constituindo a dimensão interpessoal de burnout. Por último, a falta de realização pessoal no trabalho caracteriza-se como uma tendência que afeta as habilidades interpessoais relacionadas com a prática profissional, o que influi diretamente na forma de atendimento e contato com as pessoas usuárias do trabalho, bem como com a organização (Maslach, 1998). Trata-se de uma síndrome na qual o trabalhador perde o sentido da sua relação com o trabalho, de forma que as coisas não lhe importam mais e qualquer esforço lhe parece inútil. Finalmente, a síndrome de burnout tem sido negativamente relacionada com saúde, performance e satisfação no trabalho, qualidade de vida e bem-estar psicológico (Rabin, Feldman, & Kaplan, 1999).

 

Estresse

O conceito de estresse foi primeiramente descrito por Selye, em 1936 (Helman, 1994; Gasparini & Rodrigues, 1992). Selye (1959) definiu estresse como sendo, essencialmente, o grau de desgaste total causado pela vida. Contudo, no século XVII, o termo foi utilizado por Robert Hooke, no campo da Física, para designar uma pesada carga que afeta uma determinada estrutura física (Lazarus, 1993). Etimologicamente, estresse deriva do latim stringere, significando apertar, cerrar, comprimir (Houaiss, Villar, & Franco, 2001).

Não há um consenso sobre o termo estresse. Alguns autores entendem que representa uma adaptação inadequada à mudança imposta pela situação externa,

Page 19: Stress Ocupacional

uma tentativa frustrada de lidar com os problemas (Helman, 1994), mas estresse também pode ser definido como um referente, tanto para descrever uma situação de muita tensão quanto para definir a tensão a tal situação (Lipp & Rocha, 1994).

Considerando as diferentes definições da palavra estresse, Lazarus (1993) descreve quatro pressupostos essenciais que devem ser observados: 1) um agente causal interno ou externo que pode ser denominado de estressor; 2) uma avaliação que diferencia tipos de estresse (dano, ameaça e desafio); 3) os processos de coping1 utilizados para lidar com os estressores e 4) um padrão complexo de efeitos na mente ou no corpo, freqüentemente referido como reação de estresse.

Apesar do estudo dos eventos estressores contar com um considerável desenvolvimento histórico, a maior parte da literatura empiricamente validada surgiu somente nas últimas duas décadas (Briere, 1997). Nas formulações iniciais preponderava o foco sobre o evento estressor per se, mas atualmente existe grande consideração nas diferenças individuais e nas variáveis cognitivas e motivacionais (Lazarus, 1993). Sendo assim, é importante considerar não só a imensa quantidade de fatores potencializadores de estresse mas, também, os aspectos individuais, a maneira como cada um reage às pressões cotidianas, bem como os aspectos culturais e sociais aos quais os sujeitos estão submetidos. Fatos como problemas familiares, acidentes, doenças, mortes, conflitos pessoais, dificuldade financeira, desemprego, aposentadoria, problemas no ambiente de trabalho, guerras e inúmeros outros podem ser experienciados de maneira diversa por dois indivíduos diferentes, em um mesmo contexto histórico, cultural e social, por exemplo, assim como problemas críticos na ordem social de um país podem potencializar o estresse patológico em diversos indivíduos (Helman, 1994; Ladeira, 1996).

Em suas sociedades, os indivíduos tentam atingir metas definidas, níveis de prestígio e padrões de comportamento que o grupo cultural impõe e espera de seus integrantes (Helman, 1994), de maneira que uma frustração na realização desses aspectos pode desencadear o estresse. Cardoso (1999) afirma que, para a Organização Mundial de Saúde (OMS), a saúde pode ser lesada não apenas pela presença de fatores agressivos (fatores de risco, de “sobrecarga“), mas também pela ausência de fatores ambientais (fatores de “subcarga” como a falta de suficiente atividade muscular, falta de comunicação com outras pessoas, falta de diversificação em tarefas de trabalho que causam monotonia, falta de responsabilidade individual ou de desafios intelectuais). Portanto, pode-se verificar que algum estresse é importante para a realização de qualquer atividade e que sua total ausência, assim como seu excesso, podem ser prejudiciais à saúde. Entretanto, o prolongamento de situações de estresse pode repercutir num quadro patológico, originando distúrbios transitórios ou mesmo doenças graves, como o estresse ocupacional.

 

Burnout e Estresse Ocupacional

Devido ao fato de essas síndromes serem ocasionadas a partir de situações relacionadas ao trabalho, há quem desconsidere suas diferenças. No entanto, embora não haja na literatura um consenso em relação à gênese das mesmas, burnout não é o mesmo que estresse ocupacional. burnout é o resultado de um prolongado processo de tentativas de lidar com determinadas condições de estresse (Rabin, Feldman, & Kaplan, 1999). O estresse pode ser visto como seu determinante, mas não coincide com o mesmo. Farber (citado em Roazzi, Carvalho, & Guimarães, 2000) explora a idéia de que burnout não resulta só do estresse em si (que pode ser inevitável em profissões assistenciais), mas do “estresse não mediado”, do estresse não moderado, sem possibilidade de solução. Assim, burnout

Page 20: Stress Ocupacional

não é um evento, mas sim um processo e, apesar de compartilharem duas características - esgotamento emocional e escassa realização pessoal - burnout e estresse ocupacional diferem pelo fator despersonalização (Cherniss, citado em Roazzi, Carvalho, & Guimarães, 2000). León e Iguti (1999) consideram burnout como um quadro clínico mental extremo do estresse ocupacional.

Através de pesquisa longitudinal, realizada com psicólogos escolares dos EUA, Mills e Huebner (1998) observaram a natureza transacional do relacionamento entre burnout e experiências ocupacionais estressantes. Os dados sugerem que, não somente estas experiências podem predispor os indivíduos a experienciar burnout, mas também que elevados níveis de burnout podem levá-los a desenvolver estresse ocupacional adicional.

Parece haver um consenso em torno da síndrome poder ser caracterizada como uma resposta ao estresse laboral crônico, mas é importante que seus conceitos sejam mantidos distintos. burnout tem como conseqüência uma dessensibilização dirigida às pessoas com quem se trabalha, incluindo usuários, clientes e a própria organização, e o estresse é um esgotamento diverso que, de modo geral, interfere na vida pessoal do indivíduo, além de seu trabalho (Codo & Vasques-Menezes, 1999). Entretanto, apesar de suas particularidades, as diferenças entre os dois não são claras, em função dos fatores desencadeadores serem muito próximos (ver Figura 1), o que dificulta o estabelecimento de um diagnóstico preciso e de uma relação de comorbidade.

 

Exercício Profissional em Psicologia

Cabe analisar, aqui, o contexto e os elementos em que as profissões estão inseridas, já que estão sujeitos a transformações ao longo do tempo. Pode-se considerar as dificuldades tecnológicas e a ordem sócio-econômica de nosso país e pensar quanto é dinâmico o processo de constituição de uma profissão, uma vez que esta se encontra em permanente interação com o meio social. Dessa forma, uma profissão recente, como a Psicologia, é fortemente influenciada por todo esse processo.

Segundo o Conselho Federal de Psicologia (1988), a definição do psicólogo brasileiro, na década de 80, enfatizava sua atuação na elaboração e aplicação de técnicas de qualificação e diagnóstico de distúrbios. Entretanto, devemos sempre considerar que essa visão se insere na tradicional prática que tem privilegiado uma perspectiva de análise e de intervenção no âmbito estritamente individual (Moura, 1999). Atualmente, o fenômeno psicológico tem sido visto de forma abstrata - ora como manifestação de processos internos, ora como produto de vivências externas, elementos influenciados pelo meio físico e social (Bock, 1997).

Numa perspectiva mais atual, verifica-se uma evidente ampliação dos espaços de inserção do psicólogo (Yamamoto & Campos, 1997), de modo que mudanças importantes em domínios de atuação já são foco de pesquisa do Conselho Federal de Psicologia (CFP). Segundo Bastos e Achcar (1994), essas alterações se referem às concepções, práticas, inserção no mercado e clientes atendidos, bem como ao foco de intervenção do profissional de Psicologia. Uma tendência inicial aponta para um modelo que vai além da mensuração de características psicológicas e intervenção diante dos problemas de ajustamento de indivíduos; uma segunda diz respeito a um maior aperfeiçoamento e qualificação profissionais; finalmente, uma terceira visa a trabalhar de maneira mais articulada em relação a outras disciplinas e profissões, em uma perspectiva multidisciplinar e não-tecnicista.

Page 21: Stress Ocupacional

 

Burnout e Estresse Ocupacional em Psicólogos

Conforme referido anteriormente, a síndrome de burnout consiste em uma resposta ao estresse ocupacional crônico, afetando profissionais que se ocupam em prestar assistência a outras pessoas. Entre os profissionais de saúde, eventos potencializadores de estresse podem surgir, dependendo do tipo de atividade exercida. Entretanto, existe uma evidência crescente demonstrando que os profissionais da área da saúde mental, por fatores relacionados à natureza de sua profissão, apresentam-se particularmente vulneráveis ao estresse e a seus efeitos (Rabin, Feldman, & Kaplan, 1999). Entre os fatores específicos, destacam-se: a) o manejo, por um longo período de tempo, com pessoas com transtornos mentais; b) a responsabilidade para com a vida do paciente; c) a inabilidade para estabelecer limites em suas interações profissionais e d) a atenção constante aos problemas e necessidades dos pacientes de uma forma não recíproca (Moore & Cooper, 1996; Rabin, Feldman, & Kaplan, 1999).

Facilmente se observa que os psicólogos, por atuarem na área da saúde mental, estão entre a clientela de risco da síndrome de burnout. Aos fatores destacados, acrescenta-se a possibilidade de haver alguma identificação e formação de laços afetivos entre os psicólogos e seus clientes (França, citado em Covolan, 1996), especialmente quando se trata de práticas mais tradicionais de atendimento individual. Exemplificando, estudos realizados em psicólogos clínicos norte-americanos e ingleses demonstraram elevados níveis de estresse entre esses profissionais (Rabin, Feldman, & Kaplan, 1999). Especificamente em relação a psicoterapeutas, Farber (1985) identificou cinco fatores desencadeadores de estresse: manutenção da relação terapêutica, agendamento, dúvidas profissionais, envolvimento excessivo no trabalho e esgotamento pessoal. Além desses, solidão, expectativas excessivas e falta de gratificação também foram identificados como fontes de estresse naqueles profissionais (Rabin, Feldman, & Kaplan, 1999). Entretanto, burnout afeta, também, psicólogos em outras áreas de atuação. Em uma amostra de 173 psicólogos escolares, Mills e Huebner (1998) observaram que 40% dos sujeitos relataram elevados níveis de exaustão emocional, 19% relataram um senso diminuído de realização pessoal e 10% relataram reações de despersonalização.

Moore e Cooper (1996) propõem que talvez haja um vácuo entre as expectativas idealizadas e seus resultados na prática dos profissionais de saúde mental. Os profissionais dessa área idealizam que sua prática servirá para ajudar as pessoas e, na realidade, poucas mudanças são experienciadas por pacientes crônicos. Essa contradição indica que talvez seja mais gratificante, para o profissional, encarar sua prática como uma intervenção de apoio aos pacientes, ao invés de uma busca de cura. Essa situação pode ser uma ilustração do burnout e está relacionada com a realidade vivenciada pelos profissionais de saúde mental que são treinados para reconhecer e concordar com a realidade de seus pacientes.

Garcia, Cabeza e Fernandez (1998) identificaram uma variação no nível de burnout entre profissionais de saúde mental que trabalham em centros de saúde e em hospitais de Madri. Em centros de saúde foi percebido um grau de realização pessoal no trabalho mais favorável do que em hospitais. O local de trabalho, portanto, influencia sensivelmente o grau de realização pessoal no trabalho e a possibilidade de se desenvolver burnout e estresse a partir de um ambiente que exerça pressão nos indivíduos.

Leite (1997) obteve dados sobre a atividade de 34 profissionais da Psicologia que trabalhavam no Hospital Geral do Rio de Janeiro. Esses profissionais citaram que existem demandas institucionais diferentes da necessidade apresentada pelos

Page 22: Stress Ocupacional

pacientes que necessitam, na maioria das vezes, simplesmente de escuta, atenção e afeto. No entanto, as atividades cobradas pelo hospital são outras, como manejar pacientes difíceis, ordenar a enfermaria e lidar com funcionários, ficando claro, com isso, a dúvida relacionada ao papel do psicólogo no espaço hospitalar.

Considerando-se a realidade do exercício profissional, observa-se uma mudança em termos da atuação do psicólogo com o surgimento, nas últimas décadas, de novos campos e, conseqüentemente, no aumento da necessidade de aperfeiçoamento e qualificação profissional. As constantes mudanças levam à necessidade de aprimoramento e, embora isso faça parte da dinâmica das alterações paradigmáticas (que, além de já serem situações novas, ainda estão associadas ao processo de produção do conhecimento favorecido pelos novos avanços tecnológicos), é possível que possa gerar estresse em profissionais que não se beneficiem dessas alterações e as tomem como fortes fontes de pressão. Leite (1997) observa que, além das dificuldades encontradas no contato direto com as novas possibilidades de trabalho, há, ainda, uma dificuldade com a formação acadêmica que oriente e esclareça sobre as questões relativas aos diversos campos que surgem paralelos à graduação.

O contexto sócio-econômico a que estão sujeitos os profissionais de saúde mental no Brasil deve ser considerado. O sofrimento psíquico (e social) que os pacientes apresentam, as condições de atendimento, os baixos salários e o pequeno tempo disponível para uma consulta são fatores importantes a se considerar para pensar os processos de estresse ocupacional e burnout. Branco (1998) pressupõe que a atividade, nesse ambiente de trabalho permeado pela hierarquia, dificulta a afetividade entre paciente e profissional e, a partir daí, evidencia potenciais de estresse ocupacional e burnout. Williams (1999) conta sua experiência de trabalho como psicóloga em escolas de Toronto e destaca o prazer de atuar em um país que investe em educação pública de altíssima qualidade e com boas condições de trabalho, possibilitando satisfação profissional e se constituindo no que Maslach (1998) denomina “engajamento”. Este é definido nos mesmos termos de burnout, mas de forma positiva, pois um estado de maior energia, forte envolvimento e senso de eficácia se contrapõem à exaustão, ao cinismo e ao reduzido senso de realização pessoal. O engajamento não é um estado neutro, mas se opõe a burnout e se constitui num estado mental definido e num funcionamento social dentro de um domínio ocupacional. Dessa forma, há um continuum entre engajamento e burnout.

Por fim, ao se constatar que o estresse ocupacional e, especialmente, a síndrome de burnout podem afetar a prestação do serviço e a qualidade do cuidado oferecido, julga-se necessário pesquisar essas síndromes em psicólogos brasileiros, considerando o contexto sócio-econômico a que estão sujeitos esses profissionais, já que a maioria das pesquisas existentes, por ocorrerem em países desenvolvidos, não levam em conta essas variáveis.

 

Referências bibliográficas

Antoniazzi, A. S., Dell’Aglio, D. D., & Bandeira, D. R. (1998). O conceito de coping: Uma revisão teórica. Estudos de Psicologia, 3, 273-294.         [ Links ]

Bastos, A. V. B. & Achcar, R. (1994). Dinâmica profissional e formação do psicólogo: Uma perspectiva de interação. Em R. Achar (Org.), Psicólogo brasileiro: Práticas emergentes e desafios para a formação (pp. 245-271). São Paulo: Casa do Psicólogo / Conselho Federal de Psicologia.         [ Links ]

Page 23: Stress Ocupacional

Bock, A. M. B. (1997). Formação do psicólogo: Um rebate a partir do significado do fenômeno psicológico. Psicologia: Ciência e Profissão, 17(2), 37-43.         [ Links ]

Branco, M. T. C. (1998). Que profissionais queremos formar? Psicologia: Ciência e Profissão,18(3), 28-35.         [ Links ]

Briere, J. (1997). Psychological assessment of adult posttraumatic states. Washington, DC: American Psychological Association.         [ Links ]

Cardoso, W. L. C. D. (1999). Qualidade de vida e trabalho: Uma articulação possível. Em L. A. M. Guimarães & S. Grubits (Orgs.), Saúde Mental e Trabalho (pp. 89-116). São Paulo: Casa do Psicólogo.         [ Links ]

Codo, W., & Vasques-Menezes, I. (1999). O que é burnout? Em W. Codo (Org.), Educação: Carinho e trabalho (pp. 237-255). Rio de Janeiro: Vozes.         [ Links ]

Conselho Federal de Psicologia. (1988). Quem é o psicólogo brasileiro? São Paulo: Edicon.         [ Links ]

Covolan, M. A. (1996). Stress ocupacional do psicólogo clínico: Seus sintomas, suas fontes e as estratégias utilizadas para controlá-lo. Em M. A. Lipp (Org.), Pesquisas sobre stress no Brasil (pp. 225-240). São Paulo: Papirus.         [ Links ]

Farber, B. (1985). Clinical psychologists’ perceptions of psychotherapeutic work. Clinical Psychologist, 38, 10-13.         [ Links ]

Folkman, S., & Lazarus, R. S. (1988). Coping as a mediator of emotion. Journal of Personality and Social Psychology, 54, 466-475.         [ Links ]

Freudenberger, H. J., & Richelson, G. (1991). Estafa: O alto custo dos empreendimentos. Rio de Janeiro: Francisco Alves.         [ Links ]

Gasparini, A. C. L. F., & Rodrigues, A. L. (1992). Uma perspectiva psicossocial em psicossomática: Via estresse e trabalho. Em J. Mello Filho (Org.), Psicossomática hoje (pp. 93-107). Porto Alegre: Artes Médicas.         [ Links ]

Garcia, M. S. O., Cabeza, I. G., & Fernandez, L. M. (1998). burnout en profesionales de salud mental. Anales de Psiquiatria,14(2), 48-55.         [ Links ]

Gazzotti, A. A., & Vasques-Menezes, I. (1999). Suporte afetivo e o sofrimento psíquico em burnout. Em W. Codo (Org.), Educação: Carinho e trabalho (pp. 261-266). Rio de Janeiro: Vozes.         [ Links ]

Helman, C. G. (1994). Cultura, saúde e doença. Porto Alegre: Artes Médicas. [ Links ]

Houaiss, A., Villar, M. de S., & Franco, F. M. de M. (Orgs.). (2001). Dicionário Houaiss da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva.         [ Links ]

Houaiss, A., Villar, M. de S., & Franco, F. M. de M. (Orgs.). (2001). Dicionário Houaiss da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva        [ Links ]

Ladeira, M. B. (1996). O processo de stress ocupacional e a psicopatologia do trabalho. Revista de Administração, 31(1), 64-74.         [ Links ]

Page 24: Stress Ocupacional

Lazarus, R. S. (1993). From psychological stress to the emotions: A history of changing outlooks. Annual Review of Psychology, 44, 1-21.         [ Links ]

Leite, S. (1997). Psicólogo e algumas práticas no serviço público estadual de saúde. Psicologia: Ciência e Profissão, 17(1), 35-39.         [ Links ]

León, L. M., & Iguti, A. M. (1999). Saúde em tempos de desemprego. Em: L. A. M. Guimarães, & S. Grubits (Orgs.), Série Saúde Mental e Trabalho. (pp. 239-258). São Paulo: Casa do Psicólogo.         [ Links ]

Lipp, M. N., & Rocha J. C. (1994). Stress, hipertensão arterial e qualidade de vida: Um guia de tratamento ao hipertenso. Campinas: Papirus.         [ Links ]

Maslach, C. (1998). A multidimensional theory of burnout. Em: C. L. Cooper (Org.), Theories of organizational stress (pp.68-85). Manchester: Oxford University. [ Links ]

Mills, L. B., & Huebner, E. S. (1998). A prospective study of personality characteristics, occupational stressors, and burnout among school psychology practitioners. Journal of School Psychology, 36, 103-120.         [ Links ]

Moura, E. P. G. (1999). A psicologia (e os psicólogos) que temos e a psicologia que queremos: Reflexões a partir das propostas de diretrizes curriculares (Mec/Sesu) para os cursos de graduação em psicologia. Psicologia: Ciência e Profissão, 19(2), 10-19.         [ Links ]

Moore, K. A., & Cooper, C. L. (1996). Stress in mental health professionals: A theoretical overview. International Journal of Social Psychiatry, 42(2), 82-89. [ Links ]

Rabin, S., Feldman, D., & Kaplan, Z. (1999). Stress and intervention strategies in mental health professionals. British Journal of Medical Psychology, 72, 159-169. [ Links ]

Roazzi, A., Carvalho A. D., & Guimarães, P.V. (2000). Análise da estrutura de similaridade da síndrome de burnout: Validação da escala “Maslach Burnout Inventory” em professores. Trabalho apresentado no V Encontro Mineiro de Avaliação Psicológica: Teoria e prática & VIII Conferência Internacional de Avaliação Psicológica: Formas e contextos, Belo Horizonte, MG.         [ Links ]

Selye, H. (1959). Stress: A tensão da vida. São Paulo: IBRASA.         [ Links ]

Williams, L. C. A. (1999). A atuação do psicólogo em um mundo globalizado: A experiência de uma década de trabalho no Canadá. Psicologia: Ciência e Profissão 19(3), 32-39.         [ Links ]

Yamamoto, O. H., & Campos, H. R. (1997). Novos espaços, práticas emergentes: Um novo horizonte para a psicologia brasileira? Psicologia em Estudo, 2, 89-111. [ Links ] 

Estresse ocupacional e Síndrome de Burnout no exercício profissional da psicologia 

RESUMO

Page 25: Stress Ocupacional

Esta revisão teórica busca analisar os aspectos vinculados ao estresse ocupacional e à síndrome de burnout, bem como relacioná-los com a prática profissional dos psicólogos. Essas síndromes podem afetar o psicólogo pois, nas suas relações de trabalho, ele se encontra muito próximo de pessoas em sofrimento, podendo identificar-se e vincular-se afetivamente às mesmas. São discutidos aspectos conceituais e causais das síndromes, das relações de trabalho em saúde mental e, especificamente, do exercício profissional em Psicologia, considerando a realidade do Brasil e de outros países.

Palavras-chave: Estresse, Síndrome de burnout, Prática profissional.

ABSTRACT

The aspects linked to occupational stress and burnout syndrome, as well as their relation to the psychologists professional practice are this article scope. The main reason why these syndromes affect the psychology professional is linked to its work relations, that are very close to the contact with suffering people, as well as a sort of identification and affection that can be established between patient and caregiver. Conceptual aspects and causes of these syndromes are discussed, and also the job relations in mental health workers and psychologists, considering Brazil and other countries’ realities.

Keywords: Stress, burnout syndrome, Professional practice.

 

 

O trabalho ocupa um papel central na vida das pessoas e é um fator relevante na formação da identidade e na inserção social das mesmas. Neste contexto, considera-se que o bem-estar adquirido pelo equilíbrio entre as expectativas em relação à atividade profissional e à concretização das mesmas é um dos fatores que constituem a qualidade de vida. Esta é proporcionada pela satisfação de condições objetivas tais como renda, emprego, objetos possuídos e qualidade de habitação, de condições subjetivas como segurança, privacidade e afeto (Wilheim & Déak, citado em Cardoso, 1999), bem como motivação, relações de auto-estima, apoio e reconhecimento social.

Uma relação satisfatória com a atividade de trabalho é fundamental para o desenvolvimento nas diferentes áreas da vida humana e esta relação depende, em grande escala, dos suportes afetivos e sociais que os indivíduos recebem durante seu percurso profissional. O suporte afetivo provém do relacionamento com pessoas com as quais é possível compartilhar preocupações, amarguras e esperanças, de modo que sua presença possa trazer sentimentos de segurança, conforto e confiança. O suporte social aplica-se ao quadro de relações gerais que se estabelecem, naturalmente, entre colegas de trabalho, vizinhos e conhecidos, o que também pode favorecer o aprofundamento de relacionamentos que, mais tarde, venham a fazer parte do suporte afetivo.

Para Gazzotti e Vasques-Menezes (1999), a fragilidade emocional provocada pela falta dos suportes afetivo e social traz grande sofrimento, uma vez que o reflexo dessa situação não fica restrito à vida privada, ampliando-se para o campo das

Page 26: Stress Ocupacional

relações de trabalho. O trabalhador, ao sentir-se sem alternativa para compartilhar suas dificuldades, anseios e preocupações, tem aumentada sua tensão emocional, o que pode levar ao surgimento da síndrome de burnout e/ou do estresse ocupacional.

 

O que é burnout?

Para Codo e Vasques-Menezes (1999), burnout consiste na “síndrome da desistência”, pois o indivíduo, nessa situação, deixa de investir em seu trabalho e nas relações afetivas que dele decorrem e, aparentemente, torna-se incapaz de se envolver emocionalmente com o mesmo. No entanto, autores discutem a possibilidade de males como fadiga, depressão, estresse e falta de motivação também apresentarem a desistência como característica marcante. Dessa forma, pode-se pensar que estudos sobre desistência e, conseqüentemente, sobre burnout se iniciaram juntamente com os estudos de Pavlov. Este pesquisador constatou que cães submetidos a uma tarefa progressivamente difícil de realizar, como por exemplo, diferenciar um círculo de uma elipse, apresentavam um rompimento no comportamento e esse rompimento foi denominado, por Pavlov, de “neurose experimental” (Codo & Vasques-Menezes, 1999). Essa ruptura no comportamento não seria uma resposta frente a uma dificuldade tão grande que só restaria ao cão desistir da atividade e entrar em neurose experimental? Por analogia, os seres humanos poderiam entrar em burnout ao se sentirem incapazes de investir em seu trabalho, em conseqüência da incapacidade de lidar com o mesmo (Codo & Vasques-Menezes, 1999).

O termo burnout, no sentido que se está estudando, foi empregado na década de 70 pelo psicólogo clínico Freudenberger. Entretanto, é possível considerar a hipótese de que ele apenas nomeou um sentimento que já existia e havia sido experimentado por muitos (Codo & Vasques-Menezes, 1999). Freudenberger e Richelson (1991) descreveram um indivíduo com burnout como estando frustrado ou com fadiga desencadeada pelo investimento em determinada causa, modo de vida ou relacionamento que não correspondeu às expectativas. Em 1977, Maslach empregou o termo publicamente para referir-se a uma situação que afeta, com maior freqüência, aquelas pessoas que, em decorrência de sua profissão, mantêm um contato direto e contínuo com outros seres humanos.

Para Cherniss (citado em Roazzi, Carvalho, & Guimarães, 2000) burnout é uma forma de adaptação que pode resultar em efeitos negativos tanto para a própria pessoa quanto para seu local de trabalho. Portanto, é conseqüência de uma tentativa de adaptação própria das pessoas que não dispõem de recursos para lidar com o estresse no trabalho. Essa falta de habilidade para enfrentar o estresse é determinada tanto por fatores pessoais como por variáveis relativas ao trabalho em si e à organização. Entretanto, a mais influente definição de burnout foi desenvolvida por Maslach e Jackson em 1986. Sua definição multidimensional inclui três componentes: exaustão emocional, despersonalização e redução da realização pessoal (Mills & Huebner, 1998; Codo & Vasques-Menezes, 1999).

A exaustão emocional é caracterizada por um sentimento muito forte de tensão emocional que produz uma sensação de esgotamento, de falta de energia e de recursos emocionais próprios para lidar com as rotinas da prática profissional e representa a dimensão individual da síndrome. A despersonalização é o resultado do desenvolvimento de sentimentos e atitudes negativas, por vezes indiferentes e cínicas em torno daquelas pessoas que entram em contato direto com o profissional, que são sua demanda e objeto de trabalho. Num primeiro momento, é um fator de proteção, mas pode representar um risco de desumanização, constituindo a dimensão interpessoal de burnout. Por último, a falta de realização

Page 27: Stress Ocupacional

pessoal no trabalho caracteriza-se como uma tendência que afeta as habilidades interpessoais relacionadas com a prática profissional, o que influi diretamente na forma de atendimento e contato com as pessoas usuárias do trabalho, bem como com a organização (Maslach, 1998). Trata-se de uma síndrome na qual o trabalhador perde o sentido da sua relação com o trabalho, de forma que as coisas não lhe importam mais e qualquer esforço lhe parece inútil. Finalmente, a síndrome de burnout tem sido negativamente relacionada com saúde, performance e satisfação no trabalho, qualidade de vida e bem-estar psicológico (Rabin, Feldman, & Kaplan, 1999).

 

Estresse

O conceito de estresse foi primeiramente descrito por Selye, em 1936 (Helman, 1994; Gasparini & Rodrigues, 1992). Selye (1959) definiu estresse como sendo, essencialmente, o grau de desgaste total causado pela vida. Contudo, no século XVII, o termo foi utilizado por Robert Hooke, no campo da Física, para designar uma pesada carga que afeta uma determinada estrutura física (Lazarus, 1993). Etimologicamente, estresse deriva do latim stringere, significando apertar, cerrar, comprimir (Houaiss, Villar, & Franco, 2001).

Não há um consenso sobre o termo estresse. Alguns autores entendem que representa uma adaptação inadequada à mudança imposta pela situação externa, uma tentativa frustrada de lidar com os problemas (Helman, 1994), mas estresse também pode ser definido como um referente, tanto para descrever uma situação de muita tensão quanto para definir a tensão a tal situação (Lipp & Rocha, 1994).

Considerando as diferentes definições da palavra estresse, Lazarus (1993) descreve quatro pressupostos essenciais que devem ser observados: 1) um agente causal interno ou externo que pode ser denominado de estressor; 2) uma avaliação que diferencia tipos de estresse (dano, ameaça e desafio); 3) os processos de coping1 utilizados para lidar com os estressores e 4) um padrão complexo de efeitos na mente ou no corpo, freqüentemente referido como reação de estresse.

Apesar do estudo dos eventos estressores contar com um considerável desenvolvimento histórico, a maior parte da literatura empiricamente validada surgiu somente nas últimas duas décadas (Briere, 1997). Nas formulações iniciais preponderava o foco sobre o evento estressor per se, mas atualmente existe grande consideração nas diferenças individuais e nas variáveis cognitivas e motivacionais (Lazarus, 1993). Sendo assim, é importante considerar não só a imensa quantidade de fatores potencializadores de estresse mas, também, os aspectos individuais, a maneira como cada um reage às pressões cotidianas, bem como os aspectos culturais e sociais aos quais os sujeitos estão submetidos. Fatos como problemas familiares, acidentes, doenças, mortes, conflitos pessoais, dificuldade financeira, desemprego, aposentadoria, problemas no ambiente de trabalho, guerras e inúmeros outros podem ser experienciados de maneira diversa por dois indivíduos diferentes, em um mesmo contexto histórico, cultural e social, por exemplo, assim como problemas críticos na ordem social de um país podem potencializar o estresse patológico em diversos indivíduos (Helman, 1994; Ladeira, 1996).

Em suas sociedades, os indivíduos tentam atingir metas definidas, níveis de prestígio e padrões de comportamento que o grupo cultural impõe e espera de seus integrantes (Helman, 1994), de maneira que uma frustração na realização desses aspectos pode desencadear o estresse. Cardoso (1999) afirma que, para a Organização Mundial de Saúde (OMS), a saúde pode ser lesada não apenas pela presença de fatores agressivos (fatores de risco, de “sobrecarga“), mas também

Page 28: Stress Ocupacional

pela ausência de fatores ambientais (fatores de “subcarga” como a falta de suficiente atividade muscular, falta de comunicação com outras pessoas, falta de diversificação em tarefas de trabalho que causam monotonia, falta de responsabilidade individual ou de desafios intelectuais). Portanto, pode-se verificar que algum estresse é importante para a realização de qualquer atividade e que sua total ausência, assim como seu excesso, podem ser prejudiciais à saúde. Entretanto, o prolongamento de situações de estresse pode repercutir num quadro patológico, originando distúrbios transitórios ou mesmo doenças graves, como o estresse ocupacional.

 

Burnout e Estresse Ocupacional

Devido ao fato de essas síndromes serem ocasionadas a partir de situações relacionadas ao trabalho, há quem desconsidere suas diferenças. No entanto, embora não haja na literatura um consenso em relação à gênese das mesmas, burnout não é o mesmo que estresse ocupacional. burnout é o resultado de um prolongado processo de tentativas de lidar com determinadas condições de estresse (Rabin, Feldman, & Kaplan, 1999). O estresse pode ser visto como seu determinante, mas não coincide com o mesmo. Farber (citado em Roazzi, Carvalho, & Guimarães, 2000) explora a idéia de que burnout não resulta só do estresse em si (que pode ser inevitável em profissões assistenciais), mas do “estresse não mediado”, do estresse não moderado, sem possibilidade de solução. Assim, burnout não é um evento, mas sim um processo e, apesar de compartilharem duas características - esgotamento emocional e escassa realização pessoal - burnout e estresse ocupacional diferem pelo fator despersonalização (Cherniss, citado em Roazzi, Carvalho, & Guimarães, 2000). León e Iguti (1999) consideram burnout como um quadro clínico mental extremo do estresse ocupacional.

Através de pesquisa longitudinal, realizada com psicólogos escolares dos EUA, Mills e Huebner (1998) observaram a natureza transacional do relacionamento entre burnout e experiências ocupacionais estressantes. Os dados sugerem que, não somente estas experiências podem predispor os indivíduos a experienciar burnout, mas também que elevados níveis de burnout podem levá-los a desenvolver estresse ocupacional adicional.

Parece haver um consenso em torno da síndrome poder ser caracterizada como uma resposta ao estresse laboral crônico, mas é importante que seus conceitos sejam mantidos distintos. burnout tem como conseqüência uma dessensibilização dirigida às pessoas com quem se trabalha, incluindo usuários, clientes e a própria organização, e o estresse é um esgotamento diverso que, de modo geral, interfere na vida pessoal do indivíduo, além de seu trabalho (Codo & Vasques-Menezes, 1999). Entretanto, apesar de suas particularidades, as diferenças entre os dois não são claras, em função dos fatores desencadeadores serem muito próximos (ver Figura 1), o que dificulta o estabelecimento de um diagnóstico preciso e de uma relação de comorbidade.

 

Exercício Profissional em Psicologia

Cabe analisar, aqui, o contexto e os elementos em que as profissões estão inseridas, já que estão sujeitos a transformações ao longo do tempo. Pode-se considerar as dificuldades tecnológicas e a ordem sócio-econômica de nosso país e pensar quanto é dinâmico o processo de constituição de uma profissão, uma vez que esta se encontra em permanente interação com o meio social. Dessa forma,

Page 29: Stress Ocupacional

uma profissão recente, como a Psicologia, é fortemente influenciada por todo esse processo.

Segundo o Conselho Federal de Psicologia (1988), a definição do psicólogo brasileiro, na década de 80, enfatizava sua atuação na elaboração e aplicação de técnicas de qualificação e diagnóstico de distúrbios. Entretanto, devemos sempre considerar que essa visão se insere na tradicional prática que tem privilegiado uma perspectiva de análise e de intervenção no âmbito estritamente individual (Moura, 1999). Atualmente, o fenômeno psicológico tem sido visto de forma abstrata - ora como manifestação de processos internos, ora como produto de vivências externas, elementos influenciados pelo meio físico e social (Bock, 1997).

Numa perspectiva mais atual, verifica-se uma evidente ampliação dos espaços de inserção do psicólogo (Yamamoto & Campos, 1997), de modo que mudanças importantes em domínios de atuação já são foco de pesquisa do Conselho Federal de Psicologia (CFP). Segundo Bastos e Achcar (1994), essas alterações se referem às concepções, práticas, inserção no mercado e clientes atendidos, bem como ao foco de intervenção do profissional de Psicologia. Uma tendência inicial aponta para um modelo que vai além da mensuração de características psicológicas e intervenção diante dos problemas de ajustamento de indivíduos; uma segunda diz respeito a um maior aperfeiçoamento e qualificação profissionais; finalmente, uma terceira visa a trabalhar de maneira mais articulada em relação a outras disciplinas e profissões, em uma perspectiva multidisciplinar e não-tecnicista.

 

Burnout e Estresse Ocupacional em Psicólogos

Conforme referido anteriormente, a síndrome de burnout consiste em uma resposta ao estresse ocupacional crônico, afetando profissionais que se ocupam em prestar assistência a outras pessoas. Entre os profissionais de saúde, eventos potencializadores de estresse podem surgir, dependendo do tipo de atividade exercida. Entretanto, existe uma evidência crescente demonstrando que os profissionais da área da saúde mental, por fatores relacionados à natureza de sua profissão, apresentam-se particularmente vulneráveis ao estresse e a seus efeitos (Rabin, Feldman, & Kaplan, 1999). Entre os fatores específicos, destacam-se: a) o manejo, por um longo período de tempo, com pessoas com transtornos mentais; b) a responsabilidade para com a vida do paciente; c) a inabilidade para estabelecer limites em suas interações profissionais e d) a atenção constante aos problemas e necessidades dos pacientes de uma forma não recíproca (Moore & Cooper, 1996; Rabin, Feldman, & Kaplan, 1999).

Facilmente se observa que os psicólogos, por atuarem na área da saúde mental, estão entre a clientela de risco da síndrome de burnout. Aos fatores destacados, acrescenta-se a possibilidade de haver alguma identificação e formação de laços afetivos entre os psicólogos e seus clientes (França, citado em Covolan, 1996), especialmente quando se trata de práticas mais tradicionais de atendimento individual. Exemplificando, estudos realizados em psicólogos clínicos norte-americanos e ingleses demonstraram elevados níveis de estresse entre esses profissionais (Rabin, Feldman, & Kaplan, 1999). Especificamente em relação a psicoterapeutas, Farber (1985) identificou cinco fatores desencadeadores de estresse: manutenção da relação terapêutica, agendamento, dúvidas profissionais, envolvimento excessivo no trabalho e esgotamento pessoal. Além desses, solidão, expectativas excessivas e falta de gratificação também foram identificados como fontes de estresse naqueles profissionais (Rabin, Feldman, & Kaplan, 1999). Entretanto, burnout afeta, também, psicólogos em outras áreas de atuação. Em uma amostra de 173 psicólogos escolares, Mills e Huebner (1998) observaram que 40% dos sujeitos relataram elevados níveis de exaustão emocional, 19% relataram

Page 30: Stress Ocupacional

um senso diminuído de realização pessoal e 10% relataram reações de despersonalização.

Moore e Cooper (1996) propõem que talvez haja um vácuo entre as expectativas idealizadas e seus resultados na prática dos profissionais de saúde mental. Os profissionais dessa área idealizam que sua prática servirá para ajudar as pessoas e, na realidade, poucas mudanças são experienciadas por pacientes crônicos. Essa contradição indica que talvez seja mais gratificante, para o profissional, encarar sua prática como uma intervenção de apoio aos pacientes, ao invés de uma busca de cura. Essa situação pode ser uma ilustração do burnout e está relacionada com a realidade vivenciada pelos profissionais de saúde mental que são treinados para reconhecer e concordar com a realidade de seus pacientes.

Garcia, Cabeza e Fernandez (1998) identificaram uma variação no nível de burnout entre profissionais de saúde mental que trabalham em centros de saúde e em hospitais de Madri. Em centros de saúde foi percebido um grau de realização pessoal no trabalho mais favorável do que em hospitais. O local de trabalho, portanto, influencia sensivelmente o grau de realização pessoal no trabalho e a possibilidade de se desenvolver burnout e estresse a partir de um ambiente que exerça pressão nos indivíduos.

Leite (1997) obteve dados sobre a atividade de 34 profissionais da Psicologia que trabalhavam no Hospital Geral do Rio de Janeiro. Esses profissionais citaram que existem demandas institucionais diferentes da necessidade apresentada pelos pacientes que necessitam, na maioria das vezes, simplesmente de escuta, atenção e afeto. No entanto, as atividades cobradas pelo hospital são outras, como manejar pacientes difíceis, ordenar a enfermaria e lidar com funcionários, ficando claro, com isso, a dúvida relacionada ao papel do psicólogo no espaço hospitalar.

Considerando-se a realidade do exercício profissional, observa-se uma mudança em termos da atuação do psicólogo com o surgimento, nas últimas décadas, de novos campos e, conseqüentemente, no aumento da necessidade de aperfeiçoamento e qualificação profissional. As constantes mudanças levam à necessidade de aprimoramento e, embora isso faça parte da dinâmica das alterações paradigmáticas (que, além de já serem situações novas, ainda estão associadas ao processo de produção do conhecimento favorecido pelos novos avanços tecnológicos), é possível que possa gerar estresse em profissionais que não se beneficiem dessas alterações e as tomem como fortes fontes de pressão. Leite (1997) observa que, além das dificuldades encontradas no contato direto com as novas possibilidades de trabalho, há, ainda, uma dificuldade com a formação acadêmica que oriente e esclareça sobre as questões relativas aos diversos campos que surgem paralelos à graduação.

O contexto sócio-econômico a que estão sujeitos os profissionais de saúde mental no Brasil deve ser considerado. O sofrimento psíquico (e social) que os pacientes apresentam, as condições de atendimento, os baixos salários e o pequeno tempo disponível para uma consulta são fatores importantes a se considerar para pensar os processos de estresse ocupacional e burnout. Branco (1998) pressupõe que a atividade, nesse ambiente de trabalho permeado pela hierarquia, dificulta a afetividade entre paciente e profissional e, a partir daí, evidencia potenciais de estresse ocupacional e burnout. Williams (1999) conta sua experiência de trabalho como psicóloga em escolas de Toronto e destaca o prazer de atuar em um país que investe em educação pública de altíssima qualidade e com boas condições de trabalho, possibilitando satisfação profissional e se constituindo no que Maslach (1998) denomina “engajamento”. Este é definido nos mesmos termos de burnout, mas de forma positiva, pois um estado de maior energia, forte envolvimento e senso de eficácia se contrapõem à exaustão, ao cinismo e ao reduzido senso de realização pessoal. O engajamento não é um estado neutro, mas se opõe a burnout e se constitui num estado mental definido e num funcionamento social dentro de

Page 31: Stress Ocupacional

um domínio ocupacional. Dessa forma, há um continuum entre engajamento e burnout.

Por fim, ao se constatar que o estresse ocupacional e, especialmente, a síndrome de burnout podem afetar a prestação do serviço e a qualidade do cuidado oferecido, julga-se necessário pesquisar essas síndromes em psicólogos brasileiros, considerando o contexto sócio-econômico a que estão sujeitos esses profissionais, já que a maioria das pesquisas existentes, por ocorrerem em países desenvolvidos, não levam em conta essas variáveis.

 

Referências bibliográficas

Antoniazzi, A. S., Dell’Aglio, D. D., & Bandeira, D. R. (1998). O conceito de coping: Uma revisão teórica. Estudos de Psicologia, 3, 273-294.         [ Links ]

Bastos, A. V. B. & Achcar, R. (1994). Dinâmica profissional e formação do psicólogo: Uma perspectiva de interação. Em R. Achar (Org.), Psicólogo brasileiro: Práticas emergentes e desafios para a formação (pp. 245-271). São Paulo: Casa do Psicólogo / Conselho Federal de Psicologia.         [ Links ]

Bock, A. M. B. (1997). Formação do psicólogo: Um rebate a partir do significado do fenômeno psicológico. Psicologia: Ciência e Profissão, 17(2), 37-43.         [ Links ]

Branco, M. T. C. (1998). Que profissionais queremos formar? Psicologia: Ciência e Profissão,18(3), 28-35.         [ Links ]

Briere, J. (1997). Psychological assessment of adult posttraumatic states. Washington, DC: American Psychological Association.         [ Links ]

Cardoso, W. L. C. D. (1999). Qualidade de vida e trabalho: Uma articulação possível. Em L. A. M. Guimarães & S. Grubits (Orgs.), Saúde Mental e Trabalho (pp. 89-116). São Paulo: Casa do Psicólogo.         [ Links ]

Codo, W., & Vasques-Menezes, I. (1999). O que é burnout? Em W. Codo (Org.), Educação: Carinho e trabalho (pp. 237-255). Rio de Janeiro: Vozes.         [ Links ]

Conselho Federal de Psicologia. (1988). Quem é o psicólogo brasileiro? São Paulo: Edicon.         [ Links ]

Covolan, M. A. (1996). Stress ocupacional do psicólogo clínico: Seus sintomas, suas fontes e as estratégias utilizadas para controlá-lo. Em M. A. Lipp (Org.), Pesquisas sobre stress no Brasil (pp. 225-240). São Paulo: Papirus.         [ Links ]

Farber, B. (1985). Clinical psychologists’ perceptions of psychotherapeutic work. Clinical Psychologist, 38, 10-13.         [ Links ]

Folkman, S., & Lazarus, R. S. (1988). Coping as a mediator of emotion. Journal of Personality and Social Psychology, 54, 466-475.         [ Links ]

Freudenberger, H. J., & Richelson, G. (1991). Estafa: O alto custo dos empreendimentos. Rio de Janeiro: Francisco Alves.         [ Links ]

Page 32: Stress Ocupacional

Gasparini, A. C. L. F., & Rodrigues, A. L. (1992). Uma perspectiva psicossocial em psicossomática: Via estresse e trabalho. Em J. Mello Filho (Org.), Psicossomática hoje (pp. 93-107). Porto Alegre: Artes Médicas.         [ Links ]

Garcia, M. S. O., Cabeza, I. G., & Fernandez, L. M. (1998). burnout en profesionales de salud mental. Anales de Psiquiatria,14(2), 48-55.         [ Links ]

Gazzotti, A. A., & Vasques-Menezes, I. (1999). Suporte afetivo e o sofrimento psíquico em burnout. Em W. Codo (Org.), Educação: Carinho e trabalho (pp. 261-266). Rio de Janeiro: Vozes.         [ Links ]

Helman, C. G. (1994). Cultura, saúde e doença. Porto Alegre: Artes Médicas. [ Links ]

Houaiss, A., Villar, M. de S., & Franco, F. M. de M. (Orgs.). (2001). Dicionário Houaiss da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva.         [ Links ]

Houaiss, A., Villar, M. de S., & Franco, F. M. de M. (Orgs.). (2001). Dicionário Houaiss da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva        [ Links ]

Ladeira, M. B. (1996). O processo de stress ocupacional e a psicopatologia do trabalho. Revista de Administração, 31(1), 64-74.         [ Links ]

Lazarus, R. S. (1993). From psychological stress to the emotions: A history of changing outlooks. Annual Review of Psychology, 44, 1-21.         [ Links ]

Leite, S. (1997). Psicólogo e algumas práticas no serviço público estadual de saúde. Psicologia: Ciência e Profissão, 17(1), 35-39.         [ Links ]

León, L. M., & Iguti, A. M. (1999). Saúde em tempos de desemprego. Em: L. A. M. Guimarães, & S. Grubits (Orgs.), Série Saúde Mental e Trabalho. (pp. 239-258). São Paulo: Casa do Psicólogo.         [ Links ]

Lipp, M. N., & Rocha J. C. (1994). Stress, hipertensão arterial e qualidade de vida: Um guia de tratamento ao hipertenso. Campinas: Papirus.         [ Links ]

Maslach, C. (1998). A multidimensional theory of burnout. Em: C. L. Cooper (Org.), Theories of organizational stress (pp.68-85). Manchester: Oxford University. [ Links ]

Mills, L. B., & Huebner, E. S. (1998). A prospective study of personality characteristics, occupational stressors, and burnout among school psychology practitioners. Journal of School Psychology, 36, 103-120.         [ Links ]

Moura, E. P. G. (1999). A psicologia (e os psicólogos) que temos e a psicologia que queremos: Reflexões a partir das propostas de diretrizes curriculares (Mec/Sesu) para os cursos de graduação em psicologia. Psicologia: Ciência e Profissão, 19(2), 10-19.         [ Links ]

Moore, K. A., & Cooper, C. L. (1996). Stress in mental health professionals: A theoretical overview. International Journal of Social Psychiatry, 42(2), 82-89. [ Links ]

Rabin, S., Feldman, D., & Kaplan, Z. (1999). Stress and intervention strategies in mental health professionals. British Journal of Medical Psychology, 72, 159-169. [ Links ]

Page 33: Stress Ocupacional

Roazzi, A., Carvalho A. D., & Guimarães, P.V. (2000). Análise da estrutura de similaridade da síndrome de burnout: Validação da escala “Maslach Burnout Inventory” em professores. Trabalho apresentado no V Encontro Mineiro de Avaliação Psicológica: Teoria e prática & VIII Conferência Internacional de Avaliação Psicológica: Formas e contextos, Belo Horizonte, MG.         [ Links ]

Selye, H. (1959). Stress: A tensão da vida. São Paulo: IBRASA.         [ Links ]

Williams, L. C. A. (1999). A atuação do psicólogo em um mundo globalizado: A experiência de uma década de trabalho no Canadá. Psicologia: Ciência e Profissão 19(3), 32-39.         [ Links ]

Yamamoto, O. H., & Campos, H. R. (1997). Novos espaços, práticas emergentes: Um novo horizonte para a psicologia brasileira? Psicologia em Estudo, 2, 89-111. [ Links ]

 

 

 

Estresse ocupacional e Síndrome de Burnout no exercício profissional da psicologia

 

 

Klayne Leite de Abreu; Ingrid Stoll; Letícia Silveira Ramos; Rosana Aveline Baumgardt; Christian Haag Kristensen

UNISINOS. Centro de Ciências da Saúde. Núcleo de Neurociências

Endereço para correspondência

 

 

RESUMO

Esta revisão teórica busca analisar os aspectos vinculados ao estresse ocupacional e à síndrome de burnout, bem como relacioná-los com a prática profissional dos psicólogos. Essas síndromes podem afetar o psicólogo pois, nas suas relações de trabalho, ele se encontra muito próximo de pessoas em sofrimento, podendo identificar-se e vincular-se afetivamente às mesmas. São discutidos aspectos conceituais e causais das síndromes, das relações de trabalho em saúde mental e,

Page 34: Stress Ocupacional

especificamente, do exercício profissional em Psicologia, considerando a realidade do Brasil e de outros países.

Palavras-chave: Estresse, Síndrome de burnout, Prática profissional.

ABSTRACT

The aspects linked to occupational stress and burnout syndrome, as well as their relation to the psychologists professional practice are this article scope. The main reason why these syndromes affect the psychology professional is linked to its work relations, that are very close to the contact with suffering people, as well as a sort of identification and affection that can be established between patient and caregiver. Conceptual aspects and causes of these syndromes are discussed, and also the job relations in mental health workers and psychologists, considering Brazil and other countries’ realities.

Keywords: Stress, burnout syndrome, Professional practice.

 

 

O trabalho ocupa um papel central na vida das pessoas e é um fator relevante na formação da identidade e na inserção social das mesmas. Neste contexto, considera-se que o bem-estar adquirido pelo equilíbrio entre as expectativas em relação à atividade profissional e à concretização das mesmas é um dos fatores que constituem a qualidade de vida. Esta é proporcionada pela satisfação de condições objetivas tais como renda, emprego, objetos possuídos e qualidade de habitação, de condições subjetivas como segurança, privacidade e afeto (Wilheim & Déak, citado em Cardoso, 1999), bem como motivação, relações de auto-estima, apoio e reconhecimento social.

Uma relação satisfatória com a atividade de trabalho é fundamental para o desenvolvimento nas diferentes áreas da vida humana e esta relação depende, em grande escala, dos suportes afetivos e sociais que os indivíduos recebem durante seu percurso profissional. O suporte afetivo provém do relacionamento com pessoas com as quais é possível compartilhar preocupações, amarguras e esperanças, de modo que sua presença possa trazer sentimentos de segurança, conforto e confiança. O suporte social aplica-se ao quadro de relações gerais que se estabelecem, naturalmente, entre colegas de trabalho, vizinhos e conhecidos, o que também pode favorecer o aprofundamento de relacionamentos que, mais tarde, venham a fazer parte do suporte afetivo.

Para Gazzotti e Vasques-Menezes (1999), a fragilidade emocional provocada pela falta dos suportes afetivo e social traz grande sofrimento, uma vez que o reflexo dessa situação não fica restrito à vida privada, ampliando-se para o campo das relações de trabalho. O trabalhador, ao sentir-se sem alternativa para compartilhar suas dificuldades, anseios e preocupações, tem aumentada sua tensão emocional, o que pode levar ao surgimento da síndrome de burnout e/ou do estresse ocupacional.

 

Page 35: Stress Ocupacional

O que é burnout?

Para Codo e Vasques-Menezes (1999), burnout consiste na “síndrome da desistência”, pois o indivíduo, nessa situação, deixa de investir em seu trabalho e nas relações afetivas que dele decorrem e, aparentemente, torna-se incapaz de se envolver emocionalmente com o mesmo. No entanto, autores discutem a possibilidade de males como fadiga, depressão, estresse e falta de motivação também apresentarem a desistência como característica marcante. Dessa forma, pode-se pensar que estudos sobre desistência e, conseqüentemente, sobre burnout se iniciaram juntamente com os estudos de Pavlov. Este pesquisador constatou que cães submetidos a uma tarefa progressivamente difícil de realizar, como por exemplo, diferenciar um círculo de uma elipse, apresentavam um rompimento no comportamento e esse rompimento foi denominado, por Pavlov, de “neurose experimental” (Codo & Vasques-Menezes, 1999). Essa ruptura no comportamento não seria uma resposta frente a uma dificuldade tão grande que só restaria ao cão desistir da atividade e entrar em neurose experimental? Por analogia, os seres humanos poderiam entrar em burnout ao se sentirem incapazes de investir em seu trabalho, em conseqüência da incapacidade de lidar com o mesmo (Codo & Vasques-Menezes, 1999).

O termo burnout, no sentido que se está estudando, foi empregado na década de 70 pelo psicólogo clínico Freudenberger. Entretanto, é possível considerar a hipótese de que ele apenas nomeou um sentimento que já existia e havia sido experimentado por muitos (Codo & Vasques-Menezes, 1999). Freudenberger e Richelson (1991) descreveram um indivíduo com burnout como estando frustrado ou com fadiga desencadeada pelo investimento em determinada causa, modo de vida ou relacionamento que não correspondeu às expectativas. Em 1977, Maslach empregou o termo publicamente para referir-se a uma situação que afeta, com maior freqüência, aquelas pessoas que, em decorrência de sua profissão, mantêm um contato direto e contínuo com outros seres humanos.

Para Cherniss (citado em Roazzi, Carvalho, & Guimarães, 2000) burnout é uma forma de adaptação que pode resultar em efeitos negativos tanto para a própria pessoa quanto para seu local de trabalho. Portanto, é conseqüência de uma tentativa de adaptação própria das pessoas que não dispõem de recursos para lidar com o estresse no trabalho. Essa falta de habilidade para enfrentar o estresse é determinada tanto por fatores pessoais como por variáveis relativas ao trabalho em si e à organização. Entretanto, a mais influente definição de burnout foi desenvolvida por Maslach e Jackson em 1986. Sua definição multidimensional inclui três componentes: exaustão emocional, despersonalização e redução da realização pessoal (Mills & Huebner, 1998; Codo & Vasques-Menezes, 1999).

A exaustão emocional é caracterizada por um sentimento muito forte de tensão emocional que produz uma sensação de esgotamento, de falta de energia e de recursos emocionais próprios para lidar com as rotinas da prática profissional e representa a dimensão individual da síndrome. A despersonalização é o resultado do desenvolvimento de sentimentos e atitudes negativas, por vezes indiferentes e cínicas em torno daquelas pessoas que entram em contato direto com o profissional, que são sua demanda e objeto de trabalho. Num primeiro momento, é um fator de proteção, mas pode representar um risco de desumanização, constituindo a dimensão interpessoal de burnout. Por último, a falta de realização pessoal no trabalho caracteriza-se como uma tendência que afeta as habilidades interpessoais relacionadas com a prática profissional, o que influi diretamente na forma de atendimento e contato com as pessoas usuárias do trabalho, bem como com a organização (Maslach, 1998). Trata-se de uma síndrome na qual o trabalhador perde o sentido da sua relação com o trabalho, de forma que as coisas não lhe importam mais e qualquer esforço lhe parece inútil. Finalmente, a síndrome de burnout tem sido negativamente relacionada com saúde, performance e

Page 36: Stress Ocupacional

satisfação no trabalho, qualidade de vida e bem-estar psicológico (Rabin, Feldman, & Kaplan, 1999).

 

Estresse

O conceito de estresse foi primeiramente descrito por Selye, em 1936 (Helman, 1994; Gasparini & Rodrigues, 1992). Selye (1959) definiu estresse como sendo, essencialmente, o grau de desgaste total causado pela vida. Contudo, no século XVII, o termo foi utilizado por Robert Hooke, no campo da Física, para designar uma pesada carga que afeta uma determinada estrutura física (Lazarus, 1993). Etimologicamente, estresse deriva do latim stringere, significando apertar, cerrar, comprimir (Houaiss, Villar, & Franco, 2001).

Não há um consenso sobre o termo estresse. Alguns autores entendem que representa uma adaptação inadequada à mudança imposta pela situação externa, uma tentativa frustrada de lidar com os problemas (Helman, 1994), mas estresse também pode ser definido como um referente, tanto para descrever uma situação de muita tensão quanto para definir a tensão a tal situação (Lipp & Rocha, 1994).

Considerando as diferentes definições da palavra estresse, Lazarus (1993) descreve quatro pressupostos essenciais que devem ser observados: 1) um agente causal interno ou externo que pode ser denominado de estressor; 2) uma avaliação que diferencia tipos de estresse (dano, ameaça e desafio); 3) os processos de coping1 utilizados para lidar com os estressores e 4) um padrão complexo de efeitos na mente ou no corpo, freqüentemente referido como reação de estresse.

Apesar do estudo dos eventos estressores contar com um considerável desenvolvimento histórico, a maior parte da literatura empiricamente validada surgiu somente nas últimas duas décadas (Briere, 1997). Nas formulações iniciais preponderava o foco sobre o evento estressor per se, mas atualmente existe grande consideração nas diferenças individuais e nas variáveis cognitivas e motivacionais (Lazarus, 1993). Sendo assim, é importante considerar não só a imensa quantidade de fatores potencializadores de estresse mas, também, os aspectos individuais, a maneira como cada um reage às pressões cotidianas, bem como os aspectos culturais e sociais aos quais os sujeitos estão submetidos. Fatos como problemas familiares, acidentes, doenças, mortes, conflitos pessoais, dificuldade financeira, desemprego, aposentadoria, problemas no ambiente de trabalho, guerras e inúmeros outros podem ser experienciados de maneira diversa por dois indivíduos diferentes, em um mesmo contexto histórico, cultural e social, por exemplo, assim como problemas críticos na ordem social de um país podem potencializar o estresse patológico em diversos indivíduos (Helman, 1994; Ladeira, 1996).

Em suas sociedades, os indivíduos tentam atingir metas definidas, níveis de prestígio e padrões de comportamento que o grupo cultural impõe e espera de seus integrantes (Helman, 1994), de maneira que uma frustração na realização desses aspectos pode desencadear o estresse. Cardoso (1999) afirma que, para a Organização Mundial de Saúde (OMS), a saúde pode ser lesada não apenas pela presença de fatores agressivos (fatores de risco, de “sobrecarga“), mas também pela ausência de fatores ambientais (fatores de “subcarga” como a falta de suficiente atividade muscular, falta de comunicação com outras pessoas, falta de diversificação em tarefas de trabalho que causam monotonia, falta de responsabilidade individual ou de desafios intelectuais). Portanto, pode-se verificar que algum estresse é importante para a realização de qualquer atividade e que sua total ausência, assim como seu excesso, podem ser prejudiciais à saúde. Entretanto, o prolongamento de situações de estresse pode repercutir num quadro

Page 37: Stress Ocupacional

patológico, originando distúrbios transitórios ou mesmo doenças graves, como o estresse ocupacional.

 

Burnout e Estresse Ocupacional

Devido ao fato de essas síndromes serem ocasionadas a partir de situações relacionadas ao trabalho, há quem desconsidere suas diferenças. No entanto, embora não haja na literatura um consenso em relação à gênese das mesmas, burnout não é o mesmo que estresse ocupacional. burnout é o resultado de um prolongado processo de tentativas de lidar com determinadas condições de estresse (Rabin, Feldman, & Kaplan, 1999). O estresse pode ser visto como seu determinante, mas não coincide com o mesmo. Farber (citado em Roazzi, Carvalho, & Guimarães, 2000) explora a idéia de que burnout não resulta só do estresse em si (que pode ser inevitável em profissões assistenciais), mas do “estresse não mediado”, do estresse não moderado, sem possibilidade de solução. Assim, burnout não é um evento, mas sim um processo e, apesar de compartilharem duas características - esgotamento emocional e escassa realização pessoal - burnout e estresse ocupacional diferem pelo fator despersonalização (Cherniss, citado em Roazzi, Carvalho, & Guimarães, 2000). León e Iguti (1999) consideram burnout como um quadro clínico mental extremo do estresse ocupacional.

Através de pesquisa longitudinal, realizada com psicólogos escolares dos EUA, Mills e Huebner (1998) observaram a natureza transacional do relacionamento entre burnout e experiências ocupacionais estressantes. Os dados sugerem que, não somente estas experiências podem predispor os indivíduos a experienciar burnout, mas também que elevados níveis de burnout podem levá-los a desenvolver estresse ocupacional adicional.

Parece haver um consenso em torno da síndrome poder ser caracterizada como uma resposta ao estresse laboral crônico, mas é importante que seus conceitos sejam mantidos distintos. burnout tem como conseqüência uma dessensibilização dirigida às pessoas com quem se trabalha, incluindo usuários, clientes e a própria organização, e o estresse é um esgotamento diverso que, de modo geral, interfere na vida pessoal do indivíduo, além de seu trabalho (Codo & Vasques-Menezes, 1999). Entretanto, apesar de suas particularidades, as diferenças entre os dois não são claras, em função dos fatores desencadeadores serem muito próximos (ver Figura 1), o que dificulta o estabelecimento de um diagnóstico preciso e de uma relação de comorbidade.

 

Exercício Profissional em Psicologia

Cabe analisar, aqui, o contexto e os elementos em que as profissões estão inseridas, já que estão sujeitos a transformações ao longo do tempo. Pode-se considerar as dificuldades tecnológicas e a ordem sócio-econômica de nosso país e pensar quanto é dinâmico o processo de constituição de uma profissão, uma vez que esta se encontra em permanente interação com o meio social. Dessa forma, uma profissão recente, como a Psicologia, é fortemente influenciada por todo esse processo.

Segundo o Conselho Federal de Psicologia (1988), a definição do psicólogo brasileiro, na década de 80, enfatizava sua atuação na elaboração e aplicação de técnicas de qualificação e diagnóstico de distúrbios. Entretanto, devemos sempre considerar que essa visão se insere na tradicional prática que tem privilegiado uma

Page 38: Stress Ocupacional

perspectiva de análise e de intervenção no âmbito estritamente individual (Moura, 1999). Atualmente, o fenômeno psicológico tem sido visto de forma abstrata - ora como manifestação de processos internos, ora como produto de vivências externas, elementos influenciados pelo meio físico e social (Bock, 1997).

Numa perspectiva mais atual, verifica-se uma evidente ampliação dos espaços de inserção do psicólogo (Yamamoto & Campos, 1997), de modo que mudanças importantes em domínios de atuação já são foco de pesquisa do Conselho Federal de Psicologia (CFP). Segundo Bastos e Achcar (1994), essas alterações se referem às concepções, práticas, inserção no mercado e clientes atendidos, bem como ao foco de intervenção do profissional de Psicologia. Uma tendência inicial aponta para um modelo que vai além da mensuração de características psicológicas e intervenção diante dos problemas de ajustamento de indivíduos; uma segunda diz respeito a um maior aperfeiçoamento e qualificação profissionais; finalmente, uma terceira visa a trabalhar de maneira mais articulada em relação a outras disciplinas e profissões, em uma perspectiva multidisciplinar e não-tecnicista.

 

Burnout e Estresse Ocupacional em Psicólogos

Conforme referido anteriormente, a síndrome de burnout consiste em uma resposta ao estresse ocupacional crônico, afetando profissionais que se ocupam em prestar assistência a outras pessoas. Entre os profissionais de saúde, eventos potencializadores de estresse podem surgir, dependendo do tipo de atividade exercida. Entretanto, existe uma evidência crescente demonstrando que os profissionais da área da saúde mental, por fatores relacionados à natureza de sua profissão, apresentam-se particularmente vulneráveis ao estresse e a seus efeitos (Rabin, Feldman, & Kaplan, 1999). Entre os fatores específicos, destacam-se: a) o manejo, por um longo período de tempo, com pessoas com transtornos mentais; b) a responsabilidade para com a vida do paciente; c) a inabilidade para estabelecer limites em suas interações profissionais e d) a atenção constante aos problemas e necessidades dos pacientes de uma forma não recíproca (Moore & Cooper, 1996; Rabin, Feldman, & Kaplan, 1999).

Facilmente se observa que os psicólogos, por atuarem na área da saúde mental, estão entre a clientela de risco da síndrome de burnout. Aos fatores destacados, acrescenta-se a possibilidade de haver alguma identificação e formação de laços afetivos entre os psicólogos e seus clientes (França, citado em Covolan, 1996), especialmente quando se trata de práticas mais tradicionais de atendimento individual. Exemplificando, estudos realizados em psicólogos clínicos norte-americanos e ingleses demonstraram elevados níveis de estresse entre esses profissionais (Rabin, Feldman, & Kaplan, 1999). Especificamente em relação a psicoterapeutas, Farber (1985) identificou cinco fatores desencadeadores de estresse: manutenção da relação terapêutica, agendamento, dúvidas profissionais, envolvimento excessivo no trabalho e esgotamento pessoal. Além desses, solidão, expectativas excessivas e falta de gratificação também foram identificados como fontes de estresse naqueles profissionais (Rabin, Feldman, & Kaplan, 1999). Entretanto, burnout afeta, também, psicólogos em outras áreas de atuação. Em uma amostra de 173 psicólogos escolares, Mills e Huebner (1998) observaram que 40% dos sujeitos relataram elevados níveis de exaustão emocional, 19% relataram um senso diminuído de realização pessoal e 10% relataram reações de despersonalização.

Moore e Cooper (1996) propõem que talvez haja um vácuo entre as expectativas idealizadas e seus resultados na prática dos profissionais de saúde mental. Os profissionais dessa área idealizam que sua prática servirá para ajudar as pessoas e, na realidade, poucas mudanças são experienciadas por pacientes crônicos. Essa

Page 39: Stress Ocupacional

contradição indica que talvez seja mais gratificante, para o profissional, encarar sua prática como uma intervenção de apoio aos pacientes, ao invés de uma busca de cura. Essa situação pode ser uma ilustração do burnout e está relacionada com a realidade vivenciada pelos profissionais de saúde mental que são treinados para reconhecer e concordar com a realidade de seus pacientes.

Garcia, Cabeza e Fernandez (1998) identificaram uma variação no nível de burnout entre profissionais de saúde mental que trabalham em centros de saúde e em hospitais de Madri. Em centros de saúde foi percebido um grau de realização pessoal no trabalho mais favorável do que em hospitais. O local de trabalho, portanto, influencia sensivelmente o grau de realização pessoal no trabalho e a possibilidade de se desenvolver burnout e estresse a partir de um ambiente que exerça pressão nos indivíduos.

Leite (1997) obteve dados sobre a atividade de 34 profissionais da Psicologia que trabalhavam no Hospital Geral do Rio de Janeiro. Esses profissionais citaram que existem demandas institucionais diferentes da necessidade apresentada pelos pacientes que necessitam, na maioria das vezes, simplesmente de escuta, atenção e afeto. No entanto, as atividades cobradas pelo hospital são outras, como manejar pacientes difíceis, ordenar a enfermaria e lidar com funcionários, ficando claro, com isso, a dúvida relacionada ao papel do psicólogo no espaço hospitalar.

Considerando-se a realidade do exercício profissional, observa-se uma mudança em termos da atuação do psicólogo com o surgimento, nas últimas décadas, de novos campos e, conseqüentemente, no aumento da necessidade de aperfeiçoamento e qualificação profissional. As constantes mudanças levam à necessidade de aprimoramento e, embora isso faça parte da dinâmica das alterações paradigmáticas (que, além de já serem situações novas, ainda estão associadas ao processo de produção do conhecimento favorecido pelos novos avanços tecnológicos), é possível que possa gerar estresse em profissionais que não se beneficiem dessas alterações e as tomem como fortes fontes de pressão. Leite (1997) observa que, além das dificuldades encontradas no contato direto com as novas possibilidades de trabalho, há, ainda, uma dificuldade com a formação acadêmica que oriente e esclareça sobre as questões relativas aos diversos campos que surgem paralelos à graduação.

O contexto sócio-econômico a que estão sujeitos os profissionais de saúde mental no Brasil deve ser considerado. O sofrimento psíquico (e social) que os pacientes apresentam, as condições de atendimento, os baixos salários e o pequeno tempo disponível para uma consulta são fatores importantes a se considerar para pensar os processos de estresse ocupacional e burnout. Branco (1998) pressupõe que a atividade, nesse ambiente de trabalho permeado pela hierarquia, dificulta a afetividade entre paciente e profissional e, a partir daí, evidencia potenciais de estresse ocupacional e burnout. Williams (1999) conta sua experiência de trabalho como psicóloga em escolas de Toronto e destaca o prazer de atuar em um país que investe em educação pública de altíssima qualidade e com boas condições de trabalho, possibilitando satisfação profissional e se constituindo no que Maslach (1998) denomina “engajamento”. Este é definido nos mesmos termos de burnout, mas de forma positiva, pois um estado de maior energia, forte envolvimento e senso de eficácia se contrapõem à exaustão, ao cinismo e ao reduzido senso de realização pessoal. O engajamento não é um estado neutro, mas se opõe a burnout e se constitui num estado mental definido e num funcionamento social dentro de um domínio ocupacional. Dessa forma, há um continuum entre engajamento e burnout.

Por fim, ao se constatar que o estresse ocupacional e, especialmente, a síndrome de burnout podem afetar a prestação do serviço e a qualidade do cuidado oferecido, julga-se necessário pesquisar essas síndromes em psicólogos brasileiros, considerando o contexto sócio-econômico a que estão sujeitos esses profissionais,

Page 40: Stress Ocupacional

já que a maioria das pesquisas existentes, por ocorrerem em países desenvolvidos, não levam em conta essas variáveis.

 

Referências bibliográficas

Antoniazzi, A. S., Dell’Aglio, D. D., & Bandeira, D. R. (1998). O conceito de coping: Uma revisão teórica. Estudos de Psicologia, 3, 273-294.         [ Links ]

Bastos, A. V. B. & Achcar, R. (1994). Dinâmica profissional e formação do psicólogo: Uma perspectiva de interação. Em R. Achar (Org.), Psicólogo brasileiro: Práticas emergentes e desafios para a formação (pp. 245-271). São Paulo: Casa do Psicólogo / Conselho Federal de Psicologia.         [ Links ]

Bock, A. M. B. (1997). Formação do psicólogo: Um rebate a partir do significado do fenômeno psicológico. Psicologia: Ciência e Profissão, 17(2), 37-43.         [ Links ]

Branco, M. T. C. (1998). Que profissionais queremos formar? Psicologia: Ciência e Profissão,18(3), 28-35.         [ Links ]

Briere, J. (1997). Psychological assessment of adult posttraumatic states. Washington, DC: American Psychological Association.         [ Links ]

Cardoso, W. L. C. D. (1999). Qualidade de vida e trabalho: Uma articulação possível. Em L. A. M. Guimarães & S. Grubits (Orgs.), Saúde Mental e Trabalho (pp. 89-116). São Paulo: Casa do Psicólogo.         [ Links ]

Codo, W., & Vasques-Menezes, I. (1999). O que é burnout? Em W. Codo (Org.), Educação: Carinho e trabalho (pp. 237-255). Rio de Janeiro: Vozes.         [ Links ]

Conselho Federal de Psicologia. (1988). Quem é o psicólogo brasileiro? São Paulo: Edicon.         [ Links ]

Covolan, M. A. (1996). Stress ocupacional do psicólogo clínico: Seus sintomas, suas fontes e as estratégias utilizadas para controlá-lo. Em M. A. Lipp (Org.), Pesquisas sobre stress no Brasil (pp. 225-240). São Paulo: Papirus.         [ Links ]

Farber, B. (1985). Clinical psychologists’ perceptions of psychotherapeutic work. Clinical Psychologist, 38, 10-13.         [ Links ]

Folkman, S., & Lazarus, R. S. (1988). Coping as a mediator of emotion. Journal of Personality and Social Psychology, 54, 466-475.         [ Links ]

Freudenberger, H. J., & Richelson, G. (1991). Estafa: O alto custo dos empreendimentos. Rio de Janeiro: Francisco Alves.         [ Links ]

Gasparini, A. C. L. F., & Rodrigues, A. L. (1992). Uma perspectiva psicossocial em psicossomática: Via estresse e trabalho. Em J. Mello Filho (Org.), Psicossomática hoje (pp. 93-107). Porto Alegre: Artes Médicas.         [ Links ]

Garcia, M. S. O., Cabeza, I. G., & Fernandez, L. M. (1998). burnout en profesionales de salud mental. Anales de Psiquiatria,14(2), 48-55.         [ Links ]

Page 41: Stress Ocupacional

Gazzotti, A. A., & Vasques-Menezes, I. (1999). Suporte afetivo e o sofrimento psíquico em burnout. Em W. Codo (Org.), Educação: Carinho e trabalho (pp. 261-266). Rio de Janeiro: Vozes.         [ Links ]

Helman, C. G. (1994). Cultura, saúde e doença. Porto Alegre: Artes Médicas. [ Links ]

Houaiss, A., Villar, M. de S., & Franco, F. M. de M. (Orgs.). (2001). Dicionário Houaiss da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva.         [ Links ]

Houaiss, A., Villar, M. de S., & Franco, F. M. de M. (Orgs.). (2001). Dicionário Houaiss da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva        [ Links ]

Ladeira, M. B. (1996). O processo de stress ocupacional e a psicopatologia do trabalho. Revista de Administração, 31(1), 64-74.         [ Links ]

Lazarus, R. S. (1993). From psychological stress to the emotions: A history of changing outlooks. Annual Review of Psychology, 44, 1-21.         [ Links ]

Leite, S. (1997). Psicólogo e algumas práticas no serviço público estadual de saúde. Psicologia: Ciência e Profissão, 17(1), 35-39.         [ Links ]

León, L. M., & Iguti, A. M. (1999). Saúde em tempos de desemprego. Em: L. A. M. Guimarães, & S. Grubits (Orgs.), Série Saúde Mental e Trabalho. (pp. 239-258). São Paulo: Casa do Psicólogo.         [ Links ]

Lipp, M. N., & Rocha J. C. (1994). Stress, hipertensão arterial e qualidade de vida: Um guia de tratamento ao hipertenso. Campinas: Papirus.         [ Links ]

Maslach, C. (1998). A multidimensional theory of burnout. Em: C. L. Cooper (Org.), Theories of organizational stress (pp.68-85). Manchester: Oxford University. [ Links ]

Mills, L. B., & Huebner, E. S. (1998). A prospective study of personality characteristics, occupational stressors, and burnout among school psychology practitioners. Journal of School Psychology, 36, 103-120.         [ Links ]

Moura, E. P. G. (1999). A psicologia (e os psicólogos) que temos e a psicologia que queremos: Reflexões a partir das propostas de diretrizes curriculares (Mec/Sesu) para os cursos de graduação em psicologia. Psicologia: Ciência e Profissão, 19(2), 10-19.         [ Links ]

Moore, K. A., & Cooper, C. L. (1996). Stress in mental health professionals: A theoretical overview. International Journal of Social Psychiatry, 42(2), 82-89. [ Links ]

Rabin, S., Feldman, D., & Kaplan, Z. (1999). Stress and intervention strategies in mental health professionals. British Journal of Medical Psychology, 72, 159-169. [ Links ]

Roazzi, A., Carvalho A. D., & Guimarães, P.V. (2000). Análise da estrutura de similaridade da síndrome de burnout: Validação da escala “Maslach Burnout Inventory” em professores. Trabalho apresentado no V Encontro Mineiro de Avaliação Psicológica: Teoria e prática & VIII Conferência Internacional de Avaliação Psicológica: Formas e contextos, Belo Horizonte, MG.         [ Links ]

Page 42: Stress Ocupacional

Selye, H. (1959). Stress: A tensão da vida. São Paulo: IBRASA.         [ Links ]

Williams, L. C. A. (1999). A atuação do psicólogo em um mundo globalizado: A experiência de uma década de trabalho no Canadá. Psicologia: Ciência e Profissão 19(3), 32-39.         [ Links ]

Yamamoto, O. H., & Campos, H. R. (1997). Novos espaços, práticas emergentes: Um novo horizonte para a psicologia brasileira? Psicologia em Estudo, 2, 89-111. [ Links 

 

 

1 Os processos de coping são concebidos como as estratégias e esforços cognitivos e comportamentais que os indivíduos utilizam para lidar com as demandas específicas decorrentes de situações de estresse e avaliadas como excedendo seus recursos pessoais (Antoniazzi, Dell’Aglio, & Bandeira, 1998; Folkman & Lazarus,1988; Lazarus, 1993).

O estresse no ambiente de trabalho

Como o gestor de pessoas deve agir com o estresse no ambiente de trabalho?

O livro Estresse ocupacional (Ed. Campus) mostra o bê-á-bá desse conceito e suas vertentes. O

objetivo da obra, segundo os autores, é dar aos gestores de RH subsídios para lidar com esse

problema, gerando soluções e alternativas para a realidade corporativa. Em entrevista exclusiva ao

site da revista MELHOR, Henrique Maia Veloso e Jean Pierre Marras falam mais sobre as reflexões

apresentadas no livro, que é o primeiro de uma coleção que apresentará mais dois temas importantes

para a área de gestão de pessoas: avaliação de desempenho e remuneração estratégica. 

MELHOR - Como pode ser definido o estresse ocupacional?

O estresse ocupacional deve ser entendido e se diferencia das demais manifestações de estresse

apenas pelo fato de que as fontes de pressão são provenientes do ambiente de trabalho ou das

contradições entre vida profissional e vida pessoal. Nos outros aspectos, seja por sua forma de

manifestar ou das consequências que desencadeia, ele é muito semelhante, pois os aspectos

biológicos e psicológicos tendem a ser semelhantes das outras formas de estresse.

Page 43: Stress Ocupacional

Quais são os principais fatores que desencadeiam esse tipo de estresse?

É importante ressaltar que o estresse ocupacional, assim como as outras formas de manifestação

desse fenômeno, não é, necessariamente, uma doença ou algo que deva ser eliminado totalmente do

cotidiano das pessoas, principalmente porque está associado ao mecanismo de sobrevivência dos

indivíduos. O estresse, quando se manifesta dentro de limites toleráveis que são específicos e únicos

para cada indivíduo, faz parte de nossas vidas. Viver pressupõe estar em condições nas quais o

estresse necessariamente se manifestará. Nesse sentido, as principais origens do estresse fazem parte

de nosso cotidiano, seja nos relacionamentos pessoais, na nossa saúde, nas nossas obrigações

profissionais, nas contradições entre vida pessoal e profissional. As fontes de estresse no trabalho

são classificadas em biológicas, psicológicas e sociais, sendo que cada atividade profissional pode

manifestar a presença mais frequente de um agente estressor específico. Por exemplo: atividades

laborais insalubres podem manifestar agentes estressores de origem biológica, pois as doenças

desencadeadas na profissão podem engendrar o mecanismo de adaptação e resistência do organismo

que gerará estresse; em ambientes gerenciais, por exemplo, o estresse se dá em função das pressões

de cobrança de metas, objetivos dentre outros, que se configuram como fontes psicológicas e sociais.

Existem áreas com maior incidência do problema?

Cada situação é única, sendo que em uma organização o estresse pode se manifestar com mais

frequência e intensidade em um setor, departamento ou nível hierárquico específico. Entretanto, não

há, como alguns pensam, uma exclusividade de manifestação de estresse nos níveis gerenciais

superiores ou intermediários. Numa organização em que se detecta, por exemplo, uma baixa

manifestação de consequências do estresse de uma forma geral, em um departamento dessa mesma

organização é possível que o estresse se manifeste de forma generalizada pela maneira como o

gestor se relaciona com seus subordinados. O contrário também é plausível e observável, ou seja, em

uma organização que, por motivos de competitividade e cobrança, passa por um processo de

generalização de estresse em diversos setores, pode apresentar um departamento em que o estresse

não se manifesta ou se manifesta de forma menos intensa em função da forma como os funcionários

se relacionam entre si, dado apoio e suporte uns aos outros, e estabelecendo mecanismos de defesa

coletivos.

Em qual momento da manifestação desse estresse o gestor de pessoas deve agir?

Embora o estresse não seja doença, é papel do gestor de pessoas monitorar constantemente como ele

se manifesta no ambiente laboral, avaliando suas consequências e impactos, seja na saúde dos

indivíduos seja nos resultados organizacionais. Nesse sentido, ele deve agir assim que percebe que

surgem indícios de que o estresse pode estar afetando os indivíduos, as suas relações pessoais, os

resultados do trabalho. Todavia, não deve ser objeto de preocupação do gestor a eliminação do

estresse do espaço de trabalho, mesmo porque seria impossível atingir esse propósito.

Page 44: Stress Ocupacional

Ao falar sobre políticas internas das empresas, alta produtividade e adaptação dos

funcionários, vocês enfatizam a necessidade de o gestor de RH não ser "um mero reprodutor

de tais práticas sem entender como elas afetam o estresse e a saúde dos indivíduos".  Qual a

ação esperada dos gestores?

Afirmamos isso porque não há soluções únicas e receitas milagrosas para se lidar com o estresse.

Cada contexto requer uma análise, de preferência com a participação de profissionais de diversas

competências específicas tais como médicos do trabalho, gestores de recursos humanos, psicólogos,

dentre outros, e para cada situação específica, uma solução que seja construída de forma

participativa e interativa, envolvendo também os que estão sob os agentes estressores. Entendemos

que, se o gestor buscar receitas prontas, como alguns ainda insistem em vender no mercado, as

consequências podem ser nefastas, pois estamos lidando com a saúde de pessoas. A principal ação

do gestor deve ser de aprendizagem. Ele deve estudar o assunto, compreender como funciona o

processo de estresse nos seus aspectos biológicos, psicológicos e sociais e estudar o seu contexto

específico. O estresse é um dinâmico fenômeno e que requer, de todos nós, seriedade e dedicação em

termos de estudos e pesquisas.

Quais os profissionais que podem trabalhar com o gestor de RH no processo de auxilio aos

funcionários estressados? E qual o papel dos líderes nesse processo?

 Em geral, médicos do trabalho, psicólogos, gestores e até mesmo engenheiros, pois o estresse

depende, muitas vezes de como o trabalho está organizado, das condições de segurança e salubridade

no trabalho, de como as pessoas estão preparadas para lidar com o problema dentre outros aspectos.

Entretanto, como estamos lidando com uma questão que pode afetar a saúde humana, não há espaço

para "palpites", ou seja, utilizar apenas o "achismo" e não procurar entender como estresse se

manifesta. Os profissionais que lidam com estresse precisam se preparar para lidar com o assunto.

Quanto aos líderes, esses precisam estar preparados para saber gerenciar seus subordinados, pois

podem se constituir agentes estressores de seus funcionários, ou pelo contrário, podem ser

importantes elementos de suporte para que seus liderados lidem com os agentes estressores do dia-a-

dia.

Quais são os impactos nos negócios da empresa? E para o funcionário? Quais os danos?

Quando os níveis de estresse passam dos limites toleráveis, pode-se observar diversas consequências

que são direta ou indiretamente associadas ao processo em si. Isso porque além de o estresse ter

impactos diretos na saúde, ele debilita o sistema imunológico dos indivíduos, gerando a

possibilidade da manifestação de doenças oportunistas. Nesse sentido, em função do estresse, é

possível que uma pessoa manifeste uma série de outras doenças, tais como doenças respiratórias,

viroses, gripes, sendo todas resultantes da debilitação do organismo por um processo de exposição

contínua ou intensa a agentes estressores.  O estresse também está diretamente associado a doenças

no sistema circulatório e cardíaco do indivíduo, em função da forma como desencadeia o processo

que chamamos de "estado de alerta". Contudo, como se trata de uma manifestação sistêmica, é

Page 45: Stress Ocupacional

impossível determinar todos os impactos nos funcionários pelo estresse, lembrando que pessoas

diferentes reagem biológica e psicologicamente de forma igualmente distinta ao processo de

estresse. Nas organizações, o estresse, também quando passa de limites toleráveis, pode gerar

absenteísmo, rotatividade, afastamento por doenças de forma geral, conflitos interpessoais, acidentes

de trabalho dentre outros. Se entendermos que a saúde humana não tem preço, os danos podem ser

incalculáveis.

É possível utilizar o estresse se maneira positiva dentro das empresas? Como?

Sempre que o estresse for mantido em níveis individuais e coletivos entendidos como toleráveis (que

podem variar de indivíduo para indivíduo e de contexto para contexto) ele pode ser entendido como

positivo. Isso porque o estresse é parte de nosso mecanismo natural para lidar com os desafios que

estão ao nosso redor. Sem o mecanismo do estresse, nosso corpo e nossa mente (que atuam e são

partes indissociáveis) não reagiriam com a mesma intensidade às ameaças e necessidades do dia a

dia. O estresse é vital para a sobrevivência humana e deve ser entendido como tal.

- Nossas Revistas

ANNA CAROLINA FLORÊNCIO DA ROCHA

 

 

 

 

O ESTRESSE NO AMBIENTE DE TRABALHO

 

Monografia apresentada como pré-requisito de conclusão do curso de Pedagogia com habilitação em Empresarial ao Centro de Ciências Humanas- CCH, da faculdade de

Page 46: Stress Ocupacional

Educação da Universidade Veiga de Almeida.

Orientadora: Professora Penélope Duarte dos Santos.

 

 

 

 

 

 

 

 

RIO DE JANEIRO – 2005

Page 47: Stress Ocupacional

UNIVERSIDADE VEIGA DE ALMEIDA

CURSO DE PEDAGOGIA EMPRESARIAL

 

 

 

Data de aprovação: 12 /12/2005

_______________________________________________

Professora Orientadora: Penélope Duarte dos Santos

Mestre UVA

Page 48: Stress Ocupacional

________________________________________

 

Professora convidada: Regina Maria Abdelnur

Mestre UVA

_________________________________________

 

Professor convidado: José Luiz Bello

Mestre UVA

Page 49: Stress Ocupacional

À Deus,

aos meus pais e tias,

pelo apoio e estímulo

que durante estes três

anos me dedicaram,

sem os quais não seria

possível concluir esta etapa.

Page 50: Stress Ocupacional

 

 

 

 

AGRADECIMENTOS

Após o término de mais uma etapa, fica a satisfação de poder Ter conhecido

muitas pessoas, que tornaram o dia a dia mais agradável.

Aos professores da Universidade Veiga de Almeida, pelas sugestões valiosas durante a

fase de qualificação, que muito contribuíram para a minha formação.

Aos colegas de classe, pelo apoio incondicional e, sobretudo pela paciência e

incentivo nos momentos difíceis.

A professora Penélope Duarte dos Santos, pela orientação da monografia, pelo apoio,

compreensão e incentivo deste trabalho.

Aos professores Bello e Erotides, por terem aceitado fazer parte da banca avaliadora,

onde a presença de vocês é muito importante para mim.

 

Page 51: Stress Ocupacional

 

 

Se o desejo de alcançar a meta estiver vigorosamente vivo dentro de

nós, não nos faltarão forças para encontrar os meios de alcançá-la e

traduzi-la em atos de nossos projetos.”

(Albert Eintein, cientista)

Page 52: Stress Ocupacional

 

 

RESUMO

Esta monografia procura investigar alguns comportamentos relacionados ao

sofrimento psíquico do trabalhador e a possibilidade de atuação do pedagogo

empresarial para amenizar ou prevenir tais danos à sua saúde. Dada a extensa e

significativa sintomatologia existente, optamos em discutir o Stress e a Síndrome de

Burnout.

ABSTRACT

This monograph looks for to investigate some behaviors related to the psychic

suffering of the worker and the possibility of performance of. pedagogo enterprise for

amenizarou to previnir such damages to its health. Given the extensive and significant

existing sintomatologia, we opt in arguing the Stress and the Syndrome of Burnout

Page 53: Stress Ocupacional

 

 

SUMÁRIO

 

 

1 Introdução

2 O Processo de Trabalho e a Saúde do Trabalhador

3 O Sofrimento Psíquico

3.1 O Stress

3.2 A Síndrome de Burnout

4 A Atuação do Pedagogo Empresarial e a Qualidade de vida do Trabalhador

5 Considerações Finais

Referência

Page 54: Stress Ocupacional

 

 

1 INTRODUÇÃO

No mundo globalizado cada vez mais se observa o sofrimento psíquico dos

trabalhadores. Tal fato parece estar relacionado a uma carga excessiva de trabalho mental e

de tarefas solicitadas ao profissional nas diversas áreas.

Por outro lado, o mundo da informática parece sugerir ao homem uma necessidade de

rapidamente produzir mais e em algumas situações competindo com a máquina. Neste

contexto se insere este trabalho monográfico. Procuramos investigar e desenvolver os motivos

que levam o trabalhador a apresentar os sintomas do Estresse e da Síndrome de Burnout e

verificando de que forma o pedagogo empresarial pode com a sua atividade profissional

amenizar os possíveis danos e sofrimento gerado nos trabalhadores.

Para desenvolver a nossa pesquisa utilizamos a metodologia da revisão bibliográfica,

buscando em teorias da área da saúde do trabalhador e da área de educação subsídio para a

execução da nossa tarefa. Desta forma, entre os autores utilizados na pesquisa temos: Leny

Satto e o seu conceito de penosidade, França e Rodrigues e a definição de estresse e a

prevenção da Síndrome de Burnout e Bonz com a importância das competências que formam

o pedagogo empresarial, onde estas competências irão contribuir não só para um bom

desempenho no trabalho, resultando na melhoria da qualidade de vida do trabalhador.

Assim, no capítulo 1, procuramos situar ressaltando as mudanças constantes que

estamos vivenciando, na sociedade contemporânea as transformações que o processo de

trabalho vem apresentando e desta forma interferindo na saúde do trabalhador.

No capítulo 2, procuramos entender de que forma o profissional submetido a uma

pressão e solicitação constante pode apresentar o sofrimento psíquico, principalmente quando

se percebe “impotente” por não conseguir manter o ritmo e desempenho esperado, na sua

atividade profissional. Este sofrimento poderá levá-lo ao estresse, e em algumas situações

desenvolvendo a Síndrome de Burnout, caracterizada por um tipo de estresse ocupacional

Page 55: Stress Ocupacional

crônico, onde o indivíduo tem o desgaste profissional, resultando na perda do interesse pelo

trabalho.

Por último, situamos o papel do pedagogo na empresa, sua função e importância e

sugerir algumas estratégias de atuação que possa resultar na melhoria da qualidade de vida

dos funcionários.

Page 56: Stress Ocupacional

 

 

2 O PROCESSO DE TRABALHO E A SAÚDE DO TRABALHADOR

“As traumáticas mudanças pelas quais está passando este país é que a busca da eficiência a todo custo e o excesso de competição entre as empresas estão moendo as pessoas. Do ponto de vista humano é cruel. Do ponto de vista econômico é contraproducente”. (LUTTWAK, 1995, p. 46).

Ao longo dos anos o processo de trabalho tem sofrido sucessivas mudanças. Iniciando

pela economia de subsistência onde o homem produzia somente o que era necessário para o

seu próprio consumo e logo depois com os trabalhos artesanais que eram produzidos

manualmente e vendidos em uma escala menor, até chegar ao mercado capitalista que

vivemos em nossos tempos atuais.

Com a expansão das cidades, milhares de pessoas abandonaram a vida do campo, e

vieram para as cidades urbanas em busca de melhores condições de vida através de sua

inserção no mercado de trabalho.

No início do século XX, Henry Ford, irá propor a aplicação de uma teoria voltada para a

eficiência e controle da produção do trabalhador. Este período é marcado pela produção de

carros em grande escala e pelo consumo desenfreado. Este modelo organizacional irá perdurar

até a década de 70, quando o mercado de trabalho apresentar mudanças com o aumento da

competição, queda nos lucros da empresa, mão-de-obra excedente gerando desemprego,

principalmente devido a implantação de novas tecnologias no setor industrial.

As mudanças, a partir daí, irão aparecer não só na área econômica e social, mas

também irão refletir na saúde do trabalhador.

Segundo Mattos et alli (1994, p. 43)

Page 57: Stress Ocupacional

 As empresas buscam cada vez mais a competitividade,

conseqüência da Globalização, a Liberalização (com a economia cada vez mais livre da intervenção do Estado) e a Excelência (estar sempre a frente de seus concorrentes, com inovações e níveis de qualidade de processos, produtos e serviços acima dos demais).

 

O modelo capitalista organiza o sistema de produção de maneira a restringir a

iniciativa do trabalhador, no que se refere ao seu processo de trabalho, organização e em

algumas situações o próprio ambiente de trabalho.

Leny Satto (1994, p. 169)

 irá propor o conceito de penosidade relacionado a falta de controle no processo de trabalho levando o trabalhador ao sofrimento, não sendo permitido questionar as alterações feitas no processo de trabalho.

Para que o trabalhador tenha um controle sobre suas condições de saúde é necessário

que suas necessidades básicas sejam atendidas. Tanto no trabalho, quanto em função do que

este mesmo trabalho pode oferecer a sua vida privada. Assim, o trabalho deve proporcionar

uma alimentação saudável, moradia adequada, meios de transportes, saúde e educação

eficientes, direitos básicos à condição humana.

A saúde do trabalhador fica comprometida, quando este começa a exercer um papel

de multifuncionalidade dentro da empresa gerando a fadiga e o desgaste profissional. Estes

sintomas alienam o trabalhador do processo produtivo a ponto de gerar danos psicológicos.

Para Sivieri (1994; p.82)

 A moderna organização capitalista do processo de trabalho

iniciou a era das doenças provocadas pela grande exigência de adaptação do homem ao trabalho, um reflexo do esforço que o trabalhador emprega para adaptar-se a esta situação anormal.

Page 58: Stress Ocupacional

Essas exigências afetam o ritmo físico, psíquico e psicológico do indivíduo gerando as

doenças de trabalho, pois são cobrados excessivamente, sempre no intuito de superar a

capacidade de adaptação profissional.

Mattos et alli (1994, p.45) ressalta que atualmente o mercado de trabalho sofre

mudanças radicais, reduzindo o emprego regular em favor do trabalho temporário ou

terceirizado. Assim, atualmente as relações de trabalho incluem: empregados, em tempos

parciais, empregados casuais, pessoal com contrato por tempo determinado, temporários, etc.

Desta forma, as condições de trabalho estão cada vez mais precárias devido a

terceirização dos setores de trabalho, atingindo principalmente o trabalhador que recebe

salários baixos, comprometendo a sua saúde podendo correr risco de sofrer acidentes ou

contrair alguma doença no próprio local de trabalho.

No entanto, podemos constatar que a carga excessiva de trabalho, o nível de

instabilidade no emprego e a competição exagerada no ambiente de trabalho, irá provocar um

aumento de estresse no trabalhador.

Page 59: Stress Ocupacional

 

 

3 O SOFRIMENTO PSÍQUICO

Ao longo da história do mundo do trabalho observam-se mudanças significativas, que

se acentuaram no século XX, principalmente com as discussões, pesquisas, avanço de novas

tecnologias, solicitando e exigindo dos trabalhadores uma adaptação e desempenho seu

sempre compatível com as suas possibilidades.

Hoje, é possível observar que as cobranças sobre o trabalhador estão crescendo cada

vez mais, exigindo-lhe a máxima competência. No entanto, não há reconhecimento nem

valorização de seu trabalho.

O sofrimento psíquico é gerado no trabalhador devido à pressão que é submetido

diariamente em busca de lucros, competição, eficácia e da manutenção do emprego. O

trabalhador se sente apavorado por não conseguir manter sua energia física e mental

adequada para seu desempenho no trabalho, e esse pavor é uma forma em que se manifesta o

sofrimento psíquico.

O sofrimento psíquico do profissional é percebido com uma certa clareza, quando o

trabalho deixa de ser motivo de prazer, bem estar, satisfação, sentir-se útil, passando a ser

lugar de dor, sofrimento e cansaço.

A carga psíquica aumenta quando o trabalhador relata seu trabalho, expondo que não

é valorizado, trabalhando de forma mecânica onde ocorre o desgaste tanto físico como

emocional, provocando sensações de medo, angústias etc. As condições de trabalho

inadequadas, baixa remuneração, prejudicam o bem-estar e a satisfação no ambiente de

trabalho.

Os sintomas psíquicos, nomeados como “mentais” e “emocionais”, estão relacionados

à diminuição da concentração, memória, confusão, ansiedade, depressão, frustração, medo e

impaciência.

Page 60: Stress Ocupacional

 

3.1 O ESTRESSE

O conceito de estresse surgiu nos anos 30, graças a Hans Selye, endocrinólogo

canadense de origem austríaca.

Segundo Selye:

o estresse é um processo vital e fundamental onde pode ser dividido em dois tipos ou seja, quando passamos por mudanças boas, temos o estresse positivo e quando atravessamos alguma fase negativa, estamos vivenciando o estresse negativo.

Com o decorrer dos anos, o ambiente de trabalho vem se modificando e

acompanhando o avanço das tecnologias ultrapassando cada vez mais o nível de capacidade

de adaptação dos trabalhadores. Os profissionais vivem hoje sob contínua pressão, sendo o

tempo todo cobrado não só no trabalho como também na vida de uma maneira geral. O

estresse ambiental pode exercer grande influência na maneira como o indivíduo se comporta

socialmente, como exemplo, pode torná-lo agressivo.

O desgaste profissional, que as pessoas estão submetidas diariamente, poderá gerar

algum tipo de doença. Os modelos expostos são responsáveis pelos seguintes fatores: agentes

estressantes de natureza diversas (física, biológica, mecânica, social, etc.), como conjunto de

características pessoais temos (tipos de personalidade, modos de reação ao estresse etc.), um

conjunto de conseqüências relacionados à saúde do indivíduo (doenças cardiovasculares,

perturbações psicológicas etc.) e da organização (absenteísmo, acidentes, produtividade,

performance etc.).

Posen (1995) afirma que:

Page 61: Stress Ocupacional

os sintomas físicos do estresse mais comuns são: fadiga, dores de cabeça, insônia, dores no corpo, palpitações, alterações intestinais, náusea, tremores e resfriados constantes.

Outros sintomas são apresentados através do pensamento que podem ser

representados de forma compulsiva e obsessiva, levando em consideração a angústia e a

sensibilidade emocional, tornando o sujeito agressivo e violento. No entanto, os fatores que

geram os sintomas depressivos podem estar relacionados ao estresse. Os fatores são: ruído,

alterações do sono, sobrecarga, falta de estímulos, mudanças determinadas pela empresa e

mudanças devido a novas tecnologias.

A-RUÍDO

O ruído excessivo pode levar ao estresse, provocando irritações, reduzindo o poder de

concentração, principalmente nas atividades que apresentam um certo grau de complexidade,

o que afetará o desempenho do indivíduo, levando a fadiga física. Podendo também alterar

suas funções fisiológicas, como o sistema cardiovascular.

B- ALTERAÇÕES DO SONO

Ocorre através dos trabalhos que são realizados em turnos alternados. Fazendo com

que aumente o desgaste do trabalhador, afetando seu desempenho, pois a sensação de

cansaço e sono é maior quando estão acordados, alternando o Ciclo Arcodiano, provocando

reações no corpo, fazendo alterações tanto na vida familiar e social do sujeito. Vale ressaltar

que o bruxismo e o sonambulismo também estão ligados ao distúrbio do sono, devido ao

estresse que sofrem no trabalho.

C- SOBRECARGA

A sobrecarga de tarefas no trabalho é considerada como um dos motivos que leva ao

estresse no ambiente de trabalho. Isso ocorre devido as exigências que são impostas no

Page 62: Stress Ocupacional

ambiente e que sempre ultrapassam nosso limite de capacidade de adaptação. Os quatros

fatores que resultam na sobrecarga no trabalho são:

1. urgência do tempo;

2. responsabilidade excessiva;

3. falta de apoio;

4. expectativas contínuas de nós mesmos e daqueles que estão a nossa volta

D- FALTA DE ESTÍMULOS

A falta de estímulos no trabalho poderá ocorrer quando as tarefas se tornam

repetitivas, não tendo um certo grau de importância, resultando em um profissional altamente

estressado e desmotivado com o seu trabalho. Com relação as doenças, o profissional poderá

sofrer ataques cardíacos.

E- MUDANÇAS DETERMINADAS PELA EMPRESA

Esse tipo de mudança pode ser feita pela chefia ou devido à nova direção da empresa,

isto é, por causa de alguma aquisição da empresa. Geralmente esse tipo de mudança gera

estresse e insegurança.

No entanto, o profissional que sofre com as mudanças da empresa, passa por

momentos de ansiedade afinal, “teme” que seu setor seja “desmanchado”. É importante

constatar que mesmo que isso aconteça fazendo com que o trabalhador perca a sua posição,

ele continuará sendo o mesmo profissional, onde seus conhecimentos continuarão intactos e a

empresa poderá aproveitá-lo da melhor forma possível, na Organização.

F- MUDANÇAS DEVIDO A NOVAS TECNOLOGIAS

Page 63: Stress Ocupacional

Com as conseqüentes inovações tecnológicas, aliadas a velocidade das mudanças no

processo produtivo, fazendo com que as pessoas desenvolvam competências e habilidades.

Dessa forma, as pessoas são solicitadas a se adaptarem as novas exigências impostas no

mercado de trabalho.

Dessa forma sofrerão mais com esse tipo de mudança, as pessoas que estejam

passando por uma certa instabilidade afetiva, que apresentam características de insegurança,

ansiedade e indivíduos que não conseguem se adaptar com as novas tecnologias.

Segundo Bernick (1997) “qualquer mudança de vida, boa ou ruim, pode ser

considerada como um fator que leva ao estresse.”

Antigamente o setor industrial era tido como alto índice de estresse, onde se tinha

adoecimento no trabalho. Hoje, estudos voltados nessa área mostram que profissionais

ligados a educação, a saúde, executivos e profissionais liberais com características no aspecto

organizacional do trabalho e com elevada capacidade de autogerenciamento de suas carreiras.

Sendo assim é possível se observar que os fatores que geram os riscos à saúde e ao

sofrimento psíquico estão crescendo cada vez mais devido às exigências que são impostas ao

profissional, que muitas vezes ultrapassam sua capacidade de adaptação.

Outro fator que pode ser considerado estressante é a perda do emprego, pois gera

dificuldades financeiras, refletindo na identidade social do indivíduo. Afinal, o trabalho satisfaz

tornando o sujeito importante e reconhecido socialmente.Com o desemprego, a sua

identidade pessoal e a sua auto - estima também são abaladas.

A ausência do trabalho pode estar associada à queda do nível da qualidade de vida,

que como conseqüência terá a saúde abalada. Esses fatores resultarão no sofrimento mental,

ficando mais frágil, se afastando do grupo social de lazer. São manifestados comportamentos

negativos como a agressão, a rispidez e a apatia.

Além da perda do emprego, a aposentadoria também está relacionada ao tédio, a

solidão e a e a inutilidade provocando esses fatores que são altamente estressantes. No

entanto, o indivíduo perdeu o seu espaço no sistema produtivo, sendo necessário uma

recolocação e reorganização, na sua vida e no setor profissional.

Segundo França e Rodrigues (1997),

Page 64: Stress Ocupacional

pessoas que apresentam um elevado nível de ansiedade dentro de si, se “acostumaram” a lidar com o estresse no trabalho, usando este como um meio de descarga e tensão sendo chamados de workaholics, ou seja, “viciados no trabalho”. Estes profissionais têm uma enorme dificuldade de desfrutar de seu tempo livre, seja na família, no lazer ou até mesmo no seu convívio social.

Este tipo de profissional é muito valorizado no ambiente empresarial e pela sociedade

tecnológica, pois são pessoas que tem um rendimento profissional bem elevado. Sendo assim,

o estresse passou a ser muito importante no nível de tensão organizacional e pessoal, servindo

como qualidade de vida dos funcionários, produtos, serviços e resultados.

3.2 A SÍNDROME DE BURNOUT

O Burnout surgiu em 1974. Quem aplicou este termo foi o psicólogo Fregenbauer, que

constatou esta Síndrome em um de seus pacientes que trazia consigo energias negativas,

impotência relacionado ao desgaste profissional.

O termo Burnout é uma composição de burn (queimar) e out (fora), ou seja,

traduzindo para o português significa “perda de energia” ou “queimar” para fora, fazendo a

pessoa adquirir esse tipo de estresse tendo reações físicas e emocionais, passando a

apresentar um tipo de comportamento agressivo.

Apesar de ser bastante semelhante ao estresse, o Burnout não deve ser confundido

com o mesmo. O Burnout é muito mais perigoso para a saúde. No estresse existem maneiras

de controlá-lo. Como exemplo, um trabalhador estressado quando tira férias volta novo para o

trabalho, mas isso não acontece com um trabalhador que esteja sofrendo a Síndrome de

Burnout. Assim que ele retorna ao trabalho os problemas voltam a surgir novamente.

Page 65: Stress Ocupacional

Definida como uma reação à tensão emocional crônica gerada a partir do contato

direto, excessivo devido as longas jornadas de trabalho, faz o indivíduo perder a sua relação

com o trabalho, de forma que as coisas deixem de ter importância e que qualquer esforço que

faça será inútil.

Qualquer trabalhador pode apresentar o Burnout, porém vale ressaltar que essa

Síndrome aparece mais em profissionais que trabalham em atividades onde se tenha

responsabilidade pelo outro, seja por sua vida ou por seu desenvolvimento. Essa Síndrome

aparece em profissionais que tenham contato interpessoal mais exigente, como é o caso dos

profissionais que estão ligados na área da educação e saúde, carcereiros, atendentes públicos,

funcionários que dentro da Organização exercem cargos de gerente, diretores, chefias e

telemarketing.

O conceito de Burnout pode ser dividido em três dimensões que são:

1. Exaustão emocional - é a situação em que o trabalhador percebe que suas energias

estão esgotadas e que não podem dar mais de si mesmo. Surge o aparecimento do

cansaço, fica propenso a sofrer acidentes, ansiedade, abuso de álcool, cigarros e

outras drogas ilícitas.

2. Despersonalização - desenvolvimento de imagens negativas de si mesmo, junto

com um certo cinismo e ironia com as pessoas do seu ambiente de trabalho, com

clientes e aparente perda da sensibilidade afetiva.

3. Falta de envolvimento pessoal no trabalho - diminuição da realização afetando a

eficiência e a habilidade para a concretização das tarefas, prejudicando seu

desempenho profissional.

O Burnout está associado entre o que o trabalhador dá, ou seja, tudo aquilo que

investe no trabalho, e o que ele recebe, isto é, reconhecimento de seus supervisores, de sua

equipe de trabalho. Muitas vezes, o profissional dá tudo de si e não é valorizado, fazendo com

que fique frustrado, tendo a sensação de inutilidade para com o trabalho.

Para Farber (1991),

Page 66: Stress Ocupacional

burnout é uma síndrome do trabalho, que se origina da discrepância da percepção individual entre esforço e conseqüência, percepção esta influenciada por fatores individuais, organizacionais e sociais.

Um profissional que entra em Burnout, assume um comportamento de frieza com seus

clientes e com quem trabalha. As relações pessoais são cortadas, passam a agir como se

estivessem em contato com objetos, também ocorre a perda da sensibilidade afetiva,

deixando de se responsabilizar pelos problemas e dificuldades das pessoas que cuidam.

Análise feita mostra que a violência, a falta de segurança no emprego, burocracia no

processo de trabalho, falta de autonomia, baixos salários, tendência a se isolar das pessoas

que trabalham, falta de apoio, também são fatores que estão relacionados ao Burnout.

A falta de perspectiva com relação a ascensão na carreira profissional, pode gerar

sentimentos de ansiedade e frustração constante no cotidiano do trabalho. Quando o

profissional está afetado pela Síndrome, as idéias pessimistas, o medo, predominam com uma

certa influência no local de trabalho.

3.2.1 QUADRO CLÍNICO

O quadro clínico de Burnout apresenta os seguintes sintomas:

. Esgotamento emocional, perda da sensibilidade afetiva;

. Perda fácil do senso de humor, perda de memória, cansaço permanente, dificuldade

para levantar-se pela manhã, em algumas pacientes, ocorre a suspensão da menstruação e

dores gastrointestinais;

Page 67: Stress Ocupacional

. Despersonalização que resulta com atitudes negativas que a pessoa faz da sua própria

imagem, relação de cinismo, e ironia para com as pessoas na Organização;

.  Manifestações emocionais relacionadas com a falta de realização emocional,

esgotamento profissional, sentimento de frustração, baixa auto – estima, desmotivação para

com o trabalho;

.  Reações físicas: fadiga, problemas de hipertensão arterial, ataques cardíacos, perda

de peso, dores de cabeça, dores nas costas etc.;

.  Reações comportamentais: consumo acelerado de cigarros, álcool, café e drogas

ilícitas. Apresenta comportamentos irritadiços e violentos, distanciamento afetivo dos clientes

e dos colegas de trabalho, perda da concentração, elevada taxa de absenteísmo ocupacional e

constantes conflitos interpessoais tanto no trabalho como no próprio ambiente familiar.

França e Rodrigues (1997) recomenda como forma de prevenção do Burnout,

modificar com uma certa freqüência a atividade de rotina, evitando a monotonia,

reduzindo o excesso de longas jornadas de trabalho, melhorar na qualidade das relações

sociais, das condições físicas no trabalho e investir no aperfeiçoamento profissional e

pessoal dos trabalhadores.

Pesquisas informam que as mulheres têm mais chance do que os homens de adquirir a

Síndrome de Burnout devido a sua dupla jornada de trabalho que administra tanto as tarefas

do emprego, como as tarefas domiciliares.

É importante enfatizar que quando o trabalhador é diagnosticado com Burnout é

necessário que este seja afastado do emprego e que , durante este período, continue

recebendo todas as sua garantias.

Page 68: Stress Ocupacional

 

 

4 A ATUAÇÃO DO PEDAGOGO EMPRESARIAL E A QUALIDADE

DE VIDA DO TRABALHADOR

 

“Um dos propósitos da Pedagogia na Empresa é a de qualificar todo o pessoal da organização nas áreas administrativas, operacional, gerencial, elevando a qualidade e produtividade organizacional”.

 

(FERREIRA, 1995, p. 8)

 

De acordo com a Lei 6297/75, o pedagogo empresarial atua na área de

desenvolvimento de Recursos Humanos enfatizando o treinamento dos funcionários,

auxiliando na formação destes, com o objetivo de atender aos Propósitos da

Organização.

Assim, na sua atuação na empresa deve buscar modificar o comportamento dos

trabalhadores de modo que estes melhorem tanto suas qualidades no desempenho

profissional, como no desempenho pessoal.

De acordo com (FERREIRA, 1995, p.8)

 

Assim, em sua busca pela qualidade e produtividade no trabalho deve, o pedagogo empresarial, ter como perspectiva transmitir conhecimentos, identificar as habilidades e competências realizando um levantamento das necessidades de Treinamento.

 

Page 69: Stress Ocupacional

A sociedade contemporânea apresenta modificações significativas em todos os

aspectos do conhecimento. E o mundo do trabalho sofre com as sucessivas

modificações nas suas relações, tornando-se cada vez mais exigente, em decorrência de

certos fatores como: a globalização, contínua competitividade, a demanda de

profissionais criativos e eficazes.

Neste contexto, se insere boa parte das preocupações do pedagogo empresarial,

cabe a ele, com o objetivo de estimular a forma contínua e atualizada dos profissionais

da empresa, desenvolver técnicas de competência e habilidades essenciais para uma boa

qualificação profissional.

Para Bonz (1981, p. 18) as competências se referem a:

1. Competência na atuação - Consiste em utilizar ferramentas de aprendizagem,

dando a possibilidade do trabalhador por em prática os conhecimentos que foram

adquiridos.

2. Competência técnica – são utilizados recursos como debates, dando a

oportunidade do trabalhador elaborar e apresentar projetos individuais.

3. Competência para a auto-aprendizagem – utiliza técnicas e recursos que

auxiliam na forma de como aprender a trabalhar.

4. Competência social - estimula a formação de trabalhos em equipes para a

concretização das tarefas. Enfatizando a troca de experiências possibilitando o

enriquecimento do trabalho.

Desta forma ao atuar na empresa, precisa identificar claramente quais serão os

métodos utilizados, evitando o desperdício de recursos que não serão úteis para a

empresa. Ao elaborar um treinamento, os recursos são estabelecidos de forma que sejam

envolvidas tanto a competência técnica como a competência social. Segundo

Chiavenato (1989) levando-se em conta algumas necessidades como:

. Modificar a rotina de trabalho, de modo que não prejudique as ações

estratégicas;

. Elaboração de objetivos claros e precisos para as ações mais importantes;

Page 70: Stress Ocupacional

. Buscar ações que tenham como objetivo a participação de todos.

O aperfeiçoamento contínuo do indivíduo deve ser feito na perspectiva do

desenvolvimento, onde o pedagogo apóia o aperfeiçoamento individual dos indivíduos.

Sendo assim, a criatividade exerce um grande papel na Organização.

De acordo com Chiavenato (1989)

 

a criatividade nas organizações pode ser desenvolvida através de algumas ações como: encorajar e aceitar a mudança; impulsionar novas idéias; proporcionar maior interação; tolerar os erros; definir objetivos claros e liberdade para alcançá-los, oferecendo o reconhecimento.

 

Para tanto, é necessário que se estabeleça uma “harmonia” entre os diferentes

departamentos organizacionais, respeitando os estímulos, as opiniões de cada pessoa

que compõe a equipe.

Como nos lembra Chiavenato (1989)

 

o incentivo e a motivação, são considerados excelentes fatores na promoção do bom desempenho dos funcionários, principalmente se esse incentivo vier por parte da chefia, oferecendo estímulos que irão melhorar o seu desempenho.

 

Cabe ao pedagogo verificar e realizar um levantamento das necessidades com o

objetivo de identificar se o profissional precisa ou não de um treinamento. Suprindo, se

for o caso, carências que o funcionário apresente, possibilitando uma preparação

profissional adequada, melhorando seu desempenho e qualidade de vida da empresa.

Segundo Chiavenato, (1989)

 

Page 71: Stress Ocupacional

na execução do treinamento alguns fatores são considerados como sendo, a cooperação das chefias e coordenações da empresa, a qualidade e preparo dos instrutores e perfil do aprendizes. Assim o treinamento resultará em uma resposta lógica a um quadro de condições ambientais extremamente mutáveis e a novos requisitos para a sobrevivência e crescimento organizacional.

 

Como se observa o pedagogo na empresa produz e difunde o conhecimento,

exercendo o seu papel de educador. Para atingir seus objetivos, atendendo não só a

empresa, mais o seu principal capital – o trabalhador deve realizar uma observação

criteriosa do comportamento dos seus profissionais. Isto envolve não só aquilo que diz

respeito diretamente a produtividade, mas todos os fatores que contribuem para o

sucesso e eficiência das metas estabelecidas pela organização.

Neste contexto se insere a preocupação deste trabalho. Diante do exposto até o

momento com relação à saúde do trabalhador e das respostas à ambientes hostis,

considerando que o pedagogo na empresa possa contribuir de maneira significativa para

a integração do trabalhador favorecendo um clima saudável na organização para a

preservação da saúde e bem estar do profissional. Saúde aqui entendida em uma

perspectiva global.

Segundo C. Dejours (1985) “A saúde para cada homem, mulher ou criança é ter

meros de traços em cunho pessoal e original, em direção ao bem estar físico, psíquico e

social”.

Desta forma, os comportamentos apresentados por outros profissionais tais

como: absenteísmo, aumento de acidentes de trabalho, desmotivação e queixas

constantes, que como já vimos, indicam a presença da Síndrome de Burnout e do

Estresse Ocupacional poderia ser precedidos e muito rapidamente identificados dentro

das Organizações.

Procurando identificar os fatores ambientais e organizacionais que podem

contribuir para esta situação, encontramos: a falta de comunicação adequada, clima de

intriga entre os funcionários, longas jornadas de trabalho sem a adição de horas extras,

competição acirrada entre os próprios funcionários, falta de cooperação para com a

equipe, sobrecarga de tarefas e a pressão do tempo.

Page 72: Stress Ocupacional

Segundo Teixeira (2005)

 

em uma empresa de grande porte a solução encontrada para a resolução do problema envolve a melhora dos canais de comunicação, trazendo a maior eficiência para o trabalho, resolução dos conflitos interpessoais, redução na carga horária de trabalho, adição de horas extras e premiações como incentivo para os funcionários.

 

Desta forma, a empresa obteve uma redução de 20% das doenças

psicossomáticas no setor administrativo (relacionado à gerência), e 18% no nível

operacional. Gerando a queda do absenteísmo, aumento da auto-estima, funcionários

mais dispostos e motivados com o seu trabalho, melhorando assim o ambiente de

trabalho.

É importante mais uma vez, ressaltar que a qualidade de vida é fundamental na

sobrevivência das empresas e essa qualidade pode ser alcançada através da remuneração

adequada, promoção do desenvolvimento social, melhoria nas condições de trabalho e a

oferta de oportunidades de crescimento dentro da organização.

Segundo Teixeira (2005) “algumas empresas investem na saúde de seus

funcionários possibilitando a prática de atividades físicas. Os benefícios da atividade

física para a saúde incluem”:

-          Redução do estresse;

-          Redução das doenças cardiovasculares;

-          Melhora na auto-estima, tornando as pessoas mais ativas e motivadas.

 

Estudos mostram que se todos os dias a pessoa praticar pelo menos trinta

minutos de exercício de forma contínua e acumulada, trará ótimos resultados para a

saúde.

Com os benefícios psicossociais destacam-se:

Page 73: Stress Ocupacional

. Diminuição da depressão;

. aumento da auto-estima;

. Alívio do estresse;

. Aumento do bem-estar;

. Redução do isolamento social.

Benefícios para a Empresa:

-          Aumento da produtividade;

-          Redução do índice de absenteísmo;

-          Diminuição dos custos médicos;

-          Diminuição da rotatividade na mão-de-obra;

-          Melhora da imagem dos funcionários.

 

As competências adquiridas pelo pedagogo, relacionadas nas áreas: de atuação,

técnica, auto-aprendizagem e social, terão como objetivo oferecer uma preparação

adequada ao trabalhador, de acordo com a sua respectiva área profissional, podendo

despertar as habilidades latentes do trabalhador, melhorando a sua qualificação, o que

certamente proporcionará um melhor desempenho no trabalho. Trazendo benefícios

para a sua saúde, tornando o ambiente de trabalho mais agradável.

 

Page 74: Stress Ocupacional

 

 

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante do trabalho apresentado, podemos observar que as mudanças que estão

ocorrendo no processo de trabalho estão afetando diretamente na vida do trabalhador

causando males a sua saúde.

As exigências que o mercado de trabalho está impondo ao trabalhador estão em

algumas situações levando ao sofrimento psíquico. Alguns fatores foram identificados tais

como: o ruído, que é considerado um fator altamente prejudicial, influenciando no seu

comportamento tornando-o mais agressivo, a fadiga incessante, falta de perspectivas,

frustração, ansiedade, depressão, medo, desmotivação com o trabalho, sobrecarga de tarefas,

fazendo com que o rendimento do trabalhador seja insuficiente, pelo fato deste não conseguir

dar conta de cumprir suas tarefas que são repetitivas.

Desta forma, as cobranças constantes que ocorrem no ambiente de trabalho, faz com

que o trabalhador apresente o estresse quando seu desempenho profissional passa a ser

insuficiente, levando-o a insatisfação com a sua atividade. Podendo também levar o

profissional a adquirir a Síndrome de Burnout, onde ocorre a desmotivação do trabalho,

fazendo com que a pessoa que apresente esta Síndrome queira “abandonar” seu trabalho.

Concluindo em relação a atuação do pedagogo empresarial sendo este dotado de

competências, tem como objetivo usá-las de modo que possa identificar as habilidades

dos trabalhadores, elevando seu nível produtivo, melhorando sua capacitação e

propiciando um ambiente de trabalho estável e saudável.

Page 75: Stress Ocupacional

 

 

REFERÊNCIA

BERNICK, V. Stress: the silent killer. Revista Eletrônica Cérebro e Mente, n 3, set./nov., 1997. Dísponível em: <http://www.epub.org.br/cm/no3/doenças/stress.htm>. Acesso em: 21 nov. 2005.

CHANLAT, F. J. Teorias do estresse e psicopatologia do trabalho. Revista Prevenir, n. 20, 1 semestre de 1990.

CHIAVENATO, Idalberto. Recursos Humanos. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2002. 631 p.

DEJOURS. C. Revista Brasileira de Saúde ocupacional, n. 54, v. 14, maio–jun., 1985.

FILGUEIRAS, J.C.; HIPPERT, M. I. Estresse: possibilidades e limites. cap. 2.

JACQUES, Maria da Graça; CODO, Wanderley. Saúde Mental e Trabalho. 2. ed. Petrópolis: Vozes, 2002. 420 p.

FRANÇA, A. C. L.; RODRIGUES, A. L. Stress e trabalho: guia prático com abordagem psicossomática. São Paulo: Atlas, 1997.

Page 76: Stress Ocupacional

FREITAS, B. B. N.; MATTOS, O. A. U.; PORTO, F. M. Novas Tecnologias, Organização do Trabalho e seus Impactos na Saúde e no Meio Ambiente. Saúde Meio Ambiente e Condições de Trabalho, Rio de Janeiro: FIOCRUZ, cap. 5, p. 43-54. (Mimeo).

RIBEIRO, A. E. A. Pedagogia Empresarial: atuação do pedagogo na empresa. Rio de Janeiro: Wak, 2003. 140 p.

SATO, LENY. Trabalho e Saúde Mental. Saúde Meio Ambiente e Condições de Trabalho, Rio de Janeiro: FIOCRUZ, cap. 12, p. 169-175. (Mimeo).

SIVIERI, H. L. Saúde no trabalho e Mapeamento dos Riscos. Saúde Meio Ambiente e Condições de Trabalho, Rio de Janeiro: FIOCRUZ, cap. 8, p. 75-82. (Mimeo).

Para referência desta página:

ROCHA, Anna Carolina Florêncio da Rocha. O estresse no ambiente de trabalho. Rio de Janeiro, 2005. Pedagogia   em   Foco. Disponível em: <http://www.pedagogiaemfoco.pro.br/pemp05.htm>. Acesso em: dia mês ano.

Page 77: Stress Ocupacional