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SUB-REGISTRO DE NASCIMENTO EM SALVADOR, BA (BRASIL)* Maura Maria Guimarães de Almeida** RSPUB9/465 ALMEIDA, M. M. G. de Sub-registro de nascimento em Salvador, BA (Brasil) Rev. Saúde públ., S. Paulo, 13:208-19, 1979. RESUMO: Visando quantificar o sub-registro de nascimento e identificar fatores que podem condicionar a deficiência do registro de nascimento entre crianças menores de um ano, foram feitas 2.893 entrevistas em uma amostra probabilística de domicílios, da área urbana do município de Salvador, BA (Brasil), em 1977. Na população do estudo, 32,0% das crianças não foram registradas. Para crianças vivas, com mais de 15 dias, o sub-registro de nasci- mento foi de 29,9%, e para crianças, com mais de 60 dias (prazo legal para registro), o sub-registro foi de 27,5%. As variáveis intervenientes, positiva- mente associadas ao registro de nascimento em Salvador, são: nível de renda da mãe, escolaridade dos pais, situação conjugal, filiação dos pais a instituições de seguro social, classificação do bairro de residência e batismo. A probabili- dade do registro diminui com o aumento do número de filhos. Entre as crianças com registro de nascimento, 41,4% foram registradas depois de 15 dias e 14,0% após 60 dias do nascimento. UNITERMOS: Registro de nascimento, Salvador, BA, Brasil. * Resumo da Dissertação apresentada ao Mestrado de Saúde Comunitária da Universidade Federal da Bahia 1978. Patrocinado pela Ford Foundation. ** Do Departamento de Enfermagem Comunitária da Escola de Enfermagem da Universidade Federal da Bahia Campus Universitário Canela 40000 Salvador BA Brasil. l. INTRODUÇÃO O sub-registro de nascimento é um pro- blema que existe com maior ou menor freqüência em todo o Brasil e na América Latina. Quanto maior o sub-registro, me- nos reais são os indicadores que utilizam o número de nascidos vivos como base de referência, como por exemplo: Coefi- ciente de Mortalidade infantil, Coeficiente de Mortalidade Neonatal, Coeficiente de Mortalidade Perinatal, Coeficiente de Nati- mortalidade, Coeficiente de Mortalidade Materna, Coeficiente de Natalidade Geral e Coeficiente de Fertilidade Geral. A necessidade de dados estatísticos cor- retos e confiáveis é reconhecida pelos pla- nejadores de saúde como indispensável ao trabalho de Saúde Pública. São eles ele- mentos básicos no planejamento dos pro- gramas de saúde. 1.1. Registro de Nascimento "No Brasil, até o tempo do Império, não se conhecia outro registro que não o reli- gioso. O Decreto 9.886, de 07 de março de 1888, foi o primeiro ato a regulamentar,

SUB-REGISTRO DE NASCIMENTO EM SALVADOR, BA (BRASIL)* · 2006-03-06 · SUB-REGISTRO DE NASCIMENTO EM SALVADOR, BA (BRASIL)* Maura Maria Guimarães de Almeida** RSPUB9/465 ALMEIDA,

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SUB-REGISTRO DE NASCIMENTO EM SALVADOR,BA (BRASIL)*

Maura Maria Guimarães de A l m e i d a * *

RSPUB9/465

ALMEIDA, M. M. G. de Sub-registro de nascimento em Salvador, BA (Brasil)Rev. Saúde públ., S. Paulo, 13:208-19, 1979.

RESUMO: Visando quantificar o sub-registro de nascimento e identificarfatores que podem condicionar a deficiência do registro de nascimento entrecrianças menores de um ano, foram feitas 2.893 entrevistas em uma amostraprobabilística de domicílios, da área urbana do município de Salvador, BA(Brasil), em 1977. Na população do estudo, 32,0% das crianças não foramregistradas. Para crianças vivas, com mais de 15 dias, o sub-registro de nasci-mento foi de 29,9%, e para crianças, com mais de 60 dias (prazo legal pararegistro), o sub-registro foi de 27,5%. As variáveis intervenientes, positiva-mente associadas ao registro de nascimento em Salvador, são: nível de rendada mãe, escolaridade dos pais, situação conjugal, filiação dos pais a instituiçõesde seguro social, classificação do bairro de residência e batismo. A probabili-dade do registro diminui com o aumento do número de filhos. Entre as criançascom registro de nascimento, 41,4% foram registradas depois de 15 dias e 14,0%após 60 dias do nascimento.

U N I T E R M O S : Registro de nascimento, Salvador, BA, Brasil.

* Resumo da Dissertação apresentada ao Mestrado de Saúde Comunitária da UniversidadeFederal da Bahia — 1978. Patrocinado pela Ford Foundation.

* * Do Departamento de Enfermagem Comunitária da Escola de Enfermagem da UniversidadeFederal da Bahia — Campus Universitário — Canela — 40000 — Salvador BA — Brasil.

l. I N T R O D U Ç Ã O

O sub-registro de nascimento é um pro-blema que existe com maior ou menorfreqüência em todo o Brasil e na AméricaLatina. Quanto maior o sub-registro, me-nos reais são os indicadores que utilizamo número de nascidos vivos como basede referência, como por exemplo: Coefi-ciente de Mortalidade infant i l , Coeficientede Mortalidade Neonatal, Coeficiente deMortalidade Perinatal, Coeficiente de Nati-mortalidade, Coeficiente de MortalidadeMaterna, Coeficiente de Natalidade Gerale Coeficiente de Fertilidade Geral.

A necessidade de dados estatísticos cor-retos e confiáveis é reconhecida pelos pla-nejadores de saúde como indispensável aotrabalho de Saúde Pública. São eles ele-mentos básicos no planejamento dos pro-gramas de saúde.

1 . 1 . Registro de Nascimento

"No Brasil, até o tempo do Império, nãose conhecia outro registro que não o reli-gioso. O Decreto 9.886, de 07 de marçode 1888, foi o primeiro ato a regulamentar,

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entre nós, o registro de nascimento, casa-mento e óbito, que ocorressem no Império.Com a República, foi determinada a manu-tenção e obrigatoriedade dos registros pú-blicos"12.

A lei de registros públicos número 6.015,de 31 de dezembro de 1973, determina so-bre o registro de nascimento, nos Artigos46, 50 e 521,

Estudos para quantificar o sub-registrode nascimento foram realizados por Scor-zelli10 (1947), Saade9 (1947), Moraes7

(1949), Milanesi e Silva6 (1968), S i lva 1 1

(1970) entre crianças vivas. Suarez l5

(1968), Laurenti e col.4 (1971) estudaramo sub-registro entre crianças falecidas.Alguns autores estudaram quais os fatoresque condicionam o sub-registro de nasci-mento, entre eles encontramos Moraes7 ,Rosado8 , Suarez 15, Levy e col.5 e Silveirae Soboll 13.

Na Bahia não existem trabalhos sobresub-registro de nascimento, condicionandoo desconhecimento de um percentual decorreção que possibilite cálculos mais reaispara os indicadores que utilizam o númerode nascidos vivos como base de referência.

1 . 2 . Objetivos

— Quantificar o sub-registro de nasci-mento na zona urbana de Salvador.

— Identificar fatores que podem condicio-nar a deficiência do registro de nasci-mento na zona urbana de Salvador.

— Estabelecer um percentual de correçãopara o cálculo dos coeficientes queutilizam o número de nascidos vivosem Salvador,

com algumas modificações devido aos l imi-tados recursos e aos objetivos propostosnesta pesquisa.

Das 7 zonas do município de Salvador,foram consideradas "área da pesquisa" 6zonas (ns. l a 5 e 7) localizadas na áreaurbana; portanto não constou a zona 6,que abrange os bairros da zona suburbana.(Tabela 1).

Foi utilizada uma amostra probabilísticade domicílios, sendo a criança, nascida noúltimo ano na data da entrevista, a unidadesobre a qual levantou-se informações atra-vés um questionário específico.

Técnica e instrumentos de coleta de dados— A técnica utilizada foi a entrevista es-t ruturada, usando-se, como instrumento, umquestionário pré-testado. A coleta, reali-zada por entrevistadores treinados, estu-dantes universitários, sob contínua super-visão, era feita através de sorteio de algunsdomicílios, que eram outra vez visitadoscom o fim de conferir as informações. Apessoa entrevistada, para o preenchimentodo questionário, foi de preferência a mãeou o pai da criança nascida a menos deum ano do dia da entrevista.

Foram visitados 3.020 domicílios e reali-zadas 2.893 entrevistas, correspondendo a1,14% dos domicílios estimados para aárea da pesquisa.

Foram encontradas 477 crianças nascidasem Salvador no último ano; entre estas,três não tiveram o questionário preenchidopor recusa da mãe. Das 474 crianças, queconstituiu a população de estudo, dez fo-ram gemelares, portanto, cinco partosforam gemelares.

2. MATERIAL E MÉTODOS 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Técnica de amostragem — O plano deamostragem foi realizado por uma equipedo BNH/SETRABES2 , visando ser repre-sentativa para a pesquisa "DiagnósticoHabitacional em Salvador", sendo utilizado

Foram encontradas 151 (31,9%) criançassem registro de nascimento, 321 (67,7%)registradas, e duas que as mães ignoravamse haviam sido registradas, por terem sidoadotadas logo após o nascimento. O per-

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centual de crianças sem registro foi seme-lhante ao encontrado para Vitória do Espí-rito Santo, em 19469.

Considerando a idade da criança, veri-ficou-se entre as crianças vivas, com maisde 15 dias, um sub-registro de 29,9%, epara as crianças, com mais de 60 dias, de27,5%, bem mais alto do que o encontradopor Milanesi e Silva 6 (1968), para SãoPaulo. Acredita-se que o sub-registro denascimento em São Paulo seja menor doque o de Salvador (BA), devido a regiãosul ser mais desenvolvida, com caracterís-ticas sócio-econômico-culturais diferentes deSalvador.

Apesar de aparecerem mui tas criançassem registro de nascimento, todas as pes-soas entrevistadas informaram conhecer aexigência legal deste registro. Algumasmães informaram, durante a entrevista, queoutros fi lhos não haviam sido registrados.

Vários foram os motivos apresentadoscomo justif icativa para a criança não tersido registrada, aparecendo com percentuaismaiores a falta de tempo (29,8%), faltade dinheiro (28,5%) e a displicência do pai(24,5%); são, ainda, referidas a situaçãoconjugal, a dúvida na escolha do nome, afalta de documentos dos pais, a distânciado cartório, a fa lha nas informações e amorte da criança.

Dentre as 321 crianças registradas, 304(94,7%) tiveram o registro feito pelo pai,enquanto apenas 16 (5,0%) foram registra-das pela mãe, e uma criança foi registradapor alguém sem nenhum grau de paren-tesco, que a adotou. As crianças poderiamser registradas pelas mães, constando ounão (impedimento do pai) no documento, apaternidade. Isso não ocorreu talvez porignorância de que outra pessoa poderiafazer o registro, ou por interferência cultu-ral, que só aceita o registro pelo pai.

Essa suposição coincide com as princi-pais causas do sub-registro referidas pelasentrevistadas, "a displicência e falta detempo do p a i " . . . , de fato referem-se ànecessidade da legitimação do f i lho viratravés do pai. Convém, entretanto, cha-mar atenção para que muitas das criançasnão registradas provêm de situações con-jugais onde a presença do pai inexiste.

É importante considerar a função socialdo registro pois, sem o objetivo da legiti-midade e do salário famíl ia , a criança nãoé registrada; além disso, a lei só admiteo registro de filhos fora do matrimônio,depois de desfeito o vínculo matrimonial.1

O registro de nascimento foi feito, uni -formemente, em todos os meses do ano,embora essa uniformidade não fosse acom-panhada pelos nascimentos.

3 . 1 . Renda

Nesta pesquisa, a renda foi estudadaatravés das zonas, classificação do bairrode residência, nível de renda do pai e nívelde renda da mãe.

Crianças sem registro de nascimentoapareceram em todas as zonas de Salvador,sem haver uma diferença estatisticamentesignificante, apesar do percentual variar de24,0% na zona l, de renda mais alta, para39,3% na zona 7, de renda mais baixa.(Tabela 2 x2

5 = 6,891; p > 0,05).

O registro de nascimento, associado àrenda, foi referido por Moraes7, 1949(profissão do pai e condição econômica),Rosado 8, 1949 (profissão e salário), Sua-rez 15, 1968 (dificuldade econômica parapagar o registro) e Levy5 , 1971 (classesocial).

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Experiências em pesquisas anterioresdemonstraram ser d i f íc i l conseguir que oentrevistado quantificasse a renda f a m i l i a r ,pr incipalmente aquelas mulheres que des-conhecem a renda do companheiro, equando estes não recebem um ordenadofixo, as dif iculdades aumentam.

Visando reduzir esse problema, ut i l izou-se os critérios já citados para estudar ainf luência da renda no registro de nasci-

mento. Convém, entretanto, chamar aten-ção para o fato de que os critérios esco-lhidos apresentam alguns inconvenientes.

Porém, classificando os bairros, onderesidiam as crianças, em 3 estratos 3, classeA = alta, B = média e C = baixa, encon-trou-se associação entre a classificação dobairro e o registro de nascimento. (Tabela3 x2

2 = 6,236; p < 0,05).

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Nos critérios de estratificação por zonae por classificação do bairro de residência,destaca-se o fato de Salvador ser umacidade em que se encontram domicílios declasse A (mais elevada), tendo como vizi-nhos domicílios paupérrimos, agrupados emfavelas (classe C). Por outro lado, asempregadas domésticas, que dormiam noemprego, integravam o grupo domicil iar eforam incluídas nas zonas de renda maisalta. É possível que essas situações tenhaminf lu ído para que as diferenças existentesentre as zonas, quanto ao registro de nas-cimento, não fossem estatisticamente signi-ficantes ao nível de 5%.

Entre as crianças residentes nos bairrosclasse A, 20,0% não t inham registro denascimento, entre as residentes nos bairrosclasse B, 24,7% e entre as residentes nosbairros classe C, 35,3%; percentuais maisbaixos do que os referidos por Levy5

(1971) , que encontrou, também, associaçãoentre registro de nascimento e a classesocial, em um estudo fei to em maternidadesde São Paulo.

É interessante notar que o nível de rendafoi estabelecido de acordo com a ocupação,mas a pesquisa não ident if icou aquelesque estavam desempregados, embora essefato seja minimizado sabendo-se que amaioria das crianças (86,7%) tem pais quepertencem a instituições de seguro social.

Não foi encontrada diferença estatistica-mente significante entre o nível de rendado pai e o registro de nascimento, emborase observe o maior percentual de criançassem registro para o nível l de mais baixarenda, (55,6%) e o menor de 13,5% parao nível 7 de renda mais alta. (Tabela 4x7

2 = 13,663; p > 0,05).

Os dados demonstraram, a um nível designificância de 5%, associação entre onível de renda da mãe e o registro de nas-cimento. (Tabela 5 x6

2 = 21,167; p <0,05).

Outro fator que pode ter inf luenciado narelação entre o registro de nascimento e

o nível de renda do pai foi que 43,0%das mães não tinham uma situação de casa-mento legal, vivendo, muitas vezes, afasta-das do pai da criança; portanto, a rendadesse pai, distante ou impedido de assumiruma situação legal, provavelmente, nãoi n f l u i u no registro de nascimento.

Moraes7 e Rosado8 encontraram asso-ciação entre o registro de nascimento e aprofissão do pai, porém fizeram uma clas-sificação muito geral. Além disso, os dadosde Rosado8 , referem-se às famíl ias queapresentavam todas as pessoas registradasou não registradas.

O nível de renda da mãe parece i n f l uen -ciar mais diretamente a situação do registroda criança, apesar de 65,1% das mãesdesenvolverem atividades sem remuneração,sendo mantidas pelo companheiro ou fami-liares.

A mãe, como já foi referido anterior-mente, não é responsável diretamente peloato de registrar, mas suas característicassócio-econômico-culturais provavelmente in-terferem para que a criança seja registrada.

3.2. Escolaridade

A escolaridade dos pais é um dos fatoresque condicionam o registro de nascimento.Observou-se uma diferença estatisticamentesignificante entre a média de escolaridadedo pai que fez o registro ([] = 8,4) e

daquele que não o fez ([]= 6,1). (Tabela 6t402 = 4,01; p < 0,05).

A média de escolaridade da mãe foimais baixa do que a do pai, em ambosos grupos. As mães de crianças regis-tradas tiveram uma média de escolaridade([]1 = 7,8) significantemente mais alta doque as mães das crianças sem registro([]2 = 5,6). (Tabela 7 t463 = 5,13;p < 0,05).

O achado de que o registro de nasci-mento aumenta a medida que a instruçãodos pais se eleva coincide com os deMoraes 7 e Rosado 8.

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3.3. Número de filhos

O registro de nascimento foi associado àordens de nascimento, exceto na 5a, 6a,33,431; p < 0,05). Nota-se, em todas asordens de nascimento, exceto na 5a, 6a.,e 9a ordens, que o número de criançasregistradas foi maior do que o das nãoregistradas.

Percebe-se que os primeiros filhos são

registrados com maior regularidade. Isto

f i cou evidente quando se ve r i f i cou uma

média de 2,7 f i l hos vivos para as mães

de crianças registradas, s ignificantemente

menor do que a média de 3,4 filhos paraas mães de crianças sem registro.

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3.4. Situação conjugal

Verificou-se associação entre o registrode nascimento e a situação conjugal damãe. (Tabela 9 x2

2 = 66,459; p < 0,05).Nota-se que as mães, com uma famíliaestabelecida, mesmo sem um casamentolegal, apresentaram um percentual de crian-

ças sem registro menor do que as mãessolteiras. Encontrou-se 56,8% de mãescasadas, 30,9% amasiadas, 11,9% solteirase 0,4% viúvas. Entre as casadas o per-centual de crianças sem registro foi de20,1%, entre as amasiadas foi de 37,0%,entre as viúvas 50,0%, e entre as solteiras75,0%.

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Moraes7 , estabeleceu a categoria de ca-sados e de maritais (pais vivendo marital-mente), e Suarez 15 analisou o registro denascimento com as categorias de paiscasados e não casados, não encontrandoassociação entre o registro e a situaçãoconjugal. Acredita-se que o critério em-pregado nesta pesquisa identifica melhora situação conjugal dos pais da criança.

3.5. Local de nascimento

Não foi encontrada associação entre oregistro e o local de nascimento. Nasceramem hospitais 453 (96,0%) das crianças,enquanto 19 (4,0%) nasceram no domicílio.

3.6. Sexo

Os resultados demonstraram não haverassociação entre o registro e o sexo dacriança, o que parece af i rmar não existirdiferença quanto ao tipo de assistência queé dada aos filhos de sexos diferentes.

3.7. Seguro social

Entre as crianças estudadas, 86,9% têmpais que pertencem a instituições de segurosocial. Observou-se associação entre oregistro de nascimento e o seguro social.Benefícios proporcionados por essas insti-tuições exigem a certidão de nascimentocomo documento comprovatório.

3.8. Batismo

Foi significante a diferença entre ascrianças batizadas e não batizadas em rela-ção ao registro de nascimento. Apenas14,0% das crianças eram batizadas.

3.9. Tempo de registro

Embora 321 crianças tenham sido regis-tradas, apenas 188 (58,6%) obedeceram aoprazo de 15 dias, 88 (27,4%) foram regis-tradas entre 16 e 60 dias, e 45 (14,0%)após os 60 dias. A mediana do tempo deregistro foi de 14,4 dias, tendo variado de

0 a 333 dias. Entretanto, existe uma defa-sagem entre o percentual de criançasregistradas dentro do prazo legal (58,6%)e o percentual de crianças registradas pelopai (94,7%). Logo, algumas crianças,embora registradas pelo pai, tiveram o re-gistro feito fora do prazo legal.

Entre as crianças com registro de nas-cimento, 86,0% foram registradas até 60dias; percentuais de 72,8%, 84,2% e 60,6%foram encontrados em Recife, Curitiba eVitória, respectivamente, em 1946. EmAraraquara, 1949, 97,4% das crianças fo-ram registradas no prazo.7

Estudou-se o registro de nascimento sobtodos os aspectos que se considerou im-portantes, para alcançar os objetivos pro-postos. Diante dos resultados encontrados(96,0% dos partos foram feitos em mater-nidades), reforça-se a idéia de que o regis-tro de nascimento seja feito na própriamaternidade, onde a criança nasce, insis-tindo para que o registro seja realizadodurante a permanência da mãe, na mater-nidade, diminuindo, assim, o sub-registroe o tempo de registro.

Deverá ser divulgada a lei de RegistrosPúblicos 6.015 de 31.12.1973, que estabe-lece o registro de nascimento gratuito, paraas crianças cujos pais não disponham daquant ia estipulada para o registro.

Educar a população, principalmente atra-vés os meios de comunicação como rádio,televisão, jornais e cartazes é indispensávela um programa de incentivo ao registrode nascimento.

O percentual de sub-registro encontradopara o município de Salvador não refletea situação dos outros municípios e da zonarural do Estado da Bahia. Sugere-se queoutras pesquisas sejam feitas, para que sepossa estabelecer o sub-registro de nasci-mento existente, não só para Salvador, maspara o Estado da Bahia e outros Estadosdo Brasil.

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4. CONCLUSÕES

Os resultados encontrados permitiram-noschegar as seguintes conclusões:

— Existe sub-registro de nascimento emSalvador. Na população em estudo32,0% das crianças menores de um anonão eram registradas.

— Para crianças vivas, com mais de 15dias, o sub-registro de nascimento foi

de 29,9% e para crianças, com mais de60 dias (prazo legal), o sub-registro foide 27,5%.

— As crianças que residem em bairrosclasse A (alta) são mais registradas doque as que residem em bairros classesB (média) e C (baixa).

— O tempo de registro variou de 0 a 333dias, sendo a mediana de 14,4 dias.

RSPUB9/465

ALMEIDA, M. M. G. de [The under-registration of births in Salvador, BA(Brazil)] Rev. Saúde públ., S. Paulo, 13:208-19, 1979.

ABSTRACT: In order to quantify the extent of the number of unregisteredbirths and to identify the factors responsible for this, 2,893 interviews werecarried out in a probabilistic sampling of homes in the urban area of Salvador,Bahia, in 1977. Thirty-two percent of the children under the age of 12 monthsidentified in these interviews were still not registered. Excluding infants under15 days of age, this percentage was 29.9%, and among children over 60 daysold (the maximum period permitted by law) it fell to 27.5%. The interveningvariables found to be positively associated with birth registration were maternalincome, parental education, status of the residential area, coverage by socialsecurity, and baptism of the child. The probability of registration decreasedat higher birth orders. Among the births registered, 41% were registered afterthe 15th day and 14% after the 60-day legal limit.

U N I T E R M S : Birth certificates, Salvador, BA, Brazil.

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Recebido para publicação em 29/03/1979

Aprovado para publicação em 19/06/1979