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Stuart Hall - Da diáspora

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Stuart Hall - Da diáspora

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    jetoria de Stuart Hallcomointe-al comec.ou no bojo da reelabo-doque eserdeesquerda,depoiserrota pela Uniao Sovietica do.mento antiestalinistana Hungria,1956. Continuou nos anos 60 eem meto a preocupac.ao com acente influencia do s meios deunicac,ao na cultura, ao mesmo30democratizadorae segundodic,aobem-pensante,d eesquerda direita avittante. E nessedo que preocupaooesferninistascismo entram explicitamenteseurepertorio. Suatrajetoriaagua, n e s s e s ultimos vintes, na preocupagao em repensarjltura no meto de uma globali-iocomplexa econtraditoria. Essemomento em que asidentidades

    urais setornam lances discursivosfundamental tmportanciapara:mos faz.E nessaultimafase, a deilizar a globaliza^ao e as politicas:urais, que Halt tornou-seuma dasicipais referenciasatuais sobredimensoes politico-cutturais dabalizagao, vistasa partir da dias-a negra. Ao longodessecaminho,

    .I fo i protagonista do s EstudosIturais, com seuprojeto de pensarulturaemurnprecario evitalequi-rioentrea valoriza^ao do trabalho

    D A D I A S P O R AI D E N I I D D E S E M E D I T E S C U L T U I I S

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    S T U A R T H A L L

    D A D I A S P O R AI D E N I D A O E S E M E D I A T E S C U L U R A I S

    Liv S O V I K

    Adelaine L a Guardia R e s e n d eA n a Carolina E s c o s t e g u y

    Claudia A l v a r e sF r a n c i s c o R u d i g e rS a y o n a r a Amaral

    Belo HorizonteEditora UFMG

    Brasil iaRepresentacao da

    UNESCO no Brasil2003

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    2003dosoriginalseminglesbyStuart Hall 2003datraducaobyEditorsU F M GEstelivroon partedelenaopodeser reproduzido porqua lquer meiosem autorizataocscritadoEditor.Oautoreresponsavel pela escolhaepelaapresentacao dos fatoscontidosneslapublicafaoe pelasopinioesaquicxpressas, que naosaonecessariamente as daUNESCOe naocompromeiemaOrganizacao.Asdesignatesempregadase aapresenta9aodo materialnaoimplicama expressao dequalquer opiniao que seja, por parte da UNESCO,no que dizrespeitoao statuslegalde qualquer pais,terrii6rio,cidadeou area, ou desuasautoridades, on no que dizrespeiloSdelimitacaodesuasfronteirasou deseuslimites .

    H179d Hall.StiiariDa diaspora:Identidadesemediacoesculturais/ StuartHall;

    OrganizacaoLiv Sovik;TraducaoAdelaine LaGuardiaResende ... let all.-Belo Horizonte:EditoraU F M G ;Brasilia:Representacaoda UNESCO noBrasil,2003.

    4Mp.(Humanitas)ISBN:85-7041-356-4I. IdentidadeSocial 2.Cultura 3.Etnologia I.Sovik,Liv11.Resende,Adelaine La Guardia III.Tftulo IV.Serie

    C D D : 306C D U : 316

    Catalogacaona publicacao:DivisaodePlanejamenloe Divulgacao da BibliotecaU niversilaria-U F M GED1TORACAODE TEXTO: AnaM ar iade MoraesPROJETO G RAFICO:GI6riaCampos-MangdCAPA:Stuart McPhail Hall,diptico de Dawoud Bey,acervo daNational Portrait Gallery,Londrcs.REV1SAOENORMALIZACAO: SimonedeAlmeida Gomes'"VISAODE PROVAS: Cida Ribeiro eLfvia RenalaL .SalgadoRh .'TSAOTfiCNICA:L ivSovikPRO D U CA OGRAFICA:WarrenM .SantosFORMATAgAO DO MIOLO:CassioRibeiro

    U N 1 V ERSID A D E FEDERAL DE MINAS GERAISReitora: Ana Lu c ia Almeida GazzolaVice-Reitor: Marcos Borato VianaEDITORA U F M GAv.An ton ioCarlos, 6627Ala direitada Biblioteca Ce nt r a l-lerreo-C ampusPampulha31270-901 -BeloHori zonte/MGTel.: 31)3499-4650 . Fax: 3D 3499-4768www.ed i to ra .u fmg .b r [email protected]

    CONSELHO EDITORIALT I T U L A R SAntonioLuizPinlioRibeiro, Bcairiz Rezende Danlas,CadosAntonioLeiteBrandao,HeloisaMar iaMurgelStarling,LuizOtavioFagundesAmaral, MariadasGracasSanta Barbara,MariaHelenaDamasceneeSilva Megale, RomeuCardosoGuimaraes,WanderMeioMiranda(Presidente)S UP LEN TESCristianoMachadoG on t i jo,DeniseRibeiroScares,Leonardo Barci Castriola,Lucas JoseBretas dosSantos,MariaAparecidadosSantosPaiva,Ma u r f l i oN u n e sVieira,NewtonBigno t tode Souza,Reinaldo Martinian o Marques,Rkardo CastanheiraPimentaFigueiredo

    50SistemaIntegradode Bibliotecas/UFES

    CONSELHO EDITORIALDA :

    UNESCONOBRASILJorgeWertliein, JuanCarlosTedcsco,CeciliaBraslavsky, AdarnaQuane,Celioda CunhaOrganizacao das Nafoes Unidaspara aEducacao, aCienciae aCulturaRepresentacaonoBrasilS A S , Quadra 5 BlocoH, Lote6, Ed. C NPq/IBICT/UNESCO, 9andar70070-914-Brasilia- DE-BrasilTel.: (55 61)321-3525 Fax: (5561) 322-4261UHBRZSuncsco.org.br

    CREDITOS DOS TE3i Idien^fdades ec u l t u r a i sPARTE1 -CONTROV^RSL

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    Oproblemadaideologla:omarxismosemgarantiasHALL, S. The Problem of Ideology: Ma rx i sm Wi thou t Gua ra n te e s . In :MATTHEWS, B .(Org.).Marx: 1 00Yearson . London: Lawrence& W ishart ,1983, P- 57-84.Arelevancia deGramsci parao estudo de raca e etnicidadeHALL,S .Gramsci's Relevancefor the Studyof Raceand Ethnicity.Journalo fCommunication Inquiry, 10(2), 5-27.1986by Sage Publications. Rep rinted by permission of Sage Publications, Inc.

    "negro"eessenaculturanegra?HALL,S.Whati sThis"Black"in Black Popular Culture? 1998Black-Popular Culture: Discussions in Contemporary Culture #8,edited by Michele Wallace. Reprinted by permission of The New Press.(800) 233-4830. (Led.Seattle:BayPress,1992.)PARTE 4 -TEORIADA RECEPgAO

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    u M O

    APRESENTACAOP A R A LE RSTUART H A L L

    P AjfR T E CONTROVERSIASJH.PENSANDO A DIASPORAREFLEXOE5 SOBKE ATERRA NO EXTERIORA QUESTAO MULTICULTURALQUANDO FOI O P6S-COLONIAL?PENSANDO NO LIMITE

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    51

    101

    P A>K T E MARCOS PARA OS ESTUDOS CULTURAIS

    ESTUDOS CULTURAISDOISPARADIGMAS 131S1GN1FICACAO, REPRESENTACAO, 1DEOLOGIAALTHUSSER E OS DEBATES POS ESTRUTURALTSTAS 160ESTUDOS CULTURAIS E SEU LEGADO TE6RICO 199P A R A ALLON WHITEMETAFORASD ETRANSFORMAgAO 219

    T E CULTURA POPULAR E IDENTIDADE

    NOTAS SOBRE A DESCONSTRUgAO DO P O P U L A R 247O PROBLEMA DA IDEOLOGIAO M A R X I S M O SEM G A R A N T 1 A S 265

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    A R E L E VANC I A DE G R A M S C I P A R A O ESTUDODE R A A E E T N I C I D A D E 294QUE "NEGRO" ESSE NACULTURA NEGRA? 335

    T E TEORIA DA RECEPAO

    R E F L E X O E S S O B R E O M O D E L O DECODIFICAgAO/DECODIFICAgAOUM A ENTREV1STA COMSTUART H A L L 353

    CODIFICAgAO/DECODIFICAgAO 387

    A P R E S E N T A ^ A OP A R A m S T U A R l H A L L

    STUART HALL FOR STUART H ALL

    A F O R M A g A O DE UM I N T E L E C T U A LDIASP6RICOLIMA ENTREVISTACOMSTUARTHALL,DEKUAN HS1NG CHEN 407

    CLQiito de origem dp s Estudos_Culturais reza que StuartHa]i_e__seju_pai. Foi^dirjetor_^Q_Xatre_for_jC_Qntej2r3^_ajyCulturaj_J?tudies (CCCS)jda Universidade de Birmingham,na Inglaterra, durante se u periodo mais fertil, qsjuios 70 .Na verdade e um dos pais, pois o mito de origem incluiRichardHoggart, Raymond Williamse,as vezes, E. P.Thompsonnesse papel. Mas foi Stuart Hall quern assumiu os EstudosCulturais como projeto instituciona l na Open Un iversity, econtinuou, periodicamente, a se pronunciar sobre os rumosde algo que setornou um movimento academico-intelectualinternacional .

    Ao mesmo tempo, StuartHall recua diante da autoridadequ e Ih e e atr ibuida. Faz de seu estatutopa te rno^umavan-tagem de testemunha ocular (cf.LT).1 Ou ironiza-o, comofez em palestra no congresso da Associacao Brasileira deLiteratura Comparada (ABRALIC), em Salvador,em julho de2000, ao falar da importancia, para ele, de ler Roger Bastidee Gilberto Freyre no s anos 50. Os_Estudos Culturais teriamorigem, inclusive^_basileira. O recuo de Hall e indicacaode um a atitude peculiar diante do trabalho intelectual,pelaqual os antepassados e contemporaneosteoricos sao, a umso tempo, aliados, interlocutores, mestres e adversaries, decuja forca Halls e apropria, sem se preocupar em denunciarpontos fracos ou demonstrar devocao filial as suas ideias.Npjnelhor sentido brasileiro, Hall e antropofago. Deglutiu

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    Marx, Gramsci , Bakhtin. Saboreou LouisA lthusser, Raym ondWilliams, Richard Hoggart, FredricJameson, Richard Rorty,Jacques Derrida, Michel Foucault, E. P. Thompson, GayatriSpivak,P aul Gilroy, comalgod e le nAng, Cornel West, HomiBhabha, M ichele Wallace, JudithButler, David Morley, assimcomo ingeriu Doris Lessing, Barthes, Weber, D urkheim e Hegel.Existem eventualmente duas excecoes a metafora antro-pofagica para o Hall leitor. Ele e filho amotinad o de F . R.Leavis, grande defensordo canone literario como moralmentesuperior a culturad e massa qu e dominou acritica literariabritanica no svanos30 a 50 do seculo X X . E se filia aometodoe as prioridades de Gramsci, dentre as quais esta fazer umtrabalho teorico que contribua para uma ideologia e umacultura "populares", em contraposicao aculturad obloco de

    poder (cf. NP), ao mesmo tempo em que se desconfia doalcance politico limitado do trabalho intelectual. Quandocolocado na posicao de grande mestre eexaltado po r aquiloque escreveu, Hall desconversa, pois.^maisjmportante doqu e criar discipulos e alimentar o debate sobre_a_tematica^bla^Ue^e^jnTcomerrtario sobrelflmportancia do seu ensaio"Que 'negro' eesse na cultura negra?", reforcou a metaforaantropofagica ao diz er: "Help yourself." Sirva-se. de uma- _na _familia de classe media, adquiriu, ainda jovem, consciencia"da contradicao dacultura colonial,decomo agentesobre-vive a experiencia da dependencia colonial, de classe e cor,e de como isso pode destruir voce, subjetivamente" (FID).O movimento pela independencia da Jamaica fez parte doambiente em que ele cresceu, aopassoque aSegunda GuerraMundial foi fundamental ao suscitar nele, estudantesecun-darista,uma conscienciahistoricaegeografica como contextodas preocupac.6esanticoloniaisde suageracao.Enquanto seuscolegaspretendiam estudareconomia, ele se interessou maispela historia e sonhou em ser escritor. Em 1951, foi estudarliteratura em Ox ford "e "aca'bou n a ~ o mais voltando a morarn a Jamaica. -

    Nu m primeiro momento, Hall se associou a jovens cari-benhos que fo rma ram a prim eira gerac.ao de uma inteli-gencia negra, anticolonialista. Mais tarde, fez parte de umgrupo fundamental para a formacao da New Left inglesa, do10

    final dos anos 50 e iniciodos 60, que incluiu E. P. Thompson,Raymond Williams, RaphaelSamuel, Charles Taylor, muitosdeles originahosjas^m argens, seja por motives de classe ougeografia-^Essa "nova esquerda" se cristalizou a partir^dosacontecimentos de 1956: a invasao sovietica da Hungriae acrise do Suez, quando as forcasisraelitas, francesase brita-nicas atacaram o Egitod o nacionalista arabe Nasser. Nao seidentificava ne m com o stalinismo, com o qual os membrosdo Partido Comunista estavam alinhados com diversos grausde entusiasmo, nem com o nacionalismo britanico, com seuprojeto imperialista. Nessa perspectiva_critica. Hall foi editorda Ne w L e f t tft^wMte 19_^aJJ26l^j^Tfiscussao sobre novas^cornpreensoesde classe social,_mpvi-IrrenTos^spciais eTp.olitica, da ,questao...do..des_armamentonucleate a partir do s disturbios raciais no bairro NettingHill em 1958 sobre a incipiente tjuestao .racial britanica.

    Stuart Hall participou dafundacao, em 1964, do Centre forContemporary Cultural Studies (CCCS)j_da Universidade deBirmingham, que deu o nome de(Estudos_C_ulturai^a um a_f^rma_de_pensar sobre cultura^ Financiado parcialmente co mos lucres da s vendas de The Uses^fJLiteracy, de Hoggart,sobre o consume cultural da classe operaria inglesa, el edirigiu o Centre nolTseus primeiros quatro anos. Foi noperiodo sob a direcao de Stuart Hall, de 1968 a 1979, que seconsolidaram os Estudos Culturais, a partir de uma preocu-pacao politica e do projeto de colocar em basesteoricasmaissolidas as leiturasd e "textos" dacultura,qu e incluiam desdeo fotojornalismo2 e p rogramas de televisao, ate a ficcaoroman t i ca consumida por mulheres e assubcu lturas juvenisbritanicas (leia-se teds, mods, skinheads, rastas) as vesperasdo movimento punk.3

    O pensamento deHall passa por conviccoesdemocraticase pela agucada observacao da cena cultural contemporanea.Amaioria deseus textosteoricos respondea uma conjunturaespecifica, incluindo ai um momento da discussao teoricasobre a cultura. Deixam clara su a l igacao com o projetode formular "estrategias cu l tura i s que fazem diferenca edeslocam (shift) asdisposicoes de poder" (QN). Desloca-mento, alias, e a imagem que Hall faz da relacaoda culturaco m estruturas sociais de poder; pode-se fazer pressoesatraves de politicas culturais,ern uma (guerra~deposicoes",

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    ma s a absorcao dessas pressoes pelas relacoes hegemonicasde poder faz comque a pressao resultenao em t ransfor-macao, mas em(deslocamentoP)da nova posicao fazem-senovas pressoes.Aspressoesseefetuam dentro de uma situacao complexa.Em um trecho do texto intitulado "Que 'negro1 e esse nacultura negra?", Hall explica o dificil quadro em que se fazpoliticas culturais negras e se produz cultura:

    Etnicidades dominantes sao sempre sustentadas por uma eco-nomia sexual especifica, uma figuracao especifica demasculi-nidade, uma identidade especifica de classe. Nao existe garantia,quando psocuramos uma identidade racial essencializada daqual pensamos estar seguros, de que sempre sera mutuamentelibertadora e progressista em todas as outras dimensoes. [...] Defato na o nada surpreendente a p lural idadede antagonismose diferencas que hoje procuram destruir a unidade da politicanegra, dadas as complexidades das estruturas de subordinacaoqu e moldarama forma como no s fomos inseridos na diasporanegra (QN).Ressaltam-sea stensoes:aperguntasobreidentidade negra

    a que se refereo titulod oartigo reverte para a consideracaocritica da etnicidade dominance; a id_entidade_jiegra_.e _gtra-t inclusivedgjgenero e orien-tacao sexual. A politica identitaria essencialista aponta paraalgopelo qual vale lutar, mas nao resulta simplesmente eml iber tacao da dominacao. Nesse contexto complexo , aspoliticas culturaise a luta que incorporam se travae m muitasfrentes e em todos os niveis dacultura, inclusivea vida coti-diana, a cultura popular e a cultura de massa. Hall aindaacrescenta um complicador,no final do texto:omeio mercan-tilizado e estereotipado da cultura de massa seconsti tui derepresentacoes e figuras de um grande drama mitico com oqual as audiencias se identificam, .e^mais uma experiencia

    _ d e _ fantasia do que de auto-reconhecimento.A construcao por Hall do problema e argumento sobrepoliticas cu ltur ais negras coloca em pauta um a constelacaode ideiasem tensaoumascom as outras, criando um aespe-cie de cama-de-gato ou ponte pens^l. O proprio Hall us ametaforas diferentes para descrever seu trabalho. Ja fe zjardinagem teorica com as ideias de Gramsci ,qu e podem

    se r"desenterradas delicadamente de seusoloconcrete e desua especificidade historica e transplantadas para um novoterreno, com muito cuidado e paciencia" (RG) . Ao fazerisso, as ideias se tornam uteis para pensar raa e etnicidadeem outros cl imas e epocas. Emou t ro momento, comparao am biente de trabalho do CCCSa uma estufa (FID) altamenteseletiva, onde os Estudos Culturais puderam se r cultivadosem condicoes otimas, embora artificials. Teorizar^significavaresponder a enigmase lidar cpjn^^jmj oo^d^jiQY^s^m^vi^nientos sooais., No~CCCS tratou-se de travarum a luta com econtra teorias, como se fosseJaco com o anjo (cf. LT).Lutarcom as teorias dessa formasignificavanao aceitar sua autori-dade como se fosse divina. O trabalho teorico e um corpo-a-corpo co m outros teoricos, su aautoridade e seus discipulos,sua historia e mudancas de rumo. E um jogo agonistico, masnao e uma mera brincadeira, pois e fundamenta lmenteutilna busca de respostas a questoes complexas qu e grupos esociedades enfrentam. Pois, para Hall, o social ainda existe,sim, e como Deleuze,ele entende que as teorias sa o caixasde ferramentas aserem usadas em seu beneficio.Com a preocupacao de fazer dialogar uma teorizacao

    complexa e sofisticadacom asdemandas desegmentossocials,JHtal^transferiu-se. em 1979. de Birmingham_para a_OpjgnUniversity, um a instituicao de ensino superior na qual adultosobtem diplomas universitarios atraves de uma combinacaode educacao adistancia e seminariesintensivos.De ladirigiu,com exito, esforcos para^institucionali7:ar Q g _ E s jL u d o s Culturaisabordagem que engajavari tanicos, f a zendo delesos intelectos nao so na es tufa . mas tambem em_camposmaisamplo_s_da_p_opulacaobritanica cujo_aces_^J_e_ducacagsuperior era Umjtado ou recente, No s anos 80 e 90, veio aaceitacao dosEstudos Culturaisno meio academico britanicoe sua incorporacao pela industria editorial como linha deproducao academica e de interesse geral, co mboas vendas.Finalmente, Stuart Hallassistiu a um crescente interessepelosEstudos^Culturais fora da Gra-Bretanha, po r estudlosos no smaisdiversos lugares, principalmentenoenorme e rico meiouniversitario do s Estados Unidos.Q__trahajho_d_Hall focaliza a "questao paradigmatica dateoria cultural", ou seja, "c.Qrno_ pensar', de forma nao redu-.^as.re1 acqes_ejitre_^i^ociaj/.__ejp_simholico'" (AW).

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    O pensamento ternu mpeso especifico, poiso_discursoteoricouma^ratica^ultu^l^ntica^que se faz^comapre tensao deintervir em umadiscussaojnais ampja; por natureza, ajteoiiaterness^pote^noal^de^ntervgngao. Quando reve a questaod a ~ ideblogia,Haildiz: "Tambemquerocoloca-la[ aideologia]enquanto um problema geral um problema para a teoriaporque tambeme um problema paraapoKtica e aestrategia."(PI)-A teoria e uma tentativa desolucionarproblemaspoli-ticos e estrategicos; nao uma elaboracao a partir deles.^ Ateoria e uma tentativ^^de_^aber_algo__que, por sua vez, levaaum novo ponto de p art ida em um p_r_ocesso_se.rn.pj:ejnac.a-Bacfo de~Tndagag"ao~e'~descoberta; nao_e um sistema_ _ C [ u eAtil.nadiferenca de enfase e importantee esclarece por que, paraHall, a teoria e "um conhecimento con jun tura l , contestadoe local",mais do que uma manifestacao da vontade de ver-dade (LT). Por esta razao, o legado teorico do CCCSnao tomaa forma de um referencial teorico, na visao de Hall, mas deum posicionamento sobre o que significa fazer trabalho inte-lectual serio hoje. Essa postura entende os Estudos.Oolturaiscomo projeto qu e implicao_envolyimentoc om e a consti-tuicaoteoricade forc.asdemudanca_econ6mcaj social.Os textos neste livro seguem as convenc,6es do generoteor ico-academico. Podem ser lidos em busca de concei-tuac,6es de hegemonia , ideologia, agenciamento politico,art.iculac.ao, globalizacao, po rexemplo, ou, em uma leituramais transversal, a perspectiva de Hall sobre. a relacao entre

    o s meios de comunicacjio e a cultura, o lugar da historia noestudo da cultura contemporanea, a sua epistemologia ou,ainda, a maneira pela quallequestoes da s etnicidades domi-nantes e de genero. Essas leituras e outras se enriqueceraoao levar em conta a consciencia dejjall dametaforaxomncaminho e limite de_compreensao. Em "Estudos Cultura is esexTlegacToteorico" relata que a ~ b ~ u s c a de uma pratica insti-tucional qu epudesseproduzir um intelectual organico" foi ametafora qu e orientou o trabalho do CCCS no s anos 70,embora nao se conseguisse identificar o "movimentohistoricoemergente" no qua lo intelectualorganico se inseriria.Tam-pouco, no CCCS, seteria reconhecido tal intelectual organicoque se procurava produzir , diz. A metafora gramsciana detrabalho intele ctual presente em B irmi ngha m esta "sob a

    rasura" (metafora derridiana, a qual Hall recorre frequente-mente) da constatacao de ingenu idade. Este intele ctual ,lembra, t rabalhaemduas frentes. Deve saber mais do que ointelectual tradicional , estar "na va nguarda do trabalh o te6-rico intelectual" e, ao mesmotempo,repassarseu saber paraintelectuais fora da academia. Os intelectuais tradicionaisse colocam ao lado do conhecimento e interesses sociaisja estabelecidos. Os intelectuaisorganicos sag comprome-tidoscom un^^abglhointeteclu^sociais e economicas.No mesmo texto, apresentado a uma plateia de academicosnorte-americanos, na conferencia sobre cultural studiesnaUniversity of Illinois at Champaign-Urbana ,em 1990, Hallafirma a necessidade de uma compreensao politica dosEs tudos Cul tura i sq ue leve em conta a "sujeira do jogosemi6tico", a qualidade "mundana" do que esta em jogo,se u arraigamento em fenomenos sociais qu e incluem em -presas e classes sociais, nac.6es egeneros.O risode superio-ridade perante o romantismo no s primordios do s EstudosCulturais encontra seus limites em novas metaforas: Q JLEstudos CuJturai-Snascejram impuros. nao como denomi-

    nac.ao ou igrejaacademica.Metaforasregem acompreensaoda situacao retratada, e a compreensao do que esta em jogopassapelastensoesque a comparacaometaforica suscita. M asasmetaforas nao sao somente a forma elegante que Hall ternde dizervariascoisas ao mesmo tempo. Sao,em si,reconheci-mentos de que a substancia,a materialidade davida social, aomesmo tempo escapa e e captada na linguagem, Os Estudos_Culturais se fazem napropria..tggsaoentre_a discursividade eputras questoesj^ujsjrnp^^ramente abarcadas pela textualidade critica" (LT). Um temaque capta essa tensao claramente e o da _ m i s t u r a _ cultural,me^tic^gejrj^JubrjclJ^rjacL-Hall afirma o valor estrategico dosdiscursos de identidade negra diante do racismo, co m suasmultiplasraizesnosdiversosniveis daformacaosocial: poli-tico, economico,social , cultural. Ao mesmo tempo, em ummovimento que parece paradoxal, enfoca_sempjre .o jogoda diferenca, a differance, a naturez a intr insecamente hibri-dizac|a_de_ toda tdegtidade e das_i.d^XLtj.da_dsldias,po^ricjt.s. Oparadoxo se desfaz quando seentende qu eassume, um a costura deernesp,ec*r '-.a (Tdentidade)e um lugar

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    e coatexto, e nao uma essencia ou substancja aser examinada.Outra tensao entre discursos e suas circunstancias, obser-vada no t raba lho de Hall , e gerada pela consciencia daposicao, da tensao entre quern narra e o que e narrado notrabalho critico-teorico, uma consciencia tipica da atual cri-tica cultur al. A abordagem de Hall a essa questao responde,de um lado, a qualquer tendencia de desarraigar as teoriasdo s problemas ao s quais se dirigem, em um processo deexcessiva abstracao.Essesexcesses, frequentemente, levamao de te rminismo e reducionismo. Sobre esse tema, Hall"lutou"com(Marx> oeconomicismodomarxismoclassico.Seu engajamento co mMarx foi por se sentir atraido por umateoria~dcTcapital e classe social, de poder e exploracao, dapratica da produc.aq de conhecimentos criticos; mas discor-dava do espae/o relativamentejgecrueno destinado-a-cultura, aIdeblogiae aosimboligo^elo marxismo classico, e do euro-centrismo implicitono modelo de transformacaocapitalistad eMarx,pois ignora o fato de que as potencias metropolitanasimpuseram o capitalismona s colonias, ele nao evoluiu rumoascolonias de formaorganica, "a partir de suas propriastrans-formacoes".^Decorredesseengajamen to comMarxa distingaorecorrente, em Hall , entre a determinacao (determinacy)enquanto condicao egama de possibilidade, enquanto loca-lizacaoe orientacao historicas, de umlado, e a determinacao(determination) qu eimplicaem ummodelo de sistema eco-nomico capital ista integrado e a u t o t r a n s f o r m a d o r , quearrasta outras dimensoes da sociedade consigo, definindo-asno caminho.

    Novamente,(ijnimscrpode servir de Hustracao de como adistincao funciona em Hall. Um breve relato biograficodessesardenho, qu e migrou para o norte da Italia e se envolveuco m o movimento operarioe oPartido Comunistaem Turim,e feito em "Arelevancia deG ramsci para oestudo de raca eetnicidade". Mesmo depois de abandonar o nacionalismode sua juventude a favor do comunismo, G ramsci pensou arelacao entre setores camponeses e industriais, e as desi-gualdades regionais criadas a par t i r de relacoes internas"colonials", conforme Hall as qualifica. A localizacao deGramsci naItaliaem uma conjuntura historica especifica, um adescricaod ocaminhoqu e adotou e os problemas qu e tratou16

    esclarecem suaspreocupacoesteoricas.Nosajudam aentenderosparalelos entreascircunstanciasde Gramscie ocontextocontemporaneodo estudo deracaeetnia. Mapeiamoterrenono qualas ideias de Gramscicresceram.

    No entanto, a elaboracao daposiclo (positionality) na odeve se r confundida com umaespecie de extrapolac.ao teo-rica de questoes part iculares.Nem sedeve entender qu e _ oreconhecimento da localizagao historicaseja um aquestao dereconhecer e, portanto, de neutralizar a subjetividade comoponto de partida de qualquer discurso. Ao contrario, quernescreve teoria precisa gj]j4ec-QsJJrmtes de sua experienciae, em um esforc.o deimaginacao,d e abstrac/ao,comunicar-sealem delas. Afirma Hall em "Estudos Culturais e a politicada internacionaliza^ao":

    Sempre sedeve ter consciencia da forma especifica da propriaexisiencia. As ideias na o sao simplesmente determinadas pelaexperiencia; podemos terjxle'ias fora da propria experiencia..M as precisamos reconhecer tambem que aexperiencia temu maforma, e se nao refletirmos bastantesobreos limitesd a propriaexperiencia (e a necessidade de se fazer um deslocamentoconceitual , um a traducao, para da r conta de experiencias qu epessoalmente na o tivemos), provavelmente vamos falar apart irdo continente da propria experiencia, de uma maneira bas-t an te acritlca. Eu acho qu eisso acontece no s estudos culturaishoje. 5

    A imagem do iludido, ilhado, fa lando a partir de seuproprio continente, coincide com as criticas frequentes deHallao "puramente discursive" e a"fluencia teorica"(LT). Hallexplica o que separa o discurso teorico fluente das questoesde "poder, historia, politica" qu eesse discurso ignora, citandosua experiencia como diretor do CCCSna epoca do surgimentoexplosive dofeminismo, quando descobrkrque "falar deabrirma odopoder e radicalmente diferentede sersilenciado" (LT).M asa questaonao e de opora experiencia vividaao discurso,de t al forma que asubjetividadeautorizeodiscurso, ma s reco-nhecer que o trabalho de elaborac.ao e produ^ao de cultura,em todososambitos, e de interesse publico, politico.

    Evidentemente, sempre ha diferentes interesses em jogo.Em Hall, F. R.Leavis e uma referenda negativa recorrente e17

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    representa interesses poli t icos eteoricosantagonicos , at emesmo porque a relacao entre a cultura e a sociedadecontemporanea e o foco de interesse de ambos. Leavis^ereferencia negativa porque aposta na Civilizacao(europeia)e nos classicos da li teratura como antidoto aos efeitosnefastos da publicidade e da cultura de massa. Memoravelfrase, escrita por Q. D. Leavis, mulhe r, colega e adepta deF. R . < L e a v i s> , resume, em uma caricatura involuntaria, avalo-rizacao ~ d o canonico do Leavisism e seu horror diante_da_culturade massa. Sobre a epoca de Shakespeare, M arlowe ea drarfiaturgia elizabetana, Q. D. Leavis escreveu: "A smassastiveram os mesmos divertimentos que seus superiores. . .Felizmente,na ot inhamescolha."6Acritica recorrente deHallao "puramente discursive", de um lado, e a F. R.Leavis, deoutro, convergem sobre esse ponto: a sua limitacao ao svalores e ao "continente" academicos.

    O elitismo cultural e o moralismo no estilo do s Leavistendem a ser coisa do passado na discussao teorica, emboracontinuem fazendo parte do senso comum, presentes nodesprezo pelo discernimento ou gosto popular. O eurocen-trismo aindaesta vivon ospressupostos ediscursos damidiae da cultura de massa, a historia colonialista se recicla nosdiscursos publicos contemporaneos . Ao definir-se como^ in te lec lua l diasporico", Hall escolhe o lugar que o discursoeurocentrico destina aele,um lugard e negro. Po r isso,esteHvro nao tern so um conjuntodeensaios nos quais Halltrabalha a questao de raca e racismo,como"Que'negro' eesse na cultura negra?", "A relevancia de Gramsci para oestudo de racae etnicidade"e "Pensandoa diaspora" . Querno ler t ambem vai encontrar o tema de raca e racismo nadiscussao da ideologia em "Significacao, representacao,ideo-logia: Althusser e o debate pos-estruturalista". Vai encontrarreferencias ao legado cultural do colonialismo e reflexoessobre hierarquias, sua construcao historica eeventuaisdes-tinos em praticamen te todos os ensaios. Hallnao e um teo-rico que se dedica ao "negro-tema", que Gu erreiro Ramosdefine como "coisa examinada, olhada ,vista".7 Tampouco eum grande mestre cuja preocupacao co m questoes raciaispossa ser entendida como umaespecie de hobby militante.Fala desde uma dupla diaspora, africana no Caribe e cari-benha naG ra-Bretanha. Assim, aperspectiva do critico como18

    diasporico constitutiva de seu trabalho, enquanto ele falado centredaEuropa.O conteudodeste livropode se r percorrido co m diversosmapas e, e ntre eles, foram pensados pelo menos quatro: a Qdis^ussag^da^dejiJldacIe ru ln i ra l , da questao racial e doracismq;-a ' formagao do campo de interesses, a abordageme o acumulo de cojjjiecimentos que se apresentam como"Estudos Culturais'Va questao da contestacao a hegernonia'oJ[ turalnj_sociedade mediatica e dejconsumo;; p^dialogo;3

    criticodeHallcom cqrrentes cpntejmppj;aneaA.de_pnsjamentosobre cultura,. Os textos, lidos a partir de perspectivas di-versas, criamuma topografia devariosniveis deabstracao,tons eprop6sitos, de problematicase preocupagoes teoricasdiferentes. Comecam co m tres ensaios sobre importantesquestoes atualmentee m debate.

    O ensaio "Pensando a diaspora" aborda identidades cari-benhas diasporicas sob as condicoes contemporaneas deglobaliza^ao. Hall examina os mitos de origem, sua necessi-dade e perigos quando levados aoped aletra; pensa a Africacomo elemento qu e sobreviveu e como meio de sobrevi-vencia na diaspora, dgfende_a hibridiza^ao ou "impureza"cultural enquantoa "forma em que oAssim, a velha politica identitaria de reivindicacao, respostae negociacao e vista contra um pano de fundo em que asintervencoes das margens nunca consolidam uma posie.aofinal, essencial, embora su a afirmacao tenha o que Hallchama de "repercussoesreaise conceituais"em umprocessoque envolve nao so a conhecida globalizac.aoeconomica,m asas dimensoes culturais de fluxos migratorios, a producaoartistica e as raizes, novas e antigas. Em "Aquestao multi-cultural", Hall discute as mudancas culturais e politicas naGra-Bretanha sob a rubrica abrangente do "multicultural" eprocura proper uma politica identitaria em um a epoca deglobalizacao contradit6ria, que evite os extremes do indivi-dualismo liberal e do relativismo cultural.Embora se dirija asituac.ao britanica, marcada por ondas recentes de migracaodas antigas colonias,pode ser uma contribuicao para a re-flexao sobre aspectos teoricos da politica cultural brasileirae as t ransformacoes do discurso iden t i ta r io nacional .J'Quando foi o 'pos-colonial'?" defende o paradigma pos-colonial contra o "retorno do reprimido". o eurocentrismo,

    Lotf19

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    e demonstra a importanciaa tr ibuidapor Hall nao_s6aspoli-ticas culturais,masa"politica da teoria" e os rumos do debate"Intelectuaf .

    Em "Estudos Culturais: dois paradigmas", de 1980, Hallavalia os Estudos Cul turais ate entao. Examina os pontosTortese traces da abordagem cul tural is ta acultura, a ideo-logia e sua articulacao a outros niveis de praticas sociais,focalizandosobretudo otrabalhodeRaymond Williamse seudialogo com E. P. Thompson. Depois, avalia a abordagemestruturalistade Althusser e Levi-Strauss. O texto foi escritona epoca de uma polemica de E. P.Thompson contra osalthusserianos. Para Hall, Thompson chegava perto demaisda evocacao de uma experiencia em estado bruto comolastro danarrativahistoriografica e da ideologia e abando-navaprecipitadamente & contribuicao de Althusser.8 "Signifi-cacao, representacao, ideologia", de 1985, da continuidadeao debate em torno de cul tura e ideologia, relembrando oAlthusser deAfavor deMarx, efazendosua criticaapartirde teorias da linguagem de Bakhtin/Volochinov.9 "Estudos.Culturais_e^s_eu legado teorico", publicado em 1992,^e urntexto mais^metodologico e politico, e faz o balalico mais^recemejdos Estados--Culturais. "Para AllonWhite: metaforasde transformacao" analisa a "virada lingiiistica" nos EstudosCulturaiscom o impacto de Bakhtin .

    Preocupagoescom opopular permeiam ostextos. "Notassobre adesconstrucao do 'popular'", escrito logo ap6s avitoria eleitoral deMargaret Thatcher, faz uma discussaoconceitual ehistoricado que seja o popular. "Que 'negro' eessena culturanegra?"e um exemplo claro dometodoanali-tico de Hal l e seu interesse por "politicas culturais quef acam d i fe renca" ; f o rma onexopara uma resposta a per-guntado queresta de "negritude"quandoa industria cul-t u r a l a acolhe. "O problema da ideologia: o marxismo semgarantias" e a chave darelacaoum tanto fora-de-moda deHallcom omarxismoem epocapos-marxista eapres.entaacompreensao de Hall de que|Tcle~nTiffadelt s5ojituacoes.j"Arelevancia deGramsci para o estudo de raca e etnicidade",encomendado pelaUnesco paraumcoloquio sobreracismoem 1985, apresenta aposi^aode Hal lsobreGramsci e faz at rans igao entre seu pensamento anterior, mais ligado a ide-ologia, e o atual,que passa pela identidade e odiscursive.20

    Em "A formacao de um intelectual diasp6rico", um aentre-vistaque pode, com proveito, ser lidaem primeirolugar, Hallfala das condicoes pessoais, institucionaise historicas deseu trabalho. Finalmente, em "Codificacao/Decodificacao"um ateoria da recepgao da televisao, talvezsejao texto maisclassicamente teorico, poise de umalto mvel deabstracaoe ja gerou muitos estudos e discussoes por contornar atradicao behaviorista na pesquisa de audiencia. Publica-sej un tocom "Reflexoessobreo Modelo 'Codificar/Decodificar'",em que Hal lcolocaostermosdomodeloemcontextohisto-ricoeavalia seus pontos fracos efortes.

    Estes doze ensaios e asduas entrevistas sao publicadosem uma conjuntura especifica, no Brasil. Aidentidade racialbrasileira e as formasbrasileiras de racismoestaono centrado debate politico-cultural. Estao nos discursos dos meios decomunicacaoe nosprodutos culturaisdemassa,em pronun-ciamentos oficiaise nas universidades,onde apropensaoaestudar as tendencias sociais como se fossem externas foiinterrompidapela proposta de cotas para alunos negros nasuniversidades, feita por diversas instancias de governo. Aspoliticas federals para a educacao superior vem provocandoum debate sobre o lugar social e insti tucional do trabalhoi n t e l ec tua l , sobre o qual Stuar t Hal l tern tanto a dizer.Aselegaodos textos foiinf luenciada por essa conjuntura poli-tica,cultural e academica e tambem pela preocupacao emapresentarboastraducoes detextos,jaconsagradosou maisrecentes, relacionadosaesseseoutros temas atuaispoli-ticas culturais democraticas, por exemplo.

    Espera-se, com esta publicacao,que Stuart Hal lpossaserlidocom adelicadeza,pacienciaecuidadoque ele dedicoua Gramsci, Althusser, Bakhtin e muitos outros, e que sejaproveitosamente discutido,explicado,questionado e contes-tadp em sua adequacao a situacoes brasileiras e latino-americanas.Sirvam-se.

    Li vSovikRi ode Janeiro, outubro de 2002

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    NOTAS1As iniciais maiusculas entre parentesesse referem aos titulosdos seguintesensaios contidos neste livro: Estudos Cul turais e seus legados teor icos(LT);ParaAllonWhite:metaforasde transforrnacao (AW);Notassobreadesconstrucao do "popular" (NP);O problema da ideologia: o marxismosemgarant ias (PI) ;Arelevancia deG ramsci parao estudo de racae etnici-dade (RG);Q ue "negro" eesse na cultura negra? (QN); Aformacao de umintelectual diasporico (FID).2HALL,Stuart. The Dete rminations of News Photographs. Working Papers inCulturalStudies, CCCS, n. 3, 1973-3 Cf. HALL, Stuart; JEFFERSON, Tony (Org.). Resistance Through Rituals.-Youth Subcultures in Post-WarBritain.L ondon: Hutchinson/CCCS, 1976.4Estadescricao sebaseia em "Estudos Culturaiseseu legado teorico",mas odebated eHallc om Marxe o marxismos eencontra em maior profundidadeem "O problema da ideologia", (ambos se encontramnestevolume) e emensaios anteriores, taiscomo: "Marx's Notes on M ethod; A 'Reading1 of the'1857 Introduction'" (in: Working Papersi n Cultural Studies6 ,Birmingham,Universi tyof Birmingham, p .132-171, 1977); "Cu lture, the Media and the' Ideological Effect1" (in: CURRAN,James (Ed.).Mass Communication an dSociety. London: Edward Arnold, 1977. p. 315-348); "The Hinterland ofScience: Ideology and the Sociology of Knowledge" (HALL, S.; LUMLEY,B. ; MCLENNAN, G . (Ed.). On Ideology. London: Hutchinson/C CCS, 1978.Traducao brasi leira:D a ideologia.Rio deJaneiro: Zahar, 1980).5HALL, Stuart;CHEN, Kuan-Hsing. CulturalStudies and the Politicsof Inter-nationalization: an In terview WithStuart Hall. In : MORLEY, David;CHEN,K ua n-Hsi ng (Org.). Stuart Hall: Cri t ical Dialogues in Cultural Studies .Londres: Routledge, 1996. p. 401.6 Citado por John Storey in: SIM,Stuart(Org.). Th e A~Z Guide to Mod ernLiterary and Cultural Theorists. Londres: Prentice Hall/Harvester Wheatsheaf,1995. p. 255-7 GUERREIRO RAMOS, fntroducdo criticaa sociologia brasileira. Rio deJaneiro : Editora da UFRJ, 1995. p. 215.8Cf. THOM PSON, E. P. T h ePoverty of Theory.L ondres: Merl in Press,1995/1978; HALL,Stuart. Defense ofTheory. In: SAMUEL,Raphael(Org.).People'sHis torv and Socialist Theory. London: Routledge & Kegan P aul, 1981;THOMPSON, E. P. The P olitics of Theory . In: SAMUEL, R ap h ae l (Org.) .People's History and Socialist Theory. London: Routledge & K egan Paul ,1981.

    "Quern precisa de identidade?", ja publicado no Brasil, leva a discussaomais adiante, deixando de lado o termo"ideologia" ed iscutindo subjet iv i-dade e d iscurso identitario, o social e os imbolico , Lacan e Foucault . In :SILVA,Toma zTadeu da (Org.). Identidade ediferenca. Petropolis : Vozes ,

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    C O N T R O V E R T S

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    P E N S A N D O A D I A S P O R AR E F I E X O E S S O B R E A T E R R A N O E X T E R I O R

    A ocasiao desta palestra foi o quinquagesimo aniversariode fundacao da Universidade das Indias Ocidentais (UWI).Mil novecentos e quarenta eoito fo i tambem, po r acaso, oano em que o SS Empire Windrush, um navio-transporte,chegava as Docas de Tilbury no Reino Unido, trazendo seucarregamento de voluntarios caribenhos que retornavam delicenc a,juntocom um pequeno grupod emigran tes civis. Esseevento significou o comeco da migracao caribenha para aGra-Bretanha no pos-guerra e simboliza o nascimento dadiaspora negra afro-caribenhano pos-guerra. Se uaniversarioem 1998 foi comemorado como simbolo "d a irresistivelascensao da Gra-Bretanhamultirracial".1

    A migracao tern sido um tema.constante na narrativa cari-benha. Mas o Windrush iniciou um a nova fase da formacaodiasporica cujo legado sao os assentamentos negros cari-benhos no Reino Unido. Meu objetivo aqui nao e oferecerum relato hist6rico da evolucaodessa diaspora emborasu a dificil historia mereca ser melhor conhecida no Caribe,at e mesmo (ouso dizer) estudada mais sistematicamente.O destino dos caribenhos que vivem no Reino Unido, nosEstados Unidosou noCanadanao emais"externo" ahistoriacaribenha do que o Imperio foi para a chamada historiainterna da G ra-Bretan ha, embora esta seja a forma como, defato, a historiografia contemporanea os construa. Em todocaso, aquestao da diaspora e colocada aqui principalmente

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    po rcausa da l uz q ue elaecapazd e lancarsobrea s complexi-dades,nao simplesm ente de se construir, mas de se imaginara nacao[nationhood e aidentidade caribenhas,n u m aera deglobalizacao crescente.As nacoes, sugere Benedict Anderson, nao sao apenasentidades politicassoberanas,m as"comunidades imaginadas".2Trinta anos apos a independencia, como sao imaginadas as

    nacoes caribenhas? Esta questao e central, nao apenas paraseuspovos,masparaasartese culturasqueproduzem,ondeum certo "sujeito im aginado" esta sempre em jogo. Ondecomecameonde terminam suas fronteiras, quand o regional-mente cadauma e culturalehistoricamente tao proxima deseus vizinhos e tantos vivem a milhares de quilometros de"casa"?Como imaginar sua relacao com a terra de origem, anatureza de seu "pertencimento"? E de que forma devemospensar sobre a identidade nacionale o "pertencimento" noCaribe a luzdessa experiencia de diaspora?

    Os assentamentos negros na Gra-Bretanha nao sao total-mente desligados de suas raizesnoCaribe.Olivro Narrativesof Exile an d Return, de M a r y Chamber la in , que containhistoriasde vida dos migrantes barbadianos para o ReinoU n i d o , enfatiza como oselos permanecem fortes.3 Ta l qualocorre comumente as comunidades transnacionais, a familiaampliada como rede e local da memoria constitui ocanal crucial entre os dois lugares. Os barbadianos, sugereela, tern mantido vivonoexilioumfortesensodo que ea "terra de origem" e tentado preservar um a " ident idadeCultural"b arbadiana. Esse quadroeconfirmadoporpesquisasrealizadas entre os migrantes caribenhos em geral no ReinoUnido,o que sugere que, entreaschamadas minoriasetnicasna Gra-Bretanha, aquilo quepoderiamos denominar "identi-ficacao associativa" com as culturasde origem permaneceforte, mesmo na segunda ou terceira geracao, embora oslocais de origem nao sejam mais a unica fonte de identifi-cacao.4 A forca do elo umbilical esta refletida tambem nosnumeros crescentesde caribenhos aposentados que retornam.A interpretacaode Chamberlaine de que "umadetermina^aode construir identidades barbadianas autonomas na Gra-Bre tanha (...) se permanecerem as tendencias atuais,poderaser potencializadae nao diminuircom o tempo".526

    Contudo, seria errSneo ve r essas tendencias como alsosingular ou na oambiguo.Na situacao da diaspora, asidenti-dades se tornam multiplas.Junto com oselos que as ligamaum a ilha de origem especifica, ha outras forcas centripetas:ha a qualidade de "ser caribenho" [West-Indianness] qu eeles compartilham co m outros migrantesdo Caribe. (GeorgeLamming afirmou uma vez que sua geracao e, incidental-mente, a m inha tornou-se "caribenha", nao no C aribe, masem Londres ) Existem as semelhancas com as outraspopu-lagoesditas deminoria etnica, identidades "britanicas negras"emergences, a identificacao com os locais dos assentamentos,tambem as re-identificacoes simb61icas com as culturas "afri-canas" e, mais recentemente, com as "afro-americanas" todas tentando cavar um lugarjun to, digamos, & . sua "barba-dianidade" [Barbadianness].Os entrevistados de Mary Chamberlain tambem falame loquentementedad if iculdade sentidapor muitosdos queretornam em se religar a suas sociedades de origem. Muitossentem falta dos ritmos de vida cosmopolita com os quaistinham se aclim atado. Muitos sentem que a "terra" tornou-seirreconhecivel. Em contrapartida, sao vistos como se oselosnaturais eespontaneos que antes_possuiam tivessem sidointerrompidos por suasexperiencias diasporicas. Sentem-sefelizes por estar em casa. M as a historia, de alguma forma,interveio irrevogavelmente.Esta e asensacao familiare profundamente moderna dedes-locamento, a qual parece cada vez mais naopreci-

    samosviajar muito longe para experimentar. Talveztodos no ssejamos, no stempos m odernos aposaQueda, digamoso que ofilosofo Heidegger chamoudeunheimlicheitliteral-mente, "nao estamos em casa". Como Iain Chambers eloquen-tementeo expressa:Na o podemos jamais ir para casa, voltar a cena primariaenquanto momento esquectdo denossos comedos e "autentici-dade", pois ha sempre algo no meio [between}. Na o podemosretornar a uma unidade passada, pois so podemos conhecer opassado, a memor ia , o inconsciente atraves de seus efeitos,isto e, quandoeste e traz ido para dentro da linguagem e dela embarcamos numa ( interminavel) viagem. Dianted a "flo-resta de signos" (Baudelaire), nos encontramos sempre na

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    encruz i lhada, com nossas histo'r ias e mem6rias ("reliquiassecularizadas",como Benjamin, o colecionador, asdescreve)ao mesmo tempo em que esquadr inhamos a constelacSocheia de tensao que se estende diante de n6s,buscando al inguagem, o estilo, que vai dominar o movimento e dar-Iheforma. Talvez seja mais um a questao de buscar estar emcasaaqui , no unicomomentoe contexto quetemos...6

    Qu e luz, entao, a experiencia da diaspora lanca sobre asquestoes da idencidade culturalnoCaribe?Ja que estae umaquestao conceitual e epistemologica, alem de empir ica ,_oque a experiencia da diaspora causa a nossos modelos deidentidade cultural? Comopodemosconceber ou imaginaraidentidade, adiferenca e o pertencimento, apos a diaspora?Ja que "a identidade c ultural" carrega consigo tantos tragosdeunidadeessencial,unicidadeprimordial, indivisibilidadeemesmice,como devemos"pensar" as identidades inscritasnasrelacoes de poder, construidas pela diferenca, e disjuntura?

    Essencialmente, presume-se que a identidade cultural.seja,fixada nonascimento,seja partedanature za, impressa atravesdo parentesco e da linhagem do sgenes, seja constitutiva denosso eu mais interior.Eimpermeave aalgo tao"mundano",secular e superficial quanto uma mudanga temporaria denosso local de residencia.Apobreza, o subdesenvolvimento,a falta de oportunidades os legados do Imperio em todaparte podem forgar as pessoas a migrar, o que causa oespalhamento adispersao. M ascada disseminacao carregaconsigo a promessa do retorno redentor.

    'Essa interpretacao potente do conceito de diaspora e amais familiar entre os povos do Caribe. Tornou-se parte donosso recem-construidosensocoletivodo eu, profundamenteinscrita como subtexto em nossas historias nacionalistas.E modelada na historia moderna dopovo jude u (deonde otermo "diaspora" se derivou), cujo destine no Holocausto um dos poucos episodioshistorico-mundiais comparaveisem barbaric com a escravidao moderna e bem conhecido.Mais significante, entretanto , para os caribenhos 6 a versaoda hist6ria no Velho Testamen to. La encontramos oanalogo,crucial para a nossa historia,d o "povo escolhido", violenta-mente levado a escravidao no "Egito"; de seu "sofrimento"nas maos da "Babilonia"; da lideranca de Moises, seguida28

    pelo Grande Exodo "o movimento do Povo de Jah"que os livrou do cativeiro,e do retorno aTerra Prometida.Esta a wr-origem daquela grande narrativad e liberta^aoesperanca e redencaodo Novo Mundo, repetida continua-mente aolongod aescravidao oExodoe oFreedomRide.1Ela tem fornecido sua metafora dominante a todos osdis-cursos libertadores negros do Novo Mundo. Muitos creemque essa narrativa do Velho Testamento seja muito maispotente para o imaginariopopular dos povos negros do NovoMundo do que a assim chamada estoria do Natal. (De fato,naquela mesma semana em que esta palestra fo iproferidano campus Cave Hill da UWI, o jornalBarbados Advocate antecipando as comemoracoes da independencia atri-buiu os tftulos honorarios de "Moises" e "Aarao" aos "paisfundadores" da independencia de Barbados, Errol Barrow eCameron Tudor )Nessa metafora, a historia que se abre a liberdade porser contingent^ e representada como teleologica ereden-tora: circula de volta a restauracao de seu momento origi-nario, cura toda ruptura , repara cada fenda atraves desseretorno. Essa esperanca foi condensada, para opovo cari-

    benho, em uma espe"cie de mito fundador. Pelos padroesusuais, trata-se de uma grande visao. Seupoder mesmono m undo moderno de remover montanhas jamaisdeveser subestimado.Trata-se,e claro, de umaconcepcao fechada de "tribo",diaspora e patr ia. Possuir uma identidade cultural nessesentido e estar primordialmente em contato com umnucleoimu tave l e a tempora l , l igando ao passado o future e o

    presente num alinha in interru pta. Esse cordao um bilicale oque chamamos de "tradicao", cujo teste e o de sua fidelidadeas origens, suapresenca consciente diante de simesma, sua"autenticidade". E,claro, um mito com todo o potencialreal do s nossos mitos dominantes de moldar nossos imagi-narios, inf luenciar nossas a^oes , conferir significado asnossas vidas e dar sentido a nossa historia.

    Os mitos fundadoressao,p ordefinicao, transistoricos: naoapenas estao fora da historia, mas sao fundamentalmenteaistoricos. Sao anacronicos e tem a estrutura de uma duplainscric.ao. Seu poder redentor encontra-se no futuro, qu e29

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    aindaesta por vir. Masfuncionam atribuindo o que predizemasua descrigao do que ja aconteceu, do que era no p rinciple.Entretanto, a historia,como a flecha do Tempo, e sucessiva,senao linear. A estrutura narrativa do s mitos e ciclica. M asdentro da historia, seu significado frequentemente trans-formado- Ejustamenteessaconcepcaoexclusiva depatria qu elevou os servios a se recusarem a compartilhar seu territdrio como tern feito ha seculos comseus vizinhos mufu l -manos na Bosnia e justificou a limpeza etnica em Kosovo.E u m a versaodessaconcepcao da diaspora judia e de seuanunciado "retorno" a Israel que constitui a origem da disputacom seus vizinh os do OrienteM e'dio, pela qualo povo pales-tino tem pago um prec.o tao alto, paradoxalmente, com suaexpulsao de uma terra que, afinal, tambem e sua.Aqui entao situa-se o paradoxo. Agora nossos ma-lescomegam. Um povo nao pode viver sem esperanc.a. Massurge um problema quando interpretamos tao li teralmenteas nossas metaforas. Asquestoes da identidade culturaln adiasporanao podem ser "pensadas"dessa forma.8 Elastemprovado ser taoinquietantese desconcertantes para opovocaribe nho justa men te porque, entre nos, a identidade e

    i r revogave lmente um aquestao historica. Nossassociedadessa o compostas nao de um, mas de muitos povos. Suasorigens nao sao unicas , mas diversas. Aqueles aos quaisoriginalmente aterrapertencia, em geral,pereceram hamuitotempo dizimados pelo trabalhopesadoe adoenga.Aterrana o pode ser "sagrada", pois fbi "violada" nao vazia, masesvaziada.Todos qu eestao aqui pertenciam originalmente aoutro lugar. Longe de constituir um a cont inuidade co mos nossos passados, nossa relacjio co messa historiaestam arcada pelas rupturas mais a ter radoras , violentas eabru ptas . Em vez de um pacto de assoc iagao civil lenta-mente desenvolvido, ta o central ao discurso liberal dam odern idade ocidental, nossa "associac,ao civil"fo iinaugu-rada por um ato de vontade imperial. O que denominamosCaribe renasceu de dentro da violencia e atraves dela. A viapara a nossa modernidade esta marcada pela conquista,expropriate,genocidio, escravidao, pelo sistema deengenhoe pela longa tutela da dependencia 'colonial. Nao e desurpreender que na famosa gravura de van der Straet quemostra o encontro da Europ a com a America (c. 1600),30

    Americo Vespucio e a figura masculina dominante, cercadopela insignia do poder, da ciencia, do conhecimento e dareligiao: e a "America" e, como sempre, alegorizada comoum a m ulher , nua , n u m a rede, rodeada pelos emblemas deuma ainda na o violada paisagem exotica.9Nossos povos tem suas raizes nos ou, mais precisa-mente, podem tracar suas rotasa partir dos quatro cantosdo globo, desde aEuropa,Africa, Asia; foram forc.ados a sejuntar no qua rto canto, na "cena primaria"do Novo Mundo.Suas "rotas" sa o tudo, menos "puras". A grande maioriadeles e de descendencia "africana" mas, como teria ditoShakespeare, "nortepelo noroeste".10 Sabemos que o termo"Africa" e, em todo caso, uma construcao moderna, que serefere a uma variedade d e povos, tribo s, cultu ras e linguascujo principal ponto de origem comum situava-seno traficode escravos. No Caribe, os indianos e chineses se jun ta rammais tarde a "Africa": o trabalho semi-escravo [indenture]entra jun to com a escravidao. Adistinc.ao de nossa cul turae manifestamente o resultado do maiorentrelagamentoefusao, na fo rna lha da sociedade colonial , de diferenteselementos culturais africanos, asiaticos e europeus.

    Esseresultado hibrido na opodemaisser facilmente desa.-gregado em seus elementos "autenticos" de origem. O receiode que,de alguma forma, isso faga da culturacaribenh a nadamais que um simulacro ou uma imitac,ao baratada sculturasdos colonizadores nao precisa nos deter, pois obviamenteeste nao e o caso. Mas a logica colonial em funcionamentoaqui e evidentemente um a "crioulizacao" ou do tipo "trans-cultural", no sentido qu e Mary Louise Pratt da ao termo,seguindo a tradifao de alguns dos melhores textos teoricosculturais da regiao.11 Atraves da t ranscul turafao "grupossubordinados ou marginais selecionam e inventama partirdos materialsaeles transmitidos pela cultura metropolitanadominante". E umprocesso da "zona de contato", um termoque invoca "a co-presenca espacial e temporal dos sujeitosanteriormente isolados por disjunturas geograficas e histo-ncas (...) cujas trajetorias agoras e cruzam".Essaperspecttvae dialogica, ja que e tao interessada em como o colonizadoproduz o colonizador quanto vice-versa: a "co-presenca,i n t e rapao , en t rosam en to das com preensoes e p ra t icas ,f r e q u e n t e m e n t e [n ocaso ca ribenho, devemos dizer sempre]

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    no interiorderelatesd epoder radicalmenteassimetricas".12E a 16gica disjuntiva que a colonizacao e a modernidadeocidental introduziram no mundo e sua entrada na hist6riaqu e constituiram o mundo, apos 1492, como um empreendi-mento profundamente desigual, ma s "global", e fez dopovocaribenho aqu ilo que David Scott recentemente descreveu como"os recrutasda modernidade".13No inicio dos anos 90, fiz uma serie de TV cham adaRedemption Song [Cancao da Redencao] para a BBC,sobre

    os diferentes t r ibutar ies culturais dentro da cu l tura cari-benha .1 4 Nas visitas que fiz em relacao a serie, o que mesurpreendeu for"a presenca dos mesmos elementos rastrea-doresbasicos (semelhanca), juntocom as formas pelas quaisestes haviam sido singularmente combinados em distintasconfiguracoes em cada lugar (diferenca). Senti a"Africa" maisproxima da superficie no Haiti e na Jamaica. Ainda assim, aforma comoosdeusesafricanos haviamsidocombinados comos santos cristaos no universe complexo do vodu haitianoconstitui um a mistura especifica, qu e apenas se encontra noCaribe ou na AmericaLatina embora haja analogos ondequer que sincretismos semelhantes t enham emergido naesteira da colonizacao. O estilo da pintura haitiana frequen-temente descrito como "primitivista" e, na verdade, uma dasmais complexas representacoes em termos visionarios dessa "dupla consciencia" religiosa.O ilustre pintor haitianoqu e filmamos AndrePierre fazia um apreceaamboso sdeuses, cristao evodu, antes de iniciars eu trabalho. Como opintor jamaicano B rother Everald Brown, Pierre via a pinturacomo uma tarefa essencialmente visionaria e "espiritual".El e cantava para nos a "historia" de sua tela "santos"negros e viajantesem trajes brancos e torcos cruzando "ORio" enquanto pintava.

    Senti-me proximo a F ranca tanto no Hait i quanto naMart inica , mas ha Francas diferentes: no Haiti, a "Franca"do Velho Imperio, cuja derrota foi causada pela RevolucaoHait iana (a fusao explosiva da resistencia escrava africana edas tradicoes republicanas francesas na demanda pela liber-dade sob ToussaintL'O uverture).NaMartinica, a "Franca" doNovoImperio doR epublicanismo,d oG aull ismo,do "chic"parisiense, atravessado pela transgressao do "estilo" negro eas complexas afiliacoes ao "serfranees" de Fanon e Cesaire.32

    Em Barbados, como esperado, senti maioraproximacao co ma Inglaterra e sua disciplina social implicita como certave z ocorreu, incidentalmente, mas na o mais, na Jamaica.Contudo, os habitos, costumes e a etiqu eta social especificosde Barbados sa o claramente um a traducao, atraves da escra-vidao africana, daquela cultura do engenho, intima e depequena escaia, qu e reconfigurou a paisagem barbadiana.Sobretudo em Trinidad, ascomplexas tradicoes do "Ocidente"e do "Oriente" das Ra inhas do Carnaval Ind iano , dasbar raquinhas de roti,pao indiano, no local do carnaval, edas velasDiwali brilhando na escuridao de SaoFernando, eo ritmo nitidamente hispanico-catolico de pecado-contricao-absolvicao (o baile da terca-feira de carnaval seguido pelamissa da quarta-feira de cinzas) tao proximo ao carater deTrinidad. Em toda parte, hibridismo, differance.O conceito fechado de diaspora se apoia sobre um a

    concepcao b inar ia de diferenca. Esta f u n d a d o sobre acons t rucao de uma f ron te i ra de exclusao e depende daconstrucao de um "Outro" e de umaoposicao rigida entre odentro e o fora. Porem, as configuracoes sincretizadas daidentidade cultural caribenha requerem anocaoderridianade differance um a diferenca que nao funciona atraves debinarismos, fronteiras veladas que nao separam finalmente,ma s sao tambem places depassage, e significados que saoposicionais erelacionais, sempre em deslize ao longo de umespectro sem comeco ne m fim. Adiferenca, sabemos, eessencial ao significado,e o significado ecrucial a cultura.M asnummovimento profundamente contra-intuitivo,a lingiiis-tica moderna pos-saussuriana insiste que o significado naopode ser fixado definitivamente. Sempre ha o "deslize" inevi-tavel do significado na semiose aberta de um a cultu ra, enquantoaquilo que parece fixo continua a ser dialogicamente reapro-priado. A fantasia de um significado final continua assom-brada pela "falta" ou "excesso", mas nunca e apreensivel naplenitude de sua presenca a si mesma. Como argumentaramBakhtin e Volochinov:

    A plurivalencia social do signo ideologico e umtra^o da maiorimportancia(...)na verdade, e esteentrecruzamento dos indicesde valor qu e torna o s igno vivo e m6vel, capaz de evoluir.33

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    O signo, sesubtraidoas tensoesda luta social (...) ira infalivel-mente debilitar-se, degenerara em alegoria, tornar-se-a objetode estudo dos filologos.15

    Nessa concepcao,o spolosbinariosd o"sentido"e do "naosentido" sao constantemente arruinadospeloprocesso maisaberto e fluido do "fazer sentido na tradugao".Essa logica cultural foi descrita por Kobena Mercercomoum a "estetica diasporica":

    Numa gama inteira de formasculturais, ha uma poderosa dina-mica sincretica que se aprop ria criticam ente de elementos do scodigos mestres das culturas dominantes e os "criouliza",desarticulando certos signos e rearticulando de outra formaseu significado simbolico. A forca subversiva dessa tendenciahibridizante fica maisaparente no nivel da propria l inguagem(incluindo a linguagem visual) onde o crioulo, o patois e oingles negro desestabilizam e carnavalizamodominio lingiiis-tico do "ingles" a lingua-nacao [nation-Ianguagd do meta-discurso atraves de inflexoes estrategicas, novos indicesde valor e outros movimentos per format ives no s codigossemantico, sintatico e lexico.16A cultura caribenha e essencialmente impelida por umaestetica diasporica. Em termos antropologicos, suas culturassao irremediavelmente"impuras".Essa impureza,ta o frequen-temente construida como carga eperda, e em simesma um acondigao necessaria a sua modernidade. Como observou certavez oromancistaSalmanRushdie,"o hibridismo, a impure za,a mistura, a transformac.ao que vem de novas e inusitada_scombinac.6es dos sereshumanos, culturas, ideias, politicas,filmes, cancoes" e "como a novidade entra no mundo".1 7Nao se quer sugerir aqui que , numa formagao sincretica,

    os elementos diferentes estabelecem uma relacao de igual-dade uns' com os outros. Estes sao sempre inscritos difere n-tementepelas relacoes de poder sobretudo as rela^oes dedependencia e subordinacao sustentadas pelo proprio coloznialismo.O smomentosdeindependencia e pos-colonial, nosquais essas historias imperials continuam a ser vivamenteretrabalhadas, sao necessariamente, portanto, momentos deluta cultural, de revisao e de reapropriagao. Contudo, essa34

    reconfiguracao na opode se r representada como um a "voltaao lugar onde estavamos antes", ja que,como nos lembraChambers, "sempre existealgo no meio".18 Esse"algono meio"e o quetornaoproprio Carib e,porexcelencia,oexemplod eum a diaspora moderna.A relacao entre as culturas caribenhas e suas diasporasnao pode, portanto, se radequadamente concebida em termosde origem e copia, defonte primariaereflexo palido.Terndese rcompreendida como arelacao entre um adiaspora eoutra.

    Aqui, o referencial nacional nao e muito util. Os Estados-nacao impoem fronteiras rigidas dentro da s quais seesperaque as culturasfloresc.am. Esse foi o relacionamento primarioentreas comunidades politicas nacionaissoberanase suas"comunidades imaginadas" na era do dominio do s Estados-nacao europeus. Esse foi tambem o referencial adotado pelaspoliticas nacionalistas e de construcao da nagao apos a inde-pendencia.Aquestaoe seele ainda constitui uma estruturautil para a compreensao da s trocas culturais entre as dias-poras negras.

    Aglobalizacao,obviamente, nao e um fenomeno novo. Suahistoria coincidecom a era da exploracao e daconquistaeuropeiase com aformacao dosmercados capitalistas mundiais.As primeiras fases da dita historia global foram sustentadaspela tensao entreessespolosde conflito a heterogeneidadedo mercado global e a forca centripeta do Estado-nagao ,constituindo juntas um dos ritmosfundamentals do s primeirossistemas capitalistas mundiais.19 O Caribe foi um dos seuscenarios chave, dentro do qual lutou-se pela estabilizacao dosistema europeu de Estados-nacao, alcanc.ado em uma seriede acordos imperiais.O apogeu do imperialismon o final doseculo dezenove, asduas guerras mundiaise os m o v i m e n t o spe la independenc ia nac iona l e pela descolonizacao noseculo v in te marcaram o auge e o terminodessa fase.

    Agora ela esta rapidamente chegando ao fim. Os desen-volvimentos globais acima e abaixo do nivel do Estado-nacaominaram oalcance e oescopode manobra da nacao e, comisso, aescala e a abrangencia os pressupostos panopticos de seu "imaginario".Em qualquer caso, as culturas semprese recusaram a ser perfeitamente encurraladas dentro das

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    fronteiras nacionais. Elas transgridem os limites politicos.A cultura caribenha, em particular, nao foib em servidapeloreferencial nacional. A imposicao de fronteiras nacionaisdentro do sistema imperial fragmentou a regiao em entidadesnacionais e linguisticas separadas e alheias, algo de que elanunca mais se recuperou.A estrutura alternativa OAtlanticonegro, proposta po r Paul Gilrqy, e umapotente contranarra-tiva a insercao discursiva do Caribe nas historias nacionaiseuropeias, trazendo atona astrocas lateraise as "semelhancasfamiliares" na regiao como umtodo que "ahistoria nacionalistaobscurece".20

    A nova fasepos-1970da globalizac.ao esta ainda profunda-mente enraizada n a ^ s disparidades estruturais de riqueza epoder.M assuas forma sdeoperacao, embora irregulares, saomais "globais", planetarias em perspectiva; incluem interessesde empresas transnacionais, a desregulamentacao dos rher-cados mundiaise do fluxo global do capital, as tecnologias esistemas de comunicacao que transcendem e tiram do jogoa antiga estrutura do Estado-nacao. Essa nova fase "transna-cional" do sistema tem se u "centro" culturalemtodo lugar eem lugar nenhum. Esta se tornando "descentrada". Isso na osignifica qu e falta a ela poder ou que os Estados-na^ao na ote m funcao nela. Mas essa funcao te m estado, em muitosaspectos, subordinada as operacoes sistemicas globais maisamplas. O surgimento das formacoes supra-nacionais, taiscomo aUniao Europeia, e testemunha de umaerosao progres-siva da soberania nacional. Aposicaoindubitavelmentehege-monica do s Estados Unidos nesse sistema esta relacionadanao a seustatusde Estado-nacao,mas a seupapel e ambi9oesglobais e neo-imperiais.Portanto, e importante ve r essa perspectiv a d iaspor icada cultura como um a subversao do s modelos culturaistradi-cionais orientados paraanacao. Corno outrosprocessesgloba-lizantes, aglobalizacaocu ltural e desterritorializante emseusefeitos. Suas compressoes espaco-temporais, impulsionadaspelas novas tecnologias, afrouxam os lagos entre a cultura eo "lugar".Disjunturaspatentes de tempo eespaco saoabrupta-menteconvocadas, sem obliterarseusritmos e tempos dife-renciais. As culturas, e claro, tem seus "locais".Pore"m, nao emais tao facil dizer de onde elas se originam.O que podemos

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    mapeare mais semelhante a um processo de repeticao-com-diferenga, ou de reciprocidade-sem-comeco. Nessaperspec-tiva, as identidades negras britanicas nao sao apenas umreflexo palidode uma origem"verdadeiramente"caribenha,destinada a ser progressivamente enfraquecida. Sao o resul-tado de sua propria formacao relat iva mente autonom a. En-tretanto, a logica que asgoverna envolve os mesmos proces-ses de transplante, sincretizacao e diasporizacao qu e antesproduziram as identidades caribenhas, so que, agora, operamdentro de uma referenda diferente de tempo e espaco, umcronotopo distinto no tempo da differance.Assim, amusica e a subcultura dancehall(salao de baile)na Gra-Bretanha se inspiraram na musica e na subculturada Jamaica e adotaram muito de seu estilo e atitude.M asagora tem suas proprias formas variantes negro-britanicas eseus proprios locais. Orecente filme sobre dancehall, Baby-mother, se localiza "autenticamente"na zona demistura racialdo centropobred eHarlesden,na sruas e clubes,no sestudiosde gravacao e locais de shows, na vida da s ruas e zonas deperigo do norte de Londres.21 As tres garotas ragga,22 suasheromas, compram suas roupas exoticas em outro suburbiode Londres,oSouthall, que e familiarmenteconhecidocomoPequena India. Essas differances nao deixam de ter efeitosreais. Ao contrario de outras representacoes classicas dodancehall, essefilme traca um mapa das lutas das tres garotaspara se tornaremD Js de ragga dessa forma trazendo parao centro da narrat iva a controvertida questao da politicasexual na cultura popular jamaicana,onde outras versoesainda a escondem atras de um biombo nacionalista cultur al.O documentario de Isaac Julien, T h eDarkerSide of Black,foif ilmado em tres locais Kingston, Novalorquee Londres.Talvez seja essa relativa liberdade de lugar que o permitaconfrontar a profunda homofobia comum as distintas vari-antes do gangsta rap sem cairna l inguagem degenerada da"violencia inata das galeras negras" que hoje desfigura ojornalismo domingueiro bri tanico.

    A musica dancehall e hoje uma forma musical diasporicaincorporada uma dasvarias musicas negras que conquistamos coracoes de alguns garotos brancos "quero-ser" deLondresGstoe, "quero-sernegro" ), qu e falam um amisturapobre depatois de Trench Town, hip-bop nova-iorquino e ingles do37

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    j T Hr-^ e para os quais o estilo negro" e s imples-leste de Lonares, *- r^ t i v a l e n t e simb6hco de um moderno prestigiomente o equivai=n *- e/c ^ - i - i r n nueelesnao sao aunicaespecie comum daurbano .(t claro4 , . , ,ide britanica. Existem tambem osskin-heads, tatuadosde suastica frequentadores dos suburbios brancos abando-nadostais comoEltham,que tambem praticam "giobalmente"suas manobras violentas nos jogos de futebol internacionais,cinco dos quais esfaquearam ate a morte o adolescente negroStephen Lawrencenunia paradade onibus nosulde Londres,s implesmenteporque ele ousou trocar de onibus no "terri-torio"deles.)23O quehojeseconhece comojunglemusicemLondres e outro cruzamento "original" (houve muitos,desdeasversoesbritanicasdo ska,d a musica so/negra , do reggae,musica two-tone e de "raizes") entre o dub jamaicano , ohip -hop deAtlanticAvenue,ogangstarape awhite techno(assim como o bangrae otabla-and-basssao c ruzamen tosentre o rap, a technoe a tradicao classics Ind iana) .

    Nas trocas vernaculares cosmopolitas qu e permitem astradicoes musicals populares do "Primeiro" e do "Terceiro"M u n d o se fertilizarem umas as outras, e que ternconstruidoum espaco simbolico onde a chamada tecnologia eletronicaavancada encontra os chamados ritmos primitivos ondeHarlesden se torna Trench Town , nao ha maiscomo tracarum a or igem, exceto ao longo de um a cadeia tor tuosa edescont inua de conexoes. Aproliferacao e a disseminacaode novas formas musicalshibridas e sincreticas naopode maisser apreendida pelo modelo centro/periferia ou baseadasimplesmente em umanocao nostalgica e exotica derecupe-racaode ritmosantigos. E a historia daprodufao da cultura,de musicas novase inteiramente modernas da diaspora eclaro, aproveitando-se do s materials e formas de muitastradicoes musicals fragmentadas.

    Su a modernidade necessita, sobretudo, de ser enfatizada.Em 1998, oInstitutede ArtesVisuals Internacionais e a GaleriaWhitechapel organizaram a primeira maior retrospectiva daobrade umgrandeartista visual caribenho, Aubrey Williams(1926-1990).Williamsnasceu etrabalhoupor m uitos anoscomoagronomonaGu iana .Subseqtientemente, viveuepintou, emdiferentes estagios de sua carreira, na Inglaterra,n aG u iana ,na Jamaica e nos Estados Unidos. Seus quadros incluem um a38

    variedade de estilosdo seculo vinte,desdeo figurative e oiconografico ate a abstracao. Suas obras mais importantesdemonstram uma variedade ampla de influencias formais ede fontes de inspiracao os mitos, artefatose paisagensguianenses, os motivos, a vida selvagem, os passaros e osanimalspre-colombianos e maias, omuralismo mexicano, assinfonias de Shostakovitch e as formas do expressionismoabstrato caracteristicas do modernismo pos-guerra britanicoeeuropeu.Seusquadrosdesafiam caracterizacoes,sejasimples-mente do tipo caribenho ou britanico. Essas telas vibrantes,explosivamente coloridas, com suas formascosmicas e trafosindistintos de formas e figuras tenues, mas sugestivamenteembutidas nas superficies abstratas, claramente pertencem ahistoria essencial do "modernismo britanico", sem jamaisterem sido oficialmente reconhecidas como parte dela. Semduvida, se u namoro com a musica e a abstracao europeias,na mente de alguns,modificaram suas credenciais como pintor' 'caribenho". Contudo, sao osdoisimpulses funcionandoe mconjunto, su aposicaode traducao entredois mundos, variasesteticas, muitas l inguagens, que o estabelecem como umartista excepcional, original e formidavelmente moderno.

    No catalogo produzido para a retrospectiva de Williams,ocritico de arte Guy Brett comenta:E c la ro que a suti leza da ques tao a complexidade dahistoria qu e ainda esta por ser escrita e que a obra deAubrey Williams teria que serconsideradaem trescontextosdiferentes: o da Guiana, o da diaspora guianense ecaribenhana Gra-Bretanha, e o da sociedade brit&nica. Esses contextosteriam que ser considerados um tanto separadamente e emseus inter-relacionamentos complexos, afetados pelas reali-dades do poder. E todos teriam que ser ajustados em relacaoao proprio desejo de Williams de ser simplesmenteum artistamoderno , contemporaneo , o par de qua lque r ou t ro . Nummomento ele poderia dizer: "Naogastei muita energia nessenegocio de raiz es. (...) Prestei atencao em uma centena decoisas (...) por que devo isolar um a filosofia?" Em ou t romomento: "O cerne da questao inerente a minha obra desdemenino foi a condicao humana, especificamenteem relacaoa situacao guianense."24

    O quedizer entao sobre todosaqueles esforcosderecons-trucaodas identidades caribenhas por um retorno a suas fontes39

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    originarias?As lutas pela recuperacao cultural foramem vao?Longedisso. RetrabalharaAfrica na tramacaribenhatern sidoo elemento mais poderoso e subversive de nossa politicacultural no seculo vinte. E sua capacidade de estorvar o"acordo"nacionalista pos-independen cia ainda nao terminou .Porem, isso nao se deve principalmente ao fato de estarmosligados ao nosso passado e heranca africanos por umacadeia inquebrantavel , ao longo da qual um a cul tura afri-cana singularfluiu imutavel po r geracoes, m as pela formacomo no s propusemos aproduz i rde novo a "Africa", dentroda na r r a t i va ca r ibenha . Em.cada co njun tura seja nogarveyismo, Hibber t , ras tafar ianismoo u a nova cul turapopular urbana te m sido uma questao de interpretara"Africa", reler a "Africa", do que a "Africa" poderia significarpara nos hoje, depoisda diaspora.Antropologicamente, essa questao foi frequentementeabordada em termos de "sobrevivencias". Os sinais e tracesdessa presenca estao, e claro, po r todaparte. A"Africa" vive,na o apenas na retencao da s palavras e estruturas sintaticasafricanas na lingua ou nos padroes ritmicos da musica, ma sna forma como os jeitos de falar africanos tem estorvado,

    modulado e subvertido o falar dopovo caribenho, a formacomo eles apropriaram o "ingles", a lingua maior. Ela "vive"na forma como cada congregacao crista caribenha, mesmofamiliarizada co m cada frase do hinario de Moody eSankey,arrastae alonga o compasso de "AvanteSoldados de Cristo"para um ritmocorporal e um registro vocal mais aterrados.AAfrica passa bem, obrigado, na diaspora. M as nao e nem aAfrica daqueles territories agora ignorados pelo cartografopos-colonial , de onde os escravos eram sequestrados etransportados, nem aAfrica dehoje,que epelomenos quatroou cinco "continentes" diferentes embrulhados num so, suasformas desubsistenciad estruidas, seuspovosestruturalmenteajustados a uma pobreza moderna devastadora.25 A "Africa"qu evai bem nesta parte do mundo e aquilo que aAfrica setornou no Novo Mundo,no turbilhao violento do sincre-t ismo colonial, reforjada na fornalha do panelao colonial.Igualmente significativa, entao, e a forma como essa"Afr ica" fornece recursos de sobrevivencia hoje, historias

    alternativas aquelas impostas pelo dominio colonial e asmaterias-primas para retrabalha-las de formas e padroes40

    culturais novos e distintos. Nessa perspectiva, as "sobrevi-vencias" em suas formas originais sao macicamente sobre-pujadas pelo processo de traducao cu l tural , Como SaratMaharaj nos lembra:

    A t r aducao, como Derrida a coloca, e mui to d iferente decomprar , vender, trocar nao importa o quanto ela tenhasido convencionalmente retratada nesses termos. Nao se tratade t ranspor tarfatias suculentas de sentido de um lado dabarreira de uma lingua paraa outracomo acontece com ospacotes defast food embrulhados nos balcoes de comida paraviagem. Osignificado na ove m pronto, nao e algo portatil qu ese pode "carregar atraves" do divisor. O tradutor e obrigado aconstruir o significado na linguaoriginal e depois imagina-lo emodela-lo um a segunda vez nos materials da lingua com a.qual ele ou ela o esta tra nsmitin do. As lealdades do tradu torsao assim divididase partidas. Ele ou ela tem que ser leal asintaxe, sensacao e estrutura da lingua-fonte e fiel aquelas dalingua da traducao. (...) Estamos diante de uma duplaescrita,aqui lo que poderia ser descrito como uma "perf ida fidel i-dade". (...) Somos conduzidos ao "efeitode Babel" de Derrida.26

    Naverdade, cadamovimentosocialecada desenvolvimentocriativo nas a rtes do Ca ribe neste seculo come^aramcomessemomento de traducaodo reencontro com as tradicoes afro-caribenhas ou o incluiram.Na oporque aAfrica seja umpontode referencia antropologico fixo a referencia hifenizadaja marca o funcionamentod o processo de diasporizacao, aforma como a "Africa" fo i apropriada e t ransformadapelosistema de engenho do Novo Mundo. A razao para isso eque a "Africa" o s igni f icante , a metafora , para aqueladimensao de nossa sociedade e historiaque foimacicamentesuprimida, sistematicamente desonrada e incessantementenegada eisso,apesar de tudo que ocorreu, permanece assim.Essa dimensao constitui aquiloq ue Frantz Fanon denominou"o fato da negri tude".27 A raca perm anece , apesar de tudo ,o segredo culposo, o codigo oculto, o t rauma indiz ivel ,no Car ibe .E a "Africa" que a tem tornado "pronunciave l" ,enquanto condicao social e cultura l de nossa existencia.

    Na formacao cultural caribenha, traces brancos, europeus,ocidentais e colonizadores sempre foram posicionados comoelementos em ascendencia, o aspecto declarado: os tracesnegros, "africanos", escravizados e colonizados, dos quais41

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    havia muitos, sempre foram nao-ditos, subterraneos esub-versivos, governados por uma "logica" diferente, sempre po-sicionados em termos desubordinate e marginalizacao.Asidentidades formadas no interior da matriz dos significadoscoloniais foram construfdas de tal forma a barrar e rejeitar oengajamento com as historias reais de nossa sociedade ou desuas "rotas" culturais. Os enormes esforcos empreendidos,atravesdos anos, nao apenas porestudiososda academ ia, maspelos proprios praticantes da cultura, de juntar ao presenteessas "rotas"fragmentarias, freqiientemente ilegais, e recons-truir suas genealogias nao-ditas, constituema preparacao doterreno historico de que precisamos para conferir sentido amatriz interpretativa e as auto-imagensde nossa cultura, paratornar o invistvel visivel. Em outras palavras,o "trabalho" detraducao que o significante africano realiza e o trabalho de"fidelidade perfida" qu e devem assumiros artistas carlbenhosneste momento pos-nacionalista.As lutas por redescobrir as "rotas" africanas no interiorda s complexas configuracoes da cultura caribenha e falar,atraves desse prisma, das rupturas do navio, da escravidao,colonizacao , exploracao e rac ia l i zacao p roduz i r am nao

    som ente aunica "revolucao"bem-sucedida no Caribeanglo-fono neste seculo a chamada revolucao cultural do s anos60 como tambem a formacao do sujeito caribenho negro.Na Jamaica , por exemplo, seus traces ainda podem se rencontrados em milhares de locais nao investigados nascongregacoes religiosasd e todos os tipos, formais eirregu-lares; nas vozes marginalizadas dos pregadores e profetaspopulares de rua,m ui tosdeles loucos declarados; nashistorias folcloricas e formas narrativas orais; nasocasioescerimoniais e ritos depassageni;na nova linguagem, na m u-sica e no ritmo da cultura popularurbana, assim como nastradicoespoliticas e intelectuais no garveyismo, no "etio-pismo", nas renovacoes religiosas e no rastafarismo.Este,sabemos, rememorou aqueleespacomitico,a "Etiopia",ondeos reis negros governaram por mil anos, local de uma congre-gacao crista estabelecida seculos antes da cristianizacao daturopa Ocidental. Mas, como movimento social, el e nasceurealmente,como sabemos, naquele "local" fatidicoma s iloca-izavel mais proximo de casa, onde o retorno de Garveyencontrou a pregacao do Reverendo Hibbert e os delirios de42

    Bedward, levando ao recolhimento na comunidade rastafari,Pinnacle, e a dispersao forada desta. O rastafarismo sedestinava aquele espaco polit izado mais ampio , de ondepoderia falar po r aqueles que me perdoem a frase "despossuidos pela independencia"Comotodosessesm ovimentos, o rastafarismose repre-sen tou como um "retorno". Mas aquilo a que ele nos "retornou"foi a nos mesmos.Aofaze-lo, produziu"aAfrica novamente" na diaspora. O ras tafar ismo aproveitou muitas "fontes

    perdidas" do passado. M as sua relevancia se fundava napratica extraordinariamente contemporanea de ler aBibliaatraves de sua tradicao subversiva, sua nao-ortodoxia,seusapocrifos; lendo-a ao reves, de cabeca para baixo, voltandoo texto contra si mesmo. A "Babilonia" de que ele falava,onde aspessoas aindasofriam, nao era oEgito,masKingston edepois, quando o nome fo i sintagmaticamenteesten-dido para incluir a Policia Metropoli tana, os bairros deBrixton,Handsworth, Moss Sidee NettingHill.Orastafarismoexerceu um papelcrucial no movimento modern o que tornou"negras", pela primeira vez e irremediavelmente, aJamaicae outrassociedadescaribenhas.Numa traducao ulterior,essadout r ina e discurso estranhos "salvaram" as jovens almasnegras da segunda geracao de migrantes caribenhos nascidades britanicas no s anos 60 e 70 e deu-lhes orgulho eautoconhecimento. Nos termos de Frantz Fanon, elesdesco-lonizaram as mentes.

    Aomesmo tem po, vale lembrar o fato embara9oso de quea "naturalizacao" do termo descritivo "negro" para todo oCaribe, ou o equivalente "afro-caribenho" para todos osmigrantes caribenhos no exterior, opera su a propria formade silenciamento emnosso mundo transnacional.O jovemartistade Trinidad, SteveOuditt,viveu e trabalhou nos EstadosUnidos , na Inglaterra e descreve algo que ele chama de"Sucrotopia" de Trinidad. Ele se descreve como "um artistado sexo masculino crioulo caribenho trinidadiano indianocristao deeducacaoanglo-americanapos-independencia",cujaobra em forma de escrita e arte ambiental "navega odificil terreno entre o v isual e o verbal". Ele aborda de frenteesse assunto em uma recente peca qu e compoe seu diarioonline,"O enigma da sobrevivencia":

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    Afro-caribenho e o termo generico para qualquer caribenhona Inglaterra.D e verdade. Assim como quando muita gentebem-educada aqui diz para mtm: "Vocee do Caribe, comoequ e pode, ne m negro voce e, parece asiatico"... Creio que otermo "afro-caribenho" e umadesignate britanica e talvezs eespere que ele represente a imagem da maioria dos migrantescaribenhos que vieram para ca no periodo pos-guerra. E eusadopara marcar e lembrar no passado delesa spolfticas e oshorrores da esc ravatura, a classificacao europ^ia do s africanoscomo ultra-inferiores. A fragmentac.ao e a perda da "cultura",mas com v o n tad e de n eg o c ia r um a nova "a f r icanidade"[Afroness] neste local diasporico... Nesse sentido especificoposso lidar com o "afro-caribenho" (...) mas na o quando ele6usado como mdice privilegiado do horror que fixa e centratodas as outras historiografias caribenhas subalternas sob umaafrofilia do Caribe aqui na Gra-Bretanha... Trinidad teve um ahistoria de semi-escravidao de indianos em regime apartheidnos campos de trabalho que durou tanto quanto a escravidao"organizada". . .28

    O que esses exemplos sugerem e que a cultura nao eapenas um a viagem de redescoberta, um a viagem de retor-no. Nao e uma "arqueologia".A cultura e umaproducao.T emsua materia-prima, seusrecursos, seu "trabalho produtivo".Dependedeum conhecimentoda tradicaoenquanto" o mesmoem mutacao" e de um conjunto efet ivo de genealogias.29M as o queesse "desvio atravesde seus passados" faz e noscapacitar, atravesda cultura,a nosproduzira nos mesmos denovo, como novos tipos de sujeitos. Portanto, nao e umaquestao do que as tradicoes fazem de nos, mas daquilo qu eno s fazemos da s nossas tradicoes. Paradoxalmente, nossasidentidades culturais ,em qualquer forma acabada, estaoanossa frente. Estamos sempreemprocessode formacaocultural.A cultura nao e uma questao de ontologia, de ser,mas de seto rnar .

    Em suas formas atuais, desassossegadas e enfaticas, aglobalizacao ve m ativamente desenredando e subvertendocada ve z mais seus proprios modelos culturais herdadosessencial izantes e homogeneizantes, desfazendo os limitese, nesse processo, elucidando as trevas do proprio "Ilumi-nismo" ocidental.A sident idade s, concebidas com o estabele-cidas e estaveis, estao naufragando nos rochedos de umadiferenciacao qu e prolifera. For todo o globo, osprocesses44

    da s chamadas migracoes livres e forcadas estao mudando decomposifao, diversificandoas culturas e pluraliz ando as iden-tidades culturaisdos antigosEstados-na^aodominantes,dasantigas potencias imperiais, e, de fato, do proprio globo.30Os fluxos na o regulados depovos eculturassao tao amplose tao irrefreaveis quanto osfluxos patrocinados do capital eda tecnologia. Aquele inaugu ra um novo processo de "minori-zacao" dentro das antigas sociedades metropolitanas, cujahomogeneidade cu l tu ra l tern sido silenciosame nte presu-mida . Mas essas "minorias" nao sao efetivamente "restritasao s guetos"; elas nao permanecem po r muito tempo comoenclaves. Elasengajam uma culturadominante em uma frentebe m ampla. Pertencem, de fato, a um movimento t ransna-cional, e suas conexoes sa o multiplas e laterals. M arcamofim da "modernidade" definida exclusivamente nos termosocidentais.De fato, ha doisprocessesopostosem funcionamento nasformas contemporaneas de globalizacao,o que e em simesmoalgo fundamenta lmente contraditorio. Existem as forcasdominantes de homogeneizacao cultural , pelas quais , po rcausa de sua ascendencia no mercado cultural e de seu

    dominio do capital ,do s "fluxos" cultural e tecnologico, aculturaocidental, m ais especificamente, a cultura americana,amea^a subjugar todas as que aparecem, impondo um amesmice culturalhomogeneizante o que tern sido chamadode "McDonald-izacao" ou "Nike-zacao" de tudo. Seus efeitospodem servistos emtodoo mundo,inclusivenavida po pulardo Caribe.Mas bem juntoa isso estao osprocessesq ue vaga-rosa esutilmente estao descentrando os modelos ocidentais,levando a uma disseminacao da diferenca cultural emtodoo globo.

    Essas "outras" tendencias nao tern (ainda) o poder deconfrontar e repelir as anteriores. Mas tern a capacidade, emtodo lugar,d e subvertere "traduzir", negociar efazer com quese assimile o assalto cultural global sobre as culturas maisfracas. Eja que onovo mercado consumidor global dependeprecisamente de sua assimilacao para se r eficaz, ha certavantagem naquilo qu epodeparecer a principio como mera-mente"local". Hojee m dia, o "meramente" local e o globalestao atadosum ao outrp, nao porque este ultimo seja omanejo local dos efeitos essencialmente globais, mas p orque

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    cada um e a condicao de existencia do outro. Antes, a "moder- nacionalistas e construirmuralhasdefensivas.Aalternativa

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    nidade" era transmitidade um unico centre. Hoje, ela naopossuium talcentre.As "modernidades"estaoportoda parte;ma sassum iram uma enfase vernacula. O destino e a sorte domais simples e pobre agricultor no mais remoto canto domundodepended osdeslocamentosna o regulados do mercadoglobal e, po r essa razao,ele (ou ela) e hoje um elementoessencial de cada calculo global. Os politicos sabem que ospobres nao serao excluidos dessa "modernidade" ou defi-nidos fora dela. Estesnao estao preparados para Rear cercadospara sempre em uma tradicao imutav el. Estao determ inadosa construir seus proprios tipos de "modernidadesvernaculas"e estas sao representativasde um novo tipo de conscienciatranscultural, transnacional, ate mesmo pos-nacional.Essa "narrativa" nao tern garantiade um final feliz. Muitosno s antigos Estados-nacao, que estao profundamente vincu-lados as formas mais puras de autoconhecimento nacional,estao sendo literalmente levados a loucura por sua erosaq.Eles sentem qu e todo o seu universe esta sendo ameacadopela mudanca e ruindo. "A diferenca cultural"de um tiporigido, etnicizado e inegociavel substituiu a miscigenacao

    sexual enquanto fantasiapos-colonial primordial. U m "funda-mentalismo" de impulse racial veio a tona em todas essassociedades da Euro pa ocidental e da Am erica do Norte, umnovo tipo de nacionalismo defensive eracializado.O precon-ceito, a injustica, a discriminacao e a violencia em relacao ao"Outro", baseados nessa "diferenca cultural" hipostasiada,passou a ocupar seu lugar o queSarat Maharaj chamou deum tipo de "sosia-assombracao do apartheid" junto comracismos mais antigos, fundados na cor da pele ou na dife-rencafisiologica originandocome resposta um a "politicade reconhecimento" , ao lado da s lu tas contra o racismo epela justica social.Em pr incipio , esses desdobramentos podem parecerdis tan tesdas preocupa coes das novas nacoes e culturas emer-gentes da "periferia". M ascomo sugerimos, o velhomodelocentro-periferia, cultura-nacionalista-nacaoe exatamenteaquiloqu e esta desabando. As culturas emergentes que se sentemameacadas pelas forcas daglobalizacao, da diversidade e dahibridizacao,ou que falharamnoprojetodem odernizacao,po-dem sesentir tentadasa se fechar em tornode suas inscricoes

    nao e apegar-se a modelos fechados, unitarios ehomogeneosde "pertencimento cultural",masabarcarosprocessesmaisamplos o jogo da semelhanca e dadiferenca que estaotransformando a cultura no mundo inteiro. Esse e o carninhoda "diaspora", que e a trajetoria de um povo moderno e deum a cultura moderna. Isso pode parecer a principio igual -mas, na verdade, e muito diferente do velho "internacio-nalismo" do modernismo europeu. Jean Fisher argumen-to u que, at e recentemente,o internacionalismo sempre se referiu exclusivamente a umeixo de afiliacoes politicas,militares e economicas que passavapela Europa e a diaspora europeia... Esse eixo dominante eentr incheirado cria, nas palavras de M osquera , "zonas desilencio" nos outros locais , dificultando as comunicacoeslaterals e demais afilia^oes. Aracen e Oguibe no s lembramque a iniciativa atual [d e definir um novo internacionalismona s artes e cultura] e apenas a m ais recente numahistoria detentativas tais como esta de es